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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO E GESTÃO SOCIAL
CENTRO INDERDISCIPLINAR DE DESENVOLVIMENTO E GESTÃO SOCIAL
ISRAEL MARQUES CAMPOS
O SARAU COMO TECNOLOGIA SOCIAL DO
EMPREENDEDORISMO CULTURAL: A FORÇA DA IDENTIDADE
CULTURAL LOCAL
Salvador
2016
ISRAEL MARQUES CAMPOS
O SARAU COMO TECNOLOGIA SOCIAL DO
EMPREENDEDORISMO CULTURAL: A FORÇA DA IDENTIDADE
CULTURAL LOCAL.
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado Multidisciplinar e
Profissional em Desenvolvimento e Gestão Social do Programa
de Desenvolvimento e Gestão Social da Universidade Federal da
Bahia como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre em
Desenvolvimento e Gestão Social.
Orientador: Profº. Ph.D. Eduardo Davel
Salvador
2016
Escola de Administração - UFBA
C198 Campos, Israel Marques.
O sarau como tecnologia social do empreendedorismo cultural: a força
da identidade cultural local / Israel Marques Campos. – 2016.
178 f.
Orientador: Prof. Dr. Eduardo Davel.
Dissertação (mestrado) – Universidade Federal da Bahia, Escola de
Administração, Salvador, 2016.
1. Empreendedorismo - Cultura. 2. Cultura popular. 3. Identidade
social. 4. Cultura na arte. I. Universidade Federal da Bahia. Escola de
Administração. II. Título.
CDD – 338.04
A Milton Júlio, Rafael e João Davi,
minha família.
ISRAEL MARQUES CAMPOS
O SARAU COMO TECNOLOGIA SOCIAL DO EMPREENDEDORISMO
CULTURAL: A FORÇA DA IDENTIDADE CULTURAL LOCAL.
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado Multidisciplinar e Profissional em
Desenvolvimento e Gestão Social do Programa de Desenvolvimento e Gestão Social da
Universidade Federal da Bahia como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre em
Desenvolvimento e Gestão Social, Universidade Federal da Bahia – UFBA.
Prof. Ph.D. Eduardo Paes Barreto Davel (orientador)
Doutor em Administração pela École des Hautes études commerciales, Canadá
Universidade Federal da Bahia
Prof. Ph.D. Fábio Almeida Ferreira
Doutor em Radio, TV e Filme pela University of Texas - Austin, Estados Unidos
Universidade Federal da Bahia
Prof. Ph.D José Marcelo Dantas dos Reis
Doutor em Sociologia pela Université de Paris VII - Dennis Diderot, França
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
Profª. Ph.D Maria Amelia Jundurian Corá
Doutora em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
Ricardo Castro
Gestor, maestro e professor do NEOJIBA - Núcleos Estaduais de Orquestras Juvenis e Infantis
da Bahia. Professor na HEMU - Haute Ecole de Musique Vaud - Valais - Fribourg
AGRADECIMENTOS
Agradeço a meu marido Milton Júlio e meus filhos Rafael e João Davi por todo o apoio nesse
processo.
Gratidão ao professor Eduardo Davel, pela constante orientação, sabedoria e dedicação.
Obrigado às colegas de mestrado Fabiana Pimentel e Hilda Cezário pelas frequentes
contribuições para o presente trabalho.
Obrigado às amigas Paula Calezani, Lucinda Hora e Marianna Schmidt pelas respectivas ajudas
na revisão em língua inglesa, revisão em língua portuguesa e auxílio gráfico.
Agradeço ao Centro Interdisciplinar de Desenvolvimento e Gestão Social (CIAGS) e à
Universidade Federal da Bahia, como universidade pública e gratuita, por esse importante
Mestrado para o desenvolvimento da sociedade.
Obrigado ao Sesc/Bahia e ao Núcleo de Licitação por apoiarem meu ingresso no Mestrado.
Satisfação em agradecer a todas e a todos colaboradoras(es) diretos dessa dissertação, que além
da contribuição, inspiraram fortemente esse trabalho: as arte-educadoras: Rô Reis (Casa Via
Magia), Luciene Santos (Canastra Real) e Nadja Carvalho, a empreendedora social Monique
Evelle (Desabafo Social), os músicos/produtores/empreendedores da cultura: maestro Ricardo
Castro (Neojiba); Vovô do Ilê (Ilê Ayê); Aspri (RBF), Denny e Marquinhos (DM de Boa), Jorge
Hilton (Simples Rap’Ortagem), Mr.Armeng, Dj Branco, Dj Mauro Telefunksoul, André T e
Luciano Bahia, a professora Maria Suzana Moura, a comunidade do território Nordeste de
Amaralina, aos jovens artistas e profissionais da cultura do Nordeste de Amaralina e aos
estudantes de graduação do componente “Tópicos Especiais em Gestão Social 2015.2” da
UFBA.
Agradeço, por fim, as(os) jovens, as mulheres, as pessoas pobres, as periferias, as(os)
negras(os), as(os) LGBTs e a todos os grupos historicamente oprimidos ao provocarem e
auxiliarem na construção de uma sociedade mais justa.
A mãe reparava o menino com ternura.
A mãe falou: Meu filho você vai ser poeta!
Você vai carregar água na peneira a vida toda.
Manoel de Barros
CAMPOS, Israel Marques. O Sarau como Tecnologia Social do Empreendedorismo
Cultural: a Força da Identidade Cultural Local. 2016. 178 f. Dissertação (Mestrado) –
Escola de Administração, Universidade Federal da Bahia.
RESUMO
A capacitação de jovens artistas em empreendedores culturais, especialmente nos contextos dos
bairros periféricos, é uma importante ação para o desenvolvimento tanto dos jovens quanto dos
territórios potencialmente criativos. No entanto, alcançar esses jovens por meio do ensino
formal ou convencional do empreendedorismo apresenta muitas dificuldades, seja pela falta de
ensino do empreendedorismo cultural nas escolas ou pela forma do ensino que repele os jovens
nas instituições de ensino. Carecemos de atualizações pedagógicas para alcançar as novas
gerações em contextos de aprendizagem mais fecundos ou adequados. Essa dissertação
configura-se em uma tecnologia social, pois propõe um saber que possa ser utilizado em
comunidades para fomentar e desenvolver as forças empreendedoras locais no âmbito da cultura
e das artes. Tratamos os empreendedores culturais como aqueles que são voltados para a
emancipação e a promoção de mudanças sociais, através de um trabalho coletivo, participativo
e com fundamento na identidade cultural local. A tecnologia social se constitui através de três
elementos: empreendedorismo cultural, a pedagogia artística e a gestão participativa. A
dissertação busca contribuir na capacitação de empreendedores atuantes na dinamização da
cultura a partir de um formato que é familiar e desejável aos jovens: o sarau, a arte, a
sociabilidade comunitária e o lazer. Cada comunidade aplicará a tecnologia social de ensino do
empreendedorismo cultural através das artes. Implicações e orientações para aplicação do
desenho da tecnologia social são formuladas, apresentadas e debatidas.
Palavras-chave: empreendedorismo cultural; pedagogia artística; gestão participativa;
identidade cultural local; tecnologia social.
CAMPOS , Israel Marques. O Sarau como Tecnologia Social do Empreendedorismo
Cultural: a Força da Identidade Cultural Local. 2016. 178 f. Dissertação (Mestrado) –
Escola de Administração, Universidade Federal da Bahia.
ABSTRACT
The training of young artists into cultural entrepreneurs, especially in peripherical
neighborhoods contexts, is an important action for the development of both young people and
potentially creative territories. However, reaching those young people through formal or
conventional education presents many difficulties due to the lack of teaching of cultural
entrepreneurship in schools or the current way of teaching that repels young people in schools.
We lack pedagogical updates to reach new generations in a more fertile or appropriate learning
context. This dissertation proposes a social technology to be used in communities to promote
and develop local entrepreneurial forces within the culture and the arts. We recognize as cultural
entrepreneur those focused on emancipation and the promotion of social change thought
participative and collective work based on local cultural identity. The social technology is
composed by three elements: cultural entrepreneurship, artistic pedagogy and participative
management. This dissertation highlights the contribution on the training of cultural
entrepreneurs on a format that is familiar and desirable to young people: the “sarau”, art,
community sociability and recreation. Local cultural identity is the basis of cultural
entrepreneurship since it is through their now identity that each community will apply cultural
entrepreneur teaching social technologies though the arts. Implications and guidelines for
implementation of the social technology design are formulated, presented and discussed.
Keywords: cultural entrepreneurship; artistic pedagogy; participative management; local
cultural identity; social technology.
LISTAS DE QUADROS, TABELAS E FIGURAS
Quadro 1 - Artigos e Seus Usos no Ensino-aprendizagem ....................................................... 16
Quadro 2 - Roteiro de Entrevista com Empreendedores da Música......................................... 32
Quadro 3 - Roteiro de Entrevista com Empreendedores Gestores no Campo da Música ........ 33
Quadro 4 - Roteiro para Entrevistas com Arte-Educadoras ..................................................... 34
Quadro 5 – Roteiro para Entrevistas com Jovens Artistas e Produtores Culturais................... 34
Quadro 6 - Roteiro para Entrevistas com Jovens Artistas e Produtores Culturais participantes
do Sarau Empreendedor............................................................................................................ 36
Quadro 7 – Perfis dos Entrevistados.................................................................................... 35-37
Quadro 8 - Roteiro de Observação...........................................................................................38
Quadro 9 - Funções do Facilitador ........................................................................................... 39
Tabela 1 - Setores Criativos no Brasil......................................................................................20
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 11
1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA......................................................................................17
1. 1EMPREENDEDORISMO CULTURAL.............................. .............................................. 17
1.2 IDENTIDADE CULTURAL LOCAL................................................................................21
1.3 ARTE COMO FONTE PARA A APRENDIZAGEM ........... ............................................25
1.4 GESTÃO PARTICIPATIVA DE EVENTOS COMUNITÁRIOS....................................26
2 METODOLOGIA DE PESQUISA .................................................................................... 28
2.1 DESENHO METODOLÓGICO ......................................................................................... 28
2.2 TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS ............................................................................. 29
2.2.1 Documentos .................................................................................................................... 29
2.2.2 Entrevistas ...................................................................................................................... 30
2.2.3 Observação Participante ............................................................................................... 38
2.3 ANÁLISE DOS DADOS .................................................................................................... 39
3 O SARAU COMO TECNOLOGIA SOCIAL DO EMPREENDEDORISMO
CULTURAL: A FORÇA DA IDENTIDADE CULTURAL LOCAL.............................41
3.1 EMPREENDEDORISMO CULTURAL, APRENDIZAGEM E IDENTIDADE
TERRITORIAL: O DESBRAVAMENTO DE JOVENS MÚSICOS DE NORDESTE DE
AMARALINA (ARTIGO 1) ............................................................................................. 42
3.2 ARTE E GESTÃO PARTICIPATIVA EM PROL DO EMPREENDEDORISMO
CULTURAL: SARAU EMPREENDEDOR COMO TECNOLOGIA SOCIAL (ARTIGO
2)........................................................................................................................................68
3.3 EMPREENDEDORISMO MUSICAL: CONHECIMENTOS E PRÁTICAS PARA
ALAVANCAR A CARREIRA EMPREENDEDORA (ARTIGO 3) ................................ 95
3.4 ARTE E PARTICIPAÇÃO COMO PRINCÍPIOS DE APRENDIZAGEM PARA O
EMPREENDEDORISMO (ARTIGO 4) ......................................................................... 118
3.5 GESTÃO PARTICIPATIVA DE EVENTOS COMUNITÁRIOS: PRINCÍPIOS E
PRÁTICAS COM FUNDAMENTO NA IDENTIDADE LOCAL (ARTIGO 5) ............ 139
4 DISCUSSÃO E IMPACTOS ............................................................................................ 164
4.1 IMPACTOS TEÓRICOS..................................................................................................164
4.2 IMPACTOS SOCIOCULTURAIS...................................................................................165
4.3 IMPACTOS SOCIOPROFISSIONAIS............................................................................165
4.4 IMPACTOS EDUCACIONAIS.......................................................................................166
CONCLUSÕES ..................................................................................................................... 167
REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 169
11
INTRODUÇÃO
Percebe-se que muitas capacitações, formações e processos educacionais em geral
carecem de novos formatos para a educação de jovens. Em especial, nota-se que jovens artistas
muitas vezes não possuem perspectivas para fazerem da sua atividade, algo rentável,
profissional ou, se pensam em perspectivas desses tipos, não sabem como alcançar seus
objetivos.
A pesquisa trata do jovem artista, em especial o músico, objeto de pesquisa desse
trabalho, no contexto de Salvador, no estado da Bahia, uma cidade considerada por alguns
autores e pelo senso comum como uma cidade de caráter festivo e musical, tendo recebido o
título da UNESCO no ano de 2015 de “Cidade da Música” 1. Considerando a cidade de
Salvador, a afinidade do jovem com a arte e consoante à necessidade de novas formas
educacionais para os jovens, essa dissertação é caracterizada pela vocação de tecnologia social,
pois possui como objetivo a proposição de um saber que possa ser utilizado em comunidades
para fomentar e desenvolver as forças empreendedoras locais no âmbito da música, da cultura
e das artes, sempre com fundamento e valorização da identidade cultural local. Ressalta-se que
a tecnologia aqui construída foi também pensada para territórios que não tenham
reconhecimentos ou grande histórico em arte ou produções culturais, pois a partir da educação
empreendedora, através das artes e da gestão de eventos comunitários, é possível desenvolver
aspectos culturais e artísticos na comunidade.
Espera-se que as pessoas aptas para a função de aplicar a tecnologia social sejam líderes,
empreendedores, gestores, mobilizadores, agitadores culturais, artistas e educadores e que, ao
aplicarem a presente tecnologia, capacitem e estimulem jovens músicos e artistas para
empreenderem no campo da cultura. Destacamos que o próprio jovem pode e deve ser líder,
gestor, empreendedor e também aplicar a presente proposta. Com fins didáticos, esse trabalho
se refere, geralmente ao público-alvo, como “líderes”, compreendendo que os líderes podem
possuir a competência ou o desejo de obter a competência de empreender, educar e administrar
eventos comunitários. Nos artigos tecnológicos específicos (a organização dos artigos é
explicada ao final dessa introdução), os tratamentos ao público-alvo podem mudar. Por
exemplo, no artigo 4, referente à pedagogia artística, chamaremos o público-alvo apenas de
“educadores”, tendo em vista que cada artigo cumpre objetivos específicos.
1 http://www.tribunadabahia.com.br/2015/12/12/unesco-concede-salvador-titulo-de-cidade-da-musica
12
A partir dessas considerações, o problema de pesquisa dessa pesquisa, então, se estrutura
com a seguinte pergunta: como um sarau comunitário pode se tornar um instrumento de
capacitação e estímulo de empreendedores culturais? A partir dessa questão, se desdobram as
seguintes questões: como um processo de ensino-aprendizagem do empreendedorismo através
das artes pode interessar e capacitar os jovens?
Percebe-se que muitos jovens são frequentadores de festas, eventos artísticos e saraus.
Essas atividades dinâmicas, por vezes puramente artísticas, nos fazem crer que esses eventos
são importantíssimos de serem considerados para uma capacitação aliadas ao que os jovens
gostam. Pensando que a capacitação seria voltada para o empreendedorismo cultural e que o
público-alvo da capacitação seriam jovens músicos e artistas em geral, a dimensão artística da
tecnologia social ganha ainda mais importância.
O aspecto artístico e seus processos lúdicos, inovadores e criativos se apresentam como
potenciais espaços para o empreendedorismo (KOLB, 2010), o que nos traz a ideia de sarau
como o lócus criado através da arte que se propõe a ser um espaço de sociabilidade, de lazer e
de capacitação e estimulo. O criar, se divertir, “curtir”, na linguagem de muitos jovens, é um
atrativo, um motivador, um facilitador e um fortalecedor do ensino e difusão do
empreendedorismo cultural.
A identidade cultural local foi trabalhada nessa dissertação, pois se compreende que não
é possível o êxito de uma proposição de ensino do empreendedorismo cultural em um contexto
de bairros periféricos, sem a consideração exata da importância da identidade cultural para isso.
Percebe-se que, o sujeito contemporâneo possui, hoje, múltiplas identidades (HALL, 2011) e,
através das entrevistas realizadas nessa pesquisa, nota-se que os projetos socioculturais bem-
sucedidos em seus objetivos contaram com a consideração da identidade cultural local para o
seu êxito, como a Pracatum, a Fábrica Cultural e o Ilê Ayê, que serão mais bem discutidos no
decorrer desse trabalho.
Em síntese, as seguintes justificativas teóricas fundamentam a pesquisa:
• não foram encontradas em documentos, livros ou sites, propostas de capacitação e
estímulo para o empreendedorismo, em específico o empreendedorismo cultural, que
não fossem limitadas à pedagogia tradicional de sala de aula;
• uso reduzido de abordagens artísticas para a capacitação e estímulo para o
empreendedorismo, conforme livros, documentos e experiências de ensino do
empreendedorismo;
13
• a pesquisa sobre sarau como tecnologia social, como será demonstrado no decorrer
dessa dissertação, contribui para ampliar os tipos de estratégias de capacitação e
estímulo do empreendedorismo, revelando a força da arte e seu potencial de
transformação social quando utilizada junto ao público jovem.
Como meio de estímulo e capacitação, esse trabalho optou pelo estudo do
empreendedorismo. Vale pontuar que, em meio a diversas conceituações de
empreendedorismo, o recorte conceitual de empreendedorismo como um meio de emancipação,
inovação e criatividade foi escolhido. O empreendedorismo então, nesse trabalho é definido
como o esforço de criar novos ambientes econômicos, sociais, institucionais e culturais através
da ação de diversos indivíduos (CALÁS et al., 2009).
Essa pesquisa se justifica, de forma geral, pela demanda de capacitação e estímulo
voltados ao empreendedorismo cultural, considerando as referências e práticas identitárias
locais, bem como pelo ineditismo de um estudo que proponha um sarau como processo
educacional para o empreendedorismo cultural (CAMPOS; DAVEL, 2015).
Este estudo também se justifica pelo fato de podermos compreender, organizar e sugerir
instrumentos de capacitação para jovens artistas de bairros periféricos para confirmar ou gerar
novas questões a respeito do assunto. Desconfia-se que o espaço periférico é menosprezado por
empresários e instituições de fomento da música, devido à cultura produzida nesses espaços
periféricos ser associada como “menor” ou pela associação desses espaços com grupos
marginalizados. Pensa-se, seguindo tendências de outros países e no Brasil, que o
empreendedorismo cultural tem sido um caminho para a emancipação dos sujeitos, da cultura
e dos bairros periféricos (DORNELES, 2014; EDMONDSON, 2008; SALAZAR, 2015).
Visando à capacitação e estímulo para o empreendedorismo cultural, com um formato
específico para o público jovem, foram pensadas as seguintes justificativas educacionais, de
caráter tecnológico, que fundamentam a presente dissertação:
• importância de capacitação e estimulo específicos para o desenvolvimento do
empreendedorismo na economia criativa;
• importância de capacitação e estimulo específicos para o desenvolvimento dos jovens
nos bairros de periferia;
• inexistência, até a publicação dessa dissertação, de pedagogia em ressonância com a
cultura jovem e baseada na arte dentro do contexto do empreendedorismo cultural;
14
• importância de encontrar estratégias para motivar e empoderar os jovens a se
desenvolverem como empreendedores.
Como justificativa pessoal, esse trabalho é motivado pelo desejo do pesquisador em ser
um dos elementos que auxiliem na transformação social, através da educação, do conhecimento
e da arte. Assim como o empreendedorismo cultural pensado nesse trabalho, o pesquisador não
visualiza o sentido de crescer individualmente sem colaborar com o crescimento coletivo,
principalmente dos grupos historicamente menos favorecidos.
O objetivo geral deste trabalho consiste em propor uma tecnologia social que capacite e
estimule jovens artistas a atuarem como empreendedores em ressonância com a identidade
cultural local. Disso isso, esclarecemos que não há a intenção aqui de exercer um trabalho de
adensamento teórico e crítico acerca das temáticas postas, contudo os processos sociais que
perpassam os jovens artistas de periferias podem ser percebidos com destaques no decorrer da
pesquisa, bem como a teoria que embasa os principais conceitos aqui utilizados. Por fim,
especificamente, essa dissertação objetiva:
• identificar, descrever e categorizar os conhecimentos específicos do
empreendedorismo na área de cultura e música, levando em consideração a
importância da identidade cultural local;
• identificar, descrever e categorizar abordagens e práticas pedagógicas com
fundamento na arte, no empreendedorismo e na gestão participativa;
• comparar e associar as práticas e abordagens pedagógicas (resultado do segundo
ponto) aos conteúdos que capacitem e estimulem o empreendedorismo (resultado do
primeiro ponto) para a elaboração de uma tecnologia social baseada em gestão
participativa de eventos comunitários para o ensino do empreendedorismo através
das artes.
• realizar, de forma coletiva, conforme o objetivo anterior, um sarau que estimule e
capacite jovens para o empreendedorismo cultural em um território periférico.
A tecnologia social nomeada de Sarau Empreendedor se organiza na presente pesquisa,
no formato de artigos, conforme o Quadro 1. Os artigos possuem caráter tecnológico, no intuito
de transformar carreiras artísticas e territórios criativos. Em síntese, o artigo 1 tem o intuito de
sensibilizar o leitor e introduzir ideias apresentadas nos demais artigos; o artigo 2 desenha de
forma geral como foi construída e como funciona a tecnologia social; o artigo 3 apresenta os
15
conhecimentos do empreendedorismo musical; o artigo 4 apresenta a pedagogia artística para
o ensino-aprendizagem do empreendedorismo, através de linguagens artística; o artigo 5 retrata
como operacionalizar a gestão participativa para a realização de um evento comunitário. A
articulação desses artigos constitui a tecnologia social do Sarau Empreendedor, contudo, todos
os artigos foram construídos para funcionarem também de forma autônoma.
16
Quadro 1 - Artigos e seus usos no ensino-aprendizagem
Produtos Uso no ensino-aprendizagem Conteúdo
Artigo 1
(caso de
ensino)
Provocar interesse, reflexão e
consciência sobre a o papel do
empreendedorismo, do ensino do
empreendedorismo e da identidade
cultural local.
- Sensibilização para a necessidade da tecnologia
proposta;
-Orientações ilustrativas para aplicação da
tecnologia social;
- Apresentação introdutória de alguns conceitos
chaves da tecnologia social, sendo eles a
identidade cultural local, o empreendedorismo
cultural e a pedagogia artística.
Artigo 2
(tecnológico)
Introdução à tecnologia social. Desenho
geral da tecnologia social, orientações de
como aplica-la e de como os principais
elementos que compõem a tecnologia
social se articulam. Ilustração da
aplicação do Sarau Empreendedor,
através da primeira experiência com a
tecnologia social.
- A importância do empreendedorismo cultural;
-Desafios no ensino-aprendizagem do
empreendedorismo cultural através das artes;
- Passo-a-passo para aplicar a tecnologia social;
- Gestão participativa do Sarau e seus processos;
-Conteúdo do Sarau e seus processos;
-Pedagogia artística do Sarau e seus processos.
Artigo 3
(tecnológico)
Conhecer princípios, relevâncias,
aplicações e fontes dos conteúdos
empreendedores da música.
- Definição do empreendedorismo cultural e do
empreendedorismo musical;
- Definição e indicação dos principais conteúdos
a serem aprendidos para aplicação da
tecnologia social.
Artigo 4
(tecnológico)
Conhecer a pedagogia artística proposta
para o ensino do empreendedorismo.
Conhecer possibilidades gerais de
utilização de sete distintas linguagens
artísticas. Destacar a importância da
participação para o ensino do
empreendedorismo.
- A arte a participação como princípios;
- Estratégias de integração da arte no ensino-
aprendizagem do empreendedorismo;
- A participação como dimensão integradora da
arte no processo de aprendizagem do
empreendedorismo.
Artigo 5
(tecnológico)
Conhecer princípios e práticas da gestão
participativa de eventos comunitários.
Ilustração da aplicação do Sarau
Empreendedor, através da primeira
experiência com a tecnologia social.
- Princípios e práticas da gestão participativa de
eventos comunitários
-Participação, identidade local e
empreendedorismo cultural como princípios
-As vantagens e dificuldades da gestão
participativa
- Recursos, parcerias, comunicação, marketing e
riscos na gestão participativa.
Fonte: Elaboração do autor.
A pesquisa apresenta, portanto, a seguinte estrutura, dividida em capítulos:
fundamentação teórica, metodologia, os cinco artigos que constituem a tecnologia social,
discussão e impactos, conclusões e referências bibliográficas.
17
CAPÍTULO 1 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Nesse capítulo iremos apresentar a fundamentação teórica que compõe a tecnologia social do
Sarau Empreendedor: o empreendedorismo cultural, a identidade cultural local, a pedagogia
artística e a gestão participativa de eventos comunitários. A fundamentação teórica tenta ser a
mais objetiva possível, desde quando cada artigo traz mais elementos teóricos que sustentam
cada elemento que compõe a tecnologia. Antes de adentramos nas teorias principais, se faz
necessário definir, de forma sintética, o que entendemos por tecnologia social: a tecnologia que
é “caracterizada pelos produtos, técnicas e/ou metodologias reaplicáveis, desenvolvidas na
interação com a comunidade e que represente efetivas soluções de transformação social”
(Dagnino, 2012)2.
1.1 EMPREENDEDORISMO CULTURAL
O empreendedorismo na idade moderna, pós-revolução industrial, portanto, é traduzido
como possibilidade para crescimento, enriquecimento e emancipação individual. A dimensão
era apenas a econômica. A atividade do empreendedorismo, da Revolução Industrial até à
contemporaneidade, sofre uma grande transformação, sintetizada na seguinte sentença: “A
consciência social substituiu o individualismo” (VRIES, 2010).
Na contemporaneidade, vários são os recortes que o campo do empreendedorismo
ganha, porém o recorte conceitual de empreendedorismo, quando pensamos no campo cultural,
como um meio de emancipação é o mais interessante quando buscamos dialogar este conceito
com a ideia de “consciência social” e o conceito de identidade cultural local. O
empreendedorismo cultural então, nesta pesquisa, é definido como o esforço de criar novos
ambientes econômicos, sociais, institucionais e culturais através da ação de diversos indivíduos
(CALÁS et al., 2009), é uma área disposta a promover rupturas e mudanças positivas, de
sucesso (EDMONDSON, 2008) e de emancipação (RINDOVA et al., 2009), e com
características de inovação e criatividade (HJORTH, 2013), realizando impactos sociais,
através do trabalho coletivo, com fundamento na identidade cultural local .
2 Para ampliar a discussão sobre tecnologia social, ler também: DAGNINO, R. et al. Tecnologia social: uma
estratégia para o desenvolvimento. Rio de Janeiro, 2004. Disponível em:
http://www.oei.es/salactsi/Teconologiasocial.pdf; RODRIGUES, Ive. A emergência da tecnologia social:
revisitando o movimento da tecnologia apropriada como estratégia de desenvolvimento sustentável. Rio de
Janeiro. 2007.
18
O empreendedorismo cultural, recorte que iremos adotar em trechos do trabalho
(podemos falar em empreendedorismo musical quando tratarmos especificamente do campo da
música), é examinado como lócus principal de atuação dos artistas contemporâneos, no caso
dessa dissertação, os músicos, que precisam encarar sua arte como negócio, e assim tornar-se
um artista profissional (SALAZAR, 2015). A área do empreendedorismo cultural pode ser
caracterizada como um campo que abarca e exige do empreendedor diversas qualificações
artísticas e empresariais (ELLMEIER, 2003; LEADBEATER et al., 1999) ou como um
processo de mediação entre os recursos já existentes em empresas e a criação de novas riquezas
(LOUNSBURY, 2011).
O empreendedorismo cultural pode ser visualizado como uma atividade que não nega a
dimensão econômica, mas possui a cultura como orientação e finalidade. Orientação, pois é a
partir da cultura, especificamente da identidade cultural local, que empreender cultura faz
sentido. É a singularidade de cada grupo e território que faz um empreendimento no âmbito da
cultura ser uma referência e sustentável.
Historicamente, o empreendedorismo cultural de Salvador/Bahia tem fortes raízes na
cultura afro-baiana e nos negócios da música (CARVALHO, 1994; DANTAS; FISCHER,
1993; MOURA, 2009; MIGUEZ, 1997). A identidade cultural local de Salvador é bem
reconhecida nacionalmente e internacionalmente, sendo promotora de resistência cultural e
econômica na cidade de Salvador (DANTAS; FISCHER, 1993). Essa identidade de resistência,
associada às periferias e outros locais financeiramente pobres, devido à continuidade de
processos de racismo contra o povo negro oriundo da escravidão, originaram projetos sociais e
artísticos históricos na cidade, como o Olodum, que além da identidade cultural local, conseguiu
estabelecer uma identidade ligada ao movimento musical global (CARVALHO, 1994;
DANTAS; FISCHER, 1993). Na contemporaneidade, iniciativas como o Batekoo3 e o Sarau
da Onça4 são expressões soteropolitanas marcantes pela estética negra, relação com a história
da cidade de Salvador e conceitos ligados à identidade cultural local.
Voltando a história, o jovem músico e o público jovem ganham destaque no Brasil com
a jovem guarda, movimento do rock brasileiro onde o mercado da música passou a diferenciar
o público adulto do público jovem (DANTAS, 2015). Em um meio competitivo que se tornou
o mercado da música jovem, empreender e gerir a cultura local tem se mostrado não só no
3 http://emais.estadao.com.br/noticias/comportamento,batekoo-marca-o-fortalecimento-do-movimento-negro-no-
brasil,10000058909 4 http://saraudaonca.blogspot.com.br/
19
Brasil, como nos EUA, como um caminho que gera bons frutos, tanto artisticamente como
financeiramente (EDMONDSON, 2008).
Na perspectiva econômica, o mercado cultural acaba quebrando a separação entre
economia e cultura, mostrando que a contemporaneidade coloca a cultura como protagonista
na economia global, substituindo a era moderna da economia industrial para a era pós-moderna
da economia da cultura (ELLMEIER, 2003).
Tendo em vista essa afinação entre economia, necessidade dos empreendedores
culturais em formalizar e progredir os seus negócios, e a identidade cultural como influência e
destaque nos empreendimentos cultural, o empreendedorismo cultural pode ser pensado como
um caminho a suprir um déficit que ocorre na contemporaneidade em termos de economia,
trabalho e emprego.
Um dos maiores desafios que o empreendedorismo cultural enfrenta, é a crise
econômica global e, consequentemente, a crise no mercado cultural local, contudo ao mesmo
tempo em que o desemprego hoje atrapalha na fluidez da economia da cultura, ele impulsiona
os indivíduos, especialmente os jovens empreendedores, a buscarem soluções diversas para se
desenvolverem, ampliando assim as possibilidades de trabalhos e desenvolvimento individual,
territorial e social (DEHEINZELI, 2006).
Sob uma perspectiva de geração de trabalho, o empreendedorismo cultural pode ser um
caminho para que muitos jovens desse contexto se tornem qualificados para ingressarem e/ou
estarem qualificados no mercado de trabalho. Vale apontar que esse caminho não é “novo”,
visto os incentivos recentes do governo brasileiro através do SEBRAE ao
microempreendedorismo5, de iniciativas governamentais6 e das estratégias europeias de
incentivar o empreendedorismo cultural a fim de aumentar os empregos nos países daquele
continente (ELLMEIER, 2003).
Sobre o tema, é possível destacar que o desemprego não atinge todos os jovens da
mesma forma. Segundo dados da OIT, os jovens de baixa renda, negros ou mesmo as mulheres
com alta escolaridade, são os mais afetados pelo desemprego, tem piores condições de trabalho
e possuem um grau de instrução muitas vezes sem atingir o ensino fundamental
(ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO, 2014). A necessidade segue como
5 Lei Complementar nº 128, de 19 de dezembro de 2008, disponível em:
http://www18.receita.fazenda.gov.br/legislacao/LeisComplementares/2008/leicp128.htm 6 https://raquelrolnik.wordpress.com/2016/08/04/lei-de-fomento-a-periferia-de-sp-inova-ao-reconhecer-a-
dimensao-territorial-da-cultura/
20
razão fundamental do jovem pobre para trabalhar, embora a OIT destaque outras dimensões,
como a autonomia e a realização pessoal. Os conhecimentos empreendedores se fazem cada
vez mais necessários para os jovens, pois a “inserção digna e ativa no mundo do trabalho e a
geração de trabalho e renda através da economia popular e solidária, associativismo rural, e
empreendedorismo”(ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO, 2014).
Com momentos de crise apontada no mercado formal7, o empreendedorismo cultural é
apontado como uma tendência em termos de possibilidades de trabalho, principalmente entre
as pessoas jovens (ELLMEIER, 2003; LEADBEATER et al., 1999). Ressaltamos no entanto,
que o empreendedorismo não visa atuar na informalidade
Não só pelo desenvolvimento econômico, como também pela autonomia e realização
pessoal, a juventude e o empreendedorismo estão sendo acolhidos pelas organizações públicas
e privadas, quando se relacionam diretamente ou indiretamente com a economia e o trabalho.
A cultura é objeto de investimento, justamente pelo fomento desses três campos que estão
intimamente ligados a ela (LEADBEATER et al., 1999).
Conforme dados do MINC (2011), os setores criativos do Brasil vem crescendo
anualmente, gerando bilhões de reais para a economia brasileira e ganhando cada vez mais
representatividade no PIB brasileiro, vide a tabela abaixo:
Tabela 1 - Setores Criativos no Brasil
Fonte: Ministério da Cultura – MINC, 2011
7 http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2016/01/1724881-brasil-pode-perder-ate-22-milhoes-de-vagas-formais-
de-emprego-em-2016.shtml
21
1.2 IDENTIDADE CULTURAL LOCAL
Para se falar da identidade cultural local, conceito entendido como fundamental para
pensarmos no empreendedorismo cultural, se faz necessário conceituar identidade, para depois
tratar do recorte espacial e do que entendemos por cultura nesse trabalho, examinando a
identidade cultural local para, por fim, analisar a identidade cultural como fundamento do
empreendedorismo cultural. A identidade pode ser pensada, sob o prisma sociológico, como
algo continuamente em construção e reconstrução (CRAIB, 1998) e ao relacionar a identidade
nacional, a identidade local e a identidade global como identidades promotoras de uma nova
identidade híbrida, ou seja, uma identidade nova e em constante mudança (HALL, 2011). A
concepção de identidade adotada nesse trabalho é de que esta pode e deve ser abordada através
da interdisciplinaridade como a psicologia, sociologia, antropologia e os campos
interdisciplinares como os estudos culturais (HOLLAND et al., 1998).
Tal qual o conceito de identidade, a cultura se apresenta como um conceito polissêmico,
portanto possível de ser pensado sob diversas perspectivas. Pode-se adotar um conceito de
cultura a ser ponderado: o conceito “diferencial” de cultura (BAUMAN, 2012).
Na perspectiva “diferencial”, “(...) o termo “cultura” é empregado para explicar as
diferenças visíveis entre comunidades de pessoas (temporária, ecológica ou socialmente
discriminadas).” (BAUMAN, 2012). Em outras palavras, “uma cultura” é (...) uma comunidade
espiritual, uma comunidade de significados compartilhados. (BAUMAN, 2012)”.
A importância da cultura na configuração da identidade local é notória, visto que os
indivíduos e grupos sempre são (re)formados como pessoas ou grupos através da cultura em
que estão inseridos (HOLLAND, 1998). Essa referência é que solidifica uma base para que um
negócio não surja apenas por uma necessidade econômica, mas de expressão e produção da sua
própria identidade.
A identidade pode ser pensada então, como um caminho que nomeia as densas
interconexões entre o íntimo e os locais públicos de práticas (HOLLAND et al.,1998). As
identidades praticadas são construtos, frutos de vários contextos de atividades, como o mundo
socialmente identificado, o mundo em que a atividade é o transmissor de mensagens e de
localizadores de cada indivíduo no campo social (HOLLAND et al.,1998).
No campo da cultura, o investimento em si, é uma característica necessária ao indivíduo
que trabalha com o mercado da cultura (NEFF, 2005), não só por sua estética, mas
22
principalmente, por sua identidade. Conscientização, diálogo com os pares e qualificação
profissional são necessários para os empreendedores culturais.
O território, portanto, quando visto como campo e produtor de desenvolvimento, nos
demonstra o quanto o empreendedorismo cultural necessita beber da identidade cultural local
para existir e ter razão de ser. A identidade cultural local não precisa do empreendedorismo
para ser, existir, mas o contrário é necessário. Sem a identidade cultural local o
empreendedorismo cultural vira uma reciclagem de ideias e negócios em um âmbito cultural
monotemático. A identidade cultural local quebra monopólios culturais, expõe singularidades
e reverte o perverso jogo de exclusão e desigualdade social, demonstrando o valor que a cultura
possui.
Traduzindo para o objeto de pesquisa delimitado na presente dissertação, se os jovens
artistas de periferia não se implicam no território, eles vão atrás apenas da mudança individual
e não territorial. Para o engajamento com a comunidade, os jovens artistas de bairros periféricos
podem conhecer a história daquele território, seus heróis e as conquistas dos seus moradores.
A partir das apreensões desses jovens e da cultura musical, é possível que eles tenham mais
chances de se engajarem na transformação positiva do seu território. As atividades criativas,
portanto, são produtos de desenvolvimento não apenas individual, mas social e territorial,
especialmente no caso do território, do desenvolvimento territorial local (LEADBEATER et
al., 1999).
O recorte sócio espacial da periferia desse trabalho não é ao acaso. As diferenças entre
o centro e as periferias brasileiras são visíveis e invisíveis. A diferença entre espaços
nobilizados e espaços periféricos pode se constituir através da mercantilização do que há de
mais precioso na cidade: o solo. Além do solo, há outra associação constante entre periferia,
pobreza e marginalidade. Além desses aspectos, brevemente citados, Tanaka (2006) nos ajuda
a entender a periferia a partir dos seguintes indicadores urbanísticos e habitacionais:
infraestrutura; iluminação; rede de água e esgoto; tempo médio de deslocamento; traçado
irregular das ruas e ausência de pavimentação; adensamento habitacional na moradia; condição
de ocupação do domicílio. A periferia, portanto, é pensada para esse trabalho para além da
noção geográfica da periferia, mas também social8. Nos árticos tecnológicos, no entanto, iremos
utilizar a terminologia “bairros populares”, buscando abranger o maior número possível de
8 Para ampliar a discussão das periferias e suas discussões, ler: TANAKA, G. Periferia: conceito, práticas e
discursos. Práticas sociais e processos urbanos na metrópole de São Paulo. 2006. 163 f. Dissertação (Mestrado) –
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006.
23
territórios para aplicação da tecnologia social, já que muitos locais do Brasil não se consideram
“periferias”, mas “comunidades”, “guetos”, “favelas”, “bairros populares”, entre outras
terminologias.
A música, especificamente, foi escolhida como instrumento cultural foco dessa
dissertação, pois “O processo subjetivo de apropriação da cidade evidencia-se na sua
representação simbólica, (...) nos encontros festivos promovidos pela música” (OLIVEIRA,
2008, p.1).
Como um tipo de manifestação cultural, é possível dizer e trabalhar com a ideia de que
a música serviu como pilar na constituição de formas de pensar e de se comportar, bem como
a estruturação da cidade, dos centros e das periferias. A música também serviu e serve às
sociedades para o entretenimento, para a comunicação e, como toda arte, para o poder e para a
constituição de identidades. É também do poder que podemos compreender toda a dimensão
política da música. Especificamente, ao estudarmos a música oriunda dos bairros periféricos e
sua relação com um contexto cultural dominante, percebe-se que o mercado sempre esteve
presente na música dita popular.
Ao visualizarmos o período pós-colonial no Brasil, podemos perceber melhor o que é a
cultura musical hoje na contemporaneidade. Os negros, trazidos da África e os seus filhos,
nascidos no Brasil, são escravizados por uma cultura genuinamente europeia, e a música
reconhecida como erudita era um dos artifícios de imposição cultural da elite brasileira sobre
os negros escravos. Tais negros produziram, com o aparato dos seus pais e ancestrais africanos,
movimentos que iam contra esta cultura e a música fazia parte disto.
A presença de certos povos africanos era “problemática” e considerada motivo de atraso
social e cultural. Durante décadas, foi praticada uma violenta repressão policial ao candomblé,
à capoeira e ao samba que, mais tarde, foram assumidos como símbolos da cultura popular
brasileira (SANTOS, 2006).
A cultura musical que possuímos hoje é também compreendida através da história e o
panorama musical, a partir da música caribenha nos anos sessenta até a contemporaneidade
brasileira. A complexidade da cultura musical que possui forças em diversos países, classes e
culturas, permite visualizar que há identificação já na década pós II Guerra Mundial do que é
considerado e constituído como “música boa” e “música ruim” pela sociedade moderna
brasileira (MOURA, 2009).
24
Na contemporaneidade, o hip hop9é um exemplo de vertente musical que exerceu e
exerce influencia10 nos comportamentos, tendências musicais e mercadológicas nos EUA e
também no Brasil. É bem verdade que nos EUA essa indústria já é bem estabelecida
(EDMONDSON, 2008), enquanto, no Brasil, essa vertente se mostra mais sólida na cidade de
São Paulo, mas crescente em diversas regiões do Brasil. Além do rap e da música negra em
geral, o tecnobrega (SALAZAR, 2015), o samba e o pagode (FRYDBERG, 2011) são exemplos
de ritmos oriundos dos bairros periféricos.
A música, por fim, foi escolhida como recorte de objeto de estudo nessa dissertação,
pois não apenas possui a função de construir um imaginário coletivo da cidade (FRYDBERG,
2011), mas também, no caso da música produzida pelos jovens músicos de bairros periféricos,
possui a função de construir, retratar ou resignificar o imaginário coletivo dos bairros
periféricos.
Faz-se importante estudar os conceitos de juventude para que possamos compreender
melhor quem são os jovens que estão inseridos no processo de criação das produções musicais
nas regiões periféricas de Salvador. Acerca da problemática da juventude, Groppo (2000, p.12)
conceitua para além do critério etário, ou seja, trabalha a juventude como uma categoria social
que “tem uma importância crucial para o entendimento de diversas características das
sociedades modernas, o funcionamento delas e suas transformações.” (GROPPO, 2000, p.8), o
que permite a discussão sobre música, juventude e empreendedorismo cultural.
Pode-se problematizar a unicidade conceitual sobre juventude, pois um conceito único de
juventude também seria problemático, pois assim como existem gêneros musicais diversos,
existem jovens diversos (PAIS, 1996).
A música foi um dos pilares notáveis da constituição de identidades juvenis na história
recente do Ocidente (PAIS, 1996). Nos bairros periféricos, a música tem força simbólica e
constitui identidades e pertencimentos. Não há dúvidas de que, através das entrevistas e estudos,
as manifestações musicais são hábeis no auxílio de constituição de uma identidade coletiva dos
jovens onde as manifestações são estabelecidas.
9 Compreende-se, nesse caso, o rap e a música negra nesse estilo como hip hop, mas se sabe que o hip hop é uma
cultura maior que a própria música, abrangendo também expressões artísticas como o DJ, a dança, o grafite e, o
quinto elemento, o conhecimento. 10 http://rollingstone.uol.com.br/noticia/estudo-britanico-diz-que-hip-hop-teve-mais-influencia-que-beatles-e-
stones-nos-eua/
25
Por fim, com a finalidade didática, considerando todas as ponderações teóricas expostas
nesse trabalho acerca da juventude e, com fundamento na Lei.11.1290 de 30/6/2005, criada pela
Secretaria Nacional de Juventude, define-se nessa pesquisa como jovem o cidadão ou cidadã
com idade entre 15 e 29 anos.
1.3 ARTE COMO FONTE PARA A APRENDIZAGEM
O presente trabalho se destaca também pela proposta de capacitar jovens artistas através
de uma pedagogia artística (forma) e conhecimentos empreendedores (conteúdo). Para adequar
a pedagogia artística para o ensino do empreendedorismo, nos apoiamos no conceito que alia a
arte e seus processos lúdicos e criativos ao trabalho, no caso, a capacitação para que seja
facilitado o processo de educação, indo contra a corrente de muitas instituições formais que
desvalorizam essas expressões (KOLB, 2010). A arte, que vem do latim ars11, pode ser
caracterizada pelas práticas com habilidade para realizar algo, nos remetendo às formas
artísticas, como música, teatro, cinema, dança, fotografia, artes plásticas e literatura. A arte
pode ser também definida como fonte de inspiração no processo de aprendizagem, fonte de
conhecimento, fonte de terapia, fonte de interpretação, fonte de expressão e fonte de
comunicação (DAVEL; VERGARA, 2007; DE BOTTON; ARMSTRONG, 2013).
Para essa pesquisa, optamos pela arte-educação, dentre outras opções possíveis da arte
na aprendizagem do empreendedorismo, por ser uma das formas mais práticas de meios para
ensinar e pensando no empreendedorismo como área também prática, seu uso se faz pertinente.
Ao líder, cabe endossar que o conjunto de práticas pedagógico aqui proposto não nasceu de
uma hora para outra, mas surge através de um processo longo, de estudos e práticas educativas
que nos apontaram novos caminhos. A arte-educação vem sendo utilizada, formalmente, desde
a Lei 5.692/71 que apresenta o estudo das artes nos currículos formais das escolas (BARBOSA,
1989; DUARTE JUNIOR, 2008), tendo a Federação de Arte-educadores do Brasil – FAEB12
como primeira entidade a nível nacional referente à área de arte-educação. Anísio Teixeira foi
um dos nomes mais fortes na aplicação da arte-educação no Brasil, com a criação da escola
parque em Salvador, Bahia (NASCIMENTO, 2009).
A arte se mostra de fato uma ferramenta metodológica eficaz para a capacitação de jovens,
pois se verifica que, através das linguagens artísticas, os conteúdos programáticos podem ser
11 http://www.dicionarioetimologico.com.br/arte/ 12 http://faeb.com.br/
26
de fato compreendidos por crianças e jovens, muitas vezes ainda analfabetos funcionais depois
de anos de escola (DEHEINZELIN, 2006).
A presente dissertação pretende investigar como a dimensão artística potencializa a
aprendizagem, fundamenta-se assim a proposta de tecnologia social.
1.4 GESTÃO PARTICIPATIVA DE EVENTOS COMUNITÁRIOS
A presente dissertação se destaca também por promover o aprendizado da gestão
participativa de eventos comunitários na prática com a realização do Sarau Empreendedor. Mas
será que um sarau orientado para o estímulo e capacitação para o empreendedorismo cultural
daria certo? Unir o lazer com algo que se propõe a ser educativo para o empreendedorismo
cultural? Será possível reaplicar o alto nível de aprendizado alcançando pela arte na educação
formal e nos ambientes organizacionais? Para que os conhecimentos de gestão participativa
sejam ensinados, percebemos que os resultados da arte e seus processos criativos com o
ambiente formal são de fato complementares e precisam coexistir harmoniosamente, pois há a
criação de ambientes nos quais os membros podem ser criativos e produtivos (KOLB, 2010).
Para a construção da tecnologia social aqui proposta, é importante a compreensão da
importância da participação nesse processo. Um sarau que capacite e estimule no seu processo
de capacitação, bem como no dia em que ocorrer, deve ter uma ativa participação dos jovens
da comunidade, caso contrário, há o risco do sarau gerar pouco efeito quanto aos seus objetivos.
Os princípios que constituem a gestão do Sarau Empreendedor são definidos através da
participação, identidade local e empreendedorismo cultural.
A participação (ARNSTEIN, 2002; BORDENAVE, 1983; NUNES, 2006) é vista como
elemento fundamental para a gestão do Sarau empreendedor, pois mobiliza, engaja e produz
um evento comunitário que atenda ao proposto. Se os jovens não participam da construção do
evento comunitário, a educação, a arte, o lazer e até a presença do público podem ser
comprometidos.
Se faz necessário pontuar que não existe receita para a participação, nem tampouco
modelo ideal, o que tentamos fazer nessa seção é explanar tipos de participação para que líder
fique atento durante o processo de realização do evento. Importante pontuar que a liberdade
individual deve ser respeitada, já que as pessoas são distintas e algumas podem ter dificuldades
ou pouco interesse em atividades de caráter coletivo. O diálogo é sempre uma boa saída para
a resolução de conflitos.
27
A identidade local é um princípio importante, pois essa identidade flui entre as pessoas
oriundas e/ou moradoras de comunidades, muitas vezes sem os próprios moradores terem
consciência dessa identidade. Povo de santo, católicos, músicos pagodeiros, músicos do hip hop
e desenvolvimento de diversos empreendimentos culturais podem ser algumas das expressões
de identidade local dos bairros periféricos.
O empreendedorismo cultural pode ser pensado como um princípio responsável por
mobilizar recursos criativos e econômico-financeiros, articulando e organizando alguma
comunidade (LIMEIRA, 2008). Para a gestão de um evento comunitário, ele tem o seu conceito
construído nessa pesquisa, a partir da união das dimensões sociais (ARMANI, 2000;
CASAQUI, 2016; LACRUZ, 2014 ; SILVA; PALASSI, 2009), dimensões coletivas (MALO;
RODRIGUES, 2006), da identidade cultural local (CAMPOS; DAVEL, 2015) e com
fundamentos nos aspectos de liderança na gestão de projetos (ARMOND; NASSIF, 2009
BAKER; COLE, 2014; LERMEN, 2003; ROLDAO,2000). Esse princípio é o responsável por
ser uma referência no projeto compartilhado, é aquele que dificilmente se desanima, que baixa
a cabeça ou que pensa em desistir. O desafio de gestores com características empreendedoras é
multiplicar essas características para todas as pessoas colaboradoras do evento, articulando
saberes e práticas que se somem ao evento.
A gestão participativa, tal qual a pedagogia artística, é fundamental quando pensamos
na tecnologia social para o empreendedorismo. A pedagogia voltada para os conhecimentos
empreendedores é fundamentalmente baseada no sonho estruturante do empreendedor coletivo
(DOLABELA, 2003). Estímulos da ação coletiva (NUNES, 2006) e atividades pedagógicas
para exercitar a participação (NUNES, 2006) devem ser apreendidas pelos aplicadores da
tecnologia nas realidades de cada bairro e com cada grupo de jovens.
O líder que irá articular os jovens da comunidade deve saber quais são os papéis que lhe
cabem nesse contexto (NUNES, 2006) e ouvir ao máximo cada sugestão, crítica e avaliação
dos jovens participantes do processo de construção do sarau, bem como dos jovens que irão
participar apenas no dia do sarau.
28
CAPÍTULO 2 - METODOLOGIA DE PESQUISA
A metodologia da pesquisa apresentada é definida como qualitativa de caráter
exploratório e procura se basear em experiências de empreendedores culturais, líderes e
mobilizadores sociais e culturais, jovens artistas, arte-educadores; textos relativos ao
empreendedorismo no setor cultural e aplicação da tecnologia social em um território periférico.
As técnicas utilizadas foram de coleta de dados via entrevistas semiestruturadas (ALVESSON,
2003, 2011; CASSELL, 2009; PATTON, 2002; VERGARA, 2009) com empreendedores
culturais, análise de conteúdo (COLBARI, 2014) e observação participante.
O desenho metodológico foi construído através de conhecimentos empreendedores, da
noção de empreendedorismo, empreendedorismo cultural, empreendedorismo musical, o
ensino-aprendizagem dos jovens músicos através da arte e seus processos, a gestão participativa
de eventos comunitários e, por fim, na articulação dos conhecimentos empreendedores,
pedagogia artística e gestão participativa.
Para compor a tecnologia social, ocorreram os seguintes processos: percepção da
necessidade de novas metodologias e tecnologias sociais voltadas ao empreendedorismo
cultural para jovens artistas de bairros periféricos; identificação de ferramentas utilizadas em
trabalhos/projetos/tecnologias sociais que perpassam o jovem artista, o bairro periférico e o
empreendedorismo cultural, através de pesquisas teóricas e via técnicas; vivências e entrevistas
a fim de apreender instrumentos e readapta-los à tecnologia social.
2.1 DESENHO METODOLÓGICO
A abordagem metodológica foi construída através da a)Revisão de Literatura; b)
Entrevistas; c)Realização do Sarau Empreendedor; d) Reflexões sobre a experiência, conforme
aas seguintes quatro etapas sequenciais:
práticas do Empreendedorismo musical: entrevistas com empreendedores
musicais; documentos sobre o empreendedorismo, empreendedorismo cultural e
empreendedorismo musical;
29
a arte como pedagogia: entrevista com arte-educadoras(es); documentos sobre arte-
educação;
aplicando o Sarau Empreendedor em uma comunidade: entrevistas com
empreendedores musicais, culturais e sociais, com jovens artistas e estudantes de
uma universidade; documentos sobre gestão participativa de eventos comunitários;
articulação dos pontos 1 e 2 desse do desenho metodológico;
refletindo sobre a aplicação do Sarau Empreendedor: articulação das reflexões da
aplicação do Sarau com as ideias teóricas e dados coletados durante todo o
processo de pesquisa.
2.2 TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS
As técnicas de coleta de dados são importantes para fundamentar, fortalecer e provocar
o desenvolvimento do trabalho de pesquisa. Foram utilizadas três técnicas de coleta de dados:
análise de documentos, entrevistas semiestruturadas e observação participante.
2.2.1 Documentos
A análise dos documentos é uma etapa importantes a fim de ampliar o repertório teórico
e prático das noções de empreendedorismo cultural e musical, ensino-aprendizagem e gestão
participativa de eventos comunitários. Os documentos relativos ao empreendedorismo foram
delimitados nos formatos de: livros e artigos de revistas universitárias e profissionais;
documentos sobre organização como o SEBRAE, voltadas para o empreendedorismo no
formato de relatórios, manuais, informativos e sites organizacionais;
O roteiro dos documentos, visando estabelecer o foco e organizar as informações
necessárias à pesquisa, buscaram as definições, processos e etapas, recursos (financeiros,
relacionais) e fontes de motivação da atividade empreendedora, bem como as práticas, técnicas
e abordagens relativas à capacitação em empreendedores. Os documentos relativos ao
empreendedorismo cultural e musical definidos foram: livros acadêmicos, artigos de revistas
universitárias e profissionais, relatórios, manuais, informativos e sites organizacionais voltadas
para o empreendedorismo da música;
O roteiro dos documentos relativos ao empreendedorismo cultural e musical buscou
práticas que estimulem, capacitem, tipos de abordagens e técnicas, competências e saberes
30
necessários, definições, características imprescindíveis à função, características do
empreendedorismo cultural, em especial do empreendedorismo cultural, investigar a
importância da identidade cultural local e/ou empreendedorismo cultural.
Tendo em vista a importância do ensino-aprendizagem para a tecnologia social aqui
proposta, os documentos relativos ao ensino-aprendizagem de jovens são: livros acadêmicos,
artigos de revistas universitárias e profissionais; documentos relativos às organizações voltadas
para o ensino e aprendizagem de jovens, organizações na capacitação de jovens, como OI
Kabum!, Pracatum, Transforma (Portugal), Fábrica Cultural, CRIA, Neojiba, Escola Casa Via
Magia, relatórios, manuais, informativos e sites organizacionais. O roteiro dos documentos
relativos ao ensino-aprendizagem de jovens buscou práticas, tipos de metodologias
educacionais, práticas educativas juvenis e saberes necessários e experiências com ensino-
aprendizagem de jovens.
Tendo em vista a importância da gestão participativa como saber para a construção de
um evento comunitário, os documentos relativos à gestão participativa são: livros acadêmicos,
artigos de revistas universitárias e profissionais, relatórios, manuais, informativos e sites
organizacionais. O roteiro dos documentos relativos à gestão participativa de eventos
comunitários buscou práticas, tipos de metodologias educacionais, práticas educativas juvenis
e saberes necessários e experiências de gestão participativa de eventos comunitários.
2.2.2 Entrevistas
A técnica da entrevista do tipo semiestruturada é adotada com planejamento, escolha
do(a) profissional entrevistado(a), pertinente ao presente trabalho, avaliação da disponibilidade
da pessoa entrevistada e preparação de roteiro para realização de entrevista (ALVESSON, 2003,
2011; CASSELL, 2009; PATTON, 2002; VERGARA, 2009). A entrevista do tipo
semiestruturada se caracteriza por combinar perguntas abertas e fechadas, com maior tempo
para o entrevistado discorrer sobre o tema proposto, bem como permitir a espontaneidade e a
cobertura mais profunda sobre os temas (ALVESSON, 2003, 2011; CASSELL, 2009;
PATTON, 2002; VERGARA, 2009).
No campo do empreendedorismo cultural, em especial do empreendedorismo musical,
foram escolhidos onze profissionais com base na experiência no campo ou jovens com atuação
de mobilização/liderança em empreendedorismo cultural: Vovô do Ilê, DJ Branco, Jorge Hilton
(Simples Rap’Ortagem), Aspri e Luciano (RBF), Mr. Armeng, Luciano Bahia, André T, Mauro
Telefunksoul, Marquinhos e Denny (DM de Boa). O tipo das entrevistas escolhido foi
31
semiestruturada e face-a-face, com duração de 50 minutos em média, através de gravação em
áudio. Cada entrevista foi transcrita por completo tendo um roteiro previamente sido
estruturado.
As questões construídas para as entrevistas procuraram extrair a experiência do
empreendedorismo e mensurar a importância da identidade cultural local para tal inciativa. A
entrevista contou com as seguintes questões, dividida em dois roteiros: o roteiro dedicado a
todos os empreendedores da música e o roteiro dedicado aos empreendedores que também são
gestores (Quadro 2 e Quadro 3).
No campo do ensino-aprendizagem, foram entrevistados três profissionais com
experiências em atividades artísticas com jovens: Rô Reis (Casa Via Magia); Nadja Carvalho;
Luciene Santos (Canastra Real); do tipo face-a-face, com duração de 50 minutos em média,
gravação em áudio e transcrição da entrevista por completo. O roteiro das entrevistas referente
às arte-educadoras contou com uma prévia estruturação (Quadro 4).
Foram entrevistados onze jovens artistas e produtores culturais de um território
periférico, escolhidos com base na sua experiência artística e empreendedora. O roteiro de
entrevistas com jovens artistas de territórios periféricos objetivou extrair das pessoas
entrevistadas toda experiência no âmbito da música e do empreendedorismo que o jovem
possui, bem como carências, necessidades e o que eles acham da ideia do Sarau Empreendedor
(Quadro 5). Foram entrevistados doze jovens artistas e produtores culturais, sendo que sete
participaram da primeira aplicação do Sarau Empreendedor, no intuito de avaliar a experiência
do Sarau (Quadro 6). O perfil de todos os entrevistados (Quadro 7) não foi adensado nesse
trabalho, pois o foco se concentrou nas falas que contribuem com a instrumentalidade da
composição da tecnologia social.
Foram entrevistados vinte e três estudantes acadêmicos que vivenciaram a experiência
de realização de uma gestão participativa do Sarau Empreendedor. O roteiro de entrevistas com
os estudantes objetivou extrair das pessoas entrevistadas toda experiência no âmbito do ensino-
aprendizagem do empreendedorismo através das artes e da gestão de um evento comunitário,
após a aplicação do Sarau Empreendedor (Quadro 8). As funções do facilitador no processo do
Sarau Empreendedor foram desenhadas e aprimoradas após a experiência da primeira aplicação
do Sarau (Quadro 9).
32
Quadro 2 - Roteiro de Entrevista com Empreendedores da Música
APRESENTAÇÃO
Prezado empreendedor me chamo Israel Campos, curso o mestrado profissional e interdisciplinar em
gestão e desenvolvimento social, no Centro Interdisciplinar em Gestão Social, CIAGS/EA/UFBA.
Meu objeto de pesquisa é o empreendedorismo cultural, em especial o musical. Nesse mestrado, como
parte da dissertação, estou confeccionando uma tecnologia social voltada para o empreendedorismo
cultural.
Ética de pesquisa: permissão para gravar, como forma de obter dados reais que contribuirão para o
resultado efetivo da pesquisa, portanto, para o desenvolvimento de outras experiências correlatas.
QUESTÕES
Qual é o percurso do músico para o empreendedorismo?
Quais ferramentas empreendedoras podem ser úteis para a tecnologia social?
Quais instrumentos pedagógicos podem ser úteis para a tecnologia social?
Quais são as orientações dos entrevistados para uma tecnologia social voltada para o público jovem de
bairros periféricos?
Você se considera um artista empreendedor?
Como você se tornou empreendedor?
Qual foi o papel do seu bairro nisso? Ele tem um estilo (identidade) própria? Qual? Você poderia me
fornecer um exemplo?
É importante incluir a identidade cultural local (bairro) no empreendimento? Por que?
O que te motivou e continua te motivando a ser empreendedor no campo da cultura?
O que é necessário para o jovem querer empreender?
Quais as etapas necessárias para se tornar empreendedor, como fazer, o que é necessário para que o
jovem músico de periferia seja um empreendedor musical?
Vale a pena empreender, você aconselha os jovens a fazer o que você fez?
Quais os elementos indispensáveis para se chegar no jovem músico de periferia?
Você acha que um sarau como atividade que contenham capacitações poderia ser um tipo de
profissionalização que chamasse a atenção dos jovens artistas?
Alguma pergunta não foi feita sobre algum assunto que você queira falar?
Fonte: Elaboração do Autor
33
Quadro 3 - Roteiro de Entrevista com Empreendedores Gestores no Campo da Música
APRESENTAÇÃO
Prezado empreendedor me chamo Israel Campos, curso o mestrado profissional e interdisciplinar em
gestão e desenvolvimento social, no Centro Interdisciplinar em Gestão Social, CIAGS/EA/UFBA.
Meu objeto de pesquisa é o empreendedorismo cultural, em especial o musical. Nesse mestrado, como
parte da dissertação, estou confeccionando uma tecnologia social voltada para o empreendedorismo
cultural.
Ética de pesquisa: permissão para gravar, como forma de obter dados reais que contribuirão para o
resultado efetivo da pesquisa, portanto, para o desenvolvimento de outras experiências correlatas.
QUESTÕES
Qual é o percurso do músico para o empreendedorismo?
Quais ferramentas empreendedoras podem ser úteis para a tecnologia social?
Quais instrumentos pedagógicos podem ser úteis para a tecnologia social?
Quais são as orientações dos entrevistados para uma tecnologia social voltada para o público jovem de
bairros periféricos?
Como sua instituição surgiu?
Qual foi a maior mudança da origem até a atualidade da sua instituição?
Como é composta a equipe de gestores e líderes da sua instituição?
Quais são, atualmente, os trabalhos sociais mais importantes para a capacitação dos jovens de periferias
realizados pela instituição?
Quais são os trabalhos culturais mais importantes para a capacitação de jovens?
Como que sua instituição se mantém?
Como vocês medem os impactos das ações sociais realizadas no território?
Como você percebe a questão da capacitação na área cultural? Quais as principais necessidades do
mercado musical hoje?
No âmbito da área musical, quais as principais ferramentas para capacitar os jovens de bairros
periféricos?
Você acha que um sarau como atividade de capacitação e estimulo que chamasse a atenção dos jovens?
Alguma pergunta não foi feita sobre algum assunto que você queira falar?
Fonte: Elaboração do Autor
34
Quadro 4- Roteiro para entrevistas semiestruturadas com arte-educadoras
APRESENTAÇÃO
Prezado empreendedor me chamo Israel Campos, curso o mestrado profissional e interdisciplinar em
gestão e desenvolvimento social, no Centro Interdisciplinar em Gestão Social, CIAGS/EA/UFBA.
Meu objeto de pesquisa é o empreendedorismo cultural, em especial o musical. Nesse mestrado, como
parte da dissertação, estou confeccionando uma tecnologia social voltada para o empreendedorismo
cultural.
Ética de pesquisa: permissão para gravar, como forma de obter dados reais que contribuirão para o
resultado efetivo da pesquisa, portanto, para o desenvolvimento de outras experiências correlatas.
QUESTÕES
Você se considera um arte-educador?...........................................................................................
Se sim, como você se tornou arte-educador?
Já trabalhou com jovens? Se sim, qual a importância?
Quais são os grandes ganhos que a educação artística trouxe para a instituição/você nas suas
experiências?
Quais os desafios que as formações artísticas apresentam?
Você possui experiências com educação tradicional? Quais as comparações possíveis entre as duas
formas de educar?
Quais os principais desafios que um sarau que se propõe a estimular e capacitar para o
empreendedorismo pode ter, de acordo com sua experiência? É possível se divertir e capacitar?
O que capta e engaja o público jovem é um projeto? Quais os fundamentos mais valiosos para se
trabalhar com jovens?
Qual a experiência com a capacitação e estimula empreendedora dos jovens que você possui?
O que é necessário para que o jovem músico de periferia seja um empreendedor musical?
Quais outras sugestões você daria para a tecnologia do sarau que capacita e estimula?
Quais os instrumentos artísticos e pedagógicos que podem ser úteis para a tecnologia social?
Como eles imaginam um sarau que se proponha também a capacitação?
Quais as comparações entre a educação tradicional e a educação artística?
Quais as orientações dos entrevistados para uma tecnologia social voltada para o público jovem de
bairros periféricos?
Alguma pergunta não foi feita sobre algum assunto que você queira falar?
Fonte: Elaboração do Autor
Quadro 5- Roteiro para entrevistas com jovens artistas e produtores culturais
APRESENTAÇÃO
Prezado empreendedor me chamo Israel Campos, curso o mestrado profissional e interdisciplinar em
gestão e desenvolvimento social, no Centro Interdisciplinar em Gestão Social, CIAGS/EA/UFBA.
Meu objeto de pesquisa é o empreendedorismo cultural, em especial o musical. Nesse mestrado, como
parte da dissertação, estou confeccionando uma tecnologia social voltada para o empreendedorismo
cultural.
Ética de pesquisa: permissão para gravar, como forma de obter dados reais que contribuirão para o
resultado efetivo da pesquisa, portanto, para o desenvolvimento de outras experiências correlatas.
QUESTÕES
Quais são as maiores dificuldades dos jovens artistas?
Como o jovem artista ganha dinheiro com sua arte?
O jovem artista conhece o empreendedorismo?
O que o jovem artista acha de um sarau para divulgar sua arte e capacitar para o empreendedorismo?
Alguma pergunta não foi feita sobre algum assunto que você queira falar?
Fonte: Elaboração do Autor
35
Quadro 6 - Roteiro para entrevistas com os jovens artistas, produtores culturais e acadêmicos
participantes do Sarau Empreendedor
APRESENTAÇÃO
Prezado empreendedor me chamo Israel Campos, curso o mestrado profissional e interdisciplinar em
gestão e desenvolvimento social, no Centro Interdisciplinar em Gestão Social, CIAGS/EA/UFBA.
Meu objeto de pesquisa é o empreendedorismo cultural, em especial o musical. Nesse mestrado, como
parte da dissertação, estou confeccionando uma tecnologia social voltada para o empreendedorismo
cultural.
Ética de pesquisa: permissão para gravar, como forma de obter dados reais que contribuirão para o
resultado efetivo da pesquisa, portanto, para o desenvolvimento de outras experiências correlatas.
QUESTÕES
Quais foram as maiores dificuldades do Sarau Empreendedor?
Como foram as experiências de ensinar o empreendedorismo através das artes?
Como avaliam os aprendizados de gestão participativa desse evento comunitário?
Alguma pergunta não foi feita sobre algum assunto que você queira falar?
Fonte: Elaboração do Autor
Quadro 7 – Perfis dos Entrevistados
Tipo Entrevistados Roteiro
utilizado Tempo
de
duração
em
média.
Empreendedor
Musical
Dj Branco: empreendedor musical, militante da causa negra,
produtor cultural, radialista e agitador cultural. Possui mais de dez
anos de experiência no empreendedorismo do campo da música.
Quadro
2 60
minutos
Empreendedor
Musical
Vovô do Ilê: possui mais de duas décadas de experiência a frente do
projeto artístico, musical, cultural do Ilê Ayê. Esse projeto é
reconhecido internacionalmente pela sua força, com fundamento na
identidade cultural local de Salvador Bahia e do Curuzu.
Quadro
3 60
minutos
Empreendedor
Musical
Aspri: um dos vocalistas da Rapaziada da Baixa Fria (RBF). O
grupo existe a mais de uma década em especial e possui um
empreendimento musical com fundamento no território da Baixa
Fria, em Salvador.
Quadro
3 60
minutos
Empreendedor
Musical
Luciano: um dos vocalistas da Rapaziada da Baixa Fria (RBF). O
grupo existe a mais de uma década em especial e possui um
empreendimento musical com fundamento no território da Baixa
Fria, em Salvador.
Quadro
3 60
minutos
Empreendedor
Musical
Dj Mauro TelefunkSoul: Um dos djs mais requisitados
Salvador/Bahia, acumula as funções de produtor e empreendedor
musical. Está nos negócios da música a mais de uma década.
Quadro
2 60
minutos
Empreendedor
Musical
André T: um dos maiores produtores musicais mais requisitados da
Bahia, trabalhou com nomes como Pitty e a banda Cascadura e
possui mais de vinte anos de experiência nos negócios da música.
Quadro
2 60
minutos
36
Empreendedor
Musical
Luciano Salvador Bahia: Compositor, produtor e empreendedor
musical, possui mais de uma década de experiência nos negócios da
música.
Quadro
2 60
minutos
Empreendedor
Musical e Líder
Comunitário
Mr.Armeng: Tem experiência de mais de uma década no campo
da música e da cultura, lidera ações sociais e culturais no Nordeste
de Amaralina e há um ano começou a trabalhar com a arte-educação
em escolas públicas de Salvador Bahia.
Quadro
2 60
minutos
Empreendedor
Musical, Líder
Comunitário
Denny: é um dos líderes do DM de Boa, um projeto que educa
através da música. Ele é músico de bandas como Natiruts e possui
mais de uma década de experiência nos negócios da música e cinco
anos de experiência com ações comunitárias e com arte-educação no
Nordeste de Amaralina.
Quadro
3 60
minutos
Empreendedor
Musical, Líder
Comunitário
Marquinhos: é um dos líderes do DM de Boa, um projeto que
educa através da música. Músico há mais de uma década, possui
cinco anos de experiência com ações comunitárias e com arte-
educação no Nordeste de Amaralina.
Quadro
3 60
minutos
Empreendedor
Musical
Jorge Hilton, Rapper, Mestre em Educação pela Universidade da
Bahia, autor do livro "Bahia com H de Hip Hop" e empreendedor da
música a mais de uma década. Lidera, junto com Preto Du, a banda
Simples Rap’ortagem.
Quadro
2 60
minutos
Líder
Comunitário e
Jovem Artista
Lucas Leal: jovem participante e hoje um dos líderes do projeto
social e cultural Quabales, no Nordeste de Amaralina. Possui
aproximadamente dez anos de experiência tocando percussão.
Quadros
5 e 6 60
minutos
Líder
Comunitária,
Produtora
Cultural e
Empreendedora
Social
Monique Evelle: Fundadora do projeto social Desabafo Social.
Tem mais de cinco anos de experiência em liderança comunitária no
Nordeste de Amaralina e empreendedorismo social a nível
internacional.
Quadros
5 e 6 60
minutos
Arte-educadora Rô Reyes: é fundadora do Instituto e da Escola Casa Via Magia,
criada em 1982 por ela e seu marido Ruy Cezar. Ela possui mais
de 30 anos de atuação na arte-educação, um dos pilares
metodológicos da Escola e Do Instituto Casa Via Magia. Artes
Visuais, Música, Teatro, Corpo e Literatura são as expressões
artísticas trabalhadas por Rô, fora as diversas brincadeiras
utilizadas na metodologia de formação de crianças e educadores
em arte-educação.
Quadro
4 60
minutos
Arte-educadora Luciene Sousa: professora doutora em educação pela Universidade
Federal da Bahia e integrante do grupo de arte-educação Canastra
Real: contos e encantos. O grupo Canastra Real trabalha com
música, literatura, educação, ressaltando a brincadeira como algo
também educativo. Possui mais de quinze anos na área de arte-
educação.
Quadro
4 60
minutos
Arte-educadora Nadja Carvalho: a artista plástica, arte-educadora e mestra em
educação pela Universidade Federal de Florianópolis, possui no
currículo um trabalho sobre o Olodum e atuação na Fábrica
Cultural.
Quadro
4 60
minutos
Acadêmicos
dos cursos de
graduação da
Universidade
Federal da
Anderson Merces; Cristiane Jesus; Daniela Souza; Elisa Emer;
Gabriel Baptista; Iabi Macedo; Joseane Santos; Laila Almeida;
Leticia Lopes; Lucca Satana; Marcele Santos; Marina Lopes;
Marizilda Jesus; Marta Rios; Mary Souza; Nara Oliveira; Natali
Quadros
5 e 6 60
minutos
37
Bahia de:
produção
cultural,
administração,
secretariado,
gestão Pública
e bacharelado
em
Humanidades
Souza; Priscila Miranda; Rebeca Oliveira; Samanta Praia; Talita
Pereira; Valdinéa Santos; Verônia Leal.
Jovem Artista
do Nordeste de
Amaralina.
Lorena Santiago: possui 17 anos. É fotógrafa, artesã, design, no
âmbito informal.
Quadro
5 60
minutos
Jovem Artista
do Nordeste de
Amaralina.
Ronilson Silva: possui 16 anos. Toca violão. Quadro
5 60
minutos
Jovem Artista
do Nordeste de
Amaralina.
Saad Oliveira: possui 16 anos e trabalha com tererês, tranças, dread
locks. Gostaria de aprender a grafitar.
Quadro
5 60
minutos
Jovem Artista
do Nordeste de
Amaralina.
Camila Pereira: possui 18 anos e grafita.
Quadros
5 e 6 60
minutos
Jovem Artista
do Nordeste de
Amaralina.
Raiuan Sacramento: possui 15 anos e é fotógrafo. Quadros
5 e 6 60
minutos
Jovem Artista
do Nordeste de
Amaralina.
George Victor: possui 15 anos e canta informalmente. Quadros
5 e 6 60
minutos
Jovem Artista
do Nordeste de
Amaralina.
Bonilson Henrique: possui 20 anos e toca cavaquinho. Quadro
5 60
minutos
Jovem Artista
do Nordeste de
Amaralina.
Tiago Verdelho: possui 25 anos e é um dos jovens participante do
projeto Quabales e músico profissional.
Quadro
5 60
minutos
Produtor
Cultural do
Nordeste de
Amaralina.
Gleidson Novaes: possui 15 anos e é formado em produção cultural
por uma Ong.
Quadros
5 e 6 60
minutos
Jovem Artista e
produtora
cultural do
Nordeste de
Amaralina.
Tamires Menezes: possui 15 anos e é poetisa e produtora cultural. Quadros
5 e 6 60
minutos
Produtora
Cultural do
Nordeste de
Amaralina.
Jamile Ferreira: possui 19 anos e é formada em produção cultural
por uma Ong.
Quadro
5 60
minutos
Fonte: Elaboração do Autor
38
2.2.3 Observação Participante
A técnica de observação participante foi empregada para a articulação dos
conhecimentos propostos e estudados (empreendedorismo, empreendedorismo cultural,
identidade cultural local, gestão participativa) e a forma (pedagogia artística, gestão
participativa, sarau como ambiente de sociabilidade e capacitação) formas e realização da
tecnologia social.
A observação participante ocorreu na primeira aplicação do Sarau Empreendedor, no
território do Nordeste de Amaralina em Salvador/Bahia reconhecido pelas práticas musicais e
artísticas, entre os meses de janeiro e maio do ano de 2016, em conjunto com um grupo de vinte
e três acadêmicos, orientado em conjunto com outros dois acadêmicos, para desenvolver um
sarau que capacite e estimule o empreendedorismo cultural (Quadro 8).
Quadro 8 - Roteiro de Observação
Categorias Situações observadas
Reuniões
estratégicas com
acadêmicos,
acadêmicos e
mobilizadores do
território.
Reuniões com acadêmicos e acadêmicos para planejamento das capacitações e
escolha do território, uma vez por semana, com início em janeiro de 2016.
Exposição de conhecimentos que capacitem e estimulem para o
empreendedorismo nos meses de janeiro e fevereiro.
Exposição de conhecimentos que capacitem e estimulem para a realização da um
sarau nos meses de janeiro e fevereiro.
Reunião em sala de aula com os mobilizadores do território para maior
conhecimento acerca do local e do perfil dos jovens, no mês de fevereiro.
Reuniões sistemáticas após a visita ao território periférico e após as realizações de
oficinas e atividades de capacitação, durante os meses de fevereiro, março, abril e
maio.
Reuniões
estratégicas com o
território.
Reunião com jovens artistas, músicos e mobilizadores do território para o primeiro
contato e sensibilização do projeto, no mês de fevereiro.
Reunião com jovens artistas, músicos e mobilizadores do território para produção
projeto, nos meses de março, abril e maio.
Capacitações dos
jovens do território. Capacitação dos jovens quanto aos temas artísticos e empreendedores e quanto aos
temas relativos à produção do Sarau, nos meses de março e abril.
Realização da Sarau
com os jovens Realização do Sarau que capacite e estimule para o empreendedorismo com
jovens do território periférico que fizeram parte de todo o projeto, juntamente com
os acadêmicos, acadêmicos e mobilizadores do território, no mês de maio.
Fonte: Elaboração do Autor
Destacam-se quatro focos temáticos de observação:
1) Observação e participação em reuniões estratégicas com acadêmicos, acadêmicos e
mobilizadores do território;
2) Observação e participação em reuniões estratégicas com a comunidade;
39
3) Observação e participação nas capacitações dos jovens do território;
4) Observação e participação na realização do Sarau.
Quadro 9 - Funções do Facilitador
Forma de construção das pautas de reuniões, descrevendo todas as reuniões e facilitando as reuniões
no sentido de promover a participação de todos os atores envolvidos;
Exposição de conteúdos, junto aos dois acadêmicos, para os acadêmicos, a fim de que os referidos
tenham autonomia para capacitar jovens do território periférico;
Pesquisar, identificar e contatar mobilizadores do território para a reunião em sala de aula com
acadêmicos e acadêmicos;
Monitorar e identificar as dificuldades do processo de construção do Sarau, para sugestão de inclusão
de pautas nas reuniões;
Facilitar e coordenar, junto aos acadêmicos, a ida dos jovens ao território para a sensibilização e
realização das capacitações.
Observar os tipos de interações entre as pessoas atreladas à participação;
Observar as não ocorrências atreladas à participação (o ficar calado, inações das pessoas, etc);
Observar as ferramentas utilizadas no processo;
Participar e observar a execução do Sarau, os atendimentos e não atendimentos aos objetivos e o que
mais for pertinente.
Fonte: Elaboração do Autor
2.3 ANÁLISE DOS DADOS
Foi realizada a análise de conteúdo, tendo como unidades de análise os seguintes pontos:
a) as formas de participação na construção e execução de um Sarau que capacite e estimule ao
empreendedorismo; b) os conteúdos aprofundados e que mais despertaram o interesse dos
jovens no território; c) como o Sarau ocorreu para a capacitação e estímulo do
empreendedorismo e como ela ocorreu para a sociabilidade dos jovens. Fundamenta tal
processo de análise as três das quatro propriedades da análise dos dados: objetividade,
sistematicidade e dimensão qualitativa. A dimensão quantitativa não foi considerada nessa
pesquisa, pois o caráter dela é estritamente qualitativo (COLBARI, 2014).
Na primeira etapa, no processo metodológico, a análise de conteúdo dos documentos
referentes ao empreendedorismo, empreendedorismo cultural e musical, e ensino e
aprendizagem, análise das transcrições das entrevistas semiestruturadas com empreendedores,
mobilizadores e gestores culturais, bem como com educadores e artistas. As análises ocorreram
de forma concomitante, compreendendo que as entrevistas podem indicar mais documentos e
fontes de dados. O foco foi a identificação das ferramentas fundamentais para capacitação e
40
estímulo ao empreendedorismo, construção de uma pedagogia que funcione no contexto de
saraus e a construção coletiva, valorizando a identidade cultural local.
Na segunda etapa, foi realizada a análise de conteúdo decorrente das anotações oriundas
da observação participante e da aplicação da tecnologia social. Primeiro foi realizada a análise
de todas as reuniões e processo geral de construção do sarau. Em segundo, a análise dos atores
que participaram do processo de aplicação da tecnologia social.
O foco desta análise levou em consideração os resultados da análise das etapas 1 e 2,
com intuito de sistematizar categorias referentes tanto ao conteúdo necessário para aplicação
da tecnologia social, quanto a forma pedagógica para a realização do Sarau Empreendedor.
41
CAPÍTULO 3 - SARAU COMO TECNOLOGIA SOCIAL DO EMPREENDEDORISMO
CULTURAL: A FORÇA DA IDENTIDADE CULTURAL LOCAL
Para o desenvolvimento da dissertação, optou-se por uma estrutura fundamentada por
artigos para a Tecnologia Social proposta. Deste modo, a organização do sumário é pensada da
seguinte forma: o artigo 1 tem como objetivo educacional provocar interesse, reflexão e
consciência sobre a o papel do empreendedorismo, do ensino do empreendedorismo, da gestão
participativa de eventos comunitários e da identidade cultural local. O artigo objetiva
sensibilizar o leitor para a importância da tecnologia proposta, orientando para a sua aplicação
da tecnologia social e apresentando os conceitos chaves da tecnologia social, a identidade
cultural local, o empreendedorismo cultural e a pedagogia artística.
O artigo 2 tem como objetivo educacional introduzir os elementos gerais da tecnologia
social. Ele apresenta a importância do empreendedorismo cultural, discute os desafios no
ensino-aprendizagem do empreendedorismo cultural através das artes, traça o passo-a-passo
para aplicar a tecnologia social e demonstra os conhecimentos, a pedagogia e a gestão utilizadas
no Sarau Empreendedor.
O artigo 3 tem como objetivo educacional conhecer princípios, relevâncias, aplicações
e fontes dos conteúdos empreendedores da música. Ele apresenta a definição do
empreendedorismo cultural e do empreendedorismo musical; definição e indicação dos
principais conhecimentos a serem aprendidos para jovens artistas em geral, em especial
músicos.
O artigo 4 tem como objetivo educacional conhecer a pedagogia artística proposta para
o ensino do empreendedorismo. Conhecer possibilidades gerais de utilização de sete distintas
linguagens artísticas. A importância da participação para o ensino do empreendedorismo. Ele
apresenta a arte e a participação como princípios e propõe estratégias de integração da arte no
ensino-aprendizagem do empreendedorismo, ressaltando a participação como dimensão
integradora da arte no processo de aprendizagem do empreendedorismo.
O artigo 5 tem como objetivo educacional conhecer princípios e práticas da gestão
participativa de eventos comunitários. Ele apresenta princípios e práticas da gestão participativa
de eventos comunitários, traçando as vantagens e dificuldades da gestão participativa e
desenhando os conhecimentos para a realização da gestão participativa de um evento
comunitário.
42
3.1 EMPREENDEDORISMO CULTURAL, APRENDIZAGEM E IDENTIDADE
TERRITORIAL: O DESBRAVAMENTO DE JOVENS MÚSICOS DO NORDESTE DE
AMARALINA (ARTIGO 1)13
Resumo: Este caso estimula o ensino-aprendizagem do empreendedorismo cultural14,
considerando a importância da cultura, da identidade territorial, bem como os desafios, as
necessidades e as potencialidades da arte na educação empreendedora. O caso relata a jornada
desbravadora de jovens músicos que encontram produtores, músicos experientes,
empreendedores e vão confrontando a possibilidade de serem empreendedores da música.
Todavia, precisam lidar com vários desafios: pensar o empreendedorismo como algo coletivo,
com necessidade de incluir as singularidades identitárias de seu bairro, Nordeste de Amaralina,
em Salvador (Bahia) e com a necessidade de desenvolver uma qualificação adequada para
realizar seus empreendimentos. A jornada é de desafios, surpresas e aprendizagens do que
significa ser empreendedor da cultura. O caso pode ser útil tanto para gestores culturais,
empreendedores artísticos, educadores, quanto para líderes comunitários que busquem
fomentar o desenvolvimento local baseado na arte15.
Palavras-chave: empreendedorismo cultural, educação empreendedora, pedagogia artística;
identidade territorial, caso para ensino.
Abstract: This case promotes cultural entrepreneurship teaching/learning, considering cultural
importance and local identity as well as the challenges, necessities and art potentialities in an
entrepreneur education. The case reports the pioneer journey of young musicians whom meet
up producers, experienced entrepreneur musicians and face up the possibility of turning into
music entrepreneur. However, they have to deal with several challenges: to think of
entrepreneurship as something collective, the necessity to include their neighborhood’s identity
singularity, Nordeste de Amaralina in Salvador (Bahia), and with the necessity to develop an
appropriate qualification to execute their entrepreneur. The journey is mane of challenges,
13 Artigo a ser submetido para a RECADM : Revista Eletrônica de Ciência Administrativa. Por isso, o artigo segue
as normas da APA exigida pela revista. 14 O presente caso de ensino reforça uma tecnologia social. A tecnologia é composta por quatro artigos, sendo que
um artigo apresenta o desenho geral da tecnologia (Campos & Davel, no prelo); um trabalho que trata dos
conhecimentos do empreendedorismo musical (CAMPOS, no prelo); um artigo trata da pedagogia artística para o
ensino do empreendedorismo (CAMPOS, no prelo) e um artigo que trata da gestão de eventos comunitários
(CAMPOS, no prelo). 15 Esta caso para ensino retrata jovens músicos e se baseia em um estudo de caso realizado com a comunidade de
Nordeste de Amaralina em Salvador (Bahia) a partir de entrevistas semiestruturadas, observação direta e
documentos públicos e privados.
43
surprises and leaning what means to be a cultural entrepreneur. The study might be useful for
cultural managers, artistic entrepreneurs, educators but as well for community leaders whom
seek promote local development based on art.
Key-words: cultural entrepreneurship, entrepreneurship education, artistic pedagogy, shared
management, case for teaching.
1. Caso Para Ensino
1.1 Nordeste de Amaralina, o território que pulsa música
O território do Nordeste de Amaralina, considerado um território periférico da cidade de
Salvador (Bahia), é formado por outros cinco bairros: Vale das Pedrinhas, Santa Cruz, Chapada
do Rio Vermelho, Nordeste de Amaralina e Nova República. O local é conhecido pela grande
atividade comercial, cultural, especialmente na área musical, porém, infelizmente, há muitos
casos de violência e pobreza nos bairros pertencentes ao território do Nordeste.
Denny e Marquinhos, dois músicos consagrados em suas carreiras, que têm um projeto
social com jovens do Nordeste de Amaralina chamado “DM de Boa”, pensam em ampliar o
projeto deles, em conjunto com os jovens que já participam do referido projeto. O “DM de Boa”
propõe trabalhar os aspectos sociais, ambientais e artísticos com jovens do território do
Nordeste, buscando a inclusão e profissionalização de jovens na música, reciclando materiais
para fazer os instrumentos de percussão e ensinando música. Para ampliar o projeto e auxiliar
esses jovens já músicos para o empreendedorismo cultural, Marquinhos e Denny querem formar
parcerias com artistas da comunidade, mas eles ainda não sabem com quem realizar uma
parceria.
Próximo dali, Felipe, Dandara e Carlos, jovens moradores do bairro, conversam sobre o
começo de uma banda. Cada músico tem 18 anos, acabaram de concluir a escola e sempre
tiveram o sonho de começar uma banda. Eles nasceram e cresceram participando de festas,
saraus, eventos com músicos, artesãos e artistas em geral. Carlos toca percussão, Felipe canta
e Dandara toca cavaquinho.
Logo após criarem a banda, o trio de músicos decidiu juntar as poucas economias que
cada um tinha e comprar um equipamento de som, parcelado em três vezes, para os futuros
shows, pois ganharam instrumentos das mães. Após um mês de ensaios, os jovens conseguiram
tocar em um barzinho na esquina da casa de Carlos. Combinaram com o dono que o cachê seria
definido pela contribuição espontânea de cada pessoa que fosse ao bar. Eles tocaram vinte
44
músicas de pop internacional e três de samba, gênero musical que gostam e que é muito
apreciado no bairro. Ao final da noite, eles receberam, no total, metade do que eles investiram
em um equipamento de som, ficando frustrados e preocupados em como pagar a aquisição.
Felipe: Caramba, a gente tocou várias músicas que tocam na rádio, que tem clipes
estourados na internet, mas o pessoal nem aplaudiu tanto.
Carlos: É verdade, cara. Parecia que eles gostaram mais de samba mesmo e eu achava
que o povo só gostava de gringo...
Felipe: Pois é, pensando no futuro da nossa carreira, precisamos continuar cantando
músicas pops, em inglês.
Após receberem metade do que haviam investido no equipamento, a banda pensou: como
poderiam pagar o equipamento? Como ganharem dinheiro para ajudarem em suas casas? Qual
seria o repertório da banda? Para pagarem o equipamento, Felipe, Dandara e Carlos resolveram
que, além de tocarem na banda, iriam trabalhar como auxiliares administrativos de segunda a
sábado, no mercadinho de um tio de Dandara. Na primeira semana de trabalho, eles perceberam
que 44 horas de trabalho semanal ocupava muito tempo dos três, além de deixá-los cansados e
frustrados pelo trabalho que não lhes dava prazer.
Certo dia, Felipe, Dandara e Carlos, após saírem do trabalho às 18:00, com o salário do
mês, foram abordados por um jovem que apontou a arma para os três e ordenou: “Passem as
carteiras, brothers”!
Felipe: Não temos dinheiro! Somos trabalhadores! Olha para nossa cara, olha pra nossa
cor, é igual a sua, deixa a gente ir, por favor.
Indivíduo: Eu sei que vocês receberam o salário do mês, passem agora ou eu mato vocês!
Os jovens músicos passaram as carteiras e o indivíduo saiu correndo. Carlos começou a
chorar.
Carlos: O dinheiro para quitar o equipamento de som, se foi; o dinheiro para a marca da
banda e para divulgar a banda, se foi! Muita gente da nossa idade está nessa do crime. Esse cara
tocava violão em uma banda, aqui mesmo do bairro, mas o cantor virou traficante. Agora, ele
e o ex-guitarrista roubam. Tá complicado.
Dandara concordou com a cabeça.
Dandara: A comunidade precisa de alguma ajuda. Poderia ser nós roubando outros jovens,
se não tivessemos uma cabeça mais legal.
Felipe: Tá, Dandara, mas cada um com seus problemas. Vamos focar na nossa carreira,
certo?
45
Todos fizeram silêncio e foram para suas casas de cabeças baixas. Pensaram em ir à
delegacia de polícia, mas lembraram que a última vez que foram como vítimas, foram tratados
como bandidos. Não sabiam o que fazer, por onde ir, muito menos como viver de música.
1.2 Empreendedores, nós?
Na noite seguinte, ainda muito tristes, os três músicos se reuniram em um barzinho do
bairro. Eles observavam e comentavam sobre os moradores que passavam. Viam muitos artistas
e gente que gostava de dançar samba nos shows, muitos comerciantes indo para suas casas com
o que sobrou do dia, duas artesãs que tinham uma banquinha com suas produções, o movimento
do bairro era grande.
Nesse momento, Denny e Marquinhos passavam, quando viram o trio de jovens.
Denny: Vocês são daquela banda de samba, não são?................................................
Carlos: Somos sim.
Marquinhos: Qual o nome de vocês?
Dandara: Eu sou Dandara, ele é Carlos e ele é Felipe.
Marquinhos: Então, pessoal, eu sou Marquinhos e ele é Denny. Estávamos querendo fazer
um projeto junto, com jovens que já tem uma banda.
Felipe: Cara, desculpa, a gente foi assaltado ontem. Não queremos fazer projeto juntos
com ninguém. Isso só vai dar trabalho desnecessário.
Carlos: É verdade. Podemos marcar esse papo para outro dia? Anote meu número aí.
Denny e Marquinhos anotaram o número de Carlos, mas ficaram desanimados com a
possibilidade de terem eles como parceiros, visto o tom em que eles foram recebidos. Estava
difícil conseguir músicos para trabalhar com eles. No dia seguinte, Marquinhos ligou para
Carlos, que marcou uma reunião com ele, Felipe e Dandara.
Denny: Então, que bom que vocês aceitaram nosso convite! A gente está pensando em
fazer um edital juntos, para captar uma grana e ajudar ainda mais jovens, especialmente a galera
que já mexe com artes, a tocar sua carreira, ganhar seu dinheiro, ampliar as possibilidades.
Carlos: Cara, é uma boa ideia! Aquele assalto que sofremos foi horrível, ainda mais
porque era um cara jovem e músico, podia ser a gente ali.
Denny: Pois é, rapaz. Nós estamos perdendo outros artistas para a criminalidade. Por isso
que queremos fazer um trabalho com artistas daqui, sabe? A gente pode empreender!
Felipe: Empreender? A gente quer fazer música e ganhar dinheiro!
46
Carlos: Oxente16, Felipe. Empreender também é ganhar dinheiro! Denny e Marquinhos,
muito obrigado pelo convite, o trabalho de vocês é ótimo, mas estamos focados em nossa
carreira, como Felipe disse, beleza? Inclusive, pessoal, não podemos desanimar com o assalto!
Vai rolar amanhã um show massa de samba, vamos curtir depois do trabalho!
Dandara: Poxa, Denny e Marquinhos, eu curti a proposta de vocês. Podemos pensar em
uma parceria. Vamos curtir o show que Felipe falou, Denny e Marquinhos?
Denny: Pode ser, vamos nessa!
O show acontecia no Nordeste de Amaralina e, em certo momento, Denny chamou
Marquinhos, Felipe, Dandara e Carlos para uma mesa, onde estava o famoso empreendedor da
música e professor de empreendedorismo, Tubarão! Ele já morou um bom tempo em países
latinos aprendendo e trabalhando com carreiras de artistas da música. Papo vai, papo vem, entre
um samba e outro, eles trocaram muitas informações sobre dicas de como ganhar dinheiro
através da internet, marketing, formalização de pessoa jurídica, orientações sobre a carreira e a
importância da consideração da identidade da comunidade para o processo de empreender em
uma banda, enfim, vários conhecimentos empreendedores. Felipe ouvia algumas coisas do
papo, mas estava muito descrente e sonolento. Tubarão não parava de falar e falava de forma
“difícil”. Em tom baixo, Felipe falava algo para Carlos.
Felipe: Como assim precisamos levar em conta a identidade da comunidade para que
nossa banda tenha sucesso? O Nordeste está cada vez mais violento. Esse Tubarão, sei não, viu.
Tubarão, que falava, ouviu o comentário de Felipe.
Tubarão: Você é Felipe, certo? Então, Felipe, deixa eu te falar. Não é fundamental que
você leve em conta a identidade da comunidade para ter sucesso, mas eu penso que você mora
em um bairro, não é? Algum daqui do Nordeste?
Felipe: Sim, Tubarão. Moro no Vale das Pedrinhas.
Tubarão: Que ótimo, Felipe! Eu sou nascido e criado em outro bairro aqui de Salvador!
Sei que o Nordeste é um local que possui muitos artistas e projetos empreendedores
interessantes. Vejo pelos jornais que a violência é uma grande complicação para o Nordeste e
muitos territórios periféricos. Cara, a identidade empreendedora está muito ligada a nós
,brasileiros. A identidade da comunidade é muito importante, precisamos considerar. No
Nordeste de Amaralina, existem duas artesãs que fazem bonequinhas negras, com instrumentos
percussivos, vocês conhecem? A negritude e a percussão fazem parte daqui, não é? Esse tipo
de ação pode fazer muito bem ao bairro. Esse tipo de identidade, então, não é uma prisão. Pelo
16 Gíria baiana, similar a “ô, gente”.
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contrário, oferece diversas pistas e joias para que vocês assimilem nos seus trabalhos artísticos.
Ao considerarem características, práticas, competências entre outros elementos que compõem
a identidade de uma comunidade, vocês estarão enriquecendo o trabalho de vocês. Ainda por
cima, divulgando a comunidade para que a economia local seja desenvolvida!
Nesse momento, Felipe passou a assistir apenas o show, meio sonolento. Era muita
informação, ele não estava acreditando muito nesse papo de “identidade da comunidade”.
Bebeu um pouco demais e estava cansado do trabalho. Acabou cochilando.
Denny: Fantástico, Tubarão! Quer dizer que se a gente fala do nosso bairro nas nossas
músicas ou pensa nele para compor nossa melodia, é possível que desperte um interesse maior
das pessoas pela comunidade?
Tubarão: Claro, Denny! Se pessoas de fora do bairro vão até o bairro, isso quer dizer que
a economia criativa, ou seja, toda a produção envolvendo arte e criatividade, assim como a
economia geral, como a de comida, de bebida, pousadas entre outras vão ser aquecidas! Por
exemplo, nas minhas andanças pelos países aqui da América do Sul, percebi que o que era rico
na minha comunidade, era muito valorizado pelo pessoal de lá, porque era diferente para eles.
Agora eu sempre fiquei ligado nas culturas de outros países, nas identidades das comunidades.
Ia aprendendo para tentar melhorar ainda mais os meus trabalhos.
Carlos: Isso pode gerar um crescimento artístico maior, novos projetos e mais trabalho
para o bairro.
Felipe: Muito legal essa música, Tubarão. Essas suas experiências me deram ideias para
ajudar na nossa carreira.
Tubarão: Sim, Felipe! Mas, você tem que pensar também na identidade cultural da
comunidade. Olha só quem tá chegando, Mr. Armeng, um artista que valorizo muito. Armeng,
fala um pouco da sua história pro pessoal daqui. Eles estão com vários projetos.
Mr. Armeng: Oi, pessoal, tudo bem? Sou Mr. Armeng, canto, produzo música e cultura
há alguns anos. No começo, foi muito difícil. Via oportunidades de conseguir financiamento
para fazer show e CD, mas não sabia nem por onde começar a escrever um projeto. Denny e
Marquinhos podem falar melhor sobre essas experiências!
Denny: Cara, todos temos algo para ensinar, não é? Sem saber como escrever um projeto,
o que você fez?
Mr. Armeng: Rapaz, eu vi um concurso de música na TV. Reuni uma galera que fazia um
som comigo, nos inscrevemos e ganhamos! Foi um concurso massa, porque aprendi muito sobre
música e produção musical. Depois do concurso, passei a produzir minha música e de outros
artistas do bairro. Corri atrás também de cursos na internet sobre produção cultural, para
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começar a fazer eventos lá na comunidade. Fui metendo as caras, até conseguir ganhar um edital
do Governo do Estado.
Felipe: Sensacional, Armeng! Quanto você cobra para produzir uma música para minha
banda?
Mr. Armeng: Hoje não estou fazendo nenhuma produção musical. Estou focado na
produção do meu novo CD e uma oficina de RAP e grafite que estou fazendo no bairro e nas
escolas públicas de Salvador. Tem que ficar ligado em ajudar sua comunidade. Agora no início
não é fácil. É muita ralação mesmo. Vida de empreendedor, até se ajeitar, quando é ajeitada,
tem muitas dificuldades, como falta de dinheiro, de conhecimento, de parcerias. Ainda mais
para o povo das quebradas, das periferias. Muita gente que deveria chegar, não está chegando.
O truque é correr atrás e ser o que todo empreendedor deve ser: resiliente! Ou seja, se tomar
uma porrada, cair, levantar e correr atrás!
Carlos: Interessante, Armeng. A gente tem dificuldades para focar na nossa carreira,
porque a gente trabalha de segunda a sábado. Ficamos muito cansados, sabe? Tem as dívidas,
a falta da grana...
Mr. Armeng: A diferença consiste em não ser derrubado pelas dificuldades. É preciso
ajudar quem está começando quando vocês estiverem melhores, como Denny e Marquinhos
fazem com o DM de Boa. Com o conhecimento que cada um de vocês já tem, vocês já podem
ajudar outros jovens que não tem nenhuma noção do que fazer para a carreira musical dar certo.
Felipe: Oxente, Armeng! A gente mal começou nossa carreira e já temos que pensar no
outro?
Dandara: É verdade, Armeng. Dessa vez, vou ter que concordar com Felipe.
Denny: Pessoal, vocês têm que entender que ajudando a comunidade vocês também se
ajudam. Todo mundo ganha!
Marquinhos: Claro, gente. Inclusive, eu e Denny estamos pensando em fazer um projeto
para um edital do governo, para ensinar empreendedorismo para os jovens. Eu vejo que a
música chama os jovens para o nosso projeto, mas como ensinar essas dicas de financiamento,
marketing, como elaborar projetos? Uma fala assim como a sua é legal, mas, o dia todo, só de
papo, eles não aguentam.
Tubarão: Uma boa é vocês unirem o que eles mais gostam, música e arte em geral, com
empreendedorismo. Que tal?
Mr. Armeng: Boto fé no que Tubarão disse agora, o caminho é esse: ensinar na linguagem
que nós artistas curtimos. A propósito, gente, foi um prazer estar aqui contribuindo para a
carreira de vocês nesse papo. Lembrem sempre dos seus! Lembrem que a cultura do bairro de
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vocês, da cidade de vocês é muito importante para vocês terem sucesso na arte. Deixa eu ir que
vou fazer um show do outro lado do bairro. Abraços!
Tubarão: Se ligaram, pessoal? A cultura, antes de tudo, é fundamental para que o
empreendedorismo cultural tenha sentido. A cultura, além de estabelecer o empreendedorismo
cultural, promove lazer, conhecimento e pode tirar jovens da violência, do desemprego, do ócio
e da ignorância sobre diversos aspectos da vida e da sociedade. Hoje o bom empreendedor não
é aquele que busca vencer sozinho. A vitória é de toda a comunidade. Contem comigo para o
que precisarem. Olhem só, a banda vai começar a tocar.
O trio de músicos estava animado. No dia seguinte, os três se reuniram na casa de Carlos
e começaram a pensar nos próximos passos da banda.
Felipe: Pessoal, vamos logo pensar no site da banda. Vamos lançar, naquele site, a
proposta de que Tubarão falou?
Dandara: Acho legal, mas, vamos considerar o Nordeste de Amaralina para a nossa
banda? Eu acho que a gente podia colar com Denny e Marquinhos, poderíamos pensar um
projeto de educação para o empreendedorismo, que tal?
Felipe: Isso a gente vê depois, o mais importante agora é a nossa banda. Temos que correr
atrás do nosso, Dandara.
Carlos: Dandara, acho que Felipe está certo. Vemos, primeiro, o nosso caminho, depois,
depois, dos outros.
Dandara: Felipe, você não se ligou ainda. Se começarmos apenas com a nossa banda,
pensando nas nossas carreiras apenas, podemos até ter sucesso, mas, e a comunidade? Tubarão
falou ontem no show sobre essa diferença entre um empreendedorismo, focado nos interesses
individuais e o empreendedorismo cultural. Se liga você também, Carlos. Só depois que
alcançarmos o sucesso vamos pensar em algo para o bairro? Só depois vamos considerar o
bairro para que possamos acrescentar a identidade do bairro nas nossas músicas? Claro que
cada um de nós fala algo do bairro, mas essa característica está muito fraca na nossa música,
precisamos fortalecer a nossa arte e também o nosso bairro!
Felipe: Ótimo! Uma música que fala do nosso bairro. Daí chamaríamos mais atenção da
mídia e poderíamos “bombar” na internet, na televisão!
Dandara: Sim, Felipe. Mas, também imagine se todos os músicos daqui soubessem das
dicas que aprendemos, ontem, sobre empreendedorismo cultural? Pense na comunidade, amigo.
Felipe: A ideia é boa, mas não temos grana! Acordem!
Carlos: Cara, o que fazemos? Não tem como fazer um projeto sem grana. Como fica o
material para as aulas? E o pagamento dos educadores?
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Dandara: Agora vocês me pegaram, vamos precisar de ajuda.
1.3 Empreender é Desbravar
O trio de músicos marcou um encontro com Tubarão, depois de três tentativas frustradas,
por conta dos compromissos profissionais dele. Conseguiram chamar também Denny e
Marquinhos, com dificuldades, pois os dois estavam em uma final de turnê. No dia do encontro,
Felipe e Carlos disseram que tiveram uma emergência e não poderiam comparecer. Tubarão
também desmarcou em cima da hora. Denny, Marquinhos e Dandara se reuniram e papo vai,
papo vem, levantaram possibilidades de recursos privados, públicos e coletivos. Ficaram de
pensar que caminho seguir com Felipe, no próximo encontro.
No próximo encontro, após muito diálogo, a ideia do projeto para um edital público foi a
mais votada. Dessa vez, Felipe, Carlos e Tubarão apareceram.
Felipe: Gente, eu acho a ideia de Denny e Marquinhos muito legal. Mas eu consegui um
contato com uma grande marca de refrigerantes. Eles querem patrocinar um curso de como
fazer refrigerante e uma apresentação final com música pop! Querem três músicas, duas em
inglês, com muita música eletrônica.
Carlos: Poxa, Felipe, que legal que uma empresa grande quer nos ajudar. Adorei a ideia.
Tubarão: É, parece razoável.
Dandara: As músicas têm que ser em inglês? A gente não decidiu que íamos cantar em
português, Carlos e Felipe? Lembra do fiasco que foi aquela apresentação no barzinho, quando
a gente só cantou em inglês.
Denny: Só cantamos em português. E essa história de música eletrônica? Acho legal, mas
não deviamos focar na percussão e no samba, já que eles são os pontos fortes do Nordeste? O
projeto não é incluir a comunidade?
Felipe: Pessoal, essa é uma oportunidade única. Primeiro a gente faz isso, que vocês não
gostam muito depois pensamos na comunidade, identidade, ensino do empreendedorismo.
Marquinhos: Felipe, você é muito ganancioso. O “DM de boa” não vai se meter em um
esquema que prejudique a comunidade não. Quer ganhar seu dinheiro dessa forma, vá ciscar
por outras bandas.
Felipe: Tá. Carlos?
Carlos: Marquinhos, eu respeito muito você. Mas isso não é ganância. É oportunidade!
Estou com Felipe.
Tubarão: Felipe, essa proposta da marca em cima do Nordeste é sensacional. Essa
empresa de refrigerantes sabe como o território é incrível pelas suas artes, pela sua identidade
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forte e vão ajudar muito! Pode ajudar principalmente nos meus... quer dizer, nos nossos
projetos.
Felipe: Gente, essa é uma oportunidade única, se vocês não querem, eu vou nessa.
Dandara, vai comigo?
Dandara: Amigo, não te apoio nessa. Tubarão, como assim é uma ótima oportunidade?
Você não falou sobre valorização da comunidade? O que Marquinhos falou tem todo o sentido.
Esse projeto é oportunista e desonesto com a comunidade. Não estou reconhecendo vocês,
Felipe e Carlos. Cadê os caras que queriam cantar para a comunidade?
Felipe: Eu evoluí, Dandara. Boa sorte para vocês com esse projetinho de educação.
Carlos: Sucesso, gente. Essa oportunidade não posso deixar passar.
Tubarão: Estamos valorizando a identidade cultural local. O projeto acontecer no
Nordeste; é tudo de bom. Vai ser ótimo para minha carreira! Abraços e boa sorte para vocês.
Felipe, Carlos e Tubarão saíram do encontro. Denny, Marquinhos e Dandara ainda
pensavam sobre o projeto de educação. Tentar financiamento público para um projeto educativo
seria de fato uma boa ideia?
Marquinhos: Acho que esse caso de Felipe serve para nos motivarmos para ganharmos
um edital e fazer esse projeto acontecer!
Dandara: Estou triste com o que aconteceu. Felipe e Carlos são grandes amigos. Não sei
como vai ficar a banda.
Denny: Eu entendo, você. Tubarão me decepcionou. Mas, vamos pensar em nosso
trabalho, como ganhar dinheiro, como ajudar a comunidade.
Marquinhos: Poxa, Denny, acho que é forçar a barra fazer isso agora, Dandara está mal.
Após dois dias de recuperação de Dandara, eles combinaram uma reunião para ler um
edital para financiar o projeto deles.
Eles estudaram o edital em vários encontros. Decidiram que iriam focar em dois aspectos
para elaborarem o projeto: a importância da identidade cultural do Nordeste de Amaralina e
como essa identidade pode ser potencializada no bairro através do empreendedorismo cultural.
Denny: Gente, precisamos colocar no projeto as maravilhas do ensino do
empreendedorismo. É necessário qualificar os jovens artistas pelas artes.
Marquinhos: Concordo, Denny. Mas também temos que colocar os desafios. Se não, fica
muito conto de fadas e a avaliação do projeto não vai crer no que estamos falando.
Dandara: Isso mesmo, Marquinhos e Denny. Temos que incluir o porquê de a gente
pensar em qualificar para o empreendedorismo e o porquê do uso das artes.
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Marquinhos: Muito bom, Dandara. Mas quem vai ensinar o empreendedorismo através
das artes se o projeto passar?
Denny: Oxente, Marquinhos. Você pode ensinar pra gente novos conhecimentos
empreendedores. Juntamos o que a gente já sabe através das vivências das nossas carreiras.
Marquinhos: Claro! Ótima ideia!
Dandara: O que vocês acham da gente pensar em fazer por último uma grande
apresentação para a comunidade, a partir das nossas músicas com os conhecimentos que a gente
aprendeu?
Denny: Que legal, Dandara! Ao mesmo tempo que teria a diversão, os artistas poderiam
mostrar os seus trabalhos e quem participar do curso prepararia algumas artes com conteúdos
empreendedores. Assim, estimularia os moradores do bairro a ganharem dinheiro com seus
trabalhos, suas artes!
Marquinhos: Pessoal, olhem só, temos um esboço do projeto pronto já. Tenho um desafio
para vocês. Por que, além de submeter o projeto para um edital, não começamos a colocar ele
em prática? Pode ser com poucos jovens. O que acham?
Todos concordaram. O projeto foi submetido e o resultado ia sair dentro de três meses.
Durante um mês, Dandara, Marquinhos e Denny trocaram vários conhecimentos
empreendedores entre si e estudaram novos conhecimentos. Já preparados para ensinarem os
conteúdos, Denny, Marquinhos e Dandara convidaram 30 jovens artistas para o curso,
conversaram com eles sobre as necessidades que eles tinham nas carreiras. A partir desses
relatos e dos conhecimentos empreendedores, fizeram duas músicas sobre conhecimentos
empreendedores. Enfim, tinha chegado o dia de começar a dar aulas.
Denny: Pessoal, bem-vindos! Eu sou Denny e hoje vamos aprender sobre conhecimentos
empreendedores!
José: Mais um cara que vai encher a gente de blábláblá! – Reclamou em voz alta, José,
um dos jovens participantes.
Marquinhos: Na verdade, José, o que menos vamos ter aqui é “blábláblá”. Vamos
aprender sobre empreendedorismo cultural através de músicas! Nós três fizemos duas músicas
sobre nosso primeiro conteúdo: a identidade do empreendedor da cultura!
José: Empreendedorismo? É sobre como abrir seu negócio? Oxe, eu ajudei a montar o
curso com o vereador Luiz sobre pães e como abrir uma padaria. Que história é essa de música?
Isso é o que, educação ou show? Se é show, cadê a cerveja?
Dandara: José, nós queremos ensinar e aprender com todos vocês sobre o
empreendedorismo cultural, é diferente. O foco nosso são as produções artísticas e culturais de
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cada um de vocês para que juntos todos possam ajudar o Nordeste como um todo, incluindo o
comércio local.
Denny: Cara, queremos aprender sobre empreendedorismo cultural e fazer arte.
Dandara: É, José. Com a música, compondo a letra, as melodias, a gente mesmo aprendeu
mais sobre o assunto. Ficamos com mais vontade de aperfeiçoar e ler mais.
José: Ah bem! Achava que vocês iam copiar meu curso com o vereador Luiz. Sobre as
vantagens do uso da música. Mas não me convenci ainda, toquem aí para eu ver.
Denny, Marquinhos e Dandara tocaram a seguinte música:
“Brasileiro, alegre guerreiro, conquista o pão de cada dia
O novo cancioneiro, fala do Nordeste de Amaralina
Nordeste que está nas mãos, nos pés e na cabeça
Dona Joana e Seu Zé empreendem com certeza
Vendem geladinho, picolé e sorvete
Tem Tania e Zé, do salão de beleza
E o grande Mr. Armeng, que manda o RAP com firmeza
Começou de baixo, ralou pra caramba
No final, aprendeu sobre empreender e fez um samba
Todo empreendedor, tem que meter as caras
Acreditar nos sonhos, se qualificar e resistir
Hey, galera, vamos viabilizar os sonhos e curtir!”
José: Rapaz, muito legal a música. Lembrou da minha mãe que utiliza materiais
reutilizáveis para fazer flores. Artesanato, o nome, não é?
Denny: Sim, José! Sua mãe vende as flores artesanais, inspiradas nas flores aqui do
Nordeste, não é? Ela é uma empreendedora cultural!
José: Massa! Mas e quando eu faço um show com minha banda? Estou empreendendo?
Eu sou um empreendedor
cultural?..................................................................................................?
Marquinhos: De certa forma, é, cara. O que a gente está aprendendo junto com vocês, são
mais conhecimentos sobre empreendedorismo cultural. Por exemplo, eu não sabia que o
empreendedor cultural deveria se importar com o que o bairro precisa e nem que era preciso
fazer algo coletivo. Aprendi há pouco tempo.
José: Me importar com o bairro? Por quê? Vou ganhar o quê com isso?
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Antônio: Oi, José. Me chamo Antônio. Sou do bairro vizinho. Cara, acho que se a gente
se importa com o bairro e se fazemos um trabalho coletivo, tanto nosso bairro quanta nossa arte
crescem, não é?
Denny: Exatamente, Antônio. O empreendedorismo cultural considerando a identidade
do nosso bairro valoriza essa transformação social dos bairros, incentiva o trabalho coletivo
para dar mais força aos projetos de cada um e projetos coletivos com base nos conhecimentos,
gostos, práticas dos moradores do próprio bairro.
Dandara: Pessoal, ainda sobre o tema, vamos apresentar outras músicas para vocês, pode
ser?
Após a segunda apresentação da música sobre conhecimentos empreendedores, Dandara,
Marquinhos e Denny fizeram uma dinâmica de leitura de um texto que tratava da identidade
empreendedora e dos tipos existentes de empreendedorismo. Depois, ouviram músicas que
falavam das duras realidades das cidades e bairros periféricos. Samba, RAP, reagaae, rock e
MPB foram alguns dos gêneros ouvidos. A dinâmica serviu para que cada um escolhesse a
música que mais se identificava, falasse o porquê se identificava com a música e assim o grupo
pôde se conhecer melhor logo no primeiro encontro. Cada participante se comprometeu já com
o “perdão antecipado”. Ou seja, se preparou para as divergências e conflitos que poderiam
acontecer bem como os perdões que deveriam exercitar, caso necessário. Essa prática se mostra
importante de ocorrer antes do projeto acontecer, pois prepara o grupo para as adversidades e
busca evitar que conflitos tomem grandes proporções ao nível de prejudicar a unidade do grupo
e o projeto.
Após ensinamentos e aprendizados sobre empreendedorismo cultural, através da música,
e com base em alguns trechos de livros e artigos sobre as temáticas, o segundo mês, dos seis
meses do projeto estava em curso. Denny, Marquinhos e Dandara já tinham ensinado temáticas
sobre carreiras, identidade, marketing e aspectos legais da música para jovens músicos. Ao
todo, eles convidaram trinta jovens músicos do Nordeste, mas apenas quinze jovens músicos
vieram na primeira aula e dez continuavam. Dezoito, ao todo, com os oito jovens do outro
bairro...................................................................................................................
Marquinhos: Estou preocupado, temos tão poucos participantes, gente.
Denny: Marquinhos, não se preocupe, todo processo de educação pode ter dificuldades,
é normal. Já vamos entrar no terceiro mês do projeto, faltam alguns conteúdos para serem
ensinados aos jovens músicos participantes. São apenas dezoito, mas são dezoito músicos
engajados, que participam das aulas, que aprenderam a importância da identidade cultural da
comunidade para fazer um projeto desse dar certo, não é mesmo?
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Dandara: Sim, é verdade. Acho que o que está dando certo nas aulas é que temos
trabalhado com uma linguagem que a galera da minha idade tem afinidade, curtem, não é?
Denny: Com certeza, Dandara! Imagina se a gente trabalha com uma linguagem artística
que vocês não têm domínio?
Marquinhos: Teríamos que envolver parceiros, não é? Tipo Maria, que da aula de cinema
para essa galera da sua idade, Dandara.
Dandara: Tá aí, uma boa ideia, Marquinhos. Por que não chamamos ela pra uma aula?
Com o conhecimento sobre algum assunto que interesse a ela, tipo, formas de divulgar o
trabalho artístico?
Denny: Legal, Dandara! Com certeza ela deve precisar saber mais desse conhecimento
para divulgar seu trabalho. Daí ela aprende e pode ir bolando um filme em relação ao tema para
nossa apresentação final, não é?
Maria foi convidada, ficou muito feliz com o convite e deu uma ideia de fazer um musical,
unindo, assim, cinema e música. Ela se interessou em especial pela temática no marketing para
o ramo cultural. Planejaram filmar um curta-metragem com expectativa de exibição para a
comunidade na apresentação final.
1.4 Os Sonhos se Encontram
Se passaram meses de ensinos e aprendizagens sobre diversos temas do
empreendedorismo cultural. No penúltimo mês, com vários aprendizados, os jovens músicos
participantes estavam animados. Pelas suas carreiras e pelas possibilidades para o Nordeste, o
curso estava indo muito bem. A apresentação final da turma, para a comunidade, ficou marcada
para o final do mês, no dia de divulgação do resultado do edital.
O telefone de Dandara toca.
Dandara: Alô, quem é?
Felipe: Oi, Dandara. É Felipe, tudo bem? Como está o cursinho de vocês?
Dandara: Está bem, bombando!
Felipe: Soube que tinham poucos participantes, mas não se preocupe, projeto educacional
é assim mesmo.
Dandara: E seu projeto, como vai?
Felipe: Incrível! São cem meninos envolvidos e cada um tem direito a uma bolsa de
R$100,00, já aprendemos a fazer refrigerante, é viciante de tão bom! No fim do mês, fazemos
nosso show pop, todos com a pegada internacional!
Dandara: Espera, fim do mês? Vai ser nossa apresentação geral!
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Felipe: Que bom! Duas opções de apresentações para a comunidade, não é mesmo?
Abração, fui!
Telefone desligado. Dandara contou para Denny e Marquinhos o que tinha acabado de
acontecer. Eles ficaram apreensivos da apresentação deles ficar esvaziada, mas resolveram que
não iriam desistir.
Dandara: Pessoal, hoje a gente começa a colocar a mão na massa mesmo para a nossa
apresentação final.
José: Estamos indo muito bem. Temos vinte músicas criadas no total. Eu trouxe várias
ideias sobre a apresentação. Acho que a decoração tem que ser feita com balões azuis. Dois de
vocês ficam com essa parte. Quem começa a tocar é o grupo.
Enquanto José ia definindo como seria a apresentação final da turma, o que cada um iria
ter que fazer e a ordem de apresentações, todos se entreolharam.
Dandara: Desculpe te interromper, José, mas são ideias, não são? Vamos ouvir as ideias
de todos.
Antonio: Concordo com Dandara. O aprendizado foi só seu, José?
Após um pedido de desculpas de José, o clima de tensão ainda estava presente no
encontro. Todos ficaram mais tranquilos quando os últimos detalhes das apresentações foram
organizados. Cada jovem ia se inserindo na temática que mais estava interessado para ajudar
na apresentação e para ensinar o empreendedorismo cultural. Na outra metade da aula, eles
compunham músicas com as temáticas empreendedoras. Todos estavam ansiosos, com receio
do tempo passar rápido. Os diálogos eram constantes com toda a equipe envolvida, durante
todas as semanas, através de um grupo no facebook e um grupo no Whatsapp. As situações
foram bem administradas por todos. As decisões eram coletivas. Cada um sentia que, conforme
iam compondo, mais liam sobre os assuntos do empreendedorismo cultural e mais aprendiam.
O dia da apresentação, enfim, se aproximava.
No decorrer das aulas, todos os envolvidos perceberam que os seus sonhos não eram
isolados. Se encontravam no sentido de viverem de música e ajudarem suas comunidades.
Músicas compostas coletivamente, brincadeiras de rimas e improvisações fizeram parte de todo
o processo de educação e de planejamento da apresentação final. Todos se animavam cada vez
mais com o processo de aprendizagem e de planejamento da apresentação.
Denny: Pessoal, amanhã será nossa apresentação final. Já temos tudo organizado para
apresentarmos, não é?
Dandara: Sim, tudo certo!
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José: Ótimo! Fico feliz que vocês tenham me escolhido para ser mestre de cerimônias.
Amanhã dará tudo certo. Nossa apresentação vai bombar e deixar o evento de Felipe, Carlos e
Tubarão no chinelo.
1.5 O Desbravamento não Terminou
Era o grande dia! Desde o começo da manhã, todos os participantes estavam presentes no
salão de eventos da associação de moradores. O som estava sendo arrumado, tudo estava pronto.
Na hora marcada, o público presente era de apenas quinze pessoas. Eram parentes de Denny ou
Marquinhos ou Dandara. A maioria da comunidade estava no evento de Felipe, Carlos e
Tubarão, da grande marca de refrigerantes. Tensão. Resolveram que a apresentação começaria
imediatamente.A primeira apresentação começou às 14:00 com a abertura de uma dupla de
rappers que fizeram parte do curso. Eles cantaram uma música autoral sobre a importância da
identidade do bairro e contra a violência policial. Cerca de dez pessoas chegaram após a
apresentação. Logo depois, os rappers cantaram uma música sobre dicas de recursos públicos
para artistas. Cinco pessoas chegavam.
Dandara: Está dando tudo certo, pessoal. O público está chegando!
Denny: Será que o evento de Felipe não está indo bem?
Marquinhos: Mas, ainda são poucas pessoas. Chegaram só quinze depois do início.
Dandara: Vi agora no whats app, em um grupo da comunidade que algumas pessoas estão
reclamando do evento porque tem muitas partes em inglês e músicas que eles não entendem
nada.
José: Será que esse pessoal vem para cá?
Dandara: Espero! Daqui a cinco minutos, é a hora de exibirmos o curta-metragem sobre
marketing cultural. Ele está no ponto?
José: Dandara, o filme não vai ficar pronto a tempo. A professora que dirigiu a gente disse
que atrasamos muito as filmagens com uma discussão sobre quem ia aparecer. Por isso, vai ser
possível exibir o filme no mês que vem.
Marquinhos: E agora? Por que não avisaram antes? Temos vinte minutos sem nenhuma
apresentação prevista. O que vamos fazer?
Silêncio e tensão. A exibição do curta-metragem era de vinte minutos. A diretora não
compareceu com raiva da situação. Nenhum dos participantes comentou o caso. Não sabiam
como lidar.
Denny: Vamos ter que fazer o que muitos empreendedores fazem: improvisar!
Dandara: Improvisar?
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Antonio: Já sei, que tal fazermos um show de rimas com empreendedores? Podemos
envolver o pessoal do curso, jovens que empreendem da plateia, empreendedores que estão
vendendo as comidas e bebidas.
José: Essa ideia é maluca. Não sei se vai rolar. Acho melhor a gente falar a verdade para
o público. Falhamos com o que estava previsto na programação e nesse tempo poderiam ir ao
banheiro.
Dandara: Gente, a ideia de Antonio é incrível.
Os participantes aderiram à ideia de Antonio e anunciaram que por problemas técnicos,
o curta não seria exibido, mas fariam um concurso de rimas empreendedoras. Na hora de
apresentar, procuraram José, mas Dandara falou que ele ia embora. E agora, quem substituirá o
mestre de cerimônia? Denny pegou o microfone e tomou a iniciativa de conduzir o concurso:
quem participava e quem assistia se divertia e aprendia com a apresentação.
Em seguida, duas bandas de samba e reggae, do bairro vizinho, falaram sobre a carreira
na música e as dificuldades de fiscalizarem os direitos autorais. Até então, ninguém mais tinha
chegado, mas ninguém tinha ido embora. O público era de jovens, idosos, crianças e diversas
pessoas da comunidade. Todos se divertiram com as músicas, as apresentações e o lazer. Três
vendedores de comidas e bebidas, venderam e saciaram a fome e sede do público. Depois que
tudo terminou, Marquinhos acessou a internet para saber se o projeto tinha sido aprovado.
Denny: E aí, nosso projeto foi aceito?
Dandaras: Fala logo, Marquinhos!
Marquinhos: Nosso projeto não passou. Alegaram que está muito verde. Que precisava
ser amadurecido.
Denny: Uma pena, mas com essa experiência, quem sabe não conseguimos na próxima?
Dandara: Verdade. Mas uma pena, a gente se esforçou tanto.
Marquinhos: E José, ele disse a alguém o que aconteceu com ele?
Dandara: Ele ficou chateado com a improvisação. Disse que as coisas têm que ser
planejadas e foi embora. Disse que trabalhar com muita gente é muito confuso.
Marquinhos: Pessoal, em qualquer atividade, é possível que algumas pessoas desistam,
se revoltem contra o processo. Enfim, muitas coisas podem acontecer. Tenho lido sobre o
assunto.
Dandara: Marquinhos, estou achando você muito conformista. José estava desde o início
do projeto. Você está achando tudo “muito lindo”, “normal” e não é assim. Não podemos aceitar
essas coisas assim.
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Marquinhos: Dandara, você tem razão. Mas, pense no que te falei sobre o processo de
educação. Falando em educação, me lembrei da falta de educação. Como foi o evento de Felipe,
Tubarão e Carlos?
Denny: Rapaz, deu muita gente! Ouvi que foram trezentas pessoas.
Dandara: Poxa, o nosso podia dar isso.
Marquinhos: Sim, mas estamos fazendo um projeto com uma proposta educacional, sem
grandes patrocínios. Tivemos cerca de cinquenta pessoas!
Dandara: É, por esse lado, você tem razão.
Dandara, Marquinhos e Denny, com o conhecimento que adquiriram durante todo o
processo de educação, resolveram se juntar ao projeto social “DM de Boa” e começaram a
estudar um outro edital para ampliarem o projeto com o ensino do empreendedorismo através
das artes em todos os bairros que compunham o Nordeste. Felipe e Carlos se mudaram do
Nordeste e estavam em negociação com uma gravadora para lançarem um CD de pop
internacional. Tubarão virou garoto propaganda da marca de refrigerantes. Cada artista seguia
seu caminho.
2. Notas de ensino
2.1 Sinopse
Denny e Marquinhos são dois líderes comunitários que querem fazer um projeto para
captação de recursos via edital para ajudar ainda mais o Nordeste de Amaralina. Felipe, Dandara
e Carlos são três jovens músicos que estão empolgados com uma banda recém-criada por eles.
Fizeram um primeiro show no barzinho do bairro, ganharam um cachê pequeno, não
conseguindo o retorno esperado. A partir do encontro dos líderes e dos jovens músicos com um
famoso empreendedor cultural da música e produtor musical, o processo de educação para o
empreendedorismo cultural é desencadeado provocando conflitos e transformações nas
carreiras dos envolvidos e no bairro.
2.2 Objetivos educacionais
Entender a importância e usos possíveis da cultura e da identidade cultural local para o
empreendedorismo cultural.
Conhecer os desafios da qualificação no empreendedorismo da cultura.
60
Entender as necessidades e potencialidades do uso da arte na qualificação para o
empreendedorismo.
2.3 Uso pedagógico sugerido
Propomos a utilização desse caso de ensino nas seguintes sequências de atividades, que
podem ter, no mínimo, três momentos distintos.
Primeiro Momento - Preparação do caso
O professor realiza leitura do caso com a turma, pedindo que cada grupo destaque os
pontos que mais gostou e qual a seção mais marcante. A leitura tem como objetivo a
introdução de conhecimentos empreendedores, como a identidade cultural local (a
valorização da cultura do Nordeste), parcerias e recursos, além da introdução do ensino
do empreendedorismo através das artes. A dinâmica pode então ser explicada para os
participantes como forma de introduzir esses conhecimentos empreendedores e o ensino
através das artes.
Após a leitura do caso, grupos de cinco pessoas são formados. O grupo discute sobre
qual seção gostou e gostaria de encenar, como se fosse uma peça de teatro.
Cada grupo realiza ensaios para fazer as breves apresentações teatrais para toda a turma.
– Cada grupo apresenta sua encenação para toda a turma no tempo total de 20 minutos.
Cada grupo relata o que vivenciou e o aprendeu com a leitura encenada do caso, sendo
estimulados a relatarem também se já vivenciaram algo similar.
Segundo Momento – Desafios, necessidades e potencialidades do uso da arte na qualificação
do empreendedorismo cultural
Esse momento pode ser trabalhado em várias aulas e o educador pode sempre pedir
que os participantes relacionem as respostas dos textos às suas vivências na área, se
for pertinente.
Cada grupo lê o texto Davel e Cora (2016) e elabora uma resposta para a questão 2.4.1
com base no caso de ensino
Cada grupo relata e discute sua resposta para a turma
Cada grupo lê o texto Davel et al. (2016), relembra o texto Davel e Cora (2016) e
elabora uma resposta para a questão 2.4.2 com base no caso de ensino
Cada grupo relata e discute sua resposta para a turma
61
Cada grupo lê o texto Davel et al. (2007) e elabora uma resposta para a questão 2.4.3
com base no caso de ensino
Cada grupo relata e discute sua resposta para a turma.
2.4 Questões para discussão
Alguns pontos podem ser integrados pelos líderes que utilizarem esse caso para
complementar as atividades sugeridas como forma de orientar a aplicação do caso de ensino
apresentado. Destacamos que todas as questões podem ser ilustradas através de uma linguagem
artística que seja afinada aos participantes e que se relacione com as temáticas abordadas no
caso de ensino.
2.4.1 Descrevam os principais empreendedores que aparecem no caso de Nordeste de
Amaralina e o que significa o empreendedorismo cultural para eles. Reflita sobre as
questões geradas pelas duas visões de empreendedorismo cultural que são expressas
pelos personagens do caso. Contraste essa descrição e essa reflexão com as noções
de empreendedorismo cultural apresentadas por Davel e Cora (2016).
RESPOSTA POSSÍVEL:
Marquinhos, Denny, Dandara e Tubarão são os principais empreendedores do caso. Além
deles, os demais personagens podem também serem considerados empreendedores, só que mais
tradicionais e menos sobre o que se pensa sobre o empreendedorismo, em especial nas áreas
culturais.
Para alargar os conhecimentos empreendedores relativos às características
empreendedoras e a identidade empreendedora (Davel & Cora, 2014), iremos traçar um breve
histórico do conceito de empreendedorismo.
Historicamente, o empreendedorismo passou por diversas mudanças em relação ao seu
conceito, afetando o que pensamos sobre a identidade empreendedora (Campos & Davel, 2015).
De uma perspectiva restritamente econômica e individual, o empreendedorismo hoje passa por
ampliações sob o ponto de vista coletivo, social e cultural, projetando novas finalidades, além
de manter o objetivo econômico. Tendo em vista esse caráter coletivo, social e identitário
cultural que compõe o empreendedorismo trabalhado no caso, definimos o empreendedor
cultural como um grupo de pessoas que mobilizam recursos (Limeira, 2008), possuem a
criatividade e a inovação como características (Scott, 2009; Baron & Shane, 2007) para a
mudança de uma realidade social (Malo & Rodrigues, 2006) visando a emancipação coletiva
(Rindova et al., 2009; Campos & Davel, 2015) e com fundamento na cultura.
62
No decorrer do caso, portanto, percebemos diferenças entre o empreendedorismo
tradicional e o empreendedorismo cultural, como na opção de personagens pelo projeto
educacional e com consideração da identidade do Nordeste de Amaralina e da opção de
personagens pelo projeto da festa de música eletrônica, da marca de refrigerantes. Percebemos
no caso também características do empreendedorismo cultural, como a consideração do
território, o empreendedorismo coletivo, a busca pelo impacto social e a importância desse
conhecimento para as carreiras da música. Nesse contexto, o caso destaca alguns personagens
que se aliam a uma visão tradicional do empreendedorismo (Tubarão, Felipe e Carlos) outros
(Dandara, Marquinhos e Denny) a uma visão contemporânea do empreendedorismo cultural,
tornando complexa a questão da identidade empreendedora (Davel & Cora, 2014).
Os personagens apresentam através de suas atitudes elementos que compõem a identidade
empreendedora, como a liderança em situações tensas, a resistência ao ensino através das artes,
a desistência de participantes no percurso do projeto, a resiliência. No decorrer do caso, como
pontuado, percebemos essas características que auxiliam na reflexão sobre o
empreendedorismo (Campos & Davel, 2015), exemplificações de características
empreendedoras (Baron, 2007) e na definição do que é a identidade empreendedora (Colbari,
2008). Destacamos que cada situação dessa percebida no caso serve como ilustração das ideias
aqui apresentadas e debatidas, estimulando a compreensão sobre o empreendedorismo pelos
participantes do processo educativo.
O empreendedorismo cultural, então, no caso, é trabalhado como o esforço de criar novos
ambientes econômicos, sociais, institucionais e culturais através da ação de um ou de diversos
indivíduos (Calás et al., 2009), sendo uma área disposta a promover rupturas e mudanças
positivas e de sucesso (Edmondson, 2008) como foi representado através das transformações
na vida de todos os personagens que empreendem. Denny, Marquinhos e Dandara, por exemplo,
somaram conhecimentos empreendedores, ganharam experiência na área de educação através
das artes, na gestão de um evento comunitário.
2.4.2 Em que momentos e de que forma os jovens músicos do Nordeste de Amaralina
percebem o valor da cultura e da identidade local para suas ações como
empreendedores culturais? Que fatores dificultam essa percepção? Como esse valor
pode ser justificado à luz de Davel et al. (2016) e Davel e Cora (2014)?
RESPOSTA POSSÍVEL:
A cultura acontece então como um processo que constitui as identidades, os estilos de
vida, as mudanças de práticas, fundamentando o empreendedorismo cultural, seus
63
conhecimentos e suas práticas. O educador então pode utilizar a literatura (Davel et al.,2016;
Davel & Cora, 2014) e os exemplos no caso, reforçando a ideia do empreendedorismo cultural
com um empreendedorismo diferenciado, distante do empreendedorismo individual e
exclusivamente econômico.
A identidade cultural local (Campos & Davel, 2015) é uma forma da identidade local
muito marcante, podendo ser verificada no caso de ensino em muitos trechos. O
empreendedorismo cultural abarca para que todos possam conhecer, minimamente, as
possibilidades na carreira empreendedora, os desafios e as vantagens (Avelar, 2013; Salazar,
2015), ampliando os horizontes profissionais e engajando artistas que forem ler o caso. Esse
conhecimento pode ser estimulado também com perguntas para os participantes sobre
experiências suas ou em seus territórios que utilizaram a identidade cultural local.
Como dificuldades para essa percepção sobre a relevância da identidade cultural local, se
tem a sedução pelo dinheiro, elemento que foi capaz de persuadir jovens empreendedores
(Felipe e Carlos) e um empreendedor experiente (Tubarão) a desconsiderarem a identidade
cultural local como fator importante do projeto. A priorização do empreendedor pela carreira
individual, em detrimento dos interesses coletivos, pode atrapalhar e muito essa percepção e
essa é uma noção importante de ser compartilhada no processo educativo.
No momento em que Dandara percebe que não lhe interessa apenas o crescimento
individual, mas comunitário e que é a identidade cultural local é preciosa para ela, devendo
ser respeitada, a personagem se recusa a seguir o caminho dos seus colegas de banda, pois
acha que a proposta da empresa de refrigerantes desrespeita a comunidade. Por outro lado, é
o trabalho da marca de refrigerantes pode ser bom para a comunidade, já que houve a
consideração da empresa em chamar para o trabalho empreendedores e artistas locais.
Percebe-se que o mapeamento, o reconhecimento e a identificação das potencialidades
identitárias do território (Davel et al., 2016) são ações imprescindíveis para a compreensão da
importância da cultura e da identidade cultural do território, além de permitir que eles
explorem as possibilidades de uso da cultura e da identidade na escala local, para
empreenderem, tendo em vista que o caso apresenta um conhecimento dos moradores com
relação ao território do Nordeste, frente às suas práticas e suas potencialidades.
2.4.3 Quais são os desafios que os jovens do Nordeste de Amaralina enfrentam para se
qualificarem melhor como empreendedores culturais? Como esses desafios
poderiam ser enfrentados e superados por meio de uma pedagogia artística? Se
64
você fosse o líder comunitário, que plano você proporia para vencer os desafios de
ensino e como você o fundamentaria com base em algum estudo?
RESPOSTA POSSÍVEL:
A necessidade de renovação nas formas de ensino se dá em um contexto educacional
onde ocorre esse déficit é a aprendizagem informal ou não-formal, que pode ser caracterizada
por estar fora das aprendizagens formais, como currículos ou cursos profissionais, mas que
pode ser estruturada para melhor orientar seu grupo (Coelho & Mourão, 2001). A atenção a
esse contexto se justifica pela notória quantidade de vezes que os espaços de educação formais
não educam os empreendedores ou potenciais empreendedores, desconsiderando a realidade
local como um dos fundamentos para o processo educacional e assim exercendo uma proposta
formal, quando ela ocorre, que não afeta positivamente o indivíduo (Duarte junior, 2008;
Larrosa, 2002).
No caso é possível perceber que Felipe se entedia em dado momento da conversa sobre
conhecimentos empreendedores com Tubarão. Nas aulas com Marquinhos, Denny e Dandara,
José tem muitas resistências no processo de aprendizado. Percebe-se que os conhecimentos
empreendedores são passados para alguns personagens através de conversas em ambientes
informais ou através das artes. Uma das maneiras de entender essa abordagem é reconhecer as
dificuldades de conhecer o empreendedorismo cultural e a consideração das vantagens e
desafios do ensino do empreendedorismo através das artes.
Para tentar motivar os participantes do curso para o assunto, os personagens utilizam a
música. A música, área artística muito adotada para o ensino de forma geral, vem sendo
utilizada como potencial recurso pedagógico em diversas áreas de ensino como os estudos
organizacionais, as artes, a educação, a psicologia entre outros (Davel et al., 2007), pois ela tem
o potencial de tornar um sentimento antes subjetivo, em coletivo, tendo como função, além do
aprendizado (Davel et al., 2007), a sociabilidade e a capacidade de mobilizar diversas pessoas,
desenvolvendo a concentração para a sua atividade.
No intuito de questionar as formas tradicionais de educação e considerar novas formas
educacionais para o empreendedorismo (Colbari, 2008), existem exemplos da literatura
(Davel et al., 2007; Duarte Junior, 2008; Gomes, Silva, 2012) e de experiências realizadas17
17 http://www.ileaiyeoficial.com/; http://www.pracatum.org.br/; http://vivafavela.com.br/362-acoes-culturais-
revelam-jovens-talentos-no-rio/;http://www.viamagia.org/instituto/instituto_formacao.php;
http://www.oifuturo.org.br/educacao/oi-kabum/;http://www.cartazdacidade.com.br/noticias/5484,miguel-
calmon-exposi-o-fotogr-fica-re-ne-trabalho-do-cine-super-a-o.html;http://cineedu.com.br/sobre-o-cine-educacao;
http://www.afroreggae.org/oficinas-culturais/.
65
que utilizam a arte e seus processos criativos para o ensino, visando as especificidades e
vantagens.
Identificar vantagens e desafios da utilização da arte para o ensino de conhecimentos da
administração, no caso, do empreendedorismo (Davel et al., 2007) seria o primeiro passo para
elaborar um plano para vencer os desafios do ensino. Em síntese, como vantagens, pode-se
destacar o processo de inspiração e de conhecimento que, tanto a arte quanto o
empreendedorismo podem ocasionar nos jovens artistas. Talvez o maior desafio para utilizar a
arte para o ensino na aprendizagem do empreendedorismo (Davel et al., 2007) ocorra na tensão
pré-estabelecida entre o dito formal (empreendedorismo) e informal (arte). Como, no caso, é
possível que alguns jovens, mesmo artistas, resistam às atividades que envolvam a arte para o
aprendizado do empreendedorismo, mas, com muito diálogo, paciência e perseverança, é
possível superar essa barreira e qualquer obstáculo que possa surgir.
Referências
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68
3.2 ARTE E GESTÃO PARTICIPATIVA EM PROL DO EMPREENDEDORISMO
CULTURAL: SARAU EMPREENDEDOR COMO TECNOLOGIA SOCIAL (ARTIGO 2)18
Palavras-chave: empreendedorismo cultural; gestão participativa de eventos comunitários;
pedagogia artística; identidade cultural local; tecnologia social.
Resumo: A capacitação de jovens artistas em empreendedores culturais, especialmente nos
contextos dos bairros periférico, é uma importante ação para o desenvolvimento tanto dos
jovens quanto de territórios potencialmente criativos. No entanto, alcançar esses jovens por
meio do ensino formal ou convencional apresenta muitas dificuldades, seja pela falta de ensino
do empreendedorismo cultural nas escolas ou pela forma do ensino que repele os jovens das
escolas. Carecemos de atualizações pedagógicas para alcançar as novas gerações em contextos
de aprendizagem mais fecundos ou adequados. Esse artigo propõe uma introdução geral a uma
tecnologia social, pois é voltado para a proposição de um saber que possa ser utilizado em
comunidades para fomentar e desenvolver as forças empreendedoras locais no âmbito da cultura
e das artes. Nesse trabalho, tratamos os empreendedores culturais como aqueles que são
constituídos a partir da identidade cultural local, da coletividade e do impacto social provocado
pelas suas atividades. Nesse sentido, o a identidade cultural local é o eixo estruturante do
empreendedorismo cultural, pois é através dessa identidade que cada comunidade construirá
formas de ensino e de eventos comunitários aqui propostos. A pedagogia artística para o ensino
do empreendedorismo cultural e a gestão participativa para a realização de eventos
comunitários que estimulam o ensino são apresentadas. Implicações e orientações para
aplicação do desenho da tecnologia social são formuladas e debatidas. Ao final, o trabalho
afirma seu ineditismo ao pesquisar e discutir uma pedagogia artística que culmina na realização
de um evento comunitário, como forma de capacitação e estímulo para o empreendedorismo
cultural.
Key-Words: cultural entrepreneurship; participatory management of community events;
artistic pedagogy ; local cultural identity; social technology
18 Artigo a ser submetido para a RECADM : Revista Eletrônica de Ciência Administrativa. Por isso, o artigo
segue as normas da APA exigida pela revista.
69
Abstract: Young artists’ training into cultural entrepreneurs, specially in a peripheral
neighborhoods contexts, is an important action for the development of both young people and
potentially creative territories. However, reaching those young people through formal or
conventional education presents many difficulties due to the lack of teaching of cultural
entrepreneurship in schools or the way of teaching that repels young people in schools. We lack
pedagogical updates to reach new generations in a more fertile or appropriate learning context.
This article presents a general introduction to a social technology as it intend to propose a
knowledge that can be used in communities to promote and develop local entrepreneurial forces
within the culture and the arts. In this paper, we treat the cultural entrepreneurs as those who
are made from the local cultural identity, the collectivity and social impact caused by their
activities. In this sense, the local cultural identity is the structural axis of cultural
entrepreneurship, it is through this identity that each community build means of education and
community events proposed here. The artistic pedagogy for cultural entrepreneurship education
and participatory management for holding community events that encourage teaching are
presented. Implications and implementation’s guidelines for the social technology design are
formulated and discussed. At the end, the paper states its originality in researching and
discussing an artistic pedagogy that culminates in the realization of a community event as a way
of training and incentive to cultural entrepreneurship.
Introdução
O objetivo e o diferencial da presente tecnologia é promover o ensino do
empreendedorismo pelas artes, com fundamento na identidade cultural local, através de um
processo de gestão participativa de um evento comunitário. O processo educacional ocorre em
dois momentos: durante a pré-produção de um evento comunitário e durante o dia em que o
evento comunitário acontece. A tecnologia social1920, nomeada de Sarau Empreendedor, se
19 A tecnologia social se compõe de uma dinâmica baseada no desenho geral da tecnologia, apresentada pelo
presente artigo, em conhecimentos do empreendedorismo musical (CAMPOS et al., no prelo): da pedagogia
através das artes para o ensino do empreendedorismo (CAMPOS, no prelo) e a gestão participativa de eventos
comunitários (CAMPOS, no prelo). Além desse conjunto de artigos, um caso de ensino reforça a tecnologia
(Campos & Davel, no prelo). 20 Para ampliar a discussão sobre tecnologia social, ler: DAGNINO, R. et al. Tecnologia social: uma estratégia
para o desenvolvimento. Rio de Janeiro, 2004. Disponível em:
http://www.oei.es/salactsi/Teconologiasocial.pdf; RODRIGUES, Ive. A emergência da tecnologia social:
revisitando o movimento da tecnologia apropriada como estratégia de desenvolvimento sustentável. Rio de
Janeiro. 2007.
70
desenha então através de três elementos: os conhecimentos sobre empreendedorismo cultural,
a pedagogia com base na arte para o ensino do empreendedorismo e os conhecimentos sobre
gestão de eventos comunitários, considerando a participação como elemento integrador da
gestão. Tratamos nessa ordem os elementos, contudo, é possível inverter os elementos na
aplicação da tecnologia social, a critério dos líderes que aplicarem ela. Especificamente, essa
pesquisa propõe um saber que possa ser utilizado em comunidades para fomentar e desenvolver
as forças empreendedoras locais no âmbito da cultura e das artes. Para propor uma tecnologia
social desse caráter, o presente trabalho objetiva fornecer aos líderes comunitários, gestores,
empreendedores, artistas ou quaisquer moradores de comunidades que tenham o perfil
empreendedor, um conjunto de princípios, práticas e saberes que visam o poder transformador
de um território, através de conhecimentos empreendedores, da pedagogia artística e da gestão
de eventos, com fundamento na identidade cultural local, dimensão esta que permeia os três
elementos. Por motivos didáticos, iremos nomear o público-alvo como “líderes”, mas outros
profissionais estão incluídos no direcionamento desse trabalho, como já mencionado.
Alertamos que os três elementos constituidores do Sarau Empreendedor devem ser
aprofundados em outros trabalhos, pois o presente trabalho tem o objetivo de desenhar e instruir
sobre a aplicação do Sarau de forma geral.
Nomeamos a tecnologia aqui proposta de “Sarau Empreendedor”, pela possibilidade de
abrangência artística e educacional que um evento com esse caráter comporta. O Sarau, do
latim serum, que significa "tarde", é historicamente utilizado por uma classe elitista, porém esse
formato tem sido apropriado por diversos grupos de artistas de bairros populares no Brasil21
sendo atualmente mais conhecido pelas apresentações ligadas à literatura e, nesse contexto dos
bairros populares, sendo reconhecido pelo forte compartilhamento de trabalhos ligados à
identidade cultural local (Peçanha, 2012; Tennina, 2013). Destacamos para os líderes que
aplicarem o Sarau Empreendedor, a informação de que nada impede que o Sarau seja adaptado
para uma feira, um grande espetáculo, uma festa com caráter artístico e educativo, entre outras
possibilidades que comportam a educação do empreendedorismo cultural na categoria do
evento. Ressaltamos a importância de que a comunidade escolha o formato e o nome do “Sarau
Empreendedor”, em uma decisão compartilhada, avaliando os prós e contras de cada nome e
21 http://saraudaonca.blogspot.com.br/; http://antigo.brasildefato.com.br/node/9808;
http://www.blogacesso.com.br/?p=5264; http://periferiaemmovimento.com.br/tag/saraus/;
https://catracalivre.com.br/sp/tag/sarau-da-cooperifa/
71
formato para o desenvolvimento educacional no empreendedorismo e o desenvolvimento
cultural, econômico e local.
A tecnologia social então falará, na primeiro seção, sobre a importância do
empreendedorismo cultural; na segunda seção será introduzido os desafios e as vantagens do
ensino-aprendizagem do empreendedorismo cultural através das artes; na terceira seção será
apresentado os elementos que compõem o Sarau Empreendedor; por fim, na quarta seção todos
os elementos e processos da tecnologia são ilustrados para a aplicação da tecnologia social.
Entendemos por tecnologia social, a tecnologia que é “caracterizada pelos produtos,
técnicas e/ou metodologias reaplicáveis, desenvolvidas na interação com a comunidade e que
represente efetivas soluções de transformação social” (Dagnino, 2012)22. Além de propor uma
tecnologia, exemplificamos os processos do Sarau através de uma ilustração de uma aplicação
do Sarau Empreendedor como forma de incentivar o sonho empreendedor coletivo, noção
desenvolvida na presente tecnologia que possui como bases a formulação busca da realização
desses sonhos (Dolabela, 2003). Vale pontuar que esses sonhos não são individuais, mas
coletivos, pois quando são realizados, transformam não só uma carreira, mas uma cadeia de
carreiras existentes em uma comunidade.
Podemos, portanto, considerar as seguintes questões com questões orientadoras para a
configuração do Sarau Empreendedor: como o ensino de empreendedorismo cultural pode
interessar, capacitar e estimular, de fato, os jovens? Como uma capacitação dessa vertente do
empreendedorismo cultural pode desenvolver territórios potencialmente criativos e multiplicar
empreendedores culturais? Esse trabalho então se justifica pela demanda de capacitação e
estímulo de empreendedores de cultura no contexto de bairros periféricos, considerando as
referências e práticas identitárias locais. Para o ensino do empreendedorismo cultural, uma área
fundamentalmente coletiva, criativa, inovadora e que lida com aspectos constituintes da
identidade cultural local dos sujeitos, uma capacitação artística e que entretém como o Sarau,
fornece leveza e dinâmica para a aprendizagem dos conhecimentos inerentes à prática
empreendedora no âmbito da cultura, quando pensamos que os jovens artistas são o nosso
público-alvo (Almeida & Pais, 2013).
22 Para ampliar a discussão sobre tecnologia social, ler também: DAGNINO, R. et al. Tecnologia social: uma
estratégia para o desenvolvimento. Rio de Janeiro, 2004. Disponível em:
http://www.oei.es/salactsi/Teconologiasocial.pdf; RODRIGUES, Ive. A emergência da tecnologia social:
revisitando o movimento da tecnologia apropriada como estratégia de desenvolvimento sustentável. Rio de
Janeiro. 2007.
72
A metodologia da pesquisa é qualitativa e se utiliza das técnicas de coleta de dados de
entrevistas semiestruturadas de empreendedores culturais e de participantes de uma experiência
de realização de um Sarau Empreendedor, bem como a análise de conteúdo (Colbari, 2014).
Entrevistas e observações no campo foram realizadas ao todo com onze empreendedores
musicais, vinte e três estudantes, quinze jovens da comunidade e quatro líderes sociais e
culturais da comunidade do Nordeste de Amaralina, em Salvador, Bahia. O “Nordeste” é um
território que abarca cinco bairros distintos (Nordeste de Amaralina, Santa Cruz, Vale das
Pedrinhas, Chapada do Rio vermelho e Nova República) mas territorialmente próximos, sendo
que cada bairro se considera parte do território do Nordeste. Apesar de ser um território com
fortes manifestações culturais como o samba junino e o carnaval próprio do Nordeste de
Amaralina, segundo o IBGE (2010), o território sofre com problemas relacionas ao
desemprego, baixa renda, escolas e postos de saúde desestruturados, esgotos a ceú aberto e forte
envolvimento com tráfico de drogas entre os jovens23.
A primeira versão da experiência Sarau Empreendedor ocorreu dentro desse contexto,
que apesar de duro, possui diversas manifestações e iniciativas culturais e sociais24. O processo
de ensino e de realização do Sarau ocorreu durante cinco meses no ano de 2016, com o objetivo
de ensinar conhecimentos relativos ao empreendedorismo cultural, através das artes e da gestão
participativa de eventos comunitários, ao produzir um evento de caráter comunitário voltado
para o estímulo e capacitação ao empreendedorismo cultural, bem como capacitar potenciais
ou já empreendedores culturais para essa área, sempre com fundamento na identidade cultural
local.
A primeira aplicação do Sarau promoveu capacitação para os jovens participantes através
dos conhecimentos empreendedores apresentados de formas artísticas, durante toda a
experiência de planejamento e execução do Sarau Empreendedor, até o dia do Sarau, onde
participantes do início do projeto, artistas convidados e o público em geral, todos moradores do
Nordeste de Amaralina, puderam ser estimulados para empreenderem suas artes, através de
peças, curta-metragem, blogs, palestras e oficinas relacionados aos conhecimentos do
empreendedorismo cultural.
1. Importância do Empreendedorismo Cultural
Destacamos que o empreendedorismo cultural é encarado nesse trabalho como resultado
da soma entre o empreendedorismo social, o empreendedorismo coletivo e a identidade cultural
23 http://amnaluta.blogspot.com.br/ 24 https://www.facebook.com/dm-de-boa-1042522005762646/; http://quabales.com/
73
local. Ter em mente as dimensões sociais, coletivas e identitárias é fundamental para os líderes
culturais aprenderem e ensinarem os conhecimentos relativos ao empreendedorismo cultural.
O empreendedorismo social é um elemento importante a ser considerado devido a sua
capacidade e objetivo de gerar transformações sociais. O empreendedor social pode ser definido
como o agente que possui como agenda as mudanças sociais, multiplicação das riquezas, dentro
do sistema econômico vigente, o capitalismo (Casaqui, 2015). A criatividade está aliada a ideia
de empreendedorismo social, pois se pressupõe que esse tipo de empreendedorismo deve
promover multiplicação de recursos, mas também proporcionar inovações sociais (Casaqui,
2016).
O empreendedorismo coletivo converge com as definições de empreendedorismo social,
pois os empreendedores coletivos são caracterizados como aqueles que conduzem um processo,
voltado geralmente para empreendimentos de caráter social, juntamente com um conjunto de
jovens que compartilham atribuições e tomadas de decisões (Rossi et al., 2006). Esse conceito
pode ser ampliado quando pensamos que o empreendedorismo coletivo define que os princípios
de cada empreendedor envolvido na proposta se encontram, sendo esses princípios o
fundamento para desenvolvimento de todo o processo, do planejamento às tomadas de decisões
importantes (Malo & Rodrigues, 2006).
O empreendedorismo, de forma geral, é vista nesse trabalho como um processo de relação
de criação e absorção do que há de valor na comunidade (Anderson, 2000). A ideia é que o esse
empreendedorismo tenha sua camada coletiva, contudo nada impede que um líder desponte
como empreendedor, em um trabalho coletivo com a comunidade. A liderança pode ser
exercida individualmente, respeitando o espaço em que ela ocorre e aos envolvidos no projeto.
O empreendedorismo tanto social, como coletivo, no contexto comunitário, fazem sentido
quando os líderes consideram a identidade cultural local, ou seja, quando esse
empreendedorismo visa absorver o conjunto de práticas, hábitos, trabalhos, artes e qualquer
outras produções que singularizem a comunidade, para assim poder auxiliar no
desenvolvimento local. A identidade cultural local é o resultado de interação dos moradores
com o bairro e com o mundo, ela é responsável por enaltecer as singularidades e potencializar
o bairro nas áreas culturais (Campos & Davel, 2015).
Tendo em vista esse três elementos que constroem a noção utilizada de
empreendedorismo cultural para a tecnologia social do Sarau Empreendedor, definimos o
empreendedor cultural como um grupo de pessoas que mobilizam recursos (Limeira, 2008),
possuem a criatividade e a inovação como características (Scott, 2009; Baron, 2007) para a
mudança de uma realidade social (Malo, Rodrigues, 2006), visando a emancipação coletiva
74
(Rindova et al., 2009; Campos & Davel, 2015). O empreendedorismo cultural ao ser pensado
no contexto de bairros periféricos do presente trabalho, então, pode ser definido como resultado
do empreendedorismo social, pelo seu caráter de transformação social através da cultura, do
empreendedorismo coletivo, pelas características de trabalho em redes, e com fundamento na
identidade cultural local, pelo grande potencial que possui, seja como produção de
empreendimentos culturais, assim como consumo desses empreendimentos.
A partir dessa construção, os líderes podem visualizar a importância de que o
empreendedorismo seja aprendido pelos jovens que trabalham com a arte e a cultura. Ao
aprenderem conhecimentos relativos ao empreendedorismo voltado para a área cultura, em
formatos afinados com linguagens artísticas, os jovens poderão aprimorar suas carreiras e o
bairro se desenvolver de forma mais veloz e sustentável, ao mesmo tempo que participam de
ações coletivas em prol de um território, revelando as dimensões individuais e sociais como
impactos previstos pelo empreendedorismo cultural. O referido campo, portanto, se mostra
fundamental para diminuir a violência entre os jovens, o desemprego e a pobreza, além de
fortalecer a economia criativa no contexto brasileiro e mundial25.
2. Desafios do Ensino-Aprendizagem do Empreendedorismo Cultural através das Artes
A presente tecnologia social possui a relevância de contribuir para suprir uma grande
carência no campo do ensino do empreendedorismo: parcela considerável dos líderes de
comunidades e jovens artistas possuem poucos conhecimentos sobre o empreendedorismo
cultural, bem como de recursos pedagógicos sobre o ensino do tema. Percebemos que os
espaços que promovem a educação formal, ou seja, alunos sentados, docentes em pé e uma
sala fechada, vem perdendo cada vez mais força, portanto um evento comunitário do tipo aqui
proposto, se apresenta como dinâmica e divertida, estimulando o aprendizado dos jovens
artistas. Os formatos da educação formal, dificilmente possuem o conhecimento do
empreendedorismo em seus currículos e, quando possuem, não educam os empreendedores
ou potenciais empreendedores de uma forma atrativa, inovadora e pensando nas afinidades
dos jovens, além de desconsiderarem a realidade local como um dos fundamentos para o
processo educacional e assim exercendo uma proposta formal, quando ela ocorre, que não
afeta positivamente o indivíduo, em especial o jovem (Duarte Junior, 2008; Larrosa, 2002).
25 A economia criativa é um importante fator, visto como o conjunto de atividades fundamentadas na
criatividade, que desenvolvem cidades, territórios e bairros criativos, nos aspectos culturais, econômicos e
sociais (De Bruin & Henry, 2011; Ferreira, 2014; Júlio, 2016; Reis, 2008).
75
Pensando nas especificidades do empreendedorismo e do público jovem, o contexto
educacional que propomos, portanto, é a aprendizagem informal ou não-formal, que pode ser
caracterizada por estar fora das aprendizagens formais, como currículos ou cursos
profissionais, mas que pode ser estruturada para melhor orientar seu grupo (Coelho & Mourão,
2001; Fontes & Pero, 2009; Gomes & Silva, 2012; Livingstone, 1999).
Considerar a configuração do empreendedorismo cultural é uma das principais
necessidades para a educação nessa área. Os processos educativos requerem a consideração da
a realidade local do indivíduo (Freire, 2011). Considerar e tratar sobre empreendimentos do
local, por exemplo, é um ótimo início para envolver os jovens artistas no ensino do
empreendedorismo cultural. O sonho empreendedor (Dolabela, 2003) é outro poderoso
instrumento para o ensino-aprendizagem do empreendedorismo cultural, pois ao estimular o
compartilhamento dos sonhos de cada jovem participante, é possível que os sonhos sejam
fundidos, estimulando a participação dos jovens no processo de aprendizagem, somando às
ideias para ao Sarau Empreendedor, estimulando as carreiras dos participantes para além do
Sarau e o desenvolvimento da comunidade. A educação então é vista como um processo
relacional, nunca apenas da parte do jovem músico disposto a aprender sobre o
empreendedorismo cultural ou dos líderes que podem ensinar os conhecimentos no processo de
realização do Sarau. Em cada relação, novos desafios irão aparecer, por isso não existe receita
pronta, mas sim um conjunto de orientações propostas nessa pesquisa.
Um dos desafios envolvendo o ensino-aprendizagem do empreendedorismo cultural
consiste, portanto, na grande quantidade de conhecimentos necessários para a capacitação nessa
área e na execução da pedagogia aqui proposta. Saber suavizar e tornar mais atraentes para os
jovens o conhecimento, através de exemplos práticos, autores, manuais e documentos sobre os
temas que dialoguem de forma mais direta com o jovem e principalmente através da aplicação
da pedagogia artística para o ensino do empreendedorismo é possível superar os desafios que
ensinar e aprender os conhecimentos do empreendedorismo cultural possam apresentar. Outra
saída pensada para os líderes comunitários é fornecer os assuntos de formas gerais, e se
aprofundarem mais dos assuntos que os jovens artistas se interessem para desenvolver suas
carreiras e suas comunidades. Para superar os desafios, é necessário que os líderes comunitários
tenham em mente que é possível incluir diversas temáticas do conhecimento empreendedor nas
ações artísticas e que todas essas ações valem tanto para a pré-produção do Sarau, como para o
dia no Sarau Empreendedor.
Como desafios para o ensino do empreendedorismo cultural através das artes, pode-se
pontuar, resumidamente, os seguintes aspectos: grandes quantidades de conhecimentos; atenção
76
à adequação da escolha dos conhecimentos para o ensino do empreendedorismo; atenção à
adequação da escolha das linguagens artísticas para o ensino do empreendedorismo; ter em
mente que o ensino-aprendizagem faz parte de todo o processo de pensar e executar o sarau;
estimular a constante criatividade dos jovens artistas; lidar com a dinâmica que o público jovem
demanda na educação.
Como necessidades para que o ensino do empreendedorismo cultural através das artes,
seja efetiva: considerar a realidade local; estimular o trabalho coletivo; considerar as linguagens
artísticas afinadas ao público-alvo; proporcionar aprendizagem durante todo o processo de
ensino; objetivar o sonho coletivo; ouvir e tomar decisões de forma compartilhada.
3. Sarau Empreendedor: Uma Tecnologia Social de Ensino-Aprendizagem
O Sarau Empreendedor foi trabalhado como um instrumento que pode capacitar para o
empreendedorismo cultural (Lounsbury & Glynn, 2001), estimular o potencial de emancipação
(Rindova et al., 2009), trabalhar com a sociabilidade (Dandridge, 1986; Hjorth, 2004, 2013),
promover o desenvolvimento identitário (Belo & Scodeler, 2013) e gerar resultados, agregar e
trabalhar de forma coletiva (Guarinello, 2001). Todas essas ações são benefícios do Sarau
Empreendedor para quem participa de todo o processo, e assim é capacitado para exercer o
empreendedorismo cultural, bem como para quem participa apenas no dia do Sarau,
participando de capacitações e estímulos para o empreendedorismo cultural. Esses benefícios
devem ser considerados para os jovens artistas assimilarem a dimensão que esse processo
educativo e artístico pode gerar para o bairro.
Dito isso, nessa seção, iremos apresentar um conjunto de processos, práticas e instruções
para os líderes aplicarem a tecnologia social em sua comunidade, apresentamos aqui os
desenhos da gestão de eventos, os conhecimentos empreendedores e a pedagogia artística,
respectivamente, dialogando com conhecimentos do empreendedorismo cultural.
3.1 Conhecimentos do Sarau Empreendedor
Os conhecimentos do Sarau Empreendedor devem ter como fundamento alguns
princípios, estratégias e questões para que esse conhecimento seja de fato aprendido e ensinado
no Sarau. Ressaltamos que para cada linguagem artística, o conhecimento pode ser alterado,
visto que cada linguagem tem características e necessidades próprias.
Para empreender na música, por exemplo, é necessário conhecer a maior força de um
artista da música na contemporaneidade. Essa força é o show, pois “com a crise da indústria
fonográfica, o show se afirma como principal fonte de renda do artista” (Salazar, 2015). Essa
77
consideração é muito importante para pensarmos que tipo de capacitação queremos para os
empreendedores potenciais. Se hoje o show é a fonte mais importante para uma carreira
artística no âmbito da música, é importante que as ferramentas empreendedoras para a
realização de um show sejam fornecidas aos jovens.
Um conhecimento essencial para todo empreendedor cultural é saber trabalhar com o
começo, meio e fim de um edital. Através do financiamento cultural, da elaboração de projetos,
da prestação de contas (e aí pode ser apresentado também em conjunto o conhecimento do fluxo
de caixa), espera-se que o jovem artista empreenda sua arte através também de apoio público,
privado e/ou coletivo. O financiamento cultural, para o empreendedor cultural, por exemplo,
vem com a missão de apresentar aos jovens artistas as diversas possibilidades que eles possuem
de bancar espetáculos, produções, enfim, suas carreiras. Empresas e órgãos públicos podem ser
convidados a apresentarem seus editais em formatos audiovisuais, de palestra ou em uma roda
de conversa. Uma exposição com nomes dos financiadores culturais, possibilidades de
financiamento e endereços eletrônicos pode ser realizada no espaço do sarau para a visita dos
jovens. Um parceiro pode apoiar com material escrito a ser distribuído ao final do sarau para os
jovens. Recursos coletivos apresentados através de plataformas virtuais também são
conhecimentos importantes, pois são democráticos e de fácil acesso para os jovens artistas.
Os líderes que aplicarem a tecnologia social, devem se ater ao conhecimento do
empreendedorismo cultural e suas dimensões (social, coletiva e identitária cultural local), para
que esse conhecimento alcance os jovens artistas. Além de um empreendimento cultural na
própria comunidade, para apresentações no Sarau Empreendedor, os líderes podem construir
uma rede empreendedora, convidando jovens artistas de outras comunidades, a fim de
incentivarem a multiplicação do Sarau Empreendedor, estimulando mais jovens e líderes para
a realização do Sarau em outros locais, fazendo com que o conhecimento do empreendedorismo
cultural chegue a mais lugares, desenvolvendo mais carreiras e comunidades. Essa rede
empreendedora cultural consiste em convidar artistas e empreendedores culturais de outros
bairros, cidades ou países para participarem do ensino sobre empreendedorismo cultural,
através das artes e durante a preparação do Sarau e/ou na sua realização. A ideia da rede
empreendedora é inspirada no intercâmbio cultural da Transforma26, empresa que trabalha com
projetos socioculturais com jovens em uma cidade periférica à Lisboa e do Neojiba27, que
promove intercâmbios de crianças e jovens de diferentes instituições com o núcleo. Essa rede
pode promover um Sarau Empreendedor mais rico, colaborando no sentido que, não pesa sob
26 http://www.transforma.org.pt/pt/ 27 http://neojiba.org/
78
um único individuo todos os pre-requisitos para ser empreendedor cultural, para ensinar o
empreendedorismo cultural e pela realização do Sarau, além de permitir uma possível
mobilidade dos artistas por diferentes territórios.
A capacitação voltada ao empreendedorismo deve se ater também ao conhecimento que
se refere ao marketing do trabalho artístico. Trata-se de apresentação das mídias sociais, como
funcionam e estratégias de divulgação da música, tendo como exemplos o facebook, twitter,
youtube, spotify e instagram, mas também da apresentação do profissional assessor de imprensa
como aliado de divulgação de shows e turnês do artista. Mostrar aos artistas que investir na
comunicação e divulgação das suas artes é possível com pouco dinheiro e de forma barata.
Os líderes que aplicarem a tecnologia social, devem se ater ao conhecimento do
empreendedorismo cultural e suas dimensões (social, coletiva e identitária), para que esse
conhecimento alcance os jovens artistas. Para criarmos a possibilidade de ensino do
empreendedorismo adequado para o público jovem, então, pensamos em uma proposta que se
proponha vencer os desafios do ensino do tema. Os desafios relacionados à dinâmica e de
formatos educacionais mais criativos, requerida pelo público jovem, podem ser encarados de
melhor forma com a pedagogia artística para o empreendedorismo aqui desenhada.
3.2 Pedagogia artística do Sarau Empreendedor
A arte, objeto de desejo de todos os jovens artistas e de jovens de forma geral, nos pareceu
o instrumento mais eficaz para o ensino-aprendizagem do empreendedorismo cultural. Percebe-
se que muitos jovens são frequentadores de festas, eventos de lazer, saraus, consumidores de
jogos eletrônicos, esportes, artes e outras formas de expressões criativas. Essas atividades
dinâmicas, por vezes puramente artísticas, criativas e lúdicas, nos fazem crer que os aspectos
da arte e dos seus processos criativos e inovadores são importantes para o público jovem. O
Sarau Empreendedor leva em consideração a arte, pois ela fornece elementos encorajadores da
criatividade (Mainemelis & Ronson, 2006) e a criatividade é uma das principais características
demandas do empreendedor. A pedagogia artística visa criar momentos de descontração, mas
também de aprendizado, em que os indivíduos podem fortalecer suas identidades individuais e
ainda perceberem as similaridades coletivas, potencializando a identidade cultural local, no
processo de realização do Sarau Empreendedor e no dia em que o Sarau ocorrer.
Na etapa de pré-produção, ou seja, planejamento do Sarau Empreendedor se espera que
os líderes comunitários ensinem conhecimentos do empreendedorismo através das artes. Como
possibilidades artísticas pensamos na música, teatro, cinema, dança, fotografia, artes plásticas
79
e literatura, mas outra linguagem artística pode ser incluída, tendo vista sempre as
especificidades que essa linguagem pode demandar dos líderes. E se os líderes não dominam
ou não tem conhecimento algum dessas práticas artísticas? Eles podem se aprofundar no ensino
desses conhecimentos através de trabalhos específicos de cada área artística antes de começar
o ensino do Sarau Empreendedor e estabelecer parcerias com artistas que possam colaborar no
processo de ensino-aprendizagem, para auxilia-los no ensino do empreendedorismo no decorrer
da realização do Sarau.
Como ensinar empreendedorismo através das artes e seus processos criativos? Como
apresentar os conhecimentos aliando eles às artes? Decidir o formato do Sarau Empreendedor
é um momento importante da tecnologia social. A tecnologia é pensada para o período de seis
meses para capacitação dos jovens artistas envolvidos desde o começo da tecnologia, até o
momento em que acontece o Sarau Empreendedor, finalizando o projeto. A carga horária
presencial sugerida é a de quatro horas, sendo a cara horária virtual sem definições, a contar
com a demanda dos participantes e líderes, bem como com o bom senso. O número de pessoas
envolvidas desde o começo do processo depende também das demandas do evento e da
comunidade. Uma sugestão para auxiliar o líder nessa questão, é dividir as atividades por
grupos, limitando o número de participantes. As sugestões de atrações e ações de caráter
puramente artístico ou de pedagogia artística para o ensino do empreendedorismo possuem
fundamentos em práticas artísticas de muitos jovens de bairros periféricos.
A ideia da pedagogia artística para o empreendedorismo é unir a forma (artes) com o
conhecimento (empreendedorismo) para que o ensino seja mais prazeroso para os líderes e a
aprendizagem mais prazerosa para os jovens artistas participantes, pois se os jovens tem
familiaridade com as artes, mas não tem como o empreendedorismo, o conhecimento fica muito
mais próximo para eles. A pedagogia artística para o ensino do empreendedorismo auxilia os
líderes a desenvolver junto com os jovens participantes do processo educativo, uma gestão
participativa para a realização do Sarau Empreendedor.
3.3 Gestão do Evento Comunitário
A gestão de eventos comunitários pode ser pensada a partir de um dos elementos do
empreendedorismo cultural, o empreendedorismo coletivo, pois assim como esse tipo de
gestão, o empreendedorismo coletivo é realizado em torno de um evento para um bem comum,
com objetivos comuns (Malo & Rodrigues; 2006). Um evento compartilhado não pode ser
construído senão de forma coletiva e o menos hierarquizada possível. Isso quer dizer que dos
80
líderes que já realizaram três eventos comunitários aos líderes que nunca tiveram experiências
na área, todos deverão ser ouvidos. O processo de escuta é ativo, permanente e fundamental.
A gestão de um evento, com consideração da efetiva participação, pode então ser definida
como aquela em que todos os participantes são considerados quanto às suas sugestões, críticas
e demandas. A gestão desse tipo, com fundamento na identidade cultural local, ganha outra
dimensão, pois a voz local é o principal guia para a realização e gestão do evento, pois é a
perspectiva que mais conhece os possíveis parceiros, público e outras questões importantes
quando pensamos nesse tipo de gestão. Ela visa, então, o desenvolvimento local, sempre em
um tempo contínuo de construção (Brandão, 2011).
Como a gestão desse tipo é uma prática importante para dinamizar comunidades, nossa
proposta pode ser útil para contribuir com a melhoria das práticas de gestores comunitários que
tem apreço pela cultura e pela identidade da comunidade. Cada comunidade possui vocações
através das manifestações de interesses e trabalhos dos seus moradores. Gastronomia, música,
artesanato, arquitetura, esportes, criatividade em geral, enfim, seja qual for o elemento que a
comunidade de um gestor possua, esse elemento pode ser chave para ser a ação chamariz, o
trabalho diferenciador, o ponto mais forte da identidade cultural local para fazer Sarau
Empreendedor ser um sucesso.
Sintetizando as vantagens da gestão de eventos participativa, consideramos que a
autonomia e a diversidade dos envolvidos no projeto, são ideias chaves para garantir uma gestão
de eventos participativa. Autonomia, pois cada participante do projeto pode, com liberdade,
desenvolver melhor suas ideias e tornar o evento cada vez mais atrativo e diversidade, porque
quanto mais se soma talentos e esforços, mais provável atingir um nível de evento maior,
atendendo e ampliando seus objetivos. A gestão, junto com o conhecimento empreendedor, a
pedagogia artística e com o fundamento da identidade cultural local, constituem o Sarau
Empreendedor. A gestão, sem escuta e participação, tende a produzir eventos sem conexão com
a comunidade, por isso a escuta é tão importante para a gestão de eventos participativa.
É nesse processo de escuta que se motiva os participantes para participarem e serem
parceiros no processo educativo do Sarau Empreendedor, que se estimula que cada participante
contribua para constituir a visão dos processos educacionais que seguem e do evento final, bem
como a avaliação de todo o processo, que pode ocorrer em um encontro após o dia do Sarau.
3.3.1 Como motivar para o Sarau Empreendedor? Que Sarau Empreendedor queremos?
Como avaliar?
81
Por que temos que fazer um Sarau Empreendedor para o empreendedorismo? Quais
seriam então os objetivos de motivar os jovens? Como motivar os jovens? Quais as formas?
Essas questões fazem parte das dimensões participativas que podem ocorrer na aplicação da
tecnologia social. A identidade cultural local, ou seja, o fundamento de gostos, percepções e
histórias dos jovens na comunidade, são uma base para que os jovens se engajem no projeto.
A motivação para os jovens artistas deve perpassar principalmente o fator inovador,
próximo ao gosto e identificação dos jovens. No processo de motivação para o início da
realização do Sarau Empreendedor, é possível apresentar aos jovens, propostas de mini-shows,
performances e apresentações artísticas para o ensino do empreendedorismo cultural, nas
linguagens artísticas em que os líderes tenham domínio. Assim, no dia do Sarau Empreendedor,
esses jovens e outros participantes poderão proporcionar ao público diversos momentos,
simultaneamente, por exemplo: um espaço de sociabilidade e um espaço de estímulo ao
empreendedorismo cultural, uma atração no palco principal que estimule o empreendedorismo
através das artes. Assim “quebramos” a ideia de “grade curricular”, de “disciplinas” e outros
formatos que possuem uma noção de aprisionamento para o jovem, estimulando a possibilidade
de participação no formato do ensino, no Sarau, a criatividade e a inovação de outros espaços
e formatos de capacitação.
Através da demonstração para os jovens do quanto será interessante estar em um lugar
com empreendedores e personalidades ligadas à cultura, a presença de vários jovens do bairro
e de outros bairros motiva a todos envolvidos, fora a possibilidade que a capacitação pode trazer
aos jovens, tais como formalização de uma pessoa jurídica, dicas, instruções e caminhos
possíveis para empreender na área da música, recursos públicos, privados e coletivos, entre
outros conhecimentos de capacitação.
Afinal, que tipo de Sarau Empreendedor queremos para os jovens artistas de nosso bairro?
Para os líderes do bairro pensarem na contextualização, ou seja, na adequação do Sarau
Empreendedor para a realidade do bairro, eles necessitam identificar todos os aspectos da
realidade local, a exemplo de jovens artistas, áreas artística predominante, empreendedores já
existentes (no âmbito da cultura ou não), empreendedores potenciais (no âmbito da cultura ou
não), necessidades, histórico de saraus, eventos, festas e histórico de atividades com
capacitação. É importante que os líderes que começarem o processo de realização do Sarau, se
atenham que as expressões artísticas e/ou empreendedoras da comunidade são o fator mais
valioso que possuem. Reconhecer os valores com os jovens artistas participantes e, em seguida,
empreender esses valores para a aprendizagem e realização do Sarau Empreendedor é
importantíssimo para o sucesso da tecnologia. Não adianta querer fazer um Sarau
82
Empreendedor pensando em uma cultura global, padrão, sem consideração alguma da
identidade cultural local. Sabemos que há uma hibridização das identidades (Hall, 2006), mas
enfatizamos que o “ouro” para o sucesso coletivo é valorizar o que a comunidade tem de bom.
A avaliação sob a ideia de gestão de eventos considerando a participação pretende ser
coletiva colaborativa e crítica. Sua importância se da para a melhoria da próxima edição do
Sarau, bem como para o crescimento dos jovens artistas como empreendedores culturais.
Indicamos que a avaliação deve ocorrer o mais rápido possível após o dia do evento, para que
as percepções positivas e críticas não sejam desperdiçadas.
Nós desenhamos aqui um Sarau Empreendedor que seja aplicado aos mais diferentes
contextos, contudo, cada conjunto de líderes das diferentes comunidades deve construir um
Sarau Empreendedor, de acordo com os talentos e desejos dos jovens artistas. Para se pensar
em que tipo de Sarau Empreendedor é importante considerar o sonho de cada jovem músico. É
possível perceber, através da força da identidade cultural local, que um sonho individual, muitas
vezes pode ser somado a outros sonhos individuais, quando os sonhos não são idênticos. Os
sonhos individuais (Dolabela, 2003), podem se tornar ou se somar aos sonhos coletivos, o que,
em nossa visão, acarreta como consequência o fortalecimento do desenvolvimento de uma
comunidade, podendo formar uma visão mais sólida do que será o Sarau Empreendedor.
Figura 1: Configuração do Sarau Empreendedor
Fonte: Elaboração dos autores, 2016.
83
A identidade cultural local e a participação na figura 1 aparecem como os elementos que
perpassam todas as ideias que constituem o Sarau Empreendedor. A partir da identidade cultural
local é que os conhecimentos empreendedores serão adaptados conforme a realidade do bairro,
que as linguagens artistas serão escolhidas e que a gestão de eventos ocorrerá com participação.
O conhecimento empreendedor é o elemento que traduz o conhecimento a ser ensinado.
São os conhecimentos imprescindíveis que cada jovem artista deve ser apropriado para fazer
sua carreira e sua comunidade se desenvolverem.
Não adianta que o conhecimento empreendedor seja apresentado da forma tradicional. A
pedagogia artística se traduz pelo formato do processo de ensino-aprendizagem. Os
conhecimentos serão apresentados aos participantes e construídos de forma coletiva através das
linguagens artísticas, fazendo com que cada assunto fique mais leve para o processo
educacional e ao mesmo tempo mais instigante para os jovens artistas.
A gestão de eventos é o elemento que traz a forma como o evento comunitário do Sarau
Empreendedor deve ser construído. Juntamente com a participação e aplicação dos pontos
operacionais indispensáveis para a produção e gestão de um evento comunitário, também
através da pedagogia artística, os jovens artistas acabam por aprender conhecimentos sobre
gestão de eventos na teoria e na prática.
O Sarau Empreendedor é o momento que reúne todos esses elementos, com ensinos sobre
empreendedorismo, através das artes e da gestão de eventos participativa, tudo com fundamento
na identidade cultural local. Nesse momento, o público que irá prestigiar o evento, irá assistir a
performances puramente artísticas, apresentações artísticas com ensino do empreendedorismo
cultural, bate-papos, oficinas e atividades que estimulem a arte, o empreendedorismo cultural e
o desenvolvimento local.
4. Sarau Empreendedor em Nordeste de Amaralina (Salvador, Bahia): uma experiência
ilustrativa......mmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm ilustrativ.
Para aplicação do Sarau Empreendedor, em consonância com a seção três desse artigo, iremos
apresentar ilustrações dos conhecimentos, da pedagogia e a gestão de eventos, através de uma
experiência ilustrativa no Nordeste de Amaralina, em Salvador, Bahia.
4.1 Conhecimentos do Sarau Empreendedor
84
No Sarau Empreendedor realizado entre janeiro e maio de 2016, organizamos os
conhecimentos sugeridos nesse trabalho, tendo em vista que essa formatação pode facilitar o
trabalho do líder que aplicar a tecnologia, no sentido de definir os conhecimentos escolhidos
para o empreendedorismo cultural, visto que muitas vezes não é possível trabalhar com todos
os conhecimentos.
Os conhecimentos do empreendedorismo cultural trabalhados foram escolhidos após
ouvir líderes sociais, culturais e jovens artistas. Os conhecimentos escolhidos foram: legalidade,
carreiras, recursos públicos e privados, recursos coletivos, produção e marketing. Cada
conhecimento foi ensinado aos jovens que participaram do início ao fim do Sarau ou para
aqueles que participaram apenas no dia do Sarau Empreendedor, apresentando suas artes ou
como público, através de práticas artísticas.
Para a aplicação da tecnologia social, indicaríamos o seguinte desenho de
conhecimentos empreendedores: identidade, carreiras, projeto, marketing, financiamento,
legalidade. A identidade empreendedora, bem como o projeto e o financiamento sendo
trabalhados de uma forma geral e não só no âmbito da produção, são conhecimentos mais
amplos e necessários para a educação empreendedora dos jovens envolvidos. Alertamos aos
líderes comunitários que tanto o primeiro desenho de conhecimento do empreendedorismo,
como o segundo podem ser utilizados na aplicação da tecnologia social, assim como outro
desenho de conhecimentos, desde que fundamentados com princípios, relevância, práticas e
fontes.
4.2 Pedagogia Artística do Sarau Empreendedor
A pedagogia artística para o ensino empreendedorismo foi a forma ideal encontrada para
disseminar e fazer funcionar o ensino do conhecimento do empreendedorismo cultural, no
Nordeste de Amaralina, pois foi percebido que as formas artísticas que atraem positivamente
os jovens, estimulando a cultura, o aprendizado e a economia de uma comunidade. Uma grande
referência para a aplicação desse processo no Nordeste de Amaralina, é o projeto do Neojiba,
o Núcleos Estaduais de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia, que realiza diversas ações que
objetivam o desenvolvimento social, formação musical, prática de orquestra e coral,
apresentações públicas, intercâmbios pedagógicos, entre outras importantes ações28.
Foi percebido na ilustração que a pedagogia com base nas artes para o ensino do
empreendedorismo no Sarau Empreendedor é um dos principais elementos que farão do Sarau
28 http://neojiba.org/atividades/
85
um evento forte pelo processo educativo que passarão os jovens artistas durante todo percurso
de planejamento do Sarau e os estímulos ao empreendedorismo cultural fornecidos com
atividades no dia em que ocorrer o Sarau. Fora as artes, ideias diversas devem ser alimentadas,
a criatividade conta e muito para que o projeto funcione, estimulando o desenvolvimento da
economia criativa do local.
Para aplicar a pedagogia que consiste no ensino do empreendedorismo, através das artes,
pensamos em sete linguagens artísticas, sendo elas, a música, o cinema, artes visuais, dança,
literatura e teatro. Ressaltamos que tais indicações não existem para limitar a criatividade e
conhecimentos dos líderes que irão aplicar a tecnologia, mas sim para estimular a imaginação
e possibilidades dos líderes e jovens.
Pensando nessas linguagens artísticas, indicamos algumas sugestões de ações artísticas
e pedagógicas para o ensino do empreendedorismo. Sugestões de ações artísticas e pedagógicas:
curta-Metragem sobre depoimentos de narrativas empreendedoras; Grafite; Músicas compostas
e produzidas para o Sarau Empreendedor; Breaking/B-boying de caráter educativo;
Apresentação de Djs; Cineclubes e debates; Papo com o Empreendedor; Contação de Histórias
Empreendedoras; Performances poéticas; Exposição de fotografias e de artes visuais;
Apresentações de dança e teatro que perpassem às temáticas empreendedoras.
As sugestões contariam com as seguintes estratégias para suas aplicações: ensino durante
o processo de organização do Sarau, apresentação dos conhecimentos através das artes,
fortalecendo o conhecimento adquirido dos jovens participantes e estimulando o conhecimento
para a comunidade presente no evento; Ouvir os jovens sobre suas preferências para assim
planejar as aulas sobre o empreendedorismo de acordo com as preferências desses jovens;
Deixar claro para os jovens que o Sarau Empreendedor é um processo educativo,
profissionalizante e emancipador, ou seja, é um aprendizado e não apenas um evento; Introduzir
ao público em geral, no dia do Sarau, o que foi construído e o que será apresentado, para
familiarizar o público com as temáticas que serão abordadas.
4.3 Gestão de Eventos do Sarau Empreendedor
Para iniciar o processo do Sarau no Nordeste, os líderes sociais e culturais e jovens do
território se reuniram com a equipe da universidade para pensarem, coletivamente na visão,
motivação e aos objetivos do Sarau. A visão e motivação objetivam os seguintes aspectos:
Introduzir e desenvolver o conhecimento do empreendedorismo cultural para jovens músicos
de bairros periféricos, através de formas atrativas para os jovens, como as linguagens artísticas;
Aprendizado sobre produção de um evento comunitário; Promover um evento comunitário
86
singular; Promover a sociabilidade entre moradores do bairro, jovens músicos e
empreendedores culturais e convidados de outros bairros, ao construir uma rede empreendedora
cultural; Estimular carreiras; Estimular o desenvolvimento territorial dos bairros populares;
Estimular o empreendedorismo cultural.
Podemos pontuar as seguintes visões e motivações para a realização do Sarau
Empreendedor: Por que temos que fazer um Sarau Empreendedor para aprender e ensinar o
empreendedorismo através das artes? Por que motivar os jovens a participar do processo? Como
vamos produzir o nosso sarau? O que precisamos fazer para que ele aconteça? Quais os nossos
sonhos? O que precisamos para alcança-los? O que precisamos saber da nossa identidade e
nossa história para fazer o Sarau Empreendedor? Que Sarau Empreendedor queremos para os
empreendedores culturais de nosso bairro? O que aprenderemos com o sarau empreendedor? O
que o Sarau melhorará para sua carreira artística? O que o público que comparecerá ao dia do
sarau aprenderá? O que a comunidade ganhou com o sarau?
4.3.1 Como motivar para o Sarau Empreendedor? Que Sarau Empreendedor queremos?
Nessa primeira aplicação do Sarau Empreendedor, após escolherem um território popular
de Salvador/Bahia em sala de aula para trabalhar, de acordo com as potencialidades idenitárias
e culturais do território, os estudantes foram divididos em seis equipes para trabalharem com
as práticas operacionais, e seis equipes para trabalhar o conhecimento da educação
empreendedora. Após essa divisão, os estudantes, com auxílio dos docentes e facilitador, foram
buscando líderes sociais e culturais do bairro e consequentemente jovens da comunidade para
contribuírem e aprenderem durante a produção de um evento comunitário com fundamento na
identidade cultural local, como o Sarau empreendedor e no dia propriamente dito do Sarau, com
apresentações puramente artísticas, artísticas com ensinos nas áreas do empreendedorismo
cultural, palestras, rodas de diálogos, oficinas e as ideias que somem ao Sarau e que vão
surgindo durante o processo de ensino e realização.
Em seguida, foram mapeados líderes sociais e culturais do bairro para que as equipes
conhecessem mais o território do Nordeste de Amaralina. A primeira ida ao campo então,
marcou o primeiro contato com um grupo de jovens que tiveram interesse na proposta do Sarau
Empreendedor, convidados pelos líderes. Como o número de aderência foi, a priori, baixo,
estudantes foram percorrer postos-chaves do bairro, divulgando o início do evento, juntamente
com uma empreendedora social, Monique Evelle29, o que atraiu mais jovens para esse primeiro
momento. Alguns jovens já possuíam experiência em algum ramo do empreendedorismo
29 http://moniqueevelle.com.br/
87
cultural, outros não possuíam experiência alguma. As equipes então foram conversar com os
jovens sobre o projeto, bem como ouvindo de cada jovem sobre suas expectativas. E-mails e
números foram trocados e assim foi criado um grupo no what’s app com contato permanente
com esses jovens, tendo em vista motiva-los e a resolver questões do Sarau Empreendedor.
Nosso fundamento de considerar o sonho individual e coletivo como fatores
fundamentais para o Sarau Empreendedor se apoia à percepção de que muitos dos projetos
socioculturais bem-sucedidos na cidade de Salvador, na área musical, em seus objetivos
contaram e muito com a consideração desses sonhos e da identidade cultural para o seu êxito,
como a Ong Pracatum30, no bairro do Candeal, a Fábrica Cultural31, no bairro da Ribeira e o Ilê
Ayê32, no bairro da Liberdade. Para fundamentar ainda mais tal percepção, foram realizadas
entrevistas com personalidades da música baiana e foi percebido, em diversas entrevistas como
com Dj Branco33, RBF34 e Vovô do Ilê que parte, em ambos os casos, a identificação coletiva
e territorial como parte da produção cultural.
Na aplicação do Sarau no Nordeste de Amaralina, através de rodas de conversas com
líderes sociais e culturais do território e com os jovens artistas, ouvimos relatos, desejos e
dificuldades que cada um passava na sua vida de forma geral e especificamente na sua carreira
artística. Essas rodas de conversas se davam durante todo o processo do Sarau, para pensar e
repensar se o que estava sendo ensinado, aprendido e planejado, estava de acordo com a visão
de Sarau com fundamento na identidade cultural local.
Como vimos, para a realização da gestão de um evento comunitário, os líderes possuem
o grande desafio de motivar os jovens para o Sarau Empreendedor. Reconhecer seus talentos e
atividades e logo apresentar a linguagem artística como forma de aprendizado para a realização
do Sarau é o grande diferencial para aplicar a tecnologia social. A gestão participativa tem o
intuito de promover mudanças coletivas em carreiras de artistas, bem como desenvolver
comunidades. Foi percebido na aplicação da tecnologia no Nordeste que esse tipo de gestão
para um evento comunitário possuem vantagens e desafios apresentados, sendo importante o
líder de uma comunidade que aplicar a tecnologia, ter conhecimento de tais aspectos.
Em síntese, como vantagens, podemos destacar: Motivação de trabalhar com artistas do
próprio bairro, realizar novos contatos e parcerias profissionais; construção coletiva do que
seria o Sarau empreendedor; Identificação de aspectos da realidade local, de jovens artistas,
30 http://www.pracatum.org.br/projetos-especiais/desenvolvimento-comunitario/apresentacao/ 31 http://www.margarethmenezes.com.br/fabrica.aspx 32 http://www.ileaiyeoficial.com/ 33 https://www.youtube.com/watch?v=ZUBwCP-2-tI 34 http://rbfcabula.com/
88
estilos artísticos do bairro, empreendedores já existentes (no âmbito da cultura ou não),
empreendedores potenciais (no âmbito da cultura ou não), necessidades, histórico de eventos
comunitários e histórico de atividades de capacitação através das artes; Identificação e
estímulo do sonho individual e coletivo para a fundamentação do Sarau Empreendedor.
Comos desafios, em resumo, podemos pontuar: Conseguir congregar datas, horários dos
jovens artistas, bem como motivar os jovens; Administrar os conflitos que um trabalho em
grupo pode apresentar, como divergências de opiniões, possíveis ofensas, alertar os jovens
que esse tipo de situação pode acontecer para lidarem da melhor forma; Ressaltar a
importância da dimensão da participação para o aprendizado e transformação nas carreiras de
cada jovem artista; Engajar os jovens no projeto através da possibilidade de escolha de quais
papéis cada um irá assumir na gestão do Sarau.
4.3.2 Como planejar o Sarau Empreendedor
Esboçamos para os líderes, um cronograma de acordo com a ilustração do Sarau
Empreendedor que ocorreu no Nordeste de Amaralina, pensando nas etapas operacionais da
gestão de eventos para a realização do Sarau Empreendedor. Esse esboço, assim como todas as
orientações aqui, não servem como camisa de força para o líder que aplicar a tecnologia, pelo
contrário, é um facilitador no processo. Caso o líder, por motivos de tempo, público, dimensão
em que pensa aplicar o Sarau, pense em um tempo maior ou reduzido, ele pode adaptar o
cronograma proposto.
No primeiro mês, recomendamos as seguintes ações: a) conhecer o território, suas
potencialidades, os jovens artistas, os empreendedores culturais, os empreendedores locais; b)
filtrar quais profissionais e moradores do território podem se envolver na produção do Sarau
Empreendedor e definir com eles o desenho do cronograma de planejamento, produção e
avaliação do sarau empreendedor; c) definir as mídias sociais que podem ser utilizadas para
divulgação.
No segundo e terceiro meses, recomendamos as seguintes ações: d) selecionar além dos
parceiros, recursos públicos, privados e coletivos para financiar o Sarau Empreendedor. No
quarto e quinto meses, recomendamos: e) pré-produção e realização do Sarau Empreendedor
com os conhecimentos e formatos pertinentes; f) divulgação do Sarau Empreendedor em mídias
sociais. Por fim, no sexto mês, indicamos: g) avaliação do Sarau Empreendedor dos jovens
participantes e dos parceiros atuantes. Distribuição do material da tecnologia social para que os
jovens possam reaplicar a tecnologia em outros locais, com outros públicos.
89
4.3.3 Como avaliar o Sarau Empreendedor
Uma sugestão de registro das avaliações é uma filmagem em que os quatro tipos de
envolvidos no Sarau sejam entrevistados: os líderes, os jovens artistas que participaram desde
o princípio, os jovens artistas que participaram com apresentações no dia e o público geral que
foi estimulado ao empreendedorismo cultural no Sarau. Através das respostas a essas questões,
é possível avaliar o que funcionou e o que pode ser melhorado na próxima tecnologia social, se
for o caso. Outra utilização para a filmagem seria a utilização desse material forma de
retroalimentar o ciclo, servindo de mobilização de novos jovens posteriormente em novas
ações, sobretudo para manter a rede empreendedora.
Após o Sarau, a equipe que participou do início ao fim da preparação ao dia do Sarau, se
reúne para conversar sobre as respostas e questões principais, que podem ser:
O que podemos melhorar para o próximo sarau?
Podemos fazer outro formato, como feira, festa ou um outro tipo de evento na próxima
vez?
Todos os objetivos foram cumpridos?
Se algum objetivo não foi cumprido, o que faltou?
Qual é a avaliação dos moradores que construíram a tecnologia social?
5. Discussão e Impactos
O trabalho se propôs a formular uma tecnologia social que facilite e estimule os jovens,
através das artes, no processo de aprendizagem e assimilação dos conhecimentos do
empreendedorismo cultural valorizando as forças da identidade cultural local e da ação coletiva.
Para alcançar o seu objetivo, esta pesquisa discutiu as ideias de educação através das artes,
empreendedorismo cultural, gestão de eventos, da participação e identidade cultural local, para
confeccionar sua tecnologia social. O resultado de tal esforço é a versão da tecnologia social
aqui apresentada.
Destacamos a importância da tecnologia social na transformação social de comunidades,
no desenvolvimento da identidade cultural local, das manifestações artísticas, da organização
quanto ao empreendedorismo cultural, do estímulo a realização de processos e eventos de
caráter educativo e que promovem sociabilidade e no desenvolvimento social, em específico da
economia local como um todo.
Dificuldades vão aparecer, como em qualquer trabalho da complexidade desse, mas
toda a tecnologia foi construída a partir dos estudos sobre jovens e de entrevistas com líderes
90
que lidam com esses jovens e os próprios jovens artistas. Foi percebido, portanto, que para o
ensino do empreendedorismo cultural ser efetivo, basta os líderes utilizarem o que os jovens
gostam! Arte, diversão, criatividade, inovação, tecnologia, são os elementos que todos os
líderes que aplicarem essa proposta devem ter em mente para superar os desafios.
Em especial, percebemos o Sarau como processo e espaço de capacitações,
sociabilidade e diversão, sendo assim uma tecnologia facilitadora nos aprendizados dos jovens.
Pensarmos a identidade cultural local como combustível para o empreendedorismo cultural e
casos já existentes de empreendedores culturais que nascem a partir da identidade cultural local,
são elementos fundamentais para que a tecnologia social funcione na prática e possa ser
multiplicada por aqueles que passarem pelo processo de capacitação ou até mesmo por aqueles
que comparecem no dia do evento e se engajam plenamente na ideia da tecnologia.
A partir da tecnologia social aqui proposta, podemos pontuar as seguintes questões que os
líderes devem ter em mente para singularizar e qualificar ainda mais o processo de construção
do Sarau Empreendedor:
Quais são as práticas principais que podem auxiliar o jovem artista de território
periférico no fortalecimento de seu potencial empreendimento cultural?
Como o empreendedorismo cultural pode estabelecer bases sólidas em um território
para capacitação de novos profissionais e continuidade das atividades, catalisando o
desenvolvimento local?
Quais ações os líderes e os jovens participantes podem sugerir para o processo de
aprendizagem do empreendedorismo cultural através das artes e para a realização do
Sarau Empreendedor?
Essas questões servem para orientar os líderes que aplicarão a tecnologia para sempre
terem em vista que um dos diferenciais do Sarau Empreendedor é a consideração de uma
identidade que liga, une e faz com que o processo do Sarau seja um sucesso para toda uma
comunidade, através do aprendizado sobre o empreendedorismo, através do desenvolvimento
da economia criativa que o Sarau pode estimular, pela rede empreendedora, unindo
comunidades e aquecendo todas as vertentes da economia dos locais e pelo lazer que o Sarau
pode proporcionar a comunidade. Consideramos que os impactos e as repercussões sobre a
prática do Sarau Empreendedor podem ser extremamente relevantes, quando levamos em conta
a questão da identidade cultural local, ponderamos que alcançar o ideal de empreendedor, ou
seja, aquele que pensa e realiza seus sonhos, sempre tendo em vista a comunidade, a
participação, a gestão de eventos, o empreendedorismo cultural e a pedagogia artística.
91
Esperamos que os jovens artistas possam identificar as possibilidades apresentadas aqui
desenhadas para empreenderem suas carreiras, gerarem trabalhos, empregos e renda.
Além desses impactos positivos, esperamos que o aumento de apresentações artísticas na
comunidade, formem plateias para espetáculos artísticos, bem como que a tecnologia auxilie
no desenvolvimento dos territórios e estimule o turismo em suas comunidades, em específico o
turismo de base comunitária, pois esse tipo de turismo considera as dimensões de inclusão
social e identidade cultural local (Bartholo et al., 2009).
Enfatizamos o entendimento de que a tecnologia social proposta não é importante apenas
para o residente de bairros periféricos, mas para todos os convidados das redes empreendedoras
de outros bairros, pois “quanto mais você descobre a sua identidade, mais você pode dialogar
com as outras culturas (...), pois há uma troca simbólica na qual ambos saem enriquecidos”
(Ferreira, 2012, p.4). Com a união artística de comunidades distintas, é possível fortalecer as
economias desses locais, ocasionando um desenvolvimento social como um todo, ou seja, nos
âmbitos da saúde, do trabalho, da educação, da moradia e da cultura.
Esperamos que com as aplicações do Sarau por diferentes líderes, em diferentes
contextos, a tecnologia se fortaleça para que novas versões sejam realizadas e testadas por
líderes e empreendedores culturais, jovens músicos de bairros populares. Esperamos também
que essa iniciativa do Sarau ganhe corpo e seja aplicada por diversas comunidades, estimulando
outras formas de pedagogias mais afinadas aos desejos e perfis dos jovens, bem como a
disseminação dos conhecimentos relacionados ao empreendedorismo cultural entre os jovens
artistas, desenvolvendo carreiras e bairros periféricos.
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3.3 EMPREENDEDORISMO MUSICAL: CONHECIMENTOS E PRÁTICAS PARA
ALAVANCAR A CARREIRA EMPREENDEDORA (ARTIGO 3) 35
Musical Entrepreneurship: Knowledge and Practices to Leverage the Entrepreneurial Career
Resumo: Dentro da economia criativa, a qualificação de empreendedores musicais é uma
atividade importante para o seu aquecimento, no entanto, os conhecimentos disponíveis sobre
empreendedorismo ainda são muito orientados para criação de negócios gerais; por isso, pouco
adequados aos setores mais culturais e criativos. O objetivo desse artigo é fornecer um conjunto
de conhecimentos para qualificar e assim alavancar a carreira de empreendedores
musicais. Nosso artigo tecnológico36, então, tem uma vocação mais profissional do que
acadêmica na medida em que busca organizar um guia de conhecimentos necessários para
empreendedores musicais. Entende-se, portanto, que educadores, empreendedores e potenciais
empreendedores poderão ter ao seu dispor orientações que auxiliem sua busca por qualificação
de sua carreira musical e artística. A metodologia qualitativa foi utilizada no trabalho para
organizar os entendimentos sobre princípios, relevância, aplicações e fontes de áreas
fundamentais para a atuação no empreendedorismo musical, com fundamentos nas teorias,
práticas, procedimentos e exemplos. Ao fim da pesquisa, o guia é concluído, oferecendo como
resultado ao potencial ou já empreendedor musical, o mapa profissional de como empreender
na música.
Palavras-chave: Empreendedorismo musical. Educação empreendedora. Identidade cultural
Local. Economia criativa. Guia de conhecimentos.
Abstract:
Within the creative economy, the qualification of musical entrepreneurs is an important activity
to your development, however, the available knowledge on entrepreneurship is still very
oriented to creation of general business; and for that not suitable to a more cultural and creative
sector. The goal of this paper is to provide a body of knowledge to qualify and thus boost
35 Artigo a ser submetido para a Revista Brasileira de Gestão e Desenvolvimento. Por isso, o artigo segue as
normas da ABNT exigida pela revista. 36 Para ampliar a discussão sobre tecnologia social, ler: DAGNINO, R. et al. Tecnologia social: uma estratégia
para o desenvolvimento. Rio de Janeiro, 2004. Disponível em:
http://www.oei.es/salactsi/Teconologiasocial.pdf; RODRIGUES, Ive. A emergência da tecnologia social:
revisitando o movimento da tecnologia apropriada como estratégia de desenvolvimento sustentável. Rio de
Janeiro. 2007.
96
musical entrepreneurs’ career. Our technological paper, then, has professional tendency rather
than a academic one since it seeks to organize a necessary knowledge cartography for musical
entrepreneurs. We understand, therefore, that educators, entrepreneurs and potential
entrepreneurs will be provided with guidelines to help the pursuit for their musical and artistic
career’s qualification. The qualitative methodology was used in the paper to organize the
understandings on principles, relevance, applications and key area’s sources for action in the
musical entrepreneurship, with foundations in the theories, practices, procedures and examples.
At the end of the paper, the cartography is completed, offering as a result to a potential or
already musical entrepreneur, a professional map of how to make an enterprise in music.
Keywords: Musical entrepreneurship. Entrepreneurial education. Creative economy. Guide of
knowledge.
Introdução
Esse presente estudo37 se destaca pela sua importância em contribuir para suprir uma
grande carência no campo do empreendedorismo musical: parte considerável dos profissionais
de música, potenciais ou já empreendedores musicais, não possuem conhecimentos teóricos e
práticos para empreender na música (SALAZAR, 2015). O contexto onde ocorre essa grande
carência é a economia criativa, setor que comporta diversos setores criativos, incluindo o foco
desse trabalho, a música, e que tem como resultado produção de riqueza cultural, econômica e
social (MINISTÉRIO DA CULTURA, 2011). Tomando como fundamento essas duas
considerações, esperamos criar um guia de conjunto de orientações para alavancar carreira
empreendedora da música. A presente pesquisa não pretende alcançar um aprofundamento nos
conhecimentos e práticas, mas oferecer ao empreendedor e potencial empreendedor da música,
amplitude, organização e indicações dos principais conhecimentos e práticas empreendedoras
da música para, consequentemente, estimular o empreendedorismo musical e aquecer ainda
mais a economia criativa brasileira. Pontuamos que o guia aqui construído pode ser ativado por
diversos profissionais com sensibilidade artística no âmbito da música, como produtores, djs,
cantores, músicos instrumentistas, gestores de organizações musicais, entre outros.
37 O presente artigo faz parte de uma tecnologia social. Além desse artigo, outros três artigos compões a tecnologia
social, sendo que um artigo apresenta o desenho geral da tecnologia (Campos & Davel, no prelo); um trabalho
trata da pedagogia através das artes para o ensino do empreendedorismo (CAMPOS, no prelo) e outro artigo trata
da gestão participativa de eventos comunitários (CAMPOS, no prelo). Além desse conjunto de artigos, um caso
de ensino reforça a tecnologia (Campos & Davel, no prelo).
97
A metodologia da pesquisa é de caráter qualitativo e conta com a revisão bibliográfica
e com a técnica de coleta de informações baseadas em documentos e entrevistas
semiestruturadas com empreendedores musicais do estado da Bahia. Os documentos
selecionados foram escolhidos pelas suas possibilidades de instrumentalidades. Foram
entrevistados ao todo nove empreendedores musicais, com notória prática na área do
empreendedorismo musical, sendo essa categoria entendida aqui como produtores musicais,
produtores culturais do âmbito musical, arte-educadores da música, músicos em geral, entre
outras possibilidades de ocupações e profissões possíveis que ofereçam a possibilidade de se
empreender na música. As entrevistas foram realizadas face-a-face, partes registradas em áudio
e partes registradas em audiovisual, durando de trinta a cinquenta minutos cada entrevista. Os
dados então foram analisados e articulados, tendo como resultado uma estruturação de forma a
apresentar e discutir os principais pontos do guia de conhecimentos necessários ao
empreendedorismo musical. Por isso, além desta introdução e da conclusão, cada seção do
artigo versa sobre um tipo de conhecimento ligado ao empreendedorismo musical (Quadro 1).
1. Conhecimentos e práticas do empreendedorismo musical
Empreender tem diversos significados e para chegarmos à ideia atual de
empreendedorismo cultural houve uma história de mudanças sobre a ideia do que é o
empreendedorismo (CAMPOS; DAVEL, 2015). Nessa pesquisa, partimos da ideia de que
empreender possui o sentido de emancipação (RINDOVA et al., 2013), de criatividade
(BARON, 2007), e de que o empreendedorismo cultural vem mostrando que é um dos campos
que mais vem aliando a concepção de liberdade, criatividade, desenvolvimento individual,
coletivo e social, rompendo a ideia tradicional de que o empreendedor visa apenas o
crescimento individual.
O empreendedorismo cultural, onde o empreendedorismo musical se encontra, pode ser
pensado como lócus principal de atuação dos artistas contemporâneos, no caso desse trabalho,
os músicos, que precisam encarar sua arte como negócio, e assim tornar-se um artista
profissional e empreendedor (SALAZAR, 2015).
Historicamente, o empreendedorismo cultural de Salvador/Bahia tem fortes raízes na
cultura afro-baiana e nos negócios da música (CARVALHO, 1994; DANTAS; FISCHER,
1993; MOURA, 2009; MIGUEZ, 1997). A identidade cultural local de Salvador é bem
reconhecida nacionalmente e internacionalmente, sendo promotora de resistência cultural e
econômica na cidade de Salvador (DANTAS; FISCHER, 1993). Essa identidade de resistência,
98
associada aos bairros populares e outros locais financeiramente pobres, devido à continuidade
de processos de racismo contra o povo negro oriundo da escravidão, originaram projetos sociais
e artísticos históricos na cidade, como o Olodum, que além da identidade cultural local,
conseguiu estabelecer uma identidade ligada ao movimento musical global (CARVALHO,
1994; DANTAS; FISCHER, 1993). Na contemporaneidade, iniciativas como o Batekoo38 e o
Sarau da Onça39 são expressões soteropolitanas marcantes pela estética negra, relação com a
história da cidade de Salvador e conceitos ligados à identidade cultural local.
O jovem músico e o público jovem ganham destaque no Brasil com a jovem guarda,
movimento do rock brasileiro onde o mercado da música passou a diferenciar o público adulto
do público jovem (DANTAS, 2015). Em um meio competitivo que se tornou o mercado da
música jovem, empreender e gerir a cultura local tem se mostrado não só no Brasil, como nos
EUA, como um caminho que gera bons frutos, tanto artisticamente como financeiramente
(EDMONDSON, 2008).
Considerando o perfil requerido pelo empreendedorismo musical, dentro do contexto
aqui pontuado, o grande desafio da composição desse artigo tecnológico se apresenta pela
organização dos conhecimentos necessários ao público-alvo. As categorias de conhecimento
criadas surgem para alcançar o objetivo de construir um guia para o potencial ou já
empreendedor musical ter um sólido auxílio para alavancar sua carreira. Cada categoria emerge
de uma análise comparada entre os documentos utilizados (pesquisas da área cultural, sobre
empreendedorismo cultural, empreendedorismo musical, sites de empreendedores, sites de
instituições de fomento ao empreendedorismo, entre outros) e entrevistas com os nove
empreendedores musicais que serão citados e identificados quanto às suas ocupações no âmbito
da música no decorrer do guia.
Por motivos pedagógicos, pensando em facilitar a compreensão do empreendedor, cada
conhecimento foi organizado em seções, através de tópicos, sendo escolhidos pelas suas
relevâncias para proporcionar crescimento à carreira empreendedora (Quadro 1).
38 http://emais.estadao.com.br/noticias/comportamento,batekoo-marca-o-fortalecimento-do-movimento-negro-
no-brasil,10000058909 39 http://saraudaonca.blogspot.com.br/
99
Quadro 1 - Relevâncias dos conhecimentos necessários ao empreendedorismo musical
Conhecimentos Tópicos Relevância
Identidade Identidade
territorializada
Forma de reconhecer elementos e construir a identidade do
território para tornar o contexto do empreendimento autêntico,
criativo, inovador, distinto e original.
Identidade
organizacional
Forma de integrar a identidade do território ao empreendimento
para torna-lo autêntico, distinto e original.
Carreiras Tipos e estratégias Forma de escolher opções de organização e gestão para assegurar
a realização de vários empreendimentos consecutivos.
Parcerias e redes Formas de construir redes de parcerias para a realização do
empreendimento.
Projeto Elaboração (Pré-
Produção)
Forma de elaborar um projeto para captar recursos e organizar a
realização do empreendimento.
Gestão (Produção
e Pós-Produção)
Forma de administrar necessidades, etapas e atividades da
realização do empreendimento.
Marketing Comunicação Forma de divulgar e promover o empreendimento.
Marketing de
relacionamento
Forma de fortalecer o relacionamento do público com o
empreendimento.
Financiamento Recursos Públicos Forma de captar recursos públicos por meio de editais para
financiar a realização do empreendimento.
Recursos Privados Forma de captar recursos privados por meio de projeto de
patrocínio para financiar a realização do empreendimento.
Recursos
Coletivos
Forma de captar recursos coletivos por meio de plataformas
digitais para financiar a realização do empreendimento.
Legalidade Contratos Forma de utilizar contratos para assegurar o sucesso e minimizar
os riscos de empreendimentos.
Direito Autoral Formas de utilizar direitos autorais para assegurar o sucesso e
minimizar os riscos de empreendimentos.
Fonte: Elaboração dos Autores
Por fim, cada seção foi trabalhada através de princípios que norteiam a seção de
conhecimento, para depois serem pontuadas as relevâncias acerca da seção para o
empreendedorismo musical, as aplicações de cada conhecimento na realidade através de
exemplos e experiências reais e, as fontes quanto às possíveis consultas dos empreendedores
musicais. O esquema em cada seção, então, se deu da seguinte forma:
Princípios: nessa seção, são definidos e caracterizados alguns dos princípios
selecionados do conhecimento, através dos fundamentos de cada conhecimento que podem
nortear os empreendedores musicais.
Relevância: nesse tópico, são explicadas as razões do conhecimento ser importante para
desencadear, alavancar e o empreendedorismo musical, fornecendo alguns exemplos de
experiências empreendedoras na música.
100
Aplicações: nessa seção, são apresentadas indicações para se aplicar o conhecimento,
exemplificando de forma prática, através de casos e depoimentos de empreendedores musicais.
Fontes: nesse tópico são indicadas as principais fontes de informação sobre o
conhecimento, por meio de diversas tipologias (impressa, livros, Internet, audiovisual, etc.) e
exemplos de empreendedores musicais. As fontes que embasam e fortalecem os conhecimentos
no âmbito de carreiras expõem os tópicos que dialogam com os princípios, relevância e
aplicações tratadas anteriormente dentro de cada tópico de conhecimento. Para os sites, basta
copiar e colar o endereço para acessar as fontes. Para as fontes mencionadas através do
sobrenome dos autores, a maioria das fontes pode ser encontrada via internet, com livros e
artigos gratuitos.
1.1Conhecimentos sobre Identidade
Conhecimentos sobre identidade são fundamentais para o empreendedorismo musical,
pois expõem a forma de reconhecer os elementos para construir a identidade do território para
tornar o contexto do empreendimento autêntico, bem como tratam da forma de integrar a
identidade do território no empreendimento para torna-lo criativo e inovador. Alguns
indivíduos optam pelo empreendedorismo, outros se veem quase que obrigados a adotarem o
empreendedorismo musical para realizarem seus projetos (FONTES; PERO, 2009), o que nos
leva a crer que o início da construção da identidade empreendedora é múltiplo, sendo
identificada e construída por diferentes caminhos.
1.1.2 Identidade territorializada como fundamento do empreendedorismo musical
Princípio: A identidade territorializada por ser definida como a identidade que é
constituída fortemente através do seu território. Ela é caracterizada quando a identidade e o
território no qual o profissional nasceu ou reside, dialogam, se influenciam e se fortalecem.
Para atingir o potencial de força que a identidade territorializada no campo do
empreendedorismo musical, se deve ter em vista que o princípio para pensar a identidade é
reconhecer seus elementos no território e a partir daí construí-la (CAMPOS; DAVEL, 2015).
Relevância: Nota-se que muitos dos projetos bem-sucedidos, na área musical, em seus
objetivos contaram e muito com a consideração da identidade territorializada para o seu êxito,
como a ONG Pracatum, no bairro do Candeal, idealizada pelo multi-artista e empreendedor
cultural e musical, Carlinhos Brown, e o Ilê Ayê, no bairro da Liberdade, idealizado pelo
empreendedor da música e da cultura Vovô do Ilê. Nos dois casos, o território foi a matriz das
criações das instituições, pois aspectos como afinidade do território com a música, influências
101
da cultura negra na estética, religiosa e na própria música motivaram e tornaram singulares tais
projetos comprovando a relevância da identidade territorializada.
Aplicações: Um primeiro passo para reconhecer os elementos da identidade territorial
é conhecer o seu território. A sensibilidade artística do profissional ou do coletivo de
profissionais é importantíssima para aplicar os elementos que podem compor a identidade
territorializada. Uma mobilização de possíveis parceiros, através da mútua identificação pelo
território e/ou pela música para reconhecer tais elementos e construir a identidade
territorializada seria o fundamento para fortalecer ainda mais o empreendimento musical. Após
a mobilização, sugerimos as seguintes questões orientadoras para o reconhecimento desses
elementos pelos empreendedores ou potenciais empreendedores: Qual experiência musical e
cultural é histórica no meu território? Essa experiência continua nos dias de hoje? Quais os
artistas com importantes experiências no empreendedorismo musical no meu território? O
primeiro passo dessa seção pode ser executado através das técnicas de entrevistas
semiestruturadas, ou seja, entrevistas que tenham perguntas previamente pensadas pelo
empreendedor, mas que possibilitem que outras questões surjam no processo de entrevista
(BONI; QUARESMA, 2004). As histórias de sucesso do empreendedorismo musical do
território são ferramentas para a capacitação e estímulo ao empreendedorismo musical, os
profissionais podem elaborar questões pertinentes a quando partiram os empreendedores e
como suas ações desenvolveram não apenas suas carreiras, mas grupos e territórios. O segundo
passo é a construção da identidade territorial a partir dos reconhecimentos acerca do
empreendedorismo musical realizados na primeira etapa. Para Aspri, empreendedor musical,
produtor cultural e cantor da banda de rap baiana RBF, uma das coisas que o levou a empreender
na música foi a identificação coletiva com os seus vizinhos da “Baixa-Fria”, território periférico
do bairro do Cabula da cidade de Salvador, Bahia. Após a discriminação racial e social sofrida
por ele e seus vizinhos, ele “sentiu na pele” (a banda é composta por homens negros) que era
necessário falar sobre essas questões. A banda então juntou o útil (a necessidade das questões
sociais) com a oportunidade de viver do que gostam de fazer: viver de música. Finalizando a
construção da identidade territorial, se pode pensar em uma identidade organizacional, tema da
seção seguinte.
Fontes: Definições de identidade; A identidade territorializada como fundamento do
empreendedorismo no campo da cultura (CAMPOS; DAVEL, 2015); A narrativa, o diálogo, o
“contar histórias” como ferramentas de construção da identidade territorializada (WRY et al.,
2011); Aprendendo a fazer entrevistas (BONI; QUARESMA, 2004); Organizações bem-
102
sucedidas que consideraram a identidade territorializada (ILÊ AIYÊ, disponível em:
http://www.ileaiyeoficial.com/; PRACATUM, disponível em: http://www.pracatum.org.br/).
1.1.3 Identidade organizacional para empreendimentos musicais
Princípio: Após o reconhecimento e construção da identidade territorializada, é hora
dos profissionais pensarem na identidade organizacional dos seus empreendimentos. A cultura,
como fator que fortalece o desencadeamento da criatividade artística, é um elemento
fundamental para o sucesso empreendedor e é a identidade organizacional que vai definir o que
é a organização, acarretando em escolhas como de projetos e marketing (HATCH; SCHULTZ,
2008). Os princípios e características da identidade organizacional, podem ser definidos a partir
do auto reconhecimento do empreendimento e a imagem que os clientes/público têm do
empreendimento. A identidade organizacional pode então ser definida como o resultado da
visão estratégica, cultura organizacional e a visão do público/clientes (HATCH; SCHULTZ,
2008).
Relevância: Pensando nas formas de integração da identidade do território no
empreendimento para torná-lo distinto, podemos destrinchar a arquitetura da identidade
organizacional da seguinte forma: Visão estratégica: para adotar esse elemento no contexto de
integração da identidade do território no empreendimento, basta visualizar o que há no território
de grande valor artístico ou cultural e transferir para o planejamento do empreendimento
musical; Cultura Organizacional: a cultura organizacional faz parte de uma ação da visão
estratégia, pois ela geralmente possui muitos elementos apresentados nas ações
empreendedoras, portanto transferir o que há de singular e criativo no território é um
interessante caminho; visão do público/clientes: como o público/clientes veem os
empreendedores? E o empreendimento? Aprofundar esse conhecimento para detectar falhas
organizacionais e propor soluções é um importante fator para desenvolver a identidade
organizacional.
Aplicações: O reconhecimento da identidade territorial e artística como estratégia para
alavancar empreendimentos musicais pode ser notada através de um caso emblemático de
empreendedorismo da música que iniciaram seu negócio e possuem o território, como agente
de singularidade do projeto. O Ilê Aiyê, na sua estrutura organizacional e identidade visual
(SEQUEIRA, 2013), possui fortes elementos às referências ligadas à cultura religiosa do
candomblé, sendo um exemplo, na sua arquitetura, na sua banda musical, de identidade
organizacional bem estabelecida através da visão estratégica, cultura organizacional.
103
Fontes: fundamentos da identidade organizacional (HATCH; SCHULTZ, 2008);
construindo a identidade organizacional em uma rádio (KUBO, 2011); a identidade visual como
expressão de imagem da identidade organizacional (SEQUEIRA, 2013).
1.2 Conhecimentos sobre carreiras
Conhecimentos sobre carreira empreendedora são fundamentais para o
empreendedorismo musical, pois permitem que o profissional tenha mais opções de
organização e gestão para assegurar a realização de vários empreendimentos, assim como
permite aprender como construir redes de parcerias para a realização do projeto. Tais escolhas
se fundamentam na consideração de que o empreendedorismo musical oportuna atuação em
diversas áreas da música, sob diversas formas (SALAZAR, 2015).
1.2.1 Tipos organizacionais e estratégias de carreiras
Princípio: Os princípios da carreira do empreendedorismo musical podem ser definidos
por características da área da música e da área do empreendedorismo, sendo elas caracterizadas
pela inovação, criatividade e ousadia. Esses três elementos seriam o tripé do empreendedorismo
musical. O ramo da música, nem sempre estável, a produção artística aliada à atuação
empreendedora entre outros fatores fazem necessário que a atitude empreendedora de exercer
as estratégias e a ousadia esteja ativa a todo tempo. Um dos tipos organizacionais possíveis
adotado por grande parte dos empreendedores musicais é o de pessoa física. A pessoa física é
caracterizada quando o profissional não se formaliza. Luciano Bahia, produtor musical, diretor
musical, cantor e multi-instrumentista, adota esse tipo para captar recursos, sendo uma opção
viável e adotada por muitos empreendedores musicais. Outro tipo organizacional e estratégia
para começar ou dar continuidade a um empreendimento musical é a formalização em pessoa
jurídica. A razão é que como pessoa jurídica, o empreendedor pode ter acessos a mecanismos
financeiros como crédito, além de possuir uma retenção menor em impostos do que quando
participa como pessoa física. Pensando nas estratégias de carreiras, seja o empreendedor
musical que adotar a forma de pessoa física ou jurídica como trabalho, uma ferramenta para os
empreendedores da música que podemos destacar é a confecção de um plano de negócios, pois
o plano de negócios é um instrumento que organiza o empreendedor, quanto ao que ele quer, o
quanto que ele quer e até quando quer (SEBRAE, 2010). O plano faz parte do planejamento do
empreendedorismo musical, sendo uma estratégia importantíssima a compor os princípios de
uma criação de negócios;
104
Relevância: Fato é que os tipos organizacionais e estratégias de carreiras possuem a
importância de ampliar as possibilidades empreendedoras na música. Existem muitos tipos
organizacionais formais (AVELAR, 2013) e um exemplo de tipo organizacional muito utilizado
pelos empreendedores que se formalizam, por isso achamos válido destacar, é o
microempreendedorismo, que pode ser definido como uma estratégia acolhida por muitos
empreendedores que possuem um rendimento bruto de até R$60.000,00 (sessenta mil reais) por
ano, e possuem no máximo um empregado que receba até um salário mínimo (REIS, 2013).
Esse tipo organizacional tem sido escolhido por se adequar à realidade financeira de muitos
empreendedores musicais. Atento a esse tipo organizacional, André T, produtor musical,
engenheiro de som e empreendedor musical, relata que possuía uma empresa de pequeno porte
e agora pretende migrar para o MEI (microempreendedor), pois, segundo ele, o MEI funciona
para quase todos os editais, com exceção de alguns poucos no âmbito nacional, sendo uma boa
opção para empreendedores musicais. Mr.Armeng, também já conhecendo os benefícios do
MEI, diz que possui o MEI, e diz que, com o MEI ele conseguiu acessar diversos recursos
públicos, podendo assim gerar renda para si e para outros profissionais. No Brasil e em muitos
outros países em desenvolvimento, os trabalhos informais, sem pessoa jurídica, possuem
geração de trabalho e renda (FONTES et al., 2009), sendo, portanto, uma opção que, quando
formalizada, aumente ainda mais o potencial não apenas para empreendimentos individuais,
mas também para empreendimentos coletivos, como, por exemplo, a criação de uma banda,
uma feira que englobe outros setores artísticos além da música, como cinema, teatro, circo e
artesanato. Podemos dizer que é possível ter uma carreira no ramo da música sem uma
formalização em pessoa jurídica, mas, com a pessoa jurídica, o empreendedor possui mais
ferramentas para realizar seus empreendimentos.
Aplicações: Mr. Armeng e André T são exemplos de que as atuações e o os campos do
empreendedorismo musical, podem ser múltiplas se os empreendedores ousarem
estrategicamente em não restringirem sua atuação em apenas um campo, dependendo do
interesse e oportunidades de cada espaço. Mr. Armeng transita na produção musical, cultural,
canto e arte-educação e André T exerce funções diversas dentro da própria produção musical,
sendo também engenheiro de som, produzindo trilhas para teatro, cinema, jingles, cds, entre
outros trabalhos. A aplicação do tipo organizacional segue a lógica de indicar o
microempreendedorismo como uma tendência no empreendedorismo musical. No entanto, é
importante alertar o empreendedor que o MEI possui diversos benefícios, mas também cuidados
e responsabilidades que devem ser consultadas pelos profissionais da área;
105
Fontes: princípios do empreendedorismo (RABELO et al., 2014); princípios do
empreendedorismo; definição do MEI; passo-a-passo para formalização e direitos do MEI
(PINTO; VALADÃO, 2015); princípios do empreendedorismo musical; as possibilidades
profissionais de atuação do empreendedorismo musical; o MEI como tipo organizacional
(SALAZAR, 2015);Princípios do microempreendedorismo (FONTES et al., 2009); perfil do
empreendedor da música (RABELO;SILVA; SOUSA; SOUSA; 2014); passo-a-Passo para a
realização de um plano de negócios (SEBRAE, 2010); as possibilidades de formalização da
pessoa jurídica, incluindo o MEI; o passo-a-passo para a formalização da pessoa jurídica, em
suas várias possibilidades (AVELAR, 2013); a importância do MEI para o empreendedorismo
cultural (REIS, 2013); informações, dúvidas, respostas e sugestões sobre a formalização do
MEI (PORTAL EMPREENDEDOR, disponível em:
http://www.portaldoempreendedor.gov.br/mei-microempreendedor-individual).
1.2.2 Tipos de parceria e redes empreendedoras
Princípio: Um dos tipos de parceria mais conhecidos é o trabalho artístico coletivo.
Uma banda, um projeto que integre diversas áreas da música e da cultura, entre outras ações
são realizadas por todo o mundo. Esse tipo de parceria, por exemplo, cria uma rede
empreendedora, que pode ser definida como uma rede de contatos profissional, na qual constam
empreendedores que se contatam para trabalhos, que trocam informações, indicam profissionais
para outros trabalhos ou realizam trabalhos em conjunto. Outro tipo de parceria e que auxilia o
fortalecimento da rede empreendedora é a abertura de um negócio em conjunto ou a
formalização de uma pessoa jurídica em conjunto, como uma cooperativa (SALAZAR, 2015).
Relevância: A relevância de um projeto empreendedor coletivo está na compreensão
do grande potencial empreendedor pra carreiras que possui a união de empreendedores através
de parcerias e redes (FONTES et al., 2009). A rede empreendedora pode ser definida a partir
do caso de Mr.Armeng, empreendedor musical que exerce as atividades de cantor, produtor
cultural e musical e arte-educador. Ele optou por essa formalização de forma coletiva a fim de
compartilhar gastos com taxas e impostos e poder usufruir dos benefícios que esse tipo
organizacional oferece, juntamente com um colega produtor musical e DJ.
Aplicações: Uma prática fundamental para esse conhecimento, reforçada pela
aplicação das parcerias e redes empreendedoras é destacada através do show, uma das
principais, se não a principal fonte de renda para o empreendedor da música (SALAZAR,
2015). Para realizar o show, oportunidade de negócio, uma boa maneira de baratear os custos
é fazer parcerias com artistas, técnicos de som e iluminação, entre outros profissionais da área.
106
Dentro das parcerias, uma aplicação bem-sucedida e que criou uma rede empreendedora foi
implementada por Mr.Armeng, que criou uma produtora musical coletivamente. Da parceria,
relata Mr.Armeng, nasce também uma rede de geração de emprego e renda. Músicos,
produtores culturais, holdings, fora o comércio local, quando ele realiza a atividade no seu
território moradia, no caso, o Vale das Pedrinhas, bairro que faz parte do território do Nordeste
de Amaralina incentivando os comércios que lidam com comunicação visual (banners,
impressão) bem como confecção de arte para divulgação (design) e o comércio de alimentos e
bebidas. A rede empreendedora, quando aplicada, se mostra para além do empreendedorismo
musical, envolvendo vários setores empreendedores e alavancando a carreira empreendedora
na música (REIS, 2013).
Fontes: A parceria como fortalecimento dos empreendimentos (FONTES et
al., 2009); a rede empreendedora como possibilidade de alavancar a carreira empreendedora
(REIS, 2013); possibilidades de parcerias para empreender na música (SALAZAR, 2015);
cooperativa como possibilidade de formalização em pessoa jurídica de forma coletiva
(SALAZAR, 2015); catálogo de músicas para conhecer parceiros (MANUKA, disponível em:
http://www.manuka.com.br/artigos/catalogo.htm); orientações gerais de como fechar shows
profissionais (PALCO DIGITAL, disponível em: http://www.opalcodigital.com.br/site/).
1.3 Conhecimentos sobre elaboração e gestão de projetos
Conhecimentos sobre elaboração e gestão de projetos são fundamentais para o
empreendedorismo musical, pois instruem sobre como elaborar um projeto para captar recursos
e organizar a realização do empreendimento e como administrar necessidades, etapas e
atividades da realização do empreendimento.
Na presente seção, indaga-se a estrutura de uma elaboração de um projeto musical. A
elaboração de um projeto dessa natureza se baseia, de forma geral, na seguinte estrutura: pré-
produção, produção e pós-produção (AVELAR, 2013). A seção em questão tenta alcançar um
esquema de elaboração e gestão de projetos adaptado para a realidade dos empreendimentos da
música.
1.3.1 Elaboração (Pré-Produção) de projetos para o empreendimento musical
Princípio: A pré-produção pode ser definida como a etapa de planejamento da produção
do projeto. Caracterizam a pré-produção os seguintes elementos: cronograma, equipe,
financiamento necessário, fontes de captação, instalações, transporte e demais questões
operacionais são definidas nessa etapa (AVELAR, 2013).
107
Relevância: A pré-produção é a etapa para a elaboração de um projeto, pois essa etapa
é responsável por toda a arquitetura do projeto e de suas fases que seguem, no caso a produção
e a pós-produção. É na pré-produção que serão definidos etapas importantíssimas para um
projeto, como a captação de recursos e o marketing.
Aplicações: A pré-produção pode ser aplicada nas seguintes “quatro frentes”: primeira
frente: seleção de equipe de profissionais para trabalhar no projeto ou organização da equipe,
no caso de empreendedores de um mesmo coletivo; segunda frente: Cronograma, estimativa,
captação de recursos e controle de contratos. Os responsáveis dessa “frente” deverão montar
todo o cronograma de trabalho, a estimativa dos custos e a captação de recursos; terceira frente:
operacional. Alimentação, transporte, instalações e segurança; quarta frente: marketing.
Responsável pela concepção de marketing, criação de logo do projeto e divulgação do projeto.
Pode-se considerar que nem sempre o empreendedorismo musical será exercido com pessoas
parceiras ou contratado para trabalhar com todas as frentes do projeto. Se o empreendedor está
com poucas parcerias, a indicação é simplificar o máximo no projeto e investir o dinheiro
conseguido em outro projeto ou em equipamentos que fortaleceriam o empreendimento, sempre
buscando melhorar e atingir um trabalho mais do que perfeito,
Fonte: Passo-a-passo para realizar a pré-produção de um projeto na área da cultura
(AVELAR, 2013).
1.3.2 Gestão (Produção e Pós-Produção) para o empreendimento musical
Princípio: A produção e pós-produção são etapas de gestão em que ocorrem a execução
do projeto (produção) e avaliação e prestação de contas do projeto (pós-produção) (AVELAR,
2013).
Relevância: A produção e a pós-produção são as etapas sequenciais da gestão de um
projeto. A produção possui o papel de concretizar o que antes era planejamento e ensaio (pré-
produção). A pós-produção tem a importância de armazenar o que foi feito durante todo o
projeto, avaliar (AVELAR, 2013) e prestar contas, quando couber.
Aplicações: A produção e a pós-produção podem ser aplicadas em “quatro frentes”:
Primeira frente: Organização de check-list e treinamento um dia antes da execução do projeto
da equipe; Segunda frente: Controle de recursos materiais e contratos. Para a pós-produção,
essa frente deverá realizar a prestação de contas; Terceira frente: Execução, gerenciamento e
controle na produção e na pós-produção dos trabalhos operacionais de alimentação, transporte,
instalações e segurança; Quarta Frente: Marketing. Execução do planejamento de marketing,
faixas, banner, camisas e artigos promocionais, entre outras ações. Divulgação pós-festa nos
108
variados meios de comunicação. Após o dia do evento, é hora de avaliar o que deu certo, o que
deu errado e o que pode ser melhorado. É o momento da pós-produção, fase para gerenciar os
recursos materiais do evento e a realização dos relatórios, no caso de prestação de contas para
editais públicos ou de patrocínios.
Fonte: Passo-a-passo da produção e pós-produção de um projeto (AVELAR, 2013).
1.4 Conhecimentos sobre marketing
Conhecimentos sobre marketing são fundamentais para o empreendedorismo musical,
pois ensinam sobre as formas dos empreendedores divulgarem e promoverem o
empreendimento, bem como de fortalecerem o relacionamento do público com o
empreendimento. Tendo em vista tais benefícios, o marketing pode ser definido como
instrumento que promove um melhor relacionamento e divulgação de um empreendimento
(REIS, 2013).
1.4.1 Comunicação para fortalecimento do empreendimento musical
Princípio: A comunicação, no âmbito do marketing, é caracterizada por transmitir a
marca do empreendimento, sendo a marca definida como um elemento que diferencia e cria
pertencimento acerca de um empreendimento (HATCH; SCHULTZ, 2008).
Relevância: A comunicação possui grande relevância para o exercício do marketing,
pois ela é o canal entre o empreendedor e o cliente/público. Sem a atenção do empreendedor à
comunicação, é possível que o plano de marketing falhe consideravelmente e o que poderia ser
um projeto/uma música de muito sucesso fica reduzido em alcance. A comunicação tem o poder
de ampliar e fazer ecoar um bom empreendimento musical.
Aplicações: Os jornais, as rádios e as mídias sociais são meios para a comunicação e a
execução do marketing de um empreendimento musical, contudo, nem sempre essa
comunicação é realizada de uma forma fácil. Segundo Luciano Bahia, Mr. Armeng e Mauro
Telefunksoul, produtor musical, produtor cultural na área da música e DJ, respectivamente,
existem ainda no Brasil, em especial na Bahia, muita resistência das rádios em tocar sons
baianos. Uma outra forma do profissional comunicar sua marca e exercer seu marketing é
através do seu próprio trabalho, quase sempre relacionadas as oportunidades de comunicação
virtual. Nos seguintes exemplos podemos visualizar o destaque que a tecnologia promove como
oportunidade mais autônoma: o cantor que lança uma música de forma gratuita a fim de
divulgar seu nome e trabalho, o DJ que publica um remix, um produtor cultural que cria um
curso de produção cultural da música e divulga durante seus trabalhos como forma também de
109
pagamento dos seus contratantes entre outras possibilidades. Segundo André T, a única forma
de conhecerem o trabalho dele é por meio do seu portfólio, ou seja, do que ele já realizou.
Segundo Mauro TelefunkSoul, no mercado da produção musical internacional, alguém que
produz música, por exemplo, não ganha na venda de discos, mas em royalties. Ele diz que
através de um selo de música, ele exporta suas músicas pra diversos países e ganha dinheiro
com isso. Segundo Mauro, o selo de música faz o trabalho de comunicação do trabalho com o
público, promoção de matéria sobre o artista/trabalho, site e todas as iniciativas pertinentes para
comunicar o trabalho do artista com o público. O selo de música, portanto, é uma das formas
de distribuição da música que pode também ser feita através dos comércios atacadistas e
varejistas ou venda direta ao público, fora os outros meios alternativos de distribuição
(SALAZAR, 2015).
Fontes: Princípios do marketing cultural (AVELAR, 2013; REIS, 2013); a função da
comunicação no marketing (HATCH;SCHULTZ, 2008); formas de distribuição de alguns
empreendimentos musicais como a música digital, o cd e o DVD físicos (SALAZAR, 2015);
como ganhar dinheiro licenciando sua música (PALCO DIGITAL, disponível em:
http://www.opalcodigital.com.br/site/).
1.4.2 Marketing de relacionamento: aprendendo a lidar com o público/cliente
Princípio: Marketing de relacionamento, no âmbito do empreendedorismo musical,
pode ser caracterizado como a ferramenta prática de atender às vontades do público da música,
fidelizando o público/clientes (AVELAR, 2013; REIS, 2013; SALAZAR, 2015).
Relevância: Quando o empreendimento musical exerce o marketing de
relacionamento, há maiores chances de que não só o seu atual projeto funcione como os projetos
que virão em sequência. Além de alavancar o empreendimento musical, o marketing de
relacionamentos pode oferecer algo difícil de conquistar: estabilidade de clientes/público.
Aplicações: Podemos propor o desenvolvimento do marketing de relacionamentos a
partir do processo de identificar potenciais públicos/clientes, criar um relacionamento com os
públicos/clientes e gerenciar esses relacionamentos (AVELAR, 2013). As etapas, então, se
organizam da seguinte forma: Primeira frente: identificando potenciais públicos/clientes:
pesquisar e mapear em redes sociais como facebook e twitter, em canais de vídeo como o
youtube, potenciais grupos, páginas, mobilizadores de opinião, para, a partir do mapa
consolidado, criar um relacionamento; Segunda frente: criando um relacionamento com os
públicos/clientes: diversas iniciativas podem ser utilizadas para criar um relacionamento com
público, utilização da televisão, rádio, os canais diversos na internet. O mais democrático e que
110
pode alcançar linhas inimagináveis de público, sem dúvidas, é a internet. Uma página bem
construída visualmente e com o bom controle de conteúdo ou um canal no youtube, uma conta
no instagram ou no twitter e iniciativas em novas mídias sociais que surgem a todo tempo,
podem garantir o início de uma relação mais sólida com público do empreendimento musical;
Terceira frente: gerenciando os relacionamentos criados: relacionamento criado, agora é o
momento de ficar atento às estatísticas de acesso, às características do público/clientes (o
youtube e o facebook, por exemplo, fazem recortes de público em diversas esferas, como de
gênero), pensar nos próximos investimentos de posts, artes visuais, vídeos, e gerenciar o
conteúdo da página. Existem profissionais nomeados de analistas de mídias sociais que exercem
a função de gerenciar mídias sociais.
Fontes: Passo-a-Passo para exercer o marketing de relacionamentos (AVELAR, 2013);
marketing de relacionamentos com o público (REIS, 2003); marketing de relacionamentos para
o público da música (SALAZAR, 2015); dez táticas para divulgação através do facebook
(PALCO DIGITAL, disponível em: http://www.opalcodigital.com.br/site/).
1.5 Conhecimentos sobre financiamento
Conhecimentos sobre financiamento são fundamentais para o empreendedorismo
musical, pois possibilitam ao empreendedor aprender ou ampliar os seus aprendizados acerca
da forma de captar recursos públicos por meio de editais para financiar a realização do
empreendimento, da forma de captar recursos privados por meio de projeto de patrocínio para
financiar a realização do empreendimento e de como captar recursos coletivos por meio de
plataformas digitais para financiar a realização do empreendimento.
1.5.1 Recursos públicos como fontes para empreendimentos musicais
Princípio: Os recursos públicos são os recursos financeiros oriundos de instituições que
possuem dinheiro público, sejam órgãos do poder executivo, paraestatais, autarquias, empresas
públicas ou entidades de economia mista. Geralmente, saem na forma de editais públicos
(SALAZAR, 2015).
Relevância: Forma de captar recursos públicos por meio de editais para financiar a
realização do empreendimento. Segundo Mr. Armeng, o poder público é o que costuma pagar
melhor entre as possibilidades de recursos para a área musical, vale pontuar que tal afirmação
pode variar de acordo com a situação econômica do país.
Aplicações: Para elaborar um projeto para um edital (REIS, 2013; SALAZAR, 2015),
é necessário seguir as seguintes etapas: definição de objetivos, justificativas, primeira versão
do cronograma e público; estudo de Editais; escolha do(s) edital(is); definição da(s) equipe(s);
111
definição do cronograma final, elaboração do orçamento e preenchimento do(s) edital(is);
execução do(s) edital(is); prestação(ões) de contas. Antes de iniciar a captação de recursos, o
empreendedor deve identificar entender e selecionar editais, mas como fazer? Cada edital de
cada instituição possui suas singularidades. É preciso, ao ler um Edital, perceber as
possibilidades de compatibilidade com o projeto musical proposto, bem como atentar para
prazos e orçamento. Exemplo dos primeiros passos da elaboração de um projeto: qual o
objetivo geral? Exemplo: “O projeto pretende realizar uma festa que promova os talentos
musicais do território do Nordeste de Amaralina na cidade de Salvador/Bahia, bem como
capacitar e estimular os artistas para o empreendedorismo da música”; quais os objetivos
específicos? Exemplos: “Promover cultura para o território do Nordeste; capacitar e estimular
o empreendedorismo da música; promover os talentos locais; geração de trabalho e renda para
empreendedores que trabalhem com produção de eventos, vendas de artesanatos e outras
produções manuais e do ramo de bebidas e comidas”; qual a justificativa? Exemplo: “estimular
a formalização de empreendedores da música em microempreendedores para incentivar novos
empreendimentos e desenvolver a economia local”; qual seria o Cronograma? Uma simples
planilha feita no word ou no excel com datas, horários e atividades poderiam organizar
minimamente o calendário de atividades para captação de recursos.
Fontes: A importância dos recursos públicos para o empreendedor da música
(SALAZAR, 2015); processos de captação de recursos públicos (REIS, 2013; SALAZAR,
2015); instituições, órgãos e possibilidades para conseguir financiamento através da captação
de recursos públicos: Ministério da Cultura, Secretarias Estaduais e Municipais da Fazenda, do
Turismo, da Juventude e da Cultura; SESC; SENAC; SEBRAE; Banco do Brasil; Caixa
Econômica Federal, Funarte, Infraero, Petrobrás e Correios.
1.5.2 Recursos privados: patrocínios como fontes para os empreendimentos musicais
Princípios: Os recursos privados são os recursos financeiros oriundos de empresas
privadas. Geralmente, saem na forma de leis de incentivo ou patrocínios, que são caracterizados
como um instrumento de marca da empresa (SALAZAR, 2015).
Relevância: A relevância desse tipo de recursos é de fornecer ao público-alvo mais
uma possibilidade de captar recursos, pela via do projeto de patrocínio.
Aplicações: Para aplicar a captação de recursos através de um projeto de patrocínio ou
de uma lei de incentivo (AVELAR, 2013; SALAZAR, 2015), é necessário seguir as seguintes
etapas: definição de objetivo, justificativas e provável equipe; estudo da empresa que irá
patrocinar o seu negócio; estudo de Edital de patrocínio (se houver); adaptação dos objetivos à
112
potencial patrocinadora e preenchimento do edital (se houver); apresentação de contrapartidas,
como, por exemplo, a exposição da logomarca na faixa principal do evento; assinatura do
contrato. Para os recursos privados, além dos editais, é possível captar recursos dos próprios
empreendedores do bairro. Padarias, mercadinhos, lan house, loja de instrumentos, enfim, todo
empreendedor que desejar ter sua marca estampada em uma placa, em uma camisa que as
pessoas envolvidas irão vestir durante a execução do projeto, serão bem-vindos. Contribuição
com alimentação, bebidas, equipamentos, também são formas de se captar recursos úteis para
o empreendimento musical. Um bom argumento para sensibilizar os empreendedores locais, é
que com um projeto musical no bairro, mais pessoas irão ao bairro e consumirão aqueles
serviços e bens, além de conhecerem ou contatarem tais empreendimentos, após a publicidade
dos empreendimentos.
Fontes: Definição de captação de recursos privados por meio de patrocínios ou leis de
incentivo (SALAZAR, 2015); processos do patrocínio (AVELAR, 2013); instituições, órgãos
e possibilidades para conseguir financiamento através da captação de recursos privados: nívea,
Votorantim, Natura, Itaú; outras formas de recursos privados: como ganhar dinheiro com
licenciamento de música para TV, filmes, jogos e internet (PALCO DIGITAL, disponível em:
http://www.opalcodigital.com.br/site/); quinhentos maiores patrocinadores da Lei Rouanet
(CAPTAÇÃO INTELIGENTE, disponível em: http://captacaointeligente.com.br/lp500).
1.5.3 Recursos coletivos: fonte democrática para captação de recursos
Princípios: Os recursos coletivos, obtidos pelo financiamento coletivo, são requisitados
basicamente quando um projeto, uma iniciativa ou um negócio é exposto em uma plataforma
na internet e as pessoas que se identificam, se solidarizam ou apostam na ideia do projeto,
contribuindo financeiramente.
Relevância: Forma de captar recursos coletivos por meio de plataformas digitais para
financiar a realização do empreendimento. Os recursos coletivos são relevantes ao
empreendedor da música, pois geralmente tem baixos custos e, mesmo sendo inovadores, já
possuem comprovações de sua eficácia.
Aplicações: O meio de se obter recursos coletivos é o financiamento coletivo, mas o
que é um financiamento coletivo? Existem diversas plataformas de crowdfundings40 no mundo,
contudo, recomenda-se que os esforços do financiamento coletivo sejam concentrados em
apenas uma plataforma, para não dispersar o investimento. De acordo com o perfil do projeto,
40 Termo designado para o financiamento coletivo em inglês.
113
se pode escolher entre o financiamento “tudo ou nada”, que você só leva o dinheiro arrecado se
bater sua meta ou o financiamento que não tenha esse requisito, reconhecido como “flex”. Após
a escolha da plataforma, o profissional pode tomar os seguintes passos para realizar o seu
financiamento coletivo: Primeira frente: Conseguir uma base financeira. Uma dica é antes de
lançar publicamente a plataforma de financiamento coletivo, conseguir uma base considerável
do dinheiro solicitado, cerca de 30% a 40%, para dar credibilidade ao projeto e mostrar que as
pessoas desconhecidas que o projeto pode dar certo. Familiares, amigos, colegas e parceiros
profissionais podem dar a ajuda necessária para iniciar o financiamento; Segunda frente: Qual
a história por trás do seu projeto? Quais os objetivos e justificativas? O que ele vai ocasionar
individualmente e coletivamente? Ele vai melhorar a vida de outras pessoas indiretamente?
Qual a ligação do músico com aquele trabalho artístico? A historia do artista, a identidade do
empreendedorismo musical e do resultado daquele projeto é importantíssimo para persuadir e
sensibilizar os possíveis doadores do financiamento; Terceira frente: Estabeleça metas. Quantas
pessoas você quer atingir? Qual valor você quer atingir? Quais os potenciais parceiros? Um
plano realista e, ao mesmo tempo, ousado pode auxiliar no sucesso do projeto; Quarta frente:
Divulgando sua campanha. E-mails, facebook, twitter, instagram, sanpchat, canal no youtube,
interação ao vivo com possíveis doadores entre outras ações através de mídias sociais são
ferramentas econômicas e de poderoso alcance para que a campanha viralize e obtenha o
sucesso desejado. Sem dúvida, o financiamento coletivo é uma das formas de captação de
recursos mais baratas e possíveis de se alcançar bons resultados no empreendedorismo musical.
Fontes: Passo-a-Passo para realizar o seu financiamento coletivo; exemplos de
financiamentos coletivos realizados para empreendimentos da música; sites que servem como
plataformas para o financiamento coletivo (COMEÇAKI, disponível em:
http://comecaki.com.br/; EMBOLACHA, disponível em: http://www.embolacha.com.br/;
CATARSE, disponível em: https://www.catarse.me/); conversa com representante de uma das
maiores plataformas para o financiamento coletivo do Brasil (PALCO DIGITAL, disponível
em: http://www.opalcodigital.com.br/site/).
1.6 Conhecimentos sobre legalidade
Conhecimentos sobre legalidade são fundamentais para o empreendedorismo musical,
pois a forma de utilizar contratos e direitos autorais para assegurar o sucesso e minimizar os
riscos de empreendimentos demonstra o quanto o empreendedor pode ganhar e se proteger
quando detém tais conhecimentos.
1.6.1 Contratos no empreendedorismo musical
114
Princípios: Existem dois princípios para os contratos no empreendedorismo musical
que podem ser utilizados por quase todos os campos da área: o contrato por prazo determinado
ou indeterminado ou o contrato por substituição ou serviço caracteristicamente eventual de
música (SALAZAR, 2015).
Relevância: Os dois princípios acima citados demonstram a importância construção de
contratos para assegurar o sucesso e minimizar os empreendimentos musicais e extremamente
relevantes para a prática do empreendedorismo musical.
Aplicação: Antes de assinar um contrato, o empreendedor da música deve pensar em
algumas questões para seu projeto, como: cachê, instalações, equipe de apoio, hospedagem,
valor de viagem e todos os detalhes que possam envolver as obrigações das partes (SALAZAR,
2015). Essa indicação serve para boa parte das possibilidades de empreendimentos na música,
mas é preciso ficar atento às diferenciações entre contratações, como no caso de administração
pública (SALAZAR, 2015) e da administração privada.
Fontes: Passo-a-passo para um profissional assinar um contrato; exemplo de minuta
contratual para o empreendedorismo da música; casos polêmicos (SALAZAR, 2015);
elaboração de Contratos; tipos de contratos para o empreendedor da cultura; clegais para o
empreendedor da cultura (AVELAR, 2013).
1.6.2 Direitos autorais para os empreendimentos da música
Princípio: Podemos definir quatro princípios que definem a função dos direitos autorais
para os empreendimentos da música: direitos sobre a música, formas de controle, leis e
instituições.
Relevância: Formas de proteger e lucrar com os empreendimentos musicais. Com o
conhecimento sobre direitos autorais, o profissional amplia suas ferramentas de atuação no
campo da música. Segundo um dos vocalistas da dupla de rap Simples Rap’Ortagem, Jorge
Hilton, boa parte da classe musical precisa urgentemente tomar conhecimento dos direitos
autorais.
Aplicações: Para conhecermos os direitos autorais, o melhor caminho é recorrermos à
Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998. A lei trata, para o âmbito da música, que todo
empreendedor da música tem direito de receber um pagamento por diversos serviços, protege
o empreendedor em caso de ofensa à produção do empreendedor, entre outros casos. Sua leitura,
portanto, é fundamental para a carreira empreendedora na música.
Fontes: Direitos Autorais, como receber o dinheiro no Ecad, limites e outros direitos
(AVELAR, 2013; SALAZAR, 2015); lei que versa sobre os direitos autorais (LEI Nº 9.610,
115
DE 19 DE FEVEREIRO DE 1998, disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9610.htm).
Conclusão
Primeiramente, é preciso dizer ao empreendedor, que o guia foi organizado da melhor
maneira possível para compreensão do público-alvo, mas todos os conhecimentos dialogam e
se comunicam. Se o empreendedor ou um coletivo de empreendedores necessitarem com
urgência de indicações, referências, sobre o tema de “recursos”, não será prejudicada a
compreensão do artigo por ele ir objetivamente à seção que trata do tema de recursos.
É preciso ressaltar ao empreendedor, que os conhecimentos para alavancar a carreira
empreendedora na música não se limitam aos conhecimentos aqui apresentados. Procura-se
tratar e indicar os conhecimentos imprescindíveis à carreira, contudo, processos de inovação,
criação e arte são sempre confrontados com novas necessidades de atualizações por parte dos
empreendedores da música.
Uma discussão interessante e que outros trabalhos deveriam investigar é acerca da
educação empreendedora no nível de formas artísticas que atraiam e envolvam jovens músicos
para os conhecimentos empreendedores, a fim de estimular o desenvolvimento de carreiras e
de territórios musicais.
Pode-se pensar que esse artigo indicou parte dos conhecimentos essenciais ao
empreendedorismo musical e reconhece a necessidade de se trabalhar com projetos coletivos e
que pensem no desenvolvimento de um território no âmbito do empreendedorismo musical bem
como formas inovadoras de educação de forma geral, principalmente quando se trata de áreas
inovadoras como o empreendedorismo e a música.
Espera-se que, com esse artigo em mãos, o empreendedor musical possa organizar e
alavancar a sua carreira através dos princípios, relevâncias, aplicações e fontes de cada seção.
O guia tem o intuito que todo manual possui: guiar e instruir. E esse guia leva a tesouros que
quanto mais compartilhados com os empreendedores da música, mais forte ficará a economia
criativa do Brasil.
Referências
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Ed. Do Autor, 2013.
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o desbravamento de jovens músicos do Nordeste de Amaralina. RECADM : Revista
Eletrônica de Ciência Administrativa. (no prelo).
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Administrativa. (no prelo).
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empreendedorismo. Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação. (no prelo).
________________. Gestão participativa de eventos comunitários: princípios e práticas com
fundamento na identidade local. Revista Brasileira de Desenvolvimento Regional. (no
prelo).
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atividade empreendedora. In: ENCONTRO DE ESTUDOS MULTIDISCIPLINARES EM
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KUBO, E. Construção da identidade organizacional na indústria criativa: o caso de uma
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PINTO, J; VALADÃO, R. Microempreendedor Individual: vantagens e desvantagens sob a
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Coordinating Cultural Entrepreneurship. Organization Science, v. 22, n. 2, p. 449-463, 2011.
118
3.4 ARTE E PARTICIPAÇÃO COMO PRINCÍPIOS DE APRENDIZAGEM PARA O
EMPREENDEDORISMO (ARTIGO 4)41
Resumo: O ensino e a aprendizagem do empreendedorismo são atividades de extrema
importância para a maior qualificação dos empreendedores. Apesar disso, os conhecimentos
disponíveis sobre o ensino e a aprendizagem no empreendedorismo ainda são muito orientados
para criação de negócios gerais, seguindo a lógica do empreendedorismo tradicional, por isso,
pouco adequados ao empreendedorismo mais criativo, social e cultural. Este artigo tem vocação
tecnológica42, pois objetiva fornecer um conjunto de práticas pedagógicas para ensinar e
aprender o empreendedorismo através da arte. A participação é destacada como dimensão
integradora da arte, dos processos criativos e do empreendedorismo. Nosso artigo tecnológico,
então, tem um caráter mais profissional do que acadêmico na medida em que busca formular
um conjunto de práticas pedagógicas para empreendedores e educadores auxiliarem artistas a
qualificarem suas carreiras e projetos. A metodologia qualitativa foi utilizada no trabalho para
fundamentar as indicações da arte e participação como princípios de aprendizagem para o
ensino do empreendedorismo. Ao fim da pesquisa, concluímos que com o presente artigo
tecnológico, o empreendedor, educador e líder poderão ter ferramentas úteis para ampliar a
prática do ensino e a aprendizagem do empreendedorismo.
Palavras-chave: empreendedorismo; educação empreendedora; pedagogia; arte; participação.
1 Introdução
O presente conjunto de práticas pedagógicas43 se destaca pela sua relevante
contribuição para auxiliar na ampliação de uma grande carência no campo do
empreendedorismo: parcela considerável dos empreendedores, educadores, líderes sociais,
culturais e comunitários não possuem recursos pedagógicos para o ensino do tema. O contexto
educacional onde ocorre esse déficit é a aprendizagem informal ou não-formal, que pode ser
41 Artigo a ser submetido para a Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação. Por isso, o artigo segue as
normas da ABNTA exigida pela revista. 42 Para ampliar a discussão sobre tecnologia social, ler: DAGNINO, R. et al. Tecnologia social: uma estratégia
para o desenvolvimento. Rio de Janeiro, 2004. Disponível em:
http://www.oei.es/salactsi/Teconologiasocial.pdf; RODRIGUES, Ive. A emergência da tecnologia social:
revisitando o movimento da tecnologia apropriada como estratégia de desenvolvimento sustentável. Rio de
Janeiro. 2007. 43 O presente artigo faz parte de uma tecnologia social. Além desse artigo, outros três artigos compões a tecnologia
social, sendo que um artigo apresenta o desenho geral da tecnologia (Campos & Davel, no prelo); um trabalho que
trata dos conhecimentos do empreendedorismo musical (CAMPOS, no prelo) e outro artigo trata da gestão
participativa de eventos comunitários (CAMPOS, no prelo). Além desse conjunto de artigos, um caso de ensino
reforça a tecnologia (Campos & Davel, no prelo).
119
caracterizada por estar fora das aprendizagens formais, como currículos ou cursos
profissionais, mas que pode ser estruturada para melhor orientar seu grupo (COELHO;
MOURÃO, 2001; FONTES ; PERO, 2009; GOMES; SILVA, 2012; LIVINGSTONE, 1999).
A atenção a esse contexto se justifica pela notória quantidade de vezes que os espaços de
educação formais não educam os empreendedores ou potenciais empreendedores,
desconsiderando a realidade local como um dos fundamentos para o processo educacional e
assim exercendo uma proposta formal, quando ela ocorre, que não afeta positivamente o
indivíduo (DUARTE JUNIOR, 2008; LARROSA, 2002). Além dessas questões, se percebe
que pouco se sabe de práticas artísticas para educação no empreendedorismo.
A partir dessas considerações, pensamos em ferramentas pedagógicas que estejam
afinadas com o caráter mais artístico, criativo, inovador e coletivo que o empreendedorismo
vem demonstrando em suas áreas de atuação cada vez com mais frequência. Para fins
didáticos, utilizaremos apenas o termo “educador” como público-alvo para aplicar esse
conjunto de práticas pedagógicos proposto, contudo, qualquer interessado no tema (líderes,
empreendedores, entre outros indivíduos) pode sim aplicar a presente proposta. O artigo então
é organizado visando o formato mais pragmático possível, através de três seções: a arte e os
processos criativos como ferramentas de aprendizagem no empreendedorismo; as estratégias
de integração da arte e dos processos criativos na aprendizagem do empreendedorismo; e a
participação como dimensão integradora da arte e dos processos criativos na aprendizagem do
empreendedorismo.
Os estudantes devem aprender sobre diversos elementos do empreendedorismo para
ampliar suas chances de realizar os seus sonhos. Conhecimento sobre as possibilidades de
carreiras, amplitude de recursos possíveis, as vantagens e garantias trazidas pelos contratos e
direitos autorais, como produzir um evento, a força da identidade local, entre outros
conhecimentos são imprescindíveis para o aprendizado no empreendedorismo. A presente
pesquisa não pretende exercer uma reflexão densa sobre as práticas e conhecimentos
pedagógicos, mas sim ofertar ao educador indicações de recursos pedagógicos apropriados
para aplicação do ensino do empreendedorismo tendo em vista as características presentes nos
processos artísticos como o ludismo, a criatividade e a inovação. Ressaltamos que optamos
por um leque de conhecimentos e indicações que não se propõem a adensar as diferenças de
cada expressão artística, mas introduzir o educador inicial no processo de uma pedagogia
artística para a educação do empreendedorismo, bem como o objetivo de contribuir com o
maior número possível de arte-educadores.
120
A metodologia da pesquisa é de caráter qualitativa e conta com a revisão bibliográfica
e com a técnica de coleta de informações baseadas em documentos e entrevistas
semiestruturadas com dois empreendedores do estado da Bahia, com práticas na arte-educação
e três arte-educadoras residentes no estado da Bahia, cada uma com prática em uma ou mais
das seis expressões artísticas aqui trabalhadas. Os entrevistados foram escolhidos pela notória
experiência nas práticas aqui trabalhadas. Os documentos (textos, artigos, livros, matérias na
internet) selecionados foram escolhidos pelas suas possibilidades de aplicabilidade, a exemplo
de sites que relatam experiências na pedagogia com base na arte e na participação. As
entrevistas dos dois empreendedores com práticas na arte-educação foram partes realizadas
face-a-face, partes registradas em áudio e partes em registro audiovisual, durando de trinta a
cinquenta minutos cada entrevista. As entrevistas com as arte-educadoras foram realizadas via
contato telefônico ou face-a-face, durando em média de quarenta a oitenta minutos. Os dados
então foram analisados e articulados, tendo como resultado uma estruturação de forma a
apresentar o conjunto de práticas pedagógicas para ampliar a educação no empreendedorismo.
Ao considerarmos a arte na aprendizagem do empreendedorismo, podemos,
primeiramente, dizer que empreender tem diversos significados e, para chegarmos à ideia atual
de empreendedorismo, houve uma história de mudanças sobre a ideia do que é o
empreendedorismo (CAMPOS; DAVEL, 2015). Nessa pesquisa, partimos da ideia de que
empreender possui o sentido, principalmente, de ser criativo para buscar soluções (BARON,
2007). A ideia de empreendedorismo compreendida nessa pesquisa vem sempre associada à
noção de que o empreendedorismo pode ser visto como um instrumento não só para crescimento
individual, mas também territorial e social (CAMPOS; DAVEL, 2015).
2 A Arte na Aprendizagem do Empreendedorismo
A arte, que vem do latim ars44, pode ser caracterizada pelas práticas com habilidade
para realizar algo nos remetendo às formas artísticas como música, teatro, cinema, dança,
fotografia, artes plásticas e literatura. A arte pode ser também definida como fonte de
inspiração no processo de aprendizagem, fonte de conhecimento, fonte de terapia, fonte de
interpretação, fonte de expressão e fonte de comunicação (DAVEL; VERGARA, 2007; DE
BOTTON; ARMSTRONG, 2013). Para orientar a arte no ensino-aprendizagem do
empreendedorismo, a presente seção está estruturada a partir de potenciais, vantagens e desafios
de uso da arte e de suas expressões artísticas. É importante que o educador tenha em vista que
44 http://www.dicionarioetimologico.com.br/arte/
121
cada parágrafo desse trabalho possui a intenção de auxiliar não só nos conhecimentos, mas,
principalmente, nas práticas educacionais orientadas ao empreendedorismo.
Para esse artigo, optamos pela arte-educação, dentre outras opções possíveis da arte na
aprendizagem do empreendedorismo, por ser uma das formas mais práticas de meios para
ensinar e, pensando no empreendedorismo como área também prática, seu uso se faz pertinente.
Ao educador, cabe endossar que o conjunto de práticas pedagógicas aqui proposto não nasceu
de uma hora para outra, mas surge através de um processo longo, de estudos e práticas
educativas que nos apontaram novos caminhos. A arte-educação vem sendo utilizada,
formalmente, desde a Lei 5.692/71 que apresenta o estudo das artes nos currículos formais das
escolas (BARBOSA, 1989; DUARTE JUNIOR, 2008), tendo a Federação de Arte-educadores
do Brasil – FAEB45 como primeira entidade a nível nacional referente à área de arte-educação.
Anísio Teixeira foi um dos nomes mais fortes na aplicação da arte-educação no Brasil, com a
criação da escola parque em Salvador, Bahia (NASCIMENTO, 2009).
Destacamos a inovação em associar arte-educação ao ensino do empreendedorismo
pelas seguintes razões: mobilização dos afetos, aprendizado com maior potencial de
engajamento, possibilidade de uso da dimensão artística por se associar diretamente com o
empreendedorismo cultural. O conjunto de práticas pedagógicas que propomos, portanto, não
visa dar apenas assistência aos artistas, mas, de fato, empoderar e transformar carreiras
artísticas, ao mesmo tempo em que visa estimular o auxílio desses artistas no desenvolvimento
das suas comunidades. Considerando ainda que a educação ocorre durante toda a vida do sujeito
e que o sujeito adulto merece a devida atenção quanto ao seu processo de ensino-aprendizagem
(KOLB, 1984), a arte-educação vem como ferramenta potencial para o empreendedorismo, pois
através dela, o artista pode, possivelmente, conquistar autonomia, construção identitária,
valorização da cultura local e assim ser um sujeito transformador (SANTOS; BARROS, 2009;
RIBEIRO, 2013).
A grande vantagem prática da arte para se educar no empreendedorismo consiste em
dialogar diretamente com a cultura e suas diversas formas bem como estimular práticas
inovadoras e criativas, sendo estas intimamente empreendedoras. A arte pode levar o sujeito a
crescer, a motivar e capacitar profissionais para mudarem suas realidades
(DAVEL; VERGARA, 2007; DUARTE JUNIOR, 2008). Um artista de bairro popular por
exemplo, pode, através de elementos artísticos que lhes são familiares, se interessar e, assim,
aprender muito mais sobre formas de conseguir recursos através das plataformas de recursos
45 http://faeb.com.br/
122
coletivos ou sobre direitos autorais elementos ligados ao empreendedorismo e carreira artística.
Com esses novos conhecimentos, um artista pode não só mudar sua realidade, mas de toda uma
comunidade, gerando empregos, trabalhos e renda.
O educador deve ter em mente que a criatividade, a brincadeira, o momento em que o
grupo de estudantes se conhece não é “perda de tempo”, mas, pelo contrário, é um momento de
fortalecimento do processo de educação para o aprendizado do empreendedorismo. A arte pode
ser percebida como um campo de ações que permite um relaxamento, engajamento e plenitude
do indivíduo no processo de aprendizagem (OLIVEIRA, 2003).
Segundo o Institute of Play46, ONG de ensino que utiliza a arte para educação de
crianças e jovens em Nova York (EUA), quanto mais se avança na educação, da vida infantil à
vida adulta, menos engajado o estudante fica com relação ao sistema de ensino. Esse fato ocorre,
pois, quanto mais se avança no ensino, o sujeito tende a se deparar com formas mais duras de
aprender, ou seja, quase que estritamente racionais e, raras vezes, artísticas. O referido instituto
possui a iniciativa de ser um laboratório que desenvolve a educação através da arte e das
brincadeiras para tentar reverter esse quadro de desânimo dos estudantes no decorrer da vida e
melhorar a qualidade de aprendizado, demonstrando um grande potencial e vantagem de se
utilizar a arte. No contexto de comunidades periféricas em que diversos estudantes sofrem
atentados violentos cotidianamente, a arte como forma de educação para o empreendedorismo
pode atrair cada vez mais pessoas e fomentar o desenvolvimento das próprias comunidades.
No Brasil, O Instituto Casa Via Magia é um exemplo de formação de educadores através
da arte-educação47. O Instituto transmite conhecimentos e práticas acerca da arte-educação no
ensino formal, a fim de que o ensino-aprendizagem seja mais dinâmico para educadores e
estudantes. O Neojiba - Núcleos Estaduais de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia48 é um
exemplo no Brasil de transformação social através da educação musical. Baseado no “El
Sistema”, o Neojiba trabalha com fundamento na consideração das relações entre o indivíduo,
a família e a comunidade e na visão da arte como direito social, sendo convertida em
capacitações. A presente proposta pedagógica se inspira nessas iniciativas para formular uma
pedagogia artística para o empreendedorismo.
Aliado às artes, podemos afirmar que a educação, a partir do sentido, da experiência
(KOLB, 1984; LARROSA, 2002) e da criação de universos e mundos (KASTRUP, 2001), abre
frentes diversas e possíveis para a educação no empreendedorismo (HJORTH, 2004). Um
46 http://www.instituteofplay.org/about/ 47 http://www.viamagia.org/escola/adultos_formacaoprofessores.html 48 http://neojiba.org/historico/
123
exercício artístico, por exemplo, pode ampliar os horizontes profissionais de um artista, fazendo
com que ele enxergue novas possibilidades profissionais com a instrução de como ele pode
chegar “lá”.
Talvez o maior desafio para utilizar a arte para o ensino na aprendizagem do
empreendedorismo (DAVEL; VERGARA, 2007) ocorra na tensão pré-estabelecida entre o
dito formal (empreendedorismo) e informal (arte). A tensão ocorre entre a inserção da arte nos
espaços de trabalho e as estratégias empreendedoras que focam certa ordem já estabelecida para
os mesmos espaços (HJORTH, 2004; OLIVEIRA, 2003). A ambiguidade da arte no campo do
empreendedorismo (SUTTON-SMITH, 1997) então pode ser sintetizada no conflito entre a
noção de trabalho e de arte, pré-estabelecida, onde o trabalho é visto por muitos como algo
estritamente sério e a arte como algo estritamente divertido. Ao educador, orientamos que é
possível superar a barreira dessa noção para os jovens mais resistentes às atividades que
envolvam a arte para o aprendizado do empreendedorismo com muito diálogo, paciência e
perseverança. No diálogo, a escuta é imprescindível para que a participação dos estudantes
ocorra e o engajamento aconteça de forma mais rápida possível. A paciência e perseverança são
auxiliares para que o processo educacional transcorra até o fim, com êxito.
Outro desafio para o ensino através de áreas mais artísticas do empreendedorismo é pela
novidade da proposta para muitos empreendedores e interessados no tema. Motivá-los a se
engajarem em atividades com fundamento na arte, explicando passo-a-passo do que vai ser
feito, sobre as vantagens e casos práticos que deram certo com a experiência na aprendizagem
mais artística e criativa, são estratégias para motivar aqueles que forem aprender sobre
empreendedorismo.
3 . Estratégias de Integração da Arte no Ensino-Aprendizagem do Empreendedorismo
Com fundamento nas potencialidades, nas vantagens e nos desafios do uso da arte no
processo de aprendizagem do empreendedorismo e pensando no contexto informal ou não
formal do ensino do empreendedorismo, estabelecemos sete expressões artísticas como
elementos estratégicos de integração da arte no processo de aprendizagem do
empreendedorismo, sendo elas: linguagem musical, linguagem teatral, linguagem audiovisual,
linguagem da dança, linguagem fotográfica, linguagem das artes plásticas e linguagem literária.
Faz-se importante ressaltar para o educador que, a cada expressão, é fornecido procedimentos
gerais e alguns exemplos de aplicabilidade de cada expressão para o ensino e aprendizagem do
empreendedorismo. Uma possibilidade aqui desenhada jamais deve ser executada apenas de
uma forma pelo educador, pois cada grupo é único e os procedimentos pedagógicos devem ser
124
pensados conforme o grupo sempre tendo em vista à criatividade e a inovação de cada educador,
afinal, a inovação é uma possibilidade de ser ativada por todos (AGUSTINI, 2014).
Destacamos a opção por diversas linguagens artísticas, ainda que de forma objetiva, pois
a sinergia entre as linguagens e ampliação de possibilidades para o ensino do
empreendedorismo. O intuito não é especializar em uma linguagem artística, mas oferecer um
conjunto de possibilidades pedagógicas do ensino do empreendedorismo através das artes
(JEFFCUTT, 2004).
3.1 Aprendizagem pela Linguagem Musical
A música, área artística muito adotada para o ensino de forma geral, vem sendo
utilizada como potencial recurso pedagógico em diversas áreas de ensino como os estudos
organizacionais, as artes, a educação, a psicologia, entre outros (CARVALHO, 1994;
DAVEL; VERGARA, 2007; OLIVEIRA; STOLTZ, 2010; PORCHER, 1982; VYGOTSKY,
2001), pois ela tem o potencial de tornar um sentimento antes subjetivo, em coletivo tendo
como função, além do aprendizado (DAVEL; VERGARA, 2007), a sociabilidade
(CARVALHO, 1994; apud OLIVEIRA, M; STOLTZ, 2010; VYGOTSKY, 2001) e a
capacidade de mobilizar diversas pessoas, desenvolvendo a concentração para a sua atividade
(OLIVEIRA; STOLTZ, 2010).
Muitos projetos sociais, culturais e de desenvolvimento territorial utilizam a música
como elemento de formação e encaminhamento profissional49, o que pode contribuir com
ideias para o educador desenvolver seus trabalhos de ensino e aprendizagem do
empreendedorismo com base na música. O Olodum50, banda baiana de Salvador (Bahia), é
um forte exemplo de uso da arte na aprendizagem. No caso, a formação em música,
principalmente para crianças, adolescentes e jovens adultos, fez com que o Olodum se tornasse
mais do que uma banda, mas uma instituição promotora de ações político-sociais e geração de
empregos (CARVALHO, 1994).
A primeira possibilidade de uso da música para o ensino do empreendedorismo seria
a utilização da composição musical. O educador, após conhecer o grupo que irá participar das
aulas sobre empreendedorismo, pensaria em composições de músicas sobre os assuntos. A
composição musical oferta diversas maneiras de se desenvolver o ensino e a aprendizagem do
49 http://vivafavela.com.br/362-acoes-culturais-revelam-jovens-talentos-no-rio/; http://www.pracatum.org.br/;
http://neojiba.org/; http://www.projetopalco.com.br/site/em-cena/index/q/jixw;
http://www.afroreggae.org/oficinas-culturais/; http://www.olodum.com.br/index.php/social; http://neojiba.org/
125
empreendedorismo. O gênero musical, ou gêneros musicais – deve(m) ser escolhido(s) de
acordo com a realidade do grupo. Por exemplo, se o grupo tiver alguma ligação com o gênero
tecnobrega, como boa parte de Belém do estado do Pará, seria interessante pensar em uma
música que tenha o ritmo do tecnobrega; se o grupo tiver como referência majoritária o samba,
se deve levar em conta esse aspecto. Os estudantes podem cantar as composições e assim ir
refletindo sobre o assunto ensinado. O papel do educador é coordenar todo o processo
organizando equipes - se for o caso - procedimentos, consultando os estudantes sobre o que
eles acham, se eles possuem alguma contraproposta sobre o exercício, estipular o tempo da
atividade previamente e controlar o tempo durante todo o período de ensino.
A segunda possibilidade de uso da música para o ensino do empreendedorismo seria a
utilização e improvisação do rap. O educador, após conhecer o grupo que irá participar das
aulas sobre empreendedorismo, solicitaria aos estudantes voluntários que improvisassem raps,
um de frente para o outro, e, assim, fariam uma batalha de rap do empreendedorismo. O papel
do educador é de novamente gerenciar todo o processo de aprendizagem, explicando,
detalhadamente, o que é a batalha de rap, como ela deve ocorrer e quais os aprendizados que
serão desenvolvidos nessa atividade.
3.2 Aprendizagem pela Linguagem Teatral
O teatro, área artística muito adotada pela arte-educação, vem sendo utilizada como
potencial recurso pedagógico em diversas áreas de ensino como os estudos organizacionais,
as artes, a educação entre outros (BOAL, 2009; DAVEL; VERGARA, 2007; MOREIRA;
MARANDINO, 2015; OLIVEIRA; STOLTZ, 2010), por estimular a expressão de cada
indivíduo, desenvolver o trabalho em grupo e fortalecer o exercício da escuta e da
improvisação.
Muitos projetos sociais, culturais, educacionais e de desenvolvimento territorial,
utilizam o teatro como elemento de capacitação e encaminhamento profissional51, o que
podem contribuir para o educador desenvolver seus trabalhos de ensino-aprendizagem do
empreendedorismo com base no teatro.
O teatro do oprimido é um teatro que se aproxima muito da possibilidade de
aprendizagem do empreendedorismo pela linguagem teatral. A arte-educadora Rô Reys,
diretora do Instituto Casa Via Magia, com mais de três décadas de experiência na arte-
51 http://www.afroreggae.org/oficinas-culturais/; http://www.projetopalco.com.br/site/em-cena/index/q/jixw;
http://www.viamagia.org/instituto/instituto_formacao.php
126
educação e com experiência predominante na área do teatro, diz que o teatro do oprimido
fornece metodologias coerentes com diversas realidades e grupos de estudantes, pois
considera e desenvolve a identidade individual e coletiva através da realização do teatro
(BABBAGE, 2004).
O teatro do oprimido (também chamado de teatro-fórum) é capaz de fazer o sujeito se
enxergar como belo (BOAL, 2009), elevando sua autoestima e valorizando sua identidade.
Esse tipo de teatro já pensa em um público-alvo para experimentar o teatro, e para isso busca
conhecer os sujeitos e valorizá-los a partir do que são e do que possuem. Rô Reys relata uma
experiência em que em uma comunidade indígena na qual os alunos não queriam nada que
fizesse parte do universo deles. Achavam o lugar em que moravam “feio”, pois se
comparavam com outros lugares “bonitos” para eles. Ao deslocar a sala de aula para a floresta
e conseguir estimulá-los para as belezas do seu próprio espaço e da sua própria cultura, eles
realizaram um belo trabalho justamente pela beleza do que já possuíam, tornando a construção
da peça uma experiência por toda a vida do sujeito (CANDA, 2012).
A primeira possibilidade de uso do teatro para o ensino do empreendedorismo seria a
construção de uma peça teatral com foco na encenação coordenada pelo educador e exercida
pelos estudantes. O educador, após conhecer o grupo que irá participar das aulas sobre
empreendedorismo, pensaria em personagens e um cenário juntamente com os estudantes. O
educador teria que, previamente, preparar sua aula tendo em vista esses elementos e sempre
conectar a construção da peça teatral com o que será ensinado. O tempo e dias a serem
trabalhados em cada etapa ficam a critério de cada educador. Após a construção do roteiro,
seguem os ensaios e, por fim, a encenação. O momento pós-encenação deve ser auto avaliativo
e reflexivo acerca do conteúdo empreendedor.
A segunda possibilidade que propormos ao educador é a encenação de uma peça de
teatro com base no teatro-fórum. Textos teatrais que tivessem elementos empreendedores
podem ser trabalhados para estimular o empreendedorismo ou introduzir assuntos sobre a área,
na própria sala de aula onde, em grupos, alguns estudantes seriam atores e, outra, plateia, com
a interação característica do teatro-fórum (CANDA, 2012).
A terceira possibilidade que podemos pensar aqui é da improvisação teatral. Um
preenchimento de um contrato, por exemplo, onde histórias engraçadas, criativas e que
empolgassem os estudantes e pudessem fazer com que o fundamento do conhecimento de
contratos e a sua devida importância fosse assimilada pelos estudantes. A prática de analisar e
preencher um contrato, avesso a muitos empreendedores, avançaria no ensino desse
conhecimento para empreendedores, considerando a realidade de cada indivíduo no processo
127
de aprendizagem. O preenchimento do contrato seria encenado pelo empregador (personagem
1) e empregado (personagem 2).
3.3 Aprendizagem pela Linguagem Audiovisual
O cinema, área artística muito adotada pela arte-educação, vem sendo utilizada como
potencial recurso pedagógico em diversas áreas de ensino como os estudos organizacionais,
as artes, a educação entre outros (DAVEL; VERGARA, 2007; NETO; PAZIANI, 2015;
OMELCZUK et al., 2015; PIRES; SILVA, 2014; WALTER, 2015). O cinema, expressão
artística que se faz por narrativas audiovisuais, é um recurso muito pertinente ao ensino do
empreendedorismo, pois as narrativas constituem a identidade empreendedora fortalecendo
cada identidade no decorrer das histórias ou depoimentos de empreendedores (WRY et al.,
2011).
Muitos projetos sociais, culturais e de desenvolvimento territorial utilizam o cinema
como elemento de formação e encaminhamento profissional52, o que podem contribuir com
ideias para o educador desenvolver seus trabalhos de ensino e aprendizagem do
empreendedorismo com base no cinema.
A primeira possibilidade de uso do cinema para o ensino do empreendedorismo seria
a de coleta de depoimentos empreendedores para a composição de uma obra audiovisual. O
educador poderia, previamente, elaborar um roteiro de perguntas, conforme o foco da aula
dentro do assunto de empreendedorismo, mapear empreendedores com notório
reconhecimento e saber da área, agendar as entrevistas e registrar as entrevistas via câmera
que possua a opção vídeo. Caso o educador possua recursos, é válido estruturar uma filmagem
com qualidade técnica, caso não, uma simples filmagem pode ser eficiente para a aula. Após
a gravação, já no primeiro dia de aula, o educador poderia falar do filme para os estudantes e
cada um deve registrar os pontos mais importantes do assunto estudado. Diálogos e reflexões
podem ser realizados a partir da escolha do formato feita pelos educadores.
A segunda possibilidade que propomos ao educador são realizações de filmes pelos
próprios estudantes com base nas primeiras aulas sobre empreendedorismo. Após dividi-los em
equipes, cada equipe poderia ficar com um recorte de tema, por exemplo, empreendedorismo e
financiamento para uma equipe, direitos e legalidade para outra equipe. A proposição da tarefa
52 http://cineedu.com.br/sobre-o-cine-educacao/; http://vivafavela.com.br/362-acoes-culturais-revelam-jovens-
talentos-no-rio/; http://miguelcalmon.ba.gov.br/curso-de-producao-audiovisual-da-sec-municipal-de-
assistencia-social-tem-levado-alegria-e-despertado-a-criatividade-de-adolescentes-carentes/
128
estimula os estudantes a se aprofundarem nos estudos e geram, ao final da realização do filme
e sua exibição, um reforço do aprendizado para toda a turma.
A terceira possibilidade que propomos é a discussão de filmes que toquem às temáticas
pertinentes ao empreendedorismo53, no formato de cineclubes, gerando conhecimentos
associados diretamente com a realidade local de cada indivíduo.
3.4 Aprendizagem pela Linguagem da Dança
A dança, área artística adotada pela arte-educação, vem sendo utilizada como potencial
recurso pedagógico em algumas áreas de ensino como os estudos organizacionais, das artes e
da educação física (DAVEL; VERGARA, 2007; MARQUES, 2010; ROBATO, 2012;
RODRIGUES; CORREIA, 2013). A dança desenvolve a expressão corporal, o trabalho
coletivo e a disciplina dos estudantes.
Muitos projetos sociais, culturais e de desenvolvimento territorial utilizam a dança
como elemento de formação e encaminhamento profissional54, o que pode contribuir com
ideias para o educador desenvolver seus trabalhos de ensino-aprendizagem do
empreendedorismo com base na dança.
A primeira possibilidade de uso da dança para o ensino do empreendedorismo seria a
de criar jogos interativos (ROBATTO, 2012) como a de que um estudante cai de costas e o
outro estudante o segura demonstrando valores caros ao empreendedorismo como confiança,
atenção ao outro e parceria.
A segunda possibilidade de uso da dança para o ensino do empreendedorismo seria a
de, primeiro, ver se há alguma dança típica ou de imediata conexão com o grupo participante.
Se por exemplo, o grupo for muito ligado à arte de rua, dança break ou B-boying (MIRANDA,
2014), em caráter educativo e não competitivo, pode ensinar passos de dança aos estudantes e
assim eles próprios poderiam representar o conhecimento do empreendedorismo apreendido na
forma de dança.
A terceira possibilidade de uso da dança para o ensino do empreendedorismo seria a de
representar, na forma de dança, o jogo de ligação entre tipos de conhecimentos. A exemplo do
conhecimento “de financiamento”, um jogo sobre ligação entre princípios e relevâncias dos
recursos públicos, recursos privados e recursos coletivos. O jogo seria bem simples, de caráter
53 Exemplos: Rede Social (2010); Chatô - O Rei do Brasil (2015); O Jogo da Imitação (2015) À Procura da
Felicidade (2006). 54 http://www.afroreggae.org/oficinas-culturais/; http://www.agendadedanca.com.br/projeto-entrando-na-danca-
2014-criacoes-comunitarias/
129
motivacional e, para ilustrar cada princípio e cada relevância do tipo de recurso para ser
utilizado no empreendedorismo, adaptado para a dança.
3.5 Aprendizagem pela Linguagem Fotográfica
A fotografia, área artística adotada pela arte-educação, vem sendo utilizada como
potencial recurso pedagógico em algumas áreas de ensino como os estudos organizacionais, das
artes e da educação de modo geral (DAVEL; VERGARA, 2007; RODRIGUES; CORREIA,
2013). A fotografia desenvolve o aprendizado no “olhar” de cada estudante e, ao mesmo tempo,
estimula o trabalho em grupo, quando pensamos, por exemplo, em uma exposição com
diferentes fotógrafos.
Muitos projetos sociais, culturais e de desenvolvimento territorial, utilizam a fotografia
como elemento de formação e encaminhamento profissional55, o que pode contribuir com ideia
para o educador desenvolver seus trabalhos de ensino-aprendizagem do empreendedorismo
com base na fotografia.
A Oi! Kabum56, escola de arte e tecnologia localizada em quatro capitais brasileiras,
trabalha com ensino de arte e tecnologia, incluindo a fotografia, buscando promover fotografias
reflexivas e de caráter criativo considerando a realidade local de cada jovem (público-alvo dos
cursos).
Ao utilizar a fotografia como recurso pedagógico para o empreendedorismo, temos que
ter em vista o quanto a fotografia é poderosa em retratar momentos ou percepções importantes
do autor da fotografia. A linguagem fotográfica serve então, como um recurso que pode ilustrar
o processo do empreendedorismo ou recurso que pode associar a ideia de empreendedorismo
com exemplos reais de empreendedoras e empreendedores em suas próprias realidades.
A primeira possibilidade de uso da fotografia para o ensino do empreendedorismo seria,
então, a utilização da fotografia para o ensino no empreendedorismo, tendo que o educador
registrar três momentos distintos do processo de ação empreendedora para ilustrar todo o
processo e tornar o conhecimento mais concreto para os estudantes.
A segunda possibilidade que propomos ao educador é que os próprios estudantes tirem
registros de situações empreendedoras, ligadas ao conteúdo ministrado, para que cada um
produza cenas empreendedoras, em equipes, e depois divulgar as fotografias para toda a turma,
refletindo e fixando o conteúdo produzido e apreendido.
55 http://www.cartazdacidade.com.br/noticias/5484,miguel-calmon-exposi-o-fotogr-fica-re-ne-trabalho-do-cine-
super-a-o.html; http://vivafavela.com.br/362-acoes-culturais-revelam-jovens-talentos-no-rio/; 56 http://www.oifuturo.org.br/educacao/oi-kabum/
130
3.6 Aprendizagem pela Linguagem das Artes Plásticas
As artes plásticas, área artística adotada largamente pela arte-educação, vem sendo
utilizada como potencial recurso pedagógico em algumas áreas de ensino como os estudos
organizacionais, das artes e da educação de modo geral (DAVEL; VERGARA, 2007). As artes
plásticas desenvolvem a paciência, a criticidade, o poder de interpretação e de criação dos
estudantes.
Nas artes visuais, uma abordagem comumente utilizada é a abordagem triangular
(BARBOSA, 1978). A arte-educadora Nadja Carvalho, com mais de duas décadas de
experiência na arte-educação e com experiência predominante na área das artes plásticas, relata
que sempre utilizou essa abordagem pelo seu caráter de inserção do estudante no processo
educativo. A abordagem possui um tripé relacionado com a história da obra de arte, produção
do estudante e, depois, contextualização dessa obra na história com a realidade do estudante. O
aluno, então, é considerado “leitor, intérprete e autor” (BARBOSA; CUNHA, 2010).
Muitos projetos sociais, culturais e de desenvolvimento territorial utilizam as artes-
plásticas como elemento de formação e encaminhamento profissional57, bem como utilizam a
abordagem triangular como método para o ensino a aprendizagem (CARVALHO;
CAROLINO, 2010) o que pode contribuir com ideias para o educador desenvolver seus
trabalhos de ensino e aprendizagem do empreendedorismo com base nas artes plásticas.
Com base na abordagem triangular, a primeira possibilidade de uso das artes plásticas
para o ensino do empreendedorismo seria a história da arte produzida, um diálogo com o
estudante acerca do que foi produzido em relação ao que se sabe sobre empreendedorismo e
depois contextualização da obra a na história da arte e para a história do empreendedorismo.
A segunda possibilidade que propomos ao educador é que os próprios estudantes
desenhem situações empreendedoras, ligadas ao conteúdo ministrado, para que cada um
produza cenas empreendedoras, em equipes, e depois divulgar as artes para toda a turma,
refletindo e fixando o conteúdo.
3.7 Aprendizagem pela Linguagem da Literatura
A literatura, área artística adotada pela arte-educação, vem sendo utilizada como
potencial recurso pedagógico em algumas áreas de ensino como os estudos organizacionais,
57 http://vivafavela.com.br/362-acoes-culturais-revelam-jovens-talentos-no-rio/;
http://www.viamagia.org/instituto/instituto_formacao.php
131
do patrimônio, da identidade e da educação de modo geral (DAVEL; VERGARA, 2007;
RIBEIRO; MUNIZ, 2012; STEPHANI; TINOCO, 2014).
A arte-educadora Luciene Santos, co-fundadora do grupo musical e literário de arte-
educação Canastra Real, com mais de quinze anos de experiência na arte-educação e com
experiência predominante na área da literatura, diz que a contação de história é um
instrumento poderosíssimo para o aprendizado com base na literatura. Ela relata que as
pessoas são feitas de narrativas e histórias, o que reforça a aprendizagem pela linguagem da
literatura, dos conhecimentos relativos ao empreendedorismo, visto o grande poder que a
narrativa possui no ensino e aprendizagem do empreendedorismo (WRY et al., 2011;
DOLABELA, 2003). Luciene destaca que a identidade é um forte elemento trabalhado através
da contação de histórias, visto que cada indivíduo pode ouvir sobre si e sobre o seu próximo.
A primeira possibilidade de uso da literatura para o ensino do empreendedorismo seria,
então, a utilização da literatura para o ensino da identidade empreendedora utilizando os
elementos da realidade dos estudantes do território. Cada estudante pode contar suas histórias,
o que já inventou, o que já criou, ao final de cada história, o educador pode associar a identidade
empreendedora com as histórias que compõem cada indivíduo do grupo.
A segunda possibilidade que propomos ao educador é que ele relate uma história
empreendedora estimulando os estudantes. A partir daí, cada estudante pode criar uma história
empreendedora que tenha a ver com a realização do seu sonho. A partir dessas histórias,
conhecimentos sobre o empreendedorismo seriam ensinados aos estudantes.
4 . Participação como Dimensão Integradora da Arte no Processo de Aprendizagem do
Empreendedorismo
Ao trabalharmos com a dimensão da participação como integradora da arte-educação
no processo de aprendizagem do empreendedorismo, podemos considerar a arte como a
interação do homem com o seu meio (DEWEY, 1934), sendo um instrumento que facilita a
comunicação de muitos indivíduos com outras pessoas (DE BOTTON; ARMSTRONG, 2013).
Podemos então pensar que a arte produz a interação do estudante com seu ambiente reforçando
a ideia de que a participação como elemento não só natural da arte e da criatividade, mas como
uma necessidade inerente ao ser humano (BORDENAVE, 1983), sendo uma dimensão
importantíssima para que o processo de aprendizagem transcorra de forma plena. A noção de
participação, então, pode ser caracterizada como uma dimensão que não apenas considere a
presença do estudante ou a interação, mas o engajamento no processo educacional para o
132
aprendizado do empreendedorismo, de proposições, reflexões e ações no decorrer de todo o
processo (CARPENTIER, 2012).
O educador deve ter como princípios para a participação dos estudantes garantindo o
sucesso de suas aulas, as seguintes bases: a participação como base afetiva, pelo prazer do
indivíduo de se estar em um coletivo, e a participação como base instrumental, desde quando
realizar coletivamente, muitas vezes, é mais eficiente do que realizar individualmente
(BORDENAVE, 1983). Pensado nessas bases, o educador, deve ter em mente os seguintes
aspectos: consciência de que o processo educativo é construído coletivamente; noção de que
ele (educador) não é detentor de todo o conhecimento; conhecimento de que ele pode ter novos
aprendizados com os estudantes; consciência de que atividade de ensino não está fechada, mas
pode ser alterada, adaptada para o momento ou para outro grupo.
Tendo em vista esses fundamentos para o engajamento dos estudantes e sucesso da
participação de cada estudante, é necessário que o conhecimento esteja ligado com as
experiências dos estudantes, caso contrário o aprendizado do empreendedorismo, através da
arte, pode não ocorrer da maneira desejada. (DUARTE JUNIOR, 2008; NUNES, 2006;
FREIRE, 1967). Segundo DJ Branco, radialista e empreendedor da música e cultura há mais de
dez anos, é muito importante que o educador pergunte o que o músico ou empreendedor da
música deseja para a sua experiência de aprendizado do empreendedorismo.
Aprender experimentando (KOLB,1984) é um dos caminhos oferecidos pela arte, como
estratégia para a participação dos estudantes no processo de aprendizagem do
empreendedorismo. Mr.Armeng, produtor cultural, musical e cantor há mais de dez anos,
realiza um trabalho de arte-educação de música em escolas municipais de Salvador. Ele conta,
em entrevista, que percebeu que os estudantes aprendiam muito mais facilmente sobre rap
quando eles construíam as letras com base nas suas realidades. Cada estudante, então, aprendia
experimentando a construção de letras e depois a construção de ritmos musicais para sua letra
musical junto com toda a classe. O aprendizado acaba, então, sendo experimental e
colaborativo, logo, participativo, graças ao ambiente já potencial em participação, ainda mais
estimulado por Mr.Armeng (FONTES; PERO, 2009).
Destacamos que a participação como dimensão integradora da arte, no processo de
aprendizagem do empreendedorismo, demanda uma essência cooperativa, de coletividade que
converge com a noção de um empreendedorismo cultural fundamentalmente coletivo (MALO,
RODRIGUES, 2006) e não de um empreendedorismo individual. Partimos do pressuposto que
só é possível mudar de forma integral a realidade de uma comunidade, se diversas realidades
forem transformadas. A pedagogia artística para o empreendedorismo não quer capacitar mini-
133
empresários isolados em seu próprio negócio visando ganhos estritamente individuais, mas
estimular empreendedores culturais que atuem para transformações em escalas territoriais,
sejam de uma comunidade, de uma cidade ou de um país.
A participação então é o elemento que reforça a ideia de empreender no sentido criativo,
de crescimento social e territorial. Sem ela, o trabalho não terá força empoderadora, mas apenas
assistencialista ou individualista o que nós jamais desejamos que ocorra com o conjunto de
práticas pedagógicas para empreendedores e educadores que propomos nesse trabalho.
Discussão e Impactos
Primeiramente, é preciso dizer ao educador que o conjunto de práticas pedagógicas foi
organizado da melhor maneira possível para compreensão da riqueza que os recursos
pedagógicos artísticos possuem para o empreendedorismo. Faz-se necessário destacar que os
conhecimentos pedagógicos orientadores para a educação empreendedora não se limita aos
conhecimentos, indicações e exemplificações aqui apresentados. Procuramos indicar os
recursos pedagógicos que julgamos mais importantes conforme teoria e prática, contudo
processos de inovação, criação e arte são sempre confrontados com novas necessidades de
atualizações por parte dos educadores.
O presente artigo, então, pretendeu trazer a discussão do quanto é necessário e benéfico
inserir a arte nos processos educativos. O trabalho buscou apresentar que é possível a inserção
da arte na aprendizagem do empreendedorismo aliado à noção de participação como elemento
integrador.
Esperamos que um dos impactos do trabalho aqui posto seja provocar uma inovação na
forma de se ensinar empreendedorismo. Muitos riscos e dificuldades podem acontecer como
em qualquer processo novo, mas o educador que aplicar nosso conjuntos de práticas
pedagógicas, deverá ter sempre em mente que cada dificuldade é uma nova oportunidade para
aprendizado no campo do empreendedorismo.
Outro impacto esperado com esse artigo é o maior estímulo e consideração da arte e da
participação nos processos educativos voltados ao empreendedorismo. É de fundamental
importância que haja participação efetiva para o engajamento dos estudantes e sucesso da
aplicação do conjunto de práticas pedagógicas.
Por fim, os impactos previstos com este artigo podem ser sintetizados nos seguintes
pontos: estimular o ensino e aprendizagem do empreendedorismo para grupos interessados;
pontuar ao educador a noção das necessidades de inovações para o ensino-aprendizagem do
134
empreendedorismo; proporcionar ao educador novos caminhos de ensino-aprendizagem da
arte-educação para o empreendedorismo; estimular o desenvolvimento de comunidades.
Conclusão
Podemos pensar que este artigo indicou parte das ferramentas pedagógicas mais
importantes para a educação empreendedora, com base nos processos artísticos, reconhecendo
e comprovando a necessidade e vantagem de se trabalhar com formas inovadoras de educação
de forma geral, ainda mais quando se trata de áreas inovadoras e criativas como o
empreendedorismo.A partir da análise da arte e seus processos, tanto na literatura como na
prática, podemos concluir que todas essas práticas apresentam importantes vantagens para que
o público dessa pedagogia tenha real prazer no aprendizado.
Como sugestão para novos trabalhos, podemos indicar que a gama de conhecimentos
aqui tratados demonstram a necessidade de mais artigos acadêmicos e tecnológicos, mais
práticas pedagógicas, metodologias, tecnologias sociais, cursos profissionalizantes e de
atualização, para educadores do empreendedorismo.
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Abstract: Entrepreneurship teaching and learning are extremely important activities for the
higher qualification of entrepreneurs. Nevertheless, the knowledge available about
entrepreneurship teaching/learning is still very oriented to the creation of general business,
following a traditional entrepreneurship logic, and because of that, not very suitable to a more
creative, social and cultural entrepreneurship. This article has a technological tendency for it
goals provide a group of pedagogical practices to teach and learn entrepreneurship through art.
138
Participation is highlighted as integrating dimension of art, creative processes and
entrepreneurship. Our technological article, then, has character rather professional than
academic once its propose is to formulate a group of pedagogical practices to help entrepreneurs
and educators to assist artists to qualify their careers and projects. The qualitative methodology
was used in the paper to support the indications of art and participation as learning principles
for entrepreneurship education. At the end of the research, we conclude that with this
technological article the entrepreneur, educator and leader will be have useful tools to expand
entrepreneur teaching/learning practice.
Keywords: entrepreneurship; entrepreneurial education ; pedagogy; art; participation.
139
3.5 GESTÃO PARTICIPATIVA DE EVENTOS COMUNITÁRIOS: PRINCÍPIOS E
PRÁTICAS COM FUNDAMENTO NA IDENTIDADE LOCAL (ARTIGO 5)58
Shared Management Community Events: Principles and Practices on the grounds of Local
Identity
Resumo: Gerenciar projetos e eventos é uma atividade de considerável importância para a
qualificação dos empreendedores e gestores. Visando ampliar os conhecimentos acerca do
assunto, bem como o desenvolvimento regional de comunidades periféricas, este artigo objetiva
expor e discutir instruções de como realizar a gestão participativa de eventos de caráter
comunitário. O artigo, então, tem vocação tecnológica59 visando fornecer um conjunto de
princípios e práticas para a gestão participativa de eventos comunitários para auxiliar
empreendedores e gestores a qualificarem seus eventos. Como resultado, temos um conjunto
de princípios e práticas desenvolvidos, com apoio na ilustração de um evento ocorrido em uma
comunidade de Salvador, Bahia, intitulado de “Sarau Empreendedor”, realizado com base na
pesquisa qualitativa. A identidade local é apontada como força essencial para os diversos tipos
de participação na gestão participativa de eventos comunitários.
Palavras-chave: Gestão Participativa de Eventos Comunitários; Desenvolvimento Local;
Empreendedorismo Cultural; Identidade Local.
Abstract: Managing projects and events is an considerably important activity to entrepreneurs
and managers’s qualification. Aiming to expand the matter’s knowledge, as well as the regional
development peripheral communities, the present paper aims to expose and discuss instructions
on how to that expose article objective instructions how to conduct the management of events
with community character. The article has, therefore, a technology tendency which aims to
provide a group of principles and practices for community event management to assist
58 Artigo a ser submetido para a Revista Brasileira de Desenvolvimento Regional. Por isso, o artigo segue as
normas da ABNTA exigida pela revista. 59 Para ampliar a discussão sobre tecnologia social, ler: DAGNINO, R. et al. Tecnologia social: uma estratégia
para o desenvolvimento. Rio de Janeiro, 2004. Disponível em:
http://www.oei.es/salactsi/Teconologiasocial.pdf; RODRIGUES, Ive. A emergência da tecnologia social:
revisitando o movimento da tecnologia apropriada como estratégia de desenvolvimento sustentável. Rio de
Janeiro. 2007.
140
entrepreneurs and managers qualify their events. As a result, we have a group of developed
principles and practices based on a event occurred in a community of Salvador, Bahia, entitled
"Sarau Empreendedor”, held based on a qualitative research. Local identity is pointed as
essential force to the various types of participation in community events’ participative
management.
Keywords: Shared Management Community Events ; Local Development ; Cultural
Entrepreneurship ; Local identity
1 Introdução
Percebemos que muito já foi produzido e dito sobre a gestão de projetos (CARVALHO,
2012; LOPES, 2010; LUCK, 2003; MAXIMIANO, 1997; MENEZES, 2009; PINHEIRO,
2006; RABECHINI, 2005; RODRIGUES, 2014; ROLDAO, 2000; VALERIANO, 2005)
contudo, também é perceptivo que ainda há carência de produção de trabalhos sobre gestão e
produção de projetos comunitários (KANABAR; WARBURTON, 2012; KEELING;
BRANCO, 2014; KERZNER, 2006; KERZNER; SALADIS; 2011). Além do mais,
percebemos que muitos líderes comunitários desejam realizar eventos comunitários com
fundamento na identidade local, contudo não sabem por onde começar ou temem repetir erros
cometidos em eventos realizados no passado.
Partindo dessas questões, o presente trabalho visa propor orientações60 acerca de como
um gestor ou um empreendedor pode realizar um evento de caráter comunitário com
fundamento na identidade local. Para fins didáticos, iremos aqui nomear o público-alvo de
“gestores”, contudo empreendedores, líderes, educadores, produtores artistas entre outras
funções podem aplicar o conjunto de princípios e práticas para gestão participativa de eventos
comunitários. O trabalho proposto se destaca pela ênfase na importância da consideração da
identidade local como o sucesso para a realização de um evento de caráter comunitário,
considerando que a identidade local, em especial a identidade cultural local, é um fator
potencializador de um território, provocando o seu desenvolvimento (CAMPOS; DAVEL,
2015; HAESBAERT, 1997; MOURÃO; CAVALCANTE, 2006).
60 O presente artigo faz parte de uma tecnologia social. Além desse artigo, outros três artigos compões a tecnologia
social, sendo que um artigo apresenta o desenho geral da tecnologia (Campos & Davel, no prelo); um trabalho que
trata dos conhecimentos do empreendedorismo musical (CAMPOS, no prelo) e outro artigo trata da pedagogia
artística para o ensino do empreendedorismo (CAMPOS, no prelo). Além desse conjunto de artigos, um caso de
ensino reforça a tecnologia (Campos & Davel, no prelo).
141
Ressaltamos, no entanto, a limitação do artigo em não examinar de forma densa os
conceitos e teorias aqui dispostos, pois o intuito da presente proposta é justamente oferecer aos
diversos tipos de gestores e comunidades a possibilidade de aplicabilidade do nosso conjunto
de princípios e práticas. Alertamos também que o âmbito dos conhecimentos da produção
cultural são muito mais amplos do que os daqui apresentados (AVELAR, 2013). Sintetizamos
tais conhecimentos, pensando em qual seria o formato mínimo para a realização de um evento
comunitário desse porte.
Ao elaborarmos o presente conjunto de orientações para a gestão participativa de
eventos comunitários, destacamos que a gestão de um evento com esse caráter é associado
diretamente à noção de gestão de territórios, pois integra conhecimentos de um território
buscando o seu desenvolvimento. A comunidade periférica, em especial, é um território que os
gestores podem captar as novidades e singularidades para empreender no evento comunitário,
diferenciando e potencializando as chances de fazer do evento um sucesso (ANDERSON, 2000;
ALLEN, 2008). O território comunitário como local que possui elementos que constroem uma
identidade coletiva é o nosso campo de ação, contudo, se faz necessário sempre ter em vista
que o conhecimento sobre gestão de territórios é uma área em constante construção, portanto,
inacabada e aberta para novas intervenções, sugestões e críticas construtivas (FISCHER, 2002).
A mútua interação entre o local (território) e as identidades individuais define, portanto,
a identidade local. A identidade local então é fundamento neste trabalho como potencial
territorial para transformações em nível coletivo, através das relações culturais, políticas e
sociais, de forma geral. A identidade local é definida como o elemento que está em constante
observação, significação e ressignificação por parte te todos os indivíduos pertencentes a um
local (DAVEL et al; 2016).
Como metodologia, o presente trabalho conta com um breve estudo bibliográfico acerca
de gestão de projetos e eventos. Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com vinte e
três estudantes acadêmicos que vivenciaram a experiência de realização de uma gestão
participativa e empreendedora de um evento comunitário com fundamento na identidade local.
A entrevista semi-estruturada foi escolhida como técnica, pois esse tipo de entrevista permitir
uma cobertura mais ampla e, ao mesmo tempo, proporcionar espaço para espontaneidade dos
entrevistados (ALVESSON, 2003, 2011; CASSELL, 2009; PATTON, 2002; VERGARA,
2009). Além das entrevistas com os estudantes, a experiência de gestão de um evento de caráter
comunitário contou com anotações do diário de campo, de todas as reuniões envolvendo
docentes da Universidade Federal da Bahia e relatos de cerca de seis artistas e empreendedores
sociais e culturais em uma comunidade periférica entre os meses de janeiro e maio do ano de
142
2016. A experiência será utilizada no artigo como ilustrações, auxiliando os princípios e as
práticas aqui estruturadas para aplicação do gestor de eventos comunitários.
O conjunto de princípios e práticas então se estrutura da seguinte forma: primeiramente,
sistematizamos e indicamos os princípios de gestão participativa de eventos comunitários, onde
serão demonstrados ao gestor os elementos fundamentais para a realização de um projeto desse
tipo; em seguida, organizamos e apontamos as principais práticas desse tipo de gestão através
das principais frentes de trabalho para serem adotados.
2 Princípios de gestão participativa de eventos comunitários
Os princípios de gestão participativa de eventos comunitários foram aqui organizados
ao pensarmos nos elementos mais importantes a serem aplicados por um gestor em um processo
de realização de um evento. Os princípios, então, foram definidos através da participação (em
seus três diferentes níveis) da identidade local e do empreendedorismo cultural (Quadro 1).
Quadro 1: Gestão Participativa: síntese dos princípios, relevâncias e aplicações
143
Princípios Relevância Aplicação
Participação A participação como princípio
estruturante da gestão participativa.
A parceria é pontuada como o mais
alto nível de participação, pelo
caráter horizontal e de
possibilidades de enriquecimento
para o projeto que ela pode
proporcionar.
A participação aliada à parceria
deve ser aplicada do início (fase de
planejamento) até o fim
(avaliação) do evento. Sem
participação não há gestão
participativa, por isso ela deve ser
aplicada em sua integralidade,
com parceria entre os todos os
envolvidos.
Identidade Local Quando a identidade local é
considerada para a realização de um
evento comunitário, as
competências e interesses da
comunidade são levados em conta e
costumam imprimir a marca que
diferencia aquele evento
comunitário de tantos outros. A
identidade local é relevante, pois
quanto mais a comunidade
compartilha sobre sí, mais chances a
gestão tem de ser, de fato,
participativa, mais chances existem
da identidade local ser fortalecida e
o evento ter força para ser um
sucesso.
A identidade local é aplicada em
dois momentos: na conexão dos
envolvidos em prol de um evento
para a comunidade e na riqueza de
conteúdos, conceitos e formas para
o evento dar certo. A identidade
local para conexão dos envolvidos
é aplicada com encontros em que
os envolvidos no evento se
aproximem, se conheçam mais,
para fortalecer a identidade da
comunidade. A identidade local
como fonte de singularidade para o
evento é aplicado quando os
próprios moradores falam o que
gostam, o que fazem de diferente,
de especial.
Empreendedorismo Cultural Esse princípio é responsável pela
multiplicação e ampliação de
eventos de caráter comunitário e
com diversas finalidades dentro de
um território. A cultura
empreendedora é responsável pelo
maior nível de iniciativas dentro de
um evento, o que pode desenvolver
o evento na comunidade, atraindo
mais público, parceiros e números
de edições.
O empreendedorismo cultural é
aplicado com a disseminação de
uma cultura empreendedora, ou
seja, com o mútuo incentivo dos
participantes da gestão em
empreenderem novas ideias dentro
do projeto. Tratar de exemplos de
iniciativas empreendedoras em
eventos comunitários é uma
iniciativa que pode incentivar
novas ideias, iniciativas e criações
para o evento comunitário.
Fonte: Elaboração dos autores.
2.1 Participação
A participação é um princípio visto neste trabalho como o resultado do engajamento e
da mobilização social bem como um campo em constante conflito (DAGNINO, 2004). Para
que os conflitos sejam bem administrados e o projeto dê certo, é preciso, inicialmente, primeiro
mobilizar as pessoas da comunidade, encorajá-las para que elas se engajem e assim participem
ativamente de todo o projeto.
Para a participação ativa da comunidade, é necessário que todos os conhecimentos e
informações a serem transmitidos e construídos tenham associação direta com a comunidade,
caso contrário, é possível que a experiência para a participação não obtenha sucesso (NUNES,
2006). No caso da gestão participativa de eventos comunitários, portanto, com fundamento na
144
identidade local, é necessário conhecer as pessoas envolvidas no projeto, escutá-las, entender
seus gostos, perguntar o que acham do planejamento, o que fariam diferente, entre outras ações
de acolhimento e valorização de cada fala.
Tendo em vista o sucesso do evento, podemos pensar a participação como base afetiva,
pelo prazer do indivíduo de se estar em um coletivo e a participação como base instrumental,
pois realizar coletivamente, muitas vezes, é mais eficiente do que realizar individualmente
(BORDENAVE, 1983). O gestor deve ter em mente os seguintes aspectos: consciência de
que o processo de realização do evento é construído coletivamente; noção de que ele (gestor)
não é detentor de todo o conhecimento; consciência de que ele pode ter novos aprendizados
com as pessoas da comunidade; consciência de que nem toda ideia previamente estabelecida
está fechada a alterações ou sugestões, mas, pelo contrário, deve ser incentivada toda e
qualquer sugestão ou crítica construtiva de todos os envolvidos no evento.
No caso da aplicação do Sarau Empreendedor, foi percebido que quanto mais os jovens
eram estimulados a palpitar sobre o processo de construção do Sarau, mais eles se sentiam
pertencentes daquele projeto e mais envolvidos ficavam. Esse vínculo não é construído
imediatamente, portanto, é importante que o contato seja frequente com todos os envolvidos.
Ainda no Sarau Empreendedor, o sonho de realizar, de empreender uma arte foi um fato
percebido pelas equipes e estimulado para que a comunidade participasse mais ativamente a
cada etapa do projeto de realização do evento comunitário. A construção de vínculos, laços
afetivos e confiança da equipe são fortalecidos quando os sonhos de compartilham, se unem,
fortalecendo a participação na gestão do evento. Escutar os sonhos das pessoas é uma forma
não só de estimular, mas de aproximar os envolvidos na gestão participativa.
A gestão de um evento comunitário sem a participação, dificilmente atenderá a boa parte
da comunidade, pois esse mesmo grupo não foi ouvido ou não teve poder para propor atividades
e ações no evento. Por isso é importante perceber em qual grau e tipo de participação o gestor
está exercendo (ARNSTEIN, 2002).
2.1.1 Manipulação como não participação
A manipulação como não participação é caracterizada através da manipulação de um
gestor, em diversos aspectos, pela necessidade de legitimar um projeto com a participação
efetiva da comunidade. A primeira situação para exemplificação desse tipo é quando um
gestor convoca lideranças, artistas, comerciantes e moradores em geral para uma reunião para
apenas informa-los de um projeto já construído. Esse é um caso de não participação, pois não
há nenhum diálogo, apenas a fala unilateral de um gestor, um monólogo sobre um projeto,
145
mas nunca um diálogo. A segunda situação desse tipo é quando um gestor acaba ouvindo as
pessoas que compareceram à reunião, apenas por formalidade, para forjar uma participação,
que nunca ocorreu, pois apenas as ideias do gestor são consideradas, incorrendo em mais um
caso de projeto imposto (ARNSTEIN, 2002).
Na ilustração do Sarau Empreendedor, foi tomado o máximo de cuidado para que o
projeto não incorresse nesse erro. No início do projeto, foi pensado que o evento fosse
destinado apenas ao público de artistas do ramo musical, porém com a demanda de diversos
jovens e moradores do local por outras demandas artísticas, o evento foi ampliado e pensado
para diversas vertentes artísticas. Essa ilustração nos faz refletir o quanto é importante não só
o gestor ouvir as pessoas para de fato ocorrer a participação, mas também o quanto é
importante educar a comunidade para se posicionar frente a projetos externos não permitindo
que a manipulação aconteça.
2.1.2 Pacificação como nível mais baixo de participação
Nesse nível, já há participação, porém da forma mais limitada possível. Uma situação
para exemplificação da pacificação como nível mais baixo de participação é quando o gestor,
de início, escolhe arbitrariamente um ou dois moradores da comunidade que querem participar
para funções de pouca ou nenhuma responsabilidade sem nenhuma concordância da
comunidade, apenas para dizer que o evento está sendo construído por todos. Esse exemplo
demonstra duas situações: a desconsideração pelos moradores que poderiam ocupar de fato
espaços com maiores responsabilidades, somando ao projeto e o quanto o gestor ignora o
coletivo no quesito de tomadas de decisões (ARNSTEIN, 2002).
Esse nível baixo de participação, caracterizado como “pacificação”, pode ser explicado
também através da breve consulta que um gestor pode ter a comunidade, sem permanência de
qualquer escuta ou diálogo. Se o gestor de um projeto deseja uma participação efetiva dos
moradores, ele tem que estar disposto em encarar o desafio de ouvir, dialogar frequentemente
com o coletivo envolvido e auxiliar na administração dos conflitos. Na ilustração do Sarau
Empreendedor, a estratégia oposta foi adotada ao da participação como pacificação.
Queríamos “incendiar” os envolvidos no projeto, motivando, mobilizando e mantendo o
contato, frequentemente, via reuniões presenciais ou contatos via whatsapp.
2.1.3 Parceria como nível efetivo de participação
Neste grau mais alto de participação, existe, de forma contundente, o envolvimento de
uma comunidade no projeto. A parceria caracteriza uma relação mais horizontal possível,
146
entre um gestor e os moradores interessados em participação da gestão de um evento
comunitário. A parceria funciona melhor quando a comunidade se organiza para distribuir os
papéis de cada um. Um exemplo é quando uma reunião é convocada por um gestor e as
sugestões de todos os interessados são levadas em consideração por todos os envolvidos no
processo da reunião. Para isso, se faz necessário explicar para os interessados sobre o que é a
gestão participativa, como ela deve funcionar e dos perigos que ela pode incorrer e não ter
sucesso. Essa noção é como a explicação das regras antes do início do jogo: ninguém se sentirá
injustiçado ou enganado ao saber como funciona esse tipo de gestão, pois, com o
conhecimento, cada membro do projeto poderá protestar frente a algum ato que descaracterize
a gestão participativa (ARNSTEIN, 2002).
Na ilustração do Sarau Empreendedor, a parceria foi iniciada desde o princípio da
gestão do evento. Antes dos estudantes irem à comunidade para começar a construção do
planejamento do evento com os moradores interessados, líderes do local foram convidados
para a sala de aula na Universidade a fim de ouvirem a proposta inicial do projeto para, em
seguida, sugerirem mudanças, alertarem para caminhos que poderiam não funcionar por conta
de alguma especificidade daquela comunidade. Após essa audição dos líderes, a universidade
foi à comunidade, dialogando com os convidados dos líderes e percorrendo o bairro, para uma
nova mobilização de interessados em participar do projeto. Assim se sucedeu em todo o
projeto com a participação ativa da comunidade durante todo o processo de gestão
participativa do evento. Esse alto nível de participação pode ser difícil de ser alcançado no
início, mas, à medida que a participação ocorre nessa forma, vai fluindo e os moradores vão
acreditando que aquela realização pode ocorrer. A gestão com esse caráter deixa de ser um
duro exercício, passando a ser um processo natural.
Se faz necessário pontuar que não existe receita para a participação, nem tampouco
modelo ideal, o que tentamos fazer nessa seção é explanar tipos de participação para que líder
fique atento durante o processo de realização do evento. Importante pontuar que a liberdade
individual deve ser respeitada, já que as pessoas são distintas e algumas podem ter dificuldades
ou pouco interesse em atividades de caráter coletivo. O diálogo é sempre uma boa saída para
a resolução de conflitos.
......................................................
2.2 Identidade local
147
A identidade local flui entre as pessoas oriundas e/ou moradoras de comunidades,
muitas vezes sem os próprios moradores terem consciência dessa identidade. Evangélicos, povo
de santo, músicos pagodeiros, músicos do hip hop e desenvolvimento de diversos
empreendimentos culturais podem ser algumas das expressões de identidade local dos bairros
periféricos.
Esse princípio pode ser aplicado em dois momentos de um evento comunitário: na
conexão dos envolvidos em prol de um evento para a comunidade e na riqueza de conteúdos,
conceitos e formas para o evento dar certo. A identidade local para conexão dos envolvidos é
aplicada com encontros para promover aproximação, fortalecendo a identidade da comunidade.
A identidade local como fonte de riqueza para o evento é aplicado quando os próprios
moradores falam o que gostam, o que fazem de diferente e de especial. Reuniões, eventos e
atividades participativas entre a comunidade, auxiliam no fortalecimento da identidade local.
No Sarau Empreendedor, foi percebida na comunidade, pelos estudantes da
universidade, a grande força da identidade negra e da identidade musical percussiva como
constituidores da identidade local. Assim, para se dialogar com esses grupos, se pensou em
formas de abordagens apropriadas como ações de marketing baseadas na identidade local,
atrações artísticas ligadas a essas duas identidades, estética do Sarau na decoração, entre outras
ações.
A escolha do nome do evento, feita por jovens da comunidade, representa bem a
identidade local do território, pois “sarau” engloba diversas ações artísticas como a música, o
cinema, o teatro, a dança e a poesia, ações artísticas desenvolvidas para o Sarau Empreendedor.
Outro fator que demonstrou a importância da identidade local para a gestão participativa de um
evento comunitário foi o aceite de diversas atrações locais ao eventosem cobrar cachê algum.
Muitas atrações aceitaram imediatamente participar do Sarau ao saber que seria um evento
construído e voltado para a comunidade. Outro dado interessante a ser destacado foi o
aparecimento de um grupo de dança do território que, por desconhecimento das equipes e dos
próprios jovens e líderes envolvidos na produção do sarau, não havia sido formalmente
convidado como os outros, mas que viram a publicidade do evento e ficaram muito felizes em
participar do Sarau, se apresentando com a arte de dança deles.
Pensando em valorizar a identidade local e, se não bastassem todas essas iniciativas, no
Sarau Empreendedor, foi pensado pelas equipes em uma premiação que reconhecesse os
talentos do território, intitulado de “Prêmio Sarau Empreendedor”. Os artistas e líderes ficaram
muito felizes de terem seus talentos reconhecidos publicamente. Valorizar a comunidade e
todos os envolvidos no projeto é considerar a identidade local, enriquecendo o projeto e assim
148
garantindo maiores chances para que o evento comunitário seja positivamente inesquecível para
todos os envolvidos, parceiros e público em geral.
2.3 Empreendedorismo cultural
O empreendedorismo cultural pode ser visualizado como uma atividade que não nega a
dimensão econômica, mas possui a cultura como orientação e finalidade. Orientação e
finalidade, pois é a partir da cultura, especificamente da identidade local, que empreender
cultura faz sentido. É a singularidade de cada grupo e território que faz um empreendimento no
âmbito da cultura ser uma referência e sustentável. No caso dos eventos comunitários, com
fundamentos na identidade local, o empreendedorismo cultural chega ainda mais forte, pois,
através das características empreendedoras como os sonhos, a criatividade, a iniciativa e
liderança, se é possível estabelecer eventos que gerem emprego, trabalho, renda, lazer e
capacitações para diversos moradores da comunidade.
O empreendedorismo cultural pode ser pensado como um princípio responsável por
mobilizar recursos criativos e econômico-financeiros, articulando e organizando alguma
comunidade (LIMEIRA, 2008). Ele tem o seu conceito construído nesse trabalho, a partir da
união das dimensões sociais (ARMANI, 2000; CASAQUI, 2016; LACRUZ, 2014; SILVA;
PALASSI, 2009), dimensões coletivas (MALO; RODRIGUES, 2006), da identidade cultural
local (CAMPOS; DAVEL, 2015) e com fundamentos nos aspectos de liderança na gestão de
projetos (ARMOND; NASSIF, 2009 BAKER; COLE, 2014; LERMEN, 2003; ROLDAO,
2000). No contexto dos eventos comunitários, esse princípio é o responsável por ser uma
referência no projeto compartilhado, é aquele que dificilmente se desanima, que baixa a cabeça
ou que pensa em desistir. O desafio de gestores com características empreendedoras é
multiplicar essas características para todas as pessoas colaboradoras do evento articulando
saberes e práticas que se somem ao evento.
O empreendedorismo cultural é um princípio que deve ser aplicado através da
disseminação de uma cultura empreendedora, ou seja, com o mútuo incentivo dos participantes
da gestão em empreenderem novas ideias dentro do projeto, além da superação de dificuldades
e qualquer tipo de barreira. Esse princípio é responsável pela multiplicação de eventos de
caráter comunitário e com diversas finalidades dentro de um território. Ter em vista o
empreendedorismo cultural é desenvolver a resiliência como característica permanente na
gestão de um projeto, pois, em qualquer projeto, haverá sempre dificuldades, desafios,
problemas, decepções, mas a firmeza de se alcançar os objetivos e capacidade de superar
149
qualquer barreira é uma característica importantíssima que todo o grupo envolvido deve ter em
mente para o exercício da gestão participativa.
3 Práticas de gestão participativa de eventos comunitários
Percebemos que é consenso o fato de que a gestão de um projeto deve possuir um
objetivo claro, logo, um começo, um meio e um fim (AVELAR, 2013; CARVALHO, 2012),
para que a prática dessa gestão partilhada seja eficiente, partimos, portanto, do fundamento de
que o gestor do projeto de um evento com caráter comunitário deverá estar ciente de todas as
fases do projeto do evento, ainda que não opere diretamente em todas as fases (CARVALHO,
2012), ou seja, deve se atentar para o planejamento, execução e o período pós-execução
(AVELAR, 2013). Além dessa atenção, outra ação importantíssima que também cabe ao gestor
nessa etapa de fundamentos é a gestão do tempo para que os prazos sejam cumpridos (LOPES,
2010). Em síntese, fora os princípios já trabalhados aqui, destacamos como pontos importantes
para as práticas na gestão de um projeto com enfoque em uma comunidade os seguintes
aspectos: planejamento e a gestão do tempo.
Tendo em vista os princípios e esses pontos destacados, ampliamos a ilustração sobre o
Sarau Empreendedor, agora pensando nas práticas de gestão participativa de eventos
comunitários. O evento comunitário em questão ocorreu durante os meses de janeiro e maio do
ano de 2016 com o objetivo de ensinar e produzir ensinando um evento de caráter comunitário
voltado para o estímulo e capacitação ao empreendedorismo cultural. Fora a parte de
aprendizado teórico e prático de produção, empreendedorismo e gestão cultural, o Sarau
Empreendedor exerceu uma proposta de ensino e aprendizagem do empreendedorismo cultural
através das artes, desde sua constituição até sua a culminação do evento, porém o processo de
ensino-aprendizagem acerca dos conteúdos do empreendedorismo não será abordado nesse
artigo, pois o nosso foco aqui é mostrar ao leitor como gerenciar projetos de eventos
comunitários com fundamento na identidade local.
A experiência do Sarau Empreendedor foi iniciada e finalizada com dois docentes, um
facilitador e vinte e três estudantes de uma universidade. Os estudantes vinham de cursos
diversos de graduação na área de humanas. Após escolherem um território popular de
Salvador/Bahia em sala de aula para trabalhar, de acordo com as potencialidades identitárias e
culturais do território, os estudantes foram divididos em seis equipes para trabalharem com as
práticas operacionais sendo elas: recursos, marketing, instalações, transporte, segurança e
comunicação. Após essa divisão, os estudantes, com auxílio dos docentes e facilitador, foram
150
buscando líderes sociais e culturais do bairro e, consequentemente, jovens para contribuírem e
trabalharem na produção de um evento comunitário com fundamento na identidade local.
Queremos marcar para o gestor que, assim como ocorreu no Sarau Empreendedor, a
gestão participativa do evento se inicia desde o princípio, quando as vozes de todos os atores
são ouvidas e consideradas para prosseguimento do projeto. A escuta de forma mais ativa
permeia todo o processo de planejamento, execução e avaliação de um projeto.
3.1 Gestão participativa de evento comunitário: vantagens e dificuldades
Como vimos nos princípios da gestão participativa, um evento compartilhado não pode
ser construído senão de forma coletiva e o menos hierarquizada possível. Isso quer dizer que
do gestor que já realizou três eventos comunitários ao gestor que nunca teve experiência na
área, todos deverão ser ouvidos. O processo de escuta é ativo, permanente e fundamental. O
esquema de chegar de “paraquedas” em uma comunidade e impor um projeto já está
comprovadamente defasado. Tendo em vista a necessidade de um novo paradigma, a gestão
participativa de um evento pode então ser definida como aquela em que todos os participantes
são considerados quanto às suas sugestões, críticas e demandas. A gestão com esse caráter,
ganha outra dimensão, desde quando a voz local é o principal guia para a realização e gestão
do evento, pois é a perspectiva que mais conhece os possíveis parceiros, público e outras
questões importantes quando pensamos nesse tipo de gestão. Ela visa, então, o
desenvolvimento local, sempre em um tempo contínuo de construção (BRANDÃO, 2011).
Como a gestão participativa de eventos é uma prática importante para dinamizar
comunidades, nossa proposta de princípios e práticas pode ser útil para contribuir com a
melhoria das práticas de gestores comunitários que tem apreço pela cultura e pela identidade da
comunidade. Gerenciar um projeto exige o cuidado do cumprimento das etapas e capacidade
de vencer os desafios que aparecem no percurso (BERKUN, 2008; DUFFY, 2006; GIDO,
2007). Cada comunidade possui vocações através das manifestações de interesses e trabalhos
dos seus moradores. Gastronomia, música, artesanato, arquitetura, esportes, criatividade em
geral, enfim, seja qual for o elemento que a comunidade de um gestor possua, esse elemento
pode ser chave para ser o chamariz, o diferenciador, o ponto mais forte da identidade local para
fazer o evento comunitário dar muito certo.
A vantagem do tipo de gestão aqui trabalhado é a obrigatoriedade da consideração dos
atores locais nas fases de planejamento, execução e avaliação para garantir que o evento seja
pensado e realizado pela própria comunidade e se diferenciando de eventos genéricos que não
necessariamente são pensados pelas pessoas do local, mas impostos por agentes externos e
151
muitas vezes não obtendo o êxito esperado. A organização dessas fases, em termos de
cronograma e responsabilidades, é uma importante tarefa para os gestores se aterem
(CHEQUES, 2006). A participação, portanto, é um dos elementos mais importantes, que todo
gestor de eventos comunitários deve considerar.
Pensando nessa vantagem, podemos também ponderar a respeito da dificuldade em
mobilizar a comunidade para o projeto. Quando um evento tem poucos ou nenhum recurso e
retorno financeiro, a mobilização pode se tornar ainda mais difícil, mas não impossível, pois o
objetivo final de ajudar, entreter e fazer com que a comunidade cresça pode estimular as pessoas
participantes. Uma estratégia possível para vencer essa dificuldade é ir atrás de projetos que já
funcionem na comunidade como projetos sociais, culturais ou profissionalizantes. Pessoas
engajadas nesses tipos de projetos podem contribuir e muito para a gestão e o empreendimento
de um evento comunitário através de suas experiências profissionais e comunitárias (GRAY;
LARSON, 2009).
Outra vantagem que um evento de gestão participativa apresenta é a autonomia de todos
os atores para a realização de um evento comunitário. A liberdade que as equipes podem ter em
criar e buscar soluções pode contribuir e muito para a realização do projeto, pois não engessa a
criatividade e as performances das equipes. Essa vantagem, contudo, pode apresentar
dificuldades no sentido de desorganização da administração desse tipo de gestão. Uma forte
possibilidade a ser considerada para sanar essa dificuldade é que cada equipe tenha um
responsável para alinhar o que tem sido feito e o projeto como um todo com os responsáveis
por outras equipes.
A diversidade aparece como mais uma vantagem, mas é bom termos em mente que,
assim como as diferenças somam, podem também apresentar conflitos. O desenvolvimento de
sensibilidade e o conhecimento dos membros para essas possibilidades de conflitos são
fundamentais para o êxito final da gestão participativa de um evento comunitário. Alertado para
os perigos desses tipos, um gestor tende a ter maiores cuidados para o sucesso da gestão, pois
é possível extrair dos conflitos, novas soluções para problemas que até então pareciam difíceis
de serem superados.
Sintetizando as vantagens da gestão participativa, consideramos que a autonomia e a
diversidade dos envolvidos no projeto são ideias chaves para garantir uma gestão da e para a
comunidade. Autonomia, pois cada participante do projeto pode, com liberdade, desenvolver
melhor suas ideias e tornar o evento cada vez mais atrativo e diversidade, porque quanto mais
se soma talentos e esforços, mais provável atingir um nível de evento maior, atendendo e
ampliando seus objetivos.
152
Tanto as vantagens quanto as dificuldades de uma gestão participativa de um evento
comunitário devem ser considerados pelo gestor desde a fase de planejamento do evento. Faz-
se necessário alertar ao gestor do evento que, na fase de execução do evento, diversas
dificuldades podem surgir. A criatividade e a calma são pontos importantes a serem
considerados nesse caso para que se chegue a uma solução. Através da participação, identidade
local e empreendedorismo local, princípios aqui discutidos, podemos ter mais chances de
resolver as dificuldades para a gestão participativa com eventos comunitários.
Para melhor apreensão do gestor acerca das práticas da gestão participativa, dividimos
cada prática através de tipos e de aplicações. O intuito dessa organização é facilitar a
compreensão do público-alvo desse trabalho e não engessar qualquer forma de compreensão
acerca das práticas desse tipo de gestão. O desenho aqui apresentado é aberto para que novas
práticas possam ser pensadas pelos gestores bem como novos tipos e possibilidades.
153
Quadro 2 - Gestão Participativa: tipos e possibilidades
Práticas da Gestão Participativa Tipos Aplicações
Recursos Recursos financeiros Editais públicos, privados, financiamento
coletivo, rifas, vaquinhas.
Recursos materiais Instalações, equipamentos; transporte;
alimentação; segurança; acolhimento; riscos e
contingências.
Parcerias Parcerias externas Empresas e profissionais de fora da comunidade;
órgãos municipais, estaduais ou federais;
Parcerias internas Empresas e profissionais locais, associações de
bairro, projetos que já existem locais, escolas da
comunidade.
Comunicação Comunicação geral Utilização para diálogos permanentes entre os
participantes do projeto, como ambientes virtuais
do tipo fórum, como o moodle, o novomoodle;
Redes sociais e comunicacionais, como grupos
no facebook e no whats app.
Utilização de redes sociais, telefone e presença
pessoal para auxiliar as diversas equipes nos
contatos com profissionais, empresa e órgãos
externos à comunidade.
Marketing Marketing local Para o marketing local, a rádio comunitária,
grupos e páginas no facebook da comunidade,
panfletos em escolas e pontos de alta
visibilidade, são estratégias para ampla
divulgação do evento da comunidade na própria
comunidade.
Marketing global Para o marketing global, a rádio, a televisão,
outdoor e busdoor, fora as redes sociais, o
youtube, são algumas das possibilidades para
marketing.
Riscos e contingência Instalações,
segurança e
materiais.
Pensar na relação da comunidade com o local,
prós e contras para a segurança; Recomendações
de segurança das instalações do evento; Prever
uma sala fechada para guardar os materiais dos
envolvidos no evento comunitário.
Fonte: Elaboração dos Autores.
3.2 Gestão participativa de recursos para o evento
O primeiro passo para a gestão participativa de recursos para o evento é esboçar um
plano preliminar de ação. Pontuar as datas e as ações em um calendário é o primeiro passo para
se ter uma mínima organização para a gestão participativa de recursos. A equipe responsável
pelos recursos é uma das espinhas do evento, pois será responsável por ter iniciativas que
consigam cumprir ou até mesmo ultrapassar as necessidades de recursos previstos. Cabe a essa
equipe uma forte atuação nesse momento de planejamento bem como da gestão orçamentária e
financeira do projeto e captação e gestão dos recursos necessários para realização do projeto.
Dentro do plano preliminar de ação, se deve realizar uma reunião com todas as equipes
operacionais para se levantar todos os gastos e assim compor um orçamento. Com o orçamento
154
feito, a equipe de recursos deve pesquisar tipos de editais públicos, patrocínios e plataformas
de financiamento coletivo para, por fim da etapa de planejamento junto com as demais equipes,
poderem escolher as estratégias de captação de recursos. É importante que o leitor que aplicar
o presente conjunto de princípios e práticas tenha em vista que cada reunião é importante de se
ter alguém que registre os acontecimentos e falas para que nada se perca para o futuro.
3.2.1 Captação de recursos
A captação de recursos externos é um dos meios utilizados para se conseguir recurso
para realizar um evento, seja pelos editas públicos, pelos editais privados (patrocínios) ou pelas
plataformas de recursos coletivos. Os editais, sejam públicos ou privados, são caminhos
comumente utilizados na área do empreendedorismo cultural (SALAZAR, 2015), bem como o
financiamento coletivo em suas diversas possibilidades. Essas ferramentas possuem prazos,
exigências de documentação, especificidades quanto ao público, portanto devem ser lidos e
relidos com muita atenção para que a obtenção do recurso tenha êxito. Para os recursos
privados, além dos editais de patrocínio, é muito importante que a equipe de recursos estabeleça
contato com os empreendedores locais.
No caso do Sarau Empreendedor, se pensou em duas estratégias para conseguir recursos,
a priori: realização de uma rifa e realização de um pocket show na Universidade Federal para
angariar recursos. Ao fim, com o insucesso das propostas, foi realizada uma vaquinha informal
entre os estudantes para o pagamento dos custos e, principalmente, a bem-sucedida realização
de parcerias, etapa fundamental para o sucesso da gestão participativa do Sarau Empreendedor,
que será melhor explorada mais a frente neste trabalho.
3.2.2 Recursos Materiais
Os recursos materiais para atendimento do público são importantíssimos e podem variar
de acordo com o objetivo do evento comunitário. Fundamentalmente, os recursos necessários
devem se atentar para as seguintes gestões para a realização do projeto: gestão dos
equipamentos; gestão das instalações; gestão do transporte; gestão da alimentação; gestão dos
aspectos de segurança; gestão do acolhimento; gestão dos riscos e contingências.
Ao pensarmos na gestão de instalações, percebemos que muitos bairros periféricos
possuem espaços possíveis para a realização de um evento de pequeno a médio porte, como
associação de bairro ou quadras de escolas. Realizar uma parceria com esses locais é uma das
possibilidades de se conseguir uma local para o evento de forma econômica ou até mesmo
gratuita. No caso do Sarau Empreendedor, a equipe de instalações, responsável pelos recursos
155
para atendimento ao público, percorreu todo o território para conhecer possíveis localidades,
juntamente com uma líder local, uma empreendedora social do território e parceira do projeto.
Escolas, associação de bairro, um centro social e inclusive a rua foram cogitados pela equipe,
para, após diversas conversas e aproximação de todas as equipes e líderes envolvidos no projeto
com o centro, fechar o evento, de forma gratuita, no centro social. O local foi disposto para o
projeto como um tanto, não só para a realização do Sarau Empreendedor, mas também para
reuniões, oficinas e encontros que precederam o Sarau. O centro, conhecido grandemente pela
comunidade é um espaço com área coberta, com segurança, dois sanitários e espaço suficiente
para duzentas pessoas. Interessante pontuar ao leitor que o compromisso do centro com o Sarau
Empreendedor foi firmado após uma caminhada com jovens da comunidade, estudantes,
docentes e o facilitador de uma universidade federal pela “importância da mulher no processo
de construção social, [além de] combater o preconceito e a violência, principalmente contra as
mulheres negras que pertencem a comunidades vulneráveis”, conforme palavras de uma líder
do território61.
A alimentação é outro fator importantíssimo, pois o público que irá ao evento
comunitário, de forma geral, gosta de ter a possibilidade de beber ou comer algo. No caso do
Sarau Empreendedor, em parceria com um projeto social atuante no território, três
empreendedores no ramo da comida e alimentação foram convidados a ocuparem o espaço e
venderem seus produtos, sendo um comerciante que vendeu bebidas não alcoólicas (o que é
preferível em um evento comunitário que busque alcançar todos os públicos, incluindo crianças
e jovens), uma baiana de acarajé e um vendedor de mini pizza. A alimentação para os
convidados do Sarau, ou seja, os artistas e palestrantes, foi conseguida mediante os recursos
angariados da vaquinha, conseguindo comprar para todas e todos os convidados um kit de um
copo de suco e um salgado.
A gestão de transportes e de equipamentos necessários para as apresentações das
atrações são outros recursos que merecem atenção na gestão participativa. No caso do Sarau
Empreendedor, foi negociado um valor com uma empresa de transportes para transportar
músicos, instrumentos e figurinos para a ida ao sarau e para a volta. Essa equipe também é
responsável por verificar se o local possui pontos de ônibus ou de metrô próximos para a
locomoção das pessoas. Com dificuldades na mobilidade, o evento corre o risco de sofrer com
um baixo público.
61 http://www.secom.ba.gov.br/2016/03/131567/Preservacao-do-meio-ambiente-e-tema-de-caminhada-no-
Nordeste-de-Amaralina-.html
156
A decoração foi realizada com parte do recurso angariado na vaquinha e com doação de
objetos das pessoas envolvidas na gestão participativa. Alguns estudantes ficaram dispostos
logo na frente do centro para receber o público ou os artistas e palestrantes, ou próximos aos
cartazes de programação para já incluir o público no evento. A criatividade para esse momento
ajuda muito a poupar recursos e investir em outras áreas em que não basta apenas a criatividade
como solução.
3.3 Gestão participativa de parcerias para o evento
Vimos, através dos princípios e das práticas da gestão participativa de recursos para o
evento uma das soluções mais criativas e viáveis para resolver diversos problemas é o
estabelecimento de parcerias. Mais do que isso, as parcerias constituem etapa fundamental para
a efetivação de um empreendedorismo participativo e coletivo (MALO; RODRIGUES, 2006).
No caso do Sarau Empreendedor, as instalações com o centro, os comerciantes de comidas e
bebidas com o já citado projeto social, as atrações musicais e de dança do próprio território bem
como os músicos e a empreendedora social como palestrantes foram todos conseguidos
mediante as parcerias.
Muitas vezes quando pensamos em realizar um evento comunitário, olhamos para fora
da comunidade para tentar conseguir recursos e parcerias. É importante que esse conjunto seja
seguido no sentido de que o gestor perceba todas as riquezas que o cercam em sua própria
comunidade. Valorizar os empreendedores e talentos locais é uma das chaves para o sucesso de
um evento comunitário. A orientação é de priorizar o que há de rico no local, mas parceiros
externos são sempre bem-vindos para um projeto. Para o Sarau Empreendedor, outras parcerias
conseguidas também foram com uma gráfica que ofereceu desconto desde que a logo da gráfica
constasse na camisa dos participantes da produção do Sarau Empreendedor, o fotógrafo que
trocou seu trabalho pelo seu nome nos créditos das fotos do Sarau e o trabalho do designer,
conseguido da mesma forma, a chamada permuta.
No Sarau Empreendedor, além da economia cultural, houve também a intenção de
estimular a economia local como um todo, sempre buscando parcerias e referências do próprio
local. As parcerias se reafirmam como eixo fundamental para que o empreendedorismo ganhe,
cada vez mais, um caráter social, portanto, mais amplo e com mais possibilidades para todos os
envolvidos no projeto.
157
3.4 Gestão participativa de comunicação para o evento
Em síntese, a gestão participativa de comunicação para o evento deve ter como
atribuições: a gestão da comunicação interna entre as equipes e entre as pessoas externas às
equipes; registros formais, escritos, fotográficos que possam ser acompanhados pelas equipes
no processo de concepção e gestão do projeto; gestão de integração do projeto das equipes,
fornecendo retornos e mantendo as equipes cientes do processo em sua totalidade.
O exercício de escutar é uma das tarefas mais importantes para o gestor de um projeto
de caráter comunitário (CARVALHO, 2012). A equipe responsável pela comunicação tem a
importante competência de ser o canal de comunicação de notícias gerais para todas as equipes,
de pontuar a necessidade de reuniões ou diálogos gerais ou entre duas equipes sobre
determinados assuntos. Essa é a equipe responsável para que haja um entendimento entre todas
as equipes a respeito do que todas planejam e executam conforme o planejamento geral do
evento comunitário.
No Sarau Empreendedor, a comunicação das equipes de estudantes e líderes e jovens da
comunidade se deu através de um ambiente virtual de aprendizagem e de um grupo no
whatsapp. Os dois ambientes foram muito úteis, pois o primeiro era organizado, virtual,
concreto pela sua durabilidade de informações, distribuição de tópicos, fontes entre outros
recursos; enquanto o segundo era imediato, utilizado muito para questões emergenciais que
precisavam ser resolvidas naquele momento. O whats app também foi usado para além das
questões emergenciais, visto que o contato frequente com os moradores da comunidade
fortalecia o relacionamento e auxiliava para que o projeto não “esfriasse”.
Fora a comunicação virtual diária, eram realizados encontros quinzenais entre os
estudantes e os jovens da comunidade para tratar da produção do Sarau e de outras questões de
aprendizagem. É importante que cada membro da equipe compartilhe suas ações e experiências
com os demais membros da equipe, o processo de escuta é fundamental para apreender as
experiências dos participantes. Foi através da escuta que, no caso do Sarau Empreendedor, os
estudantes escolheram o território, escutaram quatro líderes sociais e culturais do território
sobre as possibilidades de realização do Sarau Empreendedor, dicas, críticas entre outras
importantes questões para o planejamento do Sarau. Foi através também da escuta que os jovens
do território opinaram sobre o Sarau até que duas jovens do grupo do território sugerissem com
a ideia do nome “Sarau Empreendedor, como anteriormente mencionado”. Nada mais
emblemático que um evento comunitário, com fundamento na identidade local, tenha o seu
nome escolhido principalmente pelas pessoas que compõem a comunidade.
158
A equipe responsável pela comunicação tem também a importante responsabilidade de
ser o canal de comunicação entre as equipes e os atores externos à produção do evento
comunitário, como empreendedores, líderes sociais e culturais, imprensa, fornecedores de
equipamentos e de outros materiais ou até jovens interessados em comparecerem apenas no dia
do evento. Essa é a equipe responsável para que haja um entendimento entre as equipes e os
atores externos. No Sarau Empreendedor, como pode ser percebido pelos gestores que irão
aplicar o conjunto aqui proposto, a equipe responsável pela comunicação desempenhou todo o
papel de articulação com profissionais contratados para atuarem no Sarau, auxiliando todas as
equipes nesse processo, com uma participação ativa e articulada.
3.5 Gestão participativa de marketing para o evento
A gestão participativa de marketing para o evento tem o objeto de gerir a divulgação do
evento comunitário com parceiros e público do projeto. É essa a equipe responsável por
negociar parcerias que transmitam o evento (como fotografia e filmagem, mídia exterior,
comunicação visual) e compartilhar as negociações com as demais equipes bem como articular
entre as outras equipes a construção da marca do evento. A marca do evento e a identidade
visual merecem destaque nesse processo, pois podem criar um vínculo imediato com o público
ou afastar o público do evento (HATCH; SCHULTZ, 2008). Entender o público, o local, é
essencial para o sucesso das ações de marketing (AVELAR, 2013; REIS, 2013), e a melhor
forma de fazer isso é através da escuta, da conversa informal com as pessoas e de diálogos com
os já envolvidos no projeto do local em que ocorrerá o evento.
O marketing pode ser local e/ou global, a depender do objetivo da comunidade. Para o
marketing local, a rádio comunitária, grupos e páginas no facebook da comunidade, panfletos
em escolas e pontos de alta visibilidade são estratégias para ampla divulgação do evento da
comunidade na própria comunidade. Para o marketing global, a rádio, a televisão, outdoor e
busdoor, fora as redes sociais, o youtube, são algumas das possibilidades para marketing.
Na experiência do Sarau Empreendedor, foi percebido que a utilização da rádio
comunitária, blog produzido por moradores da comunidade e murais das escolas e pontos
culturais da comunidade eram as indicações de marketing mais fortes dos jovens e líderes
locais. A equipe de marketing desse processo conseguiu estabelecer contato com um blog e um
site local, bem como imprimir diversos banners e pequenos convites para o evento em pontos
estratégicos da comunidade.
3.6 Gestão participativa de riscos e contingências para o evento
159
Os riscos de cada projeto de evento comunitário podem ser calculados com a avaliação
da periculosidade de equipamentos utilizados no evento, das instalações (parte elétrica, se a
região é bem iluminada, se possui segurança, se possui extintores), controle de capacidade do
local, entre outras medidas que podem ser cabíveis a depender do evento.
A equipe responsável pela gestão participativa de riscos deve também estabelecer avisos
de segurança frequentes em relação às atividades antes, durante e após a realização do evento
comunitário. Essa equipe deve averiguar junto a uma considerável camada de moradores sobre
os ricos que o evento pode apresentar, sobre a relação da comunidade com a polícia, nesse caso,
muitas vezes a polícia pode arruinar um evento, pois a comunidade não se sente confortável
com esse segmento. Esses procedimentos foram adotados para a realização do Sarau
Empreendedor.
Em síntese, a gestão participativa de riscos para o evento deve se ater às seguintes ações:
prevenção e gerenciamento dos fatores de riscos; procedimentos de segurança; recomendações
de segurança para os encontros na comunidade; atenção ao acolhimento; atenção a todas as
fases de produção do evento (antes, durante e após a realização); controle de patrimônio dos
materiais na realização do evento; resolução das contingências na medida em que elas surgirem.
4.Discussão e impactos
Uma discussão a ser pensada a partir dos princípios e práticas da gestão participativa é
no quanto que as instituições brasileiras falham em não se aproximar das comunidades para a
transmissão de conhecimento no que tange esse tipo de gestão. Incentivar a economia de
comunidades é uma ação que consequentemente estimula todas as demais economias, porém
falta que essa máxima seja absorvida pelas instituições e pela consciência coletiva.
É fundamental que, com o conjunto de princípios e práticas aqui apresentado, o gestor,
empreendedor, jovem, líder de uma comunidade, tenham atenção quanto às adaptações que
cada orientação pode ganhar com as singularidades da comunidade escolhida para que seja
realizado o evento comunitário. Alertamos que não é preciso ter experiência alguma para aplicar
as práticas e princípios aqui organizados e indicados. Qualquer morador de uma comunidade
ou até mesmo um colaborador pode aplicar a proposta aqui apresentada, com leitura cuidadosa
desse conjunto.
Outra discussão a ser trazida aqui é a de que as dificuldades de relações em qualquer
processo coletivo vão existir. Conflitos nos processos das relações são naturais e devem ser
administrados com a maior cautela possível, sempre com o foco no objetivo da gestão do evento
comunitário. No processo do Sarau Empreendedor, tivemos diversos conflitos relacionais,
160
como membros que desistiram do projeto, que queria mudar a natureza do Sarau, mas com o
objetivo central em mente, perseveramos e muitos participantes ao final se orgulharam do que
construíram, confessando que pensaram em diversos momentos desistir do processo, pois não
acreditavam que ele daria certo.
Como discussão e já pensando em impactos, esperamos que, sob o ponto de vista do
indivíduo participante do processo, a percepção sobre a importância do trabalho coletivo, de
forma cooperada, é importante, prazeroso e valioso mudando assim sua visão e posicionamento
sobre formas de agir no âmbito profissional e pessoal.
O conjunto de práticas e princípios aqui trabalhado propõe impactar fortemente a gestão
participativa de eventos comunitários traduzindo a noção de participação cidadã na sociedade
para a própria comunidade gerando trabalho, emprego e renda, catalisando e fortalecendo o
desenvolvimento local. Ressaltamos a importância de cada gestor que pretender desenvolver
esse tipo de gestão em sua comunidade, destacando o caráter coletivo da gestão participativa,
para que os princípios da participação, da identidade local e do empreendedorismo cultural
sejam melhores desenvolvidos em cada prática. A geração de uma rede empreendedora que,
uma vez unida para determinada ação, pode retornar a existir com ou sem a figura de qualquer
líder externo. Essa rede se traduz nas relações entre organizações, grupos e comunidade de um
ou mais de um território.
Por fim, como impacto da realização um evento de caráter comunitário, com base na
participação e fundamento na identidade local, se espera que o evento estimule a economia
criativa de um território periférico, fortaleça a economia cultural, formal e amplie as inciativas
de caráter social, cultural e econômicas do território.
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CAPÍTULO 4 - DISCUSSÃO E IMPACTOS
Uma discussão a ser apontada aqui é a ausência de empreendedoras culturais nesse
trabalho. Elas existem, mas se percebe que principalmente no âmbito da música, foram poucas
empreendedoras indicadas ou encontradas para entrevistas. As mulheres foram mais
encontradas em maior número na área de educação. Próximos trabalhos na área do
empreendedorismo musical devem ter a preocupação de investigar ainda mais as
empreendedoras mulheres da música.
Evidenciamos nessa pesquisa que o foco aqui trabalho foi no artista como
empreendedor, no entanto, outro ponto a ser estimulado para discussão é de que consideramos
nesse trabalho que o artista pode empreender, de diversas formas, com diversos conhecimento,
em diversas áreas, mas a tensão entre exercer sua arte, criando, se apresentando e empreender
sua arte é um dos ponto a ser explorados em um próximo trabalho sobre a temática, visto que
achar o equilíbrio entra a arte e o empreendedorismo é um exercício contínuo.
A dissertação possui quatro dimensões de impacto na sociedade, sendo elas: teórica,
sociocultural, socioprofissional e educacional. O trabalho então pretende promover discussões
e ocasionar impactos em instituições profissionalizantes, educacionais, culturais e sociais, além
de auxiliar os trabalhos de educadores, líderes sociais/culturais/comunitários, artistas,
empreendedores das mais diversas áreas, profissionais/pesquisadores da área do
empreendedorismo e da cultura. Os impactos aqui mensurados não são apenas no plano das
ideias, mas principalmente no campo da intervenção de desenvolvimento de territórios, fazendo
com que o país possa se desenvolver cada vez mais através da educação, arte e cultura.
Após ler os cinco artigos, esperamos que a tecnologia social proporcione reais
transformações em territórios. A aplicação da tecnologia no território do Nordeste de Amaralina
demonstra a força que o Sarau Empreendedor possui para impactar os meios acadêmicos, social,
cultural, profissional e educacional.
4.1 IMPACTOS TEÓRICOS
Tendo evidenciado a presente demanda existente quanto à conceituação e
problematização das principais ideias da tecnologia (o empreendedorismo cultural, a pedagogia
artística, a gestão participativa e a identidade cultural local) e as ideias que fundamentam todo
o processo de confecção da tecnologia como juventude, música e periferia, a dissertação
pondera, através de uma visão interdisciplinar, uma reflexão mais ampliada sobre tais conceitos
e um alargamento acerca da compreensão das ideias citadas.
165
Especialmente, se sabe que a identidade cultural local possui uma forte relação quanto
ao desenvolvimento empreendedor cultural. A expectativa é que, com esse trabalho, a
identidade cultural local possa ser mais trabalhada em trabalhos teóricos, em especial quando
associado às atividades empreendedoras culturais, atividades de desenvolvimento de bairros
periféricos e para a pedagogia voltada ao empreendedorismo cultural estimulando novas
pesquisas, práticas e trabalhos relacionados à temática, além da ampliação do conceito de
empreendedorismo cultural.
Além disso, o trabalho buscou impactar a noção de empreendedorismo cultural,
estimulando a organização de artistas e desenvolvimento de suas carreiras e territórios, bem
como teóricos da área de pesquisa, indo para além da perspectiva individualizada do
empreendedorismo.
4.2 IMPACTOS SOCIOCULTURAIS
O jovem artista de bairros periféricos, muitas vezes, é o protagonista de ações que
ocasionam o desenvolvimento social. Com esta pesquisa, espera-se que, com enfoque nos
jovens artistas de bairros periféricos, as comunidades, os governos, as empresas, as instituições
todos os atores sociais voltem sua atenção e investimento para essa categoria social tão plural
e atuante.
A expectativa de impacto sociocultural é que a cultura juvenil ganhe, através da presente
proposta de trabalho, ainda mais força para o empreendedorismo cultural, impactando a cultura
do jovem e suas formas de relação com a arte e seus meios de ganhos financeiros. Espera-se
também que uma cultura empreendedora juvenil seja estimulada nos contextos de bairros
periféricos. Com o estímulo do empreendedorismo cultural, a expectativa é que ocorra um
impacto na diminuição da violência entre jovens em bairros periféricos ocasionando mais
desenvolvimento para os territórios periféricos do país.
4.3 IMPACTOS SOCIOPROFISSIONAIS
O principal impacto socioprofissional esperado por essa pesquisa é catalisar e estimular
capacitações voltadas ao empreendedorismo cultural com ressonância na identidade cultural
local. Essas capacitações podem estimular a profissionalização e maior qualificação de
empreendedores no país.
A pesquisa pretende desmistificar o pensamento de que a arte, em especial a linguagem
musical, não seria um ramo profissional financeiramente viável. Através dos recursos
166
empreendedores, é possível viver de música e, com isso, estimular a geração de emprego e
renda para o mercado artístico, em especial, para o mercado da música que nasce e estimula a
economia criativa e economia geral dos bairros periféricos.
O trabalho pretende ampliar a visibilidade dos talentos e competências do jovem artista
de bairros periféricos, buscando impactar o meio de investimentos no mercado através de
empresários ou instituições de fomento da música e de profissionalização artística que, hoje,
por motivos financeiros e de autonomia, exige que o artista seja também um empreendedor.
4.4 IMPACTOS EDUCACIONAIS
Espera-se, com o trabalho aqui desenvolvido, alcançar um impacto educacional no
sentido de estimular pesquisas e práticas artísticas para o ensino de jovens. Com muitas
instituições formais de educação cada vez mais tradicionais, a renovação da educação para os
jovens se faz urgente e a arte, com todos os seus processos lúdicos, criativos e inovadores é um
forte elemento para que ocorra essa mudança.
Em especial, espera-se que o ensino do empreendedorismo seja difundido, que cursos
para artistas de periferias sejam cada vez mais realizados com o auxílio do Sarau
Empreendedor, gerando multiplicadores da tecnologia e promovendo uma educação
empoderadora pelo Brasil.
O impacto educacional tem em vista a capacitação e estímulo de jovens, educadores,
mobilizadores, líderes e empreendedores para reaplicarem a tecnologia social aqui proposta,
além de incentivar a produções de novas tecnologias sociais no âmbito da educação, arte,
empreendedorismo e desenvolvimento local, com fundamento na identidade cultural local.
167
CONCLUSÕES
O trabalho se propôs a formular uma tecnologia social que facilite e estimule os jovens,
através das artes, no processo de aprendizagem e assimilação dos conhecimentos do
empreendedorismo cultural valorizando as forças da identidade cultural local e da ação coletiva.
Para alcançar o seu objetivo, esta pesquisa discutiu as ideias de educação através das artes,
empreendedorismo cultural e gestão participativa de eventos comunitários sempre com
fundamento na identidade cultural local. O resultado de tal esforço é a versão da tecnologia
social aqui apresentada.
Podemos concluir que a pesquisa conseguiu identificar, descrever e categorizar os
conhecimentos mais importantes do empreendedorismo na área de cultura e música. Esses
conhecimentos forma organizados a fim de afirmarem suas bases, sua relevância, sua
praticidade e indicar fontes diversas para orientar o empreendedor. Tendo em vista identidade
cultural local, pode-se afirmar que o objetivo de identificação, descrição e categorização das
abordagens e práticas pedagógicas com fundamento na arte, no empreendedorismo e na gestão
participativa, foi alcançado.
Através do desenho da tecnologia social (artigo 2), das práticas e abordagens pedagógicas
(artigo 1 e artigo 4) e dos conhecimentos empreendedores da música (artigo 3) comparamos e
associamos tais práticas e abordagens, com relação a gestão participativa de eventos
comunitários para o ensino do empreendedorismo (artigo 5), chegando à conclusão da
tecnologia social. De acordo com todos os objetivos desse trabalho, realiza-se, de forma
coletiva, conforme o objetivo anterior, um sarau que estimule e capacite jovens para o
empreendedorismo cultural no Nordeste de Amaralina, território periférico de Salvador/Bahia.
Através da aplicação do Sarau Empreendedor no Nordeste de Amaralina e das
entrevistas com empreendedores da música, foi confirmada a hipótese de que diversos grupos
musicais e artísticos são sim menosprezado por instituições de fomento, seja pela falta de
estímulo ou pela falta de educação para buscar financiamento. Alguns cursos ou meios são
divulgados, mas muitos ocorrem longe do local de moradia ou não são amplamente divulgados.
Foi também construído o problema da pesquisa de como um sarau comunitário pode se tornar
um instrumento de capacitação e estímulo de empreendedores culturais.
Espera-se que com as aplicações do Sarau por diferentes líderes, em diferentes contextos,
a tecnologia se fortaleça para que novas versões sejam realizadas e testadas por líderes,
empreendedores culturais e jovens artistas de periferias. Espera-se também que essa iniciativa
168
do Sarau ganhe corpo e seja aplicada por diversas comunidades, estimulando outras formas de
pedagogias mais afinadas aos desejos e perfis dos jovens bem como a disseminação dos
conhecimentos relacionados ao empreendedorismo cultural entre os jovens artistas,
desenvolvendo carreiras e bairros periféricos.
Ressalta-se aos líderes que os conhecimentos sobre pedagogia artística,
empreendedorismo cultural, empreendedorismo musical e gestão participativa de eventos
comunitários não se resumem aos apresentados nesta dissertação. Procura-se tratar e indicar os
conhecimentos imprescindíveis à carreira empreendedora, contudo processos de inovação,
criação e arte são sempre confrontados com novas necessidades de atualizações por parte dos
empreendedores da cultura. Alerta-se que a ordem dos artigos tecnológicos foi pensada para a
melhor aplicação possível do Sarau Empreendedor, contudo cada conjunto de líderes pode
redefinir a ordem dos artigos alcançando os resultados esperados.
Por fim, enfatiza-se o entendimento de que a tecnologia social proposta não é importante
apenas para o residente de bairros periféricos, mas para todos os convidados das redes
empreendedoras de outros bairros. Com a união artística de comunidades distintas, é possível
fortalecer as economias desses locais, ocasionando um desenvolvimento social como um todo,
ou seja, nos âmbitos da saúde, do trabalho, da educação, da moradia e da cultura.
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