veredeiros pdf artigo

Upload: vitor-mendonca

Post on 10-Oct-2015

29 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • GEONORDESTE, Ano XXIV, n.1, 2013.

    O COM-VIVER DE TEMPOS-ESPAOS:

    TERRITRIOS E REPRESENTAES ENTRE OS VEREDEIROS DO PARQUE

    NACIONAL GRANDE SERTO - VEREDAS

    THE COM-LIVE FROM TIME-SPACE: TERRITORIES AND REPRESENTATIONS

    VEREDEIROS BETWEEN NATIONAL PARK GRAND SERTO -VEREDAS

    El COM-VIVIR DE TIEMPO-ESPACIO: TERRITORIOS Y REPRESENTACIONES

    ENTRE LOS VEREDEIROS PARQUE NACIONAL GRAND SERTO -VEREDAS

    Geraldo Incio Martins

    Doutorando em Geografia UFU, Bolsista Fapemig. Rua Santa Edwirges, 115, apt 402, Bairro: Finnotti - Uberlndia/MG

    [email protected]

    Angela Fagna Gomes de Souza

    Doutoranda em Geografia UFU, Bolsista Fapemig. Membro do Grupo de Pesquisa Opar/Unimontes

    Pesquisadora do Grupo de Pesquisa Sociedade e Cultura/UFS

    Rua: A, n. 55, Bairro: Aeroporto - Aracaju/SE

    [email protected]

    RESUMO

    A fim de analisar a construo e a representao do territrio entre um grupo de camponeses da

    regio Norte de Minas Gerais, os veredeiros, que escrevemos este texto. O morador da beira da

    Vereda o veredeiro. O veredeiro tem um modo de vida peculiar, sua casa, suas reas de cultivos

    sempre esto ligados Vereda. Dela se retira alm dos alimentos cultivados, a palha do buriti, a

    seda e troncos. A escolha destes sujeitos para a nossa pesquisa se deu, sobretudo, porque a partir de

    1989, com a criao do Parque Nacional Grande Serto Veredas PARNA-GSV, seus territrios foram sobrepostos, criando limitaes expresso de suas territorialidades. Os veredeiros

    encurralados so proibidos de realizar suas atividades habituais como o cultivo da terra. Deste modo, vivem entre - territrios, de um lado, o cartesianismo dos limites impostos pelo PARNA-

    GSV assegurado e legitimado pelo Estado, de outro, a luta frequente para permanecer nos territrios

    de vida e trabalho.

    Palavras chave: Territrio, Representao, Veredeiro, Norte de Minas Gerais, Conservao da

    Natureza.

    ABSTRACT

    In order to analyze the construction and representation of the territory between a group of peasants

    from the northern region of Minas Gerais, the veredeiros, we write this text. The resident of the

    edge of the footpath is veredeiro. The veredeiro has a peculiar way of life, their home, their areas of

    cultivation are always connected to the footpath. It withdraws beyond the food grown, Buriti straw,

    silk and trunks. This choice of subject for our research was mainly because from 1989, with the

    creation of the National Park Grande Serto Footpaths PARNA-GSV, their territories were superimposed, creating limitations to the expression of their territoriality. The veredeiros trapped are prohibited from performing their usual activities such as cultivation of terra. Deste way live

  • O Com-viver de Tempos-espaos: Territrios e Representaes entre os Veredeiros do Parque Nacional Grande Serto

    Veredas 129

    GEONORDESTE, Ano XXIV, n.1, 2013.

    among - territories, on the one hand, the Cartesian limits imposed by PARNA-GSV secured and

    legitimized by the state on the other, the struggle often to remain in the territories of life and work.

    Keywords: Territory, Representation, Veredeiro, North of Minas Gerais, Nature Conservation.

    RESUMEN

    Para el anlisis de la construccin y representacin del territorio entre un grupo de campesinos de la

    regin norte de Minas Gerais, los veredeiros, escribimos este texto. El residente de la orilla de la

    acera es veredeiro. El veredeiro tiene una peculiar forma de vida, su casa, sus reas de cultivo estn

    siempre conectados a la acera. Se retira ms all de los alimentos cultivados, paja Buriti, la seda y

    los troncos. La eleccin de este tema para nuestra investigacin se debi principalmente a partir de

    1989, con la creacin del Parque Nacional Grande Serto Senderos PARNA-GSV, sus territorios se superponen, creando limitaciones a la expresin de su territorialidad. Los veredeiros atrapado tienen prohibido realizar sus actividades habituales, tales como el cultivo de terra. Deste manera

    viven entre - territorios, por una parte, los lmites impuestos por cartesianas PARNA-GSV

    garantizado y legitimado por el Estado, por otro, la lucha a menudo a permanecer en el territorio de

    la vida y el trabajo.

    Palabras clave: Planificacin, Actuacin, Veredeiro, Al norte de Minas Gerais, Conservacin de la

    Naturaleza.

    1 INTRODUO

    Assim como o mundo tem uma geografia, tambm o homem interior tem sua

    geografia e esta uma coisa material. (ARTAUD, 1983. p. 93).

    Os homens necessitam de objetos sociais, culturais e fsicos para os representarem. Toda

    ao humana ganha uma representao, uma leitura terica. O territrio tambm uma leitura

    destas relaes, uma forma de conhecer e pensar o mundo, , portanto, representado, representativo

    e representante. As representaes se fazem no cotidiano, a partir do cotidiano, no intricamento de

    escalas.

    Nas prticas humanas o processo representativo que singulariza os espaos. So elas que

    do consistncia ao territrio. A natureza do territrio est intimamente ligada aos processos que

    levam a sua construo. A fim de analisar essa construo e a representao do territrio entre um

    grupo de camponeses da regio Norte de Minas Gerais, os veredeiros, bem como as rupturas

    impostas pela conservao da natureza a partir da criao do Parque Nacional Grande Serto

    Veredas, que escrevemos este texto.

  • Geraldo Incio Martins e Angela Fagna Gomes de Souza 130

    GEONORDESTE, Ano XXIV, n.1, 2013.

    De sada, dois pontos devem ser esclarecidos, a definio do campons veredeiro e a nossa

    escolha em desenvolver este trabalho sobre os seus territrios. O morador da beira da Vereda o

    veredeiro. O veredeiro tem um modo de vida peculiar, sua casa, suas reas de cultivos sempre esto

    ligados Vereda. Dela se retira alm dos alimentos cultivados, a palha do buriti, a seda e troncos.

    O veredeiro mido ele quer o frescor das Veredas e de suas terras. O povoamento vai beirando

    onde tem gua, onde tem Vereda. Todo povoamento na beira d gua, (RIBEIRO, 2010. p. 62).

    Os veredeiros se fazem historicamente ligados aos Gerais1 e aos processos histricos de sua

    ocupao. No entanto, eles representam um modo de vida especfico porque criaram estratgias

    culturais para territorializar e sociabilizar o ambiente. Nas Veredas, terra que ao mesmo tempo

    espao de cultivo e do extrativismo, forjam a gnese de uma territorialidade que complementada

    pelo uso comum dos Gerais para a coleta de frutos, ervas, madeira, e tambm pela criao de gado.

    A escolha destes sujeitos se deu, sobretudo, porque a partir de 1989, com a criao do

    Parque Nacional Grande Serto Veredas PARNA-GSV, seus territrios foram sobrepostos,

    criando limitaes expresso de suas territorialidades. Um fator a se somar a nossa escolha tem a

    ver com a remoo destes camponeses para um Projeto de Assentamento de reforma agrria, o

    PA So Francisco a partir de 2002.

    Temos assim, de um lado, um grupo de camponeses que historicamente forjaram seus

    territrios no intricamento da e/com a natureza, construindo as representaes de um homem e de

    um modo de vida. De outro, a criao do PARNA-GSV, sofrendo rupturas do objeto de

    representao, de seu territrio-veredeiro e de suas representaes. E, como diria Joo Guimares

    Rosa, com isso tempos foram, os costumes demudaram. Quase que, de legtimo leal, pouco sobra,

    nem no sobra mais nada (...). E at o gado no grameal vai minguando menos bravo, mais

    educado, (ROSA, 1994. p. 29.). A expresso do territrio veredeiro colocada em um segundo

    plano.

    O preservacionismo engendrado por intermdio da Unidade de Conservao centraliza o

    controle do territrio e rompe com a legitimidade histrica dos veredeiros. E com isso, ignora todo

    o processo histrico de relao com a natureza dos Gerais na formao dos territrios. Os

    veredeiros encurralados so proibidos de realizar suas atividades habituais como o cultivo da

    terra. Outras, como a queima dos Gerais para a solta do gado, criminalizada.

    1Os Gerais para muitos sinnimo de Cerrados. Dentre as suas caractersticas destacam as terras de Chapadas, onde se

    cria o gado a solta, territrio de uso coletivo para os veredeiros. Alm delas, as veredas, onde vivem (viviam) os

    veredeiros, os tabuleiros e os resfriados. (Resfriado um termo tpico para caracterizar os solos que envolvem a Vereda. Segundo informaes de um dos entrevistados recebe este nome porque a parte mais fria dos Gerais)

    compem o ambiente Gerais.

  • O Com-viver de Tempos-espaos: Territrios e Representaes entre os Veredeiros do Parque Nacional Grande Serto

    Veredas 131

    GEONORDESTE, Ano XXIV, n.1, 2013.

    Tais sujeitos encontram-se entre-territrios. De um lado, o cartesianismo dos limites

    impostos pelo PARNA-GSV, assegurado e legitimado pelo Estado; de outro, a luta frequente para

    permanecer nos territrios de vida e trabalho. As rupturas advindas deste processo, as formaes de

    novas representaes sobre os homens e seus territrios carecem de anlises mais sistemticas. Esta

    a proposta dos itens que se seguem.

    2 ENTRE TERRITRIOS

    Numa leitura dos escritos de Haesbaert (2004) fica claro que o territrio um conceito

    ambguo e polissmico. Isso quer dizer que necessrio o rigor metodolgico ao fazer a anlise.

    Neste item pretendemos abrir a discusso a respeito do conceito de territrio. No pretendemos,

    porm, fazer uma formulao terica ampla. O intuito pensar um conceito que responda e consiga

    explicar os atributos simblicos e funcionais requisitados pelos veredeiros na configurao de seu

    territrio.

    Isto necessrio, sobretudo, porque quando comeamos a pesquisa nos deparamos com dois

    problemas. De um lado, nas disciplinas e textos lidos sempre vamos uma anlise do territrio, suas

    correlaes e implicaes2. Formulaes tericas que ora faziam um regaste histrico do conceito

    na Geografia Poltica e outras que faziam reflexes sobre o territrio do cotidiano, sobretudo, os

    territrios de conflito. Ora, de outro lado, teoricamente, o conceito estava formulado, mas nas

    imerses em campo, no conseguamos perceber de fato como o territrio se constitua

    concretamente.

    Aliado a questo terica, a diversidade histrica e geogrfica uma questo singular para a

    anlise que pretendemos esboar. Primeiro, a pesquisa situa na regio onde os pastos carecem de

    fechos, o serto norte mineiro, como descrito por Rosa (1994). Com efeito, aquele sentido de

    territrio ligado estabilidade, s fronteiras no tem operacionalidade. Isso, se situarmos a escala de

    anlise em populaes rurais como as veredeiras, onde at a propriedade privada da terra s

    comeou a efetivar depois da segunda metade do sculo XX. Ou, como sublinha Lins (1983), nestes

    sertes o Estado uma abstrao.

    2 Estas questes foram percebidas durante a realizao da nossa pesquisa de mestrado.

  • Geraldo Incio Martins e Angela Fagna Gomes de Souza 132

    GEONORDESTE, Ano XXIV, n.1, 2013.

    A segunda questo nos veio a partir da leitura dos escritos de Haesbaert (2004). Ela est

    ligada diretamente com a primeira proposio. O territrio tem uma dupla existncia. Uma que

    ontolgica como uma realidade efetivamente existente. E outra epistemolgica, ou seja, existe

    como recurso conceitual formulado e utilizado pelo pesquisador (HAESBAERT, 2004, p. 42). A

    questo a se pensar que esta existncia material no pode se distanciar da conceitual. Na verdade,

    a existncia conceitual s ganha operacionalidade se comprometida diretamente em compreender

    como o ser humano interage e modifica o material. Digamos, pois, que o territrio nasce, portanto,

    desta relao.

    De sada, necessrio dizer que as prticas humanas no recortam a realidade de modo a

    assegurar apenas a leitura do econmico, cultural e poltico. Diramos mais, as relaes humanas na

    apropriao do espao o intrincamento de todos os elementos que compem a vida cotidiana,

    (HAESBAERT, 2009). Com efeito, o territrio formado pela sociedade, que transforma

    (humaniza) a natureza, controlando certas reas poltica e economicamente; processualidade

    histrica e relacional, (SAQUET, 2007, p. 51). Sendo assim, o territrio significa natureza e

    sociedade; economia, poltica e cultura, (SAQUET, 2007, p. 24).

    Concordamos com Saquet (2007), o territrio e a sua produo, envolve dialeticamente a

    cultura e a natureza, a poltica e a cultura. Estes elementos so indissociveis das prticas humanas,

    e se o homem um animal territorializador, elas so indissociveis das praticas territoriais, porm

    variam de acordo com os grupos sociais. O desafio pensar como isso se faz em cada grupo social,

    e no nosso caso em especfico, os veredeiros, para que possamos entender os seus territrios.

    Haesbaert (1997, p. 128) destaca que podemos tambm definir territrio, pelo menos em

    seu sentido mais tradicional, pelo isolamento e a sensao de exclusividade que ele manifesta o que

    muito ntido nos grandes sertes. Mas esta relao complexa e, s vezes, contraditria. E,

    como afirma Haesbaert (1997), ao pensar as dinmicas dos Gerais, sem fechos, sem cercas ou

    fronteiras (um controle socialmente produzido, como na definio de territrio de Sack (1986),

    onde ficaria o territrio? (HAESBAERT, 1997, p. 128). Essa forma de apropriao do espao

    forjada de acordo com o prprio movimento da sociedade que ali habita.

    Conforme aponta Costa (2006), o Norte de Minas uma regio de sntese. Isso porque ela

    est situada no encontro de duas formaes vegetais, cerrados e caatinga. Fator que exige uma

    dinmica de apropriao diferenciada. uma regio de sntese porque no seio das grandes fazendas

    se encontraram lado a lado, a criao de gado e o cultivo da terra, fazendeiros e camponeses. E,

    mais ainda, nas terras destes Gerais ocorreu o encontro de ndios, ex-escravos, o vaqueiro e

  • O Com-viver de Tempos-espaos: Territrios e Representaes entre os Veredeiros do Parque Nacional Grande Serto

    Veredas 133

    GEONORDESTE, Ano XXIV, n.1, 2013.

    colonizadores. no encontro destas culturas, de formas diferentes de pensar e sentir o espao, que

    se concretiza o territrio Norte mineiro. Formaram, portanto, o sertanejo, e as suas matizes mais

    sutis, como os veredeiros (COSTA, 2006).

    Com efeito, um territrio que contm outros mltiplos territrios, recortado por mltiplas

    territorialidades. Embora, tenha a mesma matriz de formao, medida que os homens foram

    habitando estes espaos, eles forjaram formas diferentes de se habitar a natureza e de se produzir a

    partir dela. Isso quer dizer que territrios com mltiplas caractersticas foram sendo forjados e

    vivenciados. E deste caldo cultural que uma gama variada de etnicidades ecolgicas surgem

    (COSTA, 2006). Esta formulao nos ajuda a entender o sujeito que habita o territrio Norte

    mineiro. Contudo, a escala de anlise ainda ampla, uma vez que em cada rinco das cercanias dos

    Gerais, cria-se uma forma diferenciada de se apropriar da natureza. Temos com isso, um territrio

    do ponto de vista regional com a mesma formao histrica, porm heterogneo devido s prprias

    singularidades da natureza em que ele foi constitudo e das relaes sociais nele presentes.

    3 O VEREDEIRO, SEUS TEMPOS-ESPAOS

    Com os apontamentos feitos anteriormente, ficou aclarado que o veredeiro possui, ao

    mesmo tempo, caractersticas comuns ao sertanejo Norte mineiro e se diferencia dele pelas regras e

    modelos de apropriao da natureza. Neste item, demonstraremos as suas singularidades, as formas

    de apropriao do ambiente Vereda. Quer dizer, seu territrio tem formao peculiar, envolve ao

    mesmo tempo, numa intricada relao com outros sujeitos, sobretudo, os donos de fazenda dos

    quais eram posseiros, de onde uma gama de poderes simblicos se concretiza. Alm, claro, da

    relao direta com a natureza dos gerais e das veredas - e com o tempo-espao. E, como define

    Haesbaert (1997, p. 129), mesmo que a ocupao rarefeita e sem delimitaes claras, eram terras

    que j se constituam em territrios.

    O territrio veredeiro um conjunto complexo de relaes historicamente configuradas pelo

    uso da natureza e pelas relaes polticas, culturais e econmicas estabelecidas nos entremeios e nas

    bordas do latifndio. A caracterstica principal a conjugao de espaos que se complementam

    econmica e socialmente, cada qual com suas temporalidades. Neste caso, o prprio tempo social

    tributrio do tempo da natureza na qual o veredeiro est envolvido.

  • Geraldo Incio Martins e Angela Fagna Gomes de Souza 134

    GEONORDESTE, Ano XXIV, n.1, 2013.

    Como o territrio veredeiro um conjunto complexo com caractersticas ambientais e

    sociais diferentes, diferente tambm a intensidade e a qualidade do uso que se faz destes

    territrios. A figura 1 a seguir retrata o que denominamos de complexo-Gerais ou complexo de

    territrios veredeiros.

    Figura 1: Perfil (esquemtico) transversal do complexo Gerais - Norte-Sul

    3.

    Fonte: Pesquisa de campo- Chapada Gacha, 2009. Org. MACHADO, Henrique Amorim, 2011.

    A figura 1 mostra, com uma reduo de escala e, por isso, de detalhes, os Gerais, ou melhor,

    o complexo de elementos paisagsticos dos Gerais. Complexo pela diversidade de ambientes e

    formas que nele esto contidas. Complexo porque tem os usos humanos diversificados com formas

    de apropriao e de territorializao forjadas pelos veredeiros tendo como base esta conjuno de

    elementos.

    Neste sentido, vemos a organicidade do territrio veredeiro devido a efetiva integrao do

    homem e suas nuances como as identidades e representaes - natureza, suas lgicas e

    temporalidades. Neste caso, preciso dizer que os seres humanos fazem a sua vida, a sua histria e

    a histria geral. Mas no fazem a histria em condies por eles escolhidas, determinadas por sua

    vontade, (LEFEBVRE, 1974, p. 71) por isso, preciso constru-la.

    O veredeiro sempre pertenceu s Veredas, ele s existe em relao a ela. Neste caso, a

    Vereda demarca a biografia dos homens que as habitam, por isso, tornaram-se territrio, o abrigo

    afetivo e a casa de morada do homem tambm o espao de sua reproduo material. [A] cultura,

    a tradio e a histria mediam (...) o modo como as pessoas e os lugares esto ligados, o modo

    3 A figura foi elaborada tendo como base o territrio que hoje pertence ao PARNA GSV.

  • O Com-viver de Tempos-espaos: Territrios e Representaes entre os Veredeiros do Parque Nacional Grande Serto

    Veredas 135

    GEONORDESTE, Ano XXIV, n.1, 2013.

    como s pessoas usam a territorialidade e o modo como elas valorizam a terra (SACK, 1986, p.

    219).

    Estar no territrio, ter um territrio traz a sensao de segurana, de abrigo. O territrio,

    porm, s possvel depois da apropriao sistemtica das tramas do tempo-espao. A partir disso,

    uma tessitura fina construda a fim de permitir que esse territrio seja uma condio do existir

    humano. No h homem sem territrios. O contrrio tambm no pode ser dito. No h veredeiros

    sem as Veredas, as Veredas, como ambientes naturais existem, mas como elemento simblico, sem

    aquele que cria as significaes, elas so apenas Veredas.

    Pensar o espao, represent-lo socialmente, territorializ-lo, forjar territrios. Neste

    processo, as relaes de poder ganham forma, as identidades se configuram, o territrio ganha

    concretude social enquanto produo humanamente estabelecida. O territrio como uma sntese da

    apropriao histrica do espao geogrfico requer, portanto, uma leitura da relao espao-tempo,

    da sobreposio de tempos. O tempo e o espao como amlgamas de relaes dialticas, como

    processos em devir, so componentes essenciais para que se possa compreender o territrio,

    ontolgico epistemologicamente.

    O indivduo, mais do que aprender o territrio, assimila-o e cria-o mediante prticas e

    crenas de natureza social (RONCAYOLO, 1986, p. 270). Aspectos psicolgicos e culturais se

    juntam, so construdos ou transmitidos para que numa combinao justaposta, o territrio combine

    apropriao, poder e representao.

    Embora o complexo Gerais seja fundamental na reproduo do campons, na maioria das

    terras, sobretudo nas chapadas, a produo agrcola inviabilizada, a no ser com o intenso

    processo tcnico cientfico de interveno no solo como na expanso da agricultura mecanizada a

    partir da dcada de 1970. Assim, as Veredas so os territrios de produo da vida humana, devido

    s atividades produtivas que so efetivadas em suas terras.

    Desta forma, seres e ambientes naturais integram a vida cultural na conformao de

    territrios. necessrio que os nomes dos lugares representem os homens que os habitam e que os

    homens consigam nestes lugares da natureza refletir suas identidades, desenhadas e contornadas por

    uma geografia que integra natureza e cultura, sem opor, termos e relaes. Tais territrios

    revelam uma trama singular que conjugara e sobrepe tempos e espaos mltiplos. Isso acontece

    porque as pessoas no habitam somente as Veredas ou os Gerais funcionalmente por meio de

    territrios forjados historicamente, elas so tambm territrios simblicos e funcionais. Roux (2004,

    p. 46) escreve que compreende-se desde ento que habitar o territrio uma arte stil, uma religio

  • Geraldo Incio Martins e Angela Fagna Gomes de Souza 136

    GEONORDESTE, Ano XXIV, n.1, 2013.

    no sentido primeiro do que religa, que pede para dar sentidos aos gestos mais profanos. Neste

    sentido, os Gerais e as Veredas se tornam prximos aos veredeiros. Na verdade, os geralistas e

    veredeiros aparecem como derivados, para qualificar um espao de dentro do serto, (SANTOS,

    2008, p. 80).

    As Veredas e os seus recursos so a fonte primeira da territorializao. No meio de tantas

    terras em que no se consegue produzir, a no ser com intenso processo tcnico cientfico de

    interveno no solo, as Veredas so os territrios de produo da vida humana, devido s atividades

    produtivas que so efetivadas em suas terras. E os homens que as habitam como so, antes de tudo,

    camponeses, tem conhecimento das Veredas como terra de trabalho, seu ciclo produtivo uma

    cosmoviso de tempo e espao. E como sugere Moura (1986, p. 9), o conhecimento campons

    profundo e j existia antes daquilo que convencionamos chamar de cincia.

    Dois pontos devem ser esclarecidos, a disperso espacial dos veredeiros no territrio e a

    forma de organizao espacial. Jacinto (1998), em sua pesquisa de mestrado com estes veredeiros

    quando ainda viviam na rea pertencente Unidade de Conservao, afirma que as famlias se

    encontram espalhadas pelo territrio.

    Aqui encontramos pequenos agricultores, residindo prximos aos cursos da gua, utilizando-se dos cerrados e suas vrias formaes como reas comunais, onde se cria gado a solto, coletam-se frutos e plantas medicinais e, antes da criao do

    Parque Nacional, costumava se caar [...]. Aparentemente, no h comunidades, ou povoados. Existe, porm, uma

    organizao e um padro de ocupao espacial, que trazem muitas semelhanas

    com os bairros rurais. Ou seja, existe uma unidade de agrupamento que constitui grupos rurais de vizinhana, ligados pelo sentimento de localidade, por laos de

    parentesco, pelo trabalho da terra, por trocas e reciprocidades. (JACINTO, 1998, p.

    43- 44).

    As populaes veredeiras constroem seus territrios na interao do espao social com o

    espao fsico. Por isso, rios e Veredas tornam-se referncias, casa de moradas e espaos ideais para

    a territorializao humana. Deste modo, o nome do rio tambm de um conjunto mais prximo

    (distncias relativas!) de casas e unidades domsticas, e tambm, algumas vezes, o nome de uma

    fazenda (JACINTO, 1998, p. 44). Com isso, torna-se difcil afirmar que h uma comunidade

    veredeira, homognea e inserida em um territrio determinado. O que de fato existiu, foram

    pequenos ncleos familiares territorializados onde h Veredas e terras de cultivos. O territrio

    vasto, isto talvez nos indique de onde surge a expresso para determinar o meio ambiente

    circundante: os Gerais com suas Veredas. Gerais porque vasto, geral.

  • O Com-viver de Tempos-espaos: Territrios e Representaes entre os Veredeiros do Parque Nacional Grande Serto

    Veredas 137

    GEONORDESTE, Ano XXIV, n.1, 2013.

    Com efeito, o elemento gua o elemento propiciador territorializao, sobretudo, devido

    a sua escassez, cada famlia buscava nas terras pertencentes a uma fazenda a fonte de gua para

    estabelecer suas moradias. E ali estabelecia sua residncia. E como o fazendeiro sempre escolhia as

    melhores fontes de gua para o gado e, alm disso, sempre havia a possibilidade da invaso dos

    cultivos pelo gado, tais moradores de favor buscavam por terras mais distantes da sede da fazenda

    que, em geral, eram mais prximas ao rio So Francisco. Constitua assim a territorializao dos

    Gerais (PIERSON, 1972a).

    O fazendeiro se torna o padrinho dos filhos dos moradores de sua fazenda. Em troca estes

    moradores tm a proteo do fazendeiro e a terra de trabalho, mas em caso de uma disputa poltica

    com outro fazendeiro, todos os seus protegidos entram no conflito. Os donos de terra se tornam

    assim, por dizer, donos de homens por meio de um poder simblico e econmico. Criam-se, assim,

    uma solidariedade, cuja caracterstica principal a sujeio do outro, o morador de favor, ao

    poder econmico e poltico do fazendeiro.

    O posseiro ou agregado no tinha a inteno de adquirir o ttulo das terras ocupadas. O

    que de fato pretendiam era apenas promover uma pequena rea de cultivo. At mesmo porque este

    sentido de propriedade s foi efetivado em algumas regies do Norte de Minas a partir das polticas

    modernizantes da dcada de 1970. Uma famlia pode se instalar na zona onde ningum mora ou

    mesmo comprar de um posseiro anterior o seu grosseiro abrigo e o direito a rea vizinha

    (PIERSON, 1972b, p. 354). Isso acontecia, sobretudo, em terras mais distantes da sede da fazenda e

    em terras de pequeno valor, porm, necessrio dizer que o valor neste caso no era monetrio, era

    valor de uso, ou seja, pastagens naturais e fontes de gua, elementos essenciais para a grande

    fazenda criadora de gado. A este respeito, Donald Pierson (1972b), complementa sua anlise:

    Mesmo que o proprietrio lhe conhea a presena e no veja com bons olhos, no

    provvel que a expulse ou mesmo construa cercas para dificultar-lhe o uso da terra.

    Raramente se d tanto trabalho e despesas, especialmente em terra que provavelmente no usa e nem pensa em usar (PIERSON, 1972b, p. 354).

    Alm disso, havia amplas propores de terras que no eram apropriadas, sobretudo no

    intervalo entre uma fazenda e outra. As terras reivindicadas pelos fazendeiros e seus descendentes

    estavam em rea de influncia dos rios de maior porte e suas reas de inundao. Com isso, tm-se

    amplas cercanias do territrio adentro que no so legalmente apropriadas e que so comumente

    consideradas e usadas em grande parte como propriedades comunais (PIERSON, 1972b, p. 355).

    Assim, Gerais [...] embora mais para o interior, onde a terra na maior parte no tem dono,

    sejam comuns os posseiros (PIERSON, 1972b, p. 357). O semi-despovoamento ou o

  • Geraldo Incio Martins e Angela Fagna Gomes de Souza 138

    GEONORDESTE, Ano XXIV, n.1, 2013.

    povoamento esparso dos Gerais por estes veredeiros, segundo Bertran (1999, p. 48), lembra o

    ndio. Cada ramo de ribeiro o galho sertanejo lembra um embrio de nao, de reino, de

    famlias aparentadas em torno do [...] manancial dgua. A estratgia de locao espacial muito

    parecida.

    As Veredas tambm foram apropriadas cognitivamente e se transformam em territrios de

    vivncias. nas Veredas que a vida se organiza. nelas e/a partir delas que todo um territrio

    apropriado. Podemos mesmo entender neste contexto que o territrio uma terra-territrio, um cho

    de morada. Uma convergncia entre elementos dos Cerrados, Veredas, capes e chapadas com a

    vida sertaneja. Uma confluncia entre o cultivo da terra, extrativismo e a criao de animais. O

    territrio do campons veredeiro absorve as caractersticas do meio que imprimem caractersticas

    ao modo de vida.

    4 REPRESENTAES, VEREDEIROS E CONSERVAO DA NATUREZA

    Vimos que o territrio veredeiro , portanto, produto e meio da ao humana temporal e

    espacialmente. E guarda em suas tessituras as memrias deste agir. Isso define os lugares e as

    relaes do presente. Este territrio , portanto, parte desta memria em processo, ultrapassando-a

    em formas, representaes e conflitos.

    , nesse sentido, que ao se apropriar de um espao, concreta ou abstratamente (por

    exemplo, pela representao), o ator territorializa o espao (RAFFESTIN, 1993, p. 143).

    Representao e apropriao esto intimamente ligadas. As representaes oferecem as bases

    concretas para tal apropriao. No h deste ponto de vista, representao estvel ou concretizada,

    mas um intenso processo de construo de representaes. medida que lgicas do tempo-espao

    mudam, mudam tambm e concomitante, as formas de apropriao, as representaes, os territrios

    e as territorialidades.

    As representaes no so, como nos conduz os escrito de Moscovici (1978), uma opinio

    sobre. Muito pelo contrrio, so teorias, cincias coletivas sui generis, destinadas a interpretao

    e elaborao do real (MOSCOVICI, 1978, p. 50). O processo representativo entendido como tal,

    quem d concretude as coisas, sendo o comportamento impregnado de significaes. Elas

  • O Com-viver de Tempos-espaos: Territrios e Representaes entre os Veredeiros do Parque Nacional Grande Serto

    Veredas 139

    GEONORDESTE, Ano XXIV, n.1, 2013.

    enriquecem o que realidade para cada um de ns e determinam os dilogos possveis, valores e

    sentimentos partilhados por um grupo no mesmo espao-tempo.

    Quando representamos um objeto, no estamos a fazer uma cpia do real, ao contrrio, o

    real que feito a partir de nossas representaes. O objeto , simultaneamente, conhecido e

    smbolo do conhecedor. O que as representaes coletivas traduzem a maneira pela qual o grupo

    se enxerga a si mesmo nas relaes com os objetos que o afetam (DURKHEIM, 1987, p. 26).

    Representar ter uma percepo do objeto e tambm conceituar este objeto. neste

    processo que se forma a dialtica da representao, a dialtica do objeto de representao. Primeiro,

    a representao exprime, (...), uma relao com o objeto e que preenche um papel na gnese dessa

    relao. Um de seus aspectos, o perceptivo, implica a presena do objeto; o outro, o esprito

    conceitual, a sua ausncia (MOSCOVICI, 1978, p. 57). Mas, se a representao construda

    atravs de conceitos e percepes, a percepo necessita do objeto, e sem ele torna-se impossvel a

    sua existncia.

    Para Lefebvre (1980, p. 53), o homem s representa-se no no-humano, no sub-humano (o

    animal) e o sobre-humano (o possvel). Moscovici (1978, p. 63) sublinha que toda a

    representao uma representao de alguma coisa. Representar algo, um objeto como querem os

    autores citados ou no nosso caso, um territrio, conferir ao representado um carter significante.

    De um modo bem particular, isso quer dizer que interiorizamos e fazemos das coisas representadas

    nossa propriedade.4

    O processo representativo social, poltico e psquico. preciso situar as representaes

    como sugere Lefebvre (1980), em sua dialtica. tambm no processo dialtico que se estabelece

    entre o vivido, concebido e o imaginado. Jovchelovitch (2002, p.79), aponta que os processos que

    engendram representaes sociais esto embebidos na comunicao e nas prticas sociais: dilogo,

    discurso, rituais, padres de trabalho e produo, arte, em suma, cultura. So nas nossas

    impresses do mundo, a representao sobre ns, sobre a famlia, o trabalho e os afetos que

    projetamos o territrio. Em suas tramas, em tessituras muitas finas, as representaes so nossas

    imagens construdas sobre o mundo em todas as suas dimenses. Na medida em que as

    representaes tm como fonte a prpria vida, o territrio se torna esta mediao das

    representaes.

    Quando pensamos no processo representativo, sobretudo, quando colocamos em anlise, os

    processos de expropriao destas gentes das veredas engendradas pela criao do Parque 4 verdadeiramente um modo particular, porque culmina em que todas as coisas so representaes de alguma coisa (MOSCOVICI, 1978, p. 64).

  • Geraldo Incio Martins e Angela Fagna Gomes de Souza 140

    GEONORDESTE, Ano XXIV, n.1, 2013.

    Nacional Grande Serto Veredas, algumas questes so importantes. A primeira delas, o prprio

    ambientalismo, como discurso prtica, uma representao, de territrio e de natureza. Isto pode

    ser evidenciado nos embates vividos pelos veredeiros aps a criao da Unidade de Conservao -

    UC.

    As polticas ambientais no Brasil tm como pano de fundo a conservao da natureza stricto

    sensu. Isso quer dizer que antes de qualquer coisa, os seres humanos so degradadores por natureza.

    Com isso, para efetivar a conservao no permitida a presena humana nos territrios. desta

    linha de pensamento que surgem os Parques Nacionais, modelo importado dos Estados Unidos

    quase sem nenhuma anlise crtica.

    Temos, assim, uma mudana na representao de natureza e uma mudana na concepo de

    homem. Com isso, a natureza passa a ser personificada como coisa. A partir das ideias iluministas

    postulado que existe uma diferena fundamental entre o homem e a natureza. A natureza o reino

    da necessidade causal, do determinismo. A humanidade ou cultura o reino da finalidade livre, das

    escolhas voluntrias e racionais, (CHAUI, 2006, p. 105). Neste momento, a cultura torna-se

    sinnimo de histria e a natureza uma mera repetio de acasos; a cultura sinnimo do agir

    racional sobre esta natureza minimizada em relao ao humano.

    Nesse sentido, com referncia as UCs e o sentido restrito de natureza representado por elas,

    Diegues (2001) afirma que o modelo de conservacionismo Norte-americano espalhou-se

    rapidamente pelo mundo recriando a dicotomia entre povos e parques. Sobretudo, para os pases

    de Terceiro Mundo, o efeito disso foi devastador sobre as populaes tradicionais de

    extrativistas, pescadores, ndios porque perderam as condies essenciais de suas existncias, os

    territrios de representao (DIEGUES, 2001, p. 35). Alm disso, no se considerou nesta

    importao de modelos as condies histricas, sociais e culturais da populao, e tambm se

    negligenciou algumas condies geogrficas como a densidade do povoamento e os efeitos

    climticos, mas, sobretudo as condies econmicas e sociais.

    Aliado a estas condies, Diegues (2001, p. 37) situa outros pontos, como, por exemplo, os

    conflitos fundirios, noo inadequada de fiscalizao e corporativismo dos administradores;

    expanso urbana; profunda crise econmica e a dvida externa de muitos pases subdesenvolvidos

    esto na base do que se define como a crise da conservao.

    Portanto, as populaes atingidas tm as condies de reproduo debilitadas e esto

    margem do processo de ampliao das Unidades de Conservao. De fato, o importante, a

    conservao da natureza pela natureza. O PARNA-GSV foi pensado e institudo desta forma, como

  • O Com-viver de Tempos-espaos: Territrios e Representaes entre os Veredeiros do Parque Nacional Grande Serto

    Veredas 141

    GEONORDESTE, Ano XXIV, n.1, 2013.

    representao de uma natureza esttica e bucolizada, sem a presena do homem, por isso, o

    primeiro efeito sobre os veredeiros foi a restrio de bens que do acesso a elementos culturais,

    sociais e econmicos, ou seja, a natureza e os processos funcionais/simblicos de sua apropriao.

    A criao do PARNA-GSV ocorreu em um perodo de transio poltica, da ditadura militar

    para o governo democrtico. Ele se insere no debate dos processos de degradao ambiental que

    crescia com a expanso da agricultura capitalista. E tambm, no debate internacional sobre a

    questo ambiental. Com isso, a Fundao Pr - Natureza FUNATURA comea a fazer estudos

    tcnicos cientficos para implantar uma Unidade de Conservao nesta regio em 1986. Finalmente

    em 12 de abril de 1989, por meio do Decreto Federal n. 9.7658, o Parque Nacional Grande Serto

    Veredas foi criado com uma rea de 83.368 hectares que abrange os municpios de Arinos, Formoso

    e Januria, no Estado de Minas Gerais.

    Conforme o Plano de Manejo do PARNA-GSV, esta Unidade de Conservao tem como

    objetivo:

    I. Conservar a paisagem dos Gerais, cenrio da obra de Guimares Rosa,

    com destaque para as exuberantes veredas;

    II. Preservar amostras representativas do Bioma Cerrado sobre solos arenosos

    da regio do Espigo Mestre do rio So Francisco, tais como matas, veredas, carrascos, cerrados e ectonos associados;

    (...)

    XVII. Estimular o resgate dos aspectos histricos e culturais da regio,

    estimulando sua preservao pelas comunidades locais;

    VIII. Estimular o desenvolvimento regional integrado com base em prticas de

    conservao, especialmente proteo de bacias, controle de eroso e reabilitao ecolgica, de educao ambiental e desenvolvimento turstico;

    (FUNATURA, 2003, p. 169).

    Devemos observar dentre os objetivos do PARNA-GSV que no h nenhma referncia ao

    humano, apenas aspectos amplos como o desenvolvimento regional, a educao ambiental e o

    turismo. Quando da leitura dos documentos histricos que retratam a criao desta Unidade de

    Conservao, por muitas vezes, tivemos a impresso de que ela estava se concretizando sobre um

    vazio, onde s havia elementos naturais sem a presena humana. No tempo e no espao, as

    perspecitvas se repetem. Os homens veredeiros ficam mais uma vez invisveis na tica dos

    sujeitos que realizam as intervenes sobre o territrio dos gerais. Descosideram suas

    territorialidades, impe lgicas que desestruturam o modo de vida e as representaes de territrio.

    No caso do ambientalismo, a preocupao com a natureza strctu sensu, com valores inatos para

    serem preservados. Neste caso, o homem desnecessrio porque no faz parte da natureza

    idealizada.

  • Geraldo Incio Martins e Angela Fagna Gomes de Souza 142

    GEONORDESTE, Ano XXIV, n.1, 2013.

    Se soubssemos, tnhamos derrubado todo aquele mato, queria ver ter parque5. Esta

    passagem revela o sentido de injustia e de punio por ter assegurado a diversidade biolgica.

    Apesar dos elementos naturais terem uma importncia na reproduo da vida, o PARNA-GSV torna

    a relao homem/natureza marginal e contraditria. E faz isso pelo processo de criminalizao das

    prticas dos sujeitos, como por exemplo, a queima dos Gerais para a solta do gado. Essa

    marginalidade se explica, tambm, em parte, pelos processos de desapropriao que comeam a ser

    engendrados, pois no podia mais mudar a roa, tinha que plantar no solo fraco, dando ou no6.

    O prprio Gerais que oferecia o sentimento de liberdade, de largueza, se torna um

    territrio da clausura, com fronteiras mais rgidas, politicamente demarcada e cuja principal

    caracterstica o controle do Estado de tal territrio (HAESBAERT, 1997, p. 263). Isso tem um

    duplo efeito. Primeiro, h uma sobreposio territorial que questiona a legitimidade do territrio

    veredeiro, reivindicando a posse da terra e as tcnicas de apropriao da natureza. Segundo, se antes

    eram as Veredas o elemento gerador da territorialidade, o territrio de representao de um modo de

    vida, o parque personificado, tem a sua prpria temporalidade. A rigor, podemos afirmar que o

    tempo das fazendas, originalmente substitudo arbitrariamente pelo tempo do parque.

    Os desencaixes territoriais que estavam acontecendo pela expanso da agricultura

    moderna na regio Norte de Minas como um todo, sobretudo com privatizao das terras comunais

    pelo avano da propriedade capitalista, na rea do PARNA-GSV, so atomizados com as restries

    ambientais. Neste caso, as perdas materiais se agravaram devido criminalizao da utilizao dos

    recursos naturais. O fato de serem estes territrios ocupados historicamente e, a rigor, o fato de a

    natureza e seus componentes serem parte integrante do modo de vida veredeiro, a sua metamorfose

    o principal elemento de ruptura nos sistemas representativos. No podia mais plantar, nem gado

    mais podia criar, as roas no davam mais porque no podia derrubar novas reas de cultivo 7.

    Isso ocorre pelo modelo de Unidade de Conservao que escolhido para sobrepor os

    territrios veredeiros, a proteo integral. Segundo o Sistema Nacional de Unidades de

    Conservao da Natureza - SNUC no seu artigo sete, no pargrafo primeiro o objetivo das

    Unidades de Proteo Integral preservar a natureza, sendo admitindo o uso apenas indireto dos

    seus recursos naturais, com exceo dos casos previstos nesta Lei (BRASIL, SNUC, 2000, s/p).

    A resposta dos idealizadores da Unidade de Conservao, a FUNATURA, revela que os

    aspectos humanos e culturais no eram a preocupao central. Afinal, a existncia de outras

    5 Depoimento do stimo veredeiro entrevistado PA So Francisco, Formoso, 2010.

    6 Depoimento do sexto veredeiro entrevistado PA So Francisco, Formoso, 2010. 7 Depoimento do stimo veredeiro entrevistado PA So Francisco, Formoso, 2010.

  • O Com-viver de Tempos-espaos: Territrios e Representaes entre os Veredeiros do Parque Nacional Grande Serto

    Veredas 143

    GEONORDESTE, Ano XXIV, n.1, 2013.

    Unidades de Conservao que contemplariam necessidades humanas 8 e nenhuma que tem como

    objetivo principal proteger os Gerais. Como disse o responsvel pela FUNATURA naquele

    momento se formos sempre considerar que, para se criar uma unidade de conservao de uso

    indireto (como parques nacionais, reservas biolgicas e estaes ecolgicas) no deva existir

    pessoas em seu interior, onde que se encontraria tal rea? 9

    H outras formas de se pensar, principalmente, a excluso dos veredeiros para a implantao

    do PARNA-GSV. Em momento algum houve o envolvimento da populao, nem mesmo foram

    informados do que estava acontecendo. Nas falas dos veredeiros ficam claras as estratgias

    utilizadas: eles foram fazendo umas coisas, como se fosse para ficar ajudando o povo, ajudar l

    onde que agente morava. Podemos apreender com isso que para obter informaes sobre o

    conhecimento local, formas histricas de dominao foram utilizadas. Neste caso, elas foram

    retomadas com outros contedos, traziam bolo, material escolar, utilizando a velha poltica do

    favor para novos fins. As prprias condies econmicas em que viviam as populaes veredeiras

    favoreceram este processo. Os favores oferecidos foram essenciais para suprir os mnimos vitais.

    Este modelo de poltica de dominao social provm da prpria estrutura social na qual os

    veredeiros estavam inseridos. Historicamente, esta dominao foi exercida pelo fazendeiro, chefe

    poltico e econmico, ou seja, o coronel. A partir do momento que os ambientalistas recorreram as

    estas prticas, comearam uma nova leitura, mas acabaram por impor um novo modelo de

    dominao, agora no mais o da fazenda, mas o do ambientalista. Com referncia a forma territorial

    deste processo, podemos dizer que a fazenda substituda pelo parque. E, do mesmo modo que o

    fazendeiro expulsava o posseiro e/ou agregado quando no precisava mais de seus servios, o

    ambientalismo o fez com os veredeiros. Com isso, a partir da materializao da Unidade de

    Conservao foram forjadas novas relaes de poder. Quem passou a controlar este poder so os

    homens e as mulheres que representam o ambientalismo.

    O discurso ambiental multifacetado, est preocupado com os direitos da natureza mais

    do que com os direitos do homem em ter um lar, um territrio. Propor uma Unidade de

    Conservao propor outro territrio, diferente daquele antes existente. E, para que isso se

    8 Depoimentos dos membros da FUNATURA concedido Andra Borghi Moreira Jacinto, durante a realizao de sua

    pesquisa de mestrado (JACINTO, 1998, p. 30). 9 Depoimentos dos membros da FUNATURA concedido Andra Borghi Moreira Jacinto, durante a realizao de sua

    pesquisa de mestrado (JACINTO, 1998, p. 30).

  • Geraldo Incio Martins e Angela Fagna Gomes de Souza 144

    GEONORDESTE, Ano XXIV, n.1, 2013.

    concretize, preciso considerar as prticas sociais historicamente estabelecidas, contraditrias em si

    mesmas pelo processo de criminalizao e do controle10.

    Aqui mais uma vez, estamos em uma linha de raciocnio que apoiada por Lefebvre (1980, p.

    54), segundo a qual, toda representao implica um valor (os valores da natureza- conservada e

    vivida), seja os valores que o sujeito imagina o objeto ausente; (...). Para que algum objeto tenha

    valor ou se deprecie, tem que estar representado. Com a imposio da natureza conservada o

    espao, lugar e meio das representaes (LEFEBVRE, 1980, p. 71) ganha, portanto, outra

    conotao. Suas tramas e dramas so atomizadas/ou rompidas.

    As implicaes disso perpassam a organizao poltica, econmica e, sobretudo, as

    expresses simblicas culturais. As intervenes de instituies exgenas, sobretudo, a

    FUNATURA atomizam este processo, sobretudo, pelo sistema de controle e dependncia

    reforados. Durante todo este perodo de enclausuramento, todas estas expresses sofreram

    rupturas, mas o territrio poltico, aquele que envolve o controle, e o econmico, aquele tomado

    como territrio primeiro de onde se retira a sobrevivncia, foram os mais atingidos.

    Quando os veredeiros aceitaram a retirada para o Projeto de Assentamento So Francisco em

    2002, o fizeram pelo sonho da conquista da liberdade. A liberdade significava sair dos sistemas de

    coero impostos pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis -

    IBAMA e FUNATURA. O Projeto de Assentamento - PA So Francisco um novo espao, com a

    apropriao humanamente construda transformar-se- em territrio. Todavia, quem dita os seus

    contornos e expresses a criatividade humana e seu processo de significao.

    Contudo, os processos de insegurana territorial continuam em processo. Com a expanso

    do PARNA-GSV em 2004, parte do PA So Francisco, novo territrio veredeiro, foi atingido

    novamente. A questo em aberto se novos processos de desapropriao no iro acontecer.

    Os efeitos de todo este processo descrito, que os conhecimentos veredeiros, de certa forma,

    esto sendo colocados em um segundo plano, sobretudo, pelas restries ambientais. Estamos,

    portanto, diante de uma realidade nova, novas representaes territoriais so necessrias, cuja

    ligao com as cidades, a utilizao de maquinrios e produtos qumicos na agricultura so os

    indicativos.

    10

    Quando referimos ao termo criminalizao, estamos refletindo sobre a legislao ambiental imposta aos veredeiros

    com a criao do PARNA GSV. Deste modo, o cultivo das Veredas, a queima dos Gerais, a caa e a pesca so

    proibidas, o que compromete a prpria reproduo social.

  • O Com-viver de Tempos-espaos: Territrios e Representaes entre os Veredeiros do Parque Nacional Grande Serto

    Veredas 145

    GEONORDESTE, Ano XXIV, n.1, 2013.

    5 CONSIDERAES

    A questo da natureza, da relao homem-natureza est contida, e base de todo processo

    que forja um territrio, aliado aos processos histrico-sociais e econmicos. na apropriao

    simblica e funcional da natureza que tessituras muito finas vo se estabelecendo. Os processos

    ganham significao, o estranho torna-se ntimo, em suma, forja-se uma territorialidade. H uma

    gama de solidariedades estabelecidas. A questo do reconhecer-se torna, tambm, o conhecer a

    natureza, sociabilizando-a.

    exatamente a relao homem-natureza, homem-territrio que a criao de Unidades de

    Conservao, sobretudo, as de proteo integral, modificam. Isto porque os sentidos estabelecidos

    so outros o da conservao da natureza em si, sem a historicidade dos processos sociais de

    apropriao. A natureza torna-se externalizada ao Homem, o territrio normatizado,

    instrumentalizado. O homem torna-se um estranho diante de sua prpria construo. E a esttica da

    natureza sobrepe s gramticas da historicidade dos homens levando a rompimentos dos vnculos

    territoriais, ou seja, a desterritorializao.

    Isto coloca, de um lado, um grupo de homens e mulheres, sem a posse formal da terra, frente

    a uma nova dinmica territorial, a conservao da natureza. Os conflitos se tornam intensos,

    sobretudo, pelas restries legislativas impostas. As prticas tradicionais de agricultura e pecuria

    so limitadas, e o uso das veredas, ambiente fundamental na formao do modo de vida, no mais

    possvel. O territrio veredeiro torna-se outro, embora os homens continuem os mesmos.

    Temos assim, dois processos simultneos e contraditrios. De um lado, os veredeiros com

    suas prticas territoriais ligadas as veredas, cujo processo representativo d dinmica a vida social.

    De outro, o Parque Nacional Grande Serto Veredas, tambm como um processo representativo, o

    da natureza conservada. Com isso, temos a mesma natureza, mas com representaes diferenciadas,

    e talvez, por isso, os surjam os conflitos pelo uso e apropriao.

    No podemos deixar de mencionar que o encontro dos veredeiros com o ambientalismo

    tambm matria-prima de novas representaes. Elas, porm, tm outra natureza, e se fazem

    ancoradas no discurso globalstico de preservao dos recursos naturais. Aquele que tem como base

    a separao do homem-natureza para que a preservao possa acontecer. Isto remete a novas

    contradies, sobretudo, porque nega aos homens o direito a sua prpria natureza e suas

    representaes.

  • Geraldo Incio Martins e Angela Fagna Gomes de Souza 146

    GEONORDESTE, Ano XXIV, n.1, 2013.

    6 REFERNCIAS

    ARTAUD, Antonin. Surrealismo e revoluo. In: WILLER, Cludio. Escritos de Antonin Artaud.

    Coleo Rebeldes & Malditos - v. 5. Porto Alegre: L&PM, 1983.

    BERTRAN, Paulo. Breve histria do Noroeste Mineiro e do Parque nacional Grande Serto:

    Veredas. FUNATURA/IBAMA: Braslia, 1999.

    BRASIL. Sistema nacional de unidades de conservao da Natureza- SNUC. Lei 9985 de 18 de

    julho de 2000; Decreto n 4340 de 22 de agosto de 2002. Ed. Aumentada. Braslia: MMA\SBF,

    2000-2002.

    CHAU, Marilena. Cidadania Cultural: O direito cultura. So Paulo: Fundao Perseu Abramo,

    2006.

    COSTA, Joo Batista de Almeida. Populaes tradicionais do serto norte mineiro e as interfaces

    socioambientais vividas. Revista Cerrados. Montes Claros, v. 4, n.1, p. 81-108, jan./dez. 2006.

    DIEGUES, Antonio Carlos SantAna; ARRUDA, Rinaldo S.V. (Orgs.) Saberes tradicionais e

    biodiversidade no Brasil. Braslia: Ministrio do Meio Ambiente; So Paulo: USP, 2001.

    DURKHEIM, E. As regras do mtodo sociolgico. 13 ed.. Companhia Editora Nacional: So

    Paulo, 1987.

    FUNATURA. Plano de manejo: Parque Nacional Grande Serto Veredas.

    MMA/IBAMA/FUNATURA, Braslia, 2003.

  • O Com-viver de Tempos-espaos: Territrios e Representaes entre os Veredeiros do Parque Nacional Grande Serto

    Veredas 147

    GEONORDESTE, Ano XXIV, n.1, 2013.

    JACINTO, Andra Borghi Moreira. Afluentes da memria: itinerrios, taperas e histrias no

    Parque Nacional Grande Serto Veredas. 1998. 181f. Dissertao (Mestrado em Antropologia)

    Departamento de Antropologia e Cincias Humanas, Campinas/UNICAMP, 1998.

    HAESBAERT, Rogrio. Des-Territorializao e Identidade: a rede gacha no Nordeste. EDUFF: Niteri, 1997.

    ______. O mito da desterritorializao: do fim dos territrios a multiterritorialidade. Bertrand, Rio de Janeiro, 2004.

    ______. Dilemas de conceito: espao-territrio e conteno territorial. In: SAQUET, Marcos

    Aurlio; SPSITO, Eliseu Silvrio. Territrios e territorialidades: teorias, processos e conflitos.

    So Paulo: Expresso Popular, 2009. p. 95-120.

    JOVCHELOVITCH, Sandra. Vivendo a vida com os outros: intersubjetividade, espao pblico e

    representaes sociais. In: GUARESCHI, P.S; JOVCHELOVITCH, S. Textos em representaes

    sociais. So Paulo: Vozes, 2002. p. 73-85.

    LEFEBVRE, Henri. O marxismo. Traduo de William Lagos. Lisboa: Bertrand, 1974.

    ______. La presencia y laausencia:contribuicion a La teoria de ls representaciones. Traduo de

    scar Barahona; UxoaDoyhambouke. Fondo de Cultura Economica: Mxico, 1980.

    LINS, Wilson. O mdio So Francisco: uma sociedade de pastores e guerreiros. So Paulo:

    Brasiliana, 1983.

    MOSCOVICI, S. A representao social da psicanlise. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1978.

  • Geraldo Incio Martins e Angela Fagna Gomes de Souza 148

    GEONORDESTE, Ano XXIV, n.1, 2013.

    MOURA, M. Camponeses. So Paulo: tica, 1986.

    PIERSON, Donald. Homem no vale do So Francisco. Traduo de Ruy Jungman. Rio de

    janeiro: SUVALE, 1972a. Tomo I.

    ______. Homem no vale do So Francisco. Traduo de Ruy Jungman. Rio de janeiro: SUVALE,

    1972b. Tomo II.

    RAFFESTIN, Claude. Por uma geografia do poder. Traduo de Maria Ceclia Frana. So Paulo:

    tica, 1993.

    RIBEIRO, Eduardo Magalhes. Histria dos Gerais. Belho Horizonte; UFMG, 2010.

    RONCAYOLO, Marcel. Territrio. In: Enciclopdia Einaudi. Portugal: Imprensa, 1986. v. 8.

    p.263-289.

    ROSA, Joo Guimares. Grande Serto: Veredas. So Paulo: Editora Nova Aguilar, 1994.

    ROUX, Michel. O re-encatamento do territrio ( o territrio nos rastos da complexidade). In silva, Aldo

    Alosio Dantas da; Galeano, Alex (org.). Geografia: cincia do complexus: ensaios transdisciplinares.

    Porto Alegre:Sulina, 2004. p. 42-66.

    SANTOS, Rodrigo Herles. Aqui estou, aqui fao o meu lugar: Um estudo sobre percepes e

    manejo do ambiente entre camponeses, na comunidade de Barra do Pacu, municpio de Ibia-MG.

    2008. 167 f. Dissertao (Mestrado em geografia)- Instituto De Geografia, Universidade Federal de

    Uberlndia, Uberlndia, 2008.

  • O Com-viver de Tempos-espaos: Territrios e Representaes entre os Veredeiros do Parque Nacional Grande Serto

    Veredas 149

    GEONORDESTE, Ano XXIV, n.1, 2013.

    SACK, Robert. Human territoriality: its theory and history. Cambridge: Cambridge University

    Press, 1986.

    SAQUET, Marcos Aurlio. Abordagens e concepes de territrio. So Paulo: Expresso

    Popular, 2007.