vivendo a transição de ambiente de moradia: um estudo com

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS CENTRO DE CIÊNCIAS DO AMBIENTE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE NA AMAZÔNIA PPG/CASA MESTRADO ACADÊMICO VIVENDO A TRANSIÇAO DE AMBIENTE DE MORADIA: Um estudo com moradores do Parque Residencial Manaus - PROSAMIM JANETH DE ARAUJO LEMOS MANAUS - AM 2010

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Page 1: Vivendo a Transição de Ambiente de Moradia: Um Estudo com

UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS

CENTRO DE CIÊNCIAS DO AMBIENTE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DO AMBIENTE E

SUSTENTABILIDADE NA AMAZÔNIA – PPG/CASA

MESTRADO ACADÊMICO

VIVENDO A TRANSIÇAO DE AMBIENTE DE MORADIA:

Um estudo com moradores do Parque Residencial Manaus -

PROSAMIM

JANETH DE ARAUJO LEMOS

MANAUS - AM

2010

Page 2: Vivendo a Transição de Ambiente de Moradia: Um Estudo com

UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS

CENTRO DE CIÊNCIAS DO AMBIENTE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DO AMBIENTE E

SUSTENTABILIDADE NA AMAZÔNIA – PPG/CASA

MESTRADO ACADÊMICO

JANETH DE ARAUJO LEMOS

VIVENDO A TRANSIÇAO DE AMBIENTE DE MORADIA:

Um estudo com moradores do Parque Residencial Manaus -

PROSAMIM

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Ciências do Ambiente e

Sustentabilidade na Amazônia - PPG/CASA,

como parte dos requisitos para obtenção do

título de mestre em Ciências do Ambiente,

área de concentração Política e Gestão

Ambiental.

Orientadora: Profa. Dra. Maria Inês Gasparetto Higuchi

MANAUS – AM

2010

Page 3: Vivendo a Transição de Ambiente de Moradia: Um Estudo com

Ficha Catolográfica

(Catalogação realizada pela Biblioteca Central da UFAM)

L557v

Lemos, Janeth de Araujo

Vivendo a transição de ambiente de moradia: um estudo com

moradores do Parque Residencial Manaus - PROSAMIM / Janeth de

Araujo Lemos. - Manaus: UFAM, 2010.

87 f.; il. color.

Dissertação (Mestrado em Ciências do Ambiente e

Sustentabilidade na Amazônia) –– Universidade Federal do

Amazonas, 2010.

Orientador: Profª. Dra. Maria Inês Gasparetto Higuchi

1. Habitação popular – Manaus (AM) 2. Espaço urbano -

Amazonas 3. Planejamento urbano I. Higuchi, Maria Inês Gasparetto

II. Universidade Federal do Amazonas III. Título

CDU 364.122.7(811.3)(043.3)

Page 4: Vivendo a Transição de Ambiente de Moradia: Um Estudo com

4

JANETH DE ARAUJO LEMOS

VIVENDO A TRANSIÇAO DE AMBIENTE DE MORADIA:

Um estudo com moradores do Parque Residencial Manaus -

PROSAMIM

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Ciências do Ambiente e

Sustentabilidade na Amazônia - PPG/CASA,

como parte dos requisitos para obtenção do

título de mestre em Ciências do Ambiente,

área de concentração Política e Gestão

Ambiental.

Aprovado em ______/_____/_______.

BANCA EXAMINADORA

-----------------------------------------------------------------

Prof. Dra.Maria Inês Gasparetto Higuchi

-----------------------------------------------------------------

Prof. Dra. Ivani ferreira de Farias

Page 5: Vivendo a Transição de Ambiente de Moradia: Um Estudo com

5

-----------------------------------------------------------------

Prof. Dra. Iolete Ribeiro da Silva

Page 6: Vivendo a Transição de Ambiente de Moradia: Um Estudo com

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar agradeço a Deus pela oportunidade de fazer esse mestrado. Algo tão

desejado por mim.

Ao meu querido pai, Américo Agostinho de Araujo (in memorian) e minha querida mãe,

Jarina Gomes de Araujo, pelas árduas batalhas que travaram no curso de suas vidas para que

eu alcançasse esse meu objetivo.

Ao meu marido e aos meus filhos pelos momentos de compreensão e de renuncias. Obrigada

pelo incentivo e apoio nas horas difíceis.

À minha grande e querida orientadora Dra. Maria Inês Gasparetto Higuchi pelo incentivo,

apoio, paciência nos momentos de receios e dúvidas. Obrigada pelo carinho. Sem sua ajuda eu

não teria conseguido.

Ao PPG/CASA pela oportunidade de agregar novos conhecimentos e qualificação.

À professora Dra. Sandra do Nascimento Noda pelo incentivo e apoio.

Aos professores do Programa de Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazonia por

sua competência e dedicação.

Às professoras Dra. Maria do Perpetuo Socorro Chaves e Dra. Maria Ivani pela valiosa

contribuição na avaliação deste trabalho.

À professora Dra. Tatiana Schor pelo incentivo e pelas observações durante o curso.

Aos queridos colegas Maria Cristina, Emeline, Eduardo, José Maria e Michele pelas

colaborações técnicas e incentivos.

À minha estimada e querida amiga Joyce Mara pelo apoio e colaboração.

Aos participantes deste estudo pela receptividade e colaboração sem vocês não seria possível.

As secretárias do PPG/CASA Raimunda Albuquerque, Lívia chaves e Cleide pela

disponibilidade e ajuda.

Aos gestores do IGPI, Viviane, Andreza e Carlos Alessandro, pela disponibilidade, atenção e

colaboração no fornecimento de dados do Programa PROSAMIM.

As coordenadoras do curso de Psicologia do Centro Universitário Nilton Lins Professora

Janaina Braga e Andreina Sales pelo apoio e incentivo.

À Universidade Federal do Amazonas pela oportunidade da realização do curso.

Ao CNPQ pela concessão da bolsa com a qual tive o incentivo para a pesquisa.

Page 7: Vivendo a Transição de Ambiente de Moradia: Um Estudo com

7

RESUMO

LEMOS, Janeth Araújo. Vivendo a Transição de Ambiente de Moradia: Um Estudo Com

Moradores Do Parque Residencial Manaus – Prosamim. Dissertação de Mestrado.

Programa de Pós Graduação em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na

Amazônia/CCA/UFAM. Manaus, 2010.

O ambiente de moradia pode ser definido como um espaço em que o ser humano

escolhe para habitar e nele desenvolver suas ações rotineiras e cotidianas como: descansar,

alimentar-se e conviver com seus pares ou vizinhos. Esse ambiente se constitui como um

espaço vital e muito importante para a existência do ser humano. Normalmente é um lugar

construído e planejado pelas vivências e oportunidades de seus ocupantes. Em muitos casos

esse lugar não expressa necessariamente um ambiente planejado e muito menos desejado. Isso

é muito comum nas grandes cidades onde o problema de moradia é bastante precário e longe

de expressar um uso ambiental sustentável. Atualmente o inchaço das grandes cidades

brasileiras tem gerado incontáveis problemas sociais e inúmeros problemas ecológicos. Em

Manaus essa situação não é diferente, porém com uma peculiaridade devido ao relevo com

uma rede hidrográfica bastante complexa. Numa tentativa de solucionar a carência

habitacional e proporcionar uma melhor qualidade de vida aos moradores das margens dos

igarapés, assim como melhoria na paisagem estética da Cidade o Governo do Estado do

Amazonas em 2003 começou a articular uma política fundiária que priorizava essas áreas. O

PROSAMIM, (Programa de Saneamento dos Igarapés de Manaus) passa a ser executado com

o objetivo de sanear os igarapés urbanos e proporcionar moradias dignas aos que residiam nas

margens desses igarapés, formando um cinturão de pobreza e insalubridade ambiental. Uma

das opções dos moradores foi à mudança aos conjuntos habitacionais, entre eles o Parque

Residencial de Manaus, construído nas imediações dessa área central. Essa mudança de

espaço e lugar trouxe à cidade um cenário diferente, esteticamente bonito e organizado. Mas

como essa transição foi concebida e vivida pelos moradores? Esse estudo faz uma análise

dessa experiência num novo espaço físico e das relações sociais de vizinhança. Analisa ainda

os sentimentos dos moradores, as dificuldades e expectativas em torno da transformação do

ambiente de moradia. O estudo foi desenvolvido por meio de observação participante e

entrevista semi-estruturada com 40 moradores de ambos os sexos, responsáveis pela unidade

doméstica, com idade superior a 25 anos de idade e que estavam morando no local há pelo

menos um ano O resultado da pesquisa mostra a satisfação com a nova moradia, a localização.

Um processo de construção de identidade com a nova configuração espacial, urbanística. Os

moradores se sentem autovalorizados no novo ambiente, onde agora possuem nova identidade

social de cidadão morador, com equidade social e possuidor de direitos e deveres fato que

possibilita sua inclusão social. As modificações físicas do ambiente de moradia trouxeram

novos dilemas quanto às relações de vizinhança, estabelecimento de novos papeis sociais e

compromisso com o novo ambiente de moradia.

Palavras Chave: Remanejamento de moradia; Prosamim; Espaço e Lugar de Moradia

Page 8: Vivendo a Transição de Ambiente de Moradia: Um Estudo com

ABSTRACT

LEMOS, Janeth Araújo. Living the Transistion of the Environment of Housing: A Study With

Inhabitants Of the Residential Park Manaus - Prosamim.. Program of After Graduation in

Sciences of the Environment and Support in the Amazônia/CCA/UFAM. Manaus, 2010.

The housing environment can be defined as a space where the human being chooses to

inhabit and in it to develop its routine and daily action as: to rest, to feed themselves and to

coexist its pairs or neighbors. This environment if constitutes as a vital and very important

space for the existence of the human being. Normally it is a place constructed and planned for

the experiences and chances of its occupants. In many cases this not express place necessarily

a planned environment much less desired. This is very common in the great cities where the

housing problem is sufficiently precarious and far from expressing a sustainable ambient use.

Currently the swell of the great Brazilian cities has generated countless social problems and

innumerable ecological problems. In Manaus this situation is not different, however with a

peculiarity due to the relief with a sufficiently complex hydrographic net. In an attempt to

solve the lack housing and to provide one better quality of life to the inhabitants of the edges

of igarapés, as well as improvement in the aesthetic landscape of the City the Government of

the State of Amazon in 2003 started to articulate one agrarian politics that prioritized these

areas. The PROSAMIM, (Program of Sanitation of the Igarapés of Manaus) passes to be

executed with the objective of saner igarapés urban and providing worthy housings to that

they inhabited in the edges of these igarapés, forming a belt of poverty and unhealthy ambient

. One of the options of the inhabitants was to the change to the rooms sets, between them the

Residential Park of Manaus, constructed in the immediacy of this central area. This change of

space and place brought to the city a different scene, aesthetic pretty and organized. But as

this transistion it was conceived and lived for the inhabitants? This study it makes an analysis

of this experience in a new physical space and of the social relations of neighborhood. It still

analyzes the feelings of the inhabitants, the difficulties and expectations around the

transformation of the housing environment. The study it was developed by means of

participant comment and interview half-structuralized with 40 inhabitants of both the sexes,

responsible for the domestic unit, with superior age the 25 years of age and that they were

liveing in the place has at least one year. It was found that the residents feel happy to live in

the center, which has easier access to public and private services. The PROSAMIM provide

social inclusion for residents where they are local people living in illegal and not recognized

and valued by society for resident status as a citizen worthy of a place that offers self-worth as

a social group. However, the physical changes in space configuration and new neighbors

bring new dilemmas and social conflicts as the need for a reconfiguration of social identity,

social commitments with the new environment and new institutions of social roles.

Words Key: relocation housing; Prosamim; Space and Place of Housing

Page 9: Vivendo a Transição de Ambiente de Moradia: Um Estudo com

LISTA DE FIGURAS

Figura 1- Mapa referente a.extensão dos principais Igarapés de Manaus ................................ 30

Figura 2 - Antigas residências: construções sobre o Igarapé de Manaus ................................. 31

Figura 3- Antigas residências: construções sobre o Igarapé de Manaus .................................. 32

Figura 4 – Maquete dos blocos de apartamentos apresentada aos moradores.......................... 34

Figura 5 - Vista das precárias condições ambientais da antiga área residencial. ..................... 36

Figura 6 - Área residencial “Buraco do Pinto” em ocasião de enchente .................................. 36

Figura 7 - Aterramento do Igarapé de Manaus; solo criado ..................................................... 43

Figura 8 - Fase de construção das Quadras I e II ..................................................................... 43

Figura 9- Planta geral da área do Parque Residencial Manaus Quadra I e II ........................... 44

Figura 10- Via principal do PRM ............................................................................................. 45

Figura 11 - Área de recreação infantil ...................................................................................... 46

Figura 12- Coleta de lixo seletivo na área externa dos blocos do Parque ................................ 46

Figura 13- Uma das praças do PRM visivelmente abandonada ............................................... 50

Figura 14– Lixo no chão ao redor das lixeiras no PRM ........................................................... 50

Figura 15 – Móveis quebrados abandonados nas calçadas do PRM ........................................ 51

Figura 16 - Horta de um morador em área publica do PRM .................................................... 53

Figura 17- Comércio interno na área publica do PRM ............................................................. 54

Page 10: Vivendo a Transição de Ambiente de Moradia: Um Estudo com

LISTA DE TABELA

Tabela 1 - Distribuição dos participantes por sexo e idade ...................................................... 40

Tabela 2- Distribuição dos participantes em função do nível de escolaridade ......................... 41

Page 11: Vivendo a Transição de Ambiente de Moradia: Um Estudo com

LISTA DE SIGLAS

PROSAMIM- Programa de Saneamento dos Igarapés de Manaus

IPAAM- Instituto de Proteção Ambiental do Estado do Amazonas

ARSAM- Agencia Regional de Serviço Público do Estado do Amazonas

AMOPARMA- Associação dos Moradores do Parque Residencial Manaus

SUSAM- Secretaria de Saúde do Estado do Amazonas

SETHAB- Secretaria de terras e Habitações

SUHAB- Superintendência de Habitação do Amazonas

PRM- Parque Residencial Manaus

PER- Plano Específico de Remanejamento

BID- Banco Interamericano de Desenvolvimento

UGPI- Unidade de gerenciamento do Programa dos Igarapés

Page 12: Vivendo a Transição de Ambiente de Moradia: Um Estudo com

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.................................................................................................................. 12

2. PRODUÇÕES DO ESPAÇO E LUGAR .......................................................................... 17

2.1. Lugar De Moradia .................................................................................................................... 22

2.2. Relações de Vizinhança no Ambiente de Moradia ................................................................ 25

3. CARACTERIZAÇÃO DO PROGRAMA PROSAMIM ................................................ 28

3.1 Aspectos Urbanísticos e Habitacionais do PROSAMIM ....................................................... 30

3.2 Assentamento das famílias........................................................................................................ 32

4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA ......................................... 37

4.1 Moradores entrevistados .......................................................................................................... 40

5. PARQUE RESIDENCIAL MANAUS: LOCUS DA PESQUISA .................................. 42

5.1 Arranjo e organização espacial do PRM ................................................................................. 45

5.2 O uso social do espaço privado e coletivo ................................................................................ 47

6. NOVA FORMA DE MORAR E AS NOVAS SOCIALIDADES ................................... 55

6.1 Estar no centro: a centralidade do espaço social .................................................................... 55

6.2 Ter casa própria: a posse e propriedade da moradia ............................................................ 60

6.3 Morar numa casa de alvenaria: um novo status social adquirido ........................................ 63

6. 4 Refazer Vizinhos: a produção de novas relações de vizinhança .......................................... 64

7. CONFIGURAÇÃO DE UMA NOVA IDENTIDADE SOCIAL ................................... 68

7.1 Ocupar um espaço sem ter participado de sua construção: os percalços da apropriação e

apego ................................................................................................................................................. 69

7.2 Adotar novos papeis sociais no lugar novo: o compromisso socioambiental ....................... 73

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................75

9. REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 79

APÊNDICE 1 – Carta enviada à associação dos Moradores do PRM .............................. 85

APÊNDICE 2 – Roteiro de questões da entrevista semi-estruturada ............................... 86

ROTEIRO DA ENTREVISTA ............................................................................................. 86

APÊNDICE 3 – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ........................................ 87

ANEXO 1 – Protocolo de Aprovação no CEP UFAM ........................................................ 89

Page 13: Vivendo a Transição de Ambiente de Moradia: Um Estudo com

INTRODUÇAO

O ambiente de moradia pode ser definido como um espaço em que o ser humano

escolhe para habitar e nele desenvolver suas ações rotineiras e cotidianas como: descansar,

alimentar-se e conviver com seus pares ou vizinhos. Esse ambiente se constitui como um

espaço vital e muito importante para a existência do ser humano. O ambiente de moradia não

se limita apenas à construção que se habita, mas também o ambiente que forma uma

totalidade e que assegura um espaço conhecido e seguro. Assim, o ambiente de moradia se

constitui como um lugar físico dotado de aspectos biológicos e psicossociais. Por um lado

serve como proteção frente aos perigos externos e por outro, assegura um espaço pessoal onde

seus ocupantes se sentem “em casa”, familiarizados com esse lugar e as regras que circulam

nele.

É a partir do ambiente residencial, que inclui a casa e seu entorno imediato, como o

bairro, que temos a possibilidade de compreender como o ser humano se posiciona frente ao

mundo e compreender suas atitudes e comportamento em relação ao ambiente em que está

inserido. Assim, o ser humano ao ocupar um lugar para morar se apropria do mesmo, mesmo

que esse processo tenha tempos e formas diferenciadas. Ao transformar este espaço em lugar

de moradia o ser humano torna-o visível, para si e para os outros. A materialidade do lugar

torna visível vários aspectos da subjetividade presentes na sociedade em que faz parte, além

de sua própria história.

Um lugar de moradia é normalmente um lugar construído e planejado pelas vivências

e oportunidades que cada pessoa e sua família passa durante sua vida. Porém, em muitos

casos um lugar de moradia não expressa necessariamente um ambiente planejado e muito

menos desejado. Isso é muito comum nas grandes cidades onde o problema de moradia é

bastante precário e longe de expressar um uso ambiental sustentável. Atualmente o inchaço

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14

das grandes cidades brasileiras, onde os pobres vivem em lugares inóspitos a habitabilidade,

tem gerado incontáveis problemas sociais e inúmeros problemas ecológicos. Nas cidades da

Amazônia, em particular em Manaus, ocorrem fenômenos de ocupação muito semelhantes às

demais grandes cidades brasileiras, porém com uma peculiaridade devido ao relevo com uma

rede hidrográfica bastante complexa.

Manaus possui características geográficas peculiares na sua malha urbana, com a

existência de cursos d‟água em toda sua extensão, determinando todo o tecido urbano. Por

fatores culturais, socioeconômicos e geográficos a população manauara sempre ocupou as

margens dos igarapés, no entanto, alguns fatores intensificaram a ocupação como, por

exemplo, o processo migratório na década de 60, com a criação da Zona Franca de Manaus. A

ocupação desenfreada pela população nas margens dos igarapés acarretou diversos problemas

ambientais como poluição dos biomas aquáticos com grande quantidade de lixo domésticos

que obstruía o curso dos igarapés ocasionando alagações nas moradias, colocando em risco a

vida dos moradores e proliferações de doenças.

Constatam-se antagonismos sociais e econômicos na ocupação desses espaços, de um

lado os moradores com poucas condições econômicas e sociais e do outro temos

comerciários, empresários, uma classe social não subalterna, politicamente e economicamente

dominante. É notória a valorização do solo, quando grandes empreendimentos comerciais

atuam nesses locais, onde o fluxo de pessoas, comunicação e do comercio passa a ser intenso,

apesar das leis e normas ambientais que não permitem construções há menos de 40 metros de

distancia de igarapés/rios (PINHEIRO, 2008). Embora os grupos de maior poder aquisitivo

estejam concorrendo com esses espaços, ainda é a população de baixo poder aquisitivo que se

aglomera nessas margens e reproduzem paisagens sociais e ambientais precárias.

Numa tentativa de solucionar este problema, o Governo do Estado do Amazonas em

2003 começou a articular uma política fundiária para o saneamento dos igarapés com vistas a

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15

uma melhoria na estética paisagista da cidade e reassentamento dos moradores que vivem nas

margens e sobre os igarapés mais poluídos da cidade. Surge então o PROSAMIM - Programa

de Saneamento dos Igarapés de Manaus (www.prosamim.am.gov.br). As áreas dos igarapés

contempladas por esse programa sofrem uma substancial modificação da paisagem, onde os

cursos d‟água são realinhados em canais margeados por um gramado, praças, ciclovias,

calçadas e área de lazer. Com esse procedimento arquitetônico, a paisagem urbana de Manaus

é totalmente modificada, mesmo tendo críticas severas de ecologistas e ambientalistas.

Aos antigos moradores lhes é reservado opções de mudança, e uma delas inclui a

escolha a de morar nos Conjuntos Habitacionais que são construídos concomitantemente a

transformação da paisagem do igarapé. Trata-se de um lugar onde há vários prédios de dois

andares e apartamentos desenhados de forma padrão em tamanho e forma. A padronização

física tem implícito porém, uma matriz social bastante diversa e complexa, pois não se trata

apenas de um lugar físico, mas um ambiente simbólico de mudanças. Vários estudos

apontaram de forma conclusiva que o lugar onde uma pessoa mora não é meramente uma

construção física que protege e acolhe seu habitante, mas algo subjetivo fruto de projeções de

desejos, sentimentos e idealizações, onde a personalidade, comportamento do seu ocupante é

refletida na sua construção e organização.

Tendo então esse cenário socioambiental, este estudo tem por objetivo analisar a

transição de ambiente de moradia e suas implicações na vida dos moradores residentes no

Parque Residencial Manaus (PRM), Quadra I e II, como parte do PROSAMIM,

caracterizando o espaço físico do lugar e identificando as implicações dessa mudança nas

relações sociais vividas nesse ambiente de produção de um novo lugar de moradia. A

compreensão dos fatores psicossociais e culturais presentes nessa situação da mudança de

moradia é o foco dessa pesquisa, por entender que o espaço residencial é construído

historicamente pelas pessoas ao longo de sua trajetória de vida, a partir de aspectos geofísicos

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16

e do repertório cultural de uso do ambiente. Considera-se, portanto, que esse cenário

socioambiental se constitui como relevância para o meio cientifico e população em geral,

onde poderemos subsidiar conhecimentos para a implantação de políticas publicas de moradia

considerando o homem como parte imprescindível na relação homem-ambiente.

O uso da observação participante como parte da metodologia permitiu uma inserção

no lugar e uma aproximação com os moradores no PRM. Foram realizados registros em diário

de campo e fotográfico do cotidiano dos moradores e o uso social da estrutura física desse

lugar, as manifestações de comportamento coletivo em atividades e eventos ocorrentes

naquele espaço. Após esse primeiro momento foram realizadas entrevistas semi estruturada

com os alguns moradores, onde pontos de interesses do pesquisador foram sendo explorados

ao longo do seu curso. Participaram dessas entrevistas 40 homens e mulheres, todos

moradores do PRM que optaram por residir nesse conjunto habitacional e permaneciam nele

por pelo menos um ano. Esses tinham idade superior a 25 anos, e se definiam responsáveis

pela unidade doméstica.

Essa dissertação foi organizada em capítulos de modo que no capítulo dois, são

apresentados argumentos para balizar a discussão teórica da pesquisa. Esses argumentos são

embasados em autores que conceituam o espaço de moradia como produção social ao longo

da trajetória humana e que consideram importante para a sua construção aspectos como o

cotidiano e as relações de vizinhança. Alguns tópicos são salientes nessa discussão, por

exemplo, a produção do espaço e lugar, lugar de moradia e sua importância para a vida de

seus moradores e as relações de vizinhança.

No terceiro capítulo me dedico a apresentar a formatação e configuração política do

PROSAMIM. No quarto apresento os procedimentos metodológicos da pesquisa, seguindo-se

dos capítulos que foram produzidos a partir das analises desenvolvidas neste estudo, onde

faço a caracterização espaço físico que serviu como lócus da pesquisa, mostrando as

Page 17: Vivendo a Transição de Ambiente de Moradia: Um Estudo com

17

estruturas arquitetônicas e urbanistas do lugar e das construções coletivas e domesticas,

inserindo ainda o processo de assentamento ocorrido. Discuto de modo concomitante como os

moradores fazem uso dessa estrutura física como arena de acontecimentos sociais. Prossigo

no capitulo seguinte apresentando como esses acontecimentos são elaborados configurando

uma nova forma de morar e se relacionar com os demais moradores. No último capítulo

apresento aspectos constitutivos de uma nova identidade social que emerge no lugar e vai se

produzindo a partir dessa relação com o ambiente. Finalmente apresento as considerações do

estudo, onde pondero a inextricável associação de produção de pessoas ao mesmo tempo em

que se produzem lugares, de tal forma que é difícil dizer o que vem em primeiro lugar.

2. PRODUÇÕES DO ESPAÇO E LUGAR

Não se concebe o espaço como campo homogêneo de fluxos, mas possuidor de

controvérsias de opiniões e interesses dos atores sociais caracterizando uma dinâmica espacial

própria da sociedade capitalista dos dias atuais, incentivada por fatores econômicos típicos da

racionalidade do espaço contemporâneo, onde o controle está presente nas ações que

desencadeia o conflito pela posse de território. Na visão marxista que discute esses fatores, o

foco é centralizado na globalização ou na mundializaçao da economia que passa a ser uma

ferramenta importante para a consolidação do capitalismo. Os espaços são vistos como

mercadoria para a efetiva consolidação dos valores criados pelos grandes blocos econômicos.

Vemos, pois, que o mercado imobiliário predita o uso do espaço e seu valor econômico.

Castells (2001) afirma que o espaço aparece como uma mercadoria enquanto solo

urbano, disputado pelo mercado imobiliário e repassado para população através do lucro. As

estratificações sociais são beneficiadas de acordo com seu poder aquisitivo, ocasionando um

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18

fenômeno atração-expulsão, onde as classes menos favorecidas economicamente são

empurradas para locais menos valorativos pelo mercado imobiliário causando uma dissolução

nos lugares de moradia e conseqüentemente modificando a relação espaço-ambiente. Essa

fragmentação gera no individuo um comportamento normativo do uso, das relações sociais,

impondo conflitos e confrontos, o cotidiano passa a ser o controlado e organizado conforme

uma lógica racional e burocrática do espaço.

A organização do espaço pelo Estado ou racionalização do espaço tem como objetivo

ordenar a ocupação e determinar as diversas formas de uso para os grupos sociais como

alternativas de suprir suas necessidades sociais. O espaço passa a ser então, normalizador e

condicionador do comportamento do grupo. Pode-se ter como exemplo, os conjuntos

habitacionais construídos pelo Estado, que determinam a forma de uso, isto é das atividades

que podem ou não ser realizadas pelos seus ocupantes. São modelos universais que tentam

homogeneizar as arquiteturas e comportamentos socialmente aceitos (MUXI, 2004).

Lefebvre (1999) e Tedesco (2003) ressaltam que o Estado deveria ter a função de

organizar a primazia do fator econômico sobre as relações históricas e sociais da sociedade,

onde o espaço da sociedade é controlado, se tornando o objeto de troca e de consumo como

coisas que podem ser negociáveis, e que o Estado se constitui como um gestor da sociedade

através da cotidianidade lucrativa, burocrática, consumista e estética do cotidiano. O ser

humano nas suas ações cotidianas demonstra uma preocupação com a economia, com a

produtividade que lhe é exigida. Suas atividades se constituem em reações de produção de

trabalho. O trabalho passa a ser um imperativo para sua funcionalidade como cidadão, o que

reflete na sua pratica sócio espacial, com atividades rotineiras que vem ao encontro dessa

exigência social vigente.

Já numa análise psicossocial, o espaço é caracterizado de forma mais abrangente, uma

vez que é a matriz da existência social e do enraizamento da estrutura do homem. Nessa

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19

perspectiva o espaço é definido através de varias formas, seja como um lugar, um ponto de

referencia que no qual se situa algum objeto, um acontecimento ou uma atividade social

(FISCHER, s/d). Portanto, o espaço é um sistema de interdependências complexas entre os

objetos e o indivíduo que o nomeia e o valoriza conforme sua percepção. O espaço ao mesmo

tempo em que influencia a conduta do ser humano também sofre modificações na sua

funcionalidade e estrutura. O espaço dá condição para o desenvolvimento do comportamento

de apropriação baseado em uma organização social que produz fronteiras e limites das ações

do individuo. O valor de um lugar depende não só do controle psicológico que o individuo

possa ter, mas do nível social e econômico do qual ele pertence. Com as modificações da

estrutura física de morar, decorrente da fragmentação do espaço urbano gerado pelo

desenvolvimento socioeconômico local, as pessoas se defrontam com conflitos que podem

ocasionar grandes alterações funcionais e estruturais no seu modo de viver.

Corroborando com esse pensar Santos e Souza (1986), conceituam o espaço como

suporte para que o ser humano desenvolva suas funções de habitat, de alimentação, de

descanso, de trabalho, se diversão, de interações com os demais indivíduos e ambiente a sua

volta. Santos (2007) ressalta que a localização das pessoas em um lugar, o qual conceitua

como conjunto de objetos naturais e não naturais construídos pelo ser humano, e que é

resultado de forças de mercado capitalista e decisões do estado, independe, da vontade dos

indivíduos atingidos. São situações em que os indivíduos vêem-se forçados a aceitar pelas

circunstancias vivenciadas. A análise de um espaço vivido nos mostra a comunicação que

existe entre seus construtores, os diversos empregos e usos que seus habitantes fazem dele. A

forma de cada grupo social utilizar seu espaço é inerente também aos aspectos de sua cultura,

ou seja, de sua historia coletiva.

Segundo Santos (1981), quando um indivíduo se defronta com um espaço que não

ajudou a construir, a criar e que não conhece sua historia, ele se torna estranho em relação ao

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20

mesmo, não faz parte dele, de suas relações sociais vivenciadas com seu grupo. Sua

identidade de lugar já não existe, foi desfeita. Mas, como um ser de capacidade de superação,

começa uma luta para reaprender, usando sua sensibilidade vai aos poucos substituindo seu

desconhecimento pelo conhecimento do entorno, deste novo espaço, embora de forma muito

segmentada e lenta. A adaptação requer a capacidade inconsciente de sentir–se pertencente a

esse espaço.

Fischer (s/d) nos alerta que qualquer arranjo ou organização espacial tem contido

sempre uma funcionalidade e uma hierarquia social, nos quais os vários grupos vivem e

interagem. Santos (1981) define pelo menos dois tipos de espaços. Em primeiro vem o espaço

familiar, área domestica com normas e valores desse grupo. Em segundo lugar vem o da

vizinhança, no qual o movimento de interação já é externo, cotidiano, após este vem o espaço

econômico no qual está ligado, o emprego, o trabalho, enfim a produção remunerada. As

interações sociais que ocorrem nesses espaços refletem comportamentos rotineiros, seja do

dia-a-dia ou eventuais.

Quando o ser humano se apropria do espaço com toda a sua subjetividade que

podemos definir de uma maneira “simplória” como sendo o modo de ser de cada um, como

seu comportamento, seu pensar e suas ideologias e concretiza isso, passamos então a nomear

de lugar de vida ou de existência. Um espaço quando é tomado pelo sentido a ele conferido

passa a se tornar lugar. Isto é, o espaço que é um conceito subjetivo tem sua face objetiva no

momento que se pode “tocá-lo”, passamos a nos referir a um espaço físico, um lugar a partir

do qual possam ser constadas suas propriedades físicas e geográficas.

Os limites impostos por comportamentos de apropriação é o que estabelecem o grau e

o nível de relações entre os indivíduos (FISCHER s/d). Assim, se pode ter uma relação social

mais próxima com os vizinhos, com parentes, e também ter uma relação social mais distante,

por exemplo, com os chefes e outras pessoas que se julga superiores, estabelecendo-se aí as

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21

normas de convivência, de utilização de espaços numa hierarquia espacial. Pode-se assim,

conceituar apropriação como sendo um processo de enraizamento necessário à segurança do

ser humano, onde o eu se inscreve em um determinado ponto geográfico, o que proporciona

ao individuo sentimento de domínio de um lugar (MOURÃO e CAVALCANTE, 2006)

É por isso que Carlos (1992) insiste que para analisar um lugar é necessário levar em

consideração a tríade habitante-identidade-lugar. O habitante através do seu corpo se apropria

e faz uso deste, com suas sensações e ações, de desejos, de projeções e de identidade com o

outro. O corpo dá a condição do vivido, do experienciado, do trabalho e do lazer que vai aos

poucos tendo uma significância dada pelo uso diário. Através do corpo o ser humano se

apropria da rua, das calçadas, que se comunica que vai às compras enfim, atuando no mundo.

No lugar vivido o ser humano se reconhece como pertencente àquele lugar. O lugar dá a

natureza social da identidade que, segundo Silva (2000); Frago e Escolano (2001) seria fruto

da própria historicidade do ser humano e que estaria em constantes transformações. A

identidade social estaria enraizada no passado histórico e que mantém certa correspondência

com o lugar vivido. É nele que a historia se constrói, pela pratica social através do movimento

da vida e acumulação cultural e defendem que o lugar é um espaço construído por meio da

ação humana, com suas significações e concepções.

O lugar é, assim, um produto do ser humano com seu grupo social, com suas

hierarquias e seus conflitos de poder. Leff (2001) em seus estudos sobre habitat, ambiente e

cultura, reforça esse pensamento ao dizer que o habitat é o lugar construído pelos atores

sociais através de suas significações e praticas com a natureza e que a cultura não é

determinada pelo meio em que a população humana vive, mas que esta vai se reconfigurando

através do próprio modo de cada população que se apropria do ambiente nas suas

movimentações migratórias ou permanências geográficas.

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Santos (2007) ao se referir às migrações, relata que esses são fenômenos de agressão,

pois requer do individuo uma nova adaptação, um processo árduo e lento. A

desterritorialização teria assim o sinônimo de alienação, estranhamento e desculturalização.

Mudar de um lugar para outro é confrontar-se com uma nova cultura, uma nova forma de

viver o seu cotidiano, e de criar novas concepções de lugar. A relação com o novo ambiente,

com a nova moradia pode criar uma relação conflituosa de perda e ao mesmo tempo de

aquisição de um novo fazer, um novo viver, o que demanda novas disposições físicas e

psicológicas do ser humano. Como então podemos caracterizar um espaço como lugar de

moradia?

2.1. Lugar De Moradia

As construções arquitetônicas de moradia tiveram ao longo da historia humana

diversas formas influenciadas pelas necessidades e desejos do ser humano, fazendo parte,

portanto, de sua cultura e de um dado momento histórico. Dentre os aspectos influenciadores

pode-se salientar o fator econômico que se constitui a principal causa da mobilidade social de

moradia, um fenômeno urbano comum na nossa sociedade. Garnier (1997) e Valle e Oliveira

(2003) ao se referirem a esse tema mencionam dois grupos populacionais: um com maior

poder aquisitivo que tende a se afastar do centro e ocupar terrenos espaçosos, com

construções de moradias confortáveis e o segundo em relação às pessoas menos favorecidas

economicamente que se aglomeram nos centros urbanos em habitações que ocupam às vezes

mais de uma família e com condições precárias de moradia. Assim, a maioria das pessoas com

menos poder aquisitivo prefere morar próximo ao local de trabalho ou que tenha maior

facilidade de acesso a serviços públicos (RIBEIRO FILHO, 1999).

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23

Alguns autores nos apresentam uma tipologia de ambientes residenciais que inclui

desde casa, o bairro e até as relações de vizinhança (ARAGONES E AMERIGO, 2002;

FICHER, s/d). Os autores ressaltam que existem poucos estudos que contemplem essa

temática, o que dificulta a implantação de políticas públicas sociais que visem uma melhor

relação individuo-ambiente, um espaço que funciona como suporte para o desenvolvimento

das ações cotidianas e que se denomina como sendo seu lugar de vida, sua casa, seu habitat.

Na visão biológica o habitat tem um significado de espaço de relações e interações das

espécies, é o que dá condições para a sobrevivência. Habitar num espaço é ter um território,

seu enraizamento de pertencer, é a sua casa, em suas mais diversas formas, seja apartamento,

alojamento, quarto, e outros. A casa tem diversas representações e varia conforme o tempo e o

espaço, no entanto, a casa continua sendo uma realidade com dimensões físicas e simbólicas.

Com relação ao aspecto físico, as variações que ocorrem na construção da casa/apartamento,

no bairro como internamente depende da cultura da localidade, assim como, a função que

cada compartimento da casa/apartamento possui. Aqui cultura deve ser vista como um corpo

de conhecimentos, de idealizações e praticas que direcionam o comportamento dos atores

sociais.

Durante a historia da humanidade, o ser humano teve diversas formas de morar, de se

alojar, ligado a fatores físicos e climáticos. A necessidade de ter um lugar significa proteção

contra riscos de toda natureza. A casa, o lugar, corresponde de forma concreta os sentimentos

de propriedade, de pertencimento, poder e status social. Mas, também de abertura ou

fechamento da comunicação com o outro. Segundo Carlos (2001), o ser humano se percebe a

partir de sua casa, sendo esta o ponto central da sua posição geográfica no mundo. A sua

forma arquitetônica possui um conteúdo social construído ao longo da sua historia, na qual se

apóia sua ação e percepção de vida. Assim, sua construção revela a própria identidade do

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homem refletida pela sua memória, tornando-se agora presente. Um fenômeno desprezado

pelas propostas de operações urbanas, que balizam as políticas públicas de moradia.

Outro aspecto é a composição de objetos e acessórios que expressam a personalidade e

o status socioeconômico de cada morador. Esses indícios nos levam a considerar que a casa

representa a própria imagem do dono e, portanto incluem nela um sistema de valores sociais e

morais. Nos estudos de Higuchi (1999; 2003), constata-se a importância que os grupos sociais

que habitam um determinado lugar dão à construção de sua moradia para referenciar

significados e valores socioculturais. A casa, segundo a autora, representa para seus ocupantes

concepções de status social, que o diferencia e ao mesmo tempo os aproxima do seu meio

social. Através da construção e da aquisição do material os moradores mostram suas

capacidades de crescimento sócio econômicas, o que interfere nas suas relações de

vizinhança, de contato e de reafirmação de uma identidade social e pessoal. A casa representa

uma identidade pessoal e social, a materialização dos seus desejos, dos seus projetos, ao

mesmo tempo em que ela é a proteção do eu corpóreo e imaginário. A casa proporciona ainda,

a leitura da vivencia, de práticas diárias que estruturam o relacionamento social dos ocupantes

entre si e entre os demais da vizinhança.

Identidade social é o aspecto do autoconceito que o ser humano adquire através do

conhecimento de seu pertencimento a um grupo ou grupos sociais com sentimentos de

valoração. Assim o entorno físico pode se constitui como ponto importante para construção de

sua identidade. O termo pode receber diversas denominações sendo mais comum identidade

de lugar e identidade social urbana (MOURÃO e CAVALCANTE, 2006).

O espaço de moradia se constitui, dessa forma, o centro da existência humana com

significações físicas, psicológicas e culturais, contendo uma familiaridade do mundo vivido,

uma expressão da identidade sociocultural que reflete um status social e pertencimento.

Wiensenfeld (2001), também postula que o espaço de moradia como expressão de identidade

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25

social de seus moradores. Definindo identidade social como a interação e compartilhamento

de símbolos e significações similares entre os grupos. Tuan (1980), inclui nesse cenário a

emoção, introduzindo o termo topofilia como uma relação afetiva que o homem desenvolve

com o seu ambiente material através de símbolos e valores culturais.

Por outro lado, a casa também pode existir apenas através do imaginário, onde a

materialização não é possível devido às condições econômicas de seus habitantes como no

caso de moradores de rua. Nesse caso, segundo Santos e Duarte (2002), esse fenômeno recebe

o nome de “casa ausente”. As autoras verificaram que quanto mais tempo os indivíduos vivem

nas ruas mais a casa perde sua concretude, ficando apenas no imaginário. Porém observam-se

limites claro estabelecidos de convivência onde se constata um grande significado simbólico.

Não ter um lugar, é não ter uma raiz, uma identidade de lugar. Isso envolve ainda uma rede de

relações com os que estão fixados na proximidade, dando referência à sua própria localização

física e social. Essa rede se caracteriza como relações de vizinhança.

2.2. Relações de Vizinhança no Ambiente de Moradia

As relações sociais de vizinhança envolvem trocas no plano das vivências, de

sentimentos, comportamentos e percepções. A vida é construída em conjunto com o outro,

com o coletivo compartilhado na rotina do fazer. É através das mesmas que há superação das

necessidades, e da reafirmação do posicionamento frente do vivido. As relações de

vizinhança têm uma estreita relação com o cotidiano do individuo, sendo um comportamento

social aceito e praticado durante toda existência humana. Certeau e Pierre (2005), definem

cotidiano como as ações, atividades rotineiras que se impõe à vida da cada um, pressionando

para o fazer, seja, bom ou não. São os compromissos que nós assumimos na nossa vida que se

relaciona com o modo de ser e de se posicionar no mundo.

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Ainda segundo Certeau e Pierre (ibid), a organização da vida cotidiana acontece

através de duas formas: a) comportamentos do individuo que se torna visível nas ruas, pelo

seu vestuário, acenos, saudações de cortesias, ritmo de andar de freqüentar determinado

lugares no bairro; b) os benefícios simbólicos que esses comportamentos tem para seus

autores sociais. Esses estão balizados pela cultura de cada um. Assim a organização da vida

cotidiana, nos mostra a relação estabelecida de convivência que existe no bairro. A

convivência requer um contrato social que obriga seus usuários a respeitar a vida cotidiana.

Dessa forma Tedesco (2003), ressalta que o cotidiano se constitui o lugar para analise social,

sendo este o lócus da sociabilidade humana, formado por simbolismo da realidade ou do

imaginário, constituindo-se como uma teia que compõe o vivido.

Com o desenvolvimento econômico, as operações urbanas executadas pelos gestores

governamentais têm trazido para a cidade, palco da urbanização, rápidas transformações na

malha urbana, justificadas pelo aspecto político, econômico, social e ambiental. Dessa forma,

o espaço de moradia ganha novas configurações, com construções racionais que buscam

valorizar o espaço e atender a nova ordem capitalista, que tem em grande parte, o espaço

como mercadoria lucrativa no mercado imobiliário. Guattari e Kolnilk (2007), em suas

colocações sobre a historia e a subjetividade do ser humano, consideram que a ordem

capitalista é projetada na realidade do mundo e na realidade psíquica do ser humano na forma

e nos modos de relações humanas, na maneira como se trabalha, como se ama. Ela fabrica os

movimentos corpóreos, subsidiando a relação do homem com o mundo e consigo mesmo.

Desse modo, o ser humano, toma como verdade esse conhecimento construindo crenças e

aceitando como a ordem do mundo, como uma idéia de vida organizada.

Esses valores e funcionalidades não se instalam num vácuo, mas no cotidiano é que

estes estabelecem, através de relações diversas. Sposito (2001), considera o cotidiano por si só

uma categoria de analise explicativa da realidade, tendo em vista que é através dele que o ser

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humano se relaciona e planeja suas atividades. Isso seria uma forma de apropriação da vida,

do lugar, resumindo-se numa pratica social, como que o lugar passa a ser preenchido pelas

relações sociais; Sendo assim quando analisamos o lugar não podemos reduzir apenas ao

aspecto econômico, como é postulado numa perspectiva histórico-material.

Pinheiro (2008) e Gouvéa (2008) constataram em suas pesquisas que a sociabilidade

dos moradores a margem dos igarapés de Manaus, teve alterações significativas

principalmente nas relações de vizinhança em decorrência da nova forma de morar. Muitas

famílias foram remanejadas para outros espaços de moradia e muitas delas optaram em locais

próximos como forma de evitar o distanciamento físico e afetivo dos vizinhos de longa data.

Outras famílias permaneceram no mesmo local de moradia, mas em terrenos construídos pelo

programa, como é o caso de alguns moradores do Conjunto Residencial Manaus. Nesse caso

os motivos da permanência foram: a localização central, onde os serviços públicos são mais

acessíveis como posto médico, transportes, a proximidade com os parentes e as relações de

vizinhança. A socialidade entre os vizinhos é ponto relevante para o apego ao lugar, onde a

identidade social se faz presente criando simbolismo compartilhado entre a comunidade

pesquisada. Como vimos anteriormente, a casa é algo além da materialidade, é algo sonhado e

projetado pelos moradores. A chegada da nova moradia trouxe alguns questionamentos,

euforia e estranhamentos entre os moradores, afinal tudo foi modificado desde dimensão

física até a dimensão psicológica. A idealização da nova moradia não foi compartilhada entre

os moradores, mas sim pelas ações governamentais que pouco ouvidos foi dado aos

interessados.

O ser humano, ser social por natureza, tem a necessidade de compartilhar idéias,

pensamentos, sentimentos, ideologias e ações, procurando através da comunicação, interações

de convivência e de ajuda frente às dificuldades que o próprio curso de vida lhe impõe. Assim

é factício que o homem relaciona-se com pessoas próximas estabelecendo laços de amizade e

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companheirismo. O fator vizinhança é um fenômeno que segundo Aragones e Amerigo

(2002), subsidia a compreensão da relação casa-bairro, o sentimento de pertencimento a um

lugar pelo ser humano e que está relacionado com o grau de proximidade que este tem com

seus vizinhos, quanto menor for à distância física, maior a possibilidade de uma relação

afetiva. A proximidade conduz segundo a autora, à afetividade. O bairro seria a área com um

nível intermediário de organização social entre a vivência do individuo e a cidade, seria então

uma zona de intermediação entre um espaço micro e um macro, onde existem vários serviços

e onde se estabelece laço afetivo entre as pessoas que também habitam nesse espaço, o qual a

autora chama de esquema sócio espacial. E que proporciona aos indivíduos sentimentos de

pertencimento e de identidade.

O que dizer daquelas pessoas, cujo local de moradia é transferido para um ponto

geográfico diferenciado, com estrutura e organização modificados? O poder público por meio

de programas de habitação e desenvolvimento se torna um agente expressivo de mudança de

espaço e lugar. Através de obras da engenharia civil modifica a paisagem urbanística com

construções de moradia para população que habitava locais considerados de risco nas margens

dos igarapés que cortam as principais vias urbanas da cidade. Para compreender o processo

socioambiental nessa mudança é importante caracterizar a obra de engenharia presente no

Programa PROSAMIM.

3. CARACTERIZAÇÃO DO PROGRAMA PROSAMIM

Em 2003 o Governo do Estado do Amazonas começa a articular uma política

fundiária com o objetivo de conter as invasões e o crescimento da população que ocupa as

margens dos igarapés. Manaus tem duas principais bacias hidrográficas, a Bacia de São

Raimundo e a Bacia dos Educandos, sendo a escolhida para intervenção das operações do

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29

Programa, a Bacia dos Educandos, por ter um maior número de contingente populacional

ribeirinho e índice de doenças por veiculação hídrica se constituindo em risco social e

ambiental. Assim, através da lei No. 2785 foi autorizado o empréstimo para a execução do

Programa junto ao BID- Banco interamericano de Desenvolvimento no valor 140 milhões de

dólares, o valor total da obra foi orçado em 200 milhões de dólares. O Programa tem como

parceria organizações Governamentais e não Governamentais como Prefeitura Municipal de

Manaus, Manaus Energia, Águas do Amazonas, IPAAM, ARSAM, SUSAM, SETHAB e

SUHAB. O principal objetivo do Programa é a implantação de sistemas macro e micro

drenagem para recuperar a capacidade de drenagem dos igarapés e de escoamento das águas

pluviais nas áreas de intervenções; reordenamento urbano com vias urbanas, equipamento

urbano, melhoria na habitação; reassentamento e realocação da população nas áreas de risco.

O Programa beneficia 21.326 famílias ribeirinhas totalizando 102.365 habitantes. Sendo que

35.827 estão em áreas de risco.

A Bacia dos Educandos área de intervenção do Programa, é composta pelos Igarapé do

Quarenta, Igarapé do Mestre Chico, Igarapé da Cachoeirinha e Igarapé de Manaus, esse

ultimo localizado na área central da cidade, com sua nascente formada por três olhos d‟água

na base de uma encosta, dentro de uma propriedade particular (Figura 1). Ao longo de seu

percurso, o Igarapé de Manaus corta importantes vias da cidade, e concentra em sua bacia

uma população de cerca de 15.000 habitantes. A Bacia dos Educandos tem aproximadamente

36 mil moradores que se encontram em situação de potencial risco, distribuídos nos seguintes

bairros: Armando Mendes, Betânia, Cachoeirinha, Centro, Colônia Oliveira Machado,

Crespo, Distrito Industrial I e II, Educandos, Japiim, Morro da Liberdade, Petrópolis, Praça

14 de Janeiro, Raiz, Santa Luzia, São Francisco, São Lázaro e Zumbi dos Palmares conforme

dados fornecidos pela UGPI.

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Figura 1- Mapa referente a.extensão dos principais Igarapés de Manaus

Fonte: www.prosamim.am.gov.br, 2009

3.1 Aspectos Urbanísticos e Habitacionais do PROSAMIM

Manaus teve grande influencia européia no uso do espaço urbano durante seu

processo de colonização, embora também tenha tido influencia da própria constituição

geográfica através de ocupação da sua população para moradia as margens dos igarapés que

corta a malha urbana de Manaus. Pode-se, portanto, observar na paisagem urbana de Manaus,

construções habitacionais baseadas em modelos internacionais e construções típicas da

própria região como as chamadas palafitas, casas construídas sob as águas. Historicamente as

construções de casas às margens dos igarapés sempre fez parte da cultura local, onde a

população utiliza as águas dos rios para suprir suas necessidades e também seu lazer. O

consumo de produtos industrializados gerado pela globalização da econômica não era tão

significativo como é hoje, não havendo, portanto, uma grande quantidade de produção de

resíduos sólidos, fruto do consumismo atual. É fato que esse foi um fator relevante para a

poluição e contaminação do leito dos igarapés de Manaus.

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Nos anos 70 Manaus se torna um pólo atrativo através da criação da Zona Franca de

Manaus, quando um grande contingente populacional migra para a cidade a procura de

oportunidade de trabalho e maiores condições econômicas. Manaus, portanto, passa a abrigar

em seu solo urbano imensos contingentes de pessoas vindas de outras regiões e do interior do

estado. As populações com menos valor aquisitivo passam a ocupar terrenos menos

valorizados pelo mercado imobiliário de Manaus, vivendo em áreas de risco e degradando o

leito dos igarapés com seus dejetos sólidos ou através de águas servidas (Figura 2 e 3).

Figura 2 - Antigas residências: construções sobre o Igarapé de Manaus

Fonte: UGPI, 2009

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Figura 3- Antigas residências: construções sobre o Igarapé de Manaus

Fonte: UGPI, 2009

Essa paisagem passa a incomodar gestores, ambientalistas e a cidade de modo geral.

Nem tanto pela condição das famílias, mas principalmente pelo aspecto visual e ambiental,

que estaria “enfeiando” uma cidade que seguia a passos largos para um reconhecimento

dentro de uma escala de progresso, baseado num arranjo sanitário mínimo. Além disso,

problemas econômicos também foram sendo associados nessa necessidade de mudanças no

espaço urbano. Para a transformação da geografia degradada seria necessário também a

mudança do endereço daquelas famílias. Com isso deu-se início ao processo de remoção da

população.

3.2 Assentamento das famílias

O PROSAMIM em suas operações tem como objetivo intervir na ordenação urbana e

no uso racional do solo, como já foi mencionado anteriormente, dessa forma, a população foi

reassentada e relocada. Assim como a criação de vias de acesso e de equipamentos

urbanístico, como Parques de lazer e serviços públicos e implantação junto às famílias

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afetadas. Além disso, prevê várias atividades de educação ambiental como reciclagem de

material e processo seletivo do lixo.

Para o reassentamento das famílias foi criado o PER - Plano Especifico de

Remanejamento, com as seguintes opções aos moradores afetados: a) Bônus moradia no valor

de R$ 21.000,00, para compra de outra moradia no mercado local ou regional com boas

condições de conservação com serviços públicos; b)indenizações em dinheiro aos

proprietários a serem feitas de acordo com a avaliações feitas pela equipe técnica baseados no

valor do mercado imobiliário e as benfeitorias realizada pelo morador; c) realocamento de

inquilinos ou morador cedido em conjuntos habitacionais criados pelo Governo do Estado

como no caso de famílias que optaram em morar no Conjunto João Paulo II e Nova Cidade e

d) morar em terrenos criados através do aterramento dos Igarapés proprietários ou inquilinos.

Na fase transitória, entre a retirada das famílias e uma solução definitiva por parte

dos gestores, foi concedida uma bolsa transitória no valor de R$ 250,00 para as famílias. As

bolsas foram dadas para as seguintes alternativas de moradia: aluguel; hospedagem em hotel

ou pensão e acolhida em casa de parentes.

Objetivando preparar a população remanejada, o PROSAMIM criou plano de

educação junto às famílias executando oficinas pedagógicas, onde a comunidade era orientada

e preparada para o novo ambiente de moradia. As famílias recebiam uma “Cartilha do

Proprietário” onde continha deveres e direitos do morador. Além disso, no contrato

estabelecido entre os moradores e o Governo do Estado para aquisição do imóvel ficou

estabelecido que somente depois de 10 anos, é que o morador poderia se considerar

legalmente proprietário do imóvel, não podendo durante esse tempo fazer qualquer tipo de

negociação com o imóvel residencial. Durante esse tempo o morador estaria de posse apenas

do Termo de Concessão de Uso homologado pelo Governo do Estado. A figura 4 mostra a

tipologia habitacional mostrada às famílias que seria construída pelo PROSAMIM.

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Figura 4 – Maquete dos blocos de apartamentos apresentada aos moradores

Fonte: UGPI, 2009

Com o objetivo de melhorar a qualidade de vida da população com influencia direta

e indireta dos igarapés, o PROSAMIM, divulgou vários projetos e planos, tais como: Plano

Específico de Remanejamento; Plano de Participação Comunitária; Projeto de Comunicação

Social e Educação Ambiental; Projetos de Engenharia; Projeto de Viabilidade Sócio-

econômica; Avaliação Ambiental Estratégica; Planos de Controle Ambiental e o Plano de

Fortalecimento Institucional.

Antes das intervenções a área hoje denominada Parque Residencial Manaus era

chamada de “Buraco do Pinto”, por se caracterizar pela grande quantidade de lama depositada

sob as residenciais construídas. Eram moradias sem infra-estatura, com forte odor de dejetos

emitidos por esgotos a céu aberto. As vias de acesso se davam por rústicas passarelas de

madeiras construídas pelos próprios moradores para circularem aos vários pontos da

localidade a pé, uma vez que não era possível o acesso de veículos. As famílias eram em sua

maioria oriunda do interior. No período das cheias ocorriam alagações que invadiam as

residências, da mesma forma que a infestação de insetos e outros animais como ratos, cobras e

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jacarés. Apesar de ser uma área de risco a população mostrava afeto pela localidade fato esse

constatado pela pesquisadora Gouvéa (2008) e pesquisa de campo realizada pelo próprio

PROSAMIM. Apesar de reconhecerem as dificuldades, havia nos moradores fortes laços de

vizinhança e apego ao lugar. Nas proximidades da localidade havia serviços públicos como

telefonia, água potável, correio e médico da família. As figuras seguintes 6 e 7 nos mostram

como era essa localidade.

As construções eram na sua maioria de madeira, embora também tivesse casas mistas

e de dois andares que eram construídas sem planejamento prévio. Os custos dos serviços

públicos eram inexistentes ou irrisórios, pois, as contas de água eram taxadas e os pontos de

energia elétrica em sua maioria eram ilegais, os chamados “gatos”. Uma realidade que aqueles

moradores vinham vivenciado em seu cotidiano há anos, senão décadas.

Por falta de espaço adequado, a socialização diária entre os moradores se dava nas

pontes ou em seus cruzamentos, onde pequenos grupos de pessoas se juntavam para conversar

e compartilhar idéias. Do mesmo modo também era com as crianças, que mesmo vivendo em

um ambiente inóspito faziam desses caminhos seu espaço de brincadeiras, se assemelhando a

outras localidades construídas sobre igarapés imundos (CRUZ, 2008). A população sempre

viveu na expectativa de modificação dessa realidade, existiam rumores que em algum tempo,

haveria uma intervenção operacional de engenharia pelo o Estado nessa localidade, porém,

nada era visivelmente concreto, até que em 2003 o Governo do Estado inicia o projeto.

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Figura 5 - Vista das precárias condições ambientais da antiga área residencial.

Fonte: UGPI, 2009

Figura 6 - Área residencial “Buraco do Pinto” em ocasião de enchente

Fonte: UGPI, 2009

Era nesse espaço que a vida se produzia e reproduzia. Não havia necessariamente um

encantamento por essas condições degradantes, mas apenas um estado conformista de que

aquele era o espaço possível, de tal forma que este ethos ambiental se caracteriza como

“passividade suportiva” nos termos que Lemos (2009) descreve em seus estudos. Nesse

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sentido, ao ter a notícia que o lugar de moradia seria transformado, os moradores geravam

expectativas diversas, algumas com euforia, outras com desconfiança. Os que optaram por

morar no conjunto habitacional a ser construído esperavam ansiosos pelo novo lugar, o

Parque Residencial Manaus.

4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA

Este estudo com ênfase qualitativa, de caráter descritivo exploratório se deu no ano

de 2009. Gil (2002) coloca que a pesquisa exploratória proporciona ao pesquisador maior

familiaridade com a problemática levantada, o que pode facilitar na criação de hipóteses.

Ainda segundo o autor, a pesquisa descritiva visa à descrição das características de uma

determinada população ou fenômeno, e, ainda, o estabelecimento de variáveis. Portanto, o

presente estudo está inserido nesta classificação, pois, se caracteriza como aquela que busca

conhecer e interpretar a realidade sem nela interferir e procurar entender um fenômeno

particular.

Como já apresentado anteriormente, o PROSAMIM ofereceu aos moradores com

residências em áreas de risco algumas opções: a)indenização no valor de R$ 21.000,00;

b)apartamento no conjunto habitacional em área a ser construída através do aterramento do

Igarapé Manaus, e b)uma casa a ser adquirida pelo morador e paga pelo governo do Estado no

valor de 21.000,00 em qualquer localidade da cidade e que preenchessem alguns requisitos

impostos pelo governo. Esse estudo se refere apenas aos moradores que optaram pelo

apartamento no PRM.

O estudo foi apresentado aos moradores do PRM por meio de carta (Apêndice 1)

solicitando a autorização e que foi prontamente aprovado. O procedimento para a coleta de

informações foi realizado em momentos distintos, porém inter-relacionados e complementares

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entre si. Inicialmente por meio da observação participante foram coletados dados que

subsidiaram toda a caracterização física do ambiente, bem como o uso social de forma

naturalística, isto é, uma inserção na localidade, de forma que aquele espaço fosse apreendido

na sua forma cotidiana. Neste momento, tentou-se observar os aspectos da realidade sem uma

intervenção direta, mesmo que minha presença, por si só representava uma alteração naquele

cotidiano. As impressões e sensações, bem como conversas informais e vivências tornaram

possível uma revisão por ocasião da segunda parte da pesquisa, que envolveu visitas

domiciliares para entrevistas com os moradores.

A observação participante foi realizada desde a fase exploratória, onde, através da

observação dos fenômenos ocorridos no dia a dia dos participantes foram registrados. A

observação participante oportunizou maior conhecimento e compreensão do comportamento

social, assim como, os fenômenos em si relacionados. Este método se constitui como

ferramenta importante para colher dados de forma natural com recursos que a própria natureza

oferece, com a possibilidade de maior interação entre o pesquisador e os sujeitos a serem

pesquisados. Mesmo que não estruturado, a observação participante requer planejamento das

ações a serem executadas, assim como conhecimento prévio do campo de pesquisa, e registros

de comportamentos, eventos e atividades (MALINOWSKI, 1975).

Durante este procedimento foram registrados no diário de campo observações

abrangentes sobre a localidade e o uso social dos moradores, as quais subsidiaram a busca de

respostas a perguntas feitos por meio das entrevistas semi estruturadas que seguiu um roteiro

(Apêndice 2) bem como na análise conjunta dos dados, permeando assim, a compreensão da

realidade na nova forma de morar dos participantes da pesquisa.

Após a aprovação do projeto de pesquisa submetido ao Comitê de Ética de Pesquisa

em Seres Humanos – CEP (Anexo 1), da Universidade do Amazonas, em acordo com a

resolução do Conselho Nacional de Saúde ( CNS) 196/96, de agosto de 2008, é que foram

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39

realizadas as entrevistas semi-estruturadas. Gil (2002), Minayo (1994) e Triviños (1992),

colocam que as entrevistas semi-estruturadas são guiadas por relações de pontos de interesse

que o entrevistador vai explorando ao longo de seu curso e que a estratégia para a realização

de entrevistas em levantamentos deve considerar a especificação de dados que se pretende

obter e a formulação das perguntas.

As entrevistas foram realizadas entre os meses de novembro e dezembro de 2009. O

contato com os entrevistados se deu nas próprias residências, após o convite e aceitação em

participar da pesquisa. Apresentou-se então o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

(TCLE) (Apêndice 3) que foi assinado para então dar inicio a entrevista seguindo o roteiro pré

estabelecido. O tempo de cada entrevista foi em torno de trinta minutos, onde os participantes

tinham livre expressão sobre o assunto com isso buscou-se esclarecimentos para a

compreensão e analise do estudo. O horário da entrevista era combinado com o participante,

de acordo com sua disponibilidade e no local escolhido pelo participante, normalmente na

sala ou em frente à sua casa. As entrevistas foram gravadas em acordo firmado anteriormente

com os participantes e posteriormente transcritas e analisadas. Após a transcrição as

gravações foram destruídas.

O método para análise das informações foi o de análise de conteúdo proposto por

Bardin (2004), esse método visa estudar a comunicação entre os indivíduos, possibilita o

desvendamento do discurso latente, o conhecimento acerca dos sentimentos, idéias, conceitos

e valores nem sempre estão manifestos nas palavras.

Os dados foram sistematizados a partir da definição das categorias obedecendo às

etapas: Pré análise, descrição analítica e a interpretação referencial. Com relação a essas

etapas, Bauer (2002) e Ferreira (s/d) afirmam que na pré-análise é momento em que o

pesquisador organiza o material, escolhe os documentos a serem analisados, formula as

hipóteses ou questões norteadoras e elabora indicadores. A fase seguinte diz respeito à

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40

codificação onde as unidades de analise são agrupadas, e a ultima fase é interpretação dos

dados, é necessário que o pesquisador se reporte aos referenciais teóricos pertinentes à

investigação, pois esses possibilitam o embasamento para o estudo e interpretação.

Através da analise de conteúdo das entrevistas foi possível apreender os significados

que os moradores dão a essa forma de morar, assim como a importância das relações de

vizinhanças e os aspectos que compõem a socialidades dos moradores nesse novo ambiente.

4.1 Moradores entrevistados

Sexo

Faixa Etária

Masc Fem Total

25 a 34 anos - 10 10

35 a 44 anos 4 15 19

45 a 54 anos 3 3 6

55 a 64 anos - 1 1

Mais de 65 anos 1 3 4

Total 8 32 40

Percentual 20% 80% 100%

Tabela 1 - Distribuição dos participantes por sexo e idade, 2010

Page 41: Vivendo a Transição de Ambiente de Moradia: Um Estudo com

41

Observa-se que há um número substancialmente maior de entrevistados do sexo

feminino. Esse fato se deu em razão da ausência dos homens na casa nos horários de

realização das entrevistas. Os homens são o principal provedor de alimentos e sustento das

necessidades da família e por isso assumem o papel de se responsabilizar com o trabalho

remunerado. Muitas mulheres são donas de casa e se ocupam com o trabalho doméstico e o

cuidado com os filhos, permanecendo a maior parte do tempo em casa.

As mulheres em sua maioria se autodenominam como dona de casa. Outras exercem

as profissões de assistentes administrativas, auxiliares de enfermagem e auxiliares de limpeza.

Os homens, alguns são vigilantes, motoristas de ônibus, aposentados e outros não possuem

profissão definida, vivendo de “bicos” um termo utilizado por eles para designar prestação de

serviços sem especialização como limpeza de arcondicionados, serviços elétricos em

domicílios. Apenas duas possuem o curso Superior em Serviço social e Pedagogia.

* EFI- Ensino Fundamental Incompleto; EFC- Ensino Fundamental Completo; EMI- Ensino Médio incompleto;

EMC- Ensino Médio Completo; SI- Superior incompleto; SC- Superior Completo.

Tabela 2- Distribuição dos participantes em função do nível de escolaridade, 2010

NÍVEL DE

ESCOLARIDADE*

SEXO

TOTAL

MASC FEM

EFC - 04 04

EMI 02 02 04

EMC 04 12 16

SI - 03 03

SC - 02 02

TOTAL 08 32 40

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42

De modo geral os entrevistados possuem um bom nível de escolaridade. Constata-se

que a maioria dos moradores tem escolaridade relativa ao ensino médio incompleto (04) e

ensino médio completo (16), mas algumas pessoas estão fazendo curso superior (03) ou já

possuem ensino superior completo (02). Esse fato supostamente deveria auxiliar para a

formação critica dos moradores a respeito de aspectos relativos à qualidade de vida e o

ambiente em que vivem.

Muito das relações e interações que ocorrem nesse novo espaço de moradia,

entretanto, não parecem estar centrados apenas na escolarização. Sabe-se que as relações entre

moradores são complexas e vários aspectos concorrem para que esta dimensão se manifeste

em diversas formas, como veremos na seguinte seção.

5. PARQUE RESIDENCIAL MANAUS: LOCUS DA PESQUISA

O Parque Residencial Manaus (PRM) fica localizado na zona sul da cidade, foi

inaugurado em outubro de 2007, construído em solo criado a partir do aterramento do Igarapé

Manaus. Na primeira fase do Programa foi construída a quadra I e II. As figuras seguintes

mostram os diversos momentos da operação. As figuras 7 e 8 mostram as operações de

engenharia, o aterramento do Igarapé de Manaus, para construção dos blocos de apartamentos

residenciais do PRM. A Figura 10 mostra a planta das respectivas quadras habitacionais.

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43

Figura 7 - Aterramento do Igarapé de Manaus; solo criado

Fonte: UGPI, 2009

Figura 8 - Fase de construção das Quadras I e II

Fonte: UGPI, 2009

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Figura 9- Planta geral da área do Parque Residencial Manaus Quadra I e II

Fonte: UGPI, 2009

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5.1 Arranjo e organização espacial do PRM

Foram entregues 49 blocos de apartamentos térreos e apartamentos duplex divididas

em quadras à população que optou por unidades habitacionais construídas em solo criado. O

PRM foi dividido em 2 quadras, 1A e 1B. A Quadra I A possui 273 unidades habitacionais e a

Quadra 1B 123 unidades; A Quadra II A, 81 unidades e a Quadra B 90 unidades, totalizando

567 unidades. Tais construções são apenas para fins residenciais, conforme orientação da

Unidade Gestora do Programa. Cada apartamento possui 54 metros de área construída com

dois quartos, sala, cozinha, um banheiro e área de serviço. No local existem áreas destinadas à

recreação infantil, quadra esportiva, um centro comunitário e várias áreas de convivência

coletiva externa, serviço de coleta de lixo seletiva (Figuras 11 e 12). As quadras são divididas

por uma via principal (figura 10), a Avenida Igarapé de Manaus e via secundária , a Dr.

Machado.

Figura 10- Via principal do PRM

Fonte : UGPI, 2009

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46

Figura 11 - Área de recreação infantil

Fonte: UGPI, 2009

Figura 12- Coleta de lixo seletivo na área externa dos blocos do Parque

Fonte: UGPI, 2009

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47

O novo lugar à época de sua inauguração foi elogiado pela bela estética e pela

aparente organização espacial. Esses aspectos ficam mais evidentes quando comparados ao

antigo lugar. A paisagem, sem sombra de dúvida orgulha não apenas o morador, mas também

o cidadão de Manaus, que vê a mudança como progresso e beleza. Muito embora o modelo

arquitetônico seja questionado e o tamanho desses espaços não atenda a expectativa e

necessidade do morador, percebe-se uma transformação plástica externa agradável.

5.2 O uso social do espaço privado e coletivo

Externamente as residências são praticamente iguais, isso porque apesar da proibição

de modificar a área externa alguns moradores ignoraram essa norma e modificaram-na,

colocando grades de proteção nas portas, janelas ou nas áreas consideradas por eles como

sendo de sua residência (área de circulação coletiva). Internamente a maioria das residências

teve modificações no material de revestimento, de cor e de equipamentos como portas e pisos.

Algumas são nos térreos e outras duplex. Os moradores dos andares térreos geralmente são

idosos ou pessoas com problemas físicos que não podem subir escadas. Existem muitas

queixas com relação aos moradores dos andares superiores por conta de infiltrações,

vazamentos e canos quebrados nas lajes pré-moldadas que não podem ser molhadas ou

alargadas. Na verdade, poucos reconhecem que este problema não é necessariamente do mau

uso ou displicência do morador, mas devido à péssima qualidade do material de construção.

Outras queixas são em relação a barulho, pois mesmo não elevando o volume da conversa ou

do rádio e TV, tudo pode ser ouvido pelo vizinho, pois as paredes são finas e nada isolam em

termos de barulho e calor. Algumas queixas se referem ao arranjo espacial que não conforma

uma prática cultural do Amazônida, que é a verticalidade da habitação. Uma moradora do

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48

andar térreo estava particularmente incomodada em ter alguém morando “em cima de sua

cabeça”.

Apesar de muitas transformações consideradas boas, os moradores reclamam da falta

de serviço público como correios, telefone público, iluminação, segurança e posto de saúde,

mesmo que no antigo lugar isso também fosse deficiente. Na área do PRM não há telefones

públicos, nem entrega de correios. As correspondências são entregues na Associação dos

Moradores e o seu presidente, ou seu vice, se encarrega de entregar aos moradores.

A Associação de Moradores do Parque Residencial Manaus (AMOPARMA), foi

criada por incentivo da UGPI como forma de cumprir com um dos objetivos que é a

participação comunitária dos moradores. Porém, a AMOPARMA é relativamente inoperante e

à época dessa pesquisa passava por uma serie de dificuldades como, por exemplo, a adesão

dos moradores, dificuldades burocráticas como seu registro nos órgãos públicos e falta de

verba para conservação da área externo do PRM, como os parques recreativos, praças, quadra

e dos próprios apartamentos.

A conservação do PRM atualmente é por conta de cada morador, que envolve a

limpeza das áreas de circulação, praças e a quadra de esporte. A quadra de esporte é um dos

equipamentos de lazer mais utilizado pelos moradores e visitantes e seu uso é intenso a

qualquer hora do dia. O barulho produzido pelos usuários tem sido motivo de queixas por

muitos moradores, que reclamam que pelo fato de não haver regras definidas de uso e

horários específicos muitos usuários se excedem tanto no barulho como nos horários

reservados ao descanso noturno dos moradores. Mesmo não possuindo iluminação a quadra é

utilizada constantemente e, segundo os moradores, em alguns casos não como espaço de

esporte, mas para atividades ilícitas como tráfico de drogas e encontro de marginais. Observa-

se que esse uso amedronta seus moradores, principalmente os que têm filhos adolescentes ou

crianças, os quais evitam utilizar tais áreas de lazer por temer retaliações dos marginais. Na

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49

área externa na quadra há um uso mais socialmente aceito, mesmo que não seja permitido

pelas normas do IGPI. Alguns moradores montam bancas de vendas de alimentos como

churrasco e bebidas, usando a energia dos postes públicos. Essas bancas são também

encontradas em outros pontos do PRM.

Assim, da mesma forma que a falta de regras consensuadas, a falta de segurança no

PRM é motivo de reclamação junto ao UGPI. O órgão de gestão, entretanto, estimula a

participação e envolvimento dos moradores para o estabelecimento de regras de convivência

por meio da AMOPARMA, porém alega que questões de segurança fogem às suas atribuições

e, portanto, as reclamações deveriam ser enviadas aos órgãos de Segurança Publica do Estado.

Com a falta de mobilização e participação coletiva, no entanto, ainda é incipiente, de modo

que tais questões ainda estão para ser resolvidas.

Diante desses aspectos, os espaços coletivos manifestam um distanciamento dos

moradores, deixando-os de certa forma descuidados. Esse descuido fica evidente na paisagem

interna das praças e parques recreativos para as crianças (Figura 13). Observa-se lixo

espalhado entre os brinquedos e próximos às lixeiras. Mesmo tendo um conjunto de lixeiras

seletivas, o lixo é displicentemente jogado sem atenção e cuidado. É comum encontrar-se

cadeiras velhas, portas e outros objetos jogados próximos a área da coleta de lixo (Figuras 14

e 15).

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50

Figura 13- Uma das praças do PRM visivelmente abandonada

Fonte: Janeth Lemos, 2009

Figura 14– Lixo no chão ao redor das lixeiras no PRM

Fonte: Janeth Lemos, 2009

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51

Figura 15 – Móveis quebrados abandonados nas calçadas do PRM

Fonte: Janeth Lemos, 2009

Assim, percebe-se o uso do espaço pelos moradores em não conformidade com as

diretrizes traçadas pelo projeto PROSAMIM. São comportamentos sociais e compromisso

ambiental ainda pautado em hábitos pouco orientados aos cuidados com o entorno. Sendo isso

de conhecimento da UGPI, há alguns programas e agentes que estão se ocupando com um

programa de educação ambiental, mas que ainda tem poucos resultados visíveis de

transformação de comportamento coletivo com o lugar de moradia.

Existe uma heterogeneidade no local tanto pela forma da população se apropriar do

espaço quanto pela existência de diversos grupos socioeconômicos. Apesar da construção do

PRM ter sido destinado a pessoas menos favorecidas economicamente, percebe-se a

existência de pessoas com distintivo poder aquisitivo. Por outro lado, muitos moradores

dizem não ter condições econômicas de continuar vivendo nesse local, isso devido às

despesas que adquiriram com o novo imóvel, como taxa de luz, água e taxa de esgoto. Por

isso, mesmo que proibido, há famílias que pensam em vender o imóvel por falta de recursos.

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52

Pode-se observar através dos seus pertences e dos hábitos de consumo que neste lugar

há um mosaico complexo de grupos sociais, relações e usos do espaço. Como nos diz Santos

(2004) as pessoas aos poucos vão colocando no lugar um pouco de si, seus valores no novo

lugar e assim tornando o novo em algo familiar, com a “cara” dos que lá estão. A ordem e

organização vão aos poucos sendo estruturadas pelos seus ocupantes, o que nem sempre vem

ao encontro do que ficou estabelecido pela UGPI. Durante as conversas com os moradores

percebe-se uma divisão entre os moradores, um parcelamento social, nos termos de Fischer

(s/d). Há uma definição de lugares específicos e destinados a determinados serviços com seu

respectivo valor e significado moral. Há os lugares perigosos, dos evangélicos, dos marginais,

dos pais de família, e assim por diante. Esses lugares indicam o acesso que pode ser mais ou

menos restritos aos moradores e aos estranhos ao lugar. Por exemplo, um morador de um

determinado bloco não freqüenta o bloco X porque é “perigoso”, mantendo-se assim afastado,

não participando de atividades promovidas naquele local, tentando com isso se distanciar

desses espaços caracterizados como desvalorizantes.

Não há ampla clareza do que seja espaço público e privado dentro do PRM, isso

provavelmente devido à falta de delimitação concreta entre blocos e residências. O que se

observa são pessoas circulando pelas diversas áreas do PRM, e se aproximando de forma

constrangedora nas janelas e portas das residências. Isso é motivo de constrangimento para os

moradores, já que, pelo acordo feito entre os moradores e o UGPI não cabe ao morador fazer

qualquer alteração na parte externa do bloco ou de sua residência, ou seja, trocar janelas ou

colocar grades de proteção, uma vez que a residência não seria verdadeiramente exclusiva do

morador, antes de passados os 10 anos de habitação. Pelas falas dos moradores nota-se uma

insatisfação relacionada a essa situação, visto que muitos expressam essa insegurança de

posse.

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53

Figura 16 - Horta de um morador em área publica do PRM

Fonte: Janeth Lemos, 2009

Assim, é interessante perceber que alguns moradores fazem uso do espaço publico

coletivo como espaço privado, como é o caso de um morador que fez uma horta e a cercou

como forma de impedir o uso por outros (Figura 16), ou abrindo uma pequena taberna para

venda de guloseimas e pequenos objetos, ação proibida pelos gestores (Figura 17). Outros

também cercam as áreas de circulação coletiva, fazendo um espaço privado, uma extensão de

sua residência. Portanto, percebe-se ainda uma produção do espaço não consolidada, onde as

regras impostas e as necessidades dos moradores ainda são confrontadas de forma conflituosa.

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54

Figura 17- Comércio interno na área publica do PRM

Fonte: Janeth Lemos, 2009

As áreas de convivência coletiva como as praças, apesar de funcionalmente bem

equipadas, são pouco utilizadas pelos moradores, somente uma minoria faz uso. A maioria

dos moradores continua com os antigos hábitos de se reunir com seus pares e vizinhos em

frente de suas residências. No final da tarde é comum ver pessoas sentadas em frente às suas

residências ou parados na calçada para a troca de alguma conversa.

Durante a semana o fluxo maior de pessoas é pela parte da tarde, aonde as crianças e

as senhoras vão às ruas ou ficam em frente de suas casas conversando. Nos finais de semanas,

particularmente no sábado pela manhã é o horário em que as donas de casa fazem faxinas

enquanto ouvem musicas geralmente em volume alto ou saem para as compras de

supermercado. À tarde os homens sentam nos pequenos bares ou comércios onde vendem

cervejas e ficam conversando, alguns jogam bola na quadra esportiva do PRM. Outros,

preferem se reunir em grupos aos sábados à tarde para jogar dominó nas esquinas dos blocos

tomando cerveja e conversando.

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55

Sob a ponte situada na Rua Leonardo Malcher que divide o espaço do PRM alguns dos

moradores homens a usam estrategicamente para se reunirem e jogar dominó, acompanhados

de aperitivos de cerveja ou cachaça. Os usuários desse espaço já são conhecidos como

Amigos da Ponte. Esse nome, entretanto não é necessariamente positivo, pois seus

freqüentadores não são bem visto pelos demais moradores, que os chamam de “pé inchados”,

uma referência ao uso demasiado de bebida alcoólica. À noite têm um movimento grande de

venda de alimentos como churrasquinhos com farofa, cerveja e muito bate papo nas ruas, as

crianças ficam brincando enquanto suas mães conversam. No domingo não é tão diferente,

embora, a atividade na quadra esportiva seja maior. É nesse ambiente que a vida está se

reproduzindo com seus momentos e relações diversificadas entre opostos, e que esse estudo se

localiza.

6. NOVA FORMA DE MORAR E AS NOVAS SOCIALIDADES

A transformação na forma arquitetônica e urbanística no PRM trouxe para os

moradores uma serie de modificações em nível de comportamento individual e coletivo. No

nível individual pode se citar a necessidade de adaptação na nova casa/apartamento, tornar-se

familiar com o novo arranjo espacial e conseqüente mobilidade interna, além de uma nova

configuração de socialidades entre os moradores internos e os da cidade.

6.1 Estar no centro: a centralidade do espaço social

Morar no centro significa para os moradores ter supostamente melhor acesso a

serviços públicos como escola para os filhos, médicos, hospitais, assim como trabalho e

comércio e agencias financeiras como bancos. Em termos pragmáticos, a questão de

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56

deslocamento é muito importante, pois morar no centro é fazer economia com transportes,

pois, todos da família podem se locomover sem precisar de transporte.

O espaço é dividido de acordo com fator econômico do ser humano, isso significa que

muitas vezes ocorre o que Corrêa (2002), chama de segregação espacial nas grandes cidades.

As pessoas com maior valor aquisitivo tendem a ocupar espaços mais valorizados pelo

mercado econômico, enquanto outros ocupam espaços menos atrativos, lugares não raro,

inóspitos para habitação. Geralmente os serviços oferecidos pelo Poder Público não são

suficientes para a demanda populacional, ocorrendo um desserviço à população e acarretando,

portanto, dificuldades na vida diária de seus ocupantes.

Na cidade de Manaus isso também ocorre, conforme estudos de Oliveira (2003), as

populações com menor poder aquisitivo ocupam terrenos inapropriados para moradia e muitas

vezes sem qualquer infra-estrutura, como fornecimento de água potável, luz elétrica e

saneamento básico, escolas e serviços médicos essenciais para sobrevivência e bem estar da

população, é o caso, por exemplo, dos ribeirinhos da área central da cidade de Manaus. Ainda

conforme o mesmo autor, na cidade de Manaus, é um fator cultural a ocupação de terrenos a

margem dos igarapés, mesmo que esta ocupação pouco se assemelhe ao aspecto cultural de

moradia à margem do curso d‟água. Geralmente esses terrenos sofrem alagações e as

residências ficam imersas, porém isso de alguma forma é considerado “parte de sua vida”

pelos moradores, e se conformam em utilizar estratégias peculiares para enfrentar os

problemas ocasionados pelas cheias como, por exemplo, a maromba, que é a gradativa

elevação do soalho, na medida em que as águas sobem, o soalho vai se aproximando do

telhado e os moradores se acomodam nesse restrito espaço.

Na cultura amazônica, a cheia é um ciclo esperado, bem como a vazante. Acontece

que na cidade esse ciclo adquire configuração diferenciada, onde a sujeira e poluição passam

a estar presente, dificultando ainda mais a vida do ribeirinho. O alto consumo de produtos

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57

industrializados na cidade e os hábitos de despejo dos resíduos num igarapé que não tem

capacidade de suporte para tamanhas quantidades e a negligência dos serviços públicos torna

essa realidade bastante problemática.

Apesar de toda a precariedade, muitos moradores desses lugares são resistentes em

deixar esse tipo de residência. Isso ocorreu com os moradores do PRM, os quais relataram que

ocorreram varias tentativas por parte do poder público de retirá-los daquele lugar. Os motivos

da resistência em deixar o local são muitos. Em primeiro lugar está a proximidade e a

localização central do comércio, onde há maior fluxo de serviços, assim como um acesso

facilitado. Esse dado teria sido a justificativa do Governo do Estado em criar um solo, através

do aterramento das margens do Igarapé de Manaus e sua canalização, oportunizando aos

antigos moradores a permanência na mesma localidade, porém com serviços de saneamento

básicos. Essa iniciativa, apesar de socialmente interessante, tem recebido críticas de vários

ambientalistas e sociólogos. Oliveira (2003) é bem critico com relação a essas soluções

encontradas pelo governo do Estado de modernizar a cidade e de solucionar a carência de

moradia de Manaus, onde os igarapés que cortam a cidade são aterrados modificando e

descaracterizando a configuração paisagística regional. Segundo o autor, são intervenções

paisagistas urbanísticas baseadas em modelos internacionais, não valorizando aspectos

regionais e até ambientais. Entretanto, esse problema ambiental parece ser secundário para as

pessoas que viviam num ambiente insalubre, mesmo com as chamadas características naturais

alteradas pela ocupação humana.

Nesse novo lugar de moradia há um amplo repertório de aspectos positivos. A escolha

da opção pelo apartamento atual no PRM se deve, de forma unânime, aos mesmos fatores

apresentados pelo poder público, ou seja, permanecer na mesma localidade pela facilidade de

serviços e seu acesso. Para os moradores essa realidade que os toca de modo direto e imediato

é apresentada com base nas suas mais prementes necessidades de vida e trabalho.

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58

...eu escolhi morar aqui porque sempre morei no centro, eu moro aqui há

mais de 40 anos, eu não me acostumo morar noutro lugar, aqui é perto de tudo,

da escola dos meus filhos, do comercio, dos hospitais e agente não precisa pegar

ônibus, eu vou a pé para a igreja e pro meu trabalho. Eu já morei em bairro,

mas não me acostumei, chegava sempre atrasada no emprego e as vezes a gente

não tinha dinheiro para pegar o ônibus, agora tá bom, não moramos mais no

alagado e eu gosto mesmo é de morar aqui que é centro.

Em todas as cidades que eu morei sempre morei no centro, quando nós

chegamos aqui viemos morar aqui na Ipixuna, não era bem dentro do

igarapé,mas os fundos da casa dava para o igarapé. E quando chovia o nosso

quintal ficava alagado e não dava para as crianças brincarem, eu gosto daqui

só porque é perto de tudo, mas não gosto da casa. A nossa antiga casa era

maior.

....eu vim do Pará para trabalhar aqui na cidade, então minha amiga que já

morava aqui me chamou pra ficar na casa dela e eu estou aqui até hoje, isso faz

mais ou menos 12 anos. Não moro mais com ela, hoje moramos eu e minha

família, eu gosto porque é centro, perto de tudo. É difícil, a gente conseguir uma

casa aqui no centro pelo valor que o Prosamim oferecia, era só R$ 21.000,00,

então, tivemos que ficar com o apartamento.

No bairro é ruim, os ônibus demoram e a gente tem que ter dinheiro todo dia

pra pegar ônibus. Eu trabalho não muito perto daqui, mas dá pra ir a pé. Pra

mim, morar aqui é melhor.

Conforme Corrêa (2002) e Castell (2000) a área central da cidade sempre aglomerou

diversos serviços, sendo utilizada como integradora para outras áreas e serviços da cidade.

Isso foi criado nas cidades medievais quando o centro era área de concentração de toda

econômica praticada na região. Porém, com o crescimento das cidades houve a necessidade de

descentralizar o comércio, e assim, atualmente podemos constatar bairros independentes da

área comercial. O centro, onde toda a rede comercial se articulava deixa de ser o integrador

das estratégias do capitalismo, do consumo para uma parcela da sociedade que domina as

relações econômicas majoritárias. Ao afastar os que detêm maior poder aquisitivo, os de

poucos recursos se satisfazem com as redes de comercio popular, que dinamizam e permitem

o acesso direto aos bens.

As áreas valorizadas para as residências passam também por modificações, os com

maior poder aquisitivo residem em áreas com melhor infra-estrutura e serviços distantes do

centro comercial e de sua poluição, barulho e congestionamento. Geralmente são lugares com

terrenos amplos, silenciosos e com grandes áreas de lazer como no caso de condomínios

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59

luxuosos. Por outro lado, os cidadãos com menor poder aquisitivo passam a ocupar áreas do

centro para moradia como estratégia para acesso a serviços públicos e privados (OLIVEIRA,

2003; CARLOS, 1992).

Ao se referirem estar “perto de tudo” quer dizer facilidade e acesso aos serviços

públicos como disponibilidade de transportes coletivos, escolas, postos de saúde, serviços

bancários e de correios entre outros e privados. É ter visibilidade enquanto cidadão que pode

usufruir de seus direitos. É ainda fazer parte socialmente de um grupo ativo, que tem altivez

em enquanto cidadão. É não ser marginalizado pelo governo do Estado que muitas vezes não

atende as demandas das populações que moram na periferia. É ter como garantia uma

vivencia menos sofrida socialmente. É oportunizar aos filhos um futuro diferente do seu,

onde, terão oportunidade de mobilidade social, alcançando um status social mais elevado.

Mesmo diante de constantes infortúnios como doenças, desemprego e moradia precária e

insegura, morar no centro ainda é melhor. Pois, assim, eles teriam maiores chances de

resolver e suprir suas necessidades mais prementes. Seria uma forma de não se sentir mais

inseguro como cidadão, visto que o papel do Estado não vem sendo cumprido, uma vez que,

este não cria condições de maiores igualdades sociais entre as populações dos diversos

segmentos sociais.

Constatamos a satisfação dos moradores por permanecerem no mesmo local. O

PROSAMIM veio ao encontro da vontade dos moradores, possibilitando aos mesmos uma

nova visibilidade enquanto cidadãos. Já não moram em um local inóspito, mas sim em um

local com estrutura e equipamentos urbanísticos que possibilita aos moradores opções de lazer

e de convivência social em toda sua expansão espacial. A nova visibilidade urbanística trouxe

para os moradores uma nova imagem perante a sociedade, agora não são mais vistos como a

escoria, o lixo e a clandestinidade de uma sociedade. Onde quem morava ali era visto como

pessoas que sujavam e “enfeiavam” a cidade de Manaus, que produzia lixo que causava mau

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cheiro em seu entorno. A modificação na estética urbanística proporciona ainda modificação

para a própria imagem que o cidadão tem si e entre seus pares. Hoje, eles moram no PRM e

não mais no “buraco do pinto”, um nome dado em referencia a grande quantidade de lama que

existia em baixo da casa no ciclo da seca.

Atualmente são cidadãos que moram num lugar da cidade, e não num espaço de

invasão, produzindo um cenário degradante social e ambientalmente. Assim, passam de uma

condição de menos valia perante a sociedade e passam a ser cidadãos que vivem de forma

digna perante toda a sociedade amazonense.

6.2 Ter casa própria: a posse e propriedade da moradia

A natureza da busca da pertença e posse dos objetos é uma questão historicamente

construída pelas sociedades. Embora haja diferenças culturais evidentes na forma de

manifestar e reivindicar tal pertença há uma universalidade reconhecida acerca da propriedade

que inspira a garantia da liberdade de um indivíduo, de um grupo ou de uma nação. A posse

de bens como parte importante na vida dos seres humano é bastante antiga, na visão religiosa

a bíblia já se mencionava o respeito pela a propriedade. No livro de êxodo encontramos essa

citação. "Não roubarás... Não cobiçarás a casa do teu próximo, não desejarás a sua mulher,

nem o seu escravo nem a sua escrava, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma

que pertença a teu próximo." (Ex 20, 15- 17). Assim, o reconhecimento da posse da casa se

estabelece como algo sagrado.

Na visão filosofia do direito de Hegel citado por Christino (s/d) o indivíduo tem o

direito à propriedade como desiderato da liberdade do cidadão. Assim, o homem para se sentir

liberto necessitaria ter a propriedade e a posse de seus bens. Outros filósofos como Locke e

Rousseau já defendiam o direito a propriedade. Para Rousseau toda a desigualdade social

entre os seres humanos teria sua origem no status de propriedade.

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61

Na perspectiva jurídica o Estado legaliza através de leis, o direito à propriedade

privada (ANDRIOLI, 2007). Segundo Comparato (2010), a propriedade privada tem sua

origem no constitucionalismo moderno, como um direito humano, cuja função consiste em

garantir a subsistência e a liberdade individual contra as intrusões do Poder Público. No Brasil

Benjamin Constant em 1815, por sua vez defendia que a propriedade seria a mais importante

garantia aos homens o exercício dos direitos políticos frente ao Poder Público e demais

aspirações de cidadania. Tais aspectos históricos foram sendo impregnado no ethos de

cidadania contemporânea, de tal forma que o acesso à propriedade é um direito absoluto da

pessoa humana.

Na constituição federal de 1988 do Brasil, Dos Direitos e Garantias Fundamentais a

casa segue esses fundamentos liberais de garantia à proteção do dono e sua segurança: “a casa

é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do

morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o

dia, por determinação judicial”. Com base nesses fundamentos filosóficos e jurídicos do

direito de propriedade e do direito à propriedade o indivíduo incorpora um direito inexorável

de proteção e segurança pessoal.

Esse princípio de proteção e segurança está presente de forma vívida entre os

moradores do PRM. Para os moradores ter casa é poder dormir tranqüilo, sem medo de que

alguém venha toma-lhe algo tão sonhado e idealizado por ele. É não mais pagar aluguel, ter

mais despesas. É ter um canto pra dormir e viver. É também uma demonstração de poder, de

status social frente aos seus pares.

eu agora moro no que é meu. O governo diz que a gente não pode mexer,

modificar, mas eu não me importo. Antes eu não tinha casa, morava de aluguel.

Essa casa atende minhas necessidades, ela é pequena, mas tá bom, né?

...o meu sonho sempre foi dar uma casa pra cada filho, a gente precisa ter nosso

canto. Agora eu tô feliz, cada um tem sua casa e eu tenho também essa daqui.

Cada um foi pro seu canto.

Page 62: Vivendo a Transição de Ambiente de Moradia: Um Estudo com

62

...eu morava numa casa cedida pela firma em que meu marido trabalhava, mas

ela não era nossa. Com o dinheiro que ele ganhava não dava pra gente comprar

uma. Isso que o governo fez foi muito bom. Agora nós podemos morar no que é

nosso, a gente também não paga aluguel. Foi uma grande ajuda pra pessoas

pobres.

Entretanto, mesmo constatando a melhoria proporcionada nesse imóvel, percebe-se

que pelo fato de que a casa está alienada ao poder público por 10 anos, e por isso o morador

não recebe a titulação definitiva do imóvel, boa parte dos moradores não sente por completo

essa propalada segurança e proteção. A alienação e regras de uso instituídas pelo Governo se

aproximam de uma situação de inquilinato, porém sem os direitos previstos nesse quesito e

numa compreensão confusa do “direito enviesado” pela concessão temporária.

....só acho ruim, porque a gente não pode mudar nada, mas eu gosto de morar

aqui, não tem mau cheiro. Lá tinha uma fossa bem enfrente da nossa casa e lá

quando alagava, era horrível, as crianças não podiam brincar. Agora é

diferente, tudo limpo. Tenho uma boa varanda e eu me sento aqui e fico olhando

o movimento. O meu marido diz que essa casa não é nossa, porque nós ainda

não temos o documento, mas eu acho que é sim, o governo não pode mais nos

tirar daqui. Ele não nos deu nada, ele apenas trocou por essa daqui. É

obrigação dele.

Os sentimentos de insegurança sobre a definitiva propriedade é assim um aspecto de

insatisfação sobre esse novo espaço de moradia. Outros fatores que contribuem para o

agravamento desses sentimentos são as imposições e restrições feitas pelo órgão gestor do

PRM no sentido de impedir a venda do imóvel, mas de torná-lo com “sua cara”. Não poder

modificar o que lhe pertence é algo incompreensível para os moradores que almejam pintá-la

com a cor de sua preferência, ou colocar algum adereço externo. Esse tipo de regra para o

Governo do Estado é uma forma de controlar um uso coletivo, até então não existente para

esses moradores, além de auxiliar numa mobilização coletiva para as decisões entre todos.

Resta saber como essas questões vão ser superadas por esses moradores que sempre viveram à

sua própria sorte, longe dos benefícios e direitos sobre sua moradia.

Page 63: Vivendo a Transição de Ambiente de Moradia: Um Estudo com

63

A materialização do sonho de morar em casa própria traz consigo outros valores

socioculturais que estão inevitavelmente impregnados nela. Uma das mais fortes expressões

da sociedade liberal é a manifestação do status social que a casa proporciona ao seu ocupante.

Essas características vão desde a localização da casa, o tamanho e a forma arquitetônica e, de

modo particular em Manaus, o material utilizado.

6.3 Morar numa casa de alvenaria: um novo status social adquirido

Para Barchelard (2008) a casa pode ser comparada a uma concha que envolve e

protege um corpo, dá segurança, onde ele se alimenta, descansa e ali se desenvolve criando

condições para sair e relacionar-se com o externo. A casa não existe apenas na sua

materialidade mas também nos aspectos subjetivos que ela representa ao seu ocupante e como

ele se posiciona perante os demais cidadão (Higuchi, 1999; 2003). Fischer (s/d) nos apresenta

os significados que a casa incorpora como um cenário mnemônico da vida de seu ocupante.

Esses significados são necessariamente tornados visíveis de alguma forma, se manifestam na

forma visual da casa. O material utilizado na construção das residências ganha importância

quando este é um material universal utilizado em grande escala pela maioria da população.

Como cimento e cerâmica. Segundo Higuchi (2003) o material de construção das casas

demonstra um nível sócio econômico de seus moradores, aproximando e ao mesmo tempo

diferenciando um dos outros num determinado grupo social ou lugar.

Tal qual Higuchi (1999; 2003) discutiu em seus estudos, a casa de alvenaria significa

para o morador do PRM que este progrediu na vida, ascendeu a um status social mais elevado

no seu meio social.

...eu olho às vezes pra minha casa e penso que é um sonho, eu sempre sonhei

com uma casa de alvenaria, as janelas são bonitas, eu gosto da minha casa.

Quando a assistente social passou lá onde eu morava, eu morava com minha

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64

sogra, eu não acreditei e meus vizinhos também não, aí eu fiquei pensando, eu

vou lá ver essa construção. Quando eu vi, eu disse pro meu marido, é melhor a

gente optar pelo apartamento. E minha sogra não quis, achou melhor à

indenização, ela foi morar na Grande Vitoria, mas não se acostumou e hoje ela

chora muito, mas não tem mais jeito.

....minha casa é boa, só mora eu. Antes morava todo mundo junto, era uma casa

grande de madeira. Essa daqui é melhor. É de alvenaria e cada um mora no que

é seu

O Estado através de suas ações de reassentamento e remanejamento pelo

PROSAMIM, trouxe para esses moradores e suas as famílias, além da melhoria física, uma

inclusão social. A realização do sonho de ter e morar na sua própria residência, não mais

necessitando ter despesas com aluguel e viver sob ameaça do despejo, foi coroada pela forma

embutida na construção. Sair de uma casa de madeira à beira de um igarapé poluído sem

endereço, para um prédio moderno em terra firme, com acesso asfaltado e toda a urbanização

própria transforma sobremaneira o status social como cidadão, com registro de residência

formal.

6. 4 Refazer Vizinhos: a produção de novas relações de vizinhança

Tradicionalmente ter vizinho é poder compartilhar as atividades cotidianas do lugar,

é pedir algo quando necessário, é conversar sobre os mais diversos assuntos, assim como ter

idéias e sentimentos comuns. É também compartilhar os problemas, obter ajuda na criação

dos filhos. Nas grandes cidades, entretanto, essa concepção de vizinhança vem sendo

desconstruída e em muitos casos, ter vizinho é apenas ter pessoas que moram “ao lado”, e não

raro pouco contato é feito, seja em nome da privacidade ou pela falta de tempo para encontros

(ARAGONES E AMÉRIGO, 2002).

Mesmo com as novas configurações nas relações de vizinhança nas grandes cidades,

moradores de menor poder aquisitivo ainda se relacionam com bastante intensidade. No caso

do PRM o fato de terem reuniões periódicas com o gestor público e de estar dividindo um

espaço bastante exíguo, interagir com outros que dividem esse espaço são inevitáveis. Esse

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65

processo entretanto, é permeado por momentos e situações de insegurança nas relações que

estão sendo reconstruídas entre os moradores do PRM. Com novos vizinhos, os moradores

vivenciam sentimentos de perda de referencia, de familiarização e amizade.

...lá aonde nós morávamos, nós éramos muito chegados com nossos vizinhos,

meus filhos chamavam eles de vó e vô. Aqui não nós somos distantes uns dos

outros.

...nosso relacionamento com vizinhos mudou pra pior. Nós lá não tínhamos

problemas, nos entendíamos bem. Aqui as pessoas não respeitam. Nossos

vizinhos eram como minha família.

...aqui eu fico só observando, sou mais distante dos vizinhos. Aqui a gente se

fecha cada um na sua casa e pronto. As vezes eu acho que é bom porque não tem

muita fofoca.

....aonde eu morava meus vizinhos eram como nossos irmãos, tinha mais

amizade, aqui é diferente. É bom dia e boa noite e só. Agora meus amigos são

meus filhos. Aqui eles são grosseiros, só falam gritando. Meus vizinhos eram

mais solidários. A vizinha tá precisando disso vamos ajudar, fazer um bingo.

Aqui não tem isso. Todos são novatos, a gente não conhece quem é quem.

lá aonde eu morava a gente fazia novena, eram meus amigos, acho que até

meus irmãos. Meu marido morreu de tristeza nunca se conformou, ele quando

veio pra cá chorava muito. Eu também. Nossos amigos foram embora, uns foram

pro João Paulo, outros pra Santa Etelvina. Agora já estou me conformando, não

tem jeito, o governo quis assim.

A nostalgia em relação aos amigos feitos pela vizinhança antiga se contrasta com o

caminho a ser percorrido nessa nova construção. Há que se conhecer quem é o vizinho, como

serão nas suas necessidades e na ajuda mútua, tão necessária aos que não dispõem de capital e

poder. Esse tempo para conhecer, se familiarizar e estabelecer redes de amizade com seus

vizinhos ocasiona uma lenta produção de lugar, assim como a materialização física desses

laços no ambiente que os distinguirá como moradores de um certo local, dando-lhes uma

identidade de lugar específica (FISCHER, s/d).

Nesse processo de reconstrução das relações de vizinhança observa-se um certo

estranhamento com algo que lhes parecia conhecido. Se por um lado as pessoas que moravam

no antigo lugar eram umas às outras familiares, por outro os graus de intimidade eram

diferenciados. Um vizinho próximo pode ter sido deslocado para uma dos prédios mais

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66

distantes, enquanto que o ocupante do seu lado era um morador do antigo lugar cujo contato

era raro. Essa situação passa a ser comum no novo lugar e requer de cada um a produção de

novos laços de vizinhança. Essa construção de rede social, entretanto encontra alguns

aspectos de dificuldade como Carlos (1992) e Santos (1981) comentam. Esses autores

defendem que nos dias atuais em razão das modificações ocorridas nas grandes cidades pelo

processo de globalização, os seres humanos cada vez menos se socializam entre si, o ritmo

acelerado de viver, o cotidiano causa no individuo sentimentos de estranhamento e de

reconhecimentos. A falta de familiaridade com as pessoas próximas causa insegurança, o

desconhecido é visto como perigoso, as pessoas tendem a criar mecanismos de controle para

enfrentar o dia a dia.

Para diminuir o distanciamento entre si, os moradores passam a lançar mão de

repertórios comportamentais que permitam a aproximação com outros que se identifiquem e

possam vir a consolidar novas relações. Ao estar nesse novo lugar os moradores recriam o

espaço físico em territórios coletivos. Tão logo um território se estruture por meio de

delimitações cognitivas seguindo uma dialética do dentro-fora, há o reconhecimento de zonas

subjetivas que permite identificar alguns círculos de mais ou menos intimidade. Fischer (s/d)

discute esse fenômeno e sustenta que a partir desse “posicionamento” no espaço, as relações

de inclusão ou exclusão veiculadas pela oposição dentro-fora, vão formando significados que

incidem sobre as territorialidade produzidas neste novo lugar de moradia..Em outras palavras,

há que se refazer novas relações de vizinhança, de modo a identificar os que estão dentro

desse circulo semântico de maior ou menor intimidade. Esse processo não é simples e nem

fácil, ao contrário, traz a melancolia da perda do antigo lugar e, por conseguinte exacerbar as

deficiências do novo lugar e a salientar os aspectos bons vividos lá:

....no final da tarde a gente coloca nossas cadeiras aqui mesmo na frente de casa

e agente fica conversando. Eu não gosto de sair de casa, quando tinha algum

curso que o Prosamim dava eu participava mais agora acabou.

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67

...o centro comunitário nunca funcionou, ele serve só de abrigo pro bêbados.

Isso tá abandonado. No inicio, o Prosamim deu alguns cursos de capacitação,

mas agora acabou. Não tem nada. Tinha um professor de esportes que dava aula

pra crianças aí na quadra, mas agora acabou porque a quadra não é coberta e

o sol é muito forte, as crianças não suportam. A noite só tem adulto que vem de

fora , que não moram aqui e tomam a quadra as crianças não podem brincar.

...às vezes no final do mês tem campeonato de futebol e eu vou ver meu marido

jogar.

...hoje meu filho reclama porque ele não conhece mais ninguém, os amigos dele

a maioria não moram mais aqui e também porque tem muita gente estranha e

ele não pode mais jogar e brincar com os amigos. Antes era pouca gente todo

mundo se conhecia, meu filho tinha um time de futebol.

...no final de semana meu marido coloca uma mesinha aqui mesmo na rua e fica

jogando e bebendo com os amigos. Sábado e domingo à tarde as pessoas

começam a beber na frente mesmo de suas casas, jogam dominó. Às vezes jogam

bola.

Como podemos perceber através da fala dos entrevistados existem dois grupos

distintos quanto ao uso do espaço e sua sociabilidade. Um grupo que se identifica com seu

local, tem familiaridade com ele, faz uso do equipamento urbanístico proposto pelo governo

e, portanto reproduz a satisfação dessa mudança. Outro grupo que ainda não se sente inserido

nesse espaço social e que se vê envolvido num processo de refazer novas relações com

pessoas que outrora moravam próximo, mas pertenciam a círculos de amizade distanciados.

Atrelada a essa situação de conviver lado a lado com estranhos há o sentimento da

perda dos antigos vizinhos. O fato de ter pessoas que lhes são estranhas ao seu lado que não

fizeram parte de suas historias de vidas, mesmo que conhecidas, reacende o desejo de nunca

terem saído do antigo lugar onde sabiam tudo, pois participaram da sua construção física e

social. Esse esforço apresenta certa dificuldade de superar antigos critérios de inclusão-

exclusão para a tessitura de uma nova rede social e identidade social.

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68

7. CONFIGURAÇÃO DE UMA NOVA IDENTIDADE SOCIAL

Na formação de um lugar de moradia, seus ocupantes vão se situando não apenas

numa área geográfica, mas configurando também sua posição social a partir desse espaço, sua

identidade social. A identidade social segundo Valera e Vidal (2002) é um conjunto de

crenças, informações e sentimentos que sentimos sobre nos mesmos. Esse repertório de

conhecimento se constrói a partir de nossas capacidades individuais, mas configurada por

meio de nossas interações e relações sociais. Esses aspectos constitutivos passam por sua vez,

a ser reguladores das nossas interações e relações sociais, e que resultam em ultima instância

como parâmetros para sabermos quem somos e quem são os outros. Em outras palavras, a

identidade social é produto e produtora de nossa existência social num determinado grupo

social ou lugar (MOURÃO e CAVALCANTE, 2006).Essas características são vitais para o

indivíduo ganhar forças para lutar e ser ativo na sociedade, provocando as mudanças

favoráveis para si e para seu grupo social (SANTOS, 2007).

A habilidade de personalizar (ocupar e sinalizar) um lugar de moradia configura uma

identidade social que passa a ser compartilhada pelo grupo de ocupantes. Essa identidade

social é apresentada pelos vários autores como identidade de lugar (PROCHANSKY et al.,

1983; VALERA E POL, 1994; SEYFERTH, 1994; PRETTY, et al., 2003; BROWN, et al.,

2003; MANZO, 2003; STETS E BIGA, 2003; SANTOS e BASTOS, 2005). A identidade de

lugar é uma derivação da identidade social, que é constituída na interação como o entorno

físico e social, que definem o pertencimento a uma categoria de localidade (área, bairro,

cidade, interior, estado, país). Tal pertencimento fornece elementos simbólicos e evocam

comportamentos, valores e significados comuns aos grupos que são provenientes destes

espaços e estabelece uma posição numa escala de valores positivos ou negativos que são

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69

compartilhados por outros grupos externos. Por exemplo para distinguir um brasileiro de

outro estrangeiro, é comum a referência que aquele é alegre e sossegado. Ou ainda, o morador

de periferia é de moral duvidosa. Essas referências podem tanto ser valorizantes ou

desvalorizantes, de modo que em certos momentos é difícil identificar se tal valor é atribuído

ao ocupante ou ao lugar (FISCHER, s/d).

No caso específico dos moradores do PRM constata-se que a mudança de moradia

implicou também uma nova configuração da identidade social. O antigo lugar de moradia

poderia ser muito bem retratado como não lugar, nos termos de Marc Auge (1994). Não havia

necessariamente um lugar de moradia, uma vez que o espaço concreta e simbolicamente era

flutuante. Apesar de expressarem uma posse no antigo lugar, havia implicitamente a certeza

que um dia teriam de sair daquele lugar, seja pela irregularidade da ocupação ou pela falta de

habitabilidade. Aquele espaço, portanto era um lugar de passagem, de parada temporária para

a família. Essa condição cunhada no lugar imprimia nos ocupantes semelhante caracterização

desvalorizante. Ao mudar para um novo lugar essa identidade também começa a ser refeita.

7.1 Ocupar um espaço sem ter participado de sua construção: os percalços da

apropriação e apego

O espaço de moradia dessas pessoas foi totalmente modificado tanto na sua estrutura

quanto na sua funcionalidade. A sua configuração paisagista agora surge para os moradores

como algo estranho a eles. As casas bem delineadas, as ruas para carros (no antigo lugar só

havia apenas passarelas estreitas que ligavam as casas à rua principal). A vizinhança foi

também modificada, restando um espaço construído com a mínima participação dos

moradores do local, onde eles somente puderam escolher o bloco de apartamentos em que

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70

iriam morar. Assim, para essas pessoas, há um sentimento de perda de identidade social,

porque perderam a referencia social de grupo.

Não é surpreendente então que os moradores do PRM vivenciem atualmente certo

estranhamento do espaço de morar. A transição não ocorreu com a participação no

planejamento e construção da casas. Esses moradores receberam tudo pronto, mesmo que

tenham eventualmente participado de reuniões para decidir essa mudança. Em suas falas

podemos perceber a insatisfação por não terem sido solicitados a participar das decisões de

construção do lugar que iram habitar. Nada lhes foi compartilhado seja do tipo de material

utilizado na construção das habitações, seja da disposição física dos equipamentos urbanos

como quadra esportiva, local das lixeiras, nem de opções de escolha do apartamento ou dos

vizinhos que gostaria que tivesse próximo: ....eu gostaria era de poder mudar o piso, colocar

cerâmica e também pintar, mas agora a gente não pode, mas assim que a gente puder nós

vamos ajeitar.

A configuração do PRM foi uma decisão do Governo do Estado e mesmo tendo uma

melhoria concreta, a nostalgia das relações sociais antigas fazem desmerecer a nova

construção doméstica e comunitária, uma vez que esta só se completa com a dimensão social.

Isso alterou completamente a vida de seus antigos habitantes assim como os que agora

habitam nele. Os moradores podem até reconhecer as melhorias, mas algo os incomoda.

Essa casa é boa, é de alvenaria, mas é muito quente. O sol bate de frente não tem

árvores, a gente não vê mais pássaros, aqui antes do governo fazer isso, tinha até

tucano, a gente sempre via os passarinhos, agora não tem.

uma casa pra cada um e não esses apartamentos que fica um e em cima do outro.

Eu não gosto, não gosto de ninguém em cima da minha cabeça. Ele poderia ter

deixado umas árvores, porque isso aqui é muito quente.

...se eu pudesse tiraria essa quadra de esportes daqui e colocaria um posto médico

ou um posto policial. Eu mudaria também essa minha cozinha, ela é muito pequena.

Nós precisamos de mais iluminação, aqui é muito escuro a noite e agente tem medo.

Aqui já houve até assassinato. Eu quase não saio, fico aqui mesmo enfrente de casa,

observando...

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71

Pela ausência de participação efetiva na construção do lugar de moradia, os

moradores são resistentes em fazer o uso do espaço, através das praticas sociais. As queixas e

reclamações são referentes à necessidade de colocar nesse espaço suas características

personalizadas.

O fato de não ter participado da construção física do lugar e não ter tido participação

na reestruturação da rede de vizinhança observa-se que o processo de apropriação do lugar é

moroso. Segundo Santos (1981) o tempo de moradia é essencial para o desenvolvimento do

apego ao lugar. São as trocas de experiências, idéias e sentimentos entre as pessoas próximas

que ajuda na construção do apego ao lugar. Apego ao lugar significa o sentimento de ser

aceito pelos seus vizinhos, de compartilhar idéias, sentimentos, problemas e atividades

(TUAN, 1980) e de poder também fazer uso do espaço a partir de sua vontade.

O espaço de moradia vai aos poucos de tornando um lugar, um território reconhecido,

à medida que ocorrem ações de seus habitantes em relação a esse espaço como entre si

(CARLOS, 2001). Os moradores começam a modificar seu ambiente e a modificar-se através

de ações compartilhadas. Aos poucos o espaço toma forma que identifica o estilo de ocupação

daqueles que lá habitam. São características singulares de um grupo social sendo cunhadas na

construção.

Fischer (s/d), Valera e Pol (1994), Valera e Vidal (2002) nos mostram que a

personalização de um lugar estimula os sentimentos de apego, favorecendo assim uma auto

estima pessoal e comunitária. Valera e Vidal (ibid) citam vários estudos que mostram que a

decoração externa da casa aumenta o contato como os vizinhos e aprofunda o apego à

localidade. A apropriação do espaço se dá através das ações realizadas pelos ocupantes de um

determinado território de forma a estabelecer uma relação de pertencimento e de

enraizamento. Há limites estabelecidos que norteiam os comportamentos de seus habitantes,

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72

proporcionando sentimento de posse. Os sentimentos de posse advêm da apropriação. Há

segurança “do que é seu”.

Os atuais moradores do PRM passam por um momento transitório de reconhecimento

do ambiente social e físico. As queixas e reclamações são tentativas de impregnar o lugar com

suas características, necessidades e preferências pessoais, porém há uma espera que o governo

tome uma providência.

Eu demorei a me acostumar, tudo é igual. Eu não sabia qual era minha casa, todas

são iguais. O barulho é muito grande, passa muito carro, as pessoas gritam

chamando umas as outras, lá aonde eu morava não era assim, todo mundo se

conhecia,o barulho era mais no final de semana, aqui é todo dia. Tiraram a casinha

do médico, agora agente tem que ir pro posto de saúde, o prosamim disse que ia

colocar novamente mais até hoje não tem.

...tu sabia que nós não existimos pro correio, é nós não temos CEP, nós não somo

cadastrado, como isso pode ser?

... a gente não pode colocar grade nas portas, mas eu coloquei, aqui é muito

perigoso, o governo fez até uma cartilha que dizia o que a gente podia ou não fazer,

mas ninguém leu. A gente tinha que pegar lá, então eu não fui. Se a casa é nossa,

então, a gente pode fazer o que quiser.

... eu não participo da associação, porque ela não faz nada, não funciona e eu não

gosto e não vou com a cara do presidente. Aqui, as pessoas quando estão na frente

do pessoal do Prosamim, prometem se comportar bem, respeitar uns aos outros,

mas depois fica uma bagunça novamente. Outra coisa que eu não gosto é porque a

encanação da casa de cima passa dentro da minha casa e quando eles dão

descarga, molha toda minha sala. Eu já reclamei pro Prosamim, mas até hoje eles

não consertaram. Essa paredes são muito frágil, elas estão até rachadas, eu tenho

medo que de repente isso possa cair.

....eu não participo de nada não. Associação de moradores que existe, não funciona.

Eu não vou com a cara do presidente. Parece que ele não é muito interessado.

...eu não participo de nada e nem meus filhos. Aqui tem muita droga. Essa

quadra só tem marginal, eles passam a noite toda jogando e faz muito barulho. Aqui

tudo é muito agitado.

A dificuldade de se localizar nesse continuum social de “quem sou eu aqui” mostra

que uma nova identidade social há que ser reconstruída. Nos relatos obtidos fica evidente

certo estranhamento pelo novo lugar e novo status social que agora se acham engajados. São

sentimentos de insegurança e incerteza frente ao desconhecido, mostrando como reação um

distanciamento nas relações entre moradores.

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73

A chegada do novo traz segundo Santos (2008) um impacto forte aos seus habitantes,

a introdução de novas variáveis muda as relações anteriormente existentes e ao mesmo tempo

há o estabelecimento de outras. No caso dos moradores do PRM, a nova configuração física e

social trouxe um vazio no relacionamento afetivo antes bem delimitado. No momento

observa-se um esforço psicossocial destas pessoas para novamente terem um código de

sentimentos e comportamentos próprios desse novo espaço.

Eles não sabem como utilizar certos instrumentos urbanísticos como as praças

construídas nas áreas coletivas, como também não havia o hábito de se deslocar para certas

atividades sociais, tudo era feito no restrito perímetro da casa, de uma janela pra outra, de uma

porta para a passarela. Agora há um parcelamento do espaço, cada ação tem uma área

destinada para seu uso social. Esse parcelamento pode ser positivo ou negativo, dependendo

de como esses moradores possam se sentir parte desse novo lugar, uma vez que a forma de

ocupação dos espaços pelos seres humanos depende da cultura e hábitos que cada grupo

social possui (Fischer, s/d). Oliveira (2000) vai mais adiante, dizendo que se o arranjo físico

se distanciar muito da cultura de seus ocupantes, é provável que estes se sintam cada vez mais

estranhos nesse lugar. Entretanto, esse processo de apropriação demanda tempo e é dinâmico,

dependendo de uma interação das pessoas entre si e destas com o lugar. Com o tempo nova

configuração social e física poderá se estabelecer

7.2 Adotar novos papeis sociais no lugar novo: o compromisso socioambiental

O papel social se constitui num fato importante para a manutenção da organização

social. Através desses papéis sociais podemos estabelecer códigos de conduta que nos dão

uma segurança nas relações sociais que são estabelecidas num grupo e num lugar

determinado. Cada indivíduo exerce funções específicas na sociedade em que vive. O

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74

estabelecimento dessas funções depende da cultura vigente, como valores, crenças,

sentimentos e idéias. Com relação ao ambiente de moradia o papel social a ser desempenhado

por cada morador depende do local habitado e dessa forma sabem o que cada ocupante deve

fazer nessa convivência (MICHENER, 2005).

A modificação realizada através do PROSAMIM na vida dos moradores do PRM

onde eles passam da condição de pessoas excluídas e desvalorizadas socialmente pelo fato de

morarem em lugares desvalorizantes, em função de ter ocupado uma área proibida, de morar

num lugar sujo e insalubre, para um lugar planejado, habitável e organizado, esses moradores

passam a ser vistas como cidadãos, moradores num lugar que orgulha a cidade. Há um

endereço e uma condição física valorizante. Essa situação ambiental garante ao ocupante um

papel social valorizado. Ocorre, portanto uma mudança também no papel social dessas

pessoas. Agora com direitos de cidadania adquiridos, os deveres também aparecem para ser

incorporados no cotidiano dessas pessoas.

A função do papel social e seu desempenho dependem de fatores cotidianos, das

praticas sociais, através do processo de imitação do comportamento de seus pares. Aos poucos

os seres humanos vão incorporando novos papeis que lhe são impostos (HELLER, 2000).

Agora o morador deve cuidar desse ambiente coletivo de moradia. Se antes o morador não

tinha essa responsabilidade já que o local era sujo mesmo e se constituía como um lixão do

centro da cidade, onde tudo ali era jogado sem ter uma identificação de autores, agora isso

toma uma nova forma. A cobrança do cuidado passa a ser cobrada pela cidade que os admitiu

como “novos moradores”.

O compromisso social com o ambiente requer responsabilidades compartilhadas. É ter

que incorporar hábitos novos e uma sensibilidade ambiental que até então não havia. A esse

“novo cidadão” será cobrado algo além do que os demais cidadãos de Manaus têm de mostrar.

A recente produção do espaço coletivo ainda não parece ter permitido a tecitura de “acordos”

Page 75: Vivendo a Transição de Ambiente de Moradia: Um Estudo com

75

para o desempenho do papel social de cada morador no que concerne ao cuidado ambiental.

Magnani (2000) discute que esses papéis terão que ser negociados na convivência coletiva.

Esses moradores vivem relações de articulações mínimas, onde a iniciativa ainda é tomada

pelo órgão público que administra o PRM, mesmo que este manifeste que “agora os

moradores tem que se organizar”. O morador do PRM terá que incorporar atitudes de

sustentabilidade ambiental imediatamente, como uma condição inegociável. Deverá contribuir

efetivamente para uma melhor qualidade de vida sua e de seus pares. Deverá construir uma

consciência de seu papel enquanto cidadão. Um novo repertório de deveres a serem

cumpridos tem inserido claramente os deveres ambientais.

O compromisso social com o ambiente segundo Leff (2003) requer dos cidadãos um

novo pensar, uma revolução dos conceitos. É necessária a incorporação de uma nova cultura

que valorize o ambiente, que promova a sustentabilidade ambiental. Para que isso ocorra o ser

humano precisa ser ativo e livre nas suas práticas sociais. Não é possível haver educação

ambiental sem a participação ativa da cidadania. Para os moradores do PRM mais um desafio

lhes é apresentado. Se essa adoção de comportamentos socioambientais não é fácil para

qualquer pessoa, para os moradores do PRM, nesse momento é mais um aspecto novo.

Com as reuniões do UPGI foram desenvolvidas aulas de educação ambiental aos

moradores. Hábitos simples como jogar o lixo nas lixeiras, varrer a frente de suas casas e não

jogar o lixo no esgoto foram repetidamente enfatizados como uma ordem interna. Esses

hábitos estão sendo incorporados de forma bastante lenta e produzindo um novo repertório

coletivo sem, contudo trazer satisfação incondicional. Constata-se que os papéis sociais de

cuidado do coletivo é algo a ser construído com muito esforço.

...Aqui se eu pudesse civilizaria as pessoas, eles pensam que ainda estão no

igarapé, jogam tudo na rua. Meu vizinho joga o lixo dele pela janela. Nós

mesmos temos que cuidar disso aqui. Se não um dia isso aqui vai alagar

também. As pessoas jogam muito lixo no esgoto. Um dia quando choveu muito e

minha casa alagou, o esgoto entupiu, o Prosamim veio e teve que quebrar o

esgoto.

Page 76: Vivendo a Transição de Ambiente de Moradia: Um Estudo com

76

...na frente daqui de casa fede muito. Os vizinhos colocam o lixo muito antes do

carro passar, aí os cachorros vão lá e rasga o saco e espalhar todo lixo. Eu

sempre tenho “bom ar” aqui em casa porque se chegar alguém aqui em casa

pode pensar que o fedor é daqui.

....eu sempre varro a aqui na frente, junto o lixo, mas é só eu. As pessoas não

fazem isso, eles não se acostumaram a cuidar da frente de suas casas. Nós é que

temos que limpar, porque quem vai limpar?

... o Prosamim diz que é proibido criar animais, mas as pessoas criam e não

juntam o cocô dos seus bichos. Aí fica um fedor, as crianças pisam quando vão

brincar.

Lemos (2009) faz uma ampla discussão sobre compromisso ambiental, onde o

caracteriza como uma categoria analítica para chegar a compreender o ethos

socioambiental que um indivíduo ou grupo possui. A autora defende que em muitos

casos esse compromisso é uma agenda complexa e que está estreitamente associado

com outros aspectos de cidadania individual e coletiva. Ferrara (1999) já discutiu essa

atitude em contextos diferenciados, onde os moradores “se negam” a protagonizar um

envolvimento coletivo em prol de algo que lhes traga maior qualidade de vida, por

entenderem que essa responsabilidade seria do poder publico. No caso dos moradores

do PRM, pode-se caracterizar uma aparente fragilidade do compromisso ambiental

que se concentra mais na falta de articulação coletiva do que na espera do

cumprimento das responsabilidades do governo. De qualquer forma, esses moradores

ainda estão necessitando da mediação do poder público para estabelecer essas

articulações coletivas para a autonomia necessária nesse novo lugar. As articulações

por sua vez, dependem também da clareza dos papéis sociais que esses moradores

devem assumir, mas que ainda mostram-se confusos.

Page 77: Vivendo a Transição de Ambiente de Moradia: Um Estudo com

77

8. CONSIDERAÇOES FINAIS

A questão de moradia no Brasil tem sido foco de Políticas Sociais do governo que

objetivam atender as carências habitacionais do povo brasileiro. Os conjuntos visam

maximizar um maior numero de unidades habitacionais que possam suprir o déficit

habitacional. Assim, a construção de conjuntos habitacionais populares tem tido um

crescimento significante nestes últimos anos. Geralmente, são conjuntos projetados com

arquitetura moderna, baseados em modelos internacionais que tendem a racionalizar o espaço.

De forma que todo espaço seja planejado para cada atividade a ser realizada pelo morador.

São residências padronizadas externamente e internamente. Os espaços públicos seguem, não

raro, modelos estranhos aos seus futuros moradores. São espaços que não contemplam relação

concreta com a história do lugar, e esta terá que ser construída gradativamente pelo morador.

Em Manaus a construção do Parque Residencial Manaus é um exemplo dessa nova

forma de morar. Nota-se uma padronização na construção das residências e um parcelamento

de lugares como forma de melhor direcionar as atividades de seus usuários como encontros

sociais, para atividades recreativas e esportivas e usos domésticos. No entanto, essa forma

objetiva na construção presente do ambiente de moradia é incompleta quando analisamos as

vivencias de seus habitantes. Nesse lugar aos poucos as regras impostas vão sendo

reconstruídas e reconfiguradas pelos moradores. A tentativa de produção de lugar vai

tomando formas que manifestam as relações de seus moradores com o novo ambiente. As

atividades cotidianas ganham nova forma, mesmo que distintas daquelas desejadas e

projetadas pelos governantes. São formas peculiares da pratica social que estão na percepção

e vivencia de cada morador. São atividades diárias que nos permitem observar a produção

desse novo espaço de morar, como estender roupas nas grades, colocação de comercio nas

Page 78: Vivendo a Transição de Ambiente de Moradia: Um Estudo com

78

vias publicas do conjunto, a não utilização adequada das lixeiras para seleção do lixo; a

utilização das ruas pelas crianças e jovens; as conversas realizadas em frente das residências

em vez da utilização das praças locais construídas para socialização dos moradores. A

contradição existente entre o que planejado pelo governo e o mundo vivido pelos moradores

mostram a indissociabilidade do lugar e as pessoas que vivem nele. Aos poucos o espaço

vazio vai sendo preenchido pelo modo de vida de cada um, se tornando aquele espaço num

território distinto e reconhecido.

Os moradores do PRM são pessoas vindas de lugares inóspitos que carregaram a

esperança de uma vida melhor. São pessoas que lutaram pela casa própria, pelo não

pagamento do aluguel e condições insalubres, não quer dizer que estes moradores encerraram

suas necessidades, ao contrario a nova configuração espacial do local trouxe novas

perspectivas sociais, estabelecimentos de nova identidade social e uma agenda de

compromissos socioambientais. A imagem dos moradores perante a sociedade modificou-se

passando de uma condição marginal, de alguém que vive à margem da sociedade para a

condição de cidadão incluído socialmente, reconhecido e valorizado pela sociedade Manaura.

A mudança física do lugar de moradia em sua estética paisagística traz uma beleza que é

reconhecida na cidade e por sua vez reconhecendo esses “novos cidadãos”. Assim, o

PROSAMIM por meio do PRM proporciona uma nova realidade social para essas pessoas.

Esse estudo aponta a importância das políticas públicas de habitação popular em

incluir não apenas a necessidade premente da efetiva participação dos futuros moradores, mas

de um processo de mediação que auxilie essas pessoas na reconstrução das novas articulações

sociais e compromissos coletivos de forma a amenizar o impacto do novo na vida dos

moradores. A participação mais efetiva dos futuros moradores traz consigo sentimentos de

identidade social e pessoal ao novo ambiente de moradia, favorecendo o sentimento de

apropriação, apego e principalmente de compromisso socioambiental com o ambiente.

Page 79: Vivendo a Transição de Ambiente de Moradia: Um Estudo com

79

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APÊNDICES

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APÊNDICE 1 – Carta enviada à associação dos Moradores do PRM

UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS CENTRO DE CIÊNCIAS DO AMBIENTE

Programa de Pós-Graduação em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia – PPG/CASA

Mestrado A

ASSOCIAÇAO DOS MORADORES DO CONJUNTO RESIDENCIAL

MANAUS

Ilmo. Sr(a).

Presidente da Associação dos moradores do Parque Residencial Manaus

NESTA

Prezado(a) Senhor(a),

Ao cumprimentar V.Sa. vimos solicitar vossa colaboração no trabalho de pesquisa que estou

desenvolvendo como aluna do Curso de Pós-graduação em Ciências do Ambiente e

Sustentabilidade na Amazônia cujo titulo é PROSAMIM: vivendo a transição de ambiente de

moradia, sob orientação da Profa. Dra. Maria Inês Gasparetto Higuchi. O objetivo desse

estudo é caracterizar o espaço físico do Parque residencial Manaus e verificar como as

pessoas vivem e se sentem nesse novo lugar.

Na certeza de vossa colaboração, agradeço em nome da Universidade Federal do

Amazonas e do curso que ora estou cursando e ressaltar a importância da contribuição dessa

Unidade de gestão para o desenvolvimento dos trabalhos da comunidade científica frente às

demandas sociais e ambientais. Se o senhor estiver de acordo, por favor, assinar abaixo.

-----------------------------------

Presidente Atenciosamente,

Janeth de Araujo Lemos

-------------------------------- Mestranda do CCA/UFAM

Vice- Presidente Tel 99825398

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APÊNDICE 2 – Roteiro de questões da entrevista semi-estruturada

UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS

CENTRO DE CIÊNCIAS DO AMBIENTE

Programa de Pós-Graduação em Ciências do Ambiente e

Sustentabilidade na Amazônia – PPG/CASA

Mestrado Acadêmico

ROTEIRO DA ENTREVISTA

Nº. da Entrevista:

Dados Pessoais: Iniciais do nome: Idade: Sexo:

Escolaridade: Estado civil: Tempo de residência no local:

Questões norteadoras

O BAIRRO/ PARQUE RESIDENCIAL MANAUS

1. Por que você optou em morar aqui?

2. Você está satisfeita com sua escolha?

3. O que você mais gosta daqui?

4. O que você mudaria?

5. Quais os lugares que você mais freqüenta nessa proximidade?

A CASA

1. O espaço físico atende as suas necessidades e de sua família?

2. Aqui você mora numa casa diferente da antiga. O que mudou? Como vocês se

ajeitaram aqui? O que você mais gosta da casa?

3. O que você mudaria? Por que?

A VIZINHANÇA/COTIDIANO

1 Você sabe o nome de seus vizinhos? Você os conhece daqui ou do outro lugar onde

vocês moravam?

2 Onde você costuma se encontrar com seus vizinhos? Onde? Com que freqüência?

3 Você participa da Associação dos Moradores? Tem alguma outra atividade que vocês

participam aqui nesse local? Qual delas você se sente melhor (ou porque não

participa)?

4 Você acha que houve mudanças no seu jeito de se relacionar com os vizinhos nesse

lugar?

5 Existe alguma regra imposta pelo governo que vocês devem seguir enquanto moram

aqui? Isso é bom pra você e sua família?

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APÊNDICE 3 – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS CENTRO DE CIÊNCIAS DO AMBIENTE

Programa de Pós-Graduação em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia – PPG/CASA

Mestrado Acadêmico

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

A pesquisadora Janeth de Araújo Lemos, solicita sua colaboração para realizar as

atividades do seu projeto de pesquisa como aluna do programa de pós-graduação em Ciências

do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia da UFAM que se chama “PROSAMIM: vivendo

a transição de ambiente:”A pesquisa tem como orientadora a Dra. Maria Inês Gasparetto

Higuchi.

Para isso é muito importante a sua participação respondendo uma entrevista com perguntas

sobre o ambiente e a transformação do local, modo como as pessoas lidam com as questões

ambientais como, por exemplo,a transformação que ocorreu no local de moradia pelas obras

do PROSAMIM, como os moradores percebem isso e se fazem uso dos parques e áreas de

lazer , se existe atividades propostas pela associação e se seus associados participam de suas

atividades ,como é feita a conservação do Parque. Com as informações a pesquisadora quer

conhecer a mudança na vida dos moradores e como isso afetou as relações de vizinhança e

suas convivências dos respectivos moradores do Parque Residencial Manaus, Quadra I e II do

Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus-PROSAMIM, decorrente dessa nova

forma de morar.

Sua participação na pesquisa é voluntária, não terá nenhuma despesa e nada receberá

em troca. O benefício em participar é ajudar na construção do conhecimento acerca da

temática vislumbrando a busca de estratégias para enfrentamento da mesma.

Seu nome não será registrado e nem divulgado, sendo garantido sigilo de sua

identidade. As informações que você der serão utilizadas apenas na realização deste projeto.

Caso você ache que alguma informação dada não deva ser divulgada, a pesquisadora jamais a

utilizará. Mesmo após a sua autorização, você tem o direito e a liberdade de retirar seu

consentimento em qualquer fase da pesquisa independente do motivo e sem qualquer prejuízo

a sua pessoa. Se você concordar nós gravaremos em áudio as entrevistas que serão depois

transcritas e analisadas. Se você tiver qualquer dúvida ou quiser saber qualquer informação

mais detalhada pode fazer contato com a pesquisadora Janeth de Araújo lemos, pelos

telefones: 99825298

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CONSENTIMENTO PÓS-INFORMAÇÃO

Eu, ________________________________________ entendi o que a pesquisa vai fazer e

aceito participar de livre e espontânea vontade. Por isso dou meu consentimento para inclusão

como participante da pesquisa e afirmo que me foi entregue uma cópia desse documento.

Data ___/___/___.

________________________________

Assinatura do (a) entrevistado (a)

Impressão do Polegar

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ANEXO 1 – Protocolo de Aprovação no CEP UFAM