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0 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS CURSO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS A POLÍTICA EXTERNA NORTE-AMERICANA NO PÓS 11 DE SETEMBRO: O CINEMA COMO FERRAMENTA DE SOFT POWER TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO Bruno Rizzi de Vieira

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIACENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS

CURSO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS

A POLÍTICA EXTERNA NORTE-AMERICANA NO PÓS 11 DE SETEMBRO: O CINEMA COMO FERRAMENTA

DE SOFT POWER

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

Bruno Rizzi de Vieira

Santa Maria, RS, Brasil

2014

1

A POLÍTICA EXTERNA NORTE-AMERICA NO PÓS 11 DE SETEMBRO:

O Cinema como Ferramenta de Soft Power

por

Bruno Rizzi de Vieira

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Relações Internacionais da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS),

como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Relações Internacionais

Orientadora: Profª. Danielle Jacon Ayres Pinto

Santa Maria, RS, Brasil2014

2

Universidade Federal de Santa MariaCentro de Ciências Sociais e Humanas

Curso de Relações Internacionais

A Comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova o Trabalho de Conclusão de curso

A POLÍTICA EXTERNA NORTE AMERICANA NO PÓS 11 DE SETEMBRO: O CINEMA COMO FERRAMENTE DE PODER

elaborada porBruno Rizzi de Vieira

como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Relações Internacionais

COMISSÃO EXAMINADORA:

Danielle Jacon Ayres Pinto, Msª.(Presidente/Orientadora)

José Renato Ferraz da Silveira, Dr. (UFSM)

Fernando José Ludwig, Ms. (Universidade de Coimbra)

Santa Maria, 01 de dezembro de 2014.

3

Dedico esse trabalho a minha avó, Thecla Müller Rizzi, e ao meu avô,

Bruno Antônio Rizzi, por acreditarem em mim e sonharem com este dia

até o inevitável fim.

4

Pela realização desse trabalho e a jornada feita até aqui, eu

gostaria de agradecer a todas as pessoas que de forma direta ou

indireta contribuíram, seja com auxílios e orientação, seja com

paciência, conversas e motivação.

Em especial ao prof. Dr. José Renato Ferraz da Silveira, por ser

aquele que vestiu a camiseta do curso de Relações Internacionais em

primeiro lugar, batalhando e construindo um espaço acadêmico de

qualidade. Ademais, agradeço pelos primeiros ensinamentos de RI e

pelo exemplo de professor e acadêmico que sempre demonstrara ser.

A profª. Danielle Jacon Ayres Pinto, minha orientadora, por toda a

paciência e dedicação com o meu trabalho, além do brilhantismo dentro

de sala de aula. As próximas gerações do curso de RI da UFSM terão

muito sorte de tê-la desde o início.

E finalmente, ao meu pai, Adão Rodrigues de Vieira, por ser um

exemplo para mim de ser humano; minha mãe, Mary Rizzi de Vieira, por

toda a dedicação e carinho ao longo dos anos; e ao meu irmão,

AdhanRizzi de Vieira, por estar ao meu lado dia após dia, nos bons e

maus momentos. Eu devo tudo a vocês, minha família. Obrigado.

5

RESUMOTrabalho de Conclusão de CursoCurso de Relações Internacionais

Universidade Federal de Santa Maria

A POLÍTICA EXTERNA NORTE-AMERICANA NO PÓS 11 DE SETEMBRO: O CINEMA COMO FERRAMENTA DE SOFT POWER

AUTOR: BRUNO RIZZI DE VIEIRAORIENTADORA: DANIELLE JACON AYRES PINTO

Data e Local da Defesa: Santa Maria, 01 de dezembro de 2014.

O presente trabalho tem por objetivo evidenciar o uso do cinema como uma

ferramenta de soft power na condução da política externa dos Estados Unidos. Para

isso, utilizando-se de uma ampla revisão bibliográfica, o trabalho foi dividido em

quatro partes distintas, sendo a primeira um arcabouço histórico da formação da

política externa norte-americana, assim como sua natureza e recursos de poder,

culminando em sua hegemonia, com atenção especial ao atentado terrorista de 11

de setembro de 2001, escolhido como caso de estudo devido ao seu importante

impacto na história e política dos EUA. Em seguida, fora abordado e explicado o

conceito de soft power, suas fontes e alcance, além de evidenciarmos a importância

da cultura no âmbito político e como ela pode ser decisiva no sistema internacional

contemporâneo. O terceiro capítulo é específico para a evolução e uso do cinema e

a sua relação íntima com a política, como consequente recurso de soft power,

culminando, então, na última parte do trabalho, onde é possível enxergar como a

indústria cinematográfica reagiu ao 11 de setembro, através dos filmes As ‘Torres

Gêmeas’ e ‘Guerra ao Terror’, resultando no auxílioao governo norte-americano a

justificar determinadas medidas e a recuperar o sentimento de segurança do povo

estadunidense perdido diante da demonstração de vulnerabilidade ocasionado pelo

atentado.

Palavras-chave: política externa; EUA; soft power; cinema; 11 de setembro.

6

ABSTRACT Trabalho de Conclusão de CursoCurso de Relações Internacionais

Universidade Federal de Santa Maria

ANORTHAMERICANFOREIGN POLICYINPOSTSEPTEMBER 11: CINEMAAS A TOOL FORSOFTPOWER

AUTHOR: BRUNO RIZZI DE VIEIRAGUIDING: DANIELLE JACON AYRES PINTO

Date and Local of the Presentation: Santa Maria, December 01th.

The present work aims to demonstrate the use of cinema as a tool of soft

power in the conduct of foreign policy of the United States. Thereunto, using a broad

literature review, the work was divided into four distinct parts, the first being a

historical framework of the formation of US foreign policy as well as its nature and

power resources, culminating in its hegemony with special attention to the terrorist

attack of September 11, 2001, chosen as case study because of its significant impact

on the history and politics of the USA.Then was approached and explained the

concept of soft power, its sources and scope, also we make clear the importance of

culture in the political realm and how it can be decisive in the contemporary

international system. The third chapter is specific to the development and use of film

and its intimate relationship with politics, as consequent resource of soft power,

resulting then in the last part of the job where you can see how the film industry

responded to 11 September through the films the ‘World Trade Center’ and ‘The Hurt

Locker’, resulting in helping the US to justify certain measures and recover the sense

of security of the American people before the government lost demonstration of

vulnerability caused by the attack.

Keywords: foreign policy;USA; soft power; cinema;September 11th.

7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.........................................................................................8

1. CONSTRUÇÃO DA POLÍTICA EXTERNA: A HEGEMONIA NORTE-AMERICANA............................................................................111.1 Os preceitos e o sistema da política externa estadunidense........................151.2 Os novos rumos da política externa dos EUA no século XXI: o 11 de setembro...................................................................................................................19

2. O CONCEITO E A NATUREZA DO PODER.....................................252.1 Soft Power: a cultura como recurso de poder................................................282.2 Os Estados Unidos e a sua estruturação do soft power................................33

3. O CINEMA COMO FERRAMENTA POLÍTICA..................................363.1 A reação da indústria cinematográfica após o 11 de setembro de 2001......39

CONCLUSÃO.........................................................................................43

REFERÊNCIAS......................................................................................46

8

INTRODUÇÃO

Na manhã do dia de 11 de setembro de 2001, o mundo assistia um evento

que marcaria para sempre os livros de história. Através de transmissões midiáticas,

como o jornal, a televisão, o rádio, ou ainda, a internet, víamos o que na época

parecia simplesmente impossível: o território norte-americano sendo atacado,

sofrendo danos e denunciando, enfim, que não era um Estado invulnerável. As duas

torres do ostensivo World Trade Center, um símbolo da grandiosidade norte-

americana, foram atingidas por aviões seqüestrados e consequentemente ruíram,

carregando consigo o sentimental, psicológico e a vida de muitos cidadãos

estadunidenses.

Apesar dos atentados não terem modificado o equilíbrio de poder mundial na

época, a sensação de medo e insegurança tomava conta dos EUA, e, dessa

maneira, mudanças tanto internas quanto externas se tornavam necessárias.

Segundo Pecequilo (2012), nessa época o governo de George W. Bush liberou

forças neoconservadoras e iniciou uma campanha para vincular o terrorismo com

Estados islâmicos, tudo para que houvesse o surgimento de um novo inimigo e,

assim, os EUA colocarem em prática a sua principal política da época, a Guerra ao

Terror.

No entanto, para justificar o alto custo das guerras que seriam travadas

posteriormente – Afeganistão e Iraque –, a conseqüente vida dos norte-americanos

mortos nas batalhas, e as séries de medidas políticas que foram tomadas em

decorrência da Guerra ao Terror, o governo estadunidense precisaria se utilizar

desse sentimento de fragilidade e medo em seu favor, para ter ao seu lado tanto o

povo norte-americano, quanto a comunidade internacional.

O vigente trabalho, então, objetiva analisar o desenvolvimento do poderio

estadunidense através de uma ferramenta mais branda de impor poder,

teoricamente menos agressiva, no entanto, muito ampla e devastadora: o soft power

– aqui relacionado e estudado através da indústria cinematográfica, que se torna

maior e mais influente dia após dia.Dessa forma, o atentado de 11 de setembro e

todas as suas ramificações políticas e sociais surgem como estudo de caso, com a

intenção de entendermos o papel e a importância do soft power na política externa

dos EUA, bem como ela é capaz de ditar os rumos do sistema internacional.

9

Para isso, o trabalho foi dividido em três capítulos distintos, sendo o primeiro

deles uma evolução histórica da política externa dos EUA e a conseqüente

construção de sua hegemonia, desde o fim da guerra da independência (1783)

contra a Inglaterra, até a Doutrina Obama (2010). Em seguida, abordamos quais são

os preceitos e como funciona a sistemática da política externa norte-americana,

onde Pecequilo (2012) nos ensina que os EUA partem da premissa que são uma

nação distinta e superior as demais, e, dessa forma, que serve de exemplo as

demais sociedades.

Ao término do capítulo 1, o atentado de 11 de setembro recebe o seu

destaque e analisamos quais foram os seus reflexos na sociedade norte-americana

e principalmente qual o rumo tomado pelos governos Bush (2001-2008) e Obama

(2009-atualidade), com enfoque especial a Guerra ao Terror.

Após uma explicação histórica sobre a política externa dos EUA, era

necessário se fazer entender sobre o que se trata o soft power e qual a sua real

importância no mundo contemporâneo. Dessa forma, o segundo capítulo inicia uma

discussão sobre o que é afinal o poder, analisando a sua natureza e seus recursos,

e, através dos ensinamentos de Nye (2004), compreendemos as suas três

dimensões – o poder militar, o poder econômico (hard power) e o poder brando (soft

power).

Em seguida, vemos a importância da cultura, um recurso de soft power, é

importante para as políticas de um Estado, devido a sua habilidade de produzir e

encadear sentimentos que podem formar o centro da identidade individual, ou seja,

a fonte em potencial para a formação de pensamentos e consequentemente as

ações de um governo (STREET, 1997).

Ao final, entendemos como se deu a formação e estruturação do soft power

norte-americano, através, inicialmente, do combate ao nazifascimo, e mais tarde, no

contexto da Guerra Fria, onde era necessário derrotar ideologicamente a URSS.

Culminando, então, ao final do trabalho, chegamos ao último capítulo, onde

na primeira parte enxergamos como a função do cinema evoluiu ao passar dos

anos, não se restringindo a sua capacidade de entreter e divertir, mas se

relacionando a cultura, história e política de um Estado, não apenas sendo

influenciado, mas também influenciando e auxiliando, constituindo-se, assim, como

um recurso de soft power.

10

A segunda parte do capítulo, por sua vez, tem a função de ilustrar o quadro

levantado pelo trabalho, ao se utilizar do atentado de 11 de setembro como

importante marco, e como se deu a reação do cinema ao acontecimento. Para isso,

foram selecionados dois filmes, ‘As Torres Gêmeas’ (2006) do diretor Oliver Stone, e

‘Guerra ao Terror’ (2008) de KathrynBigelow, para que fossem analisados não como

obra de arte, mas sim como ferramenta política, com a intenção de observar a

influência causada ao povo norte-americano tanto no sentido emocional e

psicológico, como para justificativa das medidas tomadas no governo Bush que

levaram as guerras contra o Iraque e Afeganistão.

11

1. CONSTRUÇÃO DA POLÍTICA EXTERNA: A HEGEMONIA NORTE-AMERICANA

Ao final do século XIX, um período de grande prosperidade econômica deu-

se início nos Estados Unidos, transformando-se numa das maiores potências

mundiais e ocupando um lugar de destaque no cenário internacional, começando o

caminho para se tornar uma hegemonia e ganhando a atenção de inúmeros países

ao redor do globo. Com esta perspectiva em mente, diversos estudos e pesquisas

surgiram com o intuito de desvendar e explicar como os Estados Unidos foram

capazes de galgar tamanha posição de destaque em tantas áreas, como, por

exemplo, na econômica e na política, e como sua posição foi concebida através dos

anos no mundo contemporâneo e o seu modo de atuação atual.

Através da ótica de construção histórica dos Estados Unidos como nação de

destaque no sistema internacional, Fiori (2004) alega que o surgimento do país

acompanha o modo europeu de Estados e economias nacionais, afirmando que “a

história dos EUA não constitui uma exceção em relação ao modelo de estados e de

economias nacionais européias” (FIORI, 2004, p. 66) e de que é impossível separar

o nascimento dos EUA da competição e das guerras entre as gigantescas potências

européias, destacando, ainda, que este “é impensável sem a intervenção decisiva do

estado e das guerras americanas sem o apoio inicial e permanente do capital

financeiro inglês” (Ibid., p. 67).

O desenvolvimento norte-americano no entendimento de Fiori (2004, p. 71) foi

de que sem dúvidas houve um pioneirismo no “desenvolvimento a convite”. Os EUA

demonstraram desde o início uma disposição ao expansionismo, assim como os

primeiros Estados europeus que “nasceram na forma de “minotauros” – meio-

estado, meio-império” (Ibid., p. 68).

Desde 1783, quando a guerra da independência contra a Inglaterra encontrou

o seu fim, a história dos Estados Unidos é para Bandeira (2006, p. 27) “a história de

sua expansão contínua, primeiro internamente, contra os índios e mexicanos, e

depois externamente, como potência imperial”. O intervalo que caminha da segunda

metade do século XIX até a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), conhecido como

“A Época dos Impérios”, demonstra, para Bandeira, a busca das potências

industriais por espaços econômicos em outros continentes.

12

Foi nesta época que os Estados Unidos iniciaram a sua fase expansionista, a

partir da guerra contra a Espanha, em 1898, onde tinham como objetivo conquistar o

que restava do império colonial espanhol. Durante o conflito, os norte-americanos

ainda conseguiram incorporar Cuba, Filipinas, Guam e Samoa. De acordo com

Bandeira (2006, p. 53) foi a partir de então que se deu início “a formação do império

americano, a fase de exportação de capitais”.

Em O novo imperialismo, David Harvey (2004) destaca a posição dos Estados

Unidos depois da II Guerra Mundial como a potência inegavelmente predominante.

Eram eles os líderes de tecnologia e produção, e a sua moeda – o dólar – reinava

supremo, assim como seu poderio militar demonstrava-se infinitamente superior aos

demais. Assim, os EUA apresentaram-se, externamente, como os maiores

defensores da liberdade e da propriedade privada, buscaram construir uma ordem

internacional aberta ao comércio e ao desenvolvimento econômico com bases

capitalistas. Passaram, então, a manter relações privilegiadas de “comércio,

clientelismo, patronato e coerção encoberta – sendo essas as principais armas de

controle mundial” (HARVEY, 2004, p. 52). Para manutenção e suporte dessa

posição foram criados o acordo de Bretton Woods, o FMI, o GATT, a OCDE, afim de

“coordenar o crescimento e o desenvolvimento capitalista a todo resto do mundo não

capitalista” (Ibid., p. 52).

Contudo,ahegemoniaincondicionaldosEUA gradativamente chegariaaofim com

aUnião Soviética obtendo abombaatômicaeabombadehidrogêniorespectivamente

em1949e1953, acabando com a supremacia nuclear norte-americana. Mas foi

apartirdadécadade1960queos EUA passaramase

vercadavezmaisrodeadosdesituaçõesdelicadasaoseuinteresse nacional, isso porque,

emboraparecessemsurgirelemento

sdecoexistêncianosistemainternacional,aURSSalcançava

aparidadeestratégica,acirrandoadisputabipolar,enquanto osnorte-

americanosnãoconseguiamselivrardanovaimpressão de superioridade

soviéticanarelaçãoentreos doispaíses.

Essaimpressãoapenaspioroucomosurgimentodoprocessode descolonização

qu

ereforçouaidéiadaofensivasoviéticanoTerceiroMundo.ComaeleiçãodeJohnF.esuapolít

icade“NovasFronteiras”,osEUAobservaramumasuperextensãodesuascapacidades,co

mo o aumentodenovasintervençõesnospaísesperiféricosedegastosnosetordedefesa.

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Tudoissocontribuiuparaoenormeescapederecursosnorte-americanos,

resultando,aofimdessadécada,

nodeclíniorelativod

asuperpotência.Paracomplicaraindamaisaposiçãodopaís,oscustoscomaGuerradoViet

nãdebilitavamaeconomia,eosrumosdesseconflitopareciamguiarosEUAaum

futuroincerto–

qu

eresultarianaquebradoconsensodomésticoenoquestionamentodaconduçãodapolíticae

xterna vigente (PECEQUILO, 2003).

Assimsendo,osEUAiniciaramadécadad

e1970comfortedesgastedesuaposiçãohegemônica. A

e

conomianacionalapresentavasinaisdedeclínio,comreduçãonaparticipaçãodoPIBmundi

aleendividamentointerno.AGuerradoVietnãpermaneciainacabada,expondoaomundoa

dificuldadeamericanadelidarcomoconflitoeminandoa

su

alegitimidadecomolíderglobal.OsEUAjáhaviamatingidoomáximodesuapotência.Serian

ecessário,portanto,reversuasprioridadeseadotarumnovopadrãodecomportamento – a

détente, que alcançou seu auge no governo de Richard Nixon (AMBROSE, 1993).

Defato,comodemonstraopróprioNixon(1972 apud AMBROSE, 1993, p.235),

“asituaçã

omundialexigiadonovogovernorepublicanomudançasfundamentaisemsuaposturaglob

al”.OsEUAnãomaisapoiariamademocraciaealiberdadeindividualnasregiões‘dominada

s’

pel

ocomunismo,epassariamaagirdeformamaislimitadaeseletiva.Esserecuorefletiaachega

dadeumanovaeranahistóriamundial:ofimdahegemonianorte-americanadopós-

guerra(AMBROSE, 1993).

Segundo LaFeber (1997), a détente, ou diminuição da tensão internacional,

teve suas origens em 1967-1968, ao fim do governo Lyndon Johnson, em um

momento em que as tropas americanas sofriam fortes baixas no Vietnã, e seu ápice

em 1971-1972, durante o primeiro mandato Nixon. E embora Johnson houvesse

tentado uma relação de détente com os soviéticos, dois fatores impediam a sua

iniciativa: o ataque surpresa dos norte-vietnamitas em fevereiro de 1968, e a invasão

14

a Tchecoslováquia pela URSS em agosto do mesmo ano.

Durante

adécadade1970,adétentefoitantoumaválvuladeescapedastensõesmundiais, como

uma tática paracontrolara emergência da URSS como potênciaglobal.

Aobuscaradaptaraposiçã

ointernacionaldosEUAaonovocontextomundialdedeclíniorelativodopoderiodopaís,ogo

vernodeRichardNixonempenhou-

s

enanegociação,aoinvésdaconfrontação.Aênfaseemadotartalposturaerareforçadapelo

fato de que a URSS havia atingido a paridademilitar comos EUA.

Com

oresultado,ogovernoNixonbalizousuasrelaçõescomossoviéticosdeacordocomquatrop

rincípios:

[...] julgar a política soviética de acordo com suas ações, buscando posturas conciliatórias; tentar resolver questões que dividiam os dois países; não estabelecer nenhuma condição para as negociações, julgando cada uma de acordo com seus méritos próprios; e estipular a auto restrição ampla e mútua das duas superpotências(NIXON, 1972 apud AMBROSE, 1993, p.262).

De forma geral, apesar das tentativas das duas potências de manter uma

coexistência pacífica, inúmeras divergências ideológicas, políticas e econômicas

manifestadas em atitudes pessoais, domésticas e internacionais refletiram a

impossibilidade dessa política no longo prazo, refletida principalmente em conflitos

internacionais nos quais havia ameaças de ambos os lados e nas manifestações

domésticas que contrariavam essa política.

Foi apenas com a queda do Muro de Berlim, em novembro de 1989, que após

quarenta anos de conflito que visavam a expansão e consolidação dos diferentes

modos de vida das duas superpotências, Estados Unidos e União Soviética, que

encerrou-se a Guerra Fria. Como afirma Pecequilo (2001, p.13)

mais indireta do que diretamente, mais com armas políticas, econômicas, tecnológicas do que com o enfretamento em uma guerra aberta, soviéticos e americanos comandaram os rumos da política mundial, definindo o perfil das relações internacionais contemporâneas.

O final da Guerra Fria constituiu, de fato, a conquista de um dos modos de

vida sobre o outro. Perante a força política e econômica dos Estados Unidos e seus

15

aliados, a União Soviética pereceu, abrindo mão de suas posições na Europa e no

resto do mundo, resultando na fragmentação de seu bloco e de suas instituições,

como o Pacto de Varsóvia e o COMECON. Cerca de dois anos após a queda do

Muro de Berlim, em 1991, seria a vez do desmantelamento da própria União

Soviética e do restante de seu império, aniquilando o território em inúmeros Estados

autônomos, que passaram a constituir a CEI, Comunidade dos Estados

Independentes (PECEQUILO, 2001).

Neste cenário, a aparente universalização dos princípios do liberalismo

político e econômico massificou a expressão “O Fim da História”, desenvolvida por

Francis Fukuyama (1989), como maneira de demonstrar a preponderância destes

princípios a uma suposta falta de modelos ideológicos alternativos. Assim como nos

diz Pecequilo (2012, p. 9), o sistema internacional penetrava a era do “Segundo

Século Americano”, em comparação à continuidade do “Século Americano”. Assim,

com o final da bipolaridade mundial, restava apenas atualizar o conjunto de ideias

político-sociais, econômicas e estratégicas a uma nova realidade.

Dessa forma, apesar do crescimento do poder e influência de diversas

nações, como afirma Pecequilo (2012, p.10), “os norte-americanos permaneceram

como um fator de estabilidade ou desequilíbrio nas relações internacionais,

validando a hipótese do “Segundo Século Americano”.

No entanto, a hegemonia do século XXI encontra-se dividida em debates

sobre suas políticas domésticas e externas, o perfil de sua sociedade e valores, em

sua percepção e análise de seu poder, das demais nações e as perspectivas de

ordenamento do poder mundial. Esta partição leva ao desequilíbrio de posições

políticas que produziram, cerca de duas décadas de pós-Guerra Fria, três grandes

estratégias: o Engajamento & Expansão (1994), a Doutrina Bush (2002) e a Doutrina

Obama (2010).

1.1 Os preceitos e o sistema da política externa estadunidense

O pensamento político norte-americano é constituído por diferentes

componentes, sendo o primeiro deles a premissa de que a nação é distinta e

superior às demais, assegurando um sentimento de excepcionalismo. Derivada da

compreensão da República democrática como um experimento superior, o

16

sentimento serve de exemplo às demais sociedades (PECEQUILO, 2012). A

Declaração da Independência de 1776 demonstra exatamente isso, assim como no

contexto da Revolução Americana que tornou o país soberano diante dos ingleses, e

em outros instrumentos legais, como a Constituição dos Estados Unidos. Esse

sentimento de superioridade e excepcionalismo são descrita por Hamilton (1984,

p.16) da seguinte forma:

[...] sois chamados a deliberar sobre a nova Constituição dos Estados Unidos da

América. O assunto dispensa comentários quanto à própria importância, incluindo em

suas consequências nada menos do que a existência da União, a segurança, o bem-

estar das partes que a compõem e o destino de um império que é, sob vários

aspectos, o de maior interesse do mundo. Frequentemente se tem salientado que

parece ter sido reservado ao povo deste país por sua conduta e exemplo, decidir

importante questão: se as sociedades humanas são realmente capazes ou não de

estabelecer um bom governo a partir da reflexão e do voto ou se estão para sempre

destinadas a depender do acaso e da força para as suas constituições políticas.

A ratificação da Constituição entrou em vigor em 1789, e é importante

salientar, como demonstra Pecequilo (2012), que a “batalha constitucional”

composta durante o processo, ilustra perfeitamente a dinâmica tradicional de

polarizações que domina a política interna e externa desde a fundação da

república. O país não possuiu uma carta definitiva de 1776 a 1789, encontrando-se

dividido entre os defensores de uma União sólida, com centralização de poder em

nível federal, e os que advogavam a prevalência dos governos estaduais e dos

interesses individuais sobre a nação. Ao longo da história, esse embate assumirá

diferentes formas, mas tende a girar sempre em torno das mesmas oposições

sobre o papel sociopolítico-econômico do Estado: o Estado nacional contra a

sociedade (e o indivíduo), que se expressam na divisão “grande Estado” e

“pequeno Estado”.

Assim sendo, com a intenção de estabelecer este modo de vida, os Estados

Unidos preenchem uma posição especial no sistema internacional, ao qual se liga a

uma função: estimular este exemplo primeiramente por meios retóricos, e então

depois práticos. Como nos ensina Pecequilo (2012, p.2), os meios retóricos fazem

referência à premissa do “ensinar pelo exemplo” e à imagem do “farol da

humanidade” e da “cidade na colina”, ao lado da expressão “alianças não

permanentes”. O entendimento para estas visões é a de que a difusão da

17

democracia internacionalmente se encontra ligada à consolidação da nação. Essa

avaliação, no século XVIII, atendia a uma realidade palpável de fragilidade de uma

país recém-independente que precisa se fortalecer e se resguardar de ameaças.

Sob a nomenclatura de “Tradição de Washington”, essa agenda fundamenta

duas correntes táticas para o desempenho do poder nacional, sendo elas: o

isolacionismo, que subentende um visível distanciamento do mundo, conservando

o país (tática minoritária), e a do internacionalismo unilateral, um tanto quanto

comum nas relações internacionais. Assim, o unilateralismo garante ao país,

segundo Pecequilo (2012, p.3), “maior margem de manobra e liberdade, guiando-

se somente por seu interesse nacional”. Os Estados Unidos, dessa forma, não irá

deixar de atuar no sistema internacional, contudo, o farão apenas de maneira

tópica, sob alianças não permanentes e em momentos de real inevitabilidade.

A consolidação dos pilares do poder nacional concede o início da transição

da retórica para a prática, com destaque no compromisso externo e na projeção de

poder. Surge, assim, o conceito de Destino Manifesto, tornando o alargamento de

fronteiras não apenas um direito, mas um dever, de formar a construir um mundo

mais próximo aos ideais de liberdade estadunidenses. Para Williams (1959, p.53) a

lógica da expansão das fronteiras é definida como a “tragédia da diplomacia norte-

americana”, pois, estando ligada ao crescimento, a prosperidade e a imagem

nacional a um curso contínuo de expansão que encontrará seus limites, o resultado

se dará como crise e declínio, de recursos, limites físicos e ante a resistência de

outras sociedades.

A expansão das fronteiras, de acordo com sua evolução, detém duas

dimensões: a interna, sustentando o curso de alargamento continental do país no

século XVIII e XIX, consentindo a consolidação do território do Atlântico ao

Pacífico; e a externa, com o início das incursões no continente americano e no

Pacífico, passando, então, para o Wilsonianismo do pós-Primeira Guerra e o

estabelecimento da hegemonia contemporânea a partir de 1945 (PECEQUILO,

2012).

A incursão no continente tem como norte a Doutrina Monroe (1823),

assegurando o domínio norte-americano sobre o ocidente, sua zona natural de

influência geográfica. Sob o slogan “América para os Americanos”, todo o território

do continente americano deveria ser conservado de avanços extracontinentais.

Como afirma Pecequilo (2012, p.4), “essa promoção é associada a uma contenção,

18

só que de poderes intracontinentais, visando preservar o controle deste espaço”.

Em 1918, com o término da Primeira Guerra Mundial, todo o ideário norte-

americano aliou-se ao Idealismo Wilsoniano, ou apenas Wilsonianismo. Composta

pelo Presidente Woodrow Wilson, esta agenda tinha como objetivo à composição

de uma ordem internacional estável, que encontraria sustento em três principais

pilares: a democracia, a segurança coletiva e a autodeterminação dos povos.

Segundo a visão de Wilson, regimes democráticos têm uma inclinação maior a ser

mais pacíficos e a cooperarem entre si, favorecendo a paz e a estabilidade através

do compartilhamento de valores em comum (HERZ, HOFFMAN, 2004). Introduzido

no Tratado de Versalhes (1919), Wilson propõe a consolidação da Liga das

Nações. Sendo um embrião das Nações Unidas, a Liga seria composta por todos

os Estados do sistema internacional, defendendo a segurança coletiva. E por fim, a

autodeterminação dos povos objetivava a garantir ao direito do autogoverno de

grupos sociais que tivessem uma identidade cultural, étnica e religiosa em comum

que os qualificasse a reivindicar a soberania.

Esta postura ativista, no entanto, ganhou força apenas ao final da Segunda

Guerra Mundial, em 1945, tendo como alicerces os recursos ideológicos e

materiais, iniciando, de fato, a sua era hegemônica, conhecida como o Século

Americano. Essa hegemonia, concebida através da visão de uma República

excepcional, é constituída por diversas estruturas de poder aglomeradas e ideais

que transmitem o caráter liberal dos Estados Unidos. Dessa forma, Ikenberry

(2006, p. 131), nos diz:

[...] a ordem Americana do pós-guerra é uma “hegemonia penetrada”, um sistema

abrangente no qual a política doméstica e a internacional se misturam, criando um

elaborado sistema político transnacional e transgovernamental com os EUA no núcleo.

Através de um “estilo especial de liderança”, Pecequilo (2012) nos fala que

os Estados Unidos objetivavam a consolidação de uma dominação “benigna”,

corroborada pela opção da autorrestrição estratégica. Assentado nos fundamentos

da cooperação institucionalizada em organizações internacionais governamentais

(OIGs), o internacionalismo multilateral conquistou certa prioridade apoiado em

uma retórica positiva de democracia e liberdade. Obviamente, o poder militar não

seria descartado, mas seria ligado a outros mecanismos de dominação. Sendo

composta por três pilares centrais, a hegemonia norte-americana era composta

19

pelo estrutural, o institucional e o situacional. Na classificação elaborada por Nye

(2002), os poderes correspondem ao duro, brando e de cooperação.

A missão de erguer uma ordem ante as tendências unilaterais e a

conservação deste perfil de dominação foi ligada a tarefa de contenção da União

Soviética, como maneira de produzir consenso interno e um menor questionamento

da função global. No momento da constituição da hegemonia, esta contenção foi

definida como essencial à preservação do modo de vida nacional, uma vez que os

modelos soviético e norte-americano, socialista e capitalista, foram definidos como

incompatíveis. Dessa forma surgiu a realidade da Guerra Fria, em 1947, que,

segundo Pecequilo (2012, p.5) levou “à construção do sistema de organizações

multilaterais e redes de interdependência externas e do reforço do aparato militar e

diplomático norte-americano para a projeção do poder hegemônico”.

A relação bipolar das superpotências possuía uma natureza sistêmica por

conta dessa percepção, envolvendo todos os elementos sociais-econômicos-

culturais-estratégicos e políticos que compunham estes modos de vida, e a forma

pela qual as superpotências buscavam a consolidação e expansão de suas zonas

de influência (Halliday, 1999).

Muito mais do que a contenção da União Soviética, do comunismo e a

disseminação da democracia e livre mercado, a bipolaridade representou, para

Halliday (1999), uma disputa pelo controle do mundo entre duas potências, e que

não foi homogênea em sua evolução. No decorrer da Guerra Fria, as convicções da

missão especial e da identidade definida pelo combate ao inimigo foram

fundamentais e apoiaram o consenso doméstico. Dessa forma, o princípio do

inimigo se tornou prático para a consolidação da identidade nacional a partir de

outro. Isso tanto é verdade, que após o final da bipolaridade global, uma das

dificuldades estratégicas centrais tem sido a de introduzir um novo inimigo. Com a

falta destes fundamentos, as relações políticas e jogos de barganha domésticos

demonstram uma condição permeável ao debate e a demandas, como, por

exemplo, a fragmentação e a instabilidade.

1.2 Os novos rumos da política externa dos EUA no século XXI: o 11 de setembro

20

Ao longo dos anos 90, o mundo assiste à queda do Muro de Berlim, à

desestruturação da União Soviética e à consequente superação definitiva da

bipolaridade mundial, dando lugar a uma nova ordem em formação, iniciado durante

o governo de George H. Bush (1989-1993). Este operou a passagem de um cenário

a outro inaugurando a nova postura internacional norte-americana com a Guerra do

Golfo e as negociações do Acordo de Oslo, mas mantendo a tradição republicana de

não se envolver diretamente com problemas mais estruturais (SARAIVA, 2007).

O governo de Bill Clinton (1993-2000) teve dentro deste processo um papel

decisivo. A perspectiva de política internacional da administração democrata colocou

os Estados Unidos em um papel ativo no que diz respeito à consolidação desta nova

ordem, atuando em diversas frentes e estruturando, em aliança com os parceiros

europeus, um novo marco para a segurança internacional. Dentro desta perspectiva,

a valorização da democracia e dos direitos humanos ocuparam um papel importante,

apesar de todas as limitações impostas pelo modelo de formulação de política

externa norte-americana (Ibid, 2007).

O governo de George W. Bush filho (2001-2008) pode ser dividido, de acordo

com Pecequilo (2012), em três fases distintas: de janeiro a setembro de 2001,

setembro de 2001 a dezembro de 2004 e janeiro de 2005 ao final do segundo

mandato. A primeira destas fases é representada por tendências mistas de

ofensivas neoconservadoras, resistência interna e baixa popularidade. A postura do

governo de Bush filho se caracterizava por ações realistas e pragmáticas para o país

no globo, seguindo a influência do princípio de poder, e não multilaterais e

humanitários como os de Clinton. Nessa época, foram retomados a construção do

escudo antimísseis e foram geradas tensões diplomáticas com a Rússia e China.

Os atentados ocorridos na manhã de 11 de Setembro de 2001 acontecem em

um momento que os Estados Unidos atingem a plena maturidade de seu poderio

hegemônico, e “ocupam um lugar no panteão das potências mundiais comparável

apenas a Roma Imperial” (BARBOSA, 2002, p.73).

No entanto, os atentados terroristas modificaram essa visão excepcional, ao

introduzir um consenso baseado no medo inédito que atingiu a potência norte-

americana após a perda da invulnerabilidade do território continental. Embora não

tenham afetado o equilíbrio de poder mundial naquele momento, os atentados

geraram efeitos internos e externos, que provocaram essas mudanças no médio

prazo (PECEQUILO, 2011).

21

No âmbito interno, o governo estadunidense liberou as forças

neoconservadoras e favorecerem a criação de um novo inimigo: o terrorismo

fundamentalista islâmico de caráter transnacional. Além disso, foram implementadas

regras de censura e restrição de liberdades civis pelo Estado. Já no âmbito externo,

a Guerra Global Contra o Terror (GWT, Global War onTerrorism), produziria duas

guerras na Ásia Central e no Oriente Médio: o Afeganistão, tendo a Al-Qaeda de Bin

Laden e o talibã como seus alvos; e o Iraque, possuindo como alvo central Saddam

Hussein (Idem, 2012).

De maneira estratégica, o 11 de setembro ecoou no

QuadrennialDefenseReview de 2001, tendo sido atualizado em 2006, onde é

afirmado que uma nova era de ameaças aos Estados Unidos e ao mundo havia se

iniciado, sendo necessário combatê-lo em nível global. A lógica dessa política foi

sistematizada em 2002, num discurso de Bush filho na Academia de West Point,

identificando um Eixo do Mal, na qual eram inseridos os Estados bandidos e falidos,

como Irã, Iraque, Cuba, Coréia do Norte, Síria e Líbia. Ainda no mesmo ano, em

setembro, essas posturas alcançariam sua última forma com a Doutrina Bush, em

substituição à Engajamento e Expansão. Porém, ainda mais do que a consolidação

de um novo inimigo, e da prioridade das guerras assimétricas (entre os Estados

Unidos e países menores, ou entre os Estados Unidos e grupos privados

transnacionais), a grande “inovação” da Doutrina Bush, como afirma Pecequilo

(2012), foi à inserção da prevenção como referencial de ação, no lugar da

contenção. Os objetivos eram combater o inimigo militarmente, transformar os

regimes vigentes para defender a democracia e impossibilitar ataques similares ao

11 de setembro.

A Doutrina Bush, conhecida também por Doutrina Preventiva, ou ainda

Guerra Preventiva, é resumida no parágrafo abaixo:

Não podemos defender a América e nossos amigos esperando pelo melhor. Devemos

estar preparados para derrotar os planos de nossos inimigos [...] A história julgará

duramente aqueles que viram o perigo chegando e falharam em agir. No novo mundo

em que entramos, o único caminho para a paz e a segurança é o caminho da ação [...]

Devemos estar preparados para deter os Estados bandidos e seus clientes terroristas

antes que se tornem aptos a nos ameaçar ou usar armas de destruição em massa

contra os EUA e seus aliados e amigos (NSS, 2002, p. 14).

22

Tendo sido oficializada através dessa nova postura, a Guerra do Iraque, em

2003, tendo consequências diretas para o país e o mundo. Ao desconstruir o

sistema de liderança norte-americana em 1945, os Estados Unidos contribuíram

para a crise de sua hegemonia, em termos materiais e ideológicos. A despeito das

reformas que tentou implementar durante seu segundo mandato, Bush abriu uma

nova era de hipóteses sobre o declínio que se consolidariam a partir de 2007 com a

eclosão da crise econômica (PECEQUILO, 2012).

Havia um enfoque, nessas reformas, no setor externo, em detrimento do

interno, e, segundo Pecequilo (2012), visavam quatro fatores: à perda da

legitimidade e credibilidade hegemônicas; ao definhamento e estagnação do sistema

multilateral; à crescente valorização de coalizações anti-hegemônicas e a utilização

das doutrinas preventivas por outros Estados que temiam ser invadidos pelos

Estados Unidos; e à ascensão de novas potências e o afastamento de aliados,

indicando uma estabilização de um sistema internacional com tendências de

desconstrução de poder e multipolares. Esse processo de reforma não teve

contrapartida interna, sem alterações significativas nas ações neoconservadoras,

que continuavam produzindo aprofundamento das polarizações e divisões

ideológicas (WALT, 2005).

Contudo, apesar de avanços no campo externo, que possuíram continuidade

na agenda de relações internacionais no governo Obama, os dois últimos anos de

Bush filho ficaram marcados pela crise econômica gigantesca gerada pelas guerras

pós 11 de setembro e pela guerra preventiva contra o Iraque em 2003. Em

dezembro de 2007, os Estados Unidos adentraram em uma recessão sem

antecedentes desde a Segunda Guerra Mundial, afetando os preços do petróleo, a

indústria automobilística e desvalorizando o dólar (GUODONG, 2008). Muitos

autores, como Elliott (2008), compararam a crise com a Grande Depressão de 1929.

Dessa forma então existia uma preocupação grande em diferenciar o estilo

das políticas adotadas por Barack Obama em relação a Bush no âmbito externo,

sendo uma das grandes preocupações de Obama demonstrar à comunidade

internacional seu compromisso com o multilateralismo, as novas potências

emergentes, os parceiros tradicionais e a renovação da projeção do país em

continentes como a África. Elaborado por Nye (2012), o termo “poder inteligente”

tinha como objetivo estruturar essas posturas, introduzindo um equilíbrio no uso da

força e da ideologia, voltando, assim, ao “estilo especial de liderança” do pós-1945.

23

Como Clinton argumenta,

Estamos vivendo em um mundo profundamente interdependente no qual as velhas

regras e fronteiras não mais se aplicam [...] Precisamos fazer uso do que vem sendo

chamado de “poder inteligente”, de todas as ferramentas ao nosso dispor –

diplomática, econômica, militar, político, legal e cultural, escolhendo as ferramentas

certas e suas combinações para cada situação. Com o poder inteligente, a diplomacia

estará na vanguarda da política externa (CLINTON, 2009).

O termo GWT foi completamente abandonado por Obama, encaminhando a

retirada do Iraque para 2011 e do Afeganistão para 2014. Foi apenas em 2010,

entretanto, que ele revelaria sua nova grande estratégia, conhecida como Doutrina

Obama (NSS, 2010), como o novo QuadrennialDefenseReview (QDR, 2010). A

prevenção agressiva da NSS-2002 é deixada de lado, dando lugar para um estilo

mais cooperativo e que deve focar em parcerias. A natureza difusa das ameaças,

contudo, ainda é ressaltada, assim como o poder dos emergentes. Estas nações

possuem uma situação intermediária entre o Primeiro Mundo e o Terceiro Mundo,

com problemas internos, porém com verdadeiras possibilidades de poder e

influência na ordem global (KHANNA, 2008).

Os EUA são parte de um ambiente internacional dinâmico, no qual diferentes nações

estão exercendo maior influência [...] estamos trabalhando para construir parcerias

mais profundas e eficientes com outros centros de poder chave – incluindo China,

Índia e Rússia, assim como atores de crescente influência como o Brasil, a África do

Sul e a Indonésia – para que possamos cooperar em questões de preocupação

bilateral e global, com o reconhecimento de que poder, em um mundo globalizado,

não é mais um jogo de soma zero (NSS, 2010, p. 11).

A essas declarações positivas, o governo norte-americano, contrapôs ações

unilaterais e declarações de teor hegemônico diante das pressões dos emergentes

por reformas no sistema internacional, principalmente via alianças de geometria

variável como os BRICS. Adicionalmente, os analistas ressaltam que estes poderes

são do status quo, logo, não desejam a queda da hegemonia, mas sim de sua

reforma e do sistema que valorizam. A imagem do mundo “pós-americano”, no qual

os Estados Unidos serão menos dominantes como hegemonia, porém mais

presentes como inspiradores da democracia é bastante explorada nesse sentido.

Ademais, o elemento de falta de inimigos militares à “ordem interpenetrada” sempre

24

é revisto, tendo sido elaborada pelos Estados Unidos no pós-1945. Dessa forma, a

continuação do “Século Americano” aparente sobreviver (PECEQUILO, 2012).

Se a América for inteligente e “jogar” suas cartas de políticas externa corretamente,

daqui a vinte anos, ainda pode ser o centro de um sistema mundial definido em termos

de mercados abertos, comunidade democrática e uma ordem de segurança

cooperativa e baseada em regras [...] Os EUA devem buscar consolidar uma ordem

global na qual os outros países se juntem a ela e não busquem juntar-se contra ela [...]

Mas para reestabelecer esta ordem mundial desejada, os EUA devem trabalhar para

recriar as instituições de governança básica do sistema [...] (IKENBERRY, 2011, p.

32).

Em síntese, para Pecequilo (2011), o padrão histórico dos Estados Unidos

explica as características de sua política externa. A autora sustenta a tese de que

essa política seria marcada por continuidades e mudanças, e no desenvolvimento de

sua análise identificou um padrão que começou a se constituir a partir da formação

dos EUA como nação. A importância da dimensão cultura e ideológica é destacada

por Nye (2012), argumento que ela tende a ser cada vez mais decisiva no âmbito da

política mundial contemporânea. Com este pensamento em mente, analisaremos de

maneira mais específica no próximo capítulo o conceito e a natureza do poder,

assim como as suas ramificações, hard e soft power, e a forma como os Estados

Unidos construíram seu poder utilizando estes elementos e tornando-se uma

potência mundial.

25

2. O CONCEITO E A NATUREZA DO PODER

Em seu mais célebre livro, O Príncipe (1532), Nicolau Maquiavel aconselhou

os príncipes italianos de que para se ter pleno sucesso na política era mais

importante ser temido do que amado. De acordo com Joseph Nye (2004), no

entanto, no mundo em que vivemos hoje o melhor é ser ambos. Líderes políticos ao

redor do globo dedicam tempo e esforço pensando como a natureza do poder tem

mudado e, ainda mais essencialmente, “como incorporar as dimensões brandas nas

suas estratégias de manutenção do poder” (NYE, 2004, p. 1).

Contudo, para isso é necessário um maior entendimento do que é e do que se

trata o poder. Robert Dahl (2001) definiu que o conceito engloba a habilidade para

conseguir que outra pessoa faça alguma coisa que de outra forma não seria feita.

Este é um conceito bastante próximo ao utilizado pelos teóricos do paradigma

realista quando relacionam o poder ao sistema internacional. Aron (2002), por

exemplo, sugere que o poder no cenário internacional corresponde à capacidade de

uma unidade política impor a sua vontade às outras unidades, enquanto Morgenthau

(2003) o define como a capacidade de cada Estado influenciar ou obrigar os demais

a agirem de determinada maneira ou a deixarem de fazê-lo.

Joseph Nye (2004, p. 1), por sua vez, faz uma curiosa comparação do poder

com o amor, onde “ambos seriam uma experiência mais fácil de experimentar do

que definir ou medir, mas não menos real por isso”. De uma maneira bastante

generalizada, podemos dizer que o poder se trata da capacidade de fazer ou

conseguir aquilo que se quer, ou ainda, a capacidade de afetar o comportamento de

outros para fazer coisas acontecerem. No entanto há diversas maneiras de se fazer

isso. “Você pode coagi-los com ameaças; você pode induzi-los com pagamentos; ou

você pode atraí-los e cooptá-los a querer o que você quer” (Ibid., p. 2).

Diante dessa lógica, Halliday (2001) definir a natureza do poder no sistema

internacional por meio de três meios: o militar, o econômico e o cultural ou

ideológico. O autor argumenta que antigamente o poder internacional evidenciado

pela força militar. Contudo, afirma que ela nunca foi capaz de se sustentar sozinha e

por isso necessitava de outros dois pilares, o da coesão política e o da força

econômica. Apesar de o poderio militar ser a mais proeminente manifestação de

poder, ela não era em si a principal motivação para o interesse da expansão do

26

Estado. Assim, Halliday acredita que com o surgimento das armas nucleares, as

guerras entre Estados se tornaram menos prováveis de ocorrer, dividindo a

influência militar na tríade do poder e fortalecendo os pilares econômicos e culturais

através da tecnologia.

Abordando as transformações das fontes de poder ao longo dos anos,

Ramonet (2003) aponta que no passado três elementos eram principais, sendo eles:

o tamanho da população, ou seja, o valor demográfico; a dimensão do território; e a

riqueza de matérias-primas. Hoje, no entanto, no âmbito geopolítico, o autor

argumenta que estes fatores já não representam vantagens, mas sim o oposto, ou

seja, onerosas desvantagens na era pós-industrial, onde a verdadeira riqueza está

na capacidade intelectual e na habilidade de inovar. Tentando sustentar o seu

argumento, Ramonet utiliza-se de exemplos tais como a China, Índia e mesmo o

Brasil, Estados que independente de seu atual status de emergentes, ainda são

inferiores em uma representação de poder, mesmo sendo extensos, com uma

enorme população e ricos em recursos naturais.

Quem também sustenta um argumento bastante semelhante é Nye (2004),

onde, de acordo com o autor, definir o poder de um Estado baseando-se

simplesmente em suas capacidades e recursos, tais como, além de uma extensa

população, território e fontes de riquezas naturais, também em sua força econômica

e militar, e sua estabilidade social, é uma definição problemática. Apesar de

aparentar tornar o poder mais palpável e concreto, simplesmente colocar o poder

como um sinônimo de recursos produzirá um paradoxo de quem nem sempre aquele

com um maior poder conseguirá aquilo que deseja. Dois exemplos famosos que

sustentam esta tese é a Guerra do Vietnã, onde os Estados Unidos era sem dúvida

o mais poderoso em termos de recursos e mesmo assim perdeu a guerra, e também

o atentado de 11 de Setembro, onde, apesar dos EUA ser a única super potência,

não foi capaz de prever e deter o acontecimento.

De uma maneira simples, recursos de poder não podem ser julgados sem conhecer o contexto. Antes de julgar quem está segurando as cartas, você precisa entender qual jogo você está jogando e como o valor das cartas pode estar mudando (NYE, 2004, p. 4).

Ainda em relação sobre o poder no mundo atual, Ramonet (2003) afirma que

os principais protagonistas do sistema internacional e, dessa forma, aqueles que

possuem o poder, mudaram. Do contexto político (concentração nos Estados

27

nacionais) o poder passou para o controle do mercado financeiro, grupos planetários

de mídia, as infovias de comunicação, as indústrias de informática e as tecnologias

genéticas. De uma forma sucinta, na opinião de Ramonet, os atores centrais do

sistema internacional são as associações de Estados, como a União Européia e a

Associação Econômica das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), as empresas

globais e os grandes grupos midiáticos ou de finanças, e as organizações não-

governamentais. Para o autor, hoje, os conceitos geopolíticos não são mais os

mesmos, influenciando e mudando a relação entre dominantes e dominados no

cenário mundial.

A despeito das definições e natureza do poder, uma das maneiras mais

utilizadas para demonstrar sua distribuição é a Balança de Poder, ou equilíbrio de

poder. Sua utilização data da emergência das cidades-estado italianas, durante o

renascimento, configurando-se como o que existe mais clássico nas Relações

Internacionais (Sardenberg, 1982). De acordo com Aron (2002), a idéia de equilíbrio

de poder existia pela rejeição da possibilidade de um governo mundial e pela

pluralidade de atores. Acrescenta, ainda, que a diplomacia do equilíbrio não era um

produto de escolha deliberada, mas sim de circunstâncias.

Contudo, para Nye (2002), a expressão “equilíbrio de poder” é usada de uma

forma um tanto contraditória, pois serão desenvolvidas políticas que impeçam

qualquer outro país de desenvolver um poder capaz de lhes ameaçar a

independência. O autor afirma que existem exemplos históricos em que a reação a

ascensão de uma potência única ocorre pela baldeação, ou seja, aderindo ao lado

aparentemente mais forte, assim como Mussolini fez ao se aliar a Hitler. Dessa

forma, Nye estende o entendimento da Balança de Poder no âmbito europeu e o

joga para um contexto global, argumentando que desde o final da Segunda Guerra

Mundial, países da Europa e da Ásia desejavam alianças com os Estados Unidos

por causa de sua distância geográfica.

Através da ótica da Balança de Poder, os Estados europeus e asiáticos não

deveriam, após a Segunda Guerra Mundial, terem se aliado aos EUA, no entanto o

fizeram porque a URSS representava uma ameaça militar maior devido à

proximidade geográfica e de suas ambições revolucionárias insistentes. Assim, Nye

(2002), acredita que elementos como o cultural e ideológico, precisam estar

presentes na pauta diplomática dos Estados Unidos com o objetivo de manter a sua

28

supremacia de poder. É o conhecido “poder brando”, que será abordado mais

adiante no capítulo.

Ainda de acordo com a definição de Nye (2004) sobre o poder, existem três

dimensões do poder denominados poder econômico, poder militar e o poder brando,

considerando os dois primeiros como contribuição ao hard power. As três dimensões

de poder definidas pelo autor estão resumidas na figura abaixo:

Comportamentos Moedas primárias Políticas Governamentais

Poder

Militar

Coerção

Dissuasão

Desencorajamento

Proteção

Ameaças

Força

Diplomacia Coercitiva

Guerra

Aliança

Poder

Econômico

Indução

Coerção

Pagamentos

Sanções

Apoio

Subornos

Sanções

Poder

Brando

Atração

Formação de

Agenda

Valores

Cultura

Políticas

Instituições

Diplomacia Pública

Diplomacia bilateral ou

multilateral

Figura I – Definição de Poder de Nye (NYE, 2004, p.31)

2.1 Soft Power: a cultura como recurso de poder

Na década de 1990, com o intuito de distinguir as distintas formas de executar

e manter o poder, Joseph Nye elaborou dois importantes conceitos para as relações

internacionais contemporânea, o soft e o hard power. Entender plenamente estes

conceitos, a maneira que eles funcionam e como são capazes de afetar a dinâmica

no cenário global é importantíssimo para compreender a configuração atual dos

Estados.

O hard power se encontra centrado nas raízes das forças militares e

econômicas e é a forma de efetuar poder mais tradicional, ameaçando e induzindo o

29

outro de maneira direta. O poder exercido de forma bruta, com caráter militar, pode

ser visto em atuações diplomáticas coercitivas, isto é, negociações que deixam

claras as condições de ameaça ou também através de alianças militares. Para

exemplificar o uso de hard power, podemos citar as invasões ocorridas no

Afeganistão e no Iraque, em 2001 e 2003, respectivamente. Em ambas as situações,

os EUA trataram de se impor e concluir seus objetivos através do uso das forças

armadas, uma clara execução de hard power (JOFFE, 2006).

Desde os primeiros registros da história da humanidade, as guerras, as

ameaças e imposições, e os ataques armados estão presentes, e por isso a

execução do poder bruto é considerado mais tradicional. No entanto, o soft power,

por mais que não seja tão tradicional, pode ser visualizado já no século XIX, após a

Guerra Franco-Prussiana, onde o governo francês, tendo sido derrotado na guerra,

utilizou-se de uma política com a intenção de impulsionar sua língua e literatura,

através da Aliança Francesa, reconquistando, assim, credibilidade, admiração e, no

final, cooperação (NYE, 2002). O próprio EUA, como nos diz Joffe (2006), apesar de

se utilizar do poder bruto nos exemplos citados acima, possui um forte poder brando

presente no mundo globalizado através de meios de transmissão de informações,

tais como o cinema, os programas de televisão, as músicas, a internet e os

intercâmbios.

O modo que os Estados Unidos disseminam a sua cultura para os demais

países através do soft power será abordado com maiores detalhes ao longo do

trabalho. Antes, no entanto, precisamos entender melhor do que se trata este poder

conhecido como brando, assim como qual são as suas fontes e como ele funciona.

Ao contrário do que muito se acredita, e por vezes ser utilizado sem o devido

cuidado, o soft power não se trata de qualquer coisa que não seja o uso das forças

armadas. (Nye, 2011). Muito pelo contrário, considerando que o seu uso nem

mesmo pode ser restrito aos Estados. Reitores de universidades, por exemplo, ou

ainda outras organizações não lucrativas têm descoberto que o seu soft power é

superior ao seu hard power.

A importância do poder brando é agora amplamente aceita na análise das questões internacionais. E está se tornando cada vez mais importante no mundo da filantropia. Com o tempo, o poder brando pode muito bem eclipsar o poder duro das subvenções e de outras transações financeiras [...] As fundações Gates e Ford, e a maioria das outras grandes instituições filantrópicas, têm muito mais poder brando do que poder duro à sua

30

disposição, representado pelos orçamentos que geram suas subvenções (STOCKTON, 2010, p.33).

Ademais, aparentemente o soft power se apresenta como uma alternativa ao

hard power, e devido a isso é usado com freqüência por estudiosos e formuladores

de políticas com atenção a ética. Entretanto, “o poder brando é um conceito mais

descritivo que normativo” (Nye, 2011, p. 115). Dessa forma, exatamente como

qualquer forma de poder, o soft power pode ser tanto usado para objetivos ‘bons’ ou

‘maus’. Por exemplo, Adolf Hitler se utilizava e muito possuía soft power na

Alemanha Nazista, contudo, isso não necessariamente o tornava bom.

De acordo com Nye (2011), o poder brando de um Estado assenta-se em três

pilares centrais: a cultura, os valores políticos e as políticas externas. É muito

importante saber o que o alvo está pensando, pois, tratando-se do soft power, os

alvos importam tanto quanto os agentes. Dessa forma, existem condições

fundamentais para determinar se os recursos potenciais de soft power são capazes

de influenciar os outros no caminho dos resultados desejados. Por exemplo, a sua

cultura só poderá ser usada em um local onde se demonstra atrativa, seus valores

políticos precisam cumprir inter e externamente, e suas políticas externas precisam

de autoridade moral e que outros a vejam como legítimo.

O número de conceitos sobre cultura é quase tão grande quanto o de poder.

Geertz (1973, p. 89) define a cultura como “um padrão historicamente transmitido de

significados em símbolos”. Para o autor estadunidense, estas formas simbólicas é a

maneira pelo qual os homens se comunicam através do tempo, e dessa forma,

desenvolvem e dão continuidade ao seu conhecimento e suas atitudes com relação

à vida. Já para Fiske (1989), a cultura é um conjunto de idéias, perspectivas e

normas com o objetivo de influenciar os valores das pessoas e suas atitudes. A

cultura popular norte-americana, por exemplo, se fixa nos pilares da liberdade,

individualismo, capitalismo e libertação.

Street (1997) argumenta que a cultura é uma importante ferramenta política

devido a sua habilidade de produzir e encadear sentimentos que podem formar o

centro da identidade individual que é a fonte em potencial para pensamentos e

ações políticas. Existem alguns aspectos da cultura da humanidade são universais,

enquanto outros são nacionais e outros são particulares às classes sociais ou a

pequenos grupos. “A cultura nunca é estática, e culturas diferentes interagem de

maneiras diferentes” (NYE, 2011, p 119).

31

Quando a cultura de um país inclui valores universais e suas políticas

promovem interesses e ideais que outros compartilham, a possibilidade de obter os

resultados desejados aumenta devido à atração do relacionamento e o dever que

ele cria (NYE, 2004). No entanto, são comumente confundidos os recursos culturais

com comportamento de atração. Por exemplo, Niall Ferguson (2003, p. 23) descreve

o soft power como “uma força não tradicional tal como cultura ou bens comerciais”.

É claro que a Coca-Cola e o MacDonald’s não vão necessariamente atrair as

pessoas do mundo Islâmico a amar os Estados Unidos, ou os populares jogos do

Pokémon não vão assegurar que o Japão terá sucesso nos seus desejos políticos.

Contudo, isso não necessariamente nega que a cultura é um recurso que produz

poder brando, mas que “o efeito de qualquer recurso de poder depende do contexto”

(NYE, 2004, p. 12).

O soft power é capaz de atingir os seus alvos de maneira direta ou indireta.

No primeiro caso, os líderes podem se sentirem atraídos e persuadidos pela

humanidade, carisma ou competência de outros líderes, como, por exemplo, o

discurso do presidente Barack Obama em uma reunião do G-20 que resultou no

aumento das doações de alimento para nações africanas (New York Times, 2009).

Já o poder brando utilizado de forma indireta é um modelo de dois passos, onde o

público e terceiros são influenciados e, consequentemente, afetam os líderes de

outros Estados. Evidentemente que caso um ator ou ação for entendido como

repulsivo, o soft power cria um ambiente incapacitante. (NYE, 2011). De forma

resumida, então, observe a figura abaixo:

MODELO 1EFEITOS DIRETOS

Recursos elites do governo atração decisão da elite e resultado

MODELO 2EFEITOS INDIRETOS

Recursos públicos atração/repulsão ambiente capacitador ou incapacitante decisão da elite

Figura II – Poder Brando: modelos causais diretos e indiretos (NYE, 2011, p. 132)

32

O julgamento dos efeitos causais do soft power se diferenciam em cada

modelo. No primeiro, a causalidade direta requer um acompanhamento com cuidado

do processo, com todas as dificuldades de selecionar as múltiplas causas. Já no

segundo, a causalidade indireta requer também um acompanhamento cuidadoso do

processo, devido aos inúmeros fatores causais que estão abrangidos, no entanto,

aqui as pesquisas de opinião pública e a análise de conteúdo podem ajudar a

proporcionar uma primeira estimativa da existência de um ambiente capacitador ou

incapacitante (NYE, 2011).

Existem inúmeros recursos básicos que podem ser usados como soft power

em hábeis estratégias de conversão. Basicamente, eles incluem a cultura, políticas

legítimas, valores, um modelo doméstico positivo, uma economia bem sucedida e

forças armadas competentes. Estes recursos são algumas vezes desenvolvidos

justamente para propósitos de soft power, incluindo, por exemplo, as agências

públicas, a diplomacia, a diplomacia pública, os serviços de inteligência, os

programas de intercâmbios e diversas outras medidas (NYE, 2011). De uma forma

resumida, a figura abaixo ilustra este processo de conversão.

Recursos (CULTURA, etc.)

Instrumentos Políticos (QUALIDADES)

Habilidades de Conversão

Reação do alvo (POSITIVA / NEGATIVA)

Resultado (ESPECÍFICO OU GERAL)Figura III – Conversão de recursos de poder brando em comportamento (NYE, 2011, p. 137)

Os recursos desenvolvidos garantem uma grande variedade de instrumentos

políticos, no entanto, se serão capazes de produzir reações positivas ou negativas

nos alvos, como já dito anteriormente, dependerá do contexto, do alvo e das

qualidades das estratégias de conversão do poder (NYE, 2011).

33

2.2 Os Estados Unidos e a sua estruturação do soft power

A composição do soft power norte-americano nasce pela necessidade de

rivalizar com o modelo nazifascista, inicialmente, e então ao modelo soviético,

durante o confronto ideológico da Guerra Fria, atingindo o seu ápice na década de

1990.

Houve um desequilíbrio na Europa ao término da Primeira Guerra Mundial,

onde encontramos o fim da hegemonia inglesa no sistema internacional, o fracasso

da Sociedade das Nações em intermediar as relações internacionais e acordos de

paz revanchistas contra a Alemanha. O mundo enfrentava uma crise política,

comprometendo as formas de poder político e de regime de governo. Neste âmbito

de turbulência e de expressivo caos financeiro – devido à crise econômica de 1929 –

Franklin Delano Roosevelt tornou-se presidente dos EUA. Com sua cultura

progressista, o país passou de devedor dos europeus, antes da Primeira Guerra,

para credor de inúmeros países. O núcleo das relações internacionais se deslocou

para os EUA (HOBSBAWM, 1995).

Existia uma situação de crise generalizada em toda a Europa e de mudanças

no cenário internacional, possibilitando, assim, o surgimento à oposição aos

governos liberais em vigor. Defendendo o fortalecimento do poder executivo, a

supressão das tendências individualistas liberais e a eliminação da coletividade

comunista, os partidos ultranacionalistas nasceram na Alemanha, derrotada na

Primeira Guerra, e na Itália, vitoriosa, porém insatisfeita com os acordos

estabelecidos em Paris, além de estar sofrer com uma alta taxa de desemprego,

com greves e uma alta inflação. O modelo de democracia capitalista liberal estava

em constante questionamento, pois era visto como um governo fraco e pouco eficaz

diante dos desafios que surgiram em 1929 e a ruína do Concerto Europeu

(MORAES, 2010).

Essa maneira de pensar cativou diversos adeptos, especialmente após a

ascensão de Adolf Hitler. Com o seu padrão nazifascista de governar, a economia

alemã se restabeleceu e foram desenvolvidos mecanismos muito eficazes de

disciplina social. Considerando como uma alternativa ao modelo norte-americano, a

sociedade civil e alguns militares latino-americanos tiveram a sua atenção

despertada. Além disso, a aproximação da Alemanha com a América Latina se deu

pelo comércio compensado. Tratava de uma política comercial de trocas diretas que

34

dispensava qualquer moeda. Em 1937 e 1938, o Brasil tinha se tornado o principal

parceiro comercial alemão da América Latina (HILTON, 1983).

De alguma maneira os EUA precisavam reagir à influência da Alemanha e do

fascismo nos seus vizinhos americanos. Assim, como nos aponta Moraes (2010), os

internacionalistas de Roosevelt, formularam a Política Externa de Boa Vizinhança

para a América Latina. Seus objetivos centrais eram recuperar os efeitos da crise de

1929 sobre a economia norte-americana, conter a expansão da presença da

Alemanha nazista no comércio da região e eliminar o crescente antiamericanismo

dos países latino-americanos.

Antes mesmo de adentrarem de fato na Segunda Guerra Mundial, os Estados

Unidos estavam travando uma batalha contra o nazismo e o fascismo, a batalha por

mentes e corações, a batalha da comunicação. Criado em 16 de agosto de 1940, o

Office oftheCoordinatorofInter-AmericanAffairs – OCIAA (TOTA, 2000), através de

revistas, programas de rádio, cinema e anúncios publicitários, tinha por objetivo

garantir e expandir os pilares das relações comerciais entre as Américas e de

elaborar e desenvolver projetos de aproximação cultural entre os EUA e a América

Latina.

O OCIAA efetivou parcerias com os estúdios de Hollywood e investiu de

maneira pesada na elaboração de filmes. Artistas de fama mundial, tais como, Walt

Disney, Tyrone Power, Lana Turner e Carmen Miranda, foram recrutados pelo

governo norte-americano e pelo OCIAA na divulgação da Política Externa da Boa

Vizinhança (TOTA, 2000). Além disso, os EUA ofereciam aos países latino-

americanos treinamentos, bolsas de estudo, tradução de livros, divulgação de

música e filmes norte-americanos, além de uma pesada propaganda anti-Alemanha,

destacando o tema da ameaça nazista.

Com o final da Segunda Guerra Mundial no ano de 1945, uma nova ordem no

sistema internacional se estabeleceu. Os principais vitoriosos da guerra, os EUA e a

URSS, afloraram como superpotências. Dessa forma, a preocupação norte-

americana deixava de ser a disseminação do nazifascismo para ser a expansão dos

soviéticos e do comunismo no cenário internacional. Cada um dos países procurava

propagandear os seus efeitos, seja na área da ciência, aeroespacial, esportes,

economia, e etc., assim, demonstrando sua superioridade em relação ao outro

(MORAES, 2010).

35

Observa-se que a impressa, a televisão, o cinema, o intercâmbio de estudantes, e os livros cumpriam o papel de autênticos soldados, defendendo os modelos de mercado, de estado e de ideologia de cada polaridade. Tratava-se efetivamente de uma guerra quente de informações e de propaganda de cada modelo de regime, de valores e de movo de vida (MORAES, 2010, p. 8)

Para aproximar a cultura norte-americana dos demais Estados e promover os

ideais do sistema democrático, dois órgãos, no governo de Dwight D. Eisenhower

(1953-1961), foram fundados. A United StatesInformationAgency(USIA) e a United

StatesInformation Service (USIS) que patrocinava escritores para elaborarem

conteúdos favoráveis aos Estados Unidos e proibia de ser escrito algo em favor a

URSS (BLACK, 1977). Em contrapartida, a URSS utilizava-se de seu Comissariado

de Propaganda e o Comissariado de Educação e Cultura (Narkompros),

incentivando bolsas de estudos, a cultura russa, assistência científica, médica e

esporta em inúmeros países.

Outra vez mais o modelo de democracia de mercado livre dos Estados Unidos

saia vitorioso, prevalecendo sobre o modelo socialista e tendo o soft power

contribuído de maneira expressiva para esta vitória. Dessa forma, o modelo de vida

norte-americano era eleito o mais bem sucedido do século XX e o seu soft power o

mais influente do mundo, tornando, consequentemente, sua indústria

cinematográfica conhecida em inúmeros países ao redor do globo. No próximo

capítulo vamos abordar de uma maneira mais específica o uso do cinema como

recurso de soft power, assim como Hollywood reagiu ao ataques de 11 de setembro

de 2011.

36

3. O CINEMA COMO FERRAMENTA POLÍTICA

Nos últimos anos, o cinema conquistou uma função que não pode ser definida

apenas pela sua habilidade de entreter e divertir. Existe algo além que tem chamado

a atenção de diversas áreas e tem prestado um importante serviço às sociedades.

Vimos anteriormente o quão decisiva foi a participação do soft power e todos os

seus recursos – dentre eles, evidentemente, o cinema – no mundo pós II Guerra, no

âmbito de conquista ideológica travada durante a Guerra Fria. De acordo com

Cabral (2006, p. 15) “muitos governos vem percebendo esse fascínio sobre as

multidões, se apropriando do cinema para seduzir e convencer a favor de suas

ideologias”.

Ainda de acordo com Cabral (2006, p. 19),

[...] podemos concluir que a técnica cinematográfica ademais de bela, não é ingênua. Trata-se de uma arte complexa, pensada e planejada, a fim de suscitar no espectador, uma imagem que surja, que nasça a partir de elementos representativos separados, mas que são reconstruídos finalmente na percepção humana de quem assiste. Esse é o objeto final do esforço criador de todo artista. Conclui-se então, que se há uma intenção na prática desta técnica, há necessariamente, uma escolha. E se há uma escolha, há por suposição, uma ideologia.

Tendo uma influência muito grande do marxismo, Benjamin (1985), enxergava

o sistema cinematográfico com aspectos bastante positivos, entendendo que a

reprodução e a consequente popularização da arte através do cinema

representavam uma transformação que a função social da arte sofreria, indo em

direção a uma função política.

[...] com a reprodutibilidade técnica, a obra de arte se emancipa, pela primeira vez na história de sua existência parasitária, destacando-se do ritual. A obra de arte reproduzida é cada vez mais a reprodução de uma obra de arte criada para ser reproduzida (...) Mas, no momento em que o critério de autenticidade deixa de aplicar-se à produção artística, toda a função social da arte se transforma. Em vez de fundar-se no ritual, ela passa a fundar-se em outra prática, a política. (BENJAMIN, 1985, 171)

Outros teóricos compartilharam do mesmo entendimento de Benjamin, como,

por exemplo, Kellner (2001). O método proposto pelo autor baseia-se em traçar o

maior número de dimensões políticas e ideológicas em perspectivas, tais como, a

perspectiva cultural, a formal, a de gênero, a psicanalítica, etc., em cima dos

produtos culturais, e assim, demonstraria a maior probabilidade de uma visão mais

37

coerente sobre o texto cinematográfico. O método é necessariamente histórico e

dialético, e nos permite percorrer a dinâmica da produção destes textos culturais,

desde a sua concepção, planejamento, produção e distribuição.Kellner nomeou o

seu método de “Análise Política da mídia” devido aos elementos políticos

estruturantes que chegam ao sistema produtivo cultural de uma obra.

De certa forma parece fácil entender que preconceitos e crenças individuais

modificam a nossa maneira de enxergar o mundo. Contudo, pode ser mais difícil

compreender que os meios tecnológicos com os quais interagimos e estamos

inseridos façam o mesmo ao filtrar nossa percepção de espectadores, e por

consequência, influam também em nossa compreensão do mundo por meio das

representações, as quais, toda a mídia se utiliza. Estudar o cinema sob o ponto de

vista político, como sugere Kellner (2001) e geopolítico como já apontou Barreto

(1999), nos ensina a olhar para a história na busca por algumas respostas às

prerrogativas que nos mostram como o cinema foi se estruturando durante os anos e

chegou ao que é e representa para nós hoje.

Para Maciel e Parente (2003), o cinema possui a propensão de criar uma

experiência completamente nova entre o homem, obra de arte e percepção. Essa

nova maneira de permear o homem do nosso tempo com o cinema por meio da

tecnologia é cunhada por eles como “Ciberpercepção”.

Ciberpercepção é a antítese do túnel da visão ou do pensamento linear. É tudo ao mesmo tempo, percepção da multiplicidade de pontos de vista, extensão de todas as dimensões do pensamento associativo, o reconhecimento da transitoriedade de toda experiência, a relatividade de todo conhecimento, a impermanência de toda percepção (MACIEL & PARENTE, 2003, p. 34).

Martín-Barbero (2003) dedica parte de sua investigação às relações entre a

cultura social e a política. Para ele, é preciso olhar para as questões que envolvem

asexpressões culturais de uma sociedade e sua relação com a política. Mais que

objetos de políticas, a comunicação e a cultura constituem hoje, um campo

primordial de batalha política: o estratégico cenário queexige que esta mesma

política recupere sua dimensão simbólica – sua capacidade de representar o vínculo

entre os cidadãos, o sentimento de pertencer a uma comunidade. No espaço entre

a política, mercado e sociedade que a cultura tem o seu protagonismo, para

entendermos que todos os valores de uma sociedade são transmitidos, ensinados e

38

veiculados nesta esfera, podendo, assim, gerar um processo de reflexão, resistência

e/ou transferência de poder.

Se falar de cultura política significa levar em conta as formas de intersecção das linguagens e culturas na constituição de atores e do sistema político, pensar a política a partir da comunicação significa pôr em primeiro plano os ingredientes simbólicos e imaginários presentes nos processos de formação de poder. O que leva a democratização da sociedade em direção a um trabalho na própria trama cultural e comunicativa da política (MARTÍN-BARBERO, 2003, p. 15).

É necessário ir ainda além e observar como a cultura dos nossos dias faz uso

da tecnologia, concebendo novas formas de ser ‘estar junto’, seja através de redes

sociais, seja pela música, emissoras de rádios e televisão, ou ainda, o cinema,

aproximando-o de forma física e intelectual das grandes massas. Assim como diz

Cabral (2006, p. 24), “estamos vivendo um momento na história em que cultura,

política e comunicação nunca estiveram tão próximos, nem se diluíram tanto um no

outro”.

Já no contexto da Segunda Guerra Mundial, o cinema se definia como um

sistema distinto de conhecimento e entretenimento. Tratava-se de uma nova

experiência social, um modo diferenciado de viver e encontrar uma identidade, e

através dela, sua inclusão na coletividade social (Ibid., 2006). Além disso, o

historiador Ferro (1992), observando o cinema durante a II Guerra, notou que o filme

também é um documento, um registro histórico. Para ele, o cinema era um revelador

ideológico, político e social de determinada sociedade e de seus interesses, através

das imagens e da narrativa dos filmes. Dessa forma, Ferro pensava no cinema como

um objeto de estudo, e não apenas como obra de arte.

Ler politicamente a cultura também significa ver como as produções culturais da mídia reproduzem as lutas sociais existentes em suas imagens, seus espetáculos e sua narrativa (...) o modo como as lutas da vida diária e o mundo mais amplo das lutas sociais e políticas se expressam no cinema popular, que, por sua vez, sofre uma apropriação e exerce efeitos sobre esses contextos. (KELLNER, 2001, p.73)

Ferro (1992) ainda percebeu ser indispensável analisar outros elementos

como a narrativa, o cenário, o texto, as relações do filme com o autor, a produção, o

público, a crítica e o regime político, quando queremos investigar o contexto histórico

em que um filme é produzido. Ele compreendeu que além da obra, também há uma

39

essência – arealidade histórica que ela representa e suas implicações sociais,

culturais e políticas.

Entendemos que a história inspira o cinema, mas é preciso destacar que o

cinema e a ficção também orientam a sociedade, apresentando-se em nossas

próprias práticas sociais. Dessa forma, a afirmação de Parente (2000, p.8) se

mostrar bastante apropriada neste contexto, onde ele diz que o cinema está além da

representação de “um estado de coisas, fatos ou pessoas”, mas é ele o próprio

acontecimento. É possível inferir, então, como nos diz Cabral (2006), que a

preocupação cinematográfica dos dias de hoje esteja se encaminhando para uma

noção do próprio cinema de certa forma influenciar a vida dos indivíduos e modificar

o seu ambiente, sendo capaz de conduzir seus espectadores a uma experiência de

reflexão.

Assim, quando resolvemos enxergar a mídia como um todo, seja o jornal, o

rádio, a televisão e, principalmente, o cinema, estamos também enxergando os

Estados e as suas manifestações ideológicas e culturais, com uma intensidade

ainda maior no pós Guerra Fria. Neste sentido, no próximo capítulo demarcaremos o

atentado ao 11 de setembro e como os EUA, fazendo uso do seu soft power através

do cinema, reagiu a ele.

3.1 A reação da indústria cinematográfica após o 11 de setembro de 2001

Ao longo do trabalho, todo o impacto político e social que os atentados de 11

de setembro de 2001 causaram aos Estados Unidos, demonstrando a

vulnerabilidade de seu território, assim como os rumos que a política externa norte-

americana tomou devido ao acontecimento, foram abordados e especificados. Mas

não apenas de medidas puramente políticas se deu a reação dos EUA, pois era

necessário passar uma mensagem não apenas ao povo estadunidense, mas ao

mundo todo, resgatando alguns sentimentos e valores abalados após o atentado,

evidenciando, assim, a importância do soft power para as políticas de um Estado.

Dessa forma, inúmeros diretores se utilizaram do 11 de setembro para

espantar o sentimento de medo e desconfiança que tomou conta do povo

americano, recuperando a coragem e a sensação de segurança, além da garantia e

aceitação de determinadas políticas adotadas pelo governo de George W. Bush

40

filho, inspiradas pelo revanchismo e a noção de vulnerabilidade, como visto no

capítulo 1.

Algumas das produções possuem um cunho completamente político,

enquanto outras o político cede espaço ao drama sentimental, como é o caso de ‘As

Torres Gêmeas’ (2006) do diretor Oliver Stone. De acordo com ele “Eu tinha uma

sensação de que algo foi roubado e queria isso de volta” (SET, 2006, p.13),

deixando clara a sua intenção de dar ao povo norte-americano certo conforto e

força, ao mesmo tempo em que tinha a intenção de homenagear aqueles que

perderam sua vida na tentativa de ajudar o outro.

A polêmica sobre o filme, no entanto, residia sobre o seu lançamento, afinal,

era tudo muito recente e o povo norte-americano ainda se demonstrava sensível aos

acontecimentos (Ibid., 2006). E a despeito dos Estados Unidos não buscarem o

apoio da ONU, o lançamento do filme se demonstrou estratégico, pois apoiaria a

legitimação da Guerra ao Terror, segundo a carta da organização:

Nada na presente Carta prejudicará o direito inerente de legítima defesa individual ou coletiva no caso de ocorrer um ataque armado contra um Membro das Nações Unidas, até que o Conselho de Segurança tenha tomado as medidas necessárias para a manutenção da paz e da segurança internacional. As medidas tomadas pelos Membros no exercício desse direitode legítima defesa serão comunicadas imediatamente ao Conselho de Segurança e não deverão, de modo algum, atingir a autoridade e a responsabilidade que a presente Carta atribui ao Conselho para levar a efeito, em qualquer tempo, a ação que julgar necessária à manutenção ou ao restabelecimento da paz e da segurança internacional. (Carta das Nações Unidas, Capítulo VII, Artigo 51).

O filme é dividido após a queda das torres em duas visões distintas. A

primeira delas nos mostra John Mcloughlin (Nicolas Cage) e Will Jimeno (Michael

Peña) soterrados e imóveis enquanto esperam o impossível resgate e tentam

sobreviver, evidenciando todo o sofrimento das pessoas durante o ataque. Mas é a

segunda visão que se destaca, sendo focada na família dos dois personagens e

consequentemente conquistando o emocional do espectador, ao ressaltar valores

abalados pelo acontecimento, como a irmandade, o sentimento de superação e o

amor ao próximo – ou, pelo menos, ao próximo compatriota.

Ainda nessa idéia de resgate de valores abordadas no filme, temos um

paralelo interessante com um discurso do então presidente Bush (2001) pós-

atentado, onde fica claro o vínculo entre as decisões políticas e a ferramenta do

cinema para difundi-las entre o povo norte-americano e o mundo.

41

Eu viverei e liderarei por esses princípios: para promover minhas convicções com civilidade, para perseguir o interesse público com coragem, para falar por maior justiça e compaixão, e chamar pela responsabilidade e tentar vivê-la como esperado. Em todas essas passagens, eu levarei os valores de nossa história para a atenção de nossos tempos.(BUSH, 2001)

Logo, os norte-americanos se mobilizaram em inúmeras manifestações de

repúdio e de um nacionalismo marcado pela emoção e ações patrióticas.

A aprovação da operação no Afeganistão contou com um amplo apoio da comunidade internacional. [...] Dado o caráter do 11 de setembro, essa guerra era tida como ‘justa’, sendo um movimento de resposta a um inimigo que atingira e continuava ameaçando os norte-americanos. (PECEQUILO, 2005, p. 384)

Cerca de dois anos depois de ‘As Torres Gêmeas’, ‘Guerra ao Terror’ (2008)

de KathrynBigelow, chega aos cinemas mundiais com uma responsabilidade muito

mais política do que o primeiro, utilizando-se, é claro, do emocional, mas este se

mantendo em segundo plano, principalmente para demonstrar com certo realismo o

cotidiano dos soldados designados para determinada missão.

O filme trata do principal reflexo do atentado de 11 de setembro, aquilo que o

presidente Bush cunhou de guerra ao terror, abordado também no primeiro capítulo

do presente trabalho. O seguinte discurso de Bush (2003) ilustra bem o pensamento

norte-americano do contexto.

Alguns disseram que não devemos agir até que a ameaça seja iminente. Desde quando terroristas e tiranos anunciam suas intenções, nos avisando polidamente antes de atacar? Se a essa ameaça for permitido o surgimento completo e repentino, todas as ações, todas as palavras e todas as recriminações chegarão tarde demais. Confiar na sanidade e moderação de Saddam Hussein não é uma estratégia, nem uma opção.

Ao longo de uma década do combate ao terror, estimasse que os custos nos

confrontos contra o Iraque, Afeganistão e Paquistão, tenham sido de 4,4 trilhões de

dólares (VEJA, 2011), o que seria suficiente para acabar com a fome no mundo,

segundo dados da ONU (JUSBRASIL, 2010). As guerras dos Estados Unidos

também são custosas em termos humanos, estimando que, no mesmo período, os

confrontos já causaram cerca de 224.000 a 258.000 mortes diretas, incluindo, aqui,

125.000 de civis no Iraque. Além das mortes indiretas, causadas por desnutrição,

falta de acesso a água potável ou acesso a atendimento médico, outras 365.000

pessoas ficaram feridas e 7,8 milhões precisaram deixar as suas casas (VEJA,

42

2011). Diante desse quadro, era necessária uma forma de justificar e fazer o povo

norte-americano entender a importância dos altos custos.

‘Guerra ao Terror’ então surge, contando a história do sargento William James

(Jeremy Renner) e sua chegada a companhia de Bravo dos Fuzileiros em Bagdá

que possuíam como missão a proteção das forças armadas contra insurgentes que

promovem atentados com explosivos improvisados – matando tanto combatentes,

como civis.

Apesar de se tratar de um ângulo estadunidense da guerra, ignorando de

maneira estratégica os danos e misérias infligidos ao povo iraquiano, Bigelow não

tem a intenção de apelar ao sentimento de revanchismo do povo norte-americano e

consequentemente endossar a guerra, mas sim de demonstrar para cada um dos

cidadãos dos Estados Unidos o papel desempenhado por seus filhos durante a

guerra.

A bravura do esquadrão antibombas é de se olhar com imensa admiração,

fazendo com que pensemos melhor sobre todas as nuances da guerra e suas

diversas conseqüências ao ser humano. Dessa forma, se houvesse alguma

desconfiança por parte do povo norte-americano em relação à proteção de seus

soldados, ou ao gigantesco custo que o combate ao terror estaria causando aos

Estados Unidos, estaria tudo justificado nas telas do cinema de maneira dramática e

corajosa.

43

CONCLUSÃO

O objetivo central do presente trabalho é demonstrar como a indústria

cinematográfica pode ser um importante recurso de soft power para a política interna

e externa de qualquer Estado contemporâneo, e, dessa forma, evidenciarmos como

os Estados Unidos se tornaram uma hegemonia no sistema internacional e o porque

de sua cultura ser a mais difundida no mundo globalizado.

Iniciamos, então, com uma análise a respeito do surgimento dos Estados

Unidos como país, e, através de uma ótica de construção histórica, vemos que se

aproxima muito do modo Europeu de Estados e economia nacionais, como nos

ensina Fiori (2004), afirmando que é impossível dissociar o nascimento dos EUA das

guerras entre as gigantescas potências européias. Concluímos, assim, que desde o

inicio havia uma disposição ao expansionismo por parte dos norte-americanos, um

desejo futuro de atingir a hegemonia.

De acordo com Bandeira (2006) foi a partir da guerra contra a Espanha, em

1898, que se iniciou a fase de exportação de capitais, a formação do império

americano, e alguns anos mais tarde, durante a II Guerra Mundial, os EUA já se

sobressai como potência inegavelmente predominante, sendo os líderes de

tecnologia e produção, possuindo, ainda, uma moeda fortíssima e a superioridade

militar (HARVEY, 2004).

Os Estados Unidos se tornam, assim, os maiores defensores da liberdade e

da propriedade privada, com a intenção de criar uma ordem internacional aberta ao

comércio e ao desenvolvimento econômico com bases capitalistas (Ibid., 2004). Já

se evidenciava aqui o pensamento norte-americano de superioridade e

excepcionalismo, assim como a intenção de levar o seu modo de vida ao resto do

mundo.

Com a expansão da União Soviética no cenário internacional, no entanto, a

hegemonia dos EUA é posta em cheque. Dessa forma, a disputa bipolar por

tecnologia, armamento e, principalmente, ideologia – uma vez que os modelos

socialista e capitalista foram considerados incompatíveis –, tem o seu início,

desencadeando a Guerra Fria.

Para Halliday (1999), a bipolaridade representou principalmente uma disputa

pelo controle do mundo entre duas potências, e as convicções e a identidade foram

44

definidas pelo combate ao inimigo, ou seja, o princípio do inimigo se tornou prático

para a consolidação da identidade nacional a partir de outro. Assim, com o final da

Guerra Fria nos anos 90, assistimos a superioridade definitiva dos EUA, do

capitalismo e do modo de vida norte-americano, tornando a sua cultura a mais

difundida pelo mundo. No entanto, com término da bipolaridade, havia a

necessidade da construção de um novo inimigo.

Os atentados ocorridos na manhã de 11 de Setembro de 2001 acontecem em

um momento que os Estados Unidos atingem a plena maturidade de seu poderio

hegemônico (PECEQUILO, 2011). Embora não tenha sido afetado o equilíbrio de

poder mundial da época, um sentimento de medo e insegurança tomou conta da

população norte-americana. Utilizando tais sentimentos a seu favor, através do uso

do soft power, tornou-se possível a criação do novo inimigo estadunidense, e assim,

o governo de George W. Bush filho legitima a Guerra Global Contra o Terror,

produzindo as guerras contra o Afeganistão e Iraque.

Contudo, para podermos entender melhor como se sucedeu o surgimento da

hegemonia norte-americana, e como funcionam as suas decisões políticas, faz-se

necessário compreender qual de fato é o significado de poder, validando a

existência do segundo capítulo. De uma maneira bastante generalizada, podemos

dizer que o poder se trata da capacidade de fazer ou conseguir aquilo que se quer,

ou ainda, a capacidade de afetar o comportamento de outros para fazer coisas

acontecerem.

Na definição de Nye (2004), existem três dimensões do poder, denominados

por ele como poder econômico, poder militar e o soft power, considerando os dois

primeiros como pertencentes ao hard power. Ou seja, o hard poweré uma forma

mais tradicional de efetuar poder, ameaçando ou induzindo o outro de maneira

direta, enquanto o soft power, como o próprio nome sugere, é mais suave e indireto,

mas igualmente eficaz.

O soft power de um Estado, ainda de acordo com Nye (2011), assenta-se em

três pilares centrais: a cultura, os valores políticos e a política externa. Deste modo,

o que se pode observar e concluir após a leitura deste trabalho é a eficácia dos EUA

em se utilizar do hard e do soft power para manter o seu status no sistema

internacional, mesmo em um contexto onde a sua suposta invulnerabilidade é posta

em cheque.

45

Com um entendimento da construção histórica dos EUA e da definição e

natureza de poder, assim como da cultura como recurso de poder, culminamos nos

no último capítulo do presente trabalho, onde buscamos compreender como

especificamente o cinema pode ser utilizado como uma ferramenta política.

Martín-Barbero (2003) nos ensina que a comunicação e a cultura, hoje,

constituem um campo primordial de batalha política, a sua capacidade de

representar o vínculo entre os cidadãos. Além disso, é preciso destacar que o

cinema e a ficção também orientam a sociedade, apresentando-se em nossas

próprias práticas sociais. Dessa maneira, podemos concluir que a indústria

cinematográfica dos dias de hoje esteja se encaminhando para uma noção do

próprio cinema de certa forma influenciar a vida dos indivíduos e modificar o seu

ambiente, sendo capaz de conduzir seus espectadores a uma experiência de

reflexão – podemos citar de exemplo, aqui, os dois filmes analisados no último

capítulo, ‘As Torres Gêmeas’ e ‘Guerra ao Terror’.

Após a Guerra Fria, a cultura norte-americana se tornou a mais difundida no

mundo, e o cinema hollywoodiano é tido como referência nos quatro cantos do globo

em termos de qualidade de produção, logo, é fácil para os EUA se valeram da

preferência ao cinema estadunidense para disseminar suas ideologias,

consequentemente convencendo sociedades inteiras de seus fundamentos e

encontrando justificativas para as suas políticas.

O 11 de setembro de 2001 foi um ato abominável, no entanto, não existem

vilões e mocinhos quando se trata de política, como tentam demonstrar os dois

filmes analisados ao longo do trabalho. Contudo, isso não impediu os EUA de

fazerem uso do soft power e se utilizaram do sentimento de insegurança e medo

infligidos aos cidadãos norte-americanos e justificarem as guerras contra o

Afeganistão e Iraque.

Conclui-se, portanto, que as implicações que a indústria cinematográfica

conquista em frente à sociedade contemporânea e a habilidade com que hoje cria

‘sentido’ e sedimenta ‘laços’, que, como resultado, legitima idéias, pensamentos e

instituições, é um forte aliado do Estado moderno, capaz de ditar o rumo a ser

seguido por uma determinada política, ou ainda vender a sua cultura como ‘certa’ –

mesmo quando não exista algo nesse sentido.

46

REFERÊNCIAS

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