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Publica-se ás Segundas, Quartas e Sabbados, na typ. da rua dos Ourives n-. 21 ; dirigida pelo EmprezarioA. M. Morando. — Na mesma casa rècebem-se assignaturas adiantadas; por mez.600 réis-, avulso 40 réis;Annuncios, por linha 40 réis. IO* e pára os Srs. assignantes serão grátis, não excedendo de 5 linhas.

N. 7; RIO DE JANEIRO 29 DE ABRIL. 1850.

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AOS SRS. ASSIGNANTES.Pela grande extracção que tem este Periódico roga-

íftos áos Srs. Assignantes (querendo) de publicaremseus Annuncios, oa quaes serão graiin. nao excedendode 5 linhas.

O QUE E'O PORTO?Não deparei ainda com está pergunta philosophica

e de rigorosa necesidade no formigueiro de chronicas erevistas; que ressaltara, luxwiosas de vida e esperan-

ça», dos typos para os botequins.GUie é um çaixeiro sem uma luva amarella ?O que é uma revista do Porto, sem uma difinição

do porto?Nada. Um trabalho sem lucro; uma obra caduca,

efferma , e morredoura, uma incoherencia litteraria eartistica, uma pobresa de gênio, uma desharmonia.

Então, que é o Porto ?aaO Porto é a taboa da lei das quatro opperaçoesarithmeticas. E' uma grande tabuada, levada ao infi-nito da multiplicação das casas. E' o dous e dous são

quatro, convertido no balcão do probo e hanradissimobacalhoeiro em dotis e dous são' cine». E' o harmônicoburguezismo de myriades de caras todas typicas, iden-

MUUIUB,* ¦ ? •«. O AMOR DE UMA. MULHER.

VII.

(Continuação do n. 6.)

A VINGANÇA.

Deixemos por emquanto Emilia, absorta nas con-

jecturas, lendo e relendo a carta, vendo e revendo oretrato, e beijando, e tornando a beijar ambos, dei-xemol-a se restabelecendo com os cuidados da suacrioula enfermeira, para indagarmos o motivo da par-tida de Adolfo, e o seguirríffis em sua viagem.

Adolfo era um rapaz alto, e bem parecido, alvo, co-rado, olhos azues, e cabellos bem côr de ebano; tinhafreqüentado as lettras no começo de sua vida, onde setinha dislinguido pela sua applicação e talentos. Naidade de 15 annos tinha abraçado a vida do com-mercio mais pelo gosto de seu pai, do que por vocação;entretanto isso não influía na exactidão e prestesa dassuas obrigações, por quanto era citado como o typo deum bom çaixeiro. M

• Xomo é costume, havia elle principiado a servir o

ticas e como o total de covados afferidos, e carymba-dos no Municipio da cidade da Virgetna, JS? o carroçaode Manoel José d? Oliveira. W a companhia do Alba-Cosido, com o Sr. Galliani, e a Sra* Gambardella, eos despeitados da Sra. Gambardella. E' o theatro deCamões com o seu Zacharias, oavarento.W uma Sra. .de distineção vinculando a ária do Attila á sua larin-

ge, alias preciosíssima. E' o administrador do conee-lho prendendo, e enviando para o Carmo, dous.. • «o

que?.., dous senhores que patearam um cantor. Wo Braz Tizana dos Pobres. E' a Maria não me nio>tes, que sou tua mãe, E' a Cantiga do passarinho, eo Testamento do gallo sl gemer pela vigessima vez nos

prelos incansáveis. E9 a cosinha dos herdeiros do cha-

pellinho a crepitar de sardinhas fritas, toda ella umaalface, e tudo isso para honestíssimas familias do gor-do e serio mercador de figos do Algarve, vaçouras, eabanos, que leva ao domingo de tarde a muito copiosae enfesada prole a espairecer fora da cidade. E' a ma-trona, casada de fresco, que vai ao theatro de manti-lha, que a depõe ao baixar do panno, para, em com-

pleta harmonia conjugai, devorar o nedio coixao decarneiro, fumegando odorifero açafrao (ientre o corpu-

lento bojo de uma caçarolla d'arroz do forno. E' o riso

escancarado de uma platéa innocente que palmeia

seu primeiro amo sem receber ordenado por pequenoque fosse, mas era tal a sua actividade, tirava tanto-proveito dos seus estudos, e talentos, que no fim <icdois annos estava leito o guarda-livros de uma das ca-sas inglezas mais fortes da praça da Bahia; seu orde-nado era de nm conto de réis: havia um anno quetanto ganhava, andava continuamente bem vestido,tinha affaveis maneiras, e uns cabellos muito finos epretos, que se deitavão ua pelle do lábio superior, da-vão ainda mais bellesas ás suas faces regulares e vaironís.

Emilia não via outro homem, e ainda que visse eradifficil deixar de amar a Adolfo. Seus pais delia bemconhecião que alguma cousa havia, que não era a sim*pies amisade de primos que tornava sua filha, e seusobrinho tão extremosos um do outro; conhecião alémdisso que a fortuna os tinha collocado mui longe dospais^áe Adolfo t mas o que faier ? Deverião obrigar aEmilia a suífocar uma paixão que se enraizava eraiu^alma sem que ella mesma o soubesse? Nao por ceno;,porque fora augmenta-la, e demais nao tinhão ellestambem amado ?

Iguaes pensamentos porém nao nutriao os pais deAdolfo.

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alegre um equivoco immundo das Luvas Amar ellas.O Porto é tudo isto, e ainda mais. x %„y

Dito isto, e para que ninguém possa allegar igno-rancia, cumpre saber que aqui, tudo o qne não fôristo, é alvo de satyra traiçoeira, suja, e mal amanha-da ; e, se tem a franqueza de prestar consideração aesta estupidez orgulhosa, é posto a irrisao dos linheiros,e dos preguei ros , e dos outros todos que passaramdo soco de Guimarães, e da jaqueta de ganga para oeasàco de veludilho, e chinella d'ourêlos.

São como os corcnhdas dá fábula indiana. Ha umaregião no mundo onde todos os homens são corcundas,peco§, e desastrados. Naufragarão ,não sei em que ma"res, uma jangada de homens europeus, um dos quaes,agarrado a uma tabua,foi cuspido pelas ondas na praiadòs corcundas. Subitamente cercam-n^s os iridigénas,miràm»no desde as unhas até os cabellos £ e desandamn?urria risada estrepitosa de mofa* e despreso. O pere-grino enfiara com a maneira desairosa por que o re-cebiam, quando um dentre os indígenas assim falia asens irmãos: Gra sus, gente folgazã! Nao zombeis doaleijão desta creatura 1 Já que a providencia nos feztão gentis, sãos, e escorreitos, em vez de caçoarmosdeste pobre aleijado, vamos ao templo erguer fervoro-sas graças.

E foram, porque emfim seria uma desgraça de Deusque elles nascessem aleijados como o europeu bello eelegante de que resa a fábula.

Ora vosf gente ruda e incapaz do verniz da eivilisa-çao, sois como os corcundas da fábula indiana. Entrevós quem quiser o foro de cidadão hade apresentardocumentos authenticos pelos quaes se prove, que seuvisavô veio para esta cidade, com uma brôa e meiopresunto no saco, escarranchado sobre dous costaes decaslanholasm mimoso cadeau para o patrão da loja.

Item. Gtue seu avô teve uma loja de fasendas bran-

Manoel, homem demasiado amigo do ouro, tinha-se-casado com Henriqueta , por trazer ella de dote cin-coenta contos de réis, além do qu$ lhe poderia vir ásmãos com a morte do sogro. Tinha querido que seuirmão Eduardo desse a mão de esposo a uma cunhada,muito amiga de sua mulher, e de igual fortuna, masEduardo que tinha um coração franco e desinteressada,pensou que não devia trahir á sua amante, porque erapobre, e esquecendo-se todas as boas qualidades, casar-se com uma mulher, sd porque era rica; portanto re-jeitou a proposta. Desde esse momento Henriquetaprotestou vingança e odio.

Quando Adolfo foi-se pondo rapaz, foi ella sondandoseu coração ainda inexperiente; conheceu os senti-mentos de seu filho, e sofre elles edi finou o seu cas-tello: apenas esperava a epocha em que devia haver aexplosão, por isso deixou que a paixão emhebesse bemo coração de Emilia, e que Adolfo tivesse um érde-

S^ado capaz de faze-lo contratar um casamento. Maljulgou chegada a oceasião , declarou a seu marido queAdolfo estava enamorado com Emilia, e que não obs-tante a pobreza delia, já lhe constava que o casamentoestava tratado, portanto que era necessário na cordaque procuravao enlaçar-se, que o melhor meio que via l

cas, foi irmão da irmandade do Carmo, irmão bene-mérito da misericórdia, evestio vinte annos balandraupara pegar ás varas do andor de Nossa Senhora.

Item. GUie seu pai exercera honrosamente, e semvergonha do mundo, o seu honestíssimo mister de ne-gociante de quatro portas abertas, afora algunsposti-gos por onde entravam os contrabandos. Gtue sua mãefora uma gorda e bôa mulher, que escoara uma exis-tencia de oitenta annos, dando passagens nas meias domarido, sergindo fundilhos nas calças do caixeiro, esorvendo a sua pitada de simonte no fim de cada es-tação do seu rosário de contas de azebiche:

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(Continua.)

PERIÓDICO DOS POBRES.

SÉTIMA CARTA DO COMPADRE MATHIAS DSALBERCA AO SEU AMIGO E COMPADRE VI-TORRA.e Meu prezado compadre.

Continuarei minha tarefa em éscreVer-lhe, a qualme dá gosto, e me faz desembuchar do que tenho vistoe ovuido para lhe contar, porém pena tenho de nãoser todos os dias, por que assim erao mesmo que Vos-sa mercê estivesse aqui na cidade, o que lhe peço éque mostre também a minha comadre a Illm. Sra. D/Rita para ella fazer idéa que tenho algum talento nas'lembranças que lhe mando.

O seu Lulu começou a esturdiar digo a estudar eestá hoje com um bom principio e dá esperança; fuihontem com elle a S. Christovão, porém o rapaz julgoqué dará em maritimo pela inclinação que lhe vejo deembarcar, por mais que lhe dissesse que iamos noOm-nibus por ser muito commodo, não foi capaz deo fa-zer, antes quiz ir no bote da carreira de S. Christováo,os quaes estão com muito asseio, e correm que pata-

era manda-lo viajar á Europa, principiando por ir tera Lisboa, onde estaria com seu correspondente *. queera muito rico, e tinha apenas uma filha.

A idéa de separar-se de seu filho, era para Manoelbem afllictiva; queria deixar de concordar com suaesposa , bem que estivesse acostumado a obedecer-lhe,mas através da saudade que devia ter, enchergava sé-mente a mao da filha de seu correspondente ofierecendomais de milhão e meio.

Assim indeciso esteve elle até á véspera da partidade seu brigue — Amor afortuna,Tinha acabado de jantar, e fumava um charuto

passeando pela casa, quando de repente parando e ati-rando longe de si ocharutorànda no começo, exclamou:

Leve o não sei que a saudade, quando se tratade milhão e meio!

E voltando-se para seu filho disse:Adolfo, são tres horas e meia da tarde, amanha

ás 0 do dia hasde embarcar para Lisboa no meu bri-gue Amor afortuna.

Adolfo nada respondeu , porque ficou sem sentidos,um riso de fera appareceu nos lábios de Henriqueta, eo prazer da vingança lhe innundou o coração!

( Continua*) •

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cem passarinhos, e para que lhe havia dar T quiz ir aoleme sem ter agulha para conhecer o rumo + felizmentechegamos a salvamento á ponte, a qual está muito

bem colocada^ olhe, meu compadre, que este lugar nao

parece o mesmo---não sd o bem feito da ponte comoa tal casa que fizerão para o recebimento dos passagei-ros,* está tâo boa qne ate tem bons refrescos dentro *,

e isto é commodo por qüe quem chega acha logo o que

precisa para se refrescar, e escusa ir dali á venda comseus amigos, e se o calor fôr muito deita-se ao mar

que tem bella água para banho.

Pouco nos demorámos, o resto da tarde julgandoque tivéssemos chuva, porque ainda me lembra a ruado Ouvidor feita lagoa.

Dirigimo-nos para a ponte e de repente aehamo-noscercados por uma multidão de pretos, que nos atordoouos ouvidos com esta gritaria —vai no sacco — vai no sae-co por dous vintém; olhei parao seu Luíú e o vejo bran-co como a cal da parede ^ larga-me o braço, sem dizer

palavra, e suppui então que tinha sido accommettidoda febre, que segundo dizem por ali, havião muitas ^

perguntei-lhe o que tinha e disse-me qne nao queriair no saco. porque nunca na roça tinha andado assim,e sem dizer mais nada foi entrando no bote da car-

reira } veja Vossa mercê que innocente^ antes queria ir

no bote do que em sacco \ depois de lhe ter explicadoa linguagem daquella gente, rio-se como quem se ricom gosto.

Largámos para a cidade depois de esperar algumtempo \ tive o gosto de apreciar um bello par de ga-lhetas que nos fez companhia; era um marujinho de

gosto e uma pardinha bem desconfiada, olhe que todaa viagem houverão ciúmes, porém a sugeitinha fallavacomo um papagaio — e o marujo era todo faceta eim-

provisante, foi pena fatiarem tão baixo, porém aindahe ouvi este versinho:

Fallo em meus cinco sentidos,Josefa, que eu sou má poutro,Eu cá não quero com outroOs obséquios repartidos*

.,:.;

Semente sao bons maridosHomens no mar labotados *,

Se me arfar, ossos quebradosHade ver, e po-la á morte \Gualdiperios de outra sorteNão devtm ser premiados.

A ,

••£ que me dii, meu compadre, á tal moléstia de em-

me, olhe que hoje ha muito disto, cilas promettem etornao a prometter, e depois esquecem-se.

Foi por Deos destrai-los as letras monstras da casade saude da Praia Formosa, que na distancia deuma légua ae podem vêr; nunca vi letras daquelle ta-ma nho, mas julgo que assim é preciso para dar na4'ista, e acreditar o estabelecimento, o que julgo é<jue

houve engano no titulo, e que trabalho não daria ao

pintor para mudar este para casa de moléstias, julgoque deve ter antes este nome, porque quem temsaude não está lá. •

Além disso o cheiro do cortumè^ ali visinho, queincommoda quem vai passando, contribue muito paranão ser saudável aquella casa*, emfim, roeu compadre\pDeos ajude a todos nas suas emprezas-, passámos emfrente sem a menor aquella, e a tal grazina semprea dar á lingua. O Lulu foi-lhe dando algumas quar-tadas de estudante, e eis senão quando vejo o cáes daSenhora Imperatriz pela proa, onde chegámos.

Em casa tem sido um inferno a historia da tal par-dinha e as palavras do marujo j os rapazinhos atéquizerão disto fazer uma farça, porém falta-lhe o en-saiador. Ah ! meu compadre, pode prezar-se deter unirapaz vivo como azougue, más é pena ter medo dé irno sacco \ um dia destes heide ir com elle mostrar-lheo Sacco do Alferes para elle acreditar nesta palavra.

Meu compadre, acabo de ler üm Nacional, qué,meri muito por vêr um Edital que os administradoresdos bairros mandarão affixar nas esquinas por oceasião'do entrudo} o Edital não está máo, porém a analyseainda está melhor} eu nao sei mesmo como se podeescrever assim sem haver responsabilidade. Graças á li-berdade de imprensa , olhe que a tal analyse toca emtodos os figurões j veja-o :

EDITAL.

l.° Ninguém poderá usar nas mascaras, quer nasruas, quer nos theatros, do vestidos sacerdotaes, ou ai-lusões a actos ou corporações religiosas.

2.° Ninguém uêará de trajes, inscripções, e prati-cará actos que tenhão allusão com escândalo á moralou a individuos.

3.° Depois das Aves-Márias ninguém andará com acara coberta*

4.° Ninguém trará armas.5.° São prohibidas as palavras e acções indecentes.6.° São prohibidos os brincos com água eu pos, ou

cousa que prejudique.Isto bem traduzido quer dizer:Ninguém poderá trazer o emblema — coração —

porque é uma allusâò maternal a uma alta personagem.Ninguém poderá andar em caleche, porque é uma

allusão ao caleche que o conde de Thomar recebeu emtroca da commenda que deu ao Frescata.

Ninguém poderá usar de seringa, porque é uma al-lusão esculapina ao Sr. Albano.

Ninguém poderá andar com odres de vinho, ou em-bor rachado, porque é uma allusão bachica ao padreMarcos.

.Ninguém poderá andar de botas velhas, porque éuma allusão ao João Elias.

Ninguém poderá andar vestido de conego, porque éuma allusão histórica ao conselheiro José Bernardo daSilva Cabral.

Ninguém poderá andar vestido de camello, porque éuma allusão parlamentar aos deputados do conde deThomar.

¦ v* 7.J7

Ninguém poderá andar taascarado de velha, porqueé uma allusão pechinchara ao ministro da justiça.

Ninguém poderá andar mascarado de Paganino, por-que í uma allusão collectiva ao partido carlista.

Ninguém poderá mascarar-se de miliciano, porqueeuma allusão bellica ao Recta pronuncia. WNinguém pode trazer os cabellos pintados a oca, por-

que é allusão chimica ao corroscante Laborim.Ningeum poderá andar com muitas caras, porque é

uma allusão sediça ao duque de Saldanha.

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Ninguehi poderá andar carregado de jóias, forqueé uma allusão sithiptanie ao Lopes de Lima. |

Ninguém poderá, usar de espeto desembainhado, por-que é uma allusão culinaria ao Lapa.

f Ninguém poderá trazer a inscripção — Cadastro —porque é uma aliusao matutina ao honrado A vila.

Ninguém poderá andar disfarçado em ratazana, pòr-que é uma allusão pessoal aos empregados da alfan-dega.

Ninguém poderá andar de barriga inchada, porquêé uma aliusao vallongueira ao Sr. Lopes de Vascon-cellos. ¦

Ninguém poderá andar cora barrigão de braço dado,porque é uma allusão escandalosa ao Sr. Castro Pillar.

Ginguem poderá fazer com o corpo um angulo de 70gráos, porque é uma allusão mathematica ao adminis-trador do 3,° bairro.

Ninguém poderá andar com corcunda nas costas,porque é uma allusão rechitica ao conde do Casal.

Ninguém poderá, andar sem bigodes, porque é umaallusão capillar á camara actual.

Ninguém poderá andar com bigodes, porque é umaallusão saudosa aos caceteiros da camara transacta.

Ninguém poderá andar vestido de macaco, porqueé uma allusão zoológica ao Sr. Mozer.

Ninguém poderá fingir que soffre de flato, porque éuma allusão nervosaao Sr. José Lourenço Pinto.

Ninguém poderá trazer chapép de aba larga e copayentosa, porque é uma allusão monstro ao general ciasbuebasr

Finalmente, so é permittido andar mascarado de —homem de bem — porque é o unico caracter que nãotem allusão á gente da situação.

Eu quizera ser mais extenso, porém os freguezesnão me deixão com as suas conversas; ainda se ellescomprassem vá de cm passe , porém tagarellão, e porfim—dê-me charutos de tres por dous, agora não tenhocobre, não assente que não vale a pena. etc. etc.; vejacomo me roubao o tempo, e como" eu posso escrever,além disso o meu caixeiro está sempre fora para rece-ber alguns biquinhos, e eu amarrado como o macaco aosepo.

Por agora bastasles, como dizia d caboclo \ esperoque vossa mercê tenha na sua reminiscencia o seucompadre e amigo Mathias.

A PRO' DA ROSA ENCARNADA.Fartai* fartai vilanagem•

m\w~ -^ m^

Ou no campo ou na estacadaDefende a rosa encarnadaQue a branca veio affrontar a

(Magriço — A* rosa encarnada.)¦ *e

Não ficarás, grão Magriço.Sosinhó lá na estacada/Que eu tenho lança e espada,Que eu inda gloria cobiço.Da rosa encarnada a próNo combate ambos unidos,Deixaremos envolvidosNossos emulos no po.

Com dourado capaceteCoberto de negra pluma,E envolvido em alva espumaGentil soberbo ginete,Irei eu. . . .e então tremei!Que co'o meu arnez escuro,Mais firme que um forte muro,Meia turba esperarei.

i

A outra deixo-a aó valenteMagriço — meu cohn panheiro '<mO mais bravo cavalleiroQue possue a lusa gente.E quem não terá valorNa defesa tão honrosaDa linda encarnada rosaQue symbolisa o pudor?

Cobardes! contra uma damaQuerem mostrar valentia....Miserável cobardia!Que alto castigo reclama!Vinde.... vinde ao tribunaLVinde á liça, vilanagem,Qué sois fracos, qual folhagemQue cahe á brisa outomnal.

Por ser costume, a viseiraConservaremos na fronte,Até que no chão eu conteVossas lanças e bandeiras.Tenho crença, tenho fé,De Vos derribar por terra ;Como lá na Inglaterra.

Nem deixamos um de pé.

Tomei por minha divisaA casta rosa encarnada:

Que é nos campos linda fada,Que se baloiça na brisa.Apenas assome o sol.Saberão lá na estacada,Quanto vale uma estocadaDo Hercules Hespanhol.

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Avante, Magriço, avante!Tenho já sede de sangue:Quero ver a turba exangueA nossos-pés n'um instante»Tremao.... tremão, qui o clarim,Que annunciar a batalha,Marcará logo a mortalhaDo vosso tremendo íim.

Álvaro Vaz d1 Almada,O Hercules Hespanhol.

(Periódico dos Pobres.)

A explicação do Soneto, publicado non. antecedente,____: vida. _:.__,

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Annuncios.Acaba de sahir á luz:

A VISTA DO MONTE DAS SETE FONTES

ONDE O INFELIZ JOSÉ' VIEIRA MENDES FOI ASS ASSI-NADO POR ORDEM DE SEU DESALMADO FILHO.

Esta vista (lithògraphada) que representa o monte ePadrão do Senhor das Sef£ Fontes,— o monte e Ga-pella de S. Sebastião, —- o lugar onde se fez o assas-sinato, e o sitio donde o malvado parricida observou aexecução de tão atroz attentado, — é seguida de umexcellente artigo análogo, e das sentenças que cón-demnão os réos a morrerem n'uma forca no Campo deSanta Anna, em Braga.

Acha-se á venda na typographia da rua dos Ourivesn. 21.

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TYP. DA RUA DOS OURIVES N. 21.