universidade federal do rio grande do norte · qualidade da assistÊncia e o conhecimento sobre o...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CINCIAS DA SADE
DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENFERMAGEM
RANE CRISTINA PEREIRA ANGLICO
QUALIDADE DA ASSISTNCIA E O CONHECIMENTO SOBRE O DIREITO
SADE DAS PESSOAS COM LCERA VENOSA CRNICA
NATAL / RN
2011
RANE CRISTINA PEREIRA ANGLICO
QUALIDADE DA ASSISTNCIA E O CONHECIMENTO SOBRE O DIREITO
SADE DAS PESSOAS COM LCERA VENOSA CRNICA
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-
Graduao em Enfermagem da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, rea de
concentrao Enfermagem na Ateno
Sade, como requisito (parcial/EQ) para
obteno do ttulo de Mestre em Enfermagem.
Linha de Pesquisa: Desenvolvimento
tecnolgico em sade e enfermagem
Grupo de Pesquisa: Incubadora de
Procedimentos de Enfermagem
Orientador: Dr. Gilson de Vasconcelos
Torres
NATAL / RN
2011
Catalogao da Publicao na Fonte.
UFRN/Biblioteca Setorial Especializada de Enfermagem Prof Bertha Cruz Enders
Anglico, Rane Cristina Pereira
Qualidade da assistncia e o conhecimento sobre o direito sade das pessoas com
lcera venosa crnica / Rane Cristina Pereira Anglico.- Natal, RN, 2011.
146f. : il.
Orientador: Gilson de Vasconcelos Torres.
Dissertao (Mestrado) Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de
Cincias da Sade. Departamento de Enfermagem. Programa de Ps-Graduao em Enfermagem.
1. lcera varicosa Dissertao. 2. Direito sade Dissertao. 3. Conhecimento -
Dissertao. 4. Enfermagem Dissertao. I. Torres, Gilson de Vasconcelos. II. Ttulo.
RN/UF/BSEnf CDU 616.5-002.4(043.3)
QUALIDADE DA ASSISTNCIA E O CONHECIMENTO SOBRE O DIREITO
SADE DAS PESSOAS COM LCERA VENOSA CRNICA
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Enfermagem, do Centro de
Cincias da Sade, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial
para obteno do Ttulo de Mestre.
Aprovada em: ____ de setembro de 2011, pela banca examinadora.
PRESIDENTE DA BANCA:
Professor Dr. Gilson de Vasconcelos Torres
(Departamento de Enfermagem/UFRN)
BANCA EXAMINADORA:
_________________________________________________
Prof. Dr. Gilson de Vasconcelos Torres
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Orientador
__________________________________________________
Profa. Dra. Luciana de Arajo Reis
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB
Membro
__________________________________________________
Prof. Dr. Francisco Arnoldo Nunes de Miranda
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Membro
_______________________________________________
Profa. Dra. Thaiza Teixeira Xavier Nobre
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Membro
DEDICATRIA
A Deus, por ter me concedido o dom da vida, determinao e oportunidade de trabalhar com
pessoas qualificadas, que me ajudaram muito nesta caminhada.
Aos meus pais, Raimundo Anglico e Maria do Carmo Anglico, por todo o amor que me
dedicaram, por terem lutado pelo meu sucesso, minha sade, pelo que sou hoje.
A toda a minha famlia, em especial, a meu irmo Rone, por toda a fora e apoio que sempre
me deu durante a minha vida, diante as minhas realizaes profissionais.
Ao meu orientador e colega de turma de graduao, Gilson de Vasconcelos Torres, pela
confiana e pacincia depositadas em mim e pela dedicao demonstrada durante a realizao
deste trabalho.
Ao professor e amigo Francisco Arnoldo Nunes de Miranda, pelo suporte que me deu, sempre
com dedicao e eficincia.
AGRADECIMENTOS
doutoranda Isabelle Costa, pelo incentivo e contribuio cientfica, necessria ao meu
crescimento como pesquisadora.
s mestrandas Gabriela Melo, Livia Balduno e Manuela Pinto e enfermeira Aminna Kelly,
pela imensa contribuio na finalizao do relatrio.
enfermeira Daliane Negreiros, como tambm aos bolsistas de enfermagem da graduao da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte por terem colaborado imensamente nesta
pesquisa, pela sua disponibilidade e empenho no processo de coleta de dados e construo do
banco.
direo de enfermagem do HUOL, na pessoa de Dr Neuma Oliveira Medeiros, por
acreditar na colaborao desta pesquisa para a enfermagem.
Enfermeira Maria do , por ter me ajudado a selecionar os portadores de lceras venosas
crnicas nos momentos que precisei visitar a instituio para a coleta.
Aos pacientes, razo de ter desenvolvido este trabalho, pelo carinho que me dedicaram, por
terem permitido conhecer um pouco de sua vida e aprender muito com eles.
ANGLICO, R. C. P. Qualidade da assistncia e o conhecimento sobre o direito sade
das pessoas com lcera venosa crnica. 2011. 87f. Dissertao (Mestrado em Enfermagem)
Programa de Ps-Graduao em Enfermagem, Universidade Federal do Rio Grande do
Norte, Natal, 2011.
RESUMO
O estudo teve como objetivo de identificar a qualidade da assistncia e o conhecimento do
direito sade das pessoas com lcera venosa (UV) crnica no Sistema nico de Sade
(SUS). Trata-se de um estudo descritivo transversal, com abordagem quantitativa, realizado
no Hospital Universitrio Onofre Lopes (HUOL). O estudo obteve parecer favorvel do
Comit de tica em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (CAAE n
0148.0.051.000-10). A amostra por acessibilidade foi composta por 30 pessoas com UV
atendidas no ambulatrio de Clnica Cirrgica do HUOL. Para coleta de dados foi utilizado
um questionrio estruturado composto de duas partes: caractersticas sociodemogrficas e de
sade, da assistncia e da evoluo clnica da UV; e conhecimento das pessoas com UV
acerca dos direitos sade. Os resultados foram processados no programa SPSS 15.0 e
analisados por estatstica descritiva. Diante das caracterizaes sociodemogrficas e de sade
apresentadas, identificamos uma clientela de usurios com UV predominantemente feminina
(76,7%), com faixa etria a partir de 60 anos (66,7%), casados/unio estvel (60,0%), com
baixo nvel de escolaridade (83,3%), renda familiar menor que um salrio mnimo (73,3%),
desempregados e com doenas crnicas associadas (53,3%), sono maior ou igual a 6 horas
(76,7%) e que no eram etilistas ou tabagistas (93,3%). Em relao s condies clnicas,
foram evidenciados a presena de uma ou mais recidivas da UV (73,3%), predomnio de
granulao/epitelizao no leito da UV (60,0%), exsudato serossanguinolento (43,3%), em
quantidade mdia/grande (60,0%), sem predomnio de presena ou ausncia de odor (50,0%),
totalidade dos pacientes com perda tecidual em grau III/grau IV, ausncia de sinais de
infeco (73,3%) e presena de dor intensa (50,0%). Nos ltimos 30 dias o principal local de
realizao do curativo foi o HUOL (100,0 %), a principal terapia compressiva utilizada era a
bota de Unna (60,0%) e, na impossibilidade de se realizar os curativos na unidade, eram os
prprios pacientes que faziam a troca em domiclio (40,0%). A maioria dos pesquisados
elencou mais fatores positivos associados qualidade da assistncia (56,7%), mostrou-se
satisfeita com o atendimento do SUS (76,7%), afirmou ter conhecimento sobre seus direitos
(70,0%), mas ao mesmo tempo eles desconheciam o significado da sigla SUS (90,0%) e
classificaram o seu nvel de obteno de informaes como inadequado (70,0%). Percebemos
que as pessoas com UV identificaram como boa a qualidade da assistncia e demonstraram
conhecimento inadequado sobre seus direitos sade no SUS, porm mostraram interesse em
adquirir mais informaes. Os direitos bsicos ao ingresso no SUS encontram-se
constitucionalmente garantidos e necessitam ser divulgados de modo a torn-los conhecidos
da populao, para que assim possa ser implementada e garantida uma assistncia de maior
resolutividade no tratamento deste tipo de leso.
Descritores: lceras venosas; Direito Sade; Conhecimento; Enfermagem.
ANGLICO, R. C. P. Quality of care and the knowledge about the right to health of
people with chronic venous ulcers. . 2011. 87f. Dissertation (Masters in Nursing) - Graduate
Program in Nursing, Federal University of Rio Grande do Norte, Natal, 2011.
ABSTRACT
The study aimed to identify the quality of care and knowledge of health rights of people with
chronic venous ulcers (VU) in Brasilian National Health Care System (SUS). It is a cross-
sectional study, with quantitative approach, performed at the University Hospital Onofre
Lopes (HUOL). The study was approved by the Ethics Committee of HUOL (CAAE n
0148.0.051.000-10). The sample by accessibility was composed for 30 people with VU
treated at the outpatient surgical clinic of HUOL. For data collection we used a structured
questionnaire composed of two parts: sociodemographic characteristics and of health, of care
and the clinical course of VU; and knowledge of people with VU about the rights of health.
The results were processed using SPSS 15.0 and analyzed by descriptive statistics. Given the
characterizations sociodemographic and health presented, we identified a clientele of users
with VU predominantly female (76,7%), aged from 60 years (66,7%), married/ stable union
(60,0%), low education level (83,3%), family income lower than a minimum wage (73,3%),
unemployeds and with chronic diseases (53,3%), sleep greater than or equal to 6 hours
(76,7%) and were not alcoholics or smokers (93,3%). In relation to clinical conditions, were
shown the presence of one or more relapses of VU (73,3%), predominance of granulation
tissue/epithelialization in the bed of VU (60,0%), exudate serosanguineous (43,3%), in
quantity medium/large (60,0%), with no predominance of presence or absence of odor
(50,0%), all patients with tissue loss in grade III / IV, no signs of infection (73,3%) and
presence of intense pain (50,0%). In the last 30 days the main venue of achievement of
dressing was the HUOL (100,0%), the main compression therapy used was the Unna boot
(60,0%) and on inability to perform the dressing on the unit were the own patients who made
the exchange at home (40,0%). The majority of respondents listed out more positive factors
associated with quality of care (56,7%) were satisfied with the care of SUS (76,7%), claimed
to have knowledge about their rights (70,0%), but at the same time did not know the meaning
of the acronym SUS (90,0%) and classified their level of information as inappropriate
(70,0%). We realize that people with VU identified as good the quality of care and
demonstrated inadequate knowledge about their rights to health in the SUS, but showed
interest in acquiring more information. The basic rights to entry in the SUS are
constitutionally guaranteed and need to be disseminated in order to make them known to the
population, so it can be implemented and ensured a greater resolution assistance in treating
this type of injury.
Descriptors: Varicose Ulcer; Right to Health; Knowledge; Nursing.
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
Comit de tica e Pesquisa CEP
Conferncia Nacional de Sade CNS
Estados Unidos da Amrica EUA
Hospital Universitrio Onofre Lopes HUOL
ndice de presso tornozelo/brao ITB
Insuficincia venosa crnica IVC
Sistema nico de Sade SUS
Sistema Unificado e Descentralizado de Sade SUDS
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido TCLE
Statistical Package for the Social Sciences SPSS
lceras venosas UV
Unidade de Terapia Intensiva UTI
Universidade Federal do Rio Grande do Norte UFRN
LISTA DE QUADROS
Quadro 1. Variveis de caracterizao sociodemogrfica e de sade das pessoas
com UV atendidas no ambulatrio do HUOL, segundo escores/categorias
de verificao. Natal/RN, 2011 ................................................................. 37
Quadro 2. Variveis de caracterizao da assistncia sade/SUS prestada s
pessoas com UV atendidas no ambulatrio do HUOL, segundo
escores/categorias de verificao. Natal/RN, 2011 ................................... 38
Quadro 3. Variveis de evoluo clnica das pessoas com UV atendidas no
ambulatrio do HUOL, segundo escores/categorias de verificao.
Natal/RN, 2011 .......................................................................................... 39
Quadro 4. Variveis relacionadas ao conhecimento dos direitos sade das pessoas
com UV atendidas no ambulatrio do HUOL, segundo escores/categorias
de verificao. Natal/RN, 2011 ................................................................. 40
Quadro 5. Profissional ou pessoa que realizava o curativo das lceras venosas fora
do ambulatrio. Natal/RN, 2011 ................................................................. 50
Quadro 6. Tipo de terapia compressiva utilizada pelas pessoas com UV. Natal/RN,
2011 .............................................................................................................. 51
Quadro 7. Categorizao das respostas sobre a influncia do conhecimento no
tratamento da leso. Natal/RN, 2011 ........................................................... 65
Quadro 8. Categorizao dos interesses sobre os direitos como usurios do SUS.
Natal/RN, 2011 ............................................................................................ 65
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Caractersticas sociodemogrficas e de sade das pessoas com UV,
segundo o tempo de UV atual. Natal/RN, 2011................................................ 43
Tabela 2. Caractersticas clnicas das pessoas com UV, segundo o tempo de UV
atual. Natal/RN, 2011....................................................................................... 46
Tabela 3. Local de tratamento nos ltimos 30 dias. Natal/RN, 2011............................... 52
Tabela 4. Medidas tomadas quando no h possibilidade de trocar os curativos na
unidade em que procura assistncia. Natal/RN, 2011...................................... 52
Tabela 5. Caracterizao da assistncia segundo o tempo da UV atual. Natal/RN,
2011................................................................................................................... 53
Tabela 6. Avaliao da qualidade da assistncia s pessoas com UV. Natal/RN,
2011................................................................................................................... 57
Tabela 7. Caracterizao do conhecimento segundo o tempo de UV atual. Natal/RN,
2011................................................................................................................... 59
Tabela 8. Avaliao do respeito aos direitos assistncia sade no tocante
assistncia de sua leso, segundo o tempo da UV atual. Natal/RN, 2011........ 62
Tabela 9. Avaliao do conhecimento sobre o SUS das pessoas com UV segundo o
tempo de leso atual. Natal/RN, 2011.............................................................. 63
Tabela 10. Obteno de informaes sobre o direito sade, segundo o tempo da UV
atual. Natal/RN, 2011....................................................................................... 63
SUMRIO
1 INTRODUO .............................................................................................................. 12
1.1 PROBLEMATIZAO ............................................................................................... 15
1.2 JUSTIFICATIVA .......................................................................................................... 17
2 OBJETIVOS ................................................................................................................... 18
3 REVISO DE LITERATURA ..................................................................................... 19
3.1 RETROSPECTIVAS DO SUS, CONCEITOS, PRINCPIOS E DIRETRIZES .......... 19
3.2 DIREITOS DOS USURIOS DO SUS E SUAS PERCEPES ............................... 21
3.3 A INSUFICINCIA VENOSA CRNICA E A LCERA VENOSA CRNICA ..... 27
3.4 ASSISTNCIA SADE DAS PESSOAS COM LCERA VENOSA
CRNICA .......................................................................................................................... 31
4 METODOLOGIA .......................................................................................................... 34
4.1 TIPO DE ESTUDO ....................................................................................................... 34
4.2 LOCAL DO ESTUDO .................................................................................................. 34
4.3 POPULAO E AMOSTRA ....................................................................................... 35
4.4 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS .............................................................. 36
4.5 VARIREIS DO ESTUDO .......................................................................................... 36
4.6 ASPECTOS TICOS .................................................................................................... 40
4.7 PROCEDIMENTOS PARA COLETA DE DADOS .................................................... 41
4.8 PROCEDIMENTOS DE TRATAMENTO E ANLISE DE DADOS ........................ 41
5 RESULTADOS E DISCUSSES ................................................................................. 42
5.1 CARACTERIZAO SOCIODEMOGRFICA, DE SADE, CLNICA E DA
ASSISTNCIA DAS PESSOAS COM LCERA VENOSA CRNICA ......................... 42
5.2 CARACTERIZAO DA QUALIDADE DA ASSISTNCIA DAS PESSOAS
COM LCERA VENOSA CRNICA NOS SERVIOS DE SADE ............................ 53
5.3 CONHECIMENTO DAS PESSOAS COM LCERA VENOSA CRNICA
REFERENTE AOS SEUS DIREITOS SADE ............................................................. 58
6 CONCLUSO ................................................................................................................ 67
7 CONSIDERAES FINAIS ........................................................................................ 69
REFERNCIAS
APNDICE
ANEXO
12
1 INTRODUO
O homem, como pessoa, detm direitos justamente por ser senhor de si e dos prprios
atos, e detm, igualmente, a liberdade natural. Prega o artigo 1 da Declarao Universal dos
Direitos Humanos que todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos. So
dotados de razo e conscincia e devem agir em relao uns aos outros com esprito de
fraternidade. Esta liberdade a que se refere o artigo advm do Direito Natural, evoluindo do
prprio direito vida. Esta sucesso de direitos fundamentais a base de um princpio
determinante para a vida harmnica de todos os seres humanos: a dignidade da pessoa, o que
corresponde ao direito de todo ser humano em ser respeitado, tanto a sua essncia quanto os
seus direitos. (DROPA, 2003).
Apenas em 1988, a Constituio Federal implementou a sade como direito de todos.
Antes, o atendimento sade era oferecido pelo Estado a quem tinha vnculo empregatcio e
carteira assinada. Outras pessoas tinham acesso sade, no como um direito, mas como um
favor. Com a criao do Sistema nico da Sade (SUS) surgem alguns princpios bsicos de
atendimento sade: universalidade, equidade, integralidade, hierarquizao e controle social.
Todos os cidados, em teoria, passam a ter acesso sade. So criados os servios de ateno
bsica sade. Na tica desse modelo, as pessoas buscam a unidade de sade, e estas
precisam corresponder procura.
O Sistema nico de Sade seria o projeto mais perfeito (e humano) que poderia dar
certo, em potencialidade, se no houvesse tantas distores no mesmo; ele foi criado s
margens da perfeio, em estrutura to densa que dificilmente falharia, porm, infelizmente,
esse Sistema to almejado e trabalhado est sujeito s falhas, desnecessariamente,
administrativas, quer seja no mbito local, quer seja no mbito nacional, gerando um
confronto, de certa forma, agressivo aos direitos sade. (BRANCO FILHO, 2008).
A busca da qualidade na ateno dos servios de sade deixou de ser uma atitude
isolada e tornou-se hoje um imperativo tcnico e social. A sociedade est exigindo cada vez
mais a qualidade dos servios a ela prestados. Essa exigncia torna fundamental a criao de
normas e mecanismos de avaliao e controle da qualidade assistencial. Uma vez que a
garantia da qualidade exige um maior nvel de profissionalismo e, consequentemente, um
melhor desenvolvimento tcnico, a meta final de um programa de busca da qualidade deve ser
a busca da satisfao do paciente, por intermdio de uma ateno competente, com um
mnimo de complicaes ou sequelas. (BRANCO FILHO, 2008).
13
Concordamos que a Constituio garante ao cidado o acesso informao prescrito no
Captulo I, que trata dos direitos e deveres individuais e coletivos, e no artigo 5, item XIV:
Assegurado a todos o direito a informao e resguardado o sigilo da fonte, quando
necessrio ao exerccio profissional, - e sendo esta, considerada, como um produto
obtido a partir da reunio, correlao e confrontao de dados existentes em uma
respectiva atividade, que nos permite conhecer, interpretar e avaliar uma
determinada situao, podemos ento concluir que informao em sade aquela
produzida pelo prprio setor, bem como de outros de interesse ou qualquer dado
referente sade no seu conceito ampliado, adotado pela Organizao Mundial de
Sade. (PEREIRA, 2003,p 1).
Esse conceito ampliado de sade engloba condies socioeconmicas e polticas, alm
de levar em considerao a situao geogrfica e histrica de uma populao. A combinao
desses dados, submetida a determinadas elaboraes e associada a um referencial explicativo,
vai descrever de forma mais prxima a realidade da sade para os gestores, podendo assim
contribuir para um processo de reflexo, avaliao e de tomada de decises sobre o
enfrentamento de determinadas situaes de sade. Tambm pode contribuir para informar a
populao de como ela se insere nesse contexto de forma participativa e construtiva. Sendo
esta a correlao estabelecida neste estudo, frente amplitude desse conceito. (PEREIRA,
2003).
Alm disso, a maioria dos pacientes usurios do SUS parece desconhecer os seus
direitos pertinentes assistncia, esta que adquire um carter paternalista, e tudo o que feito
pelo usurio mascarado pela informalidade do servio. Certamente, essa assistncia estaria
melhor qualificada se esses pacientes buscassem conhecer seus direitos e estes fossem
aplicados aos seus interesses.
Nesse contexto, visualizamos as pessoas portadoras de feridas de uma maneira geral,
esta que atualmente definida como uma patologia que causa modificaes ocasionadas na
pele, por diversos processos traumticos, inflamatrios, degenerativos, circulatrios,
distrbios metablicos ou defeitos congnitos. As alteraes ocasionadas pelas leses
cutneas apresentam muitas vezes tecidos desvitalizados, exsudato constante, esfacelos,
processos necrticos, extravasamento sanguneo ou, ainda, apresentam-se na sua forma mais
grave do surgimento de leses ulcerativas. (CUNHA, 2010).
As lceras venosas (UV) podem ser vistas como um problema de sade pblica, estando
presentes no dia a dia da sociedade, devido s modificaes causadas no estado fsico, mental,
14
social e nas condies de mobilidade, tornando o indivduo incapaz de exercer suas
atividades, resultando na diminuio da sua autoestima, da qualidade de vida e,
consequentemente, privando-o do convvio social. (BARBOSA; CAMPOS, 2010).
O tratamento exige conhecimento especfico, habilidade tcnica, atuao
interdisciplinar, adoo de protocolo, articulao entre os nveis de complexidade de
assistncia e participao ativa do portador e seus familiares dentro de uma perspectiva
holstica (DEODATO; TORRES, 2008a; NBREGA et al., 2008; BORGES, 2005;
CASTILHO et al., 2004).
Durante o tratamento, entendemos que so essenciais o cuidado com a ferida e a pele ao
redor, o controle dos fatores sistmicos, a indicao da cobertura adequada e, principalmente,
a melhora do retorno venoso, uma vez que o controle da hipertenso venosa crnica promove
significativa regresso do edema, da hiperpigmentao, da lipodermatoesclerose e da prpria
leso. Os questionamentos morais so, da mesma forma, reforados pelos considerveis
avanos da cincia em nossos dias, o que tem levado a um renascimento das discusses ticas,
uma vez que a liberdade de ao do ser humano necessita de mnimos referenciais e limites
para convivncia em sociedade. (JORGE; DANTAS, 2005).
O resgate desse tratamento necessita de fins humanitrios, pois hoje se visualizam com
maior nfase as questes financeiras e polticas diante das necessidades dos cuidados, para
que o individuo no permanea sendo visto somente como um detalhe, que traz ao
profissional um rendimento considervel diante do recebimento de seus honorrios.
(BARBOSA; CAMPOS, 2010).
Estudos recentes, referentes s ltimas pesquisas feitas no Estado do Rio Grande do
Norte, j comprovaram que a assistncia s pessoas com UV pode ser caracterizada pela falta
de profissionais enfermeiros e indisponibilidade de produtos para a realizao correta do
curativo no ambulatrio e fora dele; pela inadequao de produtos utilizados nas UVs; por
longos perodos de tratamento sem resolutividade, onde a terapia compressiva no
prioritria; pela ausncia de integralidade entre os nveis de assistncia; pelo
acompanhamento do portador de UV apenas pelo mdico e pela enfermagem, mesmo tendo
os outros profissionais da equipe de sade presentes no servio; pela realizao de orientaes
pelos profissionais de sade; e pela falta de padronizao na realizao de exames
laboratoriais e especficos. (COSTA, 2011; DEODATO, 2007; NBREGA et al., 2008;
TORRES et al., 2009).
15
Inseridas nesses estudos, no que se refere a resultados, h concluses a respeito da
assistncia prestada s pessoas com UV de que esta foi inadequada em 80% dos casos
entrevistados, tornando-se no resolutiva e assistemtica. (DEODATO, 2007).
Diante do exposto, esta investigao tem como objeto de estudo identificar a qualidade
da assistncia e o conhecimento do direito sade dos usurios com lcera venosa crnica
atendidos no ambulatrio de Clnica Cirrgica do Hospital Universitrio Onofre Lopes.
1.1 PROBLEMATIZAO
Este estudo parte da minha vivncia como enfermeira de unidades bsicas de sade e
de um hospital universitrio, em que pude assistir e estudar pacientes portadores de lceras
venosas, atendidos nos diversos nveis de assistncia do SUS do nosso estado, bem como est
embasado nos resultados de pesquisas desenvolvidas por Deodato (2007), Nbrega (2009),
Nunes (2006), Nunes et al. (2008), Torres et al. (2007), que trouxeram um relevante
conhecimento no tocante problemtica das pessoas com UV.
Pesquisas realizadas em Natal/RN mostram que fatores como a falta de diagnstico da
UV, no realizao de exames laboratoriais, acesso restrito ao angiologista, ausncia de
tratamento sistmico, terapia tpica incorreta, irregularidade no tratamento, ausncia de
terapia compressiva, presena de dor, inadequao na conduta domiciliar, falta de materiais
para curativos e ausncia de treinamentos para cuidadores contribuem para a inadequao da
assistncia prestada s pessoas com UV, tanto no nvel da Ateno Bsica como na Alta
Complexidade. Tais fatores influenciam na evoluo das lceras vasculares, contribuindo para
a manuteno da cronicidade dessas leses. Alm desses aspectos, os determinantes das
condies de vida dessa populao, como escolaridade, faixa etria, renda mensal, ocupao e
hbitos de vida, dificultam muitas vezes a efetivao das aes, acarretando o prolongamento
do tratamento e favorecendo a cronicidade das leses. (COSTA, 2011; DEODATO, 2007;
NBREGA et al., 2008; TORRES et al., 2009).
Nunes (2006) identificou, ainda, uma tendncia de surgimento e manuteno de
cronicidade da UV no sexo feminino, em faixa etria superior a 59 anos, cujas condies
socioeconmicas so desfavorveis, bem como a presena de posio ortosttica e de doenas
crnicas associadas. Sendo assim, os cuidados com as UVs exigem atuao interdisciplinar,
adoo de protocolo, conhecimento especfico, habilidade tcnica, articulao entre os nveis
de complexidade de assistncia e tambm participao ativa das pessoas portadoras dessas
leses e seus familiares, dentro de uma perspectiva holstica.
16
Destaca-se como fator impulsionador da problemtica das UVs o funcionamento
inadequado das polticas de sade que deveriam atender com mais compromisso as
necessidades desses pacientes. Uma vez que uma poltica de sade organizada e voltada para
estes pacientes pode oportunizar ao profissional de sade uma assistncia de maior qualidade,
inserida no conceito ampliado de sade, que permita deslocar o foco do atendimento centrado
apenas na lcera para uma abordagem geral do portador, superando a viso simplista e
limitada da assistncia. (NBREGA et al., 2008).
De acordo com Silva et al. (2007) e Torres et al. (2007), quando a assistncia pessoa
com UV mal conduzida, a leso pode permanecer anos sem cicatrizar, acarretando um alto
custo social e emocional. Em inmeros casos, afasta o indivduo do trabalho, agravando as
condies socioeconmicas j precrias.
vlido salientar que o grau de conhecimento do paciente a respeito de seus direitos
como cidado e usurio do SUS influencia de modo substancial em seu tratamento, pois
certamente, se esses direitos fossem conhecidos pelo portador de lcera venosa e considerados
pelos responsveis que possibilitam o desempenho da assistncia, o atendimento sade seria
de maior qualidade e a recuperao das feridas seria bem mais frequente.
Assim, a busca pela qualidade da ateno dos servios de sade deixou de ser uma
atitude isolada e tornou-se hoje um imperativo tcnico e social. A sociedade est exigindo
cada vez mais a qualidade dos servios a ela prestados. Essa exigncia torna fundamental a
criao de normas e mecanismos de avaliao e controle da qualidade assistencial. Uma vez
que a garantia da qualidade exige um maior nvel de profissionalismo e, consequentemente,
um melhor desenvolvimento tcnico. A meta final de um programa que busca a qualidade
deve ser a satisfao do paciente, por intermdio de uma ateno competente, com um
mnimo de complicaes ou sequelas. (BRANCO FILHO, 2008).
Diante do exposto, podemos propor os seguintes questionamentos:
- Como se caracterizam os usurios com lcera venosa crnica nos aspectos
sociodemogrficos, de sade, clnicos e da assistncia?
- Qual a qualidade da assistncia prestada aos usurios de lcera venosa crnica nos
servios de sade?
- Qual o conhecimento dos usurios com lcera venosa crnica acerca dos seus
direitos sade?
17
1.2 JUSTIFICATIVA
Creditamos a este trabalho proporcionar benefcios aos usurios de sade, uma vez
que realiza a identificao das condies sociodemogrficas, de sade, clnicas e da
assistncia prestada s pessoas com UV, como tambm em virtude de proporcionar a
identificao do nvel de conhecimento desses usurios acerca do SUS e de seus direitos
sade.
Assim, esperamos com este estudo que o paciente possa ser visto de modo integral.
Isso inclui perceber a importncia de todos os condicionantes que afetam a sade desses
indivduos, pois reconhecemos que a pessoa com UV sofre bastante com o impacto social,
com o desemprego, o isolamento, a invalidez precoce, a diminuio da produtividade.
No que diz respeito avaliao da qualidade da assistncia, o estudo oportunizar aos
profissionais de sade um repertrio de conhecimentos sobre a avaliao da qualidade do
servio prestado por eles. E, assim, possibilita a esses profissionais o diagnstico dos ns
crticos dessa prestao de servios para que se realize uma assistncia de maior qualidade, na
qual a viso simplista possa ser superada.
Outro fator relevante para a realizao deste estudo a sua contribuio para as
cincias da sade de forma geral e particularizada, pois, apesar de existir literatura sobre a
doena venosa, e alguns trabalhos sobre a qualidade da assistncia s pessoas com UV,
estudos sobre o conhecimento dos usurios a respeito do SUS e de seus direitos a sade ainda
so incipientes. Assim, este estudo vem contribuir para qualificar e aumentar a literatura a
respeito dessa temtica.
18
2 OBJETIVOS
Caracterizar os aspectos sociodemogrficos, de sade, clnicos e da assistncia das
pessoas com lcera venosa crnica atendidas no ambulatrio de Clnica Cirrgica do
Hospital Universitrio Onofre Lopes;
Identificar a qualidade da assistncia das pessoas com lcera venosa crnica nos
servios de sade, durante dois meses, utilizando os instrumentos de pesquisa;
Identificar o conhecimento das pessoas com lcera venosa crnica referente aos seus
direitos sade.
19
3 REVISO DE LITERATURA
A reviso bibliogrfica que subsidia este estudo abordar o Sistema nico de Sade
atravs de uma breve retrospectiva, com seus conceitos, princpios e diretrizes; os direitos dos
usurios do SUS e suas percepes acerca do tema, com enfoque na Carta dos Direitos dos
Usurios; aspectos da insuficincia venosa crnica e da lcera venosa crnica; e por ltimo
ser enfatizada a assistncia sade s pessoas com UV.
3.1 RETROSPECTIVA DO SUS, CONCEITOS, PRINCPIOS E DIRETRIZES
No sculo XX, o sistema de sade transitou do sanitarismo campanhista (incio do
sculo, at 1965) para o modelo assistencial privatista, at chegar, no final dos anos de 1980,
ao modelo plural, hoje vigente, que inclui como sistema pblico de sade, o SUS.
A dcada de 80 foi marcada por grandes mudanas econmicas e polticas que
determinaram o esgotamento do modelo assistencial privatista e sua substituio por outro
modelo de sade. Nessa poca, predominava um grande descontentamento por parte da
sociedade civil organizada, j no se acreditando no aumento da ateno mdica como
resposta aos problemas de sade da populao.
No Brasil, em 1986, realizou-se, em Braslia, a VIII Conferncia Nacional de Sade
(CNS), com grande participao popular, sendo considerada um marco nas propostas de
mudana do setor de sade, cujas recomendaes foram incorporadas em grande parte pela
Constituio de 1988. (PAIM, 2003). O relatrio final da CNS apontava o fim da excludncia
social na sade, com a construo de um sistema nico de sade.
No primeiro momento tornou-se imperativo cuidar das bases jurdicas para implantao
das novas medidas, sendo uma delas a aprovao do captulo da Sade da Constituio da
Repblica. Em seguida, trabalhar as mobilizaes de setores da sociedade civil (formao de
conselhos municipais de sade e participao na gesto dos servios de sade). E, por ltimo,
e no menos importante, a criao de um Sistema Unificado e Descentralizado de Sade
(SUDS), considerada uma estratgia-ponte para a implantao do SUS (PASSOS, 2003).
Os antecedentes do SUS remetem a um cenrio epidemiolgico e de estrutura sanitria,
caracterizada pela falta de cobertura e limitaes do modelo vigente, relacionadas com os
grandes problemas de desenvolvimento e dvida social que o pas acumulava. Nessa
perspectiva, o SUS promove uma transio de um modelo assistencial, vertical, centrado na
doena, baseado na prestao de servios de sade individual e notadamente curativo, para
20
um modelo completamente novo quanto lgica de sua organizao e dos valores que o
constituem. (PASSOS, 2003).
O Sistema nico de Sade, tal e como o conhecemos hoje, produto de um grande
esforo coletivo de mobilizao no pas, que culminou com a sua oficializao no ano de
1988, ao ser decretada a nova Constituio Brasileira, que reza que a sade direito do
cidado e dever do Estado. A experincia brasileira de edificao do SUS , sem dvida,
emblemtica na construo democrtica que o pas retomou, no fim da dcada de 80, no que
concerne ao campo da responsabilidade social. (PAIM, 2003).
O SUS, apesar de todas as dificuldades, uma das mais importantes conquistas da
sociedade brasileira, fruto de um longo processo de acmulo e lutas sociais que, desde os anos
de 1970, envolve movimentos populares, trabalhadores da Sade, usurios, gestores,
intelectuais, sindicalistas e militantes dos mais diversos movimentos sociais. (BRASIL,
2006a).
Ele foi institucionalizado na Constituio da Repblica, nas Leis Federais 8.080 e
8.142, de 1990, nas Constituies Estaduais e nos novos Cdigos de Sade, e traz consigo
uma mudana radical: a Sade como Direito, a ser garantido pelos princpios da
universalidade, integralidade, equidade, descentralizao e participao social. (BRASIL,
2006a).
Tal sistema formado pelo conjunto de todas as aes e servios de sade prestados por
rgos e instituies pblicas federais, estaduais e municipais, da administrao direta e
indireta e das fundaes mantidas pelo Poder Pblico. (BRASIL, 2000).
Ele nasce trazendo um novo conceito do processo sade/doena e abriga seus princpios
em um conjunto das aes em sade que abrangem um ciclo completo e integrado entre a
promoo sade, a proteo e a recuperao. (ALMEIDA, 2003).
E representa a materializao de uma nova concepo acerca da sade em nosso pas.
Antes a sade era entendida como o Estado de no doena, o que fazia com que a lgica
girasse em torno da cura de agravos sade. Essa lgica, que significava apenas remediar os
efeitos com menor nfase nas causas, deu lugar a uma nova noo centrada na preveno dos
agravos e na promoo da sade. Para tanto, a sade passa a ser relacionada com a qualidade
de vida da populao, a qual composta pelo conjunto de bens que englobam a alimentao,
o trabalho, o nvel de renda, a educao, o meio ambiente, o saneamento bsico, a vigilncia
sanitria e farmacolgica, a moradia e o lazer. (BRASIL, 2000).
Como tambm constitui, hoje, a mais importante e avanada poltica social em curso no
pas. Seu carter pblico, universal, igualitrio e participativo serve como exemplo para as
21
demais reas sociais. Sua proposta de reforma do Estado, democrtica e popular, aponta para
a construo de uma sociedade fundada nos princpios da justia social. (BRASIL, 2006a).
O Sistema nico de Sade segue a mesma doutrina em todo o territrio nacional e os
seus princpios esto baseados nos seguintes preceitos constitucionais. (BRASIL, 1990a):
Universalidade: Garantia de ateno sade, por parte de todo e qualquer cidado. A
sade direito da cidadania e dever dos governos municipal, estadual e federal.
Equidade: Garantia de acesso a qualquer pessoa, em igualdade de condies, nos
diferentes nveis de complexidade do sistema.
Integralidade: o reconhecimento na prtica dos servios de que cada pessoa um
todo indivisvel. As aes de promoo, proteo e recuperao da sade no podem ser
compartimentalizadas; as unidades prestadoras de servios, com seus diversos graus de
complexidade, formam tambm um todo indivisvel, configurando um sistema capaz de
prestar assistncia integral. O homem um ser integral, biopsicossocial e dever ser atendido
com esta viso integral por um sistema de sade tambm integral, voltado a promover,
proteger e recuperar a sua sade.
Regionalizao e Hierarquizao: Organizao dos servios em nveis de
complexidade diferenciada, distribuindo-os a uma populao definida e em um territrio
delimitado.
3.2 DIREITOS DOS USURIOS DO SUS E SUAS PERCEPES
O direito o elemento principal da ordem da cidadania. E um dos principais indicadores
de qualidade no planejamento e gesto dos servios de sade deve ser o respeito aos direitos
dos cidados, como usurios desse servio, apesar de as reflexes sobre esse assunto terem
sido mnimas, gerando uma habituao s frequentes violaes ticas e legais dos direitos dos
usurios dos servios de sade. (FORTES, 1994).
A primeira declarao de direitos dos pacientes a ser reconhecida pela literatura foi
emitida pelo Hospital Mont Sinai, em Boston (Estados Unidos da Amrica EUA), em 1972.
A Declarao da Conferncia Internacional sobre Cuidados Primrios de Sade, que
aconteceu em Alma-Ata, em 1978, reafirmou que a sade um estado de bem-estar completo,
fsico, mental e social, e no somente a ausncia de doenas ou enfermidades, sendo um
direito humano fundamental. Em 1979, a Comunidade Econmica Europeia se manifestou
mediante a Carta do Doente Usurio de Hospital, que afirmou o direito do paciente
hospitalizado autodeterminao, o direito para aceitar ou recusar os cuidados propostos
22
pelos profissionais de sade, como tambm a obrigatoriedade do fornecimento das
informaes sobre todos os fatos referentes ao estado de sade. Em 1984, o Parlamento
Europeu adota a Carta Europeia dos Direitos do Paciente, que expressa, entre outros aspectos,
o direito informao sobre o tratamento e o prognstico, o direito consulta, pelo usurio, a
seu pronturio mdico, assim como o direito de consentir ou de recusar ser submetido a
tratamentos. (FORTES, 2004).
No Brasil, alm das bases constitucionais relativas a direitos individuais, coletivos e
sociais, a legislao infraconstitucional relativa ao setor de sade traz diretrizes e normas que
se referem, de forma direta ou indireta, humanizao da ateno em sade, tais como a
preservao da autonomia das pessoas na defesa de sua integridade fsica e moral, igualdade
da assistncia sade, sem preconceitos ou privilgios de qualquer espcie, e ao direito
informao das pessoas assistidas sobre sua sade (Lei federal 8080/90, art. 7, III, IV e V)
(FORTES, 2004).
Ao analisar o desenvolvimento dos modelos de atendimento sade no Brasil, observa-
se que, no plano legal, a criao do Sistema nico de Sade concebeu avanos, sobretudo
pelos seus princpios gerais de organizao. Alm de outros pontos, esses princpios
assinalam para a garantia de acesso de toda e qualquer pessoa a todo e qualquer servio de
sade, e para a participao cidad. A sade ainda definida como resultante de polticas
sociais e econmicas, como direito de cidadania e dever de Estado. Apesar da sade ser um
direito constitucionalmente garantido, um olhar sobre o cotidiano dessas prticas mostra
facilmente a grande contradio existente entre essas conquistas estabelecidas no plano legal e
a realidade vivenciada pelos usurios e profissionais. (TRAVERSO-YPEZ; MORAIS,
2004).
Os direitos dos usurios do SUS esto legitimados nas Leis Orgnicas da Sade 8080/90
e 8142/90 (BRASIL, 1990a; 1990b), que regulamentam o SUS e expem a sade como um
direito de todos. (SANTOS, 2004).
Em 1995, foi emitida a Cartilha dos Direitos do Paciente pelo Conselho de Sade do
Estado de So Paulo, a partir de estudos efetuados pelo Frum Permanente de Patologias
Crnicas, cujas diretrizes e os princpios a dispostos inspiraram a elaborao da Lei estadual
n 10241, promulgada em maro de 1999, relativa aos direitos dos usurios dos servios e das
aes de sade no estado. Essas iniciativas tiveram repercusses em outros estados
brasileiros. (FORTES, 2004).
A Carta dos Direitos dos Usurios do SUS se coloca como um dispositivo para o
cidado conhecer seus direitos de acesso ao sistema de sade vigente e pretende estimular
23
discusses nos nveis de ateno, capazes de ampliar a participao do usurio na cogesto e
qualificao da ateno sade como um bem pblico. (KOERICH et al., 2009).
A Carta dos Direitos dos Usurios do SUS se ampara em seis princpios bsicos de
cidadania. Juntos, eles asseguram ao cidado o direito ao ingresso digno nos sistemas de
sade, sejam eles pblicos ou privados. uma importante ferramenta para que voc conhea
seus direitos e possa ajudar o Brasil a ter um sistema de sade com muito mais qualidade.
(BRASIL, 2007, p.1).
Tais princpios apregoam:
I - todo cidado tem direito ao acesso ordenado e organizado aos sistemas de sade;
II - todo cidado tem direito a tratamento adequado e efetivo para seu problema;
III - todo cidado tem direito ao atendimento humanizado, acolhedor e livre de qualquer
discriminao;
IV - todo cidado tem direito a atendimento que respeite a sua pessoa, seus valores e
seus direitos;
V - todo cidado tambm tem responsabilidades para que seu tratamento acontea da
forma adequada;
VI - todo cidado tem direito ao comprometimento dos gestores da sade para que os
princpios anteriores sejam cumpridos.
O conhecimento dos direitos dos usurios essencial para o desenvolvimento da
conscincia democrtica, responsvel e reflexiva do cidado, tanto no papel de usurio quanto
no de profissional da sade; conhecer os direitos o primeiro passo para diminuir as barreiras
enfrentadas pelos usurios para o acesso pleno a seus direitos de cidadania. (DALLARI,
2005).
Ao mencionar o acesso de todos informao como um direito individual, ressalta-se o
direito fundamental informao em sade, ou seja, o direito que o usurio de um servio de
sade tem de ser informado sobre todos os aspectos que envolvam a sua sade, que assegurem
o acesso informao por direito. (LEITE, 2010).
Vale salientar que somente pode se considerar informao algo que estabelea uma
relao de significado para o sujeito, sendo assim compreendido. Outro aspecto importante a
qualidade da informao, que necessita estar adequada s situaes e condies sociais,
psicolgicas e culturais, orientado especificamente para cada indivduo. (VALENTIM, 2008).
Nesta situao entre o que oferecido legalmente e o cumprimento da lei na sua
integralidade, de forma a beneficiar de fato o cidado brasileiro, tem-se servios que no s se
estruturam como atendem muito precariamente as necessidades da populao, apontando para
24
a aguda fragilidade na relao entre os direitos estabelecidos e o exerccio efetivo da
cidadania. A mera declarao do direito no garantia da sua concretizao, o que o faz
existir de fato a demanda efetiva dos diferentes sujeitos sociais. (CHAU, 1997).
Para que sejam implementados os direitos do usurio, previstos na legislao,
necessrio que esses sejam divulgados de modo a torn-los conhecidos da populao e dos
prprios profissionais de sade. Assim, evidente a responsabilidade de todo profissional de
sade em incorporar postura reflexiva e tica, que contemple a adoo de novos
conhecimentos e habilidades necessrias para a efetiva comunicao com os usurios dos
servios de sade. (SANTOS et al., 2011a).
A construo do conhecimento acontece na esfera individual, contudo a pessoa no
um vazio, ela possui um conhecimento preexistente, construdo atravs da relao com o
mundo e com os demais. Nesse sentido, a informao transforma um conhecimento prvio,
interferindo no desenvolvimento do novo, o qual construdo a partir de toda influncia
social, poltica, econmica ou cultural que o indivduo tem. (ALMEIDA JNIOR, 2009).
Como processo, a informao transforma o conhecimento de algum e situacional,
dependendo do nvel de conhecimento do receptor no momento da troca de informao.
Sendo este processo de construo do conhecimento complexo, que acontece atravs da
interao entre os sujeitos, como tambm com as informaes, pois ao process-las,
considerando suas relaes cognitivas, o indivduo se apropria dos contedos, interiorizando a
informao. (VALENTIM, 2008).
A carncia socioeconmica dos usurios dos servios pblicos de sade, representada
pelos baixos nveis de escolaridade e de renda familiar, pode ser um dos condicionadores da
precarizao das condies de assistncia e de atendimento aos seus direitos em sade,
justamente pela capacidade prejudicada de compreenso sobre seus direitos sanitrios e
tambm pelas dificuldades de diferentes naturezas que o sistema jurdico brasileiro oferece
para apoiar esses usurios, quando necessitam ter seus direitos atendidos. (BELLATO;
PEREIRA, 2005).
No mbito da sade, a Portaria do Ministrio da Sade acerca do direito do paciente
afirma que as informaes devem ser claras, simples e compreensivas, adequadas ao contexto
cultural do paciente, seja sobre as aes diagnsticas e teraputicas, o tratamento, informaes
sobre a patologia ou outros procedimentos a serem realizados. (BRASIL, 1993).
Com relao maneira como a informao fornecida, Biondo-Simes et al. (2007)
expem que podem ser de forma oral ou por escrito, desde que a mensagem seja efetiva e se
tenha certeza de houve uma compreenso das informaes.
25
O exerccio da cidadania pelos usurios est diretamente relacionado ao seu
empoderamento, sendo este o processo pelo qual os que detm o poder, no caso, os
profissionais de sade, favorecem aos outros (usurios) adquirirem e usarem o poder
necessrio (empoderamento da informao) para tomar decises que afetam a si ou sua vida.
No deve considerar o poder apenas nos nveis mais altos, mas como algo que pode ser
compartilhado por todos. (SCHERMERHORN; HUNT; OSBORN, 2005).
A informao em sade tida como um processo de informar ao usurio todos os
aspectos relacionados sua sade ou doena. O mediador geralmente algum profissional de
sade, que se torna componente essencial nessa apropriao de informao, sendo ele o
intermedirio na comunicao. (LEITE, 2010).
O documento que regulamenta a profisso da enfermagem no Brasil (COFEN, 2000)
explicita que dever do profissional contribuir com a equipe de sade no esclarecimento das
dvidas do cliente e da famlia sobre o estado de sade daquele, o tratamento, possveis
benefcios e riscos. Dessa forma, observa-se que h uma contradio entre a tica e a atuao
do profissional, uma vez que a informao, que o principal meio para que o indivduo
compreenda e decida sobre o seu tratamento, no viabilizada. (MEIRELES et al., 2010).
A necessidade de prover informao adequada aos usurios dos servios de sade nos
remete ao papel social que a Enfermagem exerce, uma vez que representa um elo entre os
usurios e os atuais modelos de sade vigentes. A informao faz parte do cuidado ao usurio,
sendo atitude justa orient-lo devidamente para que ele possa buscar os recursos que a
sociedade coloca sua disposio para a assistncia sade. (SELLI et al., 2005).
Nesse contexto, Almeida Jnior (2009) ressalta que a mediao da informao permite
o deslocamento do usurio da categoria de mero receptor, colocando-o como ator central do
processo de apropriao, ou seja, h um empoderamento atravs da informao, pois o
usurio se desloca da categoria de receptor passivo da informao a um ser ativo e
participativo, e, portanto, cidado.
O mediador deve, ento, ser capaz de minimizar o desequilbrio de poder encontrado
nas relaes entre o profissional e o usurio do servio. Nesse sentido, Barros e Fortes (2003)
e Carmo (2002) abordam a relao de poder existente entre a falta de informao ou
desconhecimento do usurio sobre seus direitos e a conduta mdica de no esclarecer ou
prestar informaes sem se preocupar com a adoo de um padro subjetivo dirigido a cada
paciente, j que, pela tica institucional, o paciente est sendo tratado com qualidade.
Ao discutir a relao de comunicao entre profissional da sade e paciente, trazem que,
comumente, as informaes prestadas restringem-se quelas que os profissionais avaliam ser
26
necessrias e suficientes, muitas vezes sem considerar o que o paciente gostaria de saber.
(BARROS; FORTES 2003).
Em um estudo realizado com o objetivo de compreender os motivos que levavam
enfermeiras a interferirem na capacidade de autonomia de usurios com doenas crnicas,
observou-se que, dentre outros motivos, est o desconhecimento dos usurios de seus direitos.
(COSTA; LUNARDI; LUNARDI FILHO, 2007). Apesar dos avanos legalmente alcanados
pelas polticas pblicas, os usurios dos servios de sade, em sua maioria, desconhecem seus
direitos, no entanto, utilizam-se desses seus direitos na aquisio de medicamentos e insumos
para o seu tratamento. (SANTOS et al., 2011a).
Outra pesquisa acerca da percepo do cliente hospitalizado sobre seus direitos e
deveres tambm demonstrou o seu desconhecimento, trazendo o medo de exteriorizar
sentimentos por temor de represlia do profissional. Ressalta, ainda, a importncia de
estratgias junto aos profissionais para que recobrem a cidadania e o respeito aos direitos.
(VELOSO; SPINDOLA, 2005).
Um estudo realizado sobre a percepo de moradores de Vitria da Conquista/BA
acerca da assistncia prestada na sade pblica, ao questionar aos pesquisados se j haviam
procurado informaes sobre os recursos disponveis para a ateno primria sade da
populao, encontrou que 66% nunca procuraram informaes a respeito, 33% falaram que
sim e 1% no respondeu. (SANTOS et al., 2011b).
Um ponto que merece destaque que alguns usurios no tm a conscincia do seu
direito informao e permanecem na passividade, no tm a atitude de questionar ou mesmo
de discordar, aceitando a deciso da equipe de sade acerca do seu cuidado. (CARMO, 2002).
O desequilbrio nas relaes de poder entre o profissional da sade e aquele que
cuidado est intimamente ligado atitude passiva de alguns usurios; geralmente a relao
estabelecida embutida de um poder dos primeiros sobre o segundo, o qual reforado por
meio do conhecimento tcnico cientfico, do poder de curar, restando ao usurio aceitar o bem
que o outro proporcionou. (BARROS; FORTES, 2003).
Ao investigar o modo como os usurios de sade do servio pblico de Natal/RN
entendem a sua situao de paciente, focando nos direitos como usurios do servio e na
avalio do atendimento, as autoras Traverso-Ypez e Morais (2004) encontraram que os
usurios tm uma tendncia a identificar os fatores negativos acerca da assistncia sade,
contudo, quando questionados sobre aspectos especficos, a avaliao boa. Dentre os
motivos que levariam os pesquisados a retornar ao servio, 80% afirmaram que por ser
prximo residncia, no ter escolha/acesso ao servio privado, e apenas 26,5% responderam
27
que era devido qualidade do atendimento da equipe. Frequentemente a assistncia ofertada
entendida como um favor e no um direito, e h uma aceitao da baixa qualidade do servio
pblico, j que direcionada populao mais carente.
A informao em sade transformada em conhecimento pode levar apropriao da
informao pelo paciente, empoderando-o, permitindo que ele deixe de ser passivo e trazendo
possibilidades para que ele exera efetivamente seu direito sade. (LEITE, 2010).
Dessa maneira, sem a informao, que lhe devida por direito, o usurio no capaz de
reivindicar e/ou lutar pelos seus direitos, no tem condies e nem argumentos para
questionar, dificultando, dessa forma, o exerccio de sua autonomia e de sua cidadania.
(LEITE, 2010).
Torna-se possvel maior controle social e a participao coletiva nas aes de ateno e
nos processos da gesto em sade quando h apropriao desses direitos equilibrados com a
apropriao de deveres, pelo paciente e famlia. Esses valores de autonomia e
corresponsabilidade integram a proposta de humanizao na sade, com a valorizao dos
diferentes sujeitos implicados na produo da sade: usurios, trabalhadores e gestores
(BRASIL, 2006b) e o protagonismo nas decises (CAMPOS, 2005).
O papel do usurio do SUS de protagonista tem impacto direto na melhoria da relao
entre ele e o servio, proporcionando o repensar das aes ou interferir sobre a maneira de
organizao dos servios, visando sua qualificao e aperfeioamento. (RAMOS; LIMA,
2003).
O desafio de formar multiplicadores dos direitos do paciente de extrema importncia
no cotidiano, uma vez que a ateno e a gesto humanizadas em sade somente sero
efetivadas com a dignidade conquistada e pelo acolhimento promovido nas relaes entre
todos os participantes deste processo de sade pblica. (GOMES et al., 2008).
No h, ento, como desvincular a cidadania dos usurios da dos trabalhadores, pois
ambos so possuidores de direitos que, somados, redundam em qualidade de vida para todos,
numa relao simtrica entre ambos, sendo portadores dos mesmos direitos e se assumindo
como sujeitos de mudana. (VILLA; PEREIRA, 2009).
3.3 A INSUFICINCIA VENOSA CRNICA E A LCERA VENOSA CRNICA
Para Yamada e Santos (2005), desde os primrdios da humanidade, o homem
acometido por vrias enfermidades. Na Antiguidade, Hipcrates (460 370 a.C.) e
Asclpiades de Bithynia (124 40 a.C.) mencionavam sobre enfermidades da poca e uma
28
delas era a doena venosa crnica dos membros inferiores, comumente denominada de
insuficincia venosa crnica.
A IVC uma anormalidade do funcionamento do sistema venoso causada por uma
incompetncia valvular, associada ou no obstruo venosa, que pode afetar o sistema
venoso superficial, o profundo ou ambos, e ser congnita ou adquirida. (FRANA;
TAVARES, 2003).
A incompetncia valvular na IVC configura-se como a incapacidade de manuteno do
equilbrio entre o fluxo de sangue arterial que chega ao membro inferior e o fluxo venoso que
retorna ao trio direito. Essa incapacidade acarreta um regime de hipertenso venosa crnica
que afeta a microcirculao e acaba por lesar as paredes dos vasos, aumentando sua
permeabilidade e facilitando a passagem de substncias do seu interior para a pele, que
culminam tardiamente com alteraes cutneas como veias varicosas, edema,
hiperpigmentao, eczema, erisipela, lipodermatosclerose, dor, e acabam com a ulcerao do
tecido. (ABBADE; LASTRIA, 2006; CASEY, 2004; ETUFUGH; PHILLIPS, 2007).
A obstruo venosa tambm aumenta a presso venosa e, com isso, instala a hipertenso
venosa, devido trombose venosa profunda que tende recanalizao em um perodo de trs
a seis meses, acarretando em leso das vlvulas venosas pelo processo trombtico e o
consequente refluxo venoso. Com a presena do refluxo, a musculatura da panturrilha tenta
compensar a sobrecarga de volume das veias insuficientes, ejetando um volume de sangue
maior. (EBERHARDT; RAFFETTO, 2005; FRANA; TAVARES, 2003; PITTA, CASTRO,
BURIHAN, 2003).
A IVC se manifesta atravs de um ou vrios sintomas. So eles: palidez, dor, prurido,
cansao, cimbras musculares e edema nos membros inferiores; que pioram com a posio
ortosttica e com o calor, e melhoram com o decbito e o frio. A gravidade dos sintomas no
corresponde com o tamanho ou extenso das varizes, nem com o volume de refluxo, e muitos
desses sintomas se fazem presentes em pessoas sem a patologia venosa. (PENDS;
ESTEBNEZ, 2002).
Tambm h diferenas entre os sexos feminino e masculino quanto sintomatologia, j
que em mulheres as varizes tronculares esto relacionadas com a sensao de prurido, dor e
peso, enquanto que nos homens elas s se relacionam com o prurido. Nas mulheres os
sintomas podem piorar com a menstruao, gravidez, tratamentos de reposio hormonal e
uso de anticonceptivos orais. (PENDS; ESTEBNEZ, 2002).
Estima-se que a prevalncia de IVC seja de 5 a 30% da populao adulta, aumentando
com a idade, com uma predominncia do sexo feminino para masculino de 3 para 1, causando
29
um considervel impacto socioeconmico devido alta prevalncia, custos no diagnstico e
tratamento, alm da perda de dias de trabalho. (COSTA, 2011; EBERHARDT; RAFFETTO,
2005; NBREGA, 2009; NUNES et al., 2008).
A importncia da IVC est relacionada com o nmero de pessoas que so atingidas pela
doena e o impacto socioeconmico das suas manifestaes mais graves. Apesar de possuir
mortalidade praticamente nula, apresenta morbidade importante, causando alteraes
significantes na vida dos pacientes nos aspectos sociais, laborais, psicolgicos, entre outros,
quando j em estado ulcerativo. (COSTA, 2011; NUNES et al, 2008; MAFFEI, 2002).
A lcera venosa, principal causa da insuficincia venosa crnica, inicia-se de forma
espontnea ou traumtica, com tamanho e profundidade variveis, podendo ser nica ou
mltipla e com frequentes recidivas. Geralmente aparece na face medial da perna, prxima ao
malolo medial, e possui as seguintes caractersticas: bordos irregulares com base granulosa,
exsudato sero-hemtico ou seropurulento e hiperpigmentao na rea perilesional, sendo raro
o leito da lcera apresentar tecido necrtico ou exposio de tendes. (FRANA; TAVARES,
2003; FIGUEIREDO, 2003; VALENCIA et al., 2001).
A patognese da UV ainda obscura, porm existe um consenso de que a hipertenso
venosa a condio mais comum para o aparecimento dessa leso. (BORGES, 2005). A
formao da UV pode estar associada ao acmulo de lquido e ao depsito de fibrina, que leva
formao de manguitos no interstcio, interferindo negativamente na nutrio dos tecidos
superficiais. A deficincia no suprimento de oxignio e nutrientes pode acarretar em
ulceraes nas regies acometidas dos membros inferiores. (FRANA; TAVARES, 2003).
Outro mecanismo que elucida a lcera venosa refere-se reao entre os leuccitos e
molculas de adeso do endotlio, havendo, consequentemente, liberao de citocina e
radicais livres. Esse processo desencadeia inflamao que pode causar danos s vlvulas
venosas e ao tecido adjacente, aumentando a susceptibilidade a ulceraes. (FRANA;
TAVARES, 2003).
A UV representa cerca de 70% a 90% dos casos de lceras de perna e apresenta como
principal causa a insuficincia venosa crnica. (BORGES, 2005). Essa inadequao do
funcionamento do sistema venoso comum na populao idosa, sendo a frequncia superior a
4% entre os idosos acima de 65 anos, de sexo feminino, e tende a ser recorrente (em torno de
70%) e de difcil cicatrizao. (ABBADE; LASTRIA, 2006; CARMO et al., 2007;
DEODATO; TORRES, 2008; NBREGA et al., 2008).
Na Europa, 5 a 15% de adultos entre 30 e 70 anos de idade apresentam essa doena,
sendo que 1% apresenta lcera. Em torno de 7 milhes de pessoas tm doena venosa crnica
30
nos Estados Unidos da Amrica, o que responsvel por cerca de 70 a 90% das lceras de
estase em membros inferiores. (HEIT et al., 2001; SANTOS; PORFRIO; PITTA, 2009).
No Brasil, as lceras constituem um srio problema de sade pblica, devido ao grande
nmero de doentes com alteraes na integridade da pele, embora os registros desses
atendimentos sejam escassos. Este elevado nmero de pessoas com lceras contribui para
onerar o gasto pblico no Sistema nico de Sade, alm de interferir na qualidade de vida da
populao (BRASIL, 2002).
Esse importante nus aos sistemas de sade e previdencirio gerado pelos altos custos
com tratamento ou pela possibilidade de faltas ao trabalho e perda do emprego, alm de
diminuio do prazer nas atividades cotidianas, tornando-se motivo de dor e perda de
mobilidade funcional. (FRANA; TAVARES, 2003; NUNES et al., 2008).
De acordo com Castro e Silva (2005) e Maffei (2002), os diagnsticos da IVC e UV so
eminentemente clnicos, feitos atravs da anamnese e do exame fsico, alm de exames
complementares. Os itens a serem considerados na anamnese so: queixa e durao dos
sintomas; histria pregressa da molstia atual; hbitos de vida; profisso; caracterizao de
doenas anteriores, especialmente trombose venosa; traumatismos prvios dos membros e
existncia de doena varicosa. Os sintomas incluem sensao de peso e dor em membros
inferiores, principalmente no final do dia, e alguns pacientes referem prurido associado.
No exame fsico, devem ser observados os seguintes sinais: hiperpigmentao,
lipodermatosclerose, edema depressvel, presena de veias varicosas, aumento do
comprimento do membro e varizes de localizao atpica. O exame deve sempre ser realizado
com boa iluminao, com o paciente em p, aps alguns minutos de ortostatismo. (CASTRO
E SILVA et al., 2005).
Os exames complementares compreendem o doppler manual, o ndice de presso
tornozelo/brao (ITB), a flebografia e o duplex-scam, que podem ser realizados para
complementao do diagnstico, embora a anamnese e o exame clnico sejam suficientes para
o diagnstico de IVC e da UV (FRANA; TAVARES, 2003; SILVA, 2002).
No que concerne ao tratamento da UV, seu objetivo primordial a cicatrizao da
ferida, bem como o alvio da dor, a reduo do edema, a melhora da lipodermatoesclerose e a
preveno da recorrncia. Para tanto, o tratamento compreende a terapia compressiva, a
terapia tpica, a teraputica medicamentosa e o tratamento cirrgico, alm de medidas
complementares, como orientaes quanto ao repouso e pequenas caminhadas. (ABBADE;
LASTRIA, 2006; AGUIAR et al., 2005; BORGES, 2005; HESS, 2002).
31
A terapia compressiva tem sido apontada como a pedra angular do tratamento da IVC e
UV, uma vez que diminui a hipertenso venosa crnica, responsvel pelo surgimento e
manuteno da leso, favorecendo a cicatrizao tecidual e reduzindo os sinais e sintomas
presentes no membro acometido pela doena venosa. (AGUIAR et al., 2005; CULLUM, et
al., 2004; CULLUM, et al., 2001; GARCA, 2001; PALFREYMAN; NELSON; MICHAELS,
2007).
Ao exercer compresso no membro afetado, a terapia compressiva aumenta a presso
tissular, favorecendo a reabsoro do edema e melhorando a drenagem linftica; age na
macrocirculao, aumentando o retorno venoso profundo e diminuindo o refluxo patolgico
durante a deambulao; e atua na microcirculao, diminuindo a sada de lquidos e
macromolculas dos capilares e vnulas para o interstcio, podendo estimular tambm a
atividade fibrinoltica. (ABBADE; LASTRIA, 2006).
Dentre os mtodos de compresso disponveis, os mais utilizados so as ataduras
compressivas elsticas e inelsticas, a bota de Unna e as meias de compresso. Todos esses
mtodos so contraindicados em pacientes que apresentam doena arterial perifrica grave,
com pulsos distais no palpveis ou ITB inferior a 0,5 (ABBADE, LASTRIA, 2006;
BROWSE et al., 2001; GOLDMAN, 2003).
Para a preveno de ulceraes em membros inferiores e at mesmo de recorrncia, os
indivduos devem ser orientados pelos profissionais de sade a evitar permanecer muito
tempo sentado ou em p; elevar, diariamente, os membros inferiores para melhorar o retorno
venoso e diminuir ou evitar edema; utilizar no seu dia a dia meias de compresso, de acordo
com o grau da doena venosa crnica; praticar exerccios regularmente e preservar as funes
fisiolgicas como o sono, alm de manter uma alimentao rica em vitaminas, minerais (zinco
e selnio) e protenas. (ABBADE; LASTRIA, 2006; AGUIAR et al., 2005;
BONGIOVANNI; HUGHES; BOMENGEN, 2006; BORGES, 2005).
3.4 ASSISTNCIA SADE DAS PESSOAS COM LCERA VENOSA CRNICA
Os indivduos acometidos por UV, como por qualquer outra leso crnica, requerem
uma assistncia de qualidade com viso integral do ser humano, dentro do seu contexto
socioeconmico e cultural, alm da atuao de equipe multidisciplinar capacitada,
considerando a complexidade e dinamicidade que envolvem o processo de cicatrizao dessas
leses (BORGES, 2005; COSTA, 2011; MACEDO, 2009; TORRES et al, 2007).
32
Atravs da sistematizao da assistncia, a equipe de sade capacitada pode avaliar os
fatores que influenciam na evoluo da UV e suas respectivas intervenes, acompanhar a
evoluo das etapas do processo cicatricial e fazer a opo pelo melhor tratamento, alm de
contemplar aspectos inerentes ao diagnstico, planejamento, implementao e avaliao das
aes e das condutas de tratamento e preveno coerentes com a realidade do servio de sade
do usurio. (BORGES 2005; DEODATO, 2007; TORRES et al., 2007).
A sistematizao da assistncia pode ser divida em etapas, em que a primeira etapa
consiste na avaliao do usurio com enfoque familiar, levando em considerao dois
aspectos bsicos: aspectos clnicos individuais (anamnese e exame fsico) e os aspectos
sociais, culturais e econmicos dentro do contexto familiar, pois nele que se insere o
indivduo. (DEODATO, 2007; FONDER et al., 2008; TORRES et al., 2007; NUNES et al.,
2006; NUNES, 2006; YAMADA, 2003).
Para Mandelbaum, Di Santis e Mandelbaum (2003), nessa avaliao, devem ser
abordados aspectos como a histria e o exame subjetivo do cliente; condies gerais do
usurio, exames laboratoriais e doenas associadas; avaliao e classificao adequadas da
leso; e as expectativas do cliente e da famlia quanto aderncia ao tratamento, as
possibilidades econmico-financeiras de manuteno, bem como a disponibilidade de
realizao de curativos por ele prprio e por familiares.
Segundo Costa (2011), aps o levantamento das condies de vida e de sade do
indivduo, parte-se para a segunda fase da sistematizao da assistncia, em que sero
elaborados o diagnstico do processo sade/doena, das necessidades de ateno sade, bem
como o diagnstico da leso, essenciais ao planejamento das condutas ou aes a serem
implementadas.
Logo que estabelecido o diagnstico, inicia-se, ento, o planejamento da assistncia e a
implementao das aes. Estas devem contemplar: evoluo clnica contnua, com avaliao
das caractersticas da leso (localizao anatmica, evoluo, rea, tipo de cicatrizao, fase
do processo cicatricial, tipo do exsudato, caracterstica do leito, caracterstica perilesional e
presena de sinais de infeco); prescrio de terapia tpica e sistmica; escolha do tipo de
cobertura e curativo; tratamento contnuo; documentao (registro no pronturio e registros
fotogrficos); mensurao; e estmulo ao autocuidado por meio de orientaes e treinamentos.
(BORGES; SAR; LIMA, 2001; DALDATI-GRANJA et al., 2005; POLETTI, 2000).
A ltima etapa da sistematizao da assistncia a avaliao o processo de
determinar a extenso em que os objetivos foram conseguidos. A avaliao deve ser realizada
com intervalos regulares, conforme a necessidade de cada caso, levando em considerao a
33
efetividade das intervenes, condutas e tratamento; a identificao dos fatores locais,
sistmicos, familiares, sociais e estruturais do servio/domiclio que possam estar intervindo
no tratamento; a reavaliao dos produtos, coberturas e tipo de tcnicas de curativo; alm da
reavaliao e replanejamento da assistncia de acordo com a necessidade (MAFFEI, 2002;
TENORIO; BRAZ, 2002; TORRES, et al., 2004).
Nesse contexto, importante ressaltar o papel da enfermagem no tratamento de feridas,
pois o enfermeiro tem sido tradicionalmente o profissional responsvel pela avaliao da
leso e prescrio do tratamento adequado, alm da orientao e superviso da equipe de
enfermagem na execuo do curativo. (FERREIRA; BOGAMIL; TORMENA, 2008).
No Brasil, as avaliaes em sade no so rotineiras e, quando realizadas, encontram-
se dificuldades para o seu desenvolvimento. Apresentam-se em um contexto em que os
processos ainda so elementares, pouco associados s prticas e possuem carter mais
prescritivo, burocrtico e punitivo do que subsidirio do planejamento e da gesto. Como
tambm, os instrumentos existentes ainda no se compem como ferramentas de suporte ao
processo decisrio nem de formao das pessoas nele envolvidas. (BRASIL, 2004).
Tal prtica, entretanto, deve ser estimulada, uma vez que a avaliao contribui para a
compreenso dos impactos porventura existentes, em decorrncia das atividades
desenvolvidas, permitindo corrigir distores e alterar o rumo da programao, visando o
alcance dos objetivos. (FEKETE, 2006).
imprescindvel que o profissional esteja ciente das suas responsabilidades, tanto em
relao ao conhecimento tcnico para avaliao contnua das leses, quanto qualidade e
quantidade dos insumos utilizados, da a importncia da busca de um preparo que deva
acompanhar a evoluo tcnico-cientfica. Aliado a isso, ele sempre deve ter mente o cuidado
humanizado, compreendendo a patologia sem deixar de se preocupar com os fatores
psicossociais e humanos, com o que o profissional alcanar a excelncia na qualidade da
assistncia. (FERREIRA; BOGAMIL; TORMENA, 2008; SILVA et al., 2009).
Segundo Macedo (2009), os profissionais que cuidam dos indivduos com UV devem se
apropriar de conhecimentos tcnico-cientficos, para que possam fundamentar suas aes e
provocar modificaes junto aos gestores, no sentido de organizar e garantir uma assistncia
de qualidade, contribuindo significativamente para a melhoria da qualidade de vida das
pessoas acometidas por essas leses. Sempre devem ter como foco a assistncia embasada em
um modelo holstico de cuidado, em que o ser humano seja visto a partir de uma abordagem
de suas reais necessidades e de seus problemas anteriores, atuais e futuros. (SILVA et al.,
2007).
34
4 METODOLOGIA
4.1 TIPO DE ESTUDO
Trata-se de um estudo descritivo, com delineamento transversal e abordagem
quantitativa de tratamento e anlise de dados, tendo como objetivo identificar a qualidade da
assistncia e o conhecimento do direito sade das pessoas com lcera venosa crnica no
SUS.
Segundo Polit, Beck e Hungler (2004), a pesquisa descritiva tem o propsito de
observar, descrever e explorar aspectos de uma situao. O delineamento avaliativo uma
investigao elaborada para descobrir como funciona um programa, tratamento, prtica ou
poltica. Seu principal valor reside em sua capacidade de encontrar respostas a questes
prticas, colocadas pelas pessoas que precisam tomar decises.
Na pesquisa quantitativa, o pesquisador parte de parmetros (caractersticas
mensurveis), traduz em nmeros as opinies e informaes, para serem classificadas e
analisadas na busca do estabelecimento da relao entre causa e efeito das variveis. Nos
estudos transversais a causa e o efeito so detectados simultaneamente. (PEREIRA, 1995;
RODRIGUES, 2007).
4.2 LOCAL DO ESTUDO
O estudo foi realizado no Hospital Universitrio Onofre Lopes (HUOL), pertencente ao
Complexo de Sade da Universidade Federal do Rio Grande do Norte/UFRN,
especificamente no ambulatrio da Clnica Cirrgica, com atendimento em Angiologia e
Cirurgia Vascular.
No cenrio do Rio Grande do Norte, o HUOL desempenha um papel significativo nos
sistemas de educao e sade do estado, sendo um dos maiores e o mais importante hospital
pblico prestador de servios ao Sistema nico de Sade. Localiza-se no Distrito Sanitrio
Leste do Municpio do Natal/RN e est inserido como referncia de mdia e alta
complexidade em diversas reas para todo o estado.
Sua federalizao assegura a manuteno, atravs do Ministrio da Educao, das suas
funes de Ensino, Pesquisa e Extenso para alunos de nvel mdio, graduao e ps-
graduao nas reas de cirurgia experimental, medicina nuclear, medicina familiar e
35
comunitria, clnica mdica, clnica cirrgica, psicofarmacologia, enfermagem, nutrio,
fisioterapia, psicologia e servio social. (UFRN, 2009).
Atualmente, possui 191 leitos de internao, sendo 10 leitos de Unidade de Terapia
Intensiva (UTI), mas encontra-se em contnua ampliao/adequao fsica, buscando sempre
atender as necessidades do ensino e dos pacientes assistidos pelo SUS. Nesse propsito, sero
inaugurados num futuro prximo novos leitos hospitalares, que substituiro os antigos,
elevando seu nmero para 300 leitos edificados em nove andares, adequados para a
modernidade e cidadania, incluindo-se nesse nmero mais nove leitos de UTI. (UFRN, 2010).
Dentre as suas instalaes, tambm apresenta 85 consultrios ambulatoriais. Os da
clnica cirrgica, situados no 1 andar, possuem uma demanda referenciada do SUS, onde os
pacientes realizam consultas, exames e curativos. (UFRN, 2010). As salas de curativos esto
estruturadas para a realizao de curativos de leses de diversas etiologias, conforme a
demanda das consultas ambulatoriais, com contnuo acompanhamento da evoluo e
avaliao das lceras dos usurios deste ambulatrio.
4.3 POPULAO E AMOSTRA
No que se refere ao nmero de pessoas consultadas no servio de angiologia do
HUOL, temos uma demanda semanal referenciada do SUS de aproximadamente 50 consultas
para os cincos angiologistas.
Dessas consultas, aproximadamente 15% so de pessoas com UV, perfazendo-se um
total mensal de 30 pessoas com UV atendidas.
A populao alvo deste estudo foi composta por pessoas com UV, atendidas pelos
angiologistas do setor de Clnica Cirrgica do HUOL, durante o perodo da coleta de dados,
atravs de amostra por acessibilidade.
Adotamos para seleo dos participantes, os seguintes critrios de incluso:
1. Ser portador de lcera venosa;
2. Ter mais de 18 anos;
3. Ser atendido no ambulatrio de clnica cirrgica do HUOL no momento da coleta;
4. Aceitar participar da pesquisa voluntariamente, com assinatura do Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
Foram critrios de excluso:
1. Usurio com coleta de dados no concluda por motivo de ele precisar se ausentar do
setor;
36
2. No apresentar condies cognitivas de responder o instrumento;
3. Solicitar sada do estudo.
A coleta de dados teve durao de um ms (maro de 2011) e participaram do estudo 30
pessoas com UV.
4.4 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS
Na realizao desta pesquisa foi utilizado um instrumento estruturado de coleta de
dados, composto por duas partes (APNDICE A). A primeira focalizou as caractersticas
sociodemogrficas e de sade, da assistncia e da evoluo clnica da UV; a segunda, o
conhecimento dos direitos sade. Para isso, tambm observamos a troca de curativo dos
usurios durante a consulta no ambulatrio do HUOL.
Na primeira parte do instrumento, utilizamos uma adaptao de um formulrio do
projeto de pesquisa PIBIC/CNPQ/UFRN Avaliao clnica da assistncia aos portadores
de lceras vasculares de membros inferiores (TORRES et al., 2007), destacando os aspectos
sociodemogrficos, clnicos e assistenciais, referentes a doenas pr-existentes e tratamentos
das mesmas, nmero de leses, tempo de leso, acesso ao servio de sade e tratamentos
realizados.
A segunda parte, referente ao conhecimento dos direitos sade dos usurios do SUS,
foi baseada na Carta dos Direitos dos Usurios da Sade, elaborada pelo Ministrio da Sade,
que se pauta nos princpios de cidadania, assegurando ao cidado o direito fundamental e
digno ao sistema de sade, sendo tambm uma importante ferramenta de divulgao dos
direitos e deveres do SUS que ajude ao Brasil a garantir a qualidade do seu sistema de sade.
(BRASIL, 2007).
4.5 VARIREIS DO ESTUDO
Segundo Polit, Beck e Hungler (2004) varivel de um estudo qualquer qualidade de
uma pessoa, grupo ou situao, que pode variar ou assumir diferentes valores passveis de
mensurao.
Nesta pesquisa, foram estudadas as variveis de caracterizao sociodemogrfica e de
sade, da assistncia prestada s pessoas com lcera venosa, da evoluo clnica da leso,
bem como o conhecimento dos direitos sade.
37
As variveis de caracterizao sociodemogrfica e de sade consideradas foram:
procedncia, sexo, faixa etria, estado civil, escolaridade, profisso/ocupao, renda per
capita (familiar), doenas crnicas associadas, sono, etilismo e tabagismo.
Quadro 1. Variveis de caracterizao sociodemogrfica e de sade das pessoas com UV
atendidas no ambulatrio do HUOL, segundo escores/categorias de verificao. Natal/RN,
2011
Fonte: prprio pesquisador.
As variveis de assistncia sade/SUS foram: adequao dos produtos/materiais
usados no curativo, quem realiza o curativo fora do ambulatrio, uso de terapia compressiva,
tempo de tratamento da UV, local de tratamento nos ltimos 30 dias, orientaes para uso de
terapia compressiva, elevao dos MMII e exerccios regulares, exames laboratoriais e
especficos de sangue, urina e doppler, nmero de consultas com o angiologista no ltimo
ano, referncia e contrarreferncia e documentao dos achados clnicos, conforme o Quadro
2, a seguir.
VARIVEIS DE CARACTERIZAO
SOCIODEMOGRFICA E DE
SADE
ESCORES/ CATEGORIAS DE
VERIFICAO
Procedncia Interior (0); Capital(1)
Sexo Feminino (0); masculino (1)
Faixa etria A partir de 60 anos (0); at 59 anos (1)
Estado civil Solteiro/vivo/divorciado (0); casado/unio
estvel (1)
Escolaridade No alfabetizado/alfabetizado/ensino
Fundamental (0); mdio/superior (1)
Ocupao/Profisso Presente (0); Ausente (1) Qual?
Renda per capita (famlia)
38
Quadro 2. Variveis de caracterizao da assistncia sade/SUS prestada s pessoas com
UV atendidas no ambulatrio do HUOL, segundo escores/categorias de verificao.
Natal/RN, 2011
VARIVEIS CARACTERIZADORAS DA
ASSISTNCIA
ESCORES/ CATEGORIAS DE
VERIFICAO
Adequao dos produtos/materiais
usados no curativo
Indisponibilidade de produtos para limpeza,
epitelizante e desbridante (0);
Disponibilidade de produtos adequados para limpeza, epitelizante e desbridante (1)
Realizao do curativo fora do Ambulatrio
Profissional/cuidador sem treinamento (0); Profissional/cuidador treinado (1)
Terapia compressiva (meia/faixa elstica,
bota de Unna) nos ltimos 30 dias Ausente (0); presente (1) - Qual?
Tempo de tratamento da UV a 6 meses(0); At 6 meses (1)
Tempo em meses?
Local de tratamento nos ltimos 30 dias
Domiclio (0); UBS/USF/HUOL/Hospital
Municipal (1)
Orientao para o uso de terapias
compressivas/elevao de MMII/ exerccios
regulares.
Ausente (0); presente(1) - Quem orientou?
Exames laboratoriais e especficos
Exames laboratoriais de sangue e/ou urina (0); Exames laboratoriais de sangue e/ou urina +
Doppler (1)
Nmero de consultas com o Angiologista no
ltimo ano
< de 4 consultas/ano (0)
04 consultas/ano (1)
Referncia e Contrarreferncia Ausente (0); Presente (1)
Documentao dos achados clnicos Sem registro no pronturio (0) / com registro no
pronturio (1)
Fonte: prprio pesquisador.
As variveis de evoluo clnica da UV foram: recidiva, tempo de lcera atual,
condies do leito, caracterstica do exsudato quanto ao tipo e quantidade, odor, perda
tecidual, tamanho da lcera, sinais de infeco, coleta de swab/bipsia se infeco e dor,
conforme o Quadro 3, a seguir.
39
Quadro 3. Variveis de evoluo clnica das pessoas com UV atendidas no ambulatrio do
HUOL, segundo escores/categorias de verificao. Natal/RN, 2011
VARIVEIS DE CARACTERIZAO
DA EVOLUO CLNICA DA UV
ESCORES/CATEGORIAS DE
VERIFICAO
Recidivas de UV
1 recidiva (0); Nenhuma (1)
Nmero de vezes?
Tempo de UV atual 6 meses (0); At 6 meses (1)
Tempo em meses?
rea da UV
Mdia: 50 150cm2 a grande: >150cm
2 (0)
Pequena: < 50 cm2
(1); Quantos cm2?
Condies do leito da UV
Fibrina/necrose liquefativa (0)
Granulao/epitelizao (1)
Quantidade de exsudato na UV
Mdia: >3 a 10 gazes/grande: >10gazes(0);
Pequena: at 3 gazes (1)
Nmero de gazes?
Odor do exsudato na UV Presente (0); Ausente (1)
Perda tecidual na UV
Grau III subcutneo/grau IV- msculo e
ossos (0);
Grau I epiderme/Grau II - derme (1)
Dor na UV/membro inferior Escala Analgica Visual (0 a 10)
Presente (0); Ausente (1)
Sinais de infeco Presente (0); Ausente(1);
Qual? Apresenta exsudato purulento?
Coleta de swab/bipsia quando UV
infectada Ausente (0); presente (1)
Fonte: prprio pesquisador.
As variveis do conhecimento dos direitos sade das pessoas com UVs foram:
significado da sigla SUS; conhecimento dos direitos sade; local de obteno de
informaes sobre o direito sade; acesso consulta com o angiologista; realizao de
curativo sempre que necessrio; satisfao com o atendimento do SUS no tocante leso;
alternativas para quando no h possibilidade de trocar os curativos na unidade em que
procura assistncia; disponibilidade de material para a realizao de curativos nos servios de
sade; interesse em saber sobre os direitos como usurio do SUS em relao ao tratamento de
ferida; respeito aos direitos assistncia sade no tocante assistncia da leso; influncia
do conhecimento no tratamento da leso.
40
Quadro 4. Variveis relacionadas ao conhecimento dos direitos sade das pessoas com UV
atendidas no ambulatrio do HUOL, segundo escores/categorias de verificao. Natal/RN,
2011
VARIVEIS RELACIONADAS AO
DIREITO SADE
ESCORES/CATEGORIAS DE
VERIFICAO
Voc sabe o significado da sigla SUS? Sim (1), qual? No (0)
Voc conhece os seus direitos a sade? Se
sim, quais so? Sim (1), quais? No (0)
Onde voc obteve informaes sobre seu
direito sade?
Profissionais de sade (1) Amigos (2)
Parentes (3) Mdia (4) Outros (5)
Sempre que voc necessita de uma consulta
com o angiologista, voc consegue?
Sim (1), quantas vezes no ltimo ano?
No (0), o que voc fez diante disso?
Voc sempre consegue realizar seus
curativos quando necessita? Sim (1), onde? No (0), o que voc faz?
Voc se sente satisfeito com o atendimento
do SUS no tocante sua leso? Sim (1) No (0)
O que faz quando no h possibilidade de
trocar os curativos na unidade em que
proc