universidade estadual do oeste do...

68
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ CAMPUS DE MARECHAL CÂNDIDO RONDON CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, EDUCAÇÃO E LETRAS CURSO DE GEOGRAFIA LEANDRO DANELUZ GONÇALVES O TRABALHO CAMPONÊS NO ASSENTAMENTO “16 DE MAIO” – RAMILÂNDIA/PR Marechal Cândido Rondon 2009

Upload: truongcong

Post on 25-Nov-2018

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ

CAMPUS DE MARECHAL CÂNDIDO RONDON

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, EDUCAÇÃO E LETRAS

CURSO DE GEOGRAFIA

LEANDRO DANELUZ GONÇALVES

O TRABALHO CAMPONÊS NO ASSENTAMENTO “16 DE MAIO” –

RAMILÂNDIA/PR

Marechal Cândido Rondon

2009

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ

CAMPUS DE MARECHAL CÂNDIDO RONDON

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, EDUCAÇÃO E LETRAS

CURSO DE GEOGRAFIA

LEANDRO DANELUZ GONÇALVES

O TRABALHO CAMPONÊS NO ASSENTAMENTO “16 DE MAIO” –

RAMILÂNDIA/PR

Monografia apresentada ao Curso de Geografia da

Universidade Estadual do Oeste do Paraná campus de

Marechal Cândido Rondon para a obtenção do título de

Graduado em Geografia

Orientador: Prof. Dr. João Edmilson Fabrini

Marechal Cândido Rondon

2009

Para Protasio Darcy Ferreira Gonçalves (em

memória), Loreni Daneluz Gonçalves, Ariane

Daneluz Gonçalves e Vanessa Daneluz

Gonçalves, minha família que sempre me

apoiou ao longo de toda a vida.

AGRADECIMENTOS

Agradeço a minha família, meu pai (em memória) Protasio, minha mãe Loreni, minhas irmãs

Ariane e Vanessa e minha tia Inés, que ao longo destes quatro anos sempre demonstraram seu

apoio e carinho.

Agradeço em especial ao meu orientador professor João Edmilson Fabrini pelo auxilio, apoio,

incentivo e dedicação com que tem me orientado e guiado nesta pesquisa. Agradeço também

por ser além de um excelente professor, sendo acima de tudo um grande amigo.

Aos companheiros do Geolutas, do Centro Acadêmico de Geografia Chico Mendes, a

Associação dos Geógrafos Brasileiros e a Executiva Estadual dos Estudantes de Geografia,

que me proporcionaram no decorrem destes quatro anos a inserção acadêmica e política.

A todos os professores do curso de geografia da UNIOESTE – Marechal Cândido Rondon,

cujo conhecimento repassado foi de fundamental importância para a minha formação

enquanto estudante.

Aos assentados do “16 de Maio” pelo carinho que tiveram ao me acolher em sua casas e

compartilhar momentos e informações de suas vidas.

De maneira geral a todos que de uma forma ou outra contribuíram direta ou indiretamente

para a realização deste trabalho.

RESUMO

Esta pesquisa monográfica trata do trabalho camponês no assentamento “16 de Maio” no

município de Ramilândia/PR. Este assentamento é resultante das lutas realizadas pelos sem-

terra para construir o seu território, aliás, as lutas camponesas se constituem numa das

principais características do campo brasileiro. Resultante do processo de enfrentamentos com

os proprietários de terra e capitalistas, os camponeses sem-terra, por meio de suas lutas e

resistências, vão conseguindo algum resultado em seu favor que se materializam, sobretudo,

na conquista da terra de assentamento. No assentamento, os sem-terra constroem e

reconstroem a sua condição de camponeses na qual se destacam as relações de trabalho

assentadas no núcleo familiar de produção. Mesmo considerando que o trabalho dos

camponeses está subordinado ao capital, este apresenta características que o difere daquele

realizado por operários de uma fábrica, por exemplo. Difere também dos trabalhadores que

mantém relações precárias, típicas de uma acumulação flexível de capital. Assim, o trabalho

camponês apresenta características não-capitalistas, embora sirva e esteja inserido no processo

geral da acumulação capitalista. A divisão do trabalho, controle do tempo, ajuda mútua,

pagamento em trabalho, trabalho comunitário e solidário, troca de dias de serviço no interior

da unidade produtiva camponesa, neste caso no assentamento “16 de Maio”, são algumas

características que se destacam no trabalho não-capitalista camponês.

Palavras-Chaves: Campesinato; trabalho; assentamento; território.

ABSTRACT

This research of course conclusion is about the work peasant in the establishment “May” 16

in the municipal district of Ramilândia/PR. This establishment is resulting of the fights

accomplished by the without-earth to build its territory, in fact, the fights peasants are

constituted in an of the main characteristics of the Brazilian field. Resultant of the dispute

process with the earth proprietors and capitalists, the peasants without-earth, by means of its

fights and resistances, they are going getting some result above all in its favor that you/they

are materialized, in the conquest of the establishment earth. In the establishment, them

without-earth builds and they reconstruct its condition of peasants in which you/they stand out

the work relationships seated in the family nucleus of production. Same considering that the

peasants' work is subordinated to the capital, this presents characteristics that it differs it of

that accomplished by workers of a factory, for example. It also differs of the workers that it

maintains precarious relationships, typical of a flexible accumulation of capital. Thus, the

work peasant introduces characteristics no-capitalists, although it serves and be inserted in the

general process of the capitalist accumulation. The division of the work, control of the time,

helps mutual, payment in work, community and solidary work, change of days of service

inside the unit productive peasant, in this case in the establishment “May” 16, they are some

characteristics that stand out in the work no-capitalist peasant.

Word-Keys: Peasant; work; establishment; territory

SUMÁRIO

LISTA DE GRÁFICOS, TABELAS E FIGURAS ................................................................ 8

LISTA DE SIGLAS .................................................................................................................. 9

INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 10

I CAPÍTULO: RELAÇÕES DE TRABALHO NOS DIFERENTES MODOS DE

PRODUÇÃO ........................................................................................................................... 14

1 – O trabalho no modo de produção escravista ....................................................................... 14 2 – O trabalho no modo de produção Feudal ........................................................................... 15

3 – O trabalho no modo de produção capitalista ...................................................................... 16 3.1 – Taylorismo e o trabalho ................................................................................................... 17

3.2 – O trabalho fordista ........................................................................................................... 18 3.3 – Toyotismo e o trabalho .................................................................................................... 18 4 – O trabalho não-capitalista ................................................................................................... 20

5 – Camponeses e operários: diferentes sujeitos sociais .......................................................... 21

II CAPÍTULO: A LUTA PELA TERRA ............................................................................. 23 1 – Ramilândia: a luta pela terra e o assentamento “16 de maio” ............................................ 26

III CAPÍTULO: A NATUREZA DO TRABALHO CAMPONÊS .................................... 31 1 – Trabalho camponês: um trabalho não capitalista ............................................................... 31 2 – Divisão familiar do trabalho camponês .............................................................................. 34 2.1 – A importância da familia na divisão camponesa do trabalho .......................................... 39

2.2 – A divisão do trabalho familiar camponês e o tempo de trabalho .................................... 46 3 – As práticas de ajuda mútua no assentamento ..................................................................... 51 4 – A troca de dias de trabalho no assentamento ...................................................................... 54 5 – O trabalho diarista: aproximação do trabalho assalariado? ................................................ 56

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 59

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 61

ANEXOS ................................................................................................................................. 63

LISTA DE GRÁFICOS, TABELAS E FIGURAS

Figura 2.1 – Município de Ramilândia/PR ..................................................................... 26

Figura 3.1 – Filhos de camponeses realizando trabalho de seleção das folhas de fumo

para embalagem .............................................................................................................. 45

Figura 3.2 – Filho de 14 anos no trabalho de “quebrar o milho” ................................... 45

Figura 3.3 – Assentado idoso trabalhando na atividade do leite .................................... 51

Figura 3.4 – Trabalho gratuito entre vizinhos na castração do cachaço ......................... 53

Figura 3.5 – Troca de dia de serviço (trabalho) .............................................................. 56

Tabela 2.1 – Estrutura Fundiária de Ramilândia – 1996 ................................................ 27

Tabela 3.1 – Composição da Capacidade de Trabalho por Propriedade Camponesa .... 34

Tabela 3.2 – Relação Consumidor/Trabalhador por Propriedade Camponesa ............... 35

Tabela 3.3 – Trabalho na Produção de Suínos ............................................................... 37

Tabela 3.4 – Idade dos Filhos Associado à Inserção na Divisão do Trabalho ............... 40

Tabela 3.5 – Inserção dos Filhos na Divisão do Trabalho Familiar ............................... 41

Tabela 3.6 – Inserção dos Filhos na Divisão do Trabalho de Abate de Suínos ............. 43

Tabela 3.7 – Divisão Familiar no Trabalho de Ordenha do Leite (%) ........................... 46

Tabela 3.8 – Famílias Camponesas que Recorrem a Ajuda Mútua (semanal, mensal e

anual) .............................................................................................................................. 51

Gráfico 3.1 Evolução da inserção dos filhos na divisão do trabalho nas unidades

produtivas camponesas ................................................................................................... 44

LISTA DE SIGLAS

INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária.

MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IPARDS – Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social

INTRODUÇÃO

Os assentamentos de reforma agrária são resultantes das lutas dos trabalhadores sem-

terra organizados nos movimentos sociais de luta pela terra, dentre os quais se destaca o MST

- Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra. A organização dos trabalhadores do

campo nos Movimentos não é “fenômeno” recente, pois desde passado distante que remonta o

século XIX, os camponeses já lutavam e resistiam para entrar e permanecer na terra, negando

assim, a expropriação/expulsão da terra e proletarização, característica da expansão do modo

capitalista de produção.

Neste sentido, será tratada a luta dos camponeses sem-terra no município de

Ramilândia/PR, onde foi realizado o assentamento “16 de Maio”. Este assentamento possui

220 famílias, ocupando uma área de 2.356 hectares, no qual será destacada a natureza do

trabalho realizado pelos camponeses assentados.

O trabalho dos camponeses apresenta um conjunto de características que diferem do

trabalho realizado pelos operários de uma fábrica, por exemplo. A divisão fordista do

trabalho, ou mais recentemente a reorganização sob o paradigma do toyotismo e a

acumulação flexível, embora se constitua como importante paradigma na interpretação do

trabalho na sociedade capitalista, não é suficiente para interpretar o trabalho dos camponeses,

inseridos também no modo de produção capitalista.

O trabalho camponês nos assentamentos de reforma agrária não se constitui em “força

de trabalho” apenas. Os camponeses estabelecem um conjunto de relações de natureza não-

capitalista que envolve a ajuda mútua, pagamento em trabalho, trabalho comunitário e

solidário, troca de dias de serviço entre outros. Assim, há que se interpretar o campesinato e o

trabalho realizado por eles para além de uma classe que vende “força de trabalho” aos

capitalistas da indústria, bancos e comércio. Há que se interpretar os camponeses como classe

trabalhadora que no processo contraditório e desigual de expansão das relações capitalistas

realiza um trabalho não-capitalista. Para reconhecer esta característica de trabalho camponês

foi tomado como referência espacial/geográfica o assentamento “16 de Maio”, oriundo da luta

dos trabalhadores organizada no MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra).

11

A monografia é composta de três capítulos. No primeiro capítulo – Relações de

trabalho e modos de produção – será apresentado o trabalho enquanto evolução histórica,

demonstrando que o trabalho capitalista – assalariado – nem sempre foi a principal forma de

produção e organização da sociedade humana. Para tanto, foi feito breve comentário sobre o

trabalho nos diferentes modos de produção como o feudal; escravista; capitalista - taylorismo,

fordismo, toyotismo. Foi tratado ainda neste capítulo sobre o trabalho não-capitalista no

interior do modo de produção capitalista, ou seja, o trabalho atual (capitalista) não há uma

superação do trabalho de “antigos” modos de produção. Sendo assim, a produção capitalista

se apropria de relações não especificamente capitalistas para maiores acúmulos de capital.

Portanto, as relações não-capitalistas não são resquícios do passado, e sim uma dimensão

intrínseca da essência da produção “moderna” capitalista.

No segundo capítulo – A luta pela terra – será destacada a concentração fundiária e a

modernização da agricultura enquanto fatores importantes para entender a expulsão dos

trabalhadores do campo. Enquanto resposta a expropriação e expulsão das terras no final da

década de 70 e início de 80, os trabalhadores adotaram a ocupação das terras para forçar o

Estado a promover a Reforma Agrária.

Neste segundo capítulo também será tratado sobre movimentos sociais no campo, que

tem operacionalizado a luta pela terra e a garantia de direitos negados aos camponeses. As

lutas e ações desenvolvidas pelos camponeses nos movimentos podem ser caracterizadas

como uma forma deles se constituírem como sujeitos políticos.

Ainda no segundo capítulo foi tratado sobre “O Movimento dos Trabalhadores Rurais

Sem Terra – MST”, destacando o seu surgimento no final da década de 1970 e início de 1980,

quando possuía uma dimensão geográfica local/regional, até os dias atuais, quando assumiu

uma característica nacional. Neste contexto de lutas nos movimentos sociais foi tratado sobre

“assentamentos rurais”, dentre os quais se destaca o assentamento “16 de Maio”.

Assim, para finalizar o segundo capítulo, foi comentado sobre “Ramilândia:

assentamento “16 de Maio” e a luta pela terra”. Neste momento foi descrito sobre o município

e sua colonização, seguido de comentário sobre a luta pela terra promovida neste município,

sobretudo com a luta dos assentados de “16 de Maio”, desde o acampamento até a conquista

da terra.

No terceiro capítulo foi tratado sobre o trabalho camponês no assentamento. Diferente

da organização do trabalho de uma fábrica, por exemplo, o trabalho camponês tem como

principal elemento na organização do trabalho a família camponesa. Neste sentido, no terceiro

12

capítulo tentou-se desmistificar as dimensões do trabalho camponês, evidenciado a divisão

familiar camponesa do trabalho, a socialização do trabalho, o trabalho não especificamente

capitalista exercido pelo camponês, o trabalho acessório, as trocas de dias de serviço, a

hierarquização na organização do trabalho dentre outros elementos próprios do trabalho

camponês. Estas características do trabalho fazem do camponês outro sujeito social (classe

social), diferentemente do operário Trata-se de um sujeito social forjado no processo de

trabalho que não se apresenta único e uniforme.

O trabalho de campo e a convivência com os assentados foram fundamentais para

coleta de informações de base empírica. Inicialmente foram realizadas visitas ao assentamento

e as famílias em novembro de 2007 e em maio de 2008 com o objetivo de fazer um

levantamento prévio de informações. Além disso, consultaram-se algumas fontes secundárias

sobre a região.

Para coleta dos dados foram feitas entrevistas e um estágio informal de vivência junto

às famílias, fazendo-se observações do assentamento e levantamentos de informações

complementares. Este levantamento de informações ocorreu em janeiro e setembro de 2009.

A convivência com as famílias camponesas foi uma experiência importante, pois

permitiu acompanhar o desdobramento de dia-a-dia do trabalho da família no assentamento,

observar a sua jornada de trabalho, as reuniões na hora das refeições ou do chimarrão da

manhã e da tarde. Além disso, o contato com muitas famílias do assentamento, numa pesquisa

participante, em visitas a noite, durante o dia, nos fins de semana ou mesmo na realização de

tarefas (trabalho) junto com os assentados foi fundamental para conhecer a vida e o trabalho

dos assentados.

Também foram coletados dados importantes junto aos órgãos públicos como o INCRA

no município de Francisco Beltrão – PR. Em contato com o técnico do INCRA de Francisco

Beltrão, responsável pelo assentamento “16 de Maio” em Ramilândia, foram acessados

documentos importantes (atos de emissão de posse) que ajudaram a esclarecer o processo de

desapropriação da área que hoje é o assentamento.

Neste sentido, a partir de informações empíricas coletadas de formas diversas foi

possível cotejá-la com uma base teórica fundamentada na obra de Martins (1977, 1990, 2003),

Santos (1978), Chayanov (1974), Oliveira (1991) para afirmar ou criticar concepções e

interpretações da unidade produtiva camponesa e o trabalho nela realizado. Baseando-se na

concepção de produção capitalista de relações não-capitalistas é possível afirmar que o

trabalho camponês não se constitui necessariamente “forças de trabalho”, mas um trabalho

13

não-capitalista que atende as necessidades da acumulação do capital, mas que também poderá

ser convertido no atendimento das necessidades das famílias camponesas.

14

I CAPÍTULO

RELAÇÕES DE TRABALHO NOS DIFERENTES MODOS DE PRODUÇÃO

O conceito de modo de produção foi desenvolvido por Marx e Engels (1984) para

designar a maneira pela qual determinada sociedade se organiza para garantir a produção das

suas necessidades materiais. O modo de produção, portanto, permite compreender a maneira

pela qual a sociedade produz seus bens e serviços, como os utiliza e os distribui. Mas, o modo

de produção não está restrito á elaboração de bens e serviços, pois se relaciona com uma

dimensão superestrutural vinculada à subjetividade, ideologias, etc.

O trabalho está presente como um fator importante no modo e forma que uma

determinada sociedade organiza a produção. No modo de produção capitalista o

assalariamento se constitui numa importante relação de trabalho. Mas, o capitalismo não

“vive”, não se realiza, somente pelo trabalho assalariado, sendo verificada uma diversidade de

relações de trabalho. Acrescenta-se ainda que um modo de produção não existe numa forma

pura, pois é possível identificar numa “formação econômico-social” diferentes modos de

produção.

A história humana pode ser dividida em períodos relativamente longos de acordo com

a estrutura do modo de produção e para tanto, apresentamos as relações de trabalho em alguns

modos de produção mais expressivos vivenciados pela sociedade humana.

1 – O trabalho no modo de produção escravista

Na sociedade escravista, os meios de produção (terras, instrumentos, gado, minas, etc.)

bem como os trabalhadores eram propriedades do senhor. O escravo era considerado um

instrumento, um objeto, assim como um animal ou uma ferramenta. Identificamos na Grécia e

15

Roma antigas, as sociedades cujas características principais, no que tange à organização

econômica, social e política, os elementos básicos para o escravismo antigo.

Assim, no modo de produção escravista, as relações de trabalho eram relações de

domínio e de sujeição, opondo senhores a escravos/trabalhadores. Um pequeno número de

senhores explorava a massa de escravos que eram obrigados pela força da coerção realizar

trabalho gratuito (não pago).

No que tange as relações de trabalho escravista, pode-se destacar que os senhores eram

os proprietários da força de trabalho (os escravos), dos meios de produção e do produto do

trabalho. Segundo Hirano (1988) a apropriação do trabalho dos escravos pelos senhores se

dava pela coerção, acrescentando que marcas salientes da produção escravista são as

“estruturas jurídicas e políticas e ideológicas com a doutrina da guerra justa”.

2 – O trabalho no modo de produção Feudal

A sociedade feudal, predominante na Europa Ocidental medieval, tinha como

contradição fundamental a relação entre senhores e servos. Os servos não eram escravos de

seus senhores, pois não era propriedade deles, embora estivessem “anexado” à terra. Eles

serviam a seus senhores em troca da ocupação de pequena parcela da grande propriedade

senhorial, ou seja, em troca de poderem usufruir de casa, comida e terra destinavam uma parte

do seu tempo em trabalho para o Senhor.

Os servos trabalhavam para garantir a sua sobrevivência e a de sua família e estavam

sujeitos a uma série de obrigações para com o senhor das terras, dentre as quais a mais

importante era o trabalho gratuito. Este trabalho (corvéia) era um pagamento pelo direito de

trabalhar na terra do senhor em determinados dias da semana diretamente nas terras de

“propriedade” do senhor feudal. A submissão ao senhor também podia se traduzir na

obrigação de entregar o excedente da produção agrícola.

Para Hirano (1988) a exploração senhorial dos braços dos servos se dava através da

força das armas e o “uso legítimo da violência”, imposições ideológicas da ordem cultural-

religiosa. Ou seja, com o uso superior de força militar e ideológica o senhor feudal submetia

os servos ao trabalho compulsório e ao conjunto de obrigações servis.

16

3 – O trabalho no modo de produção capitalista

No modo de produção capitalista a propriedade dos meios de produção pertence aos

capitalistas. Para sobreviver, os trabalhadores vendem sua força de trabalho aos membros

dessa classe capitalista. As relações de produção capitalistas fundamentam-se na propriedade

privada dos meios de produção e no trabalho assalariado. Há uma separação da propriedade

dos meios de produção e trabalho.

Trata-se de uma produção essencialmente voltada à acumulação e à obtenção de lucro,

resultante da exploração dos trabalhadores, os quais se encontram na condição de vendedores

de força de trabalho. No capitalismo, ao contrário do que vimos no feudalismo, o produtor

direto (o trabalhador) deixa de exercer o controle do processo produtivo, sendo considerado

um expropriado. A origem do capitalismo foi marcada pela expropriação violenta dos

camponeses (acumulação primitiva), como destacada adiante.

No século XVIII, a expansão do modo de produção capitalista levou à Revolução

Industrial. Ao longo dos séculos XIX e XX as relações capitalistas desenvolveram-se e se

consolidaram em quase todo o mundo.

Nos livros a “Origem do capital” e o “Capital” Marx (1985 e 2006) podem-se observar

distintas fases históricas do desenvolvimento do modo de produção capitalista:

1 – A acumulação primitiva de capital – fase em que, em meio à crise da sociedade

feudal e com a sobrevivência de elementos característicos de diferentes modos de produção –

foi promovida a expropriação dos camponeses ingleses por meio do cercamento de terras.

Neste momento já se observava o desenvolvimento de relações capitalistas na Inglaterra e do

progressivo desenvolvimento de relações assalariadas em alguns pontos da Europa.

O cercamento das terras, até então camponesas, para inserção do gado ovino para

atender a indústria têxtil caracteriza-se por alteração nas relações de trabalho. Não apenas as

terras tiveram novas funções (agropecuária extensiva) e os camponeses, agora expropriados,

numa “reestruturação produtiva” que trouxe mudanças nas relações de trabalho. Agora eles

tendem se inserir no mundo do trabalho enquanto assalariados, mão-de-obra expressiva para a

formação do modo de produção capitalista.

2 – Fase de predomínio do capital mercantil na organização da produção: Neste

período a maior parte dos lucros concentra-se nas mãos dos comerciantes, que constituem a

camada hegemônica da sociedade. Durante a transição do feudalismo para o capitalismo,

17

quando se difundem as práticas mercantilistas, adotado pelos Estados Nacionais Modernos na

Europa, o trabalho assalariado torna-se mais expressivo.

Na fase de transição das relações de trabalho características do feudalismo há a

expansão das relações de trabalho assalariada (trabalhadores expropriados dos meios de

produção que vendem a sua força de trabalho).

3 – Capitalismo industrial: com a revolução industrial, uma parte importante do capital

passou a ser investido basicamente nas indústrias, que se tornou a atividade econômica mais

importante na acumulação capitalista. Nesta fase do capitalismo o trabalho assalariado firma-

se definitivamente como relação de trabalho mais importante do modo de produção.

4 – Capitalismo financeiro: os bancos e outras instituições financeiras passam a

controlar as demais atividades econômicas através de financiamentos à agricultura, a

indústria, à pecuária e ao comércio. O trabalho assalariado e a precarização das relações se

configuram enquanto elemento fundamental.

O rápido desenvolvimento das forças produtivas no capitalismo, a crescente

competitividade entre as empresas, a necessidade permanente de investimento em

produtividade e criação de novas formas de dominação sobre os trabalhadores, foram

responsáveis pelo surgimento de cada vez mais de sofisticados sistemas de gerenciamento da

produção. Estas características são importantes para entender a lógica do trabalho no sistema

capitalista, como foi o caso do taylorismo, fordismo e toyotismo.

3.1 – Taylorismo e o trabalho

A administração científica é o modelo de gerência desenvolvido pelo engenheiro

estadunidense Frederick Winslow Taylor (1856-1915), considerado o pai dessa administração

científica Taylor pretendia definir princípios científicos para a administração das empresas o

que implicou na reestruturação nas relações de trabalho.

A tese de Taylor é de que há necessidade de racionalizar o tempo e os movimentos,

objetivando a anulação de movimentos considerados inúteis realizados pelos trabalhadores.

Assim, se deveria encontrar meios para que os operários executassem de forma mais simples

e rápida a sua função, estabelecendo tempo médio de produção. Adiante será feito uma

abordagem mais atenta sobre a administração científica de Taylor e o trabalho camponês.

18

3.2 – O trabalho fordista

Idealizado pelo empresário estadunidense Henry Ford (1863-1947), fundador da Ford

Motor Company, o fordismo se caracteriza por ser um método caracterizado pela produção

em série, sendo um aperfeiçoamento do taylorismo. A divisão do trabalho se intensificou com

o fordismo.

Ford introduziu em suas fábricas as chamadas linhas de montagens, nas quais os

veículos ao serem produzidos eram colocados em esteiras rolantes e cada operário realizava

uma etapa da produção. O método de produção fordista permitiu que Ford produzisse mais de

dois milhões de carros por ano, durante a década de 1920.

Com o inicio do fordismo houve alterações nas relações de trabalho, pois a esteira

rolante da linha de montagem clássica do fordismo trouxe consigo vários significados para a

nova configuração da divisão do trabalho, dentre eles o fato dos trabalhadores perder a visão

de totalidade dos conhecimentos dos processos produtivos.

O fordismo teve seu ápice no período posterior à Segunda Guerra Mundial, nas

décadas de 1950 e 1960, que ficaram conhecidas na história do capitalismo como “os anos

dourados”. A crise sofrida pelos Estados Unidos na década de 1970 foi considerada uma crise

do próprio modelo, que apresentava queda da produtividade e margens de lucros. A partir da

década de 1980, esboçou-se no Japão um novo padrão de “desenvolvimento” denominado

pós-fordismo ou modelo flexível (toyotismo).

3.3 – Toyotismo e o trabalho

Segundo Alves (2000) é um modo de organização da produção capitalista que se

desenvolveu a partir da globalização do capitalismo na década de 1980. Surgiu no Japão após

a Segunda Guerra Mundial, mas só a partir da crise capitalista da década de 1970 é que foi

caracterizado como filosofia orgânica da produção industrial (modelo japonês), adquirindo

uma projeção global.

O Japão foi o berço da automação flexível, pois apresentava um cenário diferente dos

Estados Unidos e da Europa: um pequeno mercado consumidor, capital e matéria-prima

escassa e grande disponibilidade de mão-de-obra não especializada. A resposta à crise do

capitalismo foi o aumento da produtividade na fabricação de pequenas quantidades de

19

numerosos modelos de produtos, voltados para o mercado externo de modo a gerar divisas

tanto para a obtenção de matérias-primas e alimentos, quanto para importar os equipamentos e

bens de capital necessários para a reconstrução do país no pós-guerra e para o

desenvolvimento da própria industrialização (ALVES, 2000).

A partir de Alves (2000) podem ser levantados alguns aspectos sobre o toyotismo:

- Mecanização flexível; uma dinâmica oposta à rígida automação fordista decorrente

da inexistência de escalas que viabilizassem a rigidez.

- Processo de multifuncionalização da mão de obra, uma vez que, por se basear na

mecanização flexível e na produção para mercados muito segmentados, a mão de obra não

podia ser especializada em funções únicas e restritas como a fordista.

- Implantação de sistemas de controle de qualidade total, pelos quais, através da

promoção de palestras de grandes especialistas estadunidenses, difundiu-se um

aprimoramento do modelo dominante nos EUA. Ao se trabalhar com pequenos lotes e com

matérias-primas muito caras, os japoneses de fato buscaram a qualidade total. Se, no sistema

fordista de produção em massa, a qualidade era assegurada através de controles amostrais em

apenas determinados pontos do processo produtivo, no toyotismo, o controle de qualidade se

desenvolve pelo envolvimento de todos os trabalhadores em todos os pontos do processo

produtivo.

- Sistema just in time, que se caracteriza pela minimização dos estoques necessários à

produção de um extenso leque de produtos, com um planejamento de produção dinâmico.

Como indicado pelo próprio nome, o objetivo final seria produzir um bem no exato momento

em que é demandado.

O Japão desenvolveu um elevado padrão de qualidade que permitiu a sua inserção nos

lucrativos mercados dos países centrais e, ao buscar a produtividade com a manutenção da

flexibilidade, o toyotismo se complementava com a automação flexível. A partir de meados

da década de 1970, as empresas toyotistas assumiriam a supremacia produtiva e econômica,

principalmente pela sua sistemática produtiva que consistia em produzir bens pequenos, que

consumissem pouca energia e matéria-prima, ao contrário do padrão estadunidense.

Com o choque do petróleo e a conseqüente queda no padrão de consumo, os países

passaram a demandar uma série de produtos que não tinham capacidade, nem, a princípio,

interesse em produzir, o que favoreceu o cenário para as empresas japonesas toyotistas. A

razão para esse fato é que, devido à crise, o aumento da produtividade, embora continuasse

20

importante, perdeu espaço para fatores tais como a qualidade e a diversidade de produtos para

melhor atendimento às demandas dos consumidores.

O modelo de organização do trabalho toyotista tem como característica central a

apropriação da subjetividade, a consciência dos trabalhadores, para conseguir o controle sobre

os trabalhadores. Os trabalhadores são identificados como colaboradores, com a “liberdade”

de organizar a produção e reestruturar a linha de montagem.

Para Alves (2000), o modelo toyotista não implicou numa “revolução” tecnológica ou

mesmo a inserção de novas tecnologias que propiciam aumentos significativos de ganhos.

Muito pelo contrário, o modelo de produção toyotista está assentado na apropriação da

consciência dos trabalhadores. Trazendo consigo a alienação do trabalhador de modo

intensificado.

4 – O trabalho não-capitalista

Na obra, “o cativeiro da terra”, José de Souza Martins (2004) estudou o trabalho não-

capitalista realizado pelos camponeses nas fazendas de café de São Paulo, principalmente.

Identificou relações de produção não-capitalista no interior de uma típica produção capitalista,

a produção cafeeira para a exportação.

José de Souza Martins evidenciou o trabalho de camponeses nas fazendas de café que

trabalhavam na preparação das terras, formação do cafezal, até o primeiro ano de produção do

cafezal. Estas três fases equivalem 5 a 6 anos de trabalho. A preparação das lavouras de café,

que demandava de grandes despesas, era entregue aos colonos (imigrantes, principalmente). O

cultivo do café que se encontrava produzindo era feito pelos escravos.

Para tanto, parte-se do pressuposto de que o camponês é um trabalhador e se constitui

enquanto classe trabalhadora. Mas, embora seja, trabalhador, é também um proprietário

(pequeno) fundiário, pois tem a possibilidade de auferir renda da terra. Esta abordagem de

camponês proprietário fundiário não é objetivo desta pesquisa e sim a abordagem do sujeito

trabalhador, quando é formada a classe camponesa.

Neste sentido, temos o desafio de reconstruir as diversidades das mediações e

determinações das relações de produção que configuram o trabalho camponês e não

necessariamente a renda camponesa.

21

5 – Camponeses e operários: diferentes sujeitos sociais

Embora os camponeses possam também ser considerados como trabalhadores eles

apresentam algumas características que os diferenciam dos operários1. Para isso,

reconstruímos algumas das diversidades das relações que configuram o universo de trabalho

camponês e operário.

Há diferença na jornada de trabalho, por exemplo, pois a do operário há uma cobrança

significativa em termos de horários e metas de produção. Ou seja, o operário enquanto

expropriado dos meios de produção não tem o controle sobre o trabalho que está nas mãos do

capitalista. Embora também seja subordinado, o camponês tem algum controle do processo

produtivo.

Neste ponto, mesmo o camponês também trabalhando para o capital, esta

subordinação não é percebida com a brutalidade que se expressa em uma fábrica através de

horários e metas de produção. Por isso, o camponês se constrói num espaço que pode ser

possível a formação de outra consciência, distinta da consciência operária.

O camponês mesmo submetido a mecanismos de exploração por parte do capital é

explorado diferentemente do operário. O camponês não sofre uma exploração presente em

todo o momento do processo de trabalho. A exploração do camponês se torna mais evidente

na circulação dos produtos do trabalho. Se analisarmos a consciência de classe emergida do

interior do processo de trabalho operário não há condições sociais, culturais e ideológicas de

adotar uma consciência camponesa (Martins 2003). Visto que o trabalho enquanto construtor

dos sujeitos sociais – camponeses e operários – são de distintas naturezas.

Tanto o camponês quanto o operário é uma pessoa livre, mas o trabalho do operário é

dependente. Já o trabalho do camponês, enquanto proprietário da terra é um trabalho de

relativa independência, o que não o torna totalmente submisso e nem totalmente livre. Mas a

sua subordinação ao capital é avessa à subordinação do operário porque o que o camponês

vende não é o seu trabalho, como o operário, e sim o fruto do seu trabalho.

A subordinação do camponês ao capital não é pela sua força de trabalho que é vendida

como mercadoria ao capitalista, mas sim o produto do seu trabalho. O trabalho não aparece

como coisa em si para ser comercializado. Em um plano geral, ao final do processo de

trabalho o camponês se vê dono dos produtos gerados pelo trabalho.

1 Mas, o camponês no contexto contraditório das relações capitalistas também poder ser interpretado como parte

de outra classe, a dos proprietários de terra.

22

Mas, mesmo o camponês sendo dono dos produtos originários do seu trabalho, isso

não significa que o destino dado aos produtos será uma escolha sua. O camponês de uma

maneira ou de outra também esta inserido nos processos capitalistas de produção e não se

caracteriza em um mundo distinto ou isolado, como se fosse um estamento.

Ainda no caso do camponês, é necessário destacar que ele ainda possui o

conhecimento e os instrumentos de produção, sendo o mais importante a terra. Nas condições

de proprietário (instrumentos e conhecimento) o camponês assegura o caráter parcialmente

independente de seu trabalho. Com isso, conclui-se que o trabalho no campesinato possui

significados diferentes do trabalho dos assalariados.

23

II CAPÍTULO

A LUTA PELA TERRA

A concentração fundiária e a modernização da agricultura são responsáveis por um

conjunto de problemas aos camponeses dentre os quais se destacam a expulsão e expropriação

destes trabalhadores, tornando-os despossuídos da terra. As lutas camponesas surgiram como

uma resposta a expropriação e expulsão da terra. É neste contexto de lutas contra a

expropriação e expulsão da terra que está inserida a resistência dos camponeses sem-terra em

Ramilândia.

Recentemente (década de 1980), os camponeses, organizados nos movimentos sociais,

adotaram as ocupações de terras e acampamentos nos latifúndios para pressionar o Estado a

resolver o problema da terra e realização da reforma agrária. Dessa forma, surgiram no campo

os sem-terra, um “novo” sujeito social com uma identidade construída na trajetória de luta e

resistência.

Gohn (1997) identifica os movimentos sociais como ações sociais e políticas

arquitetadas por “atores coletivos” em uma circunstância específica de força na sociedade

civil. Segundo a autora as ações sociais e políticas desenvolvidas por estes “atores coletivos”

nos movimentos sociais desenvolvem, também, a criação de identidades em espaços não

institucionalizados.

Neste sentido, Gohn (1997) vai identificar os movimentos sociais através de uma

análise política, compreendendo as ações realizadas pelos movimentos sociais como

“respostas racionais a um conjunto específico de problemas”, caracterizando-os como

políticos.

A principal forma de organização e luta dos camponeses no final da década de 1970 e

início da década de 1980 foi nos movimentos sociais, sendo o MST o movimento de maior

amplitude devido sua espacialização. Fernandes (1996), afirma que o processo de

24

territorialização do MST ocorre através da espacialização da luta pela terra, em que os

camponeses organizados no Movimento conquistam uma fração do território.

Segundo Fernandes (1994), a partir de encontros de algumas lideranças, de lutas já

existentes no sul do país, que foi iniciado um debate para ver a possibilidade da formação de

um movimento social mais amplo.

Assim, em janeiro de 1983, fizeram um encontro em Chapecó-SC e criaram

uma Coordenação Regional Provisória que reunia representantes de cinco

estados do Centro-Sul: RS, SC, PR, SP e MS. Nesse ano, foram realizados

outros encontros nas cidades de Naviraí e Glória de Dourados-MS, em

Araçatuba-SP e em Ronda Alta-RS. (FERNANDES, 1994, p.69).

Esses encontros significaram a formação de um movimento social com amplitude

nacional tinha como articulação maior a luta por terra e pela reforma agrária. Fernandes

(1994) conclui “que aí nasceu o Movimento Sem Terra”, através da articulação de diversos

movimentos de luta pela terra que aconteciam em níveis locais. E foi então batizado de

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

Assim, a formação do MST permitiu a articulação das diversas frentes de luta

existentes no país, rompendo o “isolamento” geográfico em que cada uma se encontrava, ou

seja, as lutas deixaram para trás seu caráter regional para se inserirem num mundo mais amplo

de reivindicações e lutas. A articulação em nível nacional dos trabalhadores sem-terra deu

maior visibilidade à luta, possibilitando operacionalização de um conjunto de conquistas.

No processo de luta dos camponeses nos movimentos sociais surgiram os

assentamentos de sem-terra. A conquista da terra é condição fundamental para a conquista do

território camponês que se materializa fundamentalmente nos assentamentos de reforma

agrária.

A realização do assentamento, etapa posterior à ocupação, se constitui na

materialização e construção do território camponês. Sem a conquista da terra não ocorre a

construção do território camponês, ou seja, sem a conquista da terra, as novas relações sociais

de produção (relações camponesas) não podem se materializar no espaço, a não ser num

espaço reduzido, onde foram montadas as barracas dos sem-terra ocupantes. Assim, as

ocupações é um pré-requisito para a territorialização dos sem-terra, pois a partir da terra

conquistada se desdobram novas lutas.

25

Segundo Bergamasco et.al. (1996) foi no final dos anos 1950 que o termo

assentamento começa a ser utilizado, justamente quando a população do meio rural estava

sendo expulsa em larga escala para os centros urbanos.

O termo assentamento rural para Bergamasco et.al. (1997, p. 11), diz respeito:

[...] A um espaço preciso em que a população será instalada, por um longo

período. É uma transformação num referido espaço físico, contendo assim, o

aspecto de um território realmente habitado e trabalhado por um grupo cujo

objetivo é a exploração deste espaço.

Adverte Fabrini (2001) que a realização de assentamentos através de projetos de

colonização dirigida (empresas colonizadoras e pelo governo dos Militares) são “ações que

tem por fim ordenar recursos fundiários com alocações de populações para solução de

problemas socioeconômicos”. Desta forma Fabrini (2001) ressalva que são ações de ordem

técnica e não necessariamente políticas.

Entretanto, a partir do final da década de 1970, são desencadeados no Brasil

assentamentos oriundos de movimentos sociais organizados através de lutas e ocupações de

terras. Segundo Fabrini (2001) “a partir dos movimentos de luta pela terra os trabalhadores

rurais, através de ações políticas, vão modificando e acrescentando novos conteúdos ao termo

assentamento”.

Com a organização dos movimentos sociais, solidificou-se a luta pela terra,

ampliando-se as conquistas dos trabalhadores, sobretudo através das ocupações de terras.

Segundo Fernandes (1998) é no contexto das lutas, ocupações de terras e formação dos

acampamentos que se “expressam as dimensões dos interesses da classe: como o acesso à

terra, a organização do espaço econômico, cultural e político, pela reinserção no processo

produtivo, participando da sociedade como cidadãos”. Desta forma, os assentamentos se

caracterizam como espaços políticos.

A partir da realidade concreta (formação de movimentos sociais políticos pela luta

pela terra) buscam-se elementos capazes de explicar a sociedade de classes e as conformações

que esta adquire na atualidade, enfatizando a posição do campesinato, e, sobretudo o papel

político que desempenha na sociedade atual.

É neste contexto de luta pela conquista da terra de assentamento que está inserido

município de Ramilândia. Neste município foi realizado o assentamento “16 de Maio”,

resultante da luta dos trabalhadores sem-terra.

26

1 – Ramilândia: a luta pela terra e o assentamento “16 de maio”

Ramilândia localiza-se no Oeste do Paraná. Tornou-se município através da lei nº

9.562 no dia 30 de janeiro de 1991, desmembrando-se da cidade de Matelândia. O

aglomerado urbano, hoje sede do município, surgiu em função de três grandes fazendas:

Fazenda Rami, Padroeira do Brasil e Água Cristalina. Em função de seu tamanho e de ser o

Rami a principal cultura explorada nos primeiros tempos, a Fazenda Rami deu origem ao

nome do município de Ramilândia.

Um dos primeiros pioneiros a chegar à região em agosto de 1960 foi a família do Sr.

João Gonçalves da Fonte e Maria de Lurdes Orbolato de Fontes, casal que tem origem de

Alvorada do Sul/PR. Outro pioneiro é Sr. Sebastião Dino Dias, natural de Brazopólis – MG

que chegou à região de Ramilândia em 1965.

Figura 2.1 – Município de Ramilândia/PR

Fonte: IPARDES (2009) Org.: GONÇALVES, L. D. (2009).

Mais tarde, com a implantação da cultura do café, chegaram a trabalhar 1.500 famílias

na Fazenda Rami no sistema de colonato. Estas famílias são de origem dos Estados de São

Paulo e Minas Gerais principalmente, que vieram em busca de trabalho.

27

Ao longo dos últimos anos, o município de Ramilândia, perdeu muita população.

Colaboraram para a expulsão dos trabalhadores os processos de mecanização e a exploração

da pecuária extensiva.

Ramilândia que em 1980 contava com aproximadamente 11.000 habitantes, em 1991

tinha apenas 4.757 habitantes, segundo dados do IBGE (2000). Entre outros dados que

expliquem este acontecimento, evidencia-se o fato da estrutura fundiária apresentar índices de

elevada concentração de terras.

O cenário do latifúndio na região e município de Ramilândia é uma, entre outras,

características motivadoras do agravamento do quadro social, que possui baixíssimo IDH. A

estrutura fundiária centrada é possível verificar pelos dados do censo agropecuário do IBGE

(1995/96), tabela (2.1).

Tabela 2.1 – Estrutura Fundiária de Ramilândia – 1996

Estratos de área N° de imóvel N° de imóvel % Área do imóvel em %

Menos de 10 ha 84 31 1.4

10 a < de 100 ha 146 53 27.6

100 a < de 200 ha 18 6.5 9.3

200 a < de 500 ha 17 6 20.4

500 ha e mais 9 9.2 41.3

Total 274 100 100

Fonte: Censo agropecuário (IBGE, 1995-1996).

Na tabela 2.1 verifica-se que os estabelecimentos de menos de 10 ha correspondem a

somente 1,4 % das terras rurais do município de Ramilândia. O maior número de imóveis se

encontra na faixa de 500 ha e mais.

Algumas conclusões podem ser realizadas a partir das tabelas anterior. 84,3% das

propriedades rurais de menos de 100 (ha) ocupam uma área de 29% das terras. Os 15,7%

restantes das propriedades acima de 100 ha ocupam 71% das terras do município de

Ramilândia.

Ao analisar as partes extremas da tabela 2.1, verifica-se, que 31% das propriedades

rurais ocupam 1,4 % das terras. Já na outra extremidade identifica-se que 9,2% das

propriedades ocupam uma área correspondente a 41,3 % das terras. Estes dados caracterizam

o grau da concentração fundiária do município de Ramilândia.

Para os proprietários de latifúndios e agronegócios, a terra não é para servir à vida,

pois seu objetivo principal é especulação imobiliária e produção para obtenção de lucro. A

28

intensa demanda por terra na região do Oeste do Paraná, associado com percentual de

produtividade fazem com que o preço da terra alcance índices elevados.

As lutas sociais organizadas por camponeses expropriados contra as barreiras do

latifúndio são cenas presentes no município de Ramilândia. No final de 1998 ocorreram as

primeiras reivindicações pela desapropriação da fazenda Banhadão. O argumento por parte

dos camponeses estava fundamentado na improdutividade das terras da fazenda,

descumprindo a função social da terra.

O ano de 1998 foi um marco da luta no município de Ramilândia, pois foi neste ano

que se formou o acampamento denominado Roselito, montado na fazenda Banhadão. No

início do acampamento existiam 200 famílias organizadas pelo MST (Movimento dos

Trabalhadores Rurais Sem-Terra).

Mas a conquista da terra de assentamento não se deu de forma pacífica e foram muitos

os enfrentamentos, inclusive conflitos internos. Segundo dados da CPT/PR (2003), os

coordenadores (MST) do acampamento começaram a cobrar dinheiro das famílias acampadas

para que pudessem permanecer no local. Sem nenhuma discussão com as famílias, os

primeiros coordenadores vendiam lotes (sem ao menos terem ainda o conquistado), madeiras,

cobraram dinheiro das famílias e destruíram barracas das famílias acampadas que não

concordassem com o que lhe era imposto, forçando-as a abandonar o acampamento.

Toda essa trama que se encontrava o acampamento Roselito gerou descontentamento

por parte das famílias, que procuraram a coordenação Estadual do MST para intervir na área.

No dia 04 de Novembro de 2000, foram removidos os coordenadores acusados de vender

madeiras e cobrança de dinheiro, sendo então organizada uma nova coordenação para o

assentamento, que discutiu com as famílias um regimento interno que coibisse as

irregularidades até então cometidas pelos antigos coordenadores.

Ocorreram também intensos conflitos entre os acampados e a elite política do

município de Ramilândia. Segundo depoimento dos assentados os quatro anos de luta no

acampamento foram vencidos pela união, solidariedade e persistência.

A luta dos acampados do Roselito desdobrou-se na conquista do assentamento “16 de

Maio”. O assentamento é formado por 220 famílias que ocupam uma área de 4.270.56 ha. A

área dos lotes corresponde a 2.986.23 ha, área de reserva legal a 1.034.39 ha, área de

preservação permanente a 189.85 ha, estradas a 52.74 ha e área comunitária a 7.35 há

(INCRA, 2003). As áreas desapropriadas para a formação do assentamento correspondem a

29

“fazenda Banhadão I”, “Fazenda Banhadão II” e “Colônia Rio Quarto”, respectivamente com

áreas de 762.30 ha, 2.165,6334 ha e 215,10 há.

Segundo dados do INCRA (2002), as propriedades foram destinadas para fins de

Reforma Agrária em outubro de 2001. Os atos de emissão de posse pelo poder judiciário se

encontram na comarca de Matelândia sobre os registros nº 230/2001 Colônia Rio Quarto e n°

35/2002, nº231/2001 Fazenda Banhadão I e II, respectivamente de propriedades de João

Tetsuro Itimura e Susumo Itimura.

Após a emissão de posse começou o trabalho de demarcação das terras e distribuição

das famílias no assentamento pelos funcionários do INCRA, gerando outro impasse, pois os

assentados argumentavam que o INCRA não considerava a decisão das famílias assentadas

que já havia feita uma distribuição prévia dos lotes. Impasses ocorreram também nos

financiamentos para o assentamento e as famílias. Os recursos financeiros despertaram o

interesse do poder público local em controlar os financiamentos e a assistência técnica para os

assentados.

Para conseguir o controle e desestabilizar o assentamento, o poder público local

estimulou a introdução de traficantes de drogas entre os assentados (CPT/PR, 2003). Isso foi

facilitado porque a região do assentamento fica próximo da fronteira com o Paraguai e Foz do

Iguaçu, caracterizada pela existência de narcotraficantes. Para os traficantes imporem seus

interesses teriam que acabar com o regimento das famílias assentadas, facilitando assim ao

poder público locar dominar os recursos vindos da Reforma Agrária (CPT/PR, 2003).

Segundo informações da CPT/PR (2003), os traficantes organizaram um grupo armado

que veio de Foz do Iguaçu, articulada a pessoas do município de Ramilândia contrária à

presença dos sem-terra, e desenvolveu uma ação de vandalismo destruindo duas casas na sede

do assentamento no dia 20 de Dezembro de 2002. Nesta casa moravam lideranças do MST,

como Maria Salete Bak da direção Estadual do MST, que teve seus pertences pessoais

retirados e jogados no pátio da prefeitura de Ramilândia.

Em vista dessa situação, os assentados procuraram a polícia local, que se negou a

atendê-los. No dia 22 de dezembro de 2002, reuniu-se um grupo armado, entre eles, o Prefeito

do Município, o Secretário de administração e o assistente de segurança, que delataram os

nomes dos coordenadores do assentamento para os bandidos. Segundo CPT/PR (2003) a

orientação era para matar os líderes do assentamento.

Nesse mesmo dia, a polícia decretou informalmente um toque de recolher para as

famílias do assentamento. Ninguém poderia andar nas estradas do assentamento das 19:00 às

30

6:00 horas da manhã, pois os bandidos iriam fazer rastreamento na área. Neste episódio foram

ouvidos pelos assentados muitos tiros de intimidação no assentamento. O grupo armado

também matou animais dos assentados e ameaçaram as famílias que considerassem inimigas.

Segundo publicação da CPT/PR (2003) ainda, a estrutura que o grupo usava era da

prefeitura: recebiam marmita, lanches e bebidas da primeira Dama do Município, e a

administração municipal fazia o papel de divulgar para as autoridades externas que se tratava

de briga interna dos assentados, para esconder a verdadeira guerra contra as famílias do

assentamento “16 de Maio”.

Tendo em vista esse clima de guerra, as famílias assentadas pediram apoio aos outros

assentamentos e acampamentos da região. No dia 14 de janeiro 2003 mobilizou-se em torno

de 700 pessoas contra as atrocidades até então cometidas. No final da tarde, os manifestantes

foram em marcha até a sede do assentamento, para darem um basta ao grupo armado e

chamarem a atenção das autoridades responsáveis.

Alguns dias depois, em resposta à mobilização dos assentados, mais especificamente

no dia 29 de janeiro de 2003, o assentado Nelson Alves de Souza que retornava da cidade de

Ramilândia foi emboscado a 7 km da sede do assentamento, onde foi assassinado.

Com a tentativa de resolver os impasses ocorridos, no dia 08 de fevereiro de 2003

aconteceu uma auditória pública no município, que contou com as presenças da Ouvidoria

Agrária, Ministério Público Federal do Paraná, Ministério Público Estadual de Matelândia,

Delegacia de Matelândia, Procuradoria do Incra de Curitiba e de Cascavel, autoridades

municipais. Havia também a participação de mais de 700 pessoas do assentamento “16 se

Maio”, assentamentos da região e sociedade civil do município.

Nesta audiência determinou-se uma ação e processo judicial com os seguintes

encaminhamentos: a exclusão do assentamento de seis famílias envolvidas diretamente nos

conflitos para tomar a sede do assentamento e oito famílias envolvidas indiretamente. As

ações judiciais estão até os dias atuais em processo federal aguardando a apuração dos

responsáveis pelos crimes cometidos no assentamento.

Estas e outras mazelas fazem parte da história de luta dos camponeses do

assentamento “16 de Maio”. Isso evidencia que a violência utilizada por parte de segmentos

proprietários e da elite municipal de Ramilândia se caracteriza enquanto fato também no

Brasil do século XXI. E não são apenas características das áreas de fronteira. A violência no

campo é figura marcante no cenário do Oeste paranaense.

31

III CAPÍTULO

A NATUREZA DO TRABALHO CAMPONÊS

1 – Trabalho camponês: um trabalho não capitalista

A interpretação da realidade exige do geógrafo, enquanto cientista, atenção para o

tema Trabalho. O trabalho possui um caráter central nas relações sociais de produção, o que

se desdobra no processo de organização do espaço geográfico. Portanto, a realidade

geográfica pede interpretação que poderá ser feita a partir da perspectiva do trabalho.

Segundo interpretação de Antunes (2004), o trabalho é fundamental na vida humana

porque é condição para sua existência. Ao mesmo tempo em que a sociedade transforma a

natureza e altera a sua própria natureza, num processo de formação recíproca, convertendo o

trabalho social em elemento central do desenvolvimento da sociabilidade.

Como criador de valor de uso o trabalho é uma condição de existência do homem, uma

necessidade natural de mediação do metabolismo entre homem e natureza e, portanto, “vida

humana”. (ANTUNES, R., 2004, p. 9).

Mas, se por um lado, podemos considerar o trabalho como um elemento fundamental

da vida humana, ponto de partida do processo de humanização, por outro, a sociedade

capitalista o transforma em trabalho assalariado, alienado, fetichizado. A “força de trabalho”

torna-se uma mercadoria, ainda que especial, cuja finalidade é criar novas mercadorias e,

conseqüentemente, gerar capital.

Por isso, segundo Antunes (2004):

O trabalho decai a uma mercadoria, tornando-se um ser estranho, um meio

de sua existência individual. O que deveria ser fonte de humanidade se

converte em desrealização do ser social, alienação e estranhamento dos

homens e mulheres que trabalham. (ANTUNES, R. 2004, p. 11).

32

Antunes (2004) também aborda sobre a alienação do trabalho afirmando que este não

se efetiva apenas na perda do produto do trabalho, mas também na ação de produzir, que é a

atividade produtiva já alienada. Isso quer dizer que no capitalismo, o trabalhador se degrada;

não se reconhece como ser humano, ou seja, se desumaniza no trabalho regido pelo modo de

produção capitalista.

O trabalho como atividade vital para a existência humana se configura assim, como

um trabalho alienado, expressão de uma relação social fundada na propriedade privada. Dessa

forma, se ergue um ser social trabalhador estranho a ele mesmo, ou seja, o trabalho alienado,

um trabalho estranho. Este estranhamento se realiza a partir do momento em que o trabalho se

constitui como “força de trabalho” no processo de produção e reprodução de relações

capitalistas.

Esta compreensão de Antunes (2004) é importante para compreender o trabalho

enquanto força de trabalho, mas não é suficiente para compreender a totalidade do trabalho,

em que está contido o trabalho camponês. A realidade pede um novo instrumental teórico que

de conta de interpretar a natureza do trabalho camponês.

No geral, observa-se a propensão de estender aos camponeses o conhecimento que se

tem sobre os operários. Em outras palavras, levanta-se a expectativas de que os camponeses

existem e se comportam como classe social no padrão próprio de conduta da classe

trabalhadora gestada na fábrica, na empresa capitalista.

O trabalho deve ser considerado como atividade humana por excelência, meio pela

qual o homem transforma o mundo e a si mesmo. Nesta compreensão, o trabalho camponês

ao mesmo tempo em que transforma a natureza, adaptando-a às necessidades humanas, altera

o próprio homem, desenvolvendo suas faculdades. Isso significa que pelo trabalho o homem

se auto-produz.

Martins (2003), em sua obra “A sociedade vista do abismo” faz a discussão de

“Situações diferenciais de classe social” onde o autor diferencia as atitudes e simbologias das

classes (camponesa e operaria) diante de uma mesma situação. Deixa claro que se trata de

duas classes sociais distintas. Ainda em sua obra, Martins (2003) faz a afirmação de que uma

parcela da comunidade acadêmica chega a pensar numa espécie de operário indireto porque o

camponês também seria um trabalhador para o capital, ou seja, ambos, camponeses e

operário, são uma única classe social.

Entretanto Martins (2003) ressalta que se esquece das mediações e das

particularidades, aquilo que define a qualidade diferencial dos diferentes grupos e categorias

33

sociais. Para Martins (2003) associar camponeses e operários como a mesma classe é uma

simplificação anti-sociológica.

Se quisermos entendê-las como sujeitos de vontade sociais e políticas e

sujeitos de possibilidades históricas, é necessário reconhecer-lhes as

singularidades, aquilo que as diferencia e não aquilo que as dilui em

categorias abrangentes e genéricas. (MARTINS, 2003, p. 55).

Sendo o trabalho importante na construção do homem e do espaço, este se reproduz e

também reconstrói no processo de territorialização e desterritorialização. A ação dos

movimentos sociais pode ser interpretada como parte deste processo de construção espacial

em que o assentamento, no caso o assentamento “16 de Maio” Ramilândia/Paraná, surge

como possibilidade de territorialização das relações de trabalho camponesa.

O camponês construído e reproduzido no processo de trabalho concreto é proprietário

da terra e dos outros meios de produção, utiliza-se do trabalho familiar para garantir sua

existência. Combinado a produção para subsistência\autoconsumo com a produção mercantil,

a unidade camponesa, ao mesmo tempo é uma unidade de produção e uma unidade de

consumo.

Na unidade produtiva camponesa, o trabalho pode ser considerado como criador de

valor de uso, pois parte das atividades da família é orientado pela transformação e elaboração

de objetos úteis para a sobrevivência dos trabalhadores. Embora este trabalho possa servir a

produção de mercadorias também, não se trata de “força de trabalho”, semelhante àquela

vendida pelos trabalhadores assalariados das indústrias, por exemplo.

Na produção camponesa, uma parte é destinada à elaboração de objetos úteis e

concretos aos trabalhadores, diferentemente do “típico” trabalho capitalista. Neste caso,

estamos diante de um trabalho não-capitalista que pode servir a acumulação capitalista.

Neste sentido, é possível apontar que os camponeses, em parte, realizam a reprodução

simples, e no seu trabalho nem sempre se verificam formas de exploração que levam a

alienação do trabalhador, como ocorre no trabalho que se constitui “força de trabalho”.

É necessário enfatizar ainda que o campesinato não deve ser interpretado como uma

relação de trabalho apenas, embora também o seja, pois o trabalho realizado e organizado em

torno das necessidades da família confere a ele outros conteúdos, para além da interpretação

como “força de trabalho” e mercadoria.

34

2 – Divisão familiar do trabalho camponês

Para a análise do trabalho camponês é necessário refletir e identificar a diversidade de

relações existentes no campesinato que se expressa, principalmente, no trabalho da família

camponesa. É a análise da família camponesa que vai permitir a compreensão do trabalho

camponês.

A participação de cada membro da família é elemento importante para entender a

divisão do trabalho camponês, quando se verifica uma divisão do trabalho pautada no número

de membros da família. Acrescenta-se também uma “divisão sexual” do trabalho em que os

homens se encarregam de algumas atividades e as mulheres de outras e uma “divisão etária”,

ou seja, a responsabilidade pelas tarefas (trabalho) de acordo com a idade de cada membro.

Para entender o trabalho familiar camponês consideramos o número de membros da

família a uma capacidade de trabalho que tais membros representam. Assim, considerou-se

para avaliar a capacidade de trabalho a família trabalhadora foi dividida entre os filhos acima

dos 14 anos (força completa), os filhos entre 9 a 14 anos (meia força) e os filhos com menos

de 9 anos (não considerados “força de trabalho”).

Tabela 3.12 – Composição da Capacidade de Trabalho por Propriedade Camponesa no Assentamento

“16 de Maio” Ramilândia/PR

N º

Proprie

dades

Casal Filhas Filhos Ascendentes Capacidade

de trabalho Até 9

anos

De 9 a

14 anos

14 anos

e mais

Até 9

anos

De 9 a 14

anos

14 anos

e mais

H M

01 A 2 1 1 3,5

02 B 2 2

03 C 1 1

04 D 2 1 3

05 E 2 1 2

06 F 2 1 2 1 1 6,5

07 G 2 2

08 H 2 1 1 2,5

09 I 2 1 2,5

10 J 2 1 3

Total 19 0,5 5 1,5 1 1 28

Fonte: Trabalho de campo (2009).

35

Pela leitura da tabela 3.1, os camponeses do assentamento “16 de Maio” caracterizam-

se pela família formada pelo casal e filhos. A presença de ascendentes (avós) é pequena.

Como observado na propriedade número 01 da (tabela 3.1) a família é constituída de 4

membros: o casal, mais uma filha acima de 14 anos de idade e um filho entre 9 e 14 anos de

idade. Mas quando reduzida, a capacidade de trabalho da família, como apresentado na tabela

anterior (tabela 3.1), é mensurada como 3,5 pessoas de capacidade de trabalho e não 4. Isso

ocorre pelo motivo dos filhos entre 9 e 14 anos serem considerados meia “força de trabalho”.

A partir da tabela 3.1 pode se montar uma nova tabela, comparando os trabalhadores e

os consumidores de cada propriedade camponesa. Na tabela (3.1) foram mensurados os

membros que trabalham nas propriedades camponesas, nessa nova tabela vão ser destacados,

também, os membros da família camponesa que consomem, ou seja, que tem os seus gastos

reduzidos dos lucros da propriedade.

A capacidade de consumo dos membros da família foi classificada de acordo com a

idade dos seus membros. As crianças até 9 anos de idade foram classificadas como meio

consumidor, (gasta a metade que um adulto). As pessoas com idade superior a 9 anos foram

classificadas como um consumidor completo, utilizando-se do mesmo critério para determinar

a de capacidade de trabalho.

Tabela 3.2 – Relação Consumidor/Trabalhador por Propriedade Camponesa no Assentamento “16 de

Maio” Ramilândia/PR

Nº Propriedades Capacidade trabalho Consumidores na família Relação

consumidor/trabalhador

01 A 3,5 4 0,88

02 B 2 2 1,0

03 C 1 1 1,0

04 D 3 3 1,0

05 E 2 2,5 0,8

06 F 6,5 7 0,9

07 G 2 2 1,0

08 H 2,5 3,5 0,7

09 I 2,5 3 0,83

10 J 3 3 1,0

Total 28 31 0,9

Fonte: Trabalho de campo (2009).

2 Tabelas 3.1 e 3.2 inspiradas nos estudos de Chayanov (1974) e Santos (1978).

36

A tabela 3.2 expressa à proporção entre as pessoas que trabalham e que consomem,

considerando-se que todos os membros da família tendem a se inserir no processo de trabalho.

Um dado importante é que os filhos de até 9 anos de idade são apenas consumidores, ou seja,

os filhos nessa faixa etária dão “prejuízo” as unidades familiares camponesas. Já os filhos

entre os 9 e 14 anos são considerados como meia “força de trabalho”, não dão “prejuízo”

porque já representa alguma “força de trabalho”.

Outro elemento importante da tabela 3.2 é que pode perceber se a família camponesa

tem um déficit ou não de membros aptos para o trabalho. Das famílias mensuradas, 5

apresentaram 1,0 na relação (consumidor/trabalhador), demonstrando que há equilíbrio entre

trabalho e consumo na família camponesa. Já as outras 5 famílias apresentaram um déficit no

numero de trabalhadores, o que significa que há mais consumidores do que trabalhadores.

O equilíbrio ou não da família camponesa na relação consumidores/trabalhadores

podem significar características distintas na divisão do trabalho familiar camponês, como a

intensificação do trabalho de alguns membros para cobrir o déficit de trabalho de um membro

que consome mais do que trabalha. A partir destas primeiras caracterizações da família

camponesa se faz necessário elencar a importância de cada membro da família.

Ao homem da família camponesa cabe a responsabilidade de decidir sobre as

“principais” tarefas a serem realizadas na unidade econômica camponesa, tais como

preparação da terra para o plantio, produção de produtos destinados a comercialização,

contato com a cidade com objetivos de compra e venda de produtos. O homem pode realizar

trabalhos leves a pesados, bem como aqueles de menor e maior complexidade. Pela sua

maturidade lhe são atribuídos os conhecimentos técnicos somados a sua pré-disposição física.

Às mulheres, cabe o trabalho de cuidar da casa e seu entorno bem como as atividades

relativas à produção de alimentos, como o cuidado com a horta, ordenha e pequenos animais,

cultivo de ervas medicinais, etc. As lavouras destinada ao auto-consumo como pequenas roças

de amendoim, pipoca, frutas, tubérculos dente outras estão entregues à responsabilidade da

mulher.

Os trabalhos são divididos também de acordo com a faixa etária de cada um dos

membros da família, em que os adultos (homens, principalmente) ficam responsáveis pelos

trabalhos mais “pesados” como o de aplicar “veneno” e limpeza das lavouras e pastagens,

colheita, dentre outras. Às crianças e membros idosos da família cabem as atividades que

exigem menos esforço físico como a limpeza do “quintal” da casa, cuidado com pequenos

animais, preparo de alimentos, dentre outros.

37

Na divisão do trabalho camponês cabe ao homem a distribuição da maioria das

atividades entre os membros da família. Para tanto, as propriedades de trabalho camponesas

seguem uma organização hierárquica familiar do trabalho. “Quando tenho que ficar um ou

dois dias fora, deixo dito o que tem que fazer, o que ela – esposa – não da conta de fazer

sozinha nós deixa tudo pronto antes de eu ir” (Assentado G, 2009).

A hierarquia na organização do trabalho não é definida somente a partir do sexo.

Outros fatores também influenciam, pois dependendo do tipo de atividades (grau de

complexidade ou exigência de esforço físico) realizadas e do caráter desta atividade fica a

cargo do homem, da mulher, das crianças ou idosos.

Quando o trabalho fica a encargo do homem, por exemplo, ele tem o papel de orientar

os membros da família para que o trabalho possa se cumprir Sendo assim, o trabalho não fica

somente a cargo de quem está acima hierarquicamente, neste exemplo, o homem. No geral, a

família camponesa vai se organizar como um trabalho coletivo, sendo que quem está na escala

hierárquica acima tem a função de dividir o trabalho.

Sendo assim, a atividade de criação de suínos, por exemplo, cabe ao homem ou à

mulher. Tanto o homem quanto a mulher ficam responsáveis pela aquisição dos animais,

decisão de vender, o que fazer com o dinheiro da venda, produção de alimento para o trato

dos suínos, efetivação da alimentação, medicação dos animais, decisão de abater os animais, o

abate do animal em si e a ajuda no trabalho de preparo do animal quando abate. Portanto,

trata-se de um trabalho que cabe ao homem e à mulher.

Tabela 3.3 – Trabalho na Produção de Suínos no Assentamento “16 de Maio” Ramilândia/PR

Trabalho Homem % Mulher %

Compra 100%

Decisão da venda 100% 50%

Trabalho de venda 100%

Decisão do destino do dinheiro da venda 100% 100%

Produção alimentos para suínos 100% 100%

Alimentação 100% 50%

Medicação 100%

Decisão do abate 25% 100%

Abate do animal 100%

Preparo para abate 100% 100%

Fonte: Trabalho de campo (2009).

38

A escolha da atividade de criação de suínos deve-se ao fato de que 100% das famílias

entrevistadas realizam este trabalho. Considera-se também que a criação de suínos serve para

o consumo interno da família e também para a comercialização.

Ao observar os trabalhos de “compra”, “decisão da venda” e “venda” (tabela 3.3)

verifica-se uma organização feita pelo homem. Isso ocorre, pelo fato de que o trabalho de

criação de animais de grande porte está sob sua responsabilidade

Mas, isso não significa que a mulher não realiza o trabalho de venda e compra. Elas

ficam responsáveis de realizar o comércio de produtos como legumes e verduras que estão

ligados a horta, pois a mulher tem maior grau hierárquico da família para este trabalho na

horta.

Se analisarmos a “decisão da venda” ou “decisão de quando vender” (tabela 3.3), há

uma participação de 50% das mulheres. Isso ocorre, porque este trabalho vai perpassar pelo

universo feminino da organização do trabalho, ou seja, o trabalho de “venda” vai depender

tanto do homem quanto da mulher. Verificou-se que 100% das mulheres têm participação na

“decisão de quando abater os animais”. Esta decisão coube aos homens em 25% dos casos,

pois o abate está relacionado à alimentação, responsabilidade que geralmente cabe à mulher.

“A mulher que me avisa quando tem que matar, ela sempre fica de olho no congelador

quando está aparecendo o fundo ela me diz pra matar um porco ou um novilho” (Assentado

G, 2009).

O trabalho de “decisão de quando abater” os animais passa pelo universo da divisão do

trabalho feminino, neste caso os afazeres domésticos. É a mulher incumbida de preparar

diariamente a alimentação nas unidades camponesas. Sendo assim, cabe a ela também

organizar essa tarefa, neste caso, a manutenção do estoque de alimentos.

Assim, o cuidado com o estoque de alimentos da casa originários de animais de

pequeno porte fica sob responsabilidade das mulheres. O cuidado com animais de grande

porte, com o objetivo de gerar rendas monetárias, fica sob responsabilidade do homem. “Um

dia ele – homem – venho dizendo que tinha um senhor querendo compra uns novilhos e que

ele ia vender um, eu – mulher – disse que não, porque eu ia querer matar aquele para encher o

congelador” (Assentado F, 2009).

Tanto as decisões do homem como das mulheres vai depender de quem está acima

hierarquicamente na divisão do trabalho, ou seja, do tipo de trabalho e quem está orientando

esse trabalho. Quando a decisão passa pelo universo hierárquico de trabalho do homem e da

39

mulher, observa-se que o homem e a mulher têm participação na decisão do que deverá ser

realizado.

A decisão do trabalho de o que “fazer com o dinheiro da venda” é de responsabilidade

tanto do homem, como da mulher. Indica que tanto o homem como a mulher tem participação

no trabalho de manutenção deste tipo de criação (suíno).

Quem compra e vende o gado sou eu – homem -. Ela não faz isso não, ela

sempre está em função da casa”. “Eu – mulher – nunca comprei nada disso,

lá fora e tudo ele que mexe, às vezes quando ele chega em casa ele avisa que

vendeu um boi (Assentado B, 2009).

Verificam-se a partir dos exemplos citados sentidos diversos no trabalho camponês, o

que o diferencia do trabalho enquanto “força de trabalho”. Os camponeses que tiveram

negada manutenção do trabalho não-capitalista, vão em busca de sua conquista. O

assentamento “16 de maio” é resultado desta luta pela conquista de um trabalho não-

capitalista, ou seja, um trabalho camponês.

2.1 – A importância da familia na divisão camponesa do trabalho

A sociabilidade camponesa ocorre pelo trabalho familiar. O trabalho pode ser

classificado em leve, médio e pesado, exigindo mais ou menos força física do trabalhador.

Aos filhos menores, por exemplo, cabem os trabalhos leves, e ao homem (chefe da família)

cabem os trabalhos mais pesados. Os trabalhos também podem ser classificados também

segundo o grau de complexidade, exigindo do trabalhador diferentes responsabilidades.

A diferenciação em trabalhos leves, médios e pesados significa a força física exigido

para a realização de diferentes tipos de trabalho. Sendo que quanto menor a força física

exigida para a realização de um determinado trabalho, mais cedo os filhos se inserem na

divisão do trabalho.

A partir destes elementos (força física e complexidade) obtidos no assentamento é

possível montar a (tabela 3.4).

40

Tabela 3.4 – Idade dos Filhos Associado à Inserção na Divisão do Trabalho

Trabalho 5 a 10 anos 10 a 15 anos 15 a 20 anos Mais 20 anos Exemplo de atividade

Trabalho leve* x x Ordenha

Trabalho médio* x x x Plantio

Trabalho pesada* x x x Roçado

Trabalho de menor

complexidade**

x x x Alimentação dos

animais

Trabalho de maior

complexidade**

x x x x Medicação dos

animais

Fonte: Trabalho de campo (2009).

Verifica-se na tabela 3.4 que dos 10 aos 15 anos de idade os filhos dos camponeses se

encontram inseridos na divisão do trabalho na maioria das atividades realizadas pela família.

A partir dos 15 anos de idade os filhos já são considerados como trabalhadores. Acrescenta-se

que a partir dos 15 anos, os filhos podem trabalhar fora do lote, quando necessário (trabalho

acessório).

Dos 5 aos 10 anos os filhos já se encontram inseridos na divisão do trabalho. Nesta

faixa etária os filhos não são considerados como um trabalhador completo (tabela 3.1) e sua

inserção na divisão do trabalho se resumem a acompanhar os pais e irmãos mais velhos.

Ao passo que os filhos vão se inserindo no trabalho a família camponesa pode melhor

reordenar/redistribuir as tarefas entre seus membros.

O trabalho de “lascar lenha”, por exemplo, que não é considerado complexo,

geralmente fica a cargo dos filhos mais novos. O fato de o filho realizar essa tarefa vai

provocar o (re)ordenamento dos membros da família entre as atividades. Essa nova

(re)divisão do trabalho assentada no fato do filho realizar o trabalho de “lascar lenha” vai

provocar a diminuição dos trabalhos realizados pelos outros membros da família, como o

também o aumento do tempo para realizar os outros trabalhos.

Para explicar à inserção dos filhos na divisão do trabalho nas unidades camponesas,

foram utilizadas algumas tarefas promovidas pela família nestas unidades.

Para tanto, foram escolhidas distintos trabalhos que propiciam uma análise que

envolva as diferentes fases da inserção dos filhos na divisão do trabalho, ou seja, atividades

consideradas leves, médias e pesadas e atividades avaliadas como de menor e de maior

complexidade (tabela 3.4).

41

Os trabalhos de ordenha, alimentação dos animais, medicação dos animais, abate de

animais, roçado, plantio e fazer negócio foram escolhidos por apresentar os diferentes graus

de complexidade e força física.

Tabela 3.5 – Inserção dos Filhos na Divisão do Trabalho Familiar

Trabalho 5 aos 10 anos 10 aos 15 anos 15 aos 20 anos Acima de 20 anos

Ordenha 30% 70% - -

Alimentação dos animais 50% 80% - -

Medicação dos animais - 25% 50% 80%

Abate de animais - 30% 70% 80%

Roçado - 40% 80% -

Plantio 25% 50% 80% 80%

Fazer Negócio 10% 40% 60% 80%

Fonte: Trabalho de campo (2009).

Tanto o trabalho de ordenha como o de alimentação dos animais é considerado como

um trabalho leve. Nestes afazeres, a idade em que os filhos se inserem na divisão do trabalho

é menor. Em média os filhos começam a trabalhar nesta atividade aos 5 anos, sendo que aos

15 anos os filhos estão totalmente inseridos na divisão do trabalho da ordenha, bem como na

alimentação dos animais.

Aos 5 anos de idade o filho vai realizar apenas alguns trabalhos simples na companhia

dos pais e irmãos mais velhos como condução de animais mansos, tocando-os para estrebaria.

Conforme o filho vai ficando mais velho vai assumindo trabalhos mais complexos como a

ordenha, aprisionamento dos animais na estrebaria.

O percentual de 50% de inserção dos filhos na divisão do trabalho de “alimentação dos

animais” na faixa etária dos 5 a 10 anos se explica pelo “menor grau de complexidade”

exigido para a sua realização.

Já as atividades de “medicação e abate” dos animais são atividades que exigem força

física média e possui alto grau de complexidade porque coloca em risco a vida do trabalhador.

Isso significa que a participação dos filhos vai ocorrer em idade acima de 10 anos. Mas, a

inserção na divisão do trabalho vai pendurar por muito mais tempo, por serem consideradas

atividades de alto grau de complexidade.

O roçado é considerado um trabalho pesado e de menor complexidade Nesta atividade

a inserção dos filhos vai ocorrer a partir dos 10 anos. Os trabalhos que exigem maior força

42

física têm maior participação dos filhos dos 15 aos 20 anos. Está é a idade em que os filhos

apresentam pleno vigor físico.

O plantio é um trabalho que exige força física média, mas é considerada de alto grau

de complexidade. A inserção dos filhos no plantio exige muito tempo. Neste sentido, é

perceptível que nas atividades de alto grau de complexidade a inserção na divisão do trabalho

dos filhos acontece gradativamente.

O trabalho de “fazer negócio” é uma atividade leve, mas complexa. Os filhos se

inserem cedo nessa atividade como acompanhante dos pais, ou seja, a inserção é gradual e

perdura por muito tempo.

Cada trabalho realizado nas propriedades camponesas é dividido em diferentes fases.

A cada passo que os filhos vão se inserindo nas fases de um respectivo trabalho a família

camponesa vai promovendo uma nova divisão do trabalho.

O trabalho de abate de animais exige força física média e é considerada de alto grau de

complexidade. Necessitam técnica para o abatimento, remoção das vísceras, etc. Acrescenta-

se o fator risco de vida, pois o trabalhador manuseia instrumentos cortantes e água quente.

O abate de animais suínos pode ser dividido em várias fases: A primeira fase se

resume apenas em acompanhar os pais na realização do trabalho, ou seja, a visualização do

trabalho. A segunda fase caracteriza em alcançar os materiais/ferramentas para os pais, como

lenha para manter o fogo. A terceira consiste em os filhos ajudar a segurar os animais que vão

ser abatidos; quarta fase os filhos cuidam do fogo para manter a água aquecida; quinta os

filhos ajudam a “pelar” o animal (tirar os pelos com água quente); sexta fase os filhos pegam

o animal a ser abatido; no caso de filho do sexo masculino a sétima etapa é abater o animal e

no caso de filho do sexo feminino é na fabricação de derivados como banha, torresmo e

lingüiça; a oitava é no corte da carne do animal; e a nona fase é remover as vísceras.

43

Tabela 3.6 – Inserção dos Filhos na Divisão do Trabalho de Abate de Suínos no Assentamento “16 de

Maio” Ramilândia/PR

Fases De 5 a 10 anos De 10 a 15 anos De 15 a 20 anos De 20 anos acima

1ª Acompanhar os pais 90% 95% - -

2ª Alcançar os materiais 70% 90% 95% -

3ª Segurar os animais 50% 80% - -

4ª Cuidar do fogo - 70% 90% -

5ª Pelar o animal - 30% 80% -

6ª Pegar o animal - 50% 80% -

7ª Abater os animais - - 30% -

7ª Fabricação de derivados - - 30% -

8ª Cortar a carne do animal - - 30%

9ª Remover as vísceras - - 10%

Fonte: Trabalho de campo (2009).

A inserção dos filhos na divisão do trabalho não é linear. As nove fases (tabela 3.6)

colocadas servem para visualizar como está organizado o trabalho familiar camponês. A cada

inserção dos filhos nas fases de trabalho a família camponesa vai promover uma nova

(re)divisão do trabalho naquela determinada atividade.

Cabe ressaltar que a inserção dos membros da família no trabalho nas fases 7, 8 e 9

tem porcentagem de participação baixa dos filhos por se tratarem de fases de alto grau de

complexidade para efetivar o trabalho.

Outro exemplo da divisão do trabalho pode se citar o trabalho de (quebrar o milho).

Observa-se que entre as famílias entrevistadas do assentamento 16 de Maio 100% produzem

milho. Considerando o baixo preço deste produto, 95% é destinado ao consumo na unidade

camponesa. Os 5% restantes são destinados a comercialização. Por ter a sua área de plantio

restrito, a colheita do milho pode ser feita sem o uso de maquinários.

Evidenciando a divisão do trabalho através dos elementos de força física (leve, médias

e pesadas) é possível explicar a divisão do trabalho na atividade de colheita do milho, mas

especificamente no trabalho de quebra do milho.

A primeira parte é a quebra do milho, quando cada membro da família apto ao

trabalho promove a colheita formando as chamadas “bandejas”, ou seja, um amontoado de

espigas prontas para serem recolhidas. No recolhimento do milho é preciso considerar o fator

44

“força física” em que as três fases principais (recolhimento do milho, carregamento do cesto,

e guiar o carro/carrinho) são distribuídas entre os membros da família.

O membro da família que tem mais força física (homem) fica encarregado do trabalho

com o cesto. O trabalho de recolhimento do milho fica para o membro da família com força

física menor do que aquele que trabalha com o cesto (mulher). O trabalho de guiar o

carro/carrinho é realizado pelo membro de menor força física (filhos). As três fases

enunciadas acontecem simultaneamente.

O fator “força física” se coloca como importante para entender a divisão do trabalho

dos trabalhadores camponeses. Mas, não deve ser esquecido que os elementos (força física)

têm origem nas características da família camponesa, por isso, o estudo da divisão do trabalho

camponês tem como característica principal a família.

Para tanto, a divisão do trabalho nas propriedades camponesas é constituída a partir do

número de membros da família que trabalham. E a inserção dos filhos na divisão do trabalho

nas unidades camponesas se faz através de parâmetros biológicos. Como a idade, força física

dos filhos, por exemplo.

A tabela 3.5 e sua análise permitiram a construção do gráfico a seguir, que apresenta a

evolução dos filhos na inserção da divisão do trabalho na unidade produtiva camponesa.

Gráfico 3.1 Evolução da inserção dos filhos na divisão do trabalho nas

unidades produtivas camponesas

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

5 aos 10 anos 10 aos 15 anos 15 aos 20 anos Acima de 20 anosIdade dos filhos

Po

rce

nta

gem

de

inse

rção

Atividades Leves Atividades MédiasAtividades Pesadas Atividades de maior complexidadeAtividades de menor complexidade

Fonte: Trabalho de Campo (2009).

45

Figura 3.1 – Filhos de camponeses realizando trabalho de seleção das folhas de fumo para

embalagem

Foto: GONÇALVES, L. D. (2009).

Figura 3.2 – Filho de 14 anos no trabalho de “quebrar o milho”

Foto: GONÇALVES, L. D. (2009).

46

2.2 – A divisão do trabalho familiar camponês e o tempo de trabalho

No mundo do trabalho camponês é possível identificar atividades que não expressam,

no geral, a brutalidade das relações capitalistas de produção como numa fábrica, por exemplo.

A divisão do trabalho camponês, como o controle do ritmo de trabalho está, mesmo

que parcialmente, orientado pela família camponesa. Para exemplificar acentuam-se o

trabalho de ordenha que se pode se constituir como exemplo do ritmo do trabalho camponês.

A produção de leite é muito importante para a economia dos camponeses assentados

de “16 de Maio” porque se constitui numa importante fonte de renda, os 100% dos assentados

trabalham com a produção de leite. A comercialização do leite com o laticínio diariamente

tem o caráter de trazer recursos financeiros (dinheiro) mensais para a família.

Cerca de 95% da produção é destinada a comercialização com o laticínio e os 5%

restantes são destinados ao consumo e produção de derivados, como queijo, que podem ou

não serem comercializados.

A partir da produção de leite será tratada a divisão e o tempo de trabalho nesta

atividade. A divisão e o tempo de trabalho na ordenha estão orientados pela família

camponesa.

Dentre as famílias assentadas, em 60% dos casos é o homem que faz o trabalho da

ordenha do leite, 30% ficam a cargo do homem e da mulher e os 10% restantes ao homem,

mulher e filhos, conforme tabela a seguir (tabela 3.7).

Tabela 3.7 – Divisão Familiar no Trabalho de Ordenha do Leite (%)

Famílias que produzem leite Homem Homem e mulher Homem, mulher e filhos

100 60 30 10

Fonte: Trabalho de campo (2009).

Para exemplificar o trabalho familiar na ordenha do leite deve-se levar em

consideração na análise os membros que promovem a ordenha, somados aos membros da

família que ajudam em atividades que antecedem a ordenha, como preparar os instrumentos

de trabalho (baldes).

Dos 60% afirmaram que é o homem que promove o trabalho da ordenha do leite,

sendo que destes, 50% tem a participação de crianças no acompanhamento dos pais nesta

47

atividade. Considerando que o trabalho com o leite é uma atividade leve, as crianças, desde

pouca idade e os idosos desempenham atividades auxiliares.

A participação das crianças com idade entre 5 a 10 anos no trabalho de ordenha se

resume a auxiliar o pai a conduzir os animais para estrebaria, alcançar as ferramentas

necessárias ou mesmo na ajuda da ordenha do leite. Quando o trabalho realizado é o da

ordenha, a criança em idade de inserção na divisão do trabalho não realiza a atividade por

completo. Segundo depoimento dos assentados (2009) as crianças tiram um a três litros de

leite apenas. “Tem dia que ela - filha - ajuda a tirar um litro de leite outra vez tira três, ela

gosta de lidar com os bichos, mas nós não deixamos tirar muito porque pode machucar o

pulso dela” (Assentado E, 2009).

Mesmo sendo a família que comanda a organização do trabalho nas unidades de

produção camponesa, tendo em vista a inserção das crianças na atividade do leite, verifica-se

que os pais orientam os trabalhos realizados pelos filhos também por aspectos naturais, como

deixar os filhos manusear os animais mais mansos. Por exemplo. “Ela – a filha – sempre tira

leite da vaquinha dela, é uma vaquinha mais mansa e tem os ubres bem macios que facilitam

ela tirar o leite” (Assentado E, 2009).

As características da família camponesa são importantes para entender a

organização/divisão do trabalho no campesinato, mas este não é o único elemento que a

família se utiliza. São considerados também aspectos naturais (estações do ano) e econômicos

(mercado capitalista).

Muitos trabalhos realizados pelas crianças têm um sentido lúdico, pois se assemelham

mais a brincadeiras. Mas, é uma “brincadeira séria”, pois além de contribuir na produção,

também possui um sentido pedagógico.

Quando vou lidar com os bichos ela – filha – sempre vem junto, ela já tira

um pouco de leite, ajuda a chamar e tratar as vacas, mas ela não trabalha

muito, pra ela tudo é brincadeira, as crianças são sempre assim trabalha um

pouco e vão brincar (Assentado E, 2009).

As crianças na faixa de 10 a 15 anos estão inseridas no trabalho camponês de modo

diferente daquelas de 5 a 10 anos. As crianças de 10 a 15 ajudam no trabalho do leite quase

que em sua totalidade. O trabalho das crianças de10 aos 15 anos ainda são acompanhados

pelos pais, pois têm autonomia relativa na decisão do que, como e quando realizar as

atividades.

48

Considerando que 60% dos homens realizam a atividade de ordenha, ele também não

o faz por completo, pois é atribuída a mulher o trabalho que antecede e sucede à ordenha. A

mulher exerce a função de deixar as botas prontas para serem calçadas, os vasilhames lavados

para armazenar o leite, as ferramentas para a realização do trabalho, ajudam à guarda o leite,

entregar para o Laticínio, separa o leite que vai ao consumo interno, fervura do leite, dentre

outros trabalhos.

Dentre aqueles que afirmam que somente os homens realizam o trabalho de ordenha, a

mulher está inserida nas atividades que antecedem e sucedem à ordenha. Já as 30% das

famílias que atribuíram a função de ordenha do leite ao homem e a mulher, o casal possui

funções semelhantes.

Deve-se comentar que quando o homem e a mulher realizam o trabalho de ordenha,

ainda assim os trabalhos que antecedem e sucedem são promovidos pela mulher. Em segundo

plano, mas não menos importante, há que se considerar que ao homem são destinados os

animais mais violentos para ordenha. Isso também acontece com os animais que têm os ubres

mais pesados, ou seja, que dificultam a realização do trabalho.

Neste sentido, se percebe o fator “força física” enquanto elemento importante na

compreensão da divisão do trabalho familiar. Nas atividades em que o homem promove junto

com a mulher o fator “força física” tem influência significativa em como está dividido o

trabalho. Uma tarefa na unidade produtiva camponesa tem em seu conjunto a realização de

etapas que exigem de mais força física (homem) e que exigem menos força física (mulher,

filhos e idosos).

10% das famílias informaram que o trabalho de ordenha está a cargo dos homens,

mulheres e crianças. O fato de os pais enunciarem a ajuda das crianças representa que os

filhos são identificados pelos pais como “força completa” de trabalho na atividade do leite.

O trabalho do leite é considerado de extrema rigidez pelos camponeses, porque tem

que ser cumprido todo dia. Mas mesmo considerado como rígido é possível identificar

estratégias que tornam o trabalho mais flexível. Este trabalho tem o momento certo para se

realizar, no geral pela manhã e a tarde. Entretanto, não tem hora exata para a sua realização e

nem o tempo exato para finalizar.

Esta flexibilidade indica que o camponês, possui parcialmente, controle do ritmo de

trabalho. Segundo depoimento de um assentado de “16 de Maio”, enquanto tirava o leite,

chama a atenção para causa ao afirmar: “Eu poderia fazer isso em uma hora e meia, mas

sempre levo duas a duas horas e meia. Não tenho pressa” (Assentado B, 2009).

49

Deve-se levar em consideração que a família camponesa vai estabelecer o ritmo de

trabalho tendo em vista atividades que necessitam ser promovidas no mesmo dia. No geral, a

família camponesa tende a promover a ordenha do leite sempre no mesmo horário, pois

orientada por um fator natural, tem a consciência de que se a ordenha for feita no mesmo

horário vai alcançar melhores índices de produtividade.

Mas, nem sempre é possível manter o mesmo horário para o trabalho de ordenha

porque vai depender das atividades programadas para o dia de trabalho. Como a produção de

leite é diária, sempre vai ser realizada simultaneamente com outra atividade.

Na produção de leite, o ter que ir a cidade, pode se apresentar de diferentes formas:

primeiro, a antecipação do horário programado para a atividade do leite; segundo, a

intensificação do ritmo de trabalho; terceiro, a inserção de mais membros da família no

trabalho de ordenha.

Mas, nem sempre a família camponesa tem muitas atividades a serem executadas

durante o dia de trabalho. Em dias de chuvas algumas atividades no campo se tornam

impossibilitadas de serem efetivadas, promovendo alterações.

A família camponesa tem a possibilidade de reordenar o trabalho na propriedade. Esse

(re)ordenamento das tarefas só se faz possível pelo fato de que a família camponesa tem um

controle relativo do ritmo de produção.

Entretanto, quando a família camponesa se vê impossibilitada de terminar as

atividades, poderá recorrer à troca de dias de serviço, ou seja, se valer da ajuda dos vizinhos

para finalizar as tarefas em tempo, e o trabalho de diaristas, ou seja, camponeses em trabalho

acessório.

Para alterar o ritmo de trabalho, a família camponesa vai se utilizar dos braços de

trabalho da própria família. Quando isso não for suficiente, vai recorrer aos braços de trabalho

dos vizinhos (troca de dias de trabalho e diarista).

Além da “centralidade” da família na organização do trabalho camponês, outras

dimensões devem ser consideradas. Sendo assim, para melhor organizar o trabalho no

estabelecimento, os camponeses também vão se valer de orientações climáticas, composição

física do solo, comportamento dos animais e as oscilações do mercado capitalista.

Mesmo o camponês realizando o trabalho em sua propriedade, este sujeito social vai

buscar promover as atividades que lhe ofereçam maiores ganhos relativos a dinheiro e

menores esforços referentes ao trabalho. Sendo assim, se valendo de elementos internos

(família) e externos (clima, economia).

50

Entre os elementos externos que o camponês se utiliza para organizar a produção,

destaca-se o mercado capitalista. O camponês tem que ficar atento às oscilações dos preços

dos produtos comercializados no mercado se quiser obter maiores ganhos financeiros.

Assim, se o preço do milho no mercado capitalista está baixo e o preço do leite está

relativamente melhor, a família camponesa pode diminuir as terras para o cultivo do milho e

aumentar as terras de pasto. Neste momento, o milho vai se transformar em uma atividade que

terá a sua transformação e aproveitamento na unidade camponesa na forma de silagem (pasto)

para os animais, ou seja, não tendo como direcionamento principal a comercialização.

Mas, isso não significa que o camponês vai seguir a risca os meandros do mercado

capitalista. Ele faz uma análise dos investimentos necessários para a produção; o número de

membros da família necessários para o trabalho; se a propriedade comporta esse tipo de

produção, dentre outras.

Na troca da produção de milho para a produção de leite, não é só os dizeres do

mercado que fazem com que a família camponesa intensifique essa atividade. Considera-se

que o trabalho com o leite exige menos esforços físicos pela família em comparação a

produção de milho.

Sendo assim, não é apenas o mercado que vai influenciar na organização da produção

e do trabalho nas unidades camponesas. A família camponesa tem peso significativo na

organização do trabalho. Dependendo do ciclo de vida que se encontra a família camponesa,

número de membros aptos ao trabalho, vai direcionar a produção nas unidades camponesas.

Neste sentido, a família camponesa busca as atividades que lhe proporcionam maiores

ganhos monetários e menores esforços físicos. Estas estratégias não significam que a

atividade mais rentável no momento vai se materializar em ganhos financeiros.

51

Figura 3.3 – Assentado idoso trabalhando na atividade do leite

Foto: GONÇALVES, L. D. (2009).

3 – As práticas de ajuda mútua no assentamento

Além do trabalho familiar, existem também no assentamento, as práticas de ajuda

mútua. Esta prática de ajuda mútua também se constitui como um trabalho camponês não-

capitalista. No assentamento “16 de Maio” foi possível verificar a realização de diversos

trabalhos de ajuda mútua.

A realização de ajuda mútua é comum entre as famílias assentadas, se tornando um

elemento importante para compreender o trabalho camponês. Este tipo de atividade tem maior

relevância no espaço entre propriedades próximas, na maioria entre vizinhos de lotes.

Tabela 3.8 – Famílias Camponesas que Recorrem a Ajuda Mútua (semanal, mensal e anual)

Ajuda mutua Semanal % Ajuda mutua Mensal % Ajuda mutua Anual %

Famílias 30% 80% 100%

Fonte: Trabalho de campo (2009).

52

Um exemplo importante de ajuda mútua é no cuidado com os animais entre vizinhos

de lotes. O episódio se apresenta da maneira que o vizinho H que foi visitar o vizinho A

passou a realizar determinado trabalho. O trabalho foi o de castração de um cachaço (suíno

reprodutor). Desta forma, a visita se converteu em trabalho não pago.

O vizinho A em conversa com o vizinho H faz o seguinte comentário: “Precisamos

castrar o cachaço, já ta em hora de matar”. Nisso o vizinho continua a conversa dizendo,

“traga uma faca bem afiada que faço esse serviço” (Assentados A, H, 2009).

Este trabalho era observado de perto pelos filhos dos camponeses, que se

demonstravam empolgados com toda a situação, como se tudo não passasse de uma

brincadeira.

O trabalho no cuidado com o animal não foi uma atividade simples, pois demandava

de muito esforço, habilidade e conhecimento para pegar, segurar, castrar, medicar e

acompanhar a recuperação do animal. Predominava naquele momento um ambiente de

harmonia, o que deve ser visto como trabalho de construção de um sujeito, de um ser social, e

não de degradação e exploração do homem observado na fábrica, por exemplo.

Esta natureza de trabalho nos revela outros conteúdos ainda: o vizinho que estava na

condição de visitante. Para ele não era trabalho que estava realizando, embora também o

fosse. Assim, a visita entre os vizinhos de lote no assentamento possui um conteúdo de

trabalho, mas não somente trabalho, pois outras dimensões estão implícitas nesta visita, como

a descontração, por exemplo. A visita implicou na realização de um trabalho, não-pago

inclusive.

53

Figura 3.4 – Trabalho gratuito entre vizinhos na castração do cachaço

Foto: GONÇALVES, L. D. (2009).

Outro exemplo de trabalho gratuito foi o trabalho da captura de um touro, ou seja, um

animal que havia fugido do lugar cercado. Tratava-se de animal por demais violento, o que

exigiu dos trabalhadores grande esforço e risco.

Considera-se que a captura deste animal seja um trabalho que não tem como pilar

central de leitura a partir da produção da mercadoria, pois pode evidenciar diferentes

conteúdos neste trabalho. Para a realização deste trabalho, além do proprietário do animal,

trabalhavam também os vizinhos próximos ao lote do proprietário que durante toda uma

manhã ajudara o proprietário a encontrar o animal fugido.

Este trabalho mais pautado na solidariedade imbricada no trabalho camponês, quando

os vizinhos deixaram seus afazeres inclusive, para ajudar na captura do animal. Neste trabalho

ainda não há o pagamento financeiro aos envolvidos na tarefa. Não é “força de trabalho” que

permite a geração de mais-valia. Não houve a venda de “força de trabalho” ao proprietário do

animal, sendo possível considerar mais uma dívida moral do que financeira.

Pode-se argumentar que este trabalho não seja considerado um trabalho relevante

porque não produziu mercadorias. Mas, o trabalho camponês é atribuído de dimensões mais

amplas que aquelas norteadas pela produção de mercadoria. Neste sentido, é possível entender

54

que o campesinato é uma classe, classe trabalhadora, que para compreendê-la é necessário ir

além da compreensão do trabalho enquanto “força de trabalho”.

Por fim, no caso do trabalho da captura do touro fugitivo é necessário ressaltar que não

foi um trabalho fácil. Mas, os camponeses contavam a façanha com muito entusiasmo, risos e

euforia, misturando alegria e trabalho, diferentemente do trabalho alienado.

4 – A troca de dias de trabalho no assentamento

As trocas de dias de trabalho são corriqueiras no assentamento “16 de Maio” e na

maioria das vezes coincidem com ciclo de existência da família camponesa (números de

membros aptos para trabalhar). No geral, as famílias que mais se utilizam das trocas de dias

de trabalho são as que têm um déficit no número de membros para o trabalho.

Isso significa que a troca de dias de serviço é utilizada como estratégia pelas famílias

camponesas para dar conta do serviço que apenas os braços familiares não são suficientes.

“Até estes dias nós estávamos com todo o fumo para “manocar”, o fumo não é fácil tem dia

certo para fazer e só estávamos nós – homem, mulher e menina de 6 anos -, ai tive que chamar

o vizinha aqui para me ajudar” (Assentado E, 2009).

Mas, diferente da troca de favores, que é atribuído de uma dívida moral para com

quem ajudou, a troca de dias de trabalho exige, para quem solicitou a ajuda, que seja

retribuída da mesma forma (dia de trabalho).

Se um vizinho (F) trabalhou um dia na propriedade do vizinho (E), isso significa que

quando solicitado, o vizinho (E) tem a obrigação de trabalhar o mesmo tempo na propriedade

do vizinho (F). “O vizinho direto vem chamar nós para ajudar ele com o serviço, ai quando

nós precisamos, também o chamamos para ajudar. O que nós íamos levar quatro dias faz em

dois” (Assentado F, 2009).

Tanto os homens, assim como as mulheres, promovem a troca de dias de serviço. O

homem troca atividades consideradas “pesadas” e as mulheres atividades “leves”. Mas, se

formos comparar por freqüência de vezes, os homens trocam dias de serviço mais do que as

mulheres. “Quase sempre ele – homem – que vai ajudar o vizinho, eu – mulher – vou muito

pouco, quando é coisa pequena, na maioria é para roçar ou fazer limpa do milho, ai é sempre

ele que vai” (Assentada E, 2009).

55

Os homens são os que trocam mais dias de trabalho porque na maioria das vezes a

ajuda é solicitada para trabalhos que exigem mais força física como o roçado, por exemplo.

As mulheres se encontram com menos freqüência em trocas de dias de trabalho, e quando

fazem, são atividades “leves”, como “selecionar as folhas” de fumo para o enfardamento, por

exemplo.

Outro dado importante é que a troca de dias de serviço pode acontecer em qualquer dia

do ano. Mesmo quando a família camponesa está apurada com o trabalho em sua propriedade,

ela faz o possível para atender a solicitação de ajuda do vizinho. “A troca de dias de trabalho

não tem dia certo, qualquer dia do ano o vizinho chama a gente, ou nós chama ele, mesmo

quando estamos apurados fizemos um esforço para ajudar, porque depois pode ser nós que

precisemos” (Assentado E, 2009).

O camponês, mesmo apurado com os seus afazeres, procura atender o vizinho porque

adiante poderá ser ele que vai necessitar de trabalho extra. Este fato de troca de dias de

serviço se explica porque os camponeses não têm recursos financeiros suficientes para pagar

diaristas para ajudá-los a promover o trabalho na propriedade quando se faz necessário. Sendo

assim, a troca de dias de trabalho é estratégia da família camponesa.

Quando precisamos nós sempre pede para o vizinho vir ajudar, porque um

diarista é R$ 30, por dia e nós não temos dinheiro para pagar, pro vizinho

também é bom, que ai nós vamos ajudar ele também, ele também não tem

dinheiro para ficar pagando diarista (Assentado E, 2009).

Assim, quando a família não é capaz de dar conta de todo trabalho, pede auxílio ao

vizinho, havendo expectativas que retribua com trabalho equivalente. Essa retribuição segue

um critério comum o tempo de trabalho.

Santos (1978), ao estudar os “Colonos do Vinho” identificou que todas as práticas de

trocas de dias de serviço cobrem uma necessidade de “força de trabalho” que o camponês não

pode suprir apenas com o trabalho familiar. Isso porque os rendimentos monetários não

permitem pagar trabalhadores.

Dessa forma, as práticas de troca de dias de trabalho são fundamentais para

reprodução do campesinato, ocorrendo de forma regular no assentamento “16 de Maio”. A

foto a seguir (foto 3.5) demonstra casal trabalhando na produção fumo para um vizinho de

lote no assentamento.

56

Figura 3.5 – Troca de dia de serviço (trabalho)

Foto: GONÇALVES, L. D. (2009).

5 – O trabalho diarista: aproximação do trabalho assalariado?

Foi possível verificar no assentamento a existência de um trabalho próximo ao do

“assalariado”, o dos diaristas, como são chamados pelos assentados. Os diaristas são

encontrados na fumicultura, principalmente quando é realizada a tarefa de selecionar as folhas

de fumo para o enfardamento.

Esta etapa da produção de fumo exige muitos braços para o trabalho, pois tem uma

especificidade: tem que ser realizada nos dias de chuva, pois é quando as folhas do fumo

estão úmidas e adequadas para serem selecionadas. Então são contratos trabalhadores para

ajudar nesta tarefa. Mas, é necessário observar que este diarista não é um trabalhador

assalariado, semelhante a um vendedor de “força de trabalho”, expropriado dos meios de

produção e alienado.

Segundo Santos (1978), para além da forma de assalariamento, é preciso considerar a

realidade das relações mediante a análise da condição social dos sujeitos envolvidos.

Da parte do camponês que utiliza trabalho assalariado, a finalidade de sua

produção é vender um produto para comprar outro que satisfaçam as

necessidades de sua família. Em conseqüência, a soma de dinheiro que

obtém com seu produto não se capitaliza, pois o produto excedente não é

consumido produtivamente, mas destina-se ao consumo individual da família

camponesa. Resulta desse processo que na unidade produtiva camponesa não

se constitui o capital que depende da mais-valia gerada pela força de

trabalho assalariada para se reproduzir em escala ampliada. (SANTOS,

1978. p. 43).

57

Os camponeses que trabalham com fumo e contratam diaristas não podem manter por

muito tempo estes trabalhadores, pois segundo eles “dá prejuízo”. É importante observar a

fala do camponês de que o diarista, um tipo de trabalho mais próximo do assalariamento, de

vendedor de força de trabalho, “dá prejuízo” e não lucro. “Não tem como pegar diaristas para

ajudar, tem de dar café, almoço mais os R$ 30 por dia, assim dá prejuízo” (Assentado B,

2009).

No trabalho típico capitalista, o empregador apropria da mais-valia gerada no processo

de trabalho. No caso do camponês que empregou um diarista, não há a apropriação da mais-

valia originada do trabalho porque o empregado não é um desapropriado dos meios de vida e

produção. O que ocorre é que este sujeito, na maioria dos casos está realizando um trabalho

esporádico fora de sua propriedade. Isso demonstra que o trabalho no campo camponês,

mesmo quando pago, apresenta conteúdos diferentes do trabalho executado numa fábrica, por

exemplo.

Neste sentido, Santos (1978) entende que ao contrário de um trabalhador assalariado, o

camponês é proprietário dos meios de vida e produção, vivendo a condição de trabalho

acessório3, nos momentos que a amplitude da família o permite.

Contudo a presença do diarista tem a sua singularidade. O camponês não desenvolve

uma relação de oposição ao trabalhador diarista na medida em que este outro é ele mesmo.

Em outras palavras, se o camponês é um trabalhador em atividade acessória, como indicado

por Santos (1978), não se pode diferenciar aqui posições sociais entre “personagens” que são

efetivamente o mesmo.

Evidencia-se ainda, que quando a produção do fumo não é satisfatória, e

conseqüentemente os ganhos financeiros serão reduzidos, não se verifica a presença dos

diaristas nas unidades camponesas. Neste caso, a família camponesa vai se utilizar de troca de

dias de serviço, pois a figura do diarista significa mais gastos financeiros.

Outro fato importante a ser comentado é que o trabalho acessório (diarista) não pode

ser realizado em qualquer época do ano. Ele geralmente é realizado quando o número de

membros na família não é suficiente para realizar o trabalho em sua propriedade.

3No caso do trabalho acessório, o camponês passa a ser um assalariado temporário de outro camponês, cuja

família não basta para o desempenho das tarefas agrícolas [...] observa-se que o trabalho acessório do camponês

ocorre quando o número de membros da família é suficiente para a realização das tarefas da unidade produtiva,

liberando um de seus membros pra trabalhar “fora”. Em contrapartida, quando a família se contrai, por migrarem

os irmãos ou filhos, o camponês não pode mais dar conta das atividades acessórias. (SANTOS, 1978. P. 38).

58

Para tanto, é possível identificar no trabalho camponês realizado no assentamento “16

de Maio” características que colocam limites aos paradigmas estabelecidos sobre trabalho no

sistema capitalista de produção.

59

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho camponês é substancialmente diferente do trabalho operário,

principalmente por ter uma organização que tem como elemento central a família. O fato da

família se constituir no elemento nuclear não permite que ele seja interpretado da mesma

forma que o trabalho operário, pois o espaço da fábrica e do campo implica na construção de

diferentes relações e sujeitos.

Embora o trabalho camponês esteja inserido no interior das relações capitalistas d e

produção, ele apresenta um conjunto de características próprias tais como divisão do trabalho

e tempo de produção. Estas características fazem do trabalho camponês um trabalho não-

capitalista.

A realização do trabalho não-capitalista camponês ocorre nos assentamentos de

reforma agrária. Os assentamentos rurais surgem como resultado das lutas e resistências dos

camponeses. Um exemplo é assentamento “16 de Maio” no município de Ramilândia surgido

em 1998 a partir s das lutas e resistências dos camponeses que organizaram o acampamento

Roselito. O assentamento “16 de Maio” foi adotado como recorte espacial para tratar do

trabalho camponês.

O trabalho não-capitalista no assentamento “16 de Maio” é verificado pela divisão

familiar do trabalho, principalmente.

A divisão do trabalho nas unidades camponesas é feita a partir do número de membros

da família. A inserção dos filhos no trabalho se faz através da idade e força física, por

exemplo. Verifica-se também que a cada filho que se insere no trabalho nas unidades

camponesas, a família promove uma nova (re) divisão do trabalho.

Observa se também que as trocas de dia de trabalho (trabalho não-capitalista) estão

ligadas ao ciclo de vida da família camponesa, identificando que as propriedades que mais se

utilizavam deste recurso foram as que tinham um déficit no número de trabalhadores. Para

tanto, as trocas de dia de trabalho são estratégias utilizadas pelos camponeses para cobrir um

déficit no número de membros da família camponesa.

60

Verificou-se ainda a existência da ajuda mútua entre vizinhos, principalmente, quando

muitas vezes os assentados realizam trabalhos “gratuitos” (não pago). Este trabalho não pago

não é gratuito porque gera uma divida moral, não regida pela ordem mercadológica.

Por isso, é possível concluir que o trabalho camponês é substancialmente diferente do

trabalho do operário. O fato da família se constituir no núcleo central da produção faz surgir

um o trabalho não-capitalista entre os camponeses.

61

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALVES, G. O novo (e precário) mundo do trabalho. São Paulo: Boitempo. 2000.

ANTUNES, R. (Org) A dialética do trabalho: escritos de Marx e Engels. São Paulo:

Expressão Popular, 2004.

ANTUNES, R. Os sentidos do Trabalho: ensaio sobre a afirmação e a negação do trabalho. 2.

Ed. São Paulo, Boitempo, 2000.

BERGASMASCO, S. M. NORDEL, L. A. C. O que são assentamentos rurais. São Paulo:

Brasiliense, 1996.

BERGAMASCO, S.; PAMARD, C. B.; CHONCHOL, M. E. Por um Atlas dos assentamentos

brasileiros: espaços de pesquisa. Rio de Janeiro: DL Brasil, 1997.

BRANDÃO, C. R. Festas de trabalho. Digitado. 2006.

CHAYANOV, A. V. La organización de la unidad económica campesina. Buenos Aires:

Nueva Visión, 1974.

FABRINI, J. E. Assentamentos de trabalhadores sem-terra: experiências e lutas no Paraná.

Marechal Cândido Rondon: LGeo, 2001.

FERNANDES, B. M. MST – Movimento dos trabalhadores rurais sem – terra: formação e

territorialização em São Paulo. SP: HUCITEC, 1996.

_________. Questões teórico-metodológicas da pesquisa geográfica em assentamentos de

reforma agrária. Núcleo de Estudos, Pesquisas e Projetos de Reforma Agrária. Presidente

Prudente: UNESP, 1998.

GOHN, Maria da Glória. Teorias dos movimentos sociais. Paradigmas clássicos e

contemporâneos. São Paulo: Loyola, 1997.

GOSS, K. P. PRUDENCIO, K. O conceito de movimento social revistado. Revista Eletrônica

dos Pós-Graduandos em Sociologia Política da UFSC. v. 2 . n. 1, p. 75-91, 2004.

HARVEY, D. Condição pós-moderna. 8ª. Ed. São Paulo: Louola, 1992.

HIRANO, S. Pré-capitalismo e capitalismo. São Paulo: Hucitec, 1988.

MARX, K. ENGELS, F. A ideologia alemã: seguindo das teses sobre Feuerbach. São Paulo:

Moraes, 1984.

62

MARX, K. A origem do capital: a acumulação primitiva. São Paulo: Global, 1985.

_________. O capital: crítica da economia política. 11ª. Ed Rio de Janeiro: Civilização

Brasileira, 2006.

MARTINS, J. de S. A sociedade vista do abismo: novos estudos sobre exclusão, pobreza e

classes sociais. 2.ed. Petrópolis. RJ: Vozes, 2003.

_________. O cativeiro da terra. 8.ed. São Paulo. SP: Hucitec, 2004.

_________. Os camponeses e a política no Brasil. 3. Ed. Petrópolis: Vozes, 1986.

OLIVEIRA, A. U. de. A agricultura Camponesa no Brasil. 4ª ed. – São Paulo: Contexto,

2001.

_________. A Geografia das Lutas no Campo. 9ª ed. São Paulo: Contexto, 1999.

_________. As Transformações Territoriais Recentes no Campo Brasileiro. Prova do

Concurso para provimento de cargo de Professor Titular. FFLCH-USP, 1998.

SANTOS, J. V. T. dos. Colonos do vinho. São Paulo: Hucitec. 1978.

SILVA, J. G. O novo rural brasileiro. Campinas: Ed. da UNICAMP, 1996.

SOUZA, S. T. CONCEIÇÂO, A. L. Lutas de classe no campo: camponeses em luta pelo

território no sudoeste da Bahia. Anais de evento, SINGA, 2007.

Mais sobre o assentamento 16 de maio Disponível em

<ramiladiaIICMIBrrasilmaissobreoassentamento16demaio.htm> acessado em 28 de julho de

2009.

63

ANEXOS

64

ANEXO 1

QUESTIONÁRIO PARA OS MEMBROS DO ASSENTAMENTO 16 DE MAIO

RAMILANDIA/PR

Questionário aplicado em ______/______/ 2009

Número do lote: ___________________Área do lote: ________________________________

Numero de pessoas da família: __________

Membros da família diferenciados por sexo, idade e posição: (Ex: masculino, 14 anos, filho).

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Com que idade os filhos são inseridos no trabalho (trabalho correspondente as atividades).

3 a 5:_______________________________________________________________________

5 a 10:______________________________________________________________________

10 a 15:_____________________________________________________________________

15 a 20:_____________________________________________________________________

Qual são as atividades realizadas por cada membro da família na propriedade. Exemplificar.

Pai_________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Mãe________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Filho_______________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Filha_______________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Avô________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Avó________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Quem da família redistribui e orienta as atividades (marido, mulher, irmãos). (cuidado dos

filhos, atividades produtivas e não produtivas)

Homem, que atividades:

65

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Mulher que atividades:_________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Filhos, que atividades:_________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Quando a pessoa que orienta as atividades não se encontra na propriedade quem assume o seu

lugar na redistribuição das atividades.

___________________________________________________________________________

Quais são os critérios utilizados para a distribuição das atividades.

Idade:______________________________________________________________________

Sexo:_______________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Promove alguma remuneração fora da propriedade

___________________________________________________________________________

Quantos e quem promovem atividade fora da propriedade.

___________________________________________________________________________

Remuneração/em dinheiro/troca de serviço

___________________________________________________________________________

Que tipo de atividade realiza.

___________________________________________________________________________

Em que período se realiza.

___________________________________________________________________________

Motivos para a realização de atividades fora da propriedade.

___________________________________________________________________________

A família já ajudou ou recebeu ajuda de vizinhos, parentes em alguma atividade.

___________________________________________________________________________

Que tipo de atividades as ajudas são mais freqüentes

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Quantas pessoas estão envolvidas:

___________________________________________________________________________

66

Quais são os motivos desta ajudas entre famílias distintas.

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Sobre as áreas cultiváveis

Quais são os cultivos comerciais

___________________________________________________________________________

Quais são os cultivos não comerciais

___________________________________________________________________________

Cultivos comerciais e não comerciais

___________________________________________________________________________

Quanto fica e quanto é destinado para comercialização

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Os horários de trabalhos são rígidos.

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Que tipo de atividade é mais rígido com horário.

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Quem promove estas atividades

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Como está atividade esta organizada

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Que atividades são mais desgastantes

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Quem promove estas atividades

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

67

Como está organizada, como acontece.

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Que atividade é mais flexível com horário.

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Quem promove estas atividades

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Como acontece /como é feita

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Quais as atividades são consideradas mais leves

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Quem promove estas atividades

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Como acontecem /como é feita

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Quem cuida da produção de auto-consumo.

___________________________________________________________________________

Quais são as atividades de auto consumo

___________________________________________________________________________

Usa máquinas

___________________________________________________________________________

Quem cuida da comercialização da produção

___________________________________________________________________________

Quais são as atividades de auto consumo

___________________________________________________________________________

Usa máquinas

__________________________________________________________________________

68

O trabalho de matar porco

Quem compra os animais

___________________________________________________________________________

Quem trata os animais

___________________________________________________________________________

Quem cuida quando estão doentes

___________________________________________________________________________

Quem decide quando vender o animal

___________________________________________________________________________

O que fazer com o dinheiro da venda

___________________________________________________________________________

Quem decide quando matar o animal

___________________________________________________________________________

Quem mata o animal

___________________________________________________________________________

Quem limpa o animal

___________________________________________________________________________

Quem ajuda no trabalho

___________________________________________________________________________

O que fazem

___________________________________________________________________________

Homem

___________________________________________________________________________

Mulher

___________________________________________________________________________

Filho

___________________________________________________________________________

Filha

___________________________________________________________________________

Qual é o destino da carne

___________________________________________________________________________