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Usos da memória do holocausto pelas instituições da comunidade judaica brasileira do
Rio de Janeiro e São Paulo (1945-1975)
Bruna Rodrigues Pereira1 Resumo: Os estudos sobre a Memória do Holocausto no Brasil vêm crescendo nas últimas décadas,
mas ainda carece de análises críticas sobre o seu uso, principalmente, pelas instituições da comunidade
judaica brasileira, que, por sua vez, ocupam, cada vez mais, um papel de significativo destaque em
meio aos debates sobre identidade e questões de alteridade dentro da sociedade brasileira. Este artigo
tem por objetivo principal trazer questões que estão sendo analisadas e discutidas em torno da minha
pesquisa enquanto mestranda da Pós-Graduação em História Social da UFRJ cujo tema é “Usos da
Memória do Holocausto pela comunidade judaica brasileira do Rio de Janeiro e São Paulo (1945-
1975).” A escolha de ambos os estados se deu pelo fato de contarem com o maior número de
instituições judaicas no Brasil, recebendo, assim, a maioria dos sobreviventes do Holocausto que
chegaram ao país.
Palavras-chave: Holocausto. Memória. Comunidade. Judaica. Instituições.
Abstract: The studies about Holocaust Memory are growing in Brazil in the last decades but they still
have not enough critical anlyse around their use, meaningfully, due to Jew Institutions from Brazilian
Community that take, time by time, a meaningful position at the identity debates and questions about
otherness in the Brazilian society. This article has the straight objetive to bring issues which are being
analysed and debated around my reaserches while masters’ graduation student in the Social History
Post Graduation at Rio de Janeiro Federal University. This anthem is “Holocaust Uses of Memory for
the Jew-Brazilian Comunity in Rio de Janeiro and São Paulo (1945-1975)”. Both states’ choice
happened because, at these places, there are the major number of Jew Intitutions in Brazil, receiving,
thus, the great part of the Holocaust survivors have come to the country.
Keywords: Holocaust. Memory. Community. Jew. Institutions. 1. Comunidades judaicas brasileiras e o Holocausto
Após a Segunda Guerra Mundial e ao longo da década de 1950 os estados do Rio de
Janeiro e São Paulo receberam sobreviventes do Holocausto que buscavam refúgio,
preferencialmente, em países longe da Europa e onde já havia instituições judaicas
estabelecidas, a exemplo, o Brasil. No entanto, um dilema, tanto para o governo, quanto para
a comunidade judaica, fazia-se presente nesse contexto: como receber esses sobreviventes? 1 Mestranda em História Social da Pós-graduação em História Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro e bolsista CAPES. Endereço eletrônico para contato: [email protected].
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Sendo assim, logo nos primeiros anos do pós-guerra, foram criadas, pela comunidade judaica
brasileira, programas em suas instituições que tinham como um de seus principais objetivos
realizar o acolhimento e a integração dos sobreviventes. Um aspecto importante a ser
salientado é que todas elas posicionaram-se, desde sua fundação, pelo combate ao
antissemitismo e a favor do sionismo, que, no contexto em questão, ganha uma legitimação
singular, sobretudo, após a criação do Estado de Israel em 1948.
Os sobreviventes assistidos por essas entidades traziam consigo aquilo que, ao longo
dos anos, vai se transformar em matéria historiográfica: a Memória do Holocausto. Os relatos
dos seus testemunhos, carregados de registros da monstruosidade da tragédia gerou uma
mobilização de grande parte da comunidade judaica brasileira no sentido de, caridosamente,
ajudá-los lemas como “Salvemos os sobreviventes!” passaram então a ser utilizado por ela.
Nesse sentido, os judeus que já residiam no Brasil eram convocados a prestarem sua
solidariedade a esse povo, que, segundo Meyer Levin, ao escrever um artigo para a revista
judaica Aonde Vamos? não havia “ninguém para interceder por ele e (...) buscava uma nova
existência em qualquer ponto da terra diferente do passado” , terminando seu texto com uma
pergunta dramática: “Para onde vai esse povo?”.
Se atentarmos para uma análise dos significados da expressão “esse povo” e da frase
“Salvemos os sobreviventes” ou “Salvai os salvos”, notamos que o lugar do sobrevivente é o
de uma “pobre vítima”, que necessita da compaixão dos judeus que não participaram do
Holocausto. Sendo assim, ele é visto como outro, aquele que carrega em si a marca de um
“povo” que teve o infeliz destino que lhe foi atribuído, sendo dado a ele um tratamento e lugar
diferenciado, uma identidade dentro da própria comunidade, isto é, a de judeu europeu vítima
do Holocausto. A caridade, nesse sentido, torna-se “um dos pilares do próprio conceito de
comunidade” 2. Era importante, portanto, acolher os sobreviventes. Entretanto, as suas
condições e experiências despertavam certo estranhamento até mesmo para a comunidade
judaica.
Na década de 1960, entretanto, ocorreu um fato que marcou, do ponto de vista
histórico, um momento paradigmático, pois, pela primeira vez, um nazista fora julgado por
um tribunal judaico no recém-criado Estado de Israel. Seu nome: Adolf Eichmann. Esse
evento caracterizou um dos primeiros esforços para trazer o Holocausto para o seio da opinião
pública, uma vez que o julgamento fora filmado e transmitido para vários países do mundo.
2 CYTRYNOWICZ, RONEY. Instituições de assistência social e imigração judaica. História, Ciências e Saúde – Manguinhos, v. 12, n.1, p. 13, jan-abr. 2005.
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Além disso, segundo a filósofa Hannah Arendt , mais de 100 testemunhos de sobreviventes
foram lidos e ouvidos durante o julgamento, transformando-os assim em um importante
recurso para a acusação do réu. Não obstante, como afirma Annette Wieviorka, contrariando
uma noção, por muito tempo aceita, “as testemunhas não testemunharam pela primeira vez no
Julgamento de Eichmann. Elas foram escolhidas com base nos seus primeiros testemunhos,
que existiam na forma escrita, alguns publicados, e alguns transcritos de seu testemunho
oral.” Assim, apenas as histórias das vítimas que mais se “enquadravam” a interesses dos
“acusadores” de Eichmann foram levadas ao tribunal.
Observamos, a partir de então, a formação de um novo significado para os
testemunhos dos sobreviventes do Holocausto, ou seja, eles passaram a serem, de fato,
ouvidos pela sociedade. E essa conjuntura de demanda pelas suas memórias, na qual o
julgamento supracitado teve grande influência, passa a despertar, nos sobreviventes, um
desejo em querer transmitir as suas experiências como uma forma de resposta à tentativa do
regime nazista de apagar a memória de seus crimes, não só contra os judeus (destruição de
arquivos e dos guetos, Solução Final), mas também contra a humanidade. Sendo assim,
muitos deles começaram a buscar veículos de comunicação vinculados à própria comunidade
judaica para narrarem suas histórias.
A repercussão do Julgamento de Eichmann chegou às comunidades de vários países
do mundo, como aos Estados Unidos da América, por exemplo. Em um contexto de Guerra
Fria e fracasso de intervenções militares como a Guerra do Vietnã, as representações de
democracia e da liberdade americanas se viram abaladas. Nesse sentido, os debates
relacionados a “crimes contra a humanidade” e “perda de direitos” ganharam maior
intensidade na sociedade americana, tornando, portanto, o Holocausto, conforme afirma Peter
Novick, numa “fixação da cultura americana” a partir da década de 1970.
Foram produzidos muitos trabalhos relacionados ao Holocausto, que, por sua vez,
deram origem a uma coleção sistemática de testemunhos que ganharam uma dimensão
política nunca antes vista. O Holocausto, nesses termos, torna-se o “crime modelo”, um ponto
de inflexão, para tratar qualquer evento histórico de caráter traumático do século XX. Os
relatos dos sobreviventes funcionavam, portanto, como uma forma de descrever a destruição
em todas as suas nuances e detalhes.
No entanto, se observarmos esse novo panorama a partir de uma perspectiva histórica,
identificaremos aspectos relacionados ao debate entre história e memória e, mais do que isso,
ao debate que envolve a Memória do Holocausto nas comunidades judaicas. Baseando-se no
fato de que quinze anos após o final da Segunda Guerra Mundial e do assassinato em massa
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de cerca de 6 milhões de judeus, a memória de seus sobreviventes passou a ser ativada pelas
próprias autoridades judaicas israelenses e em países como EUA, precisamos atentar,
conforme nos mostra a historiografia sobre Holocausto hoje, para algumas questões: qual (ais)
tipo (s) de memória (s) pode (em) ser identificado (s) nesses testemunhos? Por que e para
quem os sobreviventes falam? Como as instituições da comunidade judaica passaram a lidar
com esses relatos e, principalmente, com o seu impacto dentro e fora do mundo judaico?
Ora, a publicização dessas histórias individuais chegou também à sociedade brasileira
e, por conseguinte, à comunidade judaica que, nesse período, organizava instituições de
assistência social a fim de receber os sobreviventes e refugiados de guerra. No âmbito dessa
organização, uma série de campanhas foi realizada, não só para socorrer às “vítimas de
Guerra” que ainda buscavam refúgio no Brasil, mas também para viabilizarem o processo de
integração dos judeus europeus sobreviventes do Holocausto na sociedade brasileira. No
entanto, uma questão central despertou a minha atenção nesse contexto: o Julgamento de
Eichmann e a repercussão pública dos testemunhos dos sobreviventes do Holocausto teria
impactado a maneira como as instituições judaicas brasileiras pensavam o tema dos
“testemunhos/Memória do Holocausto”? A minha proposta aqui é buscar compreender o
contexto de recepção no Brasil desse novo momento de valorização do tema da Memória e do
testemunho cujo ponto de inflexão é o Julgamento de Eichmann. Outras questões secundárias,
mas não menos importantes, para a pesquisa da primeira, merecem ser tratadas: terá havido no
Brasil, tal como ocorreu nos EUA e em Israel, após julgamento, uma tentativa, pelas
instituições da comunidade judaica, de tornar público os relatos sobre o genocídio dos judeus
na Segunda Guerra Mundial? Que desafios encontram as instituições da Comunidade Judaica
para dar voz aos sobreviventes do Holocausto? E os sobreviventes que residiam no Brasil
queriam falar sobre suas experiências ou eram instados a fazê-lo pelas instituições da
comunidade judaica?
Com base no campo de investigação e análise aqui proposto, a principal proposta deste
trabalho é, portanto, identificar os usos da Memória do Holocausto pelas instituições da
comunidade judaica do Rio de Janeiro e de São Paulo. Buscar-se-á, dessa forma, investigar
essa questão em dois momentos distintos: 1945 -1960 - contextos do imediato pós-guerra nos
quais a chegada dos deslocados de guerra, dos sobreviventes do Holocausto se deu de maneira
regular para o Brasil, e 1960-1975, isto é, após o Julgamento de Eichmann e o início da
demanda pelos relatos dos sobreviventes tal como vimos anteriormente. A escolha das
comunidades judaicas do Rio de Janeiro e de São Paulo se deu pelo fato de ambas contarem
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com o maior número de instituições judaicas no Brasil, recebendo, assim, a maioria dos
sobreviventes que chegaram ao país.
2. Estudos sobre Memória e História e Memória do Holocausto
Os estudos sobre a memória do Holocausto no Brasil são poucos, esparsos e buscam,
geralmente, relacioná-lo a temas que tratam o antissemitismo. No que se refere a esses
trabalhos, podemos citar as obras de Maria Luiza Tucci Carneiro: “Anti-semitismo na Era
Vargas” 3 e “Brasil: um refúgio nos trópicos” 4. Em ambas, a historiadora adota claramente
uma linha denunciativa para culpar o governo de Getúlio Vargas pela morte de muitos judeus
no Holocausto. Ela afirma que, devido às medidas restritivas à imigração durante o Estado
Novo, muitos judeus europeus foram impedidos de se refugiarem no país, tendo, portanto, que
voltar para o seu continente e se tornarem vítimas do assassinato em massa. Nesses termos, a
política brasileira desse governo teria um perfil antissemita “camuflado” e seus representantes
tinham o papel de então “acobertar o anti-semitismo sustentado pelo governo Vargas, cujas
consequências devem ser investigadas pela historiografia contemporânea. ” 5
Carneiro ainda afirma, em seu artigo intitulado “Na trilha dos judeus refugiados do
Nazismo”, que é papel do historiador buscar indícios desse passado antissemita, pois, se assim
não o fizer, estará colaborando para o esquecimento do Holocausto:
“Estaremos sendo cúmplices do silêncio, o mesmo silêncio que, no passado, colaborou para que o Holocausto atingisse status de genocídio singular dos tempos modernos. Tanto as gerações da Shoá quanto a mídia e os educadores têm o dever ético de registro dessa memória de forma a resguardar o mundo do negacionismo, do antissemitismo e do renascimento das tendências neonazistas.” 6
Observamos, portanto, que, a partir dessa perspectiva, a autora emprega missões muito
claras ao seu trabalho de pesquisa sobre os refugiados e sobreviventes do Holocausto. São
elas: denunciar o antissemitismo do governo Vargas; armazenar a história e a memória da
Shoah 7 e “conscientizar” as novas gerações contra o neonazismo. Todavia, as formas pelas
3 CARNEIRO, Maria Luiz Tucci. O anti-semitismo na Era Vargas – fantasmas de uma geração (1930-1945). São Paulo, Editora Perspectiva, 2001. 4 _________, STRAUSS, Dieter. Brasil: um Refúgio nos Trópicos. São Paulo, Estação Liberdade, 1996. 5 Ibdem. P. 8. 6 CARNEIRO, Maria Luiza Tucci. Na trilha dos judeus refugiados do Nazismo. Judaísmo Humanista. Publicado em 4 de novembro 2011 às 19:06 . Disponível em http://judaismohumanista.ning.com/forum/topics/na-trilha-dos-judeus-refugiados-do-nazismo-por-profa-maria-luiza-?page=1&commentId=3531236%3AComment%3A58241&x=1. Acessado em 08/10/14 às 23:00 horas. 7 A historiadora é coordenadora do arquivo virtual, chamado Arqshoah, que realiza um trabalho de pesquisa e armazenamento de livros, documentos, testemunhos de sobreviventes e periódicos que tratam sobre o
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quais ela busca comprovar o antissemitismo e culpar o governo de Vargas pela morte de
muitos judeus durante o Holocausto são criticadas por pesquisadores como Fábio Koifman. O
historiador, que realizou uma importante pesquisa documental sobre esse período, afirma que
Carneiro busca, dentre outros, acusar, principalmente, Oswaldo Aranha, que entre 1939 e
1944 fora Ministro das Relações Exteriores do governo de Getúlio Vargas. A denúncia é,
portanto, baseada em registros de vistos negados a judeus que buscavam refúgio no Brasil
durante esse período. Mas, segundo Koifman, faz-se necessário, sobretudo, levar em
consideração o tempo e as informações que Aranha dispunha efetivamente, pois,
“Embora as leis de Nuremberg datem de 1935 e a Noite dos Cristais de 1938, e a perseguição aos judeus por parte do nazismo já fosse pública entre 1938 e 1941, somente no segundo semestre de 1941 os judeus passaram a ser assassinados em massa pelo nazismo. No final desse mesmo ano, Hitler começaria a elaborar e por em prática o que chamou de “Solução Final”. 8
Destacamos também outros trabalhos sobre judeus no Brasil em que o Holocausto
aparece como referência para analisar o “antissemitismo” no país, tais como a dissertação de
mestrado de André de Lemos Freixo. 9 Vale lembrar que Freixo não busca afirmar esse
antissemitismo, mas sim analisar como o “discurso de antissemitismo” tornou-se importante
para a formação de uma identidade judaica brasileira. O autor afirma ainda que o final da
década de 1970 e a década de 1980 foram marcadas por uma forte busca identitária no mundo
ocidental que, por sua vez, está vinculada a “uma forte influência da emergência da memória
do Holocausto, no sentido de uma memória que busca uma identidade social calcada na
perseguição contra os judeus.” 10 Nessa vertente, muito presente na historiografia clássica
judaica, o povo judeu é retratado como um povo perseguido e hostilizado desde a diáspora de
70 d. C, de forma que a Shoah representa, portanto, o ápice desse processo.
Visto isso, podemos afirmar que chegamos a um ponto importante para o qual essa
pesquisa se orienta, pois, uma vez que temos o interesse em analisar o uso da memória do
Holocausto pela comunidade judaica nesse período, buscar compreender se essa comunidade
vai se inserir nessa perspectiva apontada por Feixo torna-se fundamental.
antissemitismo e o Holocausto no Brasil. http://www.arqshoah.com.br/pagina/quem-somos/. Acessado em 08/10/2014 às 22:00 horas. 8 KOIFMAN, Fábio . Um grande amigo do povo judeu?. Revista 18 (Ano VI - número 24), São Paulo, p. 56 - 60, 15 jun. 2008. p. 3. 9 FREIXO, André de Lemos. Vicária redenção: memória, historiografia e a questão do anti-semitismo no Rio de Janeiro na década de 1940. Rio de Janeiro, UFRJ, 2008. 274 p. DISSERTAÇÃO (Mestrado em História Social): Universidade Federal do Rio de Janeiro. 2008. 10Ibdem. p. 22.
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Ora, se por um lado os estudos sobre a Memória do Holocausto no Brasil são escassos,
por outro, o debate entre História e Memória no qual o tema do Holocausto é quase sempre
discutido, tem mobilizado não só historiadores, como também pesquisadores que lidam
diretamente com o tema da construção da memória individual ou coletiva, sejam eles
sociólogos, antropólogos, filósofos e até mesmo psicanalistas de vários países do mundo
ocidental. Nesses estudos o tema do Holocausto é quase paradigmático, por assim dizer,
quando se quer tratar qualquer evento da História do Tempo Presente.
François Hartog em seu livro intitulado “Evidência da história: o que os historiadores
veem” traz à discussão um dilema presente na historiografia e que diz respeito à testemunha e
o historiador. Para Hartog, “quem pretende refletir sobre o fenômeno do testemunho tem de
partir, com efeito, da centralidade presente de Auschwitz e, portanto, também ou em primeiro
lugar, da centralidade do Holocausto” 11 Nesses termos, notamos que as testemunhas desse
evento adquiriram um lugar central e suas narrativas um papel de modelo testemunhal para
tratar de outros eventos, isto é, “como se tivéssemos de passar por esses testemunhos de
referência para nos convencermos da realidade e da gravidade de outros crimes”. 12
Apresentamos também outros trabalhos em que o Holocausto surge como referência
para tratar o tema da memória. Dentre eles está o artigo do psicanalista inglês Adam Phillips
intitulado “A memória forçada.” No mesmo, o autor analisa esse momento de grande
obsessão pela memória que começa a partir dos anos 70, que, segundo ele, simboliza o medo
que atualmente sentimos de que o esquecimento seja possível: “Esquecer, tanto na vida
pessoal quanto na vida política, se tornou prática encarada com uma espécie de temor
supersticioso” 13 e, ao fazer uso do tema do Holocausto para tratar esse momento, Phillips
coloca as seguintes questões: “Será que é possível hoje que qualquer pessoa tenha o que se
poderia definir como pensamentos próprios sobre o Holocausto? [...] O que desejamos dos
perpetradores da matança e de seus descendentes?” 14. À memória dos sobreviventes, nesses
termos, é atribuída uma função de torturar os torturadores e nos lembrar sempre daquilo que
nos horroriza para que, dessa forma, se garanta a não repetição de um evento como esse.
Phillips, portanto, nos chama atenção para um debate que diz respeito não só a
pesquisadores das ciências humanas, como também à própria sociedade moderna, pois o
simples fazer com que as pessoas se recordem não, necessariamente, implica que elas terão a
11 HARTOG, François. Evidência da história: o que os historiadores veem. Tradução de Guilherme João de Freitas Teixeira. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2011. p. 205. (Coleção História e Historiografia). 12Ibdem, p. 209. 13 PHILLIPS, Adam. “A memória forçada”. Tradução de Paulo Migliacci. In: Caderno Mais! Folha de São Paulo, domingo, 20 de novembro de 2005. p. 2. 14 Ibdem, p. 5.
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mesma interpretação e resposta a essas memórias. “As chamadas democracias liberais não
conseguem escapar ao fato de que alguns de seus membros provavelmente desejarão recordar
o Holocausto como inspiração.” 15
Beatriz Sarlo também contribuiu, de forma significativa, para o debate entre História e
Memória nos últimos anos. Ao fazer uma análise histórica sobre como os testemunhos e as
autobiografias passaram a despertar o interesse de historiadores e cientistas sociais, a autora
nos chama a atenção para o fenômeno por ela descrito como “guinada subjetiva”, isto é, uma
iniciativa reconstituidora das décadas de 1960 e 1970 que consiste em um “reordenamento
ideológico e conceitual da sociedade do passado e seus personagens, que se concentra nos
direitos e na verdade da subjetividade, [...] que foi, há décadas, mera “ideologia” ou “falsa
consciência” 16.
Foi, portanto, nesse momento, segundo Sarlo, que a história oral e os testemunhos
foram revalorizados e, nesse sentido, as memórias individuais foram, aos poucos, ganhando
um estatuto irrefutável, tão caro aos historiadores. No entanto, essa restauração dos
testemunhos agora se refere a uma nova tendência: a de conservar a lembrança e, mais do que
isso, a de reparar uma identidade ferida. A autora também trata a memória do Holocausto,
destacando que ela oferece um modelo para outros crimes, isto é, um bem comum, um dever e
uma necessidade de alerta, vinculada a uma perspectiva de retórica jurídica.
Vimos até o momento trabalhos de pesquisadores que tratam o tema da memória do
Holocausto como referência para debater as relações entre História e Memória características
do tempo presente. No entanto, o debate sobre o Holocausto nos últimos anos observou uma
produção de trabalhos que procuram pensar a memória do Holocausto a partir de uma análise
mais voltada para a história judaica. O Holocausto, nesse sentido, seria uma espécie de evento
que explica tudo o que vem antes, ou seja, uma espécie de necessidade lógica em uma história
dos judeus que seria marcada pela perseguição, pelo sofrimento, pela exclusão, encontrando
seu ápice na experiência do Holocausto. O historiador que articula a memória do Holocausto
a uma história específica dos judeus, como um problema historiográfico é Yosef Yerushalmi.
Em seu livro “Zakhor: história judaica e memória judaica” 17, Yerushalmi discute o
grande dilema enfrentado por determinados historiadores judeus do século XIX. Esses
buscavam tratar a história judaica, até então vinculada a uma ideia de “história sagrada”, isto
15 Ibdem. 16 SARLO, Beatriz. Tempo Passado: Cultura da memória e guinada subjetiva. Tradução de Rosa Freire d‟ Aguiar. São Paulo: Companhia das Letras; Belo Horizonte: UFMG, 2007.p. 19. 17 YERUSHALMI, Yosef Haim. Zakhor: história judaica e memória judaica. Rio de Janeiro: Editora Imago, 2001.
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é, à “crença de que a providência divina não é somente um fator último, mas um fator causal
ativo da história judaica” 18, sob os moldes do historicismo do século XIX. No entanto, e esse
é um ponto importante em sua obra, a memória coletiva judaica da Europa, fundamentada,
principalmente, na religião, permanecia muito forte, na medida em que muitos afirmavam que
não seria possível explicar a diáspora judaica, a identidade judaica e a “saga errante de seu
povo” a partir de uma abordagem histórica política e universalista, pois, para esses, somente a
fé do povo judeu poderia então levar a compreensão da história judaica.
Ora, estudos judaicos contemporâneos, entretanto, têm mostrado que é absolutamente
possível tratar a história judaica a partir da pesquisa histórica. No entanto, poderíamos afirmar
que houve uma total aceitação dessa perspectiva na comunidade judaica?
Outros autores, a partir de um ponto de vista teórico, têm contribuído de forma ímpar
para tratar dessas questões. Pierre Nora, em seu artigo, 19 reflete acerca da oposição entre os
conceitos de memória e história. Nora evoca a memória, entre outras coisas, como a vida em
si, em constante evolução, submetida à dinâmica da lembrança e do esquecimento,
inconsciente e passível de manipulações, ao passo que a história é concebida como a
reconstrução imperfeita e problemática do que se passou, por meio de uma operação
intelectual a qual implica um exame e um discurso dotados de senso crítico. O autor ainda faz
uma diferenciação entre a história-memória e a história-crítica: a primeira é assim definida
como uma história que assumia um caráter de ciência pura e, nesse sentido, atentava somente
para os fatos cronológicos dotados de uma verdade única. Em suma, a história seria o
aprofundamento e a organização da memória. Por sua vez, a história crítica diria respeito ao
questionamento do processo de construção das narrativas, isto é, a uma história mais reflexiva
sobre si mesma e sua própria historicidade. Para essa pesquisa essas definições serão
fundamentais não pura e simplesmente por se tratarem de dimensões distintas de história, mas
para compreendermos, de forma mais clara, o contexto histórico o qual o objeto dessa
pesquisa se insere.
Nora, em seu artigo ora mencionado, afirma que a história passou, ao longo do século
XX, por um processo de mudança que simbolizou o fim da história-memória e o início da
história crítica, processo este denominado por ele de “aceleração da história”.20 Esse processo
18 Ibdem, p. 107. 19 NORA, Pierre. Entre memória e a história: a problemática dos lugares. Projeto História 10. Revista do Programa de Pós-graduação em História e do Departamento de História da PUC/SP, São Paulo, n. 10, dez. 1993. 20 “uma oscilação cada vez mais rápida de um passado definitivamente morto, a percepção global de qualquer coisa como desaparecida – uma ruptura de equilíbrio. O arrancar do que ainda sobrou do vivido no calor da
10
21 simbolizou, do ponto de vista historiográfico, uma ruptura com a perspectiva de
continuidade da História, própria do século XIX, e, por assim dizer, da memória tradicional,
nacional e coletiva características desse período, de forma que, essa inquieta incerteza sobre o
passado obrigou cada grupo a redefinir sua identidade na sociedade pela relativização de sua
própria história, o que, segundo Nora, transformou todo o objeto, seja ele o mais humilde ou o
mais complexo, em vestígio de uma memória possível. As considerações de Nora, portanto,
nos auxiliam no sentido de oferecer as condições históricas nas quais a relação entre História
e Memória ganha um novo sentido, pois a primeira, que até meados do século XX detinha a
narrativa da memória dos eventos históricos, passa a ter que lidar com o advento da Memória
daqueles que, de fato, deles participaram. Pensar na Memória do Holocausto, nesses termos,
significa relacioná-la aos marcos desse processo, no intuito de compreendê-la à luz desse
aumento, cada vez mais intenso, de memórias individuais que buscam falar em nome de uma
memória coletiva já perdida.
Vimos anteriormente que o debate acerca da memória do Holocausto tem acarretado
uma série de questões as quais o historiador precisa estar atento. Não se trata, entretanto, de
julgar a verdade ou não dessas memórias, mas sim de examinar os possíveis aspectos que as
constituíram como tal. Paul Ricoeur, em seu livro “Memória, História, Esquecimento” afirma
que a memória é definida pelo seu uso e se localiza essencialmente no passado, logo, ela diz
respeito à forma com que nós queremos nos relacionar com ele: “lembrar-se é não somente
acolher, receber uma imagem do passado, como também buscá-la, fazer “alguma coisa”. (...)
O que esse verbo designa é o fato de que a memória é exercitada” 22, em outras palavras, o
exercício da memória é seu uso.
Não obstante, segundo Ricoeur, a partir desse contexto de demanda, o uso da memória
adquiriu um caráter de obrigação moral, de dever. O autor ainda destaca que esse dever está
relacionado a dois conceitos, então fundamentais para a análise da memória do Holocausto a
qual propomos nesse projeto de pesquisa. São eles: “justiça” e “dívida. Para o filósofo,
“somos devedores de parte do que somos aos que nos precederam (...). Dentre esses outros
com que estamos endividados, uma prioridade moral cabe às vítimas. (...) A vítima em
questão aqui é a vítima outra, outra que não nós” 23. Nesse sentido, o dever de memória não
envolve apenas uma necessidade pessoal em narrar a experiência do Holocausto, mas fazê-la
tradição, (...) o modo da percepção histórica que, com a ajuda da mídia, dilatou-se prodigosamente, substituindo uma memória voltada para a herança de sua própria intimidade pela película efêmera da atualidade.” Idem, p. 7. 21 cujo marco inicial remete a década de 1930, particularmente, à fundação da Escola dos Annales na França. 22 RICOEUR, Paul. A memória, a história, o esquecimento. Campinas, SP: Editora Unicamp, 2007. p. 72. 23 Ibdem. p. 101-102.
11
como uma forma de “pagar uma dívida” para os que se foram e, mais do que isso, fazer
justiça a outro que não a si. Portanto, tentaremos identificar os aspectos desses conceitos no
uso da Memória do Holocausto pelas comunidades judaicas em questão.
No que tange às considerações de Annette Wieviorka em seu livro “The era of
witness”, pode-se afirmar que a historiadora procura examinar a evolução do advento das
testemunhas na sociedade ocidental da segunda metade do século. Nesse período, o qual ela
chama de “era das testemunhas”, o número de testemunhos cresceu enormemente e esse
aumento está relacionado, diretamente à memória do Holocausto. 24 Dessa forma, a autora
busca compreender os vários papéis e imagens que esses testemunhos terão ao longo desse
processo e, nesse ponto, ela identifica, no discurso dessa Memória, o que ela chama de “papel
pedagógico da memória do Holocausto” 25. A partir do Julgamento do Eichmann e da fixação
pelo tema do Holocausto ocorrida na sociedade americana, já discutidas anteriormente, a
memória desse genocídio passa a fomentar uma mobilização social no sentido de “lembrar
para não repetir”, ganhando assim, uma espécie de missão que visa educar para as gerações
futuras. Observamos, portanto, que as reflexões de Wieviorka em muito contribuem para
nossos objetivos, uma vez que nos oferecem uma nova perspectiva (pedagógica) para analisar
não só como a Memória do Holocausto é tratada pelas instituições judaicas, como também o
conteúdo das narrativas dos sobreviventes então vinculados às atividades dessas instituições.
3. Questões e desafios
Com base, portanto, nessas discussões, traçamos alguns objetivos mais específicos a
fim de contribuir para a principal proposta, supracitada, desse trabalho, tais como: Analisar a
forma pela qual os sobreviventes do Holocausto eram vistos e tratados por essas comunidades
no imediato pós-guerra; Procurar entender em que medida o Julgamento de Eichmann
impactou na maneira como as instituições judaicas brasileiras pensavam os conceitos de
“testemunhos e Memória do Holocausto” e de “sobrevivente do Holocausto” e identificar, ao
longo da análise, modalidades distintas de uso da memória do Holocausto por essas
instituições tais como memória coletiva, individual e oficial nos períodos em questão.
Para tal, faz-se de suma importância o levantamento e análise de boletins, fichas dos
sobreviventes, atas, cartazes e outros meios de propaganda das principais instituições judaicas
do RJ e SP no recorte temporal proposto, o que tem sido feito nesses primeiros meses de
24 WIEVORKA, Annette. The era of witness. Translated by Jared Stark. Ithaca: Cornell University Press, 2006. p. 11. 25 Ibdem. p. 107.
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pesquisa. Nesse sentido, algumas questões, ainda iniciais, estão sendo levantadas e repensadas
ao longo dessa trajetória. A questão que considero central nesse debate proposto é analisar se
teria ocorrido uma mudança na maneira como as comunidades judaicas do RJ e SP lidam com
a memória do Holocausto após o Julgamento de Eichmann e o início da demanda testemunhal
internacional sobre o evento. Nessa perspectiva, está sendo analisado nas documentações das
principais instituições que compõem comunidades se esse julgamento teria impactado a
maneira como as instituições judaicas brasileiras em questão pensavam os conceitos de
Memória do Holocausto e Sobreviventes do Holocausto, sublinhando que até o julgamento os
sobreviventes teriam sido vistos por elas como o “outro”, aqueles que precisam de sua ajuda
para esquecer e seguir adiante, mas que são diferentes “deles”. No entanto, após o julgamento
esse “outro” deixou de existir, pois as comunidades judaicas passaram a compartilhar das
memórias desse “outro”, como se fossem as “suas” também e, nessa perspectiva de memória
coletiva na qual os judeus brasileiros e seus descendentes seriam também sobreviventes do
Holocausto, o uso da memória desse evento pelas comunidades em questão poderiam revelar
uma “missão pedagógica” para as gerações futuras.
Vale ressaltar que esse artigo procurou desenhar os desafios e questões iniciais de uma
pesquisa que trata de um tema ainda tão pouco abordado criticamente por pesquisadores no
Brasil: os estudos sobre a Memória do Holocausto. Nesse sentido, compreender como essa
memória foi sendo ativada pela comunidade judaica brasileira, principalmente nas primeiras
décadas pós-Segunda Guerra Mundial, contribui para refletirmos sobre o lugar que o
Holocausto ocupa na formação de identidades específicas e lugar social dessa comunidade,
bem como as implicações que o foco nesse evento, para orientar as relações e os discursos das
instituições que dela fazem parte, podem causar.
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