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UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA
LETÍCIA ASSIS BARONY VALADARES FONSECA
COMPATIBILIDADE DA ENXERTIA ENTRE ESPÉCIES SILVESTRES DE
Solanum spp. e O TOMATEIRO
VIÇOSA – MINAS GERAIS
2017
ii
LETÍCIA ASSIS BARONY VALADARES FONSECA
COMPATIBILIDADE DA ENXERTIA ENTRE ESPÉCIES SILVESTRES DE
Solanum spp. e O TOMATEIRO
Trabalho de conclusão de curso apresentado à
Universidade Federal de Viçosa como parte das
exigências para a obtenção do título de Engenheiro
Agrônomo. Modalidade: Projeto.
Orientador: Carlos Nick Gomes
Coorientadores: Mariane Gonçalves Ferreira
Gabriella Queiroz de Almeida
VIÇOSA – MINAS GERAIS
2017
iii
LETÍCIA ASSIS BARONY VALADARES FONSECA
COMPATIBILIDADE DA ENXERTIA ENTRE ESPÉCIES SILVESTRES DE
Solanum spp. e O TOMATEIRO
Trabalho de conclusão de curso apresentado à
Universidade Federal de Viçosa como parte das
exigências para a obtenção do título de Engenheiro
Agrônomo. Modalidade: Projeto.
APROVADO:
Carlos Nick Gomes
(orientador)
(UFV)
iv
SUMÁRIO
1. Resumo.............................................................................................................. 1
2. Identificação da proposta / proponente............................................................. 2
3. Justificativa....................................................................................................... 3
4. Objetivos e metas.............................................................................................. 4
4.1.Objetivos........................................................................................................... 4
4.2. Metas................................................................................................................ 4
5. Referencial teórico............................................................................................ 4
5.1. O tomateiro...................................................................................................... 4
5.2. Enxertia em tomateiro..................................................................................... 6
5.3. Espécies silvestres de Solanum spp................................................................. 7
6. Metodologia...................................................................................................... 8
6.1.Área experimental............................................................................................. 8
6.2.Material vegetal................................................................................................ 8
6.3. Delineamento experimental............................................................................. 9
6.4. Condução do experimento............................................................................... 9
6.5.Características avaliadas................................................................................... 10
6.6. Análises estatísticas ......................................................................................... 11
7. Cronograma....................................................................................................... 12
8. Orçamento.......................................................................................................... 13
9. Referências......................................................................................................... 13
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RESUMO
O tomateiro (Solanum lycopersicum L.) é uma espécie hortícola de grande importância
econômica e social. Está presente diariamente na dieta da população, seja in natura ou
processado. Em decorrência do cultivo intensivo, houve alta pressão de seleção e
estabelecimento de condições favoráveis ao desenvolvimento de pragas e doenças que
interferem no avanço da cultura. Além disso, as hortaliças são muito sensíveis aos estresses
abióticos, principalmente aos ocasionados pelo déficit hídrico. Assim, faz-se necessária a
obtenção de cultivares tolerantes a esses fatores de perturbação e o aprimoramento de técnicas
que garantam maior produtividade. Dentre essas alternativas, está a técnica de enxertia. A
enxertia consiste na união de duas plantas, o enxerto, que apresenta características
agronômicas e comerciais, e um porta-enxerto, responsável por conferir tolerância a um fator
de perturbação. As espécies de tomate silvestre, Solanum pennellii Correll., Solanum
habrochaites Kanapp & Spooner., Solanum pimpinellifolium L. e Solanum peruvianum L.
possuem tolerância a diferentes estresses bióticos e abióticos e possuem potencial para uso
como porta-enxerto. O objetivo desse trabalho é avaliar a compatibilidade da enxertia entre, o
tomateiro, utilizado como enxerto e espécies silvestres de Solanum spp, utilizadas como
porta-enxerto. Além disso, deve-se avaliar a viabilidade da enxertia, a partir de um
comparativo entre os dados de produção do tomateiro, quando cultivado em pé-franco e
quando enxertado nos diferentes porta-enxertos. Para tal, serão avaliados 10 tratamentos, que
consistem nas combinações entre o híbrido Laura enxertado sobre as quatro espécies
silvestres, a auto enxertia do híbrido Laura e os cinco genótipos cultivados em pé-franco. A
compatibilidade e eficácia da enxertia podem ser esperadas em decorrência da proximidade
botânica e semelhanças morfo- e fisiológicas entre as espécies. A partir da compatibilidade
espera-se que hajam ganhos em produtividade e qualidade dos frutos, e estes ganhos serão
validados pela comparação dos tratamentos.
Palavras chave: Hortaliça; enxerto; estresses.
2
2. Identificação da proposta
Título: Compatibilidade na enxertia entre quatro espécies silvestres de Solanum spp. e
Solanum lycopersicum
Proponente: Carlos Nick Gomes
Telefone: 31 3899-1117
E-mail: [email protected]
Formação: Engenheiro Agrônomo; M. Sc; D.Sc. em Fitotecnia/Melhoramento Vegetal,
Recursos Genéticos e Biotecnologia
Cargo/Função: Professor Adjunto I do Departamento de Fitotecnia – UFV
Instituição executora do projeto
Universidade Federal de Viçosa
Interveniente: Fundação Arthur Bernardes (FUNARBE)
3
3. Justificativa
O setor agropecuário brasileiro apresenta grande importância para a economia do país.
Com a crescente demanda por alimento é necessário acréscimo na produção de bens de
consumo sem aumentar a área cultivada. Para haver ganho de produção, o setor público e
privado investem em tecnologias que visam aumento da eficiência produtiva. Uma dessas
tecnologias é o uso do melhoramento genético na geração de cultivares mais produtivas e
resistentes aos estresses bióticos e abióticos. O gênero Solanum spp. pertencente à família
Solanaceae, possui grande diversidade de espécies com características de relevância
agronômica. Espécie de grande importância econômica e social, o tomateiro (Solanum
lycopersicum) é o objeto de pesquisa de muitos trabalhos. Para o melhoramento da espécie
cultivada, a utilização de germoplasmas pertencentes ao gênero Solanum spp, se faz possível
por meio de cruzamentos intra e inter específicos no desenvolvimento de novos genótipos
mais tolerantes a estresses bióticos e abióticos (Venema et al., 2008; Lee et al., 2010). No
entanto, embora o melhoramento genético clássico tenha fundamental imporntacia para o
crescimento do setor agrícola, esse é mais oneroso e requer mais tempo e tecnologias
adequadas. Assim, outra alternativa que também resulta em ganhos de produtividade é o uso
da enxertia, associando porta-enxertos com tolerância a estresses e enxertos que possuem
vantagens agronômicas e comerciais.
Com intuito de controlar fitopatógenos na cultura do tomateiro, em especial aqueles
relacionados ao solo, a técnica da enxertia tem sido recomendada. Na olericultura, a enxertia é
utilizada em plantas das famílias Solanaceae e Cucurbitaceae e surgiu com objetivo de
conferir resistência às mudas, possibilitando o cultivo em áreas infestadas por patógenos ou
atribuir tolerância em relação a condições edafoclimáticas desfavoráveis, como baixa
temperatura, seca, excesso de umidade, salinidade e aumento da capacidade de absorção de
nutrientes (Dias et al., 2010; Sirtoli et al., 2011; Gama et al., 2013).
A enxertia tem como benefícios o uso de variedades tolerantes a diferentes estresses
em associação com uma variedade suscetível, a maior longevidade do cultivo e ganhos em
produtividade e qualidade. Em cultivos de espécies frutíferas, a técnica de enxertia é utilizada
com o objetivo de aumentar o rendimento dos pomares. A técnica é realizada para redução no
porte de copa, assim é possível aumentar a densidade de plantio e a produção por área.
A família Solanaceae apresenta grande diversidade de espécies, sendo que, as espécies
silvestres de Solanum spp. oferecem maior ou menor dificuldade de cruzamento com o
tomateiro. Embora não sejam exploradas comercialmente, são valorizadas pelo elevado
potencial para uso em programas de melhoramento genético, pois apresentam genes de
resistência a fitopatógenos, pragas e a estresses abióticos (Miranda et al., 2010). Tais espécies
4
também possuem competências para uso em associação com o tomateiro, mediante utilização
da técnica de enxertia. Assim, é possível alcançar maiores produtividades e garantir o melhor
desenvolvimento da cultura perante a estresses.
4. Objetivos e metas
4.1. Objetivo
Avaliar se existe compatibilidade da enxertia entre as espécies silvestres Solanum
pennellii Correll., Solanum habrochaites Kanapp & Spooner., Solanum pimpinellifolium L. e
Solanum peruvianum e o tomateiro (S. lycopersicum).
4.2. Metas
- Avaliar ocorrência de compatibilidade entre enxerto e porta enxerto;
- Avaliar o desempenho em campo das espécies silvestres de Solanum spp. em pé
franco;
- Avaliar o desempenho e produção do tomateiro em pé franco;
- Avaliar o desempenho e produção do tomateiro enxertados sobre os diferentes porta-
enxertos,
- Avaliar a influência da enxertia sobre a produção do tomateiro (S. lycopersicum).
5. Referencial teórico
5.1. O tomateiro
O tomateiro, olerícola pertencente à família Solanaceae está presente diariamente na
dieta de grande parte da população, seja pelo consumo in natura ou processado. Em 2015, a
produção brasileira foi de aproximadamente 3,7 milhões de toneladas, com produtividade
média de 63,7 t ha-1, destacando-se os estados de Goiás e Minas Gerais como os maiores
produtores do país (Agrianual, 2016).
A família Solanaceae apresenta grande diversidade genética na América, sendo
conhecidos 85 gêneros, englobando cerca de 1400 espécies (Ventura et al., 2007). O tomateiro
é uma planta dicotiledônea, derivada da espécie silvestre de origem andina, Solanum
lycopersicum var. cerasiforme, que produz frutos do tipo “cereja”.
Os primeiros relatos sobre o tomateiro, o descrevem como planta ornamental. A
semelhança com plantas tóxicas motivou a crença de que o tomateiro poderia ser uma planta
imprópria ao consumo humano. No Brasil, a introdução do tomateiro ocorreu no final do
5
século XIX, mas só passou a ser produzido e consumido após a Primeira Guerra Mundial
(Emrich, 2012).
A variabilidade entre as espécies conhecidas tem grande importância em trabalhos de
melhoramento. Podem ser utilizadas como doadores de genes em diversas situações, como
aquisição de resistência a doenças ou a estresses abióticos. Como exemplo tem se a resistência
de S. pimpinellifolium ao Tomato yellow leafcurl vírus (TYLCV), característica que pode ser
introduzida à espécie cultivada a partir de retrocruzamentos (Castro et al., 2007).
O tomateiro é uma espécie perene, de cultivada como anual, apresenta sistema
radicular axial vigoroso, mas este pode ser afetado pelo sistema de propagação adotado.
Quando propagado via seminífera o sistema radicular se desenvolve no sentido vertical, raiz
pivotante mais desenvolvida. Já quando propagado via transplantio de mudas, há maior
ramificação radicular, desenvolvimento lateral. A espécie apresenta mais de 95% de
autofecundação. A autopolinização ocorre em decorrência de uma alteração na estrutura
floral. Há formação de um cone a partir da união dos estames, e esse envolve o estigma
resultando na polinização durante ou após a abertura do botão floral.
O tomateiro possui cultivares com hábito de crescimento indeterminado e outras de
crescimento determinado, caracterizados pelos segmentos de mesa e indústria (Alvarenga,
2013). O hábito de crescimento determinado é típico de cultivares de tomateiro adaptadas as
condições agroindustriais, onde existe distinção entre os estágios vegetativo e reprodutivo,
não se realizando a prática de tutoramento, poda e raleio de frutos (Alvarenga, 2013). Devido
ao trabalho desenvolvido por programas de melhoramento genético, atualmente existem
também cultivares de tomateiro que apresentam hábito de crescimento semi-determinado, que
apresentam vantagem para o desenvolvimento de cultivares tanto para mesa quanto para
indústria (Piotto et al., 2012).
Em virtude da maior demanda por alimento, a produção de tomate tem se tecnificado
para alcançar maiores produtividades. Com isso, a produção de tomate em ambiente protegido
teve aumento significativo. O sistema de cultivo protegido permite maior controle de
variáveis climáticas como temperatura, radiação solar, umidade do ar e precipitação, além de
possibilitar redução no surgimento de determinados insetos pragas e vetores de doenças. O
que pode resultar em redução do efeito da sazonalidade e aumento na eficiência produtiva
(Corrêa et al., 2012). No entanto, para a adoção do cultivo em ambiente protegido é
necessário maior investimento. Além disso, o uso continuo da área de estufas pode levar ao
surgimento e infestação de algumas doenças de solo. A técnica de enxertia vem como uma
ferramenta que auxilia no controle de patógenos de solo, aumentando a vida útil dos cultivos
protegidos e maior garantia de retorno econômico.
6
4.2. Enxertia em tomateiro
A enxertia é um método de propagação vegetativa artificial que consiste na
justaposição de duas ou mais partes de plantas distintas para que, por meio da regeneração de
seus tecidos, ocorra união dos mesmos, formando uma planta completa. Com o objetivo de
controlar patógenos de solo, a técnica foi criada no Japão em 1920, e explorada em diferentes
famílias botânicas (Kubota, 2008).
A realização da enxertia inicia com a seleção dos biontes, enxerto e porta-enxerto a
serem utilizados, e da modalidade de enxertia. Para que a enxertia seja bem sucedida, algumas
características dos biontes devem ser analisadas. A afinidade e/ou grau de parentesco
botânico, estado fisiológico, nutricional e fitossanitário e estágio de desenvolvimento dos
biontes são fatores que exercem grande influência sobre a enxertia (Peil, 2003).
Existem diversas modalidades de enxertia que resultam em maior ou menor
pegamento, de acordo com a espécie que está sendo trabalhada. As técnicas mais comuns são:
borbulhia, garfagem de topo (fenda cheia), inglesa simples, inglesa com entalhe e encostia.
Segundo Zeist (2015), os métodos de enxertia por fenda cheia e por encostia são viáveis para
a maioria das combinações de enxertia em tomateiro propostas em seu trabalho, no entanto, a
escolha do método pode variar conforme o porta-enxerto utilizado.
O uso da enxertia no cultivo de tomate foi relatado em 1940 pelos holandeses, sendo
que, para produção comercial, a enxertia foi utilizada a partir da década de 60 (Kubota, 2008).
Com o desenvolvimento da agricultura, houve também expansão do uso da enxertia, sendo
hoje empregada em diversos países, não só em hortaliças.
O aumento do cultivo de hortaliças em ambiente protegido, com uso intensivo da área,
gerando maior incidência de patógenos e salinização do solo, além da proibição do brometo
de metila, utilizado na fumigação do solo para controle desses patógenos, são alguns dos
fatores que levaram a expansão do uso da técnica de enxertia (Aumondeet al., 2011).
A técnica de enxertia é uma alternativa para se obter resultados a curto prazo, quando
se trata do controle de patógenos de solo, bem como da possibilidade de aumentar a
produtividade e melhorar a qualidade de frutos (Flores et al., 2010; Nicoletto et al., 2013). O
ganho de qualidade é influenciado pela sanidade fisiológica do sistema radicular e do feixe
vascular formado entres os biontes.
A resistência a patógenos de solo é o principal objetivo da enxertia em hortaliças. Os
porta-enxertos resistentes tem a função de isolar a variedade comercial enxertada do contato
com o solo, permitindo o cultivo em locais com presença de patógenos. Dentre os principais
patógenos que afetam a cultura do tomateiro e são controlados por meio de porta-enxertos
7
destacam-se: Fusarium oxysporum lycopersici, Pseudomonas solanacearum, Verticillium
albo-atrum, Pyrenochaeta lycopersici e Meloidogyne spp.
A enxertia também exerce influência sobre a tolerância ao estresse hídrico, uma vez
que o tomateiro é uma das espécies mais sensíveis ao excesso de umidade no solo. Em
situações de inundação, o excesso de água prejudica a respiração das raízes, provocando
perdas significativas e até morte das plantas (Bhatt, 2015).
Por outro lado, a escassez de água tem tornado necessário o uso da técnica de enxertia
como forma de driblar o estresse por déficit hídrico. Dessa forma, a enxertia do tomateiro em
porta-enxertos tolerantes ao déficit hídrico tem sido sugerida como alternativa viável
(Martínez-ballesta et al., 2010). Em tomateiro, é comum os porta-enxertos apresentarem
sistema radicular mais vigoroso do que as plantas de uso comercial, quando cultivadas em pé-
franco (Martínez-Ballesta et al., 2010). Em decorrência disso, há maior absorção de água e
nutrientes, o que pode promover maior desenvolvimento e produção de frutos pelo enxerto
(Gama et al., 2013; Nicoletto et al., 2013).
5.3. Espécies silvestres de Solanum spp.
Embora a cultura do tomateiro, dentre as hortaliças seja o principal foco nos estudos
de enxertia no Brasil, ainda é necessário estudar e selecionar porta-enxertos que supram as
dificuldades enfrentadas pela cultura. A pressão pela seleção de pragas e doenças exercida
pelo controle contínuo e a redução na disponibilidade hídrica, aumentam a demanda por
porta-enxertos resistentes a estresses bióticos e abióticos.
Algumas espécies silvestres de tomate e acessos de mini-tomateiro produzem frutos de
baixo potencial econômico. Porém, a maioria apresenta elevado vigor, tolerância ou
resistência a determinados patógenos, temperatura, seca, umidade e salinidade. Assim, uma
alternativa é avaliar a compatibilidade da cultura do tomate com espécies silvestres de tomate
ou outras espécies da família Solanaceae (Venema et al., 2008).
As espécies silvestres de Solanum spp. oferecem maior ou menor dificuldade de
cruzamento com o tomateiro cultivado, além disso, podem ou não ter compatibilidade na
enxertia. S. habrochaites, S. hirsutum, S. peruvianum, S. chilensis, S. pennellii, S. cheesmanii,
S. parviflorum, S. chmielewskii, S. pimpinellifolium e S. neorickii, são algumas das espécies
que podem ser estudadas em trabalhos de compatibilidade.
Mesmo em condições desfavoráveis ao desenvolvimento e disponibilidade mínima de
água, algumas espécies apresentam crescimento vegetativo e são capazes de se reproduzir,
pois tem seus centros de diversidade genética em regiões de baixa disponibilidade hídrica
(Rousseaux et al., 2005). Entre essas espécies, destaca-se Solanum pennelli, que tem como
8
centro de diversidade o oriente dos Andes peruanos até o oeste da Costa Pacífica,
caracterizada por ser quente e seca (Holtan e Hake, 2003). Quando comparado o desempenho
do S. pennelli em relação ao tomateiro cultivado (S. lycopersicum), em condições de déficit
hídrico, o silvestre apresenta maior eficiência de uso da água (Easlon e Richards, 2009).
Adaptado a ampla gama de distribuição latitudinal, a espécie Solanum habrochateites
possui maior tolerância a estresses bióticos e abióticos, característica que pode favorecer o
desenvolvimento do tomateiro, mesmo quando as condições ambientais não são favoráveis
(Venema et al., 2008). Segundo Zeist (2015), a enxertia realizada pelo método de encostia,
entre a espécie silvestre de tomateiro S. habrochaites var. hirsutum (PI-127826) e o tomateiro
cultivar Santa Cruz Kada® resulta em aumento do rendimento fotossintético, concentração
intercelular de CO2, eficiência do uso da água e produção de frutos comercias.
S. pimpinellifolium é uma espécie silvestre com relações filogenéticas muito próximas
ao tomateiro (S. lycopersicum). A única espécie em que houve observação de introgressão
genética natural ao S. lycopersicum, assim, há pouca ou nenhuma dificuldade em realizar
cruzamentos entre essas espécies. Além disso, S. pimpinellifolium possui características
agronômicas desejáveis, como resistência a doenças, tolerância estresses abióticos e boa
qualidade de frutos (Sharma et al., 2008). A proximidade filogenética pode ser indicativo de
compatibilidade de enxertia entre as espécies.
Um fator importante de perturbação na produtividade do tomateiro é a ocorrência de
nematoides. Cultivares comerciais e espécies silvestres de Solanum spp. apresentam variado
grau de tolerância a injurias ocasionadas por esses patógenos de solo. A resistência no
tomateiro (S. lycopersicum) é derivada do gene Mi-1, já a espécie Solanum peruvianum
apresenta outro gene, Mi-3, também responsável pela expressão de resistência a Meloidogyne
spp. (Yaghoobi et al., 2005). O uso de S. peruavianum como porta-enxerto pode ser estudado
como ferramenta de controle de nematoides e redução na queda de produtividade do tomate
cultivado.
6. Metodologia
6.1. Área experimental
O experimento será conduzido em um ambiente protegido de 210 m², do tipo arco,
coberto com filme agrícola SunCover Blue® e tela lateral citrus, localizada na Horta de
Pesquisa do Departamento de Fitotecnia da Universidade Federal de Viçosa (UFV), em
Viçosa-MG, com latitude de 20° 45’ 14’’ S, longitude de 42° 52’ 53’’ W e altitude de 648 m.
6.2. Material vegetal
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Para obtenção dos porta-enxertos serão utilizados quatro acessos pertencentes ao
Banco de Germoplasma de Hortaliças, da Universidade Federal de Viçosa (BGH/UFV): LA-
716 (S. pennellii), BGH-6902 (S. habrochaites), BGH-6906 (S. peruvianum) e BGH-6910 (S.
pimpinellifolium). A seleção dos acessos silvestres foi realizada levando em consideração as
características de resistência e tolerância a estreses bióticos e abióticos de cada espécie,
capazes de conferir benefícios diretos e indiretos na produção do tomateiro. Para a variedade
copa será utilizado o híbrido Laura, de crescimento indeterminado e frutos do tipo Santa Cruz.
A enxertia será realizada a partir da técnica de inglesa simples, com auxílio de clipes para
enxertia.
6.3. Delineamento experimental
O experimento será realizado em delineamento em blocos ao acaso com três
repetições. Cada parcela será formada por cinco plantas ao longo da linha de cultivo,
considerando úteis as três plantas centrais de cada parcela. Serão avaliados 10 tratamentos, a
partir da enxertia do híbrido Laura sobre as diferentes espécies silvestres, a auto-exertia do
híbrido Laura e os cinco genótipos em pé franco, como listados na Tabela 1.
Tabela 1: Listagem dos 10 tratamentos que serão avaliados.
Tratamentos
1 BGH-6902 x Laura
2 BGH-6906 x Laura
3 BGH-6910 x Laura
4 LA-716 x Laura
5 Laura x Laura
6 BGH-6902
7 BGH-6906
8 BGH-6910
9 LA-716
10 Laura
6.4. Condução do experimento
O experimento será conduzido de março de 2018 a outubro de 2018. As mudas serão
produzidas em bandejas de plástico com 50 células preenchidas com substrato comercial. Em
decorrência do tempo de permanecia nas bandejas, é necessário a confecção das mudas em
10
células que permitam maior desenvolvimento radicular, evitando a senescência das plantas
antes do transplantio. O semeio dos acessos silvestres será realizado 15 dias antes do híbrido
comercial, em razão da diferença de emergência e crescimento dos mesmos.
A enxertia será realizada aproximadamente 21 dias após o semeio do enxerto. As
mudas enxertadas serão colocadas em ambiente com alta umidade relativa (>85%) e
temperatura amena (20-25ºC) por aproximadamente 3 dias. Após quatro dias as mudas serão
levadas para um ambiente protegido com tela de sombreamento 50% aluminizada, para a
aclimatação. O tempo de permanência será determinado de acordo com o grau de turgidez das
plantas, sendo que, o número de horas de permanência irá aumentar ao passar dos dias. Após
realizada a aclimatação, as mudas serão mantidas em estufa por mais 4 dias. Em seguida, será
realizado o transplantio das mudas para o ambiente protegido, 15 dias após a enxertia.
O preparo do solo será realizado por meio de aração e gradagem, e a recomendação de
adubação será feita de acordo com os resultados da análise físico-química do solo, segundo
Ribeiro et al., (1999).
Os tratos culturais necessários, como desbrota, amarrio, capina e controle de pragas e
doenças serão realizados segundo recomendações para a cultura (Silva e Vale, 2007). Para
irrigação, será utilizado sistema de gotejamento, sendo que as informações necessárias para o
cálculo das evapotranspirações diárias e das lâminas de água aplicadas serão fornecidas por
uma estação meteorológica instalada no interior do ambiente protegido. As plantas serão
tutoradas verticalmente com fitilho e conduzidas com uma haste no espaçamento 1,0 x 0,50 m
(20.000 plantas ha-1).
6.5. Características avaliadas
As características avaliadas visam validar a compatibilidade entre enxerto e porta-
enxerto e a viabilidade da enxertia. Os dados relacionados ao desenvolvimento e produção
serão parâmetros para determinar se o uso da enxertia resultou em aumento no desempenho
do tomateiro. As avaliações serão realizadas em duas etapas, aos 15 e 60 dias após a enxertia.
Aos 15 dias após a enxertia:
Índice de pegamento de enxertia (IP): Avaliação da porcentagem de sobrevivência das
mudas enxertadas em cada combinação de enxerto e porta-enxerto;
Altura de planta (AP);
Número de folhas (NF).
Aos 60 dias após a enxertia:
Altura da planta (AP);
Número de racemos (NR);
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Índice de fixação de frutos (IFF);
Número de frutos comerciais (NFC);
Número de frutos não comerciais (NFNC);
Produção comercial (PC);
Produção não comercial (PNC);
Massa média dos frutos comerciais (MMFC);
Diâmetro médio dos frutos (DMF);
Número de frutos/racemo (F/R);
Firmeza (FZ), coloração (C), sólidos solúveis (SS), pH e acidez titulável (AT) para
determinação das análises físico-químicas dos frutos, na quarta e quinta colheita, serão
amostrados seis frutos comerciais por repetição.
Massa fresca do caule (MFC) e das folhas (MFF);
Massa seca do caule (MSC) e das folhas (MSF);
6.6. Análises estatísticas
As análises estatísticas serão realizadas a partir do Software Genes. Os dados
levantados durante o experimento serão utilizados para efetuar a ANOVA (Análise de
Variância), que irá indicar se há diferença significativa entre os tratamentos. Caso haja
diferença significativa entre os tratamentos avaliados, as médias serão comparadas a partir do
teste de Tukey, que visa definir a menor diferença significativa. Assim, serão apontados os
tratamentos que obtiverem melhores resultados e estes poderão ser utilizados em estudos
futuros.
12
7. Cronograma
O cronograma de execução e avaliação do experimento está previsto para o período de
março de 2018 e fevereiro de 2019, como demonstrado na Tabela 2.
Tabela 2: Cronograma de execução e avaliação do presente Projeto de Pesquisa.
Atividade
2018 2019
Mar
Ab
r
Mai
Ju
n
Ju
l
Ago
Set
Ou
t
Nov
Dez
Jan
Fev
Organização do
experimento
Ensaio para determinação
do intervalo de semeio entre
enxerto e porta-enxerto
Análise de solo
Produção de mudas
Enxertia
Avaliação de
compatibilidade
Transplantio
Coleta de dados ao longo do
ciclo
Avaliação da produção
Tabulação de dados e
análise estatística
Elaboração do relatório
final e divulgação dos dados
em periódicos científicos
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8. Orçamento
O orçamento previsto para execução do experimento está apresentado na Tabela 3.
Tabela 3: Orçamento previsto para execução do presente Projeto de Pesquisa.
Itens Valor Unitário
(R$)
Quan
t.
Valor Total
(R$)
Defensivos, fungicidas e inseticidas
1.000,00
Adubos e corretivos químico
750,00
Adubo orgânico 100,00 2 m³ 200,00
Substrato para preparo das mudas 30,00 2 60,00
Fitilho para tutoramento das plantas 50,00 5 kg 250,00
Sistema de irrigação
1.500,00
Bandejas de 50 células para produção das
mudas 5,00 5 25,00
Grampo de enxertia 0,75 100 75,00
Total
3.860,00
9. Referências
AGRIANUAL. Anuário da Agricultura Brasileira. FNP Consultoria e Agroinformativos, p.
435-439, 2016.
ALVARENGA, M. A. R. Tomate: Produção em Campo, Casa de Vegetação e Hidroponia.
Lavras: UFLA, 2013. 455p.
AUMONDE, T. Z.; PEDÓ, T.; PEIL, R. M. N. Grafting andinitial growth in two cultivars of
cucumber. Tecnologia & Ciência Agropecuária, v. 5, p. 11–15, 2011.
BHATT, R. M..Interspecificgraftingtoenhancephysiologicalresiliencetoflooding stress in
tomato (Solanum lycopersicum L.). Scientia Horticulturae, v. 182, p. 8–17, 2015.
CASTRO, A. P.; DÍEZ, M.J.; NUEZ, F.. Inheritance of Tomato yellow leafcurl vírus
resistance derived from Solanum pimpinellifolium UPV16991. Instituto de Conservación y
Mejora de la Agrodiversidad, Universidad Politécnica de Valencia, Caminode Vera s/n,
46022 Valencia, Spain, July of 2007.
14
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