universidade federal do rio grande do norte … · contribuições ao conhecimento dos seus genomas...

62
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE BIOCIÊNCIAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SISTEMÁTICA E EVOLUÇÃO REARRANJOS CROMOSSÔMICOS, EVOLUÇÃO GENÔMICA E DIVERSIFICAÇÃO CARIOTÍPICA EM TETRAODONTIFORMES ________________________________________________ Dissertação de Mestrado Natal/RN, março de 2016 JULIANA GALVÃO BEZERRA

Upload: lydien

Post on 10-Dec-2018

216 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · contribuições ao conhecimento dos seus genomas e cariótipos são fornecidos e ... evolução esquelética neste grupo reflete

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE BIOCIÊNCIAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SISTEMÁTICA E EVOLUÇÃO

REARRANJOS CROMOSSÔMICOS, EVOLUÇÃO GENÔMICA

E DIVERSIFICAÇÃO CARIOTÍPICA EM TETRAODONTIFORMES

________________________________________________

Dissertação de Mestrado

Natal/RN, março de 2016

JULIANA GALVÃO BEZERRA

Page 2: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · contribuições ao conhecimento dos seus genomas e cariótipos são fornecidos e ... evolução esquelética neste grupo reflete

JULIANA GALVÃO BEZERRA

REARRANJOS CROMOSSÔMICOS, EVOLUÇÃO GENÔMICA E DIVERSIFICAÇÃO

CARIOTÍPICA EM TETRAODONTIFORMES

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Sistemática e Evolução/PPGSE da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como

parte dos requisitos para a obtenção do título de mestre

em Sistemática e Evolução.

Orientador: Prof. Dr. Wagner Franco Molina

Co-Orientador: Prof. Dr. Luiz Antônio Carlos Bertollo

Natal-RN

2016

Page 3: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · contribuições ao conhecimento dos seus genomas e cariótipos são fornecidos e ... evolução esquelética neste grupo reflete

Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Setorial do Centro de

Biociências

Bezerra, Juliana Galvão.

Rearranjos cromossômicos, evolução genômica e diversificação

cariotípica em tetraodontiformes / Juliana Galvão Bezerra. – Natal, RN,

2016.

60 f.: il.

Orientador: Prof. Dr. Wagner Franco Molina.

Coorientador: Prof. Dr. Luiz Antônio Carlos Bertollo.

Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do

Norte. Centro de Biociências. Programa de Pós-Graduação em

Sistemática e Evolução.

1. Tetraodontiformes. – Dissertação. 2. Evolução cromossômica. –

Dissertação. 3. Genomas compactos. – Dissertação. I. Molina, Wagner

Franco. II. Bertollo, Luiz Antônio Carlos. III. Universidade Federal do

Rio Grande do Norte. IV. Título.

RN/UF/BSE-CB CDU 597.556.37

Page 4: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · contribuições ao conhecimento dos seus genomas e cariótipos são fornecidos e ... evolução esquelética neste grupo reflete

JULIANA GALVÃO BEZERRA

REARRANJOS CROMOSSÔMICOS, EVOLUÇÃO GENÔMICA E

DIVERSIFICAÇÃO CARIOTÍPICA EM TETRAODONTIFORMES

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Sistemática e Evolução/PPGSE da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como

parte dos requisitos para a obtenção do título de mestre

em Sistemática e Evolução.

_________________________________________________

Dr. Paulo Augusto de Lima Filho

IFRN

_________________________________________________

Dr. Gideão Wagner Werneck Félix da Costa

UFRN

_________________________________________________

Dr. Wagner Franco Molina

(Presidente da Banca – UFRN)

Page 5: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · contribuições ao conhecimento dos seus genomas e cariótipos são fornecidos e ... evolução esquelética neste grupo reflete

“À minha mãe Ivanoska e familiares.”

Page 6: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · contribuições ao conhecimento dos seus genomas e cariótipos são fornecidos e ... evolução esquelética neste grupo reflete

AGRADECIMENTOS

À Deus, primeiramente, que permitiu que tudo isso acontecesse, аo longo dе minha

vida, pоr tеr mе dado saúde е força pаrа superar аs dificuldades. Agradeço a minha família,

aos meus tios e tias, aos primos e irmão, Igor. E todos aqueles que de alguma forma

compartilharam comigo os momentos difíceis e que foram imprescindíveis quando tudo

parecia impossível. Em especial a minha mãe, Ivanoska, heroína que mе deu apoio, incentivo

nаs horas de desânimo е cansaço.

Aos amigos de escola, de vida e graduação que torceram e torcem por mim, que

buscaram compreender o momento e entender que nem sempre foi possível estar presente.

Meus agradecimentos especiais à Karlla, Khadija e Roberta, amigas e companheiras de

estudo, em uma etapa em que a união foi o diferencial, obrigada meninas pelos dias e noites

de conversas e estudos.

Aos amigos do LGRM que contribuíram direta ou indiretamente com esta pesquisa:

Allyson, Amanda, Aparecida, Cristiane, Clóvis, Davi, Gideão, Inailson, Jeane, Josi, Karlla,

Leonardo Calado, Paulo, Rafael, Roberta, Rodrigo e Vanessa, que sempre me acolheram com

simpatia e sempre estiveram dispostos a ajudar! Obrigada pelas boas risadas!!

Ao professor Dr. Wagner Franco Molina pela oportunidade que me foi concedida e

que tem sido de grande crescimento não apenas acadêmico, mas também pessoal e

profissional.

À Universidade Federal do Rio Grande do Norte, seu corpo docente, direção е

administração pelo ambiente agradável е amigável que proporciona. Ao programa de Pós

Graduação em Sistemática e Evolução e todo seu corpo docente pelo suporte oferecido

durante o desenvolvimento deste trabalho.

Aos membros da banca de qualificação: Professor Doutor Paulo Augusto de Lima

Filho, Doutor Gideão Wagner Werneck Félix da Costa e ao Professor Doutor Carlos Alfredo

Galindo Blaha.

À CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) pela bolsa

concedida.

Page 7: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · contribuições ao conhecimento dos seus genomas e cariótipos são fornecidos e ... evolução esquelética neste grupo reflete

“Só se pode alcançar um grande êxito quando nos mantemos fiéis a nós mesmos.”

Friedrich Nietzsche

Page 8: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · contribuições ao conhecimento dos seus genomas e cariótipos são fornecidos e ... evolução esquelética neste grupo reflete

RESUMO

A ordem Tetraodontiformes se destaca por exibir características morfológicas e genéticas

bastante singulares, representando um dos principais ramos derivados da diversificação dos

teleósteos. Alguns dos seus grupos constituem os vertebrados com os genomas mais

compactos, qualificando-os como modelo de estudo da evolução do genoma. Esta

característica genômica parece ser o resultado de perdas evolutivas de DNA. Com vistas a

realizar comparações citogenômicas entre espécies de alguns grupos de Tetraodontiformes

foram realizadas análises citogenéticas nas espécies Cantherhines pullus e Monacanthus

chinensis (Monacanthidae), Sphoeroides testudineus (Tetraodontidae) e Melichthys niger

(Balistidae). As análises foram ralizadas utilizando as metodologias clássicas (coloração pelo

Giemsa, bandamento C, Ag-RONs), coloração com fluorocromos base-específicos e

mapeamento cromossômico através da hibridação in situ fluorescente (FISH) de sequências

ribossomais 18S e 5S e teloméricas. As espécies C. pullus e M. niger revelaram cariótipos

compostos de 40 cromossomos, todos acrocêntricos. Ambas possuem apenas um par de RONs

e heterocromatinas, em maior parte, pericentroméricas, contudo, o mapeamento de sequências

teloméricas em C. pullus mostrou marcações teloméricas intersticiais, resultado da dinâmica

de rearranjos cromossômicos que ocorre no grupo. Comparações citogenéticas entre as

espécies S. testudineus (2n=46; NF=74) e M. chinensis (2n=34; NF=34) revelaram cariótipos

díspares em relação ao número diploide e de braços cromossômicos, bem como quanto ao

diminuto tamanho dos cromossomos de S. testudineus, em relação ao grandes cromossomos

acrocêntricos presentes em M. chinensis. A marcante divergência no tamanho dos

cromossomos, estrutura cariotípica e distribuição de heterocromatina evidencia a elevada

dinâmica cromossômica e as múltiplas tendências carioevolutivas presentes em

Tetraodontiformes. Em vista do interesse sobre a evolução genômica na ordem, novas

contribuições ao conhecimento dos seus genomas e cariótipos são fornecidos e discutidos sob

perspectivas citogenômicas e evolutivas.

Palavras-chave: Tetraodontiformes, evolução cromossômica, rearranjos, sítios intersticiais,

genomas compactos.

Page 9: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · contribuições ao conhecimento dos seus genomas e cariótipos são fornecidos e ... evolução esquelética neste grupo reflete

ABSTRACT

Tetraodontiformes order is featured for exhibiting extremely singular morphological and

genetics characteristics, representing one of the main derivatives branches of the teleosts

diversification. Some of its groups constitute vertebrates with the most compact genomes,

qualifying them as a model of genome evolution studies. This genomic feature looks to be the

result of evolutionary DNA loss. In order to perform cytogenomic comparisons between

species of some Tetraodontiformes groups, cytogenetic analyzes were done on species

Cantherhines pullus and Monacanthus chinensis (Monacanthidae) Sphoeroides testudineus

(Tetraodontidae) and Melichthys niger (Balistidae). The analysis used classical methodologies

(Giemsa staining, C-banding, Ag-NORs), fluorochromes base-specific staining and

chromosomal mapping by fluorescence in situ hybridization (FISH) of telomeric and the

ribosomal sequences 18S and 5S. The species C. pullus and M. niger revealed karyotypes

composed of 40 chromosomes, all acrocentric. Both have only a single pair of NORs and

heterochromatin, mostly, pericentomeric, however, the telomeric sequences mapping in C.

pullus showed interstitial telomeric marks, result of the chromosomal rearrangements

dynamics wich occurrs in the group. Cytogenetic comparisons among the species S.

testudineus (2n = 46, NF = 74) and M. chinensis (2n = 34, NF = 34) revealed disparate

karyotypes in relation to diploid and chromosomal arm numbers, as well as the tiny size of S.

testudineus chromosomes in relation to the large acrocentric chromosomes present in M.

chinensis. The striking differences on the chromosomes size, karyotypical structure and

heterochromatin distribution evidences high chromosomal dynamics and multiple

karyoevolutive trends present in Tetraodontiformes. In face of the interest on the genomic

evolution in this Order, new contributions to the knowledge of their genomes and karyotypes

are provided and discussed over cytogenomic and evolutionary perspectives.

Keywords: Tetraodontiformes, evolution, rearrangements, interstitial sites, compact genomes.

Page 10: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · contribuições ao conhecimento dos seus genomas e cariótipos são fornecidos e ... evolução esquelética neste grupo reflete

LISTA DE FIGURAS E TABELA

INTRODUÇÃO

Figura 1

Figura 2

Tabela 1

Diversidade das famílias de Tetraodontiformes, dados obtidos de

Eschmeyer & Fong

(2016).....................................................................................................

Filogenia de Tetraodontiformes modificado de Santini et al. (2013b).

Destaque para as famílias do presente

estudo......................................................................................................

Revisão dos dados genômicos em Tetraodontiformes. Extraído e

modificado de Gregory (2016)...............................................................

11

12

15

MATERIAL E MÉTODOS

Figura 3

(a) Pontos de coleta das espécies de Tetraodontiformes no Atlântico e

no Índico. (b) Em detalhe no litoral de Natal (RN), Salvador (BA),

litoral nordeste do Brasil, Arquipélago São Pedro e São Paulo

(ASPSP), Ilha da Trindade (IT). (c) Mar de Andaman (MA), Oceano

Índico........................................................................................................

21

CAPÍTULO I

Figura 4

Figura 5

Cariótipos de Cantherhines pullus e Melichthys niger através de (a)

coloração convencional; (b) Bandamento C; (c) double-FISH com

sondas DNAr 18S (sinais vermelhos) e DNAr 5S (sinais verdes). Em

destaque respectivamente os pares organizadores nucleolares

evidenciando os sítios Ag-RONs e sob coloração MM/DAPI. Em (d)

padrão de distribuição de sondas (TTAGGG)n com destaque para os

pares portadores de sítios ITS.................................................................

Idiograma de referência dos quatro primeiros pares cromossômicos de

C. pullus, indicando a distribuição de heterocromatina e sequências

(TTAGGG)n nos mesmos. Os segmentos cromossômicos delimitados

entre os sítios teloméricos estão indicados em relação a faixas

diferenciais de tamanho observadas entre os cromossomos do

complemento da espécie........................................................................

33

34

CAPÍTULO II

Figura 6 Cariótipos de S. testudineus e M. chinensis através de (a) coloração

convencional (em destaque os sítios Ag-RONs); (b) Bandamento C;

(c) double-FISH com sondas DNAr 18S (sinais vermelhos), e DNAr

5S (sinais verdes)...................................................................................

49

Page 11: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · contribuições ao conhecimento dos seus genomas e cariótipos são fornecidos e ... evolução esquelética neste grupo reflete

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO...........................................................................................

1.1 Diversidade e filogenia em Tetraodontiformes......................................

1.2 Distribuição e aspectos biológicos das famílias Monacanthidae,

Balistidae e Tetraodontidae..........................................................................

1.3 Aspectos genômicos dos Tetraodontiformes..........................................

1.4 Aspectos citogenéticos nos Tetraodontiformes......................................

10

10

12

14

18

2. OBJETIVOS................................................................................................

2.2 Objetivo geral.........................................................................................

2.3 Objetivos específicos..............................................................................

19

19

19

3. MATERIAL E MÉTODOS........................................................................

3.1 Material...................................................................................................

3.2 Métodos..................................................................................................

3.2.1 Estimulação mitótica.......................................................................

3.2.2 Obtenção de cromossomos mitóticos..............................................

3.2.3 Detecção das Regiões Organizadoras de Nucléolos (RONs)..........

3.2.4 Detecção de Heterocromatina (Banda-C).......................................

3.2.5 Coloração com fluorocromos base-específicos DAPI e MM.........

3.2.6 Hibridação in situ fluorescente – FISH...........................................

3.2.7 Análises cromossômicas.................................................................

20

20

22

22

22

23

23

24

24

25

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO................................................................

4.1 CAPÍTULO I.........................................................................................

Fusões em tandem na evolução do cariótipo de Balistidae e

Monacanthidae (Tetraodontiformes)

4.2 CAPÍTULO II........................................................................................

Aspectos da redução genômica em Tetraodontiformes inferida por dados

citogenéticos em Tetraodontidae e Monacanthidae

26

26

43

5. CONCLUSÕES ........................................................................................... 55

6. REFERÊNCIAS.......................................................................................... 56

Page 12: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · contribuições ao conhecimento dos seus genomas e cariótipos são fornecidos e ... evolução esquelética neste grupo reflete

10

1. INTRODUÇÃO

1.1 Diversidade e filogenia em Tetraodontiformes

Dentre a grande diversidade de peixes marinhos, a ordem Tetraodontiformes se

destaca por exibir características morfológicas e genéticas bastante singulares, representando

um dos principais ramos da diversificação dos teleósteos. A ordem é um dos grupos

sistematicamente mais derivados e contém a maior parte dos peixes atuais (Igarashi et al.,

2013). Quanto ao período de origem e diversificação, as ocorrências estratigráficas de

Tetraodontiformes datam do final do Cretáceo, com gêneros fósseis que se estendem para o

Plioceno e Pleistoceno (Sorbini & Tyler, 2004; Arcila et al., 2015).

As 440 espécies de Tetraodontiformes (Figura 1) (Eschmeyer & Fong, 2016), estão

divididas em dez famílias, sendo elas Triacanthodidae, Triacanthidae, Balistidae,

Monacanthidae, Ostraciidae, Triodontidae, Tetraodontidae, Diodontidae, Molidae e

Aracanidae (Figura 1), de ampla distribuição circuntropical, ocupando águas tropicais e

temperadas, marinhas e doces (Matsuura, 2014). Representando uma das radiações

morfológicas e ecológicas mais peculiares de peixes teleósteos (Santini et al., 2013b), a

ordem exibe notável diversidade de formas corporais e tamanhos, estruturas esqueléticas,

ecologia e tamanho do genoma (Brainerd et al., 2001; Santini & Tyler, 2003; Jaillon et al.,

2004;). Seus representantes, conhecidos popularmente como cangulos, peixes-porco e

baiacus, não apresentam comportamento migratório podendo permanecer em um mesmo local

durante todo o ano (Figueiredo & Menezes, 2000).

Vários aspectos da biologia evolutiva dos Tetraodontiformes são peculiares, como a

marcante diversidade de tamanho, com espécies medindo desde pouco mais de 2 cm

(Carinotetraodon travancoricus) até mais de 3m (o peixe lua, Mola mola) (Nelson, 2006;

Matsuura, 2014). Além disso, podem apresentar diversos mecanismos de defesa, como

mecanismos de inflação do corpo, placas ósseas e espinhos cutâneos (Brainerd et al., 2001). A

evolução esquelética neste grupo reflete uma forte tendência à redução, simplificação e/ou

perda de elementos do esqueleto (Winterbottom, 1974; Santini & Tyler 2003; 2004).

O elevado grau de diversificação morfológica é especialmente intrigante tendo em

vista que apenas as famílias Monacanthidae (110 espécies) e Tetraodontidae (195 espécies),

possuem um elevado número de espécies, enquanto a maioria exibe menos de 25 espécies

(Figura 1) (Eschmeyer & Fong, 2016).

Page 13: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · contribuições ao conhecimento dos seus genomas e cariótipos são fornecidos e ... evolução esquelética neste grupo reflete

11

Apesar da diversidade observada, o monofiletismo da ordem é suportado com base em

28 sinapomorfias (Arcila et al., 2015), além de amplas evidências envolvendo dados

morfológicos e moleculares (Figura 2) (Santini & Tyler, 2003, 2004; Holcroft, 2005; Alfaro et

al., 2007; Yamanoue et al., 2008, Santini et al., 2013b). Algumas famílias, como

Monacanthidae e Balistidae, constituem grupos irmãos agrupados na superfamília Balistoidea

(Yamanoue et al., 2008; Santini et al., 2013a; McCord & Westneat, 2016). Devido a

considerável diversidade familiar, várias relações-chave entre linhagens de Tetraodontiformes

permanecem controversas, incluindo as relações de alto nível e da posição de alguns fósseis

de famílias existentes (Arcila et al., 2015).

Com relação ao grau de ancestralidade dos Tetraodontiformes, acredita-se que forme

um grupo irmão dos Acanthuroidea, uma subordem dos Perciformes (Holcroft, 2005; Nelson,

2006; Arratia et al., 2010).

Figura 1. Diversidade das famílias de Tetraodontiformes, dados obtidos de Eschmeyer & Fong (2016).

Page 14: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · contribuições ao conhecimento dos seus genomas e cariótipos são fornecidos e ... evolução esquelética neste grupo reflete

12

Figura 2. Filogenia de Tetraodontiformes modificado de Santini et al. (2013b). Destaque para as famílias do

presente estudo.

1.2 Distribuição e aspectos biológicos das famílias Monacanthidae, Balistidae e

Tetraodontidae

Os representantes da família Monacanthidae distribuem-se pelos oceanos Atlântico,

Índico e Pacífico, porém, são em grande parte restritos ao Indo-Pacífico, com apenas algumas

espécies ocorrendo no Atlântico e no Mar Vermelho (Matsuura, 2014). Seus representantes

geralmente apresentam dois espinhos dorsais sendo o segundo comumente menor do que o

primeiro, podendo inclusive estar ausente (Nelson, 2006). Quando adultos atingem cerca de 1

metro de comprimento e a maioria das espécies se alimenta de uma grande variedade de

invertebrados bentônicos, mas alguns se especializaram em corais ou zooplâncton (Carpenter,

2002). Normalmente, os monacantídeos colocam ovos demersais em um local preparado,

sendo estes guardados pelo macho ou ambos os parentais, podendo também algumas das

espécies subtropicais liberarem seus ovos em mar aberto (Nelson, 2006).

Dentro da variação cromática desta família, a espécie Cantherines pullus exibe

coloração geralmente marrom, onde se destacam faixas claras longitudinais na parte posterior

do corpo com numerosas pintas alaranjadas. Presente no Atlântico Ocidental distribui-se

desde a costa dos Estados Unidos até São Paulo - Brasil (Carpenter, 2002). A espécie

Monacanthus chinensis, habita estuários e recifes costeiros, apresentando hábitos onívoros

Page 15: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · contribuições ao conhecimento dos seus genomas e cariótipos são fornecidos e ... evolução esquelética neste grupo reflete

13

que incluem principalmente algas e camarões, bem como de briozoários, ascídias e copépodes

(May & Maxwell, 1986; Kuiter & Tonozuka, 2001). Distribui-se pelo Indo-Pacífico nos

litorais da Malásia e Indonésia, norte ao sul do Japão, sul da Austrália e ao sul do País de

Gales (Shen, 1993).

Grupo-irmão de Monacanthidae, os membros da família Balistidae são popularmente

conhecidos como cangulos ou peixes porcos, distribuindo-se pelos oceanos Atlântico,

Pacífico e Índico (Nelson, 2006). Sua principal característica é a presença de três espinhos

dorsais, onde o primeiro é mais desenvolvido que os demais, principal característica que os

difere morfologicamente dos Monacanthidae (Carpenter, 2002). As espécies desta família

possuem geralmente cores vivas, são diurnas e habitantes comuns de áreas recifais (Chen,

2001). A maioria dos representantes é carnívora alimentando-se de uma grande variedade de

invertebrados, incluindo moluscos e equinodermos. Põem ovos demersais em um ninho que é

agressivamente vigiado pela fêmea e menos frequentemente pelo macho, sendo bastante

populares entre os aquariofilistas (Carpenter, 2002).

Entre os Balistidae, o representante mais bem distribuído é a espécie Melichthys niger,

denominada cangulo-preto, devido à coloração negra do corpo, com linhas azuis ao longo da

nadadeira dorsal e caudal. Esta espécie forma grandes cardumes em ilhas oceânicas, recifes e

parcéis em águas claras e afastadas da costa e distribuindo-se pelos oceanos Atlântico, Índico

e Pacífico (Szpilman, 2000).

Uma família de particular interesse entre os Tetraodontiformes é Tetraodontidae, cujos

representantes são conhecidos como baiacus-lisos, dos quais a maioria é marinha, contudo,

algumas espécies de água doce e salobra já foram descritas. Peculiarmente são capazes de

inflar o corpo (região ventral), dificultando a predação e fazendo com que pareçam maiores

(Carpenter, 2002). Alguns membros desta família possuem elevada toxicidade. A carne,

especialmente as vísceras, ou gônadas contém tetrodotoxina, um veneno neurotóxico, que em

casos de ingestão pode ser fatal (Nelson, 2006). Um dos representantes desse grupo,

Sphoeroides testudineus, tem frequente e abundante ocorrência no litoral do Rio Grande do

Norte, nordeste do Brasil, exibindo-se manchas escuras distribuídas sobre o dorso do corpo.

Esta espécie tem hábitos solitários, podendo ocorrer em grupos de dois ou três indivíduos,

alimentando-se principalmente de moluscos e outros seres bentônicos, os quais esmagam com

seus dentes potentes (Szpilman, 2000).

Page 16: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · contribuições ao conhecimento dos seus genomas e cariótipos são fornecidos e ... evolução esquelética neste grupo reflete

14

1.3 Aspectos genômicos dos Tetraodontiformes

Com aproximadamente 28.872 espécies, os peixes teleósteos constituem a radiação

dominante dos vertebrados em nosso planeta, ainda sendo sugerido que a grande diversidade

morfológica e de espécies de teleósteos pode estar relacionada com duplicações de genes

independentes em grande escala ou a uma duplicação de todo o genoma de um antigo

teleósteos (Santini et al., 2009). Compondo esse clado, os Tetraodontiformes se destacam

como os vertebrados com os genomas mais compactos (Dolezel et al., 2003; Noleto et al.,

2007, 2009).

A família Tetraodontidae, por exemplo, possui as menores quantidades de DNA por

célula entre os vertebrados (Neafsey & Palumbi, 2003), estimado em 0,34 – 0,80pg haploide

(Tabela 1), que significa mais de oito vezes menor que o genoma humano (3,50pg) (Noleto et

al., 2009; Martinez et al., 2011; Gregory, 2016). A variação genômica observada no grupo

tem sido atribuída à perda de DNA repetitivo e não codificante (Neafsey & Palumbi, 2003;

Noleto et al., 2009). Outras famílias, entretanto, exibem valores maiores, como as famílias

Monacanthidae e Balistidae (0,54 – 0,80pg), enquanto que Ostraciidae e Diodontidae exibem

valores variando de 0,80 a 1,10pg (Brainerd et al., 2001; Gregory, 2016).

Assim, as variações no tamanho do genoma dos Tetraodontiformes sugere que os

membros desta ordem podem ser alçados à condição de modelos adequados ao estudo da

evolução do genoma dos vertebrados, o que favorece estudos moleculares, assim como

comparações com espécies mais basais (Crnogorac-Jurcevic et al., 1997; Jaillon et al., 2004).

A família Tetraodontidae, em especial, tem despertado grande interesse como modelo para o

estudo do genoma de vertebrados, resultando em uma crescente quantidade de dados

disponíveis sobre as sequências gênicas de vários tetraodontídeos, particularmente os gêneros

Fugu (Crnogorac-Jurcevic et al., 1997) e Tetraodon (Mandrioli et al., 2000; Jaillon et al.,

2004).

Entretanto, como a evolução genômica não foi uniforme para todos

Tetraodontiformes, as diferenças quanto ao tamanho do genoma nas linhagens sugere que a

expansão ou a contração dos genomas ocorreu independente em cada táxon (Hinegardner,

1968; Neafsey & Palumbi, 2003; Jaillon et al., 2004). Enquanto a expansão parece ser o

resultado de duplicações em tandem, inserções, poliploidia, atividade de elementos de

transposição ou ainda da acumulação de sequências repetitivas, um genoma compacto poderia

Page 17: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · contribuições ao conhecimento dos seus genomas e cariótipos são fornecidos e ... evolução esquelética neste grupo reflete

15

ser o resultado de deleções acumuladas constituindo um estado derivado (Venkatesh et al.,

2000; Petrov, 2001).

As características genômicas dos Tetraodontiformes, como variação na quantidade de

DNA, além da ocorrência de diversos rearranjos cromossômicos os tornam especialmente

indicados para a identificação in situ de genes. A partir do aprofundamento do conhecimento

dos aspectos cromossômicos desta ordem, análises envolvendo sequências de DNA podem ser

facilitadas pelo conhecimento prévio da sua ultraestrutura cariotípica e do mapeamento

cromossômico de determinados genes. Isso é possível através da técnica de hibridação in situ

com fluorescência (FISH), que trouxe avanços significativos para o conhecimento do genoma

com base nos cromossomos (Artoni et al., 2015).

Tabela 1 – Revisão dos dados genômicos em Tetraodontiformes. Extraído e modificado de Gregory (2016).

Família Espécies Valor C Referência

BALISTIDAE

Abalistes stellatus

0,64

Hardie & Hebert, 2003; 2004

Balistapus undulatus 0,67 Hardie & Hebert, 2003; 2004

Balistapus undulatus 0,74 Ojima & Yamamoto, 1990

Balistes carolinensis 0,54 Mirsky & Ris, 1951

Balistes carolinensis 0,55 Bachmann & Cowden,1967

Balistes sp 0,72 Hinegardner, 1968;

Hinegardner & Rosen, 1972

Balistoides viridescens 0,68 Ojima & Yamamoto, 1990

Melichthys niger 0,70 Brainerd et al., 2001

Rhinecanthus aculeatus 0,64 Hardie & Hebert, 2004

Sufflamen

chrysopterum

0,58 Hardie & Hebert, 2004

Sufflamen fraenatus 0,64 Hardie & Hebert, 2003; 2004

Xanthichthys ringens 0,74 Brainerd et al., 2001

Valor médio 0,60

MONACANTHIDAE

Aluterus schoepfii

0,64

Hinegardner & Rosen, 1972

Cantherines pullus 0,58 Brainerd et al., 2001

Monacanthus chinensis 0,66 Hardie & Hebert, 2004

Monacanthus ciliatus 0,58 Brainerd et al., 2001

Monacanthus tuckeri 0,58 Brainerd et al., 2001

Page 18: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · contribuições ao conhecimento dos seus genomas e cariótipos são fornecidos e ... evolução esquelética neste grupo reflete

16

Nelusetta ayraud 0,65 Hardie & Hebert, 2004

Paramonacanthus

filicauda

0,77 Hardie & Hebert, 2004

Pervagor janthinosoma 0,51 Hardie & Hebert, 2004

Pseudomonacanthus

peroni

0,43 Hardie & Hebert, 2003; 2004

Stephanolepis cirrhifer 0,62 Ojima & Yamamoto, 1990

Stephanolepis hispidus 0,68 Hinegardner, 1968;

Hinegardner & Rosen, 1972

Thamnaconus modestus 0,56 Ojima & Yamamoto, 1990

Valor médio 0,60

TETRAODONTIDAE

Arothron diadematus

0,40-0,50

Pizon & Bernardi, 1984

Arothron hispidus 0,40 Ojima & Yamamoto, 1990

Arothron hispidus 0,52 Hardie & Hebert, 2004

Arothron manilensis 0,50 Hardie & Hebert, 2003; 2004

Arothron meleagris 0,38 Ojima & Yamamoto, 1990

Canthigaster bennetti 0,38 Hardie & Hebert, 2003; 2004

Canthigaster rostrata 0,45 Brainerd et al., 2001

Canthigaster valentini 0,44 Hardie & Hebert, 2003; 2004

Lagocephalus lunaris 0,44 Hardie & Hebert, 2003; 2004

Lagocephalus lunaris 0,72 Hardie & Hebert, 2003; 2004

Sphoeroides greeleyi 0,71 Noleto et al., 2009

Sphoeroides maculatus 0,50 Hinegardner, 1968;

Hinegardner & Rosen, 1972

Sphoeroides nephelus 0,45 Brainerd et al., 2001

Sphoeroides nephelus 0,50 Hinegardner & Rosen, 1972

Sphoeroides spengleri 0,34 Noleto et al, 2009

Sphoeroides

testudineus

0,82 Noleto et al, 2009

Takifugu niphobles 0,42 Ojima & Yamamoto, 1990

Takifugu rubripes 0,40 Brenner et al, 1993

Tetractenos hamiltoni 0,51 Hardie & Hebert,2004

Tetraodon cutcutia 0,41 Vinogradov, 1998

Tetraodon fluviatilis 0,35 Lamatsch et al., 2000

Page 19: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · contribuições ao conhecimento dos seus genomas e cariótipos são fornecidos e ... evolução esquelética neste grupo reflete

17

Tetraodon fluviatilis 0,40 Hinegardner, 1968;

Hinegardner & Rosen, 1972

Tetraodon fluviatilis 0,40 Brainerd et al., 2001

Tetraodon fluviatilis 0,41 Ojima & Yamamoto, 1990

Tetraodon nigroviridis 0,35 Jaillon et al., 2004

Tetraodon nigroviridis 0,51 Hardie & Hebert, 2003; 2004

Tetraodon

palembangensis

0,48 Hinegardner & Rosen, 1972

Valor médio 0,46

OSTRACIIDAE

Acanthostracion

quadricornis

0,96

Mirsky & Ris, 1951

Acanthostracion

quadricornis

1,10 Brenner et al, 1993

Lactophrys bicaudalis 0,98 Brenner et al, 1993

Lactophrys trigonis 0,85 Hinegardner & Rosen, 1972

Lactophrys triqueter 1,10 Hinegardner & Rosen, 1972

Valor médio 0,90

DIODONTIDAE

Cyclichthys schoepfi

0,81

Brainerd et al., 2001

Chilomycterus schoepfi 0,85 Brainerd et al., 2001

Cyclichthys schoepfi 0,90 Hinegardner & Rosen, 1972

Chilomycterus spinosus 1,00 Noleto et al., 2009

Diodon holocanthus 0,78 Brainerd et al., 2001

Diodon hystrix 0,80 Brainerd et al., 2001

Diodon liturosis 0,85 Ojima & Yamamoto, 1990

Valor médio 0,85

TRIACANTHIDAE

Tripodichthys

angustifrons

0,51

Hardie & Hebert, 2003; 2004

Valor médio 0,51

MOLIDAE

Mola mola

0,84

Brainerd et al., 2001

Mola mola 0,97 Venkatesh et al., 2000

Page 20: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · contribuições ao conhecimento dos seus genomas e cariótipos são fornecidos e ... evolução esquelética neste grupo reflete

18

Valor médio 0,90

1.4 Aspectos citogenéticos nos Tetraodontiformes

Tetraodontiformes constitui um dos principais ramos derivados da diversificação dos

teleósteos, e apresentam os cariótipos mais diversos com números diploides variando entre 28

e 52 cromossomo, a exemplo disso temos a família Triacanthidae que possui 2n=48 e NF=48

(Arai, 2011), características consideradas basais e extensamente difundida entre os

Perciformes. Enquanto famílias, tais como Balistidae, Monacanthidae e Molidae, exibem

valores de 2n entre 33 – 46 formado em maior parte por cromossomos monobraquiais (Molina

et al., 2014b). Tetraodontidae, Ostraciidae, e Diodontidae, entretanto, exibem as mais

variadas fórmulas cariotípicas, com valores 2n=28 a 52 e NF=36 a 96 (Arai, 2011; Nirchio et

al., 2014). Essa diversidade de fórmulas cariotípicas, pode ser reflexo da forte especialização

do grupo, não sendo possível a identificação de um padrão comum como ocorre nos

Perciformes (Sá-Gabriel & Molina, 2005).

Nesse sentido, os dados disponíveis para os Tetraodontiformes revelam, ainda,

diferentes tendências carioevolutivas como a ocorrência de alguns rearranjos estruturais, tais

como fissões e fusões cêntricas (Sá-Gabriel & Molina, 2005; Arai, 2011), associados a

ocorrência de cromossomos sexuais e Bs (Nirchio & Oliveira, 2007; Martinez et al., 2011;

Molina et al., 2014a), que também são promotores na diversificação cariotípica na ordem.

Rearranjos cromossômicos têm desempenhado um papel importante na evolução do

cariótipo de diversos grupos de peixes, a exemplo dos salmonídeos (Pomianowski et al.,

2012). A ocorrência de diferentes números de cromossomos com a manutenção do número de

braços cromossômicos, resultantes de fusões cêntricas é conhecidas como polimorfismos

Robertsonianos e são observadas em diversos grupos de peixes, incluindo a ordem

Tetraodontiformes (Phillips & Ráb, 2001).

Nesse sentido análises citotaxonômicas contribuem significativamente para o estudo

da evolução pelo fato do material genético estar contido nos cromossomos (Almeida-Toledo,

2000). Portanto, alterações como, rearranjos cromossômicos, polimorfismos estruturais e/ou

numéricos, poliploidia natural, sistemas de cromossomos sexuais entre outros, são quase

sempre significativas para que se possa inferir o rumo evolutivo das espécies.

Page 21: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · contribuições ao conhecimento dos seus genomas e cariótipos são fornecidos e ... evolução esquelética neste grupo reflete

19

2. OBJETIVOS

2.2 Objetivo geral

O presente trabalho tem como objetivo compreender os processos evolutivos ocorridos

nos cariótipos e genomas dos grupos de peixes aqui estudado, com o intuito de ampliar as

informações existente para a ordem Tetraodontiformes.

2.3 Objetivos específicos

• Comparar por meio de métodos citogenéticos clássicos (Giemsa, Ag-RON,

bandamento C), fluorocromos base-específicos e mapeamento da distribuição de

sequências teloméricas e DNA ribossomal 18S e 5S por meio da hibridização in situ

com fluorescência (FISH) em Cantherhines pullus (Monacanthidae) e Melichthys

niger (Balistidae), grupos com um recorrente processo de redução numérica do valor

diploide.

• Analisar citogeneticamente a espécie Sphoeroides testudineus (Tetraodontidae) e

Monacanthus chinensis (Monacanthidae), através de coloração convencional, Ag-

RON, bandamento C, fluorocromos MM/DAPI e FISH com sondas de DNAr 18S e 5S

com vistas a identificar e discutir a dinâmica cromossômica de espécies com genoma

reduzido.

• Identificar os mecanismos evolutivos envolvidos na diferenciação cariotípica das

espécies estudadas.

Page 22: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · contribuições ao conhecimento dos seus genomas e cariótipos são fornecidos e ... evolução esquelética neste grupo reflete

20

3. MATERIAL E MÉTODOS

3.1 Material

Os exemplares utilizados no presente trabalho foram coletados, na praia de Ponta

Negra – Natal (RN) (5º52´S, 35º10´O), no litoral da Bahia, costa de Salvador (BA) (12º58’S,

38º31’O), no Arquipélago São Pedro e São Paulo (ASPSP) (00º 55'15" N 029º20'60" O), ilha

da Trindade (IT), distante 1200km da costa da cidade de Vitória, no centro sul do Oceano

Atlântico (20º30’13”S, 29º19’50”O), Mar de Andaman (11º04’00”N, 95º44’34”L) (Figura3).

Os espécimes foram coletados utilizando-se redes de pesca (arrasto, puçá e tarrafa),

bem como linha e anzol, sendo posteriormente acondicionados e mantidos em condições de

aeração até que se procedesse as preparações cromossômicas. Para as análises citogenéticas

foram empregados indivíduos das espécies Melichthys niger (Bloch, 1786), n=8 (Balistidae);

Cantherhines pullus (Ranzani, 1842), n=5 e Monacanthus chinensis (Osbeck, 1765), n=2

(Monacanthidae), e Sphoeroides testudineus (Linnaeus, 1758), n=12 (Tetraodontidae).

Page 23: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · contribuições ao conhecimento dos seus genomas e cariótipos são fornecidos e ... evolução esquelética neste grupo reflete

21

Figura 3. (a) Pontos de coleta das espécies de Tetraodontiformes no Atlântico e no Índico. (b) Em detalhe no

litoral de Natal (RN), Salvador (BA), litoral nordeste do Brasil, Arquipélago São Pedro e São Paulo (ASPSP), Ilha

da Trindade (IT). (c) Mar de Andaman (MA), Oceano Índico.

Page 24: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · contribuições ao conhecimento dos seus genomas e cariótipos são fornecidos e ... evolução esquelética neste grupo reflete

22

3.2 Métodos

3.2.1 Estimulação mitótica

Depois de acondicionados e aclimatados em tanques devidamente aerados, os

exemplares foram submetidos à estimulação mitótica seguindo a metodologia preconizada por

Molina et al. (2010), que faz uso dos complexos comerciais de antígenos bacterianos e

fúngicos, Munolan® (Allergan Frumtost™) e Aminovac®. Este procedimento consiste na

inoculação intraperitoneal de solução do composto (2 comprimidos/1ml de água destilada), na

proporção de 1ml/50g de peso corporal, por um período de 24 a 48 horas. Decorrido este

tempo, os exemplares foram anestesiados com Eugenol® – óleo extraído do cravo (Syzygium

aromaticum) e eutanaziados para extração de fragmentos do rim anterior.

3.2.2 Obtenção de cromossomos mitóticos

Para a obtenção de cromossomos mitóticos foi adotado o método de preparação in

vitro descrito por Gold et al. (1990). Após a eutanásia, procedeu a extração de fragmentos dos

rins anterior, que possuem função hematopoiética. Nos casos em que as quantidades de rim

eram insuficientes, outros tecidos foram utilizados. O material retirado foi acondicionado em

frascos contendo 5ml de meio de cultura (RPMI 1640) e desagregado através de movimentos

de sucção e esvaziamento com seringas de vidro. Após essa etapa adicionaram-se 125µl de

colchicina 0,025%, agindo por 30 minutos. Após este período o material foi centrifugado por

10 minutos a 1000rpm, sendo descartado o sobrenadante e foram adicionados 8ml de solução

hipotônica (KCl 0,075M), agindo por 28 minutos, logo se prefixou com 100µl de fixador (3

Metanol: 1 Ac. Acético), sendo novamente centrifugado por 10 minutos a 1000rpm,

descartou-se o sobrenadante e se adicionou 6ml de fixador, centrifugando-se novamente por

10 minutos a 1000 rpm, este último passo foi repetido três vezes. Após a última centrifugação,

reservaram-se 2,0ml de fixador ressuspendeu-se o material e transferiu-se a suspensão

cromossômica para um microtubo que foi mantido em freezer (-20ºC) até o momento das

análises e demais procedimentos.

Após a preparação, aproximadamente 100µl de suspensão celular, foi gotejada sobre

uma lâmina recoberta com um filme de água destilada aquecida a 60ºC de tal forma que se

Page 25: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · contribuições ao conhecimento dos seus genomas e cariótipos são fornecidos e ... evolução esquelética neste grupo reflete

23

descarta a água sobre a lâmina inclinando-a e goteja-se a suspensão cromossômica no espaço

gerado, após essa etapa as lâminas são secas ao ar, e posteriormente coradas com Giemsa,

diluído a 5% em tampão fosfato (pH 6,8), por 10 minutos. As melhores metáfases foram

fotografadas em fotomicroscópio de epifluorescência (OlympusTM BX50) sob aumento de

1000X e capturadas e digitalizadas, por meio de um sistema digital de captura (câmera CCD

Optronics, modelo DP73) com o uso do software cellSens© para a captura da imagem.

As melhores microfotografias foram utilizadas na preparação do cariótipo das

espécies, onde os cromossomos metafásicos foram ordenados em ordem decrescente de

tamanho e definidos de acordo com a posição do centrômero segundo Levan et al. (1964).

3.2.3 Detecção das Regiões Organizadoras de Nucléolos (RONs)

A detecção de regiões organizadoras de nucléolos foi obtida pela técnica de

impregnação com nitrato de prata preconizada por Howell & Black (1980). Sobre uma lâmina

previamente preparada com suspensão celular foram adicionadas 175µl de solução gelatinosa

(1g de gelatina incolor, dissolvida em 50ml de água destilada e 0,5ml ácido fórmico), e 150µl

de solução de nitrato de prata (AgNO3) à 50%. A solução foi recoberta com a lamínula sendo

então incubada em estufa a 60°C de 3 a 5 minutos. Após o período a remoção da lamínula foi

realizada com jatos de água destilada, sendo posteriormente secas em temperatura ambiente e

analisadas eventualmente, para destacar as marcações argênteas, as preparações podiam ser

coradas por cerca de 20 segundos com solução de Giemsa a 5%. Após secas as preparações

foram analisadas e fotografadas no mesmo dia para evitar oxidação.

3.2.4 Detecção de Heterocromatina (Banda-C)

A análise das regiões heterocromáticas foi realizada através do bandamento-C,

segundo Sumner (1972). Foram utilizadas lâminas com material envelhecido em estufa a

37°C por no mínimo 3 dias, após esse período a lâminas foram imersas em HCl 0,2N por 14

minutos em temperatura ambiente, sendo lavadas com água destilada e secas. Posteriormente

a lâmina foram mergulhadas em uma solução a 5% de Ba(OH)28H2O à 42°C por cerca de 1

minuto e 35 segundos sendo rapidamente imersas em HCl 0,1N e posteriormente lavadas em

água destilada. Após secar ao ar, as lâminas foram então imersas em solução salina 2xSSC à

Page 26: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · contribuições ao conhecimento dos seus genomas e cariótipos são fornecidos e ... evolução esquelética neste grupo reflete

24

60°C em estufa por 30 minutos. Para a análise o material foi corado com Giemsa 5% por 6

minutos.

3.2.5 Coloração com os fluorocromos base-específicos DAPI e MM

A coloração pelos fluorocromos Mitramicina e DAPI foi realizada seguindo a técnica

de Schweizer (1976) com pequenas modificações. Após um processo de desidratação por 30

minutos em solução fixadora (metanol 3: 1 ácido acético) e 1 hora em etanol 100%, as

lâminas foram secas ao ar e um total de 30µl de solução Mitramicina (0,5 mg/ml – 10 ml) foi

depositado em cada lâmina, sendo as mesmas cobertas por lamínulas, permanecendo 1 hora

em câmara escura umedecida. Após esse procedimento lavaram-se as lâminas em água

destilada, utilizando-se de um jato moderado para a retirada das lamínulas. Depois as lâminas

foram secas ao ar no escuro e sobre as mesmas foi depositado um total de 30µl de solução de

DAPI (4',6-diamidino-2-fenilindol) (2 µg/ml - 10 ml) em cada lâmina, sendo cobertas

novamente por lamínulas e permanecendo por 30 minutos em câmara escura umedecida.

Decorrido esse tempo, as lâminas foram, novamente, submetidas à lavagem com água

destilada, utilizando-se do jato moderado para a retirada das lamínulas e secas ao ar no escuro.

Por último, aplicou-se 30µl do meio de montagem (Glicerol-Macllvaine, pH 7,0, 1:1), sobre

cada lâmina no escuro e sobre as mesmas depositaram-se as lamínulas, sendo o conjunto

selado com base incolor de esmalte nas extremidades, para evitar que o meio de montagem se

dispersasse durante a estocagem. As lâminas foram preservadas em câmara escura à

temperatura ambiente por 4 dias e então analisadas, sendo as melhores metáfases foram

fotografadas em fotomicroscópio de epifluorescência com filtros apropriados (OlympusTM

BX50) sob aumento de 1000X e capturadas e digitalizadas, por meio de um sistema digital de

captura Olympus DP73 com o uso do software cellSens©.

3.2.6 Hibridação in situ fluorescente – FISH

Obtenção de sondas para hibridização

A hibridização in situ com fluorescência foi realizada de acordo com Pinkel et al.

(1986) usando sondas de 18S e 5S. As sondas de DNAr 5S (200 pb) e 18S DNAr (1400 pb)

foram obtidos a partir de amostras de DNA de Rachycentron canadum (Teleostei,

Perciformes), via PCR utilizando os primers A 5'-TAC CCG CGA TCT CGT CCG ATC-3 '/

Page 27: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · contribuições ao conhecimento dos seus genomas e cariótipos são fornecidos e ... evolução esquelética neste grupo reflete

25

B 5'-CAG GGT GCT ATG CCG GTA AGC-3' (Pendás et al., 1994) e NS1 5'-GTC ATA

GTA TGC TTG TCT C-3' / NS8 5'-TCC GCA GGT TCA CCT ACG AG-3' (White et al.,

1990), respectivamente. A sonda 18S foi marcada por nick translation digoxigenina-11-dUTP

(Roche) e a sonda DNAr 5S foi marcada por nick translation biotina-14-dATP (Roche), de

acordo com as especificações do fabricante. As sequências (TTAGGG)n foram mapeadas

utilizando o Kit FISH Telomere PNA/FITC® de acordo com as instruções do fabricante

(DakoCitomation™).

Hibridização cromossômica

A FISH foi realizada de acordo com Pinkel et al. (1986). Análise por dual-color FISH

foi desenvolvida usando sondas DNAr 18S e DNAr 5S. Os cromossomos foram tratados com

RNAse livre de DNAse (20mg / mL em 2xSSC) à 37°C por 1 hora, com pepsina (0,005% em

HCl 10mM) à 37°C por 10 minutos e fixados com formaldeído à 1% por 10 minutos, em

seguida desidratados em série alcoólica (70%, 80% e 100%), por 5 minutos cada. Os

cromossomos foram, então, desnaturados em 70% formamida/2×SSC à 72°C por 5 minutos.

A solução de hibridização consistiu em 50% de formamida, 2×SSC, 10% de sulfato de

dextrano e a sonda desnaturada (5 ng/μl). Após hibridação, overnight à 37°C, as lâminas

foram lavadas em 15% formamida/0.2×SSC à 42°C por 20 minutos, 0,1×SSC à 60°C por 15

minutos e Tween20 0,5%/4×SSC à temperatura ambiente. O sinal de hibridização da sonda

foi detectado usando streptavidina-FITC (Vector™) para a sonda DNAr 5S e anti-

digoxigenina rodamina conjugada (Roche™) para a sonda DNAr 18S. Os cromossomos

foram contracorados com Vectashield/DAPI® (1,5μg/ml). As preparações cromossômica

submetidas à FISH foram analisadas conforme descrito para as análises com fluorocromos.

3.2.7 Análises cromossômicas

Após a obtenção das imagens como previamente explanado para todos as técnicas aqui

elucidadas, os cromossomos metafásicos foram definidos de acordo com a posição do

centrômero segundo Levan et al. (1964). As imagens foram tratadas com o software Adobe©

Photoshop© CS6 versão 13.1.2x64 (1990-2012 Adobe Systems Incorporated, all rights

reserved).

Page 28: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · contribuições ao conhecimento dos seus genomas e cariótipos são fornecidos e ... evolução esquelética neste grupo reflete

26

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1.CAPÍTULO I

FUSÕES EM TANDEM NA EVOLUÇÃO DO CARIÓTIPO DE BALISTIDAE E

MONACANTHIDAE (TETRAODONTIFORMES)

Juliana G. Bezerra1; Luiz A.C. Bertollo2; Gideão W.W.F da Costa1; Allyson S. Souza1;

Marcelo B. Cioffi2 ; Wagner F. Molina1

1 Departamento de Biologia Celular e Genética, Centro de Biociências, Universidade Federal

do Rio Grande do Norte, Natal – RN, Brasil.

2 Departamento de Genética e Evolução, Universidade Federal de São Carlos, São Paulo – SP,

Brasil.

Resumo

Tetraodontiformes exibem diferentes tendências carioevolutivas e filogenéticas, decorrentes

da ação preferencial de certos rearranjos estruturais, entre elas fusões em tandem. Estes

mecanismos de difícil identificação por métodos citogenéticos convencionais podem

eventualmente ser detectados pelo mapeamento de sequências teloméricas ao longo dos

cromossomos, através da hibridização in situ com fluorescência (FISH). Com vistas a analisar

a ocorrência de cariótipos com números diploides reduzidos nesta ordem, foram realizadas

análises carioevolutivas nas espécies Cantherhines pullus (Monacanthidae) e Melichthys niger

(Balistidae), através de metodologias da citogenética convencional (coloração pelo Giemsa,

bandamento C, Ag-RONs), coloração com fluorocromos base-específicos e mapeamento

cromossômico de sequências ribossomais e teloméricas através da técnica de FISH. Ambas as

espécies apresentaram cariótipos com 2n=40 cromossomos, todos acrocêntricos, um par de

RONs e heterocromatina preferencialmente pericentromérica. Cantherhines pullus apresentou

sítios (TTAGGG)n intersticiais, apoiando a ocorrência de eventos de fusão in tandem na

diversificação cariotípica de algumas famílias.

Palavras-chave: Balistoidea, carioevolução, FISH, telômeros, rearranjos cromossômicos.

Page 29: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · contribuições ao conhecimento dos seus genomas e cariótipos são fornecidos e ... evolução esquelética neste grupo reflete

27

IN TANDEM FUSION IN THE KARYOTYPE EVOLUTION OF BALISTIDAE AND

MONACANTHIDAE (TETRAODONTIFORMES)

Juliana G. Bezerra1; Luiz A.C. Bertollo2; Gideão W.W.F da Costa1; Allyson S. Souza1;

Marcelo B. Cioffi2 ; Wagner F. Molina1

1 Departamento de Biologia Celular e Genética, Centro de Biociências, Universidade Federal

do Rio Grande do Norte, Natal – RN, Brasil.

2 Departamento de Genética e Evolução, Universidade Federal de São Carlos, São Paulo – SP,

Brasil.

Abstract

Tetraodontiformes exhibit different karyoevolutive and phylogenetic trends, resulting from

the action of preferential structural rearrangements, among them in tandem fusions. These

mechanisms are difficult to identify by conventional cytogenetic methods and can be possibly

detected by physical mapping of telomeric sequences along the chromosomes through in situ

hybridization with fluorescence. In order to analyze the occurrence of karyotypes with

reduced diploid number in this Order, karyoevolutive analyzes were performed on the species

Cantherhines pullus (Monacanthidae) and Melichthys niger (Balistidae) through

methodologies of conventional cytogenetics (Giemsa staining, C-banding, Ag-NORs),

fluorochromes base-specific staining and chromosomal mapping of ribosomal and telomeric

sequences through FISH technique. Both species showed karyotypes with 2n = 40

chromosomes, all acrocentric, a pair of NORs and heterochromatin preferably

pericentromeric. Cantherhines pullus presented interstitials sites (TTAGGG)n, supporting the

occurrence of in tandem fusion events in karyotypical diversification of some families.

Keywords: Balistoidea, karyoevolution, FISH, telomeres, chromosomal rearrangements.

Page 30: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · contribuições ao conhecimento dos seus genomas e cariótipos são fornecidos e ... evolução esquelética neste grupo reflete

28

Introdução

Os Tetraodontiformes compõem uma linhagem pós-Perciformes e constituem o último

ramo da difusão dos teleósteos (Elmerot et al., 2002), ocupando uma posição filogenética de

destaque nesse contexto. Desde a detecção das menores quantidades de DNA entre os

vertebrados para os peixes da família Tetraodontidae (Hinegardner, 1968), este grupo tornou-

se um importante modelo animal com a ocorrência do aumento de informações citogenéticas,

identificação de elementos de transposição, sequenciamento do genoma completo e do

genoma mitocondrial (Crollius & Weissenbach, 2005). Concomitantemente, intensificou-se o

interesse em vários outros grupos de Tetraodontiformes (Jaillon et al., 2004; Santini et al.,

2013a), que com a ampliação do espectro filogenético permitiu identificar diferentes

tendências carioevolutivas entre suas famílias (Sá-Gabriel & Molina, 2005).

Diferenças quanto ao tamanho do genoma em diversas famílias sugere que a expansão

ou a contração dos genomas ocorreu independentemente em cada táxon e que, portanto, este

tamanho reduzido do genoma não é uniforme para todas as espécies nem característico de

todos os Tetraodontiformes, o que torna o grupo bastante peculiar (Venkatesh et al., 2000).

Nos Tetraodontiformes ocorre, também, uma marcante diversidade de fórmulas

cariotípicas, reflexo da forte especialização do grupo, aparentemente não existindo um

padrões amplamente distribuídos como ocorre nos Perciformes (Sá-Gabriel & Molina, 2005).

Nesse cenário as espécies da ordem apresentam cariótipos variáveis com números diploides

variando entre 28 a 52 cromossomos (Arai, 2011; Nirchio & Oliveira, 2014). Enquanto

espécies da família Triacanthidae, possuem números diploide e número fundamental (número

de braços cromossômicos, NF) frequentemente iguais a 48, outras famílias, como Balistidae,

Monacanthidae, Diodontidae, Tetraodontidae, Ostraciidae e Molidae exibem uma diversidade

de fórmulas cromossômicas, com cariótipos mais derivados e números diploides variando de

28 a 52 e números fundamentais com valores de 33 a 96 (Arai, 2011). Os dados disponíveis

para a ordem revelam ainda, diferentes tendências carioevolutivas como a ação de alguns

rearranjos estruturais, tais como fissões e fusões cêntricas (Sá-Gabriel & Molina, 2005).

As famílias Balistidae e Monacanthidae, que divergiram no Eoceno Médio, acerca de

50 milhões de anos, revelam grande proximidade filogenética (Santini et al., 2013b). A

proximidade entre essas famílias é reforçada por dados moleculares e morfológicos, que

suportam sua provável origem monofilética com formação do clado Balistoidea (Yamanoue et

al., 2009; McCord & Westneat, 2016).

Page 31: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · contribuições ao conhecimento dos seus genomas e cariótipos são fornecidos e ... evolução esquelética neste grupo reflete

29

Apesar da estreita relação evolutiva, as famílias Balistidae e Monacanthidae

apresentam padrões contrastantes de riqueza de espécies e diversidade morfológica. Balistidae

compreende 42 espécies, enquanto Monacanthidae inclui, pelo menos, 110 espécies

(Eschmeyer & Fong, 2016). Além disso, quase todos os Balistidae são encontrados

circuntropicalmente em associação com recifes de coral, já os Monacanthidae são em grande

parte restritos ao Indo-Pacífico, com apenas algumas espécies no Atlântico e no Mar

Vermelho (Santini et al., 20013b).

As causas da redução do número cromossômico nestas famílias, em relação a outros

Tetraodontiformes, têm sido inferidas como derivadas de fusões in tandem, contudo sem

evidências definitivas sobre esse processo. Nos peixes, fusões cromossômicas têm sido

relatadas em processos que envolvem diferenciação de sistemas sexuais múltiplos (Margarido

& Moreira-Filho, 2008), principalmente entre cromossomos acrocêntricos, tais como em

Eigenmannia sp. e Brachyhypopomus pinnicaudatus (Almeida-Toledo et al., 2000),

Erythrinus eyrthrinus (Bertollo et al., 2004), Gymnotus pantanal (Silva & Margarido, 2005) e

Harttia carvalhoi (Centofante et al., 2006), embora fusões in tandem também tenham sido

detectadas envolvendo cromossomos bibraquiais (Bertollo et al., 1997).

Fusões cromossômicas têm desempenhado um papel importante na evolução do

cariótipo de diversos grupos de peixes, a exemplo dos salmonídeos (Pomianowski et al.,

2012). De fato, fusões Robertsonianas têm sido observadas nos gêneros Hucho, Salmo,

Oncorhynchus e Salvelinus (Phillips & Ráb, 2001). Além disso, tem se identificado, através

da presença de sítios teloméricos intersticiais (ITS) observados em grandes cromossomos

acrocêntricos de Salmo salar, como resultado de fusões in tandem (Amaro et al., 1996).

Diante disto, visando uma melhor compreensão da evolução cariotípica nas famílias

Monacanthidae e Balistidae aqui foram analisadas a estrutura cromossômica de um de seus

representantes, respectivamente Cantherhines pullus e Melichthys niger por métodos

citogenéticos clássicos (coloração convencional, bandamento C, Ag-RON), coloração com

fluorocromos base-específicos DAPI/MM e pelo mapeamento por FISH de sequências do

DNAr 18S, DNAr 5S e sequências (TTAGGG)n.

Page 32: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · contribuições ao conhecimento dos seus genomas e cariótipos são fornecidos e ... evolução esquelética neste grupo reflete

30

Material e Métodos

Coleta de espécimes, obtenção de cromossomos mitóticos e bandamentos cromossômicos

Exemplares de Cantherhines pullus (Ranzani, 1842) (n=5) foram coletados no litoral

da Bahia, costa de Salvador (12º58’S, 38º31’O) e de Melichthys niger (Bloch, 1786) no

Arquipélago São Pedro São Paulo (n=8) (00º 55'15", N 029º20'60" O) e ilha da Trindade

(n=4) (20º30’13”S, 29º19’50”O), distante 1.200 km da costa do Espírito Santo, no centro sul

do Oceano Atlântico. Após a coleta, os exemplares foram estimulados mitoticamente com

injeção intraperitoneal de complexos comerciais de antígenos bacterianos e fúngicos, por um

período de 24 a 48 horas (Molina et al., 2010). Decorrido este tempo, os exemplares foram

anestesiados com óleo de cravo (Eugenol) e após a eutanásia procedeu a extração do rim

anterior. Os cromossomos mitóticos foram preparados a partir da suspensão de fragmentos do

tecido renal de acordo com a técnica in vitro preconizada por Gold et al. (1990). Os

cromossomos foram corados com solução de Giemsa à 5%, diluída em tampão fosfato pH 6,8.

As regiões heterocromáticas foram visualizadas através do bandamento C, segundo Sumner

(1972). As regiões organizadoras de nucléolo (RONs) foram obtidas pela técnica de

impregnação por nitrato de prata, idealizada por Howell & Black (1980).

A coloração pelos fluorocromos Mitramicina e DAPI foi realizada seguindo a técnica

de Schweizer (1976). As lâminas foram preservadas em câmara escura à temperatura

ambiente por 4 dias e então analisadas, sendo as melhores metáfases fotografadas em

fotomicroscópio de epifluorescência com filtros apropriados (OlympusTM BX50) sob aumento

de 1000X e capturadas e digitalizadas, por meio de um sistema digital de captura (Olympus

DP73®) com o uso dos softwares cellSens® (Olympus Optical Co.ltd.) e DPManager®,

v.1.2.1.108 (Olympus Optical Co.ltd.) para a sobreposição das imagens.

Hibridização in situ fluorescente – FISH

Obtenção de sondas

As sondas de DNAr 5S (200 pb) e DNAr 18S (1400 pb) foram obtidas via PCR a

partir de amostras de DNA de Rachycentron canadum (Teleostei, Perciformes), utilizando os

primers A 5'-TAC CCG CGA TCT CGT CCG ATC-3 '/ B 5'-CAG GGT GCT ATG CCG

GTA AGC-3' (Pendás et al., 1994) e NS1 5'-GTC ATA GTA TGC TTG TCT C-3' / NS8 5'-

Page 33: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · contribuições ao conhecimento dos seus genomas e cariótipos são fornecidos e ... evolução esquelética neste grupo reflete

31

TCC GCA GGT TCA CCT ACG AG-3' (White et al., 1990), respectivamente. A sonda 18S

foi marcada por nick translation com digoxigenina-11-dUTP (Roche™) e a sonda DNAr 5S

foi marcada por nick translation com biotina-14-dATP (Roche™), de acordo com as

especificações do fabricante. As sequências (TTAGGG)n foram mapeadas utilizando o Kit

FISH Telomere PNA/FITC® de acordo com as instruções do fabricante (DakoCitomation™).

Hibridização cromossômica

A hibridização in situ com fluorescência foi realizada em metáfases mitóticas (Pinkel

et al., 1986) das duas espécies. Análise por dual-color FISH foi desenvolvida usando sondas

DNAr 18S e DNAr 5S. Os cromossomos foram tratados com RNAse livre de DNAse

(20mg/mL em 2xSSC ) à 37°C por 1 hora, com pepsina (0,005 % em HCl 10mM) à 37°C por

10 minutos e fixados com formaldeído a 1% por 10 minutos, em seguida desidratados em

série alcoólica. Os cromossomos foram, então, desnaturados em 70% formamida/2×SSC à

72°C por 5 minutos. A solução de hibridização consistiu em 50% de formamida, 2×SSC, 10%

de sulfato de dextrano e a sonda desnaturada (5 ng/μl). Após hibridação, overnight à 37°C, as

lâminas foram lavadas em 15% formamida/0.2×SSC à 42°C por 20 minutos, 0,1×SSC à 60°C

por 15 minutos e Tween20 0,5% 4×SSC à temperatura ambiente. O sinal de hibridização da

sonda foi detectado usando strepavidina-FITC (Vector) para a sonda DNAr 5S e anti-

digoxigenina rodamina conjugada (Roche) para a sonda DNAr 18S. Os cromossomos foram

contra-corados com Vectashield/DAPI (1,5 μg/ml). As análises da FISH e registro fotográfico

foram realizados conforme descrito para as análises de fluorocromos. Os cromossomos foram

definidos de acordo com a relação entre os braços, segundo Levan et al. (1964).

Resultados

Os resultados obtidos para Melichthys niger e Cantherhines pullus corroboram com os

dados citogenéticos prévios para as espécies (Sá-Gabriel & Molina, 2005). Ambas as espécies

apresentam 2n=40 cromossomos, todos acrocêntricos, com número fundamental (NF) igual a

40 (Figura 1a). Os exemplares de Melichthys niger do litoral da Bahia e ASPSP, não

apresentaram diferenciações cariotípicas detectáveis.

Em Cantherhines pullus as regiões heterocromáticas estão distribuídas em posição

pericentromérica em todos os cromossomos, como algumas evidências de marcações

Page 34: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · contribuições ao conhecimento dos seus genomas e cariótipos são fornecidos e ... evolução esquelética neste grupo reflete

32

intersticiais, nos pares 1, 3 e 4 (Figura 1b). Os sítios Ag-RONs/MM+/DAPI- são únicos e

localizados em posição pericentromérica no par 5, corroborado por sinais de DNAr 18S

(Figura 1a-c). Sítios DNAr 5S estavam localizados no par 10 (Figura 1c). Sítios (TTAGGG)n

foram identificados em posições terminais dos cromossomos, bem como intersticiais, nos

pares 1, 3 e 4 (Figura 1).

Em Melichthys niger os sítios Ag-RONs/MM+/DAPI- estavam localizados em posição

intersticial no par 2, sendo corroborado por sinais de hibridização com sondas DNAr 18S. Os

sítios DNAr 5S estão localizados no par 10. As regiões heterocromáticas mostraram-se

preferencialmente em posição pericentromérica na maioria dos pares, com uma marcação

mais intensa sobre o par 2, sobreposto à localização das RONs. Em alguns dos maiores pares

ocorrem regiões heterocromáticas em posição intersticial do braço longo. Os sítios

teloméricos ocorrem exclusivamente em marcações terminais nos cromossomos.

Page 35: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · contribuições ao conhecimento dos seus genomas e cariótipos são fornecidos e ... evolução esquelética neste grupo reflete

33

Figura 4. Cariótipos de Cantherhines pullus e Melichthys niger através de (a) coloração convencional (em destaque

os sítios Ag-RONs); (b) Bandamento C; (c) double-FISH com sondas DNAr 18S (sinais vermelhos), e DNAr 5S

(sinais verdes), em destaque os pares organizadores nucleolares sob coloração MM/DAPI (sinais verdes) pares 5 e 2,

respectivamente; (d) padrão de distribuição de sondas (TTAGGG)n com destaque para os pares portadores de sítios

ITS Barra=5 μm.

Page 36: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · contribuições ao conhecimento dos seus genomas e cariótipos são fornecidos e ... evolução esquelética neste grupo reflete

34

Figura 5. Idiograma de referência dos quatro primeiros pares cromossômicos de C. pullus, indicando a

distribuição de heterocromatina e sequências (TTAGGG)n. Os segmentos cromossômicos delimitados entre os

sítios teloméricos estão indicados em relação a faixas diferenciais de tamanho observadas entre os cromossomos

do complemento da espécie.

Discussão

Levantamentos citogenéticos têm apontado que alguns grupos de peixes marinhos

apresentam prevalentemente um complemento diploide de 48 cromossomos acrocêntricos

(Supiwong et al., 2013). Em contraste, os Tetraodontiformes exibem uma grande

diversificação cariotípica, decorrentes de diferentes tendências carioevolutivas, mediadas por

rearranjos cromossômicos particulares (Molina & Freitas, 2007), como identificado nos dados

apresentados.

Tanto em Monacanthidae, cujos números diploides variam de 2n = 33/34 a 36

cromossomos (Lima et al., 2011), como em Balistidae que apresentam 2n variando entre 36-

46 cromossomos, a maioria das espécies apresenta cariótipos preferencialmente formados por

elementos mono-braquiais (Supiwong et al., 2013). De fato, tanto C. pullus como M. niger

apresentam cariótipos (2n=40) inteiramente compostos por cromossomos acrocêntricos. Essas

Page 37: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · contribuições ao conhecimento dos seus genomas e cariótipos são fornecidos e ... evolução esquelética neste grupo reflete

35

reduções numéricas sugerem a ocorrência de rearranjos cromossômicos particulares (Lima et

al., 2011).

As características cromossômicas observadas em C. pullus e M. niger, como a

presença de um único par de RONs e blocos de heterocromatina em sua maior parte

pericentroméricos têm sido relatado para outros Tetraodontiformes (Martinez et al., 2010;

2011), Perciformes (Calado et al., 2013; Lima-Filho et al., 2014), Mugiliformes (Nirchio et

al., 2009), Beryciformes (Bacurau & Molina, 2004). Estas características fileticamente

disseminadas corroboram a hipótese de que constituem características ancestrais para diversos

grupos e, portanto, não exclusivas para as famílias Monacanthidae e Balistidae. Além disso, a

associação entre RONs e heterocromatina ricas em bases GC, observada em ambas as

espécies analisadas, é frequentemente descrita em peixes (Almeida-Toledo et al., 1996;

Nascimento et al., 2014), onde estas regiões mostram-se adjacentes, sobrepostas ou

intercaladas às RONs, o que pode favorecer rearranjos nos pares portadores (Vicari et al.,

2003; Martinez et al., 2011).

Em ambas espécies, os sítios ribossomais 5S, foram localizados no par 10, em posição

pericentromérica, o que sugere homeologia destes cromossomos e evidências do estreito

relacionamento filogenético entre Monacanthidae e Balistidae (Lima et al., 2011). Em muitos

vertebrados, genes DNAr 5S estão localizados em um único par de cromossomos, no entanto,

nos peixes, estes genes podem ser encontrados em um ou vários pares cromossômicos (Lima-

Filho et al., 2014). A localização dos sítios 5S em um único par de cromossomos tem sido

relatada para várias espécies de peixes (Sola et al., 2000). Esta característica parece

representar uma condição basal para o grupo (Martins & Galetti, 2001; Jacobina et al., 2012).

Sítios 5S rDNA não sintênicos com a subunidade DNAr 18S constitui o padrão mais

comumente encontrado em peixes (Martins & Galetti, 2001; Neto et al. 2011; Molina et al.,

2013), assim como ocorrido para C. pullus e M. niger. Esta situação também já foi

evidenciada em outras famílias de Tetraodontiformes, como Diodontidae, Tetraodontidae

(Noleto et al., 2007; Vicari et al., 2012).

As regiões heterocromáticas são altamente variáveis entre os organismos (Brutlag,

1980), desempenhando um papel chave na evolução dos cariótipos dos peixes. Podem estar

relacionadas a polimorfismos, sejam eles intra-individuais (Vasconcelos & Molina, 2009),

intra-populacionais (Mantovani et al., 2001) ou inter-populacionais (Molina et al., 2008;

Jacobina et al., 2009). Dessa maneira, essas regiões, frequentemente associadas com a

Page 38: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · contribuições ao conhecimento dos seus genomas e cariótipos são fornecidos e ... evolução esquelética neste grupo reflete

36

diversificação cariotípica nos peixes (Mantovani et al., 2001; Molina & Freitas, 2007), podem

ter contribuído na diferenciação cariotípica de Balistoidea.

A presença de heterocromatina associada com RONs, em regiões adjacentes ou

intercalados (Pendás et al., 1993), tal qual apresentado para M. niger, pode contribuir para a

ocorrência de rearranjos estruturais envolvendo os pares portadores (Vicari et al., 2003). No

entanto, deve-se salientar que heterocromatina pode ser mais complexa do que se estima,

abrigando um grande número sequências repetitivas (histonas, transposons, retrotransposons e

microssatélites), como revelado em algumas espécies de Perciformes (Costa et al., 2013,

2014)

As inferências sobre ocorrência de fusões in tandem nos grupos foram corroboradas

pelas respostas da FISH com sequências (TTAGGG)n. Estas sequências estão presentes nos

telômeros de cromossomos de vertebrados e a sua análise permite determinar a presença de

rearranjos envolvidos na evolução cromossômica, tais como fusões ou inversões

Robertsonianas e fusões in tandem (Jacobina et al., 2011; Cioffi et al., 2011). Dessa maneira,

as sequências (TTAGGG)n foram localizadas nas regiões teloméricas dos cromossomos de M.

niger como de C. pullus. Entretanto, sítios teloméricos intersticiais (ITS) estavam presentes,

em C. pullus nos pares 1, 3 e 4 (Figura 2) o que indica que fusões in tandem provavelmente

estiveram envolvidas na evolução cariotípica do grupo, onde ocorreu a fusão entre pares

acrocêntricos menores, dando origem aos três pares citados do complemento.

As sequências de DNA repetitivo compreendem uma fração substancial do genoma de

muitos eucariotos e podem estar dispersas ou situadas em repetições in tandem (Charlesworth

et al., 1994). Esta classe de DNA encontra-se principalmente em regiões centroméricas e

teloméricas, achando-se associados a regiões heterocromáticas (Martinez et al., 2010). Assim,

ITS se mostraram co-localizados com blocos heterocromáticos intersticiais (Figura 2),

situação que reforça pontos de fusões in tandem nas espécies analisadas.

Por outro lado, apesar de possivelmente terem sofrido mecanismos de fusão in

tandem, em M. niger não foram identificados ITS, com sequências teloméricas presentes

apenas nas regiões dos telômeros. Embora a presença de sítios teloméricos intersticiais seja

evidência visível de processos de fusões cromossômicas, nem sempre são facilmente

detectados, uma vez que essas sequências se modificam rapidamente após a fusão,

provavelmente como decorrência da perda da função do telômero ou devido ao acúmulo de

mutações que se perderam ao longo do tempo (Jacobina et al., 2011; Fernandes et al., 2015).

Page 39: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · contribuições ao conhecimento dos seus genomas e cariótipos são fornecidos e ... evolução esquelética neste grupo reflete

37

O conhecimento sobre os aspectos do genoma Balistoidea ainda é limitado, embora se

saiba que, como os Tetraodontidae, este clado é composto por espécies com genomas

compactos que evoluíram de forma independente (Brainerd et al., 2001). Contudo, o genoma

Tetraodontidae tem sido extensamente estudado (Crollius et al., 2000), revelando que a

pequena quantidade de sequências repetitivas está localizada nos centrômeros e braços dos

cromossomos. Esta disposição física parece estar presente nos cromossomos de Balistoidea e

poderia ajudar a explicar por que as regiões centroméricas e dos telômeros estariam propensas

à ocorrência de fusões ou rearranjos cromossômicos.

Adicionalmente um número diploide inferior a 48 cromossomos, em ambos Balistidae

e Monacanthidae, corrobora que eventos de fusão in tandem, parecem ter sido um mecanismo

importante na diferenciação cariotípica destes pós-grupo Perciformes.

Agradecimentos

Os autores agradecem ao CNPq pelo apoio financeiro (556793/2009-9), ao Instituto

Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Renováveis pela licença de coleta dos exemplares

(Processo No. 19135/1), a Universidade Federal do Rio Grande do Norte por prover os meios

para conduzir o estudo.

Referências

Almeida-Toledo, L.F., Foresti, F., Daniel, M.F., Toledo-Filho, S.A. (2000). Sex chromosome

evolution in fish: the formation of the neo-Y chromosome in Eigenmannia (Gymnotiformes).

Chromosoma, 109 (3): 197–200.

Almeida-Toledo, L.F, Stocker, A.J, Foresti F., Almeida Toledo-Filho, S. (1996). Fluorescence in situ

hybridization with rDNA probes on chromosomes of two nucleolus organizer region phenotypes

of a species of Eigenmannia (Pisces, Gymnotoidei, Sternopygidae). Chromosome Research, 4:

301-305.

Amaro, R., Abuín, M., Sánchez, L. (1996). Chromosomal evolution in salmonids: a comparison of

Atlantic salmon, brown trout, and rainbow trout R-band chromosomes. Genetica, 98(3): 297–

302.

Arai, R. (2011). Fish Karyotypes: a check list. Springer, Tokyo, 347.

Bacurau, T.O.F., Molina, W.F. (2004). Karyotypic diversification in two Atlantic species of

Holocentridae (Pisces , Beryciformes). October, 57 (3): 300–304.

Bertollo, L.A., Fontes, M.S., Fenocchio, A.S., Cano, J. (1997). The X1X2Y sex chromosome system

in the fish Hoplias malabaricus. I. G-, C- and chromosome replication banding. Chromosome

Researsh, 5: 493–499.

Page 40: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · contribuições ao conhecimento dos seus genomas e cariótipos são fornecidos e ... evolução esquelética neste grupo reflete

38

Bertollo, L.A.C., Oliveira, C., Molina, W.F., Margarido, V.P., et al. (2004). Chromosome evolution in

the erythrinid fish, Erythrinus erythrinus (Teleostei: Characiformes). Chromosome Research, 5

(7): 493–99.

Brainerd, E., Slutz, S., Hall, E., Phillis, R. (2001). Patterns of genome size evolutioin in

Tetraodontiform fishes. Evolution, 55 (11): 2363–68.

Brutlag, D.L. (1980). Molecular arrangement and evolution of heterochromatic DNA. Annual Review

Genetics, 14:121-44.

Calado, L.L, Bertollo, L.A.C., Costa, G.W.W.F., Molina, W.F. (2013). Cytogenetic studies of Atlantic

mojarras (Perciformes - Gerreidae): chromosomal mapping of 5S and 18S ribosomal genes using

double FISH. Aquaculture Research, 44 (5): 829–35.

Centofante L., Bertollo L.A.C., Moreira-Filho, O. (2006). Cytogenetic characterization and description

of an XX/XY1Y2 sex chromosome system in catfish Harttia carvalhoi (Siluriformes,

Loricariidae). Cytogenetic and Genome Research, 112:320-324.

Charlesworth, B., Sniegowski, P., Wolfgang, S. (1994) The evolutionary dynamics

of repetitive DNA in eukaryotes. Nature, 371:215–220.

Cioffi, M.B., Molina, W.F., Moreira-Filho, O., Bertollo, L.A.C. (2011). Chromosomal distribution of

repetitive DNA sequences highlights the independent differentiation of multiple sex

chromosomes in two closely related fish species. Cytogenetic and Genome Research, 134 (4):

295–302.

Cioffi, M.B., Martins, C., Bertollo, L.A.C. (2010). Chromosome spreading of associated transposable

elements and ribosomal DNA in the fish Erythrinus erythrinus. Implications for genome change

and karyoevolution in fish. BMC Evolutionary Biology, 10: 271.

Costa, G.W.F., Cioffi, M.B., Bertollo, L.A.C., Molina, W.F. (2013). Transposable elements in fish

chromosomes: a study in the marine cobia species. Cytogenetic and Genome Research, 141:

126–32.

Costa, G.W.W.F., Cioffi, M.B., Bertollo, L.A.C., Molina, W.F. (2014). Unusual dispersion of histone

repeats on the whole chromosomal complement and their colocalization with ribosomal genes in

Rachycentron Canadum (Rachycentridae, Perciformes). Cytogenetic and Genome Research, 144

(1): 62–67.

Crollius, H.R., Jaillon, O., Dasilva, C., Ozouf-Costaz, C. (2000). Characterization and repeat analysis

of the compact genome of the freshwater pufferfish Tetraodon nigroviridis. Genome Research, 10

(7): 939–49.

Crollius, H.R., Weissenbach, J. (2005). Fish genomics and biology. Genome Research, 15 (12): 1675–

82.

Elmerot, C., Arnason, U., Gojobori, T., Janke, A. (2002). The mitochondrial genome of the pufferfish,

Fugu rubripes and ordinal teleostean relationships. Gene, 295 (2): 163–72.

Eschmeyer, W.N., Fong, J.D. (2016). Catalog of fishes electronic version, San Francisco: California

Academy of Sciences. Disponível em:

http://researcharchive.calacademy.org/research/ichthyology/catalog/SpeciesByFamily.asp.

Acessado em 20 de Janeiro de 2016.

Page 41: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · contribuições ao conhecimento dos seus genomas e cariótipos são fornecidos e ... evolução esquelética neste grupo reflete

39

Fernandes, M.A., Affonso, P.R.A.M., Cioffi, M.B., Bertollo, L.A.C. et al. (2015). Atlantic

surgeonfishes bear only minor microstructural changes in highly derived karyotypes.

Zoologischer Anzeiger, 254.

Gold, J.R., Li, Y.C., Shipley, N.S., Powers, P.K. (1990). Improved methods for working with fish

chromosomes with a review of metaphase chromosome banding. Journal of Fish Biology, 37:

563–75.

Hinegardner, R. (1968). Evolution of cellular DNA content in teleost fishes. The American Naturalist,

102 (928): 517–23.

Howell, W.M., Black, D.A., 1980. Controlled silver-staining of nucleolus organizer regions with a

protective colloidal developer: a 1-step method. Experientia, 36 (8): 1014–15.

Jacobina, U.P., Affonso, P.R.A.D.M., Carneiro, P.L.S., Dergam, J.A. (2009). Biogeography and

comparative cytogenetics between two populations of Hoplias malabaricus (Bloch, 1794)

(Ostariophysi: Erythrinidae) from coastal basins in the state of Bahia, Brazil. Neotropical

Ichthyology, 7 (4): 617–22.

Jacobina, U.P., Cioffi, M.B., Souza, L.G.R., Calado, L.L. et al. (2011). Chromosome mapping of

repetitive sequences in Rachycentron canadum (Perciformes: Rachycentridae): Implications for

karyotypic evolution and perspectives for biotechnological uses. Journal of Biomedicine and

Biotechnology, 2011: 1–8.

Jacobina, U.P., Vicari, M., Bertollo, L.A.C., Molina, W.F. (2012). Discriminatory profile of rDNA

sites and trend for acrocentric chromosome formation in the genus Trachinotus (Lacépède, 1801)

(Perciformes, Carangidae). Comparative Cytogenetics, 6 (4): 359–69.

Jaillon, O., Aury, J.M., Brunet, F., Petit, J.L., et al. (2004). Genome duplication in the teleost fish

Tetraodon nigroviridis reveals the early vertebrate proto-karyotype. Nature, 431 (7011): 946–57.

Levan, A., Fredga, K., Sandberg, A. (1964). Nomenclature for centromeric position at chromosomes.

Hereditas, 201–20.

Lima-Filho, P.A., Bertollo, L.A.C., Cioffi, M.B., Costa, G.W.W.F., Molina, W.F. (2014). Karyotype

divergence and spreading of 5S rDNA sequences between genomes of two species: darter and

emerald gobies (Ctenogobius, Gobiidae). Cytogenetic and Genome Research, 142 (3): 197–203.

Lima, L.C., Martinez, P.A, Molina, W.F (2011). Cytogenetic characterization of three Balistoidea fish

species from the Atlantic with inferences on chromosomal evolution in the families

Monacanthidae and Balistidae. Cytogenetic and Genome Research, 142 (3): 197–203.

Mantovani, M., Abel, L.D.D.S., Mestriner, C.A., Moreira-Filho, O. (2001). Accentuated

polymorphism of heterochromatin and nucleolar organizer regions in Astyanax scabripinnis

(Pisces, Characidae): Tools for understanding karyotypic evolution. Genetica, 109 (3): 161–68.

Margarido, V.P., Moreira-Filho, O., 2008. Karyotypic differentiation through chromosome fusion and

number reduction in Imparfinis hollandi (Ostariophysi, Heptapteridae). Genetics and Molecular

Biology, 31: 235–38.

Martinez, P.A., Araujo, W.C., Molina, W.F. (2010). Derived cytogenetic traits, multiple NORs and B

chromosomes in the compact karyotype of Canthigaster figueiredoi (Tetraodontiformes). Marine

Genomics, 3 (2): 85–89.

Page 42: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · contribuições ao conhecimento dos seus genomas e cariótipos são fornecidos e ... evolução esquelética neste grupo reflete

40

Martinez, P.A., Jacobina, U.P., Molina, W.F. (2011). Comparative cytogenetics and heterochromatic

patterns in two species of the genus Acanthostracion (Ostraciidae: Tetraodontiformes). Marine

Genomics, 4 (3): 215–20.

Martins, C., Galetti, P.M. (2001). Two 5S rDNA arrays in Neotropical fish species: is it a general rule

for fishes? Genetica, 111: 439–46.

McCord, C.L., Westneat, M.W. (2016). Phylogenetic relationships and the evolution of BMP4 in

Triggerfishes and Filefishes (Balistoidea). Molecular Phylogenetics and Evolution, 94: 397–409.

Molina, W.F, Shibatta O., Galetti Jr P.M. (2008). Chromosomal evidence of population subdivision in

the freshwater fish Leporinus elongatus in the upper Paraná river basin. Genetics and Molecular

Biology, 31(1), 270-274.

Molina, W.F, Freitas, T.O. (2007). Structural and numerical chromosome diversification in marine

Perciformes (Priacanthidae and Gerreidae). Cytologia, 71 (3): 237–42.

Molina, W.F., Alves, D.E.O., Araújo, W.C., Martinez, P.A. et al. (2010). Performance of human

immunostimulating agents in the improvement of fish cytogenetic preparations. Genetics and

Molecular Research, 9 (3): 1807–14.

Molina, W.F, Costa, W.W.F, Soares, R.X., Affonso, P.R.A.M. (2013). Extensive chromosome

conservatism in Atlantic butterflyfishes, genus Chaetodon (Linnaeus, 1758) implications for the

high hybridization success. Zoologischer Anzeiger, 253 (2): 137–42.

Nascimento, W.S., Bezerra, J.G., Lima-Filho, P.A., Yamamoto, M.E. et al. (2014). Karyotype patterns

of Hypsolebias antenori (Cyprinodontiformes: Rivulidae): an endangered killifish of the semiarid

region of Brazil. The Scientific World Journal, 862434.

Neto, C.C.M., Cioffi, M.B., Bertollo, L.A.C., Molina, W.F. (2011). Extensive chromosomal

homologies and evidence of karyotypic stasis in Atlantic grunts of the genus Haemulon

(Perciformes). Journal of Experimental Marine Biology and Ecology, 401 (1-2):75–79.

Nirchio, M., Oliveira, C., Ferreira, I.A., Martins, C. et al. (2009). Classical and molecular cytogenetic

characterization of Agonostomus monticola, a primitive species of Mugilidae (Mugiliformes).

Genetica, 135 (1): 1–5.

Nirchio, M., Rossi, A.R., Foresti, F., Oliveira, C. (2014). Chromosome evolution in fishes: a new

challenging proposal from Neotropical species. Neotropical Ichthyology 12 (4): 761–70.

Noleto, R.B., Vicari, M.R., Cipriano, R.R., Artoni, R.F., et al. (2007). Physical mapping of 5S and 45S

rDNA loci in pufferfishes (Tetraodontiformes). Genetica, 130 (2): 133–38.

Pendás, A.M., Moran, P., Freije, J.P., Garcia-Vazquez, E. (1994). Chromosomal mapping and

nucleotide sequence of two tandem repeats of Atlantic salmon 5S rDNA. Cytogenetics and Cell

Genetics, 67: 31–36.

Pendás, A.M., Morán, P., García-Vázquez, E. (1993). Multi-chromosomal location of ribosomal RNA

genes and heterochromatin association in brown trout. Chromosome Research, 1: 63–67.

Phillips R., Ráb, P. (2001). Chromosome evolution in the Salmonidae (Pisces): an update. Biological.

Reviews, 76: 1–25.

Page 43: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · contribuições ao conhecimento dos seus genomas e cariótipos são fornecidos e ... evolução esquelética neste grupo reflete

41

Phillips, R.B., Reed, K.M. (1996). Application of fluorescence in situ hybridization (FISH) techniques

to fish genetics: a review. Aquaculture 140 (3): 197–216.

Pinkel, D., Straume, T., Gray, J.W. (1986). Cytogenetic analysis using quantitative, high-sensitivity,

fluorescence hybridization. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United

States of America, 83 (9): 2934–38.

Pomianowski, K., Jankun, M., Ocalewicz, K. (2012). Detection of interstitial telomeric sequences in

the Arctic charr (Salvelinus alpinus) (Teleostei: Salmonidae). Genome, 55 (1): 26–32.

Reed, K., Phillips, M. (1995). Molecular cytogenetic analysis of the double-CMA3 chromosome of

lake trout, Salvelinus namaycush. Cytogenetics and Cell Genetics, 70 (1-2): 104–7.

Sá-Gabriel, L.G., Molina, W.F. (2005). Karyotype diversification in fishes of the Balistidae,

Diodontidae and Tetraodontidae (Tetraodontiformes). Caryologia, 58 (3): 229–37.

Santini, F., Sorenson, L., Alfaro, M.E. (2013a). A new phylogeny of tetraodontiform fishes

(Tetraodontiformes, Acanthomorpha) based on 22 loci. Molecular Phylogenetics and Evolution,

69 (1): 165–76.

Santini, F., Sorenson, L., Alfaro, M.E. (2013b). A new multi-locus timescale reveals the evolutionary

basis of diversity patterns in triggerfishes and filefishes (Balistidae, Monacanthidae:

Tetraodontiformes). Molecular Phylogenetics and Evolution, 69 (1): 177–87.

Schweizer, D. (1976). Reverse fluorescent chromosome banding with chromomycin and DAPI.

Chromosoma, 58 (4): 307–24.

Silva, E.B., Margarido, V.P (2005) An X1X1X2X2/X1X2Y multiple sex chromosome system in a

new species of the genus Gymnotus (Pisces, Gymnotiformes). Environmental Biology of Fishes,

73:293-297.

Sola, L., De Innocentiis, S., Gornung, E., Papalia, S., Rossi, A.R., et al. (2000). Cytogenetic analysis

of Epinephelus marginatus (Pisces: Serranidae), with the chromosome localization of the 18S

and 5S rRNA genes and of the (TTAGGG)n telomeric sequence. Marine Biology, 137 (1):47–51.

Sumner, A.T. (1972). A simple technique for demonstrating centromeric heterochromatin.

Experimental Cell Research, 75 (1):304–6.

Supiwong, W., Alongklod, T., Sarun, J., Suthip, K. et al. (2013). Standardized karyotype and idiogram

of titan triggerfish, Balistoides viridescens (Tetraodontiformes, Balistidae) in Thailand.

Cytologia, 78 (4): 345–51.

Vasconcelos, A.J.M, Molina, W.F. (2009). Cytogenetical studies in five Atlantic Anguilliformes

fishes. Genetics and Molecular Biology, 32 (1): 83–90.

Venkatesh, B., Gilligan, P., Brenner, S. (2000). Fugu: a compact vertebrate reference genome. FEBS

Letters, 476 (1-2): 3–7.

Vicari, M.R., Artoni, R.F., Bertollo, L.A.C. (2003). Heterochromatin polymorphism associated with

18S rDNA: a differential pathway among Hoplias malabaricus fish populations. Cytogenetic and

Genome Research, 101: 24–28.

Vicari, M.R., Noleto, R.B., Cestari, M.M., Artoni, R.F. (2012). Variable B chromosomes frequencies

between males and females of two species of Pufferfishes (Tetraodontiformes). Reviews in Fish

Page 44: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · contribuições ao conhecimento dos seus genomas e cariótipos são fornecidos e ... evolução esquelética neste grupo reflete

42

Biology and Fisheries, 22 (1): 343–49.

White, T.J., Bruns, S., Lee, S., Taylor, J. (1990). Amplification and direct sequencing of fungal

ribosomal RNA genes for phylogenetics. PCR Protocols: A Guide to Methods and Applications.

Yamanoue, Y., Miya, M., Matsuura, K., Sakai, H., et al. (2009). Unique patterns of pelvic fin

evolution: A case study of Balistoid fishes (Pisces: Tetraodontiformes) based on whole

mitochondrial genome sequences. Molecular Phylogenetics and Evolution, 50 (1): 179–89.

Page 45: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · contribuições ao conhecimento dos seus genomas e cariótipos são fornecidos e ... evolução esquelética neste grupo reflete

43

4.2 CAPÍTULO II

ASPECTOS DA REDUÇÃO GENÔMICA EM TETRAODONTIFORMES INFERIDA POR

DADOS CITOGENÉTICOS EM TETRAODONTIDAE E MONACANTHIDAE

Juliana G. Bezerra1; Luiz A.C. Bertollo2; Gideão W.W.F da Costa1; Rodrigo X. Soares1;

Marcelo B. Cioffi2 ;Wagner F. Molina1

1 Departamento de Biologia Celular e Genética, Universidade Federal do Rio Grande do

Norte

2 Departamento de Genética e Evolução, Universidade Federal de São Carlos

Resumo

A ordem Tetraodontiformes está dividida em dez famílias, algumas apresentando

características singulares, com relação as suas estruturas cariotípicas e genômicas. A família

Tetraodontidae apresenta, indivíduos com os menores genomas entre os vertebrados e

representado, normalmente, por diminutos cromossomos com número diploide em torno de

46. Em contrapartida a família Monacanthidae, também com baixo conteúdo de DNA,

apresenta espécies com 2n reduzidos, geralmente, em torno de 36. Visando analisar padrões

de mudança em espécies com redução genômica, foram realizadas análises citogenéticas

convencionais (coloração pelo Giemsa, bandamento C, Ag-RONs, fluorocromos base-

específicos) e mapeamento físico de sequências ribossomais por hibridação in situ com

fluorescência (FISH) nas espécies Sphoeroides testudineus (Tetraodontidae) e Monacanthus

chinensis (Monacanthidae). As espécies revelaram cariótipos dispares, tanto em relação ao

número diploide, quanto ao número de braços cromossômicos, das quais S. testudineus

apresentou 2n=46 (NF=74), com cromossomos diminutos, e M. chinensis com 2n=34

(NF=34) cromossomos acrocêntricos. As marcantes divergências na estrutura cariotípica

evidenciam que mesmo genomas compactos podem exibir elevada dinâmica cromossômica.

Palavras-chave: Carioevolução, tamanho do genoma, evolução cromossômica, cangulo,

baiacu

Page 46: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · contribuições ao conhecimento dos seus genomas e cariótipos são fornecidos e ... evolução esquelética neste grupo reflete

44

ASPECTS OF GENOMICS REDUCTION IN TETRAODONTIFORMES INFERRED BY

CYTOGENETICAL DATA IN TETRAODONTIDAE AND MONACANTHIDAE

Juliana G. Bezerra1; Luiz A.C. Bertollo2; Gideão W.W.F da Costa1; Rodrigo X. Soares1;

Marcelo B. Cioffi2 ;Wagner F. Molina1

1 Departamento de Biologia Celular e Genética, Universidade Federal do Rio Grande do

Norte

2 Departamento de Genética e Evolução, Universidade Federal de São Carlos

Abstract

The Tetraodontiformes order is divided into ten families, some featuring singular

characteristics, related to their karyotypical and genomic structures. The Tetraodontidae

family presents, individuals with the smallest genomes among vertebrates and represented,

usually, by tiny chromosomes with diploid number around 46. However the Monacanthidae

family, also with low DNA content, presents species with reduced 2n, generally around 36. In

order to analyze changing patterns in species with genomic reduction, conventional

cytogenetics analyzes were performed (Giemsa staining, C-banding, Ag-NORs, base-specific

fluorochromes staining) and physical mapping of ribosomal sequences through in situ

hybridization with fluorescence in the species Sphoeroides testudineus (Tetraodontidae) and

Monacanthus chinensis (Monacanthidae). The species showed disparate karyotypes, as in

relation to diploid number, as well to the number of chromosomal arms, of which S.

testudineus presented 2n = 46 (NF = 74) with tiny chromosomes, and M. chinensis 2n = 34

(NF = 34) acrocentric chromosomes. The striking divergences at the karyotypical structure

evidenced that even compact genomes can display high chromosomal dynamics.

Keywords: Karyoevolution, genome size, chromosomal evolution, triggerfish, pufferfish.

Page 47: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · contribuições ao conhecimento dos seus genomas e cariótipos são fornecidos e ... evolução esquelética neste grupo reflete

45

Introdução

As 440 espécies de Tetraodontiformes (Eschmeyer & Fong, 2016), estão divididas em

dez famílias e representam uma das mais peculiares radiações morfológicas e ecológicas de

peixes teleósteos (Santini et al., 2013a; Matsuura, 2014). A ordem exibe notável diversidade

de formas corporais e tamanhos, estruturas esqueléticas, ecologia e tamanho do genoma

(Brainerd et al., 2001; Santini & Tyler, 2003; Jaillon et al., 2004). Embora metade da

diversidade de Tetraodontiformes seja associada a ambientes recifais, as 10 famílias

reconhecidas habitam uma grande variedade de habitats (Alfaro et al., 2007). Apesar da

grande diversidade para o grupo, diversos estudos que envolvem dados morfológicos e

moleculares suportam o monofiletismo da ordem (Santini & Tyler, 2003, 2004; Holcroft,

2005; Alfaro et al., 2007; Yamanoue et al., 2008; Santini et al., 2013b).

Entre os vertebrados, o tamanho do genoma medido em picogramas (pg) de DNA por

célula haploide varia consideravelmente e estas variações também ocorrem entre as famílias

de Tetraodontiformes (Dolezel et al., 2003). Dentre elas, Tetraodontidae apresenta os menores

conteúdos de DNA dentre os vertebrados (0,34-0,82 pg) (Noleto et al., 2009; Gregory, 2016).

Ainda com baixos conteúdos de DNA, destaca-se as famílias Monacanthidae e Balistidae,

apresentando valores entre 0,54 – 0,77 (Gregory, 2016). Enquanto que Ostraciidae,

Diodontidae, Triacanthidae e Molidae exibem maiores conteúdos de DNA por célula, com

valores variando entre 0,60 – 1,10 (Gregory, 2016).

Apesar dos Tetraodontiformes ter um complemento similar de genes a de outros

vertebrados, o pequeno tamanho é aparentemente o resultado de perda de introns e de DNA

repetitivo (Elgar et al. 1999; Loh et al., 2008). Devido a esta notável compactação do

genoma, os Tetraodontiformes tornaram-se um modelo atrativo para a genômica comparativa,

essencialmente útil no entendimento da evolução genômica e cariotípica de vertebrados

(Jaillon et al., 2004). Associado a essa característica, a ordem apresenta, ainda, uma variedade

de tendências carioevolutivas com a presença de inúmeros rearranjos, além de valores

diploides variando de 2n=28 a 52 cromossomos e de uma considerável diferenciação em

relação ao número de braços cromossômicos, com valores de NF entre 34 e 96 (Arai, 2011;

Martinez et al., 2011). Essas peculiaridades torna a ordem intrigante e particularmente

interessante aos estudos citogenômicos.

Assim, com vistas a identificar e discutir a dinâmica cromossômica sob condições de

redução genômica em Tetraodontidae e Monacanthidae foram realizadas análises

Page 48: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · contribuições ao conhecimento dos seus genomas e cariótipos são fornecidos e ... evolução esquelética neste grupo reflete

46

citogenéticas em Sphoeroides testudineus (Tetraodontidae) e Monacanthus chinensis

(Monacanthidae), por métodos citogenéticos clássicos (bandamento C, Ag-RON), coloração

com fluorocromos base-específicos MM+/DAPI- e pelo mapeamento por FISH de sequências

do DNAr 18S e DNAr 5S.

Material e Métodos

Coleta de espécimes, obtenção de cromossomos mitóticos e bandamentos cromossômicos

Os exemplares de Sphoeroides testudineus (Linnaeus, 1758) (n=12) (Tetraodontidae) e

Monacanthus chinensis (Osbeck, 1765), n=2 (Monacanthidae) utilizados nas análises

citogenéticas foram coletados no Atlântico Sul, respectivamente, em Natal, Rio Grande do

Norte, (5º52´S, 35º10´O) e no Mar de Andaman (11º04’00”N, 95º44’34”L), no litoral da

Tailândia, no oceano Índico.

Após a coleta, os exemplares foram estimulados com injeção intraperitoneal de

complexos comerciais de antígenos bacterianos e fúngicos, por um período de 24 a 48 horas

(Molina et al., 2010). Decorrido este tempo, os exemplares foram anestesiados com óleo de

cravo (Eugenol) e após a eutanásia procedeu a extração do rim anterior. Os cromossomos

mitóticos foram preparados a partir da suspensão de fragmentos do tecido renal de acordo

com a técnica in vitro preconizada por Gold et al. (1990). Os cromossomos foram corados

com solução de Giemsa à 5%, diluída em tampão fosfato pH 6,8. As regiões heterocromáticas

foram visualizadas através do bandamento C, segundo Sumner (1972). As regiões

organizadoras de nucléolo (RONs) foram obtidas pela técnica de impregnação por prata,

idealizada por Howell & Black (1980).

A coloração pelos fluorocromos Mitramicina e DAPI foi realizada seguindo a técnica

de Schweizer (1976). As lâminas foram preservadas em câmara escura à temperatura

ambiente por 4 dias e então analisadas, sendo as melhores metáfases fotografadas em

fotomicroscópio de epifluorescência com filtros apropriados (OlympusTM BX50) sob aumento

de 1000X e capturadas e digitalizadas, por meio de um sistema digital de captura Olympus

DP73 com o uso dos software cellSens (Olympus Optical Co.ltd.) e DPManager, v.1.2.1.108

(Olympus Optical Co.ltd.) para a sobreposição das imagens.

Page 49: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · contribuições ao conhecimento dos seus genomas e cariótipos são fornecidos e ... evolução esquelética neste grupo reflete

47

Hibridização in situ fluorescente – FISH

Obtenção de sondas

As sondas de DNAr 5S (200 pb) e 18S DNAr (1400 pb) foram obtidas via PCR a

partir de amostras de DNA de Rachycentron canadum (Teleostei, Perciformes), utilizando os

iniciadores A 5'-TAC CCG CGA TCT CGT CCG ATC-3 '/ B 5'-CAG GGT GCT ATG CCG

GTA AGC-3' (Pendás et al., 1994) e NS1 5'-GTC ATA GTA TGC TTG TCT C-3' / NS8 5'-

TCC GCA GGT TCA CCT ACG AG-3' (White et al. 1990), respectivamente. A sonda 18S

foi marcada por nick translation com digoxigenina-11-dUTP (Roche) e a sonda DNAr 5S foi

marcada por nick translation com biotina-14-dATP (Roche), de acordo com as especificações

do fabricante. As sequências (TTAGGG)n foram mapeadas pela técnica de FISH com Kit

FISH Telomere PNA/FITC de acordo com as instruções do fabricante (DakoCitomation).

Hibridização cromossômica

A hibridização in situ com fluorescência foi realizada em metáfases mitóticas (Pinkel

et al., 1986) das duas espécies. Análise por dual-color FISH foi desenvolvida usando sondas

DNAr 18S e DNAr 5S. Os cromossomos foram tratados com RNAse livre de DNAse (20mg /

mL em 2xSSC ) à 37°C por 1 hora, com pepsina (0,005 % em HCl 10mM) à 37°C por 10

minutos e fixados com formaldeído a 1% por 10 minutos, em seguida desidratados em série

alcoólica. Os cromossomos foram, então, desnaturados em 70% formamida/2×SSC à 72°C

por 5 minutos. A solução de hibridização consistiu em 50% de formamida, 2×SSC, 10% de

sulfato de dextran e a sonda desnaturada (5 ng/μl). Após hibridação, overnight à 37°C, as

lâminas foram lavadas em 15% formamida/0.2×SSC à 42°C por 20 minutos, 0,1×SSC à 60 °C

por 15 minutos e Tween20 0,5%/4×SSC à temperatura ambiente. O sinal de hibridização da

sonda foi detectado usando streptavidina-FITC conjugada (Vector) para a sonda DNAr 5S e

anti-digoxigenina rodamina conjugada (Roche) para a sonda DNAr 18S. Os cromossomos

foram contracorados com Vectashield/DAPI (1,5 μg/ml). As análises da FISH e registro

fotográfico foram realizados conforme descrito para as análises de fluorocromos. Os

cromossomos foram definidos de acordo com a relação entre os braços, de acordo com Levan

et al. (1964).

Page 50: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · contribuições ao conhecimento dos seus genomas e cariótipos são fornecidos e ... evolução esquelética neste grupo reflete

48

Resultados

Os dados citogenéticos obtidos para S. testudineus corroboram dados prévios para a

espécie (Sá-Gabriel & Molina, 2005). O cariótipo é formado por 2n=46 (NF=74). Os sítios

Ag-RON/MM+/DAPI- são únicos e localizados em posição terminal no par 5 (Figura 1a), o

que foi confirmado com hibridação in situ com sondas DNAr 18S. Os sítios DNAr 5S estão

localizados no maior par submetacêntrico, em posição terminal do braço menor (Figura 1c).

Regiões heterocromáticas em pequena quantidade se apresentam dispersas em regiões

pericentroméricas e terminais na maior parte dos cromossomos (Figura 1b).

A espécie Monacanthus chinensis apresentou notável redução do número de

cromossomos, com 2n=34 (NF=34) (Fig. 1a). As regiões heterocromáticas (Figura 1b) para a

referida espécie, também se apresentaram em pequena quantidade e se mostraram em grande

parte com localização pericentromérica, com destaque para os pares 1, 7 e 12 que

apresentaram blocos mais conspícuos. Os sítios Ag-RONs/MM+/DAPI- são únicos e

localizados no par 5, o que foi corroborado por sinais de hibridização com sondas DNAr 18S.

Page 51: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · contribuições ao conhecimento dos seus genomas e cariótipos são fornecidos e ... evolução esquelética neste grupo reflete

49

Figura 6. Cariótipos de S. testudineus e M. chinensis através de (a) coloração convencional (em destaque os

sítios Ag-RONs); (b) Bandamento C; (c) double-FISH com sondas DNAr 18S (sinais vermelhos) e DNAr 5S

(sinal verde). Barra=5 μm.

Page 52: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · contribuições ao conhecimento dos seus genomas e cariótipos são fornecidos e ... evolução esquelética neste grupo reflete

50

Discussão

Os padrões citogenéticos de S. testudineus e M. chinensis, reforçam a diversidade

cariotípica presente em Tetraodontiformes. As regiões heterocromáticas em M. chinensis e

em S. testudineus estão localizadas em posição pericentromérica da maioria dos pares de

cromossomos e apresentam conteúdo reduzido. Em M. chinensis apresentam blocos mais

conspícuos sobre alguns poucos pares cromossômicos. O baixo conteúdo heterocromático em

ambas as espécies parece ser reflexo da diminuição evolutiva do tamanho do genoma

(Hinegardner, 1968; Brainerd et al., 2001; Jaillon et al., 2004). Essa característica genômica

deve-se presumivelmente à perda de DNA repetitivo e não codificantes (Neafsey & Palumbi,

2003).

Os padrões heterocromáticos presentes nos cromossomos dessas espécies indicam

caminhos evolutivos particulares. Em S. testudineus, os blocos heterocromáticos se encontram

limitados a pequenos blocos nas regiões centroméricas de alguns pares cromossômicos e

associados às regiões organizadoras de nucléolos. Esta condição tem sido observada na

maioria das espécies de Tetraodontidae, como em S. greeleyi (Sá-Gabriel & Molina, 2005;

Noleto et al., 2009), Tetraodon fluviatilis (Mandrioli & Manicardi, 2001) e T. nigroviridis

(Fischer et al., 2000; Mandrioli et al., 2000). Por outro lado, em M. chinensis e outros

Monacanthidae (Lima et al., 2011), os blocos heterocromáticos reduzidos, evidenciam a

possível perda de sequências de DNA repetitivo (Petrov, 2001), durante o processo

carioevolutivo.

Genomas compactos são resultado de deleções acumuladas ou representa um estado

derivado, esta condição contrapõe à expansões genômicas que ocorreram em outros grupos,

derivadas de duplicações in tandem, inserções, poliploidia, atividade de elementos de

transposição ou ainda da acumulação de sequências repetitivas, (Venkatesh et al., 2000;

Petrov, 2001; Nirchio et al., 2014).

A ordem revela outras tendências carioevolutivas, com alguns rearranjos estruturais,

tais como, fissões cêntricas, fusões e inversões pericêntricas com ocorrência preferencial em

algumas famílias e não em outras (Sá-Gabriel & Molina, 2005). A redução no número do

complemento parece ser uma característica para a família Monacanthidae e Balistidae (Lima

et al., 2011).

Modelos de diversificação evolutiva de cromossomos em peixes são geralmente

ausentes, com poucas exceções. Evidências da participação da deriva meiotica, bem como de

ortoseleção cariotípica têm sido identificadas em diversos grupos, incluindo

Page 53: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · contribuições ao conhecimento dos seus genomas e cariótipos são fornecidos e ... evolução esquelética neste grupo reflete

51

Tetraodontiformes (Molina & Freitas, 2007; Molina et al., 2014b). Nestes grupos alguns

clados exibem claramente uma propensão para a fixação de certos tipos de rearranjos

cromossômicos em detrimento de outros, condição aparentemente presente tanto em

Tetraodontidae, como Monacanthidae (Molina et al., 2014b).

As características genômicas desta ordem parece influenciar na dinâmica estrutural e

tamanho dos cromossomos, a exemplo do que ocorre em famílias, como Ostraciidae. Nesta

família as espécies Acanthostracion polygonius e A. quadricornis apresentam os maiores

pares cromossômicos do cariótipo variando em tamanho de 2,5-4,5 µm (Martinez et al.,

2011), enquanto que Lactoria diaphana possuem grandes cromossomos metacêntricos, com

aproximadamente 8µm (Arai, 1983; 2011). É importante ressaltar, também, que a família

Ostraciidae exibe indivíduos com quantidades mais significativas de DNA, quando

comparados a membros de outras famílias, a exemplo dos Tetraodontidae (Brainerd et al.,

2001; Vicari et al., 2012).

Assim, como para a maioria dos organismos, as diferenças no tamanho do genoma

para os Tetraodontiformes não está relacionada a diferenças quanto a ploidia, mas pode ser

percebida quanto ao tamanho e conteúdo de heterocromatina nos cromossomos, como podes

ser percebido para outros Tetraodontiformes, a exemplo de Sphoeroides testudineus e S.

spengleri (Tetraodontidae) que apresentam diminutos cromossomos e os grandes

cromossomos de Chilomycterus spinosus (Diodontidae) (Noleto et al., 2009). Essas

características claramente diferenciam as inúmeras tendências genômicas sofridas entre os

diferentes clados da ordem.

Nesse contexto, o conjunto de dados de conteúdo de DNA de peixes teleósteos,

sugerem uma correlação entre conteúdo de DNA e evolução nesse grupo (Hinegardner, 1968).

Espécies mais derivadas de peixes têm menor conteúdo de DNA por núcleo do que formas

mais ancestrais, sugerindo implicitamente que a evolução e a especialização em teleósteos

tenha sido acompanhada por perda de DNA (Hinegardner, 1968; Yi & Streelman, 2005).

Genomas mais basais como os da ordem Acipenseriformes, são cerca de 20 vezes maior que

alguns encontrados em Tetraodontiformes, grupo mais derivado (Nirchio et al., 2014).

A análise das estruturas cariotípicas de M. chinensis e S. testudineus demonstrou

evidências que reforçam para a redução genômica e fixação cariotípica preferencial em

famílias de Tetraodontiformes.

Page 54: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · contribuições ao conhecimento dos seus genomas e cariótipos são fornecidos e ... evolução esquelética neste grupo reflete

52

Referências

Alfaro, M.E., Santini, F., Brock, C.D.(2007). Do reefs drive diversification in marine teleosts?

Evidence from the pufferfish and their allies (order Tetraodontiformes). Evolution, 61 (9): 2104–

26.

Arai, R. (2011). Fish Karyotypes: a check list. Springer, Tokyo, 347.

Arai, R.(1983). Karyological and osteological approach to phylogenetic systematics of

Tetraodontiform fishes. Bulletin of the National Science Museum, 9 (4): 175–210.

Brainerd, E.L., Slutz, S.S., Hall, E.H., Phillis, R.W. (2001). Patterns of genome size evolution in

Tetraodontiform fishes. Evolution; 55 (11): 2363–68.

Dolezel, J.,Bartos, J., Voglmayr, H., Greilhuber, J. (2003). Nuclear DNA content and genome size of

trout and human. Cytometry. Part A : The Journal of the International Society for Analytical

Cytology, 51 (2): 127–28.

Eschmeyer, W.N., Fong, J.D. (2016). Catalog of fishes electronic version, San Francisco: California

Academy of Sciences. Disponível em:

http://researcharchive.calacademy.org/research/ichthyology/catalog/SpeciesByFamily.asp.

Acessado em 20 de Janeiro de 2016.

Elgar, G., Clark, M.S., Meek, S., Smith, S., et al.(1999). Generation and analysis of 25 Mb of genomic

DNA from the pufferfish Fugu rubripes by sequence scanning. Genome Research, 9: 960–71.

Fischer, C., Ozouf-Costaz, C., Roest Crollius, H., Dasilva, C., et al. (2000). Karyotype and

chromosome location of characteristic tandem repeats in the pufferfish Tetraodon nigroviridis.

Cytogenetics and Cell Genetics, 88 (1-2): 50–55.

Gold, J.R., Li, Y.C., Shipley, N.S., Powers, P.K. (1990). Improved methods for working with fish

chromosomes with a review of metaphase chromosome banding. Journal of Fish Biology, 37:

563–75.

Gregory, T.R. (2016). Animal Genome Size Database. Disponével em http://www.genomesize.com.

Acessado em 20 de Fevereiro de 2016.

Hinegardner, R. (1968). Evolution of cellular DNA content in teleost fishes. The American Naturalist,

102 (928): 517–23.

Holcroft, N.I. (2005). A molecular analysis of the interrelationships of tetraodontiform fishes

(Acanthomorpha: Tetraodontiformes). Molecular Phylogenetics and Evolution, 34 (3): 525–44.

Howell, W.M., Black, D.A. (1980). Controlled silver-staining of nucleolus organizer regions with a

protective colloidal developer: a 1-step method. Experientia, 36 (8): 1014–15.

Jaillon, O., Aury, J.M., Brunet, F., Petit, J.L., et al. (2004). Genome duplication in the teleost fish

Tetraodon nigroviridis reveals the early vertebrate proto-karyotype. Nature, 431 (7011): 946–57.

Levan, A., Fredga, K., Sandberg, A. (1964). Nomenclature for centromeric position at chromosomes.

Hereditas, 201–20.

Lima, L.C., Martinez, P.A, Molina, W.F (2011). Cytogenetic characterization of three Balistoidea fish

species from the Atlantic with inferences on chromosomal evolution in the families

Page 55: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · contribuições ao conhecimento dos seus genomas e cariótipos são fornecidos e ... evolução esquelética neste grupo reflete

53

Monacanthidae and Balistidae. Cytogenetic and Genome Research, 142 (3): 197–203.

Loh, Y., Brenner, S.,Venkatesh, B. (2008). Investigation of loss and gain of introns in the compact

genomes of pufferfishes (Fugu and Tetraodon). Molecular Biology and Evolution, 25 (3): 526–

35.

Mandrioli, M., Manicardi, G.C (2001). Cytogenetic and molecular analysis of the pufferfish Tetraodon

fluviatilis (Osteichthyes). Genetica, 111 (1-3): 433–38.

Mandrioli, M., Cuoghi, B., Marini, M., Manicardi, G.C., et al. (2000). Cytogenetic analysis of the

pufferfish Tetraodon nigroviridis (Osteichthyes ). Heredity, 237–42.

Martinez, P.A., Jacobina, U.P., Molina, W.F. (2011). Comparative cytogenetics and heterochromatic

patterns in two species of the genus Acanthostracion (Ostraciidae: Tetraodontiformes). Marine

Genomics, 4 (3): 215–20.

Matsuura, K. (2014). Taxonomy and systematics of Tetraodontiform fishes: a Review focusing

primarily on progress in the period from 1980 to 2014. Ichthyological Research, 62 (1): 72–113.

Molina, W.F., Alves, D.E.O., Araújo, W.C., Martinez, P.A., et al. (2010). Performance of human

immunostimulating agents in the improvement of fish cytogenetic preparations. Genetics and

Molecular Research, 9 (3): 1807–14.

Molina, W.F, Freitas, T.O. (2007). Structural and numerical chromosome diversification in marine

Perciformes (Priacanthidae and Gerreidae). Cytologia, 71 (3): 237–42.

Molina, W.F., Martinez, P. A, Bertollo, L.A.C., Bidau, C.J. (2014b). Evidence for meiotic drive as an

explanation for karyotype changes in fishes. Marine Genomics, 15: 29–34.

Neafsey, D.E., Palumbi, S.R. (2003). Genome size evolution in pufferfish: a comparative analysis of

Diodontid and Tetraodontid pufferfish genomes. Genome Research, 13 (5) 821–830.

Nirchio, M., Rossi, A.R., Foresti, F., Oliveira, C. (2014). Chromosome evolution in fishes: a new

challenging proposal from Neotropical species. Neotropical Ichthyology 12 (4): 761–70.

Noleto, R.B., Guimarães, F.S.F., Paludo, K.S., Vicari, M.R. et al. (2009). Genome size evaluation in

Tetraodontiform fishes from the Neotropical region. Marine Biotechnology,11 (6): 680–85.

Petrov, D.A. (2001). Evolution of genome size: new approaches to an old problem. Trends in

Genetics, 17 (1): 23–28.

Pendás, A.M., Moran, P., Freije, J.P., Garcia-Vazquez, E. (1994). Chromosomal mapping and

nucleotide sequence of two tandem repeats of Atlantic salmon 5S rDNA. Cytogenetics and Cell

Genetics, 67: 31–36.

Pinkel, D., Straume, T., Gray, J.W. (1986). Cytogenetic analysis using quantitative, high-sensitivity,

fluorescence hybridization. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United

States of America, 83 (9): 2934–38.

Sá-Gabriel, L.G., Molina, W.F. (2005). Karyotype diversification in fishes of the Balistidae,

Diodontidae and Tetraodontidae (Tetraodontiformes). Caryologia, 58 (3): 229–37

Santini, F., Sorenson, L., Alfaro, M.E. (2013a). A new phylogeny of Tetraodontiform fishes

(Tetraodontiformes, Acanthomorpha) based on 22 loci. Molecular Phylogenetics and Evolution,

Page 56: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · contribuições ao conhecimento dos seus genomas e cariótipos são fornecidos e ... evolução esquelética neste grupo reflete

54

69 (1): 165–76.

Santini, F., Sorenson, L., Alfaro, M.E. (2013b). A new multi-locus timescale reveals the evolutionary

basis of diversity patterns in triggerfishes and filefishes (Balistidae, Monacanthidae;

Tetraodontiformes). Molecular Phylogenetics and Evolution, 69 (1): 177–87.

Santini, F., Tyler, J.C. (2003). A phylogeny of the families of fossil and extant Tetraodontiform fishes

(Acanthomorpha, Tetraodontiformes), Upper Cretaceous to Recent. Zoological Journal of the

Linnean Society, 139 (4): 565–617.

Santini, F., Tyler, J.C. (2004). The importance of even highly incomplete fossil taxa in reconstructing

the phylogenetic relationships of the Tetraodontiformes (Acanthomorpha: pisces). Integrative

and Comparative Biology, 44 (5): 349–57.

Schweizer, D. (1976). Reverse fluorescent chromosome banding with chromomycin and

DAPI.Chromosoma, 58 (4): 307–24.

Sumner, A.T. (1972). A simple technique for demonstrating centromeric heterochromatin.

Experimental Cell Research, 75 (1):304–6.

Venkatesh, B., Gilligan, P., Brenner, S. (2000). Fugu: a compact vertebrate reference genome. FEBS

Letters, 476 (1-2): 3–7.

Vicari, M.R., Noleto, R.B., Cestari, M.M., Artoni, R.F. (2012). Variable B chromosomes frequencies

between males and females of two species of pufferfishes (Tetraodontiformes). Reviews in Fish

Biology and Fisheries, 22 (1): 343–49.

White, T.J., Bruns, S., Lee, S., Taylor, J. (1990). Amplification and direct sequencing of fungal

ribosomal RNA genes for phylogenetics. PCR Protocols: A Guide to Methods and Applications.

Yamanoue, Y., Miya, M., Matsuura, K., Katoh, M., et al. (2008). A new perspective on phylogeny and

evolution of Tetraodontiform fishes (Pisces: Acanthopterygii) based on whole mitochondrial

genome sequences: basal ecological diversification? BMC Evolutionary Biology, 8: 212.

Yi, S., Streelman, J.T. (2005). Genome size is negatively correlated with effective population size in

ray-finned fish. Trends in Genetics, 21 (12): 643–46.

Page 57: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · contribuições ao conhecimento dos seus genomas e cariótipos são fornecidos e ... evolução esquelética neste grupo reflete

55

5. CONCLUSÕES

A ordem Tetraodontiformes tem se destacado por suas particularidades genômicas e

citogenéticas, no que diz respeito aos tamanhos genômicos que se apresentam com grandes

variações, apesar de ser uma ordem relativamente pequena, em número de espécies.

Destacam-se por recorrentes processos de diversificação cariotípica, com a diminuição em

seus números diploides e a ocorrência de diversos rearranjos estruturais, que têm influenciado

significativamente na evolução do grupo.

Nesse sentido, análises citogenéticas têm contribuído grandemente para compreensão

dos processos de diversificação e os caminhos evolutivos dentro de Tetraodontiformes. Os

dados aqui apresentados permitiram algumas conclusões em relação à carioevolução na

ordem:

• A presença de sequências teloméricas internalizadas indica a ocorrências de fusões in

tandem, preferencialmente envolvendo cromossomos pequenos, na diversificação

cariotípica de C. pullus;

• A redução numérica observada, tanto em Balistidae, como em Monacanthidae, sugere

que eventos de fusões in tandem, constituem um dos importantes mecanismos de

evolução cariotípica para estes grupos pós-Perciformes;

• O baixo conteúdo de heterocromatina, como observado para os cromossomos de S.

testudineus e M. chinensis, sugere que seja reflexo do tamanho do genoma, uma vez

que a redução do conteúdo de DNA é um mecanismo peculiar envolvido na evolução

do genoma dos Tetraodontiformes;

• Apesar de representarem cariótipos compactos, M. chinensis (Monacanthidae) e S.

testudineus (Tetraodontidae) exibem tendências evolutivas próprias, onde a redução

numérica dos cromossomos na primeira, possivelmente derivada de eventos de fusões,

contrasta com cariótipos largamente formado por elementos bi-braquiais encontrados

na segunda.

Page 58: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · contribuições ao conhecimento dos seus genomas e cariótipos são fornecidos e ... evolução esquelética neste grupo reflete

56

6. REFERÊNCIAS

Alfaro, M.E., Santini, F., Brock, C.D. (2007). Do reefs drive diversification in marine

teleosts? Evidence from the pufferfish and their allies (order Tetraodontiformes).

Evolution, 61 (9): 2104–26.

Almeida-Toledo, L.F., Foresti, F., Daniel, M.F., Toledo-Filho, S.A. (2000). Sex chromosome

evolution in fish: the formation of the neo-Y chromosome in Eigenmannia

(Gymnotiformes). Chromosoma, 109 (3): 197–200.

Arai, R. (2011). Fish Karyotypes: a check list. Springer, Tokyo, 347.

Arcila, D.; Pyron, R.A; Tyler, J.C; Ortí, G., Betancur-R, R. (2015). An evaluation of fossil

tip-dating versus node-age calibrations in Tetraodontiform fishes (Teleostei:

Percomorphaceae). Molecular Phylogenetics and Evolution, 82: 131–45.

Arratia, H.G; Nelson, J.S; Schultze, H.P; Wilson, M.V.H. (2010). Origin and phylogenetic

interrelationships of Teleosts. Origin and phylogenetic interrelationships of Teleosts.

Vol. 1.

Artoni, R.F., Castro, J.P., Jacobina, U.P., Lima-Filho, P.A., et al. (2015). Inferring diversity

and evolution in fish by means of integrative molecular cytogenetics. The Scientific

World Journal, 365787.

Bachmann, K., Cowden, R.R. (1967). Specific DNA amounts and nuclear size in fish

hepatocytes and erythrocytes. Transactions of the American Microscopical Society, 86:

463-471.

Brainerd, E., Slutz, S., Hall, E., Phillis, R. (2001). Patterns of genome size evolutioin in

tetraodontiform fishes. Evolution, 55 (11): 2363–68.

Brenner, S., Elgar, G., Sandford, R., Macrae, A., Venkatesh, B., Aparicio, S. (1993).

Characterization of the pufferfish (Fugu) genome as a compact model vertebrate

genome. Nature, 366 (6452): 265–68.

Carpenter, K.E. (2002). The living marine resources of the western central Atlantic. Volume

2: Bony Fishes Part 1 (Acipenseridae to Grammatidae). FAO Species Identification

Guide for Fishery Purposes; American Society of Ichthyologists and Herpetologists

Special Publication No. 5, 601–1374.

Chen, T.C., Ormond, R.F.G., Mok, H.K. (2001). Feeding and territorial behaviour in juveniles

of three co-existing triggerfishes. Journal of Fish Biology, 59 (3): 524–32.

Crnogorac-Jurcevic, T., Brown, J.R., Lehrach, H., Schalkwyk, L.C. (1997). Tetraodon

fluviatilis, a new puffer fish model for genome studies. Genomics, 41 (2): 177–84.

Dolezel, J., Bartos, J., Voglmayr, H., Greilhuber, J. (2003). Nuclear DNA content and genome

size of trout and human. Cytometry. Part A : The Journal of the International Society for

Page 59: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · contribuições ao conhecimento dos seus genomas e cariótipos são fornecidos e ... evolução esquelética neste grupo reflete

57

Analytical Cytology, 51 (2): 127–28.

Eschmeyer, W.N., Fong, J.D. (2016). Catalog of Fishes electronic version, San Francisco:

California Academy of Sciences. Disponível em:

http://researcharchive.calacademy.org/research/ichthyology/catalog/SpeciesByFamily.as

p. Acessado em 20 de Janeiro de 2016.

Figueiredo, J.L.; Menezes, N.A. (2000). Manual de Peixes Marinhos do Sudeste do Brasil. VI.

Teleostei São Paulo: Museu de Zoologia, Universidade de São Paulo, 5, , 116p.

Galetti, P.M., Aguilar, C.T., Molina, W.F. (2000). An Overview of Marine Fish Cytogenetics.

Hydrobiologia, 420 (1-3): 55–62.

Gold, J.R., Li, Y.C., Shipley, N.S., Powers, P.K. (1990). Improved methods for working with

fish chromosomes with a review of metaphase chromosome banding. Journal of Fish

Biology, 37: 563–75.

Gregory, T.R. (2016). Animal Genome Size Database. Disponével em

http://www.genomesize.com. Acessado em 20 de Fevereiro de 2016.

Hardie, D.C., Hebert, P.D.N (2004). Genome-size evolution in fishes. Canadian Journal of

Fisheries and Aquatic Sciences, 61: 1636-1646.

Hardie, D.C., Hebert, P.D.N (2003). The nucleotypic effects of cellular DNA content in

cartilaginous and ray-finned fishes. Genome, 46: 683-706.

Hinegardner, R. (1968). Evolution of cellular DNA content in Teleost fishes. The American

Naturalist, 102 (928): 517–23.

Hinegardner, R., Rosen, D.E. (1972). Cellular DNA ccntent and the evolution of Teleostean

fishes. The American Naturalist, 106 (951): 621–44.

Holcroft, N.I. (2005). A molecular analysis of the interrelationships of Tetraodontiform fishes

(Acanthomorpha: Tetraodontiformes). Molecular Phylogenetics and Evolution 34 (3):

525–44.

Howell, W.M., Black, D.A. (1980). Controlled silver-staining of nucleolus organizer regions

with a protective colloidal developer: a 1-step method. Experientia, 36 (8): 1014–15.

Igarashi, Y., Hiroyuki, D., Yamanoue, Y., Kinoshita, S., et al. (2013). Molecular phylogenetic

relationship of tetraodon pufferfish based on mitochondrial DNA analysis. Fisheries

Science, 79 (2): 243–50.

Jaillon, O., Aury, J.M., Brunet, F., Petit, J.L., Stange-Thomann, N., et al. (2004). Genome

duplication in the Teleost fish Tetraodon nigroviridis reveals the early vertebrate proto-

karyotype. Nature, 431 (7011): 946–57.

Kuiter, R.H., Tonozuka, T., (2001). Pictorial guide to Indonesian reef fishes. Part 3. Jawfishes

- Sunfishes, Opistognathidae - Molidae. Zoonetics, Australia. p. 623-893.

Page 60: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · contribuições ao conhecimento dos seus genomas e cariótipos são fornecidos e ... evolução esquelética neste grupo reflete

58

Lamatsch, D.K., Steinlein, C., Schmid, M., Schartl, M. (2000). Noninvasive determination of

genome size and ploidy level in fishes by flow cytometry: detection of triploid Poecilia

formosa. Cytometry, 39: 91-95.

Levan, A., Fredga, K., Sandberg, A. (1964). Nomenclature for centromeric position at

chromosomes. Hereditas, 201–20.

Mandrioli, M., Cuoghi, B., Marini, M., Manicardi, G.C., et al. (2000). Cytogenetic analysis of

the pufferfish Tetraodon nigroviridis (Osteichthyes ). Heredity, 237–42.

Martinez, P.A., Jacobina, U.P., Molina, W.F (2011). Comparative cytogenetics and

heterochromatic patterns in two species of the genus Acanthostracion (Ostraciidae:

Tetraodontiformes). Marine Genomics 4 (3).: 215–20.

Mirsky, A.E., Ris, H. (1951). The desoxyribonucleic acid content of animal cells and its

evolutionary significance. Journal of General Physiology, 34: 451-462.

Matsuura, K. (2014). Taxonomy and systematics of Tetraodontiform fishes: a Review

focusing primarily on progress in the period from 1980 to 2014. Ichthyological Research,

62 (1): 72–113.

May, J.L., Maxwell, J.G.H (1986). Trawl fish from temperate waters of Australia. CSIRO

Division of Fisheries Research, Tasmania. 492 p.

McCord, C.L., Westneat, M.W. (2016). Phylogenetic relationships and the evolution of BMP4

in Triggerfishes and Filefishes (Balistoidea). Molecular Phylogenetics and Evolution, 94:

397–409.

Molina, W.F., Alves, D.E.O., Araújo, W.C., Martinez, P.A., et al. (2010). Performance of

human immunostimulating agents in the improvement of fish cytogenetic preparations.

Genetics and Molecular Research, 9 (3): 1807–14.

Molina, WF F, Martinez, P.A. ,Bertollo, L.A.C., Bidau, C.J.(2014a). Preferential

accumulation of sex and Bs chromosomes in biarmed karyotypes by meiotic drive and

rates of chromosomal changes in fishes. Anais Da Academia Brasileira de Ciências, 86.

Molina, W.F., Martinez, P. A, Bertollo, L.A.C., Bidau, C.J. (2014b). Evidence for meiotic

drive as an explanation for karyotype changes in fishes. Marine Genomics, 15: 29–34.

Neafsey, D.E., Palumbi, S.R. (2003). Genome size evolution in pufferfish: a comparative

analysis of Diodontid and Tetraodontid pufferfish genomes. Genome Research, 13 (5):

821–30.

Ojima, Y., Yamamoto, K. (1990). Cellular DNA contents of fishes determined by flow

cytometry. La Kromosomo II, 57: 1871-1888.

Nelson, J.S. (2006). Fishes of the world. 4th. John Wiley & Sons, Inc, Hoboken, New Jersey.

Nirchio, M., Oliveira, C., Ferreira, I.A., Martins, C., et al. (2009). Classical and molecular

cytogenetic characterization of Agonostomus monticola, a primitive species of Mugilidae

Page 61: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · contribuições ao conhecimento dos seus genomas e cariótipos são fornecidos e ... evolução esquelética neste grupo reflete

59

(Mugiliformes). Genetica, 135 (1): 1–5

Nirchio, M., Oliveira, C. (2007). First description of the karyotype and Ag-NORs localization

of Stephanolepis setifer (Bennett, 1831) (Tetraodontiformes : Monacanthidae ) with

remarks on sex chromosome differentiation. Boletín del Instituto Oceanográfico de

Venezuela, 46 (2): 117–23.

Nirchio, M., Rossi, A.R., Foresti, F., Oliveira, C. (2014). Chromosome evolution in fishes: a

new challenging proposal from Neotropical species. Neotropical Ichthyology 12 (4):

761–70.

Noleto, R.B., Guimarães, F.S.F., Paludo, K.S., Vicari, M.R. et al. (2009). Genome size

evaluation in Tetraodontiform fishes from the Neotropical region. Marine

Biotechnology,11 (6): 680–85.

Noleto, R.B., Vicari, M.R., Cipriano, R.R., Artoni, R.F., et al. (2007). Physical mapping of 5S

and 45S rDNA loci in pufferfishes (Tetraodontiformes). Genetica, 130 (2): 133–38.

Pendás, A.M., Moran, P., Freije, J.P., Garcia-Vazquez, E. (1994). Chromosomal mapping and

nucleotide sequence of two tandem repeats of Atlantic salmon 5S rDNA. Cytogenetics

and Cell Genetics, 67: 31–36.

Petrov, D.A. (2001). Evolution of genome size: new approaches to an old problem. Trends in

Genetics, 17 (1): 23–28.

Phillips R., Ráb, P. (2001). Chromosome evolution in the Salmonidae (Pisces): an update.

Biological. Reviews, 76: 1–25.

Pinkel, D., Straume, T., Gray, J.W. (1986). Cytogenetic analysis using quantitative, high-

sensitivity, fluorescence hybridization. Proceedings of the National Academy of Sciences

of the United States of America, 83(9):2934–38.

Pomianowski, K., Jankun, M., Ocalewicz, K. (2012). Detection of interstitial telomeric

sequences in the Arctic Charr (Salvelinus alpinus) (Teleostei: Salmonidae). Genome, 55

(1): 26–32.

Sá-Gabriel, L.G., Molina, W.F. (2005). Karyotype diversification in fishes of the

Balistidae,Diodontidae and Tetraodontidae (Tetraodontiformes). Caryologia, 58 (3):

229–37.

Santini, F., Harmon, L.J., Carnevale, G., Alfaro, M.E. (2009). Did genome duplication drive

the origin of Teleosts? a comparative study of diversification in ray-finned fishes. BMC

Evolutionary Biology, 9: 194.

Santini, F., Sorenson, L., Alfaro, M.E. (2013a). A New multi-locus timescale reveals the

evolutionary basis of diversity patterns in triggerfishes and filefishes (Balistidae,

Monacanthidae; Tetraodontiformes). Molecular Phylogenetics and Evolution, 69 (1).:

165–76.

Santini, F., Sorenson, L., Alfaro, M.E. (2013b). A new phylogeny of Tetraodontiform fishes

Page 62: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · contribuições ao conhecimento dos seus genomas e cariótipos são fornecidos e ... evolução esquelética neste grupo reflete

60

(Tetraodontiformes, Acanthomorpha) based on 22 loci. Molecular Phylogenetics and

Evolution, 69 (1): 177–87.

Santini, F., Tyler, J.C. (2003). A phylogeny of the families of fossil and extant

Tetraodontiform fishes (Acanthomorpha, Tetraodontiformes), upper cretaceous to recent.

Zoological Journal of the Linnean Society, 139 (4): 565–617.

Santini, F., Tyler, J.C. (2004). The importance of even highly incomplete fossil taxa in

reconstructing the phylogenetic relationships of the Tetraodontiformes (Acanthomorpha:

pisces). Integrative and Comparative Biology, 44 (5): 349–57.

Schweizer, D. (1976). Reverse fluorescent chromosome banding with chromomycin and

DAPI. Chromosoma, 58 (4): 307–24.

Shen, S.C. (1993). Fishes of Taiwan. Department of Zoology, National Taiwan University,

Taipei. 960 p.

Pizon, V., Cuny, G., Bernardi, G. (1984). Nucleotide sequence organization in the very small

genome of a tetraodontid fish, Arothron diadematus. European Journal of

Biochemistry,140: 25-30.

Sorbini, C., Tyler, J.C. (2004). Review of the fossil file fishes of the family Monacanthidae

Tetraodontiformes, Pliocene and Pleistocene of europe, with a new genus, Frigocanthus,

and two new species related to the recent. Aluterus Boll. Mus. Civ. Storia Nat. Verona 28,

41–76.

Sumner, A.T. (1972). A simple technique for demonstrating centromeric heterochromatin.

Experimental Cell Research, 75 (1): 304–6.

Szpilman (2000). Peixes marinhos do Brasil – Guia prático de identificação. Instituto

Ecológico Aqualung, Rio de Janeiro, 288p.

Venkatesh, B., Gilligan, P., Brenner, S. (2000). Fugu: A compact vertebrate reference

genome. FEBS Letters, 476 (1-2): 3–7.

Vinogradov, A.E. (1998a). Genome size and GC-percent in vertebrates as determined by flow

cytometry: the triangular relationship. Cytometry, 31: 100-109

White, T.J., Bruns, S., Lee, S., Taylor, J. (1990). Amplification and direct sequencing of

fungal ribosomal RNA genes for phylogenetics. PCR Protocols: A Guide to Methods and

Applications.

Winterbottom, R. (1974). The familial phylogeny of the Tetraodontiformes (Acanthopterygii:

Pisces) as evidenced by their comparative myology. Smithsonian Contributions to

Zoology, 155: 1–201.

Yamanoue, Y., Miya, M., Matsuura, K., Katoh, M., et al.. (2008). A new perspective on

phylogeny and evolution of Tetraodontiform fishes (Pisces: Acanthopterygii) based on

whole mitochondrial genome sequences: basal ecological diversification? BMC

Evolutionary Biology, 8: 212.