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The General Libraries

University of Texas

at Austin

PO 9 6 9 7 C37 N7 LAC

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RSITY OF

THE

N ETTIE LEE BENSON

LATIN AMERICAN COLLECTION

of

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N o v o s C a n t a r e s

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Q U A R E S M A & C. - E i v r e i r o s - E d i t o r e s

3 L - 2 - X 3 - A .

DOS

SALÕESM agistral collecção de b ellissim as m od inhas b rasile iras , to d as, p ró p ria s p a ra

serem can tad as em reun iões fam iliares, em festas colleg iaes, em recepções, c o n ­certos, e tc , e tc.

T raseu d o em cada u m a a ind icação d a m usica com que deve ser c a n ta d a .

: p o 3 .

Catullo da Paixão CearenseUm grosso volum e com e leg an te cap a co lo rida c h ro m o -ly th o g rap h ia .. . 2$000

E is o in d ic e :Os olhos delia ; O m eu ideal; O m eu m ysterio ; O que tu és; S en tim en to o c c u l-

to; Tu és a san c ta es tre lla , a san c ta luz; C lelia, a d e u s ! . . . ; Oh, r i m eu doce a m o r ! ; S ertan e jo e n a m o rad o —Ai, lad ràosinho , nesse lab io de c o r a l . . . tem d ó . . . D á -m e um b e ijin h o , não te pode fazer m a l . . . um s ó . . .; T a le n to e form ozura; O f a d a r io ; N asci p a ra te am ar, so rte ferina, foi m eu fado te a d o r a r . . . ; Os la ra n ja e s e m flo r; De joe lhos; Teu o lh a r tem um m ysterio ; P obre d a R osa !; Fifi; Aos t r o v a d o r e s ; A lguem ; Ao am anhecer; Ao V er-te; A’ m ais sa n c ta e á m a is b e lla ; I n u o c e n te d e ­sejo ; O que te deixo; No céo, n a te rra em tudo; p o r um beijo ; R esponde 1; A tu a cóm a; L am en tos; M ais que d ivina; D escansa; O m eu jasm ine iro ; A n o ite é ‘b e l la ; A inda assim ; U m a p e ta la ; Im precação á no ite ; O tram o n te d a lua; Ai d e m i m 1; P erdôa; D esalento; E ’s um poem a; In á ; P ara sem pre ; Um an jo .ex ilad o : A o d e s ­fra ld a r d a vela; Canção da saudade; P oesia evangelica; A lua; V olta; O r e g a t o ; Um ai em flor; D ecide; S erenata ; Perdão; S upplica; O bohem io; I m p o s s ív e l ; O lhos m atad o res ; S en tim en to occulto; A’ V irgem M aria; Com o eu q u iz e ra m o r r e r : H ym no aos astros; G uarda es ta flor; P assa rinhos adeus ! ; Como é f a g u e i r a ; A saudade ! A deus á m ocidade; O beijo ao luar; M urchas fo lhas, adeus; F o r m o s a , ca sta e bella ; E u te hei de am ar; A deus ó choça; A ro m aria do t r o p e i ro ; M ir a i ; O Crucifixo; S upp lica am orosa; C aptiveiro vo lun tá rio ; Ave-M aria; e m u i t í s s i m a s ou tras - todas lind íssim as.

L I V R A R I A D O P O V O — R u a d e S . J o s é , 7 1 e 7 3 .

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NOVOS CANTARES— FO R —

Catullo da Paixão CearenseCOM AS APRECIAÇÕES

d o s drs. Kocha Pom bo, Luiz Murat, L gas Moniz

(P eth ion de Villar) e Alberto de Oliveira.

BIBUOTHECA DA EIVRARIA DO POVO

Sai© X5B T^ITEIiaOLivraria d<r Povo - QUARESMA & G. - Livreiros-Editores

7 1 e 7 3 -HUA DE S. JO SÉ -71 e 731909

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Os editores QUARESMA & C., avisam ao publico que todcs os livros editados por sua casa — L ivraria do Povo — Rào de sua exclusiva propriedade litteraria .

Capital Federal, Julho de 1909.

Quaresma & C.

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C A TU LLO CEARENSE

Auctor da Lyra Brasileira — Cancioneiro Popular — Choros ao Violão e Lyra dos Salões.

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JT Theedera CearenseFallecida em 19 de « Dezembro de 1908.

Cultuando a Saudade, a Dor, que me faz crente,

que o coração alenta, exalça, estrélla, apura,

eu venho descansar, porque elie é teu somente,

meu livro — uma grinalda — em tua sepultura.

E, quando o céo, de noite, abrir-se todo em luz,

ao extase da lua, ao seu clarão funereo,

levanta-te da campa, e vae, de cruz em cruz,

chorando os versos meus por todo o cemiterio.

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Caíullo CearenseCorria a bella festa, serena e sum ptuosa, como sem ­

p re silo as daquelle doce e carinhoso lar do dr. Mello Mo­ra e s Filho.

Tinhamos ouvido j á estrophes deliciosas, magnificas, horhotoantes como catadupas de lavas, vindas da alm a do nosso grande A lberto de O liveira.

Tiuhainos já sentido cantos e musicas — tudo isso que tem p éra as alm as para o sagrado convivio, e que dá um to iii muito fino, muito vivo á jov ialidade dos corações q u e se encontram .

E continuávam os todos num a acclamação unisona e incessan te ao illustre poeta em honra de quem ali está­vam os.

Lá pela meia noite correra entre os convivas a no ti­c ia de que hávia chegado á casa o Catullo Cearense.

F rancam ente, este nome não me era estranho. Por v ezes me havia soado aos ouvidos, sob gestos inexpres­s iv o s, e sem nada que revelasse coisa alguma de exce­p c io n a l e extraordinário .

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10 APRECIAÇÕES

Não sei bem porque, mas é certo que uo meu espirito vagava esta idéa — fugidia e imprecisa — de que Catullo não era mais que um simples cantador de modinhas, um desses boliemios chefes de <dyra», bardo de violão ao luar, sabendo gemer, entre um pigarro e outro, uma por­ção de banalidades sobre o vellio estafado thema do amor.

Não fizemos, portanto, eu e uns intimos que discre­teávamos fóra do bulicio da festa, muito caso do annuu- cio, que se espalhára.

Dalii a pouoo, fomos chamados á sala, onde já encon­trámos todo aquelle mundo em fórma, numa grande espe- ctação de coisas solennes.

** *

O typo do cantor não deixou de impressionar-nos. Tal era, porém, o nosso estado de espirito que ali ficamos calados, um tanto incrédulos, e alguns até suspeitosos de que estavamos sob a imminencia de mais uma desillusão na triste v id a ...

Catullo Cearense é, de facto, uma figura que se des­taca, muito fóra do commuin. Tudo nelle tem alguma cousa de singular : a larga fronte aberta e illuminada; o nariz a Cyrano — exuberante, mas discreto; uns grandes olhos meigos e brilhantes; a bocca recortada, onde paira um sorriso quasi continuo, que se não sabe si tern mais de irrisão subtil ou de ingenuidade e modéstia. Um sem­blante, em summa, de bondade e de carinho, com o qual num momeuto se familiarisam todos. A cabeça dir-se-ia que se não move : acompanha os movimentos rápidos do tronco. O accionado — sobrio, amplo e m agnifico... A gesticulação — espontanea e flagrante — como si toda a

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alma agitada lhe viesse ao gesto e fulgurasse pelo olhar fixo e incisivo... Quando canta, tem uns arremessos para a frente, uns impe tos de ir para c im a ... Tudo isso dá-lhe nns ares de aguia incitada e captiva, a ancear por es­paço...

Mas j á me ia adiantando.Como disse, em muitos dos que ali estavam, a incre-

dnlidade não se dissimulava senão até as conveniências da etiqueta.

O cantor começou, sem grande ceremonia.Primeiro — uma modinha popular, de um perfume

suave de bosque, de um cândido bucolismo pagão.Depois — uma outra, na qual se accentúa a doce e

exquisita originalidade da musa anonyma e bohem ia... mas já transfigurada, ao sentir que se encontra com um devoto estranho. .

A assistência está entre o espanto e uma curiosidade anciosa, dir-se-ia pungente.

Ha nos olhares uma como interrogação de mysterio.O homem levanta-se, e vem para o meio do salão. E

desde aquelle instante — digam os que ali tiveram a for­tuna de estar — elle foi senhor daquellas almas, como si fosse a alma de todos n ó s!

C antou... creio que os ‘"Olhos delia” .Com* se vê, ó um th ema tão batido e que parece não

deixar mâis nada á inspiração dos poetas. Mas elle disse taes cousas, antitheses tão imprevistas, figuras tão OTigi- naes; teve tanta intensidade de expressões; poz na voz um timbre tão sentido, no olhar um tal incendimento, e em toda a acção um fulgor tão desconhecido — que a ma- ràvilha de todos esteve em sentir que aquelle artista ha-

APRECIAÇÕES 11

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12 APEECIAÇÕES

via descoberto aspectos, doçuras, brilhos novos nos olhos que cantava.

Na sala então se fez uma atmosphera de assombro : sacudido por aquelle verbo de fogo, arrebatado por aquella íigura de trasgo insurgido — o auditorio extasia, se, illumina*se, exalça-se, como se a flamma daquella alma passasse subitamente para todas as alm as!

E quando o vulto do cantor minguou na sala,deixan­do escapar--se-lhe doslabios o ultimo verso — houve uma verdadedeira explosão de delirio, tão espontanea, tão ru i­dosa, tão vibrante, como se um formidável tufão barafus­tasse naquelle ambiente. Não eram palmas, eram gritos de acclamação, transportes, arrebatamentos—quasi insania e desatino — em que se confundia o enthusiasmo daquella assistência allucinada, a envolver o cantor num turbilhão de alaridos, num frêmito de ternura vehemente, impetuo­sa e com movida.

E dali por deante, a sensação que se tinha naquelle ambiente era qualquer coisa de semelhante a alternativas de bonança e vendaval: ora (einquauto se ouvia)—um grande silencio de almas que se reprimem : ora (acabando de ouvir) — um trovejar de victoria. Cada canto era uma ovação!

** *

Digo-o, agora, ufano desta justiça, e sem receio de que a minha sympathia e a minha admiração me enga­nem : Catullo é um grande a r tis ta !

Depois daquella noite, já tive occasião de ouvil o mais uma ou duas vezes. Sei ainda que outros m uitos, poetas notáveis, grandes intellectuaes o têm apreciado e têm sentido a mesma surpreza que eu senti. Ainda nin-

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APRECIAÇÕES 13

g u em me fez reservas que,ao menos,me deixassem suspei­to so contra o meu coração.

Digo-o desassombradamente: Catullo é um grande p o e ta .

A meu ver,tem elle na alma alguma cousa mais que a ex u b e ran te e enthusiastica poesia do nosso povo: nos s e u s versos, nos seus cautos, fala a excelsa musa anonyma e im m orta l da raça.

E sente-se isso tanto mais,quanto essa musa, pelo es­tro d es te poeta, nos fere na alma umas grandes notas, que d izem como ella se commove agora, apercebida do que foi nos tem pos do velho culto, saudosa das edades mortas, e u fa n a de resurgir para outras edificações.

R o c h a P o m b o

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C A T U L L O C E A R E N S E

A lii está um homem que, como Hesiodo, se sen tira , tam bém em balado pelas musas. Em sonhos, trouxeram - lhe a corôa de loutos. Acordou poeta. Quem lhe pene­trasse os m ysterios da alma, lá encontrara 0 fogo que P indaro dizia poder levar a todas as cousas, para que ellas fallassem dos homens e dos deoses. E ’,porventura, essa a foute que desalterao nosso poeta. A poesia é a sua Cad- mus. A im aginação é o monte Sagrado a que subira, em meio ao alvoroto do passaredo.

Repousava o aedo, e, então, inspiradas abelhas vie­ra m fabricar-lhe sobre oslabios o doce mel do Helicon.

Os deoses, d e s fa r te , auspiciavam -no ás musas. Ra surpresa da musica e da rim a, tão nossa e tão flagran te­m ente hauridas ua nossa naturesa, Catullo dá-nos o en­levo de um a doce e saudosa veutura que se apagára ao contacto das asperesas da v ida...

Que fórm a espiritual despertára-lhe o desejo de des­co b rir no mytho do amor, sempre rad ian te e intangivel

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nos seus symbolos, nos seus enganos, nas suas duvidas e nas suas alegrias, um novo modo de nos ferir o coração e de nol-o agitar aos anceios de yma outra Corinna ?

Antigamente cantava se por tudo. A vida era um hymno. Louvavam-se os deoses, choravam-se os mortos, celebravam-se os hymeneos, cantando. Os tempos da colheita e da vindim a eram exalçados pelos lyrodos. Os hymnos homéricos são pinturas desses costumes ingé­nuos que os berços e os requietorios conservam, como a expressão do sentimento religioso do tempo. O adultério d7Alphrodita, surprehendida por Héphcestos, inspira o aedo, e essa historia, cantada entre os jovens pheacianos, arrebata-os e elles dansam semelhante^ ás Clodones lascivas...

AGrecia, como todos os paizes, entoou, durante secu- • los, poeans, threnos, hymeneos, hyporchemes.

Só muito mais tarde é que, com os aperfeiçoamentos e as combinações da musica, a alma de cada povo se ador­na com melodias mais ricas e uma poesia mais sabia.

Catullo Cearense é o nosso Archiloco. Illuminou a nossa modinha, dando-lhe formas rythmicas novas; vul- garisou, através dos seus versos e do violão, que transfor­mou nhiraa arma de combate, a musica essencialmente brasileira. Porque não é ckifíicil notar que nós também recebemos a influencia da tradição, neste ponto. Cadá povo, cada cantão da Grecia, teve, em matéria de canto e de musica, seus hábitos hereditários, sua rótina ob­scuramente local e quasi inconsciente. O talento, porém, déle as particularidades obscuras e monotonas da t r a ­dição; evoca idéas mais nitidas, mais elevadas e consti- tue uma arte nova, por assim dizer, define o canto e o metro com uma energia superior, destinada a consolar, a

16 APRECIAÇÕES

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exaltar on a uniras corações no extase, no recolhimento, na fé. Resentiam-se as nossas trovas daquelles hábitos hereditários. Eram dolentes, monotonas, vaporosas. Co­meçaram abrasando-nos; nos últimos tempos, porém, enchiam-nos de um tedio insupportavel.

Eram, se é licito assim nos exprimirmos, instincti- vas, preparatórias de uma vida affectiva mais nobre, mais intellectual, mais agitada.

Catullo Cearense, como Archiloco, menos canta que recita. Mas fal o com tan ta arte que a musica, genuina­mente nacional, não perde um só dos seus encantos, da sua apaixonada e elegiaca vibração, dos seus movimen­tos leves, aereos, ondulantes... Não faltam aos versos, tão vehementes como as musicas que escolhe, pela ori­ginalidade e pela feição lyrica, a graça, o pathetico, a inspiração pessoal.

O violão, que era um instrumento desprestigiado, companheiro inseparável das badernas e dos refestelos, o nosso i]lastre troveiro rehabilitou, impoudo-o nos salões, tornaudo-o um irmão do piano, do violoucello e do violi­no. Outro é hoje o seu dialecto, a amplitude do seu aceeuto. Sua inspiração é de uma simplicidade ele­gante, sem se haver despojado completamente das suas origens populares. Expungiu-se das espurcicias e das ba- soíias dos bilhardões; elevou-se, afíirinando-se como um veucedor para quem a vida se tornara um festim glorioso. Foi chamado a embellezar concertos aristocráticos, a coroar os successos dos salões, a ser o interprete de Ar- chiioco. O violão ficou sendo nas nossas reuniões o que e ra opliorminx nas festas brilhantes dos triumphadores gregos.

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A P R E C I A Ç Õ R S 17

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Catullo Cearen&e reunio á graça da musica o vocá­bulo exquiê, demonstrando, destfarte, que os hellenos tinham ràí&o ao distinguir nas letras duas linguas—a dos prosadores e a dos poetas. Esta possüe “ um ar particular de nobreza e dignidade* que se não encontra üaquella.” Deve ser bello e altiloquo o vocabulário poético.

Calcando Seus versos sobre musicas j á feitas, teve m ui­tas vezes de sacrificar a püreza do metro. Era mister a r ­ranjar palavras que acertassem no compasso da tvalsa ou dá polka* algumas tão lindas, e qtie teriam sido esquecidas, se Catullo não as galvanisasse com o calor das stiás estro- phes, com o enthusiasmo e o colorido da süá imaginação.

Parecia cousa impossivel destoar da tradição, neste pohto. O verso havia de conservar a monotonia e á dolên­cia da toada.

De lá onde estás, Arinia,Não podes meu canto ouvir,Pois que a voz de um coração Tão longe não pode ir.

ou então :De que me serve esta vida.Tão cheia de dissabores,Se Julia por quem eu vivo Não me compensa os amores.

Como se vio, a modinha nacional já não servia ao e n ­levo e ao desafogo de hinghem. Os cantares dos trovado­res tradicionaes já não davam forma aos nossos sentim en­tos. Catullo não deixoü morrer as velhas arias; animou-ás com versos novos e poz ao serviço d’essa lyrica o violão, que elle maneja com elegancia e a quem restituiu a p r i ­mitiva prosapia. Fez o contrario de certos trovadores‘

18 APRECIAÇÕES

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APRECIA ÇÕÈS 19

depóis de readquirirem a voz sepultada na mudéz dá E dade M édia: — “ ao envez de adhérir diante da vàrie- d aàe de formas novas qtié sé introduzià á tradiçáo do passado procurou, atravez ò genio musicista nácidtial, o que hàviá de nláis afrectivo, de mais apaixonado e de menos rhetorico e applicou o ás suas tiovás é verdadeira­m ente interessantes combinações poeticas.Esquèéeó, mui de proposito, atradiçào, háo só péla müsicU dé um brasi- léiriâhio tióvô , Senâo fcambein pela linguagem, qtie nada teni dé vulgar.

As divagações nociuHiaS, que sé liaviaiü COrrompído nas invocações dos seresteiros, não perderam com 0 hovo fcrovéiro o encanto diversivò. È ellãs qué haviam enlou­quecido os olhares, infiarumado os córáções e detrámadó lagrim as com as naturesas melancolicâs, tios SolareS dà }?ròvença é ao tempo de Sá Üé Miranda, reVigorarám-se agorâ e constituem o mélhor bocado dos nossos salftes. Assim como o eultismo romano modificou as tradições gaulezas, dando-lhes uma vida nova, áSsim tambein Ca­tullo Cearense reanimou a nossa trova, itistiflandò-lhe utn caíor que nào experimentara até etitãó, timiy f ekemeticiá dramatica ainda não vista e uma efflorefeçténcia de senti­mentos, até hoje occulta nos mystérios jé a Sâüdadé ê dâ inspiração. í?ói a ingenüa Griselides,/nào sepUltâdá nas àbobádaa do cástéllô toqüeirb, expusftá á brtttfclidftde bá- roniàl, inàs ahatidòtiadá áfc virâçfifeii éolitariáfe ê ínélati- colícas daà ãveclas, oti, éntâo, a sq^acotéar, como umá ba- gaça, na fànfarronâda imptidiéa ^los goliárdos, em tioites de lu ã r___

Que era precizo, antéS d e ttp ló ! Comó o Sliismatico d ’Àüvergne, furtar-se ao onUS d^a imitação tradicional. « Eoi com esforço que chegtiei a palitar de modo que O

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20 APRECIAÇÕES

meu canto se não parecesse com o de ninguém», ponde­rava um troveiro. « Aborrece-me dizer que cboro e sus­piro de amor; porque toda a gente sabe dizer outro tanto. Quizera sobre arias agradaveis, versos novos» exclamava, outro. São os dois casos de Catullo : rompeo com a trad i­ção e esparsio sobre a musica, essencialmente brasileira, — tangos, walsas, polkas, skottischs, arias etc. — versos lyricos, eriginaes, impetuosos, apaixonados, dramaticos.

Não é pequeno o cabedal com que o imaginoso poeta concorreu para a nossa sentimentalidade lyrica, que será vista, então, sob um outro aspecto.

Interessantissima a zona em que se espraiam as nos­sas crenças populares, crystalisadas em provérbios, em contos, em canções. A alma do nosso povo assemelha-se muito á da Allemanha.

E? tambem vasta, vaga, fluctuante e fecunda, como dizia Miehelet. Yae e vem, sorprendente, transbordante. Ha em cada coração uma fonte de inexgotavel in sp ira ­ção. São ondas que se vão suceedendo indefinidamente, espalhando pelas praias e pelos campos, na sua barbara e doce linguagem, uma poesia a agitar-se em uma especie de crystal fluido, dando aos contrastes da nossa alma um a extranlia transparência.

Qualquer que\$eja o nosso esforço, quaesquer que se ­jam as nossas conquistas, as nossas audacias, os nossos emprehendimentos, o\nosso surto para a democracia, se ­remos sempre uma cl^ilisação, em cujo centro de crys­tal, maravilhosamente;virgem, permanecerá esse fluido d’onde promana, para tddas as antitheses interiores e e x ­teriores da vida, um vasio gcnio idealista.

Por toda a parte um pantheismo magnifico, in cen ­dendo livremente as veias da j>oesia ! A dor não anda só

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APRECIAÇÕES 21

n a harpa dos poetas. Caminha n’um clarão de esperança, agitando o sen thuribulo, atravez o esplendor dos céos e das montanhas. Não asylamos os sonhos inquietos de Kcer- ner, e, sem sermos servilmente disciplinados, já começa­mos a escrever,com alguma originalidade, a nossa appari- ção no scenario politico do mundo. Caminhamos de va­gar, mas com firmesa.

Quando tudo estiver prompto, saberemos correr. A liberdade desvendará os mysterios da civilisação. E o nosso amor, o nosso poder, não ficarão circumscriptos á magestade dos nossos valles e das nossas cordilheiras.

A fóra o serviço que Catullo presta ao nosso folck- lore, ha muito que adm irar nos seus versos não destina­dos ás arias, que fazem o encanto das nossas reuniões. E ’ um poeta de representações mais subjectivas que ©bje- ctivas.

E ’ pela força das sensações que se obtem a realidade da percepção, disseram-n’o já com justesa.

Uma observação que M. Guyau havia feito, noto-a no poeta, que tanto tem dado que fallar de si nestes últimos tempos. A litteratura oriental e romantica, em lugar de insistir sobre a percepção objectiva, insiste sobre a emo­ção interior; em lugar de se apoiar sobre o sentido, muito intellectual da vista, empresta tambem suas imagens ás do tacto, do olfato, ao sentido interno. Suscita assim re­presentações muito mais precisas, ainda que menos for- maes. A força das sensações, eis tudo : nada de nos iin- perrarmos na crença de que os symbolos devem gyrar sobre superfícies immoveis. A inércia das cousas, como formas suggestivas da arte, é um contrasenso. A liber­dade sauta é a poesia, e a poesia é a religião livre. No seu dominio não ha propriamente objectos da imaginação e

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J 2 2 ^ ^ A J ^ C I A Ç Q E S

otyectps da realidade* íHia identifica-os pelas transposi­ções. A eternidade não é o grande factor da poesiq. Sendp o aipor a sua principal razão de se?, seus symbolos nascem do qne ó tpófcil, porque o soffyimeuto sendo inherepte £ evanescepeia das cousas, a poesia sd ppde inspirar-se pp que passa,pois só o que passa é que soffre. Passar é vi?er e viver é soffrer.

A maior parte dos poetas sorri çomo A. de Musset; sorriso que e uma lagrima»

Bn te plaigmnt, on se console.$ia a ras$o des versps da Catado \ eis o motivo do rui­

doso sueeesso doa seus cantares, dos seu tfireuo», em uma p a la m , das suas melodias, de um sabor tão nosso 5,* * ^as^maudo-se, consoiu-se e nós nos consolamos também» ao ouvil-o vibrar as cordas da saudade e do mystprlo PO violão, que o seu talento salvãra da desmoralisação e do esquecimento.

Nada nos fas tão gyaude como nma grande dor jdisse-o um. poeta* £ ó a grandesa d?essa dor que pUe interpreta, çomo ninguém, ao seu instrumento predilecto, tornando-se assim tão querido da possa sociedade*Pepóisé a respeito, a paixão da sua arte,que sonhe incutir em tpdos os corações* que o tornam o objecto dos nossos carinhos e do nosso in te ­resse* Agrilhoou-nos ã sua poesia, ã sua xnmeiva, hl fasen- do do soífrimento uma glorificação e uma transubstancia- ção, enleiou as almas no mesmo estase, no mesmo cqlto. Quem soffre, eleva-se, e é por querermos essa elevação, que, embevecidos, o escutamos n ’essa especie de eclypae do coração que dã entrada a tqdo,s os mysterios, uo momento solepne em que a poesia e a musica nos fazem divagar por mundos desconhecidos aos nossos sentidos. Tem o segre­

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APRECIAÇÕES

do esse homem bom e simples de nos fazer conceber o m ysterio. Conceber só, sem peuetral-a. W o troveiro do que apenas se entrevê. E, ao expor essa maneira de descer­rar, a meio,as cousas não vistas pelos sabios e pelos philo- sopbos da secca e esteril relatividade, cousas que aceen- dem nos espiritos esse fogo de formas ideaes tão santo como o deMoysésou o de João de Patmos, Catullo desafo­ga os corações e enlaça-ros uns aos outros, abrindo-lhes ho­rizontes infinitos. Suas imagens são vivas, originaes, muito subjectivas, ás vezes, e, porisso mesmo, sóbrias e seductoras. E ’ com a graça no dizer os seus versos, no cantar as musicas escolhidas, entre as que o tempo havia amortalhado, que provou ter Schellihg razão, afirmando ser a graça a expressão do amor. Com ella e por ella se am a e se é amado, e, elevando o seu throno no ponto do coração mais sensivel e doloroso, edifica um império sem limites. Amar, amar, amar! Tortura do infinito a transbordar de uma humanidade para outra, de um para optro seculo,indifferente ás linguas, ás raças, ásphi- losophias, ás religiões. Ahi vão o amor, a poesia, o genio,com as suas visões apanhadas fóra dos sentidos ex­ternos.O prestigio da musica está na razão directa da recondici- dade da affeição. Cantando as suas trovas, o poeta mara­nhense adoça-nos o caracter, pois 4 4 é cantando que nos dirigimos á fonte intima da existencia” , escreveo Mme. de Stael. Porque, notae bem, sem entendermos a letra de uma aria,vamos afogar-nos na enseada das suas lagrimas? W porque ella não nos engana; o seu leito é a affeição; os differentes sons são gráos de calor do amor, e o pensa* mento que delia emana, o reflexo variado da luz divina»

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24 APRECIAÇÕES

Dizia o grande R icher— o inolvidável discipülo do revelador do sentido espiritual do Apocalypse — que os sons augmentam a energia da vontade e não as claridades do entendimento. A pintura e a poesia dirigem-se para tal ou tal idéa, a musica só se dirige para o que lia em nós de instinctivo.

Faz compreliender o que se nos afigura incontestá­vel, o sentimento, a j>aixão, o amor, sob todas as suas formas. Entra na vida e não no frio raciocinio, que está fóra delia. A linguagem do çéo deve ser uma derivação da affeição e do proprio pensamento.

Pois bem, é esta a linguagem do violão de Catullo Cearense, e o seu estylo metaphorico, a traducção de algu­mas d’essas percepções espirituaes, confiadas á memória dos homens.

Despedindo-nos do poeta, desejamos receba o seu l i ­vro o acolhimento que é de esperar, tratando-se, como se trata, de um poeta tão novo, tão simples, tão nosso.

L uís M ü r a t .

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C A T U L L O C E A R E N S E

Ouvi-o pela prim eira vez uo salão do grande poeta, Luiz M nrat.

D edilhando o seu maravilhoso violão—avatar m oder­no do lieptacordio lielleno—Catullo n ’essa noite electri- sou o anditorio , a evocar, com as modinhas da sua lavra, a alm a popu lar brasileira, tão bizarram ente idealista, tão aro inaticam ente apaixonada. E lembrei-me então dos Alinnesingers da terrivel e deliciosa Germ ania, Dietmar iVAst, Walíer von der Vogeliveide, N ithart e tan tos outros que von der Bagen e ScJioenbach souberam desinsular das nevoas mysteriosas do passado. Parece, á prim eira v is ta , que entre a alma germ anica e a alm a brasileira ne­nhum pon to de sim ilhança existe, em virtude das suas respectivas origens ethnicas e condições mesologicas.

M i n n e s i n g e A S — N om e dad o , n a E d ad e M edia, aos tro v ad o re s e t r o v is ta s d a F ra n ç a . V iv iam n a c ó rte dos p r in c ip es e e ram , pela m a io r p a r te , n o b re s .

( N . dos editores )

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Ma& reflectiu do-se um pouco, vereiups que nume rosas pontoa de contacto podepa ser assignaíados eu r̂o ambas.

viveu o povo brasileiro, suppliciudo como o povo allemão, pela autooracia de governos implacáveis 1

Ainda, em nossos dias, não serão as oligarchias es- taduaes, sob a capa do federalismo republicano, outros tantos feudos, zombando de platônicas constituições^

D 7ahi promana essa profunda tristeza com que a al­ma popular brasileira? iinpotepte para reagir, se mani­festa ás confidencias da sua lyra, que a surdina das la- grymas melancolisa tanto.

Essa melancolia, porém, na sua insistência, quasi pathologiea, transformara o Folk-lore nacional n’uma elegia mono tona e eterna.

Ouvir uma das nossas modinhas era ouvir todas. Sempre o mesmo plangente acompanhamento, em tom menor, sempre os mesmos queixumes piegas, sempre as mesmas redondilhas, ás vezes de uma banalidade pueril.

Catullo revolucionou tudo isso: transformou o acom­panhamento, dando-lhe modulações imprevistas; m e tri­ficou com uma polyphormia de rhythmos arrebatadores; descobriu suggestivos leitimotive, ha muito em lateneia no coração popular; entrou os salões, e obteve calorosos applausos, revelando, destfarte, a verdadeira belleza do violão brasileiro, nelles enthronisando de novo, a nossa modinha, lamentavelmente ochlocratisada pelas espelun­cas. W esse o seu maior titulo de gloria, não ha negal-o.

Quem já ouvio a Romaria do Tropeiro, Paisagem, Trovas d? Aldeia e o Sertanejo Enamorado etc. etc., pode dizer que ouvio o coração do serrano brasileiro, na sua dolorosa adoração pela bem amada, nas suas ingênuas

26 APEECIAÇÕBS

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ambições, 110 seu desespero dyouisiaco, frente á frente com as formidáveis forças da natureza tropical, com que sedigladia sem tregoas,respeitando e amando a Deos, á mulher e á terra — os seus trez supremos ideaes irre- ductiveis.

Sinto escasseiar-me tempo e espaço para traduzir 0 effeito que me produzio nos nervos 0 ardente bardo po­pu lar. Apenas direi que, ouvindo-o, me parecia ouvir a palp itação profunda das florestas da minha terra, a cuja som bra doudejam borboletas de azas onde coriscam pe­d rarias, lá, onde passam onças, roçando 0 pêl© de velludo negro, malhado de ouro, nos troncos seculares dos jaca­ran d ás em flôr, emquanto a araponga fanfarreia no seu clarim as alvoradas gloriosas, de sentinella no mirante verde das palmeiras soberanas.

D r . E g a s M o n i z B a r r e t o d e A r a g ã o .

(Pethion de Yillar)

APRECIAÇÕES 27

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Caiülle, a proíençal

H ouve um poeta uma vez, entre os que lembra a historia D a Provença de antiga e immorredonra gloria,N ão menor que Bertrand, não menor que Berul.A sciencia do cantar, amqda ao Norte e ao Sul,A gaya-sciencia amiga, amiga o festejara Desde o berço^ a infundir-lhe o jôrro de luz clara Q ue é a alma da poesia— espirito subtil —D a doce lingua d ’oc e da aspera de oil.Ninguém tangeu como elle o magico instrumento E o fez melhor ouvir variado, ou no lamento Do descorl amoroso e soluçado planh,O u no gorgeio da álba — a canção da manhã.N inguém á sua dama entreteceu mais bella A chansó respeitosa, ou, fiel, & pastoreia T ra s la d o u mais sentida a queixa do zagal.E r a e s te trovador — Catullo, o provençal.

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Não Ille vaeis procurar o nome entre outros nomes; TPempo iuutií assim em teü afan consothés.Delle esqüeCeüse a H istoíiá, oti talvéz o ésqüêeeu Pará, em oiitra região, sob a htz de oütro céò,Érn outro poetá o lembrar, digno d*aqueiíes dias.

Esse outro poeta és tu, com as tuas liarmonias,Com o teu estro a vibrar nas cordas do violão, Fazendo ao que te escuta ir-se a imaginação,Ir-se o espirito álêih, âlétn..» por âiéhá fórtt,Ao bom tempo feliz, ao bom tempo de outrora,Em que eu sei que cantava esse de nome igual E genio igual ao teu — Catullo, o provençal.

A l b e r t o d e O l i v e i r a ;

30 APRECIAÇÕES

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fRIMEIRA fARTE

p a g r i n j a s S ° R ° r a s

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O D E AO V I O L Ã OAo grande poeta d b L u i z M u k a t .

Meu violão, se te escuto as harm onias, n a attenção do silencio, em noite bella, n ’um a eclosão de lagrim as sonoras, m e levanto do le i to . .. abro a janella.

D esnastras um bouquet de sons plangentes, que se esfolham na dor da noite calma, um bouquet musical que, tristem ente, tu depões nos sepulcros de nossa alma.

Á s ternas pulsações das fibras tuas,q u e ella, ou tr’ora, auscultou, violão maguado,se levanta o eadaver do P reteritop e la s mãos da saudade embalsamado.

D eu s accende no azul a nivea lua, o lu stre de chrystal dos trovadores, q u e pende lá do céo, apainelado p e lo s pincéis dos mysticos pintores.

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Parece que a opulenta e meiga noite, para dos nobres seres invejado, oriva o céo de topasios luminosos, e o céo resplende todo azulejado.

O Senhor te ofíerece n ’uma taça de luar, ao te ouvir o dulceo choro, um licor de silencio, edulcorado porgottas de hydrom el... os astros de ouro.

E, no entanto, 6 violão, dos grêmios nobres, como um paria infeliz, foste enxotado!Lá não tinhas accesso. . . eras maldicto, cobarde e injustamente conspurcado,

Teu delicto qual foi? Que mal fizeste? Nenhum, Teu grande mal, teu grande crim e vem da escoria p leb éa ... Mas, silencio, pois que um anjo da terra te redime,

A nobreza, por fim, rendeu-se! E x u lta ! Podes alçar teus hymnos de victoria, que bem sabes qual foi o anjo, o archanjo que te fez ascender ao céo da gloria,

Hoje, nas grandes salas, quantas vezes, contrafeito, me tens acompanhado, e, entre vibrantes palmas, que eu conquisto, quantas vezes me tens apunhalado,

dizendo-me, em sigillo, que estes carmes, traducção do ideal, que o peito anhela, inspirados por ella, tão somente, só deviam gemer no ouvido delia.

34 QUAKESMA & C., e d i t o r e s

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E tu me dizes mais: «Fujamos, bardo, deixa o luxo do verme infatuado e estas pallidas luzes, que lá fóra o céo refulge d’astros incrustado.

Estes olhos que vês, tão decantados, junta-os aos mil, não valem um só as tro !E o que valem alvores destes seios juncto aos seios da noite de alabastro?»

Se dos grandes tu foste desprezado, repellido das salas, dos salões, é porque só tu tens este quebranto de render os mais petreos corações!

Não lhes invejo as operas pomposas,- Huguenotes, Gioconda ou Traviata, quando, ao relento, esflóro as minhas lagrimas, n’uma esplendida e branca serenata.

A moda brazileira sã, correcta, na voz do menestrel apaixouada, vale mais, se gottejam n’estas cordas os brilhantes da' noite empqrolada.

O piuuo, esse fatuo aristocrata, embora o que te odeia não concorde, no seu teclado ebúrneo, alvinitente, não te póde imitar n’um doce accórde.

Pois, emquanto derramo um canto argenteo, e um rê menor, choroso, a ella exhalas, os pianos, calados, jazem tristes em sudários eravolfcos lá nas salas.

NOVOS CANTAEES 35

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E ? fidalgo ò v iolino... é do aureas salas, mas em prélios sonautes não o temes, pois embora soluce, em seus gemidos, nunca póde gemer, como tu gemes.

Da tua irmã, da flauta gemebunda, os vellutiueos sons das cordas tiras!Teu suspiro dóe m ais; que os seus suspiros não são estes suspiros que suspiras.

A lyra, em que trovaram priscos bardos, que rendia as princezas meigas, puras, se te ouvisse, calára os ais dolentes e nunca mais tractára de aventuras.

Se existisses nos évos mytliologicos, em que Orpheo empunhava a maga lyra, abaláras o mar, os céos, o inferno. .. teus feitos não seriam de mentira.

Se te ouvisse, Saul calmára as iras !Esmolas não pedira o grande Homero!E comtigo, de novo, adormecêra Orpheo o cão trifauce, o'cão cerbero.

Amo os sons orchestraes de ingente orchestra, mas proclamo bem alto e sem rebuços; — ella não vale um clioro dos teus choros, se desfibras das fibras teus soluços.

Castro Alves te amava os sons frementes e o Fagundes Varella te adorava !..E Tobias Barreio, o bar (To excelso, os lampejos do estro eiu u cantava.

36 QUARESMA & C., e d i t o r e s

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E Laurindo Rabello, o repentista, o co n do rei ro vate das alturas, era doido por ti, pois, muitas vezes, consolo em ti buscava ás amargura*.

O meigo bandolim, a meiga cythara, a viola a planger na choça rude, a guitarra em seus trillos chrystallinos, as funcreas plangencias do alaúde,

o violino, o piano, as vozes d1 harpa, opsalterio, em seus threnos de piedade, o profundo gemer de um orgam triste, mais triste que um soluço da orphandade...

nada pode evocar tantas saudades, de mãe, de amigo, amante idolatrada, como tu, quando, triste e a sós, palestras com os- martyrios da noite constellada!

Quando a alma dorida e harmoniosa em padecentes lagrimas transborda^ eu ouço um coração pulsar, gemendo, n ’essas tuas a r té ria s ... nas seis cordas.

As vezes chego a c re r . .. penso que um anjo, exilado dos ceos, em seus delírios, veio dentro de ti buscar guarida e chorar cá na terra os seus martyrios !

Reclamavas a noite! Eil-a ! Fujamos, que a inspiração aqui se m ingua... estanca e, entre uns galhos de estrellas, vê, lá íóra, abre-sc a flor da noite, a lua branca.

NOVOS CANTARES 3?

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Ergo a taça da Dor, encho-a do nectar deste branco silencio, debruçado sobre a desolação desta amargura, para me ouvir gemer, só, concentrado.

Eu vou mandar-lhe agora uma corbelha dos jasmins musicaes do coração!Esta doida saudade é quem floresce os diamantinos ais desta canção.

Que ella venha á janella e mostre agora ao clarão do luar, cheio de zelos, qual se fosse uma flor, meu coração prezo aos negros farpões dos seus cabellos.

D irá minha canção: « Urna de flores, pois são flores os sons que tu proferes, pela dor que por ti soffro cantando, bemdicta sejas tu entre as mulheres.»

B eindicta! E que estas lagrimas subindo pela amplidão do aául, que se constella, os diamantes do amor ... estes suspiros, derramem lá nos céos.. em nome delia!

38 QUARESMA & C., e d i t o r e s

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'ITericvplo XcLeeilAo glorioso luminar do Exercito Brasileiro

M a r e c h a l H e r m e s d a F o n s e c a

O ll ia estes céos, ó anjo, illuminados d e co raçõ es sofírentes e maguados !...

E o teu candor na tela cerula

a brilhar, sob um trasflor

de madrepérola,de versos consagrados !

Com camapheus, opalas e turquezas,

e as amethystas que tu exhalas

no falar, com o ether da saudade,

eterno marmor do sofírer,

um templo ideal eu vou te erguer.

A teus pés terása hyperdulia

da Poesia,— Ave Maria

dos meus ais — !Consagração do pranto

deste sancto

NOVOS CANTARES 39

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4ò QÜÀÜÉtíMA & C., E D IÍO ÍtÊ íé

coração,virgineo

escrinio da Illuzão

O h !... teus pés floreicom os meus extremos,

que» são fluidoschrysanthemos

deste amorcom que te amei...

Mandei a minha dor

a soluçar

Do coração, de essencias lacrimosas, que eu marchetei de rimas dolorosas,

fiz um missalespiritual,

que adiamantei, filigranei

com os alvos lirios destas lagrimas

saudosas!... O teu altar,

n ^ m pedestal de maguas, eu fiz das aguas

do Jordão do meu p en a r!...

Tens uma grinalda,

n ’um resplendor te diademar.

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XOVüS CANTAÜE8 4i

que em tua fronte constellei;das esmeraldas

que por ti sonhei!

Versos, passionaes,

meigas violetas, borboletas das idéas, orchidéas

dos meus ais, voai

saudosos, primorosos, dulçorosos,

beija-flores dos tristores,

que eu lhe fizdos amargores

doGes hóstiasmulticores

e um thuribulo de dores, cujo insenso é a inspiração !

Com amor e pura sanctidade

guardo o culto da saudade

Eis o teu templo de auroraes fulgores,

que q \ \ perfumei só com o ideal das flores!.

no meu coração

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Arclianjos de ouro, tendo ás mãos ebúrneas

lyras, e a teus pés cantando

em coro, sobro üm throno

de sapbyras!...Nos pedestaes dos roseos

alabastros, verds dous astros:Tasso e Dante

a soluçar!...Sobre o teu altar,

e debruçado em aurea cruz,

meú coração n’uma explosão

de luz!

P i i a n t a s i a s a o L u a r , polka de Albertino Carramena, contramestre da banda dos Bombeiros.

42 QUARESMA & C., e d i t o r e s

OndasAo emeríto poeta H e r m e s F o n t e s

Tens nos seios dous jardins cheios de flores,

onde os Amores vêm dormitar

Dous marfineos bandolins

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que em tons menoresv ib ram ... psalterios

a soluçai-!Candorosasnebulosas,

cordas rosas

que o Senhor GQStuma aos anjos

offertar I Duas pérolas captivas,

sensitivas... flores vivas

do luar.

2?

T u te n s no teu seio o odor dos laranjaes

em flo r... em flor. . . em flo r...

são dous lacrimaesde luz. . .

são lacrimaes de lüz. . .

Dous chrysanthemos de Jesu s!

T u te n s no teu seio o odor dos resedás

em flo r... em flo r... em flor ! . . .

NOVOS CANTARES 43

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44 QÜÁKESM a & C., Eiíi^oRiis

1?

Tens nos seios dous Empyrios ou dous Lirios

brancos, da cor dos suspiros

teu s! . . .Duas brancas violetas,

borboletas cheias do sangue aromai

de Deos !..Duas ondas em teu peito,

nesse le ito ... nesse leito

cor da areia á beira mar,brancamente perfumadas,

buriladas, sem poderem se espraiar !

2a

Tu tens no teu seio o odordos manacás em flo r...

em flo r... em flo r...São dous astros de lu a r . ..

dous astros de lu a r . ..Teu seio é o mais sagrado

a l ta r !Tu tens no teu seio o odor

dos roseiraes em flor. . . em flo r... em flo r...

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1? .

No florir da primavera,que te espera, t

terásum bouquet do Deos

C reador... tu verás dos céos

um aujo a sorver o uectar da vida

e da humana dor nessas rosas innocentes,

redolentes, onde o sangue perolizase

em lico r!..Balsamifluas perfumosas,

mais viçosas, se as orvalha o deus

do amor.

2?

T a t e n s no teu seioo odor etc.

T a n go — O G a u c h o , de Chiquinha Gonzaga.

NOVOS CANTAKES 46

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■ O te m .. csCtoelloAo d e . L ucio d e M e n d o n ç a .

9Teu cabello seductor,

conquistador d’alma, que pena,

sobre a tua tez morena, cor

da estrella em céode amor,

debruçado em tua fronte mai s sedosa que os arminhos,

é um rosário de carinhos, entre espinhos sempre em flor.

És, oh, sim!... Tu és, oh, sim, meigo e terno serafim!

És, oh, sim... tu és, oh, sim, és de minha alma o jardim .

E ’s uma perola dentro engastada de uma carcerula

chrystallizada !Rosa Evangélica, que á luz se furta

na alfombra celica do teu viver,

perfuma vivida, florida murta,

46 QUARESMA & C., e d i t o k e s

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o negro feretro dô meu soffrer!

Estrella querulado trovador!...

Joia mais bella e mais gentil

do S enhor!Luz saudosissima, que a noite encanta!...Alma sauctissima, corólla sancta!...Ventura flórida que a dor quebranta,

aurora rórida de mais candor,

no meu nigerrimo soffrer cruento,

no meu aspérrimo, cruel penar...

no meu cruel penar,Venus saudosa, vem de amor

b rilhar!

1?

Teu pabello é um mar de luz,

em quefluctúao meu tormento !...

Nelle esplende um sentimento,

NOVOS CANTARES 47

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nelle vibra um coração!...Se diadema a tua fronte

amorenada, em ondas pretas,

vejo nelle as borboletas da divina

inspiração!E ’s, oh, s im ! ... etc.

48 QUARESMA & C., e d i t o r e s

Dourada lagrima!... Gloriosa Palma !... Orvalho fulgido das chagas d’a lm a!...

Suspiro cândido que, terno, adeja

por sobre o espirito do meu tr is to r! . . .

Odoro zepliyrò beija-te a fronte,

moreno Golgotha da minha Dor!...Rócio pnrissimo

dos versos meus !Flor de Piedade, humanisada por Deos!... Minh’alma lucida

prendi nos éloe, nos frizos mádidos

dos teus cabellos, formoso e plácido

luar de trevas, cahiudo ílaccido

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n’um mar de luz !A lyra inclina-se

toda inflorada, e a voz afina-se

por teu o lh a r!...Meu coração

transluz, e em teus cabellos

se derrama a flux.

M u s i c a d e uma mazurka do—Solar dos Bairigas, cvjos versos co m e ç a m assim: Meu padrinho deu-me o nome etc.

NOYOS CANTAEES 49

F̂ asga o coraçãoA P e d r o d a S i l v a Q u a r e s m a

S e tu querei vera immensidão do eco e mar,

reflectindo a prismatisação da luz solar, rasga o coração,

vem te debruçar *sobre a vastidão do meu penar!

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l t

Rasga-o, que has de ver lá dentro a dor

a soluçar!Sob o pezo de uma cruz

de lagrimas, chorar! . . .

Anjos a cantar preces divinaes,

Deos a rhythm arseus pobres ais.

2?

Sorve todo o olor que andà a recender pelas espinhosas florações

do meu soffrer!...Yê se podes ler

nas suas pulsações as brancas illuzões

e o que elle dizno seu g em er...

/6 que não póde a tidizer

nas palpitações! Ouve-o brandamente,

docemente palpitar,

casto e purpurai,

56 QUARESMA & C., rtoiT O R E S

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NOVOS CANTARES 51

n?um threno vesperal, mais puro qile uma candida

vestal!

Pouza a tua mão sobre esta paixão !

Dá-lhe a extrema uncção em ternas bençans

de perdão !.. *Ouve o coração

filtrando, em solidão, as lagrimas choradas,

musicadas no chrystal

da inspiração, que, na afflicção

deste infindo amor, geme sob a dor, sob o punhal d ’este idéal, d’este perennal desejo de sofírer,

que tsto dia morrerá, se Deos morrer.

H á s de ouvil-o um hymuo só de flores

a cantar/,-**.

2?

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1 0

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52

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Sobre um mar de pétalas de dores

ondular !.. Doido a te chamar,

anjo tutelar ! . . .Na ancia de te ver

ou de morrer !

3?

Anjo do Perdão ! . . . Flor,

me vem abrir este coração, na primavera desta Dor ! !

Ao reflorir mago sorrir

nos rubros labios teus, verás

Minha Paixão sorrindo

a Deos !

1?

QUARESMA & C., e d i t o r e s

Palma lá do Empyrio,que alentou

J*sus na cruz ! . . .

Liriodo martyrio !.

Coração!..

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Hostia de lu z ! . . .Ai crepuscular ! . . .

Tnmulo estellar ! . , .Rubra Via-Sacra

do Penar.

S ch o ttisch — Y ára — de Anacleto de M edeiros .

NOVOS CANTARES 53

O teuL p éA I d o m e n e u A l e x a n d r i n o d o s R e i s

e a sua JSxma. Sm. D . R i t a R i b e i r o d o s R e i s

Qual uma pet’la de rosa, que, por sobre as aguas

de um lago., vem a boiar,

teu pé mimoso, donoso, garboso,

eu vejo alemfluctuar,

rasgando um traço de luz

e de odor, de odor

que atraz de sinos conduz...

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Teu pé, tão seductor, é uma camélia

de Cupido, o atrevido

deus do Amor.

2? .

Teu pé quizera n’um beijo ninar,

n?um dos meus versos mais bellos guardar !...

Deital-o n^um suspiro, e dar-lhe uma lagrima

triste,p ’ra vel-o com ella brincar...

Bem no fundo do peitoo esconder,

para não vel-o no chão a soffrer!

No peito meü guardal-o, beijal-o, adoral-o,

e com elle morrer.

( AINDA A 2?)

Nelle quizera esta frontepouzar!..,

Sobre o teu pé noite e dia poetar,beijando os seus dedinhos,

54 QUARESMA & C., e d i t o r e s

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NOVOS CANTARES/

55

os lindos dedinhos, alvinhos,

fininhos... e, ahi, meus carinhos em seus quatro ninhos

chocar...Vel-os dos brancos o vinhos

brotar, e, qual se fossem mfcigos

pintinhos, seguirem teu pé

a piar.

Quando, subtil, o magoas no chão,

bem se nota que a terra

Dá logo mostras de afflicta... p a lp ita !...

Vé-se a palpitação !...Pois que elle é feito

de aromas do altar, da branca e nivea

espuma do m ar!...Um beijo de luar,

que vae de estrellas inôammando

todo chão que o vê passar.

tem coração !

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r:

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( TRIO)

Adoro até o teu pé,um lirio id ea l!...Nem é um pé....

é um missal, tão aromai que inspira a fé !... que inspira a fé !...

doce f é ! !!.. e o meu almejo...

o meu desejo... o meu desejo era, n ’um beijo,

morrer, ao pé

de um p é !

1? PARTE

Morrer quizera... quem déra

morrer e leval-o n ’um halo

lá para os céos!Mostral-o a Deos,

para inveja fazer a um dos anjos

seus !...

66 QUARESMA & C., éditíores

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NOVOS CANTARES 57

E ferasformar n’um luar

eternalo teu pésinho sentimental... Estrella de emoções...

Um pensamento de Pasclial, que inspira

os nossos corações.

M u s ic a dapolka de Cantalice N h ô n h ô e m S a r i l h o .

Você não me dá!A R a y m t j n d o C a l d a s .

Como tão linda e s tá ! . . .Como tão linda e s tá ! . . .

Mas se um beijo eu pedir,

você não me d á ! . . . você não me d á ! . . .

Quem te implora é o am or!. . . A innocencia, o candor! . . .

Mas você é tão má, que eu sei que você não d á . . . não d á !

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Não tens pena de ver um poeta a soffrer!Quem te implora é o amor,

é a doida afflicção do meu coração!

Se me promettes dar, eis-me aqui a chorar! . . .

Mas você é tão má, que eu sei que você

não d á . .. não dá !

Tua bocca é um prim or!Uma abelha do am or!Sou capaz de jurar que o teu beijo ha de ter o sabor do luar!Tua bçcca é um altar onde eu quero rezar

e, após a confissão,nos teus labios chrism ar • os meus labios

então.

8?

Tna bocca cheirosa — essencia da rosa

mais bella e mais langue —*

j58 QUARESMA & C., e d i t o r e s

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NOVOS CANTAKES 59

6 uma estrella, uma estrella

de sangrento ru b o r! . . .Quem me déra um earinlio

deixar lucillando u ’um terno

cantinho desse máo pedacinho

do inferno. .• do averno.. ♦

do céo mais azul!A m inh?alma voando ,

da terra, tão cheia de horrores, nesse berço feliz

dos amores, minhas glorias

pudéra ca n ta r!E, se acaso duvidas

do que ora te digo, vem . . . experimenta,

que a minh?alma sedenta, na tua boquinha deseja sonhar!

Gomo tão linda e s tá !Ai, meu Deus, como e s tá !

Para sancta ficar,

de sangue um luar

do paúl

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devia um beijinho agora me d a r !

O teu beijo é o licor ' dos travores da D o r ...

Ha de ter o saborda anthera da flor

do teu amor.

Com o tango — Bambino — de Ernesto Nazareth.

60 QUARESMA & C., e d i t o r e s ,

-A . Zfcv£a,g-:n.olIa,Ao d r . C a r l o s S i q u e i r a D ia s

Quando as auras do sul gemem como harpa eolia, quando é o céo todo azul, tu suspiras tambem, magnolia !

Quando a lua no céo, nossa mente insinúa,

qual a magua tua que no odor tressúa,

e sobre ti fluctúa, minha flor ! ?

2?

Quando a noite somnolenta acalenta

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o martyrio das flores, e de odores

soluçado canto

erguem ao céoconstellado,

em que scismas tu te abysmas, odorante jardim de poesia,

coração aromai de Maria,

no incenso e pallor,

ó flor!!

2A

Q u a n d o a noite a terra doma, sob o pallio da lua

tão grata, quanto aroma

se desata de teu floreo thuribulo

de prata !Porque choras f

O que imploras, derramando, ao luar,

teus queixumes, n’esse pranto arom ai...

de perfumes, que vão ascendendo

ao céo !

NOVOS CANTARES 61

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I a

És do hastil no verdor,d’aura ao dulcido açoite, uma lagrima em flor,

perfumando as madeixasda noite ! . . .

Quando a lua no céo nossa mente insinúa,

qual a magua tua que no, odor tressúa,

e sobre ti fluctúa,minha flor ! ?..

Wàlsa ãe Walãteufel — A ? toi

62 QUARESMA & C., e d i t o r e s

O IBeijoAo Dr. A r t h u r C i n t r a

Brande sobre mim o teu desprezo, fulmina o peito, rasga a m inh^lm a

assim ! . . . Rompe o coração todo estrellado daquelle beijo

que em teu amorcrucifiquei! . . .

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NOVOS CANTAKES 63

Dentro do mastizdo pensamento a tua imagem

illuminada pelos lueidos m artyrios...

s im ... ha de luzir,

x brilhar, qual doce a lua

no céo.

2? PARTE

Q u a 1 Jesu s sofíreupor mim, soffro por ti,

na gloria de adorar-te, que Jesus das lagrimas

silentes que verteu

fitando o azul, na dor mais nobre

e sancta, fez de prantos

um bouquét, sanctificando as maguas do poeta,

que na melodia do soffrer

orvalha o seu penar na insulação

da cruz,

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1? PARTE

Minha dor lucillaem teu regaço, qual uma estrella

no collo do Senhor !Choram meus suspiros,

scintillando sobre os teus labios,

onde os meus versos vão dorm ir!

Luz meu coração em teus cabellos,

todo orvalhadono aureo sangue

da Paixão, desta Paixão cruel,

desta Paixão atroz,

írum desalento de am or!

3? PARTE

Deos conceda, ó anjo,que nunca sintas o punhal

cortante sobre o coração,

espedaçando as fibrasda esperança !.. Recordando, cheia de amargor,

64 QUARESMA & C., e d i t o r e s

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um beijo sancto, qual um juram ento

feito em uma bocca harmoniosa.

NOVOS CANTARES 65

1? PARTE

Teu beijinho é feitode esmeraldas,

que as esperanças nos lembram

lá do céo ! . . .Feito de rubis,

que symbolisam- os teus ardores, na grande ardência

da Paixão ! . . .Mas no beijo teu

reluz, maguada, roxa amethysta, o roxo emblema

da amargura que elle deixa

nos labios d7alma, assim

qual um cautério de flor.

M usim da Schottisoh — Passinhos de moça, Fomeca Cosia«

5

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6 6 QUARESMA & C., e d i t o k e s

TU E JVIINHjA DOF̂Ao mestre da palavra, C o e l h o N e t t o .

Meus algidos suspiros, nos cemiterios dalm a, sufifragam tua imagem sobre o lys do amor!Chorando o fresco orvalho, o Espirito dã noite m ixtura as suas lagrimas com os prantos meus,

Nas flores velludosas, que as auras embalançam,. meus sonhos de poeta vão chorar por ti l Meu estro solitário parece a flava rosa que, á tarde, pensativa, ao^ôr do sol, morreu.

2?

Qual dois colibris de magoas feitos, n ’uma flor de lagrimas*pouzados, que jamais se cansam de sorver

o roseo néctar, que perfulge dentro dJalma

dos poetas,

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NOVOS CANTARES 67

m inhas saudosissimas saudades, se entram na minl^alma

aberta em flores, vo ltam derramando os versos meus

(t&o tris tes!) nas sagrados carmes,

M in h a dor ó meiga, peregrina, te m a transparência das estrellas

que dos sanctos olhosde Maria Immaculada

gottejavam como os lirios

Brotam de meu peito os meus soluçes, como do sepulcro os tristes goivos,

íloreos pensamentosdos que dormem tristes,

sob a cruz da louza, redimindo o amor.

M arty rio dos poetas! . . .O ’ lagrima cheirosa

do opere’lo luminoso do meu coração!

C harism a dos archanjos ! . . . O ’ sangue dos meus versos! . . .

que consagro a ti.

do sereno ! . . .

Recebe em tuas plantas os gemidos meus.

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68 QUARESMA & C., EDiTOKES

O ’ m e u a n jo , e u q u e r o e m t e u r e g a ç o ,

D o c e e n c a n to , e u q u e ro a m in h af r o n te

a l j o f r a r n o d u lc e oc o llo t e u ! . . . .

í T u m a d e u s ,c r e p u s c u la r

s o n h a n d o , e n t r e o d o re s

d iv in a e s d o c é o .

1?M o r r e r s e n t in d o o a r o m a

d a s v e s t e s s a c r o s a n c ta s d a V i r g e m D o lo ro s a

e m s e u fo rm o so a l t a r ! . . O a r o m a d e in n o c e n c ia d e u m c o ra ç ã o m o r r e n d o

n o s b r a ç o s d e u m su sp iro * o u d e u m a f lo r

Schottisch — Timida— de Abdon Müanez.

n o t e u co llo a g o n iz a r fe liz ,

q u e ro a m o r te n e s s e s b r a n c o s la b io s ,

n o s t e u s la b io sb r a n c o s d e c a n d o r !

d e l u z !

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3*

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NOVOS CANTARES 69

TTTti2 ao.a, PreceA J o s ê T i b u e c i o G o n ç a l v e s C a m a z

Senhor,eis meu desejo : —

morrer ao lado delia,

em noite assim tão bella,

e toda cheia de esplendor, de esplendor !...

Soffrer, fitando a estrella do seu divino olhar !...

A flor do coração

no collo seu então fechar!

Morte de m agia!...Morte que inebria !.*.

O h!... que poesiadormir no alvo leito

de seu p e ito !F indar minhas dores

n ’um vergel de amores e descansar

no fulgor de seu terno o lh a r!

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QUARESMA. & C ., e d i t o r e s

1?

Meu Deos !...N?um doce adejo,

morrer nos céos de um beijo! . . .

Deixar chorar, cantar, voar

m inh?alma, que de magnas perluz!...

Depor nos labios delia

a dor sobre uma c ru z!...

Subirao vosso throno eterno em que o amor

transluz!

Musicada Walsa — C o n v e r s e m o s .

t e uA A n t o n i o F e r r e i r a M a d e i r a .

Teu nome é a canção mais bella do archanjo das minhas dores, cantando sobre uma estrella, brilhando no azul das flores. . .

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Teu nome é a doce Trindade da minha sancta am argura! . . .Teu nome chora a saudade dos mortos na sepultura! . . .

Teu nome aos lirios dispersos á noite vae soluçar o sentimento dos versos de Deos, cantando ao lu a r!

Teu nome do peito expiro, se a lyra dos céos eu tanjo!Adeja qual um suspiro e cheira mais do que um anjo !

Teu nome vibra na mente em doce melancholia ! . . .Recorda a lagrima algente no divo olhar de M aria! . . .

Um lirio sem cor, exangue, mas todo cheio da luz do sacratissimo sangue de Deos, morrendo na cruz! . . .

Musica do maestro Arthur Camillo.

NOVOS CANTARES 71

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n

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A PRIMAVERAAo B r. E g a s M o n iz B . d e A r à g I o

Tu perdeste a calma, illuzo e pobre coração!Não me batas n’alma,

ai, não me mates,n ão ! . . .

Cala o sofírimento, meu pensamento! . . .Vae n’um lamento, os labios seus

b e ija r!\

2a

Minli’alma sincerate venera

no agro florir cruento das minhas dores I . .

Porque não vens mostrar á primavera

as meigas flores dos sorrisos teus ! %...

Minha dor cansada e em soledade

quer te offerecer na hora extrema

todo o grande poemada orphandade

das minhas lagrimas, dos prantos meus.

QUAEESMA & Ci, e d i t o r b s

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ÍÍOYOS CANTAEES 7â

I a

Que contar á triste,á meiga e solitaria

flor,quando, ao cair

da noite, perguntar

por minha dor ?

Que dizer, meu anjo,

da ausência tua, se, á noite,

a lua ~ me falar de amor ?

Musica de Maestro Arthur Gamillo.

AUSENTEA J a c i n t h o C a c e r e s .

Eu sei que tuno coração

tens uma flor a perfumar

tua paixão,

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que é a redempção do meu soífrer, do meu v iv e r! . . .

Pitando o céo, em que o luar

deixa as saudades escorrer,

mandas a lua um teu suspiro

me traz e r! !Com que amargor,

com que tristormeu coração,

revendo a ti, suspira o amor

nas fiorituras do saudoso meu violão

Da sancta luao sancto odor

vem aromar ' o meu tristor I

Eu vejo o rosto teu no cé o ...

a lém ... no eéo !

2*

Longe de ti,meu sancto amor,

é mais cadente a minha d o r!

QUABESMA & C., edítores

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Fremente a magua me sorri,

as minhas penas a maguar !Parece o cêo

um grande altar, em que as estrellas vêm rezar

por minhas dores, que ante Deos

vão se p ro stra r!

NOVOS CANTARES 76

Nenhum prazer póde fazer

adormecer meu padecer ! . . .

Vê I. . . que p en a r! . . .a descantar,

o meu passadorecordar í

E o rosicler vem matizar

o azul do céo,.o azul do mar,

a minha dorno coração

a revibrar 1 Antes m orrer. . . .

do que fazer esta saudade emmurchecer ! . . .

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76 QUARESMA & C>, e d ito r e s

A minha gloriaé na' memória ver-te sempre

a scin tillar! Sagrado

estemmado S enhor!

Saudade eterna aberta em flor, de que eu respiro

o céo no odor, no odor

Mazurlca do professor Sanctos Coelho, do mesmo titulo .

FEITICEIRAA H e n r i q u e P e r e s M a c h a d o .

Tu tens, mulher,

nesse teu olhar um profundo céo . . . um profundo m a r ...

e no teu andar senti o rumor

subtil

do am or!

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de uma fior gracil

a cantar no h a s til! . .

J á vi nos labios tens

o crepuscular expirar

do sol na agonia,

o morrer, o morrer do sol

na poesia do arrebol.

2*

O h !,.. o que me faz sonhar é o coração

maguadoque tens ajoelhado

e saudoso a chorar nesse teu o lh a r...

( B is) nesse o lhar!

1*

No doce humor dos cabellos teus vou guardar a flor destes versos meus,

NOVOS CANTAEES 77

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nessas negridõesde amor,

onde vão gemer corações

que Deos faz enlouquecer! . . .

Sobre um sorriso teu quero, descansar,

prelibar do céo

a ventura I. . . Descansar, prelibar do céo

a venturade teu amar.

3?

A m ar! . . .Suspirar! . . .

soluçar e gemer

é sentir a doer o luarda saudade,

o sorrirdo soffrer,

que me faz renascer o prazer

de te ver

78 QUARESMA & C., e d i t o r e s

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nesta doce amargara, sim,

no amargor, na minha dor,

na grande dor de te querer.

1!

Tu tens, mulher,

nesse teu falar o sorrir

do céo, o carpir

do mar etc.

TValsa por Mario âe Oliveira, com o mesmo nome.

NOVOS C A N T A R E S ^ ^ 79

irLspixetçêio su te-u.s p é sAo maestro A g o s t i n h o d e G o u v ê a

Do la rde Deos

gentil primor, gentil primor,

q ue aromatisa as rosas murchas

* do v iver!.. *

- Google■ . . . . . . . . . Original fromDigitized by V ^ i( J O £ L £ THE UNIVERSITY OF TEXAS

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80

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Sinai de amor abrazador,

que geme dentro d’alma em musical dolor! . . .

Tu fazes crer no alvorecer

das minhas maguas e suspiros que por ti vão

renascer ! . . .Aos céos voando,

irei cantando, emquanto a Dor, a minha Dor

doer.

QUARESMA & C., e d i t o r e s

Sorri ! . . . Sorri! . . . que eu vejo em ti

a luz que o céo contem,

meu bem ! ...A m ei!Amei ! . . .

E não ha dor que mjstis epprima e d o a!,

Por Deos.I.Por Deos,

a deluzão dos sonhes mous

perdôa!...

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NOVOS CANTARES 81

Volve um doce olharde compuncção

á minha dor... prostrada aqui

no chão!

"Se queres ver a Dor gemer,

se tens prazer no meu soffrer,

vem ler no peito o nome teu!...

A ltar de luz do meu Amor,

que geme e canta nJalma em perennal dolor!

Meu coração é a vibração

de um’harpa de ouro, em cujas fibras tanjo

os ais desta paixão...Tu és um an jo ! . . .

Vem ver meu choro!... Meus ais constranjo, se beijar-te a mão.

Se um dia ao céo da Dor, ..te arrebatar,

de meus cautos laureado,

6

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82 QUARESMA & C., e d i t o r e s

d e m e u s a i s i l lu m in a d o , a i l l u m in a r a s o l id ã o

d e s t a a f fe iç ã o , t u v e r á s , m e u a n jo ,

e n tã o , n o e x c e ls o a r d o r ,

t e n d o a s m a g u a s p o r l a u r é i s , a i n s p i r a ç ã o . . . ã i n s p i r a ç ã o

b e i j a r - t e ã n iv e a m ã o e , a p ó s , c a i r - t e a o s p é s .

Schotlisch—NUNCA tE VISSE— DE J . C hR IST O

O Adeus da manhã

Ao professor A n t o n io V e l h o d á S i l v a

Quando eu me apario de teu lado, vindo a manhã, ao sol nascer, lá vou chorando, abandonado, até que, emfiin, te torne a ver ! Anda a miüh^alma, entristecida, cyprestalinente ã p adecer!Sinto uma flor emmurchecida dentro em meu peito renascer!

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Se tu soubesses com que pena deixo, tristonho, os lares teus, ouvindo a tua voz amena desabrochar n?um terno adeus !Fica esse adeus repercutindono meu sonoro coração,como um chrystal, que alguem ferindo,geme em saudosa vibração!

D o romance francez :—Q ü a n d j e t e q u i t t e

NOVOS CANTARES 83

A TUA MÂOA ’ talentosa poetisa A u r b a P i r e s .

E’ tua mão um luzeiro de idéal melancholia, que nos lembra a luz doentia do luar n7um jasmineiro!

E* o coração adorado de Jesus, em lausperenne!O licor ch*fstallisado de Castalia e de Hippocrene!

W flor tão branca e tão leve, que a nossa dor engrinalda com cinco pet?las de neve, onde corre uma esmeralda!

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84 QUARESMA & C., e d i t o r e s

Phanal que a Deus nos conduz em ascensão luminosa!...Berço em que morreu Jesus!...Mão da Virgem Dolorosa!

De essencias sagrado mixfco!Mão gloriosa, peregrina!!...Foste chorada por Christoü...Lagrima argentea e divina!!!!...

Musicada— Canção — do maestro F r a n c is c o B r a g a .

Quando esta rosa emnmrchecerAo tenente a l f r e d o d e j e s u s .

Quando esta rosa emmurchecer, serei de ti já bem distante !Pranto amargoso hei de verter, quando esta rosa emmurchecer!—Irei, sem ti, saudoso amante, dormir, talvez, n?um cavo leito!Quando esta rosa emmurchecer, o amor será murcho em teu peito.

Quando esta rosa emmurchecer, jacente ao chão, sem cor, sem vida, no peito teu hei de morrer... quando esta rosa emmurchecer!

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NOVOS CANTARES

E, então, minh7alma, emmurchecida, dolorosamente saudosa,(quando esta rosa emmurcliecer) ha de murchar como esta rosa !

Quando esta rosa emmurchecer, já dormirei no denso olvido!Porque de mim vaes te esquecer, quando esta rosa emmurchecer !E o que será, tão dolorido, do coração, sem um conforto ! I Quando esta rosa emmurchecer, serei, p ’ra ti, morto!... e bem morto...

Do romance francez:Q ü AND LES LILÀS REFLEUKIRONT.

N U N C AA F o n s e c a C o s t a .

Cessar de am al-a!!Deixar de vel-a 1!

Perder a estrella, o azuldo coração?!

Gotteje n?alma toda a am argura! . . .

Desventura ! . . , Que loucura!

Justos céos, perdão!

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2?

CP brisas, que passaes, voae, levae

meus a is ! . . .As minhas lagrimas que vós, crueis, maguaes !

No culto teu, luar,

da noite á solidão, dissolvo a magua nas rosas d’agua

do coração.

Ia

Pereça o mundo, sempre hei de vel-a !

No mais profundo horror

pereça o am or!E morra a estrella,

que Deos habita !. . . Alma afflicta,

infinita ha de ser-te

a d o r!

HabakêRA DE CAfttos G a r c i a — Saudosa

$6 QUARESMA & C., e d i t o r e s

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X d .y llic naijid .oAo major B r a g a T o r r e s .

F u m a tarde saudosa de Agosto, na floresta, pensava em meu bem, quando a vejo mirando o seu rosto de um regato nas aguas.., além»

Os seus labios uo arroio orvalhando, pareciam com as aguas brincar.Eu, que estava de ionge a fitando, comecei um projecto a formar.

E a agua, sob os labios d’ella

a se acliamalotar, passava, doce,

a murmurar,assim...

tão meiga vinha a deslisar!

Senti uo meu coração um desejo, um desejo

de mandar-lhe um doce beijo, oh, s im !

Arrancando uma flor, que, a meu lado, suspirava no seu verde hastil, dei-Bfite um beijo e do beijo aromado „fix da flor mensageira gentil.

NOVOS CANTARES 87

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88 QUARESMA & C., e d i t o r e s

E deitando-a no leito- das aguas, lá se foi da corrente ao sabor, lá se foi orgulhosa levando a mensagem do beijo de amor !

E, quando pelos labiosd’ella, airosa, deslisou,

a rosa aos labios achegou, então,

e onde eu a beijei,beijou!...

E a florlá se foi nas aguas fluctuando...

foi boiando... até que se diluiu...

sumiu...

(Lendo Sully Pruãhome)Com a musica da s e r e n a t a d e P e d r o .

Só no céoAo capitão J o io G o m e s d a C u n h a Ê i p p e r F i l h o

Eu te am ei... te amei

perdidam ente!Sê p ?ra mim

clemente e, olha,

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que eu ja protestei a Deos

de só te amarlá,

lá nos céos!Almá pura, alma pura, eu cumpro

a jura.

NOVOS CANTARES 89

Oh!— Sanctificaçáo

do pranto — canção do coração,

carrega-me estes a is ! jurei

que não a esquecerei! . . .jurei

pelas maguas que indasoffrerei!

S im !No matiz das minhas dores,

das dores fulguraes, das dores

quaresmaes, infloro o coração

— este andor — e adoro

a tua imagem no Empyrio do Amor.

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( Volta á 1* parte)

TRIO

Dolente coração, aí, meu pobre coração,

até quando, na amplidão, tu queres sonliar!Basta de castigar,

de tanto suspiros d a r !A tua consolação

é o lv idar!Descansa no padecer ! . . .Bonança ,não terás

m ais! . . .Tu pódes adormecer

em p a z !Tu verás

então,meu coração, fr aternab perdão

a ti descer, e na devoção

do teu soffrer, a tua dor

m o rre r . . . m orrer. . .

90 QUARESMA & C., e d i t o r e s

Cecy — walsa âo professor — J o s é K a l l u t .

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NO tO S CANTARES 01

MIHHA DOR ENTRE FLORESA o s professores C a r l o s T y l l e L u i z K à n t z .

Em uma noite de luar,sem uma nuvem, sem um véo,

ouvindo alguem * cantar,

alem, no céo. .•

ouvindo alguem cantar

no azul do céo,

entrei, saudoso, a m editar. . .Quem é que estava a delirar ?

E vi, com grande magoae compaixão,

que era uma estrella n?am plidão!

Chorava a estrella, em seu fulgor, por outra estrella,

que não via, que n?uma nuvem se sumia,

da meiga luaa o p a l l o r ! . . .

Talvez que fosse um coração, que, aqui vivendo

em solidão,

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92 QUABESMA & C., è d íto b e s

de um peito, emfim,se desprendeu,

e foi b r ilh a r ... amar

no céo ! Chorava a estrella,

bella e saudosa! . . .

Tão lum inosa! . . .

Mas,*n’outra noite de luar, ouvindo alguem a suspirar,

do leito ergui-mee a janella

a b r i!! Nenhuma estrella

a descantar ouvi! . . .

Mas, oh, nem sei contar, meu Deos! . . .

Eu v i . .. eu vi, com os olhos meus, no collo da Saudade

a minha Dor cantando

sobre um roseiral em flor.

Musica ão romance:— P a r a m e u b e m , ão cytharista Luiz Kantz.

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NOVOS CANTARES 93

A O N D E V A E ?( L e n d o A l b e r t o d e O l i v e i r a . )

A 7 minha prezadíssima discípula N a i r F r a n c i s o a R i b e i r o d o s R e í s

Quando, á tarde, gentil, falando á magua, te prosternas aos pés do Desalento, e dos olhos te escorre um lirio d ’agua, que eu quizera sorver no pensamento, dize: o aroma saudoso e redolente (eu vos peço, meu Deos, Senhor, falae!) a essencia d ’essa gottaperfulgente, d ’essa lagrima triste aonde vae!

E, se á noite, mais terna e mais chorosa, esse olhar conta á lua o teu segredo, e tu suspiras terna e mais queixosa do que a flor solitaria de um rochedo, dize: o terno suspiro que a alma arranca,(eu vos peço, Senhor, meu Deos, falae!) a alma do suspiro, ess7alma branca, a essencia do suspiro aonde vae!

E se o adro da egreja sacrosancta tu transpões, como um anjo peregrino, e em teu labio, radiosa, a prece canta, como um threno gemente, ou som divino... quando um beijo dorido como as flores, ella vos dá ( Senhor, meu Deos falae!) dizei-me, Senhor Deos, por vossas dores, a alma d’esse beijo aonde vae!

Musica da m o d i n h a : P e n s o e m t i ,

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A B e ít j a m in d e O l i v e i r a

Eu te amo,, Cirio 1 Astral

da P ttreaa!...Ave Maria

feita de lu z !Tu és minha Saerosancta

T risteza!Eu te amo*

Bemdicta Cruz.

Meu Cypreste, meu Jasmim da Yirtude !. * *

O* CelesteLüz da minha Paixtlo !...Eu venero

a tua A ngelitude!Sonorosa Consolação.

2

Deixa teus pês beijar... quero a teus pês soffrer!...

n^lles chorar, chorar, e a vida assim perder!Oh ! —Yem evangeliaar

todo o meu padecer. . . .

94 QUABESMA & C., e d i t o b e s

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NOVOS CANTARES 95

Deixa teus pés beijar, para feliz, morrer.

Eu te amo,Fonte astral

da A gonia!Eu te amo,

Rosa do meti Je9Us!Sacratíssimo Missal

da Poesia!Eu te amo, que és minha

Cruz.

W alsa— B e r c e u s e — Waldteufel.

A FONTE DO CEMITEBIOAo illustre historio grapho d r . R o c h a P o m b o .

N?um cerniterio abandonado e pobre, sem uma louza, sem uma inscripçáo, onde o hervaçal a sepultura cebre do que repouza lá no terreo ohào, entrei. E o mesto cyprestal erguido falava ás maguas, que esta dor trad u z! Gelado, o morto, nesse eterno olvido, só tinha a sombra fraternal da cruz !

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Na sepultura desses sonhadores, que não se cançam de sonhar, dormir, nem o consolo das agrestes ílores lhes vinha o somno glacial florir!

De um monte esteril, sobre negros fossos, um flo d7 agua vinha a deslizar, e, se infiltrando pelos brancos ossos, fluia doce, como a luz do luar !Em seu fluente e la<rimal diamante busquei matar de minha sede o ardor, que era tão puro e tão insinuante do seu chrystal o somnolento alvor!

Mas, quando a bocca debrucei ás aguas, para que a sede mitigasse alli, veio-me aos labios um sabor de m aguas.. . gosto de morte em seu licor senti ! Lembrou-me a fonte lá do cemiterio, onde uma tarde a meditar entrei, o gosto amargo desse beijo ethereo que em tua bocca funeral eu d e i!

(Lendo Gauthier)

Musica do professor — S a n t o s C o e l h o

com o mesmo titulo e á venda na Guitarra de P raia .

96 QUABESMA & C., e d i t o r e s

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NOVOS CANTAKES 97

SERTANEJAA A n t o s i o D u a r t e D i n i z

Maldosa, formosa

sertaneja, meu lindo am o r!

Anjinho ! Bemzinho!

Meu carinho ! Meu beija-flor ! . . .

Condemna sem pena,

que m inh?almate adora o rigor !

Quando tu passasna orla do monte,

caminho da fonte, da tarde ao morrer,

meu pranto róla por sobre a viola,

que a noite consolano seu gemer !

Sestrosa,dengosa,derriçosa,

odorosaflor!.

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98

Provocante, radiante, fascinante,

ondulante, n ’um teu fado rhythmado,

tu nos fazes atéchorar! . . .

Logo a gen£é, a gente

sente uns desejos dos teus beijos! Uns desejos

dos teus beijos, que nos fazem

delirar !

1?

Ingrata, ingrata, volve a mim

um teu doce olhar ! Teu riso me mata í . . .

me m a ltra ta ... me faz banzar !. ..

Desata, desata

3‘?

QUARESMA & C., e d i t o r e s

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esse olhar do meu coração..In g ra ta ... ingrata ! . . .

Sn «pi rosa irerêd o s e r t ã o !

2}

Tambew se passas, formosa e tyranna, por minha choupana

da tarde ao cair, vou te seguindo

na estrada arenosa, qual rola saudosa,

a c a rp ir ... carpir !

r:

Na dança deslizas

e assim pizas mil corações!Teu peito é o leito, doce leito das tentações ! . . .Teus olhos... teus olhos, vagalumes de ingratidões!

NOVOS CANTARES 99

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Teus olhos. . . teus olhos,— os queixumes

da* nossas paixões!

Do Tango Nênê, ão professor — N a z a r e t h .

' 100 QUAKESMA & C., e d i t o r e s

Alva e MorenaAo coronel Joio M a n o e l d a C o s t a .

Foi num jardimredolente....

vi, entre flores dilectas, dois Ideaes de poetas! . . . Alem,

no poente, vinha a tarde

a morrer docem ente...

Meu coração anciava! Minh?alma aos céos

implorava do Amor a protecção.

Da brisa ás notas queixosas choravam ternas violetas e, no jardim, borboletas yoavam saudosas!

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Derramei a seus pés, contristado,doidamente apaixonado, meu pranto de dor,

maguado. . . de amor. . .

de duplo am or!

NOVOS CANTARES 101

2?

Em meu coração ha mais palpitar do que na afllicção das ondas do mar!...

Padecer a gemer, ó meu Deos, é o martyrio de amar

a dois anjos teus!

I a

Vou duas cruzes levando por dois caminhos contrários/... Hei-de subir dois calvarios, meus hombros saugrando. Como eu sou infejiz, desditoso, que o coração ancioso não sabe, n ’ esta paixão, se terã resurreição.

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Q U A R E S M A & C., e d i t o r e s

Urna é (1a cor dos rosáriosdo lu a r ! . . .

Outra é da cor de uma tardea ex p ira r!

São dois poemasde amor,

em que o Senhor *rimou

com a inspiração . a d o r !

Um a é da cor do inceusario de um a lta r!

Outra é da cor de uma concha á beira m a r!

O que hei-de fazer? senão m orrer.. .

m orrer!

3

U m a ó da cor de uma fontela cr im a l! . . .

Outra é da cor do diadem av esp er a l!

São dois m issaes de Thereza de Jesus, em que o amor de D e o s

transluz ! *

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3a

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NOVOS CANTARES 103

U m a é (la cor de um uivosob o g a r i !. ..

Outra é da cor de uma rola ju rity !

O que bei-de fazer, senão m orrer. . .

m orrer!!

1?

Alva, saudosa camélia, li rio de amor, ài supremo !Meu laorimal chrysanthcmo. .. soluço de O plielia!O’ Morena,o martyrio quebran ta! . . .Morena,

trez vezes saucta!Tende piedade

de m im ! . . .Oh !.. Sofírer

não devo assim...

Walsa —Eulalia— do fallecido M a r i o A l v a r e s .

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Quando morre o amorAo Coronel A l v a r e s d a F o n s e c a .

Yem vêr quanto

eu soffri. . .Dá-me

a mão. . . no coração. . .

a q u i! . . .Escuta o palpitar

e a dor d^sse doido que soube amar !

O amor é uma illuzão immortal, de sideraes

fulgores ! . . . Punhal

feito de flores sobre um coração.

2a PARTE

Saber penar, como eu p en e i! ?

104 QUARESMA & C., e d i t o r e s

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Saber chorar, \ * como eu chorei! ?Saber te amar, como eu te am ei! ?Não ha ninguém !

Não ha, meu bem !

Ai,que amargor n'alma senti, só por amor.

de quem?De ti.

{final da 2\ parte)

Si tu soubesses a dor de um coração,

quando lhe morre o amor!

1? PARTE

Tu sabesflorescer o soffrer

n*um riso d e esperança!

Mas cança. . . cança o teu ardor!

NOVOS CANTARES 105

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m

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Tu não sabes o que é o am or!

Doroso eu digo a t i : —

é o amor um colibri

mimoso, que faz seu niulio

airoso t^itma |lor...

em t i !

QUARESMA & C., e d i t o r e s

3? P A R T E

Más quando o afíecto é dor, que a razão nos empolga

e seduz, quando é um coração

de lnz, que traz comsigo a cruz,

vertendo o lacrimal sob o aureo docel

do idéal, o amor

d a pensamento é o maior

tormento.

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NO V O S CANTAUI5S 107

IV PAUTE

Do amor 110 az aluo

Céo, sem um vêo,

a scin tillar formoso,um astro em m im ...

cm mim brilhou, que eras tu..* mas j á se a p a g o u !

A g o ra v ê .. . que horror!No uegror se nebulou

p en oso! Porque v iv e r saudoso,

quando morre o am or!?

Walsa— Q u a n d I / a m o u r M e u r t .

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108 QUARESMA & C., e d i t o b e s

AO CREPÜSCULOAo coronel S o u z a B o t a f o g o

Agora, que da noite a dor poreja,

e que a saudade adeja sobre as flores,

o meu bouquet de dores, n ’uma palma,

vae levar ao meu anjo,O7 minli7alm a!...

Yôa da terra, sóbe a Deos, ridente.

Alma dormente, vê que o azul rad ia ! •

Yae, alma crente, lá ‘nesse anil librar-te !...

oli, Deos ha de escutar-te!...Ave M aria!...

2?

Se queres tu saberseu pensamento,

deixa y-, lento, a prece

a Deos voando!Que, triste, a natureza está

chorando !

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NOVOS CANTARES 109

O h!... Vae subindo a Deos,

Vae, pensamento, puro, casto, ardente,

vae, firme e crente!...Deos talvez te acoite!Terna e piedosa,

misericordiosa, o7 noite saudosa!

Bemdicta noite I

j Do romance d e T o s t i —Tamo ancora.— %

DOR È ffiAZErç.Ao ãr. I s m a e l d a R o c h a

Tu não vês que a dor é sancta t C an ta !...Canta

no peito meu a dor!

Soffrerei á luz da gloria...

gloria do que eu soffri,

se a vida é gemer

por t i !

meu soffrimento!

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/ 110

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Q U A R E S M A & C., e d i t o r e s

Tu não sabes o soffrer que luz divina

encerra!CA na to n a é de Deos

o mais sonoro r is o !

Tu não sabes, quando a dor a sua garra

espalma, como esfca in iuh ’alma

se transform a ciu floreo pa^aizo!

Tu não sàbes p penar que mel divino

e n ce rra !Cá na terra é de De osu 111 virg in al thezouro !

Tu não sabes, quando, a dor é diam antina e pura,

como esta am argura sonorisa

um coração de ouro! !

VI

Oh, meu Deps, a dor

não m ata !

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N O V O S C A N T A R E S 111

Vem dos céos

a dor, que é l&o grata !

E ? a dor um bem...

não m óe!...N&o d ó e !...

Se isto é doer, a dor

é o maior prazer!

( W a lsa de M e tra — L a n u i t T) e 2] p a rta s.)

\

A ROSA APAIXONADAAo maestro J ulio R eis

Tu, formosaflor transitória, escuta uma historia

de uma rosa, que, de ser tS-o formosa

e bei la, tinha garbo e gloria!...Guarda na memória

da linda rosa o fim.

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2?

112 QUARESMA & C., e d i t o r e s

Foi assim : de manhã,

cerúlea borboleta, irrequieta,

a voar sobre um florido galho,

vino teu jardim, ora a libar um diamante

em fresco orvalho, ora a maguar

o coração de um alvo

jasmim.Volifcandó

por sobre um cravo todo louro,

doida, walsando por sobre um chrysanthemo

de ouro, da rosa, em brazas, nas rubras

gazas, riçando

as azas, azul,

pousou.

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NOVOS CANTARES 113

Enganosa, pediu um beijo á pulclira rosa,

que, donosa, sorriu

e entre-abriu, lacrimosa, a perola

do am or!E disse assim :

Meiga rosa, o meu desejo é dar um beijo

na tua bocca de setim !

Eu, poeta, eu vi a flor

desvirginada, despetalada,

chamando pela borboleta, que, em doido gyro,

e com desdem, como um suspiro,

sumiu-se além.

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114 QUARESMA & C., e d i t o r e s

Ia

Yeio a noitetriste, adum brosa!...

Eu vi a tua rosa...

soluçando!... lacrimejando o orvalho sancfco,

no seu galho, exul,

sentindo saudade da borboleta azul.

Ao doce rosiclerda madrugada,

em seu candor,tristonha,

mas gentil, divisa a borboleta que vem adejando,

di adem ando um botão

cor de a n il!

Por ella perpassou. . .Nem mesmo a conheceu.. . E para o azul

o vôo desprendeu!

vi,

a flor,

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3?

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E a flor murcheceu

e, no hastil, pendeu!..

morreu.

Walsa—C a r l o t i n h a , d e I r i n e u d e A l m e i d a

NOVOS CANTARES _________115

O I P O Z E S X . & . O

Ao ãÍ8tincto advogado E v a b i s t o d e M o r a e s

Que noite marmórea, pulcherrima e querula, diluindo em saudades os prantos da flor!A lua parece no azul uma perola, que Deos quiz da noite na fronte-depór!A brisa que passa gemente, exulanfce, carrega uma endecha de alguem a penar 1 Acorda a mangueira, que aos céos, anhelante, pergunta saudosa: «Quem geme ao luarf»

Os olhos fitando no ether maguado, atten ta , e o queixume, de novo, sen tiu !E , após, os volvendo de um lado e outro lado, ao rócio da noite seu collo entreabriu! Sonhavam os anjos na etherea saphyra! Talvez fosse um astro que no azul gemeu ! Talvez fosse um threno de invisível lyral... Talvez fosse a lua, que a noite offendeu!

A pós uns momentos, a noite fagueira a voz lamentosa vem, mesta, acordar!M as de onde partia! De sob a mangueira, que, triste e saudosa, quedou se a scism ar!

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A lua, amativa, seus ais derramava no crivo de estrellas de jaldeo fulgor, e um velho e olvidado portão soluçava!... e os gonzos sangrentos pulsavam de d o r!

Então a mangueira pergunta, sorrindo :« Que tens, solitário ?» e a fronte pendeu !E o portão, cançado, responde, se abrindo :«Meu Deos, que saudade!» depois mudeceu!De novo, a mangueira pergunta ao soffrente :« Porque vens da noite o silencio romper ? »E o portão cançado, mais terno e dolente, rangendo, saudoso, fechou-se a gem er!

A lua sorvia no horto da noite a hostia de orvalho no calix da flor !As aguas, frizadas ao dulcido açoite das auras frementes, carpiam de amor!Q.uelua tão b e lla !... Dourada grinalda na fronte da noite, nos céos a lu z ir!Dos musgos sedosos na verde esmeralda dormia o silencio... e a noite a fluir !

E o verde gigante, de orvalho inundado, as verdes madeixas ás brisas soltou, e os olhos cravando no céo argentado, as horas caladas da noite contou !Até que a alvorada no espaço irradia, de flores luzentes lastrando a amplidão!Percebe a mangueira que a casa é vazia... e entende a saudade do velho portão!

(Inspirados n’uns bellissimos versos do grande m estre A l b e r t o d e O l i v e i r a .)

Çom a musica do B e m t e v i , do Br. Mello Moraes.O professor Baymundo Silva musicou

estes versos e vae publicai-os com a bellissima melodia de sua lavra, com que ê

preferível cantai-os

116 QUARESMA & C., e d i t o r e s

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NOVOS CANTARES 117

TU ÉS UM.A fLOrçAo exímio pianista G e r a l d o R i b e i r o

Tu és uma flor em velludoso hastil, mimosa, apaixonada, ao nascente albor de um ai primaveril, saudando a m adrugada... Bella, a orvalhar o terno coração odoro e virginal, o terno coração odoro e virginal, ao beijo baptismal

da creação.

2:!

Em teu collo sereno

e perfumado* ha um doce threno,

a vibrarmaguado. . .

Tão maguado. . . tão adorentado

que no teu sorrir as maguas vêm

se reflectir.

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118 QUARESMA & C., e d i t o r e s

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No teu collosereno

e adorentado, todo constellado,

ha ui» ehôro ameno !Doce threno

tâo apaixonado, que no teu sorrir

as maguas vêm se reflectir.

1?

To és uma rosa em velludoso hastil, mimosa, apaixonada,

ao nascente albor de um ai primaveril,

saudando a m adrugada. . . Bella, a orvalhar

o terno coração odoro e virginal, o terno coraç&o odoro e virginal,

ao beijo matinalda creaçâo.

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NOVOS CANTAÊES liô

3?

Mata*me o desejo no incêndio de um beijo !.. * A suprema dieta de minhJalma afflicta!

Dá-me um beijo teu

consolador, qual uma dor, qual uma dor de branco odor,

penhor de eterno e consagrado

amor.

1?

Qual um nenupharn’um lago de crystal

boiando docemente, no teu collo albente

todo reluzente.. * todo recendente.. • anda-me o ideal, um sonho angelical, em doce ondulação».! Assim nb collo teu, de tanta inspiração,

eu vejo palpitarteu coração*

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120 QÜARESMA & C., ÊDrfORÊS

1?

Tu és uma flor em velludoso hastil, mimosa, apaixonada,

desmaiando a cor á luz primaveril, aos beijos da alvorada!

Bella a orvalhar o roseo coração, o roseo coração, pulsando na corolla

ao beijo que consola, ao beijo nupcial

da Creação.

Musica dapolka D e l i c i o s a , de Anacleto de Medeiros

SOPPEOA V ic t o r M o r e ir a P a c h e c o

Soffro! . . . Queiínporta

se à minha esperança bem morta

. já não mais me conforta *■ o padecer ?!

Hei de sofifrer e morrer,

sem dizer

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NOVOS CANTARES 12i

porque a vida me foi tão sen tida!

Sei porque morro, e não quero o soccorro

das dores aos meus dissabores!

Hei de cborar todo o fel que tragei,

• para aos anjos mostrar se te amei.

~2?

Hei de amar e calar

tudo quanto soffri.Basta a gloria de saber que amei só a t i !

As feridas pungidas

no peito b e ija r ...A saudade nas minhas

canções em balar! . . .

Por teu nome, de noite, em delirios, chamar!

Acordare tua imagem, febrento, abraçar...

Tu és minha palma v de amor . . .

te arrancar de minh’alina

não pode o Senhor.

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122 QUARESMA & C., e d i t o r e s

Meu coração é tão triste, é da cor

do lemiste, da lagrima que assiste

á minha D or! . . .Tem o fulgor * da agonia

da luz, que alumia um final suspiro.

Chóro, deliro, deliro,

abraçando a esperança suprema, extrema,

da p rece !Meu çoração

não se esquece, a penar,

de por ti toda a noite rezar.

Musica da Wálsa de Lucio d o s R e is , que tem o mesmo titulo da poesia

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1?

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IMPROVISOA P e d r o d e S o d z a C a r v a l h o .

Por entre espinhos, chorando, vou levando a minha cruz, emquanto vives pizando, a sorrir, num chão de luz.

Sem coração não se existe, dizem todos, mas não sei porque ainda vivo tão triste, se o que eu tinha já te dei.

Hontem chorei desolado por me ver longe de ti, mas, hoje, estando a teh lado,SofFro m a is q u e h o n te m so ffr i.

Minha alma andava sem ninho, viu teus olhos... Cobiçou! . . .E, assim como um passarinho, dentro delles se aninhou.

M u sica da modinha— Q u e r e s s a b e r s e t e am o*

KOVOS CANTARES 123

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124 QUARESMA & C., e d i t o k e s

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Vem ver chorar'por ti...A S a t y r o B i l h a r .

Vem ver chorar por t i . ..Meu anjo, enlouqueci!

Não posso te olvidar...Só devo em ti pensar. Vem, que a gemer

te ensino! Destino

é meu te amar! Amar,

mas a ti sómentè, lucipotente

olhar.Vem, que a ehorar

te acclamo... Eeclamo

um teu favor!Amor,

fére, de; mansinho, n ^ m teu carinho,

a dor.

2?

Dos céos trouxeste para os olhos teus o thuribulo celeste

do altar de Deos!Lagrima pura

de infantil brancor, que nas horas de amargura

chora o Senhor.

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1!

Tu podes, nbim sorrir, minhJalma inteira abrir!Na palma de tua mão, guardar meu coração.

Teu collo sabe a prece que me enlanguesce

o a rd o r!..Amor,

eu te quero tan to !...Tanto eu te quero,

am or!...Vem aditar meu pranto,

com que levanto a dor !

Amor, eu te quero tanto... tanto eu te quero amor.

2?

Do céo desceste sobre os prantos meus!...Duas pérolas trouxeste

nos olhos teus!Com teus carinhos alvoreja a d o r!...Vamos nós morrer junctinhos,

meu doce amor.

Musica da habanera—Mi Nifia

NOVOS CANTAKES 125

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SALVE!Ao major, professor H e m e t e r i o José d o s S a n t o s

Salve, luminar do Amor,obra prima do Senhor,

coração resplandecente, luz da crucificação!

Rosa da immortal Paixão!Consolação

om nipotente!Acendramento

do mais puro ardor, meiga Estrella do Pastor, luzindo em meu tormento, meus extremos d7alma

serão teus, emanação do A m or... do Amor de Deos.

2 ‘? PARTE

Deixa escorrer teu oleo sancto por sobre o quebranto

deste Amor, em que me inflammo.

Vem, a descantai, no meu sonhar,

dizer: Eu te amo !

126 QUARESMA & C., e d i t o b e s

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NOVOS CANTABES 127

Accende um beijo no meu sonho, mata-me o desejo

mais risonho em que eu adejo!

Ouvirás dizer, quando acordar, lembrando o sonho que sonhei: «sonhando, eu te beijei.»

2? PAETETu és a flor mais senciente,

a rosa immarcescente, que eu venero como um crente! . . .

Tu és innocente, como um anjo que não mente. Enxerta um sonho

no meu somno e dá-me um beijo sancto

no meu ultimo abandono! . . . Ouvirás meus labios,

ao livor da crucea morte,

assim dizer: bemdicta seja a dor.

1? PAETE

A bre a tua mão do céo

sobre a minha inspiração, que já vae perdendo

o alento. . .

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128 QUARESMA & C., e d i t o r e s

Ergue o pensamento a t i ! . . .

A teus pés me vês aqui.

mostrando d7alma o ferim ento!Sanctificante,

a tua mão de luz deita sobre esta afflicção

tão viva e palpitante.Vem me dar impulso ao coração

na doce aspiração de am ar...

pulsar.

3? PARTE

Oh!. . . Como apagar o meu luar

lacrimatorio, que este affecto accende

n’alma, o oratorio

do soíTrer?Não posso te esquecer!!

Vem recolher a minha dor,

quando eu morrer!Seja a minha dor

recommendada a Deos pelos labios teus.

Musica da Scholtisch— Princcza âe Chrystal — de I r i n e u d e A l m e i d a .

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As tuas m âos

NOVOS CANTAEES 129

A o ã r . C«anjdidodb A lb ü ^ u e b q u e M e l l o M a t to s .

(Prece)Celestiaes,

m&os virginaes,conchas de amor,

sepultae-me esta d o r!Céos aromaes, aureos crystaes

dessas estrellas, que s&o immortaes.

1!

Aureos trophéos...Aureos trophéos! . . .Palmas dos anjos, que morrem nos céos !Nectar de luz

sacramental, sêde o esquife

do meu Ideal.

2? PARTE

A m p a r a e , ó lindas m&ospiedosas,dolorosas,

^ 9

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n ’um soi'i‘1 l‘ do tosHO affefcto insonte,

a minha fronte 1 Sim !. ..

Eigiiei-vos, misericordiosas, maviosas,

e pedi, eu vos insisto,á Mãe de JesUS C hrlstó ...

Supplicae a DeOS por ittetig amOies peceatíurds!

Sobre VÓVt;liOíaiidor me debruço,11* um soluço! . . .

Mãos, eu beijo a vossa. extieiilft uncção!

Entreabri vos como um sancto coração.

130 QU^ÜESMA. & C., üdí?üües

2? PAfcTH

Quando um dia vos beijeicom ancia,

que fragrância respirei em vós, ó peregrinas,

mãos d iv inas!Quanto odor

de passionaes ternuras nessas iiífios,

as sepulturas, onde jazem minlias

^ am arguras!

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A is, que p arece is la g ritn a i trifetes,

n « fe riite ebos aculeos d» òsfcrellada

palme os veies (ValuiA|

que ine veio aos labios vos beijar,

qual um sancto beija os cirioe de um altar.

I 5.1 P A R T E

Celestiaes, íiiftos baptismaes,

uruas sonoras, que um beijo guardaes,

quando eu findar este penar,

vinde meus olhos na morto fechar.

M u sic a da Walua — Irene — d e Trine rj d k A l m e i d a

NOVOS CANTAIIES 131

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A BOLAAo dr. S e b a s t i I o L e s s à .

Sombria assim Deos me creou.Das plumitivas a mais triste

eu sou ! . . .Eu gosto de saudar

o arrebol, interpretar o expirar

do so l!Soltar

meus ais saudosos nos pios angustiosos

desta dor ! . . . Velar-me em casto e religioso

v é o ! . . . Charisma sou da luz do céo.

1“ PARTE

Já disse um bardo, um trovador, em uma estrophe de immortal tristor, que era sua alma, em dor bôá)dieta, tão triste como a rola afílicta,

que o bosque acorda desde o albor

ida aurora, scintillando, no rubor,

occulta sob um religioso véo. . . Sagrado emblema lá do céo.

132 QUARESMA & C., e d it o r e s

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NOVOS CA NTABES 133

2? PARTE

R u b ra , se a manhã vem a romper, toda a natureza regorgita de amor

e de prazçr ! . . .Só meu coração

pela deveza geme a tristeza

que não tem consolação.Vendo as aguas frescas,

a cantar, vou entre as relvinhas,

as pedrinhas catar,

a mariscar ! . . .

Teço o meu ninhosobre o odordas folhas seccasde dourada cor,sob a ramagem do arvoredo

soluço os frêmitos do am or... do amor.

A 7 margem das fontes arrular,

do dia as horas,com a dor,

contar.

1? PARTE

em flor

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Minha cnnvão flnelun, beijando a lua

somiioleuta, que, lenta,

no meu ninho vem chorar eueharistias de luar.>

3? PAttTB

Quando a noite desce o véo, o orvalho entfto sentindo 110 meu peito os pingos

dianiantar, ponho-me a ensaiar

os pios mais sombrios,

para, em inínha dor, chorar! Vejo o azul se marchetar

de estrellas milagrosas, que parecem aujos

a sonhar !. .. Entre as nocturnaes phalenas,

sou unia flor do peimasa.desabrochar.

131 QUÀRE8MA & C., kditoKj^

3‘!

Doce Emanayão do Amor,

o Espirito-Sancto é um pombinho branco de oandqr

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S ã o os m eu s SHTUlliQS la g r im a s d a lu z ,

a s m e s m a q u e v e r te u J e s u s !T ra g o em mau martyrio atroz

as chagas do Seulior, as chagas

feitas pelo caçador !Feridas

eterpameute doloridas í Emblemas da minha dor.

1? P4ÜTE

Minli^alma, sancta e pura, v á mão

que a fere ç que a tortura, então,

pede o perdão nestes suspiros seuc,

que são o clioro do Menino Deos.Reza uma prece triste

por tudo que soífrendo existe, e manda a sua prece a Deos

orar ! . . . a Deos rezando

á luz do luar.

Aíusica da Schottisoh do mesmo titulo — d e J . K a l l u t

NOVOS CANTÀHES J35

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1 T A L D E L 1

Ao major J o s é d e S o u z a C a r v a l h o

136 QUARESMA & C., e d i t o r e s

( Pai 8 agem)

Quando ella passa, caminho da choça, no monte,

lá, no horisonte, a ascensão do luar

pela aldeia vem se derram ar.. . Geme a fonte! . . .

E as minhas magoas vêm vel-a passar!

Passar cantando, com a flor brincando,

de quando em quando, a suspirar.

1?

Vae bandoleira, a faceira

que de mim se esquece !Até parece

im a flor, que, ao luar, ao luar,

irrorada de orvalho, do galho

se desprendesse, e lá fosse a ondular! . . .

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137

E ondulando, fosse, voando, de quando em quando,

a suspirar.

2? PARTE

Deixa em seu rastro o odor do recendente sassafraz em flor! . . . Deixa onde passa o olvido, o aroma de um coração ferido! . . . Geme a viola então, em meio da soidão

do sertão calado,

um canto apaixonado, avelludado

de suspiros do coração.

2?

Se ao longe um lacrimal deslisa sobre a arêa de crystal, descalça o pé dengoso e o riozinho estremece airoso! . . .E, todo a se arrufar, não quer mais deslizar no planger fluente!Quer essa flor virente nas madeixas da corrente

le v a r ... levar.

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QUA}$i23M4 & C., witouer

1? TARTlfi

Quando amaphpep o á porta da cligçft appfirpce,

acorda a íloi\ que humedece o ircsoDi»,que é tão grato!. ..

Acorda o regato, e, o o matto, acorda a rola

eui seu ninho de amor!Acorda a fonte,

o liorisontp, e, lâ, no mqiite,

o trovador,

W alsa, do mesmo nome ^ pr; MAJiJQ A-hVi^ES.

Tu passaste por este jardimAo âr. R a u l O a p e l l o B a r r o s o

Tu pssaste por esto jardim*»*Sinto aqui certo pdop mereqp0reâ.Este bmeeo e deiipse jftswiw íiTim diluvio de arQjp&s perpleu,Os archanjos chprwePI ppr WB?i sobre as folhas p en d id a <ÍP g$lh(h as estrellas cadentes tfo OlVftlUo que a luz de m \§ o)hoa brilhante*

ver hw.

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JJOVOa OANTAKRâ ião

Esta relva, que vejp a mincjiar, e onde, penso, cahiu o teu leneo, transformou-se depois ídum altar, exlialando alleluias de incenso.Muita oousa tu deixaste aqui neste orgulho das auras mimosas: um barulho de folhas cheirosas... de plantas saudosas,

falando de ti.

2 “ T A RT E

Tu passaste, que, de quando em quando, vejo m rosas 110 hastii lacrimando das corollas de todas as eores as mi alias angustias, a o r ta s em flores! N’este ramo, que ajnda se agita, uma roxa saudade palpita !E este cravo, no ardor

A pevpetiifí, rezando uma preee, desmentindo seu nome, fenece l Olha q jalilen e garboso heliantho Xior ver-te, aureolado de gloria e de pranto. As camélias, dos seios enfeite,

dos ciumes, derrama ps perfuma n ’um poema do amor.

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TH E U N IV E R S IT Y O F TEXAS

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borboletas, phalenas de leite, me perguntam, no dulcido enleio,

porque no teu seio não morrem de amor!

I 5? PARTE

De um suspiro deixaste o calor n ’este calix de neve, estrellado!... hPeste branco e gentil monsenhor vê-se o íris de um beijo, esmaltado. Tu deixaste, n?um halo de dor, nas violetas maguadas sombrias, a tristeza das Ave-Mar ias que rezam teus labios, á luz

do Senhor.

3? PARTE

Vejo a imagem da minha Uluzão n ’esta rosa prostrada no chão!Meus affectos descansam nos leitos d?estes lindos amores-perfeitos.Como chora o vernal jasmineiro, que me lembra o sabor de teu cheiro ! Este cravo sanguíneo é uma chaga,

que se alaga no rubor

da cor.

140 QUARESMA & C., e d i t o r e s

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1!

As gentis inagnolias, em v&o, muito invejam te» rosto odorose,rosto que tem a conformaç&o de um suspiro adejando saudoso.E estes lirios têm a presumpç&o de imitar, em seus niveos brancores, esses dous ramalhetes de amores,

andores de flores

n’um seio em botâo.

M u sic a da polka do mesmo titulo de A l f r e d o D u t r a

NOVOS CANTARES 141

CHUVA DE PÉTALASAo major A u g u s t o J o s é R ib e ir o .

Vae, minha rosa, fica esfaim a saudosa!...

A deus!Vae ser ditosa

no aromai diadema dos cabellos seus...

tristoro8a, morre, ultriz, em seu peito,

leito de flor,

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143 QUARESMA. & 0 . , e ü IT O R e s

onde pôdes, feliz, viver de odor!

Vae, ó fiominl*,leva a ella eate beijo...

Sim!... Tu és roiulm

daa mais lindas üores... qm sentes as dores

dilectas do ideal dos poetas-!...

Vae, rosa, oh! vae... Leva a ella um suspiro,

No seu collo, a palpitar, minha rosa, vae murchar !

Vae gozar o doce encanto d’esse saneto e puro altar í

No seu collo, a oiulular,( és feliz!) tu vaes m urchar!

O seu peito argenteo e pulehro

é um sepulcro a soluçar!

um beijo, um a i!

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THE UNIVERSITY OF TEXAS

2;:

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NOVOS CANTAHEB

A i q u a n t a * fraguas n’este inferno de afcròz pãixtio!

Ai!... quantas Hiogliasdiz o coração í...

Mensageira do amor, que n&o cança,

queésdoscéos alliança em nosso ainar,

para, assim, a esperança n&o m urchar!!

3‘!

Sim, ílor, fdra grato a mim,

110 seu peito ir morrendo !

Tr ascendendo a Deos,

para o azul dos céos!

3?

Sim, ílor, fora grato ft mim

fenecer em sou peito !.*.

Emmurchecer, ó ílor,

onde vacH m orrer! *

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1?

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Tu, m inha»rosa?!Não irá* para ella...

oh 1 não!Talvez, vaidosa, possa te maguar!Vou-te despetalar

rosa langue!Estas gottas de sangue são, rubra flor, as estr-ellas dos ais

da minha dor.

Deve ser cantada com uma rosa na mão9 para ser desfolhada ao terminar a ultima estrophe.

— Walsa do mesmo nome, por J o i o F e r r e i r a .

144 QUARESMA & C., editores

TftOWS M HttHAo dr. E d m u n d o B i t t e n c o u r t

Hontem, sahias da egreja, a caminho de teu lar, e eu g rite i: olha uma sanctã, fugindo do seu a lta r!

Trago um desejo eommigo: — ser teu coração e amar, para viver em teu peito dia e noite a palpitar.

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NOVOS CANTARES 145

Quando vem brotando a noite, remexendo as velhas magnas, eu boio em minhas saudades, como uma flor sobre as aguas.

Tive um sonho, um sonho doce ao coração que não cansa: — sonhei que via a Saudade, chorando aos pés da Esperança.

Roguei aos pés do Senhor que me abrandasse o soffrer, e o Senhor virou-me as costas, sem nada me responder.

Dizem todos nesta aldeia que o sol se quiz apagar quando uma tarde enfrentou-se com os raios do teu olhar.

Com tuas mãos perfumadas as minhas dores quebrantas, que as tuas mãos mo parecem duas liostií\s sacrosanctas.

Teus olhos, esses velhacos, são da cor dos meus m artyrios! Teus pés são duas camélias e tuas mãos são dous lirios.

Nesta viola selvagem, nascida neste sertão,

10

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amortalhatja pm SWd&rtM.s> enterrei me# mwqüq .

Tu remoças dia # dia, e eu fico mais alquebrado!Dá-me o beije promettidq, para eu morrer descançado.

Quem le avista, sertaneja, nunca mais aclia a razáo!Ao ver-te, a gente deseja andar de rastro no chão I

Quando passas pela aldeia, accendendo mil desejos, atraz de ti vae ficando um doce cheiro de beijos.

Tu queres crucificar-me?! v Abre os braços! . . . forma a cruz !

Dá-me o fel que tens nos lab ios... Morrerei como Jesus.

Se alguem suspira o teu nome, que fere mais do que um dardo, meu coraçáo fica triste, solitário como um cardo.

Ai, moças lá da cidade, vosso rigor náo faz móssa, que eu tenho a miuha Gabocla, rainha da minha choça.

ÊPÍTOKES

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Ao ver-te apello do corpo, a nuvem do céo delira! . . .Parece que em tuas veias corre doida uma saphyra.

As cousas tambem têm alma, tambem sentem suas dores : esta viola cansada já te conhece os rigores.

Junctando os labios á terra, teu nome disse baixinho ; pois bem, tres dias depois, brotou da terra um espinho.

Os sons da minha viola são musicaes borboletas, que vão pouzar em teus olhos,pensando que são «éeletas.

0

Quizera morrer sorvendo do meu passado os resabios, derramando os meus suspiros no sepulcro de teus labios.

Gemo e gemo na viola, gemo até que a lua saia I São mais tristes meus gemidos que as ondas bordando a praia»

De manhã vendo teu rosto, que até as aves enleia,

NOVOS CANTABES 1*7

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148 QUARESMA & C., ed ito r es

pénsei que fosse inda noite, e noite de lua cheia!

Saio da choça! . . . Amanhece ! . . . Em buscar-te esfaim a anceia! Vou vendo se pela estrada vejo o teu pé n’alva areia!

Se queres saber ao certo, se doido por ti andei, vae perguntar á fontinha quantas lagrimas chorei!!!

Pergunta á lua saudosa como eu te quero e te amo, e á sua luz tão.maguada quantas pérolas derram o!

As aves, flores e b r i ^ , quando passas na tapéra, alegres, dizem, cantando: 'Alli vae a Primavera !

Tocam-se os labios, os braços, e os olhos, que se provocam, as mãos, as faces, as frontes, e as almas nunca se tocam !

Na tua carta uma lagrima cahiu, mas não foi em vão!... Cravejei esse diamante nas dores do coração.

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Velhos troncos, solitários, regatos, calvos penedos, campinas, flores, 6 choça, guardae meus fundos segredos.

Somente a minha viola á noite pode imitar a ternura suspirosa das magoas do teu fa la r!

Em teu collo de alabastro, mais alvo do que a alva bruma, se levantam magestosos dous brancos flocos de espuma.

Em teu collo sensitivo, sempre meigos, aureolados, se levantam, velludosos, dous montes acaboclados.

C om a melodia com j ue costumamos cantar as trovas populares ou outras sertanejas.

NOVOS CANTARES 149

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■ m A P f t

A J o sé F e r n a n d e s d e M a tto s

Meu coração olvidado* de crer em ti j k cansado,

é uma florqué ihtirdidti, tiü4 áStib qtiê&ê ã#agou...

Tem muito fel derramado,íflâs üHôètf té è ltiâ é t:

A minha doce amargura, amarga* mas inda é ptíra*

que amar é mesmo soffrer ! fim minha dor, que perdura,

não te hei de êsqüécêr.

Meus ternos ais, ineds ^üèbfâlitb§ são as coíbilâs dos òãhícté

que eshaaltam meu coração, que esmaltam meu cofàçãoj

Se elevo a hostia dos prantos no áltàr dá Ingrâtidàd.

Eu te amo, adoro e venero! * *.W mesmo assim que eu te quero !*.*

E nada espero de ti !.*.Mais nada espero de ti...

W o maior bem que eu espero soffrer mais

que soffri.

Musica de um fado da opereta—F i l h a d a F E itic E tit A

QUARESMA ás C., EDITORES

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ÍÍO tO S ÜASríAKÈS íni

V E N C E S T E

Ao Coronel S èS íè íé íiíô GüiitíÁítÃFs.

Tu podes bem tê vãhgloriar, porque vèílCòste ò è^tro

hibu!betiti’0 d’álma a dof gèlriêtt

Mihlia lyrasb reíideu.

Que importa a mim que tu tè orgulhes

da victoria, qtíè èit ditei

que, pôr vencer-me, è pòr vencer-me

é que luetei!E nem suspeitas que ds:ínartjrios

destas ínaguas cdlarei,

agridoce sensação,

que de Deos occultarei. Ninguém

na terrasaberá

porque chorei, porque soffri...Nem mesmo a Dor

suspeitará se foi por ti.

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2?

Yae, mas deixa eata paixão se alimentando só

do fel que orvalha o proprio coração!

Yae, mas deixa-me a illuzão se perfumar

em lagrimas na sua devoção.

152 QUARBSMA & C., e d i t o r e s

1?

Do lado esquerdotenho um anjo,

que por tidilacerei I

Uma ílorsentimental,

puramente espiritual. E esse anjo que palpita,

que se agita, e o coração,

no qual gravei teu saneto nome, que occultei.

Se tu rasgareso meu peito,

fibra a fibra, pódes ver

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toda a luz deste amargor,

a uitescencia desta dor!...

Pois se tu visses minha Dor lá dentro d’alma

florescer, talvez sentisses

as meiguices do soffrer.

3?

Meu coração é o vasode uma flor,

que só viceja em terra onde. haja d o r!

E ’ um coração de abysmos

virginaes!...W uma explosão

de lagrimas fa taes!...E ’ um cemiterio

cheio deideaes!...

E ’ a fluidificação dos ais.

D a Schoüistâ — I n spir a d o r a — do tenente L e a l

NOVOS CANTABES 153

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È L Ê G r A

.4 J o a q u im B e l l o .

104 QUAlÍB&MÁ & C., ÉüríoRÊs

Rdlás viuvas dh tèrde mata, cecens de prata da cor do luar, astros doridos das madrugadas, fontes sagradas sêinpre a chorar...

VãádS dê ihcenso, roxas violetas,5 bofbòletas do meu sertão, vêlgas florentes, fcheias de odores e de cantores da solidão,

meigas ííores,cíiorae o meu padecer! . . .

Nise, ai, Nise

morreu ao so l nascer ! . . .

Meigás dores,fazei côro

com o meu soffrer !*. *

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NÕVOS ÒANTÁllES

N ise,. ai, ííisè

ihorreu ao sol

hascer!

Avfcs saudosas, foutès clementes, veigas florentes cheias de amor, chorae commigo, qüe só pranteio ! . . . Guardae no seio meus ais de dor.

Wáísa — Tristorosa— d e Y i l l a s L o b o .

fRESEIMTIMENTOA o poeta A r t h u r í* titkâfeR lo .

A flót hdO Aiiqiié nâò té^éiiibras mais

de mim, de uiittif

tjue, em ais* consome!

Teu nome vôa na miuValma*

èíh flor. . , têu nome,

assim qual um suspirodo Seflhoh

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Que soffrer!Que consolação

no coração, que apunhalaste!

Diz o céo que me olvidaste,

que não me am aste ...O h !.. não !..O h !.. não!. •

Suspirar! . . .Chorar ! . . .P u lsar! . . .Gemer!. . .B ater!. . .

Soffrer tão langue!

Coração desfeito em sangué,

meu coração, perdão!

Esfcrellas, que choraes no manto azul

do céo, illuminae seu nome. . .

o. nojne d’ella, que em meu peito luz,

assim qual o perdão nos labios de Jesus.

Do romance do mesmo titulo, ão professor K a n t z .

156 QUARESMA & C., e d i t o r e s

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NOVOS CANTARES 157

UM SERÀPHIMA A l f r e d o D u t r a *

Meu Deos, porque fazer assim, porque, meu Deos, tal crueldade! Mandar-se á terra um seraphim, um anjo de cruel bondade!Porque eu vos juro, meu Senhor,

que quanto mais cruel, mais sancta ! E quando acera

a mi-nha dor, é uma flor que me encanta!

Se queres tu me ver feliz, que em puro amor por ti

me inflamme,Meus Deos, fazei com que ella

me amen?aquelle insonte coração!Farei das maguas um flor&o ! . . . me votarei a ti mais c ren te!

Será delia e teu meu am or! . . .

Delia e teu se re i... oh, oh, oh, oh, oh, oh,

oh, oh . . . Senhor!

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Seu latjio tqm espinho atroz e cheira a lagrima sabéa! . . . guando eu precinto sua vojs, presumo ouvir uma epopéa!Se estou distante desse olhar, daquelle olhar que fere a lyra, não sei no canto soluçar senão a dor, que me inspira!

M m Deog, prqtoge-mo este am or!De tudo mais podçs priyar-mp •Tu podes inesmo até matar-me!Eterno amor ll^e yqfcarpi!

DJtpsp, á tgrra descerei!Irei

sonjiar, sonhar pom ella ! . . .Que m orte!!

Prazer J...Oh ! . . . P razer! . . .Se por ella, ó D eos... oh, oh, oh? oh, qh, oh. . .

oh, o h . .. m orrer!

I)o romance franeez: Les G en ê ts f l e u r i s .

& C?s P P ÍT P R E S

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mmoa n t a k b h _ m

INNQCENTEA o Capitão A l f r e d q d o s Sa n t o s B a d a r ó .

Rosa do pieu jardim ,SftUdoso,

jasmim do meu Senhor!

Sim. branca rosa,

ó meu am o r... ó meu jasm im ...

i j&srnwcheiroso!

JToymosu rosa

qjiiiça njente l JusiqiiU

pãq mentp eip seq bf^ucor!

Dize} pQiujnigp eiq vosso odor :JC11& é que nós

ipUÍS jnnocente.

O’ lua tão gentil! . . .J5str§l)as, que UQ usml b rilhaes! . . .

Ayp gr&od, desfeita en ie ,is i...

Q’ poiibrU u?ente!.(!

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Com meu amor, eternamente luminescente,

em seu louvor, jurae em nome do Senhor:

que ella é que vós mais innocente.

Musica âa Canção— Elle est innocente —

160 QUARESMA & C., e d i t o r e s

A A r t h u r A lv e s

Eu conheço uma flor, um colibri,

que eu me benzi de horror,

depois que a v i !Tal força tem no olhar,

que faz pasm ar!... Roguei a S. Antonio

do demonio me livrar !

Quem lhe resiste .. .• quem?Rapaz algum!

E tal feitiço tem ! . . .Não s e i! . . . t a , liurn! . . .

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E ’ tal o seu poder, o seu poder,

que os velhos ficam moços,

quando a vêmapparecer!

Mas quem, quem é$Não devo, oh, não, d izer!

vocês, vocês de amor

podem m orrer!Seu nome, oh, sim,

forçoso é occultar! Porque mesmo o demoninho

só um anjo póde amar !E ’ brejeira,

é bandoleira, é face ira ... é de matar I

Um anjo assim, que deve estar

no altar, n ’um altar

de luar, e a gente o contem plar...

um anjo assim, formoso cherutíim,

que mortal ainda sonha mereeer-lhe

n

NOVOS CANTAEES 161

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um terno olhar 1 Se os archanjos têm

vergonha áe taes glorias

asp irar!

Um dia, quando Deos pensar que não,

ha de olhar lá dos céos... porem em vão! ! . . .

Com pena de vocêse compaixão,

esse anjo tão mimoso occultarei

no coração.

Musica da cançoneta allemâ — N o B a i l e

162 QUARESMA & C., e d i t o r e s

CALA, CORAÇÃOAo eximio flautista V à L è r ia n o C o u to .

1!

Cala, coração ! . . .Não

soluces m ais!Deixa de ensaiar

inúteis a is ! . . .Dorme calmo,

em paz 1

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Foge com te rro r!Foge desse am or...

e, então, feliz serás! . . .Podes a gemer te liquefazer, de tanto an c ia r ... tanto sonliar! . . .Tu não tens razão,

doido coração ! . . .Tu não tens razão de amal-a assim,

em v ã o !Ella é um anjo. ..

um archanjo ... eu se i! . . .

Ella é um anjo do Senhor ! . . .

E tu (o h ! que afíiioção ! )não dormes, coração!

Vê quantas maguas já provei,

e que inartyrios eu chorei! . . .

Cala, por Deo», teus a is ! . . . Dormir me deixa em paz.

2?

Aquella rosa alli, que o peito seu

parece agora namorar, •

NOVOS CANTARES 168

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e o sen perfume perfum ar...

ha de sentir a dor, quando murchar,

de, por perder a cor, d’alli,

no pó do chão, ro la r!

1!

S im ! . . . meu coração! . . . Olha esta amplidão! . . . Olha o vasto azul da immensidão! . . .Chora, na elação, toda esta paixão! . . .

Yae os versos teus cantar aos pés de Deos!

Anjos lá dos céosquerem te escutar! . . ,

Yesper te deseja ouvir c a n ta r! . . .

Canta, coração, chora a tua dor,

como a laranjeiraderramando o o lor!

Se um coração cruel não quiz

ouvir-te a dor e o padecer,

a louza vae b a te r! . . ;

164 QUAEESMA & C., e d i t o r e s

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NOVOS CANTARES 165#

e lá serásfeliz! . . .

Modera os aise o teu gem er! . . .

o teu gemer,6 ceração! . . .

Poetisa a minha dor,poetisa o meu soffrer.

Schottisch — L a ç o s d e A m o r — ãe Juvetúino Rosàs.

InterrogaçõesA Jo io Josè V e l l o s o

Fitei, de noite, a somnolenta estrella, que, em dibras maguas, rutilava alem ! No céo, ditosa, pude em fim revela, no azuleo manto a rutilar tam bem ! Então, á estrella, que no eéo prateado sorria plena de aurorai fulgor, eu perguntei se era por ella amado, e disse a estrella : Nunca teve amor.

F ite i num sonho a pallescente lua, que dormitava na sedosa luz, è onde eu via a branca imagem sua, alva, mais alva, que uma ebúrnea cruz! Então á lua eu perguntei, vivace,

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se era perenne a duração da dor !E o astro pallido, escondendo a face, responde : O7 bardo, nunca teve amor.

Em horas mestas, quando, atroz, anceia, florea saudade, e o nosso peito móe, ao mar, que vinha espumejar na areia, num ai cançado, que na areia dóe, ao mar quejxoso, que a plaoger, sensível, bordava a praia no arrendado alvor, eu, suspirante, pergun te i: é crivei?!E o mar responde : Nunca teve amor.

Ás meigas flores, em manhã formosa, terno falando, perguntei por ti 1 Pendia ao galho pensativa ro sa ... e eu disse á rosa : minha rosa, ouvi: eu tenho dentro do meu peito, em sangue, um çéo febrento, de cinzenta cor ! I. . .F a la ! já sabes l Mas a flor, exangue, num ai responde : Nunca teve amor.

Ás doidas brisas, que passavam meigas, arfantes, como quem já vai morrer, e lá morriam no estendal das veigas, lá, onde a noite póde a sós gem er... ás frescas brisas perguntei, chorando, se era inditoso por ser trovador !E ellas fugiram pelo azul, cantando, dizendo ás flores : Nunca teve amor.

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NOVOS CANTARES 167

Lembrei-me um dia de falar, sosinho, á parda rola que, ao meu ouvir, carpia, e, após, beijando o velludoso ninho, do quente ninho, a suspirar, sahiu !Rufiando as pennas, arrulando afílicta, como quem sente de um irmão a dor, os ares córta, a quietação a g ita . ..E eu d isse ... entendo ! . . . Não me tem amor !

Vinha um regato a marulhar tristores, por entre alfombras, sob um céo de anil, um rio, que era o D. João das flores, mimoso e bello, e, a mais não ser, gentil I Beijei-lhe os labios e contei-lhe as maguas, as glorias tristes deste infindo ardor !Nem foi preciso interrogar as aguas! . . . que assim gemeram: Nunca teve am or!

Um dia ! . , , A tarde descambava mesta, e o sol purpureo agonisava ! . . . Então, sobre uma pedra em musical floresta, abri as fontes deste coração !E o ser, inerte, em que a paixão não medra, tendo piedade do cansado error, a dura, a tosca, a scismativa pedra, gemeu profnpdo: Nunca teve amor !

Doido... inspirado... interroguei a calma, fúnebre calma de um cypreste, oh, sim, e ouvi-lhe a voz (qual se falasse um’alma) a voz tris to n h a ... Elle me disse assim : —

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Espera, ó bardo, mas em paz repouza! Eterno, apaga a luminosa do r!Espera a morte, que somente a louza

y fará seu peito marulhar de am or!

Musica da modinha bahiana — Não me lembro agora

168 QUARESMA & C., e d i t o r e s

D i á i M T s

Ao dr. A d r ia n o D u q u e E s t r a d a A z e v e d o

Foi hontem ao lu a r! . . .Ouvias a canção

— Meu Ideal — com tanto amor!

Chorava o terno violão essa eterna paixão de minha7alma saudosa!. . .Aos olhos teus, dorosa,

estrella rutilante, eu vi

a lagrima vir

palp itan te! . . .Divinal

constellação veio inundar

teu rosto. . .

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Eu seio desgosto

que, feroz, golpeia teu coração,

nessa afflicção que, fundamente, o anceia!..

Porque te fez o Senhor

tão feia f !

2?

A lagrima que, então, brotou dos olhos teus, quem foi que a viu ?

Só eu e Deos!Nas dores dessa canção,

luzente, cah iu ! . . .

Eu beijei-a, can tando...Bejei-a, soluçando!...

Que lagrima tão doce!...A minha dor nesse orvalho

orvalhoh-se! . . .Bella e. formosa assim te achei nesse apogêo

da m agua! . . .E essa estrella d’agua,

meiga e palpitante,

NOVOS CANTARES 16$

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na cravação do coração,

pura, donosa e ovante,

guardei, assim, qual se fosse um diamante.

170 QUARESMA & C., e d i t o r e s

Inspirada na lagrima ver tida por uma senhorita de ex­celsa educação intellectual e moral, mas ingratamente des­favorecida no seíi physico. Cantava nessa occasião M e u I d e a l .

Do romance fancez: Si tu t ’e n v a s .

Céo estrelladoAo dr. O otao ilio Ca m a r á

Vê como o céo docelado de estrellas resplende! . . .

Yê como o azul de luzentes matizes se ad o rn a !...

Lá, no infinito, vê, o? m inh?alma, a sua imagem meigamente rutilar.

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NOVOS CANTARES 171

2?

Dize, ó noite,qual é teu pensamento!

Dize, ó noite, porque tu não te condóes

de mim? ! . . .o h ! . ..

Viva saudade, traze-me um raio

da lua, da lua, que é um anjo.

Vê, mínJTalma,eomo o luar delira!

Ouve o eanto do orvalho

sanctificando a flor ! . . .

o h !... Ouve a harmonia

dos alvos lábios da noite,

da noiteesplendorosa.

Vae, coração, derramar-te no azul

do infinito!

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Vae, infeliz, accender-te

nos céos n’uma estrella!

Leva a minh?a lm a... leva a minh’alma

embalsamada nesta noite

de luar.

Walsa ãe Waldieufel— A s V i o l e t a s . — 1? e 2? p a r t e s .

1?2 QUARESMA & C., e d i t o r e s

PORQUE ME ODEIAS ?1A M a n o e l F a r i a s

Porque me odeias com temor,Eleonora deste amor ?!Sonora

flordo Redemptor,

não descreias desta d o r!

Minh’alina adora, implora

a ti

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em terno e brando

ardor, e tu não vês

beijando o chão,

chorando o coração?!

2?

Amar... te amar,

sem esperar!...Por ti soffrer!...

Viver a lacrim ar!...

Porque chorar, se já so rr i? !Porque

sonhar, se em ti

descri ?!Teu labio

atroz... de serafim

não tem dulçor... só tem travor

p ’ra mim.Mas inda assim,

por quem tu és, escravo estou

juncto a teus pés.

Do romance inglet—My M e r c e d e s

NOVOS CANTARES 173

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3 D O X ^ l v £ E !( S e r e n a t a )

Ao dr. M o r e i r a d a S i lv a

Dorme ! . . .Dorme í . . .

Como és linda a sonhar!Sonha! . . .Sonha! . . .

Convida a noite a cantar.Dorm e. . .Dorm e! . . .

Minha estrella A lta ir. . .

Lá, dos céos, lá do azul dos céos,

Peos te vê dormir.

174 QUARESMA & C., e d i t o r e s

Como 0 orvalho, em côro,

sobre as meigas flores chóra

por náo maiste v e r ! . . .

Que luar de ouro, amot í

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Como a noite dá prazer!

Como Venus chóra

nos vergeis amenos deste céo

de azulea c o r!O lúâr,

que inspira, brancamente irróra

NOVOS CANTAKE9 175

Dorme! . . . Dorme! . ..Como és linda a sonhar !

Sonha !. . Sonha! . . . Convida a noite a cantar ! . . .

D orm e... dorme, minha estrella A lta ir!

Lá dos céos, desse throno azul,

Dòoa tô tê

o meditar da flor.

dorm ir!

Vae, canção, oh, vae! . . .Voa n ’um ai, triste canção !.. *

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í;

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Tua dor, meiga, embala,

sem acordal-a, meu coração!

1*

D orm e!... D orm e!...Como és bella a sonhar ! .. ,

Anjo, anjo, convida a noite a cantar!

Sonha e canta, minha estrella

A lta ir ! . ..Lá dos céos.

desse altar azul,Deos te vê dorm ir!

W alsa — P o é tica —do pro fessor S a n to s C o e l h o .

176 QUARESMA & C.. e d i t o r e s

OlvidoAo dr. P r im o T e ix e ir a

Risquei-te d’alma emfira, libertei-me deste am or!

Já sou de mim senhor!

Minha gloria já não és!

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NOVOS CANTAEES 177

Calquei aos pés a dor!

Nem me lembro se te am ei! A víctoria

cantarei, pois que, emfim,

te olvidei!

t Troquei a solidão pelo empyrio

do prazer !Já posso a ti dizer:

tenho livre o coração! Easguei p ’ra sempre

que empannava a luz do céo ! Sepultei o que soffri!...

Nem me lembro de t i !

2?

No labio meu teu

lome, oh, sim, m erreu!

Minh?alma libertei!Nem sei

por que te am ei!A Deus votei

o véo

meu coração!

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Morra a illusáo cruel!

Quebrei a taça de fe l!

Liberdade, eu te amei!

r .

Vou me entregar de corpo e alma a Deos!Volver os olhos meus

em contricç&o aos céos!Fazer do peito

um grande altar ! . . .E a Deos

somente amar, com os olhos fitos

na luz fulgurante da cruz.

r.

Risquei-te d?alma emfim, Hbertei-me d ’este amor!

Já sou de mim senhor!

Minha estrella já não és!Calquoà aos pés

a dor ! . . .Nem me lembro se te am ei!

A victoria cantarei, pois que, emfim,

te olvidei.

Dobrado—V olta do C o r r e io , 1í e z*. partes

17 8 Q U A R E S M A , & C . , e p j t o r e s

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NOVOS CANTABES 179

Os © 1 £ l c s d.ell©,( Estrophes que não se encontram

na Lyra dos Salões.)

1? PARTE

Be tu perdeste lá nos eéos o teu altar,

foi porque Deosnão poude mais vencer

o teq olhar, pois bem sabia

que se havia de render

^ a t i ! . . .Se a Deos venceste,

atroz, o que será

de nós f E quando então

se inflamma a chamma desse olhar, © coração

em oração se põe a soluçar!

Eu nelle vejo arder a sarça do Sinai

do A m or...

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Moysés prostrado aos pés

do Creador!

2* PARTE

( Em logar de cantar esta estrophe: —A i de o que um dia tentar

fugir etc., o leitor, se assim o julgar, a substituirá

por esta o u tra :—)

Deixa-tte estar,que, quand^m morrer,

e então verter os prantos meus

nos céos, hei de contar,

em segredo, a Deosas travessuras desses olhos te u s .

Hei de mostrar ao Senhor

Jesus, ao Pae, nos cóos,

apiedado, meu coração crucificado

por teus arpéos de luz.

180 QUARESMA & C., e d i t o r e s

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3? PARTE

( Depois da estrophe: — Os olhos teus são lagrimas do amor etc., o leitor, para não repetir a mesma, cantará

esta ou tra)

Teus olhos são dolentesflorações! . . .

Teus olhos são dous violáceos corações:

o do Amor nascendo, o de Jesus

na cruz morrendo !

Os olhos teus são ambulas da d o r!

São dous nectareosde amargores! . . .

São dous Evangelhos de flores n ’um só missal

de amor.

NOYOS CANTARES X81

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O QUE TU ÊS( Uma estrophe qne não está na L y r a d o s S a lõ e s , onde o

leitor encontra a poesia com o titulo acima.)

1? PA R TE

Teu collo amarfinado é o Eldorado da Illuzão! . . .Formou-te Deos

n’um sonho de arroubada inspiração,

e, assim que despertou, no divo coração

a lagrima espontou e Deos

então chorou!

Tens dentro d?alma a pura essencia

sacratissima, etheral

e a redolenciadessa lagrima

immortal, que Deos deixou rolar

dos olhos a sonhar!. ..

Eis porque tu fazes penar.

182 QUARESMA. & C., editokes

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NOVOS CANTARES m

YAE, MEU VERSOAo d r . F l a v i o d e M o u r a

Vae, meu verso, quando surgir

a lua, voa

sobre meu tormento, leva eomtigo,

alem, meu pensamento.

Vae guardar, enxertar

n 7uma concba, no abysmo do mar,

minha dor, minha dor,

que os poetasme querem roubar!

Vae guardar, vae guardar

meu segredo no abysmo do m ar!Mas cuidado,

quando a lua for as aguas

pratear.

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184 QUARESMA & C., e d it o r e s

. 2?

Olha láque o luar não lhe vá

um suspiro acordar, d?esta dor, d’esta dor,

que os poetas me querem roubar!

Nem um ai, nem um ai,tu consintas meu pranto exhalar,

quando a lua, a flor de neve,

lá nos céos desabrochar.

1?

Yae, meu verso,quando brotar a noite,

vôa sobre o meu

torm ento!Leva comtigo,

além,meu sentimento.

Wálsa de Wáldteiifel Me u S o n h o . 1? e 2? p a r t e s .

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NOYOS CANTARES 185

A TUA BOCCAAo coronel J o io A u g u s t o d e G o d o y

Meiga rosa branca despetalas,

quando tu falas, e o thema é o verbo Amar,

vê-se em tua bocca lucescente um astro ardente,

um céo de amores a falar.

Nella, em rubro orvalho humedecida,

anda perdida, de dor transida,

a minh7alma dolorida... Nectar e fel contem

a tua bocca, meu bem.

Meu penado coração, na devoção

mais candida e mais louca, quer pulsar

com o sangue luminoar, odoroso,

perfumoso, de tua rosea bocca.

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Ueceber com effuzão a libação

de um beijo murmuroso. Dá-me ao coração

esse licor, que tem do sol o ardor,

nectar de fogo e amor.

1“

Andam nos teus labioscheirosinhes,

os meus veriinhos, fazendo os ninhes

sems.São os meus carimhos

(coitadinho*!) nelles ^oando e procuran j

a luz de Deos.Versos em cardume»,

inda implumes, sorvendo o abysmo

desse lyrismo dos mais célicos perfum es

que labios de anjos têm

e a tua bocca, meu bem.

186 QUAKESMA & C., EDiTosaa

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3?

Ella é mais cheirosa que a flor da murta

a recender saudosa!

Como é bella assim !.. cheira a jasmim, cheira a violeta

e a rosa !Nella descançar

almejo o agror do meu penar»..

O h ! dá-me essa ventura de fazel-a minha

sepultura.

NOVOS CANTARES 187

Quanta commoção em nós derramas nas vivas flammas

do seu astral fulgor, onde vem se abrir—

o amor-perfeito que tens no peito

— o teu formoso coração. Tens na bocca a espiritualidade,

a virgindade

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dos sanctos labios do Senhor,

dos labios do Senhor... dos labids do Senhor,

quando nos fala de amor.

Scholtisch — Pasxinhos de Moça—de H e n r iq u e D o u r a d o

188 QTJAKFSMA & C., e d i t o r e s

Se ao vir a, tardeAo dr. A n to n io V ic e n t e do N a sc im e n t o

F e it o s a So b r in h o .

Se ao vir a tarde, passas por mim

cantando, fazendo alarde

de tua voz de lunar frescor,

sinto n ’alma o queimor, esse ardor

da Poesia, n’uma lagrima fria,

que a saudade inebria.

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2?

NOVOS CANTARES 189

Deixas o aromadas madrugadas meigas, da tua coma, que das veigas

recende o odor!...Anda um cheiro

de amor sobre o adejo

da brisa.... o soluço

de ura beijo, gloria que mais almejo.

2?

Se passas trauteandobem juucto ao meu lar,

minl^alma, vibrando, se põe a rezar!...

fluctuantes accordes do meu violão

te leram recados do meu coração.Dou largas ao pranto! Comtigo a sonhar, comtigo a sonhar, ao ver-te minguar, começo a cantar:

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1 9 0 Q U A R E S M A . & C ., EDITORES

3?

« anjinho,« meu passarinho,« vem ver teu ninho,« tão bemfeitinho,« tão bonitinho,« engraçadinho,« que eu fiz do arminho « mais quentezinho « de um meu carinho.»

V .

Quando passaresjuncto ao lar

que te adóra, vê

que alguem chóra uo ermiterio da solidão.E, ao sumires-te alem,

volve o rosto um momento.. .

Sob teus pés, de rastro, leva o meu pensam ento.

Habauera: Hêraa ãe melancholia.

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NOVOS CANTARES 191

Sobre um a C am paAo suavíssimo poeta Luiz E d m u n d o

Quem déra que eu pudesse nos psalmos de uma prece,

na sepultura onde jazem tuas cinzas,

que s&o luz, crival-as sempre de beijos e de abraços,

Contar- fce os meus tormentos, os meus padecimentos,

os soffrimentos da saudade amarescente

e deste amor, verter minh’alma

na lagrima innocenteve, eternamente,

cultuar-te a minha dor.

e, abrindo os braços, me tornar a tua cruz.

Descer chorando ao alveo de teu leito,

tirar do peito.

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2?

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192 QUARESMA & C., e d i t o r e s

em cinzas já desfeito, teu coração

que me extremava tanto

e abençoava todo o canto

que eu banhava com meu pranto!A fria terra

que teu corpo ineerra, purificada,

seja abençoada por uma lagrima

saudosa / e triste,

que persiste dentro d’alma no candor do seu fulgor.

2‘?

Teu coração,n?um beijo m erenchoreo, guardar quizera

dentro do ostenso rio das minhas lagrimas,

das minhas dores!Transformar

os frios vermes

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NOVOS CANTARES 193

em luminescentes flores! Deos bem podia de tua ciuza fria,

sendo agitada por seu doce alento,fazer estrellas de immortaes fulgores

desse eterno firmamento de phanaes

que não vês mais.

Quem dera que eu pudesse, n ’um canto ou n?uma prece,

nos sete palmos onde dormem tuas cinzas,

que são luz, beijar teus restos,

fitando esses espaços, abrir meus braços

e ficar sendo uma cruz

Schottisch — Zelia — do inspirado compositor

J u l io M end es P e r e ir a

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L agrim as SonorasAo maestro E n r iç o B o b g o n g in q

(Carlos Meyer.)( Serenata )

Acorda, que o silencio

geme n’alma!Não posso mais

sofifrer a solidão.

A lua, que, a sonhar,

a luz espalma,

parece até de Deos o coração.

Descerra os véos do olhar,

qne me arrebata, por sobre o doce alvor

da serenata.Acorda

e vem banhar teus olhos sanctos

nos prantos desta dor a soluçar.

194 QUARESMA & C., e d i t o r e s

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2?

Acorda, que Las de ver

meus soffrimentos de joelhos sob a cruz do teu olhar!

Soluça em minha voz os dorimentos

que, á noite, ás praias ermas,

diz o mar!No céo,

aquella estrella, em soledade,

tem pena deste amor, desta saudade!

Oh!Vem

abençoar com as mãos odoras as Lagrimas Sonoras

do penar.

NOVÒS CANTARES 195

Melodia da serena'a de Rosa.

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SEGUEI D/c fAF^TE

Grjgjnaes e fraducções

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NOVOS CANTAEES 199

Ode á modinha brasileiraA o iUustre poeta F e l in t o d e A l m e id a e a sua Exma.

senhora, illustre litterata, D . J u l ia L o p e s d e A l m e id a

m o ! Não ha como tu, dengosa e bella, suspirada na trova mais singela,

mais simples, mais fagueira ! Não ha canção franceza ou italiana que se compare a ti, ó soberana

Entre todos os cantos importados, cujos versos são mal pronunciados,

tu nos tiras a palma, porque os versos, com que nós te cantamos, são incultos, mas nós os burilamos

com o buril de nossa alma.

Uma orchestra nos varios sons vibrando, manda a nossa alma para Deosse alando,

radiante e vaidosa, mas tu, ao meu violão acompanhada , de um mimoso suspiro entrecortada,

Estamos n’um th ea tro ... e seja o Lyrico. Ouvimos de um-artista o canto empyrico,

A opera, escolhida entre primores, é cantada por um dos dous tenores:

modinha brasileira,

és muito mais saudosa.

sublime, altivo e bello.

Caru&o ou Zenatello.

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Mudemos de scenario. Esplende a lua, e uma canção plangente se insinúa

pela tua paixão.Já não se cauta em lingua italiana; geme a viola á porta da choupana...

Estamos no sertão!

Esses versos do bardo sertanejo se não te fazem dar tão alto adejo,

têm mais consolação,Cada trova dorida, que soluça, docemente volita e se debruça

sobre o teu coração.

A viola tem maguas tão maguadas, fiorituras de amor tão buriladas

dos dedos ao açoite, que tu dirás, ouvindo o canto aereo, que, por simples milagre ou por mysterio,

tambem faz coro a noite.

Ouvir-se um violão em noite amena, amparando uma voz clara e serena,

que, languente, fluctiia, dialogar com o silencio abrilhantado desse brial de azul todo argentado

pelos banhos da lua! '

E a voz do trovador, voz que acarinha a saudade, a chorar u’uma modinha

em queixoso menor ! . . .Qual Caruso, De Marchi ou Zenatello ! . . . Não ha nada mais simples nem mais bello !

Não ha nada m elhor!

200 QUARESMA & C., e d i t o r e s

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NOVOS CANTARES 201

E as noifces sem lu a r . .. noites mais lindas, mais propicias ás dores e ás infindas

quando o applaude o Senhor do céo violete, desnastrando o luzente ramalhete

O extrangeiro te preza, apaixonado ! Cantando o Sertanejo Enamorado,

um hespanhol gentil, que em profundo silencio me escutava, confessou-me que doidamente amava

os cantos do Brasil.

Um bardo italiano, que na lyra lindas canções descanta e que se inspira

nas aguas de Castalia, disse uma vez, ouvindo os meus cantares : O Brasil nos seus cantos populares

venceu a velha Italia.

No Club Internacional «antei tres vezes n’uma roda composta de inglezes,

corações glaciaes!Cantava o Sertanejo Enamorado... e sempre, ao terminar, fui torturado

de applausos colossaes.

Esse povo, de patria differente,que dizem que não vibra, que não sente,

ao passo que, se can to o Se r t a n e jo , nos la b io sd e uns p a tric io s n a d a vejo

amarguras cantantes.

de estrellas fluctuantes !

fez meu canto vibrar.

além de um riso alvar.

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Por isso ó que elles deixam-te as bellezas por cantos hespanhóes, canções francezas,

que não têm o sabor, que não têm a meiguice da saudade, cá do nosso Brasil a magestade

dos vargedos em flor.

E as moças dos salões de ti se esquecem, ellas, que a própria lingua desconhecem,

que não sabem falar !!Têm ares de desprezo se em ti falam e em alta voz, com presumpção, propalam

que em francez vão cantar.

Existe uma abusão na patria acceita, que algum dia será por ti desfeita,

modinha soberana!Dizempatricios meus (isto dóe tan to !!) que só ha uma lingua para o canto :

A lingua italiana !! !

E porque dizem tal, com tal jactancia % Porque! Pela supina ignorancia

que o talento lhes mingua. Cheios de affeetaçâo, de snobismo, * impados de tolicè e pedantismo,

não sabem sua lingua ! !!

Os seus labios repellem teus dulçores, palavras matizadas de mil cores

* nessa ingénua belleza, na sonorosa e doce amenidade, nas palavras assim como saudade>

6 lingua portugueza.

292 QUARESMA & C., e d x t o k e s

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NOVOS CANTARES

E eu, que n&o conheço os teus mysterios, vou me rindo, a bOin rir, dós taes dicterios

do fôfo pedantism o! Esquecendo a sentença dos teus sabios, vou fazendo cantar nestes meus labios

o mel do teu lyrismo.

Quando elles dizem que não tens doçura, que és áspera demais, não tens brandura,

que não sabes gemer, nos teus vergeis, com o peito soluçante, vou preparar-lhes um licor cantante,

e dou-lhes a beber.

Modinha, dei-te vestes mais decentes...Eis do que precisavas. Reverentes,

a muitos converti.Os que lerem meus versos, mesmo pobres, perceberão estes affectos nobres

com que me entrego a ti.

Tu que és feita dos threnos mais suaves das nossas solidões, das nossas aves,

do azul do céo e mar; dos doces mimos das gentis patricias, das brancas e sanctissimas caricias

das noites de lu a r;

que conservas o aroma feiticeiro, o voluptuoso, o somnolento cheiro

das piedosas violetas; que tens as matizadas, varias cores dessas poetisas que namoram flores,

— as nossas borboletas ;

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oh, tu, formosa e celica modinha, oh, tu, que és brasileira, oh, tu, que és miuha,

e que tens o condão de fazer palpitar neste meu peito rubro cardo, que a dor não tem desfeito,

chamado coração;

tu, que vives nos labios suspirando das moças e dos velhos, relembrando

o üorente passado; que és a constante e fervorosa prece da morena saudosa, que parece

um anjo acaboclado ;

que resumbras os nossos sentimentos, os nossos mais infernos pensamentos

nessa meiguice tu a ; que desprezas a impafia tola e chata, e vens deitar-te no sedai de prata

da solitaria lu a ;

deixa-me esse avarento, esse profano, dos seus salões dourados todo ufano...

delle tem compaixão!...Tu, que da lua solitaria gostas, modinha brasileira, dá-lhe as costas...

Abraça-te ao violão.

204 QUARESMA & C., e d i t o r è s

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Á D O r ç .

Ao mavioto poeta J j l y m e G u im á h à e s

N ^m grande e espesso bosque, á tarde, eu caminhava, á tibia luz do sol, de um sol tristonho e morno, e uma agreste saudade em tudo fluctuava, no vergel, no pomar, nas collinas, em torno.

Assim eu caminhava, em mim tendo o cuidado de não maguar um ramo, uma folha no hastll, a alfombra enflorescida e o arbusto enflorado, por isso apenas no ar pairava um odor subtil.

Mas, estugando o passo, atra vez da campina, como um doido a correr entre a vegetação, lá me fui esmagando a relva esmeraldiua, de folhas e de hastis lastrando todo o cbão.

Uma onda aromai de plantas machucadas derramou-se fagueira e doce e inebriante, e quanto mais pizava as follias esgalhadas, . tanto mais lhes sentia o aroma penetrante.

Eu d’alma o odor guardára, assim como essas plantas, minhas canções de amor, licor desta agonia, estas rosas de orvalho, edênicas e sanetas, estos versos que eu canto aos labios da poesia,

estes carmes de amor, scintillações fugaces, este cantar eterno em que o soffrer se espalma, se tu, bemdicta Dor, as flores não pizasses das plantas aromaes que eu tinha dentro d’alma.

NOVOS CANTARES 205

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Bemdicta sejas, pois, ó miqha d o r! . . . Esmaga, constringe os lirios d’alma, enchendo-a de azedumes, já que ao coj^çãQ deixaste aberta chaga, aberta esta íerida a suppurar perfumes.

CONTRASTESA oãr ., major M o r e ir a G u im a r ã e s

Tu tinhas um jasmineiro todo colmado de flores!Veio a dor com os seus rigores fanar-lhe as niveas capellas, e agorá o teu jasmineiro, sem viço, sem primavera, tem as flores cor de cera e umas folhas amarellas,

Tinhas uma ave bizarra de serenissimas cores, cuja voz eram primores de um archanjo trovador I... Alacremente adejando no meio das companheiras, pouzava nas laranjeiras, nas margens do rio, em flor.

Veio o inyerpo. Desornada das suas cores brijhantes , dos jubil-psos descantes dos seqs hymnos triupiphaes,

206 QUARESMA & C., e d j t o r e s

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NOVOS CA.NTABES 207

por não ter mais a belleza daqaellas purpureas vestes, faz hoje o ninho em cyprestes e geme... não canta mais.

Moravas juneto a um regato, que, por entre verdes alas, bebia, á noite, as opalas da lua archangelical!Pelos prados amorosos tão meigo e doce corria, tão alvo, que parecia larga fita de crystal.

Mas o sol ardente, em brazas, lhe foi as aguas minguando !...Foi, poucò a pouco, seccando em seu constante gem er!Entre margens só de espinhos, sem flores, no agreste matto, já não é mais um regato!...W uma lagrima a correr!!

O Senhor te fez presente de um cofre de cores cérulas, onde se viam as pérolas, que, hoje, em vão, o olhar procura. Veio o Tempo e apoderou-se das joias que te oflfertára, e, entre as joias, amais rara, lá se foi a formozura!

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208 QUARESMA & C., e d i t o r e s

X m - s i p l r s i ç © , ©

A C h r i s t i a n o Y a z P i n t o C o e l h o

Uma ave solitaria e de bizarras cores sobre a fronte ponzou de uma gentil donzella, que lhe vae arrancando essa plumagem bella, desse adorno fazendo as mais pungentes dores!

E as penninhas, trazendo os intimos calores, espalham-se no a r . .. mercê dos labios delia !Meu coração é ess’ave, e essa creança, aquella cujo nome só digo em prantos de amargores.

Emquanto se diverte essa menina louca com o halito que expelle a pequenina bocca, me fere o coração, porque isto ao seu agrada !

Alar-se o verso meu por sobre a fronte erecta, n’um sopro, é seu praeer... E eu sou, leitor, um p o e ta ! Faltando-me esse alento, eu não serei mais n a d a .

(I.endo Sully.)

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NOVOS CANTARES 209

A CONCHAAo tenente O s c a r L e o n id a s

Por quantos mares, sim, e por quantos invernos, e quem o saberá, 6 concha nacafrada, a enchente, a vasante, a onda attribulada, te hão rolado atravez de abysmos seus eternos?!

Longe do salso mar, sob estes céos mais ternos, fizeste um leito aqui, desta areia dourada!Mas teu descanso é v ã o í . .. Longa e desesperada, em ti perpassa a voz dos liquidos avernos!

M inh’alma assim tornou-se uma prizão sonora!E como dentro em ti palpita e geme e chora esse eterno rumor, essa canção do mar,

ta l no meu coração, onde ella sempre existe, •urda, lenta, offegante e sempre e sempre triste, longinqua, a sua voz escuto a murmurar!

(T„eudo Heredia )

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AGUA QUE FALAAo talentoso poeta d r. G o u l a r t d e A n d r a d e

Deixando atraz a florescida vargem, ao regato voltei e sobre a margem

sentei-me a descansar 1 E a natureza, cheia de magias, abrindo o seu volume de poesias»

entrou a recitar 1

A brisa, que dos montes adejava, desse corrego as aguas arrendava

em tremulantes gyros, e tudo tinha um canto, uma volata, e além soltava o sabiá na matta

dulcissimos suspiros!

Não sei que sinto ao marulhar das aguas ! Eu me recordo de um montão de maguas,.

que nem vos sei dizer !Esse regato ameno e sonoroso tinha na voz um timbre dolqroso...

parecia gemer !

21Q QUABESMA & C., edefobes

U m a senhorita que, passeando em Jacarép ag u á , ao a t r a ­vessar um corrego, que lhe in te rcep tav a o cam inho e n ’e l l e m olhando os pés, ouvio do leito das aguas, seg u n d o m e affirm ou, um a voz exprim indo-lhe sen tim entos a m o r o s o s . Insistindo para que me indicasse onde ficava esse c o r r e g o m ilagroso, voltei do cam inho. E ncontrando-o , sen te i-ím e .4 sua m argem , e, á proporção que a agua fa lava, ia e u e s ­crevendo as estro'phes, que se seguem , depois da 5* d * e s ta poesia.

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_ NQYQS

Solitário, a fluir nesse abandono, elle vinha estirando-se oom somno,

ou Cansaço de am or!Havia nelle um que de inexprimível!Náo ora um ou te apathioo, insensível...

sentiu alguma dor !

Ouçamos, pois, do rio as amarguras, nos suspiros das aguas, nas ternura»

da liquida meiguice!Desprendendo um carpido marulhante,»2im soluço ignoto, emocionante,

assim elle me diBse:

«Correndo entre estas margens odorantes, bafejado das auras solúçantes,

que sobre mim carpiam, requestado por toda a Natureza, eu me rfa dos cantos da tristeza

das aves que gçmiam.

A i !... se me visses, ao luar alvíssimo, lacrimando saudoso... saudosissimo,

sob o alpendre da matta, retratando este céo de pedrarias nas minhas aguas branoainente frias,

eumu Jhamas de prato!

Nestas sombras melhor, mais livre eu vivo ! Aqui, entre estas pedras, eu derivo

melhor do que olá;

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aqui só me perturbam, por instantes, os que de longe vêm, os visitantes

de Jacarépaguá.

Aprazia-me ver as borboletas iriantes, nas mattas, irrequietas,

como flores do a r !Nesta dos mattos grande symphonia, nunca encontrei amor e poesia

no humano falar.

Quantos jovens não tenho re tratado!Quantas jovens em mim se têm m irado

neste espelho luzente!Nem tinha gosto em lhes beijar a face, deixando que o retrato deslisasse

ao sabor da corrente !...

Mas, quando ainda ha pouco eu m ed itav a , e um liquido soneto improvisava

para uma flor, que vi, outra flor de crystal, branca e nitente, mais alva do que o alvor desta corrente,

me appareceu a l l i !

Ao ver do rosto seu a contextura, d ’alma celeste a açucenal brancura,

e a belleza do olhar, nestas aguas gravei o seu retrato, e, emquanto eu fôr um corrego, um re g a to ,

hei de o sempre espelhar!

212 QUARESMA & C., e d i t o r e s

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NOVOS CANTARES 213

Nenhum passaro aqui destas paragens, nenhum cantor das mais lindas plumagens,

me lembram seu fa lar!Pois se a ouvisse uma sirena um dia, não podéra de certo essa harmonia

nem de longe im ita r!

Seus olhos são dous anjos geminados, dois colibris mimosos, debruçados

n’uma flor hum anada!Nos labios lhe soluça uma harpa eolia e o seu rosto parece a magnolia

sorrindo á m adrugada!

Quando o filtro do olhar sereno e doce, sobre o meu dorso de aguas derramou-se,

como um bloco de luz, derramaram seus olhos—duas lyras, um escrinio de joias, de saphiras,

de colibris azues!

E quando a vi, tão bella, volitando, nestas pedras soffrentes saltitando

com umas flores no peito, vinha tão lindamente alvinitente, que eu pensei fosse um cysne, de repente

surgindo do meu leito! .

N?hm frémito de amor, quasi endeosado, dei-lhe um beijo no pé e, extasiado,

um suspiro exhalei,

by Gooffle Original from: UNIVERSITY OF TEX^

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porque fugimmeo cyfene pressuroso, que foi íüostrar aos liriftes, queixoso,

òS pés que lhe orvalhei.

Esperei que das plumas Se livrasse, e, inteiramente nda, se entregasse

ás minhas aguas quer dias, pftfá ungir o seu corpo — alvo diam ante— e, alli, me transformar naquelle instante

tfttin regato de pérolas!

Mas lá Sé foi, no coração deixando0 gèrmèti de Uín dèStíüo miserando

e a dor, a eterna magua de faiei* de meu pranto este fofcario, que eu desfio por todo o itinerário, '

h*unia saudade d’agua!

A pedra élü que pofrêOU, em q\ie beijei-a, (*) è um délübí‘0 de íhcénso... está tão ch e ia ,

que já não cabe em si!E á tarde e á noite è ao roeicter da a u ro ra e i brisa nocturnal, qne passa e chóra,

inda diès: —Foi aqu i!

01 noites deltiar!... Manhãs oeiestes!... Borboletas gentis, avés agrestes,

que me seguis o rastro,

SÍ4 QÜAÈE6MA & C., ÉDÍÍOKES

(*) Que ° leito r fliê desculpe a coilecação do p ro n o m e , q u e não obedece aos preceitos gra.ttiifia.ticaec\

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*ai! foi alli... naquella pedra calva, que a vi m iisbranca e alva... iuda mais alva

que uma cruz de alabastro !

Eterno, irei jilaugendo as minhas dores, junctando ao dos plumosos trovadores

o meu tlireuò maguado!Traduze-me, ó poeta, as harmonias destas lagrimas tristes, correntias,

de um rio enamorado.

Ào silencio das noites estrellàdas, no alveo destas aguas argentadas

aos beijos do luar, eu hei de o seu retrato, o rosto angélico, com as estrellas do azul do manto celico,

de estrellas diademar !»

E cessou de falar. Poi deslizando, como quem vae* soturno, se apagando

lios trismos dc um desgosto í E eu vi todo o soffrer, toda a amargura, a dor desse regato, que ò tortura,

nas rugas do seu rosto.

IfOVOS CA^TAlvES 215

iO g le "Original fromV TH EJJN jyERSJ Y OF T E X A S -

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216 QUARESMA & C., e d i t o r e s

-A.’ ITOITSAo capitão J o s é T e i x e i r a S am paio

A ’s vezes, ao silencio, eu, clieio de poesia, fito a concha estellar, que sobre mim radia, e escuto se algum som lá do Alem se descerra!O tempo, o tempo em vão com as azas me molesta, quando eu, feliz, contemplo essa eviterna festa, em que se mostra o céo radiando sobre a te rra .

Muitas vezes pensei que os soes que lá florescem na eterna quietação, só p?ra mim se accendessem, e afim de os entender, fosse eu predestinado!Que era eu, sombra vã, obscura e taciturna, o mysterioso rei dessa pompa nocturna, e que o céo sp p ’ra mim se houvesse illuminado.

P roposita ln ien te coilipuz estes versos com os lietni&ticliios agud<_s.

Hugo.

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NOVOS CANTARES 217

OLHA ESTE GALHOAo dr. Luiz T a v a r e s d e M a c e d o J u n i o r

Olha este galho! . . . É negro! . . . A nuvem alterosa aguas derrama a flux nesta casca rugosa!Espera. O inverno ha de ir-se. Então, ao fresco orvalho, ha de nelle brotar uma folha, um renovo, e tu perguntarás como um botão, tão novo, pó de nascer assim deste escabroso galho!

Pergunta antes a mim porque, tão suceumbida, qüando sobre minh’alma, ai, triste e endurecida, perpassa um riso teu, que as maguas vem ror ar, porque remonta a seiva em meu peito exgottada, e m in lr alma, feliz, em flor desabrochada, vae seus versos, cantando, a teus pés desfolhar!

W que esta é a lei que rege azares do Destino!Succede á negra noite um brando luar divino ! . . .Tudo tem o seu tempo e tem a sua e m !A folha á brisa, o orvalho ás flores, são precisos...E* que, após o soffrer, são vindos teus sorrisos!W que hontem era inverno e hoje é prim avera!

Hugo.

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218 QUÀÜÈSMa & C., ÊbiíoREs

Grinalda do CoraçãoAó ithi&fre phnmneeutivo HfcNkiquE da SltVÉiRA

t VRo debruçar rio foretro as grinaldas, que as maldades do tempo desfarão I E lá se vão murchar! Vivas só ficam as que vamos guardar no coração.

Esta é feita das lagrimas piedosas, que eu, desolado, ha pouco, dòrrãínei!

feita dos süspiíòâ àftíôíõSÓS é dás petàlás d^lm á, que chorei!

Esta grinalda fa la ! O sentimento exprime e diz melhor que as outras flores 1 Eu venho engrinaldar-te a fronte pallida com o diadema floral das minhas dores!

Estás dormindo um somno leve e sancto* e talvez a sonhar com os téus filhinhos!Leva eátas flores com os orvalhos d?àlihá, e deixa para nós os seüá eSpinhôS...

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tíO Y oS Ò A fttÁ líÊ S Ôií»

jV Ernesto JMazarethEra um poinár sàüáõsô ê tfaftSpâfenté» A Hõrá, a da sáüdàdè! Anoitecia.Mas noite indá ú&ò è râ . . . ítída éta díá nesse templo dè á-roinàé, íèêendénté.

Da nossa Natureza florescente uma página véfdê alíi sé viá! .. .E eu lembrei-mé de ti, deSSt* poèfcia que escréves no teclàdo confidente,

dos encontros ouvindo os desafios, os ais das jíiritys, meigos, sombrios, a doce patativa alviçareira,

e o meigo sabiá, todo enlevado* cantando o 8ettànejo Enamorado nas franças proetninentés da Tn&ngtteijtò;

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220 QUARESMA & C., e d i t o r e s

A FOLHAA 9 Senhorita E d i t h d e A z e v e d o .

( O que me disse a fo lh a )

Não voltes esta fo lh a ... Humilde, eu peço. Reconheço-te a voz... Eu te conheço

e não, não me illudi.Volve os olhos a minha desventura, que eu, poeta, em meu berço de verdura

mais de uma vez te vi.

Muitos pensam que nós, folhas dos mattos, somos entes apathicos, ingratos,

impassiveis á dor, mas os poetas sabem que alma temos, e, murchas, como estou, inda vivemos

sem o antigo verdor.

Antes, porém, que eu conte a minha vida e o motivo por que, emmurchecida,

aqui vens me encontrar, devo dizer-te quem eu so u ... mas olha, basta que saibas de onde v im ... Sou fo lha ...

sou filha de um logar

A proposito de um a fo lha que a m esm a senhorita a rra n c o u d e um a rbusto , em Jacarépaguá , onde estava n ’essa o c c a s iã o em v illeg ia tu ra , collocando-a, depois u ’um a lauda do s e u album de cartões postaes, onde, compulsando-o, fu i e n c o n - tral-a .

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NOVOS CANTAEES 221

aprasivel, dulcíssimo e ditoso, onde, á noite, o luar é mais saudoso

em seus brancos queixumes, onde as aguas, dos bosques sob as naves, concertam-se com o lyrico das aves

e o poema dos perfumes.

Soluça em minha dor verde lembrança, mais verde do que o verde da Esperança,

que a própria Dor não vence ! Quantas saudades uma folha encerra! . . . Saudades*vegetaes da minha te rra !..

Sou jacarépaguense.

Agorà, a minha, historia. Não é grande como a roxa amargura, que se expande

nestes seccos raminhos. F itava o grande altar do céo fl6rmoso... e eis que sinto o contacto velludoso

de uns mimosos dedinhos.

Quem me vinha inquietar*?! O coração batia, e eu, medrosa, ̂ irrequie ta, estremecia

de insolitos pavores,• EcM-th, qme é tão meiga, arrebatou-me do galho, e, sem piedade, enclauzurou-me

neste livro de amores.

Poucos momentos antes de arrancada, passava pelos céos, em revoada,

liriaes, purpureas, pretas,

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louras, violaceas, verdes, amarellas, e azues... um ramalhete da» mais bellas

0 geqtis borboletas!

Poucos momentos antes, ou ouvia um sabiá piangeqdo nma elegia

sonoramente linda, que, após se ter minguado, subtilmente» deixou naquelle plaoido ambiente

qma tristeza infinda.

Este cárcere amargo e adumbroso, onde 0 seu coraçáp, terno e piedoso,

não me ouve gemer, deixa-me aqui na dçr, qq m ente magoa de não ter uma gottq, UO) pingo d ’agua

para afílicta beber! . . .

Nem um pingo, siquer! . . , A. luz só vejo, só satisfaço 0 vivido desejo

de a ver, de a contemplar, quando ella vem, com W 5 W mâos bonita», mostrar cartões dourado» ás visitai,

0 abrir de par em' par.

M as... quanta ingratidão f Mãos perpassaram !As folhas vão dobrando!... Ao fim chegaram,

sem ter a caridade de um compassivo olhar que a mim descesse e um momento, siquer, se condoesse

desta minha saudade.

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Quem deixa uma figura colorida para ver uma folha resequida,

que de maguas se veste?! Esta lauda é a lauda da am argura! . . .Esta lauda é uma triste sepultura 7

de que eu ;>o/o cypreste.

Mas quando Edith fala, que harjnoaia percute em meu soffrer! A nostalgia

n ’um suspiro se acalma, estremeço, soluço, ardo ao desejo de saltar deste livro, dar-lhe um beijo

e 0j3cultar iue em spa ajjna,

E ’ lá que esplende a pagina bçmdicta, onde existe a palavra — amor eacripta

por sobre um coração, distante dos olhares deshumanos, como eu, folha dos mattos soberanos,

vivia e«i SQlidáo,

Que tristeza, poeta, que tristeza !Quem sorria, liberta, á Natureza,

que se ostenta sem véo, ha de sentir, com o peito aqui lanhado, a saudade daquelle azul lavado

das paginas do céo. . .

da branca lua, o camapheu diviqo, de onde escorre o licor alabastrino

sobro a veiga aromai,

£Q YO S^ CAOTABES

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22á QUARESMA & C.. e d i t o r e s

onde as almas das folhas, já fanadas, adejam sobre as brisas namoradas

da noite angelical.\

Se está cheio de excelsos pensamentos, prefiro as frescas maximas dos ventos,

as matinaes surdinas das fontes e dos passaros cantores e as estrophes que Deos burila em flores

no album das campinas.

Porque ella não deixou que eu lá morresse e, quando, alfim, do hastil me*desprendesse,

ao meu proprio contento, ao tramonte da tarde, rosea e mesta, fosse, ondulando aos threnos da floresta,

levada pelo vento t !

Em logar deste feretro, no outomno, melhor dormira o derradeira somno ,

sob as virgens grinaldas da» lianas de um7arvore frondente, sonhamdo, morta, humecta, jaldescente,

n’um frouxel de esmeraldas

E, por falar em v erd e ... Tive um sonho tão formoso! . . . tão lindo, tão risonho! . . .

Sonhei que enverdeci. . . que sentia da brisa o brando açoite, toda cheia dos neotares da noite,

no arbusto em que nasci.

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Mas, quando despertei, triste, anciada, vi que estava mais murcha, sepultada

em dores iuferuaes, prêza ás folhas de um livro, mas vibraute, tão saudosa, tão longe, tão distante,

das folhas vegetaes!

Sobre o meu coração, que não se acalma, inclina, por piedade, o ouvido d’alma

e eu juro que has de ouvir cantos de aves, de brisas e de flores, das meigas juritys carpindo as dores,

das tardes ao ca h ir!

O ouvido d’alma inc lina ... Ouve, dolente, a pulsação daquella voz morreu te,

que eu toda a tarde ouvia: — aquella voz religiosa e amena, a do sino da egreja lá da Penna,

chorando: Ave Maria.

Os lamentos das aves e das fontes e as saudades daquelles horisontes,

tudo... tudo aqui está, porque nestas artérias suspirosas v iv e o recordo das manhãs cheirosas

de Jacarépaguá.

O regato que além flue, mavioso, e as esfcrellas reflecte, presumpçoso,

sob o céo lazulite,

CANTARES 225

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teria mais candura e mais poesia, se tivesse a ventura de um só dia

ver a imagem de Edith.

Suas aguas, as lymphas diamantadas, seriam com seu rosto transformadas

n?*m liquido florão, e os jovens que quizessem ser poetas, fossem, nas suas aguas predilectas,

beber a inspiração.

Quem me dóra em sua alma estar gravada, ungida em seu affecto, abençoada

nesse album perfeito, na.paz desse aromatico re tiro ... porque Edith é o mais dulcido suspiro

que Deus tirou do p e ito !

226 QUARESMA & C., e d i t o r e s

Amor, prazer, soffrer,mil sentimentos, em teus cantos de bardo, em teus concentos,

tu modulas n’um ai, e a saudade que temos das raizes, descantas ao violão, quando tu dizes:

« Pobres folhas, walsae! * (*)

Mas agora eu me lembro que uma esmola, uma lagrima fria — alva corólla —

cahindo em meu m artyrio,

(*) Al!uzão a um a poe&ia que se encontra na ly ra dos Salões, eujos versos finaes assiin term inam .

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NOVOS CANTARES

dos teus ollios piedosos derramaste, e esse jasmim de ueve. que choraste,

bebi-o como um li lio.

Eu sorvi essa lagrima, oífegante,— dos olhos uma flor refrigerante—

— de saudades ungida como a terra, que a lu» solar devora, sorve o aljôfar que o céo, á noite, irrora

sobre a terra adormida.

Mais outra esmola.. e adeus! A ttende! Escuta ! Anodyna-me a dor, a dor que eulucta,

que opprime o coração! Este simples desejo a ella externa, que ella ha de ver como ha de sor eterna

a minha gratidão.

Eil-o. Quando intentar algum passeio ao meu torrão natal... leve-me ao seio...

que me leve até lá, pois quero ver se o galho em que habitava e onde a manhã de orvalho me orvalhava,

secco ou florido e s tá !

Se florido estiver ( Por Deus reclamo!) dê-me um beijo e me ponha sobre o ramo

que saudoso ficou! Mas, se murcho encontral-o e uão virente, esconda dentro d’alma, eternamente,

a folha que arraneou.».

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L>enda do fasto rA J E x m a . Sra. D. M a r ia F l o r e s

Por não haver nenhum logar na hospedaria,Maria e seu esposo, o sancto carpinteiro, abrigaram-se os dois, n’uma baia, ao terreiro, e, ali, nasceu o Christo, o filho de Maria.

E, nascido que foi, aos rústicos pastores,que guardam seu rebanho ás noites, ao relento,um bando de anjõs foi contar seu nascimento.—E eil-os a caminhar da aurora aos resplendores.

Vão levar a Jesus deitado sobre a palha, entre os asnos e os bois que o olham docemente, anhos novos, o leite e o mel aurifulgeute, thezouros d’alto preço ao braço que trabalha.

E o ultimo pastor : —Sou j)obre—assim dizia; tão pobre que só tenho este sonoro hastil com que o gado apascento. Uma aria tocaria, se me ouvisse Jesus uma aria pastoril.

Maria diz que—sim—sorrindo sob o véo!Mas nisto vêm entrando os magos reis do Oriente, prostrando-se ante Christo em prece, hum ildemente, guiado9 pela Estrella a perfulgir no céo.

Com o manto de brecado, o manto purpurino, tecido do ouro vivo em que transluz a aurora,

228 QUARESMA & C., e d i t o r e s

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a trindade real ante Jesus o adóra,dando ouro, incenso e myrrha, ao Deos, ao Deos raeniuo.

Enlevado o pastor da pompa deslumbrante, afastado se havia em attitude cauta.Mas a Virgem lhe disse : Estás muito distante, para que o possas ver, tocando a tua flauta.

Aos labios achegando o instrumento oloroso, aos poucos se approxima, aos poucos, acanhado, m as logo o faz vibrar, gemer, cantar saudoso, qual se estivesse á noite apascentando o gado.

Qual se estivesse o armento, o gado apascentando, sob o pallio da noite azul, calma e serena, no beijo que imprimia á suspirosa avena, sua alma e coração par’cia ir derramando.

O s pastores e os reis, os magos reis do Oriente, ouviam em silencio a musica cam pestre!E , quando emmudeceu o calam o sylvestre,Jesus, erguendo o olhar, sorriu divinamente.

NOVOS CANTARES 229

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Q T J JEJX 2 g r c r : i^ : g BA ’ distincta pianista D. J o a n n a L e a l , ao ouvir a sua

wálsa— QuiiisóHtheê.

Como Moysés ferindo o arido penedo, • se féres o teclado etn vibrações de míigtlfy pois que sabes tocar das almas no segredo, minha dor liquefaz-se em alvas gottas d ’agua.

E quem não Sente itm doce, uth hftritionioso açoite, quando Vens ao p iano e, ein p lácido sofrir, os braços teus abrindo , és um a flor da no ite que alii, naquelle instante* aoaba de se a b l ir ! !

E basta que essas mãos, eiu musica plangente, as teclas animando, alentem ininhaft penas, para eu ver levantar-se um bando aurifulgente de colibris do céo, de musicaes phalenas.

Tu vives em jardins. Andas, durante o dia, os aromas colhendo aos jirios blandiciosos, que as tuas producçõts têm «alma e têm poesia, são pedaços de luz dos corações dorosos.

Quem te escutar carpindo angustias ao piano, lia de sentir sua alma em alto surto, intenso, emquanto o coração, seja sancto ou profano, irá beijar-te os pés, thuribulando incenso.

De tua walsa ouvindo os aió entrecortados, miuh’alma ajoelhou-se e disse a suspirar:

*

330 QUARESMA & C., e d i t o b e s

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as teclas de marfim são corações chagados quç sob os dedos seus estão a palpitar.

J á me disfce um poeta, um’alma brasileira, que essas composições tu vaes improvisal-as, ouvindo e vendo, á noite, a flor da laranjeira chorando o doce orvalho em lagrimas de opalas.

Se vens, bem semelhante ao Genio da Orphandade, tua Tfalsa planger, que um poema resume, de tuas mãos se evola um cheiro de saudade e em cada dedo teu assenta-se um queixume.

Teu piano é um sepulcro em que a tristeza chora! Religiosamente ett fico ajoelhado, quando venS remexer nesea urna sonora, onde jazem dormindo as cinzas do passado.

Tu roubaste essa tvnlsa!... E’ um plagio e tão patente, que eu vou contar, dizer aos teus adoradores que, uma noite, a ouvi, u ’um jardim florescente, á luz dc luar cautada, em labios de umas flores.

Eu quízera que Deos ão bardo solitário, que os genios, como tu, em oblações exalça* dessa walsa fizesse um musical sudário, e eu me fosse a enterrar, cantando a tua walsa.

NOVOS CANTARES 231

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232 QUAKESMA & C., e d i t o r e s

o ifiusth: esiebAo grande tribuno d r. L o p e s T ro v ã o

Quem pelas landes passa, as landes aftastadas, cobertas d’arenoso manto, extenso e branco, apenas vê surgir das aguas esverdeadas, o altivo pinheiral com a sua chaga ao flanco.

Porque, para roubar-lhe as gottas de resina, da.creaç&o carrasco, o homem impiedoso, que vive á custa só de tudo o que assassina, abrir-lhe foi no tronco um sulco doloroso !

Vertendo o jaldeo sangue, em areal maninho, o altivo pinheiral derrama a seiva quente; e erecto se mantem ás margens do caminho, querendo assim morrer, morrer trium phalm ente!

W preciso que o poeta soffra aqui, no mundo !Se a dor náo vem feril-o, occulta o seu thezouro! Porém, se ao coraçáo resente um golpe fundo, derrama os versos seus... divinos prantos de ouro.

( T.eudo G .vití^r

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NOVOS CANTARES 233

A E u l a l i o A u g u s to B a r r o s o

Meu anjo, desde quando esfaim a te venera !Ha muito a confissão de amor foi p ro ferida!E ? rubra a tua face, a minha empallecida !O frio inverno eu sou! Tu és a primavera !

O bouquet funeral que a fronte já me cobre, dia a dia se vae aos poucos branquecendo, e estes lirios da morte, ouvindo um triste dobre, para o eterno repouzo, ó anjo, vão pendendo.

Em breve, em muito breve, o sol que já declina, o sol do meu viver, meu sol se apagará!A lli é o eemifferio!... Eis a mansão divina, eis a eterna mansão, que me acceuando está !

Pois bem : que os labios teus, attende ao meu pedido, venham depor nos meus esse tão esperado beijo de amor, ha tanto ha tanto, promettido, p ara que eu possa emfim morrer... ir descansado.

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234 QUARESMA & C., e d it o r e s

Desejo PostbumoAo inspirado compositor J. T o r r e s e a sua cxma. Senhora

D. A m R ro z in à T o r r e s .

O dia estertorava ! Um odor sacrosancto de flores outomnaee eiiahia o Campo Sancto.

Um perfume de morte a embalsamar, funereo, a calma quietaç&o do quieto cemiterio!

Tremulava o hervaçal da tarde á viração...N7»m florido sepulcro ella assentou-se então.

Nesse altar do silencio, em que a noss’alma implora, estas vozes lhe ouvi, como as repito agora:

« Quando estes olhos meus, na escuridão immersos,« não brilharem senão nas luzes de teus v(#<os;

« e quando eu não fôr mais que a saudade em perfume,« ou dentro de tua alma a sombra de um queixume;

« Da noite ao vir cahindo a sombra tetra, escura,« hei de sempre esperar-te em minha sepultura. (*)

« Do leito funeral, que o frio corpo encerra,«• hei de reconhecer-te os passos sobre a terra.

(*) O utra desculpa pela collocação do pronom e.

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« Despertando do som no, então, do meu jazigo,« direi o que eh soiihar, pensando éStar cointigo.

« Quero te ouvir depois os versos recitando,« os versos que ideaste, á noite, em inim pensando.

« E, se alguém, ao passar, nos surpreliender, com medo, « dirá que é o farfalhar do vento no arvoredo.

« Quando a noite extender-se, adeusando os seus véos,« e as pérolas #de luz reaccender nos céos,

« quando a lua surgir mais alva que uma pia,« tão alva como o leite albente de Maria,

« uma canção de amor, das que tu me fizeste,« has de cantar, poeta, aqui, sob o cypreste.

« E quando, emmudecendo a tua voz, por fim,« menos triste, talvez, te afastai es de tíaim,

« ao ver-te além Sumir, neste algido abandono,« toda cheia de ti, continuarei meu soinno*

NOVOS CANTARES 235

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QUARESMA & C., e d i t o r e s

0 Ninho dos passarosA C a s t r o A f i l h a d o

Assim qu^as grandes arvores dos bosques vão se adornando de matizes vários, ás costumadas lides dão começo os plumosos cantores operários.

Um vem trazendo em seu biquinbo aberto para o muro de além, febras de palha; outro constroe o lar sobre as janellas de um velho templo, oude ora se agasalha.

Aquelle vae roubar á ovelha brauca, cuidadoso, subtil, fino e matreiro, os filamentos que deixou suspensos das merencoreas flores do espinheiro.

Ha lenhadores que eutrelaçam ramos sobre a copa das arvores fructeiras, outros que vão colber n’um cardo os fios de seda, diligentes fiandeiras.

Mil palacios levantam-se garbosos e cada um palacio é o lar de um niuho, que ha de ver mutações encantadoras: — primeiro um ovo, e, após, um passarinho,

ao qual, logo que impluma, os paes cuidosos ensinam a chegar do niuho á beira, de onde lança o olhar todo enlevado sobre a mãe natureza a vez primeira.

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NOVOS CANTARES 237

Mas, cheio de pavor, cheio de susto, gumir-se entre os irmãos logo procura, os medrosos irmãos, que inda não viram o sublime espectáculo da natura.

Reclamado por seus progenitores, levanta-se outra vez, e esse-gracil pequeno rei dos ares, que na fronte conserva ainda a aureola infantil,

ousa já contemplar os céos immensos, as frauças ondulosas dos pinhaes, e os infindos abysmos de verdura sob o manto dos robles paternaes.

Pois bem : emquauto o bosque reflorido, glorioso, aromai e todo em festas, exulta de prazeres, recebendo esse novo habitante das florestas,

um passaro, já velho e abandonado das azas, vem alli, tranquillamente, descansar sobre a margem verdorosa de uma sonora e placida corrente,

e, lá, resignado, espera a morte, sem gemidos, sem ais, sem vãos terrores, á margem do regato, onde primeiro cantou a mocidade e os seus amores.

A/>ós u na le i/u ra de Chateaubriand.

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238 QUAEEBMA & C., e d i t o b e s

SONETOOfferecendo a uma mmirw a — Rota Apaixonada

Formosa, pulchra, insonte e borbulhftnte, astrozinho infantil, avo díleofca, florescência de luz, de luz repleta, meu anjinho, meu bem, flor saltitánte,

pedacinho de um céo todo cantante, mais odoro e mimoso que a violeta, escuta-me a caqção da borboleta e da rosa Infeliz, da rosa am ante!

Se os meus fados mesquinhos e tyranups nada mais me consentem que em teus aunos possa dar^e, da Musa então me valhp |

. E ’ tua esta canção! Formosas, eelicas, deponho-a nessas mãos, duas angélicas, duas dbalias branquissimas de orvalho.

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TUDO POR TIAoprofemr A í í t q n j o J o a q u im Y u k » a

Sim ! Qualquer torra é me inútil, a vista n&o se recreia, sem ver o teu pé mimoso no alvooh&o da branca areia.

Outra fonte n&o almejo para esta sede estancar a nS.0 ser aquella fonte onde, á tarcje, vaes brinçar!

Uma flor sómente anhelo : é a flor em que diviso a rubra cor dos tens labios e o riso egual ao ten riso. *

\Se eu tenho o mar por sublime, sob a curva destes céos, é só porque o mar se veste com o verde dos olhos teus.

NOVOS CANTARES ^ 3 9

(1*040 ÜPgmer.)

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bampada do 6éoA A l v a r o d e Ca s t il h o s

Pela cadeia de ouro (o lhae!) de estrellas vivas a lampada do céo pende do azul sombrio sobre o collo do mar, das fontes sensitivas!...Alli na grande paz do ar limpido e frio, embalada ao gemer das ondas pensativas, a lampada do azul pende, do azul sombrio, pela cadeia de ouro (olhae!) de estrellas vivas.

E ella assim vae lavando os longes do horisonte com o terno e brando alvor da claridade calm a: ella argenteia a sombra ás cavernas do monte; e os ninhos perolando, ao seio de uma palma, com o terno e brando alvor da claridade calma, de alvores vae banhando os longes do horisonte.

No tloreo e branco abysmo, 6 lua, em que os esperas, serás acaso o sol dos finados tristonhos?...Ulu&inando assim os vivos de outras eras desses sonhos que são feitos de azues chimeras, serás acaso o sol desses mortos risonhos, no floreo e branco abysmo, ó lua, em que os esperas?

Oh í... sempre e sempre, oh, sim, eterna, eternam ente ! Noite mesta! Silencio! Olvido de amargores!Porque vós não tragaes o desejo que mente, odio, amor, pensamento, angustias e tristores?Porque vós não tragaes esse ideal demente, noite, ó noite, ó silencio, olvido de amargores!Oh !... sempree sempre esempre... eterna... e te rn am en te !

24(5^ QUABESMA & C., e d i t o r e s

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Dessa cadeia do ouro, além, de estrellas vivas, ó lampada do céo, lá desse azul sombrio, cae, mergulha no mar de vozes pungitivas!... faze um sudário do ar, funebremente frio, e, ao suspiro final das ondas pensativas, cae, 6 lustre do céo, suspenso pelo fio dessa cadeia de ouro, além, de estrellas vivas!

(I^econte)

NOVOS CANTARES 241

rçESURREIÇÂOA o ilustre poeta e eonteur Gustavo d e A g u il a r P a n t o ja

Muito bem. Abre o teu peito.Quero á luz, á claridade, ver se ahi brilha a verdade com sereno e firme aspeito.

Se indatens uma alma sancta, merga, virgem, doce e pura, regenerar-te procura, que Deos do chão te levanta.

Transplanta o teu coração do torpor em que jazia para o Thabor da Poesia, que eu d ire i: resurreição !

16

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Venha a lagrima do amor na bençam al Viçar eira, que a emnmrchecida roseira rebentará toda em flor.

Que é a nosaâ vida? Um martyrio, sem do amor a rubra chainma*O lba! até da própria lama desabrocha um branco lirio !

Revoa á região etherea de onde pura tu v iéste!A virtude é o dom celeste...Não tem nada com a matéria.

Pois bem: que ao novo arrebol, onde os corvos crocitavam, onde affeições se mirravam, á mingua da luz do sol;

onde tudo morto estava, como se fosse um deserto de gelo todo coberto, onde o Amor não palp itava;

nessa noite feia, borrente, pavorosa e deleteria, uma Venus—a siderea— brilhe eterna, eternamente.

242 QUARESMA & C .7 e w t o k e b

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NOVOS CANTAEES 243

0 Dia MoribundoA A lc in o A r t h i d o r o

A face em lividez, sonrbrio o triste o olhar, insensivel suspiro exhala e morre o dia !E, para florescer-lhe a pallida agonia, rosas brancas de neve a lua vae nevar!

N&o 6 com máos brutaes, mas doces e arminhosas, que tu, lua gentil. n7um gesto de doçura, sobre o morto feliz deixas cahir da altura um chuveiro floral de pétalas vaporosas.

E calmo, e terüo, e doce, o dia chega ao fim. Parece que elte vae, quando o negror lhe espaucas, suave, a diluír-se em tuas trevas brancas...Oh, meu Deos!... quem me déra agonisar assim !

Oontra ti, morte atroz, nâo hei de blasphemar, se promettes levar-me ao teu funereo olvido, n 7um sudário de amor, de paz, de luz, tecido pelas rosas da neve argentea do luar.

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Espectro da F^osaA E d u a r d o M a r c e l l i n o d e C a s t r o

Descerra um pouco a palpebra nivosa, que um sonho festival beija, innocente !Eu sou o rubro espectro de uma rosa, que hontem levaste ao baile, sorridehte !Do esplendor desse olhar cheia de zelos, das pérolas do orvalho inda orvalhada, perfumei toda a noite os teus cabellos, e por elles tambem fui perfumada ! . . .

Perdi meu verde h a s ti l . .. perdi meu sceptro, mas, por castigo, á tua cabeceira, lia de vir rainha sombra, o meu espectro, folgar, walsar, dansar a noite inteira !Mas não fujas de m im ! Repousa em calma, que de exequias e missas não preciso!O odor que agora sentes, é minhbilma, que vem, só por te ver, do Paraizo!

Meu destino ha de ser sempre invejado :Para morrer, assim, tão docemente, quem não daria a vida, afortunado, quem não morrêra, assim, calmo e contentet No marmor do teu collo, onde repouza meu perfume, um poeta, embora pobre, ha de escrever: aqui jaz uma rosa, que invejará do mundo o rèi mais nobre.

(Caiitkr.

2U QUAKESMA & C., e d i t o r e s

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NOVOS CANTAEES 24 5

O Velho pescadorAo illwtre poeta e jornalista X a v i e r P i n h e i r o

As ondas eu deixei por este prado ameno, que tem por liorizonte esmeraldino bosque,

cujo rumor parece âo meu esperto ouvido o equoreo marulhar do verde mar, distante,

que saudades me traz do náutico passado.Quando o olmeiro suspira e o pinheiral soluça,

eu cuido ainda ouvir o rumoroso oceano, e o vento a sibilar, â noite, nas enxarcias,

e os mastros crepitando, ao rebramir dos ventos!O sulco que traçando ahi vai por estes campos

esta velha charrua, é qual se fosse um barco, que levanta na gleba escura, inculta e espessa,

um a onda, uma vaga, inerte, e sem espuma,que se enche e se enche mais, se alonga, enáo se espraia!

A ondulosa manhã, fiudaem noite campestre, pois que, velho, deixei o mar e os seus embates,

p o r esta em que laboro extensa veiga !D as minhas redes fiz, velhas e remendadas,

um grande alforge, aonde entre cosidas malhas, apenas hoje trago os sazonados fructos,

(e entre elles tambein algumas folhas murchas) colhidos pelo chão, em campesina pesca.

(Réguier.)

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QÍGBBESSSSBt

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O Segredo da M angueiraAo grande poeta A l b e r t o d e O l i v e i r a

«Poeta, uma j>alavra. Ainda escuto, porque, morta, inda vivo, infelizmente!A minh7alma, minuto por minuto, magnas que entào soffreu, hoje inda gente.

Falavas com o Alberto... Ouvi... Pediste que uma endecha, uma pallida elegia, dedicasse-me á dor, á dor t&o triste, á dor que me devora, dia a dia.

/E este excelso poeta, a quem adóro, cujo nome ao luar tenho acclamado, nada diz sobre mim, que um vergo imploro, e apenas respondeu: — « Muito explorado

«este assumpto tem sido. Têm se escripto '«m ilhares de poesias lacrimosas « sobre as arvores secoas ou frondosas, que... » Mais nada falou. Nada, repito.

A triste humanidade, ha tantos annos, os homens vê tombar na morte impia, e, no entanto, em seus fúnebres arcanos, a morte é sempre a anthese da poesia.

246 QUARESMA & C., e d i t o r e s

M angueira que se vê, em espect~o, A frente do palacete do i l ín s - tre poeta. Poucos m etros d istan te vicèja a sua irm ã. V erso s escriptos a proposito da resposta ao pedido que lhe fiz d e escrever algum a cousa sobre a mesma»

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NOVOS CANTARES 247

Nas suas phrases duras e infelizes, hora por hora, solitaria eu penso, porque, quando as ouvi, nestas raizes senti correr-me um calafrio intenso.

Recordando o passado e os seus louvores, senti varar-me o cerne hervada se tta !Menos crueis do sol são os queimoresque o fel da ingratidão, se vem de um poeta.

No apogêo do luar, a triumphante mais soberba se ostenta, invaidecída, sorri-se até de ver-me agonisante, fria, nüa, esgalhada, resequida!

Seus enormes topasios, doida, abraça, na opulência do verde, e, em seus delirios, moteja do abantesma da desgraça, das mortas illuzôes... dos meus martyrios.

Pudesse deste chão desarraigar-me, nos trismos do ciume, eu cega, eu, doada, havia de, raivosa, então, vingar-me, com estes seccos punhaes despindo»a toda.

De maüliã, velludosos trovadores dão-lhe os hymnos, as lyricas oblatas, fazem seus ninhos, cantam seus ardores, nem se lembram que existo... Aves ingratas!

Hoje passaro algum seu threno solta em mim, por não achar onda se acolha í

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Uma ave que passou, p assa ... não volta ! . . . Meu Deos, dae-me uma esmola !... uma so folha.

Ou, então, tu que és tão bom, que és tão piedoso, extirpa-me estes membros velhos, lassos, manda-me um furacão bruto e raivoso rebolcar-me no chão, feita em pedaços.

Debalde mostro á lua alvinitente, ao céo, ao sol, a toda a natureza, á tarde, á noite, á aurora rubescente, o espectro vegetal desta tristeza! !!

Morre o homem e logo desparece sob o chão, em que um nome após se lè, e eu, como quem reza eterna prece, permaneço inda aqu i! Porque? Porque?

Se, talvez, por me achar um ente bronco, não quer que n’um seu livro eu tenha assento, entalhe, por piedade, no meu tronco uma idéa... um consolo... um pensamento.

Se ha versos sobre nós aos mil dispersos, para os outros mortaes eu nada valho!Mas inda assim, prefiro um dos seus versos ás estrophes do céo em branco orvalho.

Alberto bem o sabe... Eu fui poetisa!Escrevia canções aos meus amores,sonetos dedicavaá meiga brisa,com as lettras aromaes das minhas flores.

QUARESMA & C., e d i t o s a u

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Via, ao silencio, em noites grandiosas, scenas, que nunca mais hei de revel a s : — o céo, cheio de flores luminosas, e eu, cheia de flóridas estrellas !

Hoje, aos ventos da noite, na paisagem da lua, essa fulgente magnolia, meus galhos, inda mesmo sem folhagem, vibram sons lacrimaes de uma harpa eolia.

O meu estro apagado se insimia com as lagrimas de luz, amarfinadas, da flor de claridade, que flutúa nas nuvens lá do céo, azulejadas.

Mas a outra, a dilecta, alli desataa juba de esmeralda, o seu thezouro,e a lua diluindo os ais de prata,beija os versos que escreve em fructos de ouro.

Quanta dor sentirá, quando o fadario, conturbando-lhe o estro, em treva immerso, o poeta, no seu leito mortuário, não puder escrever o ultimo verso!

Tal é meu desespero, se, na calma da noite, as brisas nos meus galhos bolem, e eu não tenho uma flor, um verso d’alma, onde possa guardar o aureo pollen.

Ha dias, elle, o Alberto, ao jardineiro perguntava por que morrendo estou! J

NOVOS CANTARES 249

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Por que foi perguntar a esse sendeiro, e a mim própria por que n&o perguntou 1

Meu segredo ao poeta assim d iria : —IP uma noite aromai, prenhe de anhelos, conetellada de flores, eu dormia sonhando com os meus fructos amarellos.

Ao influxo das horas confidentes, embalada no afiflar de auras fagueiras, eu sonhava que os astros jaldesoeates fossem mangas das célicas mangueiras.

Eis que sinto passar a brisa austera, trazendo-me ennastrado em seu cabello o perfume saudoso de uma aathera..,E eu abri uma flor para escondel-o...

A lua tramontaval... A brisa errante ciosa, arrebatou-ndo!... Que im piedade!E, assim, qual tu me vês, desde esse instante, comecei a viver para a saudade,

Minhas flores brotavam e«,. morriaml O orvalho lá do céo não me alegrava, e as folhas que de mim se desprendiam, eram lagrimas seccas que eu chorava I

E ... W melhor acabar. A ti concedo dizer-lhe em que o mysterio se resume! tf&o sabe o jardineiro o meu segredo!...Eu morro.,* e quem me mata !... Esse perfum e l

250 QUARESMA & € ., e d i t o r e s

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NOVOS CANTAÈE6 251

Que o poeta de Emma escreva ou diga umas quatro palavras sobre mim, sobre os restos finaes d1 arvore amiga, que tem por cemiterio o seu jardim .

E tu, deixa-me aqui com os braços tensos, como seccos e velhos mastaréos, fitando o grande altar dos céos immensos, e a liostia da saudade erguendo aos céos.

EM TUA FACEAo illustre poeta F i g u e i r e d o P í m e n t e l

Venho de longe. Cansado, não posso mais caminhar!Preciso ser sepultado, que é tempo de descansar.

Morrer seria tão doce, que morte cheia de gosto, se tu quizesses que eu fosse enterrado no teu rosto.

Tu sorris e o caso é serio: sem louza, sem mausoléo, da face no cemiterio tens uma cova do eéo.

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252 QUARESMA & C., e d i t o r e s

Uma covinha celeste, que cheira a todas as flores, onde geme, n’um cypreste, o mocho das nainhas dores.

A J luz da noite alvorosa canta invisivel sereia nessa covinha mimosa de minhas lagrimas cheia.

Nestes olhos, debruçada,m inh^lm a gosta de vel-ana tua face douradacomo a bocca de uma estrella.,

Meus versos, de quando em quando, basta que um pouco sorrias, para que a ouçam cantando uns silêncios de harmonias.

Minhas mãos,a Deos levanto, porque espero a concessã-o de vel-a no campo sancto do meu triste coração !

Minha dor anda sonhando com esse leito macio, que é mesmo um astro boiando na transparência de um rio.

Quando seus lirios resplendem, da lua nas claridades,

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nessa covinha se acendem constellações de saudades.

Vae ao espellio e á luz dos seus maguados retiros, verás erecta uma cruz formada dos meus suspiros.

Almejava ardentemente que em suas paixões secretas, ella fosse o ninho quente do Pantheon dos poetas.

Depondo ao chão meus martyrios, meus soluços abstersos, eu venho accender-lhe os cirios das saudades de meus versos.

Sobre mim teus olhos desce e dize: immaculo e pulchro, que mal faz, dentro da prece, dar-se um beijo n’um sepulcro,

que ha de ser sanctificado pelas glorias nazarenas, se nelle fôr enterrado o Christo das minhas penas!

Nessa cova de violetas de onde sae, em borbotões, o jorro das borboletas das minhas tristes canções!?

NOVOS CANTARES 253

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Em seus fumreoa brinquedos, no seu liror, ella encerra muito mais fundos segredos que as sepulturas da terra*

Deixa, beijando por gosto * das lagrimas o rosário,

adormecer em teu rosto, qne me parece um hostiario,

e terno e plaeido e langue, aos céos geméndo uma trova, cair, para sempre, exangue, no coração dessa cova!

Nella dormir tristemente minh’alma, que a febre escalda, como na folha virente dorme um pingo de esmeralda.

Se Deos me ctér essa graça, verei, depois, se consigo que o Senhor dellà me faça o meu perpetuo jazigo.

254 QUARESMA' & C., e d i t o r e s

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NOVOS CANTARES 255

A morte de ChristoAo dr. S eb astião Tam akqueiba

Irmãos, olliae. Jesus, que os mortos resurgia, sereno, e terno, e dooé, e meigo, desfalleee.Vède! Agora! Expirou! Sen Labie ind* estremece 110 suspiro final do Poema d a Agonia.

A Sancta Crença, a Fé, a Dor que a alma excrucia, o Pranto Sublimado e o Êxtase da Prece, e a Poesia da Dor que apropria dor esqilece, crysfcallisam-se alli nos olho» de Maria.

Meus irmãos, esse Exemplo a humana dor sua visa! Todo o Agror do Soffrer seu Divo Olhar poetisa na Lagrima que esponta aurifulgente e pura.

Meus irmãos, nesse Olhar, Dor e Prazer se enlaçam, o Gozo e o Soffrimento em lagrimas se abraçam, l>ois que o Auge da Dor é o Néctar da Amargura.

D e a n te de um quadro represen tando C ln isto , ex halandoo ultim o su sp iro no regaço de M aria.

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QUARESMA & C., e d i t o k e s

Jk’ TheodoraCaia sobre a tua campa, leves, brancos, abstersoa, este punhado de versos, qual em noite gloriosa cae o sereno bemdicto, como o sanctissimo chôro das estrellas cor de ouro, no ostensorio de uma rosa.

Derrame-se em teu sepulcro a pallidez destes versos, brancos, meigos, abstersos, em que minh?alma transluz, como escorre, mereuchoreo, o crystal que a treva espanca, da lua saudosa e branca dentro d^lm a de uma cruz.

19-12-08

FIM

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QUARESMA & C. — L i v r e i r o s - E d i t o r e s

Acaba de sabir á lu z :

ItYRA POPULtAREscolhida collecção das mais celebres poesias, originaes e

traducçdes dos maiores poetas do B rasil, vivos e mortos, antigos e contemporâneos*

corrigida, m elhorada e m uitíssim o accrescentada em m ais do dobro da prim eira edição.

Para que o publico aquilate do im m enso valor, da extraordiná­ria im portância deste livro, basta dizer que não lja um só poeta de ver­dadeiro valor, de justa nomeada, que não seja perfeitam ente represen­tado nas paginas da Lyra P o p u la r .

José Bonifácio, Pedro L uiz, Francisco Octaviano, M agalhães (Vis­conde de Araguay), Fagundes Varella, Castro A lves, Casim iro de Abreu, A lvares de Azevedo, G onçalves D ias, Bruno Seabra, Pedro de Calazans, Maciel Monteiro (Barão de Itamaraca), Tobias Barreto, A delin o F on ­toura, D. Pedro de Alcantara, (Imperador do Brasil), M artins Junior, Valentim M agalhães, Luiz Guim arães Junior, Velho da S ilv a , Joaquim Serra, João Nepom uceno K úbitschek, Raym undo Corrêa, O lavo B ila t, Alberto de Oliveira, Arthur A zevedo, Machado de A ssis , G uim arães Passos, Medeiros e Albuquerque. Affouso Celso, Catullo C earense, Mucio T eixeira, Ernesto Senna, Carlos Ferreira, Leoncio Corrêa, A lcindo Gua­nabara, Luiz Delfino, e tc .,e tc .. em u m a p a lavra : os m a is q u e r id o s , os m a is d eco ra d o s , os m a is r e c ita d o s p o e ta s b r a s ile ir o s , ab i fig u ra m com sob erb a s co m p o siçõ es .

Além dessas joias inestim áveis da litteratura brasileira, contétn ainda todas as poesias dos notáveis getiios poéticos : J o s é B o n ila c io , P ed ro Luiz e F ra n c isco O cta v ia n o , m uitas das quaes absoluta­m ente inéditas, inteiram ente desconhecidas, que até agora já in a is havim sido publicadas, e varias outras que se achavam esparsas ein jornaes acadêm icos e em revistas de curta duração.

A L Y R A POPTJEAR é, pois, um verdadeiro m onum ento que er­guem os á poesia. ^

Um grosso volume de fo m trinta e seis retratos dosmaiores poetasy e deslumbra?ite capa em cliromo-lithographia, do insigne artista brasileiro R a u l .................................................. 3$ooo

NOVA EDIÇÃO

IJ V I tA K IA l>0 P O V O — Itiia <le S. J o s é , 71 e 73

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