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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE TECNOLOGIA CURSO DE ENGENHARIA CIVL Rômulo de Lima de Oliveira GERENCIAMENTO DOS RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL SOLUÇÕES INTELIGENTES Santa Maria, RS 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

CENTRO DE TECNOLOGIA

CURSO DE ENGENHARIA CIVL

Rômulo de Lima de Oliveira

GERENCIAMENTO DOS RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL –

SOLUÇÕES INTELIGENTES

Santa Maria, RS

2018

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Rômulo de Lima de Oliveira

GERENCIAMENTO DOS RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL – SOLUÇÕES

INTELIGENTES

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao

Curso de Engenharia Civil da Universidade

Federal de Santa Maria (UFSM, RS), como

requisito parcial para a obtenção do grau de

Engenheiro Civil.

Orientadora: Profª. Drª. Denise de Souza Saad

Santa Maria, RS

2018

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Rômulo de Lima de Oliveira

GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL – SOLUÇÕES

INTELIGENTES

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao

Curso de Engenharia Civil da Universidade

Federal de Santa Maria (UFSM, RS), como

requisito parcial para a obtenção do grau de

Engenheiro Civil.

Banca examinadora, 10 de julho de 2018:

_________________________________________

Denise de Souza Saad, Profª. Drª.(UFSM)

(Presidente / Orientadora)

_________________________________________

Eduardo Rizzatti, Prof. Dr. (UFSM)

_________________________________________

Lorenzo Sartori Rizzatti, Eng.Civil (UFSM)

Santa Maria, RS

2018

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AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer a toda a minha família que sempre me apoiou, em especial, à

minha mãe, ao meu pai e à minha irmã.

Agradeço imensamente aos meus amigos que encontrei no curso, pois sem eles não teria

aguentado continuar na faculdade até o final.

Agradeço ironicamente a atual e antiga metodologia de ensino e aulas ultrapassadas que

me fizeram buscar, refletir e compreender o quão belo é trabalhar com educação e que muitas

mudanças devem ser feitas.

Ao professor Deividi Pereira e ao grupo GEPPASV por ter proporcionado bolsas de

iniciação científica e pesquisa no início da minha jornada na faculdade.

À professora Denise de Souza Saad por ter me incentivado a escrever sobre este

impactante tema e ter disponibilizado inúmeros materiais de consulta.

À empresa júnior de engenharia civil – Base Júnior – e a todas as pessoas os quais tive

o grande previlégio de trabalhar junto e mudar grande parte dos meus pontos de vista.

E por fim, um agradecimento especial a todos os outros projetos paralelos e pessoas

envolvidas nestes projetos que me motivaram no decorrer do curso.

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RESUMO

GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL – SOLUÇÕES

INTELIGENTES

AUTOR: Rômulo de Lima de Oliveira

ORIENTADORA: Denise de Souza Saad

A construção civil no decorrer da evolução da humanidade proporcionou grandes

transformações e obras-primas que transcenderam a história e revolucionaram a maneira como

utilizamos os materiais. Infelizmente, esta mesma indústria acabou se tornando uma das mais

irresponsáveis quando o assunto é resíduos, ainda que tenha passado por inúmeras inovações

tecnológicas. A indústria da construção civil consome montantes exorbitantes de recursos

naturais, recursos energéticos, e ainda por cima, destina milhares de tonelas de resíduos que

acabam impactando toda a sociedade. Desse modo, faz-se necessário a pesquisa sobre o

gerenciamento dos resíduos da construção civil (RCC), também conhecidos como resíduos da

construção e demolição (RCD), trazendo, principalmente, para o viés de sustentabilidade, e

assim, não apenas destinar e aterrar corretamente os resíduos gerados, mas também trabalhar

com o conceito dos 5R’s – recusar, restaurar, reduzir, reutilizar e reciclar. Uma observação

crítica das leis atuais vigentes no Brasil quanto aos RCD demonstra que o país está atrasado em

relação a incentivos e abordagens sustentáveis neste presente tema. Através de uma análise

qualitativa de possíveis práticas voltados para o reúso e reciclagem de construtoras da cidade

de Santa Maria e das empresas recebedoras de resíduos da construção civil e demolição, será

estudado e comparado com exemplos do Brasil e do mundo que trouxeram outros usos e

significados de materiais ditos como inúteis pela indústria tradicional.

Palavras-chave: Resíduos da construção civil e demolição. Reúso. Reciclagem.

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ABSTRACT

GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL – SOLUÇÕES

INTELIGENTES

AUTOR: Rômulo de Lima de Oliveira

ORIENTADORA: Denise de Souza Saad

The civil construction throughout the evolution of humanity provided great transformations and

masterpieces that have transcended history and revolutionized the way we use materials.

Unfortunately, this same industry has become one of the most irresponsible when the subject is

waste, even though it has undergone numerous technological innovations. The construction

industry consumes exorbitant amounts of natural resources, energy resources, and moreover, it

destines thousands of tons of waste that end up impacting the whole. In this way, research on

the management of construction waste, also known as construction and demolition wastes, is

necessary, leading mainly to the sustainability bias, and thus, not only to properly ground the

waste generated, but also work with the 5R's concept - refuse, restore, reduce, reuse and recycle.

A critical observation of the current laws in Brazil regarding the construction and demolition

wastes shows that the country is late in terms of incentives and sustainable approaches in this

present theme. Through a qualitative analysis of possible practices guided at the reuse and

recycling of construction companies in the city of Santa Maria and companies that receive

construction and demolition waste, it will be studied and compared with examples from Brazil

and the world that have brought other uses and meanings of materials said to be useless by

traditional industry.

Palavras-chave: Construction and demolition waste. Reused. Recycling.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Ciclo de vida útil linear para materiais e produtos .................................................. 36

Figura 2 - Ciclo de vida útil fechado para materiais ................................................................ 36

Figura 3 – Ciclo de vida útil dos materiais ............................................................................... 46

Figura 4 – Fachada do prédio C.K.Choi ................................................................................... 50

Figura 5 - Exterior do prédio, mostrando os tijolos reaproveitados ......................................... 51

Figura 6 - Panorama geral do projeto BedZED ........................................................................ 54

Figura 7 - Vista do projeto BedZED ........................................................................................ 55

Figura 8 - Vista do projeto BedZED ........................................................................................ 55

Figura 9 - Detalhamento do telhado verde e estruturas superiores do BedZED ...................... 56

Figura 10 - Novo prédio do Centro de Recurso Energético da SoCalGas ............................... 61

Figura 11 – Nova sala de aula na escola de Westborough construída em grande parte com

papelão ...................................................................................................................................... 64

Figura 12 – Colunas internas de papelão e seu encaixe detalhado com a estrutura interna da sala

de aula ....................................................................................................................................... 64

Figura 13 – Vistar interir da sala de aula, mostrando dutos feitos de papelão, encaixes com a

tesoura do telhado e o seu telhado também de papelão ............................................................ 65

Figura 14 – Fachada frontal do clube de golfe ......................................................................... 66

Figura 15 – Detalhes do interior do clube de golfe .................................................................. 67

Figura 16 – Detalhes dos pilares reutilizados ........................................................................... 67

Figura 17 – Área para destinação e aterro da empresa ............................................................. 73

Figura 18 – Madeiras separadas para se tornar adubo .............................................................. 73

Figura 19 - Madeiras recém chegadas e separadas ................................................................... 74

Figura 20 - Separação de resíduos recém recebidos ................................................................. 74

Figura 21 - Separação dos resíduos .......................................................................................... 75

Figura 22 - Separação de materiais inutilizáveis ...................................................................... 75

Figura 23 - Separação do gesso ................................................................................................ 75

Figura 24 - Estrutura interna da geodésica ............................................................................... 77

Figura 25 - Evento no espaço ................................................................................................... 77

Figura 26 - Porta de entrada reutilizada.................................................................................... 78

Figura 27 - Janela reutilizada.................................................................................................... 79

Figura 28 - Porta lateral reutilizado .......................................................................................... 79

Figura 29 - Divisórias dos banheiros com reutilização de Tetra Pak ....................................... 80

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Figura 30 - Lixos com reutilização de Tetra Pak...................................................................... 80

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Materiais e produtos reaproveitados selecionados .................................................. 40

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Classificação dos resíduos da construção civil ...................................................... 25

Quadro 2 – Normas técnicas relacionadas ao resíduo da construção civil ............................... 26

Quadro 3 - Resumo dos materiais reaproveitados e reciclados no BedZED ............................ 56

Quadro 4 - Materiais reciclados usados na escola de Westborough......................................... 63

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas

ABRELPE Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos

Especiais

ACV Análise do Ciclo de Vida

ANAB Associação Nacional de Arquitetura Sustentável

CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

ONU Organização das Nações Unidas

PIB Produto Interno Bruto

PNRS Política Nacional dos Resíduos Sólidos

PVC Policloreto de Vinila

RCD Resíduos da Construção e Demolição

RCC Resíduos da Construção Civil

RSU Resíduos Sólidos Urbanos

USP Universidade de São Paulo

UTRCC-SM União dos Transportadores de Resíduos da Construção Civil

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 14

1.1 OBJETIVOS .............................................................................................................. 16

1.1.1 Objetivo Geral ............................................................................................................... 16

1.1.2 Objetivos Específicos ..................................................................................................... 16

1.2 JUSTIFICATIVA ...................................................................................................... 16

2 UMA INDÚSTRIA CONSERVADORA ....................................................................... 18

3. CERTIFICAÇÕES E LEGISLAÇÕES QUE VISAM A SUSTENTABILIDADE ...... 23

3.1 PIONEIROS: CONAMA E PNRS ............................................................................ 24

3.1.1 Classificação dos Resíduos ....................................................................................... 25

3.2 NORMAS TÉCNICAS .............................................................................................. 26

3.3 PLANO INTEGRADO DE GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS DA

CONSTRUÇÃO CIVIL (PIGRCC) – SANTA MARIA/RS .................................................... 27

3.4 NBR ISO 14001:2015 – GESTÃO AMBIENTAL ................................................... 27

3.5 NBR 15.575:2013 - EDIFICAÇÕES HABITACIONAIS - DESEMPENHO .......... 27

3.6 CERTIFICAÇÕES INTERNACIONAIS .................................................................. 28

3.7 PRINCIPAIS POLÍTICAS DE INCENTIVOS PELO MUNDO .............................. 29

4 REÚSO E RECICLAGEM ............................................................................................ 31

4.1 TIPOS DE REÚSO E RECICLAGEM ..................................................................... 33

4.1.1 Reúso in loco ............................................................................................................. 34

4.1.2 O reúso de produtos recuperados de demolições ou recondicionados e de

materiais reaproveitados ........................................................................................................ 34

4.1.3 Materiais reciclados ................................................................................................. 35

4.2 PROJETOS VOLTADOS PARA SUSTENTABILIDADE ...................................... 35

4.3 UM OLHAR DIFERENTE PARA OS MATERIAIS: ANÁLISE DO CICLO DE

VIDA 36

4.4 BENEFÍCIOS DO REÚSO E RECICLAGEM DE RCD ......................................... 39

4.5 UM NOVO MERCADO EM DESENVOLVIMENTO ............................................ 42

4.6 PRÁTICAS DE REÚSO E RECICLAGEM ............................................................. 43

4.6.1 Política dos 5Rs ........................................................................................................ 43

4.6.1.1 Recusar ......................................................................................................................... 44

4.6.1.2 Restaurar ...................................................................................................................... 44

4.6.1.3 Reduzir .......................................................................................................................... 44

4.6.1.4 Reutilizar ...................................................................................................................... 45

4.6.1.5 Reciclar ......................................................................................................................... 45

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4.6.2 A Delft Ladder (hierarquia para gerenciamento de resíduos) ............................ 45

4.6.2.1 Processos da Delft Ladder ......................................................................................... 47

4.6.3 Protocolo de reciclagem da empresa Salvo ............................................................ 47

5 EXEMPLOS EM REÚSO E RECICLAGEM............................................................. 49

5.1 PRÉDIO C.K.CHOI, UNIVERSIDADE DE BRITISH COLUMBIA, CANADÁ ... 49

5.1.1 Sistema estrutural .................................................................................................... 51

5.1.2 Fachada ..................................................................................................................... 51

5.1.3 Instalações Interiores ............................................................................................... 52

5.1.4 Aprendizados ............................................................................................................ 52

5.2 BedZED – LONDRES, REINO UNIDO ................................................................... 53

5.2.1 Aço estrutural reaproveitado .................................................................................. 57

5.2.2 Madeira reaproveitada ............................................................................................ 57

5.2.2.1 Madeira para vigamento interno ............................................................................... 57

5.2.2.2 Madeira para vigamento externo .............................................................................. 58

5.2.3 Assoalhos reaproveitados ........................................................................................ 58

5.2.4 Postes de amarração ................................................................................................ 59

5.2.5 Portas reaproveitadas .............................................................................................. 59

5.2.6 Pisos ........................................................................................................................... 59

5.2.7 Preenchimento de aterro ......................................................................................... 60

5.2.8 Agregado reciclado .................................................................................................. 60

5.2.9 Vidro verde triturado reciclado .............................................................................. 60

5.2.10 Aprendizados ............................................................................................................ 60

5.3 CENTRO DE RECURSO ENERGÉTICO DA COMPANHIA DE GÁS DO SUL DA

CALIFÓRNIA - EUA .............................................................................................................. 61

5.4 ESCOLA DE WESTBOROUGH, SOUTHEND, REINO UNIDO ......................... 62

5.4.1 Aprendizados ............................................................................................................ 65

5.5 CLUBE DE GOLFE, SÃO CARLOS, BRASIL ....................................................... 65

6 METODOLOGIA .......................................................................................................... 69

7 RESULTADOS ................................................................................................................ 70

7.1 RESULTADOS DAS ENTREVISTAS COM AS CONSTRUTORAS ...................... 70

7.1.1 Construtora 1 ........................................................................................................... 70

7.1.2 Construtora 2 ........................................................................................................... 71

7.2 RELATOS E DISCUSSÃO COM A EMPRESA GR2 RESÍDUOS .......................... 72

7.3 RELATOS E DISCUSSÃO COM A CASA CÍRCULO .............................................. 76

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7.4 ANÁLISE DOS RESULTADOS .................................................................................... 80

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 82

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 84

1 INTRODUÇÃO

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15

O tema da sustentabilidade se tornou no decorrer do tempo um dos assuntos mais

debatidos e questionados no mundo inteiro. Apesar de ser um termo que possui amplos

significados, variando conforme a maneira que o abordamos, é visível a necessidade de

repensarmos sobre os impactos negativos que causamos na natureza.

De uma maneira geral, a sustentabilidade pode ser entendida como a capacidade de

manter-se, e a partir deste conceito simplificado, chega-se a uma expressão amplamente

difundida denominada “desenvolvimento sustentável”.

Somente após o desenvolvimento tecnológico da revolução industrial no mundo, é que

esta preocupação veio à tona. A partir desta constatação, começam a surgir as primeiras

preocupações e questionamentos relativos ao efeito estufa e consequentemente o aumento do

consumo de energia, a destruição da camada de ozônio, a poluição do ar e as chuvas ácidas, o

consumo desmedido de matérias-primas não renováveis, a geração dos resíduos, dentre outros.

E é justamente a partir daí que surge o termo desenvolvimento sustentável (BRASILEIRO,

MATOS, 2015).

Desta forma, desenvolvimento sustentável pode ser definido como aquele que "permite

atender às necessidades básicas de toda a população e garanta a todos a oportunidade de

satisfazer suas aspirações para uma vida melhor sem, no entanto, comprometer a habilidade das

gerações futuras atenderem suas próprias necessidades"(BRASILEIRO, MATOS, 2015).

Apesar de os conceitos serem objetivos e muito claros, sabe-se que na prática, esta

preocupação, muitas vezes, é difícil de ser alcançada. Dentro do vasto ramo industrial, tem-se

uma das indústrias mais atrasada, poluidora e pouco sustentável a indústria da construção civil.

Estima-se que, internacionalmente, entre 40% e 75% dos recursos naturais existentes são

consumidos por esse setor, resultando assim em uma enorme geração de resíduos. Só no Brasil,

o ramo da construção civil gera cerca de 25% do total de resíduos da indústria. (MENDES,

2013)

Com base nos dados anteriormente apresentados e na necessidade iminente de atingir

uma harmonia entre os recursos naturais e o consumo dos mesmos, torna-se extremamente

necessário, dentro da indústria da construção civil, modificar-se a maneira como é usado e

descartado os resíduos gerados, adotando-se conceitos ainda pouco difundidos na construção

civil, de redução, reuso, reciclagem e reutilização destes materiais.

John (2001, p.29) afirmou: "Nenhuma sociedade poderá atingir o desenvolvimento

sustentável sem que a construção civil, que lhe dá suporte, passe por profundas

transformações".

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16

1.1 OBJETIVOS

1.1.1 Objetivo Geral

Realizar um levantamento dos resíduos da construção civil nas construtoras de Santa

Maria e como este resíduo é trabalhado, do início ao final da cadeia.

1.1.2 Objetivos Específicos

i. Realizar uma revisão bibliográfica vasta e multidisciplinar sobre o assunto;

ii. Realizar um levantamento quantitativo e qualitativo dos resíduos da construção e

demolição (RCD) gerado pelas construtoras de Santa Maria;

iii. Determinar como os resíduos são gerenciados na cidade de Santa Maria;

iv. Avaliar as soluções práticas para diminuir o consumo e descarte destes materiais.

1.2 JUSTIFICATIVA

O termo desenvolvimento sustentável vem ganhando muita força nos últimos tempos, e

é visível o porquê desse crescimento. A expressão é utilizada para designar um modelo

econômico que busque conciliar desenvolvimento econômico à preservação e manutenção dos

recursos naturais disponíveis. Este conceito foi apresentado ao mundo em um estudo realizado

pela ONU em 1987, denominado “Nosso Futuro Comum” (RIBEIRO, 2010).

Dentro dessa complexa cadeia que envolve nações, empresas, sociedade e tecnologias,

presencia-se uma faixa da indústria extremamente consumidora de recursos e geradora de

toneladas de resíduos todos os anos. Esta faixa é a indústria da construção civil.

Segundo Serrador (2008, p. 128), em 1998, o CIB (International Council for Research

and Innovation in Building and Construction) criou a agenda 21 voltada para construções

sustentáveis, assim a indústria da construção civil se inseriu definitivamente no contexto de

desenvolvimento sustentável (MATTARAIA, FABRICIO, 2011).

“Há muitos anos as políticas públicas estão voltadas ao lixo domiciliar e ao esgoto.

Ignora-se o problema do resíduo da construção”, avalia o professor Vanderley John, do

Departamento de Engenharia de Construção Civil da Escola Politécnica da USP.

(FERNANDES, TEIXEIRA, 2006)

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Praticamente todas as atividades desenvolvidas no setor da construção civil são

geradoras de entulho. No processo construtivo, o alto índice de perdas do setor é a principal

causa geradora de entulho. Já nas obras de reformas, a falta de uma cultura de reutilização e

reciclagem são as principais causas do entulho gerado pelas demolições durante o processo. Em

todo o mundo, a quantidade de entulho gerado corresponde, em média, a 50% do material

desperdiçado. No Brasil produz-se 850.000t/mês de entulho, no Reino Unido 53.000t/mês e no

Japão 6.000t/mês. (FERNANDES, TEIXEIRA, 2006)

Em alguns países europeus, Japão e nos EUA, o reaproveitamento e reciclagem do

entulho já é uma prática comum, atestando a sua viabilidade técnica e econômica. Já no Brasil,

a situação é diferente. O reaproveitamento do entulho é restrito, praticamente, à sua utilização

como material para aterro e, em menor escala, à conservação de estradas de terra.

A preocupação com a recuperação dos materiais é importante para evitar a exaustão dos

recursos naturais. Nas atividades industriais, busca-se amenizar o impacto ambiental através da

reutilização e reciclagem. No entanto, nas atividades da construção, começa-se lentamente a

tomar consciência da necessidade da recuperação dos materiais, portando novas abordagens

começam a ser tomadas (AMOÊDA, 2009, p.80).

Mesmo que de uma maneira lenta, a necessidade urgente de lidar com os resíduos da

construção traz uma nova corrente de tecnologias, metodologias e práticas que acabam até

mesmo influenciando um novo mercado competitivo de certificações para as edificações

baseados em selos de qualidade para padronizar os níveis de sustentabilidade destas edificações.

Diversas empresas certificadoras patrocinam esses selos, derivados do pioneiro método

de avaliação da qualidade da construção civil, o Building Research Establishment

Environmental Assessment Method — BREEAM (BRE GLOBAL, 1990), criado no Reino

Unido. Depois dele, vários outros selos surgiram, como o Building Environmental Performance

Assessment Criteria — BEPAC (COLE; ROUSSEAU; THEAKER, 1993), no Canadá; o

Comprehensive Assessment System for Building Environmental Efficiency — CASBEE

(JAGBC, 2004), no Japão; o Programa Nacional de Eficiência Energética em Edificações —

PROCEL Edifica (PROCEL, 2003), no Brasil; e o Leadership in Energy & Environmental

Design — LEED (USGBC, 1998), nos Estados Unidos, este o mais utilizado atualmente no

mercado brasileiro (BAPTISTA JUNIOR, ROMANEL, 2013).

Frente a todos os problemas ambientais e consequências das mais variadas que a falta

de sustentabilidade e gerenciamento dos resíduos da construção e demolição causam na

sociedade, é de extrema importância repensar-se sobre estes processos pouco sustentáveis que

a indústria da construção civil mantém historicamente.

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2 UMA INDÚSTRIA CONSERVADORA

Segundo dados da instituição Global Urban Development (2010) mais da metade da

humanidade vive hoje nas cidades, sendo responsável pela produção de 85% do PIB mundial,

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do consumo de mais de 75% recursos naturais do planeta e da geração de aproximadamente

75% dos resíduos mundiais (BAPTISTA JUNIOR, ROMANEL, 2013).

Segundo o Worldwatch Institute - Beyond Malthus: Sixteen Dimensions of the

Population Problem -, em 1960, somente 34% da população mundial, o que corresponde a 300

milhões de pessoas, residia em cidades. Em apenas 50 anos, esse percentual subiu para 52%,

ou seja, cerca de 3,6 bilhões de pessoas estavam vivendo nas cidades nos anos 2000. No Brasil,

já somos cerca de 84% da população vivendo nas cidades, e segundo o IBGE, com previsão

para 90% em 2020 (BRASILEIRO, MATOS, 2015).

Com a urbanização acelerada, que resultou no rápido adensamento das cidades, e, por

conseguinte, o crescimento das atividades do setor construtivo, além da larga exploração dos

recursos naturais, a geração de resíduos da construção e demolição (RCD) alcançou índices

alarmantes, produto do desperdício nas obras de construções, reformas e demolições. Esses

resíduos representam aproximadamente de 20 a 30% do fluxo de resíduos sólidos gerados pelas

cidades dos países desenvolvidos, sendo que nos demais podem alcançar índices bem maiores

(BRASILEIRO, MATOS, 2015).

A indústria da construção civil é a atividade humana com maior impacto sobre o meio

ambiente. Estima-se que 50% dos recursos naturais extraídos estão relacionados à atividade de

construção e ainda é a responsável por aproximadamente 15% do produto interno bruno (PIB)

brasileiro, com investimentos que ultrapassam R$90 milhões por ano, geração de 62 empregos

indiretos para cada 100 empregos diretos, contribuindo para a redução do déficit habitacional e

da infraestrutura, indispensável ao progresso (BRASILEIRO, MATOS, 2015).

É natural que, tendo um papel tão representativo na economia nacional, a construção

civil seja também um dos grandes vilões ambientais. É o maior consumidor de matérias-primas

(até 50% do total de recursos consumidos pela sociedade), envolve processos com grande

consumo de energia (cerca de 80% da energia utilizada na produção de um edifício é consumida

na produção e transporte de materiais), gera poluição em quase todos seus processos (da

extração de matérias-primas à produção de produtos como cimento e concreto), e até mesmo

na fase de uso dos edifícios, os impactos ambientais são inúmeros (dados mostram que o volume

de recursos consumidos na fase de manutenção da edificação é praticamente igual ao

consumido durante a construção) (BRASILEIRO, MATOS, 2015).

Muitos destes impactos negativos são gerados pelo setor da construção civil, que

responde por 40% do cosumo mundial de energia e por 16% da água utilizada no mundo. De

acordo com dados do Worldwatch Institute, a construção de edifícios consome 40% das pedras

e areia utilizados no mundo por ano, além de ser responsável por 25% da extração de madeira

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anualmente. É natural que também a sustentabilidade assuma, gradualmente, uma posição de

cada vez mais importância neste cenário. O conceito de Construção Sustentável baseia-se no

desenvolvimento de modelos que permitam à construção civil enfrentar e propor soluções aos

principais problemas ambientais de nossa época, sem renunciar à moderna tecnologia e à

criação de edificações que atendam às necessidades de seus usuários (SINDUSCON-RS, 2016).

Está em curso, com a rapidez da difusão que aglomerações urbanas permitem, a

consolidação de uma indústria verde, de conservação, com utilização eficiente dos recursos

naturais, minimização de resíduos e emprego da reciclagem de materiais. Vários setores atuam

como motores dessa transformação em suas cadeiras de produção, fabricando produtos e

oferecendo serviços com a preocupação ambiental (BAPTISTA JUNIOR, ROMANEL, 2013).

Alguns outros ainda estão no início desse processo, como a indústria da construção civil,

esta, notoriamente mais lenta na assimilação de novas tecnologias, em função da inércia de seus

processos, quase sempre empíricos, dependentes de um número bem maior de atores do que

outros setores industriais mais dinâmicos (BAPTISTA JUNIOR, ROMANEL, 2013).

Segundo Pinto (2005), nas cidades brasileiras o RCD representa de 41 a 70% da massa

total de resíduos sólidos urbanos (RSU). Para Cabral et al. (2009), o RCD constitui uma

importante parcela do RSU, correspondendo em torno de 50%. Um ponto que demonstra a

relevância dos RCD e a sua crescente participação no total de RSU, é o caso da cidade de

Salvador, que no período de 1990 a 2000, o RCD aumentou a sua participação na composição

do RSU de 4,4% para 49,8%, ou ainda Fortaleza, que com 2,5 milhões de habitantes, só em

2009, produziu em torno de 3.200m³ de RCD por dia, correspondendo a uma taxa de geração

de 0,56 toneladas habitante-1 ano-1

Durante o período de 2004 a 2014, com exceção dos estados do Amazonas

(Eletroeletrônicos da Zona Franca), Pará (Extração de minerais), Rio de Janeiro (Petróleo) e

Espírito Santo (Mineração e Petróleo), a indústria da construção civil possui a maior

participação do PIB na Federação. Esta liderança é um indicativo de um país em

desenvolvimento, pois a planta habitacional, industrial e comercial antecede o desenvolvimento

das matrizes definitivas de atividades econômicas (MATUCK et al, 2017).

Por outro lado, também, essa intensa atividade do setor da construção também estampa

em um significativo impacto no meio ambiente decorrente do descarte inapropriado dos

resíduos resultantes dessa atividade industrial (MATUCK et al, 2017).

Praticamente todas as atividades envolvidas no setor da construção civil são geradoras

de entulho. No processo construtivo, o alto índice de perdas do setor é a principal causa geradora

de entulho. Já nas obras de reformas, a falta de uma cultura de reutilização e reciclagem são as

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principais causas do entulho gerado pelas demolições durante o processo (FERNANDES,

TEIXEIRA, 2006).

Nas construções civis realizadas nos municípios brasileiros, nota-se a geração de uma

grande quantidade de entulho, evidenciando um desperdício irracional de material: desde a sua

extração, passando pelo seu transporte e chegando à sua utilização na obra. Mal planejamento,

mal acondicionamento, má qualidade do transporte, superprodução, etc., são os processos mais

comuns geradores de entulho durante todas as fases de uma obra. Esse desperdício gera um

passivo financeiro que acaba encarecendo o custo da obra e o valor final do preço que é exigido

do consumidor/comprador (OLIVEIRA, MENDES, 2008).

Outro ponto preocupante é a não realização de segregação desses materiais que vão para

descarte, o que gera a contaminação desses materiais que poderiam ser reciclados e novamente

empregados nas obras de engenharia, por tintas, solventes, etc (OLIVEIRA, MENDES, 2008).

Os Resíduos de Construção e Demolição (RCD) causam tantos problemas à vida urbana

e ao meio ambiente que a melhor solução é que o mesmo seja visto como fonte de materiais

que podem ser reutilizados na construção civil e pavimentação (OLIVEIRA, MENDES, 2008).

Guimarães et al.(2005) afirmam ainda que, além de atrair a deposição de outros resíduos no

local, também acarrete um ciclo vicioso de gastos públicos com limpeza, uma vez que mais lixo

será depositado ali posteriormente.

O grande despedício de materiais na construção civil brasileira é uma questão

extremamente séria, e com números bem elevados. Motta e Fernandes (2003) relata que os

resíduos gerados nessa atividade possuem uma considerável heterogeneidade em termos da sua

composição. Sua quantidade varia de 54% a 70% dos resíduos sólidos urbanos de cidades

brasileiras como o Rio de Janeiro e Belo Horizonte, representando uma geração per capita entre

0,4 e 0,76t/hab./ano.

Segundo a ABRELPE (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e

Resíduos Especiais), só no ano de 2013, o RCD produzido nas cidades brasileiras representa

cerca de 48% da massa total de RSU gerados neste ano. A coleta de RCD, segundo a

ABRELPE, em 2013, alcançou a aproximadamente 37 milhões de toneladas em todo o Brasil,

executadas apenas pelos órgãos públicos, dados estes bastante significativos (BRASILEIRO,

MATOS, 2015).

Zordan (1997) afirma que a maior fração de sua massa (entulho) é formada por material

não mineral (madeira, papel, plásticos, metais e matéria orgânica).

A forma mais simples de reciclagem de entulho é a sua utilização em pavimentação

(base, sub-base ou revestimento primário), na forma de brita corrida ou ainda em misturas do

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resíduo com solo (ZORDAN, 1997). A eficiência desta prática, já comprovada cientificamente,

vem sendo confirmada pela utilização da mesma por diversas administrações municipais.

Uma das principais necessidades do segmento é a conscientização de que o conceito de

sustentabilidade deve ir além do empreendimento e da incorporação. Deve estar no contexto da

área residencial, do bairro, do município, da escola, do centro de saúde, do comércio e serviços,

gerando uma relação com o saneamento básico e impactando em toda a infraestrutura urbana

(SINDUSCON-RS, 2016).

A verdadeira sustentabilidade só pode ser alcançada na construção, se reunirmos toda a

cadeia produtiva, clientes, arquitetos e engenheiros no estágio inicial do desenvolvimento do

empreendimento. No planejamento moderno e nos processos de construção, as soluções e

decisões ecológicas e econômicas devem ser conhecidas e compreendidas por toda equipe

envolvida no projeto para facilitar a integração, o estabelecimento de procedimentos

específicos, considerando todo o ciclo de vida de uma edificação, do design até a construção.

Em pouco tempo a construção sustentável será a única solução viável, diante do cenário do

meio ambiente do nosso planeta (SINDUSCON-RS, 2016).

Durante a ECO-92 e a definição da Agenda 21, houve destaque a necessidade urgente

de se implementar um adequado sistema de gestão ambiental para os resíduos solidos

(GUNTHER, 2000). Umas das formas de solução para os problemas gerados é a reciclagem de

resíduos, em que a construção civil tem um grande potencial de utiliação dos resíduos, uma vez

que ela chega a consumir até 75% de recursos naturais (JOHN, 2000).

Na verdade, sabe-se que ações isoladas não irão solucionar os problemas advindos por

este resíduo e que a indústria deve tentar fechar seu ciclo produtivo de tal forma que minimize

a saída de resíduos e a entrada de matéria-prima não renovável (DORSTHORST; HENDRIKS,

2000).

De uma forma geral, estes ciclos para a construção tentam aproximar a construção civil

do conceito de desenvolvimento sustentável, entendido aqui como um processo que leva às

mudanças na exploração de recursos, na direção dos investimentos, na orientação do

desenvolvimento tecnológico e nas mudanças institucionais, todas visando à harmonia e ao

entrelaçamento nas aspirações e necessidade humanas presentes e futuras. Este conceito não

implica somente multidisciplinaridade, envolve também mudanças culturais, educação

ambiental e visão sistêmica (ANGULO, 2000).

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3. CERTIFICAÇÕES E LEGISLAÇÕES QUE VISAM A SUSTENTABILIDADE

Este capítulo visa trazer um apanhado das principais certificações e legislações vigentes

no Brasil e no mundo, mas também, questionar sobre o real impacto que estas leis, ditas como

“diretrizes para uma indústria mais consciente e sustentável”, estão ocasionando.

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3.1 PIONEIROS: CONAMA E PNRS

Ações no sentido de enfrentar o problema dos RCD tiveram início no final da década de

1980 em alguns países da Europa, enquanto que no Brasil, somente no início do século XXI. O

Brasil, até 2002 não tinha políticas públicas para os resíduos gerados pelo setor da construção

civil. Em 05 de julho de 2002 entrou em vigor a Resolução nº307 do Conselho Nacional de

Meio Ambiente (CONAMA), a qual estabelece diretrizes, critérios e procedimentos para a

gestão dos resíduos da construção civil, visando proporcionar benefícios de ordem social,

econômica e ambiental. Em 16 de Agosto de 2004, entrou em vigor a resolução nº348 do

CONAMA que altera o art.3º, item IV, da Resolução nº 307 (BRASILEIRO, MATOS, 2015).

Unindo força à Resolução nº 307 do CONAMA, no ano de 2010 o Brasil aprovou a

Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), por intermédio da Lei nº12.305 de 2 de Agosto

de 2010, a qual define a forma como o país deve dispor os seus resíduos, incentivando a

reciclagem e a sustentabilidade. A Lei se baseia no princípio de responsabilidade compartilhada

(art.3º - inciso XVII), pois a maioria dos problemas ambientais vem seguida de questões sociais

e econômicas, que acabam por impactar grande parte da sociedade, ou seja, o problema

ambiental é compartilhado. Desta forma, todos os agentes envolvidos na fabricação,

distribuição, venda e consumo estão responsáveis pelos seus resíduos (BRASILEIRO,

MATOS, 2015).

A Lei estabelece também o fechamento dos conhecidos "lixões" (local em que o lixo é

depositado sem tratamento ou separação) até o ano de 2014, sendo que a grande maioria dos

municípios brasileiros não cumpriram com esta determinação. Para os aterros sanitários

somente serão destinados os rejeitos, material este composto quase na sua totalidade por matéria

orgânica (BRASILEIRO, MATOS, 2015).

Para Matuck et al. (2017) a norma CONAMA prevê a necessidade do uso racional e

econômico dos materiais. A utilização do termo "reduzir" remonta a atitude de parcimônia. Esse

termo ainda é mais reforçado no artigo 4º da mesma Resolução, no qual fica claro que a norma

pretende, primeiramente (objetivo prioritário) "a não geração de resíduos" (que depende da

economia e aproveitamento dos materiais).

A publicação da resolução do CONAMA Nº307 motivou alguns municípios a

implantarem planos de gerenciamento. Contudo, de acordo com estudos realizados por Pinto

(2005), dos 5.565 municípios existentes no país, apenas 50 implantaram planos de

gerenciamento. Um levantamento recente sobre usinas brasileiras de reciclagem de RCD

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mostrou que essas usinas, operando nas capacidades máximas, conseguiriam reciclar apenas

cerca de 4,5% dos RCD gerados.

De uma maneira geral, tanto as resoluções do CONAMA quanto a Política Nacional de

Resíduos Sólidos (PNRS) trouxeram importantes contribuições para o tema do gerenciamento

dos resíduos da construção civil, principalmente por terem sidos as pioneiras neste assunto, mas

julgando no sentido de influência nas construções, estas duas impactaram nos quesitos de

classificação, armazenagem e destinação dos resíduos. Desse modo, não houve uma

repercussão no sentido sustentável de “não usar” (apenas citações), “reusar” ou “reutilizar”.

Segundo Ângulo et al. (2001), em larga medida a questão ambiental no Brasil ainda é

tratada como sendo um problema de preservação da natureza, particularmente florestas e

animais em extinção, deposição em aterros adequadamente controlados e controle da poluição

do ar, com o estado exercendo o papel de polícia.

Por ter maior relevância para o presente trabalho, será apresentando a classificação dos

resíduos estabelecido pelo CONAMA no item a seguir.

3.1.1 Classificação dos Resíduos

Segundo a RESOLUÇÃO CONAMA nº 307/02, e suas respectivas alterações, os

resíduos da construção civil podem ser dividios em quatro grupos, conforme o quadro a seguir:

Quadro 1 – Classificação dos resíduos da construção civil

Classificação Definição

Classe A

São os resíduos reutilizáveis ou recicláveis como

agregados, tais como:

a) de construção, demolição, reformas e reparos

de pavimentação e de outras obras de infra-

estrutura, inclusive solos provenientes de

terraplanagem.

b) de construção, demolição, reformas e reparos

de edificações: componentes cerâmicos

(tijolos, blocos, telhas, placas de

revestimento, etc.), argamassa e concreto.

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c) de processo de fabricação e/ou demolição de

peças pré-moldadas em concreto (blocos,

tubos, meio-fios, etc.) produzidas nos

canteiros de obras.

Classe B

São os resíduos recicláveis para outras destinações,

tais como plásticos, papel, papelão, metais, vidros,

madeiras, embalagens vazias de tintas imobiliárias e

gesso; (Redação dada pela Resolução nº 469/2015).

Classe C

São os resíduos para os quais não foram

desenvolvidas tecnologias ou aplicações

economicamente viáveis que permitam a sua

reciclagem ou recuperação; (Redação dada pela

Resolução 431/11).

Classe D

São os resíduos perigosos oriundos do processo de

construção, tais como tintas, solventes, óleos e outros

ou aqueles contaminados ou prejudiciais à saúde

oriundos de demolições, reformas e reparos de

clínicas radiológicas, instalações industriais e outros,

bem como telhas e demais objetos e materiais que

contenham amianto ou outros produtos nocivos à

saúde; (Redação dada pela Resolução nº 348/04)

Fonte: (CONAMA, 2002; 2004; 2011; 2015)

3.2 NORMAS TÉCNICAS

As normas técnicas da ABNT que possuem relação com os resíduos da construção civil

estão demonstradas no quadro a seguir. Nota-se uma adesão e um aprofundamento quanto ao

uso do agregado reciclado na pavimentação brasileira.

Quadro 2 – Normas técnicas relacionadas ao resíduo da construção civil

Norma Descrição

NBR 10.004 Resíduos sólidos (classificação)

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NBR 15.112 RCC e resíduos volumosos – áreas de

transbordo e triagem (diretrizes para projetos,

implantação e operação).

NBR 15.113 RCC e resíduos inertes - aterro (diretrizes

para projetos, implantação e operação.

NBR 15.114 RCC - áreas para reciclagem (diretrizes para

projetos, implantação e operação).

NBR 15.115 Agregados reciclados de RCC - execução de

camada de pavimentação (procedimentos).

NBR 15.116 Agregados reciclados de RCC - utilização em

pavimentação e preparo de concreto sem

função estrutural (requisitos).

Fonte: (FERNANDEZ, 2012, p.13).

3.3 PLANO INTEGRADO DE GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS DA

CONSTRUÇÃO CIVIL (PIGRCC) – SANTA MARIA/RS

O plano integrado de gerenciamento de resíduos da construção civil de Santa Maria

aprovada em outrubro de 2009 pela prefeitura municipal basicamente se concentra nas

diretrizes, critérios e procedimentos abordados na Resolução 307/2002 do Conama, e também,

faz uma abordagem mais detalhada a nível muncipal sobre os procedimentos e

responsabilidades quanto ao licenciamento de áreas de aterro, recebimento e triagem de

resíduos da construção civil, adequação de cotas e licenciamento da atividade de transporte.

3.4 NBR ISO 14001:2015 – GESTÃO AMBIENTAL

Requisitos com orientações para uso, recentemente revisada, melhorando o desempenho

ambiental e introduzindo novos conceitos no sistema de gestão, no sentido de alcançar um

equilíbrio entre o meio ambiente, a sociedade e a economia.

3.5 NBR 15.575:2013 - EDIFICAÇÕES HABITACIONAIS - DESEMPENHO

Na parte 1 - Requisitos Gerais, item 18.3.1, recomenda em relação a seleção e consumo

de materiais, que os empreendimentos sejam construídos mediante exploração e consumo

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racionalizado de recursos naturais, objetivando a menor degradação ambiental, menor consumo

de água, de energia de matérias primas. Na medida do possível, devem ser privilegiados os

materiais que causem menor impacto ambiental, desde as fases de exploração dos recursos

naturais até a sua utilização final. A norma recomenda que:

1. A utilização de materiais cuja origem possa ser comprovada mediante

apresentação de certificação legal ou provenientes de plano de manejo aprovado pelos

órgãos ambientais. Recorrer ao uso de espécies alternativas de madeiras que não

estejam enquadradas como madeiras em extinção;

2. Durante a construção, deve-se implementar um sistema de gestão de resíduos

no canteiro de obras, de forma a minimizar sua geração e possibilitar a segregação de

maneira adequada para facilitar o reuso, a reciclagem ou a disposição final em locais

específicos.

3. Os projetistas avaliam junto aos fabricantes de materiais, componentes e

equipamentos, os resultados de inventários de ciclo de vida de seus produtos, de forma

a subsidiar a tomada de decisão na avaliação do impacto que estes elementos

provocam ao meio ambiente.

3.6 CERTIFICAÇÕES INTERNACIONAIS

Para o Sinduscon-RS (2016), praticamente cada país europeu, além de Estados Unidos,

Canadá, Austrália, Japão e Hong Kong, possui sistema de avaliação de edifício. No Brasil, o

atestado de boa conduta ambiental e social mais difundido é a Certificação LEED do UsGreen

Building Council (USGBC) [Conselhor Norte Americano de Prédios Verdes]. Mas outros

sistemas de certificação estão começando a despontar. Em abril de 2008 foi lançada a

certificação para empreendimentos sustentáveis Alta Qualidade Ambiental (AQUA) que foi

adaptada para atender as características ambientais do país. No Brasil são utilizados os modelos

AQUA (Alta Qualidade Ambiental) e LEED (Leadership in Energy and Environment Design),

cada um com suas características específicas e normas, porém, com o compromisso de tornar o

edifício mais eficiente na sua totalidade, obedecendo a critérios de avaliação a exemplo de:

1. Relação do edifício com seu entorno;

2. Escolha integrada de produtos, sistemas e processos construtivos;

3. Canteiro de obras combaixo impacto ambiental;

4. Gestão da energia e da água;

5. Gestão dos resíduos de uso e operação do edifício e sua manutenção;

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6. Conforto acústico, visual, olfativo e higrotérmico (temperatura e umidade);

7. Qualidade sanitária dos ambientes, do ar e da água.

As tendencias atuais em relação ao tema da construção sustentável caminham em duas

direções. De um lado, centros de pesquisa em tecnologias alternativas pregam o resgaste de

materiais e tecnologias vernáculas com o usa da terra crua, palha, da pedra, de taquara, entre

outros materiais naturais e pouco processados a serem organizados em eco vilas e comunidades

alternativas (SINDUSCON-RS, 2016).

De outro lado, empresários apostam em "empreendimentos verdes", com as

certificações, tanto no âmbito da edificação quanto no âmbito do urbano. No entanto, muitos

edifícios rotulados como verdes refletem apenas esforços para reduzir a energia incorporada e

são, em muitos outros aspectos, convencionais, tanto na aparência quanto no processo

construtivo. Além disso, existe o questionamento sobre os benefícios que um selo desenvolvido

para outra realidade pode trazer, especialmente para países como o Brasil que ainda não

resolveram seus problemas mais básicos (SINDUSCON-RS, 2016).

Segundo a ANAB - Associação Nacional de Arquitetura Sustentável, a cada US$1,00

investido na construção de edifícios sustentáveis, em 20 anos, US$15,00 são retornados, sendo

deste total, 74% economizados em saúde e produtividade dos ocupantes, 14% na operação e

manutenção e 11% no consumo energético e hidráulico. Sobre a melhoria na qualidade de vida,

sáude e produção dos moradores e usuários, segundo dados da ANAB, os ocupantes de

escritórios em edifícios verdes são de 2% a 16% mais produtivos; as vendas em locais com

iluminação natural são de até 40% maiores do que nos locais fechados e estudantes de escolas

que têm iluminação natural são em média 20% mais rápidos em provas de matemática e 26%

em testes de leitura (SINDUSCON-RS, 2016).

Esses dados e preocupações só demonstram o quão extenso são os impactos positivos

que as obras ambientalmente responsáveis geram não só na natureza em si, mas em todo o

contexto de bem-estar e comunidade que ela se insere.

3.7 PRINCIPAIS POLÍTICAS DE INCENTIVOS PELO MUNDO

Murakami (2002) apud Schneider e Philippi (2004) citam alguns dos melhores exemplos

de políticas vigentes no mundo, segundo pesquisa realizada pelo WPPPC (Working Party

Pollution Prevention and Control) of the Environmente Policy Committee of the Organization

for Economic Cooperation and Development (OECD):

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1. Incentivo ao uso de materiais de construção reciclados e recicláveis: a

Alemanha, a Coréia e o Japão têm leis com recomendações gerais para estimular o

uso de materiais recicláveis e reciclados;

2. Cobrança de preços elevados para a deposição de RCD em aterros:

amplamente utilizada na Dinamarca, Inglaterra, República Checa, Itália e França. A

cobrança funciona como incentivo para a reciclagem dos resíduos. Em cinco países

europeus é proibida a deposição de algumas categorias de RCD em aterros. Estas

proibições variam de país para país, mas o objetivo principal é prevenir a deposição,

no solo, de materiais recicláveis e reutilizáveis;

3. Triagem obrigatória de RCD em obras e entrega obrigatória em unidades de

reciclagem: sete países europeus e o Japão introduziram esse importante instrumento

de política regulatória;

4. Demolição controlada: em quatro países europeus é necessário apresentar às

autoridades documentação de como o RCD serão tratados antes da demolição das

edificações. Na Suécia, por exemplo, o plano de gestão deve acompanhar a

documentação para demolição da edificação, o qual deve ser aprovado pelas

autoridades. Neste deve estar descrita a destinação de cada um dos materiais

resultantes;

5. Taxação de matérias-primas oriundas da atividade de mineração: é também

usada como forma de estimular o uso de materiais provenientes dos RCD. Na

Dinamarca a taxa sobre recursos naturais é imposta a pedreiras e na Suécia à

exploração dos bens minerais por escavação. Na Inglaterra são taxadas a areia,

cascalho e pedras;

6. Subsídios financeiros para unidades de tratamento de RCD: a Inglaterra

subsidia a compra de equipamentos e a Bélgica investe em companhias de reciclagem

que processam RCD;

7. Padrões para o uso de materiais reciclados: são utilizados na Alemanha e

Holanda. Na Bélgica, foi desenvolvido um esquema de certificação voluntária para

agregados reciclados, baseada em especificações técnicas estabelecidas pelas

autoridades.

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4 REÚSO E RECICLAGEM

Uma solução, que a cada dia ganha força entre os pesquisadores, é a reciclagem de RCD

e sua reutilização na própria construção civil, como matéria-prima alternativa. Além de redução

da superexploração de jazidas minerais para extração de recursos naturais não renováveis, há

também, a carência de locais para a deposição desses resíduos, fazendo com que as distâncias

entre os locais de demolição e as áreas de disposição sejam cada vez maiores, onerando os

custos de transporte (BRASILEIRO, MATOS, 2015).

Geralmente, a maioria dos resíduos gerados nos canteiros de obras e de demolição é

composta por restos de argamassas, tijolo, alvenaria, concreto, cerâmica, gesso, madeira, metais

e etc., que são descartados em aterros sanitários devido a ausência de mercados para suas formas

recicladas (BRASILEIRO, MATOS, 2015).

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Leite (2001) observa que se obtém uma economia de 67% em média, quando

comparados os preços do agregado reciclado e do agregado natural. Segundo Pereira (2002),

em Portugal, cerca de 76% do RCD são depositados em aterros, 11% é reutilizado, 9% é

reciclado e 4% incinerado. A realidade atual é clara: a quantidade de RCD

reciclados/reutilizados (20%) é pequena quando comparado com outros países, como o Reino

Unido (52%), a Holanda (92%), a Bélgica (89%), a Áustria (48%) e a Dinamarca (81%). A

realidade de Portugal no quesito reciclagem ainda está muito aquém da Comunidade Européia

(CE), que estabelece que, no ano de 2020, pelo menos 70% do RCD deve ser

reutilizado/reciclado. Nos Estados Unidos recicla até 70% e a Alemanha até 90%

(BRASILEIRO, MATOS, 2015).

De acordo com o IBGE (2008), dos 5.564 municípios brasileiros, 4.031 municípios

(72,45%) possuem "serviço de manejo dos resíduos de construção e demolição"; em 392

municípios (7,05%) tem "existência e tipo de processamento dos resíduos", 124 (2,23%) existe

a "triagem simples dos resíduos de construção e demolição reaproveitáveis (classes A e B)",

em 14 (0,25%) existe "triagem e trituração simples dos resíduos de classe A", em 20 (0,36%)

existe "triagem e trituração dos resíduos classe A, com classificação granulométrica dos

agregados reciclados" e somente em 79 municípios (1,42%) existe o programa de

"reaproveitamento dos agregados produzidos na fabricação de componentes construtivos.

Somente uma parte do RCD desses municípios é destinada às usinas de reciclagem, concluindo-

se que a grande maioria dos RCD no Brasil não é reciclada (BRASILEIRO, MATOS, 2015).

Para Ângulo et al. (2001), comparativamente a países do primeiro mundo, a reciclagem

de resíduos no Brasil como materiais de construção é ainda tímida, com a possível exceção da

intensa reciclagem praticada pelas indústrias de cimento e de aço. Mesmo a discussão mais

sistemática sobre resíduos sólidos é recente.

A reciclagem também pode gerar resíduos, cuja quantidade e características também

vão depender do tipo de reciclagem escolhida. Esses novos resíduos, nem sempre são tão ou

mais simples que aqueles que foram reciclados. É possível que eles se tornem ainda mais

agressivos ao homem e ao meio ambiente do que o resíduo que está sendo reciclado.

Dependendo de sua periculosidade e complexidade, estes rejeitos podem causar novos

problemas, como a impossibilidade de serem reciclados, a falta de tecnologia para o seu

tratamento, a falta de locais para dispô-lo e todo o custo que isto ocasionaria. É preciso também

considerar os resíduos gerados pelos materiais reciclados no final da sua vida útil e na

possibilidade de serem novamente reciclados - fechando assim o ciclo (ÂNGULO, ZORDAN,

JOHN, 2001).

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Um parâmetro que geralmente é desprezado na avaliação de produtos reciclados é o

risco à saúde dos usuários do novo material, e dos próprios trabalhadores da indústria

recicladora, devido a lixiviação de frações solúveis ou até mesmo pela evaporação de frações

voláteis (ÂNGULO, ZORDAN, JOHN, 2001).

A inexistência das marcas de qualidade ambiental de produtos demonstra que, diferente

de outros países, as empresas brasileiras que eventualmente reciclem não utilizam sua

contribuição ambiental como ferramenta de marketing, apesar do consumidor, mantido o preço

e a qualidade, preferir produtos com menor impacto ambiental (MORENO, 1998). Uma das

causas possíveis para esste aparente desinteresse é um eventual receio de que o público

consumidor leigo associe o produto reciclado a produto de baixa qualidade. Esta dúvida

somente pode ser resolvida através de pesquisa de mercado (ÂNGULO, ZORDAN, JOHN,

2001).

Embora já se observe no mercado a movimentação de empresas interessadas em

explorar o negócios de reciclagem de RCD e não apenas o negócio de transporte, as

experiências brasileiras estão limitadas em ações das municipalidades que, buscam reduzir os

custos e o impacto ambiental negativo da deposição do enorme massa de entulho (média de 05

ton/hab.ano, no meio urbano para algumas cidades brasileiras de médio e grande porte)

(PINTO, 1999).

Porém, o grande empecilho para sua reutilização, é cultural, uma vez que há

desconfiança de construtores e clientes quanto ao bom desempenho dos produtos gerados pelo

mesmo, e também normativo, uma vez que não há normas que assegurem a sua aceitação no

mercado, devido à sua grande heterogeneidade. Políticas e campanhas de conscientização

devem inserir tal consciência à sociedade, uma vez que, as ações para alcançar a

sustentabilidade devem abranger desde a escala individual, em que cada indivíduo faz o seu

papel, até a escala mundial, a partir de governos, organizações, associações e empresas

privadas. E, uma forma de assegurar o desempenho e qualidade dos agregados de RCD, é a

implantação de controle de qualidade, de forma a reduzir a variabilidade, de acordo com a sua

aplicação (BRASILEIRO, MATOS, 2015).

4.1 TIPOS DE REÚSO E RECICLAGEM

Segundo Addis (2010), existem três tipos de reúso e reciclagem:

1. Reúso in loco de toda a obra ou de algumas de suas partes;

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2. Reúso de componentes removidos de uma edificação, reformados e vendidos para serem

utilizados em outra;

3. Uso de materiais reciclados - por exemplo, o que é conhecido como produto de

construção com conteúdo reciclado (RCPB na sigla em inglês).

4.1.1 Reúso in loco

Uma intervenção mínima será exigida se um componente de um prédio - ou ele inteiro

- continuar sendo utilizado, ou seja reutilizado no lugar onde se encontra atualmente, o que

evita o grande volume de entulho após uma demolição, bem como a demanda de novos

materiais de construção em grandes quantidades. Uma limpeza efetiva, reparos e manutenção,

serviços e reforma ajudarão a prolongar a vida útil de um prédio e seus diversos

componentes.(ADDIS,2010).

Quando um prédio está sendo projetado para um novo uso, os itens de fácil remoção,

como as paredes divisórias mais leves, os itens decorativos e as diversas luminárias e acessórios

podem ser retirados e trocados; contudo, é provável que as fundações e a estrutura do prédio e

a maior parte da fachada possam ser mantidas. Para que isso aconteça, é necessário fazer uma

cuidadosa avaliação de sua condição e adequação para o novo uso do prédio. Certo grau de

reparos e reforma pode ser necessário, mas mesmo assim daria menos trabalho do que demolir

e reconstruir (ADDIS,2010).

4.1.2 O reúso de produtos recuperados de demolições ou recondicionados e de materiais

reaproveitados

Se os principais itens de um prédio não puderem ser reutilizados em seu local original,

pode ser possível reutilizá-los em um novo local, e a maneira mais drástica para fazer isso é

remover o prédio por inteiro. É mais comum, entretanto, que os componentes de um prédio

sejam outra construção, porque normalmente eles precisarão ser trabalhados de alguma

maneira, a fim de que atinjam o padrão exigido para reutilização. Diferentes produtos

geralmente precisarão de diferentes processos de tratamento. Produtos e materiais que são

recolocados em uso são chamados de produtos e materiais "reaproveitados" (ADDIS,2010).

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4.1.3 Materiais reciclados

Segundo Addis (2010), reciclagem é o termo usado para materiais descartados e que são

usados para fazer novos produtos, geralmente diferentes dos produtos anteriores. Exemplos

típicos incluem:

Chapas de aglomerado feitas de serragem coletadas em serrarias ou madeiras

retiradas de demolições e devidamente processadas;

Concreto feito com agregado reciclado (concreto triturado de prédios

demolidos);

Ralos de plástico feitos de garrafas PET reaproveitadas;

Fôrmas para colunas e estacas de concreto usando tubos de papelão feitos de

papel reciclado;

Isolamento acústico ou térmico feito de jornais velhos;

Isolamento acústico com tapetes de borracha feitos de pneus velhos e frisos

de janelas de veículos.

4.2 PROJETOS VOLTADOS PARA SUSTENTABILIDADE

As tecnologias existentes não conseguem medir as características dos resíduos em

tempo real, de forma que mesmo agregados reciclados de excelente qualidade são empregados

em funções menos exigentes, desvalorizando o produto. Assim, uma das metas mais ambiciosas

da pesquisa é desenvolver um conjuntos de tecnologias de caracterização dos resíduos que torne

possível a identificação rápida e segura das oportunidades de reuso e reciclagem mais

adequadas para cada lote. O objetivo é ampliar o mercado para os produtos reciclados e

valorizar a fração de boa qualidade (FERNANDES, TEIXEIRA, 2006).

Para Gouvinhas e Romeiro Filho (2010, p.215) atualmente, as questões sustentáveis em

relação ao meio-ambiente estão sendo mais discutidas na fase de projeto, pois cabe também ao

projetista buscar soluções para reduzir os impactos causados à natureza. Os autores afirmam

que através de definições de materiais e sistema produtivos é possível buscar meios menos

prejudiciais.

O projeto que considera o final do ciclo de vida dos produtos contribui para que a

reutilização seja mais bem aproveitada. O projetista não pode impor seus princípios aos seus

clientes, no entanto pode contribuir para o aumento do número de alternativas, soluções de

problemas técnicos, além de estimular a imaginação e orientar, assim, é possível que o

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profissional proponha oportunidades para contribuir com um estilo de vida mais sustentável

(MANZINI, VEZZOLI, 2008, p.71).

Desde o início do projeto de arquitetura é importante avaliar maneiras para melhor

aproveitamento dos materiais e componentes utilizados, além de prever possibilidade de

flexibilidade do edifício e desmonte final de sua vida útil (MATTARAIA, FABRICIO, 2011).

Para Fernandes e Teixeira (2006), a reciclagem é necessária em duas ocasiões: quando

há uma demolição ou na própria construção. No primeiro caso, quando uma construção está

para ser demolida é necessário criar um planejamento do processo de demolição como foi dito

anteriormente. A demolição seletiva para a reciclagem consiste na diferenciação integral dos

resíduos sólidos para a alteração da destinação adotada na reciclagem a fim de evitar a mistura

dos materiais entre si e de contaminantes.

4.3 UM OLHAR DIFERENTE PARA OS MATERIAIS: ANÁLISE DO CICLO DE VIDA

O conceito de "lixo", "reúso" e "reciclagem" são mais bem compreendidos no contexto

da vida útil dos materiais. Muitas das práticas mais recentes e atuais tendem a estabelecer um

fluxo linear na vida útil dos componentes, algo como "do berço ao túmulo", o que é

característica da sociedade do joga fora (ADDIS, 2010).

Figura 1 – Ciclo de vida útil linear para materiais e produtos

Fonte: ( ADDIS, 2010, p.36).

Para Addis (2010), o cenário ideal pelo qual devemos aspirar, se desejamos eliminar o

lixo, é um ciclo de vida útil circular ou fechado, semelhante aos encontrados no ecossistema.

Figura 2 - Ciclo de vida útil fechado para materiais

Extração Manufatura Produto Uso Demolição Entulho Aterro

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Fonte: ( ADDIS, 2010, p.36).

A análise do ciclo de vida (ACV) também é uma ferramenta importante, pois examina

a vida útil do produto, inclusive sua disposição final, um de seus objetivos é analisar o impacto

do processo industrial, extração, materiais utilizados e disposição final (CATANIA, LA

MANTIA, 2004, p.226).

No entanto, ainda não é muito comum que os engenheiros e arquitetos projetem

pensando no final do clico de vida dos edifícios, ou, considerem materiais provenientes de

outras edificações que ainda não encerraram seu ciclo (MATTARAIA, FABRICIO, 2011).

Os elementos estruturais, caixilhos, porta, pisos painéis, etc, podem ser reutilizados

simplesmente retirando-os e recolocando-os. Se o material estiver em bom estado, basta

removê-lo com cuidado para não danificá-lo e reinstalá-lo em seu novo lugar de uso. Os

caixilhos de madeira ou PVC são bons exemplos disso, pois é possível retirá-los por inteiro,

junto com o vidro (FERNANDES, TEIXEIRA, 2006).

No caso de construções que utilizam a madeira e o aço em elementos estruturais, estas

já deveriam ser pensadas para o desmonte desde sua concepção no projeto, utilizando peças que

encaixam entre si ao invés de utilizar colas (no caso da madeiras), soldas (no caso do aço) ou

qualquer outro tipo de junta que possam ser tóxicas ou impossibilitarem a separação

(FERNANDES, TEIXEIRA, 2006).

A construção civil é um dos setores que apresenta maior potencial para absorver os

resíduos sólidos. Dentre as várias possibilidades, a reciclagem de RCD pode ser aplicada para

diversos fins, tais como: camadas de base e sub-base para pavimentação, coberturas primárias

de vias, fabricação de argamassas de assentamento e revestimento, fabricação de concretos,

fabricação de pré-moldados (blocos, meio-fio, dentre outros), camadas drenantes, etc

(BRASILEIRO, MATOS, 2015).

Por exemplo, pesquisas utilizam o agregado de concreto para utilização em novos

concretos e apontam bons resultados técnicos e de custo. O agregado de cerâmica vermelha foi

Extração Manufatura Produto Uso

Demolição

DesmontagemColeta

ReformaRemanufatura

Reciclagem

Reúso

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utilizado para fazer novos tijolos, como também se revelou num ingrediente de sucesso de

argamassa. A reciclagem de misturas betuminosas, principalmente da demolição de estradas,

tem sido exaustivamente estudada. Para Ângulo et al. (2001), a reciclagem de pavimento

asfáltico, introduzida no mercado paulistano no início da década de 90 é hoje uma realidade nas

grandes cidades brasileiras, viabilizando a reciclagem tanto do asfalto quanto dos agregados do

concreto asfáltico (BRASILEIRO, MATOS, 2015).

Segundo Brasileiro e Matos (2015), outros estudos foram realizados objetivando avaliar

a viabilidade técnica, como também econômica, da utilização de RCD na produção de materiais

de construção como concretos, argamassas, blocos de concreto, elementos pré-moldados e em

pavimentação.

Vieira e Dal Molin (2004) avaliaram a viabilidade técnica e econômica da utilização de

agregados reciclados provenientes de RCD, em concretos. Nesta pesquisa, realizaram uma

comparação entre concretos produzidos com agregados naturais e reciclados, substituindo 50%

e 100% de agregados graúdos e miúdos, em cinco composições. Os resultados da pesquisa

indicaram que os agregados reciclados em proporções devidamente dosadas podem melhorar

algumas propriedades do concreto, como resistência à compressão e durabilidade.

Em algumas cidades brasileiras a reciclagem dos RCD já se tornou realidade. Na cidade

de São Paulo desde a década de 1990 os RCD são reciclados; como o uso de entulho para a

pavimentação de ruas, e também agregados do concreto. Em Belo Horizonte os resíduos

reciclados são utilizados como base de pavimentação e também na produção de argamassas

(BRASILEIRO, MATOS, 2015). De acordo com Noronha et al (2005), além das formas de

reciclagem utilizadas nas cidades supracitadas o entulho após o processo de moagem pode

também ser utilizado na contenção de encostas, calçamento de concreto, utilizado na contenção

de encostas, calçamento de concreto, blocos de concreto, tubas para a drenagem, entre outros.

O que se sugere, é o emprego dos agregados em diversas finalidades, porém com um

adequado controle, permitindo a valorização do resíduo e não simplesmente destiná-lo para as

necessidades de pavimentação, que são as de menores exigências de qualidade (ANGULO,

2000).

A necessidade ambiental urgente do nosso planeta somada aos números exorbitantes de

produção de RCD demonstra que devemos focar em práticas socioeconômicas potencialmente

alcançáveis ( ou já alcançadas), como o uso de técnicas de reúso e reciclagem. Torna-se cada

vez mais claro que as práticas de destinação, aterro e incineração devem ser apenas utilizadas

em casos extremos.

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De acordo com Martinho (2009) relativamente à produção e reciclagem, na União

Europeia, estima-se que cerca de 130 milhões de ton/ano de RCD são depositados em aterro.

Se se considerar uma densidade de 1,0 ton/m³, será necessário todos os anos um novo aterro

com 10 metros de profundidade com uma área de 13 km² para depositar esta quantidade de

resíduos.

Com base na sentença citada acima e na disparidade de prática de reúso e reciclagem

entre a União Europeia e o Brasil, qual o tamanho e quantos aterros serão necessários todos os

anos para continuar aterrando os resíduos no Brasil?

4.4 BENEFÍCIOS DO REÚSO E RECICLAGEM DE RCD

Há três motivos principais pelos quais o reaproveitamento e a reciclagem de produtos e

materiais de construção civil já são uma realidade e apresentarão crescimento nos próximos

anos (ADDIS, 2010):

1. Reduzir o impacto ambiental causado pela construção civil;

2. Trazer benefícios aos projetos de construção, como a obtenção de alvarás de construção

e a redução de custos;

3. Melhorar a reputação dos profissionais envolvidos com esse setor.

Segundo Ângulo et al (2001) , a reciclagem na construção civil pode gerar inúmeros

benefícios citados abaixo:

1. Redução no consumo de recursos naturais não-renováveis, quando

substituídos por resíduos reciclados.

2. Redução de áreas necessárias para aterro, pela minimização de volume de

resíduos pela reciclagem. Destaca-se aqui a necessidade da própria reciclagem dos

resíduos de construção e demolição, que representam mais de 50% da massa dos

resíduos sólidos urbanos.

3. Redução do consumo de energia durante o processo de produção. Destaca-se

a indústria do cimento, que usa resíduos de bom poder calorífico para a obtenção de

sua matéria-prima (co-incineração) ou utilizando a escória de alto-forno, resíduo com

composição semelhante ao cimento.

4. Redução da poluição; por exemplo para a indústria de cimento, que reduz a

emissão de gás carbônico utilizando escória de alto forno em substituição ao cimento

Portland.

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Se todos os países do mundo impactassem o meio ambiente da mesma maneira que os

países ocidentais, nós já necessitaríamos de mais de três planetas Terra para assegurar nossa

sobrevivência sustentável em longo prazo (ADDIS, 2010).

Entretanto, sabe-se que em alguns países do mundo, esta cultura de reúso e recilagem

dos resíduos da construção e demolição está sendo incentivada, o que nos traz notícias otimistas

frente a realidade atual de impacto ambiental no mundo. Uma pesquisa realizada no Reino

Unido no final dos anos 1990 revelou que perto de dois milhões de toneladas de materiais e

produtos estavam sendo coletados e reutilizados ou reciclados (KAY,2000).

Tabela 1 - Materiais e produtos reaproveitados selecionados

Tipo de Material Quantidade Anual (Toneladas)

Antiguidades ornamentais e arquitetônicas

141.000

Vigas de madeira e pisos 242.000

Tijoso de argila 457.000

Telhas de argila 316.000

Pavimentação de pedra e argila 694.000

Total 1.850.000

Fonte: (ADDIS, 2010, p.23)

Apesar desses casos de sucesso, muito material de demolição ainda é enviado par

aterros, e a disponibilidade de locais desse tipo está diminuindo, enquanto impostos são cada

vez mais usados para desencorajar o despejo de materiais nesses locais. Em países densamente

povoados, como Holanda e Suíça, essa prática já é extremamente cara (ADDIS, 2010).

Em razão disso, há fortes razões para tentar reduzir a quantidade de materiais

desperdiçados, aumentando a reciclagem e, sempre que possível, explorando oportunidades

para reutilizar componentes em obras, ante que “materiais excedentes” se torne simplesmente

“lixo”. Além disso, tirar os holofotes da reciclagem e colocá-los na coleta de materiais usados

e no reúso pode reduzir o reprocessamento envolvido e, por consequência, levar à economia de

energia (ADDIS, 2010).

Segundo Addis (2010), a coleta, o reúso e a reciclagem de produtos e materiais usados

podem beneficiar os contratantes ou as construtoras porque acrescentam valor ao projeto,

embora ainda não possa ser dito que tal benefício seja passível de aplicação a todos os projetos.

As razões mais comuns que podem ser aplicadas apenas a algumas partes de uma obra

provavelmente são:

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1. Evitar custos de demolição e reconstrução pelo reúso in loco;

2. Reduzir custos de despejo de material em aterros, por exemplo, reutilizando

materiais de demolição no próprio local;

3. Obter alvará de construção especialmente em área de preservação e

conservação, integrando novas obras e materiais e métodos de construção em

edificações adjacentes;

4. Utilizar instalações e equipamentos recondicionados, que são mais baratos,

em lugar de novos; Obter certificações ambientais que premiem o uso de materiais

reciclados, por exemplo, o BREEAM (Building Research Establishment Method) no

Reino Unido, o LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) nos Estados

Unidos, e checklists de construção sustentável usados por um crescente número de

autoridades locais em avaliação de execução de projetos;

5. Demonstrar comprometimento das construtoras e membros das equipes de

projeto em fazer algo para reduzir o impacto ambiental causado por construções.

Além disso, há uma crescente competitividade entre muitas organizações com o

objetivo de parecerem mais preocupadas com o meio ambiente do que suas rivais. A reputação

de uma empresa ou seu histórico em assuntos relacionados ao meio ambiente podem impactar

vários aspectos de seus negócios (ADDIS, 2010):

Desempenho ambiental em comparação aos seus concorrentes;

Relatórios anuais para os acionistas;

Atrativo para novos funcionários (especialmente os mais jovens);

Convites para fazer parte de licitações;

Convites para fazer parte de outros projetos;

Ser vista como uma empresa que, em seus projetos de construção, leva a sério a coleta,

o reúso e a reciclagem de materiais e produtos usados, pode ser encarado como um

comprometimento com a melhor do nosso meio ambiente ou, no mínimo, com a redução dos

danos já causados nele (ADDIS, 2010).

Porém, os principais obstáculos para o reaproveitamento e a reciclagem são a falta de

familiaridade com o assunto e a inércia - não ter noção do que se pode fazer e nem como fazer.

O mundo da coleta, do reúso e da reciclagem de produtos e materiais usados é quase um

universe paralelo, invisível àqueles failiariazados apenas com materiais e componentes para

construção novos. É necessária uma base de informações para que as equipes de projeto possam

superar essa definciência (ADDIS, 2010).

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4.5 UM NOVO MERCADO EM DESENVOLVIMENTO

O mercado está em desenvolvimento. Há mais ou menos 30 anos, a reciclagem

começava a ser levada a sério na Escandinávia, na Holanda e nos países de língua germânica,

e havia poucos locais de componentes arquitetônicos recuperados de demolições. No futuro, o

mercado de produtos e materiais de construção reutilizados/reciclados será fortemente

influenciado pela maneira como as edificações são projetadas e construídas hoje (ADDIS,

2010).

Segundo Addis (2010), a disponibilidade de produtos e materiais reaproveitáveis no

mercado depende de vários fatores:

Eles podem ser facilmente removidos de uma construção em demolição ou

podem ser desmontados sem sofrer danos?

Eles são essencialmente valiosos (tendo como base seu custo original)? Como

uma lareira de mármore, por exemplo.

Eles são valiosos por serem escassos? Por exemplo, telhas e tijolos do século

XVI.

Já existe uma infraestrutura de comercialização? Por exemplo, disponibilidade

de componentes arquitetônicos recuperados de demolições.

Os produtos são fáceis de transportar e armazenar até que um comprador seja

encontrado?

Há demanda para o produto?

É provável que os produtos, uma vez removidos de uma construção, ainda

tenham uma vida útil longa?

Há disponibilidade dos produtos na quantidade que as pessoas possam

precisar?

É fácil avaliar a condição dos produtos ou materiais para sua potencial

reutilização, bem como o restante de sua vida útil?

Eles podem ser recondicionados facilmente, de forma que estejam em boa

condição para reúso?

Há alguma organização que possa ensaiar o produto e dar uma garantia

adequada, de acordo com as exigências da equipe de projeto ou da construtora (tanto

do aspecto técnico como para questões de seguro)?

Além dos produtos e materiais que podem ser reformados e recondicionados em

depósitos de componentes arquitetônicos recuperados de demolições ou por construtoras,

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muitos dos produtos usados em construções podem ser levados a especialistas ou enviados de

volta aos seus fabricantes para serem recondicionados (ADDIS, 2010).

Para Addis (2010), a disponibilidade de tais produtos/materiais no mercado dependerá

de uma série de fatores:

É possível que o produto seja removido de uma construção em um bom estado

de conservação, entregue a uma empresa responsável por seu recondicionamento,

incluindo ensaios de desempenho do produto, se necessário? Há produtos disponíveis

em quantidade suficiente para que valha a pena seu recondicionamento?

fabricante original ainda está disponível no mercado para fornecer peças de

resposição, serviços de recondicionamento por demanda ou para recondicionar o

produto como seu negócio principal?

Há empresas especializadas (não os fabricantes originais) disponíveis para

fazer o recondicionamento (de janelas de metal, por exemplo)?

desempenho dos objetos recondicionados pode ser especificado de forma a

estar de acordo com as exigências feitas por engenheiros, arquitetos e construtoras?

No final das contas, o sucesso dos diversos mercados para construções já existentes,

materiais e produtos reaproveitados e PCCRs depende da existência de demanda. Dependendo

do tio de reúso ou reciclagem, a demanda virá de uma das seguintes fonts (ADDIS, 2010):

Diretivas de intervenção de departamento governamentais;

proprietário/construtora/incorporadora da construção;

Membros da equipe de projeto;

Pessoas responsáveis pelas especificações da construção;

A construtora principal ou construtoras especializadas.

4.6 PRÁTICAS DE REÚSO E RECICLAGEM

4.6.1 Política dos 5Rs

Os cinco R's fazem parte de um processo educativo que tem por objetivo uma mudança

de hábitos no cotidiano dos cidadãos. A questão-chave é levar o cidadão a repensar seus valores

e práticas, reduzindo o consumo exagerado e o desperdício.

Essa política consiste em buscar maneiras de reduzir o número de resíduos descartados

no meio e são atitudes bem simples que, quando feitas conjuntamente, causam um impacto

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muito positivo. Ela pode ser aplicada em diferentes situações, desde grandes negócios até dentro

de sua residência.

4.6.1.1 Recusar

O modelo de sociedade hoje obriga os cidadãos a consumirem e comprarem cada vez

mais. Quanto mais bens uma pessoa tiver, mais prestígio ela terá. Isso, no entanto, revela-se

insustentável na medida em que para ter mais é preciso produzir mais e extrair mais recursos

naturais. O consumidor deve refletir se realmente precisa de determinado produto antes de

comprá-lo (ADDIS, 2010).

4.6.1.2 Restaurar

Quando algo é desgastado pelo tempo ou pelo uso constuma-se “jogar fora”. Os objetos

e até mesmo os edíficios que estão velhos e danificados são substituídos por novos sem

hesitação. A consequência imediata de seu descarte é a enorme quantidade de resíduos gerados

que vão diretamente para o lixão e sujam ainda mais o ambiente (ADDIS, 2010).

Em se tratando da construção, na maioria das vezes, é possível recuperar o prédio sem

muita dificuldade para que ele volte à sua função ou adquira outra. Ao invés de gastar dinheiro

e energia em demolições e gerar toneladas de lixo, é preferível que, antes de tudo, a construção

seja restaurada economizando em todos os aspectos (ADDIS, 2010).

4.6.1.3 Reduzir

Quando não é possível recuperar um produto ou material, há a possibilidade de reduzir

o consumo do mesmo. A mehor forma de resolver um problema constante, como é o caso dos

resíduos, é a de evitar o seu aparecimento. Reduzindo sua quantidade, reduz também o lixo

gerado por ele, seja pelas embalagens ou pelo descarte em si (ADDIS, 2010).

A ideia de lixo ou desperdício é, em si, um conceito que faz parte da sociedade do “joga

fora”, e não da sociedade do “reutilize e recicle”. Os primeiros esforços feitos na tentativa de

mudar nossa ideia sobre a vida útil dos materiais tendiam a focar o “problema do desperdício”;

em outras palavras, o que poderia ser feito para usar a montanha de materiais jogados fora, em

vez de jogá-los em aterros. Essa foi a diretriz adotada na década de 1990 no mundo. Atualmente,

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as pessoas já perceberam que a ideia e desperdício faz parte de um pensamento retrógrado, no

qual ele é visto como um problema, mas gradativamente mais e mais pessoas têm olhado para

este assunto sob uma perspectiva diferente: a da vida útil dos materiais e as diferentes “correntes

de materiais” que podem ser traçadas pelos processos de fabricação na indústria da construção

(ADDIS, 2010).

A maneira mais eficaz de lidar com o lixo é não produzi-lo e, em vez de ver materiais

que chegam ao fim de sua vida útil como um problema, eles podem ser vistos como uma

oportunidade (ADDIS, 2010).

4.6.1.4 Reutilizar

Reutilizar consiste no aproveitamento de produtos sem que estes foram quaisquer tipos

de alterações ou processamento complexos. Antes de um produto ser jogado fora, ele ainda tem

muitos usos sem ter que passar por um processo de restauração ou reciclagem. Muitas vezes é

preciso ser criativo, inovador, usar um produto de várias maneiras (ADDIS, 2010).

O reuso dos materiais na construção civil é normalmente muito simples, trata-se da

execução de um desmonte. Para isso seria necessário um programa para organizar a demoliçã

oseletiva ou descontrução para que os materiais não sejam danificados e que não sejam

misturados a ponto de não poderem ser separados (ADDIS, 2010).

4.6.1.5 Reciclar

A reciclagem consiste na reintrodução, no processo produtivo, dos resíduos, quer esses

sejam sólidos, líquidos ou gasosos para que possam ser reelaborados, dentro de um processo

produtivo que envolva gasto de energia, gerando assim um novo produto idêntico ou não ao

que lhe deu origem. Por ser um processo qu consome energia e até gerar resíduos, a reciclagem

é considerada o último recurso no reaproveitamento de materiais (ADDIS, 2010).

4.6.2 A Delft Ladder (hierarquia para gerenciamento de resíduos)

A Delft Ladder foi planejada como uma maneira de representar em um diagrama os

vários estágios possíveis no ciclo de vida útil dos materiais (te Dorsthosrt et al., 2000). Os dez

estágios na Delft Ladder representam os estágios no ciclo de vida útil de materiais e

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componentes nos quais engenheiros e arquitetos podem tomar decisões para certificar-se de que

eles sejam usados nos mais altos níveis de seu ciclo de vida útil, pelo período que for possível.

Dessa maneira, a degradação de materiais rumo a aterros pode ser evitada ou diminuída.

No momento de tomar decisões a respeito de seu projeto, o engenheiro ou arquiteto pode

considerar, em sequência, cada estágio do ciclo de vida (ADDIS, 2010):

1. Prevenção - Como o desperdício pode ser evitado no projeto? Uma maneira

seria minimizando o uso de materiais ou eliminando componentes.

2. Reforma - Como o desperdício pode ser evitado por meio do prolongamento

da vida do componente utilizado? Fazendo manutenção, por exemplo.

3. Reúso de componentes - Como um componente pode ser reutilizado após ter

sido removido?Reformando uma pia de conzinha, por exemplo.

4. Reúso de materiais - Como os materiais podem ser reutilizados após sua

remoção? Recondicionando tijolos para reúso, por exemplo.

5. Aplicações úteis - Como materiais ou componentes podem ser reciclados ou

reutilizados em novas aplicações? Um opção, por exemplo, seria usar tijolos moídos

como elemento portante, ou vigas de estrutura de aço como estruturas temporárias.

Figura 3 – Ciclo de vida útil dos materiais

Fonte: (te Dorsthorst et al., 2000).

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4.6.2.1 Processos da Delft Ladder

Segundo (ADDIS, 2010), os processos da Delft Ladder estão descritos abaixo:

1. Prevenção - o desperdício pode ser evitado planejado um sistema de

construção que permita desmontagem e remontagem, ou projetando um componente

que permita que materiais sejam totalmente reciclados.

2. Reforma - Evitar a demolição reformando um prédio e seus componentes, a

fim de mantê-los em uso.

3. Reúso de componentes - partes removidas de um prédio podem ser melhoradas

com manutenção, reforma ou recondicionamento, e reutilizadas em um novo cenário

conforme seu propósito inicial.

4. Reúso de materiais (reciclagem) - materiais descartados no processo de

produção podem ser coletados e melhorados (pela limpeza, por exemplo), a fim de

reincorporá-los ao processo de produção. Seguindo os passos 3 e 4, se os materiais

não puderem ser reutilizados para seu objetivo inicial, eles poderão ser melhorados

para utilização em um novo projeto.

5. Novas aplicações úteis - o material, componente ou parte pode ser usado em

uma situação diferente, talvez com especificação de menor desempenho (down-

cycling).

6. Imobilização com aplicação útil - um material potencialmente perigoso pode

tornar-se inofensivo quando usado como matéria-prima para um novo componente

(p.ex., o uso de cinzas volantes em concreto).

7. Imobilização - um material potencialmente perigoso pode tornar-se inofensivo

antes de ser despejado em um aterro.

8. Incineração com reaproveitamento de energia - materiais combustíveis são

queimados e a energia liberada é coletada para ser reutilizada.

9. Incineração - materiais combustíveis são queimados e, apesar de não

fornecerem energia aproveitável, não são despejados em aterros.

10. Aterro - o destino final dos materiais se nenhuma alternativa de uso pôde ser

encontrada.

4.6.3 Protocolo de reciclagem da empresa Salvo

A empresa britânica Salvo criou uma abordagem denominada “protocolo de

reciclagem”, baseado na hierarquia de opções: reutilize, aproveite bem, recicle e destrua.

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Segundo (ADDIS, 2010), este protocolo de reciclagem com respeito às construções já

existentes apresenta uma lista de prioridades para o que fazer com antigos componentes

arquitetônicos. Define-se "antiguidades arquitetônicas" como artigos manufaturados

geralmente com certo grau de trabalho manual especializado envolvido, como peças entalhadas,

portas e lareiras, e "materiais de construção reaproveitados", a exemplo de componentes básicos

de uma construção, como tijolos e vigas de madeira.

O protocolo é descrito a seguir:

1. Reutilize uma construção sem alterá-la ou demoli-la. Se não possível, então:

2. Aproveite os componentes da maneira mais completa possível, por meio de:

Realocação de todo o prédio;

Reúso de fachadas e elementos estruturais;

Reaproveitamento de acessórios internos, como janelas com suas guarnições,

venezianas e persianas;

Desmontagem e reaproveitamento de itens individuais que foram usados para

a montagem do prédio.

Se o reaproveitamento não for possível, então:

3. Recicle e produza um novo produto:

Madeira coletada pode ser reciclada para fazer móveis, pisos e chapas de

compesando;

Concreto pode ser triturado para se fazer agregado de concreto reciclado.

Plásticos podem ser remanufaturados para a produção de novos produtos,

como sacolas de polietileno.

Se a reciclagem não for uma opção, então:

4. Destrua e reaproveite a energia de forma produtiva:

Fragmentos de madeira e outros produtos à base de carbono podem ser usados

como combustível para usinas ou para aquecer ou preparar alimentos;

Metano pode ser extraído de aterros nos quais forma jogados resíduos de

demolições à base de carbono.

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5 EXEMPLOS EM REÚSO E RECICLAGEM

Este capítulo tem como finalidade apresentar alguns exemplos de empreendimentos do

Brasil e do mundo que utilizaram, principalmente, práticas de reúso e reciclagem, contribuindo

assim para um menor impacto socioambiental. Os exemplos 5.1; 5.2; 5.3 e 5.4 foram cosultados

no livro – Reúso de materiais e elementos de construção - do autor Bill Addis.

5.1 PRÉDIO C.K.CHOI, UNIVERSIDADE DE BRITISH COLUMBIA, CANADÁ

Na fase de preparação do projeto para que o novo prédio C.K.Choi fosse a casa do

Institute of Asian Research, a universidade de British Columbia decidiu que o prédio deveria

ser um “modelo de construção verde” que estabeleceria novos padrões para projetos de

sustentabilidade, construção e operação. Os materiais de construção foram uma das sete

categorias de projetos “verdes” e estabeleceu-se o objetivo de que 50% do peso dos materiais

de construção fosse de materiais reaproveitados ou reciclados e que 50% dos materiais fossem

recicláveis.

Os arquitetos estabeleceram uma conexão com os demolidores locais e com

regularidade visitavam edificações agendadas para demolição, à procura de materiais úteis. O

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projeto precisava manter-se flexível para acomodar os materiais reutilizados à medida que

estivessem disponíveis. Os reais tamanhos, quantidades e as orientações necessárias não eram

conhecidos até que o material fosse encontrado e comprado. Por esse motivo, o processo de

realização da obra pareceu mais um processo de reforma.

Figura 4 – Fachada do prédio C.K.Choi

Fonte: ( PETERSE, 2010).

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Figura 5 - Exterior do prédio, mostrando os tijolos reaproveitados

Fonte: ( PETERSE, 2010).

5.1.1 Sistema estrutural

Para uma parte do prédio, a estrutura de suporte de carga foi feita de postes e vigas de

madeira reaproveitados. Mais de 65% dos elementos de madeira vieram de um prédio em

demolição em outro lugar do campus. Antes que o prédio fosse erguido, a madeira foi avaliada

e classificada. Inicialmente, os classificadores, que normalmente classificam a madeira nova,

rejeitaram todas as peças com evidente sinal de uso prévio. O engenheiro de estruturas se

envolveu e, à medida que ele trabalhava ao lado dos classificadores, 90% da madeira passou

como adequada para uso em estruturas. O aço estrutural para conexões de madeira, armadura

do concreto, decks de aço e cintas de travamento tinha um conteúdo reciclado de pelo menos

75%, e não houve nenhum problema significante durante o seu uso.

5.1.2 Fachada

A maioria das paredes de tijolo foi feita com tijolos de barro reaproveitados de uma

variedade de lugares, comprados nos primeiros estágios de projeto para garantir que estariam

disponíveis quando necessário.

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5.1.3 Instalações Interiores

Virtualmente, todos os acessórios e instalações interiores foram avaliados quanto à

possibilidade de uso de componentes reaproveitados ou de conteúdo reciclado. Uma vez que os

fatores disponibilidade e custo eliminaram várias opções, um significativo número de itens

reaproveitados/reciclados foi incorporado:

Divisórias foram feitas com placas de gesso de conteúdo reciclado, que se

mostraram de menor custo. O revestimento foi feito com papel jornal 100% reciclado.

O conteúdo reciclado da camada central, composto por 18% de gesso reciclado e 37%

de papel reciclado.

O isolamento das paredes foi feito com fibras de celulose 100% recicladas,

tratadas com um aditivo à base de borato, como um retardador de chamas, inibidor de

chamas, inibidor de mofo e com outras substâncias químicas para inibir ataques de

roedores e insetos.

Todas as portas de madeira e esquadrias de portas foram reaproveitadas de um

prédio comercial que estava sendo transformado em prédio residencial. Das portas e

esquadrias de aço, 90% também foram reaproveitadas.

Os suportes de alumínio para o átrio e os corrimões da escadaria foram

recuperados da sede de um clube de golfe que estava sendo demolida próximo à

universidade.

Nos banheiros e nas cozinhas do prédio, todas as pias, suportes de papel-

toalha, latas de lixo e as divisórias entre os banheiros foram reaproveitados.

A camada inferior do carpete era de uma fibra feita de 100% de fibras

recicladas pré-consumo, provenientes da indústria têxtil.

Os azulejos nos banheiros e na cozinha foram feitos com 70% de vidro

reciclado da indústria automotiva.

Aproximadamente, 40% dos condutos elétricos foram reaproveitados. Eles

tiveram que ser armazenados em lugar seco para prevenir corrosões e foram escovados

internamente antes do uso.

5.1.4 Aprendizados

Embora nenhuam avaliação detalhada tenha sido feita, a quipe de projeto está confiante

de que o conteúdo reutilizado e reciclado no prédio Choi passou de 50%. Apesar da relutância

inicial da construtora, a implementação de um plano eficaz de gerenciamento de desperdício

resultou em apenas 5% de entulho despejado em aterros.

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As principais lições aprendidas durante o projeto foram:

O comprometimento do cliente é essencial para assegurar que as opções de

reaproveitamento sejam totalmente consideradas.

O processo convencional e as responsabilidades de um arquiteto no projeto de

uma edificação não abordam o gerenciamento do reúso e da reciclagem de materiais.

É necessário tempo extra para encontrar, negociar, comprar e armazenar os materiais

e depois, então, incorporá-los no projeto da obra. Há ainda o potencial de

responsabilidade adicional.

É necessário comprar os objetos reaproveitados tão logo sejam encontrados

para garantir que estejam disponíveis. Isso significa gastar dinheiro antes do que o

usual.

A decisão de levar uma obra sob esse prisma requer uma parceria entre

consultores e empreiteiros, em que os dois lados reconheçam tanto os benefícios

quanto as dificuldades envolvidas. Uma possibilidade seria contratar um profissional

que trabalhe ao lado do arquiteto e tenha a responsabilidade de encontrar, ensaiar e

comprar os materiais e objetos reaproveitadas, e providenciar seu armazenamento e

sua entrega no local – talvez um funcionário da construtora.

5.2 BedZED – LONDRES, REINO UNIDO

O Projeto Energia Zero de Beddington (Beddington Zero Energy Development,

BedZED) é um projeto residencial e de escritórios “ultraverdes”, no qual foram utilizados

inúmero elementos e materiais reaproveitados de outras construções. As figuras 6, 7, 8 e 9

ilustram o projeto.

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Figura 6 - Panorama geral do projeto BedZED

Fonte: Site - https://www.zedfactory.com/bedzed

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Figura 7 - Vista do projeto BedZED

Fonte: Site - https://www.zedfactory.com/bedzed

Figura 8 - Vista do projeto BedZED

Fonte: Site - https://www.zedfactory.com/bedzed

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Figura 9 - Detalhamento do telhado verde e estruturas superiores do BedZED

Fonte: Site - https://www.zedfactory.com/bedzed

Um total de 3.404 t de materiais alternativos, incluindo 1.862 t de material de

preenchimento de aterro reaproveitado do próprio local – em torno de 15% em peso do total de

material utilizado no projeto. Os diversos produtos reaproveitados e materiais reciclados são

reumidos no quadro a seguir:

Quadro 3 - Resumo dos materiais reaproveitados e reciclados no BedZED

Material

Produto

disponível

em lojas

Feitos no

BedZED Dificuldade Implicações de custo

Aço reaproveitado Não Sim Relativamente

fácil Economia

Madeira

reaproveitada para

vigas internas

Não Sim Relativamente

fácil Economia

Madeira

reaproveitada para

vigas externas

Não

Não

(pouca

quantidade

)

Difícil Custo Elevado

Placas de piso

reaproveitadas Não Sim Fácil Economia

Estacas

reaproveitadas Sim Sim Fácil Economia

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Agregado reciclado Sim Sim Relativamente

fácil Economia

Pó de vidro verde

triturado reciclado Sim Sim Fácil Economia

Portas

reaproveitadas Não Não Difícil

Mais baratas do que

similares de mesma

qualidade, porém

mais caras do que as

do tipo “faça você

mesmo”

Lajes para

pavimento

reaproveitadas

Não Não Difícil

Neutro (incluindo

espaço para

armazenamento)

Painéis

compensados

reaproveitados

Não Sim Fácil Economia

Preenchimento de

aterro reutilizados - Sim Fácil Economia

Fonte: (ADDIS, 2010, p.57)

5.2.1 Aço estrutural reaproveitado

No total, 98 toneladas de aço estrutural (95%) foram reaproveitados de locais de

demolição relativamente próximos à obra.

Os engenheiros de estruturas especificaram a gama de perfis que poderiam ser usados

em cada situação. À medida que os perfis de aço eram encontrados, fazia-se a conferência da

sua qualidade antes que fossem comprados, o que incluía a avaliação ou identificação de sua

data de fabricação, sua condição, o número de conexões existentes e se estavam parafusados ou

soldados, e a adequação para fabricação. O aço era então lixado, forjado e pintado. Todos os

produtos de aço reaproveitados tinham que ser lixados mais de uma vez e receber uma camada

de zinco. O custo do aço reaproveitado foi 4% menor em comparação ao de aço novo.

5.2.2 Madeira reaproveitada

5.2.2.1 Madeira para vigamento interno

A madeira para vigamento veio de um grande depósito local de materiais

reaproveitados, que também preparou a madeira e a entregou no local da construção, pronta

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para uso. O fornecedor ainda garantiu que toda a madeira era livre de pregos, além de ser

responsável pelos riscos associados à qualidade da madeira.

Qualidade não foi a maior questão com o vigamento interno, porque este não é estrutural

nem visível ou exposto às condições climáticas. A construtora não teve problema nenhum em

usar madeira reaproveitada e considerou a possibilidade de fazê-lo novamente em projetos

futuros.

O projeto exigiu 54.000 m de madeira reaproveitada (50 mm x 100 mm e 75 mm x 100

mm) para o vigamento interno. Fechando as contas, os custos da compra de madeira

reaproveitada resultaram em uma economia de UK £3.350 em comparação à compra de madeira

nova.

5.2.2.2 Madeira para vigamento externo

O uso de madeira reaproveitada para vigamento externo no BedZED foi limitado a uma

pequena porção, por restrições orçamentárias e de tempo. O restante foi concluído com madeira

nova certificada.

A madeira para vigamento externo tinha que ter um ótimo desempenho estrutural e, em

razão disso, ser classificada na categoria C16. A madeira reaproveitada tinha que ser

classificada visualmente quanto à resistência por um especialista, no depósito em que foi

adquirida, o que foi extremamente difícil, por causa das diferentes idades e misturas de tipos.

A madeira usada no projeto foi comprada por um preço mais baixo do que o de madeira

nova; entretanto, depois que os custos adicionais de classificação e tratamento foram

computados, a madeira reaproveitada revelou ser a opção mais cara.

5.2.3 Assoalhos reaproveitados

Assoalhos reaproveitados foram usados em todo o projeto BedZED. Esses assoalhos,

conhecidos como onion timber (árvore rara encontrada em regiões semiáridas de clima

subtropical) , foram comprados diretamente do marceneiro contratado e tinham sido utilizados

antes como espaçadores entre engradados em navios de carga. O uso desse tipo de madeira foi

mais barato do que utilizar madeira nova.

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5.2.4 Postes de amarração

Todos os postes de amarração no BedZED foram feitos com dormentes de ferrovia

antigos. O custo instalado foi mais barato do que se tivesse sido utilizada madeira nova.

5.2.5 Portas reaproveitadas

O uso de portas reaproveitadas mostrou-se de difícil aplicação e não resultar em

vantagem financeira. Um total de 476 portas eram necessárias no BedZED, das quais 350

poderiam ser reaproveitadas. Para encontrar uma quantidade tão grande de portas, seria

necessário estabelecer uma rede de fornecedores, uma vez que nenhum fornecedor sozinho

conseguiria fornecer um número tão grande. Também se concordou que, para atingir um bom

preço, seria necessário comprar em grande número de portas de cada fornecedor.

Estabelecida a rede de fornecedores, mais ou menos 20, as portas foram entregues no

local do BedZED por semana. O controle de qualidade era difícil, e muitas portas de qualidade

inferior acabavam misturadas às outras. Um dia em particular, um carregamento de portas foi

entregue no local e 50% das portas foram rejeitadas. No final das contas, o baixo controle de

qualidade e o tempo extra necessário para os funcionários manterem o processo funcionando

se maiores problemas levou ao aborto desse esquema em favor de portas de menor qualidade e

custo, compradas em lojas do tipo “faça você mesmo” por £25 cada uma.

Esse exercício mostrou que, para que o uso de portas reaproveitadas seja viável em

projetos de grande escala, é necessário tentar encontrar um único fornecedor que dê conta de

suprir toda a demanda, o que certificará que cada porta tenha a mesma qualidade e atenda ás

especificações exigidas, possibilitando assim uma boa economia.

5.2.6 Pisos

Por volta de 1800 m² (em torno de 270 t) de piso foram necessários para o trabalho de

paisagismo no projeto BedZED. A fonte dos pisos reaproveitados foram as autoridades locais,

que têm programas para substituição de pisos velhos e danificados. A cotação mais barata para

um carregamento de 490 lajotas reaproveitadas foi de £1,79 por lajota embalada e entregue –

um bom preço em comparação às £2 cobradas por uma lajota nova.

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Entretanto, pesquisas nas primeiras fases do projeto mostraram que não havia nenhuma

forma viável de utilizar pisos reaproveitados, porque os custos envolvendo manuseio e

armazenagem são muito altos. No caso do BedZED, pelo espaço limitado no local, os pisos

teriam que ser armazenados em outro lugar, o que, além de acrescentar o custo da armazenagem,

incluiria ainda o custo do remanuseio, fazendo essa opção tornar-se economicamente viável.

5.2.7 Preenchimento de aterro

Durante a terraplenagem no local do BedZED, 1.860 t de cascalho foram retiradas de

debaixo da camada superior do solo e reutilizadas como aterro para as ruas ao redor do projeto.

5.2.8 Agregado reciclado

Utilizou-se a pedra britada reciclada para substituir agregado de pedra calcária virgem

na construção da sub-base da estrada. Esse produto, feito de concreto triturado, foi fornecido

da mesma maneira e substituiu a mesma quantidade de pedras calcárias convencionais.

Os empreiteiros de terraplenagem já tinham experiência com esse tipo de produto e não

tiveram nenhuma dificuldade em encontrar um fornecedor para as 980 t necessárias e nem para

a colocação do agregado. Uma significativa economia de £3,50 por tonelada, culminando num

total de £3.430, foi atingida pelo uso de produto reciclado.

5.2.9 Vidro verde triturado reciclado

Foram usadas 279 t de vidro verde triturado reciclado no projeto BedZED, para

substituir a mesma quantidade de areia virgem necessária para assentar o piso. A areia reciclada

foi obtida facilmente de um fornecedor de agregado local e custou aproximadamente £2 a menor

por tonelada, em comparação com material virgem. Sem nenhum trabalho adicional para a

empreiteira, o valor total economizado no material foi de £558 (quase 15%).

5.2.10 Aprendizados

Se, por um lado, poucas barreiras técnicas foram encontradas, foi necessário um esforço

considerável para lidar com os processos não convencionais de aquisição de materiais para a

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obra e certificar-se de que quantidades suficientes de materiais adequados estivessem

disponíveis quando necessário.

5.3 CENTRO DE RECURSO ENERGÉTICO DA COMPANHIA DE GÁS DO SUL DA

CALIFÓRNIA - EUA

O projeto para o novo prédio do Centro de Recurso Enegértico (Energy Resource Centre

– ERC) foi a reforma de um antigo prédio comercial construído em 1957, e um dos objetivos

da Companhia de Gás do Sul da Califórnia (Southern California Gas Company) era usar o

maior número possível de materiais reaproveitados/reciclados na obra. A figura 10 abaixo

demonstra o novo prédio.

Figura 10 - Novo prédio do Centro de Recurso Energético da SoCalGas

Fonte: Site - https://www.socalgas.com/for-your-business/education-and-training/energy-resource-center

O maior incentivo para essa iniciativa foi o desejo da empresa em causar uma boa

impressão em seus clientes e acionistas, mostrando seu compromisso com a preservação de

recursos naturais no projeto e na construção de seu novo prédio. A figura abaixo

O antigo prédio da empresa foi desmontado para preservar materiais que poderiam ser

reutilizados no novo prédio. Em torno de 60% das 550 t de materiais de demolição retiradas do

antigo prédio foram reutilizadas na nova edificação ou recicladas de outras maneiras. Além dos

materiais reutilizados do antigo prédio, 80% de todos os materiais de construção usados no

novo prédio do ERC eram reaproveitados, continham materiais reciclados ou foram feitos de

recursos renováveis.

Entre os materiais reaproveitados ou reciclados usados no novo prédio do ERC:

Uma estrutura completa de uma escadaria foi retirada de um estúdio de

filmagem e sofreu pequenas modificações para atender a todos os importantes códigos

de contrução civil.

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Os pisos de madeira usados na recepção foram reaproveitados de um depósito

condenado na cidade de São Francisco.

Os carpetes são feitos com 50% de conteúdo reciclado e podem ser reciclados

novamente ao final de sua vida útil.

Uma parede decorativa na recepção do prédio é feita com alumínio 100%

reciclado da indústria de aviação.

A mistura de concreto na rampa de entrada foi colorida adicionando-se

granulados de PVC de restos de canos de gás.

O topo de um balcão na recepção foi feito com 100% de vidro reciclado de

janelas.

Painéis de exibição na área de exposição do salão principal são feitos de papel

100% reciclado.

As placas acústicas de teto nas salas para seminários contêm

aproximadamente 22% de resíduos pós-consumo.

As divisórias nos banheiros são feitas de 50% a 90% de plástico reciclado.

O preenchimento para as juntas de expansão do concreto foi feito com 100%

de papel jornal reciclado.

Antes de adotados, todos os materiais reaproveitados ou reciclados foram avaliados

quanto à sua viabilidade econômica. O cliente estimou uma economia de US$ 3 milhões usando

produtos ambientalmente responsáveis e materiais reaproveitados do antigo prédio.

5.4 ESCOLA DE WESTBOROUGH, SOUTHEND, REINO UNIDO

Quando uma nova sala de jogos começou a ser planejada na Escola de Ensino Elementar

de Westborough, decidiu-se aproveitar a oportunidade para construir um prédio experimental

com o objetivo principal de explorar as oportunidades de utilizar papelão como material de

construção. O caráter experimental do projeto atraiu financiamento do governo britânico.

O principal benefício do uso de papelão é que se trata de um material com grande

conteúdo reciclado – geralmente mais de 90%, além de poder ser reciclado novamente depois

que tenha servido a seu propósito. A fonte das fibras usadas para o papelão nesse projeto foi

uma mistura de papéis e placas de papel pós-industriais e pós-consumo.

Um segundo objetivo do projeto era utilizar 90% (em peso) de material reciclados ou

facilmente recicláveis (sem contar o concreto usado para o piso). Atingiu-se um nível de 50%,

principalmente devido à quantidade de madeira necessária, que foi muito superior á que se tinha

previsto, e madeira virgem teve que ser usada. O quadro 4 demonstra os componentes com

conteúdo reciclado utilizados.

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Quadro 4 - Materiais reciclados usados na escola de Westborough

Material Item Volume

em m³

Peso

em kg

Conteúdo

reciclado (%)

Painéis de papelão

Paredes externas,

telhado, algumas

divisórias internas

22,5 2260 100

Caixinhas de suco

recicladas

Portas de armários de

cozinha e placas contra

respingos

0,12 200 100

Tubos de papelão Colunas, dutos de

ventilação 0,5 400 100

Painéis de fibra

reforçados com gesso

(sasmax boards)

Paredes à prova de fogo 0,2 240 50

Painéis feitos de

jornal reciclado

(sundeala boards)

Painéis de revestimento

acústico 0,4 480 100

Pisos de borracha Acabamento do piso de

todo o prédio 0,5 675 100

Fonte: (ADDIS, 2010, p.87)

Um material novo ou não convencional não pode ser usado em construções sem muito

trabalho para estabelecer o nível de sua adequação. As questões estudadas (rigidez e resistência;

efeitos da deformação; teor de umidade; efeitos da temperatura; efeitos do fogo; efeitos da água;

danos causados por insetos e mofo; acústica e garantia/seguro) para elementos feitos de papelão

de conteúdo reciclado deveriam ser analisadas para qualquer elemento construtivo feito de

materiais não convencionais, sejam eles reciclados ou simplesmente pouco comum.

As figuras 11, 12 e 13 mostram a sala de aula da escola de Westoborough e as

respectivas estruturas que foram utilizadas com o uso do papelão.

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Figura 11 – Nova sala de aula na escola de Westborough construída em grande parte com

papelão

Fonte: Cottrell & Vermeulen Architecture

Figura 12 – Colunas internas de papelão e seu encaixe detalhado com a estrutura interna da sala

de aula

Fonte: Cottrell & Vermeulen Architecture

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Figura 13 – Vistar interir da sala de aula, mostrando dutos feitos de papelão, encaixes com a

tesoura do telhado e o seu telhado também de papelão

Fonte: Cottrell & Vermeulen Architecture

5.4.1 Aprendizados

Embora não apresente nenhuma dificuldade técnica, isso requer engenheiros e

arquietetos com atitude correta e tempo durante a fase de projeto para obter o necessário

entendimento acerca dos materiais – em muitas áreas diferentes – e como utilizá-los. Da mesma

forma, a equipe de projeto precisa encontrar empreiteiros com o mesmo espírito de aventura e

que estejam preparados para alguma experimentação prévia antes da construção definitiva.

5.5 CLUBE DE GOLFE, SÃO CARLOS, BRASIL

Este estudo de caso foi realizado por Mattaraia e Fabricio (2011) e teve como objetivo

ilustrar o projeto de reaproveitamento de materiais provenientes de antigas tulhas de café da

região de São Carlos, SP, para construir a sede de um clube de golfe. A figura 14 mostra a

entrada principal do clube.

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Figura 14 – Fachada frontal do clube de golfe

Fonte: (MATTARAIA, FABRICIO, 2011).

Na parte central e mais alta, os tijolos, as telhas e as madeiras foram todos

reaproveitados. Nas outras alas, apenas as madeiras seguem o mesmo conceito.

Segundo o administrador do clube que acompanhou de perto a obra, as madeiras são

provenientes de 5 tulhas de café de fazendeiros que estavam demolindo-as e queriam aproveitar

o material de alguma maneira. Foram reaproveitados os tijolos, as madeiras e as telhas. Os

maquinários utilizados para a produção do café também puderam ser reaproveitados, pois foram

restaurados e encaminhados para um museu, localizado na Fazenda São Miguel, que fica

próximo ao clube.

Quando as tulhas foram construídas não foi pensando em seu desmonte, assim é possível

avaliar as conseqüências e maneiras de se aproveitar materiais, mesmo sem que isso fosse

programado na construção original. O principal material reutilizado foram madeiras de peroba

rosa. Segundo o administrador do clube, as madeiras puderam ser totalmente reaproveitadas,

mesmo quando não puderam ser usadas na estrutura, foram aproveitadas no mobiliário, como

revestimento e detalhes decorativos.

Segundo o arquiteto responsávelo pelo projeto, o principal conceito foi a reutilização

desses materiais e atender as necessidades do clube. Atualmente, o edifício é composto por um

bar, um restaurante, vestiários e escritório.

Na figura 16, é possível perceber as marcas nos pilares de madeira, possivelmente de

antigos pregos, encaixes e até mesmo desgaste. No projeto o objetivo não foi esconder estas

marcas e sim realçá-la, assim as peças mais marcadas, foram colocadas logo na entrada

principal do clube, que além de suprir as necessidades funcionais e tecnológicas, obteve ganhos

estéticos.

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Figura 15 – Detalhes do interior do clube de golfe

Fonte: (MATTARAIA, FABRICIO, 2011).

Figura 16 – Detalhes dos pilares reutilizados

Fonte: (MATTARAIA, FABRICIO, 2011).

O autor do projeto arquitetônico relatou que durante o seu desenvolvimento foram

desenhadas peças de maneira a aproveitar bem a reutilização dos materiais, evitar perdas e criar

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modulações. A montagem da estrutura foi feita através de encaixes e pregos. Não houve

tratamento químico na madeira, apenas raspagem e retirada dos pregos e parafusos. Algumas

peças de madeira tiveram que ser compradas para completar a estrutura.

O processo do desenvolvimento do projeto não foi muito diferente da rotina do

escritório, segundo o arquiteto, pois para ele cada projeto tem seu desafio. Neste caso, o maior

desafio foi desenvolver a estrutura em madeira e reaproveitar os materiais.

O arquiteto considera que vale a pena reutilizar materiais, no entanto demanda mão de

obra especializada e cuidadosa, pois é necessário trabalhar o material sem tirar suas principais

características. Segundo o administrador, a construção está próxima de completar quatro anos

e não apresentou nenhum problema em relação a cupins ou outras pestes. Até hoje, nenhuma

peça teve que ser trocada. A união da estrutura de madeira com a alvenaria de tijolos e

argamassa funcionou bem, pois não há fissuras, nem frestas.

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6 METODOLOGIA

Neste estudo foi realizada uma pesquisa quanto a situação do tema – gerenciamento dos

resíduos da construção civil – em Santa Maria, com um viés especial para as práticas de reúso

e reciclagem. Assim, foram entrevistadas duas construtoras da cidade a partir do questionário

que se encontra abaixo:

1. A Resolução do Conama 307/02 é aplicada?

2. Qual a quantidade de resíduos gerados pela empresa? Qual a quantidade de

material reaproveitado?

3. Há envolvimento dos operários? Como?

4. Existe empenho da diretoria?

5. Qual a participação do município junto à empresa?

6. Existe um plano de redução de desperdícios? E para reutilização e reciclagem

de resíduos? Se sim, descreva

7. Há aplicação de critérios que minimizem a quantidade de resíduos, através de

otimização dos processos, como na etapa de planejamento?

8. Na etapa de projeto, há a racionalização do processo, como os projetos de

alvenarias, revestimento? Descreva.

9. Exitem áreas para depósitos temporários? Detalhar.

10. No projeto da produção, como são realizados os empacotamentos e

armazenamento de materiais no canteiro de obras?

11. Existe algum "diagnóstico" da qualidade no canteiro, com mapas de focos de

resíduos e suas causas? Qual?

12. Há algum plano de medidas corretivas a ser implantado pela empresa, visando

melhorar o processo de minimização de perdas? Descreva.

13. Os canteiros de obras são preparados para a gestão de resíduos? Como?

14. Existem áreas para armazenar todos os resíduos gerados? E para coletas?

15. Há campanhas de conscientização? Quais? Detalhar.

16. Existem procedimentos relacionados à reciclagem realizados pela empresa?

Cite. Quais os responsáveis?

17. Como é realizada a segregação de resíduos?

18. Como é feita a limpeza no armazenamento temporário?

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19. O que poderia apontar como empecilho para a melhoria da gestão de RCC?

(Opinião tanto de processos internos da empresa, quanto a nível município)

Foi visitada a única empresa licenciada pela prefeitura de Santa Maria para receber

resíduos da construção civil denominada GR2 Resíduos; e foi visitado um espaço novo para

eventos, seminários e cursos que possui alguns exemplos quanto a reúso e reciclagem chamada

Casa Círculo.

No caso das construtoras foram entrevistados pessoas da gerência, engenheiros e

administradores, a fim de obter respostas mais técnicas sobre o assunto. Quanto a empresa GR2

e o espaço da Casa Círculo, além de ter sido conversado com os adminstradores dos dois

lugares, também foram registradas fotos de ambos os lugares que agregassem de alguma

maneira com o presente estudo.

7 RESULTADOS

7.1 RESULTADOS DAS ENTREVISTAS COM AS CONSTRUTORAS

7.1.1 Construtora 1

1. Não, a resolução da CONAMA não é aplicada.

2. Em torno de 2 tele entulhos/mês. Não é medido quantitativamente.

3. Existem conversas com os operários relacionadas ao não desperdício de materiais e

ao reaproveitamento do que for possível.

4. Sim. Através de conversações com os operários.

5. Nenhuma.

6. Não.

7. Não.

8. Não.

9. Sim. Existem baias para o armazenamento temporário dos resíduos, até a chegada do

tele entulhos.

10. Não soube responder.

11. Não.

12. Não.

13. Apenas existem baias separadas de acordo com os tipos de resíduos.

14. Cada tipo de resíduo tem uma baia diferente e a coleta é feita mensalmente.

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15. Não. Existem apenas conversações.

16. Não.

17. Tijolos, telhas, concreto, argamassa/Papéis, plásticos/Metais e madeiras/Tintas e

derivados.

18. É feita mensalmente com o tele entulho.

19. Para descartar de maneira correta alguns tipos de resíduos é necessária a contratação

de serviços de empresas de cidades longes da nossa, o que demanda um maior tempo e custo.

7.1.2 Construtora 2

1. Tem conhecimento da resolução e é uma cobrança da prefeitura. Destinação e

separação por classes. Há um projeto de resíduos para ser feito e apresentado para a prefeitura

na etapa de concepção de projeto - que é bem genérico.

2. Há apenas a separação e destinação para as caçambas. Na obra atual foi estimado em

torno de 290 m³ na etapa de projeto, sendo que na anterior, na fase de proejto, foi estimado em

torno de 310 m³ (descontando o material de terraplenagem). Papelão e sacos plásticos é

separado e enviado para a ASMAR.

3. Existe um funcionário específico para separar, seja em baias ou não.

4. Sim, mas sem interesse de aprofundar no assunto.

5. Na cobrança do projeto e na fiscalização.

6. Não há planos para ambos.

7. Não.

8. Não.

9. Existem áreas, que já foram usadas baias, geralmente localizadas no térreo.

10. São depositados no almoxarifado, principalmente materiais elétricos e sanitários. É

disposto uma área grande no térreo para o almoxarifado. Conforme o avanço da obra, os

materiais são distribuídos nos pavimentos conforme a utilização.

11. Não. Sem pesquisas de causas.

12. É realizado um controle de qualidade no esquadro, alinhamento e na execução de

fôrmas para evitar desperdícios. Há um cuidado com as cerâmicas no sentido de se enquadrar

no tamanho que vai ser utilizado. O escoramento utilizado é metálico. Na última obra foi

utilizado de eucalipto.

13. Apenas com as áreas para armazenar os resíduos, e lugares como o almoxarifado.

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14. Conforme falado anteriormente, existem áreas (geralmente no térreo) para o

depósito. Para as coletas são utilizadas as caçambas.

15. Nunca foi feito nada específico nesse sentido.

16. Para a reciclagem não.

17. Conforme recomendação da CONAMA e divididos por classe.

18. Quando enche, é realizado a destinação para a caçamba. Quando a caçamba fica

cheia, é chamada a empresa.

19. Não possui pessoas focadas neste assunto dentro da empresa. A prioridade da

empresa é a produção da obra, deixando a questão de resíduos como algo totalmente secundário,

com o foco para o planejamento e tempo de entrega. Quanto as empresas, poderia ter uma maior

transparência quanto as questões de licenças e se realiza os procedimentos dentro da legalidade.

7.2 RELATOS E DISCUSSÃO COM A EMPRESA GR2 RESÍDUOS

A visita à empresa GR2 Resíduos, única empresa licensiada segundo a Prefeitura

Municipal de Santa Maria, apenas trouxe á tona declarações, por parte do administrador da

empresa, de uma realidade preocupante da cidade que foi notícia do jornal Diário de Santa

Maria no dia 17 de fevereiro de 2018: “Santa Maria tem 121 focos de descarte irregular”.

Segundo o administrador da empresa, os órgãos municipais responsáveis não realizam

a fiscalização, e assim, os resíduos são descartados irregularmente. O administrador acredita

que apenas 20% do resíduo gerado na cidade chega até o seu aterro, enquanto o resto,

provavelmente, está sendo descartado em “lixões” pela cidade.

Sabe-se que além da GR2 Resíduos, existe, segundo o site da Secretaria de Município

de Meio Ambiente de Santa Maria, a União dos Transportadores de Resíduos da Construção

Civil de Santa Maria (UTRCC-SM), o qual, apesar de não ter sido visitada, possui uma estrutura

muito menor que a GR2 Resíduos.

As imagens 19, 20, 21, 22 ,23 e 24 foram tiradas durante a visita demonstrando a

separação por tipos de materiais na empresa.

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Figura 17 – Área para destinação e aterro da empresa

Fonte: Autor (2018)

Figura 18 – Madeiras separadas para se tornar adubo

Fonte: Autor (2018)

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Figura 19 - Madeiras recém chegadas e separadas

Fonte: Autor (2018)

Figura 20 - Separação de resíduos recém recebidos

Fonte: Autor (2018)

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Figura 21 - Separação dos resíduos

Fonte: Autor (2018)

Figura 22 - Separação de materiais inutilizáveis

Fonte: Autor (2018)

Figura 23 - Separação do gesso

Fonte: Autor (2018)

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O administrador acredita que, atualmente, receba em torno de 400m³ a 500m³ de

resíduos por mês, números estes que já alcançaram, em época de maior fiscalização, 2000m³ de

resíduos ao mês. Com anos de experiência no mercado e ciente do cenário atual da cidade,

acredita que o número de resíduos da construção civil deve estar girando em torno de 3000 a

5000 m³ mensalmente.

Sobre práticas voltadas a reúso e reciclagem, o admisnitrador declarou que alguns tipos

de materiais são revendidos para fábricas de fora que reutilizam os materiais, como por

exemplo, ferro e gesso. Foi cogitado e planejado a compra de todo o maquinário para a produção

de blocos de concreto reciclados de resíduos da construção civil, mas, com a falta de mercado

e fiscalização de políticas públicas, tornou-se extremamente inviável o seguimento deste

projeto.

Com todos estes obstáculos, a empresa terceirizou o tele entulho e mudou o foco dos

serviços para recebimento dos resíduos, terraplanagem e demolição. Ainda assim, segundo o

próprio administrador, está sendo aberto o processo de venda da empresa, e o seu motivo é bem

claro: “ Não há mercado na região, não há cultura e, principalmente , não há fiscalização por

parte dos órgãos públicos”.

7.3 RELATOS E DISCUSSÃO COM A CASA CÍRCULO

A casa círculo é uma espaço relativamente novo para eventos e apresentações em Santa

Maria. Encontra-se na rua Amâncio Pires de Arruda, e, apesar de receber eventos dos mais

diversos tipos, realiza constantemente seminários e workshops voltados para a sustentabilidade,

bioconstrução e permacultura, o qual, a própria construção do espaço foi feito de uma maneira

não muito convencional.

Segundo a própria rede social da Casa Círculo: “Construída com base em uma

arquitetura sustentável, a Casa Círculo é uma nova alternativa conectada às melhores práticas

de ecorresponsabilidade, ideal para quem pratica uma nova forma de viver, preservando e

respeitando a natureza em sua forma pura. Localizada em Santa Maria, no Vale do Menino

Deus, em meio aos morros, a Casa Círculo ainda oferece uma das mais belas vistas da região,

em um ambiente rodeado por córregos, mata nativa e muitas belezas naturais. Contando com

aproveitamento de luz natural, sistema de ventilação de baixo impacto e acústica diferenciada,

a Casa Círculo foi projetada em formato de domo, ou casa geodésica, estilo de construção

milenar que traduz uma visão holística em que o todo representa mais que a soma de suas partes,

resultando em uma construção leve, forte, estável e de baixo impacto ambiental. Com

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capacidade para 200 pessoas, cozinha completa e estacionamento amplo, a Casa Círculo está

preparada para receber os mais diversos tipos de eventos.”

As figuras 24 e 25 mostram internamente a estrutura geodésica da casa círculo que é

revestida com embalagens Tetra Pak, provenientes, principalmente, de caixas de leite.

Figura 24 - Estrutura interna da geodésica

Fonte: Facebook – Casa Círculo

Figura 25 - Evento no espaço

Fonte: Facebook – Casa Círculo

No dia 25 de Agosto de 2017, o Diário de Santa Maria realizou uma notícia sobre este

espaço, descrevendo a estrutura do local: “Apesar de estar na área urbana da cidade, o lugar é

rodeado de verde. Quando o terreno foi comprado, era apenas campo aberto. O casal reflorestou

o local e projetou uma casa de eventos com uma arquitetura que respeita a natureza. O salão,

construído em forma geodésica (como se fosse um grande iglu), tem paredes e o teto feitos de

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uma placa a base de embalagens Tetra Pak, as famosas caixas de leite, suco ou até mesmo

alguns tipos de tubos de pasta de dente. Durante o dia, pequenas janelas permitem que a luz

solar ilumine o espaço, e o sistema de ventilação é de baixo impacto. Uma claraboia no teto

auxilia na redução do calor e uma estrutura subterrânea ajuda a resfriar o local. Apesar de não

ser uma estrutura 100 % sustentável, a ideia é ampliar cada vez mais o uso de recursos naturais

na Casa Círculo.” (PERUFO, 2018)

Durante a visita, foi visto que, quanto a práticas de reúso e reciclagem, além da própria

utilização das embalagens de Tetra Pak na estrutural principal, as mesmas embalagens foram

reaproveitadas como divisória internas dos banheiros. Além disso, grande parte das esquadrias

encontradas no local são reutilizadas, conforme figuras 26, 27, 28, 29, 30 e 31 a seguir:

Figura 26 - Porta de entrada reutilizada

Fonte: Autor (2018)

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Figura 27 - Janela reutilizada

Fonte: Autor (2018)

Figura 28 - Porta lateral reutilizado

Fonte: Autor (2018)

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Figura 29 - Divisórias dos banheiros com reutilização de Tetra Pak

Fonte: Autor (2018)

Figura 30 - Lixos com reutilização de Tetra Pak

Fonte: Autor (2018)

7.4 ANÁLISE DOS RESULTADOS

A partir das entrevistas realizadas junto às construtoras, é perceptível que o assunto de

gerenciamento dos resíduos da construção civil é tratado de uma maneira extremamente

superficial. Basicamente é realizado a separação conforme a Resolução do CONAMA e a

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destinação para lugares adequados através de empresas de tele entulho, tornando até mesmo

difícil tirar informações mais específicas no sentido qualitativo e quantitativo sobre os resíduos

gerados nas suas respectivas obras.

Como consequência, práticas de reúso e reciclagem, os quais foram focados neste

presente trabalho, não foram encontradas nas construtoras entrevistadas, e, apesar de ter sido

entrevistadas apenas duas construtoras da cidade, sabe-se que práticas deste tema, muito

provavelmente, não serão vistas em Santa Maria.

Quanto as duas outras conversas, percebe-se um ponto em comum: ambos os

proprietários possuem um pensamento diferente do tradicional. Um pensamento voltado para a

preocupação ambiental e consciente das discussões atuais acerca sustentabilidade, impacto

ambiental e sobre os resíduos da construção civil e demolição.

Entretanto, estão em diferentes situações. De um lado, uma empresa licensiada pela

prefeitura que trabalha exatamente com o recebimento dos RCD, realizando todos os processos

de destinação correta, aterramento, entre outros, mas que acaba sendo prejudicada por

incopetência da fiscalização do poder público, e assim, mais e mais resíduos estão sendo

descartados em lugares irregulares da cidade. Do outro lado, um espaço novo da cidade que

promove eventos variados e traz, tanto em eventos e seminários, quanto na prática, exemplos

de reutilização e reciclagem, alcançando até mesmo um conforto térmico e acústico maior do

que grande parte das obras tradicionais. Vale ressaltar que ambas são iniciativas pessoais, os

quais não receberam nenhum tipo de incentivo para realizar tais empreendimentos.

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8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir da revisão do tema, foi possível entender todos os quesitos técnicos que

envolvam este assunto dos resíduos da construção civil e demolição, e ainda como este

problema da sociedade é uma consequência da rápida urbanização, que acabou sendo realizada

de uma maneira desorganizada, do modelo consumista e da cultura “joga fora” que vivemos no

mundo todo.

As leis que envolvem os resíduos da construção civil e demolição começaram a surgir,

no Brasil, no início do século XXI (com a primeira resolução do CONAMA em 2002), e a partir

deste momento foi dado o primeiro passo para criar uma consciência sobre este tema declarado

pela ONU como um dos maiores problemas atuais a serem resolvidos, uma vez que os RCD

possuem uma parcela majoritária nos RSU gerados pelas cidades. Mas não é com primeiros

passos que se consegue resolver os problemas. É completamente insustentável continuar

gerando e destinando números gigantescos de resíduos mensalmente. Faz-se necessário

políticas de incentivos para práticas voltadas a reúso e reciclagem e uma melhor fiscalização

para que, seja criado com o tempo, um mercado e uma cultura positiva sobre este tema como já

é percebido em alguns países pelo mundo.

A falta de informação e conhecimento é um ponto crítico a ser pensado. Como

observado durante as entrevistas nas construtoras, os próprios engenheiros ou administradores

das empresas desconhecem sobre o assunto, ou o conhecem de uma maneira muito superficial

(apenas a parte jurídica). Isso, infelizmente, é apenas um reflexo do enorme distanciamento que

a faculdade possui do mundo do trabalho e dos problemas socioambientais que está estritamente

conectada ao setor da engenharia civil. A questão dos resíduos da construção civil e demolição,

praticamente, não é discutida durante a graduação, e isso acaba gerando futuros profissionais

com pouca consciência sobre este enorme problema da profissão e uma menor chance de

transformação no setor.

Apesar dos números assustadores, está em percurso uma compreensão global acerca

das oportunidades que os RCD podem proporcionar. No decorrer deste trabalho foram citados

os diferentes selos ambientais para a construção civil que estão sendo criados, e também, foi

demonstrado alguns empreedimentos como exemplos. Apesar de ser um pouco mais difcíl

encontrar exemplos no Brasil, sabe-se que esta preocupação socioambiental é um tendência que

vai ingressar cada vez mais forte em todos os setores da economia, e, em especial, a indústria

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conservadora da engenharia civil terá que se adaptar e se transformar profundamente para

acompanhar este novo caminho.

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