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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA SIGNIFICADO E SIGNIFICANTE, METAFORA E METONiMIA: CONTRIBUI~OES TEORICAS DE SAUSSURE E JAKOBSON A PSICANALISE DE JACQUES LACAN Monografia apresenlada por Cecilia Leonar Brescianini a Universidade Tuiuti do Parana como requisito parcial para obtenc;ao do titulo de Especialis!a em Psicamllise, sob a orientac;ao da Professora Mestre Maria Cristina Sparano CURITIBA 1999

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA

SIGNIFICADO E SIGNIFICANTE, METAFORA E METONiMIA:

CONTRIBUI~OES TEORICAS DE SAUSSURE E JAKOBSON

A PSICANALISE DE JACQUES LACAN

Monografia apresenlada por Cecilia Leonar

Brescianini a Universidade Tuiuti do Parana comorequisito parcial para obtenc;ao do titulo de

Especialis!a em Psicamllise, sob a orientac;ao da

Professora Mestre Maria Cristina Sparano

CURITIBA

1999

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"0 6bvio muita vez esta fora do alcance.

Tao, mesmo sendo mais corriqueiro que 0 6bvio,

escorre entre os dedos sem deixar pegada.

Se os Ifderes do mundo abrissem mao do poder

governariam algo mais valioso

( ... )

Os nomes originais sao aguas passadas,

mas ainda movem 0 moinho do inominavel.

Quem bebe desta fonte

sabe que Tao pode ser a gota d'agua.

Lanyada ao mar e 0 mar

sem deixar de ser "

Lao-Tse

Tao Te King

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SUMARIO

INTRODU~iio .

1. 0 INCONSCIENTE FREUDIANO. 5

2. FERDINAND DE SAUSSURE: A ESTRUTURA DA lINGUAGEM .. 7

3. 0 INCONSCIENTE LACANIANO 11

4. DESLOCAMENTO E CONDENSA~iio 15

5. JAKOBSON: METAFORA E METONiMIA.. 18

6. LACAN: METAFORA E METONiMIA 20

CONCLUsiio 23

REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS . 25

iii

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INTRODU<;:AO

Esta pesquisa tern 0 proposito de tra~ar 0 desenvolvimento historico-

te6rica das inter-rela<;oes entre a Linguistica p6s-saussuriana e a Psicanalise.

A crial'ao da Psicanalise por Sigmund Freud (1856-1939) conecta 0

psiquismo humano a linguagem. Atraves da observa<;ao e da analise dos sonhos e

dos atos falhos, Freud deduz que 0 inconsciente Yesconde" centeudes reprimidos.

Estes, porem, S8 revelam tambem na linguagem. A constituic;ao do ego passa,

necessariamente, pel a linguagem, e e 0 cerne de todos as pactr6es de

comportamento e das neuroses desenvolvidas posteriormente.

No momento em que Freud, em Viena, desenvolvia suas teorias, em

Geneva, a Lingi.iistica tradicional tambem passava por uma reformula,:(8o. Atraves do

linguista suil'O Ferdinand de Saussure (1857-1913), toda a enfase hist6rica ate

entao prioritaria no ensino e no aprendizado da LingUistica, sera descentrada. A

partir de entao, a Linguistica se volta a lingua viva, aquela que muda com 0 tempo

segundo as necessidades de seus falantes.

Psicanalise e Linguistica: duas disciplinas diversas e ate entao

desconectadas, mas em seus fundamentos, duas disciplinas abertas a um

enriquecimento mutuo. A interdisciplinaridade a ser feita apenas necessitava de um

elemento catalisador, de alguem pronto a ler, reier, interpretar, nao apenas a

linguistica mas tambem e, sobretudo, a Psicanalise freudiana.

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Ap6s a morte de Freud (1939), devido a sua mudan~a, alguns anos

antes, para Inglaterra, a Psicanalise havia conquistado muitos adeptos nas

universidades inglesas e americanas. A cultura americana, apesar de seu

puritanismo, assimilou rapidamente as teorias do mestre austriaco. Entretanto, essa

assimila.;:ao acarretou uma mudanc;a significativa na obra freudiana, pois a

interpreta9ao de teda a praxis psicanaHtica S8 baseava sempre nas teorias do ego.

Vale dizer que eram leituras distorcidas, pois consideravam 0 ego como a base a ser

tratada em consult6rio. IS50 acarretava interpretac;:oes de sonhos infindaveis, alem

de uma prolixidade sem frutos entre paciente e pSicanalista.

Jacques Lacan (1901-1981), psicanalista frances, se faz entao

presente nesse ambiente supostamente freudiano. Trabalhando na Franga, Lacan

pode manter um bom distanciamento da psicanalise americana e ainda ter contato

com intelectuais franceses de grande porte, como Claude Levi-Strauss e Louis

Althusser.

Em 1953, 0 antrop61ogo Levi-Strauss fazia seminarios relacionando

suas pesquisas antropol6gicas com a LingOistica de Saussure. Para Lacan, tornou-

se 6bvia a conexao entre Psicanalise e LingOistica. Esta leitura conjunta Ihe permitia

nao apenas enriquecer e delimitar a campo psicanalitico, como desfazer os enganos

das leituras americanas de Freud.

Trabalhando primeiramente com as teorias de Saussure, para

farmalizar ° inconsciente, e depois com Jakobson, para aprofundar essa

farmalizagao, Lacan termina par criar na psicanalise francesa 0 que se convencionou

chamar de "retorno a Freudft

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Sempre baseando-se nos textos freudianos, Lacan continua 0 percurso

conjunto de Psicanalise e LingOistica associando os conceitos de condensagao e

deslocamento da obra freudiana com metafora e metonimia, de produgao de Roman

Jakobson. (1896-1982).

Apesar de se valer de varios pontos te6ricos da LingUistica, Lacan nao

se abstem, porem, de critica-Ia. 0 mesmo pode-se dizer em relagao a alguns pontos

da teoria freudiana. Afinal, chegou um momento em que Lacan nao era somente

mais um discipulo de Freud: ele era Lacan, psicanalista idolatrado por 70% dos

psicanalistas franceses. A moda "Lacan" provou ser mais do que isso: pass ada a

febre, continuava "viva" a palavra do mestre. Palavra esta que se imbuiu de jargoes,

ditos, formulas e, e claro, do estilo um pouco obscuro de Lacan. Se seus textos

parecem, a primeira vista, cifrados de citagoes e de meias-palavras, eles tornam-se

mais compreensiveis quando se conhece a teoria lingOistica.

Portanto, faz-se necessario conhecer 0 caminho historico-teorico de

conceitos-chave, tais como inconsciente, condensagao, deslocamento, para se

compreender a psicanalise atual, agora centrada no inconsciente e nao no ego.

A fim de tragar este emaranhado historico e teorico, deu-se preferencia

aos pensadores de importancia impar para as duas disciplinas, a saber: Sigmund

Freud e Jacques Lacan para a psicanalise e Ferdinand de Saussure e Roman

Jakobson na LingOistica.

Hoje, no ensino corrente da psicanalise, observa-se a tendencia geral

de um ensino centrado em Lacan, que deixa Freud como pano de fundo. Os

conceitos lingOisticos sao estudados rapida e superficial mente, deixando assim

lacunas na compreensao da teoria psicanalitica de Lacan como um todo. Por esta

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razao, esta pesquisa destina-se a todos os interessados em psicanalise. Espera-se

que tal estudo facilite a apreensao do fundamento psicanalftico e diminua assim a

distancia entre a leitura e a compreensao do texto lacaniano.

Ao se conhecer 0 cerne destas teorias, a Psicanalise e sua praxis

tornam-se mais compreensiveis, 0 que possibilita futuras criticas e

conseqOentemente, seu enriquecimento.

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1. 0 INCONSCIENTE FREUDIANO

o usa do termo inconsciente (Unbewusste em alemao) nao e exclusivo

de Freud. Antes dele outros autores, notadamente fil6sofos, 0 empregaram, mas nao

com 0 carater profunda e detalhado de que se reveste este conceito para 0 criador

da Psicanalise.

A divisao do psiquismo em 0 que e consciente e 0 que e inconsciente

constilui a premissa fundamental da Psicanalise, e somente ela lorna

passiveI a esta empreender as processos patol6gicos da vida menial que

sao tao comuns quanta importanles, e encontram lugar para eles na

estrutura da ciencia. '

Sabe-S8 que Freud elaborou duas teorias principais sabre 0

inconsciente. A primeira encontra-se no texto "0 Inconsciente" de 1915, e a segunda

come,a a ser desenvolvida em "0 Ego e old", escrito em 1923.

Apesar de haver diferenc;as te6ricas significativas entre estes dais

textos referenciais, ha uma nO<;ao que Freud nao apenas mantem mas que embasa

ambos as textos e permanece em todas as suas elabora90es posteriores: a n09ao

do inconsciente como sistema.

A descoberta do inconsciente se deu atraves da observa9ao das

forma90es do mesmo, a saber, sonho, deslocamento, simbolismo, chiste, ato falho e

1 FREUD, Sigmund. Obras Completas - 0 Ego e 0 Id - Uma neurose demoniaca do seculo XVII eoutros trabalhos. Vol. XIX. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1987, p. 23.

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condensa<;ao, todas forma<;oes wequivalentes aos sintomas pela sua estrutura de

compromisso e pela sua fun<;ao de realiza9ao de desejo."2

Eis a razao pela qual Freud abandona a hipnose: afinal, a inconsciente

se revelava nao apenas no sintorna mas no discurso corrente.

Dai decorre a noyao do valor dinamico do inconsciente, urn sistema

cujas caracteristicas especificas seriam:

"processo primario [mobil ida de dos investimenlos, caracleristica da energia

livre]; ausencia de nega<;:ao, de duvida, de grau de certeza; indiferen<;:a

peranle a realidade e regula<;:ao exclusivamenle pelo principio de desprazer

- prazer [visando este, reslabelecer pelo caminho mais curto a idenlidade

de percept;:ao]."3

Todo esse funcionamento aparecendo na fala, dai a possibilidade da

psicanalise, da escuta flutuante do analista.

De todas as teoriza90es freudianas sabre a Inconsciente e

basicamente esta n09ao essencial que Lacan ira reter, e sabre a qual trabalhara

exaustivamente, sobretudo ap6s descobrir, atraves de Levi-Strauss, no modele

lingOistico de Saussure.

2 LAPLANCHE, J; PONTALlS, J. B. Vocabulario da Psicanalise. Sao Paulo: Martins Fontes, 1988,

rl;j~~p 308.

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2. FERDINAND DE SAUSSURE: A ESTRUTURA DA LlNGUAGEM

Ferdinand de Saussure (1857-1913) e cansiderada 0 pai da LingOistica

moderna e a precursor indireto do Estruturalismo contemporaneo. Louis Althusser na

Filosolia. Michel Foucault na Historia, Roland Barthes na Semiologia, Levi-Strauss

na Antropologia e Jacques Lacan na Psicanalise sao alguns dos pensadores que

costumam ser classificados como estruturalistas.

E certa que esta e uma classifica9ao didatica, que nao pade ser aceita

em urn estudo mais aprofundado de qualquer urn dos autores acima mencionados.

Entretanto, ha um ponto nodal que une todos esses autores: 0 usc do modelo

IingOistico de Saussure como base para 0 desenvolvimento de suas teorias.

Saussure apercu um corte na linguistica tradicional - que ate entao

dedicava-se exclusivamente ao estudo comparativo-diacronico da lingua - ao

elaborar a n09aO sincr6nica-estrutural da lingua:

"De modo geral, e muito mais dificil fazer a IingOistica estatica que a

hist6rica.( .. ) Mas a lingUistica que se poupa de valores e relar;oes coexistentes,

apresenta dificuldades bem maiores."<\ Dificuldades estas que nao impediram

Saussure de elaborar um sistema novo e original, pais "para Saussure, '0 aspecto

sincr6nico tern a primazia sabre a outro parque ele e a (rnica e verdadeira realidade

para a pavo que lala."5

4 SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de Linguistica Geral. Sao Paulo: Gultrix, 1997, p. 117. /~'h"'~~':'

5 LEPARGNEUR, H. lntrodu(;fao aos Estruturalismos. Sao Paulo: Herder, 1972.p. 17. ~,:~ I'~ ,'\ ':'<"'":-~' ..": "\

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E sobretudo a ideia de sistema, cujos elementos se inter-relacionam,

que Saussure vai fundamentar na lingilistica sincronia, ja que esta "se ocupara das

rela<;oes 16gicas e psicol6gicas que unem os termos coexistentes e que formam

sistema, tais como sao percebidos pela consciencia coletiva.,,6

No centro deste sistema est'; 0 conceito de signo linguistico:

"0 signo linguistico nao e uma coisa e uma palavra, mas um conceito e

uma imagem acustica. Esta nao e 0 som material, pois e puramente f1sica,

mas a impressao (empreinte) psiquica desse som, a representa9ao que

nele nos da 0 testemunho de vossos sentidos; tal imagem e sensorial, se

chegarmos a chama-Ia 'material' e somente neste sentido , e por oposi9ao

ao outro termo da associa9ao, 0 conceito, geralmente mais abstrato.7

Saussure representa 0 signo linguistico com a seguinte Figura:

Significado

Significante

Com essa representaC;:8o, 0 linguista suic;:o queria colocar em evidencia

a uniao intrinseca do significado com 0 significante, assim como uma moeda e

composta de cara e coroa.

"Propomo-nos a conservar 0 termo signo para designar 0 total, e a

substituir CONCEITO e SIGNIFICANTE; estes dais termos tem a vantagem de

assinalar a oposic;:ao que as separa, quer entre si, quer do total de que fazem

parte."a

6 SAUSSURE, op. cit., p.116.7 Ibid., p. 80.B SAUSSURE, op. cit., p. 81.

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Saussure aponta dois principios referentes ao signo lingulstico:

arbitrariedade e linearidade.

"0 layo que une a significante ao significado e arbitrario au entao, vista

que entendemos par signa 0 total resultante da associayao de um significante com

um significado, podemos dizer mais simplesmente: a signa fingiiistico e arbitrario. n9

Tal arbitrariedade nos remete a inexistfmcia da relayao necessaria

entre um significado e um significante; isto e, nao ha nada que une,

necessaria mente 0 significado de uma palavra a sequencia de sons que Ihe servem

de significante. Portanto nao mantem nenhum layo natural com a realidade; trata-se

de uma conven9ao social.

T odo meio de expressao aceito numa sociedade representa em

principia num habito coletivo, au a que vem a dar na mesma, na conveny8o. Os

signos de cortesia, par exemplo, nao estao menos fixados por uma regra; e essa

regra que obriga a emprega-Ios no seu valor intrinseco. Pode-se dizer, pois, que ·os

signos inteiramente arbitrarios realizam melhor que as outros 0 ideal do

procedimento semiol6gico; eis porque a lingua e 0 mais completo e difundido

sistema de expressao e e tambem 0 mais caracteristico de todos.

Dai depreende-se que a lingua tem uma estrutura, nao e uma coisa

mas tem uma reJayao, bern como que a associay8o do significado com a significante

se constituem numa simultaneidade fazendo emergir a signa.

"0 signinficante sendo de natureza auditiva, desenvolve-se no tempo,

unicamente, e tem a caracteristica que tom a do tempo: a) representa uma extensao

e b) essa extensao e mensuravel numa 56 dimensao: e uma linha."10

9 Ibid. p.81.10 Ibid., p. 84

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10

IS50 equivale dizer que a significac;ao so signa tambem e func;ao da

relac;ao que 0 signa mantem com as Qutros signos de lingua onde Saussure caloca a

conceito de valor. Ai ele introduz uma nova dimensao do signa lingOistico. Este deixa

de ser vista como apenas uma relac;ao entre significado e significante e passa a ser

considerado como urn termo no interior do sistema, representado par uma relac;ao

horizontal do signa com as demais signos do sistema.

Este ultimo principia e facilmente identificavel, pois as significantes

acusticos sao percebidos urn ap6s 0 Dutro numa linha temporal: nas palavras de

Saussure uformam uma cadeia. n

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II

3. 0 INCONSCIENTE LACANIANO

Em 1953 e sobretudo indiretamente pela obra de Levi-Strauss que

Lacan toma conhecimento de Ferdinand de Saussure e de Roman Jakobson.

Ap6s 1953, ele aprofunda a questao trabalhando diretamente com 0

Curso de LingOistica Geral e ap6ia-se neste estudo para escrever em 1957 "A

Questao da Letra no Inconsciente".

Percebewse ai urn Lacan foriemente influenciado pela LingOistica

Estrutural, ainda que suas criticas e restric;6es a mesma sejam lao au rnais

construtivas para sua releitura de Freud do que 0 proprio algoritmo de Saussure.

Na verdade, este e, para Lacan, apenas 0 ponto de partida: fato que, a

principie, ele nao revela:

"Pois e par esse fato que a LingOistica S8 apresenta numa pOSi<;80-

piloto nesse campo em torna do qual uma reclassificaC;8o das ciencias assinala,

como e de costume, uma revolugao do conhecimento (... ).~11

Lacan apresenta 0 algoritmo fundador da LingOistica Estrutural, .::i,s

para, em seguida, trac;ar sua critica (que e tambem uma critica a filosofia ocidental,

que situava, desde Socrates, urn Logos arnalgamado, sem cis6es, no centro do

pensamento).

11 LACAN, Jacques. Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998, p. 499.

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12

Pais essa distin<;ao primordial vai muito alem do debate relativo a

arbitrariedade do signo, tal como foi elaborado desde a reflexao da

Antiguidade, e ate do impasse, experimentado desde a mesma epoca que

se opoe a correspondencia bi-univoca entre a palavra e a coisa. nem que

seja no ala da nomeac;:clo(...).

Par essa via, as coisas podem faxer mais que demonslrar que nenhuma

significa<;ao se sustenta a nao ser peJa remissao a uma outra signific8<;:ao.

C.. ) Se formes distinguir na linguagem a constitui<;ao do objelo, 56

poderemos constatar que ela se encontra apenas no nivel do conceito.12

Lacan quer "lim par" 0 positivismo freudiano e situar a psicanalise em

Dutro nivel, com 0 mesmo fundamento: 0 do inconsciente, dividido pel a linguagem.

ConseqOentemente, depreende-se dai uma nova praxis. Para tanto demarca 0

campo da psicanalise prosseguindo com sua analise critica ao algoritmo de

Saussure:

"Pais, mesmo ao se reduzir a esta ultima formula, a heresia e a mesma. Eela que conduz 0 posilivismo 16gico, a busca do sentido do senti do, do

meaning of meaning (... ).,,13

o psicanalista frances busca subsidios na teoria dos fonemas para a

sua concep98o do inconsciente, reformulando, ou melhor, subvertendo 0 algoritmo

de Saussure.

E na propriedade sincr6nica do significante que a estrutura da letra

revela-se como base constituinte do mesmo. Ah3m dis so, suas leis obedecem a uma

ordem fechada, 0 que permite a Lacan cunhar a espress80 "cadeia significante".

Pois 0 significante, por sua natureza. sempre se antecipa ao sentido,

desdobrando como que adianle dele sua dimensao.

12 Ibid., p. 501.13 LACAN, Jacques. 0 Seminario - Os quatro conceitos fundamentais da Psicanalise - Livro 11Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1988.

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13

Donde se pode dizer que e na cadeia do significanle que 0 sentido insiste,mas que nenhum dos elementos da cadeia consiste na significayao do que

ele e capaz nesse mesmo momento.14

Num retorno radical a Freud, Lacan salienta que e essencial voltar-se

ao inconsciente, e sao as leis do mesmo, sua estrutura, que Lacan quer demonstrar

ao subverter 0 algoritmo saussuriano para,§, sendo S 0 significante, S 0 significado e

a barra, 0 recalque. 5

Ora, 0 significante tem prevalencia sabre 0 significado:

"( ... ) a que e a significanle de alguma coisa pode se tarnar a qualquer

momento significante de Dutra Goisa, e que tudo 0 que se apresenta na

vontade, a tendencia, a libido do sujeito e sempre marcado pelo vestigia de

urn significanle - 0 que nao exc\ui que talvez haja outra coisa, na pulsao ou

na vontade, algo que nao e de modo algum marcado pela impressao do

significante.H15

Assim Lacan deixa claro que, se a linguistica the fornece a "estrutura

basica", 0 "modelo" para sua releitura de Freud, e no inconsciente que reside a

grande importancia da psicanalise. Esta ultrapassa a propria lingufstica, pois 0

inconsciente tem uma caracterfstica dinamica, n09aO esta clara a Lacan. Ao excluir

"algo" que nao e da ordem do significante, Laean prepara 0 terreno para sua

teoriza9ao posterior dos tres registros do ineonseiente, no qual 0 Real seria

exatamente este depassement da ordem signifieante.

(Lacan ira reeorrer entao a Topologia, mostrando que nao foi s6 da

Lingufstica que a Psieanalise se enriqueeeu, mas tambem de outros ramos da

eieneia e da filosofia).

14LACAN, Jacques. Escritos, Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998, p. 505. "....:-"~ ....••.•

15Id., 0 Seminiuio - A relacao de objeto - Livro 4. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994, P!i1.~"(tY' '''''J:~~:::.

~'!.:7;1,:~'~

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14

No Seminario IV "A rela<';:<3o de objeto", percebe-se como Lacan ve no

significado urn limite, que ele explica com 0 conceito freudiano de pulsao de morte:

"Fai isso, com toda a certeza que Freud nos trouxe sabre 0 termo instinto de morte.

Trata-s8 de sse limite do significado que jamais e atingido par algum ser vivo, ou

mesmo que jamais e atingido de modo algum, (... ). 16

Se a barra entre 0 signinficado e 0 significante indica a nao-adequac;ao

dos termos, 0 significante aponta para 0 nao-senso do significado, 0 que comprova 0

seu funcionamento ~sobre 0 fundo de uma certa experie!ncia de morte."17

A psicanalise caminha, entao, no sentido oposto aD da lingOistica e de

qualquer Dutra disciplina que S8 queira fundada enquanto ciencia, pois 0 tratamento

anaHtico deve se dirigir a um ponto limite: a do esvaziamento do sentido que

aprisiona 0 sujeito e que, paradoxalmente, tambem 0 constitui:

"A interpreta<;ao nao visa tanto a sentido quanto reduzir os significantes a

seu nolo-sensa, para que possamos reencontrar as determinantes de loda

a conduta do sujeito."18

16 Ibid., p.4717 Ibid., p. SO18 LACAN, Jacques. 0 Scmin:irio - Os qualro collceitos fundalllcn!ais da Psicalililisc - livro II.

Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1988., p. 245

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15

4. DESLOCAMENTO E CONDENSAQAO

E no texto "A Interpretayao dos Sonhos" (1890) que Freud desenvolve

as conceitos de condensac;:ao e de deslocamento.

"0 deslocamento do sonho e a condensac;:ao do sonho sao as dois

fatores dominantes a cuja atividade podemos, em essencia, atribuir a forma

assumida pelos sonhos."19

Sabe-S8 que as son has fcram urn dos meies de descoberta do

inconsciente para Freud, e neste texto percebe-se a li9a9<30que ele fez do

inconsciente com a linguagem:

uo trabalho de condensa9ao nos sonhos e vista com maxima clareza

ao ligar com palavras e names." 20

Esse trabalho de condensac;:ao consiste em aglomerar varios

significantes (palavras, names) em uma imagem, figura ou neologismo. Freud

descreve e analisa varios sonhos, com 0 intuito de mostrar como essa

transformat;ao de varios elementos ocorre, au seja, escondendo, cifranda cad a

elementa em particular. Assim, 0 sonho se torna possivel de interpretar, ainda que

"resta sempre a possibilidade de que a sonho tenha ainda outro sentido. "21

19 FREUD, Sigmund. Obras Completas - Interpretaryao dos Sonhos - Vol. IV. Rio de Janeiro:Imago Edilora, 1987, p. 269.20 Ibid., p. 286,21 Ibid., p. 272.

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Por issa, 0 efeito da condensac;ao e sobretudo de elusao da censura,

au seja, da mente consciente. Trata-se de conteudos que se revelam de forma

simb6lica, ao mesmo tempo mostrando e escondendo 0 reprimido. Porianto, 0

trabalho de interpretac;c3.o visa a assimilac;ao dos conteudos latentes a mente

consciente. Isto implica em urn processo de desrecalcamento, e e nesta instancia

que a interpretac;ao vern ajudar, pois esta propicia a assimilaC;8o do conteudo pete

consciente, libertando assim 0 Sujeito de suas amarras significantes rnais

comprometedoras e que estao na origem de seus sintomas.

Assim, quando Freud chama a aten9ao para a fato de que a

condensaC;8o se mostra sobretudo na linguagem, isto implica, nas entrelinhas, de

que 0 inconsciente nao e separado do consciente, nao ha uma linha demarcatoria

entre estes dois registros do psiquismo. Conclui-se entao que 0 traba1ho do analista

se faz presente na escuta afinada do incansciente atraves do discursa corrente.

A condensatyao e, para Freud, um processo sabre a qual e passivel

trabalhar, e se a analise busca sua materia prima no inconsciente, e com a intuito de

permea-Io com uma mestria. E por isso que Freud fala sobre construtyoes em

analise, sendo que a condensatyao au a relata de um sonho sao momentos a serem

explorados em um tratamento, pais sao eles que propiciam um maior conhecimento

do inconsciente e de suas tramas nao tao profundas.

Ja 0 deslocamento seria um processo de descentramento de um

elemento, que implica na sua nao-condensac;:ao, vista que ele se deslaca par inteiro

para outro significante. Seu efeito, portanto, tambem e diferente: aa inves de uma

codificatyao de elementos, ele ~distorce" seu elemento principal, 0 que torna a

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interpreta<;ao quase ineficiente, pois ela nao atingiria nenhum nucleo importante do

inconsciente, pOis agora ele esta completamente wescondido", ucamuflado"

Assim, 0 deslocamento faz parte de um processo prima rio cuja

interpreta<;c3o e impassive!. Ele nao visa somente a camuflagem de um conteudo

inconsciente, mas representa 0 proprio funcionamento deste. Ha um nudeo muito

primitiv~ que e 0 que estrutura 0 Sujeito. A possibilidade de tal estrutura<;Elo se da

atraves de um primeiro processo metonfmico que vira a possibilitar 0 Deseje. Este,

tornando seu funcionamento, sua forma, jamais e apreendido ou saciado, e assim

permanece como 0 elemento que possibilita a assun<;c3o do Sujeito regulado par

urna estrutura consciente e um saber inconsciente.

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5. JAKOBSON: METAFORA E METONiMlA

aspectos da Linguagem e dois tipos de Afasia" (JAKOBSON, p. 34-72, 1995)

o lingOista romeno Roman Jakobson (1896-1983) em seu texto "Dois

metonimia.

discorre sabre a relaryao dlcotomica que preside a constituiryao da metatora e da

arranjo,,22, a saber: combina<;ao e seleryao. 0 primeiro e a propriedade combinat6ria

Segundo JAKOBSON, "todo signo linguistico implica dois modos de

do signa, cuja significa<;ao depende e/au sustenta um contexte maior. Ja a sele<;ao

implica substitui<;2Io, au seja, quando as termos sao equivalentes ha uma certa

liberdade de emprego, pois pode-se escolher.

Representando graficamente estes dais eixQs da linguagem, teriamos:

MetonfmiaEixo de selec;:ao J sinta9ma

mb

22JAKOBSON, Roman. LingUistica e Comunicacao. Sao Paulo: Cultrix, 1991, p. 39.

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Essa teoriza9ao permite a Jakobson explicar a metafora e a metonimia.

~odesenvolvimento de urn discurso pode ocorrer segundo duas linhas

semanticas diferentes: urn lema (topic) pode levar 0 oulro quer por

similaridade, quer por contigOidade. 0 rnais acertado seria lalvez falar de

processo metaf6ricQ, no primeiro casa, e de processo metonimico. no

segundo, de vez que eles encontrarn sua expressao rna is condensada na

metcHora e na metonimia respectivamente.H23

Ai reside a ponto de partida para Lacan, em sua leitura linguistica da

condensayao e do deslocamento freudianos.

23 Ibid., p.55.

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6. LAGAN: METAFORA E METONiMIA

Lacan deu cantinuidade a seu trabalho intertextual entre lingOistica e

psicam31ise aD colocar em equivalencia a metMora e a rnetonimia com a

conctensaC;:80 e 0 deslocamento respectivamente.

Lacan segue Freud ao afirmar que a condensaC;:8o e a deslocamento

segundo a interpretaC;:8o dos sonhos sao duas leis do inconsciente, pois estruturam

o Desejo, 0 Sujeito e 0 Eu, vista que este ultimo depende da metafora paterna para

estabelecer a Ordem Simb6lica, 0 que equivale a condenac;:ao.

Da Linguistica, Lacan em presta a nOC;:8ode sintagma e paradigmas, e

situa a metMora no eixo paradigmatico e a metonimia no eixo sintagmatica.

A metafora e urn processo simb6lico que surge "entre dais significantes

dos quais urn substitui 0 outro tomando seu lugar na cadeia." 24 E preciso dizer que

para Lacan a cadeia significante deve considerar a rela9ao dos significantes entre si

(dai 0 interesse de Lacan pelos anagrarnas Urnalditosnde Saussure), 0 que invalid a a

n09ao biunlvaca de significante e de significado. 0 proprio significado poe em

evidemcia a barra, vista que ele e urn efeito rnetaforico.

Lacan forrnaliza a metafora na seguinte formula:

f [~l"s (+) s

24 VALLEJO, America; I'vtAGAl..J-lAES, Ugia C. Lacan: Operadores de Leitura. sao Paulo: Perspectiva, 1991, p. 88

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E explica:

~a eslrutura melaforica, que indica que e na subslitui~ao do significante

pete significante que se produz urn efeilo de significa<;:ao ( ...), do advenlo

da significac;:ao em questao. 0 sinal +. colocado entre ( ), manifesta aqui a

transposi<;ao da barra - bern como 0 valor constitutivQ dessa transposiyC::1O

para a emergencia do significado: 25

o efeito metaf6rico, entretanto, 56 ocorre apos uma ~uniao

metonimica", 0 que equivale dizer que "a metonimia e uma pre-condi9ao

metaf6rica.,,26 Cada urn desses processos, metatora e metonlmia, sao portanto co-

substanciais, ainda que esta ultima deva ocorrer primeiro.

UA metonimia. como uma arte de enganar a censura, no seu efeilo de

deslizamento em que algo se prende a uma concalenac;:~ode significanle e

se desloca no deslocamenlo de uma falta, apresenla a eslrutura de umafalta.-27

E oportuno reportar-se agora ao texto de Freud "Mais Alem do

Principio do Prazer" (1920) no qual pode-se compreender tanto a estrutura do

Oesejo-metonimia como da metaJora.

Quando Freud descreve a brincadeira de seu netinho com 0 carreteJ

acompanhado das palavras "fort-da", fica claro que a ausencia da mae age como

metafora paterna. E preciso que a mae, que ate entao estava centrada na celula

narcisica mae-filho se afaste para propiciar, atraves de sua ausencia, 0

aparecimento do Oesejo. No Seminario XI, Lacan vai salientar que 0 advento do

Oesejo e simultaneo ao surgimento do sujeito. Ora, 0 sujeito do inconsciente se

estrutura atraves da falta. No afastamento materno, a crian9a devera fazer um

movimento simb61icoque inaugurara sua subjetividade.

25 LAGAN, Jacques. Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998, p. 519." VALLEJO. America I MAGALHAES, Ligia C. op. cit .•p. 89.

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o netinho de Freud coloca 0 carretel como substituto, ou seja, metafora

do objeto ua", objeto perdido, a saber, configurado imaginariamente na figura da

mae.

Tem-se entao dais momentos essenciais:

1° - Metonimia: a figura da mae em sua ausencia desliza macic;amente para 0

carretel, que substitui a presen<;:a da primeira (S,). Entre esses dois significantes

esta escondido a objeto a ;::;movimento do desejo que fez a crian<;:a mover-se do 81

para a 82.

2° - Metilfora : a brincadeira (no que esta implicito 0 simb6lico, pois ja e efeito de

representa<;:ao) acompanhada da palavra fort-da, no qual a crian<;:a, ja como sujeito,

simula metaforicamente 0 desaparecimento e 0 aparecimento da mae na figura do

carretel. Esse jogo entre presen<;:a e ausencia equivalendo-se, permutando-se, epr6pria da estrutura da metMora. Nesse exemplo, essa e a metMora paterna por

excelencia, pois 0 afastamento da mae causa uma separa<;:ao na celula narcisica

propiciando assim a ordem simb6lica.

27 Ibid., p.94.

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CONCLUSAO

o apanhado hist6rico-te6rico de conceitos fundamentais da Psicanalise

e da LingOistica elucida a conexao desde sempre impifcita entre as duas disciplinas.

WO inconsciente e estruturado como uma linguagem", diz Lacan,

tornando explicita e intencional a rela990 Linguistica-Psicanalise. Desde entaD, todo

o discurso psicanalitico se centra em definitivo na linguagem. Porem, e preciso

salientar que e da linguagem inconsciente de que Lacan tala nesta f6rmula celebre

E preciso lembrar tambem que 0 tratamento psicanalitico se faz atraves da palavra,

sem portanto, se resumir a ela. No Seminiuio 4, Lacan faz questao de salientar 0

aspecto dinamico do inconsciente, 0 que equivale dizer que a metonimia nao einterpretavei. Ha um limite da propria linguagem articulada. Mas, como lembra

sempre Lacan, "urn sujeito e 0 que representa um significante para outro

significante.n Par isse, apesar de haver urna grande Iiga9ao entre Psicanalise e

LingOistica, e importante ressaltar que esta conexao naG S8 traduz par urna troca

complementaL A Psicamilise S8 propoe a trabalhar com conteudos que estao al8m

da linguagem articulada, ou seja, ha um udepassemenf' da Psicanalise que a

LingOistica nao acompanha, pais nao e de sua alc;ada.

Assim, 0 conhecimento do hist6rico Psicanalis8-LingOistica permite,

al8m de um acesso mais facil ao texto lacaniano, um olhar critico das duas

disciplinas e de suas correlac;oes, bern como dos limites desta interdisciplinaridad~ __ .

(:'.::'~~~/

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Ha urn momento - bele momento! - da psicanalise em que Lacan

decide estudar chines atirn de compreender a filosofia zen.. Era a declarac;ao

maxima de que a Psicanalise precisava, de pais de se formalizar e intelectualizar

com a lingOistica estrutural, buscar noves rumas, novas vias ..

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2S

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