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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE EDUCAÇÃO CURSO DE PEDAGOGIA A LEITURA E A ESCRITA NOS ANOS INICIAIS GENALVA ROQUE BARBOSA NOVA CRUZ-RN 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE EDUCAÇÃO

CURSO DE PEDAGOGIA

A LEITURA E A ESCRITA NOS ANOS INICIAIS

GENALVA ROQUE BARBOSA

NOVA CRUZ-RN

2016

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GENALVA ROQUE BARBOSA

A LEITURA E A ESCRITA NOS ANOS INICIAIS

Artigo Científico apresentado ao Curso de

Pedagogia a Distância do Centro de Educação da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte,

como requisito parcial para obtenção do título de

Licenciatura em Pedagogia, sob a orientação da

professora Dra. Antonia Costa de Andrade.

NOVA CRUZ-RN

2016

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FICHA CATALOGRÁFICA

Barbosa, Genalva Roque

A leitura e a escrita nos anos iniciais, no turno vespertino da Escola Municipal Antonio Peixoto

Mariano em Nova Cruz/RN, um estudo de caso / Genalva Roque Barbosa. Nova Cruz(RN),

2016.

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A LEITURA E A ESCRITA NOS ANOS INICIAIS

Por

GENALVA ROQUE BARBOSA

Artigo Científico apresentado ao Curso de

Pedagogia a Distância do Centro de Educação da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte,

como requisito parcial para obtenção do título de

Licenciatura em Pedagogia.

Data: ______/______/2016

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________________

Mestra Anonia Costa de Andrade (Orientadora)

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

___________________________________________________

Professora Convidada Ms. Isa Pereira dos Santos

Universidade Gama Filho

___________________________________________________

Professor Convidado Ms. José Tomaz da Silva Neto

Universidade Gama Filho

NOVA CRUZ-RN

2016

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho primeiramente a Deus, ao

meu esposo João Maria Crisanto, aos meus filhos

Evaniel Cristanto da Costa e Selênia Crisanto da

Costa e em especial a minha cunhada Silvia

Crisanto da Costa que muito me apoiou durante

essa longa jornada de estudo.

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EPÍGRAFE

“Ninguém ignora tudo. Ninguém sabe tudo. Todos

nós sabemos alguma coisa. Todos nós ignoramos

alguma coisa. Por isso aprendemos sempre.”

Paulo Freire

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AGRADECIMENTO

Ao meu Deus todo poderoso, que nunca me abandonou, pois nos momentos mais

difíceis ele carregou em seus braços. Aos meus tutores presenciais Marleide Silva Pimentel e ao

tutor José Roberto Ferreira, embora não tenha ido até o final conosco, nunca deixou de ser o meu

tutor, a você Betinho minha eterna gratidão.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO..................................................................................................10

2. PROCESSO DE LEITURA...............................................................................10

3. FUNÇÃO DA ESCRITA...................................................................................12

4. CONCEITOS DE LEITURA.............................................................................14

5. LEITURA E ESCRITA: ANÁLISE E PERSPECTIVA.................................16

6. LETRAMENTO: MUITO MAIS DO QUE SABER LER E ESCREVER…17

REFERÊNCIAS.......................................................................................................20

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A LEITURA E A ESCRITA NOS ANOS INICIAIS

RESUMO

O presente artigo abordará questões relativas a prática da leitura e da escrita nos anos iniciais, com base

em teorias de autores como Emília Ferreiro e o mestre Paulo Freire, Piaget, Ana Taberosky, que

socializam sobre práticas inerentes ao desenvolvimento cognitivo, onde suas abordagens subsidiam pontos

importantes e tracejam caminhos que viabilizem a aprendizagem de acordo com os descritores da base

curricular. Estes têm por objetivo nortear a prática de ensino-aprendizagem a fim de sinalizar o

desenvolvimento de habilidades e competências condizentes com os eixos de leitura e escrita compatíveis

com o currículo específico de cada ano/série. Dessa forma, o docente ao cumprir a utilização dos tópicos

de estudos previstos nas matrizes de referência curricular, com práticas eficientes e eficazes, contribuirá

com a construção de um novo perfil educacional, o qual traduzirá uma educação de base sólida e,

sobretudo de qualidade. Erradicar o analfabetismo de modo que a educação no ensino público contribua

efetivamente com o desenvolvimento do país.

Palavras chave: leitura - escrita - ensino – aprendizagem

ABSTRAT

This article will address issues concerning the practice of reading and writing in the early years, based on

theories of authors such as Emilia Ferreiro and the master Paulo Freire, Piaget, Ana Taberosky, socializing

on practices inherent in cognitive development, where their approaches subsidize tracejam important

points and paths that allow the learning according to the descriptors of the basic curriculum. These are

intended to guide the teaching-learning practice to signal the development of skills and competencies

consistent with reading and writing shafts compatible with the specific curriculum of each year / series.

Thus, the teacher to meet the use of the topics of the studies laid down in the headquarters of curricular

reference, with efficient and effective practices, contribute to the construction of a new educational

profile, which translate into a solid basic education and above all quality. Eradicate illiteracy so that

education in public education effectively contributes to the development of the country.

Keywords: Reading. Writing. Teaching. earning.

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1. INTRODUÇÃO

A leitura é um processo de apreensão, compreensão de algum tipo de informação

armazenada, transmitida mediante códigos da linguagem. O prazer da leitura deve despertado

logo na infância, de modo que a escola em sua dinâmica proporciona ao discente essa capacidade

de decodificação desde os primeiros momentos em que a criança é inserida no contexto escolar,

sendo o principal objetivo da referida instituição. Ao mesmo tempo em que paralelamente

trabalha-se a escrita.

É preciso ser capaz de não apenas decodificar, mas entender o significado dos signos

linguísticos de acordo com as habilidades dos aspectos cognitivos, nos diferentes contextos.

Segundo Sandoval (2012): “Ler, escrever e ouvir, são habilidades que estão intrinsecamente

relacionadas, que podem e devem ser trabalhadas de forma integrada na escola."

O processo cientifico na área da alfabetização revela que aprender a ler e escrever requer

mais do que simples aptidões perceptivas e motoras que as questões relativas ao desenvolvimento

cognitivo são, de fato importantes uma vez que a criança exerce uma atividade mental construtiva

no processo de aquisição de conhecimentos. O alfabetizando desenvolve uma atividade

construtivista sobre a escrita. Emília Ferreiro(2001) e seus seguidores mostra que, para chegar a

compreensão do processo de leitura e escrita, a criança passa por um processo evolutivo

iniciando-se pelo rabisco, até a descoberta das letras que representam os aspectos sonoros, frase

silábica para depois entender a representação alfabética.

2. PROCESSO DE LEITURA

A técnica da leitura pode ser definida de várias maneiras, dependendo não só dos enfoques

linguísticos, psicológicos, social, fenomenológico. Quatro definições serão apresentadas e

discutidas aqui. Uma geral, duas específicas e uma conciliatória.

A definição geral tem a finalidade de oferecer a essência do ato de ler, servindo de base

comum para qualquer definição mais especifica, e cada uma tem um determinado polo de leitura

desconsiderando o outro. A definição conciliatória tenta captar justamente os elementos que unem

os dois polos, oferecendo uma definição que seja ao mesmo tempo, suficientemente amplo para

que se incluam elementos essenciais da leitura suficientemente restrito para que não se incluam

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aspectos que pertençam a outras áreas de conhecimento.

Segundo Telma Weisz em entrevista na revista Nova Escola (2012): "Encarar a

aprendizagem do código como uma etapa técnica e independente do ingresso a cultura letrada e

um equívoco”.

Sabe-se que o processo de alfabetização deve acontecer de forma contextualizada, de

acordo com sua a progressão ela passa a ser decifratória, ideogramia, ou seja visual através da

imagem, vocal, automática, onde se emprega pequeno esforço na sua decifração.

Sempre haverá novos gêneros e desafios de leitura à medida que se avança na escolaridade.

Isso fez da alfabetização quase uma situação permanente, no sentido de aquisição no sistema de

escrita, ela é uma missão do professor nos "anos iniciais" do ensino fundamental. "Pesquisas

recentes revelam particularidades das escritas silábico-alfabética que tornam a avaliação mais

eficiente”. (Paula Takada novaescolagatleitor.com. br).

Identificar os sons que compõe uma sílaba é uma tarefa complexa para os alunos que estão

na transição da hipótese de escrita silábica, para silábica alfabética. Emília Ferreiro(2001), faz

analogias sobre essas questões para mostrar a complexidade da função da escrita, por isso algumas

vezes há erros comuns como, por exemplo, perguntar a criança "que letra, está faltando, claro que

ela soubesse já teria colocado, pedir que o aluno ouça o som da sílaba, o problema não é de

audição, mas sim de concepção de escrita, não orientar por achar que eles deixem construir a

escrita sozinha.

A aprendizagem da leitura e da escrita resulta de um "amadurecimento" de certas

habilidades, de modo que o ensino é um desabrochar natural. Em síntese, a prontidão, para

alfabetização significaria de acordo com Popovich e Morrões (1966, P-5)", [...] ter um nível

suficiente, sob determinados aspectos, para iniciar o processo da função simbólica, que é a leitura

e sua transposição gráfica, que é a escrita. "Diante de tantos pressupostos o processo de ensino nos

aspectos da leitura, tem sido motivo de estudos constantes e tem como objetivo proporcionar ao

aluno o alcance a leitura a princípio pela decifração dos códigos linguísticos, através de práticas

educativas que orientam a sistemática da leitura”.

De acordo com Paulo Freire (1996): Não basta saber ler que 'Eva viu a uva'. É preciso

compreender qual a posição que Eva ocupa no seu contexto social, quem trabalha para produzir a

uva e quem lucra com esse trabalho.

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3. FUNÇÃO DA ESCRITA

Pode-se definir letramento como um conjunto de práticas sociais que usam a leitura e a

escrita. Enquanto a escrita é o sistema simbólico (representação de ideias). e a leitura a

tecnologia representação gráfica organizada o organizável das ideias. Letramento é o resultado

da ação de ensinar ou aprender a ler e escrever, estado ou a condição que adquire um grupo

social ou indivíduo como ter se consequência de ter se apropriado da escrita. Tem a finalidade de

oferecer a essência do ato de ler servindo de base comum para qualquer definição mais

especifica.

A junção central atribuída a escrita seja a de registro de informações, não se pode negar

sua relevância para a difusão de informações e a construção do conhecimento. O avanço das

novas tecnologias e as instruções entre diferentes suportes e linguagem tem permitido, inclusive

o aparecimento de formas coletivas de construção de textos.

“A ideia de escrever não tem nada de natural para o homem, embora pareça de extrema

simplicidade. Sem que tenhamos consciência do que está acontecendo inúmeras

gerações, anteriores a nossa empregaram tempo, esforço para que nosso cérebro, hoje se

comporte com extrema maturidade diante da escrita”. (Bortone e Martins, 2006, p56.)

Vygotsky (1984) salientava que antes dos seis anos as crianças eram capazes de descobrir

a função simbólica da escrita e até ler dos quatro anos e meio. Para ele, o problema maior não era

a idade em que a criança seria alfabetizada, mas sim o fato de que a escrita ser “ensinada como

uma habilidade motora e não como uma atividade cultural complexa”. Ou seja, para Vygotsky, a

escrita deveria ser ensinada como algo relevante para a vida. Os instrumentos utilizados para a

escrita e os suportes em que é registrado podem em princípio ser infinito. Embora

tradicionalmente, defenda se que a escrita tem durabilidade enquanto a fala seria mais instável.

Os instrumentos, suportes, formas de circulações, bem como a função comunicativa do texto

escrito, são determinantes para sua durabilidade ou não. Na maioria das vezes, a intenção da

escrita é a produção de textos que alvos da atividade de leitura. Trabalhamos através de 03

objetivos específicos dentro da linguagem da sala de aula da turma da Educação Infantil, A

obrigação da alfabetização, O letramento sem letra e como ler e escrever mostrando o verdadeiro

significado da educação infantil;

“A obrigação da alfabetização”. Os que adotam esse modo de pensar defendem,

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portanto, que crianças concluam educação infantil já dominando certas associações grafo fônicos,

copiando letras, palavras e pequenos textos, bem como lendo e escrevendo algumas frases.

“O letramento sem letra”. Da ênfase a outros tipos de linguagem como corporal, musical,

gráfica entre outras, dominando-se a linguagem escrita do trabalho com crianças;

“Ler e escrever com significado na educação infantil”. Esse modo de pensar nega os

outros dois citados. Esse terceiro caminho é inspirado por Ferreiro e Teberosky sobre o processo

de alfabetização, que começaram a ser divulgados no Brasil na década de 1970, trazendo um

grande impacto para as formas de pensar a alfabetização, bem como a reflexão sobre o papel do

educador na perspectiva sociointeracionista, que mostra a importância do papel da escola, na

inserção da criança na escola.

Conforme a base curricular do ensino é necessária que sejam realizadas atividades que

favoreça, prática de leitura e escrita convergentes vivenciados no contexto extraescolar, para

configurar a aprendizagem de acordo com os objetivos propostos. Além de realizar atividades

escolares, o aluno precisa buscar o incentivo do professor e da família também, tendo que ambos

caminhem juntos ajudando a criança na realização das tarefas para que as metas do PNE, sejam

alcançados para aprender a ler e escrever.

Para os teóricos Rangel e Machado (2012, p.02) a escrita e a leitura são conquistas,

obtida no espaço escolar:

A escrita e a leitura bem feitas no sentido de levar à compreensão do escritor e do leitor,

configuram-se como grandes conquistas a serem realizadas, formais e sistematizadas. De certo

modo, essa sistematização deveria contribuir para os alunos e os professores, eles mesmos

pudessem se apropriar do código linguístico escrito e oral com excelência. Entretanto, isso nem

sempre acontece, pois há vários índices de pesquisas implementadas pelos governos, federal,

estadual, municipais que constam as dificuldades dos alunos quando inquiridos de forma oral e de

forma escrita. Há dificuldades não só no que se refere à compreensão e interpretação de textos,

como também na comunicação de seus pensamentos, saberes e desejos.

Pode-se definir o letramento como o resultado, o aprendizado da leitura e da escrita, assim

é quando o indivíduo apropriar-se de ambos e consegue ler e escrever, veja o que Pereira

(2011.p.19) coloca:

O letramento apresenta-se como um exercício efetivo da escrita e implica habilidades,

como a de ler e escrever para obter informações para interagir, ampliar conhecimento, interpretar e

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produzir diferentes tipos de texto, de inserir-se completamente.

Na mesma linha de pensamento Soares (2004) destaca que o termo letramento surge a

partir das novas relações estabelecidas com as práticas de leitura e escrita na sociedade, ao passo

que não basta apenas saber ler e escrever, mas que funções a leitura e a escrita assumem em

decorrência das novas exigências impostas pela cultura letrada.

No qual a construção da linguagem escrita na criança faz parte de seu processo geral, se dá

como um trabalho contínuo de elaboração cognitiva por meio de inclusão do aluno no mundo da

escrita pelas interações sociais e orais, considerando sempre a grande importância que a leitura e a

escrita têm na sociedade no cotidiano.

4. CONCEITOS DE LEITURA

A leitura é muito importante, pois ela traz benefícios inquestionáveis ao ser humano. Ela

é uma “forma de lazer e de prazer, de aquisição de conhecimentos e de enriquecimento cultural,

de ampliação das condições de convívio social e de interação” (SOARES, 2000, p. 19). Além

disso, devemos considerar que a aprendizagem da leitura é basilar para a aprendizagem de todas

as disciplinas do currículo escolar. Dessa forma, acreditamos que o desenvolvimento do interesse

e da capacidade de leitura pode contribuir, automaticamente, para o sucesso da escolarização.

Definir leitura não é uma tarefa fácil, mas poderíamos tentar explicá-la de uma forma

bem simplista: leitura é o que acontece quando uma pessoa olha para um texto qualquer e atribui

sentido2 aos símbolos gráficos nele inseridos (AEBERSOLD e FIELD, 1997). Porém, como se

realiza esse processo de atribuição de sentido tem sido foco de atenção de pesquisadores de

diversas áreas (Psicolingüística, Sociolingüística, Psicologia Cognitiva, Educação, entre outras).

Ler, entendido convencionalmente como receber, tirar, transmitir conhecimentos, possui outro

sentido que há muito supera esse pensamento inicial. A partir dos estudos sobre o processo de

leitura, essa concepção se expandiu em direção a uma visão mais interativa e dinâmica. Hoje, a

leitura é vista como uma atividade dialógica, um processo de interação que se realiza entre o

leitor e o autor, mediado pelo texto, estando todos os elementos envolvidos situados em um

determinado momento histórico-social.

Segundo Kleiman (2004), a leitura é uma atividade complexa devido aos múltiplos

processos cognitivos utilizados pelo leitor ao construir o sentido de um texto, já que ela “não se

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dá linearmente, de maneira cumulativa, em que a soma do significado das palavras constituiria o

significado do texto. De acordo com Aebersold e Field (1997), o texto e o leitor são duas

entidades físicas necessárias para que o processo possa ocorrer. Todavia, é a interação entre o

texto e o leitor que constitui realmente a leitura. Acrescentaríamos, também, que o contexto

social é um outro elemento a ser considerado em uma teoria geral sobre leitura, visto que a leitura

é uma prática social (MOITA LOPES, 1996; KLEIMAN, 2000; SOARES, 2000), não apenas

porque é realizada por meio da interação entre leitor e texto, mas porque ambos estão inseridos

em um dado momento socio-histórico que determina a linguagem e o sentido. Podemos perceber,

portanto, que a leitura é muito mais do que a simples ação de apropriação de significado: ela é

uma atividade de recriação, de reconstrução de idéias (DIB, 2003), pois, de acordo com Kleiman

(2004, p. 80), a leitura “pressupõe a figura do autor presente no texto através de marcas formais

que atuam como pistas para a reconstrução do caminho que ele percorre durante a produção do

texto”.

Diante de tais afirmações, parece claro que a leitura deve ser entendida como processo e

não como produto (NUNES, 2002), pois o texto “não traz tudo pronto para o leitor receber de

modo passivo” (KLEIMAN, 2004, p. 36), já que ele, usando o seu conhecimento de mundo,

interage com a informação presente no texto para tentar chegar a uma compreensão. Numa

tentativa de síntese, recorremos à definição de leitura de Soares (2000), para informar o presente

artigo e guiar as nossas reflexões:

Leitura não é esse ato solitário; é interação verbal entre indivíduos, e indivíduos

socialmente determinados: o leitor, seu universo, seu lugar na estrutura social, suas

relações com o mundo e com os outros; o autor, seu universo, seu lugar na estrutura

social, suas relações com o mundo e os outros. (SOARES, 2000, p. 18).

Neste contexto podemos concluir que a leitura é um processo dinâmico e social,

resultado da interação da informação presente no texto e o conhecimento prévio do leitor,

possibilitando a construção do sentido, sendo uma compreensão textual. A fim de melhor

entender como, ao longo do tempo, a leitura deixou de ser considerada uma mera decifração de

significados contidos no texto e como o leitor se tornou um criador de sentido e não apenas um

receptor de mensagem, esboçaremos, no item a seguir, um breve histórico dos estudos realizados

acerca do processo de leitura.

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5. LEITURA E ESCRITA: ANÁLISE E PERSPECTIVA

O campo da leitura e escrita vem recebendo, nas últimas décadas, contribuições

expressivas tanto no que se refere à produção teórica quanto no que diz respeito ao delineamento

de determinadas práticas. Desde a crítica à educação bancária feita por Paulo Freire ao anúncio

de novas práticas nos anos 50 e 60, passado pelas mudanças na conjuntura política, a repressão

sofrida no duro período da ditadura militar, até a reconquista da liberdade e do direito de

participação política concretizada com a volta das eleições em 1982 e 1985 (respectivamente nos

planos estadual e municipal) e a implementação de políticas locais e diferentes propostas

pedagógicas de educação infantil. Ensino fundamental e educação de jovens e adultos, a

alfabetização em sido o centro das atenções.

Vale lembrar que, se no início deste século chegou-se a um índice de 70% de

analfabetismo, atualmente, estamos longe de erradicá-lo totalmente, mas avançamos muito: 20%

é o índice de analfabetismo da população de 15 anos. Quase 30 milhões de pessoas não escrevem

e não leem, sequer funcionalmente.

Por outro lado, os avanços no campo teórico, a revolução conceitual e a mudança no

nosso conhecimento sobre as formas e os processos de ler e escrever são enormes. Desde Paulo

Freire e seu entendimento da alfabetização como ação cultural, passando pelos estudos da

sociolinguística, da sociologia da linguagem e da psicolinguística, chegando à história da leitura e

a antropologia, temos enfrentando questões do hoje denominado letramento que nos situam em

outro patamar de reflexão, de discussão crítica e de proposição de políticas e de práticas.

No contexto dessa investigação teórica e da busca de caminhos concretos é que se situa a

presente trajetória de pesquisa. Ao perguntarmos se leem e escrevem professores de diferentes

gerações, contexto e escolas, e ao questionarmos se é possível formar leitores e escritores quanto

não se escreve e não se lê, fomos movidos também por uma inquisição: como intervir?

Comprometidos com a pesquisa e com a pratica, com o avanço do conhecimento e com a busca

de saídas, deslocamo-nos nesse percurso tenso, olhando, inquirindo, entrevistando professores,

observando as aulas, estudando, tentando compreender, mas também procurando respostas. Ao

longo desse período, a tentativa de compreender o que é ler e escrever tem sido uma constante:

qual a natureza da leitura e da escrita? como se lê e se escreve hoje? Como concebemos a leitura

e a escrita? No contexto dessa discussão analisamos diversos (e nem sempre excludentes)

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conceitos, diferentes modos de entender o que é ler e escrever. Leitura é habito? É gosto, pratica,

relação, exercício, instrumento, necessidade? E assumimos a leitura e a escrita como experiência.

Entendemos a centralidade da narrativa como espaço de diálogo e de rememoração e

dimensionamos seu papel na constituição do homem como sujeito social, enraizado na

coletividade.

6. LETRAMENTO: MUITO MAIS DO QUE SABER LER E ESCREVER

Letrar é mais que alfabetizar, é ensinar a ler e escrever dentro de um contexto onde a

escrita e a leitura tenham sentido e façam parte da vida do aluno.

Ao olharmos historicamente para as últimas décadas, poderemos observar que o termo

alfabetização, sempre entendido de uma forma restrita como aprendizagem do sistema da escrita,

foi ampliado. Já não basta aprender a ler e escrever, é necessário mais que isso para ir além da

alfabetização funcional (denominação dada ás pessoas que foram alfabetizadas, mas não sabem

fazer uso da leitura e da escrita).

De acordo com Soares (2004): “alfabetização letrando ou letrar alfabetizando pela

integração e pela articulação das várias facetas do processo de aprendizagem inicial da

língua escrita é sem dúvida o caminho para superação dos problemas que vimos

enfrentando nesta etapa da escolarização; descaminhos serão tentativas de voltar a

privilegiar esta ou aquela faceta como se fez no passado, como se faz hoje, sempre

resultando no reiterado fracasso da escola brasileira em dar ás crianças acesso efetiva ao

mundo da escrita” (Soares, 2004, p.20,).

O sentido ampliado da alfabetização, o letramento designa práticas de leitura e escrita. A

entrada da pessoa no mundo da escrita se dá pela aprendizagem de toda a complexa tecnologia

envolvida no aprendizado do ato de ler e escrever. Além disso, o aluno precisa saber fazer uso e

envolver-se nas atividades de leitura e escrita, ou seja, para entrar nesse universo do letramento,

ele precisa apropriar-se do hábito de buscar um jornal para ler, de frequentar revistarias, livrarias,

e com esse convívio efetivo com a leitura, apropriar-se do sistema de escrita.

Para a adaptação adequada do ato de ler e escrever, é preciso compreender, analisar e se

dedicar à produção da escrita e da leitura. O letramento compreende tanto a apropriação das

técnicas para a alfabetização quanto esse aspecto de convívio e hábito de utilização da leitura e da

escrita.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir de 1980 a alfabetização escolar no Brasil começou a passar por novos

questionamentos, porém desta vez o foco das discussões era a emergência de novas concepções

de alfabetização, baseadas em resultados de pesquisas na área da psicologia cognitiva e da

psicolinguística que apontavam para a necessidade de ser compreender o funcionamento dos

sistemas alfabéticos de escrita e de se saber utilizá-lo em situações reais de comunicação escrita,

prevenindo-se o chamado analfabetismo funcional.

Em nosso país, a alfabetização é um problema social, econômico e político. Mas, além

disso, é um problema pedagógico, que tem ocupado professores, especialistas e pesquisadores.

Na verdade, apontam-se insuficiências da escola, da família, do professor ou do método

utilizado, mas os problemas persistem, o que resulta em um número excessivo de analfabetos.

Desde que a escola assumiu o compromisso da alfabetização, os educadores têm pensado

e agido em função desde ou daquele método, objetivando desempenhar essa tarefa com sucesso.

Ao longo do tempo, o conceito de alfabetização mudou para responder às necessidades da

sociedade. Desta forma, da visão inicial – ensinar leitura e escrita de forma mecânica – passou-se

à concepções complexas: letramento, que pode ser definido como processo que alia leitura e

escritura de modo contextualizado e vinculado com a realidade do indivíduo, buscando não

apenas desenvolver atividades como ler e escrever, mas incutir criticidade no leitor, levando-o a

perceber que o ato de codificar é insuficiente para instrumentalizar sua postura enquanto

integrante e atuante na vida em sociedade.

A alfabetização tem sido um desafio muito grande, visto que há diversos fatores que

interferem no processo de alfabetização, dentre eles, a insuficiência de investimentos do poder

público em programas sérios de formação do professor e a dicotomia existente em torno da

binômia teoria e prática. Tais fatores são cruciais e, aliados ás más condições socioeconômicas e

psicológicas dos alunos, têm contribuído para o insucesso na alfabetização, principalmente por

parte dos alunos das classes populares.

Assim sendo, precisam-se fomentar programas de formação de professores e apoiar a

organização de seminários e cursos, que incentivem o estabelecimento de uma relação dinâmica

entre teoria e prática, afinal, como disse Freire (1996), o conhecimento nasce do fazer. O sujeito

constrói seus saberes, dadas às situações que enfrentam e conforme os instrumentos que possuem.

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O professor precisa estar preparado para atuar com o sucesso junto aos alunos e isso

exige reflexão e questionamento. Implica num redimensionamento do sentido da alfabetização e

das ações do professor, além da reorganização do currículo, planejando uma intervenção

significativa no processo de aprendizagem dos alunos e valorizando as experiências dos sujeitos

envolvidos no processo de alfabetização – aluno, professor e comunidade escolar.

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REFERÊNCIAS

ANDRADE, Mário e ALVARENGA, oneida. Cartas. São Paulo: Duas cidades, 1983.

BAKHTIN, N estética de La creación Verbal. Argentina: Siglo Veintiuno, 1982.

BORTONE, Márcia Elizabeth; MARTINS, Cátia Regina Braga. O que é escrever? In. _____.

A construção da leitura e da escrita- do 6°. Ao 9° ano do Ensino fundamental. São Paulo:

Parábola, 2008.

CARVALHO, Marlene. Alfabetizar e letrar: um diálogo entre teoria e prática. Petrópolis,

RJ: Vozes, 2005.

FERREIRO, Emília; Reflexões sobre alfabetização. Tradução Horácio

Gonzales, 24 ed. Atualizada. São Paulo, Cortez, 2001.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à patrica educativa.

São Paulo: Paz e terra, 1996.

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