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Beutler C 16

Jesus se revela a seu povo (5,1-10,42)

Os quatro primeiros captulos do EJ tratam da entrada do Logos divino no mundo. Em Jesus de Nazar ele se tornou carne e desejava suscitar f. Assim se desenhou, depois das primeiras vocaes de discpulos junto ao Jordo, um circulo concntrico de Can a Can em Jo 24. Jesus inicia sua atividade em sua terra de origem, a Galileia, mas logo sobe para sua primeira festa da Pscoa a Jerusalm (2,13). A se revela em palavra e obra, mas encontra pouca f em sua palavra. Seguem-se ento viagens Judeia (3,22-36) e Samaria (4,1-42), antes que ele chegue novamente Galileia (4,43-54). Quanto mais longe de Jerusalm, mas ele encontra a f que lhe cabe. Esta f tem seu cume no funcionrio rgio do segundo sinal de Can (4,46-54). Assim fecha-se o primeiro crculo[footnoteRef:2]. [2: ]

A parte do QE que agora segue se apresenta estruturada pelas viagens de romaria s festas principais dos judeus antes da Pscoa final em 11,55. Em Jo 5, encontramos Jesus numa festa annima, que bem pode ser a festa das Semanas. Em Jo 7,110,21, ele sobe novamente a uma festa de romaria em Jerusalm: a festa das Tendas, identificada em 7,2. Quando se celebra a festa da Dedicao, em 10,22, Jesus j se encontra em Jerusalm. Todos esses captulos se caracterizam por discursos de revelao de Jesus e por controvrsias com os judeus. Assim podemos intitular esta parte como Jesus se revela a seu povo. Jesus se esfora pela f dos israelitas de Jerusalm e da Judeia, encontrando, porm, resistncia crescente. As seces concernentes f encontrada na Samaria e na Galileia parecem antes referir-se a um tempo ulterior, quando ali a mensagem de Jesus encontrar f.

Olhando assim torna-se possvel situar o cap. 6 no quadro geral. A Pscoa mencionada em Jo 6,4 interrompe o quadro espao-temporal do contexto amplo. Est no meio entre as festas das Semanas e das Tendas. Alm disso, Jesus no parece estar peregrinando a Jerusalm. Alis, o captulo no se insere com facilidade no contexto geral. Por isso propomos consider-lo como uma releitura de seu contexto, rompendo o quadro pascal antes percebido[footnoteRef:3]. Na dimenso temporal, [[180]] este captulo cabe melhor na igreja incipiente, quando a tradio da Pscoa j est mais afastada de suas razes judaicas, ganhando caractersticas especificamente crists. [3: ]

Os caps. 11 e 12 por um lado ainda pertencem moldura Jesus e as festas principais dos judeus, pois conduzem ltima Pscoa, a de 11,55. Por outro lado, abrem j o tema do sofrimento e da morte de Jesus, bem como de sua ressurreio. Por isso pensamos, com autores recentes, que se trata de uma seco de transio, que merece um ttulo prprio.

1. Jesus na festa das Semanas (5,1-47)

5 1Depois disso, houve uma festa dos judeus, e Jesus subiu a Jerusalm. 2Existe em Jerusalem, perto da Porta das Ovelhas, uma piscina com cinco prticos, chamada Betesda em hebraico. 3Muitos doentes ficavam ali deitados, cegos, coxos, aleijados e atrofiados. [4]. 5Encontrava-se ali um homem enfermo havia trinta e oito anos. 6 Jesus o viu ali deitado e, sabendo que estava assim desde muito tempo, perguntou-lhe: Queres ficar sadio? 7O enfermo respondeu: Senhor, no tenho ningum que me leve piscina, quando a gua se movimenta. Quando estou chegando, outro entra na minha frente. 8Jesus lhe disse: Levanta-te, pega a tua maca e anda. 9No mesmo instante, o homem ficou curado, pegou sua maca e comeou a andar.

Aquele dia, porm, era um sbado. 10Por isso, os judeus disseram ao homem que tinha sido curado: sbado. No te permitido carregar a tua maca. 11Ele defendeu-se: Aquele que me tornou sadio disse: Pega tua maca e anda! 12Ento lhe perguntaram: Quem que te disse: Pega a tua maca e anda? 13O homem que tinha sido curado no sabia quem era, pois Jesus se tinha afastado, porque havia muita gente nesse lugar. 14Mais tarde, Jesus encontrou o homem no Templo e lhe disse: Olha, tornaste-te sadio. No peques mais, para que no te acontea coisa pior. 15O homem saiu e anunciou aos judeus que tinha sido Jesus quem o havia tornado sadio. 16Por isso, os judeus comearam a perseguir Jesus, porque fazia tais coisas em dia de sbado. 17Jesus, porm, deu-lhes esta resposta: Meu Pai trabalha sempre, e eu trabalho tambm. 18Por isso, os judeus ainda mais procuravam mat-lo, pois, alm de violar o sbado, chamava a Deus de Pai, fazendo-se assim igual a Deus.

19Jesus ento deu-lhes esta resposta: Amm, amm, vos digo: o Filho no pode fazer nada por si mesmo; ele faz apenas o que v o Pai fazer. O que o Pai faz, o Filho faz tambm. 20O Pai ama o Filho e lhe mostra tudo o que ele mesmo faz. E lhe mostrar obras maiores ainda, de modo que ficareis admirados. 21Assim como o Pai ressuscita os mortos e lhes d a vida, o Filho tambm d a vida a quem ele quer. 22Na verdade, o Pai no julga ningum, mas deu ao Filho o poder de julgar, 23para que todos honrem o Filho assim como honram o Pai. Quem no honra o Filho, tambm no honra o Pai que o enviou. 24Amm, amm, vos digo: quem escuta a minha palavra e cr naquele que me enviou possui a vida eterna e no vai a juzo, mas passou da morte para a vida. 25Amm, amm, vos digo: vem a hora, e agora, em que os mortos ouviro a voz do Filho de Deus e os que a ouvirem vivero. 26Pois assim como o Pai possui a vida em si mesmo, do mesmo modo concedeu ao Filho possuir a vida em si mesmo. 27Alm disso, deu-lhe o poder de julgar, pois ele o Filho do Homem. 28No fiqueis admirados com isso, pois vem a hora em que todos os que esto nos sepulcros ouviro sua voz, 29e sairo. Aqueles que fizeram o bem ressuscitaro para a vida; aqueles que praticaram o mal, para a condenao. 30Eu no posso fazer nada por mim mesmo. Julgo segundo o que eu escuto, e o meu julgamento justo, porque procuro fazer no a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou.

31Se eu dou testemunho em causa prpria, o meu testemunho no verdadeiro. 32Um outro quem d testemunho em minha causa, e eu sei que o testemunho que ele d a meu favor verdadeiro. 33Vs mandastes perguntar a Joo, e ele deu testemunho a favor da verdade. 34Ora, eu no recebo testemunho da parte de uma pessoa humana, mas eu digo isso para a vossa salvao. 35Joo era a lmpada que iluminava com sua chama ardente. Vs, com prazer, por um tempo vos alegrastes com a sua luz. 6Mas eu tenho um testemunho maior que o de Joo: as obras que o Pai me deu para que as leve a termo. Estas obras que fao do testemunho em meu favor, pois mostram que o Pai me enviou. 37Sim, o Pai que me enviou d testemunho a meu favor. Mas vs nunca ouvistes a sua voz, nem vistes a sua face, 38e no tendes a sua palavra morando em vs, pois no acreditais naquele que ele enviou. 39Examinais as Escrituras, pensando ter nelas a vida eterna, e so elas que do testemunho de mim. 40Vs, porm, no quereis vir a mim para terdes a vida!

41Eu no recebo glria que venha dos homens. 42Pelo contrrio, eu vos conheo: no tendes no meio de vs o amor de Deus. 43Eu vim em nome do meu Pai, e vs no me recebeis. Mas, se outro viesse em seu prprio nome, a este recebereis. 44Como podereis acreditar, vs que recebeis glria uns dos outros e no buscais a glria que vem do Deus nico? 45No penseis que eu vos acusarei diante do Pai. H algum que vos acusa: Moiss, no qual colocais a vossa esperana. 46Se acreditsseis em Moiss, tambm acreditareis em mim, pois foi ao meu respeito que ele escreveu. 47Mas, se no acreditais nos seus escritos, como podereis crer nas minhas palavras?

I

Para articular o texto de Jo 5 convm combinar critrios narrativos e lingusticos, complementando-os com consideraes concernentes ao gnero literrio. Nos vv. 1-9c conta-se , depois do versculo introdutrio (v.1) sobre a peregrinao de Jesus festa em Jerusalm, a cura do aleijado junto piscina de Betesda. Faz parte desta narrativa de cura o dilogo de Jesus com o enfermo. O texto pertence ao gnero dos relatos de cura milagrosa.

A meno de que a cura se deu num dia de sbado, no v. 9d, leva a uma srie de dilogos entre os judeus em Jerusalm, o homem curado e Jesus, nos vv. 10-18.

No v. 19 abre-se uma extensa seco discursiva, que traz palavras de Jesus sem mencionar ainda os parceiros do dilogo, at o fim do captulo no v. 47. possvel distinguir subdivises, com base em indcios lingusticos. Os vv. 19-30 so emoldurados pela incluso o Filho no pode fazer nada por si mesmo/ Eu no posso fazer nada por mim mesmo. Corresponde a esta seco a seguinte, que introduzido pelas palavras Se eu dou testemunho em causa prpria, o meu testemunho no verdadeiro (v. 31).O tema do testemunho vai at o v. 40. Em continuidade com as seces anteriores, o v. 4 anuncia: Eu no recebo glria que venha dos homens. Este tema da honra/glria determina os vv. 41-45. Contrape-se a gloria dos homens glria de Deus. Se algum busca a glria dos homens, no pode entender o testemunho de Deus nas Escrituras de Moiss a favor de Jesus. o que narram os versculos finais 46-47.

Quanto histria da composio de Jo 5 no h concordncia entre os comentadores at hoje. Junto aos que favorecem uma tradio ou fonte pr-joanina encontram-se trs modelos: uma fonte dos smia, uma tradio independente na histria da cura, a dependncia dos evangelhos sinpticos.

corrente a hiptese de que Joo na composio do cap. 5 tenha utilizado uma fonte dos sinais/smia. Na forme em que R. Bultmann a defende, esta hiptese toma como ponto de partida que a fonte teria contido tanto a histria da cura em Jo 5,2-9c quanto o dilogo subseqente at o v. 18. O evangelista teria inserido, ulteriormente, a meno ao conflito do sbado, Jo 5,9d, e dele seriam tambm os vv. 19-47, menos os enunciados de escatologia futura que aparecem em Jo 5,28s., os quais seriam acrscimos da redao eclesial. Os representantes tardios da escola de Bultmann mantm a mesma linha[footnoteRef:4]. Aparentada proposta de Bultmann a de F. T. Fortna, que aceita um evangelho dos sinais, do qual proviria o relato da cura em Jo 5,2-9c, sem os dilogos subsequentes. Este relato teria sido o ltimo do cclo dos sinais antes da transio narrativa da paixo[footnoteRef:5]. [4: ] [5: ]

Segundo outros autores, a cura do aleijado remontaria a uma tradio ou a um texto-fonte independentes, que no teriam a extenso da fonte dos smia. a opinio de R. Schanckenburg[footnoteRef:6]. Este percebe coincidncias verbais com a tradio sinptica da cura do aleijado em Mc 2,1-12, como a meno maca (krbatos) ou a associao de enfermidade e pecado, mas para Schnackenburg isso no basta para aceitar uma dependncia literria direta entre Joo e a tradio marcana. S haverfia pontos de contato. De modo semelhante pensa R. E. Brown, o qual, com base em traos narrativos particulares (como a negligncia do enfermo em procurar prontamente ajuda para si) reconhece uma possvel influncia da tradio narrativa protocrist, que ainda deixaria reconhecer um acontecimento histrico[footnoteRef:7]. [6: ] [7: ]

Entre estas alternativas de se levar a srio a hiptese de que Joo, tambm nesta histria da cura do aleijado, tenha se baseado na tradio sinptica, mas de modo muito livre, como tambm alhures no seu relato da vida pblica de Jesus antes de sua paixo. Esta orientao representada, sobretudo, pelo professor lovaniense de NT, F. Neirynck, seguido por muitos de seus colegas e estudantes. Segundo Neirynck[footnoteRef:8], apresenta-se uma multido de concordncias conteudsticas e lingusticas entre Jo 5,1-18 e Mc 2,13,6. Temos primeiro a ordem dada por Jesus para que o aleijado carregue o seu krbatos (maca). Acrescentam-se a isso a relao entre enfermidade e pecado e o conflito do sbado. A este corresponde em Marcos a histria dos discpulos colhendo espigas no sbado em Mc 2,23-28 e do homem da mo atrofiada, curado na sinagoga no sbado, em Mc 3,1-6. Correspondem aos fariseus de Mc (2,24; 3,6) os judeus em Joo (Jo 5,10). Em ambos os casos o conflito leva deciso de matar Jesus (compare Mc 3,6 com Jo 5,18). OL principal obstculo [[184]] contra a hiptese da dependncia do QEvg em relao a Marcos consiste na diferena de cenrio: a localizao na piscina de Bestesda, com seus cinco prticos, junto porta das ovelhas em Jerusalm, dificilmente se deixa reduzir cena na casa da Galileia, com a abertura do telhado para se baixar o aleijado diante dos ps de Jesus. Aqui preciso aceitar uma evoluo da tradio. Alis, Joo no pode ser entendido como um quarto sinptico, tambm no na viso da escola lovaniense. [8: ]

Recentemente insiste-se novamente em levar a srio a participao do evangelista na narrativa como um todo[footnoteRef:9]. Isso se percebe j no relato da cura do aleijado em Jo 5,2-9c. de supor que Joo tenha combinado o relato de Marcos com uma tradio hierosolimitana de uma cura perto da porta das Ovelhas, acrescentando-lhe sua prpria interveno redacional. O elemento da falta de prontido do aleijado em querer ficar sadio pode ser visto como um exemplo do mal-entendido joaneu. O enfermo busca apenas a cura fsica, para a qual ele necessita de algum que o desa at a gua. diferena do gnero dos relatos de cura, o enfermo fica sem acompanhante, e o dilogo acontece entre ele e Jesus a ss. Tambm falta o coro final [Schlusschor] da multido louvando a Deus por causa do prodgio realizado. Parece ter sido substitudo, em Joo, pelo conflito do sbado. Nisso se mostra a mo do evangelista. Notvel ainda, no relato joanino, que no Jesus, mas o homem curado o primeiro a transgredir o mandamento do sbado. Nisso pode refletir-se a situao das comunidades joaninas, as quais, com sua interpretao mais livre da Tor, entraram em conflito com seu ambiente judaico. [9: ]

IIA cura do aleijado junto piscina de Betesda

No incio do cap. 5 encontra-se o relato da cura do aleijado junto piscina de Betesda, em Jerusalm. Exibe as feies tpicas de um relato de cura milagrosa, como mostra, entre outros, M. Labahn[footnoteRef:10]: introduo das pessoas envolvidas, descrio da enfermidade, aluso gravidade do caso, dilogo entre o enfermo e quem o cura, a cura propriamente e a prova: o prprio curado levando embora sua maca. Todos esses elementos apontam para uma tradio pr-joanina. Mas h tambm desvios da forma literria. As indicaes de tempo e lugar aparecem acrescentadas, e assim tambm a durao da enfermidade e alguns detalhes acerca do lugar da cura. [10: ]

Sob outro ngulo pode-se comparar esta cura milagrosa com outros relatos de sinais em Joo, como o sinal do vinho em Can Jo 2,1-11 e a cura do filho do funcionrio rgio em Jo 4,46-54[footnoteRef:11]. Aparece assim a seguinte sequncia de aes: [11: ]

- uma pessoa se dirige a Jesus invocando sua ajuda;

- Jesus rechaa o pedido;

- a pessoa insiste no pedido;

- Jesus d instrues em vista de atendimento;

- o parceiro do dilogo segue as instrues de Jesus e o milagre se realiza;

- segue-se a resposta da f.

No relato em pauta h alguns desvios deste esquema. Ningum invoca Jesus por uma cura, mas o Jesus se apresenta ao enfermo por iniciativa prpria. Tampouco Jesus pode rechaar o pedido que no houve, mas o enfermo que rechaa a oferta de Jesus sob alegao de suas experincias negativas. O enfermo no insiste, mas Jesus insiste em suja oferta. A cura se d antes de qualquer palavra de f ou de obedincia da parte do enfermo. E tambm depois da cura ele no expressa uma f imediata, mas apenas revela (anuncia) o nome de Jesus s autoridades judaicas, o que leva ao conflito entre Jesus e os judeus.

Dividimos a unidade textual em: introduo espao-temporal e situao pressuposta (vv. 1-4; quanto ao v. 4. veja adiante); dilogo entre Jesus e o enfermo (vv. 5-7); a cura (cc. 8-9c).

5,1-3 Os versculos iniciais so caracterizados pelas indicaes de tempo e espao. Aproxima-se uma festa no identificada dos judeus. Parece ser uma festa de peregrinao, pois Jesus sobe a Jerusalm para ali participar da celebrao da festa. O depois disso inicial se relaciona, no contexto do evangelho, com o segundo sinal em Can, relatado anteriormente (Jo 4,46-54). Desistimos das tentativas de trocar os captulos 5 e 6[footnoteRef:12]. O texto no diz verbalmente qual seria a festa. Alguns manuscritos antigos tentam preencher esta lacuna, mas no h como considerar originais suas indicaes[footnoteRef:13]. Os comentadores recentes ficam em dvida entre Pscoa[footnoteRef:14], Pentecostes (Semanas)[footnoteRef:15] e Tabernculos (Tendas)[footnoteRef:16]. Contra Pscoa e Tabernculos levanta-se a objeo de que ento teramos duas vezes em seguida a mesma festa, em detrimento da reconstituio de um ciclo anual das festas judaicas. Que se trata da festa das Semanas pode ser corroborado por algumas consideraes complementares[footnoteRef:17]. Por um lado, no contexto anterior vem tona da colheita (Jo 4,35-38), o que combinaria muito bem com a festa das Semanas como festa da colheita das primcias, 50 dias depois da Pscoa. Por outro lado, j uma tradio judaica antiga liga a festa das Semanas com a outorga da Lei e a celebrao da Aliana em Qumran. Isso se conjugaria bem com a referncia Lei e s escrituras mosaicas que ganha significao no decorrer do discurso de Jesus (cf. v. 39-47). Por estas aceitamos por suposto que em Jo 5,1 se trata da festa das Semanas[footnoteRef:18]. [12: ] [13: ] [14: ] [15: ] [16: ] [17: ] [18: ]

Tambm as indicaes topogrficas do v. 2 no se deixam interpretar sem problemas. A edio textual de Nestle-Aland prefere a lio Betzata, e acordo com os mais antigos e, sobretudo, os melhor atestados manuscritos gregos[footnoteRef:19]. Mas desde o Codex Alexandrinus encontra-se o termo Betesda, ainda preferido nas tradues at hoje. Tambm a expresso ep ti probatiki continua discutvel na crtica textual. provvel que o termo porta ficou subentendido (por elipse). Da: Existe em Jerusalm, perto da Porta das Ovelhas, uma piscina ..... Essa piscina tinha cinco prticos (galerias). O enigma desta expresso foi considerado resolvido desde a descoberta, em 1865, perto da igreja de S. Ana, de duas piscinas interligadas por prticos. Mas ultimamente ha indcios de que essa instalao data do tempo depois da destruio de Jerusalm. Alm disso, a dupla bacia muito profunda, e seria difcil descer dentro dela. Segundo A. Duprez[footnoteRef:20] houve neste lugar outras bacias menores, escavadas na rocha, que teriam servido para o culto de uma divindade teraputica, Asclpio (no oriente, Sarapis). Nessas instalaes, dificilmente se imagina uma movimentao da gua; por isso, L. Devillers[footnoteRef:21] prope que na fase primitiva do relato se tratava de um milagre junto piscina de Silo, que era alimentada pela fonte do Gion. A se entenderia o movimento da gua. O evangelista teria deslocado o milagre para a piscina de Betesda com o intuito de poder narrar duas curas nas piscinas de Jerusalm e para mostrar a superioridade de Jesus em relao s divindades teraputicas. A discusso em torno disso certamente continuar. O v. 4 explica a movimentao da gua pela atividade de um anjo, mas a crtica texual demonstra o carter secundrio deste elemento e o exclui do texto. [19: ] [20: ] [21: ]

Depois dessas indicaes topogrficas e cronolgicas, o v. 3 toma em considerao as pessoas envolvidas. Encontra-se junto piscina de Betesda uma multido de enfermos esperando cura: cegos, aleijados, coxos. A enumerao no por acaso. Em Mateus e Lucas encontramos a delegao vinda de Joo Batista para perguntar a Jesus se ele aquele que h de vir. A resposta de Jesus : Ide comunicar a Joo o que ouvis e vedes: cegos recobram a vista, paralticos andam, leprosos so purificados e surdos ouvem, mortos ressuscitam e a pobres anunciado o evangelho (Mt 11,4s.; cf. Lc 7,22). Jesus se v aqui como aquele que cumpre as promessas dos profetas. Cegos e coxos so contemplados pela promessa de Is 35,5s., cegos tambm em Is 29,18. A ressurreio dos mortos prometida em Is 26,19. Da os milagres de Jo 5, Jo 9 e Jo 11, curas de um aleijado e de um cego e ressuscitao de um morto. Jesus aquele no qual se cumprem as promessas dos profetas.

5,5-7 No v. 5 escolhe-se um da multido dos enfermos. O narrador sabe que ele j tem 38 anos de sofrimento. As leitoras e leitores pensaro, provavelmente, nos 38 anos da errncia no deserto do povo de Israel, antes de poder entra na Terra Prometida (cf. Dt 2,14). A iniciativa da cura no surge, como seria de regra, do enfermo ou de sua comitiva, mas do prprio Jesus, conforme o v. 6. Ele enxerga o enfermo a deitado, sabe da durao de sua enfermidade e o interpela. Com clareza o evangelista salienta aqui o papel determinante de Jesus e tambm seu saber acerca do ser humano (cf. Jo 1,48; 2,25; 4,18). A pergunta dirigida ao enfermo se ele quer recuperar a sade surpreende, mas resposta do aleijado no v. 7 mostra que estava certa. A resposta do homem parece um subterfgio, mas Jesus enuncia o desejo do aleijado por sade apesar da resposta dele, pois s assim ele poder falar a palavra que libertar o enfermo.

5,8-9c A palavra de Jesus consiste, segundo o v. 8, numa exortao dirigida ao enfermo. Ele tem de passar atividade: Levanta-te, pega a tua maca e anda! A frase se encontra praticamente idntica na cura do paraltico em Mc 2,11; cf. Mt 9,6; Lc 5,24 mas aqui o curado instado a ir para casa. Em Joo ele anda em redor (peripatin) como o beneficiado de Mt 11,5; Lc 7,22; cf. At 3,6; 14,10; isso provm de uma slida tradio narrativa, que recupera a promessa isaiana. O tema do paraltico que leva a sua cama atestado tambm fora da Bblia[footnoteRef:22]. Serve para provar o xito da cura, mas em Joo, alm disso, para introduzir a acusao de leso do sbado, que ser o tema da seco seguinte. A execuo pelo aleijado, no v. 9a-c, corresponde exatamente ordem dada por Jesus: ele se levanta, toma sua maca e anda em redor. O tema do levantar-se (egirein) pode ter, para Joo, um sentido mais profundo. Antecipa a autoridade do Filho para ressuscitar mortos, assim como faz o Pai (cf. v. 21). Esta autoridade manifesta-se tambm na histria da ressuscitao de Lzaro, Jo 11. [22: ]

O dilogo sobre a observncia do sbado (5,9d-18)

O relato sobre a cura do aleijado junto piscina de Betesda seguido de uma controvrsia entre o curado, Jesus e as autoridades judaicas acerca da legitimidade da cura, que foi operado num dia de sbado. O fato de que apenas v. 9c mencionado Aquele dia, porm, era um sbado visto pelos comentadores como prova de que o elemento s foi inserido secundariamente pelo evangelista ou por uma fonte que no idntica com a do relato do milagre[footnoteRef:23]. Outros, porm, como a escola de Lovaina (cf. F. Neirynck) apontam que a conexo entre a cura milagrosa operada por Jesus e a questo do sbado j existe na tradio sinptica (cf. Mc 2,13,6; Lc 10,13-17)[footnoteRef:24]. Segundo P. Borgen, uma conexo entre obras realizadas em dia de sbado e controvrsias subsequentes ocorre tambm em Flon de Alexandria[footnoteRef:25]. Flon discute a distino entre Deus, que no sbado pode trabalhar segundo a interpretao de Gn 2,2-3, e o ser humano, que deve observar o repouso sabtico (cf. Migr. 89-93). A conexo entre a cura e o sbado pertence, portanto, provavelmente tradio pr-joanina, que transparece tambm em Jo 7,21-24. [23: ] [24: ] [25: ]

No muito provvel a opinio de Tom Thatcher, que v na introduo atrasada de Jo 5,9c uma ironia instvel, isto , uma enganao consciente no s dos contemporneos (ironia estvel), mas tambm do leitorado (portanto, um truque do sbado)[footnoteRef:26]. Tal opinio se mostra falha, porque a ironia joanina sempre est relacionada tenso entre palavras de revelao de Jesus ou enunciados sobre Jesus e o mal-entendido a seu respeito por parte dos ouvintes. No isso que acontece aqui. No h outro lugar no QE em que o evangelista consciamente induz seus leitores ao erro. [26: ]

Quanto ao gnero desta seco (e de outras similares na sequncia posterior do QE) sugeriu-se ver aqui o modelo veterotestamentrio do rb, a disputa judicial entre Deus e seu povo[footnoteRef:27]. Tal disputa se caracteriza por isto, que falta um instncia de arbitragem. S importa quais so os melhores argumentos. Apesar de toda a proximidade do QE ao AT e no em ltima instncia a suas tradies profticas, a aplicao desse modelo literrio s controvrsias entre Jesus e seus adversrios em Jerusalm no convence. Por um lado, Jesus no toma sem mais o lugar de Deus, por outro, no falta em Joo a instncia judicial. Em nvel poltico, as instncias judiciais do povo israelita tm o poder de excomungar da comunidade e mesmo de infligir a pena de morte. E na perspectiva teolgica, Jesus que se revela como o juiz verdadeiro, ou, pelo menos, como aquele que realiza o juzo divino a todos aqueles que se opem a ele e assim, em ltima instncia, rejeitam a Deus mesmo. [27: ]

5,9d-13 A cena seguinte introduzida pela frase Aquele dia, porm, era um sbado (v. 9d). A frase lembra a similar em Jo 9,4, cf. tambm 19,14. Quanto ao estilo, revela a mo do evangelista. Para as controvrsias dos versculos seguintes, no to relevante se o dia foi mesmo um sbado, pois segundo o direito judaico os dias de festa eram equiparados ao sbado.

No v. 10, pela primeira vez, os judeus entram em cena. Contrariamente a Jo 4,22, onde a expresso designa a comunidade religiosa judaica, parece que aqui se trata de um grupo dentro do judasmo. Este grupo j foi mencionado em 1,19 como mandante da delegao que questionou Joo Batista a respeito de sua pessoa e atividade. Parece claro que se trata das autoridades judaicas em Jerusalm, sem que isso se caracterize mais adiante[footnoteRef:28]. Os judeus objetam, ao homem que foi curado, que no sbado ele no pode [[189]] carregar sua maca. Carregar fardos era uma da 39 obras consideradas proibidas pela Lei de Moises[footnoteRef:29]. Para o fluxo narrativo, importante ver que, em primeira instncia, a objeo dirigida ao ex-alijado e no a Jesus. Mas indiretamente este que est sendo criticado, como logo mais se mostrar. [28: ] [29: ]

O curado sai do jogo, passando a acusao para Jesus, j que este lhe havia ordenado a carregar sua maca e andar em redor. Notvel a expresso tornar sadio (hygi). O adjetivo, que j foi usando no v. 6, voltar no v. 14. Provm, provavelmente, da tradio pre-joanina e serve para a conexo do milagre de cura com as controvrsias subsequentes. O termo aparece nos relatos de cura helenistas, como foi observado[footnoteRef:30]. Assim, Jesus aparece como deus curandeiro. [30: ]

Na base da resposta do homem que foi curado, a investigao dos judeus transforma-se numa inquisio acerca da pessoa que o havia curado. O homem diz que no sabe quem foi quem o curou. O narrador acrescenta que, no lugar do dilogo, havia muita gente e que Jesus se tinha retirado dali.

5,14 Depois de um encontro entre o curado e os judeus, Jesus se encontra com o homem. No ele que encontra Jesus, mas Jesus que encontra a ele (como encontrou a Filipe, Jo 1,43), depois disso (met tuta, expresso joanina) e ele o exorta para que no peque mais. Discutiu-se muito sobre esta exortao. Em crculos judaicos parece pressuposta uma ligao entre enfermidade e pecado, com se refletes tambm na questo dos discpulos em Jo 9,2. A tradio sinptica de Ma 2,1-12 parece tambm conhecer essa ligao, ainda que no no sentido causal. A, Jesus perdoa primeiro os pecados do paraltico antes de cur-lo. Mas no se confirma uma conexo direta. Em Jo 5,14, a exortao de Jesus poderia ser esclarecida em vista da biografia do homem que foi curado: ele no utilizou todas as chances para ser curado, ele no pde ou no quis dar informao sobre quem o curou[footnoteRef:31]. Mas o versculo seguinte contradiz isso. [31: ]

5,15 Depois do encontro com o homem curado, este se dirige aos judeus para lhes comunicar que foi Jesus quem o curou. Esta nota tem sido interpretada de modos muito diversos, como mostra o artigo de R. Metzler[footnoteRef:32]. Segundo Metzler, parece que o homem curado se dirigiu aos judeus para denunciar Jesus. De fato, at ento o homem no deu nenhum sinal de atitude positiva em relao a Jesus; fica duvidoso se ele chegou a crer em Jesus. Contudo, hoje se aceita sempre mais uma viso mais positiva do ex-aleijado[footnoteRef:33]. Se ele vai aos judeus para anunciar que foi Jesus quem o curou, convm levar a srio o verbo anaggllein, que significa anunciar e no denunciar. Neste caso, o curado de Jo 5 um precursor do cego de Jo 9, sendo que este chega a uma adeso intrpida a Jesus e a uma confisso plena da f. Nesta mesma linha, os exemplos da Cappella Greca nas catacumbas romanas de Priscila ou na capela do Sacramento nas catacumbas de Calisto mostram o aleijado no ciclo batismal[footnoteRef:34]. [32: ] [33: ] [34: ]

5,16-18 O v. 16 poderia ter sido o final original da narrativa na tradio pr-joanina. Os judeus perseguem Jesus como transgressor do sbado[footnoteRef:35]. O imperfeito sugere antes um conflito permanente que uma ocorrncia nica. O vocabulrio prepara o tema da perseguio futura dos discpulos (Jo 15,20). Como os judeus perseguiram Jesus, perseguiro tambm seus discpulos. [35: ]

O v. 17 j antecipa o discurso de revelao de Jesus (por isso, geralmente atribudo ao evangelista). Jesus designa sua ao como obra e legitima-a dizendo que foi operada em unio com o Pai. Pois segundo uma interpretao judaica atestada por Flon, Deus trabalha no sbado, e por isso a obra de Jesus legtima[footnoteRef:36]. [36: ]

Os judeus, porm, segundo o v. 18, ficam farejando essa pretenso de Jesus de ser igual a Deus com o desejo de mat-lo por causa dessa blasfmia. Esta inteno ultrapassa o perseguir do v. 16, mas tem base na tradio sinptica de Mc 2,13,6 (cf. Mc 3,6!). W. A. Meeks tem estudado paralelos helensticos referentes igualdade com Deus[footnoteRef:37]. Pense-se aqui em [[192]] Apolnio de Tiana, biografado por Flvio Filostrato. Ele justifica diante do imperador Domiciano o ttulo de deus que seus adeptos lhe deram. De imediato, Apolnio exibe uma prova de suas capacidades sobre-humanas ao tornar-se subitamente invisvel aos olhos dos espectadores. Depois ele se justifica verbalmente. Os homens veneram as pessoas boas como deuses, porque encarnam a imagem de Deus. Tanto mais uma pessoa prendada com as capacidades de Apolnio pode designar-se como deus[footnoteRef:38]. A argumentao tem alguma semelhana com a de Jo 5 e tambm com a de Jo 10, onde Jesus cita (v. 34), a seu favor, o Sl 82,6, no qual todos os israelitas so chamados deuses e filhos do Altssimo[footnoteRef:39]. Segundo uma tradio judaica, todos os israelitas que ouviram no Sinai a voz de Deus e receberam sua instruo tornaram-se divinos. S pelo pecado, na ocasio da adorao do bezerro de ouro, perderam esse privilgio. E s pela observao irrepreensvel da Tor voltaro condio de readquirir esse privilgio (pense-se na segunda concluso da aliana, em Ex 34). Jesus pode ter-se referido a um tradio desse tipo. O assunto voltar por ocasio de Jo 10,34-36 (veja ali). [37: ] [38: ] [39: ]

Jesus no age por iniciativa prpria (5,19-30)

Em Jo 5,19 inicia-se a ltima parte do captulo 5. A partir de agora s fala Jesus. Depois da cura milagrosa (vv. 1-9c) e o dilogo (vv. 9d-18) segue agora um discurso de revelao. O estilo dos vv. 19-47 joanino, e assim tambm a teologia. O autor parece basear-se antes em tradies orais do que em fontes escritas. Quanto possibilidade uma camada ulterior nos vv. 28s., veja ali.

Os vv. 19-30 constituem, como j dissemos (acima, I) uma subdiviso autnoma. Esta emoldurada pelo enunciado de que o Filho no pode agir por iniciativa prpria, mas permanentemente age em unio com o seu Pai (vv. 19 e 30). As duas obras por excelncia de Deus, o Pai, so o dom da vida na ressurreio dos mortos e o julgamento. Com essa dupla expresso o Jesus joanino remonta tradio judaica. Ambas as obras so as que Deus pode fazer no sbado. Assim esta seco reata com a anterior e a encerra.

A composio da seco simples. Nos vv. 19-20 introduzido o princpio segundo o qual o filho no pode fazer outra coisa seno o que ele v o Pai fazer. A imagem pode provir do mundo do artesanato, no qual o filho retoma a profisso do pai. Nos vv. 21-28 aclara-se qual a obra que o Filho retoma do Pai: ambas as obras do dom da vida na ressurreio e o julgamento. Ambas so obras reservadas a Deus, que so confiadas ao Filho . O v. 21 fala do dom da vida, os vv. 22-23 do julgamento.

Nos vv. 24-28 explicada a obra do Filho. A promessa da vida e o exerccio do juzo so coisas que acontecem hoje: Vem a hora, e agora (v. 25). O mesmo tema volta nos vv. 28s., mas a promessa formulada s para o futuro: Vem a hora (v.28). Os exegetas discutem sobre o significado desta reduplicao; o que deveremos considerar na exegese dos vv. 28s.

5,19-20 O discurso de Jesus propriamente se inicia com a tpica afirmao joanina Amm, amm, eu vos digo. Ela confere s palavras seguintes um peso particular. Os primeiros versculos so ambos caracterizados pela imagem, tomada do mundo do trabalho artesanal, de que o filho aprende a arte do pai enquanto ele observa sua atividade e a imita. C. H. Dodd descobriu e descreveu esta parbola[footnoteRef:40]. Desde este ponto de vista explicam-se os conceitos do ver, do mostrar e do fazer. A relao de pai e filho no somente de natureza profissional, mas tambm familiar: o pai ama o seu filho. Esta dupla dimenso pode ser transferida para a relao entre o Pai celeste e seu Filho Jesus. Tambm este no pode fazer nada a partir de si, e s faz o que lhe mostrado e confiado pelo Pai. Pertencem obra que o Pai confia ao Filho as obras da criao (cf. Jo 1,3), mas tambm as da salvao, que tm seu pice na obra escatolgica. So essas as obras maiores que o Filho realiza, para admirao de seus contemporneos. [40: ]

5,21-23 Os versculos anteriores expuseram a dependncia do Filho em relao ao Pai: o Filho no faz nada a no ser o que ele v o Pai fazer. Os vv. 21-23, em compoensao, acentuam a dignidade do Filho. Terminam asseverando que cada um que honra o Pai honra tambm o Filho. A dignidade do Filho mostrada por sua participao nas obras que so reservadas a Deus s: ressuscitar os mortos e executar o julgamento. De fato, o julgamento reservado exclusivamente ao Filho. Deus nem participa dele. Nestes versculos, mostra-se a teologia joanina como reflexo prstina da Igreja sobre a dignidade de Cristo. A viso de Joo aproxima-se da de Paulo e de sua tradio (cf. o hino que Paulo utilizou em Fl 2,6-11 ou o incio da carta aos Romanos, Rm 1,3-4; ou, tambm, a frmula trinitria de 2Cor 13,13). Viso semelhante encontra-se tambm em outras camadas e escritos do NT [[194]] (cf. Mt 11,25-27; Mc 1,11par.; 9,7 par.; Hb 1,1-4). Para a outorga do julgamento ao Filho do Homem, cf. Mc 13,26s. par.; Mt 25,31-46.

Desde o incio, a divindade de Jesus encontrou resistncia. Bem cedo, judeus e, provavelmente, tambm judeu-cristos opuseram-se a essa viso. As grandes controvrsias de Jo 510 encontram aqui sua fundamentao. Pouco depois, rio vai combater a filiao divina de Jesus. Segundo ele, Jesus criatura, no igual ao Pai. Na hora presente surge resistncia metfora familiar que serve para articular o discurso sobre o Pai e o Filho. E. M. Boring[footnoteRef:41] expressa estas ressalvas para o mundo ocidental. A seu ver, exprime-se no discurso sobre Pai e Filho certo patriarcalismo, que posto em xeque no s do lado feminista, mas tambm por contemporneos que questionam a autoridade paterna como tal. Importa levar a srio tais questionamentos, observando, porm, que elas surgem principalmente do mundo ocidental. [41: ]

5,24-27 Nos versculos que aqui seguem promete-se vida eterna aos que ouvem a palavra de Jesus e creem no Deus que o enviou. Mais exatamente: a vida eterna no prometida, aqui, mas explica-se que todos os que ouvem a palavra de Jesus e creem no Pai, j passaram da morte para a vida (tempo perfeito grego!). Estes no chegam ao julgamento. Aqui se exprime a escatologia presente tpica do QEvg. Segundo a viso judaica tradicional, todo ser humano enfrenta a morte no fim de sua vida terrestre. E depois haver, segundo a convico farisaica, a ressurreio dos mortos (ou dos justos), com o julgamento e com a vida eterna para os justos. Segundo Joo, a morte verdadeira consiste na separao de Deus, a origem da vida. Desta morte pode-se passar, j agora, para a vida verdadeira, a vida eterna, quando se cr em Jesus e naquele que o enviou. Quem age assim, no vai a juzo. Esta viso encontra-se tambm em outro lugar no QE (cf. 3,15-18.36; 6,40.47; 12,46s.). A promessa de vida eterna encontra-se j em Dn 12,2, onde ela prometida aos justos para o dia do julgamento final, quando sairo de seus sepulcros. O papel do arcanjo Miguel assumido [[195]], em Joo, pelo Filho de Deus na funo de Filho do homem (cf. v.27; Dn 7,23s.). A expresso vem a hora completada no v. 25 por e agora. A partir daqui, os conceitos de morte e vida so reinterpretados. A morte consiste na separao de Deus como fonte originria da vida; e a vida a vida eterna, na medida em que vem de Deus. O futuro gramatical que aparece aqui, no enunciado sobre o ouvir da voz, da ressurreio e da vida, perde seu sentido de indicao temporal e , antes, de natureza lgica: o que deve acontecer, acontece agora, na hora do crer.

No v. 26, o evangelista abandona, por um momento, o iderio apocalptica da tradio e fala de Cristo como fonte da vida numa linguagem mais fortemente teolgica. O Pai tem em si a vida, e este pleno poder, ele o transmitiu tambm ao Filho. Aqui volta mente o Prlogo do QE (Jo 1,4), onde o Logos divino aparece como portador da fonte da vida. No v. 27, o autor volta ao iderio apocalptico. Os comentadores veem no v. 27 um eco de Dn 7,13s., embora nesse lugar no se exprima propriamente o julgamento, mas antes todo o senhorio at o fim do tempo. Uma confirmao da dependncia de Joo em relao a Daniel, neste lugar, pode transparecer na falta do artigo definido no v. 27: porque ele um filho do homem.

5,28-29 A injuno no incio do v. 28 No fiqueis admirados com isso pode ser conectado ao contexto anterior, como muitas vezes se faz. Neste caso, a partcula hti que se segue tem, antes, um sentido causal e poderia ser substitudo por dois pontos. Mas possvel tambm relacionar a injuno com o contexto subsequente e entender o hti como declarativo; a interpretao de H.-C. Kammler[footnoteRef:42]. Contudo, no faz tanta diferena no sentido. [42: ]

Os vv. 28s. retomam o v. 25, como geralmente observado. Os versculos se correspondem at na formulao, como mostra este quadro:

25:

28s.:

,

As principais diferenas so estas: os vv. 28s. dizem: vem a hora, sem acrescentar e agora. Tambm dizem: todos os que esto nos sepulcros em vez de os mortos; e o julgamento parece estar ligado s obras de cada um. Como entender essas diferenas? Trs modelos entram na discusso.

O primeiro modelo o da escatologia presente, representado sobretudo pelo comentrio de R. Bultmann, publicado em 1941 e seguido por numerosos autores[footnoteRef:43]. Segundo estes autores, o texto de Jo 5,28s. fala de uma futura ressurreio dos mortos no dia do juzo final. A escatologia presente de Joo pareceu ousada demais para a Igreja a no fim do sculo I e foi, por isso, completada pelo modelo clssico da escatologia judaica, que se encontra tambm em outros escritos do NT (sinpticos e Paulo, pelo menos em parte). Deste modo salvou-se o QE para a Igreja ps-apostlica. [43: ]

O segundo modelo o de duas camadas no EJ que se completam mutuamente. adotado pelos grandes comentrios da Gr-Bretanha[footnoteRef:44], dos EUA[footnoteRef:45] e de muitos autores da Europa continental[footnoteRef:46]. Segundo estes autores, o evangelista retoma sua caracterstica escatologia presente reformulando-a em termos de escatologia futura. Neste caso, no preciso tomar como ponto de partida o modelo judeu-apocalptico ou protocristo da ressurreio dos mortos no fim do tempo. Joo no fala, de fato, dos mortos, que ressuscitam, mas daqueles que esto nos sepulcros; os mortos so em todo o caso aqueles que j nesta vida ficaram separados de Deus por terem-se decidido contra Deus. Estas observaes j se encontram no comentrio de Josef Blank. Ultimamente, Jrg Frey, na sua obra magistral em trs volumes sobre a escatologia joanina[footnoteRef:47], defende com fora a tese de que ambas as escatologia em Joo devem ser consideradas de modo complementar. Sem a escatologia futura, o querigma joaneu seria incompleto. A Bultmann se deve conceder que as obras mencionadas no texto de Joo no so as obras boas ou ms do judasmo ou do protocristianismo, mas a f ou a descrena em relao a Cristo (cf. Jo 3,16-19; 6,29). [44: ] [45: ] [46: ] [47: ]

Um terceiro modelo interpreta Jo 5,25-29 de modo estritamente unitrio, e isso, a partir da escatologia presente[footnoteRef:48]. Tambm os vv. 28s. podem ser interpretados no sentido da escatologia presente, quando lidos direitinho, apesar de sua formulao que evoca a escatologia futura. O futuro gramatical seria semelhante ao do v. 25 (cf. tambm Jo 10,16). Segundo esta proposta, Jesus fala do tempo ps-pascal, quando as promessas do tempo final estaro realizadas[footnoteRef:49]. Este estudo merece considerao mais profunda, com considerao de outros textos escatolgicos de Joo, como 6,39.40.44.54. A favor desta proposta pode-se alegar que em Jo 4,21.23 no parece haver diferena semntica entre vem a hora (rkhetai hra) e a hora vem e agora (rkhetai hra kai nyn estin). [48: ] [49: ]

5,30 Assim como Jesus concede a vida em plena dependncia do Pai, assim tambm exerce o julgamento. Isso dito no versculo final, v. 30. De fato, Jesus no procura sua prpria vontade, mas a vontade de quem o enviou (cf. Jo 5,28). Por isso, seu julgamento reto. Literariamente, este versculo, pela retomada do v.19, encerra de modo eficaz a percope 5,19-30. Ao mesmo tempo, prepara a transio para a seco seguinte.

Jesus no d testemunha de si prprio (5,31-40)

Esta seco semelhante em sua composio precedente (Jesus no age por iniciativa prpria, 5,19-30) e subsequente (Jesus no procura sua prpria honra, 5,41-47). O princpio fundamental se encontra no incio da seco, e assim apresentado o tema. Sempre Jesus rejeita arrogar para si prprio honra e autoridade. Sua autoridade, seu reconhecimento e sua honra vm de Deus. Exatamente por esta razo, ele se eleva acima de qualquer autoridade humana. Deus mesmo opera nele, o legitima e o honra.

A seco 5,31-40 caracterizada pelo campo semntico do testemunho[footnoteRef:50]. No v. 31, Jesus contesta que ele d testemunho a favor de si mesmo (em Jo 8,12-20 prevalece outro ponto de vista!). Quem d testemunho a favor dele outro: o Pai, que por enquanto no nomeado (no v. 32). Acresce o testemunho de Joo Batista, agora uma figura do passado (5,33-35). No v. 36, o evangelista volta ao tema do outro que testemunha a favor de Jesus, e agora fica claro que se trata do Pai. Ele quem concede a Jesus realizar as obras admirveis que do testemunho em seu favor (v. 36), e ele testemunha tambm diretamente a favor de Jesus (vv. 37-38), como j o fez no passado nas Escrituras de Israel (v.39). Para valorizar esse testemunho mltiplo [[198]] basta a boa vontade para se deixar conduzir a Jesus e assim receber a vida (v. 40). [50: ]

5,31-32 Os dois versculos introdutrios so moldados na forma dos vv. 19 e 41 e expressam a dependncia ilimitada de Jesus, como Filho, em relao ao Pai; mas exprimem tambm a autoridade que o Pai lhe concedeu em vista de sua misso. Quanto verdade deste testemunho comparem-se Jo 19,35; 21,14 e 3Jo 9.

5,33-35 Alem de Deus, que d plena autoridade a Jesus na sua misso em ato e palavra, a principal testemunha de Jesus segundo o evangelista Joo Batista. Desde o Prlogo (1,6-8 e 15) ele aparece como testemunha a favor de Jesus. A parte narrativa do QE comea com uma grande seco sobre o testemunho do Batista a favor de Jesus (Jo 1,19-34). Este testemunho pressuposto e continuado no dilogo do Batista com seus discpulos em Jo 3,22-30: o Batista apenas o amigo do esposo e se alegra ao ouvir a voz do esposo no quarto nupcial (3,29); ele apenas vem frente do Messias, no o prprio Messias. A tarefa de Joo, de ser testemunha de Jesus, parece to dominante para o QEvg que ele nunca o chama de batista, mas dele s fala em termos de testemunha. Ele revezado em sua qualidade de acompanhante de Jesus por Lzaro nos caps. 11-12 e pelo Discpulo Amado nos caps. 13-21.

No tempo da controvrsia de Jesus com os judeus, em Jerusalm, depois da cura do aleijado, o Batista j havia terminado seu percurso. Jesus fala dele em termos de passado. Os judeus tinham enviado a ele uma delegao para saber quem era Jesus, mas no quiseram aceitar seu testemunho. Mais: s o aguentaram por pouco tempo e depois o eliminaram. O QEvg expressa essa experincia com a imagem da lmpada. Os judeus s quiseram alegrar-se sua luz por pouco tempo. Em termos de linguagem e contedo, nota-se a diferena com Jesus: Joo a lmpada, Jesus a luz do mundo (cf. Jo 1,4s.9; 8,12; 9,5; 12,46).

5,36 A seguir, Jesus trata do testemunho do Pai nas obras que este lhe concede. Estras obra conduziram admirao e f, como vimos nos primeiros sinais de Jesus (Jo 2,1-12 e 4,46-54; cf. 2,23; 3,2). Poder-se-iaacrscenarf as obra de que fala Jesus em Jo 5,17-30, especialmente as pelas quais ele faz vikver os mortos e no nome de Deus faz o julgamento. Mas estras obras s se percebem na f.

Quando se pergunta pelos antecedentes literrios da representao joanina do testemunho das obras a favor de Jesus, podem alegar-se textos do judasmo helenstico que falam do testemunho de Deus a favor de Moiss. Tanto Flvio Josefo como tambm Flon de Alexandria falam de tal testemunho, lembrando os sinais que Moiss operou quando da sada de Israel do Egito e quando da travessia pelo mar Vermelho e pelo deserto (Flon, Vita Mos. 2[3], 263.281; Flvio Josefo, Contra Ap., II, 53)[footnoteRef:51]. No NT, este tema utilizado cristologicamente em At 14,3 e Hb 2,4; 11,4. [51: ]

5,37-39 Assim como o Pai testemunhou a favor de Jesus nas obras que ele lhe concedeu realizar, tambm deu testemunho a favor dele na sua palavra. Essa palavra se deu na Antiga Aliana. Verdade que os israelitas no puderam ouvi-la, como tambm no puderam ver a face de Deus. Mas eles possuam o testemunho divino a favor de Jesus nas suas Sagradas Escrituras. Se as tivessem perscrutado, teriam descoberto o seu testemunho a favor de Jesus.

O testemunho das escrituras de modo novo um tema caracterstico do QE, mas no sem antecedentes e paralelos nos demais escritos do NT. A tradio sinptica conhece sobretudo o cumprimento de determinadas passagens das Escrituras de Israel em Jesus, em sua vida e em seu sofrimento. Joo em concordncia com os sinpticos mostra esse modo de proceder sobretudo no seu relado da Paixo. Em Jo 12,38 aparece, pela primeira vez, a frmula Assim havia de se cumprir. Mais caracterstico de Joo o uso da Escritura como testemunho a favor de Jesus sem a citao de determinada passagem[footnoteRef:52]. No esta ou aquela passagem, mas a Escritura como tal d testemunho a favor de Jesus. Jo 5,39 o texto clssico para ilustrar este modo de ver, mas veja-se tambm Jo 1,45; 5,45-47; 10,34: uma citao dos Salmos como testemunho da Lei. [52: ]

Quando os israelitas no conseguem perceber nas suas escrituras o testemunho a favor de Jesus, a culpa no da Escritura. So, antes, os leitores que no esto dispostos a abrir-se para a mensagem da Escritura. Assim retiram-se da fonte da vida.

Jesus no procura sua prpria honra (5,41-47)

Esta ltima seco do discurso de Jesus pode ser subdividido em duas partes: Jesus no procura honra prpria (v. 41-44) e: no Jesus que acusa os judeus, mas Moiss (vv. 45-47).

5,41-44 O conjunto dos vv. 41-44 emoldurado pelo tema da honra[footnoteRef:53]. Jesus no procura honra prpria (v. 41). So antes os seus adversrios que fazem isso, colhendo honra uns dos outros e no do Deus nico (v. 44), de modo a serem incapazes de ir at Jesus e de crer nele. Nos vv. 42-43 indica-se uma razo mais profunda da atitude errada dos adversrios de Jesus: eles no tm em si o amor de Deus. Assim eles recebem quem se apresenta em nome prprio, mas no aquele que vem em nome de Deus, Jesus. [53: ]

Salvo engano, estes versculos devem ter sido influenciados pela confisso de f de Israel, o Shema Yisrael , Ouve, Israel, de Dt 6,4s. Neste texto central do judasmo, Deus ordena a seu povo confess-lo como Deus nico e confess-lo de todo o corao. A influncia deste texto sobre Jo 5,41-44, como tambm sobre Jo 8,41s., foi pouco observado at agora. Em ambos os lugares so interligados a unicidade de Deus e o amor a ele ou a Jesus como enviado do Pai. Um eco deste mandamento encontra-se tambm em Jo 21,15-17 (o amor de Pedro a Jesus como expresso de sua relao fundamental para com ele, possibilitando seu encargo como pastor do rebanho do Senhor).

Se esta interpretao estiver certa, segue-se, para Jo 5,42 e textos similares do QE, que a expresso h agp tou theu deve ser entendida como genitivo de objeto. No EJ trata-se de ter a relao reta para com Deus, tambm como membro do povo de Israel. Quem no ama a Deus no amar o Cristo, seu Filho, e buscar sua prpria honra. Na Primeira Carta de Joo a situao diferente. O autor encontra-se em discusso com um grupo que arroga para si em alto grau a posse do Esprito, considera estar acima da Lei e poder afirmar que conhece Deus e o ama. A estas pessoas, a 1Jo diz que antes de tudo so amadas por Deus, antes de poderem dizer que amam a Deus (cf. 1Jo 4,7-21; tambm 2,15; 3,16s.).

5,45-47 Para a transio ao tema da honra para o de Moiss so apontadas diversas razes. J em Jo 5,39, Jesus afirmou que as Escrituras falam dele. As Escrituras de Israel so a Tor mediada por Moiss e tambm os demais escritos, principalmente os Salmos. Neste sentido, o tema de Moiss que acusa os israelitas j foi preparado no contexto imediatamente anterior. O texto lembra tambm Jo 7,19-23, onde Jesus, em conexo com a cura que realizou em dia de sbado, argi a partir da Lei de Moiss que permite a circunciso no sbado. Podemos ver tambm em Jo 5,45-47 uma referncia controvrsia sobre a aplicao da Lei de Moiss em torno da cura que Jesus realizou.

A convico de que Moiss escreveu a respeito de Jesus (v. 46) pode-se deduzir da viso global de Joo, segundo a qual a Escritura inteira, quando lida direitinho, fala de Jesus. Um primeiro exemplo encontra-se em Jo 1,45, nas palavras de Filipe: Encontramos Jesus, o filho de Jos, de Nazar, aquele sobre quem escreveram Moiss, na Lei, e os Profetas.

Os israelitas creram em Deus e em Moiss, como dito no fim do relato da sada milagrosa de Israel do Egito e da travessia do mar Vermelho, em Ex 14,3. Os israelitas do tempo de Jesus esto nesta tradio. A eles que Jesus dirige a palavra dizendo que no basta crer em Moiss, mas que preciso ler suas escrituras no modo certo: como testemunho a favor de Jesus. Quem acredita em Moiss tambm deve acreditar em Jesus, pois dele que Jesus escreveu. Quem no acredita em Jesus, no pode afirmar que acreditou nas palavras de Moiss. Deste modo, o cap. 5 se encerra com uma acusao contundente contra os ouvintes. O conflito continuar nos captulos 6 e 78.

III

Depois que, nos caps. 24 do EJ, Jesus levou sua mensagem sempre mais do centro para a periferia da terra de Israel, no cap. 5 ele volta ao centro e enfrenta a discusso com os habitantes de Jerusalm e os lderes do povo judeu em torno de sua misso. Um milagre estupendo, a cura de algum que havia 38 anos estava aleijado, levou discusso de sua ao feita no sbado e, paulatinamente, discusso sobre sua pessoa. Pela primeira vez, os judeus aparecem agora numa seco maior como adversrios de Jesus. A afirmao de Jesus de agir em unio com seu Pai celeste s os faz concluir que ele se torna igual em poder e ordem ao Pai. Esta afirmao provocou contestao no s no tempo do evangelista. Para entend-la bem vale a pena reler atentamente o desenvolvimento do discurso de Jesus em Jo 5,19-47.

Na leitura atenta nota-se que Jesus, continuamente, recusa colocar-se a si mesmo no centro. Jesus no age por iniciativa prpria (vv. 19-30), nem testemunha a favor de si mesmo (vv. 31-40), nem procura sua prpria honra (vv. 41-45 ou 47). Deus quem o deixa participar de sua obra, que o defende e o honra. Olhando por este lado, o discurso de vv. 19-47 no meramente, ou nem em primeiro lugar, cristolgico. Ele e permanece teolgico. Com a melhor tradio de Israel, o QEvg e, na sua obra, o Cristo de seu evangelho, reduzem toda o agir a Deus, o Pai. ele quem opera no Filho, o defende e o honra. No por acaso que, por isso, aparece nos versculos finais 42-44 o principal mandamento, a confisso do Deus nico de Israel e a ordem de am-lo. A partir da, a reivindicao de Jesus em Jo 5 e nas grandes controvrsias de Jo 510 merece renovada reflexo.