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XL Encontro Nacional de Economia – ANPEC 2012 – Porto de Galinhas (PE) Área 8: Economia Industrial e da Tecnologia Evidências da Capacidade de Absorção da Indústria Brasileira Pablo Felipe Bittencourt Professor do PPGE/UFSC. pablofelipe. [email protected] Ricardo Giglio Doutorando em economia pela Universidade de Kiel. Resumo: Este artigo identifica e analisa evidências empíricas da absorção tecnológica externa propiciada por esforços internos à firma. Indicadores de aprendizagem interna e externa foram construídos e aplicados em modelos de causalidade estatística, utilizados como método para identificar possíveis formas de absorção tecnológica. Os setores da atividade industrial são as unidades básicas de referência da investigação (ao nível dos três dígitos da CNAE), a qual se utiliza de informações disponibilizadas pela PINTEC. A aplicação considerou diferentes tipos de setores identificados em Bittencourt (2012). Os resultados apontam a P&D interna como a principal fonte de absorção tecnológica, seguida pelos conhecimentos gerados pelo “aprender fazendo” e pelas “práticas de treinamento”. Abstract: This work attempts on identifying and analyzing empirical evidences regarding external technologic absorption due to efforts internal to the firm. Internal and external learning indicators were built and applied to statistical causality models that, in their turn, were used as methods for identifying possible forms of technologic absorption. The application considered different types of industries identified in Bittencourt (2012). Industrial activity sectors are the basic reference units of the investigation (up to CNAE’s three digits) using information made available by PINTEC. The aplic Results point out to internal R&D as the main source of technologic absorption, followed by “learning-by-doing” and by “training practices”. Introdução 1

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XL Encontro Nacional de Economia – ANPEC 2012 – Porto de Galinhas (PE)

Área 8: Economia Industrial e da Tecnologia

Evidências da Capacidade de Absorção da Indústria Brasileira

Pablo Felipe BittencourtProfessor do PPGE/UFSC.

[email protected]

Ricardo Giglio Doutorando em economia pela Universidade de Kiel.

Resumo: Este artigo identifica e analisa evidências empíricas da absorção tecnológica externa propiciada por esforços internos à firma. Indicadores de aprendizagem interna e externa foram construídos e aplicados em modelos de causalidade estatística, utilizados como método para identificar possíveis formas de absorção tecnológica. Os setores da atividade industrial são as unidades básicas de referência da investigação (ao nível dos três dígitos da CNAE), a qual se utiliza de informações disponibilizadas pela PINTEC. A aplicação considerou diferentes tipos de setores identificados em Bittencourt (2012). Os resultados apontam a P&D interna como a principal fonte de absorção tecnológica, seguida pelos conhecimentos gerados pelo “aprender fazendo” e pelas “práticas de treinamento”.

Abstract: This work attempts on identifying and analyzing empirical evidences regarding external technologic absorption due to efforts internal to the firm. Internal and external learning indicators were built and applied to statistical causality models that, in their turn, were used as methods for identifying possible forms of technologic absorption. The application considered different types of industries identified in Bittencourt (2012). Industrial activity sectors are the basic reference units of the investigation (up to CNAE’s three digits) using information made available by PINTEC. The aplic Results point out to internal R&D as the main source of technologic absorption, followed by “learning-by-doing” and by “training practices”.

Introdução

A capacidade para desenvolver inovações de impacto para os mercados nacional e internacional é decisiva para o reforço da competitividade num contexto de crescente globalização da concorrência. Novidades com um grau superior de impacto usualmente demandam um conjunto elevado e complexo de conhecimentos, parte deles encontrados somente fora do limite da firma. O crescimento do volume e da complexidade de conhecimentos potencialmente úteis torna a tarefa de absorvê-los cada vez menos simples. A adaptação a essa realidade costuma envolver modificações nas rotinas, de forma a ampliar as capacitações internas, o que permite inclusive melhorar as condições para reconhecimento das oportunidades do ambiente externo. O processo de aprendizado em que as firmas se envolvem em adaptação a essas condições pode ser entendido como a ampliação de suas capacidades de absorção. No artigo seminal de Cohen e Levinthal (1990), a capacidade de absorção é definida em função da habilidade da firma para reconhecer o valor da informação externa, assimilá-la e aplicá-la a fins comerciais. Basicamente, essa habilidade pode envolver conhecimentos gerados nos departamentos formais de P&D, no ambiente de produção da firma ou simplesmente ser derivada dos indivíduos que dela fazem parte.

As referências empíricas focam a investigação na influência de formas internas e externas de aprendizagem sobre a geração de inovações1, como nas análises de Vega-Jurado, et.al. (2008), Veugelers, 1 É importante dizer que, em muitos trabalhos, os resultados estão baseados na própria suposição de que os esforços de P&D internos são importantes para a capacidade de absorção.

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(1997), Nieto e Quevedo, (2005), Tsai e Wang (2009), Jensen et. al. (2007), Caloghirou et.al.(2004) e Cassiman e Veugelers (2006). Contudo, estas análises geralmente, envolvem evidências classificáveis como “subproduto” dos resultados do foco principal dos trabalhos e, por isso, não podem ser vistas como evidências empíricas eficazmente suportadas2 do fenômeno.

Os trabalhos citados acima estimularam esforços recentes focados na investigação da capacidade de absorção das firmas, são exemplos as análises de Arora e Gambardella, (1994) Stock, et.al (2001), Smith (2005), Murovec e Prodan, (2009) e Tsai, (2009). Nestes trabalhos, o uso de alguma fonte externa de conhecimento é visto, normalmente, como um indicador suficiente de que a firma possui alguma capacitação para absorvê-lo. Partindo desse ponto, procura-se avançar na compreensão dos esforços internos da firma capazes de ampliar a absorção de conhecimentos externos. Os resultados tem revelado os esforços internos com P&D interna como complementares a um conjunto mais amplo de esforços3.

A investigação desenvolvida a seguir oferece evidências quantitativas adicionais acerca do papel dos esforços internos de P&D, de treinamento e do ”aprender fazendo" para a absorção de conhecimentos tecnológicos gerados fora da firma, capazes de gerar inovações de produto de alto impacto. O objeto da investigação são os padrões setoriais de aprendizagem identificados em Bittencourt (2012). A referência setorial é conveniente por diferenciar conjuntos de setores segundo características da aprendizagem. Esse tratamento é decisivo, pelo menos desde que Pavitt (1984) apontou diferenças e similaridades entre setores em seus processos setoriais de mudança tecnológica4.

O método de relação causal estatística mostrou-se adequado por permitir testar a hipótese que se refere ao efeito dual dos esforços de P&D, das atividades de treinamento e do “aprender fazendo’, para a geração de inovações de alto impacto.

Além dessa introdução e de uma apresentação do referencial teórico, o trabalho contém outras quatro seções: a terceira apresenta os padrões setoriais de aprendizagem, a quarta o referencial metodológico, na quinta os resultados são discutidos e a sexta é conclusiva.

2.Referêncial Teórico/analítico

Essa seção está sub-dividida em cinco partes. A primeira introduz e discute o conceito de capacidade de absorção e algumas evidências empíricas. As três seguintes focam na elevação da capacidade de absorção associadas, respectivamente, aos esforços de: P&D interna, de treinamento e aqueles derivados do aprendizado nas rotinas de produção, o que se chamou de “aprender fazendo”. A seção é finalizada com uma breve discussão teórica dos conceitos de capacidade de absorção e absorção tecnológica, cuja pretensão é instigar o leitor a novas investigações teóricas.

2.1.1. Capacidade de absorção - conceito e evidências empíricas.

Inovações são resultados da combinação de conhecimentos novos. Dosi (1988) destacou essa combinação como reflexo de busca por solução de problemas que demandam conhecimentos derivados por vezes das experiências passadas e por vezes de conhecimentos formalizados (em especial daqueles gerados pelas ciências naturais)5. Os processos de aprendizagem que emergem dessa busca são definidos 2 Grande parte dos resultados recentes baseiam-se em medidas pouco diretas, o que deixa dúvidas sobre sua validade.3 A característica dual ou as duas faces dos investimentos em P&D refere-se à (i) capacidade de gerar novos conhecimentos aplicáveis diretamente aos produtos e processos em desenvolvimento pelas empresas; e (ii) à ampliação da capacidade de absorver conhecimentos externos (Cohen e Levinthal, 1989a). Neste artigo, admite-se que essas mesmas características podem estar em dois outros esforços de inovação, os que definem o “aprendizado fazendo” e o “aprendizado via treinamento”.4 Não estamos com isso aceitando a classificação de Pavitt (1984) como a melhor possível para uma análise do caso brasileiro no período em questão. Isso porque, ainda que a relevância desse trabalho e de muitas de suas derivações sejam inegáveis, consideramos as conclusões restritas à história e a geografia que se propôs investigar.5 Para Dosi (1988), os processos de busca e a adoção de novos produtos e processos se definem pela combinação complexa de diversos elementos, tais como: a capacitação e o estímulo gerado dentro de cada firma e em cada indústria, o estado da ciência

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pelo uso de uma ou mais fontes de informação e conhecimentos6, as quais podem ser internas ou externas às empresas. Por envolver custos, o engajamento das empresas em processos de busca por inovações ocorre apenas caso essas visualizem oportunidades de lucro ainda não-exploradas7.

Contudo, estar preparado para perceber e aproveitar as oportunidades tecnológicas é algo dependente do acúmulo de conhecimentos relevantes. A literatura tem dado especial atenção às atividades de P&D, desde que Cohen e Levinthal (1989a) destacaram seu caráter duplo (dual efect), associados a geração de conhecimentos diretamente aplicáveis a produtos e processos, como ao aumento da capacidade de compreensão e absorção de conhecimentos gerados por potenciais parceiros tecnológicos externos, como universidades, centros de pesquisa, fornecedores e clientes.

Desde então um conjunto de trabalhos empíricos emergiram com foco exclusivo nessa forma de ampliar a capacidade de absorção, desconsiderando apontamentos dos próprios autores, referentes à diversidade das formas utilizadas para absorver conhecimentos gerados fora dos limites da empresa. Ainda na parte introdutória do clássico artigo de 1990 sobre capacidade de absorção, Cohen e Levinthal: as características da mão de obra empregada, as operações rotineiras de manufatura da firma e a própria experiência derivada das atividades de produção, como condicionantes dessa capacidade.

A capacidade de absorção de cada firma é construída em um processo dependente de decisões passadas (path dependence), que pode envolver diversas etapas e, certamente, demanda esforços significativos, não sendo possível ampliá-la apenas via learning by doing, destacado em Arrow, (1962). Mowery et al. (1996) propõem que a capacidade de absorção consiste em um conjunto amplo de habilidades necessárias para lidar com o componente tácito do conhecimento a ser transferido das fontes externas, mas também na habilidade para modificá-lo. Note que, a complexidade envolvida na transferência de conhecimentos tácitos reforça a idéia de que a aquisição de conhecimentos demanda esforços contínuos para compreender o que está acontecendo de relevante fora dos limites da firma.

Zaara e George (2002), reconhecem a complexidade do conceito e avançam teoricamente ao subdividi-lo em quatro dimensões: (i) a aquisição propriamente dita, relacionada à capacidade para adquirir conhecimentos externos críticos às operações da firma, sendo a intensidade, a direção e a velocidade com que os esforços são empreendidos os elementos decisivos dessa capacidade; (ii) a assimilação, associada às etapas de análise, compreensão e interpretação dos conhecimentos externos obtidos; (iii) a transformação, referente à capacidade da firma para desenvolver e refinar suas rotinas, de modo que os novos conhecimentos sejam eficazmente combinados aos já existentes; (iv) a exploração dos conhecimentos, integrando-os às rotinas estruturadas, de modo a permitir que a firma possa sustentar por longos períodos os benefícios dos novos conhecimentos assimilados e transformados.

De modo geral, o conceito refere-se a complementaridade8 de conhecimentos internos e externos no processo de inovações, expresso na capacidade contínua da firma para aprender com o ambiente externo e de desenvolver a partir daí experiências próprias que são acumuladas em suas rotinas de produção e inovação. Para Mowery et al., (1996), sua importância pode ser resumida na compreensão de que envolver-se em interações de maneira eficaz pode depender da capacidade de absorção.

Logo, o desenvolvimento de habilidades em uma área específica colocaria a firma em vantagem para a absorção de novos conhecimentos nessa área. Tal prerrogativa pode ser decisiva no ambiente de

em diferentes setores, as características do padrão de consumo, o padrão de concorrência da indústria, a estrutura financeira, as tendências macroeconômicas, as políticas públicas, entre outros. Apesar de reconhecer-se a relevância desses fatores, considerá-los todos seria impossível em uma análise como a deste artigo.6 Entre as mais pesquisadas estão os fornecedores, os clientes, os concorrentes e as universidades e centros de pesquisa.7 A noção da inovação como processo interativo resultante da aprendizagem interna e externa é amplamente aceita. Diversas linhas de pesquisa são desenvolvidas a partir dessa noção, ainda que com focos sensivelmente diferentes, entre elas: os milleu inovativos (Maillat, 1996), os sistemas de inovação, seja na variante nacional (Lundvall 1992, Nelson 1993, e Freeman, 1987), setorial (Breschi and Malerba 1997, Malerba 2002), regional (Cooke e Morgan, 1998) ou local (Cassiolato, et.al. 2003).8 Ver Caloguirou, et.al, (2004). Há, todavia, resultados como de Laursen e Salter (2006) que sugerem um efeito substitutivo entre a busca por novos conhecimentos externos e os esforços internos de P&D. Ao admitirem os custos relacionados à busca fora da firma, destacam que, sob certo nível de dispêndios, a ampliação de gastos pode afetar negativamente o desempenho inovativo. Nessa direção, admitem os potenciais benefícios teóricos da variedade de conhecimentos associada à diversidade de fontes, mas ressaltam que o grau de abertura deve ser ponderado pelos custos associados a essa abertura.

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incerteza característico da concorrência capitalista, pois determina a capacidade da firma de avaliar o potencial comercial de eventuais decisões produtivas e tecnológicas.

O conceito amplo e complexo é de difícil mensuração quantitativa. Talvez isso explique o número restrito de contribuições empíricas. Conforme dito na introdução, grande parte das análises a respeito são secundárias e outras como (Stock, et. al. 2001) guardam predileção pelos esforços de P&D interna.

Mais recentemente, sucessivos esforços à ampliação das formas de mensurar o fenômeno têm revelado importantes contribuições à literatura da disciplina de economia da inovação. Neles, observa-se que variáveis associadas a qualidade da mão de obra, aos esforços de treinamento, as atitudes empreendedoras, mostraram-se, por vezes, tão ou mais importantes do que o destacado uso da P&D interna (Murovec e Prodan, 2009; Smith 2005; Arbussa e Coenders, 2007; Tsai, 2009).

No Brasil, o estudo de De Negri (2000) continua sendo a principal referência. Baseada em Smith (2005), a autora enfatiza o uso de fontes externas de informação como evidência de absorção tecnológica, investigando sua associação com os esforços de P&D e com as características da mão de obra empregada nas empresas brasileiras. Na análise, as fontes externas de informação são divididas em duas categorias, as empresariais e as acadêmicas. Os instigantes resultados destacaram o perfil da mão-de-obra e os esforços de P&D diretamente associados à capacidade de absorção e que os esforços de treinamento das empresas, para serem efetivos, dependem da capacidade da firma de manter os indivíduos que receberam treinamento na empresa.

2.1.2. Capacidade de absorção e de geração de novos conhecimentos da P&D interna.

O insight chave para a avaliação da capacidade de absorção da P&D é oferecido por Cohen e Levinthal (1990) ao mencionarem que a capacidade da firma para explorar conhecimentos externos é muitas vezes um subproduto de seus esforços internos de P&D. Os esforços de P&D estimulariam as capacitações tecnológicas centrais da empresa, permitindo uma melhor compreensão do conhecimento tácito embutido (embeddned) em processos e produtos, aumentando as chances da firma acessar e absorver os conhecimentos externos. A noção de que graus elevados de P&D ampliam a “conectividade” das firmas com fontes externas de conhecimento é amplamente difundida na literatura (Freeman, 1991; Chesbrough e Teece, 1996; Arora e Gambardella, 1994; e Jensen. et.al 2007, entre outros). Obviamente, tal característica não diminui a importância dos investimentos em P&D para a geração de conhecimentos aplicados diretamente aos novos produtos e processos, aspecto reconhecido, em maior ou menor grau, por toda a literatura de economia da inovação.

2.1.3. Capacidade de absorção e geração de conhecimentos via treinamento

A educação e o treinamento são reconhecidos como elementos significativos da capacidade de inovar de uma região ou um país (Lundval et.al 2002). Ao nível da empresa, a atividade de treinamento deve ser compreendida como esforços de transmissão de conhecimentos abstratos da cabeça daquele que possui know-how para a cabeça daquele que, por não ter desenvolvido determinada rotina específica, não o possui. Não é outra coisa senão um esforço de transmissão de conhecimentos tácitos. O benefício cristaliza-se no incremento da capacidade da empresa de identificar e solucionar problemas surgidos nas rotinas de produção, uma vez que um conjunto maior de indivíduos estará apto a isto.

A mensuração desse elemento observa frequentemente a importância atribuída à existência de pessoal qualificado dentro da empresa. Porém, conforme ressaltam Muvorec e Prodan (2009), os gastos em treinamento estão muito mais associados às necessidades específicas identificadas pelas firmas. A absorção tecnológica pode ser uma dessas necessidades identificadas e é, especificamente, tal característica que se pretende captar com o indicador do “aprender treinando” apresentado a seguir.

2.1.4. Capacidade de absorção via aprender fazendo

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A capacidade para gerar novos conhecimentos a partir do aprendizado nas rotinas de produção foi apontada primeiramente por Arrow (1962). Basicamente, o autor destacou os esforços de repetição que conduzem ao desenvolvimento de habilidades produtivas capazes de incrementar a produtividade, através de melhoramentos técnicos na manufatura. Além da capacidade para gerar novos conhecimentos diretamente aplicados aos novos processos produtivos, essa forma de aprender amplia a capacidade de compreensão de técnicas geradas e utilizadas fora dos muros da firma. Nas palavras de Cohen e Levinthal (1990):

(…) absorptive capacity may also be developed as a by product of a firm's manufacturing operations. Abernathy (1978) and Rosenberg (1982) have noted that through direct involvement in manufacturing, a firm is better able to recognize and exploit new information relevant to a particular product market. Production experience provides the firm with the background necessary both to recognize the value of and implement methods to reorganize or automate particular manufacturing processes (Cohen e Levinthal, p.2, 1990).

Pisano (1996) amplia essa noção ao salientar que o “doing” pode ter lugar nas soluções computacionais, nas análises laboratoriais, nos testes de protótipos e em outros experimentos não necessariamente associados diretamente à manufatura.

Baseando-se em Zaara e George (2002), uma interpretação emerge referente a complementaridade existente entre as três formas de aprendizagem interna no complexo processo de absorção tecnológica. Compreendemos que a aprendizagem via P&D estaria mais associada à fase (i) de aquisição e (ii) de assimilação dos conhecimentos externos críticos para as inovações de maior impacto para o mercado nacional, envolvendo esforços full time de indivíduos voltados à compreensão e à análise de diversos tipos de informação e conhecimentos externos. Compreendidas e utilizadas nos laboratórios de P&D, as novas informações ou conhecimentos requerem a mobilização de conhecimentos gerados a partir do chão-de-fábrica, assim como daqueles ampliados pela difusão de práticas de treinamento tanto para (iii) transformar o novo projeto ou o protótipo, respeitando as especificidades dos processos produtivos da firma, como para melhorar (iv) a capacidade de explorar os conhecimentos novos absorvidos9.

2.1.5. Nota sobre a similaridade conceitual entre capacidade de absorção e capacidade tecnológica.

A pesquisa que resultou nesse artigo fez perceber o uso das denominações “capacidade de absorção” e “capacidade tecnológica” referindo-se ao mesmo fenômeno. Essa seção apresenta e discute brevemente as similaridades conceituais percebidas. Não pretende ser definitiva nem mesmo exaustiva. O objetivo é instigar novas investidas acadêmicas capazes de ampliar o rigor analítico no uso dos termos.

Primeiramente percebeu-se similaridade nos aspectos internos da firma que permitem a incorporação de conhecimentos externos. Sob a ótica da “capacidade de absorção” os aspectos internos de manifestariam não apenas nas (i) rotinas organizacionais e gerenciais ou na (ii) ampliação da qualificação tácita dos indivíduos, mas também nos (iii) produtos, serviços e processos novos gerados; ao passo que a “capacidade tecnológica” estaria: (i) nos sistemas organizacionais; (ii) em conhecimento e qualificação técnica de pessoal; e (iii) em sistemas tecno-físicos, como máquinas, equipamentos, softwares, plantas, manufatura e nos produtos e serviços (Figueiredo, 2004). As similaridades entre (i), (ii) e (iii) são complementadas pelo fato de, nas duas visões, esses aspectos configurarem-se como capacitações acumuladas, dependentes de decisões passadas. Isso significa que, por possuir trajetória de aprendizado particular cada firma teria capacidades específicas de absorver conhecimentos.

Outra similaridade está no aceite da diversidade de fontes internas de conhecimento capazes de ampliar tais capacitações. Nas duas visões a idéia de learning by doing (Arrow, 1962) é insuficiente para explicar a absorção de conhecimentos externos. Adicionalmente, são destacas a qualificação da mão de

9 A maior intensidade sugerida de uma das formas de aprendizagem em cada fase do processo de absorção não significa que não existam feed-backs em relação às fases iniciais do processo, incluindo novas considerações sobre o objeto de absorção tecnológica, assim como a troca de informações entre as “fases”.

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obra e a relevância dos níveis de P&D interno : [...] when more novel elements of technology are incorporated into investment projects along established technology, the necessary capabilities may requires more sophisticated engineering and R&D. (Bell e Pavitt, 1995, pag. 85)10.

Outra similaridade entre os conceitos é a admissão de que a combinação de conhecimentos (capacitações) internos com os externos ocorre por meio de um processo complexo marcado por esforços em diversas etapas. Havendo similaridade, inclusive, nas etapas. Enquanto a noção de capacidade de absorção admite que a etapa inicial ocorre via aquisição e assimilação dos conhecimentos externos (Zaara e George, 2002), na noção de capacidade tecnológica, a fase inicial é referenciada à necessidade de se realizar esforços (leia-se investimentos) em etapas de adaptação e implementação da nova tecnologia às situações específicas em que essa passará a operar.

Em uma fase seguinte, a vertente da capacidade de absorção destaca uma etapa associada à capacidade da firma de “transformar” suas rotinas, de modo que a combinação dos novos conhecimentos (embutidos na tecnologia) com os antigos ocorra de maneira eficaz. Seria a fase de combinação dos conhecimentos, normalmente, quando ocorrem novos insigths e novas oportunidades são reconhecidas (Zaara e George, 2002) e, portanto, outras modificações e melhoramentos na tecnologia passam a ocorrer. Na vertente da capacidade tecnológica, essa “fase” está representada na geração de uma série de inovações incrementais frutos da aquisição de um novo processo produtivo. Essas inovações seriam realizadas como forma de manter e ampliar a competitividade da firma no tempo e se derivam e são dependentes dos diferenciais de capacidade tecnológica acumulados em cada firma.

Finalmente, uma derivação mais livre das duas visões é a compreensão de que há similaridade no que se refere ao espaço territorial em que as empresas se inserem. Isso porque nos dois conceitos a competência para assimilar conhecimentos externos, em especial os tácitos, deriva-se de características particulares do processo de aprendizagem em que a firma se envolve. Bell e Pavitt (1995), por exemplo, ao analisarem os benefícios potenciais advindos das interações com fornecedores destacam que usuários de materiais e/ou componentes específicos, dotados de habilidades para transformá-los (inovar), poderiam ativamente induzir seus fornecedores a se empenharem no desenvolvimento desses insumos, caso os últimos fossem dotados de um certo nível de capacitação tecnológica. Nesse caso, estar inserido em um Sistema Nacional de Inovações (SNI) periférico, no qual a produção pode envolver fornecedores e usuários não dotados da mesma capacidade técnica dos fornecedores/usuários parceiros no desenvolvimento da tecnologia localizados no SNI maduro, pode ser uma restrição importante à difusão tecnológica, assim como, à ampliação da capacidade de absorção.

3. Os Padrões setoriais de aprendizagem e os indicadores de aprendizagem e inovação

Essa seção está dividida em duas. A primeira apresenta os padrões setoriais de aprendizagem identificados em Bittencourt (2012) e os indicadores de aprendizagem que os definiram. A segunda apresenta a relevância de se trabalhar com inovações de impacto superior (para o mercado nacional), além do indicador utilizado para inferi-las.

3.1. Os Padrões Setoriais de Aprendizagem

O uso dos padrões setoriais de aprendizagem como referencia setorial se justiça não apenas por ser uma construção que considera características do SNI brasileiro, mas também pelo fato dos indicadores utilizados mostrarem-se adequados ao objetivo desse artigo.

O quadro abaixo relaciona os indicadores de aprendizagem construídos em Bittencourt (2012). As formas de aprendizagem foram definidas a partir de Malerba, (1992); Hedberger, (1981) e Kim e Nelson, (2005), considerando-se as limitações de mensuração impostas pela Pesquisa de Inovação Tecnológica brasileira (PINTEC). Note que os indicadores combinam fontes de informação utilizadas nos processos de inovação e a importância informada pelas empresas com gastos em atividades de inovação. A construção das combinações observou a provável atividade de inovação associada ao uso de determinada fonte de 10As seções 2.1.2, 2.1.3 e 2.1.4 apresentaram esses elementos em Cohen e Levinthal (1990).

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informação, como fonte de idéia para a inovação11. Em outras palavras, entende-se que há grande probabilidade de que o insigth surgido, por exemplo, no departamento de P&D (fonte de informação) esteja associado a gastos com atividades de P&D, conforme relacionado no indicador 1, “aprendizagem via P&D interna”, derivado do “learning by search”. Quadro 1: Os Indicadores de Aprendizagem: características associadas

Indicadores de aprendizagem

1.P&D

interno

2.Fazend

o

3.Treinament

o

4.C&T

Avançada

5.Fornecedore

s

6.Clientes

7.Outras

fontes de interaçã

o

8.Imitação

Var

iáve

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NT

EC

util

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dica

dore

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FON

TE

S

Internas de P&D

Outras fontes

internas

Centros de capacitação Universidades Fornecedores Clientes

Conferências Encontros e publicações

Concorrentes

- - -

Institutos de Pesquisa ou

centros tecnológicos

- - Feiras e exposições

Licenças, Patentes e know-How

- - - - - - Empresas de consultoria -

- - - - - - Competidores -

IMPO

RT

ÂN

CIA

D

O

GA

STO

S P&D interno formal

Projetos industriais e

outras preparações

técnicas

Treinamento

Aquisição de outros

conhecimentos externos

Aquisição de máquinas e

equipamentos

Introdução da Inovação no

mercado-

Aquisição de outros

conhecimentos externos

Características dos IndicadoresLocalização da fonte do conhecimen

toInterna à Empresa Externa à Empresa

Principal característica do conhecimento envolvido

Codificado Tácito Tácito Codificad

o Tácito Tácito Tácito Codificado e Tácito

Fonte: Bittencourt (2012)

As possibilidades de respostas das empresas inovadoras às questões formuladas pela PINTEC e utilizadas para a formulação dos indicadores é sempre qualitativa: alta, média e baixa ou irrelevante. Esses atributos qualitativos foram transformados em quantitativos para que a técnica estatística pudesse ser utilizada. O procedimento consistiu na substituição dos qualitativos: “alta” “média” e “baixa ou irrelevante” respectivamente por “1”, “0,66” e “0,167”12. Assim, os indicadores foram formados utilizando-se de uma média ponderada da importância atribuída pelo conjunto das empresas inovadoras de cada setor às variáveis selecionadas para a composição desses indicadores. Com isso, a técnica de cluster da análise estatística multivariada foi aplicada aos setores (3 dígitos CNAE), de maneira que os seguintes padrões setoriais de aprendizagem fossem identificados (Bittencourt, 2012):

Quadro 2: Os Setores que compõem os Padrões Setoriais de AprendizagemPadrão1– Setores Intensivos em Aprendizagem na Esfera Produtiva.

Padrão 2 – Setores Intensivos em Aprendizagem à Montante

Padrão 3 – Setores Intensivos em Múltiplas Formas de Aprendizagem

Padrão 4 – Setores Intensivos em Aprendizagem Interna e à Jusante

Carne e de pescado Extração de pedra, areia e argila Produtos farmacêuticos Químicos inorgânicos

11 Não se assume, no entanto que exista correspondência absoluta entre fontes de idéias e os gastos com atividades de inovação. De fato, idéias surgidas nos departamentos de P&D (learning by search) podem ser executadas através de gastos com P&D externo, (learning by advanced S&T). Contudo, os indicadores assumem que há uma probabilidade maior de que os gastos sejam realizados nos departamentos de P&D da própria empresa, nesse caso.12 O valor para a especificação qualitativa “baixa ou irrelevante” segue a valoração seqüencial das informações alta e média. O valor “0,176” é a média entre “0,33” e “0,00”, valores atribuídos para “baixa” e “irrelevante” respectivamente. .

7

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Óleos vegetais animais Extração de outros minerais Defensivos agrícolas Resinas, elastômeros, fibras, filamentos artificiais e sintéticos

Laticínios Moagem, fabr. de amiláceos e de rações M&E para informática e escritório Tintas, vernizes, esmaltes, lacas e

produtos afins

Açúcar Produtos alimentícios Fios, cabos e condutores elétricos isolados Produtos e preparados químicos diversos

Café Fibras têxteis naturais Pilhas, baterias e acumuladores elétricos Artigos de cutelaria, de serralheria e ferramentas manuais

Bebidas Acabamento em fios e tecidos Aparelhos e equipamentos de telefonia e radiotelefonia e de transmissores de televisão e rádio

Motores, bombas, compressores e equipamentos de transmissão

Fiação Artefatos de tecidos e de outros têxteis

Aparelhos e instrumentos de medida, teste e controle M&E de uso geral

Celulose Tecidos de malha Aparelhos, instrumentos e materiais ópticos, fotográficos e cinematográficos

M&E de usos na extração mineral e construção

Álcool Confecção de vestuário e acessórios Automóveis, camionetas e utilitários Outras M&E de uso na extração mineral

Cimento Vestuário de segurança profissional Caminhões e ônibus Material elétrico para veículos

Ferro-gusa e ferroligas Artigos para viagem e de artefatos de couro Produtos do fumo Fabricação e reparação de máquinas,

aparelhos e materiais elétricos Tubos Calçados Material eletrônico básico Metalurgia de não-ferrosos Desdobramento de madeira Outros equipamentos de transporte

Produtos diversos de metal Produtos de madeira e material trançado Produtos derivados do petróleo

Tratores e M&E p/ agricultura Embalagens de papel ou papelão Armas, munições e equipamentos militares

Máquinas-ferramenta Papel, papelão, cartolina e cartão

Construção e reparação de embarcações e veículos ferroviários

Equip. de energia elétrica Edição, impressão e reprodução Construção, montagem e reparação de aeronaves

Peças p/veículos Produtos químicos orgânicos*** Artigos de borracha Produtos de material plástico Vidro e produtos do vidro Artefatos de concreto, cimento e similares Produtos cerâmicos Aparelhamento de pedra, fabr. de cal etc.. Fundição** Estruturas metálicas e obras de calderaria pesada Tanques, caldeiras, reservatórios metálicos Serviços de metalurgia do pó e tratamento de metais Manutenção e reparação de M&E Fabricação de lâmpadas e equipamentos de iluminação Cabines, carrocerias* e recuperação de motores** Artigos do mobiliário Produtos diversos Reciclagem

Fonte: Bittencourt (2012)

3.2. Inovações para o Mercado Nacional

A PINTEC define dois graus de inovação: para a empresa e para o mercado nacional. Como mostra a Tabela 1, as inovações de grau superior são pouco freqüentes e seu percentual diminuiu desde a primeira pesquisa. A baixa frequencia é explicada por fatores que caracterizam o precário desenvolvimento histórico do sistema nacional de inovações brasileiro (Albuquerque, 2000; Viotti, 2002).

A parcela restrita de inovações para o mercado nacional é o foco deste trabalho, por: (i) possuírem maior impacto na dinâmica de desenvolvimento econômico; e (ii), por comparativamente às inovações para a empresa, demandarem um conjunto mais amplo de conhecimentos para se realizarem.

Tabela 1: Inovações para a empresa e para o mercado nacional no brasil

Período Número de Empresas Inovadoras

Taxa de Inovação

% Inovações de Produto % Inovações de ProcessoEmpresa Mercado

NacionalEmpresa Mercado

Nacional

8

Page 9:  · Web viewOs trabalhos citados acima estimularam esforços recentes focados na investigação da capacidade de absorção das firmas, são exemplos as análises de Arora e Gambardella,

2000 22.698 31,52 32.28 9.27 52.22 6.232003 28.036 33,27 37.62 5.67 54.18 2.532005 30.377 33,56 35.42 6.90 54.15 3.52

Fonte: PINTEC I, II e III.

. Para mensurar as inovações de alto impacto entre os setores da atividade econômica utilizou-se

como indicador a porcentagem dessas inovações em relação ao total de inovações registradas no setor em cada período. As correlações calculadas entre este indicador e os de aprendizagem só foram possíveis por se tratar de medidas de intensidade.

4. Metodologia

A metodologia está dividida da seguinte forma: A seção 4.1 apresenta o tratamento estatístico aplicado aos dados, ou seja, as correlações simples e parciais e os modelos de causalidade estatística que orientam a análise. Na seção 4.2., esses modelos são interpretados. A seção 4.3., destaca o objeto da investigação. e na seção 4.4 são apresentadas condições estatísticas necessárias ao estudo dos casos.

4.1. Modelos de Causalidade Estatística através da correlação de Pearson

Os coeficientes de correlação de Pearson “r” são amplamente aplicados como medidas de dependência linear entre duas variáveis nas ciências econômicas. Eles variam entre -1 (correlação negativa perfeita) e 1 (correlação positiva perfeita). Formalmente o coeficiente é dado por:

sendo que:

e são as médias aritméticas das variáveis.

Os coeficientes de correlação parcial mensuram qual seria a intensidade da correlação entre dois determinados indicadores ‘B’ e ‘C’ se outro indicador, digamos ‘A’, hipoteticamente, influenciasse tanto ‘B’ como ‘C’. Mede a intensidade da correlação entre ‘B’ e ‘C’ após serem descontados os efeitos de ‘A’.

Neste artigo, ‘A’ são os indicadores de aprendizagem interna, ‘B’ o de aprendizagem com clientes e ‘C’ o indicador de intensidade das inovações de produto para o mercado nacional (Quadro 3).

Quadro 3: Indicadores de Aprendizagem e Inovação Correspondentes aos Modelos Causais.Variáveis dos

Modelos Causais A B CIndicadores de

Aprendizagem interna, externa e Desempenho

inovativo

Aprendizagem Interna –Fontes Internas de Geração de Conhecimentos

Aprendizagem externa – Fontes externas de Absorção

Tecnológica

Desempenho -% Inovações para o Mercado Nacional

- P&D interna- Treinamento

- Aprender Fazendo

- Universidades - Fornecedores

- Clientes - Conferencias, Encontros e

publicações-Concorrentes

Produto

9

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Fonte: Elaboração própria

Essa metodologia é adequada por definir diferentes relações de causa entre A, B e C por meio dos coeficientes de correlação simples e parciais (Legendre e Legendre, 1998). Tanto nesse artigo como nas estatísticas, a causalidade concerne à hipótese de que mudanças em um indicador (variável) têm um efeito sobre as mudanças em outro indicador (variável).

Uma desvantagem potencial envolvida na estimação de intervalos de confiança para a correlação de Pearson “r” é a suposição de distribuição normal bivariada entre X e Y. Essa desvantagem foi evitada estimando-se os intervalos de confiança através de técnica de bootstrap com 5.000 reamostras. O uso da técnica bootstrap não provoca transformações nos resultados dos cálculos dos coeficientes de Pearson, mas nos intervalos de confiança, permitindo-se não assumir a binormalidade típica do teste de hipótese tradicional (Efron e Tibshirani, 1993). Os resultados da técnica estão disponíveis em Bittencourt (2010)13.

A Figura 1 apresenta os modelos causais e as condições a serem atendidas pelos índices de correlação simples e parcial entre as variáveis ‘A’, ‘B’ e ‘C’. O modelo 1 é denominado “modelo de efeito indireto”; o modelo 2 é denominado “modelo de dupla causa”; o modelo 3 “modelo de múltipla causalidade”. Na sequencia estes são interpretados.

Figura 1: Os Modelos de Causalidade Estatística:Modelo 1 2 3

Causalidade

Condições

rab, rbc, rab.c e rbc.a ≠ 0rac.b não significativa

|rab|> |rac||rbc|>|rac|

|rab.c|< |rab||rbc.a|<|rbc|

rab, rac, rab.c, rac.b ≠ 0rbc.a não significativa|rab|> |rbc||rac|>|rbc||rab.c|< |rab||rac.b|<|rac|

rab, rbc, rac ≠ 0rab.c, rbc.a, rac.b ≠ 0

Fonte: Elaboração própria baseada em Legendre e Legendre (1998).

Modelo 1 – Aponta a presença de efeito indireto de causa de A para C, intermediado por B. Os casos explicados por esse modelo informam que os conhecimentos gerados em A (aprendizagem interna) possibilitam a absorção daqueles presentes em B (aprendizagem externa), os quais são geradores de C (inovações). As inovações são fortemente explicadas pela capacidade de absorção.

Modelo 2 – Esse modelo indica que tanto o efeito de absorção tecnológica de A para B como o efeito de geração de novos conhecimentos de A para C estão presentes (efeito dual). Entretanto, a absorção tecnológica só é efetiva na presença de (A). Isso porque, descontada a influência de A, a correlação parcial rbc.a não é significativamente diferente de zero. A correlação simples r.bc é dependente da existência de A. Em outras palavras, a absorção do conhecimento dos externos é altamente dependente da forma de aprendizagem interna em análise. .

13 Para cada matriz de correlação de Pearson, uma banda inferior e uma banda superior das possibilidades são apresentadas. Essas bandas são os parâmetros que permitem rejeitar ou não a hipótese nula, ou seja, de que a correlação é diferente de zero. Para este estudo, apenas as correlações positivas importam. Para elas, uma banda inferior negativa não permite rejeitar a hipótese de que a correlação de Pearson é estatisticamente diferente de zero.

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Modelo 3 – Também entre os casos revelados por esse modelo, o caráter dual das formas internas de aprendizagem está presente. Contudo, diferentemente do modelo 2, a correlação rbc.a é significativamente diferente de zero, indicando que uma parcela relevante dos conhecimentos externos absorvidos é independente da forma de aprendizagem interna (A) em análise. Ou seja, mesmo na ausência de (A), conhecimentos gerados em (B) são absorvidos para gerar (C). A absorção do conhecimento externo é menos dependente da forma de aprendizagem interna, comparativamente ao modelo 2.

4.2. O Foco da Investigação: absorção tecnológica nos padrões setoriais

Com dito acima, o indicador que mede a intensidade de inovações para o mercado nacional é sua porcentagem em relação ao total de inovações registradas no setor em cada período.

Considerando as relações possíveis entre (a) conhecimentos internos a empresa, (b) conhecimentos externos a empresa e (c) inovações de produto para o mercado nacional, nos quatro padrões setoriais de aprendizagem notou-se que, mais de 50 possibilidades14 poderiam de ser investigadas. O seguinte procedimento reduziu o número das aplicações:

Partindo-se da noção teórica de que o acesso à informação externa é o primeiro indicador de que conhecimentos estão sendo absorvidos pelas firmas (Smith, 2005 e De Negri, 2000), foram excluídas da pesquisa as correlações entre a intensidade das inovações de produto para o mercado nacional (c) e as formas externas de aprendizagem (b) que não fossem positivas e significativamente diferente de zero. Apenas as correlações envolvendo o uso dos clientes atenderam essa condição e apenas entre os setores dos padrões 1, 2 e 3. As correlações simples foram, respectivamente, de r = 0,40 , r = 0,44 e r = 0,3315.

Desse procedimento, se derivaram 9 possibilidades de investigação da ampliação da capacidade de absorção derivada dos esforços internos, como resume o quadro 4.

Quadro 4: Focos da investigação da Absorção Tecnológica para Inovações de Produto para o

Mercado Nacional entre os Padrões Setoriais de Aprendizagem

Padrão

Os focos de investigação da capacidade de

absorção

Absorção tecnológica para a inovação de produto para o mercado nacional

Aprendizagem interna Aprendizagem externa

Padrão 1- Setores Intensivos em Aprendizagem na Esfera Produtiva.

Investigação 1: P&D interna ClientesInvestigação 2: Fazendo ClientesInvestigação 3: Treinando Clientes

Padrão 2 - Setores Intensivos em Aprendizagem à Montante

Investigação 4: P&D interna ClientesInvestigação 5: Fazendo ClientesInvestigação 6: Treinamento Clientes

Padrão 3 - Setores Intensivos em Múltiplas Formas de Aprendizagem

Investigação 7: P&D interna ClientesInvestigação 8: Fazendo ClientesInvestigação 9: Treinamento Clientes

Fonte: Elaboração própria

Normalmente, a absorção de conhecimentos dos clientes se dá por meio de práticas de adaptação dos produtos à demanda, envolvendo interação produtor/usuário capaz de ampliar a compreensão de um sobre as necessidades do outro. Os contatos face a face ocorrem, especialmente, na finalização dos processos de inovação, inclusive no chão-de-fábrica, quando etapas de adaptações técnicas são necessárias. Podem envolver testes de mercado, e adaptações do produto para diferentes mercados. 14 A rigor, seriam 60 possibilidades, resultado da multiplicação 4x3x5, a qual corresponde, respectivamente, ao número de padrões de aprendizagem (4), às formas internas de aprendizagem (3) e às formas externas de aprendizagem (5).15 Nos setores do padrão 4, a não identificação da absorção tecnológica pelo método utilizado se deve à inexistência de correlação simples positiva e significativamente diferente de zero entre quaisquer formas de aprendizagem externas e as inovações analisadas. Apenas a título de curiosidade, informa-se que os fornecedores e as fontes avançadas de C&T apresentaram correlações significativas às inovações de processo para o mercado nacional. E a imitação, as outras fontes externas, os fornecedores e os clientes para inovações para a empresa de produto e processo.

11

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No que se refere a absorção dos conhecimentos dos clientes voltada à geração de inovações de produto derivadas de (i) esforços de P&D interno, (ii) de treinamento de pessoal e (iii) do aprender fazendo, destaca-se que: em (i) o caráter experimental de algumas atividades de P&D, por dependerem de conhecimentos dos clientes, podem explicar a relação; já (ii) os conhecimentos do aprender fazendo podem envolver a interação com clientes quando ensaios, testes, o desenvolvimento de especificações técnicas e o melhoramento de características operacionais dos produtos (não incluídos das rotinas de P&D) mostram-se necessárias ou relevantes e (iii) as práticas de treinamento, por referirem-se a difusão de conhecimentos intra-firma que se somam aos conhecimentos pré-existentes nos indivíduos, ampliam as possibilidades de identificação de potencialidades e de melhoramentos de novos produtos.

4.3. As Condições Estatísticas Necessárias para a Investigação dos Casos Selecionados

Além da condição básica de que uma correlação positiva e significativamente diferente de zero entre (b) e (c), outras foram impostas no intuito de limitar a investigação aos casos efetivamente relevantes ao objetivo do trabalho. São elas:

1- A correlação entre A e B (ra.b) deve ser positiva e necessariamente significativamente diferente de zero. Esta correlação indica que os conhecimentos absorvidos de uma fonte externa (B) estão associados a uma determinada forma interna de aprendizagem (A). Correlações negativas estariam indicando que o uso de fontes internas (P&D, treinamento e o aprender fazendo) são inversamente correlacionados a uma das formas de aprendizagem externa (clientes, fornecedores etc...). Essas relações não estão no espectro deste trabalho.

2- A correlação entre A e C (rac) deve ser positiva, mas não necessariamente significativamente diferente de zero, uma vez que relações causais indiretas entre A e C podem ser reveladas. Correlações negativas, no entanto, estariam apontando relações inversas entre A e C, as quais não se pretendem explicar.

3- A correlação parcial entre B e C, descontada a influência de A (rbc.a), deve ser menor do que a correlação entre B e C. Isso significa que (A) é um elemento determinante da correlação rbc. Quando A está presente, a correlação entre rbc é maior, donde se deriva que os conhecimentos gerados em (A) servem ao objetivo de absorção de B, mas também à geração de C. Esse indicador, associado às condições 1 e 2 apontadas acima, é suficiente para confirmar a hipótese de que a aprendizagem interna gerada em (A) influencia a absorção de conhecimentos externos (B) para a geração de um tipo de inovação (C).

5. Resultados e Discussão

Esta seção discute os resultados da aplicação da metodologia. A discussão focada nos padrões setoriais de aprendizagem permite apontar quais as formas de aprendizagem interna que melhor explicam a absorção tecnológica em cada padrão setorial de aprendizagem.

5.1. Inovações de Produto para o Mercado Nacional e Capacidade de Absorção.

Os resultados da aplicação da metodologia estão resumidos no quadro abaixo. Além do foco da investigação por padrão setorial de aprendizagem, já destacado no quadro 4, o quadro 5 apresenta os valores das correlações estatísticas necessárias à investigação (condições) e o resultado da investigação. A última coluna revela que apenas seis dos nove focos de investigações foram confirmados.

O foco 2 da investigação (I-2) não foi confirmado pois à correlação entre o aprender fazendo (a) e o uso dos clientes (b) rab = 0,061 não mostrou-se significativamente diferente de zero. Já (I3) não foi confirmada, pois a correlação simples entre treinamento (a) e as inovações de produto (c) rac = - 0,144 revelou-se negativa. (I-9) não se confirmou pois além da correlação rac = 0,046 ser muito baixa, também a influência do aprendizado pelo treinamento (a), sobre a correlação rbc mostrou-se negativa.

Quadro 5: Resultado das Hipóteses: absorção tecnológica para inovação de produto12

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Padrão Focos da Investigação

Inovação de produto para o mercado nacional (C) Condições Resultado

da InvestigaçãoAprendiza-gem interna (A)

Aprendiza-gem externa

(B) rab rac rbc rbc.a

P - 1

I -1 P&D interna Clientes 0.39 0,23 0,40 0,35 Confirmada: M*-3

I - 2: Fazendo Clientes 0,06 0,26 0,40 0,39 Não confirmada: rab não

significativa

I- 3: Treinando Clientes (0,06) (0,14) 0,40 0,39 Não confirmada: rac

negativa

P - 2

I - 4: P&D interna Clientes 0,46 0,48 0,44 0,29 Confirmada: M - 3

I -5: Fazendo Clientes 0,19 0,21 0,44 0,42 Confirmada: M - 3

I - 6: Treinamento Clientes 0,22 0,12 0,44 0,33 Confirmada: M - 1

P - 3

I - 7: P&D interna Clientes 0,58 0,52 0,33 0,03 Confirmada: M - 2

I - 8: Fazendo Clientes 0,58 0,21 0,33 0,25 Confirmada: M - 1

I - 9: Treinamento Clientes 0,44 0,04 0,33 0,34 Não confirmada: rbc.a > rbc

Fonte: Elaboração própria*M – Modelo

O foco da investigação 1 (I-1) foi confirmada pelo modelo 3. O modelo sugere presença do caráter dual da P&D interna (Cohen e Levinthal, 1989). A observação do valor das correlações rab = 0,39 combinada à rbc.a = 0,35 sugere, no entanto, influência relativamente restrita da P&D sobre a absorção de conhecimentos dos clientes (B) geradores de inovações (C) (rbc = 0,40). Em outras palavras, entende-se que, mesmo na ausência de P&D conhecimentos relevantes dos clientes seriam transferidos às firmas16.

Na análise dos setores do padrão setorial 2, os três focos da investigação foram confirmados: I-4 através do modelo 3, que destaca o caráter dual da P&D interna. Novamente, o fato da

correlação parcial rbc.a = 0,29 ser expressivamente menor do que rbc = 0,44, sugere que outras formas de aprendizagem interna podem influenciar a capacidade de absorção.

Isso se revelou na confirmação tanto de I-5, pelo modelo 3, como de I-6 pelo modelo 1. A análise de I-5 sugere efeito menor do aprender fazendo, em relação a P&D interna, tanto de seu potencial de ampliação da capacidade de absorção como de aplicação direta de conhecimentos geradores de inovações. Essa interpretação baseia-se, respectivamente, na correlação rbc.a = 0,42 que aponta influencia bastante restrita de (a) sobre rbc = 0.44, assim como da correlação rab = 0,19, que revelou-se expressivamente menor do que aquela verificada para a P&D interna rab = 0,46.

Já I-6 foi confirmada via modelo 1, o qual sugere efeitos exclusivamente indiretos das atividades de treinamento sobre a geração de inovações. A análise mais apurada sugere baixa influencia, ainda que não desprezível, das atividades de treinamento à ampliação da absorção de conhecimentos dos clientes. Essa interpretação surge do seguinte conjunto de resultados: rac = 0,12, não é significativamente diferente de zero, o que exclui associação direta entre esforços de treinamento e a geração de inovações; rab = 0,22, significativamente diferente de zero, sugere que a absorção de conhecimentos dos clientes derivada do aprendizado por treinamento não é desprezível; e rbc = 0,44 combinada a rbc.a = 0,33 sugerem pouca influência da aprendizagem por treinamento à absorção de conhecimento dos clientes.

Já I-7, confirmada pelo modelo 2, revela que, entre os setores de alta dinâmica de aprendizado (padrão 3), a absorção dos conhecimentos dos clientes é fortemente dependente do uso da P&D interna. Possivelmente, isso decorre do nível de exigência e da complexidade dos conhecimentos que envolvem as vendas desses setores, intensamente associados às atividades tecnológicas do atual paradigma. Tal interpretação deriva da presença da P&D interna como um poderoso confounder da correlação entre a

16 A combinação dos resultados de (I-1; I-2 e I-3) configuram a primeira evidência da necessidade de ampliação de estudos sobre a absorção tecnológica. Especificamente no sentido de investigar mais variáveis do comportamento interno da firma capazes de mensurar a capacidade de absorção de conhecimentos externos.

13

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absorção dos conhecimentos dos clientes e a geração de inovações de produto (rbc = 0,33), o que se mostra na correlação parcial, rbc.a = 0,03.

Ainda no padrão 3, I-8, relativa ao aprender fazendo, foi confirmada através do modelo 1, que sugere relação exclusivamente indireta entre o aprender fazendo e inovações de produto de alto impacto. Nesse caso, a influência de (a) sobre a correlação rbc foi reduzida, passando de rbc = 0,33 para rbc.a = 0,25. É importante notar que, a partir dos resultados da I-7, poder-se-ia presumir que, além da P&D, não haveria mais espaço para a influência de qualquer outra forma de aprendizagem interna sobre a correlação rbc, uma vez que essa a teria se tornado praticamente nula. Contudo, devemos lembrar que a intensidade em P&D interna não exclui a intensidade no ‘aprender fazendo’, uma vez que,as entrevistas da PINTEC permitem que se aponte mais de uma fornte interna de arendizagem como relevante ao processo de inovação. Assim, setores intensivos em P&D interna podem também ser intensivos no ‘aprender fazendo’. Dessa forma, a análise conjunta de I-7 e I-8, sugere complementaridade dos conhecimentos gerados pelas duas formas de aprendizagem à absorção dos conhecimentos dos clientes capazes de gerar inovações de impacto para o mercado nacional.

Os resultados obtidos permitem dizer que no processo de aquisição, assimilação e transformação das informações externas “saber quem” são os detentores dos conhecimentos úteis capazes de serem transformados em inovações de alto impacto constitui um elemento decisivo, pelo menos entre os setores incluídos nos padrões 1, 2 e 3. Contudo, o conjunto de conhecimentos desenvolvidos internamente que viabiliza tal absorção mostrou-se diferente entre os padrões setoriais de aprendizagem.

Entre os setores definidos pela intensidade do uso de fontes da esfera produtiva (padrão 1), os esforços internos de P&D revelaram-se o principal indutor à capacidade de absorção de conhecimentos dos clientes, úteis para a geração de inovações alto impacto.

Entre os setores do padrão 2, definidos pela aprendizagem a montante, não apenas a P&D interna, mas também os conhecimentos derivados das práticas de treinamento e do aprender fazendo estão associados à absorção de conhecimentos dos clientes. Setores mais intensivos nas três formas de aprender se diferenciam, portanto, pela capacidade de acessar conhecimentos de seus clientes e gerar inovações de produto de alto impacto.

Já, entre os setores definidos pelas múltiplas formas de aprendizagem (padrão 3), a absorção de conhecimentos dos clientes, que atua como determinante das inovações para o mercado nacional, envolve conhecimentos complementares adquiridos através da P&D interna e do aprendizado derivado das rotinas internas de manufatura (aprender fazendo).

6. Conclusão:

Antes das reflexões conclusivas, destacam-se alguns limitantes do trabalho. Primeiramente, deve-se enfatizar que o uso dos setores como referência das análises implicou admitir homogeneidade comportamental das empresas, o que certamente é algo pouco rigoroso teoricamente e permite apenas levantar “evidências” estatísticas a respeito da absorção tecnológica ou qualquer outro fenômeno. Além disso, esse fator implicou trabalhar com um reduzido número de observações, o que se configura como um limitante estatístico, por tornar restritos os graus de liberdade concernentes à exploração quantitativa. Isso pode explicar, por exemplo, o fato de não se ter verificado a esperada17 significância de correlações simples entre o uso de fontes avançadas de C&T e as inovações de produto para o mercado nacional.

Ademais, entre os principais resultados notou-se que os indicadores utilizados são insuficientes para inferir sobre capacidade de absorção. Uma linha de investigação recomendável, nessa direção, seria a de explorar características da força de trabalho das firmas.

Contudo, uma breve reflexão comparativa sobre o papel das três formas de aprendizagem mensuradas pelos indicadores deste trabalho aponta em direções relevantes: o aprendizado via P&D interna possui um papel superior à absorção de informações e conhecimentos externos capazes de gerar

17 Expectativas como essas estão baseadas na composição setorial dos padrões de aprendizagem. Especificamente em sua associação com a taxonomia de (Pavitt,1984). Esperava-se, por exemplo, encontrar evidências de ampliação da absorção de conhecimentos dos clientes por meio dos esforços do aprender fazendo entre os setores do padrão 4, cuja composição setorial guarda similaridades com os “fornecedores especializados’ (Pavitt, 1984).

14

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inovações de impacto para o mercado nacional, comparativamente ao ‘aprender fazendo’ e ao ‘aprender treinando,’ em quaisquer dos casos (padrões) estudados. Além disso, destaca-se à aplicação dos conhecimentos gerados pela P&D diretamente às inovações (efeito dual) em todos os casos analisados.

Já o fato do papel do ‘aprender fazendo’ ter-se revelado importante para a absorção tecnológica, seja entre os setores tecnologicamente mais dinâmicos (padrão 3), seja entre os menos dinâmicos (padrão 2). indica que os conhecimentos obtidos através das rotinas de manufatura permitem às empresas acessar informações e conhecimentos externos com diferentes níveis de complexidade.

O papel do aprendizado baseado no treinamento, por ter-se revelado apenas através do modelo 1 (causalidade indireta) sugerem que estes ampliam a assimilação de conhecimentos externos úteis às inovações de produto de alto impacto, mas não parecem ter impacto direto à geração de inovações.

Dois elementos que emergem dos resultados ainda merecem relevância. Em primeiro lugar o fato de o “saber quem” tem as informações e conhecimento e o “saber como” acessá-las ser decisivo ao desenvolvimento das inovações. Esses conhecimentos estão no ambiente externo à firma, mas também no interno e acessá-los não é uma derivação única das atividades de P&D, mesmo para inovações de alto impacto. Relacionado a isso, destaca-se que os objetos das políticas tecnológicas não podem, portanto, se ater exclusivamente ao estímulo à P&D nas empresas.

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Page 16:  · Web viewOs trabalhos citados acima estimularam esforços recentes focados na investigação da capacidade de absorção das firmas, são exemplos as análises de Arora e Gambardella,

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Page 17:  · Web viewOs trabalhos citados acima estimularam esforços recentes focados na investigação da capacidade de absorção das firmas, são exemplos as análises de Arora e Gambardella,

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