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AS CONTRADIÇÕES QUE ENVOLVEM O
ENSINO DO ESPORTE NA ESCOLA
MÁRCIO LUIZ DALMOLIN1
RESUMO:
O tema desta pesquisa está relacionado ao esporte, tendo como objetivo desvelar as contradições que envolvem esta manifestação cultural no âmbito escolar. Trata-se de uma pesquisa-ação cujo esforço resultou na elaboração de um recurso multimídia produzido no programa PowerPoint, destinado à apresentação na “TV PENDRIVE”. Esse material foi organizado a partir de questões oriundas da fundamentação teórica realizada durante o projeto de pesquisa, o que envolveu a leitura de vários textos sobre o fenômeno esportivo. O material consiste em 103 slides que tratam de diversos assuntos, entre eles: esporte e sociedade; esporte e mídia; esporte e políticas públicas; características que diferenciam o ensino do esporte nas aulas de Educação Física, o treinamento escolar e o esporte de alto nível. Portanto, se trata de um recurso teórico-prático que poderá ser utilizado pelo professor durante todo o ano letivo, podendo ser destinado tanto aos alunos das séries finais do ensino fundamental quanto do ensino médio. Por fim, tem o intuito de fornecer subsídios que visem colaborar para as discussões que envolvem o ensino do esporte durante as aulas de Educação Física, bem como auxiliar na geração de recursos didáticos que facilitem o trabalho dos professores na rede de ensino do Paraná.
Palavras-chave: esporte; Educação Física escolar; saberes escolares; material didático; formação continuada.
INTRODUÇÃO:
Os quinze anos de experiência como professor de Educação Física
na rede estadual de ensino no Paraná e o trabalho que desenvolvo como técnico
desportivo nas modalidades de voleibol, futsal e futebol de campo (tanto no âmbito
escolar, como em seleções municipais na cidade de General Carneiro), despertaram
o meu interesse em aprofundar as análises que envolvem o esporte escolar. Ao
reconhecer os equívocos históricos que marcam o ensino do esporte, procurei
realizar uma investigação sobre as características que diferenciam o esporte nas
aulas de Educação Física, o esporte praticado sob a forma de treinamento no
1 Professor de Educação Física na Rede Estadual de Ensino do Paraná.
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ambiente escolar e, finalmente, aquele reconhecido como profissional, alto nível e/ou
rendimento.
Essa ideia inicial se efetivou por intermédio de minha participação no
Programa de Desenvolvimento Educacional do Estado do Paraná – PDE, a qual
culminou na produção de um material didático que será disponibilizado aos alunos e
aos professores de Educação Física de toda a rede, com o intuito de estimular o
debate e as discussões que permeiam o ensino do esporte na escola.
Esse esforço resultou na elaboração de um recurso multimídia
produzido no programa PowerPoint e destinado à apresentação na “TV PENDRIVE”,
organizado a partir de questões oriundas da fundamentação teórica realizada
durante o projeto de pesquisa, o que envolveu a leitura de vários textos sobre o
fenômeno esportivo. O material consiste em 103 slides que tratam de diversos
assuntos, entre eles: esporte e sociedade; esporte e mídia; esporte e políticas
públicas; características que diferenciam o ensino do esporte nas aulas de
Educação Física, o treinamento escolar e o esporte de alto nível.
Pela sua extensão, o material produzido oferece doze unidades que
podem ser divididas de acordo com o interesse do professor, e se trata de um
material variado que utiliza a imagem como elemento central, instigando o interesse
e a motivação dos alunos. Portanto, se trata de um recurso teórico-prático que
poderá ser utilizado pelo professor de Educação Física durante todo o ano letivo,
podendo ser destinado tanto aos alunos das séries finais do ensino fundamental
quanto do ensino médio.
Então, o que ora apresento é a síntese desse trabalho...
1. O ESPORTE NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA
1.1 O ESPORTE COMO CULTURA DE MASSAS
Atualmente verificamos que, em seu cotidiano, o indivíduo procura
aliar a prática de atividades físicas ao seu trabalho, com o interesse de manter o
corpo saudável, disposto e preparado para os seus afazeres diários. Nesse sentido,
o ideal esportivo surge como uma alternativa para atender a essa necessidade e se
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manifesta por meio de diferentes discursos, seja na forma de atividades voltadas à
estética corporal, seja como orientação médica para a resolução de problemas de
saúde, seja como atração cultural apresentada pelos diferentes veículos midiáticos.
Tal como menciona VAZ (1999):
“O mundo contemporâneo desenvolve uma série de conhecimentos, técnicas e discursos que aparecem não só como operadores, mas também como legitimadores do controle do corpo. Vários destes conhecimentos estão relacionados ao esporte, uma das formas contemporâneas mais importantes de organização da corporeidade”. (pág. 92).
Assim, não há dúvidas quanto ao fato de que o esporte é um agente
potencial na formação do ser humano, uma vez que desde muito cedo a criança já
se depara quase que diariamente com suas formas de manifestação, seja no
ambiente familiar que incentiva e oportuniza a sua execução em parques, clubes,
escolinhas, etc., seja na escola, ou, ainda, por intermédio das informações
veiculadas na mídia.
Nesse sentido,
“o esporte parece de fato ter sido, e ainda ser, um forte vetor a potencializar o domínio do corpo. Sua importância não pode ser menosprezada, se considerarmos o quanto as identidades se constroem em torno do corpo, e o quanto a sociedade moderna esta impregnada pelo princípio do rendimento, o quanto ela é esportivizada”. (VAZ, 1999, pág.92).
O atual modelo de sociedade vem apresentando constantes
mudanças, principalmente no que se refere aos fatores culturais e tecnológicos que
envolvem o mundo do trabalho. No conjunto dos discursos voltados ao rendimento
notamos uma forte preocupação com os elementos capazes de favorecer a própria
“produção dos sujeitos”, entre eles localizamos as condições de saúde, de
educação, de lazer e de entretenimento, e é exatamente neste sentido que o esporte
se mantém como um dos fatores que contribuem e colaboram para os discursos
daquilo que hoje chamamos de “qualidade de vida”, mas que em outros momentos
já possuiu outros “slogans”. Assim, o esporte ocupa espaços formativos cada vez
influentes seja por intermédio da indústria, da mídia e das políticas públicas.
O esporte se caracteriza como um fenômeno cultural de massas que
reforça a economia e isto ocorre por meio da atividade profissional, do comércio, do
consumo, da indústria de entretenimento, de iniciativas políticas, enfim, são
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inúmeras as manifestações do fenômeno esportivo como fonte de recursos, o que
fomenta e ativa os setores econômicos e financeiros da sociedade.
Entre outras manifestações, podemos verificar que a mídia, seja ela
escrita, falada ou televisionada, transforma a prática esportiva em material de
consumo, para isso os atletas transformam-se em heróis, dignos representantes de
um grupo, de uma comunidade e/ou de uma nação. Isso influencia a formação
identitária dos indivíduos, que, sob o pretexto de elevarem o nome de seu clube, de
seu estado e/ou país por meio do esporte, deixa transparecer que a vitória do(s)
atleta(s) e/ou do time é a vitória de todos. No entanto, a alegria e o prazer
proporcionados por estas conquistas muitas vezes esconde a condição de miséria e
degradação pela quais as pessoas podem estar passando.
Então, não se pode deixar de reconhecer que esporte serve de
matéria-prima para a indústria de consumo e para o mercado, isto se dá por
intermédio da fabricação e comercialização de milhares e milhares de produtos e
personagens que se destacam no meio esportivo, que, além de proporcionar a
abertura de frentes de trabalho relacionadas à produção esportiva, também
transforma pessoas e/ou situações em centro das atenções potencializando ainda
mais as possibilidades de compra e venda, o que torna o esporte um negócio ainda
mais rentável.
Ao se tornar um fenômeno social de grandes proporções, o esporte
também ganha evidencia do ponto de vista das políticas públicas. Atualmente, a
preocupação com o esporte surge em praticamente todos os níveis governamentais,
desde os municipais, passando pelos estaduais e os federais. Prova disso é que em
vários municípios do território nacional existe pelo menos um órgão, um conselho,
uma secretaria, ou um departamento voltado especificamente para as ações que
envolvem o esporte, seja por intermédio de projetos educacionais, sejam por meio
da promoção de eventos, campeonatos, torneios ou outras competições.
Diante desse panorama, não é raro encontrar ex-atletas
respondendo por coordenadorias e/ou secretarias municipais e estaduais de
esporte, lazer e até mesmo da cultura, bem como órgãos do mais alto escalão. Em
muitos casos, isso ocorre na tentativa de atrelar a imagem de sucesso desses
atletas ao desempenho político do grupo que ele representa naquele momento,
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mesmo que a pessoa indicada não possua preparo técnico ou conhecimento
administrativo para desempenhar suas funções no cargo. Além disso, é notável
como o meio político utiliza o esporte como um elemento de promoção em épocas
eleitorais, relacionando a figura política ao apoio de atletas ou, ainda, na promoção
de eventos desportivos, com o intuito de angariar votos e pleitos.
Ao se tratar especificamente da instituição escolar verificamos vários
exemplos de preocupações governamentais que redundam na ampliação e projeção
do fenômeno esportivo. No caso do Governo Federal temos, por exemplo, o Projeto
Segundo Tempo, idealizado pelo Ministério dos Esportes e que se estende a todos
os Estados da Federação envolvendo a criação de empregos, investimentos em
termos de alimentação, materiais esportivos, estrutura física etc., tudo isto em
parceria com as escolas.
Nesta perspectiva o esporte se apresenta como um fenômeno de
grande visibilidade do ponto de vista social e político sustentando uma série de
discursos ao lazer, à diversão e ao entretenimento, além de outras frentes tais como
a saúde e a educação.
1.2 ESPORTE E ESCOLA
Sendo o esporte uma manifestação tão relevante de nossa cultura,
não é difícil compreender sua inserção no ambiente escolar. Historicamente ele vem
sendo tratado como um dos saberes que compõem o ensino de Educação Física e
sua prática, muitas vezes, se confunde com os próprios objetivos dessa disciplina.
No entanto, é forçoso reconhecer que o tratamento dado a esse
conhecimento geralmente se torna superficial, se resumindo à exercitação ou ao
treinamento e se desvinculando de qualquer análise crítica e reflexiva a seu respeito.
Desse modo, é possível localizar uma série de críticas dirigidas ao
ensino do esporte na escola, sobretudo em torno de sua exclusividade e de sua
hierarquia quando comparado a outras práticas corporais que também deveriam
compor o ensino de Educação Física. Além disso, outras preocupações que
denunciam um caráter utilitarista, indicando que “a escola, por meio da educação
física, estaria assumindo os códigos, sentidos e valores da instituição esportiva”
(Assis, 2001, p. 16).
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Nessa perspectiva os debates que envolvem o ensino do esporte na
escola levantam uma série de indagações sobre a legitimidade e as contradições
desse saber. Por um lado, localizamos aqueles que questionam suas
potencialidades educativas, apontando que a competição, a seleção e o sacrifício
oriundos do esporte redundariam em aspectos deformativos e, portanto, o seu
ensino seria questionável. Por outro lado, aqueles que apontam ambivalências,
reconhecendo a coexistência de aspectos positivos e negativos no seu ensino.
Essa última tradição propõe aquilo que chamam de uma
resignificação da prática pedagógica que envolve o ensino do esporte na escola,
propondo reformulações quanto à forma como esse saber vem sendo desenvolvido,
sugerindo alterações e/ou transformações em relação ao modo como ele hoje vem
sendo tratado. Nesse sentido, lançam a ideia de uma “reinvenção” do esporte,
partindo da premissa de que:
“A escola, entendida como espaço de intervenção, é um local privilegiado de construção de um “novo esporte”, que surge das críticas ao “velho esporte” e, contraditoriamente, do imenso fascínio que ele exerce sobre adultos e crianças, com a institucionalização de temas lúdicos, e das possibilidades emancipatórias com que ele possa se configurar” (Assis, 2001, p. 22).
Para isso, Assis (2001) propõe algumas orientações que deveriam
acompanhar o processo de reorganização do ensino, quais sejam:
1 – uma leitura crítica do esporte [...]; 2 – a impossibilidade de não considerá-lo como tema ou conteúdo da educação física: O esporte, aceito como fenômeno social, precisa ser questionado em suas normas, suas condições de adaptação à realidade social e cultural da comunidade que o pratica, cria e recria;
3 – a necessidade de transformá-lo na escola, com algumas indicações de ordem geral:
Na escola, é preciso resgatar os valores que verdadeiramente socializam, privilegiam o coletivo sobre o individual, garantem a solidariedade e o respeito humano e levam à compreensão de que o jogo se faz com o outro e não contra o outro;
O programa de esportes deve ser desenvolvido no entendimento da evolução dos jogos, desde o jogo com regras implícitas, do ato criativo espontâneo, até o jogo institucionalizado com regras específicas (Coletivo de Autores, 1992, p. 71);
A organização do conhecimento sobre o esporte deve evidenciar o sentido e o significado dos valores que inculca e as normas que o regulamentam dentro do nosso contexto sócio-histórico;
A organização do conhecimento não deve desconsiderar o domínio dos elementos técnicos e táticos, desde que não sejam exclusivos e únicos conteúdos da aprendizagem (Coletivo de Autores, 1992, p. 41);
O ensino do esporte deve possibilitar o seu entendimento como uma prática social construída historicamente, que pode ser criticamente assistida e alterada, criativamente ensinada, exercitada e inclusive exercida na sua dimensão profissional (Soares, Taffarel & Escobar, 1992, p. 220).
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Daí a importância de ressaltar as características que devem (ou pelo
menos deveriam) diferenciar o ensino do esporte nas aulas de Educação Física, o
treinamento escolar e o esporte profissional.
No estado do Paraná, as Diretrizes Curriculares Estaduais da
Educação Básica indicam que os professores de Educação Física devem reorientar
sua prática didático-pedagógica, pautando o ensino por uma orientação crítica em
torno dos temas que envolvem essa disciplina. Tratando especificamente do
esporte, esse mesmo documento indica:
“[...] ao trabalhar o Conteúdo Estruturante esporte, os professores devem considerar os determinantes histórico-sociais responsáveis pela constituição do esporte ao longo dos anos, tendo em vista a possibilidade de recriação dessa prática corporal. Portanto, nestas Diretizes, o esporte é entendido como uma atividade teórico-prática e um fenômeno social que, em suas várias manifestações e abordagens, pode ser uma ferramenta de aprendizado para o lazer, para o aprimoramento da saúde e para integrar os sujeitos em suas relações sociais.” (Diretrizes Curriculares da Educação, p. 63, 2008).
O professor de Educação Física tem a responsabilidade de promover
uma visão crítica e reflexiva a respeito das contradições que compõem o esporte
sem, necessariamente, ter que deixar de lado os fundamentos técnicos e táticos das
inúmeras modalidades que são trabalhadas na escola. Para isso, precisa buscar
meios de articulação entre os aspectos motrizes, técnicos e táticos aos aspectos
históricos, políticos, econômicos e sociais que caracterizam esse fenômeno cultural.
Para o alcance desse objetivo é evidente a necessidade de se
promover o diálogo, o debate e as discussões acerca do assunto; oferecer
condições para que as dúvidas surjam e sejam sanadas; aproveitar as experiências
individuais e contextualizá-las; oportunizar a criação/ recriação de novos modelos
para a prática desportiva; discutir valores e atitudes que podem tanto beneficiar
quanto prejudicar a formação humana; analisar comparativamente os diversos
espaços onde ocorre a prática do esporte (na escola, no treinamento escolar, no alto
nível e/ou rendimento); tratar de assuntos relacionados à saúde, ao lazer etc. Enfim,
oferecer condições para que todos os envolvidos no processo de ensino-
aprendizagem ampliem sua capacidade de expressar, argumentar e entender os
inúmeros aspectos que envolvem o esporte na sociedade contemporânea.
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Por outro lado, ao tratarmos em específico do treinamento nos
remetemos a elementos diferenciados do ponto de vista da formação. Nesse
sentido, ressaltam-se a preparação física, técnica e tática, a mecânica do exercício,
o aperfeiçoamento, o rendimento, a seleção e a competição. Ou seja,
“O treinamento pode ser entendido, de forma geral, como um conjunto de diversas e complexas ações no sentido da melhoria do rendimento. Este é orientado por um fim específico, e deve seguir um planejamento que leve em conta os objetivos, os métodos, o conteúdo, a estrutura e a organização geral, sempre tendo como referência o conhecimento científico e a experiência prática.” (Vaz, pág. 102, 1999).
Apesar de, muitas vezes, o treinamento ser ofertado no ambiente
escolar, ele não pode se confundir com as aulas de Educação Física, pois ambos
possuem objetivos e metodologias completamente distintos, tal como é exposto no
próprio material multimídia que foi elaborado e aplicado ao longo do projeto. Nesse
sentido, passemos à avaliação dos resultados obtidos com a aplicação desse
recurso.
2. ANÁLISE DOS RESULTADOS:
O trabalho de pesquisa foi desenvolvido no Colégio Estadual Pedro
Araújo Neto – EFM, no qual atuo como professor de Educação Física, localizado no
município de General Carneiro (região sul do Paraná).
Em relação à implementação do projeto, as turmas selecionadas para
a aplicação e apresentação do material multimídia foram do ensino médio, mais
especificamente uma turma da 3ª série do período matutino, uma turma da 1ª série
do período vespertino e uma turma da 2ª série do período noturno. No que se refere
ao público, devo ressaltar que houve diferenças significativas em torno do perfil das
turmas. A primeira ligada à diversificação da faixa etária e do nível de conhecimento
apresentado pelos alunos, além disso, fortes diferenças culturais e sociais que
marcaram os grupos. Enquanto no período matutino os alunos eram provenientes da
área urbana, no período vespertino a maioria dos alunos advém das áreas rurais do
município e demonstravam-se retraídos, tímidos e com maiores dificuldades de se
manifestar sobre os temas propostos. Por fim, os alunos do período noturno eram na
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sua maioria trabalhadores que contavam com uma extensa jornada de trabalho
extensa, o que dificultava a atenção e concentração interferindo no encaminhamento
das aulas.
De modo geral, essa pesquisa se orientou de maneira exploratória,
uma vez que toda a implementação ocorreu a partir da retroalimentação obtida por
meio das respostas oferecidas pelos sujeitos ao longo do trabalho. Na medida em
que algum problema era identificado, projetavam-se novas ações que pudessem
redirecionar os caminhos definidos e aprimorar a produção do material.
O início das atividades foi marcado pela apresentação do projeto às
turmas. Em seguida, a primeira atividade se baseou em um diagnóstico sobre os
conhecimentos e as noções que os alunos já obtinham sobre o assunto, sendo
questionado qual é o significado do “esporte”. Em seguida foram revelados os slides
que continham as definições encontradas no dicionário Michaellis e então foi
proposto um debate em torno delas.
Depois partimos para os quatro módulos que tratavam justamente
das questões norteadoras definidas na fundamentação teórica, quais sejam: esporte
e sociedade; esporte e mídia; esporte e políticas públicas; características que
diferenciam o ensino do esporte nas aulas de Educação Física, o treinamento
escolar e o esporte de alto nível. Para isso foram utilizadas as seguintes estratégias:
a apresentação dos slides que fomentavam os debates, discussões e
questionamentos sobre cada um dos temas propostos; a solicitação de pesquisas
em outras fontes como dicionários, jornais, revistas, etc.; a indicação de trabalhos
com a utilização do Livro Didático de Educação Física (SEED); a proposição de
anotações em caderno; entre outras.
Ao final de cada um dos módulos procedeu-se a aplicação de um
instrumento para avaliar os avanços dos alunos a partir das atividades. Esse
material foi organizado na forma de um conjunto de questões abertas que
procuravam identificar os limites e os progressos alcançados, conforme segue
exposto logo abaixo.
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1º MÓDULO - O ESPORTE NA SOCIEDADE MODERNA
Esse primeiro módulo trata do esporte como um fenômeno de
grandes repercussões sociais. Para isso se recorreu à proposição de sub-temas,
entre eles: o esporte e a Educação Física; o esporte como manifestação da cultura
corporal; o esporte como fenômeno cultural de massas; as relações entre o esporte
e o mercado; a espetacularização esportiva. Esses tópicos foram tratados
separadamente, utilizando textos de apoio que constam tanto no próprio material
multimídia, bem como em outras fontes como o Livro Didático de Educação Física,
jornais, revistas, internet, entre outras.
Ao final do trabalho se pôde notar que, em geral, alunos demonstraram
reconhecer o que é o esporte, quando e onde ele acontece, quais os mais
praticados e porque, como o esporte está incorporado à sociedade e como ele é
utilizado sob a forma de consumo. Isso ficou evidenciado no instrumento que
procurou avaliar os desdobramentos do projeto, conforme as inferências que podem
ser exemplificadas com o questionário escaneado logo abaixo.
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Algumas diferenças entre alunos foram detectadas na maneira de se
expressar, de debater e principalmente de anotar as suas opiniões. Mas a maioria
dos alunos concorda que o esporte acontece em praticamente todos os lugares, seja
de maneira lúdica ou como lazer, seja de modo competitivo e regulamentado.
Também pareceu haver um consenso quanto à sua influência na sociedade e o fato
de que sua prática depende da cultura de cada região, de cada país, enfim de cada
povo. E, finalmente, que o esporte está mais presente no mercado de consumo do
que podemos imaginar e que nos deparamos com ele não apenas como
telespectadores conscientes, mas também como consumidores passivos.
2º MÓDULO - O ESPORTE E A MÍDIA
Ao tratar da relação entre o esporte e os meios de comunicação os
debates foram amplos, uma vez que os temas que envolvem este assunto são
variados e o material exposto conseguiu propiciar um ambiente favorável a essa
discussão. Nesse sentido, foi destacada a análise sobre como o esporte está
presente nos meios de comunicação, porque se investe tanto na veiculação de
eventos desportivos e ainda quais são as modalidades esportivas mais rentáveis e,
conseqüentemente, mais exploradas pela mídia.
Em uma das aulas, os alunos foram divididos em duplas para
dialogar e responder o questionário sobre o tema “Esporte e a Mídia”. A análise de
suas respostas nos leva a conclusão de que, em sua maioria, os alunos entenderam
a existência de uma relação financeira entre o esporte e a mídia, ou seja, que os
resultados provenientes desta “troca” são extremamente rentáveis para aqueles que
estão envolvidos, dirigentes, empresas, empresários, equipes e o mercado de
consumo esportivo.
Os alunos também responderam as questões que envolvem a
intensificação na veiculação de certas modalidades esportivas pela mídia brasileira.
Nesse caso, se observou quase que uma unanimidade em torno da indicação do
futebol e do voleibol, como aqueles mais apresentados pelos meios de
comunicação. Entre as justificativas surgiram as repercussões culturais tendo em
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vista os resultados obtidos pelas equipes e seleções, e, consequentemente, o
retorno financeiro e o lucro que essas modalidades acabam gerando.
Como exemplo podemos observar o conjunto de respostas que
seguem:
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3º MÓDULO - O ESPORTE E AS POLÍTICAS PÚBLICAS
Esse módulo iniciou com a apresentação de um texto de apoio que
foi retirado do próprio projeto de pesquisa e que teve o objetivo de organizar e
conduzir os questionamentos que envolvem este assunto.
A princípio, foi proposta uma questão de análise para os alunos:
“Como o esporte é utilizado pelas políticas públicas?”. A partir daí foi desenvolvido
um debate em torno das diversas maneiras como as políticas públicas se relacionam
e se beneficiam por intermédio do esporte.
Os assuntos tratados nesse módulo foram: o envolvimento de
desportistas no meio político; as leis, os projetos e os programas financiados pelo
poder público que a ampliação e o desenvolvimento do esporte; os discursos que
justificam o investimento público no esporte; os interesses políticos e
governamentais na promoção de grandes eventos esportivos.
De acordo com as respostas obtidas, podemos verificar que os
alunos conseguiram perceber que o esporte pode ser um forte “aliado” político ao
longo de processos eleitorais, principalmente por se tratar de um excelente meio de
propaganda e marketing. Outro elemento identificado é que o debate auxiliou no
entendimento de que o inverso também acontece, ou seja, alguns atletas se
beneficiam do esporte para ingressar e se envolver no meio político.
Vejamos as respostas desse questionário:
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4º MÓDULO - DIFERENÇAS ENTRE ESPORTE NAS AULAS DE EDUCAÇÃO
FÍSICA, NO TREINAMENTO ESCOLAR E NO ESPORTE DE ALTO RENDIMENTO
Esse é, sem dúvida, o mais extenso e complexo dentre os quatro
módulos do material multimídia. Ele teve como objetivo principal promover a reflexão
sobre as diferenças que caracterizam o esporte nas aulas de Educação Física, o
treinamento escolar e o esporte profissional ou de alto nível.
O primeiro sub-tema foi desenvolvido a partir de questionamentos
iniciais sobre como o esporte acontece nas aulas de Educação Física, quais as
modalidades mais praticadas, os materiais utilizados, os locais em que se
desenvolvem etc. A partir de então foram apresentadas algumas análises de autores
como Assis (2001) e Vaz (1999), bem como algumas orientações localizadas nas
Diretrizes Curriculares do Estado, sobretudo no que se refere à forma como o
esporte deve ser desenvolvido nas aulas. Finalmente, passou-se a análise de
algumas características que determinam as diferenças sobre o ensino do esporte
nesse âmbito e aquele praticado sob a forma de treinamento.
Entre os elementos de destaque estão: a identificação da influência
regional em torno das modalidades ensinadas; a importância da participação de
todos os alunos (meninos ou meninas, portadores de necessidades especiais etc.); a
discriminação proveniente da obesidade e de questões sociais e religiosas; a
importância de conteúdos teórico-práticos e teóricos que envolvem a aprendizagem;
a relevância de uma compreensão crítica acerca dos vários temas que envolvem o
esporte.
Após a leitura das questões respondidas pôde-se verificar que, ao
ser pedido que descrevessem alguma característica que não havia sido citada,
grande parte dos alunos indicou a importância de alguns valores e atitudes, tais
como a amizade, o companheirismo, o trabalho em grupo, a união. No que se refere
à oportunização da prática desportiva a todos os alunos, a grande maioria
respondeu que a Educação Física, por meio do esporte, cumpre o seu papel e que
se alguns alunos não o praticam é por puro desinteresse ou falta de vontade, porém
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algumas menções foram feitas aos portadores de necessidades especiais referindo-
se ao despreparo dos professores.
Também podemos observar que, na opinião da maioria dos alunos,
o esporte na escola deveria promover a inclusão e que a competição não deve estar
presente de forma acirrada, sendo que a diversão, o conhecimento, a cooperação e
a amizade devem prevalecer sobre todos os aspectos.
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Ainda fazendo parte do quarto módulo de estudo, o segundo sub-
tema procurou promover a reflexão em torno de algumas características que
determinam as formas como esporte é desenvolvido no ambiente do treinamento
escolar. Embora sem uma regulamentação específica no meio educacional, o
treinamento desportivo acontece em praticamente todas as escolas, sejam elas
públicas ou particulares, envolvendo alunos tanto do sexo masculino quanto do sexo
feminino, nas mais diversas modalidades individuais ou coletivas (basquetebol,
voleibol, futsal, futebol de campo, tênis de mesa, xadrez, atletismo, etc.).
A princípio foi debatido com os alunos o modo como o treinamento
escolar ocorre no próprio Colégio Estadual Pedro Araújo Neto – EFM, ou seja, quais
modalidades são oferecidas, quem participa efetivamente, quem tem acesso e
porque, a estrutura física disponível para os treinamentos, as competições, os
resultados alcançados. Enfim, questões que diziam respeito à própria escola,
procurando identificar o modo como os alunos percebem o treinamento.
Na seqüência, o material foi apresentado ressaltando: o caráter
seletivo do treinamento escolar; as ações voltadas para o desenvolvimento do
condicionamento físico, e os fundamentos técnicos e táticos de uma modalidade
específica; a preocupação voltada ao rendimento, o que redunda na seleção de
alunos que apresentam melhores habilidades; a competição, tanto no contexto
interno da escola quanto no contexto externo.
Na análise dos questionários podemos perceber que os alunos
reconheciam tanto a existência quanto as características que compunham o
treinamento no Colégio estadual Pedro Araújo.
No que se refere à oportunidade de participação, as respostas
evidenciaram que o treinamento é oportunizado a todos, e isso depende muito mais
do interesse e da vontade dos próprios alunos, do que de outro fator. Nesse sentido,
na pergunta “Você participa ou gostaria de participar do treinamento de alguma
modalidade esportiva na sua escola? Por quê?”, se verificou que 60% dos alunos
não têm interesse em participar do treinamento esportivo proposto pela escola e
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entre os motivos que influenciam essa decisão estão: a falta de tempo; o
desinteresse pela prática desportiva; a preferência por outros tipos de modalidades
que não aquelas ofertadas pelo colégio específico; problemas de saúde; questões
religiosas; etc.
Por outro lado, na quinta, e última questão, foi perguntado se existe
alguma vantagem em ser um atleta que defende a escola em competições e quais
seriam estas vantagens. A maioria das respostas confirma a existência de
vantagens para aqueles que se tornam um atleta da escola e para justificar os
alunos citaram o fato de participar de viagens, e a possibilidade de conhecer cidades
e pessoas diferentes, fazer novas amizades, ganhar prêmios como troféus e
medalhas, além da popularidade alcançada.
Temos, a seguir, alguns dos questionários sobre o sub-tema
treinamento escolar, que confirmam as análises elaboradas:
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O último sub-tema se refere ao esporte de alto nível e/ou rendimento,
tendo como proposta a discussão sobre as características que o envolvem.
Esse assunto, em especial, chamou muito a atenção dos alunos e
provocou uma grande série de discussões, nas quais a participação era intensificada
e ampliada na medida em que os slides eram apresentados. Sem dúvida, isso é
fruto da influência midiática, principalmente a televisiva.
Do ponto de vista do questionário, a primeira pergunta solicitava que
os alunos citassem alguma característica básica do esporte de alto nível que não
havia sido lembrada pela pesquisa, dentre as respostas surgiram a
responsabilidade, o interesse e a dedicação à pratica desportiva escolhida, bem
como a necessidade de acompanhamento profissional em áreas como a educação
física, a nutrição, a medicina e a fisioterapia.
Na segunda questão foi perguntado aos alunos o que seria necessário
para se tornar um atleta de alto nível e as respostas que mais se destacaram foram
a dedicação e o interesse, aliados a um treinamento intensivo, bons treinadores,
profundo conhecimento da modalidade que se quer praticar e muito talento. A
análise que pode ser feita a partir destas respostas é a de que o entendimento dos
alunos se torna coerente com o contexto analisado, e isso também pode ser
influenciado pelos discursos transmitidos pelos meios de comunicação, por meio de
reportagens e entrevistas de atletas, de treinadores, de equipes de trabalho, de
dirigentes e até de empresários e patrocinadores, que parecem querer expandir
essa idéia como se o sucesso dependesse quase que exclusivamente destes
fatores.
Na terceira questão os alunos teriam que responder a respeito do
sacrifício para se tornar um atleta de alto nível, avaliando se realmente valeria a
pena enfrentar dificuldades para se dedicar em tempo integral ao treinamento de
uma modalidade esportiva. A maioria dos alunos respondeu que sim e as
justificativas apresentadas se referiram ao reconhecimento e a fama que poderia ser
alcançada por seu intermédio, a oportunidade de conhecer vários lugares, e,
principalmente, pela possível recompensa financeira que seria proveniente dessa
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relação. Porém todos parecem concordar que o acesso e a permanência neste meio
são extremamente seletivos, uma vez que as oportunidades são raras e os
obstáculos a serem superados são extremos, sem contar o fato de que o tempo de
“vida útil” de um atleta profissional é curto e, portanto, os riscos de contar com
restrições econômicas e financeiras também são altos.
Por fim, a quarta e última questão tratava exclusivamente do uso de
substâncias químicas ilegais por parte de inúmeros atletas, aquilo que
convencionamos chamar de doping. A pergunta era: “Em sua opinião, por que o uso
de doping está se tornando um sério problema no mundo esportivo?” e é importante
salientar que durante as aulas e a apresentação do material multimídia este assunto
foi amplamente discutido, sendo inclusive solicitado uma pesquisa aos alunos a
respeito do mesmo. Novamente localizamos a compreensão por parte dos alunos de
que é freqüente o uso de substâncias dopantes no meio esportivo, mesmo que isso
seja ilegal e extremamente prejudicial à saúde dos atletas, gerando inclusive o
encerramento prematuro de carreiras desportivas que poderiam ser brilhantes.
Para elucidar tais inferências, seguem alguns exemplos do
questionário aplicado:
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Gostaria de salientar que após o trabalho foi possível identificar que a
maior parte dos alunos chegou à conclusão de que é difícil se tornar um atleta de
alto nível, e que para isso não se deve contar com a sorte ou com o acaso, mas sim
dispor de um talento nato aliado a muito esforço, e, mesmo assim, apenas uma
ínfima minoria conseguirá alcançar sucesso e se manter no meio esportivo por muito
tempo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
Finalizada a implementação deste projeto de pesquisa e após a
avaliação dos resultados, pudemos verificar o envolvimento dos alunos com as
atividades propostas.
Porém é inegável o fato de que encontramos inúmeros obstáculos para
promover uma boa interação entre todos os envolvidos nesse processo, desde a
direção e equipe pedagógica da escola até os alunos de cada uma das turmas em
que o mesmo foi aplicado. Dentre os problemas que pudemos observar foi a recusa,
ou a oposição, por parte dos alunos diante de uma proposta de atividades que,
embora tivesse como tema principal um dos assuntos mais recorrentes da disciplina
de Educação Física, seriam desenvolvidas em sala de aula. Isso desagradou os
alunos, pois as turmas do ensino médio no Colégio Estadual Pedro Araújo Neto –
EFM dispõem de apenas duas aulas de Educação Física durante a semana e, pelo
menos, uma delas seria utilizada com a apresentação do material multimídia e com
a promoção dos debates. Neste sentido, o desenvolvimento inicial dos trabalhos foi
complicado, porém à medida que as aulas foram ocorrendo essa dificuldade foi
sendo superada e a participação dos alunos começou a acontecer de forma mais
dinâmica, a partir dos materiais apresentados.
Outro fator desfavorável foi a identificação de que a maioria dos alunos
apresentava dificuldades em se expressar de modo crítico diante dos assuntos e
temas explorados, expondo suas opiniões, idéias e argumentação, tanto nos
momentos de diálogo quanto nos momentos destinados ao registro escrito das
atividades. Porém com o auxílio do professor e com o incentivo da equipe
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pedagógica da escola, essa situação foi se modificando aos poucos e os alunos
passaram a interagir de maneira mais satisfatória ao longo do processo.
Como citado anteriormente, a proposta de utilização deste material
necessita de um grande número de aulas para que se alcancem todos objetivos
traçados, porém, no caso desta implementação ocorrida no Colégio Estadual Pedro
Araújo Neto – EFM, a restrição do tempo também surgiu como uma dificuldade
significativa. O tempo previsto pelo PDE para a implementação das ações, cerca de
quatro meses e meio, se mostrou ineficiente, fazendo com que os trabalhos
tivessem que ser rapidamente transmitidos o que prejudicou o desenvolvimento das
atividades.
Mesmo diante dessas dificuldades, pudemos observar que os alunos
conseguiram de algum modo ampliar suas reflexões a respeito do tema “esporte”,
sobretudo, quando os comparamos com os alunos de outras turmas onde o projeto
não foi implementado. De modo geral, eles apresentaram uma capacidade
argumentativa mais apurada sobre os diferentes temas, fato que nos leva a crer que
o projeto alcançou resultados positivos, principalmente pelo recurso multimídia
utilizar um material diferenciado por intermédio do uso de imagens.
BIBLIOGRAFIA:
ASSIS, Sávio. Reinventando o esporte. Possibilidades da prática p edagógica. Campinas: Autores Associados, 2001. BASSANI, Jaison (et. Al.). Sobre a presença do esporte na escola: Paradoxos e Ambigüidades. Revista Movimento, 2003. COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do Ensino da Educação Física. São Paulo: Cortez, 2005. KUNZ, Elenor. Transformação Didático-Pedagógica do Esporte. Ijuí: Editora Unijui, 2004. OLIVEIRA, Marcus Aurélio Taborda de. Educação Física Escolar: Formação ou Pseudoformação . Revista Educar, 2000. VAZ, Alexandre Fernandes. Treinar o Corpo, Dominar a Natureza: Notas para uma análise do esporte com base no Treinamento Corp oral. Caderno Cedes. 1999.