universidade tuiuti do parana angela pereira dos...
TRANSCRIPT
y- '1
UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA
Angela Pereira dos Santos
A ARTE DE CONTAR HISTORIAS NO AMBITO HOSPITALAR
Angela Pereira dos Santos
A ARTE DE CONTAR HISTORIAS NO AMBITO HOSPITALAR
Tl1lbalho 00 Conclusao de Curso :1presentado aoCurso de Pedagogia da Faculdade de Ci~ncia,SHumanas, Letrus e Artss. de Univer$.idade Tuiulido Parana. como requisito parcial para a obtenr;ii.odo graw de licenciatura em PeCiagogia.
Orientadora: Pratl, Rosilda Maria Borges Ferreira
Curitiba2005
L£ Universidade Tuiuti do Parana-'u;yFACULDADE DE CI£NClAS HUMANAS, LETRASEARTES
Curso de Pedagogia
TERMO DE APROVA<;:AO
NOME DO ALUNO: ANGELA PEREIRADOSSANTOS
TITULO: A arte de contar hist6rias no ambito hospitalar
TRABALHO DE CONCLUSAO DE CURSO APROVADO COMO REQUISITO PARCIALPARA A OBTEN<;:AODO GRAU DE LlCENCIADO EM PEDAGOGIA, DO CURSO DEPEDAGOGlA, DA FACULDADE DE CI£NCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES, DAUNIVERSIDADETUIUTI DO PARANA,
MEMBROSDA COMIS~IA~ORA:
PROF(a), ROSILDA ~~REIRA
ORIENTADOR(A) \'TLQ ..d::::: __ '"PR~a)~ELI TERlz1N~HACORAIOLAMEMBRODA BANCA
:nO~PROF(a)SOLANGE MENDESOLIVEIRAMEMBRODA BANCA
DATA: 01/12/2005
MEDIA: __!lfi~_CURITIBA - PARANA
2005
Dedico este trabaillo a todos que lutam por uma causa social, pOis em sua
essencia transmitem alegria e participa<;:ao.
A minha orientadora Rosilda Ferreira.
Tambem a minha amiga e conselheira, Dr" Clemen Silvia D' Lara Pires B.
Gomes.
Ao diretor do Hospital Municipal Dr Atilio Talamini, Rev. Antonio Jairo Porto
Alegre, que possibilitou a realiza<;:Ao da pesquisa de campo na qual foi de suma
importAncia para a conc1usao desde trabalho e para 0 meu enriquecimento
profissional.
AGRADECIMENTO
Agradeyo primeiramente a Deus. pais sem Ele nada teria conseguido.
Aos meus pais, irm~os, sobrinhos e cunhado, que, masmo estando longe.
torceram por mim,
A minha orientaclora Prof~. Rosilda Maria Borges Ferreira pela paci~ncia e
profissionalismo com que me oriental!.
Em especial aD Dr. Jose Luis Pires, uma vez que sem 0 seu incentivo ests
sonho de me tornar pedagog a nao seria pos~;fvel.
A familia Batista Gomes, Ezer, Clemen e seus amados fHhos Ana Silvia e
Pedro Henrique, que nunca me deixaram desistir e foi uma familia para mim;
agradeyo em especial a seus filhos que muitas V8les foram um balsamo para minha
alma. pais em momentos de solidao e desAnimo sles sempre tinham urn abrayo a
me oferecer e com os quais vivi momentos em que me tornava crian«a como eles e
esquecia dos meus problemas.
Aos meus amigos. as famflias Braga, Bastos, Block e Pianaro.
Em especial as minhas amigas Luciara M. Veiga, landra Patricia Neves e
Lauana Correia de Andrade.
A todas as pessoas que contribu fram direta ou indiretamente para a
conclusao deste trabalho.
Credo do Contador de Historias
Creio que a imaginayao pode mais que 0 conhecimento, que 0 mito pode mais que a
hist6ria, que sonhos podem mais que as fatos, que a esperanc;:a sempre vance a
experi?mcia, que 56 0 risa cura a tristeza, e creio que 0 amor pode mais que a morte.
"TUDO 0 QUE DEVIA SABER NA VIDA APRENDI NO JARDIM DE INFANCIA"
Robert Fulghum.
SUMARIO
1 INTRODU9AO .
2 FUNDAMENTA9AO TEORICA ...
2.1 DE ONDE VIERAM AS HISTORIAS .
. 08
. 10
. 10
2.2 0 SURGIMENTO DA LlTERATURA INFANTIL 11
2.3 OS PRECURSORES DA LlTERATURA INFANTIL NO MUNDO 12
2.4 MONTEIRO LOBATO E A LlTERATURA NO BRASIL.. . 14
2.5 AS HISTORIAS EM OUADRINHOS.. . 15
2.6 A SUBDIVISAO DO CONTO POPULAR ..................................................•......... 16
2.7 0 MERCADO DE GENEROS DA LlTERATURA INFANTIL 21
2.8 A IMPORTANCIA DA LlTERATURA NA VIDA DE CRIAN<;AS SAUDAvEIS E
ENFERMAS.. . 22
2.9 AS HISTORIAS INFANTIS E A TRANSMISSAO DE VALORES 27
3 PROCEDIMENTOS METODOLOGICOS.. . 30
4 RESULTADOS E DISCUSSAO... ................................•.........•....................... 32
4.1 RELATORIO DE VISITAS 32
4.2 ENTREVISTA .. . .45
5 CONCLUSAO ..................•....• ............•................ .47
REFERENCIAS .49
ANEXOS: ..
ANEXO I: ATIVIDADES DAS CRIAN<;AS HOSPITALIZADAS
. 51
.................... 52
RESUMO
o objelo de estudo e a Literatura Infantil no ambito hospitalar, visando a tornar ainternagao da crianga rnais leve, agradavel e alegre. Justifica-se por mostrar todasas experiencias vivenciadas com a literatura no ambito hospitalar, bern como fatasque acontecem; as mudan9as me rea((oes nas crianyas enfermas que ocorrematraves das hist6rias contadas. Como fonte, utiliza a pesquisa bibliografica e apesquisa de campo. E relevante 0 estudo porque mostra a necessidade de levar ateas crian9as hospitalizadas asta arte que tern uma fun9~o importantissima de entretere alegrar; educar e informar; podando mudar realidades tristes e muitas vezes semesperanga.
Palavras-chaves: Literatura lnfantil; crian<;as enfermas; hospital.
1 INTRODUr;:Ao
Este trabalho tern como tema a literatura infantil no ambito hospitalar, visando
a tornar a internayao da crianga no hospital mais leve, agradavel e alegre. A
literatura contribui muito, uma vez que logo nos primeiros cantatas que a crian9a tern
com taxtos literarios, a leitura, a imagem despertam-lhe a aten913.O, 0 prazer. a
diversao e momentos ludicos. Ao allvir uma historia, a crianga desenvolve todo 0 seu
potenCial critico. Ela pensa, duvida, pergunta. questiona e com isso acaba refletindo
sobre seus anseios nas historias fantasticas e encontra netes uma fonna de resolver
seus conflitos interiores.
Criangas que permanecem em hospitais, seja por um curto au longo perlm.iO,
fiearn psicologicamente abaladas. 0 pr6prio an"lbiente Ihes deixa tristes: muitas
vezes com dor, sem animo para brincar au fazar as coisas de que gostam. Ficam amerc~ dos medicos, enfermeiros, remedios, agulhas, enfim sem saber quando
poderao ir para casa.
Por este motivo, esta pesquisa parte da seguinte investigayao: a arte de
con tar hist6rias em hospitais pode melhorar 0 humor das crianc;as hospitalizadas Oll
ate masmo alterar de forma posiliva seu quadra cHnico?
Este trabalho pretende investigar se a arte de contar hist6rias em hospitais
pode melhorar 0 hwnor das crianc;as hospitalizadas au ate masmo alterar de forma
positiva seu quadro clinica; identificar as rea90es das crianc;as diante da contac;ao
de hist6ria; varificar a importbincia da literatura infantil como fonte de prazer para as
crianc;as mesma estanda hospitalizadas.
Para tanto. segue a seguinte estrutura: 0 capitulo 2 fundamenta 0 trabalho
com os autores que escreveram sabre a tema. No capitulo 3 apresenta as
procedimentos metodol6gicos com a pesquisa dividida em duas etapas: pesquisa
bibliografica e pesquisa de campo. A pesquisa bibliografica foi feita atraves de livros,
artigos e revistas que falam do assunto.
A pesquisa de campo foi realizada no Hospital Municipal Dr. Atrlio Talamini
em Sao Jose dos Pinhais corn dura~ao de quatro meses, realizando uma visita
semanalmente, aos sabados, com um periodo indeterrninado, ou seja, as horas
dependiam de acordo com 0 numero de crian~as110spitalizadas.
o capitulo 4 apresenta a analise e os resultados obtidos e a capitulo 5
apresenta a conciusao e considerayoes sobre a pesquisa.
10
2 FUNDAMENTAC;Ao TEORICA
2.1 DE ONDE VIERAM AS HISTORIAS
Ninguem sa be qual foi a primeira hist6ria nem quem a contou. pois as
historias sao tao antigas quanta as comunidades humanas.
Sua fonte natural e 0 povo, que, sentindo a necessidade de explicar as fatos e
os fen6menos da natureza que Ihe causavam tanta admirayao. sem poder
compreende-Ios racionalmente, e tambem pela necessidade de transmitir suas
impress6es, experiencias, valores, cren~as, costumes, normas, a saga de seus
guerreiros e herois, as acontecimentos sentimentais OU misticos acabaram criando e
recriando sit1l8ryoes, pessoas, lugares, sonhos, transformando em historias, mitos e
lendas. que eram repassados de gera9ao a gera9(\0, de povo a povo, pela oralidade.
Durante muito tempo, foi dessa forma que 0 homem primitiv~ guardou e
conservou todos os fatos e lernbran9as que formam urn verdadeiro tesouro e jamais
perderam 0 seu valor. A prava disso esta nas hist6rias antigas que continuam
encantanda ate hoje: Cinderela. Chapeuzinho Vermelho, Branca de Neve, A Bela e
a Fera e tantas outras.
Par ter sido oral a forma primitiva de transmissao, €I evidente que n~o se pode
fixar sua origem. Entaa, de an de vieram as historias? De todas as partes do munclo.
Quem as contau pela primeira vez? a pavo!
As hist6rias cle tradiyao oral sao anOnimas porque nao sao de ninguem,
porque pertencern a todo mundo, sao universais.
Nao existe ne5se munclo um 56 pova que n~o tenha suas historias. Por serem
um elo que une as pessoas, slas s~o nscessiclades da ser humano, par i550, mais
II
importante do que saber quem as contau pela primeira vez e quais foram as
hist6rias, clevel11Qs agradecer por elas existirem e nos ajudarem a compreender
rnelhor 0 rnundo em que vivemos. (GARCIA et. al 2003).
2.2 0 SURGIMENTO DA L1TERATURA INFANTIL
A l1ist6ria da literatura infantil come9a a delinear-se no infcio do sEkula XVIII,
quando a crian9a passa a ser considerada urn sar diferente do adulto, com
necessidades e caracteristicas proprias pelo fato de sa distanciar da vida dos l11ais
velhos e reeeber uma educa9ao especial que a preparasse para a vida adulta.
(CUNHA,1999).
A Literatura come<;:ou como poesia, a qual foi uma parte da religiao, como
erarn as invoca95es aos deuses, au rimas as quais S8 atribuiram propriedades
magicas. (BETTELLHEM, 1980).
A Literatura S8 originoLJ da poesia oralmente recitada e transmitida. A
Literatura e uma arte, como por exemplo, a pintura, a arquitetura, a musica, a danya,
a escultura. Assim, ela tern em comum com as demais artes. Para Nicola. ela euniversal, comum a todos as homens e lugares, pais sao as verdades da mesma
condil'ao humana. (NICOLA, 1990).
As primeiras obras dirigidas ao publico infantil apareceram no mercado livreiro
na primeira metade do seculo XVII. Estas nao tinham 0 carater infantil, pais as livros
infantis eram apenas didaticos, nao eram coloridos e nao tinham ilustra90es. Seus
textos nao eram simples. A crian<;a era considerada como urn actulto em miniatura,
pais era obrigada a participar ate das mesmas brincadeiras que as aciultos.
I:
A Literatura infantil tern como parAmetros contos consagraelQs pelo publico
rnirirn cle diferentes epocas que oferecem a futuras gerac;r5es referancias a fe-speita
da constitLli<;ao cia tOnica literaria do texto destinado a crian<;a. (LAJOLO;
ZILBERMANN, 1998).
2.3 OS GRANDES PRECURSORES DA L1TERATURA INFANTIL NO
MUNDO
No seculo XVll, a frances Charles Perrault (1628-1863) coleta contos e lend as
da Idade Media e adapta-os constituindo as chamados contos de fada (Cindere/a,
ClfapsLlzinflo Venne/flo). par tanto tempo paradigmas do genera infantil
(CADERMARTORI,1995).
Os irmaos Grimm: Jacob Ludwig Karl Grimm (1785-1863) e Wilhelm Karl
Grimm (1786-1859), alemaes. coletaram e organizaram as historias que recolhiam
em suas viagens pala Alemanha. Dentre as varias hist6rias que transcreveram,
estas toram as mais lidas: Branca de Neve e as Sete Anees, Joao e Maria, Joao
Mata Sete.
Conta-s8 que:
Era uma vez um garoto pobre e feio que queria ser atar. Uma de suas pOll cas
alegrias era aS5istir historias populaTes encenadas palo pai, que era sapateiro, em
um teatrinho feito de papelao. Quando 0 pai morreu, 0 sonho do menino ficou
distante. ja que ele teria que sLlstentar a familia. Um dia, a garoto partiu para bem
lange e pass au fome. frio ate conhecer urn homem que pagou seus estudos e
viagens pelo mundo. 0 menino nao S8 tornou atar, mas ficou rico e famoso
escrevendo historias infantis.
13
A vida do dinamarqu~s Hans Christian Adersen (1805-1875) daria um conto
de fadas. E rendeu multo, pais em cad a narrativa escrita par ele ha um pouco de
suas tristezas e alegrias, como em 0 Patinho Feio. Ele e autor de cerca de cento e
sessenta contos e seis romances, alem de poesias e de uma autobiografia. Sua obra
foi traduzida para mais de cem Ifnguas.
A genialidade de Andersen esta na leveza, na poesia e na melancolia com
que trata 0 sofrimento infantil. (REVISTA NOVA ESCOLA, 2005).
Perrault, os irmaos Grimm e depois Andersen, colecionadores de historias
folcl6ricas, estao assim ligados a g~nese da literatura infantil. Tiveram seus contos
republicados e adapt ados uma infinidade de vezes a tal ponto que hoje lais relatos
se apresentam demasiadamente modificados. (CUNHA, 1997).
Charles Perrault e as irmaos Grimm apenas registravam no papel as historias
ja contadas oralmente pelo povo. Andersen e definitivamente 0 primeiro escritar
infanlil e as mais famosos contos sao:
o /squeiro Magico (1835): Um soldado encontra um isqueiro magico que
realiza todos as seus desejos. Oepois de perder tudo a que ganhou, ele faz um novo
pedido e, rico, passa a ajudar os pobres. E 0 primeiro livre escrito pelo autor
dinamarques. (REVISTA NOVA ESCOLA, 2005).
o So/dadinflo de C/llImbo (1838): 0 protagonista e um boneco de uma perna
s6. Ap6s passar por multas aventuras nas maos de crianyas, ele se apaixona par
uma boneca bailarina. Mas e jogado em uma lareira junto com sua amada. Trata-s9
do primeiro canto total mente criado par Andersen. A historia nao tem um final feliz.
(ld.lb.,2005).
1-1
o Patinho Feio (1843 : urn pato feio e desengonc;ado e rejeitado pel a familia
par ser diferente. Ele foge e descobre que e na verdade urn bela cisne. E a historia
que representa de maneira mais explicita a vida do au tar.
A Pequ8n8 Vendedora de F6sforos (1846): No ultirno dia do ano, urna rnenina
perarnbula pelas ruas frias de uma cidade. Ela tenta vender f6sforos para S8
sLJstentar, mas acaba acendendo todos, um a um, para S8 aquecer. E considerado
urn clos contos mais tristes da literatura infanti!. Andersen S8 inspirou na infancia da
mae para escreve-Io. (Id. lb., 2005).
Ao longo cia !listoria da literatura infantil, as hist6rias foram S8 desenvolvendo
com a sociedade procurando adaptar-s8 a cultura de cada epoca, pois antes de a
crianya S8r considerada crian9a. os livros eram €"scritos para adultos nos quais as
crian9as tambern compartilhavam.
2.4 MONTEIRO LOBATO E A LlTERATURA NO BRASIL
Foi com Monteiro Lobato que se deu a infcio a verdadeira literatura infantil
brasileira. Com uma diversidade quanta a generos e orientayoes, ele eriou lIma
literatura eentralizada em algumas personagens que percorrem e unificam seu
universe ficcional.
No Sitio do Pica-paLl Amarolo aparece Dona Benta e Tia Nastacia, as
personagens adultas que "orientam" crianyas (Pedrinho e Narizinho). Outras
criaturas (Emilia e Visconde de Sabugosa) e anirnais corno Quindirn e Rabic6
(CUNHA, 1997).
Sua literatura e centralizada em personagens que percorrem e unificam 0
universe da fiC9ao, possuindo urn carisma muito grande. A obra lobatiana destaca-se
15
par alguns aspectos e abre as partas para novas ideias e form as que 0 seculo
exigia.
a Brasil teve uma grande influencia dos pavos colonizadores e Lobato
mesma diante de fortes press6es politicas buscava construir uma literatura que
tivesse os valores e anseios do povo brasileiro. (COELHO, 1991).
Sua obra completa foi em 1946, publicada pela Editora brasiliense. Esta
edi<;:ao fa; preparada e reformulada pelo pr6prio Monteiro Lobato. Ela dedicava suas
obras a quest6es bern brasileiras e descrevia sempre a realidade cultural do pavo
brasileiro, como por exemplo, a obra "Jeca Tatun, simbolo de urn Brasil rural e
miseravel.
Para Cadermartori "0 sentido da obra de Monteiro Lobato S8 torna mais
evidente quando sua produ.yao litera ria €I contraposta as caracteristicas da vida
cultural braBileira ate determinado momento da nossa hist6ria·'. (1986, p. 43).
Monteiro Lobato foi 0 verdadeiro criador do espayo da literatura infantil
brasileira na epoca de confronto entre 0 Romantismo IRealismo e 0 Modernismo. A
literatura Brasileira passou par varias modificac;:6es no decorrer deste seculo.
Para Coelho,
Durante 0 Estado Novo de Gelulio Vargas a literatura passa a ter umcarater realista onde os escritores que contribuiram para a literatura infantilmostram em suas obras diferentes tipos de narrativas, entre elas estaonarrativas de pura fantasia, da realidade cotidiana, da realidade hisl6rica,da realidade mfstica e do rea1ismo maravilhoso. (1991, p. 241).
2.5 AS HISTORIAS EM QUADRINHOS
Segundo Coelho, "Com grande crise mundial, a violencia comeya a expandir-
se, entram em cena as historias em quadrinhos com super her6is, series detetives e
aventuras que ficavam entre 0 maravilhoso e a ci~ncia." (1991, p. 248).
16
As historias em quaclrinhos. em seu inicio, foram essencialmente humoristicas
e entram numa fase violental her6ica com seus hereis detetivescos. Cresee 0
interesse pela fic9aocientifica. (COELHO. 1991).
o gibi. como uma literatura infantil. foi muito criticado. as educadores
tradicionais relatavam que eles continham ideias subversivas, violentas e multo
fantasiosas.
Na decada de 40 foi cJecretacia a Lei OrgAnica do Ensino Primario e tinha
como principal objetivo formar um cidadao critica, capaz de contribuir para melhorar
a situayao do pais.
A crian9a era obrigada a conhecer somente a realiclade e as historias
fantasistas nao contr~bufam para a sua formayao, pois ern suas historias nao e
demonstrada a realidade; e demonstracia apenas a mentira.
Desta forma, os Ilvros de Lobato comeyam a ser proibidos em colegios
religiosos, sob aCllsal'ao de perniciosos II formal'80 da crian\(a. E em 1951, foi
realizada a Primeira Exposic;ao da Hist6ria em Quadrinhos, que foi bastante criticada
e teve questionada sua importancia para a forma9ao da crianya e, chegoll a sar
proibida, pois tinha carater antipedag6gico. (COELHO, 1991).
2.6 A SUBDIVISAO DO CONTO POPULAR
o canto popular e um das mais antigos generos literarios que existem na
tradic;ao oral. Tem como caracteristicas marcantes: tempo e espa90 indefinidos; a
disputa entre fortes e fracas, ricos e pobres; a vito ria do bem sobre 0 mal. Pode sar
dividido em Contos de fada, Contos maravilhosos, Contos de repeti9ao, Contos
acumulativos, Contos animais, Contos etiologicos, Contos de adivinhaya.o e de
17
suspense. Contos de exemplo, Contos religiosos. Contos de humor e Contos de
ensinamento.
Os Contos de fad a sao historias que tern como personagens reis, rainhas,
principes. princesas, pessoas simples que passam por terriveis situa90es, na
majoria das vezes causadas por seres sobrenaturais com bruxas, ogros. gigantes.
etc, e que 56 podem sar salvos com a ajuda de objetos magicos au de Qutros seres
nao menes sobrenaturais, como fadas, magos, anOes.
Todos esses seres dEW i?nfase as questoes espirituais, eticas e existenciais
da apaca e tern par objetivo a realizayao interior do ser humane ande 0 bem sempre
vence 0 mal. (GARCIA et al 2003).
Oconto de fadas €I uma hist6ria que por conter um final feliz reconforta e
alivia as pressoes internas presentes na crian9a. Apresentam sempre uma situa~ao
a ser resolvida pelo her6i ou hmoina, geralmente sem nome propria. Apenas s~\O
apontaclos a princesa. a rei, a rainha, a mae, a madrasta, a bruxa e assim par diante.
Franz, citado por Busatto, diz que
pesquis8dores sa apropriararn dos conios de fada.$ e as tornaram comba,'5e de investigi)~S cientificas. como C.G. Jung e suo. discfpula Mare-Louise Von Franz, que pa.rte de lemas Clas5icos desse! contos paraP.5ludossobre 0 prOCBSso psicanalitico. ja que "os conlos de fada fornecemreprss9nlalfOes de processos instintivos d.:'1psique que pos!Uem validadegor.'" (1985, p. 9).
Os contos que lazem parte do chamado cicio animal loram bastante
explorados pela psicanalise, pais apresentam, metatoricamente, a nossa experi~ncia
de conexao com as nossos demonios, implica na aceitaQao do teio. do torto. do
escuro.
Amar a bela e facil. Essas historias nos falam de seres humanos enfeitiyados
e translonnados em animais. monstros horrorosos, e que somente serao redimidos
quando aceitos e amados pelo que sao. Alguns exemplos destes contos: A Bela e a
18
Fera, Rei Sapo, Rei Porco, 0 palacio dos Macacos, Elza, a mulher selvagem.
(BUSATTO,2003).
as Contos maravilhosos sao historias sem a presen<;a de fadas. Desenvolve-
S8 tambem num ambiente magico (animais, g~niosJ plantas, objetos magicos, ogros
e duendes).
Enfatizam a parte material, sensorial e 91ica do ser humano. T~m por objetivo
a realizayao do her6i au da heroina mediante conquista de tesouros e QuIros bans
materiais. Um exemplo oj Ali Baba e os Quaranta Ladroes. (GARCIA et aI., 2003.
Contos de repeti\=ao sao historias em que determinado incidente S8 repete
sem necessariamente S9 acumular com a situ89ao anterior.
Contos acumulativos sao historias em que as frases S8 repetem acumulando
as situ8c;oes, tornando 0 conto Iongo e quase sem fim.
Contos animais sao historias de animais que agem e vivem como seres
humanos.
Contos etiologicos sao his tori as que foram inventadas para explicar alguma
situa9ao, caracteristica e personalidade de qualquer natureza, como par exemplo,
Por que a avestruz macho choca os ovos?
Contos de adivinha'tao e suspense sao hist6rias em que a vit6ria do her6i ou
da heroina depende da soluyao de uma adivinha'tao, de um enigma de uma
charada, da decifra,ao da origem de certos objetos ou da tradu,ao de gestos.
Contos de exemplo sao hist6rias que passu em um exemplo a ser seguido.
Contos religiosos sao historias com a interven,ao divina. (GARCIA et al
2003).
19
Para Busatto,
Cristo foi urn eximio conlador de hist6rias e SUli5 parabolas podem serencontradas no grande livro do cristianismo, a Biblia. Estes lemasreligioso!; eslao presentes em varios contos de ladas, como 0 pobre e 0rico, do5 irmaos Grimm; e as tanlas narralivas das andanc;as de Jesus palaterra acompanhado pelos IrapalhOes e astutos Pedro, lao ao !Josto datradM/flO oral ilaliana. (2003, p. 26).
Contos de humor sao historias alegres, cnde a her6i au a heroina egeralmente tolo, ingenuo, muito humilde e passa por situ890es absurdas,
engra9adas. Geralmente esses herois saem vitoriosos no final. (GARCIA at aI.,
2003.
As hist6rias podem ser classificadas tambem por lendas, fAbulas e mito.
Lenda - do latim legenda, lebre = ler. A lenda e uma narrativa oral ou escrita,
de caniter maravilhoso, em que 0 real e 0 fantastico se misturam, tornando
quase impossivel saber on de termina a verdade e come9a a fantasia. As
landas tem como basica historiar ou explicar fatos como: origem das coisas,
fen6menos naturais, figuras sobrenaturais, bem como narrar a vida de
pessoas extraordinarias e de santos.
Em sua maioria, as lendas possuem uma localizayao geografica e
transcorrem em um tempo determinado. Os coletores de lendas mais conhecidos
sao Hans Staden, Jean Baptiste Debret, Saint Hilaire, Jose de Alencar, Sflvio
Homero e CAmara Cascudo. (GARCIA et aI., 2003).
Fabula - palavra que vern do latim (abu/are = falar, e uma narrativa muito
simples e clara, em que sao os animais ou objetos que possuem
caracteristicas e atitudes humanas. Normalmente, terminam com uma liyao
de moral explicita.
20
A funyao social das fabulas e preservar a moral dos pav~s, ensinando·os
como devem agir. Nasceu no Oriente e foi reinventada pelo escravo grego Esopo.
Mais tarde, Fadro, urn escravo romano, reescreveu-as em forma de versos.
No Ocidente moderno, 0 grande responsavel pela divulga,ao das fabulas foi 0
frances Jean de La Fontaine. (Id. ib., 2003).
As fabulas sao chamadas de contos admonit6rios, au saja, fazem previsoes, e
as vezes de forma ate ameac;:adora. Elas indicam qual a atitude a ser lam ada diante
de uma situa9ao. Apresentam-se como uma narrativa destinada a uma maxima
moral, distinta do conto de fada, que sem impor moral permite que as decis6es
sejam lamadas au nao palo sujeito em 89ao. As fabulas entret~m, dizendo-nos
exatamente 0 que fazer, e advertem-nos casa naD fac;:amos a coi!;a certa. Diferentes
do canto, elas nao utilizam uma linguagem simb6lica, universal e atemporal; e
correm 0 risco de se tornarem obsoletas, pois muitas vezes transmitem um
ensinamenlo e uma advertencia datada, referente a sociedade da epoca.
(BUSATTO,2003).
• 0 milo - a palavra milo vem do gregG muthos = fabula ou palavra transmitida.
Sao hist6rias ligadas aos fen6menos inaugurais de tudo: cria,ao do mundo,
do homem, explica9a.O ma.gica das for9as da natureza e/ou dos aspectos da
condiyao humana.
Encontramos nos mitos, tambem, as cren9as religiosas iniciais e a filosofia de
uma comunidade ou povo. 0 mito conta, explica, revela 0 ser, 0 deus e por isso
pode ser apresentado como uma historia sagrada. (GARCIA et aI., 2003).
Segundo Busatto,
o milo sempre tem um final Irtagico e complexo, fala mais ao 9spirito doadullo, que ja consegue abarcar as suas diferentes dimensoes, por conteruma eslrutura psiquica rnais elaborada, taJqual €I a estrutura sirnb6lica domilo. Alraves do milo a crianQa nilo conseguiria os mesmos relornos que 0
21
conto de lada oferece, pois 0 mito ativa determinados conteudos que acrianc;:a ainda nao esla preparada para lidar. (2003. p. 30).
as contos de ensinamentos sao historias oriundas de linhas filos6ficas e lou
religiosos como 0 cristianismo, budismo, sofismo, confucionismo, judafsmo,
hinduismo, entre outras. Esses contos, mais que a moral, transmitem valores.
Apontam para a importancia do resgate e da viv€mcia de sentimentos como
compaixa.o, arnor, solidariedade, amizade, lealdade, alegria, integridade,
generosidade, fidelidade, coragem, toler€mcia, quietude, e outros tantos,
fundamentais para que sejamos mais humanos. (BUSATTO, 2003).
Contos de fadas, mitos, lendas au fabulas. Nao importa quae diferente sejam
em estrutura au significado, sao lodos filhos de um mesmo paL Remontam lodos a
uma unica origem, a nOSSEtimaginac;::ao.
2.7 0 MERCADO DE GENEROS DA LlTERATURA INFANTIL
° mercado de livros infantis, no Brasil, oferece hoje, produ,oes de boa
qualidade para todas as faixas etarias, a partir de livros para crianyas que ainda nao
sabem ler, como os livros sem texto que recorrem, exclusivamente, a linguagem
visual. A ideia e feliz, uma vez que a percepyao visual e uma experiemcia com
fun,8.o ordenadora sobre as demais. (CADERMARTORI, 1986).
Mesmo livros sem texto estimulam a apreensao da narratividade via
visualizac;::ao, tal como, basicamente, ocorrera no processo de decodificayao da
hist6ria esc rita, mediante sfmbolos de natureza diversa, as letras. Existem livros
fantasticos, e eles classificam-se por interesse de cada faixa eta.ria.
CrianQas de quinze meses a tres anos demonstram aumento constante de
vocabulario, lltilizam senten<;as simples (tres a quatro palavras) e criam palavras
para expressar suas necessidades. Gostam de ouvir tlistorias curtas e rimadas,
interessam-se pouco palo conteudo das hist6rias por nao aprenderem a sequencia
logica dos fatos; gostam de ouvir musica e observar gravuras. (GARCIA et aI., 2003).
Dos tres aos quatro anos alas se encontram na fase do realismo imaginario.
Para elas, a imitaQao representa a realidade, todas as eoisas sao vivas e dotadas de
intenyoes e sentimentos; possuem maior compreensao da sequencia logica, gostam
de historias da vida real, ritmicas e rirnadas. (Id. ib., 2003).
Aos cinco anos tambel1l se encontram na fase do realismo imaginario.
Possuem maior capacidade de conce'ltrac;ao, sendo capazes de ouvir historias par
um tempo maior, bem como repetir sua sequ~ncia, preferem historias de contos de
fadas com enredo simples, entre out",s. (Id. ib., 2003).
As crianyas de cinco a seis allOs jil. se encontram no infcio do processa de
socializayao, au seja, cooperam bastante, formam pequenos grupos de amigos,
possuem maior capacidade de concentraQ~o, ou seja, esperam sua vez, eseutam
outras pessoas falando, interessam-se por hist6rias mais longas de emedo simples.
(Id. ib., 2003).
2.8 A IMPORTANCIA DA LlTERATURA NA VIDA DE CRIAN~AS
SAUDAvEIS E ENFERMAS
A literatura sempre foi uma anna poderosa para transmitir valores morais e
eticos. Todos os classicos da ficQao infantil trazem exemplos do que e born e do que
e mal, do certo e do errada: e terminam corn a rnensagem de que e passivel superar
medos, traumas e diferen9as.
Para Coelho, "Permite ainda a auto-identifica9aa, favarecendo a aceita9ao de
situac;oes clesagradaveis, ajuda a resolver conflitos, acenanda com a esperan9a".
(1999, p.12).
Para Bettelheim (1903-1990), eitado na Revista Nova Eseola,
nenhum tipo de leilura e t.~oenriquaoedor e satisfal6rio 00 que os conlosde ladas, pois eles ensinam sabre os problemas interiores dos sereshumano5 e apresentam soluvOes em qualquer sociedacJe. Ou sejB, afantasia ajuda a formar a personalidilde e por is-sontto pode laHar na vidadn criM9fl. pois pssim eta aumenta seu reperl6rio de conhecimento! sobreo mundo 9 translel1? para os personagens seus principlIis dramas.(REVIST A NOVA ESCOLA, p. 54).
Segundo Coelho "contar historias e uma arte, par canseguinte requer certa
tend~ncia inata, uma predisposi~ao latente, alias, em todo educador, em tocia
pessoa que se prop6e a lidar com erian,as". (199'3, p. 50).
Coelho completa,
Crian'W3Senfcrma·" requerem todo bom senSD na esoolha, as hist6riasdevem ser divertidas. curti.1S.sem nenhuma lliusno ao problema que asafligB. Sando a lileratura inianliJ portadora de verdade~ eternas, reflets afor4(a irresi,,,Uvelda confianc;:aque provoca em cada ser a descoberta desua propria fOry.1. (1999, p. 52).
Para Amarilha, "'A Hteratura e usacla para acalmar as crian9as quando estao
muito inquietas e tambsl11 para impor siif?ncio e disciplina ao caos que as vezes
oeorre na sal a de aula". (1997, p.17).
Segundo Bettelheim, "a literatura projeta alivio de todas as pressoes e nao s6
oferece forrnas para resolver os problemas, mas promete uma sOluryao "feliz" para
eles". (1984, p. 46).
Na infancia, mais do que em qualquer outra idade. tudo esta em
transformaryAo, Enquanta nao conseguimos consideravelmente seguranya dentro de
nos mesillos. nao podemos nos cOrTIprorneter em lutas psicologicas dificeis. a
menos que se tenha uma saida positiva. A Literatura infantil pode oferecer materiais
que estimulam a crianya a formar uma imagem simb61ica do significado de cad a
hist6ria para conseguir assim uma auto-realiza,ao. (BETTELHEIM, 1984).
A Literatura utilizada para crian<;as hospitalizadas busea falar de amor,
cooperativismo e uniao.
Para Gouveia,
nao importa se s:l.o pobl'ss au ricos, brancos ou negrO$, em que hospitalestejarn 58 tratando. Importa seriamente que S8 envolvam, que Icu;am partado mundo magico do faz de conta que os levara a momentos aJegre.s. aesquecer das inj~6es e dos curativo5, da dor e do sofrimento. Importa quea criant;a e 0 adolescente sintam-se amados, qlle vivenciem aqualemomento como inteiramenle deles.. (200S, p. 21).
Para muitas crianr;as. a contar;ao de historia e rnuito imporlante, pais,
algumas passam muito mal durante sessoes de tratamento e, ao ouvirem uma
historia nestes momentos, elas se mantem oeupadas prestando aten<;ao as historias
e as brincadeiras: ficam impressionadas, mais calmas sabre as macas aguardando
o final do tratamento. (GOUVEIA, 2005).
Para Bettelheim, enquanto olive a hist6ria, a crianlfa forma ideias sobre 0
modo de ordenar a caos que sua vida esta passando naquele momenta. 0 canto de
fadas sugere nao s6 isolar e separar as aspectos dlspares e confusos da
experiencia da erian9a, mas tambem projeta-Ios em diferentes figuras.
Quanto mais infelizes e desesperados as pessoas S8 encontram, tanto mais
necessitam de ser capazes de se envolver em fantasias otimistas. (BETTEELHEIM,
1984).
Para Gouveia (2005), contar hist6rias, al9m de entreter, e educar e. no caso
das crian,as internadas em um hospital, e esclarecer, explicar, reanimar. A medida
que as contadores vao se familiarizando com 0 seu ofielo, passam tambern a
25
inventar historias novas. Se os pacienles nao querem se alimentar, um pouco de
brincadeira, uma narrativa sobre 0 que sao os alimentos e para que servem, a
proposta de que urn pouquinho s6 nao e ruim, tornam-se os grandes auxiliares da
equipe medica.
o mesmo acontece com os remedios: mostrar como uma gotinha pode e
poderosa, como uma injec;:ao chega mais depressa para malar 0 bichinho que esla la
dentro ou como um curativo e porta trancada para esses mesmo bichinhos. Exames
clinicos e preparac;:8.o para cirurgia lambem assustam e amedrantam. Porem, como
a crianc;:a nao tem a mesma censura do adulto, ela assimila melhor urn exemplo,
uma historia. Ao contar uma historia usando 0 dedinho que levou uma picadinha,
mostra 0 seu dedo pre,vando como ficou bom. Conta maravilhas sobre e. anestesia,
que ele precisa ficar dorm indo para nao acordar 0 bichinho que esla 113denlro e 0
medico pega-Io de surpresa, bern depressa. A. medida que uma crianc;:a ou
adolescente adquire mais calma, rna is animo ou mais confianc;:a, certamente as
procedimentos terao urn caminho mais facil, as alimentos serao mais bem
aproveitados e os medicamentos alcan9arao os seus objeUvos.
Quando se contam historias, ou quando se ouve a crian9a con tar a sua, esta
se realizando uma traca muito salutar. A crianya sente-se em urn ambiente menos
hostil, menos agredida, e percebe que existem pessoas interessadas em melhorar 0
seu mundo. (GOUVEIA, 2005).
As crian9as nao podem dizer nao aos exames, aos remedios, aos
tratamentos, aos procediment05 impostos para sua sobrevida. Mas podem dizer nao
para urn livro, para uma brincadeira. Neste momento, elas estao exercendo a sua
autonomia. ls50 preserva 0 indivfduo como ser humano, fortalece a crianya e a ajuda
a enfrentar todo um processo de dar e 50frimento.
Bettelhim. citado por Busatto. eliz que "0 canto de fadas nao poderia ter seu
impacto psicol6gico sabre a crian9a S8 nae fosse primeiro e antes cle tucla uma obra
de arte". (2003, p. 15). Ele prossegue afinnando 0 poder regeneraelor dos contos de
fadas que, par conterem na sua estrutura elementos simb6licos, criam uma ponte
com 0 inconsciente, integrando contelldos, propiciando a crian9a conforta e
tranquilidade.
Oconto de fadas provoca prazer e encantamento e, par mais clistanciada que
a crian9a esteja do seu catidiano, 0 canto a leva a refletir sabre a sua rotina e a
incorporar novas experiE'mcias.
Segundo Busatto
05 poves orienta's cOl1sideravam 0 conto oral mais do que urn estilo lilerario aserviyQ do divertim~nlo. Sabiam que nelas esU\o contidos 0 conhecimento eas id~ia$ de um povo, qua atraves deles era possfvel indicar condutas.rasgatm valoras 9 ate curar doem;ns. Eles acredilavam no poder curalivo doconto. e muita.5 siluaryOes 0 ramedio indicado era QUllir um conlo Et medilarsobre ale. Neste case, 0 conto funcionava com urn retl$truturador dodesaquilibrie !imacional que provocou 0 dislurbio Hsico. Aqui 0 conic aclquireurn carater terap!utico. encnnta curando. f2003, p. 17}.
Esta ideia nao esla distante do que pensam as pesquisadores
contemporaneos.
Quando Bettelheirn diz que atraves de urn conto a crianc;:a cia vazao aos seus
afetos, ele asta afirmando 0 poder curativo do canto.
Belinky, citada par Busatto, diz que "essa ideia nao esta distante do que
pensarn os pesquisadares contestadores das fadas, fala alto e em born tom que os
contos en cant am porque ;fazem charar e rir', e continua afirmando que oconto 'e lim
treino'". (2003, p.17).
27
Urn fator muito importante e que urn conto nunca vai provocar 0 mesma efeito
nas diversas pessoas que 0 ouvem. E a hist6ria de vida de cada urn que determinara
com que cores e com que musica ele vai soar.
2.9 AS HISTORIAS INFANTIS E A TRANSMISsAo DE VALORES
As historias sao uteis na transmissao de valores porque dao razao de ser aos
camportamentos humanos. Tratam de questoes abstratas, dificeis de serem
compreendidas palas crianC;:8s quando isoladas de urn contexto.
Segundo Dohme
a crianya e incapaz de laciocinar no abstrato. Assim, virtudes, mausMbit05, defeilos ou esforc;vs louvaveis que inlerferem no comportamenlosocial do individua, Qerando conseqO~ncias na sua vida, nAo podem serentendidos com esla clar·na pelas crianvas. Falla referencial capaz deassociar uma questao de comportamento a urn lato: lulano agiu a assim edeu-se maLa lalta de lealdade de beltrano lez a verdade vir a tena. (2000,p.24).
Se nos adultos, com tanta vivencia, muitas vezes nos perdemos na tentativa
de associar tend~ncias a fatos, tendo dificuldade de prever sa datarminada atituda
lavara a melhor situ8c;ao, 0 que pensar das crianc;as com pouca experiencia e com
urn mundo todo a descobrir? S6 as historias trani este referencial, transformara 0
abstrata em concreto.
As historias ensinam a crianc;a a crescer e a pensar.
Para Vania Dohma (2000) existem alguns val ores que podem sar trabalhados com
as crianC;8s;
• Alegria: boa disposic;:ao para fazer as caisas. Propensao aver e mostrar 0
lade divertido das coisas.
28
• Amor: desejar 0 bern para autras pessoas. Ter apego as suas produ90es e
bans, aD meio em que viva e as pessoas.
Compartilhar: dividir suas caisas com os demais. Reconhecer 0 direito ou 0
legitime desejo das Dutras pessoas usufrufrem igualmente de pertences ou
oportunidades.
• Confiabilidade: tar uma conduta constants e verdadeira, capaz de conquistar
erectilo de um born procedimento.
CoOpera9,3,o: capacidade de atuar com Dutras pessoas de forma consistente e
produliva.
• Coragem: resoluyao, perseveran9a, constancia e firmeza perante situ890es
novas au desafiantes.
• Cortesia: ser afavel, alenlo e bem·edllcado.
• Disciplina: obedecer a ordens preestabelecidas, combinadas e anteriormente
aceitas.
• Honestidade: apropriar-se exclusivamente do que Ihe pertence. Conhecer os
limites de suas propriedades em relayao as de oulras pessoas. Compartilhar
os seus sentimentos de forma verdadeira.
• Igualdade: reconhecimento de direitos iguais a todas as pessoas. Nao se aler
a preconceitos e tralar todas as pessoas da mesma forma.
• Juslil'a: capacidade de fazer julgamenlos desassociados de seus pr6prios
interesses. Ter sensibilidade e disponibilidade para ouvir e entender as razoes
que levam oulra pessoa a delerminada condula. Capacidade de dar a cada
um 0 que Ihe perlence.
• Lealdade: amor e fidelidade a verdade. Incapacidade de trair, falsear ou
enganar.
29
• Lirnpeza: reconhecer as beneficios da limpaza interna e externa. Tar atitudes
para oble-Ias.
Misericordia: reconhecimento e compaixao palas necessidades alheias.
• Paciencia: ter remitencia para suportar os ravases. Tranquilidade para
esperar. Aceitar as caracterfsticas e limita<;6es dos demais.
• Paz: capacidade de reconhecer os beneffcios da harmonia e trabalhar em prol
dela.
• Respeito: atenyao as Qutras pessoas. Considerayao palas suas opini6es e
aliludes.
• Responsabilidade: eslar conscienle de suas obriga90es e disposlo a Irabalhar
por elas.
• Solicitude: estar disposto a ajudar e a tazer favares, preslar voluntariamente
urn servic;:o ao pr6ximo.
• Tolerancia: raspaito e considera<;ao palas opini6es e atitudes dos Qutros.
Sam duvida, as historias transmitem valores eticos, sedimentam
conhecimento e aconselham. 1550 tudo, porem, s6 funciona sa nao for feito de uma
maneira impositiva. Nao funciona con tar uma hist6ria para ensinar que e feio bater
no amiguinho, jogar lixo no cha.o. E preciso fazer a crianc;a pensar e nao ditar regras.
3 PROCEDIMENTOS METODOLOGICOS
Para a realizayao do trabalho de conclusao de curso com 0 lema Literatura
Infantil no ambito Hospitalar fa; realizada lima pesquisa qualitativa, clescritiva na qual
divide-s8 em duas etapas:
Na primeira etapa foi feita uma pesquisa te6rica a qual apresenta alguns
autores que falam sabre 0 que ~ Literatura, onde surgiu e quais as beneficios.
Na segunda etapa foi realizada uma pesquisa de campo que utilizou como
universo 0 Hospital Municipal Dr. Atilio Taiamini, localizado no municfpio de Sao
Jose dos Pinhais e como amostra as crianyas hospitalizaclas, a enferrneira, 0
enfermeiro e as pais das crianc;as enfermas.
A pesquisa e qualitativa, pOis 0 tema requer uma aproxima9Ao maior com 0
campo de observayao pars melhor delinear 0 campo de atua98.0, uma etapa
explorat6ria.
Segundo Minayo, "A fase exploratoria de uma pesquisa e, sem duvida, urn de
seus momentos mais importantes." (1994, p. 51).
As visitas ao Hospital tiveram duray80 de quatro meses, sendo uma vez par
semana aos sabados, com perfodo de duas heras. Nestas visitas, as crianyas
tiveram contato com as hist6rias da literatura infantil.
Para a conta9~o de historias, alem dos livros, foram utilizados tambem
fantoches, musicas. desenhos e atividades de recorte e colagem para motivar as
crial19as a participarem.
As visitas serviram tambem para observar 0 comportamento e rea90es dos
pais e entrevistar a enferrneira e 0 enfermeiro do Hospital.
31
o resultado das observayoes, da conta9ao de hist6rias, das entrevistas com a
enfermeira e 0 enfermeiro do hospital encontra-se no capitulo 4, Resultados e
Discuss6es.
32
4 RESULTADOS E DISCUSSOES
Este capitulo apresenta as dados obtidos para a reaUza,ao da pesquisa.
Apresenta 0 Relatorio das visitas no hospital, com a contac;:ao de historias para as
crianc;:as enfermas; a resultado da entrevista com enfermeiros e pais e faz uma
analise dos resultados.
4.1 RELATORIO DE VISITAS
No dia 04/06105 realize; a primeira visila aD hospital. Estava muito nervosa,
pois nunca tinha passado par situa,ao semelhante, fora de um contexto pedag6gico.
f\1as me lembrei de uma passagem de ClEm Susatto que diz "contar historias naG e
urn privilegio de poucos, e sim uma tarefa acessivel a quem S8 dispor a desenvolv~-
la. Pois afinal, a pnl\ica e 0 caminho mais seguro". (2003, p. 90).
Apresentei-me as maes e as criany8S, expliquei 0 que iria fazer, padi
auloriz8c;:ao para iniciar 0 trabalho. 0 sorriso em seus rostas foi urn balsamo para
mim e me senti mais leve.
No primeiro dia encontrei dez crianyas, algumas com problemas respirat6rios
outras com diarreia. Como norma do hospital nao se dave misturar crianyas com
diarreia, com outros problemas de saude. Entao as dividi em dois grupos e comecei
a contayao. A prirneira hist6ria foi a do Chapeuz;nho Vermelho. Usei uma caixa de
sapatos como cenario e fantoches fixados em urna luva com os personagens da
hist6ria.
As crian,as participaram da hist6ria. Em algumas falas os personagens se
dirigiam a eles, 0 rnais engra,ado e que alguns pais tambem participaram.
.'.'
Percebi a beleza dos contos, pOis mesmo adultos, cansados, par passar
noites ao lado cia cam a do titho doente, sem poder sequer se acomodar direito. uma
vez que e urn hospital publico e nao ha estrutura para isso. ma$mo estando com a
fisionomia abatida. eles ainda puderam sorrir.
As crianyas nao paravam de cantar: 'eu sou lobo mal, eu rauba as criancinhas
para fazer rningau'
Cam as crianQ8s que estavarn cam cliarn?ia foi a mesmo sucesso.
No final, uma das maes veia agradecer pela visita e me falou que per alguns
minutos seu filho esqueceu que estava em urn hospita1.
Na segunda visita, no dia 11/06/05, ainda encontrei um menino do sabado
anterior, ele ja estava mel her, pois se recuperava de uma pneumonia. Ficou feliz ao
me ver, ja que ria saber qual era a hist6ria que au iria con tar. Falei que era slIrpresa,
ele me acompanhou aos oulros quartos para convidar as outras crian9as internadas.
Neste dia havia seis crian9as, com idades de dais a dez anos. Iniciei a historia
contando a lenda -lrlanda. 0 homem que casau com a foca, conta a historia de uma
foca que se transforma em mulher e se casa com urn homem. Alguns anos mais
tarde, arrepende-se e volta a forma original e a conviver com sua especie.
As crian9as acharam a historia bastante diferente, mas gostaram muito.
Depois eu pedi a elas que desenhassem a historia (em anexo). Todos ficaram
entusiasmados com a tarefa e a realizaram com sucesso. Assim terminou mais uma
de l11inhas visitas
No dia 18106105 havia tr~s crian,as no 110spital com idade entre seis a dez
anos e as OlitroS eram bebes de mais au menos seis a oito meses. Neste dia contei
a hisl6ria: 0 Rouxinol. de Andersen.
34
Para iniciar, dirigi-me para a brinquedoteca apenas com dais maninos; a
terceira crian9a era uma men ina que estava acamada. Os dais maninos estavam
com problemas respirat6rios (pneumonia). Entramos na brinquedoteca e sentamos;
antes de iniciar a historia, conversamos sobre escala, brincadeiras, hist6rias
favoritas. Tenta; deixa-Ios mais seguros e a vontade; urn dos meninos estava
bastante desinibido; ja 0 outro era mais raservado.
Antes de comec;ar a contar a hist6ria perguntei se alguem jil a conhecia, e
nenhum dales a conhecia. No decorrer da hist6ria pude perceber a atenyao de
ambas as partes, nenhum deles S8 distraiu durante a hist6ria. Ficaram super atentos
a cada mudanc;:a de voz, a cada fata novo. Fai muito gratificante.
Para finalizar, 19vei urn passaro desenhado em uma folha de papel para eles
pintarem, recontarem e cola rem em urn palito de sorvete, depois de pronto 0
passarinho faz urn movimento como sa bate sse as asas (em anexo). E:les amaram.
Quando sairam da brinquedoteca loram logo contando para as pais a historia e
como eles tinham side espertos na montagem do passaro. a mais gratificante eperceber a alegria que as pais sentam ao var seus filhos felizes.
Terminando esta etapa me dirigi ao leito da menina que estava acamada. Ela
estava com reumatismo nos 05505, sua fisionomia expressava a dar que sentia.
Perguntei para ela se gostaria de ouvir uma hist6ria. Ela nao me respondeu
verbalmente, apenas fez urn gesto com a cabeya dizendo que sim. Infelizmente,
mesmo resumindo a hist6ria nao consegui chegar ao final, pais a crianya se retarcia
de dar. Percebi que a minha presenc;a naquele momenta a incomodava, sua dar era
tao forte que nada a distrafa. Comecei a fazer oulros tipos de brincadeiras, mas nao
funcionou. Entao Ihe dei urn abrac;o, falei que voltaria na pr6xima semana. Sete dias
clepois voltei. mas fui inforrnada pela enfermeira chefe que ela havia recebiclo alta.
Fiquei feliz em saber que estava bern.
Dia 25/06/05 8ncontrei quinze criangas no hospital. Urn numero maior em
relagao aos outros. Entre elas estavam um menino do sabado anterior e quando me
viu ficou super feliz. Deu-me um abra~o muito carinhoso e qllis logo ir para
brinquedoteca. Dirigimo-nos para la, sentamos em forma de elrculo para ouvir a
historia. Level uma caixa de sapatos encapada e tinha em maos os fantoches dos
tres porquinhos: eles nao me deixaram contar a hist6ria. iam falando as cenas
seguintes. Tornou-se muito engra9ado, por ser uma historia muito conhecida eles
nao agOentaram a espera de cada cena, iam logo avisando aos porquinhos que -::>
lobo estava 58 aproximando, que a easa que ficou inteira foi a de tijolos, po is 0
porquinho nao era preguiyoso.
o objetivo mars importante foi alcanyado. Por alguns instantes eles
esquecerarn do ambiente hospitalar e divertiram-se com a historia.
No dia 02107/05 nao permaneci no hospital, havia apenas dais bebes
internados, e no momento da visita eles estavam dormindo.
No dia 16/07/05 havia apenas seis crianyas, cinco com idade de tres a seis
meses aproximadamente e LUl1 menina de quatro anos, que estava com uma
infecy~o no testiculo. Pedi autorizayao para a mae e 0 levei para brinquedoteca, a
mae nos acompanhou. Antes de comeyar a contar a hist6ria, conversamos um
poueo, pois 0 me nino era super agitaclo. Investiguei sobre 0 que ele mais gostava cle
fazer, suas brincadeiras favoritas, hist6rias, entre outras coisas.
Fiz urn breve comentario sobre a hist6ria que iria con tar (A Branca de Neve e
os Sete AnDes), e de inicio foi frustrante. Enquanto eu contava a historia 0 menino
sirnplesmente destrllia a brinqlledoteca, ele nao parava de jogar as mesas no chao,
virava todas as cadeiras, nao queria saber (Ie nada. Tinha levado fantoches, entao
comecei contar a historia utilizando-os. A criaru;:a puxava minhas roupas, dizendo
que queria destruir os fantoches. Infelizmente a mae nao tamou nenhurna atitude.
Eu confesso que pensei ern desistir. nao conseguia realizar 0 mell trabalho,
pois e rnuito dificil trabalhar corn crian9as sem limites. E 0 menino, mesmo estando
doente, era super indisciplinado. Resolvi ignora.-Io e comecei a contar a hist6ria. E
como num passe de magica, ele quis participar tambem. Entao eu 0 alertei que s6
participaria se ficasse cornportado, ele a-.;eitou e ficou tranqCJilo no decorrer da
historia. Grayas a Deus foi uma vito ria.
No dia 23107105, 0 tempo estava chuvoso. Cheguei ao hospital as quinze
horas, havia nove crianyas, cinco delas com idade de oito meses a tres an as •e tres
com idade de dais, sete e nove anos. Com eXC8t;aO da criant;a de dez anos, todos
me acompanharam ate a brinquedoteca.
Contei a eles a historia do Patinl10 Feio. Urn canto que mostra as aventuras e
os infortlmios vividos por um ser constantemente diminuido, com baixa auto-8stima,
enfraquecido por desconhecer sua verdade interior, sua esst§ncia, sua beleza
propria e singular.
Depois de con tar a historia, improvisei urn cenario, e 0 utilizei lim fantoche
que cantava uma musica do CD Batista da Lagoinha, Ana Paula Valadao, cuja letra
fala que Deus nos ama como somos, pois foi Ele quem nos criou, antes mesmo de
nascermos ele nos planejou e somos perfeitos aos seus olhos.
37
Foi algo magico que aconteceu. Quando a musica terminou as crian9as
estavam todas muito ernocionadas. desde 0 menor ao maior, inclusive os pais. Foi
muito gratificante, pais eles entenderam a essemcia da hist6ria. Quando terminei,
nao quiseram voltar para 0 quarto. Preferiram ficar brincando e, literalmente,
esqueceram que estavam doentes.
Quando terminei fui ate 0 quarto da crian9a de dez an os (urn menino), ele
tinha acabado de fazer uma transfusao de sangue e, alE~rn de fraco, estava muito
abatido. Comecei a contar a historia bem devagar. Aos poucos ele foi se entregando
a magia do canto, sua fisionomia foi mudando e ele comegou a sorrir. Seus olhos
brilhavam a cada frase que 0 suspense reinava. Em urn momento troquei 0 enredo e
ele me talall: "!\Jao e assirn tia." Naquele momenta pu-:le comprovar 0 que Gouveia
diz: "as criany8s nao podem dizer nao aos exames, aos remedios, aos tratamentos,
aos procedimentos impostos para a sua sobrevida. Mas podem dizar nao para um
livro, para lIma brincadeira, para uma historia. Neste momento estao axercanclo a
sua autonomia". (2005. p. 31).
E quando chegou a parte cia musica, a emoyao tornou conta. esquecendo sua
dor. Em seguida a mae do menino fez a seguinte comentario: 'Meu filho, voc~ nao
esta sentindo mais dor? Ele sorriu e respondeu: - sinto dor ainda mae, mas ao ouvir
a hist6ria e a musica esqueci onde eu estava'
Para Chalita (2003), Hans Christian Andersen soube mostrar ao mundo, par
meio de suas belas historias, urn mundo sem preconceitos e sem intolerAncias de
qualquer natureza poderia ser melhar. mais bonito. menos sofrido e menos pervers~.
Mas a mensagem de Andersen ainda vai alem. A hist6ria, a Patinho Feio, nos revela
que, mesmo que 0 mundo esteja todo contra nos, mesmo que 0 sofrimento e a dor
deem 0 tom aos acordes de nossas vidas, mesma que estejamos expostos as mas
38
condiyoes do tempo, mesma que estejamos sQzinhos, ainda assim nao devemos
desistir de acreditar que podemos ser feHzes, ser aceitos, ser parte de algo maior.
No dia 30107/05 foi muito interessante, ao chegar ao hospital, encontrei
apenas tres crianc;as: uma de sete anos, cinco a dez anos. Convidei-as para me
acompanhar ate a sala da brinquedoteca. No come90 elas hesitaram, mas sempre
em companhia dos pais, que as deixam mais seguras, me acompanharam.
As Ires crian9as estavam com problemas respirat6rios; elas apenas tomavam
soro em horarios variados, 0 que permitia naquele momento sair do seu leilo.
Contei a eles a hist6ria da Cinderela. Segundo Chalita, "e: uma historia que ecaracterizada pela consciencia das pr6prias limita90es: moder.tia, simplicidade:
sentimento de fraqueza, de inferioridade com rela<;ao a alguem ou a algo" (2003, p.
123).
Ao passarem cinco minutos ap6s 0 infcio da hist6ria pude perceber 0
encantamento das crianyas, e principalmente dos seus acompanhantes. E incrfvel
como elas se desligam do mundo real e mergulham em urn mundo de fantasias, nao
deixando que 0 que as esta afligindo naquele momento possa ser mais forte que a
beleza daquele conto.
Alguns pais 58 aproximaram e gostavam de me falar sobre a doenc;:a do Who
o que nao e bom, pois em nenhum momenta deve-se fazer analogi a sobre a doenya
que a crian9a tern. Quando acontece isso, chamo os pais em um canto e explico que
depois de terminar a visita conversamos.
E neste dia uma mae me chamou para conversar. Nao era para falar sobre
sua tilha, mas para me parabenizar pelo trabalho. Trata-se de uma pedagog a e
havia acabado de passar no concurso em Sao Jose dos Pinhais. Relatou-rne que
39
pode perceber 0 irnpacto que a literatura infantil causa nao apenas em crianyas. mas
em adultos. Ela estava triste por estar em urn sabado a tarde dentro cle um hospital
com a filha daente, e por algurn tempo esqueceu sells problemas.
A melhor parte foi quando ela falou que quando estivesse atuando como
pedagoga, iria criar urn projeto sobre a literatura infanti!.
Ela me disse as seguintes palavras: 'gra<;as a sua visita, pude refletir at raves
da historia, comparei-me corn Cinderela de nao me deixar abater, nao me entregar,
pois preciso estar bern emocionalmente para passar seguran<;a a minha filha'.
(Depoimento de uma mae).
Para Gabriel Chalita, ;;Cinderela, aparentemente fragil e indefesa, traz em si a
fortaleza que caracteriza as pessoas que tern em seus sonhos um porto segur? onde
ancorar no fim de violentas e perigosas tempestades". (2003, p. 136).
Em 06/08/05 cantei para as crian9as a historia de Dam Quixote. Gosto muito
dessa historia, pais somas convidados a atravessar uma especie de portal magico
que nos leva a uma dimensao propicia a realiza9ao de nossos clesejos mais intimos
e nobres. Nesta data encontrei pela primeira vez uma crian9a especial. Era urn
menino com Sind rome cle Down que tinha aproximadamente dez an os e estava
acornpanhado pela av6. Urna crianga rnuito tranqGila, tinha acabado de ser
medicada e os remedios, segundo a ava, causavam sonolencia. Devido a isso, ele
nao ticou conosco e foi deitar-se.
As outras crianc;as adoraram a hist6ria, especial mente as cenas em que Dam
Quixote usava seu cavalo e, neste momento, ales faziam 0 som do trote do cavalo.
Assim, as enfermeiras aproveitavam a distracao (Jas crian<;as e as medicavam.
~o
No dia 13108/05 os pais que acompanhavam seus filhos fica ram na
brinquedoteca ouvindo as historias. Leve; para eles urn class;co de Perrault: 0
Pequeno Polegar. Apenas duas crian9as estavam em estado de observayBo: uma
men;na com uma alergia, cuja causa nao havia sido descoberta, e urn menino com
um lado da face do rosto totalmente inchado, devido a um dente infeccionado. 0
estado que S8 encontrava seu rasto, deixou as enfermeiras em alerta, pois a pele
poderia raehar.
Entao de; inicio a hist6ria e os pais como sempre presta ram muita atenyao; as
crian9as par sua vez tambem. 0 menino, mesma com a face inchada, sorria em
cenas cornicas. Ao final, sua mae veio elagiar 0 trabalho e me disse: - quando voc~
come90u a con tar a hist6ria senti urn ambiente fraterno e acolhedor, nao parecia que
meu Who e as outras crianr;:as estavam dentro de um hospital.
No dia 20108/05, ao entrar na ala de pediatria, pude ouvir os gritos de uma
mae, seu filhinho de seis meses havia se engasgado. Imediatamente a enfermeira
tomou as devidas provid~mcias e grar;:as a Deus 0 beb~ estava bem, mas a mae
ficou muito abalada.
Neste dia havia um menino de onze anos que jii estava na visita anterior, uma
menina de sete anos, e mais duas crianr;:as que eram irmaos, uma men ina de dois
anos e um menino de qualro anos. Esle dormiu 0 tempo todo enquanto estive la.
Ao entrar no quarto, cumprimentei a todos, pedi a autoriza9ao para dar inicio
a contar;:ao de hist6ria. Percebi que a mae da crian9a, do aeidente ocorrido, estava
ainda muito abalada.
Neste dia contei um classieo da Biblia a hist6ria de Davi e GOrias, pais e uma
historia que segundo Chalita "tem uma moral forte perante 0 perigo, as riscos:
41
bravura. intrepidez, denodo: firrneza de espirito para enfrentar situac;:ao emocional au
moralmente dificil" (2003, p, 73),
Fai surpreendente, pais nao pude deixal' de observar a mae da crianc;a que
havia S8 engasgado, que foi aos poucos S8 acalmando. Mais uma vez pude
compreender 0 poeler de urn con to.
As crianyas deste dia estavam todas acamadas, par i550 fui de leito em leilo:
o manina de onze anos e a menina de sete estavam no mesma quarto em que
estava a mae que havia passado 0 susto; os dois foram umas gracinhas.
Participaram da hist6ria 0 tempo todD, quando eu lTluclava de voz seus olhinhos
brilhallam, 0 menino era mais tfmido, hesitava algumas vezes ern participar; ja a
menina era super desinibida, quis que ell recont[fsse a hist6ria.
Ele estava com pneumonia e ela com infec~§o no rim. Estava
desacornpanllada naquele momenta. pois sua mfie havia ida para casa resolver
alguns assuntos e voltaria it noite. Estava com 38- cle febre, m8smo assim ouviu
tada a historia e pediu para que eu a recantasse. Foi muito gratificante; era como se
nao estivesse doente. Participou e sorria a tempo todo. fiquei a sell lado ate sua
temperatura diminuir e sua mamas voltar.
Ao final ela me disse: '- voc~ nao pode vir todos os dias? Quando a minha
mae sai. eu me sinto muito sozinha. e hoje a hora passou tao rapida'.
Mais lima vez pude perceber a chama intensa e colorida da infancia que um
simples gesto pode mudar, n9m que seja par alguns minutos, a dar que sentimos e
principalmente mudar 0 nosso jeito de enfrentar nossos problemas
Logo ap6s lui ao outro quarto, pois e uma norma de seguran9a do 110spital
nao misturar crianc;as com diarreia com crianyas que apresentam outras doen9as.
Quando cheguei ao quarto, a menina de quatro anos dormia e a de dois anos estava
42
acordada e comeeei a can tar a hist6ria. S6 que ela nao S9 intereSSDU, achei que era
uma hist6ria complexa para sua faixa eta ria.
Como sempre, levo mais que uma hist6ria e alguns materiais de apoio. Neste
dia havia levado fantoches dos tres porquinhos, entretanto, a crianC;8 tambem nao S8
interessQu, nao estava abatida, mas eu nao conseguia chamar sua atenl(ao. Fai ai
que au comeeei a encher bexigas e contar a historia. A cada sopro eu falava uma
frase da historia; foi incrivel como sua atenc;ao mudou.
Nesta idade as palavras sao menos importantes que as gestos, tamos que
aprender a ser amigos das crianC;8s, interpretando seus desejos.
No sabado de 27/08/05 enconlrei cinco crianl'as, Ir~s com problemas
respiratarias e dois com diarreia. Como n~o sa pode misturar essas crianyas,
comeeei rneu trabalho com os de problema respirat6rios. NE,~stedia contei a elas um
cls.ssieo biblico, a hist6ria de Noe. Levei para 0 hospital uma Area de plastieo com 0
tamanho de uma televisao de quatorze polegadas e com todos os animais dentro.
Continha tambem Noe, seus filhos, esposa e noras. Foi muito produtivo, pais no
decorrer da historia iam surgindo as personagens e as tr~s erianyas vibravam. Foi
realmente muito interessante, e, para finalizar, eles quiseram me contar a historia.
Achei uma graya, pois eles entenderam a hist6ria e me reeontaram direitinho. E 0
que eles mais gostaram, sem duvida, foi da bicharada.
Sai da brinquedoteca a fui para 0 quarto das crianyas com diarreia. Eram dois
irmaos, um menino e uma men ina, ale com qualro anos e ela com dois anos e meio.
Quando cheguei, 0 menino andava pelo quarto; js. a menina estava na cama com
uma fisionomia bem abatida, mas quando ala viu a arca na minha mao, santou-se na
43
cama. Quando comecei a hist6ria ela e a irmao iam me dando as animais para eu
par na area.
Com a distrac;ao das crian9as, a mae me pediu S8 poderia deixa-Ias comigo,
para tamar banho, ate en tao a sua filhinha nac havia S8 desgrudado dela. A senhora
foi tamar banho, voltou e seus filhos ainda brincavam com a area. Depois de ouvir a
historia, eles masmos a recontaram urn para Dutro, a sua maneira. Foi uma
experiencia fantastica.
Em 03/09/05 contei para as crianc;as que estavam hospitalizadas uma historia
de H. C. Andersen, Polegal7inha. Fata de lima senhora que nao pode ler lithos, por
mais que, ardenternonte, as desejasse. E de uma linda flor nasea uma millda,
graciosa e delicada menina. Levei para 0 hospital todos as apetrechos: uma flor em
a.v.a., uma minuscula bonequinha. Havia aproximadamente cin-::o crian9as,
nenhuma delas se encontrava acamada, todas faram para a brinquedoteca ouvir a
hist6ria. Neste dia, tiz algo de diterente. Usei as crianc;as como personagens, um
era a toupeira, outro a andorinha, a mae, polegarzinha. Foi maravilhoso, eles fica ram
atentos a hist6ria e quiseram repetir, invertendo os personagens. Depois de terminar
a contac;Ao de historia, a enfermeira entrou na sal a e come90u a medicar as
crianyas. No final ela me falou, "que incrfvel! Hoje ales estao mais calmos, pude
medica-los sem nenhuma reclamac;ao par parte deles, e ninguem se recusou a
to mar os remedios." Sem duvida a literatura infantil nao se trata de urn trabalho
cientifico, mas nae se pode negar que nae seja terap~utico.
No dia 10/09/05, repeli a hisl6ria de Chapeuzinho Vermelho, hisl6ria conlada
primeira visita. Neste dia, encontrei duas crianc;as do sabado anterior e mais cinco
44
que vieram para 0 hospital durante a semana. Segundo a enfermeira, muitas dessas
criany8s vao para cas a durante a semana mas t~m recaidas e voltam para 0
hospital.
Inieiai a hist6ria utilizando fantoches, com as personagens, Chapeuzinho
Venne/ho, Lobo, VovD, Cayador. As sete crianc;:as que estal/am na brinquedoteca
participaram da historia com entusiasmo, brincavam umas com as Qulras. Uma das
maes aproveitou 0 Animo do filho e Ihe deu urn lanchintlo, pois ala me falou que ele
nao tinha comido nada ate aquele momento. Falava que qU8r'ia comer apenas ern
sua casa, e que que ria ir embora. Fai muito born ver aquela crian98 comendo; ao
Duvir a historia ale S8 distraiu, esqueceu que estava no hospital e S8 alimentou, a
mae ficou agradecida.
No final, fizemos algumas brincadeiras e uma das crian9as me disse: '- pareee
que eu estou na minha escola, I>rincando com meus amigos e minha professora'.
Em 17/09/05 nao pude realizar a visita, pois as crian9as que estavam no
hospital tinham catapora, uma doen9a infecto-contagiosa e estavam em sala de
isolamento. Minha visita foi proibida.
Realizei minha ultima visita em 24/09/05. Ao chegar ao hospital na ala de
pediatria. Encontrei na recep9ao uma crian9a numa maca acompanhada pela mae,
era um menino. A enfermeira queria colocar sora, mas nao encontrava a veia, a
crian9a ja estava bastante agitada. a enfermeira me pediu para contar-lhe uma
hist6ria. Neste dia tinha preparado a historia da Dona cabra e os sete Cablitinhos,
confeccionei todos os personagens em papal cartao colorido e prendi com pal ito de
sorvete.
Cornecei a contar a hist6ria ali mesma na maca. Grayas a Deus a crian9a se
entreteve Quvindo a l1ist6ria; a enfermeira achou rapidamente a veia e fez a
aplica9ao do soro.
Realmente pude ver que a literatura nao s6 nos traz valores entre si, l1ao
apenas nos leva ao um mUl1do imaginario; e tambem uma forma de nos acalmar,
pois, naquele momento foi uma arma poderosa tanto para a enfermeira que nao
conseguia realizar seu trabalho como para a mae que !laO agOentava ver 0 filho
sofrer e para mim que alcancei os objetivos. Foi uma das visitas mais gratificantes.
4.2 ENTREVISTA
Para enriquecer a pesquisa foi feita uma entrevista por meio de um
questionario para duas pessoas do hospital, urn enfermeiro e uma enfermeira. com
as seguintes perguntas:
1) 0 contato com a literatura infantil ajudou de alguma forma 0 tratamento das
crian9as e alterou seu quadro clinico?
R - Ambos responderam que sim, comentaram que as crian9as ficam mais calmas e
aceitaram melhor 0 medicamento.
2) Quais as reayoes que foram possiveis identificar nas crianyas ao ouvir uma
hist6ria?
R - 0 enfermeiro falou em born humor, otimismo e c0l1fian<;8 na eqlJipe medica. A
enfermeira concordou, mas complementou dizendo que os pais ficam mais
tranqOilos, pOis percebern que 0 filho esta rnelhor.
46
3) Na sua opiniao 0 que poderia ser trabalhado, alem da contal'ao de histcrias?
R - Ambos responderam que naG sabiam, mas que deveria existir uma equipe maior
e que esse tipo de trabalho fossa realizado diariamente.
4) 0 que voce acha da literatura infantil no Ambito hospitalar?
R - As res pastas foram parecidas, disseram que e uma humanizaC;ao hospitalar, que
nao e 56 a doent;:a que deixa a crianc;:a no hospital. Seu estado emocional retarda
sua recupera<;8.o e ao ouvir uma historia a crianya S8 reanima e viva uma situat;:8o
mais feliz.
5) voc~ ja conhece QUiros trabalhos como estes em hospitais?
R _. Sim, conhecia alguns. Sao excelentes, pois facilitam a recuperaC;:8o das
crianc;as.
6) Segundo especialistas, 0 riso e 0 melhor remedio para a cura de doen,as. Voce
acredita? Por que?
R - 8im. a risa contribui para minimizar 0 sofrimento, levar a esperanc;a, e por que
nao, mudar urn quadro cHnico.
As pessoas com medo do amanha, com receio de enfrentar um problema,
encontram nas hist6rias a emo~ao e a motiva9ao para amenizarem seus problemas.
Segundo Cury, "Ser feliz e um treinamento e nao uma obra do acaso; contar
histcrias e ampliar 0 mundo das ideias, areja a emo,ao, dilui as tensoes". (2003, p.
48).
47
5 CONCLUSAO
Para Chalila (2003). a pureza e ousadia e 0 espirilo quase selvagem dos
primeiros anos nos marcam de forma indelevel por toda a existencia ... E como S8
esse periodo fossa coman dado palo ritmo de urn re16gio, cujos pantairos marcam 56
diversao e alegria.. Urn tempo cujo cheiro, 905to, cor e som continuarao
perseguindo, de forma consciente au inconsciente, par toda a vida.
Na infancia a fantasia e adquirida pela beleza das historias, que podem ser
transmitidas por pessoas proximas de n6s. Que chegam par meio de leituras, filmes,
desenhos animados au pe98s de laatra.
Sem a~; historias n6s nao poderfamos imaginar viagens, aventuras,
conquistas, lemores, medos e receios fundamentais ao desenvolvimento intelectual
e emocional. Atraves dalas podemos conhecer mundos fantasticos, civiliza90es
antigas e seus costumes.
As historias nos permitem conhecer e criar mundos imaginarios, repleto de
seres mirabolantes. Sem elas, as etapas do desenvolvimento humano, da infancia amaturidade estariam condenadas a ocupar um palco sombrio, triste, desprovido de
atores verdadeiramente apaixonados.
Foi posslvel observar como a literatura foi fonte de prazer para as crian9as,
mesmo estando hospitalizadas, pois tiveram momentos onde 0 ambiente hospitalar
foi transformado em um lugar mais acolhedor, agradavel e alegre.
A Literatura Infantil no ~mbito hospitalar auxilia e muito no tratamento das
criancras enfermas, pois 0 mundo magico do faz-de-conta as leva a momentos
alegres, esquecendo das injeyoes e dos curativos; da dor e do sofrimento; por meio
48
das historias con tad as, as crian<;as S8 distraem e muitas vezes, podem ate melhorar
seu quadro clfnico.
Atraves da literatura foi passlvel identificar reayoes positivas nas crianC;8s
hospitalizadas, entre alas 0 Animo na administray8.o de remedios, born humor, maior
confian9a na equipe medica e melhor recupera9ao de seu eslado de saude.
Com as pais das crianc;asenfermas, par maio de observa9ao, entrevistas nao
estruturadas constatou-se mais tranquilidade em rel8yao aos filhos e ao seu quadro
clfnico.
49
REFERENCIAS
AMARILHA, Marly. Estilo mOltas as fadas? Literatura infantil e pmtica pedagogica. 3.
ed. Pelropolis:Vozes,1997.
BETTELHEIM, Bruno. A psicanalise dos contos de fadas. Rio de Janeiro: Paz e
Terra,1984.
BUSATTO, Cleo. Contar e encantar. Rio de Janeiro. Vozes, 2003.
CHALlTA, Gabriel. Pedagogia do Amor. 9. ed. Sao Paulo:Gente, 2003.
CADEMARTORI, Ugia. 0 que e literatura infantil. 6. ed. Sao Paulo:
Brasiliense, 1994.
COELHO, Betty. SILVA, Maria. Contar historias: uma arle sem idacle. 9. ed. Sao
Paulo:Alica, 1999.
COELHO, Nelly Novaes. Panorama hist6rico da literatura infantil juvenil: das origens
indo-europeias ao Brasil conlemportlneo. Sao Paulo: Alica, 1991.
CUNHA, Maria Antonieta Antunes. Literatura infantil: teo ria e pnltica. Sao
Paulo: Atica,1997.
CURY, Augusto. Pais brilhant'es, professores fascinantes. Rio de Janeiro: Sextante,
2003.
DOHME,Wmia D'Angelo. Tecnicas de contar historias. Sao Paulo: Informal,
2000.
GARCIA, Walkiria Angelica Passos. Manual do Contador de Historias. Belo
Horizonte: Fapi, 2003.
GOUVEIA, Maria Helena. Viva e deixe viver: historias de quem conta
hist6rias. 2. ed. Sao Paulo: Globo, 2005.
LAJOLO, Maria; ZILBERMAN, Regina. Literotura infantil brasileira. Sao Paulo:
Atica,1998.
NICOLA, Jose de. Literatura brasileira: das origens aos nossos dias. Sao
Paulo: Scipione, 1990.
MINAYO, Cecilia de Souza et al. Pesquisa social: teoria, metodo e
criatividade. 17. ed. Rio de Janeiro, 1994.
REVISTA NOVA ESCOLA. Era LImB vez ... 0 maravilhoso munda dos contos de fadas
e seu poder de formar leitores. Abril, v.9 n.185, setembro 2005.
Equipe medica. Interagindo com as criam;:as.
Contando historia, atraves da massa de modelarhistona.
Criam;:as em atividade apos a contac;ao de
Fachada do Hospital. Porta de entrada da ala de pediatria.
Corredor de acesso aos leitos. Urn dos leitos do hospital.