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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA E RELAÇÕES INTERNACIONAIS CURSO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS O CASO DO ACHILLE LAURO: TERROR EM ALTO MAR MELISSA SANTOS DA SILVA 201049531-2 Seropédica Dezembro de 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA E RELAÇÕES INTERNACIONAIS

CURSO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS

O CASO DO ACHILLE LAURO: TERROR EM ALTO MAR

MELISSA SANTOS DA SILVA

201049531-2

Seropédica

Dezembro de 2014

MELISSA SANTOS DA SILVA

O CASO DO ACHILLE LAURO: TERROR EM ALTO MAR

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado ao curso de graduação em

Relações Internacionais do Instituto de

Ciências Humanas e Sociais da UFRRJ,

como quesito para a obtenção do título

de bacharel em Relações Internacionais.

Orientador: Prof. Dr. Fábio Koifman

Seropédica

Dezembro de 2014

MELISSA SANTOS DA SILVA

O CASO DO ACHILLE LAURO: SEQUESTRO EM ALTO MAR

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado ao curso de graduação em

Relações Internacionais do Instituto de

Ciências Humanas e Sociais da UFRRJ,

como quesito para a obtenção do título

de bacharel em Relações Internacionais.

Orientador: Prof. Dr. Fábio Koifman

Aprovado em: Seropédica, ___ de ________ de 2014.

___________________________________________

Prof. Dr. Fábio Koifman

___________________________________________

Prof. Dr. Luis Edmundo de Souza Moraes

___________________________________________

Prof. Dr. Daniel Braga Lourenço

Seropédica

Dezembro de 2014

Aos meus pais, Daniel e Deana e à minha irmã, Mônica.

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, devo agradecer aos meus pais. Sem eles, nada disso

teria sido possível. Além deles, à minha irmã Mônica, não só pela amizade e

compreensão, mas também pela paciência impressionante que ela demonstrou ao

me ajudar com a árdua tarefa de escrita de monografia, aturando todos os meus

chiliques e reclamações, quando nem eu mesma me aguentava.

Aos meus familiares, que sempre acreditaram em mim e me incentivaram

muito a seguir em busca do meu sonho de cursar Relações Internacionais. À

minha avó postiça, Nilma, que sempre foi muito especial para mim.

Aos meus amigos ruralinos, um agradecimento especial. Muito obrigada

a todos, pelas festas, pelas noites mal-dormidas estudando (ou não), pelos

conselhos, pelos forninhos segurados e por aqueles resumos espertos nas

vésperas das provas. Aos meus amigos de infância que sempre me admiraram e

me apoiaram nas escolhas que fiz, sou muito feliz por conservar amizades tão

duradouras! Aos meus amigos mais recentes, tanto os que fiz pela minha breve

passagem no mundo da modelândia, quanto às amigas que fiz durante o período

de estágio. Foi o apoio e a confiança de vocês que tornou tudo mais fácil.

Um agradecimento especial ao meu orientador Fábio Koifman, não só

pela orientação e pela sugestão do tema de pesquisa, mas principalmente pela

amizade que desenvolvemos ao longo desses quatro anos. As caronas, os

conselhos, a preocupação e até mesmo os puxões de orelha (literalmente)

recebidos foram muito importantes para mim.

A todos os professores com os quais eu tive aula durante o período da

graduação, por todo o saber transmitido. Todo o conhecimento acadêmico

adquirido e que tiveram impacto em meu crescimento pessoal é creditado a eles.

Por fim, um agradecimento especial à melhor universidade do mundo, a

Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, por ter me proporcionado tantas

experiências magníficas, dentro e fora de sala de aula. É por causa de todos esses

momentos, que só foram possíveis porque eu vim estudar na Rural, que torna tão

difícil o momento de dizer adeus.

O meu mundo é hoje, não existe amanhã pra mim. Eu costumo dizer que meu

tempo é hoje, eu não vivo no passado, o passado vive em mim.

(Paulinho da Viola)

RESUMO

A relação conflituosa entre judeus e árabes se estabeleceu desde a

chegada na Palestina dos primeiros imigrantes judeus que fugiam do

antissemitismo europeu, no início do século XX. A criação do Estado israelense

por meio da resolução 141 da Assembleia Geral das Nações Unidas somente

oficializou o conflito entre dois lados opostos, árabes e israelenses, que em

comum têm o mesmo apreço pela “Terra Santa”. Com o passar dos anos, o

conflito regional tomou proporções internacionais, que passaram a atingir a

comunidade internacional como um todo. Em especial, a partir da década de

1970, quando os militantes palestinos passaram a promover atos terroristas fora

de Israel. O terrorismo, para eles, era sua única forma de luta contra a existência

de Israel. Dessa maneira, o episódio retratado aqui, o sequestro do navio italiano

Achille Lauro e as implicações decorrentes da ação, serve para ilustrar esse

fenômeno.

PALAVRAS-CHAVE: Achille Lauro, sequestro em alto mar, terrorismo,

Organização para Libertação da Palestina, Yasser Arafat, conflito israelense-

palestino.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

MAPA 1 – Local onde ocorreu o sequestro ..................................................p. 15

MAPA 2 –Mapa do Golfo de Aqba e dos Estreitos deTiran ......................p. 23

SUMÁRIO

1.INTRODUÇÃO ............................................................................................ 10

2. O SEQUESTRO DO ACHILLE LAURO E SUAS IMPLICAÇÕES .......... 13

2.1. Trajeto do navio e os primeiros momentos do sequestro ....................... 14

2.2. A história da OLP .................................................................................. 16

2.3. A repercussão internacional do sequestro .............................................. 21

2.4. As relações egípcias- israelenses ........................................................... 22

2.5. Rumores sobre possíveis vítimas ........................................................... 24

2.6. O desfecho do sequestro ........................................................................ 26

2.7. Os EUA interceptam o avião egípcio .................................................... 29

2.8. Identificação, prisão e processo dos sequestradores .............................. 33

2.9. O papel de Mohamed Abbas ................................................................. 35

2.10. Confirmação da morte de Leon Klinghoffer ....................................... 36

2.11. A crise na Itália chega ao fim ............................................................. 38

2.12. Os sequestradores são levados a julgamento ...................................... 39

2.13. A punição dos assassinos de Leon Klinghoffer .................................. 41

2.14. A última viagem do AchilleLauro ..................................................... 42

3. O TERRORISMO INTERNACIONAL E SEUS IMPACTOS .................... 43

3.1. O conceito de terrorismo ....................................................................... 43

3.2. Histórico do terrorismo ......................................................................... 44

3.3. O terrorismo hoje .................................................................................. 46

3.4. O terrorismo no Direito Internacional .................................................. 47

3.5. Outros casos de terrorismo palestino em 1985 .................................... 48

4. CONCLUSÃO ............................................................................................ 50

5. REFERÊNCIAS......................................................................................52

10

1.INTRODUÇÃO

O conflito árabe-israelense, ou o conflito entre palestinos e israelenses, é

provavelmente um dos temas mais sensíveis das relações internacionais no

século XX , com os seus desdobramentos chegando até os dias em que esse texto

está sendo redigido. Sua sensibilidade deve-se ao fato de que mesmo em

ambiente acadêmicos, onde a imparcialidade é pressuposto da pesquisa

acadêmico-científica a plena neutralidade está longe de ser atingida.

De certo modo, a Palestina também representa também tudo aquilo

em que se resume o problema internacional mais espinhoso do pós-

guerra: a luta pela, para e na Palestina, que tem consumido as

energias de mais pessoas do que em qualquer outra época. (...) A

Palestina é em si um conceito muito debatido, e até contestado. Sua

mera menção constitui, para os palestinos e seus partidários, um ato

de afirmação política importante e positiva e, para os inimigos dos

palestinos, um ato igualmente afirmativo, mas de uma rejeição bem

mais negativa e ameaçadora. Devemos relembrar aqui que as

manifestações de rua nos principais centros cosmopolitas norte-

americanos no fim da década de 1960 e grande parte da década de

1970 foram lideradas por facções que bradavam que a “Palestina

existe” ou que a “Palestina não existe”. Na Israel contemporânea, é

comum que os palestinos sejam oficialmente tratados como os

“assim chamados palestinos” – uma frase um pouco mais suave do

que a declaração cabal de Golda Meir, em 1969, de que os palestinos

não existiam. (SAID, 1992, p. 4-5).

A ausência de imparcialidade no assunto deve-se em grande parte ao

apelo que ambos os lados fazem para sua própria causa. São dois lados opostos

de uma mesma realidade, dois povos com história, cultura e ideologias distintas.

Em comum, o sentimento de pertencimento ao mesmo território: a terra

prometida para os judeus, ou a Palestina árabe, para os palestinos.

O conflito remonta antes da criação oficial do Estado de Israel, quando os

primeiros imigrantes judeus chegaram na Palestina, durante as décadas iniciais

do século XX.

11

O que começou como uma mera ideia em meados do século XIX

motivou no início do século XX, milhares de judeus da Europa e do

Oriente Médio a deixarem seus lares para se estabelecerem numa

Palestina inconcebivelmente distante. O segredo do sionismo reside

no casamento das ideias nacionalistas modernas com o milenar

apego místico do povo judeu à terra de Israel. Essa energia sustentou

a Yishuv, ou comunidade judaica, na Palestina. (...) Sob o Mandato

Britânico, a Yishuv cresceu com a chegada dos refugiados do

antissemitismo europeu.” (OREN, 2003, p. 22-23).

Por outro lado, a imigração massiva de judeus provocava uma reação

árabe. Assim como os judeus eram motivados pelo sionismo, os árabes também

se uniram em torno de uma ideologia própria, que visava pôr fim ao

colonialismo europeu e à pátria judia que ali se estabelecia.

Se antes o conflito era entre árabes e judeus da Palestina, agora se

tratava da oposição generalizada entre árabes e sionistas. A situação

da Palestina despertou uma onda de simpatia em todas as nações

árabes circundantes, onde um novo espírito nacionalista florescia. O

pan-arabismo, outro produto do moderno pensamento europeu,

proclamava a existência de um único povo árabe cuja identidade

transcendia vínculos de raça, religião e família. Esse povo era agora

chamado a se vingar de três séculos de humilhação pelo Ocidente e

apagar as fronteiras artificiais (da Síria, Líbano, Transjordânia,

Palestina e Iraque) criadas pelo colonialismo. Embora o sonho de

um único Estado árabe independente que se estendesse do Monte

Taurus, ao norte, e Atlas, a oeste, e do Golfo Pérsico ao extremo

meridional da Península Arábica continuasse sendo apenas isso – um

sonho -, o surgimento de um mundo árabe unido pelo sentimento e

pela cultura se tornou um fato político. (OREN, 2003, p. 24)

Deste modo, a declaração do Estado de Israel em maio de 1948, só

oficializou uma realidade que já era desenhada muito anteriormente. A partir de

então, “os judeus eram israelenses, ao passo que os árabes da Palestina

tornavam-se, simplesmente, os palestinos.” (OREN, 2003, p. 25).

Com a convicção de que eram os verdadeiros donos da terra mencionada,

ambos os lados se envolveram em um espiral de violência sem precedência, em

que desempenhavam ao mesmo tempo o papel de vítimas e algozes. O objeto de

estudo dessa pesquisa acadêmica, portanto, é apenas um desses tantos episódios

que marcaram a história entre os dois povos.

Nesse caso, um ato terrorista empenhado por militantes palestinos que

sequestraram um navio italiano buscando fazer da violência um artifício para sua

própria causa política. Em defesa dos palestinos, argumentou-se que o sequestro

12

foi uma resposta desproporcional aos bombardeios israelenses, em especial o

bombardeio da sede da OLP em Túnis, na Tunísia, que ocorreu dias antes do

sequestro do navio.1 Já os israelenses, justificaram suas ações na necessidade de

conter o terrorismo palestino, que ameaçava seus civis nacionais.

O objetivo é analisar este episódio, buscando mostrar a correlação de

forças no Oriente Médio existente até os dias atuais, bem como o papel

desempenhado por aquela que é considerada a hegemonia mundial nos dias de

hoje, os Estados Unidos da América, além do debate sobre terrorismo, que é

bastante atual. Além disso, o sequestro do Achille Lauro gerou diversas

contendas na comunidade internacional à época. Podem ser citados como

exemplos a crise italiana interna que levou à renúncia do primeiro-ministro

italiano, o impasse entre o Egito e o restante da comunidade árabe, o

desentendimento entre a antiga Iugoslávia e os Estados Unidos, além do atraso

do andamento de negociações de paz que vinham sendo feitas entre a OLP e os

governos da Jordânia e de Israel.

No primeiro capítulo, o sequestro do navio é recontado, a partir do uso de

fontes primárias. As que foram utilizadas para essa pesquisa foram jornais da

época, sendo que três dessas publicações são nacionais e uma delas norte-

americana. Para analisar os problemas de Direito Internacional (DI), foram

utilizadas fontes do DI, como as convenções internacionais, além de artigos

escritos por juristas.

No segundo capítulo, é feita uma análise da estratégia adotada pelos

sequestradores do navio. O terrorismo, como ato político, é analisado. São

discutidas aqui a provável origem do termo, suas alterações de sentido ao longo

dos anos, além de outros atos terroristas cometidos por palestinos serem

brevemente contados. A fonte de pesquisa utilizada foi de artigos e livros sobre

o tema.

1 Jornal do Brasil,13.10.1985.

13

2. O SEQUESTRO DO ACHILLE LAURO E SUAS IMPLICAÇÕES

No dia dois de outubro de 1985, o transatlântico italiano Achille Lauro,

da Frota Lauro de navegação, deixou Gênova, na Itália, para iniciar mais uma de

suas viagens pelo Mediterrâneo. Durante o percurso, um fato trágico associaria a

história do navio a um dos mais famosos casos de sequestro em alto mar

ocorrido nas relações internacionais.

Contudo, é interessante registrar que, mesmo antes e depois do episódio

do sequestro, a história do Achille Lauro foi permeada por episódios trágicos.

Construído em 1947, o navio passou por algumas reformas, quando em 1967 foi

rebatizado, passando a se chamar Achille Lauro, em homenagem ao seu

proprietário. No ano de 1971, o transatlântico chocou-se com um barco

pesqueiro, o que resultou na morte de um pescador napolitano.2 No ano seguinte,

ocorreu um incêndio a bordo enquanto o navio encontrava-se atracado no porto

de Gênova.3 O incidente deixou vários passageiros e tripulantes feridos. Em

1975, enquanto navegava pelo estreito de Dardanelos na Turquia, ele chocou-se

com um barco libanês, resultando, na morte de quatro pessoas.4 Em 1981,

quando viajava pelas ilhas Canárias, pegou fogo novamente. dois passageiros

2Folha de São Paulo, 1.12.1994.

3Idem.

4Ibidem.

14

morreram nesse incêndio.5 O navio permaneceu nas ilhas Canárias de 1982 até

agosto de 1985 devido a dívidas de seus operadores. Ou seja, foram apenas dois

meses de intervalo entre o retorno do navio a alto-mar e o sequestro que é objeto

de estudo desse trabalho.

2.1 TRAJETO DO NAVIO E PRIMEIROS MOMENTOS DE SEQUESTRO

O navio iniciou viagem em outubro de 1985. ao deixar Gênova no dia

dois, o navio fez escalas em Nápoles e Siracusa, também na Itália.6 No momento

em que foi sequestrado, ao dia sete de outubro de 1985, o navio deixava

Alexandria, no Egito, em direção a Porto Said, também no Egito. no momento

do sequestro, o navio encontrava-se a 15 milhas náuticas de distância de Porto

Said7, o que seria em contagem por quilômetro, uma distância de 28

quilômetros. De acordo com a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do

Mar, que ocorreu em Dezembro de 1982 em Montego Bay na Jamaica, são

consideradas águas territoriais a distância de até 12 milhas náuticas. O Egito

ratificou a convenção em 26 de Agosto de 1983. Portanto, o Achille Lauro

estava em águas internacionais no momento em que foi sequestrado.

The liner, the Achille Lauro, was bound from Alexandria, Egypt, to

Port Said, near the Suez Canal, when she was hijacked. She was

reported early today to be in international waters about 15 miles off

Port Said.8

Os jornais da época anunciaram que

a primeira notícia do sequestro foi divulgada por meio de um

operador de rádio amador sueco que conseguiu captar o pedido de

socorro emitido pelo radiotelegrafista operador do Achille Lauro,

assim que os assaltantes tomaram o navio.9

5Ibidem.

6Folha de São Paulo, 8.10.1985.

7The New York Times, 8.10.1985.

8“O navio, o Achille Lauro, foi forçado a deixar Alexandria, no Egito, próxima ao canal de Suez, quando

foi sequestrado. Hoje mais cedo foi relatado que se encontrava em águas internacionais, a cerca de 15

milhas de Porto Said.” (tradução da autora) The New York Times, 8.10.1985. 9Folha de São Paulo, 8.10.1985.

O Globo, 8.10.1985.

15

A informação só fora confirmada oficialmente, cerca de uma hora depois,

pelo Ministério das Relações Exteriores do Egito.10

Após Porto Said, o navio

seguiria viagem passando pelas cidades de Ashdod, em Israel, Larnaca, em

Chipre, Rhodes e Pireu, na Grécia, regressando a Itália, pelas cidades de Capri e

Gênova, no dia quatorze de outubro.11

10

Folha de São Paulo, 8.10.1985. 11

O Globo, 9.10.1985.

MAPA 1: LOCAL ONDE OCORREU O SEQUESTRO

Fonte: http://fluidos.eia.edu.co/hidraulica/articuloses/historia/suez/suez.html

Acesso em 21.11.2014

ACESSO EM

ACE

16

Os sequestradores pertenciam à Frente de Libertação Palestina (FLP)12

,

grupo de orientação marxista pertencente à Organização de Libertação da

Palestina (OLP), naquele momento apoiado pelo Iraque e liderado por

Mohammed (Abu) Abbas, um ativista nascido na Síria, que em 1976 se desligou

da Frente Popular de Libertação da Palestina (FPLP), então apoiada pela Líbia.

Segundo dados fornecidos pela agência de notícias Efe ao jornal Folha de São

Paulo, a FLP, que contaria com cerca de 1500 combatentes, foi criada em 1977

por Abu Abbas, como uma dissidência da FPLP, quando esta apoiou um ataque

do governo sírio à OLP de Arafat. Abbas e seus dissidentes ficaram ao lado de

Arafat, até se reintegrarem integralmente à OLP alguns meses antes do

sequestro, em um congresso realizado na Tunísia.13

Segundo reportagem da

Folha de São Paulo, a organização liderada por Abbas era responsável por

tentativas de ataques ao Estado de Israel. Um exemplo foi a prisão de Abbas, no

ano de 1981, pela tentativa de destruição de uma refinaria de petróleo em Haifa,

no norte do país.14

As ordens de sequestro do Achille Lauro teriam partido do próprio líder

da facção, Mohammed Abbas. Conforme essa versão, as ordens de Abbas teriam

sido dadas a um grupo de doze palestinos que armados de pistolas e explosivos

deveriam tomar o navio. Entretanto, apesar de portarem armas e munições,

contraditoriamente, as instruções teriam sido claras para que não houvesse

derramamento de sangue.15

2.2 A HISTÓRIA DA OLP

Embora os sionistas tenham aceitado as condições da Partilha da ONU

em 1947, os palestinos e demais árabes não a reconheceram, o que fez com que

imediatamente após a declaração de independência de Israel a guerra fosse

iniciada entre o recém-criado Estado judeu e todos os seus vizinhos árabes, em

maio de 1948. O resultado do conflito favorável ao lado israelense fez com que

boa parcela da população árabe que ali residia se dispersasse para outros países

12

Os sequestradores disseram pertencer à FLP em uma ligação telefônica feita do navio para terra firme. O Globo, 9.10.1985. 13

Folha de São Paulo, 9.10.1985. 14

Idem. 15

O Globo, 9.10. 1985.

17

árabes vizinhos, sem deixar de reivindicar o retorno à sua terra originária.16

Mesmo os que permaneceram na região que atualmente é Israel, defendiam um

retorno ao status quo anterior a 1948.17

Contudo, essa reivindicação era bastante

difusa e descentralizada, pois não havia um órgão unificado governado por

palestinos que defendesse o direito à autodeterminação palestina, dentre eles

refugiados e residentes em Israel. A OLP surge para suprir essa necessidade.18

Instituída em 1964 pela Liga Árabe, em um primeiro momento corresponde às

aspirações do líder egípcio Gamal Abdel Nasser.19

Nasser subiu ao poder em

1952, com a Revolução dos Oficiais Livres, se tornando presidente no ano

seguinte. O projeto anunciado de Nasser era unificar todos os povos árabes por

meio de uma mesma ideologia, o nacionalismo árabe, ou pan-arabismo. Ciente

de que a questão da Palestina era a mais emblemática desde a derrota árabe em

1948, Nasser soube utilizá-la para dar vazão às suas pretensões pessoais.

Creio que não é exagero dizer que todo movimento político, corrente

de ideias ou debate que tenham sido significativos no mundo árabe

desde 1948 foram dominados de algum modo pela questão da

Palestina. (SAID, 1992, p. 182).

Dessa maneira, em janeiro de 1964, a proposta de criação da Organização

para a Libertação da Palestina feita pelo presidente Nasser foi aprovada na

primeira conferência dos países árabes.20

O escolhido para ocupar o cargo de

presidente da recém-nascida organização foi Ahmad Shuqairy, indicado pelo

próprio Nasser. Tendo sido fortemente influenciada pelo presidente egípcio, a

organização se encontrava mais em um terreno teórico do que prático. Ao

mesmo tempo, surgiam grupos revolucionários que pregavam a luta armada

como forma de obter a destruição de Israel e desse modo, conceder a Palestina

ao povo que segundo os revolucionários, seria seu legítimo dono. O principal e

mais conhecido desses grupos é o al-Fatah.21

O al- Fatah, um acrônimo para Movimento Nacional para a Libertação da

Palestina, era um grupo de jovens revolucionários liderados pelo engenheiro

nascido no Egito, Yasser Arafat. Os revolucionários do al-Fatah se opunham à

16

SAID, 1992, p. 17. 17

SAID, 1992, p. 145. 18

SAID, 1992, p. 154. 19

BECKER, 1984, p. 41. 20

BECKER, 1984, p. 44. 21

PINA, 2005, p. 3.

18

OLP por causa da influência egípcia. Para eles, “a genuine Palestinian

movement which did not come into existence under the sponsorship of any Arab

state.” (BECKER, 1984, p. 53).22

Os sírios, que desde 1961, ano que chegou ao

fim a República Árabe Unida (RAU)23

, eram inimigos dos egípcios e por este

motivo, passaram a financiar incursões do al- Fatah em território israelense. A

primeira delas foi a tentativa de explodir uma estação de bombeamento de água

no deserto do Negev no dia 31 de dezembro de 1964. Apesar de ter fracassado, o

objetivo dos guerrilheiros era desencadear uma guerra entre Israel e seus

vizinhos árabes que tomasse a Palestina árabe.24

No ano de 1969, há uma guinada nas diretrizes da organização quando o

líder do al-Fatah, Yasser Arafat, é escolhido para ser o seu presidente. A partir

de então, a OLP ganha os contornos que são vistos até hoje, caracterizando-se

por ser um movimento essencialmente palestino. Por esse motivo, Edward Said

afirma que “em certo sentido, a OLP era um grupo nacional internacional”. A

afirmação justifica-se no fato de que a organização reivindicava sua

independência nacional, ao mesmo tempo, que muitos que se identificavam

como nacionais pertencentes a um Estado palestino inexistente encontravam-se

fora desse território físico. De acordo com Said, enquanto àqueles que residiam

fora de Israel, a única maneira encontrada para se manterem em contato com a

questão palestina era envolver-se com a política local, os residentes em Israel,

eram excluídos da política interna. Nas palavras de Said, “A genialidade da OLP

foi transformar o ser politicamente passivo que era o palestino em um ser

politicamente participativo.”25

Entretanto, ainda que Arafat só tenha chegado ao poder da OLP no ano

de 1969, a importância do grupo liderado por ele cresceu vertiginosamente entre

os anos de 1967 e 1968.26

Dois fatores foram cruciais para que isso ocorresse.

Em primeiro lugar, a derrota sofrida pela Síria, Jordânia e Egito na Guerra dos

22

“Um movimento palestino genuíno que não viesse a existir sob a tutela de um outro Estado árabe.”

(tradução da autora). 23

A República Árabe Unida foi a união entre a Síria e o Egito que durou de 1958 a 1961. Apesar de na

teoria sírios e egípcios se equipararem, na prática houve domínio dos egípcios nas instituições. Em 1961,

um grupo de oficiais sírios, excluídos do poder, deu um golpe de Estado e puseram fim à união. O que

restou da RAU foi apenas o seu nome, que continuou sendo usado pelo Egito. (OREN, 2003, p. 36). 24

OREN, 2003, pp. 21-22. 25

SAID, 1992, pp. 154-161. 26

SAID, 1992, pp. 180-181.

19

Seis Dias contra Israel. O Estado de Israel, embora tenha lutado mais uma vez

sozinho imprimira uma derrota fragorosa aos árabes, além de ter anexado

importantes territórios dos mesmos: a Península do Sinai, ao leste do Egito; a

Cisjordânia, ao oeste da Jordânia e as Colinas de Golã, ao sudoeste da Síria. O

outro fator foi o prestígio que a organização de Arafat ganhou depois da batalha

de Karameh, que era uma cidade palestina localizada na Jordânia. A cidade

sofreu um ataque israelense em março de 1968 devido ao crescimento da

atividade guerrilheira palestina, que teria um de seus principais focos em

Karameh. Após um enfrentamento direto entre palestinos e israelenses, pois o

exército jordaniano só teria lutado um dia, apesar da inferioridade militar dos

palestinos, estes conseguiram impor baixas substanciais aos israelenses. (SAID,

1992).

Nos anos seguintes, o poder e a influência da OLP, agora liderada pelo

al-Fatah, cresceram tanto que a organização passou a configurar um Estado não-

oficial palestino dentro do Estado anfitrião, a Jordânia. O questionamento não

era apenas à existência de Israel, mas à autoridade do rei Hussein, considerando

especialmente que a Jordânia era também em grande parte do território da Israel

Bíblica, com a maioria da população de origem palestina, sendo a monarquia

Hachemita estrangeira, originária da Península Arábica, transferida e criada

como Estado e reino naquele local pelo imperialismo inglês no pós-Primeira

Guerra Mundial. Os guerrilheiros passaram a promover ataques contra o governo

jordaniano, até serem obrigados a deixar a Jordânia, indo se refugiar no Líbano.

A guerra civil que se instaurou no país, entre palestinos e jordanianos, que

culminou no massacre de 20 mil palestinos por parte do governo jordaniano e na

expulsão da OLP, ficou conhecida como Setembro Negro. Em homenagem ao

episódio, um dos grupos terroristas dentro da OLP passou a usar o nome

Setembro Negro. Tendo sido expulsa da Jordânia, a OLP se refugiou no Líbano,

onde permaneceu até 1982.27

Do Líbano, a OLP e seus mais variados grupos revolucionários

continuaram promovendo sua luta lançando mão do uso do terror contra alvos

27

FRIEDMAN, 1989, p. 151.

20

israelenses como forma de obter ganhos políticos.28

Um dos mais emblemáticos

foi cometido pela organização citada acima, o Setembro Negro. Em setembro de

1972, durante os jogos olímpicos de Munique, o grupo atacou a equipe olímpica

israelense. Dois atletas morreram imediatamente enquanto nove foram mantidos

como reféns. Uma tentativa de resgatar os reféns foi feita pela polícia alemã.

Entretanto, os atletas acabaram sendo mortos em meio à intensa fuzilaria e

explosões na base da OTAN. Além dos israelenses, quatro terroristas, um

policial alemão e um piloto de helicóptero também foram mortos. A polícia

alemã conseguiu prender três terroristas responsáveis pelo ataque.29

Cerca de um

mês depois do ataque aos atletas israelenses, em 29 de outubro de 1972, o grupo

Setembro Negro foi responsável por outro ato terrorista, com o objetivo de

libertar os companheiros que haviam sido presos pelo ataque anterior. Dessa vez,

o alvo escolhido foi um avião da companhia alemã Lufthansa, que fazia um voo

de Beirute, na Síria, até Frankfurt, na Alemanha, com escalas nas cidades turcas

de Ancara e Istambul.30

O sequestro ocorreu enquanto o avião sobrevoava o

espaço aéreo turco. Os sequestradores exigiam que os três palestinos presos em

setembro fossem libertados, caso a exigência não fosse atendida, eles

explodiriam o avião, que tinha treze passageiros e sete membros da tripulação a

bordo.31

O governo da então Alemanha Ocidental concordou em colaborar com

os sequestradores, libertando os três palestinos presos desde setembro. “Os

sequestradores e os três terroristas palestinos libertados pela Alemanha

Ocidental foram recebidos na Líbia ‘como heróis’, disse a rádio de Trípoli.”32

A OLP contava com o apoio da Arábia Saudita, da Líbia, da União

Soviética e da República Democrática da Alemanha. (SAID, 1992). Ainda que o

al-Fatah desempenhasse um papel dominante dentro da estrutura partidária da

OLP, havia outras facções políticas importantes. A maior parte delas, assim

como o al-Fatah, possuía caráter nacionalista palestino, com divergências em

graus variados, ao partido liderado por Arafat. As principais delas eram a Frente

Popular de Libertação da Palestina (FPLP), grupo estabelecido pelo Dr. George

28

<http://www.oxfordislamicstudies.com/article/opr/t236/e0618>Acesso em 14 nov.

2014. 29

O Globo, 6.9.1972. 30

O Globo, 30.10.1972. 31

Idem. 32

Ibidem.

21

Habbash (PINA, 2005) e a Frente Democrática para a Libertação da Palestina

(FDLP), uma dissidência da FPLP criada no ano de 1969 de ideologia marxista

maoísta. “According to some observers, the DFLP played an instrumental role in

placing the idea of a democratic Palestinian state (the two-state solution) with

equal rights on the political agenda of PLO.” (PINA, 2005, p.5).33

Outras

organizações menores de ideologia islâmica-jihadista também existiam, sendo a

principal delas a Jihad Islâmica Palestina (JIP). Todavia, as facções de

orientação religiosa só passaram a desempenhar papel mais importante após os

Acordos de Oslo entre a OLP e o Estado de Israel, em 1993.

Entretanto, apesar das evidências do envolvimento de uma das facções da

OLP com o sequestro do Achille Lauro, Arafat declarou em uma entrevista por

telefone da Argélia ao jornal The New York Times, que os membros da OLP

nada tinham a ver com o sequestro do navio italiano. De acordo com Arafat, os

sequestradores pertenceriam a um grupo de guerrilheiros proveniente de Sabra e

Shatila que estariam refugiados no Líbano.34

Sabra e Shatila eram campos de refugiados palestinos localizados no sul

do Líbano. Durante a guerra civil do Líbano, em agosto de 1982, Israel invadiu o

Líbano para apoiar as milícias cristãs que lutavam contra os libaneses

muçulmanos, pois vinha sendo atacado do Líbano por milícias palestinas. De

acordo com Thomas Friedman (1989), o governo israelense acreditava que caso

os cristãos conseguissem tomar o poder no Líbano, o país estaria mais propenso

a selar a paz com Israel. Os israelenses sitiaram Beirute ocidental e o governo

libanês persuadiu a OLP a se retirar do território libanês temendo uma ofensiva

israelense. A OLP começou a se retirar de Beirute no dia 29 de Agosto de 1982.

(FRIEDMAN, 1989). No dia 23 do mesmo mês, o líder das milícias cristãs,

Bashir Gemayel, foi eleito primeiro-ministro libanês. Entretanto, menos de um

mês após sua eleição, Bashir Gemayel foi assassinado por um membro do

Partido Nacional-Socialista sírio. Com o assassinato do líder falangista, o

primeiro-ministro israelense, Menachem Begin e o seu ministro da Defesa, Ariel

Sharon, ignorando a promessa feita aos Estados Unidos de que não invadiriam

33

“De acordo com alguns observadores, a FDLP desempenhava um papel instrumental em colocar a ideia

de um Estado palestino democrático (a solução de dois Estados) com direitos iguais na agenda política da

OLP.” (tradução da autora). 34

O Globo, 11.10.1985.

22

Beirute Ocidental depois da retirada da OLP, resolveram agir por conta própria.

Então, no dia 16 de setembro, dois dias após a morte de Bashir Gemayel, tropas

falangistas invadiram os campos de refugiados de Sabra e Shatila, com a

permissão das tropas israelenses. As tropas falangistas massacraram a população

civil que habitava os campos de refugiados. A Cruz Vermelha estima entre 800 e

1000 o número de mortos do massacre dos campos de refugiados. (FRIEDMAN,

1989).

2.3. A REPERCUSSÃO INTERNACIONAL DO SEQUESTRO

O diretor-geral da chancelaria israelense, David Kimche, teria declarado,

segundo o jornal O Globo, que Israel tinha provas irrefutáveis de que o líder da

OLP, Yasser Arafat, tinha conhecimento prévio do sequestro do navio italiano.35

Entretanto, o chanceler israelense não esclareceu se Arafat apenas tinha

conhecimento do plano, se participara dele ou o promovera. A possibilidade de

envolvimento de Arafat no sequestro do navio já havia sido negada

anteriormente por meio de uma declaração do Ministério de Relações Exteriores

italiano, para qual o próprio Arafat teria afirmado que ele não tinha qualquer

ligação com o ato.36

Enquanto os governos e autoridades dos países e organizações

envolvidos no sequestro do Achille Lauro oscilavam entre acusações e defesas,

durante o segundo dia de sequestro do navio, os sequestradores exigiam a

libertação imediata de cerca de cinquenta prisioneiros palestinos em Israel para

que pusessem fim ao sequestro do navio. Negando qualquer possibilidade de

aceitar as exigências dos sequestradores, o primeiro-ministro israelense, Shimon

Peres, declarou “Não quero acusar ninguém, mas os responsáveis são o

terrorismo e aqueles que apoiam o terrorismo.” Ao se referir a aqueles que

apoiam o terrorismo, Peres acusava indiretamente o governo italiano de

compactuar com os atos terroristas palestinos, em alusão ao fato de terem

35

O Globo, 11.10.1985. 36

The New York Times, 8.10.1985.

23

condenado publicamente o bombardeio da sede da OLP na Tunísia por forças

israelenses, alguns dias antes, em Primeiro de Outubro.37

O ataque proferido por Israel foi uma represália ao assassinato de três

israelenses cometido por um comando palestino na ilha de Chipre. O

bombardeio à sede da OLP na Tunísia deixou 70 mortos e mais de 100 feridos.38

Sobre o ataque, a Casa Branca declarou apenas que o bombardeio era “uma

resposta legítima ao terrorismo palestino”, além de classificar o ato como

legítima defesa. A declaração foi criticada pelo governo tunisiano, que

comparou a declaração americana a uma punhalada pelas costas. Na tentativa de

se reconciliar com o governo tunisiano, o presidente norte-americano Ronald

Reagan enviou condolências às vítimas do ataque.39

Em relação ao sequestro do

navio italiano, o presidente dos Estados Unidos da América, Ronald Reagan,

dissera que era “uma coisa ridícula”.40

A despeito do que se imaginou a princípio, o governo egípcio declarou

que os sequestradores não teriam embarcado no Achille Lauro enquanto o navio

estava em Alexandria. Segundo declararam algumas fontes marítimas em

Gênova, o embarque dos sequestradores provavelmente teria ocorrido quando o

navio fez escala em Nápoles, onde teria havido grande confusão no embarque, o

que teria facilitado a entrada dos sequestradores.41

Munidos de passaportes

falsos, quatro palestinos teriam embarcado no navio sob as identidades de

Diamantino Ribeiro Picuenga, português, Wan Stale, norueguês, Walter

Zarlenga e Antonio Alonzo, argentinos.42

2.4. AS RELAÇÕES EGÍPCIAS- ISRAELENSES

É importante mencionar que o Egito era o único país árabe a reconhecer

o Estado de Israel, devido aos acordos de Camp David, mediado pelo então

presidente norte-americano, Jimmy Carter em 1978. Entre outras coisas, os

principais compromissos assumidos pelos dois governos foram: a retirada total

37

O Globo, 9.10.1985. 38

Jornal do Brasil, 13.10.1985. 39

Jornal do Brasil, 9.10.1985. 40

Idem. 41

O Globo, 8.10.1985. 42

O Globo, 10.10.1985.

24

das tropas israelenses do Sinai, a garantia de livre-passagem dos navios

israelenses pelo Golfo e pelo Canal de Suez e pelo Golfo de Aqba e pelos

estreitos de Tiran.43

O golfo de Aqba é a ligação do porto de Eilat, ao sul de

Israel com o Mar vermelho, assim como o canal de Suez liga o mar

Mediterrâneo ao Mar Vermelho. O bloqueio dos Estreitos de Tiran e o

impedimento da passagem dos navios israelenses em Suez fecham todas as

saídas de Israel para o mar, impedindo assim que o país comercie com outros.

Tal atitude do governo egípcio foi causa para duas guerras entre Israel e

os países árabes, a Guerra de Suez, em 1956 e a Guerra dos Seis Dias, em 1967.

Após a agressão tripartite, operação conjunta entre os governos de Israel, França

43

Disponível em http://www.jimmycarterlibrary.gov/documents/campdavid/frame.phtml. Acesso em

21.11.2011.

MAPA 2: MAPA DO GOLFO DE AQBA E DOS ESTREITOS DE TIRAN

Fonte: OREN, 2003, p. 97

25

e Inglaterra para pôr fim ao bloqueio egípcio ao canal em 1956, lideradas pelas

tropas israelenses que avançaram pelo Sinai e por Gaza e obrigaram as tropas

egípcias a fazerem uma retirada tática. As tropas israelenses permaneceram

estacionadas nos territórios egípcios do Sinai, Gaza e dos Estreitos do Tiran.

Para que as forças israelenses fossem retiradas, a ONU estabeleceu uma Força

de Emergência (UNEF)44

que supervisionaria a partida israelense. Desde então,

os Estados Unidos considerariam toda tentativa egípcia de

ressuscitar o bloqueio de Tiran como um ato de guerra frente ao qual

Israel poderia responder em autodefesa com base no Artigo 51 da

Carta das Nações Unidas.45

Nasser decidiu pela retirada da UNEF em 14 de maio de 1967,

desencadeando a crise que culminaria na Guerra dos Seis Dias, em junho do

mesmo ano, uma vez que isso sinalizava para o estabelecimento do bloqueio e

demais preparativos para um novo conflito.

2.5 RUMORES SOBRE POSSÍVEIS VÍTIMAS

Quando o navio Achille Lauro iniciou sua viagem em Gênova, no dia

dois de outubro, contava com 788 passageiros e 350 membros da tripulação46

,.

Entretanto, quando o navio foi sequestrado, 676 passageiros haviam deixado o

navio para fazer uma excursão por terra ao Cairo. As fontes divergem em

relação ao número exato de passageiros, mas é provável que no momento do

sequestro, o navio contasse com entre 380 e 490 passageiros aproximadamente.

A Folha de São Paulo estima em 388, o Jornal do Brasil afirma serem 400, o

The New York Times supõe serem 490 e o Globo julga serem 454 pessoas, além

dos 350 membros da tripulação, que se encontravam a bordo do navio no

momento do sequestro.47

44

Sigla em Inglês. 45

OREN, 2003, p. 34. O artigo 51 da Carta das Nações Unidas diz que “Nada na presente Carta

prejudicará o direito inerente de legítima defesa individual oucoletiva, no caso de ocorrer um ataque

armado contra um membro das Nações Unidas, atéque o Conselho de Segurança tenha tomado as

medidas necessárias para a manutenção dapaz e da segurança internacionais. As medidas tomadas pelos

membros no exercício dessedireito de legítima defesa serão comunicadas imediatamente ao Conselho de

Segurança e não deverão, de modoalgum, atingir a autoridade e a responsabilidade que a presente Carta

atribui ao Conselho para levar a efeito, em qualquer momento, a ação que julgar necessária à manutenção

ou ao restabelecimento da paz e da segurança internacionais. Carta das Nações Unidas, 1945. 46

Folha de São Paulo, 8.10.1985. 47

Respectivamente,

Folha de São Paulo, 9.10.1985;

26

No dia oito de outubro de 1985, surgiram rumores de que os

sequestradores palestinos haviam feito duas vítimas, um casal de americanos. A

notícia veio a público em Damasco na Síria por meio do vice-embaixador

italiano, Pietro Cordone, segundo esse teria apurado a partir de contatos por

rádio estabelecidos com o navio sequestrado.48

Naquele momento a notícia de

morte dos dois americanos foi negada pelo capitão do navio, Gerardo di Rosa.

Em transmissão captada pela rádio libanesa A Voz do Líbano, Di Rosa teria

afirmado que “Todos estão bem e logo serão libertados. Por favor, não tentem

nada contra meu navio.”49

Ainda que as duas mortes tivessem sido negadas, a

informação era recebida com apreensão, já que no primeiro dia de sequestro,

conforme noticiado pelo jornal The New York Times, os sequestradores teriam

dito que as primeiras vítimas a serem mortas seriam americanas: “The leader of

the hijackers, reportedly members of a militant Palestinian faction, was said to

have warned that the first hostages to be killed would be americans.”50

Em meio

a tantos rumores, o embaixador dos Estados Unidos no Cairo, Nicollas Velliotes,

teria dado uma declaração de que soubera de “outro infeliz acontecimento”51

A

declaração do embaixador foi compreendida como confirmação de uma ou mais

mortes.

Enquanto navegava a leste do mediterrâneo, o Achille Lauro foi

impedido de entrar nas águas territoriais dos governos sírio e cipriota.52

2.6. O DESFECHO DO SEQUESTRO

Nesse intervalo, autoridades portuárias de Porto Said captaram uma

mensagem radiofônica dos sequestradores exigindo a presença de diplomatas

ocidentais para negociar o fim do sequestro53

. A exigência era que diplomatas

britânicos, italianos e alemães ocidentais seguissem em um barco desarmado do

Jornal do Brasil, 8.10.1985;

The New York Times, 8.10.1985 e

O Globo, 8.10.1985. 48

Folha de São Paulo, 9.10.1985. 49

Folha de São Paulo, 9.10.1985. 50

“O líder dos sequestradores, declaradamente membros de uma facção militante palestina, teria avisado

que as primeiras vítimas seriam americanas.” (tradução da autora). The New York Times, 8.10.1985. 51

O Globo, 9.10.1985. 52

Folha de São Paulo, 9.10.1985. 53

Idem.

27

Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV)54

. De acordo com a mesma

fonte, pouco depois que a transmissão foi captada três diplomatas cuja

nacionalidade não foi identificada foram vistos no porto de Tartus, na Síria55

.

Além dos diplomatas, havia outros negociadores no barco, inclusive Abu Abbas,

dirigente da FLP e assessor de Arafat.

Por volta das 15h da tarde (hora local) do dia oito de outubro, um

diálogo entre sequestradores e negociadores foi captado pela rádio Pesquera.

Segundo a rádio Voz do Líbano, o diálogo teria sido o seguinte:

Onde estão os negociadores? (nenhuma resposta) – Não temos

tempo. Começaremos a matar (os reféns) exatamente às 15h

(nenhuma resposta) – O que está acontecendo Tartus? Nós vamos

matar o segundo refém. Estamos perdendo a paciência.

(Sequestrador).56

Nessa frase, um dos sequestradores dá a entender que um dos passageiros

do Achille Lauro já teria sido assassinado. Entretanto, o sequestrador não

forneceu mais detalhes e por isso, a identidade dessa possível vítima permaneceu

desconhecida.

No dia nove de outubro de 1985, entre às 17h57

, segundo o Jornal do

Brasile 17h3058

, conforme o jornal O Globo (hora local), enquanto o Achille

Lauro se encontrava ainda em águas egípcias, cerca de quinze quilômetros de

distância de Porto Said, um grupo de negociadores conseguiu obter a rendição

dos sequestradores. O grupo era composto por dois representantes da OLP, Abu

Khaled (um dos nomes de guerra de Abu Abbas) e Zondiel Kendra, um

representante da OLP no Cairo; membros do governo egípcio liderados pelo seu

ministro da Defesa, Abdel Ghazala; além de membros do CICV59

, logrou libertar

o navio em troca de um salvo-conduto.

Pouco antes do anúncio oficial do fim do sequestro, Salah Khalaf,

assessor do líder da OLP, Yasser Arafat deu a notícia em uma

entrevista coletiva na sede da organização, em Túnis, capital da

Tunísia (...) os sequestradores concordaram em se entregar sob três

condições: não serem entregues à OLP, receberem um salvo-conduto

do governo egípcio e garantias que a OLP e o Egito pressionariam o

54

Ibidem. 55

Ibidem. 56

Folha de São Paulo, 9.10.1985. Grifo da autora. 57

Jornal do Brasil, 10.10.1985. 58

O Globo, 10.10.1985. 59

Idem.

28

governo de Israel pela libertação de cinquenta palestinos que estão

em prisões israelenses.60

Ao menos, uma das exigências dos sequestradores foi acatada pelo

governo egípcio: a garantia de um salvo-conduto para que pudessem deixar o

país em liberdade.

O presidente norte-americano Ronald Reagan declarou que “se sentiu

aliviado, mas não satisfeito”.61

com o desfecho do sequestro do Achille Lauro.

“O presidente americano admitiu que os EUA estavam prontos para executar

uma ação de resgate a bordo do ‘Achille Lauro’ quando os sequestradores se

entregaram às autoridades egípcias”.62

Com a rendição dos sequestradores, o rumor da morte de um dos

passageiros do Achille Lauro se confirmou:

Em Roma, o primeiro-ministro da Itália, Bettino Craxi, afirmou ter

recebido pelo rádio informações do capitão do ‘Achille Lauro’ de

que um refém norte-americano está desaparecido e teria sido

assassinado pelos sequestradores. Trata-se de Leon Klinghoffer, 69,

comerciante de eletrodomésticos aposentado, provavelmente judeu,

residente em Nova York.63

De acordo com o embaixador italiano no Egito, Giovanni Migliuolo,

após uma conversa com os passageiros recém-saídos do Achille Lauro, os

sequestradores teriam empurrado Leon, que era paraplégico, em sua cadeira de

rodas até um lado do navio, de onde dispararam a sangue frio para depois

jogarem seu corpo no mar.64

Entretanto, ainda que os primeiros relatos

apontassem para a morte do passageiro, a ausência de seu cadáver dificultava a

comprovação do crime. Em razão desse fato, a OLP afirmava que os

sequestradores do navio italiano não tinham cometido nenhum assassinato e que

o sumiço do passageiro era um plano da Agência Central de Inteligência (CIA)

para justificar a intervenção norte-americana no Egito e enfraquecer a liderança

do presidente egípcio Hosni Mubarak no mundo árabe65

. Mubarak declarou ao

jornal egípcio “Al Ahram” que só concedeu o salvo conduto aos sequestradores

porque desconhecia a informação de que eles haviam matado um passageiro66

.

60

Folha de São Paulo, 10.10.1985. 61

O Globo, 11.10.1985. 62

Idem. 63

Folha de São Paulo, 11.10.1985. 64

O Globo, 11.10.1985. 65

Jornal do Brasil, 13.10.1985. 66

Jornal do Brasil, 11.10.1985.

29

De acordo com o presidente, a notícia da morte de Leon Klinghoffer só foi

comunicada ao governo egípcio cinco horas após a rendição dos

sequestradores.67

Convencido de que a motivação dos sequestradores para assassinarem

Klinghoffer tinha sido o antissemitismo, Shimon Peres declarou:

Separaram os judeus dos não-judeus, apesar das afirmações árabes

de que separavam só os sionistas dos não-sionistas. Assassinaram a

sangue-frio um homem em idade avançada, em uma cadeira de

rodas, só porque seu nome revelava que era judeu. Não

esqueceremos isso, e não deixaremos passar impune esse fato.68

Após a rendição, quando os sequestradores ainda estavam sob a posse do

governo egípcio, o líder da OLP voltou a negar o envolvimento da sua

organização no sequestro. Arafat teria dito que pediria ao governo egípcio que

lhes entregassem os sequestradores, para que sua organização pudesse julgá-los

e puni-los69

. A princípio, Reagan, quando questionado por jornalistas sobre sua

opinião sobre o assunto declarou que

Se ele (Arafat) pensa que sua organização dispõe de uma espécie de

tribunal nacional, como um país, em condições de levá-los até à

Justiça, então estou de acordo. Mas com a condição de que os

sequestradores sejam levados à Justiça.70

Posteriormente, Reagan voltou atrás e disse que a OLP deveria entregá-

los a um país soberano que tivesse a competência de julgá-los, pois através de

sua afirmativa anterior, o presidente norte-americano abriu margem para

interpretações de que os EUA consideravam a OLP um Estado soberano. A

Itália, também reivindicava o direito de julgar os sequestradores, já que o

sequestro ocorreu em um navio italiano. Portanto, segundo as leis do Direito

Internacional, os crimes de sequestro e possível assassinato ocorreram dentro do

território italiano.71

2.7. OS EUA INTERCEPTAM O AVIÃO EGÍPCIO

Por causa da manifestação da liderança da OLP em pedir a guarda dos

sequestradores, segundo informações da agência Reuters noticiadas pelo Jornal

67

Folha de São Paulo, 11.10.1985. 68

O Globo, 11.10.1985. 69

Folha de São Paulo, 10.10.1985. 70

Jornal do Brasil, 11.10.1985. 71

Folha de São Paulo, 12.10.1985.

30

do Brasil, o objetivo do governo egípcio era entregar os sequestradores à sede da

OLP na Tunísia.72

Deste modo, um avião egípcio levava os sequestradores até a

Tunísia, para que lá estes fossem julgados pela OLP. Entretanto, o governo

tunisiano se recusou a recebê-los e por isso, quando o avião voava de volta para

o Cairo, aviões a serviço da Sexta Frota Americana interceptaram o Boeing

egípcio, quando este sobrevoava a Ilha de Creta. Feito isso, os caças americanos

e o Boeing egípcio voaram até a Itália e quando se encontravam a meia hora da

base de Sigonella, na Sicília, Bettino Craxi, primeiro-ministro italiano recebeu

uma ligação do presidente americano pedindo permissão para que o avião

egípcio pudesse pousar. Craxi disse que o pedido só fora feito à meia noite da

madrugada do dia onze de outubro.73

Sobre como obtiveram informações a respeito do momento de partida e a

rota do avião egípcio, sem as quais o sucesso da operação de interceptação do

avião egípcio teria sido impossível, a Casa Branca deu a entender que isso se deu

por meio de espionagem, afirmação essa que buscava eliminar possíveis

suspeitas de que o governo egípcio tivesse colaborado e fornecido informações a

esse respeito. Segundo o porta-voz da Casa Branca, Larry Speakes, “I can

categorically deny any deal between the United States and Egypt’ on the

interception of the plane.”74

Ao contrário dos rumores publicados pela imprensa, o governo egípcio,

assim como a OLP classificaram a interceptação americana do Boeing egípcio

como um caso de pirataria aérea, em um esforço de negar uma possível

colaboração com o governo dos Estados Unidos. O líder palestino Yasser Arafat

foi além, afirmando que ao interceptar o avião, os Estados Unidos cometeram

terrorismo. Em suas próprias palavras:

Não existe qualquer diferença entre um terrorista que sequestra um

avião com uma pistola e outro que sequestra um avião com caças

equipados com mísseis (...) Qual a diferença entre desviar um

transatlântico e desviar um avião? No primeiro caso usa-se revólver;

no segundo avião. Mas ambos são atos de terrorismo.”75

72

Jornal do Brasil, 12.10.1985. 73

O Globo, 12.10.1985. 74

“Eu posso negar categoricamente qualquer acordo entre os Estados Unidos e o Egito.” (tradução da

autora). The New York Times, 11 de Outubro de 1985. 75

O Globo, 13 de Outubro de 1985.

31

A justificativa da legalidade da ação norte-americana repousava na

Convenção Contra a Utilização de Reféns que foi ratificada pelo Egito em

outubro de 1981. De acordo com a convenção, em um caso de sequestro de

pessoas, conforme aconteceu no Achille Lauro, o Estado onde ocorreu o crime

deveria ele próprio processar os sequestradores ou extraditá-los. De acordo com

essa premissa, já que o governo egípcio não tomou nenhuma das duas

providências, possivelmente tentando evitar futuros problemas com o restante do

mundo árabe, não restou outra alternativa aos Estados Unidos senão interceptar

o avião egípcio. Entretanto, o que pode ser alegado em defesa do Egito é que os

crimes ocorreram em águas internacionais, ou seja, fora de seu território. Assim,

não haveria qualquer obrigação do governo egípcio em entregar os terroristas ao

governo dos Estados Unidos.

Uma grande preocupação admitida pelo Departamento de Estado norte-

americano era a tensão nas boas relações norte-americanas com o Cairo, de

acordo com o The New York Times: “The most potentially disrupting aspect of

the operation was the future reaction from Egypt, State Department officials said

tonight.”76

De qualquer modo, o governo egípcio encontrava-se em uma situação

bastante delicada, pois, ao mesmo tempo, que aparentemente teria se indisposto

com os Estados Unidos, era acusado de traição aos árabes, já que recaía sobre

ele a suspeita de ter indicado a rota do avião aos norte-americanos.

Nos Estados Unidos a interceptação do avião egípcio foi considerada um

sucesso. Para a equipe de governo do presidente Reagan, ele pôde finalmente

pôr em prática a linguagem dura usada para criticar seu antecessor, Jimmy

Carter, em relação ao tratamento de resgate às vítimas americanas em operações

arriscadas fora dos Estados Unidos, em especial a rumorosa crise dos reféns no

Irã. Foi de forma orgulhosa e sorridente que o secretário de Defesa, Caspar

Weinberger, contou a operação para o povo americano através da televisão.77

O

sucesso interno do episódio, inclusive rendeu a Reagan a alcunha de “Rambo

Reagan”, de acordo com o Jornal do Brasil, uma comparação com um

76

“O aspecto mais potencialmente explosivo da operação era a reação egípcia, oficiais do departamento de

Estado disseram esta noite.” (tradução da autora). The New York Times, 11.10.1985. 77

Jornal do Brasil, 12.10.1985.

32

personagem violento, belicoso e supostamente muito eficiente em termos

militares desempenhados na época pelo ator Sylvester Stallone que ficou notório

no cinema. Em consonância com a atitude dos Estados Unidos, a cúpula do

governo israelense congratulou a ação norte-americana. Shimon Peres enviou

mensagens de agradecimento ao presidente e ao secretário de Estado norte-

americanos78

. Já o primeiro-ministro italiano, evitando se comprometer com um

dos lados, declarou que permitiu o pouso do avião egípcio na base de Sigonella

devido ao perigo dos sequestradores e à proteção do avião de um país amigo, o

Egito.79

O plano norte-americano ao interceptarem e desviarem o avião egípcio

seria levar os sequestradores a julgamento em território norte-americano80

,

baseados no princípio da personalidade passiva de jurisdição. Esse princípio

delega a um determinado país o direito de julgar responsáveis por atos contra

seus nacionais. (MADDEN, 1988). Entretanto, diante da hierarquia existente

entre os princípios de jurisdição, o princípio da territorialidade tem precedência

sobre a personalidade passiva. De acordo com as leis do Direito Internacional, o

princípio da territorialidade prevê que um crime seja julgado pelo país em que

esse crime tenha ocorrido geograficamente ou nos casos que ocorrem fora do

território físico, em aviões ou navios de bandeira de um determinado país.81

Por

isso, ainda que os Estados Unidos pedissem a extradição dos terroristas, ela

parecia improvável, já que os crimes aconteceram em um navio de bandeira

italiana. Nesse caso, a competência de julgá-los passaria à magistratura italiana.

É importante mencionar que o fato de em alguns estados americanos ser

praticada a pena de morte dificultava ainda mais o processo de extradição, já que

na Itália não se aplica a pena de morte. Segundo uma declaração de Giulio

Andreotti, então ministro da Defesa italiano: “We are prohibited from granting

extradition to countries that have the death penalty”82

No entanto, o que os governos italiano e norte-americano desconheciam é

que dentro do avião egípcio havia mais dois passageiros, à exceção dos

78

Jornal do Brasil, 12.10.1985. 79

Idem. 80

The New York Times, 12.10.1985. 81

MADDEN, 1988, p. 138. 82

“Somos proibidos de conceder extradição a países que praticam pena de morte.”The New York Times,

12.10. 1985.

33

sequestradores: dois membros da OLP que viajaram junto com os sequestradores

até à Itália. Os governos de ambos os países só tomaram conhecimento do fato

quando o avião aterrissou em território italiano83

. Um deles seria Abu Abbas,

quanto à identidade do outro membro da OLP, essa permanecia desconhecida84

.

A exigência do governo americano era de que ambos fossem investigados pelo

envolvimento no sequestro do Achille Lauro. “Entretanto, apesar do apelo

americano para mantê-los sob investigação, os egípcios recusavam essa

possibilidade, já que segundo eles, Abbas e o outro membro da OLP eram

convidados e, portanto, deveriam estar imunes de investigação.” 85

. Devido a

esse fato, Abbas e o membro da OLP não identificado permaneceram dentro do

avião egípcio. Como a Itália não garantia que também os levaria a julgamento, o

governo americano estudava a possibilidade de pedir a extradição de Abbas, a

despeito de a justiça italiana ter concluído que ele e os outros passageiros que

seguiram a Roma não tinham qualquer ligação com o sequestro.86

Enquanto isso, o Achille Lauro era mantido em águas egípcias. De

acordo com as autoridades egípcias, o navio estava sendo mantido no Egito para

que investigações fossem feitas. Entretanto, havia uma outra explicação para

este fato: o Achille Lauro seria retido no Egito até que o Boeing que fora

interceptado pelos caças norte-americanos retornasse ao seu país de origem.87

No dia 13 de outubro, as autoridades egípcias permitiram que o Achille Lauro

zarpasse de Porto Said, após as autoridades italianas liberarem o Boeing egípcio

para que ele voltasse ao Cairo.88

2.8. IDENTIFICAÇÃO, PRISÃO E PROCESSO DOS SEQUESTRADORES

Segundo a imprensa da época, “os sequestradores do Achille Lauro

foram reconhecidos como sendo Abdullah Alhsan, de 19 anos; Abdel Al

Ibrahim, de 20 anos; Mayed Yusef Al Molky e Ahmad Abdulla, ambos de 23

83

Folha de São Paulo, 13.10.1985. 84

The New York Times, 12.10.1985. 85

The New York Times, 12.10.1985. 86

Folha de São Paulo, 13.10.1985. 87

Idem. 88

Folha de São Paulo, 14.10.1985.

34

anos.”89

De acordo com informantes, somente um deles teria nascido na

Palestina, os outros seriam originários da Síria, Líbia e Jordânia.90

Os

sequestradores foram reconhecidos por apenas treze passageiros do Achille

Lauro que foram transportados de Porto Said até Sigonella por um avião militar

norte-americano.91

Após a identificação por parte das testemunhas vítimas do sequestro, os

terroristas palestinos foram levados para uma prisão na cidade de siciliana de

Siracusa, onde esperariam julgamento92

. Um processo judicial foi aberto contra

eles no dia anterior. O promotor público de Gênova, Luigi Carli, os acusara de

desvio de navio, sequestro de passageiros e tripulação, assassinato e posse ilegal

de armamentos e explosivos.93

O jornal The New York Times noticiou que o

primeiro-ministro britânico, Bettino Craxi, declarou que a magistratura de várias

cidades italianas estavam envolvidas no caso: Roma, por ser a capital do país;

Gênova, por ter sido de onde o navio saiu; Nápoles, por ser a cidade de origem

do navio e a Catânia, pela proximidade de onde os sequestradores foram

detidos94

. Posteriormente, a Folha de São Paulo noticiou que a investigação

sobre o sequestro do navio Achille Lauro passaria à competência exclusiva da

magistratura de Gênova.95

Segundo investigações desenvolvidas nos dias que se

seguiram, conforme noticiado pelo The New York Times, “os sequestradores do

navio possuíam cúmplices em território italiano, de acordo com declarações de

Dolcino Favi, outro magistrado que investigava o caso.” Um deles era Kalif

Mohamed Zainab, de 21 anos, que foi detido em Gênova cinco dias depois de o

navio ter deixado a cidade, devido ao porte de passaportes marroquino e italiano.

Outro homem detido desembarcou em Alexandria antes do sequestro, mas

recusou-se a declarar sua identidade. Conforme o The New York Times haveria

também um sétimo homem que a justiça italiana foi incapaz de identificar,

descrito de maneira genérica como sendo de meia-idade e pele morena96

. A

justiça italiana estaria investigando a possibilidade de que estes cúmplices

89

O Globo, 12.10.1985. 90

Folha de São Paulo, 13.10.1985. 91

Jornal do Brasil, 13.10.1985. 92

Folha de São Paulo, 13.10.1985. 93

Idem. 94

The New York Times, 12.10.1985. 95

Folha de São Paulo, 31.10.1985. 96

The New York Times, 15.10.1985.

35

estivessem trabalhando em um apartamento em Gênova, onde eram mantidas as

munições dos sequestradores. Além disso, era provável que estes cúmplices já

tivessem feito viagens anteriormente no Achille Lauro para preparar os

sequestradores para a missão.97

Quanto aos demais passageiros que estavam no avião interceptado e

apreendido, incluindo os palestinos que teriam viajado sem o conhecimento dos

governos americano e italiano, das dezenove pessoas além dos sequestradores

que viajavam no avião interceptado, dezoito delas foram levadas para a

Academia Egípcia de Belas Artes, na via Omero no bairro romano próximo a

Vila Borghese: seis membros da tripulação do avião, cinco diplomatas egípcios,

seis agentes de segurança egípcios e Abu Abbas. O avião egípcio seguiu de

Ciampino, um aeroporto militar localizado em Roma, para Fiumicino, aeroporto

civil romano. Presume-se também que o outro membro da OLP que viajara junto

com Abbas no Boeing italiano teria ido para Fiumicino, já que não seguiu para a

Academia de Belas Artes.98

2.9. O PAPEL DE MOHAMMED ABBAS

Segundo o jornal O Globo, na manhã do dia anterior, o dirigente

palestino Abu Abbas fora convidado pelo governo italiano para depor sobre seu

envolvimento na negociação pelo fim do sequestro do Achille Lauro. Ficou

acordado que o interrogatório ocorreria em território italiano, portanto, fora da

Academia Egípcia.99

Pouco antes da hora combinada, quatro carros deixaram o bairro de Vila

Borghese e partiram rumo ao aeroporto de Ciampino. Abbas teria embarcado

97

The New York Times, 15.10.1985. 98

Folha de São Paulo, 13.10.1985. 99

O Globo, 13.10.1985.

36

neste avião e ido em direção à Fiumicino, de onde saiu um avião rumo à

Iugoslávia, no qual ele teria embarcado.100

No momento da partida de Abbas, os EUA estudavam pedir sua

extradição, para julgá-lo pelo seu envolvimento no sequestro do transatlântico

italiano. Por isso, ao ser questionado sobre um possível pedido de extradição de

Abu Abbas pelos Estados Unidos, um porta-voz do governo em Belgrado

limitou-se a dizer que este não seria atendido pela Iugoslávia. Nas palavras de

um funcionário do governo iugoslavo: “Temos boas relações com a OLP e

apoiamos a causa palestina. Podem tirar suas próprias conclusões.”101

A decisão

do governo iugoslavo pode ser interpretada como uma recusa em ceder às

pressões norte-americanas. Em 1985, o mundo ainda vivia sob a ordem bipolar

da Guerra Fria. Nesse arranjo, a Iugoslávia havia se declarado um dos países

não-alinhados.

A ida de Abbas para a Iugoslávia causou desgastes internos e externos

para o governo italiano. No plano interno, o partido Socialista, do premiê Bettino

Craxi, criou uma divergência com o partido Republicano, do ministro da Defesa,

Giovanni Spadolini. Ambos faziam parte da mesma coalizão, que contava ainda

com mais três partidos: o Liberal, o Social-democrata e o Democrata-cristão. O

partido de Spadolini, que seguia uma linha anglófila, fazia duras críticas ao

tratamento dado à OLP, que teve seu auge na liberação de Abbas para que ele

viajasse para a Iugoslávia. Spadolini renunciou ao cargo de ministro da Defesa,

fazendo com que seu partido se retirasse da coalizão, fato que acabou

ameaçando a permanência dos outros partidos no governo e até mesmo a

permanência de Craxi como primeiro-ministro. Segundo o próprio partido

Republicano, o apoio à fuga de Abbas foi “uma mostra de fraqueza na luta

contra o terrorismo internacional”.102

No plano externo, causou especialmente

indignação americana, pois permitiram que Abbas fosse para a Iugoslávia

enquanto tramitava o processo para sua extradição. Entretanto, os EUA optaram

por não estender a crise com Roma, já que foi a colaboração italiana, ao

100

O Globo, 13.10.1985. A Iugoslávia, território que hoje compreende os países da Croácia,

Bósnia-Herzegovina, Eslovênia, Macedônia, Sérvia, Montenegro e Kosovo, à época era

comunista e pertencia ao bloco dos países não-alinhados.

101Folha de São Paulo, 14.10.1985.

102The New York Times, 17 .10.1985.

37

concordar que os aviões pousassem em Sigonella, que permitiu o sucesso total

do plano de interceptação do avião egípcio. Procurando justificar a ida de Abu

Abbas para a Iugoslávia, a Itália declarou que não havia qualquer acusação

contra ele e ainda, que o próprio fora vítima do sequestro do avião egípcio103

.

Abbas era acusado por Estados Unidos e Israel de ter sido o mentor do sequestro

do Achille Lauro. A mídia americana noticiou que os EUA estariam em posse de

uma fita que comprovava o envolvimento de Abbas no sequestro do Achille

Lauro.104

Nessa gravação, os sequestradores teriam dito que esperavam por

ordens de Abbas, que se identificou como Abu Khaled, um de seus nomes de

guerra. Ele teria dito aos sequestradores para que se rendessem e se preparassem

para deixar o navio105

. Já em Belgrado, Abbas declarou que o plano dos

sequestradores era levar o navio até o porto israelense de Ashdod onde

cometeriam um ato suicida. De acordo com ele, “eles teriam decidido sequestrar

o navio quando suas armas foram descobertas pela tripulação.”106

2.10. CONFIRMAÇÃO DA MORTE DE LEON KLINGHOFFER

De acordo com algumas fontes, os sírios teriam descoberto próximo ao

porto de Tartus, um corpo que poderia ser o do americano Leon Klinghoffer107

.

O governo da Síria declarou que, caso fosse comprovado que o corpo era de fato

de Leon Klinghoffer, o entregariam aos Estados Unidos. A identificação do

cadáver foi feita em Damasco, por legistas sírios e norte-americanos, além de

estarem presentes agentes do FBI, que comprovaram ser do americano o corpo

encontrado no porto de Tartus. “Funcionários da embaixada dos Estados Unidos

em Damasco revelaram que o corpo apresenta dois ferimentos de bala na cabeça

e um terceiro nas costas, embora a causa da morte só possa ser estabelecida pela

autópsia oficial.”108

O corpo seria levado para Roma, onde uma autópsia oficial

seria feita, seguindo para os EUA, para os funerais. Após o corpo de Klinghoffer

ter sido devidamente reconhecido, tornava-se mais fácil levar os sequestradores

a julgamento pelo assassinato do judeu norte-americano. Ainda que pareça

103

Jornal do Brasil, 14.10.1985 104

The New York Times, 18.10.1985 105

Folha de São Paulo, 17.10.1985. 106

Folha de São Paulo, 14.10.1985. 107

Folha de São Paulo, 15.10.1985. 108

Folha de São Paulo, 17.10.1985.

38

estranha a colaboração do governo sírio para a elucidação da morte do

passageiro judeu, ela pode ser justificada pelo fato que a facção responsável pelo

sequestro do Achille Lauro era uma dissidência FPLP, facção apoiada por

Damasco. Os sírios, inimigos declarados de Arafat e da OLP109

, obrigaram

Arafat a transferir o quartel-general da OLP do Líbano para a Tunísia, em

decorrência da tentativa de assassinato do líder palestino no ano anterior.110

De acordo com o relato de alguns passageiros do navio e da própria viúva

de Leon, Marilyn Klinghoffer, o assassinato teria ocorrido na tarde do dia oito de

outubro, da seguinte forma: inicialmente os sequestradores separaram dezesseis

passageiros dos demais, dos quais eram onze norte-americanos, cinco mulheres

britânicas e dois judeus australianos, ordenando que subissem à sala de estar

acima do convés. Entre eles, estavam Leon Klinghoffer e a esposa.111

Segundo o

testemunho de Marilyn Klinghoffer, foi com uma arma em sua cabeça que os

sequestradores obrigaram-na a se separar do marido. De acordo com o

depoimento da vítima, os terroristas também procuraram saber quais passageiros

eram americanos e judeus. Um dos passageiros que havia se declarado judeu

teria sofrido golpes de arma na cabeça após responder à pergunta dos

sequestradores. A princípio, eles não suspeitaram que os palestinos tivessem

assassinado Klinghoffer. Tanto que perguntaram a eles pelo passageiro, que

responderam que em virtude de um mal estar, havia sido levado ao hospital do

navio. Entretanto, eles haviam ouvido tiros112

. Segundo o depoimento dado por

uma das passageiras, Viola Meskin conforme noticiou o The New York Times,

“Mas houve tiros, isso nós pudemos ouvir”113

, o que foi confirmado pela viúva

de Klinghoffer. Segundo ela, em um determinado momento da tarde, ela ouviu

dois disparos, mas não ligou os disparos a um assassinato, já que durante todo o

sequestro, os sequestradores dispararam tiros ao chão e ao alto.

O ocorrido naquela tarde foi o assassinato de Klinghoffer. Os

sequestradores atiraram em sua cabeça e suas costas, assassinando-o. Após o

matarem, jogaram seu corpo junto com sua cadeira de rodas ao mar114

. De

109

Folha de São Paulo, 29.10.1985. 110

Idem. 111

Folha de São Paulo, 12.10.1985. 112

The New York Times, 29.10.1985. 113

Idem. 114

Folha de São Paulo, 12.10.1985.

39

acordo com outra versão, divulgada pela agência Reuters, noticiada pela Folha

de São Paulo, reféns suíços disseram que os sequestradores obrigaram alguns

passageiros a jogarem o corpo e cadeira de Leon Klinghoffer ao mar115

. Quando

o sequestro chegou ao fim, no dia nove de outubro, Marilyn Klinghoffer tentou

procurar seu marido no hospital do navio, mas foi avisada que ele nunca esteve

lá. A equipe do hospital mandou que ela procurasse o capitão do navio que

esperava por ela, foi então que se deu conta da tragédia que tinha acontecido ao

seu marido.116

2.11. A CRISE NA ITÁLIA CHEGA AO FIM

Tendo sido acusado pelos governos norte-americano e israelense de ter

sido o mentor do sequestro do Achille Lauro, Abbas deixou a Iugoslávia em

direção a algum país desconhecido temendo ser preso pelos Estados Unidos. Em

uma entrevista Abbas disse “que está disposto a ir aos EUA para explicar sua

posição a respeito do sequestro, com a condição de receber garantias de que não

será preso.”117

A extradição solicitada ao governo iugoslavo foi negada. A

justificativa apresentada pelo governo iugoslavo para negá-la foi que as

evidências apresentadas pelo governo americano eram inconclusivas a respeito

da participação de Abbas no ato terrorista.118

A crise no governo de coalizão

italiano, causada pela fuga de Abbas, teve seu auge no dia dezessete de outubro

de 1985, quando Bettino Craxi renunciou ao cargo de primeiro-ministro.

No dia vinte de outubro de 1985, a crise italiana chegou ao fim. A

imprensa noticiou que o presidente italiano, Francesco Cossega, iria dar ao ex-

primeiro-ministro Bettino Craxi a indicação para formar a nova coalizão.119

Para

que isso ocorresse fora de suma importância a carta de Ronald Reagan a Bettino

Craxi, apaziguando a relação entre os dois países, que estavam estremecidas

desde a ida de Abu Abbas para a Iugoslávia.120

Inclusive Giovanni Spadolini,

responsável pela quebra da coalizão, declarou que aceitaria fazer parte da nova

115

Folha de São Paulo, 12.10.1985. 116

The New York Times, 29.10.1985. 117

Folha de São Paulo, 15.10.1985. Abbas fez a declaração em uma entrevista concedida à rede de

televisão norte-americana CBS. 118

Folha de São Paulo, 18.10.1985. 119

Folha de São Paulo, 27.10.1985. 120

Idem.

40

coalizão, desde que “(a Itália) reavalie sua estratégia contra o terrorismo

internacional (leia-se contra os extremistas palestinos) e adote uma política de

maior fidelidade à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN)”121

. A

coalizão de partidos à época do sequestro foi refeita e inclusive, conforme

noticiado pela Folha de São Paulo, o prestígio de Bettino Craxi cresceu entre a

população italiana cresceu, devido ao modo como conduziu as negociações do

caso Achille Lauro.122

2.12. OS SEQUESTRADORES SÃO LEVADOS A JULGAMENTO

Os quatro palestinos acusados de sequestrarem o Achille Lauro foram

levados a julgamento pelo sequestro do navio no dia Quatorze de Novembro de

1985.123

Além dos sequestradores do navio, um outro acusado, Kalif Mohamed

Zainab, também foi levado a julgamento devido ao porte de passaportes falsos.

O julgamento pelo assassinato de Leon Klinghoffer era esperado e ocorreu no

ano seguinte. Os cinco acusados receberam penas que variavam entre quatro e

nove anos de prisão. A pena mais longa foi dada a Issa Abbas, que foi

condenado pela introdução das armas utilizadas no sequestro na Itália, enquanto

a pena mais curta foi dada a Ahmad Al-Assad por ter cooperado com os

tribunais italianos.124

Em 1986, ano seguinte ao sequestro do Achille Lauro, o líder da OLP,

Yasser Arafat, declarou ao jornal The Washington Post, em uma entrevista que

os governos líbio e sírio estariam por trás dos ataques terroristas fora da

Cisjordânia e da Faixa de Gaza,125

dando a entender que qualquer um dos dois

(ou ambos) estivessem por trás do sequestro. De acordo com Arafat, o objetivo

desses governos seria desestabilizar a sua organização.

O julgamento dos responsáveis pelo assassinato de Leon Klinghoffer

começou em Junho de 1986. Dois advogados nomeados pelos tribunais italianos,

Gaetano Puglia e Claudio Cangelosie, fizeram a defesa dos sequestradores

121

Declaração dada pelo ex-ministro de Defesa italiano Giovanni Spadolini, Folha de São Paulo,

21.10.1985. Os grifos foram reproduzidos conforme o original. 122

Folha de São Paulo, 29.10.1985. 123

Folha de São Paulo, 14.11.1985. 124

Folha de São Paulo, 19.11.1985. 125

Folha de São Paulo, 6.01.1986.

41

palestinos.126

Sobre a morte do passageiro, o palestino acusado de ser o líder do

sequestro do Achille Lauro, Magled Al-Molqi, negou que eles e seus

companheiros tivessem matado ou sequer visto o americano, em contradição

com o depoimento dado anteriormente. Segundo Al-Molqi: “Esse passageiro

nem sequer estava a bordo, nenhum de meus companheiros chegou a vê-lo. Esse

foi um artifício imaginado pelos Estados Unidos e Israel para denegrir a causa

palestina.” 127

Quando questionado o porquê de então ele e seus companheiros

teriam assumido a autoria do assassinato de Klinghoffer, Al-Molqi respondeu

que essas informações falsas foram extraídas por meio de “injeções para

dormir”.128

Um dos companheiros do interrogado, Ahmad Al-Assad, negou a

versão tal versão. Segundo Al-Assad, fora o próprio quem matou o refém norte-

americano.129

Testemunhas do caso foram ouvidas pelo tribunal. Dentre elas estavam o

cabeleireiro italiano Ferruccio Alberti e o camareiro português Manuel de Souza.

Ambos confirmaram a morte do passageiro americano. Segundo o depoimento

dado por de Souza e confirmado por Alberti, foi ordenado a ele que levasse

Klinghoffer até o convés do navio, que desceu até onde estavam os outros

passageiros. Entretanto, o fato de estar junto aos outros passageiros não o

impediu de ouvir os disparos. Quando os sequestradores o chamaram

novamente, Klinghoffer já havia sido morto e tinha o peito ensanguentado. Os

sequestradores obrigaram de Souza e Alberti a jogar o corpo e a cadeira de rodas

de Klinghoffer ao mar e a limpar as poças de sangue no chão.130

2.13. A PUNIÇÃO DOS ASSASSINOS DE LEON KLINGHOFFER

A promotoria italiana pediu prisão perpétua para sete dos quinze réus,

entre eles Magled Al-Molqi. Aos outros oito foram pedidas prisões entre dez e

trinta anos. Três dos sequestradores, Magled Al-Molqi, Ibrahim Abdelatiff e

Ahmed Al-Assad, foram condenados entre quinze a trinta anos de prisão. O mais

jovem deles, Abdullah Ahlsan, seria julgado em um tribunal especial, conforme

126

The New York Times, 15.09.1985. 127

Folha de São Paulo, 20.06.1986. 128

Idem. 129

Folha de São Paulo, 21.06.1986. 130

Folha de São Paulo, 24.06.1986.

42

as leis italianas, por ser menor de idade à época do sequestro. Três palestinos,

Mohamed (Abu) Abbas, Ozudim Badratkam e Ziadel-Omar, foram condenados

à prisão perpétua. Os três que se encontravam foragidos, foram julgados à

revelia. O motivo dos três últimos terem pegado uma pena maior do que a dos

três primeiros é que os tribunais italianos entenderam que os três últimos foram

os verdadeiros mandantes do sequestro, sendo os primeiros apenas seus

executores e de acordo com a justiça italiana, planejar um crime é passível de

maior punição do que executá-lo. Ahmed Al-Assad sofreu ameaças por parte dos

ex-companheiros por ter cooperado com a justiça italiana.131

Após ter sido

condenado à prisão perpétua à revelia, Abu Abbas, que estava foragido,

renunciou ao seu cargo de representante do comitê executivo da OLP.132

A

atitude do dirigente palestino pode ser interpretada como uma recusa da cúpula

da OLP em ver o nome da organização, que estava envolvida em negociações de

paz com a Jordânia e Israel133

, ligado ao do mandante do sequestro do Achille

Lauro. De acordo com um informante da organização não-identificado em

entrevista ao jornal The New York Times, ao planejar o ato terrorista, Abbas

pretendia aumentar o prestígio de sua facção dentro dos quadros da OLP. O

informante acrescentou que Arafat desconhecia o plano, mas que quando

recebeu a notícia ordenou que Abbas pusesse fim ao episódio. Entretanto, a

condenação de Abbas deve-se ao fracasso da missão, nas suas palavras: “Se a

missão tivesse sido um êxito, Abbas hoje seria um herói.”134

Em março de 1991, conforme noticiado pela Folha de São Paulo, foi

capturado na Grécia um dos mentores do sequestro do Achille Lauro. A justiça

italiana encaminhou um pedido para extradição de Abdullrahim Khalled ao

governo grego.135

131

Folha de São Paulo, 3.07.1986. 132

Folha de São Paulo, 23.04.1987. 133

Folha de São Paulo, 29.10.1985. 134

O Globo, 23.10.1985. 135

Folha de São Paulo, 19.03.1991.

43

2.14. A ÚLTIMA VIAGEM DO ACHILLE LAURO

Quase uma década após o triste episódio do sequestro do Achille Lauro,

o navio pegou fogo a caminho da África do Sul no dia trinta de novembro de

1994.136

O navio afundou cerca de dois dias depois do incêndio, quando já se

encontrava a quarenta graus de inclinação.137

136

Folha de São Paulo, 1.12.1994. 137

Folha de São Paulo, 1.12.1994.

44

3. O TERRORISMO INTERNACIONAL E SEUS IMPACTOS

3.1. O CONCEITO DE TERRORISMO

A origem do termo terrorismo reside no período da Revolução Francesa

conhecido como Terror.138

A fase, que correspondeu à parte mais radical da

Revolução Francesa, tinha como principal característica a perseguição

implacável aos opositores, causando constrangimento e medo. Do mesmo modo

em que esse período da História, quando se fala hoje em terrorismo,

implicitamente reconhece-se o uso ou a ameaça de violência. Entretanto, não é

qualquer ato violento que pode ser classificado como terrorismo. Um ato

terrorista é aquele em que a violência ou a ameaça da mesma é empregada para

fins políticos.

We may therefore now attempt to define terrorism as the deliberate

creation and exploitation of fear through violence or the threat of

violence in the pursuit of political change (…) Terrorism is designed

to create power where there is none or to consolidate power where

there is very little. (HOFFMAN, 2006, p. 40-41).139

Muito além da ideia de terror, a Revolução Francesa iniciou uma nova

era na história da humanidade. Ideias inovadoras, de conteúdo universal

surgiam, como os nacionalismos, a noção de cidadania e o socialismo científico.

Tais ideologias ganhavam espaço e adeptos no continente europeu, que passaram

a ver no uso da violência uma forma de chamar atenção para suas causas

políticas. Em outras palavras, a linguagem da violência passa a ser percebida

como um meio de alcançar fins políticos. É a escolha da violência como meio

que assinala a principal característica do conceito de terrorismo tal qual ele é

entendido até os dias atuais.

138

HOFFMAN, 2006, p. 3-4. 139

“Devemos, portanto, tentar definir terrorismo como criação e exploração deliberadas do medo através

da violência ou da ameaça de violência na busca por mudança política (...) o terrorismo é elaborado para

produzir poder onde há pouco ou nenhum poder consolidado.” (tradução da autora).

45

Violence (...) was necessary not only to draw attention to, or

generate publicity for, a cause, but also to inform, educate, and

ultimately rally the masses behind the revolution. The didactic

purpose of violence (…) could never be effectively replaced by

pamphlets, wall purposes, or assemblies. (HOFFMAN, 2006, p.

5).140

É importante dizer que, ao contrário dos dias atuais, em que seu sentido

está ligado ao lado negativo, o terror jacobino era visto de maneira positiva, já

que seu propósito era o de expurgar os inimigos da revolução. Em outras

palavras, eliminá-los era garantir o progresso da revolução.

3.2. HISTÓRICO DO TERRORISMO

Talvez a primeira organização a praticar atos terroristas tenha sido um

grupo russo responsável pelo assassinato do czar Alexandre II. O objetivo do

grupo era acabar com o regime czarista na Rússia.141

Poucos meses após o

assassinato do czar, ocorreu em Londres a primeira conferência do movimento

anarquista, que dentre outras coisas, orientou que seus membros seguissem o

exemplo russo. Sendo assim, a partir da segunda metade do século XIX,

indivíduos ligados ao anarquismo foram responsáveis pelo assassinato de chefes

de Estado na Europa. (HOFFMAN, 2006). De maneira geral, vários movimentos

separatistas no final do século XIX foram influenciados pela visão de que

ganhos políticos poderiam ser obtidos através da violência. A escolha de locais,

construções e datas com relevância histórica e métodos de assassinato em massa

estão presentes nesses movimentos, assim como no terrorismo atual.

A virada do século e a profusão dos nacionalismos no continente europeu

fez com que surgissem variados grupos de tendências nacionalistas e separatistas

praticarem ações violentas para conquistar seus objetivos políticos. Muitos deles

desempenharam papeis importantes nos antecedentes da Primeira Guerra

Mundial, como os nacionalistas armênios que lutavam contra o domínio

otomano e dos revolucionários macedônios, muito embora o destaque não tenha

sido de nenhum desses dois. Foi o nacionalismo sérvio, representado pelo grupo

Young Bosnia, na tentativa de atrair visibilidade para a causa sérvia, o

140

“A violência não era necessária apenas para chamar atenção ou gerar publicidade a uma causa, mas

também para informar, educar e por fim, agrupar as massas na revolução. O objetivo didático da violência

não poderia nunca ser substituído por panfletos, cartazes ou assembleias.” (tradução da autora). 141

HOFFMAN, 2006, p. 5.

46

responsável pelo evento que desencadeou a Grande Guerra na Europa. Seguindo

o exemplo dos russos que assassinaram o czar Alexandre II, Gavrilo Princip, um

membro do Young Bosnia, assassinou o herdeiro do trono austro-húngaro, o

arqui-duque Francisco Ferdinando.

Durante a década de 1930, o uso do termo terrorismo se modificou. Ao

invés de ser utilizado para grupos revolucionários que cometiam atos violentos

para melhorar sua situação política, o termo passou a designar regimes

autoritários que abusavam do poder contra seus próprios cidadãos, como a

Rússia stalinista e a Alemanha nazista. Após a Segunda Guerra Mundial, o

termo terrorismo voltou a ser associado ao sentido revolucionário. Devido às

lutas de libertação nacional ao redor do mundo, a acepção do termo ganhou

sentido positivo da opinião pública mundial.

Countries as diverse as Israel, Kenya, Cyprus, and Algeria, for

example owe their independence at least in part to nationalist

political movements that employed terrorism against colonial

powers. It was also during this period that the “politically correct”

appellation of “freedom fighters” came into fashion as a result of

political legitimacy that the international community (…) accorded

to struggles for national liberation and self-determination. Sympathy

and support for rebels extended to segments of the colonial state’s

own population as well, creating a need for less judgmental and

more politically neutral language. (HOFFMAN, 2006, p. 16)142

Durante as décadas de 1960 e 70, o terrorismo continuou sendo visto

dentro da visão revolucionária. Entretanto, as lutas revolucionárias poderiam ser

coloniais ou neocoloniais. Grupos como a OLP, o grupo separatista do Quebec e

o grupo Pátria Basca e Liberdade (ETA) são um dos exemplos dessas minorias

nacionalistas e desafortunadas. Todos eles buscaram nas ações terroristas uma

forma de chamar atenção da opinião pública para as reivindicações políticas de

suas organizações.

No início da década de 1980, popularizou-se a visão de que os

acontecimentos terroristas eram patrocinados pelos governos comunistas para

desestabilizar o Ocidente. Na metade da mesma década, assassinatos envolvendo

142

“Países distintos como Israel, Quênia, Chipre, e Argélia, por exemplo, devem suas independências em

parte aos movimentos políticos nacionalistas que empregaram terrorismo contra o poder colonial. Foi

também neste período que a alcunha “politicamente correta” de “guerreiros da liberdade” entrou na moda

como um resultado de legitimidade política que a comunidade internacional concordou com as lutas de

libertação nacional e auto-determinação. Apoio e solidariedade aos rebeldes se expandiram de segmentos

da própria população local, formulando uma necessidade por uma linguagem menos julgadora e mais

politicamente neutra.” (tradução da autora).

47

membros da diplomacia americana e a escolha de alvos militares no Oriente

Médio chamaram atenção para o terrorismo patrocinado por Estados, como a

Líbia, o Irã, o Iraque e a Síria. (HOFFMAN, 2006). Os atos terroristas passaram

a ser vistos então como uma forma que alguns países periféricos encontraram

para desafiar o poder dos países do centro.

3.3. O TERRORISMO HOJE

No pós- Guerra Fria houve uma emergência de novas tendências

terroristas, dando um novo significado ao termo. Sua característica principal é

aliar demandas políticas a objetivos criminosos, no sentido econômico. Um

exemplo é o narco-terrorismo, como as FARCs.

Porém, a grande mudança na maneira de entender e lidar com o

fenômeno do terrorismo ocorreu após os atentados de 11 de setembro nos

Estados Unidos. Até esta data, nenhum outro atentado terrorista fez tantas

vítimas como o dos Estados Unidos. Estima-se que o número de vítimas esteja

entre três mil mortos.143

Além disso, os atentados foram cometidos contra a

maior potência mundial causando efeitos sentidos no mundo todo, como a

Guerra ao Terror iniciada pelo governo Bush como forma de responder aos

ataques. Mais que isso, o fato é que a magnitude do atentado fez com que fosse

enterrada de uma vez por todas a invulnerabilidade que algumas pessoas e

Estados pudessem sentir. Depois de 11 de Setembro de 2001, todos passaram

possíveis alvos do terror.

Com o fim da Guerra Fria, os Estados se afastaram do terror e ele

cresceu à margem e sem possibilidade de controle. O que aconteceu

em Nova York é apenas um exemplo do que nos espera ao longo dos

próximos anos do século XXI: um mundo onde somos todos

vítimas.144

143

O Globo, 30.12.2001. 144

Trecho do artigo “A terça-feira que pode durar um século” de Cristovam Buarque, Opinião, O Globo,

24.09.2001.

48

Com isso, os Estados Unidos passavam a ser tão vulneráveis como

qualquer outro país ao redor do globo. A maior potência do planeta era tão

vítima quanto a Alemanha, Itália, Jordânia, Líbano ou Israel.

O que chegou ao fim, então, foi o famoso excepcionalismo

americano, aquela atitude que permitiu aos cidadãos deste país

imaginarem a si mesmos como além dos males que afligem outros

povos, menos afortunados, deste planeta.145

Contudo, as vítimas não foram somente os norte-americanos que tiveram

seu país bombardeado por membros da Al-Qaeda. Os árabes e muçulmanos sem

qualquer ligação com esse tipo de organização também foram vítimas das

consequências de tais atos. No pós 11 de setembro, essas pessoas,

principalmente os imigrantes na Europa e nos Estados Unidos passam a sofrer

discriminação, sendo enxergadas como ameaça à segurança dos ocidentais.

Abaixo segue o depoimento de um cidadão britânico de origem paquistanesa.

Em seu testemunho, o rapaz comenta não só a dificuldade encontrada por ele

para arranjar um emprego, mas também a forçada mudança de hábitos dele e de

sua família para aplacarem a desconfiança das outras pessoas.

Se a minha vida mudou depois do dia 11 de setembro? Mudou

muito. Se estou no ônibus ou no trem, me sinto perseguido. Parece

que todos estão me olhando e dizendo: “Ele é um desses

muçulmanos loucos, um fundamentalista.” Tem sido difícil. Há duas

semanas, um amigo inglês me indicou para um serviço de

jardinagem. Quando cheguei lá e o proprietário me viu, disse que o

trabalho poderia ser prejudicado porque nós, muçulmanos, rezamos

muito. Nasci na Inglaterra, como alguém pode tratar um cidadão

britânico dessa forma? Só por causa da cor da minha pele? Antes

nunca tive problema para conseguir emprego por causa da minha

religião. Fui educado pensando que a Grã-Bretanha fosse o país das

liberdades, dos direitos humanos. O que eles querem? Que em vez

de estar na mesquita eu esteja praticando atos criminosos? Meu pai

sempre trabalhou como operário. Hoje está aposentado. Antes do

atentado, ele usava roupas semelhantes às dos talibãs. Agora nós o

convencemos a usar outras roupas. Acho que ele podia ser

confundido com algum terrorista. Minha irmã usa hijab (véu que

cobre a cabeça, o pescoço e os ombros). Desde o dia 11, ela já teve o

hijab arrancado duas vezes. Uma na rua, outra no metrô. É claro que

foi de propósito. Lá em casa todos estão com medo. Minha mãe e

minhas irmãs, que antes compareciam à mesquita cinco vezes por

dia, estão reduzindo essas saídas. Eu e minha noiva nos casaríamos

em 2002, mas não sei se conseguiremos.146

145

Trecho do artigo “Os outros 11 de Setembro” de Ariel Dorfman publicado originalmente no jornal

espanhol El país. O Globo, 20.09.2001. 146

Depoimento dado à correspondente Cassia Maria Rodrigues em Londres. O Globo, 11.11.2001.

49

3.4. O TERRORISMO NO DIREITO INTERNACIONAL

O caso do Achille Lauro atenta para a necessidade de leis internacionais

que punam atos terroristas. A inexistência de leis que deem conta de eventos

como o do Achille Lauro torna o processo de levar os responsáveis por tais atos

a julgamento e condená-los mais complexo e demorado. Caso houvesse leis

específicas para combatê-lo, alguns incidentes desagradáveis entre os Estados

envolvidos poderiam ter sido evitados. O Egito não precisaria ter ser seu avião

interceptado, por exemplo, ou os aviões da Sexta Frota americana e o avião

egípcio não precisariam ter feito um pouso forçado na base de Sigonella.

Um dos obstáculos encontrados na elaboração de leis internacionais

contra-terrorismo reside na variedade de formas políticas de governo existentes.

Assim, o que para um determinado Estado configura terrorismo, para outro pode

não configurar e vice-versa. Por exemplo, para os governos israelense e norte-

americano, o sequestro do Achille Lauro é um caso claro de ato terrorista,

enquanto para a OLP e o Egito a interceptação do avião egípcio pelos aviões da

Sexta Frota americana configurou um caso de ato terrorista.

Because states adhere to a multitude of political philosophies of

varying shades, the search for identification and definition has been

difficult and largely unsuccessful. In the face of disagreement

between states, several important questions must be answered before

a common, universally recognized, all-inclusive definition can be

arrived at. (LIPUT, 1985, p. 356).

Outra dificuldade é a distinção entre atos irrestritos de violência e

movimentos legítimos de libertação nacional.

States have acknowledged, and the Unites States has recognized,

that some forms of violence must be accepted so that oppressed

peoples can make progressive changes in their government. (LIPUT,

1985, p. 362).

Parece ser esse o caso dos terroristas que sequestraram o Achille Lauro.

Utilizando um ato de violência extrema, chamam atenção para as demandas

palestinas de liberdade e auto-determinação.

3.5. OUTROS CASOS DE TERROR PALESTINO EM 1985

50

Além do Achille Lauro, facções terroristas da OLP estiveram envolvidas

em outros ataques terroristas durante todo o ano de 1985. Este ano foi o ano em

que mais casos de atos terroristas foram registrados.

As tragédias ocorridas ontem nos aeroportos de Roma e de Viena

elevaram para 650 o total de vítimas do terrorismo este ano,

possivelmente o ano em que se registrou a maior violência

extremista de todos os tempos. E na maior parte dos casos as ações

foram preparadas e executadas por grupos de combatentes do

Oriente Médio.147

No dia 3 de abril de 1985, mais uma tentativa terrorista foi protagonizada

pelo grupo Setembro Negro. O objetivo era atingir a embaixada da Jordânia em

Roma, mas ao invés da embaixada, um apartamento localizado em um andar

abaixo foi atingido. De acordo com O Globo, o ato não deixou vítimas fatais.148

Em 24 de novembro do mesmo ano, um avião egípcio foi sequestrado em

Malta por um grupo terrorista chefiado por Abu Nidal, dissidente da OLP.149

Os

61 passageiros do Boeing e os terroristas morreram na tentativa feita de resgate

que foi feita pelo governo egípcio. O ato terrorista foi condenado pelo líder da

OLP, Yasser Arafat.150

No final do ano, em 27 de dezembro, ocorreram dois atentados

simultâneos em Roma e Viena. Ambos tinham o mesmo alvo, as instalações da

companhia aérea israelense, El Al. No incidente no aeroporto de Fiumicino,

localizado na capital italiana, foram 14 o número de mortos e 70 o de feridos,

aproximadamente. Na capital austríaca, foram 3 mortos enquanto 50 pessoas

ficaram feridas. O grupo de Abu Nidal também reivindicou os atentados.151

147

O Globo, 28.12.1985. 148

O Globo, 04.04.1985. 149

O Globo, 28.12.1985. 150

Idem. 151

Ibidem.

51

4. CONCLUSÃO

Ainda hoje a escolha do terror como arma política é vista como meio

legítimo pelos palestinos lutarem contra a ocupação israelense na Palestina.

Mesmo que aos olhos da opinião pública, principalmente ocidental, estas ações

sejam condenáveis. Para muitos militantes, o risco de serem condenados à

prisão, como no caso do Achille Lauro ou de morrerem, seja voluntariamente

quando cometem missões suicidas, ou pelas mãos de outros, como no ataque aos

atletas israelense nas Olimpíadas de Munique, ainda é um preço que vale a pena

ser pago.

Atualmente, assistimos pela televisão ou podemos acompanhar nos

jornais que os níveis de violência em Israel sofreram um aumento substancial

neste último ano. As acusações são basicamente as mesmas que no ano de 1985,

ano em que o Achille Lauro foi sequestrado. Só mudaram os personagens

principais. Na década de 1980, período em que o Achille Lauro foi sequestrado,

era Shimon Peres que responsabilizava a OLP pela resposta israelense ao

terrorismo. Hoje é Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro e líder do Likud,

partido que abriga a direita conservadora israelense que acusa o Hamas152

de

praticar atos terroristas contra a população civil israelense. “O primeiro ministro

de Israel, Benjamin Netanyahu, afirmou que o Hamas ‘ataca alvos civis e se

esconde atrás de civis. Isso é um duplo crime de guerra.’”153

Do lado oposto, os

152

O Hamas é um grupo palestino que tem suas origens no grupo islâmico Irmandade Muçulmana. Foi

fundado pelo sheik Ahmad Yasin em 1988. Atualmente, o Hamas tem o controle sobre a Faixa de Gaza e

o aumento de sua popularidade entre os palestinos deve-se ao fato de o partido oferecer serviços básicos

de saúde e educação à população palestina. PINA, 2005, p. 5.

O grupo ainda prega em seus estatutos, a destruição do Estado de Israel. Revista Época, 28.07.2014. 153

Idem.

52

palestinos alegam que Israel trata alvos civis como militares. Segundo os dados

da ONU divulgados pela Revista Época, até o dia 24 de julho deste ano, eram

825 o número de vítimas fatais. Dessas 825 pessoas, 33 eram soldados

israelenses, 119 militantes do Hamas e 578 civis palestinos, dentre os quais 96

mulheres e 116 crianças.154

No entanto, existem medidas que podem solucionar o conflito

gradualmente. Uma delas foi discutida no presente trabalho e reside na

necessidade de que leis internacionais de combate ao terrorismo sejam criadas.

Caso houvesse um conjunto de medidas e um tribunal internacional disposto a

julgar e punir crimes atos terroristas, muito mais vidas seriam poupadas na

situação descrita acima. Nesse sentido, como não há nenhum tribunal ou órgão

que possua a competência para julgar e punir os envolvidos, os Estados que se

sentem lesados, a exemplo de Israel, ficam livres para responderem aos ataques

da maneira que lhes é mais conveniente.

A outra medida é a solução dos dois Estados, que diante da situação atual

parece cada vez mais distante. Já se passaram três anos após o discurso em que

Mahmoud Abbas, atual dirigente da OLP, pediu o reconhecimento do Estado

palestino nas Nações Unidas. O pedido, vetado pelos Estados Unidos no

Conselho de Segurança, mantém o status quo de uma região historicamente

suscetível à violência, seja por meio do terrorismo praticado pelos palestinos, ou

pela resposta desproporcional do Exército israelense aos ataques sofridos.

154

Ibidem.

53

5. REFERÊNCIAS

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