11a - hauser, a. - história social da arte e da literatura (17 cps)

Upload: monica-audrey

Post on 06-Jul-2015

5.391 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

  • 5/8/2018 11a - HAUSER, A. - HIstria social da arte e da literatura (17 cps)

    1/17

    HISTORIA SOCIALDAARTE E DA LITERATURA

    Arnold Hauser

    Tf3dU

  • 5/8/2018 11a - HAUSER, A. - HIstria social da arte e da literatura (17 cps)

    2/17

    78 6 Historta Soctal da Arteseculo passado e escreveu-o de modo rncornparavel. Mais per-f~itameote ate do lle os rnais eNditos e arguto e seus con-tern oraneos, reco 1CCCU os resi ll~' eros do alheai ento destacom Iacao a vida e ", -soclcdade e 'o~~recndcu 0 StCtlCIS-mo, 0 n . i srno, 0 pengo-de autodcstr cao que a arne ,avame que ina onverter-se numa terrfvel realidade durante 0 Se-gundo Imperio.

    2. 0 SEGUNDO IMPERIO

    Os roman DC os unharn perfctta conscicncia da perda deprcstigro que os escruores haviam sofrido desde a Revolu~aoe procuraram no individuallsrno urn refugio em face da ani-rnosrdade do publico. Esse senumento de ostracisrno expres-sou-se numa disposicfio acrrmoruosa para a contestacao, masde rnaneira nenhurna consideravarn sua Iura contra a socieda.de uma causa perdida. Os escruores da gcracao de 1830 fo-ram os pnrnerros a perder a atitude combauva de seus prcde-cessores e cornecararn a resignar-se ao rsolamenro, seu unicoprotesto consi stiu em enfati zar a diferenca entre eles propnosC0 publico a quem servrarn. Os escntores da geracao seguin-te tornaram-se depots taO arrogantes que abandonaram ate essadcmonstracao de independencra e envolverarn-se numa osten-s iva capa de irnpessoalidade e rnsensibilidade. Sua circunspec-cao era, porern, muito diferente da obteuvrdade dos seculosxvn e XVIIi. Os cscntores da era classrcista quenam diverurou mstruir seus Ieitores ou converser com des acerca de cer-tos problemas da vida. Mas desde 0 advento do romantisrnoa literatura convcrteu-sc, de urn cntreterurnento e de uma dis-cussao entre 0autor e sell publico, numa auto-revelacao e au-toglorificacao do autor. Portanto, quando Flaubert e os par-nasianos temam oculta r seus scnurnentos pessoai s, sua discn-< ; ; : 1 0 nao irnplica, de qualquer forma, um retorno ao espiritoda lite ra tura prc-rornantica: representa, antes, a mars despoti-ca e arrogante forma de mdividuallsmo - um mdividualisrnoque nern mesrno considera aconsclhiivel abnr-se o coracaocom outros.

    Naturalismo e Impressiontsmo 78 71848 e suas consequencias afastaram compleramente as ver-

    dadelros ~~t1stas do seu publico. Tal como em 1789 e 1830.a Revolucfio acornpanhou de novo urn pcrfodo de supremaauvidadc e produuvrdade intelcctual e terrmnou, como as re-volucoes antenores, com a derrota final da dcmocracia e daliberdadc inte lectual . A vitorta da rcacao fo: seguida de um de-clinlO mtclectua l sem precedcntes c de uma completa brutal i-zaciio do gosto. A conspiracao da burgucsia contra a Revolu-c . a ; , a demincia da lura de classes como alta traicao, como ten-do dividido nacoes manifcstamente pacffi cas em dois camposantagonlcos60, a supressao da liberdade de imprcnsa, a cria-c.f loda nova burocracia como 0mats poderoso estero do regi-me, 0 estabclccimeruo do Estado policial como 0 IUlZ matscornpetente erntodas as questoes de moral e gosto produzi-ram uma profunda divisiio na cultura francesa, como nenhu-rna outra epoca havia ate cntao conhecido. Tambern foi essea inicio daquele conflito entre subrrussao e espfri to de revoltana intelligentsia, que amda note nao f01solucionado, c daquelaoposicao ao Estado que transformou uma parte da tnte lectua-lidade num clemente de desmoralizacao,o sociall srno caiu vinrna da ordem recern-resraurada scmoferecer qualquer reslstencta. Nos pnrnerros dcz anos apos 0golpe de Estado, nao existc na Franca rnovunento traballustadigno de mencao. 0 proJetanado esta exausto, intirrudado,confuse, seus smcl icatos foram dissolvidos, seus lideres en car-cerados, expuisos ou reduzidos ao silenc106i As ele rcoes de1863, que levam a urn consideravel aumento da OPOSIc;:aO,consutuern 0pnrnerro sinal de uma rnudanca. A classe traba-lhadora volta a cornbmar-se ern associacocs, as greves mul tr-plicam-se e Napoleao III ve-se forcado a fazer novas conces-sacs em mirnero cada vez rn.uor. Mas 0 social lsmo nao terraalcancado seu objeuvo amda por minto tempo se nao uvesseencontrado urna ajuda 111volu~[aria na l iberal classe media al -ta, que VIa no cesarrsrno de Napolcao urna arneaca a seu pro-prio porter. Esse conflito no amago do regime explica 0 de-senvolvimento poliuco depots de 1860, a deterioracao do go-verne aurorrtano e a dccadencra do Impeno62 0 governo deNapoleao III estava bascado no capital fmancetro e na grande

  • 5/8/2018 11a - HAUSER, A. - HIstria social da arte e da literatura (17 cps)

    3/17

    78 8 Histtirta Social ciaArteindusma, 0 exercuo foi muito util na Iura COntra d,o, mas m6cll~ contra a burguesia, porquanto Sua propnar _enC la de~endla dos favorcs dessa dassc. 0 Segundo Lu"u r-n~e impensavel sern a onda de prosperidade economlca .qual corncidiu. Sua forca e justlficacao estavarn na nq .; .d d- ueza doS' .Cl a aos , nas novas invencoes recrucas, no progresso das f . ;rovras e hidrovias, na consolidacao e aceleracao do t -f er.", . ra ego dernercadorias e na crescente e disserrunada t1exibilidad' d_ . e 0 SIS,terna de credito. Durante a Monarquia de julho amd ..Ii. ,..' a era apo mea 0que mars atraia os tatentos mars tovens: aao, _ . ' < : > ra, pO "rem, 0cornercro absorvia os melhores nornens. A Franca t. . r - 'r- orna,.se capita ista nao merarnente nas condicoes latentes rnab" s tarn,em nas forrnas exteriorcs de sua cultura. E verdade. lismo e o rndusrri que 0capita ismo eo mdusmallsrno se desenvolvem segundo dire-tflze~ connecidas de longa data, mas so agora exercem plenatnf luencia, de 1850 em dlantc, a vida cotidiana, os lares daspessoas~ os rneros ? C transporte, as tecrucas de iluminac;:a0, ali-mentap~ c v::sruano sofrem ~udant ;;as mars radicals do queem todos os seculos desde 0 micro da modern a clvilizac;:ao Ur-bana. Sobretudo, a dernanda de luxo e a mania dedivertimentotornarn-se incornparavelmcrue maiores e mars generalizadas doque nunca.oburgues torna-se auroconfiante, imperunenre, arrogan-te, e rmagma que pode esconder a hurnildade de suas orrgense a consntuicao hibnda da nova sociedade elegance, na qualo demi-monde, as atnzes e os estrangerros dcsempenham urnpapel sern precedentes, mediante rneras cxrerrortdades, Adis-solucao do ancien regime ent ra na fase f inal e, com a desapa-rcctrncnto dos ulnmos represenrantes da velha e boa sociena-de, a cultura francesa passa por urna cnse mars sena do quequando recebeu seu prrrnciro cheque vrolcnto. Em arte, so-bretudo na arquitetura e na decoracao de rntenorcs, 0mau gos-to [arnars ditara a moda de forma tao prepondcrante quantaagora. Para os novos-ncos, suflcrenternentc abastados para que-rcr brilhar mas nao suflctcuternente velhos para brilhar semostentacao, nada e dispendioso ou pomposo dernais. Nao dis-crrrmnarn na escolha de melOs, no uso de materialS genufnosou falsos, nem nos estilos que ado cam C Ollsruram. Renascen

    ;~i n A !.:.~!~;~

    Nalliralis/1Io e IlllpresslolJislllO 78 9

    ca e barrOCO significam, para des, meios para urn firn, tanto. nro 0 siio 0marrnore e 0 orux, 0 ceum e a sena, 0 cspelhoqua '.~. . -eO crista!. I rmtarn palacios romanos c C:lstelO~ do LOire, amospampeanos, saloes barrocos, os movers ~os ~na~'ccne~r~~ ,deLUisXV e as tapet;;art:1s das manufaturas de LUIS XVI. LUIS .ld-qUireurn novo esplendor, urn novo ar metropolit:lno. ~ua gran-dcza, entretanlO, e com freqlienCla apenas uma aoarcncu ex-tenor, os matcn:11SpretenSlosos nao passam, na maiorra dasvezes, de subSIltutoS: a marrnore e apenas estuque, a pedraapen;)s reboco; as magnificas fachadas sao meramente chapea-JaS, a rica dccoracac e tnorganlGI e amorfa. Urn cicmentO r ru-Jonco mtroouz-se na arqultcru ra, corresponc!enclo a estrum-rajJ1l"velfll cia sOClcdade vigcntc. Pans iorna-sc dc novo a ca-pi tal ciaEuropa, nao, porem, como ames_,0 c~ntro de arte ecuJrura, mas a metropolc do mundo da diversao, a cidade daopera, da opereta, do bale, dos buJcvarcs, restauramcs, das 10-las de deparr ;lmenlOs, das exposicoes uruversnis e dos praze-res baratos e proruos para consumo.o Segundo lrnperro e 0 periado clisSlCO do ecletlsmo -lim pcriodo scm urn esti lo proprio em arquHclUra e nas artcsmdustnals, e scm urudadc estiEsuca na pinturu. Novos teatros,!1ote is, ediffCloS de apartamcntos, Iotas de departamentos, mer-cados vao sllrgllldo a mcdida que fileiras e aneis de ruas e ave-rudus sao rasgados, Pans e quase reconstrufda por Haussmann,mas, salvo 0 principio de grandcs espacos cos pnmordios ciaconstru~ao em ferro, tudo isso ocorre scm urna lintel tdeia ar-quttetcJ!l1Gl ortginal. Mesmo em epocas antenores, difcrentcsesulos concorrentcs nnharn, e claro, exisudo lado a Iado, e adiscrepfll1Cla entre o cstilo ilislOflcamente lmportanrc, que naose hannomzava com 0 gosto das classes domlnantes da sooe-dade. c urn estilo Inferior, !11stoflCamente mSlgnificame maspopular, era um fen6meno I11LlItoconhecldo. As rcndencias~rllstJCllnenlc I111o nantes nunca con[1(~ceram,entretamo, taopouea aproya~j~ como agora, e em nenhurn ouiro periodosenrunos taO fortcmentc que a lustoria da arte e cia l iteratura,a qual [alaapcnas dos lcnomenos estctlcamcnte valiosos e 111S-tOrLC; lmcntc s lgni ficat ivos, forncce urn quadro l l1compietO d,[vercl; tdelra vlda artfst tca Ciacpoca; que, em outras palavras, a

  • 5/8/2018 11a - HAUSER, A. - HIstria social da arte e da literatura (17 cps)

    4/17

    790 Historta SOCItIi aa Arlehist o rta d~s correntes progresslstas que apomam para a ,",ro e a rustorm das tendcnclas que predommam "01 ", ~ - , _ - Vlrtude d _'scu momemaneo exuo e mfluencia refercrn-se a do _ e.,. IS eon lu n .tos de fatos absolutamente diferentes, Urn Octave F '11 .eui et a u 'urn Paul Baudry, que nao reccbem mars de dez Iinha _',r ~" s nos 005"sos cornpendros, ocupararn mcomparavelmeote m '. - , . a lS espa~ona conscrencu do publico de entfio do que Fhubert au C -bet a . ., OUr~, quem, no eruanro, dedicamos hoje 0 mesmo 0 '-dIiI' u mcronao e 10 las mas de paginas. AVIda artlstIca do Seg d' - u n 0 Im-pcno e dommada pela producao facil r ' IOTad-1ve' d .~ , . ' , - '" " I, estlnad.aa burguesia comodista e de espmto lema. A burouesi~ f _, '" aque 01responsavel pelo surgimcnro da pretcnsrosa arqUllctura d' d' 0pc-rro 0, baseada nos majores rnodelos mas usualmente _~ - v azla emorgamcn, e que enche suas casas com art igos carfsslmosf ..- - mas,com requencia, completamcnte supcrnnos e pseudo h -_- IStan-cos, f:vorecc urn esulo de pintura que naca mars e senao umaagrad~veJ ~ccora

  • 5/8/2018 11a - HAUSER, A. - HIstria social da arte e da literatura (17 cps)

    5/17

    792 Historta Soctat au ArleC cstntarnente cmpfrico. Ap6s 0 fracasso cit: todos os Idealsde todas as Utopias, a tcndencra e agora ater-se aos fatos e ape~nas aos fatos, As ongcns polincas do naturalisrno exp!icam:em particular, suas caracterisucas antt-romanucas e encas arecusa em fugir da rcalidade e a exigencia de absoluta hones-ndade na descricao dos fatos: 0ernpenho em manter urna con-duta unpessoal e impasslvcl como garanua de oblettvldade esolidancdade SOCIal;0 anvismo como a atitude de quem estidccic!ido nao s6 a connccer c descrever mas tambern a :llterara rcalidade; 0 moderrusmo que se atern

  • 5/8/2018 11a - HAUSER, A. - HIstria social da arte e da literatura (17 cps)

    6/17

    794 Historta Soctat del Artevotucao c, sobrctudo, urn realista, JSlOe 0 amigo .d "GG ' ., SlnCCro c iaver ade real. E Zola merameruc da contmuldade a IdCj. .Courbet quando diz. "A Rcpublica sera naturalism 0 ~ a d er : : i nada 1IC,7A . u nao se,'.... 0 rejertar 0 naturalismo '!S classes do, . . _' . ,. mmantespar conscgumte. apenas estao exprrmindo seu mSUnto d 'tocon"crv ;-, . ~ e au-., acao, Sua mnucao perfeunmenre correm d, . '. ' e que to-da arte que descreve a vida sem VICSCS c sern restncoes _'m . e,emSI esrna, urn ato revolucionano. Com referenciu a e ' .sse pen-go, 0cons~rv~dOrtSmo tern ideias mats claras do que a pro-pna oposicao Gustave Planche declara com bastanr f. e rao-queza na Revue des Deux lvlondes que a resrstencra ao 'r - , - natura_rsrno e uma confissao de fe na oroern remame P q. .. . _ - ue, aorejettar-se 0 natura lisrno , esta-se rerertando tam bern1. . 0 mate-rta ismo e a democrarra da epocaC,9Os crfucos conservadores cos anos 50 ia CHam toclos os ar-

    gumentos conhccidos con tra 0narural ismo e tentarn encobnros prcconcerros poltucos e SOCIalSque condicronam sua u.. . . a itu,de ant lOatura lista a obiecoes estcucas. 0 naturalismo, dizemcles, carcce de todo idealisrnr, e moralidade, rcga1a-se na feiu-ra e na vulg.an.dade, no m6rDIdo e no obscene e rcpres. , ' entauma lO~lscnmtnada e servillmltac,;:lo da realidade, Naturalmen_te, porern, 0 que perturba os criticos conservadores nao e agrau .mas 0 obl_CtlVOda Imnac,ao. Sabern des rnuno bern que~o~ a destruicao da kalolJagatl)W cl:1ssico-romanttca C a abo-lI

  • 5/8/2018 11a - HAUSER, A. - HIstria social da arte e da literatura (17 cps)

    7/17

    79G Historta Social eta Arlerenovacao do que na d_immUl~ao dos motives eSlereoUpados;As rnudancas mars radicais dccorrern do princfpro de pmturao ar livre, a qual, diga-se de passagern, nao passou a ser prat~c~.da de urn momenta para 0 outre e quase nunca de mod.. . 0s:stcmallCo, estando usualrnerue lirnuada a criacao da mera apa"rcncia de que 0quadro nascera ao ar livre. Alern de seus ob-Vias elementos cicntff icos , essa ideia tecnica rambern passUlum coruerido moral e politico, e parcce estar tentando dizer:Para a espaco nberto, para a Iuz da verdade!o carater socrat da nova arte exprcssa-se tambern na ten-dencia para uma uniao mats estreita dos pintores, em seus es-forces para fundar colontas de art is tas e adaptar-se mutuamemeem scus modos de vida. A Escola de Fontainebleau, que naoatern de escola nern de coterie, pots c urn grupo sem coesaocures rnernbros seguern rumos independentes e so se consi.dcrarn vinculados entre Sl pcla sencdade de seus propOSltOSartisucos, ja represcnta 0 espirito coleuvo da nova era. E assubsequentes irrnandades e colonias art isncas, as esforcos coo-runtos de reforma e as forrnacocs auant-garde do seculo XIXrepresentant a mesma tcndencia para a coalizao c a coopera-

  • 5/8/2018 11a - HAUSER, A. - HIstria social da arte e da literatura (17 cps)

    8/17

    798 Historta SOCIal{/I Artegabmete", a sernelhanca do que ocorre rarnbem com a escolade pmtura progressista. dcstina-sc :lespccralistas, a artlStas ~connoisseurs. 0 dis tancramcnto do coruunro de artlstas pro-gressrstas em rclacao ao mundo de seu tempo e sua rceusa emter qualquer coisa a ver com 0publico chegarn a tal POnto quenao s6 acertam a falta de sucesso como alga pcrfeitameme na-tural como considerarn 0proprio sucesso urn stnal de mferio-ndade artfst ica, e acreditam que 0 faro de nao serem compreen-didos por seus contemporiineos c uma condicao previa deirnortalidadc.a romannsrno amda enccrrava urn elernento popular queatrafa as gran des rnassas da soctedade, ao passo que 0natura-lisrno, pelo rnenos em suas mars importarues producoes, na-da tern para atrair 0 grande publ ico. A morte de Balzac marcao fim da era rornantica: Victor Hugo amoa esta no auge de seudescnvotvrrnento arnsnco mas, como movirncnto Iirerano, 0rornanusrno deixou de descrnpcnhar qualqucr papel na VIdacultural. A remincia dos princrpais escntores ao Ideal roman-[ teo tarnbem signif ica um rornprmcnto complete com os cir-cutes mars influentes do grande publico e do mundo da crfti-ca. 0 partie de resistance, que na literatura corresponde aopartido da ordem em poliuca, adora urna autude mars pOSHi-va para com a escoia rornannca do que 0 naturalisrno, apesaroa Iigacao histortca direta deste ulumo com 0 rornantrsmo. Everdade que os crfu cos conservadores cornbatern 0 espiritode rebeliao de todas as farm as , tanto rornanucas quanto natu-ralistas, e coiocam a razoabilidade acirna de toda e qualquerespecrc de espomancidade, mas exigern que a literatura expres-se "sennrncruos gcnufrios" e considerarn a "profundidade docoracao" 0 crnerio do verdaderro artrsta. Essa nova esteucada ernocao e, conrudo, apenas uma nova, ernbora nem sern-pre clara, forma cia velha leatotiagattna, baseia-se na prcrensaidenndade dos elementos ernocionalrnente esporuaneos e rno-ralrnente valiosos da vida espintual, e postula lima harmoniamfstica entre 0 bern eo belo. 0 efeito moral da arte e seu rnaisunportante axiorna, eo papcl educacronal do arusta seu Idealsupremo. A atitude burguesa diante do principio da art pouri'art rnudou uma vez mars. De pots da rejeicao original e do re-

    Naturalismo e ImpresslOllIsmo 799conheCImento ulterior da arte "pura", moralmcnte ne~tra, suaabordagem e agora Implacavelmeme hostll. A rebeldia do ar-usta foi desfeita, deixou de exisnr qualquer motivo para te-mer sua mtervencio em questoes da Vida pnltlca; a art p,:urI'art pode ser alijada e a competcnCla do artIst: c~mo hderlotelectua[ reconhccida de novo. 0 naturali smo e a uruca fon-te sobreVlvente de possivcl pengo, mas como seus represen-rantcs se declaram favodvclS, senao a art pour 1 'art c_?mo tal,pelo menos a urn tratarncnto nao-preconceitUOS~ c nao-sentl~mental das questoes rnorars, por outras palavr~s, a u~ en~oque amoral da arte, a rejeicao da art pour i'art e ta~b~m ,dl,n-gida contra des. 0 governo enquadra a arte e os .a~tlstas emScU sistema educacional e correclOnal. Os rcdatores-chefes eos crincos dos grandes rornais e revtstas, homens como Bu-ioz, Bertm, Gustave Planche, Charles Rernusat, Arnaul de Pont-martin, Emile Montegut, sao suas autar idades suprernas: JulesSandeau, Octave Feuillet, Emile Augicr e Dumas Filho, seusmars respeitados autores: a tjruversidade e a Academia, scusmstuutos de ensmo e pesquisa para a higiene intclectual: 0 ~ !O -motor publico C a prefcito da policia de Parts, os guardtoesde seus pnncfpios morais. as representant:s do n~:turallsmorem de se bater contra a hostilidade dos critrcos ate cerca de1860, e contra a da Universidade durante a vida intcira. AAca-demia perrnanece-lhes vedada e nunca podem con_tar com aajuda do Estacio, Plaubert e os trmaos Gonc?urt sao de~lUn-ciados por of ens as a moral, e urna consideravcl multa e im-posta a Baudel~llre. . . _,o processo iudtcrat contra Flaubert e 0exuo sensac~on'llde Madame Bouary (1857) decidern a Iutapeto naturalismoa favor da nova corrente. 0 publico rnostra-se interessado eos crincos tarnbem nao tardarn em depor as arrnas: somenteas mais obstmados c mfopcs reaclonarios permaneccm na o~o-sicao. A ten dericia progresststa C desta vez imposra aos cnt~-cos pelo publico Ieitor, cmbora as razoes do interesse ? O pu-blico nao scram, de rnanerra nenhurna, puramente arnsucas.Samte-Beuvc, que tern uma sensibilidade muito suti l para cap tarrnudancas nas rnodas mtelectuais, descobre 0caminho de voltaao liberalismo de sua luventude. Adere ao circulo que mclui

  • 5/8/2018 11a - HAUSER, A. - HIstria social da arte e da literatura (17 cps)

    9/17

    800 His/dna Social da ArwTame, Renan, Berthelot e Flaubert criuca 0 ooverno_ . b e pr~clarna a vitona do naturalisrno. 0 fate de que Sua conv _- _ ~~pohtlca_ e arusnca oc~rrc ao mcsrno tempo e extremamentesl.mo~al1co da suuacao intelectual, prova que, apesa- de S Uad.lvisao mtern;~ em dots campos, 0 dos boemlOs cOdas Ten.tiers, 0naturalismo mergulha raizes no Iiberalismo. Nao se po,de s~quer sustcntar que Flaubert , cups opmi6es POlftlCas sao[Ot:ll~emc conservadorns, rcprescnta urn POnto de vista rea-cionarro, anti-sOCial ~ antiliberal. A 0pOSI

  • 5/8/2018 11a - HAUSER, A. - HIstria social da arte e da literatura (17 cps)

    10/17

    802 His/ana Sacul! aa Arte

    I,II

    Flaubert, atravcs do que escreve, Ilberta-sc do romant[sffi9;supera-o na rncdida em que lhc confere urn Formato literar ioe em que se convene, de seu am a nte e vftima, em seu analistae crfuco. Confronta 0 mundo dos sonhos romantico com arcalidade da vida cotidiana e torna-se urn naruralista, a firndecxpor a falsidade e a rnorbrdez dessas dclirantes ilusoes. Masnunca se cansa de afirmar sua aversao a monotorua da vida co-ndiana, sua repugnancia pelo naturalismo de Madame Bovarye da Educacdo sentimental e seu desdcrn pela "infamilidade"da tcona como urn todo. Niio obstante, perrnanece como 0prtrnerro escrrtor naturalista autenuco, 0pnrnerro cups obrasof e re cern urn rctrato da realidade em harrnorua com as dou-trmas do na tural ismo. Cornvisao segura, Sa inte-Beuve reco-nhece os resultados da rnudanca dectsrva na historin da litera-tura francesa rcpresentada pela publicacao de Madame Bouarv,"Flaubert rnaneja a pena". escreve ele em seu cornentarto crf-nco, "como out ros manejarn 0 bisturi", e descreve 0 novo es-tilo como a vuona do anatorrusta e do fisiologrsta em arteSOZola denva toda sua teorra do naturalisrno cbs onras de Flau-ber t e considera 0 autor de Madame BOVCl1J! e de Educar;iiosentimental 0 cnador do romance modcrno'" Flaubert sig-nifica sobretudo, comparado com os cxageros e os efei tos VIO-ientos de Balzac , a completa rerninc ia ao cnredo melodrama-nco. aventuroso c, de faro, ate ao mcramente cxcitante: a pre-dilecao par dcscrever a monororua. 0 dcsarumo e a falta devariecade da Vida cotidiana: a evrtacfio de todos os extremesna modelacao de seus pcrsonagens, a recusa em enfattzar 0bern ou 0mal neles, a reruincia a tudo i s so, a propaganda, aslicoes rnorais, em surna, a toda mtcrvencao direta nos modosde procedcr e a toda mterpretacao direta dos fatos.Mas a impessoalidade e a unparcialidade de Flaubert nao de-corrern, em absolute, dos pressupostos de scu naturalisrno,nem correspondern meramcme ao reqursuo estenco de queos objeros numa obra de arte devem a impressao que causarna propria Vida, nao a s rccornendacoes do autor: sua "impasst-bilklade" de forma nenhuma consntur mera reacao contra aimportunidadc de Balzac e urn retorno a ideia da obra de artecomo urn microcosmo auto-suflcrente, como urn sistema em

    Naturaiismo e Impress1olllsIIlO 803que "0 autor, como Deus no umverso, deve estar sernpre pre-sente mas nunca vlsfvd"1l2; tampouco C apcnas 0 rcsultado doconheClmento, depots repeudo e corroborado tantas vezes pe-los Goncourts, por Maupassant, Gidc, Valery e ourros, de queos plOres pocrnas sao feitos dos mars belos senurnentos e deque a simpatia pcssoal, a ernocao genuina, os nerves crispa-dOS e os olhos chcios de lagnrnas 56 prejudicarn a acuidadeda V!SaO do arnsta - niio, a rrnpassibilidade de Flaubcrt naoe apenas urn prmcipro tecnico, content urna nova ideia, u~anova moralidade do art is ta , Seu IZOLISsommesfattspour le dire.etHall pour! 'avon' [somos fertos para dize-lo e niio para :e-[ole a mats extrema e mtransigcnte formulacao dessa renuncradaVIda que f01 0 porno de paruda do romannsrno como dou-trina estenca e como fllosofia, mas tambern e, de acordo coma ambivalcncia cos sentrrnentos de Plaubert, ao mesmo tern-o a rejeicfio mats contundente possfvel do rornanusmo. Pois~u~ndo Flaubert exclarna que a literatura nao e "a e_:;c6rla docoraciio" esta tentando preservar a pureza do coracao e a pu-reza da literatura.Do conhecimento de que a disposicao rornanuca, exccn-

    mea e caotica de sua ruventude esteve a ponto de dcstrui-locomo arusta e como SCI' humane. Haubert derrvou um novomodo de Vida e uma nova estenca. "Ha criancas". escrevcude em 1852, "em quem a musica provoca uma rrnpressao ad-versa; tern grandes aptidocs, Icmbrarn-se de melodias depotsde as escurarcrn uma uruca vez, ficam cxcttadas quando ou-vern alguern tocando prano, tern palpit acoes, ernagrecern, em-palidcccrn, adoecern, e seus fnigers nerves crrsparn-se de an-gustia, como os nerves de um cao quando ouve rmisica. Pro-curar-sc-a em vao entre tars cnancas os Mozarts do futuro. Seustalcntos foram transtornados, a ldCia introduzru-se na carne," "H,ondc e estcril conde destr6i tarnbern a proprra carne ... e a ;Flaubert nao se apercebeu de como era romanuco separar a"ldcia" da "carne" e renunciar a VIda em favor d: t arte, e nun-ca rcconheceu que a solucao real, nao-romdnuca, de seu pro-blema so podia surgrr da propna vida. Nao obstante, sua pro-pria tentativa de solucao consntui urua das grande: autudessi rnbolicas do homcm ocidental, represenra a (duma forma per-

  • 5/8/2018 11a - HAUSER, A. - HIstria social da arte e da literatura (17 cps)

    11/17

    804 Historta Soctat cia Artennentc da concepcao romannca de vida, a forma em que elapropna se suprime c em que a mtelligentsta bueguesa se aper-cebc da sua mcapacrdadc para dominae a vida e fazer da arteurn mstrurncnto de vtda. A autodepreciacao da classe media< : : , na realidade, parte da propria natureza da antude bllrguesapcrante a vida, como salientou Bruneuere'", mas essa autocri-uca e esse espfruo de sacriffcio s6 passam a SCI' urn fator deci-SIVO na vida cultural dcsdc a epoca de Flaubert em diante. Aburgucsra da Monarqura de julho ainda acrcditava em si rnes.rna e na missao de sua arte.

    A crftica de Flaubcrt :lOS rornanucos, a aversao que nutnaao cxibrciorusrno e a prosutuicao de suas cxpericncIas rnaispessoais e de seus sent irnentos mars fnumos sao uma remllliS-cencia da aversao de Voltaire ao exibrctorusrno e ao naturalis-rno cru de Rousseau. Mas Voltaire amda cstava completamen_se imune ao romanusrno c, ao combater Rousseau, nao tmhade lutar :10 mcsrno tempo contra Sl proprio, sua condi

  • 5/8/2018 11a - HAUSER, A. - HIstria social da arte e da literatura (17 cps)

    12/17

    806 Historta SocU/1aa Ar(ea SI mcsrno se imp6s, a assrduidade de artifice, 0 Isolamentomonasuco em que se protegeu arras de sua obra tern 0 prop6_sito , em ult ima analise, de pres tar urucamente testemunho desua sericdade, sua respeitabllidade e idoncidade burgucsas, eprovar que elc nao tern absolutamente nada em comum como "colcte vermelhc" de Gautier. 0 proletanado anistlcotornou-se urn faro socra l que e rrnpossfvel conunuar ignoran-do, a burguesia considera-o urn pengo revolucioruino e os es-cri torcs burgueses seutcm-se tao unarurnes com sua propnaclasse a respeuo desse perigo quaruo se senttriio mars tardeao cnfrcntarcrn a Cornuna, a qual IOCItoU neles tOdos as InS-tlOWS burgueses supnrmdos.Urna doutrina como 0 estcucrsmo de Flaubert nfio e, po-

    rem, urna solucao clara, mcquivoca e final mas urna forca dia-Ieuca, alterando sua direcao e quesnouando a propria valida-de. Flaubcrt procura na arte apoio e protccao contra a impe-tuosrdadc rornanuca de sua ruventude: mas ao precncner essaIunciio ela assume proporcoes fantasticas e um poder demo-niaco, torna-se nao 56 um subsututo para tudo 0mars que po-de sansfazer e contcnrar a alma, mas tarnbern 0prtncipio basi-co da propria vida. Sorncnte na arte parcce exisur algurna es-tabilidade, algum ponte fixo na corrente de evanescencra, COf-rupcao e dlssolucao. A sujercao da vida a arte adquirc aqui urncarater quase rel igiose, mist ico: dCIXOU de ser um mcro servi-

  • 5/8/2018 11a - HAUSER, A. - HIstria social da arte e da literatura (17 cps)

    13/17

    808 Historta Social eta Artetcr qualquer significado. "Prefiro morrer como urn c~ch.. onodo que apressar par urn rnstante sequer qualquer Frase minhaantes de estar madura" - nenhurn escruor com urn rel aCjanamento hurnano csponraneo com sua obra terra fatado aSSlm.o Shakespeare de Matthew Arnold sornu de tais escnipujnos Champs Elvsees. Qucixas c Iarnentacocs acerca da Iura co.tidiana, em ~~~ 0 coraciio, 0 cercbro e os nervos se desgas-[am e msensibil izam, accrca da vida de escravo agrilhaada queelc leva, cansmuem a lema constantc de suas cartas. "Duran-te tres dias, andei de um Iado para 0 outro, esbarrando nosrnovcis de meu escntono, cnquarito me esforcava por obted" " rI.etas . escreve a Louise Colet em 185392 " J ; : i nao COnSigadisunguir uns dos outros os dias da sernana. . . Estou levandauma vida Iouca, absurda ... Isto e 0 nada puro c absolute". es-c:e.ve a Ernest Fevdcau em 185893 "Voce nao sabe 0 que slg-nifica ficar sentado 0 dia mtetro com a cabeca entre ambas asmaos, teruando espremer uma palavra do cerebro", escrevea George Sand em Is669

  • 5/8/2018 11a - HAUSER, A. - HIstria social da arte e da literatura (17 cps)

    14/17

    810 Histtirta Soaat aa ArlCcaradorcs do seculo e, portanto, urn CIOs fundadores da rno-derna forma reflexiva de ver a vrda.Os dors pnncipais romances de Flaubcrt, a hlst6na da ro.mannca e Iuti l mulher provinciana e a do rovcrn burglles en-

    dinhetrado, tolcravetrnente taleruoso, que dissrpa sew; pode-res mtclectuars, estao inumarnente relacionados. Fredenc Mo-reau foi cnamado a filho tntelectual de Emma Bovar y, mas am-bos sao filhos da "crvilizacao cxausta" IOJ em que a vida dabern-sucedida classe media sc movimenta e tern seu ser. Am-bos consubstanciam a mcsrna confusao cmocional e represen-tarn 0mesmo upo de rates, de fracassados, tao caracterfsttcosdessa geracao de herdeiros. Zola qualificou Eaucacaa senti-mental como 0 romance moderno par excclencia, e, comoIustorra de uma geracao, constuui de faro a climax do cesen-volvrrnento que corneca com 0 oerntelbo e 0 negro e conti-nua na Comedia numana. E um romance "histcrico", ou se-ia, urn romance em que 0 heroi e 0 tempo, num duplo sentr-do. Em prrmcrro Iugar, 0 tempo aprcsenta-se como 0clemen.to que condiciona c da vrda aos personage ns, e depots comoo prmcfpro pclo qual estes sao desgastados, dcstrufdos e de-vorados. 0 tempo crrador, produrtvo, for dcscoberto pclo roornantrsrno, 0 tempo corruptor, que debilita msidiosamente avida c esvazia 0 nornern, foi descoberto na Iura contra 0 ro-rnanusmo. A compreensiio de que, como diz Flaubert , "naodevemos remer os grandes desastres mas os pequenos" 102,por outras palavras, de que nao sornos destrufdos pe l as nos-sas maiorcs e mars esmagadoras ceccpcoes, mas pcrccernosIencamente com 0dissipar gradual de nossas esperancas c am-bicoes, CIS 0 mars trrste fato de 00:'.5

  • 5/8/2018 11a - HAUSER, A. - HIstria social da arte e da literatura (17 cps)

    15/17

    812 Hisuiria Sociai da Arteuma virada rumo ao ottrnrsmo. E, ernbora seja Igualmeme amar -go, Maupassant e , nao obstante, mars despreocupado e rn- . alScrruco do que Flaubcrt: tdeologrcamcrue, suas hlst6rias formama transrciio para a ficcao Ilgctra da burgucsia. No que se [eferea seus e lementos oumrsras c pessrrmstas, essa Ideologl:1 e ta occmplicada e contraditoria quanto a cas c lasses mars baixas:para forrnular urn iufzo correto neste ponto, devc-se diferen~car esrrrtamente entre a antude ernocronal de caca uma dascamadas da sociedade em relacao ao presente e ao futuro. Asclasses em asccnsao confiam no futuro, por rnais pesSlmlstasque estcram a resperto do prescnte, ao passe que as classes do-rninantes, apesar de todo 0 poder e gloria, estao [requeme_mente dornmadas pe la sensacao sufocante de sua proprIa des-trurcao uruncnte. No espfrito das classes asccndenres, urna ati-tude pessrmisra em face do prescnte esta Iigada ao Otlmlsmosobre 0 futuro, porquanto tern confianca total nclas propnase em sua capacidadc de avanco na socredane, no espirtto dasclasses condenadas a destrurcao, a coricepcjio de presente efuturo tarnbem e confl itante, mas os Sll1:11SCSlaO ll1vertldos.Por essa razao Zola, que se rdentiflca COm os oprirrndos e osexplorados, e cuja autude para com 0 preserite e totalmentepessimista, nao [em em relacao ao futuro urna postura de de-scsperanca, de cesanuno. Esse antagonrsrno tam bern csta deacordo com sua concepcao crenuf ica . Zola e, como el e pro-pno declara, um deterrnmista mas nfio urn fatalism, par outraspalavras, cstri pcrfertamenre conscrente do fato de que os ho-mens depcnocm, em todo seu cornportarnenro, das condicoesrnatcrrars de suas VICi

  • 5/8/2018 11a - HAUSER, A. - HIstria social da arte e da literatura (17 cps)

    16/17

    814 Histrrrtc; Socuu cia ArIa10 cam mho oposto. Corncca com urn problema, IStO e , comu_m faro sobre 0 qual nada sabe ou desconncce 0 prop_ '. no ob.reto que gostana de saber. A coleta e setccao do ma[cnal Co-meca com,a forrnulacao do problema, au seja, uma familiari_dade mars I~tlma com 0 setor da vrda a ser tratado comcc;a coma forrnulacao do problema. Nao e a expcriencra que 0 leva pa-ra 0 probk_:ma: e este, pelo contrarro, que 0 leva a experien_CIa. Tarnbern e esse 0 metodo e proccdimemo de Zola. Elecorneca com urn novo romance como 0 professor alemao daanedota rrucra urn novo curso, a rim de obter Informac;6es marsexatas acerca de um assunto com que nao esta familiaflzado.o que Paul Alexis rclatou a rcspeito das origens de Nand, arcspc2 to das viagcns de descoberta de Zola no rnundo da pros-n tu icao c do tea tro , c , de qualquer modo, uma remll1JSCenc ladessa ancdora.A rdeia em que Zola baseia scu CIc io de romances assemdha-

    sc ao plano para urn cmprccndimcnto crentfflco. Cada urna dasobras consntui, de acordo com 0 prograrna, parte mtegrantede urn grande s i s tema enciclopedico, u rn a e SP CC le de Summada sociedade modcrna. "Quero explicar como uma famil ia, ouseja, urn pequeno grupo de seres numanos, cornporta-se nu-rna socicdade", escrcve eie no prefacio para A fortuna dosRougon. E enrcnde por sociedade a Franca corrupta e deca-dente dO Segundo Imperio. Nenhurn programs artfsuco po-dena soar de modo tao exato, tao objeuvo, rao crentffico, MasZola nao escapa ao desuno de scu scculo, apesar de sua atitu-de cientffica, e urn rornantico e, na verdade, urn rornanucomulto rnais convicto do que outros naturalistas menos radi-GUS de seu tempo. Sua racionalizaciio c csquernarrzacao unila-teral, nao-dialeuca, da rcalidade ja e ousada c irnplacavelmen-te rornannca. E os simbolos a que reduz a vida hcrerozeneaItil '" ,mu n ateral, contraditorra ~ a cidade, a maquma, 0 alcoa!, aprostituicfio, a lora de dcpartarnentos, 0 rnercado, a Bolsa, 0teatro, etc. - sao, [ustamerue por 1SS0, as visoes de urn srste-rnauzador rornannco, que ve por toda a pane alezonas em vezde fenornenos indivrduars concretes . A essa prcdUec;ao de Zola- = alegorrco sorna-se y tascfnio que nele exerce tudo 0 quee grande e excessrvo. E uru fanatica devote das rnassas, dos

    Naturalismo e Impresstomsnto 815numeros, da realidade factual nua e crua, compacta e inesgo-lavel. Encanta-o a abundancia material, a exuberancm e as gran-des tutti da VIda. Niio e em vao que Zola e comernportineoda grand opera e do barao Haussrnann.De faro, nao e 0 naturalismo mas a idealista teuura Iigcira

    da burguesia que e sobna e nao-rornanuca nessa epoca dorni-nada pela classe media alta e pelo grande capua lismo. A des-pelto de seu rnatenalisrno radical - c, na verdadc, muitas ve-zes par causa disso, precrsarnente + a Iiteratum naturalistsofercce urn quadro da rcal idade exorbi tanternente fantasnco.o racionali smo c 0 pragmatisrno burgueses, por outre lado,esforr;am-se por realizar urna irnagem equilibrada, harrnorno-sa e pacffica do mundo. Por assuntos "tdcais", a classe mediaentende aqucles que tern uma influencia ca lmante e apazigua-dora. A tarefa que fixa para a luerarura consiste em reconcil iaras mfclizes e os descontentes com a VIda, esconder deles a rca-lidadc e acenar-lhes com a possibllidade de alcancar u ma C XIS -tencia na qual, de faro, nao tern nem podem ter qualquer pa-pel. 0 objcnvo que se pretende aungrr e iludir leitor, naoesclarece-Io. Ao romance naturalista de Flaubert, de Zola c dosGoncourts, que sempre excnarn e aguarn 0 Icrtor, a elite so-cial opoe os romances da Revue des Deux Mondes, sobretudoos de Octave Feuille t. Obras qu e descrevern a VIda da S O C IC -dade elegante e rcprcsentarn seus objenvos como 0 Ideal su-premo da hurnarudade civilizada, obras em que ainda hi he-rois rears, cavaleiros fortes, bravos e al trufsras, pcrsonagensideais que Sao mernbros da alta sociedade ou estiio corporifi-cados em [ovens que essa sociedadc esta preparada para ado-tar. Ate a go ra , a pe sa r da Revolucao e convulsoes SOCia lS , a VI-da cia anstocrac ia unha sido sernpre descrira com urna certanaturalidadc e desenvoltura; apesar de seu anacronisrno, con-servava amda urna certa espontanerdade e senso comum. Ago-ra, conrudo, a existencm que a sociedadc clegante do grandemundo [eva nos romances perdcu tooas as relacoes com a VI -da real e apresenta-se, de stibito, sob a Iuz mornca, mdlsnntae eleganternerue suave das salas de VISltaS dos filrnes de Holly-wood, Feuillet niio vc difcrenca a lguma entre etegdncia e cul-tura, entre boas maneiras e bam carater: em seu entender, a

  • 5/8/2018 11a - HAUSER, A. - HIstria social da arte e da literatura (17 cps)

    17/17

    816 Historu: Social cia AI'leboa educacao Gsmonirno de urua nobre disposicao, e urnaati-tude de lealdade ~IS classes supcrrores Cprova de que a pessoae, em si, "algo melhor" 0 her6i de seu Romance ae um JO -uem pobre (1858) c a personif icacao dessa boa Cfl ', l