universidade federal da paraÍba universidade … · alcides, jaime, vilani, terezinha, chicão,...
TRANSCRIPT
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
PROGRAMA DE DOUTORADO INTEGRADO EM ZOOTECNIA
RESTRIÇÃO ALIMENTAR E GANHO COMPENSATÓRIO EM NOVILHAS
DAS RAÇAS SINDI E GUZERÁ
LEILSON ROCHA BEZERRA
AREIA – PB DEZEMBRO - 2009
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
PROGRAMA DE DOUTORADO INTEGRADO EM ZOOTECNIA
RESTRIÇÃO ALIMENTAR E GANHO COMPENSATÓRIO EM NOVILHAS
DAS RAÇAS SINDI E GUZERÁ
LEILSON ROCHA BEZERRA
AREIA – PB DEZEMBRO - 2009
LEILSON ROCHA BEZERRA
RESTRIÇÃO ALIMENTAR E GANHO COMPENSATÓRIO EM NOVILHAS
DAS RAÇAS SINDI E GUZERÁ
Comitê de Orientação:
Prof. Dr. Severino Gonzaga Neto – Orientador Principal Prof. Dr. Ariosvaldo Nunes de Medeiros Prof. Dr. Marcelo de Andrade Ferreira
AREIA – PB
DEZEMBRO – 2009
Tese apresentada ao Programa de Doutorado Integrado em Zootecnia, da Universidade Federal da Paraíba, do qual participa a Universidade Federal Rural do Pernambuco e Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do título de Doutor em Zootecnia.
Área de Concentração: Produção Animal
Ficha Catalográfica Elaborada na Seção de Processos Técnicos da
Biblioteca Setorial do CCA, UFPB, campus II, Areia - PB
B574r Bezerra, Leilson Rocha.
Restrição alimentar e ganho compensatório em novilhas das raças Sindi e Guzerá. / Leilson Rocha Bezerra. - Areia: UFPB/CCA, 2009.
101 f.
Tese (Doutorado em Zootecnia) - Centro de Ciências Agrárias. Universidade Federal da Paraíba, Areia, 2009.
Bibliografia.
Orientador: Severino Gonzaga Neto.
1. Novilhos – raça Sindi – restrição alimentar 2. Novilhos – raça
v
Aos meus pais,
Francisco Bezerra e Maria Perpétua, pela incansável luta em educar e amar;
À minha esposa, Karla Nayalle pelo companheirismo, dedicação e amor.
A minha irmã, Maria Augusta, uma verdadeira batalhadora. Esta vitória pertence ao amor que vocês comigo compartilharam, tornando um sonho realidade,
Dedico.
Aos meus avôs(In memorian) e avós, pelos ensinamentos de férias; A Josefa (sogra), Kaline e Dunga (cunhados), pela forte torcida; Aos Tios José Rocha, Antônio Neto, Francisco Rocha, Francisca Alcides, Jaime, Vilani, Terezinha, Chicão, Edmar, Dedé e Cicão (In memorian), pelo carinho dedicado; Aos todos os primos de sangue e de tabela; Aos amigos Zaqueu e Marguepson pela torcida; A todos os irmãos Demolay e a família Macônica; A todos os amigos, com carinho,
Ofereço.
vi
AGRADECIMENTOS
Ao Grande Arquiteto do Universo, nosso pai eterno, pela luz, coragem e
sabedoria e por todas as minhas conquistas;
Ao meu orientador, Prof. Severino Gonzaga Neto, pela oportunidade de fazer
parte da família Areia, o conhecimento compartilhado, a formação profissional e o
companheirismo e amizade de todas as horas;
Aos irmãos Helton, Emannuel e Sebastião Júnior, pelo acolhimento em sua casa
onde nos tornamos verdadeiros irmãos, um carinhoso obrigado;
Ao Prof. Aderbal Marcos de Azevedo Silva, também responsável pela minha
formação, agradeço a confiança, firmeza e amizade de sempre;
À Profa. Solange Absalão Azevedo (in memorian), a quem acompanhei e
admiro, um ser humano especial, pela constante disponibilidade e amizade, agradeço de
coração;
À Universidade Federal da Paraíba, por ter me recebido no PDIZ, ao CNPQ pela
concessão da bolsa de e e N-NH3 (0 e 3h) estudo e ao BNB/Fundeci pelo financiamento
da pesquisa;
À EMEPA, nas pessoas do seu então presidente Dr. Miguel Barreiro e, em
especial aos pesquisadores da Estação de Alagoinha, Dr. Paulo Leonardo, Dr. Rômulo
Albuquerque, Dr. Saulo Vilarim, Dr. Valdemir, Dr. Rubens e demais pesquisadores,
pela oportunidade de realização do experimento e, a Sherman, por seu esforço e
amizade durante o experimento;
Ao Prof. Ariosvaldo Nunes de Medeiros, pelos ensinamentos, diálogos e o
empenho na melhoria do nosso Curso, muito obrigado;
À Profa. Patrícia Givisiez, pela ajuda com o material de laboratório;
A Profa. Ângela Maria Vieira Batista e ao Prof. Marcelo de Andrade Ferreira da
UFRPE, pelas contribuições durante a qualificação;
A Profa. Juliana Oliveira e ao Prof. Edson Mauro, pelas contribuições na
realização do experimento, além da amizade dedicada, agradeço de coração;
Ao Prof. Dr. Paulo Sérgio de Azevedo, pela amizade, os ensinamentos de todos
os dias e mais intensamente na qualificação, muito obrigado;
A todos os professores do PPGZ e do PDIZ, pelos ensinamentos e pela
convivência agradável no decorrer do curso, agradeço muito;
vii
Aos Professores e colegas da UFPI/CPCE: Lindenberg Sarmento, Edson, Mauro,
Enéas, Júlio, Batista, Jamile, Regiane, Carlo Aldrovandi, Sinevaldo Moura, Ney
Rômulo, Marcos Jácome e Jacira Torreão, pelas sugestões e contribuição com a tese,
agradeço; Oportunamente, também agradeço aos demais colegas da UFPI, pelo trabalho
e pela amizade compartilhada;
Ao colega de pós-graduação e amigo Ebson Cândido por ter compartilhado
tantos dias de trabalho e de amizade em Alagoinha, agradeço de coração, pois sem você
o projeto não teria sido possível;
Ao irmão e amigo Tobyas Mariz, exemplo de profissional, sempre disposto a
ajudar e colaborar;
Aos colegas que fizeram e fazem parte da Família Gonzaga: Tobyas (o
primogênito), Thiago Tobata, Sidnei, George, Jean, Robinho, Bruninha, Gilmar,
Jônatan, Bruno, Junior, Cibely e Andréa, companheiros de Alagoinha que foram
importantes na execução de alguma e até de todas as etapas do trabalho, pela
colaboração, experiência compartilhada, pelas noites em claro na avaliação do
comportamento dos animais, pela amizade, que serviu dentre outras coisas para o
crescimento pessoal e profissional de todos;
Aos amigos da minha turma de doutorado de 2007: Marcelo, Josimar,
Rosângela, Jully, Cicília, Faviano, Carolyny Batista pela amizade e companheirismo,
meu muito obrigado;
Aos amigos da pós-graduação: Darklê Luiza, Wirton, Serjão, Wellington,
Mateus, Ana Sancha, Cláudia, Maurício, Zé Fábio, Henrique Parente, Valdi Lima,
Lígia, Tiago Araújo, Danúsio, Araken, Ana Cristina, Alexandre Amorim, Juçara,
Janaína Arruda, Luciana Porangaba, pelos momentos de risadas e estudo
compartilhados durante a vida de Doutorado, muito obrigado;
Aos demais colegas e amigos da pós-graduação, cujos nomes não citarei, para
que não cometa injustiça ao esquecer de alguém;
À Dona Maria das Graças Medeiros, da Secretaria do PPGZ/PDIZ, pelo pronto
atendimento e pela amizade;
À José Alves, Charllys, Antonio Costa e Duelo, do Laboratório de Nutrição
Animal, pela ajuda necessária às análises laboratoriais;
viii
Enfim, a todas as pessoas que contribuíram para que este trabalho pudesse ser
realizado, mas que aqui não estão citados por falha de memória, mas não do coração,
porém, todos especiais por tornarem esse sonho uma realidade.
Muito Obrigado!
ix
BIOGRAFIA DO AUTOR
LEILSON ROCHA BEZERRA – Filho de Francisco Luiz Bezerra Vieira e Maria
Perpétua Rocha Vieira nasceu em Iguatú, Ceará, em 04 de novembro de 1981, onde
concluiu o ensino médio em 1999, no Centro Educacional Ruy Barbosa. Em março de
2000, ingressou como graduando no Curso de medicina Veterinária, no Centro de Saúde
e Tecnologia Rural da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) que passou a ser
Universidade Federal de Campina Grande, o qual concluiu em abril de 2005. Quando
acadêmico, desenvolveu pesquisa na área de Patologia Clínica Veterinária com a linha
de pesquisa Perfil Hematológico, orientado pelo Profº Adriano Fernandez, de quem foi
monitor no programa de Bolsas de monitoria por três anos. Concluiu o mestrado em
novembro de 2006, pelo CSTR/UFCG, no qual foi bolsista do CNPq, desenvolvendo
sua pesquisa na área de Nutrição de Ruminantes, sob a orientação do Prof. Dr. Aderbal
Marcos de Azevedo. Em março de 2007 ingressou no curso de Doutorado Integrado em
Zootecnia (UFPB⁄UFRPE⁄UFC), sob a orientação do Prof. Dr. Severino Gonzaga Neto.
Em julho de 2008 efetivou-se pela Universidade Federal do Piauí (UFPI), Campus
Professora Cinobelina Elvas (CPCE) no Curso de Zootecnia, na área de Nutrição e
Produção de Animais Ruminantes, onde atualmente é professor Efetivo da Coordenação
de Zootecnia, lecionando Disciplinas de Nutrição de ruminantes e Bovinocultura de
Leite.
x
SUMÁRIO
Página Lista de Tabelas........................................................................................................ xi Resumo Geral........................................................................................................... xiii Abstract.................................................................................................................... xv Considerações Iniciais.............................................................................................. 1 Referencias Bibliográficas....................................................................................... 5 Capítulo 1 - Restrição Alimentar e Ganho Compensatório em Novilhas das Raças Sindi e Guzerá.............................................................................................
6
Referencial Teórico.................................................................................................. 7 Zebu de Duplo Propósito................................................................................ 7 Restrição alimentar x Ganho compensatório................................................. 9 Perfil Metabólico............................................................................................ 14 Estimativa da Produção de Proteína Microbiana baseada nos derivados de
purina..............................................................................................................
19 Balanço de Nitrogênio.................................................................................... 22
Referências Bibliográficas....................................................................................... 24 Capítulo 2 - Restrição Alimentar e Ganho Compensatório em Fêmeas Sindi
Pré-Púbere.........................................................................................
30 Resumo..................................................................................................................... 31 Abstract.................................................................................................................... 32 Introdução................................................................................................................. 33 Material e Métodos................................................................................................... 34 Resultados e Discussão............................................................................................ 41 Conclusões................................................................................................................ 54 Referências Bibliográficas....................................................................................... 55 Capítulo 3 - Restrição Alimentar e Ganho Compensatório em Fêmeas
Guzerá Pré-Púbere............................................................................
59 Resumo..................................................................................................................... 60 Abstract.................................................................................................................... 61 Introdução................................................................................................................. 62 Material e Métodos................................................................................................... 63 Resultados e Discussão............................................................................................ 69 Conclusões................................................................................................................ 81 Referências Bibliográficas....................................................................................... 82 Considerações Finais e Implicações...................................................................... 85
xi
LISTA DE TABELAS
Capítulo II - Restrição Alimentar e Ganho Compensatório em Fêmeas Sindi Pré-
Púbere
Tabela 1. Composição química dos ingredientes da dieta experimental, com base na matéria seca, nos períodos de restrição alimentar e realimentação....
36
Tabela 2. Participação dos ingredientes e composição química da dieta
experimental dos animais com base na matéria seca, nos períodos de restrição alimentar e realimentação.........................................................
37 Tabela 3. Médias e coeficientes de variação dos consumos médios diários
(kg/dia, %PV e g/kg0,75) de matéria seca (MS), proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), extrato etéreo (EE), carboidratos não fibrosos (CNF) e matéria mineral (MM) de fêmeas Sindi pré-púbere submetidas a períodos de restrição alimentar e realimentação........................................................................
42 Tabela 4. Médias e coeficientes de variação das concentrações séricas de
proteína totais, albumina, uréia, globulinas, glicose, colesterol, cálcio, fósforo, magnésio e creatinina de fêmeas Sindi pré-púbere submetidas a períodos de restrição alimentar e realimentação...................................
44 Tabela 5. Médias e coeficientes de variação do peso inicial (kg/dia), peso final
(kg/dia) e ganho de peso médio diário (kg/dia), eficiência alimentar, conversão alimentar e índice de compensação (%) em peso vivo e em peso0,75 de fêmeas Sindi pré-púbere submetidas à períodos de restrição alimentar e realimentação........................................................................
48 Tabela 6. Médias e coeficiente de variação do nitrogênio (N) ingerido,
nitrogênio (N) excretado na urina, nitrogênio (N) excretado nas fezes, balanço de nitrogênio (N), estimativa da produção dos compostos nitrogenados microbianos (Nmic) e N-NH3 (0 e 3h) de fêmeas Sindi pré-pubere em função dos níveis de restrição e da posterior realimentação................................................................................
51
xii
LISTA DE TABELAS
Capítulo III - Restrição Alimentar e Ganho Compensatório em Fêmeas Guzerá
Pré-Púbere
Tabela 1. Composição química dos ingredientes da dieta experimental, com base na matéria seca, nos períodos de restrição alimentar e realimentação....
65
Tabela 2. Participação dos ingredientes e composição química da dieta
experimental dos animais com base na matéria seca, nos períodos de restrição alimentar e realimentação.........................................................
66 Tabela 3. Médias e coeficientes de variação dos consumos médios diários
(kg/dia) de matéria seca (MS), proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), extrato etéreo (EE), carboidratos não fibrosos (CNF) e matéria mineral (MM) de fêmeas Guzerá pré-pubere em função dos níveis de restrição e da posterior realimentação...........................................................................
71 Tabela 4. Médias e coeficientes de variação das concentrações séricas de
proteína totais, albumina, uréia, globulinas, glicose, colesterol, cálcio, fósforo, magnésio e creatinina de fêmeas Guzerá pré-púbere submetidas à períodos de restrição alimentar e realimentação................
73 Tabela 5. Médias e coeficientes de variação do peso Inicial (kg/dia), peso final
(kg/dia), ganho de peso médio diário (kg/dia), eficiência alimentar, conversão alimentar e índice de compensação (%) em função do peso
vivo e do peso metabólico de fêmeas Guzerá pré-púbere submetidas a períodos de restrição alimentar e realimentação.....................................
76 Tabela 6. Médias e coeficiente de variação do nitrogênio (N) ingerido,
nitrogênio (N) excretado na urina, nitrogênio (N) excretado nas fezes, balanço de nitrogênio (N), estimativa da produção dos compostos nitrogenados microbianos (Nmic) e N-NH3 (0 e 3h) de fêmeas Guzerá pré-pubere em função dos níveis de restrição e da posterior realimentação.................................................................................
80
xiii
Restrição Alimentar e Ganho Compensatório em Novilhas das Raças Sindi e
Guzerá
RESUMO GERAL
Objetivou-se determinar o efeito de diferentes níveis de restrição alimentar e da posterior realimentação em fêmeas zebu de duplo propósito. Foram conduzidos dois experimentos paralelos utilizando 36 animais, sendo 18 da raça Guzerá e 18 da raça Sindi, distribuídas em três grupos segundo o regime alimentar: alimentação ad libitum
durante todo experimento; alimentação restrita em 20% da matéria seca na fase de restrição alimentar e ração ad libitum na fase de realimentação e alimentação restrita em 40% da matéria seca na fase de restrição alimentar e ração ad libitum na fase de realimentação. Em ambas as raças, na fase de restrição alimentar, o consumo de matéria seca decresceu com o aumento do nível de restrição, influenciando também a redução do consumo dos outros nutrientes. Em consequência à redução da ingestão, as concentrações séricas de proteínas totais, albumina, globulina, uréia, glicose, cálcio e fósforo apresentaram-se inversamente proporcionais à restrição aplicada. Tanto na raça Sindi quanto na Guzerá, não houve diferença no consumo e na concentração sérica dos nutrientes na fase de realimentação. Os animais do grupo controle da raça Sindi chegaram ao final da fase de restrição alimentar com peso semelhante, ao grupo 20% de restrição e ambos com peso superior ao grupo 40%. Na raça Guzerá, à medida que se aumentou o nível de restrição, reduziu-se o peso final. Em ambas as raças, na fase de restrição, o ganho de peso médio diário do grupo controle não deferiu dos animais que recebiam alimentação restrita em 20% e foi maior que o grupo restrito em 40%. Já na fase de realimentação, o grupo 40% de restrição obteve maiores taxas de ganho de peso, como manifestação do ganho compensatório parcial, pois em nenhuma das raças os animais conseguiram atingir o peso final do grupo controle. Tanto na raça Sindi quanto Guzerá, os animais do grupo submetido a 40% de restrição apresentaram melhor conversão alimentar quando comparado ao grupo controle, indicando maior eficiência do grupo, quando em ganho compensatório. Em ambas as raças, no período de restrição alimentar, o nitrogênio ingerido, excretado na urina e nas fezes, o balanço de nitrogênio, o nitrogênio retido e o N-NH3 decresceram com os níveis de restrição adotados. Na fase de realimentação nenhuma das variáveis foram influenciadas. A restrição alimentar em 20% e 40% pode ser adotado como prática de manejo nutricional para períodos de escassez de alimento tendo em vista o ganho compensatório dos animais.
Palavras-chave: Alimentação, derivados de purina, desempenho, metabolismo, sangue
xiv
Feed Restriction and Compensatory Growth in Heifers Guzerá and Sindi race
ABSTRACT
This research was developed to evaluate the effect different levels restricting feed and of the subsequent re-alimentation periods in dual purpose zebu females. It were conducted two experiments parallels utilizing thirty six animals, 18 Guzerá and 18 Sindi, distributed into three groups according to the alimentary regime com six animals for group: feed ad libitum during total experiment; restricted feed 20% of the dry matter in the phase restricting feed intake and ration ad libitum in the phase re-alimentation; group 3 - restricted feed 40% of the matter dry in the phase restricting feed intake and ration ad libitum in the phase re-alimentation. In both races, in the phase feed restriction, the dry matter intake decreased with the increase of the restriction levels, influencing the reduction in intake of other nutrients. Which the restriction feed was applied the serum concentrations of total proteins, albumin, globulin, urea, glucose, calcium and phosphorus were inversely proportional at the level of restriction during. The Sindi and Guzerá race, there was no difference in intake and serum concentrations nutrients in the phase re-alimentation. The animals in the control group in the Sindi race achieved the end of feed restriction phase with similar weight to the group 20% feed restriction and both presented higher weight than 40% group. In the Guzerá race, as increased the restriction level the final live weight was reduced. In both races, in the phase feed restriction, the weight gain mean daily in the control group there was no difference in the animals 20% feed restriction and was higher than the group feed restriction 40%. However, in the phase compensatory feed, the group 40% feed restriction achieved higher weight gain rates, as results of the manifestation of the partial compensatory growth, however any group achieved the final weight control group. In the both Sindi and Guzerá race, the animals group 40% feed restriction presented better feeding convection when compared to the control group, indicating your better efficient, when in compensatory growth. In both races, in feed restriction phase, it was observed that intake N, nitrogen excreted in feces and urine, nitrogen balance, nitrogen retention and N-NH3 reduced by the restriction level. In the re-alimentation phase any the variables were influenced. The feed restriction in 20% e 40% can be adopted as a practice nutritional management for feed privation period a view the compensatory growth of animals.
Keywords: Blood, feed, metabolism, performance, purine derivates
1
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
A seleção simultânea de animais para produção de carne e leite e o
desenvolvimento de sistemas de produção que satisfaçam a ambos os objetivos podem
ser importantes para a exploração das raças zebuínas de dupla aptidão e para
considerável parte dos criadores em nosso país.
A importância de selecionar raças tropicais de dupla função para a
sustentabilidade da pecuária nas regiões semi-árida vem contribuindo com o sucesso da
elevada eficiência da exploração de leite e carne na cadeia produtiva do Agronegócio, já
que são animais mais resistentes a problemas comuns na cadeia produtiva da
bovinocultura.
O Brasil destaca-se como um dos cinco países de maior efetivo bovino no
mundo, com um rebanho estimado em 206 milhões de cabeças, onde aproximadamente
28 milhões estão presentes na região Nordeste e cerca de um milhão na Paraíba (IBGE,
2006). Porém, grande parte deste rebanho tem aproveitamento aquém do seu verdadeiro
potencial, justificado pelas constantes sazonalidades ocorridas na região semi-árida,
agravado pela utilização de raças pouco adaptadas as condições da região.
A bovinocultura é uma das atividades agropecuárias mais enraizadas na cultura
dos produtores familiares do semi-árido, tendo se dado por intermédio dos “cascos do
boi” e da bravura dos vaqueiros a ocupação do espaço sertanejo nordestino. Entretanto,
a exploração dessa espécie exige do produtor estratégias de manejo alimentar que
atendam as exigências produtivas dos animais sem extrapolar as bases de custos da
alimentação do rebanho. Por esse motivo, torna-se necessário cada vez mais, a
realização de pesquisas com enfoque nos alimentos forrageiros ou programas
alimentares alternativos, mas que mantenham os níveis produtivos do rebanho em
patamares economicamente viáveis.
2
Segundo Roehsig (2006), o resultado de um sistema de alimentação pode ser
considerado um objetivo ou uma consequência, o primeiro quando as práticas
alimentares visam uma meta de produção e o segundo quando o indivíduo baseia a
produção em sua oferta de alimentos, aceitando grandes flutuações na produção,
fazendo ajustes quando a produção chega a um ponto crítico. Dessa forma, é comum
observarmos práticas alimentares na bovinocultura que não atendem aos requerimentos
nutricionais dos animais, ou ainda, que superestimam as exigências destes animais
tornando a atividade onerosa e sem retorno financeiro.
Nas situações caracterizadas anteriormente, o aporte ou excesso de nutrientes
podem causar um desbalanço nutricional, gerando desequilíbrio entre os ingressos de
nutrientes no organismo, seu metabolismo e os egressos. Como consequências, podem
surgir doenças da produção (Contreras, 2000), ou mesmo diminuição da eficiência
produtiva e reprodutiva, acarretando prejuízo para a atividade e, por conseguinte,
comprometendo a cadeia produtiva.
A eficiência de utilização dos alimentos é um dos principais fatores nutricionais
a afetar a rentabilidade das propriedades, já que as perdas resultantes do processo
digestivo são expressivas. Desta forma, minimizar as perdas que ocorrem durante a
digestão e o metabolismo de nutrientes pode ser um meio de aumentar o retorno do
capital investido na atividade leiteira.
Os animais ruminantes podem experimentar períodos alternados de abundância e
escassez de alimentos. Diversos experimentos demonstram que quando o alimento volta
a ser disponível em quantidade suficiente após um período de restrição alimentar, as
taxas de crescimento dos animais tornam-se mais aceleradas e excedem àquelas dos
animais que já estavam bem alimentados durante o mesmo período, devido a um
impulso fisiológico denominado ganho compensatório (Almeida et al., 2001).
3
A busca de alternativas para reduzir custos de produção e garantir maior
competitividade é um ponto importante na sustentabilidade de qualquer atividade
econômica. Dessa forma, a restrição alimentar é uma prática comum na criação de
bovinos jovens com o objetivo de explorar o crescimento compensatório, este pode ser
definido como qualquer limitação, tanto na qualidade, como na quantidade na
alimentação do animal, capaz de induzir um crescimento inferior a seu crescimento
normal (Boin & Tedeschi, 1997). Para Hoch et al. (2003), quanto maior a intensidade
dessa restrição, maior a redução nas taxas de crescimento que podem até ficar negativas.
O crescimento compensatório ocorre em situações nas quais os animais são
expostos a um estresse nutricional com determinada intensidade por algum tempo e, em
seguida, lhes é dado acesso a um nível de alimentação superior, denominado de
realimentação. Deve-se ressaltar que a restrição alimentar quantitativa em fêmeas
objetivando o ganho compensatório, somente é desejável quando a quantidade oferecida
para atingir o melhor ajuste da quantidade ingerida proporcione o melhor ganho de peso
sem causar danos de ordem reprodutiva e que reduza os custos com alimentação.
Mediante o interesse pelo aprofundamento de conhecimento na temática acima
abordada e o diagnóstico de escassez na literatura, tornam-se necessários alguns
questionamentos sobre as consequências da restrição alimentar, principalmente, no que
se refere à periodicidade (contínua ou temporária), à exploração do crescimento
compensatório (presente ou ausente), à fisiologia do animal (concentrações séricas de
nutrientes e metabolismo ruminal) entre outros aspectos que possam refletir sobre a
rentabilidade do sistema de produção. Outro fator de extrema importância é o
conhecimento a cerca do atendimento das exigências dos animais, pois tanto o excesso
quanto a escassez de nutrientes é prejudicial ao desenvolvimento produtivo e
reprodutivo dos animais, além de alterarem negativamente a rentabilidade da atividade.
4
Com isso, pretende-se apresentar um referencial teórico com uma abordagem
geral sobre a restrição alimentar e o crescimento compensatório bem como causas e
consequências (Capítulo I). Em seguida, serão apresentados mais dois capítulos: o
capítulo II trata do efeito da restrição alimentar e posterior ganho compensatório no
desempenho, perfil metabólico e Balanço de nitrogênio de fêmeas Sindi na fase pré-
pubere. Na seqüência, o capítulo III refere-se às fêmeas Guzerá, analisando-se as
mesmas variáveis do capítulo II. Por fim, são realizadas as considerações finais e
algumas implicações sobre o assunto abordado. A partir desta tese pretende-se avaliar a
aplicação da restrição alimentar seguida de uma resposta compensatória como prática de
manejo para novilhas Sindi e Guzerá.
5
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, M.I.V.; FONTES, C.A.A; ALMEIDA, F.Q; VALADARES FILHO, S.C.;
CAMPOS, O.F. Conteúdo corporal e exigências líquidas de energia e proteína de
novilhos mestiços holandês-gir em ganho compensatório. Revista Brasileira de
Zootecnia, v.30, n.1, p.205-214, 2001.
BAUMAN, D.E.; MCCUTCHEON, S.N.; STEINHOUR, W.D. EPPARD, P.J.;
SECHEN, S.J. Sources of variation and prospects for improvement of productive
efficiency in the dairy cow. Journal of Animal Science, v.60, p.583-592, 1985.
BOIN, C.; TEDESCHI, L.O. Sistemas intensivos de produção de carne bovina: II.
Crescimento e Acabamento. In: SIMPÓSIO SOBRE PECUÁRIA DE CORTE, 4.,
Piracicaba, 1996. Anais... Piracicaba: FEALQ, 1997, p.205-228.
CONTRERAS, P. Indicadores do metabolismo protéico utilizado nos perfis metabólicos
de rebanhos. In: GONZÁLES, F.H.D.; BARCELLOS, J.O.; OSPINA, H.; RIBEIRO,
L.A.O (Eds) Perfil metabólico em ruminantes: seu uso em nutrição e doenças. Porto
Alegre, Brasil, Gráfica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2000.
HOCH, T.; BEGON, C; CASSAR-MALEK, I.; PICARD, B.; SAVARY-AUZELOUX,
I.. Mécanismes et conséquences de la croissance compensatrice chez lês ruminants
INRA. Produção Animal, v.16 (1), p.49-59, 2003.
IBGE-Instituto brasileiro de Geografia e Estatística. Produção da Pecuária Municipal.
Rio de Janeiro, v. 34, p.1-62, 2006.
ROEHSIG, L. Análise das estratégias de alimentação de vacas leiteiras a partir das
práticas adotadas pelo produtor 2006. 40 f. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) –
Universidade Estadual de Maringá, Paraná, 2006.
6
CAPÍTULO I _____________________________________________________
Referencial Teórico
Restrição Alimentar e Ganho Compensatório em Novilhas das Raças
Sindi e Guzerá
7
REFERENCIAL TEÓRICO
Zebu de Duplo Propósito
O rebanho brasileiro de bovinos zebuínos é composto por diversas raças puras e
mistas, cada uma com suas particularidades e que se adaptam aos diversos sistemas de
produção encontrados no país.
A atividade pecuária bovina, embora tenha permitido, no decorrer da última
década, a permanência de muitas famílias no meio rural, tem vivenciado momentos de
estagnação e de descapitalização acentuada das propriedades. As dificuldades que na
maior parte são técnicas e econômicas têm levado muitos pecuaristas a abandonarem a
atividade. Entretanto, modelos de duplo propósito podem reduzir os custos por litro de
leite e aumentar o lucro do produtor.
As pesquisas de raças e sistema de produção de dupla finalidade são
inexpressivas no Brasil. Faltam estudos econômicos e fisiológicos sobre a importância
destas raças, pois vai além da vida produtiva da vaca, já que uma exploração mais
intensiva pode acarretar problemas graves de desordens nutricionais e diminuir a vida
produtiva dos animais.
Neste contexto, destacam-se raças Sindi e Guzerá, por apresentar duplo
propósito (leite e carne), alta eficiência alimentar e reprodutiva, precocidade e bom
desempenho produtivo. Em contrapartida, possuem grande variação nas características
leiteiras, reprodutivas e de peso que, aliados ao desinteresse de muitos produtores,
fazem com que a atividade não tenha um rendimento econômico capaz de propiciar que
uma matriz bovina produza um bezerro a cada ano (Lobo et al., 2000). Esses animais
possuem diferente capacidade de reserva energética, mantendo melhor o seu peso
durante o período de gestação, já que possuem uma menor produção leiteira quando
8
comparados aos europeus, justificado por uma partição diferente de nutrientes que ainda
não está bem elucidada.
Leite et al. (2001) afirmam que, dentre os zebuínos, o Sindi é o grupo genético
de função mista oriundo dos pré-desertos da Ásia, e excelente adequação produtiva às
condições do semi-árido, podendo viabilizar a criação de bovinos nas áreas secas do
Nordeste brasileiro, pois, além do pequeno porte e da rusticidade, apresenta
considerável produção. Além disso, esses animais demonstram melhor tolerância à
radiação solar, elevada tolerância à infestação por carrapatos, facilidade para caminhar e
melhor desempenho reprodutivo.
A raça Guzerá também merece destaque, genótipo criado na Índia, há milênios,
com objetivo de produção de leite e tração, foi introduzido no Brasil no final do século
XIX, sendo predominante até a década de 30. A partir daí, foi intensamente utilizada em
cruzamentos com outras raças, como é o caso do Guzolando, bem como influído
geneticamente na população mestiça.
Apesar do enfoque na produção de carne ter sido a tônica nos primórdios do
zebu, a raça Guzerá, em particular, no Brasil, possui relatos de animais com produção
leiteira elevada. Segundo Lobo et al. (2000), as características leiteiras são as que mais
contribuíram para a resposta genética no objetivo de seleção. Dessa forma, os esquemas
de seleção incluindo características de leite são mais eficientes que os esquemas de
corte. Esforços individuais de preservação e multiplicação de vacas superiores,
identificadas na maior parte das vezes através de controle leiteiro seletivo, foram feitos
por vários criadores até os inícios dos anos 90 (Melo & Penna, 2000).
É necessário valorizar esse recurso genético disponível para a exploração no
semi-árido brasileiro pois, além de bem adaptado a partir de sua origem, suporta bem as
variações edafoclimáticas, apresentando mesmo em épocas secas, invejável condição
9
corporal e boa produção de leite e carne. É sabido que a suplementação com
concentrados aumenta a produção em vacas de alta produção e que este fornecimento é
compensado pelo alto potencial de produção. Porém, os mecanismos pelos quais os
animais zebu de duplo propósito conseguem resistir à períodos de escassez de
alimentos, com menor perda de peso e menor comprometimento da atividade
reprodutiva ainda não estão bem elucidados. Estes períodos de restrição alimentar
impostos pela sazonalidade e menor produção qualitativa e quantitativa das forrageiras,
na maioria das vezes, são acompanhados de compensação do peso quando os animais
reestabelecem a alimentação normal e devem ser exploração como prática de manejo
para que o produtor consiga manter seu rebanho e obter maior lucro com a atividade
(Alves, 2003).
Restrição Alimentar x Crescimento Compensatório
O crescimento de um animal é um fenômeno biológico complexo, bastante
estudado, porém ainda não perfeitamente esclarecido, apresentando magnitude variável.
A ação dos hormônios e de fatores externos, principalmente a alimentação, permite que
os indivíduos manifestem diferentemente a sua herança genética de crescimento. Após o
nascimento, o crescimento pode ser ajustado em uma curva sigmóide, ou seja, o
crescimento pós-natal é lento, mas aumenta rapidamente, desacelerando a partir da
puberdade, até estágios mais avançados, quando a taxa de crescimento é reduzida (Grant
& Helferich, 1991). Porém, isto apenas ocorre em situações nas quais existem
limitações impostas pelo meio permitindo que o indivíduo expresse todo seu potencial.
Na fase de pós-puberdade, porém, ocorre uma desaceleração do crescimento por fatores
fisiológicos que ainda não são bem entendidos.
10
No Brasil, a maioria dos rebanhos é caracterizada por apresentar um nível
nutricional inadequado, mesmo os menos exigentes do ponto de vista genético, como é
o caso dos animais zebuínos de dupla aptidão. Aliada a isso, a busca por alternativas
para reduzir custos de produção e garantir maior competitividade é um ponto importante
na sustentabilidade de qualquer atividade econômica. Na criação de ruminantes, recorre-
se a alternativas como: restrição qualitativa com diferentes teores de proteína, restrição
alimentar e exploração do crescimento compensatório e utilização de dieta única com
restrição quantitativa (Yáñez, 2002).
O estresse nutricional, definido como qualquer limitação, tanto na qualidade,
como na quantidade da alimentação do animal, apresenta como consequência um
crescimento inferior ao crescimento normal (Boin & Tedeschi, 1997), sendo
proporcional a intensidade desse estresse, podendo as taxas de crescimento tornarem-se
negativas (Hogg, 1991).
Segundo Wilson & Osbourn (1960), o crescimento de um animal pode ser
retardado se um nutriente qualquer da dieta faltar, principalmente se energia e proteínas
estiverem limitando o ganho em peso; como o animal apresenta pequenas reservas
protéicas, a restrição de proteína geralmente promove maiores danos do que a
energética.
Após a restrição, ao acabar a injúria alimentar e reiniciar uma alimentação
adequada, os animais poderão apresentar taxas de crescimento acima do normal (Doyle
& Lesson, 2001). Este fenômeno é conhecido como crescimento compensatório e já está
incorporado no mercado americano de confinamentos, onde animais com condição
corporal melhor têm desconto em relação a animais mais magros.
A primeira comprovação da existência de crescimento compensatório em
bovinos foi demonstrada há mais de cinco décadas, após a realização de um
11
experimento onde no inverno foi fornecido feno aos animais, provenientes de dois
estágios de maturidade da forrageira e, conseqüentemente, com valores nutricionais
diferentes, proporcionando aos bovinos que consumiram feno de alta qualidade maior
ganho de peso no inverno ao se comparar com bovinos alimentados com feno de baixa
qualidade (Bohman, 1955).
Dentre os fatores mais importantes que influenciam na magnitude do
crescimento compensatório destacam-se a idade do animal no início da restrição, a seve-
ridade e a duração do período de estresse nutricional e a natureza da restrição alimentar
(Alves, 2003).
De acordo com Ryan (1990), bovinos restringidos nutricionalmente antes de três
meses de idade tendem a não apresentar crescimento compensatório, podendo ficar
permanentemente raquíticos, não atingindo o mesmo peso à maturidade de animais que
não sofreram restrição alimentar.
A resposta do animal no período de realimentação vai depender também da
quantidade de alimento ingerido neste período. Os resultados encontrados na literatura
são controversos quanto ao consumo alimentar, após o término da restrição.
Segundo Ryan (1990), há trabalhos em que o consumo aumentou após o
restabelecimento da alimentação normal, porém em outros não houveram alterações no
consumo. Segundo Hogg (1991), a ingestão de alimentos é variável durante as três a
quatro semanas após o período de restrição alimentar e, geralmente, é maior no grupo
que sofre restrição até o final da realimentação. O NRC (1996), apesar de discutir o
efeito da restrição alimentar no consumo de alimentos, não inclui no modelo de ingestão
nenhum fator para incorporar o efeito do crescimento compensatório.
Fontes et al. (2007) afirmaram que o consumo médio diário de matéria seca dos
animais nos tratamentos em que a dieta foi fornecida ad libitum (controle e ganho
12
compensatório) foi maior (P<0,05) no período de restrição alimentar, refletindo em
maior peso corporal dos animais. Entretanto, no período de realimentação houve maior
consumo alimentar nos primeiros 28 dias de realimentação nos animais alimentados ad
libitum, como resposta compensatória à restrição ocorrida no primeiro período.
Valente (2006) observou o consumo de 7,92 kgMS/dia no grupo submetido à
restrição alimentar e 8,05 kgMS/dia no grupo alimentado à vontade durante
experimento envolvendo restrição alimentar e ganho compensatório.
Segundo Hoch et al. (2003), após um período de restrição alimentar há um
aumento de consumo dos animais durante a fase de realimentação. Este aumento
varia de 3 a 24% dependendo de experiências e as variações são, em parte, relacionados
a gravidade da restrição alimentar, mas também resultam das diferenças ocorridas no
desenvolvimento do aparelho digestivo durante a fase de desnutrição.
Cerdótes (2007), trabalhando com animais da raça Nelore submetidos a período
de restrição alimentar, observou maiores consumos de matéria seca, proteína bruta e
fibra detergente neutro em animais submetidos a restrição alimentar, não detectando
diferença para consumo de matéria seca em %PV no período de realimentação entre
animais restritos e alimentados a vontade.
Costa et al. (2007) utilizando novilhas Pardo-Suíças puras, com cinco meses de
idade e peso inicial de 200 kg, também observaram menores consumos de matéria seca,
fibra detergente neutro no período de restrição alimentar (1º ao 90º dia).
Tolla et al. (2003) submeteram novilhos a restrição alimentar e ganho
compensatório e os consumos médios de matéria seca dos animais restritos (-15, -20, e -
25% em relação a mantença) durante o período de restrição foram 3,22, 1,40, 1,22 e
1,02 kg/dia, respectivamente. Todos os animais receberam alimentação ad libitum,
13
durante o período de compensação e, assim, o consumo aumentou para 4,78, 4,26, 4,46
e 4,78 kg / dia, respectivamente, não diferindo entre os tratamentos.
Segundo Ryan (1990), o animal pode apresentar compensação completa, parcial
ou não apresentar compensação após um período de subnutrição ou restrição alimentar.
A taxa de compensação geralmente varia de 50 a 100%. Quando a compensação é
completa, a taxa de compensação chega à 100% (Hornick et al., 2000). No caso de
compensação completa, o animal submetido à restrição chega ao final do período de
realimentação com peso semelhante aos animais que receberam alimento à vontade e o
ângulo de inclinação da curva de crescimento dos animais que passaram por restrição é
maior do que o dos animais que não passaram por restrição. Na compensação parcial, o
ângulo de inclinação da curva de crescimento dos animais que passaram por restrição é
maior do que o dos animais que não passaram por restrição, mas não o suficiente para
que o mesmo atinja o peso dos animais com alimentação à vontade.
Valente (2006) submetendo novilhas à restrição alimentar observou no período
de realimentação uma diferença de 15,9 kg de peso acumulado em favor do lote que
passou por restrição alimentar.
Hornick et al. (1998) submeteram Novilhas a 135 dias de restrição alimentar e
dois períodos distintos de realimentação (260 e 275 dias) observando maiores taxas de
ganho de peso (1,37 e 1,50kg/dia, respectivamente) nos animais que passaram mais
tempo em ganho compensatório.
Fontes et al. (2007) trabalhando com novilhos mestiços Holandês-Gir
observaram que os animais submetidos a um período de restrição alimentar ganharam
mais peso na fase inicial do período de realimentação, como conseqüência do ganho
compensatório.
14
Arrigoni et al. (1998) em experimento com bovinos jovens em confinamento,
relataram que foram necessários 61 dias para compensação dos animais, fato este
explicado pela menor necessidade de energia metabolizável para mantença e pela dieta
contendo de 12 a 15% de proteína bruta. Já Valente (2006), afirma que as novilhas
tiveram uma demora de 132 dias para não haver diferença (P>0,05) de peso, ou seja,
atingir a compensação total.
Durante a fase de crescimento compensatório, o metabolismo do animal
continua a ser adequado a uma baixa ingestão alimentar, enquanto animais não são (ou
pouco) restritos. O metabolismo energético basal do animal permanece baixo e aumenta
lentamente daí em diante, no ajustamento ao novo regime. Neste período, a eficácia da
utilização da energia e da proporção proteína/energia aumenta, enquanto que as
necessidades energéticas para o crescimento permanecem baixa (Carstens et al. 1991), o
que explica o maior ganho de peso dos animais.
A manifestação do crescimento compensatório está na dependência de uma série
de fatores e suas interações, o que justifica uma variabilidade muito grande na
magnitude da resposta animal frente aos períodos de restrição alimentar. Os estudos dos
mecanismos metabólicos e hormonais podem ajudar a compreendermos melhor os
processos metabólicos ocorridos quando submetemos animais a períodos de restrição e
realimentação. Dessa forma, o conhecimento das concentrações séricas, urinárias e
ruminais dos nutrientes bem como o balanço da utilização dos mesmos poderão
esclarecer melhor a influência desses fatores e suas interações sobre a manifestação do
crescimento compensatório, principalmente quando se considera aos fatores fisiológicos
envolvidos.
15
Perfil Metabólico
A composição bioquímica do plasma sangüíneo reflete a situação metabólica dos
tecidos animais podendo avaliar as lesões teciduais, transtornos no funcionamento de
órgãos, adaptação do animal diante de desafios nutricionais e fisiológicos e
desequilíbrios metabólicos específicos ou de origem nutricional (Diaz González, 2001).
Segundo Diaz González e Scherer (2002), o estudo da composição bioquímica
do sangue é de longa data, principalmente vinculado à patologia clínica em casos
individuais. Na década de 1970, Payne e colaboradores, em Compton (Inglaterra),
ampliaram a utilização deste estudo mediante o conceito de perfil metabólico, isto é, a
análise de componentes sangüíneos aplicados a populações. O trabalho de Payne,
aplicado inicialmente a rebanhos leiteiros, foi ampliado a outras espécies, com
aplicações práticas no manejo alimentar (Payne & Payne, 1987).
González (2000) diz que a composição bioquímica do sangue reflete de forma
confiável o equilíbrio dos nutrientes nos tecidos animais, de forma a poder avaliar
lesões teciduais, transtornos no funcionamento dos órgãos, adaptação do animal diante
de desafios nutricionais e fisiológicos e desequilíbrios metabólicos específicos ou de
origem nutricional.
Os desequilíbrios nutricionais que afetam os rebanhos são produzidos em função
do aporte e/ou da utilização dos alimentos que não são capazes de preencher as
exigências de manutenção, gestação ou produção. Quando esses desequilíbrios são de
curta duração e não são muito severos, o metabolismo animal compensa-o utilizando
suas reservas corporais. Quando o desequilíbrio é severo ou moderado e persistente, o
animal esgota suas reservas corporais e ocorrem as chamadas doenças de produção
(Herdt, 2000).
16
Deve-se ressaltar que embora o perfil metabólico de bovinos com carência
nutricional já tenha sido relativamente bem estudado no exterior, especialmente em
gado leiteiro, quase nada foi realizado em nossas condições, principalmente no que diz
respeito ao gado zebuíno de dupla aptidão, em fase de crescimento e, portanto há uma
grande carência de dados sobre estas raças nas condições semi-áridas.
O número de variáveis potencialmente mensuráveis no perfil metabólico é
ilimitado. Mas, na prática, opta-se por parâmetros que se tenha conhecimento sobre a
fisiologia e a bioquímica, o que permite a interpretação dos resultados. Geralmente,
busca-se abordar os parâmetros nutricionais envolvidos no perfil energético, perfil
protéico e perfil mineral que podem fornecer subsídios suficientes a cerca das dietas
fornecidas, bem como o seu aproveitamento dentro do organismo animal.
Para a avaliação do status energético, entre os autores consultados não existe
uma variável de eleição. Geralmente recomenda-se a avaliação da glicose, dos ácidos
graxos livres (AGLs) e de corpos cetônicos (González, 2000; Herdt, 2000).
O colesterol é necessário como precursor dos ácidos biliares, os quais fazem
parte da bile, e dos hormônios esteróides (adrenais e gonadais). Os estrógenos,
sintetizados a partir de colesterol, afetam a complexa inter-relação das funções
hipofisárias, tireoidiana e adrenal. Portanto, os níveis de colesterol podem dar uma
indicação indireta da atividade tireoidiana. Os níveis de colesterol são indicadores
adequados do total de lipídios do plasma, pois corresponde a aproximadamente 30 % do
total (Diaz González & Scherer, 2002).
Entre vários metabólitos usados como combustível para oxidação respiratória, a
glicose é considerada a mais importante, sendo vital para funções tais como, o
metabolismo do cérebro e na lactação. O nível de glicose sangüínea pode indicar falhas
17
a homeostase, como ocorre em doenças tais como a Cetose (Diaz González & Scherer,
2002).
Maruta (2005) observou diminuição da glicemia no decorrer do período de jejum, sendo
esta queda mais intensa quanto mais prolongado foi o tempo de abstenção alimentar.
No trabalho de Sucupira (2003) foi observado que a subalimentação energética intensa e
prolongada provocou marcante hipoglicemia no término do período experimental, porém os
valores ainda se encontravam dentro do intervalo considerado normal pelos autores clássicos.
Yambayamba et al. (1996), trabalhando com bezerras submetidas a dietas com restrição
energética por 95 dias, verificaram nos primeiros 20 dias uma queda significativa de 14% para a
glicose e no dia 48, uma queda significativa de 16% em relação ao controle. Já em relação aos
ácidos graxos não esterificados, nos primeiros 20 dias ocorreu um aumento significativo de 65%
e no dia 48, um aumento significativo de 109% em relação ao controle, demonstrando que
durante o período de restrição alimentar, há um deslocamento no balanço energético, pois a
redução na concentração de glicose sérica torna os ácidos graxos a principal fonte de energia.
Valores semelhantes também foram encontrados por Hornick et al. (1998), trabalhando
com 16 bovinos Belgian Blue em fase de crescimento submetidos a restrição alimentar por 419
dias, obtiveram uma queda de 15% na concentração de glicose quando comparado com o grupo
controle.
Segundo Lima (2005), a carência de energia prolongada de bovinos em crescimento
desencadeou acentuada diminuição do peso vivo, do consumo de alimentos, da glicemia e
menor síntese de ácido propiônico no rúmen.
Na avaliação do perfil protéico, de uma forma geral, a determinação de uréia, albumina,
globulina e proteína total séricas são indicadores úteis (Payne & Payne, 1987). Dirksen et al.
(1993) comentam que os componentes bioquímicos sangüíneos mais comumente determinados
que representem o metabolismo proteico são as proteínas totais, a uréia, a albumina e as
globulinas. Hoch et al. (2003) relataram que a uréia diminuiu com a aplicação de restrição
18
alimentar em bovinos e que os animais recuperaram seu valores sérico pouca horas após a
realimentação.
Para avaliação do perfil nutricional de minerais, as alterações dos eletrólitos no
sangue podem fornecer diagnóstico mais decisivo quando correlacionado com suas
concentrações na dieta consumida (Moraes et al., 2000).
Como indicadores do perfil metabólico mineral, são considerados os níveis
sanguíneos de cálcio, fósforo, sódio, potássio, magnésio, manganês, ferro, cobre, zinco
e cobalto (González, 2000). O fósforo, segundo Mcdowell (1999), constitui a carência
predominante em bovinos a campo e, é conveniente que o seu estudo seja realizado em
conjunto com o cálcio (Ca) (Underwood & Suttle, 1999). Os ossos, por serem locais de
reserva de Ca e P, constituem a principal indicação para seu monitoramento (Mcdowell,
1999).
Atualmente, com o avanço das pesquisas, têm-se procurado estabelecer o perfil
metabólico das mais diferentes espécies de animais, já que há uma enorme variação dos
constituintes sanguíneos, mesmo quando se trata de uma mesma espécie e até mesmo
dentro de uma mesma raça, porém se comparando animais com idades diferentes, sexos
diferentes, vivendo em regiões com diferentes condições de manejo sanitário e,
principalmente, nutricional. Além disso, a nutrição de ruminantes pode ser considerada
mais complexa que a nutrição de monogástricos, devido à anatomia do trato digestivo,
os microrganismos presentes no rúmen que fermentam alimentos fibrosos e sintetizam
nutrientes, principalmente proteína e algumas vitaminas (Barcelos et al., 2001). Assim,
o conhecimento dos processos ocorridos no rúmen, principalmente no que diz respeito à
produção de proteína microbiana auxiliarão no entendimento dos mecanismos
envolvendo a restrição alimentar e o ganho compensatório.
19
Estimativa da Produção de Proteína Microbiana Baseado nos Derivados de Purina
Os ruminantes com expressiva atividade fermentativa pré-gástrica evoluíram há
14 milhões de anos e seu sucesso no processo evolutivo tem sido atribuído à existência
de uma relação simbiótica com os microorganismos ruminais, em que os animais
contribuem com alimento e habitat, enquanto os microorganismos fornecem ácidos
graxos voláteis e aminoácidos formados a partir de substratos que não seriam
aproveitados (fibra e nitrogênio não protéico-NNP) pelo animal hospedeiro (Valadares
Filho & Pinna, 2006).
As exigências protéicas dos ruminantes são atendidas mediante a absorção
intestinal de aminoácidos provenientes, principalmente, da proteína microbiana
sintetizada no rúmen e da proteína de origem alimentar não-degradada no rúmen
(Valadares Filho & Pinna, 1995).
A mensuração da produção de proteína microbiana é dificultada pelo
envolvimento de três populações distintas (bactérias, fungos e protozoários) que
constantemente, são expostas à pressão de seleção de seu habitat, sendo frequentemente
alteradas.
A determinação da contribuição da proteína microbiana constitui uma
importante área de estudo na nutrição protéica de ruminantes, sendo que a estimativa da
contribuição da proteína microbiana no fluxo intestinal de proteína está incorporada aos
sistemas de avaliação de proteína, já em uso em vários países (Chen & Gomes, 1992).
Em condições normais, o aumento do consumo de matéria seca eleva a taxa de
renovação dos fluídos ruminais. Maiores taxas de renovação de líquido no rúmen
indicam melhor eficiência do processamento fermentativo devido ao desenvolvimento
do maior número de microorganismos por unidade de substrato disponível, tornando a
degradação do alimento mais rápida, com menor tempo de retenção ruminal e
20
proporcionado maior consumo de matéria seca (Yahn et al., 2007; Taylor-Edwards et
al., 2009). Já em condições onde existe carência, o que é comum nas fases pré e pós-
parto, nas quais os animais possuem uma exigência nutricional alta e estas exigências
quase nunca são atendidas, há uma alteração na fermentação ruminal e na taxa de
passagem do alimento pelo rúmen.
Ensminger (1987) afirma que animais submetidos à carência nutricional têm seu
apetite diminuído e, portanto, é esperado que tal quadro altere as taxas de passagem, de
renovação de líquidos no rúmen e conseqüentemente a fermentação ruminal. Embora
seja consenso que a subalimentação interfira na cinética e na fermentação ruminais,
Chilliard et al. (1998) acredita que nos casos de subnutrição pode ocorrer
diminuição na degradabilidade da dieta decorrente e uma das explicações possíveis para
a tal redução é a limitação da atividade microbiana que ocorre nestes casos, todavia isso
não está esclarecido pela literatura.
Diversos métodos que quantificam a produção de compostos nitrogenados
microbianos incluem na metodologia a utilização de marcadores internos e externos que
necessitam de intervenção cirúrgica para implantação de fístulas nos animais, causando
desconforto e muitas vezes infecção, o que pode alterar os resultados.
O método de estimativa de proteína microbiana pelos derivados de purina não
utiliza animais fistulados e nem determina o fluxo de seca no abomaso, ao contrário dos
métodos que se baseiam em marcadores microbianos (Chen & Gomes, 1992).
Pesquisas recentes confirmam a relação entre produção de proteína microbiana e
excreção urinária de derivados de purina (Oliveira et al., 2001; Silva et al., 2001;
Mendonça et al., 2004), assumindo-se que a absorção de purinas estaria condicionada à
quantidade de proteína microbiana, estimada a partir da excreção urinária dos derivados
de purinas: alantoína, ácido úrico, xantina e hipoxantina.
21
Orellana-Boero et al. (2001) e Gonzales-Ronquillo et al. (2003) confirmam a
relação entre o fluxo duodenal de bases purinas e a excreção dos derivados de purina.
Assim, o fluxo de nitrogênio microbiano pode ser calculado a partir das quantidades de
purinas absorvidas, que são estimadas a partir da excreção urinária de derivados de
purina (Chen & Gomes, 1992).
Dessa forma, a análise de compostos urinários, comumente utilizados na
medicina humana, pode ser empregada no estudo de nutrição de ruminantes. Porém, o
método da excreção de derivados de purinas requer coleta total de urina, o que torna a
técnica laboriosa. Para contornar isto, tem sido utilizado coleta de amostras spot de
urina. Isto se torna possível porque dados da literatura têm demonstrado que a excreção
de creatinina é constante, em função do PV dos animais (Oliveira et al., 2001; Silva et
al., 2001), proporcionando o cálculo da excreção urinária diária do animal a partir de
uma só coleta ou coleta spot.
O método de estimativa de proteína microbiana pelos derivados de purina além
de ser menos laborioso, quando comparado com outras técnicas convencionais,
representa uma metodologia simples para o entendimento da dinâmica ruminal,
implicando maior confiabilidade (Silva et al., 2001).
Neste sentido, a utilização da excreção total de derivados de purina para estimar
a produção de proteína microbiana, parece ser uma alternativa viável, quando
comparada com as técnicas invasivas, com é o caso da fistulação de animais
principalmente, por se tratar de uma técnica que não necessita de intervenção cirúrgica,
resultando em melhor bem-estar para os animais e resultados mais fidedignos.
Balanço de Nitrogênio
A quantificação dos nutrientes presentes nos alimentos fornecidos para bovinos
proporciona melhor conhecimento do seu valor nutritivo. Isso possibilita adequar as
22
dietas a cada categoria animal, tornando-as mais eficientes, e racionalizar a utilização
dos recursos nos sistemas de produção.
A avaliação do balanço de nitrogênio no animal e da concentração de uréia no
soro e na urina permite a obtenção de informações a respeito da nutrição protéica dos
ruminantes, o que pode ser importante para evitar prejuízos produtivos, reprodutivos e
ambientais, decorrentes do fornecimento de quantidades excessivas de proteína ou da
inadequada sincronia energia-proteína no rúmen (Pessoa et al. 2007).
Vários fatores que afetam a síntese de proteína microbiana no rúmen têm sido
abordados por diversos autores, como o teor e a fonte de N e de carboidratos na dieta, a
taxa de diluição ruminal, a freqüência de alimentação, o consumo de alimento, a relação
volumoso:concentrado, a ensilagem, os ionóforos e o teor de minerais como P, S e Mg
na dieta (Pereira et al., 2001; Pereira et al. 2007).
Pessoa et al. (2009) encontraram maior excreção de nitrogênio nas fezes e na
urina em dietas onde o consumo de nitrogênio também foi mais elevado. Tamém
relataram que o consumo de nitrogênio aumentava com o aumento do teor de proteína
bruta da dieta, corroborando com os estudos de Ítavo et al. (2002), Cavalcante et al.
(2006) e Rennó et al. (2008).
As bactérias do rúmen podem incorporar aminoácidos em proteína microbiana
ou fermentá-los como fonte de energia. A fermentação de aminoácidos também origina
amônia ruminal. Como o crescimento microbiano é dependente do suprimento de
carboidratos fermentáveis, os produtos finais do metabolismo de proteínas são
influenciados pela disponibilidade de carboidratos. Quando o ATP originado da
fermentação de carboidratos está disponível, os aminoácidos podem ser incorporados
em proteína microbiana. Se o ATP não é suficiente para permitir a síntese protéica, os
aminoácidos serão fermentados como fonte de energia e a amônia se acumulará. Se a
23
produção de amônia no rúmen é superior à sua taxa de incorporação microbiana, será
absorvida e o aumento da atividade de reciclagem da uréia no fígado e rim é necessário
para proteger o animal do seu efeito tóxico (Nocek & Russell, 1988).
A determinação das concentrações de amônia no rúmen permite o conhecimento
do desbalanceamento na digestão de proteína, pois, quando ocorrem altas concentrações
de amônia, pode estar havendo excesso de proteína dietética degradada no rúmen e, ou,
baixa concentração de carboidratos degradados no rúmen.
Para quantificação da excreção do N por meio da urina e fezes, há necessidade
do conhecimento do volume urinário diário e da produção de matéria seca fecal. O
volume urinário pode ser obtido por meio de coleta total de urina (Chen & Gomes,
1992), ou por métodos alternativos, como a coleta “spot” de urina, que consiste numa
única amostragem de urina, geralmente quatro horas após o fornecimento de alimentos
aos animais. Nessa metodologia, o volume urinário é calculado, dividindo-se a excreção
diária de creatinina por sua concentração na amostra de urina, visto que a excreção de
creatinina é constante e não é influenciada por tratamentos experimentais (Valadares et
al., 1999).
A manipulação da dieta no sentido de melhorar a utilização de nitrogênio (N)
pelos microorganismos do rúmen é, portanto, indispensável para uma melhor eficiência
do crescimento bacteriano e está diretamente relacionada à solubilidade da proteína
dietética e à retenção de N pelo animal. Aliado a isso, está o conhecimento sobre as
concentrações séricas dos nutrientes protéicos, energéticos e minerais de animais
submetidos a períodos de escassez de alimentos, bem como a forma como esses animais
podem suportar e, quando possível, contornar esses períodos de restrição alimentar.
Vários são os fatores relacionados ao estudo da mesma e de provável crescimento
compensatório, bem como suas causas e consequências.
24
Algumas características relacionadas como o aumento no consumo de alimento,
mudanças nas exigências energéticas de mantença, praticamente, sem alteração da
eficiência líquida, mudança na proporção de proteína e gordura no ganho de peso,
redistribuição dos tecidos adiposos, com menos gordura subcutânea, metabolismo
ruminal, etc. Os dados disponíveis até agora não nos permitem um entendimento mais
completo sobre este fenômeno. Além disso, não existem comprovações que dietas
formuladas com base em sistemas de exigências nutricionais internacionais atendam aos
requerimentos das raças zebu de duplo propósito aqui abordadas.
Essas estratégias de desempenho podem ser ferramentas úteis para os produtores
acometidos pela forte sazonalidade. Porém, é necessário o conhecimento de como elas
ocorrem, podendo, assim, aproveitar-se do ganho compensatório nas condições
brasileiras.
25
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALVES, D.D. Crescimento compensatório em bovinos de corte. Revista Portuguesa de Ciências Veterinárias p. 61-67, 2003. ARRIGONI, M.B.; VIEIRA, P.F.; SILVEIRA, A.C.; FURLAN, L.R.; PAI, V.D.; COSTA, C.; CHARDULO, L.A.L.; OLIVEIRA, H.N. Estudo dos efeitos da restrição alimentar nas características das fibras musculares de bovinos jovens confinados. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.33, n.7, p.1121-1127, 1998. BARCELOS, A.F.; PAIVA, P.C.A.; OLALQUIAGA PEREZ, J.R. Fatores antinutricionais da casca e da polpa desidratada de café (Coffea arabica L.) armazenadas em diferentes períodos. Revista Brasileira Zootecnia. v.30, n.4, 1316-1324, 2001. BOHMAN, V.R. Crecimiento compensatorio de ganado bovino - el efecto de la madurez con forraje. Journal of Animal Science, v.14, p.249-255, 1955. BOIN, C.; TEDESCHI, L.O. Sistemas intensivos de produção de carne bovina: II. Crescimento e Acabamento. In: SIMPÓSIO SOBRE PECUÁRIA DE CORTE, 4., Piracicaba, 1996. Anais. Piracicaba: FEALQ, p.205-228, 1997. CARSTENS, G.E.; JOHNSON D.E.; ELLENBERGER M.A.; TATUM J.D. Physical and chemical components of the empty body during compensatory growth in beef steers. Journal of Animal Science, v.69, p.3251-3264, 1991. CAVALCANTE, M.A.B.; PEREIRA, O.G.; VALADARES FILHO, S.C.; RIBEIRO, K.G; PACHECO, L.B.B.; ARAÚJO, D.; VINICIUS, V.M.C. Níveis de proteína bruta em dietas para bovinos de corte: parâmetros ruminais, balanço de compostos nitrogenados e produção de proteína microbiana. Revista Brasileira de Zootecnia, v.35, n.1, p.203-210, 2006. CERDÓTES, L. Avaliação de bovinos nelore submetidos a períodos de restrição alimentar, durante a terminação. 2007. 95 f. Tese (Doutorado em Zootecnia) – Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal, São Paulo, 2007. CHEN, X.B.; GOMES, M.J. Estimation of microbial protein supply to sheep and cattle based on urinary excretion of purine derivatives- an overview of technical details. INTERNATIONAL FEED RESEARCH UNIT. Rowett Research Institute. Aberdeen, UK.(Occasional publication) 21p., 1992. CHILLIARD, Y.; BOCQUIER, F.; DOREAU, M. Digestive and metabolic adaptations of ruminants to undernutrition, and consequences on reproduction. Reproduction Nutrition Development, v.38, p.131-152, 1998. COSTA, P.B.; QUEIROZ, A.C.; RODRIGUES, M.T.; MAGALHÃES, A.L.R.; COSTA, M.G.; TORAL, F.L.B.; CARVALHO, T.A.; MONTEIRO, L.; ZORZI, K.; DUARTE, M.S. Desempenho de novilhas leiteiras sob manejo para crescimento compensatório recebendo suplementação com ionóforo. Revista Brasileira de Zootecnia, v.36, n.2, p.461-470, 2007.
26
DIAZ GONZÁLEZ, F.H.; SCHERER, J.F.S. Perfil sangüíneo: ferramenta de análise clínica, metabólica e nutricional. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE MEDICINA VETERINÁRIA, n.29, 2002, Gramado. Anais... Gramado: SOVERGS, 2002, p. 5-17. DIAZ GONZÁLEZ, F.H. Perfil metabólico en bovinos: alcance Y utilidad. Revista MVZ, Cordoba, v.3, n.3, p. 45-52, 2001. DIRKSEN, G.; GRÜNDER, H.; STÖBER, M. Rosenberger: Exame Clínico dos Bovinos. 3.ed. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, 1993. DOYLE, F.; LESSON, S. Compensatory growth in farm animals. Ontario Canada URL: Disponível em: http://novusint.com/nups/1096.htm. Acesso em: 28 jul. 09, 2001. ENSMINGER, M.E. Feeding beef cattle. In: ENSMINGER, M.E. Cattle Science. Danville, Illinois: The Interstate. 6ed. cap.8, p.239-348, 1987. FONTES, C.A.A.; GUIMARÃES, R.F.M.; ALMEIDA, M.I.V.; CAMPOS, O.F.; ALMEIDA, F.Q.; SANT’ANA, N.F. Avaliação do ganho compensatório em novilhos mestiços Holandês-Gir: consumo e desempenho. Revista Brasileira de Zootecnia, v.36, n.3, p.698-708, 2007. GONZÁLEZ, F.H.D. Indicadores sanguíneos do metabolismo mineral em ruminantes. In: GONZÁLEZ, F.H.D.; BARCELLOS, J.O.; OSPINA, H.; RIBEIRO, L.A.O. Perfil metabólico em ruminantes: seu uso em nutrição e doenças nutricionais. Porto Alegre: UFRGS, p. 31- 51, 2000. GONZALEZ-RONQUILLO, M.; BALCELLS, J.; GUADA, J.A.; VICENT, F. Purine derivative excretion in dairy cows: endoge nous excretions and the effect of exogenous nucleic acid supply. Journal of Dairy Science, v.86, p.1282-1291, 2003. GRANT, A.L.; HELFERICH, W.G. An overview of growth. In: PERSON, A.M, DUTSON, T.R. Growth regulation in farm animals: Advances in meat research. v.7. New York: Elsevier Science Publishing Co., Inc., p.1-16, 1991. HERDT, H.H. The Veterinary Clinics of North America: food animal practice, v.16, n.2, 2000, 408p. HOCH, T.; BEGON, C; CASSAR-MALEK, I.; PICARD, B.; SAVARY-AUZELOUX, I. Mécanismes et conséquences de la croissance compensatrice chez lês ruminants. INRA Productions Animales, v.16 (1), p.49-59, 2003. HOGG, B.W. Compensatory growth in ruminants. In: Growth regulation in farm animal - advances in meat research. Corvallis Oregon: Ed. Elsevier, v.7, p.103-134, 1991. HORNICK J.L.; EENAEME V.C.; DIEZ M.; MINET V.; ISTASSE L. Different periods of feed restriction before compensatory growth in Belgian Blue. Journal of Animal Science, v.76, p.260-271, 1998.
27
HORNICK, J.L.; VAN EENAEME, C.; GERARD, O.; DUFRASNE, I.; ISTASSE, L. Mechanisms of reduced and compensatory growth. Domestic Animal Endocrinology, v.19, p.121-132, 2000. ÍTAVO, L.C.V.; VALADARES FILHO3, S.C.; SILVA, F.F.; VALADARES, R.F.D.; PAULINO, M.F.P.; ÍTAVO, C.C.B.F.; MORAES, E.H.B.K. Comparação de indicadores e metodologia de coleta para estimativas de produção fecal e fluxo de digesta em bovinos. Revista Brasileira de Zootecnia, v.31, n.4, p.1833-1839, 2002. LEITE, P.R.M.; SANTIAGO, H.A.; NAVARRO FILHO, H.R. et al. Sindi: gado vermelho para o semi-árido. João Pessoa: EMEPA/BNB, 2001. 174p. LIMA, A.S. Avaliação do perfil hormonal de garrotes submetidos à carência energética prolongada. 2005. 139 f. Dissertação (Mestrado em Medicina Veterinária) – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005. LÔBO, R.N.B.; MADALENA, F.E.; PENNA, V.M. Avaliação de esquemas de seleção alternativos para bovinos zebus de dupla aptidão. Revista Brasileira de Zootecnia, v.29(5), p.1361-1370, 2000. MARUTA, C.A. Perfil metabólico e ruminal de garrotes submetidos às condições de alimentação normal, jejum e realimentação. 2005. 93 f. Tese (Doutorado em Medicina Veterinária) – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005. McDOWELL, L.R. Minerais para ruminantes sob pastejo em regiões tropicais, enfatizando o Brasil. Flórida: University of Florida, 1999, 93p. (Boletim, 3). MELO, V. J. M.; PENNA, V. M. Programas de melhoramento da raça guzerá. III Simpósio Nacional de Melhoramento Animal, 2000. Belo Horizonte. Anais... Belo Horizonte: Escola de Veterinária da UFMG, p. 219-221, 2000. MENDONÇA, S.S.; CAMPOS, J.M.S.; VALADARES FILHO, S.C.; SILVA, F.F.; VALADARES, R.F.D.; SOARES, C.A.; LANA, R.P.; QUEIROZ, A.C.; ASSIS, A.J.; PEREIRA, M.L.A. Balanço de compostos nitrogenados, produção de proteína microbiana e concentração plasmática de uréia em vacas leiteiras alimentadas com dietas à base de cana-de-açúcar. Revista Brasileira de Zootecnia, v.33, n.2, p.493-503, 2004. MORAES, S.S.; GONÇALVES, L.C.; LOPES, H.O.S.; COSTA, M.F.V.; NUNES, A.B. Variação sazonal de eletrólitos no sangue de vacas aneloradas sob pastejo contínuo de Brachiaria decumbens. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, Belo Horizonte, v.52, n.2, abr., 2000. NOCEK, J.; RUSSELL, J.B. Protein and energy as an integrated system. Relationship of ruminal protein and carbohydrate availability to microbial synthesis and milk production. Journal of Dairy Science, v.71(8), p.2070-2107, 1988.
28
NRC - NATIONAL RESEARCH COUNCIL. Nutrients requirements of beef cattle. 7ed. Washington: National Academy of Sciences. 244p, 1996. OLIVEIRA, A.S.; VALADARES, R.F.D.; VALADARES FILHO, S.C.; CECON, P.R.;
RENNÓ, L.N.; QUEIROZ, A.C.; CHIZZOTTI, M.L. Produção de proteína microbiana e estimativas das excreções de derivados de purinas e de uréia em vacas lactantes alimentadas com rações isoprotéicas contendo diferentes níveis de compostos nitrogenados não-protéicos. Revista Brasileira de Zootecnia, v.30, p.1621-1629, 2001.
ORELLANA-BOERO, P.; BALCELLS, J.; MARTÍN-ORÚE, S.M.; LIANG J.B.; GUADA, J.A. Excretion of purine derivatives in cows: endogenous contribution and recovery of exogenous purine bases. Livestock Production Science, v.68, p.243-250, 2001.
PAYNE, J.M.; PAYNE, S. The metabolic profile test. Oxford: Oxford University Press, 1987. 179p. PEREIRA, E.S.; QUEIROZ, A.C.; PAULINO, M.F.; CECON, P.R.; VALADARES FILHO, S.C.; MIRANDA, L.F.; ARRUDA, A.M.V; FERNANDES, A.M.; CABRAL, L.S. Fontes nitrogenadas e uso de Sacharomyces cerevisiae em dietas à base de cana-de-açúcar para novilhos: consumo, digestibilidade, balanço nitrogenado e parâmetros ruminais. Revista Brasileira de Zootecnia, v.30, n.2, p.563-572, 2001. PEREIRA, K.P.; VÉRAS, A.S.C.V.; FERREIRA, M.A.; BATISTA, A.M.V.; MARQUES, K.A.; FOTIUS, A.C.A. Balanço de nitrogênio e perdas endógenas em bovinos e bubalinos alimentados com níveis crescentes de concentrado. Acta Scientarum Animal Science, v. 29, n. 4, p. 433-440, 2007. PESSOA, R.A.S.; LEÃO, M.I.; FERREIRA, M.A.; VALADARES FILHO, S.C.; VALADARES, R.F.D.; QUEIROZ, A.C. Balanço de compostos nitrogenados e produção de proteína microbiana em novilhas leiteiras alimentadas com palma forrageira, bagaço de cana-deaçúcar e uréia associados a diferentes suplementos. Revista Brasileira de Zootecnia, v.38, n.5, p.941-947, 2009. RENNÓ, L.N.; VALADARES FILHO, S.C; PAULINO, M.F. et al. Níveis de uréia na ração de novilhos de quatro grupos genéticos: parâmetros ruminais, uréia plasmática e excreções de uréia e creatinina. Revista Brasileira de Zootecnia, v.37, n.3, p.556- 562, 2008. RYAN, W.J. Compensatory growth in cattle and sheep. In: Nutrition abstracts and reviews (Series B), v.50, p.653-664, 1990. SILVA, R.M.N.; VALADARES, R.F.D.; VALADARES FILHO, S. C.; CECON, P.R.; RENNÓ ,L.N.; SILVA, M.S. Uréia para Vacas em Lactação. 2. Estimativas do volume urinário, da produção microbiana e da excreção de uréia. Revista Brasileira de Zootecnia, v.30(6), p.1948-1957, 2001. SUCUPIRA, M.C.A. Estudo comparativo de exames clínico-laboratoriais no diagnóstico de carência energética prolongada em garrotes. [Comparative study of
29
clinical laboratory assays for the diagnosis of prolonged energetic deficit in steers]. 2003. 173 f. Tese (Doutorado em Clínica Veterinária) – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2003. TAYLOR-EDWARDS, C.C.; ELAM, N.A.; KITTS, S.E.; McLEOD, K.R.; AXE, D.E.; VANZANT, E.S.; KRISTENSEN N.B.; HARMON, D.L. Influence of slow-release urea on nitrogen balance and portal-drained visceral nutrient flux in beef steers. Journal of Animal Science, v.87, p.209-221, 2009. TOLLA, N.; MIRKENA, T.; YIMEGNUHAL, A. Effect of feed restriction on compensatory growth of Arsi (Bos indicus) bulls. Animal Feed Science and Technology, v.103, p. 29–39, 2003. UNDERWOOD, E.J.; SUTTLE, N.F. Mineral nutrition of livestock. 3. ed. London: CAB International, 1999, 614p. VALADARES, R.F.D.; BRODERICK, G.A.; VALADARES FILHO, S.C.; CLAYTON, M.K. Effect of replacing alfafa silage with high moisture corn on ruminal protein synthesis estimated from excretion of total purine derivatives. Journal of Dairy Science, v. 82, n. 12, p. 2686-2696, 1999. VALADARES FILHO, S.C.; PINA, D.S. Fermentação Ruminal. In: BERCHIELLI, T.T.; PIRES, A.V.; OLIVEIRA, S.G. NUTRIÇÃO DE RUMINANTES. Jaboticabal: Funep, 2006, 583p. VALENTE, T.N.P. Ganho de Peso de Novilhas Mestiças Leiteiras Submetidas ou Não à Restrição Alimentar Antes do Período Seco. Rio de Janeiro: Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, 2006. 29p. Dissertação (Mestre em Zootecnia). Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, 2006. WILSON, P.N.; OSBOURN, D.F. Compensatory growth after under nutrition in mammals and birds. Biological Reviews, 35, 324-363, 1960. YAN, T.; FROST, J. P.; KEADY, T. W. J.; AGNEW, R. E.; MAYNE, C. S. Prediction of nitrogen excretion in feces and urine of beef cattle offered diets containing grass silage. . Journal of Animal Science, v.85, p.1982-1989, 2007. YAMBAYAMBA, E.S.; PRICE M.A., FOXCROFT, G.R. Hormonal status, metabolic changes, and resting metabolic rate in beef heifers undergoing compensatory growth. Journal of Animal Science, v.74, p.57-69, 1996. YÁÑEZ, E.A. Desenvolvimento relativo dos tecidos e características da carcaça de cabritos Saanen, com diferentes pesos e níveis nutricionais. Jaboticabal: Universidade Estadual Paulista, 2002. 85p. Tese (Doutorado em Zootecnia). Universidade Estadual Paulista, 2002.
30
CAPÍTULO II
_____________________________________________________
Restrição Alimentar e Ganho Compensatório em Fêmeas Sindi Pré-Púbere
31
Restrição Alimentar e Ganho Compensatório em Fêmeas Sindi Pré-Púbere
RESUMO
O estudo foi conduzido para determinar o efeito de diferentes níveis de restrição
alimentar e da posterior realimentação em fêmeas Sindi pré-púberes. Foram utilizadas
18 fêmeas, com idade inicial de 21 meses e peso médio de 211,7 kg, distribuídas em três
grupos segundo o regime alimentar: grupo controle – alimentação ad libitum durante
todo o experimento; grupo 2 – alimentação restrita 20% da matéria seca na fase 1 e
ração ad libitum na fase de realimentação; grupo 3 – alimentação restrita 40% da
matéria seca na fase de restrição e ração ad libitum na fase de realimentação. Na fase de
restrição alimentar, de maneira geral, o consumo dos nutrientes diminuiu com o
aumento do nível de restrição. Em consequência a redução da ingestão, as
concentrações séricas de proteínas totais, albumina, globulina, uréia, glicose, cálcio e
fósforo apresentaram-se inversamente proporcionais ao nível restrição. Não houve
diferença no consumo e na concentração sérica dos nutrientes na fase de realimentação.
Os animais do grupo controle chegaram ao final da fase de restrição alimentar com peso
semelhante ao grupo 20% de restrição e ambos obtiveram peso final superior ao grupo
40%. Na fase de restrição, o ganho de peso médio diário do grupo controle não deferiu
dos que recebiam alimentação restrita em 20% e foi maior que o grupo restrito em 40%.
Porém, na fase de realimentação, o grupo 40% de restrição obteve maiores taxas de
ganho de peso e melhor conversão alimentar, como manifestação do ganho
compensatório parcial, já que nenhum dos grupos restritos conseguiram atingir o peso
final do grupo controle. No período de restrição alimentar, o nitrogênio ingerido,
excretado na urina e nas fezes, o balanço de nitrogênio, o nitrogênio retido e o N-NH3
decresceram com os níveis de restrição adotados. Na realimentação nenhuma das
variáveis do balanço de nitrogênio foram influenciadas. A restrição alimentar em 20% e
40% pode ser adotada como prática de manejo nutricional tendo em vista o ganho
compensatório dos animais.
Palavras-chave: Concentração sérica, nitrogênio, peso, realimentação, zebu
32
Feed Restriction and Compensatory Growth in Sindi Females before Puberty
ABSTRACT
This research was developed to evaluate the effect different levels restricting feed and
of the subsequent re-alimentation periods in dual purpose zebu females. Eighteen
females with initial age 21 months and mean weight 211.7 kg were distributed into three
groups according to the alimentary regime com six animals for group: feed ad libitum
during total experiment; restricted feed 20% of the dry matter in the phase restricting
feed intake and ration ad libitum in the phase re-alimentation; group 3 - restricted feed
40% of the matter dry in the phase restricting feed intake and ration ad libitum in the
phase re-alimentation. In the phase restricting feed, generally, the nutrients intake
decreased with the increase of the restriction levels. Consequently in the intake
reduction, the serum concentrations of total proteins, albumin, globulin, urea, glucose,
calcium and phosphorus were inversely proportional at the level of restriction. There
was no difference in intake and serum concentrations nutrients in the phase re-
alimentation. The animals in the control group achieved the end of feed restriction phase
with similar weight to the group 20% feed restriction and both presented higher weight
than 40% group. In the phase feed restriction, the weight gain mean daily in the control
group there was no difference in the animals 20% feed restriction and was higher than
the group feed restriction 40%. However, in the phase compensatory feeding, the group
40% feed restriction achieved higher weight gain rates, as results of the manifestation of
the partial compensatory growth, as any restricted group achieved the final weight
control group. In the feed restriction phase, it was observed that intake N, nitrogen
excreted in feces and urine, nitrogen balance, nitrogen retention and N-NH3 reduced by
the restriction level. In the re-alimentation phase any the variables in the nitrogen
balance were influenced. The feed restriction in 20% e 40% can be adopted as a practice
nutritional management for feed privation period a view the compensatory growth of
animals.
Keywords: Nitrogen, re-alimentation, serum concentration, weight, zebu
33
INTRODUÇÃO
A utilização de raças zebuínas de duplo propósito, como é o caso da Sindi, ainda
é inexpressiva no Brasil. O pouco conhecimento técnico de produtores (que ainda usam
o empirismo em seus sistemas de criação), a carência de trabalhos científicos voltados
para esta região e a exploração de genótipos inadequados resultam em altos custos para
produzir e baixos preços de venda dos produtos, impedindo que a atividade tenha o
devido destaque no setor agropecuário.
A eficiência de utilização dos alimentos é considerada o principal fator
nutricional que afeta a rentabilidade das propriedades bovinas. Isso porque as perdas
resultantes do processo digestivo são e parte delas está relacionada ao processo de
digestão nos ruminantes, resultante do metabolismo ocorrente nos segmentos do trato
gastrintestinal e influenciado pela quantidade e qualidade do alimento consumido
(Miller & Wolin, 2001).
O crescimento compensatório é um fenômeno que ocorre com animais que, após
uma fase de restrição alimentar, com a retomada de níveis adequados, apresentam um
ritmo de crescimento de forma mais intensa. Ele está na dependência de uma série de
fatores e suas interações, o que justifica uma variabilidade muito grande na magnitude
da resposta animal frente aos períodos de restrição alimentar. Os estudos dos
mecanismos metabólicos e hormonais podem ajudar a compreendermos melhor os
processos metabólicos ocorridos quando submetemos animais a períodos de restrição e
realimentação (Hoch et al., 2003). Dessa forma, o conhecimento das concentrações
séricas, urinárias e ruminais dos nutrientes bem como o balanço da utilização dos
mesmos poderão esclarecer melhor a influência desses fatores e suas interações sobre a
manifestação do crescimento compensatório, principalmente quando se considera aos
fatores fisiológicos envolvidos.
34
Nesse contexto, objetivou-se determinar o efeito de diferentes níveis de restrição
alimentar e da posterior realimentação em fêmeas Sindi pré-púberes.
MATERIAL E MÉTODOS
Local, duração e condições climáticas do experimento
O experimento foi conduzido de junho a outubro de 2008, na Estação
Experimental de Alagoinha-PB. A duração do experimento foi de 127 dias, sendo sete
dias para adaptação dos animais às dietas e as instalações, setenta dias de restrição
alimentar com base no consumo à vontade do grupo controle e 50 dias de
realimentação.
O clima da área, segundo a classificação de Köppen, é do tipo As' (quente e
úmido) com chuvas de outono-inverno. As características climáticas coletadas através
de uma mini estação meteorológica instalada nas baias experimentais durante o período
experimental apontaram temperaturas mínimas e máximas de 20,02 e 28,62ºC
respectivamente, temperatura média de 24,18ºC, umidade relativa do ar média de
62,26% e precipitação pluvial de 481,4 mm.
Animais, tratamentos e instalações
Foram utilizadas 18 fêmeas Sindi com idade média inicial na fase de restrição
alimentar de 21 meses e peso corporal médio de 211,7 kg. Após a restrição, iniciou-se a
fase de realimentação, onde os animais apresentaram peso inicial de 253,1 kg.
Os animais foram distribuídos em três grupos, com seis animais cada, de forma
que na fase de restrição foram gerados dois níveis de restrição alimentar em relação ao
grupo que se alimentava ad libitum, a saber: grupo 1 (Controle): fêmeas alimentadas
35
com quantidade de matéria seca à atender 100% das exigências nutricionais para um
ganho de 700 g/dia, segundo NRC (1996); grupo 2: fêmeas alimentadas com quantidade
de matéria seca à atender 80 % das exigências nutricionais do grupo controle; grupo 3:
fêmeas alimentadas com quantidade de matéria seca à atender 60% das exigências
nutricionais do grupo controle; na fase de realimentação todos os animais receberam a
mesma dieta, à vontade.
Antes do início do experimento, os animais foram vermifugados, distribuídos
aleatoriamente de acordo com o nível de restrição e alojados em galpão, com baias
individuais com 7,5 m2, providas de comedouro e bebedouro.
Manejo alimentar e pesagem dos animais
O arraçoamento dos animais foi realizado a vontade no grupo controle, duas
vezes ao dia, às 7:00 e às 15:00 horas sendo 40% ofertado durante a manhã e 60%
durante a tarde com disponibilidade irrestrita de água. Os animais dos grupos 20% e
40% de restrição também foram alimentados nos mesmos horários e proporções. Para o
grupo controle, a quantidade de ração fornecida diariamente foi ajustada de acordo com
o consumo do dia anterior de modo que houvesse sobras em torno de 20% do total
fornecido, para que fosse garantido consumo à vontade.
Os ingredientes utilizados nas dietas (capim elefante, raiz de mandioca, farelo de
milho, farelo de soja, uréia e mistura mineral) foram processados e fornecidos na forma
de ração completa.
Foram coletadas amostras quinzenais representativas dos componentes da dieta
fornecida, sobras e fezes, sendo elaboradas amostras compostas da dieta e das sobras,
por animal e por período, que foram congeladas para análises posteriores.
36
A composição química dos ingredientes encontra-se na Tabela 1 e a participação
dos ingredientes e composição química da dieta experimental de cada período com base
na matéria seca encontra-se na Tabela 2.
Tabela 1. Composição química dos ingredientes da dieta experimental, com base na
matéria seca, nos períodos de restrição alimentar e realimentação.
Restrição alimentar
Nutrientes (%) Capim elefante
Raiz de mandioca
Farelo de milho
Farelo de soja
Matéria seca (MS) 26,00 38,30 88,90 85,55 Matéria Mineral (MM) 11,06 3,20 2,36 6,91 Proteína bruta (PB) 6,15 3,83 12,19 45,23 Extrato etéreo (EE) 2,17 1,27 5,47 1,19 Fibra em detergente neutro (FDN) 71,23 17,98 16,36 14,84 Fibra em detergente neutro cp1 67,39 11,72 12,98 8,13 Fibra em detergente ácido (FDA) 42,55 9,74 8,07 8,29 Carboidratos não fibrosos (CNF) 13,23 79,98 67,00 38,54
Realimentação
Nutrientes (%) Capim elefante
Cana de Açúcar
Farelo de milho
Farelo de soja
Matéria seca (MS) 26,89 24,49 86,26 86,45 Matéria Mineral (MM) 10,98 4,56 1,45 6,84 Proteína bruta (PB) 4,11 3,93 10,13 44,41 Extrato etéreo (EE) 1,78 1,14 5,37 1,71 Fibra em detergente neutro (FDN) 78,65 58,06 13,55 14,82 Fibra em detergente neutro cp1 71,74 49,20 9,87 10,73 Fibra em detergente ácido (FDA) 49,26 37,33 4,54 9,99 Carboidratos não fibrosos (CNF) 11,39 41,17 73,18 36,31 1 Corrigida para cinzas e proteína
As determinações de matéria seca (MS), matéria mineral (MM), nitrogênio total
(NT), extrato etéreo (EE), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido
(FDA) foram realizadas segundo Silva & Queiroz (2002), sendo a proteína bruta (PB)
obtida pelo produto entre o teor de nitrogênio total e o fator 6,25. Os carboidratos não-
fibrosos (CNF) foram calculados de acordo com Weiss (1999), como: CNF (%) =100 –
(%FDNcp + %PB + %EE + %cinzas).
37
Tabela 2. Participação dos ingredientes e composição química da dieta experimental
dos animais com base na matéria seca, nos períodos de restrição alimentar e
realimentação.
Ingredientes (%)
Restrição Alimentar Realimentação Capim elefante 28,00 17,70 Raiz de mandioca 35,31 - Cana de açúcar - 41,29 Farelo de milho 24,70 30,00 Farelo de soja 9,10 7,52 Uréia 1,28 1,49 Sal mineral 1,61 2,00 Composição química (%) Matéria seca 51,64 50,70 Matéria Mineral 5,43 4,77 Proteína bruta 13,82 12,93 Extrato etéreo 2,51 2,52 Fibra em detergente neutro 31,69 43,07 Fibra em detergente neutro cp1 26,95 36,78 Fibra em detergente ácido 18,10 26,24 Carboidratos não fibrosos 52,00 43,00 1 Corrigida para cinzas e proteína
Diariamente, foram registradas as quantidades dos alimentos fornecidos e das
sobras dos alimentos, para estimativa do consumo. Na fase de restrição, os animais
foram pesados individualmente, após jejum de sólidos de 14 horas, em intervalos de 15
dias. Na fase de realimentação, a pesagem foi realizada a cada 10 dias para avaliação do
Índice de Compensação, segundo metodologia de Wilson & Osbourn (1960) para
quantificar a intensidade da compensação do peso dos animais ao longo da
realimentação, de acordo com a Equação Índice = (A-B)/A, onde A corresponde ao peso
dos animais que não sofreram restrição durante parte do experimento e B aos grupos
que sofreram restrição (20 e 40% no caso deste experimento) em um período e logo
após foram realimentados.
38
Coleta e processamento de amostras de sangue, fezes, urina e líquido ruminal
A cada duas semanas foram coletadas amostras de sangue, sempre na terceira
hora após a alimentação das novilhas, através da venipuncão da jugular externa,
utilizando-se tubos de ensaio de 10 mL sem anticoagulante para a obtenção de soro e
agulha esterilizada do tipo 10x25.
As amostras foram mantidas à temperatura ambiente e, aproximadamente três
horas após foram centrifugadas, por 10 minutos a 250 G para a obtenção do soro. Este
último foi aliquotado e armazenado à –20º C, em microtubos plásticos até que fossem
realizadas as análises bioquímicas.
As determinações bioquímicas sangüíneas foram realizadas com Kits
bioquímicos do tipo LABTEST® em espectrofotômetro de absorção de luz, marca
AMS® e com métodos colorimétricos: proteína total (Biureto), albumina (Verde de
bromocresol), uréia (Urease-Labtest), glicose (GOD-Trinder), colesterol (Enzimático-
Trinder), cálcio (azul de metiltimol), fósforo (azul de metiltimol), magnésio (magnésio
calmagita) e creatinina (picrato e acidificante).
Foram coletadas amostras spot de urina por micção espontânea no 60º dia
(restrição alimentar) e no 115º dia de experimento (realimentação), aproximadamente 4
horas após o fornecimento da alimentação da manhã e alíquotas de 10 mL foram
diluídas com 40 mL de H2SO4 a 0,036N. Estas amostras tiveram o pH ajustado para
valores inferiores a três para evitar destruição bacteriana das bases purinas urinárias e a
precipitação do ácido úrico. Posteriormente, foram armazenadas a -20oC até serem
submetidas à determinação de creatinina, uréia, alantoína e ácido úrico.
As análises de uréia e creatinina na urina foram feitas segundo os métodos
diacetil modificado e com uso de picrato e acidificante (Kit LABTEST®),
respectivamente, com uso de espectrofotômetro de absorção de luz. As análises de
39
alantoína e ácido úrico foram realizados pelo método colorimétrico, conforme técnica
de Fujihara et al. (1987).
A partir da excreção média diária de creatinina, obtida no experimento em
mg/kg PV/dia, e da concentração de creatinina (mg/L) na amostra spot de urina, foi
estimado o volume diário de urina. Esse volume foi utilizado para calcular as excreções
estimadas diárias de uréia, alantoína e ácido úrico de cada animal.
O balanço de compostos nitrogenados foi obtido pela diferença entre o total de
nitrogênio ingerido e o total excretado nas fezes e na urina. As excreções diárias
estimadas de N-uréia na urina foram calculadas pelo produto das concentrações
urinárias de uréia pelo volume urinário estimado, multiplicado por 0,466
correspondente ao teor de N na uréia. Nas fezes foi realizada coleta total para
determinação das excreções diárias estimadas de N-uréia. A determinação do nitrogênio
total nas fezes e na urina foi realizada segundo metodologia descrita por Silva &
Queiroz (2002).
A excreção total de derivados de purina foi o resultado da soma das excreções
urinárias de alantoína e ácido úrico. A partir daí foram calculadas as purinas
microbianas absorvidas (X, mmol/dia), utilizando a seguinte equação (Verbic et al.,
1990): Y= 0,85X + 0,385PV0,75, em que 0,85 é a recuperação de purinas absorvidas
como derivados de purina na urina e 0,385PV0,75 representa a contribuição endógena
para a excreção de purinas.
O fluxo intestinal de compostos nitrogenados (N) microbianos (Y, gN/dia) foi
calculado em função das purinas absorvidas (X, mmol/dia), utilizando-se a equação: Y
= (70X)/(0,83 x 0,134 x 1000), em que 70 representa o conteúdo de N nas purinas
(mgN/mmol); 0,83, a digestibilidade das purinas microbianas; e 0,134, a relação N-
purina:N total nas bactérias (Valadares et al., 1999).
40
As coletas de líquido ruminal para determinar as concentrações de N-NH3 foram
realizadas imediatamente antes do fornecimento da alimentação da manhã e 3 horas
após, por meio de sonda esofágica, aproximadamente, 50 mL de líquido ruminal e
filtrado em gaze. Adicionou-se, a cada amostra, 1 mL de solução de H2SO4 1:1, para
armazenamento a -5oC, determinando posteriormente as concentrações de Nitrogênio
Amoniacal (N-NH3). As concentrações de N-NH3 nas amostras do líquido ruminal
foram determinadas pelo Método de Kjeldahl mediante destilação com hidróxido de
potássio 2 N.
Delineamento Experimental
O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado com três
tratamentos e seis repetições por tratamento, totalizando 18 parcelas. Para análise dos
metabólitos utilizou-se o esquema de análise em parcelas subdivididas no tempo, com
os níveis de restrição na parcela principal e o tempo de coleta nas parcelas secundárias.
Dessa forma, as variáveis referentes ao desempenho e produção de proteína microbiana
foram submetidas à análise de variância e teste de médias utilizando-se o procedimento
GLM, enquanto que as variáveis referentes às concentrações metabólicas séricas dos
nutrientes utilizou-se o procedimento MIXED, ambos do programa SAS (SAS, 2000).
Os modelos estatísticos podem ser representados como segue: Yij = µ + ri + eij, em que:
Yij = valor observado j do nível de restrição i; µ = média geral; ri = efeito do nível de
restrição i; eij = erro aleatório associado a cada observação. Para os metabólitos, em que
se considerou o tempo na sub-parcela o modelo pode ser descrito como: Yijk = µ + ri +
αij + tk + (rt)ik + eijk, em que: Yijk = = valor observado j do nível de restrição i no tempo
k; µ = média geral; ri = efeito do nível de restrição i; αij = efeito residual das parcelas,
caracterizado como erro (a); tk = efeito do nível k do tempo; (rt)ik = efeito da interação
41
do nível de restrição i com o nível k do tempo; eijk = efeito residual das sub-parcelas,
caracterizado como erro (b). Na presença de efeito de tratamento, a comparação entre as
médias dos tratamentos foi realizada pelo teste de Tukey a uma significância de 5% para
todos os testes realizados.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na fase de restrição alimentar, de maneira geral, o consumo de matéria seca
(CMS) e seus constituintes diminuiu com o aumento da restrição, independentemente da
unidade utilizada (Tabela 3). Esse menor consumo dos grupos submetidos à restrição
alimentar (20 e 40%, respectivamente) ocorreu pela menor quantidade de ração
fornecida, em que os animais tinham seu consumo regulado em função da MS ingerida
pelo grupo controle (consumo à vontade). Os consumos de proteína bruta (PB), fibra
detergente neutro (FDN), carboidratos não fibrosos (CNF) e matéria mineral (MM)
também decresceram, corroborando com os resultados encontrados por Cerdótes (2007)
em um experimento de restrição alimentar em bovinos da raça Nelore. Normalmente,
estes nutrientes refletem o mesmo comportamento verificado para a ingestão de MS, em
kg/dia (Silva et al., 2002), pois estas frações são constituintes da MS dos alimentos
O consumo dos animais foi inversamente proporcional à severidade da restrição,
ou seja, quanto maior o percentual de restrição, menor o consumo. Tolla et al. (2003)
também verificaram redução no consumo de alimento de acordo com a severidade da
restrição aplicada. Costa et al. (2007) utilizando novilhas Pardo-Suíças puras, com
cinco meses de idade e peso inicial de 200 kg, também detectaram menores consumos
de MS, FDN no período de restrição alimentar (1º ao 90º dia).
O resultado do CMS em função do peso vivo mostra que o consumo do grupo
20% está de acordo com o NRC (1996), que prevê um consumo de 2,5 a 2,9% do PV
42
para fêmeas pré-púbere com média de 235 kg, entretanto, o consumo do grupo 40% de
restrição esteve abaixo do recomendado.
Tabela 3. Médias e coeficientes de variação dos consumos médios diários (kg/dia, %PV
e g/kg0,75) de matéria seca (MS), proteína bruta (PB), fibra em detergente
neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), extrato etéreo (EE),
carboidratos não fibrosos (CNF) e matéria mineral (MM) de fêmeas Sindi
pré-púbere submetidas a períodos de restrição alimentar e realimentação.
Restrição Alimentar
Consumo de Nutrientes Níveis de Restrição
CV% P 0 % 20 % 40 %
Matéria Seca (kg/dia) 8,18ª 6,13b 4,60c 12,40 <0,0001 Matéria Seca (%PV) 3,40ª 2,65b 2,09c 5,75 <0,0001 Matéria Seca (g/kg0,75) 133,85a 103,55b 80,69c 7,22 <0,0001 Proteína Bruta (kg/dia) 1,17ª 0,96b 0,79c 12,22 <0,0001 Proteína Bruta (%PV) 0,49ª 0,41b 0,33c 5,04 <0,0001 Proteína Bruta (g/kg0,75) 26,07a 25,27b 24,55c 6,66 <0,0001 Fibra detergente neutro (kg/dia) 3,12ª 2,52a 1,89b 12,87 <0,0001 Fibra detergente neutro (%PV) 1,29ª 1,09b 0,86c 6,74 <0,0001 Fibra Detergente Ácido (kg/dia) 1,23ª 1,11a 0,83b 12,25 <0,0001 Extrato Etéreo (kg/dia) 0,26ª 0,19b 0,14b 13,67 <0,0001 Carboidratos não fibrosos (kg/dia) 3,28ª 2,32b 1,73c 12,56 <0,0001 Matéria Mineral (kg/dia) 0,46ª 0,37b 0,28c 12,11 <0,0001
Realimentação Matéria Seca (kg/dia) 7,82 7,93 7,32 8,75 0,4762 Matéria Seca (%PV) 3,43 3,52 3,42 15,01 0,8234 Matéria Seca (g/kg0,75) 133,14 136,56 130,97 12,33 0,7739 Proteína Bruta (kg/dia) 1,01 1,03 0,99 6,57 0,4596 Proteína Bruta (%PV) 0,49 0,51 0,54 13,13 0,6117 Proteína Bruta (g/kg0,75) 19,02 20,03 20,70 10,44 0,5362 Fibra detergente neutro (kg/dia) 3,23 3,36 3,08 11,58 0,5769 Fibra detergente neutro (%PV) 1,42 1,49 1,44 16,71 0,8155 Fibra Detergente Ácido (kg/dia) 2,06 2,25 2,39 13,37 0,4526 Extrato Etéreo (kg/dia) 0,20 0,21 0,21 8,04 0,3437 Carboidratos não fibrosos (kg/dia) 3,79 3,74 3,52 5,51 0,2195 Matéria Mineral (kg/dia) 0,48 0,49 0,45 8,96 0,5411
Médias seguidas de mesma letra na linha não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey a 5% de Probabilidade (P >0,05);
O consumo de MS e PB do grupo alimentado à vontade esteve acima do
recomendado pelo NRC (1996). Isso ocorreu, provavelmente devido os animais estarem
43
sendo superalimentados e que os animais do grupo 20% de restrição não terem sofrido
restrição.
Na fase de realimentação, não houve diferença (P>0,05) entre os grupos para os
consumos de nenhum dos nutrientes estudados e nenhuma das formas expressas,
ilustrando consistentemente as respostas compensatórias dos grupos anteriormente
restritos (20 e 40%) já que o suprimento de alimento foi semelhante entre os grupos, no
período de realimentação. A restrição poderá acarretar ou não em compensação de
ganho de peso e aumento no consumo alimentar, porém no período de realimentação os
animais irão retomar o consumo normal de nutrientes já que no caso do presente
experimento a restrição foi quantitativa. Tolla et al. (2003) e Costa et al. (2007) também
não verificaram aumento no consumo de nutrientes durante o ganho compensatório.
As variações ocorridas no consumo alimentar dos animais na fase de
realimentação estão, em parte, relacionadas com a gravidade em que ocorre a restrição
alimentar, mas também resulta de diferenças no desenvolvimento do aparelho digestivo
durante a restrição. Ryan et al. (1993) constataram que a diferença na quantidade
ingerida, entre animais realimentados e o grupos controle, varia de acordo com o tempo
e a severidade de restrição, podendo não haver diferença entre o consumo de nutrientes
dos grupos.
Na fase de restrição alimentar, as concentrações séricas de proteínas totais,
albumina, globulina, uréia, glicose, cálcio e fósforo apresentaram-se inversamente
proporcionais (P<0,05) à porcentagem de restrição (Tabela 4).
Tabela 4. Médias e coeficientes de variação das concentrações séricas de proteína
totais, albumina, uréia, globulinas, glicose, colesterol, cálcio, fósforo,
magnésio e creatinina de fêmeas Sindi pré-púbere submetidas a períodos de
restrição alimentar e realimentação.
44
Restrição Alimentar
Variável Níveis de Restrição
CV% P 0% 20% 40%
Proteínas Totais (g/dl) 7,00a 5,76b 4,64c 16,86 <0,0001 Albumina (g/dl) 3,35a 2,89b 2,09c 11,31 <0,0001 Globulinas (g/dl) 3,65a 2,87b 2,55c 27,17 <0,0001 Uréia (mg/dl) 54,48a 49,56b 43,38c 12,68 <0,0001 Glicose (mg/dl) 60,00a 57,07b 54,01c 16,16 0,0002 Colesterol (mg/dl) 101,24 99,73 98,41 13,85 0,8223 Cálcio (mg/dl) 10,74a 9,51b 8,56c 10,53 <0,0001 Fósforo (mg/dl) 5,50a 4,94b 4,37c 10,55 <0,0001 Magnésio (mg/dl) 2,03 1,88 1,87 14,07 0,3714 Creatinina (mg/dl) 1,53 1,57 1,54 17,93 0,8750
Realimentação Proteínas Totais (g/dl) 7,08 6,90 6,76 3,71 0,1307 Albumina (g/dl) 3,47 3,56 3,36 8,82 0,5356 Globulinas (g/dl) 3,61 3,33 3,39 13,70 0,5813 Uréia (mg/dl) 52,45 53,31 55,11 7,69 0,1481 Glicose (mg/dl) 61,65 60,51 60,31 12,20 0,3779 Colesterol (mg/dl) 101,96 95,55 101,85 11,91 0,6179 Cálcio (mg/dl) 10,86 10,61 10,25 6,66 0,2141 Fósforo (mg/dl) 5,40 5,56 5,34 6,94 0,2416 Magnésio (mg/dl) 1,96 2,20 2,33 8,81 0,1472 Creatinina (mg/dl) 1,40 1,53 1,48 20,31 0,7421
Médias seguidas de mesma letra na linha não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey a 5% de Probabilidade (P >0,05);
Observou-se que a restrição imposta aos animais provocou redução (P<0,05) do
consumo de MS e como conseqüência de outros nutrientes (FDN, FDA, PB, EE, CNF,
MM). A deficiência de um ou mais nutrientes na alimentação pode ser refletida e
monitorada através das concentrações séricas dos nutrientes. Os desequilíbrios
provocados entre os nutrientes que ingressam no organismo animal, sua
biotransformação e a eliminação das substâncias resultantes podem ocasionar alterações
no metabolismo animal. Quando esses desequilíbrios são de curta duração e não são
muito severos, o metabolismo pode compensar utilizando as reservas corporais, como
ocorreu no presente experimento. Se for mais grave, o animal pode esgotar suas
reservas corporais, não havendo compensação metabólica (Wittwer, 2000; Ford & Park,
2001).
45
Entre as possíveis alterações provocadas pela redução do consumo alimentar
está a diminuição do ácido propiônico no tecido hepático provocando mudança da
neoglicogênese pela utilização de glicerol, lactato, alguns aminoácidos e conseqüente
diminuição na glicemia dos animais. Nesta fase, os ácidos graxos não esterificados
podem se tornar a principal fonte de energia do organismo (Yambayamba et al., 1996).
Assim como neste experimento, Hoch et al. (2003) também detectaram
diminuição do nível de glicose quando o tempo de restrição prolongou-se. Com a
redução da glicose sérica, os animais mobilizam ácidos graxos do tecido gorduroso
durante a restrição alimentar, permitindo, que o uso de proteína e energia seja poupado.
Porém, caso o animal seja submetido à severa e gradual deficiência de energia, existirá
grande mobilização de proteína muscular na tentativa de manter a homeostase
energética, e em especial do teor de glicose sangüínea. Neste caso o animal deixa de
depositar tecido muscular o que inibe o seu desenvolvimento. No presente experimento,
em nenhum momento, os animais deixaram de ganhar peso, o que nos permite concluir,
analisando em conjunto com o consumo que os níveis de restrição adotados não foram
severos. Assim que submetidos à realimentação, os animais recuperaram seus valores
séricos protéicos e de glicose. Hoch et al. (2003) também detectaram que a
concentração de uréia e glicose do plasma recuperam seus valores após poucas semana
de realimentação.
O comportamento sérico da uréia acompanhou os resultados encontrados por
Herdt (2000), visto que é reconhecido que o oferecimento de dietas com baixos teores
de proteína bruta provoca queda significativa nas concentrações séricas de uréia, o que
demonstra a importância dos teores de uréia como indicador do status protéico.
O aumento na concentração de uréia (P<0,05) observado desde o período de
restrição até o período de ganho compensatório refletiu em aumento da síntese hepática
46
resultante do nitrogênio microbiano aumentado pela produção no rúmen em
consequência do maior aporte de aminoácido no fígado e de origem alimentar
(Huntington et al., 2004). O aumento da concentração de glicose depois da
realimentação ocorreu, provavelmente, como resultado de uma produção ruminal mais
alta de ácido propiônico, associado à maior concentração da entrada de nutrientes.
As concentrações séricas de cálcio e fósforo reduziram (P<0,05) com a restrição
alimentar. Como a dieta era formulada com níveis corretamente correlacionados para
evitar antagonismo, a causa da redução dos níveis séricos foi a diminuição na ingestão
dos minerais devido a restrição, já que houve uma redução significativa (P<0,05) do
consumo de matéria mineral influenciada pelo nível de restrição. A deficiência
prolongada destes dois minerais poderá acarretar em diminuição do tamanho corpóreo
do animal como também comprometer o início da vida reprodutiva. Além disso, a
diminuição na concentração destes minerais pode diminuir a digestibilidade ruminal da
matéria orgânica e da parede celular da forragem consumida (Taylor et al., 2008).
Deve-se observar que o controle do metabolismo do fósforo está associado ao do
cálcio e que uma forte relação deve ser mantida para o controle da homeostase destes
dois elementos. De acordo com os valores de cálcio e fósforo observados neste
experimento, a relação cálcio:fósforo obtida nos grupos ficaram entre 1,9:1 e 2,2:1
respectivamente, e demonstram uma adequada proporção desses minerais para a idade
(Mcdowell, 1999).
Não houve diferença (P>0,05) entre os grupos (0, 20 e 40%) nas concentrações
de colesterol, magnésio e creatinina em nenhuma das fases experimentais. Os valores
destes nutrientes para todos os tratamentos permaneceram praticamente constantes. Os
dados aqui apresentados indicam que, durante todo o período experimental, o balanço
de colesterol e magnésio foi adequado (Taylor et al., 2008; Bezerra, 2006).
47
Para Hoch et al. (2003), as adaptações do metabolismo energético e protéico
permitem que o animal possa fazer melhor uso dos alimentos o que é mais raro e
conservar isto na fase inicial da realimentação, o que torna o organismo mais eficaz para
usar nutrientes. Os processos de melhor utilização dos nutrientes, dependentes da
ingestão alimentar, são regulados pelos hormônios insulina, imunoglobulinas e
hormônio do crescimento, resultando em menor requerimento energético e síntese de
proteína muscular. Como consequência destes eventos pode haver diminuição do
crescimento e do ganho de peso como também comprometimento do início da vida
reprodutiva. Ou ainda, quando o desequilíbrio provocado pela ausência de algum
nutriente é severo ou moderado e persistente, o animal esgota suas reservas corporais e
ocorre a doença. No presente experimento, os animais suportaram bem o período de
restrição e não foi observada presença de transtornos metabólicos nos animais bem
como animais em estado patológico.
Houve influência da severidade da restrição (P<0,05) no peso final e ganho de
peso médio diário dos animais (Tabela 5). Os grupos controle e submetido a 20%
tiveram peso final superior ao grupo 40% de restrição. A restrição em 20% do ofertado
não influenciou (P>0,05) o peso final e o ganho de peso diário dos animais se
comparados com os animais alimentados à vontade, assim como ocorreu com o
consumo de matéria seca. Apesar da alimentação restrita em 20%, os animais
apresentaram taxas de ganho dentro dos níveis nutricionais recomendados pelo NRC
(1996).
Tabela 5. Médias e coeficientes de variação do peso inicial (kg/dia), peso final (kg/dia),
ganho de peso médio diário (kg/dia), eficiência alimentar, conversão
alimentar e índice de compensação (%) em peso vivo e em peso0,75 de
fêmeas Sindi pré-púbere submetidas à períodos de restrição alimentar e
realimentação.
48
Restrição alimentar
Variável Níveis de Restrição
CV% P 0 % 20 % 40 %
Peso Inicial (kg/dia) 211,33 214,67 207,50 8,46 0,3552 Peso Final (kg/dia) 264,90a 253,13a 233,27b 11,58 0,0319 Ganho de Peso Médio Diário (kg/dia) 0,699a 0,616a 0,460b 16,59 0,0463 Conversão Alimentar1 11,70a 9,95b 10,00b 14,95 0,0119
Realimentação Peso Final (kg/dia) 289,60a 283,53a 267,60b 10,83 0,0416 Ganho de Peso Médio Diário (kg/dia) 0,598b 0,608ab 0,686a 14,64 0,0219 Conversão Alimentar1 15,95b 13,04b 10,06a 26,17 0,0251 Compensação em Peso Vivo (%) - 98 93 8,37 0,5667 Compensação em Peso 0,75 (%) - 99 94 7,54 0,6754
Médias seguidas de mesma letra na linha não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey a 5% de Probabilidade (P >0,05); 1CA em kg MS/kg GPD.
O grupo controle chegou ao final da fase de restrição com um peso 12% acima
do peso final dos animais que recebiam uma alimentação restrita em 40%. Tanto o
grupo controle como o 20% de restrição apresentaram ganho de peso médio
significativamente maior (P<0,05) que o grupo que recebia 40% a menos de alimento
(%MS). O ganho de peso médio dos animais do grupo controle foi em torno de 35%
superior ao grupo que possuía a alimentação restrita em 40%.
Segundo Wilson & Osbourn (1960), o crescimento de um animal pode ser
retardado se um nutriente qualquer da dieta faltar e, principalmente, se energia e
proteína estiverem limitando o ganho em peso. O menor consumo de nutrientes
observado neste experimento refletiu na diminuição dos teores séricos das proteínas e da
glicose, o que provavelmente acarretou em menores ganhos de peso e peso final dos
animais em que a restrição foi mais severa, já que consumos superiores aquele de
mantença, disponibilizam mais nutrientes para a deposição de tecidos, ou seja, a
proporção de nutrientes utilizados para mantença por conseqüência é menor.
Hoch et al. (2003) relatam que animais carentes ganham menos peso porque
reduzem suas exigências nutricionais basais a fim de diminuir suas taxas metabólicas e
tentando economizar nitrogênio, utilizando-a intensamente para produção de energia, o
49
que poderia ser explicado pela diminuição no volume sérico de proteínas nos bovinos
submetidos à restrição.
Na fase de realimentação, o ganho de peso médio diário dos animais submetidos
à 40% de restrição foi superior (P<0,05) ao grupo controle, e ambos os grupos não
diferiram (P>0,05) do grupo 20% de restrição. O peso final do grupo controle não
diferiu (P>0,05) dos animais que foram submetidos a 20% de restrição, e ambos os
grupos tiveram peso final superior (P<0,05) ao do grupo 40%. Isto ocorreu devido à
eficiência do grupo 40% em converter MS e energia consumida em ganho de peso
durante a realimentação, o que pode ter sido conseqüência da diluição das exigências de
mantença (Hoch et al., 2003).
Ryan et al. (1993) submeteram novilhos da raça Hereford com média de idade
de 9-10 meses, a um período de restrição alimentar de 89 dias. Durante este período os
novilhos perderam cerca de 20% do peso ou o equivalente a 41kg de perda em relação
ao peso inicial. Mas, ao final de 11 meses os bovinos conseguiram obter totalmente o
peso perdido, de forma que, ao final do experimento, não houve diferença significativa
entre os grupos comprovando o efeito compensatório.
Apesar do maior ganho de peso, os animais submetidos a 40% de restrição
chegaram ao final do experimento com o menor peso vivo. Analisando o índice de
compensação, pode-se observar que todos os grupos experimentais apresentaram
compensação entre 93 e 99%, não tendo havido diferença (P>0,05) entre os níveis de
restrição. Ambos os grupos (20 e 40%) apresentaram elevadas taxas de compensação.
Segundo Ryan (1990) a compensação pode ser completa, onde a taxa de ganho
superior do crescimento compensatório consegue compensar plenamente o menor
desempenho do período de restrição, ou compensação parcial, onde as taxas mais
elevadas de ganho da compensação não são suficientes para recuperar o que deixou de
50
ser ganho no período de restrição. No caso deste experimento pôde-se observar que
nenhum animal atingiu o valor de 100% que corresponderia à compensação total.
Observa-se que o grupo submetido à restrição em 20% esteve mais próximo da
compensação total, apesar de não haver diferença significativa (P>0,05) entre os grupos.
As dietas utilizadas neste experimento foram baseadas no NRC (1996), porém
acredita-se que animais zebuínos de dupla função possuem um sistema de partição de
nutrientes diferente e isso pode ser observado quando analisamos os resultados
encontrados neste experimento, onde apesar de aplicada uma restrição de 20% os
animais chegaram ao final do experimento com um peso semelhante, assim como, um
ganho de peso semelhante (P>0,05) ao do grupo controle que tinha suas necessidades
atendidas para um ganho de 700 g/dia.
A conversão alimentar na fase de restrição foi maior (P<0,05) no grupo controle
e não diferiu (P>0,05) entres os grupos submetidos à restrição. Na fase de
realimentação, o grupo 40% de restrição apresentou melhor (P>0,05) conversão
alimentar, que é um reflexo do ganho compensatório. Poucos são os resultados
referentes à aplicação de restrição alimentar e os resultados obtidos neste ensaio
indicam bons valores de conversão alimentar para todos os grupos, pois mesmo o
tratamento onde se foi aplicada a maior restrição (40%), apresentou médias semelhantes
às encontradas por outros autores que trabalharam com animais zebuínos (Mendes et al.,
2005; Seixas et al., 2006).
O consumo, as excreções urinária e fecal, o balanço de nitrogênio, o nitrogênio
retido, o nitrogênio microbiano e o nitrogênio amoniacal antes da alimentação foram
influenciados (P<0,05) pelos níveis de restrição adotados (Tabela 6).
51
Tabela 6. Médias e coeficiente de variação do nitrogênio (N) ingerido, nitrogênio (N)
excretado na urina, nitrogênio (N) excretado nas fezes, balanço de nitrogênio
(N), estimativa da produção dos compostos nitrogenados microbianos (Nmic)
e N-NH3 (0 e 3h) de fêmeas Sindi pré-pubere em função dos níveis de
restrição e da posterior realimentação.
Restrição alimentar
Variáveis Níveis de Restrição
CV% P 0% 20% 40%
N ingerido (g/dia) 731,25a 600,00b 493,75c 8,34 0,0123 N urinário (g/dia) 80,43a 53,40b 38,01c 22,67 0,0446 N fecal (g/dia) 348,07a 283,80b 219,22c 17,25 0,0234 Balanço N (g/dia) 302,75a 262,80b 236,52c 20,45 0,0269 % nitrogênio retido1 41,40b 43,80b 47,90a 10.21 0,0340 N mic (g/dia) 269,44a 199,37b 172,56c 6,58 0,0001 N-NH3 0h (mg/100ml) 6,66a 4,54a 3,61b 22,04 0,0127 N-NH3 3h (mg/100ml) 8,35a 6,79b 6,41b 23,53 0,0256
Realimentação N ingerido (g/dia) 631,25 643,50 618,75 6,70 0,5709 N urinário (g/dia) 117,41 122,26 113,23 24,17 0,2956 N fecal (g/dia) 328,45 310,81 306,90 17,22 0,8131 Balanço N (g/dia) 185,39 210,43 198,62 18,66 0,9888 % nitrogênio retido1 29,36 32,70 32,10 11,46 0,7394 N mic (g/dia) 288,42 297,20 289,94 3,14 0,0544 N-NH3 0h (mg/100ml) 5,68 5,53 5,56 27,92 0,1161 N-NH3 3h (mg/100ml) 9,38a 8,64a 6,71b 29,03 0,2406
Médias seguidas de mesma letra na linha não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey a 5% de Probabilidade (P >0,05); 1Balanço de N/Ingestão de nitrogênio
O consumo de nitrogênio decresceu (P<0,05) influenciado pelo menor consumo
de proteína bruta dos grupos submetidos à restrição alimentar. A diminuição no
consumo de matéria seca e nitrogênio podem influenciar negativamente os fluxos de
nitrogênio dietético e microbiano (Yan et al. 2007). A excreção de nitrogênio na urina e
nas fezes foi maior (P<0,05) nos animais alimentados à vontade e diminuiu com a
intensidade da restrição, fato relacionado à magnitude do consumo de nitrogênio.
A excreção urinária média de nitrogênio do grupo controle em relação ao
respectivo consumo médio totalizou 11% do consumido. Já os grupos 20 e 40% a
excreção urinária em relação ao consumo totalizaram 8,9 e 7,7%, respectivamente.
52
Observa-se uma diminuição do percentual de excreção urinária em relação ao
consumido. Pereira et al. (2007) detectaram excreções urinária (8,65%) de nitrogênio
em relação ao consumido por bovinos semelhantes aos encontrados neste experimento.
Para Yan et al. (2007), a excreção de nitrogênio na urina e nas fezes está
diretamente relacionada à concentração de proteína bruta na dieta e a ingestão de
nitrogênio pelo animal e uma das estratégias mais efetivas para reduzir a excreção de
nitrogênio é manipular a sua concentração dietética. Dessa forma a restrição alimentar
pode ser uma ferramenta eficiente para reduzir a eliminação de nitrogênio pelas fezes e
urina, desde que não prejudique o desempenho do animal.
O balanço de nitrogênio também foi influenciado (P<0,05) pelos níveis de
restrição, onde os grupos sem restrição, 20% e 40% apresentaram valores médios de
302,75; 262,80 e 236,52g/dia respectivamente, o que está relacionado ao aumento no
consumo de nitrogênio e nas excreções de nitrogênio nas fezes e na urina.
A porcentagem de nitrogênio retido em relação ao nitrogênio consumido
também foi influenciada (P<0,05) pelas dietas, em que o grupo mais restrito apresentou
maior retenção de nitrogênio em relação aos grupos controle e 20%, que não diferiram
entre si. O balanço de nitrogênio positivo também é um indicativo que houve retenção
de proteína no organismo animal, proporcionando condições para que não ocorresse
perda de peso dos animais experimentais (Zanton & Heinrichs, 2008). A retenção de
proteína no organismo animal proporciona condições para ganho de peso dos animais,
contando-se com os requerimentos de energia satisfeitos. Taylor-Edwards et al. (2009),
Pereira et al. (2007) e Valkeners et al. (2004) verificaram que a maior ingestão de
compostos nitrogenados resultou em maior retenção de N no organismo animal.
Na fase de restrição, observou-se diminuição na produção de N-microbiano em
função dos níveis de restrição (P<0,05), em que o maior nível de restrição (40%)
53
apresentou as menores médias (P<0,05). Esse resultado pode estar relacionado ao fato
de os animais terem apresentado comportamento similar para o consumo de MS (em
kg/dia), conforme descrito por Yan et al. (2007). Desse modo, os animais que
consumiram mais nutrientes apresentaram maior síntese ruminal de microrganismos. De
acordo com Valkeners et al. (2004), o nitrogênio retido no rúmen desempenha
importante papel pois torna-se disponível para os microorganismos e permite para a
contínua sincronização de nitrogênio e energia como substrato.
O balanceamento entre o suprimento de nitrogênio e energia para os
microrganismos ruminais tem sido proposto como mecanismo para aumentar a captura
do nitrogênio ruminalmente degradável e melhorar o crescimento microbiano (Pereira et
al., 2007). Portanto, uma maior disponibilidade de nutrientes, conseqüente de uma
maior ingestão também promove uma maior eficiência na síntese de proteína
microbiana, melhorando com isso o desempenho dos animais. Desse modo, aqueles
animais que consumiram mais nutrientes (grupo controle) apresentaram maior síntese
ruminal de microrganismos.
Na fase de realimentação, não houve efeito (P>0,05) dos níveis de restrição nas
variáveis analisadas no balanço de nitrogênio. A excreção urinária média de N em
relação ao respectivo consumo médio totalizou 18,6; 19 e 18,3% do consumido pelos
grupos controle, 20 e 40%, respectivamente. Isto era esperado já que os animais
consumiam a mesma dieta nessa fase. Ruiz et al. (2002) também observaram excreção
urinária e fecal em torno de 15 e 49% respectivamente.
As concentrações de nitrogênio amoniacal (N-NH3) do líquido ruminal antes
(0h) e após (3h) a alimentação foram influenciadas (P<0,05) pelos níveis de restrição
utilizados. Os animais do grupo restrito em 40% da alimentação apresentaram
concentrações de N-NH3ruminal (0h) inferiores (P<0,05) às concentrações dos grupos
54
controle e 20% que não diferiram entre si. Já três horas após a alimentação, os grupos
submetidos à restrição apresentaram concentrações inferiores às do grupo controle. Os
grupos submetidos à restrição apresentaram valores abaixo de 5 mg N-NH3/100 mL de
líquido ruminal, que é mencionado como valor mínimo para que a concentração de N-
NH3 não fosse limitante para o crescimento microbiano. Esta redução ocorreu pela
menor oferta de alimento o que pode ter reduzido o transito de alimento, taxa de
passagem e até pico de nitrogênio ruminal.
Na fase de realimentação não houve diferença (P>0,05) entre os grupos para
valores de N-NH3 no líquido ruminal. Firkins et al. (2007) afirmaram que a
concentração do N-NH3 ruminal é um preditor da eficiência de conversão de nitrogênio
dietético em nitrogênio microbiano, estando ainda correlacionado com a concentração
de uréia sérica.
A aplicação da restrição alimentar diminuiu a ingestão de alimento e
consequentemente os níveis séricos de nutrientes e a disponibilidade de nitrogênio
amoniacal, porém não prejudicou microflora microbiana, apesar de ter resultado em
redução no desempenho do animal.
CONCLUSÕES
Apesar da restrição alimentar em 20%, as novilhas Sindi mantiveram o consumo
de matéria seca segundo o recomendado pelo NRC (1996), não reduzindo o ganho de
peso diário e o peso final em relação aos animais alimentados à vontade. Já as fêmeas
submetidas a 40% de restrição obtiveram melhor conversão alimentar e maior ganho de
peso no período de realimentação. Portanto, ambos os níveis de restrição (20 e 40%)
podem ser adotados como prática de manejo nutricional de fêmeas jovens Sindi
propiciando aos animais elevada compensação parcial.
55
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BEZERRA, L.R. Desempenho e comportamento metabólico de cordeiros da raça Santa Inês alimentados com diferentes concentrações de Spirulina platensis diluída em leite de vaca. 2006. 173 f. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) – Universidade Federal de Campina Grande, Paraíba, 2006. CERDÓTES, L. Avaliação de bovinos nelore submetidos a períodos de restrição alimentar, durante a terminação. 2007. 95 f. Tese (Doutorado em Zootecnia) – Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal, São Paulo, 2007. COSTA, P.B.; QUEIROZ, A.C.; RODRIGUES, M.T.; MAGALHÃES, A.L.R.; COSTA, M.G.; TORAL, F.L.B.; CARVALHO, T.A.; MONTEIRO, L.; ZORZI, K.; DUARTE, M.S. Desempenho de novilhas leiteiras sob manejo para crescimento compensatório recebendo suplementação com ionóforo. Revista Brasileira de Zootecnia, v.36, n.2, p.461-470, 2007. FIRKINS, J.L.; YU, Z.; MORRISON, M. Ruminal nitrogen metabolism: perspectives for integration of microbiology and nutrition for dairy. Journal of Dairy Science, v.90 (E. Suppl.), p.1–16, 2007. FORD, A.J.; PARK, C.S. Nutritionally directed compensatory growth enhances heifer development and lactation potential. Journal of Dairy Science, v.84, p.1669-1678, 2001. FUJIHARA, T.; ORSKOV, E.R.: REEDS, P.J. The effect of protein infusion on urinary excretion of purine derivatives in ruminants nourished by intragastric nutrition. Journal of Agricultural Science, v.109, p.7-12, 1987. HERDT, H.H. The Veterinary Clinics of North America: food animal practice, v.16, n.2., 2000, 408p. HOCH, T.; BEGON, C; CASSAR-MALEK, I.; PICARD, B.; SAVARY-AUZELOUX, I.. Mécanismes et conséquences de la croissance compensatrice chez lês ruminants. INRA Productions Animales, v.16 (1), p.49-59, 2003. HUNTINGTON, G.B.; BURNS, J.C.; ARCHIBEQUE, S.L. Urea metabolism in beef steers grazing Bermudagrass, Caucasian bluestem, or gamagrass pastures varying in plant morphology, protein content, and protein composition. Journal of Animal Science, v.85, p.1997-2004, 2004. McDOWELL, L.R. Minerais para ruminantes sob pastejo em regiões tropicais, enfatizando o Brasil. Flórida: University of Florida, 1999, 93p. (Boletim, 3). MENDES, A.R.; EZEQUIEL, J.M.B; . GALATI, R.L.; FEITOSA, J.V. Desempenho, parâmetros plasmáticos e características de carcaça de novilhos alimentados com farelo de girassol e diferentes fontes energéticas, em confinamento. Revista Brasileira de Zootecnia, v.34, n.2, p.692-702, 2005.
56
MILLER, T.L.; WOLIN, M.J. Inhibition of growth of methane-producing bacteria of the ruminant forestomach by hydroxymethylglutaryl-ScoA reductase inhibitors. Journal of Dairy Science, v.84, p.1445-1448, 2001. NATIONAL RESEARCH COUNCIL - NRC. Nutrient requirement of dairy cattle. Washington: National Academy of Science, 242 p., 1996.
PEREIRA, K.P.; VÉRAS, A.S.C.V.; FERREIRA, M.A.; BATISTA, A.M.V.; MARQUES, K.A.; FOTIUS, A.C.A. Balanço de nitrogênio e perdas endógenas em bovinos e bubalinos alimentados com níveis crescentes de concentrado. Acta Scientarum Animal Science, v.29, n.4, p.433-440, 2007. RYAN, W.J.; WILLIAMS, I.H.; MOIR, R.J. Compensatory growth in sheep and cattle. Growth pattern and feed intake. Australian Journal of Agricultural Research, Perth, v.44, p.1609-1621, 1993. RYAN, W.J. Compensatory growth in cattle and sheep. Nutrition Abstracts and Reviews. Series B, v.60, p.653-664, 1990. RUIZ, R.; TEDESCHI, L.O.; MARINI, J.C.; FOX, D.G.; PELL, A.N.; JARVIS, G.; RUSSELL, J.B. The effect of a ruminal nitrogen (N) deficiency in dairy cows: evaluation of the cornell net carbohydrate and protein system ruminal n deficiency adjustment. Journal Dairy Science, v.85, p.2986–2999, 2002. SEIXAS, J.R.C.; EZEQUIEL, J.M.B.; ARAÚJO, W.A.; RESENDE, F.D.; MARTINS JUNIOR, A.; KRONKA, S.N.; SILVA, L.D.F.; DOURADO, J.B.; SOARES, W.V.B. Desempenho de bovinos confinados alimentados com dietas à base de farelo de algodão, uréia ou amiréia. Revista Brasileira de Zootecnia, v.28, n.2, p.432-438, 2006. SILVA, F.F.; VALADARES FILHO, S.C.; ÍTAVO, L.C.V.; VELOSO, C.M.; PAULINO, M.F.; CECON, P.R.; SILVA, P.A.; GALVÃO, R.M. Desempenho produtivo de novilhos nelore, na recria e na engorda, recebendo dietas com diferentes níveis de concentrado e proteína. Revista Brasileira de Zootecnia, v.31, n.1(supl), p.492-502, 2002. SILVA, D.J.; QUEIROZ, A.C. Análise de alimentos (métodos químicos e biológicos). 3.ed. Viçosa, MG: Universidade Federal de Viçosa, 2002. 235p. STATISTICAL ANALYSIS SYSTEM - SAS. Version 8.12 SAS, INC. Cany, NC, USA, 2000. TAYLOR-EDWARDS, C.C.; ELAM, N.A.; KITTS, S.E.; McLEOD, K.R.; AXE, D.E.; VANZANT, E.S.; KRISTENSEN N.B.; HARMON, D.L. Influence of slow-release urea on nitrogen balance and portal-drained visceral nutrient flux in beef steers. Journal of Animal Science, v.87, p.209-221, 2009. TAYLOR, M.S.; KNOWLTON, K.F.; MCGILLIARD, M.L.; SEYMOUR, W.M.; HERBEIN, J.H. Blood mineral, hormone, and osteocalcin responses of multiparous jersey cows to an oral dose of 25-hydroxyvitamin d3 or vitamin d3 before parturition. Journal Dairy Science, v.91, p.2408–2416, 2008.
57
TOLLA, N.; MIRKENA, T.; YIMEGNUHAL, A. Effect of feed restriction on compensatory growth of Arsi (Bos indicus) bulls. Animal Feed Science and Technology, v.103, p.29–39, 2003. VALADARES, R.F.D.; BRODERICK, G.A.; VALADARES FILHO, S.C.; CLAYTON, M. K. Effect of replacing alfafa silage with high moisture corn on ruminal protein synthesis estimated from excretion of total purine derivatives. Journal of Dairy Science, v. 82, n. 12, p. 2686-2696, 1999. VALKENERS, D.; THÉWIS, A.; PIRON, F.; BECKERS, Y. Effect of imbalance between energy and nitrogen supplies on microbial protein synthesis and nitrogen metabolism in growing double-muscled Belgian Blue bulls. Journal of Animal Science, v.82, p.1818-1825, 2004. VERBIC, J.; CHEN, X.B.; MACLEOD, N.A.; ØRSKOV, E.R. Excretion of purine derivatives by ruminants. Effect of microbial nucleic acid infusion on purine derivative excretion by steers. Journal of Agricultural Science, v.114, p.243-248, 1990. WEISS, W.P. Energy prediction equations for ruminant feeds. In: CORNELL NUTRITION CONFERENCE FOR FEED MANUFACTURERS, 61, 1999, Ithaca. Proceedings... Ithaca: Cornell University, 1999. p.176-185. WILSON, P.N.; OSBOURN, D.F. Compensatory growth after under nutrition in mammals and birds. Biological Reviews, v.35, n.3, p.324-363, 1960. WITTWER, F. Marcadores bioquímicos no controle de problemas metabólicos nutricionais em gado de leite. In:PERFIL METABÓLICO EM RUMINANTES: SEU USO EM NUTRIÇÃO E DOENÇAS NUTRICIONAIS, 2000, Porto Alegre, RS. Anais... Porto Alegre : UFRGS, 2000, p.53-62. YAMBAYAMBA, E.S.; PRICE M. A.; FOXCROFT, G.R. Hormonal status, metabolic changes, and resting metabolic rate in beef heifers undergoing compensatory growth. Journal of Animal Science, v.74, p.57-69, 1996. YAN, T.; FROST, J.P.; KEADY, T. W.J.; AGNEW, R.E.; MAYNE, C.S. Prediction of nitrogen excretion in feces and urine of beef cattle offered diets containing grass silage. Journal of Animal Science, v.85, p.1982-1989, 2007. ZANTON, G.I.; HEINRICHS, A.J. Analysis of nitrogen utilization and excretion in growing dairy cattle. Journal of Dairy Science, v.91, n.4, 2008.
58
CAPÍTULO III _____________________________________________________
Restrição Alimentar e Ganho Compensatório em Fêmeas Guzerá Pré-Púbere
59
Restrição Alimentar e Ganho Compensatório de Fêmeas Guzerá Pré-Púbere
RESUMO
O estudo foi conduzido para determinar o efeito de diferentes níveis de restrição
alimentar e da posterior realimentação em fêmeas Guzer pré-púberes. Foram utilizados
18 animais Guzerá, com idade inicial de 21 meses e peso médio de 268,1 kg,
distribuídas em três grupos segundo o regime alimentar: alimentação ad libitum durante
todo experimento; alimentação restrita em 20% da matéria seca na fase de restrição
alimentar e ração ad libitum na fase de realimentação; e alimentação restrita em 40% da
matéria seca na fase de restrição alimentar e ração ad libitum na fase de realimentação.
Na fase de restrição alimentar, o consumo de matéria seca decresceu com o aumento do
nível de restrição, influenciando a redução do consumo dos outros nutrientes. Na fase de
realimentação, o grupo 40% de restrição consumiu mais matéria seca (% PV) e proteína
bruta (peso0,75) que o grupos alimentado ad libitum. As concentrações séricas de
proteínas totais, albumina, globulina, uréia, glicose, cálcio e fósforo apresentaram-se
inversamente proporcionais ao nível de restrição. Não houve diferença as concentrações
dos nutrientes na fase de realimentação. Na fase de restrição, à medida que se aumentou
o nível de restrição, reduziu-se o peso final dos animais, porém o ganho de peso médio
diário dos animais do grupo controle não deferiu dos animais que recebiam alimentação
restrita em 20% e foi maior que o grupo restrito em 40%. Na fase de realimentação, o
grupo 40% de restrição obteve a maior taxa de ganho, diferindo dos grupos controle e
20%. Em ambas as fases, os animais do grupo submetido a 40% de restrição obtiveram
maior conversão alimentar, diferindo estatisticamente do grupo controle. No período de
restrição alimentar, o nitrogênio ingerido, excretado na urina e nas fezes, o balanço de
nitrogênio, o nitrogênio retido e o N-NH3 decresceram com os níveis de restrição
adotados. Na fase de realimentação nenhuma das variáveis foram influenciadas. A
restrição alimentar em 40% pode ser adotada como prática de manejo nutricional de
fêmeas jovens Guzerá em períodos de escassez de alimento, seguido de ganho
compensatório.
Palavras-chave: Ganho compensatório, metabólitos, nitrogênio, nutrição, zebu
60
Feed Restriction and Compensatory Growth in Guzerá Females before Puberty
ABSTRACT
This research was developed to evaluate the effect different levels restricting feed and
of the subsequent re-alimentation periods in Guzerá females. Eighteen females with
initial age 21 months and mean weight 211.7 kg were distributed into three groups
according to the alimentary regime com six animals for group: feed ad libitum during
total experiment; restricted feed 20% of the dry matter in the phase restricting feed
intake and ration ad libitum in the phase re-alimentation; group 3 - restricted feed 40%
of the dry matter in the phase restricting feed intake and ration ad libitum in the phase
re-alimentation. In the phase restricting feed, the dry mater intake decreased with the
increase of the restriction levels, influencing the reduction in intake of other nutrients.
In the phase re-alimentation, the 40% restricted feed group intake more dry matter
(%BW) and crud protein (weight0,75) that the group ad libitum fed. The serum
concentrations of total proteins, albumin, globulin, urea, glucose, calcium and
phosphorus were inversely proportional at the level of restriction. There was no
difference in serum concentrations nutrients in the phase re-alimentation. In the phase
restricting feed, as increased the restriction level the final live weight was reduced, and
the weight gain mean daily in the control group there was no difference in the animals
20% feed restriction and was higher than the group feed restriction 40%. In the phase
compensatory feed, the group 40% feed restriction achieved higher weight gain rates,
statistically differing of the control and 20% groups. In both phase, the animals group
40% feed restriction presented better feeding convection differed in the control group.
In the feed restriction phase, it was observed that intake N, nitrogen excreted in feces
and urine, nitrogen balance, nitrogen retention and N-NH3 reduced by the restriction
level. In the re-alimentation phase any the variables were influenced. The feed
restriction in 40% can be adopted as a practice nutritional management for feed
privation period a view the compensatory growth of animals.
Keywords: Compensatory growth, metabolites, nitrogen, nutrition, zebu
61
INTRODUÇÃO
A utilização de raças tropicais de dupla função para a produção tanto de leite
quanto carne, tem contribuído para a sustentabilidade da pecuária nas regiões semi-
árida, já que estes são animais mais resistentes a problemas comuns na cadeia produtiva
da bovinocultura. Apesar do enfoque na produção de carne ter sido a tônica nos
primórdios do zebu, a raça Guzerá, em particular, no Brasil, desde o início deste século,
possui relatos de animais com produção leiteira elevada (Melo & Penna, 2000).
A criação de bovinos na região Nordeste impõe aos animais, em estado natural,
experimentar períodos alternados de abundância e escassez de alimentos, muitas vezes
como consequência da quantidade de forragem disponível e até da qualidade do
alimento fornecido. Aliado a isso, a eficiência de utilização dos alimentos é um dos
principais fatores nutricionais a afetar a rentabilidade das propriedades pecuárias, já que
as perdas resultantes do processo digestivo são expressivas.
Diversos experimentos demonstram que animais submetidos à restrição
alimentar, quando o alimento volta a ser disponível em quantidade suficiente, suas taxas
de crescimento tornam-se mais aceleradas e excedem aquelas dos animais que vinham
sendo bem alimentados durante o mesmo período, devido a um impulso fisiológico
denominado ganho compensatório (Almeida et al., 2001; Hoch et al., 2003). Todavia,
quando isto acontece com fêmeas, é desejável que a quantidade oferecida para atingir o
melhor ganho de peso não cause danos de ordem reprodutiva, reduzindo os custos com
alimentação sem prejudicar a fêmea. Para isso, é importante se fazer o acompanhamento
metabólico destes animais a fim de reduzir estes problemas. Nesse sentido, a dosagem
das concentrações séricas dos nutrientes é uma ferramenta eficiente, já que o sangue
reflete bem o estado nutricional dos animais.
62
Objetivou-se determinar o efeito de diferentes níveis de restrição alimentar e da
posterior realimentação em fêmeas Guzerá pré-púberes.
MATERIAL E MÉTODOS
Local, duração e condições climáticas do experimento
O experimento foi conduzido no período de junho a outubro de 2008, na Estação
Experimental de Alagoinha-PB. A duração do experimento foi de 127 dias, sendo sete
dias para adaptação dos animais às dietas e as instalações, setenta dias de restrição
alimentar e 50 dias de realimentação.
O clima da área, segundo a classificação de Köppen, é do tipo As' (quente e
úmido) com chuvas de outono-inverno. As características climáticas coletadas com o
auxilio de uma mini estação meteorológica instalada nas baias experimentais durante o
período experimental apontaram temperaturas mínimas e máximas de 20,02 e 28,62ºC
respectivamente, temperatura média 24,18ºC, umidade relativa do ar média de 62,26% e
precipitação pluvial de 481,4 mm.
Animais, tratamentos e instalações
Foram utilizadas 18 fêmeas da raça Guzerá com idade média inicial na fase de
restrição alimentar de 21 meses e peso corporal de 268,17 kg. Após a restrição, iniciou-
se a fase de realimentação, com os animais apresentando peso inicial médio de 316,0
kg.
Os animais foram distribuídos em três grupos, com seis animais, de forma que
na fase de restrição alimentar foram gerados dois níveis de restrição em relação ao
grupo que se alimentava ad libitum, a saber: grupo 1 (Controle): as novilhas eram
alimentadas com quantidade de matéria seca à atender 100% das exigências nutricionais
63
para um ganho de 700 g/dia, segundo NRC (1996); grupo 2: as novilhas eram
alimentadas com quantidade de matéria seca à atender 80% das exigências nutricionais
do grupo controle; grupo 3: as novilhas eram alimentadas com quantidade de matéria
seca à atender 60% das exigências nutricionais do grupo controle; na fase de
realimentação todos os animais receberam a mesma dieta.
Antes do início do experimento, as fêmeas foram vermifugadas, distribuídas
aleatoriamente de acordo com o nível de restrição e alojadas em galpão, com baias
individuais com 7,5 m2, providas de comedouro e bebedouro.
Manejo alimentar e pesagem dos animais
O arraçoamento dos animais foi realizado a vontade no grupo controle, duas
vezes ao dia, às 7:00 e às 15:00 horas sendo 40% ofertado durante a manhã e 60%
durante a tarde com disponibilidade irrestrita de água. Os animais dos grupos 20% e
40% de restrição também foram alimentados nos mesmos horários e proporções. Para o
grupo controle, a quantidade de ração fornecida diariamente foi ajustada de acordo com
o consumo do dia anterior de modo que houvesse sobras em torno de 20% do total
fornecido, para que fosse garantido consumo à vontade.
Os ingredientes utilizados nas dietas (capim elefante, raiz de mandioca, farelo de
milho, farelo de soja, uréia e mistura mineral) foram processados e fornecidos na forma
de ração completa.
Foram coletadas amostras quinzenais representativas dos componentes da dieta
fornecida, sobras e fezes, sendo elaboradas amostras compostas da dieta e das sobras,
por animal e por período, que foram congeladas para análises posteriores.
64
A composição química dos ingredientes encontra-se na Tabela 1 e a participação
dos ingredientes e composição química da dieta experimental de cada período com base
na matéria seca encontra-se na Tabela 2.
Tabela 1. Composição química dos ingredientes da dieta experimental, com base na
matéria seca, nos períodos de restrição alimentar e realimentação.
Restrição alimentar
Nutrientes (%) Capim elefante
Raiz de mandioca
Farelo de milho
Farelo de soja
Matéria seca (MS) 26,00 38,30 88,90 85,55 Matéria Mineral (MM) 11,06 3,20 2,36 6,91 Proteína bruta (PB) 6,15 3,83 12,19 45,23 Extrato etéreo (EE) 2,17 1,27 5,47 1,19 Fibra em detergente neutro (FDN) 71,23 17,98 16,36 14,84 Fibra em detergente neutro cp1 67,39 11,72 12,98 8,13 Fibra em detergente ácido (FDA) 42,55 9,74 8,07 8,29 Carboidratos não fibrosos (CNF) 13,23 79,98 67,00 38,54
Realimentação
Nutrientes (%) Capim elefante
Cana de Açúcar
Farelo de milho
Farelo de soja
Matéria seca (MS) 26,89 24,49 86,26 86,45 Matéria Mineral (MM) 10,98 4,56 1,45 6,84 Proteína bruta (PB) 4,11 3,93 10,13 44,41 Extrato etéreo (EE) 1,78 1,14 5,37 1,71 Fibra em detergente neutro (FDN) 78,65 58,06 13,55 14,82 Fibra em detergente neutro cp1 71,74 49,20 9,87 10,73 Fibra em detergente ácido (FDA) 49,26 37,33 4,54 9,99 Carboidratos não fibrosos (CNF) 11,39 41,17 73,18 36,31 1 Corrigida para cinzas e proteína
As determinações de matéria seca (MS), matéria mineral (MM), nitrogênio total
(NT), extrato etéreo (EE), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido
(FDA) foram realizadas segundo Silva & Queiroz (2002), sendo a proteína bruta (PB)
obtida pelo produto entre o teor de nitrogênio total e o fator 6,25. Os carboidratos não-
fibrosos (CNF) foram calculados de acordo com Weiss (1999), como: CNF (%) =100 –
(%FDNcp + %PB + %EE + %cinzas).
65
Tabela 2. Participação dos ingredientes e composição química da dieta experimental
dos animais com base na matéria seca, nos períodos de restrição alimentar e
realimentação.
Ingredientes (%)
Restrição Alimentar Realimentação Capim elefante 28,00 17,70 Raiz de mandioca 35,31 - Cana de açúcar - 41,29 Farelo de milho 24,70 30,00 Farelo de soja 9,10 7,52 Uréia 1,28 1,49 Sal mineral 1,61 2,00 Composição química (%) Matéria seca 51,64 50,70 Matéria Mineral 5,43 4,77 Proteína bruta 13,82 12,93 Extrato etéreo 2,51 2,52 Fibra em detergente neutro 31,69 43,07 Fibra em detergente neutro cp1 26,95 36,78 Fibra em detergente ácido 18,10 26,24 Carboidratos não fibrosos 52,00 43,00 1 Corrigida para cinzas e proteína
Diariamente, foram registradas as quantidades dos alimentos fornecidos e das
sobras dos alimentos, para estimativa do consumo. Na fase de restrição, os animais
foram pesados individualmente, após jejum de sólidos de 14 horas, em intervalos de 15
dias. Na fase de realimentação, a pesagem foi realizada a cada 10 dias para avaliação do
Índice de Compensação, segundo metodologia de Wilson & Osbourn (1960) para
quantificar a intensidade da compensação do peso dos animais ao longo da
realimentação, de acordo com a Equação Índice = (A-B)/A, onde A corresponde ao peso
dos animais que não sofreram restrição durante parte do experimento e B aos grupos
que sofreram restrição (20 e 40% no caso deste experimento) em um período e logo
após foram realimentados.
66
Coleta e processamento de amostras de sangue, fezes, urina e líquido ruminal
A cada duas semanas foram coletadas amostras de sangue, sempre na terceira
hora após a alimentação das novilhas, através da venipuncão da jugular externa,
utilizando-se tubos de ensaio de 10 mL sem anticoagulante para a obtenção de soro e
agulha esterilizada do tipo 10x25.
As amostras foram mantidas à temperatura ambiente e, aproximadamente três
horas após foram centrifugadas, por 10 minutos a 250 G para a obtenção do soro. Este
último foi aliquotado e armazenado à –20º C, em microtubos plásticos até que fossem
realizadas as análises bioquímicas.
As determinações bioquímicas sangüíneas foram realizadas com Kits
bioquímicos do tipo LABTEST® em espectrofotômetro de absorção de luz, marca
AMS® e com métodos colorimétricos: proteína total (Biureto), albumina (Verde de
bromocresol), uréia (Urease-Labtest), glicose (GOD-Trinder), colesterol (Enzimático-
Trinder), cálcio (azul de metiltimol), fósforo (azul de metiltimol), magnésio (magnésio
calmagita) e creatinina (picrato e acidificante).
Foram coletadas amostras spot de urina por micção espontânea no 60º dia
(restrição alimentar) e no 115º dia de experimento (realimentação), aproximadamente 4
horas após o fornecimento da alimentação da manhã e alíquotas de 10 mL foram
diluídas com 40 mL de H2SO4 a 0,036N. Estas amostras tiveram o pH ajustado para
valores inferiores a três para evitar destruição bacteriana das bases purinas urinárias e a
precipitação do ácido úrico. Posteriormente, foram armazenadas a -20oC até serem
submetidas à determinação de creatinina, uréia, alantoína e ácido úrico.
As análises de uréia e creatinina na urina foram feitas segundo os métodos
diacetil modificado e com uso de picrato e acidificante (Kit LABTEST®),
respectivamente, com uso de espectrofotômetro de absorção de luz. As análises de
67
alantoína e ácido úrico foram realizados pelo método colorimétrico, conforme técnica
de Fujihara et al. (1987).
A partir da excreção média diária de creatinina, obtida no experimento em
mg/kg PV/dia, e da concentração de creatinina (mg/L) na amostra spot de urina, foi
estimado o volume diário de urina. Esse volume foi utilizado para calcular as excreções
estimadas diárias de uréia, alantoína e ácido úrico de cada animal.
O balanço dos compostos nitrogenados foi obtido pela diferença entre o total de
nitrogênio ingerido e o total excretado nas fezes e na urina. As excreções diárias
estimadas de N-uréia na urina foram calculadas pelo produto das concentrações
urinárias de uréia pelo volume urinário estimado, multiplicado por 0,466
correspondente ao teor de N na uréia. Nas fezes foi realizada coleta total para
determinação das excreções diárias estimadas de N-uréia. A determinação do nitrogênio
total nas fezes e na urina foi realizada segundo metodologia descrita por Silva &
Queiroz (2002).
A excreção total de derivados de purina foi o resultado da soma das excreções
urinárias de alantoína e ácido úrico. A partir daí foram calculadas as purinas
microbianas absorvidas (X, mmol/dia), utilizando a seguinte equação (Verbic et al.,
1990): Y= 0,85X + 0,385PV0,75, em que 0,85 é a recuperação de purinas absorvidas
como derivados de purina na urina e 0,385PV0,75 representa a contribuição endógena
para a excreção de purinas.
O fluxo intestinal de compostos nitrogenados (N) microbianos (Y, gN/dia) foi
calculado em função das purinas absorvidas (X, mmol/dia), utilizando-se a equação: Y
= (70X)/(0,83 x 0,134 x 1000), em que 70 representa o conteúdo de N nas purinas
(mgN/mmol); 0,83, a digestibilidade das purinas microbianas; e 0,134, a relação N-
purina:N total nas bactérias (Valadares et al., 1999).
68
As coletas de líquido ruminal para determinar as concentrações de N-NH3 foram
realizadas imediatamente antes do fornecimento da alimentação da manhã e 3 horas
após, por meio de sonda esofágica, aproximadamente, 50 mL de líquido ruminal e
filtrado em gaze. Adicionou-se, a cada amostra, 1 mL de solução de H2SO4 1:1, para
armazenamento a -5oC, determinando posteriormente as concentrações de Nitrogênio
Amoniacal (N-NH3). As concentrações de N-NH3 nas amostras do líquido ruminal
foram determinadas pelo Método de Kjeldahl mediante destilação com hidróxido de
potássio 2 N.
Delineamento experimental
O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado com três
tratamentos e seis repetições por tratamento, totalizando 18 parcelas. Para análise dos
metabólitos utilizou-se o esquema de análise em parcelas subdivididas no tempo, com
os níveis de restrição na parcela principal e o tempo de coleta nas parcelas secundárias.
Dessa forma, as variáveis referentes ao desempenho e produção de proteína microbiana
foram submetidas à análise de variância e teste de médias utilizando-se o procedimento
GLM, enquanto que as variáveis referentes às concentrações metabólicas séricas dos
nutrientes utilizou-se o procedimento MIXED, ambos do programa SAS (SAS, 2000).
Os modelos estatísticos podem ser representados como segue: Yij = µ + ri + eij, em que:
Yij = valor observado j do nível de restrição i; µ = média geral; ri = efeito do nível de
restrição i; eij = erro aleatório associado a cada observação. Para os metabólitos, em que
se considerou o tempo na sub-parcela o modelo pode ser descrito como: Yijk = µ + ri +
αij + tk + (rt)ik + eijk, em que: Yijk = = valor observado j do nível de restrição i no tempo
k; µ = média geral; ri = efeito do nível de restrição i; αij = efeito residual das parcelas,
caracterizado como erro (a); tk = efeito do nível k do tempo; (rt)ik = efeito da interação
do nível de restrição i com o nível k do tempo; eijk = efeito residual das sub-parcelas,
69
caracterizado como erro (b). Na presença de efeito de tratamento, a comparação entre as
médias dos tratamentos foi realizada pelo teste de Tukey a uma significância de 5% para
todos os testes realizados.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
No período de restrição alimentar, os consumos de matéria seca (MS) e proteína
bruta (PB) (kg/dia, %PV e PV0,75), fibra detergente neutro (FDN), extrato etéreo (EE),
carboidratos não fibrosos (CNF) e matéria mineral (MM) (kg/dia) foram influenciados
(P<0,05) pelos níveis de restrição aplicados (Tabela 3). À medida que se aumentou o
nível de restrição, os consumos destes nutrientes diminuíram. O menor consumo de MS
dos grupos submetidos à restrição ocorreu pela menor quantidade de ração fornecida aos
mesmos, cujo consumo foi regulado em função da matéria seca ingerida pelo grupo
controle (20 e 40%, respectivamente), o que também influenciou a redução na ingestão
dos outros nutrientes. Costa et al. (2007), submetendo novilhos ao sistema crescimento
compensatório também observaram menores consumos de MS e FDN (kg/dia, %PV)
durante o primeiro período de restrição, confirmando o previamente estabelecido.
Observou-se que a ingestão de matéria seca foi 27% menor no grupo restrito em
20% e 45% menor no grupo restrito em 40%. Clarck et al. (2007) em seu trabalho,
relataram que ao submeterem bovinos à redução em 20% da ingestão de matéria seca,
poderão reduzir o padrão normal de fermentação ruminal sustentável e alterar as perdas
de nutrientes através das fezes.
Para o consumo de fibra em detergente ácido (FDA) (kg/dia) e de FDN (%PV),
houve diferença (P<0,05) apenas entre os grupos controle e 40% de restrição sendo
ambos semelhantes ao grupo 20% de restrição.
70
Tabela 3. Médias e coeficientes de variação dos consumos médios diários (kg/dia) de
matéria seca (MS), proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN),
fibra em detergente ácido (FDA), extrato etéreo (EE), carboidratos não
fibrosos (CNF) e matéria mineral (MM) de fêmeas Guzerá pré-pubere em
função dos níveis de restrição e da posterior realimentação.
Restrição Alimentar
Consumo de Nutrientes Níveis de Restrição
CV% P 0 % 20 % 40 %
Matéria Seca (kg/dia) 9,66ª 7,13b 5,35c 8,65 <0,0001 Matéria Seca (%PV) 3,17ª 2,48b 1,96c 5,94 >0,0001 Matéria Seca (g/kg0,75) 132,57a 102,10b 79,87c 6,32 >0,0001 Proteína Bruta (kg/dia) 1,34ª 1,15b 0,86c 8,64 >0,0001 Proteína Bruta (%PV) 0,63ª 0,47b 0,37c 4,75 >0,0001 Proteína Bruta (g/kg0,75) 26,65a 19,33b 15,11c 5,57 >0,0001 Fibra detergente neutro (kg/dia) 3,36ª 2,75b 2,06c 10,05 >0,0001 Fibra detergente neutro (%PV) 1,10ª 0,95a 0,76b 8,67 >0,0001 Fibra Detergente Ácido (kg/dia) 1,28ª 1,22ab 0,92b 15,18 >0,0001 Extrato Etéreo (kg/dia) 0,12ª 0,09b 0,07c 7,39 >0,0001 Carboidratos não fibrosos (kg/dia) 3,91ª 2,72b 2,04c 9,03 >0,0001 Matéria Mineral (kg/dia) 0,57ª 0,44b 0,33c 8,76 >0,0001
Realimentação Matéria Seca (kg/dia) 8,33 8,05 8,01 3,59 0,5712 Matéria Seca (%PV) 2,84b 2,95b 3,08a 5,16 0,0480 Matéria Seca (g/kg0,75) 117,53 119,85 123,61 4,17 0,0639 Proteína Bruta (kg/dia) 1,18 1,17 1,14 3,51 0,3016 Proteína Bruta (%PV) 0,39b 0,43ab 0,45a 6,44 0,0249 Proteína Bruta (g/kg0,75) 16,16b 17,60ab 18,16a 5,42 0,0298 Fibra detergente neutro (kg/dia) 3,86 3,71 3,76 5,07 0,6033 Fibra detergente neutro (%PV) 1,32b 1,35ab 1,44a 4,39 0,0166 Fibra Detergente Ácido (kg/dia) 2,56 2,78 2,92 9,83 0,3367 Extrato Etéreo (kg/dia) 0,18 0,19 0,19 4,64 0,6703 Carboidratos não fibrosos (kg/dia) 3,48 3,42 3,31 3,26 0,1601 Matéria Mineral (kg/dia) 0,58 0,56 0,56 3,78 0,5595 Médias seguidas de mesma letra na linha não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey a 5% de Probabilidade (P >0,05);
Para Mertens (2001) uma redução no nível de fibra efetiva na dieta, resulta em
uma série de eventos que ocorrem em cascata: menor mastigação pelo animal, menor
secreção de saliva “tamponante”, mudança nas populações microbianas, redução na
relação acetato:propionato (A:P).
71
No período de realimentação, não foi observado diferença (P>0,05) entre os
grupos para o consumo de nutrientes em kg/dia. Entretanto, quando analisados em
função do PV, no grupo 40%, o consumo de MS, PB e FDN foram maiores (P<0,05)
que no grupo que não sofreu restrição alimentar e ambos os grupos não diferiram
(P>0,05) do grupo submetido a uma restrição de 20% do consumido. Aumento na
ingestão em relação ao peso vivo significa uma proporção maior do alimento sendo
usado para ganho. Este maior consumo pode ser explicado pelo fato do aparelho
digestivo do organismo ter recuperado o seu pleno potencial, fazendo com que a
ingestão aumentasse em comparação com os animais que não sofrem restrição, sob a
dependência do sinergismo de sinais hormonais, impulsionando o metabolismo a
provocar aumento da proteína (Hoch et al., 2003).
Não foi observado diferença (P>0,05) quando a MS foi analisada em função do
peso metabólico. Tolla et al. (2003) também não observaram diferença no consumo
alimentar dos animais no período de realimentação. Estas variações ocorridas estão
relacionadas com a gravidade da restrição alimentar (Ryan et al.,1993), mas também
resultam de diferenças no desenvolvimento aparelho digestório durante a restrição. Esta
afirmação corrobora com os resultados deste experimento, já que não foi verificado
diferença entre os grupos controle e grupo em que a restrição foi menos severa (20%).
Na fase de restrição alimentar, observou-se que as concentrações séricas de
proteínas totais, albumina, globulina, uréia, glicose, cálcio e fósforo decresceram
(P<0,05) quando se aumentou a severidade da restrição. Já na fase de realimentação,
não foi verificada diferença (P > 0,05) entre os grupos para as concentrações séricas dos
nutrientes analisados (Tabela 4).
72
Tabela 4. Médias e coeficientes de variação das concentrações séricas de proteína
totais, albumina, uréia, globulinas, glicose, colesterol, cálcio, fósforo,
magnésio e creatinina de fêmeas Guzerá pré-púbere submetidas à períodos
de restrição alimentar e realimentação.
Restrição Alimentar
Variável Níveis de Restrição
CV% P 0% 20% 40%
Proteínas Totais (g/dl) 7,07a 5,88b 4,78c 7,72 0,0001 Albumina (g/dl) 3,39a 2,90b 2,19c 12,48 0,0001 Globulinas (g/dl) 3,68a 2,98b 2,59c 15,83 0,0001 Uréia (mg/dl) 54,98a 49,95b 44,16c 10,55 0,0001 Glicose (mg/dl) 63,64a 56,51b 50,37c 14,51 0,0001 Colesterol (mg/dl) 100,38 101,50 103,53 9,98 0,2774 Cálcio (mg/dl) 10,87a 9,36b 8,85c 15,99 0,0001 Fósforo (mg/dl) 5,53a 4,76b 4,32c 10,64 0,0001 Magnésio (mg/dl) 1,98 1,97 1,87 11,89 0,1113 Creatinina (mg/dl) 1,58 1,56 1,45 16,97 0,1967
Realimentação Proteínas Totais (g/dl) 7,08 6,76 6,92 3,85 0,1850 Albumina (g/dl) 3,35 3,52 3,31 6,19 0,1390 Globulinas (g/dl) 3,73 3,24 3,61 9,58 0,0564 Uréia (mg/dl) 52,91 58,82 54,91 10,48 0,2364 Glicose (mg/dl) 65,55 66,78 63,11 10,86 0,6664 Colesterol (mg/dl) 96,15 104,65 107,2 8,73 0,1153 Cálcio (mg/dl) 10,36 10,78 10,61 7,05 0,7213 Fósforo (mg/dl) 5,15 5,11 5,30 7,25 0,6745 Magnésio (mg/dl) 2,18 2,20 1,91 11,64 0,1124 Creatinina (mg/dl) 1,71 1,71 1,45 12,99 0,0708
Médias seguidas de mesma letra na linha não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey a 5% de Probabilidade (P >0,05);
Em ruminantes, a redução na ingestão de alimento por um período poderá
acarretar alterações na fermentação de ruminal (Chelikani et al., 2004), no equilíbrio de
eletrólitos e nas concentrações séricas dos nutrientes (Cole, 2000). Os animais
necessitam de processos de adaptação para manter a homeostase e não apresentarem
como consequência distúrbios metabólicos. Entre estas interações estão as relacionadas
à entrada de nutrientes, onde uma vez que se restringe a quantidade de nutrientes
ingerida pelo animal haverá um desequilíbrio ruminal e um desbalanço da utilização de
73
proteína como também da relação proteína:energia. Esta situação é mais evidente ainda
quando se observa o efeito do crescimento compensatório sobre o metabolismo (Ford &
Park, 2001).
Observou-se que a restrição imposta aos animais provocou redução do consumo
de MS e como conseqüência de outros nutrientes (FDN, PB, EE, etc.). Este menor
consumo pode ter gerado deficiência de energia e mobilização de proteína corpórea na
tentativa de manter a homeostase energética, em especial do teor de glicose sanguínea.
Variações dos componentes do perfil metabólico sanguíneo podem estimar o processo
de adaptação metabólica à novas situações fisiológicas ou de alimentação como é o caso
da restrição. Amstalden et al. (2002) também detectaram redução nas concentrações
plasmáticas de glicose, ao submeter bovinos de corte à jejum prolongado.
Sucupira (2003), submetendo garrotes à carência prolongada, verificou
diferenças (P<0,05) nos teores séricos de proteína total entre o grupo que recebia baixas
concentrações de energia na dieta e o grupo controle. Quando o animal é submetido à
severa e gradual deficiência de energia, existirá mobilização de proteína muscular na
tentativa de manter a homeostase energética, em especial do teor de glicose sanguínea
(Hoch et al., 2003).
O comportamento sérico da uréia acompanhou os resultados encontrados por
Herdt (2000), visto que é reconhecido que o oferecimento de dietas com baixos teores
de proteína bruta provoca uma queda significativa nas concentrações séricas de uréia,
demonstrando assim a importância dos teores de uréia como indicador de status
protéico nos casos de subnutrição.
A recuperação das concentrações séricas de glicose depois da realimentação
ocorreu, como resultado de uma produção ruminal mais alta de ácido propiônico,
associado com uma maior concentração da entrada de carboidratos. A redução no
74
consumo alimentar de carboidratos não fibrosos reduz o propionato e traduz uma
mudança na utilização da neoglicogênese e diminuição global na glicemia nos animais
(Yambayamba et al., 1996). Durante a restrição de alimento, há uma troca no equilíbrio
de energia devido a níveis reduzidos de glicose no sangue, e com isso a utilização de
ácidos graxos se torna a fonte principal de energia (Chelikani et al., 2004).
A redução das concentrações séricas de cálcio e fósforo (P<0,05) ocorreu devido
à baixa ingestão destes dois minerais e caso esta diminuição seja muito severa e
prolongada poderá refletir em menor desenvolvimento do tecido ósseo e problemas
reprodutivos, pois animais jovens apresentam uma maior eficiência na absorção desses
minerais em decorrência da alta taxa de desenvolvimento ósseo (Mcdowell, 1999). Vale
ressaltar que o controle do metabolismo do fósforo está associado ao do cálcio e que
uma forte relação deve ser mantida para o controle da homeostase destes dois
elementos. De acordo com os valores encontrados neste experimento, a relação
cálcio:fósforo obtida para os grupos ficaram entre 1,9:1 e 2,2:1 respectivamente, e
demonstram uma adequada proporção desses minerais para a idade (Taylor et al., 2008).
As concentrações séricas de colesterol, magnésio e creatinina não diferiram
(P>0,05) entre os grupos ao longo de todo o período experimental. O balanço de
magnésio durante o experimento foi adequado, uma vez que o nível sérico desse
elemento manteve-se praticamente constante. Os níveis de creatinina refletem boa
atividade renal, do ponto de vista semiótico e homeostática (Bezerra, 2006).
Observaram-se relações significativas entre entrada de nutrientes dietéticos e
concentrações de alguns metabolitos no sangue. Em geral, as concentrações de glicose
plasmática, proteína total, albumina e nitrogênio ureico séricos estão relacionadas com
as entradas dietéticas de energia e proteína bruta, respectivamente. Estes relações são a
base do uso prático de testes de perfis metabólicos e nos permitem fazer um
75
acompanhamento dos eventos metabólico ocorridos.
Na fase de restrição alimentar, à medida que aumentaram os níveis de restrição,
o peso final diminuiu, havendo diferença entre os três grupos experimentais (P<0,05).
Tabela 5. Médias e coeficientes de variação do peso Inicial (kg/dia), peso final (kg/dia),
ganho de peso médio diário (kg/dia), eficiência alimentar, conversão
alimentar e índice de compensação (%) em função do peso vivo e do peso
metabólico de fêmeas Guzerá pré-púbere submetidas a períodos de restrição
alimentar e realimentação.
Restrição alimentar
Variável Níveis de Restrição
CV% P 0 % 20 % 40 %
Peso Inicial (kg) 270,83 270,33 263,33 6,73 0,0820 Peso Final (kg) 333,37a 308,43b 284,00c 8,78 0,0325 Ganho de Peso Médio Diário (kg/dia) 0,776a 0,664ab 0,607b 15,67 0,0435 Conversão Alimentar1 12,44b 10,73ab 8,81a 32,96 0,01
Realimentação Peso Final (kg) 365,43a 343,80a 329,93b 6,24 0,0233 Ganho de Peso Médio Diário (kg/dia) 0,641b 0,707b 0,918a 17,89 0,0367 Conversão Alimentar1 12,99b 11,38ab 8,72a 27,54 0,2318 Compensação em Peso Vivo (%) - 95 94 8,34 0,4098 Compensação em Peso 0,75 (%) - 96 93 8,13 0,5621 Médias seguidas de mesma letra na linha não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey a 5% de Probabilidade (P >0,05); 1CA em kg MS/kg GPD;
Os animais do grupo controle apresentaram valores de peso final superiores em
8% em relação ao grupo restrito em 20% e 15% em relação ao grupo restrito em 40%.
Segundo Wilson & Osbourn (1960), o crescimento de um animal pode ser retardado se
um nutriente qualquer da dieta faltar, principalmente se energia e proteínas estiverem
limitando o ganho em peso. Como o animal apresenta pequenas reservas protéicas, a
restrição de proteína geralmente promove maiores danos do que a energética. Este fato
pode ser comprovado ao observar o consumo e a análise das concentrações séricas de
proteínas e energia.
76
Na fase de restrição alimentar, o ganho de peso médio diário dos animais do
grupo controle não diferiu (P>0,05) ao daqueles animais que recebiam alimentação
restrita em 20% e foi maior (P<0,05) que o grupo 40% de restrição. Isto é reflexo de
consumos superiores ao necessário para mantença, disponibilizando mais nutrientes
para a deposição de tecidos (Hoch et al., 2003). Não houve diferença (P>0,05) entre o
ganho de peso dos animais dos grupos restritos.
Na fase de realimentação, os animais do grupo 40% de restrição apresentaram o
maior ganho de peso médio diário do experimento (0,918 kg/dia) diferindo (P<0,05) dos
animais dos grupos controle e restrito 20%, em resposta compensatória resultante da
restrição dietética. A compensação ocorre devido a vários mecanismos que levam ao
aumento de peso do animal, em comparação com o crescimento continuo (grupo
controle).
Para Hoch et al. (2003), durante a fase de crescimento compensatório, o
metabolismo do animal continua a ser adequado a uma baixa ingestão alimentar,
enquanto animais não são restritos. O metabolismo energético basal do animal
permanece baixo e aumenta lentamente, ajustando-se ao novo regime. Dessa forma, a
eficácia da utilização de energia e proteína aumenta, enquanto que as necessidades
energéticas para o crescimento permanecem baixas, o que explica o maior ganho de
peso dos animais.
Ryan (1990) relata ainda que o ganho de peso corporal mais acelerado se dá em
decorrência do rápido aumento inicial do tamanho dos órgãos internos metabolicamente
ativos e da maior retenção de água nas fibras musculares que antecede a deposição mais
intensa de proteína nos músculos.
A energia restrita na fase de restrição proporcionou um menor ganho de peso nas
fêmeas, fazendo com que estas ganhassem menos peso que o tradicional quando os
77
animais são alimentados normalmente. A realimentação permitiu um retorno para o
ganho de peso normal. O consumo de energia maior que o necessário para manutenção
causou uma maior proporção de energia consumida para estar disponível para o
crescimento, resultando em crescimento compensatório. Estes resultados corroboram
com Ryan (1990), Ford & Park (2001), Hoch et al. (2003) e Tolla et al. (2003).
Em ambas as fases, os animais do grupo submetido a 40% de restrição
apresentaram melhor conversão alimentar (P>0,05) quando comparado com o grupo que
não foi submetido à restrição, não havendo diferença (P>0,05) destes grupos para o
grupo 20% em nenhuma das fases, indicando maior eficiência do grupo mais restrito,
quando em ganho compensatório. A conversão alimentar foi expressivamente melhor
durante a realimentação nos animais submetidos à restrição, indicando a possibilidade
de manipular o consumo por um período visando diminuir a relação entre o ganho de
peso e o consumo de MS do período seguinte, obtendo-se um consumo mais econômico
e sem prejuízos no peso corporal.
Analisando o índice de compensação (% peso vivo e peso 0,75), observa-se que
todos os grupos experimentais apresentaram compensação próxima a 100% não
havendo diferença (P>0,05) entre os níveis de restrição. Apesar de não ter ocorrido
compensação total, ambos os grupos (20 e 40%) apresentaram elevadas taxas de
compensação. Segundo Ryan (1990) a compensação é completa quando a taxa de ganho
superior do crescimento compensatório consegue compensar plenamente o menor
desempenho do período de restrição, ou compensação parcial, onde as taxas mais
elevadas de ganho da compensação não são suficientes para recuperar tudo que deixou
de ser ganho no período de restrição.
Hoch et al. (2003) afirmam que o período de restrição alimentar irá retardar o
crescimento do animal, mas, após retorno a uma alimentação normal, o crescimento é
78
geralmente compensado. Quando o animal regressa a uma dieta não restrita, pode-se
seguir uma fase de compensação. A compensação parcial ocorreu neste experimento
para ambas as restrições (20 e 40%), porém apenas o grupo 40% apresentou maior
ganho de peso em relação ao grupo não restrito no período de realimentação sugerindo
que estes animais tiveram um aumento rápido no armazenamento de energia ou uma
taxa mais lenta de diminuição em energia desperdiçada depois da realimentação.
O efeito do crescimento compensatório sobre o metabolismo do nitrogênio (N)
foi observado em diversas pesquisas (Ford & Park 2001; Ruiz et al., 2002; Valkeners et
al., 2004; Yan et al., 2007). No presente trabalho, no período de restrição alimentar,
verificou-se que o consumo, a excreção urinária e fecal, o balanço de nitrogênio, o
nitrogênio microbiano e o nitrogênio amoniacal decresceram (P<0,05) com os níveis de
restrição aplicados (Tabela 6).
O consumo de N (g/dia) decresceu (P<0,05) com os níveis de restrição devido à
restrição estar em função consumo de matéria seca. A diminuição no consumo de
matéria seca e nitrogênio podem influenciar negativamente os fluxos de N dietético e
microbiano (Yan et al. 2007).
A excreção de nitrogênio na urina e nas fezes foi maior (P<0,05) nos animais
alimentados à vontade e diminuiu com a intensidade da restrição, fato relacionado à
magnitude do consumo de nitrogênio. Segundo Yan et al. (2007), a excreção de
nitrogênio na urina e nas fezes está diretamente relacionada à concentração de proteína
bruta na dieta e a ingestão de nitrogênio pelo animal e uma das estratégias mais efetivas
para reduzir a excreção de nitrogênio é manipular a sua concentração dietética.
Portanto, a restrição alimentar poderá ser uma ferramenta eficiente para reduzir a
eliminação de N pelas fezes e urina desde que não prejudique o desempenho do animal.
79
Tabela 6. Médias e coeficientes de variação do nitrogênio (N) ingerido, nitrogênio (N)
excretado na urina, nitrogênio (N) excretado nas fezes, balanço de nitrogênio
(N), estimativa da produção dos compostos nitrogenados microbianos (Nmic)
e N-NH3 (0 e 3h) de fêmeas Guzerá pré-pubere em função dos níveis de
restrição e da posterior realimentação.
Restrição alimentar
Variáveis Níveis de Restrição
CV% P 0% 20% 40%
N ingerido (g/dia) 837,50a 718,75b 537,50c 29,25 <0,0001 N urinário (g/dia) 84,16a 71,87b 52,46c 19,67 0,0005 N fecal (g/dia) 419,25a 366,92b 268,26c 21,33 0,0056 Balanço N (g/dia) 344,09a 279,96b 216,78c 20,06 0,0047 % nitrogênio retido1 41,08 38,91 40,33 17,55 0,0837 N mic (g/dia) 285,99a 243,20b 169,43c 2,54 <0,0001 N-NH30h (mg/100ml) 6,95a 4,72b 4,33b 21,06 0,0161 N-NH33h (mg/100ml) 8,33 7,98 8,12 18,80 0,1314
Realimentação N ingerido (g/dia) 737,50 731,25 712,50 3,79 0,3182 N urinário (g/dia) 100,3 87,01 104,73 23,12 0,2352 N fecal (g/dia) 328,92 334,91 321,33 18,29 0,7530 Balanço N (g/dia) 308,28 309,33 286,44 17,33 0,5263 % nitrogênio retido1 41,80 42,30 40,19 15,32 0,5691 N mic (g/dia) 286,13 293,32 285,27 4,01 0,4133 N-NH30h (mg/100ml) 5,24 5,45 5,76 20,37 0,2833 N-NH33h (mg/100ml) 10,24 9,75 9,32 17,76 0,1110
Médias seguidas de mesma letra na linha não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey a 5% de Probabilidade (P >0,05); 1Balanço de N/Ingestão de nitrogênio
A excreção urinária média de N em relação ao respectivo consumo médio foi
semelhante entre os grupos e totalizou 10,05; 10,00 e 9,76% nos grupos controle, 20 e
40% de restrição, respectivamente. Nas fezes os valores também foram semelhantes e
variaram entre 49,91 no grupo onde a restrição foi mais severa (40%) e 51,05 % no
grupo 20% de restrição. Pereira et al. (2007) observaram excreções urinária e fecais
(8,65% e 41,50%, respectivamente) semelhantes a encontradas neste experimento.
O balanço de nitrogênio diminuiu (P<0,05) com os níveis de níveis de restrição
aplicados, onde os animais cuja alimentação foi restrita em 40% apresentaram os
80
menores valores. O balanço de nitrogênio positivo é um indicativo que houve retenção
de proteína no organismo animal, proporcionando condições para que não ocorresse
perda de peso dos animais experimentais (Zanton & Heinrichs, 2008). Taylor-Edwards
et al. (2009), Pereira et al. (2007) e Valkeners et al. (2004) detectaram que a maior
ingestão de compostos nitrogenados resultou em maior retenção de N no organismo
animal. Entretanto, não foi verificada diferença (P>0,05) entre a retenção de N dos
grupos experimentas durante todo o experimento. A retenção de proteína no organismo
animal proporciona condições para ganho de peso dos animais, contando-se com os
requerimentos de energia satisfeitos.
Observou-se diminuição nas produções de N-microbiano em função dos níveis
de restrição (P<0,05), onde no maior nível de restrição (40%) foram observados as
menores médias (P<0,05). Esse resultado pode estar relacionado ao fato de os animais
terem apresentado comportamento similar para o consumo de MS (em kg/dia). Desse
modo, os animais que consumiram mais nutrientes apresentaram maior síntese ruminal
de microrganismos. Além disso, a restrição alimentar a que os animais foram
submetidos pode ter resultado em deficiência de peptídeos e/ou aminoácidos para o
crescimento microbiano. A produção de N microbiano apresentou valores máximos no
grupo controle e valores mínimos para os grupos submetidos a 40% de restrição.
A maior disponibilidade de nutrientes, consequente de uma maior ingestão
também promove uma maior eficiência na síntese de proteína microbiana, melhorando
com isso o desempenho dos animais, pois a disponibilidade de energia e N no rúmen
parecem interagir positivamente com o nível de ingestão determinando, acima de tudo,
maior eficiência na síntese de proteína microbiana (Firkins et al., 2007).
No período de restrição alimentar, as concentrações de N-NH3 antes da
alimentação (0h) foram menores (P<0,05) nos grupos submetidos à restrição alimentar
81
que no grupo controle, e não diferiu (P>0,05) entre os níveis de restrição. Firkins et al.
(2007) afirmaram que a concentração do N-NH3 ruminal é um preditor da eficiência de
conversão de N dietética em N microbiano, estando ainda correlacionado com a
concentração de uréia sérica.
Na fase de realimentação, não foi observado efeito (P>0,05) dos níveis de
restrição nas variáveis analisadas no balanço de nitrogênio. Isto era esperado já que os
animais consumiam a mesma dieta nessa fase.
A aplicação da restrição alimentar diminuiu a ingestão de alimento e
consequentemente os níveis séricos de nutrientes e a disponibilidade de N amoniacal,
porém não prejudicou microflora microbiana, apesar de ter resultado em redução no
desempenho do animal. Porém, depois de retomada a realimentação normal os animais
submetidos à restrição apresentaram um ritmo de crescimento de forma mais intensa
que ocorreria caso eles tivessem tido crescimento contínuo. Com isso, uma parte do
crescimento que deixou de se efetuar no momento de restrição foi compensado durante
o período de crescimento compensatório.
CONCLUSÕES
A restrição alimentar em 40% pode ser adotada como prática de manejo
nutricional de fêmeas jovens Guzerá em períodos de escassez de alimento, seguido de
ganho compensatório. Animais submetidos a 40% de restrição tiveram melhor
conversão alimentar e maior ganho de peso no período de compensação, porém havendo
96 e 93% de compensação do peso para os grupos 20 e 40% de restrição,
respectivamente.
82
REFERÊNCIAS BIBLIOGÁFICAS
ALMEIDA, M.I.V.; FONTES, C.A.A; ALMEIDA, F.Q; VALADARES FILHO, S.C.; CAMPOS, O.F. Conteúdo Corporal e Exigências Líquidas de Energia e Proteína de Novilhos Mestiços Holandês-Gir em Ganho Compensatório. Revista Brasileira de Zootecnia, v.30, n.1, p.205-214, 2001. AMSTALDEN, M.; GARCIA, M.R.; STANKO, R.L.; NIZIELSKI, S.E.; MORRISON, C.D.; KEISLER, D.H. et al. Central infusion of recombinant ovine leptin normalizes plasma insulin and stimulates a novel hypersecretion of luteinizing hormone after short-term fasting in mature beef cows. Biological Reproduction, v.66, p.1555–61, 2002. BEZERRA, L.R. Desempenho e comportamento metabólico de cordeiros da raça Santa Inês alimentados com diferentes concentrações de Spirulina platensis diluída em leite de vaca. 2006. 173 f. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) – Universidade Federal de Campina Grande, Paraíba, 2006. CHELIKANI, P.K.; AMBROSE, J.D.; KEISLER, D.H.; KENNELLY, J.J. Effect of short-term fasting on plasma concentrations of leptin and other hormones and metabolites in dairy cattle. Domestic Animal Endocrinology, v.26, p.33–48, 2004. CLARK, J.H.; OLSON, K.C.; SCHMIDT, T.B.; LINVILLE, M.L.; ALKIRE, D.O.; MEYER, D.L.; RENTFROW, G.K.; CARR, C.C.; BERG, E.P. Effects of dry matter intake restriction on diet digestion, energy partitioning, phosphorus retention, and ruminal fermentation by beef steers. Journal of Animal Science, v.85, p.3383-3390, 2007. COLE, N.A. Changes in postprandial plasma and extracellular and ruminal fluid volumes in wethers fed or unfed for 72 h. Journal of Animal Science, v.78, p.216–23, 2000. COSTA, P.B.; QUEIROZ, A.C.; RODRIGUES, M.T.; MAGALHÃES, A.L.R.; COSTA, M.G.; TORAL, F.L.B.; CARVALHO, T.A.; MONTEIRO, L.; ZORZI, K.; DUARTE, M.S. Desempenho de novilhas leiteiras sob manejo para crescimento compensatório recebendo suplementação com ionóforo. Revista Brasileira de Zootecnia, v.36, n.2, p.461-470, 2007. FORD, A.J.; PARK, C.S. Nutritionally directed compensatory growth enhances heifer development and lactation potential. Journal of Dairy Science, v.84, p.1669-1678, 2001. FIRKINS, J. L.; YU, Z.; MORRISON, M. Ruminal nitrogen metabolism: perspectives for integration of microbiology and nutrition for dairy. Journal of Dairy Science, v.90 (E. Suppl.), p.1–16, 2007. FUJIHARA, T.; ORSKOV, E.R.: REEDS, P.J.The effect of protein infusion on urinary excretion of purine derivatives in ruminants nourished by intragastric nutrition. Journal of Agricultural Science, v.109, p.7-12, 1987.
83
HERDT, H.H. The Veterinary Clinics of North America: food animal practice, v.16, n.2., 2000, 408p. HOCH, T.; BEGON, C; CASSAR-MALEK, I.; PICARD, B.; SAVARY-AUZELOUX, I. Mécanismes et conséquences de la croissance compensatrice chez lês ruminants. INRA Productions Animales, v.16 (1), p.49-59, 2003. McDOWELL, L.R. Minerais para ruminantes sob pastejo em regiões tropicais, enfatizando o Brasil. Flórida: University of Florida, 1999, 93p. (Boletim, 3). MELO, V.J.M.; PENNA, V.M. Programas de melhoramento da raça guzerá. III Simpósio Nacional de Melhoramento Animal, 2000. Belo Horizonte. Anais... Belo Horizonte: Escola de Veterinária da UFMG, p. s219-221, 2000. MERTENS, D.R. Physical effective NDF and its use in formulating dairy rations. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL EM BOVINOS DE LEITE, 2., 2001, Lavras. Anais... Lavras:UFLA-FAEPE, p.25-36, 2001. NATIONAL RESEARCH COUNCIL – NRC. Nutrient requirement of dairy cattle. Washington: National Academy of Science, 242 p., 1996. PEREIRA, K.P.; VÉRAS, A.S.C.V.; FERREIRA, M.A.; BATISTA, A.M.V.; MARQUES, K.A.; FOTIUS, A.C.A. Balanço de nitrogênio e perdas endógenas em bovinos e bubalinos alimentados com níveis crescentes de concentrado. Acta Scientarum Animal Science, v.29, n.4, p. 433-440, 2007. RUIZ, R.; TEDESCHI, L. O.; MARINI, J. C.; FOX, D. G.; PELL, A. N.; JARVIS, G.; RUSSELL, J. B. The effect of a ruminal nitrogen (N) deficiency in dairy cows: evaluation of the cornell net carbohydrate and protein system ruminal n deficiency adjustment. Journal Dairy Science, v.85, p.2986–2999, 2002. RYAN, W.J.; WILLIAMS, I.H.; MOIR, R.J. Compensatory growth in sheep and cattle. Growth pattern and feed intake. Australian Journal of Agricultural Research, Perth, v. 44, p.1609-1621, 1993. RYAN, W.J. Compensatory growth in cattle and sheep. In: Nutrition abstracts and reviews (Series B), v.50, p.653-664, 1990. SILVA, D.J.; QUEIROZ, A.C. Análise de alimentos (métodos químicos e biológicos). 3.ed. Viçosa, MG: Universidade Federal de Viçosa, 2002. 235p. STATISTICAL ANALYSIS SYSTEM - SAS. Version 8.12 SAS, INC. Cany, NC, USA, 2000. SUCUPIRA, M.C.A. Estudo comparativo de exames clínico-laboratoriais no diagnóstico de carência energética prolongada em garrotes. [Comparative study of clinical laboratory assays for the diagnosis of prolonged energetic deficit in steers]. 2003. 173 f. Tese (Doutorado em Clínica Veterinária) – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2003.
84
TAYLOR-EDWARDS, C.C.; ELAM, N.A.; KITTS, S.E.; McLEOD, K.R.; AXE, D.E.; VANZANT, E.S.; KRISTENSEN N.B.; HARMON, D.L. Influence of slow-release urea on nitrogen balance and portal-drained visceral nutrient flux in beef steers. Journal of Animal Science, v.87, p.209-221, 2009. TAYLOR, M.S.; KNOWLTON, K.F.; MCGILLIARD, M.L.; SEYMOUR, W.M.; HERBEIN, J.H. Blood mineral, hormone, and osteocalcin responses of multiparous jersey cows to an oral dose of 25-hydroxyvitamin d3 or vitamin d3 before parturition. Journal Dairy Science, v.91,p.2408–2416, 2008. TOLLA, N.; MIRKENA, T.; YIMEGNUHAL, A. Effect of feed restriction on compensatory growth of Arsi (Bos indicus) bulls. Animal Feed Science and Technology, v.103, p. 29–39, 2003. VALADARES, R.F.D.; BRODERICK, G.A.; VALADARES FILHO, S.C.; CLAYTON, M. K. Effect of replacing alfafa silage with high moisture corn on ruminal protein synthesis estimated from excretion of total purine derivatives. Journal of Dairy Science, v.82, n.12, p.2686-2696, 1999. VALKENERS, D.; THÉWIS, A.; PIRON, F.; BECKERS, Y. Effect of imbalance between energy and nitrogen supplies on microbial protein synthesis and nitrogen metabolism in growing double-muscled Belgian Blue bulls. Journal of Animal Science, v.82, p.1818-1825, 2004. VERBIC, J.; CHEN, X.B.; MACLEOD, N.A.; ØRSKOV, E.R. Excretion of purine derivatives by ruminants. Effect of microbial nucleic acid infusion on purine derivative excretion by steers. Journal of Agricultural Science, v.114, p.243-248, 1990. WEISS, W.P. Energy prediction equations for ruminant feeds. In: CORNELL NUTRITION CONFERENCE FOR FEED MANUFACTURERS, v.61, 1999, Ithaca. Proceedings... Ithaca: Cornell University, 1999. p.176-185. WILSON, P.N.; OSBOURN, D.F. Compensatory growth after under nutrition in mammals and birds. Biological Reviews, v.35, n.3, p.324-363, 1960. YAMBAYAMBA, E.S.; PRICE M.A., FOXCROFT, G.R. Hormonal status, metabolic changes, and resting metabolic rate in beef heifers undergoing compensatory growth. Journal of Animal Science, v.74, p.57-69, 1996. YAN, T.; FROST, J.P.; KEADY, T.W. J.; AGNEW, R.E.; MAYNE, C.S. Prediction of nitrogen excretion in feces and urine of beef cattle offered diets containing grass silage. Journal of Animal Science, v.85, p.1982-1989, 2007. ZANTON, G.I.; HEINRICHS, A.J. Analysis of nitrogen utilization and excretion in growing dairy cattle. Journal of Dairy Science, v.91, n.4, 2008.
85
CONSIDERAÇÕES FINAIS E IMPLICAÇÕES
O conhecimento dos verdadeiros níveis nutricionais de animais zebu de dupla
função é essencial para o melhor desempenho produtivo e econômico do rebanho, e
devem ser fidedignos às condições de ambiente em que os animais são explorados. No
entanto, ainda são insipientes as informações de níveis nutricionais adequados para
bovinos Zebu de dupla aptidão criados em outros sistemas de produção, bem como os
efeitos da restrição alimentar e do ganho compensatório sobre a produção desses
animais.
Embora essas raças estejam adaptadas às condições climáticas do Nordeste
brasileiro, elas não são refratárias a problemas de efeito nutricional, que pode afetar
qualquer espécie que habita esta região. Acredita-se que com os resultados obtidos neste
trabalho, juntamente com os de futuras pesquisas nessa área, atenderão as demandas de
conhecimento, contribuindo para o fortalecimento da cadeia produtiva.
Tem-se como principal fator limitante do agronegócio da bovinocultura, o
desconhecimento dos verdadeiros níveis nutricionais desses animais, que muitas vezes
tem suas exigências superadas por adotar tabelas de outros genótipos, trazendo
consequências sobre o crescimento, estabilização e otimização da exploração dessa
cultura no semi-árido.
Uma menor ingestão com ganhos de peso diários semelhantes ou até maiores
reflete em mais dinheiro no bolso do produtor, seja pela redução de custos com a
alimentação ou pelo melhor desempenho dos animais. A imposição de um período de
restrição alimentar pode ser viável quando temos a possibilidade de tirar proveito de um
maior crescimento na realimentação. Uma oportunidade de aproveitamento do ganho
compensatório muito interessante para as condições brasileiras seria um uso mais
racional de pastagens, em vez de nos preocuparmos com estratégias de suplementação.
Porém, Para usarmos essas estratégias, há necessidade de sabermos, para cada situação,
qual o resultado esperado em termos de crescimento compensatório.
A inserção dos pequenos produtores é fundamental para qualquer segmento do
agronegócio e isso somente vai acontecer quando houver uma maior profissionalização
desta atividade, com apoio dos governantes e um maior interesso dos produtores.
Sugere-se a implementação de um programa a nível regional utilizando raças
mais adaptadas fazendo com que esse produto seja mais valorizado que outras
importadas.