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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE CIÊNCIAS DEPARTAMENTO DE BIOQUÍMICA E BIOLOGIA MOLECULAR CAMILA BEZERRA NOBRE CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA E EFEITO SOBRE BACTÉRIAS ORAIS DE UMA LECTINA DE SEMENTES DE Andira surinamensis (Bondt) Splitg. ex Amshoff FORTALEZA 2012

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

CENTRO DE CIÊNCIAS

DEPARTAMENTO DE BIOQUÍMICA E BIOLOGIA MOLECULAR

CAMILA BEZERRA NOBRE

CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA E EFEITO SOBRE BACTÉRIAS ORAIS

DE UMA LECTINA DE SEMENTES DE Andira surinamensis (Bondt)

Splitg. ex Amshoff

FORTALEZA

2012

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CAMILA BEZERRA NOBRE

CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA E EFEITO SOBRE BACTÉRIAS ORAIS

DE UMA LECTINA DE SEMENTES DE Andira surinamensis (Bondt)

Splitg. ex Amshoff

Dissertação de Mestrado submetida à

Coordenação do Curso de Pós Graduação em

Bioquímica da Universidade Federal do Ceará

como requisito parcial para obtenção do grau

de Mestre em Bioquímica.

Área de concentração: Bioquímica Vegetal

Orientador: Prof. Dr. Benildo Sousa Cavada

Co-orientador (a): Profa. Dra. Kyria Santiago

do Nascimento

FORTALEZA

2012

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CAMILA BEZERRA NOBRE

CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA E EFEITO SOBRE BACTÉRIAS ORAIS

DE UMA LECTINA DE SEMENTES DE Andira surinamensis (Bondt)

Splitg. ex Amshoff

Dissertação submetida à coordenação do

Programa de Pós-Graduação em Bioquímica

da Universidade Federal do Ceará como

requisito parcial para obtenção do grau de

Mestre em Bioquímica.

Aprovado em ___/___/___

BANCA EXAMINADORA

______________________________________________________________________

Prof. Dr Benildo Sousa Cavada (Orientador)

Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular

Universidade Federal do Ceará

______________________________________________________________________

Profa. Dra. Kyria Santiago do Nascimento (Co-orientadora)

Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular

Universidade Federal do Ceará

______________________________________________________________________

Profa. Dra. Beatriz Tupinambá Freitas (Examinadora)

Universidade Federal de Sergipe

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A Deus,

A meus pais, por todo apoio, amor e

dedicação.

Dedico

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AGRADECIMENTOS

A Deus, pelo dom da vida e por ter me concedido saúde, paz, determinação e

coragem para que eu prosseguisse firme na realização desse trabalho.

Ao meu orientador, Prof. Dr. Benildo Sousa Cavada, por ter me recebido no seu

laboratório, antes mesmo que eu fosse mestranda, por ter acreditado no meu trabalho e por

todo apoio e incentivo nesses anos que estive no BioMol-Lab.

À minha co-orientadora, Profa. Dra. Kyria Santiago do Nascimento, pela co-

orientação no desenvolvimento desse trabalho e pelos valiosos conhecimentos transmitidos

durante o mestrado. Também não posso deixar de agradecer por toda dedicação, amizade e

carinho desde que cheguei no laboratório.

Ao Prof. Dr. Celso Shiniti Nagano, pelos conhecimentos transmitidos e por ter

disponibilizado a estrutura do seu laboratório para execução de parte desse trabalho.

Ao Prof. Dr. Bruno Anderson Matias da Rocha, pelos ensinamentos e por todo

carinho e amizade desde a época da graduação.

À Profa. Dra. Beatriz Tupinambá Freitas, por ter me iniciado nesse vasto mundo

da pesquisa e por todo carinho e atenção que sempre teve comigo.

Ao Prof. Dr. Rodrigo Maranguape, pela atenção e presteza que sempre me

dispensou.

A todos que compõe o Laboratório Integrado de Biomoléculas (LIBS) da UFC-

Campus de Sobral, especialmente ao Prof. Dr. Edson Holanda Teixeira, pela disponibilidade

na utilização da estrutura do laboratório e aos amigos Victor, Rafaela e Érica por todo auxílio,

carinho, amizade e atenção quando estive em Sobral.

Aos Professores do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular-UFC, por

todos os ensinamentos transmitidos durante o curso.

A Capes pelo auxílio finaceiro.

À Mayara Torquato, por ter sido peça fundamental para realização desse trabalho,

sempre tão presente e dedicada em enfrentar os desafios ao meu lado e pela sincera amizade

que conseguimos construir.

Aos colegas de trabalho do BioMol-Lab, Caio, Clareane, Arthur, Guilherme,

Fernando, Ronniery, Kássia, Ivandra, Alfa, Rafael Porto, Cibelle, Vinícius, Vanir, Adolph,

Mayara Queiroz, Lia, Claúdia, Karine, Batista, Suzete, Caludener, Eduardo, Raphael Batista,

Cíntia, pelo convívio diário, pelo apoio e pelos bons momentos vivenciados ao lado de cada

um de vocês.

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Aos meus dois grandes amigos-irmãos e colegas de trabalho, Helton e Júnior, por

todos esses anos de amizade, por todo amor, incentivo, aprendizado e por todas as situações,

boas e ruins, que compartilhamos no decorrer desses anos.

Aos grandes amigos que conquistei nesses anos de BioMol-Lab, Sâmia, Aninha,

Joana, Maria Júlia, Rafael Simões, Bruno Lopes, Rômulo, Mayron, Alysson, Ito, Tales, por

terem se tornado pessoas tão especiais durante todo esse tempo e que quero conservar na

minha vida para sempre. Obrigada por tudo!

À Raquel, meu agradecimento mais que especial, pelos valiosos ensinamentos,

pela contribuição diferencial nessa etapa final e pela amizade e carinho que firmamos durante

essa jornada!

A todos os amigos que se fizeram presentes nessa etapa da minha vida, com muito

amor, paciência, carinho, incentivo, compreensão, proporcionando-me maravilhosos

momentos de descontração.

A todos os meus amigos da turma de Mestrado 2010.1 do Departamento de

Bioquímica e Biologia Molecular-UFC.

Palavras jamais irão descrever tudo que eu tenho a agradecer a toda minha imensa

família e em especial à minha mãe Marigel, ao meu pai Nobre e ao meu irmão João Paulo...

mas, quero que vocês saibam que sem o amor, apoio, dedicação, força e oração de vocês,

desde quando vim morar em Fortaleza, nada disso seria possível!

Enfim, meus sinceros agradecimentos a todos aqueles que contribuíram direta ou

indiretamente para a realização desse trabalho.

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“Enquanto estiver vivo, sinta-se vivo. Se sentir

saudades do que fazia, volte a fazê-lo. Não

viva de fotografias amareladas... Continue,

quando todos esperam que desistas... Não

deixe que enferruje o ferro que existe em você.

Faça com que em vez de pena, tenham respeito

por você. Quando não conseguir correr atrás

dos anos, trote. Quando não conseguir trotar,

caminhe. Quando não conseguir caminhar, use

uma bengala. Mas nunca se detenha.”

(Madre Teresa de Calcutá)

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RESUMO

As sementes de Andira surinamensis (Bondt) Splitg. ex Amshoff, uma espécie pertencente à

família Leguminosae, subfamília Papilionoideae, tribo Dalbergieae, possuem uma lectina

glicose/manose específica, que aglutina eritrócitos de coelhos nativos ou tratados com

enzimas proteolíticas. A lectina de sementes de Andira surinamensis foi purificada através de

cromatografia de afinidade em matriz de Sepharose-Manose seguida por cromatografia de

troca iônica em matriz de DEAE-Sephacel. Esse procedimento resultou na lectina purificada,

nomeada de ASL. O processo de purificação da ASL foi monitorado pela atividade

hemaglutinate específica e SDS-PAGE, onde se observou que essa lectina é composta por seis

bandas protéicas, uma de maior peso molecular aparente de aproximadamente 20 kDa e outras

cinco bandas de menor peso molecular aparente entre 15 e 12 kDa. A massa molecular intacta

da lectina purificada foi determinada através da técnica de espectrometria de massa com

Ionização por Eletrospray (ESI). A análise do espectro de massa intacta mostrou a presença de

dois íons majoritários de massa molecular de 12.220+ 2 e 13.258 + 2 Da. ASL também teve

sua estrutura primária parcialmente sequenciada através de espectrometria de massa

sequencial. Essa lectina é uma glicoproteína e demonstra elevada estabilidade, sendo capaz de

manter sua atividade hemaglutinante em uma ampla faixa de pH e após exposição a

temperaturas de até 80 ºC por 1hora. Após diálise contra o agente quelante EDTA, ASL teve

sua atividade hemaglutinante diminuída, porém recuperou sua atividade após a adição de

metais, mostrando-se dependente de cátions metálicos divalentes. Foi avaliado também o

efeito da ASL no crescimento planctônico bacteriano e na formação de biofilmes e observou-

se que ela interferiu no crescimento planctônico de duas diferentes cepas bacterianas gram-

positivas (Streptococcus mitis e Streptococcus salivarius) e na formação de biofilme por

Staphylococcus aureus e Streptococcus salivarius.

Palavras-chave: Lectina. Andira surinamensis. Purificação. Biofilme.

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ABSTRACT

Andira surinamensis (Bondt) Splitg. ex Amshoff seeds, a species belonging to the

Leguminosae family, Papilionoideae subfamily, Dalbergieae tribe, have a glucose/mannose

specific lectin rabbit erythrocytes that agglutinate native or treated with proteolytic enzymes.

The lectin from Andira surinamensis seeds was purified by affinity chromatography on

Mannose-Sepharose matrix followed by ion exchange chromatography on DEAE-Sephacel

matrix. This procedure resulted in a purified lectin, named ASL. ASL purification process

was monitored by specific hemagglutinating activity and SDS-PAGE, where it was observed

that this lectin is composed of six protein bands, a higher molecular weight of approximately

20 kDa and five other bands of lower apparent molecular weight between 15 and 12 kDa.The

intact molecular mass of the purified lectin was determined by mass spectrometry with

electrospray ionization (ESI). The analysis of the intact mass spectrum showed the presence

of two majority ions of molecular mass 12.220+ 2 and 13.258 + 2 Da. ASL also had its

primary structure partially sequenced by mass spectrometry sequence. This lectin is a

glycoprotein and shows high stability, being able to maintain their hemagglutinating activity

in a wide pH range and after exposure to temperatures up to 80 °C for 1 hour. After dialysis

against the chelating agent EDTA, ASL had its hemagglutinating activity decreased, but

recovered its activity after the addition of metals, being dependent on divalent metal cations.

We also evaluate the effect of ASL on planktonic bacterial growth and biofilm formation and

found that it interfered with the growth of two different planktonic gram-positive bacterial

strains (Streptococcus mitis and Streptococcus salivarius) and biofilm formation by

Stafilococcus aureus e Streptococcus salivarius.

Key words: Lectin. Andira surinamensis. Purification. Biofilm.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Biossíntese de glicoconjugados e reconhecimento na superfície

celular................................................................................................

21

Figura 2 - Representação esquemática de merolectinas, hololectinas,

quimerolectinas, e superlectinas .......................................................

26

Figura 3 - Classificação das lectinas vegetais.................................................... 26

Figura 4 - Interações lectina-carboidrato na superfície celular.......................... 27

Figura 5 - Modificações pós-traducionais durante a biossíntese da

Concanavalina A(ConA)...................................................................

30

Figura 6 - Relação filogenética proposta para as tribos da subfamília

Papilionoideae...................................................................................

36

Figura 7 - Visão geral da estrutura dimérica de PELa em complexo com

trimanose...........................................................................................

36

Figura 8 - Visão geral da estrutura dimérica de PELa em complexo com o

heptassacarídeo simétrico..................................................................

37

Figura 9 - Estrutura geral da lectina de P. angolensis....................................... 37

Figura 10 - Andira surinamensis (Bondt) Splitg. ex Amshoff............................. 39

Figura 11 - Componentes básicos de um espectrômetro de massa....................... 40

Figura 12 - Representação esquemática da natureza temporal proposta para o

acréscimo de bactérias orais humanas na superfície do dente........

45

Figura 13 – Desenvolvimento de um biofilme...................................................... 47

Figura 14- SDS-PAGE.......................................................................................................... 67

Gráfico 1 - Cromatografia de Afinidade em matriz de Sepharose-Manose......... 65

Gráfico 2 - Cromatografia de Troca Iônica em matriz de DEAE-Sephacel......... 65

Gráfico 3 - Estabilidade térmica da lectina de Andira surinamensis................... 68

Gráfico 4 - Estabilidade da lectina de Andira surinamensis a uma ampla faixa

de pH................................................................................................

68

Gráfico 5- Efeito do EDTA sobre a atividade hemaglutinante da ASL..............

69

Gráfico 6- Espectro de massa deconvoluído mostrando a massa isotópica

média das cadeias da ASL................................................................. 70

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Gráfico 7 - Avaliação do potencial da lectina de sementes de Andira

surinamensis (ASL) sobre o crescimento planctônico de

Streptococcus mitis ATCC 903.........................................................

73

Gráfico 8 - Avaliação do potencial da lectina de sementes de Andira

surinamensis (ASL) sobre o crescimento planctônico de

Streptococcus salivarius ATCC Salivarius.......................................

73

Gráfico 9 - Avaliação do potencial antibiofilme da lectina de sementes de

Andira surinamensis (ASL) sobre o desenvolvimento do biofilme

de Stafilococcus aureus ATCC 25923..............................................

74

Gráfico10 - Avaliação do potencial antibiofilme da lectina de sementes de

Andira surinamensis (ASL) sobre o desenvolvimento do biofilme

de Streptococcus salivarius ATCC Salivarius..................................

74

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Exemplos de atividades biológicas descritas para lectinas.................. 28

Tabela 2 - Lectinas da tribo Dalbergieae, especificidade por açúcar e atividades

biológicas..............................................................................................

35

Tabela 3 - Atividade hemaglutinante da ASL...................................................... 63

Tabela 4 - Inibição da atividade hemaglutinante da ASL por

carboidratos..........................................................................................

64

Tabela 5 - Tabela de purificação da ASL ............................................................. 66

Tabela 6- Efeito do EDTA sobre a atividade hemaglutinante da

ASL......................................................................................................

69

Tabela 7- Sequência obtida por espectrometria de massa sequecial (MS/MS)

dos peptídeos oriundos de digestão tríptica da ASL..........................

71

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LISTA DE SIGLAS

AaL: lectina de Araucaria angustifolia

AAL: lectina de Aleuria aurantia

Abu: ácido α-amino butírico

ACA: aglutinina de Amaranthus caudatus

A.H.E.: atividade hemaglutinante específica

AMA: aglutinina de Arum maculatum

ASL: lectina de Andira surinamensis

ATCC: Coleção de Cultura Tipo Americana

BmoLL: lectina de Bauhinia monandra

BSA: albumina sérica bovina

CGL: lectina de Canavalia gladiata

CID: Decomposição Induzida por Colisão

CMI: Concentração Mínima Inibitória

ConA: lectina de Canavalia ensiformis

ConBol: lectina de Canavalia boliviana

ConBr: lectina de Canavalia brasiliensis

ConM: lectina de Canavalia maritima

CRD: Domínio de Reconhecimento a Carboidratos

CT: Concentração total

C-terminal: carboxi terminal

Da: Dalton

DDA: Análise Direta de Dados

DEAE: dietilaminoetano

DNA: ácido desoxirribonucléico

EDTA: Ácido Etilenodiaminotetracético

ELISA: Ensaio de Imunoabsorção Enzima-Ligada

EPSs: Substância Extracelular Polimérica ou Exopolissacarídeos

ECorL: lectina de Erythrina corallodendron

ESI: Ionização por Eletrospray

Fru: frutose

FT-ICR: Transformada de Fourier- Ressonância Ciclotrônica Iônica

GlcNAc: N-acetilglicosamina

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Glu: glicose

GNA: aglutinina de Galanthus nivalis

kDa: Quilodalton

Man: manose

MALDI: Ionização por Dessorção a Laser Assistida por Matriz

MBL: lectina humana ligante a manose

MLP: lectina de Manihot esculenta

MPTs: Modificações protéicas pós-traducionais

mRNA: ácido ribonucléico mensageiro

MS: Espectrometria de Massa

MS/MS: Espectrometria de Massa Sequencial

m/z: relação massa/carga

N-terminal: amino terminal

OD: densidade ótica

PA: pureza analítica

PAL: lectina de Pterocarpus angolensis

PAL: lectina de Pisum arvensis

PDB: Protein Data Bank

PELa: lectina recombinate de Platypodium elegans

pH: potencial hidrogeniônico

PPL-1: lectina de Parkia platycephala 1

PPL-2: lectina de Parkia platycephala 2

RE: retículo endoplasmático

RIP: proteínas inativadoras de ribossomos

RPM: rotações por minuto

SBA: aglutinina de sementes de soja (Glycine max)

SDS: dodecil sulfato de sódio

SDS-PAGE: Eletroforese em gel de poliacrilamida em presença de dodecil sulfato de sódio

ToF: Tempo de vôo

TSB: caldo tríptico de soja

TxLCI: lectina do bulbo de tulipa

TEMED: N-N-N´-N´-tetrametilenodiamina

UFC: unidades formadoras de colônia

U.H.: Unidade Hemaglutinate

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VML: lectina de Vatairea macrocarpa

WGA: aglutinina do gérmen de trigo

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO........................................................................................... 19

1.1 Glicobiologia................................................................................................ 20

1.2 Fatos históricos e definições....................................................................... 22

1.3 Classificação de lectinas vegetais............................................................... 24

1.4 Ubiquidade na natureza............................................................................. 27

1.5 Ocorrência nos vegetais.............................................................................. 29

1.6 Lectinas de leguminosas............................................................................. 29

1.7 Lectinas de Papilionoideae......................................................................... 33

1.8 Andira surinamensis (Bondt) Splitg. ex Amshoff..................................... 38

1.9 Espectrometria de massa: generalidades.................................................. 39

1.10 Biofilmes: generalidades............................................................................. 44

2 OBJETIVOS................................................................................................ 50

2.1 Objetivo Geral............................................................................................. 51

2.2 Objetivos Específicos.................................................................................. 51

3 MATERIAIS E MÉTODOS...................................................................... 52

3.1 Purificação da Lectina de Sementes de A. surinamensis......................... 53

3.1.1 Preparo da Farinha................................................................................ 53

3.1.2 Extração de proteínas das sementes............................................................ 53

3.1.3 Preparo da solução protéica.................................................................. 53

3.1.4 Atividade hemaglutinante............................................................................ 53

3.1.5 Cálculo da Atividade Hemaglutinante Específica...................................... 54

3.1.6 Especificidade por Carboidratos................................................................. 54

3.1.7 Cromatografia de Afinidade em Matriz de Sepharose-Manose................. 55

3.1.8 Cromatografia de Troca Iônica em Matriz de DEAE-Sephacel................ 55

3.2 Caracterização da Lectina de Sementes de A. surinamensis................... 56

3.2.1 Eletroforese em gel de poliacrilamida na presença de SDS....................... 56

3.2.2 Determinação da massa molecular intacta por espectrometria de massa.. 57

3.2.3 Digestão in gel e sequenciamento dos peptídeos por espectrometria de

massa.............................................................................................................

57

3.2.4 Efeito da temperatura sobre a atividade hemaglutinante da

ASL.....................................................................................................

58

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3.2.5 Efeito do agente quelante (EDTA) sobre a atividade hemaglutinante da

ASL.................................................................................................................

58

3.2.6 Efeito do pH sobre a atividade hemaglutinante da ASL.............................. 59

3.2.7 Dosagem de carboidratos totais.................................................................... 59

3.3 Avaliação do efeito da ASL sobre o crescimento bacteriano e

formação de biofilmes..................................................................................

59

3.3.1 Microorganismos........................................................................................... 59

3.3.2 Atividade da ASL sobre o crescimento bacteriano....................................... 60

3.3.3 Efeito da ASL sobre a formação de biofilmes.............................................. 60

3.3.4 Análise estatística.......................................................................................... 61

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO................................................................ 62

4.1 Purificação e caracterização pela especificidade a carboidratos da

lectina de sementes de Andira surinamensis..............................................

63

4.2 Caracterização físico-química da lectina de sementes de A.

surinamensis..................................................................................................

66

4.3 Determinação da massa molecular e sequenciamento por

espectrometria de massa..............................................................................

70

4.4 Avaliação do efeito da ASL sobre o crescimento bacteriano e

formação de biofilmes..................................................................................

72

5 CONCLUSÃO.............................................................................................. 77

REFERÊNCIAS.......................................................................................... 79

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19

1 INTRODUÇÃO

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20

1.1 GLICOBIOLOGIA

Na primeira metade do século XX, a química, bioquímica e biologia de

carboidratos foram assuntos de grande interesse. No entanto, durante a fase inicial da

revolução da biologia molecular moderna, estudos com glicanos foram preteridos em favor

das outras principais classes de bio ou macromoléculas. Isso se deve em grande parte à

complexidade estrutural inerente, a dificuldade em determinar sua sequência e o fato de que

sua biossíntese não pode ser diretamente predita a partir de um molde de DNA. O

desenvolvimento de uma variedade de novas tecnologias para explorar as estruturas dessas

cadeias de açúcar abriu uma nova fronteira da biologia molecular que tem sido chamada de

glicobiologia (Figura 1) (VARKI et al., 1999).

A glicobiologia compreende o estudo da estrutura, biossíntese e biologia de

sacarídeos (cadeias de açúcar ou glicanos) que estão amplamente distribuídos na natureza. É

um dos campos de mais rápido crescimento nas ciências biomédicas, com relevância para a

pesquisa básica, biomedicina e biotecnologia (HALTIWANGER; FEIZI, 2011).

Oligossacarídeos e glicoconjugados (glicoproteínas e glicolipídios) têm intrigado

pesquisadores por décadas no seu envolvimento como mediadores de eventos celulares

complexos. A respeito da diversidade estrutural, eles têm a capacidade de ultrapassar

proteínas e ácidos nucléicos. Sua variedade estrutural permite que eles codifiquem

informações para reconhecimento molecular específico, servindo como determinantes para o

enovelamento e estabilidade de proteínas, comunicação, diferenciação e proliferação celular,

entre outros eventos de importância fisiológica. O arranjo estrutural de glicanos na superfície

celular representa um fator determinante na identificação de células tumorais. As alterações

nos padrões de glicosilação são o resultado de atividades alteradas de glicosiltransferases e

glicosidases (GHAZARIAN, IDONI, OPPENHEIMER, 2011).

A habilidade de ligação de carboidratos a outras macromoléculas tais como

proteínas, possibilita que as informações armazenadas nas moléculas de açúcar sejam

decodificadas e traduzidas em eventos biológicos de interesse. Várias classes de proteínas

apresentam essa capacidade de ligação, entre elas, as lectinas.

O termo lectina é derivado da palavra em latim legere que significa “escolher” ou

“selecionar” e abrange todas as aglutininas carboidrato específicas de origem não-imune que

têm especificidade sanguínea (SHARON; LIS, 2004).

A interação de lectinas com carboidratos pode ser tão específica quanto à

interação antígeno/anticorpo e enzima/substrato. Essas proteínas não se ligam a apenas

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21

oligossacarídeos nas células, mas também a glicanos livres, incluindo monossacrídeos.

(GHAZARIAN, IDONI, OPPENHEIMER, 2011).

A habilidade das lectinas de se ligarem a carboidratos está restrita a um pequeno

número de aminoácidos na estrutura da proteína que compõem uma região denominada

domínio de reconhecimento a carboidratos (CRD) (SHARON; LIS, 2004). Esse domínio

lectínico reconhece resíduos de carboidratos em terminais não-redutores de glicoproteínas e

glicolipídios encontrados nas membranas celulares. Essa região também pode discriminar

entre isômeros anoméricos de um mesmo açúcar; a lectina de Canavalia ensiformis (ConA)

liga-se especificamente aos α-anômeros de glicose e manose, mas não aos seus β isômeros

(MODY, JOSHI, CHANEY, 1995).

Figura 1- Biossíntese de glicoconjugados e reconhecimento na superfície celular.

Fonte: Adaptado de BERTOZZI; KIESSLING, 2001. Monossacarídeos fornecidos exogenamente são absorvidos

pelas células e convertidos em “blocos construtores” (tipicamente açúcares nucleosídeos) dentro da célula.

Várias etapas de transformação metabólica podem ocorrer na rota de um açúcar exógeno a um bloco construtor.

Os blocos construtores são importados para os compartimentos secretores onde eles são montados por

glicosiltransferases em oligossacarídeos ligados a uma proteína (ou lipídio). No caso de glicoproteínas N-ligadas,

um núcleo de oligossacarídeos é montado no citosol, em seguida transportado ao RE, onde é processado por

glicosidases e depois elaborado por glicosiltransferases. Uma vez expresso de forma totalmente madura na

superfície celular, os glicoconjugados podem servir como ligantes para receptores em outras células ou

patógenos. Ferramentas químicas podem ser usadas para inibir ou controlar qualquer estágio desse processo.

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22

1.2 FATOS HISTÓRICOS E DEFINIÇÕES

No final do século XIX surgiram as primeiras evidências que apontavam a

existência na natureza de proteínas com habilidade de aglutinar eritrócitos. Tais proteínas

foram referidas como hemaglutininas ou fitohemaglutininas, por terem sido encontradas

inicialmente em extratos de plantas (SHARON; LIS, 2004).

Peter Hermann Stillmark em sua tese de doutorado em 1888 foi o responsável pela

primeira descrição de lectinas vegetais. Em seu trabalho, Stillmark isolou a partir de extratos

de sementes de mamona (Ricinus communis), uma toxina denominada de “ricina” que

apresentou capacidade de aglutinar eritrócitos. Esse estudo foi um marco para a bioquímica

vegetal porque a ricina foi a primeira proteína de planta a ter uma atividade biológica

estabelecida. Após a descoberta da ricina, outras substâncias tóxicas similares foram

identificadas em sementes de Croton tiglium (crotina), Abrus precatorius (abrina) e na casca

de Robinia pseudoacacia (robinia) (VAN DAMME et al., 1998).

Posteriormente, Paul Ehrlich, do Instituto Real de Terapia Experimental

(Frankfurt) empregou a ricina e a abrina como modelos de antígenos para estudos

imunológicos. A partir desses estudos, Ehrlich conseguiu estabelecer em 1890 vários

princípios fundamentais de imunologia, demonstrando que a imunidade às toxinas é

transferida de mãe para filho pelo sangue durante a gravidez e pelo leite após o nascimento

(SHARON; LIS, 2004).

O termo hemaglutinina foi usado pela primeira vez por Elfstrand em 1898 para

designar todas as proteínas vegetais que causam aglutinação das células. Esse termo foi

inspirado na similaridade entre a atividade hemaglutinante macroscopicamente visível

causada pelas proteínas vegetais e aquela de aglutininas do soro humano e animal, descrita

por Landois em 1875 (VAN DAMME et al., 1998).

A ideia de que toxicidade é uma propriedade intrínseca de lectinas foi abandonada

no início do século seguinte por Landsteiner e Raubitscheck em 1907, quando eles relataram

pela primeira vez a presença de lectinas não tóxicas em sementes de Phaseolus vulgaris

(feijão), Pisum sativum (ervilha), Lens culinaris (lentilha) e Vicia sativa (vicia). Após o

trabalho de Landsteiner e Raubitscheck outras hemaglutininas vegetais não tóxicas foram

descobertas. Com esses achados tornou-se evidente que lectinas estão amplamente

distribuídas no reino vegetal e que o papel tóxico dessas moléculas é uma exceção, e não uma

regra. (VAN DAMME et al., 1998).

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No início do século XX, James B. Sumner, da Universidade de Cornell (Ithaca,

Nova Iorque), isolou das sementes de Canavalia ensiformis uma proteína denominada de

concanavalina A (ConA), obtendo assim a primeira lectina purificada da história. Entretanto,

apenas em 1936, Sumner e Howell relataram que a ConA aglutina células tais como

eritrócitos e leveduras e também precipita glicogênio a partir de solução. Eles mostraram que

a hemaglutinação pela ConA foi inibida por sacarose, demonstrando pela primeira vez a

afinidade de lectinas por açúcares. Esses dois pesquisadores ainda sugeriram que a

hemaglutinação induzida por essa proteína é consequência de uma reação com carboidratos da

superfície dos eritrócitos (SHARON; LIS, 2004).

O fato das lectinas exibirem uma clara preferência por eritrócitos de algum grupo

sanguíneo em particular do sistema ABO constituiu-se o primeiro marco histórico no estudo

dessas moléculas, registrado na primeira metade do século XX. Essa preferência foi relatada

por Renkonen em 1948 e por Boyd e Reguera em 1949 (VAN DAMME et al., 1998). Eles

encontraram que extratos brutos de Phaseolus limensis e Vicia cracca, aglutinavam eritrócitos

do grupo sanguíneo A, mas não dos grupos B ou O, enquanto que o de Lotus tetragonolobus,

aglutinava especificamente eritrócitos do grupo O. Essa descoberta da especificidade a um

grupo sanguíneo levou à introdução do novo termo “lectina” (do latim legere, que significa

selecionar ou escolher), por Boyd e Shapleigh em 1954 (SHARON; LIS, 2004).

A ideia de que lectinas exibem distintas especificidades por eritrócitos de grupos

sanguíneos diferentes do sistema ABO foi corroborada pelo trabalho de Olavi Mäkelä, um

estudante de doutorado de Renkonen, em 1957. Ele analisou extratos de sementes de

diferentes espécies da família Leguminosae e verificou que as hemaglutininas exibiram

diferentes especificidades para os grupos sanguíneos; algumas delas aglutinando eritrócitos

dos grupos A, B ou O, e outras para ambos os grupos A e B. Esses achados contribuíram para

as investigações iniciais das bases estruturais da especificidade dos antígenos associada aos

grupos sanguíneos do sistema ABO, levando Morgan e Watkins, do Instituto Lister (Londres)

em 1950 a encontrar que a aglutinação de eritrócitos do grupo A pela lectina de Phaseolus

limensis era melhor inibida por α-N-acetil-D-galactosamina, enquanto que a aglutinação de

eritrócitos do grupo O induzida pela lectina de Lotus tetragonolobus foi inibida

preferencialmente por α-L-fucose. Eles concluíram que α-N-acetil-D-galactosamina e α-L-

fucose são os açúcares que conferem especificidade determinante aos grupos sanguíneos A e

O, respectivamente (SHARON; LIS, 2004).

As descobertas na década de 60 de que as lectinas das sementes de Phaseolus

vulgaris e Canavalia ensiformis desempenham um papel mitogênico sobre linfócitos e que a

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lectina do gérmen de trigo (WGA) aglutina preferencialmente células malignas reforçaram a

importância da interação entre lectinas e os carboidratos encontrados nas superfícies celulares

para a execução de diferentes papéis biológicos (SHARON; LIS, 2004).

A habilidade peculiar de se ligar e reconhecer de forma específica carboidratos na

superfície das células coloca as lectinas como um grupo de proteínas que podem ser

distinguidas das demais por um critério funcional bem definido.

Com base nesse critério, Peumans & Van Damme (1995) definiram lectinas como

sendo proteínas de origem não-imune com no mínimo um domínio não catalítico que se ligam

reversivelmente a mono ou oligossacarídeos específicos.

1.3. CLASSIFICAÇÃO DE LECTINAS VEGETAIS

As lectinas vegetais são consideradas um grupo heterogêneo de proteínas por

serem diferentes entre si no que diz respeito às propriedades bioquímicas e físico-químicas,

relação evolucionária, estrutura molecular, especificidade e atividades biológicas (VAN

DAMME et al., 1998), o que torna laboriosa a tarefa de classificá-las considerando todos os

aspectos que as descrevem simultaneamente.

Van Damme e colaboradores (1998) subdividiram as lectinas vegetais em quatro

classes principais tendo por base a estrutura do(s) sítio(s) de ligação a carboidratos, sendo

assim classificadas: merolectinas, hololectinas, quimerolectinas e superlectinas (Figura 2).

As merolectinas são proteínas que consistem exclusivamente de único domínio

de ligação a carboidrato. Devido ao seu caráter monovalente, as merolectinas são incapazes de

precipitar glicoconjugados ou aglutinar células. A heveína, uma proteína do látex da

seringueira (Hevea brasiliensis), que se liga à quitina, é uma típica merolectina (VAN

PARIJS et al., 1991).

As hololectinas também são compostas exclusivamente de domínios que se ligam

a carboidratos, mas com dois ou mais sítios ligantes que são idênticos ou parecidos. Devido às

hololectinas serem di ou multivalentes elas podem aglutinar células e/ou precipitar

glicoconjugados. As hololectinas comportam-se como verdadeiras aglutininas e compreendem

a maioria das lectinas de plantas, sendo a classe de lectinas melhor estudada. São exemplos

típicos de hololectinas aquelas encontradas em sementes de plantas pertencentes aos gêneros

Canavalia e Dioclea (família Leguminoseae, sub-família Papilionoideae, tribo Phaseoleae).

As quimerolectinas representam a fusão das proteínas compostas de um ou mais

domínios de carboidratos ligantes e de um domínio não relacionado, com uma atividade

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catalítica bem definida, e que age independentemente dos domínios de carboidratos ligantes.

Dependendo do número de sítios de ligação a carboidratos, as quimerolectinas comportam-se

como merolectinas ou hololectinas. São exemplos de quimerolectinas as proteínas

inativadoras de ribossomos (RIP tipo 2), como a ricina (toxina da mamona, Ricinus

communis) e a abrina (toxina de Abrus precatorius), que possuem dois domínios de ligação

para carboidratos comportando-se como hololectinas e um domínio para a inativação do

ribossomo (PEUMANS et al., 1998). Outro exemplo é a PPL-2, uma lectina quitina-ligante

isolada de sementes de Parkia platycephala que possui, além do sítio ligante a carboidrato,

um sítio catalítico com atividade endoquitinásica (CAVADA et al., 2006).

As superlectinas consistem de, no mínimo, dois domínios de ligação para

carboidratos. Diferente das hololectinas os domínios de ligação para carboidratos das

superlectinas reconhecem açúcares estrutural e funcionalmente diferentes. Como exemplo, a

lectina do bulbo de tulipa (TxLCI) que é formada por dois domínios de ligação a carboidrato,

que reconhecem manose e N-acetil-galactosamina, respectivamente (VAN DAMME et al.,

1996).

Van Damme e colaboradores (1998) também propuseram um sistema de

classificação das lectinas baseado em relações sorológicas e/ou semelhanças de sequência,

bem como nas suas relações evolutivas. De acordo com esse sistema, as lectinas foram

subdividas em setes famílias, sendo elas: lectinas de leguminosas; lectinas de

monocotiledôneas ligantes a manose; lectinas ligantes a quitina contendo domínios

heveínicos; proteínas inativadoras de ribossomos tipo 2 (RIP tipo 2); lectinas relacionadas a

jacalina; lectinas do floema de Curcubitaceae e lectinas de Amaranthaceae (Figura 3).

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Figura 2- Representação esquemática de merolectinas (Heveína; PDB: 1Q9B), hololectinas

(ConBr; PDB: 3JU9), quimerolectinas (PPL-2; PDB: 2GSJ) e superlectinas, que não possuem

representantes com estrutura tridimensional determinada

Fonte: Adaptado de PEUMANS; VAN DAMME, 1998.

Figura 3- Classificação das lectinas vegetais

Fonte: PDB. (A) Lectinas de leguminosas, Canavalia brasiliensis (ConBr; PDB: 3JU9); (B) Lectina ligante a

quitina composta por domínios heveínicos, Heveína (PDB: 1Q9B) ; (C) Lectinas de monocotiledôneas ligantes

manose, Galanthus nivalis aglutinina (GNA; PDB: 1MSA); (D) RIP’s do tipo II, Ricina; (PDB: 2AAI); (E)

Lectinas relacionadas à jacalina, Parkia platycephala (PPL-1; PDB: 1ZGR ); (F) Lectinas da família das

amarantinas, Amaranthus caudatus (ACA; PDB: 1JLY ).

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1.4. UBIQUIDADE NA NATUREZA

Lectinas estão presentes nos vários grupos de organismos vivos, sendo

encontradas em vírus (GERMAIN et al., 2011), bactérias (KOUKI et al., 2011), algas

(NAGANO et al., 2005), fungos (KHAN; KHAN, 2011), plantas (COLARES et al., 2011) e

animais (MOURA et al., 2006). A ocorrência de lectinas em diferentes organismos reflete

uma ampliação das possibilidades de estudos de isolamento e caracterização dessas

moléculas, do seu mecanismo de interação com carboidratos e do seu papel biológico intra e

intercelular.

Essas proteínas apresentam-se como ferramentas indispensáveis para a pesquisa

nos mais diversos segmentos científicos (agricultura, medicina, biotecnologia, dentre outros),

devido à diversidade de eventos biológicos que são desencadeados em função da interação

proteína/carboidrato (Figura 4). Alguns desses eventos encontram-se listados na Tabela 1.

Figura 4- Interações lectina-carboidrato na superfície celular.

Fonte: Adaptado de SHARON; LIS, 2004. Lectinas servem como meio de fixação de diferentes tipos de células,

bem como para vírus a outras células via carboidratos da superfície deste último. Em alguns casos, lectinas

ligam-se a glicoproteínas particulares da superfície celular (asialoglicoproteínas), enquanto em outros casos os

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carboidratos de glicoproteínas ou glicolipídios da superfície celular servem como sítios de ligação a moléculas

biologicamente ativas, como as próprias lectinas.

Tabela 1- Exemplos de atividades biológicas descritas para lectinas.

Lectina Atividade biológica Referência

Frutalina e r-Frutalina (Artocarpus

incisa)

Citotoxicidade e Apoptose Oliveira et al.,

(2011).

MBL (lectina ligante a manose) humana Infecções parasitárias Padilla-Docal et

al., (2011).

AAL (Aleuria aurantia) Endereçamento de drogas Roth-Walter et

al., (2004).

Con A (Canavalia ensiformis)

Morniga G (Morus nigra)

Efeito anti-tumoral Lei ;Chang

(2009).

Poiroux et al.,

(2011).

CvL (Cliona varians) Atividade anti-bacteriana Moura et al.,

(2006).

Lectina I de Pseudomonas aeruginosa Adesão celular Kouki et al.,

(2011).

MLP (Manihot esculenta) Atividade fungicida Silva et al.,

(2010).

ConBr (Canavalia brasiliensis) Atividade antidepressiva Barauna et al.,

(2006).

HCA (Hypnea cervicornis)

CcL (Caulerpa cupressoides)

Atividade antinociceptiva e

anti-inflamatória

Bitencourt et al.,

(2008).

Vanderlei et al.,

(2010).

AaL (Araucaria angustifolia) Atividade anti-inflamatória Mota et al.,

(2006).

AMA (Arum maculatum) Atividade pró-inflamatória Alencar et al.,

(2005).

ConBr (Canavalia brasiliensis), CGL

(Canavalia gladiata), ConM

(Canavalia marítima)

Efeito vasodilatador Assreuy et

al.,(2009)

ConBol (Canavalia boliviana), ConM

(Canavalia maritima), Con A

(Canavalia ensiformis

Interferências no processo de

formação de biofilmes

bacterianos

Cavalcante et

al., (2011).

PAL (Pisum arvensis) Relaxamento de aorta e

liberação de óxido nítrico

Assreuy et al.,

(2011).

VML (Vatairea macrocarpa) Alteração na função renal Martins et al.,

(2005).

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1.5. OCORRÊNCIA NOS VEGETAIS

As lectinas estão amplamente distribuídas no reino vegetal, sendo encontradas

desde os organismos mais simples, como algas (NAGANO et al., 2005), musgos (PEUMANS

et al., 2007) e pteridófitas (TATENO et al., 2003), até aqueles mais complexos, como

angiospermas (DINANT, et al., 2003) e gimnospermas (SANTI-GADELHA et al., 2006).

Um crescente número de lectinas vegetais vêm sendo isoladas e caracterizadas sob

diversos aspectos (físico-químicos, biológicos, estruturais), sendo que as famílias

Leguminosae, Gramineae, Algae, Euphorbiaceae detêm a maior quantidade de estudos para

essas moléculas. Contudo, dentre as famílias anteriormente citadas, a família Leguminosae é a

que apresenta o maior número de lectinas isoladas e destas destacam-se principalmente as de

sementes (LORIS et al., 1998; PRAKASHKUMAR, PUSHPANGADAN, VIJAYA

KUMA,1998; SHARON, 1993). Lectinas também estão presentes em outros tecidos

vegetativos, tais como em folhas (RATANAPO, NGAMJUNYAPORN,

CHULAVATNATOL, 2001), túberculos (SUSEELAN et al., 2002), frutos (SAMPIETRO et

al., 2001) e raízes de algumas Convolvulaceae (PEUMANS et al., 1997; VAN DAMME et

al., 1997).

Muitas funções têm sido propostas para as lectinas vegetais, tais como proteção

contra patógenos e insetos, transporte e armazenamento de carboidratos, reconhecimento

celular (dentro da célula, entre células ou entre organismos), proteínas de reserva ou

reguladores de crescimento (PUSZTAI, 1991). Alguns experimentos indicam que as lectinas

vegetais são proteínas de defesa contra animais herbívoros e possuem função na simbiose

entre as bactérias fixadoras de nitrogênio (Rhizobium spp.) e as raízes de leguminosas

(CAVADA et al., 2001).

1.6. LECTINAS DE LEGUMINOSAS

Lectinas de leguminosas constituem uma ampla família de proteínas intimamente

relacionadas, encontradas exclusivamente em representantes da família Leguminosae

(Fabaceae), sendo a família de lectinas vegetais mais bem estudada (SHARON; LIS, 1990).

Até o momento foram isoladas dezenas de lectinas de leguminosas, a partir de

diferentes espécies e pertencentes a vários grupos taxonômicos. Elas são isoladas

principalmente a partir das sementes maduras e estão localizadas nos corpos protéicos do

parênquima dos cotilédones (ETZLER, 1986), constituindo de 1 a 10% do total de proteínas

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solúveis, embora algumas espécies possam apresentar concentrações acima de 50%, ou abaixo

de 0,1% do total de proteínas solúveis presentes nas sementes (SHARON & LIS, 1990; VAN

DAMME, et al., 1998).

Quanto à sua biossíntese, essas proteínas são sintetizadas no retículo

endoplasmático rugoso na forma de pré-pro-lectinas, sendo compostas por um peptídeo sinal

(20 a 30 resíduos de aminoácidos) na região N-terminal, duas cadeias peptídicas (β e γ), uma

cadeia intermediária que será glicosilada no retículo endoplasmático (RE) e um peptídeo sinal

na região C-terminal. Após a clivagem do peptídeo sinal na região N-terminal, a pré-pro-

proteína passa por um novo processamento proteolítico no complexo de Golgi, onde uma

endopeptidase é responsável pela remoção do peptídeo sinal na região C-terminal e da cadeia

intermediária, tornando-se deglicosilada e funcionalmente ativa. As cadeias β e γ são então

religadas em uma posição invertida em relação ao precursor, formando a cadeia α (Figura 5)

(CARRINGTON, AUFFRET, HANKE, 1985).

Figura 5- Modificações pós-traducionais durante a biossíntese da Concanavalina A (ConA).

Fonte: Adaptado de CARRINGTON, 1985. Sumário dos eventos de processamento convertendo a pro-

concanavalina A glicosilada (pré-pro-conA) em lectina madura. Extremidades amino e carboxi terminal da

lectina madura estão indicados por N e C, respectivamente, e o número em parênteses refere-se a resíduos da

concanavalina A madura. Durante o processamento na planta, a pro-proteína glicosilada inativa é deglicosilada

resultando no surgimento da atividade de ligação a carboidrato. A ação de uma endopeptidase que cliva o

nonapeptídio carboxiterminal e o espaçador da deglicosilação está mostrado em verde e amarelo,

respectivamente. Resíduos 118 e 119 são ligados enzimaticamente. Splicing então resulta em uma transposição

do arranjo linear dos domínios protéicos γ e β. RE: retículo endoplasmático, CG: complexo de golgi, V: vacúolo.

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Outro tipo de processamento conhecido é o que ocorre com as lectinas de duas

cadeias da tribo Vicieae. Neste caso uma sequência de seis resíduos é clivada da pró-lectina,

resultando numa proteína contendo uma pequena cadeia α C-terminal e uma longa cadeia β N-

terminal (HIGGINS et al., 1983).

A lectina de sementes de Vatairea macrocarpa, espécie representante da tribo

Dalbergieae, sofre processamento pós-traducional seguindo uma rota proposta por Calvete e

colaboradores (1998). A cadeia alfa sofre uma clivagem pelo rompimento da ponte entre

asparagina-114 e lisina-115. Essa clivagem é diretamente dependente da deglicosilação do

resíduo de asparagina-111. A partir dessa clivagem são gerados os fragmentos gama (N-

terminal deglicosilado) e beta (C-terminal glicosilado). O fragmento beta pode sofrer ainda

uma deglicosilação no resíduo asparagina-183 seguido de processamento N- e C-terminal,

gerando isoformas. Esses fragmentos são reunidos por ligações não covalentes fazendo com

que ela tenha estrutura tridimensional praticamente idêntica àquela da cadeia alfa (não

processada) (CALVETE et al., 1998).

Do ponto de vista estrutural, as lectinas de leguminosas são geralmente compostas

de duas ou quatro subunidades, iguais ou diferentes, com massa molecular em torno de 25 a

30 kDa, compostas geralmente de uma cadeia polipeptídica simples com cerca de 250

aminoácidos, cuja união é estabelecida por forças não covalentes como ligações de

hidrogênio, interações hidrofóbicas e eletrostáticas, que formam dímeros canônicos e

estabilizam o tetrâmero pela união destes dímeros. Cada uma destas subunidades apresenta

um único sítio de ligação a carboidratos com a mesma especificidade, além de um ou mais

sítios de ligação a íons, podendo ainda apresentar um ou dois oligossacarídeos N-ligados.

Entretanto, algumas lectinas possuem subunidades formadas por duas cadeias polipeptídicas,

entre elas as lectinas da tribo Vicieae, gêneros Pisum, Vicia, Lathyrus e Lens. Estas lectinas

são dímeros formados por duas subunidades iguais e cada subunidade é constituída de uma

cadeia α (5 a 7 kDa) e uma β (15 a 19 kDa) mantidas por ligações não-covalentes (SHARON;

LIS, 1989).

Outras lectinas de diferentes partes vegetais existem como uma complexa mistura

de isoformas, como por exemplo, as lectinas de Robinia pseudoacacia (VAN DAMME et

al., 1995), do gênero Erythrina (BONNEIL et al., 2004), de Acacia constricta

(GUZMAN-PARTIDA et al., 2004) e de Amaranthus leucocarpus (HERNANDEZ et al.,

2001). A presença de isoformas tem alto impacto sobre a função biológica de lectinas e a

existência de várias isoformas poderia oferecer uma estratégia alternativa ou uma adaptação

evolutiva para compensar a baixa especificidade (BENEVIDES, 2011).

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Lectinas de leguminosas são consideradas um modelo de estudo das bases

moleculares das interações proteína-carboidrato (LORIS et al., 1998). Elas requerem cátions

divalentes em sítios ligantes a metal. Cada subunidade possui um íon Ca2+

e Mn2+

, que são

essenciais para a atividade de ligação a carboidrato da lectina. Os aminoácidos envolvidos na

ligação desses íons são altamente conservados (VAN DAMME et al., 1998).

Os monômeros de diferentes lectinas de leguminosas são bastante semelhantes e

sua estrutura pode ser descrita como um β-sanduíche constituído por uma folha plana de seis

fitas (a folha anterior) e por uma folha curva de sete fitas (a folha frontal). Uma terceira

pequena folha-β, formada por cinco fitas, faz a ligação das duas outras (BANERJEE et al.,

1996; HAMELRYCK et al., 1998).

O sítio de ligação a carboidratos está localizado no lado côncavo do β-sanduíche,

formado pela folha-β frontal curva, ao lado dos sítios de ligação a metais. Esse sítio de

reconhecimento a carboidratos é formado por diversos loops com diferentes graus de

variabilidade (SHARMA; SUROLIA, 1997). As conformações desses loops são determinadas

pela presença na estrutura de íons de metais de transição, no caso o Ca2+

e o Mn2+

, cuja

ausência resulta em instabilidade local e na perda da capacidade de ligar-se a carboidratos

(LORIS et al., 2004).

Estudos recentes têm demonstrado que além dos domínios de ligação a

carboidratos, esse grupo de proteínas pode apresentar sítios específicos que reconhecem

metabólitos secundários, fitohormônios e aminoácidos não-protéicos, sendo que esses podem

estar diretamente relacionados a mecanismos de defesa da planta contra a ação de patógenos,

no processo de germinação da semente, dentre outros (DELATORRE et al., 2007).

Através da caracterização estrutural, por experimentos de cristalografia de raios

X, Delatorre e colaboradores (2007) comprovou que uma lectina isolada de sementes de

Canavalia gladiata apresenta um sítio ligante para o aminoácido não protéico ácido α-amino

butírico (Abu). Esse sítio está presente na interface dos contatos monoméricos de cada dímero

canônico dessa lectina e a presença do Abu nesse local aumentou os contatos intermoleculares

e estabilizou fortemente os dímeros canônicos. Abu provavelmente desempenha um papel na

proteção dessa leguminosa contra patógenos.

Algumas lectinas de leguminosas, como as lectinas extraídas de espécies da

subtribo Diocleinae, exibem uma oligomerização dependente de pH, onde a proporção entre

proteínas no estado dimérico e no estado tetramérico pode ser alterada de acordo com o pH do

meio (CALVETE et al., 1999; NAGANO et al., 2008). A alteração desse equilíbrio

dímero/tetrâmero dependente de pH pode influenciar diretamente nas atividades biológicas

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dessas lectinas, pelo fato dessas proteínas serem capazes de se ligar aos receptores

glicoconjugados da superfície das membranas com uma maior afinidade quando na forma

tetramérica (DELATORRE et al., 2006).

1.7. LECTINAS DE PAPILIONOIDEAE

A família das leguminosas está subdividida em três subfamílias: Papilionoideae,

Caesalpinoideae, Mimosoideae. A subfamília Papilionoideae é a que detém o maior número

de espécies a partir das quais lectinas já foram isoladas e estudadas. Muitos dos estudos com

letinas de leguminosas envolvem membros da subfamília Papilionoideae, enquanto que

investigações com lectinas das outras subfamílias, Caesalpinioideae e Mimosoideae, são

escassos (MANN et al., 2001).

A subfamília Papilionoideae é formada por 483 gêneros e 13.800 espécies

divididas em 28 tribos (Figura 6). No Brasil são 88 gêneros e 180 espécies nativas

(BARROSO et al. 1991; LEWIS et al., 2005). Inúmeras lectinas dessa subfamília foram

isoladas e caracterizadas, sendo verificadas também algumas atividades biológicas para vários

exemplares, tais como: atividade antidepressiva, ConBr (Canavalia brasiliensis); efeito anti-

tumoral, Con A (Canavalia ensiformis); atividade antinociceptiva, ConBol (Canavalia

boliviana); relaxamento de aorta e liberação de óxido nítrico, PAL (Pisum arvensis).

A tribo Dalbergieae, pertencente a subfamilia Papilionoideae, família

Leguminosae, compreende 48 gêneros e cerca de 1.200 espécies. Apesar do grande número de

espécies descritas, até o momento foram isoladas apenas 11 lectinas de diferentes espécies

que compõe essa tribo. A Tabela 2 mostra a quais espécies pertencem, seus açúcares-ligantes

específicos e apresenta algumas atividades biológicas que já foram evidenciadas para essas

lectinas.

Até o momento, apenas duas lectinas de espécies pertencentes à subtribo

Dalbergieae tiveram as estuturas tridimensionais determinadas: PAL (lectina de Pterocarpus

angolensis) e PELa (lectina recombinate de Platypodium elegans).

A PELa possui uma organização dimérica canônica típica de lectinas de

leguminosas. Uma análise da especificidade por Glycan array evidenciou uma preferência

bastante não-usual para N-glicanos do tipo complexos com ramificações assimétricas. Duas

estruturas cristalinas de PELa, uma em complexo com um trimanose ramificado (Figura 7) e

outra com um heptassacarídeo complexo simétrico ligado a Asn (Figura 8) foram resolvidas a

resoluções de 2,1 e 1,65 Å, respectivamente. A lectina mostrou adotar uma organização

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dimérica canônica típica de lectinas de leguminosas. O trimanose faz uma ponte entre os sítios

de ligação a carboidrato de dímeros vizinhos, resultando na formação de cadeias infinitas no

cristal. O heptassacarídeo liga-se com o braço 1-6 no sítio primário de ligação e com contatos

extensivos adicionais em ambos os braços. O GlcNAc do braço 1-3 está ligado em uma

conformação restrita que pode justificar a alta afinidade que é observada em chips para

oligossacarídeos com braço 1-3 curto que não apresentam esse monossacarídeos

(BENEVIDES, 2011).

A lectina de Pterocarpus angolensis (PAL), glicose/manose específica, foi

cristalizada em complexo com três diferentes açúcares: glicose, sacarose e turanose (Glc(α1–

3)Fru). A estrutura tridimensional de PAL mostra que ela está arranjada sob a forma de um

dímero canônico, o que também é observado para as outras lectinas de leguminosas glicose-

manose específicas tais como, ConA e outras representantes do gênero Dioclea e também

para lectinas da tribo Vicieae (Figura 9) (LORIS et al., 2003). A lectina contém um loop

clássico de ligação à manose, mas seu loop de ligação a metal assemelha-se à de lectinas com

especificiade não-relacionada, como Ulex europaeus e Maackia amurensis. Como

consequência, as interações com manose no sítio de ligação primário são conservadas, mas

detalhes da extensão desse sítio de ligação a carboidratos diferem daqueles vistos em

complexos carboidratos equivalentes de Concanavalina A. Essas observações explicam as

diferenças em seus respectivos perfis de especificidade fina para oligomanoses (LORIS et al.,

2004). Ainda em busca de esclarecimentos sobre a estrutura de PAL, Garcia-Pino e

colaboradores (2006) analisaram os efeitos da desmetalização na estabilidade conformacional,

estrutura e propriedades de ligação a açúcar dessa lectina através de técnicas calorimétricas,

espectroscópicas e cristalográficas. A remoção dos metais levou a uma forma mais flexível da

proteína com estabilidade conformacional significativamente menor. As estruturas cristalinas

sem metal mostraram rearranjos estruturais significativos, embora algumas características

estruturais que permitem a ligação de açúcar sejam mantidas. Estes resultados juntos com

dados termodinâmicos e espectroscópicos contribuem para o melhor entendimento das

interações lectina-carboidrato.

Como mencionado anteriormente, apenas um pequeno número de espécies da

tribo Dalbergieae tiveram lectinas isoladas e caracterizadas, fazendo-se necessária a execução

de novos estudos em busca de outras moléculas com potencial biotecnológico e que também

possam contribuir para o entendimento da relação evolutiva, sob um ponto de vista

bioquímico, entre as diferentes tribos da subfamília Papilionoideae.

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Tabela 2- Lectinas da tribo Dalbergieae, especificidade por açúcar e atividades biológicas.

Lectina Especificidade por açúcar Atividade biológica

Vatairea

macrocarpa

Galactose/N-

acetilgalactosamina

Atividade pró-inflamatória (Alencar et al.,

2004); alteração na atividade renal (Martins

et al., 2005); atividade anti-microbiana

(Teixeira et al., 2006); liberação de

mediadores quimiotáticos por macrófagos

(Alencar et al., 2007); especificidade para

resíduos de antígeno do tipo Tn (Dam et al.,

2007)

Vatairea

guianensis

Galactose/ N-

acetilgalactosamina

Lonchocarpus

sericeus

N-acetilglicosamina

Atividade anti-inflamatória (Alencar et al.,

1999); efeito anti-inflamatório e

antibacteriano em um modelo de

peritonite infecciosa (Alencar et al.,

2005); diminuição da migração

leucocitária e hipernocicepção mecânica

pela inibição da produção de citocinas e

quimiocinas (Napimoga et al., 2007).

Lonchocarpus

araripensis

N-acetilglicosamina

Atividade anti-inflamatória (Pires et al.,

2008).

Platypodium

elegans

Glicose-Manose

Atividade termiticida e fungicida

(Benevides et al., 2008).

Lonchocarpus

carpassa

Galactose/ N-

acetilgalactosamina/Glicose

Platymiscium

floribundum

Manose/N-Acetilglicosamina

Pterocarpus

angolensis

Glicose-Manose

Andira

surinamenis

Glicose-Manose Atividade anti-inflamatória na cistitite

hemorrágica em camudongos (Silvestre et

al., 2005).

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Figura 6- Relação filogenética proposta para as tribos da subfamília Papilionoideae.

Fonte: Adaptado de CALVETE et al., 1998. As tribos que possuem lectinas compostas por duas cadeias

resultantes do processamento pós-traducional estão sublinhadas e as que possuem processamento por

permutação circular estão com um asterisco.

Figura 7- Visão geral da estrutura dimérica de PELa em complexo com trimanose, formada

pelos monômeros A em vermelho e monômero B em azul. Presença dos metais Ca+2

e Mn+2

(esferas verde e roxa, respectivamente), do ligante trimanose (αMan1-3(αMan1-6)Man

(preto), de duas moléculas de glicerol (amarelo) e de dois íons sulfato (verde) .

Fonte: Adaptado de BENEVIDES, 2011.

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Figura 8- Visão geral da estrutura dimérica de PELa em complexo com o heptassacarídeo

simétrico, formada pelos monômeros A em vermelho e monômero B em azul. Presença dos

metais Ca+2

e Mn+2

(esferas verde e roxa, respectivamente), do ligante heptassacarídeo

(preto), de quatro moléculas de glicerol (amarelo) e de duas de uréia (verde).

Fonte: Adaptado de BENEVIDES, 2011.

Figura 9- Estrutura geral da lectina de P. angolensis. Representação esquemática do dímero

de PAL em duas orientações ortogonais. Um monômero colorido de laranja e o outro de

amarelo. Os íons de manganês são mostrados como esferas azuis e íons de cálcio como

esferas verdes. As moléculas de ligantes Me-α-D-glicopiranosídeo também estão

representadas.

Fonte: Adaptado de LORIS et al., 2003.

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1.8. Andira surinamensis (Bondt) Splitg. ex Amshoff

O gênero Andira, tribo Dalbergieae, família Leguminosae, compreende 29

espécies, sendo que desse total, 27 ocorrem no Brasil. A distribuição geográfica indica

ocorrência em todo território brasileiro e na região Nordeste há registros para o estado do

Ceará (MATTOS, 1979; PENNINGTON, 2003).

As espécies deste gênero encontram-se entre as raras leguminosas dispersadas por

vertebrados. A maioria das espécies possuem frutos menores que 6,0 cm, esverdeados ou

amarelados, com cheiro adocicado e mesocarpo fibroso, os quais são dispersados por

morcegos (o nome Andira é derivado do tupi e significa morcego) da família Phyllostomidae.

Algumas espécies que ocorrem em beira de rios podem ser dispersadas pela água

(PENNINGTON; LIMA, 1995).

Andira surinamensis (Bondt) Splitg. ex Amshoff é uma espécie não endêmica do

Brasil e ocorre nos domínios fitogeográficos da Caatinga, Cerrado e Amazônia. Essa espécie

ocorre sob a forma de árvores, arbustos ou raramente subarbustos, atingindo de 4 a 42 metros

de altura. Sua casca geralmente apresenta exsudado vermelho quando cortada. A madeira

pode ser usada em construções navais, obras expostas, esteios, postes, carpintaria, carroçaria

ou tanoaria (FERREIRA, HOPKINS, SECCO, 2004).

Algumas propriedades medicinais já foram relatadas para essa espécie: a madeira

é utilizada na cura de úlceras, sendo também purgativa ou narcótica; as sementes são

vermífugas, laxantes ou, dependendo da dose, narcóticas e seu uso em doses elevadas pode

ser perigoso. As folhas também possuem propriedades vermífugas (CORRÊA, 1926;

MATTOS, 1979).

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Figura 10- Andira surinamensis (Bondt) Splitg. ex Amshoff .

Fonte: (A) Adaptado de FERREIRA, HOPKINS, SECCO, 2004; (B) e (C) Adaptado de Google Imagens, 2011;

(D) NOBRE, 2012. (A) Representação esquemática da exsicata, (B) Copa da árvore, (C) Exemplar encontrado

no Campus do Pici e (D) Frutos.

1.9. ESPECTROMETRIA DE MASSA: GENERALIDADES

Em linhas gerais, a espectrometria de massa (MS) é uma técnica capaz de

determinar a relação entre massa e carga (m/z) de espécies ionizadas em fase gasosa

(AEBERSOLD; MANN, 2003). O espectrômetro de massa é constituído por uma fonte de

ionização, onde os componentes de uma amostra são convertidos em íons e imediatamente

acelerados em direção ao analisador de massa; um analisador de massa, que separa os íons de

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acordo com sua relação massa-carga (m/z); um detector, que recebe os íons que foram

separados pelo analisador, transformando a corrente de íons em sinais elétricos que são

processados, armazenados na memória de um computador e mostrados em uma tela (Figura

11).

Figura 11- Componentes básicos de um espectrômetro de massa.

Fonte: PUC-RIO.

Os dois métodos de ionização de amostras para análise proteômica por MS mais

utilizados são: a ionização por eletrospray (Elelectrospray ionization, ESI) e a dessorção a

laser assistida por matriz (Matrix Assisted Laser Desorption Ionization, MALDI)

(HOFFMAN; STROOTBART, 2007).

A ionização por eletrospray (ESI), junto à ionização por MALDI, representa um

dos dois métodos de ionização “suave” que têm feito a precisão, sensitividade e elegância da

espectrometria de massa prontamente disponível para o estudo de biomoléculas e suas reações

(FENN, 2002). Ela é hoje a técnica de ionização mais amplamente utilizada em análises

químicas e bioquímicas. A interface com um espetrômetro de massa permite investigar a

composição molecular de amostras líquidas (WILM, 2011). Esse método, que possui

capacidade de análise de moléculas com menos de 100 Da até maiores de 1.000.000 Da e é

desenvolvido à pressão atmosférica, possibilita a análise desde pequenas moléculas apolares a

grandes moléculas polares, como peptídeos e proteínas (HOFFMAN; STROOTBART, 2007).

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A ionização por eletrospray é um processo de transferência de íons pré-existentes

em solução para a fase gasosa, envolvendo a formação de um “spray” eletrostático, a partir do

qual são geradas pequenas gotas carregadas e destas são liberados os íons. Tipicamente, esta

solução é bombeada através de um capilar (d.i. 50 a 100 µm) com uma vazão inferior a 10

µL/min. No caso de fluxos menores que 1 µL/min, o processo é chamado de

“nanoelectrospray” (MORAES; LAGO, 2003).

Quando um potencial positivo, por exemplo, é aplicado na solução, os íons

positivos tendem a se afastar para uma região menos positiva, isto é, em direção ao contra-

eletrodo. Assim, a gota sendo formada na ponta do capilar estará enriquecida em íons

positivos. Este tipo de separação de carga é chamado de processo eletroforético. Conforme a

densidade de carga aumenta na gota, o campo elétrico formado entre o capilar e o contra

eletrodo aumenta provocando a deformação da gota. A gota ganha a forma de um cone que é

denominado de cone de Taylor (MORAES; LAGO, 2003).

Esta gota na forma de cone permanece “presa” ao capilar até o momento em que a

densidade de carga na superfície da gota e o aumento da repulsão entre os íons vençam a

tensão superficial do líquido, ocorrendo então a liberação de pequenas gotas (através de

explosões coulômbicas) com alta densidade de carga. A frequência deste processo depende da

magnitude do campo elétrico, da tensão superficial do solvente e da condutividade da solução

(MORAES; LAGO, 2003).

A ionização por MALDI tornou-se uma ampla e poderosa fonte para a produção

de íons na fase gasosa a partir de uma ampla gama de compostos de grande porte, não-voláteis

e termicamente lábeis, como proteínas e oligonucleotídeos (HOFFMAN; STROOTBART,

2007).

A fonte de íons MALDI baseia-se na absorção intensa da radiação laser por uma

matriz, que é misturada em solução com quantidades muito pequenas da biomolécula de

interesse (o analito). A mistura matriz-analito é depositada sobre o porta amostra e secada,

produzindo uma amostra sólida (FERNANDÉZ-LIMA, 2005).

Supõe-se que as funções da matriz sejam: i) absorver fortemente a radiação laser

para possibilitar uma transferência eficiente da energia do pulso de radiação para o analito e

ii) isolar as moléculas de analito umas das outras, para diminuir as ligações intermoleculares

e permitir a dessorção intacta das moléculas. A rápida elevação da temperatura devido à

interação da radiação laser com a amostra, tanto na fase sólida quanto gasosa, gera uma

pressão extremamente alta na mistura matriz-analito em sublimação (FERNANDÉZ-LIMA,

2005).

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Dois mecanismos são possíveis para a criação de íons no sistema matriz-analito

(BAER, CHEUK-YIU, POWIS, 1997): i) ablação explosiva em clusters a partir de uma

energia limiar (BEAVIS; CHAIT, 1991; BÖKELMANN, SPENGLER, KAUFMANN, 1995)

e ii) expansão gasosa em jato, no qual as moléculas do analito estão dispersas dentro da matriz

(KARAS, GLÜCKMANN, SCHÄFER, 2000; ZHIGUILEI et al., 1997).

Assim como há uma grande variedade de fontes de ionização, uma variedade de

analisadores de massa têm sido desenvolvida. Todos os analisadores de massa usam elétrica

estática ou dinâmica e seus campos magnéticos podem ser usados sozinhos ou combinados,

dando origem a equipamentos classificados como híbridos, os quais fazem uso das vantagens

inerentes a cada analisador. A maioria das diferenças básicas entre os vários tipos comuns de

analisador de massa encontram-se na maneira pela qual esses campos são usados para

conseguir a separação (HOFFMAN; STROOTBART, 2007). Quadrupolos, ion-traps

(tridimensionais e lineares), Time-of-Flight (ToF), Fourier-transform ion cyclotron resonance

(FT-ICR), orbitrap são exemplos de analisadores de massa. Tais equipamentos permitem que

experimentos em sequência (tandem) sejam realizados, isto é, sendo possível detectar um

determinado íon e posteriormente submetê-lo a uma etapa de fragmentação. Uma vez

separados, esses íons são detectados por eletro multiplicadores que constituem os detectores

mais largamente usados (CANTU et al., 2008).

Os programas mais comumente empregados para a identificação de proteínas em

bancos de dados a partir de dados de MS são o Sequest e o Mascot. Ambos os programas

correlacionam espectros de massa de fragmentação (não interpretados) de peptídeos com

sequências de aminoácidos de proteínas registradas em bancos de dados (CHAMRAD et al.,

2004; ELIAS et al., 2005). Além disso, esses softwares também têm a capacidade de usar

sequências de nucleotídeos para fazer tal correlação. Para tal, eles primeiramente simulam as

sequências primárias potenciais das proteínas correspondentes àquelas sequências de

nucleotídeos encontradas nos bancos de genes, utilizando-se do código genético universal.

Posteriormente, simulam a fragmentação destas sequências primárias. De forma geral, estes

programas têm como objetivo encontrar a sequência de aminoácidos, em um determinado

banco de dados, que melhor descreve os íons fragmentos encontrados em um espectro. As

sequencias “candidatas” são procuradas nos bancos de dados de acordo com a massa do

peptídeo intacto e com o espectro de fragmentação obtido para cada peptídeo (CANTU et al.,

2008).

Contudo, a interpretação manual de espectros de fragmentação (sequenciamento

De novo) é recomendada em todos os casos e indispensável em algumas situações. Por fim,

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existem situações nas quais o genoma de uma determinada espécie ainda não está

completamente sequenciado ou disponível e, neste cenário, é necessário derivar a sequência

primária de aminoácidos de um determinado peptídeo baseado única e exclusivamente nos

dados obtidos por espectrometria de massa, isto é, sem recorrer a banco de dados

(sequenciamento De novo) (STEEN; MANN, 2004).

O potencial de aplicação da MS em estudos biológicos tem sido bastante

estendido, em razão dos impressionantes avanços observados nos últimos anos nas áreas de

genômica, de transcriptômica, de metabolômica, de proteômica, de lipidômica e de outras

plataformas “omics”, e do desenvolvimento extraordinário dos equipamentos (FENG et al.,

2008; HOFFMANN; STROOBANT, 2007). A MS é atualmente a técnica de escolha para

identificação de proteínas e para estudo de modificações protéicas pós-traducionais (MPTs)

em diferentes condições fisiológicas. Além disso, a MS vem sendo utilizada no

monitoramento e na caracterização de diversos processos industriais, tais como processos

fermentativos (ROYCE, 1993) e até mesmo análise de microrganismos intactos (CLAYDON

et al.,1996; FENSELAU; DEMIREV, 2001).

A utilização da MS no estudo de lectinas vegetais permite a caracterização dessas

moléculas através da determinação da massa molecular intacta, identificação do estado

oligomérico, localização e caracterização de pontes de sulfeto e modificações pós-

traducionais, identificação de proteínas provenientes de uma eletroforese bidimensional. Além

da rapidez e relativa simplicidade de análise, outra vantagem dessa técnica é a necessidade de

pequenas quantidades de amostras para realização dos estudos (SIMÕES, 2011).

Algumas lectinas de leguminosas já tiveram suas sequências primárias

parcialmente determinadas por MS, entre elas Erythrina velutina (SIMÕES, 2011),

Luetzelburgia auriculata (SIMÕES, 2011), Canavalia bonariensis (CALVETE, et al., 1999),

Dioclea virgata (CALVETE, et al., 1999), Dioclea guianensis (CALVETE, et al., 1999),

Dioclea violacea (CALVETE, et al., 1999), Dioclea rostrata (CALVETE, et al., 1999),

Canavalia grandiflora (SIMÕES, 2011), Platymiscium floribundum (PEREIRA JÚNIOR,

2011).

A lectina de sementes de Vatairea macrocarpa (VML) teve a sua massa

molecular e de suas cadeias determinadas por MS, além da caracterização dos glicanos N-

ligados (CALVETE et al., 1998). Através desses resultados foi sugerido um mecanismo de

processamento pós- traducional para essa lectina.

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1.10. BIOFILMES: GENERALIDADES

A diversidade de mecanismos de adaptação, sejam eles metabólicos ou

fenotípicos, permite que os organismos procarióticos habitem tanto os ambientes adequados

às formas de vida superiores, quanto ambientes inóspitos à maioria das formas de vida. Essas

características adaptativas também possibilitaram às bactérias o desenvolvimento de uma

sábia estratégia ecológica de sobrevivência que facilita sua adaptação às alterações

ambientais: a vida em comunidade. Para os microbiologistas, a maioria das bactérias

encontra-se na natureza vivendo em comunidades, de maior ou menor estruturação, e

raramente elas ocorrem como células individuais, crescendo de maneira planctônica (livres,

em suspensão). Sendo assim, esses organismos apresentam-se em seus habitats naturais em

comunidades de diferentes graus de complexidade, associadas a superfícies diversas,

geralmente compondo um biofilme.

Biofilmes são comunidades microbianas complexas estabelecidas em uma ampla

variedade de superfícies que são geralmente associadas a uma matriz extracelular composta

por vários tipos de biopolímeros (ABEE et al., 2010). Essas comunidades dinâmicas podem

se espalhar através de superfícies, incorporar partículas e outros microorganismos do meio

circundante e continuamente liberar novas células planctônicas (STEPHENS, 2002). Eles

estão presentes no meio aquático (RIVERA, et al., 2010), em equipamentos de diferentes

segmentos industriais (DAT et al., 2012), dispositivos médicos, como válvulas cardíacas

artificiais, marcapassos e articulações sintéticas (STEPHENS, 2002), lentes de contato

(ONURDAĞ et al., 2010). Entre os biofilmes de maior interesse médico destacam-se aqueles

que são responsáveis pela colonização da cavidade oral e da superfície dos dentes, levando à

ocorrência da cárie dental (OKUDA et al., 2010).

Superfícies dentárias expostas ao ambiente oral são quase instantaneamente

cobertas por uma película proteinácea, que é conhecida como a película do esmalte adquirida.

Essa película de proteína é formada pela adsorção seletiva de proteínas salivares, peptídeos e

outras moléculas orgânicas (OLIVEIRA et al., 2007). O processo inicial de adesão bacteriana

à película do esmalte adquirida compreende interação específica entre espécies bacterianas

presentes na cavidade oral e a película (Figura 12).

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Figura 12- Representação esquemática da natureza temporal proposta para o acréscimo de

bactérias orais humanas na superfície do dente.

Fonte: Adaptado de Rickard et al., 2003. As espécies representadas aqui são Streptococcus gordonii,

Streptococcus mitis, Streptococcus oralis, Streptococccus sanguinis, Haemophilus parainfluenzae,

Propionibacterium acnes, Veillonella atypica, Actinomyces naeslundii, Fusobacterium nucleatum,

Actinobacillus actinomycetemcomitans, Helicobacter pylori, Treponema spp. e Porphyromonas gingivalis. Os

conjuntos de símbolos complementares adesina-receptor (um exemplo é mostrado no alto) representa interações

por coagregação específica diferente ou adesão à película adquirida. Coagregação entre P. gingivalis and S.

gordonii é mediada pelas proteínas adesinas expressas na superfície de ambos tipos de células. Símbolos

idênticos não se destinam a identificar moléculas idênticas, mas relacionadas funcionalmente. Os símbolos

retangulares representam coagregações lactose-sensíveis, outros símbolos representam coagregações lactose-

insensíveis.

Cáries dentais são causadas pela colonização e acúmulo de microorganismos orais

e a aderência desses microorganismos é o primeiro passo para a colonização (GIBBONS,

1984; NAPIMOGA et al., 2005). Organismos orais se ligam aos componentes salivares da

película do esmalte adquirida e, através do crescimento e interação entre espécies, formam

uma comunidade de biofilme. Por conseguinte, o reconhecimento bacteriano de receptores

salivares na superfície do dente representa um passo inicial importante na patogênese da

doença oral (PALMER et al., 2003).

Teixeira e colaboradores (2006) investigaram o potencial de seis diferentes

lectinas de leguminosas (Canavalia ensiformis, Canavalia brasiliensis, Dioclea violacea,

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Dioclea grandiflora, Cratylia floribunda e Vatairea macrocarpa) em inibir a aderência de

cinco espécies de Streptococcus (S. oralis, S. sanguis, S. mitis, S. mutans e S. sobrinus) à

película adiquirida in vitro. Todas as lectinas glicose-manose específicas foram capazes de

reduzir a aderência das espécies de Streptococcus testadas, enquanto que a lectina de Vatairea

macrocarapa (VML), que reconhece galactose e N-acetil-galactosamina, diminuiu a aderência

apenas de S. sanguis. Essas lectinas glicose-manose específicas provavelmente diminuíram a

adesão pela competição com outras proteínas expressas pelas diferentes espécies bacterianas

que se ligam a esses resíduos de açúcar.

A ecologia de um biofilme é uma complexa equação de parâmetros físico-

químicos e biológicos (SIMÕES, SIMÕES, VIEIRA, 2007). Como em todos os níveis de

evolução, uma complexa teia de interações é fundamental para a estrutura, composição e

função dessa ou de qualquer comunidade (HANSEN et al., 2007). Biofilmes podem ser

formados por uma única espécie bacteriana, como aquele formado por Pseudomonas

aeruginosa, um notório patógeno oportunista que infecta queimaduras e feridas, coloniza

alguns tipos de dispositivos permanentes e causa infecções pulmonares crônicas

(GOLDBERG, PIER, 2000). Entretanto, a maioria dos biofilmes existe na forma de um

consórcio funcional entre várias espécies, onde as diferentes bactérias presentes afetam umas

às outras tanto de uma forma positiva, quanto negativa (BURMØLLE et al., 2006).

Algumas interações beneficiam uma ou mais colônias ou espécies em um

biofilme, tais como a coagregação de células (BLEHERT, et al., 2003; RAO, WEBB,

KJELLEBERG, 2005), conjugação (GHIGO, 2001) e proteção de uma ou várias espécies da

erradicação quando o biofilme está exposto a compostos antimicrobianos (COWAN et al.,

2000). Tal proteção envolve uma variedade de fatores, incluindo complementação enzimática

e distribuição espacial organizada das células do biofilme (COWAN et al., 2000; LERICHE,

BRIANDET, CARPENTIER, 2003). Esses e outros mecanismos são semelhantes a efeitos

sinergísticos que resultam na formação de um biofilme cooperativo pelas colônias que seriam

incapazes de formar um biofilme sozinhas (FILOCHE, ANDERSON, SISSONS, 2004).

Interações negativas em biofilmes incluem produção de bacteriotoxinas (RAO et al., 2005) e

redução do pH (BURNE; MARQUIS, 2000) por um membro do consórcio biofilme. Um

aspecto importante para descrever as interações em biofilmes multiespécies é avaliar entre

espécies individuais, ou consórcio multiespécies, o ganho de algumas vantagens quando

comparadas a biofilmes de apenas uma espécie (BURMØLLE et al., 2006).

Microorganismos patogênicos que formam biofilmes podem causar infecções

persistentes que desafiam o sistema imunológico e resistem à eliminação por antibióticos

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(STEPHENS, 2002). Periodondite e infecção pulmonar crônica em pacientes com fibrose

cística são exemplos de doenças que geralmente estão associadas à presença de biofilmes

(SINGH et al., 2000). Várias infecções nosocomiais como aquelas relacionadas ao uso de

cateteres (MORRIS, SSTICKLER, Mc LEAN, 1999) e dispositivos ortopédicos (GRISTINA

et al., 1994) estão claramente associadas a biofilmes que aderem à superfície do biomaterial

(STEWART; COSTERTON, 2001). Essas infecções partilham características comuns,

embora as causas e os sítios hospedeiros variem. A erradicação de biofilmes patogênicos é

facilitada pelo melhor entendimento de seu metabolismo e desenvolvimento. Estudos de

expressão gênica e a identificação de produtos gênicos necessários para a formação do

biofilme ou resistência a antibióticos oferecem ajuda significante (STEPHENS, 2002).

Figura 13- Desenvolvimento de um biofilme.

Fonte: Adaptado de Rickard et al., 2003. (a) Colonização primária de um substrato; (b) crescimento, divisão

celular e produção do exopolissacarídeo (EPS), com o desenvolvimento de microcolônias; (c) coadesão de

células individuais, de células coagregadas e grupos de células idênticas, originando um biofilme jovem, de

múltiplas espécies; (d) maturação e formação de mosaicos clonais no biofilme maduro.

O desenvolvimento do biofilme inicia quando bactérias planctônicas – células

individuais livres – aderem a uma superfície (Figura 13). Diversos locais podem ser

colonizados, incluindo superfícies minerais, tecidos vegetais ou animais vivos e/ou mortos,

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polímeros sintéticos, cerâmicas e ligas metálicas. Os mecanismos de aderência variam

dependendo do microorganismo e da superfície. Como células aderidas crescem e se dividem,

a proximidade da superfície induz adaptações fisiológicas, incluindo secreção de substância

extracelular polimérica ou exopolissacarídeos (EPSs), utilizada como uma matriz protetora

em torno das células e também como substrato para outros microorganismos.

Exopolissacarídeos hidratados representam a maior parte do volume do biofilme e são os

responsáveis pelas propriedades viscosas macroscópicas (STEPHENS, 2002). Muitas vezes, a

composição e a quantidade de EPS variarão dependendo do tipo de microrganismos, da idade

do biofilme e das diferentes condições ambientais em que os biofilmes são formados

(MAYER et al., 1999). Biofilmes desenvolvidos são estruturas surpreendentemente

elaboradas, com pilares levantados por células desordenadas, permeadas por micro canais

cheios de líquidos (STEPHENS, 2002).

Além da presença de EPS, as estruturas da superfície celular bacteriana, tais

como, outras proteínas, lipopolissacarídeos e os flagelos possuem claramente um papel

importante no processo de adesão (CARNEIRO, 2011).

A aquisição de novas características genéticas pelas espécies componentes de um

biofilme ocorre através do mecanismo de conjugação, pois várias bactérias possuem

plasmídeos (segmentos de DNA extracromossomial), conferindo-lhes as mais diversas

características, e estes podem ser transferidos horizontalmente por conjugação, para diferentes

espécies presentes em um biofilme. O uso dessa estratégia de troca de informação genética

assegura a variabilidade genética, formação inicial e adaptação do biofilme a diferentes

condições ambientais.

A expressão gênica das diferentes espécies que compõe um biofilme é regulada de

acordo com as suas necessidades para a sobrevivência. Sendo assim, muitas bactérias usam o

mecanismo de quorum sensing para controlar a expressão de seus genes. Bactérias que usam

quorum sensing constantemente produzem e secretam moléculas sinalizadoras, denominadas

autoindutores ou feromônios. Essas bactérias também têm um receptor que pode

especificamente detectar a molécula sinalizadora ou o indutor. Quando o indutor se liga ao

receptor, ele ativa a transcrição de certos genes, incluindo aqueles para a síntese do indutor.

Existe uma pequena probabilidade de uma bactéria detectar o indutor que ela própria secretou.

Assim, para que a transcrição gênica seja ativada, a célula deve encontrar moléculas

sinalizadoras secretadas por outras células em seu meio ambiente. Quando apenas outras

poucas bactérias do mesmo tipo estão na vizinhança, a difusão reduz a concentração do

indutor no meio circundante a quase zero, de modo que a bactéria passa a produzir pouco

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indutor. No entanto, como a população cresce, a concentração do indutor passa de um limiar,

causando a síntese de mais indutor. Isso forma um ciclo de feedback positivo e o receptor

torna-se completamente ativado. A ativação do receptor induz o aumento da regulação de

outros genes específicos, fazendo com que todas as células possam começar a transcrição

aproximadamente ao mesmo tempo (KOK GAN et al., 2011).

A expressão dos genes de Pseudomonas aeruginosa em biofilmes foi analisada

por Whiteley e colaboradores (2001). Para comparar a expressão gênica entre as células

planctônicas e aquelas do biofilme, eles analisaram bactérias cultivadas em um quemostato,

de nado livre ou aderidas a seixos de granito. Os níveis de mRNA foram comparados usando

microarrays com sequências codificantes a partir de 5.500 genes identificados a partir de

sequências de DNA genômico de P. aeruginosa. Surpreendentemente, apenas 73 genes, 1,3%

do total, mostraram níveis de expressão significantemente diferentes do biofilme. A cultura

planctônica controle foi suficientemente densa para ativar genes quorum-dependentes, uma

vez que esses não estavam entre a população diferencialmente expressa. Embora esses

resultados certamente subestimem o número de genes que tiveram mudanças de expressão em

biofilmes patogênicos, em que estímulos adicionais estão em jogo, eles oferecem apenas uma

informação muito básica para análise da expressão gênica de biofilmes dessa espécie.

Devido ao seu papel na adesão e aglutinação, lectinas são consideradas

importantes em interações simbióticas e patogênicas entre alguns organismos e hospedeiros

(SLIFKIN; DOYLE, 1990). Em bactérias, carboidratos da superfície, tais como

peptidioglicanos, ácidos teióicos e lipopolissacarídeos são potenciais sítios reativos para

lectinas. A habilidade de lectinas em formar complexos com glicoconjugados microbianos

torna possível o uso dessas moléculas como sonda para investigar a estrutura e função da

superfície celular. Um dos usos mais importantes de lectinas em microbiologia é na agregação

direta de micoorganismos em suspensão. Lectinas são as proteínas vegetais capazes de

reconhecer e se ligar a glicoconjugados presentes na superfície de microorganismos tais como

bactérias e fungos, e desse modo inibir sua motilidade e multiplicação (BROEKAERT et al.,

1984; LILJAMARK; SCHAUER, 1977).

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2 OBJETIVOS

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2.1 Objetivo Geral

Purificar uma lectina de sementes de Andira surinamensis (Bondt)

Splitg. ex Amshoff, caracterizá-la estruturalmente e verificar seu potencial biotecnológico

como ferramenta para o estudo com biofilmes de importância em diferentes áreas.

2.2 Objetivos Específicos

Purificar uma lectina de sementes de A. surinamensis através da utilização de técnicas de

cromatografia líquida;

Verificar a especificidade desta lectina por eritrócitos humanos e de coelho;

Caracterizar a lectina purificada em relação à sua afinidade por carboidratos e quanto a suas

características físico-químicas;

Determinar a massa molecular intacta da lectina por espectrometria

de massa com ionização por Eletrospray (ESI);

Determinar parcialmente a sequência primária da lectina por espectrometria de massa

sequencial (MS/MS);

Investigar o potencial antibacteriano da lectina durante o crescimento planctônico e a

respectiva capacidade em inibir a formação e o desenvolvimento de biofilme experimental de

diferentes cepas de bactérias gram-positivas e gram-negativas.

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3 MATERIAIS E MÉTODOS

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3.1 Purificação da Lectina de Sementes de A. surinamensis

3.1.1 Preparo da Farinha

As sementes de Andira surinamensis foram coletadas no Campus do Pici da

Universidade Federal do Ceará (UFC), Fortaleza-CE. Em seguida foram descascadas e

trituradas em moinho elétrico para obtenção da farinha a partir da qual foi feita uma

delipidação com hexano. A farinha fina foi acondicionada em recipientes fechados para uma

posterior utilização.

3.1.2 Extração de proteínas das sementes

As proteínas solúveis foram extraídas da farinha em sulfato de amônio

[(NH4)2SO4] 1 mol/L, na proporção de 1:10 (p/v), sob agitação constante por 1 h a

temperatura ambiente. A suspensão obtida foi centrifugada a 10.000 x g, temperatura 4 ºC,

durante 20 min, obtendo-se assim um precipitado que foi descartado, e um sobrenadante

denominado de extrato total. Esse extrato foi utilizado para realização de ensaios de atividade

hemaglutinante e para o preparo de proteína em concentração pré-estabelecida, para o

posterior cálculo da atividade específica.

3.1.3 Preparo da solução protéica

A concentração de proteínas solúveis no extrato total e nas diferentes frações foi

preparada em mg/mL. O extrato foi preparado a uma concentração de 8 mg/mL, pela adição

de sulfato de amônio [(NH4)2SO4]. As frações resultantes das cromatografias de afinidade e

troca iônica foram preparadas a uma concentração de 1 mg/mL, solubilizadas em Tris-HCl

0,1 mol/L pH 7,6 com NaCl 0,15 mol/L.

3.1.4 Atividade hemaglutinante

Os testes de atividade hemaglutinante foram realizados em tubos com o extrato

protéico total e com as frações resultantes dos dois passos cromatográficos, a partir de uma

adaptação ao protocolo descrito por Moreira e Perrone (1967), como descrito a seguir:

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As amostras foram dispostas em duplas seriadas e diluídas em tubos (1:2, 1:4,

1:8...) em Tris-HCl 0,1 mol/L pH 7,6 acrescido de NaCl 0,15 mol/L. Para cada 100 µL da

diluição foram acrescentados 100 µL de uma suspensão de hemácias de coelho e dos tipos

sanguíneos A, B e O, a 2% em NaCl 0,15 mol/L, normais e tratadas com enzimas proteolíticas

(papaína ou tripsina). O ensaio foi incubado a 37 °C por 30 minutos e, após esse período,

deixado em repouso à temperatura ambiente por mais 30 minutos. A presença ou não de

hemaglutinação foi então detectada macroscopicamente.

Os títulos de hemaglutinação foram medidos em termos de Unidade

Hemaglutinante (U.H./mL) como sendo o inverso da maior diluição ainda capaz de apresentar

hemaglutinação visível.

3.1.5 Cálculo da Atividade Hemaglutinante Específica

Após a obtenção do título de hemaglutinação e da concentração de proteínas

solúveis, a atividade específica para cada uma das frações foi calculada, com o objetivo de se

monitorar avanços na concentração/purificação da lectina em estudo.

O cálculo foi feito pela divisão do título de hemaglutinação (UH/mL) pela

concentração de proteínas solúveis (mgP/mL), cujo quociente foi expresso em UH/mgP

(unidades de hemaglutinação por miligrama de proteína). Esses resultados puderam ser

comparados, levando à escolha da melhor condição / fração purificadora ou concentradora da

atividade hemaglutinante.

A atividade hemaglutinante contra eritrócitos de coelho tratados com tripsina foi

calculada a partir de diluições seriadas na base dois para determinação dos títulos de

hemaglutinação. A purificação foi calculada como a relação entre a atividade hemaglutinante

específica do extrato total e aquela de cada passo de purificação subsequente.

3.1.6 Especificidade por Carboidratos

A especificidade da lectina de sementes de Andira surinamensis por carboidratos

foi determinada pela inibição da atividade hemaglutinante por açúcares simples e

glicoproteínas, os quais foram realizados segundo protocolo adaptado a partir daquele descrito

por Ramos e colaboradores (1996).

O ensaio foi conduzido em tubos de ensaio em duplicata. Foram utilizados 50 μL

de soluções estoques de carboidratos a uma concentração de 0,1 mol/L ou de glicoproteínas a

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uma concentração de 5 mg/mL, para diluição seriada em tampão Tris-HCl 0,1 mol/L pH 7,6

com NaCl 0,15 mol/L. No primeiro tubo de cada série foram adicionados 50 μL de uma

solução de lectina em uma concentração capaz de provocar uma aglutinação de 4 U.H./mL e

em seguida foram feitas diluições seriadas (1:2, 1:4, 1:8, 1:16...). O ensaio foi incubado a 37

°C por 30 minutos, e logo depois, deixado em repouso por mais 30 minutos à temperatura

ambiente. Decorrido esse período, foram adicionados a cada um dos tubos 100 μL de uma

suspensão a 2 % (v/v) de eritrócitos tripsinisados de coelho. O ensaio foi mais uma vez

incubado a 37 °C durante 30 minutos, e logo depois, mantido em repouso por mais 30

minutos à temperatura ambiente. Os resultados foram observados macroscopicamente com 1

e 12 horas.

A inibição da atividade hemaglutinante pelos açúcares foi então verificada. Para

aqueles carboidratos que se mostraram capazes de inibir a atividade hemaglutinante foi

determinada a concentração mínima inibitória (CMI), a qual corresponde a menor

concentração de açúcar em que permaneceu a ausência de atividade hemaglutinante.

3.1.7 Cromatografia de Afinidade em Matriz de Sepharose-Manose

O extrato total foi submetido à cromatografia de afinidade em matriz de

Sepharose-Manose. Esse extrato foi centrifugado a 10.000 g, temperatura 4 ºC, durante 20

min e, em seguida, 6 mL do sobrenadante, a uma concentração protéica de 8 mg/mL, foram

aplicados em uma matriz de Sepharose-Manose (2 x 3,8 cm), previamente equilibrada com

uma solução de sulfato de amônio [(NH4)2SO4] 1 mol/L. A fração não retida foi lavada com a

mesma solução de equilíbrio enquanto que a fração retida foi eluída com tampão glicina 0,1

mol/L pH 2,6 adicionado de NaCl 0,15 mol/L. Frações de cerca de 1,5 mL foram coletadas

manualmente. As frações foram coletadas a um fluxo de 1 mL/min e as absorbâncias

forammonitoradas por espectrofotometria em um comprimento de onda de 280 nm.

As frações obtidas foram exaustivamente dialisadas contra água destilada e, então,

liofilizadas. A atividade hemaglutinante, o teor de proteínas solúveis e a atividade específica

de todas as frações cromatográficas foram avaliados.

3.1.8 Cromatografia de Troca Iônica em Matriz de DEAE-Sephacel

O pico retido resultante da cromatografia de afinidade foi submetido à

cromatografia de troca iônica em matriz de DEAE-Sephacel, uma resina com trocador

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aniônico imobilizado (DEAE-dietilaminoetano). O material foi extensivamente dialisado,

liofilizado, solubilizado em Tris-HCl 0,02 mol/L pH 7,6 e centrifugado a 10.000 g,

temperatura 4 ºC, durante 5 min e, em seguida, 4 mL do sobrenadante, com uma concentração

de proteínas de 50 mg/mL, foram aplicados em uma matriz de DEAE-Sephacel (2 x 4,5 cm),

previamente equilibrada com Tris-HCl 0,02 mol/L pH 7,6. O pico não retido foi eluído com a

mesma solução de equilíbrio e o pico retido foi eluído com o tampão de equilíbrio acrescido

de NaCl 1 mol/L. Frações de cerca de 1,5 mL foram coletadas manualmente. As frações

foram coletadas a um fluxo de 1 mL/min e as absorbâncias foram monitoradas por

espectrofotometria em um comprimento de onda de 280 nm.

As frações obtidas foram exaustivamente dialisadas contra água destilada e, então,

liofilizadas. A atividade hemaglutinante, o teor de proteínas solúveis e a atividade específica

de todas as frações cromatográficas foram avaliados. Após esse passo obteve-se a lectina de

sementes de Andira surinamensis (ASL) pura.

3.2 Caracterização da Lectina de Sementes de A. surinamensis

3.2.1 Eletroforese em gel de poliacrilamida na presença de SDS

O monitoramento do processo de purificação e a estimativa da massa molecular

aparente das subunidades da lectina purificada foram realizados por meio de eletroforese em

gel de poliacrilamida na presença de SDS (SDS-PAGE), de acordo com o protocolo

estabelecido por Laemmli (1970) com algumas alterações.

O gel de separação ou corrida (main gel) foi montado a uma concentração de

12,5% preparado em tampão Tris-HCl 0,1 mol/L pH 8,8, contendo SDS 1%, TEMED 0,04%

e persulfato de amônio 0,1%. O gel superior ou de aplicação (stacking gel) foi preparado

usando acrilamida/bisacrilamida 4 % em tampão Tris-HCl 0,1 mol/L pH 6,8, SDS 1 %,

persulfato de amônio 0,1% e TEMED 0,04%.

O extrato protéico total e as amostras liofilizadas oriundas dos dois passos

cromatográficos foram solubilizadas a uma concentração de 1mg/mL em tampão de amostra

contendo Tris-HCl 0,0625 mol/L pH 6,8, 10 % de glicerol, 0,02 % de azul de bromofenol e

1% de SDS. Foram aplicados 15 μL desta preparação em cada poço.

A corrida eletroforética foi realizada em sistema Mini-Protean II mini-gel (Bio-

Rad; Milão, Itália) com a voltagem variando até 150 V, potência até 10 W e amperagem

constante de 25 mA. O tampão de corrida utilizado continha Tris 0,025 mol/L, Glicina 0,192

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mol/L e SDS 0,1% pH 8,8. Os marcadores de massa molecular utilizados foram: Fosforilase b

(97 kDa), BSA (66 kDa), Ovoalbumina (45 kDa), Anidrase Carbônica (29 kDa), Inibidor de

tripsina (20,1 kDa) e α-lactoalbumina (14,4 kDa). Após a corrida eletroforética, o gel de

separação foi fixado em uma solução contendo 25% isopropanol e 10% ácido acético, por 1

hora. O gel fixado foi então corado em Coomassie R-250 a 0,05%, dissolvido em metanol,

ácido acético e água a uma proporção 1:3,5:8 (v/v/v). A retirada do excesso do corante

(descoramento) foi feita em água destilada aquecida.

3.2.2 Determinação da massa molecular intacta por espectrometria de massa

A massa molecular da ASL foi determinada através da técnica de espectrometria

de massa com Ionização por Eletrospray (ESI) utilizando um instrumento híbrido (Synapt

HDMS, Waters Corp., Milford, USA) operando no modo positivo, com uma resolução de

10.000 e uma exatidão de massa de 3 ppm. Para tal, a proteína foi solubilizada em uma

solução contendo 50% de acetonitrila e 0,1% de ácido fórmico, a uma concentração final de

aproximadamente 1 pmol de proteína. A amostra foi aplicada a um fluxo de 10 μL/minuto e

as voltagens do capilar e do cone foram ajustadas para 3,0 kV e 40 V, respectivamente. A

coleta de dados foi realizada com o auxílio do software Mass Lynx 4.0 e os espectros

multicarregados foram deconvoluídos usando técnicas de maximização da entropia

(FERRIGE et al., 1992).

3.2.3 Digestão in gel e sequenciamento dos peptídeos por espectrometria de massa

A ASL foi aplicada em um gel de 12% de poliacrilamida (SDS-PAGE). As

bandas referentes à proteína foram retiradas do gel e recortadas com auxilio de uma ponteira

plástica. O gel de eletroforese contendo a proteína de interesse foi descorado em uma solução

de 50% de acetonitrila contendo 0,025 mol/L de bicarbonato de amônio, desidratado em

100% de acetonitrila e seco em Speedvac (LabConco). O gel foi então reidratado em uma

solução de 0,05 mol/L de bicarbonato de amônio contendo a enzima tripsina (Promega) na

proporção de 1:50 (p/p; enzima:substrato). A reação de digestão permaneceu overnight a 37

ºC, sendo parada com a adição de ácido fórmico a 2 %.

Os peptídeos oriundos da digestão foram extraídos do gel utilizando uma solução

de 5% de ácido fórmico em 50% de acetonitrila sob agitação durante 15 minutos. Este

procedimento foi repetido por 3 vezes, o sobrenadante contendo os peptídeos extraídos foram

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unidos e concentrados em Speedvac e avolumados para 25 µL com ácido fórmico 0,1%. Estes

peptídeos foram injetados em um sistema nanoacquit (Waters Corp.) conectado a uma fonte

de nanoeletrospray do espectrômetro de massa (SYNAPT HDMS – Waters Corp.). A amostra

foi aplicada em uma coluna de fase reversa C18 (75 µM x 100 µM) e eluída em um gradiente

de acetonitrila de 10% a 85% contendo 0,1% de ácido fórmico.

O espectrômetro de massa operou em modo positivo, com a temperatura da fonte

de 90 ºC e a voltagem do capilar de 3.0 kV. Os experimentos de LC-MS/MS foram realizados

de acordo com a função DDA (Direct Data Analysis – Análise Direta de Dados) os íons

precursores com carga entre +2 e +4 foram selecionados para análise de MS/MS sendo

fragmentados através de CID (Collision Induced Decomposition – Decomposição induzida

por colisão). Os dados foram coletados, processados e analisados utilizando o programa

MassLynx v4.1 (Waters Corp.) e ProteinLynx v2.4 (Waters Corp.). Os peptídeos comuns a

outras proteínas foram sequenciados por buscas em banco de dados utilizando ferramenta de

pesquisa por padrão de fragmentação dos peptídeos nos programas ProteinLynx (Waters

Corp.) e MASCOT (Matrix Science). Para os demais peptídeos, as sequências foram

determinadas através da interpretação manual dos espectros de fragmentação (sequenciamento

De novo).

3.2.4 Efeito da temperatura sobre a atividade hemaglutinante da ASL

Alíquotas da ASL (1mg/mL) foram separadas em eppendorfs, diluídas em tampão

Tris-HCl 0,1 mol/L pH 7,6 com NaCl 0,15 mol/L, centrifugadas e o sobrenadante resultante

foi utilizado para determinar a termoestabilidade da lectina. Em seguida, cada amostra foi

submetida a diferentes temperaturas variando de 40 ºc a 80 ºc por 60 minutos. Após o

término, foi realizado o ensaio de hemaglutinação com todas as amostras. Cada amostra foi

testada em duplicata.

3.2.5 Efeito do agente quelante (EDTA) sobre a atividade hemaglutinante da ASL

A avaliação da dependência da atividade hemaglutinante da ASL por diferentes

cátions divalentes foi analisada. Para tal fim, uma alíquota da lectina (1 mg/mL) foi

solubilizada em NaCl 0,15 mol/L e dialisada contra soluções de EDTA 0,05 mol/L (pH 8,0)

e 0,02 mol/L (pH 6,0) contendo NaCl 0,15 mol/L por 48 horas, seguida pela diálise exaustiva

contra NaCl 0,15 mol/L para retirada do excesso de EDTA. Após isto, a atividade

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hemaglutinante foi testada pela adição de 100 µL de soluções de NaCl 0,15 mol/L contendo

CaCl2, MnCl2 , MgSO4, NiSO4, separadamente, a uma concentração de 0,01 mol/L em tubos

de ensaio, onde em seguida foram feitas diluições seriadas em duplicata a partir da adição de

100 μL da lectina (1 mg/mL) e acrescentou-se 100 μL de eritrócitos tripsinizados de coelho a

2 % em cada tubo e levou-se a incubação por 1 hora.

3.2.6 Efeito do pH sobre a atividade hemaglutinante

O efeito do pH sobre a atividade da ASL foi avaliado através de testes de

atividade hemaglutinante. Para isto, a ASL foi solubilizada em Tris-HCl 0,1 mol/L pH 7,6

com NaCl 0,15 mol/L (1 mg/mL) e dialisada por 24 horas contra diferentes soluções tampão

com pH variando de 4,0 a 10,0 contendo NaCl 0,15 mol/L. Os seguintes tampões foram

utilizados: acetato de sódio 0,1 mol/L pH 4,0 e 5,0, citrato de sódio 0,1 mol/L pH 6,0, fosfato

de sódio 0,1 mol/L pH 7,0, Tris-HCl 0,1 mol/L pH 8,0, glicina-NaOH pH 9,0 e 10,0.

3.2.7 Dosagem de carboidratos totais

A ASL foi solubilizada em NaCl 0,15 mol/L, obtendo-se uma solução na

concentração de 1,0 mg/mL e em seguida foi submetida ao método de Dubois e colaboradores

(1956) para a determinação do conteúdo de carboidratos, utilizando-se galactose como

padrão.

3. 3 Avaliação do efeito da ASL sobre o crescimento bacteriano e formação de biofilmes

3.3.1. Microorganismos

Os microorganismos usados nesses experimentos foram: uma bactéria gram-

negativa (Pseudomonas aeruginosa ATCC 9027) e nove bactérias gram-positivas

(Streptococcus sobrinus ATCC 6715, Staphyilococcus aureus ATCC 25923, Streptococcus

sanguis ATCC 10556, Streptococcus sp. ATCC 15300, Streptococcus oralis ATCC 10557,

Streptococcus mitis ATCC 903, Streptococcus mutans UA 159, Streptococcus pyogenes

ATCC 19615, Streptococcus salivarius ATCC Salivarius). As cepas foram mantidas em uma

cultura estoque de meio TSB (caldo triptico de soja) à -80 ºC com 20% de glicerol.

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3.3.2. Atividade da lectina sobre o crescimento bacteriano

Para os testes da concentração inibitória mínima (CIM) foram inoculados 50 µL

de cada cepa bacteriana em 5 mL de meio TSB caldo e incubados em estufa por 24 horas a 37

ºC com 10% de CO2 . Após esse período, um novo inóculo de 50 µL do tubo já crescido em

um meio novo com 5 mL de TSB foi incubado por 18 horas, sob as mesmas condições

anteriormente descritas. Em seguida, as cepas foram centrifugadas a 5000 rpm por 5 minutos

a 4 ºC e lavadas 3 vezes com NaCl 0,15 mol/L. Esse mesmo procedimento foi realizado para a

bactéria aeróbica Staphylococcus aureus, mas essa espécie foi incubada em estufa sem

emissão de CO2. Após esse processo foi verificada a absorbância (OD620nm) em um

espectrofotômetro de luz visível (Ultrospec 2100 pro, Amersham, Bioscience). A partir da

absorbância foi quantificada a concentração inicial da bactéria e para isso foi necessário a

utilização da fórmula abaixo:

CT = [( 4x109. OD] -1x10

8]

onde CT corresponde a concentração total de bactérias e OD é a densidade ótica verificada a

620 nm.

As diluições foram feitas em placas de microtitulação de 96 poços onde foram

adicionados 100 µL (1mg/mL) da lectina solubilizados em NaCl 0,15 mol/L nos primeiros

poços e 50 µL de NaCl 0,15 mol/L nos demais e depois foi realizada a diluição seriada na

base dois para obtenção de diferentes concentrações (15,6 a 1.000 µg/mL). Em seguida foram

adicionados em cada poço 50 µL da bactéria na concentração de 1 x 106

UFC/mL e após 1

hora de contato à 37 ºC (lectina-bactéria) adicionou-se 100 µL de meio TSB (2x concentrado).

Após a montagem das placas foi feita uma leitura inicial da OD620nm (Biotrak II Plate Reader–

Amersham Biosciences) e em seguida foram realizadas leituras periódicas em 12, 18 e 24

horas de incubação a 37 ºC em estufa com 10% de CO2.

3.3.3. Efeito da lectina sobre a formação de biofilmes

A formação de biofilmes foi avaliada através de testes em placas de micro-

titulação de 96 poços de fundo chato, segundo metodologia adaptada de Islan e colaboradores

(2009). Para os Streptococcus envolvidos em patologias orais foi realizada a seguinte

metodologia: as placas receberam 100 µL de saliva e 100 µL de tampão carbonato de sódio

0,2 mol/L pH 9,3. Essa mistura foi incubada por 2 horas a 4 ºC e logo em seguida foi lavada

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duas vezes com tampão PBS 0,01 mol/L pH 7,4. Após a lavagem foram adicionados 50 µL da

lectina previamente diluída (15,6 a 1.000 µg/mL) em cada poço, 50 µL de bactéria (1 x 106

UFC/mL) e 100 µL de meio TSB 2x concentrado com 2% de sacarose. As placas foram então

incubadas por 24 h a 37 ºC em estufa de CO2. Para a bactéria Staphylococcus aureus não foi

preciso adicionar saliva e nem tampão.

A revelação dos biofilmes foi feita pela remoção do meio de cultura dos poços,

seguida da lavagem das placas na lavadora de placas. Logo depois foram adicionados 200 µL

de metanol, para fixação do biofilme, a 95% (PA) por 10 minutos e após esse período o

mesmo foi retirado e as placas foram deixadas secar em temperatura ambiente. Em seguida

adicionou-se 200 µL de cristal violeta a cada poço por 10 minutos. Decorrido esse tempo, o

cristal violeta foi removido por meio da lavagem das placas e estas foram colocadas para

secar por 30 minutos. Por fim, adicionou-se 200 µL de ácido acético 33% em cada poço por

10 minutos e em seguida transferiu-se 100 µL para outra placa de fundo chato. A absorbância

foi verificada a 590 nm em espectrofotômetro ELISA.

3.3.4 Análise estatística

As análises estatísticas foram realizadas pelo programa GraphPad Prism® versão

5 (Microsoft Windows®). O método usado foi ANOVA com pós teste de Bonferroni. Os

dados foram obtidos em triplicata a partir de três experimentos independentes. Os gráficos

foram apresentados com valores de média e desvio padrão médio. Valores de p menores que

0,01 foram considerados estatisticamente significantes.

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62

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

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63

4.1 Purificação e caracterização pela especificidade a carboidratos da lectina de

sementes de Andira surinamensis

A ASL mostrou atividade hemaglutinante contra eritrócitos de coelho (nativos,

papainados e tripsinizados) e fraca atividade para eritrócitos humanos do sistema ABO

enzimaticamente tratados, sendo que os maiores títulos de hemaglutinação foram verificados

para os eritrócitos de coelho tratados com enzimas proteolíticas (Tabela 3). A sensibilidade

das células à aglutinação por lectinas pode ser aumentada enzimaticamente (tripsina, papaína

ou neuraminidase) (SHARON; LIS, 1972); isto ocorre pelo fato destas enzimas atuarem

clivando certas proteínas da superfície da membrana celular dos eritrócitos, podendo expor

melhor carboidratos que compõem o glicocálice. Isso permite que as lectinas tenham um

maior acesso a estes, aumentando assim os títulos de hemaglutinação (NAGANO et al., 2002;

PINTO et al., 2008).

Tabela 3- Atividade hemaglutinante da ASL

Eritrócitos Tratamento enzimático

Tripsina Papaína Nativo

Coelho

Humano tipo A

Humano tipo B

Humano tipo O

2048*

2

2

2

1024

2

ND**

2

32

ND

ND

ND

*Valores expressos em termos de Unidade Hemaglutinante (U.H.)

**ND: Não detectado

A especificidade da ASL por carboidratos foi determinada pelo ensaio de inibição

da atividade hemaglutinante contra diferentes soluções de açúcares. Os melhores resultados

foram obtidos com N-acetil-D-glicosamina, glicose, manose, sacarose, respectivamente

(Tabela 4). A lectina de sementes de Platymiscium floribundum também foi inibida por N-

acetil-D-glicosamina e manose (PEREIRA JÚNIOR, 2011). Em outra espécie da tribo

Dalbergieae, Lonchocarpus sericeus, existe uma lectina que também mostrou ser específica

por resíduos de N-acetil-D-glicosamina (ALENCAR, et al., 1999). Enquanto isso, as lectinas

de sementes de Pterocarpus angolensis (LORIS et al., 2003) e Platypodium elegans

(BENEVIDES, 2008) foram inibidas por glicose e manose. De forma diferente, a lectina de

sementes de Vatairea macrocarpa (VML), também da mesma tribo, apresenta especificidade

por galactose e alguns derivados (CAVADA et al., 1998).

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64

Tabela 4- Inibição da atividade hemaglutinante da ASL por carboidratos

Carboidrato CMI* (mM)

Carragenana

ND**

Glicose

25

Manose

25

Glc-Nac

12,5

Galactose

ND

Sacarose

50

Xilose

ND

Arabinose ND

L-fucose ND

D-Lactose

ND

Mucina

ND**

* Concentração Mínima Inibitória em mM;

** O carboidrato não inibiu a uma concentração de 5mg/ mL.

A ASL foi purificada através de duas etapas cromatográficas. Para isto, o extrato

total foi submetido à cromatografia de afinidade em matriz de Sepharose-manose (Gráfico 1).

Após eluição do pico não retido, o pico retido da cromatografia de afinidade foi aplicado em

matriz de DEAE-Sephacel, para realização de uma cromatografia de troca iônica (Gráfico 2).

Essas duas cromatografias proporcionaram a purificação da ASL com um grau de pureza de 4

vezes, quando comparado o pico retido eluído da cromatografia de troca iônica em relação ao

pico retido eluído da cromatografia de afinidade (Tabela 5).

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65

Gráfico 1- Cromatografia de afinidade em matriz de Sepharose-Manose

Amostra: 8 mL (8 mgP/mL) de extrato total em sulfato de amônio ((NH4)2SO4) 1 mol/L, aplicados em matriz de

Sepharose-Manose. Volume da coluna: 7 mL. Volume aplicado: 6 mL. Solução de equilíbrio: Sulfato de Amônio

1 mol/L. Solução de Eluição: Glicina 0,1 M pH 2,6 NaCl 0,15 mol/L. Frações coletadas: 1,5 mL. Fluxo: 1

mL/min. Abs: 280 nm.

Gráfico 2- Cromatografia de troca iônica em matriz de DEAE-Sephacel

Amostra: 50 mg da fração retida/ 1mL de Tris-HCl 0,02 mol/L pH 7,5, aplicados em matriz de DEAE-

Sephacel. Volume da coluna: 12 mL. Volume aplicado: 4 mL. Solução de equilíbrio: Tris-HCl 0,02 mol/L pH

7,5. Solução de Eluição: Tris-HCl 0,02 mol/L pH 7,5 NaCl 1 mol/L . Frações coletadas: 1,5 mL. Fluxo: 1

mL/min. Abs: 280 nm.

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

4

1 6 11 16 21 26 31 36 41 46 51

Ab

s 2

80

nm

Frações (1,5 mL/tubo)

pH 2,6

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

1 4 7 10 13 16 19 22

Ab

s 2

80

nm

Frações (1,5 mL/tubo)

NaCl 1M

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66

Tabela 5- Tabela de purificação da ASL

Fração

a)Proteínas

(mg/mL)

b) U.H./mL

c) A.H.E.

(U.H./mgP)

d) Fator de

Purificação

Extrato total

Manose (pico retido)

ASL

8

1

1

128

512

2048

16

512

2048

1

32

128

a) Concentração de proteínas solúveis (mg/mL);

b) Atividade hemaglutinante contra eritrócitos de coelho tratados com tripsina, expressa em termos de Unidade

Hemaglutinante (U.H./mL);

c) Atividade Hemaglutinante Específica calculada como a relação entre a atividade hemaglutinante e a

concentração de proteínas;

d) Fator de Purificação, calculado como a relação entre a atividade hemaglutinante específica do extrato total e

aquela de cada passo de purificação subsequente.

4.2 Caracterização físico-química da lectina de sementes de A. surinamensis

A purificação da ASL foi monitorada por SDS-PAGE na presença ou ausência do

agente redutor β-mercaptoetanol. A figura 14 mostra o perfil eletroforético das frações

protéicas correspondentes aos diferentes estágios de purificação da lectina. A lectina

purificada é caracterizada por um perfil eletroforético composto por seis bandas protéicas:

uma de maior peso molecular aparente de aproximadamente 20 kDa e outras cinco bandas de

menor peso molecular aparente entre 15 e 12 kDa. A lectina de sementes de Vatairea

macrocarpa, espécie pertencente à tribo Dalbergieae, possui um perfil eletroforético

composto por quatro bandas, sendo duas delas de peso molecular aparente maior, de 34 e 32

kDa, e duas bandas de peso molecular aparente menor, de 22 e 13 kDa (CAVADA et al.,

1998), sendo que as bandas de 22 e 13 kDa correspondem aos fragmentos C-(beta)-terminal e

N-(gama)-terminal da cadeia alfa, respectivamente (CALVETE et al., 1998).

Entretanto, em outras duas espécies, também da tribo Dalbergieae, foram isoladas

duas lectinas, sendo que cada uma delas apresentou um perfil eletroforético composto por

apenas uma banda. A lectina de sementes de Platymiscium floribundum caracteriza-se por

uma banda única de massa molecular aparente de aproximadamente 29 kDa, tanto na presença

quanto na ausência do agente redutor (PEREIRA JÚNIOR, 2011) e a lectina de Platypodium

elegans apresentou uma banda dupla de massa molecular aparente de 30 kDa (BENEVIDES,

2008).

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67

Figura 14- SDS-PAGE

Poços: 1- Marcadores moleculares (Fosforilase b 97 kDa, BSA 66 kDa, Ovoalbumina 45 kDa, Anidrase

Carbônica 29 kDa, Inibidor de tripsina 20,1 kDa e α- lactoalbumina 14,4 kDa), 2- Extrato total, 3- PII

Manose, 4- PII DEAE (não reduzido), 5- PII DEAE (reduzido) e 6- VML.

A quantificação de carboidratos totais, realizada pelo método de Dubois, mostrou

que a ASL é uma glicoproteína apresentando cerca de 2% de carboidratos, sendo que essa foi

a mesma quantidade encontrada para a lectina de sementes de Platymiscium floribundum.

Para as lectinas de Platypodium elegans e de Vatairea macrocarpa também foi realizada a

quantificação de carboidratos totais verificando-se que as duas também são glicoproteínas

compostas de aproximadamente 7% e 8% de carboidratos, respectivamente.

ASL apresentou considerável termoestabilidade, pois manteve sua atividade

hemaglutinante mesmo após incubação a 60 ºC por 1 hora. No entanto, a atividade

hemaglutinante decaiu significativamente quando a lectina foi submetida a temperaturas

iguais ou superiores a 70 ºC (Figura 14). De forma oposta, Cavada e colaboradores (1998)

verificaram que a VML mostrou-se com significativa termoestabilidade, uma vez que reteve

55% de sua atividade após exposição a 100 ºC por 5 minutos.

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68

Gráfico 3- Estabilidade térmica da lectina de Andira surinamensis

Amostra: 1 mg ASL/ 1mL de Tris-HCl 0,1 mol/L pH 7,6 NaCl 0,15 mol/L. Temperaturas: 40 ºC, 50 ºC, 60 ºC,

70 ºC, 80 ºC.

Quanto à estabilidade em uma ampla faixa de pH, a ASL também mostrou-se

bastante estável, exibindo seus maiores títulos de hemaglutinação na faixa de pH entre 7,0 e

9,0, mostrando que essa é a faixa de pH ótimo para sua atividade. Porém, a atividade

hemaglutinante foi reduzida de forma significativa em valores extremos de pH (Figura 15) .

Gráfico 4- Estabilidade da lectina de Andira surinamensis a uma ampla faixa de pH

pH

Amostra: 1 mg ASL/ 1mL de Tris-HCl 0,1 mol/L pH 7,6 NaCl 0,15 mol/L. Diálise por 24 horas contra diferentes

soluções tampão contendo NaCl 0,15 mol/L. Tampões: acetato de sódio 0,1 mol/L pH 4,0 e 5,0, citrato de sódio

0,1 mol/L pH 6,0, fosfato de sódio 0,1 mol/L pH 7,0, Tris-HCl 0,1 mol/L pH 8,0, glicina-NaOH pH 9,0 e 10,0.

Uma das características principais das lectinas de leguminosas é o fato de que estas

possuem sítios de ligação a cátions divalentes, principalmente cálcio e manganês, em suas

estruturas. Esses íons atuam estabilizando a estrutura do sítio de ligação a carboidratos e sua

0

200

400

600

800

1000

1200

40 50 60 70 80

U.H

./m

L

0

10

20

30

40

50

60

70

4 5 6 7 8 9 10

U.H

. /m

L

Temperatura (ºC)

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69

ausência resulta em uma instabilidade local e na perda da capacidade de ligar-se a

carboidratos (LORIS et al., 2004). A atividade hemaglutinante da lectina de sementes de

Andira surinamensis foi afetada após a proteína ter sido submetida a uma diluição seriada na

presença de EDTA 0,05 mol/L. Após a adição de cátions divalentes, a lectina recuperou

significativamente sua atividade. Em relação a outras lectinas de sementes de espécies

pertencentes à tribo Dalbergieae, a lectina de Pterocarpus angolensis teve sua atividade

hemaglutinante totalmente perdida após tratamento com EDTA (ECHEMENDIA-BLANCO

et al., 2009). A lectina de sementes de Platypodium elegans também teve sua atividade

hemaglutinante comprometida pela presença do agente quelante, sendo revertida após a

adição dos cátions divalentes (BENEVIDES, 2008). Enquanto isso, a lectina de Platymiscium

floribundum não teve sua atividade hemaglutinante afetada após tratamento com EDTA

(PEREIRA JÚNIOR, 2011).

Tabela 6 - Efeito do EDTA sobre a atividade hemaglutinante da ASL

U.H./mL

pH 6,0 (0,02 mol/L) U.H./mL

pH 8,0 (0, 05 mol/L)

Sem metal: 4

MnCl2: 64

CaCl2: 64

MgSO4: 64

NiSO4: 32

Sem metal: 4

MnCl2: 16

CaCl2: 32

MgSO4: 16

NiSO4: 8

Gráfico 5- Efeito do EDTA sobre a atividade hemaglutinante da ASL

S.M: sem metal, Mn: manganês, Ca: cálcio, Mg: magnésio, Ni: níquel

0

10

20

30

40

50

60

70

S.M. Mn Ca Mg Ni

U.H

./m

L

Metais

pH 6,0

pH 8,0

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70

4.3 Determinação da Massa Molecular e Sequenciamento por Espectrometria de

Massa

A massa molecular média da lectina purificada foi determinada através da técnica

de espectrometria de massa com Ionização por Eletrospray (ESI). A análise do espectro de

massa mostrou a presença de dois íons majoritários de massa molecular de 12.220+ 2 e

13.258 + 2 Da (Gráfico 5).

Gráfico 6- Espectro de massa deconvoluído mostrando a massa isotópica média das cadeias

da ASL.

Os peptídeos oriundos das digestões com tripsina foram aplicados ao

espectrômetro de massa e dados coletados foram processados e analisados utilizando o

programa MassLynx v4.1 (Waters Corp) e ProteinLynx v2.4 (Waters Corp). Os peptídeos

comuns a outras proteínas foram identificados por buscas em banco de dados utilizando

ferramentas de pesquisa por padrão de fragmentação dos peptídeos nos programas

ProteinLynx e MASCOT (Matrix Science). Foram encontrados peptídeos da ASL comuns aos

da sequência da lectina de Bowringia mildbraedii, a qual foi utilizada como modelo para

ESI 10 PMOL 20 UL/MIN

mass 11600 11800 12000 12200 12400 12600 12800 13000 13200 13400 13600 13800 14000 14200 14400 14600 14800

%

0

100 20090910_A_RETUSA_02 1 (0.034) M1 [Ev-274760,It29] (Gs,0.750,500:2199,1.00,L33,R33) TOF MS ES+

4.68e3 12220.0010

12213.0010

12189.0010

12119.0010

13258.0010

12236.0010 12243.0010

12302.0010

13187.0010 12323.0010

12337.0010 12403.0010

13329.0010

13367.0010 13443.0010

14350.0010 13748.0010 14333.0010

14541.0010 14747.0010

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71

auxiliar no sequenciamento da ASL. Os demais peptídeos foram sequenciados manualmente

por sequenciamento De novo utilizando a ferramenta PepSequence do programa MassLynx

v4.1 (Waters Corp). Alguns dos petídeos que compõe a sequência parcial da ASL estão

mostrados na Tabela 6.

Tabela 7- Sequência obtida por espectrometria de massa sequecial (MS/MS) dos peptídeos

oriundos de digestão tríptica da ASL

BANDA

M/Z

(razão

massa/carga)

MASSA

OBSERVADA

MASSA

CALCULADA

PEPTÍDEO

B6 476.75 951.4844 951.5178 ALYYAPVR B4 674.86 1347.7043 1347.7285 PVLVSYDVELSK B5 343.66 685.3044 685.3547 PEWVR B5 421.75 841.4844 841.5021 VATVSLPR

A partir das sementes de Bowringia mildbraedii, espécie pertencente à tribo

Sophoreae, foi isolada uma lectina manose/N-acetil-glicosamina específica, denominada

BMA (CHAWLA et al.,1993). Como citado anteriormente, alguns peptídeos dessa proteína

foram comuns àqueles encontrados para ASL e com base nesse achado a sequência da BMA

serviu de molde para o sequenciamento parcial da ASL.

Essas duas lectinas, embora pertencentes a tribos diferentes da subfamília

Papilionoideae apresentam outras características em comum, além das semelhanças

verificadas em suas sequências primárias. Ambas mostram especificidade a resíduos de

manose/N-acetil-glicosamina e os dados de massa intacta da BMA revelam a presença de duas

espécies iônicas predominantes com massas moleculares de 13.596 e 12.115 Da,

correspondendo às subunidades α e β2, respectivamente (CHAWLA et al.,1993). Esses

valores estão bem próximos daqueles encontrados para ASL (12.220+ 2 e 13.258 + 2 Da).

A sequência primária de BMA também mostrou uma extensiva homologia com

outras sequências de lectinas de leguminosas, tais como: ConA (Canavalia ensiformis), favina

(Vicia faba), ECorL (Erythrina corallodendron), SBA (Glycine max) e UEA I (Ulex

europaens). O sítio de proteólise pós-traducional do precursor de BMA ocorre em uma

posição similar ao identificado em lectinas obtidas de outras espécies da tribo Sophoreae, tal

como Sophora japonica, e em lectinas Diocleineae, como ConA, mas ele é diferente daquele

encontrado em lectinas “a duas cadeias” (tribo Vicieae, por exemplo) obtidas de outras tribos

da subfamília Papilionoideae (CHAWLA et al.,1993).

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72

A composição polipeptídica de BMA mostra que ela é formada por um precursor

de aproximadamente 29 kDa e que durante o processamento pós-traducional é clivado em

dois fragmentos de aproximadamente 13,3 kDa (subunidade α) e 11,9 kDa (subunidade β).

Essa subunidade β corresponde ao N-terminal da proteína madura (β1, β2 e β3), sendo que o

mais proeminente dos três é β2. A lectina assume a estrutura de um dímero (αβ)2 e as duas

subunidades β componentes desse dímero encontram-se unidas através de uma ponte

dissulfeto intercadeia.

A homologia na sequência de BMA e na sequência parcial de ASL reforçam a

possibilidade de uma origem evolucionária em comum e sugere a manutenção de alguma

função fisiológica ainda a ser determinada em estudos futuros. Além disso, o modelo de

processamento pós-traducional de BMA poderia ser considerado para ASL, uma vez que o

perfil eletroforético das duas lectinas é bem semelhante.

4.4 Avaliação do efeito da ASL sobre o crescimento bacteriano e formação de biofilmes

A ASL interferiu no crescimento planctônico de duas diferentes cepas bacterianas

gram-positivas (Streptococcus mitis e Streptococcus salivarius) e na formação de biofilme por

Staphylococcus aureus e Streptococcus salivarius.

ASL induziu o crescimento planctônico de Streptococcus mitis nas três maiores

concentrações inicialmente testadas (1.000, 500 e 250 µg/mL) (Gráfico 6), enquanto que para

Streptococcus salivarius, a lectina mostrou-se como um estímulo significante para o

crescimento em todas as concentrações testadas (Gráfico 7).

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73

Gráfico 7- Avaliação do potencial da lectina de sementes de Andira surinamensis (ASL) sobre

o crescimento planctônico de Streptococcus mitis ATCC 903.

S. mitis ATCC 903

010

00 500

250

125

62,5

31,2

515

,60.0

0.5

1.0

1.5*** *** ***

[ ] ASL (g/mL)

O.D

. 62

0n

m

*** p < 0, 0001 estatisticamente significante em relação ao controle.

Gráfico 8- Avaliação do potencial da lectina de sementes de Andira surinamensis (ASL) sobre

o crescimento planctônico de Streptococcus salivarius ATCC Salivarius.

S. salivarius ATCC Salivarius

010

00 500

250

125

62,5

31,2

515

,6

0.0

0.5

1.0

1.5

****** ***

******

******

[ ] ASL g/mL

O.D

. 6

20

nm

*** p < 0, 0001 estatisticamente significante em relação ao controle.

No processo de formação de biofilmes, ASL mostrou induzir a biomassa da

espécie Staphylococcus aureus nas duas maiores concentrações inicialmente testadas (1.000 e

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74

500 µg/mL) (Gráfico 8). De maneira oposta, essa lectina diminuiu a formação de biofilmes da

espécie gram-positiva Streptococcus salivarius em todas as concentrações testadas (Gráfico

9).

Gráfico 9- Avaliação do potencial antibiofilme da lectina de sementes de Andira surinamensis

(ASL) sobre o desenvolvimento do biofilme de Stafilococcus aureus ATCC 25923.

S. aureus ATCC 25923

010

00 500

250

125

62,5

31,2

515

,60

1

2

3 ***

***

[ ] ASL g/mL

O.D

. 59

0n

m

*** p < 0, 0001 estatisticamente significante em relação ao controle.

Gráfico 10- Avaliação do potencial antibiofilme da lectina de sementes de Andira

surinamensis (ASL) sobre o desenvolvimento do biofilme de Streptococcus salivarius ATCC

Salivarius.

*** p < 0, 0001 estatisticamente significante em relação ao controle.

S. salivarius ATCC Salivarius

010

00 500

250

125

62,5

31,2

515

,60.0

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

*** ***

***

******

******

[ ] ASL g/mL

O.D

. 59

0n

m

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75

Por outro lado, a ASL não interferiu no crescimento planctônico e na formação de

biofilmes das demais cepas testadas (Pseudomonas aeruginosa ATCC 9027, Streptococcus

sobrinus ATCC 6715, Streptococcus sanguis ATCC 10556, Streptococcus sp. ATCC 15300,

Streptococcus oralis ATCC 10557, Streptococcus mutans UA 159, Streptococcus pyogenes

ATCC 19615) (dados não mostrados).

As bactérias, assim como quase todos os outros microorganismos, expressam

carboidratos que ficam expostos na sua superfície. Esses carboidratos, tais como

peptideoglicanos, ácidos teóicos e lipopolissacarídeos são sítios reativos potenciais para

lectinas. Essas moléculas promovem a agregação direta de microorganismos em suspensão,

devido à sua habilidade de formar complexos com os glicoconjugados da superfície

bacteriana (SANTI-GADELHA et al., 2006). Lee e colaboradores (1998) examinaram

interações entre lectinas de várias especificidades e várias espécies de Streptococcus orais.

Eles observaram que certas lectinas apenas interagem com algumas espécies, indicando que

lectinas podem ser usadas para agregação de determinados organismos alvos.

A ASL estimulou o crescimento planctônico de Streptococcus mitis e

Streptococcus salivarius e esse comportamento pode ser decorrente da baixa/fraca

especificidade de ligação dos carboidratos da superfície bacteriana à lectina em questão. Essa

lectina é glicose/manose específica e os carboidratos que estão na superfície dessas bactérias

provavelmente não estão expostos ou não estão disponíveis para interação com a lectina por

conta de algum impedimento estérico, impossibilitando a interação lectina/carboidrato e a

conseqüente inibição do crescimento planctônico.

Segundo Aas e colaboradores (2005), Streptococcus mitis é a bactéria comensal

que se encontra em maior quantidade na cavidade oral de pessoas saudáveis. A microflora

residente beneficia o hospedeiro por agir como parte das defesas dele e prevenir a colonização

por microorganismos exógenos (e frequentemente patogênicos). Esse processo é conhecido

por “colonização de resistência”. O conceito de mudança ecológica microbiana como um

mecanismo para prevenir o dano dental é importante. Sendo assim, o aumento do

crescimento de S. mitis poderia assegurar a manutenção saudável da superfície do dente e da

cavidade oral, evitando a colonização desse ambiente por outra bactéria patogênica, como por

exemplo, Streptococcus mutans.

O estímulo na formação do biofilme de Staphylococcus aureus ocorreu

provavelmente pela necessidade de estabelecimento de uma espécie colonizadora inicial para

a formação do biofilme. Uma vez que os carboidratos presentes na superfície bacteriana

possivelmente não se ligam à ASL, a bactéria estabeleceria uma ligação com os componentes

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salivares da película adquirida pelo esmalte, consolidando a adesão à superfície do dente para

uma posterior formação do biofilme.

Segundo Wong e colaboradores (2010), as lectinas vegetais inibem o crescimento

de microorganismos (bactérias, fungos) pela ligação aos carboidratos presentes na parede

celular desses microorganismos, uma vez que elas não são capazes de se ligar às moléculas

que estão nas membranas celulares ou penetrar no citoplasma devido à barreira formada pela

parede celular. Sendo assim, a formação do biofilme de Streptococcus salivarius esteve

comprometida pela presença da ASL, semelhante ao que foi visto por Teixeira e

colaboradores (2006) e Cavalcante e colaboradores (2011) para outras lectinas de leguminosas

glicose/manose específicas quando testadas contra diferentes espécies gram-positivas.

Um outro fato interessante foi observado para Streptococcus salivarius: ASL

aumentou o crescimento planctônico dessa espécie e comprometeu a formação do biofilme.

Segundo Liljemark; Schauer (1981) isso pode acontecer porque a formação de grandes

agregados causa uma diminuição no número de bactérias aderentes e indica que acima de uma

certa concentração de lectina, a atividade agregante da proteína não se opõe ao seu efeito

bloqueador e ajuda a diminuir o número de Streptococcus aderentes.

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5 CONCLUSÃO

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Uma lectina específica para manose e N-acetil-D-glicosamina foi purificada a

partir das sementes de Andira surinamensis. A ASL mostrou-se estável quando submetida a

uma ampla faixa de temperatura e pH, mas teve sua hemaglutinante comprometida quando na

presença de agente quelante. O espectro de massa intacta da ASL mostrou a presença de dois

íons majoritários de massa molecular de 12.220+ 2 e 13.258 + 2 Da. ASL interferiu no

crescimento planctônico de duas diferentes cepas bacterianas gram-positivas (Streptococcus

mitis e Streptococcus salivarius) e na formação de biofilme por Staphylococcus aureus e

Streptococcus salivarius.

Com a execução do presente trabalho, novas informações são somadas ao estudo

de lectinas da tribo Dalbergieae. Este estudo também reforça a importância das interações

lectina-carboibratos e seu potencial como ferramenta biotecnológica. Experimentos adicionais

são necessários para a determinação da sequência primária completa e para a elucidação dos

mecanismos moleculares específicos responsáveis pela interferência da ASL no crescimento

planctônico bacteriano e na formação de biofilmes

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