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Notas – M.Afonso-Dias
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---------------------------------------------------------------------------------------------------------- Universidade do Algarve
Faculdade de Ciências do Mar e do Ambiente Mestrado em Biologia Marinha (2º ciclo)
BIOLOGIA PESQUEIRA 1º ano - 1º. Semestre 2007/2008
---------------------------------------------------------------------------------------------------------- O ciclo de vida de um recurso explorado
O ciclo de vida de um recurso explorado pode ser dividido em duas fases consecutivas:
a primeira, em que ainda não está sujeito à acção da pesca (fase não explorável) e a
segunda, em que se encontra disponível à pesca (fase explorável) (Figura 1). O estudo
da dinâmica populacional de um recurso pesqueiro incide, fundamentalmente, na sua
fase explorável, i.e., a partir da altura em que entra na área de pesca (recrutamento).
Figura 1. Ciclo de vida de um recurso explorado (modificado de Bakun et al., 1982).
A fase não explorável tem o início a partir da postura (desova), nas áreas de postura,
com a libertação dos ovos (a maior parte das espécies aquáticas é ovípara) no substrato
ou na coluna de água, passando a incorporar o plâncton. Após um período de incubação,
mais ou menos longo, os ovos amadurecem e as larvas eclodem dando origem a uma
fase embrionária dependente dos recursos energéticos do ovo. Terminada esta fase
inicia-se a fase larvar em que o indivíduo passa a utilizar recursos externos. Esta fase,
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de duração variável, termina quando o indivíduo se encontra totalmente formado e,
embora de pequenas dimensões, apresenta já as características morfológicas dos adultos.
Começa a fase juvenil. As fases de ovo e larva são muito dependentes das condições
ambientais em que se encontram sendo a mortalidade elevadíssima (Figura 2).
Figura 2. Mortalidade do bacalhau (Gadus morhua) do Noroeste Atlântico, durante os
primeiros anos de vida, até atingir a fase adulta (Anon., 1995).
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Em águas frias e temperadas os juvenis podem efectuar deslocações mais ou menos
demoradas para as áreas de alimentação onde, em geral, se faz a pesca. Ao entrarem na
área de pesca diz-se que recrutaram à área de pesca (Recrutamento ou Recrutamento à
área de pesca). Entram na fase explorável. A sua captura fica dependente do tamanho
das malhas das artes de pesca (selectividade das artes). A idade à qual correspondem
50% dos indivíduos recrutados à área de pesca designa-se por idade de recrutamento
(tr). O período do ano em que ocorre o recrutamento designa-se por época de
Recrutamento.
O crescimento de peixes, crustáceos e moluscos é fortemente condicionado pela
temperatura do ambiente onde vivem. Assim, alternarão períodos de crescimento rápido
(em geral correspondentes à Primavera-Verão) com períodos de crescimento lento (em
geral correspondentes ao Inverno). Na fase explorável os juvenis ficam vulneráveis à
pesca e, ao atingirem um determinado tamanho passam a ser capturados, o que depende
da selectividade das artes de pesca utilizadas. Diz-se que entraram na fase explorada. A
idade à qual correspondem 50% dos indivíduos que atingem a fase explorada designa-se
por idade de primeira captura (tc). O início da fase explorada é coincidente com o da
fase explorável quando os juvenis entram na área de pesca já com tamanho capturável.
Nas regiões temperadas os períodos favoráveis e desfavoráveis ao crescimento estão
muitas vezes associados a migrações estacionais (sazonais) entre habitats de Verão e de
Inverno.
Enquanto juvenis, grande parte da energia resultante do alimento que ingerem é
utilizada no crescimento somático (a restante é usada para se movimentarem, na procura
de alimento e para escapar aos predadores). A determinada altura, em geral após a idade
de recrutamento, começam a canalizar parte da energia fornecida pelo alimento para o
desenvolvimento das suas gónadas (orgãos reprodutores). Quando as gónadas se
desenvolvem de modo a contribuir para o recrutamento do ano seguinte diz-se que os
indivíduos estão sexualmente maturos (= maduros) , i.e., passaram a ter capacidade
reprodutiva. A idade à qual corresponde 50% dos indivíduos maturos é denominada por
idade de primeira maturação sexual (tm50). Na Figura 3 apresenta-se o crescimento e a
maturação sexual do bacalhau (Gadus morhua) do Mar do Norte que atinge a primeira
maturação sexual por volta dos 4 anos de idade, com mais de 70 cm de comprimento
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total. Em muitas espécies de peixes (e não só) é frequente observar migrações de desova
para determinadas regiões, que reunem condições favoráveis à deposição dos ovos.
Figura 3. Curvas de crescimento e de maturação sexual (ogiva) para o bacalhau (Gadus
morhua) do Mar do Norte (Shepherd, 1993)
Conceito de coorte (ou classe anual)
Designa-se por coorte, ou classe anual, o conjunto de indivíduos gerados durante a
mesma época de postura e nascidos durante o mesmo período.
Em águas frias e temperadas, onde a maior parte das espécies tem grande longevidade,
uma coorte corresponde geralmente a indivíduos nascidos durante o mesmo ano (classe
anual). No hemisfério Norte a postura ocorre normalmente no Outono e a eclosão dos
ovos na Primavera do ano seguinte, logo a ocorrência da eclosão é normalmente
utilizada para a identificação da classe anual. Por exemplo, a coorte de 2006 (ou classe
anual de 2006) de uma determinada espécie refere-se aos indivíduos que têm idade 0
(zero) em 2006 e que terão idade 1 em 2007, idade 21 em 2008, etc. Pressupõe que se
considera como data de nascimento (arbitrária) para todos os indivíduos da coorte o dia
1 de Janeiro de 2006 (convenção). No Hemisfério Sul considera-se como data de
1 No passado, utilizou-se nomenclatura Romana para designar os Grupos de Idade. Actualmente, caíu em desuso.
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nascimento o dia 1 de Julho. Nos trópicos, onde as espécies têm menor longevidade,
uma coorte corresponde geralmente a períodos menores, e.g., de seis meses – coorte da
Primavera e coorte do Outono. Neste caso, haverá que considerar duas idades de
recrutamento, uma para cada coorte.
O recrutamento pode apresentar padrões de distribuição (padrões de recrutamento)
diferentes consoante se tratam de recursos de regiões temperadas ou tropicais (Figura
4). Consoante o padrão da postura assim será o padrão de recrutamento. O
conhecimento da sazonalidade do recrutamento é muito importante para a aplicação dos
métodos de avaliação de recursos pesqueiros. Nos recursos tropicais é normalmente mal
conhecida.
Figura 4. Padrões de recrutamento (Sparre & Venema, 1987).
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Conceito de Manancial Pesqueiro (Stock)
No mar, em qualquer instante, existem indivíduos de várias idades, de várias coortes
(Figura 5). O número de coortes presentes depende, naturalmente, da longevidade do
recurso. Ao conjunto dos indivíduos de uma mesma espécie que habitam uma
determinada zona geográfica mais ou menos definida, que exibem um circuito
migratório regular, uma área de postura também definida e um padrão de crescimento
semelhante, chama-se stock, população haliêutica ou manancial pesqueiro (designação
atribuída por Herculano Vilela, um dos primeiros biólogos pesqueiros portugueses). O
conceito de stock, como unidade de gestão, pressupõe que stocks diferentes reagem de
modo diferente à exploração.
Figura 5. Manancial pesqueiro (stock) hipotético em 2002, constituído por cinco coortes
anuais (Cadima, 1984).
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Em teoria, um stock deveria ser um conjunto homogéneo de indivíduos dispondo das
mesmas oportunidades de crescimento e de reprodução e sujeitos aos mesmos riscos de
mortalidade natural e por pesca (mortalidade natural + mortalidade por pesca =
mortalidade total). Este conjunto de indivíduos é difícil se não impossível de encontrar!
O conceito de stock não pode ser definido por meio de barreiras físicas e de padrões
rígidos de migração, postura, crescimento e mortalidade.
Assim, a definição de stock mais útil, do ponto de vista prático, corresponde à proposta
por Gulland (1983) que considera que, para fins de gestão pesqueira, a definição de
Unidade de Stock é uma questão operacional i.e., um stock é um subgrupo de uma
espécie cujas eventuais diferenças dentro do grupo podem ser ignoradas sem tornar as
conclusões das análises inválidas (Figura 6). O conceito de stock está intimamente
relacionado com os conceitos de parâmetros de crescimento e de mortalidade que
deverão permanecer constantes na área de distribuição do recurso. Stock é, assim, uma
população explorada com características biológias e de exploração que se consideram
semelhantes sendo, por isso, gerida como uma unidade.
Figura 6. Mananciais pesqueiros de lagostim (Nephrops norvegicus) do Alentejo e do
Algarve (Unidades Funcionais 28 e 29 do ICES, respectivamente). Para fins de gestão,
considera-se um único manancial, o “Stock Sul de lagostim” (UF 28&29).
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A separação de stocks de uma espécie distribuída por uma vasta área geográfica (e.g.,
Atlântico Norte) é uma tarefa difícil pois exige que se examinem as suas áreas de
postura os seus parâmetros de crescimento e de mortalidade e as suas características
morfométricas e genéticas (ver exemplo do trabalho realizado no Nordeste Atlântico
com o carapau – Trachurus trachurus2). É igualmente necessário examinar os padrões
de pesca em várias áreas e efectuar estudos de marcação e recaptura. Apesar de toda
esta informação, nem sempre é possível determinar se existe um ou mais stocks de uma
determinada espécie numa determinada área. A definição de stock falha frequentemente,
devido a dois aspectos:
1. quando a distribuição geográfica do stock não é totalmente conhecida, logo
apenas uma parte é considerada (Figura 7, em cima);
2. e quando vários stocks independentes coexistem na mesma área devido, por
exemplo, à sobreposição das suas áreas de distribuição (Figura 7, em baixo).
Figura 7. Problemas comuns na definição de stocks (Sparre & Venema, 1987)
2 EU-project HOMSIR 2001 WebPage - http://www.homsir.com/biology/biology.html#stock_def
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Na primeira situação encontram-se os casos de stocks repartidos por vários países em
que a avaliação e gestão do recurso são feitas apenas num país. Na segunda situação
encontra-se o caso em que uma pescaria de um país explora vários stocks da mesma
espécie.
Causas da variação da abundância de um stock
A biomassa (abundância em peso) de um stock varia devido a causas naturais e
antropogénicas. O stock perde indivíduos por causas naturais, como a predação e as
doenças, e devido a causas provocadas pelo homem mas não relacionadas com a pesca
(e.g., poluição). Se o stock for explorado, há perda de indivíduos devido à actividade da
pesca (capturas). O decréscimo populacional designa-se por mortalidade. Toda a
mortalidade para além da causada pela pesca (e.g., mortalidade devido a predação,
doenças, poluição, entre outras causas), é considerada como mortalidade natural.
O stock ganha indivíduos apenas através do recrutamento. Num stock não há imigração
nem emigração (sistema isolado). A biomassa do stock aumenta através do crescimento
(em peso) dos indivíduos já recrutados que, à medida que crescem, aumentam de
tamanho e de peso.
Num stock virgem (stock sem exploração), as flutuações naturais que a biomassa do
stock exibe resultam do balanço entre os efeitos negativos da mortalidade natural e os
efeitos positivos do recrutamento e do crescimento. A variabilidade do recrutamento,
que é condicionada largamente pela variabilidade dos factores ambientais, determina em
boa medida a magnitude de variação da abundância.
A exploração induz uma fonte adicional de variabilidade que reduz a abundância do
stock e, se for demasiado forte, pode sobrepor-se ao efeito do recrutamento e do
crescimento conduzindo o stock a situações de sobreexploração e, por vezes, ao
colapso. Uma diminuição excessiva da abundância provoca, no entanto, uma
diminuição da competição intra-específica provocando uma diminuição da mortalidade
natural, um aumento do crescimento e até mesmo poderá causar um aumento do
recrutamento, no ciclo seguinte.
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Compreender e prever as reacções de um stock à exploração pela pesca é a principal
tarefa da avaliação de recursos pesqueiros o que implica compreender como actua, num
determinado stock, cada uma das quatro principais causas de variação descritas bem
como o seu efeito combinado: recrutamento, crescimento, mortalidade natural e
mortalidade por pesca.
Estrutura do Stock
A estrutura demográfica, por tamanhos e por idades, de uma população explorada para
além de reflectir variações na intensidade de recrutamento das várias classes anuais,
reflecte a mortalidade que se está a exercer sobre o recurso. O facto das artes de pesca
apresentarem selectividade por tamanhos, implica que o efeito da pesca (mortalidade)
não se faça do mesmo modo sobre todos os grupos etários que constituem o stock.
Através da análise de composições de idades (Figura 8) ou de composições de
comprimentos3 do stock ou das suas capturas é possível proceder-se à estimação dos
parâmetros de mortalidade utilizando-se, para isso, determinados métodos analíticos.
Figura 8. Estrutura do stock: biomassa média por idades durante o ano, de um hipotético
recurso pesqueiro . 3 Composição = distribuição de frequências
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Diferenças no crescimento entre sexos traduzem-se em estruturas de tamanhos e de
idades diferentes para machos e para fêmeas, tanto no stock como nas capturas. A
existência de mortalidade diferencial entre sexos agrava particularmente esta situação
(e.g. no lagostim, as fêmeas estão, durante uma boa parte do ano, muito menos
vulneráveis à pesca que os machos pois, nos meses em que estão ovadas tendem a
permancer dentro das galerias onde vivem não sendo capturadas).
Estimação da abundância e da estrutura do stock
A estimação da abundância e da estrutura de um stock é feita através de campanhas de
investigação cobrindo toda a área de distribuição do manancial de acordo com um plano
de amostragem previamente estabelecido. Estas campanhas são realizadas uma a duas
vezes por ano, consoante a importância dos recursos e as verbas disponíveis para o seu
estudo.
No caso dos recursos demersais, e.g. a pescada – Merluccius merluccius, as amostras
são obtidas através de lances (ou lanços) de pesca de arrasto. No caso dos recursos
pelágicos (e.g. a sardinha) utiliza-se metodologia acústica para estimar o número total
de indivíduos (abundância em número). A informação sobre a estrutura populacional é
obtida através de lances de pesca de arrasto pelágico ou de cerco (mais raro). É
recolhida informação de comprimento e, por sub-amostragem por classe de
comprimento, informação sobre o sexo, peso, estado de maturação sexual e, nos peixes
ósseos, são recolhidas estruturas calcificadas (e.g. otólitos) para leitura de idade. No
final de cada campanha tem-se uma estimação do número e do peso – a biomassa total,
por classe de comprimento e por idade (quando é possível ler idades), dos indivíduos de
cada sexo presentes no stock, no período em que decorreu o cruzeiro. Tem-se,
igualmente, o número e o peso, por classe de comprimentos e por idade, das fracções
adulta e juvenil. O peso dos reprodutores é designado por biomassa desovante.
No caso de um stock estar distribuído por mais de um país deve haver um esforço
concertado dos vários países na realização destes cruzeiros. Por exemplo, no caso do
stock Ibero-Atlântico de sardinha Sardina pilchardus – distribuído pelas costas de
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Espanha e de Portugal continental (Divisões VIIIc e IX a do CIEM4) os cruzeiros são
realizados, em simultâneo, por dois navios, um do IPIMAR, que cobre a área desde o
Estreito de Gibraltar até à fronteira com a Galiza e o outro, do IEO5, que cobre a
restante área (Galiza e Cantábrico) até à fronteira com a França.
Para além desta informação biológica muita outra informação pode ser retirada nestes
cruzeiros de investigação, para apoio a diversos estudos (e.g., estudos de parasitologia
ou sobre o regime alimentar). Nestes cruzeiros, também podem ser realizadas estações
para recolha de parâmetros ambientais para estudos no âmbito da oceanografia.
Para alguns recursos particulares (e.g., lapas) as campanhas para estimação da
abundância e estrutura do stock poderão envolver outras técnicas como os chamados
censos visuais feitos por mergulhadores ou com submersíveis.
Estrutura das Capturas
As capturas correspondem à fracção do stock que é retirada do mar pela pesca. Os
modelos de avaliação mais desenvolvidos baseiam-se em dados sobre a estrutura das
capturas (ou dos desembarques6) por idades (as chamadas composições de idades)
(Figura 9). As composições de idades da captura anual resultam de um trabalho de
amostragem, regular e planificado, realizado ao longo do ano nos principais portos de
desembarque do recurso (ou nas lotas), sobre o universo das capturas desse recurso
feitas num determinado manancial nesse ano. Por exemplo, para a avaliação do
manancial Ibero-Atlântico de sardinha é necessário conhecer a estrutura das capturas
anuais feitas por Portugal e por Espanha ao longo de uma série de anos. Cada um dos
países tem um plano de amostragem nos portos de desembarque e/ou nas lotas de venda
de pescado com vista à obtenção de informação biológica sobre as capturas do recurso
(comprimentos, sexo, idade e estado de maturação sexual, pelo menos). Os
4 Ver mapa do CIEM (Conselho Internacional para a exploração do Mar) em: www.ices.dk/committe/acfm/comwork/report/2002/oct/fisharea.gif 5 IEO – Instituto Español de Oceanografia – www.ieo.es 6 Nem sempre se verifica uma correspondência directa entre Desembarques e Capturas. Parte das capturas é muitas vezes rejeitada ao mar (Rejeições) não sendo desembarcada (e.g., capturas de indivíduos de tamanho inferior ao tamanho mínimo legalmente permitido ou de tamanhos comercialmente pouco interessantes). Nos casos em que a amostragem das capturas é feita nas lotas de venda de pescado há que ter em consideração que, nos recursos de elevado valor comercial, pode haver fuga à lota.
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amostradores7 do IPIMAR e do IEO recolhem, exaustivamente, amostras de
comprimentos das capturas e, mensalmente, levam para laboratório algumas amostras
para determinação do sexo, idade e estado de maturação sexual, por classe de
comprimento.
Figura 9. Estrutura das capturas anuais de um hipotético recurso pesqueiro: capturas em
peso por idade.
Ao fim de um ano, tem-se uma estimação da captura em número e em peso, por classe
de comprimento e idade, dos indivíduos de cada sexo capturados durante o ano. Tem-se,
igualmente, o número e o peso, por classe de comprimento e por idade, das fracções
adulta e juvenil na captura.
No processo de estimação da composição das capturas totais de um determinado
recurso, realizadas durante o ano, é necessário dispôr do total capturado (normalmente
dispôe-se do total desembarcado registado para fins estatísticos) em cada um dos portos
onde se procedeu à amostragem e no total do país (ou países), ao longo do ano. Em
Portugal, o Programa Nacional de Amostragem Biológica (PNAB), tem por missão a
7 Amostrador = técnico responsável pela recolha de amostragem biológica dos recursos, tanto em terra (locais de desembarque e lotas) como no mar (a bordo de navios da pesca comercial e de investigação).
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recolha de informação biológica das capturas dos recursos pesqueiros portugueses mais
importantes.
A análise da informação biológica sobre o manancial, recolhida a bordo dos navios de
investigação, e sobre as capturas realizadas pela pesca comercial permite conhecer o
crescimento e a maturação sexual dos recursos pesqueiros obtendo-se instrumentos
fundamentais para a avaliação de stocks.
Estatísticas da Pesca Comercial
Os desembarques (em peso, valor e destino do pescado), por espécie, porto e arte, ao
longo do ano (numa base mensal), constituem, juntamente com a informação sobre o
esforço de pesca (e.g., número de embarcações, número de dias de pesca, número de
horas de arrasto – nas artes de arrasto ou número de anzóis – nos aparelhos de anzol), as
chamadas Estatísticas da Pesca Comercial.
Em Portugal continental, a empresa responsável por todas as lotas do país é a
DOCAPESCA8 que regista informaticamente todas a informação relativa aos
desembarques. Esta informação é enviada para a Direcção Geral das Pescas e
Aquicultura (DGPA), que a incorpora na Base Nacional de Dados da Pesca. A
disponibilização desta informação faz-se a pedido e através de Boletins Estatísticos
produzidos pela própria DGPA e pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). O INE
disponibiliza alguma informação através da internet9. A FAO (Food and Agriculture
Organization), das Nações Unidas, produz estatísticas de pesca a nível mundial que são
disponibilizadas em diversos formatos, inclusivé através da internet10.
As capturas por unidade de esforço, CPUE (ou rendimentos de pesca) são calculados
dividindo as capturas pelo esforço de pesca correspondente. Os rendimentos de pesca de
uma determinada espécie podem ser observados a bordo de navios de pesca comercial
(e.g., kg/h de tamboril capturado por arrasto) ou calculados a partir de estatísticas da 8 DOCAPESCA – http://www.docapesca.pt ; nos Açores é a Lotaçor - http://www.lotacor.pt/ ; na Madeira é a própria Direcção regional das Pescas. 9 INE - http://www.ine.pt/ 10 FAO Fisheries Statistics - http://www.fao.org/fi/statist/statist.asp (Portugal continental fica na Área 27). O Projecto “Sea Around Us” disponibiliza esta informação online num Sistema de Informação Geográfica - http://www.seaaroundus.org/default.htm
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pesca comercial. Funcionam como indicadores de abundância do stock daí a sua
extrema importância. Por exemplo, a quantidade capturada em peso, por hora de arrasto,
numa pescaria de arrasto dirigida ao tamboril, exercida numa determinada área, ao
longo de um período de vários anos) pode dar indicações preciosas sobre a evolução da
abundância do stock de tamboril, nessa área, ao longo do período de tempo analisado. É
preciso, no entanto, notar que a pesca é exercida geralmente nas zonas de maior
abundância dentro da área de distribuição de um recurso (pois dão maiores rendimentos
aos pescadores) pelo que a análise das estatísticas de CPUE deve ser feita com cuidado.
Referências:
Anon, 1995. Northern Cod Science Program. Final Report 1990–1995. Communications Branch, Department of Fisheries and Oceans, St. John's, Canada, 67 p. Bakun, A., J. Beyer, D. Pauly, J.G. Pope & G.D. Sharp, 1982. Ocean sciences in relation to living resources. Canadian Journal of Fisheries and Aquatic Research, 39: 1059-1070. Cadima, E.L., 1984. Avaliação do estado dum recurso e da pesca. Revista de Investigação Pesqueira, 9. Instituto de Investigação Pesqueira, Maputo, pp: 141-166 Gulland, J.A., 1983. Fish stock assessment. A manual of basic methods. John Wiley & Sons, 223 p. King, M., 1995. Fisheries Biology, Assessment and Management. Blackwell Science, Oxford, 341p. Sætersdal, G., 1984. Investigação, gestão e planificação pesqueiras. Revista de Investigação Pesqueira, 9. Instituto de Investigação Pesqueira, Maputo, pp: 167-186. Shepherd, J., 1993. Why technical conservation measures on their own are not enough? Laboratory leaflet Nº 71. MAFF Directorate of Fishery Research. Lowestoft, 15 pp http://www.cefas.co.uk/Publications/lableaflets/lableaflet71.pdf Sparre, P. & S. C. Venema, 1992 - Introduction to tropical fish stock assessment. Part 1. Manual. FAO Fisheries Technical Paper Nº 306.1. Rev. 1. Rome, FAO, 376 p. Também disponível online em: http://www.fao.org/docrep/W5449E/w5449e00.htm
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Bibliografia Utilizada: Cadima, E.L., 2000. Fish Stock Assessment Manual. FAO Fisheries Technical Paper, 393. Rome, FAO, 162 p. Também disponível online em: http://www.fao.org/DOCREP/006/X8498E/X8498E00.HTM Gomes, M.C., 1993. Introdução à Avaliação de Recursos. 2ª. Edição. Associação de Estudantes da Faculdade de Ciências de Lisboa. Universidade de Lisboa, 78 p. Sparre, P. & S. C. Venema, 1992 - Introduction to tropical fish stock assessment. Part 1. Manual. FAO Fisheries Technical Paper, 306.1. Rev. 1. Rome, FAO, 376 p. Também disponível online em: http://www.fao.org/docrep/W5449E/w5449e00.htm