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Interações culturais no Brasil escravista: cultura material e condições de vida (Sudeste, 1700 a 1850) Sheila Siqueira de Castro Faria Departamento de História Universidade Federal Fluminense

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Interações culturais no Brasil escravista:

cultura material e condições de vida

(Sudeste, 1700 a 1850)

Sheila Siqueira de Castro Faria

Departamento de História

Universidade Federal Fluminense

Sumário

Introdução

1) A história da cultura material

2) A História da cultura material no Brasil

3) As origens étnicas do Brasil

4) Cultura material e heranças étnicas

5) Fontes

6) Metodologia

7) Hipótese de trabalho

8) Plano de trabalho do bolsista

9) Cronograma de pesquisa dos bolsistas

10)Bibliografia

1) A história da cultura material

“Cultura material” é um termo usado tradicionalmente em estudos

arqueológicos e abarca o que é material ou palpável de um complexo cultural.

Seus objetos de estudo são muitos e variados, embora alguns sejam

classicamente a ele inerentes, entre eles os utensílios, o vestuário, os

adereços, a habitação, os móveis, os ornamentos, as imagens sacras, a

alimentação, o cultivo, os instrumentos de trabalho, etc.

No primeiro artigo do volume 16, intitulado Homo-domesticação-

cultura material, da versão portuguesa da enciclopédia Einaudi, publicado em

1989, que tem como título “Cultura Material”, os autores Richard Bucaille e

Jean-Marie Pesez são talvez os que melhor tenham historiado o termo1. A

noção de cultura material não existia até meados do século XIX, mas foram as

produções intelectuais desse período que deram condições para seu

desenvolvimento. Uma delas foram os estudos sobre a pré-história, em

particular de Boucher de Perthes2, que substituíram o objeto de arte

excepcional e estético das sociedades pelo material comum e anônimo dos

seus membros. Considera-se, também, que a antropologia social e cultural

evolucionistas de Edward Burnett Tylor3 e Lewis Morgan4, as contribuições de

Charles Darwin5, com a paleontologia, a teoria da história e da economia, o

materialismo histórico e a ênfase na infra-estrutura, quando antes somente

aspectos políticos eram privilegiados ,de Karl Marx6, e a sociologia positivista

de August Comte7 fizeram outro tanto para que a cultura material pudesse vir a

existir como objeto do conhecimento.

Mas, até então, a cultura material não havia, ainda, sido objeto do

saber histórico, embora tenha sido privilegiada na investigação de períodos 1 Cf; BUCAILLE, Richard; PESEZ, Jean-Marie. “Cultura Material” IN: Enciclopédia EINAUDI. 16. Homo – Domesticação – Cultura Material. Lisboa, Imprensa Nacional Casa da Moeda, 1989.2 PERTHES, Boucher de. Antiquités celtiques et antédiluviennes. 1847; PERTHES, Boucher de. De l’homme antédiluvien. 1860. APUD BUCAILLE & PESEZ (1989).3 Cf. TYLOR, Edward Burnett. Primitive Culture. Londres, 1871.4 Cf. MORGAN, Lewis H. Ancient Society. Londres, MacMillan & Company, 1877. 5 Cf. DARWIN, Charles. On the origin of Species. Londres, 1859.6 Cf. MARX, Karl. Das Kapital. 1867.7 Cf. COMTE, Auguste. Catéchisme positiviste. 1852, entre outras obras de sua autoria.

remotos, já que, conforme se recua no tempo, os documentos escritos – fontes

propriamente históricas – se tornam cada vez mais raros ou então em análises

sobre sociedades desaparecidas ou sem escrita. A arqueologia foi o ramo do

saber que mais utilizou e aproveitou o objeto e o termo, devido a suas

premissas originais. As escavações revelaram aspectos fundamentais para se

entender as condições materiais de vida dos grupos anônimos de sociedades

há muito desaparecidas. A cultura material, portanto, passou a estar ligada

essencialmente à observação física dos objetos, quase sempre fazendo parte

de catálogos, anais ou periódicos de museus.

Apesar de a noção ter aparecido no decorrer do século XIX, a

expressão “cultura material” surgiu somente no início do XX, mas sem uma

definição exata. Na Rússia leninista, em 1919, inclusive, o termo se

institucionalizou, com um decreto criando a Akademiia istorii material’noi

Kul’tury, que pretendia mostrar as condições de existência das massas rurais e

as lutas, entendidas como lutas de classes, que se fizeram para as melhorar.

Alguns estudiosos, portanto, relacionam diretamente a criação desse ramo do

saber ao marxismo-leninismo, posto que abrangia aspectos materiais das

massas ou dos homens anônimos.

Depois os seus objetos passaram a fazer parte também da História,

principalmente a partir da década de 1920, com a criação dos Annales de Marc

Bloch e Lucien Febvre. Marc Bloch, inclusive, na sua História Rural

Francesa8, apesar de não tratar especificamente do tema, fez constantes

referências à cultura material dos camponeses feudais, afirmando que pouco

se sabia sobre ela.

Mas foi com Fernand Braudel, em Civilização Material e capitalismo

(século XVI ao XVIII), de 1967, que se deu a forma mais bem acabada da

história da cultura material entre os estudiosos da Europa ocidental. Braudel

estabeleceu o que seria mais caro à cultura material: as estruturas materiais,

apreendidas na longa duração. Pouco depois, Le Roy Ladurie, em seu

Montaillou: cátaros e católicos numa aldeia francesa (1294-1324),

publicado em 1975, realizou um trabalho em que a cultura material pôde ser

amplamente apreendida através de fontes escritas, descritivas, embora não

tenha se reduzido à análise da cultura material. Sua abordagem foi muito mais

8 BLOCH, Marc. Les Caracteres Originaux de L’Histoire Rurale Française. Paris: 1931.

ampla. Mas, fez um belíssimo trabalho de reconstituição das condições

materiais de existência de aldeões feudais, com documentação escrita. Esse,

certamente, é mais um dos marcos da utilização bem sucedida da história da

cultura material tendo como base fontes textuais, inclusive porque a colocou

num contexto social e cultural mais amplo.

Seria extremamente vantajoso que uma sociedade pudesse ser

estudada, no que se refere à cultura material, com todos os documentos

disponíveis: os oriundos da arqueologia, para se ver e apalpar os objetos, as

representações iconográficas e os documentos escritos que os descrevem e

demonstram suas funções, além de, algumas vezes, mostrar seus aspectos

simbólicos. Muito difícil. Quase sempre temos de nos contentar com um ou

outro.

Uma outra questão que se impõe é sobre o termo “cultura” material,

pois Braudel optou por “civilização” material. O termo “civilização” foi mais

rejeitado por ter, em algumas línguas, o sentido de se opor o “civilizado” ao

“bárbaro” ou “primitivo”. Já o termo “cultura”, como utilizado pela antropologia,

contém uma acepção mais ampla, tornando-se mais aceito em várias línguas,

inclusive no português, mais próximo da acepção ampla e plural, como

entendido pela antropologia, que pode ser referido para sociedades

diferenciadas.

Em linhas gerais, a história da cultura material tem algumas

características específicas, nos trabalhos que até então ela se dedicaram. Uma

é de se tentar tratar do coletivo, que se contrapõe à individualidade, mesmo

tendo esse coletivo subgrupos, como castas, classes sociais, gentes do campo

ou da cidade, etc. Outra é a de estar muito próxima da análise da produção,

tanto faz se agrícola, artesanal, extrativa, etc. A última é de se distanciar dos

grandes eventos, preferindo analisar o que se repete, que é constante,

revelando hábitos e tradições da cultura que abarcam os objetos, aproximando-

se, assim, das interpretações estruturalista de Lévy Strauss e da longa duração

de Fernand Braudel. Liga-se ao cotidiano, não necessariamente na

interpretação de fatos menores, de micro-acontecimentos domésticos, mas de

situações que se repetem cotidianamente, inclusive na produção, mas também

nas atividades da casa, domésticas, no que se aproxima, fatalmente, da

história da vida privada e da história da família.

O termo “cotidiano” é, num certo sentido, perigoso, mas ele está, há

muito, vinculado à história da cultura material. Interpreta-se, em alguns casos,

que a tradicional história do cotidiano seria uma historia menor, uma “pequena

história” ou resultado “do gosto por um certo exotismo”, nas palavras de

Jacques Le Goff9. Ela teria sido estimulada, segundo ainda Le Goff, pela

arqueologia tradicional, que se transformou, ao passar a priorizar os objetos da

vida cotidiana, escavando-se bairros habitacionais e aldeias, em detrimento

dos monumentos como igrejas, palácios, castelos e obras de arte. Com certa

ironia o historiador diz que em relação ao sucesso da história do cotidiano

Um certo aspecto de democratização da história, que levava Lucien Febvre a reivindicar o direito dos humildes à história, encontra aqui aplicação prática, e a corrente sociológica que, há mais de um século – sob as mais diversas formas e teorias – , tem vindo a fazer do <<coletivo>> o horizonte de investigação científica representa um estímulo suplementar. A expansão da cultura de massas contribuiu para aumentar os atrativos do quotidiano.”10

A história quantitativa e serial, inclusive, permitiram à história do

cotidiano, com a exploração dos arquivos eclesiásticos e das séries de

mapeamentos populacionais11, uma auréola de ciência informatizada.

Os objetos que estou a delimitar como fazendo parte da cultura

material foram tratados em vários livros de uma coleção que apareceu na

França, a partir de 1938, denominada História da Vida Cotidiana (Vie

Quotidienne), publicada pela editora Hachette, na França, composta por mais

de duzentos títulos. A obra, apesar de alguns títulos sugestivos e instigantes,

foi vista com desconfiança por historiadores renomados. É ainda Jacques Le

Goff que lhe faz duras críticas, afirmando que ao lado de bons livros

encontravam-se “obras medíocres, que mais não são do que uma poalha de

anedotas, de dados dispersos, de instantâneos, que nada têm a ver com o

verdadeiro cotidiano e, ainda menos, com a história”. Para ele, e, creio que,

com razão, “O quotidiano só tem valor histórico e científico no seio de uma

análise dos sistemas históricos, que contribuem para explicar o seu

9 LE GOFF, Jacques. “A história do quotidiano”. IN: DUBY, George et alii. História e Nova História Lisboa: Teorema, 1986, p 73-82.10 LE GOFF, Jacques. “A história do quotidiano”. IN: DUBY, George et alii. História e Nova História Lisboa: Teorema, 1986, p. 75.11 Cf. FARIA, Sheila de Castro. “História da Família e Demografia História”. IN. CARDOSO, Ciro Flamarion; VAINFAS, Ronaldo. Domínios da História. Rio de Janeiro: Campus, 1994.

funcionamento. (...) O quotidiano, se o perscrutarmos atentamente, revela-se

como um dos lugares privilegiados das lutas sociais (...)”.12 Não deixa de ser

um risco, portanto, a aventura pela história da cultura material com ênfase no

cotidiano.

Mas, os perigos não param por aí e ao historiador que se dedica a

analisar as condições materiais de vida das sociedades passadas podem,

certamente, correr o risco de cair numa “poalha de anedotas, de dados

dispersos, de instantâneos”.

2) A história da cultura material no Brasil

Cultura material é expressão pouco recorrente, hoje, em trabalhos

sobre o Brasil, com exceção das explorações arqueológicas. São raros os

historiadores que se dispõe a ter a cultura material como objeto.

Um dos poucos periódicos – e, registre-se, de excelente nível – sobre

o tema é o Anais do Museu Paulista, em sua nova série, inaugurada em

1993, sob a direção de Ulpiano T. Bezerra de Meneses, que passou a ter como

subtítulo História e Cultura Material. Entre seus artigos, além de temas de

história, constam trabalhos variados em diferentes áreas, como arquitetura,

arqueologia histórica, museologia, artes, literatura, lingüística, etc., sobre

diversas regiões do mundo e variados tempos.

Um dos temas mais recorrentes da história da cultura material é sobre

as evoluções arquitetônicas no Brasil, quase sempre analisadas por arquitetos

e a partir do século XIX. Para os séculos anteriores, há estudos poucos

estudos. É necessário também reconhecer que, sobre outros objetos da cultura

material, há poucas pesquisas referentes à história do Brasil escravista, o que

mais me interessa no momento. Sabemos pouco sobre como viviam

materialmente os homens e mulheres de nosso passado.

Um exemplo é a obra relativamente recente História da Vida Privada

no Brasil13, nos volumes sobre Colônia e Império, organizados por Fernando 12 ? LE GOFF, Jacques. “A história do quotidiano”. IN: DUBY, George et alii. História e Nova História Lisboa: Teorema, 1986, p. 78.13 Cf. NOVAES, Fernando (org.). História da Vida Privada no Brasil. Cotidiano e vida privada na América Portuguesa. S.P., Cia das Letras, 1997; NOVAES, Fernando (org.). História da Vida Privada no Brasil. Império: a corte e a modernidade nacional. S.P., Cia das Letras, 1997.

Novaes, que, apesar de contar com alguns artigos que analisam objetos da

cultura material, não tem essa expressão em nenhum dos títulos dos capítulos.

Em trabalhos mais antigos, mais do que o clássico de Gilberto Freyre,

Casa Grande e Senzala, o pioneiro mesmo na abordagem sobre vida material

foi Alcântara Machado, no seu livro Vida e Morte do Bandeirante14, publicado

em 1929. Livro delicioso e inovador porque contém premissas que só seriam

exploradas muitos anos depois por historiadores brasileiros. Em suas próprias

palavras:

“Reduzir o estudo do passado à biografia dos homens ilustres e à narrativa dos feitos retumbantes seria absurdo tão desmedido como circunscrever a geografia ao estudo das montanhas. Conflitos externos, querelas de facções, atos de governo estão longe de constituir a verdadeira trama da vida nacional. Não passam de incidentes; e, o que é mais, são os produto de um sem-número de fatores ocultos que os condicionam e explicam. O conhecimento do que o homem tem realizado no combate diuturno que desde as cavernas vem pelejando para melhorar-se e melhorar o meio em que vive, tal o objetivo essencial da história. Como poderemos atingi-lo se concentrarmos toda a atenção em meia dúzia de figuras, esquecendo o esforço permanente dos humildes, a silenciosa colaboração dos anônimos, as idéias e os sentimentos das multidões? Não é frívola curiosidade que nos leva a inquirir onde moravam nossos maiores, a maneira por que se alimentavam e vestiam, o de que tiravam os meios de subsistência, a concepção que tinham do destino humano. Tudo isso facilita o entendimento do que fizeram ou deixaram de fazer. Só depois de freqüenta-los na intimidade e situa-los no cenário em que se moveram, estaremos habilitados a compreender-lhes as atitudes.”15

Pela primeira vez uma obra analisou expressivo conjunto documental

que somente décadas mais tarde passaria a ser objeto importante para os

historiadores: os inventários post-mortem e os testamentos. Até então esses

documentos eram utilizados de maneira pontual, em particular para

exemplificar casos ou bens de alguns grandes senhores ou para compor

genealogias, tão em voga no século XIX e início do XX, quando o Brasil

transformava-se numa república. Nunca foram usados para analisar os grupos

mais empobrecidos.

14 MACHADO, Alcântara. Vida e Morte do Bandeirante. (1ª. Ed. 1929) Belo Horizonte: Ed. Itatiaia; São Paulo: Ed. Da Universidade de São Paulo, 1980.15 MACHADO, Alcântara. Vida e Morte do Bandeirante. (1ª. Ed. 1929) Belo Horizonte: Ed. Itatiaia; São Paulo: Ed. Da Universidade de São Paulo, 1980, p. 29.

Alcântara Machado analisou o conjunto de inventários e testamentos

de São Paulo produzidos entre os anos de 1578 e 1700, com cerca de 400

processos publicados em 27 volumes pelo então prefeito da capital paulista,

Washington Luís.

Até então, a interpretação sobre a história do período do

“bandeirantismo” paulista tinha um viés ensaísta e, em alguns casos, bastante

romântico, de enaltecimento dos grandes feitos dos desbravadores dos sertões

e das partes meridionais da colônia e descobridores de ouro do centro do

Brasil.

Alcântara Machado acabou por contrariar frontalmente o que se dizia

sobre aquela sociedade, em particular as considerações de Oliveira Viana que,

em Populações Meridionais do Brasil, publicado em 1918, enaltecia a

bravura dos bandeirantes em dois flancos: nas expedições de busca de metais

preciosos e no povoamento propriamente dito das regiões meridionais, levando

o “povoamento e a civilização dos paulistas até ao centro da planície rio-

grandense.”16. Oliveira Vianna foi além, afirmando que a sociedade paulista dos

dois primeiros séculos de colonização portuguesa tinha o “luzimento e o

donaire de um salão de Versalles engastado na bruteza da floresta virgem:

homens muito grossos de haveres e muito finos de maneiras, opulentos e

cultos, vivendo à lei da nobreza numa atmosfera de elegância e fausto.”17.

Alcântara Machado ironiza tais conclusões ao dizer que “em São Paulo

só a fantasia delirante de um deus seria capaz desse disparate esplêndido.”18.

Aos seus olhos, a sociedade paulista de então se apresentou, denunciada

pelos seus inventários e testamentos, extremamente pobre, rústica e iletrada.

Casas com pequeno número e tipos de móveis, utensílios e objetos. Paredes

nuas. Construções de esteios de madeira, paredes de pau-a-pique e cobertas

de capim, sapé e, só eventualmente, telhas de barro. A ausência de

instrumentos musicais o fez concluir que a sociabilidade era ínfima, entre os

16 VIANNA, Oliveira. Populações Meridionais do Brasil. Populações Rurais do Centro Sul. (1a ed. 1920) Belo Horizonte: Livraria Itatiaia Editora LTDA; Niterói: Editora da Universidade Federal Fluminense, 1987, p. 15.17 VIANNA, Oliveira. Populações Meridionais do Brasil. Populações Rurais do Centro Sul. (1a ed. 1920) Belo Horizonte: Livraria Itatiaia Editora LTDA; Niterói: Editora da Universidade Federal Fluminense, 1987, p. 15.18 MACHADO, Alcântara. Vida e Morte do Bandeirante. (1ª. Ed. 1929) Belo Horizonte: Ed. Itatiaia; São Paulo: Ed. Da Universidade de São Paulo, 1980, p. 37.

habitantes, e que o silêncio imperava. O mesmo concluiu com a ausência de

livros e à de talheres, denotando o analfabetismo ou desinformação reinante e

o hábito de se comer com as mãos.

Descreve, em riqueza de detalhes, os trajes ou “vestidos”, como se

dizia na época, dos habitantes, ressaltando que peças mais elaboradas eram

raras, prevalecendo os tecidos grossos de algodão fiados, tecidos e

confeccionados nos próprios domicílios.

Apesar do grande mérito em ter desmistificado a opulência paulista do

período, Alcântara Machado não se tornou um marco em nossa historiografia.

Poucos sabem de seu trabalho. Seu texto, interessante em muitos aspectos, é

bastante descritivo e pouco analítico. Nesse ponto, apesar do “disparate

esplêndido” de Oliveira Vianna, é menos elaborado do que este. Num ponto,

entretanto, eles concordam: na importância da família para aquela sociedade.

Oliveira Vianna ressalta o clã parental como mola mestra da sociedade

colonial. Alcântara Machado classifica-a de coesa e robusta, além de patriarcal

em seus princípios, mas não a problematiza, inserindo-a no contexto mais

amplo de povoamento e administração da colônia.

A junção de todos esses aspectos, inclusive da ligação entre a família

e a cultura material se dá, sem dúvida, e de maneira bem elaborada, com

Gilberto Freyre, em Casa Grande e Senzala19. Para Freyre, a família foi a base

do enriquecimento, do poder e do prestígio em terras coloniais. Teria sido a

família, em face de um governo fraco, que realmente governava. E a família

estava inserida no espaço da domesticidade que se embaralhava com a

produção, no caso específico, da feitura do açúcar. O engenho transformou-se

num conceito, que englobava um mundo complexo de produção, de

domesticidade e de religião, incluindo o domicílio, a capela, o domínio sobre

escravos, agregados e clientes e, como não podia deixar de ser, o poder

político.

Freyre tocou em todos os pontos da vida material doméstica: a casa,

os móveis, os utensílios, os hábitos alimentares e de higiene, os trajes, etc.

Mas, foi além, abordando, primordialmente, as interações entre as gentes da

casa-grande, no que penso ter sido o mais proveitoso de seu livro. Para ele, foi

19 FREYRE, Gilberto. Casa Grande & Senzala: as Origens da Família Patriarcal Brasileira. (1ª. ed. 1933) 25ª. ed., RJ., José Olympio, 1987.

dentro da casa-grande, no interior do espaço particular, que se amalgamou

emblematicamente o encontro das culturas, principalmente da portuguesa e da

africana (sintomaticamente deixou de lado a influência indígena), em muitos

aspectos: na culinária, na afetividade, na sexualidade, no vocabulário, etc.

Penso que esse encontro e trocas culturais extrapolaram a casa-grande. A

ausência de uma privacidade do espaço doméstico, já que se misturavam as

atividades cotidianas do trabalho, do lazer e do habitar, as interações culturais

deram-se, realmente, no emblemático “engenho”.

Não é possível deixar de destacar, dentre todos, a obra de Sérgio

Buarque de Holanda, em especial Caminhos e Fronteiras, publicado em

195720, que trata de temas caros à vida material e ambientado no São Paulo

colonial. Os textos foram, inicialmente, publicados em revistas do Brasil e do

exterior. Nele, são encontradas análises variadas, como o uso e o significado

do calçado, as redes de dormir e de transportar, os alimentos e caminhos dos

bandeirantes, as frotas do comércio, as técnicas rurais, as indústrias caseiras,

etc. Se Gilberto Freyre enfatizou a presença africana na modelagem da

sociedade portuguesa dominante no Brasil, Buarque de Holanda o fez com a

do índio.

O que mais se conhece, em termos de vida material, aí não só por

Freyre e Buarque de Holanda, mas também pelo folclorista Camara Cascudo21,

são as trocas culinárias, nesse ponto entrando também o uso de alimentos

como medicamentos. Cascudo fez um longo trabalho de reconstituição dos

alimentos e artes culinárias, em áreas diferentes do Brasil, tentando detectar a

origem cultural de muitos deles, através de fontes variadas, desde o início da

colonização até o século XIX. Utilizou ditados populares, registros de viajantes,

crônicas coloniais, livros de receitas, tradições orais, manuais de boas

maneiras e mais um sem número de documentos. Em alguns momentos, é

verdade, o leitor se sente transportado do século XVII ao XIX ou vice-versa

com exagerada rapidez para o gosto de um historiador atual. Mas, de qualquer

forma, é ainda hoje a mais completa obra sobre alimentação no Brasil.

20 HOLANDA, Sérgio Buarque de. Caminhos e fronteiras. (1ª. ed. 1957) 3ª. ed., São Paulo: Companhia das Letras, 1994.21 CASCUDO, Luís da Camara. História da Alimentação no Brasil. (1ª. ed. 1967/68, Companhia Editora Nacional) Belo Horizonte, Ed. Itatiaia; São Paulo Ed. da Universidade de São Paulo, 1983.

Apesar de Alcântara Machado, Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de

Holanda e Camara Cascudo, todos trabalhos anteriores à década de 1960,

sabemos ainda muito pouco sobre as condições materiais de vida dos homens

e mulheres coloniais. Eles não tiveram, nesse caminho, muitos seguidores.

Sabemos muito pouco, também, das interações culturais que resultaram nas

formas das edificações e de construção de móveis, das vestimentas, dos

adereços, das imagens sacras domésticas, de objetos para proteção, entre

outras.

3) As origens étnicas do Brasil

A mestiçagem formou as primeiras famílias do Brasil. Argumenta-se

que, na ausência de mulheres brancas, foram os relacionamentos sexuais

entre portugueses e índias, sancionados ou não pela Igreja católica, que

iniciaram a construção da população colonial, não só de despossuídos, mas

dos senhores de engenho, dos desbravadores dos sertões e, no limite, das

elites coloniais locais. Os filhos dessas uniões acabaram por se colocar à frente

da sociedade que se criou e até mesmo os poderes metropolitanos tiveram de

se curvar à evidência de que, em terras de conquista, como as do Brasil, novas

elementos tinham de ser tolerados para se levar a cabo a empresa colonial.

Somaram-se os negros da África aos índios e portugueses. Todos,

absolutamente todos, com origens culturais muito diversas, até mesmo entre os

da mesma “cor”.

Tupis e tapuias eram denominações genéricas e simplificadas dadas

pelos portugueses aos índios, pois englobavam inúmeros grupos étnicos,

inclusive com línguas bastante diferentes. O mesmo se dava com os

portugueses. Judeus, obrigados à conversão ao cristianismo em 1497, sob o

reinado de D. Manuel, foram figuras de destaque no financiamento e em

diversas funções das navegações durante o período de expansão ultramarina

do século XV. Somente com a criação do Tribunal do Santo Ofício da

Inquisição, em 1536, as práticas judaicas foram objeto de perseguição e, a

exemplo da inquisição espanhola, teve como alvo de perseguição principal as

práticas criptojudaicas exercidas pelos cristãos-novos e seus descendentes.

Apesar do empenho do Tribunal, as atividades criptojudaicas foram comuns,

inclusive no Brasil, para onde se dirigiu elevado número de conversos.

Além de pretensos ou verdadeiros judeus, com suas crenças

tradicionais, também ciganos, muçulmanos e protestantes faziam parte do

mosaico religioso do Brasil desde o início do povoamento. Indicar todos como

brancos, portanto, esbarra na mesma simplificação apresentada para os índios.

Tratar dos africanos, como um grupo, significa incorporar mais um sem

número de etnias ao complexo cultural do Brasil. Antes de mais nada, é

necessário frisar que o termo africano, para designar os negros oriundos do

tráfico atlântico de escravos, é anacrônico para o período colonial e, mesmo,

para a primeira metade do século XIX.

Inicialmente, os escravos eram denominados de negros da guiné,

diferenciando-os dos negros da terra ou negros brasis, como eram chamados

os índios. Não há consenso entre historiadores e nem mesmo entre as fontes

de época sobre o termo guiné. Sendo bastante elástico, abarcava diferentes

porções da África ocidental. No início do século XV, os europeus pouco

conheciam a África, restringindo-se à costa mediterrânea, ao Egito, ao Saara e

ao norte da costa ocidental atlântica.

Desde a Idade Média, falava-se de uma Etiópia, separada do norte da

África pelo rio Nigris (ou Níger), tido algumas vezes como afluente do rio Nilo.

Por sua vez, a Etiópia dividia-se em oriental e ocidental, esta última conhecida

como Etiópia da Guiné, de onde decorre o termo negro da guiné, usado

amplamente nos séculos XV e XVI como sinônimo da hoje chamada África

negra ocidental22. Foi sobre a Etiópia da Guiné, ou seja, o lado ocidental da

África, que os portugueses centraram esforços de reconhecimento no decorrer

do século XV. As denominações das áreas ocupadas ou atingidas pelos

portugueses derivam, em boa medida, das motivações econômicas e religiosas

da expansão marítima. Ainda no século XVII, a palavra guiné era utilizada

como alusiva aos habitantes da costa ocidental. Durante o período de

reconhecimento da costa africana e com o desenvolvimento do tráfico de

escravos, outras designações começaram a aparecer, para diferenciar os

muitos povos que passaram a ter contato com os europeus.

22 Cf. SOARES, Mariza de Carvalho (2000). Devotos da cor. Identidade, religiosidade e escravidão no Rio de Janeiro, século XVIII. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.

Os portugueses chegaram ao Congo em 1483, mas somente na

década seguinte estabeleceram-se contatos regulares com o reino do

Manicongo, como então era conhecido. Mesmo sendo o comércio de escravos

antigo na região, após o contato com os portugueses foi intensificado,

passando a monopólio real, com redes comerciais que chegavam à ilha de São

Tomé, centro de todo o tráfico da África ocidental. As relações entre o Congo e

Portugal vão entrar em declínio a partir da segunda metade do século XVI,

principalmente durante o século XVII, deslocando-se os interesses portugueses

para Angola.

A chegada dos portugueses em Angola ocorrera no início da década

de 1480, mas foi somente a partir da fundação da cidade de São Paulo de

Luanda, em 1575, que se estabeleceram contatos regulares e intensos entre a

região e o Brasil. Em 1617, foi fundada a cidade de Benguela, também

importante porto angolano exportador de escravos. Nesta extensa região

congo-angolana, composta basicamente de populações de um mesmo tronco

lingüístico – o banto – concentrar-se-ia a atenção portuguesa, cada vez mais

vinculada à região de Angola, e menos ao Congo, sobretudo depois da

expulsão dos holandeses de Luanda, que lá haviam permanecido de 1641 a

1648, e da aliança com a Rainha Nzinga, na segunda metade dos seiscentos23.

Procedia de Angola, em particular nos séculos XVII, XVIII e primeira

metade do XIX, a maior parte dos escravos entrados no Brasil. De

Moçambique, na costa oriental da África, também composta, em sua maioria,

de população banto, apesar de contar com presença portuguesa desde final do

século XV e com a criação da feitoria de Sofola, em 1505, vieram relativamente

poucos escravos durante o período colonial, aumentado significativamente seu

número somente na primeira metade do século XIX.

As designações dos grupos de escravos indicavam ora a procedência

do porto de embarque ou da região genérica de onde eram provenientes, ora

um grupo identificado dentro do Brasil, com características, aos olhos dos

colonos, semelhantes, ora, ainda, a forma pela qual se autonomeavam.

Embora hoje possamos fazer um recorte bastante preciso sobre as principais

regiões que forneceram escravos para o Brasil, não é possível ter tanta

23 Cf. GLASGOW, Nzinga. Resistência africana à investida do colonialismo português em Angola. 1582-1663. São Paulo: Editora Perspectiva, 1982.

precisão sobre os grupos étnicos envolvidos nesse tráfico, embora grandes

avanços tenham sido feitos24.

Os índios, por sua vez, não tinham a experiência da escravidão nem

vieram de uma sociedade mercantil. Tiveram, assim, menos facilidade do que

os genericamente denominados como “brancos” e os originários da África em

se articular à sociedade criada no Brasil português, escravista e mercantil.

Essa complexidade da sociedade criada no Brasil não teve somente

como resultado a mestiçagem biológica. Ela tem de ser explicada pelas

diferentes interações culturais entre os diversos grupos. Creio que estudos

sobre a cultura material são fundamentais para se perceber essas interações.

É com base nesses pressupostos teóricos e historiográficos que

organizo minha proposta de trabalho, conforme apresento a seguir.

4) Cultura material e heranças étnicas

Meu intuito, com esse projeto, é analisar aspectos da cultura material

dos homens e mulheres das variadas origens étnicas que compuseram a

população de áreas do sudeste do Brasil entre o século XVIII e primeira

metade do XIX. Certamente não poderei ter acesso ao conhecimento de todos

os costumes, técnicas ou objetos das culturas presentes, como muitos

historiadores também não o conseguiram. Sérgio Buarque de Holanda,

analisando a medicina dos paulistas do período colonial, constatou que

A soma de elementos tão díspares gerou muitas vezes produtos imprevistos e que em vão procuraríamos na cultura dos invasores ou na dos vários grupos indígenas. Tão extensa e complexa foi a reunião desses elementos, que a rigor não se poderá dizer de nenhum dos aspectos de curar, tal como a praticam ainda hoje os sertanejos, que é puramente indígena (...) ou puramente europeu.25

24 Cf., entre outros, CURTIN, Philip. The Atlantic Slave Trade: a census. Madison: Wisconsin University Press, 1969; KLEIN, Herbert. The Atlantic Slave Trade. Cambridge: Cambridge University Press, 1999; LAW, Robin (org.). From Slave Trade to 'Legitimate' Commerce. The Commercial Transition in Nineteenth-Century West Africa. Estados Unidos: Cambridge, 2002; THOMAS, Hugh. The Slave Trade. The History of the Atlantic Slave Trade: 1444-1870. New York: Simon & Schuster Inc, 1997.25 HOLANDA, Sérgio Buarque de. Caminhos e fronteiras. (1ª. ed. 1957) 3ª. ed., São Paulo: Companhia das Letras, 1994, pp. 78-79.

Apesar de estar ciente dessa possibilidade, creio ser possível indicar

as origens e interações de inúmeros deles, principalmente por conta de

pesquisas mais recentes sobre povos indígenas e africanos.

Os portugueses foram especialmente econômicos na iconografia sobre

o Brasil. Devemos, na verdade, a holandeses, ainda no século XVII, e a

pintores ou gravuristas viajantes eventuais de outros reinos, nos séculos

seguintes, a captura das imagens sobre o Brasil colonial. Essas pinturas

retratam, no geral, cenas exteriores. Pouco ou quase nada dentro das

edificações.

No século XIX aumenta significativamente o número desses viajantes,

em decorrência da abertura do comércio do Brasil com outras nações, em

1808. Além do mais, era do interesse desses estrangeiros registrar o maior

número possível de imagens exóticas, fartamente comercializadas numa

Europa curiosa e científica. Assim, é desse período o registro em imagens de

plantas e animais, mas também, o que mais agora interessa, de usos e

costumes, como indumentárias, interiores, tipos humanos, festas, praças

comerciais, chafarizes, etc. É também do XIX o aparecimento da fotografia,

tímida, a princípio, e muito números, nas suas últimas décadas.

Mas, se a imagem pode ser de grande ajuda no que se refere à

reprodução de atividades, ela não traz claramente os usos e significados,

alguns deles simbólicos, dos objetos. Não se pode esquecer que eram imagens

vistas por olhos estrangeiros, que pouco conheciam dos costumes da terra.

Quem o faz são os escritores, os variados cronistas-viajantes que por aqui

estiveram.

Para se utilizar imagens e registros de relatos de viagens ou crônicas é

necessário cuidado. Tanto os gravuristas e pintores quanto os escritores

descreviam o que viam, mas usualmente buscavam o exótico, e não o usual.

Claro que muitos deles tinham informantes para assessorar os dados

coletados, mas até nesse caso é preciso cautela. Informantes muitas vezes

omitiam ou distorciam dados, com o intuito de mascarar erros ou deslizes, por

eles assim considerados.

Mesmo no Brasil oitocentista, com fartas fontes escritas, poucos são

os que se detêm a descrever ou a informar o que é familiar ou cotidiano, por

supô-los vulgar, como os objetos, os gestos, os hábitos de todos os dias, as

técnicas simples da domesticidade, as modas ou ritos do vestuário, os hábitos

alimentares, os materiais e formatos das construções, etc. São, portanto, de

viajantes, de estrangeiros – e do século XIX – não acostumados com esses

usos e costumes, que o historiador pode pinçar as mais detalhadas descrições,

embora muitas vezes sem ter o próprio observador entendido o seu significado.

Para períodos anteriores, fontes desse tipo são raras. Assim, outro

conjunto documental tem de ser utilizado. A melhor delas, muito explorada a

partir de 1980 para estudos de história agrária e história econômica, são os

inventários post-mortem e os testamentos, a exemplo do que fez,

pioneiramente, Alcântara Machado. A vida material emerge desses

documentos de maneira cristalina, justamente pela essência que determinava a

confecção desse documento.

Vivia-se numa sociedade mercantil, sem dúvida, mas que tinha

dificuldade de acesso a bens manufaturados. Além disso, tudo poderia ser

comercializado. Nos inventários, então, listavam tudo, desde os bens de

elevado valor, como escravos, edificações e animais de serviço, até as mais

comezinhas de mínimo ou, mesmo, de nenhum valor: uma jarra de vidro

quebrada; um oratório pequeno com três imagens, muito velho; uma saia de

baeta, preta, já muito usada; em suma, uma infinidade de, diríamos hoje,

quinquilharias, que nos permitem, felizmente, ter uma idéia bastante

aproximada da realidade da vida material e cotidiana dos homens coloniais.

Os únicos bens que se pressupõe terem existido com relativa

freqüência e quase inexistentes nos arrolamentos eram os feitos de barro,

madeira e palha. Panelas de barro, colheres de pau, esteiras de palha, balaios

e outros objetos deveriam ser comuns na vida das pessoas, mas não

aparecem com freqüência.

As ausências são, nesse caso, significativas. Alguns historiadores

atuais, inadvertidamente informam que os homens coloniais, por exemplo,

dormiam em camas e comiam em mesas. Transportam, simplesmente, hábitos

atuais para um passado distante. Esses não eram, na verdade, móveis

comumente encontrados em inventários coloniais e, quando os havia, não

tinham o tamanho ou o formato que conhecemos hoje. Não era falta. Era, no

mais das vezes, escolha.

As poucas camas descritas em inventários coloniais, por exemplo,

podiam ser de vários tipos. Num inventário do século XVIII, de Campos dos

Goitacases (Rio de Janeiro), a cama foi descrita como um colchão recheado de

folhas. A “cama”, no sentido de lugar onde se dorme, é objeto de um dos livros

mais interessantes sobre a forma de dormir de muitos homens coloniais.

Camara Cascudo escreveu o livro Rede de dormir. Uma pesquisa

etnográfica, publicado em 1959, que demonstra ter sido a rede indígena “as

camas do Brasil desde 1570”26 e assim permanece em algumas regiões até os

dias de hoje. Exageros à parte, posto que não sabemos como eram os

costumes dos escravos de origem africana sobre as formas de dormir, fica a

constatação, através de seus apontamentos, pelo menos de uma informação

fundamental: por “cama”, tanto inventários quanto relatos de cronistas e

viajantes não estão se referindo a uma armação acima do chão, com estrado e

colchão. “Cama” é o lugar onde se dorme, e esse lugar pode ser de vários

tipos, dependendo da origem cultural do usuário.

Quero crer que em muitos povos da África o costume era dormir no

chão, em contato com a terra. Tendo trabalhado por alguns anos com

testamentos e inventários de forros27, não encontrei nem mesmo um que tenha

descrito entre seus bens uma rede. Podemos considerar, é verdade, que

objetos que não foram adquiridos no mercado não entrassem nos bens

arrolados nesses documentos, mas o fato é que em vários outros, de homens e

mulheres livres, houve referência à rede. Acredito que o local de dormir, para

muitas culturas africanas, tenha significado religioso ou mágico, posto que o

sono poderia propiciar sonhos entendidos como comunicação com

antepassados ou certas entidades. Robert Slenes28 conseguiu comprovar que a

proximidade do fogo para dormir era importante para escravos oriundos do

Congo. A forma como se dormia, se mais alto ou baixo do chão, em colchões

26 CAMARA, Luís da Camara Cascudo. Rede de dormir. Uma pesquisa etnográfica. (1ª. ed. 1959, Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, Serviço de Documentação) 2ª. ed., São Paulo: Global, 2003.27 FARIA, Sheila de Castro. Sinhás Pretas, damas mercadoras. As pretas minas nas cidades do Rio de Janeiro e de São João Del Rey (1700-1850). Tese para concurso de Professor Titular em História do Brasil, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2004.28 SLENES, Robert W. Na Senzala uma Flor: As Esperanças e as Recordações na Formação da Família Escrava. RJ, Nova Fronteira, 1999.

ou catres, em redes ou esteiras, poderia, também, estar inserida nessa

concepção religiosa.

Isso não significa dizer que os costumes de índios e europeus foram

por eles rejeitados, pois há inúmeros exemplos claros de aceitação,embora,

evidentemente, com significados diferentes. O mais tradicional é o sapato,

comum em quase todos os espólios de forros nascidos na África que tive

acesso, mas inexistente como costume em terras africanas. Em Angola, no

século XVII, chamavam de branco a quem andava calçado29. Em outras áreas

da África, o chapéu e a bengala foram objetos que denotavam prestígio,

transformados que foram em elementos simbólicos.

Havia um costume comum a todos, fossem oriundos de Portugal, da

África ou do Brasil: comiam com as mãos. O que variava era o recipiente. Entre

alguns grupos da África centro-ocidental, amigos e parentes comiam do mesmo

recipiente, embora mulheres e crianças comessem separadas dos homens30.

Alguns índios comiam da mesma forma: agachados, partilhavam, com as

mãos, das cuias e alimentos comuns. A comida, mais do que alimentar o corpo,

alimentava o espírito. Comer era um ritual, e cabe desvendar quais eram, para

os diferentes grupos culturais, suas formas e seus significados simbólicos.

A adoção de costumes indígenas e africanos entre os povoadores do

Brasil, foi atitude acertada. Segundo Freyre, os portugueses tinham um alto

grau de adaptabilidade cultural. Realmente, mais do que os ingleses e, mesmo,

espanhóis, os portugueses souberam aproveitar, como poucos colonizadores,

o aprendizado para acumular recursos que os fizeram ir tão longe em termos

territoriais e de enriquecimento.

Um outro aspecto a ser tratado no presente projeto é sobre as

técnicas, materiais e formas das construções. Tenho, ainda, várias lacunas

sobre o assunto, mas quero crer que serão sanadas no decorrer da pesquisa.

Como já trabalhei com centenas de inventários post-mortem para a área

açucareira de Campos dos Goitacases, no século XVIII31, região de grandes

29 Referência de Sérgio Buarque de Holanda ao relato de Silva Correia. CORREIA, Silva. História de Angola. Lisboa: 1937 APUD HOLANDA, Sérgio Buarque de. Caminhos e fronteiras. (1ª. ed. 1957) 3ª. ed., São Paulo: Companhia das Letras, 1994.30 LAMAN, Karl. (1953/1957/1962/1968) The Kongo [4 vols.]. Uppasala: Studia Ethnographica IV, VIII, XII, XVI.31 Cf. FARIA, Sheila de Castro. A Colônia em Movimento. Fortuna e Família no Cotidiano Colonial. Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 1998.

engenhos, constatei em pesquisa recente que em nenhum inventário há a

denominação “casa-grande” para se referir à habitação senhorial. Casas de

morada, casas de vivenda ou, simplesmente, casas, sempre no plural, é que

eram usuais nos documentos de época. Foi, entretanto, título de um dos livros

mais conhecidos e traduzidos em várias línguas sobre o Brasil, o já citado

Casa-Grande e Senzala, de Gilberto Freyre.

José de Alencar (1829-1877), no seu romance publicado em 1871, O

Tronco do Ipê, informa que a habitação do senhor era “chamada pelos pretos

Casa-grande”. A se dar crédito às palavras do romancista, o termo passava a

ser comum só naquele momento, no século XIX, e tinha sido assim batizado

pelos “pretos”, os escravos. Gilberto Freyre, na verdade, criou um conceito.

As casas, sempre no plural, tinham razão de ser. Todas as

construções eram contíguas, grudadas umas nas outras, formando um

complexo que unia o local de trabalhar com o de descanso ou de lazer.

Estavam juntas as casas de morada propriamente ditas do senhor, algumas

vezes assobradadas (de dois andares), a capela, as senzalas, as casas de

agregados e trabalhadores livres, a cozinha, o paiol, a despensa, a casa de

farinha e o engenho de açúcar, além do alambique (para fazer aguardente,

atual cachaça).

Tudo estava rodeado por varandas. As “varandas” não tinham a função de

hoje, basicamente de lazer ou de embelezamento de fachadas das residências.

Serviam para diversos fins, como o de cobertura para aparelhos de fazer

farinha, para engenhocas de açúcar ou aguardente, para armazenamento de

colheitas ou depósito de objetos variados.

Um inventário de um senhor de engenho de 1790, da área açucareira de

Campos dos Goitacases, trazia a seguinte descrição das varandas: “(...) um

corpo de engenho com três varandas, uma determinada para casas de

vivenda, outra que serve de picadeiro [provavelmente lugar de armazenamento

de cana picada ou lenha] e outra pra alambique (...) assim mais a casa de

cobres, três varandas, uma para purgar, outra de fogo e outra que serve para

fazer farinha (...)”.

É possível considerar como hipótese que a concentração das construções

num mesmo espaço tenha sido resultado dos primeiros tempos de colonização.

A opção por casas tipo fortalezas, muradas e com portões de entrada dando

para um pátio quadrangular era para prevenir ou conter ataques dos índios.

Muitas dessas casas-fortaleza tinham seteiras, ou seja, rasgos nas paredes por

onde as gentes dos senhores, geralmente índios aliados, colocavam os arcos

para repelir assaltos. Com o tempo, e o progressivo extermínio ou “pacificação”

dos índios em aldeamentos, as construções tornaram-se mais “derramadas”,

nas palavras de Freyre, desmilitarizando-se, mas mantendo-se muito próximas.

As descrições das casas nos inventários de grandes unidades

produtivas não diferiam muito, de região para região ou no tempo. Viviam, ricos

ou pobres, senhores e escravos, muito próximos uns dos outros.

A investigação sobre a casa-grande, ou as casas de morada ou casas

de vivenda, poderia ir mais além. Se o termo foi invenção do escravo, dos

pretos, que se dirá de seu formato? Não se deve desprezar o fato de que as

construções, tanto as do período colonial quanto as do século XIX, eram feitas

com materiais existentes no Brasil e basicamente por escravos, em particular

por escravos vindos da África. Teriam as construções, e a casa-grande em

particular, inspiração africana? O arquiteto Lúcio Costa fez uma viagem, em

1948, a Portugal para estabelecer um sistema que determinasse a filiação da

arquitetura portuguesa com a brasileira. Não conseguiu. As casas portuguesas

não tinham o mesmo padrão arquitetônico nem as divisões das do Brasil.

Concluiu, sabiamente, que a arquitetura, assim como a sociedade brasileira,

não era o resultado imediato de transposição de padrões. Era um complexo

cultural extremamente amplo de interações culturais.

São essas interações, vistas através da cultura material da sociedade

do Brasil, entre os séculos XVIII e primeira metade do XIX, que pretendo

explorar. Devo dizer que muitas informações já foram por mim coletadas,

embora de maneira esparsa e pontual. Durante anos, nos diversos conjuntos

documentais que pesquisei, juntei dados aqui e ali sobre o assunto, publicando

eventualmente algum artigo que envolvesse cultura material, mas nunca me

dediquei a um trabalho rigoroso e sistemático. É o que faço no presente

momento. Sei que é uma tarefa árdua, pois envolve corpus documentais muito

diversos, mas creio que a experiência de pesquisa já acumulada e um conjunto

de fontes já coletado e transcrito me permitirá chegar a conclusões pertinentes.

5) Fontes

Conforme assinalo adiante, tenho já transcrito parte considerável de

inventários e testamentos. Assim, o trabalho do bolsista consistirá na cópia

digitalizada dos documentos nos arquivos indicados e posterior transcrição no

computador. As viagens para a digitalização de dados em Campos dos

Goitacases (RJ) serão financiadas por mim.

As fontes selecionadas se dividem em três corpus documentais,

1) Inventários post-mortem e testamentos

a) Município de Campos dos Goitacases (RJ)

- Arquivo municipal de Campos dos Goitacases – inventários e testamentos

da primeira metade do século XIX

- Inventários já coletados e transcritos: 230 inventários relativos ao século

XVIII

- Testamentos já coletados e transcritos: 43 relativos ao século XVIII e 63

relativos às duas primeiras décadas do XIX

b) Cidade do Rio de Janeiro

- Arquivo Nacional – inventários só existem para a segunda metade do

século XVIII em diante. Serão coletados todos os existentes de dez em dez

anos, perfazendo um total aproximado de 500 documentos.

- Testamentos – já tenho coletados e transcritos 343 testamentos existentes

na Cúria Metropolitana do Rio de Janeiro, entre os anos de 1690 a 1878.

c) Município de São João Del Rei (MG)

- Arquivo do Museu Histórico de São João Del Rei – já foram digitalizados

todos os inventários e testamentos a serem pesquisados. Falta a

transcrição.

2) Viajantes e cronistas

Serão selecionados viajantes e cronistas que passaram pelas áreas

selecionadas. Todos que tiverem imagens serão incluídos.

3) Jornais

Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, Museu Histórico de São João Del Rei e

Biblioteca Municipal de Campos dos Goitacases – serão selecionados três

jornais para a cidade do Rio de Janeiro e um jornal para cada um dos demais

municípios.

6) Metodologia

Um trabalho desse tipo requer uma organização pertinente dos itens a

serem considerados, principalmente em relação ao principal corpus

documental, os inventários post-mortem. Assim, como vou trabalhar com um

tempo longo, dividirei os inventários por períodos de 50 anos. Tenho

consciência de que os da primeira metade do século XVIII serão em bem

menor número. Em cada período, serão separados em quatro grupos, por

quantidade de escravos do espólio: a) nenhum escravo; b) de 1 a 5; c) de 6 a

20; d) mais de 21. Não tem sentido fazer uma separação por valor de monte-

mor, por ser esse valor variável ao longo do tempo. A posse de escravos, essa

sim, define melhor a posição dos proprietários na sociedade.

Em cada um desses grupos, nos períodos considerados, serão

analisados os itens relativos aos seguintes agrupamentos:

1 – Construções

1.1 – Habitação ou domicílio (incluindo cozinhas, quase sempre

separadas do corpo das moradias) – tamanho32; materiais empregados

nas construções; tipos de telhados, de coberturas, de pisos; número de

andares, de portas, de janelas; denominação dos cômodos, etc.

1.2 – Produção – engenhos, engenhocas, casas de farinha, casas de

despejo, paiol, etc.

32 Informação muito rara ou imprecisa. Há, em Campos dos Goitacases, para o século XVIII, uma medida que é sistematicamente descrita: o lanço. Ignoro o que signifique essa medida. No dicionário de Moraes e Silva, publicado em 1789, nada se esclarece. Cf. SILVA, Antônio de Moraes (1813). Dicionário da Língua portuguesa. [1789]. Lisboa: Typografia Lacerdina.

1.3 – Capelas

1.4 – Cercas e muros ao redor das construções

2 – Alimentação/cura

2.1 – Apetrechos destinados ao preparo dos alimentos – panelas,

tachos, gamelas, colheres, facas, etc.

2.2 – Apetrechos ligados ao consumo alimentar – pratos, copos,

talheres, xícaras, baixelas, jarros, tigelas, cocos, muitos deles

designados por seu lugar de origem, como da Índia, da China, de

Flandres, etc.

2.3 – Criação de animais de pequeno porte para consumo – galinhas,

porcos, carneiros, patos, etc.

2.4 – Roças de alimentos – mandioca, feijão, milho33, árvore frutíferas,

etc.

2.5 – Objetos ligados à caça ou à pesca, como espingardas e redes

2.6 – Alimentos comprados no mercado – relação de gastos da casa –

era comum haver um grande espaço de tempo entre a avaliação dos

bens e a partilha. Nesse caso, o inventariante era obrigado a fazer uma

relação dos gastos com a casa, incluindo sempre os realizados com

alimentação. Essa relação permite-nos saber o que se comprava no

mercado e, por exclusão e dedução, o que se cultivava e consumia no

domicílio.

2.7 – Mesinhas e doenças – nas mesmas relações com os gastos da

casa, há também indicações com os gastos com doenças dos parentes,

agregados e escravos. Em algumas, há detalhamento sobre os método

ou remédio que se utilizou – sangria, clisteres, remédios, mesinhas, etc.

2.8 – Panos para comer – toalhas, guardanapos.

3 – Recheios das casas

3.1 – Móveis – mesas, cadeiras, bancos, tamboretes, canastras,

bufetes, catres, camas, etc.

3.2 – Enfeites – espelhos, castiçais, cortinas, tapetes, painéis, etc.

3.3 – Oratórios e imagens

33 O milho era, em algumas regiões, desprezado para o consumo humano e só servia para alimentação das criações. Com o tempo, passou a ter vários usos culinários.

3.4 – Objetos de higiene – bacias, jarros, escovas, panos, etc.

4 – Vestidos e adereços

4.1 – Roupas – denominação das peças, tipos de tecidos, cores,

origem (londres, flamengo, da costa, etc.)

4.2 – Ornamentos – rendas, botões, brocados, fitas, chapéus, mantos,

cores, etc.

4.3 – Sapatos – tipos, materiais e cores

4.4 – Jóias

Concomitante ao trabalho com os inventários, serão lidos e fichados os

viajantes e cronistas, assim como analisadas as representações iconográficas.

Por último, serão analisados os anúncios de vendas de produtos dos jornais,

catalogados por tipos. Dessa forma, pode-se ter uma idéia precisa sobre o que

consumiam de manufaturados ou de produtos alimentícios os habitantes de

diferentes áreas do Brasil oitocentista.

7) Hipótese de trabalho

É minha hipótese básica que, durante o período colonial, tanto faz se

em zonas rurais ou urbanas, as trocas entre os diferentes tipos culturais

portugueses, indígenas e africanos foram intensas na montagem da vida

material da sociedade portuguesa no Brasil. Os portugueses utilizaram

amplamente as técnicas e materiais de origens indígenas e africanas34 no

modo de viver – na construção dos edifícios, na alimentação, no vestuário, na

fabricação de móveis, etc. Por outro lado, imperavam os artigos importados do

oriente, muito mais do que da Europa.

A vinda da corte portuguesa para o Brasil e a abertura dos portos ao

comércio externo trouxeram outros elementos estrangeiros a interagir nesse já

imenso complexo sócio-cultural. Essa influência não foi imediata. Inicialmente,

só produtos ingleses, em especial os têxteis de algodão, devem ter sido

consumidos na capital – Rio de Janeiro – e, mais adiante, nas cidades

interioranas. Logo depois vieram os vidros, ferragens, etc. Esses produtos só

devem aparecer em inventários a partir de meados da década de 1810 e,

34 Estou, obviamente, usando portugueses, africanos e indígenas de maneira simplificada.

mesmo assim, vagarosamente. Na década de 1820, com a independência e

uma maior liberdade de comércio, produtos de outras nações, principalmente

os finos artigos franceses, passaram a fazer parte dos bens materiais dos mais

enriquecidos.

Foram sendo desprezados, cada vez mais, os artigos orientais e os

produtos da terra. O Brasil, antes índio, africano e oriental, europeizou-se,

inclusive nas zonas rurais distantes dos portos. Ajudou muito, para essa

difusão, a imprensa, através dos jornais e seus anúncios. São essas

transformações que quero apresentar, com base nos inventários desse longo

período.

8) Plano de trabalho dos bolsistas

Os bolsistas atuarão em todas as etapas. Primeiro, selecionarão os

inventários que faltam ser copiados para o Rio de Janeiro (é o maior trabalho) e

para Campos dos Goitacases, já que os de São João Del Rei estão

digitalizados; listarão os viajantes e cronistas que estiveram nessas áreas e

todos os jornais locais. Eu selecionarei o material a ser efetivamente

pesquisado.

Depois, transcreverão os documentos por mim selecionados. O

processamento dos dados será o próximo passo. Ao mesmo tempo em que

fazem esse trabalho, realizarão leituras pertinentes ao tema, principalmente os

clássicos, como Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, Alcântara

Machado e Camara Cascudo. A análise dos documentos já processados

resultará em trabalhos que apresentarão em Seminários da UFF e de outras

instituições e em suas monografias de final de curso.

9) Cronograma de pesquisa dos bolsistas

Ano 2007Meses Listagem de

documentos Rio de Janeiro

Listagem e digitalização de documentos de

Trabalho com os inventários, anúncios de

Leitura de textos/ Processamen

Redação de relatórios, artigos,

e digitalização Campos dos Goitacases

jornais e viajantes

to de dados monografias e livro

Ago XSet XOut XNov XDez XAno 2008Jan XFev XMar X XAbr X XMai X XJun X XJul XAgo XSet X XOut X XNov X XDez XAno 2009Jan XFev XMar XAbr XMai XJun XJul XAgo X XSet X XOut X XNov X XDez X XAno 2010Jan X XFev X XMar X XAbr XMai XJun XJul X

10) Bibliografia citada

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