2 o texto de mateus 21,33-46, sua delimitação e estrutura
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2 O Texto de Mateus 21,33-46, sua delimitao e estrutura
Como texto base para o presente estudo tomaremos Mateus 21,43, no
contexto da parbola dos vinhateiros homicidas 21,33-46. A escolha do texto foi
determinada por dois motivos centrais:
Em primeiro lugar, porque nessa possvel clusula redacional encontra-se
abordada a questo forense: ela essencial para alcanar o significado da parbola
dos vinhateiros homicidas (21,33-46), principalmente como parbola jurdica.
precisamente no verso 43 que Mateus indica a culpa de Israel (seus dirigentes) e
sua imediata e inevitvel condenao, com a perda da basilei,a, para logo em
seguida transferi-la para um novo e;qnoj que produza seus frutos. Essa dinmica
bem articulada em uma provvel perspectiva de procedimento jurdico.
Em segundo lugar, motivou-nos o estudo deste texto a possvel
compreenso de que esta temtica possa apontar para a concepo do sentido
jurdico no Evangelho de Mateus, a partir de uma anlise dos elementos
constitutivos da sentena de 21,43.
A anlise da construo de texto nos ajudar mostrar que Mateus 21,33-46
pode ser visto como unidade literria autnoma, com uma estrutura bem
organizada. Veremos a relao temtica nos vinhateiros como tambm na
sequncia do texto que antecede e no que se segue; assim como investigaremos a
macro estrutura do Evangelho de Mateus, por conseguinte indicaremos
caractersticas jurdicas na estrutura dos vinhateiros homicidas.
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2.1. Texto de Mateus 21,33-461
:Allhn parabolh.n avkou,sate
a;nqrwpoj h=n oivkodespo,thj o[stij
evfu,teusen avmpelw/na
kai. fragmo.n auvtw/| perie,qhken
kai. w;ruxen evn auvtw/| lhno.n
kai. wv|kodo,mhsen pu,rgon
kai. evxe,deto auvto.n gewrgoi/j
kai. avpedh,mhsen
33 Escutai outra parbola.
Havia, um homem, dono de casa, que
plantou uma vinha,
e uma cerca colocou em volta,
e cavou nela um lagar
e construiu uma torre
e arrendou-a a lavradores,
e se ausentou em viajem.
o[te de. h;ggisen
o` kairo.j tw/n karpw/n(
avpe,steilen tou.j dou,louj auvtou/
pro.j tou.j gewrgou.j
labei/n tou.j karpou.j auvtou/
34 Quando, porm,
se aproximou o tempo dos frutos,
enviou os seus servos
aos lavradores
para receber os seus frutos.
kai. labo,ntej oi gewrgoi. tou.j
dou,louj auvtou/ o]n me.n e;deiran( o]n
de. avpe,kteinan( o]n de. evliqobo,lhsan
35 E tomando os servos, os lavradores
espancaram a um, mataram a outro, a
outro apedrejaram.
pa,lin avpe,steilen a;llouj dou,louj
plei,onaj tw/n prw,twn(
kai. evpoi,hsan auvtoi/j w`sau,twj
36 De novo enviou outros servos,
em maior nmero que os primeiros,
e fizeram-lhes o mesmo.
u[steron de. avpe,steilen pro.j auvtou.j
to.n ui`o.n auvtou/ le,gwn\
evntraph,sontai to.n uio,n mou
37 Depois, porm, enviou-lhes
seu filho, dizendo:
Tero respeito pelo meu filho.
oi de. gewrgoi. ivdo,ntej to.n uio.n
ei=pon evn eautoi/j\
ou-to,j evstin o klhrono,moj\
deu/te avpoktei,nwmen auvto.n
kai. scw/men th.n klhronomi,an
auvtou/(
38 Porm, os lavradores, vendo o filho,
disseram entre eles:
Este o herdeiro:
vinde, matemo-lo
e tomemos posse da sua herana.
kai. labo,ntej auvto.n
evxe,balon e;xw tou/ avmpelw/noj
kai. avpe,kteinan
39 E tendo tomado-o
o lanaram fora da vinha,
e o mataram.
o[tan ou=n e;lqh|
o` ku,rioj tou/ avmpelw/noj(
ti, poih,sei toi/j gewrgoi/j evkei,noij
40 Quando, portanto, vier
o senhor da vinha,
que far queles lavradores?
1NESTL-ALAND, novum Testamentum Graece, 27 edio, 1998.
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le,gousin auvtw/|\ kakou.j kakw/j
avpole,sei auvtou.j
kai. to.n avmpelw/na evkdw,setai
a;lloij gewrgoi/j(
oi[tinej avpodw,sousin auvtw/|
tou.j karpou.j evn toi/j kairoi/j
auvtw/n
41 Dizem-lhe: Sendo maus, de modo mau
os destruir,
e a vinha arrendar
a outros lavradores,
tais que pagaro a ele
os frutos no tempo devido
a ele.
Le,gei auvtoi/j o` VIhsou/j\
ouvde,pote avne,gnwte evn tai/j
grafai/j\ li,qon o]n avpedoki,masan
oi oivkodomou/ntej(
ou-toj evgenh,qh eivj kefalh.n gwni,aj\
para. kuri,ou evge,neto au[th
kai. e;stin qaumasth. evn ovfqalmoi/j
h`mw/
42 Jesus lhes diz:
Nunca lestes nas Escrituras:
A pedra que rejeitaram
os edificadores
esta se tornou por cabea do ngulo;
pelo Senhor foi feito isto
e maravilhoso aos nossos olhos?
dia. tou/to le,gw umi/n
o[ti avrqh,setai avfV umw/n
h` basilei,a tou/ qeou/
kai. doqh,setai e;qnei
poiou/nti tou.j karpou.j auvth/j
43 Por isso vos digo
que ser tirado de vs
o Reino de Deus
e ser dado a um povo que
produza seus frutos.
kai. o` pesw.n evpi. to.n li,qon tou/ton
sunqlasqh,setai\
evfV o]n dV a'n pe,sh| likmh,sei auvto,n
44 [E o que caiu sobre essa pedra
ficar espedaado;
sobre quem ela cair, o esmagar].
Kai. avkou,santej
oi avrcierei/j
kai. oi` Farisai/oi
ta.j parabola.j auvtou/
e;gnwsan o[ti peri. auvtw/n le,gei\
45 E tendo ouvido
os principais sacerdotes
e os fariseus
as suas parbolas
conheceram que fala a respeito deles.
kai. zhtou/ntej auvto.n krath/sai
evfobh,qhsan tou.j o;clouj(
evpei. eivj profh,thn auvto.n ei=con
46 E buscando-o agarrar,
temeram as multides,
visto que por profeta o tinham.
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2.2. Notas sobre a traduo de Mateus 21,33-46
A transmisso do texto de Mateus 21,33-46 no oferece problemas
significativos quanto ao seu aparato crtico. As principais variantes apresentadas
so as seguintes:
No v. 36, o advrbio palin construdo com diversas partculas,
resultando em vrias leituras alternativas: kai palin (e de novo); palin oun (de
novo / portanto) e palin de (de novo / porm). Essas variantes promovem apenas
uma mudana estilstica, sem provocar qualquer alterao de sentido ou de
contedo. No obstante, prefervel manter o advrbio palin sem a presena de
partculas, j que antecede ao verbo de movimento avposte,llw denotando um
sentido de retorno a um estado anterior pelo insucesso da ao, portanto h
necessidade de se introduzir uma vez mais, novamente, de novo na sequncia
lgica da narrativa.
No v. 38, o verbo scw/men sofre alterao no final da frase: e tenhamos a
sua herana. Esta alterao a seguinte: katascwmen, do verbo katecw (reter,
conter, deter, etc) ficaria: e retenhamos a sua herana. Esta forma parece apenas
criar uma forte dramatizao na ao desesperadora dos vinhateiros. Mostra que a
inteno deles somente a herana. A conservao do verbo scw/men atende
melhor ao sentido do texto. O que pode ser observado a partir das reflexes que
se encontram em um plano moral estabelecido desde a inteno do oivkodespo,thj
(v.36) como ltima alternativa, enviar o seu filho. Entretanto, a proposta que os
vinhateiros confabulam no v. 38 invivel, isso porque o proprietrio est vivo,
impossibilitando assim a reteno da herana. De qualquer modo, o verbo scw/men
no resolveria a incoerncia observada, mas suavizaria a articulao do texto, e
apontaria tanto para uma questo moral quanto tambm para uma questo de
carter jurdico, j que o seu filho era, alm da sua ltima alternativa, o seu
herdeiro legtimo. Ou seja, o seu representante legal.
O v.39: kai. labo,ntej auvto.n evxe,balon e;xw tou/ avmpelw/noj kai. avpe,kteinan
o lanaram fora da vinha, e o mataram. A variante assinalada2 trata da inverso
de palavras. A ordem das palavras encontra-se invertida para auvto.n avpe,kteinan
kai. evxe,balon e;xw tou/ avmpelw/noj, o mataram e lanaram fora da vinha
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possvel conferir outras leituras alternativas sempre na tentativa de harmonizar
com o texto correlato do Evangelho de Marcos 12,8 (kai. labo,ntej avpe,kteinan
auvto.n kai. evxe,balon auvto.n e;xw tou/ avmpelw/noj). Desta maneira, assimilado
sequncia de Marcos, o filho morto e ento lanado fora da vinha (Marcos 12,8).
Entretanto, para Mateus (21,39) e Lucas (20,15), refletindo o fato que Jesus fora
crucificado fora da cidade (Joo 19,17.20; Hb 13,12s) alteram naturalmente a
ordem de Marcos. A expulso do filho acontece antes do assassinato
premeditado3. Os sinticos concordam na motivao do assassinato do filho. A
nica alterao expressiva nos pormenores da morte est, portanto, na
intensificao da alegoria. Sendo assim, prefervel manter o verso 39, na ordem
presente, pois atende a inteno do redator mateano, j que Marcos mostra que os
vinhateiros ao assassinarem o filho lanam o corpo insepulto fora da vinha, mas
Mateus e Lucas, independentemente de Marcos, apresentam a alegoria bem
prximo do que seria a realidade, onde o filho foi lanado para fora da vinha e
ento foi morto, assim como Jesus foi crucificado fora da cidade de Jerusalm4.
v.44: kai. o pesw.n evpi. to.n li,qon tou/ton sunqlasqh,setai\ evfV o]n dV a'n
pe,sh| likmh,sei auvto,n
O versculo 44 omitido em algumas testemunhas5. Parece tratar de uma
antiga interpolao, levando-se em considerao o paralelo de Lucas 20,18.
Praticamente no h nenhuma conexo com o verso 43. Tambm a imagem do v.
42 no facilita muito. A citao de Salmo 118,22-23 era uma necessidade
pertinente ao processo de alegorizao. Porm, um lugar que corresponda de
maneira mais adequada sua incluso seria aps o verso 42, ainda que a ligao
com o verso 43 seja bastante fraca e a idia do verso 42 tampouco equivalente.
Possivelmente sua supresso possa ser elucidada, considerando que, o olho do
copista passou de auvth/j (v.43) para auvto,n6. O v. 44 sugere um destino terrvel
para os dirigentes judeus, logo aps a sentena punitiva pela sua esterilidade, ou
2De acordo com o aparato crtico da The Greek New Testament, 4 edio
3METZGER, B.M., A textual commentary on the Greek New Testament, New York, United Bible
societies, 1975. 4DRURY, J., The Sower, lhe Vineyard, and the Place of Allegory in the Interpretation of Mark's
Parables, in JTS, 24, 1973, p. 372. 5O v. 44 omitido nas seguintes testemunhas: D 33; sy
s;Irenacus
lat; Origen; Eusebius
syr.
6Apesar de considerar o versculo um acrscimo ao texto, devido sua antiguidade e importncia
na tradio textual, a comisso (GNT) resolveu ret-lo no texto, dentro de colchetes duplos. Sendo
assim, os editores apresentaram, precedido pela sigla {C}, o que mostra que sua originalidade est
sujeita a um aprecivel grau de dvida.
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seja, sua incapacidade de produzir frutos (v. 43). Analisando o v. 44 sob esse
aspecto torna a sequncia mais vivel.
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2.3. Delimitao de Mateus 21,33-46
A percope da parbola dos vinhateiros em Mateus 21,33-46 pode ser
delimitada sem maiores dificuldades. Os elementos presentes no incio, no
desenvolvimento e no final da narrativa so relativamente simples e a estrutura
textual quanto a sua segmentao so bem precisas. Porm, mostra-se uma
condio sine qua non na interpretao, j que o prprio texto de Mateus 21,33-46
deixa vislumbrar algumas fases no seu processo redacional, comparando com a
sua fonte principal.
A construo narrativa da percope precedente dos dois filhos (21,28-32)
faz parte com a controvrsia sobre a autoridade de Jesus (v. 23-27), que no
apresenta um final com caractersticas estilsticas e nem um dito conclusivo de
Jesus, alm do mais, a parbola (28-32) no proporciona, como era de se esperar,
uma exposio narrativa. Pelo contrrio, a parbola iniciada com uma pergunta
no v. 28 (Ti, de. u`mi/n dokei/) que resulta de uma srie de questionamentos
articulados desde o v. 23, quando os interlocutores de Jesus perguntam pela sua
evxousi,a, com o seu momento conclusivo no verso 32, colocando temporariamente
um fim a controvrsia. Encontramos na concluso (v. 32) uma breve aplicao,
bem concatenada com a disputa anterior de Jesus com os sumos sacerdotes e
ancios (23-27), quando a sua autoridade questionada7.
O verso 33 introduz a unidade textual com :Allhn parabolh.n avkou,sate O
uso do verbo avkou,w na forma imperativa do aoristo ativo supe a presena de
pessoas (2 pessoa do plural). Jesus conta uma nova histria aos seus
interlocutores do v. 23. Portanto, a narrativa da parbola dos vinhateiros
homicidas destaca-se da precedente parbola dos dois filhos (Mateus 21,28-32)
pelo incio de uma nova narrativa (a;lloj). A percope aparece em forma de
parbola (:Allhn parabolh.n), onde os v. 33-39 apresentam elementos
parablicos. Dentro dessa perspectiva apresentada a parbola da vinha com um
breve anncio (33a) A parbola em si comea no 33b segue at 39.
7GOURGUES, M., As parbolas de Jesus em Marcos e Mateus, p. 132. Gourgues delimita a
percope 21,28-32, observando a introduo do verso 28, por uma pergunta de Jesus (que vos
parece?) e sua concluso no verso 32. Para Ulrich Luz essa unidade literria inicia-se no v. 23 e
se prolonga at o v. 32. LUZ, U., El Evangelio segn San Mateo, p.274.
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A introduo (33) situa a histria, demonstrando uma estreita relao de
Deus com os homens; o que bem prprio de Mateus, j que ele apresenta em sua
teologia a tendncia de proporcionar essa relao Deus / homem8, atravs da
analogia do senhor / servo: Mateus 10,25: o` dou/loj w`j o` ku,rioj auvtou/; 13,27: oi
dou/loi tou/ oivkodespo,tou; e tambm em 20,1.11. Mateus mostra que este homem
um oivkodespo,thj proprietrio; essa adequao estabelece teologicamente
tambm a relao entre o senhor da vinha e os vinhateiros. Assim, a sua audincia
perceber a responsabilidade que lhe devida de tornar ao proprietrio (Deus) os
frutos da sua vinha. A dinmica do relato se estende at o seu ponto decisivo (37-
39).
A expectativa criada na narrativa parablica (37-39) agora de forma
proposital direcionada aos interlocutores de Jesus (40-41). O caso apresentado na
dramatizao anterior, entre o senhor da vinha e os vinhateiros, requer da
audincia mateana uma imediata tomada de deciso e isso se d atravs do
julgamento do episdio apresentado da seguinte maneira:
Com uma nova indicao temporal, o verso 40a insere: Quando,
portanto, vier o senhor da vinha. empregado um recurso estilstico em forma
jurdica9, com a pergunta em 40b. Desta forma, os ouvintes prontamente
interagem na dramatizao emitindo um juzo. Na etapa conclusiva da narrativa
(42-46), a dinmica do relato indica o ponto mais surpreendente de toda
dramatizao (43): a principal reclamao a necessidade de dar frutos e, por
conseguinte a inesperada transferncia da basilei,a tou/ qeou/ para um novo e;qnoj.
A parbola tem sua concluso com o v. 46. O captulo 22, a partir do
versculo 1, apresenta um novo enfoque, explicitado pelo uso do advrbio pa,lin e
que se estende ao verso 14, que d a forma conclusiva para essa unidade textual.
O verso 1 de carter introdutrio com uma formulao bem precisa. Desta
maneira, conecta essa nova unidade textual (parbola do banquete nupcial) com o
verso anterior (46). A parbola do banquete nupcial tem a sua narrativa a partir
do v.2 que se prolonga at o v. 13b; seguida por um comentrio (13c-14).
A anlise da construo de texto mostra que Mateus 21,33-46 pode ser visto
como unidade literria intercalada com mais duas parbolas: dos dois filhos
8Cf., LON-DUFOUR, S. J. X., tudes Dvangile, p. 338. Lon-Dufour mostra que esta relao
Deus / homem supera simbolicamente a exigncia de fidelidade aliana. 9Esse recurso tambm usado na parbola anterior (21,31)
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(21,28-32) e a parbola do banquete nupcial (22,1-14). O texto est bem
construdo e sua unidade literria pode ser com nitidez assinalada, embora com
diferentes momentos, destacando a sentena jurdica no v. 43: como a parbola
(33-39), que dentro da perspectiva de uma parbola, o escritor de Mateus
apresenta os vinhateiros homicidas. Em seguida se destaca o julgamento (40-41),
que se d aps a exposio da parbola e formulada uma pergunta no verso 40:
Quando, portanto, vier o senhor da vinha, que far queles lavradores?. Cabe
aos interlocutores de Jesus julgarem o caso apresentado; e faro isso respondendo
imediatamente (41b): kakou.j kakw/j avpole,sei auvtou.j. Na ltima etapa desse
processo surgem a acusao e a interpretao (42-46), a principal reclamao a
necessidade de produzir (poie,w) frutos (43), logo ocorre a transferncia para um
novo e;qnoj. Os interlocutores interpretam a parbola. Entendem que a histria
relatada mostra o prprio conflito deles com Jesus.
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2.4. Aspectos estruturais no Evangelho de Mateus
A estrutura literria do Evangelho de Mateus tem estado no centro de
controvrsias e constantes debates. No existe atualmente qualquer consenso
sobre a estrutura deste Evangelho, que se tornou objeto de intenso interesse e
investigao aprofundada entre os estudiosos. De acordo com R. Gundry10
a
estrutura do Evangelho de Mateus no pode ser explicado a partir de uma nica
formulao. Mas, uma srie de dispositivos que daro forma estrutural ao
Evangelho. As hipteses so inmeras, desde incluses, quiasmos11
, repeties12
,
trades, padres numricos, frmulas repetitivas13
, at fluxo narrativo que se
desenvolve do incio ao fim do Evangelho, como a proposta de M. Thompson14
e
R. A. Edwards15
.
F. Matera16
e J. D. Kingsbury17
tm sugerido hipteses semelhantes a partir
dessa perspectiva estrutural para a compreenso da trama de Mateus, dando nfase
aos elementos do fluxo narrativo, como causalidade e conflito. F. Matera, em seu
artigo The Plot of Matthew's Gospel, analisa a estrutura de Mateus considerando
que os eventos esto relacionados entre si em termos de causa e efeito e atravs
do discernimento dessas relaes causais que a lgica da narrativa aclarada. A
nfase voltada para a causalidade mostra que o significado dos eventos s pode
ser determinado em funo dos seus resultados. Assim, Matera diferentemente de
Edwards, no analisa a trama do Evangelho de Mateus pela leitura narrativa a
partir do seu incio, mas, sim, pelo final. Para ele, trata-se de um padro de causa
e efeito que se desenvolve ao longo da narrativa provocando sempre uma reao
para a narrativa seguinte. Desta forma, o final do Evangelho de Mateus revela este
efeito final.
10
GUNDRY, R., Matthew: A Commentary on His Literary and Theological Art. Grand Rapids:
Eerdmans, 1982, pp. 10-11. 11
LUZ, U., Matthew 1-7. pp. 31-41. Para U. Luz a estrutura enfatizada por repeties de
palavras, por incluses e por formulao de quiasmo. 12
ANDERSON, C., Double and triple Stories, the Implied reader and Redundancy in matthew, in
Semeia 31 (1985), pp. 71-89. 13
BURNETT, F. W., Prolegomenon to reading Matthews Eschatological Discourse: redundancy
and the Education of the Reader in Matthew, in semeia 31 (1985), pp. 91-109. 14
THOMPSON, M., The Structure of Matthew: A Survey of Recent Trends, p. 238. 15
EDWARDS, R. A., Matthews Story of Jesus. Philadelphia: Fortress, 1985, p. 9. 16
MATERA, F., The Plot of Matthew's Gospel, in CBQ 49 (1987) 233-253. 17
KINGSBURY, J. D., Matthew as Story. Philadelphia: Fortress, 1988.
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A narrativa termina com um desenvolvimento (misso para os gentios) que
pareceu necessrio em uma fase anterior (10,6; 15,24). O enredo (lgica
narrativa) do Evangelho explicaria essa evoluo. Matera acredita que,
apresentando o movimento do Evangelho de Israel para as naes tratar-se-ia de
uma consequncia da rejeio de Israel do Jesus Messias18
.
A parbola dos vinhateiros homicidas (21,33-46) teria uma funo
importante dentro dessa anlise, j que trataria da rejeio de Israel e o assassinato
de Jesus. Tanto em 21,41, com a rejeio e em 21,43 com a consequente
passagem do Reino para os que produzissem frutos (comunidade mateana) so a
causa da grande comisso em Mateus 28,16-20. Ela prpria uma causa que vai
ter efeitos diversos na histria (cf. 10,16-25; 24,9-14). O ponto inteiro da grande
comisso colocado no final da narrativa de Mateus (28,16-20).
Assim, a estrutura apresentada com seis grandes blocos de narrativa: a
vinda do Messias (1,1-4,11), o ministrio do Messias de Israel (4,12-11,1), a crise
no ministrio do Messias (11,2-16,12), a viagem do Messias para Jerusalm
(16,13-20,34), a morte e ressurreio do Messias (21,1-28,15), e por fim a grande
comisso (28,16-20).
No entanto, nenhum desses dispositivos literrios19
tem predominncia na
estrutura do Evangelho. A proposta do fluxo narrativo que se desenvolve do incio
ao fim do Evangelho interessante sob o aspecto temtico, contudo, enquanto
proposta de estrutura no suficientemente capaz de atender a complexidade
estrutural do Evangelho de Mateus.
18
MATERA, F., The Plot of Matthew's Gospel, p. 243. No aspecto de Jesus, o Messias, Deus
cumpre suas promessas a Israel. Mas Israel se recusa a aceitar Jesus como o Messias. Por
conseguinte, o Evangelho passa para as naes. 19
BAUER, D., The Structure of Matthews Gospel: A Study in Literary Design. Sheffield: Almond,
1988. Bauer emprega dispositivos literrios para indicar as unidades maiores na relao estrutural.
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2.4.1. A estrutura do Evangelho de Mateus em cinco discursos
A complexidade do tema e a falta de acordo sobre a metodologia aplicada
possibilitam assim inmeras solues. A mais conhecida e mais influente hiptese
sobre a estrutura de Mateus surgiu no incio do sculo passado por B.W. Bacon20
.
A sua proposta conhecida como teoria do Pentateuco. Ele fez uma relao entre
o Evangelho e a Torah mosaica. Assim como o Pentateuco composto por cinco
livros21
, contendo material narrativo e discursivo, de igual modo Bacon fez uma
aproximao com o Evangelho de Mateus22
. Ele notou uma alternncia por cinco
vezes entre as narrativas (N) e os discursos (D), mediada por uma frmula
estereotipada em 7,28; 11,1; 13,53; 19,1; 26,1, entre os quntuplos discursos,
provocando uma importante cesura no texto. Esta frmula tem uma funo de
concluso do discurso.
Assim, os discursos no so desconexos e nem rompem o tecido narrativo,
mas, interligam-se aos relatos provocando o movimento da ao. Cada discurso
(representado pela sigla D) precedido por uma seo introdutria na narrativa
(representada pela sigla N). No total, este padro (N + D) ocorre cinco vezes, em
que o primeiro comea em 3,1 e o ltimo tem o seu desfecho em 25,46. Alm do
mais, cada discurso estabelece sua prpria unidade literria e ao mesmo tempo
evidencia sua linha temtica. O que se percebe, principalmente quanto aos
aspectos do Reino dos Cus, com uma forte progresso perpassando-os
sistematicamente.
Os cinco discursos so emoldurados por um prembulo (Mt 1-2) e um
eplogo (Mt 26-28). Assim a estrutura do Evangelho est essencialmente arranjada
20
B.W. BACON, The Five Books of Matthew Against the Jews, in The Expositor VII, 85 (1918),
pp. 56-66. 21
Era prtica comum na literatura judaica a tendncia em arranjar materiais escritursticos
agrupados em nmero de cinco: como o caso do Pentateuco; os cinco livros de Salmos; cinco
divises nos Megillot, como tambm no Pirk Abot. 22
ENSLIN, M., The Five Books of Matthew: Bacon on the Gospel of Matthew, in The Harvard
Theological Review, p. 68; Para Morton S. Enslin o redator mateano estava preocupado no s
com o cinco grandes discursos, mas com as narrativas que levaram a eles e do modo como
forneceram suas configuraes histricas, precisamente maneira dos sucessivos cdigos do
Pentateuco.
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em cinco grandes blocos, tendo os acontecimentos histricos, atravs das
narrativas, concatenados em torno dessas grandes sees23
Prlogo 1,1-2,23
Narrativa
3,1-4,25
Primeiro discurso 5,1-7,27 Sermo da Montanha24
Frmula
7,28-29
Quando Jesus acabou de
proferir estas palavras...
Narrativa
8,1-10,1
Segundo discurso 10,5-42 Misso instruo25
Frmula
11,1
Ora, tendo acabado Jesus de
dar estas instrues a seus
doze discpulos...
Narrativa 11,2-12,50
Terceiro discurso 13,1-52 Parbolas Reino dos Cus26
Frmula
13,53
Tendo Jesus proferido estas
parbolas...
23
Essa estrutura usada pela Bblia de Jerusalm: Cada livro tem, assim, uma parte narrativa e um
discurso: 1 parte: relatos da infncia - Mt 1-2; 2 parte (primeiro livro): Justia do Reino de Deus
3-7. Narra o incio da misso de Jesus na Galilia, a chegada do Reino. Consta do Sermo da
Montanha e das condies para participar do Reino. 3 parte (segundo livro): Uma justia que
liberta os pobres 8-10 - Narra sobre chamado de Jesus, os primeiros vocacionados do Reino e o
discurso missionrio de Jesus. 4 parte (terceiro livro): Uma justia que provoca conflitos 11,1-
13,52 - Apresenta os segredos e os conflitos do Reino, a aceitao e a rejeio. Narra as
maravilhosas parbolas de Jesus. 5 parte (quarto livro): O novo povo de Deus 13,53-18,35 -
Trata da organizao do Reino: o novo Povo de Deus. Fala da preparao dos discpulos e trs o
discurso sobre a Igreja: comunidade dos seguidores que vivem a proposta do Reino. 6 parte
(quinto livro): A vinda definitiva do Reino 19-25 - Narra a consumao do Reino, Jesus em
Jerusalm e o confronto com os judeus. 7 parte: relatos da paixo-ressurreio 26-28.
MAZZAROLO, I., Evangelho de So Mateus. p. 7. Mazzarolo tambm prope essa estrutura com
dois conjuntos temticos, os cincos discursos e as cinco seces narrativas:
1. Os cincos grandes discursos: a) O sermo da Montanha 5-7; b) as instrues aos missionrios 10; c) O discurso das parbolas 13; d) Instrues sobre a moral social 18; e)
O discurso escatolgico juzo final 24-25.
2. As cinco seces narrativas: a) o anncio da proximidade do Reino 3-4; b) Os dez milagres de manifestao do Messias 8-9; c) A doutrina do reinado de Deus e o
julgamento das tradies 11-12; d) ensinamentos diversos sobre o modo de conduta e as
opes morais 13,53-17,27; e) releitura dos ensinamentos dos antepassados sobre ritos e
prticas religiosas com a dimenso da justia e da misericrdia 19-23, preparando o
discurso final de 24-25. 24
Trata da proclamao de Jesus acerca do Reino dos Cus com todas suas prerrogativas. 25
A extenso indicativa do Reino dos Cus numa perspectiva missionria. 26
O discurso em linguagem parablica, tratando exclusivamente da natureza do Reino dos Cus.
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Narrativa 13,54-
17,27
Quarto discurso 18,1-35 Prticas comunitrias27
Frmula
19,1
...concluindo Jesus estas
palavras...
Narrativa 19,2-22,46
Quinto discurso 23,1-25,46 Discurso escatolgico28
Frmula
26,1
Tendo Jesus acabado todos
estes ensinamentos...
Eplogo 26,3-28,20
Diversas crticas proposta da estrutura de B. W. Bacon tem surgido, j
que essa hiptese no consegue solucionar por completo toda complexidade
estrutural do Evangelho de Mateus. Um exemplo da limitao dessa proposta o
prlogo que se restringe somente a genealogia, e principalmente o eplogo (26-28)
que incontestavelmente o ponto culminante do drama da histria mateana sobre
Jesus. Contudo, Bacon classifica-os como prlogo e eplogo, deixando-os de fora
dos cinco livros (discursos) ou das narrativas, que compem a sua estrutura do
Evangelho. Alm disso, soma-se o fato de que a colocao inicial para cada
frmula no fim dos discursos, no corresponde exatamente o lugar que se
esperaria29
.
As diferenas rigorosas observadas entre N e D apresentam-se
mecanicamente elaboradas para justificar a hiptese. Para tanto, basta uma anlise
superficial nos textos de Mt 1-2 e 26-28, j que se tratam conforme a proposta de
Bacon, de um prlogo e um eplogo respectivamente, para se verificar a
plasticidade de tal formulao. J que esvazia de forma ntida a importncia de
ambas narrativas. Alis, esse gnero narrativo explcito na sua importncia para
Mateus. Assim, indiscutvel que tais textos seguem na mesma perspectiva que as
demais narrativas (N). Em ltima anlise, considerando a diferena entre N e D,
no resta dvida que os textos em 1-2 e 26-28, podem e devem ser categorizados
27
Trata da comunidade mateana que assume o Reino dos Cus, se define como discurso
eclesiolgico. 28
Os elementos escatolgicos evidenciam esse discurso. um convite para o Reino dos Cus. 29
KEEGAN, T.J., Introductory Formulae for Matthean Discourses, in CBQ 44 (1982), pp. 415-
430.
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sob o gnero narrativo (N). A hiptese de Bacon deixa a desejar por fazer essa
distino, j que a alternncia entre N e D, no caracterstica dos textos de 3,1
at 25,46 apenas, mas isso se evidencia na constituio de todo livro30
.
A simples observao da coerncia interna da narrativa e do discurso que
compem cada livro-discurso no to clara e efetiva como supe Bacon. A
frmula estereotipada, que um elemento importante da hiptese estrutural de
Bacon, na realidade ela conclui uma coleo de ditos e no um discurso, incluindo
tambm a narrativa31
. Alm do mais, essa diviso de cada livro somado ao
discurso distribudo em narrativa, tendo a frmula como elemento essencial,
mostra que a frmula estereotipada no necessariamente conclusiva para a seo
anterior, porm muito pelo contrrio, ela introduz a seo seguinte, ou seja, no
uma frmula final, mas uma frmula que provoca a mudana, concatenando a
articulao redacional do Evangelho.
No entanto, a proposta de Bacon muito importante em muitos aspectos,
como os cinco discursos, mesmo que se tenham dificuldades quanto delimitao
exata; a frmula estereotipada, que no caso no seria conclusiva, mas sim de
transio.
2.4.1.1. A parbola dos vinhateiros na estrutura dos cinco discursos
A parbola dos vinhateiros homicidas (21,33-46) faz parte da narrativa
proposta por Bacon (19,2 - 22,46), entre o quarto e o quinto discurso. A frmula
encontrada em 19,1 ...concluindo Jesus estas palavras... introduz essa ltima
etapa. O relato em si tem seu incio no discurso eclesial do captulo 18. Trata-se
da ruptura com o judasmo (18,1-22,46). A partir de 19,1 o cenrio se desloca para
Jerusalm e o fim da histria de Jesus narrada por Mateus tem aqui o seu incio.
Nesse deslocamento, se percebe a tmida presena dos adversrios e at
mesmo da multido contrapondo-se aos relatos anteriores. Desta forma, os
30
Recentemente D. O. Via novamente chamou a ateno para duas das estruturas mais bvias
presentes em Mateus: a conhecida frmula de cinco vezes (7,28; 11,1; 13,53; 19,1 e 26,1), e a
repetio da frase em 4,17. 31
DAVIES, W. D., The Setting of the Sermon on the Mount. Cambridge: Cambrideg University,
1964, pp. 14-25.
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captulos 1932
e 2033
manifestam a instruo devotada para os discpulos quanto
ao Reino de Deus. O que muda consideravelmente depois da entrada em
Jerusalm, com a expulso dos vendilhes do Templo (21,1-22).
Os relatos que antecedem o quinto discurso so significativos (21,1-22,46),
pois tratam de uma srie de confrontos com as autoridades judaicas. O
posicionamento da parbola dos vinhateiros nessa etapa da narrativa estratgico.
Ela faz parte de uma seo homognea articulada por mais duas parbolas: a que
antecede a parbola do dois filhos (21,28-32) e a que segue o banquete nupcial
(22,1-14). Essa seo retrata o ministrio de Jesus em Jerusalm, apontado por
Mateus por um intenso conflito com as principais autoridades judaicas34
. a
ltima etapa narrativa de Mateus, que revela, a partir desse momento, uma
mudana importante para o desfecho da misso de Jesus. Mateus usa a parbola
dos vinhateiros como parte essencial nessa etapa da narrativa. Quanto estrutura
ela se encontra praticamente centrada na ltima etapa narrativa. Isso mostra a
importncia da clusula 21,43 sob o aspecto estrutural, quanto a sua posio, mas,
principalmente para o sentido jurdico em relao macroestrutura de Mateus. O
que muito relevante para o objeto dessa pesquisa. Portanto, essa seo antecede
o prximo e ltimo discurso, que o discurso escatolgico (23,1-25,46).
A estrutura proposta por Bacon mostra uma alternncia significativa entre
a narrativa e o discurso. Surpreende o fato que cada narrativa introduz um tema
que ser desenvolvido cabalmente no discurso seguinte, ou seja, cada discurso
apresenta um plano temtico e uma unidade literria bem delimitada. Mateus
insere aps os quatro primeiros, a observao: (E) aconteceu que ao terminar
Jesus estas palavras... basta conferir em 7,28; 11,1; 13,53 e 19,1. J aps o
quinto discurso ele fecha de forma conclusiva relacionando esse aos demais
discursos: Quando Jesus terminou todas estas palavras... (26,1).
Essas frases propem uma forma conclusiva aos discursos, contudo elas
indicam, tambm, uma funo de transio para o material narrativo que as
sucedem. Alm do mais, os discursos apresentam inmeros elementos do Reino
32
Mateus 19,3-12 e 19,16,22 tratam da Lei. O que muito importante para Mateus, tanto a
compreenso quanto a aplicao. Ele desenvolve esses elementos para diferenciar a sua
comunidade da dos judeus; pelo cumprimento da lei. 33
O Reino de Deus apresentado na parbola dos trabalhadores na vinha (20,1-16) com o objetivo
de indicar a posio e o lugar no Reino. A percope seguinte d continuidade ao tema sobre
posio e hierarquia (20,17-28).
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dos cus com um claro desenvolvimento temtico entre eles35
; no caso da
parbola dos vinhateiros homicidas (21,33-46), esse Reino deixa de ser
definitivamente exclusividade do judasmo, assim a parbola tematiza, em forma
jurdica (v.43) a esterilidade pela deficincia na produo dos frutos esperados.
2.4.2. A estrutura do Evangelho de Mateus em forma de quiasmo
A partir de C. Lohr36
, H. B. Green37
e o artigo de H. J. B. Combrink38
The
Macrostructure of the Gospel of Matthew surge uma proposta, que tem como
enfoque principal as formas de quiasmo.
Na mesma linha de Bacon, se percebem a funcionalidade elaborada por
Mateus no desenvolvimento da sua obra. No entanto, argumenta-se a favor de
uma ordenao concntrica com o discurso parablico (13,1-52) como o centro de
todo o livro.
O contedo e a definio dos captulos 23 e 24-25 so significativamente
diferentes. Sugerem ento, no cinco, mas seis discursos39
. O. Lamar Cope fez
uma comparao do incio dos seis discursos (5,1; 10,1; 13,1; 18,1; 23,1 e 24,1), e
observou um paralelismo entre 5,1-2 e 13,1-3a em que ambos, Jesus est sentado
34
ROBINSON, J. A. T., The Parable of the Wicked Husbandmen: A Test of Synoptic
Relationships, p. 444. 35
SMITH, C.R., Literary Evidence of a Fivefold Structure in the Gospel of Matthew, in NTS 43
(1997), pp. 540-551. 36
LOHR, C., Oral Techniques in the Gospel of Matthew, in CBQ 23 (1961), pp. 403-435. 37
GREEN, H.B., The Structure of St Matthews Gospel, in Studia Evangelica IV (ed. F. L. Cross,
Berlin: Akademie, 1968, pp. 47-59. 38
COMBRINK, H.J.B., The Macrostructure of the Gospel of Matthew, in Neot 16 (1982), pp. 1-90. 39
O. Lamar Cope tambm percebe seis e no cinco discursos na composio da estrutura de
Mateus, COPE, O. L., Matthew: um A Scribe Trained for the Kingdom of Heaven (CBQMS 5;
Washington: Catholic Biblical Association, 1976), p. 15. BARR, D., The Drama of Matthews
Gospel, in TD 24 (1976), p.351. David Barr observou no incio dos discursos (5,1; 10,1; 13,1;
18,1; 23,1 e 24,1) a alternncia entre o;clouj (multides) com a frase: auvtou/ prosh/lqan auvtw/| oi` maqhtai. auvtou/ (aproximaram-se os seus discpulos). Barr notou o uso distinto de prose,rcomai (5,1; 18,1; 24,1), muitas vezes referindo-se a ela como uma frmula estereotipada, quando
utilizado em conjunto com oi` maqhtai. (5,1; 23,1 e 24,1) ou com lale,w (24,1) ou com ambos. THOMPSON, W.G., Reflections on the Composition of Mt 8:1-9:34 in CBQ 33, n.18 (1971), p.
371. Para Thompson Mateus s usa esse padro estilstico prose,rcomai para descrever uma multido no incio de um novo episdio.
BORNKAMM, G., End Expectation and Church in Matthew, Tradition and interpretation in
Matthew (Philadelphia: Westminsier, 1963), p. 21. Para Borkamm a frase estereotipada
prose,rcomai e oi` maqhtai aparece no incio de cinco ocorrncias (5,1, 13,10, 36; 18,1 e 24,1).
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em um lugar com a multido. Em 5,1-2, como tambm em 23,1, tanto as
multides e os discpulos esto reunidos, enquanto em 10,1; 18,1, e 24,1 apenas os
discpulos so abordados pelo Mestre.
A alternncia entre a narrativa (N) e o discurso (D), conforme enfatizado
por Bacon pode ser estabelecido para gerar um esquema de quiasmo, que perpassa
todo o Evangelho.
Frmulas repetidas na narrativa mateana tambm so analisadas como
possibilidade de se resolver questionamentos estruturais do Evangelho.
Assim, a estrutura proposta por C. H. Lohr ficaria da seguinte forma40
:
1-4 Nascimento-preparao (N)41
5-7 Sermo da Montanha (D)
8-9 Autoridade-misso salvadora (N)
10 Discurso missionrio (D)
11-12 Rejeio-reino escondido
(N)
13Parbolas do Reino
(D)
14-17 Reconhecimento-dscipulos
(N)
18 Discurso da comunidade (D)
19-22 Oposio (N)
23-5 Discurso escatolgico (D)
26-8 Paixo-morte-ressurreio (N)
As diferentes tcnicas de repetio talvez seja uma das caractersticas mais
marcantes da narrativa mateana. O padro repetitivo de cinco discursos de Jesus
alternando com sees narrativas estabelece uma padro simtrico para todo o
Evangelho. No entanto, apesar de vrios biblistas analisarem um padro
inteiramente simtrico ou concntrico na estrutura de Mateus, no h uma
concordncia quanto ao ponto central desse padro simtrico. Para H. B Green42
40
LOHR, C., Oral Techniques in the Gospel of Matthew, pp. 427-430. 41
N: narrativa; D: discurso 42
GREEN, H. B., The Structure of St Matthew's Gospel, in F. L. Cross (ed.), Studia Evangelica, IV
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o elemento aglutinador dessa simetria na estrutura de todo o Evangelho
justamente o captulo 11, seria o ponto central do padro simtrico. P. F. Ellis43
,
no percebe assim, ele entende que o elemento aglutinador da estrutura
concntrica o captulo 13, com os seus discursos e outras sees narrativas orga-
nizados de forma simtrica em torno dele.
J. D. Kingsbury44
na sua anlise da estrutura do Evangelho percebe a
presena da frase: Da por diante, passou Jesus a pregar e a dizer... (VApo. to,te
h;rxato...) tanto em 4,17 como em 16,21. Ele considera a frmula (VApo. to,te
h;rxato...) crucial para as grandes linhas do Evangelho45, de forma temtica, bem
como destaca alguns importantes pontos de viragem na histria, indicando novas
fases importantes no ministrio de Jesus46
. Essa frase repetida em 4,17 e 16,21
para ele a chave para desvendar o plano estrutural de Mateus47
. Em 4,17, o
narrador declara VApo. to,te h;rxato..., e em 16,21 ele repete, a parte inicial do
verso, porm acrescenta: ... comeou Jesus Cristo a mostrar a seus discpulos
que lhe era necessrio seguir para Jerusalm e sofrer ..., ser morto e ressuscitado
no terceiro dia.
Kingsbury reconhece a importncia desses versos para a estrutura do
Evangelho de Mateus, na medida em que contm uma frmula peculiar de
Mateus 48
. bem verdade que os versos tm de fato um significado inequvoco a
partir de uma perspectiva literria, j que eles servem como indicadores para o
fluxo narrativo. Alm do mais eles indicam para o leitor as importantes e
decisivas articulaes no desenvolvimento da trama narrativa do Evangelho.
Kingsbury prope uma estrutura com uma diviso tripartida 49
:
1. 1,1-4,16 Identifica a pessoa de Jesus como Messias
2. 4,17-16,20 Identifica a personalidade e a proclamao do Messias
Parte I. pp. 47-59. 43
ELLIS, P. F., Matthew: His Mind and His Message (Collegeville: Liturgical, 1974), p. 12. 44
KINGSBURY, J. D., Matthew as Story. Philadelphia: Fortress, 1986, pp. 38-41. 45
Id., Matthew: Structure, Christology, Kingdom. p. 8. 46
A proposta de Kingsbury com base nas duas frases (4,17 e 16,21) como marcao para o
desenvolvimento redacional na histria mateana, uma tentativa para explicar toda a
complexidade da estrutura do Evangelho. 47
KINGSBURY, J. D., Matthew as Story, p. 3. Embora Kingsbury exponha sua hiptese a partir
das questes como sequncias temporais e de causalidade, sua descrio da trama de Mateus
deriva em grande parte de outro aspecto da crtica literria, o conflito de anlise: O elemento de
conflito central para o enredo do Evangelho de Mateus. 48
KINGSBURY, J. D., Matthew as Story, p. 40. 49
Id., Matthew: Structure, Christology, Kingdom. p. 9.
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3. 16,21-28,20 Identifica o sofrimento, morte e ressurreio do
Messias
Desta forma, 4,17 e 16,21 so como pontos elementares que provocam
uma diviso em trs sees na redao mateana. A primeira aparece nas trs
passagens: 4,23-25; 9,35 e 11,1. J 16,21 sinaliza as duas outras predies da
paixo de Jesus em 17,22-23 e 20,17-19. Essa interpretao do Evangelho de
carter cristolgico. Ele reconhece que, dado o desenvolvimento do conflito ao
longo da narrativa, surgem diversas cadeias de correlao de eventos, como uma
apresentao de trs linhas da histria: a histria de Jesus, a histria religiosa
dos lderes de Israel e a histria dos discpulos.
a linha da histria de Jesus que mais influencia a estrutura e a forma da
narrativa como um todo50
. Para provar a unidade interna nas duas sees 4,17-
16,20 e 16,21-28,20 demonstrada a presena de trs resumos principais: 17,22-
23; 20,17-19 e 26,251
. No entanto o resumo da terceira predio em 26,2 breve
quando se compara com o resumo da primeira em 11,1.
A hiptese de J. D. Kingsbury comprovar a estrutura quistica de Mateus
a partir das duas frases idnticas em 4,17 e 16,21, acrescentando as formas quase
idnticas em dois pares: na tentao em 4,10/16,23 e na voz vinda dos cus em
3,17/17,5b.
A estrutura quistica ficaria do seguinte modo:
(A) Elias identificado: o precursor do Messias (3,4)
(B) Insere a voz: ...eis uma voz dos cus... (3,17)
(C) Faz-se uma aluso literria para Moiss e Elias: E, depois
de jejuar quarenta dias e quarenta noites, teve fome (4,2)
(D) H uma rejeio da tentao (4,10a) e em 4,17 segue-
se a narrativa onde inserido o movimento com a frmula
de incio: VApo. to,te h;rxato.... Essa ordem ser
revertida aps 16,21
(D) H uma rejeio da tentao (16,23)
(C) Moiss e Elias aparecem (17,3)
(B) Insere a voz: ...uma voz que dizia... (17,5)
(A) Elias identificado (17,10-13)
50
KINGSBURY, J. D., Matthew as Story, pp. 115-129. 51
Ibid., pp. 23-24.
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80
A seo narrativa de Mateus 3-4, antecedendo o primeiro grande discurso
(5-7), introduz o mistrio de Jesus e, em contra partida, conclusivo para as
narrativas do prlogo. Kingsbury faz um paralelo com os elementos dessa seo
com os episdios que se deram em torno da confisso de Pedro em Cesrea
(16,13-17,27).
De maneira precisa, apresenta a frmula compartilhada pelas duas sees.
bem verdade, que nas duas vezes, a frmula (VApo. to,te h;rxato...) insere um
importante ensinamento de Jesus. Primeiro, ocorre depois das tentaes,
...passou Jesus a pregar e a dizer... est prximo o reino dos cus (4,17) e, aps
a confisso de Pedro a segunda tentao (16,21).
Contudo, nas duas sees, h tambm uma importante revelao, primeiro
no batismo, a voz celeste testemunha a filiao de Jesus; segundo em Cesrea, so
os discpulos que, pela boca de Pedro, o confessam como o Messias, Filho de
Deus. interessante perceber que nos dois casos da tentao, primeiro por
Satans e depois por Pedro, a resposta apresentada exatamente a mesma (u[page(
satana/).
A estrutura quistica de Kingsbury tem como finalidade fundamentar o
messianismo de Jesus a partir desses elementos. Fica claro tambm, que este
padro caracterstico de Mateus. No h correlatos em Marcos nem em Lucas52
.
Ao contrrio de Mateus 17,10-13, onde o precursor do Messias
identificado como Joo Batista, Marcos no o identifica como tal. Por sua vez,
Lucas no tem paralelos com Mateus em 3,4/17,10-13 e 4,10/16,23.
Contudo, a proposta de Kingsbury de uma estrutura na forma de quiasmos
para todo o Evangelho de Mateus precisaria de uma demonstrao mais eficiente.
52
Na anlise de B. R. Doyle se percebe uma estrutura bsica com um princpio organizado a partir
de uma perspectiva eclesistica. Caracterstica essa peculiar somente a Mateus em detrimento de
Marcos e Lucas. Na formulao dessa perspectiva o que acontece aos discpulos acontece tambm,
na mesma proporo, aos membros da comunidade mateana. D. OConnor e J. Jimenez
apresentam uma hiptese idntica, a partir de um princpio organizado que perpassa todo
Evangelho, no entanto analisam os textos que denotam as metforas na relao pai-filho, conforme
a metfora encontrada em 1,1-12,50, que so desenvolvidas em 13,1-27,66 e transcendem em
28,1-20. DOYLE, B. R., Matthews Intention as Discerned by His Structure, in RB 95 (1988), pp.
34-54. OCONNOR, D. e JIMENEZ, J., The Images of Jesus: Exploring the Metaphor in
Matthews Gospel. Minneapolis: Winston, 1977, p. 13. (1) Pai e Filho: institui a metfora (1,1-
12,50); (2) Pai e Filho: explorando a metfora (13,1 27,66) e (3) o Pai e o Filho: transcendem a
metfora (28,1-20)
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81
A parbola dos vinhateiros homicidas (21,33-46), nessa estrutura, faz
parte da segunda seo de Mateus 16,21-28,20, onde Kingsbury identifica o
sofrimento, morte e ressurreio do Messias. A partir de outros indicadores
textuais (por exemplo, as trs previses da paixo de Cristo), o padro concntrico
pode ser modificado para incluir o captulo 18 (quarto discurso) em uma seo
16,21-20,34. O significado da frmula repetidas em 4,17 e 16,21 tambm leva a
aceitar uma seo principal, que tem a sua unidade a partir de 4,18. A composio
simtrica de Mateus pode ser diagramada da seguinte forma:
A Narrativa (1,1-4,17) O nascimento e a preparao de Jesus
B Primeiro discurso (4,18-7,29) Ensino com autoridade
C Narrativa (8,1-9,35) Ao com autoridade - dez milagres
D Segundo discurso (9,36-11,1) A misso dos doze com autoridade
E Narrativa (11,2-12,50) O convite de Jesus rejeitado por esta
gerao
F Terceiro discurso (13,1-53) As parbolas do reino
E Narrativa (13,54-16,20) Atos de compaixo para os judeus e
gentios
D Quarto discurso dentro de narrativa (16,21-20,34) A paixo
iminente
C Narrativa (21,1-22,46) A autoridade de Jesus questionada em
Jerusalm
B Quinto discurso (23,1-25,46) Sentena para Israel e a vinda do
reino
A Narrativa (26,1-28,20) Paixo, morte e ressurreio de Jesus.
Relatos contidos em B (4,18-7,29) e C (8,1-9,35) podem ser precisamente
coligados pela presena repetida de 4,23 em 9,35: Percorria Jesus... pregando o
Evangelho do reino e curando toda sorte de doenas e enfermidades entre o
povo. J os relatos contidos na seo C(21,1-22,46) e B (23,1-25,46 ) mostram
os confrontos de Jesus em Jerusalm antes de sua paixo e morte, onde as
temticas evidenciadas so a questo da autoridade, tendo como resposta as trs
parbolas em 21,28-22,14, em que 21,43 extremamente decisivo sob o aspecto
de juzo, aliadas ao conjunto seguinte de julgamento. A seo 21,1-22,46
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82
formada por uma srie de oito dilogos, comeando com os adversrios de Jesus,
questionando a sua (21,23-27) e terminando com Jesus questionando seus
oponentes (22,41-46)53
.
Mateus 21,43 introduz essa srie de juzos para mostrar programaticamente
certo universalismo manifestado pela composio da comunidade mateana. Trata-
se do novo e;qnoj. Um novo povo de Deus acessvel a todas as naes que
produzir os seus frutos (21,43).
proclamado solenemente em 28,16-20. A basilei,a tou/ qeou/ passa a ser
prerrogativa desse novo e;qnoj. Todo o Evangelho manifesta acentuadamente esse
importante tema. Desde 1,1 Mateus faz uma ligao direta entre Jesus e Abrao,
sendo que no episdio dos reis magos (2,1-12) evidencia a presena pag com sua
forte incluso. Nesse mesmo ritmo, a seo C (8,1-9,35), mas precisamente em
8,10-12 no fica de fora j que coloca no mesmo patamar a sorte dos filhos do
reino com os estrangeiros. A seo D (9,36-11,1) da misso empreendida alcana
de forma indiscriminada os gentios em 10,18. A evidncia final extrapola os
limites palestinenses, j que a ordem de anncio do Evangelho para todo o
mundo, isso est bem caracterstico em 24,14 (...pa/sin toi/j e;qnesin...) na seo
B (23,1-25,46), onde a sentena para Israel e a vinda do reino tematizam de
maneira uniforme. O mesmo se verifica na parte conclusiva do Evangelho na
seo C (26,1-28,20) que trata respectivamente da paixo, morte e ressurreio
de Jesus, que em seguida sinaliza a ordem imperativa (poreuqe,ntej) em 28,19 (...
pa,nta ta. e;qnh...).
A estrutura proposta destaca a seo F (13,1-53) como o centro agregador
de todo tecido narrativo do Evangelho. Assim, as parbolas do Reino tornam-se o
ponto central. A seo F intercala E (11,2-12,50) e E(13,54-16,20), formando a
maior seo (E F E). Nesta seo h um embate polmico de Jesus contra
...uma gerao m e adltera.... Na realidade essa rejeio se repete ao longo da
seo (12,39.41.45); que seguido imediatamente pelas parbolas (F).
No material narrativo de E (13,54-16,20), que trata dos atos de compaixo
tanto para os judeus como para os gentios , ento, confessado Jesus como
Messias e Filho de Deus. O conflito perpassa esses textos de forma acirrada em
53
Os dilogos na seo 21,1-22,46: 21,23-26; 28-32; 33-46; 22,1-14; 15-22; 23-33; 34-40; 41-46.
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14,1-12; 15,1-20 e 16,1-4. A consequncia natural se verifica pela oposio aliada
incredulidade que toma uma postura mais rspida.
O padro simtrico, alm disso, enfatiza a correspondncia entre o prlogo e
o eplogo do Evangelho, respectivamente em A (1,1-4,17) e A (26,1-28,20) entre
os vrios discursos (B B; D D), no ficando de fora as vrias sees
narrativas (C C; E E), compondo assim a diagramao simtrica de todo o
Evangelho de Mateus.
2.4.3. Avaliao da relevncia das investigaes para a perspectiva jurdica de 21,43 na estrutura do Evangelho de Mateus
Nosso objetivo foi traar a diversidade e a falta de consenso no debate
atual, a fim de posicionarmos a parbola dos vinhateiros homicidas numa
estrutura mais coerente. Das opes apresentadas, os cinco discursos so
caractersticas importantes na estrutura do Evangelho de Mateus, contudo por si
s no consegue ser um modelo estrutural que se enquadre perfeitamente.
Contudo, diante das propostas, o modelo estrutural dos cincos discursos o de
maior relevncia para a avaliao da nossa hiptese principal. Pelas seguintes
razes:
Em primeiro lugar, a estrutura dos cinco discursos possui uma conexo
bem encadeada na temtica mateana. Alm dos discursos no serem desconexos,
tambm se mostram estruturalmente homogneos, pois no rompe em nenhum
momento o tecido narrativo. Muito pelo contrrio, interligam-se perfeitamente aos
relatos. Cada discurso constitui sua prpria unidade literria e ao mesmo tempo
comprova sua linha temtica. Esto arrumados em cinco grandes blocos,
intercalados pelas narrativas.
Em segundo lugar significativo para essa pesquisa a apresentao de
uma estrutura coerente e bem definida. Isso se d pelo simples fato da relevncia
do aspecto jurdico na estrutura, que ser apontado a seguir. Mateus aplica nos
discursos, um horizonte temtico, articulando efetivamente o desenvolvimento de
sua teologia.
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Por ltimo, para uma anlise da perspectiva jurdica na literatura mateana,
a partir da anlise dos elementos constitutivos da sentena de Mateus 21,43,
identificarei tal sentena como uma possvel chave de leitura tanto para a estrutura
como para a teologia mateana.
A nossa anlise conclusiva para a estrutura de Mateus aponta para a
disposio de textos de juzos que acreditamos que eles desempenham um papel
muito importante para a estrutura do Evangelho de Mateus, so eles: 7,15-23. 24-
27; 10,40-42; 13,47-50; 18,23-35; 23,37-39 e 25,31-46.
O que mais significativo que todos esses textos finalizam os cinco
discursos propostos por B.W. Bacon, com a alternncia por cinco vezes entre as
narrativas e os discursos, mediados por uma frmula estereotipada em 7,28; 11,1;
13,53; 19,1; 26,1, entre os quntuplos discursos, provocando uma importante
cesura no texto. De tal modo, que os nossos textos de categorias jurdicas sob o
tema de julgamento tornam-se indicadores importantes para a anlise estrutural de
Mateus, aliados a proposta de Bacon, completando-se com claros anncios de
juzo para a comunidade mateana.
Assim, no final do primeiro discurso em 5,1-7,27 (sermo da montanha)
temos um duplo texto de julgamento: 7,15-23. 24-27, seguido de uma frmula
estereotipada conclusiva do discurso 7,28. importante observa que alguns dos
elementos constitutivos da sentena jurdica em 21,43 tambm esto presentes
aqui.
O final do segundo discurso 10,5-42 (misso e instruo) apresenta, de igual
modo, um texto de juzo e recompensa (10,40-42), tambm seguido pela frmula
estereotipada em 11,1. bem verdade, que o tema de juzo e de recompensa
reiterado em outras percopes dentro dos discursos e tambm em outros lugares do
Evangelho.
O terceiro discurso em 13,1-52 que trata das parbolas do Reino dos Cus
tem no seu desfecho tambm uma forma de julgamento (13,47-50). A frmula
conclusiva aparece em 13,53.
J no quarto discurso que trata das prticas comunitrias em 18,1-35, o tema
de juzo est presente na parbola do credor incompassivo (18,23-35). 19,1 a
frmula conclusiva do discurso, mas tambm tem a funo de transicionar do
discurso para a narrativa.
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O mesmo acontece no ltimo discurso de Mateus (23,1-25,46) que trata do
tema escatolgico, apresentando um duplo texto de julgamento em 23,37-39 e
25,31-46 (essa particularidade de um duplo texto de categoria jurdica
apresentada tanto no primeiro como no ltimo discurso). A frmula estereotipada
com a concluso e a funo de transio para a narrativa aparece logo em seguida
em 26,1.
Essas caractersticas peculiares apontam para a aplicao da mensagem de
julgamento encadeando a problemtica da Lei e da justia. Assim sendo, a fora
da basilei,a futura, de acordo com 21,43, resulta da associao desses e de outros
elementos.
Contudo, podemos assinalar que todas essas observaes estruturais na
proposta de Bacon, contribuem significativamente para uma anlise da
perspectiva jurdica na literatura mateana, tornando-se possvel a partir da anlise
da estrutura e dos elementos constitutivos de Mt 21,43.
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2.5. Aspectos estruturais no contexto prximo da parbola dos vinhateiros (21,33-46)
A seo que retrata uma srie de controvrsias54
com um cenrio de conflito
que o ltimo grande ajuste de contas de Jesus com a principal liderana de
Israel, tem a parbola dos vinhateiros arranjada com mais duas parbolas: a
parbola do dois filhos (21,28-32) e o banquete nupcial (22,1-14).
A partir de Mt 19,1, concluindo Jesus estas palavras, deixou a Galilia e
foi para o territrio da Judia, alm do Jordo. Essa mudana geogrfica
definitiva, trata-se de uma nova e derradeira etapa na misso de Jesus: a
caminhada para Jerusalm. Jesus se retira da Galilia definitivamente e chega
enfim regio da Judia55
, tendo Jeric como o ltimo lugar de passagem, antes
da chegada em Jerusalm56
. O destino da viagem atingido em 21,1-1757
. A
presena dos verbos evggi,zw em 21,1; eivselqo,ntoj em 21,10; eivse,rcomai em 21,12
e evxe,rcomai em 21,17 mostram o movimento continuo elaborado por Mateus na
etapa inicial da misso de Jesus em Jerusalm, preparando o cenrio para os
confrontos decisivos58
. 21,18-22 demonstra um juzo sobre o templo e seus lde-
res, denotando uma cena estranha mas importante quanto ao aspecto da acusao
jurdica percebida mais claramente em 21,4359
.
A grande seo 21-2560
tem uma forma estilizada por Mateus com o claro
objetivo de manifestar a inevitvel tenso que Jesus sofreu no embate acirrado
54
Essas controvrsias se comparam com 12,1-16,20. 55
Os locais topogrficos em 21,1-17 expressados especificamente pelo Monte das Oliveiras,
Templo e Betnia surgem de forma indita na narrativa at esse momento, contudo mostram a
introduo de um novo cenrio que ser explorado nas passagens subseqentes. 56
MAZZAROLO, I., Evangelho de So Mateus. p. 280. 57
Nos nove primeiros versos Jesus se encontra no Monte das Oliveiras, nos arredores de Jerusalm;
j em 21,10 mostra a entrada na cidade; em 21,12, ele entra no templo e em 21,17 ele sai da cidade
em direo Betnia. 58
A estreita ligao com a seo anterior visvel pela transio natural da narrativa, mas tambm
pela clara indicao na formulao de Jesus como Filho de David, tanto em 20,30-31 (ui`o.j Daui,d), bem como em 21,9 (wsanna. tw/| ui`w/| Daui,d\). 59
Esta srie de controvrsia entre Jesus e seus adversrios, se introduz com a breve passagem da
maldio da figueira na primeira hora da manh, quando Jesus e seus discpulos sobem novamente
para o Templo (21,18-22). A ao, provavelmente prefigura a queda de Jerusalm e a inevitvel
destruio do Templo em 70 d.C., alm de mostrar a improdutividade de Israel. 60
A estrutura do contexto prximo da parbola dos vinhateiros homicidas, a partir da chegada de
Jesus Jerusalm e tambm na seqncia de suas atividades na cidade nos textos subseqentes,
como pano de fundo para as grandes controvrsias (21,18-25,46), ficaria do seguinte modo:
A 21,18-22 A figueira seca
B 21,23-23,39 Controvrsias com os adversrios na rea do Templo
C 24,1-2 Descritiva da futura destruio do Templo
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com as autoridades judaicas61
. Mateus 21,43 indica perfeitamente o carter
jurdico que essa tenso promoveria a partir desse ponto crtico e do efeito
inevitvel da deciso promulgada, tanto de forma negativa para os sacerdotes e
fariseus (21,45), que perderiam a prerrogativa da basilei,a, como de forma
positiva para o novo e;qnoj, ou seja, a comunidade mateana agora detentora da
basilei,a tou/ qeou/. Essas controvrsias se agrupam de maneira formal, junto as
disputas em 21,15-1762
.23-27 e tambm em 22,15-46. Somam-se as duas
parbolas polmicas em 21,28-32 e 22,1-14 tendo a parbola dos vinhateiros
homicidas ressoando-as de forma temtica (21,33-46) com um carter
efetivamente jurdico (21,43) que se desemboca no captulo 23 que trata da
invectivas e ameaas de juzo.
O discurso no Templo (21,23-27) provoca de forma imediata uma espcie
de interrogatrio jurdico oficial, (21,23): Com que autoridade fazes estas
coisas?... (evn poi,a| evxousi,a| tau/ta poiei/j). A atitude de Jesus em relao ao
questionamento de sua autoridade (evxousi,a) faz com que ele transforme
precisamente o interrogatrio em controvrsia de estilo rabnico, em que o
questionado responde questionando os seus interlocutores.
Esse ncleo oferece ainda indicaes sobre como a morte de Jesus est
sendo articulada j a partir do tema da disputa entre Jesus e os lderes de
Jerusalm. A questo da fonte da autoridade de Jesus em ltima anlise uma
questo de sua identidade (21,25). Mateus 21,28-22,14 faz uma conexo com as
desgraas anunciadas em Mateus 23. Sob ataque, os lderes de Jerusalm no se
limitam a tomar conselho para destruir Jesus. Contudo, a inteno ativamente
prend-lo (21,46), criando armadilha (22,15) e traando com sucesso a realizao
de sua priso (26,4.47) e morte (27,2.20.41).
justamente nessa conjuno de conflito, articulado precisamente com a
parbola dos vinhateiros, que Mateus contesta de modo latente a importante
D 24,3-25,46 O ltimo grande discurso
61Jerusalm torna-se palco das speras controvrsias tendo no discurso antifarisaico (Mt 23) a
transio para o discurso escatolgico (Mt 24-25). 62
A chegada de Jesus na rea do Templo provoca uma srie de medidas controversas envolvendo-o
em um breve debate com oi` avrcierei/j kai. oi` grammatei/j, j que eles consideraram as aes oriundas da sua chegada, como qerapeu,w (21,14) e a aclamao messinica dos pai/doi: w`sanna. tw/| ui`w/| Daui,d, uma verdadeira e absurda profanao do Templo. Assim ntido que essa passagem funcionalmente uma introduo para a deciso cabal de Mt 21,43.
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pergunta sobre a autoridade de Jesus em 21,23. A partir desse confronto que
Mateus adapta a parbola dos vinhateiros no seu contexto prximo:
A concluso da parbola dos dois filhos (21,28-32) est concatenada
pergunta de Jesus sobre o batismo de Joo (21,25) e a parbola do banquete
nupcial (22,1-14). A redao de Mateus mostra, atravs dessa nova srie de trs
parbolas dois importantes temas: a culpa dos principais lderes de Israel e a
vocao dos gentios63.
A estrutura da parbola dos dois filhos (21,28-32) que bastante idntica a
dos vinhateiros menciona tambm uma vinha, alm das caractersticas jurdicas
implcitas64
. A pergunta de Jesus para os seus ouvintes em 21,30 agora de igual
modo trabalhado em 21,40. Alis, o que sinaliza perfeitamente um processo legal
sendo estabelecido, com os mesmos artifcios literrios que demanda um processo
jurdico, conforme em 2 Sm 12,1-14 como em Is 5,1-7. A resposta dos oponentes
se d de forma imediata em 21,31 como em 21,41 introduzida por le,gousin. A
concluso introduzida por Le,gei auvtoi/j o VIhsou/j em 21,31-32 como em
21,42-44. Em ambos os casos a sentena promulgada de forma categrica.
Toda essa seo refere-se aos principais dirigentes judeus e caracterizado
pela promulgao da sua inevitvel condenao. A parbola dos dois filhos
determina seu principal foco no no a Joo Batista (21,28-32).
A parbola dos vinhateiros trata da fatalidade dos profetas em Israel e
tambm do destino final do Filho, Jesus (21,33-41). J em 22,2-14 observado o
envio dos missionrios cristos a Israel, e estende o cenrio da misso pag. No
obstante, na sua introduo em 22,1 o advrbio pa,lin indica efetivamente a
interrupo de uma sequncia natural iniciada em 21,33a (:Allhn parabolh.n),
indicando que ambas as parbolas so interdependentes.
De maneira mais especfica, podemos fazer a seguinte relao. A parbola
dos dois filhos indica a indiferena dos destinatrios no caminho da basilei,an tou/
qeou/ (21,31). Enquanto nos vinhateiros, numa leitura mais atenta, d a entender
que os destinatrios perdem o privilgio do reino, cf. 21,43: ser tirado de vs o
63
DILLON, R.J., Towards a Tradition-History of the Parables of the True Israel (Matthew 21,33-
22,14), pp. 5-6. De acordo com Dillon, Mateus 21,33 22,14 um complexo nico que
provavelmente trata-se de uma reconstruo da histria do uso destas parbolas na instruo e
reflexo da Igreja mateana e que era originalmente usado em textos separados, mas chegaram a ser
associados para o uso da comunidade para a assimilao do livro de Mateus 64
Cf., WEREN W. J. C. The Use of Isaiah 5,1-7 in the Parable of the Tenants (Mark 12,1-12; Mat-
thew 21,33-46), p. 12.
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Reino de Deus... (avrqh,setai avfV u`mw/n h` basilei,a tou/ qeou/) e sero destrudos
em 21,41: sendo maus, de modo mau os destruir (kakou.j kakw/j avpole,sei
auvtou.j). A parbola do banquete nupcial mostra de maneira surpreendente a
inevitvel destruio da cidade de Jerusalm (22,7). Por conseguinte, essa seo
apresenta, comeando com a primeira parbola, uma tmida insinuao aos
dirigentes de Israel (21,31s). J a parbola dos vinhateiros declara nitidamente o
futuro de um e;qnoj em 21,43: ser dado a um povo que produza seus frutos
(doqh,setai e;qnei poiou/nti tou.j karpou.j auvth/j); enquanto a terceira parbola
descreve em aoristo o extraordinrio lamento aos pagos (22,8-10).
Os vocbulos dessa seo so compartilhados pelo redator da seguinte ma-
neira65
:
a) Nas trs parbolas encontramos (a;nqrwpoj [21,28.33; 22,2]).
b) Somente na parbola dos dois filhos e nos vinhateiros (avmpelw,n
[21,28.33], wsau,twj [21,30.36], u[steron [21,29.32.37], le,gei auvtoi/j o
VIhsou/j como introduo ao trmino da locuo [21,31.42], basilei,a tou/
qeou/ [21,31.43]).
c) Na parbola dos dois filhos e no banquete nupcial (ouv qe,lw [21,29;
22,3] metame,lomai - avmele,w [21,29.32; 22,5]).
d) Na parbola dos vinhateiros e no banquete nupcial (avpe,steilen tou.j
dou,louj auvtou/ [21,34; 22,3], pa,lin avpe,steilen a;llouj dou,louj [21,36;
22,4], avpoktei,nw [21,35.39; 22,6], ui`o,j [21,37s; 22,2], avpo,llumi [21,41;
22,7], parabolh, [21,45; 22,1]).
Portanto, as trs parbolas, que tratam da culpa66
dos antagonistas de Jesus
(21,28-32), a repreenso a eles destinada (21,33-43) e o cumprimento dessa
penalidade (22,1-4), constituem a primeira parte do grande ajuste de contas de
65
DAVIES, W.D. e ALLISON, D. C. Matthew 19-28, p. 188. apresentada uma extensa relao
de vocbulos que so comuns a essas trs parbolas. 66
SCHNELLE, U., Introduo Exegese do Novo Testamento, p. 143. possvel perceber o
posicionamento teolgico e histrico de Mateus ao tratar da culpabilidade de Israel, no contexto
dessas parbolas. U. Schnelle descreve essa intencionalidade do redator mateano: As trs
percopes tornam visvel a posio teolgica e histrica de Mateus a desobedincia de Israel, que
no passado se explicitou pela perseguio e morte dos profetas, atingiu o pice no assassinato do
filho. Em decorrncia, Deus castigou o povo, outrora eleito, e deu o bem de salvao da basilei,a tou/ qeou/ a outro e;qnoj, que produzir frutos de acordo com a vontade de Deus. Essa substituio na histria da salvao de Israel pela Igreja j se concretizou h muito para Mateus. Ele a descreve
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Jesus com os adversrios no Templo67
, que acontece no segundo dia de sua
estadia em Jerusalm, enfatizado pelo debate sobre a sua autoridade (21,23-27).
Esses debates iniciam-se com a entrada no Templo em 21,23 E entrando ele no
Templo... (Kai. evlqo,ntoj auvtou/ eivj to. iero.n) e se estende at 24,1 com sua sada
do Templo (Kai. evxelqw.n ... avpo. tou/ ierou/). Esta parte emoldurada
respectivamente por 21,18-2268
e 24,1-2. Assim, as trs parbolas foram
estabelecidas programaticamente por Mateus para atender o seu objetivo69
.
2.5.1. A estrutura da parbola dos vinhateiros (21,33-46)
a) Exposio da parbola (33-39)
Dentro da perspectiva de uma parbola, Mateus apresenta os vinhateiros
homicidas, proporcionando um rpido anncio na sua introduo em 33a70
:
na retrospectiva sob o ngulo de uma Igreja judeu-crist que h muito tempo se abriu para a
misso aos gentios (Mt 28,16-20). 67
Cf., OVERMAN, J. A., Igreja e comunidade em crise, o Evangelho segundo Mateus, 1999, p.
319. De acordo com Overman, do ponto de vista de Mateus, o Templo, a corrupo e a
subseqente destruio dele so um problema e um incidente que aconteceram a todos os judeus e
judasmos, no passado recente e no contexto de Mateus. 68
Em 21,18-22, Jesus se encontra no caminho de Betnia para Jerusalm, especificamente em
direo ao Templo. No caminho ocorre a impressionante destruio da figueira na presena dos
seus discpulos. A figueira uma imagem do Templo. Em 24,1-2 trata do anncio da destruio do
Templo, tal discurso ocorre na presena dos seus discpulos. 69
Cf., SALDARINI, A. J., A Comunidade judaico-crist de Mateus, pp. 114-115. Saldarini resume
os captulos 21-22, juntamente com o 23, da seguinte maneira:Em suma [...] so o clmax do
ataque de Mateus aos lderes da comunidade judaica. Ele os ataca porque so os lderes
estabelecidos da comunidade que se ops a ele, a seu grupo e interpretao que eles davam do
judasmo. Os ataques tambm servem para suas tentativas de deslegitimar os lderes e, assim,
afastar o povo de Israel dos guias cegos e lev-los a Jesus e ao grupo mateano. Para atingir seus
objetivos, Mateus apresenta Jesus como lder popular messinico ao qual as autoridades do
Templo se opem. Jesus os derrota em uma srie de cinco controvrsias, demonstrando dessa
forma sua autoridade didtica. A primeira controvrsia diz respeito autoridade de Jesus e de Joo
Batista. A origem divina de sua autoridade como Filho de Deus e a censurvel rejeio dessa
autoridade so comunicadas mais extensamente por intermdio das trs parbolas dos captulos
21-22. Os chefes dos sacerdotes e os fariseus entendem que essas parbolas referem-se a eles
(21,45-46) 70
Cf., DAVIES, W.D. e ALLISON, D. C. Matthew 19-28, pp. 174-175. A estrutura de 21,33-44
similar as estruturas de discursos nas sinagogas, onde o orador faz uso de um texto da escritura
bblica com ilustrao atravs de uma parbola, enfatizando suas palavras com uma interpretao
da passagem bblica. Assim, o v. 33a a introduo com meno ao texto de Isaas 5,1-2; para em
seguida com 33b - 41 fazer a exposio por meio de uma parbola, unida ao texto inicial pela
palavra-chave vinha - avmpelw/noj (vv. 39.40.41) e apedrejaram - liqobole,w (v.35; cf. Isa 5, 2, lq;s'). A concluso iniciada em 42-44 reportando aos textos veterotestamentrios de Sl 118,22 e Dn
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Escutai outra parbola ..., (:Allhn parabolh.n avkou,sate), atrelando-a desse
modo a percope anterior (28-32). A partir do 33b a narrativa se estende
ininterruptamente at a citao veterotestamentria no v.44. Em 33b o relato
apresenta como o proprietrio (oivkodespo,thj) envia os seus servos para receber a
sua parte dos frutos (tw/n karpw/n) e como so tratados de forma terrvel pelos
vinhateiros (v. 34s).
De maneira abreviada, encontramos o relato paralelo da segunda misso
dos servos (v. 36). Por sua vez, narra-se em pormenor a misso do filho (v. 37-
39): podemos observar que neste episdio aparece destacado, no apenas por um
indcio temporal (u[steron), mas, tambm introduzida por le,gwn e por ei=pon evn
e`autoi/j.
As frases temporais introdutrias:
34a: Quando, porm, se aproximou o tempo dos frutos, (o[te de. h;ggisen
o` kairo.j tw/n karpw/n)
40a Quando, portanto, vier o senhor da vinha, (o[tan ou=n e;lqh| o` ku,rioj
tou/ avmpelw/noj)
Esto articuladas de tal modo que podem ser encadeadas em duais partes:
Primeiro indicado o arco narrativo que comea no verso 34 e encerra
naturalmente no verso 39.
Segundo (na etapa seguinte: julgamento) surge o importante e decisivo
dilogo final, dando a sequncia ao arco, agora na articulao do v. 40 at 41.
Deste modo, Mateus apresenta nesse arco narrativo uma srie de trs aes e
trs respostas (w. 34-39)71
numa articulao dramtica entre o proprietrio lit.
homem dono de casa (oivkodespo,thj) e os lavradores-vinhateiros (gewrgoi) da
histria. nessa perspectiva que o enredo se desenvolve com o objetivo de
conduzir os leitores - ouvintes a um juzo iminente (v. 41) aps a pergunta do
verso 40.
2,34-5;44-5 que se uni ao texto inicial pela palavra-chave rejeitaram - oivkodomein (v. 42, cf. Dn 2,44, ~wq) e a pedra - li,qoj (w. 42.44; cf. v. 35).
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A1 oivkodespo,thj envia os servos - avpe,steilen tou.j dou,louj (34)
B1 oi gewrgoi. feriram um, mataram outro, e apedrejaram outro (35)
A2 oivkodespo,thj envia mais servos - avpe,steilen a;llouj dou,louj (36a)
B2 oi gewrgoi fizeram-lhes o mesmo (36b)
A3 oivkodespo,thj envia o filho - avpe,steilen pro.j auvtou.j to.n uio.n (37)
B3 oi gewrgoi. o matam - avpe,kteinan (38-9)
b) O julgamento (40-41)
Aps a exposio da parbola, o dilogo final fecha o arco na articulao do
v. 40 at 41. A frase temporal introduz a segunda parte do texto que relata o
processo judicial: 40a Quando, portanto, vier o senhor da vinha, Jesus faz a
pergunta contundente em 40b: que far queles lavradores?, (ti, poih,sei toi/j
gewrgoi/j evkei,noij). Est formulada de tal modo que os ouvintes se sentem
identificados com o proprietrio que retorna (v. 40).
Cabe aos interlocutores de Jesus julgarem o caso apresentado; e faro isso
respondendo imediatamente em 41: Sendo maus, de modo mau os destruir, e a
vinha arrendar a outros lavradores, tais que pagaro a ele os frutos no tempo
devido.
c) Acusao e interpretao (42-46)
Como na parbola anterior (v. 31ab), o narrador confirma e interpreta
estilisticamente este juzo, e o faz com uma frase bblica preparatria em 42:
Nunca lestes nas Escrituras, (ouvde,pote avne,gnwte evn tai/j grafai/j\).
A sentena
Em 43 a sentena promulgada: Por isso vos digo, dia. tou/to le,gw
u`mi/n72. A clasula introduzida com o le,gw u`mi/n. A principal reclamao a
71
Cf., DAVIES, W.D. e ALLISON, D. C. Matthew 19-28, pp. 174-175. 72
Cf., A. OGAWA, Paraboles de l'Isral vritable? Reconsidration critique de Mt. XXI 28 - XXII
14, p. 138. Quanto ao v. 43 a estrutura observada por A. Ogawa: Mt a introduit le v. 43 par dia. tou/to le,gw umi/n. Il est vident que c'est pour lui la conclusion de la parabole. Mt prend
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necessidade de produzir (poie,w) frutos, consequentemente a transferncia para um
novo e;qnoj. Os interlocutores interpretam com perfeio a parbola. Entendem
que a histria relatada mostra o prprio conflito deles com Jesus.
Na etapa conclusiva da narrativa (44-46), traz uma observao interposta
(v. 45s), o narrador passa para a parbola seguinte.
Concluso
A estrutura da parbola dos vinhateiros mostra uma relao bem
organizada com uma segmentao elaborada, manifestando assim tanto o seu
contedo como seu significado. Ela est inserida na seo que retrata uma srie de
controvrsias e est arranjada com mais duas parbolas: a parbola do dois filhos
(21,28-32) e o banquete nupcial (22,1-14).
A relao temtica encontrada nos vinhateiros tambm observada tanto
na sequncia como no texto que antecede na realidade faz parte de uma seo
coerentemente estabelecida e organizada, compondo estruturalmente trs
parbolas correlacionadas. A nossa proposta foi demonstrar que a estrutura
tripartida dos vinhateiros segue um desenvolvimento redacional bem articulado na
exposio da parbola, no julgamento e na acusao e interpretao. Portanto,
estamos diante de um texto bem arranjado na sua estrutura. Assim, podemos
posicionar a parbola dos vinhateiros homicidas numa estrutura mais coerente,
como tambm considerar sua relao no contexto maior da macro estrutura do
Evangelho de Mateus, apresentada no modelo dos cinco discursos, que o de
maior relevncia para a avaliao da nossa hiptese principal.
probablement ensemble les deux versets 43 et 44 comme conclusion. Le 41 parle autant du
chtiment que du transfert de la vigne. Non seulement il reproduit le texte marcien Mc xii 9, mais
il le souligne: kakou.j kakw/j avpole,sei auvtou.j. Il pense vraisemblablement la catastrophe de Jrusalem. Malgr cela, si le v. 43 ne reprend que le deuxime thme du v. 41 (le transfert de la
vigne), Mt devait avoir l'intention de dvelopper le premier thme au v. 44. () Dans cette
structure, le v. 42 est mis entre parenthses, et Mt ne rapporte le v. 43 qu'au v. 41. Il ne 1'a laiss
que parce qu'il a presle v. 42 comme partie intgrante de la parabole. Ainsi, la conclusion de Mt
(les vv. 43-44) n'ajoute rien de nouveau: passant de l'image figure au monde rel, Mt a
simplement explicit ce que la parabole indiquait. Cette structure met en doute l'opinion trs
courante selon la quelle Mt dessine ici 1'histoire du salut selon le schma des Juifs 1'Eglise.
Certes, l' e;qnoj du v. 43 n'indique nulle autre que 1'Eglise, mais Mt prcise davantage: 1' e;qnoj, produira ses fruits.
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