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USINA HÍBRIDA HELIOTÉRMICA-BIOMASSA EM CICLO RANKINE

ORGÂNICO

Pedro Lee Moraes

Projeto de Graduação apresentado ao Curso

de Engenharia Mecânica da Escola Politécnica,

Universidade Federal do Rio de Janeiro, como

parte dos requisitos necessários à obtenção do

título de Engenheiro.

Orientador: Alexandre Salem Szklo

Rio de Janeiro

Fevereiro de 2017

Moraes, Pedro Lee

Usina Híbrida Heliotérmica-Biomassa em Ciclo Rankine

Orgânico/ Pedro Lee Moraes. � Rio de Janeiro:

UFRJ/Escola Politécnica, 2017.

XIII, 70 p.: il.; 29, 7cm.

Orientador: Alexandre Salem Szklo

Projeto de Graduação � UFRJ/ Escola Politécnica/

Curso de Engenharia Mecânica, 2017.

Referências Bibliográ�cas: p. 65 � 70.

1. Usina Híbrida. 2. Heliotérmica. 3. Biomassa.

4. Ciclo Rankine Orgânico. I. Szklo, Alexandre Salem.

II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, Curso

de Engenharia Mecânica. III. Usina Híbrida Heliotérmica-

Biomassa em Ciclo Rankine Orgânico.

iii

Eu dedico este projeto a todos que

me in�uenciaram a entrar para o

mundo das fontes alternativas de

energia.

iv

Agradecimentos

À minha família, pelo suporte e paciência que tiveram comigo ao longo de toda

minha vida. Agradeço à minha mãe, Lee, pelo amor incondicional e dedicação total

à educação e bem-estar de seus três �lhos. Ao meu pai, Jorge, por mostrar que tra-

balho duro e riscos fazem parte e são essenciais para o sucesso e reconhecimento. Ao

meu irmão, Daniel, e a minha irmã, Catarina, pela parceria em todos os momentos.

Aos meus amigos do Colégio Santo Agostinho, que carrego até hoje no meu

dia-a-dia, e da vida pelas experiências, conversas e momentos que passamos juntos.

Estar com eles me traz a alegria de uma criança.

A todos que participaram do meu ano de intercâmbio na University of Dundee

por me acompanharem em muitas aventuras, descobrindo novas culturas e compar-

tilhando risadas. Aprendi muito com todos, que realmente abriram minha mente.

Sem dúvidas, nosso ano na Escócia foi um dos melhores da minha vida.

Aos meus grandes amigos da prestigiada Universidade Federal do Rio de Janeiro,

com os quais tive a felicidade de conviver ao longo do curso de Engenharia Mecânica.

Acredito que fazer parte deste grupo que criamos seja o real motivo de eu não me

satisfazer com a simples aprovação nas disciplinas na faculdade, procurando sempre

o melhor resultado. Um obrigado especial para Eduardo, Eduardo e Carlos Eduardo,

que �zeram tudo muito mais divertido.

Aos meus amigos da Natural Energia, com os quais aprendo enormemente e tento

me espelhar a �m de me desenvolver como excelente pro�ssional.

Ao meu orientador, professor Alexandre Salem Szklo, pela oportunidade que me

deu ao auxiliar meu trabalho de conclusão de curso e pela liberdade dada a mim na

construção do mesmo. É também o autor das melhores aulas que assisti na UFRJ.

A todos que de alguma forma ajudaram a me tornar a pessoa que sou hoje.

v

Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/UFRJ como

parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Mecânico

USINA HÍBRIDA HELIOTÉRMICA-BIOMASSA EM CICLO RANKINE

ORGÂNICO

Pedro Lee Moraes

Fevereiro/2017

Orientador: Alexandre Salem Szklo

Programa: Engenharia Mecânica

O objetivo deste trabalho é propor uma usina híbrida heliotérmica-biomassa em

Ciclo Rankine Orgânico a �m de aproveitar as vantagens de cada uma das tecnologias

escolhidas e fornecer energia elétrica de forma segura. Foi suposta uma demanda

constante de 2MW a ser gerada apenas pela usina.

No funcionamento dela, foi utilizada a tecnologia Linear Fresnel para absorção

da energia solar, com termoacumulação, que possibilita armazenar energia térmica

para uso posterior. Ainda existe conectada ao sistema uma caldeira a biomassa

que fornecerá a demanda térmica no caso de o sistema solar não conseguir suprir

as necessidades energéticas para o funcionamento em carga nominal da turbina,

que funcionará usando um Ciclo Rankine Orgânico com o pentano como �uido de

trabalho.

Calculada a e�ciência do Ciclo Rankine Orgânico a pentano, 16,55%, descobrimos

a carga térmica que cada parte do sistema deve prover à turbina. Com isso, pode-se

determinar a área a ser coberta pelo campo solar, 10,5 hectares, e a área para a

cultura energética da jurema-preta, de 280,8 hectares, para fornecer a quantidade

de biomassa �orestal a ser usada anualmente, 2.432 toneladas. Esta área totaliza,

então, 291,3 hectares para a usina híbrida nos fornecer 2MW.

vi

Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial ful�llment

of the requirements for the degree of Mechanical Engineer

SOLARTHERMAL-BIOMASS HYBRID PLANT ON AN ORGANIC RANKINE

CYCLE

Pedro Lee Moraes

February/2017

Advisor: Alexandre Salem Szklo

Department: Mechanical Engineering

The aim of this work is to propose a hybrid heliothermal-biomass plant using

an Organic Rankine cycle in order to take advantage of each of the technologies

and provide electricity safely. A constant demand of 2MW was established, being it

supplied by the proposed plant.

The Linear Fresnel technology for solar energy absorption is used, with thermal

storage, which allows storing thermal energy for later use. There is also a biomass

boiler that provides the thermal energy in case the solar system is unable to meet

the requirements for the rated load of the turbine, which will work using an Organic

Rankine cycle with pentane as working �uid.

After calculating the e�ciency of the Organic Rankine cycle with pentane, equal

to 16.55%, we found the thermal load that each part of the system should provide

to the turbine. Thus, it is possible to determine the area occupied by the solar

�eld, 10.5 hectares, and the area needed for jurema-preta energetic culture, 280.8

hectares, enough to provide the amount of biomass to be used annually, 2,432 tonnes.

To produce 2 MW of electricity, 291.3 hectares would be needed by this plant.

vii

Sumário

Lista de Figuras xi

Lista de Tabelas xiii

1 Introdução 1

1.1 Motivação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2

1.2 Organização do Trabalho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3

2 A Energia Solar 4

2.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4

2.2 Radiação Solar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4

2.2.1 Radiação Solar Extraterrestre . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4

2.2.2 Radiação Solar Terrestre . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5

2.3 Sistemas de Medição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7

2.4 Potencial Solar Brasileiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10

3 Ciclo Rankine Orgânico 11

3.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

3.2 Revisão Teórica Termodinâmica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

3.2.1 Propriedades Termodinâmicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

3.2.2 Leis da Termodinâmica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12

3.2.3 Máquinas Térmicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14

3.3 Comparação entre Ciclo Rankine Orgânico e Ciclo Rankine Vapor . . 18

3.3.1 Resumo Comparativo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20

3.4 Fluido de Trabalho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21

3.5 Propriedades Termofísicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22

viii

3.6 Con�gurações do Ciclo Rankine Orgânico . . . . . . . . . . . . . . . . 24

4 Energia Solar Térmica Concentrada 26

4.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26

4.2 Cilindro Parabólico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27

4.2.1 Concentradores Cilindro-Parabólicos . . . . . . . . . . . . . . 28

4.2.2 Tubos Receptores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28

4.2.3 Fluido de Transferência de Calor . . . . . . . . . . . . . . . . 29

4.2.4 Rastreamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29

4.3 Concentradores Lineares Fresnel . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30

4.3.1 Re�etores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31

4.3.2 Receptor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31

4.3.3 Fluido de Transferência de Calor . . . . . . . . . . . . . . . . 32

4.4 Torre de Receptor Central . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32

4.4.1 Heliostato . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33

4.4.2 Receptor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34

4.4.3 Fluido de Transferência de Calor . . . . . . . . . . . . . . . . 35

4.5 Discos Parabólicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35

4.5.1 Motor Stirling . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36

4.6 Termoacumulação e Múltiplo Solar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36

4.7 Plantas Híbridas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38

5 Biomassa 39

5.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39

5.2 Biomassa no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40

5.2.1 Biomassa de Origem Florestal . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42

5.2.2 Biomassa de Origem Agrícola . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43

5.2.3 Biomassa Derivada de Resíduos Urbanos e Industriais . . . . . 45

5.3 Tecnologia para Geração de Energia Elétrica a partir da Biomassa . . 46

6 Estudo de Produção de Energia Elétrica 49

6.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49

6.2 Modelo e Tecnologias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49

6.2.1 Demanda de Energia Elétrica . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49

ix

6.2.2 Localização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50

6.2.3 Tecnologia Heliotérmica: Linear Fresnel . . . . . . . . . . . . . 51

6.2.4 Fluido de Trabalho no Ciclo Rankine Orgânico: Pentano . . . 51

6.2.5 Biomassa: Jurema-Preta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54

6.3 System Advisor Module . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55

6.4 Dimensionamento da Usina CSP . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56

6.5 Back-up com Biomassa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57

6.6 Resultados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58

7 Conclusão 63

Referências Bibliográ�cas 65

x

Lista de Figuras

1.1 Geração de Energia Elétrica no Mundo [1] . . . . . . . . . . . . . . . 2

2.1 Redução da Irradiação Solar devido à Distância [2] . . . . . . . . . . 5

2.2 Radiação Solar Direta no Mundo [3] . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6

2.3 Órbita da Terra em torno do Sol [4] . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7

2.4 Piranômetro SR11 [5] . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8

2.5 Piranômetro com acessório para eclipse da Radiação Direta [6] . . . . 9

2.6 Pireliômetro DR01 [5] . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

3.1 Ciclo Carnot . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

3.2 Ciclo Stirling . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16

3.3 Ciclo Rankine . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

3.4 Ciclo Rankine Superaquecido . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18

3.5 E�ciência de Diferentes Ciclos [7] . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20

3.6 Diagrama dos tipos de Curvas de Saturação [7] . . . . . . . . . . . . . 22

3.7 Curvas de Saturação para algumas substâncias: Refrigerantes R123,

R134a e R245fa são �uidos isentrópicos; Tolueno, Heptano e Pentano

são �uidos secos, Água é �uido úmido [8] . . . . . . . . . . . . . . . . 23

3.8 Con�guração do Ciclo Rankine Orgânico [9] . . . . . . . . . . . . . . 24

3.9 Con�guração do Ciclo Rankine Orgânico Regenerativo [9] . . . . . . . 25

4.1 Calha Parabólica [10] . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28

4.2 Tubo Receptor ([11] . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29

4.3 Rastreamento ao Longo do Dia [12] . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30

4.4 Sistema CSP Linear Fresnel [13] . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31

4.5 Re�etor Secundário CSP Linear Fresnel [14] . . . . . . . . . . . . . . 32

xi

4.6 Sistema CSP Torre Solar [14] . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33

4.7 Heliostato CSP Torre Solar [12] . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34

4.8 Receptor CSP Torre Solar [15] . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35

4.9 Discos Parabólicos com motor Stirling [16] . . . . . . . . . . . . . . . 36

4.10 Termoacumulação com Sal Fundido [17] . . . . . . . . . . . . . . . . . 37

5.1 Geração de Eletricidade por Fonte [18] . . . . . . . . . . . . . . . . . 40

5.2 Geração de Eletricidade por Fonte no Brasil [19] . . . . . . . . . . . . 41

5.3 Histórico de Safras de Grãos [20] . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44

5.4 Rotas Tecnológicas para Geração de Energia [21], . . . . . . . . . . . 47

5.5 Processos de Conversão para Geração de Energia [22] . . . . . . . . . 48

6.1 Dados de Bom Jesus da Lapa (retirada do SAM, 2017) . . . . . . . . 50

6.2 Curva de Saturação do Pentano (Feita pelo autor com dados do soft-

ware REFPROP, 2017) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52

6.3 Radiação do Melhor dia e Radiação de Projeto em Bom Jesus da

Lapa (retirada do SAM e modi�cada pelo autor, 2017) . . . . . . . . 57

6.4 Dados para os Loops do Campo Solar (retirada SAM, 2017) . . . . . 58

6.5 Área Necessária para o Campo Solar (retirada do SAM, 2017) . . . . 59

6.6 Fluido de Trabalho Usado (retirada do SAM, 2017) . . . . . . . . . . 59

6.7 Termoacumulação do Usina (retirada do SAM, 2017) . . . . . . . . . 60

6.8 Energia Produzida pelo Campo Solar (retirada do SAM, 2017) . . . . 60

xii

Lista de Tabelas

3.1 Comparação entre ciclos Rankine orgânico e a vapor [7] . . . . . . . . 21

5.1 Densidades e Poderes Calorí�cos de Biomassa Florestal [21] . . . . . . 43

5.2 Poder Calorí�co de Resíduos Agrícolas [21] . . . . . . . . . . . . . . . 45

6.1 Tabela de Cálculo dos Pontos do Ciclo Rankine Orgânico (Feito pelo

autor, 2017) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52

6.2 E�ciências do Ciclo (Feito pelo autor, 2017) . . . . . . . . . . . . . . 54

6.3 Dados de Propriedades Físicas, Produtividade e Custo da Jurema-

Preta [23] . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55

6.4 Produção de Energia Elétrica com base CSP por mês (retirada do

SAM, 2017) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61

xiii

Capítulo 1

Introdução

O aquecimento global e a maior frequência de eventos naturais extremos chama-

ram a atenção da humanidade para o uso indiscriminado de recursos naturais que

tivemos desde a revolução industrial no século XVIII[24][25]. A partir desta época,

os combustíveis fósseis disponibilizaram uma enorme oferta de energia, que por sua

vez estimulou mais ainda o crescimento tecnológico e econômico, além da grande

melhora em qualidade de vida da população[26]. Com isso, houve também a criação

de novas atividades e serviços, cidades maiores foram surgindo e a demanda ener-

gética �cando cada vez mais alta. A solução rápida foi o consumo descontrolado

de recursos para a suprir a necessidade de energia elétrica, a nova força-motriz do

mundo[27]. Alguns recursos considerados não renováveis, por demorarem milhões de

anos para a reposição natural, como o petróleo e o carvão mineral, estão destinados

a acabar se continuarmos a extraí-los no ritmo acelerado em que estamos. Além de

não renováveis, quando usadas para obtenção de energia, são fontes altamente polu-

entes. Emitem para a atmosfera gases que resultam no efeito estufa e que devemos

reduzir para atenuar o avanço do aquecimento global[1].

1

Figura 1.1: Geração de Energia Elétrica no Mundo [1]

A partir desta preocupação, deu-se o início de investimentos pesados na área

de energias renováveis, que utilizam recursos pouco ou nada poluentes e de rápida

reposição na natureza, como o vento, luz solar, resíduos �orestais e agrícolas, etc.

Com o objetivo de diversi�car a matriz energética mundial, a �m de causar menos

danos ao meio ambiente, as fontes renováveis de energia têm ganhado muito espaço

ao longo dos últimos anos[28].

1.1 Motivação

Apesar da necessidade de diversi�carmos a matriz energética brasileira, algumas

fontes de energia renováveis, como solar e eólica, são intermitentes. Dependendo de

fatores climáticos elas podem em um dia ter resultados excelentes e no seguinte não

produzir quase nada, elas não garantem a segurança energética.

O propósito deste trabalho é dimensionar uma usina modelo que aproveite os be-

nefícios de diferentes fontes renováveis de energia, de forma que mantenham um for-

necimento estável de energia. Nele, será projetada uma usina híbrida de heliotérmica

com biomassa, com concentrador solar do tipo linear Fresnel e termoacumulação,

usando um sistema de backup com o consumo de biomassa �orestal, a jurema-preta.

A turbina que transforma a energia térmica em cinética rotativa, funcionará em um

Ciclo Rankine Orgânico, que usará uma substância orgânica, o pentano, ao invés

2

de vapor de água. As tecnologias e as razões pelas escolhas do tipo de usina he-

liotérmica, biomassa a ser queimada e �uido usado no ciclo termodinâmico, serão

explicadas nos capítulos seguintes.

1.2 Organização do Trabalho

Para melhor compreensão deste documento, o texto foi separado em 7 capítulos,

de acordo com seus temas. Neste primeiro capítulo, temos uma breve introdução

ao assunto de energia no mundo para a contextualização da leitura. No segundo,

iniciamos os estudos sobre energia solar. O terceiro trata de uma rápida introdução

à Termodinâmica para melhor entendimento do Ciclo Rankine Orgânico, também

presente no capítulo. No quarto capítulo são apresentadas as tecnologias mais impor-

tantes da Energia Solar Térmica Concentrada. No quinto, falamos sobre Biomassa,

suas particularidades e sobre o setor no Brasil. No sexto, desenvolveremos uma apli-

cação do uso das tecnologias anteriormente apresentadas, uma usina solar térmica

concentrada, com armazenamento térmico e sistema de backup usando biomassa de

jurema-preta, o acionamento do gerador de energia elétrica será através de uma tur-

bina de ciclo Rankine Orgânico usando pentano como �uido de trabalho. No sétimo

e último capítulo, discutimos os resultados e conclusões deste trabalho.

3

Capítulo 2

A Energia Solar

2.1 Introdução

A energia proveniente do Sol é, indiretamente, quem produz muitas outras formas

de energia no planeta. O vento, as ondas, muito se deve à energia solar. Ela não

dá apenas a possibilidade de vida na Terra, como é responsável também pelos ciclos

d'água da natureza.

Nossa espécie vem usando sua energia de diversas maneiras. Em suas formas

mais básicas e antigas, a usamos para iluminação, aquecimento, secagem, etc. Hoje

em dia, usamos na geração de energia elétrica em instalações heliotérmicas e foto-

voltaicas e até com refrigeração.

Neste capítulo serão apresentados aspectos da energia solar, radiação, potencial

de geração de energia e instrumentos de medição.

2.2 Radiação Solar

2.2.1 Radiação Solar Extraterrestre

A superfície do Sol emite cerca de 6,33 x 107 W/m2 que se espalha em todas as

direções do espaço ao seu redor[2]. Com cerca de 1,50 x 108 km de distância para

percorrer, a radiação que atravessa o espaço do Sol até nós chega com apenas 1.367

W/m2, uma minúscula parte do que o Sol produz, mas o su�ciente para a vida aqui.

4

Figura 2.1: Redução da Irradiação Solar devido à Distância [2]

Essa radiação é formada por diversas faixas do espectro eletromagnético. Dentre

estas faixas está a luz que vemos com nossos olhos, mas há também muitas outras

que são aproveitadas por nós.

2.2.2 Radiação Solar Terrestre

A radiação solar pode também ser classi�cada não só pelo seu comprimento de onda,

mas também de que direção e como ela chega na Terra.

Consideramos como radiação direta, a radiação que chega diretamente do Sol. A

trajetória das ondas eletromagnéticas não sofreu alterações consideráveis de direção

e chegam concentradas, é o que percebemos ao olharmos para o Sol, luz muito forte

para nossos olhos.

5

Figura 2.2: Radiação Solar Direta no Mundo [3]

A direção pela qual a radiação direta chega à Terra depende do movimento ao re-

dor do Sol. Nosso planeta descreve uma trajetória elíptica ao redor da estrela, em um

plano com inclinação de 23,5o com relação à linha do equador, aproximadamente[4].

Como consequência disso, quanto mais distante da Linha do Equador, maior a di-

ferença entre um dia de verão e um dia de inverno em certo lugar. Ao longo do

ano os ângulos que o Sol forma com a Terra vão mudando, causando diferenças de

posição no céu de um dia para outro. Assim, é muito importante que projetos de

aproveitamento de energia solar possuam rastreadores solares ou estejam inclinados

de forma que a radiação incida sobre eles da melhor forma possível, garantindo um

maior rendimento.

6

Figura 2.3: Órbita da Terra em torno do Sol [4]

A radiação difusa é a luz que vemos de todas as outras direções, que não vem

diretamente do Sol. Ela sofreu desvios antes de chegar ao seu destino, perdendo

assim sua concentração, mas vindo agora de diversas direções. Em dias bem nu-

blados, com o céu inteiramente coberto por nuvens, só temos a radiação difusa, por

exemplo.

Ao juntarmos os dois tipos de radiação, temos a radiação global. Em projetos

fotovoltaicos, por exemplo, é ela que deve ser considerada. Enquanto em usinas

heliotérmicas, somente a radiação direta nos interessa, devido aos princípios óticos

usados neste tipo de projeto.

2.3 Sistemas de Medição

Para medir a radiação solar a �m de desenvolver projetos de aproveitamento solar

para energia elétrica, podemos usar diferentes sensores dependendo de que tipo de

dados precisamos, se radiação global, difusa ou direta.

Usamos o piranômetro para medir a irradiância solar global. Ele consiste em

7

um conjunto de termopares conectados em série que, quando apresenta diferença

de temperatura entre as junções, cria uma força eletromotriz. Esta força é então

medida e representa a radiação global. Se a instalação do piranômetro for em uma

superfície horizontalmente plana, estaremos medindo a irradiância horizontal global

ou em inglês, como mais visto na literatura, global horizontal irradiance (GHI).

Figura 2.4: Piranômetro SR11 [5]

Para a medição da radiação difusa, utilizamos também piranômetros, mas agora

com equipamento que eclipsa a radiação direta. Usando um acessório que segue

a posição do sol, bloqueando-o, é possível obtermos apenas a radiação difusa. Na

�gura abaixo temos um exemplo de piranômetro para medição da radiação difusa.

8

Figura 2.5: Piranômetro com acessório para eclipse da Radiação Direta [6]

O pireliômetro serve para medirmos a radiação direta. Ele é, basicamente, um

piranômetro ao �nal de um tubo que permite a entrada da luz apenas pelo outro

lado do mesmo, permitindo apenas um ângulo limitado de entrada de irradiância.

Este equipamento precisa também de um rastreador, que mantenha-o apontando

para o Sol. Segue esquema na �gura abaixo.

Figura 2.6: Pireliômetro DR01 [5]

9

2.4 Potencial Solar Brasileiro

O potencial solar brasileiro é um dos melhores do mundo. Além de ter proporções

continentais, grande parte do território brasileiro está perto da Linha do Equador,

de maneira que ao longo do ano e dos dias não haja grandes variações de radiação.

O valor de incidência solar em qualquer região do Brasil é maior que na maioria dos

países da União Européia, como a Alemanha, a França e a Espanha, onde projetos

solares tem grandes incentivos governamentais e são amplamente difundidos[29].

Como a região Nordeste do Brasil é semiárida e bem próxima da latitude zero,

ela tem a área sob maior incidência solar, que varia entre 5.700 e 6.100 Wh/m2dia,

como podemos ver na Figura 2.10 a seguir. Este potencial está no nível dos melhores

do mundo, sendo comparável a desertos e áreas áridas como o Mojave, o Oriente

Médio e o Norte da África[30].

O local com a melhor radiação global do Brasil está localizado no norte da Bahia,

perto dos limites com o estado do Piauí, e possui uma máxima de 6,5kWh/m2dia[31].

É uma área com baixa precipitação ao longo do ano e possui a menor média anual

de cobertura de nuvens do país.

De acordo com o Presidente do Departamento Nacional de Aquecimento Solar

(Dasol) Amaurício Gomes, o uso do aquecimento solar em processos industriais

pode reduzir custos de energia em até 20%, número que pode chegar em 70% em

uso residencial[32]. No entanto, faltam políticas de incentivo.

10

Capítulo 3

Ciclo Rankine Orgânico

3.1 Introdução

O Ciclo Rankine Orgânico é, basicamente, uma modi�cação do Ciclo Rankine a

Vapor, utilizado em grande escala em usinas termelétricas em todo mundo há várias

décadas. A diferença principal entre eles é o �uido de trabalho empregado. No

lugar de vapor de água, utilizado no Rankine a Vapor tradicional, o Ciclo Rankine

Orgânico utiliza um �uido orgânico, do qual sai o seu nome. Apesar de diferen-

tes, apresentam a con�guração similar na estruturação de componentes e processos

termodinâmicos. Neste capítulo, faremos uma pequena revisão de Termodinâmica,

que será útil para melhor compreensão do trabalho, além de apresentar algumas

características do Ciclo Rankine Orgânico.

3.2 Revisão Teórica Termodinâmica

É importante a compreensão de alguns conceitos da termodinâmica para entender

melhor o funcionamento das usinas termelétricas. Logo, serão apresentadas aqui

propriedades termodinâmicas, as leis que regem a Termodinâmica e alguns ciclos

Termodinâmicos, dos quais se retira energia em forma de trabalho mecânico.

3.2.1 Propriedades Termodinâmicas

As propriedades termodinâmicas são as variáveis que de�nem o estado termodinâ-

mico de um sistema em um determinado instante do tempo, podendo de�nir um

11

valor em qualquer momento independente dos processos pelos quais o sistema pas-

sou. Consideramos intensivas as características não aditivas e que independem da

extensão do sistema, como a temperatura e a pressão, que podem variar dentro do

mesmo. Já as extensivas estão associadas ao sistema como um todo, sendo equiva-

lente à soma das partes da composição do sistema, como entropia, volume e energia.

Um sistema pode sofrer várias mudanças em seu estado termodinâmico ao longo

do tempo. Quando uma sucessão de processos ocorre de forma a voltar ao estado

inicial, dizemos que o sistema percorreu um ciclo termodinâmico. Esses ciclos são

o princípio de funcionamento das máquinas térmicas, que dentre seus usos está a

geração de energia elétrica em usinas termelétricas.

3.2.2 Leis da Termodinâmica

Lei Zero

A lei zero nomeia o estado de equilíbrio termodinâmico. O princípio básico de

que, dado um sistema completamente isolado, sem permitir trocas de energia com

o exterior, há um estado que, após transcorrido tempo para o regime permanente,

terá todas as suas grandezas termodinâmicas constantes. Quando o sistema atinge

esse estado, ele estará em equilíbrio termodinâmico.

A lei zero ainda diz que caso dois sistemas, A e B, cada um em seu estado de

equilíbrio, forem colocados um a um em contato com um sistema C também em

equilíbrio e veri�car-se que estes mantiveram seus estados de equilíbrio originais,

estes não estarão em equilíbrio apenas com C, mas também estarão entre si. Se

A = C e B = C, logo A = B. Se os três forem colocados em contato com uma

fronteira não restritiva entre elas, todos manterão seus estados originais.

Esta lei básica é o que possibilita a de�nição macroscópica de temperatura e

também a construção de termômetros.

Primeira Lei

A primeira lei da Termodinâmica é a do princípio de conservação de energia. De

acordo com ele, a energia não pode ser criada ou destruída, mas transformada de um

tipo para outro. Ela diz que a variação de energia total de um sistema é igual a soma

12

das trocas de energia realizadas entre ele e o meio externo na forma de transferência

de calor e de trabalho.

Ela de�ne a equivalência entre trabalho e calor trocados entre o sistema e seu

meio externo como variação de energia interna ao sistema. Desprezando a variação

de energia mecânca do sistema, podemos descrevê-la em uma equação da seguinte

forma:

∆U = Q−W (3.1)

Onde U é a energia interna do sistema, Q o calor e W o trabalho trocados com

o meio externo.

A energia interna é uma propriedade extensiva que indica fenômenos micros-

cópicos das partículas do sistema. Um corpo ao receber calor, eleva sua energia

interna.

O calor é o �uxo de energia que passa de um sistema de maior temperatura para

um de menor, ocorrendo exclusivamente por essa diferença entre as temperaturas.

Por convenção, o calor é positivo quando é recebido pelo sistema e negativo quando

extraído do sistema.

Trabalho é realizado pelo sistema quando o único efeito ao meio externo, ao

interagir com o sistema, é o movimento mecânico de alguma de suas partes. O

trabalho é positivo quando é realizado pelo sistema e negativo quando realizado

sobre o sistema.

Para a realização de trabalho em uma máquina térmica, é necessária a trans-

formação de energia térmica em energia mecânica. Para isso deve-se alimentar a

máquina constantemente com calor de alta qualidade, que realiza trabalho, e re-

jeitar calor a temperaturas mais baixas do outro lado, havendo um equilíbrio de

energia.

Segunda Lei

O estudo de termodinâmica permite determinar a direção natural de processos físicos

e químicos e suas condições de reversibilidade. A segunda lei introduz o conceito de

entropia, uma medida do grau de irreversibilidade de um processo termodinâmico.

13

Ao mudar de estado, um sistema sofre uma variação de entropia dada por:

∆S =

∫ f

i

δQ

T+1 S2,ger (3.2)

Onde i e f são os estados inicial e �nal, ∆Q é o aumento de energia térmica

transferida ao sistema fechado, T é a temperatura no contato onde há a troca, e

∆S é a variação de entropia no sistema. Existe ainda o termo 1S2,ger, produção de

entropia, sempre maior ou igual a zero, segundo a 2a Lei.

Em sistemas adiabáticos, sem trocas de calor com o meio externo, alguns pro-

cessos ocorrem em via única, sendo impossível voltar ao estado original. A entropia

de um sistema adiabático apenas aumenta ou se mantém constante, nunca diminui.

Se um processo causar o aumento de entropia, o estado original não poderá ser

resgatado, a menos que se viole a restrição adiabática imposta pela barreira.

A segunda lei estabelece um sentido para o tempo, em que os sistemas termodinâ-

micos sempre procuram o aumento da entropia. Apesar de na prática não existirem

processos completamente reversíveis, devido a perdas, o estudo é importante para a

compreensão de máquinas térmicas, que serão vistas a seguir.

3.2.3 Máquinas Térmicas

As máquinas térmicas são sistemas que usam energia térmica para a conversão em

trabalho mecânico através da transferência de calor de uma fonte quente para uma

fonte fria em uma operação chamada de ciclo termodinâmico. Em geral, quanto

maior a diferença de temperatura, maior a e�ciência do ciclo.

Existem muitos ciclos diferentes sob os quais máquinas térmicas podem operar.

Este capítulo tratará das três de maior importância para este trabalho, os ciclos de

Carnot, Stirling e Rankine.

Ciclo Carnot

É o ciclo executado por uma máquina de Carnot, idealizada pelo engenheiro francês

Nicolas Léonoard Sadi Carnot. Este é o ciclo mais e�ciente possível em uma máquina

térmica e sua e�ciência é função apenas de suas temperaturas de fonte quente (TH)

14

e fonte fria (TL).

ηCarnot = 1− TLTH

(3.3)

Ele consiste de quatro processos reversíveis, independente do �uido utilizado.

• Expansão Isentrópica Reversível, em que a temperatura do �uido de trabalho

diminui desde a temperatura da fonte quente até a do reservatório frio.

• Expansão Isotérmica Reversível, na qual o calor é rejeitado do �uido de trabalho

para uma fonte fria.

• Compressão Isentrópica Reversível, em que a temperatura do �uido de trabalho

aumenta desde a temperatura da fonte fria até a do reservatório quente.

• Compressão Isotérmica Reversível, na qual calor é transferido para o �uido a

partir de uma fonte quente, um reservatório a alta temperatura.

No entanto, este ciclo não é usado em máquinas térmicas reais, é apenas uma

idealização teórica. Ele é estudado para analisar a viabilidade de outros motores

térmicos já que sua e�ciência é a maior possível para qualquer máquina térmica.

Figura 3.1: Ciclo Carnot

Ciclo Stirling

É um ciclo termodinâmico que descreve o princípio de funcionamento de motores

Stirling, inventado, desenvolvido e patenteado pelo reverendo Robert Stirling com

a ajuda de seu irmão, um engenheiro. Este ciclo pode ser usado em motores apro-

veitando a concentração solar na tecnologia de Discos Parabólicos. O Ciclo Stirling

Ideal é um ciclo fechado que se parece com o ciclo de Carnot, possuindo também

um alto rendimento.

15

É composto de quatro processos:

• Expansão Isotérmica, na qual a fonte de calor externa fornece calor ao �uido

de trabalho enquanto ele se expande a uma temperatura constante.

• Resfriamento Isovolumétrico, no qual o calor é retirado do �uido pela fonte

fria.

• Compressão isotérmica, no qual o �uido é refrigerado enquanto seu volume

diminui para que sua temperatura não aumente.

• Aquecimento Isovolumétrico, no qual o calor é adicionado ao �uido pela fonte

quente.

Figura 3.2: Ciclo Stirling

Ciclo Rankine

É neste ciclo termodinâmico em que se baseia o ciclo Rankine Orgânico que será

estudado neste trabalho. Este ciclo é o mais utilizado para a geração de energia

elétrica, podendo usar como fonte de calor a combustão de qualquer hidrocarboneto

ou o aquecimento solar. Ele tem o nome de seu descobridor William John Macquorn

Rankine, um professor da Universidade de Glasgow.

O �uido de trabalho geralmente utilizado é a água, que ao longo do ciclo é

evaporada e condensada. Os seguintes processos acontecem idealmente da seguinte

forma no Ciclo Rankine simples:

• Expansão Adiabática Reversível, em que o �uido passa por uma turbina para

geral trabalho. A temperatura e pressão diminuem neste passo.

16

• Condensação Isobárica, em que o �uido é resfriado até condição de líquido

saturado. Então o ciclo se repete.

• Compressão adiabática reversível, em que o �uido é bombeado de uma pressão

baixa para uma mais alta.

• Evaporação Isobárica, em que o �uido é aquecido e evaporado numa caldeira

a uma pressão constante.

Figura 3.3: Ciclo Rankine

Na realidade, nenhum destes processos são realmente adiabáticos reversíveis, pois

sempre há perda de calor, por menor que seja. Existem algumas variações deste ciclo

com processos a mais, como o superaquecimento ou a regeneração de calor, que,

além de ajudar na prevenção da condensação indesejada, aumentam a e�ciência do

sistema ao recuperar perdas exergéticas. Porém o princípio de funcionamento é o

mesmo.

17

Figura 3.4: Ciclo Rankine Superaquecido

3.3 Comparação entre Ciclo Rankine Orgânico e Ci-

clo Rankine Vapor

O uso do Ciclo Rankine Orgânico (CRO) apresenta algumas vantagens e desvanta-

gens quando comparado com o convencional, fazendo com que ele seja interessante

dependendo das condições de instalações. O fato de utilizar �uidos diferentes da

água traz as seguintes vantagens e desvantagens:

• Temperatura de evaporação:

A menor temperatura de ebulição dos �uidos orgânicos permite o uso de tem-

peraturas mais baixas para seu aproveitamento, aumentando as possibilidades de

fontes de calor para aquecê-lo.

• Superaquecimento:

Devido à sua curva de Molier diferente da curva da água, o vapor orgânico

mantém-se sobreaquecido na saída da turbina, eliminando a necessidade de supera-

quecer o �uido antes de sua expansão. Esta propriedade também elimina os proble-

mas de erosão nas pás da turbina, o que aumenta sua vida útil consideravelmente[33].

• Temperatura e pressão na entrada da turbina:

Ao usar �uidos orgânicos no ciclo Rankine, estamos reduzindo a temperatura e

pressão de entrada dos �uidos na turbina, que é muito alta no ciclo a vapor, devido ao

superaquecimento. Essa redução de temperatura e, consequentemente, pressão faz

18

com que a caldeira e as pás da turbina sejam muito menos exigidas mecanicamente,

causando um custo menor de instalações.

• Design da turbina:

A variação de entalpia e razão de expansão nas turbinas do ciclo a vapor são

elevadas, causando o uso de múltiplos estágios em uma turbina. Já no CRO, a

diferença de entalpia do �uido orgânico é consideravelmente mais baixa, podendo

usar turbinas de simples ou de duplo estágio. Devido a essa maior simplicidade,

pode-se acoplar a turbina diretamente ao gerador, tirando a necessidade de caixas

de redução, o que aumenta a e�ciência, reduz custos e tamanho do equipamento[7].

• Consumo da bomba:

A diferença de entalpia para diferentes temperaturas de �uidos orgânicos é menor

do que a da água, fazendo que a vazão mássica de �uido para uma mesma potência

térmica seja maior. Devido a esse aumento de carga, a bomba requer um consumo

maior de energia.

• Pressão na caldeira:

Como as temperaturas do �uido orgânico não precisam ser tão elevadas, a pressão

também não se eleva tanto em caldeiras utilizadas no CRO. Ao invés de chegar a

60 ou 70 bar, como em ciclos convencionais, o �uido orgânico não excede os 30 bar,

diminuindo os requisitos do projeto e, logo, seus custos[8].

• E�ciência:

Apesar de muitas vantagens do CRO, sua e�ciência é baixa se comparada ao

ciclo a vapor tradicional. Seu rendimento não passa dos 24%, enquanto o ciclo a

vapor normalmente ultrapassa os 30%[8].

19

Figura 3.5: E�ciência de Diferentes Ciclos [7]

• Características do �uido:

O uso da água ao invés de �uido orgânico, para aplicação no ciclo Rankine, é

muito mais conveniente. A água é um �uido que apresenta altíssima disponibilidade,

não é tóxico, in�amável ou nocivo para o meio ambiente e possui baixa viscosidade

além de ser estável quimicamente. Muitos dos �uidos orgânicos são in�amáveis e

requerem cuidados especiais para transporte e uso seguro.

3.3.1 Resumo Comparativo

O CRO apresenta muitas vantagens em comparação com o convencional para usinas

de baixa e média potência, usualmente menores do que 3 MW. Para potências e

capacidades maiores, o ciclo a vapor se mostra mais vantajoso, principalmente por

sua alta e�ciência.

20

Tabela 3.1: Comparação entre ciclos Rankine orgânico e a vapor [7]

Vantagens CRO Vantagens Ciclo a Vapor

Trabalho com fontes a menores temperaturas Fluido mais conveniente

Ausência de superaquecimento Menor consumo na bomba

Baixa temperatura na turbina Maior e�ciência

Design da turbina mais simple

Menor custo

Menor pressão na caldeira

Melhor relação tamanho/peso

3.4 Fluido de Trabalho

A principal característica de um ciclo Rankine Orgânico é o uso de um composto

orgânico como �uido de trabalho. Este �uido orgânico é o nome dado a substâncias

baseadas no carbono, muito encontrada nos seres vivos em nosso planeta, por isso

orgânicas.

Esta denominação se dá a uma grande variedade de substâncias com propriedades

muito diferentes entre si. Para aplicações em CRO, são consideradas principalmente

refrigerantes. Eles são �uidos empregados em ciclos termodinâmicos com o objetivo

de transferir calor e os mais utilizados são os �uorcarbonetos e os hidrocarbonetos,

entre outros.

O desempenho e características do Ciclo Rankine Orgânico são condicionados

pela escolha de �uido de trabalho, principal fator de sucesso deste tipo de ciclo. A

escolha do �uido torna-se, então, de extrema importância para o aproveitamento do

CRO. Queremos que a escolha do �uido nos proporcione o melhor rendimento da

energia térmica, levando em conta as outras condições disponíveis, como tempera-

turas de fontes quente e fria, potência da bomba, etc.

21

3.5 Propriedades Termofísicas

O principal motivo da escolha de um �uido orgânico em um ciclo termodinâmico é

a combinação de suas propriedades termofísicas, que afetam o rendimento do ciclo.

Quanto aos tipos de curva de vapor saturado segundo a variação de temperatura e

entropia num grá�co T x s, podemos classi�car três categorias de �uido:

Figura 3.6: Diagrama dos tipos de Curvas de Saturação [7]

• Fluido Isentrópico: com derivada dT/ds in�nita, ao expandirmos o vapor ao

longo de uma linha vertical, expansão isentrópica, o vapor permanece saturado até

a saída da turbina, sem ocorrer condensação.

• Fluido Úmido: com derivada dt/ds negativa, a expansão ocorre na zona de

vapor saturado, necessitando o sobreaquecimento para não ocorrer condensação na

turbina, como ocorre nos ciclos Rankine vapor que são movidos a água, um �uido

úmido.

• Fluido Seco: com derivada dT/ds positiva, após a expansão isentrópica o �uido

se encontra sobreaquecido. O uso deste �uido não oferece riscos de erosão devido à

condensação.

A �gura abaixo apresenta diferentes �uidos e suas curvas de saturação.

22

Figura 3.7: Curvas de Saturação para algumas substâncias: Refrigerantes R123,

R134a e R245fa são �uidos isentrópicos; Tolueno, Heptano e Pentano são �uidos

secos, Água é �uido úmido [8]

Outra característica importante é a massa especí�ca do �uido de trabalho, prin-

cipalmente para �uidos com baixa pressão de vapor. Um �uido de baixa densidade

exigiria uma grande vazão volumétrica, gerando fortes perdas de carga nos trocado-

res de calor e aumento no tamanho e custos da máquina. Já uma viscosidade baixa

nas duas fases é fundamental para reduzir o atrito e otimizar as trocas de calor no

ciclo.

Fluidos orgânicos apresentam, em geral, problemas a altas temperaturas, em que

eles se decompõem ou deterioram. Devemos escolher então um �uido que suporte

as temperaturas e pressões de operação em todos os processos do ciclo. Além disso,

a substância orgânica deve manter-se �uida nas temperaturas mais baixas do ciclo,

na temperatura ambiente, para evitar o congelamento do mesmo.

23

3.6 Con�gurações do Ciclo Rankine Orgânico

O Ciclo Rankine Orgânico é muito similar ao Rankine convencional. Como apresen-

tado anteriormente, os processos acontecem da seguinte forma:

O �uido de trabalho é evaporado no evaporador com calor de uma fonte quente.

Logo após, realiza-se uma expansão na turbina, em que temos a conversão em traba-

lho mecânico, que é convertido em energia elétrica através de um gerador acoplado

à turbina. Em sequida, o �uido é resfriado no condensador perdendo calor para a

fonte fria até se obter líquido saturado. Em fase líquida, uma bomba eleva a pressão

do líquido e envia-o ao evaporador, onde reiniciamos o ciclo.

Figura 3.8: Con�guração do Ciclo Rankine Orgânico [9]

Existem algumas variações desta con�guração básica de CRO, porém não tantas

como para o ciclo Rankine tradicional, devido a não haver necessidade de sobreaque-

cimento do �uido na expansão. Uma das modi�cações mais comuns é o uso de um

recuperador de calor entre as saídas da bomba e da turbina, que permite reduzir a

quantidade de calor necessária para a evaporação do �uido orgânico no evaporador.

O �uido após passar da bomba entra no recuperador, que o aquece usando calor

recuperado do vapor que saiu da turbina. Ele é pré-aquecido e então encaminhado

ao evaporador. A �gura a seguir ilustra esta con�guração.

24

Figura 3.9: Con�guração do Ciclo Rankine Orgânico Regenerativo [9]

25

Capítulo 4

Energia Solar Térmica Concentrada

4.1 Introdução

Existem diversas maneiras de aproveitarmos a energia solar para uso em nossas ta-

refas diárias, porém existem tecnologias que conseguem utilizá-la transformando-a

em outra que vem se mostrando cada vez mais importante em nossa civilização, a

energia elétrica. Podemos separar aqui as tecnologias que vêm conquistando maior

espaço no mundo: A tecnologia heliotérmica e a fotovoltaica. A energia solar foto-

voltaica usa princípios do efeito fotovoltaico, transformando a luz diretamente em

potencial elétrico. Já a energia solar heliotérmica, também conhecida como Con-

centrated Solar Power (CSP)[34], produz energia elétrica indiretamente, usando a

luz do Sol concentrada para gerar calor que posteriormente é usado para a produção

de energia cinética em uma turbina, como termelétricas convencionais, ou motor

que dá força a um gerador elétrico. Como o escopo deste trabalho é a energia solar

térmica, introduziremos neste capítulo as tecnologias mais conhecidas e utilizadas

deste tipo no mundo.

A energia solar concentrada está em sua infância se considerarmos outras fontes

renováveis de energia, tendo apenas 5 GW instalados no mundo ao �nal de 2015[35].

No entanto, ela está crescendo e vendo seus custos se reduzirem devido ao constante

desenvolvimento na área.

Apesar de os recursos solares globais serem equilibradamente distribuídos, as tec-

nologias CSP requerem quantidades mínimas de radiação direta, atualmente maiores

que 2.000 kWh/m2ano, para serem economicamente viáveis[34]. O potencial de ge-

26

ração e sua competitividade vão depender muito de fatores meteorológicos, como

umidade e nuvens no céu, e fatores ambientais, como poluição e poeira. Assim,

usinas heliotérmicas normalmente estão em regiões isoladas, áridas e ensolaradas,

como desertos. Em todos os casos, devemos ter um cuidado especial com a limpeza

dos re�etores, fator que in�uencia muito a re�etividade e logo a e�ciência solar.

As tecnologias CSP geralmente usam espelhos para concentrar radiação solar

e podem ser divididas em dois grupos, com base no tipo de foco que seus espelhos

possuem, foco em linha ou foco em ponto. As de foco em linha incluem as tecnologias

de calha parabólica e linear Fresnel. Estas utilizam sistemas rastreadores que giram

em um eixo. As de foco em ponto utilizam sistemas seguidores de dois eixos e são

a torre de receptor central e o disco parabólico[36]. A seguir serão apresentadas as

tecnologias mais usuais:

4.2 Cilindro Parabólico

A tecnologia que ainda domina no total de capacidade instalada é a de concentra-

dores cilindro-parabólicos, cerca de 90% do mercado até 2010[34]. Ela consiste de

espelhos coletores solares, tubos para recepção do calor, �uido para transferência de

calor, trocadores de calor, uma turbina ciclo Rankine a vapor d'água e um gerador.

Além disso, ela possui um sistema rastreador (tracking) de um eixo para alinhar o

foco do espelho com a direção do sol.

Não é coincidência que esta tecnologia seja a mais desenvolvida mundo a fora, ela

possui a experiência acumulada de anos de operação das usinas SEGS, construídas

no deserto do Mojave, na Califórnia, nos anos 80[37]. Este complexo consistia

de 9 usinas de cilindro parabólico que ao longo dos anos acumularam milhares de

horas de operação e com isso impulsionaram a tecnologia até seu estado atual.

O mesmo não aconteceu com outras tecnologias solar térmicas para a geração de

eletricidade, criando assim uma maior con�ança de investidores na tecnologia dos

cilindros parabólicos.

A orientação das calhas pode ser Norte-Sul ou Leste-Oeste dependendo da curva

de potência desejada. A Norte-Sul nos dá uma melhor produção de energia anual,

enquanto a Leste-Oeste nos dá uma maior geração ao meio-dia. Próximo à Linha do

27

Equador, a orientação N-S performa melhor, já que a latitude não interfere muito.

4.2.1 Concentradores Cilindro-Parabólicos

Os espelhos usados neste tipo de coletor são curvos na forma de uma parábola,

que faz com que toda luz que incide perpendicularmente ao plano do espelho re�ita

para o foco da parábola, onde se encontra o tubo receptor que será aquecido pela

irradiação concentrada. Esses espelhos, que tem em média 6 metros de altura e 12

de comprimento cada, são organizados em dezenas ou centenas de �leiras paralelas

para absorver a energia térmica[38].

Figura 4.1: Calha Parabólica [10]

4.2.2 Tubos Receptores

Estes tubos são �xados no foco do espelho parabólico e recebem a luz do Sol con-

centrada, absorvendo-a em forma de energia térmica. Eles são formados por dois

tubos concêntricos com vácuo entre os dois. O de fora é feito de vidro com camada

de antirre�exo, para permitir a passagem da luz sem muitas perdas. O de dentro

é de aço com revestimento preto para absorver a energia da luz e por dentro dele

passa o �uido para transferência de calor, o �uido de trabalho. O vácuo serve para

impedir as perdas de calor do sistema para o ambiente por convecção, já que são

quilômetros de tubos expostos ao ambiente.

28

Figura 4.2: Tubo Receptor ([11]

4.2.3 Fluido de Transferência de Calor

Os �uidos usados em usinas termossolares que passam por dentro do tubo de aço

possuem alta capacidade térmica, para mais efetivamente transferir o calor sem

perder suas características físico-químicas. Quanto mais altas as temperaturas que

o �uido suportar, maior a diferença de temperatura entre a fonte quente e a fonte fria

do sistema e melhor a e�ciência da conversão da energia térmica para a elétrica, como

vimos no capítulo anterior. Alguns dos �uidos utilizados são óleos minerais, vapor

d'água e misturas de sais fundidos. A escolha deste �uido será feita considerando,

primeiramente, a temperatura máxima de operação deste sistema.

4.2.4 Rastreamento

Durante o dia, o Sol vai atravessando o céu, movimentando-se lentamente para fora

do foco da calha parabólica. Para acompanhar sempre a direção correta, os espelhos

precisam estar acoplados a um equipamento de rastreamento.

O rastreador para a tecnologia de espelhos cilíndricos parabólicos serve para

alinhar a radiação direta com o foco da parábola e só necessita de movimento em

um eixo, que gira os espelhos em torno de seu suporte, como na �gura abaixo:

29

Figura 4.3: Rastreamento ao Longo do Dia [12]

4.3 Concentradores Lineares Fresnel

Similares em seu funcionamento aos coletores cilindro-parabólicos, mas usando uma

série de espelhos longos e planos ou levemente curvos, cada um com um ângulo

diferente em cada lado do receptor, os re�etores lineares Fresnel vêm sendo experi-

mentados a �m de diminuir os custos das usinas CSP. A facilidade de produção de

espelhos planos e menor complexidade do sistema, usando vários espelhos menores

separados, permite que as estruturas sejam mais leves, simples e baratas. O recep-

tor é �xado poucos metros acima dos re�etores e normalmente possui um re�etor

secundário ou outros tubos paralelos para melhor aproveitamento da radiação, já

que os espelhos planos não concentram tão bem a radiação direta no foco. Devido à

pior e�ciência solar, porém custos mais baixos, se compararmos com a tecnologia de

cilindros parabólicos, ainda não há uma vantagem clara de qual a melhor tecnologia

neste estágio de desenvolvimento.

30

Figura 4.4: Sistema CSP Linear Fresnel [13]

4.3.1 Re�etores

Tentando aplicar o mesmo princípio da tecnologia do concentrador parabólico, os es-

pelhos planos ou levemente curvos simulam uma parábola para concentrar a radiação

direta no receptor, porém a linha focal �ca distorcida. Com isso, a e�ciência ótica

do sistema é pior, reduzindo a temperatura �nal do �uido de trabalho se comparado

ao sistema de cilindro parabólico. Cada re�etor possui um sistema de rastreamento

de eixo único.

4.3.2 Receptor

Os receptores da tecnologia linear Fresnel são semelhantes ao de calhas parabólicas,

com a diferença de possuir um re�etor secundário acoplado ou mais tubos escuros,

para aproveitar a luz mal re�etida, devido à distorção do foco. São instalados alguns

metros acima dos re�etores, para conseguir coletar luz de uma área considerável, mas

não tão alto para não perder mais e�ciência ótica, que já é comprometida devido à

qualidade dos espelhos.

31

Figura 4.5: Re�etor Secundário CSP Linear Fresnel [14]

4.3.3 Fluido de Transferência de Calor

Assim como a tecnologia de cilindros parabólicos, um sistema que usa re�etores do

tipo linear Fresnel, necessita de um �uido de trabalho passando por dentro do tubo

interno do receptor. Em geral, as temperaturas consideradas são menores no caso de

coletores Fresnel, mas usa-se o mesmo critério de temperatura máxima de operação

para a escolha do �uido de transferência de calor, sendo a água o mais usual neste

caso.

4.4 Torre de Receptor Central

Uma torre de receptor central usa um campo com espelhos, chamados heliostatos,

que seguem o sol individualmente, usando rastreadores de dois eixos, para focar a

radiação direta em um ponto no receptor montado no alto de uma torre central. O

calor produzido no receptor é então levado até uma turbina, normalmente operando

um ciclo Rankine vapor, acoplada a um gerador para a produção de energia elétrica.

No receptor da torre, a concentração de luz é muito maior do que o das tecnologias

de foco em linha. Além disso, não há a necessidade de o �uido circular por quilôme-

tros de tubos trocando calor com o ambiente. Logo, esta tecnologia pode chegar a

temperaturas muito mais elevadas, até mais de 1.000oC. É a mais promissora dentre

as usinas CSP devido ao potencial de aproveitamento destas altas temperaturas.

O grande desa�o é encontrar �uidos de trabalho que consigam trabalhar a tempe-

32

raturas superiores sem perder suas qualidades físico-químicas ou comprometer os

equipamentos do sistema[39].

Figura 4.6: Sistema CSP Torre Solar [14]

4.4.1 Heliostato

O heliostato tem como função re�etir a radiação direta do sol em direção ao receptor

da torre e é composto por um ou mais espelhos montados sobre uma estrutura

�xada ao solo que permite o movimento do re�etor para acompanhar o curso do Sol.

Geralmente são usados espelhos de vidro, mas outros tipos de re�etores estão sendo

desenvolvidos, como membranas esticadas, a �m de diminuir custos com suporte e

permitem a reciclagem. O tamanho de heliostatos pode variar, porém o mais usual

é vermos conjuntos de espelhos retangulares com mais de 100 metros quadrados de

área no total[39]. O sistema de controle deve levar em consideração a posição de

cada heliostato em relação à torre central e ajustá-los individualmente, diferente dos

outros tipos de CSP, que podem repetir con�gurações de um re�etor ao outro dentro

de um mesmo projeto. Deve-se tomar um cuidado especial na presença de ventos

fortes. Nestes casos devemos adotar a posição de Stow, medida de segurança em

que os re�etores dos heliostatos �cam paralelos ao solo, evitando esforços mecânicos

nas estruturas dos suportes e nos próprios espelhos[2].

33

Figura 4.7: Heliostato CSP Torre Solar [12]

4.4.2 Receptor

A torre central pode ser construída com aço ou concreto e ter alturas de até 165

metros, dependendo das distâncias dos heliostatos à torre[2]. Ela serve basicamente

para ser o suporte do receptor, que deve estar elevado para evitar o bloqueio da

re�exão de um heliostato por outro. Este receptor pode ser um receptor externo

ou um receptor de cavidade[2]. O primeiro consiste de painéis planos, cilíndricos ou

semi-cilíndricos que recebem a luz solar, transformando-a em energia térmica. Este

deve ter área reduzida para evitar grandes trocas de calor com o ambiente. Já os de

cavidade, com o objetivo de reduzir perdas por convecção, têm uma abertura que

permite a entrada da luz em uma cavidade e dentro dela a radiação chega ao receptor.

Recentemente, com o avanço desta tecnologia CSP, tem-se usado material refratário

nos receptores de torre central, por poder ser submetido a altíssimas temperaturas

sem se degradar, tornando possíveis maiores temperaturas de operação[40].

34

Figura 4.8: Receptor CSP Torre Solar [15]

4.4.3 Fluido de Transferência de Calor

Os dois �uidos de trabalho mais usados neste tipo de usina são os sais fundidos e

vapor direto, que aguentam maior calor, proporcionado por temperaturas superiores

a 1.000oC no receptor. Os sais suportam altas temperaturas de operação, de cerca

de 550oC, e são ótimos para armazenamento de energia térmica devido ao baixo

custo e alta capacidade térmica[41]. Já o vapor direto pode também ser usado a

altas temperaturas e pode ser diretamente utilizado para acionar a turbina, evitando

o uso de mais um trocador de calor para geração de vapor.

4.5 Discos Parabólicos

Discos parabólicos re�etem toda a luz solar direta que incide sobre eles em um

ponto focal. Esta tecnologia tem grande poder de concentração de radiação, per-

mitindo temperaturas de operação superiores a 750oC e aumentando sua e�ciência

térmica[36]. Estes discos possuem em sua estrutura um rastreador de dois eixos

para mantê-lo sempre virado para o Sol. Eles têm natureza modular, pois são in-

dependentes uns dos outros ao terem seus próprios motores Stirling, o que permite

menores perdas térmicas e usinas de pequena escala. Também é possível transfe-

rir calor para um sistema central de geração, porém este caso é menos utilizado.

O disco parabólico ainda é uma tecnologia muito pouco desenvolvida se comparada

35

com outras CSP e a falta de um �uido de trabalho circulante di�culta a hibridização

de ou integração de armazenamento térmico deste tipo de usina.

Figura 4.9: Discos Parabólicos com motor Stirling [16]

4.5.1 Motor Stirling

O ciclo termodinâmico Stirling, estudado no capítulo anterior, é usado no motor

acoplado ao receptor do disco parabólico. Este motor tem como fonte quente o

receptor da luz concentrada e como fonte fria o ambiente, usando um sistema de

exaustão para a atmosfera.

4.6 Termoacumulação e Múltiplo Solar

O múltiplo solar (MS) é um fator importantíssimo em um projeto de CSP, princi-

palmente se desejamos usar o armazenamento de energia térmica. Ele é o quociente

entre a área de espelhos na usina sobre a área de espelhos necessário para que,

com irradiação de projeto, o bloco de potência esteja funcionando em sua carga

nominal[30], MS=1. Mesmo para usinas sem termoacumulação, o mais comum é

usar múltiplos solares de 1,2 a 1,4, para garantir o funcionamento da usina em carga

nominal por mais tempo, aumentando o fator de capacidade, mesmo com perdas

de calor entre o bloco solar e o bloco de potência. O excesso de energia é descar-

tado, porém os custos dos espelhos a mais são compensados pela maior geração de

eletricidade.

36

A tecnologia solar térmica permite o armazenamento de energia térmica exce-

dente gerada com a luz solar. A termoacumulação está se tornando cada vez mais

comum em usinas do tipo CSP por aumentar a �exibilidade e capacidade de despacho

de energia[36]. Com ela, é possível a geração de energia durante a noite ou em dias

nublados, sem radiação direta. Aquecendo �uidos de alta capacidade térmica, como

os sais fundidos, e armazenando-os em tanques, podemos guardar energia térmica

para gerar eletricidade apenas quando necessário ou mais lucrativo. Para acumular-

mos energia térmica sem tirar potência da usina em operação, devemos estabelecer

múltiplos solares maiores do que os sistemas sem termoacumulação, captando mais

calor. O armazenamento é medido em horas de operação à carga total que a energia

térmica guardada consegue suprir. Quanto mais horas ela suporta, maior deve ser

o múltiplo solar, podendo chegar a números superiores a 3 com armazenamentos

acima de 12 horas[42]. Investimentos costumam ser maiores quando se deseja ter

termoacumulação na usina, porém ela permite um maior fator de capacidade, maior

controle de despacho e, normalmente, menor custo de energia.

Estes sistemas podem variar de tecnologia, podendo usar apenas um tanque com

efeito termoclina ou 2 tanques, um frio e um quente. O armazenamento pode ser

direto, usando o mesmo �uido para armazenamento e operação, ou indireto, usando

diferentes �uidos[42].

Figura 4.10: Termoacumulação com Sal Fundido [17]

37

4.7 Plantas Híbridas

É possível combinar uma usina heliotérmica com outras tecnologias de geração de

energia. O compartilhamento do bloco de potência seria uma boa escolha para

diminuir custos de produção.

Usinas do tipo ISCC (Integrated Solar Combined Cycle)[30], ou seja, usinas

termelétricas a gás natural de ciclo combinado integrada a usinas solar térmicas, já

existem em operação e têm vapor aquecido pelo Sol adicionado ao seu ciclo Rankine.

Através da integração da CSP com uma usina já existente ou nova planta, podemos

fornecer energia extra à turbina a vapor ou economizar um pouco de combustível,

utilizando o calor solar para diminuir emissões por energia produzida. Infelizmente,

devido às grandes áreas necessárias para a instalação de usinas solares, a fração da

energia solar no total da ISCC é normalmente bem pequena.

Outras fontes de energia também podem se hibridizar com a tecnologia solar.

Uma termelétrica que use combustão de biomassa para aquecer água em uma cal-

deira pode ser facilmente integrada a uma usina solar térmica. Neste híbrido, o

vapor aquecido pelo Sol seria adicionado ao vapor obtido na caldeira a biomassa

para acionar a turbina a vapor que pode ser compartilhada pelas duas fontes. Isso

permitiria con�gurações de despacho de energia mais �exíveis, que não dependes-

sem completamente do clima. Podemos usar energia solar durante o dia, a energia

térmica excedente armazenado na tarde e noite e a combustão de biomassa na ma-

drugada até o sol aparecer novamente, por exemplo. Em dias sem radiação direta

forte, dependeríamos apenas de biomassa e da termoacumulação.

38

Capítulo 5

Biomassa

5.1 Introdução

Em termos energéticos, a biomassa pode ser considerada como qualquer matéria

orgânica de origem animal ou vegetal que possa ser utilizada na produção de energia.

No entanto, outras formas de biomassa também foram ganhando ênfase nos meados

do século passado. Este tipo de fonte tem como grande vantagem a combustão

direta em fornos e caldeiras com pouco impacto ambiental. Contudo, sua e�ciência

é reduzida se comparada a outros tipos de conversão de energia.

A biomassa entrou no mercado de energia elétrica por ser considerada uma fonte

renovável, pois o ciclo de vida das plantas é relativamente curto, e limpa, pois du-

rante seu crescimento a planta absorve o CO2 que será liberado mais tarde. Ela

passou a ser considerada uma boa alternativa para a diversi�cação da matriz ener-

gética mundial e passou a atrair o interesse de desenvolvedores. A biomassa ainda

tem uma parcela pequena do consumo energético mundial, mas a tendência é de

crescimento[18].

39

Figura 5.1: Geração de Eletricidade por Fonte [18]

A biomassa para produção de energia pode ser classi�cada em 3 tipos. A bi-

omassa energética �orestal, que utiliza produtos, subprodutos e resíduos proveni-

entes de atividade extrativista. A biomassa energética agrícola, da qual faz parte

a produção agro-energética, como produção de álcool, e subprodutos e resíduos da

agricultura. Por �m, temos a biomassa energética de rejeitos urbanos e industriais,

o lixo e o esgoto, que também podem ser aproveitados.

5.2 Biomassa no Brasil

A biomassa tem ganhado espaço ao longo das últimas décadas e tendo cada vez

mais importância entre as diversas fontes de geração de eletricidade no Brasil, sendo

essencial para a diversi�cação da matriz energética brasileira com energia limpa e

sustentável[19].

40

Figura 5.2: Geração de Eletricidade por Fonte no Brasil [19]

Devido às dimensões continentais de nosso país, temos um potencial gigantesco

para o uso e cultivo da biomassa. Além disso, foram desenvolvidos programas de in-

centivo ao uso e�ciente de sistemas de pirólise, gasei�cação e combustão de biomassa,

recebendo investimentos do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES) e Fundo

de Energia Sustentável e Mudança Climática (Fundo SECCI), entre outros[43][44].

Apesar de existirem muitas fontes de biomassa utilizáveis para a geração de eletri-

cidade, não são todas economicamente viáveis. Tornam-se úteis apenas as biomassas

produzidas em escala comercial, que acabam recebendo os maiores investimentos e

incentivos para se desenvolver como fonte alternativa para a produção de energia

elétrica. São então as com pesquisas e tecnologia mais avançada para exploração.

No Brasil, a produção agrícola e grandes �orestas permitem uma grande gama de

biomassas para geração de eletricidade, porém as principais, amplamente utilizadas

em usinas termelétricas, são[22][45]:

• Lenha, carvão vegetal, lixívia negra e resíduos de madeira como biomassa de

origem �orestal;

• Palha e bagaço da cana-de-açúcar, palha e casca de arroz e capim-elefante

provenientes da agricultura;

• E rejeitos urbanos e industriais, líquidos e sólidos.

41

5.2.1 Biomassa de Origem Florestal

O Brasil tem um grande potencial para a produção de energia elétrica a partir da

biomassa �orestal, já que ela pode ser cultivada em várias partes do país. Este

tipo de fonte tem um balanço nulo no efeito estufa quando usada e também ajuda

a reduzir as emissões de gás metano causado pela decomposição dos resíduos não

usados. A área ocupada por plantios �orestais de Eucalipto e Pinus no Brasil em

2012 totalizou 6.664.812 hectares, sendo 23,4% correspondente à área de plantios de

Pinus e 76,6% aos plantios de Eucalipto[46].

• Lenha e Carvão Vegetal:

A lenha pode ser dividida em dois tipos: a lenha catada e a lenha produzida para

�ns comerciais. A lenha catada é a lenha proveniente das matas nativas, que pare-

cem inesgotáveis, mas quando exploradas de forma predatória aparecem problemas

ambientais críticos, como degradação do solo, deserti�cação e alteração no regime

de chuvas. A lenha produzida para �ns comerciais é a lenha de re�orestamento,

plantadas após a retirada da mata nativa.

A produção de lenha de �orestas plantadas para uso industrial cresceu ao ano

cerca de 4,5% entre 2002 e 2012, segundo a Associação Brasileira de Produtores de

Florestas Plantadas[46]. A produção de toras de madeira foi da ordem de 193,29

milhões de m3 em 2012. Disso, 67,4% foi destinado ao uso industrial, 28,9% para

produção de lenha e 4,3% para a produção de carvão. Ainda de acordo com a

ABRAF, a capacidade de produção sustentável das �orestas do Brasil é de 390

milhões de m3/ano[46].

• Resíduos de Madeira e Licor Negro:

Na extração de madeira para a indústria de papel, de móveis e na construção civil

há uma grande geração de resíduo. Partes das árvores que não são aproveitadas,

como galhos, raízes, casca, tronco e copa são deixados na �oresta. Em plantações de

eucalipto e pinus, cerca de 22 e 28% do peso total da árvore vira resíduo �orestal, uma

parcela considerável (BBER,2007). Outra forma de gerar resíduo é o processamento

das toras de madeira em placas, barras, entre outros, onde os resíduos �cam em

torno de 40%[47]. E depois ainda recebem cortes e acabamento ao chegar em seus

destinos �nais, nas confecções de móveis, imóveis, etc. A utilização desses resíduos

de madeira, além de dar um �m adequado ao material, tem muitas vantagens, como

42

o custo baixo, a não emissão de enxofre, a renovabilidade e o balanço nulo de gases

estufa.

Outra fonte de biomassa muito usada como combustível é o licor negro, também

chamado de lixívia negra. Ele é um resíduo de processos químicos da indústria de

papel e celulose e é queimada na própria indústria em uma caldeira de recuperação

química. O vapor desta caldeira é necessário no processo de fabricação do papel e

da celulose, também sendo possível a produção de energia elétrica, com a cogeração.

Tabela 5.1: Densidades e Poderes Calorí�cos de Biomassa Florestal [21]

Tipo de Biomassa Densidade (kg/m3) Poder Calorí�co Inferior (kcal/kg)

Lenha Catada 300 3.100

Lenha Comercial 390 3.100

Carvão Vegetal 250 6.460

Lixívia Negra � 2.860

Resíduos de Eucalipto 374 4.024

Resíduos de Pinus 350 4.174

5.2.2 Biomassa de Origem Agrícola

Com as dimensões, o clima favorável e o solo fértil do Brasil, o país é um grande

produtor de alimentos. Ele pode ser considerado um dos maiores produtores de

grãos do mundo e sua área plantada só vem aumentando[20]. Para este ano de 2017,

o Brasil terá a maior safra de grãos da história, de 215,1 milhões de toneladas.

43

Figura 5.3: Histórico de Safras de Grãos [20]

Com a ampliação dos investimentos em tecnologia, o agronegócio vem ganhando

força e gerando superávit na balança comercial, fazendo com que o setor seja um dos

mais importantes para o crescimento do país, de janeiro a outubro de 2016 seu PIB

teve alta de 4,28%[48]. Dessa grande produção agrícola, surge uma enorme quanti-

dade de resíduos, que em sua maior parte são descartados sem nenhum cuidado ou

preocupação com o meio ambiente. Esses restos passaram a ser estudados a �m de

que possam ser aproveitados como fontes para a geração de energia.

Existem também as culturas energéticas, como as da cana-de-açúcar para a pro-

dução do álcool.

A quantidade de resíduos orgânicos é medida com base nos índices de colheita, o

quanto do total de biomassa gerada por hectare é aproveitável economicamente. No

Brasil, as culturas que hoje em dia têm o aproveitamento de seus resíduos economi-

camente viável são a cana-de-açucar, o milho, a soja, o capim-elefante e o arroz[49].

A cana-de-açúcar ganhou muita atenção devido à produção do etanol, combus-

tível considerado limpo. O Brasil se tornou um grande produtor de etanol e a

alta produtividade dos canaviais disponibilizou uma quantidade enorme de bagaço

e palha, resíduos da cana-de-açúcar. Esses resíduos podem ser queimados na pró-

pria usina de bene�ciação de açúcar ou álcool, gerando eletricidade, parcialmente

consumida pela usina e a parte excedente sendo vendida[50].

Outra cultura que vem sendo estudada como opção de agricultura de energia

44

é o capim-elefante, que desde sua chegada ao Brasil vinha sendo cultivado como

alimento para gado. As vantagens que o levaram a ser estudado são o período

relativamente curto de crescimento, poder ser plantado em solos pobres e produzir

uma maior quantidade de biomassa se comparado à cana-de-açúcar ou eucalipto[51].

O arroz, a soja e o milho são cultivos de alimentos de grande importância no

Brasil, que acabam gerando uma enorme quantidade de casca e palha, material que

pode ser aproveitado como biomassa[47].

Tabela 5.2: Poder Calorí�co de Resíduos Agrícolas [21]

Resíduos das Culturas Poderes Calorí�cos Inferiores (kcal/kg)

Bagaço de Cana-de-Açúcar 2130

Palha de Cana-de-Açúcar 3105

Casca de Arroz 3200

Palha de Arroz 3821

Capim-Elefante 4200

Palha do Milho 4227

Palha da Soja 3487

5.2.3 Biomassa Derivada de Resíduos Urbanos e Industriais

Além de resíduos agrícolas e �orestais, há ainda os resíduos urbanos e industriais.

Os urbanos são compostos por lixo gerado em meios urbanos, por e�uentes comer-

ciais ou domésticos captados por estações de tratamento de água e esgoto. Já os

industriais são rejeitos da indústria animal, resíduos que vem de abatedouros, cri-

adouros, processamento de carne, etc. Assim como o licor negro na indústria de

papel, esses resíduos da indústria animal também podem ser processados para gera-

ção de eletricidade para consumo próprio ou comercialização. As tecnologias para

aproveitamento dos rejeitos são a combustão direta, a gasei�cação e a biodigestão.

Quando não há a separação do lixo para a destinação correta de cada material,

seja para a reciclagem ou compostagem, o rejeito acumulado em área aberta por

tempo su�ciente começa a apodrecer, se tornando um problema para o meio ambi-

ente, ao permitir a proliferação de doenças, do mau cheiro e a origem do chorume.

Este líquido, que é tóxico e contaminante, pode permear o chão até alcançar lençóis

45

freáticos, poluindo-os[52].

5.3 Tecnologia para Geração de Energia Elétrica a

partir da Biomassa

Devido à grande variedade de material que pode ser usado como biomassa para

a produção de energia, foram desenvolvidos muitos processos de conversão para

o aproveitamento energético e geração elétrica. Com o objetivo de facilitar seu

uso, as rotas tecnológicas da biomassa processam produtos, subprodutos e resíduos

orgânicos em um produto intermediário, que posteriormente é utilizado na geração

em usinas termelétricas. Algumas destas rotas, que podem ser classi�cadas de acordo

com a natureza de seus processamentos primários em termoquímicos, bio-químicos

e físico-químicos, são apresentadas na �gura abaixo.

46

Figura 5.4: Rotas Tecnológicas para Geração de Energia [21],

Outra forma de classi�cação é pela fonte de biomassa e seus possíveis processos

de conversão. Como biomassa abrange uma grande gama de materiais, cada um

deve seguir por uma rota que melhor o processe, a �m de melhorar seu rendimento

energético ou se adequar a um tipo de usina. Temos na �gura a seguir um diagrama

esquemático destes processos.

47

Figura 5.5: Processos de Conversão para Geração de Energia [22]

Como temos diversos produtos resultantes destas rotas tecnológicas, temos tam-

bém diferentes maneiras de usá-los para a geração de energia elétrica. Muitas tec-

nologias de produção de eletricidade a partir da biomassa estão ainda em desen-

volvimento e não estão em fase comercial ou não são viáveis economicamente. Isso

porque a necessidade de formas mais sustentáveis de geração e de despejo de resí-

duos provenientes das atividades humanas só pressionou mais recentemente a forte

pesquisa em cima destes temas. Contudo, temos algumas formas mais desenvolvidas

de utilizar a biomassa. Destaca-se o uso de caldeiras usando ciclos a vapor, usada

na maior parte das industrias sucroalcooleiras[50], por exemplo.

Uma tecnologia muito usada com biomassa é a de cogeração. Ela consiste na

produção de dois ou mais tipos de energia útil que geralmente, como vemos na

indústria sucroalcooleira, fornece eletricidade e calor de processo. Nela, o calor, que

é sempre subproduto da geração termelétrica, é também captado e fornecido para o

uso em outros processos na indústria ou aquecimento. Em países frios, por exemplo,

pode-se ter usinas à combustão de resíduos urbanos fornecendo eletricidade para a

rede e também calor para aquecimento de construções.

48

Capítulo 6

Estudo de Produção de Energia

Elétrica

6.1 Introdução

Neste trabalho de conclusão de curso, estudamos até agora as bases para o enten-

dimento de usinas a biomassa e a energia solar térmica, além do funcionamento

do ciclo Rankine Orgânico. O objetivo deste projeto de graduação é usar diferentes

tecnologias para a criação de uma usina híbrida que aproveite as melhores vantagens

de cada uma e complemente umas às outras onde existem falhas. Para isso propo-

mos uma usina solar térmica do tipo Linear Fresnel com armazenamento térmico e

back-up de biomassa de Jurema-Preta para dias com baixo potencial solar. O ciclo

utilizado na máquina térmica é o Ciclo Rankine Orgânico, que trabalha bem com o

calor de menor temperatura dos coletores tipo Fresnel, e seu �uido de trabalho é o

pentano.

6.2 Modelo e Tecnologias

6.2.1 Demanda de Energia Elétrica

A demanda por fornecimento con�ável de energia elétrica é o que nos motiva a criar

novos projetos geradores. Neste trabalho, como temos o objetivo de criar uma usina

que consiga fornecer energia de forma estável e segura, a usina será considerada como

49

geradora de base, mantendo sua potência constante o dia inteiro. Para simpli�car,

podemos supor uma fábrica de alumínio, grande consumidora de eletricidade, que

assumiu o compromisso de reduzir a zero suas emissões na eletrólise da alumina,

havendo a necessidade de ter sua demanda atendida exclusivamente pela usina. Esta

fábrica funciona 24 horas por dia, sem pausas, com demanda energética de 2MW,

capaz de produzir anualmente 1168,8 toneladas de alumínio[53]. Suponhamos fator

de capacidade de 100%.

6.2.2 Localização

Com a escolha da tecnologia CSP para a usina, devemos ter uma radiação solar

direta intensa o ano inteiro para um melhor desempenho. Além disso, é necessária

a presença de biomassa para backup e água para limpar os espelhos.

O interior da região Nordeste brasileira possui um dos melhores índices de ra-

diação solar do planeta, com baixas médias anuais de cobertura de nuvens e pouca

precipitação[31]. Além disso, possui mata nativa abundante, com potencial para

re�orestamento de biomassa, e água disponível. No programa SAM, que ainda será

visto neste capítulo, escolhemos, dentre outras várias cidades brasileiras, o municí-

pio de Bom Jesus da Lapa, no interior norte da Bahia, como localização do projeto.

Com isso, adotam-se seus parâmetros de radiação solar, temperatura, umidade, etc.

Figura 6.1: Dados de Bom Jesus da Lapa (retirada do SAM, 2017)

50

6.2.3 Tecnologia Heliotérmica: Linear Fresnel

A escolha do tipo de tecnologia foi baseada na simplicidade de produção do sistema

linear Fresnel. Por utilizar apenas espelhos planos e leves, dispensamos grandes

estruturas para suporte, além de diminuir muito o custo da produção dos re�etores.

Para o interior do Brasil, é mais conveniente utilizarmos espelhos planos devido à

fácil reposição e disponibilidade se comparados aos espelhos curvos, pois é muito

mais fácil produzir espelhos planos e já temos esta indústria no país.

6.2.4 Fluido de Trabalho no Ciclo Rankine Orgânico: Pen-

tano

Os motivos de usarmos o Ciclo Rankine Orgânico neste trabalho são prolongar a

vida da turbina, devido à erosão evitada ao usarmos um �uido de expansão seca, e o

aproveitamento do calor de baixa qualidade, ou seja, calor de baixas temperaturas,

obtidos na tecnologia heliotérmica escolhida. Com as temperaturas de operação a

que chegamos nos coletores lineares Fresnel, conseguimos operar com o pentano. O

pentano é um �uido orgânico que possui ótimas vantagens para seu uso como �uido

de trabalho em um Ciclo Rankine Orgânico. Sua curva T×s apresenta a expansão

seca, que evita a condensação dentro da turbina. Ele também é de fácil obtenção

e baixa viscosidade, tendo baixas perdas de carga em tubulações, evaporador, con-

densador e bomba. Além disso, entre os �uidos mais estudados para este tipo de

ciclo, o pentano possui um dos melhores rendimentos líquidos. Uma desvantagem,

contudo, é ser in�amável.

51

Figura 6.2: Curva de Saturação do Pentano (Feita pelo autor com dados do software

REFPROP, 2017)

Segue abaixo a modelagem do Ciclo Rankine Orgânico com o uso do pentano

como �uido de trabalho:

Tabela 6.1: Tabela de Cálculo dos Pontos do Ciclo Rankine Orgânico (Feito pelo

autor, 2017)

Pontos do Ciclo Rankine Orgânico

Ponto T (oC) P (MPa) h (kJ/kg) s (kJ/kgK) v (m3/kg)

1 57,6 0,2 52,19 0,163 1,70 ×10−3

2s � 3,0 56,96 0,163 �

2 � 3,0 59,01 � �

3 189,0 3,0 562,50 1,392 7,95 ×10−3

4s � 0,2 462,35 1,392 �

4 � 0,2 472,37 � �

Onde T é a temperatura, P é a pressão, h é a entalpia, s é a entropia e v é o

volume especí�co.

O processo 1 → 2 é a compressão dada pela bomba, um processo real com

perdas. O ponto 2s sendo resultado de uma compressão isentrópica reversível a

partir do ponto 1, representando o ciclo ideal.

52

O processo 2 → 3 é o aquecimento do �uido de trabalho por um trocador de

calor, onde há um aumento de energia térmica.

O processo 3 → 4 é a expansão na turbina, um processo real com perdas. O

ponto 4s sendo resultado de uma expansão isentrópica reversível a partir do ponto

3, representando o ciclo ideal.

O processo 4 → 1 é o resfriamento do �uido de trabalho em um condensador,

onde há a rejeição de energia térmica.

Os pontos 2s e 4s são calculados antes dos pontos 2 e 4, pois as e�ciências da

bomba e da turbina devem ser aplicadas após estabelecermos os pontos 2s e 4s. Com

estes pontos, podemos calcular as perdas e determinar os pontos 2 e 4.

Como visto nas tabelas, escolhemos temperaturas máximas e mínimas de opera-

ção. A máxima temperatura foi escolhida relativa ao vapor saturado à pressão de

3 MPa anterior à turbina, considerada alta para CRO[8]. A temperatura mínima é

compatível com a máxima temperatura ambiente para o local, que pode chegar aos

40oC[54]. Temos também, o rendimento total do ciclo, que já inclui a e�ciência da

turbina e da bomba, considerados 90 e 70%, respectivamente[55][56]. O resultado

deste ciclo é uma e�ciência térmica de 16,55%.

53

Tabela 6.2: E�ciências do Ciclo (Feito pelo autor, 2017)

Bomba

E�ciência da Bomba ( ηB) 70%

wB = v1 × (P2-P1) 4,76 kJ/kg

h2s = h1 + wB 56,96 kJ/kg

wBreal=w/ ηB 6,81 kJ/kg

h2=h1+wBreal 59,00 kJ/kg

Turbina

E�ciência da Turbina ( ηT ) 70%

wT = h3-h4s 100,15 kJ/kg

wTreal=w/ ηT 690,13 kJ/kg

h4=h3+wTreal 472,37 kJ/kg

Ciclo Rankine Orgânico

E�ciência do Ciclo (η) 16,55%

qH=h3-h2 690,13 kJ/kg

qL=h4-h1 472,37 kJ/kg

wLiq = wTreal-wBreal 100,15 kJ/kg

6.2.5 Biomassa: Jurema-Preta

A Jurema-Preta (Mimosa tenui�ora) é uma planta típica do Nordeste brasileiro,

sendo encontrada de forma abundante por quase toda a região do semiárido[23].

Esta planta cresce rapidamente possuindo um ciclo de extração de sete a nova anos

com maiores volumes. Sua madeira é pesada, com peso especí�co de 0,9g/cm3[23], e

possui um alto poder calorí�co inferior. De ponto de vista da produção de lenha, a

jurema-preta é uma das mais importantes espécies da caatinga. Pode ser utilizada

para produção de lenha e de carvão vegetal.

54

Tabela 6.3: Dados de Propriedades Físicas, Produtividade e Custo da Jurema-Preta

[23]

Parâmetro Valor

Propriedades Físicas

Densidade 0,9 g/cm3

Poder Calorí�co Inferior 4885 kcal/kg

20,45 MJ/kg

Produtividade e Gestão

Volume disponível 77 m3/hectare

Massa disponível 69,3 t/hectare

Ciclo de Extração 7-9 anos

Capacidade de gestão (corte seletivo) 600 hectares/ano

Preço da madeira na usina CSP

Preço por volume 9 USD/m3

Preço por energia 0,51 USD/MMBTU

6.3 System Advisor Module

O System Advisor Module (SAM) é um software desenvolvido pelo Laboratório

Nacional de Energia Renovável dos Estados Unidos (NREL), pela Sandia National

Laboratories, pela Universidade de Wisconsin e outros colaboradores. Com este

programa, podemos modelar e simular tanto a parte técnica quanto �nanceiras de

projetos com fontes renováveis de energia. Ele possibilita escolhermos entre ener-

gia eólica, fotovoltaica, CSP, biomassa, geotérmico e sistemas genéricos. A última

atualização do programa até hoje é a versão 2017.1.17, que será usada nos estudos

desta monogra�a.

Ao abrirmos o SAM, apertamos no botão `File' e em seguida em `New Project'.

Ele abrirá uma aba com várias tecnologias de geração de energia. Ao escolhermos

uma delas, podemos selecionar um modelo �nanceiro também.

55

No caso, foi escolhida a tecnologia `CSP linear Fresnel molten salt', que usa

coletores tipo Fresnel Lineares com sais derretidos como �uido de trabalho nos re-

ceptores, e nenhum modelo �nanceiro. A análise �nanceira não é o escopo deste

trabalho, mas pode ser feita em um trabalho futuro.

6.4 Dimensionamento da Usina CSP

Com a demanda energética da fábrica de�nida e a e�ciência do Ciclo Rankine Orgâ-

nico calculada, sabemos qual a potência térmica necessária para o funcionamento na

carga total da usina. Nesta etapa, usaremos o programa SAM para simular a usina

heliotérmica, podendo assim determinar a área total ocupada pelos espelhos Fresnel.

Aqui escolheremos dois fatores chave, o múltiplo solar e a capacidade da termoa-

cumulação. Esses valores estão interligados, de forma que quanto maior o múltiplo

solar, mais energia térmica excederá a demanda e poderá ser armazenada. Como

queremos o funcionamento contínuo da usina, devemos escolher uma capacidade alta

na termoacumulação. Porém, subindo demais o múltiplo solar e a termoacumulação,

chegamos a um ponto em que o aumento de custo não compensa o ganho de energia.

Escolhemos a incidência direta de projeto de 580 W/m2, a �m de gerar sua capaci-

dade total com incidências solares menores, impedindo que a carga máxima só seja

alcançada com irradiações mais intensas. Esta irradiação de projeto foi escolhida

obtendo a curva de irradiação do melhor dia em Bom Jesus da Lapa e pegando sua

pior irradiação nas horas de sol. Como na �gura a seguir:

56

Figura 6.3: Radiação do Melhor dia e Radiação de Projeto em Bom Jesus da Lapa

(retirada do SAM e modi�cada pelo autor, 2017)

O múltiplo solar deve subir de acordo com a capacidade de armazenamento

térmico, para que haja calor excedente. Consideramos o múltiplo solar de 3 e 12

horas de armazenamento devido a necessidade da geração continua, porém, podendo

usar a biomassa de jurema-preta a baixos custos.

6.5 Back-up com Biomassa

O backup utilizando a biomassa de jurema-preta entrará em ação quando não houver

mais energia térmica proveniente do Sol no sistema ou quando a energia absorvida

nos receptores for insu�ciente para a carga total da usina. Calcularemos a máxima

vazão mássica a ser queimada na caldeira, como se não tivéssemos energia dos co-

letores solares para geração dos 2 MW da usina, e o necessário para um backup

e�ciente durante um ano de operação da usina. A área necessária para cultivo de

57

jurema-preta para o fornecimento de biomassa também é importante e será calcu-

lada. O cálculo de energia necessária de backup de biomassa é apenas a diferença

entre os 2MW da fábrica e o produzido pela parte termossolar da usina, conside-

rando uma e�ciência de 60% na caldeira a biomassa, compatível com caldeiras de

biomassa reais em carga parcial[57].

6.6 Resultados

Considerando a e�ciência de 16,55% do Ciclo Rankine Orgânico a pentano, que

calculamos anteriormente, para 2 MW de eletricidade, necessitamos de 12,1 MW

térmicos alimentando o ciclo. Esta potência térmica equivale ao múltiplo solar=1,

logo para o MS=3 precisamos receber 36,4 MW nos receptores.

Figura 6.4: Dados para os Loops do Campo Solar (retirada SAM, 2017)

Na �gura acima, vemos algumas medidas como a área de abertura de espelhos

de cada �leira (single loop aperture), e�ciência ótica de cada �leira, e�ciência tér-

mica de cada �leira, além de sua e�ciência total de conversão de energia solar em

térmica. Também podemos ver a demanda térmica do ciclo de potência e sua área

de abertura necessária para coleta de energia térmica. Com estes dados, pode ser

calculado o número de �leiras necessárias para o campo solar de múltiplo solar 1

que, posteriormente, multiplicamos pelo múltiplo solar escolhido e encontramos a

área total do campo solar da usina e sua produção de energia térmica.

58

Segundo o programa SAM, nosso campo solar precisará de 105.347 m2 em área

de espelhos Fresnel, que ocupariam 26,03 acres ou 10,5 hectares.

Figura 6.5: Área Necessária para o Campo Solar (retirada do SAM, 2017)

Quanto aos �uidos de transferência de calor nos receptores e na termoacumula-

ção, utilizamos um �uido compatível com o ciclo, o Hitec Solar Salt.

Figura 6.6: Fluido de Trabalho Usado (retirada do SAM, 2017)

Para as 12 horas de acumulação de calor, o tanque deve conseguir guardar 145,02

MWh térmico, logo deve conter 812,58 m3 de �uido.

EnergiaGuardada = 2MW × 12horas

0, 1655= 145, 02MWh (6.1)

59

Figura 6.7: Termoacumulação do Usina (retirada do SAM, 2017)

Anualmente, a parte CSP da usina fornecerá para a fábrica cerca de 9.273 MWh

dos 17.532 MWh necessários, tendo um fator de capacidade de 52,9%.

Figura 6.8: Energia Produzida pelo Campo Solar (retirada do SAM, 2017)

60

Tabela 6.4: Produção de Energia Elétrica com base CSP por mês (retirada do SAM,

2017)

Mês Energia Produzida (kWh)

Janeiro 813.759

Fevereiro 785.988

Março 778.319

Abril 728.874

Maio 785.229

Junho 739.047

Julho 799.218

Agosto 941.628

Setembro 891.835

Outubro 756.546

Novembro 598.310

Dezembro 654.865

No caso de a energia elétrica ser completamente gerada pelo vapor oriundo da

queima da biomassa, em uma semana nublada, por exemplo, a jurema-preta neces-

sária para fornecer 12,1 MW de calor ao ciclo é calculada dividindo esta potência

pela e�ciência da caldeira onde ela será queimada e pelo valor de poder calorí�co

inferior de sua lenha, de 20,45 MJ/kg. Logo, a caldeira deverá suportar a seguinte

vazão de combustível:

Vjurema =12, 1MW

0, 6× 20, 45MJ/kg= 0, 99 kg/s (6.2)

Sendo Vjurema a vazão mássica de biomassa que deve ser fornecida à caldeira.

A energia que falta na usina CSP que deve ser fornecida pela biomassa durante o

ano é de 8259 MWh, ou seja, 29.732.400 MJ. Dividindo-se novamente pela e�ciência

da caldeira e pelo poder calorí�co inferior da jurema-preta, temos a quantidade de

lenha para um ano:

Mjuremaanual =29.732.400MJ

0, 6× 20, 45MJ/kg= 2.423.178 kg = 2.423, 2 toneladas (6.3)

61

Sendo Mjuremaanual a vazão mássima anual de jurema-preta.

Essas 2.432 toneladas necessárias por ano podem ser fornecidas por uma planta-

ção de jurema-preta anexa à usina. De acordo com a tabela com dados da jurema-

preta, um hectare produz 69,3 toneladas. Como dito anteriormente, a jurema-preta

pode ser colhida em ciclos de 7 a 9 anos, consideremos 8. Para 8 anos de operação,

utilizaremos 19.457, toneladas de lenha. Logo, uma plantação que cubra todas as

necessidades de biomassa da usina deve ter 280,8 hectares.

Area =19.457 toneladas

69, 3 toneladas/hectare= 280, 8hectares (6.4)

O total de área ocupada pelo campo solar e plantação seria de 291,3 hectares.

62

Capítulo 7

Conclusão

Neste trabalho, foi dimensionada uma usina híbrida heliotérmica-biomassa com o

propósito de atender uma demanda constante de energia para nosso modelo de

fábrica. Para isto foi necessária a compreensão de diferentes fontes de energias

renováveis e suas combinações, a �m de que as vantagens umas das outras se com-

plementassem, de forma a fornecer energia mais seguramente.

Este trabalho nos mostra a possível combinação entre fontes alternativas que por

si só podem não atender uma carga energética de forma e�ciente. A energia solar,

por exemplo, é limitada aos períodos ensolarados e seu armazenamento de calor.

Uma semana chuvosa acabaria com o fornecimento de eletricidade. Já a biomassa,

utiliza muita área para plantação de lenha, neste caso estudado. A combinação

das duas tecnologias permite também a combinação de suas vantagens, como o

aproveitamento energia luminosa sem custos do Sol nas CSP e maiores depósitos

de combustíveis nas usinas a biomassa, podendo assumir a produção de energia por

maiores períodos.

Neste trabalho de conclusão de curso, no entanto, não foram estudados os custos

associados aos diferentes tipos de tecnologia usados. Muitos fatores podem alterar

signi�cativamente os custos de uma usina e ajudar na redução de preço �nal da

energia, porém estes estudos podem ser feitos futuramente. Também não foram

feitas otimizações de divisão do fator de capacidade das diferentes fontes usadas e

nem de múltiplo solar, que poderia afetar o uso da biomassa como back-up.

Num futuro próximo, a hibridização em usinas de geração elétrica pode vir a

solucionar muitos problemas em lugares isolados Brasil adentro. Com um grande

63

potencial solar e de biomassa, é possível atender inteiramente uma demanda energé-

tica fora da rede de forma sustentável, como estudamos no exemplo deste trabalho.

Sem a necessidade do uso de geradores a óleo combustível, menos emissões de polu-

entes seriam feitas e menos danos causaríamos ao ambiente.

64

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