5. sÍndrome de burnout e o trabalho de …inta.com.br/biblioteca/images/pdf/art-5-rev-4.pdf · 5....
TRANSCRIPT
Sobral, ano 3, v.1, n. 4, p.60-74, Jan -jun. 2014.
60
5. SÍNDROME DE BURNOUT E O TRABALHO DE ENFERMEIROS EMERGENCISTAS DE UM HOSPITAL DE ENSINO DA ZONA NORTE DO ESTADO DO CEARÁ
BURNOUT SYNDROME AND EMERGENCY ROOM NURSES’ WORK AT A TEACHING HOSPITAL IN THE
NORTHERN ZONE OF THE STATE OF CEARÁ RESUMO
Buscamos identificar sinais/sintomas da Síndrome de Burnout em enfermeiros que trabalham em uma unidade de emergência de um Hospital de Ensino da Zona Norte do Estado do Ceará. Trata-se de um estudo exploratório-descritivo, com abordagem quantitativa, realizado com 15 enfermeiros, no período de janeiro de 2013 a abril de 2014. A coleta de dados foi por meio de um instrumento validado cientificamente e agrupados em categorias temáticas. Os aspectos éticos foram respeitados de acordo com a resolução 466/12 do Conep. Os dados revelaram que parte dos profissionais que participaram do estudo (53,3%) demonstram baixo nível de cansaço emocional na escala da Síndrome de Burnout. Quanto à dimensão de despersonalização, 66,6% dos profissionais apresentaram nível baixo, esse
domínio foi o que mais distanciou os profissionais da síndrome. E, referente ao domínio realização pessoal, a maioria dos profissionais, mais precisamente, 80% foi avaliado em nível baixo. Este número representa um alarme, pois esse é o único item em que os valores se apresentaram maiores. O Burnout pode surgir em enfermeiros de diferentes contextos de trabalho, levando-os a desenvolver sentimentos de frustração, frieza e indiferença em relação às necessidades e ao sofrimento dos doentes. Palavras-chave: Esgotamento profissional, Enfermeiro em Emergência, Hospital de Ensino.
ABSTRACT
This study had as objective to identify the signs/symptoms of Burnout Syndrome in nurses who work in an emergency room at a Teaching Hospital in the Northern Zone of the State of Ceará. This was an exploratory-descriptive study, with qualitative approach, conducted with 15 nurses, in the January 2013 to April 2014 period. Data were collected in September and November 2013 by means of a scientifically validated instrument and grouped in thematic categories. Ethical aspects were respected according to resolution 466/12 from the National Health Council. The data collected and analyzed revealed that some of the professionals who participated in the study (53.3%) demonstrated a low level of emotional exhaustion on the Burnout Syndrome scale. Regarding the dimension of depersonalization, 66.6% of the professionals presented a low level; this was surely the domain that most distanced the professionals from the Syndrome. And, referring to the domain of personal achievement, the majority of the professionals, more precisely, 80% were assessed as low level. This number represents an alarm, as it is the single item in which the values were higher. Burnout may arise in nurses in different work contexts, leading them to develop feelings of frustration, coldness and indifference in relation to the needs and suffering of the sick. Keywords: Professional Burnout, Emergency Room Nurse, Teaching Hospital.
Maria Josimar Bezerra - INTA
Antonia Eliana Araújo Aragão – Docente das Faculdades INTA Francisco Osmar Helcias Filho – Enfermeiro pelas Faculdades INTA
Sobral, ano 3, v.1, n. 4, p.60-74, Jan -jun. 2014.
61
INTRODUÇÃO
A atividade laboral constitui para uma grande parte da população um domínio
de grande satisfação, muito embora seja simultaneamente uma fonte de experiências
menos positivas. O trabalho possui um significado que ultrapassa as necessidades, os
valores e a subjetividade daquele que trabalha.
O ambiente hospitalar faz com que os seus recursos humanos, principalmente
os profissionais de saúde sejam submetidos a cargas excessivas de stress, promovendo
um declínio da saúde física e mental e favorecendo uma menor qualidade de vida do
profissional.
O trabalho desenvolvido nas organizações hospitalares requer que todos os
profissionais tenham experiência clínica e maturidade suficiente que lhes permitam a
tomada de decisões difíceis, normalmente com implicações éticas e morais, sendo
responsáveis por limiares de stress elevados com impacto na qualidade de vida.
O trabalhador que atua em instituições hospitalares está exposto a diferentes
estressores ocupacionais que afetam diretamente o seu bem estar. Dentre vários
podemos citar as longas jornadas de trabalho, o número insuficiente de pessoal, a falta
de reconhecimento profissional, a alta exposição do profissional a riscos químicos e
físicos, assim como o contato constante com o sofrimento, a dor e muitas vezes a
morte.
Dentre as principais patologias que afetam os profissionais de saúde pode-se
destacar a síndrome de Burnout e as doenças ocupacionais, sendo estas últimas muitas
vezes sumarizadas pela primeira. Burnout, traduzido do inglês significa queimando
fora, ou energia desperdiçada. Neste sentido, trata-se de uma resposta emocional a
situações de estress crônico em decorrência de relações intensas interpessoais ou de
profissionais que apresentam grandes expectativas em relação aos seus desempenhos
profissionais e dedicação à profissão, porém, em função de diferentes obstáculos, não
obtiveram o retorno esperado.
Foi Freudenberger em 1974, quem inicialmente introduziu o termo burnout na
literatura científica para descrever uma síndrome que ele considerava ser frequente
Sobral, ano 3, v.1, n. 4, p.60-74, Jan -jun. 2014.
62
nos profissionais de saúde, como consequência da tensão emocional e do esforço
elevado, resultante do contato direto e contínuo com pessoas, especialmente quando
estas estão doentes e vulneráveis. Define-o como um estado de fadiga ou frustração,
sentido como resultado da dedicação excessiva a uma tarefa ou trabalho, em que o
indivíduo se confronta com a não realização das expectativas esperadas, e em geral,
acompanhado de sentimentos de sobrecarga e perda de motivação para o trabalho.
A Síndrome de Burnout (SB) tem como principais características: exaustão
emocional, despersonalização e a redução da realização profissional ou sentimento de
incompetência do trabalhador.
A Exaustão Emocional (EE) é a sensação de esgotamento emocional e físico em
decorrência de sobrecarga e de conflitos pessoais nas relações interpessoais, o que faz
com que acabe gerando a falta de energia para o desenvolvimento das atividades
laborais, tornando-as exauridas. A Despersonalização (DP) manifesta-se pelo
distanciamento emocional, fazendo com que os profissionais tornem-se desprovidos
de afetividade e propensos a agir com desumanização. Por fim, a redução da
Realização profissional (RP) mostra uma autoavaliação negativa vinculada a um
sentimento de baixa autoestima pessoal e profissional tornando o labor um fardo. De
início esses sentimentos negativos são direcionados aos clientes e colegas de trabalho,
com o tempo atingem familiares, amigos e, por último, o próprio profissional.
O trabalho nos serviços de emergência exige um grande conhecimento sobre
situações de saúde e certo domínio dos profissionais sobre o processo de trabalho, ou
seja, do conjunto das necessidades que estão envolvidas no dia-a-dia da assistência.
Este domínio engloba exigências tais como pensar rápido, ter agilidade, competência e
capacidade de resolutividade dos problemas que surgirem. Trata-se de um ambiente
de trabalho onde o tempo é limitado, as atividades são várias e a situação clínica dos
pacientes exige, muitas vezes, que o profissional faça tudo muito rápido para afastá-lo
do risco de morte iminente.
Para os mesmos autores, o método de trabalho na emergência caracteriza-se
por ter como objeto de trabalho usuários com doenças com vários níveis de gravidade,
com risco de morte e usuários com quadros clínicos leves ou moderados que não
conseguem atendimento na rede de cuidados primários. Contudo, não é apropriado
Sobral, ano 3, v.1, n. 4, p.60-74, Jan -jun. 2014.
63
atribuir o sofrimento dos profissionais da emergência à gravidade das situações
clínicas, mas sim de terem que lidar com ocasiões incontroláveis frente às quais se
sentem impotentes. É comum neste processo de trabalho o inesperado, unindo-se
também a falta de condições e de instrumentos de trabalho. De acordo com a
Organização Mundial de Saúde (OMS), a qualidade de vida é a percepção do indivíduo
acerca de sua posição na vida no que diz respeito à cultura e sistema de valores nos
quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações.
Portanto ofertar uma atenção holística ao trabalhador de enfermagem pode
diminuir a distância entre o pensar e o agir, resultando na satisfação e melhora na
qualidade de assistência ao cliente e de vida do profissional.
Além disso a urgência e a emergência do ambiente hospitalar fazem com que
os profissionais de saúde sejam submetidos a cargas excessivas de stress, causando um
declínio da qualidade de vida e da saúde física e psicológica do profissional.
No setor da saúde, os turnos de trabalho prolongam-se muitas vezes para além
das oito horas por dia e mais de quarenta por semana. A pouca idade dos profissionais
de enfermagem, assim como de outros grupos da saúde favorecem o prolongamento
das horas de trabalho muitas vezes para cobrir as ausências ferias de outros
profissionais.
O despertar para trabalhar a Síndrome de Burnout deu-se durante uma longa
jornada de nove anos trabalhando como técnica de enfermagem da Emergência de um
Hospital de Ensino da Zona Norte do Estado do Ceará, durante o trabalho, presenciava
o sofrimento dos enfermeiros, momento este que proporcionou um maior contato
com esses profissionais. Houve a percepção de um fator constante no comportamento
destes trabalhadores durante sua atuação, que viria a ser o estress e o cansaço que
poderiam ser decorrentes dos estressores ocupacionais citados anteriormente durante
a explanação sobre o tema.
Diante desta inquietação vieram os seguintes questionamentos: Quais fatores
estressores os profissionais identificam na sua prática? Estes enfermeiros que atuam
na emergência apresentam sinais de esgotamento/estresse/exaustão/Burnout?
Espera-se que esse trabalho possa contribuir na atuação destes profissionais,
seja por divulgar mais sobre a Síndrome de Burnout, que a cada dia está mais presente
Sobral, ano 3, v.1, n. 4, p.60-74, Jan -jun. 2014.
64
na vida de muitos profissionais de saúde, principalmente os que atuam em setor de
emergência ou por identificar o que possivelmente possa estar contribuindo para o
desenvolvimento da Síndrome dentro do ambiente de trabalho.
Portanto, dentro do exposto o objetivo deste estudo foi identificar
sinais/sintomas da Síndrome de Burnout em enfermeiros que trabalham em uma
unidade de emergência em um Hospital de Ensino da Zona Norte do Estado do Ceará.
METODOLOGIA
Estudo do tipo exploratório-descritivo com uma abordagem quantitativa. O
estudo exploratório visa proporcionar uma visão geral a cerca de determinado fato e
têm como principal finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias, já
as descritivas propõem-se a descrição de características do objeto de estudo ou o
estabelecimento de relações entre variáveis. A descrição ou o ato de descrever é
fundamentalmente importante ao desenvolvimento da pesquisa.
O estudo foi realizado em um Hospital de Ensino da Zona Norte do Estado do
Ceará, localizado na Cidade de Sobral, Ceará.
Sobral está situada na Região Noroeste do Ceará, a 235 quilômetros de
Fortaleza, entre as águas do Rio Acaraú, Santana e a Serra da Meruoca limitam-se ao
norte com os municípios de Massapê, do Acaraú e Meruoca, ao sul com Santa Quitéria,
Groaíras e Cariré, a leste com Itapipoca, Irauçuba e Canindé, e a oeste com os
municípios de Coreaú, Mucambo e Alcântara. Sobral é ligada a Fortaleza através da BR-
222, que liga, ainda, o Ceará ao Piauí, ao Maranhão e ao Pará.
O setor de Emergência do referido hospital adotou o Sistema de Classificação
de Risco – modelo proposto pelo Ministério da Saúde com o intuito de organizar as
emergências nos hospitais conveniados com o SUS. Com a implantação do novo
sistema, o hospital está conseguindo organizar e melhorar o atendimento aos
pacientes que chegam até ele.
Sobral, ano 3, v.1, n. 4, p.60-74, Jan -jun. 2014.
65
A Emergência conta também com o serviço de acolhimento para orientar as
pessoas sobre a melhor forma de atendimento. O acolhimento encaminha o paciente
para a sala de Classificação de Risco, onde o risco é classificado através de cores, do
mais grave ao menos urgente. A implantação do sistema dá mais segurança aos
médicos na hora de fazer os procedimentos. Com essas ações o Hospital quer garantir
que os pacientes graves sejam atendidos adequadamente. A Unidade de Urgência e
Emergência é um serviço de referência Tipo III, sendo um, dos dois únicos hospitais
neste porte na zona norte do Estado do Ceará.
O Serviço possui sala de acolhimento, ala de observação masculina e feminina,
sala de atendimento de média complexidade, UTI e unidade de semi-intensiva. A
estrutura física é notadamente limitada para a demanda, devido o hospital ser um dos
únicos serviços de referencia para toda a região noroeste do Estado. Trata-se de um
hospital de extrema importância no Ceará, pois integra o Sistema Único de Saúde e até
2012 era a única referência terciária para toda a Região Norte deste Estado.
A equipe de enfermagem é composta por 93 enfermeiros distribuídos de acordo
com a necessidade de cada setor. Na emergência, a equipe possui 2 enfermeiros por
turno de trabalho que prestam cuidados aos pacientes atendidos em todos os serviços
da unidade em questão.
Os sujeitos da pesquisa foram todos os enfermeiros que trabalham no serviço
de urgência e emergência do Hospital de Ensino da Zona Norte do Ceara, totalizando
15 profissionais.
O período do estudo foi compreendido entre os meses de janeiro de 2013 a
abril de 2014. Para a coleta de dados foi realizada uma entrevista estruturada
fundamentada em um questionário inspirado no Maslach Burnout Inventory (MBI)
traduzido e adaptado para o português por Tamayo (1997), o qual foi necessário
realizar algumas alterações para uma melhor compreensão da amostra nesta pesquisa.
O referido instrumento é composto por 22 itens distribuídos em 03 fatores: exaustão
emocional, redução da realização profissional e despersonalização.
Sobral, ano 3, v.1, n. 4, p.60-74, Jan -jun. 2014.
66
O questionário foi aplicado nos horários mais convenientes para os
enfermeiros, sendo todos agendados previamente. Os dados foram coletados nos
meses de janeiro e fevereiro de 2014 nos finais de semana.
Para dar início a pesquisa foi primeiramente levada uma cópia do pré-projeto
para o Departamento de Ensino Pesquisa e Extensão (DEPE) do hospital para aceitação
do estudo. Após o consentimento do mesmo para realização da pesquisa em campo foi
encaminhado o pré-projeto para o Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade
Estadual Vale do Acaraú (UVA), sendo aprovado com protocolo nº
21318913.7.00005053. Após o aceite foi explicada a pesquisa aos sujeitos do estudo,
em seguida entregue o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e, por conseguinte
o questionário o qual foi entregue no início da semana para o enfermeiro coordenador
do setor, dando-lhes o decorrer da semana para preenchê-lo, proporcionando assim
tempo suficiente para que conseguissem responder o questionário com calma e de
forma que não atrapalhasse o horário de serviço. Após a coleta de dados, foi realizada
a tabulação e análise dos mesmos.
Os dados foram processados e tabulados com o programa computacional Epi-
Info 6.04d, sendo os dados analisados quantitativamente, em frequência e proporção
(relativa e absoluta).
A apresentação dos dados foi realizada através de tabelas para melhor
visualização dos resultados obtidos.
A pesquisa foi realizada de acordo com os princípios éticos e legais da
resolução nº 466/12 do Conselho Nacional de Saúde de dezembro de 2012 que
contêm diretrizes e normas regulamentadores para as pesquisas que envolvem seres
humanos. De acordo com os termos da Resolução, a eticidade da pesquisa implica os
seguintes quesitos: Autonomia, Beneficência, Não-maleficência, Justiça e Equidade e
todos foram respeitados.
Sobral, ano 3, v.1, n. 4, p.60-74, Jan -jun. 2014.
67
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram convidados a participar do estudo todos os enfermeiros que faziam
parte do serviço de urgência e emergência do hospital pesquisado, totalizando 15
profissionais, dos quais todos aceitaram participar. Esse achado configura a
disponibilidade dos profissionais em contribuírem para o estudo do tema.
Torna-se necessário, antes de apresentar os resultados, caracterizar
brevemente o perfil dos profissionais que fizeram parte do estudo. Portanto, dentre os
15 enfermeiros, 06 são do sexo masculino e 09 do sexo feminino, quanto à idade a
média estava entre 27 e 34 anos. Referente ao estado civil dos participantes, apenas
03 eram casados.
Todos os enfermeiros trabalham 36 horas semanais, no hospital em que o
estudo foi realizado, em regime de plantão e todos também trabalham em outra
instituição. Em relação às faltas, todos confessam ter em média três faltas por mês em
um dos empregos devido à carga de trabalho. Já relacionado aos momentos fora do
trabalho, todos relatam gostar de ler e dez dentre os participantes realizam atividade
física.
Esta apresentação do perfil dos profissionais participantes do estudo, por si só,
evidenciaria um problema relacionado ao trabalho desses enfermeiros, relacionado à
carga horária elevada por trabalhar em mais de uma instituição quando os mesmos
revelam o número de faltas pelo referido motivo de excesso de trabalho.
Após essa caracterização dos participantes, pode-se então apresentar os
resultados obtidos através da aplicação do Instrumento de Avaliação da Síndrome de
Burnout aos enfermeiros emergencistas. A apresentação se deu por meio de tabelas e
foi distribuída por dimensões, nas quais estão relacionadas as questões do
instrumento. As dimensões se caracterizam em: Despersonalização (DE), Cansaço
Emocional (CE) e Realização Profissional (RP).
Sobral, ano 3, v.1, n. 4, p.60-74, Jan -jun. 2014.
68
Um alto grau de Burnout é refletido em altos escores nas dimensões de
Cansaço Emocional (EE) e Despersonalização (DE) e baixos escores na escala de
Realização Profissional (RP). Um grau médio de Burnout é refletido em um escore
médio nas três dimensões. Um baixo grau de Burnout é refletido em baixos escores
nas dimensões de Cansaço Emocional e Despersonalização e altos escores na
dimensão de Realização Profissional.
A tabela, demonstra a distribuição das porcentagens e frequência dos níveis da
Síndrome de Burnout da amostra estudada. Os achados obtidos revelam um nível
“baixo” de Cansaço emocional (53,3%), nível “baixo” de Despersonalização (66,6%) e
nível “baixo” de Realização Pessoal (80%).
Os dados apresentados na tabela revelam que boa parte dos profissionais que
participaram do estudo (53,3%) demonstram baixo nível de cansaço emocional na
escala da Síndrome de Burnout, após avaliação das respostas das questões referentes
a essa dimensão. Com base nesse resultado, 7 dos quinze profissionais apresentaram
nível alto e médio de cansaço emocional.
Pesquisa realizada em 2012 demonstrou que o cansaço emocional caracteriza-
se pela falta ou carência de energia, acompanhada de sentimento de esgotamento
emocional. Os trabalhadores percebem que já não possuem condições de despender
mais energia para o atendimento de seu cliente ou demais pessoas, como em
situações passadas.
Esse exposto mostra que nem todos os profissionais enfermeiros estão
satisfeitos com a carga de trabalho que tem, já que apresentaram um nível alto de
cansaço emocional em relação aos demais participantes do estudo, o que demonstra
um alerta para o desenvolvimento da Síndrome estudada.
Outro estudo desenvolvido na China afirma que um número crescente de
médicos está deixando ou tem a intenção de se afastar de suas organizações devido à
insatisfação no trabalho. Segundo os mesmos autores, o desenvolvimento da
Síndrome de Burnout se dá principalmente através de exaustão emocional.
Sobral, ano 3, v.1, n. 4, p.60-74, Jan -jun. 2014.
69
Dessa forma, é importante ressaltar que o início do desenvolvimento do
Burnout parece decorrer da exaustão emocional, frente às demandas interpessoais e
elevadas cargas de atividade.
Os profissionais de saúde ao trabalharem em situações exigentes se envolvem
emocionalmente e assim ficam expostos aos seus clientes, no que diz respeito aos
problemas psicológicos, sócio-econômicos e físicos. A exaustão é gerada pelo
envolvimento em longo prazo em situações que são emocionalmente exigentes,
ocorrendo assim um esgotamento emocional pelo profissional.
O serviço de emergência apresenta todos os estressores relacionados à
situações que demandam envolvimento direto do profissional, tanto profissionalmente
como pessoalmente, isso acelera o desenvolvimento da exaustão emocional, já que o
profissional se envolve com casos que não deveriam interferir em sua vida pessoal,
mas que acabam gerando sentimentos quanto ao estado de saúde de seus pacientes.
Quanto à dimensão caracterizada como despersonalização, 66,6% dos
profissionais apresentaram nível baixo, esse domínio foi o que mais distanciou os
profissionais da síndrome, já que mais da metade não apresentou nível elevado,
mostrando um resultado favorável frente às dificuldades enfrentadas diariamente no
local de trabalho.
Em estudo realizado com professores é descrito uma baixa presença da
síndrome e dentro desse baixo percentual destaca–se a presença de
despersonalização. Esse resultado apresenta discordância com o estudo em questão, já
que aqui reconhece-se em maioria níveis baixos de despersonalização.
Os membros de uma equipe de saúde precisam ter perfil próprio para
enfrentar o dinamismo dos problemas e assim assistir a população da melhor forma,
reduzindo dessa forma, o risco de gerar estresse e sofrimento para o trabalhador. Para
este suprir as demandas internas e externas, utiliza o mecanismo de enfrentamento
para amenizar ou eliminar o fator problema que causa a perturbação.
Sobral, ano 3, v.1, n. 4, p.60-74, Jan -jun. 2014.
70
O risco de despersonalização, que se refere à perda de motivação, ansiedade e
irritabilidade, resultando na má qualidade da assistência, é maior nos trabalhadores
expostos ao alto nível de sofrimento ou morte, e um alto nível de impacto negativo do
trabalho em vida familiar.
O serviço de emergência pode levar o profissional a criar uma certa barreira
motivacional, por enfrentar constantemente casos de insucesso terapêutico, como
prognósticos ruins, o que resulta em um profissional desestimulado. Esse achado não
foi comum nos profissionais estudados, o que os configura ainda motivados a sempre
melhorar profissionalmente, este é um bom resultado frente às dificuldades
enfrentadas.
O local de trabalho desses profissionais, assim como a carga de trabalho
confiada aos mesmos, facilita o risco de proporcionar estresse para o trabalhador
aumentando os efeitos da síndrome, como o fato da despersonalização. Assim como
em efeito contrário pode preparar o profissional para as situações mais adversas,
amadurecendo-o em seu trabalho e em suas atribuições.
Referente ao domínio realização pessoal, a maioria dos profissionais, mais
precisamente, 80% foi avaliado em nível baixo. Este número representa um alarme,
pois esse é o único item em que os valores se apresentaram maiores para um único
nível. Esse dado revela que mais da metade dos profissionais não estão satisfeitos
quanto à sua realização pessoal, demonstrando insatisfação ou, até mesmo,
desmotivação quanto ao seu desempenho pessoal e profissional.
A diminuição da Realização Pessoal consiste na erosão do sentido de
efetividade e da autocompetência e/ou autoeficácia. Esse fato demonstra a decepção
quanto à idealização de um trabalho em que o profissional deseja estar, mas que não
condiz com sua realidade, somando ao fato da carga de trabalho ultrapassar os limites
pessoais dos profissionais, deixando-os desmotivados para a realização das tarefas
com ímpeto.
Sobral, ano 3, v.1, n. 4, p.60-74, Jan -jun. 2014.
71
O exercício do enfermeiro é tão importante que, muitas vezes, suas funções
tornam-se sobrecarregadas. As fortes exigências do trabalho (uma variante entre
esforço de trabalho, recompensa do trabalho e super comprometimento) são altas e
podem levar a comportamentos de competitividade e irritabilidade entre os
profissionais de enfermagem e de saúde. Com isso, os altos índices de esforços para a
realização das tarefas é paralelo às exigências do trabalho. Frente a isto, possibilitam
que os indivíduos confrontem consigo mesmos acarretando em níveis maiores de
comprometimento do trabalho que indicam maior risco de desenvolver estresse
ocupacional.
Esse índice alto de diminuição da realização pessoal revela a insatisfação dos
profissionais a se trabalhar em um ambiente que não era almejado por eles, ou por
apresentar de uma forma diferente da imaginada. Esse fator é um desencadeante
muito importante para a Síndrome de Burnout, pois o profissional acaba sendo levado
pela desmotivação profissional, já que não se trabalha em um local que proporciona
prazer.
No que concerne ao aspecto geral do estudo, boa parte dos profissionais
apresentou Síndrome de Burnout em seu nível mínimo, caracterizado por pelo menos
uma dimensão em nível alto. Esse fato vem a demonstrar que esses sujeitos do estudo
apresentam ainda aspectos positivos, já que trabalham em um serviço de emergência
de um Hospital de alta demanda, que exige agilidade, confiança e, principalmente,
amor pela profissão. Nesse contexto, os profissionais mostraram-se em um nível baixo
da síndrome em relação ao que seu trabalho demanda.
Existem muitos estudos realizados sobre o índice da Síndrome de Burnout em
enfermeiros onde são analisadas diferentes variáveis e apresentados resultados muito
diferentes uns dos outros, o que demonstra que esta Síndrome tem um alto grau de
complexidade.
De um modo geral todos os estudos indicam que os enfermeiros,
principalmente emergencistas, são particularmente vulneráveis a esta síndrome. O
Burnout pode surgir em enfermeiros de todo o mundo, nos mais diferentes contextos
Sobral, ano 3, v.1, n. 4, p.60-74, Jan -jun. 2014.
72
de trabalho, levando-os a desenvolver sentimentos de frustração, frieza e indiferença
em relação às necessidades e ao sofrimento dos doentes, o que acarreta em uma má
qualidade prestada ao paciente.
A importância de avaliar Burnout em profissionais de enfermagem é,
sobretudo, o fato de que encontramos pessoas com alta realização profissional, porém
vivem em um sistema fechado, onde a comunicação é limitada, onde aparecem como
consequência da profissão, o esquecimento ou o deixar de lado suas próprias
atividades.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esse estudo trouxe um importante fator a ser avaliado e estudado dentre os
serviços de saúde que é a satisfação do profissional enfermeiro quanto ao seu local de
trabalho. Já que um dos aspectos mais predisponentes à Síndrome de Burnout
apresentado neste trabalho foram os níveis diminuídos de realização pessoal, não
menos prezando as outras dimensões, também importantes para a saúde física e
emocional do profissional.
Apesar dos índices para o desenvolvimento da Síndrome estarem reduzidos no
grupo de estudo é necessário lançar um olhar mais humano para os profissionais que
trabalham em serviços de emergência, pois estes podem chegar a ser trabalhadores
desmotivados pelos estresses do dia-a-dia, da correria, das decepções. Assim como
também podem ser, na maioria das vezes, os heróis de muitos pacientes que
necessitam desses serviços.
Portanto, deve-se pensar em estratégias que motivem a cada dia os
profissionais a melhorar, a reconhecerem seus valores como profissionais e como
pessoas que transformam a vida de outras, idéias que valorizem os locais de trabalho e
que estimulem o desenvolvimento de ações dos enfermeiros emergencistas,
proporcionando uma melhora no trabalho do enfermeiro o que acarretará
diretamente uma melhor qualidade de serviço prestado à população.
Sobral, ano 3, v.1, n. 4, p.60-74, Jan -jun. 2014.
73
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CHAPARRO, A.F.; ZAMBRANO, I.M.; CORREA, Z.C. Síndrome de Burnout en docentes de dos universidades de Popayán. Rev. salud pública 2010; 12(4): 589-98. TRINDADE, L.L.; LAUTERT, L. Síndrome de Burnout entre os trabalhadores da Estratégia de Saúde da Família. Rev. Esc. Enferm 2010; 44(2): 274-9. BARRETO, S.A. et al. Síndrome de Burnout: Sistemática de um problema. Rev. Enfermagem Revista 2012 set/Nov; 16(3). MASLACH, C.; SCHAUFELI, W.B.; LETTER, M. Job burnout. Annual Review of Psychology, Palo Alto 2001; 52(1):397-422. FOGAÇA, M.C. et al. Estudo preliminar sobre o estresse ocupacional de médicos e enfermeiros em UTI pediátrica e neonatal: o equilíbrio entre esforço e recompensa. Rev Latino-Am Enfermagem 2010 Jan-Feb; 18(1):67-72.
CHRISTOFOLETTI, G.; PINTO, S.; VIEIRA, A. Analise das Condicoes Fisico-Mentais de Funcionarios do Setor de Pediatria do Hospital das Clinicas de Goiania. Revista Movimenta 2008; 1(1): 7-10.
FASCINA, L.P. et al. Avaliação do Nível da Síndrome de Burnout Na Equipe De Enfermagem Da UTI-Adulto. XXXIII Encontro da ANPAD. São Paulo; 2009.
FRANÇA, F.M. et al. Burnout e os aspectos laborais na equipe de enfermagem de dois hospitais de médio porte. Rev. Latino-Am. Enfermagem 2012 set-out; 20(5).
FREUDENBERGER, H.; RICHELSON, G. Burnout: The high cost of high achievement. New York: Bantan Books; 1980.
GIL, A.C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4 ed, São Paulo: Atlas; 2007.
INSTITUTO BRASILEIRO DEGEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE) – Censo Demográfico; 2010. Disponível em: HTTP://www.censo2010.ibge.gov.br Acesso em 23 Abril de 2014.
JOFRÉ, V.; VALENZUELA, S. Burnout en personal de enfermaria de la unidad de cuidados intensivos pediátricos. Chía, Colombia, Aquichan 2005 out; 5(1): 56-63.
LOPES, C.E.T. Burnout e trabalho entre agentes comunitários de saúde de um centro de saúde da família em Sobral-Ce. 2010. Monografia (Graduação em Enfermagem) - Universidade Estadual Vale do Acaraú, Sobral (CE), 2010.
MARTINS, M.M. Qualidade de vida e capacidade para o trabalho dos profissionais em enfermagem no trabalho em turnos. Rev. Bras. de Cineantrop. e Desenv. Hum. 2003; 5(1).
MARTINS, V. O stress e a exaustão no trabalho: satisfação profissional e burnout. Jornal do centro Hospitalar de Lisboa Ocidental. 2006; n.8:10-11
MASLACH, C., JACKSON, S.E. Maslach Burnout Inventory Manual. Palo Alto: University of California. Consulting Psychologists; 1981.
OLIVEIRA, E.B.; LISBOA, M.T.L.; LÚCIDO, V.A.; SISNANDO, S.D. A inserção do acadêmico de enfermagem em uma unidade de emergência: A psicodinâmica do trabalho. Revista Enfermagem UERJ 2004; 12:179-185.
PASCHOA, S. et al. Qualidade de vida dos trabalhadores de enfermagem de unidades de terapia intensiva. Acta Paul Enferm 2007; 20(3): 305-10. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ape/v20n3/a10v20n3.pdf> Acesso em: 26 mar. 2012.
Sobral, ano 3, v.1, n. 4, p.60-74, Jan -jun. 2014.
74
PAVLAKIS, A.; RAFTOPOULOS, V.; THEODOROU, M. Burnout syndrome in Cypriot physiotherapists: a national survey.BMC Health Serv Res. 2010 Mar; 11(10):63.
PEREIRA, A.M.T.B. Burnout: quando o trabalho ameaça o bem estar do trabalhador. 1 ed. São Paulo: Casa do Psicólogo; 2002.
ROSA, C.; CARLOTTO, M.S. Síndrome de Burnout e satisfação no trabalho em profissionais de uma instituição hospitalar. Rev. SBPH, Rio de Janeiro 2005 dez; 8(2).
SOARES, H.L.R.; CUNHA, C.E.C. A síndrome do "burn-out": sofrimento psiquico nos profissionais de saúde. Rev. Dep. Psicol.,UFF, Niterói 2007 dez; 19(2).
TOMASCHEWSKI-BARLEM, J.G. et al. Manifestações da síndrome de burnout entre estudantes de graduação em enfermagem. Texto Contexto Enferm, Florianópolis, 2013 Jul-Set; 22(3): 754-62
ANEXO
Tabela 1 – Distribuição da frequência e porcentagem por níveis da Síndrome de
Burnout da amostra
CLASSIFICAÇÃO
DIMENSÕES Alto Médio Baixo
F % f % F %
Cansaço Emocional 5 33,3 2 13,3 8 53,3
Despersonalização 2 13,3 3 20 10 66,6
Realização Pessoal 3 20 0 0 12 80