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9 o ANO 4 o TERMO

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9o ANO4o TERMO

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Educação de Jovens e Adultos (EJA) – Mundo do Trabalho: Geografia, História e Trabalho: 9o ano/4o termo do Ensino Fundamental. São Paulo: Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia (SDECT), 2013.il. (EJA – Mundo do Trabalho)

Conteúdo: Caderno do Estudante. ISBN: 978-85-65278-90-4 (Impresso) 978-85-65278-84-3 (Digital)

1. Educação de Jovens e Adultos (EJA) – Ensino Fundamental 2. Geografia – Estudo e ensino 3. História – Estudo e ensino 4. Trabalho – Estudo e ensino I. Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia II. Título III. Série.

CDD: 372

FICHA CATALOGRÁFICA

Sandra Aparecida Miquelin – CRB-8 / 6090Tatiane Silva Massucato Arias – CRB-8 / 7262

A Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação autoriza a reprodução do conteúdo do material de sua titularidade pelas demais secretarias do país, desde que mantida a integridade da obra e dos créditos, ressaltando que direitos autorais protegidos* deverão ser diretamente negociados com seus próprios titulares, sob pena de infração aos artigos da Lei no 9.610/98.

*Constituem “direitos autorais protegidos” todas e quaisquer obras de terceiros reproduzidas neste material que não estejam em domínio público nos termos do artigo 41 da Lei de Direitos Autorais.

Nos Cadernos do Programa de Educação de Jovens e Adultos (EJA) – Mundo do Trabalho são indicados sites para o aprofundamento de conhecimentos, como fonte de consulta dos conteúdos apresentados e como referências bibliográficas. Todos esses endereços eletrônicos foram verificados. No entanto, como a internet é um meio dinâmico e sujeito a mudanças, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação não garante que os sites indicados permaneçam acessíveis ou inalterados, após a data de consulta impressa neste material.

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Geraldo AlckminGovernador

Nelson Luiz Baeta Neves Filho Secretário em exercício

Maria Cristina Lopes Victorino Chefe de Gabinete

Ernesto Masselani NetoCoordenador de Ensino Técnico, Tecnológico e Profissionalizante

SECRETARIA DA EDUCAÇÃO

Herman VoorwaldSecretário

Cleide Bauab Eid BochixioSecretária Adjunta

Fernando Padula NovaesChefe de Gabinete

Maria Elizabete da CostaCoordenadora de Gestão da Educação Básica

SECRETARIA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO, CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO

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Fundação do Desenvolvimento Administrativo – Fundap

Wanderley Messias da Costa

Diretor Executivo

Márgara Raquel Cunha

Diretora de Políticas Sociais

Coordenação Executiva do Projeto

José Lucas Cordeiro

Coordenação Técnica

Impressos: Selma Venco

Vídeos: Cristiane Ballerini

Equipe Técnica e PedagógicaAna Paula Alves de Lavos, Clélia La Laina, Dilma Fabri Marão Pichoneri, Emily Hozokawa Dias, Fernando Manzieri Heder, Laís Schalch, Liliana Rolfsen Petrilli Segnini, Maria Helena de Castro Lima, Odair Stephano Sant’Ana, Paula Marcia Ciacco da Silva Dias e Walkiria Rigolon

AutoresArte: Carolina Martin, Eloise Guazzelli, Emily Hozokawa Dias e Laís Schalch. Ciências: Gustavo Isaac Killner. Geografia: Mait Bertollo. História: Fábio Luis Barbosa dos Santos. Inglês: Eduardo Portela. Língua Portuguesa: Claudio Bazzoni e Giulia Mendonça. Matemática: Antonio José Lopes. Trabalho: Selma Venco.

Fundação Carlos Alberto Vanzolini

Antonio Rafael Namur Muscat

Presidente da Diretoria Executiva

Alberto Wunderler Ramos

Vice-presidente da Diretoria Executiva

Gestão de Tecnologias em Educação

Direção da Área

Guilherme Ary Plonski

Coordenação Executiva do Projeto

Angela Sprenger e Beatriz Scavazza

Gestão do Portal

Luiz Carlos Gonçalves, Sonia Akimoto e

Wilder Rogério de Oliveira

Gestão de Comunicação

Ane do Valle

Gestão EditorialDenise Blanes

Equipe de Produção Assessoria pedagógica: Ghisleine Trigo Silveira

Editorial: Adriana Ayami Takimoto, Airton Dantas de Araújo, Amanda Bonuccelli Voivodic, Beatriz Chaves, Beatriz Ramos Bevilacqua, Bruno de Pontes Barrio, Camila De Pieri Fernandes, Carolina Pedro Soares, Cláudia Letícia Vendrame Santos, Lívia Andersen França, Lucas Puntel Carrasco, Mainã Greeb Vicente, Patrícia Pinheiro de Sant’Ana, Paulo Mendes e Tatiana Pavanelli Valsi

Direitos autorais e iconografia: Aparecido Francisco, Beatriz Blay, Fernanda Catalão, Juliana Prado, Olívia Vieira da Silva Villa de Lima, Priscila Garofalo, Rita De Luca e Roberto PolacovApoio à produção: Luiz Roberto Vital Pinto, Maria Regina Xavier de Brito, Valéria Aranha e Vanessa Leite Rios

Projeto gráfico-editorial: R2 Editorial e Michelangelo Russo (Capa)

CTP, Impressão e Acabamento

Imprensa Oficial do Estado de São Paulo

Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação

Coordenação Geral do ProjetoJuan Carlos Dans Sanchez

Equipe TécnicaCibele Rodrigues Silva, João Mota Jr. e Raphael Lebsa do Prado

Concepção do programa e elaboração de conteúdos

Gestão do processo de produção editorial

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Caro(a) estudante,

É com grande satisfação que a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação, em parceria com a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, apresenta os Cadernos do Estudante do Programa Educação de Jovens e Adultos (EJA) – Mundo do Trabalho, em atendimento a uma justa reivindicação dos educadores e da sociedade. A proposta é oferecer um material pedagógico de fácil compreensão, para complementar suas atuais necessidades de conhecimento.

Sabemos quanto é difícil para quem trabalha ou procura um emprego se dedi-car aos estudos, principalmente quando se retorna à escola após algum tempo.

O Programa nasceu da constatação de que os estudantes jovens e adultos têm experiências pessoais que devem ser consideradas no processo de aprendi-zagem em sala de aula. Trata-se de um conjunto de experiências, conhecimen-tos e convicções que se formou ao longo da vida. Dessa forma, procuramos respeitar a trajetória daqueles que apostaram na educação como o caminho para a conquista de um futuro melhor.

Nos Cadernos e vídeos que fazem parte do seu material de estudo, você perceberá a nossa preocupação em estabelecer um diálogo com o universo do trabalho. Além disso, foi acrescentada ao currículo a disciplina Trabalho para tratar de questões relacionadas a esse tema.

Nessa disciplina, você terá acesso a conteúdos que poderão auxiliá-lo na procura do primeiro ou de um novo emprego. Vai aprender a elaborar o seu currículo observando as diversas formas de seleção utilizadas pelas empresas. Compreenderá também os aspectos mais gerais do mundo do trabalho, como as causas do desemprego, os direitos trabalhistas e os dados relativos ao mercado de trabalho na região em que vive. Além disso, você conhecerá algumas estra-tégias que poderão ajudá-lo a abrir um negócio próprio, entre outros assuntos.

Esperamos que neste Programa você conclua o Ensino Fundamental e, pos-teriormente, continue estudando e buscando conhecimentos importantes para seu desenvolvimento e para sua participação na sociedade. Afinal, o conheci-mento é o bem mais valioso que adquirimos na vida e o único que se acumula por toda a nossa existência.

Bons estudos!

Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação

Secretaria da Educação

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Sumário

Geografia .........................................................................................................................7

Unidade 1 As mudanças no espaço geográfico na escala planetária 9

Unidade 2 A Europa 25

Unidade 3 A Ásia 43

Unidade 4 A África e a Oceania 65

História ........................................................................................................................... 89

Unidade 1 Da colônia à independência 91

Unidade 2 Do Império à República 109

Unidade 3 Da República Velha a Getúlio Vargas 129

Unidade 4 De JK à ditadura 151

Trabalho .....................................................................................................................175

Unidade 1 Milagre econômico e trabalho 177

Unidade 2 Sindicalismo no Brasil 187

Unidade 3 Reestruturação produtiva 201

Unidade 4 Estratégias de busca de emprego 215

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Trabalho

Caro(a) estudante,

Dando continuidade aos estudos no Programa EJA – Mundo do Trabalho, prossegue-se debatendo sobre o trabalho nesta disciplina que você já conhece desde o 6o ano/1o termo.

Ao acompanhar a história de Jurandir, Nilda e Rosa, na Unidade 1 dis-cute-se a crise econômica de 1970, conhecida como “crise do petróleo”, bus-cando compreender como períodos como esse provocam alterações na vida das pessoas e, também, como momentos de crescimento da economia nacional não se traduzem, necessariamente, em ascensão econômica dos trabalhadores, como ocorreu no caso do “milagre econômico brasileiro”. Por outro lado, investimentos na educação e o aumento da escolaridade são fundamentais para a mobilidade social.

A Unidade 2 remete à história dos movimentos reivindicatórios de traba-lhadores no Brasil, desde o início do processo mais acentuado de industrializa-ção do País, cuja economia era, até então, eminentemente agrária. Das primei-ras associações de operários aos sindicatos atuais, é mostrado o que mudou e o que permaneceu igual nas permanentes lutas dos trabalhadores por melhores condições para a atividade laboral, de remuneração e de direitos trabalhistas.

A reestruturação produtiva, o surgimento de novas tecnologias e as novas concepções na organização do trabalho resultaram, no Brasil, em grandes alte-rações no mercado de trabalho, e igualmente no modo de executá-lo. Na Uni-dade 3, além dessas questões, são apresentadas também as políticas públicas de emprego, que buscam fazer frente à extinção de postos de trabalho, resul-tado da reestruturação produtiva. São medidas como o seguro-desemprego, a (re)qualificação profissional e o trabalho autônomo.

Uma discussão sobre o emprego e o mundo do trabalho na atualidade, o crescimento do emprego formal, o pleno emprego e, além disso, mais uma abordagem da parte prática na busca de nova colocação no mercado de traba-lho são os temas vistos na Unidade 4.

Boas aulas!

9o ANO 4o TERMO

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Durante os estudos da disciplina Trabalho, foram acompanhadas as trajetórias pessoal e profissional de um casal de migrantes nordesti-nos, Jurandir e Nilda, e de sua filha, Rosa. Por meio dessa história, foi possível conhecer como o trabalho se transformou no Brasil ao longo dos anos e como decisões políticas, econômicas e sociais – nacionais e internacionais – afetam o emprego e a vida de cada trabalhador.

O objetivo desta Unidade é continuar essa caminhada e analisar esses aspectos em um momento turbulento no Brasil e no mundo: a crise dos anos 1970, assunto também abordado nas disciplinas História e Geografia.

Para iniciar...

Converse com o professor e os colegas:

• Na sua opinião, o que é crise?

• Quando você ouve falar em crise econômica, no noticiário, associa crise à qual situação?

• É possível se prevenir de alguma forma de uma crise econômica nacional ou mundial? Como?

Crise e economia

Quando o assunto é crise econômica, é comum ouvir especialistas no noticiário explicando as diferentes razões e desdobramentos de situações dessa natureza. Como entender cada uma das explicações? É possível compreender a crise econômica como uma balança dese-quilibrada que tem, em um dos pratos, uma baixa no consumo e, no outro, um aumento na produção.

A lógica no sistema capitalista é produzir-vender-consumir, e, quando essa relação se desequilibra, gera-se uma crise econômica. Mas seria possível separar a crise econômica dos aspectos políticos e sociais?

A história de Jurandir auxilia na compreensão dos períodos de ins-tabilidade econômica brasileira. O personagem migrou para São Paulo,

Milagre econôMico e trabalho

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em 1954, em busca de uma vida melhor para ele e sua família; tinha começado a labuta na roça desde menino, mas, ao chegar a São Paulo, iniciou uma nova trajetória profissional em uma fábrica de encera-deiras e aspiradores de pó; então, fez curso de mecânica e conseguiu emprego em uma das indústrias automobilísticas, entre as várias que vieram a se instalar, nessa época, na região do chamado ABC pau-lista (Santo André, São Bernardo do Campo e São Caetano), que, mais tarde, se tornou ABCD, com a inclusão do município de Diadema.

A empresa em que Jurandir obteve seu novo emprego era estran-geira e já funcionava no Brasil desde o começo dos anos 1950, mas tinha construído uma nova planta (fábrica) no ABC, com grande capacidade de produção e, também, de contratação.

A economia brasileira viveu um forte crescimento nos anos 1960, beneficiada, sobretudo, por um movimento semelhante nos países centrais: Estados Unidos e alguns países da Europa, como Alemanha e França, entre outros.

De 1968 a 1973, o crescimento médio do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro foi de 11%. Esse número já era, por si só, considerado um milagre. (Para se ter uma noção do que esses dados significaram, cabe lembrar que a previsão para o crescimento do PIB mundial para 2013 é de 3,9% e, para o Brasil, de 3,3%.)

Tal situação foi excepcional e impulsionou a criação de muitos empregos: era o chamado “milagre brasileiro”.

Apesar do crescimento econômico e da criação de mais empregos, havia uma contradição: a distribuição de renda brasileira não seguia o desenvolvimento da economia, pois o modelo de industrialização adotado no Brasil não foi acompanhado pelo consumo de massa.

Para compreender essa situação, é preciso recuar na história. No 7o ano/2o termo desta disciplina, foi realizada uma pesquisa sobre o governo Juscelino Kubitschek, presidente do Brasil entre os anos de 1956 a 1961. Esse governo ficou conhecido, entre outros feitos, por propor um Plano de Metas ao Brasil, cujo slogan era crescer “50 anos em 5”. Com esse plano, o País contou com investimentos externos importantes, que, por um lado, alavancaram a indústria brasileira, mas, por outro, permitiram que as multinacionais transferissem os lucros obtidos nesse setor para seus países de origem.

Diferentemente de países como os Estados Unidos, o Brasil não viven-ciou o crescimento pelo consumo, pois os salários continuaram baixos.

Produto Interno BrutoO PIB representa a soma, em valores monetários, de todos os produtos e serviços produzidos por um país ou uma região.

História9o ano/4o termo

Unidade 4

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Trabalho – Unidade 1

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À época, o economista Delfim Netto defendeu a “Teoria do Bolo” como explicação do governo para a crise, ou seja: era preciso, pri-meiro, o bolo crescer para, depois, dividi-lo. Mas esse tipo de esclare-cimento não era suficiente para os trabalhadores, que passaram a per-ceber os riscos concretos de uma economia que tendia à estagnação, após um período de crescimento.

O momento era propício para a economia, mas, em termos polí-ticos e sociais, amargava-se o aumento da pobreza e da violência durante a ditadura militar. O contraponto era o futebol, usado pelos militares para mascarar a realidade, quando se louvava o tricampeo-nato brasileiro na Copa do Mundo, em 1970, embalado pela música Pra frente, Brasil! e por slogans publicitários do período da ditadura, como “Brasil: ame-o ou deixe-o”.

Charge de Henfil da época do “milagre econômico”, com os personagens Graúna e Bode Orelana, ironiza a concentração de renda no Brasil.

Fica a dica

Pra frente, Brasil (direção de Roberto Farias, 1982) retrata o período da Copa do Mundo de 1970, em que, em meio à euforia dos jogos, pessoas eram presas, torturadas e mortas. No filme, é mostrada a trajetória de um trabalhador confundido com um militante político pelos agentes da repressão.

Foi criada, no governo Dilma Rousseff, a Comissão Nacional da Verdade, a qual, a exemplo do que já foi feito em outros países, tem como objetivo investigar a violação dos direitos humanos ocorrida entre 1946 e 1988. Tal ação visa fazer justiça às famílias das pes-soas desaparecidas e mortas durante esse período, que inclui o regime ditatorial brasileiro.

Essa comissão, instituída em 16 de maio de 2012, analisa toda a documentação e re-visa os direitos das famílias dos desaparecidos de terem reconhecimento dos assassinatos cometidos pelo regime. Desse modo, agora é possível julgar os responsáveis pelos atos criminosos no período da ditadura.

Um caso célebre é o do jornalista Vladimir Herzog, que, aos 38 anos, foi encontrado enforcado em sua cela após sua prisão, em 25 de outubro de 1975. A família e a socie-dade nunca se convenceram dessa versão, pois a cena montada para a foto da sua morte é claramente falsa. Recentemente, a Comissão da Verdade alterou a causa mortis de Herzog para lesões e maus-tratos, e não mais suicídio. Somente em 15 de março de 2013 a família do jornalista obteve a certidão de óbito.

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Trabalho – Unidade 1

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Atividade 1 Milagre econômico?

Observe a charge a seguir, do cartunista Ziraldo:

Agora, leia o seguinte texto de Adélia Meneses:

[...] se, em 1965, para adquirir a ração essencial mínima de sua alimentação, o operário tinha de trabalhar 88 horas e 16 minutos, em 1974, para obter a mesma quantidade de alimentos, ele tinha de gastar o dinheiro ganho em 163 horas e 32 minutos (cf. Salário Mínimo, Separata da Revista do Dieese, 1979).

MENESES, Adélia Bezerra de. Desenho mágico: poesia e política em Chico Buarque. São Paulo: Ateliê, 2000, p. 18.

Com base no que você estudou e inspirando-se nas leituras e nas observações que fez nesta Unidade, elabore um texto em seu caderno refletindo sobre o tema: “Milagre brasileiro: milagre para quem?”.

Arrocho salarial

O desenvolvimento econômico no Brasil, particularmente na região do ABC, trouxe a possibilidade de aumento da oferta de emprego. O chamado “milagre econômico brasileiro” foi sustentado por um tripé:

• Endividamento expressivo do governo federal;

• Investimentos federais nas indústrias (de base, construção civil, eletrônica e automobilística);

• Exploração da força de trabalho baseada no arrocho salarial (con-trole do aumento salarial, cujos índices de ajuste ficam abaixo da inflação), na ampliação da jornada e na velocidade para executar o trabalho.

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Trabalho – Unidade 1

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Após 1973, a situação do País alterou-se, e Jurandir e seus colegas começaram a perceber que as condições salariais e de trabalho pio-ravam a cada dia. Desde a promulgação da lei que criou o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), em 1966, ficou mais fácil demitir os empregados. O fundo foi compreendido pelos trabalhadores da época como uma troca injusta: era o fundo em troca da estabili-dade no emprego.

O controle sobre os operários era forte: idas ao banheiro determinadas pela chefia, intensificação da produção diária, insalubridade nas fábricas e proibição de conversas e trocas de informação.

A charge a seguir, feita por Henfil, retrata o controle existente nas fábricas, conforme você já estudou no 7o ano/2o termo desta disciplina. O taylorismo e o fordismo, formas de organização do trabalho, tinham como princípio exercer maior controle sobre os tempos e movimentos no exercí-cio profissional.

Henrique de Souza Filho (1944-1988), Henfil, foi um cartunista crítico ao sistema ditatorial vivido no País, que, por meio do seu trabalho, colocava-se ao lado dos operá-rios, dos migrantes nordestinos e das cama-das populares da população. Observava as injustiças sociais e as retratava com humor, por meio dos personagens que foi criando: Fradim, Graúna, Bode Orelana, entre outros.

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Atividade 2 Condições de trabalho

1. Em grupo, leiam o depoimento fictício de um operário:

“Hoje é minha primeira semana de trabalho e ainda tento me adaptar ao ritmo da produção. Já me perguntei várias vezes se o problema sou eu, que não dou conta do trabalho, ou se tem alguma coisa que ainda não entendi. Todos os dias a produção muda e preciso sempre trabalhar mais rápido.”

Na opinião do grupo, esse depoimento poderia ter sido dado em que época? Por quê?

2. Cada integrante do grupo vai relatar como é sua rotina de tra-balho. Os que não estiverem trabalhando podem lembrar-se de como faziam seu trabalho e os que nunca trabalharam podem ouvir com atenção o relato dos colegas ou, ainda, descrever pas-sagens sobre o trabalho de amigos e familiares.

Os relatos se assemelham ao depoimento lido? Em quais aspectos?

Educação e mobilidade social

A situação na fábrica e na economia preocupava Jurandir, que, em 1974, já estava com 46 anos. Jurandir era uma pessoa respei-tada no bairro, reconhecida por amigos e vizinhos como pai e marido zeloso e querido pelos colegas de trabalho, afinal a estabilidade no emprego durante um longo período de sua vida profissional permitiu--lhe construir laços mais fortes entre seus colegas de trabalho. Era comum, até então, um operário trabalhar em apenas uma empresa durante toda sua vida.

Ele e Nilda, sua esposa, sabiam que fariam qualquer sacrifício para que Rosa, a filha do casal, estudasse e tivesse uma vida melhor que a deles. Apesar de a maioria dos colegas e vizinhos impedir a esposa de trabalhar e mesmo de estudar, Jurandir respeitava e

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valorizava a vontade de Nilda de ser independente e ter a própria renda. Além disso, reunindo os dois salários, eles sempre consegui-ram proporcionar à filha as condições para que ela prosseguisse se dedicando aos estudos.

A educação era, para o casal, portanto, fator importante para a mudança de vida. A vivência no bairro operário e suas próprias traje-tórias os ajudavam a compreender os limites que o sistema impunha, não só para sua família, mas também para toda a comunidade, for-mada por crianças pobres oriundas de lares cujos pais tiveram pouco ou quase nenhum estudo e que viviam a desigualdade social e de renda. Mas compreendiam também que a educação sozinha “não faz verão”, ou seja, apenas com ela não se fazia um país desenvolvido. Os colegas da fábrica diziam que Jurandir não podia pensar apenas na filha, pois consideravam que essa opção era individualista e que ele deveria ajudar a lutar para garantir a todo trabalhador e a sua família o direito de frequentar uma escola de qualidade.

Rosa, muito estudiosa, queria ser dentista. Tanto Jurandir como Nilda ficaram preocupados. Mesmo sabendo que a filha estudaria para prestar vestibular em uma universidade pública, eles se pergun-tavam como arcariam com o custo desses estudos. Ao se informarem, ficaram sabendo que o material do curso e os livros eram muito caros e, além disso, o curso era em período integral, portanto Rosa não poderia trabalhar para ajudar a custear seus estudos.

Atividade 3 Escolarização e mobilidade social

1. O que você acha da situação enfrentada pelo casal Jurandir e Nilda? Qual seria sua decisão no lugar dos pais de Rosa?

2. Em sua opinião, a educação define a posição dos indivíduos em uma sociedade? Por quê?

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3. Em grupo, observem os dados recentes das tabelas que se seguem e respondam às questões:

Tabela 1 – Média de anos de estudo das pessoas de 10 anos ou mais de idade, por sexo (Brasil)

1995 1996 1999 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

Homens 5 5,2 5,7 5,9 6,2 6,3 6,4 6,5 6,7 6,8 6,9 7

Mulheres 5,3 5,5 5,9 6,2 6,4 6,6 6,7 6,8 7 7,1 7,2 7,4

a) Quais são as conclusões tiradas pelo grupo com base na Tabela 1? E na Tabela 2?

b) O que, na opinião do grupo, poderia explicar os diferentes índices de escolaridade entre homens e mulheres?

Fonte: IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, 1995/2009. Séries estatísticas. Disponível em: <http://seriesestatisticas.ibge.gov.br/series.aspx?vcodigo=ECE370>. Acesso em: 14 jun. 2013.

Tabela 2 – Pessoas ocupadas, segundo grau de instrução e zona onde vivem – Brasil, 2009 (em %)

Escolaridade Urbana RuralSem instrução 5,1 20,3

Fundamental incompleto 28,4 52,4Fundamental completo 9,8 7,3

Médio incompleto 7,1 4,9Médio completo 30,2 11,7

Superior incompleto 5,9 1,1Superior completo 13,0 2,0Não determinada 0,4 0,3

Fonte: DIEESE; NEAD; MDA. Estatísticas do meio rural 2010-2011. São Paulo: DIEESE; NEAD; MDA, 2011, p. 75. Disponível em: <http://www.nead.gov.br/portal/nead/nead-especial/>. Acesso em: 14 jun. 2013.

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Trabalho – Unidade 1

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c) Em sua opinião, a diferenciação de anos de estudo entre homens e mulheres se expressa no mercado de trabalho? De que forma?

d) Quais são as hipóteses que o grupo formula para explicar a distinção entre a escolaridade de pessoas ocupadas na zona rural e na zona urbana?

4. Com base nas reflexões anteriores, qual é a opinião do grupo so-bre a decisão do casal Jurandir e Nilda, que considera que a filha deve estudar para ter uma vida diferente da dos pais?

A organização dos trabalhadores

As condições de trabalho vivenciadas nos anos 1970 faziam Jurandir temer a demissão, o que comprometeria o sonho de a filha ir para a universidade. Seus colegas na fábrica conversavam nos horá-rios livres sobre as péssimas condições de trabalho, cartazes apare-ciam nos banheiros e começavam a ocorrer reuniões depois do expe-diente, todas ações a fim de buscar uma solução coletiva para os problemas enfrentados.

Os sindicatos não eram ainda identificados pelos operários como órgãos que os representassem politicamente. Sua imagem era assis-tencialista, ou seja, dos sindicatos eram utilizados os serviços médi-cos, odontológicos e, em alguns casos, a colônia de férias. Não eram, portanto, instituições consideradas capazes de reivindicar melhores condições de vida e de trabalho.

Trabalho – Unidade 1

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O fato de a região do ABC concentrar muitos operários ajudou nos encontros em associações de bairro, e estas, como não estiveram por um breve período sob a mira da repressão política, conseguiram reunir aqueles que ali moravam, assim como também fazia a Pastoral Operá-ria. Dessa forma, as associações de bairro e a Igreja foram fundamen-tais na organização política dos trabalhadores na região.

Algumas decisões passaram, então, a ser tomadas por grupos de trabalhadores, como “freagem” ou “greve tartaruga”, em que a len-tidão do ritmo de trabalho reduzia a produção diária. Esse é um dos exemplos das chamadas “greves brancas”, um dos tipos de artifício empregado.

Essas ações começaram a se espalhar entre as fábricas e assim fortaleceram a participação mais politizada por parte dos sindicatos, conforme você vai estudar na Unidade 2.

As escolas públicas, até a década de 1960, eram tidas como de excelência, mas não havia escola para todos, e poucas eram as famí-lias que conseguiam manter os filhos na escola e abrir mão do salário deles para compor o orçamento familiar. A decisão, portanto, depen-dia da renda familiar, o que levava determinadas famílias a escolher a escola ou o trabalho para os filhos, uma decisão aparentemente individual, mas que refletia a condição socioeconômica de um país. Com isso em mente, reflita: Como foi a sua experiência sobre estudar ou trabalhar quando ainda era criança ou jovem?

Nesta Unidade, verificou-se que a crise econômica envolveu também as circunstân-cias política e social brasileiras. Você acompanhou mais um passo na história de Ju-randir, que, apesar de empregado, enfrentou duras condições de trabalho e de salário, mesmo em tempos de crescimento econômico. Teve a oportunidade de estudar que o go-verno da época compreendia que os salários eram os responsáveis pela crise econômica. Isso, entre outras situações, levou os trabalhadores a se organizar contra a exploração a que estavam submetidos. Analisou também dados que associam os anos de escolaridade ao trabalho.

Você estudou

Pense sobre

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A Unidade 1 retratou como os trabalhadores começaram a se organizar diante de condições de trabalho insatisfatórias. Nesta Uni-dade, será visto que as manifestações dos trabalhadores e a criação dos sindicatos têm um longo caminho.

Serão apresentados alguns traços da história do sindicalismo no Brasil e como ela está relacionada às condições de trabalho nos dias atuais.

Para iniciar...

Converse com o professor e os colegas:

• O que é um sindicato?

• Como, em sua opinião, ele surgiu na história do trabalho?

• A atuação sindical é importante na luta dos trabalhadores por melhores salários e condições de vida? Por quê?

• Você já participou de algum sindicato? Se sim, como foi sua experiência?

O final do século XIX no Brasil

Em fins do século XIX, a economia brasileira refletia transfor-mações no trabalho: o fim da escravidão, o consequente aumento do número de trabalhadores assalariados e o investimento financeiro em indústrias de base, com capitais obtidos na atividade agrária, especial-mente a cafeicultura. A economia do País começava a se diversificar ao deixar de se basear principalmente na agricultura.

Naquele momento, a jornada de trabalho alternava-se entre 10 e 12 horas e, muitas vezes, alcançava 16 horas diárias. As baixas remu-nerações e as péssimas condições de trabalho atingiam todos os tra-balhadores, fossem eles homens, mulheres ou crianças, e os direitos deles praticamente inexistiam.

Com o crescimento da classe operária, foram criadas as sociedades de socorro e auxílio mútuo, que originaram, posteriormente, as uniões

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operárias. E, à medida que surgiam mais indústrias e crescia o número de trabalhadores, essas uniões operárias começaram a se organizar por ramo de atividade econômica. Os sindicatos, portanto, são oriundos dessas uniões operárias.

A história do movimento dos trabalhadores – urbanos e rurais – passou, então, a estar intrinsecamente ligada à história do movimento sindical.

São iniciativas como essas que contribuíram, no início do século XX, para a criação de diversas organizações ligadas ao operariado indus-trial e de serviços, como a Sociedade União dos Foguistas e a União dos Operários Estivadores, ambas fundadas em 1903, e a União dos Operários em Fábrica de Tecidos, fundada em 1917.

Duas correntes marcaram o movimento operário: o anarcossindi-calismo e o socialismo. O anarcossindicalismo concentrou suas ações no interior das fábricas e não se interessava pela existência de um partido político da classe operária; já o socialismo buscava a consoli-dação da política por meio da criação dos primeiros partidos políticos representativos dos trabalhadores, o que ocorreu em 1890, quando foi fundado o Partido Operário no Rio Grande do Sul e no Rio de Janeiro, que defendia a transformação da sociedade capitalista tam-bém pela ação parlamentar.

Em 1906, os tra-balhadores realizaram o 1o Congresso Operá-rio Brasileiro, contando com representantes prin-cipalmente de São Paulo e do Rio de Janeiro, dado que o desenvol-vimento econômico era mais intenso nessas cidades.

A partir desse even- to, surgiu a Confedera-ção Operária Brasileira (COB), com uma visão europeia das lutas ope-rárias marcadas pela corrente anarcossindical,

Você sabia que o primeiro registro de greve brasileira data de 1720?

No século XVIII, trabalhadores se organizaram no porto de Salvador para reivindicar melhores condições de trabalho e salários e realizaram a primeira paralisação de que se tem registro na história do sindicalismo brasileiro. Em 1858, no Rio de Janeiro, ocorreu a primeira greve de uma categoria profissional: a dos tipógrafos.

O surgimento do 1o Congresso Operário Brasileiro, em 1906, no Rio de Janeiro, indicava o crescimento do operariado nas grandes cidades brasileiras, bem como o início de sua organização para reivindicar melhores salários e condições de trabalho.

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ou seja, que propunha o rompimento tanto com a dominação econômica quanto com a política. Essa visão já existia na Europa e estava presente no pensamento e na vivência de muitos trabalhadores imigrantes prove-nientes desse continente.

Esse trabalhador imigrante europeu trazia em sua história as marcas dos movimentos sindicais de seu continente e participava ati-vamente desse tipo de ação, principalmente no Estado de São Paulo. Entre 1905 e 1908, as lutas trabalhadoras aumentaram, e o governo começou a tomar providências para contê-las: criou uma legislação, em 1907, para expulsar 132 estrangeiros militantes.

No mesmo ano, criou-se o Decreto no 1.637, que concedeu liber-dade para a criação de sindicatos nos centros urbanos. Contudo, a organização desses sindicatos era frágil, dada a forte repressão, tanto pelo Estado como pelo empresariado, contra os líderes dos movimentos.

Atividade 1 Por que sindicatos?

1. Em grupo, pesquisem na internet ou na biblioteca:

• Como eram as condições de trabalho na época em que surgi-ram os movimentos operários?

• Quais razões levaram os trabalhadores a se organizar em mo-vimentos e, depois, em sindicatos?

• A criação dos sindicatos foi importante? Por quê?

2. Apresentem à turma, de forma criativa, as conclusões a que che-garam: um cartaz, uma música, um jogral etc., que poderão trazer uma nova face ao debate.

A realidade do período 1917-1920

Os anos de 1917 a 1920 foram marcados por alterações na vida dos trabalhadores em decorrência, de um lado, do aumento no custo de vida e, de outro, da queda acentuada no valor da remuneração, consequências diretas da 1a Guerra Mundial. Isso levou a uma crise na produção industrial no País, que impulsionou a eclosão de greves. Uma delas foi a greve geral, em São Paulo, em 1917, organizada pelos trabalhadores da indústria têxtil. Ela se estendeu a outros setores, com a participação de, aproximadamente, 45 mil trabalhadores.

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Nessa época, alguns sindicatos passaram a ser chamados de “sin-dicatos amarelos”, em razão de as lideranças exibirem comportamento conciliatório em relação ao Estado e contrário aos trabalhadores, ao não apoiar, por exemplo, uma das importantes reivindicações de então: uma legislação trabalhista. O adjetivo “amarelo” para sindicatos é uma referência pejorativa à cor da pele dos orientais, pois estes foram consi-derados “fura-greves” na França.

A corrente anarcossindicalista também não se aliou a outros setores da sociedade, isolando-se e, dessa forma, enfraquecendo-se, sendo, assim, mais facilmente tolhida pelo Estado e pelas ações da polícia. Ela, então, sofreu uma dissidência que integrou a fundação do Partido Comunista Brasileiro (PCB), em 1922, estimulada pela Revolução Russa.

Inúmeros trabalhadores foram integrados ao PCB, porém, poucos meses após sua fundação, ele foi colocado na ilegalidade pelo governo federal. Mesmo assim o partido influenciou o movimento operário no País e manteve a publicação de periódicos dirigidos aos trabalhado-res, como a revista Movimento comunista, o jornal A classe operária, além da publicação do Manifesto comunista, de autoria de Karl Marx e Friedrich Engels.

Criação da 1a Central Sindical no Brasil

Em 1929, criou-se a Confederação Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB), a partir da realização do Congresso Operário Nacio-nal, apresentando ao movimento operário influência cada vez maior da corrente do pensamento comunista.

No ano seguinte, Getúlio Vargas assumiu o comando da nação, após Júlio Prestes, eleito presidente no mesmo ano, ter sua posse na presidên-cia impedida pelos militares. Com Getúlio, uma nova etapa na história do sindicalismo no Brasil se iniciou e foram criados o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), a Justiça do Trabalho e a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), assunto que você já estudou no 6o ano/ 1o termo desta disciplina, e a instituição de uma legislação sindical, em 1931. Nesse período, foram promulgadas as leis que se tornaram bases de um sindicalismo “oficial”, isso porque Getúlio Vargas atrelou os sindicatos ao Estado, para melhor controlá-los.

Mesmo com esse controle, o movimento sindical conseguiu se orga-nizar com certa autonomia nos anos que se seguiram, a ponto de pro-mover manifestações e greves que culminaram na obtenção de direitos importantes para os trabalhadores, como a definição de parâmetros para o trabalho feminino e de menores de idade, a regulamentação da Lei de Férias – que, apesar de ter sido criada em 1925, apenas em 1934 se tornou um direito constitucional –, do descanso semanal remune-rado e da carga horária diária máxima da jornada de trabalho.

História7o ano/2o termo

Unidade 1

Você sabia que o governo federal disponibiliza gratuitamente livros no portal Domínio Público?

Você poderá ler o Manifesto comunista, de Karl Marx e Friedrich Engels, no site <http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=2273> (acesso em: 14 jun. 2013).

História9o ano/4o termo

Unidade 3

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Trabalho – Unidade 2

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Atividade 2 Relembre os direitos da CLT

1. Em grupo, retomem o debate já estudado nos anos/termos ante-riores nesta disciplina:

a) Quais são os direitos garantidos pela CLT?

b) Quais outros direitos vocês consideram que a CLT deveria incorporar? Por quê?

2. Imaginem que o grupo é um sindicato. Em uma folha avulsa, ela-borem uma carta de reivindicações ao governo federal para incluir outros direitos na CLT.

Apresentem a carta à turma, debatam o conjunto de direitos de cada grupo e reflitam: Quais são os caminhos para reivindicá-los?

A Consolidação das Leis do Trabalho foi inspirada na Carta del Lavoro (Carta do Trabalho), criada pelo Grande Conselho Nacional do Fascismo em 1927, na Itália. O fascismo é um regime político que teve como líder Benito Mussolini, como estudado na Unidade 2 da disciplina História 8o ano/3o termo.

Um dos aspectos que aproximam a CLT à Carta del Lavoro e que foi duramente criticado pelo movimento sindical é que os sindicatos mantêm-se atrelados ao Estado e, com isso, as formas de controle são mais intensas.

As alas mais conservadoras do empresariado responsabilizam a CLT pelo alto custo do trabalho no Brasil, como forma de impedimento para o avanço no desenvolvimento.

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Estado de sítio

O PCB, liderado por Luís Carlos Prestes, criou a Aliança Nacional Libertadora (ANL), em 1935, e abrigou um contin-gente calculado em 400 mil trabalhadores. Seu objetivo era com-bater a instalação do fascismo no Brasil. O comício que realizou e seu forte crescimento levaram Getúlio Vargas a impor ao País, no mesmo ano, a Lei de Segurança Nacional, a qual considerava crime atentar contra a ordem política e social. Assim, as greves se tornaram proibidas. O governo instituiu o estado de sítio e criou a Comissão Nacional de Repressão ao Comunismo, a qual tinha como incumbência averiguar a influência esquerdista entre os fun-cionários públicos.

Estado de sítio

Medida que pode ser tomada pelo chefe de Estado, a qual pode suspender por até 30 dias – exceto em situações extremadas como guerras, conflitos terroristas etc. – os direitos previstos na Constituição. O estado de sítio confere ao presi-dente poderes máximos e pode comprometer a democracia vigente no País.

No Brasil, a Constituição Federal de 1988, em seu artigo 137, prevê que o governo pode solicitar autorização do Congresso Nacional para decretar estado de sítio. Pode ser demandado nas seguintes situações:

“I – comoção grave de repercussão nacional ou ocorrência de fatos que com-provem a ineficácia de medida tomada durante o estado de defesa;

II – declaração de estado de guerra ou resposta a agressão armada estrangeira.”.

Referência

Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 14 jun. 2013.

Fica a dica

Estado de sítio (État de siège, direção de Constantin Costa- -Gravas, 1972). A trama se desenvolve com base na história política no Uruguai, cujas ruas são tomadas por policiais militares em meio ao sequestro de pessoas que passam a ser torturadas.

Como mais um instrumento de controle da atividade sindical, o governo estabeleceu o enquadramento sindical, pelo Decreto-lei no 1.402, em 1939, que atribuiu ao Ministério do Trabalho e Emprego o poder de autorizar o surgimento de novos sindicatos.

O movimento sindical nos anos 1980 combateu duramente a CLT por sua proximi-dade com premissas fascistas. Mas após a crise de emprego, que você estudará na Uni-dade 3, a perda dos postos de trabalho alterou o sentido das lutas sindicais e esse debate permanece esquecido.

Atualmente, diante de regras mais flexíveis nas relações de trabalho, a CLT passou a ser almejada e tida como a garantia de direitos vinculados ao trabalho.

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Estado Novo

Caracterizado como uma ditadura, o Estado Novo enfrentou o aumento das forças de oposição. Até mesmo integrantes dos liberais (que defendiam a liberdade na economia e na política) elaboraram o Manifesto dos mineiros.

FGV/CPDOC. A Era Vargas: dos anos 20 a 1945. Diretrizes do Estado Novo (1937-1945). Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC). Fundação Getulio Vargas. Disponível em: <http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/anos37-45/QuedaDeVargas/ManifestoDosMineiros>. Acesso em: 14 jun. 2013.

Com o fim do Estado Novo, em 1945, encerrou-se a intervenção do Ministério do Trabalho e Emprego nos sindicatos dos trabalhadores. Logo em seguida, em 1947, o presidente marechal Eurico Gaspar Dutra interveio nos sindicatos, e o Partido Comunista voltou à ilegalidade.

Em 1951, Getúlio Vargas retomou o poder e, com vistas a desen-volver um projeto de industrialização do País, buscou aproximar-se dos trabalhadores, ao tornar legal a atividade dos sindicatos. Nos anos seguintes, o número de trabalhadores em indústrias cresceu significa-tivamente, e a movimentação visando a paralisações do trabalho se intensificou. Em 1953, o cenário econômico caracterizado pelas dificul-dades financeiras atingiu mais de 800 mil trabalhadores das indústrias, o que levou mais de 300 mil pessoas a participar de greves gerais.

Com todas essas demonstrações, é possível verificar que a história do movimento sindical foi marcada pela arbitrariedade governamental.

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Em grupo, analisem a letra e organizem uma dramatização inspi-rada por ela. Lembrem-se de que é importante que o grupo comparti-lhe as decisões do que será feito, como serão o roteiro da(s) cena(s) e as falas de cada personagem.

Atividade 3 Caminhando e cantando

Leia a letra da canção Pra não dizer que não falei das flores, de Geraldo Vandré.

Caminhando e cantando e seguindo a cançãoSomos todos iguais, braços dados ou nãoNas escolas, nas ruas, campos, construçõesCaminhando e cantando e seguindo a canção

Vem, vamos emboraQue esperar não é saberQuem sabe faz a horaNão espera acontecer

Pelos campos há fome em grandes plantaçõesPelas ruas marchando indecisos cordõesInda fazem da flor seu mais forte refrãoE acreditam nas flores vencendo o canhão

Vem, vamos embora etc.

Há soldados armados, amados ou nãoQuase todos perdidos de armas na mãoNos quartéis lhes ensinam uma antiga liçãoDe morrer pela Pátria e viver sem razão

Vem, vamos embora etc.

Nas escolas, nas ruas, campos, construçõesSomos todos soldados, armados ou nãoCaminhando e cantando e seguindo a cançãoSomos todos iguais, braços dados ou não

Os amores na mente, as flores no chãoA certeza na frente, a história na mãoCaminhando e cantando e seguindo a cançãoAprendendo e ensinando uma nova lição

Vem, vamos emboraQue esperar não é saberQuem sabe faz a horaNão espera acontecer

Pra não dizer que não falei das flores Geraldo Vandré

VANDRÉ, Geraldo. Pra não dizer que não falei das flores (Caminhando). 100% Fermata do Brasil.

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Anos 1960Até os anos 1960, as grandes greves no meio urbano eram volta-

das, sobretudo, para as reivindicações salariais. Nesse período, algumas greves tiveram cunho eminentemente político: uma greve geral, defla-grada em 1961, teve como objetivo apoiar a posse do vice-presidente, João Goulart, em substituição ao presidente Jânio Quadros, que havia renunciado a seu mandato; em 1962, outra greve geral conclamou, dessa vez, a volta do presidencialismo (já que o parlamentarismo vigorava desde a renúncia de Jânio Quadros).

Depois disso, em 13 de março de 1964, realizou-se, no Rio de Janeiro, um enorme comício, com a presença de cerca de 200 mil pes-soas, no qual se reivindicaram reformas estruturais no País.

Após a instauração da ditadura militar, uma das medidas para conter a inflação e promover o avanço econômico foi o congela-mento dos salários, com o intuito de controlar o consumo interno, ao mesmo tempo que a produção nacional se voltava para o mercado externo. Assim, foi possível acelerar o crescimento econômico que marcou o período e ficou conhecido como “milagre econômico”.

Essas medidas, no entanto, sacrificaram os trabalhadores. Mesmo com as restrições civis impostas pela ditadura militar e enfrentando uma conjuntura desfavorável à sua classe, os sindicatos de metalúrgicos da cidade de São Paulo e de outros municípios do Estado criaram, em 1967, o Movimento Intersindical Antiarrocho a fim de pressionar o governo a adotar medidas que beneficiassem os assalariados.

Jurandir no calor das manifestações

Jurandir vivenciou essa conjuntura política e econômica e fre-quentou assiduamente as reuniões do sindicato, em que se discutia a necessidade de organizar uma greve em São Bernardo do Campo. Em novembro de 1978, os metalúrgicos realizaram uma grande greve, com, aproximadamente, 400 mil pessoas. Daí em diante as greves começa-ram a se multiplicar e a se intensificar em todo o País.

Jurandir era membro da Comissão de Fábrica, que tinha o papel de organizar as informações sobre as condições de trabalho naquela empresa e, com outras comissões, discutir os problemas enfrentados pelos trabalhadores. Dessas discussões, eram originados boletins para divulgar a todos os trabalhadores as medidas tomadas coletivamente.

Com a mobilização dos metalúrgicos, foi deflagrada uma greve em 1979, que se espalhou por todo o País e envolveu outras categorias, como médicos, bancários, operários da construção civil e professores, entre outras – e cerca de 3,2 milhões de trabalhadores entraram em greve.

História9o ano/4o termoUnidade 4

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A solidariedade entra em campo

Os operários grevistas e suas famílias passaram a enfrentar inú-meras dificuldades, ocorrendo até mesmo problemas de subsistência, já que os dias de greve eram descontados do salário do trabalhador.

Mas rapidamente os próprios trabalhadores organizaram arreca-dações de mantimentos para distribuição entre eles. Jurandir esteve à frente da construção do Fundo de Greve, uma ação que angariava recursos para sustentar as famílias dos trabalhadores em greve, pois percebia que havia pessoas querendo colaborar, e o movimento, envolvido com a greve, não conseguia priorizar a constituição do fundo. Algumas contribuições chegavam ao sindicato, e Jurandir e os colegas começaram a comprar mantimentos no mercado mais próximo, mas logo perceberam que isso era insuficiente. Sua esposa, Nilda, também começou a ajudar na organização e distribuição dos mantimentos que chegavam.

O movimento contou com auxílios importantes: dom Cláudio Hummes, da Igreja Católica, fez um pronunciamento em jornal, ofe-recendo todas as paróquias como “postos de arrecadação” de manti-mentos. Shows também foram realizados para levantar fundos para sustentar as famílias durante a greve.

Longa fila

[...] Pela manhã, a praça da Matriz exibe a longa fila, em busca da ração do Fundo de Greve: dois quilos de arroz, dois de feijão, meio quilo de sal, uma lata de óleo, um quilo de farinha. A fila – de homens também, mas principalmente de mulheres e crianças – é o único sinal visível da greve na praça. O Paço Municipal e o Estádio de Vila Euclides mostram mais claramente o quadro: as tropas da Polícia Militar acamparam no Paço, com dois caminhões de transporte de cavalos e uns cinquenta PMs que, em grupos pequenos, cobrem toda a área. No Estádio, a pé ou a cavalo, postada até dentro do campo, a PM impede a aproximação de qualquer pessoa. O Estádio, primeiro, e o Paço, em seguida, seriam os locais da assembleia dos metalúrgicos.

Desviados pelo cerco policial, eles vão chegando ao largo da Matriz – até que, por volta de nove horas, já há uma pequena multidão na praça, arrecadando dinheiro para o lanche depois da assembleia, distribuindo passes escolares para que os grevistas menos prevenidos possam voltar para casa. [...]

S. Bernardo mantém greve, sob tensão. Folha de S.Paulo, 23 abr. 1980.

Como pode ser verificado no texto, enquanto, de um lado, havia a solidariedade dos trabalhadores e da sociedade civil, de outro, havia a repressão militar às manifestações.

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Atividade 4 Repressão policial

1. Leia o trecho do livro 20 anos da Medalha Chico Mendes de Resistência: memórias e lutas, publicado pelo Grupo Tortura Nunca Mais/RJ.

Santo Dias da Silva

Nasceu em 22 de fevereiro de 1942, em São Paulo, filho de Jesus Dias da Silva e Laura Amâncio.

Operário metalúrgico, era motorista de empilhadeira. Antes havia sido lavra-dor, colono, diarista e boia-fria. Em 1961, foi expulso, com a família, das terras onde era colono, por exigir registro de carteira profissional, como era lei. Tra-balhador em fábrica, foi demitido por participar de campanhas coletivas por aumento de salário e adicional de horas extras.

Líder operário bastante reconhecido no meio dos trabalhadores, era casado e pai de dois filhos.

Após sua covarde morte, como homenagem de sua luta e seu exemplo, foi criado o Centro Santo Dias de Direitos Humanos da Arquidiocese de São Paulo.

Santo era membro da pastoral operária de São Paulo, representante leigo ante a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, CNBB, membro do Movimento Contra a Carestia, candidato a vice-presidente da chapa 3, da Oposição, no Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, e integrante do Comitê Brasileiro pela Anistia – CBA/SP.

Assassinado friamente pela PM paulista quando comandava um piquete de greve no dia 30 de outubro de 1979, [...] em Santo Amaro, bairro da região sul[1].

Relato da morte de Santo Dias, publicado no Boletim do Sindicato dos Meta-lúrgicos de São Paulo, encontrado no Arquivo do DOPS/SP:

“Os policiais estavam puxando o Espanhol por um lado. Do outro, Santo segu-rava o companheiro. Começou então a violência, com tiros para cima e, depois, eu vi o Santo ser atingido na barriga, de lado, e o tiro sair de outro lado. Escutei três gritos: ai, ai, ai. E o Santo caiu no chão”.

O metalúrgico Luís Carlos Ferreira relatou assim a morte de Santo Dias da Silva, no depoimento que prestou à Comissão de Justiça e Paz, que também ouviu mais duas outras testemunhas sobre a morte do companheiro. Segundo Luís Car-los afirmou à Comissão, ele estava a uns seis metros de distância de Santo Dias no momento em que ele foi baleado.

“Os policiais continuaram a perseguir outros”, prossegue Luís Carlos no seu depoimento. “Eu fiquei atrás de um poste e posso, com toda segurança, reconhe-cer o policial que atirou no Santo: tem cerca de um metro e oitenta, alto, forte e aloirado. E pude ver, depois, na delegacia, que ele tem uma falha na arcada dentária. Vi ele bem, quando eu estava sendo levado preso no Tático Móvel 209.”

Luís Carlos lembra que havia cerca de 50 operários no piquete, que nunca usou de violência, “pois só fazíamos o trabalho de conscientização”. Ele também desmente a versão de que os trabalhadores teriam iniciado o conflito, afirmando que, “quando chegamos[2], [...] tinha uns quatro ou cinco policiais guardando o local. Não houve nenhum atrito com eles e nenhum de nós estava armado”.

Luís Carlos Ferreira reconheceu o soldado Herculano Leonel como o autor do disparo que matou o operário.

[1] Da capital paulista [nota do editor].[2] Na porta da fábrica [nota do editor].

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Correndo, assustados e ao mesmo tempo com raiva do ocorrido, os compa-nheiros entraram na sede com a notícia parada na garganta: “Mataram o Santo”. Num primeiro momento, a dúvida e, após a confirmação, a dor. A repressão[3] [...] dissolveu a tiros o piquete; fez um ferido (João Pereira dos Santos) e um morto, Santo Dias da Silva. A triste notícia correu de boca em boca. As autoridades pro-curavam esvaziar e eximir-se da culpa.

Imediatamente começou a mobilização dos trabalhadores para protestar contra o assassinato. A polícia não queria nem mesmo liberar o corpo. Depois da interfe-rência de outros sindicalistas e parlamentares, o corpo de Santo chegou à Igreja da Consolação, onde foi velado pelo povo de São Paulo. A tristeza se misturava com a incredulidade e a raiva contra os assassinos. Milhares de pessoas desfilaram diante do caixão aberto de Santo, prestando sua homenagem ao novo mártir da luta ope-rária, que estampava no seu rosto um leve sorriso de tranquilidade.

Já na madrugada, o povo continuava a rezar por Santo e a se preparar para a grande marcha até a Sé, local fixado para a cerimônia de encomendação do corpo.

Às 8h00 da manhã, a movimentação diante da Consolação era grande: metalúrgi-cos, estudantes, todos querendo levar Santo. Saindo da Consolação às 14h10, o cor-tejo com faixas e palavras de ordem contava com mais de 10 mil pessoas. Dos prédios caíam papéis picados, um sinal silencioso de solidariedade. Novos manifestantes se acresciam ao cortejo e as palavras de ordem se sucediam: “A luta continua”, “A polícia dos patrões matou um operário”, “Você está presente, companheiro Santo”...

GRUPO TORTURA NUNCA MAIS. 20 anos da Medalha Chico Mendes de Resistência: memórias e lutas. Rio de Janeiro: Grupo Tortura Nunca Mais. Disponível em: <http://www.torturanuncamais-rj.org.br/

MDDetalhes.asp?CodMortosDesaparecidos=182>. Acesso em: 17 jun. 2013.

2. Em grupo, interpretem o texto para responder às questões a seguir:

a) Como vocês compreendem a ação dos trabalhadores? E da polícia?

[3] Em frente à empresa para a qual Santo se dirigira a fim de acalmar os ânimos [nota do editor].

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Eles não usam black- -tie (direção de Leon Hirszman, 1981) apresenta diferentes perspectivas durante o movimento grevista: alguns trabalhadores envolvidos e propensos a enfrentar as consequências, outros temerosos com a possibilidade de perder o emprego.

b) Há, na opinião do grupo, saídas possíveis para evitar o confronto entre trabalhadores e policiais? Se sim, quais? Se não, por quê?

c) Vocês consideram que, ao decretar greve, as demandas dos trabalhadores eram justas? Por quê?

3. Sistematizem as opiniões e discutam com a turma, a fim de com-pararem as opiniões.

Fim da ditadura militar

Com o fim da ditadura militar, os sindicatos e as centrais de tra-balhadores passaram a ter liberdade de ação, o que fez com que hou-vesse uma redefinição e um reposicionamento das correntes de pen-samento do movimento sindical, e que levou a uma reformulação das centrais sindicais, desde então, legalizadas.

Fica a dica

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Nesta Unidade, foram abordadas as origens do sindicalismo no Brasil e seus desdobramentos para os trabalhadores: muitos foram mortos na tentativa de conquistar um Estado de Direito mais amplo e na busca por liberdade de expressão.

Com a conjuntura econômica desfavorável, os sindicatos, mais recentemente, alteraram o objetivo de luta a fim de garantir o empre-go em vez da busca por melhores salários e condições de trabalho.

Você estudou

A ação sindical é apenas uma maneira de elevação dos salários? Se os salários aumentam, as lutas por melhores condições de trabalho podem perder a força ou o sentido? Por quê?

Pense sobre

Você sabia que, após a abertura para a democracia, surgiu outro movimento, o chamado “novo sindicalismo”?

O novo sindicalismo também aceitava que os sindicatos estivessem atrelados ao Estado e, assim, perpetuava uma relação de dependência e de liberdade controlada. Por outro lado, optou por adotar uma postura mais combativa e reivindicativa, passando a assumir a posição de agenciadores dos conflitos entre patrões e empregados. Essas duas características marcaram a contradição desse movimento.

As lutas sindicais ainda tiveram grande repercussão nos últimos anos da década de 1980 e nos primeiros da de 1990, pois as conquis-tas sociais obtidas se refletiram por todo o País.

A atuação dos sindicatos de categorias, como bancários, funcio-nários públicos, metalúrgicos e petroleiros, fez refletir sua agenda de reivindicações na atuação de sindicatos de outras categorias e na pró-pria elaboração da Constituição de 1988.

Bancários e metalúrgicos, porém, sofreram grandes reduções no contingente de trabalhadores em decorrência da reestruturação do trabalho que ocorreu a partir da década de 1990, sobretudo em razão da informatização e da automação, já que robôs e terminais automá-ticos eliminaram milhares de postos de trabalho em vários setores.

A esse cenário, provocado pelos fatores mencionados e pelo baixo desenvolvimento econômico decorrente da recessão, que caracterizaram boa parte desse período, pode-se ainda acrescentar mais um fato que colaborou com o refluxo da atividade sindical: a imposição de represálias e multas aos respectivos sindicatos, além da ocupação militar das refinarias, em uma clara mensagem de desen-corajamento às atividades reivindicatórias na greve de 1995.

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Você estudou no 7o ano/2o termo duas formas de organização do trabalho: o taylorismo e o fordismo. Foi analisado que o fordismo carregava consigo mais do que uma nova maneira de realizar o traba-lho, acelerado pelo uso de esteiras mecânicas. Henry Ford, seu ideali-zador, pressupôs que a produção em massa deveria vir acompanhada do consumo em massa.

Mas como falar de fordismo no Brasil se, diferentemente dos Esta-dos Unidos, a população não teve acesso aos bens que produzia?

Nesta Unidade, será estudado o que aconteceu com o trabalho e o emprego no Brasil dos anos 1980 até a atualidade.

Para iniciar...

Converse com o professor e os colegas:

• Relembre a sua história, de conhecidos ou da sua família nos anos 1990: Alguém ficou desempregado? Por quê?

• Você se lembra da situação econômica do País? Como era?

• Quais eram as explicações dadas pelo governo e por especialistas para os níveis elevados de desemprego naquela época?

Anos 1980: década perdida?

Depois de anos de avanço e crescimento econômico, o Bra-sil, assim como todo o mundo, ressentiu-se dos danos causados pela crise do petróleo e pela perda da paridade entre dólar e ouro. O Brasil sofria ainda mais com essa conjuntura internacional, pois sua dívida externa saltou de US$ 12 bilhões para US$ 64 bilhões entre 1973 e 1980, além do pagamento dos juros da dívida que, de US$ 500 milhões, passou para US$ 6 bilhões no mesmo período. Para ter uma ideia do volume da dívida externa brasileira, ela represen-tava, em 1988, um terço do total da dívida de toda a América Latina. Segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU, 1989), a dívida da América Latina alcançava US$ 401,5 bilhões neste período.

3 reeStruturação produtiva

Dívida externaÉ a soma de todas as dívidas contraídas no país, tanto as feitas pelos poderes públicos como pelas empresas privadas. As dívidas são financiamentos buscados de um país a outros.

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Como você pôde perceber, a economia no mundo está interligada e os fatos atuam em “efeito dominó”.

O valor do salário mínimo reflete o que aconteceu com o poder de compra dos trabalhadores: considerando que, em 1980, ele era representado por 100%, em 1988 ele equivalia a apenas 67%.

Veja uma comparação que mostra a valorização e a desvaloriza-ção do salário mínimo:

A charge representa a interligação das economias do mundo. Quando um país entra em crise econômica,

acaba afetando a economia de outro país, e este afeta um outro, e

assim por diante.

Fonte: OLIVEIRA, Mariana. Veja evolução do salário mínimo desde sua criação, há 70 anos. G1 Economia, 16 fev. 2011. Disponível em: <http://g1.globo.com/economia/noticia/2011/02/veja-evolucao-do-salario-

minimo-desde-sua-criacao-ha-70-anos.html>. Acesso em: 14 jun. 2013.

Ano Salário mínimo (valores corrigidos)

1940 (ano da criação do salário mínimo) R$ 1 202,29

Entre os anos 1960 e 1980 Variação entre R$ 1 211,98 e R$ 686,08

1996 R$ 266,17

Para medir o poder de compra do salário mínimo, é possível dizer que, se todo o salário fosse destinado à compra de carne, tem-se que:

• em 1959, seria possível comprar 85 kg de carne;

• em 1995, apenas 21 kg seriam comprados; e

• em 2009, 37 kg.

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O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioe-conômicos (Dieese) elabora um estudo com base na cesta básica e indica, anualmente, o valor ideal para o salário mínimo. Para maio de 2013, o valor ideal indicado pelo órgão foi de R$ 2 873,56. Porém, o valor oficial era de R$ 678,00, enquanto o salário mínimo paulista (acima do nacional) era de R$ 755,00.

Medição do desemprego

O desemprego era um fator preocupante, mas é preciso atenção para compreender esse cenário: os índices oficiais no período anali-sado podem dificultar o entendimento da crise, porque a taxa anual média brasileira de trabalhadores sem emprego era de 6,2% da popu-lação economicamente ativa (PEA) em 1980; já em 1988, era de 4%. Os números revelam que a situação do desemprego melhorou, mas é preciso sempre notar como esses índices são calculados. A seguir são apresentados alguns critérios que constavam no cálculo dessa época:

• Quem desistiu de procurar emprego não era considerado de-sempregado;

• Um pedreiro de uma construtora que foi demitido e passou a fazer “bicos”, por exemplo, também não era considerado desempregado.

Pode-se constatar, então, que a crise econômica fez crescer o tra-balho informal, ou seja, aquele sem direitos trabalhistas, e ajudou a ocultar as reais condições de vida da população, pois parte dela pas-sou a não mais contar com os direitos vinculados ao trabalho.

A conjuntura política na passagem dos anos 1970 aos 1980 era de abertura política. Uma interpretação possível para o fato de os militares abandonarem o poder defende que a ditadura militar havia contraído grandes dívidas e o País estava à beira do descontrole eco-nômico e social. A pressão da sociedade crescia para a retomada da democratização do País, por salários mais dignos e pelo direito de eleger seus governantes.

Contudo, se, por um lado, a década de 1980 foi considerada perdida do ponto de vista econômico, por outro, os movimentos sociais se fortaleceram e houve, como você já estudou no 8o ano/ 3o termo desta disciplina, a promulgação da Constituição de 1988, considerada o ponto máximo do processo de redemocratização do País.

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Atividade 1 Anos 1980

1. Leia a letra a seguir e, se possível, ouça a interpretação de Raul Seixas da canção Anos 80.

Hei! Anos 80Charrete que perdeu o condutorHei! Anos 80Melancolia e promessas de amor E o juiz das 12 varasDe caniço e samburáDando o atestado que o compositor errou

Gente afirmandoNão querendo afirmar nadaQue o cantor cantou erradoE que a censura concordou Hei! Anos 80Charrete que perdeu o condutorHei! Anos 80Melancolia e promessas de amor

Pobre País carregador dessa misériaDividida entre IpanemaE a empregada do patrãoVarrendo lixo prá debaixo do tapeteQue é supostamente persaPrá alegria do ladrão Hei! Anos 80Charrete que perdeu o condutorHei! Anos 80Melancolias e promessas de amorMinha esperança sonho de um sonhador

Anos 80

Warner Chappell Edições Musicais Ltda. Todos os direitos reservados.

Raul Seixas e Dedé Caiano

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a) Em quais passagens o autor se refere à crise econômica?

b) Em quais ele está fazendo alusão à ditadura militar?

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2. Escreva com suas palavras o que compreendeu sobre os anos 1980 no Brasil.

Novas tecnologias

Foi visto, em outras oportunidades, que a 1a Revolução Industrial trouxe, entre muitas modificações, o tear mecânico; a 2a Revolução Industrial, a eletricidade. A eletrônica, como base técnica do trabalho, já tinha presença consolidada na produção, mas, com o avanço da microeletrônica – a que produz circuitos em miniatura como o chip de celular, por exemplo –, o setor industrial, mesmo com as dificul-dades vivenciadas pela crise, passou a investir em novas máquinas e o processo de automação avançou a passos largos.

Na indústria automobilística onde trabalhava Jurandir, a instalação de máquinas-ferramenta de controle numérico (MFCNs) ganhou força a par-tir de 1990. Na produção, também foram inse-ridos robôs, controladores lógico-programáveis, entre outros equipamentos. Foram instaladas máquinas nas áreas da fábrica onde mais havia operários. Jurandir, embora aposentado, conti-nuava trabalhando na fábrica. A situação o pre-ocupava, e ele pensava: “onde antes tinha operá-rio agora só têm máquinas, e elas produzem mais com menos gente”.

Com essas mudanças, os operários passaram a estranhar o trabalho, porque se sentiam apenas apertadores de botão, sendo que a máquina infor-mava se o que foi feito estava certo ou errado. Mas o maior problema não era esse. Com a auto-matização, começaram as demissões em massa.

Indústria automobilística completamente automatizada. Existem setores em que operários não trabalham, apenas máquinas.

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Atividade 2 A percepção dos trabalhadores

1. Em grupo, analisem as falas de operários que viveram o momento da automação na indústria automobilística. É importante que vocês procurem se colocar no lugar dos trabalhadores dessa época:

Fica a dica

Roger e eu (Roger & Me, direção de Michael Moore, 1989) retrata a situação socioeconômica de um município dos Estados Unidos, onde está instalada uma grande indústria automobilística que gera empregos diretos e indiretos, além de impostos. Quando a empresa encerra suas atividades ali, a cidade entra em decadência.

[...]

“Com a automação, os trabalhadores gostam menos do seu trabalho [...]. O sol-dador fica só apertando botão, o engenheiro vai virar manipulador de equipa-mentos. A qualificação virou apertar botão. Todo trabalhador é substituível.” (Comissão de fábrica da Automobilística “B”, Osasco) [...]

“Não dá para o trabalhador controlar o tempo, ele tem que seguir o ritmo do robô... A chefia pega no pé quando o cara demora mais que o robô. A gente não tem tempo de ir ao banheiro, tudo tem que ser feito às pressas.” (Ponteador da linha automatizada da Automobilística “B”, São Bernardo) [...]

“As máquinas são novas e os robôs são difíceis de consertar. O trabalho agora é mais perigoso. A velocidade da linha é muito maior e da máquina também. O trabalho é mais incômodo: o trabalhador tem que ficar dentro da máquina e qual-quer descuido causa acidente.” (Mecânico de manutenção, Automobilística “B”, São Bernardo) [...]

“Toda e qualquer automação que acontece dentro da fábrica visa em primeiro lugar ao lucro da empresa: a maior produtividade e a maior qualidade do pro-duto, e o quanto isso vai diminuir a mão de obra. A questão humana – Homem – entra lá embaixo, é o último patamar dessa escala toda. A gravidade da coisa está justamente aí: como conseguir inverter essa escala de valores, colocando o Homem em primeiro lugar. Uma das coisas é reaproveitar a mão de obra que vai sair. Para isso, a solução é a redução da jornada de trabalho.” (Comissão de fábrica da Automobilística “B”, São Paulo) [...]

ABRAMO, L. W. O movimento sindical metalúrgico em São Paulo: 1978-1986. In: NEDER, R. T. et al. Automação e movimento sindical no Brasil. São Paulo: Hucitec,

OIT/PNUD/IPEA, 1988, p. 141, 151, 156 e 173. Grifo do original.

Quais são os aspectos apresentados nas falas desses trabalhadores com que vocês concordam? De quais vocês discordam? Por quê?

2. Organizem uma dramatização tomando por base as falas ana-lisadas. Lembrem-se de que o resultado do trabalho será mais significativo se compartilharem as tarefas e tomarem as decisões coletivamente.

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Essa nova organização do trabalho resultou na diminui-ção do tempo de fabricação de, por exemplo, um automó-vel: eram necessárias 19 horas para produção de um veículo, enquanto, na Europa, a produ-ção ainda demorava 36 horas. Atualmente, em uma determi-nada fábrica no Brasil, são pro-duzidos 34 carros por hora.

A lógica do toyotis mo logo se expandiu para outros tipos de indústria e serviço. Se a pala-vra de ordem no fordismo era rigidez (em todos os sentidos: fixação do homem ao posto de trabalho, controle dos tempos e movimentos, estabilidade no emprego), no toyotismo a pala-vra-chave é flexibilidade.

Toyotismo: a nova organização do trabalho

Você percebeu que as alterações na organização do trabalho têm sempre o mesmo objetivo: aumentar a produtividade reduzindo custos. A lógica é: fazer mais em menos tempo e, se possível, com menos tra-balhadores.

No toyotismo não foi diferente. Essa nova forma de organiza-ção do trabalho surgiu no Japão após a 2a Guerra Mundial, princi-palmente para fazer frente à indústria automobilística estadunidense. Os japoneses inovaram e alteraram completamente o modo de pensar que vigorava com o fordismo.

Veja as principais diferenças:

Fordismo Toyotismo

Produção em série de um mesmo produto

Produção de muitos modelos em pequena quantidade

Grandes estoques de produtos Estoque mínimo, só se produz o que é vendido

Especialização: um homem opera uma máquina

Polivalência: um homem opera várias máquinas

Na organização toyotista do trabalho, um operário fica responsável por várias funções ao operar máquinas mais complexas. Com isso, as empresas podem dispensar mais operários, diminuir o custo com mão de obra e aumentar a margem de lucro, já que um homem exerce a função de vários. Esse modelo contribuiu para o aumento do desemprego no País.

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Esse conjunto de mudanças, que nos países centrais aconteceu nos anos 1980, chegou com força ao Brasil na década de 1990. Pelas características históricas do País, que concede amplos benefícios ao capital privado, as mudanças aconteceram de forma mais obje-tiva para as empresas movidas pela busca da redução de custo e do aumento da competitividade. A corda rompeu-se do lado dos traba-lhadores, que foram demitidos em massa, em consequência de muitas mudanças e da inovação tecnológica.

Se a ordem era a redução de custos, as empresas adotaram tam-bém a terceirização de várias etapas da produção.

Com o modelo toyotista, as empresas passaram a se concentrar apenas em sua atividade principal, terceirizando todas as outras seções e serviços. Assim, contrataram empresas de alimentação, segurança, limpeza etc., em vez de elas mesmas fornecerem esses serviços.

Tome como exemplo a fábrica onde Jurandir trabalhava, que, no auge da capacidade produtiva, contava com 44 mil operários. Além de todas as etapas da produção de um veículo, a fábrica abrigava no seu complexo empresarial a parte administrativa, o refeitório, o trans-porte, a segurança etc.

Imagine, então, qual seria a maior padaria do Brasil. Não seria a que estava instalada nessa fábrica, já que ela produzia pães para vários turnos: café da manhã, almoço e jantar? Essa foi uma das primeiras medidas do toyotismo: terceirizar todas as seções que não fossem carac-terizadas como atividade-fim da empresa, que é sua atividade principal.

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No processo de terceirização, as empresas se desencarregam da produção e, consequentemente, dos custos da força de trabalho.

Como estudado no 6o ano/1o termo desta disciplina, pensar na terceirização causou confusão muitas vezes, afinal, muitos traba-lhadores que saíram de uma indústria automobilística foram con-tratados por uma empresa terceirizada que prestava serviços para a mesma indústria.

Jurandir vivenciou na pele a redução de custos por parte da empresa, pois foi demitido. Quando vieram as máquinas, sua fun-ção desapareceu. Foi, então, substituído pelas máquinas e por um jovem que controlava várias delas ao mesmo tempo. Muitas das especializações desse tempo desapareceram nas fábricas e no setor de serviços.

A reestruturação produtiva – como foi chamada a fase que con-tou com novas tecnologias e modos de organização e que, no Brasil, teve como fator importante a demissão de muitos trabalhadores – levou especialistas e governo a estudar o fenômeno, a fim de encontrar solu-ções para os índices elevados de desemprego.

Atividade 3 Pesquisando o desemprego

Com base no que foi estudado, discutam em grupo:

1. Quais foram as razões que levaram à demissão em massa de tra-balhadores a partir dos anos 1990?

Fica a dica

Amor sem escalas (Up in the air, direção de Jason Reitman, 2009). Apesar de o título sugerir tratar--se de uma comédia romântica, ele retrata a vida de um especialista em demitir pessoas. A reorganização da economia criou tantos desempregos que, no filme, uma empresa é especializada em demitir funcionários. Essa é a função do personagem interpretado por George Clooney, que tem orgulho de viajar o tempo todo, e não ter cultivado laços afetivos importantes. A expressão dessa vida é seu apartamento: impessoal, sem traços de quem vive lá, como fotografias, objetos pessoais, aparelhos etc.

Seu próprio trabalho passa por transformações, pois o aumento da “demanda” de serviços de demissão pede redução de custos. O que você acharia de receber o comunicado pela internet?

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2. Os trabalhadores foram, muitas vezes, responsabilizados por sua condição de desemprego. O que vocês acham disso?

3. Havia um discurso predominante baseado na falta de qualificação dos trabalhadores em face das novas tecnologias. Quem, na opi-nião do grupo, deve se responsabilizar pela formação e prepara-ção para o trabalho?

4. Quais eram as saídas possíveis para evitar o desemprego em mas-sa no Brasil?

Políticas públicas de emprego

O governo viu-se obrigado a desenvolver políticas públicas de emprego, a fim de auxiliar no combate aos altos níveis de desem-prego vivenciados nos anos 1990. Conheça algumas iniciativas:

1. Seguro-desemprego

Criado em 1990, é um auxílio financeiro temporário concedido pelo governo federal a trabalhadores com carteira assinada que foram demitidos sem justa causa. O desempregado, ao entrar no sistema do

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MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO. Seguro-Desemprego Novo. Emprego e renda. Brasília. Disponível em: <http://portal.mte.gov.br/seg_desemp/seguro-desemprego-formal-2.htm>.

Acesso em: 14 jun. 2013.

• trêsparcelas,seotrabalhadorcomprovarvínculoempregatíciodenomínimoseis meses e no máximo onze meses, nos últimos trinta e seis meses;

• quatroparcelas,seotrabalhadorcomprovarvínculoempregatíciodenomínimo doze meses e no máximo 23 meses, nos últimos 36 meses;

• cincoparcelas,seotrabalhadorcomprovarvínculoempregatíciodenomínimo 24 meses, nos últimos 36 meses.

O valor a ser recebido é calculado pela média do salário dos últi-mos três meses de trabalho. Por exemplo: se o trabalhador foi demi-tido em outubro, e recebeu, em setembro, R$ 850,00; em agosto, R$ 800,00; e em julho, R$ 800,00. Calcula-se a média da seguinte forma:

850,00 + 800,00 + 800,00 = 2 450,00 ÷ 3 (meses) = 816,67

Com esse valor, o trabalhador consulta as faixas de salário médio no qual se enquadra, conforme a tabela do Ministério do Trabalho e Emprego:

Cálculo do benefício – Seguro-desemprego – Janeiro/2013

Calcula-se o valor do salário médio dos últimos três meses anteriores à dispensa e aplica-se na fórmula abaixo:

Faixas de salário médio Valor da parcela

Até R$ 1 090,43 Multiplica-se salário médio por 0,8 (80%)

De R$ 1 090,44 até R$ 1 817,56

O que exceder a R$ 1 090,43 multiplica-se por 0,5 (50%) e soma-se a R$ 872,35

Acima de R$ 1 817,56 O valor da parcela será de R$ 1 235,91 invariavelmente.

Salário mínimo: R$ 678,00

Obs.: o valor do benefício não poderá ser inferior ao valor do salário mínimo, sendo observado o contido nos § 2o e incisos I e II do § 3o do artigo 5o da Lei 7.998/1990.

seguro-desemprego, conta com cadastro para a busca de uma nova colocação e também para realizar cursos de formação profissional.

Atualmente, o seguro-desemprego é pago em, no máximo, cinco parcelas e segue determinadas regras para a concessão, segundo o Ministério do Trabalho e Emprego:

MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO. Seguro-desemprego novo. Emprego e renda. Brasília. Disponível em: <http://portal.mte.gov.br/seg_desemp/seguro-desemprego-formal-2.htm>.

Acesso em: 14 jun. 2013.

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Os documentos necessários para solicitar o seguro-desemprego são:

• Requerimentodoseguro-desempregoSD/CD[02(duas)vias–verdeemarrom];

• CartãodoPIS-Pasep,extratoatualizadoouCartãodoCidadão;• CarteiradeTrabalhoePrevidênciaSocial–CTPS(verificartodasqueoreque-

rente possuir);• TermodeRescisãodoContratodeTrabalho–TRCTdevidamentequitado;• DocumentosdeIdentificação–carteiradeidentidadeoucertidãodenasci-

mento/certidão de casamento com o protocolo de requerimento da identidade (somente para recepção) ou carteira nacional de habilitação (modelo novo) ou carteira de trabalho (modelo novo) ou passaporte ou certificado de reservista;

• 03(três)últimoscontracheques,dos3(três)mesesanterioresaomêsdedemissão; e,

• DocumentodelevantamentodosdepósitosdoFGTS(CPFGTS)ouextratocomprobatório dos depósitos ou relatório da fiscalização ou documento judi-cial (Certidão das Comissões de Conciliação Prévia/Núcleos Intersindicais/Sentença/Certidão da Justiça);

• Comprovantederesidência;• Comprovantedeescolaridade.

Para informações complementares sobre o seguro-desemprego, você pode acessar o site do Ministério do Trabalho e Emprego (disponível em: <http://portal.mte.gov.br/portal-mte/>, acesso em: 18 jun. 2013).

2. Intermediação de mão de obra

O Sistema Nacional de Emprego (Sine), criado em 1975, atua com o objetivo de auxiliar a colocação de trabalhadores desempregados. Seu funcionamento acontece em parceria com os governos estaduais.

O serviço capta vagas no mercado de trabalho e, segundo as características do cadastro dos candidatos, encaminha-os para os pro-cessos de seleção.

3. Formação profissional

Foram estudadas – no 8o ano/3o termo desta disciplina – a Classifi-cação Brasileira de Ocupações (CBO) e a formação profissional. Esta última, como política pública, teve forte apelo durante o período da reestruturação produtiva, pois predominava o discurso de que have-ria emprego se os trabalhadores fossem mais capacitados. Apesar de essa proposição defender que os mais escolarizados não vivenciariam o desemprego, o que ocorreu de fato foi que esse fenômeno atingiu a todos, independentemente da escolaridade.

É muito importante lembrar que a busca por educação e formação profissional tornou-se parte relevante da vida pessoal e profissional dos

MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO. Seguro-desemprego novo. Emprego e Renda. Brasília. Disponível em: <http://portal.mte.gov.br/seg_desemp/documentacao-necessaria.htm>. Acesso em: 17 jun. 2013.

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• Desenvolveratividadeprodutiva(formalouinformal)nosmunicípioscon-templados pelo BPP.

• SePessoaFísica,residirhámaisde2anosemmunicípiocontempladopeloBPP, com endereço fixo.

• SePessoaFísica,comempreendimentoemendereçofixoemoutromunicípiocontemplado pelo BPP, possuir o negócio há mais de 2 anos.

• SePessoaJurídica,nãoháexigênciadetempoderesidência.• NãoterrestriçõescadastraisnoSCPC,SerasaeCadinEstadual.• TerfaturamentobrutodeatéR$360milnosúltimos12meses.• Sermaiorde18anosdeidade.Menorcomidadeapartirde16anos,desdeque

seja emancipado legalmente.• Analfabetosouportadoresdedeficiênciafísica(queimpeçaaleituradocon-

trato ou o comparecimento no ato da assinatura), somente através de procu-ração pública, outorgando poderes a terceiros para representá-lo no ato da assinatura do contrato e que deverá ser lavrada em cartório local. Observação: Deficiente mental é considerado incapaz, não podendo assumir compromissos.

Para mais informações sobre a documentação necessária, acesse o site do Banco do Povo Paulista (disponível em: <http://www.bancodopovo.sp.gov.br/>, acesso em: 14 jun. 2013).

BANCO DO POVO PAULISTA. Secretaria do Emprego e Relações do Trabalho. Microcrédito do Banco do Povo. A quem se destina. Disponível em: <http://www.bancodopovo.sp.gov.br/v5/bpp_frame_criterios.

asp>. Acesso em: 14 jun. 2013.

sujeitos. Contudo, nem sempre, na história do trabalho e do emprego, a educação e a formação foram decisivas para a obtenção de um posto de trabalho.

Nos anos 1990, o Ministério do Trabalho e Emprego desenvolveu o Plano Nacional de Educação Profissional (Planfor), que financiou programas de formação em todo o País, sendo depois substituído, em 2003, pelo Plano Nacional de Qualificação (PNQ).

4. Auxílio ao autoemprego

Tendo em vista a escassez de empregos formais nos anos 1990, a política pública de emprego voltou-se para o incentivo de empreendi-mentos individuais como saída para o desemprego.

No Estado de São Paulo, por exemplo, criou-se o Banco do Povo Paulista, em 1997 (Lei no 9.533), a fim de conceder crédito a pessoas cuja intenção fosse iniciar ou incrementar sua atividade profissional. Por exemplo: uma cabeleireira que precisa comprar equipamentos para abrir seu negócio; um marceneiro que aumentará sua produção adqui-rindo uma nova ferramenta. Esses são profissionais que podem solicitar financiamento no Banco do Povo.

Segundo a Secretaria do Emprego e Relações do Trabalho (Sert), constituem-se em exigências aos demandantes:

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Pense sobre

Desemprego é mais do que não trabalhar. O que significa tal situa-ção na vida de qualquer cidadão?

Você estudou

Nesta Unidade, foram apresentadas as transformações ocor-ridas nas relações de trabalho no período compreendido entre 1980 e 1990. O Brasil amargou forte crise econômica por várias razões, entre elas o endividamento do Estado brasileiro em con-sequência dos altos custos de obras realizadas durante o regime militar e consideradas faraônicas, ou seja, de grandeza exagerada conforme as realizadas pelos antigos faraós do Egito.

A reestruturação produtiva também foi tema de estudo, a fim de compreender que o desemprego é um movimento da economia e que os trabalhadores isoladamente não podem ser responsabili-zados por esse fenômeno mundial. A adoção de novas tecnologias causou o chamado desemprego estrutural, mas nem todos os paí-ses que passaram por essa fase vivenciaram altos níveis de desem-prego. Isso porque um Estado de Direito, ou seja, um Estado que garante determinados direitos à população, evita que empregado-res tenham total liberdade para demitir. As políticas em alguns países – diante da previsão da eliminação de postos de trabalho em função da adoção de automação, robotização ou de nova ma-quinaria – obrigam as empresas a requalificar os trabalhadores para que estes ocupem outra função nas próprias empresas.

Você conheceu também alguns aspectos das políticas públi-cas de emprego existentes no País, como o seguro-desemprego e a intermediação de mão de obra, entre outras.

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Esta Unidade tem como objetivo discutir a nova situação da economia brasileira e do emprego, muito diferente das estudadas na Unidade 3. A crise mundial que abalou as economias estáveis dos países desenvolvidos em 2008 não causou danos importantes no Brasil. O ritmo de desenvolvimento e crescimento econômico e social seguiu seu curso natural. Mesmo assim, as pessoas continua-vam em busca de um (novo) emprego. Por essa razão, esta disciplina é finalizada ao abordar as estratégias para a obtenção de um novo posto de trabalho.

Para iniciar...

Converse com o professor e os colegas:

• Quais são as notícias que você ouve sobre a geração de novos em-pregos na história recente do Brasil?

• Esses empregos são formais ou informais?

• Em sua opinião, quais são os setores que mais contratam hoje? Por quê?

• O que você observa entre as pessoas com as quais convive: Elas estão desempregadas? Conseguiram emprego facilmente? Relem-bre uma história que você acha interessante sobre isso para com-partilhar com a turma.

Economia e emprego

Entre o final de 2011 e boa parte de 2012, o Brasil chegou a ocupar a sexta posição entre as maio res economias mundiais, atrás de Estados Unidos, que lideravam o ranking (lista de classificação), China, Japão, Alemanha e França. No entanto, no último trimestre de 2012, voltou para a sétima posição, ficando novamente o sexto lugar para o Reino Unido – formado pelos países: Inglaterra, Irlanda do Norte, Escócia e País de Gales.

É importante refletir sobre os números que definem classificações dessa natureza. A despeito da classificação, é importante observar

4 eStratégiaS de buSca de eMprego

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que o Brasil concentra condições sociais diferenciadas quando com-parado àqueles que integram as primeiras colocações. No País, per-manece uma intensa concentração de altos rendimentos para poucos brasileiros e grau de analfabetismo elevado, entre outros aspectos igualmente importantes.

Tal posição é resultado da elevação do PIB no País. O desenvolvi-mento da economia, especialmente a partir de 2003, tem criado novos postos de trabalho e, assim, contribuído para a redução dos níveis de desemprego em todo o Brasil. Entre os setores que mais empre-gam está em primeiro lugar a construção civil, cujas empresas che-gam a disputar os profissionais da área, inclusive fazendo aumentar o número de mulheres contratadas para realizar as etapas de acaba-mento (embora a predominância ainda seja masculina) – e de imi-grantes do Haiti, por exemplo, que conseguem emprego nesse setor assim que chegam ao Brasil.

O segundo maior empregador difere entre a capital e o interior: nos grandes centros urbanos, o setor de serviços contratou mais, enquanto a indústria apresentou melhores índices no interior do Estado.

A renda média real, ou seja, descontadas as gratificações e o 13o salário, também cresceu. Veja a síntese do mercado de trabalho:

Fonte: IBGE. Em novembro, desocupação foi de 4,9%. Comunicação Social, 21 dez. 2012. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=2298&id_

pagina=1>. Acesso em: 14 jun. 2013.

Taxa de desocupação Rendimento médio real

Nov. 2011 5,2% R$ 1 718,07

Out. 2012 5,3% R$ 1 795,41

Nov. 2012 4,9% R$ 1 809,60

Atividade 1 A nova fase da economia brasileira

Leia o texto sobre o desemprego no Brasil e, em grupo, respon-dam às questões propostas. Depois, apresentem à turma as conclusões a que chegaram.

Oscilação do desemprego

Os índices de desemprego em 2012 se comportaram de forma mais amena para os trabalhadores se comparados aos períodos do “milagre brasileiro” ou os registrados durante a década de 1990, no período da reestruturação produtiva.

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O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) anunciou que o desemprego em janeiro de 2013 foi de 5,4% em seis regiões metropolitanas no Brasil (Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador e Recife). Os dados que mostram a situação do emprego na Região Metropoli-tana de São Paulo trazem boas e más notícias: por um lado, os níveis salariais foram elevados em 0,5%; por outro, o desemprego cresceu e passou de 5,2% em dezembro de 2012 para 6,4% em janeiro de 2013. Já nas regiões pesquisa-das, o emprego formal, com carteira assinada, registrou alta de 4,1%.

O gráfico “Taxa de desocupação”, que apresenta dados de desemprego mensal, aponta que mais pessoas foram empregadas a partir de novembro nessas regiões, fenômeno que sempre ocorre nesse período do ano, quando mais trabalhadores são contratados a fim de atender à demanda das festas de final de ano.

Fonte: IBGE. Pesquisa Mensal de Emprego, fevereiro de 2013. Rio de Janeiro: IBGE, 2013. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/imprensa/ppts/

00000012321103112013112628629479.pdf>. Acesso em: 14 jun. 2013.

Contudo, se os níveis de desemprego são menores, ainda existem muitas pessoas que não conseguiram trabalho. O IBGE estima que mais de 1 milhão de pessoas continuam nessa situação nas regiões pesquisadas.

1. A taxa de desemprego nas regiões metropolitanas pesquisadas pelo IBGE esteve, no período pesquisado, em alta ou em baixa? Expliquem com base no texto.

fev/12

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6,2%6,0%

5,8% 5,9%

5,4% 5,4% 5,4%5,3%

4,9%4,6%

5,3%

mar abr maio jun jul ago set out nov dez jan/13

Taxa de desocupação

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2. De acordo com o texto, os empregos com carteira assinada aumen-taram ou diminuíram? Justifiquem com base nos dados do texto.

3. Qual é a conclusão do grupo ao comparar a situação econômica no período da ditadura militar, estudada na Unidade 3, e a situação econômica atual?

Compreendendo o pleno emprego

A análise de alguns economistas trouxe para o noticiário um termo praticamente desconhecido por grande parte da população brasileira: o pleno emprego. Até então, o pleno emprego era pouco mencionado, dadas as características históricas que acompanharam o País desde a sua formação.

Compreender esse termo não é tarefa fácil, pois apenas uma sim-ples definição pode levar a um entendimento equivocado.

Falou-se no noticiário, em 2012, que o Brasil estava próximo a atingir o pleno emprego. Quem assim o compreendeu se referia ao alcance de níveis de desemprego abaixo dos 4%. Esse é, para muitos economistas, o indicador que configura a situação de pleno emprego. Outros o definem como sendo o encontro do ponto de equilíbrio entre a procura e a oferta de emprego.

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Fica a dica

Uma leitura possível do termo precisa considerar, em primeiro lugar, as muitas diferenciações que predominam no País. O mercado de trabalho brasileiro é bastante heterogêneo, ou seja, apresenta muitas variações: o emprego é diferenciado entre as regiões e há a oscilação entre o trabalho formal e o informal. Tais circunstâncias distanciam-se da constatação de que o Brasil vive uma situação de pleno emprego.

As estatísticas que se transformaram em notícia em 2012 indica-vam que pessoas com nível superior completo não teriam problema em obter emprego. Porém, não se mencionou se essas pessoas o encontram nas áreas em que foram formadas.

É, de toda maneira, importante notar que a economia no perío do atual é favorável e propícia para o crescimento e para a busca de emprego. A procura por trabalhadores em diversas áreas contribui para que seja retomado o caminho de reivindicações salariais, com vistas à melhoria tanto das condições de vida como das de trabalho. E para que os sindicatos retomem seu poder de negociação com as empresas.

Como procurar um (novo) emprego?

Quando o desenvolvimento econômico apresenta crescimento expressivo, tal situação se reflete na oferta de postos de trabalho, como é o caso brasileiro atualmente. É, portanto, um bom momento para conseguir um emprego ou mesmo procurar outro que apresente melhores condições salariais e de trabalho.

Se você é estudante do Programa EJA – Mundo do Trabalho desde o 6o ano/1o termo, vai recordar que as atividades a seguir já foram feitas naquela ocasião. É importante, neste momento em que você finaliza mais uma etapa da sua formação escolar, realizar um novo balanço, pois, nesse período de dois anos, muitos conhecimen-tos foram adquiridos e outros sobre os quais você já tinha uma per-cepção foram cristalizados. Isso certamente refletirá na construção de um novo currículo e nas formas de busca por um (novo) emprego.

1o passo – Balanço da sua vida pessoal e profissional

Ao procurar seu primeiro ou um novo emprego, é importante pen-sar o que, de fato, é significativo na sua vida pessoal e profissional.

Busque, em primeiro lugar, fazer uma reflexão sobre os valo-res que você mais preza. Você ficaria satisfeito em trabalhar em uma empresa que vai contra seus princípios? Veja um exemplo: um ativista ambiental, que luta pela preservação da Mata Atlântica, dificilmente será feliz trabalhando em uma empresa de corte de árvores; ou alguém

O filme Ou tudo, ou nada (The full monty, direção de Peter Cattaneo, 1997) retrata uma situação de recessão em uma cidade cujos trabalhos dependiam de empresas que entraram em colapso. Um grupo de desempregados tenta uma colocação sem sucesso em tempos de recessão e encontra uma alternativa incomum e divertida ao espectador para fazer frente ao desemprego.

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muito afeiçoado aos animais não gostará de trabalhar em um mata-douro. Esses são alguns exemplos que lhe ajudarão a fazer um primeiro balanço sobre o que realmente importa quando o assunto é trabalho.

Nesse momento, desconsidere a questão salarial – ainda que, sem dúvida, ela seja importante. Procure, nesse primeiro passo, refletir sobre o que você gosta de fazer, um ramo em que gostaria de trabalhar e tente pensar em um trabalho que te daria mais prazer. Afinal, passa-se no trabalho 1/3 do dia. Observe a figura a seguir, capa de uma revista que expressa a reivindicação pela jornada de 8 horas de trabalho e que retrata como deveria ser o dia do trabalha-dor: 8 horas de trabalho, 8 de lazer e 8 de sono.

A imagem, de 1906, expressa uma justa e proporcional divisão das 24 horas do dia entre trabalho, lazer e sono. Com isso, embasa a reivindicação dos trabalhadores da época pela jornada de 8 horas de trabalho.Jules Grandjouan. Os Três-Oito. 28 abr. 1906. Litogravura. Capa da revista L’assiette au beurre: edição comemorativa de 1o de maio. Biblioteca Histórica da Cidade de Paris, França.

Você sabia que, em 1889, no Congresso Internacional de Trabalhadores, discutiu-se a limitação da jornada de trabalho a 8 horas diárias?

Na França, uma manifestação, em 1891, pela jornada de 8 horas foi duramente reprimida pela polícia, e dez trabalhadores foram mortos, sendo que oito deles tinham menos de 21 anos.

2o passo – Realizações na vida profissional

Procure refazer sua trajetória profissional; de preferência, anote ano, local, qual era sua função e se era um emprego com registro em carteira. Procure refletir sobre os aspectos de que mais gostava em cada um deles e sobre os que menos lhe agradavam.

Associando o primeiro e o segundo passos, elabore uma relação das atividades que mais gosta de fazer. Por exemplo: Ernesto sempre trabalhou como ajudante e, depois, como pedreiro, mas nesse trabalho ele gostava mais de fazer o acabamento, pensar nas etapas, planejar o

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assentamento do piso; a maioria dos empregos que Rose teve foi como empregada doméstica, mas o que lhe dava mais satisfação era fazer bolos para as crianças.

Essa reflexão aparentemente simples poderá abrir-lhe inúmeras possibilidades na busca por um novo posto de trabalho. Veja só: Rose poderá procurar emprego não apenas como doméstica, mas em uma doceria, padaria, como auxiliar de confeiteira, ou talvez abrir seu pró-prio negócio e começar a fazer bolos sob encomenda.

Pense também se gosta de trabalhar com público, com máqui-nas ou em escritórios. Essa também será uma boa informação no momento de selecionar as oportunidades de emprego.

3o passo – Seleção do local de trabalho

Durante os estudos, você teve a oportunidade de conhecer algu-mas características do mercado de trabalho, a transformação do tra-balho e das condições em que ele vem sendo realizado ao longo dos anos, a inovação tecnológica, entre outros aspectos. No momento de selecionar os locais para a busca de emprego, é importante con-siderar esses itens, pois pode não valer a pena tentar uma vaga para ocupações que estão em vias de desaparecer ou em setores em crise.

Sua leitura e compreensão do mercado de trabalho foram apri-morados nesse período de formação e, certamente, você conseguirá acessar informações e compreendê-las de outra maneira.

Alguns sites do governo do Estado de São Paulo trazem boletins e dados sobre o mercado de trabalho. O Observatório do Emprego e do Trabalho, vinculado à Secretaria do Emprego e Relações do Trabalho, apresenta uma série de dados que você poderá consultar, de acordo com a região em que vive (disponível em: <http://www.fipe.org.br/projetos/observatorio/>, acesso em: 14 jun. 2013).

A Fundação Seade também realiza pesquisas, sistematiza e analisa dados do mercado de trabalho. Há, inclusive, um boletim especial sobre trabalho e mulher. Veja essas informações no site da fundação (disponível em: <http://www.seade.gov.br/>, acesso em: 14 jun. 2013).

Além disso, você tem acesso ao Boletim Socioeconômico especial-mente produzido para o Programa EJA – Mundo do Trabalho sobre a caracterização socioeconômica do Estado de São Paulo e da região em que vive. Esse suplemento do material didático propiciará um traba-lho específico que será feito em sala de aula e que muito contribuirá para a com preensão do mercado de trabalho.

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4o passo – Organização de documentos

Tenha uma pasta sempre atualizada com seus documentos. Lem-bre-se: isso é importante não apenas para sua vida profissional!

Organize seus documentos por tipo:

• Documentos pessoais: RG e CPF, carteira de motorista, carteira de trabalho, PIS, título de eleitor, inclusive comprovantes de vota-ção ou justificativas (exigidos também para concursos públicos).

• Escolaridade e formação: comprovante de escolaridade e todos os certificados de cursos de qualificação profissional.

• Cartas de recomendação: caso não tenha, solicite ao seu último empregador.

• Registros fotográficos: se você trabalha com marcenaria, serralhe-ria, construção ou faz bolos, bijuterias, costura etc., é importante registrar o que produz. Essa informação é fundamental tanto para obter um emprego como para o caso de você optar por trabalhar por conta própria. É possível que os clientes apreciem o que você já fez ou que esses registros sirvam como catálogo, de onde pode-rão tirar ideias e optar por determinado serviço.

5o passo – Construção do currículo

O currículo deve expressar de forma clara: seus dados pessoais; escolaridade; experiência profissional; e seus contatos, que garantam uma maneira de o empregador localizá-lo. Veja a seguir um guia para a elaboração do seu currículo.

Atividade 2 Elaborando um currículo

Produza ou atualize seu currículo com base no modelo a seguir. Caso você tenha acesso a um computador ou a escola disponha de um laboratório de informática, essa será uma boa oportunidade de elabo-rar seu currículo diretamente em versão eletrônica. Não se esqueça de salvá-lo para, em seguida, enviar o arquivo para seu endereço eletrô-nico ou de alguém que possa acessá-lo para você.

Se você não tem familiaridade com o computador, pode contar com a ajuda do professor ou de um colega. À medida que ganhar prática no uso da ferramenta, você poderá aperfeiçoar a formata-ção do documento. Se achar mais conveniente, faça um rascunho à mão antes.

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6o passo – Apresentação a uma vaga

Uma vez organizados os documentos, este é o momento de se candida-tar a uma vaga. É sempre conveniente elaborar uma carta de apresentação.

Dados pessoais

No editor de texto, com o auxílio da ferramenta “inserir tabela”, você poderá deixar seu texto bem alinhado e com uma boa apresentação. (Se quiser, poderá deixar as linhas da tabela invisíveis: basta selecionar toda a tabela e clicar no bo-tão “sem bordas”.)

Nome

Endereço

Telefone

Email

Escolaridade

• [indique aqui seu grau de escolaridade, cidade onde cursou]

Cursos de qualificação profissional

Curso de

• Conhecimentos na área de

Experiência profissional

Relacione a experiência profissional que você já teve até hoje, dando destaque à área para a qual está se candidatando. Indique sempre a empresa (ou local de trabalho) e o período em que lá trabalhou, do mais recente para o mais antigo.

Por exemplo: Marcenaria da Esquina, Jacutinga – auxiliar de corte (1995-1998).

Extras

Acrescente informações que considera importantes para o empregador. Por exemplo: trabalho voluntário, atuação na As-sociação de Bairro, conhecimentos de outro idioma, conheci-mentos de informática etc.

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Atividade 3 Carta de apresentação

1. A intenção desta atividade é praticar a escrita de cartas de apre-sentação. Para isso, veja alguns modelos de carta e discuta-os com seus colegas.

([Data] Cidade, dia, mês e ano.)Prezado senhor,Escrevo a fim de me candidatar à vaga de azulejista, por indicação do sr.

Antônio dos Campos.Além de ter concluído o Ensino Fundamental, fiz cursos de qualificação profis-

sional na área da construção civil e tenho experiência como pedreiro e azulejista há sete anos.

Segue meu currículo para sua avaliação, no qual constam as referências de empregadores anteriores.

Atenciosamente,Milton Caxias

Fica a dica

Lembre-se sempre de acertar a concordância para masculino ou feminino, conforme a pessoa a quem a carta é endereçada.

([Data] Cidade, dia, mês e ano.)Prezada senhora,O objetivo desta carta é apresentar-me para a vaga de balconista, conforme

anúncio publicado no Jornal do Bairro, no dia 2 de fevereiro de 2013.Minha escolaridade é Ensino Fundamental completo e já trabalhei com o

público em outras ocasiões.Assim, coloco-me à disposição para participar do processo seletivo nessa

empresa.Segue anexo meu currículo para sua análise e apreciação.Atenciosamente,Adelina da Silva

Carta B

Carta C

([Data] Cidade, dia, mês e ano.)Prezado senhor,Sou profissional da área de culinária e trabalhei até o presente momento por

conta própria.Completei o Ensino Fundamental e minha especialidade é o preparo de bolos

artísticos e doces para festas.Encontram-se anexos meu currículo e também o catálogo com fotos, a fim de

poder participar de processos de seleção na empresa.Atenciosamente,Joaquim José

Carta A

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2. Imagine que você tenha uma vaga em vista e tem muito interesse em obtê-la. Concentre-se e, em uma folha avulsa, escreva uma carta à pessoa que vai selecioná-lo.

3. Agora, troque a carta com seu colega. Faça sugestões a ele, obser-vando os seguintes aspectos:

• O objetivo da carta está claro?

• A apresentação está adequada?

• O texto apresenta erros ortográficos ou de tratamento?

4. Reescreva aqui a carta de acordo com as sugestões feitas pelo seu colega e leia-a para a turma. Assim, vocês poderão trocar muitas ideias sobre como elaborar uma carta, conforme a situação.

7o passo – Entrevista

O momento da entrevista é fundamental na decisão para a escolha de quem será contratado. Ela altera, muitas vezes, a percepção que se tem por meio da leitura de um currículo ou de uma carta de apresentação.

Na entrevista, é importante tomar algumas precauções: lembre-se de que se trata de uma pessoa que você está encontrando pela pri-meira vez, mas que, caso contratado, poderá ser uma pessoa do seu convívio diário.

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Os especialistas em recrutamento e seleção não recomendam:

• apresentar-se com trajes inadequados para a situação, que exige certa formalidade;

• comportar-se como se já estivesse contratado e íntimo das pessoas que ali trabalham ou vivem, no caso de trabalhos em residências;

• tecer comentários maldosos ou desabonadores sobre os anti-gos empregadores ou sobre a empresa em que trabalhou.

Ficar nervoso no momento da entrevista é normal e quem sele-ciona sabe disso.

Algumas perguntas são clássicas nas entrevistas de emprego:

• Geralmente é solicitado que fale sobre você: não se prolongue na resposta. Procure responder de forma a apresentar suas qualidades, sem, contudo, supervalorizar-se. Evite: “Ninguém faz um bolo como o meu!”; “Eu sou o melhor motorista do bairro!”; “Tem gente que trabalha bem, mas como eu...”.

• Razões para se candidatar a esse emprego: é recomendável que, caso seja uma empresa, você pesquise suas informações no site dela e conheça a atividade principal, o número de funcionários, o tempo no mercado etc. Assim, você demonstrará seu interes-se às características da empresa ou do local de trabalho.

• Seus defeitos e suas qualidades: atenção para responder a essa pergunta. Busque o equilíbrio entre eles. Ser ansioso com ho-rários e prazos pode ser um sofrimento para quem assim o vivencia, mas o empregador, certamente, vai preferir alguém preocupado com esse aspecto.

Seja sempre sincero na entrevista. Não se comprometa com aquilo que nunca fez. É preferível admitir que nunca realizou certa atividade, mas que tem vontade e disposição para conhecer novas tarefas, em vez de causar decepção logo nos primeiros dias de contratação.

Atividade 4 Final da história de Jurandir, Nilda e Rosa

Você acompanhou, ao longo dos estudos, a história do casal de migrantes Jurandir e Nilda, e da filha deles, Rosa.

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1. Escreva, em seu caderno, uma redação imaginando como a vida dessa família se desenvolveu.

2. Organizem uma atividade coletiva para compartilhar os desfe-chos da história. Será, certamente, um momento agradável para toda a turma.

Você estudou

Nesta última Unidade da disciplina Trabalho, foi apresentado o desenvolvimento econômico nos anos recentes da história do Brasil e seus desdobramentos no campo do emprego. Aprofun-dou-se o entendimento de pleno emprego e ainda analisou-se se essa é uma situação que se configura, ou não, no Brasil.

Constou nesta Unidade uma parte mais prática, que trouxe elementos básicos e estratégicos na busca por um emprego: or-ganização da documentação, elaboração de um currículo e dicas para uma entrevista.

Ranking do PIB mundial Índice de desemprego

1o – Estados Unidos 7,7%

2o – China 4,1%

3o – Japão 4,2%

4o – Alemanha 6,9%

5o – França 10,7%

6o – Reino Unido 7,8%

7o – Brasil 4,9%

Pense sobre

O índice de desemprego no Brasil foi de 4,9% em novembro de 2012. Veja os índices de desemprego nos países com maior PIB:

Quais são as conclusões que você pode tirar desses dados? O que pode acontecer com o Brasil em relação à economia mundial? Você acha que as perspectivas para o País são positivas ou negativas?

Fontes: BANCO MUNDIAL. Produto interno bruto 2012. The World Bank. World Development Indicators database, 1o jul. 2013. Disponível em: <http://databank.worldbank.org/data/download/GDP.pdf>.

MING, Celso. Pleno emprego. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 21 dez. 2012. Economia, B2. Disponível em: <http://blogs.estadao.com.br/celso-ming/2012/12/21/pleno-emprego-2/>. Acessos em: 4 jul. 2013.

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Poema de Maurício Francisco Ceolin [nota do editor].

Você encerra agora um momento importante na sua trajetória escolar: o Ensino Fundamental. Segue uma mensagem que coroa esse fim de etapa, com um desenho do cartunista Henrique de Souza Filho, o Henfil.

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