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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG Instituto de Ciências da Natureza Curso de Geografia Licenciatura TIAGO MARINI RIBEIRO QUANDO A ESCOLA PÚBLICA LHE ENTREGA LIVROS: A LITERATURA COMO FORMA DE TRANSFORMAÇÃO NAS AULAS DE GEOGRAFIA Alfenas MG 2019

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG

Instituto de Ciências da Natureza

Curso de Geografia – Licenciatura

TIAGO MARINI RIBEIRO

QUANDO A ESCOLA PÚBLICA LHE ENTREGA LIVROS:

A LITERATURA COMO FORMA DE TRANSFORMAÇÃO

NAS AULAS DE GEOGRAFIA

Alfenas – MG

2019

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TIAGO MARINI RIBEIRO

QUANDO A ESCOLA PÚBLICA LHE ENTREGA LIVROS: A

LITERATURA COMO FORMA DE TRANSFORMAÇÃO

NAS AULAS DE GEOGRAFIA

Trabalho de Conclusão de Curso apresen-

tado como parte dos requisitos para obten-

ção do título de Licenciado em Geografia

pelo Instituto de Ciências da Natureza da

Universidade Federal de Alfenas - MG,

sob orientação da Profª. Drª Sandra de Cas-

tro de Azevedo.

Alfenas – MG

2019

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Banca Examinadora

_____________________________________________

Titulação, nome completo e instituição do Orientador

_____________________________________________

Titulação, nome completo e instituição do Avaliador 01

_____________________________________________

Titulação, nome completo e instituição do Avaliador 02

Alfenas (MG), __/__/____

_________________________________

Resultado

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É preciso democratizar a palavra,

dessacralizar a literatura

Sagrado não é quem escreve

Sagrado é quem lê

Sérgio Vaz

POEMA

Oh! Aquele menininho que dizia

“Fessora, eu posso ir lá fora?”

Mas apenas ficava um momento

Bebendo o vento azul...

Agora não preciso pedir licença a ninguém.

Mesmo porque não existe paisagem lá fora:

Somente cimento.

O vento não mais me fareja a face como um cão

amigo...

Mas o azul irreversível persiste em meus olhos.

Mario Quintana

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Agradeço e dedico ao ensino público, principal-

mente, às pessoas que conviveram comigo nas

instituições às quais aprendi: As escolas Benja-

min Bastos e a ETEC de Vargem Grande do Sul –

SP, localizadas nesta referida cidade; A UNIFAL

– MG e a escola Dr. Napoleão Salles, localizadas

em Alfenas – MG. Ainda continua, a vontade de

aprender com as pessoas que dão vida ao espaço

escolar, só resta a dúvida de qual será o próxi-

mo. E neste, chegarei acreditando, que mesmo

com as intencionalidades do contexto político

macro, que tratam as pessoas deste espaço como

números, a transformação começa com uma mu-

dança de comportamento das próprias pessoas

que o vivenciam.

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Agradecimentos

As pessoas que devem ter seus agradecimentos, por viverem com o autor e participa-

rem deste trabalho, já foram pessoalmente agradecidas! Com o devido abraço forte e aquele

“olhar nos olhos”.

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Resumo

Este trabalho é uma possibilidade pedagógica, resultado da ação de alunas e alunos do 3°Ano

B do Ensino Médio de uma escola pública localizada em Alfenas-MG, interior de Minas Ge-

rais que, com base em sua história de vida, seu contexto geográfico, sentimentos e suas von-

tades de superação e mudança, escreveram um livro chamado “Pensadores Desconhecidos”,

que demonstra a lucidez em relação a seu lugar de aluna/aluno e o sistema educacional brasi-

leiro, principalmente o último adjetivo do título. A construção deste livro foi realizada por

meio da proposta pedagógica planejada e estruturada nesta monografia e aplicada no cotidia-

no escolar. Esta utilizou-se da função social que a Geografia Crítica e a literatura podem con-

ter visando uma articulação entre elas, ao possibilitar que as alunas e alunos utilizassem a

escrita como protagonistas, escrevendo seus próprios escritos poéticos, que demonstraram

possuir capacidades pedagógicas e geográficas para estruturarem um planejamento de conteú-

dos e temas à serem abordados em sala de aula e basear ações pensadas por toda(o)s a(o)s

agentes escolares, necessárias para lidar com as demandas da turma, além de outros resulta-

dos, sendo que, alguns são impossíveis de serem descritos academicamente e essencialmente

evidenciam a necessidade de se criar situações de aprendizagem, que possibilitem às alunas e

alunos demonstrarem suas capacidades.

Palavra-chave: Possibilidades pedagógicas; Ensino de Geografia; Práticas Transformadoras.

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Resumen

Este trabajo es una posibilidad pedagógica, como resultado de la acción de los estudiantes del

tercer año B de la escuela secundaria en una escuela pública ubicada en Alfenas-MG, interior

de Minas Gerais que, según su historia de vida, su contexto geográfico, sus sentimientos y su

voluntad de superar y cambiar, escribió un libro llamado "Pensadores Desconocidos", que

demuestra la lucidez en relación con su lugar como estudiante y el sistema educativo brasi-

leño, principalmente el último adjetivo del título. La construcción de este libro se realizó a

través de la propuesta pedagógica planificada y estructurada en esta monografía y aplicada en

la rutina escolar. Esto utilizó la función social que puede contener la Geografía Crítica y la

literatura con el objetivo de una articulación entre ellos, al permitir a los estudiantes usar la

escritura como protagonistas, escribir sus propios escritos poéticos, que demostraron tener

habilidades pedagógicas y geográficas para estructurar los contenidos y los temas que se

abordarán en el aula y basar las acciones pensadas por todos los agentes escolares, necesarias

para hacer frente a las demandas de la clase, además de otros resultados, algunos de los cuales

son imposibles para ser descrito académicamente y esencialmente evidencia la necesidad de

crear situaciones de aprendizaje que permitan a los estudiantes demostrar sus habilidades

Palabra-clave: Posibilidades Pedagógicas; Enseñanza de Geografía; Prácticas Transformado-

ras.

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Lista de ilustrações

Figura 01 – Lousa da sala do 3°Ano B, com o retorno despertado pelos textos selecionados,

das alunas e alunos................................................................................................................. 73

Figura 02 – Lousa da sala do 3°Ano B, com o retorno despertado pelos textos selecionados,

das alunas e alunos................................................................................................................. 74

Figura 03 – Aluno recitando seu escrito poético, do livro “Pensadores Desconhecidos”, na

biblioteca da escola................................................................................................................ 88

Figura 04 – Capa do livro “Pensadores Desconhecidos”...................................................... 101

Figura 05 – Dois alunos do 3°Ano B, convidando uma sala do 1°Ano do Ensino Médio, para

o evento de lançamento do livro na UNIFAL-MG................................................................ 102

Figura 06 – Alunas lendo o livro “Pensadores Desconhecidos”........................................... 103

Figura 07 – Momento do abraço e retomada da amizade de dois alunos da turma.............. 105

Figura 08 – Imagem de todas e todos aqueles que construíram o livro e o evento de lança-

mento...................................................................................................................................... 106

Figura 09 – Momento de apresentação do livro “Pensadores Desconhecidos” na Feira Literá-

ria de Alfenas-MG................................................................................................................. 108

Figura 10 – Poemas das alunas e alunos dos 8°Anos do Ensino Fundamental II, com o tema

da Consciência Negra.............................................................................................................142

Figura 11 – Quadro da entrada da escola, com os poemas das alunas e alunos................... 142

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Lista de siglas

CBC – Currículo Básico Comum

UNIFAL – Universidade Federal de Alfenas

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Sumário

Lista de ilustrações......................................................................................................................9

Lista de siglas............................................................................................................................10

1.INTRODUÇÃO....................................................................................................................13

2. A LEITURA E A ESCRITA NO CURRÍCULO BÁSICO COMUM MINEIRO DE

GEOGRAFIA (CBC-MG) E NAS AULAS DE GEOGRAFIA DE UMA ESCOLA PÚ-

BLICA DO MUNICÍPO DE ALFENAS – MG ...................................................................15

2.1. A Leitura e Escrita No CBC-MG de Geografia.....................................................16

2.1.1. CBC-MG Anos Iniciais do Ensino Fundamental................................................16

2.1.2. CBC-MG Anos Finais do Ensino Fundamental.........................................................24

2.1.3. CBC-MG Ensino Médio...............................................................................................27

2.1.4. A Avaliação NO CBC-MG Anos Iniciais e Finais do Ensino Fundamental e Ensino

Médio........................................................................................................................................29

2.2. A Leitura e Escrita nas Aulas de Geografia..................................................................32

3. GEOGRAFIA E LITERATURA: UMA POSSIBILIDADE E TENTATIVA DE EFE-

TIVAR O DIREITO PÚBLICO E SUBJETIVO À EDUCAÇÃO ....................................38

3.1. A Proposta: uma metodologia prática...........................................................................39

3.2. A Proposta Aplicada no Cotidiano Escolar ..................................................................70

3.3. Análise de uma Etapa dos Escritos Poéticos e suas Possibilidades Pedagógi-

cas.............................................................................................................................................91

3.4. O Livro “Pensadores Desconhecidos” .........................................................................100

3.5. O Lançamento na UNIFAL-MG..................................................................................103

3.6. A Feira Literária de Alfenas-MG (FLIALFENAS) Edição 2019 .............................106

3.7. Confraternização do Livro “Pensadores Desconhecidos”..........................................108

4. OS ESCRITOS POÉTICOS DAS ALUNAS ESCRITORAS E ALUNOS ESCRITO-

RES DO 3°ANO B.................................................................................................................110

4.1. Percepção das Alunas e Alunos sobre a Geografia em seus Escritos Poéti-

cos...........................................................................................................................................111

4.2. A Capacidade Pedagógica para a Geografia dos Escritos Poéti-

cos...........................................................................................................................................113

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ..........................................................................................141

REFERÊNCIAS....................................................................................................................144

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ANEXO: LIVRO “PENSADORES DESCONHECIDOS”...............................................146

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1. INTRODUÇÃO

Esta monografia é uma tentativa de efetivar o direito público e subjetivo à educação e

se constitui como uma proposta pedagógica, que utiliza a ciência geográfica junto à literatura,

com a perspectiva de que, estas, possuem uma função social, ao contextualizarem as contradi-

ções espaciais, as dores e problemas humanos e efetivarem ações cotidianas, como possibili-

dades em um dado momento e lugar, visando uma transformação de atores sociais, por meio,

de situações de aprendizagem que evidenciam a capacidade dos mesmos.

Possibilidade, esta é a palavra que resume este estudo, pois, com a articulação mais

profunda entre a literatura e a Geografia, e não só pontual, tendo as alunas e alunos como pro-

tagonistas da escrita, resultou na construção de um livro com escritos poéticos escritos por

uma turma do 3°Ano B, do Ensino Médio, de uma escola pública do município de Alfenas-

MG. E, além dos escritos poéticos, constituírem um livro chamado “Pensadores Desconheci-

dos”, que possibilitou a vivência de momentos e ocupação de espaços, muitas vezes negados

ou distantes, das alunas e alunos, também, se mostraram com uma capacidade geográfica e

pedagógica que, dependendo da sensibilidade e do conhecimento adquirido na formação, de

uma professora ou professor, estes escritos podem estruturar um planejamento de conteúdos e

temas à serem abordados no cotidiano das aulas de Geografia no espaço escolar.

As possibilidades acima discutidas e desencadeadas foram os objetivos centrais desta

monografia, sendo a construção de um livro com a turma escolhida e a efetivação de que, os

escritos poéticos, das alunas e alunos possuem uma dimensão da espacialidade contemporâ-

nea. Estes objetivos foram alcançados e os resultados foram vários, mas, alguns deles, não são

possíveis de descrever em um trabalho acadêmico, talvez, somente por meio da poesia. Tal-

vez!

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi possibilitado pelas observações e ações, no

cotidiano escolar de uma escola pública do município de Alfenas-MG, por meio do Estágio

Supervisionado e do Programa Residência Pedagógica, do curso de Geografia Licenciatura da

Universidade Federal de Alfenas-MG (UNIFAL-MG).

Sua estruturação textual se inicia com a análise da leitura e escrita, no Currículo Bási-

co Comum do Estado de Minas Gerais, em seus Anos Iniciais e Finais do Ensino Fundamen-

tal e Ensino Médio e, como estas se materializam no cotidiano das aulas de Geografia do pro-

fessor regente. Pois, a leitura e escrita são necessárias para a utilização da literatura na sala de

aula e ao analisá-las em documentos curriculares e nas aulas entende-se sua perspectiva e in-

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tencionalidade do sistema educacional, possibilitando, o desencadeamento e construção de

propostas como esta.

Posteriormente, é estruturada a proposta pedagógica, contendo a descrição do plane-

jamento das aulas, que é a metodologia desta monografia, a sua aplicação no cotidiano escolar

com suas fragilidades e êxitos e, a descrição e análise de ações em outros espaços educacio-

nais possibilitados pela construção do livro com as alunas e alunos.

Para finalizar, se utiliza dos escritos poéticos da turma para captar a percepção e inter-

pretação da(o)s integrantes da mesma sobre a Geografia, com o intuito de tentar entender co-

mo a Geografia escolar contribui para a vida das alunas e alunos. Depois desta captação há a

análise dos escritos poéticos das alunas e alunos e suas capacidades pedagógicas e geográfi-

cas.

Este estudo demonstrou apenas o óbvio, que a escola pública tem arte e que as alunas

e alunos são capazes de criar manifestações artísticas com qualidade textual técnica e profun-

didade sentimental. Além de não serem alheios ao espaço geográfico atual, sentindo as dores

e problemas das contradições espaciais criadas pela constituição da globalização e suas di-

mensões perversas, presentes em seus escritos poéticos.

Se as leitoras e leitores querem entender, de fato, o que foi ou o que é esta monografia

é obrigatória a leitura do livro “Pensadores Desconhecidos” (que está em anexo) antes de ini-

ciar a leitura do primeiro capítulo deste corpo textual. E se, estas e estes querem sentir o que

será descrito e analisado nos capítulos à seguir e aprender com a(o)s adolescentes/aluna(o)s

faça algo, de acordo com seu contexto geográfico e suas possibilidades, pois só vivenciando e

permitindo que as alunas e alunos lhe ajudem à lidar com suas ignorâncias é que você enten-

derá a necessidade da criação de possibilidades para o ensino público.

Portanto, esta possibilidade permitiu que as alunas e alunos do 3° Ano Ensino Médio,

construíssem um livro, com escritos poéticos que excedem esta proposta pedagógica e esta

monografia. Sendo uma forma de revidar contra um sistema educacional que é organizado

para que as desigualdades espaciais se perpetuem no território nacional e é com esta força que

esta escola pública lhe entrega livros.

Uma observação referente à escrita desta monografia é que, esta pode ser rotulada por

acadêmicos como uma “escrita poética”. Porém, os que leram este trabalho disseram que a

leitura foi fluída e as mais de cem páginas não foram cansativas, além de terem uma exposi-

ção textual e teórica que contém uma facilidade na leitura. Assim é com esta contradição que

se reforça a necessidade de leitura do livro “Pensadores Desconhecidos”, que está em anexo.

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2. A LEITURA E A ESCRITA NO CURRÍCULO BÁSICO COMUM MINEIRO DE

GEOGRAFIA (CBC-MG) E NAS AULAS DE GEOGRAFIA DE UMA ESCOLA PÚ-

BLICA DO MUNICÍPO DE ALFENAS - MG

“Aê! O livro é de vocês, vocês que tem que colocar o nome!

- Não, o livro é nosso!

...

- Tá certo, o livro é nosso, então vamos pensar juntos...”

Nesse momento, uma menina fala tímida, no canto esquerdo da sala e eu não entendo

direito:

“- Um Lado Desconhecido...

- O que?

- Nada não...

- Fala!

- Ela disse Um Lado Desconhecido”

(Um dos momentos da definição do nome do livro, no sexto encontro, com as alunas e alunos

do 3°Ano B)

Para se chegar a proposta, como possibilidade pedagógica, de utilizar a literatura para

conhecer as alunas e alunos, e construir um processo de ensino-aprendizagem de geografia, a

forma como a leitura e escrita se manifestam no cotidiano das aulas de geografia, da escola

analisada, foi motivadora para a proposta. Assim, antes de apresentá-la, é essencial fazer uma

análise desse cotidiano, de demonstrar momentos pedagógicos vivenciados, observados e des-

critos.

Como, as políticas públicas moldam, estruturam e estão presentes no cotidiano escolar,

sendo ressignificadas por aqueles que dão vida à escola, também se fez necessário, analisar o

Currículo Básico Comum Mineiro de Geografia (CBC-MG), do Ensino Fundamental I e II, e

do Ensino Médio, para verificar qual a perspectiva de leitura e escrita presente nestes docu-

mentos. Aqui, se analisa o CBC-MG, pois é com base nele que as escolas públicas estaduais

de Minas Gerais devem organizar seu planejamento até o ano de 2019. E, mesmo que, a esco-

la pública estadual analisada, não tenha os Anos Iniciais do Ensino Fundamental, é necessário

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ver qual sua estruturação, pois esta é continuação e se reflete nos Anos Finais do Ensino Fun-

damental e no Ensino Médio, pois a educação é um processo.

As duas análises, que se complementam e se relacionam intrinsicamente, estão descri-

tas neste capítulo da monografia, nos próximos tópicos.

2.1. A Leitura e Escrita no CBC-MG de Geografia

2.1.1. CBC-MG Anos Iniciais do Ensino Fundamental

A Resolução da Secretaria de Estado de Educação (SEE), N° 2.197, de 26 de Outubro

de 2012, estabelece a organização e funcionamento das escolas estaduais de Educação Básica

do estado de Minas Gerais. Esta política pública educacional, em seu Artigo 59, obriga a utili-

zação do Currículo Básico Comum (CBC), por todas as escolas da rede estadual:

“Art. 59 – Na organização curricular do ensino fundamental e do ensino médio deve ser ob-

servado o conjunto de Conteúdos Básicos Comuns (CBC) a serem ensinados, obrigatoriamen-

te, por todas as unidades escolares da rede estadual.” (SEE-MG, p. 11, 2012)

Além desta obrigatoriedade, a resolução, também dispõe sobre a organização do Ensi-

no Fundamental I (Anos Iniciais) e II (Anos Finais) em Ciclos, presente em seu artigo 28 e

também no corpo textual do próprio CBC-MG do Ensino Fundamental Anos Iniciais:

Com a vigência da Resolução SEE nº 2.197, de 26 de outubro de 2012, que dispõe so-

bre a organização e o funcionamento do Ensino nas Escolas Estaduais de Educação

Básica de Minas Gerais, o Ensino Fundamental de nove anos passou a estruturar-se

em quatro ciclos de escolaridade, considerados como blocos pedagógicos sequenciais:

I - Ciclo da Alfabetização, com a duração de 3 (três) anos de escolaridade, 1º,2º e 3º

ano;

II - Ciclo Complementar, com a duração de 2 (dois) anos de escolaridade, 4º e 5º ano;

III- Ciclo Intermediário, com duração de 2 (dois) anos de escolaridade, 6º e 7º ano;

IV- Ciclo da Consolidação, com duração de 2 (dois) anos de escolaridade, 8º e 9º ano.

(SEE-MG, p. 10, 2014)

Após essa divisão, discorre-se, no documento, como se deve aplicar estes ciclos de

escolaridade (Estes tópicos também estão presentes nos Artigos 29 e 30 da Resolução N°

2.197):

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Os Ciclos da Alfabetização e Complementar devem se pautar no princípio da conti-

nuidade da aprendizagem dos alunos, sem interrupção, com foco na alfabetização e le-

tramento, voltados para ampliar as oportunidades de sistematização e de aprofunda-

mento das aprendizagens.

Os Ciclos Intermediário e da Consolidação devem ampliar e intensificar, gradativa-

mente, o processo educativo no Ensino Fundamental, bem como considerar o princí-

pio da continuidade da aprendizagem, garantindo a consolidação da formação do alu-

no nas competências e habilidades indispensáveis ao prosseguimento de estudos no

Ensino Médio. (SEE-MG, p. 10, 2014, grifos do autor)

Nota-se, nestes deveres, que a ideia de “prosseguimento” e “continuidade”, “sem inter-

rupção”, é uma preocupação evidenciada nestas frases que discorrem sobre os ciclos. Estes

tipos de “preocupações” com a aprendizagem e a formação dos alunos, estão aqui com aspas,

pois elas se preocupam mais com o avanço de etapa dos alunos, ao adquirirem certas compe-

tências e habilidades do que com o processo de ensino-aprendizagem de fato das alunas e alu-

nos. Além disso, essas “preocupações”, também estão associadas às políticas de avaliação

externas e de larga escala e com as taxas de distorção idade-série, o que, pode ser evidenciado

pelos direitos básicos de aprendizagem, que devem ser adquiridos por todos os alunos no final

de cada ano dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, sendo, o Ciclo de Alfabetização e o

Ciclo Complementar, que estão no documento, dessa forma:

O Ciclo da Alfabetização, a que terão ingresso os alunos com seis anos de idade, terá

suas atividades pedagógicas organizadas de modo a assegurar que, ao final de cada

ano, todos os alunos tenham garantidos, pelo menos, os seguintes direitos de aprendi-

zagem e de desenvolvimento:

I- 1º Ano:

a - desenvolver atitudes e disposições favoráveis à leitura;

b - conhecer os usos e funções sociais da escrita;

c - compreender o princípio alfabético do sistema da escrita;

d - ler e escrever palavras e sentenças.

II- 2º Ano:

a - ler e compreender pequenos textos;

b - produzir pequenos textos escritos;

c - fazer uso da leitura e da escrita nas práticas sociais.

III- 3º Ano:

a - ler e compreender textos mais extensos;

b - localizar informações no texto;

c - ler oralmente com fluência e expressividade.

d - produzir frases e pequenos textos com correção ortográfica. (SEE-MG, p.11, 2014)

Como consta, neste trecho, o Ciclo de Alfabetização visa construir um processo de

alfabetização, em que, ao seu final, “todos os alunos devem ter consolidado as competências

referentes à leitura e à escrita necessárias para expressar-se, comunicar-se e participar das

práticas sociais letradas...” (SEE-MG, p. 12, 2012), sendo, as competências finais desse ciclo,

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o 3°Ano, que o encerra, traz em seus verbos: produzir textos, localizar no texto, ter fluência e

expressividade na leitura. Mas, não se tem, nos direitos básicos, a preocupação com o prazer

da leitura e da escrita, o criar por meio da arte escrita com a finalidade de perceber a função

social de um livro e seu conteúdo. Que, mesmo sendo crianças com oito anos de idade, já po-

dem ser despertadas neste sentido. Para além de um ensino, que só visa atribuir habilidades

para ler com fluência, interpretar textos e localizar informações no mesmo, para responder

questões, seja em atividades do livro didático ou apostilas, nas avaliações das disciplinas do

Ensino Básico ou nas externas de larga escala, pois essas competências apenas, não demons-

tram a função social que a literatura pode causar na vida das pessoas. Portanto, dificilmente,

no final deste ciclo, as crianças tenham “... desenvolvido o gosto e apreço pela leitura” (SEE-

MG, p. 12, 2012), como prevê o documento. Mas, podem ter desenvolvido crianças com a

competência de uma leitura mecânica e que consigam localizar as respostas de questões, num

certo parágrafo de um texto, copiá-las no caderno, assinalar uma letra com um “X” ou pintar

por inteiro a bolinha de uma alternativa, bem forte, porque, senão – “a máquina que corrige

não consegue captar sua marcação”.

O outro ciclo, que faz parte dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental:

O Ciclo Complementar, com o objetivo de consolidar a alfabetização e ampliar o letramento,

terá suas atividades pedagógicas organizadas de modo a assegurar que todos os alunos, ao final

de cada ano, tenham garantidos, pelo menos, os seguintes direitos de aprendizagem e de desen-

volvimento:

I- 4º ano:

a - produzir textos adequados a diferentes objetivos, destinatários e contextos;

b - utilizar princípios e regras ortográficas e conhecer as exceções;

c - utilizar as diferentes fontes de leitura para obter informações adequadas a diferentes objet i-

vos e interesses;

d - selecionar textos literários segundo seus interesses.

II- 5º Ano:

a - produzir, com autonomia, textos com coerência de ideias, correção ortográfica e gramatical;

b - ler, compreendendo o conteúdo dos textos, sejam informativos, literários, de comunicação

ou outros. (SEE-MG, p.12, 2014)

Neste ciclo, que, como diz o próprio nome, é uma complementação do Ciclo da Alfa-

betização, se repete sua mesma lógica de habilidades que os alunos deverão ter no final do 4°

e 5° Ano de escolaridade. Sem a presença da leitura como um prazer, uma dúvida à ser des-

pertada por meio das curiosidades, da escrita como forma de manifestação de existência e de

contestação geográfica, mas sim uma leitura e escrita feita para se cumprir metas. O que, difi-

culta o desenvolvimento da própria consciência crítica nos alunos para “selecionar textos lite-

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19

rários segundo seus interesses” (SEE-MG, p.12, 2014), porque, estas habilidades, não favore-

cem a construção desta ação por parte dos mesmos.

É importante ressaltar, que não se considera, nesta monografia, a necessidade de des-

cartar que, no final de cada ano, “todos os alunos deverão ser capazes de ler, compreender,

retirar informações contidas no texto e redigir com coerência, coesão, correção ortográfica e

gramatical” (SEE-MG, p. 12, 2014), para se construir alunas e alunos que consigam perceber

e utilizar a literatura, a arte, e outras formas textuais, como uma função social. Pois, o desen-

volvimento destas habilidades, é essencial para esta construção, porém, elas não podem ser a

única finalidade. É necessário ir além delas, desde o início da escolaridade, às utilizando co-

mo base para avançar no processo de ensino-aprendizagem.

Ao se juntar, a forma como os ciclos devem ser aplicados, com ênfases no prosse-

guimento e continuidade sem interrupções e os direitos básicos de aprendizagem, que os alu-

nos tenham garantido no final dos anos letivos, que foram as ideias discorridas acima. Se faz

necessário, trazer para a discussão, momentos vivenciados no cotidiano da escola analisada.

Em que, foram observadas alunas e alunos, que não possuíam os direitos básicos curriculares

dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, expostos aqui, mas que prosseguiram, sem inter-

rupção, para os Anos Finais. Esse fato se tornava um grande problema, pois a(o)s aluna(o)s

encontravam dificuldades para evoluírem e a maioria dos professores regentes não conse-

guiam incentivar ou auxiliar, os mesmos, nos âmbitos de suas aulas, apenas eram percebidos

para levarem sermões de que não fazem as questões do livro didático para receber o visto. Um

caso que pode ser evidenciado é o descrito abaixo:

“7° Ano, Mais uma aula com o livro didático, já me acostumei, neste requisito me sinto igual

aos alunos. Tem mais dois estagiários na sala. Hoje não terá explicações, pois elas foram fei-

tas na aula passada, apenas resolução das atividades. Como sempre, nestes tipos de aulas, nós

estagiários, pedimos licença para o professor para poder auxiliar e tirar dúvidas dos alunos

sobre as questões ou explicá-las para que eles possam realizá-las. Também, como sempre, fo-

camos naqueles alunos que nem abriram o material ainda, chegamos e perguntamos se eles

irão fazer e oferecemos ajuda, talvez nossa intenção seja tentar dar um incentivo para eles pe-

lo menos tentem realizar o que o professor pediu. Escolhi um aluno e fui... cheguei, perguntei e

ele nem me respondeu, mas abriu um sorriso, procurou o livro na mochila e também abriu o

caderno, achamos a página. Pedi pra ele ler pra mim a primeira questão (era de alternativa),

quando ele começou a ler, com grande dificuldade, pausando muito entre uma sílaba e outra,

às vezes errando a pronuncia. Demoramos muito para ler a questão inteira e suas alternati-

vas, mais um tempo para explicar, pois além de ler ele tem que compreender, não sei se conse-

gui atingir a compreensão dele, mas tentei. Perguntei se ele lembrava de algo sobre a questão,

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que o professor explicou em sala ou se ele achava que era alguma daquelas alternativas, não

sabia... fomos procurar no livro, achamos, lemos, expliquei e escolhemos a resposta. O profes-

sor quer que a resposta correta assinalada seja escrita no caderno, a escrita do aluno era

mais devagar que a leitura, a ortografia e a forma das letras parece que faziam ele tropeçar

na frase e consequentemente no entendimento, a mão segurava firme o lápis, até demais, pare-

cia que se ele não segurasse daquela forma as difíceis palavras não sairiam. Ele escreveu

meia frase, com toda dificuldade, o sinal bateu, mas eu continuei até ele terminar. Quando iria

sair, ele agradeceu, eu sorri, mas estava atingido por aquela situação. Triste. Quando saí da

sala, o professor e os outros estagiários estavam esperando, os vi, os três me olharam no olho,

não sei o que pensaram, acho que viram a tristeza, senti um pouco de raiva nesse momento. A

impotência para aqueles que querem fazer algo é muito dolorida. Seguimos para outra sala,

para o professor aplicar outra atividade do livro didático.” (Anotação do autor, segundo se-

mestre de 2018)

Este momento evidencia como essa ideia de prosseguimento e a forma como o sistema

educacional lida com a repetência e as avaliações externas, influenciando em verbas da esco-

la, cria alunas e alunos que não tem seus direitos educacionais garantidos, nem aqueles bási-

cos e mecânicos de leitura e escrita presentes no próprio CBC-MG. Este aluno estava no 7°

Ano do Ensino Fundamental II, já tinha prosseguido do 6° Ano, não era seu primeiro ano de

transição dos Anos Iniciais para os Finais desta modalidade. E, ao perguntar para o professor

sobre a dificuldade desse aluno, a culpa atribuída foi em seu processo de alfabetização inade-

quado, mas não se ouviu, ele dizer, sobre as ações que a escola está pensando ou fazendo para

lidar com esta dificuldade.

Mesmo constando, em um tópico, no currículo analisado, como um dos esforços que

as escolas devem realizar, sendo ele:

- adotando as providências necessárias para que a operacionalização do princípio da

continuidade não seja traduzida como “promoção automática” de alunos de um ano ou

ciclo para o seguinte, e para que o combate à repetência não se transforme em des-

compromisso com o ensino- aprendizagem. (SEE-MG, p. 18, 2014).

Nenhum agente escolar, responsável pela organização e funcionamento do espaço es-

colar, quer que sua escola tenha dados com altos índices de reprovação e nem tenham baixos

desempenhos nas avaliações externas estaduais e federais. Ou seja, a própria organização do

sistema educacional, que impõe essas ênfases e “preocupações” com desempenhos e prosse-

guimentos dos alunos, geram uma verdadeira preocupação ou “dor de cabeça” aos que viven-

ciam e organizam a escola, sendo que, alguns internalizam esta ideia e à exercem em suas

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ações e outros, não às internalizam e tentam não reproduzí-la. O que, não quer dizer, que estes

últimos, não terão sua autonomia afetada por essas políticas.

Mesmo com essa concepção de leitura e escrita, deste currículo e suas implicações no

cotidiano escolar, estes dois elementos estão muito presentes no documento dos Anos Iniciais

do Ensino Fundamental, com uma atenção especial. Tendo um papel de destaque, atribuindo-

lhes importância para o processo de ensino-aprendizagem dos alunos, como direitos básicos,

como garantias e como objetivos desta modalidade. Os trechos abaixo demonstram como está

no próprio CBC-MG Anos Iniciais do Ensino Fundamental:

Especialmente em relação aos primeiros anos do Ensino Fundamental, os objetivos

educacionais estão pautados nos processos de Alfabetização e Letramento, no desen-

volvimento das diversas formas de expressão e nos conhecimentos que constituem os

Componentes Curriculares obrigatórios. (SEE-MG, p.9, 2014, grifos do autor).

O Ensino Fundamental deve comprometer-se com uma educação com qualidade soci-

al e garantir ao educando:

I - o desenvolvimento da competência de aprender, com pleno domínio da leitura, da

escrita e do cálculo; (SEE-MG, p.9, 2014, grifos do autor).

... a escola é obrigatória para todas as crianças e tem papel relevante, em sua forma-

ção, para agir na sociedade e para participar ativamente das diferentes esferas sociais.

Dentre outros direitos, é prioritário o ensino da leitura e escrita... (SEE-MG, p.11,

2014, grifos do autor).

Em relação ao uso da literatura, da arte escrita, da poesia, contos e crônicas. O docu-

mento traz, este uso, como um princípio metodológico de “interação teoria/prática” (SEE-

MG, p.14, 2014), por meio do conceito de Pluridisciplinaridade, que “é a existência de rela-

ções complementares entre componentes curriculares mais ou menos afins. É o caso das con-

tribuições mútuas das diferentes “histórias”(da ciência, da arte, da literatura etc.)” (SEE-MG,

p.15, 2014). E até, propõe uma possibilidade para se realizar essa articulação, que é o trabalho

por projetos:

Constituindo-se como uma possibilidade de os educadores repensarem os tempos e

espaços escolares e a organização do currículo, o trabalho por projetos permite não

apenas a construção do conhecimento de forma contextualizada, como também a inte-

gração desses conhecimentos à realidade dos alunos, dentro e fora da escola. Nessa

ótica, os conteúdos dos diversos componentes curriculares, integrados, passam a ser

meios para ampliar a formação dos alunos e suas possibilidades de intervenção na rea-

lidade de forma crítica e criativa. (SEE-MG, p.15, 2014).

Sendo, este trecho, o único momento, antes de o documento apresentar os quadros de

Competências/Habilidades, Conteúdos, Conceitos e Orientações Pedagógicas, que a palavra

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relacionada à criação ou à criatividade, foi associada à formação dos alunos e sua intervenção

na realidade.

Outro princípio metodológico presente, é a “articulação coerente entre conteúdos, me-

todologias e recursos didáticos” (SEE-MG, p.15, 2014), como, alguns deles, a:

...

- análise de textos, livros, contos, crônicas, jornais, revistas, poesias, histórias, paró-

dias, dentre outros;

...

- realização e participação dos alunos em oficinas pedagógicas - de brinquedos e brin-

cadeiras, de poesias, de música, de contação de história, de Matemática, Feiras de Ci-

ências e eventos artísticos e culturais dentre outros. (SEE-MG, p.16, 2014, grifos do

autor).

Assim, há a presença da literatura por meio da arte escrita, como poesia, contos, crôni-

cas, entre outros, como um recurso didático à ser utilizado. O que, dependerá da concepção

dos professores sobre esses elementos artísticos, sua forma de abordar e utilizar os mesmos,

sendo apenas um apoio para explicar um conteúdo ou possibilitando que a(o)s aluna(o)s sejam

protagonistas nesse processo.

O ensino de Geografia, nos ciclos dos Anos Iniciais, assim como o de Ciências e His-

tória, “devem ser abordados de forma articulada com o processo de alfabetização e letramento

e de iniciação à Matemática, crescendo em complexidade ao longo dos Ciclos.” (SEE-MG,

p.13, 2014, grifos do autor). O que, se pode reforçar a ideia de que, as outras disciplinas, além

da Língua Portuguesa, também podem e devem contribuir para o processo de alfabetização e

instigar a curiosidade pela literatura, indicando livros, movimentos literários e autores que

criam textos em que os conteúdos possibilitam uma análise geográfica da realidade, incenti-

vando a leitura e demonstrando a importância da escrita no contexto geográfico/social das

pessoas e que as alunas e alunos tem a capacidade de escrever. Assim, é necessário analisar o

tópico que corresponde à Geografia no documento e os quadros com Eixos, Competên-

cias/Habilidades, Orientações Pedagógicas, Conteúdos e o Ciclo, em relação às palavras leitu-

ra, escrita, ler, escrever, criar e criação.

Na apresentação da disciplina Geografia, CBC-MG dos Anos Iniciais do Ensino Fun-

damental, a leitura está presente como forma de analisar o espaço geográfico. Nesse sentido,

essa leitura, é acompanhada de outros verbos e ações, como observar, descrever, comparar,

interpretar, inferir, entre outros. Segue abaixo, este trecho, em que o ensino de geografia:

“Exige, sobretudo, a valorização das vivências cotidianas do educando, desvelando suas prá-

ticas espaciais e as perspectivas de leituras do espaço geográfico, a partir da interpretação das

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paisagens e da apreensão das noções de lugar e território.” (SEE-MG, p.154, 2014, grifos do

autor).

Nos quadros, a leitura aparece dezessete vezes, desse total, apenas uma está como

Competência/Habilidade, na página 161, como “leitura da realidade”, que se relaciona com a

perspectiva de leitura do espaço geográfico, analisada acima. Essa perspectiva está no mesmo

quadro da Competência/Habilidade “ler”, relacionada com a ação de compreender informa-

ções expressas em formas de representação do espaço, como o mapa e entre outras (SEE-

MG). Nas outras vezes, em que, a palavra leitura está presente nos quadros, ela se situa nas

Orientações Pedagógicas, que serão listadas abaixo:

- A leitura orientada pelo professor de diferentes gêneros textuais como panfletos da

cidade, mapas, fotografias que trabalhem com as características do espaço de vivência

dos alunos e de outros espaços favorecerá o conhecimento e a apropriação desse espa-

ço. (SEE-MG, p.155, 2014, grifos do autor).

- ... as capacidades de leitura, em Língua Portuguesa, em Geografia a observação de

imagens e deslocamentos orientados pelas ruas da cidade voltadas para a identifica-

ção do que mudou no espaço. (SEE-MG, p.157, 2014, grifos do autor).

- ... leitura de textos regionais, leitura de gráficos e tabelas com dados sobre as princi-

pais profissões do espaço rural e urbano, quantitativo populacional, entre outros.

(SEE-MG, p.158, 2014, grifos do autor).

- O professor poderá trabalhar os conteúdos que possibilitem o desenvolvimento des-

sas habilidades, de forma interdisciplinar com Língua Portuguesa e História, através

da análise de filmes, documentários, fotos, da leitura e da reflexão de notícias e textos

informativos que tratem da desigualdade social, da utilização dos espaços urbano e

rural e das atividades econômicas, sociais e culturais que aí se realizam. (SEE-MG,

p.158, 2014, grifos do autor).

- É importante que seja utilizada a leitura de textos de variados gêneros como tirinhas,

charges, propagandas, panfletos, notícias que tratem da temática ambiental e das dife-

rentes ações para manter o equilíbrio do planeta. O professor deverá aproveitar a opor-

tunidade do exercício da leitura com compreensão para promover o debate e a busca

de conclusões entre os alunos relacionando sempre a questão do consumismo com o

desgaste da natureza. (SEE-MG, p.159, 2014, grifos do autor).

- ... leitura de mapas extraídos de jornais e revistas. (SEE-MG, p.161, 2014, grifos do

autor).

- ... orientar a leitura e a construção de gráficos e tabelas para representar fenômenos

do dia a dia... desenvolvendo atividades de leitura, de descrição e reconstrução de grá-

ficos e tabelas extraídos de diferentes suportes como jornais, revistas e livros. (SEE-

MG, p.162, 2014, grifos do autor).

- O professor poderá propor atividades que permitam o exercício da observação, da

pesquisa, do levantamento de hipóteses, da comprovação, da conclusão de fatos, tão

pertinentes à Geografia, mediante a leitura de textos... (SEE-MG, p.163, 2014, grifos

do autor).

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-Trabalhando de forma interdisciplinar com Língua Portuguesa, História e Arte, os

alunos, orientados pelo professor, poderão realizar atividades de leitura e discussão

sobre a história do país e do Estado... (SEE-MG, p.163, 2014, grifos do autor).

- A prática pedagógica, além da pesquisa e da leitura de textos informativos, como no-

tícias, gráficos, requer a observação, a análise in loco, a conversa e entrevistas com

profissionais da comunidade, dentre outras, para que se dê consistência teórica e prá-

tica aos saberes a serem construídos. (SEE-MG, p.166, 2014, grifos do autor).

- O professor poderá abordar, por meio de diferentes gêneros textuais, retirados de re-

vistas e jornais, questões referentes ao consumismo e ao desperdício de produtos. Du-

rante e após a leitura, oportunizar a discussão sobre o tema, para que o aluno possa

acrescentar exemplos e situações vivenciadas, formando, assim, o pensamento crítico.

(SEE-MG, p.166, 2014, grifos do autor).

- ... leitura de reportagens... (SEE-MG, p.167, 2014, grifos do autor).

- Para isso, o professor poderá trabalhar de forma interdisciplinar, oportunizando a

produção de painéis, a leitura de textos informativos, guias turísticos... (SEE-MG,

p.167, 2014, grifos do autor).

- ... leitura de textos informativos diversos ... (SEE-MG, p.169, 2014, grifos do autor).

- ... promover pesquisa e leitura de notícias sobre o trânsito, sobre a evolução dos

meios de transporte. (SEE-MG, p.173, 2014, grifos do autor).

- Todos os componentes curriculares poderão ser envolvidos nesse trabalho, especial-

mente Língua Portuguesa, História e Matemática, quando se oportuniza aos alunos a

leitura de textos que abordam o tema... (SEE-MG, p.173, 2014, grifos do autor).

Ao analisar essa listagem, de formas que a leitura está presente nos quadros, o que

mais aparece, é a leitura de textos informativos diversos, como notícias e reportagens, que

estejam relacionados com aos temas abordados nos conteúdo de um eixo temático.

As palavras escrita e escrever, não aparecem no tópico da ciência geográfica, apenas,

descrever. Mas, em um quadro, nas Orientações Pedagógicas, possui uma possibilidade do

professor “orientar os alunos na elaboração de textos coletivos, paródias, poemas partindo da

análise do espaço geográfico e de seu processo de transformação natural e/ou provocado pela

ação humana.” (SEE-MG, p.168, 2014, grifos do autor). Em que, a criação pode ser desperta-

da nas alunas e alunos, porém, esta orientação é pontual e não há outras com essa ênfase.

2.1.2. CBC-MG Anos Finais do Ensino Fundamental

Os Ciclos Intermediário e da Consolidação, compõem os Anos Finais do Ensino Fun-

damental, do Currículo Básico Comum do Estado de Minas Gerais. Com foco, no documento

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de Geografia, será analisado, como a leitura e a escrita, o ler e escrever e a criação, estão pre-

sentes no mesmo.

Nos tópicos, que apresentam o documento, anteriores aos quadros dos Eixos Temáti-

cos de Geografia há uma diminuição da presença e da ênfase sobre a leitura e escrita, nesta

etapa do Ensino Fundamental, em relação ao documento dos Anos Iniciais.

Na “Introdução”, do documento, a leitura aparece relacionada à Cartografia, conside-

rada “como instrumento de leitura e representação do espaço e dos fenômenos nele ocorrido.”

(SEE-MG, p. 7, 2014, grifo do autor). Posteriormente, no tópico intitulado “Critérios para

Seleção de Conteúdos”, a leitura está relacionada à um conceito da ciência geográfica, a pai-

sagem:

O olhar sobre o visível, que permite ler a paisagem percebida através dos sentidos. A

partir dessa percepção da paisagem, infere-se acerca da complexidade da vida social

contida em seus elementos culturais, políticos, econômicos e ambientais, enfim, na-

quilo que a anima e lhe dá vida pela força dos símbolos, das imagens e do imaginário.

(SEE-Mg, p.13, 2014, grifo do autor).

Essas duas formas que a leitura está presente no documento, se realizarão, por meio de

outras ações à serem desenvolvidas pelas alunas e alunos, como a observação, descrição,

comparação, fazer inferências, entre outras.

Em um trecho, também no tópico da “Introdução”, ao discorrer sobre as fontes basea-

das e a organização dos quadros com os Eixos Temáticos, Habilidades, Orientações Pedagó-

gicas e Conteúdos. O documento, diz que se preocupou com a capacidade leitora e escritora

dos alunos, trazendo diversos tipos de indicações com o intuito de desenvolver essa capacida-

de. Assim, se faz necessário analisar os quadros, para confirmar esta afirmação:

Ressalta-se que, nessas orientações pedagógicas, além de nossa grande preocupação

com o ensino da Geografia e com o desenvolvimento das habilidades a ela relaciona-

das, tivemos o cuidado de incentivar a capacidade leitora e escritora de nossos alunos.

Portanto há a indicação frequente do uso do próprio livro didático e de textos de di-

versos gêneros textuais e outros recursos que permitam o crescimento de nossos alu-

nos como bons leitores e escritores. (SEE-MG, p. 8, 2014, grifos do autor)

Nos quadros, como Habilidades, a leitura e o ler aparecerem cinco vezes. Na sua mai-

oria, se relacionam com a leitura de mapas, sendo três vezes desse total. A leitura relacionada

à textos escritos, estão presentes, na leitura de documentos sobre os impactos do processo de

globalização e de textos (não especificados) sobre os avanços dos direitos sociais. Seguem os

trechos abaixo:

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- Ler e interpretar em mapas, textos, imagens, dados e tabelas os avanços dos direitos

sociais no Brasil e no mundo. (SEE-MG, p.20, 2014, grifos do autor).

- Ler mapas temáticos sabendo extrair deles elementos de comparação e análise dos

aspectos evidenciados no tema estudado. (SEE-MG, p.22, 2014, grifos do autor).

- Ler nas paisagens culturais brasileiras a espacialidade e as múltiplas temporalidades

socialmente construídas. . (SEE-MG, p.29, 2014, grifos do autor).

- Ler e interpretar documentos que discutem os impactos negativos da globalização

econômica na paisagem natural e cultural, propondo alternativas de uso sustentável do

planeta Terra. (SEE-MG, p.34, 2014, grifos do autor).

- Ler, analisar e interpretar os códigos específicos da Geografia (mapas, gráficos, tabe-

las etc.), na representação dos fatos e fenômenos relacionados à globalização política,

econômica, cultural. (SEE-MG, p.35, 2014, grifos do autor).

Como Orientações Pedagógicas, os aspectos relacionados à leitura, aparecem quinze

vezes. Também, em sua maioria, relacionada à leitura e interpretação de mapas. Há, a indica-

ção de leitura da Constituição Federal de 1988, que é uma leitura essencial para se discutir os

direitos dos “candidatos à cidadão” (SANTOS, 1987) no Brasil. E, a leitura relacionada à arte,

aparecem três vezes, duas como uma leitura cinematográfica de dois filmes e a outra, a leitura

de uma letra de música.

- Para tanto, o professor poderá desenvolver atividades que envolvam a caracterização

física, política e socioeconômica do espaço urbano e rural, além de propor atividades

de leitura de imagens e diferentes tipos de mapas que representam esses espaços em

suas semelhanças e diferenças, inclusão e exclusão. (SEE-MG, p.19, 2014, grifos do

autor).

- ... a realização de trabalhos de campo favoreceram a leitura histórica da paisagem.

(SEE-MG, p.20, 2014, grifos do autor).

- O desenvolvimento dessas habilidades possibilita ao aluno a compreensão da carto-

grafia enquanto uma linguagem geográfica, ou seja, uma ferramenta para leitura e in-

terpretação do espaço geográfico. (SEE-MG, p.22, 2014, grifos do autor).

- É importante também iniciar o trabalho com anamorfoses, que deverão enriquecer a

leitura mais indicada com mapas temáticos. Exercícios nos quais a leitura e interpreta-

ção sejam desenvolvidas é muito recomendado. (SEE-MG, p.22, 2014, grifos do au-

tor).

- Para tanto, o professor poderá desenvolver atividades que abordem a leitura de ima-

gens, textos e mapas que expressem fenômenos urbanos da urbanidade, e a falta da

urbanidade expressa pelos guetos. (SEE-MG, p.23, 2014, grifos do autor).

- ... o professor poderá desenvolver atividades que favoreçam a leitura e a interpreta-

ção das várias definições do termo patrimônio e proporcionar ao aluno o conhecimen-

to, valorização e ações de preservação do patrimônio local e nacional. (SEE-MG,

p.24, 2014, grifos do autor).

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- A leitura de mapas temáticos está muito indicada, assim como o apoio do trabalho

com o mapa dos biomas antropogênicos. (SEE-MG, p.26, 2014, grifos do autor).

- o professor deverá em parceria com História e Matemática desenvolver atividades

que envolvam a construção dos conceitos de população, densidade demográfica, taxa

de natalidade e mortalidade, expectativa de vida, fluxos migratórios, indicadores po-

pulacionais, Índice de Desenvolvimento Humano, a leitura cartográfica mapas antigos

e atuais, a elabora e interpretação de gráficos e tabelas e a resolução de situações pro-

blema envolvendo dados do censo demográfico. (SEE-MG, p.26, 2014, grifos do au-

tor).

- É recomendável o trabalho com o mapa dos biomas antropogênicos e com leitura de

mapas temáticos. (SEE-MG, p.27, 2014, grifos do autor).

- O desenvolvimento dessas habilidades possibilita ao aluno o conhecimento e o reco-

nhecimento das populações tradicionais (índios, quilombolas, ribeirinhos e caiçaras)

remanescentes em Minas Gerais e no Brasil, a partir da leitura da Constituição brasi-

leira de 1988 que prevê direitos territoriais e culturais as populações tradicionais.

(SEE-MG, p.28, 2014, grifos do autor).

- ...o professor poderá desenvolver atividades como a leitura cinematográfica do filme

os “Caçadores da arca perdida”... (SEE-MG, p.29, 2014, grifos do autor).

- Recomenda-se também a introdução de leitura de anamorfoses que tratem das temá-

ticas envolvidas. (SEE-MG, p.31, 2014, grifos do autor).

- ...o professor em parceria com História poderá utilizar atividades que abordem por

meio de diferentes gêneros textuais: mapas, filmes (Adeus Lênin - Wolfgang Becker),

imagens e músicas (leitura da letra de Caetano de Velloso: “Alguma coisa está fora da

ordem/ Fora da nova ordem mundial)... (SEE-MG, p.31, 2014, grifos do autor).

- Recomenda-se um trabalho específico com leitura e interpretação de mapas temáti-

cos. (SEE-MG, p.32, 2014, grifos do autor).

- A leitura de notícias sobre o tema, a realização de debates e fóruns, a formulação de

alternativas de solução para os problemas locais e a interlocução com as políticas pú-

blicas e com os setores governamentais são ações que favorecem a conscientização

dos alunos quanto à responsabilidade de cada um com o bem-estar de todos. (SEE-

MG, p.40, 2014, grifos do autor).

As palavras escrita, escrever e criação (relacionada aos alunos), não aparecem nos

quadros dos Eixos Temáticos do documento. Apenas, a palavra descrever.

Portanto, essa análise, não confirma “o cuidado de incentivar a capacidade leitora e es-

critora de nossos alunos.” (SEE-MG, p.8, 2014), como mencionado no documento. Pois, há

poucas indicações de textos, livros, músicas, poemas, contos e crônicas, que assim, não satis-

fazem o desenvolvimento da curiosidade pela leitura, nem despertam o prazer pela mesma e

também, o documento, não possui orientações para os alunos desenvolverem sua criatividade,

por meio da escrita.

2.1.3. CBC-MG Ensino Médio

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O Currículo Básico Comum do Estado de Minas, para o Ensino Médio, é uma propos-

ta realizada no ano de 2007, em que:

Esta versão contém os Conteúdos Básicos Comuns (CBC) de Geografia que devem ser

ensinados para todos os alunos do 1º ano do Ensino Médio. Ela também contém uma

proposta de Conteúdos Complementares (CC), previstos para serem trabalhados no 2º

ano com os alunos que optarem pela área de ciências humanas. No 3º ano, a escola

poderá decidir sobre o que será ensinado em geografia, podendo optar pela revisão de

tópicos dos anos anteriores e/ou seu aprofundamento e ampliação. Para isso, sugeri-

mos subtemas. (SEE-MG, p. 51, 2007).

Neste documento, há uma grande diminuição da presença da leitura e escrita ou da

exposição, em trechos, sobre preocupações com as mesmas e possíveis formas de desenvolvê-

las. A leitura, nas duas vezes em que aparece, está relacionada ao objeto de estudo da geogra-

fia, o espaço geográfico e o conceito de paisagem. Que seguem abaixo:

- A Geografia Escolar exige, sobretudo, a valorização das vivências cotidianas do

educando, desvelando suas práticas espaciais e as perspectivas de leituras do espaço

geográfico a partir da interpretação das paisagens e da apreensão das noções de lugar e

território. (SEE-MG, p. 39, 2007, grifos do autor).

- A paisagem é percebida através dos sentidos. O olhar sobre o visível permite ler a

paisagem. A partir de sua percepção, se infere acerca da complexidade da vida social

contida em seus elementos culturais, políticos, econômicos e ambientais, enfim, naqui-

lo que a anima e lhe dá vida pela força dos símbolos, das imagens e do imaginário.

(SEE-MG, p. 48, 2007, grifos do autor)

Os quadros, contém uma menor estruturação, em relação aos quadros dos currículos

do Ensino Fundamental Anos Iniciais e Finais. Tendo, apenas “Tópicos/Habilidades” e “Deta-

lhamento das Habilidades”, para o 1° Ano e, “Tópicos” e “Habilidades Básicas”, para os Con-

teúdos Complementares, que podem ser utilizados para o 2° e 3° Ano do Ensino Médio.

Nestes respectivos quadros, as palavras leitura e escrita, ler e escrever, criação e criati-

vidade (relacionada aos alunos), literatura e outras relacionadas à arte escrita, não aparecem.

O que, está presente e pode ser relacionado aos aspectos que envolvem leitura e escrita, são os

Detalhamentos das Habilidades ou Habilidades Básicas, que contém, a interpretação, a com-

paração e análise de textos sobre um determinado conteúdo ou tema, mas não especificam

quais tipos que podem ser usados, sem maiores detalhes ou indicações. O que, também con-

tribui para o não desenvolvimento da leitura e escrita, relacionada ao prazer e a criatividade

das alunas e alunos.

Portanto, nos três currículos analisados, das modalidades do Ensino Fundamental e

Ensino Médio do Estado de Minas Gerais, notou-se uma diminuição gradual da leitura e escri-

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ta. Que nos Anos Iniciais, mesmo estando associados à formas mecânicas de realização, há

grande presença desses elementos, organizando esta etapa. Nos Anos Finais, há uma diminui-

ção da presença destes elementos, estruturando a geografia como disciplina da Educação Bá-

sica, mas, nos quadros, ainda há a presença dos mesmos, porém, com poucas indicações. Já no

Ensino Médio, o desaparecimento da leitura e escrita, é grande.

2.1.4. A Avaliação no CBC-MG Anos Iniciais e Finais do Ensino Fundamental e Ensino

Médio

Segundo os três documentos analisados, a concepção de avaliação presente em seus

textos e na forma como ela deveria se realizar na escola, é de uma atividade de cunho avalia-

tivo, processual que serve aos propósitos do processo de ensino-aprendizagem dos alunos,

possibilitando observar falhas neste processo e nas disciplinas. Segue abaixo, as formas que

sua definição estão, respectivamente, nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, nos Anos

Finais da mesma modalidade e no Ensino Médio. Nestes trechos, com foco na avaliação que a

instituição escola e seu corpo docente devem realizar:

- Neste documento, a avaliação da aprendizagem é concebida como uma ação pedagó-

gica a serviço do ensino. É redimensionadora da ação pedagógica e tem dimensão

fundamental . A dimensão interativa da avaliação conduz necessariamente à relação

entre avaliar não só o que for ensinado, mas o modo como foi ensinado.

...

Uma concepção desse tipo pressupõe considerar tanto o processo que o aluno desen-

volve ao aprender como o produto alcançado. (SEE-MG, p.17, 2014, grifos do autor).

- . A avaliação é concebida como um processo que implica diagnóstico, acompanha-

mento, busca de superação das dificuldades através de intervenções pedagógicas, ao

longo do ano letivo, para garantir a aprendizagem no tempo certo e não apenas provas

e testes para medir o desempenho final dos alunos. Isso significa compreender a avali-

ação como parte do próprio processo de aprendizagem, constituindo-se num grande

desafio não só para os professores de Geografia, mas para o conjunto dos professores

de uma mesma escola. (SEE-MG, p.16, 2014, grifos do autor)

- A quinta diretriz refere-se à avaliação formativa e aos indicadores de competências

construídas. As atividades são situações educativas planejadas pelo professor para que

as aprendizagens se desenvolvam como processo de construção de conhecimentos, di-

ferentemente de métodos tradicionais, que apresentam ideias prontas, acabadas. Essas

atividades são, ao mesmo tempo, instrumentos de avaliação, pois permitem o levan-

tamento de dados sobre o processo de aprendizagem e a autonomia do aluno no ato de

compreender como se aprende. (SEE-MG, p. 44, 2007, grifos do autor).

Essa concepção de avaliação, demonstrada com estes trechos, vista como um processo

é essencial e positiva para a construção de um processo de ensino-aprendizagem. Porém, em

dois momentos, grifados acima, o próprio documento cria suas contradições. Na segunda fra-

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se, referente aos Anos Finais do Ensino Fundamental, diz que avaliação visa garantir “a

aprendizagem no tempo certo...” (SEE-MG, p. 16, 2014), mas se ela é um processo gradual

que necessita de um acompanhamento, a aprendizagem tem um tempo certo? E como saber se

as alunas e alunos estão neste tempo adequado? Por meio de avaliações de múltipla escolha?

E continua, “...não apenas provas e testes para medir o desempenho final dos alunos.” (SEE-

MG, p.16, 2014), porém, este “tempo certo”, implica uma idade e uma série, em que as alunas

e alunos serão avaliados com base nas competências e habilidades (Tão focalizadas nestes

documentos, nítidos em seus quadros com os Eixos Temáticos) esperadas pelos professores,

que as mesmas e os mesmos devem ter desenvolvido em certo período, ou seja, o ano letivo,

que com base nestas aquisições ou não, os alunos prosseguiram ou não, para o próximo ano,

para o seu “tempo certo” de aprendizagem”. Se é, que isto exista de fato ou apenas, é mais

uma imposição, do próprio sistema educacional, para poder mensurar a “qualidade” da educa-

ção brasileira por meio de provas, índices e dados.

Outra contradição, que se relaciona com dados e índices, é considerar a educação co-

mo “produto alcançado” (SEE-MG, p.17, 2014), presente no trecho do currículo dos Anos

Iniciais do Ensino Fundamental. Pois se a educação é um processo e a avaliação (na concep-

ção documento), é também um processo avaliativo e contínuo, como pode-se mensurar a edu-

cação? O único modo é criar índices, políticas de avaliação com provas de múltipla escolha,

estabelecer metas, e definir a educação como produto, porém, sem o investimento necessário

para se chamá-la ou considerá-la com essa perspectiva.

Estas afirmações, discutidas, se referem às provas que os professores devem realizar.

Na escola analisada, como estagiário e residente do programa Residência Pedagógica, no pe-

ríodo de análise, foi possibilitado o contato com as provas da disciplina, até auxiliando na

correção. O que, não foi uma tarefa difícil, pois as provas foram, todas, de múltipla escola.

Em que, a leitura estava presente para interpretar a pergunta e o texto, e achar a resposta certa

e, a escrita, realizada apenas para colocar o nome na prova e pelo “X”, que deveria ser assina-

lado em alguma letra. Esses dois elementos, aparecem, sem nenhuma forma de despertar o

prazer e sem função social para aqueles seres humanos de uma determinada série. A maioria,

das provas corrigidas por este autor, as alunas e alunos não tiraram “boas notas”, ou seja, não

conseguiram atingir um certo número de respostas certas estabelecidas. O que, por meio dessa

metodologia de avaliação, pouco diz sobre o processo de ensino-aprendizagem que cada aluno

pode ter desenvolvido, pois ele, pode acertar todas as questões “chutando” as alternativas ou

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utilizar os ensinamentos, daquele conteúdo da prova em sua vida, e errar a maioria das alter-

nativas, porque, não assinalou a letra correta.

Como já foi discutido, sendo mais evidente na organização do currículo dos Anos Ini-

ciais do Ensino Fundamental e nos quadros com os Eixos Temáticos de todas as modalidades

da Educação Básica, com Competências e Habilidades que devem ser desenvolvidas pela(o)s

aluna(o)s, não contemplam e pouco proporcionam o desenvolvimento do prazer pela leitura,

da escrita como forma de manifestação da criatividade e nada trazem do livro, da arte escrita,

como uma função social e ferramenta para transformação da mesma. Em relação, as avalia-

ções de desempenho, as avaliações externas e de larga escala, federais e/ou estaduais, os do-

cumentos dos Anos Finais do Ensino Fundamental, na página 10 e, do Ensino Médio, na pá-

gina 43, trazem a idêntica consideração:

Em verdade, na tradição pedagógica, a abordagem dos fatos e fenômenos da realidade

socioespacial se dá de forma fragmentada e descolada das experiências significativas

do educando, isto é, sem considerar os contextos culturais, ambientais, políticos e

econômicos. Parte-se do pressuposto de que, mais tarde, ele seja capaz de correlacio-

ná-los e enredá-los de forma contextualizada, recompondo e estabelecendo conexões

entre ideias, fatos, conceitos, princípios. O que nem sempre vem acontecendo, como

revelam as avaliações de desempenho. Uma das alternativas para a exercitação do

pensamento complexo está no âmbito de uma abordagem contextualizada, propiciada

pelo enfoque globalizador. Uma das formas de operacionalizá-lo é o desafio ante

exercício da interdisciplinaridade. (SEE-MG, p.43, 2007, grifos do autor).

É um fato, que, em sua maioria, o ensino na educação básica e até na educação superi-

or, se realiza de forma fragmentada, se deslocando ou não conversando com a “realidade so-

cioespacial” (SEE-MG, p.43, 2007) brasileira. Mas, colocar as avaliações de desempenho

como reveladoras deste aspecto, é ainda mais desconexo com a realidade. Em que ponto, estas

avaliações trazem elementos de “experiências significativas do educando” ou tem uma “abor-

dagem contextualizada” (SEE-MG, p.43, 2007)? Sendo que, as perguntas são padronizadas

para todo o país ou para todo o estado, em que a escola se localiza e ainda, são de múltipla

escolha. O que, elas podem nos revelar sobre as experiências, a vida, os sentimentos, os pen-

samentos, as vontades, os sonhos, os problemas que a(o)s educanda(o)s passam cotidianamen-

te? Na verdade, elas não contemplam estes fatores e os mascaram, para serem transformados

em índices, dados e números.

Segundo CAETANO e RIBEIRO, sobre as avaliações externas, relacionadas a leitura:

Como aspecto potencialmente positivo, podemos considerar que, com as avaliações

em larga escala, a gestão de escolas e redes passa a incorporar indicadores de desem-

penho como mais um elemento para o conhecimento de suas realidades... Salientamos,

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contudo, que as medidas resultantes dessas avaliações não se constituem, por si só, em

avaliação, pois uma medida indica o quanto se atingiu numa determinada escala e a

avaliação é o julgamento desse resultado em função de critérios, para os quais a inter-

pretação pedagógica é parte insubstituível do processo avaliativo, que, também, deve

levar em consideração as condições específicas de cada rede e escola, reforçando a

importância da avaliação institucional. (CAETANO; RIBEIRO, p. 5, sem data no do-

cumento, grifos do autor)

Assim, nesta concepção, as avaliações externas podem ser uma ferramenta de medida

do ensino-aprendizagem,

Mas fazer delas o único procedimento para indicar a qualidade do trabalho com a lei-

tura e pautar iniciativas de políticas educacionais seria negar-se a enfrentar uma reali-

dade que, por sua complexidade, demanda outros instrumentos e medidas, principal-

mente aquelas capazes de garantir as condições de existência e funcionamento das es-

colas, compreendidas em suas dimensões de infraestrutura material, pedagógica e pro-

fissional. (CAETANO; RIBEIRO, p. 6, sem data no documento, grifos do autor).

Porém, na concepção do autor desta monografia, as avaliações externas da forma co-

mo estão organizadas pelo sistema educacional brasileiro e suas implicações no cotidiano

escolar, são uma política que causa mais problemas e trazem elementos negativos para a esco-

la pública. Pois, estas, não consideram as especificidades de cada escola e de seus agentes que

vivenciam a mesma, amarram os currículos, com o intuito de que a leitura e a escrita sejam

contempladas de forma mecânica para responder suas questões, não tem a perspectiva de

construir a ideia do livro e da literatura como forma de transformação geográfica e também,

não trazem a escrita, vinculada a arte de manifestação de existência das alunas e alunos, que

poderia possibilitar o maior conhecimento destes agentes pelos professores, diretores e outros

funcionários da escola.

Portanto, como muito bem definiu uma das alunas, na tentativa de colocar um título

para o livro, que é um resultado da prática, descrita e explicada no próximo capítulo. Nessa

forma, como o sistema educacional brasileiro está organizado, os agentes escolares, princi-

palmente, a(o)s aluna(o)s, são “Um Lado Desconhecido” da sociedade brasileira, que, por

meio das avaliações e índices, só tem o contato com a “realidade escolar”, baseada em núme-

ros. E, é importante ressaltar, que esta aluna, não precisou cursar uma licenciatura, analisar

documentos curriculares, políticas públicas, se basear em autores para escrever monografias,

dissertações ou teses, apenas vivenciou e vivencia o que o sistema educacional faz com quem

vive o cotidiano escolar. Ou seja, não os conhecem de fato, por isso, muitos projetos, refor-

mas e políticas educacionais, são desconexos com as múltiplas realidades das escolas de nos-

so país.

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2.2. A Leitura e Escrita nas Aulas de Geografia

A concepção mecânica do currículo se efetiva no cotidiano escolar, quando a perspec-

tiva da dimensão política da educação e da geografia escolar, não é exercitada em sala de au-

la. Sendo que, estas dimensões, não se realizarão por fórmulas, mas por buscas e tentativas.

Há um processo, sobre a forma como as aulas acontecem no cotidiano escolar. O ele-

mento com maior influência, neste processo, é a própria organização do sistema educacional

brasileiro. Se este, constrói um currículo, em que os direitos de aprendizagem, leitura e escri-

ta, aparecem com uma concepção mecânica, com o intuito de produzir números. Haverá, di-

versos mecanismos aparentes ou não aparentes, mas intencionais e direcionados, para que esta

concepção se realize na sala de aula. Estes mecanismos, são vários e cada um necessita de

estudos aprofundados, para a explicação de como estes influenciam o cotidiano escolar. Neste

tópico da monografia, o foco não é discutir estes ou um mecanismo, sim, demonstrar alguns

momentos vivenciados, que poderão contribuir para a construção da ideia, no leitor, sobre

como a leitura e escrita, realizada nas aulas de geografia, se parecem com a concepção do

documento curricular.

É importante justificar que, os momentos vivenciados, aqui utilizados, não possuem a

intenção de enquadrar ou definir as aulas do professor regente, atribuindo-lhes qualidades.

Mas sim, de mostrar a leitura e a escrita mecânica nas situações de ensino-aprendizagem em

sala de aula. Pois, esta realidade, fez parte da motivação da proposta e, portanto, estruturou a

mesma.

O período de observação e análise do cotidiano escolar permitiu a experiência em to-

das as séries das modalidades de ensino básico que a escola oferece. Os Anos Finais do Ensi-

no Fundamental e Ensino Médio. Sendo, um ganho para o processo de formação do autor des-

ta monografia, pois possibilitou, a percepção das diferenças de dinâmicas das turmas e de

cada série, e o que, estas dinâmicas trazem de demanda ao preparo das aulas. Porém, o plane-

jamento das aulas e a metodologia, se mantiveram as mesmas, em todas as séries e turmas.

Assim, já se pode pensar nas dificuldades que seriam (e foram) enfrentadas para a construção

de um processo de ensino-aprendizagem professor-alunos. A diferença, que se realizou neste

período, ocorreu na mudança de ano, de 2018 para 2019, em que, ao invés dos alunos lerem

os textos que explicam os conteúdos no livro didático, o que, muitas vezes, era um impasse,

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pois poucos se permitiam ler os respectivos textos. O professor, talvez, devido à este “obstá-

culo”, passou a explicar, resumindo, o que estava escrito em cada parágrafo dos textos.

Nesta mudança, pode-se pensar numa diminuição da leitura na sala, mesmo que os

textos dos livros didáticos não desenvolvem o prazer pela leitura, são fragmentados em espe-

cializações conteúdistas e resumem uma realidade complexa em parágrafos, a leitura ainda era

exercitada, mesmo que, na maioria das aulas poucos se disponibilizavam à ler. Mas, havia

aulas, que o aluno, com o imaginário construído como “desobediente”, “mau aluno” e “aluno

problema”, pedia para ler. Assim, ele fazia parte da aula, pelos menos, se integrava em uma

parte de sua realização. Assim, como outros alunos podem participar e lidar com sua dificul-

dade da vergonha de se mostrar e talvez, da dificuldade de leitura, que poderia ser captada e

trabalhada em intervenções pedagógicas direcionadas.

A escrita, por parte dos alunos, durante todo o período, se realizou na resolução dos

exercícios do livro didático, para que, com as respostas, ganharem visto para a nota final de

cada bimestre. Como, as situações de ensino-aprendizagem criadas/planejadas, se concentram

no livro, este já traz os conteúdos em textos, ilustrações, exemplos, fotografias e exercícios.

Outros recursos utilizados foram os mapas que a escola possuí, com uma variedade possibili-

tadora e, mapas impressos para serem preenchidos com siglas, nomes de capitais, países, con-

tinentes, etc. e coloridos. O que se escreveu na lousa, foram as páginas para realização das

atividades, criando uma redução de formas de se interagir com a escrita, a leitura e os conteú-

dos. Assim, até o processo de criação do próprio professor não é exercitada, por consequên-

cia, a da(o)s aluna(o)s também não.

Esta forma de utilizar o livro, ditando o ritmo e sendo uma espécie de “currículo”, efe-

tiva a leitura e escrita mecânica, presente no Currículo Básico Comum do Estado de Minas

Gerias. Principalmente, no exercício destes dois elementos, que são, unicamente exercitados,

na resolução das questões do livro didático, de cada conteúdo anteriormente trabalho, por

meio livro didático. Pois, para responder as questões, os alunos devem procurá-las nos textos

que falam sobre o conteúdo da pergunta. Ao achá-las, às copiam da forma que está no livro.

Sendo que, este poderia ser feito de outra forma, em que o aluno poderia interpretar e criar sua

resposta escrevendo com sua forma de pensar. Mas, durante todo esse período de observação

e participação no auxílio das atividades, esse exercício da criação, por parte dos alunos, foi

uma dificuldade de se construir, pois ela não é um princípio desta metodologia. Ao, no mes-

mo momento, mostrar e explicar o conteúdo, com base no texto do livro didático, o que se

ouvia dos alunos era: “Tá, mas eu copio daqui até aqui, ou isso tudo?”. Esta resposta e ação,

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por meio da reprodução textual, é criada pelas situações de aprendizagem. E, como foi anali-

sado, é vontade do currículo (sistema educacional) que ela se concretize.

Um fator à ser considerado com foco na leitura e escrita, portanto, em grande fração

do processo de ensino-aprendizagem, pois este, em grande media, se realizará com base nes-

tes dois elementos, em qualquer disciplina do ensino básico. É que, o sistema educacional

funciona, mas o cotidiano escolar possibilita a atuação por meio de suas fissuras, em que não

são controladas totalmente pelo próprio sistema. Nestas fissuras, na sala de aula, podem ser

construídos subversões e pequenas práticas ou simplesmente a realização do básico. Porém,

estas fissuras não são preenchidas nem com o básico, nem com subversões, quando não se

olha o caderno dos alunos, para ver a finalidade de sua metodologia, que são as respostas do

livro, mediadas pelo visto. Assim, além de não saber o que os alunos pensam, se copiam, se

sabem utilizar a língua portuguesa de forma correta e se tem coerência de ideias, não sabe de

suas identidades e desconhecerá quem a sua profissão depende.

O leitor lembra-se da definição da aluna, “Um Lado Desconhecido”? Esta é mais uma

evidência desta percepção ou apenas, uma interpretação da mesma. Pode-se refletir, se o ensi-

no de geografia se efetiva, sem o conhecimento de algo que constituí o próprio objeto de estu-

do desta ciência. O espaço geográfico, não o é, sem a inclusão das pessoas nas análises. Isto

parece óbvio, mas a academia parece não perceber. Ou seja, a(o)s aluna(o)s vivem, estão e são

parte do objeto de estudo da geografia, porque então, não construir meios para conhecê-los?

Mas, o que se ouve e presencia, em muitos espaços educacionais escolares e acadêmicos, é a

referência à certos alunos de “capetas” (ou outras conotações deste tipo), que além de repre-

sentar uma interpretação que não utiliza meios pedagógicos para conhecê-lo, é uma desuma-

nização que fere o direito público e subjetivo da educação. A busca de outros meios, se reali-

zarão nas fissuras deste sistema, pois o mesmo, quer que a educação seja um “produto alcan-

çado” (SEE-MG, p.17, 2014), e ele se organizará para que funcione dessa forma.

SOLÉ (1999), ao citar ENTWISTLE (1988) e discutir o conceito de enfoque superfi-

cial, que se aplica “à forma de abordar a tarefa e não ao estudante...” (SOLÉ, p. 35, 1999),

sintetiza as exposições acima e possibilita a percepção das consequências desta forma de en-

sino-aprendizagem no cotidiano da escola analisada. O que, caracteriza o enfoque superficial,

é a criação de situações de aprendizagem, com a “intenção de cumprir os requisitos da tarefa;

memorização da informação necessária para as provas ou exames; a tarefa é encarada como

imposição externa; ausência de reflexão sobre os propósitos ou estratégia...” (SOLÉ, p. 34,

1999). Estas quatro características, são a base das atividades do cotidiano escolar analisado. O

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momento descrito abaixo, numa turma do 9°Ano do Ensino Fundamental, pode contribuir

para este entendimento:

A aula é de resolução de atividades. Hoje resolvi não auxiliar e observar como os alunos irão

resolver estas questões. Muitos não trouxeram o livro, alguns se juntam mas outros nem abrem

o caderno. Passa uns 15 minutos, uma aluna à minha esquerda, que senta na carteira encosta-

da na parede, termina a atividade e já vai levar para o professor. Ao mesmo tempo, alguns

alunos que não estão fazendo e sentam perto dela e estão sem o livro didático, abrem o cader-

no. Assim que ela volta, com o visto e o caderno fechado, antes de sentar, um aluno pede seu

caderno para copiar. Ela é a única em pé, o professor à vê e diz – “Aluna X, vai sentar”, ela

não escuta ou finge não escutar, o professor repete a fala. Ao mesmo tempo, ela procura a ma-

téria do seu caderno que está a geografia e a atividade feita. O professor à fita com um “olhar

de bravo”, pela sua desobediência. Ela acha a atividade no caderno, o professor olha, ela en-

trega pro seu colega o caderno, o professor vê, depois desvia o olhar quando a aluna senta e o

“obedece”. O aluno copia, leva o caderno pro professor, ganha o visto, mas não cria, não é

incentivado à pensar sobre o conteúdo, porém tem o visto, e “sobrevive” na aula de geogra-

fia”. (Manhã do dia 19/10/19).

Este momento, recorrente em todas as aulas, em que, a(o)s aluna(o)s deveriam respon-

der as atividades do livro, representa, em relação às aulas e as atividades, a única “intenção de

cumprir os requisitos da tarefa” (SOLÉ, p. 34, 1999). E esta prática foi captada pela(o)s alu-

na(o)s, quando ainda recebem o visto, mesmo estando sem o livro e sem ler as questões e tal-

vez, até sem ler a resposta que copiou. Assim, a(o)s alunos, entre ela(e)s, criam alternativas,

de mesmo não compreendendo o conteúdo e depositando atenção no professor, conseguirem

ter o visto. Pois, o que se espera dela(e)s, é ter as respostas, não importa como estão ou como

fazem para consegui-la. As turmas do Ensino Fundamental compartilham cadernos, já as tur-

mas do Ensino Médio, possuem celulares, tiram fotos e compartilham em redes sociais entre

a(o)s integrantes da turma, estas e estes possuem um maior grau de “criatividade”, para des-

pistar as situações de ensino-aprendizagem, que não possibilitam sua criação.

A “ausência de reflexão sobre os propósitos ou estratégia” (SOLÉ, p. 34, 1999), em

relação às situações de ensino-aprendizagem, especificamente, as atividades, é a própria for-

ma, evidenciada acima, que a(o)s aluna(o)s lidam com ela. Pois, “se um aluno não conhece o

propósito de uma tarefa e não pode relacionar esse propósito à compreensão daquilo que im-

plica a tarefa e às suas próprias necessidades, muito dificilmente poderá realizar aquilo que o

estudo envolve em profundidade” (SOLÉ, p. 35, 1999). Isto contribui, para aumentar as difi-

culdades de construir um processo de ensino-aprendizagem na(o)s aluna(o)s, pois as situações

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criadas não os instigam ou incomodam, não se espera mais dela(e)s do que copiarem respostas

do livro e ganharem visto. O resultado é, ao esta(e)s aluna(o)s só conviverem com o básico e

o repetitivo na escola, com o tempo, aprendem à lidar com este básico e repetitivo, e cons-

troem (por incrível que parece) coletivamente, formas de realizá-lo, sem realizá-lo de fato.

Apenas encaram a tarefa “como uma imposição externa” (SOLÉ, p. 34, 1999), que não condiz

com suas necessidades humanas, só necessidades de passar de ano.

A “memorização da informação necessária para provas ou exames” (SOLÉ, p. 34,

1999), já foi discutida ao analisar o CBC-MG e contribui diretamente para a mecanização da

leitura e escrita. Esta forma de ensino-aprendizagem, com foco em provas e vestibulares, é

tida como educação de qualidade quando o pôster de tal escola, muitas vezes privada, expõe

que preparou um aluno para a universidade. Portanto, até com o ensino se cria fabulações e

distorções, para as estruturas desiguais do espaço geográfico brasileiro se perpetuarem.

Para finalizar este capítulo, deve-se trazer uma situação vivenciada no início do Ensi-

no Fundamental II, no 6° Ano. Em que, a ameaça de “castigo” para os alunos “desobedien-

tes”, numa aula que o professor responsável pela biblioteca estava auxiliando o professor de

geografia no controle da turma, era copiar um texto sobre respeito. Assim, já são moldados,

desde os primeiros anos, à fazerem algo, que poderia ajudá-los a manifestar pensamentos,

emoções, construir respostas mais coerentes com a realidade e quem sabe, ser um meio de

mudança de perspectiva geográfica e/ou existencial, à realizarem ela como punição, em forma

de reprodução. Com isso, o projeto do sistema educacional brasileiro funciona e perpetua os

alunos como “Um Lado Desconhecido” da escola e da sociedade.

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3. GEOGRAFIA E LITERATURA: UMA POSSIBILIDADE E TENTATIVA DE EFE-

TIVAR O DIREITO PÚBLICO E SUBJETIVO À EDUCAÇÃO

“- Eae pessoal, já leram?

- Sim.

- Já!

- Quase.

...

- Certo, posso continuar?

- Sim

- Beleza...Tem algo de diferente nesses textos que eu trouxe pra vocês, daqueles que vocês já

leram?

- Sim.

- Qual?

- Esse tem sentido!”

(Momento vivenciado na segunda aula da prática desta proposta)

Após a análise, de que, tanto no Currículo Básico Comum do Estado de Minas Gerais

(CBC-MG), quanto nas aulas de Geografia da escola estudada, a leitura e a escrita estão e se

realizam de forma mecânica. Busca-se na literatura, ou seja, na arte, uma possibilidade, uma

tentativa de transformação deste quadro do sistema e do cotidiano escolar.

Assim, neste capítulo, estrutura-se a proposta deste autor e de sua orientadora, para

utilizar a literatura com protagonismo da(o)s aluna(o)s, com o propósito de uma transforma-

ção geográfica e tentativa de conhecer e entender a realidade vivida e/ou interpretada, pelas

alunas e alunos do Ensino Básico da rede pública. Sendo, esta proposta, uma metodologia

pedagógica prática, que é a sequência de aulas preparadas, as quais, construíram os resultados

desta monografia. Tenta-se, descrever como a proposta se realizou no espaço escolar, com as

respostas das alunas e alunos aos textos escolhidos, falas e momentos vivenciados com elas e

eles. E também, busca-se fazer a análise de uma etapa da escrita das alunas e alunos e as pos-

sibilidades desta proposta, que pode estruturar planejamentos e ações pedagógicas.

Para finalizar, mostra-se como foi a construção de um livro, resultado dos escritos

poéticos da(o)s própria(o)s aluna(o)s, denominado de “Pensadores Desconhecidos”. Tenta-se,

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descrever o evento de lançamento deste livro, ao qual, as alunas e alunos adentraram a Uni-

versidade Federal de Alfenas-MG (UNIFAL-MG), com literatura. E, sem pedirem licença aos

acadêmicos, os ensinaram, em primeira pessoa, como é ser aluna e aluno no sistema educaci-

onal brasileiro e como é ser um “candidato à cidadão” (M. SANTOS, 1987) no espaço geo-

gráfico do município de Alfenas-MG. E, também, busca-se outra tentativa de descrição da

vivência compartilhada com as alunas e alunos, ao participarem da Feira Literária de Alfenas

– MG (FLIALFENAS), edição 2019.

3.1. A Proposta: uma metodologia prática

CAVALCANTI (2010), ao discutir a tentativa de renovação científica da Geografia,

de suas bases conceituais, métodos e função social da mesma, sendo caracterizada, pelo esta-

belecimento de uma “Geografia Crítica”, diz que:

O “movimento” da década de 1980 também focava o ensino de Geografia, procurando

atribuir maior significado social a essa disciplina escolar. [...] A proposta era de uma

nova estrutura, cujo eixo era o espaço e as contradições sociais, orientando-se pela ex-

plicação das causas e decorrências das localizações de certas estruturas espaciais. [...]

Com essas novas orientações, reafirmou-se o papel relevante da Geografia na forma-

ção das pessoas e reconheceu-se que mudanças relacionadas ao cotidiano espacial de

uma sociedade globalizada, urbana, informacional, tecnológica requerem uma com-

preensão do espaço que inclua a subjetividade, o cotidiano, a multiescalaridade, a co-

municação, as diferentes linguagens do mundo atual. (CAVALCANTI, p. 5, 2010, gri-

fos do autor).

Com esta perspectiva, a ciência geográfica e a Geografia escolar, contém um maior

significado e portanto, papel social na formação de pessoas, utilizando seu objeto de estudo,

que é o espaço geográfico, e suas múltiplas contradições no acontecer cotidiano, que são vivi-

das, observadas, sentidas e interpretadas por quem os professores de geografia na Educação

Básica buscam formar, com os instrumentos teóricos e conceituais da ciência geográfica. As-

sim, estes conhecimentos adquiridos por alunas e alunos, devem ser considerados e utilizados

no processo de ensino-aprendizagem desta disciplina, principalmente, na escola.

Neste mesmo estudo, além da autora discutir esta “nova perspectiva” da geografia (ci-

entífica ou escolar, focalizando mais esta última, mas que está relacionada intrinsicamente

com a primeira), e com base nela, também fornece “algumas orientações para o ensino de

Geografia” (CAVALCANTI, p. 6, 2010). Dentre estas, está o “desenvolvimento da habilidade

de lidar com linguagens „alternativas‟ na análise geográfica” (CAVALCANTI, p. 9, 2010),

que, segundo a autora, são

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outras formas de linguagem, além da verbal, e outros gêneros de texto, além dos gêne-

ros didáticos tradicionais ― o filme de ficção, o documentário, a música, a fotografia,

a literatura, o texto jornalístico, o teatro, a charge, a Internet, o jogo virtual, o compu-

tador e a Internet. (CAVALCANTI, p. 9, 2010, grifos do autor).

Assim, na tentativa de buscar construir e internalizar, para propor ações pedagógicas e

metodologias didáticas, esta perspectiva da “Geografia Crítica” no espaço escolar, tentou-se,

na dimensão prática desta monografia, construir uma metodologia didática que utiliza da arte.

Em que, foi escolhida a literatura, devido à capacidade que esta possui quando utilizada, com

uma perspectiva, de que a mesma, tem a capacidade de conter uma função e se desenvolvida

com protagonismo das alunas e alunos, contribui para a/o professora/professor regente conhe-

cer as mesmas e mesmos, e potencializar seu planejamento pedagógico para o ensino de Geo-

grafia na sala de aula. Como esta perspectiva de literatura não é exercitada no CBC-MG, nas

aulas de Geografia e nem pelo profissional responsável pela biblioteca da escola analisada,

esta realidade do cotidiano escolar, também se fez motivadora, para a tentativa de construir

um fazer aprender de Geografia na escola, que também, se expandiu para outros lugares da

cidade de Alfenas - MG.

Como o autor desta monografia é integrante do Programa Residência Pedagógica de

Geografia da Universidade Federal de Alfenas – MG (UNIFAL-MG) foi este, que possibilitou

o contato, as análises, o estudo e as ações na escola analisada. As fases de pesquisa e ação

pedagógica, nesta escola, foram desenvolvidas deste o início do programa na respectiva uni-

versidade. O período do programa foi de um ano e seis meses, que se iniciou no segundo se-

mestre do ano de 2018. Além, das observações, auxílios ao professor regente, regências e ati-

vidades pedagógicas desenvolvidas na escola de disciplinas formadoras do curso de Geogra-

fia, o Programa Residência Pedagógica, em sua estrutura organizacional, tinha como propos-

tas o desenvolvimento de um Projeto Pedagógico. Assim, se pensou a proposta desta mono-

grafia, para ser desenvolvida junto às ações deste programa.

Mas, as observações e ações relacionadas somente à este Trabalho de Conclusão de

Curso (T.C.C.), se iniciaram no primeiro semestre do ano de 2019. Em que, com a ideia de

construir e aplicar esta proposta, era primeiro necessário escolher uma turma. Após duas se-

manas de observações, foi escolhido a turma do 3°Ano B do Ensino Médio, uma sala com 34

alunas/alunos (no início deste semestre), pois, o objetivo era escolher apenas uma turma, para

possibilitar uma análise aprofundada dos escritos poéticos da(o)s mesma(o)s e também, a es-

colha de uma turma do Ensino Médio, em que, a(o)s aluna(o)s já passaram por todas ou a

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maioria, das modalidades de ensino da Educação Básica e, portanto, já adquiriram ou deveri-

am ter adquirido, um conhecimento e/ou perspectiva do que é a Geografia. Com isso, o 3°Ano

do Ensino Médio, foi a série escolhida desta modalidade, mas a escola possui dois terceiros

anos e, a escolha pela turma intitulada de “B”, foi pelo sentido próprio do autor, com base no

período das suas observações e a acolhida das alunas e alunos desta turma, sendo que, estas e

estes possibilitaram ou “estavam abertos” à um contato maior, nas atividades que foram de-

senvolvidas pelo professor regente, as quais, ele permite que os estagiários/residentes, auxili-

em a turma na sua realização.

Após a escolha, se teve a concepção, que era necessário comunicar com a sala escolhi-

da sobre a intenção de trabalhar com ela(e)s a prática proposta neste estudo, expondo, que o

mesmo, iria fazer parte do Trabalho de Conclusão de Curso (T.C.C.) deste autor, enfatizando

a importância para o aprendizado do mesmo em seu processo de formação. Assim, foi pedida

autorização ao professor regente de Geografia, para dar o recado à sala sobre este interesse de

realizar a prática pedagógica, ele aceitou e foi compatível, demonstrando respeito e apoio à

ideia desde o início, desde uma conversa sobre a mesma, antes de realizar as primeiras obser-

vações do ano de 2019 na escola. Por isso, este, teve um papel importante para realização da

ação pedagógica proposta aqui. O agradecimento ao mesmo já foi feito pessoalmente, mas é

necessário reforçá-lo.

Como o objetivo da proposta, além de construir os resultados desta monografia, era

fazer um livro com os escritos poéticos das alunas e alunos e, como o autor desta monografia

se intitula poeta e produz seus livros de forma independente, por meio de uma editora criada,

também independente, por ele e um amigo. Em que, esta, conseguiu financiar e produzir o

livro da turma (que será discutido num tópico abaixo deste mesmo capítulo), foi necessário,

para mostrar as alunas e alunos a verdadeira existência desta editora, para que ela(e)s confias-

sem no professor em formação e se interessassem em escrever e construir o livro em conjunto,

(mostrando a possibilidade real disto acontecer), levar, no primeiro encontro, que foi feito nos

quinze últimos minutos (aproximadamente) de uma aula do professor efetivo, todos os livros

escritos pelo autor desta monografia e produzidos pela sua editora independente, para que a

turma foleasse, lesse ou simplesmente tivesse algum contato com os mesmos e, foi o que

aconteceu.

A resposta da turma, à este encontro, foi positiva, elas/eles aceitaram a ideia da pro-

posta e se mostraram incentivados com a ação. Mas, mesmo com esta resposta, percebeu-se

uma certa dúvida, por parte da(o)s aluna(o)s, de saber como a produção do livro iria ocorrer.

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O que já era esperado, pois elas/eles não conheciam o autor da proposta e que esta(e)s, assim

como muitos jovens brasileira(o)s estão cansados de promessas vazias, que podem aumentar o

número de frustações, e estas podem ser recorrentes em suas vidas. Esta dúvida foi sentida,

mas também exposta por um aluno, na aula em que foram entregues os livros à turma, porém,

naquele momento, o livro já estava em suas mãos e sua fala, que será descrita e discutida,

junto à de suas/seus colegas num tópico abaixo, era de realização, o que deixou o autor desta

monografia muito feliz.

É importante enfatizar que, mesmo com uma certa desconfiança (que como já foi dis-

cutido, ela é tratada com normalidade), esta não interferiu nos momentos em que as/os alu-

nas/alunos realizaram as atividades propostas. Portanto, assim como ao professor regente, os

agradecimentos às alunas e alunos já foram realizados pessoalmente, por acreditarem e cons-

truírem esta monografia e, principalmente, o livro, que é para além de um projeto acadêmico,

este se constitui um sonho, mas também é necessário reforçar este agradecimento aqui.

Portanto, neste primeiro contato, as/os alunas/alunos interagiram com os livros, alguns

até leram na hora e compartilharam suas interpretações sobre a leitura, outros levaram para

casa os livros e assim, lerem de uma forma mais confortável e com um tempo destinado. Um

aspecto, que também já era esperado de se encontrar entre as/os integrantes da turma e uma

situação marcaram o primeiro encontro. O aspecto, é que as/os alunas/alunos já escreviam ou

produziam seus textos ou letras de músicas, em que, naquele momento, uma aluna e um aluno

exporão que exercitam esta ação, mas, no decorrer das aulas mais dois integrantes da turma

também disseram que fazem o mesmo. O que, confirma uma hipótese e também o óbvio, que

a escola pública possui arte, e principalmente, as alunas/alunos à produzem e, basta aos res-

ponsáveis, por criarem as situações de aprendizagem no espaço escolar, perceberam e terem a

sensibilidade de captar e utilizar estas produções da(o)s aluna(o)s nas suas respectivas disci-

plinas e ações conjuntas internas e externas à escola.

A situação foi vivenciada com uma aluna, a qual, no fim do diálogo e interação com a

turma toda, chegou próxima ao autor da monografia e disse:

“(Aluna) - Mas professor, e eu que odeio poesia?

(Autor) – Mas a ideia é justamente essa, atingir aqueles que não gostam de poesia!

(Aluna) – É que eu não gosto da estrutura da poesia, prefiro conto ou crônica”

Neste momento, o autor deu um sorriso irônico e disse assim:

(Autor) – Você gosta sim de poesia, mas não tem essa ideia. Pois, independente da es-

trutura ou fim de um escrito, todos tem uma certa poesia contida ali.

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(Aluna) – Então tá bom, fico mais tranquila”

Com esta colocação e até, preocupação da aluna, os textos selecionados para serem

trabalhos na primeira aula, não possuem somente a estrutura de poesia (e se esta tem uma es-

trutura definida), mas também tem contos, crónicas, prosas poéticas e outras definições des-

necessárias, pois, o que se busca neles, é o conteúdo. Assim como os textos produzidos pe-

la(o)s aluna(o)s, não foi definido uma estrutura imposta, elas/elas foram livres, por isso, todas

vez, que estes, forem citados na monografia, serão/estão referenciados como “escritos poéti-

cos”, que não visa enquadrar uma estrutura única de suas produções artísticas.

Com este primeiro contato e o aceite da turma, a próxima etapa era preparar e estrutu-

rar a metodologia prática da proposta, que foi uma sequência de aulas. Esta será descrita abai-

xo, mas antes, é necessário discutir, que houve uma procura de trabalhos científicos que ten-

tam utilizar a literatura no ensino de Geografia escolar. Mas, em nenhum, continha a concep-

ção de literatura (e, portanto, de Geografia) e nem a forma de praticá-la com as/os alu-

nas/alunos, que esta proposta tentou construir. Assim, a estruturação da mesma, foi realizada

pelo autor e sua orientadora, com base na concepção de literatura daquela(e)s que à vivenciam

e constroem algo com ela, ou seja, os próprios escritores, principalmente, Sergio Vaz e Ferréz

(que tiveram seus textos trabalhados durante a prática). Sendo que, esta concepção só será

entendida e internalizada, por meio da leitura dos livros destes autores, do assistir de suas pa-

lestras e suas ações.

Assim, esta proposta se liga a ideia da “autoria e autonomia do professor”, discutida

por CAVALCANTI (2017). Em que, a autoria se fez pela busca do próprio autor com o auxí-

lio de sua orientadora, para construir a prática e, a autonomia foi possibilitada pelo professor

regente de Geografia da escola, o qual não interferiu nas ações e nem nas concepções das

mesmas, abrindo espaço para estas acontecerem, e claro, esta abertura não deveria ser abusa-

da, pois o mesmo precisa seguir seu planejamento. E, também é importante ressaltar, que os

escritos poéticos, produzidos pela(o)s aluna(o)s, foram utilizados como uma das avaliações do

terceiro bimestre do ano de 2019, para a matéria de Geografia, da turma escolhida.

Outro ponto, estudado por CAVALCANTI (2017), que se relaciona a ideia de autoria

e autonomia, sendo caracterizada como uma “demanda da formação docente inicial e continu-

ada” (CAVALCANTI, p. 101, 2017), é o percurso formativo do docente de Geografia e a re-

lação do mesmo com as expressões culturais e artísticas, em que,

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os professores que tem uma boa formação cultural, que conhecem e têm sensibilida-

de para atender e valorizar diferentes expressões culturais na música, na poesia, na

pintura, na dança, e outras, articulando com os artefatos tecnológicos disponíveis, sem

preconceitos e estereótipos, têm mais chance de dialogar com seus alunos, portadores

e produtores de múltiplas culturas” (CAVALCANTI, p. 103, 2017, grifos do autor).

Com esta concepção da autora, que se liga a ideia das linguagens “alternativas” discu-

tida anteriormente, enfatizando ainda mais, a importância de sua utilização, fica nítido que os

cursos de formação de professores de geografia devem trabalhar com este fator. Mas, com o

exemplo e a instituição formativa, a qual este autor buscou sua formação, pode-se questionar

a falta dessa utilização e o pouco que foi utilizado, foram para preparar regências para apre-

sentar, servindo como trabalho avaliativo. Ou seja, são ações pontuais, que não dão conta de

criar este espírito nos discentes em formação. Portanto, com este quadro, esta percepção só

será criada, se os professores em formação, forem buscar e se envolverem com expressões

artísticas contemporâneas, que refletem sobre o espaço geográfico atual. Do contrário, terão

dificuldade de comunicação com os jovens “portadores e produtores de múltiplas culturas”

(CAVALCANTI, p. 103, 2017). Foi o que aconteceu com o autor desta monografia, sua busca

foi necessária para que a proposta fosse construída.

Há um aspecto desta citação, que necessita ser debatido, sendo a definição de “boa

formação cultural” (CAVALCANTI, p. 103, 2017). Pois, na visão do autor deste trabalho,

não tem como definir uma formação cultural com adjetivos como “boa” e outros derivados

(que podem abrir precedente para a definição de “má formação cultural”, e o que seria isso?).

O que, se deve enfatizar, é a busca por esta formação cultural, que deve condizer, com a reali-

dade da escola, do período histórico e do espaço geográfico, aos quais se vive atualmente.

Além disso, esta importante pesquisadora para o ensino de Geografia escolar, traz ou-

tro ponto, ligado ao processo formativo, sendo “outra recomendação para essa formação é a

de articular mais e melhor os cursos com os problemas que tem maior relevância social.”

(CAVALCANTI, p. 104, 2017, grifos do autor). Assim, com base nesta ideia, os textos sele-

cionados, que foram utilizados na primeira aula preparada, com o intuito de despertar senti-

mentos e mostrar outra literatura, não tão explorada nos espaços educacionais institucionali-

zados, devido ao seu desconhecimento, trazem em seus conteúdos os problemas vivenciados

pela grande maioria dos brasileiros, associados às contradições espaciais. Principalmente,

num contexto urbano, em que os efeitos da “globalização perversa” (SANTOS, 2000), são

mais aparentes e vivenciados, sentidos e percebidos. E este contexto, se relaciona, ao contexto

da escola, localizada em uma periferia do município de Alfenas – MG, em que, a maioria

da(o)s suas/seus aluna(o)s residem no próprio bairro da escola ou nos bairros vizinhos. Bus-

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cando, atribuir um maior “sentido” (referência ao momento vivido com a turma na primeira

aula preparada exposta no início deste capítulo) à proposta e que, esta, dialogasse e se comu-

nicasse com uma maior contextualização geográfica e sentimental, atingindo a turma do 3°

Ano B.

Portanto, estes textos selecionados para a primeira aula, tiveram como principal obje-

tivo, despertar esta literatura, comprovadamente desconhecida pela(o)s professora(e)s da es-

cola e pela(o)s aluna(o)s. Porém, a busca de articulação com a Geografia foi uma tentativa

durante a prática e também outro objetivo contido nestes textos, só que, a proposta teve a pre-

ocupação de não “matar” ou “afogar” a arte, que seria despertada durante o processo de reali-

zação. Assim, nestes textos, não se teve a intenção de procurar, à risca, “tal” conceito geográ-

fico presente ali, “tal” atributo de localização e orientação. Os escritos selecionados tem a

capacidade de contextualizar realidades geográficas que, podem ser utilizados para o trabalho

docente em sala, com no mínimo cinco aulas preparadas, com recursos didáticos, dinâmicas

práticas e avaliativas e, dificilmente, esgotariam o conteúdo presente nos textos. Como já ex-

posto aqui, este não era o principal objetivo, e sim, os escritos poéticos que a(o)s própria(o)s

aluna(o)s iriam produzir (e produziram). Mas, esta primeira aula, serviu como um despertar e

também como indicadora de outras possibilidades de leitura, de autores e livros que podem

ser mais significativos à realidade da maioria da(o)s jovens brasileira(o)s, relacionando o “es-

paço e as contradições sociais, [...] causas e decorrências das localizações de certas estruturas

espaciais.” (CAVALCANTI, p. 5, 2010).

Seguem, abaixo, os textos selecionados, enumerados de 1 à 21, representado sua quan-

tidade:

1.

A definiria como menina

Cabelo aos ombros

Uma blusinha de flores suja

Um shortinho jeans (mal cortado)

Em que tenta desenhar curvas

Na verdade não as tem

Em verdade vos digo que está parada

Em um meio fio, junto ao lixo e outras

Tranqueiras ali despejadas

Em verdade espera algum caminhoneiro, pai de família

Que brinque com ela e ainda lhe dê uns trocados

Menina guerrilheira, não sabe mais o sentido de tanta violência,

Porém está sempre em seu posto defendendo a família

Seus irmãos, pai e mãe

Constituem a nação menina

A guerra urbana democrática aceita todos

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O sexo da menina obedece essa máxima

E como julgar a posição de cada ser nessa guerra do viver?

E pra que julgar se nada farás

Nada além de uma crítica mesmo severa e nauseante?

Sei, gostarias (tu, mãe zelosa de lindos cachos dourados)

Que aquela menina não estivesse a passar tamanha humilhação

Na guerra cotidiana do individuo

Cada um usa a arma que tem

A família traz o estandarte do Amor e União

As famílias defendem em seu território favela as prestações do mês

As famílias se odeiam entre si

Na ilusão do amor violentado a cada comercial de TV

Não busque solução!

A morte das massas é a solução

A guerra existe para defender a paz

Morra em paz, menina

Do shortinho mal cortado.

(Livro Poemas de Guerra, Negra Anastácia, sem título)

2.

A FINA FLOR DA MALANDRAGEM

Duzão é piloto, e o que da fuga à essa malandragem. Na madrugada, a bordo de um Mercedes, dirige certos por

vias tortas.

Aninha já passou o ferro em várias madames, dizem por aí que pra mais de vinte.

Cabeção tem olhar de rapina e um iceberg no coração, quando entra no banco já vai direto no caixa.

Colorau não age na quebrada, gosta de fazer mansão.

Lu ganha a vida distribuindo suas ideias através de um pó branco comprimido, a molecada fica alucinada. Nada

contra quem mexe, mas ela nunca meteu a mão no pó dos outros.

Vavá não pode ver carro parado que leva, se não der na chave leva nas costas.

Lourival mete o cano desde criança, o pai se virava no alicate, e nunca teve medo de cerca elétrica.

Como teve problemas de berço, Mariana pega o filho dos outros e devolve por uma quantia mínima.

Julião põe medo em muita gente, também pudera, já enterrou vários com uma pá na mão.

Salete limpou a casa de Sonia, quem deu a fita foi a Rose, que se bobear limpa até as casas dos parentes.

Marcio resgatou Sales da cadeia, e saiu do presídio pela porta da frente, ninguém fez nada.

Elizabeth quase não ri, é uma espécie de gerente da boca, na rua dizem que ela é a patroa.

Nego Jan vende tudo que pega: relógio, TV, DVD, Eletrodomésticos em geral, carro, moto, corrente de ouro,

roupa de marca, e demais mercadorias. Sua lábia é mais afiada que lâmina de gigolô.

Cocão tem problemas com a injustiça e está no semiaberto, passa o dia na oficina e a noite dorme no 3º andar.

Quando pode, Guida e preto Will, parceiros de caminhada, o visitam no domingo.

Luciana não tem medo de sangue, já ajudou a cortar vários desconhecidos, muitos cagam de medo de morrer na

mão dela.

Casulo não tem medo de nada, já passou o revólver até no carro da polícia.

As pessoas acima são suspeitas de ter a coragem de trabalhar, e enfrentar o dia a dia com a dignidade que só o

sofrimento ensina, e por mais simples que sejam, nunca se evadiram da responsabilidade de lutar.

A malandragem fica por conta de quem lê.

(Livro Literatura, pão e poesia, Sérgio Vaz)

3.

GUERREIROS DA CHUVA

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Uma noite dessas estava na rua quando os céus resolveram dar banho nos pés da cidade de Taboão da Serra.

Confesso que há muito não reparava a beleza da chuva. Lógico que também conheço seus efeitos colaterais e não

sou tão poeta a ponto de esquecer seus estragos, mas hoje, com os olhos úmidos dessa lembrança, queria falar de

uma outra chuva, a que não afoga as lembranças.

Umas das coisas mais bacanas da infância era tomar banho de chuva na rua.

O futebol rolando... Os nossos corpos miúdos abençoados pelo suor da vida, um coração pequeno sambando

dentro do peito, e de repente, como uma benção dos deuses, a chuva vinha e varria todas as impurezas da nossa

realidade. *(Atenção: se você fechar os olhos aos poucos é bem capaz que você ainda consiga sentir o perfume

de terra molhada).

Corríamos como loucos de um lado para o outro gritando palavras desconexas, e tentando engolir toda água para

o céu de nossas bocas.

De braços abertos, ríamos como anjos embriagados e afrontávamos a tristeza, que frequentemente, insistia em

nos visitar.

Com a alma lavada, ainda sob o efeito da vida plena, perseguíamos o arco-íris, não atrás do tal pote de ouro -o

ouro já era nossa própria alegria-, mas para contemplar suas cores.

Na minha tribo de guerreiros do arco-íris, a maioria tinha olhos pretos e castanhos, e apesar do futuro em preto e

branco, víamos tudo colorido.

Enquanto eu lembrava desse tempo de moleque do arrabalde, a chuva foi parando, e como era noite, ainda pude

ver as luzes distorcidas refletidas no asfalto molhado.

Vi também as goteiras que rolavam das calhas das casas, que mais pareciam lágrimas quando estão prestes a

secar. Será que as calhas choram o fim da inocência ?

Depois de crescido já me molhei várias vezes (praguejei todas elas), mas nunca mais tomei banho de chuva.

Nunca mais com a aquela mesma alegria. Nunca mais com aquela mesma sede de viver, e como se nunca mais

houvesse outro dia.

Acho que depois que a gente cresce a gente fica pequeno.

Hoje, com o coração árido, só consigo cuspir raios e trovões, e sem previsão, quando não garoa, estou sujeito a tempestades.

(Livro Literatura, pão e poesia, Sérgio Vaz)

4.

O RISO DO PALHAÇO SEM ALEGRIA.

Outro dia alguém, não sei bem por que e quando, me disse que a vida era um presente divino, e que devíamos

saber aproveitá-la, e jamais esquecer de agradecê-la, quem quer que fosse o padrinho. E que por pior que se apresentasse a vida, estar vivo era um milagre dos céus.

- Deus sempre sabe o que faz - enfatizou o amigo, filósofo de botequim, cheio de paz no coração e repleto de

alegria artificial na cabeça.

Fiquei meio assim com essa ideia de que a vida é um presente, porque outro dia também ouvi de um mendigo

agradecido pela sobras de um almoço: - cavalo dado não se olha os dentes. Nesse mesmo dia o vira-lata ficou

sem o seu almoço na lata de lixo. As migalhas não escolhem os miseráveis, elas são presentes do acaso.

É preciso estar no lugar certo, na hora certa, nos diz as pessoas que embrulham os presentes. Mas como os po-

bres e os vira-latas não têm relógio, sempre chegam atrasados. Assim como os ônibus.

Não sei quem me disse que para entender a vida era preciso conhecer a palavra de deus, mas como ele nunca

apareceu pessoalmente... Durante muito tempo acreditei nos mandamentos dos publicitários. Lembram daquela profecia: “O mundo trata melhor quem se veste bem”?

Pois é, o mundo dá crédito para quem tem crédito.

E aí, se a vida é agora, vida loka ou vida besta? Descobrir tem seu preço.

Na verdade, acho que a vida é uma das coisas mais engraçadas que o mundo nos dá, e que por isso mesmo, mui-

tas vezes não tem graça nenhuma. Não é que eu seja mal-agradecido, e ria menos que devia para o destino, mas é

que tem umas coisas que acontecem…

Vai vendo a ironia do destino, tenho um amigo que estava já algum tempo desempregado, estava vivendo de

bicos - sei que tem muita gente que não sabe, mas viver de bico não tem graça nenhuma. Ele agora faz bico em

uma loja de sapatos, e a coisa mais engraçada é que ele não é vendedor, nem gerente ou faxineiro, meu amigo é o

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palhaço da loja. É. Ele fica na frente da loja vestido de palhaço, fazendo graça para as pessoas que passam. Pare-

ce legal né? Mas não é.

Quando eu o vi e o reconheci até que foi meio divertido, não sei se porque o patrão estava olhando, mas seus

olhos e a maquiagem malfeita, o traíram. Estava triste.

Puxa, pensei, um homem desempregado não deveria ser palhaço, ser palhaço não é uma profissão, é um estado

de espírito, um dom. Taí, um presente.

Que tristes tempos nós vivemos, em que os circos se foram para o nunca mais, e os palhaços-trapezistas habitam

as lojas de sapatos.

Também tentei fingir, e ri um riso falso de poeta que tem a boca desbotada, para que ele, talvez, se mantivesse

digno em seu novo emprego, para que ele talvez se mantivesse firme na corda-bamba dessa vida, que mais pare-

ce sapato sem cadarço, para os que têm pés de chinelo e as pegadas miúdas que rastreiam o chão duro da felici-

dade que nunca vem. Despediu-se de mim com os olhos e partiu arrastando sua tristeza oculta em outra direção.

Ele se aproxima de uma menininha que se afastou meio com medo.

A mãe, sem graça, disse:

- Não tenha medo minha filha, é só um palhaço.

- “Quem dera” - pensou ele.

“A Vida não é engraçada? Um homem triste a fazer sorrir os outros!”, disse a voz do destino, segurando um

cartão de crédito sem limites numa mão e um peito vazio na outra.

Sem saber como chorar, ele respondeu com os olhos:

- Não mãe, não é só um palhaço, é um homem sem emprego, desfrutando o presente da vida. O que mais dói é saber que há outros desempregados, e que muitos deles, cegos, viram atiradores de facas.

(Livro Literatura, pão e poesia, Sérgio Vaz)

5.

SOMBRAS MIÚDAS

A história de Ivanildo é que ele simplesmente não tem história. Morador de rua virou notícia porque teve 85%

corpo queimado por gasolina e faleceu na última terça-feira (27), e é só, mais nada.

O assassino, conforme as investigações policiais, era outro morador de rua, e o crime, vejam vocês a ironia da

miséria humana -, foi motivado por conquista de território. Dizem que precisavam de mais espaço para viverem

na rua.

Pois é, as calçadas! Há pessoas em guerra pelas calçadas frias da cidade de São Paulo.

Não conheci Ivanildo nem o seu algoz piromaníaco, mas tenho uma vaga ideia de quem sejam os infelizes. Já os

vi queimando na retina dos meus olhos, numa dessas noites geladas e indignas, em suas casas de papelão que se

movem como fantasmas pela nossa imaginação.

Ivanildo não devia ter documentos tampouco identidade, indigente deve ter sido enterrado com seus trapos numa

vala qualquer, de um cemitério qualquer, que é o lugar certo para qualquer um de nós, miserável ou não.

Outro dia vi um Ivanildo fuçando uma lata de lixo à procura de comida que sobra dos nossas pratos, mas o dono

da lanchonete apareceu para expulsá-lo com um cabo de vassoura.

Fiquei com a impressão que mendigos trazem má sorte para o comércio, e que restos de comida não são para

restos de pessoas: “Nós, os filhos de Deus, privatizamos até as migalhas”.

Tenho a impressão que os únicos que gostam dos moradores de rua são os cachorros. Aliás, de raça ou não, não

conheço nenhum cachorro que não tenha um mendigo pra cuidar.

Moradores de rua são uma espécie rara de seres humanos.

Eles não têm dentes, eles não cortam os cabelos, eles não tomam banho, pedem-nos esmolas, dormem no nosso

caminho de casa, e nós, a não ser que peguem fogo, simplesmente não os vemos.

É difícil vê-los. Somos cristãos demais para enxergá-los.

E tem mais, dizem que são invisíveis a olho nu. Mas não são. Suas sombras miúdas se arrastam em nossas ora-

ções, para o deleite da nossa hipocrisia. Fingir que gostamos de deus é a melhor forma de agradar o diabo.

Um ser humano pegando fogo na calçada e os nossos joelhos doendo de tanto rezar pela nossa felicidade materi-

al...

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Deus sabe o que faz, a gente não. Devia ser o contrário.

Se dependesse de mim, a humanidade já tinha pegado fogo há muito tempo. Um por um.

(Livro Literatura, pão e poesia, Sérgio Vaz)

6.

COMO NASCE UM TABOANENSE

Essa onda de frio que assola o país nessa semana me fez lembrar de uma coisa que aconteceu comigo logo que

cheguei aqui em Taboão, há quinze anos. Não foi amor à primeira vista. Lembra-se de Caetano em Sampa?: “... é

que narciso acha feio, o que não é espelho...”, pois é, foi assim também quando cheguei.

A cidade nunca me pareceu feia ou fria, ou coisa assim, apenas era estranha pra mim, e eu estranho para ela.

Bom, mas deixe-me contar o porquê se deu o meu amor incondicional pela cidade.

A mãe de um amigo havia morrido e o velório ia ser no cemitério dos Jesuítas, Embu, mas me passaram que ia

ser no cemitério da Saudade, taboão da Serra, grande São Paulo.

Vindo de uma bar peguei o último ônibus -pois lá, tinha certeza de encontrar uma carona pra voltar. Chegando,

descobri que desci no lugar errado, mas sequer sabia onde ficava o outro local, o Jesuíta.

O cemitério da saudade ainda era bem pequeno e haviam dois corpos sendo velados naquela noite, início da

madrugada. Um homem baleado e uma criança recém nascida.

Diante do meu erro geográfico fiquei do lado de fora, fumando um cigarro e pensando como iria voltar para casa.

“Que cidade. Que zica.”, pensei.

Aí, estava sentado, um homem chega ao meu lado e diz:

-Você é parente do cara que foi baleado?

Disse que não e expliquei o porquê estava ali. E o engano de cemitério. Disse a ele que não conhecia nada na

cidade, e coisa e tal. E batendo esse papo perguntei a ele:

“E você, é parente da criança que faleceu?

Sem levantar a cabeça e num tom de voz que jamais vou esquecer, ele contou:

“Sim, eu sou pai dela.” Falou assim, de bate pronto, como quem suplica um milagre, como quem acredita em

ressureição. Como se esperasse que estivesse tendo um pesadelo.

Entre uma lágrima e outra, disse que ela havia morrido de pneumonia, de como a tinha encontrado e o abraço

que deu pensando que ela dormia, a dor... Entre outras coisas que se diz quando perdemos alguém que se ama.

Não disse nada. Nem frio sentia mais. Eu sem saber para onde ir, e ele indo e vindo das fendas escuras da triste-

za. Foram as lágrimas mais honestas que já vi brotar dos olhos de um homem, de um pai.

A filha dele morreu e a cidade que acabara de nascer em mim, também agonizava.

Aí, de repente ele me pergunta como eu iria embora. Respondi que iria esperar amanhecer, de pois pegaria o

primeiro ônibus.

Em meio à dor, ele se ofereceu para me levar em casa.

Eu não aceitei:” O que é isso, sua filha acaba de morrer e você querendo me dar carona? Foi quando daquele

homem simples e coração arrebentado ouvi umas das coisas mais belas que já ouvi em toda minha vida:

“Minha filha morreu e eu não pude fazer nada para evitar que isso acontecesse, mas a você eu posso ajudar, me

deixa te levar em casa...”. Como com anjo não se discute, aceitei o milagre. Como se sua filha também fosse

minha acabei chorando junto com ele, e estou chorando enquanto escrevo.

Quando faz frio dôo sempre um agasalho para retribuir o calor humano que recebi, em nome dele e da sua filha

que não conheci, mas que já morava no coração desse ser humano que acabou adotando como filho, um órfão da

noite fria, que morre de medo de fantasmas. Por ironia, numa noite de cemitério, nascia mais um taboanense, pra sempre.

(Livro Literatura, pão e poesia, Sérgio Vaz)

7.

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50

FÁBRICA DE ASAS

“Adubar a terra

com número e letras

asas e poemas.

Para colher lírios, cravos e alfazemas.

Agricultor,

o bom mestre sabe,

que espinhos e pétalas

fazem parte da primavera. Porque ensinar é regar a semente sem afogar a flor ."

A Vida é algo mesmo muito engraçado, agora pouco, antes de começar a escrever este texto em homenagem aos

educadores e educadoras que conheço, me lembrei de uma coisa da minha adolescência, e que eu nunca entendi

bem direito, é que eu não gostava de estudar, mas adorava a escola. Pena não ter sido o contrário, mas...

A escola para mim sempre fora um lar. Minha classe, como se fosse o quarto que sempre sonhei, mas que nunca tive. O Pátio, a sala de estar. E o melhor de tudo, com todos os meus amigos morando junto comigo.

Às vezes ter parentes nem sempre é ter uma família, e para muitos, a hora da merenda era quase uma santa ceia.

Não lembro de ter sido bom em alguma matéria, da para contar nos dedos as notas "dez" que eu tirei, também

não fui o pior de todos, meu boletim era tipo colorido, vermelho e azul, e de acordo com cada série, umas cores

se destacavam mais do que as outras.

E por gostar tanto da escola e não gostar de estudar, repeti de ano duas vezes, na 3ª série do primário e na 7ª série

do ginásio, parece pouco, mas para quem só fez o colegial, é como se o futuro andasse em direção ao passado. É

como se a gente colasse da pessoa errada.

Minha matéria preferida sempre fora o recreio, e a bagunça era uma prova para o qual não precisava estudar, e se

ficar em silêncio enquanto escrevo este texto, sou bem capaz de ouvir a molecada descendo as escadas depois do

sinal, como uma manada enfurecida -entorpecida pela magia da infância-, correndo pra casa. Ou quem sabe,

fugindo do lar.

Num tempo em que a merenda para alguns era a única refeição, na periferia, “lar” e “casa” eram duas coisas

extremamente diferentes, e se nós, os filhos da dor, desenhávamos nosso momento com giz colorido, em casa,

muitas famílias escreviam a alegria a lápis, para que ficasse mais fácil para a tristeza apagar.

Outra coisa que gostava muito na escola era dos professores, só naquele tempo eu não sabia, descobri somente

anos depois, quando não estudava mais.

Lógico que naquela época da ditadura, alguns mais pareciam torturadores do DOPS que professores, e tudo isso,

com o consentimento dos pais, os cúmplices.

Uma vez uma professora, que mais parecia uma madrasta de contos de fada, puxou o meu cabelo com tanta

força, que até hoje me dói o couro cabeludo.

E sabem por que? Porque estava desenhando um relógio à caneta, no pulso, enquanto ela explicava alguma coi-sa, quando percebeu a minha desatenção, me perguntou as horas, e eu respondi. Na hora errada. Ui.

Traumatizado, nunca mais usei relógio em minha vida. Por isso que às vezes atraso, adianto, nunca sei a hora de

chegar.

Hoje em dia, recitando poesia nas escolas públicas do país, descobri que estes que puxavam o cabelo das crian-

ças, não existem mais, foram engolidos pelo dragão do tempo, e foram substituídos por uma trupe de guerreiros e

guerreiras que mesmo abandonados pelo estado, insistem em educar os nossos filhos. Não é da hora?

Autodidata, aprendi a sofrer por conta própria, e aprendi também que é possível construir o universo longe da universidade, só que demora mais, quando não se tem asas para voar.

a) Lição de casa se aprende na escola.

b) O Professor é aquele que confecciona asas. E voa junto.

c) Ensinar é regar a semente sem afogar a flor.

D) Quem faz lição de casa colhe castelos.

Poéticamente falando, todas as alternativas estão corretas.

(Livro Literatura, pão e poesia, Sérgio Vaz)

8.

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OS SONHOS

Os sonhos foram banhados

nas águas da miséria

e derreteram-se.

Os sonhos foram moldados

a ferro e a fogo

e tomaram a forma do nada.

Os sonhos foram e foram.

Mas crianças com bocas de fome

ávidas, ressuscitaram a vida

brincando anzóis nas correntezas

profundas.

E os sonhos, submersos

E disformes

avolumaram-se engrandecidos,

anelando-se uns aos outros

pulsaram como sangue-raiz

nas veias ressecadas

de um novo mundo.

(Livro Poemas de Recordação, Conceição Evaristo)

9.

SEBASTIÃO

Aquele hômi coprou ali aquele sobradinho.

Mas tadinho, tão malacabado aquele barraco.

Pelo preço até que diria que num fez bom negócio.

Mas também diz que mexe com cozinha e tem até sócio.

Nada, ele é cozinheiro em hotal de grã-fino.

Magrinho esse menino.

Sebastião vive no bar, enquanto os pedreiro tão que tão mexendo na casa.

Pra que sacada? E os detalhe em madeira, você viu?

Aquele tanto de gente todo dia lá.

Tanto dinheiro gasto numa favela porca dessa.

Deixa o menino, nem todo mundo tem que querer viver nas coisa zoada.

E faz linguiça, e jarra de caipirinha e cerveja de latinha à vontade.

Aquele sofá de frente pra viela.

Parece casa de baiano, sempre aberta.

Sem miséria, diz o povo que entrou lá dentro é comida na penela.

Alegre esse menino.

É assim meio menina, sabia?

Deixa de falar da vida dos outros.

Mas num é a casa mais bonita dessa viela?

Verdade, com esse forrro, pequenina, mas ajeitada a bichinha.

E a samambaia? Chega tá arrastando no chão.

E o rosto de Jesus na sala, em três dimensão?

Acho que trouxe esse quadro dos estrangeiro.

Sábado vai ter festa.

Ele tava no bar da Neide convidando.

Aposto que tava abraçando todo mundo.

Vive alegre, sorriso no máximo.

Moço educado, num pensei que vidado fosse assim.

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Num muda nada, não, homi, é ser humano.

Eu sei, só tô dizendo que esse Sebastião num aparenta.

Vem abraçando a gente assim no bar, sem mardade.

O que manda, hômi, é a honestidade.

Nossa, nem acreditei.

Coisa de fela da puta, fazer isso com o menino.

Disse que os parente dele no Norte tá tudo revoltado.

Também fazer isso com o bichinho.

Nem carecia de tanta maldade.

Matar enforcado que nem um animal.

Um cabra tão do gente boa, morrer deitado.

O que matou ele num foi preconceito.

Nem nóia, nem por assalto.

Não?

Não.

O que matou ele foi a falta.

Foi mesmo, e ele tinha tanto pra dar.

E o cara matou por não ter.

A casa de Sebastião continua aberta para todos, lá hoje é uma casa cheia de livros para as crianças, e ainda conti-

nua a casa mais bonita da rua.

(Livro Os Ricos Também Morrem, Ferréz)

10.

O MENINO QUE SE ESCONDE

O menino evita

Talvez, por ter sido evitado

Não quer ser observado

A merenda, atrás do armário

Lhe perguntam – “Porque está isolado?”

Sem resposta, a menina vai pro outro lado

O “estranho”, assim é tratado

De cabeça baixa, quando tentam o contato

Mas, procura um igual com a mesma habilidade espacial,

que na exclusão do todo igual, procura a autoproteção social

Origem: Zona rural, possui amor vegetal

Em nossa rápida conversa, me pergunta se eu gosto de limão e se também prefiro a não inclusão, pois estava em

sua mesma cotidiana ação

Problema???

Deve ser um dos poucos ali, que melhor pratica a Geografia!!!

É o menino que prefere a vida que vem da terra

Ao invés daquela, que carrega o preconceito e vem do esperma.

(Ainda não está em um livro, Tiago Marini Ribeiro)

11.

CEIA

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Tratam o crime como o único dogma

É o tumor da babilônia

Que cresce,

Pulsa e apodrece

a calma de nossas vilas.

E está por todas as suas veias

Drogas na rua, seu corpo é a ceia.

E domina as suas veias

Drogas na rua, seu corpo é a ceia.

E aprisiona em suas veias

Drogas na rua, seu corpo é a ceia.

E mata em suas veias

As drogas estão na rua, vai permitir que seu corpo vire a ceia?

Essa foi dedicada a todos meus amigos que corriam atrás de uma bola e hoje fazem o corre no tráfico. Peço a

Deus que, antes dos meus, abençoe os passos deles. Que livre-os do mal e do fracasso, e faça com que eles vol-

tem a sonhar alto, como no tempo em que corríamos juntos, descalços!

(Livro Do Interior, O Poeta No Interior, O Poema, Tiago Marini Ribeiro)

12.

MULHER PRETA, MINHA ATRAÇÃO PERFEITA

Eu me apaixonei por uma mulher preta

E ela carrega uma força nos olhos

Gritos de ódio, dizem

- “Raças não se misturam”

Como? Se o amor é maleável e navega em qualquer mar

com qualquer barco.

Eu me apaixonei por uma mulher preta

Filha de mãe solteira, que lutou

Essa sim lutou

Apanhou, sofreu, caiu, não se rendeu

Levantou, brigou, venceu e criou duas filhas

Sempre à beira da discriminação

por isso que seu desejo teve que ser maior

Competência? A melhor

Porque o mercado de trabalho não iria ter dó

No seu pensar, ela volta a se perguntar

Como deixar dois pedaços de mim em um mundo racista, que o preconceito reina?

Sua preocupação era maior.

Dessas duas filhas, uma entrou em minha vida

E fazê-la sorrir me traz alegria

Escrever pra ela é pura sintonia

O prazer da sua companhia, vou eternizar em poesia

O nosso prazer no sexo, vou transformar em poesia

Em todos nossos momentos, minha alma vibra

Poesia.

E ela sem querer ensina à um menino

que tenta, mas nunca se sentiu como ela sente.

Desculpa, mas eu nunca vou sentir como você sente

Desculpa, mas eu nunca vou sentir como você se sente

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Mas te prometo que nesses sofrimentos eu também vou estar ao seu lado, presente.

Mulher preta, quero admirar sua pele

Mulher preta, vou beijar sua pele

Mulher preta, vou morder sua pele

Mulher preta, vou arranhar sua pele

Mulher preta, eu também vou deixar marcas, mas não em sua pele.

(Livro Do Interior, O Poeta No Interior, O Poema, Tiago Marini Ribeiro)

13.

A ADMIRAÇÃO DE ADAMASTOR

Verê, o senhor por aqui, heim?

Pois é, né? A gente tem que fazer o social, como anda você?

Adamastor.

Adamastor, isso! Como anda a esposa?

Ela faleceu, senhor.

Nossa, que pensa, e os filhos?

Pois é! Esse aqui é meu pequeno, o Joaquim, os outros tão em casa, eu trabalhei na sua campanha aí no

Engenho Velho.

Ah! Isso, eu sei.

Então, agora que o senhor é vereador, e quanto voto, heim?

Verdade, o pessoal acreditou no meu trabalho, nas minhas verdades, no meu jeito de querer mudar.

É isso mesmo Sr. Nicolau, ou eu chamo já de doutor?

Quê isso, Adamastor. Pode chamar de senhor mesmo.

E o senhor viu que aqui tá difícil de andar, né? Muito trânsito, tudo travado desde a estrada de Itapeceri-

ca.

Sei sim! Mas, veja só, esse povo também tem que ter um compromisso. Como a cidade vai ser gerenci-

ada se ninguém quer pagar os 20 centavos? Como se paga isso? Pensa no dono da empresa, ninguém pensa no

dono, mas ele precisa viver, pô.

Mas o povo paga os imposto.

Imposto é outra coisa, Adamastor. A cidade tá quebrada, ela num tem dinheiro, agora o cara investe na

cidade, paga um milhão num ônibus, sabe esse biarticulado?

Mas eles têm pouco banco e todo mundo fica de pé.

Então, para ter mais locomoção, para ajudar mais gente a não ficar parada no ponto. Aí o cara investe.

Investe um milhão e ninguém quer pagar. Isso quebra a cidade. Neguim num quer pagar a condução, num quer

pagar IPTU, porra! Aí como que fica? São 6 milhões de dívida, a cidade tá fudida, quem está prejudicando ela?

O cara que investe um milhão num ônibus?

É verdade, senhor, mas a gente conta com o senhor agora, o pessoal me cobrou sua presença na nossa

comunidade.

Verdade, mas, pensa comigo, pensa, Adamastor. A gente luta, Adamastor. A gente luta muito. Olha aí,

aprovei a lei 10.551. aprovei a 11.622 e aí tenho que fazer um trabalho administrativo para essa cidade e num

tem como fazer as duas coisas, você concorda? Ou faço o importante, ou fico na comunidade ouvindo conversa

fiada. Porque vocês, os seus, tem que ter um compromisso, têm que organizar esse povo direito, Adamastor.

Olha que, ano que vem, tem campanha, vou sair para Federal, e aí como fica, Adamastor?

O doutor tá certo.

Me chama de senhor, Adamastor.

O senhor tá certo, queria te pedir uma coisa.

Cuidado, Adamastor, o povo tem que entender que num é só pedir, tem que ter um compromisso.

Sim, senhor, mas é uma coisa simples.

Fala, então

Dá um autógrafo pra esse menino meu que ele ti adora.

Só se você pagar o almoço.

(Livro Os Ricos Também Morrem, Ferréz)

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14.

FILMA EU

Nossa, a gente acabou atrasando, a marginal estava um transito só.

Sei, eu vivo isso direto.

Então onde quer fazer?

Pode ser aqui.

Aqui na loja?

Sim.

Bom, a gente estava pensando assim, numa laje com um vizú legal.

Algo mais favela?

Sim, mas também mais tradicional ao mesmo tempo...

Pode ser aqui na loja ou na minha casa, na biblioteca que tenho, assim vocês filmam os livros.

Bom, livros, livros... deixa eu ver com a equipe.

E aí?

Acho que vamos ter que fazer aqui na loja então.

Sei.

A gente vai falar de educação, seria legal você pôr o ponto de vista do menino de periferia que não tem

interesse na escola.

Sei.

Pra gente ter certeza que você entendeu, de repente, a gente podia ler o Estatuto da Criança e Adoles-

cente...

Não precisa.

Bom, vou te passar as perguntas.

Não precisa, se eu ler antes perde a espontaneidade.

É que isso vai pra televisão, pra ter certeza que você entendeu, seria legal pensar nas respostas, falar do

menino que não tem interesse na escola.

Teria interesse se a escola fosse boa.

Não, pra ter certeza que você entendeu...

Se você disser isso de novo, é ruim.

O quê?

Pra ter certeza que você entendeu.

Ah! Que isso, eu disse isso só pra confirmar.

Sei.

Então, bom, a câmera está no ponto, pode ser virado pra rua.

Não, vamos gravar virado para os livros da loja.

É que a luz aí num vai ser boa.

Tem que ser aqui.

Está bom, então vamos. Qual sua visão da escola?

Tem muitos professores que dão o suor de verdade, que trabalham muito e com o pouco que têm.

Peraí, desliga. Bom, é o seguinte, seria legal dar a visão dos pais, que eles não participam da escola, que

são ausentes.

Você está me pautando.

Não, que isso, pra ter certeza que você entendeu.

Não repete isso.

O quê?

Pra ter certeza que você entendeu?

Ah! Ok, vamos continuar. O que você acha da violência nas escolas?

Vai ficar perguntando de violência? Se forem essas as perguntas pode entrevistar qualquer morador,

num precisa ser um escritor.

Não é isso, pra ter certeza de que, bom, vamos passar por essa rapidinho e aí entramos nas outras per-

guntas. O que você acha da violência nas escolas?

Têm muitas formas de violência, uma delas é o descaso do poder público, que não dá suporte para as

pessoas que pagam tento imposto como os periféricos, os benefícios do Estado não chegam, somente através da

ação policial e...

Só um minuto, parou! Bom, você podia falar do ponto de vista da violência que um aluno faz com ou-

tro, essas coisas?

Cara, você está me pautando.

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Estou não, é que no outro documentário, e isso é uma série, a gente falou de favela.

Onde foi?

Na comunidade x.

E como foi?

Foi bom, mas tivemos gastos extras, alugar banheiro químico, segurança.

Pra que banheiro químico?

A gente não ia usar o que tinha lá, não tinha condições.

Mas eles usam.

Sim, mas a questão não foi só essa, alimentação, água.

Água?

Nossa equipe não ia beber água de lá.

Cara, você tem noção do que está falando pra mim?

Peraí, pra ter certeza que você entendeu.

(Livro Os Ricos Também Morrem, Ferréz)

15.

JARDIM DA INFÂNCIA ATUAL

Lindo jardim é o jardim da infância

Aqui as flores ganham o nome de crianças

Coloridas, alegres, com perfume de vida

O orvalho que cai as mantém sempre vivas

Cuidados diários, quem cuida não esquece

Cresce saudável, sob a luza do dia

Regada com amor, a flor agradece

Com pétalas de paz, esperança e alegria

Cada jardim tem seu jeito, seu formato

Cada flor tem sua cor, seu botão e seu talo

Todas da mesma espécie, com suas características

Todas parecidas, mas de perto, exclusivas

Reagem igual quando regadas no calor

Mas morrem igual quando lhes falta amor

Ficam cinza, sem vida, a folha resseca

Se aproxime com cuidado, pois agora ela espeta

Quem olha julga que essa flor não é bela

Nem consegue imaginar como ela era

Tragando poluição, regadas de ódio

Sem cor, sem vida e sem amor próprio

Nem de longe se parece com o que já foi um dia

Um galho seco, duro e sem nenhuma atração

Ninguém mais chama de criança, a flor decaída

É só mais um menor infrator lançado na fundação

Flor quando seca deixa de ser flor?

Um minuto de silencio para pensar (ou um mês, um ano, uma vida...)

... Se agarrem na família para mudar a história de vocês, família é o principal, o alicerce, a raiz, se agarrem na

família...

“Aí, sinhô, meu pai morreu e minha mãe fugiu”.

(Livro Liberdade dos meus Versos, Marcelo Biorki)

16.

MÃE

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recordações infinitas que eu trago no meu peito

o amor que sinto pela senhora do meu jeito

hoje aqui trancado é só minha mãe do meu lado

coração apertado, pensamento angustiado

lembranças boas que nunca vou me esquecer

do tempo lá fora que eu estava com você

você nunca desistiu e acreditou nos meus sonhos

por isso meu amor nesse poema eu exponho

com carinho amor e compaixão

saudade de estar com a senhora no mundão

agradeço por tudo que você fez por mim7meu amor pela senhora nunca chegará ao fim

há mãe se eu tivesse te dado ouvidos

seus rosto não teria choro, teria sorriso

(Livro Liberdade dos meus Versos, Marcelo Biorki)

17.

PELA LIBERDADE

de dentro do castelo de grades

escrevo para princesa que espera minha liberdade

no verso eu te falo o que eu estou pensando

logo logo pra quebrada eu estou voltando

o senhor é meu pastor, nada me faltará

tenho certeza que um dia minha liberdade vai cantar

tem que ter consciência, tem que ter o pulso firma

pra quando sair não voltar pra vida do crime

a vida não é um filme, não é um espetáculo

quando eu sair daqui, vai ser vários obstáculos

a vida é muito louca, progresso no mundão

tem que ter consciência pra não voltar pra fundação

liberdade, liberdade de ir e vir

liberdade, liberdade de cantar e sorrir

liberdade, liberdade de parar por aqui

pra viver os seus sonhos é só não desistir

(Livro Liberdade dos meus Versos, Marcelo Biorki)

18.

SARAU DA CASA

Passaram-se meses e os meninos haviam aprendido muito com as aulas; estavam escrevendo muito bem e ex-

pressando todas as suas dores, seus questionamentos e suas emoções nos poemas e letras de rap. Alguns profes-

sores das escolas em que alguns dos adolescentes estudavam notaram a significativa mudança em seus alunos,

que estavam escrevendo, pensando e expressando melhor seus pensamentos, e quiseram conhecer o projeto que

eu desenvolvia. Tento isso em mente, a direção da CASA me pediu para organizar um SARAU onde os garotos

pudessem expressar tudo isso que aprenderam para um publico formado por familiares, professores, funcionários

da CASA, membros do Rotary Clube da cidade, vereadores, um padre e alguns memoráveis membros da socie-

dade. Quando dei a notícia aos meninos, eles ficaram empolgados.

Começamos a organizar tudo, a data foi marcada e o tempo voou até o dia da grande apresentação, que ocorreu

durante uma festa junina, com comidas típicas, música e muita alegria. Eles estavam com roupas normais neste

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dia, sem aquele uniforme que iguala todos eles e lhes rouba a identidade. Estavam como meninos, usando calça

jeans, alguns bermudas, tênis, bonés. Não era um dia comum, era um evento! Os familiares chegaram e todos os

outros convidados também. Me deram a palavra e foi assim que aconteceu:

Olá, boa noite a todos. Sejam bem-vindos ao sara da CASA! Antes de começarmos quero pedir a todos que

estejam abertos para o que irão ver aqui nesta noite. Vocês vão notar que esses meninos, muitas vezes vistos

apenas como marginais ou errantes desta sociedade, são também pessoas que pensam, sentem, amam, odeiam,

se indignam e refletem sobre tudo o que vivem. É preciso que vocês estejam preparados pra se despir de todo

preconceito e esteja aberto a ver a beleza de cada poema recitado aqui hoje. Fiquem à vontade e apreciem cada

verso...

O primeiro menino pegou o microfone, o segundo, o terceiro e assim foi. Todos estavam bem animados, alguns

com vergonha, e o público estava realmente surpreso com a qualidade e conteúdo do que estava sendo escrito. O

último poema foi recitado por um menino negro de 17 anos e no poema ele dizia que foi roubado de todos os

seus direitos desde criança, que roubaram-lhe o direito de estudar bem, de viver bem, roubaram-lhe o direito de

brincar, de ser criança saudável, em tudo havia sido roubado. E no fim do poema ele perguntava ao público

“quem é o ladrão aqui?” lembro que todos se levantaram e aplaudiram. Eu me emocionei ao ver a cena.

Quando acabou as apresentações, ali pudemos comer e nos divertir, eu e eles. Naquele momento não estávamos

mais como arte educador e aprendizes da Fundação CASA, estávamos como amigos comemorando uma con-

quista... Foi inesquecível; eu já sentia que era hora de voar mais alto e que ali eu já tinha cumprido meu papel.

Mal sabia eu que ainda iria reencontrar muitos daqueles meninos nos próximos meses e anos que se seguiram.

Infelizmente essa é uma dura realidade, vários desses vivem de medida em medida, cumprem uma aqui, outra

ali, saem e voltam sem nem notar o círculo vicioso em que vivem. Eu me despedia deles sem imaginar que volta-

ria a vê-los e ensiná-los de novo.

(Livro Liberdade dos meus Versos, Marcelo Biorki)

19.

SE DEIXAR VOLTA A SER CRIANÇA

Aqui no interior de São Paulo em determinada época do ano, as ruas são invadidas por besouros, enormes besou-

ros. Enchem as ruas, as casas, onde tem um poste de luza encontram-se vários deles. Numa dessas épocas de

invasão desses insetos, eu estava no pátio de uma unidade da Fundação CASA em alguma cidade que não lem-

bro agora. Eu esperava os adolescentes estarem prontos para começarmos o trabalho. Sentado no pátio de uma

unidade da Fundação CASA em alguma cidade que não me lembro agora. Eu esperava os adolescentes estarem

prontos para começarmos o trabalho. Sentado no pátio vi um menino na quadra.

Ele estava brincando, normalmente como um menino, amarrou um pedaço de linha a um desses besouros que

estavam aos montes pelo chão, e ele brincava, como se o bicho fosse seu carrinho, seu brinquedo, ou quem sabe

seu animal de estimação, independente a que qualidade a mente talentosa da criança levou o besouro, no momen-

to era o que ele tinha para brincar, para se divertir, e se não for pedir muito, para ser feliz.

Fiquei analisando aquele movimento do menino por uns dez minutos, até que me veio a mente o quão complexa

era aquela situação. O mesmo menino que estava ali com toda criatividade de uma criança, imaginando, sabe

Deus o quê, com aquele besouro, era também um adolescente que estava preso por cometer um crime. Não sei ao

certo o que aquele menino em questão fez, mas pode ter sido qualquer coisa. Ele pode ter roubado, pode ter

traficado, pode ter matado alguém. E lá estava, cumprido uma medida como um jovem infrator, um criminoso. E

brincava também apenas como um menino.

Fiquei pensando no que este mundo louco tem feito com as crianças. Se tornaram seres prontos para qualquer

situação, com uma arma na mão, roubam, matam, assustam. Com um besouro, brincam. Fico imaginando que

talvez, se o mundo deixasse, eles voltariam a ser criança.

(Livro Liberdade dos meus Versos, Marcelo Biorki)

20.

15 DE JULHO DE 1955

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Aniversário de minha filha Vera Eunice. Eu pretendia comprar um par de sapatos para ela. Mas o custo

dos generos alimenticios nos impede a realização dos nossos desejos. Atualmente somos escravos do custo de

vida. Eu achei um par de sapato no lixo, lavei e remendei para ela calçar.

Eu não tinha um tostão para comprar pão. Então eu lavei 3 litros e troquei com o Arnaldo. Ele ficou

com os litros e deu-me pão. Fui receber o dinheiro do papel. Recebi 65 cruzeiros. Comprei 20 de carne. 1 quilo

de toucinho e 1 quilo de açucar e seis cruzeiro de queijo. E o dinheiro acabou-se.

Passei o dia indisposta. Percebi que estava resfriada. A noite o peito doia-me. Comecei tussir. Resolvi

não sair a noite para catar papel. Procurei meu filho João José. Ele estava na rua Felisberto de Carvalho, perto do

mercadinho. O onibus atirou um garoto na calçada e a turba afluiu-se. Ele estava no nucleo. Dei-lhe uns tapas e

em cinco minutos ele chegou em casa.

Ablui as crianças, aleitei-as e ablui-me e aleitei-me. Esperei até as 11 horas, um certo alguem. Ele não

veio. Tomei um melhoral e deitei-me novamente. Quando despertei o astro rei deslisava no espaço. A minha

filha Vera Eunice dizia: - Vai buscar agua mamãe!

16 DE JULHO DE 1955

Levantei. Obedeci a Vera Eunice. Fui buscar agua. Fiz o café. Avisei as crianças que não tinha pão. Que

tomassem café simples e comesse carne com farinha. Eu estava indisposta, resolvi benzer-me. Abri a boca duas

vezes, certifiquei-me que estava com mau olhado. A indisposição desapareceu sai e fui ao seu Manoel levar

umas latas para vender. Tudo quanto eu encontro no lixo cato para vender. Deu 13 cruzeiros. Fiquei pensando

que precisava comprar pão, sabão e leite para a Vera Eunice. E os 13 cruzeiros não dava! Cheguei em casa, aliás

no meu barracão, nervosa e exausta. Pensei na vida atribulada que levo. Cato papel, lavo roupa para dois jovens,

permaneço na rua o dia todo. E estou sempre em falta. A Vera não tem sapatos. E ela não gosta de andar descal-

ça. Faz uns dois anos, que eu pretendo comprar uma maquina de moer carne. E uma maquina de costura.

Cheguei em casa, fiz o almoço para dois meninos. Arroz, feijão e carne. E vou sair para catar papel.

Deixei as crianças. Recomendei-lhes para brincar no quintal e naõ sair na rua, porque os pessimos vizinhos que

eu tenho não dão socego aos meus filhos. Saí indisposta, com vontade de deitar. Mas, o pobre não repousa. Não

tem o privilegio de gosar descanço. Eu estava nervosa interiormente, ai maldizendo a sorte (...) Catei dois sacos

de papel. Depois retornei, catei uns ferros, umas latas, e lenha. Vinha pensando. Quando eu chegar na favela vou

encontrar novidades. Talvez a D. Rosa ou a indolente Maria dos Anjos brigaram com meus filhos. encontrei a

Vera Eunice dormindo e os meninos brincando na rua. Pensei: são duas horas. Crio que vou passar o dia sem

novidade! O João José veio avisar-me que a perua que dava dinheiro estava chamando para dar mantimentos.

Peguei a sacola e fui. Era o dono do Centro Espirita da rua Vergueiro 103. Ganhei dois quilos de arroz, idem de

feijão e dois quilos de macarrão. Fiquei contente. A perua foi-se embora. O nervoso interior que eu sentia ausen-

tou-se. Aproveitei a minha calma interior para eu ler. Peguei uma revista e sentei no capim, recebendo raios solar

para aquecer-me. Li um conto. Quando iniciei outro surgiu os filhos pedindo pão. Escrevi um bilhete e dei ao

meu filho joão José para ir ao Arnaldo comprar um sabão, dois melhoraes e o resto pão. Puis café no fogão para

fazer café. O João retornou-se. Disse que havia perdido os melhoraes. Voltei com ele para procurar não encon-

tramos.

Quando eu vinha chegando no portão encontrei uma multidão. Crianças e mulheres, que vinha reclamar que o

José Carlos havia apredejado suas casas. Para eu repreendê-lo.

(Livro Quarto de Despejo: Diário de uma favelada, Carolina Maria de Jesus)

21.

19 DE MAIO DE 1958

Deixei o leito as 5 horas. Os pardais já estão iniciando a sua sinfonia matinal. As aves deve ser mais

feliz que nós. Talvez entre elas reina amizade e igualdade. (...) O mundo das aves deve ser melhor que dos

favelados, que deitam e não dormem porque deitam-se sem comer.

... O que o senhor Juscelino tem de aproveitável é a voz. Parece um sabiá e a sua voz é agradavel aos

ouvidos. E agora, o ssbiá está residindo na gaiola de ouro que é o Catete. Cuidado sabiá, para não perder esta

gaiola, porque os gatos quando estão com fome contempla as aves nas gaiolas. E os favelados são os gatos. Tem

fome.

... Deixei de meditar quando ouvi a voz do padeiro:

- Olha o pão doce, que está na hora do café!

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Mal sabe ele que na favela é a minoria quem toma café. Os favelados comem quando arranjam o que

comer. Todas as familias que residem na favela tem filhos. Aqui residia uma espanhola Dona Maria Puerta. Ela

comprou um terreno e começou economisar para fazer a casa. Quando terminou a construção da casa os filhos

estavam fracos do pulmão. E são oito crianças.

... Havia pessoas que nos visitva e dizia:

- Credo, para viver num lugar aasim só os porcos. Isto aqui é o chiqueiro de São Paulo.

... Eu estou começando a perder o interesse pela existencia. Começo a revoltar. E minha revolta é justa.

... Lavei o assoalho porque estou esperando a visita de um futuro deputado e ele quer que eu faça uns

discursos para ele. Ele disse que pretende conhecer a favela, que se for eleito há de abolir as favelas.

... Contemplava extasiada o céu anil. E eu fiquei compreendendo que eu adoro o meu Brasil. O meu

olhar posou nos arvoredos que existe no inicio da rua Pedro Vicente. As folhas movia-se. Pensei: elas estão

aplaudindo este meu gesto de amor a minha Patria. (...). Toquei o carrinho e fui buscar mais papeis. A Vera ia

sorrindo. E eu pensei no Casemiro de Abreu, que disse: “Ri criança. A vida é bela”. Só se a vida era boas

naquele tempo. Porque agora a epoca está apropriada para dizer: “Chora criança. A vida é amarga”.

... Eu ando tão preocupada que ainda não contemplei os jardins da cidade. É epoca das flores brancas, a

cor que predomina. É o mês de Maria e os altares deve estar adornados com flores brancas. Devemos agradecer

Deus, ou a Natureza que nos deu as estrelas para adornar o céu, e as flores para adornar os prados e as carzeas e

os bosques.

Quando eu seguia na Avenida Cruzeiro do Sul ia uma senhora com um sapato azul e uma bolsa azul. A

Verda disse-me:

- Olha mãe. Que mulher bonita! Ela vai no meu carro.

É que a milha filha Vera Eunice diz que vai comprar um carro só pra carregar pessoas bonitas. A mu-

lher sorrio e a Vera prosseguio:

- A senhora é cheirosa!

Percebi que a mina filha sabe bajular. A mulher abriu a bolsa e deu-lhe 20 cruzeiros.

...Aqui na favela quase todos lutam com dificuldades para viver. Mas que manifesta o que sofre é só eu.

E faço isto em prol dos outros. Muitos catam sapatos no lixo para calçar. Mas os sapatos já estão fracos e aturam

só 6 dias. Antigamente, isto é 1950 até 1956, os favelados cantavam. Faziam batucadas. 1957, 1958, a vida foi

ficando causticante. Já não sobra dinheiro para eles comprar pinga. As batucadas foram cortando-se até extin-

guir-se. Outro dia eu encontrei um soldado. Perguntou-me:

- Você mora na favela?

- Porque?

- Porque vocês deixaram a radio Patrulha em paz.

- É o dinheiro que não sobre para a aguardente.

... Deitei o João e a Vera e fui procurar José Carlos. Telefonei para a Central. Nem sempre o telefone

resolve as coisas. Tomei o bonde e fui. Eu não sentia frio. Parece que o meu sangue estava a 40 graus. Fui falar

com a Polícia Feminina que me deu a noticia do José Carlos que estava lá na rua Asdrubal Nascimento. Que

alivio! Só quem é mãe é que pode avaliar.

... Ei dirigi para a rua Asdrubal Nascimento. Eu não sei andar a noite. A fusão das luzes desviam-me do

roteiro. Preciso ir perguntando. Eu gosto da noite só para contemplar as estrelas cintilantes, ler e escrever. Du-

rante a noite há mais silencio.

Cheguei na rua Asdrubal Nascimento, o guarda mandou-me esperar. Eu contemplava as crianças. Umas

choravam, outras estavam revoltadas com a interferência da Leu que não lhes permite agir a sua vontade. O José

Carlos estava chorando. Quando ouviu a mina voz ficou alegre. Percebi o seu contentamento. Olhou-me. E foi o

olhar mais terno que eu já recebi até hoje.

... As oito e meia da noite eu já estava na favela respirando o odor dos excrementos que mescla com o

barro podre. Quando estou na cidade tenho a impressão que estou na sala de visita com seus lustres de cristais,

seus tapetes de veludos, almofadas de setim. E quando estou na favela tenho a impressão que sou um objeto fora

de uso, digno de estar num quarto de despejo.

(Livro Quarto de Despejo: Diário de uma favelada, Carolina Maria de Jesus)

Estes são os textos selecionados e, com isto, buscou-se unir a função e potencialidade,

que tanto a Geografia como a literatura, podem conter em suas práticas no cotidiano escolar.

Tendo a percepção, de que, a proposta criada nesta monografia, “é uma prática possível em

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um momento dado” (CAVALCANTI, p. 105, 2017), mas que, esta, necessitou de tempo para

sua estruturação. Tempo que, muitas vezes, os professores regentes não possuem, devido ao

baixo salário, que provoca o acúmulo de cargos e as alienações que o sistema educacional

brasileiro provoca, intencionalmente, nos mesmos. A proposta, também conterá fragilidades e

espera-se, que estas, possam contribuir para que outras possibilidades sejam construídas e

vivenciadas por professora(e)s regentes, professora(e)s em formação acadêmica, alunas e alu-

nos do ensino público e os demais agentes responsáveis por dar vida ao cotidiano do espaço

escolar.

Agora, segue abaixo, a estruturação das aulas. Sendo que, três foram preparadas e ba-

searam a produção dos escritos poéticos da turma, presentes no livro; uma aula para corre-

ções, tirar dúvidas das palavras ou letras dos escritos, visando favorecer o melhor entendimen-

to das/dos leitoras/leitores, em que, as alterações foram poucas, aceitas e discutidas com a/o

autora/autor do escrito; uma aula para definir o título do livro e continuar as correções daque-

les que faltaram; uma aula para entrega dos livros e definições sobre o preço que iria ser co-

brado pela venda do livro no evento da UNIFAL-MG, o convite para participar da Feira Lite-

rária de Alfenas e início das recitações dos escritos; uma aula para pegar os sentimentos em

relação a concretização do livro, estando com ele “em mãos” e continuação das recitações,

realizadas por aquelas/aqueles que se sentiram à vontade de fazê-la; além, de recados e infor-

mações sobre a produção do livro, realizados na sala da turma, disponibilizados pela(o)s pro-

fessora(e)s da escola e; mais duas aulas para captar a percepção de Geografia, da(o)s alu-

na(o)s e finalizar a proposta prática (a análise da aplicação destas duas últimas aulas estão no

próximo capítulo).

Algumas aulas possuíram um texto tema, que se relacionavam ao que foi proposto na

respectiva aula. Estas, que possuem o texto tema, serão explicitadas no início de sua apresen-

tação, logo abaixo, contendo uma contextualização do porque de seu uso. E, estes textos, além

de serem temas das aulas, tem um papel ligado a tentativa de motivar as/os alunas/alunos à

construírem o livro, aspecto que, é extremamente necessário no trabalho da/do docente. Pois,

“cabe a ele não só selecionar e organizar criteriosamente os temas a serem trabalhados, mas

também expor aos alunos, com clareza, a relevância desses temas” (CAVALCANTI, p. 1,

2010), dos objetivos e das situações de aprendizagem propostas. Porque, a motivação da(o)

aluna(o), é criada. Portanto, não é algo de seu comportamento natural ou característica indivi-

dual, há processos de aprendizagem que devem ser realizados, para o desencadeamento da

motivação.

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- AULA 1

Texto tema:

FILMA EU

Nossa, a gente acabou atrasando, a marginal estava um transito só.

Sei, eu vivo isso direto.

Então onde quer fazer?

Pode ser aqui.

Aqui na loja?

Sim.

Bom, a gente estava pensando assim, numa laje com um vizú legal.

Algo mais favela?

Sim, mas também mais tradicional ao mesmo tempo...

Pode ser aqui na loja ou na minha casa, na biblioteca que tenho, assim vocês filmam os livros.

Bom, livros, livros... deixa eu ver com a equipe.

E aí?

Acho que vamos ter que fazer aqui na loja então.

Sei.

A gente vai falar de educação, seria legal você pôr o ponto de vista do menino de periferia que não tem

interesse na escola.

Sei.

Pra gente ter certeza que você entendeu, de repente, a gente podia ler o Estatuto da Criança e Adoles-

cente...

Não precisa.

Bom, vou te passar as perguntas.

Não precisa, se eu ler antes perde a espontaneidade.

É que isso vai pra televisão, pra ter certeza que você entendeu, seria legal pensar nas respostas, falar do

menino que não tem interesse na escola.

Teria interesse se a escola fosse boa.

Não, pra ter certeza que você entendeu...

Se você disser isso de novo, é ruim.

O quê?

Pra ter certeza que você entendeu.

Ah! Que isso, eu disse isso só pra confirmar.

Sei.

Então, bom, a câmera está no ponto, pode ser virado pra rua.

Não, vamos gravar virado para os livros da loja.

É que a luz aí num vai ser boa.

Tem que ser aqui.

Está bom, então vamos. Qual sua visão da escola?

Tem muitos professores que dão o suor de verdade, que trabalham muito e com o pouco que têm.

Peraí, desliga. Bom, é o seguinte, seria legal dar a visão dos pais, que eles não participam da escola, que

são ausentes.

Você está me pautando.

Não, que isso, pra ter certeza que você entendeu.

Não repete isso.

O quê?

Pra ter certeza que você entendeu?

Ah! Ok, vamos continuar. O que você acha da violência nas escolas?

Vai ficar perguntando de violência? Se forem essas as perguntas pode entrevistar qualquer morador,

num precisa ser um escritor.

Não é isso, pra ter certeza de que, bom, vamos passar por essa rapidinho e aí entramos nas outras per-

guntas. O que você acha da violência nas escolas?

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Têm muitas formas de violência, uma delas é o descaso do poder público, que não dá suporte para as

pessoas que pagam tento imposto como os periféricos, os benefícios do Estado não chegam, somente através da

ação policial e...

Só um minuto, parou! Bom, você podia falar do ponto de vista da violência que um aluno faz com ou-

tro, essas coisas?

Cara, você está me pautando.

Estou não, é que no outro documentário, e isso é uma série, a gente falou de favela.

Onde foi?

Na comunidade x.

E como foi?

Foi bom, mas tivemos gastos extras, alugar banheiro químico, segurança.

Pra que banheiro químico?

A gente não ia usar o que tinha lá, não tinha condições.

Mas eles usam.

Sim, mas a questão não foi só essa, alimentação, água.

Água?

Nossa equipe não ia beber água de lá.

Cara, você tem noção do que está falando pra mim?

Peraí, pra ter certeza que você entendeu.

(Livro Os Ricos Também Morrem, Ferréz)

Este texto tema, também selecionado para ser trabalhado na aula, foi escolhido, por

causa de seu conteúdo, que se liga ao contexto geográfico da escola, muitas vezes, estigmati-

zada pela sua localização. E, também, foi uma demanda do próprio cotidiano escolar, em que,

um dia antes da aplicação desta aula, houve um caso contraditório de “violência” na escola,

entre um aluno e um professor, que não é necessário explicação do porque do ocorrido (sendo,

ele, já dito, contraditório), mas que resultou em uma notícia num jornal da cidade e o incômo-

do das/dos professoras/professores na sala destinada à eles, a qual foi frequentada, em que, a

fala de uma professora expõe o contexto preconceituoso, da sociedade alfenense, para com a

escola:

“(Professora) - Nossa, não precisava disso, esta notícia não fala a verdade dos fatos, foi uma

brincadeira besta, um dia ruim para o professor e deu nisto. Fico muito triste, pois nossa escola

já é vista com maus olhos pela maioria das pessoas. As notícias boas de nossas ações não saem

no jornal, não sei porque!” (Momento vivenciado na sala dos professores)

Assim, o texto tema pensado para esta aula, foi confirmado no momento desta fala,

que aconteceu na sala dos professores da escola, minutos antes de aplicá-la.

Para a Aula 1, foram selecionados 21 textos, que já foram expostos anteriormente,

tendo estes, uma capacidade de articulação entre suas mensagens, os conteúdos geográficos

escolares e científicos e o contexto geográfico da escola. O objetivo dos textos selecionados,

também já foi discutido no momento de suas exposições, neste corpo textual.

Os textos seriam impressos e distribuídos à turma. Como, esta, contém mais aluna(o)s

do que a quantidade dos textos, as/os alunas/alunos, poderiam se organizar em duplas ou trios,

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para lerem em conjunto. Após a leitura, a proposta seria captar seus sentimentos, palavras,

comentários e interpretações (algum tipo de retorno) sobre o que aquela leitura despertou e

escrever este retorno na lousa. Com ele, tentar dialogar, mediar e articular com a geografia,

mas, com a preocupação de não deixar a ciência “apagar” a arte e suas inúmeras possibilida-

des de atingir e agir sobre as ações, imaginários e formas de interpretar a realidade, por meio

dos textos, na(o)s aluna(o)s. Pois, segundo CAVALCANTI (2010), a utilização destas lingua-

gens “alternativas”, devem articular a razão e a sensibilidade das aluna(o)s, na busca de favo-

recer seu conhecimento conceitual e uma comunicação com poder de síntese.

Posteriormente, iria ser recitado o texto tema, com o intuito de captar a interpretação

daquela(a)s que sentirem à vontade, relacioná-lo a dinâmica da localização da escola e como

esta é interpretada pela sociedade, mídia e outros atores sociais e, principalmente, a lógica

precarizadora imposta pelo sistema educacional brasileiro nas escolas e, evidenciar que estas

interpretações estigmatizadoras e a precariedade intencional do sistema público educacional

no ensino básico, afetam o cotidiano escolar e a vida da(o)s aluna(o)s, mas não conseguem

defini-las de fato, gerando um desconhecimento e não efetivação do direito à educação. Refe-

renciando, o livro que seria construído, como sendo uma resposta da turma, para a sociedade e

o sistema educacional.

Assim, esta foi a preparação para a Aula 1, que dependia, em grande medida da res-

postas da turma e se esta, conseguiria ser uma situação de aprendizagem motivadora, que de-

sencadeasse a participação.

- AULA 2

Texto tema:

ARMA LETAL

A arma mais letal que pode ser usada por qualquer adolescente preso passa pela revista sem nem ninguém se dar

conta. Toda vez que chego em uma unidade preciso mostrar cada material que irá entrar junto comigo, na hora

de sair precisam conferir: tudo que entrou comigo precisa sair comigo. Então é sempre a mesma coisa, eu abro

minha bolsa, vou tirando coisa por coisa e um guarda da portaria vai anotando.

Uma caixa de som, confere?

Confere!

Um microfone, confere?

Confere!

Dois cabos, confere?

Confere!

Um pen drive, confere?

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Confere!

Ok então, pode entrar.

Mas espero aí, tem também um caderno e um livro também. Tudo bem, livro a gente não anota, não tem perigo

nenhum...

Uma caneta pode ser usada para furar. Um cabo de energia pode ser usado para enforcar. Um microfone pode ser

usado para agredir, ferir. E até um simples pen drive pode ser usado para algo ruim, perigoso. Concordo com

tudo isso, mas não concordo que um livro não ofereça perigo. Pelo contrário, o livro é a arma mais letal. Um

livro é capaz de ampliar a visão do mundo, um livro pode ser usado para armar a mente, pode ser usado para

revidar. Revidar contra o sistema que propôs um caminho a se trilhar e fez muitos acreditarem que era o único.

Um livro é uma arma letal, perigosíssima, e só pode entrar sem ser notado porque o sistema não acredita que

esses meninos um dia terão interesse pela leitura, porque se um dia isso acontecer, talvez livros sejam proibidos

em vários lugares do Brasil.

Afinal, é vantagem para quem manipula que os manipulados não pensem. Eu entro todos os dias em unidades

prisionais portando uma arma letal e ninguém nem percebe... Mas, por favor, não conte para ninguém (risos).

(Livro Liberdade dos meus Versos, Marcelo Biorki)

Na segunda aula, diferente da Aula 1, que iria ser realizada na própria sala da turma,

ela foi proposta para ocorrer na biblioteca da escola, com o intuito de construir um ambiente

propício para a(o)s aluna(o)s realizarem o primeiro processo de escrita e provocar o debate

relacionado aos livros que a biblioteca escolar continha. Apenas um livro utilizado na primei-

ra aula, contém no acervo, sendo ele, o essencial “Quarto de Despejo: Diário de uma favela-

da” de Carolina Maria de Jesus, com apenas um exemplar. Mas, havia vários exemplares de

um livro sobre a Segunda Guerra Mundial e a história de Anne Frank, em que, este, é um fato

importante para o processo de ensino-aprendizagem na escola, porém, há “guerras cotidianas”

que ocorrem no Brasil, geradas pelas contradições espaciais do território nacional, que são

ainda mais essenciais para construção de um processo de ensino-aprendizagem na escola.

Este caráter das contradições espaciais brasileiras, está presente nos textos dos livros

selecionados para a primeira aula. Então, se fez necessário discutir o porquê de conter apenas

um livro dos que foram usados e ter apenas um exemplar, enquanto um livro que discute,

principalmente, a Alemanha, contém vários exemplares. Debater a dimensão do papel social

que um livro e sua construção podem ter, se constituindo como uma “arma letal”, como é

proposto por Marcelo Biorki (em seu livro que é resultado de oficinas de poesia nas Funda-

ções CASA do interior de São Paulo, contendo assim, um grande papel social para quem o fez

e para aqueles que buscam entender melhor o espaço geográfico ao qual vivemos) no título do

texto tema da aula. Provocar a sensação que, a construção do livro da turma, terá este papel

social e que elas/eles tem o que contribuir para o aprendizado de todos (mas principalmente,

daqueles que trabalham com a docência). E, tentar construir a ideia de que, a(o)s aluna(o)s

tem que se informar e procurar livros que possam causar maior identificação e contextualiza-

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ção da realidade pessoal e, indicar e pedir aos responsáveis pelo acervo da biblioteca, terem

esta sensibilidade, já que, os livros são, essencialmente, para as alunas e alunos.

Mas, antes desta discussão sobre a função de um livro e o poder social de sua constru-

ção, foi planejado para ser realizado uma discussão, retomando os textos da Aula 1. Em que, a

turma seria questionada, se os textos da aula anterior, continham algum fator geográfico, com

base na percepção de Geografia adquirida por elas/eles no período escolar. Tendo, como obje-

tivo, captar qual era a percepção daquela(e)s, que se sentiriam à vontade para contribuir em

suas falas.

Após, esta retomada dos textos da Aula 1, se iniciaria a discussão sobre a temática do

livro (exposta acima). Depois, seriam distribuídas folhas de almaço para cada integrante da

turma e assim, se iniciaria o processo de escrita.

O primeiro elemento, que a turma deveria escrever, seria a primeira palavra ou senti-

mento que surgira em sua mente, ao ouvir a palavra Biblioteca. Pedir para que toda(o)s dis-

sessem o que escreveram e discutir os pontos e palavras que mais chamarem a atenção do

aplicador da proposta.

Posteriormente, seria iniciada a segunda etapa da escrita, desta aula. Em que, as alunas

e alunos deveriam escrever uma palavra que definiria, que primeiro viesse à mente ou um

sentimento relacionado à palavra Sonhos e, também, para a palavra Realidade. Depois, de

escreverem as duas palavras, referentes às palavras sonhos e realidade, deveriam construir

uma frase, contendo estas palavras em seu corpo textual. E, para finalizar esta etapa, aquelas e

aqueles que se sentirem confortáveis para recitar o que escreveram, podem realizar esta ação,

com o objetivo de construir um momento de compartilhamentos e escuta, entre as/os integran-

tes da própria turma.

O encerramento da Aula 2, seria o ato de recitar o texto tema da aula, pelo aplicador e,

a entrega das frases escritas pela turma, para o mesmo ler, analisar e dar um retorno.

- AULA 3

Texto tema:

AOS ALUNOS DA ESCOLA ESTADUAL DR. NAPOLEÃO SALLES

A escrita é uma forma de manifestar, de expressar sentimentos, emoção, é a oportunidade de descrever a realida-

de detalhada por meio da sua vivência, pelo que vive no seu cotidiano e mostrar para as pessoas que todos temos

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o que falar, o que mostrar, o que acrescentar. A escrita é uma forma de ter VOZ, de mostrar sua realidade e suas

perspectivas, as contradições do espaço onde vive e por meio disso conseguir despertar sentimentos e curiosida-

de, e possibilitar conhecimento para as pessoas que terão acesso à sua escrita.

Tive o privilégio de ler as frases que escreveram e isso me causou muita inquietação, fiquei pensando o quanto

vocês tem para contribuir com meu aprendizado e com a arte.

Deem significado e sentido a escrita de vocês, mostrem que são capazes de escrever um poema, um livro e trans-

formar a vida de vocês e de outros.

(Mensagem de Sandra de Castro de Azevedo à turma do 3°Ano B)

Esta aula foi preparada para a turma realizar um processo mais “denso” de escrita.

Denso, num sentido mais aprofundado, pois deveriam escrever um escrito poético, de forma

livre, em relação à estrutura e o tema. Sendo, um processo de escrita que necessitaria de uma

maior concentração, do que, a frase na aula anterior.

A ideia, para as alunas e alunos escreverem seria, que se espalhassem nos pontos do

espaço escolar, ao qual, se sentissem mais à vontade para realizar esta atividade. Mas, para

isso ocorrer, necessitaria da autorização do professor regente e da coordenadora pedagógica.

Caso, não fosse aceita a proposta do espalhamento da turma, esta atividade seria realizada na

própria sala ou na biblioteca, que seria decidido em conjunto com as alunas e alunos.

Portanto, nesta aula haveria pouca intervenção do aplicador, o objetivo é deixar a tur-

ma à vontade para realização do processo de escrita. A intervenção seria para explicar o que

elas e eles deveriam realizar e também, a entrega das folhas de almaço, em que cada alu-

na/aluno escreveu a frase da aula anterior, com umas considerações. Foi colocado, em cada

folha de almaço, individualmente, o texto tema desta aula, exposto acima e escrito pela orien-

tadora desta monografia, como sendo, uma mensagem a cada integrante da turma, a qual, elas

e eles deveriam ler em sua individualidade e começarem à escrever.

Este foi o planejamento para a Aula 3, em que, àqueles/àqueles que faltassem ou não

conseguissem escrever por algum motivo, poderiam fazer em casa ou realizar na próxima

aula.

- AULA 4

Esta aula, seria destinada à “correções” de palavras, à retirada de dúvidas sobre a letra

ou qualquer outra alteração que o aplicador observou nos escritos poéticos, que podem favo-

recer o melhor entendimento daquela(e)s que forem ler o livro que seria produzido. Mas, a

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intenção não é de fazer modificações no sentido e conteúdo temático dos escritos poéticos da

turma, o objetivo é favorecer a coerência dos mesmos.

E, a Aula 4, também seria destinada às alunas e alunos que poderiam ter faltado ou não

terminado de escrever na aula anterior, tendo a possibilidade de realizar ou finalizar este pro-

cesso nesta aula.

- AULA 5

Para a Aula 5, a proposta era de finalizar as possíveis “correções” dos escritos poéticos

e iniciar o debate sobre qual seria o nome do livro (seu título), à ser construído pela turma. E,

após a escolha deste título, iniciar, com base nele, a construção de como poderia ser a capa do

mesmo, tendo como referência o título, seu contexto e conceito. Além, de procurar, entre um

integrante ou integrantes da turma, que poderiam realizar este desenho da capa e assim, iniciar

o processo de edição e criação do livro (que será descrito no tópico 3.4. deste capítulo).

Esta aula finalizaria a sequência de encontros, seguidos, com aulas preparadas, por en-

quanto. Para o professor regente, continuar seu planejamento pedagógico, ministrando suas

aulas. Pois, para o avanço das atividades, necessitaria da produção da capa do livro e sua edi-

ção estar pronta e assim, continuar as atividades planejadas em aulas destinadas às ações desta

metodologia pedagógica.

Portanto, após esta a Aula 5 até a Aula 6, que seria a entrega dos livros para a turma, o

contato com as alunas e alunos foram realizadas, por meio de recados. Em que, os professores

regentes das diferentes disciplinas e, principalmente, o de Geografia, disponibilizaram espaço,

como dez minutos finais ou iniciais de suas aulas, para o aplicador dar os avisos sobre como

está a produção do livro, sempre deixando a turma contextualizada com este processo.

- AULA 6

Para a Aula 6, ser realizada, necessitaria do livro estar pronto. E, com sua concretiza-

ção, a preparação para esta aula, seria entregar o livro no final da aula, dizendo que ele ainda

não estava pronto, e antes, definir, em conjunto com a turma, o valor que seria cobrado na

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venda dos livros, no evento de lançamento e nos futuros eventos literários, aos quais, poderí-

amos ser convidada(o)s.

Nesta aula, para definição do valor do livro, o aplicador deveria “passar a limpo” os

custos para a produção do livro e os materiais utilizados, visando uma coerência e respeito ao

trabalho, dedicação e o acreditar neste sonho, que a turma se comprometeu (e realizou).

Além, de compartilhar outros recados que poderiam surgir ao longo do processo de

realização da proposta. E, propor para àquelas ou àqueles, que se sentirem a vontade, de reci-

tar seu escrito poético.

- AULA 7

Esta aula, foi planejado para ocorrer em seguida da Aula 6, sendo uma continuação.

Ela serviria para captar qual o sentimento que todos os integrantes da turma tiverem ao esta-

rem com o livro “em mãos”, ou seja, concretizado esta experiência e a promessa do início da

proposta (a qual, a turma acreditou e construiu junto). E, dialogar com estes sentimentos des-

pertados.

Após registrar os sentimentos da turma, se iniciaria a continuação da recitação dos

escritos poéticos das alunas e alunos, com o objetivo de criar mais um momento de escuta e

manifestação artística.

A proposta, é que esta aula se realize na biblioteca escolar.

- AULA 8

Após, a aula de registro dos sentimentos despertados pela concretização do livro, na

Aula 7. A aula 8 foi preparada para captar a interpretação e/ou percepção das alunas e alunos

sobre, se na visão dos mesmos, após todo o período e contato com a Geografia escolar,

elas/eles conseguir enxergar ou analisar a presença da Geografia e suas dimensões, em seus

escritos poéticos. Em que, cada uma/um, deveria utilizar como base para a resposta, sua/seu

próprio escrito poético.

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E, com o retorno desta percepção, o aplicador deveria mediar e buscar mais respostas

de cada integrante da turma, as/os questionamento, para perceber até onde iriam e qual era

esta concepção de Geografia.

- AULA 9

Esta aula, seria para realizar o fechamento da proposta, utilizando as falas da Aula 8,

ou seja, a concepção da turma referente a Geografia, junto, a análise do aplicador dos escritos

poéticos, em que, este, deveria utilizar seu conhecimento adquirido ao longo de sua formação

para identificar a Geografia presente nos escritos e preparar uma aula, utilizando os conceitos

estudados por esta ciência e autores que os produzem.

E assim, evidenciar como a Geografia está presente na vida de todos, mesmo não per-

cebendo sua atuação no cotidiano ou não tendo o entendimento da organização espacial dos

lugares frequentados e vivenciados pela turma e pela sociedade brasileira. Mas, mesmo sem a

concepção, completa, de toda a lógica imposta e organizadora das contradições sociais, a tur-

ma às vivencia e, seus escritos podem contribuir para as discussões e análises do nosso perío-

do histórico e seu respectivo espaço geográfico. Pois, todas as práticas humanas são espaciais

e, não há como, ficar alheio ao espaço geográfico.

Uma observação à ser feita, para possibilitar o melhor entendimento da organização

deste Trabalho de Conclusão de Curso é que, foi definido, a realização da análise das aulas 8 e

9, seus resultados de percepção e estruturação dos conteúdos geográficos, para estarem pre-

sentes no capítulo 4 desta monografia.

3.2. A Proposta Aplicada no Cotidiano Escolar

A estruturação pensada desta metodologia prática foi atingida pelo cotidiano escolar,

em que, este e sua força, moldaram a aplicação da mesma. E, sua descrição, possibilita às lei-

toras e leitores, perceberem as fragilidades, os objetivos alcançados na própria estruturação

inicial e, outras respostas da turma, que não havia como prever ou estabelecer diretrizes, no

processo de construir esta possibilidade pedagógica.

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Assim, se tentará sintetizar esta aplicação, na visão do aplicador e seu conhecimento

de Geografia e Educação, adquirida ao longo de sua formação. Sendo, esta proposta uma pos-

sibilidade, deste, vivenciar, de fato, sua futura atuação, unindo a experiência real na sala de

aula e a pesquisa acadêmica.

Sintetizar esta prática e seus possíveis desencadeamentos, não é uma tarefa fácil. Ali-

ás, esta monografia, por inteiro, não exprime, de fato, o que foi estas ações e quem são as alu-

nas e alunos da turma, suas identidades e visão geográfica do mundo. Talvez, o livro produzi-

do por este trabalho, se aproxime desta tarefa. Portanto, leitor, para entendê-la, internalizá-la e

aprender com esta proposta, é indispensável, ler o livro “Pensadores Desconhecidos”, em

Anexo. Se, esta leitura não for realizada, a leitura deste trabalho acadêmico, de nada valerá

para o entendimento das dimensões desta proposta e, o possível conhecimento pessoal, que

poderá despertar nas pessoas que o lerem.

Dois aspectos gerais foram presentes em todas as aulas. Um deles se refere à própria

estrutura do horário de aulas da escola no período da manhã, destinadas ao 9°Ano do Ensino

Fundamental II e os três anos do Ensino Médio. As duas aulas de Geografia, que o 3°Ano B

possui por semana, ocorrem em dois dias separados e são, o primeiro horário destes dias, ou

seja, a primeira aula. A escola adota um sistema de entrada das alunas e alunos, em que, toca-

se o primeiro sinal, às sete horas da manhã para todos entrarem na escola, depois, toca-se mais

um sinal, entre sete e dez e sete e quinze da manhã, para as alunas e alunos entrarem para suas

respectivas salas e as professoras e professores saem de sua sala, para irem ministrar as aulas.

Isto gera uma redução do tempo da aula no primeiro horário e foi, algo que, ocorreu em todas

as aulas aplicadas desta proposta, já que, elas foram realizadas, na primeira aula dos dias, de-

vido a própria organização da sequência das matérias, realizada pela direção e professora(e)s.

Assim, todas as aulas, tiveram em média, 30 minutos, reduzindo o tempo das discussões e

ações da proposta, já que, todas as aulas possuem 50 minutos, no horário programado. O pro-

fessor regente, explicou esta situação e o porquê desta escolha feita pela escola, dizendo que,

foi uma medida adotada pela gestão, pois, mesmo com a tentativa de fazer com que as alunas

e alunos estejam nas suas sala, no horário previsto, do primeiro sinal, às 7 horas, não conse-

guirem realizar esta tentativa e assim, resolveram flexibilizar a entrada.

O segundo aspecto foram as faltas, em que, alguns integrantes da turma perderam al-

gum dia da proposta. Mas, estas faltas, não atrapalharam a produção escrita, pois, como já

dito, houve a possibilidade de fazer em casa ou na aula seguinte, para àquelas e aqueles que

faltaram nas respectivas aulas. No início da ação, a turma era formada por 34 aluna(o)s, mas,

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houve uma saída de um aluno (não se sabe o motivo), este, participou apenas da primeira aula,

portanto, não teve a oportunidade de escrever a frase e seu escrito poético e assim, comparti-

lhar sua vida e/ou visão geográfica (infelizmente). Então, dentre os 33 integrantes, uma média

de 20 acompanharam todas as aulas seguidas, outros faltaram em medidas diferentes, perden-

do algumas discussões sobre a respectiva aula que não compareceram. Um fator, que pode

explicar a falta e a presença de “rostos cansados” na aula, é que, a maioria das alunas e alunos

passam pela experiência do emprego na juventude, trabalhando para os diferentes fins, auxili-

ando na renda domiciliar e, este tempo dedicado ao trabalho, pode influenciar no cansaço,

acarretando algumas faltas. Além, de outros fatores da vida pessoal de cada aluna e aluno, que

não se tem o controle e nem a dimensão do que e como ocorre em seu cotidiano.

Portanto, mesmo com algumas faltas, as atividades desta proposta foram concretiza-

das. Mas, com certeza, a falta de apenas uma/um aluna/aluno, deixa uma lacuna dentro de

cada aula, pois, estas/estes, podem contribuir para seu enriquecimento.

Após a explanação destes dois aspectos gerais, segue a tentativa de descrição, de al-

guns aspectos, de todas as aulas preparadas:

- AULA 1

“Era a primeira aula preparada, esta era como um divisor de águas, estava nervoso. Será que

os escritos selecionados iriam atingir os alunos? Essa era a dúvida. Pois isto iria definir se

eles iriam adotar a ideia de fato. Cheguei meia hora antes do primeiro sinal bater, com os tex-

tos na mochila, a vontade de realizar a aula e as dúvidas na mente sobre como seria a reação

da turma. Fiquei na sala dos professores, perto do primeiro sinal, eles começaram à chegar.

Lá ouvi o relato de uma professora sobre a notícia de um caso de violência na escola, fiquei

triste pela situação e percebi a insatisfação em alguns professores. Após ouvir isto, tive a cer-

teza de citar o texto do Ferréz como tema da aula, para fechar a discussão e trazer algum as-

pecto motivacional para os alunos escreverem para o livro. O segundo sinal bateu, fui junto ao

professor regente para a sala, chegando na porta, cumprimentei alguns alunos que se lembra-

ram do combinado e da ideia de fazer o livro e pareciam estar animados, entrei na sala, tirei

os textos e esperei todos chegarem e se acomodarem, demorou uns 5 minutos após o segundo

sinal. Esta espera tinha um ar de dúvida, tanto minha quanto dos alunos, sobre o que iria

ocorrer.” (Descrição dos sentimentos pessoais na aplicação da Aula 1)

Na aula 1, após seu início, foram distribuídos os textos para a turma. Não foi mudada,

a organização espacial da sala, a qual, as alunas e alunos sentaram da forma que desejaram,

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alguns em duplas, sozinhos e em trios, mas todos tiveram contato e lerem pelo menos um tex-

to selecionado. Esta não mudança, da organização da sala ou “controle” sobre a forma como

deveriam sentar, para terem, até um maior contato entre si, já que iriam compartilhar os sen-

timentos despertados pela leitura, podendo fazer uma roda, facilitando esta ampliação da vi-

são entre a turma, pode ter sido uma fragilidade da aula. Pois, as alunas e alunos, não presta-

ram tanta atenção, como se gostaria, sobre o que a(o)s colegas da turma falavam sobre os tex-

tos lidos. Houve, bastante conversa entre a turma, enquanto o aplicador ouvia, perguntava e

registrava na lousa o que, determinada aluna ou aluno dizia sobre o que tinha acabado de ler.

O professor regente, até interviu em um dado momento, por causa dessa conversa, o que de-

monstra que a organização espacial da sala deveria ser pensada de uma forma, que favoreça e

intensifique o processo de escuta entre a turma.

A leitura dos textos selecionados foi feita em dez minutos. Após, todas e todos con-

firmarem o seu término, se iniciou a escuta do retorno de cada uma/um e seu registro na lousa.

As Figuras 1 e 2 são fotografias da lousa da turma, com as palavras referentes aos sentimentos

e outras definições, despertadas pelos textos selecionados, na turma.

Figura 1: Lousa da sala do 3°Ano B, com o retorno despertado pelos textos selecionados, das alunas e alunos.

Fonte: Arquivo pessoal, 2019.

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Figura 2: Lousa da sala do 3°Ano B, com o retorno despertado pelos textos selecionados, das alunas e alunos.

Fonte: Arquivo pessoal, 2019.

As palavras contidas na lousa, referentes às Figuras 1 e 2, são: feliz, gratificação, iden-

tificação, surpresa, racismo, lágrimas, expressão, nostalgia, emoção, pena, informação, inten-

so, realidade, triste, caminho certo (?) e as frases: quem é o ladrão? e se regarmos coisas boas

teremos pessoas boas.

A resposta das alunas e alunos (que se sentiram à vontade de compartilhar), seus co-

mentários e falas, referentes à cada texto selecionado, estará logo abaixo, descrita conforme

seu título e sua enumeração de quando foram expostos no início deste capítulo. A numeração,

que não constar nesta descrição, é porque não houve o retorno e quando, aparecer dois núme-

ros juntos, é que, o retorno foi feito referente à dois textos.

1. SEM TÍTULO (Livro Poemas de Guerra, Negra Anastácia, sem título) e 11. CEIA (Livro

Do Interior, O Poeta No Interior, O Poema, Tiago Marini Ribeiro)

- “Cada um tem sua dificuldade, os dois casos aqui, escolheram o caminho mais fácil achan-

do que iria dar certo.”

- “Eu senti pena.”

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2. A FINA FLOR DA MALANDRAGEM (Livro Literatura, pão e poesia, Sérgio Vaz)

- “Gostei muito” Fiquei surpresa com a criatividade. Ele usa as gírias para nós imaginarmos uma coisa e no final quer dizer outra coisa.”

3. GUERREIROS DA CHUVA (Livro Literatura, pão e poesia, Sérgio Vaz)

- “Nostalgia, lembrei do tempo que era criança e brincava na rua”

4. O RISO DO PALHAÇO SEM ALEGRIA (Livro Literatura, pão e poesia, Sérgio Vaz)

- “Achei pesado, a pessoa tendo que se humilhar pra sobreviver”

5. SOMBRAS MIÚDAS (Livro Literatura, pão e poesia, Sérgio Vaz)

- “Fiquei triste”

6. COMO NASCE UM TABOANENSE (Livro Literatura, pão e poesia, Sérgio Vaz)

- “Senti gratificação em ler”

7. FÁBRICA DE ASAS (Livro Literatura, pão e poesia, Sérgio Vaz)

- “Me identifiquei, porque eu também não gosto das aulas, mas gosto da escola”

12. MULHER PRETA, MINHA ATRAÇÃO PERFEITA (Livro Do Interior, O Poeta No In-

terior, O Poema, Tiago Marini Ribeiro)

- “Racismo.”

14. FILMA EU (Livro Os Ricos Também Morrem, Ferréz)

- “São duas visões sobre a realidade, um querendo passar uma e o outro, outra visão.”

15. JARDIM DA INFÂNCIA ATUAL (Livro Liberdade dos meus Versos, Marcelo Biorki)

- “Lágrimas, fiquei com vontade de chorar”

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16. MÃE (Livro Liberdade dos meus Versos, Marcelo Biorki)

- “Emoção, fiquei emocionado”

18. SARAU DA CASA (Livro Liberdade dos meus Versos, Marcelo Biorki)

- “Fiquei feliz, gostei da parte que ele fala: quem é o ladrão?”

19. SE DEIXAR VOLTA A SER CRIANÇA (Livro Liberdade dos meus Versos, Marcelo

Biorki)

- “Essa tem sentido”

- “Essa tem significado mesmo"

20. 15 DE JULHO DE e 16 DE JULHO DE 1955 (Livro Quarto de Despejo: Diário de uma

favelada, Carolina Maria de Jesus)

- “Se for plantado coisas ruins, nos vamos viver de forma ruim”

21. 19 DE MAIO DE 1958 (Livro Quarto de Despejo: Diário de uma favelada, Carolina Ma-

ria de Jesus)

- “Parece algo com um viés informativo. Quem escreveu quer relatar sua vida, mostrar o que

vive”

Estes retornos diferentes, possibilitaram e basearam a tentativa de discutir os textos e

os sentimentos despertados por eles, trazendo questionamentos sobre as falas e as emoções

despertadas. Neste momento da mediação, a qual, o aplicador conduziu as falas, a turma não

conversou paralelamente, ao contrário, se mantiveram atentos e prontos para responder os

questionamentos.

Um retorno, que deveria e não foi discutido com a atenção devida, foi referente ao

texto 12, a qual, a resposta do aluno ao texto foi: “Racismo”. Em que, foi o último à se pro-

nunciar e como o tempo da aula era reduzido e as discussões necessitariam ser feitas, o apli-

cador não fez mais questionamentos ao aluno sobre este texto, buscando uma abordagem me-

lhor à este tema. É importante ressaltar que, a referência tempo da aula, não é uma desculpa

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para a não-discussão, ela só não foi realizada devido ao erro de lidar com o mesmo do aplica-

dor.

Um momento, que deve ser destacado, foi quando uma aluna pediu para recitar um

trecho do texto que estava com ela. A turma, não estava ouvindo as respostas um dos outros,

mas, quando ela iniciou a leitura, todas e todos se viraram para prestar a atenção e só a voz da

aluna ecoava na sala, naquele instante. Este acontecimento, também demonstra um compor-

tamento da turma, a qual, a dinâmica poderia ter sido compartilhada com mais intensidade, se

as alunas e alunos, que se sentissem à vontade, lessem seus textos e depois falassem algo,

interpretando ou relacionado ao sentimento.

O retorno mais importante, que confirma o objetivo alcançado nesta aula e que, tam-

bém provoca ou deveria provocar insatisfação, é que, a primeira fala de um aluno, ao ler o

texto destinado à ele, quando perguntado para toda a turma, se elas e eles achavam o texto que

tinham acabado de ler diferentes dos que comumente leem na escola. A resposta foi sim e a

diferença apontada foi: “Esse tem sentido”. Lembrando, que esta turma está no 3° Ano, e só

com esta proposta estão lendo um texto que tem sentido? O que está sendo dado para estes

jovens lerem, será que a não-leitura da sociedade brasileira é devido a não-vontade de ler?

Esta fala, ao mesmo tempo em que, efetiva a necessidade desta proposta e o objetivo

da aula, também desperta um sentimento de revolta e indignação. E, além disto, nenhum(a)

integrante da turma, conheciam as autores e autores dos textos selecionados, estas e estas,

eram desconhecida(o)s.

Para finalizar a aula, iniciou-se a recitação do texto tema, intitulado “Filma Eu”, do

Ferréz. O sinal que encerra a aula bateu, e a leitura do mesmo estava na metade, a turma con-

tinuou prestando atenção ao diálogo do texto, mesmo tendo batido o sinal. Ao terminar, foi

feita uma última discussão, sobre as estigmatizações que a escola pública sofre e, algu-

mas/alguns alunas/alunos expuseram o que já ouviram sobre a escola analisada e seu bairro.

Assim, esta discussão terminou da seguinte forma:

- (Aplicador) “A sociedade e o sistema educacional não conhecem vocês. Muitos esperam só coisas

ruins de vocês, da escola, só pensam que aqui ocorre violência. Mas, nós vamos entregar livros para

eles, eles vão ter que ler vocês, e ai, o que será que vão dizer?”

A fixação do olhar da turma e o brilho contido nos mesmos, após esta explanação do

aplicador, indicou a vontade de “revidar” contra estes preconceitos e as precarizações e, a aula

acabou com a manifestação de aplausos das alunas e alunos.

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- AULA 2

“Segunda aula...mesmo que o primeiro contato foi feito com satisfação e avanços em relação

aos objetivos, ainda estava nervoso. Novamente cheguei bem mais cedo que os professores, só

não cheguei antes daqueles que tem o essencial papel de limpar a escola, muitas vezes invisibi-

lizados. Neste dia, recebi um bom dia de uma destas pessoas, um sorriso enorme logo de ma-

nhã, me ajudou com o nervosismo! Vi que a biblioteca estava aberta e já fui arrumar as cadei-

ras em forma de círculo, pra deixar tudo no jeito para a aula e para os alunos terem um maior

contato visual entre si. Depois que o segundo sinal bateu, fui junto ao professor regente buscar

a turma na sala deles e fiquei na porta com as folhas de almaço na mão, para dar a cada um

escrever a frase da aula. A primeira aluna que entreguei a folha, disse: “está nervoso?” Ela

percebeu...mas conforme todos foram passando e cumprimentando, fui deixando de ficar ner-

voso.”

O início da aula ocorreu em referência aos textos selecionados da aula anterior. A qual

se realizou uma pergunta para a turma responder:

- (Aplicador) “Pessoal, vocês já tiveram contato com a Geografia ao longo de todo seu percurso na es-

cola, da 5° série até o 3°Ano do Ensino Médio. Então, vocês já criaram um conhecimento sobre o que é

a Geografia. Com base nesse conhecimento que vocês tem sobre o que é a Geografia, vocês acham ou

enxergaram que ela estava presente nos textos que vocês leram ontem?”

O aluno que teve a vontade de responder, disse que não havia Geografia em seu poe-

ma, pois, ele falava: “sobre um cara que foi no enterro de um amigo, mas foi no velório erra-

do, longe da sua casa e acabou recebendo carona do pai de uma menina que tinha morrido lá

e teve mais contato com as pessoas daquele bairro do velório”(Em referência ao texto “Como

Nasce um Taboanense”, de Sérgio Vaz). Após a sua fala, antes do aplicador mediar sua res-

posta, uma aluna disse:

- (Aluna) Mas seu texto fala de um lugar, é o espaço geográfico, claro que tem geografia. Tudo é geo-

grafia, onde a gente tá é geografia, onde a gente vive tem geografia. Os poemas daquele lugar onde os

meninos ficam preso, também tem geografia, fala de um espaço geográfico.”

Esta resposta da aluna foi feita de forma espontânea e com bastante intensidade na

voz. Seu conteúdo demonstra que esta, tem conhecimento sobre ideia do conceito de espaço

geográfico, da dimensão da vida humana e sua espacialidade. Mas, só com esta frase, não é

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possível dizer que ela possui este conceito construído totalmente, para esta afirmação ser feita,

se necessitaria de mais explorações e ações pedagógicas com este intuito. Porém, evidencia

que a Geografia escolar, mesmo estando pressionada pelos currículos e precarizada pelo sis-

tema educacional, cria uma percepção sobre a realidade e sua dimensão espacial nas alunas e

alunos.

Houve, nesta aula, maior tempo de mediação e fala do aplicador, em relação a aula

anterior. Nestes momentos, a sala demonstrou-se concentrada nas discussões expostas pelo

mesmo, representando uma diminuição da conversa, presente na Aula 1. O tempo, que estava

frio, pode ter ajudado. Mas, como as discussões levantadas foram como necessidades de mu-

dança e procura de leitura, pois, se não, elas e eles irão continuar lendo coisas que não se

identificam, chamou a atenção e se acredita que as falas atingiram a turma.

O primeiro processo de escrita da aula, que era escrever uma palavra referente à Bibli-

oteca, foi realizada e, segue as respostas da turma:

- 1

Paz

- 2

Paz

- 3

Curiosidade

- 4

Silêncio

- 5

Tranquilidade

- 6

Conhecimento

- 7

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Desejo

- 8

Silêncio

- 9

Paz

- 10

Paz

- 11

Tranquilidade

- 12

Silêncio

- 13

Vontade de ler

- 14

Silêncio

- 15

Silêncio

- 16

Solidão

- 17

Silêncio

- 18

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Silêncio

- 19

Curiosidade

- 20

Paz

- 21

Paz

- 22

Informação

- 23

Paz

- 24

Paz

- 25

Calma

- 26

Paz

- 27

Mundo

- 28

Tranquilidade

- 29

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Paz

As palavras que mais se repetiram dentre as respostas da turma, foram: paz, em 10

vezes; silêncio, em 7 vezes e; tranquilidade, em 3 respostas. Estas três palavras, assim como

calma (1 vez) e solidão (1 vez), podem estar relacionadas ao ideário de biblioteca construído

no imaginário das pessoas, ao longo dos anos, de um lugar sem barulho, destinado à intelectu-

ais e até elitizado. Mas, também pode ser algo relacionado àquele espaço específico da escola

e sua utilização. Pois, durante um ano de observações do estágio e residência, as aulas em que

se fazia o uso do retroprojetor, aconteciam na biblioteca da escola (atualmente há uma sala

destinada à esta prática). Portanto, aulas de conteúdos das diferentes disciplinas do currículo

escolar, se realizavam neste espaço, criando esta identidade, que necessitava de silêncio e não

conversa, sem interação com os livros pra prestar a atenção na aula, que só era diferente pois

ocorria fora da sala habitual. Além do corpo docente da escola, as/os estagiárias/estagiários,

em sua maioria, quando realizavam regências, faziam o uso de slides na biblioteca, acreditan-

do fazer algo “diferente” do que o professor regente da turma fazia, só que, na verdade, o tra-

dicionalismo estava presente e, o não-uso da biblioteca, relacionada aos livros e sua possível

atuação como uma “Arma Letal”, também. É necessário ressaltar, que o autor desta monogra-

fia, também realizou regências na biblioteca, utilizando de slides, devido a não-internalização,

devida, da função social da Geografia, e voltava para a hipocrisia do academicismo, pensando

que realizou algo de “diferente” no cotidiano escolar. Porém, contribuiu para esta maioria de

definições de biblioteca, como um lugar “inofensivo”.

Mas, outras respostas, ultrapassaram este imaginário construído, principalmente, a

resposta mundo. Que se explorada pelo aplicador, visando um maior aprofundamento desta

visão da aluna, teria-se condições de trabalhar a Geografia, pois, esta, com certeza carrega

esta dimensão.

Palavras como: curiosidade (2 vezes), conhecimento, desejo, vontade de ler e infor-

mação, trazem uma dimensão de entendimento do que é este espaço e o que ele pode provo-

car. Demonstrando, que as alunas e alunos, possuem intencionalidades de interagirem com

este espaço. Talvez, o que falta, é a criação de situações de aprendizagens que possibilitem

esta interação. Pois, este, foi um aspecto perguntado à turma, se as professoras ou professores

já levaram, elas e eles, para interagiram com os livros, explorarem a biblioteca da maneira que

se sentirem à vontade, de ler o que lhe chamassem a atenção e, a resposta foi: “não, nunca.”

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O segundo processo de escrita, desta aula, também ocorreu e, todos que estavam pre-

sentes escreveram sua frase. A análise das mesmas, estará, separadamente, no próximo tópico

deste capítulo (3.3.), pois, este necessita de um olhar minucioso. Mas, o momento de escrita,

desta frase, pela turma, é impossível traduzir em trabalhos científicos, a observação de todas e

todos concentrados em suas duas palavras, visando formar uma frase, foi um processo de

aprendizado para o aplicador e, também, de referência, de situação de aprendizagem, que ne-

cessitam estarem mais presentes na escola.

Depois que todas e todos escreveram, foi aberto um espaço para as alunas e alunos

recitarem o que tinham escrito. E, a turma não teve vergonha, pelo contrário, nem pediam

autorização (e também não precisava) para falar, só realizavam a ação.

O texto tema foi recitado, em que, o sinal bateu, novamente, no meio de sua recitação

e também, a turma permaneceu ouvindo, atenta. Depois, todas e todos entregaram a folha de

almaço com os escritos da aula, mas um aluno ficou esperando até o último entregar e se

aproximou com a folha ao aplicador e perguntou: “Ficou daora?”. Este momento demonstrou

a preocupação, a importância depositada e a dúvida deste aluno, sobre sua frase. (Difícil não

se emocionar leitor, pelo menos, pra quem vivenciou).

- AULA 3

Antes desta aula se realizar, era necessário pedir autorização para a dinâmica ocorrer

da forma planejada inicialmente e, o professor regente auxiliou neste contato com a coorde-

nadora pedagógica. Foi feito o pedido um dia antes da aplicação, sobre a turma se espalhar

pela escola, com o intuito de ser mais significativo o processo de escrita de um texto, agora

mais denso, com mais palavras e sem uma mediação. A resposta demonstrou apenas preocu-

pação com o controle das alunas e alunos:

- (Coordenadora Pedagógica) “Na verdade, quando a gente quer que eles façam algo, nós fazemos o

inverso, temos que mantê-los juntos, pra controlar melhor e não dispersar”

Com esta resposta, não se teve a intenção de aprofundar o pedido, pois, percebeu-se a

percepção de Educação da coordenadora. Assim, no momento de ocorrer a aula, foi explanado

esta vontade inicial da turma se espalhar, elas e eles gostaram da ideia, mas, quando souberam

que não foi autorizado, um aluno disse: “Não dá pra entender!”. O aplicador, também tentou

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entender, era difícil. Mas, este acontecimento foi utilizado para mostrar como é “perigoso”

para aqueles que querem manter tudo “sob controle”, que a turma pense, produza e se apro-

prie do espaço escolar de uma forma mais “livre”. E esta, foi a explanação para as alunas e

alunos iniciarem o processo de escrita.

O momento da escrita, foi como uma “ruptura” das formas de escrever, comumente

nas aulas de Geografia (discutidas no capítulo anterior) e, também, em outras disciplinas, sen-

do elas, mecânicas com o intuito de responder questões do livro didático. No instante, que

essa “ruptura” ocorreu, foi um momento intenso de concentração entre todas e todos da turma,

elas e eles estavam “conversando consigo mesmo”, em silêncio, refletindo com o lápis ou a

caneta, em uma folha de almaço (que continha a mensagem da orientadora deste trabalho e,

considerações e mensagens do aplicador com base nas frases que a turma tinha escrito na Au-

la 2). Porém, após serem autorizados à começar escrita, esta concentração não veio logo em

seguida. No início, algumas/alguns alunas/alunos, ficavam olhando para outra/outro, e per-

guntavam: “O que eu escrevo?”. Estavam com dúvidas, parecia que não ia sair nada naquele

papel, perguntavam se havia problema de ter erros de português ou não estar na estrutura cor-

reta. Mas, como não existe uma estrutura correta (segundo a concepção deste autor), a turma

estava livre de “amarras” ou padrões para escrever. Com o tempo, a(o)s que não estavam con-

seguindo e brigando consigo mesmo, foram escrevendo, apagando, rabiscando e assim, ocor-

reu o instante de ruptura, durante aproximadamente 5 minutos, em um silêncio total, até que,

um aluno termina e outras e outros também vão finalizando.

Não foram todas e todos que escreveram nesta aula. Alguns não terminaram, outras

quiseram fazer em casa, outros faltaram, etc. Mas, um caso de um aluno, necessita ser descrito

aqui:

Nesta aula, ele ficou com a cabeça baixa, parecia cansado, foi perguntado se ele não iria escrever e se

ele queria alguma ajuda, disse: “A fessor, isso não é pra mim não”. Foi dito: “Tenta!” Ele respondeu:

“Vou tentar, vou tentar”. Ele não escreveu nesta aula, na próxima, que foi destinada também para a

escrita de quem não fez por algum motivo. Ele também não fez. Quando perguntado novamente do por-

que não queria fazer ele disse: “Não tenho essa capacidade fessor.”

Ouvir de um aluno ou aluno, que ela/ele, não possui capacidade de escrever sobre sua

vida, sobre o que vive, é um aspecto “doloroso”. Pois, esta capacidade, é criada, não sendo

um aspecto natural da pessoa. Mas, mesmo assim, não foi forçado para que ele escrevesse e,

infelizmente, são os leitores do livro que perderam a oportunidade de conhecer mais um aluno

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produtor de cultura desta turma. Porém, mesmo não escrevendo e não estando no livro, este

aluno compareceu no evento de lançamento na UNIFAL-MG, que está num tópico deste capí-

tulo.

Esta questão, da capacidade, necessitará ser novamente discutida (Aula 7), pois, os

sentimentos das alunas e alunos ao receberem o livro, foram referentes à ela.

Outro acontecimento relevante à ser destacado nesta aula, é relacionado a composição

do número de alunas e alunos, pois, neste dia, nas últimas duas aulas, a turma realizaria uma

avaliação externa e de larga escala, referente ao Estado de Minas Gerais. Assim, esta aula, foi

a que, mais teve faltas das alunas e alunos, devido à esta prova. O que, se relaciona com o

capítulo anterior desta monografia e a ideia da aluna para o título do livro, em que, a falta

pode ser interpretada como uma resposta da turma à esta política que gera o desconhecimento

das individualidades das alunas e alunos de uma sala e da sua respectiva escola.

Os escritos poéticos das alunas e alunos serão inseridos e analisados no próximo capí-

tulo desta monografia, já que estes necessitam de uma análise separada, para demostrar a ca-

pacidade pedagógica e geográfica de seus conteúdos.

- AULA 4

Esta aula ocorreu como preparada inicialmente, na própria sala da turma. Em que, o

aplicador possibilitou um retorno à turma, referentes aos escritos poéticos daquela(e)s que os

produziram na aula anterior. Este retorno aconteceu de forma individual, a qual, o aplicador

foi na mesa de cada aluna e aluno, tirando suas dúvidas, falando o que mais lhe chamou aten-

ção no texto, comentando algo e outros aspectos que poderiam ser mudados para melhorar o

entendimento das leitoras e leitores. As necessidades de mudanças foram poucas, a coerência

textual nos escritos está presente.

As alunas e alunos que não escreveram na aula anterior, realizaram este processo nesta

aula. E, para aquelas e aqueles que já haviam escrito, foi pedido para que elas e eles escreves-

sem uma “apresentação”, sendo, qualquer escrito, com nome e outros aspectos que exprimem

quem elas e eles são, assim fizeram.

- AULA 5

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Foi levado, nesta aula, os escritos poéticos digitados e impressos àquela(e)s que já

haviam realizado todo o processo de escrita e, estes, foram entregues para as alunas e alunos

lerem e darem um retorno se gostaram ou queriam de mudar algo. Pois, esta estrutura iria para

o livro. Nesta aula, a(o)s integrantes da turma que não haviam terminado nas aulas anteriores,

finalizaram.

Portanto, podia-se iniciar a discussão sobre qual o nome seria dado ao livro, construí-

do pela turma. As opções foram três, sendo elas: Os Excluídos, Um Lado Desconhecido e

Pensadores Desconhecidos. Estas foram escritas na lousa e se iniciou a votação. O título mais

votado foi Pensadores Desconhecidos, com 23 votos. Os Excluídos, 0 votos e, Um Lado Des-

conhecido, 9 votos. Uma análise à ser feita, com estas ideias para o título do livro, é que,

mesmo sendo diferentes, o significado destes, contém intensa relação. Os três, dizem que, as

alunas e alunos, sentem o contexto de exclusão em que vivem, tanto do sistema educacional

(como já foi discutido no capítulo anterior) como da organização espacial, gerando um desco-

nhecimento sobre os mesmos. Na aula, esta frase evidencia esta ideia, “O povo desmerece

nóis fessor”. Assim, estes Pensadores Desconhecidos, com escritos poéticos, revidam contra

a exclusão e o desconhecimento, por meio da literatura.

Depois desta decisão, era necessário também definir como a capa seria feita e por

quem. Ao serem perguntados, um aluno apontou para outro e falou que ele sabia desenhar

“bem”, e este, ao ser questionado se aceitaria fazer esta ação, aceitou. Assim, com base no

título, foi realizada uma discussão com a sala sobre como a capa poderia ser feita pelo aluno

que se dispôs á fazê-la. O aluno que apontou para o outro, deu esta ideia: “Podia ser assim,

fazer várias pessoas, juntas, mas sem rosto, já que somos desconhecidos”. Esta foi uma ótima

ideia e interpretação do conceito do título do livro. A turma se mostrou favorável à ideia e

assim, foi decidido. No final da aula, foi conversado com o aluno que iria desenhar a capa,

este, se mostrou entusiasmado e disse que iria pensar em casa nos detalhes e desenhar com a

ideia decidida em sala.

A última discussão nesta aula foi do futuro evento de lançamento do livro, que seria

realizado na UNIFAL-MG. Ao dizer que elas e eles iriam recitar seus poemas num auditório,

uns ficaram felizes e se mostraram contentes, outros disseram “não” assustados, outras disse-

ram que tinham vergonha e alguns ficaram com dúvidas no olhar. Mas, grande parte se mos-

trou favorável deste ser realizado.

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- AULA 6

Esta aula ocorreu, após os livros estarem prontos. Em que, antes de seu início, 34 li-

vros foram levados para a biblioteca da escola e colocados “escondidos” em suas prateleiras,

para a realização da surpresa, na entrega dos livros à turma.

Os recados referentes ao evento de lançamento do livro na UNIFAL-MG, que estava

próximo de ocorrer, foram discutidos com as alunas e alunos e, também, foi decidido o valor

do livro, para ser vendido ao público, com base nos gastos com sua produção, que foi cinco

reais.

Após estas ações, o mediador perguntou à turma, se elas e eles tinham percebido que

havia chegado um novo livro na biblioteca da escola. Ele, foi até este aglomerado de livros,

pegou um, abriu e recitou o prefácio do livro “Pensadores Desconhecidos”, escrito pela orien-

tadora desta monografia, Sandra de Castro. A turma, no início, não percebeu que era o livro

construído por elas/eles, só notaram quando o prefácio terminou e o aplicador, falou o nome

do livro e disse: “O livro de vocês tá ai, podem pegar!”. Todas e todos pegaram cada um seu

exemplar e em suas individualidades folhearam o livro construído por elas/eles próprios, to-

talmente em silêncio, durante aproximadamente um minuto. Sendo este, mais um momento

que não se consegue explicar em um trabalho científico, para o leitor entender o que ele é, só

vivendo o mesmo.

Além dos 33 livros, para a turma completa, foi levado um livro à mais. E, posterior-

mente ao folhear do livro, pela turma, foi perguntado à elas/eles: “Ai pessoal, eu trouxe um

livro à mais, quem tá faltando receber?”. Assim, o livro “sobrando”, logo encontrou dono,

sendo entregue por uma aluna ao professor regente, junto à uma salva de palmas para o mes-

mo. Este foi outro momento que não há como descrever em trabalhos científicos, mas, esta

ação promoveu um instante de aproximação entre as alunas e alunos de seu professor, uma

aproximação para além dos compromissos da escola.

A aula já estava próxima de seu fim, depois do momento descrito acima e, o aplicador

perguntou à turma quem gostaria de recitar seu poema, a vergonha não deixou ela(e)s se ma-

nifestarem. Assim, o aplicador perguntou à um aluno, sendo o primeiro que ele olhou, de

forma aleatório, e este, disse: “Uai fessor, eu não arrego não”. E, levantou rimando de forma

improvisada, ligando este improviso ao seu escrito poético, que ele, tinha praticamente deco-

rado. A escola pública tem arte, as alunas e alunos só precisam de abertura, nas diversas situa-

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ções de aprendizagem, para manifestá-la. Este momento foi registrado e está representado na

Figura 3, logo abaixo.

Figura 3: Aluno recitando seu escrito poético, do livro “Pensadores Desconhecidos”, na biblioteca da escola.

Fonte: Professor regente de Geografia, 2019.

Logo que este aluno terminou, outra aluna começou a recitar seu texto, seu semblante

expunha toda a profundidade contida em seu escrito poético. Quando ela terminou, o sinal

bateu.

Mesmo com o término da aula, um aluno ficou esperando com o intuito de conversar

sobre algo. Ele disse, que começou à escrever mais poemas, especificamente sonetos, à partir

da proposta criada desta monografia. Assim, seus resultados, ultrapassam o que estará escrito

aqui.

- AULA 7

A aula ocorreu na biblioteca da escola e, os sentimentos e falas das alunas e alunos,

sobre o que sentiram ao concretizarem a construção do livro, estando com ele “em mãos”,

segue a baixo:

- Gostei, não imaginava que ia dar certo;

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- Eu tive a oportunidade de ler o poema de uma forma diferente. Porque quando eu escrevi

ele, eu estava numa fase, agora estou em outra. Então ler ele de uma perspectiva diferente e

aprender de novo é muito bom;

- Escrever sempre foi pra mim algo que gostei, é meu objetivo de vida, escrever de verdade,

me tornar uma escritora e ver meu texto num livro me deixa muito realizada;

- Eu senti uma satisfação enorme. Eu não esperava que fosse acontecer mesmo. Na hora que

você foi apresentar essa ideia, na hora que nóis começou a escrever, eu vi que nóis tava fa-

zendo e se perguntando „Será que vai? Será que vai?‟ ai as pessoas foi escrevendo, eu mes-

mo, no primeiro dia não escrevi nada, ai hoje, olha o resultado;

- Confiante;

- Fessor, eu gostei do que eu escrevi, falei da liberdade e senti ela também com o livro. Pude

expressar um pouco do que eu sou;

- Orgulhosa;

- Foi diferente, tipo, transformou o pensamento de cada um numa coisa física, uma experiên-

cia nova;

- Admiração, pelo que eu escrevi e pelo que eu vi nos outros. Porque tipo, quando a gente

olha pra cada um da sala, a gente não pensa que tal pessoa tem talento pra isso e outro tem

talento praquilo. A hora que a gente pega um livro desse e começa a ler o que cada um es-

creveu, a gente começa a perceber a realidade que cada um vive no dia a dia. Por isso que a

gente não pode olhar pra pessoa e julgar o que ela sente ou a maneira que ela pensa, porque

a gente não conhece ela , só ela se conhece. Então conforme a gente vai lendo, a gente vai se

sentindo junto com as pessoas. Então foi uma coisa divertida de fazer entre os amigos;

- Achei legal, foi uma forma de tirar o que tem na nossa cabeça e noís não consegue expres-

sar de uma maneira muito fácil;

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- Me senti orgulhosa, grata pelo poema no livro;

- Nada demais;

- Alegria;

- Experiência nova;

- Muito orgulhoso da sala, satisfação, achei que nem metade da sala iria escrever e fico mui-

to feliz por isso;

- Achei daora, porque cada um escreveu a sua verdade naquele poema, me fez refletir e co-

nhecer melhor os outros;

- Autocapacidade;

- Experiência nova;

- Não sei o que falar;

- Foi uma experiência nova, achei muito bom, eu não era muito de escrever não.

Estes sentimentos, despertados pela concretização do livro, são autoexplicativos. Cada

nova análise, eles possibilitaram novas interpretações aprofundadas sobre o que pensam de si

próprios, dos colegas de sala e o que a escola cria nesta(e)s aluna(o)s.

Três aspectos tem um destaque nas falas. O primeiro é ideia de que a turma não iria

conseguir escrever ou poucos iriam escrever, trazendo a questão da capacidade, de que elas e

eles, não possuem este “talento”, não tem a autocapacidade de escrever um texto sobre suas

próprias vidas. Sendo que, este imaginário de não serem capazes, é criado pela lógica curricu-

lar produzida para o “bom” resultado em políticas de avaliação externa e, se relaciona ao se-

gundo aspecto, que é o da experiência nova, a qual se entende que as situações de aprendiza-

gem criadas, não contém as alunas e alunos no conteúdo da mesma. O terceiro aspecto é o

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“melhor conhecimento” entre as alunas e alunos da turma, a qual, puderam ter um contato

maior com a realidade que cada um vive no dia a dia e a verdade que cada um escreveu. As-

sim, esta possibilidade, por meio da arte, da(o)s integrantes de uma turma terem um contato

maior com a realidade do outro, demonstra, que esta prática pedagógica, além de ter a capaci-

dade de estruturar conteúdos geográficos, também possibilita uma relação aprofundada entre a

própria turma, e esta, pode gerar avanços em seus comportamentos e abertura para interação

entre a(o)s mesma(o)s.

Houve a resposta “nada demais”, que, ao ser questionado, com o intuito de se ter uma

melhor compreensão desta resposta, o aluno não quis se prolongar. Os motivos, podem ser

vários e também, mesmo esta prática sendo algo significado para alguns, outros não seriam

atingidos totalmente, e isto, já era esperado.

Após a captação das falas, foi aberto para que a turma recitasse seus escritos poéticos.

Um aluno recitou e logo em seguida foi uma aluna, após ela terminar, um aluno que estava

sentado, cutucou o aplicador e disse: “Fessor, você viu que o poema deles debateram? Um

falou exaltando à Deus e o outro foi pelo lado da ciência.” O que, demonstra, que aluna(o)s,

tem a capacidade de interpretar e analisar dois textos, os comparando em seu conteúdo.

- AULA 8 E 9

O resultado destas duas aulas basearam a construção do capítulo 4 desta monografia,

portanto, as informações sobre as mesmas, foram feitas, nesta respectiva parte do trabalho.

3.3. Análise de uma Etapa dos Escritos Poéticos e suas Possibilidades Pedagógicas

A opção por analisar, somente a primeira etapa do processo de escrita das alunas e

alunos, que ocorreu na Aula 2 se deve a capacidade pedagógica, que as definições e sentimen-

tos de Realidade escritas pela turma, tem, no sentido de poder estruturar a construção de um

planejamento, segundo apenas esta palavra.

Assim, neste tópico, tenta-se mostrar, uma possibilidade que esta proposta pode con-

ter, somente em uma etapa da utilização da escrita com protagonismo das alunas e alunos.

Ela, não foi aplicada, devido ao tempo estabelecido e que, a prática pedagógica desta proposta

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tinha o intuito não de aplicar a construção deste planejamento de conteúdos, mas, demonstrar

que por meio dela, há esta possibilidade. Esta mesma tentativa será feita no capítulo 4, mas

que, também pode ser realizado, com esta etapa menos “densa” de escrita, que as alunas e

alunos realizaram.

É importante ressaltar, que a possibilidade de estruturação deste planejamento, se rea-

lizará pela sensibilidade do professor, que terá a intenção de aplicar esta proposta, com base

em seus conhecimentos adquiridos no processo de sua formação.

A intenção de utilizar estas duas palavras, para a turma escrever sobre elas, foi de ten-

tar captar quais suas interpretações sobre a realidade e quais suas possíveis perspectivas, dese-

jos, vontades, que poderiam ser analisadas ao serrem lidos suas definições ou sentimentos

sobre esta última palavra e, observar qual o tipo relações que as duas definições tinham para

as alunas e alunos, expostos nesta etapa do processo de escrita.

Segue abaixo, as respostas da turma, referentes às palavras Sonhos e Realidade e, a

frase escrita com base nestas respostas:

1.

Sonhos: mudança, alegria

Realidade: abuso do ser humano

O abuso do ser humano é diário, mas precisamos lutar para fazer mudança e sorrir com ale-

gria.

2.

Sonhos: amor

Realidade: dificuldades

Onde há amor, há esperanças de alcançar seus sonhos, mas precisamos viver a realidade e

passar pelas dificuldades.

3.

Sonhos: hoje

Realidade: oportunidade

Para conquistar seus sonhos existem várias oportunidades, basta você correr atrás dele hoje,

para que futuramente possa alcançá-lo.

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4.

Sonhos: felicidade

Realidade: dificuldade

A sua felicidade pode estar no fim da sua dificuldade, não desista!!

5.

Sonhos: conseguir

Realidade: problemas

Conseguir o que você deseja é a recompensa de ter enfrentado seus problemas.

6.

Sonhos: determinação

Realidade: dificuldade

Para conseguir realizar meus sonhos, terei que ter determinação, mesmo passando por muita

dificuldade no caminho.

7.

Sonhos: dom

Realidade: gratidão

Sou grato pelo dom que me foi dado, pois, na alegria encontrei conforto, porém, na tristeza

fui moldado.

8.

Sonhos: felicidade

Realidade: dificuldade

Você pode pensar na felicidade e pode ver a dificuldade.

9.

Sonhos: ambição

Realidade: gratidão

Gratidão por tudo o que meus pais me ajudaram, agora com a minha ambição vou buscar

meus sonhos.

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10.

Sonhos: inspiração

Realidade: desigual

Precisamos de inspiração a cada dia para enfrentarmos esse mundo desigual.

11.

Sonhos: esperança

Realidade: problemas

Todo sonho tem que ter esperança e toda realidade tem problema.

12.

Sonhos: fazer algo

Realidade: bagunça, problemas

Sempre que sonhamos em fazer algo, mais cedo ou mais tarde, o problema pode vir para ten-

tar nos derrubar.

13.

Sonhos: Amor

Realidade: solidão

Solidão é como um copo vazio, na qual

Só se enche com um litro cheio de amor.

14.

Sonhos: felicidade

Realidade: cobrança

Para alcançar minha felicidade será necessário lidar com cobranças que surgirão ao longo

do meu caminho.

15.

Sonhos: curiosidade

Realidade: compaixão

Em todos sonhos tem grandes curiosidades e toda realidade tem tristeza, compaixão.

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16.

Sonhos: futuro

Realidade: mesmice

O futuro vai ser sempre incerto se continuar nessa mesmice.

17.

Sonhos: persistir

Realidade: humildade

Persistir na realidade sofrida sempre mantendo a humildade.

18.

Sonhos: motivação

Realidade: dificuldade

Na dificuldade da vida não me falta motivação para continuar.

19.

Sonho: loucos

Realidade: desigualdade

Os sonhos loucos vão sempre na contramão da desigualdade diária.

20.

Sonhos: casa para a mãe

Realidade: é possível

Tenho certeza que vai ser possível eu dar uma casa para a minha mãe!

21.

Sonhos: felicidade

Realidade: dificuldade

A dificuldade irá vir a qualquer momento, mas não irá atrapalhar minha felicidade.

22.

Sonhos: esperança, fé

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Realidade: complicado

A fé é um sentimento difícil e complicado nos dias de hoje.

23.

Sonhos: determinação

Realidade: dificuldade

Com determinação não há dificuldade que prevaleça.

24.

Sonhos: admiração, alegria

Realidade: desespero ou ansiedade

Fazer o que quer, realizar o que quer, é buscar admiração por si próprio, onde, fazendo isso,

traz alegria e um sorriso sincero. Onde seus sonhos não venham a lhe desesperar, onde a

ansiedade não venha te atrapalhar, que seja feito no seu tempo.

25.

Sonhos: ser feliz

Realidade: amor

Eu apenas quero ser feliz e dar amor aos meus pais

26.

Sonhos: realizá-los

Realidade: mudar

Um sonho realizado, pode ser uma realidade mudada.

27.

Sonhos: liberdade

Realidade: fantasia

Algum dia serei liberta deste mundo de fantasia.

28.

Sonhos: determinação

Realidade: dificuldades

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Através da determinação conseguimos superar dificuldades, que para o mundo, seriam im-

possíveis.

29.

Sonhos: feliz

Realidade: brigas

Seja feliz com as brigas e as tristezas.

É necessário ressaltar, antes de qualquer análise, das múltiplas que podem ser feitas,

qualquer tentativa de realizá-las, irá reduzir a arte, que, com base no que as alunas e alunos

escreveram, são suas vidas. Ter esta concepção é essencial para buscar um entendimento so-

bre a turma e seus escritos. Estas frases, escritas por eles e as definições referentes à Sonhos e

Realidade, são complexas por si só, sendo difíceis construir definições acadêmicas sobre elas.

Mas, este processo, pode estruturar um melhor tratamento pedagógico às disciplinas escola-

res, aproximar e utilizar, de fato, a realidade de um contexto e sua especificidade ao trabalhar

conteúdos com base em cada ciência.

Apenas a formulação das frases, com base em duas palavras, já é um processo de ensi-

no-aprendizagem com o protagonismo das alunas e alunos, em que, elas e eles utilizaram de

seu cognitivo e de seu contexto social, para realizar esta ação de definições das duas palavras

e construção da frase com elas.

Um aspecto geral é notado ao ler, principalmente, as frases e, este, pode ser uma carac-

terística geral da turma. Há respostas que se relacionam de forma dicotômicas e/ou dialéticas,

entre as duas palavras de referência, como, felicidade e dificuldade, feliz e brigas, amor e difi-

culdades, entre outras, mas a formulação das frases, demonstra uma vontade de superação, de

mudança e de entendimento que ela(e)s poderão passar por dificuldades, mas que não devem

desistir, devem enfrentá-las. Isto se repete na maioria das frases, mesmo não apresentando

dicotomia entre as duas definições, mas que, ao se esperar que em palavras ambíguas as frases

seriam de auto conformação, as alunas e alunos demonstram o contrário e este, é um ensina-

mento proporcionado pela turma aos leitores do livro e principalmente ao aplicador desta pro-

posta (Por isso, que no livro, estas frases abrem o escrito poético de cada aluna/aluno, estando

lá como mensagens).

Este aspecto, observado, pode ter relação com o contexto geográfico da turma, em

que, muitos, como já foi dito, necessitam passar pela experiência do trabalho na juventude, já

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exercendo atividade remunerada para auxiliar à família ou outro motivo pessoal, além disso,

como também já foi discutido, a escola se localiza na periferia do município de Alfenas-MG,

seu público de alunas e alunos, residem nos bairros próximos, assim, tem suas relações espa-

ciais baseadas pela segregação imposta, fruto do planejamento do município que cria uma

organização desigual de seu padrão espacial. Portanto, estas e estes jovens vivenciam a desi-

gualdade espacial, o professor regente, os estagiários e o aplicador, à estudam, por meio da

Geografia. E, ao vivenciarem à mesma, seus escritos demonstram que elas e elas querem e

tem vontade de superá-la. Assim, isto, deve permear as relações escolares e principalmente, a

concepção das situações de aprendizagem criadas, em que, “um sonho realizado pode ser

uma realidade mudada.” Isto, deve ser utilizado, com maior intensidade no Ensino Médio,

em que as taxas de abandono são maiores, portando a motivação das alunas e alunos, a cria-

ção de meios pedagógicos para que elas e eles percebam seu potencial, deve ser um estrutura-

dor da escola e das aulas, em relação à esta modalidade. Acredita-se que, sem esta tentativa de

motivar a turma, por meio da literatura, esta prática pedagógica teria maior dificuldade de se

realizar e poderia ter uma menor aceitação de construção do livro.

Partindo agora, para a discussão sobre a possiblidade de estruturar conteúdos, somen-

te com a definição de Realidade, pelas alunas e alunos. É necessário, evidenciar a concepção

sobre o objeto de estudo da ciência geográfica. O espaço geográfico é aqui entendido como

“instância social”, conforme a construção epistemológica de Milton Santos (1996). Com esta

concepção, toda relação humana/social acontece no espaço, o influenciando e sendo influen-

ciada pelo mesmo, ou seja, não há como fugir dele, a interação humana com o espaço é coti-

diana e está presente em todos os momentos e todas as horas da vida das pessoas, sendo ele,

um fator. Com esta concepção, todas as definições de Realidade, escritas pela turma, possuem

uma relação com o espaço geográfico, se caracterizando como “uma realidade com dimensão

espacial” (CAVALCANTI, p. 108, 2017). Neste contexto,

A tarefa do professor é [...] ajudar os alunos a desenvolverem um olhar geográfico, aprendendo

a construir explicações para a realidade vista empiricamente, vivida cotidianamente por eles,

como sendo uma realidade com dimensão espacial, e, com isso, muni-los de instrumentos sim-

bólicos para sua relação (mediada) com essa mesma realidade. (CAVALCANTI, p. 108, 2017)

Assim, as definições de Realidade, escritas pela turma, podem ser o ponto de partida

para a construção desse olhar geográfico, com o intuito de construir um pensamento ou cons-

ciência espacial nas alunas e alunos, possibilitando sua interpretação e prática na realidade,

por meio dos conhecimentos adquiridos em seu contato com a Geografia escolar.

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A proposta para maior articulação desta etapa escrita com a Geografia, é que, a(o)

aplicador(a) da mesma, dedique mais tempo para tentar exprimir das alunas e alunos, por

meio de questionamentos e outras formas pedagógicas que esta(e) encontrar, um entendimen-

to mais aprofundado sobre as definições de Realidade da turma. E assim, com elas e seu co-

nhecimento da ciência geográfica, estruturar possíveis temas ou conteúdos à serem trabalha-

dos, servindo de ponto de partida, construindo um tipo de currículo, que de fato, faz uso da

realidade da turma e do entorno da escola, estabelecendo os conceitos estruturadores da Geo-

grafia, para planejar as aulas à serem aplicadas e os recursos didáticos que podem ser usados.

Algumas definições da(o)s aluna(o)s do 3 Ano B, tem uma maior capacidade em se

identificar e contextualizar à Geografia escolar, por meio das estratégias, que devem ser cons-

truídas pela professora ou professor que irá aplicar a proposta, com o intuito de captar um

entendimento mais aprofundado destas definições. Estas, que podem ser mais exploradas e

que, também, foram as que mais deixaram o autor desta monografia com curiosidade para

saber mais sobre o porquê desta definição, são: abuso do ser humano; oportunidade; proble-

mas; desigual; bagunça; desigualdade; desespero e ansiedade; fantasia.

Para tentar desencadear, o entendimento mais aprofundado, com algum tipo de meto-

dologia, o(a) professor(a), deve questionar a si próprio, se estas definições possuem alguma

relação com o espaço geográfico ou se, este, desencadeia estas definições. Será que, o abuso

do ser humano, não está ligado a violação de direitos sociais, não efetivados pela estrutura

espacial de um determinado lugar, como a moradia, alimentação, saúde, saneamento básico,

entre outros? Será que, as oportunidades são iguais para todas e todos no Brasil, devido a de-

sigualdade espacial e de distribuição de renda no país? Desigualdade e desigual foram defini-

ções de duas/dois alunas/alunos, que demonstram uma consciência sobre as disparidades eco-

nômicas e espaciais do espaço geográfico brasileiro. Será que os problemas, da realidade des-

ta(e) aluna(o), são frutos da organização do padrão espacial de seu bairro ou lugar de viven-

cia? A bagunça, vivida na realidade desta(e) aluna(o), poderá possuir alguma relação com a

estrutura de sua moradia e de seu entorno? A manifestação e criação do sentimento de deses-

pero e ansiedade será que não possuem alguma relação com o sistema neoliberal do Estado

brasileiro, que reflete em suas políticas públicas que possuem ações e modificações no espa-

ço?

A palavra fantasia, para descrever a realidade, foi uma das que mais despertou a curio-

sidade e sua investigação, poderia possibilitar o entendimento do porque desta definição.

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Estas perguntas acima devem direcionar o pensamento para a aplicação de uma meto-

dologia que tente captar o entendimento destas definições. E, com este retorno se poderá esta-

belecer e identificar conteúdos que consigam trazer, de fato, para as aulas de Geografia o co-

tidiano das alunas e alunos de uma determinada sala, de uma determinada escola.

Acredita-se, que a maioria dos conteúdos que as definições de realidade das alunas e

alunos poderão proporcionar terão relação com a não efetivação de direitos sociais, devido a

não estruturação da realidade espacial brasileira, em favor das pessoas, de fato, que desenca-

deia o abuso do ser humano, devido à falta de oportunidade e dos problemas desta estrutura

desigual, que reproduz desigualdades múltiplas e com múltiplas dimensões espaciais, gerando

desespero e ansiedade na população, fazendo com que, as pessoas percebam e vivenciem uma

bagunça diária. Milton Santos possui um livro inteiro, que discute estas questões, ou seja, a

não-existência de cidadãos no Brasil, intitulado O Espaço do Cidadão, de 1987.

Em muitos trabalhos científicos, dizem que a utilização da literatura, faz com que as

alunas e alunos usufruem de sua cidadania. A pergunta é qual cidadania? Segundo o território

brasileiro, esta não se faz presente na realidade e, não é o trabalho com a análise de um livro

clássico da literatura, em sua maioria utilizado, que irá efetivá-la. Esta proposta, ao contrário,

tem o intuito de demonstrar, por meio da escrita, com protagonismo das alunas e alunos, que

esta(e)s, tem seus direitos violados cotidianamente e, a Geografia escolar, deve utilizar deste

aspecto para construir o processo de ensino-aprendizagem voltado ao Brasil e seus diversos

lugares, que possuem, um aspecto em comum, a não-existência de cidadãos, muitas vezes,

intencional, fruto da especulação imobiliária, segregação das periferias pobres, desigualdade

da infraestrutura do campo, entre muitos outros fatores.

Portanto, somente esta etapa da escrita ativa, pode desencadear uma estruturação pe-

dagógica, que visa uma maior articulação entre a escrita das alunas e alunos e os conteúdos da

Geografia escolar. No capítulo 4, se tentará fazer o mesmo, mas, com a análise dos escritos

poéticos como um todo.

3.4. O Livro “Pensadores Desconhecidos”

“Um sonho realizado, pode ser uma realidade mudada.”

(frase de um aluno presente no livro)

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O livro, foi editado, organizado e feito pelas próprias mãos do autor desta monografia.

Em seu quarto, com sua impressora e vontade de realizá-lo. O dinheiro para os materiais do

livro, que foram as folhas de sulfite e o papel couche para a capa, são fruto da venda dos li-

vros deste autor. Sendo que, em reuniões e aulas, estes valores, já foram esclarecidos à quem

deveria, que são as alunas e alunos do 3° Ano B da escola escolhida. É, importante esclarecer,

que este “investimento”, não é uma caridade e sim, realização de um sonho do autor editor

deste livro.

Segue abaixo, a imagem da capa do livro “Pensadores Desconhecidos”, desenhada por

um aluno da turma (Figura 4).

Figura 4: Capa do livro “Pensadores Desconhecidos”.

Fonte: Aluno do 3°Ano B, 2019.

A construção do livro possibilitou que, as alunas, os alunos, o professor regente, a pro-

fessora orientadora e o autor desta monografia, vivenciassem momentos e ocupassem espaços,

por meio da literatura. O evento de lançamento na UNIFAL-MG e a Feira Literária de Alfe-

nas, possibilitaram estas oportunidades. Um aspecto, que necessita de explanação, pois, foi

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um dos mais marcantes desta proposta. Foi, quando, para convidar todas as salas da escola,

dois alunos acompanharam o aplicador para realizar esta ação. Vê-los, interpretando, convi-

dando e lidando com irreverência, fazendo o convite às turmas, não sai da memória deste au-

tor e, também, é outro momento impossível de descrever academicamente. A Figura 5, de-

monstra este momento do convite dos alunos à uma turma do 1°Ano do Ensino Médio.

Figura 5: Dois alunos do 3°Ano B, convidando uma sala do 1°Ano do Ensino Médio, para o evento de lança-

mento do livro na UNIFAL-MG.

Fonte: Arquivo pessoal, 2019.

Neste mesmo dia, após o convite feito pelos alunos, na hora do intervalo, o aplicador

desta monografia, foi procurado por seis alunas do 9° do Ensino Fundamental II, para ele,

mostrar onde estava o livro “Pensadores Desconhecidos” na biblioteca da escola, pois neste

dia, foram levados seis livros para ficar na escola e dar a possiblidade das suas/seus agentes

lerem o que foi escrito pela turma. A Figura 6 é o registro desta procura das alunas, que senta-

rem para ler o livro, concentradas e impressionadas ao tocaram e folhearem as páginas do

mesmo.

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Figura 6: Alunas lendo o livro “Pensadores Desconhecidos”.

Fonte: Arquivo pessoal, 2019.

Outro momento, necessário de descrição, foi no dia do evento de lançamento, a qual, o

aplicador foi à escola relembrar a turma do mesmo e tirar algumas dúvidas sobre o local e

confirmar os horários. Ao estar saindo, em direção ao portão de entrada da(o)s professora(e)s,

observou um aluno, no fundo de uma sala do 1° Ano, com a porta aberta, que possibilitava vê-

lo, lendo o livro construído pela turma do 3°Ano B. Estes dois momentos, questionam a ideia

de que a juventude atual não gosta de ler ou não tem interesse pela leitura. Este aluno e as

alunas, mostram que, quem deveria criar situações de aprendizagem relacionadas à arte escri-

ta, está falhando em suas ações. Portanto, é necessário mostrar outra literatura, dessacralizá-la,

como propõe o poeta Sérgio Vaz. E, esta proposta pedagógica foi uma tentativa.

3.5. O Lançamento na UNIFAL-MG

Boa noite à todas e todos!

Para darmos sequência à este poético evento, devemos começar agradecendo à todas as pes-

soas que dão vida ao cotidiano escolar da Escola Estadual Doutor Napoleão Salles. Especial-

mente, ao professor de geografia Tiago Silva, formado pela própria UNIFAL, por confiar e

permitir a atuação em suas aulas.

Hoje, nossos convidados, não são internacionais. Mas, infelizmente, podem ser estrangeiros

neste espaço.

Hoje, nossos convidados, não possuem currículos extensos (ainda), portanto, iremos poupar a

plateia da escuta desse academicismo.

Aliás, hoje...

Hoje! Nem temos convidados!

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Hoje, alunas escritoras e alunos escritores, ocupam a universidade, com literatura, com sua

história de vida, com seus pensamentos, com seus sentimentos, com seus problemas e suas

vontades de superação. E, vocês graduandos, graduados, mestrandos, mestres, doutorandos,

doutores, não esperem que eles peçam licença.

Hoje, o que acontecerá aqui não é “bonito”, “lindo”, “maravilhoso” ou qualquer outro adje-

tivo romântico. Hoje, o que acontecerá aqui, é uma possibilidade, uma tentativa, de efetivar o

direito público e subjetivo à educação.

Hoje, as próprias alunas e alunos, com poesia, lhe mostraram o óbvio. Lhe mostraram, que

conhecê-los apenas como: a menina que só falta, o aluno sem interesse, a aluna respondona, o

aluno desobediente, a aluna da família desestruturada. É vazio e não diz quem eles realmente

são. O problema é de vocês! Porque, são vocês que perdem, em não conhecer

de fato estes jovens. Mas hoje! Vocês terão o privilégio de ouvir, em primeira pessoa, como é ser aluna e aluno no

sistema educacional brasileiro e como é ser um candidato à cidadão no espaço geográfico do

município de Alfenas.

Acho que preciso repetir! Alunas e alunos, hoje, estão aqui para lhe mostrar o óbvio. Lhe mos-

trar, que a escola pública tem arte. Basta, nós enxergarmos!

Hoje! A escola pública que está longe dos seus estudos, de suas notícias e dos orçamentos go-

vernamentais, lhe entrega livros!

E amanhã, o que você irá fazer?

(Texto escrito para a abertura do evento de lançamento do livro na UNIFAL-MG)

Não há como descrever este evento, só quem vivenciou as alunas e alunos se sentindo

à vontade, recitando seus poemas, falando sobre o processo de escrita do mesmo, conversando

sobre suas vidas e respondendo perguntas da plateia, sabe o que ocorreu no evento e tem a

noção do aprendizado que estas escritoras/alunas e escritores/alunos, possibilitaram aos que

estavam presentes.

Mas, dois momentos também necessitam de serem descritos aqui. O primeiro, foi a

retomada da amizade, com um pedido de desculpas, devido à uma briga que eles tiveram. O

pedido de desculpas, foi feito em forma de improviso, rimando sobre o caso. Este momento,

está além da Geografia e da literatura, mas foi possibilitado pela união das duas. A Figura 7, é

o registo deste momento.

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Figura 7: Momento do abraço e retomada da amizade de dois alunos da turma.

Fonte: Felipe Vieira, 2019.

O outro momento foi realizado por uma mãe de uma aluna, ao dizer que, no evento,

conheceu outra filha, pois, em casa, ela é calada e não consegue se expressar. Mais um resul-

tado para além do acadêmico, mostrando que a literatura tem uma função social e pode ajudar

na relação e diálogo entre pessoas que vivem cotidianamente juntas.

Houve também, a cobertura da mídia da UNIFAL-MG, ao evento, resultando em uma

notícia, em que, o link para o acesso é este: https://www.unifal-

mg.edu.br/portal/2019/11/01/pensadores-desconhecidos-e-lancado-em-noite-de-sarau-

livro-e-fruto-de-trabalho-realizado-entre-discente-do-curso-de-geografia-e-estudantes-

de-ensino-medio-da-rede-

publi-

ca/?fbclid=IwAR3L8vgdBfuWTapNHuR27yzzIj5u8B7wkOYkndJ0mNGUDiklo1WjY6z

JcD4

Um veículo de comunicação da cidade, também noticiou a ação, para os interessados

na leitura, este é o link para acesso:

https://alfenashoje.com.br/autoridade/nobre/noticia.asp?id_noticia=18996

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A Figura 8 é o registro das alunas e alunos que compareceram no evento de lançamen-

to:

Figura 8: Imagem de todas e todos aqueles que construíram o livro e o evento de lançamento.

Fonte: Felipe Vieira, 2019.

Este evento foi uma junção entre a pesquisa, o ensino e extensão da UNIFAL-MG

com a escola escolhida para o estudo e aplicação da proposta. O que, demonstra a necessidade

de articulação entre estas dimensões, para que, as pessoas que vivenciam o espaço geográfico

do município de Alfenas, ocupem a universidade presente no mesmo, que, por falta desta arti-

culação, o desconhecimento e interpretação desta população para com a instituição é no senti-

do de não se sentir parte da mesma ou não ter em mente o plano de estudar nela. Sendo este,

um processo construído, a qual, toda a comunidade mas, principalmente, àquelas e aqueles

que estudam a Educação, na academia, devido à função social que esta pode conter, necessi-

tam construir processos baseados nas possibilidades que a UNIFAL-MG pode desencadear.

3.6. A Feira Literária de Alfenas-MG (FLIALFENAS) Edição 2019

(Aluno) - Agora eu tô casado

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(Aluna) - Você é um safado!

(Aluno) – Sou nada! Agora tô casado!

(Aluna) – Sei...

(Autor) – Arrumou ontem depois de recitar os poemas?

(Aluno) – (Risos) Não. Tô falando sério, ESTOU CASADO COM A LITERATURA!!!!

(Aluna) – Ai ai...

(Aluno) – Nossa! Fala a verdade, essa foi profunda, tocou o coração!

Eu só dei risada e ficamos um instante em silêncio... Alguns segundo, na verdade! Ai

este aluno chega perto de mim e diz:

(Aluno) – Falando sério mesmo Tiagão. Antes da gente fazer esse livro eu não lia muito não,

tô começando agora!

(Autor) – Fico muito feliz em ouvir isso! Já pesquisou algum livro? Ou tem vontade de ler

algum?

(Aluno) – Sim.

(Autor) – Qual?

(Aluno) – A Arte da Guerra, Sunt Zu.

(Momento de distração/diversão, enquanto os alunos e eu vendíamos livros na Feira Literá-

ria de Alfenas – MG)

A feira do livro do município de Alfenas-MG, além da apresentação das alunas e alu-

nos (Figura 9) na praça central da cidade, possibilitou que elas e eles interagissem com pesso-

as desconhecidas, aprendendo e ensinando com sua história de vida e formas de expressão.

Foram feitas troca de livros com escritoras e escritores que estavam presentes e se dis-

puseram a realizá-la. Assim, as alunas e alunos voltaram com livros para casa, tendo uma

oportunidade de ter contato com outras literaturas.

Todos os livros foram vendidos, o que, deixou os responsáveis por sua construção,

felizes. Pois, a turma, tinha dúvida se iriam conseguir vender ou se as pessoas iriam se inte-

ressar pelo que elas e eles escreveram.

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Figura 9: Momento de apresentação do livro “Pensadores Desconhecidos” na Feira Literária de Alfenas-MG.

Fonte: Arquivo pessoal, 2019.

Portanto, o evento de lançamento e a participação na feira de livros, foram espaços

educacionais fora da sala de aula, possibilitando aprendizados e um convívio mais próximo,

do autor desta monografia e as escritoras e escritores do livro, que construíram juntos. Além,

de fazer com que, as alunas e alunos, vivenciassem a ocupação da praça central, o que, é uma

transformação geográfica, no sentido de possibilitar a ocupação de um espaço segregado

àqueles que moram nas periferias e, também, construir uma nova interpretação sobre aquele

lugar, mostrando que a ocupação do mesmo, é possível e é um direito à ser exercido. Se este,

for com a arte, terá múltiplos resultados, pois, ela contém um poder de compartilhamento difí-

cil de encontrar em outra atividade humana.

3.7. Confraternização do Livro “Pensadores Desconhecidos”

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A venda dos livros possibilitou a arrecadação de uma quantia em dinheiro, que resul-

tou numa confraternização entre a turma, na própria sala de aula. Foram comprados 200 sal-

gados e 3 refrigerantes com este dinheiro. Sendo, um momento de despedida da turma, que

emocionou muito o aplicador desta proposta pedagógica, pois, esta turma, seus escritos poéti-

cos, as histórias de vida e formas de ser, o marcaram e construíram um aprendizado essencial

para sua formação profissional como professor de Geografia. Acredita-se, que estas e estes

jovens tem um potencial para serem, futuramente, conhecidos por meio da arte.

Assim, mesmo com a despedida da turma, em que se tem a compreensão que sua uni-

ão será dificultosa, devido ao término do Ensino Médio e as necessidades que a vida lhes im-

põe e oportuniza, a intenção não é parar com as atividades relacionadas ao livro construído.

Sendo que, algumas/alguns integrantes da turma demonstraram a vontade de participarmos ou

criarmos eventos para elas e eles se manifestarem. E esta vontade evidencia que as alunas e

alunos, estão cansadas e cansados do básico e, por lidaram com ele cotidianamente, sabem o

valor que o sistema educacional e o Estado brasileiro deposita nas pessoas com as mesmas

características delas e deles e ao pensarem e se manifestarem com a arte desafiam as estrutu-

ras destes sistemas.

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4. OS ESCRITOS POÉTICOS DAS ALUNAS ESCRITORAS E ALUNOS ESCRITO-

RES DO 3°ANO B

Se está cansado do que o mundo te oferece

Solte a imaginação, para que você floresça

Pois se Deus te dá a caneta, transforme em poesia

Com a mente livre, irá enxergar o mundo que não via

Não tenha medo do que vier, quer um incentivo?

Busque algo para satisfazer seu interior, num modo bem ativo.

(trecho de um escrito poético do livro “Pensadores Desconhecidos”)

Este capítulo é, sobre os escritos poéticos contidos no livro “Pensadores Desconheci-

dos”, produzidos pelas alunas e alunos da turma do 3°Ano B, da escola escolhida. O qual, é

resultado da busca, por meio destes escritos, da captação da perspectiva e/ou interpretação

da(o)s aluna(o)s sobre a Geografia e da tentativa de perceber a capacidade pedagógica para a

Geografia escolar, visando sua utilização, para ser o primeiro passo na construção de situa-

ções de aprendizagem, que utilizem de fato a realidade da(o)s integrantes de uma turma, na

estruturação de um processo de ensino-aprendizagem.

O primeiro tópico, sobre a captação da interpretação da turma, foi possibilitado pela

aplicação da Aula 8, já estruturada no capítulo anterior. Esta aconteceu na biblioteca da esco-

la, a qual foi realizada o processo de captação com o intuito de tentar entender qual é a per-

cepção de Geografia, entre a turma. Sendo que, as respostas das alunas e alunos podem servir

para a desconstrução de sua visão ou utilização da mesma, para efetivar a dimensão geográfi-

ca da realidade.

O tópico 4.2, tenta estabelecer a capacidade pedagógica e geográfica dos escritos poé-

ticos das alunas e alunos. Sua ação, foi feita, com a busca de atingir um olhar de professor(a)

que aplicou esta proposta e tem estes escritos para possível utilização, podendo servir como

ponto de partida, para esta(e), perceber os temas e conteúdos que a Geografia escolar pode

abordar e construir suas aulas com os mesmos.

Este processo, de identificação da Geografia nos escritos das alunas e alunos, também

tem o objetivo de evidenciar a percepção das/dos mesmas/mesmos sobre a realidade que vi-

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vem e sobre sua vida, demonstrando que, elas e eles, vivenciam a Geografia em seu cotidiano,

mesmo não à percebendo e entendendo toda a lógica de organização do espaço geográfico,

mas que, seus escritos são a possibilidade de demonstrar ao seu professor(a) regente esta jun-

ção e esta(e), utilizar a Geografia escolar para construir um conhecimento de mundo que, es-

tas e estes, não viam ou não tinham contato com ele sistematizado por meio de alguma ciência

presente no Ensino Básico.

4.1. Percepção das Alunas e Alunos sobre a Geografia em seus Escritos Poéticos

As respostas foram variadas e, cada uma, pode demonstrar quais aspectos da Geogra-

fia escolar, as alunas e alunos, tem construídos em seu pensamento sobre esta disciplina. Sen-

do que, suas respostas, se relacionam com o processo de ensino-aprendizagem de Geografia

que, estas e estes, tiveram ao longo de seu percurso escolar. Ou seja, elas se constituem como

um diagnóstico deste processo, podendo servir como ponto de partida, para desconstruções

sobre a dimensão da ciência geográfica.

A análise das percepções, trará algumas falas que permitem o entendimento das mes-

mas ou às evidenciam, junto à algumas considerações ou reflexões despertada por elas. As-

sim, segue a tentativa de análise:

Uma parte das alunas e alunos, disseram que não sabiam responder e outra(o)s, não

quiseram falar. Alguns, disseram que sim, havia Geografia em seu poema, mas, ao serem

questionados, para melhor captação de sua interpretação, não desenvolviam a resposta e tam-

bém, diziam: “Aah, Num sei”. Isto pode-se constituir como um recorte de uma processo de

ensino-aprendizagem, que não foi significativo à estas e estes, ao ponto de não conseguirem

fazer uma reflexão sobre a Geografia e suas dimensões ou, estas alunas e alunos, somente não

queriam se pronunciar no dia.

Quatro alunas/alunos, disseram que existe Geografia em seu escrito poético, por cita-

rem a palavra mundo, no mesmo. Um exemplo é esta fala de um aluno, ao recitar um trecho

de seu escrito: “Mundo óóó, aqui, cita o mundo”. Demonstrando que, na visão deste, para a

Geografia estar contida em seu texto, necessitaria citar algum aspecto que foi estudado por

ele, ao longo de seu contato com a Geografia escolar.

Outro aluno, também, relaciona a presença da Geografia à citação de uma palavra,

sendo ela, chão. Ao ser questionado sobre esta resposta, ele diz que, “é porque só nessa parte

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aparece, porque demonstra uma medida, a medida de um lugar”. Esta resposta traz a dimen-

são da necessidade de localização com certa delimitação de um espaço, em relação à Geogra-

fia. Esta, é uma dimensão essencial, mas só ela, não constitui a complexidade e poder de atua-

ção e função desta ciência.

Outra fala, que se relaciona com a analisada acima, foi esta: “acho que tem Geografia,

porque minha história se passa num percurso, sai de um ponto e fui pra outro ponto e é nele

que minha história se passa”. Este traz a noção da distância, percorrida de certa localização

para outra, o que, esta ideia também é importante para a o conhecimento das alunas e alunos,

porém, é necessário o estudo das caraterísticas e contradições espaciais presentes neste per-

curso e suas influências e impactos na vida das pessoas.

Uma aluna e um aluno, disseram que seu escrito poético, falava sobre a sociedade e,

por isso, continha Geografia no mesmo. Mas, a Geografia que ela e ele disseram, contém um

adjetivo, falaram que, por escreverem sobre a sociedade, seu escrito fazia parte de uma “Geo-

grafia Social”. O que, pode ser um resultado do ensino desta ciência de forma fragmentada,

na universidade, que cria docentes com esta lógica da divisão das chamadas Geografia Física

e Geografia Humana (em muitos casos, quando se coloca estas duas definições fragmentas,

elas aparecem divididas com um X ou versus, trazendo a ideia de embate entre as duas) e,

também, em materiais didáticos que dividem estas duas dimensões reproduzidas na universi-

dade em seus diversos conteúdos. E, como foi discutido no capítulo 2 desta monografia, nas

aulas de Geografia do professor regente da turma do 3°Ano B, somente o livro didático é uti-

lizado, como criação, ou melhor, acomodação da criação, nas situações de aprendizagem.

Um aluno, em sua resposta, disse que, em seu escrito a Geografia estava sim presente,

pois, “eu falo do lugar de onde eu venho”. Esta fala traz a concepção fenomenológica desta

ciência, por meio, da interpretação e percepção de uma dada população, de um determinado

lugar e suas múltiplas possibilidades de ênfase em uma análise. Assim, esta resposta, pode ser

usada para a/o professora/professor, criar situações de aprendizagem com esta dimensão, pois,

ela é, um aspecto essencial para o conhecimento geográfico.

Outro aluno traz em sua resposta, os diversos impactos ambientais e sociais, sendo

que, estes constituem a realidade espacial brasileira e mundial, ou seja, é um aspecto do tem-

po histórico atual, que “grita ao olhos” no noticiário e no cotidiano das pessoas. A fala do

aluno é esta: “ Tem sim, porque eu falo de como o ser humano estraga ele mesmo e o planeta,

de como ele trata o planeta”.

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Para finalizar esta análise, é evidenciado a resposta de uma aluna (a mesma que inter-

feriu na Aula 2, com intensidade na voz, ao falar sobre a existência de Geografia nos textos

selecionados para a Aula 1), que disse: “Claro que tem, o de todo mundo tem Geografia, até

um livro, o papel que agente faz, vem da natureza. A gente, onde a gente vive? Na natureza.”.

Esta resposta contempla o processo produtivo de objetos utilizados no cotidiano e sua dimen-

são espacial, desde a retirada da matéria prima até o produto final, no caso desta aluna, é o

próprio livro escrito pela sua turma, que estava em suas mãos ao dar sua resposta. Outra fala,

que se relaciona à esta, foi de um aluno, o qual, disse que, a única coisa que continha de Geo-

grafia em seu escrito, foi o grafite do lápis que ele utilizou para escrever, trazendo a ideia de

outro objeto com dimensão geográfica.

Portanto, estas respostas, são um diagnóstico da efetividade da Geografia escolar na

vida das alunas e alunos desta turma. Demonstrando que, mesmo o ensino desta ciência na

escola, sendo feito de forma tradicional, ele cria interpretações e percepções essenciais para a

vida e conhecimento das alunas e alunos, por isso a importância e necessidade da Geografia

ser uma disciplina curricular para o Ensino Básico. Assim, estas respostas demonstram que os

responsáveis pela reforma do ensino médio são ignorantes educacionais, e também evidencia

as intencionalidades de empobrecer o ensino público brasileiro.

4.2. A Capacidade Pedagógica para a Geografia dos Escritos Poéticos

Antes da análise, é necessário explanar sobre a concepção do autor sobre a mesma. A

tentativa de realizá-la, por este, é apenas uma interpretação das múltiplas que podem ser fei-

tas, de acordo com o conhecimento da ciência geográfica adquirida por alguém ao longo de

sua formação. Assim, esta, conterá uma visão sobre os escritos poéticos, de acordo com as

ignorâncias do autor desta monografia e seu início de trajetória no fazer-aprender da Geogra-

fia no cotidiano escolar. Além disso, se tem a concepção de que, nenhuma interpretação ou

análise conseguirá traduzir ou explicar o conteúdo social, humano, geográfico e artístico dos

escritos poéticos das alunas e alunos do 3°Ano B. Por isso, a leitura do livro “Pensadores

Desconhecidos”, é indispensável para a formação individual e coletiva de todas e todos.

Após esta consideração, é pertinente relacionar este tópico às ideias de CAVALCAN-

TI (2010), utilizadas no capítulo anterior, ao referenciá-la para efetivar a utilização de “lin-

guagens alternativas”, no caso a literatura, na tentativa de criar situações de aprendizagem que

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contemplem a função da Geografia Crítica e sua possível presença no ensino desta ciência na

escola. Esta autora, ao discorrer sobre estas “linguagens alternativas” no cotidiano escolar, por

meio de suas pesquisas, percebe

que os professores têm incluído em suas aulas textos de internet, letras de música,

principalmente o rap, livros literários, vídeos com filmes ou programas de televisão.

No entanto, as atividades ainda precisam estar mais incorporadas ao cotidiano das au-

las e trabalhadas de modo articulado ao conteúdo, como formas de expressão do con-

teúdo, como mediação para a construção do saber sistematizado, e não como algo que

foge ao cotidiano ou como ilustração de temas. (CAVALCANTI, p. 10, 2010, grifos

do autor)

Ao analisar e efetivar a capacidade geográfica dos escritos poéticos, evidenciando que

sua utilização é possível e contempla as características do espaço geográfico do presente, vis-

lumbra-se, uma maior articulação da literatura com a Geografia, por meio do protagonismo

das alunas e alunos, para além de uma descrição da paisagem contida em um dado livro de um

autor clássico ou não, pois isto é a Geografia Tradicional “mascarada” com uso de “ferramen-

tas pedagógicas novas”. E, também, o protagonismo na escrita, em que, a turma escreve sobre

sua vida, permite a professora ou professor regente da turma, um maior conhecimento sobre a

vida das alunas e alunos, os problemas que enfrentam, suas vontades, a realidade em que vi-

vem, entre outros fatores, o que, facilita o entendimento do mesmo, sobre aquelas e aqueles,

que dão sentido e significado ao seu trabalho profissional.

Como já foi dito no capítulo anterior, a Aula 9, foi um fechamento das atividades pe-

dagógicas desta proposta, na estrutura de aula. Em que, esta, se realizou na biblioteca da esco-

la após a aula de captação das interpretações das alunas e alunos sobre a presença da Geogra-

fia em seus escritos (Aula 8). Sua preparação foi feita e se realizou como uma aula de expla-

nação do aplicador sobre a sua identificação da Geografia nos escritos da turma. Este, utilizou

o livro de Milton Santos, intitulado “Por uma outra Globalização: do pensamento único à

consciência universal”, como aporte teórico para contextualizar o espaço geográfico atual e a

“globalização perversa” (SANTOS 2000), que estrutura a organização deste espaço, sendo, a

principal causa das contradições espaciais do mesmo, já que, este livro é “uma reflexão inde-

pendente sobre nosso tempo, um pensamento sobre os seus fundamentos materiais e políticos,

uma vontade de explicar os problemas e dores do mundo atual.” (SANTOS, p.11, 2000). Pro-

blemas e dores, que as alunas e alunos vivem e que, também estão presentes em seus escritos,

mesmo, estas e estes, não sabendo definir o que é globalização, neoliberalismo e capitalismo.

Assim, esta preparação e contextualização para a Aula 9 será utilizada para construir

uma análise em forma de texto, e também se analisará os escritos de forma individual ou por

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temas relacionados (àqueles que na visão do autor desta monografia, possuem uma capacida-

de geográfica). Sendo que, os escritos poéticos, seguem logo abaixo, pois, a escolha de colo-

cá-los aqui, se deve a facilidade de análise e leitura da(o)s interessada(o)s nesta monografia,

com os mesmos expostos no tópico. Os escritos foram enumerados (e por eles serão referenci-

ados na análise), em que, foram retirados os nomes das escritoras e escritores, contendo a fra-

se, o escrito e a apresentação de cada uma/um.

1.

Algum dia serei liberta deste mundo de fantasias.

Como o palhaço no circo. A plateia se agita, em meio à risadas e palmas, chegou sua

hora.

Você deve entretê-los, enfeite-se e planeje bem o seu espetáculo, este agora é o seu fu-

turo. Viva em nossa função.

Um circo colorido, enfeitado com os sonhos roubados, dome a música, siga o ritmo de

nossos desejos. Não acha divertido pequeno palhaço? Caia e se machuque para nossa diver-

são, sua humilhação nos satisfaz.

Curta conosco o seu show, se entregue para nós e tudo será melhor, afinal não há co-

mo fugir desse circo por longos anos. Sua única opção é encerrar sua apresentação mais cedo.

Mas, sabemos onde isso o levará, não é, querido palhacinho?

Eu não conheço nenhum lugar onde eu possa me esconder.

2.

Fazer o que quer, realizar o que quer, é buscar admiração por si próprio, onde, fazendo isso,

traz alegria e um sorriso sincero. Onde seus sonhos não venham a lhe desesperar, onde a

ansiedade não venha te atrapalhar, que seja feito no seu tempo.

É difícil conviver em uma sociedade

onde a maioria das pessoas só sabem julgar

onde, hoje em dia, para receber amor

você precisa implorar.

É difícil compreender o ser humano, as coisas,

os momentos que a vida nos mostra

onde tudo nos faz acreditar que, para viver

tudo parece mais uma aposta.

Aposta no amor, aposta na amizade,

aposta no emprego, sem percebermos que

lá no fundo, isso nos gera medo.

Não são só as coisas materiais que nos dão felicidade

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quando na real, a felicidade

é ter intimidade com quem gostamos de verdade.

Na maior parte do dia, só estamos cansados

cansados do emprego, cansados da escola, cansados da

carga que sobrecarrega nosso físico e nosso psicológico

quando na verdade, só queremos nos sentir amados.

Finalizar o dia bem com nós mesmos, já é uma vitória

você começa o dia se preparando para outra guerra

e termina esperando pela glória.

Meu nome é X, moro no município de Alfenas, em MG. Gosto de ouvir músicas, escrever al-

gumas músicas e conversar com meus amigos.

3.

Um sonho realizado, pode ser uma realidade mudada

TEMPO

Hoje posso estar triste

Amanhã, me alegrar

Hoje estou vivo

Amanhã, talvez, possa nem acordar

Hoje tenho obrigações

E amanhã, será que terei as mesmas intenções?

Hoje posso estar sorridente

Amanhã, talvez, possa estar descontente

Hoje pode ser um passado

Amanhã, uma realidade que poderá ser mudada

O que tivermos que fazer hoje, devemos fazer,

pois amanhã pode ser tarde, até para se arrepender

O tempo sempre estará à andar

Nunca irá parar pra você pensar.

4.

Que o medo de falhar nunca supere a vontade de conseguir.

Não é nossa condição, mas a índole da nossa alma que nos torna felizes.

Que o amor te convença

Que a saudade te atenta

O amor é como o fogo

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Que arde sem se ver.

X, Escola X. Gosto de jogar handebol e futsal.

5.

Gratidão por tudo que meus pais me ajudaram, agora com a minha ambição, vou buscar

meus sonhos.

VIVENDO OU EXISTINDO

Todos nós, passamos uma boa parte da vida, pensando o que estamos fazendo com

nossas vidas. Se estamos vivendo ou apenas existindo. Se estamos vivendo tudo o que há de

melhor, sem se preocupar com as consequências ou, apenas existindo para estudar e trabalhar.

X, tenho 18 anos, sou da Escola X, do 3° Ano.

6.

Você pode pensar na felicidade, mas pode ver a dificuldade.

Me chamo X, estou com 17 anos, tenho um filho de 1 ano e 8 meses. Fui mãe aos 16.

Foi difícil! Meus pais não aceitaram no começo, meu pai ficou umas 2 semanas sem conver-

sar comigo, minha mãe e meu irmão choraram muito. Mas, depois aceitaram. Os pais do meu

namorado, ficaram com medo deles me colocarem pra rua, então, chamaram o conselho tute-

lar e as coisas pioraram mais ainda. Meu pai ficou mais bravo, minha mãe só chorando e eu,

com medo, sem saber de nada, porque era nova...

Mas, as coisas foram mudando e começaram a dar tudo certo. Minha gravidez estava

indo muito bem, meus pais voltaram a conversar comigo...

Até chegar Dezembro! Senti uma dor muito forte, fui pro hospital. Chegando lá, a mo-

ça me deu a notícia que meu filho estava nascendo. Fiquei muito assustada, porque estava só

com 6 meses e fiquei com medo de perde-lo, ele era muito pequeno...

Mas, pedi pra Deus me ajudar e deu tudo certo! Meu filho ficou 3 meses e 3 dias no

hospital, se recuperando. Foi triste, mas Deus deu muita força pra ele vencer.

Hoje, ele está uma criança maravilhosa, um menino forte, nem parece prematuro. Ele

me dá muita alegria, muita força pra viver a vida.

Hoje, estou terminando o estudo, ano que vem, faço uma faculdade e quero trabalhar

pra dar uma vida maravilhosa pra ele.

Essa é uma história muito marcante na minha vida, amo contar para as pessoas!

Me chamo X, tenho 17 anos. Gosto de dormir e moro em Alfenas.

7.

O futuro vai ser sempre incerto se continuar nesta mesmice.

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Poderíamos ter conquistado o mundo juntos

Mas, você preferiu se exilar com seus sentimentos

Nada poderia nos parar

Você era minha religião

A cada dia que passava, éramos jovens e apaixonados

Não poderíamos imaginar o tamanho desta queda

Quando você decidiu desistir em nosso ápice.

O gosto, o toque, a maneira de como amávamos

Eu era uma estrela que queimava através de você

Agora essa estrela, que era milenar

Não passa de um grande buraco negro no centro de minha alma.

Nascido em uma pequena cidade, mas com grandes sonhos tolos. Um jovem apaixonado pelo

destino que ele mesmo traçou em sua cabeça, com um espírito vintage. Saberia ele mesmo, se

esse caminho traçado por ele, é o certo à ser seguido? Ou mais para frente, em sua vida, ele

deixaria ser carregado pela correnteza do destino até a sua queda livre?

8.

Nunca desista dos seus sonhos! Não seja fotografias, seja realidade.

Bom, era pra ser um poema, ou um texto sobre algo bom, não que o conteúdo será

ruim. Então, não é basicamente uma coisa que criei, que irei escrever, mas sim uma história

de uma amiga, resumidamente, que me inspirou. Não citarei nomes, nem idade reais.

Alice, 17 anos, está cursando o 3° Ano do ensino Médio. Bom, ela é uma menina in-

crível, uma garotinha sentimental, a estranha da sala, a que mais falta do que marca presença.

Então como ela é tudo isso, se nem se quer tá afim de estudar? Alice sempre foi a estranha e

mais quieta da sala, ela era ignorada pela maioria, só que a maioria nunca soube do que ela já

passou ou está passando. Ela odeia trabalho em grupo, porque à excluem, mas tem um porém

nessa história, “ela nunca desistiu”, voltou à ir pra aula, tá se doando ao máximo, mesmo sen-

do difícil.

Bom, Alice, sempre foi e sempre será uma menina doce pra mim, a menininha que

sempre me deu a mão quando mais precisei, mas quando ela me deu as mãos, vi marcas em

seus braços e em outras partes do corpo também tinham. Puts, eram cortes? Sim, ela fez isso!

Eu, somente eu, tô ajudando ela à não entrar em uma bela depressão, por que ela tem a droga

de uma ansiedade. Enfim, independente disso tudo, ela tem à mim.

Sempre lembre-se “VOCÊ NÃO ESTÁ SÓ”.

9.

Através da determinação conseguimos superar dificuldades, que para o mundo, seriam im-

possíveis.

Ei você, agora pare e me escute

Vou te dar motivos pra seguir em frente

Um frio que toca a alma, é hora de mudar

Com seus olhos para frente, nova chance de recomeçar

Cuidado com suas escolhas, não entre em desespero

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Pai, a principal felicidade não se compra com dinheiro.

Se está cansado do que o mundo te oferece

Solte a imaginação, para que você floresça

Pois se Deus te dá a caneta, transforme em poesia

Com a mente livre, irá enxergar o mundo que não via

Não tenha medo do que vier, quer um incentivo?

Busque algo para satisfazer seu interior, num modo bem ativo.

Essa criatividade que está presa em você

Solte, seja forte, corajoso, não precisa temer

Tantas coisas limitadas, e a liberdade toda liberta

E te faço a pergunta:

- “Será que a gente utiliza de forma certa?”

Seja o que você quer ser

Não importa o que vão dizer

Acredite em você

Levante, mude, vamos para a ação

Você não irá longe, se não tiver determinação

Assim como essa letra de música:

“Começo pode ser final, final pode ser começo,

A escolha de um sonho, claro que vai ter um preço”.

Eu sou X, tenho 18 anos e venho nesse livro, chamar a atenção das pessoas em relação aos

sonhos difíceis que muitas pensam em desistir. Uma forma de incentivar e dar coragem àque-

les que precisam de um apoio.

10.

Na dificuldade da vida, não me faltará motivação para continuar.

Na vida tudo é passageiro

O amor, guardei no bagageiro

Quero tudo que seja verdadeiro

Quero que seja intenso

Quero que seja insano

Que todos os sonhos,

se repitam por anos

Tudo que venha ter passado

É meio aprendizado

Se um dia não der certo

Valeu a pena por ter tentado

Confie, acredite e persista

A meta é nunca desistir

O caminho, perseguir

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Tenho fé que irei conseguir.

Sou X, tenho 17 anos. Moro em uma periferia de Alfenas.

11.

A fé é um sentimento difícil e complicado nos dias de hoje.

MELANCOLIA

No dia triste, na noite feliz

me pego sozinho

no calabouço dos meus pensamentos

a ansiedade em todos os momentos

a tristeza eminente

nem percebo que estou doente

“acordava”, existia...

não sentia alegria

o que mais sentia

era a saudade da felicidade

mal me lembrava dos curtos momentos que sorria...

quando percebi

a minha vida era uma melancolia.

Sem cor, sem sabor

sem ânimo e sem motivo sequer

de sentir vontade de viver

eu estava no chão

no auge da depressão.

Olá, meu nome é X, tenho 17 anos, sou de Alfenas-MG, mais especificamente do Jardim Pri-

mavera. “As únicas pessoas tristes são aquelas infelizes” (Tiririca).

12.

Para conseguir realizar meus sonhos, terei que ter determinação, mesmo passando por muita

dificuldade no caminho.

VIDA

Como explicar algo que não há explicações?

Vocês podem não saber, mas tenho minhas razões

Essa palavra eu sei muito bem definir

Pois é dentro de quadra que passo à existir.

Mais forte, feliz, entusiasmada!

Em um jogo que tudo passa em questão de segundos!

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Não sei como, nem quando um esporte tão simples passou à ser meu mundo!!!

Uma batalha que não acabará até a bola tocar no chão

Onde, um segundo distraído, pode se tornar um ponto à mais ao adversário

Não dá pra explicar ao certo a emoção.

A vibração do exato momento em que o oponente é falho

Em que sua equipe vibra ao som do apito do juiz

Indicado um ponto à mais

Ponto pro meu time, ponto que eu fiz!!!

Posso dizer com total clareza que em quadra encontrei um novo lar

Uma nova família

Algo por quem quero muito batalhar

Para jogar mais e mais, e mais uma partida.

Buscar com garra cada bola perdida

Não desistir, sempre buscar a vitória

Até o último ponto!

Sei que isso é apenas um poema, um simples conto

Mas cada palavra escrita, é uma aflita confissão

De uma atleta apaixonada pela profissão.

14.

Sempre que sonhamos em fazer algo, mais cedo ou mais tarde, o problema pode vir para ten-

tar nos derrubar.

Domingo de manhã, esta semana começou. Eu acordei por volta de umas 9 da manhã,

lavei a cara, fiz um café e fui deitar no sofá com 0% de ânimo. Primeiro pensei em jogar um

game, mas optei em ir para o face. E em um entra e sai de páginas, já eram 11 horas. Foi

quando minha mãe falou:

- “Wander, bem que você poderia ir comprar uma marmita.”

Peguei o cartão e fui, era coisa rápida, vai e volta. Mas, no meio desse caminho, sozi-

nho, é quando as coisas começam a complicar. Porque é o momento em que fica só você e a

coisa mais perigosa para o homem, sua própria mente. Um espaço onde você coloca as coisas

que não quer que ninguém saiba: sonhos e medos, esperanças e frustações, é como dizia Bo-

jack da animação Bojack Horseman – “tem umas paranoias sem sentido, que surgem do nada,

com o poder de acabar com o meu dia”. Porque a nossa mente, é a única coisa que pode nos

destruir e não adianta tentar fugir, pois aonde você for, ela estará com você, para tirar sua paz.

Depois de passar por tudo isso, eu comprei e voltei para casa. Comi e fui jogar PS2,

joguei das 1:00 às 5;30 da tarde. Fui tomar banho para ir à igreja, sem ser perturbado pela

minha mente, que está à espera para tentar me colocar para baixo e me preocupar com pro-

blemas.

Mas, para que se preocupar, a vida é curta e rápida. Nós temos que fazer o que qui-

sermos, porque, mais tarde, pode não dar mais tempo para fazermos algo.

Me chamo X, tenho 18 anos. Gosto de jogar vídeo game, assistir anime, ler mangás e dese-

nhar

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15.

Os sonhos loucos, vão sempre na contra mão da desigualdade diária

Ajudar, socorrer, auxiliar

Sinônimos do verbo amar

Pois só ajuda, quem ama

Só socorre, quem quer ver o outro bem

Só auxilia, quem de bom coração,

sempre será pronto à amar,

sem ao menos, conhecer quem padece.

Padece de fome, frio ou de alguma doença

Padece de um abraço ou de uma palavra de motivação

Amar, quem, em um grito silencioso, pede ajuda

Em um desespero calmo suplica, por socorro

Um coração escondido bate acelerado,

à procura de quem o auxilie.

O que estamos fazendo por essas almas?

Que dividem o mesmo espaço,

o mesmo ar que respiramos,

que esbarramos pelas ruas

ou vemos em uma publicação, nas redes sociais

Nem sempre será um estranho,

ás vezes, é quem está do nosso lado,

calado ou rindo alto, mas com o coração amargurado,

procurando quem ao menos lhe dê um abraço.

Que possamos ser cada dia mais sensíveis

Para ajudar, socorrer e auxiliar

Enfim, amar quem ao nosso redor está

Amar ao próximo!

Vamos parar de falar e publicar

E começar à agir e praticar.

Meu nome é X, tenho 17 anos. E eu acredito que com pequenas atitudes, juntos, podemos

mudar o mundo, nem que seja 1%.

16.

Seja feliz, mesmo com as brigas e as tristezas.

Tudo na vida se passa,

mesmo com os olhos fechados,

com as tristezas e as mágoas.

Mas, mesmo sentindo dor no coração,

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o tempo vai curando,

de um modo que você nem percebe,

e logo vê que já está ótima da perda,

para seguir sua vida e pensar coisas boas,

que viveu com aquela pessoa.

Meu nome é X, tenho 17 anos, moro na cidade de Alfenas, no bairro Jardim Primavera.

17.

Em todos sonhos, tem grandes curiosidades e toda realidade, tem tristeza e compaixão.

Meus sonhos! Terminar a escola, fazer faculdade do curso que eu tanto amo, que é

Cyber Security. Entrar na defesa cibernética do exército brasileiro ou em qualquer “grande”

empresa, tais como a Microsoft, NASA e etc...

Queria poder ter esse sonho realizado!

Se eu conseguir entrar para o exército brasileiro, irei entrar na famosa guerra virtual.

Irei defender e procurar bandidos que vendem crianças, os pedófilos, os que estão camuflando

site de igreja como ponto de drogas e os que matam para ganhar dinheiro e visualização.

Sim! Porque o mais perigoso, é a guerra que não é anunciada.

Muitos pensam – “o que será isso?” – e logo quando se explica, falam: “Áh, é só ficar

de boa em casa ou na empresa sentado, mexendo no “PC”. Sim, para eles pode até parecer

fácil e ser um trabalho não cansável. Mas a realidade, é que será muito difícil e perigoso, pois

é necessário que alguém investigue o suspeito que matou ou roubou certa pessoa, aquele polí-

tico que está desviando dinheiro.

E isso, é o começo da guerra cibernética.

Me chamo X, tenho 19 anos e o texto diz quais são meus sonhos e onde quero chegar com

eles. Isso mostra que eu amo ficar mexendo no PC.

18.

Com determinação não há dificuldade que prevaleça.

“Que nada nos defina

Que nada nos sujeite

Que a liberdade seja a nossa própria substância

Já que viver é ser livre.”

Procuro sempre me inspirar nessa frase. Depois de viver certas coisas na minha vida, desco-

bri que minha liberdade e minha saúde mental valem bem mais que qualquer coisa. Meu no-

me é X, eu tenho 18 anos.

19.

Sou grato pelo dom que me foi dado, pois, na alegria encontrei conforto, porém, na tristeza

fui moldado.

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SAPIENS NON SALUTARE

Todo mundo se engana

É o que eu penso todo final de semana

Sexta, sábado e domingo

Nunca se tem certeza de quem peregrinará comigo

Sendo não, pois, nunca pior viajar com um desconhecido,

É divino como sempre nos tornarmos amigos.

Eu não sei, não importa o que aconteça,

Algo sempre me deixara com dores de cabeça

Sendo como uma roda da sorte

Onde o pior prêmio pode ser a morte.

São complexas tais coisas, tais coisas da vida

Porém sigo meu instinto e não há quem me proíba.

Hora presente, hora futura

Experiências vem do passado e a história se mistura

Suplico: - Ó Deus, venha em meu socorro!

Agradeço, porque ele sempre vem, antes que eu fique louco

Olho no espelho e sigo em frente

Me deparo com a história presente

Decepciono-me e fico com expressão de choro

É a mesma de antes, porém, com um pouco de elaboro.

Nesse cenário me mantenho otimista

Pois não altera a realidade o realista

Assim, continuarei seguindo o instinto

Não negarei a mim mesmo, nem o que sinto

Então, seguirei aguentando

Até a hora em que não estiver mais suportando

Enxergo isso como um propósito e ás vezes dói

Porém, nunca prometi para ninguém que seria um herói

Ser simplesmente humano, muita vontade, muito engano

Apesar que desde sempre eu soube levar a vida

Acho que não vai ser agora que perderei estriba

Este poema é um reflexo da fase atual de minha vida, do meu relacionamento amoroso, po-

rém, de uma visão otimista, como especifico no próprio poema. Na forma de reflexão poética,

encontrei o conforto que necessitei nas horas mais difíceis que passei e espero compartilhar

esta experiência com vocês, caros leitores, para que possam refletir um pouco, assim como

eu. Me chamo X, estou cursando o 3° do Ensino Médio e tenho 17 anos, o título do poema

está em latim e significa “Sabedoria não Salva”, o que valoriza as experiências e a maneira

simples de levar a vida, outra crítica a mim mesmo, por ser tão complexo e perfeccionista

com tudo. Enfim, lhe desejo, caro leitor, que se deleite em si próprio e que este poema seja

um espelho para sua autorreflexão.

20.

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125

Conseguir o que você deseja, é a recompensa de ter enfrentado seus problemas.

Ultimamente, é a palavra “foda-se” que eu estou usando

Sempre acompanhado dos meus manos, sozinho nunca estou.

Mas sempre me deparo, se perguntando quem eu sou

Muitos vem à mim, pedindo conselhos

Mal eles sabem que eu preciso de um apelo emocional.

Sempre tudo é tão enjoativo pra mim,

ás vezes penso que nunca vai ter fim.

Amo música igual água, ambas,

eu preciso consumir diariamente.

Meu nome é X. Eu nasci na cidade de Ilhéus, localizado na Bahia. Vim para Alfenas aos 2

anos e moro aqui desde então. Vivo no bairro Vista Grande, um bairro bonito, tranquilo e

por fim, pacífico.

21.

A dificuldade irá vir a qualquer momento, mas não irá atrapalhar minha felicidade.

Os meus sonhos, são capazes de enfrentar qualquer barreira

Independente de qualquer situação

O amor é uma forma de expressar carinho e afeto

O amor nos ajuda na dificuldade ou em qualquer situação

O amor é uma coisa linda, que sempre será vivido no nosso mundão.

22.

A sua felicidade, pode estar no fim da sua dificuldade, não desista!!

A REALIDADE

A realidade

Escondida em meio às pessoas

Em meio aos sonhos

E nesse texto, venho compondo

Vivemos nessa realidade

Em um mundo de muita morte

E pouca sagacidade

Pessoas se perdendo,

se escondendo, sofrendo

Injetando em si, seu próprio veneno

Veneno que às mata,

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devagar, sem pressa

Vai descendo a ladeira

Mais um, que se perdeu por bobeira

Descendo pra sustentar seu vício

Em sua conta, já não cabe tentos delitos

Uma voz de liberdade

Faz ele querer sair dessa realidade

Sem saber o que fazer

Vivendo apenas para se esconder

Meu nome é X., tenho 17 anos. Moro em Alfenas, Jardim Primavera, conheço muito essa rea-

lidade, já perdi muitas pessoas por conta das drogas. Uma triste realidade que enfrentamos

no nosso cotidiano.

23.

Solidão é como um copo vazio, na qual

Só se enche com um litro cheio de amor.

O CAMINHO

O que falar da depressão?

Forte! Palavra de sentimento profundo

Pessoas estourando como uma panela de pressão

É só ligar a televisão

O que você vai ver é que a maldade dominou o mundo.

Jornais inventam coisas que não veem

Notícias passando e não mostram as indiferenças

Não se esqueça, rede social é uma máscara

E são as nossas dores que alimentam as reportagens da imprensa.

Como eu disse, a depressão está cada dia maior

Vão sair na rua dizendo e vão dizer que é moda

Mas porque a doença do famoso te comove e a do seu amigo,

que está, ao seu lado te incomoda?

Redes sociais são máscaras

Pra ganharem curtidas, fazem até pose

Mas não se esqueça que seguidor não faz de você um ser humano bom

Pois Hitler tinha milhões e Jesus só tinha doze

Mas qual a diferença de Hitler e Jesus?

Uma resposta pra sua dúvida eu arranjo

É que Hitler tinha exércitos de homens

E Jesus tinha um exército de anjos.

Desceu da glória

Já foi criança, adolescente e rapaz

Aquele homem morreu na cruz

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Pra que hoje você vivesse em paz.

24.

SUPERAÇÃO

Não entendia aquela angústia,

se tudo eu tinha e nada me faltava.

“É falta de Deus”, alguns diziam.

NÃO! O que faltava era vontade de seguir em frente.

Depois de um tempo, sem a angústia,

eu finalmente compreendi o que aconteceu.

Não me faltava deus e nem vontade de seguir.

Faltava o autoconhecimento.

Emoções, sentimentos, pensamentos...

É muita intensidade para uma só pessoa.

“Seja uma boa menina, não faça nada errado.”

Tudo isso é conversa fiada.

Tenho que ser eu mesma, e entender que, se não for eu,

ninguém será meu ponto de paz.

A superação começa dentro de mim!

Meu nome é X, tenho 17 anos e vivo com meus pais e meus irmãos. Sonho em ser arquiteta,

mas estudar história sempre chamou minha atenção também. Gosto de ler, sair com meus

amigos e ir em uma boa roda de samba. Essa sou eu!

25.

O abuso do ser humano é diário, mas precisamos lutar para fazer mudança e sorrir com ale-

gria.

SAD BOY = GAROTO TRISTE

Vivemos em um mundo mal

Aonde ninguém tem sentimentos

É todo mundo igual!

Precisamos de respeito

Viver feliz e ir perdendo os defeitos

O mundo é assim

Ninguém sabe o que está por vir

Triste e sozinho

Ninguém vai querer te ver em bons caminhos!

Meu nome é Ryan, nasci em Alfenas e fui criado aqui mesmo. Estou terminando o Ensino

Médio, acabei de fazer 18 anos e estou pretendendo fazer engenharia civil.

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26.

Todo sonho tem que ter esperança e toda realidade tem problema.

Que a esperança te convença,

que o problema não compensa

e que a ausência não dá paz.

O verdadeiro amor de quem se ama,

tece a antiga esperança,

que não se desfaz.

E a coisa mais divina que há no mundo,

é viver cada segundo como nunca mais.

27.

Para alcançar minha felicidade, será necessário lidar com cobranças, que surgirão ao longo

do meu caminho.

Bom... essa semana foi tensa, aliás, que mês difícil.

Agosto, talvez, seja o único mês que eu não gosto. Pode até ser coisa da minha cabeça,

que tenta me enganar, colocando a culpa no mês, quando algo não acontece da forma que eu

esperava.

Mas, ao longo dos últimos meses, eu estou tentando melhorar meu ponto de vista so-

bre o mundo. Agora eu me recuso à pensar coisas negativas, procuro sempre enxergar algum

erro como uma lição. Igual meu pai sempre diz – “saber enxergar o lado bom de cada situa-

ção”. É a frase que vai sempre ecoar em meu pensamento.

Todo o universo gira entorno da energia de cada ser. Acho que a energia é o combus-

tível do mundo e se não soubermos usá-la da maneira correta, ela afetará nosso próximo, de-

vastando-o. Por isso, a importância de conhecermos e compreendermos as energias, vibrações

e, principalmente, a empatia com o próximo.

Enfim, Agosto tá acabando e tô feliz por isso. Mas, espero que ano que vem, esse seja

o mês que mais me deixará feliz.

Meu nome completo é X, tenho 17 anos, moro com meus pais e estou cursando o 3° Ano do

Ensino Médio.

28.

Precisamos de inspiração, a cada dia, para enfrentarmos esse mundo desigual.

Todos nós passamos por coisas que nunca havíamos passado, e em muitas vezes, pre-

ferimos não deixá-las no passado.

Somente cada um de nós, sabe o que tem passado, já passou por alguma dificuldade?

Ou tem passado?

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Atualmente andamos muito ultrapassados, evoluímos no tempo, mas, talvez, sem um

verdadeiro aprendizado. A nossa humanidade, é quem faz seus próprios passos. Se repetimos

nossos erros, destruindo nosso planeta e nossa própria existência, é porque...

Sim, ainda vivemos no passado!

Meu nome é X, tenho 17 anos e gosto de jogos online.

29.

Para conquistar seus sonhos, existem várias oportunidades, basta você ir atrás dele hoje,

para que futuramente possa alcançá-lo.

O MUNDO ESTÁ CADA VEZ MENOR!!

O mundão diminuiu e o povo que está crescendo

Nem tenta pagar de pá, porque aqui é o puro veneno

Agora presta atenção, eu mando meu papo reto

Se quer evoluir no mundo seja lá o mais esperto

Por que o mundão girou e só tem povo escroto

Que só sabe evoluir, crescendo pisando nos outros

Mas pode ficar tranquilo, que o certo é o certo

E o errado é cobrado

Seja lá o mais esperto e evolua sem pisar em ninguém, que tu vira o mais falado

Agora viva as emoções e curta a adrenalina

Seja só um menino bom, que dura mais tempo na pista.

Meu nome é X, tenho 18 anos e sou o aprendiz do universo, posso enxergar que o mundo está

cada vez menor.

30.

Todos os dias, devemos tentar ser melhores, mas o mundo, á vezes, faz você se dispersar do

que realmente é do bem.

No começo, pensei que seria diferente

No começo, imaginei que não machucaria tanto a gente

Na verdade, o mundo nunca foi um lugar bom

Um lugar que nos obriga a viver sem poder expressar nosso dom.

Uma sociedade presa no dinheiro

Um amor sem paz, apenas com receio

Mas com experiência minha, isso não pode ser mudado

Tento, mas mudar apenas com a voz e a sociedade com soldados.

Realmente o mundo se tornou um lugar ruim

E as pessoas se adiantaram, elas querem o fim

Estão acabando com o mundo de pouco em pouco

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Até não sobrar nada para o povo.

Mas, afinal, quem é o povo? Isso mesmo

Somos nós, chamados de loucos

Estamos acabando com o que é nosso

E vamos ganhar o que em troca?

31.

Onde há amor, há esperanças de alcançar seus sonhos. Mas, precisamos viver a realidade e

passar pelas dificuldades.

AMAR COM CONSCIÊNCIA

Sentimento é uma coisa complicada

Ainda mais quando ele não vem de ambos os lados, mas o que vem fácil, vai fácil

Por isso, demonstre e seja merecedor daquilo que você merece.

Só não aceite menos que isso, você já é uma pessoas inteira,

não precisa de alguém que te complete

Precisa de alguém que te transborde...

DANÇAR, MINHA ARTE PARA EXPRESSAR

Dance conforme o ritmo de seu coração

Não importa o que as outras pessoas pensam

A arte está dentro de você

E você não precisa se esconder

Faça o que sabe fazer de melhor

Se quer dançar, então que dance

Só não deixe de ser feliz para agradar os outros.

MEU FUTURO AINDA NÃO SEI

Sempre me perguntam o que quero ser

No que quero me formar, se já estou planejando meu futuro

Sempre quando escuto isso, não sei o que responder

Porque não planejo nada, vivo um dia de cada vez

Gosto de me descobrir a cada dia

Não quero uma profissão que me dê muito dinheiro, se eu estiver vazia por dentro

Quero algo que me dê prazer, me faça sentir feliz e realizada.

Meu nome é X, tenho 17 anos, moro na cidade de alfenas, no bairro Itaparica. Dançar, mi-

nha arte para expressar!

32.

Persistir na realidade sofrida, sempre mantendo a humildade.

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Preso no meu pensamento

Escondendo risos

Em meio à tantas pessoas me sinto vazio...

Tantas mentes brilhantes, se tornando frio

Em meio ao rio de decepções

Pessoas com medo de demonstrar emoções

Afundada em solidões

Fazendo de sua vida refrãos

Tudo tão repetitivo, SABE?

Mas, e o amor na vida, onde cabe?

As pessoas que você ama, elas sabem?

Olhe ao seu redor, quantas pessoas...

Dói saber que não confiam umas nas outras

Você vem à vida para cumprir rotas?

Meu nome é X, venho de um lugar humilde

Tão simples como escrever isso na folha de sulfite

Tudo se torna fácil, portanto, que pratique

Hoje peço à Deus, pra que tudo se multiplique

Ou para que, boa parte disso tudo se abrange

Apesar de ser pequeno e humilde

A Vista é Grande.

33.

Tenho certeza, que vai ser possível, eu dar uma casa para minha mãe!

MOTIVAÇÃO

Você tem um sonho?

Então corra atrás,

persista, jamais desista deles,

Pois um dia eles se realizam!!

Batalhar todo dia,

esforçar ao máximo,

para que consiga ter um ótimo resultado!

Meu nome é X, tenho 17 anos, trabalho à 3 anos em um bar e tenho um filho, por isso escrevi

essa motivação.

Nota-se, a diversidade e complexidade de cada aluna e aluno e suas diversas dimen-

sões humanas, expressas em seus escritos. Esta diversidade de origens, estilos de vida, pro-

blemas que necessitam enfrentar, visões sobre a realidade, vontades, desejos, entre outros

fatores e temas de seus escritos, representam a complexidade de criar situações de aprendiza-

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gem, que utilizem desta diversidade e consiga ser significativa a cada individualidade que

compõe a turma. Este é um diagnóstico óbvio, só que aqui é mostrado concretamente, por

meio da literatura.

Como, “cada palavra escrita, é uma aflita confissão” (12), há um te-

ma/aspecto/elemento, que necessita de grande atenção, é a presença da depressão, ansiedade,

angústia e pressões sociais, nos escritos poéticos das alunas e alunos, sendo estes, o que mais

se repete, em uma análise geral dos escritos. Assim, além da capacidade de estruturar uma

construção pedagógica para a Geografia escolar (que será evidenciado neste tópico), esta pro-

posta, também conseguiu captar estes aspectos, que necessitam de uma ação pedagógica, em

que, todas/todos as/os agentes escolares, participem de sua construção e efetivação no cotidi-

ano escolar. Mas, é responsabilidade, principalmente, das professoras e professores regentes

da turma, conseguirem ter a sensibilidade de captar estes problemas que suas alunas e alunos

enfrentam. Porque, “é na prática cotidiana que professores têm de lidar com seus alunos reais,

com seus dilemas, suas dificuldades. Por isso, é sempre muito relevante estar atento ao que

acontece ali, no cotidiano da sala de aula” (CAVALCANTI, p. 106, 2017). E, com esta pro-

posta, utilizando uma expressão artística, conseguiu-se captar estes dilemas e dificuldades da

turma, o que, possibilita o despertar nas professoras e professores, por meio da leitura destes

escritos poéticos, ações pedagógicas para construir um exercício de lidar com estas questões

cotidianas. Como está, em um dos escritos, em que, aqui será utilizado como uma mensagem

às/aos educadores/educadores, “que possamos ser cada dia mais sensíveis/para ajudar, so-

correr e auxiliar”(15), mesmo, com o sistema educacional, desrespeitando esta profissão.

Acredita-se, que a presença destes aspectos relacionados à saúde mental, nos escritos,

possuem uma ligação ou são geradas pela organização estrutural do espaço geográfico do pre-

sente, mesmo, as alunas e alunos, não identificando ou tendo esta interpretação na captação da

presença da Geografia em seus escritos, já que, “vivemos num mundo confuso e confusamen-

te percebido” (SANTOS, p.17, 2000). Esta ideia se relaciona a concepção do espaço geográfi-

co como “instância social” (SANTOS, 1996), a qual tem-se a interpretação de que, ninguém é

alheio ao lugar de vivência e atuação cotidiana, junto à organização estrutural do mesmo.

O Neoliberalismo e o Capitalismo são parte da organização estrutural do espaço geo-

gráfico atual, que para além de sistemas econômicos e políticos, influenciam as relações in-

terpessoais do tempo contemporâneo, a qual se instalaram a competitividade e a concorrência

como regra, comandando as formas de ação (SANTOS, 2000), na relação desigual entre paí-

ses, empresas, partidos, cidades e pessoas. Estas últimas, ao se constituírem com esta regra da

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competividade como concepção de atuação no seu lugar e, portando, no mundo, necessita-se,

para se tornar mais competitivo, exercitar o individualismo ou tê-lo exercitado por meio da

organização deste sistema e suas forças massivas de comunicação, que criam, “na ordem soci-

al e individual [...] individualismos arrebatadores e possessivos, que acabam por constituir o

outro como coisa” (SANTOS, p. 47, 2000). Esta constituição do outro como coisa, é sentida e

escrita pelos “Pensadores Desconhecidos” (que só agora, e é importante, evidenciar o “só ago-

ra”, que o autor desta monografia, percebeu a relação desigual de gênero contida no título do

livro, o qual poderia ser debatido nas aulas, nota-se, que as ignorâncias são muitas, estas, fruto

da confusão dos espíritos, que será debatida mais à frente), nitidamente, nos escritos 25 e 29:

- “Vivemos em um mundo mal... Triste e sozinho/Ninguém vai querer te ver em bons cami-

nhos!”;

- “Por que o mundão girou e só tem povo escroto/Que só sabe evoluir, crescendo pisando nos

outros.”

Estas características, apontadas acima, são parte e, são intensificadas pelo processo de

instalação de “uma globalização perversa” (SANTOS, 2000), em que, se impõe às pessoas,

a emergência de uma dupla tirania, a do dinheiro e a da informação, intimamente rela-

cionadas. Ambas, juntas, fornecem as bases do sistema ideológico que legitima as

ações mais características da época e, ao mesmo tempo, buscam conformar segundo

um novo ethos as relações sociais e interpessoais, influenciando o caráter das pessoas.

(SANTOS, p.37, 2000).

Em que, no “seu caráter perverso atual, encontram-se a forma como a informação é

oferecida à humanidade e a emergência do dinheiro em estado puro como motor da vida eco-

nômica e social” (SANTOS, p.38, 2000). Sendo que, a necessidade do dinheiro em estado

puro, se dá, tanto pela violação dos direitos sociais no território nacional, “porque em nosso

país jamais houve a figura do cidadão” (SANTOS, p. 49, 2000) e, há um exemplo, nos escri-

tos poéticos, desta constituição de lugares que, sua estrutura, não efetiva os direitos sociais.

Sendo, o 33, em que, a moradia, que é um direito social, se tornou um sonho para este aluno,

tento que “batalhar todo dia/esforçar ao máximo/para que consiga ter um ótimo resultado!”,

por meio do trabalho, que para ele, como consta em sua apresentação, faz parte de seu cotidi-

ano desde os 14 anos de idade, dividindo a infância com a necessidade de trabalhar, além de

ter um filho, na adolescência e, mesmo assim, não perdeu a motivação de enfrentar este mun-

do desigual, que faz com que, jovens como ele, amadureçam forçadamente na infância, com

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menor tempo para brincarem e estudarem, tendo que lidar diariamente com as contradições

espaciais criadas por esta organização e constituição perversa do espaço geográfico brasileiro.

O outro fator, da necessidade em se ter o dinheiro em estado puro, é a criação da ideia

do consumismo desenfreado, também como regra, alimentado pelos meios massivos de in-

formação. Assim, uma “Pensadora Desconhecida” (30), em seu escrito, diz que, se tem “uma

sociedade presa no dinheiro”, sendo um fato, tanto para alimentar seus desejos criados pela

ideologia da globalização como perversidade, tanto para a sobrevivência e acesso aos direitos

sociais, forçadamente pelo consumo. Pois, “tudo se torna valor de troca. A monetarização da

vida cotidiana [...] Essa presença do dinheiro em toda parte acaba por constituir um dado

ameaçador da nossa existência cotidiana.” (SANTOS, p. 44, 2000). Em que, o “consumismo e

competitividade levam ao emagrecimento moral e intelectual da pessoa, à redução da persona-

lidade e da visão do mundo, convidando, também, à esquecer a oposição fundamental entre a

figura do consumidor e a figura do cidadão.” (SANTOS, p. 49, 2000).

Com esta necessidade do consumo, o dinheiro tem um papel central, sendo um regula-

dor da vida individual, a qual vislumbra a acumulação do mesmo como uma meta, só que,

apenas para alguns a acumulação se concretiza, enquanto, para a maioria, resta o endivida-

mento (SANTOS, 2000). E, “nestas condições, firma-se um círculo vicioso dentro do qual o

medo e o desamparo se criam mutuamente e a busca desenfreada do dinheiro tanto é uma cau-

sa como uma consequência do desamparo e do medo.” (SANTOS, p. 56, 2000, grifos do au-

tor).

Uma outra “Pensadora Desconhecida”, transformou com poesia, esta citação acima,

deste grande geógrafo e intelectual brasileiro, em seu escrito poético (2), contendo uma pro-

fundidade social, geográfica e sentimental, que excita a reflexão. Onde:

“É difícil compreender o ser humano, as coisas,

os momentos que a vida nos mostra

onde tudo nos faz acreditar que, para viver

tudo parece mais uma aposta.

Aposta no amor, aposta na amizade,

aposta no emprego, sem percebermos que

lá no fundo, isso nos gera medo.

[...]

Na maior parte do dia, só estamos cansados

cansados do emprego, cansados da escola, cansados da

carga que sobrecarrega nosso físico e nosso psicológico”

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E, esta é uma forma, que a organização estrutural e espacial do presente, desencadeia

problemas relacionados à saúde mental, sendo, estas, características do mesmo. Criando me-

do, desamparo, pressões sociais, angústias e melancolias, até chegar à um estado, em que,

ansiedade e a depressão, se manifestam, devido carga que sobrecarrega o físico e o psicoló-

gico das pessoas. Que, “quando na verdade, só queremos nos sentir amados/quando na real,

a felicidade/é ter intimidade com quem gostamos de verdade” (2), mas que, em muitos casos

cotidianos, a necessidade de se sentir amado e a busca da intimidade daqueles mais próximos,

é deixada de lado, pelas pessoas seguirem a ideologia da globalização perversa ou por serem

forçadas, mesmo que não aparentando nitidamente, à vivenciarem esta lógica. Assim, esta

escritora termina: “Finalizar o dia bem com nós mesmos, já é uma vitória/você começa o dia

se preparando para outra guerra/e termina esperando pela glória” (2).

Outra tirania, formadora da globalização perversa, é a da informação, a forma como

esta chega às pessoas, que, é “o resultado de uma manipulação, tal informação se apresenta

como ideologia” (SANTOS, p. 39, 2000), pois ela, se constitui como “uma interpretação inte-

ressada, senão interesseira, dos fatos.” (SANTOS, p. 41, 2000). Em que, é só ligar a televisão

e, o que você vai ver, é que a maldade dominou o mundo, porque, jornais inventam coisas que

não veem, as notícias passando e não mostram as indiferenças, sendo, as dores humanas,

geradas pelas contradições espaciais, que alimentam as reportagens da imprensa (23).

Um aspecto essencial de analisar a influência da tirania da informação, difundidas pe-

las grandes corporações publicitárias, no desenvolvimento de pressões sociais e doenças psi-

cológicas, é incitada por esta colocação de M. SANTOS (2000):

As mídias nacionais se globalizam, não apenas pela chatice e mesmice das fotografias

e dos títulos, mas pelos protagonistas mais presentes. Falsificam-se os eventos, já que

não é propriamente o fato o que a mídia nos dá, mas uma intepretação, isto é, a notí-

cia. [...] mediante uma interpretação marcada pelos humores, visões e preconceitos e

interesses das agências. O evento já é entregue maquiado ao leitor, ao ouvinte, ao te-

lespectador, e é também, por isso que se produzem no mundo de hoje, simultaneamen-

te, fábulas e mitos. (SANTOS, p. 40, 2000, grifos do autor)

Esta citação traz à tona a desigualdade da representatividade étnica, de gênero e de

classe, no protagonismo e ocupação de posições que possibilitam a criação de referências po-

sitivas à, principalmente, crianças e adolescentes, nos poderosos meios de comunicação das

grandes corporações. Atualmente, há uma maior ocupação destas posições, por pessoas que

não estão no padrão difundido por estas grandes mídias, de homem ou mulher branco ou

branca, com origens das classes dominantes ou médias da sociedade, porém, a desigualdade

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ainda é imensa. Que, esta desigualdade persistente, difunde visões preconceituosas sobre cer-

tos grupos populacionais, por meio da divulgação, à todo momento, de padrões sociais e,

principalmente, estéticos, criando fabulações e mitos como, eu preciso ser magra para ser bo-

nita, meu cabelo é feio pois não é naturalmente liso, entre diversas outras fabulações, que po-

dem criar incertezas, baixa autoestima, que podem evoluir até a manifestação da depressão.

Sendo que, as mulheres, referentes à este padrão e a objetificação enraizada do imaginário

histórico, fruto da formação do território nacional, são mais expostas à estes mitos (e o escrito

24, pode ser um exemplo destas pressões sociais).

Outra fabulação, mais comum às e aos jovens, é a necessidade de estar presente nas

redes sociais, se possível, sempre “bonitas/bonitos” (para desmistificar estas qualificações

leiam o poema de Mario Quintana, chamado “Da perfeição da vida”), sendo assim, as redes

sociais são máscaras e pra ganharem curtidas, fazem até pose (23). Este fator, também, pode

ser uma peça fundamental para o entendimento da presença das questões ligadas à depressão e

ansiedade, nas alunas e alunos, adolescentes e, porque não, adultos.

Esta colocação do parágrafo anterior é um recorte do atual “estado das técnicas”

(SANTOS, p. 23, 2000), que, é um elemento central, para o entendimento do processo de glo-

balização. Outros dois escritos poéticos versam sobre o desenvolvimento técnico do presente,

sendo eles, o 14 e o 17. O primeiro, fala sobre um dia de um aluno em sua casa, o qual, este,

passou grande parte utilizando uma rede social e o vídeo game, em que, nem percebeu as ho-

ras passarem devido a esse entretenimento. O outro é sobre um sonho de um aluno, que quer

combater alguns problemas do mundo, na sua percepção, que acontecem numa “guerra ci-

bernética, virtual”. Nas aulas, em que as alunas e alunos recitaram seus escritos, percebeu-se

uma certa ironia de alguns alunos, sobre o escrito 17, em que dizia: “vai lá x aluno, fala sobre

a guerra cibernética pra gente”. Esta foi a interpretação do aplicador, percebendo uma ironia

nesta frase, mas que, mesmo assim, o aluno 17, recitou seu escrito de sua forma, com certa

vergonha, que é normal, mas à enfrentou e recitou seu sonho para toda turma escutar. Além

disso, este escrito é o que mais traz em seu conteúdo, o estado das técnicas atuais, que se

constituem na virtualização das ações humanas, em que, se criou um campo de relações de

poder, que atuam numa rede virtual.

Ao ser discutido neste tópico, sobre uma organização estrutural do espaço por meio de

um processo de globalização perversa, em que, este, permeia e condiciona todos os tipos de

relações espaciais, interpessoais e das dimensões da economia e da política. Uma aluna (1)

construiu uma metáfora para esta organização, utilizando a lógica de um circo para contextua-

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lizar o espaço geográfico ao qual se vive hoje. O qual, “como o palhaço no circo. A plateia se

agita, em meio à risadas e palmas, chegou sua hora. Você deve entretê-los, enfeite-se e pla-

neje bem o seu espetáculo, este agora é o seu futuro. Viva em nossa função”. Assim, este é,

“um circo colorido, enfeitado com os sonhos roubados”, em que, é organizado para que, você

“caia e se machuque”, que, lhe confunde, por meio de informações intencionadas, para você

construir um “pensamento único” (SANTOS, 2000), então, “se entregue para nós e tudo será

melhor, afinal não há como fugir desse circo” e, por fim, “sua única opção é encerrar sua

apresentação mais cedo.” Assim, um aluno questiona (5), “se estamos vivendo ou apenas

existindo", “se estamos vivendo tudo o que há de melhor” ou “apenas existindo para estudar

e trabalhar”, de acordo com esta organização da realidade a qual se vive cotidianamente.

Você vem à vida para cumprir rotas? (32)

M. SANTOS (2000), após contextualizar o “mundo como ele é”, discorre sobre como

ele pode ser, sendo o “mundo como possibilidade”, em que, mesmo com esta organização

estrutural e o desenvolvimento técnico atual, estes, não se apresentam com a mesma intensi-

dade em todos os lugares. Assim, há fissuras nestes sistemas, em que, os movimentos sociais

e as pessoas de um determinado lugar, se relacionam com o mesmo, na tentativa de resolver

ou lutar contra as imposições da “globalização perversa”, sendo que, as manifestações artísti-

cas são um meio para esta revolta, em que, “a emergência de uma cultura popular que se serve

dos meios técnicos antes exclusivos da cultura de massas, permitindo-lhe exercer sobre esta

última uma verdadeira revanche ou vingança” (SANTOS, p.21, 2000). Ao, as alunas e alunos,

construírem um livro, junto a um professor em seu processo de formação, por meio de uma

editora independente, talvez, não seja parte da “transição em marcha” para o “período popu-

lar” (SANTOS, 2000), mas, é uma pequena revanche contra a sociedade, que os julga precon-

ceituosamente devido à localização geográfica da escola e, contra o sistema educacional brasi-

leiro, que em suas políticas educacionais, no contexto neoliberal, são políticas econômicas, e

estas, não efetivam o direito público e subjetivo à educação, gerando um desconhecimento

destas e destes atores escolares, transformando-os e reduzindo-os em números de notas das

avaliações externas de larga escala.

Portanto, “se está cansado do que o mundo te oferece, solte a imaginação, para que

você floresça”, “transforme em poesia, com a mente livre, irá enxergar o mundo que não via,

não tenha medo do que vier”, “busque algo para satisfazer seu interior, num modo bem ati-

vo” e ir contra a ideologia hegemônica da globalização perversa. Pois, quando as alunas e

alunos, escrevem sobre sua vida, no contexto geográfico do presente, seus escritos são um

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“alimento da política” (SANTOS, p.144, 2000), e também, são, e, é ai onde está sua força,

“portadores da verdade da existência e reveladores do próprio movimento da sociedade”

(SANTOS, p. 145, 2000). Sendo, justamente isso em que se queria mostrar para as alunas e

alunos, na Aula 9, representado nesta tentativa de juntar a visão científica da realidade, de um

geógrafo brasileiro, o qual vê a globalização “pelo lado de cá” e, é esta a importância e o por-

que de utilizá-lo, com os escritos poéticos das alunas e alunos do 3°Ano B, que revelam o que

esta realidade perversa, faz com as/os adolescentes de uma cidade do interior de Minas Ge-

rais, sendo “reveladores do movimento da sociedade” (SANTOS, p. 145, 2000).

Esta ênfase na globalização é, por que, este processo, “tem sido apontado como uma

das principais características da contemporaneidade” (CAVALCANTI, p. 4, 2000). E, como é

função da geografia escolar, contribuir para o entendimento do espaço geográfico contempo-

râneo e suas contradições espaciais, é necessário, o estudo deste processo nas aulas de geogra-

fia no Ensino Básico.

Outros escritos, individualmente, podem despertar outros temas e conteúdos geográfi-

cos à serem abordados ou temas que devem ser lidados, por todas e todos agentes escolares,

propondo ações, sendo eles:

- O escrito 6 traz a necessidade de se trabalhar a sexualidade de uma forma mais coerente,

desconstruindo brincadeiras que apagam a seriedade deste tema. E, também, a emergência, da

escola, propor ações para auxiliar as alunas grávidas, pois estas podem passar por dificulda-

des, que acabam influenciando na sua permanência ou não na escola.

- O número 12, que fala sobre a paixão por um esporte, pode suscitar no(a) professor(a) de

geografia, se há acessibilidade e presença de equipamentos de lazer em todos os bairros e lo-

calizações da cidade, assim poderá trabalhar com a ideia de direito social ao lazer e a desi-

gualdade entre os diferentes pontos urbanos da cidade.

- Na apresentação do escrito 20, o aluno, fala que nasceu em um município da Bahia, o que,

possibilita as discussões sobre o conteúdo da migração.

- O 22 traz a questão do vício, que é uma realidade cotidiana, possível de ser vista, nos dife-

rentes lugares da cidade e, este deve ser tratado nas aulas, como um problema de saúde e não

de polícia. A outra questão é a das drogas, que faz parte de um ramo da economia, tendo efei-

tos prejudicais aos jovens, principalmente, oriundos dos bairros mais pobres da cidade.

- Os escritos 20 e 32, trazem uma interpretação e percepção do bairro onde vivem, que é o

mesmo da escola, em que, o último, versa sobre isso de uma forma incrível, brincando com o

nome do bairro. Sendo que, a fenomenologia, é um método de análise do espaço geográfico,

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necessário na busca de seu entendimento, podendo ser trabalhado também, na Geografia esco-

lar.

- Dois escritos, o 28 e o 30, versam sobre os impactos ambientais e sociais, fruto do uso de-

senfreado de recursos naturais para produção de mercadorias e o consumo como regra das

mesmas. Sendo também, uma característica da globalização perversa.

Este último conteúdo/tema, poderia ter sido analisado junto ao processo e constituição

da globalização perversa, mas foi deixado separado e por último, para uma última considera-

ção deste tópico. Os temas e conteúdos dos escritos, que suscitam a discussão da globalização,

dos impactos ambientais e problemas urbanos, presente no escrito 33, trazendo à tona a desi-

gualdade urbana e a violação do direito à moradia, são Eixos Temáticos do CBC-MG do En-

sino Médio e assim, contemplam as determinações deste currículo do Estado de Minas Gerais,

como mostra a citação abaixo:

No Eixo Temático I - Problemas e Perspectivas do Urbano -, a ênfase é dada ao pro-

cesso de urbanização contemporâneo. Nos ajustes realizados foram considerados os

seguintes Tópicos: 1 - Espaço urbano; 2 - Cidade e metrópole; 3 -Território e territori-

alidade; 4 - Redes e região. É importante construir uma visão de futuro positiva apesar

dos problemas, uma vez que estes podem ser solucionados através de políticas públi-

cas adequadas e da participação social.

[...]

O Eixo Temático III - Mutações no Mundo Natural - abre possibilidades para uma

abordagem articulada entre o “social” e o “físico” em geografia, convergindo-os para

a condição humana ao colocar em questão a relação sociedade e natureza. É o que está

proposto no Tópico 11 - Domínios da natureza no Brasil. Os demais tópicos são os se-

guintes: 8 - Fontes de energia; 9 - Ordem Ambiental Internacional; 10 - Aquecimento

global.

O Eixo Temático IV - Os Cenários da Globalização e Fragmentação - tem como foco

as novas fronteiras do capitalismo global. Os Tópicos selecionados são os seguintes:

12 - Globalização e regionalização; 13 - Comércio internacional; 14 - Reordenamento

do território. (SEE-MG, p. 51, 2007, grifos do autor).

Portanto, este tópico demonstra que os escritos poéticos das alunas e alunos, possuem

uma capacidade geográfica, para serem utilizados e suscitarem o planejamento de conteúdos à

serem abordados pela professora ou professor regente de Geografia. E assim, considerar, de

fato, a realidade das/dos integrantes de uma turma do Ensino Médio, pois, estes escritos pos-

sibilitam a sua captação. Além de, trazer para discussão demandas das alunas e alunos, que

ultrapassam conteúdos de uma dada disciplina escolar (mas que esta pode trabalhar pedagogi-

camente estes temas utilizando as categorias de análise e conceitos de sua ciência) e que, ne-

cessitam de ações de todas aquelas e aqueles responsáveis pelo espaço escolar. Outro resulta-

do, é que, os escritos possibilitam um maior entendimento sobre a vida das alunas e alunos,

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auxiliando na relação entre professor(a) e aluna(o) e, entre a(o)s própria(o)s aluna(o)s. E ain-

da, ao utilizar os conteúdos geográficos presentes nestes escritos, se trabalha com os Eixos

Temáticos do currículo destinado ao Estado de Minas Gerais. Mas, o principal resultado, é a

utilização da literatura, com o protagonismo das alunas e alunos, evidenciando a capacidade,

ou melhor, possibilitando, com ações práticas, que elas e eles, são capazes de escreverem.

Sendo que, seus escritos, possuem uma alta qualidade literária, do ponto de vista estético do

texto e uma grande profundidade sentimental. Portanto, esta proposta possibilita, aos respon-

sáveis pedagógicos de uma escola e à sociedade de conhecerem “Um Lado Desconhecido”

das alunas e alunos, que só utilizou a capacidade da(o)s própria(o)s para se obter os resultados

desta monografia.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O fim de cada tópico e capítulo, ao evidenciar seus resultados, que começa desde a

análise dos currículos, a estruturação e descrição da proposta pedagógica e, finaliza com a

análise dos escritos poéticos, já possuem conclusões, reflexões e considerações finais. Assim,

estes, não são necessários de serem resumidos e repetidos aqui.

Há a vontade, e também, a necessidade de continuação desta proposta, percebendo e

alterando suas fragilidades, para estruturar as possíveis ações na mesma escola, em que, se

aplicou esta prática pedagógica. Porém, se a escola possibilitar novamente a aplicação da

mesma, visa-se expandir a mesma, para mais séries do Ensino Médio, além de buscar uma

maior integração com outros ramos pedagógicos da Universidade Federal de Alfenas-MG

(UNIFAL-MG), como o da Inclusão e outros que se dispuserem, que podem auxiliar e propor

ações efetivas que tentem, junto à professora(e)s, coordenadora(e)s e diretor(a) da escola, li-

dar com as demandas das alunas e alunos, sobre a depressão, ansiedade, tipos de abuso, gravi-

dez na adolescência e outras questões, que podem ser percebidas nos escritos poéticos das

alunas e alunos.

Um último resultado, foi separado para ser descrito aqui, pois, na percepção do autor,

este é essencialmente uma consideração final, que, possuiu e possui uma dimensão prática,

entre a(o)s agentes escolares. Em que, após a concretização, divulgação, construção e partici-

pação de eventos, sobre o livro construído com a turma do 3°Ano B, na escola e em outros

lugares, a coordenadora pedagógica da escola e outras professores, prepararam, para o Dia da

Consciência Negra na escola, uma proposta para as alunas e alunos escreverem poemas sobre

as questões que abarcam esta data e, outros temas que surgissem junto à vontade de comparti-

lhar. E, separaram um dia da semana, para que uma banda formada por alunas e alunos da

escola (que também estavam presentes nos eventos de lançamento e participação da feira lite-

rária, pois, a maioria da(o)s integrantes é da turma autora do livro), se apresentasse junto à

recitação dos poemas de algumas alunas e alunos, que as professoras escolhessem, e assim

ocorreu. Neste mesmo dia, a escola foi enfeitada pelos poemas das alunas e alunos, no seu

pátio e também, num mural de entrada da escola. As figuras 10 e 11, representam esta ação.

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Figura 10: Poemas das alunas e alunos dos 8°Anos do Ensino Fundamental II, com o tema da Consciência Ne-

gra.

Fonte: Arquivo pessoal, 2019.

Figura 11: Quadro da entrada da escola, com os poemas das alunas e alunos.

Fonte: Arquivo pessoal, 2019.

Mesmo que, a coordenadora e as professoras, não tenham a concepção de literatura

explorada nesta proposta, foram elas que à construíram, mobilizadas pelos resultados desta

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prática pedagógica. Ou seja, foram os próprios agentes, de dentro da escola, os efetivos, que

são os responsáveis pelo processo de ensino-aprendizagem das alunas e alunos, que realiza-

ram esta ação, sem a ajuda, de alguém de “fora” da escola, apenas influenciadas por uma ação

de um estagiário/residente. Pois, esta ação instigou uma mobilização e mostrou uma possibili-

dade, tanto para as alunas e alunos do 3°Ano B, como para as professoras, professores e coor-

denadora pedagógica.

É essencial, dizer que, mesmo tendo a consciência da efetivação de resultados nas di-

mensões do ensino de Geografia, desta monografia, os resultados mais importantes, possibili-

tados pela proposta prática construída, não são possíveis de descrever ou analisar neste corpo

textual. Outra consciência geográfica necessária, é que, este foi apenas um momento na vida

destas e destes adolescentes, em que, suas vidas não são nenhuma brincadeira e, para que, elas

e eles, vivenciem um mundo, sem que a reprodução da desigualdade às/os impossibilite de

realizar sonhos, ainda é necessário muita luta, pois, o que se vê e vive cotidianamente no es-

paço geográfico, é uma realidade hostil.

Mas, espera-se, que este momento ínfimo, que ocorreu por meio desta possibilidade

pedagógica esteja presente em outros momentos da vida delas e deles, principalmente, naque-

les em que, a organização social “grita” que elas/eles não são capazes de realizar algo. Portan-

to, espera-se, que este momento, não seja apenas uma lembrança, mas que, baseie ações pre-

sentes e futuras, destas e destes adolescentes, ao longo de sua interação com o espaço geográ-

fico.

O autor desta monografia escreve este último parágrafo com lágrimas felizes aos

olhos, com os momentos vivenciados com as alunas e alunos, pulsando em sua mente. E as-

sim, lhes agradece, pela oportunidade de conviver e aprender com as e os responsáveis por

seu Trabalho de Conclusão de Curso, que lhe cravou na mente, uma frase, para ser lembrada

em todas as suas ações nas escolas em que for professor: “Um sonho realizado pode ser uma

realidade mudada.”

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REFERÊNCIAS

CAETANO, C; RIBEIRO, O. Possibilidades de reflexão: o ensino de leitura e as provas de

larga escala. Sem informações de data e local de publicação.

CAVALCANTI, L. A Geografia e a realidade escolar contemporânea: avanços, caminhos,

alternativas. ANAIS DO I SEMINÁRIO NACIONAL: CURRÍCULO EM MOVIMENTO –

Perspectivas Atuais. Belo Horizonte, 2010.

CAVALCANTI, L. O trabalho do professor de Geografia e tensões entre demandas da forma-

ção e do cotidiano escolar. 13º ENCONTRO NACIONAL DE PRÁTICA DE ENSINO EM

GEOGRAFIA- ENPEG. Conhecimentos da Geografia: Percursos de Formação Docente e

Práticas na Educação Básica. Belo Horizonte, 2017.

MINAS GERAIS. Secretaria de Estado de Educação. Currículo Básico Comum – Proposta

Curricular de Geografia do ensino fundamental – anos iniciais – Ciclo de Alfabetização

e Complementar. Belo Horizonte, 2014.

MINAS GERAIS. Secretaria de Estado de Educação. Currículo Básico Comum – Proposta

Curricular de Geografia do ensino fundamental – anos finais – Ciclo Intermediário e da

Consolidação. Belo Horizonte, 2014.

MINAS GERAIS. Secretaria de Estado de Educação. Currículo Básico Comum – Proposta

Curricular de Geografia do ensino médio. Belo Horizonte, 2007.

SANTOS, M. A Natureza do Espaço. Técnica e Tempo, Razão e Emoção. São Paulo, Hucitec,

1996.

SANTOS, M. O Espaço do Cidadão. Edusp. SP, 1987.

SANTOS, M. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. 10

ed. Rio de Janeiro: Record, 2000.

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SOLÉ, I. Disponibilidade para a aprendizagem e sentido da aprendizagem. In: COLL, C. O

construtivismo na sala de aula. Ática; Edição: 6ª. 1 de janeiro de 1999. P. 29-55.

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ANEXO: LIVRO “PENSADORES DESCONHECIDOS”

A poesia está presente em nossas vidas e muitas vezes não conseguimos perceber. A escola,

que surgiu para controlar e preparar um trabalhador passivo para atender o capitalismo, pode ser entendida também como um espaço de possibilidades.

E qual as possibilidades que uma escola pública, localizada em uma região periférica de uma cidade média, pode oferecer aos seus alunos, alunos que vivenciam conscientemente ou inconscien-temente a segregação social e a limitação do direito a cidade articulada a ela?

Neste livro, temos a resposta. A escola pública, pode oferecer a arte em forma de poesia materializada em poemas. Poemas

que expressam a reflexão sobre a realidade onde esses alunos estão inseridos, que exalam a vontade de lutar e crescer e, com isso, poder dar um pouco de conforto as pessoas que amam e de se realiza-rem profissionalmente. Poemas que trazem de forma intensa, a necessidade de repensarmos nosso mundo individualista e meritocrático. Poemas que mostram a dor da pressão de um padrão de felici-dade e que grita por compreensão. A escola pode se tornar o espaço que desperta a transformação e o poema pode ser um dos caminhos.

A geografia está em nossas vidas e os poemas trazem de forma sutil, como essa juventude da periferia vive seu presente e projeta seu futuro.

Desejo a todos que aproveitem todos os sentimentos despertados por este livro.

Sandra de Castro de Azevedo. A luta, para muitos, começa ao nascer.

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Algum dia serei liberta deste mundo de fantasias.

Como o palhaço no circo. A plateia se agita, em meio à risadas e palmas, chegou sua hora. Você deve entretê-los, enfeite-se e planeje bem o seu espetáculo, este agora é o seu futuro. Vi-

va em nossa função. Um circo colorido, enfeitado com os sonhos roubados, dome a música, siga o ritmo de nossos

desejos. Não acha divertido pequeno palhaço? Caia e se machuque para nossa diversão, sua humilha-ção nos satisfaz.

Curta conosco o seu show, se entregue para nós e tudo será melhor, afinal não há como fugir desse circo por longos anos. Sua única opção é encerrar sua apresentação mais cedo. Mas, sabemos onde isso o levará, não é, querido palhacinho? Eu não conheço nenhum lugar onde eu possa me esconder.

Emi

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Fazer o que quer, realizar o que quer, é buscar admiração por si próprio, onde, fazendo isso, traz alegria e um sorriso sincero. Onde seus sonhos não venham a lhe desesperar, onde a ansiedade não venha te atrapalhar, que seja feito no seu tempo.

É difícil conviver em uma sociedade onde a maioria das pessoas só sabem julgar onde, hoje em dia, para receber amor você precisa implorar. É difícil compreender o ser humano, as coisas, os momentos que a vida nos mostra onde tudo nos faz acreditar que, para viver tudo parece mais uma aposta. Aposta no amor, aposta na amizade, aposta no emprego, sem percebermos que lá no fundo, isso nos gera medo. Não são só as coisas materiais que nos dão felicidade quando na real, a felicidade é ter intimidade com quem gostamos de verdade. Na maior parte do dia, só estamos cansados cansados do emprego, cansados da escola, cansados da carga que sobrecarrega nosso físico e nosso psicológico quando na verdade, só queremos nos sentir amados. Finalizar o dia bem com nós mesmos, já é uma vitória você começa o dia se preparando para outra guerra e termina esperando pela glória. Meu nome é Mislayne Gabrielle, moro no município de Alfenas, em MG. Gosto de ouvir músicas, escrever al-gumas músicas e conversar com meus amigos.

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Um sonho realizado, pode ser uma realidade mudada

TEMPO Hoje posso estar triste Amanhã, me alegrar Hoje estou vivo Amanhã, talvez, possa nem acordar Hoje tenho obrigações E amanhã, será que terei as mesmas intenções? Hoje posso estar sorridente Amanhã, talvez, possa estar descontente Hoje pode ser um passado Amanhã, uma realidade que poderá ser mudada

O que tivermos que fazer hoje, devemos fazer, pois amanhã pode ser tarde, até para se arrepender O tempo sempre estará à andar Nunca irá parar pra você pensar. Gabriel Felipe, 18 anos.

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Que o medo de falhar nunca supere a vontade de conseguir. Não é nossa condição, mas a índole da nossa alma que nos torna felizes.

Que o amor te convença Que a saudade te atenta O amor é como o fogo Que arde sem se ver. Nayara, Escola Estadual Dr. Napoleão Salles. Gosto de jogar handebol e futsal.

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Gratidão por tudo que meus pais me ajudaram, agora com a minha ambição, vou buscar meus sonhos.

VIVENDO OU EXISTINDO

Todos nós, passamos uma boa parte da vida, pensando o que estamos fazendo com nossas vi-das. Se estamos vivendo ou apenas existindo. Se estamos vivendo tudo o que há de melhor, sem se

preocupar com as consequências ou, apenas existindo para estudar e trabalhar. André Luiz Lima de Oliveira, tenho 18 anos, sou da Escola Napoleão Salles, do 3° Ano.

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Você pode pensar na felicidade, mas pode ver a dificuldade.

Me chamo Thais, estou com 17 anos, tenho um filho de 1 ano e 8 meses. Fui mãe aos 16. Foi difícil! Meus pais não aceitaram no começo, meu pai ficou umas 2 semanas sem conversar comigo, minha mãe e meu irmão choraram muito. Mas, depois aceitaram. Os pais do meu namorado, ficaram com medo deles me colocarem pra rua, então, chamaram o conselho tutelar e as coisas pioraram mais ainda. Meu pai ficou mais bravo, minha mãe só chorando e eu, com medo, sem saber de nada, porque era nova... Mas, as coisas foram mudando e começaram a dar tudo certo. Minha gravidez estava indo muito bem, meus pais voltaram a conversar comigo...

Até chegar Dezembro! Senti uma dor muito forte, fui pro hospital. Chegando lá, a moça me deu a notícia que meu filho estava nascendo. Fiquei muito assustada, porque estava só com 6 meses e fiquei com medo de perde-lo, ele era muito pequeno...

Mas, pedi pra Deus me ajudar e deu tudo certo! Meu filho ficou 3 meses e 3 dias no hospital, se recuperando. Foi triste, mas Deus deu muita força pra ele vencer.

Hoje, ele está uma criança maravilhosa, um menino forte, nem parece prematuro. Ele me dá muita alegria, muita força pra viver a vida.

Hoje, estou terminando o estudo, ano que vem, faço uma faculdade e quero trabalhar pra dar uma vida maravilhosa pra ele.

Essa é uma história muito marcante na minha vida, amo contar para as pessoas! Me chamo Thais, tenho 17 anos. Gosto de dormir e moro em Alfenas.

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O futuro vai ser sempre incerto se continuar nesta mesmice.

Poderíamos ter conquistado o mundo juntos Mas, você preferiu se exilar com seus sentimentos Nada poderia nos parar Você era minha religião A cada dia que passava, éramos jovens e apaixonados Não poderíamos imaginar o tamanho desta queda Quando você decidiu desistir em nosso ápice. O gosto, o toque, a maneira de como amávamos Eu era uma estrela que queimava através de você Agora essa estrela, que era milenar Não passa de um grande buraco negro no centro de minha alma. Nascido em uma pequena cidade, mas com grandes sonhos tolos. Um jovem apaixonado pelo destino que ele mesmo traçou em sua cabeça, com um espírito vintage. Saberia ele mesmo, se esse caminho traçado por ele, é o certo à ser seguido? Ou mais para frente, em sua vida, ele deixaria ser carregado pela correnteza do destino até a sua queda livre?

Rafael V.

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Nunca desista dos seus sonhos! Não seja fotografias, seja realidade.

Bom, era pra ser um poema, ou um texto sobre algo bom, não que o conteúdo será ruim. En-

tão, não é basicamente uma coisa que criei, que irei escrever, mas sim uma história de uma amiga, resumidamente, que me inspirou. Não citarei nomes, nem idade reais. Alice, 17 anos, está cursando o 3° Ano do ensino Médio. Bom, ela é uma menina incrível, uma garotinha sentimental, a estranha da sala, a que mais falta do que marca presença. Então como ela é tudo isso, se nem se quer tá afim de estudar? Alice sempre foi a estranha e mais quieta da sala, ela era ignorada pela maioria, só que a maioria nunca soube do que ela já passou ou está passando. Ela odeia trabalho em grupo, porque à excluem, mas tem um porém nessa história, “ela nunca desistiu”, voltou à ir pra aula, tá se doando ao máximo, mesmo sendo difícil. Bom, Alice, sempre foi e sempre será uma menina doce pra mim, a menininha que sempre me deu a mão quando mais precisei, mas quando ela me deu as mãos, vi marcas em seus braços e em outras partes do corpo também tinham. Puts, eram cortes? Sim, ela fez isso! Eu, somente eu, tô aju-dando ela à não entrar em uma bela depressão, por que ela tem a droga de uma ansiedade. Enfim, independente disso tudo, ela tem à mim.

Sempre lembre-se “VOCÊ NÃO ESTÁ SÓ”.

Sarah

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Através da determinação conseguimos superar dificuldades, que para o mundo, seriam impossíveis.

Ei você, agora pare e me escute Vou te dar motivos pra seguir em frente Um frio que toca a alma, é hora de mudar Com seus olhos para frente, nova chance de recomeçar Cuidado com suas escolhas, não entre em desespero Pai, a principal felicidade não se compra com dinheiro. Se está cansado do que o mundo te oferece Solte a imaginação, para que você floresça Pois se Deus te dá a caneta, transforme em poesia Com a mente livre, irá enxergar o mundo que não via Não tenha medo do que vier, quer um incentivo? Busque algo para satisfazer seu interior, num modo bem ativo.

Essa criatividade que está presa em você Solte, seja forte, corajoso, não precisa temer Tantas coisas limitadas, e a liberdade toda liberta E te faço a pergunta: - “Será que a gente utiliza de forma certa?” Seja o que você quer ser Não importa o que vão dizer Acredite em você Levante, mude, vamos para a ação Você não irá longe, se não tiver determinação Assim como essa letra de música: “Começo pode ser final, final pode ser começo, A escolha de um sonho, claro que vai ter um preço”. Eu sou Lucas Vinícius, tenho 18 anos e venho nesse livro, chamar a atenção das pessoas em relação aos sonhos difíceis que muitas pensam em desistir. Uma forma de incentivar e dar coragem àqueles que precisam de um apoio.

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Na dificuldade da vida, não me faltará motivação para continuar.

Na vida tudo é passageiro O amor, guardei no bagageiro Quero tudo que seja verdadeiro Quero que seja intenso Quero que seja insano Que todos os sonhos, se repitam por anos Tudo que venha ter passado É meio aprendizado Se um dia não der certo Valeu a pena por ter tentado

Confie, acredite e persista A meta é nunca desistir O caminho, perseguir Tenho fé que irei conseguir. Sou Greiciele, tenho 17 anos. Moro em uma periferia de Alfenas.

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A fé é um sentimento difícil e complicado nos dias de hoje. MELANCOLIA

No dia triste, na noite feliz me pego sozinho no calabouço dos meus pensamentos

a ansiedade em todos os momentos a tristeza eminente nem percebo que estou doente “acordava”, existia... não sentia alegria o que mais sentia era a saudade da felicidade mal me lembrava dos curtos momentos que sorria... quando percebi a minha vida era uma melancolia. Sem cor, sem sabor sem ânimo e sem motivo sequer de sentir vontade de viver eu estava no chão no auge da depressão. Olá, meu nome é Marcelo Augusto, tenho 17 anos, sou de Alfenas-MG, mais especificamente do Jardim Prima-vera. “As únicas pessoas tristes são aquelas infelizes” (Tiririca).

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Para conseguir realizar meus sonhos, terei que ter determinação, mesmo passando por muita dificuldade no ca-minho.

VIDA Como explicar algo que não há explicações? Vocês podem não saber, mas tenho minhas razões

Essa palavra eu sei muito bem definir Pois é dentro de quadra que passo à existir. Mais forte, feliz, entusiasmada! Em um jogo que tudo passa em questão de segundos! Não sei como, nem quando um esporte tão simples passou à ser meu mundo!!! Uma batalha que não acabará até a bola tocar no chão Onde, um segundo distraído, pode se tornar um ponto à mais ao adversário Não dá pra explicar ao certo a emoção. A vibração do exato momento em que o oponente é falho Em que sua equipe vibra ao som do apito do juiz Indicado um ponto à mais Ponto pro meu time, ponto que eu fiz!!! Posso dizer com total clareza que em quadra encontrei um novo lar Uma nova família Algo por quem quero muito batalhar Para jogar mais e mais, e mais uma partida. Buscar com garra cada bola perdida Não desistir, sempre buscar a vitória Até o último ponto! Sei que isso é apenas um poema, um simples conto Mas cada palavra escrita, é uma aflita confissão De uma atleta apaixonada pela profissão.

Sheila

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Sempre que sonhamos em fazer algo, mais cedo ou mais tarde, o problema pode vir para tentar nos derrubar.

Domingo de manhã, esta semana começou. Eu acordei por volta de umas 9 da manhã, lavei a cara, fiz um café e fui deitar no sofá com 0% de ânimo. Primeiro pensei em jogar um game, mas optei em ir para o face. E em um entra e sai de páginas, já eram 11 horas. Foi quando minha mãe falou: - “Wander, bem que você poderia ir comprar uma marmita.” Peguei o cartão e fui, era coisa rápida, vai e volta. Mas, no meio desse caminho, sozinho, é quando as coisas começam a complicar. Porque é o momento em que fica só você e a coisa mais peri-gosa para o homem, sua própria mente. Um espaço onde você coloca as coisas que não quer que nin-guém saiba: sonhos e medos, esperanças e frustações, é como dizia Bojack da animação Bojack Hor-seman – “tem umas paranoias sem sentido, que surgem do nada, com o poder de acabar com o meu dia”. Porque a nossa mente, é a única coisa que pode nos destruir e não adianta tentar fugir, pois aon-de você for, ela estará com você, para tirar sua paz. Depois de passar por tudo isso, eu comprei e voltei para casa. Comi e fui jogar PS2, joguei das 1:00 às 5;30 da tarde. Fui tomar banho para ir à igreja, sem ser perturbado pela minha mente, que está à espera para tentar me colocar para baixo e me preocupar com problemas. Mas, para que se preocupar, a vida é curta e rápida. Nós temos que fazer o que quisermos, porque, mais tarde, pode não dar mais tempo para fazermos algo. Me chamo Wander, tenho 18 anos. Gosto de jogar vídeo game, assistir anime, ler mangás e desenhar

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Os sonhos loucos, vão sempre na contra mão da desigualdade diária

Ajudar, socorrer, auxiliar Sinônimos do verbo amar Pois só ajuda, quem ama Só socorre, quem quer ver o outro bem Só auxilia, quem de bom coração, sempre será pronto à amar, sem ao menos, conhecer quem padece. Padece de fome, frio ou de alguma doença Padece de um abraço ou de uma palavra de motivação Amar, quem, em um grito silencioso, pede ajuda Em um desespero calmo suplica, por socorro Um coração escondido bate acelerado, à procura de quem o auxilie.

O que estamos fazendo por essas almas? Que dividem o mesmo espaço, o mesmo ar que respiramos, que esbarramos pelas ruas ou vemos em uma publicação, nas redes sociais Nem sempre será um estranho, ás vezes, é quem está do nosso lado, calado ou rindo alto, mas com o coração amargurado, procurando quem ao menos lhe dê um abraço. Que possamos ser cada dia mais sensíveis Para ajudar, socorrer e auxiliar Enfim, amar quem ao nosso redor está Amar aos próximo! Vamos parar de falar e publicar E começar à agir e praticar. Meu nome é Gabriella, tenho 17 anos. E eu acredito que com pequenas atitudes, juntos, podemos mudar o mun-do, nem que seja 1%.

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Seja feliz, mesmo com as brigas e as tristezas.

Tudo na vida se passa, mesmo com os olhos fechados, com as tristezas e as mágoas. Mas, mesmo sentindo dor no coração, o tempo vai curando, de um modo que você nem percebe, e logo vê que já está ótima da perda, para seguir sua vida e pensar coisas boas, que viveu com aquela pessoa. Meu nome é Maryelli Naves, tenho 17 anos, moro na cidade de Alfenas, no bairro Jardim Primavera.

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Em todos sonhos, tem grandes curiosidades e toda realidade, tem tristeza e compaixão.

Meus sonhos! Terminar a escola, fazer faculdade do curso que eu tanto amo, que é Cyber Se-curity. Entrar na defesa cibernética do exército brasileiro ou em qualquer “grande” empresa, tais como a Microsoft, NASA e etc... Queria poder ter esse sonho realizado! Se eu conseguir entrar para o exército brasileiro, irei entrar na famosa guerra virtual. Irei de-fender e procurar bandidos que vendem crianças, os pedófilos, os que estão camuflando site de igreja como ponto de drogas e os que matam para ganhar dinheiro e visualização. Sim! Porque o mais perigoso, é a guerra que não é anunciada. Muitos pensam – “o que será isso?” – e logo quando se explica, falam: “Áh, é só ficar de boa em casa ou na empresa sentado, mexendo no “PC”. Sim, para eles pode até parecer fácil e ser um tra-balho não cansável. Mas a realidade, é que será muito difícil e perigoso, pois é necessário que alguém investigue o suspeito que matou ou roubou certa pessoa, aquele político que está desviando dinheiro.

E isso, é o começo da guerra cibernética.

Me chamo Filipe, tenho 19 anos e o texto diz quais são meus sonhos e onde quero chegar com eles. Isso mostra que eu amo ficar mexendo no PC.

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Com determinação não há dificuldade que prevaleça.

“Que nada nos defina Que nada nos sujeite Que a liberdade seja a nossa própria substância Já que viver é ser livre.” Procuro sempre me inspirar nessa frase. Depois de viver certas coisas na minha vida, descobri que minha liber-dade e minha saúde mental valem bem mais que qualquer coisa. Meu nome é Letícia, eu tenho 18 anos.

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Sou grato pelo dom que me foi dado, pois, na alegria encontrei conforto, porém, na tristeza fui moldado.

SAPIENS NON SALUTARE Todo mundo se engana É o que eu penso todo final de semana Sexta, sábado e domingo Nunca se tem certeza de quem peregrinará comigo Sendo não, pois, nunca pior viajar com um desconhecido, É divino como sempre nos tornarmos amigos. Eu não sei, não importa o que aconteça, Algo sempre me deixara com dores de cabeça Sendo como uma roda da sorte Onde o pior prêmio pode ser a morte. São complexas tais coisas, tais coisas da vida

Porém sigo meu instinto e não há quem me proíba. Hora presente, hora futura Experiências vem do passado e a história se mistura Suplico: - Ó Deus, venha em meu socorro! Agradeço, porque ele sempre vem, antes que eu fique louco Olho no espelho e sigo em frente Me deparo com a história presente Decepciono-me e fico com expressão de choro É a mesma de antes, porém, com um pouco de elaboro. Nesse cenário me mantenho otimista Pois não altera a realidade o realista Assim, continuarei seguindo o instinto Não negarei a mim mesmo, nem o que sinto Então, seguirei aguentando Até a hora em que não estiver mais suportando Enxergo isso como um propósito e ás vezes dói Porém, nunca prometi para ninguém que seria um herói Ser simplesmente humano, muita vontade, muito engano Apesar que desde sempre eu soube levar a vida Acho que não vai ser agora que perderei estriba Este poema é um reflexo da fase atual de minha vida, do meu relacionamento amoroso, porém, de uma visão oti-mista, como especifico no próprio poema. Na forma de reflexão poética, encontrei o conforto que necessitei nas horas mais difíceis que passei e espero compartilhar esta experiência com vocês, caros leitores, para que possam refletir um pouco, assim como eu. Me chamo Amando Luiz, estou cursando o 3° do Ensino Médio e tenho 17 anos, o título do poema está em latim e significa “Sabedoria não Salva”, o que valoriza as experiências e a manei-ra simples de levar a vida, outra crítica a mim mesmo, por ser tão complexo e perfeccionista com tudo. Enfim, lhe desejo, caro leitor, que se deleite em si próprio e que este poema seja um espelho para sua autorreflexão.

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Conseguir o que você deseja, é a recompensa de ter enfrentado seus problemas.

Ultimamente, é a palavra “foda-se” que eu estou usando Sempre acompanhado dos meus manos, sozinho nunca estou. Mas sempre me deparo, se perguntando quem eu sou Muitos vem à mim, pedindo conselhos Mal eles sabem que eu preciso de um apelo emocional . Sempre tudo é tão enjoativo pra mim, ás vezes penso que nunca vai ter fim. Amo música igual água, ambas, eu preciso consumir diariamente. Meu nome é Bruno da Silva Coelho Goes. Eu nasci na cidade de Ilhéus, localizado na Bahia. Vim para Alfenas aos 2 anos e moro aqui desde então. Vivo no bairro Vista Grande, um bairro bonito, tranquilo e por fim, pacífico.

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A dificuldade irá vir a qualquer momento, mas não irá atrapalhar minha felicidade.

Os meus sonhos, são capazes de enfrentar qualquer barreira Independente de qualquer situação O amor é uma forma de expressar carinho e afeto O amor nos ajuda na dificuldade ou em qualquer situação O amor é uma coisa linda, que sempre será vivido no nosso mundão.

Larissa

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A sua felicidade, pode estar no fim da sua dificuldade, não desista!!

A REALIDADE A realidade Escondida em meio às pessoas Em meio aos sonhos E nesse texto, venho compondo Vivemos nessa realidade Em um mundo de muita morte E pouca sagacidade Pessoas se perdendo, se escondendo, sofrendo Injetando em si, seu próprio veneno Veneno que às mata, devagar, sem pressa Vai descendo a ladeira Mais um, que se perdeu por bobeira Descendo pra sustentar seu vício Em sua conta, já não cabe tentos delitos Uma voz de liberdade Faz ele querer sair dessa realidade Sem saber o que fazer Vivendo apenas para se esconder Meu nome é Vinícius Reis F.S., tenho 17 anos. Moro em Alfenas, Jardim Primavera, conheço muito essa realida-de, já perdi muitas pessoas por conta das drogas. Uma triste realidade que enfrentamos no nosso cotidiano.

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Solidão é como um copo vazio, na qual Só se enche com um litro cheio de amor.

O CAMINHO O que falar da depressão? Forte! Palavra de sentimento profundo Pessoas estourando como uma panela de pressão É só ligar a televisão O que você vai ver é que a maldade dominou o mundo. Jornais inventam coisas que não veem Notícias passando e não mostram as indiferenças Não se esqueça, rede social é uma máscara E são as nossas dores que alimentam as reportagens da imprensa. Como eu disse, a depressão está cada dia maior Vão sair na rua dizendo e vão dizer que é moda Mais porque a doença do famoso te comove e a do seu amigo, que está, ao seu lado te incomoda? Redes sociais são máscaras Pra ganharem curtidas, fazem até pose Mas não se esqueça que seguidor não faz de você um ser humano bom Pois Hitler tinha milhões e Jesus só tinha doze Mas qual a diferença de Hitler e Jesus? Uma resposta pra sua dúvida eu arranjo É que Hitler tinha exércitos de homens E Jesus tinha um exército de anjos. Desceu da glória Já foi criança, adolescente e rapaz Aquele homem morreu na cruz Pra que hoje você vivesse em paz.

Ravel

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SUPERAÇÃO

Não entendia aquela angústia, se tudo eu tinha e nada me faltava. “É falta de Deus”, alguns diziam. NÃO! O que faltava era vontade de seguir em frente. Depois de um tempo, sem a angústia, eu finalmente compreendi o que aconteceu. Não me faltava deus e nem vontade de seguir. Faltava o autoconhecimento. Emoções, sentimentos, pensamentos... É muita intensidade para uma só pessoa. “Seja uma boa menina, não faça nada errado.” Tudo isso é conversa fiada.

Tenho que ser eu mesma, e entender que, se não for eu, ninguém será meu ponto de paz. A superação começa dentro de mim! Meu nome é Camila Cristina Alves, tenho 17 anos e vivo com meus pais e meus irmãos. Sonho em ser arquiteta, mas estudar história sempre chamou minha atenção também. Gosto de ler, sair com meus amigos e ir em uma boa roda de samba. Essa sou eu!

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O abuso do ser humano é diário, mas precisamos lutar para fazer mudança e sorrir com alegria.

SAD BOY = GAROTO TRISTE Vivemos em um mundo mal Aonde ninguém tem sentimentos É todo mundo igual! Precisamos de respeito Viver feliz e ir perdendo os defeitos O mundo é assim Ninguém sabe o que está por vir Triste e sozinho Ninguém vai querer te ver em bons caminhos! Meu nome é Ryan, nasci em Alfenas e fui criado aqui mesmo. Estou terminando o Ensino Médio, acabei de fazer 18 anos e estou pretendendo fazer engenharia civil.

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Todo sonho tem que ter esperança e toda realidade tem problema.

Que a esperança te convença, que o problema não compensa e que a ausência não dá paz. O verdadeiro amor de quem se ama, tece a antiga esperança, que não se desfaz. E a coisa mais divina que há no mundo, é viver cada segundo como nunca mais.

Matheus

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Para alcançar minha felicidade, será necessário lidar com cobranças, que surgirão ao longo do meu caminho.

Bom... essa semana foi tensa, aliás, que mês difícil. Agosto, talvez, seja o único mês que eu não gosto. Pode até ser coisa da minha cabeça, que tenta me enganar, colocando a culpa no mês, quando algo não acontece da forma que eu esperava. Mas, ao longo dos últimos meses, eu estou tentando melhorar meu ponto de vista sobre o mundo. Agora eu me recuso à penar coisas negativas, procuro sempre enxergar algum erro como uma lição. Igual meu pai sempre diz – “saber enxergar o lado bom de cada situação”. É a frase que vai sempre ecoar em meu pensamento. Todo o universo gira entorno da energia de cada ser. Acho que a energia é o combustível do mundo e se não soubermos usá-la da maneira correta, ela afetará nosso próximo, devastando-o. Por isso, a importância de conhecermos e compreendermos as energias, vibrações e, principalmente, a empatia com o próximo. Enfim, Agosto tá acabando e tô feliz por isso. Mas, espero que ano que vem, esse seja o mês que mais me deixará feliz. Meu nome completo é Giovana Martins de Oliveira, tenho 17 anos, moro com meus pais e estou cursando o 3° Ano do Ensino Médio.

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Precisamos de inspiração, a cada dia, para enfrentarmos esse mundo desigual.

Todos nós passamos por coisas que nunca havíamos passado, e em muitas vezes, preferimos

não deixá-las no passado. Somente cada um de nós, sabe o que tem passado, já passou por alguma dificuldade? Ou tem passado? Atualmente andamos muito ultrapassados, evoluímos no tempo, mas, talvez, sem um verda-deiro aprendizado. A nossa humanidade, é quem faz seus próprios passos. Se repetimos nossos erros, destruindo nosso planeta e nossa própria existência, é porque... Sim, ainda vivemos no passado! Meu nome é Guilherme Ananias da Silva, tenho 17 anos e gosto de jogos online.

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Para conquistar seus sonhos, existem várias oportunidades, basta você ir atrás dele hoje, para que futuramente possa alcançá-lo.

O MUNDO ESTÁ CADA VEZ MENOR!! O mundão diminuiu e o povo que está crescendo Nem tenta pagar de pá, porque aqui é o puro veneno

Agora presta atenção, eu mando meu papo reto Se quer evoluir no mundo seja lá o mais esperto Por que o mundão girou e só tem povo escroto Que só sabe evoluir, crescendo pisando nos outros Mas pode ficar tranquilo, que o certo é o certo E o errado é cobrado Seja lá o mais esperto e evolua sem pisar em ninguém, que tu vira o mais falado Agora viva as emoções e curta a adrenalina Seja só um menino bom, que duram mais tempo na pista. Meu nome é Igor Galieta, tenho 18 anos e sou o aprendiz do universo, posso enxergar que o mundo está cada vez menor.

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Todos os dia, devemos tentar ser melhores, mas o mundo, á vezes, faz você se dispersar do que realmente é do bem.

No começo, pensei que seria diferente No começo, imaginei que não machucaria tanto a gente Na verdade, o mundo nunca foi um lugar bom Um lugar que nos obriga a viver sem poder expressar nosso dom. Uma sociedade presa no dinheiro Um amor sem paz, apenas com receio Mas com experiência minha, isso não pode ser mudado Tento, mas mudar apenas com a voz e a sociedade com soldados. Realmente o mundo se tornou um lugar ruim E as pessoas se adiantaram, elas querem o fim Estão acabando com o mundo de pouco em pouco Até não sobrar nada para o povo. Mas, afinal, quem é o povo? Isso mesmo Somos nós, chamados de loucos Estamos acabando com o que é nosso E vamos ganhar o que em troca?

Ana Laura

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Onde há amor, há esperanças de alcançar seus sonhos. Mas, precisamos viver a realidade e passar pelas dificul-dades.

AMAR COM CONSCIÊNCIA Sentimento é uma coisa complicada Ainda mais quando ele não vem de ambos os lados, mas o que vem fácil, vai fácil

Por isso, demonstre e seja merecedor daquilo que você merece. Só não aceite menos que isso, você já é uma pessoas inteira, não precisa de alguém que te complete Precisa de alguém que te transborde... DANÇAR, MINHA ARTE PARA EXPRESSAR Dance conforme o ritmo de seu coração Não importa o que as outras pessoas pensam A arte está dentro de você E você não precisa se esconder Faça o que sabe fazer de melhor Se quer dançar, então que dance Só não deixe de ser feliz para agradar os outros. MEU FUTURO AINDA NÃO SEI Sempre me perguntam o que quero ser No que quero me formar, se já estou planejando meu futuro Sempre quando escuto isso, não sei o que responder Porque não planejo nada, vivo um dia de cada vez Gosto de me descobrir a cada dia Não quero uma profissão que me dê muito dinheiro, se eu estiver vazia por dentro Quero algo que me dê prazer, me faça sentir feliz e realizada. Meu nome é Taiane T. de Souza, tenho 17 anos, moro na cidade de alfenas, no bairro Itaparica. Dançar, minha arte para expressar!

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Persistir na realidade sofrida, sempre mantendo a humildade.

Preso no meu pensamento Escondendo risos Em meio à tantas pessoas me sinto vazio... Tantas mentes brilhantes, se tornando frio Em meio ao rio de decepções Pessoas com medo de demonstrar emoções Afundada em solidões Fazendo de sua vida refrãos Tudo tão repetitivo, SABE? Mas, e o amor na vida, onde cabe? As pessoas que você ama, elas sabem? Olhe ao seu redor, quantas pessoas... Dói saber que não confiam umas nas outras Você vem à vida para cumprir rotas? Meu nome é João Pedro, venho de um lugar humilde Tão simples como escrever isso na folha de sulfite Tudo se torna fácil, portanto, que pratique Hoje peço à Deus, pra que tudo se multiplique Ou para que, boa parte disso tudo se abrange Apesar de ser pequeno e humilde A Vista é Grande.

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Tenho certeza, que vai ser possível, eu dar uma casa para minha mãe! MOTIVAÇÃO

Você tem um sonho? Então corra atrás, persista, jamais desista deles,

Pois um dia eles se realizam!! Batalhar todo dia, esforçar ao máximo, para que consiga ter um ótimo resultado! Meu nome é João Henrique, tenho 17 anos, trabalho à 3 anos em um bar e tenho um filho, por isso escrevi essa motivação.

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Este livro, foi escrito por alunas e alunos do 3° Ano B, do Ensino Médio, da Escola Estadual Doutor Napoleão Salles, localizada no bairro Vista Grande, no município de Alfenas, interior de Minas Gerais.

A escola pública tem arte, Basta nós enxergarmos!

E esta escola pública, que está longe de seus estudos, de suas notícias e dos orçamentos governamentais, lhe en-

trega LIVROS.

E o que você irá fazer?