vidro vulcÂnico associado aos derrames vulcÂnicos … · introdução - o presente trabalho tem...

1
Introdução - O presente trabalho tem como objetivo registrar as formas de ocorrências do vidro vulcânico que estão associadas aos derrames ácidos dentro do contexto geológico mais setentrional da Bacia do Paraná. Nesta região a Formação Serra Geral, de idade eocretácica, encontra-se representada por rochas vulcânicas ácidas (traquidacitos do tipo Chapecó – subtipo Ourinhos) que ocupam uma área de aproximadamente 65 x 20 Km, na direção N40 o W, ao longo da calha do rio Paranapanema. Eles estão assentados e marcam o paleorelevo das dunas do deserto Botucatu. Sobrepondo-se às vulcânicas ácidas ocorrem, principalmente a norte do rio Paranapanema, os derrames de basalto (alto-Ti, tipo Pitanga) que, por sua vez, são localmente capeados por sedimentos do Grupo Bauru. Complementa a Formação Serra Geral as soleiras e os diques de diabásio; os níveis descontínuos de arenitos inter-derrames com espessura, por vezes, superior a 20 m – importante marco estratigráfico entre derrames ácido e, localmente, básico; e, inúmeros diques clásticos arenosos. As formas de ocorrência dos vidros vulcânicos estão associadas às características estruturais (maciça a vesicular / amigdaloidal) e/ou variações texturais (vítrea a granular – na maioria das vezes - porfiríticas ou microporfiríticas) do dacito hospedeiro. Assim, da base para o topo, ele pode ser classificado em 3 tipos principais (Figura 2: dacito vítreo maciço (desplacamento subhorizontal) com ou sem a presença de zona de brecha; dacito vítreo pouco vesiculado (cinza a marrom) à granular/”sal e pimenta” com intensidade variada de matriz devitrificada; e o dacito vítreo vesicular/amigdaloidal (tipo “chocolate”). (1-3m) (3-50 m) (10-20 m) (10-50 m) (5-20 m) (3-50m m) P r i m e i r o d e r r a m e S e g u n d o d e r r a m e (10-20 m) 1 2 3 4 5 6 7 Fm. Botucatu intertrápico arenito 1-Brecha de arenito silicificado e clastos de dacito vítreo vesicular tipo chocolate 2-Dacito vítreo vesicular/amigdaloidal tipo chocolate (base de derrame) 7-Dacito vítreo vesicular/amigdaloidal tipo chocolate (topo de derrame) 3-Dacito cinza vítreo com poucas vesículas e disjunção tabular 4-Dacito tipo “sal e pimenta” com disjunção tabular com disjunção colunar para o topo 5-Dacito granular maciço 6-Dacito cinza vítreo com poucas vesículas e disjunção colunar 1 Figura 2: Tipos litológicos e a zonalidade vertical dos derrames dacíticos Zona de topo zona central Zona de base 134/15 REIS, P. M – TF 2006 – IGc-USP Figura 1: Mapa geológico da região de Piraju-Ourinhos (região SW do Estado de São Paulo), Negri et al. (2006). Destaque para a localização das ocorrências de vidro vulcânico. O vidro vulcânico - dimensão decimétrica até métrica- possui cor preta (na maioria das vezes é representado por material alterado constituído por minerais de argila de cor verde) e ocorre associado ao dacito vítreo maciço a vesicular/amigdaloidal (normalmente com vesículas achatadas indicando fluxo magmático), Figura 3. Tem posicionamento “estratigráfico” associado a prováveis frentes de lobos de derrames onde ocupam as porções mais centrais e/ou a borda de estruturas “antiformais” de dimensões métricas, as quais indicam, localmente, um fluxo direcionado para sul. Petrograficamente o vidro vulcânico é caracterizado por uma matriz vítrea (>90%) com poucos indícios de devitrificação; presença de fenocristais (<10%) tabulares de plagioclásio subcentimétricos, microfenocristais de plagioclásio e clinopiroxênio; e, mais localmente, vesículas e amígdalas arredondadas e/ou achatadas preenchidas por zeólitas e quartzo. Na figura 4 são apresentadas algumas das características pretrográficas do vidro vulcânico. Francisco de Assis Negri 1 ; Tarcísio José Montanheiro 1 ; Valdecir de Assis Janasi 2 ; Fabiana Pereira Vogado 2 1 Instituto Geológico – Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo Av. Miguel Stéfano, 3900. CEP 04301-903 São Paulo/SP – [email protected] 2 Instituto de Geociências, USP, Rua do Lago, 562, 05508-800, São Paulo-SP, [email protected] VIDRO VULCÂNICO ASSOCIADO AOS DERRAMES VULCÂNICOS ÁCIDOS DA FORMAÇÃO SERRA GERAL, NA REGIÃO DE PIRAJU-OURINHOS, SE DO BRASIL 1 – próximo a UHE Ourinhos / CBA – Fig. 1 3 - Sul da cidade de Ipauçu - Fig.1 2 – Proximidades da UHE Chavantes - Fig 1 Figura 3: Ocorrências do vidro vulcânico. Agradecimentos à FAPESP pelo Projeto de Auxílio à Pesquisa (Proc.03/06259-4) e ao CNPq pela concessão de bolsa de Produtividade de VAJ e IG;/SMA – bolsa FUNDAP de FPV. Os primeiros estudos geoquímicos em rocha total indicam que os vidros são classificados como traquidacito / dacito, similares composicionalmente aos dacitos vítreo e granular. Estudos em andamento focam o comportamento geoquímico da relação do vidro vulcânico. Figura 4: a) destaque para fenocristais e microcristais de plagioclásio na matriz vítrea; b) fenocristal de plagioclásio com fraturas e inclusões de vidro; c) amigdala preenchida por calcedônia e provável clorofeíta na borda; d) fenocristal e microscristais de plagioclásio na matriz vítrea; e) cristal de clinopiroxênio com borda de alteração, e; f) fenocristal de plagioclásio e amígdala preenchida por clorofeíta.

Upload: lydien

Post on 24-Mar-2019

217 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: VIDRO VULCÂNICO ASSOCIADO AOS DERRAMES VULCÂNICOS … · Introdução - O presente trabalho tem como objetivo registrar as formas de ocorrências do vidro vulcânico que estão

Introdução - O presente trabalho tem como objetivo registrar as formas de ocorrências do vidro vulcânico que estão associadas aos derrames ácidos dentro do contexto geológico mais setentrional da Bacia do Paraná. Nesta região a Formação Serra Geral, de idade eocretácica, encontra-se representada por rochas vulcânicas ácidas (traquidacitos do tipo Chapecó – subtipo Ourinhos) que ocupam uma área de aproximadamente 65 x 20 Km, na direção N40oW, ao longo da calha do rio Paranapanema. Eles estão assentados e marcam o paleorelevo das dunas do deserto Botucatu. Sobrepondo-se às vulcânicas ácidas ocorrem, principalmente a norte do rio Paranapanema, os derrames de basalto (alto-Ti, tipo Pitanga) que, por sua vez, são localmente capeados por sedimentos do Grupo Bauru. Complementa a Formação Serra Geral as soleiras e os diques de diabásio; os níveis descontínuos de arenitos inter-derrames com espessura, por vezes, superior a 20 m – importante marco estratigráfico entre derrames ácido e, localmente, básico; e, inúmeros diques clásticos arenosos.

As formas de ocorrência dos vidros vulcânicos estão associadas às características estruturais (maciça a vesicular / amigdaloidal) e/ou variações texturais (vítrea a granular – na maioria das vezes - porfiríticas ou microporfiríticas) do dacito hospedeiro. Assim, da base para o topo, ele pode ser classificado em 3 tipos principais (Figura 2: dacito vítreo maciço (desplacamento subhorizontal) com ou sem a presença de zona de brecha; dacito vítreo pouco vesiculado (cinza a marrom) à granular/”sal e pimenta” com intensidade variada de matriz devitrificada; e o dacito vítreo vesicular/amigdaloidal (tipo “chocolate”).

(1-3m)

(3-50 m)

(10-20 m)

(10-50 m)

(5-20 m)

(3-50m m)

Prim

eiro

der

ram

eS

egun

do d

erra

me

(10-20 m)

1

2

34

5

67

Fm. Botucatu

intertrápicoarenito

1-Brecha de arenito silicificado e clastos de dacito vítreo vesicular tipo chocolate2-Dacito vítreo vesicular/amigdaloidal tipo chocolate (base de derrame)

7-Dacito vítreo vesicular/amigdaloidal tipo chocolate (topo de derrame)

3-Dacito cinza vítreo com poucas vesículas e disjunção tabular4-Dacito tipo “sal e pimenta” com disjunção tabular com disjunção colunar para o topo5-Dacito granular maciço6-Dacito cinza vítreo com poucas vesículas e disjunção colunar

1

Figura 2: Tipos litológicos e a zonalidade vertical dos derrames dacíticos

Zona de topozona central

Zona de base

134/15

REIS, P. M – TF 2006 – IGc-USP

Figura 1: Mapa geológico da região de Piraju-Ourinhos (região SW do Estado de São Paulo), Negri et al. (2006). Destaque para a localização das ocorrências de vidro vulcânico.

O vidro vulcânico - dimensão decimétrica até métrica- possui cor preta (na maioria das vezes é representado por material alterado constituído por minerais de argila de cor verde) e ocorre associado ao dacito vítreo maciço a vesicular/amigdaloidal (normalmente com vesículas achatadas – indicando fluxo magmático), Figura 3. Tem posicionamento “estratigráfico” associado a prováveis frentes de lobos de derrames onde ocupam as porções mais centrais e/ou a borda de estruturas “antiformais” de dimensões métricas, as quais indicam, localmente, um fluxo direcionado para sul.

Petrograficamente o vidro vulcânico é caracterizado por uma matriz vítrea (>90%) com poucos indícios de devitrificação; presença de fenocristais (<10%) tabulares de plagioclásio subcentimétricos, microfenocristais de plagioclásio e clinopiroxênio; e, mais localmente, vesículas e amígdalas arredondadas e/ou achatadas preenchidas por zeólitas e quartzo. Na figura 4 são apresentadas algumas das características pretrográficas do vidro vulcânico.

Francisco de Assis Negri 1; Tarcísio José Montanheiro 1; Valdecir de Assis Janasi 2; Fabiana Pereira Vogado2

1Instituto Geológico – Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São PauloAv. Miguel Stéfano, 3900. CEP 04301-903 São Paulo/SP – [email protected]

2 Instituto de Geociências, USP, Rua do Lago, 562, 05508-800, São Paulo-SP, [email protected]

VIDRO VULCÂNICO ASSOCIADO AOS DERRAMES VULCÂNICOS ÁCIDOS DA FORMAÇÃO SERRA GERAL, NA REGIÃO DE PIRAJU-OURINHOS, SE DO BRASIL

1 – próximo a UHE Ourinhos / CBA – Fig. 1 3 - Sul da cidade de Ipauçu - Fig.1

2 – Proximidades da UHE Chavantes - Fig 1

Figura 3: Ocorrências do vidro vulcânico. Agradecimentos à FAPESP pelo Projeto de Auxílio à Pesquisa (Proc.03/06259-4) e ao CNPq pela concessão de bolsa de Produtividade de VAJ e IG;/SMA – bolsa FUNDAP de FPV.

Os primeiros estudos geoquímicos em rocha total indicam que os vidros são classificados como traquidacito / dacito, similares composicionalmente aos dacitos vítreo e granular. Estudos em andamento focam o comportamento geoquímico da relação do vidro vulcânico.

Figura 4: a) destaque para fenocristais e microcristais de plagioclásio na matriz vítrea; b) fenocristal de plagioclásio com fraturas e inclusões de vidro; c) amigdala preenchida por calcedônia e provável clorofeíta na borda; d) fenocristal e microscristais de plagioclásio na matriz vítrea; e) cristal de clinopiroxênio com borda de alteração, e; f) fenocristal de plagioclásio e amígdala preenchida por clorofeíta.