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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ
ESCOLA POLITÉCNICA
GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL
PERCEPÇÃO DE RISCO ASSOCIADO A DESLIZAMENTOS DE TERRA DA
COMUNIDADE DO MORRO DA FORMIGA, RIO DE JANEIRO
Danielle Broda de Vasconcellos
PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO
CURSO DE ENGENHARIA CIVIL DA ESCOLA POLITÉCNICA DA
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS
REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE
ENGENHEIRO CIVIL.
Orientador: Marcos Barreto de Mendonça
RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL
AGOSTO de 2015
ii
PERCEPÇÃO DE RISCO ASSOCIADO A DESLIZAMENTOS DE TERRA DA
COMUNIDADE DO MORRO DA FORMIGA, RIO DE JANEIRO
Danielle Broda de Vasconcellos
PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO DE ENGENHARIA
CIVIL DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO
PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO
CIVIL.
Examinado por:
__________________________________
Marcos Barreto de Mendonça (Orientador)
__________________________________
Prof. Leandro Torres Di Gregorio, D.Sc.
__________________________________
Prof. Eduardo Qualharini, D.Sc.
RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL
AGOSTO de 2015
iii
Vasconcellos, Danielle Broda
Percepção de risco associado a deslizamentos de terra na
comunidade do Morro da Formiga, Rio de Janeiro, RJ, BRASIL./ Danielle
Broda de Vasconcellos – Rio de Janeiro: UFRJ/ Escola Politécnica, 2015.
X, 126 p.: il.; 29,7 cm.
Orientador: Marcos Barreto Mendonça.
Projeto de Graduação – UFRJ/ Escola Politécnica/ Curso de
Engenharia Civil, 2015.
Referências Bibliográficas: p. 121-123
1.Desastres 2.Deslizamentos 3. Percepção de Risco 4 Prevenção.
5.Gestão Participativa
I. Mendonça, Marcos Barreto de. II. Universidade Federal do Rio
de Janeiro, Escola Politécnica, Curso de Engenharia Civil, III. Título.
iv
“Que os vossos esforços desafiem as impossibilidades, lembrai-vos de que as
grandes coisas do homem foram conquistadas do que parecia impossível. ”
Charles Chaplin
v
À minha torcida mais fiel, meus pais, Jacqueline e José Guilherme,
e meus irmãos, Diogo e Leonardo.
vi
Agradecimentos
Em primeiro lugar, meu eterno agradecimento à minha família por todo o amor,
suporte, presença e incentivo em todos os momentos da minha vida – à melhor mãe e
amiga que eu poderia ter Jacqueline, ao meu “pai pra toda obra” José Guilherme, aos meus
amados irmãos Diogo e Leonardo. Todo o meu sucesso eu devo a vocês.
Ao meu mestre e orientador Marcos Barreto de Mendonça, não apenas pelos
inestimáveis conhecimentos técnicos transmitidos, mas também pelas lições de humildade
e cidadania. Muito obrigada por tudo.
À professora e coordenadora Elaine Garrido Vazquez, por toda a dedicação aos alunos
desta escola e sua por extrema competência. Vou levar comigo seu exemplo de pessoa e
de profissional.
Às minhas amigas “do prédio”, que me ajudaram a chegar até aqui e a me tornar a
pessoa que sou hoje. Vocês foram e sempre serão essenciais.
A todos os meus amigos de curso que tornaram essa jornada na UFRJ mais leve e
divertida, em especial aos que viraram inúmeras noites estudando comigo. Sem vocês teria
sido tudo mais difícil.
Aos meus amigos do intercâmbio em Barcelona, que participaram comigo do período
mais incrível e gratificante da minha graduação. Minha eterna gratidão.
Ao meu amor, Lucas Romualdo Monteiro, por toda a ajuda, apoio incondicional,
palavras de incentivo e de amor nos momentos que eu quase fraquejei. Eu realmente não
teria conseguido sem você.
A todos aqueles que me proporcionaram infinitas oportunidades acadêmicas e
profissionais durante o curso.
A todos que participaram deste trabalho de alguma forma. Vocês foram essenciais.
À Deus e ao universo, por todas as realizações.
vii
Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte
dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Civil.
PERCEPÇÃO DE RISCO ASSOCIADO A DESLIZAMENTOS DE TERRA DA
COMUNIDADE DO MORRO DA FORMIGA, RIO DE JANEIRO
Danielle Broda de Vasconcellos
Agosto/2015
Orientador: Marcos Barreto de Mendonça
Curso: Engenharia Civil
O quadro de exclusão territorial e degradação ambiental de nossas cidades, além de
submeter a maioria da população a uma inserção precária e vulnerável na cidade, gera
graves situações de risco de vida por ocasião dos períodos chuvosos mais intensos,
atingindo principalmente os habitantes das favelas e loteamentos irregulares instalados
nas encostas de morros urbanos, devido à deslizamentos de terra. Neste contexto, a
prevenção através da gestão participativa se torna essencial para mitigar os desastres e
suas consequências nas áreas de risco. Este trabalho defende a importância de se saber
previamente como os moradores das comunidades estudadas percebem o risco a que eles
estão expostos, para que as ações preventivas sejam eficientes. Por fim, propõe-se um
método para classificar a vulnerabilidade quanto a percepção de risco através de uma
pesquisa qualitativa semiestruturada e seus resultados na aplicação do método para a
comunidade do Morro da Formiga.
Palavras-chave: Deslizamentos de terra, Área de Risco, Desastres, Percepção de Risco,
Prevenção, Gestão Participativa.
viii
Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of the
requirements for the degree of Civil Engineer.
RISK PERCEPTION ASSOCIATED WITH LANDSLIDES IN THE FORMIGA
SHANTY TOWN, RIO DE JANEIRO
Danielle Broda de Vasconcellos
August/2015
Advisor: Marcos Barreto de Mendonça
Course: Civil Engineering
The territorial exclusion situation and environmental degradation of our cities, as well as
submit the majority of the population to a precarious and vulnerable insertion in the city
generates serious life-threatening situations during the most intense rainy periods,
affecting mainly the inhabitants of slums and settlements installed in urban hillsides due
to landslides. In this context, prevention through participatory management becomes
essential to mitigate the disaster and its consequences in risk areas. The importance of
knowing in advance how the residents of the communities studied perceive the risk to
which they are exposed is presented, so that preventive actions are effective. Finally, we
propose a method to classify the vulnerability as the perception of risk through a semi-
structured qualitative research and its results in the application of the method to the
Formiga shanty town.
Keywords: Landslides, Risk Area, Disasters, Risk Perception, Prevention, Participative
Management.
ix
Sumário
1. Introdução ......................................................................................................................... 1
1.1. Apresentação ............................................................................................................. 1
1.2. Motivação .................................................................................................................. 3
1.3. Justificativa / Objetivos ............................................................................................. 4
1.4. Organização do trabalho ........................................................................................... 5
2. Revisão de literatura ......................................................................................................... 7
2.1. Desastres “Naturais” ................................................................................................. 7
2.1.1. Conceituação de Desastres ............................................................................... 7
2.1.2. Classificação dos Desastres ............................................................................... 8
2.1.3. Histórico Recente dos Desastres no Brasil e na região Sudeste ................... 11
2.2. Movimentos de massa e seus condicionantes ...................................................... 14
2.2.1. Considerações Iniciais ..................................................................................... 14
2.2.2. Classificação dos Movimentos de Massa ....................................................... 15
2.2.3. Principais causas dos movimentos de massa ................................................. 17
2.2.4. Ações antrópicas .............................................................................................. 19
2.3. Conceito de perigo, suscetibilidade, vulnerabilidade e risco ................................ 21
2.3.1. Considerações Iniciais ..................................................................................... 21
2.3.2. Perigo ............................................................................................................... 21
2.3.3. Suscetibilidade ................................................................................................. 23
2.3.4. Vulnerabilidade ................................................................................................ 24
2.3.5. Risco ................................................................................................................. 25
2.4. Percepção de risco .................................................................................................. 28
2.4.1. Considerações iniciais ...................................................................................... 28
2.4.2. Fatores que influenciam a percepção de risco .............................................. 29
2.4.3. Relativização do risco ...................................................................................... 32
2.4.4. Avaliação da percepção de risco ..................................................................... 33
2.5. Política atual de Gestão de Riscos .......................................................................... 34
3. Investigação da percepção de risco no Morro da Formiga .......................................... 37
3.1. O Morro da Formiga ................................................................................................ 37
3.1.1. Apresentação da comunidade Morro da Formiga ......................................... 37
3.1.2. Um pouco de história ...................................................................................... 40
x
3.1.3. Histórico dos deslizamentos ........................................................................... 44
3.2. Metodologia de trabalho ........................................................................................ 47
3.3. Resultados e análises .............................................................................................. 53
4. Classificação da vulnerabilidade quanto à percepção de risco .................................... 87
4.1. Método proposto .................................................................................................... 87
4.2. Aspecto 1: Percepção do risco ............................................................................... 91
4.2.1. Considerações Iniciais ..................................................................................... 91
4.2.2. Aplicação do método ao caso de estudo ....................................................... 92
4.2.3. Resultado obtido.............................................................................................. 99
4.3. Aspecto 2: Empoderamento / Conhecimento técnico ........................................ 100
4.3.1. Considerações iniciais .................................................................................... 100
4.3.2. Aplicação do modelo ao caso de estudo ...................................................... 102
4.3.3. Resultado obtido............................................................................................ 107
4.4. Aspecto 3: Confiança na Defesa Civil ................................................................... 109
4.4.1. Considerações Iniciais ................................................................................... 109
4.4.2. Aplicação do modelo ao caso de estudo ...................................................... 110
4.4.3. Resultado obtido............................................................................................ 112
4.5. Classificação da Vulnerabilidade .......................................................................... 113
5. Considerações finais ..................................................................................................... 116
5.1. Conclusões ............................................................................................................. 116
5.2. Sugestões para estudos futuros ........................................................................... 119
Referências ........................................................................................................................... 121
Anexos ................................................................................................................................... 124
xi
LISTA DE FIGURAS
Figura 2.1 – Tipos de movimento de massa (Brasil, 2012) ................................................... 16
Figura 2.2 – Relação entre perigo e desastre (adaptada de TOBIN & MONTZ, 1997) ........ 22
Figura 2.3 – Fatores que envolvem a análise de risco (adaptado de MARCELINO, 2008).. 27
Figura 2.4 – Esquema da relação entre percepção der risco e vulnerabilidade ................. 34
Figura 2.5 – Linhas de ações do Plano Nacional de Gestão de Riscos (SCHADECK, 2013) . 35
Figura 3.1 - Vista aérea do Morro da Formiga (Google Maps, 2015) .................................. 38
Figura 3.2 – Mapa da bacia hidrográfica do Rio Maracanã e localização do Morro da
Formiga (SANTOS, 2013) ........................................................................................................ 39
Figura 3.3 – Mapa de Registros de movimentos de massa no Estado do Rio de Janeiro de
1991 a 2012 (IBGE, 2015) ...................................................................................................... 45
Figura 3.4 – Deslizamento no Morro da Formiga (SILVA et al., 2000) ................................. 46
xii
LISTA DE TABELAS
Tabela 2.1 - Principais eventos incidentes no País (BRASIL, 2013) ........................................ 9
Tabela 2.2 - Frequência mensal dos movimentos de massa ocorridos no Brasil no período
de 1991 a 2012 (Brasil, 2013) ................................................................................................ 12
Tabela 2.3 – Definições de perigo encontradas na literatura (adaptado de GULLO, 2015)
................................................................................................................................................. 23
Tabela 2.4 – Definições de vulnerabilidade encontradas na literatura (adaptado de
GULLO, 2015) .......................................................................................................................... 24
Tabela 2.5 – Definições de risco encontradas na literatura (adaptado de GULLO, 2015).. 26
Tabela 2.6 – Fórmulas relacionadas ao conceito de risco encontradas na literatura
(adaptado de GULLO, 2015) ................................................................................................... 26
Tabela 3.1 – Entrevistas realizadas no Trabalho de Campo – Morro da Formiga .............. 50
Tabela 3.2 – Percentuais de respostas da pergunta 20 ........................................................ 72
Tabela 3.3 – Importância das ações antrópicas dadas pelos moradores entrevistados .... 73
Tabela 4.1 – Relação entre as perguntas e os aspectos relacionados a vulnerabilidade ... 90
Tabela 4.2 – Critério para atribuição de pesos às perguntas ............................................... 91
Tabela 4.3 – Critérios para atribuição de notas (Aspecto 1 – Percepção de risco) ............ 91
Tabela 4.4 – Cálculo da nota referente a pergunta 3 ........................................................... 92
Tabela 4.5 – Cálculo da nota referente a pergunta 4 ........................................................... 93
Tabela 4.6 – Cálculo da nota referente a pergunta 5 ........................................................... 94
Tabela 4.7 – Cálculo da nota referente a pergunta 8 ........................................................... 94
Tabela 4.8 – Cálculo da nota referente a pergunta 9 ........................................................... 95
Tabela 4.9 – Cálculo da nota referente a pergunta 10 ......................................................... 95
Tabela 4.10 – Cálculo da nota referente a pergunta 12 ....................................................... 96
Tabela 4.11 – Cálculo da nota referente a pergunta 13 ....................................................... 96
Tabela 4.12 – Cálculo da nota referente a pergunta 26 ....................................................... 97
Tabela 4.13 – Cálculo da nota referente a pergunta 29 ....................................................... 97
Tabela 4.14 – Cálculo da nota referente a pergunta 30 ....................................................... 98
Tabela 4.15 – Cálculo da nota referente a pergunta 31 ....................................................... 98
Tabela 4.16 – Cálculo da nota final do aspecto 1 – Percepção de Risco ............................. 99
xiii
Tabela 4.17- Classificação final - Aspecto 1 ........................................................................ 100
Tabela 4.18 – Critérios para atribuição de notas (Aspecto 2 –
Empoderamento/Conhecimento Técnico).......................................................................... 101
Tabela 4.19 – Cálculo da nota referente a pergunta 5 ....................................................... 102
Tabela 4.20 – Cálculo da nota referente a pergunta 6 ....................................................... 102
Tabela 4.21 – Cálculo da nota referente a pergunta 11 ..................................................... 103
Tabela 4.22 – Cálculo da nota referente a pergunta 14 ..................................................... 103
Tabela 4.23 – Cálculo da nota referente a pergunta 15 ..................................................... 104
Tabela 4.24 – Cálculo da nota referente a pergunta 17 ..................................................... 104
Tabela 4.25 – Cálculo da nota referente a pergunta 18 ..................................................... 105
Tabela 4.26 – Cálculo da nota referente a pergunta 19 ..................................................... 106
Tabela 4.27 – Cálculo da nota referente a pergunta 23 ..................................................... 106
Tabela 4.28 – Cálculo da nota referente a pergunta 28 ..................................................... 107
Tabela 4.29 – Cálculo da nota final do aspecto 2 – Empoderamento / Conhecimento
técnico ................................................................................................................................... 108
Tabela 4.30 - Classificação final - Aspecto 2........................................................................ 109
Tabela 4.31 – Critérios para atribuição de notas (Aspecto 3 – Confiança na Defesa Civil)
............................................................................................................................................... 110
Tabela 4.32 – Cálculo da nota referente a pergunta 21 ..................................................... 110
Tabela 4.33 – Cálculo da nota referente a pergunta 22 ..................................................... 111
Tabela 4.34 – Cálculo da nota referente a pergunta 25 ..................................................... 111
Tabela 4.35 – Cálculo da nota final do aspecto 3 – Confiança na Defesa Civil ................. 112
Tabela 4.36 – Classificação final - Aspecto 3 ....................................................................... 112
Tabela 4.37 – Quadro resumo das notas finais ................................................................... 113
Tabela 4.38 – Classificação da vulnerabilidade – Morro da Formiga ................................ 115
xiv
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 2.1 - Aumento de registros de ocorrências entre as décadas de 1990 e 2000
(Brasil, 2013) ........................................................................................................................... 11
Gráfico 2.2 - Mortos por tipo de desastre (Brasil, 2013) ...................................................... 12
Gráfico 2.3 - Porcentagem de ocorrência de movimentos de massa por região do Brasil,
no período entre 1991 e 2012 (Brasil, 2013). ....................................................................... 13
Gráfico 2.4 - Comparativo entre densidade demográfica e mortos por milhão de
habitantes (Brasil, 2013) ........................................................................................................ 14
Gráfico 3.1 – Percentuais de respostas da pergunta 1 ......................................................... 54
Gráfico 3.2 – Percentuais de respostas da pergunta 2 ......................................................... 55
Gráfico 3.3 – Percentuais de respostas da pergunta 3 ......................................................... 57
Gráfico 3.4 – Percentuais de respostas da pergunta 4 ......................................................... 58
Gráfico 3.5 – Percentuais de respostas da pergunta 5 ......................................................... 59
Gráfico 3.6 – Percentuais de respostas da pergunta 6 ......................................................... 60
Gráfico 3.7 – Percentuais de respostas da pergunta 8 ......................................................... 61
Gráfico 3.8 – Percentuais de respostas da pergunta 9 ......................................................... 62
Gráfico 3.9 – Percentuais de respostas da pergunta 10....................................................... 63
Gráfico 3.10 – Percentuais de respostas da pergunta 11 .................................................... 64
Gráfico 3.11 – Percentuais de respostas da pergunta 12 .................................................... 65
Gráfico 3.12 – Percentuais de respostas da pergunta 13 .................................................... 66
Gráfico 3.13 – Percentuais de respostas da pergunta 14 .................................................... 66
Gráfico 3.14 – Percentuais de respostas da pergunta 15 .................................................... 67
Gráfico 3.15 – Percentuais de respostas da pergunta 16 .................................................... 68
Gráfico 3.16 – Percentuais de respostas da pergunta 17 .................................................... 69
Gráfico 3.17 – Percentuais de respostas da pergunta 18 .................................................... 70
Gráfico 3.18 – Percentuais de respostas da pergunta 19 .................................................... 71
Gráfico 3.19 – Percentuais de respostas da pergunta 20 .................................................... 72
Gráfico 3.20 - Percentuais de respostas da pergunta 21 ..................................................... 74
Gráfico 3.21 – Percentuais de respostas da pergunta 22 .................................................... 75
Gráfico 3.22 – Percentuais de respostas da pergunta 23 .................................................... 76
xv
Gráfico 3.23 – Percentuais de respostas da pergunta 24 .................................................... 77
Gráfico 3.24 – Percentuais de respostas da pergunta 25 .................................................... 78
Gráfico 3.25 – Percentuais de respostas da pergunta 26 .................................................... 79
Gráfico 3.26 – Percentuais de respostas sobre que caminho tomaria, complementar a
pergunta 26............................................................................................................................. 80
Gráfico 3.27 – Percentuais de respostas da pergunta 27 .................................................... 81
Gráfico 3.28 – Percentuais de respostas da pergunta 28 .................................................... 82
Gráfico 3.29 – Percentuais de respostas da pergunta 29 .................................................... 83
Gráfico 3.30 – Percentuais de respostas da pergunta 30 .................................................... 84
Gráfico 3.31 – Percentuais de respostas da pergunta 31 .................................................... 85
1
1. Introdução
1.1. Apresentação
Segundo o Atlas Brasileiro de Desastres Naturais, elaborado pelo Centro Universitário
de Estudos e Pesquisas sobre Desastres (Ceped) da Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC), deslizamento de terra representa o segundo tipo de desastre natural mais
frequente no Brasil, sendo que entre 1991 e 2012 foram feitos 669 registros oficiais de
movimentos de massa no país, constando por volta de cinco milhões e meio de pessoas
afetadas, direta ou indiretamente, entre mortos, feridos, enfermos, desabrigados,
desalojados, desaparecidos e outros. Esses números devem estar subestimados, posto que
muitas ocorrências podem não ter sido registradas oficialmente.
Convém mencionar nesta introdução que o termo ‘deslizamentos’ é utilizado, de uma
forma geral, ao longo do texto desse trabalho, para designar os movimentos de massa em
encostas. Sabe-se, entretanto, que o deslizamento propriamente dito consiste em um dos
tipos de movimento de massa, conforme será exposto no item 2.2.
O crescimento da população, o desenvolvimento das cidades sem o devido
planejamento (plano diretor) e fiscalização, a falta de recursos em áreas mais distantes dos
centros (saneamento básico, eletricidade, transporte, saúde, etc) unido à organização
social desigual de nossa sociedade, levam cada vez mais à ocupação de áreas impróprias,
ou seja, áreas mais susceptíveis aos desastres naturais. A população residente destas áreas
de risco sofre com desastres ocasionados pela coexistência de fatores como alta
declividade das encostas, elevados índices pluviométricos, feições geomorfológicas,
geológicas e geotécnicas e ações antrópicas sobre o meio físico. Na situação atual, esse
quadro está distante de ser revertido. Ainda persistirão por vários anos condições
impulsionadoras de ocupações de áreas tecnicamente impróprias a habitação.
(MENDONÇA & PINHEIRO, 2012).
Além disso, a magnitude dos desastres no país vem aumentando. Segundo BRASIL
(2013), os desastres decorrentes de movimentos de massa tiveram um aumento de 21,7
vezes entre as décadas de 1990 e 2000. Desta forma, se torna necessária a adaptação a
esta nova realidade por meio do poder público.
2
Nesta perspectiva, a Gestão de Riscos torna-se uma das principais ferramentas para a
redução de desastres. Atualmente, a gestão de risco no Brasil se divide em 4 áreas de
atuação. São elas:
- Preparação e Mitigação (mapeamento das áreas de risco e monitoramento de Sistema
de Alerta)
- Prevenção (com obras estruturantes e medidas não estruturais)
- Resposta aos desastres e recuperação (prestação de socorro, assistência aos afetados e
reconstrução do local).
Porém, nota-se que, apesar dos elevados custos envolvidos nesses tipos de ações,
conseguiu-se reduzir pouco o recrudescimento dos desastres, o que evidencia a deficiência
desta gestão atual. O planejamento e a execução das ações mitigadoras dos desastres
deveriam ser precedidos da compreensão de como a população moradora de áreas de alta
susceptibilidade a deslizamentos se relaciona com esse tipo de desastre e como se dá sua
relação com o espaço que habita, seus vínculos emocionais com o local e demandas
específicas que possuem. Para tal, deve haver uma aproximação dos gestores públicos a
esses grupos habitantes de áreas de risco.
Portanto, para que a gestão de riscos seja bem-sucedida, é necessário um estudo da
percepção de risco por parte da população afetada, ou seja, devem ser esclarecidas as
formas de ver e lidar com o problema por ambas as partes da sociedade de forma que, ao
compreender as diferenças entre o grau de risco percebido pelos diferentes atores sociais
envolvidos (principalmente técnicos e moradores), possa-se determinar a melhor forma
de mobilização da sociedade, cada qual sob sua perspectiva própria.
Neste contexto, o presente trabalho faz parte de uma linha de pesquisa do Setor de
Geotecnia do Departamento de Construção Civil da Escola Politécnica da UFRJ e apresenta
uma discussão sobre o tema através de uma revisão bibliográfica, um estudo de
levantamento da percepção de risco da comunidade da Formiga, que se encontra no bairro
da Tijuca, Rio de Janeiro, em uma região bastante afetada por desastres associados a
deslizamentos de terra, e uma proposta de como qualificar a vulnerabilidade quanto a
percepção de risco de forma a incluir este dado na política de gestão de riscos.
3
1.2. Motivação
A engenharia surgiu com o objetivo de, com base na ciência e tecnologia, modificar o
meio em que vivemos de forma a facilitar as atividades do cotidiano e melhorar a qualidade
de vida dos seres humanos.
Segundo PEREIRA (2013), em artigo publicado pelo CREA-RN, “A engenharia é a ciência,
a arte e a profissão de adquirir e de aplicar os conhecimentos matemáticos, técnicos e
científicos na criação, aperfeiçoamento e implementação de utilidades, tais como
materiais, estruturas, máquinas, aparelhos, sistemas ou processos, que realizem uma
determinada função ou objetivo”.
Porém, na grande maioria das vezes, as maiores verbas e investimentos encontram-se
em áreas de interesse da minoria mais favorecida da sociedade, não atingindo a parcela da
população mais necessitada. Diante desse quadro, a sociedade precisa de mais
envolvimento do engenheiro e da universidade em assuntos comunitários, baseando-se na
realidade local de cada comunidade.
NETO (2007) aborda de maneira excelente o trabalho do engenheiro e sua função
social. Segundo este autor, não são poucos os desafios que o engenheiro precisa enfrentar,
caso opte-se por contribuir socialmente na sua profissão, pois os problemas sociais no
Brasil são enormes. Porém, o conhecimento técnico utilizado nas evoluções tecnológicas
deve ser também dirigido a um cliente especial que não promete lucro imediato, mas que
precisa de ações urgentes a seu favor. Este cliente é o povo brasileiro, principalmente a
camada menos favorecida. O envolvimento nos problemas da vivência do homem e da
comunidade durante o exercício da sua profissão mostrará ao engenheiro o grande
benefício que os produtos da engenharia podem proporcionar às pessoas mais
necessitadas.
Portanto, o engenheiro tem que criar, formular, calcular, estudar, se atualizar, mas
também tem suas funções sociais. Um profissional com tanta carga e conhecimentos está
muito apto a dar auxílios a comunidades menos favorecidas. Esse profissional deve
4
contribuir com sua intelectualidade e consciência investindo em projetos que resultem em
produtos e serviços que ajudem no desenvolvimento comunitário e na inclusão social.
1.3. Justificativa / Objetivos
O processo de urbanização brasileira ocorreu de forma intensa e desigual. A
oportunidade de viver com qualidade nas nossas cidades não se apresenta da mesma
forma para todos, o que leva grande parte da população menos favorecida a ocupar áreas
impróprias para a moradia, que oferecem, por sua vez, riscos à vida, especialmente nas
encostas e margens de rios. Como consequência, temos uma grande parte da população
vulnerável à ocorrência de acidentes envolvendo danos materiais e vítimas fatais.
As abordagens convencionais na área de Gestão dos Desastres seguem enfatizando os
aspectos tecnológicos e legislativos, sem levar em consideração toda a complexidade e as
contradições econômico-sociais que envolvem a “escolha” por este tipo de moradia e
como a população residente destes locais lida com o risco.
Pode-se observar que ações estruturais (obras de engenharia) e emergenciais
(sistemas de alerta e alarme e retirada de moradores), definidas sob o ponto de vista
puramente técnico, não são suficientes para a redução satisfatória dos desastres
associados a deslizamento. Para tal, é necessária a participação efetiva da população nas
ações preventivas.
O conhecimento sobre a percepção de risco não pode ser negligenciado, pois este é o
ponto de partida para a mobilização social. Esse conhecimento permite saber como a
população se relaciona com o risco e então, planejar uma política pública mais eficiente
para a redução de desastres. Portanto, a participação da comunidade nas ações para
redução de risco deve ser buscada através de ações socioeducativas para a troca de
conhecimento entre técnicos e moradores sobre o problema dos desastres, o
estreitamento da interação entre a comunidade e o governo e o empoderamento da
população para transformação do meio em que vivem de forma a melhorar a qualidade de
vida (MENDONÇA & PINHEIRO, 2012).
5
O objetivo geral deste trabalho é compreender a percepção de risco da população
moradora da comunidade do Morro da Formiga, localizada no bairro da Tijuca, no
município do Rio de Janeiro. Esta comunidade formou-se desordenadamente em áreas de
encostas sujeitas a deslizamentos. Tal estudo foi realizado por meio de entrevistas
semiestruturadas com os moradores, de forma a compreender as visões (comportamento
e ideologia) e as atitudes dos mesmos diante do risco de deslizamento. Mais
especificamente, o objetivo é entender as noções que a população tem sobre os problemas
dos deslizamentos e as influências das ações antrópicas, a relativização desse tipo de risco
frente a outras ameaças a que estão expostos, e sua relação com os órgãos
públicos/Defesa Civil.
A presente pesquisa é, portanto, ferramental para avaliar vulnerabilidades, orientar
atividades socioeducativas e aproximar sócio e politicamente a população afetada das
instituições governamentais que atuam em ações para redução dos desastres,
principalmente Defesa Civil, promovendo uma gestão participativa com a construção
conjunta de uma comunidade empoderada e resiliente (GULLO, 2015).
1.4. Organização do trabalho
A estrutura deste trabalho está dividida em 5 capítulos. O capítulo introdutório
apresenta a problemática que embasa o objeto de estudo, evidenciando o motivação, a
relevância e os objetivos para o levantamento da percepção de risco de comunidades
expostas a deslizamentos.
O segundo capítulo compõe a revisão bibliográfica. Apresenta-se o tema dos desastres
associados a deslizamentos abordando o conceito de desastre e os dados sobre histórico
recente dos desastres associados a deslizamentos no Brasil e no Rio de Janeiro, os tipos de
movimentos de massa em encostas e o impacto das ações antrópicas instabilizadoras.
Apresenta também, segundo a visão de diferentes autores, conceitos e considerações
sobre risco, perigo, suscetibilidade, vulnerabilidade e percepção de risco e aborda alguns
aspectos da política atual de Gestão de Riscos.
6
O terceiro capítulo descreve a área de estudo e da metodologia empregada para o
levantamento da percepção de risco na mesma. Em seguida, refere-se aos resultados do
levantamento e às análises quantitativas e qualitativas dos mesmos.
No quarto capítulo, propõe-se um método para quantificar a vulnerabilidade quanto à
percepção de risco, de forma gerar uma classificação da vulnerabilidade que possa ser
incluída na política de Gestão de Riscos.
Por fim, o quinto capítulo faz-se as considerações finais sobre o trabalho e propõe
alguns assuntos a serem estudados para aprofundamento no tema.
7
2. Revisão de literatura
2.1. Desastres “Naturais”
2.1.1. Conceituação de Desastres
No Manual da Defesa Civil Nacional, desastre é definido como “resultado de eventos
adversos, naturais ou provocados pelo homem, sobre um ecossistema (vulnerável),
causando danos humanos, materiais e/ou ambientais e consequentes prejuízos
econômicos e sociais. (...) A intensidade de um desastre depende da interação entre a
magnitude do evento adverso e o grau de vulnerabilidade do sistema receptor afetado”
(CASTRO,1998).
A conceituação adotada pela UN-ISDR (2015) considera desastre como uma grave
perturbação do funcionamento de uma comunidade ou de uma sociedade envolvendo
perdas humanas, materiais, econômicas ou ambientais de grande extensão, cujos impactos
excedem a capacidade da comunidade ou da sociedade afetada de arcar com seus próprios
recursos.
Os desastres podem ser classificados quanto à origem ou causa primária do agente
causador em: naturais ou humanos (antropogênicos). Desastre natural é o resultado do
impacto de um fenômeno natural extremo ou intenso sobre um sistema social, e que causa
sérios danos e prejuízos que excedam a capacidade dos afetados em conviver com o
impacto (MARCELINO, 2008), ou seja, quando os fenômenos naturais atingem áreas ou
regiões habitadas pelo homem, causando-lhe danos.
É importante ressaltar que, a priori, desastres naturais são aqueles causados por
fenômenos e desequilíbrios da natureza que atuam independentemente da ação humana.
Porém, em geral, considera-se como desastre “natural” todo aquele que tem como gênese
um fenômeno natural de grande intensidade, agravado ou não pela atividade humana
(exemplo: chuvas intensas provocando inundação, erosão e escorregamentos).
8
Sabe-se que o acelerado processo de urbanização verificado nas últimas décadas, em
várias partes do mundo, inclusive no Brasil, levou ao crescimento das cidades, muitas vezes
em áreas impróprias à ocupação, aumentando as situações de perigo e de risco a
desastres.
Em outras palavras, a existência de perigo é uma função do ajustamento humano aos
eventos naturais extremos. Por exemplo, as enchentes não representariam perigo se as
planícies inundáveis não fossem ocupadas. Da mesma forma, os movimentos de massa não
seriam perigosos se as encostas não fossem intensamente ocupadas em algumas áreas
urbanas. Em muitos casos, o próprio homem pode aumentar a probabilidade de perigo,
devido ao uso inadequado da natureza. Exemplos deste fato são as alterações no regime
de escoamento provocadas pela impermeabilização das superfícies urbanizadas, o que
pode aumentar o risco de enchentes. Ou ainda o corte de taludes para construção de
estradas e edifícios, que pode desestabilizar as encostas.
Ao se modificar o meio ambiente (impermeabilizando o solo, derrubando a vegetação
natural, realizando cortes nas encostas, aplicando sobrecarga no terreno com as
construções, poluindo, entre outros), está se modificando o ecossistema como um todo e
eventos que não aconteceriam naturalmente podem passar a ocorrer. Desta forma, o
termo “natural” deve ser utilizado com cautela, pois os fenômenos e desequilíbrios da
natureza que causam os desastres, algumas vezes só o fazem (ou mesmo só ocorrem)
devido a ação do homem.
2.1.2. Classificação dos Desastres
A Codificação Brasileira de Desastres (COBRADE) foi desenvolvida pela Defesa Civil
Nacional, de forma a classificar os principais tipos de desastres incidentes no País. Sendo
eles: movimento de massa, erosão, inundação, enxurrada, alagamento, vendaval, granizo,
estiagem e seca, geadas, incêndio florestal e tornado; conforme indicado na Tabela 2.1.
9
Tabela 2.1 - Principais eventos incidentes no País (BRASIL, 2013)
Quanto à intensidade os desastres são classificados em quatro níveis, segundo o
Manual de planejamento da Defesa Civil (CASTRO, 1998):
– Nível I, desastres de pequeno porte ou intensidade, também chamados de acidentes;
– Nível II, desastres de médio porte ou intensidade;
– Nível III, desastres de grande porte ou intensidade;
– Nível IV, desastres de muito grande porte ou intensidade.
10
É importante ressaltar que a intensidade de um desastre deve ser avaliada em termos
objetivos e impessoais, a partir de uma ótica coletivista. Na visão subjetiva das vítimas,
todos os desastres são importantes.
Os acidentes ou desastres de pequeno porte ou intensidade (Nível I) são
caracterizados quando os danos causados são pouco importantes e os prejuízos
consequentes são pouco significativos e, por isso, são mais facilmente suportáveis e
superáveis pelas comunidades afetadas. Nessas condições, a situação de normalidade é
facilmente restabelecida, com os recursos existentes na área do município afetado e sem
necessidade de grandes mobilizações.
Os desastres de médio porte ou intensidade (Nível II) são caracterizados quando os
danos causados são de alguma importância e os prejuízos consequentes são relevantes.
Apesar disso, esses desastres são suportáveis e superáveis por comunidades bem
informadas, preparadas, participativas e facilmente mobilizáveis. Nessas condições, a
situação de normalidade pode ser restabelecida, com os recursos disponíveis na área do
município afetado, desde que sejam racionalmente mobilizados e judiciosamente
administrados.
Os desastres de grande porte ou intensidade (Nível III) são caracterizados quando os
danos causados são importantes e os prejuízos consequentes são vultosos. Nessas
situações, a condição de normalidade pode ser restabelecida, com os recursos mobilizados
na área do município afetado, desde que sejam reforçados e suplementados com o aporte
de recursos estaduais e federais, já existentes e disponíveis no Sistema Nacional de Defesa
Civil.
Os desastres de muito grande porte ou intensidade (Nível IV) são caracterizados
quando os prejuízos consequentes são muito graves e, por isso, não são suportáveis e
superáveis pelas comunidades afetadas, mesmo quando bem informadas, preparadas,
participativas e facilmente mobilizáveis, a menos que recebam substancial ajuda de fora
da área do município afetado. Nessas condições, o restabelecimento da situação de
normalidade depende da mobilização e da ação articulada dos três níveis do Sistema
Nacional de Defesa Civil e, em casos excepcionais, de ajuda internacional.
11
No Brasil, os desastres de Níveis de intensidade III e IV são reconhecidos, legalmente,
pelos Governos Federal, Estaduais e Municipais, como situação de emergência e estado de
calamidade pública. Os desastres de muito grande intensidade são raríssimos em nosso
país. Em compensação, os desastres por somação de efeitos parciais e de evolução crônica
ocorrem com grande frequência e geram, a cada ano, maiores danos e prejuízos
(MARCELINO, 2008).
2.1.3. Histórico Recente dos Desastres no Brasil e na região Sudeste
As informações sobre os desastres contempladas neste item fundamentam-se no
volume Brasil e no volume Rio de Janeiro do Atlas Brasileiro de Desastres Naturais, estudo
feito para os períodos entre 1991 e 2012.
Nas últimas décadas os Desastres Naturais constituem um tema cada vez mais
presente no cotidiano das populações. Há um aumento considerável não só na frequência
e intensidade, mas também nos impactos gerados, com danos e prejuízos cada vez mais
intensos. Como pode-se observar pelo Gráfico 2.1, os desastres devidos a movimento de
massa foram os que mais aumentaram em número de ocorrências registradas, sendo esse
aumento muito significativo (21,7 vezes mais ocorrências na década de 2000 em relação a
década anterior).
Gráfico 2.1 - Aumento de registros de ocorrências entre as décadas de 1990 e 2000 (Brasil, 2013)
12
Observa-se também que o número de vítimas fatais de desastres naturais é alarmante,
sendo o movimento de massa o segundo tipo de desastre que mais causou mortes, atrás
apenas das enxurradas, responsável por 58,15 % das mortes por desastres naturais,
conforme pode-se observar no Gráfico 2.2.
Gráfico 2.2 - Mortos por tipo de desastre (Brasil, 2013)
A deflagração de movimentos de massa está associada a períodos com chuvas intensas
e duradouras, que acontecem nas estações da primavera e do verão, com destaque para
os meses de dezembro, janeiro e fevereiro (Tabela 2.2).
Tabela 2.2 - Frequência mensal dos movimentos de massa ocorridos no Brasil no período de 1991 a 2012 (Brasil, 2013)
13
Durante esses 22 anos, foram registrados oficialmente 699 casos de deslizamentos no
país, com maiores concentrações na região Sudeste.
O Sudeste é uma das regiões que mais sofrem com as adversidades atmosféricas.
Algumas das principais ameaças relacionadas ao tempo e clima são chuvas intensas,
vendavais, granizos, geadas e friagens, secas, baixa umidade do ar e nevoeiros. A
variabilidade latitudinal e de relevo, a maritimidade/continentalidade e a atuação de
sistemas tropicais e extratropicais de latitudes médias conferem a essa região uma
diversidade de regimes climáticos maior do que qualquer outra do País. A região marca
ainda a transição entre os regimes permanentemente úmidos do Brasil Meridional e
alternadamente secos e úmidos do Brasil Central (NUNES et al,2009). Tais características
influenciam nas variações temporais e espaciais de temperatura, precipitação e vento.
O relevo desta porção do País é bastante complexo, sendo composto por diversas
unidades, entre elas a Serra do Mar; Serra da Mantiqueira, Serra da Canastra, Chapada
Diamantina, Planalto Paulistano e Planícies Litorâneas. A Serra do Mar é conhecida por sua
‘suscetibilidade natural’ a deslizamentos.
O conjunto desses diversos fatores faz o Sudeste assumir 79,8 % dos registros de
movimentos de massa do Brasil (Gráfico 2.3).
Gráfico 2.3 - Porcentagem de ocorrência de movimentos de massa por região do Brasil, no período entre 1991 e 2012 (Brasil, 2013).
14
Além da ‘suscetibilidade natural’ da região, a alta densidade demográfica aliada à
ocupação desordenada em áreas de risco agrava ainda mais o problema de deslizamentos,
pois se aumenta o potencial das consequências danosas. Ou seja, em regiões mais
habitadas, os efeitos dos deslizamentos são piores, gerando mais prejuízos econômicos e
sociais. Pelo comparativo do Gráfico 2.4 pode-se observar que as curvas de densidade
demográfica e de mortos por habitante possuem o mesmo comportamento, indicando que
estão correlacionados.
Gráfico 2.4 - Comparativo entre densidade demográfica e mortos por milhão de habitantes (Brasil, 2013)
2.2. Movimentos de massa e seus condicionantes
2.2.1. Considerações Iniciais
Os movimentos de massa estão associados a deslocamentos rápidos de solo e rocha
de uma encosta onde o centro de gravidade deste material se desloca para fora e para
baixo desta feição (escorregamentos) e quando ocorrem de forma imperceptível ao longo
do tempo são denominados de rastejo (GEO-RIO, 2014). Na Classificação e Codificação
Brasileira de Desastres (COBRADE), os movimentos de massa estão na categoria de
desastres naturais do tipo geológico.
15
Os movimentos de massa estão relacionados a condicionantes geológicos e
geomorfológicos, aspectos climáticos e hidrológicos, vegetação e a ação do homem
relativa às formas de uso e ocupação do solo (TOMINAGA, 2007). Esse tipo de desastre
assume grande importância em função de sua interferência na evolução das encostas e
pelas implicações socioeconômicas associadas aos seus impactos sobre a sociedade.
2.2.2. Classificação dos Movimentos de Massa
Os movimentos de massa são classificados levando-se em consideração diferentes
critérios como a velocidade, o tipo de material e a geometria da massa mobilizada. Dentre
esses sistemas de classificação destaca-se a proposta de VARNES (1978) apud BRASIL
(2013), já que essa definição é a mais utilizada e adotada pela International Association for
Engineering Geology and Enviromment (IAEG). Nessa classificação, os movimentos de
massa são divididos em quedas, tombamento, escorregamentos e corridas, expansões
laterais, corridas/escoamentos e movimentos combinados, conforme segue:
Os movimentos de massa são diferenciados em função da sua geometria, tipo de
material, deformação e velocidade. Esses movimentos de massa podem ser classificados
em cinco categorias principais:
- Rastejo: é definido como um movimento de terra lento, seu deslocamento resultante
ao longo do tempo é mínimo, podendo ser contínuo ou pulsante, estando associado a
alterações sazonais, ele não apresenta ruptura bem definida e esse movimento afeta
grandes áreas.
- Escorregamentos: são caracterizados por movimentos rápidos, limites laterais e
profundidades bem definidas. Podem ocorrer isoladamente no tempo e no espaço
(escorregamentos esparsos) ou simultaneamente (escorregamentos generalizados),
afetando as áreas consideráveis das encostas. Podem movimentar solo, solo e rocha ou
somente rocha.
- Quedas: são extremamente rápidas e envolvem blocos e lascas de rochas em
movimento tipo queda livre. Ocorre em encostas íngremes, sendo potencializadas pela
dilatação e contração da rocha e descontinuidades.
16
- Tombamentos: são movimentos mais lentos que as quedas e ocorrem principalmente
em taludes de corte, nos quais a mudança de geometria acaba desconfinando as
descontinuidades do talude.
- Corridas de massa: formado por uma massa de comportamento líquido viscoso, de
alto poder destrutivo e de transporte, de extenso raio de alcance.
Alguns desses movimentos podem ser vistos na Figura 2.1 a seguir.
Figura 2.1 – Tipos de movimento de massa (Brasil, 2012)
17
2.2.3. Principais causas dos movimentos de massa
As causas dos movimentos de massa podem ser dividas em externas e internas. As
externas são solicitações que provocam um aumento das tensões cisalhantes sem que haja
um aumento da resistência ao cisalhamento do material da encosta. Essas solicitações
estão relacionadas ao aumento da declividade da encosta por processos de erosão ou
escavações feitas pelo homem ou a deposição de material na parte superior da encosta
(BECKER, 2014).
Entre as causas externas mais comuns estão os movimentos de massa induzidos por
cortes excessivos no pé das encostas durante a construção de rodovias e à forma de
ocupação desordenada das encostas pelo homem. Nesse tipo de ocupação os principais
problemas estão associados aos cortes e aterros, efetuados para se criar uma região plana
para a construção de moradias, problemas de drenagem das águas servidas e águas
pluviais e ao lançamento inadequado de lixo.
As causas externas provocam um aumento das tensões de cisalhamento ao longo da
superfície potencial de ruptura. Se essas tensões induzidas se igualarem à resistência ao
cisalhamento disponível, do material da encosta, ocorrerão os movimentos de massa.
As causas internas são aquelas que provocam um movimento de massa sem que haja
modificações das condições superficiais, ou seja, sem que ocorra aumento das tensões
cisalhantes e sim uma redução da resistência ao cisalhamento do material da encosta. As
causas internas mais comuns estão associadas a um aumento da poropressão, decréscimo
da coesão do material do talude e variações do lençol freático (BECKER, 2014).
As causas internas estão relacionadas principalmente á presença de agua que pode
afetar a estabilidade da encosta de diferentes maneiras. No interior da massa do solo a
agua pode estar presente na zona de aeração, acima do lençol freático. Na zona de aeração
o solo está parcialmente saturado e a agua forma meniscos capilares entre as partículas de
solo que atrai uma de encontro a outra. Essa força adicional entre as partículas do solo,
denominada sucção, faz com que ocorra um aumento da resistência ao cisalhamento do
solo.
18
A água da chuva que se infiltra na encosta reduz estas forças de contato entre as
partículas de solo e, consequentemente, provoca uma redução da resistência disponível.
A água que se infiltrou no solo e atingiu a zona de saturação pode provocar também um
aumento do nível do lençol freático. Na zona de saturação a pressão da água reduz as
forças de contato entre as partículas do solo reduzindo assim a tensão efetiva e
consequentemente a resistência ao cisalhamento de forma que pode ocorrer a ruptura da
encosta sem haver a necessidade de que ela esteja saturada.
Os movimentos de massa também podem ser deflagrados por um rebaixamento rápido
do lençol freático. Esse tipo de movimentos é comum nas encostas localizadas ao longo do
das margens dos rios. A variação de nível de água do rio interfere no nível de água
subterrânea (lençol freático) de suas margens. Nos momentos em que o nível de água do
rio aumenta o nível da agua subterrânea tende a acompanhar esse movimento. Quando
há um rebaixamento rápido do nível do rio, o nível de água subterrânea pode não
acompanhar esse rebaixamento, deixando uma região de encosta saturada, acima da
superfície crítica de escorregamento, o que aumenta o peso do solo, diminui as tensões
efetivas com consequente redução da resistência ao cisalhamento disponível.
Portanto, os fatores deflagradores dos movimentos de massa estão associados às
causas externas que fazem com que ocorra um aumento das tensões solicitantes e às
causas internas que promovem uma redução da resistência ao cisalhamento disponível.
Taludes ou encostas naturais podem ser definidos como superfícies inclinadas cujo
substrato é de natureza terrosa, rochosa ou mista (solos e rochas), originados por
diferentes processos geológicos e geomorfológicos. Podem apresentar modificações de
origem antrópica como cortes, desmatamentos, introdução de cargas etc. O termo encosta
é usualmente empregado em estudos de caráter regional, enquanto talude de corte é
entendido como um talude modificado por escavações antrópicas de origens diversas.
Talude artificial refere-se ao declive de aterros construídos a partir de materiais de
diferentes granulometrias e origens, como rejeitos industriais, urbanos e de mineração.
Escarpas são trechos de encosta caracterizados por altas declividades, em que
predominam amplamente os fenômenos de queda de blocos.
19
2.2.4. Ações antrópicas
O homem constitui o mais importante agente modificador da dinâmica das encostas.
O avanço das diversas formas de uso e ocupação, para áreas naturalmente suscetíveis aos
movimentos gravitacionais de massa, acelera e amplia processos de instabilização. As
principais interferências antrópicas indutoras de escorregamentos são:
Lançamento e concentração de águas pluviais e/ou servidas:
Segundo SANTOS & ASSUNÇÃO (2005), as águas residuárias (AR) são as utilizadas
diariamente pela população no asseio pessoal, lavagem de roupas, utensílios, preparação
de alimentos, perdas e outros fins, que retornam ao ambiente de modo controlado ou não.
São perenes, sistemáticas e previsíveis em seus volumes diários, os quais variam com a
taxa de ocupação do solo, o valor do coeficiente de consumo per capita de água e os
hábitos da população. Por serem bem distribuídas são infiltráveis, sobretudo quando o solo
se encontra desprotegido, cortado e expondo camadas permeáveis. Devido a sua
distribuição têm baixa capacidade de provocar erosões das faces dos taludes de corte
antropizados, bem como inundações ou assoreamento das partes baixas do relevo, ou
sobrecarregarem os sistemas rudimentares de drenagem existentes. Podem, entretanto,
infiltrar-se pelas faces dos taludes, após serem descartadas em sua crista, predispondo-os
a rupturas. Os volumes totais anuais de AR, descartados pela população em uma área no
topo das encostas e taludes de corte, são surpreendentemente elevados e comparáveis
aos volumes precipitados pelas chuvas (SANTOS & ASSUNÇÃO, 2005).
Remoção da cobertura vegetal;
O desmatamento de uma encosta gera uma série de efeitos que reduzem o coeficiente
de segurança dessa mesma encosta, pois cessa a proteção realizada pelas partes aéreas da
floresta, reduz os efeitos mecânicos do sistema radicular por deterioração dos tecidos
vegetais e também a intercepção e evapotranspiração, fazendo com que os efeitos
climáticos ocorram diretamente sobre o solo (BECKER, 2014).
20
Segundo GRAY (1995) na medida em que se remove a vegetação das encostas, tem-se
um incremento do enfraquecimento e desestabilização solos das encostas. Segundo esse
autor, um dos primeiros estudos sobre esta questão foi conduzido por BISHOP & STEVENS
(1964), ao investigarem áreas no sudeste do Alaska, verificaram um grande aumento na
frequência dos escorregamentos e na área por eles afetada, após a derrubada de árvores.
Eles afirmam que os escorregamentos são devidos à deterioração e à destruição gradual
do sistema de raízes. Nesse sentido, KOZCIAK (2005, apud GRAY, 1995) afirma que a
remoção da sobrecarga e, consequentemente, a eliminação da ação dos ventos sobre a
vegetação aumenta de imediato a segurança de uma vertente. Mas, ao cabo de um
determinado tempo, ocorre novamente o incremento da instabilidade em virtude da
deterioração do sistema radicular e da eliminação da redistribuição da água da chuva.
GRAY & LEISER (1982) atribuem, como efeitos favoráveis: (a) a redistribuição da água
proveniente das chuvas pelas copas das árvores, retardando e diminuindo a quantidade
efetiva de água que se infiltra no solo; (b) a evapotranspiração retirando água do solo; (c)
acréscimo da resistência do solo devido às raízes pelo reforço mecânico e pelo
escoramento (raízes pivotantes e profundas). Como efeitos desfavoráveis, esses autores
relacionaram: o efeito alavanca, força cisalhante transmitida pelos troncos das árvores ao
terreno, quando suas copas são atingidas por ventos; o efeito cunha, pressão lateral
causada pelas raízes ao penetrar em fendas, fissuras e canais do solo ou rocha; a
sobrecarga vertical causada pelo peso das árvores, que pode ter um efeito benéfico, ou
não, na estabilidade, em vista à inclinação das encostas e às características do solo.
Mudanças inadequadas na geometria (altura e inclinação);
Segundo MENDONÇA (2013), a execução de cortes e aterros para implantação de
moradias ou acessos pode gerar descalçamento de corpos rochosos; exposição das
camadas subjacentes do solo e atuação de processos erosivos, aumento da declividade do
talude e das solicitações cisalhantes. Por isso, a região deve ser estudada cuidadosamente
antes de qualquer intervenção e caso haja necessidade, obras de contenção devem ser
executadas antes dos cortes.
21
Aplicação de sobrecargas
Segundo MENDONÇA (2013), a construção desordenada de moradias e o lançamento
de detritos (lixo, entulho e aterro) sobre a superfície da encosta, geram o sobre
carregamento do terreno natural, aumentando as solicitações; formando uma camada de
material bastante fofo, macroporoso, altamente permeável, de péssimas propriedades
geomecânicas e que rompem sob a forma de fluxo.
2.3. Conceito de perigo, suscetibilidade, vulnerabilidade e risco
2.3.1. Considerações Iniciais
Atualmente, tanto nas publicações especializadas quanto na mídia em geral, há muita
confusão terminológica em relação à prevenção de desastres naturais. Assim, visando
padronizar termos e conceitos, buscou-se uma conceitualização simplificada que, ao
mesmo tempo, obedecesse aos padrões internacionais e fosse tecnicamente aceita pela
comunidade científica.
2.3.2. Perigo
É necessário, inicialmente, diferenciar os termos ameaça e perigo, já que muitas vezes
eles são usados como sinônimos. Segundo Dicionário Aurélio (FERREIRA, 1979), o termo
ameaça (do latim minacia) significa palavra ou gesto intimidativo, promessa de castigo ou
malefício, ou seja, é um mal gerado de pessoa para pessoa. De forma contrária, o perigo
(do latim periculu) é uma circunstância que prenuncia um mal para alguém ou alguma
coisa. Este significado de perigo encaixa-se perfeitamente no conceito proposto pela ONU,
como sendo um fenômeno físico ou um processo natural potencialmente prejudicial, que
pode causar sérios danos socioeconômicos as comunidades expostas (ISDR, 2004; UNDP,
2004).
22
Com respeito às relações existentes entre perigo e desastre, TOBIN & MONTZ (1997)
definem perigo como uma situação potencialmente prejudicial, enquanto que, desastre é
a materialização do perigo (Figura 2.2).
Figura 2.2 – Relação entre perigo e desastre (adaptada de TOBIN & MONTZ, 1997)
Ou seja, se o evento extremo possui potencial de ocorrência, porém fora de um sistema
social, o mesmo não representará perigo (exemplo: um vulcão em um deserto). Mas, se
ocorrerem ou se deslocarem sobre um sistema social, tem-se uma situação potencial de
danos a pessoas e bens (perigo).
A Tabela 2.3, a seguir, apresenta mais algumas definições de perigo encontradas na
literatura.
23
Tabela 2.3 – Definições de perigo encontradas na literatura (adaptado de GULLO, 2015)
2.3.3. Suscetibilidade
A relação do homem com a natureza evoluiu ao longo da história. Graças ao maior
conhecimento técnico e científico sobre os elementos da natureza, a humanidade saiu do
quadro de total submissão e aceitação fatalista dos fenômenos ambientais, e, portanto, a
capacidade de prever os perigos (conforme definido no item 2.3.1) passou a ser primordial
no desenvolvimento de processos de gestão de risco para redução dos desastres (CRISTO,
2002).
O termo ‘suscetibilidade’ pode ser definido como uma característica inerente ao meio,
que expressa a probabilidade espacial de ocorrência de eventos ou acidentes, sob
determinadas condições (LUCENA, 2006). Na presente pesquisa, as áreas susceptíveis a
deslizamentos são consideradas como aqueles locais que possuem condicionantes
naturais ou artificiais que indicam sua predisposição à ocorrência de movimentos de
massa.
Ressalta-se que a suscetibilidade não está diretamente relacionada, portanto, às
consequências que esses eventos podem gerar, mas apenas com a probabilidade espacial
de ocorrerem. As consequências estão associadas ao conceito de vulnerabilidade,
conforme será exposto no item 2.3.3.
24
2.3.4. Vulnerabilidade
A vulnerabilidade é uma condição intrínseca ao elemento ou comunidade que está
diretamente relaciona as consequências danosas que um dado evento pode causar, ou
seja, o grau de perdas. Segundo JANCZURA (2012), a vulnerabilidade refere-se aos
indivíduos e às suas suscetibilidades ou predisposições a respostas ou consequências
negativas.
No Manual de Planejamento da Defesa Civil (CASTRO, 1998), a vulnerabilidade é
definida como a relação existente entre a intensidade do dano (ID) e a magnitude da
ameaça (MA), caso ela se concretize como evento adverso, conforme equação 1, a seguir.
V = ID / MA (1) A Tabela 2.4 apresenta as diferentes definições empregadas a respeito de
vulnerabilidade na literatura.
Tabela 2.4 – Definições de vulnerabilidade encontradas na literatura (adaptado de GULLO, 2015)
25
2.3.5. Risco
A maioria dos seres humanos está sujeita a se envolver em algum tipo de evento
perigoso todos os dias, levando uma série de pesquisadores a tentar entender como as
pessoas compreendem o risco. Segundo LUCENA (2006), o risco é a relação entre a
probabilidade de que uma ameaça de evento adverso ou acidente se concretize, com o
grau de vulnerabilidade do sistema receptor a seus efeitos. O grau de risco dimensiona a
probabilidade de ocorrência de danos, segundo uma escala de intensidade.
O risco também pode ser definido como sendo a probabilidade de ocorrer
consequências danosas ou perdas esperadas (mortos, feridos, edificações destruídas e
danificadas, etc.), como resultado de interações entre um perigo natural e as condições de
vulnerabilidade local (UNDP, 2004). De forma simplificada, risco é a probabilidade
(mensurável) de um perigo transformar-se num desastre. No entanto, a gravidade dos
desastres também pode estar vinculada aos elementos sociais expostos, ou seja, a
fragilidade do ambiente socialmente construído (vulnerabilidade). Aumentando a
frequência do perigo e a intensidade da vulnerabilidade, aumentará consequentemente o
risco de um perigo transformar-se num desastre (MARCELINO, 2008).
Onde quer que seja discutido, parece haver um consenso na essência das definições
de risco, como sendo constituído pela probabilidade de um evento adverso ocorrer e a
magnitude das suas consequências (RAYNER & CANTOR, 1987 apud SALVATI, 2014). De
acordo com RAYNER & CANTOR (1987), esta definição pode ser adequada para definir risco
de cálculos da engenharia, mas bastante enganador em uma forma mais ampla, mais
intratável, a nível de grande escala na gestão de risco social. Mas todo conceito de risco
têm um elemento em comum; uma distinção entre realidade e possibilidade (SALVATI,
2014). Mais definições de risco e fórmulas relacionadas ao conceito de risco encontradas
na literatura são expostas na Tabela 2.5 e Tabela 2.6.
26
Tabela 2.5 – Definições de risco encontradas na literatura (adaptado de GULLO, 2015)
Tabela 2.6 – Fórmulas relacionadas ao conceito de risco encontradas na literatura (adaptado de GULLO, 2015)
27
Por fim, após revisão bibliográfica acerca dos termos relacionados à temática da gestão
de risco, considera-se para o presente trabalho as seguintes definições:
Risco = Suscetibilidade x Vulnerabilidade
Onde:
Suscetibilidade = probabilidade de ocorrência de um desastre
Vulnerabilidade = característica relacionada às consequências de um desastre,
relacionada diretamente (inversamente proporcional) a percepção de risco, ou
seja, quanto maior a percepção de risco, menor a vulnerabilidade e vice-versa.
Figura 2.3 – Fatores que envolvem a análise de risco (adaptado de MARCELINO, 2008)
Neste contexto, conforme observado na Figura 2.3, torna-se efetivamente necessário
o conhecimento da percepção de risco da população para orientar a elaboração de mapas
de risco e definir áreas prioritárias para intervenção por parte da Defesa Civil.
28
2.4. Percepção de risco
2.4.1. Considerações iniciais
Muitas campanhas de prevenção são feitas com base na crença de que as pessoas são
racionais e que precisam, apenas, serem informadas adequadamente sobre os perigos que
podem lhes ocorrer. Neste caso, se as pessoas receberem informações sobre tais perigos,
irão evitá-los.
Entretanto, a percepção de riscos está intimamente ligada a crenças e valores. Embora
o risco possa ser definido como a probabilidade de ocorrência de um evento indesejado e
suas consequências, a percepção de risco não pode ser considerada apenas em função da
probabilidade real desse dano, mas depende de outros fatores mais complexos, aspectos
culturais e pessoais, o que revela, dentro de uma mesma situação e contexto, visões
diferenciadas e conflituosas acerca da experiência do risco, cabendo, portanto, à psicologia
social estabelecer forma e parâmetros para que o entendimento se complete. (VARGAS,
2006).
Segundo LINDEN (2004), a percepção de risco é a avaliação subjetiva da probabilidade
de um tipo especifico de acidente acontecer e como estamos preocupados com as
consequências. Para perceber o risco deve-se avaliar a probabilidade, bem como as
consequências de um resultado negativo. Percepção de risco vai além do indivíduo, é uma
construção social e cultural refletindo valores, símbolos, história e ideologia, de maneira
que variabilidade da existência social e humana faz com que não se deva simplesmente
presumir que as pontuações e classificações de idênticos instrumentos têm os mesmos
significados em diferentes contextos (WEINSTEIN, 1989 apud LINDEN, 2014).
Devido a esta complexidade, a percepção de risco passou a ser vista como um
obstáculo à tomada de decisão racional. O conflito entre especialistas e o público sobre a
percepção de risco está na base dos dilemas sociais de gestão de risco (SJÖBERG et al.,2004
apud HEITZ, 2009).
29
2.4.2. Fatores que influenciam a percepção de risco
A percepção de risco apareceu no palco da política como um conceito muito
importante na década de 1960. Ele foi apontado como um determinante principal da
oposição pública à tecnologia, principalmente à tecnologia nuclear (SLOVIC et al.,1979,
SLOVIC, 1992, 2000 apud HEITZ, 2009).
SOWBY (1965) apud LINDEN (2004) sugeriu que comparações de risco deveriam ser
feitas. O risco de, por exemplo, fumar, dirigir um carro ou usar transporte público é muito
maior do que o risco de viver perto de uma usina nuclear, então por que não aceitar a
energia nuclear? Esta abordagem teve pouco efeito imediato em fazer as pessoas se
tornarem dispostas a aceitar os riscos de tecnologia, talvez não muito
surpreendentemente. STARR (1969) apud LINDEN (2004), em seguida, apontou que a
sociedade parecia aceitar os riscos na medida em que eles são associados com benefícios,
e eram o que ele chamou de riscos voluntários. Segundo LINDEN (2004), o trabalho de
Starr gerou muito interesse em gestão de riscos e um despertar do interesse pela questão
de como as pessoas percebem, toleram e aceitam os riscos.
Influência de experiências passadas
É amplamente aceito que as experiências passadas exercem forte influência sobre a
percepção do risco, particularmente na realização de atividades cotidianas, definindo o
conceito pessoal de risco.
Tem sido demonstrado que as pessoas tendem a superestimar a sua própria
experiência, subestimando o risco se ainda não foram sujeitas a danos em uma
determinada situação ou se não conhecem alguém que tenha sido afetado (SANDERS &
MCCORMICK, 1993; apud LINDEN, 2004). Desta forma, aplicando ao contexto do presente
trabalho, os moradores que já sofreram algum tipo de dano devido a deslizamentos, ou
que conhecem alguém próximo que tenha sofrido, possuem a tendência de perceber
melhor o risco do que aqueles moradores que nunca se encontraram nesta situação.
30
Influência da frequência
Há uma tendência a se superestimar a probabilidade daqueles acidentes que estão
mais facilmente acessíveis na memória ou que tem maior atenção por parte dos meios de
comunicação (SANDERS & MCCORMICK, 1993; apud LINDEN, 2004). Como exemplo,
podemos citar os acidentes de trânsito e violência urbana. Esses dois fatores possuem
frequências de ocorrência muito maiores que a frequência de desastres relacionados a
deslizamentos, tanto na vida cotidiana do indivíduo que presencia esses tipos de
ocorrências), quanto nas notícias televisivas ou jornalísticas. Desta forma, há uma
tendência a se perceber melhor estes riscos, deixando de lado as preocupações com outros
riscos menos frequentes.
Influência da familiaridade com a situação
Estudos indicam que as pessoas tendem a ser fracas avaliadores de risco, conduzidas
por um otimismo gerado pela familiaridade com a situação de perigo e excesso de
confiança nas suas próprias habilidades.
Um aspecto limite dessa tendência é a negação do risco (SJÖBERG et al.,2004 apud
HEITZ, 2009). Expressões como “isso não vai acontecer comigo” traduzem um excesso de
confiança em evitar o perigo que produz um viés na avaliação do risco (SANDERS &
MCCORMICK, 1993; apud LINDEN, 2004). Esse tipo de atitude pode decorrer de um
otimismo irreal, que corresponde a uma crença de que eventos negativos não irão ocorrer,
ou de uma ilusão de controle, quando as pessoas superestimam a sua habilidade para lidas
com situações de risco.
Influência da expectativa de vida
A Teoria da Homeostase do Risco, proposta por WILDE (1982) citada por NOYES (2001,
apud LINDEN, 2004) a partir de pesquisas sobre o comportamento de motoristas, sugere
que as pessoas tendem a manter um certo nível de risco ou perigo a qualquer momento,
em função dos benefícios que possa vir a auferir. A decisão de correr riscos quanto à saúde
31
ou segurança é baseada na percepção relativa do valor do futuro quanto ao valor do
presente.
Segundo essa teoria, indivíduos com grande expectativa com relação ao futuro tendem
a correr menos riscos no presente. Neste contexto, o grau de escolaridade e condições
socioeconômicas da população estudada, muito abaixo de desejável, fazem com que estas
expectativas acerca do futuro sejam menores, e, portanto, se expõem mais facilmente ao
risco.
Influência da cultura
A influência da cultura na percepção de risco está implícita no reconhecimento de que
se trata de um fenômeno de natureza psicossocial (SJÖBERG et al.,2004 apud HEITZ, 2009).
A cultura, definida como “conjunto de padrões de comportamento, crenças,
conhecimentos, costumes etc. que distinguem um grupo social” (FERREIRA, 1979),
influencia a visão do mundo e conforma a memória das experiências individuais. A cultura
afeta o modo como as pessoas pensam, percebem informações do ambiente e reagem
diante de situações do cotidiano, tendo um papel importante no modo como avaliam a sua
exposição a perigos.
Estudos, com base na ideia de contagio social, sugerem que a percepção individual é
influenciada pela percepção de outros indivíduos que compartilham da mesma rede de
relacionamentos sociais (SHERER e CHO, 2003 apud LINDEN, 2004). Da mesma forma como
as redes interpessoais influenciam a adoção de ideias, inovações e comportamentos, a
percepção de risco seria desenvolvida em diferentes grupos por meio da adoção de
comportamentos comuns pelos seus membros. Isso pode ser verificado por meio da
observação de diferentes comunidades que reagem de forma diferente a uma mesma
situação de risco (SHERER e CHO, 2003 apud LINDEN, 2004).
32
2.4.3. Relativização do risco
A decisão de evitar o perigo, a partir da percepção de seu risco, implica na avaliação
dos benefícios e prejuízos envolvidos. Nesse caso, a percepção de risco está associada não
apenas a fatores culturais, como a tendências pessoas em busca de conforto e prazer
(LINDEN, 2004).
Para muitas pessoas, por exemplo, a exposição a raios solares para fins de
bronzeamento, além de prazerosa, é percebida como saudável, embora existam
advertências sobre os riscos para a saúde à longo prazo. Por outro lado, em um ambiente
de trabalho, a adoção de um comportamento seguro, como o uso de equipamentos de
proteção individual, pode implicar em elevados custos pessoais em termos de desconforto
em troca da redução de risco de acidentes. Nesse último caso, os custos só são tolerados
se a severidade do prejuízo é percebida como relativamente alta (WICKENS et al, 1997
apud LINDEN, 2004).
SJÖBERG et al. (2004 apud HEITZ, 2009) abordou a dificuldade de adoção de hábitos
seguros, voltados para o longo prazo diante da busca pelo prazer e conforto imediatos.
Argumenta que as pessoas em geral subestimam os riscos associados a seus estilos de vida.
Neste contexto, compreende-se a opção, por exemplo, de descartar o lixo em locais
inadequados, mesmo sabendo os prejuízos que podem trazer. Os indivíduos que optam
por isso estão buscando o conforto imediato, já que para descartar o lixo em local
adequado (longe de suas residências) demandaria esforço e mudança de hábitos.
Estudos indicam que, em geral, as pessoas se expõem mais ao risco quando as
alternativas a essa exposição são ruins a partir de um conhecimento acumulado. “Risco”
está associado a algo adverso sujeito a incerteza. Porém, toda “incerteza” condiciona a
duas opções, neste caso, tanto o adverso como também o “favorável”, que, por sua vez,
indica uma “oportunidade” para o sujeito (LIEBER & LIEBER, 2002 apud MENDONÇA &
PINHEIRO, 2012). Portanto, se existe “risco”, existe “oportunidade” (O), que poderia ser
definida como:
O = (1-P) x C
33
Sendo P a probabilidade de ocorrência de um desastre e C, neste caso, consiste nas
consequências desfavoráveis que seriam evitadas caso não ocorresse o evento adverso. C
pode ser visto também como a manutenção das condições consideradas propícias pelo
morador (MENDONÇA & PINHEIRO, 2012). Desta forma fica claro que o que é visto como
“risco” para uns pode ser ressaltado como “oportunidade” para outros.
Neste contexto, MENDONÇA & PINHEIRO (2012) fazem o seguinte questionamento: “A
ocupação de encostas com alta susceptibilidade a deslizamentos é resultado da
“ignorância” ou da percepção de uma “oportunidade”? ”.
2.4.4. Avaliação da percepção de risco
As pesquisas sobre percepção de risco evoluíram com a contribuição de diversos
autores, abrangendo discussões em certos aspectos consensuais e em outros divergentes.
Entretanto, a pesquisa sobre o tema ainda é incipiente, muito provavelmente pelos
incentivos mais voltados às ações estruturais (obras de engenharia), em detrimento de
ações de âmbito social (GULLO, 2015).
Há uma grande necessidade de desenvolver no Brasil uma cultura de risco que
privilegie a prevenção e valorize o engajamento dos indivíduos e grupos sociais expostos a
situações de risco. O estudo da percepção de risco associado a deslizamentos é uma forma
de dar voz aos moradores, aumentando sua participação na gestão de desastres e obtendo
dados que possam direcionar ações socioeducativas para que haja maior compreensão do
morador sobre como se prevenir ao impacto de um desastre, diminuindo a sua
vulnerabilidade e aumentando a sua resiliência, e, portanto, evitando danos matérias e de
vidas humanas (Figura 2.4).
34
Figura 2.4 – Esquema da relação entre percepção der risco e vulnerabilidade
A percepção de risco pode ser avaliada com o mesmo tipo de instrumento utilizado
pela psicologia social para medir crenças e atitudes. Podem ser utilizadas escalas de
julgamento para avaliação da percepção de risco, partindo de 0 (sem risco) a um valor
máximo, que pode ser definido como “um risco extremamente grande” (SJÖBERG et
al.,2004 apud HEITZ, 2009).
2.5. Política atual de Gestão de Riscos
As informações apresentadas neste item são baseadas na apresentação realizada na
CONCLIMA (Conferência Nacional de Mudanças Climáticas), 2013, intitulada “Mudanças
Climáticas, Extremos e Desastres Naturais” (SCHADECK, 2013).
Até os anos 70, os desastres eram vistos como sinônimos de eventos extremos da
natureza (imprevisíveis e inevitáveis), nos quais a sociedade tinha papel passivo e
dependente. A magnitude do desastre (medida quantitativa) dependia apenas da
magnitude da própria ameaça. Portanto, o foco era: “Como devemos responder aos
desastres ou como devemos nos preparar para o próximo desastre? ”
A prevenção dos acidentes associados a deslizamentos de encostas já fazia parte da
gestão do território e da política de desenvolvimento urbano, constituindo-se, portanto,
em uma atribuição municipal. Já em 1966, a cidade do Rio de Janeiro instituiu um
departamento específico para tratar da prevenção de deslizamentos em encostas – o
Instituto de Geotécnica, atual Fundação Geo-Rio.
Já a partir dos anos 70, os desastres passaram a ser caracterizados pelos destroços
físicos, ou seja, pela associação com seus efeitos produzidos (intensidade - medida
35
qualitativa). Surge a percepção de que uma mesma ameaça pode apresentar diferentes
resultados em diferentes tipos de estrutura. Surgiu o interesse pela aplicação de medidas
preventivas e mitigatórias (medidas estruturais - obras físicas de engenharia).
Nos anos 80 e 90, surgiu o conceito de que o impacto de um desastre depende da
capacidade da comunidade na mitigação dos efeitos do desastre e na recuperação dos
danos e prejuízos. Desta forma, a atenção voltou-se à redução das vulnerabilidades sociais
e econômicas. Assim, a estratégia concentrou-se na redução de vulnerabilidades. Porém,
a sociedade ainda era vista como passiva, cabendo a ela apenas adaptar-se para saber lidar
com o risco.
Somente a partir do final dos anos 90 que surgiu a percepção de que os processos de
desenvolvimento interferem, modificam e ampliam os padrões das ameaças. Nesta
perspectiva, os desastres são o produto de processos de transformação e crescimento da
sociedade, que não garantem uma adequada relação com o ambiente natural e o
construído que lhe dá sustento. Surgiu o conceito de comunidades resilientes.
Iniciou-se, portanto, a busca por uma estratégia concentrada na ‘Gestão de Risco’. Foi
criado o “PLANO NACIONAL DE GESTÃO DE RISCOS E RESPOSTA A DESASTRES NATURAIS”.
Esse plano prevê quatro linhas de ações: mapeamento, prevenção, monitoramento e
alerta, e resposta ao desastre (Figura 2.5).
Figura 2.5 – Linhas de ações do Plano Nacional de Gestão de Riscos (SCHADECK, 2013)
36
A redução da vulnerabilidade dos cenários e das comunidades em risco é sempre
possível em todos os casos de desastres. A redução do grau de vulnerabilidade ou, dito de
outra forma, o incremento do nível de segurança intrínseca dos sistemas é conseguido por
intermédio de:
– medidas não-estruturais;
– medidas estruturais.
As medidas não-estruturais relacionam-se com a urbanização, com a mudança cultural
e comportamental e com a implementação de normas técnicas e de regulamentos de
segurança e têm por finalidade permitir o desenvolvimento das comunidades em harmonia
com os ecossistemas naturais ou modificados pelo homem.
As medidas estruturais, também chamadas de medidas de “pedra-e-cal”, têm por
finalidade aumentar a segurança intrínseca dos biótopos humanos, por intermédio de
atividades construtivas e intervenções de engenharia.
As medidas estruturais e não-estruturais são complementares e, embora as medidas
estruturais sejam mais populares entre os administradores municipais, as medidas não-
estruturais costumam ser mais efetivas. É de extrema importância que as administrações
locais sejam convencidas sobre a necessidade de reduzir os riscos de desastres e sobre a
efetividade das medidas não-estruturais.
Neste contexto, a proposta do presente trabalho é a definição de um método para
classificação da vulnerabilidade de uma comunidade em área de risco a partir da análise
da percepção de risco desta população, de forma a orientar as ações preventivas,
aumentando a eficiência da gestão de riscos.
37
3. Investigação da percepção de risco no Morro da
Formiga
3.1. O Morro da Formiga
3.1.1. Apresentação da comunidade Morro da Formiga
A favela do Morro da Formiga está situada no subdistrito da Tijuca, na zona norte da
cidade do Rio de Janeiro. Dividida em sete áreas (Cascata, Vila Rica, Coruja, Niteroizinho,
Basanha, Rua 3 ou Geraldo Braga e Rocinha), a comunidade se caracteriza pela presença
de vastas porções de mata virgem, sendo que uma reserva ecológica, o Parque Nacional
da Tijuca, forma divisa com boa parte das habitações situadas, especialmente, na parte
alta da comunidade (Figura 3.1) (SANTOS, 2013).
A origem do nome ainda provoca certa discussão. Uma das histórias que se conta na
comunidade informa que esse nome surgiu Morro da Formiga, no início da década de
1970, na época em que a Prefeitura abriu as ruas 2 e 3, quando houve uma verdadeira
invasão de formigas no morro. Então, os funcionários da Prefeitura que tentavam
solucionar o problema diziam que, quando para lá dirigiam, iam para o “morro das
formigas”. Outra versão aceita para a origem do nome “Morro da Formiga”, se refere aos
primeiros moradores que, observando as filas de pessoas subindo e descendo do morro,
compararam o movimento ao das formigas, fazendo com que o nome acabasse se
popularizando entre os moradores e vizinhanças. (Projeto Condutores de Memória, 2006).
38
Figura 3.1 - Vista aérea do Morro da Formiga (Google Maps, 2015)
Na Figura 3.2, pode-se observar o mapa de uso e cobertura do solo da bacia
hidrográfica do Rio Maracanã e localização do Morro da Formiga.
39
Figura 3.2 – Mapa da bacia hidrográfica do Rio Maracanã e localização do Morro da Formiga (SANTOS, 2013)
40
Grande parte da área da favela está situada em terreno íngreme, o que exige grande
esforço físico para alcançar as partes mais altas, onde está localiza a escola, a sede da
associação de moradores e um posto de saúde (conhecida como POUSO). Com isso, os
serviços de moto-táxi e o transporte por Kombi são muito utilizados pelos moradores,
prestadores de serviços e visitantes.
De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2015), a
favela possui uma população de 4.312 habitantes. Destes, 15% estão incluídos na faixa
etária de 0 a 8 anos, cabendo destacar que 13% das famílias da localidade abrigam crianças
desta idade. De acordo com o censo 2010 do IBGE, a média de moradores por unidade
domiciliar é de 3,37, sendo que 43% deles possuem mais de três membros e 13% não
possui integrantes do sexo masculino, percentual significativamente superior à média
apresentada pelo restante da cidade e pelo próprio subdistrito da Tijuca.
Apenas 48% das residências são efetivamente ligadas à rede pública de abastecimento
de água, dado que evidencia parte das carências de infraestrutura enfrentadas pela
comunidade. Os indicadores de renda são igualmente insatisfatórios, já que 36% das
famílias possuem renda per capita de até metade de um salário mínimo e 39% obtêm
renda per capita de até um salário mínimo. Ainda no que diz respeito a esse indicador,
apenas 10% das famílias do Morro da Formiga recebem dois ou mais salários mínimos per
capita (se considerarmos a totalidade da cidade do Rio de Janeiro, o que inclui outras
favelas, esse índice chega a 38%).
3.1.2. Um pouco de história
A partir da reforma urbana promovida pelo prefeito Pereira Passos entre 1902 e 1906,
a disposição das habitações na cidade do Rio de Janeiro sofreu profundas transformações.
Deslocado de regiões que em breve seriam inteiramente reconstruídas, um grande
contingente de pessoas pertencentes a extratos sociais desprivilegiados (em boa parte ex-
escravos e seus descendentes) passou a ocupar os até então desabitados morros da
cidade, neles erigindo moradias precárias e irregulares (SANTOS, 2013).
41
O processo de modernização urbanística empreendido pelo prefeito Pereira Passos foi
acompanhado pelo crescimento das favelas. A demolição de habitações empobrecidas da
área central da cidade e a construção de moradias populares, sobretudo na periferia da
cidade, não foi suficiente para absorver toda a população que antes residia na área central.
Parte dos antigos moradores do centro permanece na região, ocupando encostas de
morros, provocando o crescimento acelerado das favelas, que passaram a fazer parte da
paisagem carioca (SANTOS, 2013).
Versões acerca da gênese de tais comunidades e da própria origem do termo “favela”
podem ser encontradas em GÉRSON (1965) e ZYLBERBERG (1992) apud SANTOS (2013).
Sob a ótica destes autores, a palavra teria sido usada pelos ex-combatentes da Guerra de
Canudos para designar uma zona do campo de batalha no sertão:
“Ao regressarem das expedições contra Antônio Conselheiro, [...]
receberam os soldados do Coronel Moreira César e do General Artur Oscar
alguns recursos para instalar-se em casa própria no Rio, e foi ali, nas abas da
Providência, que eles o fizeram, e logo disseram que era sua “favela” carioca,
numa alusão ao morro do sertão baiano de onde a artilharia legalista
bombardeava o reduto daqueles jagunços místicos (GÉRSON, 1965, p. 347). ”
Assim, os ex-combatentes de Canudos seriam os habitantes vanguardeiros da primeira
favela do Brasil, o Morro da Providência:
“Os soldados decidiram então vir à Capital da República solicitar apoio e
assistência do Governo. Estabeleceram-se no Morro da Providência que
dominava a Praça da República e, por conseguinte, o Quartel General do
Exército. Promessas oficiais, atrasos e indiferença os obrigaram a se adaptar ao
precário “habitat” onde se ergueram numerosos barracos. E assim nasceu a
primeira favela do Rio de Janeiro (ZYLBERBERG, 1992, p. 55). ”
Não há consenso sobre as raízes da comunidade que formou o Morro da Formiga. De
acordo com levantamento realizado pelo ICOS, imigrantes alemães e portugueses teriam
iniciado construções na região no ano de 1911. Anos depois, em 1934, o surgimento de
um loteamento nas imediações teria suscitado um número considerável de novas
edificações no morro. Por fim, a ocupação teria se expandido com base na presença de um
42
grande número de operários que chegaram à região motivados pelo eventual emprego de
sua mão de obra na construção das novas moradias. Ademais, visualizando no morro vastas
porções de terra ainda despovoadas, tais operários teriam optado pela instalação de suas
próprias famílias no local. (SANTOS, 2013).
Os trabalhadores aproveitavam a folga do fim de semana para construir seus barracos,
mas, na segunda-feira, vinha a polícia e botava tudo abaixo. Essa luta durou algum tempo,
até que tiveram a ideia de construir os barracos e ocupá-los imediatamente com seus
pertences, caracterizando a moradia e garantindo sua permanência. (Projeto Condutores
de Memória, 2006).
NOBRE (2009) apud SANTOS (2013) assegura que os núcleos habitacionais do Morro
da Formiga cresceram de fato somente a partir da década de 1940, período que teria
assistido à inauguração de uma fábrica na região conhecida como Muda, situada nas
proximidades do Morro. O empreendimento teria ofertado a abertura de grandes
quantidades de postos de trabalho, fator que então contribuiu para a atração de migrantes
oriundos do estado de Minas Gerais. Transcrevendo relatos de moradores da favela, Nobre
indica que:
“Dona Matilda nos falou a respeito da sua origem mineira e de como seus
pais haviam chegado ao Rio de Janeiro; disse-nos também o que já havíamos
ouvido no depoimento de outras pessoas, como Dona Zozoca e Nilza, sobre a
grande quantidade de mineiros que vieram morar no Morro da Formiga a partir
da década de 40 e que desde então compunham a maior parte dos moradores
(NOBRE, 2009, p. 22).”
A origem mineira de seus moradores possivelmente explique a forte presença de
tradições culturais como a Folia de Reis na favela. Encenada anualmente, a festividade,
além de ser uma manifestação folclórico-religiosa, congrega frações importantes dos
moradores e opera como elemento de coesão social e manutenção de identidades e
pertencimentos. (Projeto Condutores de Memória, 2006).
Outra manifestação cultural importante na comunidade é o samba, uma vez que a
tradicional escola de samba Império da Tijuca nasceu e está sediada no Morro da Formiga,
43
o que representa um elemento de orgulho e autoestima para os moradores. (SANTOS,
2013).
A atuação de moradores no decorrer da história de resistência e de fortalecimento da
comunidade é algo que tem sido valorizado nas atuais bandeiras de lutas da Formiga. Um
exemplo disso é que atualmente há uma forte demanda por parte de moradores para
identificar as ruas da comunidade com os nomes de antigos moradores, cujos destaques
se devem à contribuição à memória coletiva da favela. Mas para além do aspecto histórico
e cultural, a favela depara-se com uma série de problemas na contemporaneidade
(SANTOS, 2013).
A comunidade foi então ampliando em densidade demográfica e extensão territorial,
porém sem nenhum planejamento urbanístico e pouquíssima infraestrutura. No entanto,
em 1992, o Plano Diretor carioca defendeu que as favelas não fossem extintas, mas
urbanizadas e integradas à cidade. Um ano depois, surgiu o programa Favela-Bairro, com
o objetivo de oferecer saneamento e infraestrutura às comunidades, transformando-as,
enfim, em bairros. A análise do diagnóstico, no qual a prefeitura se baseou para
desenvolver o Favela-Bairro, mostrou que a comunidade do Morro da Formiga apresenta
vários problemas ambientais e de infraestrutura urbana. O esgotamento sanitário foi
considerado precário, pois se restringe a trechos de rede construídos na década de 1960,
os quais correspondem à área urbanizada do “Bairro da Cascata”; O abastecimento da água
na Favela da Formiga também pode ser considerado precário, pois a maioria dos
moradores tem acesso à água potável através do sistema de abastecimento próprio,
desenvolvido pelas Sociedades das águas. A drenagem pluvial está restrita aos cursos
d’água naturais, ou seja, a calha do rio Cascata e seus afluentes. (Santos, 2013).
A coleta de lixo na comunidade era realizada pelo Projeto Gari Comunitário, da mesma
forma que no Morro do Borel, há cerca de cinco anos. O programa contava com 13 garis
comunitários que faziam a coleta diariamente, porta a porta (PLAN, 1996:18). Porém,
segundo relato de diversos moradores, este projeto foi cancelado.
A Favela da Formiga encontra-se cercada por área com cobertura vegetal caracterizada
predominantemente por macega, distribuída de forma esparsa o que permite uma maior
exposição do solo aos processos de intemperismo e de erosão. Duas grandes áreas de
44
reflorestamento estão localizadas ao redor da favela, sob responsabilidade do Projeto
Mutirão Reflorestamento e, segundo dados da SMMA, o reflorestamento nesta área é
considerado concluído, ocupando uma área efetiva de 45,4 hectares com um total de
104.657 mudas plantadas, no período de 01/11/1997 a 01/01/2002. (SANTOS, 2013).
A área da favela da Formiga vem sendo atendida por ações da GEO RIO desde as chuvas
do verão de 1988 e é a comunidade que apresenta o maior número de intervenções na
área estudada. Das 24 intervenções registradas no Cadastro da Fundação, 14 foram no
Morro da Formiga, sendo que 10 destas são contenções em encostas (GEO Rio, 2015).
A grande necessidade de obras de contenções pode ser explicada pela grande
amplitude topográfica encontrada na Favela da Formiga, onde as cotas variam entre 60m,
na parte mais baixa e 330m na mais alta, e a morfologia da encosta é predominantemente
côncava, caracterizada pela bacia do rio Cascata, cuja circularidade é bem acentuada o que
explica a contribuição mais rápida de fluxos e de materiais ao canal principal.
A rua 18 de Outubro, localizada a jusante da favela é reconhecida como ponto crítico
de acúmulo de lixo e de sedimentos pela DCM, merecendo destaque o fato de que esta
rua foi identificada, pela DCM e pela COMLURB, como ponto crítico na década de 1980 e
permanece como tal atualmente, mesmo depois de uma década de intervenções do poder
público.
3.1.3. Histórico dos deslizamentos
A seguir, apresenta-se um mapa de registros de movimentos de massa no Estado do
Rio de Janeiro (Figura 3.3).
45
Figura 3.3 – Mapa de Registros de movimentos de massa no Estado do Rio de Janeiro de 1991 a 2012 (IBGE, 2015)
Em fevereiro de 1988, particularmente entre os dias 18 e 21 daquele mês, um evento
de chuvas torrenciais ocorreu na Cidade do Rio de Janeiro. Somente naquele curto período,
precipitações pluviométricas de até 449 mm em 4 dias e de 177mm em 24h foram
registradas em diferentes pontos do Município, em especial nos bairros que abrangem e
circunvizinham o Maciço Montanhoso da Tijuca. Como consequências, centenas de
acidentes geológicos ocorreram nas encostas cariocas e 58 vítimas fatais foram
contabilizadas. Dentre os acidentes mais graves com vítimas fatais, destacaram-se as
ocorrências no Morro da Formiga, localizado no bairro da Tijuca (GEO Rio).
Posteriormente, no dia 13 de fevereiro de 1998, ocorreu uma grande chuva de 255mm
em 24 horas, cuja intensidade ocasionou um deslizamento de solo residual em talude de
corte (Figura 3.4), acarretando em uma vítima fatal, além de uma casa completamente
destruída e duas pessoas feridas. Uma das causas prováveis se deve à ausência de
drenagem na crista do talude de corte, cuja inclinação estava acima dos limites usuais. O
volume de terra mobilizada foi de 20 m3 em um talude de 10m x 12m (SILVA et al., 2000).
46
Figura 3.4 – Deslizamento no Morro da Formiga (SILVA et al., 2000)
Mais recentemente, tivemos um deslizamento de terra no mês de outubro de 2011,
sem registro de feridos ou avarias de construções da região.
A diminuição do número e grau de severidade de deslizamentos de terras fatais
incidentes na região se deve principalmente às ações preventivas adotadas pela Secretaria
Municipal de Meio Ambiente, dentre as quais, o plano de reflorestamento da mata da
região, cujo objetivo é estabilizar encostas. A floresta aumenta a infiltração da água da
chuva no solo. Sem a vegetação, a chuva arrasta os sedimentos da superfície para a parte
baixa da cidade, assoreando canais de drenagem e causando enchentes e deslizamentos.
Um trecho da matéria sobre o plano de reflorestamento encabeçado pela secretaria
Municipal de Meio Ambiente está explicitado a seguir (UOL notícias, 2013).
"O projeto no Morro da Formiga é um dos mais antigos da Prefeitura,
começou em 1997. Como a comunidade está em área de risco devido à
declividade alta, no passado houve muitos deslizamentos, mas posteriormente
reduziram-se significativamente essas ocorrências", explica Marcelo Hudson,
gerente de conservação da Secretaria.
47
3.2. Metodologia de trabalho
Para a realização do levantamento da percepção de risco na área estudada, foi
necessária a obtenção de dados e informações a respeito da população moradora do
Morro da Formiga, de forma a compreender seus valores, crenças, opiniões, atitudes,
condutas e conflitos, ou seja, entender melhor a forma de pensar da população quanto
aos deslizamentos de terra e como eles lidam com esse perigo.
Desta forma, a metodologia empregada neste trabalho foi baseada no método para
pesquisa social de MINAYO et al. (2012) e utilizou-se pesquisa de campo do tipo qualitativa
semiestruturadas. Como o presente trabalho faz parte de uma linha de pesquisa sobre
percepção de riscos associados a deslizamentos realizada pelo Setor de Geotecnia do
Departamento de Construção Civil da UFRJ, sua metodologia agrega as experiências
anteriores de MENDONÇA E PINHEIRO (2013) e GULLO (2015).
O processo de trabalho científico em pesquisa qualitativa divide-se em três etapas: (1)
fase exploratória; (2) trabalho de campo; (3) análise e tratamento do material empírico e
documental (MINAYO et al., 2012).
I. Fase exploratória da pesquisa
Nesta fase inicial, é elaborado o projeto de pesquisa. O projeto de pesquisa é feito,
sobretudo, para esclarecer a nós mesmos qual a questão que estamos propondo
investigar, as definições teóricas de suporte e as estratégias do estudo que utilizaremos. O
projeto também ajuda a mapear um caminho a ser seguido durante a investigação.
Esta primeira fase compreende várias etapas da construção de uma trajetória de
investigação, tais como: a) escolha do tópico de investigação; b) delimitação do objeto;
definição dos objetos; d) construção do marco teórico conceitual; e) seleção dos
instrumentos de construção/ coleta de dados; f) exploração de campo.
Para a construção do marco teórico conceitual, uma ampla pesquisa bibliográfica sobre
o tema foi realizada, destacando-se algumas experiências em levantamento de percepção
48
de risco. Em seguida, delimitamos a área de pesquisa, à comunidade do Morro da Formiga,
e definimos o objeto de pesquisa, que seriam os indivíduos sociais com vinculação mais
significativa com o problema a ser investigado, ou seja, os próprios moradores da
comunidade.
Posteriormente, na etapa de seleção dos instrumentos de construção/ coleta de dados,
foram escolhidos os colaboradores da pesquisa e o roteiro de entrevistas.
As entrevistas foram realizadas com o apoio de seis pessoas: Danielle Broda de
Vasconcellos, autora deste trabalho, Marcos Barreto de Mendonça, Fernanda Gullo,
membros do projeto de percepção de risco das comunidades de Angra dos Reis (item 2),
Danielle Lima da Silva, Christine de Oliveira Silva Alfradique, alunas de iniciação científica
(CNPq), e Carla Motta, aluna de mestrado do PEA.
O roteiro de entrevistas foi elaborado com base no roteiro utilizado por MENDONÇA E
PINHEIRO (2013) e GULLO (2015) nas experiências anteriores do projeto realizado nas
comunidades de Niterói e Angra dos Reis, recebendo alguns ajustes. Pelo fato da pesquisa
ser qualitativa, as questões do roteiro são abertas, ou seja, o informante pode responder
as perguntas sem se limitar às alternativas de respostas, com suas próprias palavras. De
uma maneira geral, pesquisas de cunho qualitativo exigem a realização de entrevistas,
quase sempre longas e semiestruturadas (DUARTE, 2002). Para QUEIROZ (1988), a
entrevista semiestruturada é uma técnica de coleta de dados que supõe uma conversação
continuada entre informante e pesquisador e que deve ser dirigida por este de acordo com
seus objetivos. Em outras palavras, são aquelas entrevistas que articulam entre duas
modalidades de entrevista: a estruturada, em que perguntas são previamente formuladas
e a não-estruturada, em que o entrevistador aborda livremente o tema proposto. Assim,
foram feitas perguntas fundamentais, auxiliadas por esse roteiro, e completadas com
questões feitas livremente pelo entrevistador conforme o desenvolvimento da entrevista
(MINAYO et al., 2012).
O roteiro utilizado está apresentado no Anexo I. As perguntas visaram cumprir o
objetivo principal e os específicos apresentados no item 1.3. Os propósitos, a categorização
das respostas e as análises de cada pergunta estão contemplados no item 3.3.
49
Ressalta-se que, tendo por finalidade observar se o morador fala espontaneamente
sobre a temática dos deslizamentos, a forma do roteiro não faz nenhuma alusão inicial ao
entrevistado sobre a mesma. Desta forma, busca-se observar a importância dada pelo
morador aos deslizamentos frente à presença de outras ameaças ou problemas gerais do
bairro e da vida do morador.
Por fim, foram definidas estratégias para entrada em campo, como por exemplo a
forma de capitação de dados (gravações das entrevistas e utilização de aparelhos de
georreferenciamento) e buscando contato com a associação de moradores, agentes
sociais, entre outros.
II. Trabalho de campo – execução das entrevistas e coleta de dados
Esta fase contemplou o trabalho de campo propriamente dito. As entrevistas foram
realizadas com 31 moradores, entre os meses de abril e julho de 2015.
A forma como se executa as entrevistas é de extrema importância para boa
confiabilidade nos resultados. Por mais que se saiba, hipoteticamente, aquilo que se está
buscando, aprender a realizar entrevistas é algo que depende fundamentalmente da
experiência no campo. Portanto, é fundamental o acompanhamento de pessoas que já
possuam experiência prévia quando se vai iniciar esse tipo de trabalho. Adquirir uma
postura adequada à realização de entrevistas semiestruturadas, encontrar a melhor
maneira de formular as perguntas, ser capaz de avaliar o grau de indução da resposta
contido numa dada questão, ter algum controle das expressões corporais (evitando ao
máximo possível gestos de aprovação, rejeição, desconfiança, dúvida, entre outros), são
competências que só se constroem na reflexão suscitada pelas leituras e pelo exercício de
trabalhos dessa natureza (DUARTE, 2002).
A duração de cada entrevista teve em média 1 hora, com 23 mulheres e 8 homens
entrevistados. As informações gerais acerca das entrevistas realizadas são apresentadas
na Tabela 3.1 a seguir.
50
Tabela 3.1 – Entrevistas realizadas no Trabalho de Campo – Morro da Formiga
Entrevistas – Morro da Formiga
Data Período
da entrevista
Número da
entrevista Entrevistado Endereço
Coordenadas UTM 23K
Altitude (m)
08/04/2015 TARDE
1 Helena Rua da
Cascata, 167
0680044 7461806
122
2 Sandra Rua da
Cascata, 158
0680001 7461815
60
3 Silvina Rosa
Nunes Rua Castelo Novo, 335
0680262 7461705
189
4 Gláucia - 0680336 7461765
192
15/04/2015 TARDE
5 Sandra Rua Castelo Novo, 320
0680255 7461713
200
6 Ana Lúcia - 0680112 7461770
165
7 Sônia - 0680075 7461756
172
8 Patrícia - 0680128 7461970
147
14/05/2015 TARDE
9 Sônia Maria Rua Paulo
de Queiroz, 4
0680146 7462063
130
10 Vera Rua Paulo
de Queiroz, 32
0680175 7462138
128
11 Walmir de
Oliveira -
0680118 7462083
124
20/05/2015 TARDE 12 Sandra Rua da
Cascata, 63 0677220 7468699
122
27/05/2015 TARDE
13 Sandra de
Oliveira Pereira
Rua Caputanga,
26
0680262 7461714
204
14 Nancir Rosa
Palmares Rua Castelo Novo, 303
0680310 7461666
214
15 Francisco Rua Castelo Novo, 324
0680262 7461714
204
16 Cleide - 0680322 7461548
246
17 Noracir Rosa
Palmares
Rua José Afonso, 7,
casa 1
0680324 7461555
248
51
Data Período
da entrevista
Número da
entrevista Entrevistado Endereço
Coordenadas UTM 23K
Altitude (m)
10/06/2015 TARDE
18 Ana Lúcia Rua Castelo Novo, 407
0680297 7461669
215
19 Carlos
Eduardo Rua
Patativa, 10 0680383 7461672
240
20 Walter
Andes de Flores
Rua João Ramalho 11, casa 4
0680278 7461768
199
21 Luis Carlos Conceição
(Lula)
Rua Paulino Nogueira,
390
0680056 7461962
130
22 Gilberto Rua
Patativa 11 0680389 7461695
245
23 Ivone Rua José Olisses
0680356 7461539
264
12/06/2015 MANHÃ
24 Amauri
Constantino da Silva
Rua Belvedere,
36
0680198 7461852
135
25 Eduarda
Tavares de Arruda
- 0680274 7461917
179
26 Giselda
Conceição
Rua Camutanga,
39
0680319 7461923
191
27 Gisele
Gomes da Silva
Rua Camutanga, 39, casa 2
0680322 7461926
195
09/07/2015 TARDE
28 Antônio
Oliveira de Souza (Barulho de Asa)
Rua da Cascata,
144
0679946 7461904
153
29 Marlene
Dias
Rua da Cascarta,
169
0680010 7461828
147
30 Hildo Lopes
da Silva
Rua Paulino Nogueira,
551
0680184 7461928
141
31 Cinthia Rua Paulino Nogueira,
435
0680097 7461952
127
52
III. Fase de análise de dados e tratamento do material empírico e documental
Nesta fase foi feita a categorização e discussão das respostas dos moradores. Visou-se
obter uma análise qualitativa, sendo necessário para tal desvendar o conteúdo subjacente
a análise quantitativa. Vale ressaltar que métodos qualitativos fornecem dados muito
significativos e densos, mas, também, muito difíceis de se analisar. Sempre se lê isso em
textos sobre metodologias de pesquisa em ciências sociais, entretanto só se tem ideia da
dimensão dessa afirmação quando se está diante de seu próprio material de pesquisa e se
sabe que é preciso dar conta dele.
De modo geral, ao final de um trabalho de campo relativamente extenso, pode-se ter
em mãos em torno de trinta entrevistas semiestruturadas, de uma hora em média cada;
eventuais mensagens trocadas por correio eletrônico; notas de campo; materiais
audiovisuais; textos e/ou reportagens sobre o tema; notas biográficas e, ainda, dados de
outras pesquisas sobre o mesmo tema ou temas afins. Esse material precisa ser organizado
e categorizado segundo critérios relativamente flexíveis, de acordo com os objetivos da
pesquisa (DUARTE, 2002).
As formas de captar, transcrever e interpretar relatos orais têm sido objeto de severas
críticas por parte da sociologia, no que diz respeito à chamada “garantia de confiabilidade”.
Desta forma, alguns estudos vêm mostrando a viabilidade de se estabelecerem critérios
rigorosos para avaliação de confiabilidade de conclusões que se baseiam nesse
procedimento de investigação. Em 1997, a revista Sociology publicou estudo empírico no
qual pesquisadores ingleses sugerem um procedimento a que denominam inter-rater
reliability como um desses critérios. O que eles propõem é, basicamente, que os relatos
gravados e transcritos, assim como os procedimentos utilizados para colhê-los, sejam
acessíveis a diferentes pesquisadores para que cada um possa fazer sua própria
interpretação do conteúdo dos relatos colhidos e, dessa forma, auxiliar na validação dos
resultados apresentados (ARMSTRONG et al., 1997 apud DUARTE, 2002). Nos limites
impostos a trabalhos dessa natureza, procurar seguir este modelo proposto pode
contribuir para a garantia de confiabilidade e legitimidade de resultados/interpretações
apresentados ao final da pesquisa. Também pode funcionar como estratégia anexar
transcrições completas de parte das entrevistas ao corpo do relatório de pesquisa, para
que o leitor possa ter acesso ao chamado “material bruto” e tirar suas conclusões.
53
Desta forma, as entrevistas foram analisadas por dois membros da equipe de
colaboradores da pesquisa, Danielle B. de Vasconcellos e Danielle Lima, e seus resultados
foram comparados em reuniões com toda a equipe, afim de se chegar a um consenso e
contribuindo para a confiabilidade dos resultados.
3.3. Resultados e análises
Para uma melhor análise dos resultados, as respostas dos entrevistados foram
tabuladas. Os critérios adotados para a tabulação das respostas foram definidos por meios
de reuniões entre os membros da equipe mobilizada para realização desta pesquisa (vide
item 3.2) e os mesmos serão apresentados a seguir. A frequência de uma resposta foi
calculada em relação à população total de entrevistados, quando todos os entrevistados
responderam às perguntas. Porém, em alguns casos, o entrevistado não respondeu ou a
resposta não pode ser levada em consideração, já que claramente não respondia à
pergunta, ou seja, em alguns casos o entrevistado não compreendeu a pergunta. Desta
forma, a frequência foi calculada em relação ao total de respostas válidas e a soma das
frequências de cada categoria de tabulação de resposta é de 100%.
Os resultados e discussão acerca dos dados coletados estão apresentados a seguir
individualmente (pergunta por pergunta), seguindo a ordem das perguntas presentes no
roteiro de entrevistas (Anexo I). No capítulo 4, será realizada uma análise conjunta e
qualitativa dos resultados.
Pergunta 1: Porque você resolveu morar aqui no bairro?
O objetivo da primeira pergunta é compreender o motivo pelo qual os moradores
resolveram se estabelecer no bairro. O Gráfico 3.1 a seguir indica as frequências de
respostas obtidas.
54
Gráfico 3.1 – Percentuais de respostas da pergunta 1
A grande maioria dos relatos dos entrevistados indica que nasceu no bairro e, portanto,
possuem vínculos familiares na região e laços emocionais com o local. Espera-se que 73,3%
do total dos entrevistados possua laços significativos com o bairro, pois ou nasceram ou
moram no local desde criança. Alguns entrevistados apontaram que se seus pais ou avós
se mudaram para o morro quando vieram de outras regiões do Brasil, principalmente
Norte e Nordeste, se estabelecendo na Formiga devido à proximidade com as
oportunidades de emprego e por ser uma opção de moradia barata, onde podiam comprar
uma casa, não precisando pagar aluguel.
Pergunta 2: O que você mais gosta daqui do bairro?
Esta pergunta busca compreender o principal motivo pelo qual o bairro é atrativo para
os moradores, podendo assim entender o conceito de “oportunidade” citado do item
2.4.3, segundo a visão dos moradores. Os entrevistados que citaram mais de um motivo
pelo qual gostam do bairro tiveram todas as suas respostas consideradas no cálculo da
frequência (Gráfico 3.2).
63,3%
10,0%
10,0%
3,3%
13,3%
0,0% 10,0% 20,0% 30,0% 40,0% 50,0% 60,0% 70,0%
Nasci aqui
Vim com meus pais
Para casar
Para estudar/trabalhar
Preço baixo
Q1 - Por que você resolveu morar aqui?
Q1 - Por que você resolveu morar aqui?
55
Gráfico 3.2 – Percentuais de respostas da pergunta 2
A maioria dos moradores gosta da região pela boa vizinhança e tranquilidade do local.
Segundo 61,3% dos entrevistados, o bairro é para eles um local tranquilo de se viver, já
que seus vizinhos são conhecidos, parentes ou amigos antigos. Porém, vale ressaltar que
o termo “tranquilidade” utilizado pelos moradores pouco tem relação com a segurança do
local. Em quase todas as entrevistas foi observado um receio muito forte em relação a
balas perdidas e a violência, muito provavelmente pelo histórico de confrontos entre
traficantes e policiais no bairro.
Outras categorias de respostas observadas foram lazer, localização e serviços públicos.
No item “lazer” foram incluídas respostas diversas como baile funk, festas, samba e locais
de diversão para as crianças. Quando as respostas citavam a proximidade com o centro ou
com o local de trabalho, as mesmas foram incluídas no item “localização”. Já “serviços
públicos” inclui respostas como presença de creches, escolas e posto de saúde no bairro.
Houve poucos moradores que disseram gostar de tudo no bairro, porém observou-se
nesses casos uma certa indisposição de participar na entrevista, seja por medo de
represálias por parte dos traficantes locais, ou por falta de interesse de pensar a respeito
da pergunta. Observou-se também que uma porcentagem de 12,9% informou não gostar
de nada do bairro.
Assim sendo, o laço forte dos moradores com os próprios moradores da comunidade,
a tranquilidade do bairro (apesar da incidência de violência na região) e o baixo percentual
9,7%
6,5%
3,2%
61,3%
6,5%
12,9%
0,0% 10,0% 20,0% 30,0% 40,0% 50,0% 60,0% 70,0%
Natureza
Localização
Serviços Públicos
Tranquilidade/Boa vizinhança
Tudo
Nada
Q2 - O que você mais gosta daqui?
Q2 - O que você mais gosta daqui?
56
dos que não gostam do bairro reforçam a ligação afetiva e social entre os moradores e que
o local é um ambiente satisfatório para os moradores, indicando porque eles se
estabeleceram na região.
Pergunta 3: O que mais te incomoda aqui no bairro?
A terceira pergunta tem como objetivo identificar o que mais preocupa o morador a
respeito dos problemas do bairro e observar se o tema dos deslizamentos lhes vêm à
cabeça a primeira vista, e posteriormente comparar com a opinião do mesmo ao final da
entrevista, ou seja, perceber se o entrevistado muda de opinião após ter sido abordado
este tema.
Pelo gráfico 3-3, pode-se observar que a maioria dos entrevistados cita a “Falta de
limpeza” como o principal problema do bairro. Neste item, foram incluídas respostas
diretas sobre o lixo, mas também as respostas sobre a falta de educação das pessoas ao
jogar entulhos em qualquer lugar e a falta de programas eficientes de limpeza do bairro,
como o programa “gari comunitário”.
As respostas relacionadas com a falta de segurança no bairro, como tiro, tráfico entre
outros foram categorizadas com “Violência”. Respostas relacionadas com a falta de
transporte regular até proximidades das casas, declividade das ruas do bairro ou
necessidade de pagar pelo serviço do mototáxis ou Kombi foram classificadas como
“Dificuldade de acesso”. Quando a resposta abordava a falta de políticas públicas ou
investimentos na região, ou se declaravam “esquecidos” pelo governo, foram classificadas
como “Descaso do governo”. Todas as respostas sobre “movimentos de terra” ou “risco de
desabamento” foram categorizadas como “Deslizamento”. Por fim, quando o entrevistado
mostrou não gostar dos moradores do bairro, a resposta foi classificada como
“Vizinhança”.
57
Gráfico 3.3 – Percentuais de respostas da pergunta 3
Ressalta-se que apenas 3,2% citou a priori o problema dos deslizamentos, mostrando
que há uma relativização do risco frente aos outros problemas que eles sofrem.
Pergunta 4: Qual é o principal problema (ou perigo) que afeta sua vida e de sua família?
Essa pergunta pretende identificar o problema que representa a maior preocupação
do morador quando ele pensa em sua vida e em sua família. Os entrevistados que citaram
mais de um problema tiveram todas as suas respostas consideradas no cálculo da
frequência.
Foram adotados os mesmos critérios da pergunta anterior para os itens “falta de
limpeza, “violência”, “dificuldade de acesso” e “deslizamento”. Além destes, também
foram citados “falta d’água”, “falta de lazer” (quando o entrevistado reclamou de falta de
opções de diversão para eles próprios ou para as crianças), “educação precária” (quando
citaram a baixa qualidade das escolas da região) e “problemas financeiros” (sempre que os
entrevistaram citaram falta de dinheiro ou baixos salários).
6,5%
3,2%
16,1%
35,5%
9,7%
6,5%
9,7%
3,2%
9,7%
0,0% 5,0% 10,0% 15,0% 20,0% 25,0% 30,0% 35,0% 40,0%
Descaso do Governo
Deslizamento
Dificuldade de acesso
Falta de Limpeza
Violência
Vizinhos
Baile funk
Falta de comunicação
Nada
Q3 - Tem algo que lhe incomoda na comunidade?
Q3 - Tem algo que lhe incomoda na comunidade?
58
Gráfico 3.4 – Percentuais de respostas da pergunta 4
Observou-se pelo Gráfico 3.4 um grande índice de resposta “Nada” (38,7%), ou seja, o
entrevistado considera que não corre nenhum tipo de risco ou perigo que nenhum
problema afeta sua vida. Isso indica um resultado preocupante no que diz respeito à
dificuldade em perceber os riscos e em pensar a respeito do que lhe pode ocorrer. Por
outro lado, esta resposta pode fortalecer o fato já citado de que os moradores têm medo
de responder perguntas com caráter de crítica à comunidade por receio de represálias do
tráfico, ainda muito presente e forte na comunidade.
Mais uma vez, apenas 3,2% citou o problema dos deslizamentos, confirmando a
hipótese de que há uma relativização do risco frente aos outros problemas que os atingem.
Pergunta 5: Você gosta da chuva? Quando começa a chover você pensa em quê?
Essa pergunta foi realizada com objetivo de identificar a associação que os moradores
observam entre a chuva e o risco de deslizamentos. Para isso, a pergunta foi feita aos
moradores antes que fosse citado o tema do deslizamento pelo entrevistador, para que
não houvesse influência nas respostas.
Muitos dos entrevistados responderam que consideravam a chuva algo natural, que
tem que ocorrer, simplesmente. Outros citaram como um evento importante para regar a
6,5%3,2%
9,7%6,5%
3,2%9,7%
16,1%3,2%3,2%
38,7%
0,0% 5,0% 10,0% 15,0% 20,0% 25,0% 30,0% 35,0% 40,0% 45,0%
Dificuldade de acessoEducação precária
Falta d'águaFalta de Limpeza
Falta de LazerProblemas financeiros
ViolênciaSaúde
Deslizamento e/ou inundaçãoNada
Q4 - Qual é o principal problema que afeta você e sua família?
Q4 - Qual é o principal problema que afeta você e sua família?
59
vegetação ou para trazer água para a população. Porém, em ambos os casos, observou-se
uma consciência da necessidade da chuva para o ciclo hidrológico e, portanto, foram
categorizados como “ciclo hidrológico”. O Gráfico 3.5 a seguir indica as frequências de
respostas obtidas.
Gráfico 3.5 – Percentuais de respostas da pergunta 5
Apesar de alguns moradores já terem citado nas questões anteriores os deslizamentos
como um incômodo no bairro ou um problema que afeta as suas vidas, a partir da pergunta
5 a porcentagem dos moradores que introduziu o tema sobre os deslizamentos em seus
discursos cresceu significativamente. Pode-se observar que para 71,0% dos entrevistados
o problema dos deslizamentos é relevante e que eles conseguem relacioná-lo as chuvas
fortes.
Pergunta 6: Você sabe o que é um deslizamento de terra?
Essa pergunta buscou perceber se os moradores entendiam a definição de
deslizamento de terra. Apesar de leigos no assunto e, portanto, não conseguirem definir
os deslizamentos com termos técnicos, quase totalidade dos entrevistados soube
responder a pergunta com suas próprias palavras de forma prática, sugerindo que não
existe falta de entendimento sobre o assunto (Gráfico 3.6).
16,1%
71,0%
12,9%
0,0% 10,0% 20,0% 30,0% 40,0% 50,0% 60,0% 70,0% 80,0%
Ciclo Hidrológico
Deslizamento e/ou Inundação
Não especificou
Q5 - Você gosta da chuva? Quando começa a chover, o que você pensa?
Q5 - Você gosta da chuva? Quando começa a chover, o que você pensa?
60
Gráfico 3.6 – Percentuais de respostas da pergunta 6
Pergunta 7: O que você acha do problema do deslizamento de terra?
Essa pergunta buscou permitir que os entrevistados discorressem sobre o tema de
forma ampla e livre e, assim, fosse possível extrair trechos significativos sobre pontos de
vista não previstos que pudessem ser considerados na presente pesquisa. Ou seja, a
pergunta não teve como objetivo obter respostas que pudessem ser categorizadas. Porém,
apesar de que poucos entrevistados deram opiniões construtivas nesse item, pôde-se
perceber nas respostas a relação de importância dada ao problema. Em algumas respostas,
podemos notar certa indiferença, ou pouca importância, em outras, média importância,
mas, na maioria, grande importância do tema.
96,8%
3,2%
0,0% 20,0% 40,0% 60,0% 80,0% 100,0%
Sim
Não
Q6 - Você sabe o que é um deslizamento de terra?
Q6 - Você sabe o que é um deslizamento de terra?
61
Pergunta 8: O deslizamento de terra ameaça a sua qualidade de vida ou bem-estar?
Nessa pergunta buscou-se identificar se os moradores percebiam o deslizamento de
terra como um risco real em suas vidas. O Gráfico 3.7 a seguir indica as frequências de
respostas obtidas.
Gráfico 3.7 – Percentuais de respostas da pergunta 8
Pelas respostas, pode-se observar que a maioria (51,6%) respondeu que se sente
afetado apenas indiretamente, já que acreditam que isto pode ocorrer aos vizinhos ou
conhecidos do bairro, mas não diretamente com eles próprios. Este resultado reforça a
teoria descrita no item 2.4.2 a respeito do otimismo irreal, que corresponde a uma crença
de que eventos negativos não irão atingir eles próprios, apesar de perceber que podem
ocorrer com o vizinho, ou seja, o indivíduo acredita que está mais imune aos riscos que as
outras pessoas.
35,5%
12,9%
51,6%
0,0% 10,0% 20,0% 30,0% 40,0% 50,0% 60,0%
Sim
Indiretamente
Não ameaça
Q8 - O deslizamento de terra ameaça a sua vida ou bem estar?
Q8 - O deslizamento de terra ameaça a sua vida ou bem estar?
62
Pergunta 9: Com que frequência você pensa nisso ao longo do ano?
Essa pergunta tem como objetivo identificar se a preocupação com os deslizamentos
tem relação com a época do ano. Conforme observado no Gráfico 3.8 a seguir, 50 % deles
pensam neste problema apenas quando chove, 4,5 % apenas quando de fato ocorre um
desastre, 22,7 % nunca pensam e 22,7 % pensam todos os dias.
Gráfico 3.8 – Percentuais de respostas da pergunta 9
Observa-se, assim, a importância da frequência (discutida no item 2.4.2), além da
magnitude das consequências do problema, na percepção dos riscos. Em épocas em que a
frequência de ocorrências aumenta, a percepção do risco também aumenta.
Pergunta 10: Você acredita que os outros moradores do bairro se preocupam com isso?
Nesta pergunta, se visa entender como os moradores entendem a percepção de risco
dos seus vizinhos, ou mesmo perceber se há algum diálogo entre os próprios moradores
sobre o assunto. Os resultados são apresentados no Gráfico 3.9, a seguir.
22,7%
50,0%
4,5%
22,7%
0,0% 10,0% 20,0% 30,0% 40,0% 50,0% 60,0%
Sempre
Quando chove
Quando ocorre desastre
Nunca
Q9 - Com que frequência você pensa nisso ao longo do ano?
Q9 - Com que frequência você pensa nisso ao longo do ano?
63
Gráfico 3.9 – Percentuais de respostas da pergunta 10
A parcela de 12,9 % que respondeu que não sabe sobre a preocupação dos outros,
demonstra que muitas vezes não há o diálogo e, portanto, percebem menos o risco ou dão
menos importância.
Pergunta 11: Você já recebeu informações sobre deslizamentos pela associação de
moradores?
O objetivo desta pergunta é verificar a existência de programas informativos para
população habitante da comunidade, por parte da associação de moradores, a respeito da
temática dos deslizamentos. Desta forma, pode-se ter uma ideia do conhecimento da
população sobre o tema e/ou se existe algum programa eficaz de educação sobre o tema,
identificando a necessidade de implementar políticas para educar a população neste
sentido.
No gráfico 3.10 apresenta-se o resultado obtido.
35,5%
41,9%
9,7%
12,9%
0,0% 5,0% 10,0% 15,0% 20,0% 25,0% 30,0% 35,0% 40,0% 45,0%
Sim
Algumas pessoas
Não
Não sabe
Q10 - Você acha que os outros moradores da comunidade se preocupam com isso?
Q10 - Você acha que os outros moradores da comunidade se preocupam com isso?
64
Gráfico 3.10 – Percentuais de respostas da pergunta 11
Como pode-se observar, a maioria dos moradores nunca recebeu informações sobre
deslizamentos pela associação de moradores, indicando uma carência de informações por
este meio.
Pergunta 12: Você já foi afetado por algum desastre por deslizamento? Como você
reagiu?
Conforme discutido no item 2.4.2, a percepção do risco de uma ameaça aumenta se o
indivíduo já tiver sido afetado por essa ameaça. Nesse contexto, esta pergunta se torna
muito importante para a avaliação da percepção de risco quanto à deslizamentos da
comunidade em estudo.
As respostas categorizadas como “Sim” foi apenas para respostas onde a pessoa sofreu
diretamente algum dano por deslizamento, ou seja, se o deslizamento já destruiu
totalmente ou parcialmente sua casa e se teve prejuízos físicos e/ou materiais.
40,0%
60,0%
0,0% 10,0% 20,0% 30,0% 40,0% 50,0% 60,0% 70,0%
Sim
Não
Q11 - Você já recebeu informações sobre deslizamentos pela associação de
moradores?
Q11 - Você já recebeu informações sobre deslizamentos pela associação demoradores?
65
Gráfico 3.11 – Percentuais de respostas da pergunta 12
Pode-se observar, pelo Gráfico 3-11, que apenas 35,5 % já foi afetado por algum
desastre por deslizamento. Porém, conhecer alguém próximo que já foi afetado também
aumenta a percepção de risco, portanto, foi realizada a pergunta a seguir.
Pergunta 13: Você conhece alguém próximo que foi afetado por algum desastre por
deslizamento? Como você reagiu?
Categorizamos como “alguém próximo” familiares, amigos ou vizinhos diretos. Os
entrevistados que citaram casos de desastres envolvendo pessoas com essas relações de
proximidade foram categorizados com “Sim”. Vizinhos distantes ou conhecidos não foram
considerados, sendo categorizados, portanto, como “Não”.
35,5%
64,5%
0,0% 10,0% 20,0% 30,0% 40,0% 50,0% 60,0% 70,0%
Sim
Não
Q12 - Você já foi afetado por algum desastre por deslizamento? Como você
reagiu?
Q12 - Você já foi afetado por algum desastre por deslizamento? Como você reagiu?
66
Gráfico 3.12 – Percentuais de respostas da pergunta 13
Conforme o Gráfico 3.12, 77,4% dos entrevistados conhecem alguém próximo que já
foi afetado por algum desastre por deslizamento, o que mostra que a maioria dos
moradores tem familiaridade com assunto e já viram suas consequências de perto, o que
aumenta a percepção do risco.
Pergunta 14: Você já ouviu falar em “área de risco”? Sabe o que é?
As respostas indicam que a totalidade dos moradores já ouviu falar em área de risco e
sabe explicar o que é. Isso demonstra a proximidade dos moradores com o assunto dos
deslizamentos (Gráfico 3.13).
Gráfico 3.13 – Percentuais de respostas da pergunta 14
77,4%
22,6%
0,0% 10,0% 20,0% 30,0% 40,0% 50,0% 60,0% 70,0% 80,0% 90,0%
Sim
Não
Q13 - Você conhece alguém próximo que foi afetado por algum desastre por deslizamento? Como você reagiu?
Q13 - Você conhece alguém próximo que foi afetado por algum desastre pordeslizamento? Como você reagiu?
96,8%
3,2%
0,0% 20,0% 40,0% 60,0% 80,0% 100,0% 120,0%
Sim
Não
Q14 - Você sabe o que é área de risco?
Q14 - Você sabe o que é área de risco?
67
Pergunta 15: Você sabe se sua comunidade está em área de risco?
Nesta pergunta busca-se mais uma vez averiguar o conhecimento da população sobre
o problema dos deslizamentos e verificar se eles sabem que a comunidade está em área
de risco (Gráfico 3.14).
Gráfico 3.14 – Percentuais de respostas da pergunta 15
Pode-se observar que quase a maioria dos moradores (67,7%) tem consciência que a
comunidade possui regiões consideradas áreas de risco, o que demonstra mais uma vez o
conhecimento a respeito do assunto.
Pergunta 16: Você acha que sua casa está em área de risco? Qual é o grau de risco?
O objetivo desta pergunta (Gráfico 3.15) foi ter uma ideia geral sobre o grau de risco
conferido pelos moradores a comunidade e, através do zoneamento da suscetibilidade do
bairro e localização das casas dos entrevistados, comparar as percepções dos moradores
sobre o grau de risco da área em que vivem e o grau de risco ao deslizamento definido
segundo critérios técnicos. Porém, durante a execução do trabalho não houve tempo hábil
para tal comparação através da análise do mapa de suscetibilidade. Esta etapa de trabalho
fica como sugestão para trabalhos futuros.
67,7%
19,4%
12,9%
0,0% 10,0% 20,0% 30,0% 40,0% 50,0% 60,0% 70,0% 80,0%
Sim
Não sabe
Não tem risco
Q15 - Você sabe se sua comunidade está em area de risco?
Q15 - Você sabe se sua comunidade está em area de risco?
68
Gráfico 3.15 – Percentuais de respostas da pergunta 16
É importante ressaltar que estão mais sujeitos a tomar medidas preventivas os
moradores que se percebem em risco, por hipótese.
Pergunta 17: Que medidas você acha que poderiam ser tomadas para evitar os
deslizamentos?
O objetivo desta pergunta é identificar o conhecimento por parte dos moradores sobre
as ações mitigadoras e/ou preventivas (Gráfico 3.16).
16,1%
16,1%
58,1%
9,7%
0,0% 10,0% 20,0% 30,0% 40,0% 50,0% 60,0% 70,0%
Sim, alto
Sim, médio
Não tem risco
Não sabe
Q16 - Você acha que sua casa está em area de risco? Qual é o grau de risco?
Q16 - Você acha que sua casa está em area de risco? Qual o grau de risco?
69
Gráfico 3.16 – Percentuais de respostas da pergunta 17
Foi observado que diversos moradores (16,1%) não conseguiram identificar nenhuma
medida que poderia ser tomada, o que mostra total falta de informação sobre o tema. Já
uma parcela significativa (45,2%), se restringe a citar a execução de obras pelo governo
como medida para evitar os deslizamentos, o que também demonstra pouco
empoderamento desta população. Em meio ao conjunto de ações antrópicas nocivas à
estabilidade da encosta, um baixo percentual citou pelo menos uma das ações a serem
evitadas: jogar lixo na encosta, lançar esgoto na encosta e cortar árvores, o que revela
carência de mais conhecimentos sobre outras ações importantes para redução dos riscos.
Portanto, a falta de conhecimento sobre ações para redução dos desastres por parte
da população pode ser um indício de vulnerabilidade da mesma, de maneira que a
impotência e a desesperança diante dos eventos adversos são fatores psicológicos que
geram um sentimento de incapacidade e prejudicam o engajamento dos moradores em
atividades de prevenção (Gullo, 2015).
Pergunta 18: Você se sente capaz ou você acha que você pode fazer algo para evitar ser
atingido por um deslizamento?
45,2%
9,7%
9,7%
3,2%
3,2%
3,2%
3,2%
3,2%
3,2%
16,1%
0,0% 5,0% 10,0% 15,0% 20,0% 25,0% 30,0% 35,0% 40,0% 45,0% 50,0%
Ações estruturais
Jogar lixo no local correto
Remover as pessoas
Vistorias nas casas
Ações estruturais, Remover as pessoas
Ações estruturais, Jogar lixo no local correto
Reflorestamento, Não Construir/Escavar
Reflorestamento, Jogar lixo no local correto
Reflorestamento, Remover as pessoas
Não sabe
Q17 - Que medidas você acha que poderiam ser tomadas para evitar os deslizamentos?
Q17 - Que medidas você acha que poderiam ser tomadas para evitar os deslizamentos?
70
Com essa pergunta busca-se identificar o empoderamento/conhecimento técnico da
população (Gráfico 3.17).
Gráfico 3.17 – Percentuais de respostas da pergunta 18
De uma forma geral, a maioria dos entrevistados (44,8%) acredita não ser capaz de
fazer algo para evitar os deslizamentos. Em suma, os moradores não se dizem capazes de
mudar uma situação que afeta suas vidas. Portanto, como análise, sugere-se a falta de
empoderamento dos moradores dessa região. O empoderamento depende, dentre outros
fatores, da percepção que os indivíduos e os grupos tenham de si mesmos e de sua
situação.
Ressalta-se também que mais uma vez a questão do lixo foi importante, já que esse é
um problema que afeta diariamente a população, no qual eles têm contato todos os dias,
confirmando a influência da frequência na percepção de risco.
27,6%
6,9%
13,8%
6,9%
44,8%
0,0% 5,0% 10,0% 15,0% 20,0% 25,0% 30,0% 35,0% 40,0% 45,0% 50,0%
Jogar lixo no local correto
Consertar tubulações de água e esgoto
Sair do local
Reflorestar
Não
Q18 - Você se sente capaz ou você acha que você pode fazer algo para evitar ser atingido
por um deslizamento?
Q18 - Você se sente capaz ou você acha que você pode fazer algo para evitar ser atingido por umdeslizamento?
71
Pergunta 19: O que você acha que o homem faz que possa causar o deslizamento de
terra?
Essa questão foi levantada para entender o conhecimento que a população tem a
respeito das ações antrópicas. Foi tomado o cuidado de não induzir as respostas, ou seja,
deixar a pessoa falar livremente, sem a influência do entrevistador. Os resultados são
apresentados no Gráfico 3.18.
Gráfico 3.18 – Percentuais de respostas da pergunta 19
Uma parte da população não sabia começar espontaneamente a responder essa
pergunta (6,5%), alguns citaram com dificuldade pelo menos um dos fatores contribuintes
aos deslizamentos (42%), porém, 48,4% possuem uma boa noção da resposta,
demonstrando uma certa consciência ambiental e apresentando espontaneamente dois
exemplos dos fatores contribuintes.
35,5%
6,5%
9,7%
3,2%
9,7%
12,9%
12,9%
3,2%
6,5%
0,0% 5,0% 10,0% 15,0% 20,0% 25,0% 30,0% 35,0% 40,0%
Lixo
Desmatar
Construir/Escavar
Lixo, Construir/Escavar
Lixo, Desmatar
Lixo, Desmatar, Construir/Escavar
Desmatar, Construir/Escavar
Nada
Não sabe
Q19 - O que você acha que o homem faz que possa causar o deslizamento de terra?
Q19 - O que você acha que o homem faz que possa causar o deslizamento de terra?
72
Pergunta 20: Coloque em ordem de importância, entre os itens ao lado, o que você acha
que o homem faz que possa causar o deslizamento de terra.
Nesta questão, a frequência é a razão entre a quantidade de vezes que uma resposta
teve uma determinada classificação de importância e o total de possíveis respostas. Na
Tabela 3.2 e no Gráfico 3.19 encontram-se a porcentagens que cada item foi citado em 1º,
2º, 3º ou 4º lugar na ordem de importância.
Tabela 3.2 – Percentuais de respostas da pergunta 20
Jogar lixo e entulho na
encosta
Efetuar cortes muito inclinados para
construção de casas
Dispor água e esgoto sem qualquer
cuidado no terreno Cortar árvores
1º lugar 64,5% 12,9% 6,5% 16,1%
2º lugar 19,4% 22,6% 25,8% 32,3%
3º lugar 9,7% 38,7% 41,9% 9,7%
4º lugar 6,5% 25,8% 25,8% 41,9%
Gráfico 3.19 – Percentuais de respostas da pergunta 20
É importante ressaltar que o objetivo dessa pergunta não é julgar a ordem de
importância dessas ações antrópicas que podem levar aos deslizamentos na comunidade,
mas identificar o aspecto que deve ser trabalhado na comunidade em uma atividade
socioeducativa em função da importância dada pelos moradores. Por exemplo, se a
maioria coloca como menos importante os cortes inclinados para construção de casas, é
0,0%
10,0%
20,0%
30,0%
40,0%
50,0%
60,0%
70,0%
Jogar lixo e entulho naencosta
Efetuar cortes muitoinclinados para
construção de casas
Dispor água e esgoto semqualquer cuidado no
terreno
Cortar árvores
Q20 - Coloque em ordem de importância, entre os itens ao lado, o que você acha que o homem faz que possa causar o
deslizamento de terra.
1º lugar 2º lugar 3º lugar 4º lugar
73
preciso uma atividade que aumente a percepção dessa ação como danosa à estabilidade
do talude.
Essa importância foi inferida pela ordem citada pelo entrevistado, de forma que as
ações citadas em 1º ou 2º lugar são consideradas mais importantes, segundo ponto de
vista do morador, e as ações citadas em 3º ou 4º são consideradas menos importantes.
Na Tabela 3.3 a seguir, as ações foram colocadas em ordem de importância conforme
critério descrito acima.
Tabela 3.3 – Importância das ações antrópicas dadas pelos moradores entrevistados
1º e 2º lugar 3º e 4º lugar
Lixo 83,9% 16,1%
Árvores 48,4% 51,6%
Cortes 35,5% 64,5%
Esgoto 32,3% 67,7%
De uma forma geral, os resultados mostram que os moradores dão mais importância
ao lançamento de lixo (soma da frequência das respostas do primeiro e do segundo lugares
igual a 83,9%) e ao corte de árvores (soma da frequência das respostas do primeiro e do
segundo lugares igual a 48,4%) como ação antrópica que contribui para o deslizamento de
terra.
Receberam menor importância os cortes inclinados no terreno (soma da frequência
das respostas do terceiro e quarto lugares igual 64,5%) e por último o corte de árvores
(soma da frequência das respostas do terceiro e quarto lugares igual 67,7%).
Desta forma, concluímos que deveriam ser realizadas atividades socioeducativas de
forma a conscientizar a população a evitar o desmatamento.
74
Pergunta 21: Você acha que você precisa de alguma orientação da Defesa Civil ou de
outros técnicos/ especialistas para saber melhor sobre deslizamentos?
Partindo do fato que nenhum dos entrevistados é especialista no assunto, a priori
todos têm o que aprender com a Defesa Civil. Desta forma, sentir a necessidade de receber
informação está diretamente ligado a perceber esta informação como útil para si. Se o
entrevistado não acredita que pode utilizar a esta informação, ele não a considera
importante ou necessária. Portanto, a função desta pergunta é observar se a população se
sente empoderada, ou seja, se acredita que compreendendo mais a respeito da temática
dos deslizamentos, seria capaz de contribuir para diminuir o risco, para si próprio ou para
a comunidade no geral. O percentual das respostas está exposto no Gráfico 3.20.
Gráfico 3.20 - Percentuais de respostas da pergunta 21
Como podemos observar, uma parcela significativa dos entrevistados (61,3%) acredita
precisar de alguma orientação da defesa civil.
Pergunta 22: Se a Defesa Civil informar que sua casa está em área de risco, que atitude
você tomaria? Por quê?
Essa pergunta visa começar a perceber a confiança que os moradores têm na Defesa
Civil, ou seja, se a população de fato acredita no que a Defesa Civil informa e como reage
a essas informações (Gráfico 3.21).
38,7%
61,3%
0,0% 10,0% 20,0% 30,0% 40,0% 50,0% 60,0% 70,0%
Não
Sim
Q21 - Você acha que você precisa de alguma orientação da Defesa Civil ou de outros técnicos/especialistas para
saber melhor sobre deslizamentos?
75
Gráfico 3.21 – Percentuais de respostas da pergunta 22
Como se pode observar, a maior parte (33,3%) afirma que sairia de casa, independente
das condições, o que demonstra confiança nas recomendações da Defesa Civil.
Pergunta 23: Você acha que para reduzir o problema dos deslizamentos, a opinião dos
moradores deve ser considerada?
Os moradores que acreditam que suas próprias opiniões não devem ser levadas em
conta na elaboração de políticas de redução dos deslizamentos, apontam o
desempoderamento da população. O desempoderamento é o reflexo da falta de
consciência sobre suas habilidades e competências para assumir o controle e participar de
forma combativa das decisões para o desenvolvimento local, se posicionando e
melhorando suas condições nas relações de poder (ROMANO et al.,2002).
No Gráfico 3.22 apresenta-se os percentuais de respostas da pergunta.
30,0%
33,3%
10,0%
26,7%
0,0% 5,0% 10,0% 15,0% 20,0% 25,0% 30,0% 35,0%
Buscaria orientação antes de tomar uma decisão
Sairia de casa
Sairia, dependendo das condições
Não sairia de casa
Q22 - Se a Defesa Civil informar que sua casa está em área de risco, que atitude você
tomaria? Por quê?
Q22 - Se a Defesa Civil informar que sua casa está em área de risco, que atitude você tomaria? Por quê?
76
Gráfico 3.22 – Percentuais de respostas da pergunta 23
Observa-se que 88,5% dos moradores acham que suas opiniões são relevantes, o que
demonstra certa consciência de suas capacidades.
Pergunta 24: Você acha que nos trabalhos para a redução dos problemas de
deslizamentos, a Defesa Civil ou o governo leva em consideração a opinião dos moradores?
O objetivo desta pergunta era verificar se a população se sente representada pelo
governo quanto aos problemas de desastres por deslizamentos. Os resultados podem ser
observados no Gráfico 3.23.
88,5%
11,5%
0,0% 10,0% 20,0% 30,0% 40,0% 50,0% 60,0% 70,0% 80,0% 90,0% 100,0%
Sim
Não
Q23 - Você acha que para reduzir o problema dos deslizamentos, a opinião dos moradores
deve ser considerada?
Q23 - Você acha que para reduzir o problema dos deslizamentos, a opinião dos moradores deve serconsiderada?
77
Gráfico 3.23 – Percentuais de respostas da pergunta 24
A maioria dos moradores (69,2%) acredita que a Defesa Civil não leva em consideração
a opinião dos moradores. Alguns deles alegam que nunca foram questionados a esse
respeito pela Defesa Civil, outros disseram que a mesma só aparece na comunidade com
o projeto já pronto e que conversa com os moradores apenas para explicar e não para
perguntar sua opinião. Apenas 23,1% dos moradores acredita que a Defesa Civil leva em
consideração a opinião da população, e 7,7% não soube responder. Portanto, de modo
geral, esta população não se sente representada pelo governo neste tema.
Pergunta 25: Você confia na Defesa Civil ou nos técnicos da prefeitura? Por que?
Esta pergunta é realizada de maneira direta, para compreender mais o nível de
confiança na Defesa Civil por parte dos moradores (Gráfico 3.24).
23,1%
69,2%
7,7%
0,0% 10,0% 20,0% 30,0% 40,0% 50,0% 60,0% 70,0% 80,0%
Sim
Não
Não sabe
Q24 - Você acha que nos trabalhos para a redução dos problemas de deslizamentos, a
Defesa Civil ou o governo leva em consideração a opinião dos moradores?
Q24 - Você acha que nos trabalhos para a redução dos problemas de deslizamentos, a Defesa Civil ou ogoverno leva em consideração a opinião dos moradores?
78
Gráfico 3.24 – Percentuais de respostas da pergunta 25
A maioria dos moradores (86,7 %) confia na Defesa Civil, pois acredita que seus
integrantes são pessoas capacitadas e com conhecimento técnico suficiente para exercer
suas funções. Nos casos categorizados como “Sim”, não se notou nenhuma dúvida quanto
as intenções e avaliações da Defesa Civil, uma vez que muitos relataram que já
presenciaram desastres em locais que a Defesa Civil já havia condenado. Portanto, nota-
se que não existe um distanciamento entre a comunidade e a Defesa Civil, sendo a visita
desta associada a medidas positivas, como ações estruturais ou possibilidade de serem
realocados, ganhando uma outra casa ou aluguel social. Em poucos casos (6,7 %), o
entrevistado afirmou não confiar plenamente na Defesa Civil devido ao fato de muitas
vezes a mesma não fazer o diagnóstico de risco com o acompanhamento do morador ou
porque os agentes da Defesa Civil aparecem muito raramente ou apenas quando o
desastre acontece, ou até mesmo porque acreditam entender mais sobre o problema do
que o próprio agente da Defesa Civil.
86,7%
6,7%
6,7%
0,0% 10,0% 20,0% 30,0% 40,0% 50,0% 60,0% 70,0% 80,0% 90,0% 100,0%
Sim
Parcialmente
Não
Q25 - Você confia na Defesa Civil ou nos técnicos da prefeitura? Por que?
Q25 - Você confia na Defesa Civil ou nos técnicos da prefeitura? Por que?
79
Pergunta 26: Está chovendo forte, sua casa está em área de risco, o que você faz? Por
que?
O objetivo dessa pergunta é compreender se os moradores, vivendo por hipótese em
uma área de risco, sairiam de suas casas num momento de chuva forte (Gráfico 3.25).
Gráfico 3.25 – Percentuais de respostas da pergunta 26
O resultado mostra que, de forma geral, 80 % da população moradora estaria disposta
a sair de casa, o que sugere que a maioria das pessoas dessas comunidades tomam
decisões rápidas em situações de emergência, com o intuito de garantir maior segurança
frente à ameaça de deslizamentos. Porém, 20,0 % dos moradores afirmam que não sairiam
de casa, principalmente porque acreditam que estão mais seguros e confortáveis dentro
de casa do que nos pontos de apoio ou na casa de algum vizinho. Esses moradores relatam
que os pontos de apoio disponíveis na comunidade não têm condições de receber os
moradores com o mínimo de conforto e salubridade. Alguns moradores também relatam
o medo de abandonar suas casas no momento de chuva forte e de a mesma ser invadida
e saqueada.
Essas observações reforçam a hipótese de relativização do risco, de maneira que o risco
de deslizamento se torna menos importante frente à outras ameaças que os moradores já
conhecem mais de perto, como desconforto e violência.
80,0%
20,0%
0,0% 10,0% 20,0% 30,0% 40,0% 50,0% 60,0% 70,0% 80,0% 90,0%
Sairia de casa
Não sairia de casa
Q26 - Está chovendo forte, sua casa está em área de risco, o que você faz? Por que?
Q26 - Está chovendo forte, sua casa está em área de risco, o que você faz? Por que?
80
Dentre os entrevistados que responderam que sairiam de casa, 83,8% afirmaram que
procurariam um dos pontos de apoio existentes na comunidade, demostrando a
importância da existência desses planos para a segurança desta população. Apenas 16,7%
afirmaram que procurariam casas de familiares ou de amigos, fora da área de risco,
conforme indicado no Gráfico 3.26.
Vale ressaltar que a conduta correta seria procurar os pontos de apoio, pois
possivelmente a casa de algum familiar também estará em risco e o morador pode não o
perceber. Desta forma, é importante ações socioeducativas para orientar os moradores
neste sentido.
Gráfico 3.26 – Percentuais de respostas sobre que caminho tomaria, complementar a
pergunta 26
Pergunta 27: Quem deveria ser o responsável pelos prejuízos provocados por
deslizamentos de terra?
Essa pergunta procura compreender se os moradores atribuem culpa pelos
deslizamentos aos órgãos governamentais, a eles próprios, ou se não atribuem culpa a
ninguém (acreditando ser algo natural e inevitável).
83,3%
16,7%
0,0% 20,0% 40,0% 60,0% 80,0% 100,0%
Ponto de apoio
Casa de familiares
Se falar que sairia de casa, que caminho tomaria?
Se falar que sairia de casa, que caminho tomaria?
81
Gráfico 3.27 – Percentuais de respostas da pergunta 27
Observa-se que 45,2 % dos entrevistados conferiram ao governo a responsabilidade
pelos prejuízos causados pelos deslizamentos de terra, 35,5 % aos próprios moradores,
que construíram em local inadequado e 12,9 % não responsabiliza ninguém por esse tipo
de desastre, conforme exposto no Gráfico 3.27. Observa-se, portanto, que os moradores
possuem opiniões bem dividas neste quesito.
Pergunta 28: Você sabe o que é um sistema de alarme (ou alerta) para deslizamento?
Existe aqui na comunidade?
Observou-se que a totalidade dos moradores (Gráfico 3.28) sabe o que é um sistema
de alarme e declararam já ter ouvido o alerta tocar na comunidade. Portanto, conclui-se a
eficiência deste sistema na comunidade quanto à capacidade de comunicar o risco.
35,5%
45,2%
12,9%
6,5%
0,0% 5,0% 10,0% 15,0% 20,0% 25,0% 30,0% 35,0% 40,0% 45,0% 50,0%
Moradores
Governo
Ninguém
Não sei
Q27 - Quem deveria ser o responsável pelos prejuízos provocados por
deslizamentos de terra?
Q27 - Quem deveria ser o responsável pelos prejuízos provocados por deslizamentos de terra?
82
Gráfico 3.28 – Percentuais de respostas da pergunta 28
Pergunta 29: Você sairia de sua casa se tocasse um alarme da Defesa Civil para saírem
rapidamente de suas casas? Por que?
Para diminuir as possíveis consequências dos desastres devido à deslizamentos, não
basta alertar a população acerca do perigo eminente. Deve-se haver uma ação por parte
da população ao ser alertada.
Pela pergunta anterior, observamos que todos os moradores entrevistados sabem o
que é um sistema de alarme. Porém, apenas 75,9% dos moradores afirmou que sairia de
casa quando tocasse o alarme (Gráfico 3.29), indicando que não é a totalidade de
moradores que confia e segue o alarme.
100,0%
0,0%
0,0% 20,0% 40,0% 60,0% 80,0% 100,0% 120,0%
Sim
Não
Q28 - Você sabe o que é um sistema de alarme (ou alerta) para deslizamento? Existe
aqui na comunidade?
Q28 - Você sabe o que é um sistema de alarme (ou alerta) para deslizamento? Existe aqui nacomunidade?
83
Gráfico 3.29 – Percentuais de respostas da pergunta 29
Comparando com a porcentagem de pessoas que sairiam independentemente das
condições durante uma chuva forte (pergunta 26), podemos observar que uma diferença
muito pequena, de tal forma que a população está tão propensa a sair na hora da chuva
forte (80%) quanto na hora que o alarme for acionado (75,9%), indicando mais uma vez a
confiança que esta população tem na Defesa Civil.
Pergunta 30: Se você pudesse pagar um aluguel ou comprar uma casa igual a essa em
outro lugar fora de área de risco, você estaria disposto a se mudar? Por que?
No Gráfico 3.30, apresenta-se os resultados referentes a esta pergunta.
75,9%
20,7%
3,4%
0,0% 10,0% 20,0% 30,0% 40,0% 50,0% 60,0% 70,0% 80,0%
Sim
Não
Talvez
Q29 - Você sairia de sua casa se tocasse um alarme da Defesa Civil para saírem
rapidamente de suas casas? Por que?
Q29 - Você sairia de sua casa se tocasse um alarme da Defesa Civil para saírem rapidamente de suascasas na hora da chuva forte? Por que?
84
Gráfico 3.30 – Percentuais de respostas da pergunta 30
Alguns moradores que possuem laços fortes com a região onde moram, não estariam
dispostos a se mudar mesmo se tivessem esta opção (11,5%). Desta forma, esses
moradores são mais vulneráveis a sofrer das consequências de um possível desastre, visto
que dificilmente abandonariam suas residências se receberem algum tipo de auxilio
(aluguel social, por exemplo). Porém, a grande maioria (88,5%) afirma que estaria disposta
a se mudar.
Pergunta 31: Que tipo de risco você diria que é o maior de sua vida?
Com essa pergunta procuramos entender a relativização do risco, analisando ao fim da
entrevista a conclusão do morador sobre o maior risco que afeta a sua vida. Os resultados
são apresentados no Gráfico 3.31.
88,5%
11,5%
0,0% 10,0% 20,0% 30,0% 40,0% 50,0% 60,0% 70,0% 80,0% 90,0% 100,0%
Sim
Não
Q30 - Se você pudesse pagar um aluguel ou comprar uma casa igual a essa em outro lugar fora de área de risco, você estaria disposto a
se mudar? Por que?
Q30 - Se você pudesse pagar um aluguel ou comprar uma casa igual a essa em outro lugar fora de áreade risco, você estaria disposto a se mudar? Por que?
85
Gráfico 3.31 – Percentuais de respostas da pergunta 31
No início da pesquisa, o morador já foi questionado sobre os principais problemas que
afetam sua vida (pergunta 4) e apenas 3,2% citou os deslizamentos de terra. Comparando
as duas respostas é possível identificar se os ‘deslizamentos’ passam a ter maior
importância (22,6%), uma vez que o morador se envolveu com o tema durante a entrevista.
Observa-se que mesmo após a entrevista, o risco de ‘violência’ (41,9 %) continua em
primeiro lugar na visão dos moradores, inclusive aumentando significativamente seu índice
(antes de 16,1%). Este aumento pode se justificar devido ao fato de que, ao final da
entrevista, os moradores já estariam mais à vontade para responder as perguntas, que a
princípio o faziam com cautela. Portanto, o medo do comando do tráfico ainda existente
na comunidade e toda a violência gerada como consequência, ainda é um tema muito
presente no cotidiano destas famílias. É necessário a melhoria do programa da UPP já
instalado na comunidade.
Além desses, ‘saúde’ (12,9 %) e ‘nenhum’ (16,1%) aparecem também com percentuais
importantes. Tanto esta resposta ‘nenhum’ quanto a resposta ‘nada’ (38,7%) na pergunta
4, indicam um quadro preocupante quanto à percepção de risco, pois demonstra a
dificuldade desses moradores de refletir sobre os problemas e riscos que afetam sua vida,
deixando-os menos preparados em situações de perigo iminente.
3,2%
22,6%
3,2%
12,9%
41,9%
16,1%
0,0% 5,0% 10,0% 15,0% 20,0% 25,0% 30,0% 35,0% 40,0% 45,0%
Acidentes de trânsito
Deslizamento
Raio (Eletrocutado)
Saúde
Violência
Nenhum
Q31 - Que tipo de risco você diria que é o maior de sua vida?
Q31 - Que tipo de risco você diria que é o maior de sua vida?
86
Pergunta 32: Você acha que o governo deveria cuidar de outras coisas antes de cuidar
do problema de deslizamentos? Quais?
Está pergunta foi realizada de modo a entender as prioridades para esta população e
o resultado é apresentado no Gráfico 3.32.
Gráfico 3-32 – Percentuais de respostas da pergunta 32
A resposta ‘deslizamentos’ (13,3 %) pode ter sido influenciada pelo tema da entrevista,
no entanto, mesmo assim, sua importância foi menor que a dada a serviços de ‘saúde’
(30,0 %) e, num nível um pouco abaixo (26,7 %), a ‘violência’.
Não adianta, portanto, pensar em aumentar a importância do problema dos
deslizamentos de forma que os moradores se engajem nas ações para a redução de risco,
se existem vários outros problemas associados à falta de serviços públicos de qualidade
satisfatória, que os mesmos julgam mais urgentes.
13,3%
20,0%
3,3%
6,7%
30,0%
26,7%
0,0% 5,0% 10,0% 15,0% 20,0% 25,0% 30,0% 35,0%
Deslizamento
Habitação
Educação
Saneamento básico
Saúde
Violência
Q32 - Você acha que o governo deveria cuidar de outras coisas antes de cuidar do
problema de deslizamentos? Quais?
Q32 - Você acha que o governo deveria cuidar de outras coisas antes de cuidar do problema dedeslizamentos? Quais?
87
4. Classificação da vulnerabilidade quanto à percepção
de risco
4.1. Método proposto
Os primeiros estudiosos dos sistemas de vulnerabilidade acreditavam que ela dependia
unicamente das características físicas dos elementos suscetíveis a danos, não
considerando em sua definição condições sobre o comportamento humano e a dimensão
temporal do desastre (STEINFÜHRER et al., 2007 apud YANG et al., 2010). Porém, com a
inclusão das perspectivas sociais e geográficas e consequente interação entre sistemas
sociais, políticos e econômicos, o conhecimento ficou mais completo. Reconhecer porque
determinados elementos podem estar expostos a maiores riscos que outros requer
conhecimentos sobre vulnerabilidade social, uma vez que as circunstâncias ou
características das vítimas dos desastres e os fatores afetados pela estrutura social são
compreendidos, levando a possíveis ações para redução dessa vulnerabilidade e ao
aumento da capacidade de resposta da sociedade exposta ao perigo.
A inclusão da vulnerabilidade social em análises de risco é relativamente recente. A
abordagem anteriormente era mais centrada no estudo da suscetibilidade, sendo a gestão
do risco uma resposta à intensidade e a frequência dos fenômenos naturais, em que a
sociedade era vista como vítima passiva, cabendo somente gerir os impactos decorrentes
do processo físico (VEYRET & REGHEZZA, 2006).
Compreendido o conceito, o grau de vulnerabilidade de cada pessoa e da
comunidade é significativamente influenciado por sua percepção de risco, posto que esta
exprimi a relação da mesma com o risco e, em segundo plano, a capacidade de preparação
e resistência aos desastres.
THOURET & D’ÉRCOLE (1996 apud GULLO, 2015) discorrem sobre a análise dos
fatores socioculturais que fazem variar a vulnerabilidade de grupos e indivíduos frente aos
desastres. Na análise desses fatores, a percepção de risco dos indivíduos e grupos é um
componente que pode ser avaliado por meio de entrevistas, o que permite reconhecer as
ameaças e as possíveis consequências danosas, a qualidade ambiental do local, etc. Através
dessas entrevistas, a percepção do risco procura conhecer os comportamentos de
88
populações expostas, suas reações individuais e coletivas à ações preventivas e
emergenciais, e suas ideologias. Somente a partir destes entendimentos é possível
determinar a vulnerabilidade desta população, o que é muito importante para o cálculo do
risco para elaboração de mapas de áreas de risco e definição das áreas prioritárias.
Desta forma, o presente trabalho pretende propor um modelo de avaliação da
vulnerabilidade quanto a percepção de risco através da aplicação do roteiro de perguntas
proposto em diversas comunidades, com objetivo de determinar uma classificação de
vulnerabilidade (alta, média ou baixa) e, a partir desta, contribuir para a estimativa do grau
de risco e, assim, auxiliar os órgãos competentes a direcionar políticas efetivas de
prevenção e a desenvolver os mapas de risco levando em conta a percepção de risco da
população do local.
Em primeiro lugar, considera-se que a vulnerabilidade quanto a percepção de risco
pode ser estimada a partir dos seguintes aspectos, de igual importância:
Aspecto 1: Percepção do risco propriamente dita
Esse aspecto está relacionado com a importância dada ao perigo de
deslizamentos frente a outros perigos e oportunidades (relativização do risco);
e também ao comportamento da população na situação de resposta a situações
de desastres eminentes.
Aspecto 2: Empoderamento e Conhecimento técnico
O conhecimento técnico sobre os fatores contribuintes e medidas mitigadoras
é muito importante na medida que torna possível o empoderamento desta
população de forma a contribuir para evitar os desastres, ou seja, pró-atividade
em ações preventivas.
Aspecto 3: Confiança na Defesa Civil e/ou nos Órgãos envolvidos
Este aspecto está relacionado com o fato de que, quanto mais confiança por
parte da população na Defesa Civil ou nos órgãos envolvidos na gestão de
desastres, maior a proximidade entre eles, e portanto, mais propensa esta
população está de aceitar e seguir as orientações recebidas, apresentando
89
menor resistência às ações da Defesa Civil, tornando-as, portanto, mais
efetivas.
A partir da análise quantitativa destes três aspectos, será possível determinar o
índice de vulnerabilidade da comunidade, podendo, portanto, classificar a vulnerabilidade
como baixa, média ou alta, segundo critérios definidos pelo autor deste trabalho em
conjunto com a equipe mobilizada para realização do trabalho de campo (item 3.2).
Esses três aspectos serão analisados a partir das perguntas realizadas e conforme
Tabela 4.1.
Algumas perguntas não serão consideradas para a estimativa da vulnerabilidade,
simplesmente porque não se aplicam e seus objetivos foram mais qualitativos do que
quantitativos. Buscava-se compreender melhor através delas a forma de pensar desta
população e algumas, server também para orientar a necessidade de ações
socioeducativas, porém, não estão diretamente ligadas a percepção de risco. Estas
perguntas também são apresentadas na Tabela 4.1 a seguir.
90
Tabela 4.1 – Relação entre as perguntas e os aspectos relacionados a vulnerabilidade
Pergunta Aspecto no qual será considerada
Q1 - Por que você resolveu morar aqui? Não será considerada
Q2 - O que você mais gosta daqui? Não será considerada
Q3 - Tem algo que lhe incomoda na comunidade? Percepção de Risco
Q4 - Qual é o principal problema que afeta você e sua família? Percepção de Risco
Percepção de Risco
Empoderamento / Conhecimento técnico
Q6 - Você sabe o que é um deslizamento de terra? Empoderamento / Conhecimento técnico
Q7 - O que você acha do problema de deslizamento de terra? Percepção de Risco
Q8 - O deslizamento de terra ameaça a sua vida ou bem estar? Percepção de Risco
Q9 - Com que frequência você pensa nisso ao longo do ano? Percepção de Risco
Q10 - Você acha que os outros moradores da comunidade se preocupam com
isso?Percepção de Risco
Q11 - Você já recebeu informações sobre deslizamentos pela associação de
moradores?Empoderamento / Conhecimento técnico
Q12 - Você já foi afetado por algum desastre por deslizamento? Como você
reagiu? Percepção de Risco
Q13 - Você conhece alguém próximo que foi afetado por algum desastre por
deslizamento? Como você reagiu?Percepção de Risco
Q14 - Você sabe o que é área de risco? Empoderamento / Conhecimento técnico
Q15 - Você sabe se sua comunidade está em area de risco? Empoderamento / Conhecimento técnico
Q16 - Você acha que sua casa está em area de risco? Qual o grau de risco? Não será considerada
Q17 - Que medidas você acha que poderiam ser tomadas para evitar os
deslizamentos?Empoderamento / Conhecimento técnico
Q18 - Você se sente capaz ou você acha que você pode fazer algo para evitar
ser atingido por um deslizamento?Empoderamento / Conhecimento técnico
Q19 - O que você acha que o homem faz que possa causar o deslizamento de
terra? Empoderamento / Conhecimento técnico
Q20 - Coloque em ordem de importância, entre os itens ao lado, o que você
acha que o homem faz que possa causar o deslizamento de terra.Não será considerada
Q21 - Você acha que você precisa de alguma orientação da Defesa Civil ou de
outros técnicos/ especialistas para saber melhor sobre deslizamentos?Confiança na Defesa Civil
Q22 - Se a Defesa Civil informar que sua casa está em área de risco, que atitude
você tomaria? Por quê?Confiança na Defesa Civil
Q23 - Você acha que para reduzir o problema dos deslizamentos, a opinião dos
moradores deve ser considerada?Empoderamento / Conhecimento técnico
Q24 - Você acha que nos trabalhos para a redução dos problemas de
deslizamentos, a Defesa Civil ou o governo leva em consideração a opinião dos
moradores?
Não será considerada
Q25 - Você confia na Defesa Civil ou nos técnicos da prefeitura? Por que? Confiança na Defesa Civil
Q26 - Está chovendo forte, sua casa está em área de risco, o que você faz? Por
que?Percepção de Risco
Q27 - Quem deveria ser o responsável pelos prejuízos provocados por
deslizamentos de terra?Não será considerada
Q28 - Você sabe o que é um sistema de alarme (ou alerta) para deslizamento?
Existe aqui na comunidade? Empoderamento / Conhecimento técnico
Q29 - Você sairia de sua casa se tocasse um alarme da Defesa Civil para saírem
rapidamente de suas casas na hora da chuva forte? Por que?Percepção de Risco
Q30 - Se você pudesse pagar um aluguel ou comprar uma casa igual a essa em
outro lugar fora de área de risco, você estaria disposto a se mudar? Por que?Percepção de Risco
Q31 - Que tipo de risco você diria que é o maior de sua vida? Percepção de Risco
Q32 - Você acha que o governo deveria cuidar de outras coisas antes de cuidar
do problema de deslizamentos? Quais? Não será considerada
Q5 - Você gosta da chuva? Quando começa a chover, o que você pensa?
91
Para cada pergunta relevante para essa análise de vulnerabilidade, será calculada
uma nota. Essa nota varia de 1 a 0, onde 1 significa vulnerabilidade mínima e 0 significa
vulnerabilidade máxima. Cada categoria de resposta, portanto, receberá uma nota
correspondente, que será multiplicada pelo seu percentual de respostas recebidas na
pesquisa. Somando-se os resultados destas multiplicações, obtém-se, portanto, a nota
final da pergunta.
Por fim, como nem todas as perguntas possuem a mesma relevância na avaliação
dos três aspectos descritos acima, será atribuído um peso relativo a importância da
mesma, conforme Tabela 4.2.
Tabela 4.2 – Critério para atribuição de pesos às perguntas
Relevância da pergunta Peso atribuído
pouco relevante 1
relevante 3
muito relevante 5
O cálculo da nota final do aspecto será a média ponderada das notas finais das
perguntas, em função de seus pesos atribuídos.
4.2. Aspecto 1: Percepção do risco
4.2.1. Considerações Iniciais
As notas atribuídas às categorias de respostas seguem o seguinte critério,
apresentado na Tabela 4.3.
Tabela 4.3 – Critérios para atribuição de notas (Aspecto 1 – Percepção de risco) Nota
atribuída Nível de percepção de risco
0 percepção nula
0,1 percebe algum risco, mas não relacionado a deslizamentos
0,25 percebe algum risco relacionado a deslizamentos
0,5 percebe o risco a deslizamentos, porém parcialmente
1 percepção total
92
4.2.2. Aplicação do método ao caso de estudo
O método proposto neste item será aplicado ao caso de estudo do presente
trabalho, na comunidade do Morro da Formiga, sendo apresentadas a seguir as análises
de cada pergunta relevante (já expostas anteriormente na Tabela 4.1).
Pergunta 3 - Tem algo que lhe incomoda na comunidade? (Tabela 4.4)
Tabela 4.4 – Cálculo da nota referente a pergunta 3
Q3 - Tem algo que lhe incomoda na comunidade?
Categoria de resposta Percentual por categoria (%)
Nota Acumulado
Descaso do Governo 6,5% 0,10 0,0065
Deslizamento 3,2% 1,00 0,0323
Dificuldade de acesso 16,1% 0,10 0,0161
Falta de Limpeza 35,5% 0,25 0,0887
Violência 9,7% 0,10 0,0097
Vizinhos 6,5% 0,10 0,0065
Baile funk 9,7% 0,10 0,0097
Falta de comunicação 3,2% 0,10 0,0032
Nada 9,7% 0,00 0,0000
Nota final = 0,17
As categorias de resposta que abrangem algum incômodo não relacionado à
temática dos deslizamentos (‘Descaso do Governo’, ‘Dificuldade de acesso’, ‘Violência’,
‘Vizinhos’, ‘Baile funk’ e ‘Falta de comunicação’) são considerados pela Tabela 4.3 como
‘percebe algum risco, mas não relacionado a deslizamentos’ e, portanto, recebem nota
0,1. Incômodos relacionados de alguma forma à deslizamentos (como ‘Falta de Limpeza’),
recebem nota 0,25.
Quando o morador cita diretamente o problema dos deslizamentos (categoria
‘Deslizamento’), atribui-se nota máxima (1,0). Se o morador não consegue citar nada que
o incomode, conclui-se que o mesmo não percebe nenhum risco, e, portanto, atribui-se
nota mínima (zero).
93
Pergunta 4 - Qual é o principal problema que afeta você e sua família?
(Tabela 4.5)
Tabela 4.5 – Cálculo da nota referente a pergunta 4
Q4 - Qual é o principal problema que afeta você e sua família?
Categoria de resposta Percentual por categoria (%)
Nota Acumulado
Dificuldade de acesso 6,5% 0,10 0,0065
Educação precária 3,2% 0,10 0,0032
Falta d'água 9,7% 0,25 0,0242
Falta de Limpeza 6,5% 0,25 0,0161
Falta de Lazer 3,2% 0,10 0,0032
Problemas financeiros 9,7% 0,10 0,0097
Violência 16,1% 0,10 0,0161
Saúde 3,2% 0,10 0,0032
Deslizamento e/ou inundação 3,2% 1,00 0,0323
Nada 38,7% 0,00 0,0000
Nota final = 0,11
Nesta pergunta, segue-se os mesmos critérios adotados para a pergunta anterior
(pergunta 3). Portanto, às respostas ‘Dificuldade de acesso’, ‘Educação precária’, ‘Falta de
Lazer’, ‘Problemas financeiros’, ‘Violência’ e ‘Saúde’, atribui-se nota 0,1. Já para às
respostas ‘Falta d'água’ e ‘Falta de Limpeza’, atribui-se nota 0,25.
Por fim, para ‘Deslizamento e/ou inundação’, atribui-se nota máxima e para ‘Nada’,
nota mínima.
94
Pergunta 5 - Você gosta da chuva? Quando começa a chover, o que você
pensa? (Tabela 4.6)
Tabela 4.6 – Cálculo da nota referente a pergunta 5
Q5 - Você gosta da chuva? Quando começa a chover, o que você pensa?
Categoria de resposta Percentual por categoria (%)
Nota Acumulado
Ciclo Hidrológico 16,1% 0,25 0,0403
Deslizamento e/ou Inundação 71,0% 1,00 0,7097
Não especificou 12,9% 0,00 0,0000
Nota final = 0,75
Essa pergunta é considera relevante para identificação da percepção de risco, pois
considera-se que a parcela da população que associa espontaneamente a chuva aos
deslizamentos o faz pois consegue percebê-la como um agente deflagrador desse tipo de
desastres, portanto, percebe o risco, e atribui-se nota máxima. À parcela que associa ao
aspecto do ciclo hidrológico, porém sem associar diretamente aos deslizamentos, atribui-
se nota 0,25. Por fim, à parcela que não consegue especificar nada, é atribuído nota
mínima.
Pergunta 8 - O deslizamento de terra ameaça a sua vida ou bem-estar?
(Tabela 4.7)
Tabela 4.7 – Cálculo da nota referente a pergunta 8
Q8 - O deslizamento de terra ameaça a sua vida ou bem-estar?
Categoria de resposta
Percentual por categoria (%)
Nota Acumulado
Sim 35,5% 1,00 0,3548
Indiretamente 12,9% 0,50 0,0645
Não ameaça 51,6% 0,00 0,0000
Nota final = 0,42
À resposta ‘sim’, atribui-se nota máxima; à resposta ‘indiretamente’, atribui-se nota
média (0,5) e à resposta ‘não’, atribui-se nota mínima.
95
Pergunta 9 - Com que frequência você pensa nisso ao longo do ano?
(Tabela 4.8)
Tabela 4.8 – Cálculo da nota referente a pergunta 9
Q9 - Com que frequência você pensa nisso ao longo do ano?
Categoria de resposta Percentual por categoria (%)
Nota Acumulado
Sempre 22,7% 1,00 0,2273
Quando chove 50,0% 0,50 0,2500
Quando ocorre desastre 4,5% 0,25 0,0114
Nunca 22,7% 0,00 0,0000
Nota final = 0,49
À resposta ‘sempre’, atribui-se nota máxima. Se o entrevistado afirma só pensar no
problema dos deslizamentos quando chove, atribui-se nota média (0,5) e se só pensar
quando de fato ocorre algum desastre, considera-se a percepção de risco baixo, e,
portanto, atribui-se nota 0,25. À resposta ‘não’, atribui-se nota mínima.
Pergunta 10 - Você acha que os outros moradores da comunidade se
preocupam com isso? (Tabela 4.9)
Tabela 4.9 – Cálculo da nota referente a pergunta 10
Q10 - Você acha que os outros moradores da comunidade se preocupam com isso?
Categoria de resposta
Percentual por categoria (%)
Nota Acumulado
Sim 35,5% 1,00 0,3548
Algumas pessoas 41,9% 0,50 0,2097
Não 9,7% 0,00 0,0000
Não sabe 12,9% 0,00 0,0000
Nota final = 0,56
96
À resposta ‘sim’, atribui-se nota máxima; à resposta ‘algumas pessoas’, atribui-se nota
média (0,5). Aos que respondem ‘não’ ou não sabem responder, atribui-se nota mínima, já
que indica a falta de comunicação e discussão entre os vizinhos sobre o assunto, indicando,
portanto, a baixa relevância dada ao tema.
Pergunta 12 - Você já foi afetado por algum desastre por deslizamento?
Como você reagiu? (Tabela 4.10)
Tabela 4.10 – Cálculo da nota referente a pergunta 12
Q12 - Você já foi afetado por algum desastre por deslizamento? Como você reagiu?
Categoria de resposta
Percentual por categoria (%)
Nota Acumulado
Sim 35,5% 1,00 0,3548
Não 64,5% 0,00 0,0000
Nota final = 0,35
Considerando o discutido no item 2.4.2, o fato de já ter sofrido às consequências de
algum desastre faz com que esta pessoa perceba melhor o risco a deslizamento. Portanto,
às respostas ‘Sim’ atribui-se nota máxima e às respostas ‘Não’, nota mínima.
Pergunta 13 - Você conhece alguém próximo que foi afetado por algum
desastre por deslizamento? Como você reagiu? (Tabela 4.11)
Tabela 4.11 – Cálculo da nota referente a pergunta 13
Q13 - Você conhece alguém próximo que foi afetado por algum desastre por deslizamento? Como você reagiu?
Categoria de resposta
Percentual por categoria (%)
Nota Acumulado
Sim 77,4% 1,00 0,7742
Não 22,6% 0,00 0,0000
Nota final = 0,77
97
Ainda considerando o discutido no item 2.4.2, conhecer alguém próximo que foi
afetado por algum desastre por deslizamento, ainda que em menor escala, também
aumenta a percepção de risco do indivíduo. Desta forma, às respostas ‘Sim’ atribui-se nota
máxima e às respostas ‘Não’, nota mínima.
Pergunta 26 - Está chovendo forte, sua casa está em área de risco, o que
você faz? Por que? (Tabela 4.12)
Tabela 4.12 – Cálculo da nota referente a pergunta 26
Q26 - Está chovendo forte, sua casa está em área de risco, o que você faz? Por que?
Categoria de resposta
Percentual por categoria (%)
Nota Acumulado
Sairia de casa 80,0% 1,00 0,8000
Não sairia de casa 20,0% 0,00 0,0000
Nota final = 0,80
À porcentagem que afirma que sairia de casa, atribui-se nota máxima e à porcentagem
que não sairia, atribui-se nota mínima.
Pergunta 29 - Você sairia de sua casa se tocasse um alarme da Defesa Civil
para saírem rapidamente de suas casas na hora da chuva forte? Por que?
(Tabela 4.13)
Tabela 4.13 – Cálculo da nota referente a pergunta 29
Q29 - Você sairia de sua casa se tocasse um alarme da Defesa Civil para saírem rapidamente de suas casas na hora da chuva forte? Por que?
Categoria de resposta
Percentual por categoria (%)
Nota Acumulado
Sim 75,9% 1,00 0,7586
Não 20,7% 0,00 0,0000
Talvez 3,4% 0,50 0,0172
Nota final = 0,78
À resposta ‘sim’, atribui-se nota máxima; à resposta ‘talvez’, atribui-se nota média (0,5)
e à resposta ‘não’, atribui-se nota mínima.
98
Pergunta 30 - Se você pudesse pagar um aluguel ou comprar uma casa igual
a essa em outro lugar fora de área de risco, você estaria disposto a se
mudar? Por que? (Tabela 4.14)
Tabela 4.14 – Cálculo da nota referente a pergunta 30
Q30 - Se você pudesse pagar um aluguel ou comprar uma casa igual a essa em outro lugar fora de área de risco, você estaria disposto a se mudar? Por que?
Categoria de resposta
Percentual por categoria (%)
Nota Acumulado
Sim 88,5% 1,00 0,8846
Não 11,5% 0,00 0,0000
Nota final = 0,88
À resposta ‘sim’, atribui-se nota máxima e à resposta ‘não’, atribui-se nota mínima.
Pergunta 31 - Que tipo de risco você diria que é o maior de sua vida?
(Tabela 4.15)
Tabela 4.15 – Cálculo da nota referente a pergunta 31
Q31 - Que tipo de risco você diria que é o maior de sua vida?
Categoria de resposta
Percentual por categoria (%)
Nota Acumulado
Acidentes de trânsito 3,2% 0,10 0,0032
Deslizamento 22,6% 1,00 0,2258
Raio (Eletrocutado) 3,2% 0,10 0,0032
Saúde 12,9% 0,10 0,0129
Violência 41,9% 0,10 0,0419
Nenhum 16,1% 0,00 0,0000
Nota final = 0,29
Utiliza-se, para esta pergunta, os mesmos critérios adotados para as perguntas 3 e
4. Portanto, às respostas ‘Acidentes de trânsito’, ‘Raio (Eletrocutado) ’, ‘Violência’ e
‘Saúde’, atribui-se nota 0,1. Já para ‘Deslizamento’, atribui-se nota máxima e para ‘Nada’,
nota mínima.
99
4.2.3. Resultado obtido
Finalizada a etapa de atribuir notas às perguntas, chega-se a etapa final da classificação
do nível de percepção de risco da população em estudo.
Essa etapa final consiste em definir a importância relativa de cada pergunta, atribuindo
pesos de 1 a 5, conforme descrito na Tabela 4.2 (item 4.2). Os pesos adotados para as doze
perguntas e suas notas correspondentes, estão apresentados na Tabela 4.16, a seguir.
Tabela 4.16 – Cálculo da nota final do aspecto 1 – Percepção de Risco
Pergunta Peso da
pergunta Nota da
pergunta Peso x Nota
Q3 - Tem algo que lhe incomoda na comunidade? 3 0,17 0,52
Q4 - Qual é o principal problema que afeta você e sua família?
2 0,11 0,23
Q5 - Você gosta da chuva? Quando começa a chover, o que você pensa?
5 0,75 3,75
Q8 - O deslizamento de terra ameaça a sua vida ou bem-estar?
5 0,42 2,10
Q9 - Com que frequência você pensa nisso ao longo do ano?
5 0,49 2,44
Q10 - Você acha que os outros moradores da comunidade se preocupam com isso?
3 0,56 1,69
Q12 - Você já foi afetado por algum desastre por deslizamento? Como você reagiu?
5 0,35 1,77
Q13 - Você conhece alguém próximo que foi afetado por algum desastre por deslizamento? Como você reagiu?
3 0,77 2,32
Q26 - Está chovendo forte, sua casa está em área de risco, o que você faz? Por que?
5 0,80 4,00
Q29 - Você sairia de sua casa se tocasse um alarme da Defesa Civil para saírem rapidamente de suas casas na hora da chuva forte? Por que?
5 0,78 3,88
Q30 - Se você pudesse pagar um aluguel ou comprar uma casa igual a essa em outro lugar fora de área de risco, você estaria disposto a se mudar? Por que?
5 0,88 4,42
Q31 - Que tipo de risco você diria que é o maior de sua vida?
2 0,29 0,57
Nota final = 0,58
Portanto, a nota final que define o nível de percepção de risco da população é a média
ponderada das notas das perguntas. Com essa nota, pode-se classificar o aspecto 1 de
acordo com a tabela a seguir (Tabela 4.17Tabela 4.30).
100
Tabela 4.17- Classificação final - Aspecto 1
Classificação final - Aspecto 1
Nota Final Nível de percepção de risco
0 a 0,25 muito baixo ou nulo
0,25 a 0,5 baixo a médio
0,5 a 0,75 médio a elevado
0,75 a 1 elevado
No caso de estudo do presente trabalho, a população da comunidade do Morro da
Formiga obteve a nota final quanto ao nível de percepção de risco de 0,58.
Portanto, seu conhecimento/empoderamento é considerado como de “médio a alto”.
4.3. Aspecto 2: Empoderamento / Conhecimento técnico
4.3.1. Considerações iniciais
Para redução da suscetibilidade e da vulnerabilidade de uma comunidade à desastres
relacionados a deslizamentos, e consequentemente, reduzir-se o risco, é muito importante
que os moradores possuam conhecimento técnico adequado do assunto, de forma a terem
embasamento para enfrentarem o problema do fatalismo associado ao desastre e
desenvolverem um conjunto de boas práticas que lhes permitam resistir, adaptarem-se e
recuperarem (resiliência).
Ressalta-se que não se pode nem se deve comparar os conhecimentos técnicos de um
especialista ao conhecimento que a comunidade local possa vir a possuir. O conhecimento
técnico que se espera desta população é que os moradores tenham noções suficientes
sobre a gravidade das ações antrópicas instabilizadoras das encostas e saibam como
contribuir na sua vida diária para reduzir a susceptibilidade aos deslizamentos, fazendo
com que, quando o perigo dos deslizamentos existir, estejam preparados para enfrentá-lo.
Muitas vezes, os moradores de regiões de risco não se sentem capazes de transformar
positivamente o meio em que vivem pois consideram que somente as obras de engenharia
101
resolveriam o problema dos desastres, também em função de não possuírem
conhecimento adequado sobre ações não-estruturais para a redução desse problema.
Caso observe-se que o empoderamento e o conhecimento técnico da população não
é satisfatório, é importante instruí-los sobre a adoção de ações simples para a redução do
risco, como saber fazer um sistema de drenagem local, garantir a limpeza dos canais de
drenagem, não retirar coberturas vegetais do solo e realizar o reflorestamento em
encostas, não construir em locais inadequados, entre outros.
Quanto mais empoderada estiver esta população, maiores as chances de se tornarem
ativas em sua comunidade, realizando ações que diminuam a suscetibilidade a
deslizamentos local, ou que ao menos não piorem a situação, evitando as ações antrópicas.
O objetivo deste item é propor uma maneira de quantificar o conhecimento técnico e
o empoderamento de uma determinada população, através da análise dos resultados de
uma pesquisa de campo que utilize o roteiro de perguntas presente no Anexo I deste
trabalho. Este método proposto será descrito e aplicado ao trabalho realizado no Morro
da Formiga, objeto desta tese.
Em primeiro lugar, é necessário atribuir notas a cada categoria de resposta obtida, de
forma a traduzir o nível de empoderamento/conhecimento técnico que a mesma
representa. Para isso, foram adotados os critérios expostos na Tabela 4.18, a seguir.
Tabela 4.18 – Critérios para atribuição de notas (Aspecto 2 – Empoderamento/Conhecimento Técnico)
Nota atribuída
Nível de empoderamento / conhecimento técnico
0 nulo
0,25 baixo
0,5 médio
0,75 médio a elevado
1 elevado
Definidos estes critérios, é necessário estudar cada uma das perguntas que possam
esclarecer o nível de conhecimento técnico desta população, observando qual nota é
adequada para cada categoria de resposta obtida. As discussões e conclusões acerca das
dez perguntas relevantes para o levantamento deste aspecto, serão apresentadas a seguir.
102
4.3.2. Aplicação do modelo ao caso de estudo
Pergunta 5 - Você gosta da chuva? Quando começa a chover, o que você
pensa? (Tabela 4.19)
Tabela 4.19 – Cálculo da nota referente a pergunta 5
Q5 - Você gosta da chuva? Quando começa a chover, o que você pensa?
Categoria de resposta Percentual por categoria (%)
Nota Acumulado
Ciclo Hidrológico 16,1% 0,25 0,0403
Deslizamento e/ou Inundação 71,0% 1,00 0,7097
Não especificou 12,9% 0,00 0,0000
Nota final = 0,75
Essa pergunta foi considera relevante para identificação do nível de conhecimento
técnico, pois considera-se que a parcela da população que associou espontaneamente a
chuva aos deslizamentos o faz pois consegue percebe-la como um agente deflagrador
desse tipo de desastres, portanto foi atribuído nota máxima. À parcela que levantou o
aspecto do ciclo hidrológico, porém sem associar diretamente aos deslizamentos, atribuiu-
se nota 0,25; e à parcela que não conseguiu especificar nada, foi atribuído nota mínima.
Pergunta 6 - Você sabe o que é um deslizamento de terra? (Tabela 4.20)
Tabela 4.20 – Cálculo da nota referente a pergunta 6
Q6 - Você sabe o que é um deslizamento de terra?
Categoria de resposta Percentual por categoria (%)
Nota Acumulado
Sim 96,8% 1,00 0,9677
Não 3,2% 0,00 0,0000
Nota final = 0,97
Aos que souberam explicar o que é um deslizamento de terra, atribuiu-se nota máxima.
Aos que não souberam, nota mínima.
103
Pergunta 11 - Você já recebeu informações sobre deslizamentos pela
associação de moradores? (Tabela 4.21)
Tabela 4.21 – Cálculo da nota referente a pergunta 11
Q11 - Você já recebeu informações sobre deslizamentos pela associação de moradores?
Categoria de resposta
Percentual por categoria (%)
Nota Acumulado
Sim 40,0% 1,00 0,4000
Não 60,0% 0,00 0,0000
Nota final = 0,40
À parcela que afirmou já ter recebido informações sobre deslizamentos pela associação
de moradores, atribuiu-se nota máxima. Aos que nunca receberam, nota mínima.
Pergunta 14 - Você sabe o que é área de risco? (Tabela 4.22)
Tabela 4.22 – Cálculo da nota referente a pergunta 14
Q14 - Você sabe o que é área de risco?
Categoria de resposta
Percentual por categoria (%)
Nota Acumulado
Sim 96,8% 1,00 0,9677
Não 3,2% 0,00 0,0000
Nota final = 0,97
Aos que souberam explicar o que é uma área de risco, atribuiu-se nota máxima. Aos
que não souberam, nota mínima.
104
Pergunta 15 - Você sabe se sua comunidade está em área de risco?
(Tabela 4.23)
Tabela 4.23 – Cálculo da nota referente a pergunta 15
Q15 - Você sabe se sua comunidade está em área de risco?
Categoria de resposta
Percentual por categoria (%)
Nota Acumulado
Sim 67,7% 1,00 0,6774
Não sabe 19,4% 0,00 0,0000
Não tem risco 12,9% 0,00 0,0000
Nota final = 0,68
Visto que, no caso do presente estudo, a comunidade possui regiões condenadas ou
classificadas como áreas de risco, à parcela que demonstra possuir consciência desta
situação, atribui-se nota máxima. Aos que não sabem responder ou que afirmam não haver
risco, nota mínima.
Pergunta 17 - Que medidas você acha que poderiam ser tomadas para
evitar os deslizamentos? (Tabela 4.24)
Tabela 4.24 – Cálculo da nota referente a pergunta 17
Q17 - Que medidas você acha que poderiam ser tomadas para evitar os deslizamentos?
Categoria de resposta Percentual por categoria (%)
Nota Acumulado
Ações estruturais 45,2% 0,25 0,1129
Jogar lixo no local correto 9,7% 0,75 0,0726
Remover as pessoas 9,7% 0,25 0,0242
Vistorias nas casas 3,2% 0,25 0,0081
Ações estruturais, Remover as pessoas 3,2% 0,50 0,0161
Ações estruturais, Jogar lixo no local correto 3,2% 1,00 0,0323
Reflorestamento, Não Construir/Escavar 3,2% 1,00 0,0323
Reflorestamento, Jogar lixo no local correto 3,2% 1,00 0,0323
Reflorestamento, Remover as pessoas 3,2% 1,00 0,0323
Não sabe 16,1% 0,00 0,0000
Nota final = 0,36
105
Os entrevistados que citaram intervenções por parte do governo (ações estruturais,
vistorias nas casas e remoção dos moradores dos locais impróprios) receberam nota 0,25,
pois apesar de terem sido capazes de identificar ações realmente eficazes, mostraram total
dependência dos órgãos governamentais, e portanto, pouco empoderamento. Os que
citaram duas intervenções por parte do governo, receberam o dobro (0,5).
Já à parcela que citou uma medida preventiva que pode ser realizada pelos próprios
moradores, atribuiu-se nota 0,75. Aos que citaram duas medidas, sendo ao menos uma
dentro desta última categoria citada, foi atribuída nota máxima.
Pergunta 18 - Você se sente capaz ou você acha que você pode fazer algo
para evitar ser atingido por um deslizamento? (Tabela 4.25)
Tabela 4.25 – Cálculo da nota referente a pergunta 18
Q18 - Você se sente capaz ou você acha que você pode fazer algo para evitar ser atingido por um deslizamento?
Categoria de resposta Percentual por categoria (%)
Nota Acumulado
Jogar lixo no local correto 27,6% 1,00 0,2759
Consertar tubulações de água e esgoto 6,9% 1,00 0,0690
Sair do local 13,8% 0,50 0,0690
Reflorestar 6,9% 1,00 0,0690
Não sabe 44,8% 0,00 0,0000
Nota final = 0,48
À parcela que se demonstrou empoderada ao afirmar-se capaz de realizar uma ação
que pode contribuir à prevenção dos desastres, atribui-se nota máxima. Às que veem sair
do local como a única opção, atribui-se nota média (0,5). Finalmente, à parcela que não se
sente capaz de fazer nada para evitar ser atingido por um deslizamento, atribui-se nota
mínima.
106
Pergunta 19 - O que você acha que o homem faz que possa causar o
deslizamento de terra? (Tabela 4.26)
Tabela 4.26 – Cálculo da nota referente a pergunta 19
Q19 - O que você acha que o homem faz que possa causar o deslizamento de terra?
Categoria de resposta Percentual por categoria (%)
Nota Acumulado
Lixo 35,5% 0,75 0,2661
Desmatar 6,5% 0,75 0,0484
Construir/Escavar 9,7% 0,75 0,0726
Lixo, Construir/Escavar 3,2% 1,00 0,0323
Lixo, Desmatar 9,7% 1,00 0,0968
Lixo, Desmatar, Construir/Escavar 12,9% 1,00 0,1290
Desmatar, Construir/Escavar 12,9% 1,00 0,1290
Nada 3,2% 0,00 0,0000
Não sabe 6,5% 0,00 0,0000
Nota final = 0,77
Aos que são capazes de citar ao menos duas ações antrópicas, atribui-se nota máxima.
Aos que citam apenas uma, o nível de conhecimento é considerado de médio a alto (nota
0,75). Já aos que não sabem responder ou afirmam que não há nada que se possa fazer,
atribui-se nota mínima.
Pergunta 23 - Você acha que para reduzir o problema dos deslizamentos, a
opinião dos moradores deve ser considerada? (Tabela 4.27)
Tabela 4.27 – Cálculo da nota referente a pergunta 23
Q23 - Você acha que para reduzir o problema dos deslizamentos, a opinião dos moradores deve ser considerada?
Categoria de resposta
Percentual por categoria (%)
Nota Acumulado
Sim 88,5% 1,00 0,8846
Não 11,5% 0,00 0,0000
Nota final = 0,88
107
Esta pergunta identifica se a população se percebe como um agente importante na
prevenção dos deslizamentos, traduzindo, portanto, o quão empoderada esta população
se considera.
Desta forma, atribui-se nota máxima para respostas positivas e nota mínima para
respostas negativas.
Pergunta 28 - Você sabe o que é um sistema de alarme (ou alerta) para
deslizamento? Existe aqui na comunidade? (Tabela 4.28)
Tabela 4.28 – Cálculo da nota referente a pergunta 28
Q28 - Você sabe o que é um sistema de alarme (ou alerta) para deslizamento? Existe aqui na comunidade?
Categoria de resposta
Percentual por categoria (%)
Nota Acumulado
Sim 100,0% 1,00 1,0000
Não 0,0% 0,00 0,0000
Nota final = 1,00
Visto que, no caso do presente estudo, a comunidade possui um sistema de alarme, à
parcela que demonstra possuir consciência do mesmo, atribui-se nota máxima. Aos que
não sabem responder, nota mínima. Neste caso, a totalidade dos entrevistados sabia o que
era um sistema de alarme.
4.3.3. Resultado obtido
Finalizada a etapa de atribuir notas às perguntas, chega-se a etapa final da classificação
do nível de empoderamento e conhecimento técnico da população em estudo.
Essa etapa final consiste em definir a importância relativa de cada pergunta, atribuindo
pesos de 1 a 5, conforme descrito na Tabela 4.2 (item 4.2). Os pesos adotados para as dez
perguntas e suas notas correspondentes, estão apresentados na Tabela 4.29, a seguir.
108
Tabela 4.29 – Cálculo da nota final do aspecto 2 – Empoderamento / Conhecimento técnico
Pergunta Peso da
pergunta Nota da
pergunta Peso x Nota
Q5 - Você gosta da chuva? Quando começa a chover, o que você pensa?
5 0,75 4,84
Q6 - Você sabe o que é um deslizamento de terra?
5 0,97 3,75
Q11 - Você já recebeu informações sobre deslizamentos pela associação de moradores?
3 0,40 1,20
Q14 - Você sabe o que é área de risco? 3 0,97 2,90
Q15 - Você sabe se sua comunidade está em área de risco?
5 0,68 3,39
Q17 - Que medidas você acha que poderiam ser tomadas para evitar os deslizamentos?
5 0,36 1,81
Q18 - Você se sente capaz ou você acha que você pode fazer algo para evitar ser atingido por um deslizamento?
5 0,48 2,41
Q19 - O que você acha que o homem faz que possa causar o deslizamento de terra?
5 0,77 3,87
Q23 - Você acha que para reduzir o problema dos deslizamentos, a opinião dos moradores deve ser considerada?
3 0,88 2,65
Q28 - Você sabe o que é um sistema de alarme (ou alerta) para deslizamento? Existe aqui na comunidade?
5 1,00 5,00
Nota final = 0,72
Portanto, a nota final que define o nível de conhecimento técnico e o empoderamento
da população é a média ponderada das notas das perguntas. Com essa nota, pode-se
classificar o aspecto 2 de acordo com a tabela a seguir (Tabela 4.30).
109
Tabela 4.30 - Classificação final - Aspecto 2
Classificação final - Aspecto 2
Nota Final Nível de empoderamento / conhecimento técnico
0 a 0,25 muito baixo a baixo
0,25 a 0,5 baixo a médio
0,5 a 0,75 médio a elevado
0,75 a 1 elevado
No caso de estudo do presente trabalho, a população da comunidade do Morro da
Formiga obteve a nota final quanto ao nível de conhecimento técnico e o empoderamento
de 0,72.
Portanto, seu conhecimento/empoderamento é considerado como de “médio a alto”.
4.4. Aspecto 3: Confiança na Defesa Civil
4.4.1. Considerações Iniciais
A confiança na Defesa Civil e nos órgãos públicos por parte dos moradores de regiões
suscetíveis a deslizamentos está diretamente relacionada à vulnerabilidade da mesma. A
credibilidade da Defesa Civil é muito importante para que suas ações preventivas sejam de
fato efetivas. Por exemplo, de nada adianta a implementação de um sistema de alarme em
uma dada comunidade ou mesmo o sistema de envios de mensagens aos moradores, se a
população não confia na veracidade das informações, e, portanto, não seguirá as
recomendações da Defesa Civil.
Visto isso, existe uma grande necessidade de “aproximação” dos gestores públicos na
direção dos moradores da comunidade, visando uma gestão participativa nas ações
preventivas de desastres, de forma que a população “ajude a ser ajudada”, ou seja, reaja
da maneira esperada aos programas implementados pelos órgãos públicos.
O objetivo deste item é propor uma maneira de quantificar a confiança que uma
determinada população tem na Defesa Civil, através da análise dos resultados de uma
pesquisa de campo que utilize o roteiro de perguntas presente no Anexo I deste trabalho.
110
Este método proposto será descrito e aplicado ao trabalho realizado no Morro da Formiga,
objeto desta tese.
Primeiramente, é necessário atribuir notas a cada categoria de resposta obtida, de
forma a traduzir o nível de confiança que a mesma representa. Para isso, foram adotados
os critérios expostos na Tabela 4.31, a seguir.
Tabela 4.31 – Critérios para atribuição de notas (Aspecto 3 – Confiança na Defesa Civil) Nota
atribuída Nível de confiança na
Defesa Civil
0 nulo
0,25 pequeno
0,5 médio
0,75 médio a elevado
1 elevado
Definidos estes critérios, é necessário estudar cada uma das perguntas que possam
esclarecer o nível de confiança na Defesa Civil, observando qual nota é adequada para cada
categoria de resposta obtida. As discussões e conclusões acerca das três perguntas
relevantes para o levantamento deste aspecto, serão apresentadas a seguir.
4.4.2. Aplicação do modelo ao caso de estudo
Pergunta 21 - Você acha que você precisa de alguma orientação da Defesa
Civil ou de outros técnicos/ especialistas para saber melhor sobre
deslizamentos? (Tabela 4.32)
Tabela 4.32 – Cálculo da nota referente a pergunta 21
Q21 - Você acha que você precisa de alguma orientação da Defesa Civil ou de outros técnicos/ especialistas para saber melhor sobre deslizamentos?
Categoria de resposta
Percentual por categoria (%)
Nota Acumulado
Não 38,7% 0,00 0,0000
Sim 61,3% 1,00 0,6129
Nota final = 0,61
111
Considerando que sentir a necessidade de receber informação está diretamente ligado
a perceber esta informação como útil para si, os que respondem que ‘sim’, demonstram
confiança na Defesa Civil, e, portanto, atribui-se nota máxima; caso contrário, nota mínima.
Pergunta 22 - Se a Defesa Civil informar que sua casa está em área de
risco, que atitude você tomaria? Por quê? (Tabela 4.33)
Tabela 4.33 – Cálculo da nota referente a pergunta 22
Q22 - Se a Defesa Civil informar que sua casa está em área de risco, que atitude você tomaria? Por quê?
Categoria de resposta Percentual por categoria (%)
Nota Acumulado
Buscaria orientação antes de tomar uma decisão 30,0% 0,50 0,1500
Sairia de casa 33,3% 1,00 0,3333
Sairia, dependendo das condições 10,0% 0,75 0,0750
Não sairia de casa 26,7% 0,00 0,0000
Nota final = 0,56
Os entrevistados que afirmam que buscariam orientação antes de tomar uma decisão,
demonstram que levam em consideração as informações passadas pela Defesa Civil, mas
não estão dispostos a seguir suas instruções de imediato. Visto isso, atribui-se nível médio
de confiança.
Pergunta 25 - Você confia na Defesa Civil ou nos técnicos da prefeitura?
Por que? (Tabela 4.34)
Tabela 4.34 – Cálculo da nota referente a pergunta 25
Q25 - Você confia na Defesa Civil ou nos técnicos da prefeitura? Por que?
Categoria de resposta
Percentual por categoria (%)
Nota Acumulado
Sim 86,7% 1,00 0,8667
Parcialmente 6,7% 0,50 0,0333
Não 6,7% 0,00 0,0000
Nota final = 0,90
112
À resposta ‘sim’, atribui-se nota máxima; à resposta parcialmente, atribui-se nota
média (0,5) e à resposta ‘não’, atribui-se nota mínima.
4.4.3. Resultado obtido
Finalizada a etapa de atribuir notas às perguntas, chega-se a etapa final da classificação
do nível de confiança na Defesa Civil por parte da população em estudo.
Essa etapa final consiste em definir a importância relativa de cada pergunta, atribuindo
pesos de 1 a 5, conforme descrito na Tabela 4.2 (item 4.2). Os pesos adotados para as três
perguntas e suas notas correspondentes, estão apresentados na Tabela 4.35, a seguir.
Tabela 4.35 – Cálculo da nota final do aspecto 3 – Confiança na Defesa Civil
Pergunta Peso da
pergunta Nota do atributo
Peso x Nota
Q21 - Você acha que você precisa de alguma orientação da Defesa Civil ou de outros técnicos/ especialistas para saber melhor sobre deslizamentos?
4 0,61 2,45
Q22 - Se a Defesa Civil informar que sua casa está em área de risco, que atitude você tomaria? Por quê?
3 0,56 1,68
Q25 - Você confia na Defesa Civil ou nos técnicos da prefeitura? Por que?
5 0,90 4,50
Nota final = 0,72
Portanto, a nota final que define o nível de confiança na Defesa Civil por parte da
população é a média ponderada das notas das perguntas. Com essa nota, pode-se
classificar o aspecto 3 de acordo com a tabela a seguir (Tabela 4.36).
Tabela 4.36 – Classificação final - Aspecto 3
Classificação final - Aspecto 3
Nota Final Nível de confiança na Defesa Civil
0 a 0,25 muito baixo ou nulo
0,25 a 0,5 baixo a médio
0,5 a 0,75 médio a elevado
0,75 a 1 elevado
113
No caso de estudo do presente trabalho, a população da comunidade do Morro da
Formiga obteve a nota final quanto ao nível de confiança na Defesa Civil de 0,72.
Portanto, sua confiança na Defesa Civil é considerada de “média a alta”.
4.5. Classificação da Vulnerabilidade
Conforme discutido nos itens anteriores, a vulnerabilidade é inversamente
proporcional à percepção de risco, ao empoderamento/conhecimento técnico e à
confiança na defesa civil por parte da população, sendo estes três aspectos de igual
importância para análise da vulnerabilidade.
Nos itens 4.1, 4.2 e 4.3, definimos as notas finais de cada um destes três aspectos,
conforme quadro resumo a seguir (Tabela 4.37).
Tabela 4.37 – Quadro resumo das notas finais
Aspecto Sigla Nota atribuída
Nível de percepção de risco PR 0,58
Nível de empoderamento / conhecimento técnico EM 0,72
Nível de confiança na Defesa Civil CO 0,72
MÉDIA 0,67
A vulnerabilidade será classificada, a partir da média dessas três notas, da seguinte
maneira:
𝑁𝑜𝑡𝑎 𝑑𝑒 𝑉𝑢𝑙𝑛𝑒𝑟𝑎𝑏𝑖𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 = 1 − (𝑃𝑅 + 𝐸𝑀 + 𝐶𝑂)/3
Vulnerabilidade muito elevada
Caso a média das notas dos três aspectos seja inferior a 0,25, ou seja, a nota de
vulnerabilidade for maior que 0,75, significa que a percepção de risco está muito baixa e,
portanto, vulnerabilidade muito elevada.
114
1 −𝑃𝑅 + 𝐸𝑀 + 𝐶𝑂
3≥ 0,75
Este caso é o mais crítico, sendo necessária intervenção urgente por parte dos órgãos
governamentais.
Vulnerabilidade elevada
Caso a média das notas dos três aspectos seja inferior a 0,5, ou seja, a nota de
vulnerabilidade esteja entre 0,5 e 0,75, significa que a percepção de risco está abaixo do
valor considerado como percepção baixa e, portanto, representa vulnerabilidade elevada.
0,5 < 1 −𝑃𝑅 + 𝐸𝑀 + 𝐶𝑂
3≤ 0,75
Vulnerabilidade média
Caso a média das notas dos três aspectos esteja entre 0,5 e 0,75, ou seja, a nota de
vulnerabilidade esteja entre 0,25 e 0,5, significa que a percepção de risco está abaixo do
valor considerado como percepção alta, portanto, representa uma percepção média e
vulnerabilidade média.
0,25 < 1 −𝑃𝑅 + 𝐸𝑀 + 𝐶𝑂
3≤ 0,5
Vulnerabilidade baixa
Caso a média das notas dos três aspectos seja superior a 0,75, ou seja, a nota de
vulnerabilidade for menor que 0,25, significa que a percepção de risco está acima do valor
considerado como percepção alta, portanto, representa uma percepção alta e
vulnerabilidade baixa.
0 < 1 −𝑃𝑅 + 𝐸𝑀 + 𝐶𝑂
3≤ 0,25
115
Ou seja, a classificação se dá por meio dos seguintes critérios, resumidos na Tabela
3.38.
Tabela 4.38 – Classificação da vulnerabilidade – Morro da Formiga
Classificação de Vulnerabilidade
Nota Vulnerabilidade
0,75 a 1 muito elevada
0,75 a 0,5 elevada
0,5 a 0,25 média
0,25 a 0 baixa
Portanto, para o caso de estudo do presente trabalho, a média das notas dos três
aspectos é de 0.67 e, portanto, a nota de vulnerabilidade é de 0,33 e a vulnerabilidade será
considerada como média (Tabela 4.38).
116
5. Considerações finais
5.1. Conclusões
Os desastres associados a deslizamentos de terra aumentam em quantidade e
intensidade devido ao crescimento da população, ocupação desordenada do solo,
degradação ambiental e mudanças climáticas. Muito já se evoluiu na gestão dos desastres,
principalmente no âmbito do conhecimento técnico a respeito desse problema
(suscetibilidade e ações estruturais mitigadoras do risco associado a deslizamentos).
Porém, apesar dos recursos disponíveis para prevenção dos desastres, na prática a
organização entre os moradores e instituições a fim de reduzir os problemas tem se
mostrado, até o momento, insuficiente, gerando consequências sociais, econômicas e
ambientais.
Não é desconhecido que a prevenção é a melhor forma de se antecipar ao problema e
evitar novos desastres. Entretanto, sem um diagnóstico prévio sobre os entendimentos e
práticas diárias da população moradora de áreas de encostas suscetíveis a deslizamentos,
ações de cunho preventivo, por vezes, se tornam ineficientes. Este assunto se torna muito
relevante para a sociedade em geral, dada a luta constante pelo acesso ao direito à
moradia e a quantidade exorbitante de pessoas morando em áreas impróprias à ocupação
em todo Brasil.
Desta forma, posto que o tema é interdisciplinar, as pesquisas, atividades de extensão
e discussões sobre redução de risco de desastres devem se tornar mais expressivas dentro
das universidades em diversas áreas do conhecimento. Percebe-se que há uma deficiência
no diálogo entre os especialistas dessas áreas, entre esses e os órgãos públicos
gerenciadores de desastres e, principalmente, com a comunidade.
As ações para redução do risco associado a deslizamentos envolvendo intervenções
estruturais e não estruturais sem o entendimento prévio do conhecimento desta
população neste assunto, como se dá sua relação com a Defesa Civil e sobre a sua
percepção de risco quanto a deslizamentos, não é possível planejar as medidas mais
117
eficazes para prevenção, já que não se considerará a real vulnerabilidade desta
comunidade.
Neste contexto e seguindo uma linha de pesquisa do Setor de Geotecnia do
Departamento de Construção Civil da UFRJ, o objetivo deste trabalho foi compreender
estes três aspectos, propor um método para qualificá-los e aplicá-lo no caso prático no
caso prático da comunidade do Morro da Formiga. A seguir são apresentadas as principais
conclusões desse levantamento de percepção de risco e vulnerabilidade que podem
contribuir para tornar mais eficientes as ações para a redução dos riscos na referida
comunidade.
Em primeiro lugar, observa-se que os moradores fazem uma hierarquização e
relativização dos incômodos e seus respectivos riscos. A importância dada aos
deslizamentos é muito pequena (3,2%), se comparada com a dada a outros incômodos
presentes na localidade, como por exemplo, 16,1% dos moradores consideram a violência
como o problema que mais afeta suas vidas. Porém, ressalta-se que a princípio houve um
grande índice de resposta “Nada” (38,7%), significando que o entrevistado considera que
não corre nenhum tipo de risco ou perigo e que nenhum problema afeta sua vida. Isso
indica um resultado preocupante no que diz respeito à dificuldade em perceber os riscos
e em pensar a respeito do que lhe pode ocorrer. Por outro lado, houve dúvida se esta
resposta indica que os moradores têm medo de responder perguntas com caráter de
crítica à comunidade por receio de represálias do tráfico, ainda muito presente na
comunidade. Esta segunda hipótese se confirma, em alguns casos, ao repetir a pergunta
ao final da entrevista, quando o entrevistado já está mais à vontade, e este índice cai para
16,1%. Porém, como ainda é um valor significativo, conclui-se uma dificuldade por parte
desta população de perceber os riscos em geral.
Os moradores apresentam familiaridade com o tema dos deslizamentos, segundo as
seguintes constatações: 96,8% dos moradores dizem saber o que é um deslizamento de
terra e uma área de risco; 77,4% dos moradores conhecem alguém que foi afetado por
algum desastre deste tipo, 67,7% dos moradores admitem existir risco de deslizamentos
na comunidade. No entanto, de uma forma geral, eles não consideram que moram em
área de risco. Apenas 35,5% dos moradores acreditam que o deslizamento de terra ameaça
a sua vida ou qualidade de vida de alguma maneira, percentual não esperado, mas que
118
pode ser justificado pela influência das ações e políticas implementadas pelo governo na
comunidade, como realização de obras de contenção, retirada de pessoas de áreas de rico
e reflorestamento de área crítica quanto a susceptibilidade a deslizamentos.
Observou-se também que os moradores possuem conhecimento técnico regular. 71%
dos entrevistados associaram (sem influência prévia dos entrevistadores) a chuva aos
deslizamentos, demonstrando que compreendem a correlação entre esses fatores e que
percebem o risco quando começa a chover. Isso se confirma visto que 50% afirma pensar
no problema de deslizamentos quando chove e 22,7% afirmam pensar sempre. Além disso,
apenas 9,7% dos moradores não conseguiram citar nenhuma das ações antrópicas
instabilizadoras das encostas. Porém, grande parte dos moradores (44,8%) não sabe como
contribuir na sua vida diária para reduzir a susceptibilidade aos deslizamentos, mostrando
que esta população ainda não é suficientemente empoderada e que, possivelmente,
muitas vezes tomam atitudes que aumentam a suscetibilidade a deslizamentos É
importante instruí-los sobre a adoção de ações simples para a redução do risco, como não
acumular lixo e entulho no terreno, saber fazer um sistema de drenagem local, garantir a
limpeza dos canais de drenagem, não retirar coberturas vegetais do solo e realizar o
reflorestamento em encostas, não realizar escavações muito íngremes, etc.
Outro fator que contribui para os moradores não se sentirem capazes de transformar
positivamente o meio em que vivem é que grande parte dos moradores (45,2%) considera
que somente as obras de engenharia resolveriam o problema dos desastres, também em
função de não possuírem conhecimento adequado sobre ações para a redução desse
problema.
De maneira geral, os moradores afirmam confiar na Defesa Civil (86,7%), 100% afirma
saber o que é um sistema de alarme e ter consciência da existência do mesmo na
comunidade, além de 75,9% afirmar que sairia de casa se o alarme tocasse, o que não é
um índice ideal, porém satisfatório. Por outro lado, os moradores ainda se consideram
afastados da Defesa Civil, visto que 69,2% acreditam que nos trabalhos para redução do
problema de deslizamentos esta instituição não leva em consideração a opinião dos
moradores.
119
Por fim, propôs-se e aplicou-se o método para classificação da vulnerabilidade da
comunidade quanto a percepção de risco, chegando a conclusão de que a população do
Morro da Formiga possui níveis médios a elevados de conhecimento técnico, confiança na
Defesa Civil e percepção de risco, sendo este último o mais deficiente, muito
provavelmente devido a relativização feita frente à outras ameaças. Adverte- se que essa
análise deve ser encarada de forma provisória e aproximativa, uma vez que em pesquisa
científica as afirmações podem superar conclusões prévias a elas e podem ser superadas
por outras afirmações futuras (MINAYO, 1992 apud GULLO, 2012).
Evidencia-se que são necessárias ações socioeducativas que mostre aos moradores a
importância deste tema, usando como exemplo casos reais ocorridos na comunidade de
forma a aproximá-los do problema e aumentar a percepção do risco. Também é
importante trabalhos que ensinem como eles podem contribuir significativamente para a
redução dos riscos, minimizando e/ou revertendo as ações antrópicas nocivas a
estabilidade das encostas e participando efetivamente na gestão dos riscos, incentivando
o seu engajamento em atividades de prevenção, ou seja, tendo como foco a promoção do
empoderamento da população.
5.2. Sugestões para estudos futuros
Devido às limitações deste trabalho, não foi possível fazer o georreferenciamento das
casas dos entrevistados e analisar os resultados de acordo com o grau de risco indicado
pelo mapa de risco da região. Tal análise deve ser realizada em trabalhos futuros, sendo
muito importante posto que permite verificar diferenças de percepções entre as
populações residentes em áreas de risco baixo, médio ou alto, indicando ações
socioeducativas mais direcionadas de acordo com o grau de risco.
Sugere-se também, para novos trabalhos de campo, a avaliação da confiabilidade das
respostas dos entrevistados, de forma a se majorar ou minorar suas respostas de acordo
com a pré-disposição do morador a responder às perguntas e com a percepção da
sinceridade na resposta dada. Para isso, é necessária experiência e sensibilidade por parte
do entrevistador, sendo que essa análise deve ser feita na hora da entrevista e
120
devidamente registrada. Caso contrário, pode não ser realizada de maneira fiel a realidade,
podendo até influenciar negativamente os resultados.
Por fim, sabe-se que o método proposto para classificação da vulnerabilidade quanto
a percepção de risco é apenas um estudo inicial, devendo ser aplicado em outros trabalhos
práticos para poder realizar-se os devidos ajustes, refinamento e melhoramento do
método.
121
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124
Anexos
Anexo I – Roteiro de entrevistas para Percepção de Risco – Morro
da Formiga – RJ - 2015
Roteiro de entrevistas para percepção de risco - Morro da Formiga - RJ 2015.1
N0 do questionário: Data entrevista: ____/____/____ Entrevistador:
Nome do entrevistado: Endereço:
Tempo em que mora no local:
Grau de suscetibilidade e tipo de movimento de massa associado (vide mapa):
Idade: Sexo: Ocupação:
Quantas pessoas moram na casa: Escolaridade: *Renda familiar: (até 500, 1000, 3000, 5000 etc)
Há quanto tempo você mora aqui na comunidade?
Q.1 Por que você resolveu morar aqui?
Q.2 O que você mais gosta daqui? (Escreva todas as coisas
que a pessoa falar)
Q.3 Tem algo que te incomoda aqui na comunidade? Por que?
Q.4 De maneira geral, qual o principal problema que mais
afeta você e a sua família?
Q.5 Você gosta da chuva? Quando começa a chover você
pensa em quê?
Q.6 Você sabe o que é um deslizamento de terra? Descrição:
Se ela não souber, fale muito SUPERFICIALMENTE E RAPIDAMENTE o que é e continue o questionário.
Q.7 O que você acha do problema de deslizamento de terra?
Q.8 O deslizamento de terra ameaça a sua vida / qualidade de
vida ou bem estar?
[ ] não [ ] pouco [ ] médio [ ] muito ---> indiretamente
125
Q.9 Com que freqüência você pensa nisso ao longo do ano?
Q.10 Você acha que os outros moradores da comunidade se
preocupam com isso?
Q.11 Você já recebeu informações sobre deslizamentos pela
associação de moradores da sua comunidade?
Q.12
Você já foi afetado por algum desastre provocado por
deslizamento? Se a resposta for sim perguntar: Como você reagiu diante
disso? Qual foi sua atitude?
Q.13
Você conhece alguém próximo que foi afetado por algum
desastre provocado por deslizamento? Se a resposta for sim perguntar: Como você reagiu diante
disso? Qual foi sua atitude?
Q.14 Você já ouviu falar em “área de risco”? Sabe o que é?
Se ela não souber, fale muito SUPERFICIALMENTE E RAPIDAMENTE o que é e continue o questionário. Aqui área de risco é área de elevada suscetibilidade a deslizamentos.
Q.15 Você sabe se a sua comunidade está em área de risco?
Q.16
Você acha que sua casa está em área de risco, ou seja, ela pode ser atingida por deslizamento?
Qual o grau de risco? Por que?
(Anote o nível de risco que você percebeu que foi dito) [ ] baixo (se a resposta for não) [ ] médio
[ ] alto [ ] muito alto
Q.17 Que medidas você acha que poderiam ser tomadas para
evitar os deslizamentos?
Q.18
Você se sente capaz ou você acha que você pode fazer algo para evitar ser atingido por um deslizamento?
Q.19
O que você acha que o homem faz que possa causar o deslizamento de terra? (deixe a pessoa falar livremente)
Coloque em ordem de prioridade.
Q.20 Coloque em ordem de importância, entre os itens ao lado,
o que você acha que o homem faz que possa causar o deslizamento de terra.
[ ] lixo e entulho jogado na encosta
[ ] cortes muito inclinados para construção da casas
[ ] água e esgoto jogados sem qualquer cuidado no
terreno
126
[ ] derrubada de árvores
( o 1 é o de maior prioridade)
Q.21 Você acha que você precisa de alguma orientação da Defesa Civil ou de outros técnicos/ especialistas para
saber melhor sobre deslizamentos?
Q.22 Se a Defesa Civil informar que sua casa está em área de
risco, que atitude você tomaria? Por quê?
Q.23
Você acha que para reduzir o problema dos deslizamentos, a opinião dos moradores deve ser
considerada?
Q.24
Você acha que nos trabalhos para a redução dos
problemas de deslizamentos, a Defesa Civil ou o governo leva em consideração a opinião dos moradores?
Q.25
Você confia na Defesa Civil ou nos técnicos da prefeitura? Por que?
Q.26
Está chovendo forte, sua casa está em área de risco, o
que você faz? Por que? Se falar que sairia de casa, que caminho tomaria?
Q.27
Quem deveria ser o responsável pelos prejuízos provocados por deslizamentos de terra?
Q.28
Você sabe o que é um sistema de alarme (ou alerta) para deslizamento? Existe aqui na comunidade?
Se não souber você explica rapidamente.
Q.29
Você sairia de sua casa se tocasse um alarme da Defesa Civil para saírem rapidamente de suas casas na hora da
chuva forte? Por que?
Q.30
Se você pudesse pagar um aluguel ou comprar uma casa
igual a essa em outro lugar fora de área de risco, você estaria disposto a se mudar? Por que?
Q.31 Que tipo de risco você diria que é o maior de sua vida?
Q.32
Você acha que o governo deveria cuidar de outras coisas antes de cuidar do problema de deslizamentos? Quais? (livremente) (Se ela não falar nada, diga: Ou esse é o
primeiro problema que ele deve cuidar?)