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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO FACULDADE DE MEDICINA DA UFRJ TERAPIA OCUPACIONAL GUILHERMINA GUABIRABA RIBEIRO A MEDIAÇÃO MUSEOLÓGICA: formação de mediadores para promoção de acessibilidade universal no Museu Nacional Trabalho de conclusão de curso apresentado ao curso de Especialização em Acessibilidade Cultural da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro/UFRJ como parte requisito para à obtenção do titulo de Especialista. Orientadora: Profa. Dra. Viviane Panelli Sarraf Rio de Janeiro 2014

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1

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

FACULDADE DE MEDICINA DA UFRJ

TERAPIA OCUPACIONAL

GUILHERMINA GUABIRABA RIBEIRO

A MEDIAÇÃO MUSEOLÓGICA:

formação de mediadores para promoção de acessibilidade

universal no Museu Nacional

Trabalho de conclusão de curso

apresentado ao curso de Especialização em

Acessibilidade Cultural da Faculdade de

Medicina da Universidade Federal do Rio de

Janeiro/UFRJ como parte requisito para à

obtenção do titulo de Especialista.

Orientadora: Profa. Dra. Viviane

Panelli Sarraf

Rio de Janeiro

2014

2

GUILHERMINA GUABIRABA RIBEIRO

A MEDIAÇÃO MUSEOLÓGICA:

formação de mediadores para promoção de acessibilidade

universal no Museu Nacional

Trabalho de conclusão de curso

apresentado ao curso de Especialização em

Acessibilidade Cultural da Faculdade de

Medicina da Universidade Federal do Rio de

Janeiro/UFRJ como parte requisito para à

obtenção do titulo de Especialista.

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________________________

Prof.:

_______________________________________________________________

Prof.:

_______________________________________________________________

Professora Profa. Viviane Panelli Sarraf (Orientadora)

3

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a Deus que é poderoso para fazer abundantemente mais

além daquilo que pedimos ou pensamos.

E também à sociedade, na expectativa de que esta contemple a diversidade

humana de forma digna.

Dedico ainda ao Museu Nacional.

4

AGRADECIMENTO

Agradeço a Deus pela sua muita misericórdia me concedendo o privilégio de

iniciar e concluir do Curso de Especialização em Acessibilidade Cultural. Para

tanto Ele me concedeu também pessoas que estiveram à minha volta, me

auxiliando com suas orações, críticas e sugestões.

Agradeço ao meu marido, Flávio, pelo companheirismo, paciência, bom humor

e me desculpo pelas vezes que eu não pude corresponder às suas

expectativas. Aos meus filhos Renato e Raquel pela presença e apoio

emocional.

Só posso agradecer a Deus pela vida da Patrícia Dorneles e de cada um dos

organizadores, pela coordenação, pela elaboração do site pela Prof. Miryam

Pelosi, instrumento que me permitiu compartilhar com várias pessoas tão rico

material.

Agradeço também aos colegas do curso pelo convívio agradável que pudemos

desfrutar e dar conta de tantas e tantas demandas, ressalto as colegas Renata

Carvalho, Aline Rocha e Bárbara Harduim. Enfim, crescemos para melhor

servir a sociedade.

E em especial, agradeço à minha orientadora, que já me atendeu com tanta

dedicação no curso de Acessibilidade em Espaços Culturais na Fundação

Dorina Nowill. E agora, me ajudando a escolher o tema, fornecendo materiais

preciosos e corrigindo um trabalho em tempo recorde. Ela conseguiu retirar da

redação tão precária um trabalho apresentável. “Ah se todas as orientadoras

fossem assim”.

E os nossos jovens mediadores? Sempre presentes, receptivos, atentos e

solidários, prontos a me salvar das garras da computação, das minhas lutas

frenéticas com a informática. Agradeço a Mariana Ferreira, Marcelo Cacholas,

Hugo Barcellos, Amanda Vieira, Jonatan Silva, Henrique Sobral e tantos outros

que contribuíram para a realização do nosso trabalho.

Na leitura do presente trabalho, será possível observar o grande esforço

realizado pela equipe da Seção de Assistência ao Ensino para cumprir as

atribuições, para melhor atender os diferentes públicos do Museu Nacional.

Essa pequena equipe que trabalha com paixão, objetivo e perspectiva, e que

permanece persistente porque tem um propósito definido. Realmente não

tenho palavras que possam expressar minha gratidão a Andréa Fernandes

Costa e a Sheila Nicolas Villas Boas, Flávio Baptista da Silva e recentemente

fomos beneficiados pela presença de Eliane Magalhães.

5

Agradeço também a diretora do Museu Nacional, Prof. Claudia Rodrigues, ao

vice-diretor Prof. Marcelo Carvalho que implementou a exposição acessível “A

(R) evolução das Plantas” e ao diretor Administrativo Wagner Willian Martins. E

segue-se uma lista sem fim, uns que já não são mais da nossa equipe e que

tiveram oportunidade de identificar a clara necessidade de reconhecer o direito

de todas as pessoas, algumas que colaboraram de forma relevante com o

trabalho aqui apresentado: Carmen Dorigo e Patrícia Lameirão.

Imperdível foi a primeira palavra que me ocorreu quando vi a ementa do Curso

de Especialização em Acessibilidade Cultural. Como já estava cursando o

Mestrado e chefiando a Seção de Assistência ao Ensino do Museu Nacional,

não me vi em condições de participar, de forma que comecei a divulgar para os

colegas da instituição, na expectativa de que o museu tivesse uma

representação, o que não aconteceu e acarretou a minha participação.

Mas a palavra não mudou: imperdível. E assim iniciei o curso, com grandes

expectativas. E como é difícil dá conta de grandes expectativas! Pois elas

foram superadas e a cada aula ficava pensando na grande oportunidade que

estávamos tendo. Em 2011, fui a São Paulo, com recursos próprios, participar

de um curso e agora poderia participar de uma Especialização com a

possibilidade de ter como professores pessoas que são referência nas

pesquisas sobre acessibilidade. Foi um ganho pessoal para cada um dos

alunos, mas retorno em benefício para a sociedade. Que privilégio poder fazer

parte desse grupo, desse momento histórico! Que Deus nos abençoe para que

realmente possamos fazer diferença.

6

EPÍGRAFE

“O homem tem um corpo como um pátio externo que é visto por todos, tem

uma alma, como um santo lugar e também tem o espírito, sua parte mais

interior.”

Revista Compromisso, Ano CVIII. N° 429,1T14.

7

RESUMO

A presente pesquisa pretende investigar a formação de mediadores no Museu

Nacional como instrumento de promoção de equidade para que pessoas com

deficiência possam desfrutar do local. Examinaremos como a formação foi

ampliada e como, na sua consolidação, gerou posturas e ações de outros

profissionais atuantes no museu e fora dele em relação ao acolhimento desse

público. Dessa forma, tornou-se indispensável a apropriação de estudos

voltados para a identificação e eliminação de barreiras atitudinais que

desfavorecem o acesso dessas pessoas na apreensão do patrimônio. Além

disso, o trabalho se propõe a analisar a formação dos mediadores e seus

desdobramentos com ações implementadas a partir dos contatos com o tema.

Nesse contexto, busca-se ampliar o universo do Museu Nacional no sentido de

compartilhar também com as pessoas com deficiência a elaboração de

exposições que contribuam para a formação e a melhoria do atendimento a

esse público-alvo, com vistas à estruturação de um espaço democrático.

Palavras-chave: mediação, educação não formal, acessibilidade, cidadania,

museu inclusivo, pessoa com deficiência.

8

ABSTRACT

The research aims to investigate the training of mediators in the National

Museum as a tool to promote equity for people with disabilities can enjoy the

National Museum. It will examine how the training was expanded and its

consolidation as generated postures and actions of other museum’s workers

and outside regarding how to host this public. Thus, it became essential the

appropriation of studies on identification and removal of attitudinal barriers that

disadvantage their access in the seizure of assets. So, the study aims to

analyze the training of mediators and their split with actions implemented from

contacts with the theme. In that context, we intend to expand the universe of the

National Museum in order to also share with people with disabilities to exhibit

development that contribute to the formation and improvement of service to this

target audience, aimed at structuring of a democratic space.

Key-words: interposition, non formal education, accessibility, citizenship,

inclusive museum, people with deficiency.

9

FOLHA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 01 Acervo da coleção acessível da SAE- Fóssil de peixe 16

Figura 02 O Museu Nacional sob o olha com alteração periférica 23

Figura 03 Aplicação do Questionário: O Museu na Ponta dos Dedos 30

Figura 04

Figura 04 - Eduarda (à esquerda) auxiliada por uma

intérprete de Libras para estabelecer diálogo com uma

pessoa surda, na ocasião do III Curso de Formação dos

Mediadores, 2014

34

Figura 05 Treinamento do receptivo no uso do carro elétrico portátil

para transporte de cadeira de rodas

36

Figura 06 Encontros para sensibilização do receptivo – caminhada com

os olhos vendados

37

Figura 07 Formação de Mediadores com Especialista 38

Figura 08 Formação dos Mediadores do PIC Jr. 2013 – Acessibilidade atitudinal

42

Figura 09 Formação dos Mediadores do PIC Jr. 2013 – Acessibilidade

atitudinal

42

Figura 10 Atendimento a um visitante cego – Semana Nacional de

Ciência e Tecnologia / SNCT 2012 – (Curadora da exposição

de curta duração “(R) evolução das Plantas”)

45

Figura 11 Atendimento a um visitante cego – Semana Nacional de

Ciência e Tecnologia / SNCT 2012

45

Figura 12 Aniversário do Museu Nacional − Atendimento a visitante cego, 2012

46

Figura 13 Aniversário do Museu Nacional − Atendimento a visitante

vidente, 2012

48

Figura 14 Mediação com turma de alunos surdos, 2012 48

Figura 15 Mediação com visitantes surdos, 2014 49

Figura 16 Visita ao Museu de Geodiversidade CCMN/UFRJ, 2012 52

Figura 17 Visita Técnica dos Mediadores ao IBC, Exposição Didática “A célula ao alcance da mão, 2013

54

Figura 18 Maquete dos Arcos da Lapa/RJ 54

Figura 19 Maquete da Baia da Guanabara/RJ 55

Figura 20 Maquete do Estádio do Maracanã/RJ 55

Figura 21 Palestra: A Mediação pelo Mediador - Museu de Astronomia

e Ciências Afins/ MAST

58

Figura 22 Palestra: As Especificidades da Educação em Museus – Museu da Vida/FIOCRUZ

58

Figura 23 Relato de pessoa surda com intérprete de LIBRAS 59 Figura 24 Educadora da Escola Especial Favo de Mel/FAETEC 59

Figura 25 Roda de conversa para reflexões acerca do Curso de Formação

60

Figura 26 Visita Técnica com os Mediadores ao Instituto Benjamin Constant (IBC) 2014, Exposição Didática “A célula ao alcance

61

10

da mão” Figura 27 Palestra: Paleoarte, uma ferramenta para divulgação da

ciência, 2014 62

Figura 28 Visita dos alunos do CEJA/IBC a Exposição piloto: O Mar Brasileiro na Ponta dos Dedos, 2013

64

11

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CEJA : Centro de Estudos de Jovens e Adultos

CCMN : Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza

DF: Distrito Federal

FAETEC: Fundação de Apoio à Escola Técnica

FAPERJ: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro:

FIOCRUZ: Fundação Oswaldo Cruz

IBC: Instituto Benjamin Constant

ICOM: International Council of Museums

INES: Instituto Nacional de Educação de Surdos

LIBRAS: Língua Brasileira de Sinais

MN: Museu Nacional

OMCC Observatório de Museus e Centros Culturais

PIBEX: Programa Institucional de Bolsas de Extensão

PIBIAC: Programa Institucional de Iniciação Artística e Cultural

PIC Jr : Programa de Iniciação Cientifica Júnior

PRODICC: Programa de Divulgação Científica e Cultural

RAM: Rede de Acessibilidade em Museus

RJ: Rio de Janeiro

SAE: Seção de Assistência ao Ensino

SNCT: Semana Nacional de Ciência e Tecnologia

UFRJ: Universidade Federal do Rio de Janeiro

UNIRIO: Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

12

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .......................................................................... 14

1.1Objetivos ................................................................................................. 19

2 O MUSEU NACIONAL E SEUS DIFERENTES PÚBLICOS ..... 20

2.1 Criação da Seção de Assistência ao Ensino ........................................... 23

2.2 A educação não formal para pessoas com deficiência, público infantil e

familiar .......................................................................................................... 26

3 A ACESSIBILIDADE E A INVISIBILIDADE DA PESSOA COM

DEFICIÊNCIA ............................................................................... 29

4 MEDIAÇÃO ............................................................................... 37

4.1 Depoimento dos visitantes com deficiência visual sobre o Espaço

Ciência Acessível ........................................................................................ 39

4.2 Experimentações de acessibilidade em eventos de popularização e

divulgação científica: Semana de Ciência e Tecnologia (SNCT) e

Aniversário do Museu Nacional ................................................................. 43

4.2.1 Comentário dos Mediadores ............................................................. 48

4.2.2 Desenvolvimento da Acessibilidade no espaço da UNIRIO.............. 51

4.3 Formação dos Mediadores ................................................................... 51

4.3.1 Formação em 2012 ........................................................................... 51

4.3.2 Formação em 2013 ........................................................................... 52

4.3.3 Formação em 2014 ........................................................................... 56

4.3.4 Divisão de Grupos de Trabalho ........................................................ 62

4.4 Produtos Elaborados ............................................................................ 63

5 CONSIDERAÇÕES ................................................................... 66

REFERÊNCIAS ............................................................................ 67

APÊNDICES..................................................................................69

APÊNDICE A: Questionário: O Museu na Ponta dos Dedos ................... 69

APÊNDICE B: Diagnóstico acesso físico ................................................. 77

APÊNDICE C: Comentários das pessoas com deficiência e/ou seus

familiares anotados no livro de registro na portaria da exposição

do MN ........................................................................................................... 77

13

ANEXOS ................................................................................... ..80

ANEXO A: Depoimento de Mediadora – Campus Realengo II – Relatório

Bolsista Jovens Talentos/FAPERJ .......................................................... 79

ANEXO B: Depoimento de Mediadora – Campus Niterói II – Relatório

Bolsista Jovens Talentos/FAPERJ ............................................................ 81

ANEXO C:Depoimento de Mediador – Campus Tijuca II – Relatório do

Bolsista Jovens Talentos/FAPERJ ........................................................... 83

ANEXO D: Depoimento de Curadora da Exposição “A (R) evolução das

plantas” e acessibilidade ........................................................................... 84

ANEXO E: Desdobramento fora do espaço do Museu Nacional-

Depoimento de Educadora, Técnica em Assuntos Educacionais da

SAE ............................................................................................................... 87

ANEXO F: Áreas de estudo dos bolsistas PRODICC, PIBEX, PIBIAC ... 89

ANEXO G: Regimento do Museu Nacional – Seção de Assistência ao

Ensino – SAE (separata) .............................................................................. 90

ANEXO H: Lei de Acessibilidade ................................................................ 92

14

1 INTRODUÇÃO

A Seção de Assistência ao Ensino (SAE) do Museu Nacional (MN) da

Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) realizou durante alguns anos

um programa de treinamento para professores com a finalidade de possibilitar-

lhes conhecer melhor o acervo e adquirir informações para respaldar suas

assertivas em posterior visita ao museu com seus alunos. Dessa forma, foi

iniciada uma série de visitas à exposição, divididas em dois módulos: ciências

sociais e ciências biológicas, ambos orientados, à época, pelo professor Solon

Leontsinis1, contando com material especialmente elaborado para tal atividade,

favorecendo, pois, os desdobramentos e expectativas sobre o acervo.

Foi também foi desenvolvida profícua parceria com o Colégio Estadual

Júlia Kubitschek, em que o museu recebia os formandos do último ano do

curso de ensino médio, modalidade normal. Com esse grupo foram elaboradas

propostas de monitoria, com o objetivo de discutir estratégias de visitação,

adequação de linguagem às séries escolhidas e possíveis interações lúdicas,

bem como sugestão de caminhadas e trilhas no Parque da Quinta da Boa

Vista.

Nessa constante busca pela interação com a sociedade em geral, e com

as escolas em particular, estabeleceu-se importante parceria com o Colégio

Pedro II, no âmbito do Programa de Iniciação Científica (PIC Jr.) iniciado no

ano de 2000 e vigora até a presente data. No bojo dessa parceria havia o

propósito de inserir alunos do ensino médio nas pesquisas, preparação e

manutenção das coleções científicas e seus desdobramentos. Por outro lado,

proporcionou-se aos jovens estudantes a experimentação do ambiente

profissional e acadêmico, fomentando a aproximação entre as duas instituições

centenárias.

O Programa de Iniciação Científica Júnior (PIC Jr.) Colégio Pedro

II/MN/UFRJ, ao longo de toda sua existência, já contou com aproximadamente

1 Antropólogo, Professor do Museu Nacional, ex-responsável pela Seção de Assistência ao

Ensino/ SAE.

15

1000 estagiários, que ingressaram na segunda série, podendo prosseguir na

terceira série2. Em alguns casos, tal experiência se prolongou na graduação,

com o retorno de alguns desses estagiários na condição de alunos da

Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e, agora, sob outros programas

de promoção científica e cultural oferecidos pela universidade.

No âmbito do PIC Jr., os estagiários são orientados por professores e

técnicos lotados nos diversos departamentos e setores do MN. Na Seção de

Assistência ao Ensino (SAE), todos os estagiários participam não só como

mediadores, mas também em outros projetos que serão descritos no tópico 2.1

deste trabalho.

Como membro integrante da SAE do Museu Nacional, participamos

ativamente também do Projeto Vendo, Tocando e Aprendendo3, realizado pelo

Museu Nacional entre 1995 a 2006, destinado ao público escolar vidente. O

programa, implantado inicialmente com o foco no ensino fundamental, foi

posteriormente estendido ao ensino médio, e, eventualmente, aos alunos de

graduação.

A proposta do Projeto consistia na interação problematizada com o

público, em forma dialógica, com o objetivo de estimular a percepção e a

curiosidade do educando, bem como de induzi-lo a formular questionamentos

mediante o contato direto com o acervo disponibilizado para manuseio

(historicamente proibido, considerando-se a prática museal) ─ proposta até

então inédita da SAE no espaço do Museu Nacional.

A partir dessa experiência com a coleção didática destinada ao toque,

em ações de popularização e divulgação cientifica, a equipe da SAE

inicialmente ampliou o atendimento ao público de pessoas com deficiência

visual do Instituto Benjamin Constant (IBC) e, posteriormente, ao mesmo

público de outras instituições escolares, públicas ou privadas.

2 Estágio inicial: alunos do 2º ano do ensino médio, Estágio avançado: alunos do 3ºano do

ensino médio. 3 Temas abordados: Lítico Arqueológico, Rochas e Minerais, Cultura Material Indígena,

Fósseis, Insetos: semelhanças e diferenças.

16

A SAE dispõe de uma coleção didática, composta por peças originais,

em quase sua totalidade, e réplicas. Parte do acervo é utilizado para

empréstimo às escolas; e outra não disponível. Dessa forma, são duas as

modalidades de manejo: uma para empréstimo ─ cujo foco está direcionado

para a educação formal e outra é utilizada nas ações educativas de

popularização da ciência promovidas pelo Museu e/ou disponibilizada para

distintas instituições de educação não formal.

Figura 01 - Acervo da coleção acessível da SAE - Fóssil de peixe

A partir da experiência empreendida com o Instituto Benjamin Constant,

aumentou o interesse da SAE em abranger o público de pessoas com

deficiência visual, favorecendo-lhes, igualmente, o acesso ao conhecimento

disponibilizado pelos acervos museais.

Na qualidade de servidora da referida Seção, participamos como

expectadores da Exposição Internacional “Dinos in Rio” (2009), ocorrida nas

dependências do MN. Tal fato foi fundamental para que percebêssemos o

potencial que a Instituição dispunha e a necessidade de ampliação da

quantidade de acervo acessível e diversificado, ou seja, a criação de réplicas

destinadas ao toque. A partir daí a coleção didática disponível para apreciação

tátil da SAE cresceu, graças ao Prof. Sérgio Alex Kugland, que nos cedeu

acervo em réplica de cada departamento da exposição de longa duração do

MN. Isso nos possibilitou novas formas de comunicação com o público em

questão.

17

Também como expectadores, estivemos presentes no 4° Fórum

Nacional de Museus - “Direito à Memória, Direito a Museus” (2010), e no curso

Ação Educativa em Museus, em Brasília (DF), no qual se apresentaram

pesquisadores como Virginia Kastrup, cujo trabalho desenvolvido em um

museu de arte, na França, disponibilizava acervos de arte ao toque para

pessoas com deficiência visual. Nesse mesmo fórum, nos foi disponibilizado

um caderno de acessibilidade contendo relatos de pesquisa de pessoas que

são referência no assunto, entre elas a pesquisadora Amanda Tojal.

Em 2011, fomos direcionadas à pesquisa sobre acessibilidade tátil e a

inclusão da pessoa com deficiência em museus de ciências, sob o tema “O

Museu na Ponta dos Dedos”, quando ingressamos no Curso de Especialização

em Divulgação Científica das Ciências da Saúde e das Tecnologias, na

Fundação Oswaldo Cruz/FIOCRUZ. Nele, pudemos aprofundar os

conhecimentos sobre a história da divulgação e a história das ciências para

diferentes públicos e distintas formas de aproximação e formação de público.

Estabelecido o vínculo com a mediação e a acessibilidade, nada mais

natural que vislumbrássemos a possibilidade de beneficiar a prática da

mediação com os pressupostos da acessibilidade atitudinal.

Pesquisar a educação não formal para pessoas com deficiência nos

exigiu atuação e participação em alguns cursos4, seminários5, congressos e

encontros sobre o assunto, dentre eles registre-se o ministrado pela professora

Viviane Panelli Sarraf, intitulado Acessibilidade em Espaços Culturais, realizado

na Fundação Dorina Nowill. Tais participações desdobraram-se em visitas

técnicas a espaços culturais, as quais, por sua vez, oportunizaram a

elaboração de diversos trabalhos6, sempre na busca de uma aproximação mais

efetiva com o público-alvo, no sentido de conhecer em quais espaços culturais

4 Curso de Atualização em Gestão da Educação Especial na Perspectiva da Educação

Inclusiva LaPEADE /Laboratório de Estudos, Pesquisas e Apoio à Participação e à Diversidade em Educação - Faculdade de Educação/UFRJ, 2012 5 1º Seminário Estadual de Acessibilidade em Museus e Instituições Culturais, Secretária de

Cultura, 2011. 6 Apresentação oral: O Museu na Ponta dos Dedos , Universidade Federal do Espírito

Santo/UFES, 2011.

18

estavam colocadas as propostas de acessibilidade, como elas estavam sendo

inseridas e se tais medidas contemplavam ou não aquele público.

Para tanto, foram realizadas algumas entrevistas com os representantes

dos setores educativos das instituições pesquisadas para saber como se

preparavam para atender às pessoas com deficiências, as formas de

comunicação, o modo como as propostas podem atender a mais de um

segmento de público, a elaboração do acervo tátil, a forma de implantação das

propostas existentes e, finalmente, o modo como a instituição se relacionava

com tais ações. Tais experiências serão relatados no item 3.

Concordamos com Tojal (2007) que, ao se propor uma educação não

formal inclusiva, além das políticas, conhecimentos, instrumentos e

equipamentos, torna-se necessária a existência da mediação cultural.

É dessa forma que as estratégias de mediação deverão ampliar o uso dos canais de percepção, de forma não somente verbal (oral e escrita), mas também interativa e experimental, pois ao se pensar em todos os públicos, os profissionais de museus se deparam com uma importante e significativa parcela da sociedade − os públicos com necessidades especiais – o que implica o incremento e adaptação de estratégias para ações que também envolvam a percepção multissensorial. (TOJAL, 2007, p. 102)

Da mesma forma, procuramos investigar e ouvir o público a quem as

medidas propostas se dirigiam. Optamos, também, por conhecer os

mecanismos e estratégias utilizados pela educação formal7 destinada a esse

público específico. Expomos assim os envolvimentos dos mediadores de

graduação tanto do PIC Jr. quanto dos outros três programas de bolsas da

UFRJ também abrigados na SAE: Programa Institucional de Bolsas de

Extensão – PIBEX, Programa Institucional de Iniciação Artística e Cultural -

PIBIAC e Programa de Divulgação Científica e Cultural – PRODICC.

Como base teórica, o presente trabalho expõe os temas da mediação, o

conceito de educação formal e não formal: suas atribuições e características e,

finalmente, aborda o conceito da acessibilidade e seus desdobramentos.

7 V Congresso Brasileiro de Educação Especial/VII Encontro Nacional dos Pesquisadores da

Educação Especial. Programa de Pós- Graduação em Educação Especial,/ UFSCAR, 2012.

19

Em seguida, o trabalho analisará as estratégias de formação de

mediadores adotadas, bem como as contribuições oriundas do

desenvolvimento de tais ações. Nas considerações finais, pontuaremos as

reflexões sobre a percepção do ambiente museológico e as pessoas com

deficiências.

1.1 Objetivos

Observa-se que a mediação cultural dispõe de potencial inigualável para

que as pessoas com deficiência se apropriem dos espaços culturais. Nesse

sentido, a análise da formação desse profissional torna-se imprescindível na

implementação de políticas e ações que contribuam para a acessibilidade

atitudinal, como forma de motivar a visitação e fruição do espaço museal.

Sendo assim, esta pesquisa tem por objetivo principal a investigação da

formação de mediadores como promoção de acessibilidade universal no Museu

Nacional. Como desdobramento, há os seguintes objetivos específicos:

- A partir da formação dos mediadores8, analisar a mediação cultural como

instrumento de interação;

- Elencar desdobramentos ocorridos no âmbito do MN/UFRJ e em outros

espaços9;

- Identificar e interferir na qualificação dos atores dos espaços museais –

mediadores e receptivo;

- Avaliar o processo de formação de mediadores; e

- Analisar as ações de acessibilidade no Museu Nacional.

Portanto, a presente pesquisa baseia-se na análise da formação dos

mediadores, a interação com público e os desdobramentos das ações de

8 Com foco no início de cada estágio e algumas visitas técnicas a espaços que discutem ou se

utilizam de formas comunicacionais para ppessoas com deficiência. 9 A participação do MN na Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, e as exposições de curta

duração no MN: 1. A (R)evolução das Plantas 2. O Mar Brasileiro na Ponta dos Dedos, e ainda a execução das exposições elaboradas no final do curso dos alunos de museologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO): 1 . Grafite: a voz colorida das ruas, 2. Hoje é dia de feira.

20

acessibilidade ocorridas de 2012 a 2014. Não analisando apenas como a

aproximação do tema “acessibilidade” fomentou as ações da SAE, mas

também sua repercussão em outros departamentos do MN e em distintos

espaços.

2. O MUSEU NACIONAL E SEUS DIFERENTES PÚBLICOS

O Museu Nacional é vinculado ao Fórum de Ciência e Cultura da

Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), instituição autárquica do

Governo Federal sob a égide do Ministério da Educação. Ele se caracteriza

tanto por ser um importante centro de pesquisa e ensino no âmbito das

Ciências Naturais e Antropológicas, quanto por prestar relevantes serviços

referentes à guarda, manutenção e divulgação de um riquíssimo e diversificado

acervo que corresponde à uma parcela significativa do patrimônio natural e

cultural da nação. Nesse sentido, atende plenamente a definição de museu

aprovada pelo Conselho Internacional de Museus (ICOM na sigla em inglês)

em sua vigésima assembleia geral, realizada em Barcelona (Espanha), em 06

de julho de 2001:

Instituição permanente, sem fins lucrativos, a serviço da sociedade e do seu desenvolvimento, aberta ao público e que adquire, conserva, investiga, difunde e expõe os testemunhos materiais do homem e de seu entorno, para educação e deleite

da sociedade.

O primeiro museu do país é, hoje, uma das unidades componentes da

UFRJ. Foi criado em 1818 por D. João VI, com o nome de Museu Real,

inicialmente sediado no Campo de Santana, no centro da cidade do Rio de

Janeiro, em um prédio mais tarde ocupado pelo Arquivo Nacional. Fora definido

como uma instituição científica, nos moldes dos museus portugueses de

história natural, visando fomentar a prosperidade do reino por meio do

conhecimento e do aproveitamento dos recursos naturais. Em 1822, com a

independência do Brasil, passou a se chamar Museu Imperial e finalmente, em

1830, ganhou o nome de Museu Nacional, mantendo seus objetivos iniciais.

Durante todo esse período de existência, recebeu visitas ilustres, dentre

as quais as de personalidades internacionais consagradas no meio científico.

21

Em 1925, interessado no meteorito Bendegó, o físico alemão Albert Einstein −

pai da teoria da relatividade e ganhador do Prêmio Nobel − registrou sua

presença plantando uma muda de Pau-Brasil (Caesalphina echinata) no Jardim

das Princesas. Em 1926, foi a vez da polonesa naturalizada francesa Marie

Curie, pioneira nos estudos de relatividade, ganhadora do Prêmio Nobel de

Física e Química. Alberto Santos-Dumont, considerado o pai da aviação, visitou

o Museu em 1928, testando no Jardim das Princesas mais um de seus

inventos. No mesmo ano, o então presidente Washington Luiz também esteve

presente com sua comitiva e, mais tarde em 1999, a rainha da Dinamarca

prestigiou a inauguração de uma exposição temporária.

Anos antes, na gestão da professora Heloísa Alberto Torres (1937-

1955), um grupo de antropólogos da Universidade de Columbia, nos Estados

Unidos, discípulos do professor Franz Boas, trabalhou em cooperação com a

Seção de Antropologia do MN. Destacam-se importantes nomes de

antropólogos brasileiros e estrangeiros, como Claude Levi-Strassus, Ruth

Landes, Charles Walter Wagley, Luiz de Castro Faria, Raimundo Lopes da

Cunha e Edison Carneiro.

No entanto, há de se registrar que a trajetória do Museu Nacional não se

diferencia das demais instituições museológicas, sendo fortemente marcada

pela exclusão. Para Bourdieu (2007, p. 168), “através dos mais insignificantes

detalhes de sua morfologia e de sua organização, os museus denunciam sua

verdadeira função, que consiste em fortalecer o sentimento, em uns, da

filiação, e nos outros, da exclusão”.10 A presença desses renomados

estudiosos no Museu, seja em visitas, seja desempenhando estudos e

pesquisas, ratifica o caráter sócio-intelectual e científico elevado do mesmo,

fator que muitas vezes distancia o espaço museal de visitantes leigos.

Diante do quadro de exclusão existente e das iniciativas de inclusão

social das pessoas com deficiência, devemos entender como os museus

10

BOURDIEU, P.; DARBEL, A. O amor pela arte: os museus de arte na Europa e seu público. São Paulo: Zouk, 2007.

22

podem se configurar a partir de sua história e missão social. Sarraf (2010)

atenta para:

A arte e a cultura não fazem parte do rol de necessidades básicas e vitais da sociedade, já que ninguém precisa, em termos fisiológicos, das mesmas para sobreviver. É justamente por essa razão que as atividades socioeducativas no âmbito cultural entram no campo simbólico. Ter acesso às mesmas representa estar incluído socialmente em esferas que alimentam o espírito e não o corpo. Ao longo da história ocidental o acesso à arte e à cultura integrou as atividades ligadas às elites e aos intelectuais, mas na atualidade, os espaços culturais e artísticos invadiram a vida da população em geral por meio das políticas de acesso, necessárias à sua legitimação na contemporaneidade. (SARRAF, 2010 p.154-173).

Ressaltamos que a abertura dos museus aos diferentes públicos requer

discussão e reflexão quanto à relevância do papel social dos museus, de como

são pensadas as políticas e a ação educativa, reconhecendo a existência das

pessoas com deficiências como público a ser acolhido, conforme destaca Tojal

(2007):

Porém, a atuação da ação educativa em um museu não poderá se restringir apenas às questões de ampliação da frequência de diferentes tipos de públicos, mas também acrescentar a essa importante tarefa o desenvolvimento de ações culturais que tenham tanto um impacto político, social quanto econômico. (TOJAL, 2007, p.84-87.)

Segundo o Estatuto de Museus (2009, cap. II, Seção III), “os museus

caracterizar-se-ão pela acessibilidade universal dos diferentes públicos, na

forma da legislação vigente”. Porém, nenhuma ação será efetiva sem a

participação dos interessados, ou seja, das pessoas com deficiência,

participantes legitimadas do controle e da monitoria da correta implementação

da acessibilidade. Dessa forma a SAE acolhe Eduarda Emerick, mediadora

cega conforme será detalhado no item 3.

23

Figura 02 - O Museu Nacional sob o olhar com alteração da visão periférica

O Estatuto estabelece também que se disponibilizem instrumentos de

avaliação para definir metas e estratégias, cujos objetivos sejam os de

melhorar as condições de acesso e acolhimento nos museus, como também

abrir espaço para novas possibilidades de leitura e uma participação mais

efetiva do público com deficiência. Faz-se necessária a ampliação de estudos

sobre acessibilidade e tecnologia assistiva que fundamentem tais ações.

Por vezes o museu é identificado como o lugar em que nada se pode,

nada se permite, não sendo oferecidos instrumentos comunicacionais que

favoreçam a apreensão do objeto. O visitante não é convidado a se sentir

participante nem usuário da exposição, cuja fruição parece restringir-se a um

público de determinado padrão social, estético, educacional, dentre outros.

Contudo, alguns espaços têm ressignificado a apropriação desejada do

patrimônio da humanidade em exposições, iniciando o acolhimento do público

em geral e de pessoas com deficiência, inclusive. O Museu Nacional é um

desses espaços.

2.1. Criação da Seção de Assistência ao Ensino

Em 15 de outubro de 1927, Edgar Roquette Pinto, então diretor do MN,

criou a Seção de Assistência ao Ensino (SAE), primeiro setor educativo de um

24

museu brasileiro, com competências, atribuições e expectativas definidas.

Vejamos o que diz o Regimento do Museu Nacional, extraído do Capitulo X:

[...] órgão com finalidade de atendimento ao ensino no âmbito das Ciências Naturais e Antropológicas, mediante assistência ao professor de nível médio elementar, a universitários, estudantes de qualquer nível, a escolas e ao público em geral, mediante o uso de todas as suas exposições e instalações, bem como realizar pesquisas sobre técnicas de utilização didática das exposições para diferentes níveis de ensino.

Nesse sentido, esta pesquisa investiga e executa abordagens de

inserção das pessoas com deficiência e investe na mediação como instrumento

potencial do MN, para legitimá-lo como um espaço desprovido de barreiras

atitudinais, favorecendo a fruição do público pretendido. Ao tempo em que

também beneficia a participação de pessoas com deficiência na equipe de

mediadores e em outros laboratórios do MN.

Cabe ressaltar que são procedimentos já adotados pelo MN todas as

proposições elencadas na presente pesquisa.

Entre as atribuições da SAE, registamos a formação de estudantes de

ensino médio e de graduação para atuarem como mediadores nos atuais

projetos: (1) Manhãs no Parque: roteiro histórico ambiental; (2) Acessibilidade:

o Museu Nacional e seus Públicos; (3) O Museu Nacional e o seu Público de

Visitação Programada: levantamento do perfil dos visitantes e avaliação das

visitas mediadas; (4) MediAÇÃO no Museu Nacional: mediadores e visitantes

na construção de diálogos entre museu, ciência e sociedade; (5) Diálogos

entre Educadores, (6) Mediadores: vozes e ouvidos em busca da

democratização do museu; (7) Revitalizando o Sonho de Roquette Pinto: a

coleção didática e a coleção acessível; e (8) Revitalizando o Sonho de

Roquette Pinto: a Seção de Assistência ao Ensino do Museu Nacional como

Pólo Difusor e Popularizador das Ciências Naturais.

Nada mais pertinente que esses mediadores conheçam a bibliografia

sobre mediação, acessibilidade e vivenciem o atendimento e a aproximação

de todos os públicos, proponham ações e elaborem formas para favorecer a

apreensão do acervo.

25

Devemos ter em mente que tais projetos não são estanques, de modo

que as leituras, ainda que feitas por determinada parte do grupo, devem ser

compartilhadas com os demais. Assim como o treinamento para mediar as

pessoas com deficiência é para todas as pessoas do educativo, as temáticas

acessibilidade e mediação permeiam todos os projetos.

Observamos a necessidade de instituir práticas que contribuam para a

inserção desse público: indispensável conhecer suas características e

considerá-las no planejamento e na divulgação das atividades que serão

realizadas. Atentarmos para o fato de que grande parte dos visitantes vem a

esses espaços como uma prática de lazer e que quase nunca estão

desacompanhadas revela-se da mesma forma importante.

Sendo assim, não basta apenas conhecer o público visitante, é preciso

preparar a instituição de modo a recepcioná-los da melhor maneira possível.

Iniciar parcerias com instituições formais e não formais que atendam esse

público é fundamental. Embora o planejamento das atividades seja relevante,

esse trabalho não estará completo sem a percepção e a eliminação das

barreiras atitudinais.

Dessa forma, o MN, através da SAE, efetuou contato com algumas

instituições como Instituto Benjamin Constant/IBC11, Fundação Dorina Nowill12

e o Colégio Pedro II (unidade São Cristóvão, que atende alunos com

deficiência visual) e o Centro de Jovens Adultos/CEJA, vinculado ao IBC

(respondentes do questionário “O Museu na Ponta dos Dedos (Apëndice A).

Favoreceu-nos também a participação da Escola Especial Favo de

Mel/FAETEC no Diálogos entre Educadores13 e ainda a representação de

profissionais da instituição no III Curso de Formação de Mediadores (2014).

11

Colaborou com a formação dos mediadores em visita técnica ao IBC e elaborou a edição de textos em Braille para as exposições de curta duração: A (R)evolução das Plantas e O Mar Brasileiro na Ponta dos dedos . 12

Disponibiliza regularmente material: livros falados e livros infantis em Braille e letra ampliada. 13

Diálogos entre Educadores: pretende-se que Diálogos entre Educadores seja o ponto de partida para que os professores estabeleçam práticas pedagógicas que possibilitem aos seus alunos a realização de visitas mais prazerosas e bem sucedidas ao Museu Nacional. Com a realização deste encontro, acredita-se que os educadores poderão melhor explorar, de acordo

26

2.2 A educação não formal para pessoas com deficiência,

público infantil e familiar

A educação não formal, segundo Trilla14, define-se no seguinte termo:

“toda atividade organizada, sistematizada, educativa, realizada fora do marco

do sistema oficial, para facilitar determinados tipos de aprendizagem a

subgrupos específicos da população, tanto adultos como infantis”.

Nesse aspecto, os museus vêm sendo caracterizados como locais que

possuem uma forma própria de desenvolver sua dimensão educativa.

Identificados como espaços de educação não formal, essa caracterização

busca diferenciá-los das experiências formais de educação. A educação não

formal define-se enquanto atividade organizada, sistematizada, e de caráter

educativo que se realiza em espaços e tempos externos ao sistema

educacional regular, permitindo aos diferentes subgrupos específicos da

população, tanto adultos como infantis, determinados tipos de aprendizagem.

O mesmo autor afirma que a educação formal, no entanto, se caracteriza

como um sistema educacional “altamente institucionalizado, cronologicamente

graduado e hierarquicamente estruturado”. Ao observarmos a Lei de Diretrizes

e Bases da Educação Nacional, por exemplo, veremos a organização em

etapas, níveis e modalidades que estruturam toda a educação, desde a

educação infantil, que se inicia na creche, primeira etapa da educação básica,

até o ensino superior, graduação e pós-graduação.

Alerta-nos Vasconcellos15 (2012), sobre a complementariedade dos tipos

de educação, formal e não formal, podendo trabalhar em cooperação sem que

com suas necessidades, as múltiplas possibilidades do acervo da instituição e as potencialidades educacionais do Museu. 14

Amparado em Coombs e Ahmed (1974), Attracting Rural Poverty: How Non – Formal Education Can Help. 15

VASCONCELLOS, Maria das Mercês N. Educação em Museus: Qual é a especificidade deste campo? Qual é a importância de se respeitar de forma rigorosa as especificidades do mesmo? Dossiê sobre Educação em Museus. Ensino em Re-vista. Universidade Federal de Uberlândia, 2012.

27

uma supra a necessidade da outra, mas em uma parceria na qual cada uma,

ao unir-se à outra, excede a soma das forças para o atendimento à sociedade.

E é nesse espaço-tempo que a mediação promovida pela SAE investe.

Conforme comentário que se segue.

[...] ao longo de sua existência, os museus foram assumindo cada vez mais (e de formas diferenciadas) seu papel educativo. Nesse aspecto, os museus vêm sendo caracterizados como locais que possuem uma forma própria de desenvolver sua dimensão educativa. Identificados como espaços de educação não-formal, essa caracterização busca diferenciá-los das experiências formais de educação, como aquelas desenvolvidas na escola, e das experiências informais, geralmente associadas ao âmbito da família. Contudo, a caracterização e a diferenciação dos espaços de educação não-formal não se constituem tarefa simples. Apesar de se reconhecerem as especificidades educativas que os museus possuem, muitas vezes os termos formal, não-formal e informal são utilizados de modo controverso: o que é considerado por alguns como educação não-formal, outros denominam de informal; isso faz com que suas definições estejam ainda longe de serem consensuais. (MARANDINO et al, 2008, p.12).

Conforme Conrado (2013), existe uma pedagogia particular que inclui

três aspectos a serem levados em conta no que diz respeito aos museus: o

tempo, o espaço e o objeto. Segue recorte do depoimento registrado no item

4.1 depoimento 1, que corrobora com a assertiva: “Porque o vidente olha e

acabou. O cego não, ele tem que tatear mais.” Portanto, podemos inferir que,

para a pessoa com deficiência visual, o “tempo” é diferenciado visto que a

percepção do visitante sem deficiência ocorre de forma a considerar a

totalidade.

De modo diverso, a percepção pelo tato ocorre em partes, demandando,

portanto, um tempo próprio; o “espaço”, por sua vez, requer estruturação como

base para a orientação espacial, cuja viabilização pode ser dada por mapas

táteis ou por piso tátil, por exemplo, materiais que favorecem a autonomia da

pessoa com deficiência visual; e o “objeto” necessita de exploração específica,

contendo legendas em letra ampliada com contraste acentuado das cores,

além da utilização do método Braille, que pode ser potencializado pela

acessibilidade tátil e/ou a audiodescrição.

28

A exploração do “objeto” pode ser também favorecida pela tecnologia

assistiva16, pelo áudio-guia ou, ainda, outros instrumentos que promovam a

aproximação do visitante com a exposição. As visitas temáticas, por exemplo,

favorecem a melhor percepção do objeto, principalmente pelo fato da

exploração tátil requerer um tempo maior.

Quanto às informações, devem ser breves, objetivas, eficientes, de fácil

entendimento, a despeito da profundidade do tema abordado. Informações

secundárias ou extensas desestimulam a leitura e consequentemente os

questionamentos sobre aquele objeto. (Tais procedimentos devem ser

extensivos também ao público em geral.)

Em relação ao público infantil, alguns elementos são muito importantes

no planejamento de uma atividade educativa. Por serem autossuficientes em

relação aos seus desejos e curiosidades, é muito importante incorporar esses

componentes às atividades educativas propostas. O público com deficiência,

nem sempre é autônomo em relação aos seus desejos, restringindo-se ao que

lhe é oferecido ou mesmo negado.

Para a compreensão de determinado tema pelo público infantil, este

deve ser-lhe apresentado de diversas maneiras, com enfoques e abordagens

diversas, além de pautados na interação com os adultos (sejam eles pais,

acompanhantes ou mediadores); pois é na interação com os adultos que as

crianças se constroem socialmente.

As famílias, por sua vez, quando visitam um museu, geralmente estão

buscando, ao mesmo tempo, uma atividade de lazer e uma atividade educativa,

decorrendo desse fato a necessidade atentarmos para a individualidade e as

características de cada ser.

16

Tecnologia assistiva: refere-se a grande variedade de recursos , serviços, estratégias e

práticas que são concebidas e aplicadas para melhorar os problemas encontrados por

pessoas com deficiência. COOK, A. M.; HUSSEY, S.M. Assistive Technologies: Principles and

Practice. Missouri: Mosby, 2nd ed., 2002.

29

3. A ACESSIBILIDADE E A INVISIBILIDADE DA PESSOA COM

DEFICIÊNCIA

A nossa investigação orienta-se pela hipótese de que a maioria das

barreiras encontradas pelas pessoas com deficiência é despercebida por uma

significativa parcela da sociedade. Conforme Sarraf (2014) sinaliza:

Na década de 80, foram iniciados os movimentos de inclusão social internacionais. A conscientização de profissionais de áreas diversas (arquitetura, engenharia, saúde, educação) teve início na década de 1990, enquanto os profissionais da área de cultura só começaram a considerar a acessibilidade no final

dessa década17.

E não somente as barreiras não são notadas, mas as pessoas com

deficiência muitas vezes são desconsideradas na implantação de serviços,

como se elas não fizessem parte da sociedade, invisíveis para alguns

produtores de políticas públicas ou ainda quando são rotuladas por não se

enquadrarem em determinado padrão. Quando sua percepção, ou locomoção,

ou relação com as demais pessoas ocorre de forma diversa do que

convencionamos como modelo.

A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (2006) visa

a assegurar medidas de igualdade entre todas as pessoas, enfatizando a

“universalidade e indivisibilidade dos Direitos Humanos”. Afirma, ainda, que

“reconhecem o direito à igualdade de condições de todas as pessoas com

deficiência para viverem em comunidade, com opções iguais aos demais, e

adotaram medidas efetivas e pertinentes para facilitar o pleno gozo deste

direito pelas pessoas com deficiências e sua inclusão plena na comunidade”. O

direito à vida digna e plena.

Ademais, não se pode deixar de mencionar os fatores inibidores das

visitas a essas instituições; dentre eles a dificuldade de acesso ou transporte,

que para esse público é uma barreira a mais a ser vencida. Um depoimento

coletado na aplicação do Questionário “O Museu na Ponta dos Dedos”, no qual

17

Decorrente do processo de orientação, afirmação ainda não foi publicada.

30

os respondentes, alunos do CEJA/IBC para avaliação do Espaço Ciência

Acessível com a exposição piloto de curta duração: “O Mar Brasileiro na Ponta

dos Dedos”, (2013). Conforme foto que segue:

Figura 30 – Aplicação do Questionário: O Museu na Ponta dos Dedos

A investigação faz referência ao questionamento sobre os equipamentos

que a cidade oferece (item 4.1, depoimento 3) e alerta para observação dos

mediadores para elaboração de rota de acesso ao Parque da Quinta da Boa

Vista. (Apêndice B),

Quase todos colocaram naquele questionário que a cidade não está preparada pra isso, não é acessível para eles. Em Curitiba, os ônibus já são mais baixos para deficientes poderem entrar de maneira mais fácil, e a maioria das pessoas que vai visitar este Museu não virá de carro. Uma guia no chão do ponto de ônibus até aqui seria mais fácil, e dentro do parque também é difícil de andar.

Recentemente, recebemos no Projeto Manhãs no Parque: roteiro

histórico ambiental uma aluna surda, que só foi identificada como tal numa

conversa preliminar com a professora. Dessa forma foi possível a participação

dessa aluna em todas as atividades propostas. Já com a pesquisa

desenvolvida pelo Projeto O Museu Nacional e o seu Público de Visitação

Programada (escolar), foi possível mensurar no ano de 2013 o montante de

1674 alunos com deficiência. A totalidade de visitação programada foi de 1017

grupos, totalizando 36.171 alunos e 4.252 acompanhantes. Desses grupos,

39,4% puderam contar com a presença de um mediador ao longo de suas

visitas. Com a ampliação do quadro de mediadores, formação mais

31

aprofundada e a diversificação das áreas de estudo pretendemos alcançar um

percentual mais elevado de visitas mediadas.

Em referência ao público de visitação espontânea18, no mesmo ano de

2013, o quantitativo foi de 230.406, sem que, no entanto, fosse levantado entre

eles o número de pessoas com deficiência.

Em consulta ao documento interno da SAE, Registro de Visitas

Mediadas (2012/2013), podemos também traçar o perfil do visitante que agrada

ao mediador, como expressam os seguintes adjetivos: inteligentes, fofos,

interessados, participativos, conseguem se comunicar, fazem perguntas,

estrangeiros, que gostam do museu, empolgados, tranquilos, gostam de ajudar.

Em contrapartida, observam-se adjetivos que revelam o que desagrada ao

mediador: dispersos, desinteressados, falta de domínio, conversas paralelas.

Perceber as expectativas do mediador em relação aos professores colabora

para a definição de parâmetros da mediação.

Em relação aos professores, também foram sinalizados alguns

comportamentos que favorecem a interação.

Comentário 134 (2013) - [...] a professora foi muito atenciosa e até fez alguns comentários interessantes e construtivos ao longo da visita.

Por outro lado, os comentários abaixo demonstram atitudes que,

segundo os mediadores, prejudicam a interação.

Comentário: 101 (2013) - [...] além do pouco tempo a professora nos interrompeu para realizar uma atividade. Comentário 124 (2012) - [...] nem os próprios professores estavam conseguindo lidar com tanta falta de educação. Comentário 156 (2012) - [...] Até mesmo os professores (alguns) estavam conversando alto e atrapalhando a visita.

Em relação ao atendimento de turmas inclusivas:

Comentário 22 (2013) - Turma ótima, com alunos com deficiência inclusos na turma. Todos participaram bastante, estavam interessados e eram muito

18

Público de visitação não programada, sem agendamento para o qual ainda não houve uma pesquisa no que se refere ao quantitativo de pessoas com deficiência.

32

inteligentes. Deu para perceber que ocorreu um trabalho anterior com a turma de esclarecimento sobre o museu e o acervo. Comentário 146 (2013) - [...] tínhamos pessoas com deficiência e, inclusive, uma aluna cega que precisou de atenção especial com a descrição de peças e precisando tatear algumas outras. Comentário 301 (2013) - [...] tinha também uma aluna que utilizava cadeira de rodas, com a mãe, que estavam interessadas também. Comentário 190 (2012) - a turma foi bem legal, era uma turma de pessoas com deficiência, o chato é que o tempo delas estava curto e eu rouca, então as duas coisas não ajudaram muito.

Ciente das expectativas do mediador em relação à turma, torna-se

fundamental que tenhamos concordância que nem sempre os alunos vão

corresponder a tais expectativas, certamente algumas turmas com ou sem

pessoas com deficiência podem não se adequar ao modelo de interação

esperado pelo mediador. É essencial não somente conhecer o perfil, mas,

sobretudo, conhecendo-o, traçar estratégias próprias para alcance de

diferentes públicos. Tornam-se imprescindíveis o planejamento e a avaliação

contínua e, na mesma proporção, é fundamental ser flexível e ajustável,

obtendo colaboração dos educadores em contatos prévios ou ainda realizando

pós-visita para avaliar o atendimento.

Faz-se necessário, também, sensibilizar os demais profissionais da

instituição para que possam participar da implantação do processo de

acessibilidade. Contido nele está a acessibilidade arquitetônica, visto que tal

acessibilidade num prédio tombado pelo patrimônio histórico requer união de

forças dos profissionais da instituição e formação de público. Na citação que

se segue do Instituto Português de Museus (2004), Coleção Temas de

Museologia. Museus e Acessibilidade, vejamos um comentário sobre tais

aspectos:

Acessibilidade é aqui entendida num sentido lato. Começa nos aspectos físicos e arquitetônicos, mas vai muito além, uma vez que toca outros componentes determinantes, que concernem aspectos intelectuais e emocionais: acessibilidade de informação e condições de compreender e usufruir os objetos expostos num ambiente favorável. Além disso, acessibilidade diz respeito a cada um de nós, com todas as riquezas e limitações que a diversidade humana contém e que nos

33

caracterizam, temporária ou permanentemente, em diferentes fases da vida.

Na percepção do senso comum, pensa-se inicialmente no espaço físico,

contudo, não devemos nos esquecer de agregar a este instrumentos

facilitadores para que o público com deficiência visual, auditiva, intelectual ou

outras deficiências, isto é, equipamentos que favoreçam a apreensão do

acervo, de modo que haja uma identificação com o ambiente. Ou seja, é

preciso criar uma interação para favorecer o sentido de pertencimento que

contribua na interação do visitante, para que o espaço seja acolhedor, onde

se sintam participantes e representados.

Quando uma pessoa com deficiência está em um ambiente acessível, suas atividades são preservadas e a deficiência não afeta suas funções. Em uma situação contrária, alguém sem qualquer tipo de deficiência colocado em um ambiente hostil e inacessível pode ser considerado deficiente para esse espaço (CAMBIAGHI, 2007).19

Por outro lado, devemos atentar para a indispensável presença do

usuário nas questões a ele relacionadas. Para tanto, utiliza-se a afirmação

“nada sobre nós sem nós” - lema escolhido a partir da Convenção de

Salamanca (1994) e resgatado na discussão da Convenção sobre os Direitos

das Pessoas com Deficiência (2008, Rio de Janeiro). Segundo ela, todos

devem ter a oportunidade de participar ativamente das decisões relativas a

programas e políticas públicas (culturais ou não), legitimando, dessa forma, a

plena participação das pessoas com deficiência em todos os assuntos que lhe

representam: leis, programas, projetos e produtos.

Há algum tempo, começou-se a pensar a participação do usuário na

implementação das políticas públicas para favorecer a implantação de medidas

que atendam ao usuário, pois se pesquisava tendo a pessoa com deficiência

como alvo de determinado “benefício” ao invés de tê-la desde o início do

processo para levantamento de suas reais demandas.

19 CAMBIAGHI, Silvana. Desenho Universal: métodos e técnicas para arquitetos e

urbanistas.São Paulo, 2007.p 23.

34

Por entender que a presença do usuário beneficia o serviço a ele

prestado, a SAE acolheu em 2014 sua primeira mediadora cega, que

compartilha com os demais mediadores estratégias e equipamentos para

favorecer o alcance desse coletivo. Dessa forma, Eduarda Emerick20 colabora

não apenas para pensarmos, experimentarmos práticas de interação com o

público com deficiência visual, mas também a exercitar e instituir ações para

manter as turmas inclusivas unidas durante a visitação, com a proposta de

estimular a colaboração do grupo, ao tempo em que também favorece ao

visitante com deficiência se sentir representado na instituição. Conforme

depoimento de Eduarda, 2014:

“O museu é um lugar público? Dizem que o museu é público,

ou seja, é aberto a todas as pessoas. Mas será que é verdade?

Será que existe inclusão? Será que somos tratados como

iguais? Na verdade, nós que temos algum tipo de deficiência

muitas vezes somos impedidos por pessoas que não se

interessam, ou por questões de acessibilidade. No caso da

deficiência visual, as vitrines são um problema, porque

dependemos de alguém que nos descreva-as, e às vezes não

há recurso de audiodescrição ou Braille. Assim como eu, há

muitas pessoas que gostam de visitar museus, e gostaríamos

que, se pelo menos uma ou duas pessoas de cada museu se

interessasse pela nossa causa, existiria muito mais

acessibilidade e a inclusão seria quase completa.”

20

Aluna do Colégio Pedro II, campi:São Cristóvão - Programa de Iniciação Científica(PIC Jr.),

estágio inicial.

35

Figura 04 - Eduarda (à esquerda) auxiliada por uma intérprete de Libras para

estabelecer diálogo com uma pessoa surda, na ocasião do III Curso de

Formação dos Mediadores, 2014

Algumas propostas devem nortear a equipe de mediadores e o espaço

museal para uma investigação sobre o modo de elaborar diálogo e acesso

eficaz, conforme a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência,

que pauta-se nos seguintes princípios:

- O respeito pelo desenvolvimento das capacidades das crianças com

deficiência, preservando a sua identidade;

- A igualdade de oportunidades;

- O respeito pela dignidade inerente, pela autonomia e independência

individual, inclusive a liberdade de fazer suas próprias escolhas;

- A acessibilidade;

- A plena e efetiva participação e inclusão na sociedade.21

21

Brasil. Subsecretaria de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência – CORDE .

Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência de setembro de 2007. Protocolo

Facultativo à Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. Disponível em

http//portal mj.gov.br/corde/

36

A invisibilidade da pessoa com deficiência e a aceitação passiva de

implantação de acessibilidade equivocada e a ausência desse público nos

espaços culturais favorece a falta de investimentos e colabora para que esse

segmento seja desconsiderado na elaboração de projetos museológicos.

Devemos considerar também a opinião dos profissionais22 da instituição

em relação às pessoas com deficiência, a metodologia utilizada para

implantação da acessibilidade e a programação de atividades, que devem estar

alinhadas inicialmente à remoção das barreiras atitudinais conforme já citado.

A retirada de tais barreiras favorece mais que qualquer outro

instrumento, por se tratar do reconhecimento do patrimônio cultural como um

bem de todos. Tal conscientização coopera para que todos possam participar

plenamente da vida social

A SAE aplicou questionário aos profissionais do receptivo para investigar

a receptividade ao público de pessoas com deficiência, investe também em

encontros de formação e sensibilização do receptivo.

Figura 05 -Treinamento do receptivo no uso do carro elétrico portátil

para transporte de cadeira de rodas

22

Nos reportamos inicialmente aos profissionais de contato direto: recepção, porteiros, guarda

de patrimônio e aos mediadores.

37

Figura 06 - Encontros para sensibilização do receptivo – caminhada com os

olhos vendados

4. MEDIAÇÃO

Existem vários instrumentos para avaliar a acessibilidade em diferentes

centros culturais e museus, para orientar a implantação do desenho universal23.

Na intenção de garantir a participação de todos e, em sua maioria ressaltam ao

menos três esferas de socialização, a saber: condições do acesso físico; o

registro de aparatos que facilitem a fruição; a efetivação da comunicação e

análise dos serviços ou programas.

Entretanto, existe pouco material para pesquisa com foco na mediação

desse público. A formação dos mediadores foi se tornando cada vez mais

necessária para atendimento dos diferentes públicos. Por meio da aplicação de

questionário e depoimentos de pessoas com deficiência visual, foi possível

tecer algumas considerações sobre o perfil dessas pessoas, um dos

segmentos que pretendemos alcançar. Acreditando que, na medida em que

elaborarmos formas de comunicação diversificada ampliaremos também o

atendimento, alcançando diferentes públicos e conhecendo as expectativas dos

públicos em relação à instituição. Sendo assim, a formação do mediador

requer apreensão do conteúdo das exposições, para tanto o MN conta com a

23

Desenho universal: responsável pala criação de ambientes ou produtos que podem ser usados pelo maior número de pessoas possível.

38

participação de especialistas em cada uma das exposições e lança mão

também de visitas técnicas para o alcance de cada público. Conforme afirma

Sarraf (2010)24:

Para planejar uma visita, é necessário conhecer bem o conteúdo e materiais da exposição, para que seja possível descrever a exposição de forma que as referências visuais não sejam as únicas. Duas técnicas básicas proporcionam uma comunicação do conteúdo visual da exposição: pelo uso da linguagem descritiva que se refira a experiências comuns das pessoas e as propostas multissensoriais (esquemas táteis, maquetes, réplicas de objetos, aromas, degustações e etc.).

Figura 07 – Formação de Mediadores com Especialista

24

Como mediar o conteúdo da exposição para pessoas com deficiência visual - Museus

Acessíveis: Cultura em Todos os Sentidos.

39

A SAE conforme já dito anteriormente, programou a formação dos

mediadores PIC Jr., PRODICC, PIBEX e PIBIAC em prol do favorecimento da

acessibilidade atitudinal.

Inicialmente, com foco na questão do museu voltado para o público de

pessoas com deficiência visual, foi elaborado o espaço Ciência Acessível com

a exposição piloto “O Mar Brasileiro na Ponta dos Dedos”.

A exposição teve como curador o Dr. Fernando Moraes, no âmbito do

projeto: - Revitalizando o Sonho de Roquette Pinto: a Seção de Assistência ao

Ensino do Museu Nacional como Pólo Difusor e Popularizador as Ciências

Naturais, com apoio da FAPERJ. Já no âmbito do Projeto PIBIAC (2013) os

bolsistas se ocupavam da catalogação do acervo e da curadoria da coleção

didática, já citada e, que oportunizou a exploração do sentido tátil, oferecendo

condições, desse modo, para apreensão da linguagem museal.

4.1 Depoimentos dos visitantes com deficiência visual ao

Espaço Ciência Acessível

Para tanto foi aplicado questionário (Apêndice A) e coletado alguns

depoimentos conforme se segue:

Depoimento 1:

“Eu acho que faltou Braille pro usuário e eu acho que as peças estão

muito juntas, elas podiam estar num lugar que tivesse como a pessoa dar

voltas. Seria mais fácil pro cego, ia ter mais espaço e o vidente poderia ver as

peças mesmo se tivesse um deficiente visual manuseando. Porque o vidente

olha e acabou. O cego não, ele tem que tatear mais, e acaba congestionando

com tudo muito junto.

E inclusive uma mesa comprida, porque aqui ficou um amontoado em

volta, então, muita gente desistiu de ir lá olhar. [...] É importante uma mesa

comprida e que eles possam circundar [...].

- O que você acha se ao invés de concentrar ali, dispuséssemos mais peças

nas salas?

40

Seria interessante, principalmente porque, eu acredito que a maioria dos

deficientes visuais que venham aqui, serão em grupos, o que pode causar

congestionamento, e num dia de funcionamento normal as pessoas não

conseguirão ver ou os cegos não chegarão perto das peças.”

Depoimento 2:

“ [...] O cego demora bem mais do que o vidente pra ver a peça, o

Museu de História Natural de Londres tem projetos de acessibilidade bem

interessantes, de repente ajuda. Os degraus de entrada do auditório tem várias

cores, e tem um ressalto, então o deficiente total, que usa a bengala, vai saber

que há um ressalto, já o de baixa visão vai ver e considerar apenas uma

mudança de cor e vai tropeçar, já que ele não vai ver que é um degrau. Seria

interessante também uma mesa iluminada por baixo, que aí o de baixa visão

verá o contorno da mesa e não vai tropeçar.

- A solução para o ressalto seria aumentar a iluminação ou nivelar?

- Acho que a iluminação já ajudaria, com luzes LED no contorno, porque

não mexeria na estrutura.”

Depoimento 3:

“Estas peças estão muito juntas e deveriam ficar em uma área central

onde se pudesse circular em volta, pois eu acredito que a maioria dos

deficientes físicos virá em grupos, e a mesa muito junta atrapalha no contato

com a exposição”. Outra coisa é que os degraus de entrada têm várias cores, e

o deficiente total anda com bengala e sabe que há um ressalto, o deficiente de

baixa visão vê e não vai pensar que é um ressalto, para ele é apenas uma

mudança de cor, é bom que vocês pensem nisso.

É interessante também uma mesa iluminada por baixo, pra que o baixa

visão veja o contorno, em acrílico fosco, por exemplo, pra passar a luz. No

chão do hall de entrada também há nivelamentos que só percebemos que são

ressaltos quando chegamos perto, poderia haver um nivelamento ou maior

iluminação no local, as fitas LED por exemplo. As fotos da parede são todas

iluminadas e com letras 24, elas podem ser trocadas, as placas com os nomes,

41

tanto destas fotos quanto do banner poderiam ser em letra 36, pois a 24 não é

acessível para o deficiente de baixa visão.

Uma grande conquista para o deficiente é ter tudo o que há na

exposição sonorizado, isto faz com que a pessoa tenha independência e não

precise ser guiado. Também um material em áudio sobre a história do museu,

que é bem interessante. Mas às vezes tem coisas que são simples e por isso é

bom ouvir. Todos os museus da Europa tem este guia de som, na entrada se

paga o ingresso mais um valor adicional pelo guia e em todas as peças do

museu há uma placa com uma numeração também em Braille, e tanto o

vidente quando o deficiente pode digitar o número e ouvir a explicação. É um

investimento complicado, mas que faria expandir o uso deste guia em outros

museus no Brasil.

Quase todos colocaram naquele questionário que a cidade não está

preparada pra isso, não é acessível para eles. Em Curitiba os ônibus já são

mais baixos para deficientes poderem entrar de maneira mais fácil, e a maioria

das pessoas que vai visitar este Museu não virá de carro. Uma guia no chão do

ponto de ônibus até aqui seria mais fácil, e dentro do parque também é difícil

de andar. Existe este material feito de borracha, mas em Petrópolis há um

calçamento mesmo, como piso. “A questão que se deve dar ênfase é a

marcação feita, pois se pensa no deficiente visual e no cadeirante, tem que

haver espaço para eles olharem as peças e não esbarrar em outras”.

Para essa exposição, foi elaborado pelos mediadores prévia de roteiro

para o público com deficiência visual, além da museografia favorecer a

aproximação do público que se utiliza de cadeiras de rodas.

Portanto, torna-se relevante a formação dos mediadores para que

tenhamos como alvo a aproximação das pessoas com deficiência. Conforme

observa (MARANDINO et al. 2008 p. 5).

A experiência vem demonstrando que esse profissional é

figura-chave nos processos de educação e comunicação com o

público (...) a mediação humana é amplamente utilizada. É por

meio dos mediadores que os visitantes conhecem os museus

nos seus aspectos de conteúdo, mas também a sua

42

organização, a sua arquitetura e a sua função social. Não nos

parece forte demais afirmar que o mediador é a voz da

instituição, mesmo que nem sempre se tenha consciência do

que isso representa.

Figura 08 - Formação dos Mediadores do PIC Jr. 2013 – Acessibilidade atitudinal

Figura 09 - Formação dos Mediadores do PIC Jr. 2013 – Acessibilidade atitudinal

43

Diante disso, investimos para que:

- Os mediadores reconheçam as pessoas com deficiência como público-alvo a

ser acolhido;

- O planejamento das ações socioeducativas em colaboração com o ensino

formal para fomentar a visitação dos diferentes públicos, no qual haja a

apropriação do patrimônio;

- O receptivo do museu conheça a peculiaridade desse público;

- O espaço museal seja elaborado levando em consideração a diversidade

humana: social e fisicamente;

- Conhecendo-os melhor possamos nos preparar para acolher o visitante com

deficiência.

No que concerne à acessibilidade cultural, reconhecemos que o seu

desenvolvimento depende de medidas ligadas à área educacional e

distinguimos a mediação como um potencial motivador para favorecer as

pessoas com deficiência e, dessa forma, efetivar a socialização e acesso ao

patrimônio cultural da humanidade, representado, principalmente, pelas

criações artísticas e científicas.

Nesse contexto, todos os sentidos devem ser explorados para

possibilitar a articulação entre o visitante e o acervo de forma independente,

quando possível, e/ou beneficiar o contato personalizado com as informações,

no ritmo próprio de cada indivíduo.

4.2 Experimentações de acessibilidade em eventos de

popularização e divulgação científica: Semana de Ciência e

Tecnologia (SNCT) e Aniversário do Museu Nacional

- Semana Nacional de Ciência e Tecnologia/SNCT (2012)

O Museu Nacional participa de alguns eventos de popularização e divulgação

científica e, na Semana Nacional de Ciência e Tecnologia/SNCT (2012), a SAE

44

elaborou uma atividade tátil para atendimento às pessoas com deficiência

visual, tais propostas foram elaboradas com auxílio da mediação cultural:

a) Mostra de coleção acessível;

b) Oficina: Exploração de animais aquáticos. Inicialmente oferecida para

pessoas com deficiência visual e, posteriormente, liberada para os demais

públicos, mas interrompida por danos causados ao acervo. Esse fato nos

favoreceu a reflexão sobre a especificidade do acervo exposto e observar o

despreparo das pessoas videntes no manuseio do acervo exposto,

provavelmente pelo fato de o mesmo não está disponível com regularidade. Tal

dificuldade foi considerada na elaboração da exposição piloto em 2013 e

minimizada pela presença do mediador.

c) Oficina: Exploração de fósseis. A proposta foi desenvolvida inicialmente para

pessoas videntes, e ampliada para o público de pessoa com deficiência visual,

pela característica do acervo.

Na ocasião, a participação de uma pessoa cega em outras atividades

oferecidas pelo MN foi essencial para que, a partir daquela mediação, outras

ações fossem implementadas. A então mediadora, agora curadora, ao elaborar

a exposição de curta duração “(R)evolução das plantas”, inseriu nela acervos

táteis, letra ampliada, contraste, rampa, rota para cadeirantes, catálogo em

Braille e etiquetas do acervo tátil em Braille. Segue-se recorte do depoimento:

(Anexo D).

“[...] Ter contato e aprender sobre o método de Montessori

abriu mais os meus horizontes. Além disso, nesta escola, trabalhei com crianças e jovens em grupos de inclusão. Tive alunos autistas, jovens com gigantismo, com paralisia cerebral, cadeirantes, com diagnóstico de esquizofrenia, todos juntos. Esta foi a fase mais gratificante da minha vida, tanto profissional, quanto pessoalmente. Aprendi muito com esses alunos, diariamente, em todos os aspectos imagináveis. Aprendi, mais ainda, que o conhecimento para ser aprendido deve sim passar por todos os sentidos e que todos merecem a chance de se maravilhar com o que a Ciência tem a mostrar.[...] A exposição está muito simples? Está! Poderia ser muito mais acessível? Poderia! Mas o mérito está em ser a semente. Acredito que é possível fazer muito mais. O que

45

precisamos é continuar insistindo para mostrar que a Ciência não deve permanecer fria, isolada no ambiente acadêmico, acessível para “alguns eleitos” capazes de traduzir os termos técnicos. Ciência de verdade, com C maiúsculo, é viva, pulsante, contagia, encanta e deve ser divulgada para todos. Porque, assim como a Arte (que está presente, com sucesso, em muitos projetos sociais), ela também pode “salvar vidas”.”

Figura 10 - Atendimento a um visitante cego – Semana Nacional de Ciência e

Tecnologia (SNCT) 2012- MN (Curadora da exposição de curta duração “ A

(R)evolução das Plantas”

Figura 11 - Atendimento a um visitante cego – Semana Nacional de Ciência e

Tecnologia (SNCT) 2012-MN

46

- Aniversário do Museu Nacional (2012)

A Proposta de acessibilidade tátil para pessoas videntes e para pessoas

com deficiência visual trazia textos em Braille e mediação humana. A exposição

foi viabilizada organizando-se o acervo coberto por tecido em uma bancada.

Dessa forma, as pessoas videntes que se propunham a participar da

acessibilidade tátil deveriam utilizar uma máscara para privação do sentido

visual. Esse público mostrou-se pouco à vontade em participar da

experimentação, dada à obrigatoriedade da utilização das máscaras.

Contudo, após as primeiras participações dos mediadores, alguns

jovens e adolescentes se sentiram encorajados a participar. No decorrer da

atividade, pessoas de outras faixas etárias também participaram. Considerou-se

o resultado da oficina como sendo eficaz no sentido de propiciar que as pessoas

com deficiência visual se sentissem participantes, dada a possibilidade da

apropriação do acervo. Para os videntes, por outro lado, cabe enfatizar que a

experimentação do acervo foi permeada por certa sensação de insegurança e

ansiedade, visto que estavam privados do sentido visual (estavam vendados);

havendo alguns, inclusive, que não chegaram a concluir a experimentação. O

fato de se sentirem cegos e sem autonomia (tinham que ser conduzidos por todo

o trajeto da mostra) trouxe-lhes, segundo os mesmos, angústia e desconforto.

Ocasião em que foi elaborado um questionário pré- teste, reelaborado em 2013,

que consta no Apêndice A.

47

Figura 12- Aniversário do Museu Nacional − Atendimento a visitante

cego,2012

Figura 13 - Aniversário do Museu Nacional −Atendimento a visitante vidente,

2012

4.2.1 Comentários dos Mediadores

Segue-se relato dos mediadores sobre atendimento a turma de pessoas

surdas, tendo a professora como intérprete da Língua Brasileira de Sinais

(LIBRAS):

“Foi a visita mais interessante que já fiz, pois apesar de não se comunicarem verbalmente, estavam muito empolgados e se comunicavam e questionavam muitos mais que as outras turmas (de pessoas que verbalizam).”

48

Figura 14 - Mediação com turma de alunos surdos, 2012

Figura 15 - Mediação com visitantes surdos, 2014

A formação dos mediadores, e a aproximação do público-alvo foram

essenciais. Relatamos a seguir alguns depoimentos25 dos mediadores do

Programa de Iniciação Científica PIC Jr. (parceria do Colégio Pedro II com o

Museu Nacional). Mais adiante, resgataremos do questionário aplicado à

turma de Jovens e Adultos do IBC algumas questões levantadas na ocasião da

abertura do Espaço Ciência Acessível, com a exposição piloto já descrita.

25

Instrumento elaborado por Andréa Fernandes Costa, técnica da SAE.

49

Conforme recorte do depoimento do mediador do PIC Jr. (bolsista

Jovens-Talentos/FAPERJ) - Unidade de Niterói, que se segue (Anexo B):

“[...] Perceber que cada pessoa tem diferenças, mas que todos nós temos direitos e podemos frequentar qualquer espaço cultural, foi fundamental para compreender todo o universo do projeto “O Museu na Ponta dos Dedos”, que é direcionado também às pessoas com deficiência. O projeto me proporcionou uma sensibilização e conscientização das questões acerca das deficiências físicas e cognitivas e também sobre as pessoas que as têm. [...] a conscientização veio das experiências com visitantes do museu que têm deficiência e com as leituras sobre acessibilidade. Desde o início do projeto, fui apresentado a livros, textos, resumos, monografias e apresentações de grandes estudiosos do assunto. As leituras foram muito importantes porque me passaram o conhecimento sobre especificidades das deficiências, principalmente da deficiência visual, o que quebrou muitos pré-conceitos que eu tinha sobre essas pessoas e me fez entender um pouco mais sobre suas diversidades.”

Recorte de depoimento do mediador do PIC Jr. (bolsista Jovens-

Talentos/FAPERJ) - Unidade Tijuca, (Anexo C):

“[...] é possível constatar a relevância do projeto, por servir como incentivo para que espaços culturais acessíveis sejam pensados e implantados, onde qualquer pessoa possa visitar sem nenhum obstáculo ou algo que a separe dos outros visitantes. Podemos perceber que é essencial para o museu ter uma proposta acessível para todos os públicos, já que ele é voltado para o público.”

Recorte do depoimento da mediadora do PIC Jr. (bolsista Jovens-

Talentos/FAPERJ) - Unidade Realengo (Anexo A)

“Este se torna um trabalho engrandecedor e apaixonante. Fazer-se compreendido por alguém que não escuta ou presenciar o momento em que um cego toca e conhece algum objeto são momentos dos quais quem presencia nunca deve esquecer. No Brasil, sempre houve grandes dificuldades para tal, e cada pequeno passo significa um grande avanço diante de tudo o que precisa ser feito. Neste projeto, não é feito mais do que garantir o exercício do direito de todas as pessoas de terem contato com as diversas formas de conhecimento disponíveis.[...] Ao me voltar para a área de educação, compreendo que o conhecimento deve ser disponibilizado a todos, o acesso a informação é um direito de cada um. Estar no Museu Nacional com os projetos de mediação para o público escolar confirmou isso, enquanto o projeto “O Museu

50

na Ponta dos Dedos” foi capaz de expandir o meu olhar sobre este público que por muito tempo foi negligenciado.”

Relato da ex-bolsista Jovens-Talentos/FAPERJ, mediadora, do PIC Jr.-

Unidade Realengo, que no estágio inicial, em 2011, atuou no projeto “O Museu

Nacional e o seu Público de Visitação Programada: levantamento do perfil dos

visitantes e avaliação das visitas mediadas” e que retornou em 2013 como

bolsista do PIBEX no Projeto “MediAÇÃO no Museu Nacional: mediadores e

visitantes na construção de diálogos entre museu, ciência e sociedade”; e em

2014 teve sua bolsa renovada pelo mesmo projeto.

“Minha trajetória de trabalho em museus teve início no Museu Nacional no ano de 2011 pelo Programa de Iniciação Científica Júnior/PIC Jr. Nessa época, pude me deparar com desafios referentes a acessibilidade, e eram muitos. Era muito difícil acreditar que o Museu Nacional poderia se tornar acessível e democrático, principalmente por questões burocráticas e patrimoniais (o fato de ser um prédio histórico, por exemplo). Hoje, em 2014, apesar de ainda nos depararmos com tantos desafios quanto a três anos atrás, podemos vislumbrar uma democratização do espaço graças a exposição piloto “O Mar Brasileiro na Ponta dos Dedos”, e ainda pelo projeto de acessibilidade [...] da Seção de Assistência ao Ensino/SAE. Vemos que, em algum momento e de alguma forma, há pessoal empenhado na causa da acessibilidade e isso com certeza traz esperanças. Hoje em dia as dificuldades e os obstáculos ainda são facilmente observáveis, porém, como atuante da Seção de Assistência ao Ensino/SAE, posso observar que a devida importância da questão está sendo levada em conta.”

É perceptível a forma positiva como os mediadores, que apesar de

terem determinadas expectativas em relação à aprovação de seu trabalho, e

para tanto se orientam pela receptividade do público mediado, também

conseguem interagir com o público de pessoas com deficiência. Estão atentos

em se fazerem entender e cientes de que a manifestação de aprovação pode

ou não acontecer. Certamente, conhecer o público e suas especificidades

favorece, mas é essencial a disposição em ousar propostas diferenciadas.

51

4.2.2. Desenvolvimento de Acessibilidade no Espaço da UNIRIO

Por outro lado, registro o desenvolvimento do tema em outros espaços,

conforme relato de Educadora, Técnica em Assuntos Educacionais da SAE –

Museu Nacional e Professora do Curso de Graduação em Museologia da

Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). (Anexo E) que

resultaram na elaboração de duas exposições de curta duração: Grafite: a voz

colorida das ruas e Hoje é dia de feira.

“Como mediadora, me vi, uma única vez, diante de um grupo de estudantes surdos em visita ao MAST e com eles realizei uma visita educativa. Os mesmos estavam acompanhados por seus professores e uma intérprete de LIBRAS, o que facilitou – ou viabilizou – a visita. [...] Nas duas disciplinas que ministro no Curso de Graduação em Museologia da UNIRIO, a acessibilidade cultural é abordada. Muitos alunos, futuros museólogos, passam a se revelar interessados e sensíveis à questão. Como reflexo desse trabalho desenvolvido junto aos estudantes, destaco o fato de a acessibilidade cultural ter sido contemplada nas duas últimas exposições montadas pelos mesmos (exatamente aquelas exposições das quais participei), as chamadas exposições curriculares, mas somente em 2013, com a inauguração da exposição “Grafite - a voz colorida das ruas”, pela primeira vez a acessibilidade teve destaque e esteve presente na montagem da exposição e na concepção e implementação de um projeto educativo vinculado à mesma.”

4.3. Formação dos Mediadores

Analisaremos a formação dos mediadores nos anos de 2012, 2013 e

2014.

4.3.1. Formação em 2012:

A formação intitulou-se “Formação de Mediadores” e ocorreu com a

apresentação dos projetos desenvolvidos pela SAE e uma breve introdução

sobre acessibilidade. As visitas técnicas foram conduzidas por especialistas de

cada área expositiva do MN. Foram elaborados pela SAE materiais para

consulta (apostilas) e também foram feitas gravações em áudio das visitas com

os especialistas.

52

Realizamos algumas oficinas de sensibilização para a apresentação do

acervo tátil. Ocorreu uma visita ao Museu de Geodiversidade. E participamos

como espectadores de um Encontro Rede de Acessibilidade em Museus

(RAM), no Museu da República, com palestra de Virginia Kastrup e Ana Fátima

Berquó.

Figura 16 - Visita ao Museu de Geodiversidade CCMN/UFRJ

4.3.2. Formação em 2013:

Com o objetivo promover a formação de mediadores, ampliando o

domínio destes no que diz respeito às temáticas e conteúdos específicos

abordados pela exposição de longa duração do Museu Nacional. Participarão

os educadores da Seção de Assistência ao Ensino (SAE), 06 estagiários de

graduação (Ciências Biológicas e Ciências Sociais) e 30 estagiários de nível

médio (Colégio Pedro II) vinculados à SAE.

Segue o cronograma proposto:

II SEMANA DE FORMAÇÃO DE MEDIADORES/AS DO MUSEU NACIONAL

2013

(04-08 de março)

Horário SEGUNDA

04 de março

TERÇA

05

QUARTA

06 de março

QUINTA

07 de março

SEXTA

08 de março

10h-12h

A SAE, A EDUCAÇÃO EM

MUSEUS E O PAPEL DO/A

MEDIADOR/A

METEORÍTICA

ANTROPOLOGIA

ANTROPOLOGIA BIOLÓGICA –

NOS PASSOS DA HUMANIDADE

ANTROPOLOGIA

EGITO ANTIGO

ANTROPOLOGIA

ARQUEOLOGIA

BRASILEIRA

53

13h - 15h

HISTÓRIA DO MUSEU

NACIONAL

PALEONTOLOGIA E

GEOLOGIA

ANTROPOLOGIA

CULTURAS DO MEDITERRÂNEO

ANTROPOLOGIA

ARQUEOLOGIA PRÉ-

COLOMBIANA

ANTROPOLOGIA

CULTURAS DO

PACÍFICO

+

ETNOLOGIA INDÍGENA

A formação teve outro título: “II Semana de Formação dos Mediadores” e

ocorreu da seguinte forma: foram apresentadas a SAE e todas as partes da

formação do ano anterior, houve investimento maior na elaboração dos

materiais, inclusive com a gravação de um cd, uma parte ampliada sobre

acessibilidade. Houve visitas técnicas ao IBC com Palestra de Ana Fátima

Berquó e ao Jardim Botânico, Também foram desenvolvidas oficinas de

sensibilização e apresentação do acervo tátil, distribuição do “Guia de Visitação

ao Museu Nacional – Reflexões, Roteiros e Acessibilidade”. Ainda cabe

registrar a participação no evento “Diálogos entre Educadores” – que prevê a

Visita Mediada com base no roteiro “De onde viemos?”

A participação em eventos de divulgação científicas e em visitas técnicas

a espaços culturais, a oportunidade de compartilhamento dos conhecimentos

adquiridos com os profissionais do Curso de Acessibilidade Cultural,

disponibilizados no “site”, possibilitou o compartilhamento com os profissionais

do MN e com os mediadores, materiais essenciais que oportunamente foram

enriquecendo os estudos e também alguns vídeos e leituras que,

internalizados, geraram posturas positivas de modo que a relação com o tema

nos aproximou do público-alvo.

No IBC, nos foram apresentadas algumas formas comunicacionais, tais

como maquetes táteis com representação de monumentos de nossa cidade,

como o Maracanã, Arcos da Lapa, entre outros.

“Além disso, visitamos a Exposição Didática: “A célula ao alcance da

mão” e pudemos participar do cotidiano da instituição. O que também nos

despertou muito interesse foi presenciar um jogo de futebol acessível para

pessoas com deficiência visual.

54

Figura 17 - Visita Técnica dos Mediadores ao IBC

Exposição Didática “ A célula ao alcance da mão”

Figura 18 - Maquete dos Arcos da Lapa /RJ

55

Figura 19 - Maquete da Baia da Guanabara/RJ

Figura 20 - Maquete do Estádio do Maracanã/RJ

Outra estratégia foi aplicada para o conhecimento do perfil do público.

Conforme colocado anteriormente, resgataremos algumas respostas da

pesquisas “O Museu na Ponta dos Dedos” com o objetivo de conhecer

melhor o público com deficiência visual (alunos do CEJA/IBC), aplicado na

abertura da exposição-piloto de curta duração “O Mar Brasileiro na Ponta dos

Dedos”, em junho de 2013, no que se reporta a mediação e ao entendimento

do patrimônio cultural como bem de todas as pessoas (Apêndice A).

Transcrições abaixo.

Em relação ao instrumento de entendimento, a mediação foi apontada

como recurso de comunicação mais eficaz.

56

Quanto à pergunta sobre a compreensão dos museus e centros

culturais como patrimônio da sociedade/de todas as pessoas: dos 22

respondentes, 18 afirmam entender os museus e centros culturais como

patrimônio da humanidade. Os 4 que dizem não perceberem os equipamentos

culturais como patrimônio de todos se respaldam na afirmativa de não

conhecerem museus com características inclusivas.

Ressaltamos, também, que alguns mediadores acompanharam a visita

técnica da equipe da Secretaria Municipal da Pessoa com deficiência, com o

objetivo de mapear, diagnosticar e oferecer orientações no que tange a

acessibilidade arquitetônica e participaram como expectadores da Consultoria

da Empresa Museus Acessíveis em 2013.

4.3.3. Formação em 2014:

No presente ano, a formação dos mediadores foi renomeada para “III

Curso de Formação dos Mediadores” e ampliada não só em relação ao seu

conteúdo, na medida em que foi reaberta uma área significativa da exposição26

do Museu Nacional, mas também no arrolamento de profissionais de outras

instituições que contribuíram elencando especificidades da mediação e outros

na construção do perfil do público de pessoas com deficiência. Conforme

quadro que se segue:

1ª SEMANA – EDUCAÇAÕ EM MUSEUS, MEDIAÇÃO HUMANA E ACESSIBILIDADE CULTURAL

HORÁRIO TERÇA

28/01

QUARTA

29/01

QUINTA

30/01

SEXTA

31/01

9h -12h

CONHECENDO MELHOR A

SAE E SUA EQUIPE

ANDRÉA COSTA,

SHEILA NICOLAS VILLAS

BOAS – SAE/MN

AS ESPECIFICIDADES DA

EDUCAÇÃO EM MUSEUS E

CONSIDERAÇÕES SOBRE

A COLABORAÇÃO MUSEU-

ESCOLA

(MARIA DAS MERCÊS

VASCONCELLOS - MUSEU

DA VIDA/FIOCRUZ)

ACESSIBILIDADE EM MUSEUS:

CONVERSA INTRODUTÓRIA

(GUILHERMINA GUABIRABA –

SAE/MN)

O MUSEU E A COMUNIDADE

SURDA

(STELA SAVELLI - CASA DA

CIÊNCIA/UFRJ)

A AVALIAÇÃO EM

MUSEUS

(SONIA MANO - NÚCLEO

DE ESTUDOS DE PÚBLICO

E AVALIAÇÃO EM MUSEUS

– MUSEU DA VIDA –

FIOCRUZ)

13h – 16h

METEORÍTICA

MARIA ELIZABETH

ZUCOLLOTO-

A MEDIAÇÃO HUMANA EM

MUSEUS

SABENDO MAIS SOBRE AS

PESSOAS COM DEFICIENCIA

INTELECTUAL (MÔNICA FELIZOLA -

VISITA TÉECNICA –

MUSEU DA

GEODIVERSIDADE – A

26

Exposição de longa duração: Conchas, Corais e Borboletas (ciências biológicas).

57

DEPARTAMENTO DE

GEOLOGIA E

PALEONTOLOGIA (DGP)/MN

(ANDREA COSTA –

SAE/MN)

A MEDIAÇÃO PELO

MEDIADOR

(RONALDO DE ALMEIDA -

COORDENAÇÃO DE

EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS -

MAST)

ESCOLA ESPECIAL FAVO DE MEL –

FAETEC)

AS PESSOAS CEGAS E O MUSEU

(ANA MARIA PEIXOTO - COLÉGIO

PEDRO II/SÃO CRISTÓVÃO)

MEDIAÇÃO EM OUTRO

MUSEU

(MEDIADORES DO SETOR

EDUCATIVO)

PLANETARIO: A

MEDIAÇÃO FORA DA

EXPOSIÇÃO

(MAST)

2ª SEMANA – CONTEÚDOS – VISITAS TÉCNICAS ÀS EXPOSIÇÕES DO MUSEU NACIONAL

HORÁRIO SEGUNDA

3/02

TERÇA

4/02

QUARTA

5/02

QUINTA

6/02

SEXTA

7/02

9h -12h

HISTÓRIA DO MUSEU

NACIONAL

(REGINA DANTAS -

DOCENTE DO PROGRAMA

DE PÓS-GRADUAÇÃO EM

HISTÓRIA DAS CIÊNCIAS E

DAS TÉCNICAS E

EPISTEMOLOGIA/HCTE -

UFRJ)

ANTROPOLOGIA -

BIOANTROPOLOGIA -

NOS PASSOS DA

HUMANIDADE

(ADILSON DIAS

SALLES E SILVIA

BARREIROS DOS REIS)

ANTROPOLOGIA -

EGITO ANTIGO –

(DEPARTARMENTO

DE ANTROPOLOGIA

(DA)-MN)

ANTROPOLOGIA -

10h SALA

CAÇADORES-

COLETORES-

PESCADORES + 11h

AGRICULTORES-

CERAMISTAS

(DA-MN)

EXPOSIÇÃO

“CONCHAS, CORAIS E

BORBOLETAS”

(DEPARTAMENTO DE

INVERTEBRADOS(DI)/

DEPARTAMENTO DE

ENTOMOLOGIA (DE)

13h – 16h

PALEONTOLOGIA E

GEOLOGIA

DEPARTAMENTO DE

GEOLOGIA E

PALEONTOLOGIA (DGP)/MN

ANTROPOLOGIA - PRÉ-

COLOMBIANA

DEPARTAMENTO DE

ANTROPOLOGIA –

(DA)/MN

ANTROPOLOGIA -

CULTURAS DO

MEDITERÂNEO –

(REGINA

BUSTAMANTE-

LABORATÓRIO DE

HISTÓRIA

ANTIGALHIA/UFRJ)

ANTROPOLOGIA -

CULTURAS DO

PACÍFICO +

ETNOLOGIA

INDÍGENA

DEPARTAMENTO E

ANTROPOLOGIA

(DA)/MN

EXPOSIÇÃO CIÊNCIA

ACESSÍVEL

ROTEIRO DE ONDE

VIEMOS?

SEÇÃO DE

ASSISTÊNCIA AO

ENSINO (SAE)/MN

Houve também, por parte de alguns especialistas27, elaboração de

material impresso e sugestão de roteiro. O Departamento de Entomologia

elaborou impresso contendo a especificação do material exposto nas vitrines

das exposições “Conchas, corais e borboletas. ” Quanto aos palestrantes das

instituições convidadas foram apresentados alguns experimentos do Prof.

Ronaldo de Almeida – Coordenação de Educação do Museu de Astronomia e

Ciências Afins/ MAST. Conforme foto abaixo.

27 Elaboradas pela professora Regina Bustamente: roteiro de atividades sobre culturas greco-romanas.

58

Figura 21- Palestra: A Mediação pelo Mediador - Museu de Astronomia e

Ciências Afins (MAST)

Figura 22 - Palestra: As Especificidades da Educação em Museus – Museu da

Vida/FIOCRUZ

Outra novidade foi a participação de pessoas com deficiência com

relatos do seu cotidiano ou ainda seu relacionamento com os museu e centros

culturais. Houve distribuição do “Guia de Visitação ao Museu Nacional –

Reflexões, Roteiros e Acessibilidade”, visita mediada com base no roteiro “De

onde viemos?” e está prevista a participação do evento “Diálogos entre

Educadores”.

59

Figura 23 - Relato de pessoa surda com intérprete de LIBRAS (INES)

Figura 24 - Palestra da Educadora Mônica Felizola da Escola Especial Favo de

Mel/FAETEC

Investimos em uma parceria estabelecida com o Museu de

Geodiversidade, na qual os mediadores de lá vieram ao MN para usufruir da

formação da instituição. Em contrapartida, os mediadores do MN puderam

complementar sua formação com uma visita técnica ao espaço do Museu da

Geodiversidade. O Museu de Astronomia e Ciências Afins/MAST contribuiu

também cedendo seu planetário inflável, ocasião em que foi montado no

Museu da Geodiversidade.

Também na escolha das áreas de graduação dos mediadores houve

uma inovação, a ampliação no quantitativo. Em 2013 havia 28 estagiários do

60

PIC. Jr. (alunos do ensino médio), 04 mediadores de graduação pelo Projeto

PIBEX. Em 2014, são 24 estagiários do PIC Jr., sendo 17 iniciais e 7

avançados. A SAE conta também com 16 mediadores, pelo PRODICC, do

projeto “Mediadores: Vozes e ouvidos em busca da democratização do Museu”.

Quanto às formações pelo PIBEX, são 1 mediador em graduação em ciências

sociais, 2 em graduação em história e 1 em graduação em história da arte.

Em 2014, houve ainda acréscimo nas áreas de formação dos

mediadores, sendo 2 de ciências sociais, 3 de ciências biológicas, 01 de artes

plásticas, 4 de história da arte, 2 de terapia ocupacional, 2 de pedagogia, 1 de

história e 1 de cenografia, fator importante para conferir um olhar

multidisciplinar. Por essa razão, buscamos compor a equipe de forma que

possa favorecer a elaboração de produtos e pautada na diversidade de

interação para gerar estratégias comunicacionais diversificadas. Conforme

citação:

Um dos aspectos mais positivos nesse trabalho é o envolvimento dos alunos em atividades que os aproximam de uma realidade distante daquela vivida no ambiente universitário. Isso possibilita uma reflexão sobre atuação profissional e o papel no mundo que cada um virá a ter no futuro. Muitos descobrem a popularização da Ciência como um caminho possível para a formação acadêmica e profissional. As bolsas acenam para que a maioria consiga manter-se na universidade sem, contudo, construir vínculos profissionais mais duradouros. Mesmo assim e apesar do tempo limitado e passageiro em que exerce a função, o mediador pode ter uma

experiência transformadora para sua vida. (BRITO, 2012, p. 37)

Figura 25 - Roda de conversa para reflexões acerca do Curso de Formação

61

Com a proposta de refinamento que consiste em ampliar os canais de

comunicação para provocar o acesso das pessoas com deficiência, mediante a

elaboração de acervo tátil, pranchas de comunicação, maquetes, mapas táteis.

Ressaltamos a necessidade de considerar as pesquisas realizadas para

direcionar nossas ações. Já que anteriormente optamos por ouvir o público a

quem se dirigiam as medidas propostas com a aplicação de um questionário na

abertura da exposição piloto: O Mar Brasileiro na Ponta dos Dedos.

Além disso, no que se refere aos profissionais do receptivo, constituir

subgrupos de trabalho para produção de manual de orientação para

relacionamento com as pessoas com deficiência, supervisão dos instrumentos

(cadeira de rodas, carro elétrico para suporte de cadeira de rodas e banheiro

acessível).

Tal proposta será mensurada em encontros mensais com o receptivo do

museu, ocasião em que cooperaremos com o Serviço Museologia e Supervisão

do Receptivo, para formação do referido grupo, com dinâmicas e visitas

mediadas.

Em continuidade a formação (2014) a SAE organizou visita técnica ao

IBC, da qual destacamos a Exposição da Coleção Didática do Projeto “ A

célula ao alcance da mão”, organizou também palestra com o paleoartista

Maurílio Oliveira do MN para favorecer a tradução de dados científicos,

conforme ilustração que se segue:

Figura 26 – Visita Técnica com os Mediadores ao Instituto Benjamin Constant

(IBC) 2014, Exposição Didática “A célula ao alcance da mão”

62

Figura 27 – Palestra: Paleoarte, uma ferramenta para divulgação da

ciência, 2014

4.3.4 Divisão de Grupos de Trabalho

A SAE define seu trabalho em três eixos: Público de visitação

programada (escolas, alunos, professores, roteiros de visita); público de

visitação espontânea (famílias, atividades de fim de semana) e o não público

(inclusão sociocultural) e acessibilidade/pessoas com deficiência (elaboração

de instrumentos de mediação, audiodescrição, mapas táteis, entre outros).

Seguem as justificativas elencadas no questionário28 aplicado aos

mediadores que optaram por atuar no grupo responsável por planejar

atividades vinculadas à acessibilidade em 2014, conforme relatos, contudo

todos os mediadores mediam todos os públicos:

Comentário 1 – Gostaria de trabalhar com esse grupo,

somente pelo fato de ter me interessado mais por este assunto.

Desde o inicio das palestras de acessibilidade despertou em

mim um novo olhar, não somente dentro dos museus, mais por

toda a cidade. Eu acredito que conseguiria contribuir muito com

este projeto, pois o que me motiva é a vontade de transformar

a realidade de hoje, em uma alternativa igualitária.

Comentário 2 – Possuo uma pequena experiência com o

público escolhido, tenho afinidade com eles e possuo algumas

idéias que podem auxiliar na mediação.

28

Instrumento elaborado pela técnica da SAE, Andréa F. Costa

63

Comentário 3 – Durante as palestras foi um dos assuntos que

mais me chamou muito a atenção, porque iria colaborar

diretamente para minha pesquisa na faculdade que está se

voltando para uma “pintura sem suporte”. As atividades como

público também me atraíram, apesar de não ter optado por

elas, visto que pensar na questão educacional no museu é um

dos motivos pelo qual acho tão importante a ação do educativo.

Comentário 4 – O paradigma da inclusão

acessibilidade/pessoas com deficiência surge no cenário

contemporâneo, em que as instituições como museus têm

como desafio a política inclusiva, que tem como objetivo central

o trabalho colaborativo pedagógico que busca viabilizar o

acesso a cultura e ao lazer para pessoas com deficiência. A

inclusão não é uma tarefa fácil, mas é sem dúvida possível.

Comentário 5 – Minha escolha se justifica a partir da minha

graduação como a terapia ocupacional trabalha com

independência e autonomia do indivíduo, a criação de

instrumentos que facilitem essa conquista seria uma

experiência muito agradável.

Comentário 6 – Como ex-participante do Pic Jr. tive a

oportunidade de me envolver bastante com os dois tipos de

mediação, tanto a espontânea, como programada e acredito

que desempenhei bem essas funções e não me envolvi muito

nas atividades com acessibilidade, mesmo gostando muito

dessa área. Sendo assim, nessa volta, gostaria de ingressar

nas áreas diferentes na Seção.

4.4. Produtos elaborados

Outro fato digno de registro é que, com a aproximação do tema, foram

elaborados alguns produtos como:

- Livro falado (Nossa terra, Nossa Casa – Serviço Geológico do Brasil), para

ser enviado a um aluno do IBC, pela ocasião em que estávamos

desenvolvendo uma proposta de trabalho.

- Tradução do livro: Explore within na Egyptian Mummy, (proposta de

acessibilidade tátil sobre o processo de mumificação);

- Elaboração de dois vídeos sobre a mediação no Museu Nacional;

- Ensaios de audiodescrição da sala de paleontologia,

- A Exposição de curta duração “(R)evolução das Plantas”. Conforme relatado

anteriormente, foram elaborados em parceria com o IBC etiquetas e catálogos

64

em Braille; letras ampliadas com contraste; preparação de roteiro e rampa de

acesso.

- Elaboração da revista: “Guia de Visitação ao Museu Nacional – Reflexões,

Roteiros e Acessibilidade”.

- Implantação do Espaço Ciência Acessível com a exposição-piloto de curta

duração “O Mar Brasileiro na Ponta dos Dedos”. Em parceria com o IBC foram

elaboradas etiquetas em Braille além da edição do texto em linguagem mais

simples − elaboração de roteiro acessível;

- Exposição de curta duração “Grafite: a voz colorida das ruas” (UNIRIO);

- Exposição de curta duração “Hoje é dia de feira” (UNIRIO)

- Elaboração de diagnóstico de acesso físico Cancela/Museu Nacional

(Apêndice E);

- Levantamento dos comentários das pessoas com deficiência e /ou seus

familiares, coletados do livro de registro – Portaria do MN. (Apêndice F).

Figura – 28 Visita dos alunos do CEJA/IBC a Exposição piloto:

O Mar Brasileiro na Ponta dos Dedos, 2013

65

A SAE, conforme já citado, realiza encontros com educadores

denominados “Diálogos entre Educadores”, de forma que nos favorece em

conhecer um pouco da educação formal dos grupos que visitam o MN,

educadores de escolas regulares, alguns de escolas inclusivas e outros que

atuam na educação especial. A aproximação é relevante para a melhoria do

atendimento aos diversos públicos. Conforme sinaliza Brito:

Os grupos de portadores de deficiências diversas (visuais, auditivas, cerebrais e motoras) são presença constante e têm dificuldade no acesso às informações e instalações cenográficas. Não contam com profissionais especializados para que as visitas sejam exploradas de modo mais atraente e interessante. A adaptação e a inclusão de linguagens apropriadas (Braille, Libras, objetos em relevo, legendas equipamentos especiais) não são suficientes para atender com mais qualidade esses visitantes. Um novo campo profissional pode se abrir nesses espaços, absorvendo profissionais portadores de necessidades especiais, inclusive como mediadores e preparando equipes de maneira mais adequada

para o trabalho (BRITO, 2012, p.36)

66

5. CONSIDERAÇÕES

Segundo Guarnieri (2010), o museu nos dias atuais deve ser entendido

como espaço privilegiado na relação entre homem e objeto em um tempo

comum, na mesma realidade. Em face disso, a ação museológica deve apontar

para a promoção da consciência crítica e histórica, visando à ação libertadora e

criadora. (GUARNIERI, 2010: 242).

É consenso entre os pesquisadores que a mediação cultural se

configura como instrumento eficaz de divulgação científica. Para as pessoas

com deficiências não é diferente, visto que a remoção das barreiras atitudinais

favorece a promoção da acessibilidade. E para os mediadores, por sua vez,

com base em seus depoimentos, constatamos a disposição e a satisfação em

alcançar diferentes públicos.

Verificamos, ainda, que as exposições com acessibilidade, elaboradas

pelas curadoras entrevistadas, já tinham se aproximado do tema em momentos

anteriores, e a reaproximação atual fez eclodir um fruto há muito semeado.

Esse fato nos suscita a possibilidade de que os mediadores atuais que têm

experiências, reflexões, treinamentos, leituras e aproximação da temática

possam internalizar posturas positivas favorecendo práticas inclusivas e

democráticas.

Os mediadores que participaram de diferentes etapas puderam

mensurar a ampliação do processo de formação, como a diversificação da

temática da acessibilidade mediante as parcerias estabelecidas com outras

instituições que atendem a esse público e também analisam como positiva a

variedade das suas áreas de graduação.

Dessa forma, avaliamos a intervenção na qualificação dos mediadores

como profícua para a formação dos mesmos, para os profissionais do MN, e

ressaltamos relevante melhoria na qualidade e quantidade dos atendimentos

do público de pessoas com deficiência.

67

REFERÊNCIAS

ARANTES, Valéria Amorim. (org). Educação Formal e não-formal. GHANEM,

Elie & TRILLA, Jaume.

BRASIL. Constituição (1988) Constituição da República Federativa do Brasil,

1988. Brasília: Senado Federal, Centro Gráfico, 1988. 292 p.

BRASIL. Decreto n. 5.296 de 02 de dezembro de 2004. Brasil, Brasília, 3 dez.

2004. p. 5-10.

BRITO, Fátima. Experimentando a mediação: desafio constante. In:

MASSARANI, Luísa: ALMEIDA, Carla. In Workshop Sul-americano & Escola de

Mediação. Rio de Janeiro: Museu da Vida/ Casa de Oswaldo Cruz/ FIOCRUZ,

2008, p.37-42

BOURDIEU, P.; DARBEL, A. O amor pela arte: os museus de arte na Europa e

seu público. São Paulo: Zouk, 2007, p. 168.

CAMBIAGHI, Silvana. Desenho Universal: métodos e técnicas para arquitetos e urbanistas. 3ª ed. Revista. Editora SENAC São Paulo-São Paulo, 2007.p. 23.

CAMBIAGHI, Silvana. Desenho Universal Métodos e técnicas para arquitetos e

urbanistas. 3ª ed. Revista. Editora SENAC São Paulo- São Paulo 2012, p. 73;

81.

INSTITUTO PORTUGUÊS DE MUSEUS. Museus e Acessibilidade. Coleção

Temas de Museologia. 2004, p. 17

LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL. Lei n. 9.394 de

20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação

nacional. Brasil, Brasília, 23 dez. 1996. p. 1-9.

ESTATUTO DE MUSEUS. Lei n. 11.904 de 14 de janeiro de 2009. Institui o

Estatuto de Museus e dá outras providências. Brasil, Brasília, 15 jan. 2009. p.

1-4.

ONU, Declaração Internacional dos Direitos Humanos. Paris: França, 1948

ONU, Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. Nova Iorque:

EUA, 2006.

REGIMENTO DO MUSEU NACIONAL. Separata de: Boletim da UFRJ. n. 32.

Rio de Janeiro. 1971.

SARRAF, V. P. Acesso à Arte e Cultura para pessoas com deficiência visual:

Direito e desejo. In: MORAES, M. & KASTRUP, V. (Org.). Exercícios de Ver e

68

Não Ver - Arte e Pesquisa com Pessoas com Deficiência Visual. 1 ed. Rio de

Janeiro: Nau Editora, 2010, v. 01, p. 154-173.

Temas de Museologia – Museus e Acessibilidade. Lisboa, 2004.

MARANDINO, Martha et al (Org.) Educação em Museus: a mediação em foco.

São Paulo, SP: GEENF: FEUSP, 2008.

SARRAF, V. P. Curso de Acessibilidade em Espaços Culturais. 2° Edição da

Revista MUSAS do IPHAN- MINC. Rio de Janeiro, 2006.

TOJAL, Amanda Pinto da Fonseca. Museu de Arte e Públicos Especiais.

Dissertação (Mestrado em Artes) – Escola de Comunicações e Artes, Universidade de

São Paulo, São Paulo, 1999.

TOJAL, Amanda Pinto da Fonseca. Políticas Públicas de Inclusão de Públicos

Especiais em Museus. Tese (Doutorado em Ciências da Informação) – Escola de

Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007.

VASCONCELLOS, Maria das Mercês N. Educação em Museus: Qual é a especificidade deste campo? Qual é a importância de se respeitar de forma rigorosa as especificidades do mesmo? Dossiê sobre Educação em Museus. Ensino em Re-vista. Universidade Federal de Uberlândia, 2012.

69

APÊNDICES

APÊNDICE A: Questionário: O Museu na Ponta dos Dedos

Para o presente trabalho foram resgatadas as perguntas 16.2 e 21, de

2013.

No âmbito do projeto de acessibilidade O Museu Nacional na Ponta dos

Dedos foi elaborado e aplicado um questionário para o público de pessoas com

deficiência visual. Tal investigação teve o objetivo de conhecer hábitos culturais

e desejos no que concerne à visitação de museus/espaços culturais e à

percepção da própria deficiência, expectativa sobre o tema a ser exposto e

preferências de formas de comunicação. Segue o questionário:

Esta iniciativa se origina do trabalho de pesquisa de Guilhermina

Guabiraba Ribeiro, cujo projeto intitula-se “O Museu na Ponta dos Dedos: A

Acessibilidade Tátil para Pessoas com Deficiência Visual no Museu de

Ciências” consiste na investigação dos hábitos das pessoas com deficiência

visual: cegueira e baixa visão, para formação de público e elaboração de

acervo estruturado para promoção de acesso ao Museu Nacional.

As perguntas que seguem têm a intenção de entender seu perfil e

expectativas em relação ao acervo que será catalogado para implantação da

exposição tátil. Nenhuma delas é de resposta obrigatória. Você não deve

responder a nada que o constranja ou que não se sinta suficientemente

confortável para fazê-lo.

Ainda assim, queremos lembrá-lo de que todas as suas respostas

estarão sob sigilo e serão utilizadas unicamente para os objetivos desta

pesquisa, sem que jamais seu nome seja divulgado.

Ao responder às questões, você estará automaticamente aceitando os

termos expostos e ajudando-nos a pensar e estruturar um acervo que atenda

às pessoas com deficiências visuais. Desde já, agradecemos sua disposição

em nos ajudar.

70

Categorias Questões

Perfil sociodemográfico

Identificação, sexo, idade, estado civil

01,02,03,04

Formação acadêmica 05,06

Perfil da relação com a deficiência 07,08,09, 10

Formação acadêmica dos

responsáveis

11

Herança Cultural

Práticas culturais vinculadas à família

12

Relacionamento com espaços culturais 13,14, 15, 16 , 16.1,

Noção de pertencimento/acessibilidade 16.2,17, 17.1,18,19,20,21,22

Potencial público do MN 23,24,25, 26

Relacionamento social/lazer 27,28,29

Acesso à informática 30,31,32,33,34,35

1. Qual o seu nome (opcional)?

_______________________________________________________________

2. Qual é o seu sexo?

1.( ) Masculino 2.( ) Feminino

3. Idade:

1.( ) De 15 a 21 2.( ) De 22 a 28

3.( )De 29 a 35 4.( ) De 36 a 42

5.( ) De 43 a 49 6.( ) De 50 a 56

7.( ) De 63 a 70 8.( ) Acima de 71

71

4. Estado Civil / situação conjugal atual:

1.( ) Solteiro (a) 2.( ) Casado ( a)

3.( ) União estável 4.( ) Separado (a )

5.( ) Divorciado ( a) 6.( ) Viúvo ( a )

7.( ) Outros – Qual?

05. Qual é o seu nível de escolaridade?

1.( )Sem instrução escolar 2.( ) Ensino Fundamental incompleto

3.( ) Ensino Fundamental completo 4.( )Ensino Médio incompleto

5.( ) Ensino Médio completo 6. ( ) Ensino Superior incompleto

7.( ) Ensino Superior completo 8.( ) Pós-Graduação

06. Aprendeu a ler e escrever com:______________ anos completos.

07. Você se considera:

1. ( ) Pessoa com deficiência visual 2. ( ) Pessoa cega

08. Sua perda de visão/cegueira é:

1.( )Congênita 2.( ) Hereditária 3.( ) Adquirida

08.1. Caso seja adquirida, a partir de quantos anos completos iniciou-se?

_________ anos completos.

09. Você possui memória visual?

1.( ) Sim 2.( ) Não

72

10. Você considera que a deficiência visual é um fator limitante?

1.( )Sim – PASSE PARA A

QUESTÃO 10.1

2.( )Não – PASSE PARA A QUESTÃO

10.2

10.1. Em que aspecto você julga que a deficiência é um fator limitante?(Pode

marcar mais de uma opção)

1.( ) Social 2.( ) Escolar

3.( ) Familiar 4.( ) Trabalho

5.( ) Equipamentos que a cidade lhe

oferece

6.( ) Outro ( ) Qual?

11. Qual a escolaridade dos seus pais/responsáveis?

1.( )Sem instrução escolar 2.( ) Ensino Fundamental incompleto

3.( ) Ensino Fundamental completo 4.( )Ensino Médio incompleto

5.( ) Ensino Médio completo 6.( ) Ensino Superior incompleto

7.( ) Ensino Superior completo 8.( ) Pós-Graduação

12. Quais as atividades socioculturais que costuma realizar com sua família:

1.( ) Museus/Centros Culturais 2.( ) Caminhada

3.( ) Festas 4.( )Atividades Esportivas

5.( ) Praia 6.( ) Assistir televisão

7.( ) Show musical 8.( ) Visita a parentes

9.( ) Ouvir rádio 10.( ) Cinema

11.( ) Cinema com áudio descrição 12.( ) Outros – Quais ?

13. Você costuma visitar museus e centros culturais?

1.( )Sim – PASSE PARA A QUESTÃO

14

2.( )Não – PASSE PARA A

QUESTÃO 16.2

73

14. Cite alguns museus / centros culturais que você já tenha visitado.

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

15. Sua última visita a museus/ centros culturais foi há:

1.( ) Seis meses 2.( ) Seis meses/um ano

3.( ) Um ano/dois anos 4.( ) Dois/cinco anos

5.( ) Mais de cinco anos 6.( ) Nunca visitei

16. Há algum centro cultural/museu que gostaria de conhecer?

1.( )Sim – PASSE PARA A

QUESTÃO 16.1

2.( )Não – PASSE PARA A

QUESTÃO 16.2

16.1. Qual museu/centro cultural gostaria de conhecer e por quê?

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

16.2. Você percebe os museus/centros culturais como patrimônio da

sociedade/espaço de todas as pessoas ?

1.( ) Sim 2.( )Não - Por quê?

17. Conhece algum museu que tenha acessibilidade tátil?

1.( ) Sim – Qual? 2.( ) Não – PASSE PARA A

QUESTÃO 21

17.1. O referido museu satisfez suas expectativas?

74

1.( ) Sim 2.( ) Não

18. O que mais lhe despertou interesse?

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

19. Qual é sua sugestão para melhoria da exposição?

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

20. O museu visitado tem acessibilidade tátil na exposição de longa

duração?

1.( ) Sim 2.( ) Não

21. Caso você já tenha participado de visitas mediadas em museus e espaços

culturais, qual o instrumento que mais lhe agradou?

1.( ) Etiquetas em Braille 2.( ) Mediação Cultural

3.( ) Sonorização 4.( ) Outro, Qual?

22. Que outras ferramentas específicas para pessoas com deficiência visual

você conhece e que lhe parecem úteis para integrar uma exposição tátil?

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

23. Você visitaria o Museu Nacional caso lhe fosse disponibilizado acervos

táteis?

1.( ) Sim 2.( ) Não

24. Você já visitou o Museu Nacional?

1.( ) sim 2.( ) não

75

25. Considerando uma exposição de longa duração, qual é o seu grau de

interesse nas áreas de atuação do Museu Nacional? (Sendo 1 para nenhum

interesse e 5 para muito interesse)

Áreas de interesse 1 2 3 4 5

África e Pacífico

América Pré-Colombiana

Arqueologia Brasileira

Egito Antigo

Etnologia Indígena

Evolução Humana

Grécia e Roma

História do Brasil Império

Paleontologia (Dinossauros, fósseis e etc.)

Zoologia (Insetos, Mamíferos, Invertebrados)

26. Que outros temas e assuntos gostaria de encontrar neste Museu?

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

______________________________________________________________

27. Você faz parte de algum grupo de convivência?

1.( ) Sim - PASSE PARA A QUESTÃO

28

2.( ) Não - PASSE PARA A QUESTÃO

29

28. De qual grupo de convivência faz parte?

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

29. Quais são seus interesses nos horários de lazer?

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

30. Com que frequência você costuma usar o computador?

76

1.( ) Não acesso- ENCERRAR A

ENTREVISTA

2.( ) Duas vezes por semana

3.( ) Quatro vezes por semana 4.( ) Todos os dias da semana

5.( ) Várias vezes ao dia

31. Com que frequência você costuma acessar a Internet?

1.( ) Não acesso 2.( ) Duas vezes por semana

3.( ) Quatro vezes por semana 4.( ) Todos os dias da semana

5.( ) Várias vezes ao dia

32. Como você avalia seu desempenho no uso do computador?

1.( ) Insuficiente 2. ( )Mediano

3.( ) Habilidoso 4.( ) Muito habilidoso

33. Identifique quais as atividades você costuma realizar com seu computador?

1.( ) Tarefas escolares 2.( )Pesquisas

3.( ) Jogos 4.( )Relacionamentos

5.( ) Outros – Quais?

34. Que leitor de tela você utiliza? Ele lhe parece adequado?

35. Você utiliza algum Ambiente Virtual de Aprendizagem? Em caso positivo,

qual?

1.( ) Sim 2.( ) Não

77

APENDICÊ B: Diagnóstico acesso físico

Elaborado por sugestão de um respondente do questionário: O

Museu na Ponta dos Dedos, no depoimento 3 do Apêndice: E

[...]e a maioria das pessoas que vai visitar este Museu não virá de carro. Uma

guia no chão do ponto de ônibus até aqui seria mais fácil, e dentro do parque

também é difícil de andar.

a) Do ponto de ônibus na Cancela (bairro de São Cristóvão) até a Quinta da

Boa Vista não tem piso tátil, somente declínio na calçada para passagem de

cadeiras de rodas;

b) A sinalização das placas está invertida: Dentro da Quinta da Boa Vista tem

piso tátil, somente até o circo (com algumas interrupções);

c) Tem rampa para de acesso para calçada;

d) Calçada esburacada de um lado;

e) Falta a placa de sinalização direcional;

f) Falta sinalização para o lago;

g) Não tem vaga de estacionamento para pessoas com deficiência.

h) Da estação do metrô até a Quinta da Boa Vista não há qualquer tipo de

sinalização, somente declínio na calçada para promover acesso da pessoa em

cadeiras de rodas.

APÊNDICE C: Comentários das pessoas com deficiência e/ou

seus familiares anotados no livro de registro na portaria da

exposição do MN

(relatados no livro de anotações, na portaria Museu Nacional referente ao ano

de 2012)

Pág.2 – É necessário criar uma: autorização para acesso de carro até a

porta do museu, para o desembarque de terceira idade;

78

Pág.3 – Dificuldade para subir as escadas do museu com carrinho de bebê;

Pág.5 – Nenhum banheiro que atenda um cadeirante;

Pág.8 – Elevador com defeito, sem estruturas para deficientes físicos e visuais;

Pág.9 - Falta de áudio guia;

Pág.10– Falta de acesso do carro, para ir mais perto do museu, por causa de

um deficiente, falta de placas direcionais, não há banheiro para deficientes.

Pág.11 – Falta de elevador para cadeirante;

Pág.13 – Falta elevador para cadeirante;

Pág.14 – Falta elevador para idosos, e falta cadeira de rodas (demora em

trazer a cadeira de rodas);

Pág.16 – Falta piso antiderrapante na ponta dos degraus, para não se

escorregar;

Pág.17 –Não há placas indicativas nos corredores;

Pág.20 – Não há acessibilidade, falta elevador para os cadeirantes;

Pág.22 – O piso antiderrapante das escadas deve ser trocado;

Obs.: Existe banheiro para pessoa com deficiência, (no segundo piso) porém

não estava sinalizado. No final do ano de 2013, foram disponibilizados outros

banheiros no andar térreo para todos os públicos.

79

ANEXOS

Anexo A: Depoimento de Mediadora – Campus Realengo II –

Relatório Bolsista Jovens Talentos/FAPERJ

No estágio inicial o primeiro contato que temos com o Museu se baseia

na mediação. Sempre considerei fascinante poder aprender melhor sobre o

que está nas exposições e o acervo da coleção didática. Ainda que cansativas,

as semanas de treinamento constituíram um momento muito importante para a

construção da minha carreira como estagiária.

Como forma de sintetizar todo este conhecimento transmitido, participei

do “DIÁLOGO ENTRE EDUCADORES”, como parte do projeto “VISITA

ESCOLAR AO MUSEU NACIONAL\UFRJ: INICIAÇÃO À CIÊNCIA EM 60

MINUTOS”. O que de fato contribuiu muito para aperfeiçoar a mediação que

vim a desenvolver posteriormente.

Esta é uma parte muito especial do estágio, em um primeiro momento

pensamos que não conseguiremos expor tudo o que sabemos devido ao

esquecimento. Mas na realidade é bem diferente, e os desafios que

encontramos ao longo deste trabalho são de naturezas bem específicas, e

todos eles podem ser resolvidos por meio de conversas produtivas entre os

Técnicos Administrativos do Setor, que buscam ouvir o mediador.

Outro ponto importante para a minha formação como estagiária e que

contribui na atuação dentro do projeto foram às visitas técnicas ao Instituto

Benjamin Constant e Jardim Botânico. O que ampliou a minha percepção

diante das deficiências físicas encontradas na sociedade e também com

relação à questão ambiental.

Também participei do evento “Turismo Cultural no Bairro Imperial de São

Cristóvão”, trabalhando como mediadora no Museu Nacional, uma experiência

muito intensa, pois foi um momento de alta visitação e diversidade de público.

Tendo maior vínculo ao projeto, trabalhei como monitora da oficina BICHOS

80

PARA VER, TOCAR E APRENDER! - A COLEÇÃO DIDÁTICA DA SEÇÃO DE

ASSISTÊNCIA AO ENSINO/SAE, onde pude presenciar as reações do público

vidente e não vidente diante do acervo tátil. Nesta exposição também pude

trabalhar com turistas que falavam espanhol durante a Jornada Mundial da

Juventude, que trouxe muitos visitantes ao MN. A Semana Nacional de Ciência

e Tecnologia também me proporcionou o contato com um aluno autista durante

a montagem de quebra-cabeças sobre o acervo do Museu Nacional, outra

experiência importante e muito especial que compõe todo o quadro deste ano

de 2013.

No segundo semestre se inicia maior dedicação ao projeto e definição

das atribuições de cada um. A apropriação do trabalho a ser desenvolvido por

minha parte se deu de forma positiva pois sempre considerei importante que

este tipo de medida fosse tomada. O espaço do Museu Nacional ainda está

caminhando em direção a este objetivo. Participar da elaboração e realização

de projetos com tamanha importância neste meio de fato é muito importante.

Ao me voltar para a área de educação compreendo que o

conhecimento deve ser disponibilizado a todos, o acesso à informação é um

direito de cada um. Estar no Museu Nacional com os projetos de mediação

para o público escolar confirmou isto, enquanto o projeto O Museu Nacional na

Ponta dos Dedos foi capaz de expandir o meu olhar sobre este público que por

muito tempo foi negligenciado.

Construir um espaço acessível desde o seu principio requer cuidados e

atenção quanto ao desenho universal. Porém tornar um ambiente que durante

muito tempo não foi tratado desta maneira consiste em um grande desafio.

Logo, há inúmeras medidas físicas que devem ser tomadas. No Museu

Nacional tive mais contato com ações educativas para expandir a ciência e

também com o que deve ser feito para fazer o espaço se tornar acessível e

confortável para todos os visitantes.

Este se torna um trabalho engrandecedor e apaixonante, fazer-se

compreendido por alguém que não escuta, ou presenciar o momento em que

um cego toca e conhece algum objeto são momentos dos quais quem

81

presencia nunca deve esquecer. No Brasil sempre houve grandes dificuldades

para tal, e cada pequeno passo significa um grande avanço diante de tudo o

que precisa ser feito. Neste projeto não é feito mais do que garantir o exercício

do direito de todas as pessoas de terem contato com as diversas formas de

conhecimento disponíveis.

O Museu é um espaço de educação não formal e este não deve

reproduzir o discurso que foi dito até hoje. A missão de compartilhar o

conhecimento adquirido se deu de maneira tão forte que agora todas as

adaptações necessárias no espaço precisam ser feitas para levarmos isto

adiante. Como conclusão do estágio inicial e contato com o que está por vir,

participei da XV Jornada Jovens Talentos, onde pude conhecer os outros

projetos desenvolvidos no Rio de Janeiro e também aumentar o leque de

possibilidades durante o estágio avançado.

Este projeto busca abranger a todo o espaço museológico e isto inclui a

sensibilização de seus funcionários. Estar neste quadro é algo estimulante e

que não só ampliou, mas também complementou o conhecimento prévio. Não

basta apenas programarmos mudanças espaciais, as medidas educativas

devem ser desenvolvidas para incluir a todos no meio científico e social.

Disto, posso concluir que acessibilidade não é para alguns, e sim para

todos. Estar promovendo a democratização dos bens culturais se dá de forma

satisfatória e deixa claro que no futuro poderei continuar por este caminho, pois

o primeiro contato tem sido fundamental para a minha formação, como busca

ser o programa Jovens Talentos.

ANEXO B: Depoimento de Mediador – Campus Niterói −

Relatório do bolsista Jovens Talentos/FAPERJ

Os primeiros contatos com o Museu Nacional poderiam ser descritos

como assustadores. A ideia de aprender sobre pré-história, dinossauros,

múmias, grandes civilizações, índios e tudo o mais que o maior museu de

história natural da América Latina guarda consigo, é assustadoramente incrível.

Tão incrível quanto isso é saber que fui treinado por alguns dos maiores

especialistas do Brasil em diversas áreas.

82

Após os primeiros treinamentos acerca das exposições vieram às

mediações. Com elas vieram à responsabilidade de compartilhar, para

qualquer que seja o público, o conhecimento que obtive com os grandes

pesquisadores do Museu Nacional. Trabalho este que me rendeu boas horas

de estudo pra conseguir fazer com que todo o conhecimento que adquiri seja

acessível a qualquer pessoa, seja ele criança ou adulto, estudioso ou não,

pessoa com deficiência ou não.

Com essa responsabilidade de passar o conteúdo das exposições pra

qualquer que seja o visitante, comecei a entender melhor o que é

acessibilidade. Preparar uma mediação acessível, que seja totalmente

compreendida por crianças, adultos, idosos, intelectuais, ou qualquer outro

indivíduo, não é uma tarefa fácil. Fazer com que qualquer um entenda como o

planeta Terra surgiu ou como os dinossauros não existem mais,

independentemente do seu grau de conhecimento sobre o assunto, não é nada

fácil. Perceber que cada pessoa tem diferenças, mas que todos nós temos

direitos e podemos frequentar qualquer espaço cultural foi fundamental para

compreender todo o universo do projeto ‘O Museu na Ponta dos Dedos’, que é

direcionado também às pessoas com deficiência.

O projeto me proporcionou uma sensibilização e conscientização das

questões acerca das deficiências físicas e cognitivas e também sobre as

pessoas que as têm. Essa conscientização veio a partir das discussões com

minha orientadora, das experiências com visitantes do museu que tem

deficiência e com as leituras sobre acessibilidade. Desde o início do projeto, fui

apresentado a livros, textos, resumos, monografias e apresentações de

grandes estudiosos do assunto. As leituras foram muito importantes porque me

passaram o conhecimento sobre especificidades das deficiências,

principalmente da deficiência visual, o que quebrou muitos pré-conceitos que

eu tinha sobre essas pessoas e me fez entender um pouco mais sobre suas

diversidades. Com o projeto também aprendi a fazer resumos de livros e textos

de autores já consagrados na área da acessibilidade, o que me proporcionou o

amadurecimento da escrita acadêmica e também da minha capacidade de

compreender e sintetizar textos.

83

A partir de todos esses conhecimentos e experiências adquiridas ao

longo de um ano no Museu Nacional, na Seção de Assistência ao Ensino, que

compreendi o que é acessibilidade em espaços culturais, que aprendi a

escrever um texto acadêmico, aprendi a lidar com pessoas que tem alguma

deficiência e também abri os olhos pra questões que antes considerava não tão

importantes em minha vida. Até mesmo as mediações se tornaram

experiências que nunca esquecerei porque eu não fui o único a ensinar,

aprendi muito com elas também, como foi o caso de uma mediação com um

grupo de ex-moradores de rua e com um grupo de idosos, dentre tantas outras

que foram muito importantes pra mim.

ANEXO C: Depoimento de Mediador – Campus Tijuca II −

Relatório do bolsista Jovens Talentos/FAPERJ

A partir do trabalho por nós desenvolvido, é possível constatar a

relevância do projeto, por servir como de incentivo para que espaços culturais

acessíveis sejam pensados e implantados, onde qualquer pessoa possa visitar

sem nenhum obstáculo ou algo que a separe dos outros visitantes, podemos

perceber que é essencial para o museu ele ter uma proposta acessível para

todos os públicos, já que ele é voltado para o público. Em relação à

acessibilidade em sua exposição, o Museu Nacional está em desenvolvimento

uma exposição piloto para conhecer mais o usuário com deficiência visual, o

espaço foi avaliado pelo público alvo e caminhamos na formação de

mediadores com ênfase na remoção de barreiras atitudinais entre outras,

entretanto na exposição de longa duração será necessário um planejamento

em longo prazo dado ao tamanho e variedade de temas expostos. No intuito

de fomentar a igualdade de oportunidades para diferentes públicos investimos

na sensibilização dos mediadores/funcionários, foram realizadas visitas

técnicas a reflexões acerca de textos propostos, compartilhamento de

experiências e vivências, registros dos visitantes e familiares de pessoas com

deficiências foi implementada visualização de rota acessível no Parque da

Quinta da Boa Vista, buscando conhecer o trajeto que o visitante realizaria

para visitação ao museu.

84

ANEXO D: Depoimento de Curadora da Exposição “A

(R)evolução das plantas” e acessibilidade

Não há como falar a respeito do meu interesse por acessibilidade no

Museu Nacional, sem falar da minha trajetória de vida. Nunca fiz cursos ou

estudei a respeito, o que já fiz e desejo ainda fazer (idéias não faltam) são o

reflexo dos meus valores pessoais, aliados à minha experiência de vida e os

acasos que fazem com que encontremos pessoas-chave para realizar o que

queremos.

Para início de conversa, tenho muita sorte. Venho de uma família que

me ensinou a ter respeito pelas pessoas, independente de tudo, a valorizar o

ser, a repartir tudo o que puder e que a vida só vale a pena pelo que fazemos e

aprendemos.

Durante a graduação em Biologia, descobri na Botânica a minha grande

paixão, descobri “o maravilhoso mundo microscópico” (nas lâminas de

anatomia vegetal) que me emociona até hoje. Estudar Biologia foi um privilégio,

mudou a minha forma de encarar a vida e o desejo imenso de compartilhar

esses conhecimentos e sentimentos com todos nasceu e só aumentou.

Ainda, meu orientador de iniciação científica era um entusiasta da

confecção de materiais didáticos tridimensionais da estrutura interna das

plantas. Com ele aprendi a enxergar possibilidades de diversos materiais, a

fazer relação entre as formas, a trabalhar constantemente a relação “baixo

custo – leveza – durabilidade – facilidade de construção e reprodução”.

Também passei a enxergar nos jogos e brinquedos simples as possibilidades

de adaptação para incorporar o lúdico ao processo de aprendizado.

Em 2006, fui novamente privilegiada, desta vez com a chance de

trabalhar em uma escola Montessoriana. Ter contato e aprender sobre o

método de Montessori abriu mais os meus horizontes. Além disso, nesta

escola, trabalhei com crianças e jovens em grupos de inclusão. Tive alunos

85

autistas, jovens com gigantismo, com paralisia cerebral, cadeirantes, com

diagnóstico de esquizofrenia, todos juntos. Esta foi a fase mais gratificante da

minha vida, tanto profissional, quanto pessoalmente. Aprendi muito com esses

alunos, diariamente, em todos os aspectos imagináveis. Aprendi, mais ainda,

que o conhecimento para ser aprendido deve sim passar por todos os sentidos

e que todos merecem a chance de se maravilhar com o que a Ciência tem a

mostrar.

E com esta bagagem cheguei ao Museu Nacional. Novamente, tenho

muita sorte! Durante o doutorado descobri na Geologia outra paixão. Descobri

os processos dinâmicos da Terra. Foi neste período no qual “encaixaram” os

conhecimentos a respeito dos processos geológicos e biológicos, responsáveis

pelo surgimento e manutenção da vida. Surgiram mais motivos para encanto e,

de novo, o desejo imenso de compartilhar e de mostrar, para todos, a beleza

do mundo no qual vivemos. Aqui, pude desenvolver as minhas “idéias

malucas”, sempre com o apoio do meu orientador, (...). Assim, nasceram a

peça de teatro “A Conquista da Terra: aprendendo com Darwin a história da

evolução das plantas” e o túnel “Antártica: uma viagem no tempo” (para

mostrar as mudanças de uma floresta luxuriante há 100 milhões de anos até o

deserto gelado de hoje), ambos apresentados durante as festividades de

aniversário do Museu Nacional.

Quando foi decidido que o simpósio de Paleobotânica e Palinologia de

2013 seria organizado no Museu, meu orientador teve a ideia de inaugurar

uma exposição de Paleobotânica, já que a Coleção de fósseis vegetais do

Museu Nacional é uma das maiores do país (aproximadamente 4500

exemplares) e é a mais antiga. Além disso, em 195 anos de história, seria a

primeira vez que este material seria exposto, sem estar associado aos fósseis

de animais. E assim eu ganhei um presente, o professor me deu carta branca

para criar a exposição como eu achasse melhor, disse para eu usar a

imaginação à vontade. Com este espírito, encaminhamos o projeto, que foi

aprovado pela FAPERJ. O orçamento liberado foi bastante modesto e a

exposição só pôde ser realizada na sua “versão mínima” (o projeto original

previa reconstrução da vegetação extinta, imersão total dos visitantes, vários

86

modelos didáticos tridimensionais mostrando o funcionamento das plantas,

sistema de som ambiente e de aromatização), ainda assim, graças à equipe

que se contagiou com a ideia. A arquiteta Mara Toscano abraçou o projeto com

muita paixão e não deixou morrer a ideia original, “só” por falta de recursos.

Aqui começam os fatores que favoreceram incluir o possível de

acessibilidade na exposição. A arquiteta nos perguntou se ela poderia projetar

a exposição para livre circulação de cadeirantes e se poderia inserir um canto

sensorial, pois em sua carreira tinha projetado muito para tornar espaços

acessíveis e ela acreditava que seria ótimo poder fazer isso no Museu. Nós

ficamos bastante animados e felizes com a oferta.

Ainda, procurei a SAE para ajudar, pois tinha consciência que para a

exposição ser didática, nós teríamos que trabalhar obrigatoriamente com a

Seção de Ensino. Mesmo porque, na nossa concepção, uma exposição só faz

sentido se o conteúdo estiver acessível a alunos e professores dos ensinos

fundamental e médio e acessível aos visitantes, independente do grau de

escolaridade, poder aquisitivo e bagagem cultural. Para nós, o papel desta

exposição seria despertar a curiosidade para as plantas e tentar popularizar (ou

melhor, “des-elitizar”) a idéia de sua evolução. Por coincidência, na SAE, existe

a Guilhermina Guabiraba Ribeiro, que estuda e luta por acessibilidade no

Museu Nacional e que, junto a outra educadora da SAE, foram cruciais na

execução do projeto.

Também por acaso, o coordenador do laboratório (LAPID), dispõe de

uma impressora 3D, que utiliza para fazer réplicas de fósseis de animais. O

professor gostou da ideia de imprimir as réplicas de alguns moldes de fósseis

vegetais para incluir no espaço sensorial e, é importante dizer, que foi uma

doação do seu laboratório à exposição.

De minha parte, insisti na inserção de plantas atuais vivas, de

aromatizadores (mesmo caseiros) e fui aceitando as ideias financeiramente

possíveis. Assim, a exposição conta com rampa para acesso de cadeirantes,

réplicas de alguns fósseis, madeira fóssil (para tocar) e catálogo em Braille29 29

A edição do catálogo e etiquetas em Braille foi viabilizada pelo Instituto Benjamin Constant/IBC

87

para atender visitantes com deficiência visual. Ainda, tem alguns aromas

“característicos” de alguns períodos (de acordo com as plantas que dominavam

a flora).

A exposição está muito simples? Está! Poderia ser muito mais

acessível? Poderia! Mas o mérito está em ser a semente. Acredito que é

possível fazer muito mais. O que precisamos é continuar insistindo para

mostrar que Ciência não deve permanecer fria, isolada no ambiente

acadêmico, acessível para “alguns eleitos” capazes de traduzir os termos

técnicos.

Ciência de verdade, com C maiúsculo, é viva, pulsante, contagia,

encanta e deve ser divulgada para todos. Porque, assim, como a Arte (que está

presente, com sucesso, em muitos projetos sociais), ela também pode salvar

vidas.

ANEXO E: Desdobramento fora do espaço do Museu Nacional.

Depoimento de educadora, Técnica em Assuntos Educacionais

da SAE – Museu Nacional e Professora da Universidade

Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) do Curso de

Graduação em Museologia

O meu maior contato com o tema Acessibilidade Cultural se deu a

partir do ano de 2012, influenciada pelas pesquisas, discussões e leituras

compartilhadas por Guilhermina Guabiraba, minha chefe e colega de trabalho

na Seção de Assistência ao Ensino do Museu Nacional.

Considerando que minha vinculação à área da educação em museus

tem início no ano de 2001, como bolsista de iniciação científica da

Coordenação de Educação em Ciências do MAST, esse contato mais

aprofundado é bem recente. Até então, a questão já havia se colocado para

mim do ponto de vista prático. Como mediadora, me vi, uma única vez, diante

de um grupo de estudantes surdos em visita ao MAST e com eles realizei uma

visita educativa. Os mesmos estavam acompanhados por seus professores e

uma intérprete de LIBRAS, o que facilitou – ou viabilizou – a visita. No entanto,

a escuridão da sala, que abordava fenômenos como as estações do ano e os

88

dias e as noites, impossibilitava que os alunos enxergassem os sinais, e ao

mesmo tempo era fundamental para o funcionamento adequado dos aparatos

que compunham a exposição. Nesse dia, eu acendia e apagava as luzes da

exposição, ora para usar os aparatos, ora para poder dialogar com os visitantes

surdos. Percebi, somente ali, que a exposição apresentava problemas e que a

questão da surdez não havia sido contemplada. Foi somente na prática, sem

preparação ou reflexão prévia, que percebi, dentre outras coisas, que o tempo

de uma visita com a comunidade surda é muito diferente, pois deve contemplar

a tradução da fala do mediador, bem como a de cada visitante interessado em

se expressar, isso, claro, entendendo que o educador do museu não é surdo e

não domina a Língua Brasileira de Sinais, o que não deve ser a regra. Após

essa experiência, me dei conta de que muitas coisas deveriam ser modificadas

no museu, na formação dos mediadores, mas os problemas eram tantos e

alguns, naquele momento, me pareciam mais emergenciais do que este. Era

esse o meu pensamento a época.

A secretária da Coordenação, que na época cursava Pedagogia,

frequentemente me falava de seu interesse em trabalhar com a comunidade

surda e tratar do tema em sua monografia de conclusão de curso. Colaborei

com o levantamento de textos sobre o tema, mas o meu envolvimento com

outras pesquisas não me permitiam avançar na discussão.

Contudo, anos mais tarde, influenciada pelo trabalho da Guilhermina e,

possivelmente, pelo aumento do número de experiência e práticas, bem como

de produção acadêmica relacionadas à acessibilidade cultural, me dediquei um

pouco mais ao estudo do tema. Minha real aproximação em relação à

acessibilidade cultural acaba por coincidir com o início da minha trajetória como

professora universitária, em janeiro de 2013. Nas duas disciplinas que ministro

no Curso de Graduação em Museologia da UNIRIO a acessibilidade cultural é

abordada. Muitos alunos, futuros museólogos, passam a se revelar

interessados e sensíveis à questão. Como reflexo desse trabalho desenvolvido

junto aos estudantes, destaco o fato de a acessibilidade cultural ter sido

contemplada nas duas últimas exposições montadas pelos mesmos

(exatamente aquelas exposições das quais participei), as chamadas

89

exposições curriculares. Destaco nesse contexto a instalação de piso tátil, a

elaboração de audiodescrição de imagens e obras expostas, elaboração de

vídeo com tela em LIBRAS, elaboração de etiquetas em Braille, elaboração de

catálogo da exposição em Braille, elaboração e implementação de atividade

educativa com visitantes cegos e com baixa visão, como oficinas e visitas

educativas. Segundo relatos de professores mais antigos, já teria havido

anteriormente a intenção de se trabalhar com acessibilidade nas exposições

curriculares, bem como com os usuários do Instituto Benjamin Constant,

vizinho à UNIRIO, mas somente em 2013, com a inauguração da exposição

“Grafite - a voz colorida das ruas”, pela primeira vez a acessibilidade teve

destaque e esteve presente na montagem da exposição e na concepção e

implementação de um projeto educativo vinculado à mesma.

Hoje, a questão da acessibilidade está presente na minha vida cotidiana

e na minha vida profissional. Quando caminho pelas ruas, faço uso de museus

ou de outros equipamentos culturais, quando viajo, faço uso de transporte

público, dentre outros, observo a existência ou não de recursos e estratégias

capazes de promover o acesso e garantir os direitos das pessoas com

deficiência. Quando circulo pelo museu em que trabalho, quando elaboro

projetos e ações educativas e quando atuo na formação de mediadores, a

questão também está contemplada.

A acessibilidade, especialmente a acessibilidade cultural, faz hoje parte

da minha vida, dos meus interesses e das minhas preocupações enquanto

professora universitária e educadora no Museu Nacional.

ANEXO F: Áreas de estudo dos bolsistas PRODICC, PIBEX,

PIBIAC

ÁREA DE ESTUDO DOS ESTAGIÁRIOS

PRODICC PIBEX PIBIAC

ARTES PLÁSTICAS

1 CIÊNCIAS SOCIAIS

1 CIÊNCIAS

BIOLÓGICAS 2

ARTES CÊNICAS - CENOGRAFIA

1 HISTÓRIA 2

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CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

3 HISTÓRIA DA

ARTE 1

CIÊNCIAS SOCIAIS

2

HISTÓRIA 1

HISTÓRIA DA ARTE

4

TERAPIA OCUPACIONAL

2

PEDAGOGIA 1

ANEXO G: Regimento do Museu Nacional - Seção de Assistência ao Ensino– SAE (separata)

De acordo com o “Regimento do Museu Nacional” - Aprovado pelo Conselho Universitário em sessão de 22 de julho de 1971 - (Separata do Boletim n° 32, de 12 de agosto de 1971). TÍTULO II – DA ORGANIZAÇÃO CIENTÍFICA E DOCENTE CAPÍTULO I – DA PESQUISA Art. 6° - Os estudos e pesquisas, científicas e educacionais, no âmbito das Ciências Naturais e Antropológicas serão da alçada dos Departamentos e do Serviço de Assistência ao Ensino e do Serviço de Museologia, no âmbito das respectivas competências. (p. 6) CAPÍTULO II – DO ENSINO Art. 20 – As Atividades de Divulgação, abertas a qualquer pessoa, serão de responsabilidade precípua do Serviço de Assistência ao Ensino e terão por objetivo contribuir para o esclarecimento e a elevação do nível cultural e cívico cultural do meio social e despertar vocações para as ciências.(p.10) CAPITULO III – DAS EXPOSIÇÕES Art. 23 – Para o planejamento das exposições do Museu Nacional, haverá uma Comissão integrada por um representante do Serviço de Museologia, um do Serviço de Assistência ao Ensino e um de cada Departamento envolvido nas mesmas.(p. 11)

91

CAPITULO X – DO SERVIÇO DE ASSISTÊNCIA AO ENSINO (p. 24, 25 e 26) Art. 86 – O Serviço de Assistência ao Ensino é órgão com a finalidade de atendimento ao ensino no âmbito das Ciências Naturais e Antropológicas, mediante assistência a professor de nível médio e elementar, a universitários, a estudantes de qualquer nível, a escolas e ao público em geral, mediante o uso de todas as exposições e instalações, bem como realizar pesquisas sobre técnicas de utilização didática das exposições para diferentes níveis de ensino. Art. 87 – Ao Serviço de Assistência ao Ensino compete: a – realizar estudos e pesquisas sobre educação em museus de ciências; b – prestar assistência ao ensino das Ciências Naturais e Antropológicas a estabelecimentos de ensino, professores e alunos; c – orientar o público em visitas às exposições do Museu Nacional; d – organizar e realizar cursos, palestras, conferências, sessões cinematográficas educativas, para divulgação das Ciências Naturais e Antropológicas; e – organizar companhas educativas, tendo em vista a proteção da natureza e um melhor conhecimento dos recursos naturais, especialmente do País; f – organizar exposições próprias, temporárias ou volantes, para atender aos seus objetivos educacionais; e g – colaborar nas publicações do Museu Nacional e elaborar, para distribuição, obras de divulgação de conhecimentos de Ciências Naturais e Antropológicas. Art. 88 – Para a execução dos Serviços de sua competência, o Serviço de Assistência ao Ensino disporá de pessoal habilitado, técnicos de educação, professores de Ciências Naturais e Antropológicas, de nível médio; de conteúdo e de metodologia, professores de nível elementar, preparadores, desenhistas e

92

funcionários administrativos. Art. 89 – O Serviço de Assistência ao Ensino será dirigido por um chefe, designado na forma da lei, dentre professores de nível superior, técnicos ou assistentes de educação, ou professores de nível médio, integrantes do Quadro Único ou da Tabela de Contratados da Universidade. Art. 90 – Ao Chefe do Serviço de Assistência ao Ensino compete: a – Dirigir, coordenar, distribuir e fiscalizar a execução dos trabalhos do Serviço; b – elaborar, em colaboração com pessoal docente, o plano anual de atividades; c – apresentar relatório anual ou parcial das atividades, quando solicitado; d – fornecer elementos para o inventário geral da Instituição; e – reunir, global ou parceladamente, o pessoal docente para debater assuntos que interessem ao processamento dos trabalhos; f – participar da Comissão de Exposição ou indicar representante; e g – participar das reuniões do Conselho Departamental. (p. 26) TITULO III – DO CORPO SOCIAL – CAPITULO I – DO CORPO DOCENTE – SEÇÃO I – DAS CATEGORIAS (p. 28) Art. 101 – Integram também o Quadro Único ou Tabela de Contratados da Universidade os professores de ensino médio ou primário em exercício no Serviço de Assistência ao Ensino. (p. 29)

ANEXO H: Lei de acessibilidade

O Brasil possui legislação específica sobre acessibilidade. É o Decreto-

lei nº 5.296, de 2 de dezembro de 2004, também conhecido como Lei de

Acessibilidade. O documento estipula prazos e regulamenta o atendimento às

necessidades específicas de pessoas com deficiência no que concerne a

projetos de natureza arquitetônica e urbanística, de comunicação e informação,

de transporte coletivo, bem como a execução de qualquer tipo de obra com

destinação pública ou coletiva pública ou coletiva.