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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE VETERINÁRIA HOSPITAL DE CLÍNICAS VETERINÁRIAS LABORATÓRIO DE ANÁLISES CLÍNICAS VETERINÁRIAS PARÂMETROS HEMATOLÓGICOS E CLASSIFICAÇÃO DE ANEMIA EM UMA POPULAÇÃO DE CÃES ATENDIDOS NO LACVET - UFRGS Ana Elize Ribeiro D’Avila PORTO ALEGRE 2011

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE VETERINÁRIA

HOSPITAL DE CLÍNICAS VETERINÁRIAS LABORATÓRIO DE ANÁLISES CLÍNICAS VETERINÁRIAS

PARÂMETROS HEMATOLÓGICOS E CLASSIFICAÇÃO DE ANEMIA EM UMA POPULAÇÃO DE CÃES ATENDIDOS NO LACVET - UFRGS

Ana Elize Ribeiro D’Avila

PORTO ALEGRE 2011

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE VETERINÁRIA

HOSPITAL DE CLÍNICAS VETERINÁRIAS LABORATÓRIO DE ANÁLISES CLÍNICAS VETERINÁRIAS

PARÂMETROS HEMATOLÓGICOS E CLASSIFICAÇÃO DE ANEMIA EM UMA POPULAÇÃO DE CÃES ATENDIDOS NO LACVET - UFRGS

Autor: Ana Elize Ribeiro D’Avila

Monografia apresentada como requisito para obtenção do certificado de Residência Médica em Patologia Clínica Veterinária

Orientador: Félix H. D. González

PORTO ALEGRE 2011

TÍTULO: “PARÂMETROS HEMATOLÓGICOS E CLASSIFICAÇÃO DE ANEMIA EM UMA POPULAÇÃO DE CÃES ATENDIDOS NO LACVET – UFRGS”

AUTOR: ANA ELIZE RIBEIRO D’AVILA ORIENTADOR: FÉLIX HILÁRIO DÍAZ GONZÁLEZ BANCA EXAMINADORA:

_________________________________________________________________________ Prof. Félix Hilário Díaz González (UFRGS) Orientador

_________________________________________________________________________ Profª. Luciana de Almeida Lacerda (UFRGS) Membro da Banca Examinadora

_________________________________________________________________________ Profª. Ana Cristina Pacheco de Araújo (UFRGS) Membro da Banca Examinadora

PORTO ALEGRE 2011

RESUMO

A anemia é uma anormalidade bastante comum na medicina de pequenos animais. Ela pode ser considerada uma síndrome originada por várias causas, sendo geralmente secundária a algum processo patológico. O presente estudo tem como objetivo identificar as causas de anemia mais prevalentes em cães que realizaram exames laboratoriais durante o período de junho a julho de 2010, além de classificar os tipos de anemia de acordo com a literatura, buscando correlações entre alguns parâmetros hematológicos (Volume Corpuscular Médio, Concentração Hemoglobínica Corpuscular Média e Amplitude de Distribuição dos Eritrócitos – VCM, CHCM e RDW, respectivamente – e avaliação semiquantitativa de níveis de anisocitose e policromasia), além da determinação dos níveis de reticulócitos. Amostras de sangue de 48 pacientes anêmicos (grupo anêmico) e de 90 pacientes saudáveis (grupo controle) foram coletadas para o presente estudo. Foram avaliados parâmetros hematológicos, como contagem de eritrócitos, hemoglobina, hematócrito, VCM, CHCM, RDW de ambos os grupos. Do grupo anêmico, também foi realizada contagem de reticulócitos através de três formas (contagem absoluta, contagem corrigida e Índice de Produção de Reticulócitos). Dos 48 cães anêmicos, 20 apresentavam anemia leve, 16 moderada, 8 severa e 4 muito severa. Verificou-se que houve correlação estatística positiva somente entre as variáveis contagem corrigida de reticulócitos e IPR e contagem absoluta de reticulócitos e IPR. Verificou-se relação moderada, direta e estatisticamente significativa entre o número de cruzes de policromasia e anisocitose (avaliação semiquantitativa) com o IPR. Não houve correlação estatística entre VCM e RDW. Dos 48 pacientes, 13 vieram a óbito e 5 foram eutanasiados. Com relação ao tempo de sobrevida após diagnóstico veterinário, verificou-se que 62,5 % dos cães se recuperaram das causas que levaram a anemia, 14,6% morreram em até 1 semana após diagnóstico, 16,7% em até 1 mês e 6,2 % em até 2 meses. Dos 48 pacientes anêmicos, 16,7% apresentaram anemia regenerativa, 43,7% não regenerativa e 39,6% regenerativa modificada. Anemia por deficiência de ferro e da doença crônica foram os tipos mais frequentes. Através do presente estudo, verificou-se que a contagem manual de reticulócitos foi uma boa ferramenta para o diagnóstico e classificação de anemias, desde que seja realizada de acordo com normas estabelecidas. A análise semiquantitativa de anisocitose e policromasia demonstrou apresentar correlação com o nível de reticulócitos, servindo como parâmetro para direcionar o diagnóstico do clínico, não substituindo a contagem de reticulócitos. O IPR demonstrou ser um bom índice e aplicável para a medicina veterinária, principalmente para a espécie canina. Palavras-chave: cães, anemia, reticulócitos, Red blood cell distribution width (RDW), Índice de Produção de Reticulócitos (IPR).

ABSTRACT

Anemia is a very common abnormality in small animal medicine. It can be considered a syndrome originated from several causes and is usually secondary to some patological process.The present study aims to identify the most prevalent causes of anemia in dogs who performed laboratory tests during the period of June-July 2010, and classify the types of anemia according to the literature, looking for correlations between some hematological parameters (Mean Corpuscular Volume, Mean Corpuscular Hemoglobin Concentration and Red Blood Cell Distribution Width – MCV, MCHC and RDW – and semiquantitative assessment of levels of polychromasia and anisocytosis), and determination of levels of reticulocytes. Blood samples of 48 patients with anemia (anemic group) and 90 healthy patients (control group) were collected for this study. We evaluated hematological parameters such as erythrocyte counting, hemoglobin, hematocrit, MCV, MCHC, RDW of both groups. For the anemic group, it was also performed reticulocyte count in three ways (absolute count, corrected count and Reticulocyte Production Index). Of the 48 anemic dogs, 20 had mild anemia, 16 moderate, 8 severe and very severe 4 patients. There was a positive correlation between the variables corrected reticulocyte count and RPI and absolute reticulocyte count and RPI. There was a moderate, direct and significant association between semiquantitative evaluation of polychromasia and anisocytosis with RPI. There was no statistical correlation between MCV and RDW in both groups. Of the 48 patients, 13 eventually died and five were euthanasied. About the survival time after diagnosis, 62.5% of dogs have recovered from the causes that led to anemia, 14.6% died within 1 week after diagnosis, 16.7% within 1 month and 6.2% within 2 months. Of the 48 anemic patients, 16.7% had regenerative anemia, 43.7% non-regenerative and 39.6% regenerative modified. Iron deficiency anemia and chronic disease anemia were the most frequent types. Through this study, it was found that the manual reticulocyte count is a good tool for the diagnosis and classification of anemias, if carried out according to established standards. Semiquantitative analysis of anisocytosis and polychromasia showed correlation with the level of reticulocytes, and serves as a baseline to guide the clinician's diagnosis, without replacing the reticulocyte count. The RPI has proved to be a good index for veterinary medicine, especially for the dog. Key-words: dogs, anemia, reticulocytes, Red blood cell distribution width (RDW), Reticulocyte Production Index (RPI).

LISTA DE FIGURAS

Pág. Figura 1. Representação esquemática da maturação celular da linhagem eritroide para espécie canina (Fonte: HARVEY, 2001)............................................................................. 14 Figura 2. Reticulócitos corados com novo azul de metileno em esfregaço sanguíneo (2000x) ................................................................................................................................ 17 Figura 3. Fórmulas para obtenção do volume médio celular (VCM) e concentração hemoglobínica corpuscular média (CHCM)........................................................................ 23 Figura 4. Distribuição normal de eritrócitos com mínimo “encurvamento” a direita. O RDW é derivado do histograma usando a distribuição de eritrócitos (entre as linhas verdes) a 50 % da altura do pico (linha vermelha), resultando num RDW de 15 a 16% (linhas azuis). O eixo X representa o número de células e o eixo Y, o volume celular (em fL) (Fonte: NEIGER et al., 2002)................................................................................. 26 Figura 5. Organograma da classificação de anemias por patogênese (Fonte: adaptado de RAVEL, 1997)..................................................................................................................... 30 Artigo Figura 1. Gráfico que demonstra a ausência de correlação significativa entre RDW (%) e VCM (fL) e entre RDW (%) e IPR em amostras de sangue de48 cães anêmicos atendidos no LACVet – UFRGS, 2010 .............................................................................. 43 Figura 2. Gráfico que demonstra correlação direta e estatisticamente significativa entre contagem corrigida de reticulócitos e IPR e contagem absoluta de reticulócitos e IPR em amostras de sangue de 48 cães anêmicos atendidos no LACVet – UFRGS, 2010 ............. 44

LISTA DE TABELAS

Pág. Tabela 1. Relação entre hematócrito e número de dias de desenvolvimento na medula óssea e no sangue para espécie canina (FELDMAN, 2003)............................................... 22 Tabela 2. Principais causas de aumento de VCM descritas para a espécie canina e felina (adaptado de VILLIERS & BLACKWOOD, 2010) ........................................................... 24 Tabela 3. Algumas causas de alteração em VCM e RDW .................................................. 27 Tabela 4. Avaliação semiquantitativa da morfologia eritrocitária de cão baseada no número médio de células anormais por objetiva de imersão (100x) (HARVEY, 2001) .... 29 Tabela 5. Classificação de anemias através de análise morfológica eritrocitária (adaptado de JAIN, 1993 e FIGHERA, 2001) .................................................................... 31 Tabela 6. Classificação de anemias por regeneração medular (adaptado de LOPES et al., 2007) ................................................................................................................................... 32 Artigo Pág. Tabela 1. Idade, sexo, raça e suspeita diagnóstica de 48 pacientes anêmicos atendidos no LACVet –UFRGS .......................................................................................... 40 Tabela 2. Variáveis descritas pela média e desvio padrão comparadas pelo teste t de Student para amostras independentes (P < O,O5 para ser significativo) ............................ 41 Tabela 3. Valores mínimos, máximos, média, desvio padrão e mediana (intervalo interquartil) de alguns parâmetros hematológicos de 48 pacientes anêmicos ..................... 42 Tabela 4. Coeficiente de correlação de alguns parâmetros (P < O,O5 para ser significativo) ....................................................................................................................... 43

LISTA DE ABREVIATURAS, SÍMBOLOS E UNIDADES

BFU-E Burst Forming Unity-Erythroid CFU-E Colony Forming Unity-Erythroid CHCM Concentração hemoglobínica corpuscular média EDTA-K2 Ácido etilenodiamino-tetracético dipotássico FDA Food and Drug Administration ICSH International Commitee for Standardization in Haematology IPR Índice de Produção de Reticulócitos (do inglês, RPI) LACVet Laboratório de Análises Clínicas Veterinárias NCCLS National Comittee for Clinical Laboratory Standards RDW Red cells distribution width (amplitude de distribuição dos eritrócitos) TIM Trombocitopenia imunomediada UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul VCM Volume Corpuscular Médio

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 9 2 OBJETIVOS ........................................................................................................................ 11

2.1 Objetivos gerais ............................................................................................................. 11 2.2 Objetivos específicos ...................................................................................................... 11

3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................................ 12 3.1 Eritropoiese ................................................................................................................... 12 3.2 Eritropoietina ................................................................................................................ 15 3.3 Reticulócitos................................................................................................................... 16

3.3.1 Métodos de avaliação e contagem ............................................................................. 18 3.3.2 Contagem absoluta, contagem corrigida e IPR .......................................................... 22

3.4 Índices de Wintrobe – VCM e CHCM.......................................................................... 23 3.5 RDW .............................................................................................................................. 26 3.6 Avaliação semiquantitativa de anisocitose e policromasia ........................................... 29 3.7 Anemia ........................................................................................................................... 30

3.7.1 Classificação ............................................................................................................ 31 4 RESULTADOS .................................................................................................................... 34

4.1 Artigo ............................................................................................................................. 34 4.1.1 Utilização de parâmetros hematológicos como ferramenta diagnóstica em uma população de cães anêmicos atendidos no LACVet–UFRGS .................................................................. 34

4.1.2 Resumo .................................................................................................................... 34 4.1.3 Abstract .................................................................................................................... 35 4.1.4 Introdução ................................................................................................................ 36 4.1.5 Materiais e métodos .................................................................................................. 38 4.1.6 Resultados ................................................................................................................ 39 4.1.7 Discussão ................................................................................................................. 46 4.1.8 Conclusões ............................................................................................................... 47 4.1.8 Referências ............................................................................................................... 48

5 CONCLUSÕES .................................................................................................................... 52 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................... 53

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1 INTRODUÇÃO

Segundo Fighera (2001), os distúrbios anêmicos são a principal alteração

hematológica relatada tanto em animais como em seres humanos. Na maior parte dos casos,

a anemia tem origem secundária a alguma doença sistêmica e assim normalmente não é

avaliada de maneira mais profunda. A anemia pode ser considerada uma síndrome

originada por várias causas. Por apresentar alta prevalência, principalmente em função de

anemia ferropênica em humanos, é considerada um problema mundial de saúde pública

(FAILACE, 2009).

Em um estudo retrospectivo realizado na Nigéria, verificou-se que de 5.278 cães

atendidos, cerca de 40% apresentavam anemia, com hematócrito variando de 7 a 36%

(USEH et al., 2003). Em outro estudo realizado nos Estados Unidos, de 203.939 cães

atendidos em laboratórios veterinários, 9,3% dos cães apresentavam anemia (DeNICOLA

et al., 2006).

O termo anemia indica um processo patológico que se caracteriza pela diminuição de

eritrócitos e/ou hemoglobina de um indivíduo, sendo essa diminuição acompanhada ou não

de diminuição no hematócrito. Na maior parte dos casos, os distúrbios anêmicos não são

primários, e sim secundários a outras patologias (FIGHERA, 2001).

Segundo Couto (2003), as principais manifestações clínicas de anemia são mucosas

pálidas ou ictéricas (no caso de destruição de eritrócitos), letargia, diminuição da atividade,

intolerância ao exercício. Esses sinais podem ser agudos ou crônicos e podem variar de

acordo com a severidade do quadro. Taquicardia ou aumento no batimento pré-cordial

também podem ocorrer como mudança adaptativa à anemia.

Como forma de orientação para indicar o diagnóstico e tratamento terapêutico mais

adequado, foram criadas várias classificações para anemia, das quais a baseada na

regeneração medular é a mais empregada, diferenciando em anemias regenerativas e não-

regenerativas através de contagem de reticulócitos (DeNICOLA et al., 2006).

A contagem de reticulócitos no sangue periférico é uma determinação valiosa no

laboratório de hematologia por ser um indicador sensível da atividade eritropoiética da

medula óssea, tanto no diagnóstico e acompanhamento de anemias quanto no

10

monitoramento de terapias e de transplante de medula óssea (PEREIRA et al., 2008;

LEONART, 2009; SIMIONATTO et al., 2009b).

O método tradicional de contagem de reticulócitos é o visual através de microscopia,

sendo que a avaliação de seus resultados permite que se façam escolhas adequadas em

relação aos exames laboratoriais específicos para o diagnóstico das anemias em geral.

Porém, esta técnica tem sido acusada de tediosa e de apresentar baixa acurácia e

reprodutibilidade (LEONART, 2009).

A precisão e a acurácia deste método, no entanto, podem ser asseguradas quando o

exame é realizado dentro de critérios técnicos rigorosamente estabelecidos, como os

preconizados pelo National Comittee for Clinical Laboratory Standards e International

Commitee for Standardization in Haematology (LEONART, 2009).

Embora a quantificação de reticulócitos tenha relevante importância para o

diagnóstico de doenças, ele é pouco solicitado, devido ao custo agregado em razão de

outros exames de rotina considerados preferenciais (como hemograma e exames

bioquímicos). Como alternativa, muitos veterinários se utilizam da avaliação

semiquantitativa de anisocitose e policromasia realizada no esfregaço sanguíneo para

fundamentar suas suspeitas de uma resposta regenerativa. Em se tratando de uma

estimativa, muitos autores a consideram subjetiva e pouco precisa. Dessa forma, revela-se a

importância de realizar a comparação entre contagem de reticulócitos e essa avaliação no

presente estudo.

Além da contagem de reticulócitos, outros parâmetros hematológicos são

fundamentais para avaliação do eritrograma, dentre eles estão o hematócrito, a

hemoglobina, o Volume Corpuscular Médio (VCM), a Concentração Hemoglobínica

Corpuscular Média (CHCM), e o RDW (do inglês, Red Cell Distribution Width, ou

amplitude de distribuição dos eritrócitos).

Nesse trabalho, foi realizada uma análise crítica com vista a enfatizar a importância

da realização da contagem de reticulócitos para a classificação dos tipos de anemia, assim

como da correta interpretação do restante dos parâmetros hematológicos fornecidos pelo

hemograma. Ademais, avaliam-se várias hipóteses de correlação entre os parâmetros acima

citados, principalmente entre RDW, um índice considerado novo e pouco conhecido ainda

nos laboratórios veterinários nacionais.

11

2 OBJETIVOS

2.1 Objetivos gerais

Identificar as causas de anemia mais prevalentes em cães que realizaram exames

laboratoriais no Laboratório de Análises Clínicas Veterinárias da UFRGS, através da

classificação proposta pela literatura.

Avaliar a importância da contagem de reticulócitos para determinar níveis de

regeneração da anemia.

2.2 Objetivos específicos

Estudar alguns parâmetros hematológicos (VCM, CHCM, RDW e avaliação de níveis

de anisocitose e policromasia), além da determinação dos níveis de reticulócitos através da

contagem absoluta, contagem corrigida e IPR em cães anêmicos.

12

3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1 Eritropoiese

Os eritrócitos são células que desempenham um importante papel no transporte de

oxigênio e de dióxido de carbono pelos tecidos através de ligação com a hemoglobina,

realizando trocas gasosas e tamponamento dos íons de hidrogênio (H+). Também está

envolvido em algumas vias metabólicas. No cão, medem cerca de 6,7 a 7,0 µm de diâmetro

e são uniformemente arredondados e bicôncavos, com uma área de depressão central pálida

(REBAR, 2000).

A produção de células sanguíneas (hematopoiese) decorre do constante turnover das

células do sistema hematopoiético, cuja principal função é a manutenção das frequentes

oscilações dos elementos celulares do sangue, mantendo as populações de leucócitos,

plaquetas e eritrócitos em quantidades suficientes para o seu adequado desempenho, frente

a estímulos fisiológicos ou patológicos. Em resposta a diversas situações, como hipóxia,

hemorragia ou processos infecciosos, pode ocorrer um aumento significativo na produção e

liberação de determinados tipos celulares (WINTROBE, 1998).

Segundo Day et al. (2000), a eritropoiese envolve a presença de um microambiente

propício, citocinas e as células-tronco propriamente ditas na medula óssea. São necessários

alguns nutrientes, como ferro e aminoácidos, e adequado suprimento de oxigênio para

fornecer um microambiente ideal para o crescimento e diferenciação das células-tronco. A

interleucina-3 e eritropoietina são algumas das citocinas que agem em receptores de

superfície dos progenitores hematopoiéticos eritroides (BFU-E e CFU-E, Burst Forming

Unity-erythroyd e Colony Forming Unity-erythroyd, respectivamente).

Além disso, o microambiente é formado por uma rede microfibrilar complexa,

fibroblastos, macrófagos, células endoteliais, células gordurosas e células intersticiais, que

promovem sustentação das células hematopoiéticas e a produção de substâncias

importantes, que podem estimular ou bloquear a formação celular, gerando homeostase

(SILVEIRA, 2000).

13

A eritropoietina, basicamente, tem como efeitos promover o aumento na quantidade

de células-tronco eritroides, elevar a sobrevivência dessas e da sua progênie, estimular a

liberação de hemácias maduras, consequentemente, aumenta o número de eritrócitos

produzidos pela medula óssea. O efeito da eritropoietina é modulado e estimulado por

outros hormônios, como andrógenos, tiroxina, hormônio do crescimento, corticosteróides e

prostaglandinas E1 e E2 (DAY et al., 2000).

Algumas substâncias agem inibindo a eritropoiese, como a interleucina-1, fator de

necrose tumoral (TFN), estrógenos e prostaglandina F2α, por exemplo. Acredita-se que isso

ocorra através da regulação da expressão de receptores de superfície nas células

progenitoras (DAY et al., 2000).

Todas as linhagens hematopoiéticas se originam de uma célula mãe, denominada

célula-tronco ou célula progenitora totipotencial, que dá origem a outros progenitores

celulares, multi ou pluripotenciais, que, por sua vez, induzem ao aparecimento das diversas

linhagens hematopoiéticas (WINTROBE, 1998). Segundo Jain (1993), as células primitivas

pluripotentes (PPSC) na medula óssea se diferenciam e dão origem às células unipotentes,

que podem se diferenciar em células das séries eritrocítica, granulocítica, monocítica ou

megacariocítica.

Os demais órgãos que faziam eritropoiese na vida pré-natal, como baço, fígado e

linfonodos, deixam de fazê-la após o nascimento. Contudo, ainda apresentam essa

capacidade pelo resto da vida adulta, podendo voltar a exercer a hematopoiese em situações

de necessidade, o que é chamado de hematopoiese extra-medular (JAIN, 1993; GARCIA-

NAVARRO, 2005).

No animal saudável, existe uma porcentagem de eritrócitos que morrem no interior da

medula, sem chegar à circulação, fenômeno chamado de eritropoiese ineficaz. Este pode

chegar a uma taxa normal de aproximadamente 10% na maioria das espécies (GARCIA-

NAVARRO, 2005).

Para a produção de eritrócitos, o organismo necessita de uma série de nutrientes,

como: aminoácidos, proteínas e vitaminas (as mais importantes são a riboflavina ou

vitamina B2, a piridoxina ou vitamina B6, a niacina, o ácido fólico, a tiamina e a vitamina

B12). Esta última é necessária para a divisão celular nas fases nucleadas da célula. Além

disso, são necessários lipídeos, que fazem parte da composição da membrana do eritrócito e

14

desempenham papel de regulação da resistência osmótica da célula, como é o caso do

colesterol. Minerais também são importantes, entre os quais o ferro, que é o principal

componente do grupo heme; o cobalto, necessário à síntese da vitamina B12; o cobre, que

atua como agente catalisador da eritropoiese e como cofator da enzima ALA-desidrase,

utilizada na síntese do heme; e o selênio (KERR, 2003).

A eritropoiese começa com a diferenciação da célula tronco pluripotencial (PPSC)

para BFU-E, que dá origem a uma última célula progenitora, a CFU-E. CFU-E dá origem

aos precursores eritroides (JAIN, 1003).

A formação de progenitores eritroides é regulada pela interleucina-3 e fator

estimulante de colônia – monócito-granulócito (GM-CSF). BFU-E é também estimulada

por substâncias liberadas por várias células, como macrófagos e linfócitos T, enquanto que

CFU-E e sua progênie são sensíveis a eritropoietina (JAIN, 1993).

A produção e a maturação dos eritrócitos pode ser dividida em seis etapas sucessivas

a partir da CFU-Ee, cada uma delas constituindo um tipo celular: rubroblasto (pró-

eritroblasto), pró-rubrícito (eritroblasto), rubrícito (normoblasto ortocromático),

metarrubrícito (normoblasto metacromático), reticulócito (eritrócito policromático) e

eritrócito maduro (GARCIA-NAVARRO, 2005). A Figura 1 mostra uma representação da

eritropoiese.

Durante o processo de proliferação e maturação, as células eritroides progenitoras

sofrem 4 a 5 mitoses, produzindo 16 a 32 células filhas. Em cada etapa de maturação,

ocorrem transformações, com diminuição do tamanho, condensação de núcleo e mudança

na tonalidade do citoplasma, que muda de azul-escuro para vermelho-alaranjado

(GRINDEM et al., 2009).

Figura 1. Representação esquemática da maturação celular da linhagem eritroide para espécie canina (Fonte: HARVEY, 2001)

15

3.2 Eritropoietina

O estímulo fundamental para eritropoiese é tensão tecidual de oxigênio (PO2). A

hipóxia tecidual desencadeia a produção de eritropoietina, um fator humoral ligado

especificamente a produção de eritrócitos. A eritropoietina é produzida pelos rins (pelas

células intersticiais, glomerulares e endoteliais corticais) e por uma pequena fração no

fígado (pelas células de Kupffer, hepatócitos e células endoteliais). Acredita-se que o rim

seja a única fonte de eritropoietina no cão e o fígado é o órgão de predominância no feto

(JAIN, 1993; LOPES et al., 2007).

A eritropoietina é gerada pela ativação do eritropoietinogênio, uma α2-globulina

produzida pelo fígado, pelo fator eritropoiético renal ou eritrogenina, ou pela ativação de

proeritropoietina produzida pelo rim por um fator plasmático.

Ela pode ser encontrada no plasma, urina, leite e outros fluídos biológicos, incluindo

líquido amniótico. É uma glicoproteína com peso molecular de cerca de 38 kD com um

tempo de meia-vida de cerca de 7-10 horas no cão. Em função de ser uma molécula grande,

não pode atravessar a barreira placentária (JAIN, 1993; LOPES et al., 2007).

Aumentos nas concentrações renais de prostaglandina E (PGE), prostaciclina I (PGI),

e AMP cíclico são associados com aumento na produção de eritropoietina (JAIN, 1993;

LOPES et al., 2007).

Um gene humano para eritropoietina foi clonado, e eritropoietina recombinante está

disponível comercialmente para o tratamento de anemias responsivas a eritropoietina.

Eritropoietinas de espécies diferentes mostram fraca reatividade cruzada antigênica, mas

têm similar atividade biológica. Eritropoietina estimula eritropoiese em vários focos por

induzir a diferenciação de células progenitoras eritroides a rubriblastos, estimular a mitose

de células eritroides e reduzir tempo de maturação, e aumentar a liberação de reticulócitos e

células jovens para o sangue periférico. Ela age através de receptores de eritropoietina

presentes na superfície de várias células responsivas (JAIN, 1993; LOPES et al., 2007).

A concentração de eritropoietina está aumentada durante perda de sangue e anemia

hemolítica, mas está diminuída em anemias associadas com doenças renais terminais.

Eritropoiese se encontra mais acelerada em casos de anemias hemolíticas que em anemias

por perda de sangue, mas a causa precisa dessa diferença é desconhecida. A concentração

16

de eritropoietina se encontra elevada em casos de policitemia secundária; policitemia

primária é eritropoietina-independente.

Vários órgãos endócrinos têm demonstrado influência na eritropoiese, através de

atuação na síntese de eritropoietina. Promovem influência positiva sobre ela os metabólitos:

prolactina, TSH, ACTH, hormônio do crescimento, cortisol , tiroxina e andrógenos. A

única influência negativa é ocasionada pelos estrógenos (JAIN, 1993; LOPES et al., 2007).

Pechereau et al. (1997) verificaram que a dosagem de eritropoietina é mais útil no

diagnóstico de anemia em gatos do que na espécie canina. Já Cook & Lothrop (1994),

comprovaram aumento nos níveis séricos de eritropoietina em cães anêmicos. No entanto,

em função da grande faixa de limites de referência em cães saudáveis e da sobreposição de

valores entre pacientes anêmicos e pacientes saudáveis, consideram que pode limitar o seu

uso no diagnóstico de anemia (com ou sem envolvimento de falha renal) e policitemia. Em

gatos, foi possível verificar uma diferença nos níveis de eritropoietina entre pacientes

anêmicos com ou sem insuficiência renal crônica.

Os primeiros relatos de desenvolvimento de eritropoietina recombinante humana

surgiram em meados de 1990, com a aprovação de uso pelo FDA (Food and Drug

Administration). Dessa forma, se busca elevar ou manter o nível de eritrócitos e diminuir a

necessidade de transfusões, além de promover qualidade de vida e prevenir problemas

cardíacos, como hipertrofia ventricular esquerda. Relatam o uso em pacientes anêmicos

com ou sem comprometimento renal (com envolvimento de neoplasia ou em doenças auto-

imunes, por exemplo), pacientes com câncer recebendo tratamento quimioterápico ou em

casos de cirurgia (JELKMANN, 2007; JELKMANN, 2010).

3.3 Reticulócitos

Reticulócitos são eritrócitos imaturos que contém ribossomos, polirribossomos e

mitocôndria, o que possibilita a síntese de cerca de 20% do conteúdo de hemoglobina da

célula. Em seu interior, podem ser encontrados raramente remanescentes de outras

organelas citoplasmáticas, como centríolos e complexo de Golgi. Os ribossomos e

polirribossomos contribuem para sua policromasia, como é observado em esfregaços de

sangue (BAUER, 1970).

17

Os reticulócitos são capazes de sintetizar hemoglobina e outras proteínas, como

enzimas metabólicas, podendo liberar energia por via aeróbica nas mitocôndrias através da

degradação do piruvato a gás carbônico (CO2) e água (H2O) no ciclo de Krebs

(SIMIONATTO, 2009a).

É necessário o uso de corantes supra-vitais, como novo azul de metileno ou azul de

cresil brilhante para diferenciação entre reticulócitos e eritrócitos maduros, com a

finalidade de mostrar detalhes que são difíceis de verificar pelo uso de fixadores e corantes

convencionais. Eles promovem a precipitação dos ribossomos residuais (Figura 2). Esses

corantes também permitem a identificação de corpúsculos de Heinz, corpúsculos de

Howell-Jolly, dentre outros achados hematológicos (BAUER, 1970) Os corantes de

Romanowsky, amplamente empregados na rotina laboratorial para a coloração de

esfregaços sanguíneos, evidenciam os reticulócitos apenas através de um nível leve de

basofilia, não possibilitando a sua quantificação de forma precisa (SIMIONATTO, 2009a).

Figura 2. Reticulócitos corados com novo azul de metileno em esfregaço sanguíneo (2000x).

Os reticulócitos podem ficar na medula óssea por 2 a 3 dias antes de entrar no sangue

por diápedese através das células endoteliais que revestem os sinusóides da medula. A sua

liberação para circulação é controlada por um número de fatores agindo em equilíbrio,

incluindo concentração de eritropoietina, sua deformabilidade celular e carga elétrica de

superfície. Em cães, são liberados pela medula óssea em cerca de 14 dias de maneira cíclica

(SIMIONATTO, 2009a; RIZZI et al., 2010).

18

Reticulócitos maturam a eritrócitos em 24 a 48 horas na circulação ou no baço, onde

eles podem ser sequestrados temporariamente. O processo de maturação envolve algumas

alterações importantes, como perda de parte da superfície de membrana, receptores de

transferrina e fibronectina, ribossomos e outras organelas; obtenção de conteúdo normal de

hemoglobina; montagem final do esqueleto de submembrana; redução no tamanho celular e

mudança no formato (para uma forma bicôncava), o que otimiza a transferência de gases

(SIMIONATTO, 2009a).

Reticulócitos podem apresentar ainda corpúsculos de Howell-Jolly, que são restos

nucleares remanescentes de extrusão incompleta do núcleo do metarrubrícito. Esses

corpúsculos são normalmente removidos após passagem pelo baço, exceto em algumas

situações (esplenectomia, função esplênica comprometida). Em casos de intoxicação por

chumbo, ribossomos podem se agregar e aparecer como grânulos basofílicos em

reticulócitos e células jovens. A enzima pirimidina 5’-nucleotidase, presente nos

reticulócitos e que normalmente cataboliza ribossomos e polirribossomos, tem sua

atividade reduzida em casos de intoxicação por chumbo. Essa característica celular é

chamada de pontilhado basofílico. Também podem ser encontradas células com pontilhado

basofílico durante uma resposta intensa a anemia em cães e gatos, sendo uma característica

espécie-específica de reticulócitos de ruminantes (JAIN, 1993).

Com relação à conservação das amostras para contagem, sabe-se que os reticulócitos

são viáveis por 48 h a temperatura ambiente e cerca de 4 dias a 4ºC. No cão adulto, são

encontrados menos de 1% de reticulócitos, sendo que no filhote o nível permanece em

torno de 7% (JAIN, 1993).

3.3.1 Métodos de avaliação e contagem

A contagem dos reticulócitos é muito utilizada na rotina laboratorial para avaliar a

atividade eritropoiética da medula óssea, desempenhando um papel importante para o

diagnóstico, prognóstico e terapia de anemias. A presença de reticulocitose é um indício de

resposta medular satisfatória frente a processos hemolíticos ou hemorrágicos ou devido a

terapias específicas aplicadas (suplementação com ferro ou vitaminas, exemplificando), já a

presença de reticulocitopenia pode significar pouca atividade eritropoiética, que pode ser

19

temporária (ainda não houve tempo suficiente da medula óssea responder a estímulo,

liberando mais reticulócitos para a circulação) ou permanente (SIMIONATTO, 2009a).

A utilização de contagem é relatada em casos de monitoramento terapêutico de

pacientes anêmicos e de regeneração medular depois de tratamento mielossupressivo (como

em casos de quimioterapia). Também em casos de transplante de medula óssea e no

acompanhamento de terapia com eritropoietina (ZUPAN-PRELOZNIK et al., 2000).

A contagem manual de reticulócitos ainda hoje é o método padrão de enumeração.

No entanto, durante as duas últimas décadas, foram desenvolvidos equipamentos

veterinários modernos (com base em citometria de fluxo) que realizam a contagem

automática de reticulócitos utilizando corantes fluorescentes de ácidos nucléicos (na grande

maioria dos contadores), contando um número maior de células e fornecendo uma

variedade de parâmetros relacionados com reticulócitos, como volume, concentração de

hemoglobina e maturidade celular (ZANDECKI et al., 2007).

No entanto, a metodologia manual é muito utilizada em laboratórios de pequeno e

médio porte, devido ao baixo custo em relação ao método automatizado. Verifica-se que,

mesmo laboratórios de médio porte que contam com aparelhos automáticos para a

contagem de reticulócitos, nem sempre os utilizam, devido ao alto custo dos reagentes

específicos. As contagens de reticulócitos feitas em contadores eletrônicos, que empregam

a metodologia de citometria de fluxo, são mais rápidas e precisas, devido ao maior número

de células contadas e da redução das fontes de erros (SIMIONATTO, 2009a).

Assim como em todos os procedimentos e técnicas utilizadas em laboratórios,

procura-se buscar uma padronização para estabelecer controle interno de qualidade. O

National Committee for Clinical Laboratory Standards (NCCLS) e o International

Committee for Standards in Haematology (ICSH) estabeleceram protocolos de normas

técnicas para realização da contagem de reticulócitos através de metodologia manual e

automatizada (LEONART, 2009).

Embora menos precisa, a contagem manual ainda serve para indicar alterações no

número de reticulócitos e é uma boa ferramenta para diagnóstico de patologias associadas

com reticulocitose ou não (SIMIONATTO et al., 2009b).

Alguns fatores que levam a erro por esse método são o baixo número de células

contadas, distribuição aleatória de reticulócitos na área de contagem, podendo se concentrar

20

mais de um lado da lâmina do que de outro, artefatos de coloração, variação na coloração

devido ao tempo de maturação dos reticulócitos ou por problemas nos corantes,

dificuldades de discriminação visual de reticulócitos mais maduros (apresentam pouco

RNA residual), tempo exaustivo para contar número significativo de células são alguns

fatores determinantes que podem gerar alta variabilidade intra e inter-observador

(PEREIRA et al., 2008; SIMIONATTI, 2009; TVEDTEN & MORITZ, 2010). Alguns

estudos comprovam grande coeficiente de variação entre análises, cerca de 15 a 20% para

amostras com alto nível de reticulócitos e pesquisas que apontam variação de até 40% para

amostras com níveis de reticulócitos dentro dos valores de referência (ZUPAN-

PRELOZNIK et al., 2000; FERNÁNDEZ et al., 2007). Em outros estudos, verificaram que

os maiores erros de reprodutibilidade de contagem ocorriam em amostras com nível baixo

de reticulócitos, com coeficiente de variação obtido acima de 49% (ZUPAN-PRELOZNIK

et al., 2000).

Outras causas de erros da contagem manual que devem ser consideradas são: os

critérios morfológicos para o reconhecimento do reticulócito, inclusive a sua diferenciação

com o eritrócito maduro e com pontilhados basofílicos, corpúsculos de Howell-Jolly e de

Heinz; o preparo da lâmina para as contagens; a padronização da área de contagem; o

emprego de corantes de Romanowsky como contra-corantes; a preparação da suspensão da

amostra e do corante; a diferença de gradiente de densidade entre reticulócitos e eritrócitos

durante a incubação; a inibição da coloração em hiperglicemia (SIMIONATTO, 2009a).

O desenvolvimento de aparelhos que utilizam como metodologia a citometria de

fluxo possibilitou um novo método para enumeração de reticulócitos. Para tanto, utilizam

corantes fluorescentes ou fluorocromos, como laranja de tiazole e laranja de auramina, que

coram RNA. Através dos citômetros, é possível obter contagens com coeficiente de

variação menor que 12% para diferentes aparelhos. Contudo, não são corantes específicos

para RNA, podendo corar DNA também, o que pode gerar algumas interferências, como

contagem de células com corpúsculos de Howell-Jolly e Heinz, além de inclusões de

Babesia spp. e Plasmodium spp. Também acredita-se que plaquetas gigantes e um grande

número de leucócitos ou leucócitos anormais (como em casos de leucemia) poderia causar

confusão na contagem de reticulócitos, em função dos fluorocromos também corarem RNA

dessas células, além de poder se combinar com DNA de células nucleadas. Nesses casos,

21

recomenda-se a conferência através de método tradicional de contagem (ZUPAN-

PRELOZNIK et al., 2000; ZANDECKI et al., 2007).

Em função de verificar que todo e qualquer método apresenta vantagens e

desvantagens, é imprescindível a aplicação de normas para controle interno de qualidade e

técnicas para assegurar confiabilidade na contagem de reticulócitos. Uma metodologia de

referência utilizada é o protocolo H44-A criado pelo National Committee for Clinical

Laboratory Standards – NCCLS. Existe ainda a aplicação de amostras controle,

industrializadas e compostas por eritrócitos humanos e/ou eritrócitos de outros mamíferos

apresentando níveis baixos, normais e altos de reticulócitos, para comprovar o correto

treinamento de contagem manual (e automática) de laboratoristas.

Simionatto et al. (2009b), através de um estudo com 341 amostras de sangue humano

que comparava as duas metodologias (manual e automatizada), demonstraram que a

diferença entre ambas é muito pequena, com cerca de 0 a 4% de erro sistemático e 3 a 9%

de erro randômico, sugerindo que a contagem manual, se houver cuidado adequado e boa

condução, pode refletir com precisão a contagem real de reticulócitos. Em um estudo

realizado por Zupan-Preloznik et al. (2000), verificaram que, embora exista grande

variabilidade nos resultados entre comparação de dois citômetros de fluxo e contagem

manual, houve boa correlação entre os métodos testados.

A identificação dos reticulócitos, tanto através da metodologia manual, quanto da

automatizada, deve ser feita de acordo com a padronização do College of American

Pathologists (CAP) que define o reticulócito como “qualquer célula vermelha sem núcleo

que após fixada por corante supra-vital, contenha um mínimo de duas partículas de material

corado, correspondendo à precipitação de ácidos nucléicos” (NASCIMENTO, 2004;

TVEDTEN & MORITZ, 2010).

Em um estudo realizado comparando a contagem manual de dez laboratórios em duas

cidades diferentes, observou-se que obtiveram contagens variadas de reticulócitos, com

coeficiente de variação de 4 a 60% entre observadores. Mesmo havendo a comprovação de

imprecisão, verificou-se que o perfil entre eles era parecido, e o coeficiente de correlação

intraclasse indicou que os resultados obtidos eram clinicamente úteis (SIMIONATTO et al.,

2009b).

22

A metodologia automatizada tem demonstrado ser simples, segura e sensível para

quantificação de reticulócitos. No entanto, o custo do aparelho e de manutenção dos

reagentes ainda é um fator limitante. Além disso, o estabelecimento de valores de

referência para as diferentes espécies e a necessidade de uso de controles são fatores que

não devem ser omitidos para a fixação dessa nova técnica (PEREIRA et al., 2008;

LEONART, 2009).

3.3.2 Contagem absoluta, contagem corrigida e IPR

A regeneração na medula óssea em espécies que demonstram respostas consistentes

de reticulocitose frente a estímulos (como cães, gatos e ratos) é avaliada pela contagem de

reticulócitos (TVEDTEN, 2010). Para melhor avaliação do nível de reticulócitos, foram

criadas fórmulas de correção que apontam a resposta fisiológica ou fisiopatológica do

animal baseada em fatores humorais.

A quantificação de reticulócitos por microscopia óptica é realizada através da

contagem de 1000 células (entre eritrócitos e reticulócitos) em vários campos de um

esfregaço preparado com corantes supra-vitais, obtendo-se um valor em porcentagem. A

partir desse dado, são realizadas conversões matemáticas, que têm como objetivo adequar a

uma melhor resposta do animal, levando em conta o seu estado (se saudável ou anêmico),

evitando erros de interpretação de resultados. Pode-se dizer que essas conversões são a

contagem absoluta e corrigida de reticulócitos e o IPR.

A contagem absoluta de reticulócitos envolve a porcentagem de reticulócitos

multiplicada pelo número de eritrócitos do paciente e, por muitos autores, é considerada

como parâmetro preferido para interpretação (COWGILL et al., 2003; TVEDTEN, 2010).

Sugere-se que a força de aumento na contagem absoluta de reticulócitos por unidade de

volume de sangue pode transparecer melhor o quão efetiva é a eritropoiese em um paciente

(TVEDTEN, 2010). Valores acima de 60.000 células/µL seriam sugestivos de resposta

regenerativa para a espécie canina (LASSEN & WEISER, 2007)

A porcentagem de reticulócitos corrigida e o Índice de Produção de Reticulócitos

(IPR) são outros métodos para interpretação de resposta medular. A contagem corrigida de

reticulócitos é um valor que leva em conta o grau de severidade de anemia e número de

23

eritrócitos maduros remanescentes. Ela é realizada através da porcentagem de reticulócitos

encontrada multiplicada pelo resultado da razão entre o hematócrito do paciente e o

hematócrito médio da espécie (para cães, o valor estabelecido é 45%) (LOPES et al., 2006).

Com relação ao IPR, o seu cálculo envolve uma estimativa do tempo de efeito da

eritropoietina sobre a medula óssea até liberação de reticulócitos, bem como a duração do

tempo de maturação dos reticulócitos, que está correlacionada com o grau de anemia. A

Tabela 1 mostra a estimativa (em dias) do período de maturação dos reticulócitos de acordo

com o hematócrito do paciente (FELDMAN, 2003; LASSEN & WEISER, 2007).

Tabela 1. Relação entre hematócrito e número de dias de desenvolvimento na medula óssea e no sangue

para espécie canina (FELDMAN, 2003).

Hematócrito (%)

Desenvolvimento na medula óssea (em dias)

Desenvolvimento no sangue periférico (em dias)

45 3,5 0,5 35 3,0 1,5 25 2,5 2,0 15 1,5 2,5

Dessa forma, para corrigir o efeito da eritropoietina na liberação de reticulócitos,

sabendo que é inversamente correlacionada com o número de eritrócitos/hematócrito do

paciente (quanto menor o hematócrito, maior as concentrações de eritropoietina), após a

obtenção da contagem corrigida de reticulócitos, divide-se pelo número de dias que o

reticulócito permanecerá no sangue. Um cão que apresenta 10% de hematócrito apresentará

ao final do cálculo o fator de correção 2,5, como exemplo (DAY et al., 2000).

Através do IPR, é possível classificar os vários tipos de anemia. A maioria dos

autores considera um IPR maior que 2,0, sugestivo de anemia regenerativa (DAY et al.,

2000; FELDMAN, 2003).

3.4 Índices de Wintrobe – VCM e CHCM

Um grande número de doenças causa alteração no tamanho e na concentração de

hemoglobina dos eritrócitos, e a mensuração desses parâmetros têm sido bastante utilizada

para estabelecer diagnóstico e no monitoramento de terapias. Volume médio celular (VCM)

24

e concentração hemoglobínica corpuscular média (CHCM) são os índices eritrocitários

comumente usados para caracterizar o estado geral das hemácias. Desde sua introdução por

Maxwell Myer Wintrobe em meados de 1930, eles têm formado a base de classificação

para a maioria dos tipos de anemia. Em 1935, Wintrobe realizou estudos com cães, coelhos

e ratos, determinando valores de referência desses índices para essas espécies. A Figura 3

mostra as fórmulas para cálculo do VCM e CHCM.

VCM (fL) = Hematócrito (%) x 10 .

Eritrócitos (milhões/µL)

CHCM (%) = Hemoglobina (g/dL) x 100 . Hematócrito (%)

Figura 3. Fórmulas para obtenção do volume médio celular (VCM) e concentração hemoglobínica corpuscular média (CHCM).

Conceitualmente, o VCM baseia-se no fato de que, se o tamanho médio dos

eritrócitos está aumentado, isso significa que o mesmo número de eritrócitos apresentará

aumento na massa celular e determinará aumento no hematócrito, mesmo que leve. Essa

relação também ocorrerá em casos de eritrócitos com tamanho/volume menor que os

valores de referência estabelecidos para a espécie (RAVEL, 1997).

As principais causas que levam a aumento de VCM em animais estão descritas na

Tabela 2.

Tabela 2. Principais causas de aumento de VCM descritas para a espécie canina e felina

(adaptado de VILLIERS & BLACKWOOD, 2010)

Aumento na quantidade de reticulócitos circulantes Deficiência de vitaminas (ácido fólico ou vitamina B12) Doenças mieloproliferativas Infecção pelo vírus da Leucemia Viral Felina Macrocitose familiar da raça Poodle (Toy e Miniatura) Autoaglutinação (artefato) Estomatocitose hereditária das raças Schnauzer Miniatura e Malamute do Alaska

Com relação aos fatores que levam à diminuição de VCM, pode-se citar deficiência

crônica de ferro, anemia da doença crônica, doenças hepáticas (como em casos de shunt

25

portossistêmico) e a microcitose comum em raças como Akita e Shiba Inu. Em α ou β-

thalassemia também ocorre diminuição desse parâmetro, sendo patologias mais comumente

descritas para a espécie humana (RAVEL, 1997; FIGHERA, 2001, VILLIERS &

BLACKWOOD, 2010).

Sabe-se que reticulocitose acentuada, com aproximadamente 50% de reticulócitos

circulantes, gera aumento significativo no VCM. Contudo, a presença de células

macrocíticas e microcíticas pode resultar em VCM normal (WALLACH, 2009).

CHCM é um parâmetro que estima a concentração média de hemoglobina pelo

número de eritrócitos do paciente. As principais causas relatadas de aumento de CHCM são

em casos de esferocitose, hemólise intra-vascular ou in vitro, altos títulos de aglutininas

frias, lipemia e presença de quantidade significativa de células com corpúsculos de Heinz.

Anemia da doença crônica, anemia envolvendo deficiência de ferro e anemias regenerativas

podem promover diminuição do CHCM (JAIN, 1993; RAVEL, 1997; VILLIERS &

BLACKWOOD, 2010).

O VCM é um importante índice na medida em que sua determinação orienta o

diagnóstico das anemias, classificando-as em microcíticas, normocíticas e macrocíticas.

Sendo determinado através de cálculos ou por contadores hematológicos, o VCM

representa a média de todas as células medidas. Contudo, para revelar heterogeneidade nas

populações de eritrócitos, exige uma quantidade muito grande de um padrão celular, em

função de, em muitos casos, existirem várias populações co-existindo na mesma amostra

(células microcíticas, macrocíticas e normocíticas).

Sendo determinado através de cálculos ou por contadores hematológicos, o VCM

representa a média de todas as células medidas (BESSMAN & JOHNSON, 1975).

Dessa forma, vários autores têm sugerido que o valor do VCM seja utilizado em

conjunto com o do RDW. Nessa composição, o VCM indicaria a média do tamanho dos

eritrócitos e o RDW nortearia a interpretação da população eritroide, relacionada à

heterogeneidade ou não da distribuição morfológica da massa eritroide (NEIGER et al.,

2002; FLAIBAN & BALARIN, 2004; BARBOSA et al, 2006).

26

3.5 RDW

Em função do desenvolvimento de contadores hematológicos mais modernos, tornou-

se possível separar eritrócitos de tamanhos diferentes e agrupá-los de acordo com seu

tamanho, calculando o VCM e produzindo um histograma dessas populações. São

avaliados cerca de 20 mil eventos em contagens sucessivas, aumentando a acurácia do

método.

Em um paciente com volume homogêneo de eritrócitos, haverá um único pico no

histograma. No entanto, algumas situações patológicas podem levar a alterações no VCM,

que se refletirão em mais picos ou deslocamento do histograma para a esquerda

(populações celulares microcíticas) ou para a direita (populações macrocíticas). Na maioria

dos casos, a população eritrocitária anormal coexistirá com a normal (RAVEL, 1997).

Dessa forma, RDW é um índice de anisocitose, ou coeficiente de distribuição do

volume, que usa como dados para cálculo o desvio padrão do histograma e o VCM

(RAVEL, 1997; FAILACE et al, 2009; ZVORC et al., 2010). A Figura 4 mostra um

histograma para obtenção de RDW.

Com o surgimento do RDW, pode-se considerar que houve a criação de uma nova

abordagem de pacientes com anemia. Ao contrário da medicina humana, em que ocorreu

uma grande aceitação do RDW, na medicina veterinária ainda são poucos veterinários e

laboratórios que utilizam esse parâmetro como ferramenta diagnóstica para diagnóstico

diferencial laboratorial das anemias, o que pode ser devido ao desconhecimento de sua

aplicação (ZVORC et al., 2010).

O histograma e o RDW são subprodutos da medida eletrônica individual do volume

dos eritrócitos e tornam-se importantes na avaliação da heterogeneidade volumétrica das

populações eritroides. Em um paciente normal, o histograma apresenta-se como uma curva

gaussiana e de abertura estreita (FAILACE et al, 2009).

27

Figura 4. Distribuição normal de eritrócitos com mínimo “encurvamento” à direita. O RDW é derivado

do histograma usando a distribuição de eritrócitos (entre as linhas verdes) a 50 % da altura do pico (linha vermelha), resultando num RDW de 15 a 16% (linhas azuis). O eixo X representa o número de

células e o eixo Y, o volume celular (em fL) (Fonte: NEIGER et al., 2002).

Em geral, o RDW estará elevado em condições de falha na produção de eritrócitos

(como na deficiência de ferro, vitamina B12 ou folato, e hemoglobinopatias), destruição

aumentada de células e fragmentação eritrocitária (como em casos de hemangiossarcoma e

anemia hemolítica auto-imune, por exemplo), ou após transfusão sanguínea. Esse índice se

encontra dentro dos valores de referência em casos de anemia da doença crônica, anemia

aplásica e síndrome mielodisplásica (ROBERTS & El BADAWI, 1985; RAVEL, 1997;

ZVORC et al., 2010).

Esse índice pode estar anormal antes de identificação de um quadro de anemia, e

antes mesmo de alteração no VCM (RAVEL, 1997). Em anemias regenerativas, o aumento

do RDW é encontrado na fase da doença onde existe um número significativo de eritrócitos

com tamanho normal e anormal presentes simultaneamente (ZVORC et al., 2010).

Em função das diferenças existentes na forma de determinar o volume celular e RDW

entre contadores hematológicos automáticos, Ravel (1997) sugere que cada laboratório

determine seus valores de referência para RDW.

28

Utilizando um contador hematológico ABC Vet (HORIBA ABX Diagnostics, São

Paulo, Brasil), o RDW considerado dentro dos valores de referência para a espécie canina

fica em torno de 14,0 a 17,0%. Valores mais baixos não apresentam significado clínico para

o paciente, pois indicariam população eritroide mais homogênea que a normal. Acima de

17,0% indicam excesso de heterogeneidade volumétrica da população, ou anisocitose

(ZVORC et al., 2010).

No entanto, RDW dentro dos valores de referência pode ser a consequência de um

estado de pré-regeneração. Anemia vista dentro de 3 a 4 dias depois da hemólise pode não

demonstrar nenhum sinal de regeneração no sangue periférico em função do tempo de

produção, que é de cerca de 4 dias (ZVORC et al., 2010).

RDW e VCM fornecido por contadores hematológicos automáticos podem fornecer

primeiros indícios de resposta da medula óssea de pacientes anêmicos, além do aumento no

nível de reticulócitos (NEIGER et al., 2002; ZVORC et al., 2010). Para Roberts e El

Badawi (1985), aumento em RDW em pacientes anêmicos estaria associado com maior

nível de reticulócitos circulantes, apresentando uma correlação direta entre esses

parâmetros hematológicos. A relação entre patologias que levam a alterações no RDW e

VCM estão expressas na Tabela 3.

Tabela 3. Algumas causas de alteração em VCM e RDW.

Relação VCM/RDW Causas VCM alto, RDW alto Alta quantidade de reticulócitos (como exemplos,

anemia hemolítica, anemia falciforme, recém-nascidos, hemorragia)

VCM normal, RDW alto Desordens nutricionais, desordens hemolíticas VCM baixo, RDW alto Deficiência de ferro VCM normal, RDW normal Desordens hipoproliferativas

Alguns autores sugerem a possibilidade de interferência de elevado nível de

leucócitos e plaquetas com a determinação do RDW (ROBERTS & El BADAWI, 1985).

Segundo Ferreira et al. (2009), existe uma grande diferença entre dados sobre RDW

de cães na literatura em função dos aparelhos hematológicos, condições em que os cães são

criados, métodos de coleta, exercício físico e doença subclínica.

29

Já Neiger et al. (2002) relatam que diferentes contadores eletrônicos podem

apresentar variação nos valores de referência para VCM e RDW. Sugere-se estabelecer

valores de referência para cada laboratório e para cada analisador hematológico automático,

em função das técnicas usadas para medir o tamanho dos eritrócitos individuais que

diferem, e modelos diferentes que geram variação nos resultados.

3.6 Avaliação semiquantitativa de anisocitose e policromasia

Embora a identificação e quantificação de reticulócitos seja realizada através do uso

de corante supra-vitais, em lâminas de esfregaço periférico coradas com corantes

Romanowsky podem ser encontrados eritrócitos policromatófilos (células maiores,

apresentando coloração diferente dos eritrócitos maduros, que é devido a menor

concentração de hemoglobina), correspondendo aos reticulócitos propriamente ditos.

Uma possível confirmação de uma contagem elevada de reticulócitos é a sua

correlação com a presença de eritrócitos policromatófilos na lâmina do sangue periférico

(WALLACH, 2009).

Dessa forma, ao longo das décadas, foram determinados índices de anisocitose e

policromasia para análise em esfregaços sanguíneos, com a finalidade de indicar alterações

nos parâmetros eritrocitários. Antigamente, alguns autores realizavam uma análise

qualitativa de anisocitose, policromasia e hipocromia, classificando as alterações no

esfregaço sanguíneo em leves, moderadas ou marcantes. No entanto, devido à subjetividade

dessa avaliação, criou-se a necessidade de uma classificação mais objetiva e quantitativa

(ROBERTS et El BADAWI, 1985).

Publicações internacionais e uma recomendação antiga da Organização Mundial de

Saúde (OMS) preconizam semiquantificação de 1+ a 4+ como critério mais reprodutível e

uniforme. Alguns autores utilizam a classificação de 1+ a 3+ (HARVEY, 2001; FAILACE

et al, 2009). Essa avaliação semiquantitativa deve ser feita na área de contagem, onde os

eritrócitos não encontram-se amontoados, e sim separados por cerca de meia célula de

distância (HARVEY, 2001).

30

Tabela 4. Avaliação semiquantitativa da morfologia eritrocitária de cão baseada no número médio de células anormais por objetiva de imersão (100x) (HARVEY, 2001)

1+ 2+ 3+ 4+ Anisocitose 7-15 16-20 21-29 >30 Policromasia 2-7 8-14 15-29 >30 Hipocromasia 1-10 11-50 51-200 > 200

No entanto, alguns autores consideram a estimativa de avaliação de morfologia e

coloração celular ainda bastante subjetiva em função de se tratar de uma inspeção visual

que apresentará variações inter-laboratoristas. Sugere-se que, para cada laboratório, sejam

criados procedimentos operacionais padrão a fim de padronizar essa metodologia, evitando

uma grande variação nos resultados (ROBERTS & El BADAWI, 1985; FAILACE et al,.

2009).

3.7 Anemia

A palavra anemia tem derivação grega, onde an significa ausência e aima, sangue.

Anemia é um processo que se caracteriza pela diminuição do número de eritrócitos,

concentração de hemoglobina e/ou hematócrito abaixo dos valores normais de referência.

Em casos de um alto nível de regeneração, o hematócrito pode não sofrer grandes

alterações em função do tamanho aumentado dos eritrócitos compensar o menor número de

células (FIGHERA, 2001; LOPES et al, 2007).

Raramente, a anemia é uma patologia primária, na maioria das vezes, é o resultado de

outras causas ou doenças. Dessa forma, torna-se importante a investigação de sua origem.

Em função dos problemas decorrentes da deficiência em transportar oxigênio, das

alterações fisiológicas para compensar o número reduzido de eritrócitos na circulação

sanguínea (ou eritron) e da diminuição do débito cardíaco consequente, os sinais clínicos

mais comuns de anemia são: dispnéia, depressão, intolerância ao exercício, palidez de

mucosas, aumento da frequência cardíaca, taquicardia, sopro cardíaco (sistólico) e aumento

da frequência respiratória. Em casos relacionados a patologias auto-imunes, como anemia

31

hemolítica, podem ser encontradas icterícia, febre, hemoglobinemia e hemoglobinúria

(FIGHERA, 2001; LOPES et al, 2007).

3.7.1 Classificação

A fim de auxiliar no diagnóstico de diversas patologias a partir dos resultados obtidos

no hemograma, incluindo índices hematimétricos e alterações morfológicas de eritrócitos,

foram criadas várias formas de classificação para os tipos de anemia. Cada uma dessas

oferece vantagens em algum aspecto. A anemia pode ser classificada através da patogênese

ou etiologia. De acordo com isso, existem três mecanismos que podem ser responsáveis:

deficiência de fatores, defeito na produção medular ou depleção (perda, destruição ou

sequestro).

Ferro Deficiência de fatores Ácido fólico Vitamina B12 Fibrose Neoplasia (primária ou metastática) Defeito produção medular Hipoplasia Substâncias químicas Anemia Infecção grave Supressão tóxica Doença renal crônica Metástase generalizada Hipotireoidismo Aguda Hemorragia Crônica Depleção Hemólise Anemias hemolíticas Sequestro Hiperesplenismo Figura 5. Organograma da classificação de anemias por patogênese (Fonte: adaptado de RAVEL (1997)

32

Existe ainda outra classificação baseada na morfologia dos eritrócitos, realizada

através dos índices de Wintrobe (VCM e CHCM) e da observação microscópica do

esfregaço de sangue periférico. Através disso, a anemia pode ser classificada como

microcítica, normocítica ou macrocítica (analisando o volume celular) e como hipocrômica

ou normocrômica (avaliando a quantidade média de hemoglobina dos eritrócitos). Essa

forma de classificação (Tabela 5) é a mais aceita mundialmente (FIGHERA, 2001).

Tabela 5. Classificação de anemias através de análise morfológica eritrocitária (adaptado de JAIN, 1993 e FIGHERA, 2001).

Tipos Alguns exemplos Normocítica / Normocrômica

Anemias hipoproliferativas (deficiências nutricionais), anemia da doença crônica, desordens endócrinas (hipotireoidismo e hipoadrenocorticismo no cão), hepatopatia; anemia aplásica, hipoplásica ou mieloptise

Normocítica / Hipocrômica

Fase inicial de deficiência de ferro, fase inicial de hemorragia crônica

Macrocítica/Normocrômica

Deficiência de vitamina B12 e folato, deficiência de cobalto em ruminantes, eritrogênese defeituosa (macrocitose do Poodle)

Macrocítica / Hipocrômica

Hemorragia aguda, anemia hemolítica (com resposta regenerativa)

Microcítica/ Normocrômica

Deficiência de ferro em progressão

Microcítica/ Hipocrômica

Deficiências de ferro e cobre, hemorragia crônica, anemia da doença crônica, distúrbios no metabolismo das porfirinas ou da globina

Outra forma de classificação é através do nível de regeneração ou de resposta

medular. As anemias podem ser enquadradas como regenerativas ou arregenerativas. A

anemia que não é causada por disfunções da medula óssea deve mostrar evidências de

eritropoiese, sendo responsiva ou regenerativa (TVEDTEN, 2010).

Esse enquadramento é realizado de acordo com quantidade de reticulócitos

(reticulocitose), além de outros achados, como anisocitose, policromasia,

metarrubricitemia, presença de pontilhado basofílico e número significativo de corpúsculos

de Howell-Jolly, elementos que revelam regeneração. No entanto, somente após 2 a 3 dias

do desenvolvimento da anemia para verificar-se uma resposta regenerativa (FIGHERA,

33

2001, LOPES et. al, 2007). A Tabela 6 traz a relação de algumas patologias associadas a

essa classificação.

Tabela 6. Classificação de anemias por regeneração medular (adaptado de LOPES et al., 2007).

Tipos de anemia Algumas causas Não regenerativa Leucemias, neoplasias crônicas e/ou

metastáticas, doença renal crônica, erlichiose, hipoadrenocorticismo, hiperestrogenismo, linfossarcoma, dentre outros.

Regenerativa Por perda sanguínea: traumas ou cirurgias, coagulação intravascular disseminada, intoxicação por dicumarínicos. Por hemólise: hemoparasitas (como Babesia spp.), anemia hemolítica auto-imune, reação transfusional, dentre outros.

34

4 RESULTADOS

4.1 Artigo

4.1.1 Utilização de parâmetros hematológicos como ferramenta diagnóstica em uma população de cães anêmicos atendidos no LACVet–UFRGS

Ana Elize Ribeiro D’Avila1, Luciana de Almeida Lacerda2, Félix Hilario Diaz González3

1Laboratório de Análises Clínicas Veterinárias, Universidade Federal do Rio Grande do

Sul; 2Programa de Pós-graduação em Ciências Veterinárias, Universidade Federal do Rio

Grande do Sul; 3Departamento de Patologia Clínica Veterinária, Faculdade de Veterinária,

Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

4.1.2 Resumo

A anemia é um quadro patológico que conhecidamente leva a piora de sinais clínicos e

sobrevida em animais. Para tanto, é um achado que necessita de elucidação etiopatogênica.

O objetivo deste estudo foi avaliar a prevalência da anemia em cães, através de alguns

parâmetros hematológicos utlizados na prática laboratorial. Amostras de sangue de 48

pacientes anêmicos (grupo anêmico) e de 90 pacientes saudáveis (grupo controle) foram

coletadas para avaliar parâmetros hematológicos, como contagem de eritrócitos,

hemoglobina, hematócrito, VCM, CHCM, RDW de ambos os grupos. Do grupo anêmico,

também foi realizada contagem de reticulócitos através de três formas de cálculo (contagem

absoluta, contagem corrigida e IPR) para classificação de anemias. Dos cães anêmicos, 20

apresentavam anemia leve, 16 moderada, 8 severa e 4 muito severa. Verificou-se que houve

correlação estatística positiva somente entre as variáveis contagem corrigida de

reticulócitos e IPR e contagem absoluta de reticulócitos e IPR. Constatou-se relação

moderada, direta e estatisticamente significativa entre o número de cruzes de policromasia

e anisocitose (avaliação semiquantitativa) com o IPR. Não houve correlação estatística

entre VCM e RDW. Dos 48 pacientes, 13 pacientes vieram a óbito e 5 foram eutanasiados.

35

Com relação ao tempo de sobrevida após diagnóstico veterinário, verifica-se que 62,5% dos

cães se recuperaram das causas que levaram a anemia, 14,6% morreram em até 1 semana

após diagnóstico, 16,7% em até 1 mês e 6,2% em até 2 meses. Dos 48 pacientes anêmicos,

16,7% dos pacientes apresentaram anemia regenerativa, 43,7% não regenerativa e 39,6%

regenerativa modificada. Anemia por deficiência de ferro e da doença crônica foram os

tipos mais frequentes. Através do presente estudo, verificou-se que a contagem manual de

reticulócitos foi uma boa ferramenta para o diagnóstico e classificação de anemias, desde

que seja realizada de acordo com normas estabelecidas. A análise semiquantitativa de

anisocitose e policromasia demonstrou apresentar correlação com o nível de reticulócitos,

servindo como parâmetro para nortear o diagnóstico do clínico veterinário, não substituindo

a contagem de reticulócitos. O IPR demonstrou ser um bom índice e aplicável para a

medicina veterinária, principalmente para a espécie canina.

Palavras-chave: cães, anemia, reticulócitos, RDW, IPR.

4.1.3 Abstract

Anemia is a pathological situation that knowingly leads to worsening of clinical signs and

survival in animals. Thus, there is a finding that needs elucidating etiopathogenesis. The

aim of this study was to evaluate the prevalence of anemia in dogs through several

hematological parameters used in laboratory practice. Blood samples of 48 patients with

anemia (anemic group) and 90 healthy patients (control group) were collected for evaluate

hematological parameters such as erythrocyte counting, hemoglobin, hematocrit, MCV,

MCHC, RDW of both groups. For the anemic group, it was also performed reticulocyte

count in three ways of calculations (absolute count, corrected count and RPI). Of the 48

anemic dogs, 20 had mild anemia, 16 moderate, 8 severe and very severe 4 patients. There

was positive statistical correlation between variables corrected reticulocyte count and RPI

and absolute reticulocyte count and RPI. There was moderate, direct and significant

association between semiquantitative evaluation of polychromasia and anisocytosis with

RPI. There was no statistical correlation between MCV and RDW in both groups. Of the 48

patients, 13 patients eventually died and five were euthanasied. About the survival time

36

after diagnosis, 62.5% of dogs have recovered from the causes that led to anemia, 14.6%

died within 1 week after diagnosis, 16.7% within 1 month and 6.2% within 2 months. Of

the 48 anemic patients, 16.7% had regenerative anemia, 43.7% non-regenerative and 39.6%

regenerative modified. Iron deficiency anemia and chronic disease anemia were the most

frequent types. Through this study, it was found that the manual reticulocyte count is a

good tool for the diagnosis and classification of anemias, if carried out according to

established standards. Semiquantitative analysis of anisocytosis and polychromasia showed

correlation with the level of reticulocytes, and serves as a baseline to guide the clinician's

diagnosis, without replacing the reticulocyte count. The RPI has proved to be a good index

for veterinary medicine, especially for the dog.

Key-words: dogs, anemia, reticulocytes, RDW, RPI.

4.1.4 Introdução

O termo anemia indica um processo patológico que se caracteriza pela diminuição de

eritrócitos e/ou hemoglobina de um indivíduo, sendo essa diminuição acompanhada ou não

do decréscimo no hematócrito. Na maior parte dos casos, os distúrbios anêmicos não são

primários, e sim secundários a outras patologias, devendo-se então elucidar as causas

dessas (FIGHERA, 2001; JAIN, 1993).

Os distúrbios anêmicos são a principal alteração hematológica descrita em animais e

em seres humanos. A anemia pode ser considerada uma síndrome em função de ser

originada por várias causas. Por apresentar alta prevalência, principalmente em função de

anemia ferropênica em humanos, é considerada um problema mundial de saúde pública

(FIGHERA, 2001; FAILACE, 2009).

Algumas estatísticas apontam que mais de 10% dos pacientes humanos internados em

hospitais são anêmicos (FAILACE, 2009). Em um estudo retrospectivo realizado na

Nigéria, verificou-se que de 5.278 cães atendidos, cerca de 40% (2,139) apresentavam

anemia, com hematócrito variando de 7 a 36% (USEH et al., 2003). Em outro estudo

realizado nos Estados Unidos, de 203.939 cães atendidos em laboratórios veterinários,

9,3% apresentavam anemia (DeNICOLA et al., 2006).

37

Segundo Couto (2003), as principais manifestações clínicas de anemia são mucosas

pálidas ou ictéricas (no caso de destruição de eritrócitos), letargia, diminuição da atividade,

intolerância ao exercício. Esses sinais podem ser agudos ou crônicos e podem variar de

acordo com a severidade do quadro. Taquicardia ou aumento no batimento pré-cordial

também podem ocorrer como mudança adaptativa à anemia.

Como forma de orientação para indicar o diagnóstico e tratamento terapêutico mais

adequado, foram criadas várias classificações para anemia, sendo a mais comumente

empregada aquela com base na regeneração através de contagem de reticulócitos

(DeNICOLA et al., 2006).

A contagem de reticulócitos no sangue periférico é uma determinação valiosa no

laboratório de hematologia por ser um indicador sensível da atividade eritropoiética da

medula óssea, tanto no diagnóstico e acompanhamento de anemias quanto no

monitoramento de terapias e de transplante de medula óssea (PEREIRA et al., 2008;

LEONART, 2009; SIMIONATTO et al., 2009b).

O método padrão de contagem de reticulócitos utiliza microscopia óptica, sendo que a

avaliação de seus resultados permite que se façam escolhas adequadas em relação aos

exames laboratoriais específicos para o diagnóstico das anemias em geral. Porém, esta

técnica tem sido acusada de tediosa e de apresentar baixa acurácia e reprodutibilidade. A

precisão e a acurácia deste método, no entanto, podem ser asseguradas quando realizado

dentro de critérios técnicos rigorasamente estabelecidos, como os preconizados pelo

National Comittee for Clinical Laboratory Standards e International Commitee for

Standardization in Haematology (H44-A, 1997; LEONART, 2009).

Além da contagem de reticulócitos, outros parâmetros hematológicos são

fundamentais para avaliação do eritrograma, dentre eles estão o hematócrito, a

hemoglobina, o Volume Corpuscular Médio (VCM), a Concentração Hemoglobiníca

Corpuscular Média (CHCM), e o RDW (do inglês, Red Cell Distribution Width, ou

amplitude de distribuição dos eritrócitos) (FLAIBAN & BALARIN, 2004).

O objetivo deste ensaio foi comparar resultados de alguns parâmetros hematológicos

(VCM, CHCM, RDW e avaliação de níveis de anisocitose e policromasia), além da

determinação dos níveis de reticulócitos através da contagem absoluta, contagem corrigida

e Índice de Produção de Reticulócitos (IPR) em cães saudáveis e em cães com anemia.

38

4.1.5 Materiais e métodos

Foram utilizadas amostras de 48 cães anêmicos (29 fêmeas e 19 machos), entre 10

meses e 16 anos de idade, de diversas raças, machos e fêmeas. As amostras de sangue

foram coletadas das veias jugular externa ou cefálica através de sistema a vácuo, utilizando

como anticoagulante o ácido etilenodiaminotetracético de sódio (EDTA-K2), na

concentração de 3,6 mg para 2 mL de sangue e 5,4 mg para 3mL de sangue (Vacutainer,

BD Diagnostics, São Paulo, Brasil).

Como grupo controle, foram coletadas amostras de 90 animais saudáveis (61 fêmeas

e 29 machos) de várias raças, com idades variando de 11 meses a 10 anos. Após exame

clínico, a coleta de sangue era realizada da veia jugular externa, preferencialmente, ou da

veia cefálica, utilizando tubos a vácuo de 2 ou de 3 mL contendo EDTA-K2.

As amostras de sangue foram processadas imediatamente após a coleta no contador

hematológico ABC Vet (HORIBA ABX Diagnostics, São Paulo, Brasil) para obtenção de

contagem de leucócitos, contagem de eritrócitos, RDW e dosagem de hemoglobina. O

aparelho foi calibrado de acordo com as instruções do fabricante, utilizando amostras

controle (ABX Minotrol 16, HORIBA ABX Diagnostics, São Paulo, Brasil). Diariamente

essas amostras controle eram testadas no aparelho, utilizando com base os valores de

referência do kit. O hematócrito foi obtido pela técnica de micro-hematócrito descrita por

Kerr (2003) utilizando microcentrífuga modelo 1-15 (SIGMA, Osterode, Alemanha), com

processamento de 5 minutos a 2000 rpm. VCM e CHCM foram calculados pela fórmula

descrita por Lassen e Weiser (2006).

A determinação do número de reticulócitos foi realizada por técnica descrita por

Harvey (2001) e H44-A (1997), que indica uso de corante novo azul de metileno na

concentração de 0,5%, utilizando proporções iguais de corante para amostra. Foram

utilizados 300 µL de amostra/corante e foi incubado por 15 minutos em banho-maria a

37ºC. Após, foram realizados esfregaços (cerca de 3 por amostra), onde uma lâmina era

contra-corada com Panótico (Instant-Prov®, NewProv, Pinhais, Brasil) para melhor

identificação de células. Foram contados 1000 eritrócitos, entre reticulócitos e células

maduras em objetiva de imersão (100x). Para amostras com baixa quantidade de

reticulócitos, realizou-se contagem de 3.000 células para averiguação. Foi realizada

39

correção da contagem de reticulócitos pelo grau de anemia através de fórmula descrita por

Tvedten (2010), contagem absoluta de reticulócitos através de fórmula obtida de Lassen e

Weiser (2006) e Índice de Produção de Reticulócitos (IPR) por fórmula e classificação

proposta por Day et al. (2000). Como controle de qualidade da contagem manual de

reticulócitos, foram utilizadas amostras controle com níveis de reticulócitos em quantidade

baixa, média e alta previamente conhecidos e fornecidos pelo fabricante (BD Retic-Count

Control, BD Diagnostics, San Jose, Estados Unidos). As amostras controle foram

processadas de maneira similar às amostras dos pacientes anêmicos, realizando-se

esfregaço após período de incubação com corante supra-vital.

Anisocitose, policromasia e hipocromia, além de alterações morfológicas de

eritrócitos foram classificadas de acordo com Harvey (2001), através de avaliação

microscópica do esfregaço sanguíneo.

Na análise estatística, foram descritas as variáveis quantitativas pela média e o desvio

padrão quando a sua distribuição foi simétrica ou pela mediana e intervalo interquartil

quando assimétrica. A comparação de variáveis com distribuição simétrica entre duas

categorias foi realizada pelo teste t de Student para amostras independentes e entre três ou

mais categorias pelo teste ANOVA. As correlações entre variáveis quantitativas com

distribuição simétrica foram realizadas pelo coeficiente de correlação de Pearson, e para as

com distribuição assimétrica pelo coeficiente de correlação de Spearman. Foi considerado

um nível de significância de 5%.

4.1.6 Resultados

As 48 amostras foram agrupadas em graus de anemia de acordo com Tvedten (2010)

em anemia leve (hematócrito entre 30-36 %), moderada (20-29%), severa (13-19%) e muito

severa (menor que 13%).

Dos 48 pacientes, 20 apresentavam anemia leve, 16, moderada, 8 severa e 4 muito

severa. Observou-se a existência de elementos multifatoriais desencadeando o quadro

anêmico, como ectoparasitose concomitante com neoplasia, por exemplo. Do total, 17

animais apresentavam mais de uma patologia (Tabela 1).

40

Tabela 1. Idade (anos), sexo, raça e suspeita diagnóstica de 48 pacientes anêmicos atendidos no LACVet –UFRGS. Paciente Idade Sexo Raça Suspeita diagnóstica 1 12 F Pinscher Hemorragia TGI 2 8 M São Bernardo Sem diagnóstico 3 6 F Daschund Sem diagnóstico 4 5 M Dogue Alemão Úlceras gástricas 5 12 F SRD Colangiocarcinoma hepático com metástase pulmonar/hipotireoidismo 6 9 F SRD Piometra/neoplasia mamária 7 10 F SRD Piometra/cardiopatia 8 7,5 M Rottweiler IRC/cistite/ metástase pulmonar (osteossarcoma) 9 13 F Fox Paniculite cervical, puliciose intensa, endocardiose 10 14 F Beagle Colangiocarcinoma hepático 11 14 F Collie Tumor hepático/esplênico não identificado, intoxicação paracetamol 12 0,83 F SRD Coagulopatia 13 1 F SRD Sem diagnóstico 14 10 F Rottweiler Sem diagnóstico 15 13 F Cocker Sem diagnóstico 16 13 M SRD Linfoma 17 8 M Akita Hepatite/colecistite/linfoma 18 11 F Poodle Linfoma linfocítico 19 2 M Fox Hemorragia por trauma 20 6 M SRD Linfoma histiocítico e metástase pulmonar 21 2 F SRD Colecistite/hepatite/hemocitozoários (não comprovado) 22 12 F SRD Neoplasia mamária 23 7 F SRD Pneumonia/ hemocitozoários (não comprovado) 24 14 F SRD Leucemia linfocítica crônica 25 4 M Pinscher Trauma inguinal por mordedura 26 13 M Cocker Inglês Gastrite, cardiopatia 27 12 M Fox Terrier ICC 28 10 F SRD Sem diagnóstico 29 8 M SRD Hérnia perineal, necrose bexiga, míiase prepúcio 30 10 F Beagle Colangiocarcinoma hepático 31 5 F SRD Carcinoma mamário, piometra 32 14 M SRD Hepatite crônica/cirrose/ascite 33 10 M Weimaraner Linfoma 34 11 F Fila Lipossarcoma intra-abdominal (metastático) 35 15 M Daschund Mastocitoma grau III 36 3 M Pittbull Leptospirose 37 12 F Pinscher Corpo estranho esofágico 38 3 F Daschund Hepatopatia e hérnia de disco 39 7 M Pittbull Corpo estranho intestinal 40 5 F Poodle Piometra 41 8 M SRD Sem diagnóstico 42 16 F SRD Piometra, IRA, neoplasia baço 43 11 F Poodle Hemorragia TGI, gastrite 44 8 F Boxer Hemangiossarcoma de átrio direito 45 5 F Labrador Trombocitopenia imunomediada 46 9 F Pinscher Rim policístico, hemorragia aguda pós-cirúrgica 47 11 M SRD Hemocitozoários (Rangelia vitalii) 48 13 M Bichon Frisé Leucemia linfocítica crônica

M = macho; F = fêmea; SRD = sem raça definida; TGI = Trato gastrointestinal; IRC = Insuficiência renal crônica; IRA = Insuficiência renal aguda; ICC= Insuficiência cardíaca congestiva

41

As suspeitas clínicas foram confirmadas por exames complementares, como exames

laboratoriais (hemograma, exames bioquímicos, sorologia, citologia, histopatologia, PCR),

ultrassonografia e radiografia. No entanto, em 7 casos não foi possível identificar a

patologia que levou ao quadro de anemia.

Das causas de anemia leve, podem-se citar anemia da doença crônica, coagulopatias,

anemia por deficiência de ferro e anemia da doença renal. Das causas de anemia moderada,

verificou-se a presença de doenças endócrinas (como hipotireoidismo), anemia da doença

crônica, hemorragia aguda, anemia por deficiência de ferro e doenças auto-imunes

(trombocitopenia imunomediada). Das causas levantadas para pacientes com anemia

severa, relata-se a presença de anemia por deficiência de ferro, anemia da doença crônica,

intoxicação por medicamentos e hemoparasitose. Por fim, algumas causas analisadas para

anemia muito severa, foram por infecções bacterianas (como leptospirose) e hemorragia

aguda.

Como esperado, houve diferença significativa entre o grupo de pacientes anêmicos

(grupo 1) e o grupo controle (grupo 2) (Tabela 2). Os cães do grupo 1 apresentaram todos

os parâmetros do eritrograma mais diminuídos que os do grupo 2, com diferença

significativa a 99% de confiança (P< 0,001) na maioria das variáveis. A diferença do VCM

foi significativa a 95% de confiança (P< 0,023).

Os parâmetros encontrados para eritrócitos, hematócrito, hemoglobina, VCM,

CHCM, plaquetas e leucometria total observados para o grupo controle estão de acordo

com a literatura para a espécie (JAIN, 1993; RIZZI et al., 2010). Os valores médios de

hematócrito, VCM, CHCM e RDW diferiram dos encontrados por Neiger et al. (2002), que

relataram 46%, 68,8 fL, 33,9% e 15,6%, para os respectivos parâmetros. No entanto,

utilizavam um analisador hematológico diferente, impedindo maiores comparações.

Tabela 2. Variáveis descritas pela média e desvio padrão comparadas pelo teste t de Student para amostras independentes.

Variável Grupo 1 (anêmico) N = 48

Grupo 2 (controle) N= 90

P

Eritrócitos (x106/uL) 3,5 ± 1,3 7,4 ± 0,6 < 0,001 Hemoglobina (g/dL) 7,9 ± 2,7 17,4 ± 1,8 < 0,001 Hematócrito (%) 25,4 ± 8,1 52,1 ± 4,9 < 0,001 VCM (fL) 73,9 ± 10,2 70,4 ± 2,8 < 0,023 CHCM (%) 30,6 ± 2,5 33,5 ± 1,0 < 0,001 RDW (%) 16,1 ± 2,8 14,1 ± 0,6 < 0,001

42

Os valores médios e a amplitude de variação (mínimo e máximo) dos parâmetros

hematológicos hematócrito, contagem de eritrócitos, hemoglobina, VCM, CHCM, RDW e

mediana (interquartil 25 e 75) da contagem de reticulócitos absoluta, corrigida e IPR dos 48

cães anêmicos, em relação aos valores de referência, estão apresentados na Tabela 3.

Verificou-se que o valor de mediana da contagem corrigida de reticulócitos está acima dos

valores de referência, indicando reticulocitose. No entanto, os valores da contagem absoluta

e do IPR indicam que uma grande parte dos pacientes apresentava anemia não regenerativa.

75% dos cães anêmicos apresentavam 1,98 como valor de IPR.

Tabela 3. Valores mínimos, máximos, média, desvio padrão e mediana (intervalo interquartil) de alguns parâmetros hematológicos de 48 pacientes anêmicos.

Parâmetros Mínimo Máximo Média ± desvio padrão

Mediana (P25;P75)

Valores de referência

Eritrócitos (céls x106/uL)

0,85 5,48 3,5 ± 1,3 - 5,5 – 8,5a

Hemoglobina (g/dL)

2,2 11,5 7,9 ± 2,7 - 12-18a

Hematócrito (%) 8 36 25,4 ± 8,1 - 37-55a VCM (fL) 50,00 105,89 73,9 ± 10,2 - 60-77a CHCM (%) 23,63 34,84 30,6 ± 2,5 - 32-36a RDW (%) 12,3 24,2 16,1 ± 2,8 - 14-17b Ret. corrigida (%) 0,068 27,87 - 2,02 (0,36-3,26) < 1,5a Ret. absoluta (céls/uL)

4.480 1293.600 - 40.000 (13.000-73.000)

< 60.000c

IPR 0,04 18,58 - 1,05 (0,16-1,98) < 2d a – JAIN, 1993; b – valores fornecidos pelo manual do fabricante do contador hematológico; c – LASSEN & WEISER, 2006; d – DAY et al, 2000. Ret. corrigida = contagem corrigida de reticulócitos; Ret. absoluta = contagem absoluta de reticulócitos

Tabela 4. Coeficiente de correlação de alguns parâmetros

Parâmetros Coeficiente de correlação P RDW x VCM - 0,091 0,581 RDW x IPR 0,274 0,091 Ret. corrigida x IPR 0,964 < 0,001 Ret. absoluta x IPR 0,954 < 0,001 Policromasia x IPR 0,411 0,004 Anisocitose x IPR 0,438 0,002 Ret. corrigida = contagem corrigida de reticulócitos; Ret. absoluta = contagem absoluta de reticulócitos; Policromasia = análise semiquantitativa de policromasia; Anisocitose = análise semiquantitativa de anisocitose Parâmetro verificado através do coeficiente de correlação de Pearson para variáveis simétricas. Parâmetro verificado através do coeficiente de correlação de Spearman para variáveis assimétricas.

43

Através dos dados da tabela 4, verifica-se que houve correlação positiva somente

entre as variáveis contagem corrigida de reticulócitos e IPR e contagem absoluta de

reticulócitos e IPR, além de relação moderada, direta e estatisticamente significativa entre o

número de cruzes de policromasia e anisocitose com o IPR. As Figuras 1 e 2 demonstram

gráficos de correlação entre alguns parâmetros citados na Tabela 4.

Figura 1. Gráfico que demonstra a ausência de correlação significativa entre RDW (%) e VCM (fL) e RDW (%) e IPR em amostras de sangue de 48 cães anêmicos atendidos no LACVet – UFRGS, 2010.

44

Figura 2. Gráfico que demonstra correlação direta e estatisticamente significativa entre contagem

corrigida de reticulócitos e IPR e contagem absoluta de reticulócitos e IPR em amostras de sangue de 48 cães anêmicos atendidos no LACVet – UFRGS, 2010.

Com relação à comparação entre variáveis RDW e VCM, verificou-se não haver

correlação significativa em ambos os grupos, diferente do que é citado pela literatura

(ROBERTS e El BADAWI, 1985). No entanto, em função do VCM representar um valor

médio, e de, muitas vezes, o RDW, apresentar aumento ou diminuição antes desse,

justifica-se esse resultado.

Também não houve correlação significativa entre RDW e IPR. Como observado, os

tipos de anemia mais prevalentes nesse grupo de cães foram a anemia por doença crônica e

anemia por deficiência de ferro, assim como é verificado em pacientes humanos

(BARBOSA et al, 2006). A presença de populações macrocíticas (como os reticulócitos) e

45

de células microcíticas pode gerar RDW dentro dos valores de referência, justificando essa

falta de relação com o IPR.

Já a contagem absoluta e corrigida de reticulócitos apresentou alta correlação com o

IPR, comprovando a validade desse índice para a classificação dos tipos de anemia, da

mesma forma que ocorre na medicina humana (FERREIRA et al., 2009).

A análise semiquantitativa de anisocitose e policromasia realizada através do

esfregaço sanguíneo demonstrou apresentar significativa relação com o IPR. Embora pouco

sensível, específica e dependente de vários fatores, como: ótima qualidade do esfregaço e

da coloração empregada além de laboratorista treinado, ainda é uma boa ferramenta que

auxilia o veterinário com relação à presença de resposta regenerativa medular do paciente.

Contudo, vale ressaltar que não substitui a contagem de reticulócitos.

Com relação ao grau de severidade da anemia e a idade dos pacientes do grupo

anêmico, embora se verifique que animais com anemia considerada leve eram mais velhos

que animais com anemia muito severa, não houve diferença estatística significativa entre

classes.

Dos 48 pacientes, 13 pacientes vieram a óbito e 5 foram eutanasiados. Com relação

ao tempo de sobrevida após diagnóstico veterinário, verificou-se que 62,5 % dos cães se

recuperaram das causas que levaram a anemia, 14,6% morreram em até 1 semana após

diagnóstico, 16,7% em até 1 mês e 6,2 % em até 2 meses.

Dos 48 pacientes anêmicos, 8 (16,7%) dos pacientes apresentaram anemia

regenerativa, 21 (43,7%) não regenerativa e 19 (39,6%) semiregenerativa ou regenerativa

modificada de acordo com classificação proposta por Day et al. (2000).

Com relação ao período de sobrevida dos pacientes, pode-se afirmar que a maioria

dos cães apresentou melhora do quadro de anemia. Das patologias que levaram ao óbito ou

eutanásia sugerida pelo veterinário responsável, as mais frequentes foram insuficiência

renal aguda/crônica e neoplasias com ou sem metástase em órgãos (como osteossarcoma e

linfoma). Leptospirose, hemocitozooses, trombocitopenia imunomediada e hemorragia

aguda foram doenças que comprometeram o estado de recuperação dos cães anêmicos,

gerando mortes.

46

4.1.7 Discussão

Através dos resultados obtidos, verifica-se que grande porcentagem dos cães

anêmicos eram pacientes oncológicos (35,42%). Diversos estudos corroboram a hipótese

que a anemia é um fator que determina pior prognóstico para recuperação ou

prolongamento do tempo de sobrevida em pacientes com neoplasias (WELLER, 1985;

ABBO & LUCROY, 2007; MILLER et al., 2009).

Com relação aos tipos de anemia, as principais causas de anemia regenerativa

estavam relacionadas com hemorragia/hemólise, estando de acordo com a literatura (JAIN,

1993; TVEDTEN, 2010). Anemia da doença renal e anemias causadas por deficiência de

ferro e da doença crônica foram os principais fatores que levaram a anemias não

regenerativas.

Nos casos de anemias semiregenerativas ou regenerativas modificadas, anemias por

deficiência de ferro e da doença crônica também estavam relacionadas. Deficiência de

vitamina B12 e mielodisplasia podem estar envolvidas em uma pequena parte dos casos, no

entanto, alterações na medula óssea ou deficiência vitamínica não puderam ser confirmadas

em função de custos para proprietário.

Como observado, grande parte dos pacientes apresentavam anemia ferropênica. A

prevalência de anemia por deficiência de ferro é muito elevada, tanto em medicina

veterinária como na humana, constituindo-se num problema de saúde pública. Acredita-se

que 20% da população mundial não tenha reservas de ferro extra-hemoglobínico no

organismo, apesar da excreção de ferro ser insignificante (FAILACE, 2009).

A dosagem de ferro sérico, ferritina sérica e capacidade de ligação do ferro total

(TIBC), além de punção de medula óssea, poderiam ter sido realizados neste estudo para

comprovação da deficiência de ferro e diferenciação entre anemia de doença crônica e

deficiência de ferro. Podem ser utilizadas várias combinações de exames e de diferentes

parâmetros hematológicos e bioquímicos para esse diagnóstico diferencial. Contudo, em

função do hemograma ser o mais utilizado para isso na rotina veterinária, dado a facilidade

de acesso à população, simplicidade de técnica, custo baixo e capacidade de fornecer várias

informações, como os valores de hemoglobina, hematócrito, contagem de eritrócitos e

47

determinação dos índices hematimétricos (VCM, CHCM e RDW), importantes para a

classificação das anemias, justifica-se a ausência de dados extras (MENEZES et al., 2010).

IPR é um índice muito utilizado em medicina humana para classificação dos tipos de

anemia. Através dos resultados desse estudo, pode-se comprovar como uma boa ferramenta

diagnóstica para a área veterinária, principalmente para a espécie canina.

A análise semiquantitativa de anisocitose e policromasia demonstrou ser útil com

relação a sugerir a presença ou não de reticulócitos na circulação. No entanto, não substitui

a contagem de reticulócitos, em função de ser um método de estimativa.

A utilização de diferentes parâmetros hematológicos para a classificação dos tipos de

anemia comprovou ser fundamental para elucidar as várias patologias primárias envolvidas.

Conforme descrito neste estudo, verifica-se que uso de vários exames complementares é a

chave para desvendar o diagnóstico definitivo. Não existe um exame por si só que consiga

demonstrar de forma completa o estado geral do paciente.

4.1.8 Conclusões

De todos os exames diagnósticos, o hemograma pode ser considerado um dos mais

valiosos em avaliar o estado geral de saúde de um paciente. Em sua composição,

encontram-se alguns parâmetros que são importantes para a classificação das anemias. A

definição desses e correta interpretação das alterações ocasionadas pelos quadros anêmicos

ajuda no direcionamento dos diversos tratamentos terapêuticos em pequenos animais.

Alguns parâmetros hematológicos são ainda pouco conhecidos ou empregados na

rotina clínico-laboratorial dos médicos veterinários, como é o caso do RDW e do IPR. O

RDW é um coeficiente de anisocitose ou de distribuição do volume dos eritrócitos. Já o IPR

é um índice empregado em medicina humana para classificação dos tipos de anemia.

Através desse estudo, pode-se comprovar que ambos servem como uma boa ferramenta

diagnóstica para a área veterinária, principalmente para a espécie canina.

A contagem de reticulócitos ainda hoje é um parâmetro necessário para verificar

níveis de resposta medular frente a quadros anêmicos. Embora cada vez mais os

laboratórios estejam se modernizando e adquirindo equipamentos hematológicos

48

automáticos para contagem de células - com capacidade para contagem de reticulócitos -

devido aos custos elevados de manutenção dos reagentes exigidos, muitos laboratórios

ainda preferem o método manual e o uso de corantes supra-vitais. No entanto, cada

laboratório deve criar um procedimento operacional padrão para realização da contagem

manual de reticulócitos, a fim de gerar mais acurácia e reproduzir fidedignamente o estado

do paciente analisado.

4.1.8 Referências ABBO, A.H.; LUCROY, M.D. Assessment of anemia as an independent predictor of

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52

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A anemia é uma síndrome e, na maioria das vezes, está sendo gerada por muitas

patologias concomitantes. De acordo com esse estudo, pode-se observar as dificuldades do

médico veterinário no momento de elucidar o diagnóstico definitivo. Vários tipos de

exames são necessários para tanto. No entanto, em função de custos de exames e do tempo

dispendido para realização desses, muitas vezes não existe colaboração ou interesse do

proprietário em desvendar a(s) causa(s) que levaram um paciente animal à anemia. Dessa

forma, a preocupação maior recai somente na recuperação dos sinais clínicos do animal

naquele momento, e não na prevenção de futuras rescidivas.

O IPR é um índice muito utilizado em medicina humana para classificação dos tipos

de anemia. Através desse estudo, pode-se comprovar que é uma boa ferramenta diagnóstica

para a área veterinária, principalmente para a espécie canina.

A contagem de reticulócitos ainda hoje é um parâmetro necessário para verificar

níveis de resposta medular frente a quadros anêmicos. Embora cada vez mais os

laboratórios estejam se modernizando e adquirindo equipamentos hematológicos

automáticos para contagem de células - com capacidade para contagem de reticulócitos -

devido aos custos elevados de manutenção dos reagentes exigidos, muitos laboratórios

ainda preferem o método manual e o uso de corantes supra-vitais. No entanto, cada

laboratório deve criar um procedimento operacional padrão para realização da contagem

manual de reticulócitos, a fim de gerar mais acurácia e reproduzir fidedignamente o estado

do paciente analisado.

A análise semiquantitativa de anisocitose e policromasia demonstrou ser útil com

relação a sugerir a presença ou não de reticulócitos na circulação. No entanto, não substitui

a contagem dos mesmos, em função de ser um método subjetivo de estimativa.

O presente trabalho servirá como base para um próximo estudo de comparação de

contagem de reticulócitos por método manual e por método automático, utilizando

citometria de fluxo.

53

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