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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ - UECE CENTRO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA - CCT
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA MESTRADO ACADÊMICO EM GEOGRAFIA - MAG
ANALISE DO USO E OCUPAÇÃO DO SOLO E SEUS IMPACTOS EM ZONAS COSTEIRAS: PARACURU – CE
AUGUSTO GUTHIERE FIALHO ARRUDA
FORTALEZA - CE
Maio/2013
AUGUSTO GUTHIERE FIALHO ARRUDA
ANALISE DO USO E OCUPAÇÃO DO SOLO E SEUS IMPACTOS EM ZONAS COSTEIRAS: PARACURU – CE
Dissertação submetida à coordenação do Programa de Pós- Graduação em Geografia, da Universidade Estadual do Ceará, Área de concentração: Analise Geoambiental Integrada e Dinâmica das Paisagens Semi – Áridas e Litorâneas. Linha de pesquisa: Dinâmica e Gestão de Ambientes Costeiros, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Geografia.
Orientador: Professor Dr. Fábio Perdigão Vasconcelos
FORTALEZA - CE
Maio/2013
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação
Universidade Estadual do Ceará
Biblioteca Central Prof. Antônio Martins Filho
Bibliotecário (a) Leila Cavalcante Sátiro – CRB-3 / 544
A778a Arruda,Augusto Guthiere Fialho.
Analise do uso e ocupação do solo e seus impactos em zonas costeiras:
Paracuru-CE/Augusto Guthiere Fialho Arruda.— 2013.
CD-ROM 126f. : il. (algumas color.) ; 4 ¾ pol.
―CD-ROM contendo o arquivo no formato PDF do trabalho
acadêmico, acondicionado em caixa de DVD Slin (19 x 14 cm x 7 mm)‖.
Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual do Ceará, Centro de
Ciências e Tecnologia, Mestrado Acadêmico em Geografia, Fortaleza,
2013.
Área de Concentração: Estrutura e Dinâmica das Paisagens Semiáridas
e Litorâneas.
Orientação: Prof. Dr. Fábio Perdigão Vasconcelos.
1. Impactos socioambientais. 2. Ocupação. 3. SIG. I. Título.
CDD: 910
1. . I. Título.
CDD: 338.46918131
“... Se de um Deus infinito e pessoal, para tornar conhecida e amada a sua glória multiforme, tratar qualquer assunto sem referencia a Deus não é erudição, é insurreição.”
John Piper - Pense
“Se te fatigas correndo com homens que vão a pé, como poderás competir com os cavalos? Se tão-somente numa terra de paz estás confinado, como farás na enchente do Jordão?”
Jeremias 12:5 – Bíblia Sagrada.
AGRADECIMENTOS
Agradeço, em primeiro lugar, pois a Ele é toda honra, toda glória e todo
louvor, ao meu Deus Rei Jesus, pois sei que me condicionou nos momentos
mais difíceis, quando a inspiração, a mim, não chegava. Por ter me revelado
que poderia correr “contra cavalos de puro sangue”, quando eu não tinha
pernas para isso. Por ter me dado, como promessa, àquilo que não merecia e
simplesmente por amor e misericórdia, me promoveu.
À minha esposa, um presente para minha vida, Stephany Dannyell,
pelas discussões acadêmicas que travávamos. Pelo incentivo e preocupação,
pois nós somos “um”. Pela companhia, que findou em inspiração e ações nos
momentos certos.
A minha família (pai, mãe e irmão) por ter me ensinado o caminho que
me levou até aqui. Um caminho que me fez refletir e dar importância ao que
realmente fazia sentido; por terem tecido em mim os valores que me
proporcionaram prosperidade de espírito.
Ao professor Fábio Perdigão, por ter me recebido de maneira tão
complacente. Por ter me orientado e ajudado no campo das idéias, quando
ainda estava na graduação. Até em momentos de descontração, se mostrava
mestre para ensinar algo para nós, seus orientandos.
Aos meus amigos e colaboradores do LAGIZC (Otávio Barra, Nayara
Santos, Jaqueline Pinheiro, Lidia Xavier e Anderson Freitas) e a Roberto
Anderson (Computação – UECE) que em momentos de angustia nos deram
apoio moral e técnico, afinal somos uma família.
Agradeço ao Programa de Pós – Graduação em Geografia – ProPGeo e
todos os seus colaboradores e professores, pois sem o apoio direto e indireto
deles, não se faria o engrandecimento do próprio programa para nos dar
possibilidades de qualificação.
Às professoras Luzia Neide Coriolano e Isorlanda Caracristi, bem como
ao professor Paulo Henrique Lima de Oliveira, por também ter me apresentado
idéias para direcionar meus trabalhos, que vieram a ser de grande beneficio
para os pensamentos e para o texto.
Enfim, por todos aqueles que torceram, preocuparam - se e colaboram
de alguma forma para findar em uma produção que me enriqueceu e deu vetor
para próximos saltos na vida acadêmica.
RESUMO
O município de Paracuru, inserido na costa oeste do Estado do Ceará (Brasil),
apresenta um elevado índice de mobilidade da população, notadamente para a
área que compreende a Zona Costeira do município. A especulação imobiliária
é um dos fatores que contribuem veementemente para uma intensificação dos
processos de uso e ocupação da zona costeira de Paracuru, implicando assim,
em um desequilíbrio na evolução sedimentológica e por sua vez nas feições
morfológicas naturais da zona costeira desse município. Sendo assim, a ação
antrópica na zona costeira do município, está interferindo negativamente nos
processos morfodinâmicos e bioecológicos da planície costeira do município do
Paracuru. Este estudo tem como objetivo apreciar os processos de uso e
ocupação e suas conseqüências na zona costeira do Paracuru, procurando
apontar sugestões para uso e manejo sustentável desse ambiente e contribuir
na definição de bases conceituais para uma gestão ambiental integrada dessa
área.
Palavras – Chave: Impactos socioambientais, Ocupação, Legislação e SIG.
ABSTRACT
The municipality of Paracuru, located at the west coast of Ceará (Brazil), has a
high rate of population mobility, especially to the area comprehending the
coastal zone of the municipality. The land speculation is one of the factors that
strongly contribute for an intensification of the process of land use and
occupation of the coastal zone of Paracuru, implying in an unbalanced
sedimentological evolution which in turn at the natural morphological features of
the coastal zone of that municipality. Thus, the anthropic action on the coastal
zone of the municipality is interfering negatively in the morphodynamic and
bioecological processes at the coastal plain of Paracuru. This study aims to
assess the processes of land use and occupation and its consequences for the
coastal zone of Paracuru, trying to point out suggestions for sustainable use
and management of this environment and contribute to the definition of
conceptual basis for an integrated environmental management of this area.
Key - Words: Impacts environmental, Occupation, Legislation and GIS.
LISTA DE FIGURAS Figura 01 Imagem das rotas turísticas pela capital (Fortaleza – CE). 17
Figura 02 Setores de trabalho do Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro
(PNGC – GERCO). 32
Figura 03 Acesso ao município de Paracaru-Ce. 33
Figura 04 Investimentos PRODETUR I. 36
Figura 05 Investimentos PRODETUR II. 38
Figura 06 Turistas por município no estado do Ceará. 40
Figura 07 Imagem do grupo 01 referente a 2004. 49
Figura 08 Imagem do grupo 01 referente a 2011 49
Figura 09 Imagem do grupo 02 referente a 2004 50
Figura 10 Imagem do grupo 02 referente a 2011 51
Figura 11 Imagem do grupo 03 referente a 2004 52
Figura 12 Imagem do grupo 03 referente a 2011 53
Figura 13 Imagem do grupo 04 referente a 2004 53
Figura 14 Imagem do grupo 04 referente a 2011 54
Figura 15 Imagem do grupo 05 referente a 2004 55
Figura 16 Imagem do grupo 05 referente a 2011 55
Figura 17 Imagem do grupo 06 referente a 2004 56
Figura 18 Imagem do grupo 06 referente a 2011 57
Figura 19 Imagem do grupo 07 referente a 2004 58
Figura 20 Imagem do grupo 07 referente a 2011 58
Figura 21 Imagem do grupo 08 referente a 2004 60
Figura 22 Imagem do grupo 08 referente a 2011 60
Figura 23 Imagem do grupo 09 referente a 2004 61
Figura 24 Imagem do grupo 09 referente a 2011 62
Figura 25 Imagem do grupo 10 referente a 2004 63
Figura 26 Imagem do grupo 10 referente a 2011 63
Figura 27 Imagem do grupo 11 referente a 2004 64
Figura 28 Imagem do grupo 11 referente a 2011 65
Figura 29 Imagem do grupo 12 referente a 2004 66
Figura 30 Imagem do grupo 12 referente a 2011 66
Figura 31 Imagem do grupo 13 referente a 2004 67
Figura 32 Imagem do grupo 13 referente a 2011 67
Figura 33 Tabua de Maré do dia 09/12/2011 68
Figura 34 Os quatro tipos de marés 70
Figura 35 Tabua de Maré do dia 08/09/2004 71
Figura 36 Elementos e agentes remodeladores do território 75
Figura 37 Gráfico de Receita e Despesas do município costeiro de
Paracuru, CE 83
Figura 38 Área de atuação do PNGC I e II 93
Figura 39 Números de estabelecimentos com Hospedagem 97
Figura 40 Organograma de elementos que compõem o turismo
em zona costeira 102
Figura 41 Gráfico do perfil de escolaridade do usuário (sendo morador ou
visitante) no litoral da cidade de Paracuru – Ce 105
Figura 42 Elementos de um sistema costeiro 107
Figura 43 Gráfico comparativo de áreas ocupadas do município
(área sede) de Paracuru – CE (1999 – 2004) 108
Figura 44 Imagem da Localização das APAs do Município do Paracuru 109
Figura 45 Compartimentação Geombiental do Ceará 110
Figura 46 Barracas de praia município de Paracuru 113
Figura 47 Amostra da ação erosiva próximo as barracas de praia 113
Figura 48 Exemplar da formação de Tabuleiro aflorada no estirancio praial 114
Figura 50 Embarcações ao tabuleiro 114
Figura 51 Linha de Preamar e os fixos 114
Figura 52 Mostra o fixamento da duna por intervenção antropica 116
Figura 53 Método de contenção da abrasão marinha 116
Figura 54 Afloramento de estruturas internas dos estabelecimentos
comerciais na orla do município 116
Figura 55 Exemplo da má apropriação dos espaços litorâneos no
município de Paracuru 117
Figura 56 Imagem de galerias pluviais que podem prejudicar a saúde da
praia bem como seu uso 118
ANEXOS Anexo 1 Mapa da situação da Uso e Ocupação 121
LISTA DE TABELAS
Tabela 01 Diferenciação e Intercessão das duas fases do PRODETUR. 37
Tabela 02 Municípios mais procurados no estado do Ceará. 39
Tabela 03 População residente no município de Paracuru entre
anos de 1970 e 2000 39
Tabela 04 Tipologia das praias na perspectiva da gestão 46
Tabela 05 Classificação das praias por nível de ocupação em
Paracuru (2013) 66
LISTA DE SIGLAS
APA Área de Proteção Ambiental
AQUASIS Associação de Pesquisa e Preservação de Ecossistemas Aquáticos
BNDO Banco Nacional de dados Oceanográficos.
BID Banco Interamericano de Desenvolvimento
CIRM Comissão Interministerial para os Recursos do Mar
GERCO Gerenciamento Costeiro
GIZC Gestão Integrada da Zona Costeira.
IAB Instituto de Arquitetos do Brasil.
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia
IPECE Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará
INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
MCC Ministérios das Cidades
MMA Ministério do Meio Ambiente
PAF Plano de Ação Federal
PDDU Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano
PNGC Plano Nacional Gerenciamento Costeiro
PRODETUR Programas Regionais de Desenvolvimento do Turismo
SEMACE Secretária de Meio Ambiente do Estado do Ceará
SETUR Secretaria do Turismo
SI Sistema de Informações
SIG Sistema de Informações Geográficas
OMT Organização Mundial do Turismo
UECE Universidade Estadual do Ceará
UNESCO United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 15
2 AS OCUPAÇÕES E EXPLARAÇÕES NA ZONA COSTEIRA 21 2.1 As ocupações e explorações da Zona Costeira no Brasil 25 2.2 Primeiras Ocupações: Costa do Paracuru 30 2.2.1 Localização 32 2.3 O PRODETUR e o redirecionamento da costa cearense 33 2.3.1 PRODETUR 35 2.3.2 PRODETUR II e suas implicações 37 2.4 Paracuru e sua relação com o Turismo 40 3 METODOS E PROCEDIMENTOS OPRACIONAIS 42 3.1 Procedimentos Cartográficos e SIG’s 46 3.1.1 Procedimentos de analise: Variáveis das Marés 69 4 GESTÃO E ORDENAMENTO TERRITORIAL EM ZONAS COSTEIRAS 72 4.1 Gestão, Plano e Ordenamento 75 4.1.2 Território e suas variáveis de estudo 77 4.2 Representatividades legais na gestão em zonas costeiras 84 4.3 A Legislação e os ambientes costeiros 88 4.3.1 Políticas de gestão da zona costeira no Brasil 91 5 PROCESSO DE OCUPAÇÃO: VARIAVEIS SOCIOECONOMICAS E AMBIENTAIS NA ZONA COSTEIRA 95 5.1 As ocupações e seus efeitos sociais 103 5.2 Caracterização Geoambiental de Paracuru 106 5.2.1 As ocupações e seus efeitos ambientais 112
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 119
ANEXOS 122
REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS 125
15
1. INTRODUÇÃO
O Estado do Ceará possui um litoral com aproximadamente 573 km de
extensão, que se estende desde a divisa com o Estado do Rio Grande do
Norte, a leste, ao Estado do Piauí, a oeste. Esse é vastamente conhecido pelas
belezas constituídas por variadas feições paisagísticas naturais, sendo estas
representadas por: mar, praia e pós-praia, dunas, falésias, lagoas, lagunas,
manguezais. Belezas que promoveram toda uma estrutura econômica, como:
especulação imobiliária, investimentos na infra-estrutura, bem como em toda
uma gama de possibilidade dada para atender o turismo.
O Paracuru localiza-se no litoral oeste do Estado do Ceará, não é
município que está diferente da conjuntura atual. Apresenta um elevado índice
migratório da população impulsionado pela busca de toda uma gama de
possibilidades dada pelo turismo de áreas costeiras, notadamente para a zona
de faixa de praia desse município.
Segundo IBGE (2007), Paracuru possui uma população de 32.557
habitantes, como uma área de 313,140 km, que resulta em uma densidade
demográfica de 303,25 habitantes por quilometro quadrado, onde a taxa de
urbanização de 60,54%.
A cidade de Paracuru é conhecida nacionalmente e internacionalmente
como o paraíso do surf e do “Wind surf” no Brasil, pois as ondas perfeitas e
ventos fortes são ideais para os amantes destes esportes náuticos. Em suas
dunas o “sandboard” é o esporte em destaque, onde jovens esquiam nas
areias em pranchas de madeira. Outros esportes também ganham força no
município tais como o “kitesurf” e a pesca amadora.
A especulação imobiliária é um dos fatores que contribuem de maneira
contundente para a intensificação dos processos de uso e ocupação da zona
costeira de Paracuru. O município tem 17 km de litoral delineado por belas
praias com um mar de águas mornas que vão desde os pesqueiros da foz do
16
rio São Gonçalo, passando por dunas, falésias, enseadas de mar calmo e
arrecifes com piscinas naturais, até os manguezais da foz do rio Curu.
De acordo com dados obtidos no Instituto Brasileiro de Geografia
(IBGE), no município de Paracuru, Ceará, entre as décadas de 70 e 80 a
população apresentou um crescimento de 14%. Posteriormente, na década
seguinte, já houve uma diminuição considerável de quase 27%, contudo volta a
crescer nos anos 90.
As zonas costeiras correspondem a uma parcela de território que é
extremamente valorizada. Cerca de 2/3 da população no mundo está alocada
em áreas de zona costeira (VASCONCELOS, 2005). Elas representam a
interconexão das diversas relações de interesse vital, tanto do ponto de vista
ecológico, como do humano. Como explica Suguio:
(...) as regiões litorâneas comportam um dos mais ricos e mais
importantes conjuntos de ecossistemas naturais, de cuja
preservação dependem os ciclos vitais de inúmeros animais e
vegetais. Dentre alguns desses ecossistemas podem ser
mencionados os seguintes: praias, manguezais e recifes de
corais (SUGUIO, 1996, p.3).
Toda a problemática que envolve a ocupação do município de Parucuru
está atrelada a idéia de ocupação desordenada, já que esta ocupação está
sendo caracterizada em um dos ambientes que mais são influenciados pela
pressão econômica, não só no estado do Ceará, mas em todo país.
No caso específico do Estado do Ceará, observa-se a ocorrência de um
crescimento expressivo do fluxo turístico via Fortaleza que age como centro
difusor na atividade no estado por possuir o maior aeroporto de carga e
descarga e passageiros no Ceará, bem como possuir pontos de partida das
17
principais rodovias que interligam a boa parte dos municípios costeiros e não
costeiros.
Figura 1: Imagem das rotas turísticas pela capital (Fortaleza - CE). Fonte:
http://mapasblog.blogspot.com.br/2013/04/mapas-de-fortaleza-ce.html (Acesso em 17/11/2013
às 15:45).
O litoral do estado do Ceará é zona de atração populacional,
impulsionadas principalmente, pela especulação imobiliária, desencadeada
pela vilegiatura, lazer, e todas as demandas do próprio setor econômico
impulsionados pelo turismo.
Nos primeiros contatos com a pesquisa nos inquietaram quanto a falta
de fiscalização e de medidas mitigadoras de órgãos competentes quanto à
preservação ambiental na costa do município do Paracuru.
A situação e localização da área da pesquisa despertou maior atenção,
para uma análise integrada no que tange a gestão de espaços costeiros já que
Paracuru se inseri no programa de gerenciamento costeiro (GERCO).
No entanto, a realidade visualizada através de estudos preliminares
(Arruda e Vasconcelos, 2005), revela que a área sede do município do
Paracuru- CE, que compreende um total de 236,076 km², se percebe,
18
notoriamente, um aumento do espaço ocupado. Fazendo um comparativo de
imagens, se constatou que no ano de 1999 ao ano de 2004,que o percentual
de área ocupada aumentou de 25% (59,019 km²) para 29,85% (70,473 km²), ou
seja, 4,85% (11,454 km²) de área que compreende em um aumento da
expansão urbana do município no período de 5 anos.
A Constituição Federal, no artigo 225, parágrafo 4º afirma que:
“a zona costeira é patrimônio nacional e que sua utilização se
dará, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a
preservação ambiental, inclusive quanto ao uso dos recursos
naturais”. (Brasil, 1988)
A legislação é veemente quando se faz menção contundente ao uso de
espaços costeiros, pois por fazer parte de um circuito ecológico de grande
importância no ambiente marinho, propicia relações econômicas para o próprio
homem. Numa forma geral, a administração e a gestão dessas áreas, em tese,
cuidam de balizar às ações realizadas através de planos que deveriam
viabilizar um desenvolvimento de forma sustentável que fosse cômoda a todas
as esferas que fazem parte dos conceitos concebidos no que tange à
“sustentabilidade” e na formação e configuração dos espaços costeiros que
necessitam da relação harmoniosa entre sociedade e natureza.
Alguns questionamentos se fizeram presentes para dar sustentação ao
estudo e sua orientação:
Se o crescimento urbano é algo necessário para o ponto de vista
“desenvolvimentista”, como está acontecendo este crescimento?
Como as políticas publicas interagem nesse meio onde existe uma
normatização especifica?
Se há uma legislação municipal regente, para ocupação e uso do solo,
como vem sendo balizado a relação sociedade e natureza no município?
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Quais os pontos de maior e menor densidade urbana?
Esses pontos estão sobre áreas de preservação e proteção ambiental?
Diante destes questionamentos o trabalho tem como objetivo analisar
os processos de uso e ocupação, na zona costeira no Paracuru - CE, para
apontar sugestões para uso e manejo sustentável desse ambiente e contribuir
na definição de bases conceituais e no ordenamento territorial relacionando as
conjunturas para a gestão ambiental integrada dessa área.
Nas áreas condicionadas à ação erosiva ocorre o recuo da linha de
costa, principalmente na preamar das marés de sizígia e automaticamente
permitindo que a abrasão marinha ponha em risco ou em situação condenável
os fixos que estão instalados mais a oeste da região (áreas onde houve o
recuo da linha de costa), como no caso de várias cidades que instalaram fixos
na região de costa e atualmente sofrem os desgastes da abrasão marinha. No
entanto, a zona de costa merece atenção especial por estar sob pressão
ambiental e antrópica. Seguindo esse modelo de práticas “anti-processuais”, a
ocupação de áreas em que existe uma tenuidade maior entre o homem e o
ambiente costeiro, se segue com uma legislação existente sim, mas que na sua
maior parcela conjuntural, não contempla a realidade local, ou foge com
veemência do arcabouço jurídico que a rege. Uma tentativa de apontar
sugestões a um reordenamento territorial a fim de aperfeiçoar o uso e relação
da sociedade com o espaço (zona costeira) é um dos objetivos da presente
pesquisa.
São ainda objetivos:
a) Estudar o uso e a ocuapção da zona costeira de Paracuru.
b) Compreender os processos de ocupação e gestão do território na
costa do municipio de Paracuru.
20
c) Identificar os uso e ocupação para dar subsídio na analise dos
impactos promovidos pelo uso e ocupação.
d) Fomentar o zoneamento dentro das propostas referidas pela GERCO
para gestão da zona Costeira.
Esse dissertação foi estrutuda em seis partes. Na introdução se faz uma
apresentação das potencialidades e problémáticas sócio-ambientais da area
em estudo, e os questionamentos que aqruitetaram os vetores e objetivos do
trabalho.
No segundo capitulo, trata do inicio das ocupações e como as ações da
sociedade culminaram nos primeiros contatos com zonas costeiras e como
admnistração publica vem promovendo as ocupações no Brasil e no estado do
Ceará , bem como a localização do municipio de Paracuru. O terceiro capitulo
traça os metodos e procedimentos do estudo que foram importantes para o
levantamento dos dados e possiveis resultados, possibitando gerar
informações contundentes aos objetivos estipulados.
O quarto capitulo faz um levantamento da legislação de zonas costeiras
e suas respresentações e atores sociais, propondo a atender as possiveis
demandas de ordemanto territorial do ponto de vista ambiental, com o intuito de
levar a educação e sustentabilidade.
O quinto capitulo traz a caracterização ambietal do municipio e com os
resultados vistos nos procediementos e metodos, trazer os possiveis efeitos da
má aproriação de areas costeiras no munipio.
Por fim, as considerações finais do estudo, com base nas variaveis
apresentadas e extraidas da base teorico-empirica da pesquisa.
21
2. AS OCUPAÇÕES E EXPLORAÇÕES NA ZONA COSTEIRA.
A relação do homem com o mar se modifica ao longo do tempo. Até a
Idade Média havia uma série de imagens repulsivas em relação ao mar. Essas
imagens eram associadas ao desconhecido, e vinculado a representações
míticas de obstáculos intransponíveis como o abismo que engolia os navios, o
mar habitado por monstros e deuses coléricos ou repletos de recifes
desumanos, sempre associados à idéia de morte, colonizações, tempestades,
naufrágios ou saques de piratas (Dantas, 2002).
Para Diegues (1998), a aproximação da sociedade com espaços costeiros
se deve muito mais a essas tendências dadas na Europa, que por qualquer
outra coisa.
Para Corbin (1989), o empenho da sociedade pelos espaços costeiros, se
faz durante o século XVII e de maneira mais contundente no século XVIII,
quando os banhos terapêuticos se fazem eficientes no meio da sociedade mais
abastada. A Europa é predecessor dos primeiros indícios da freqüência no uso
das praias e suas tendências para uso terapêutico dos banhos espalham-se
pela Inglaterra, França, Holanda, Itália e Espanha. Dada a tendência, tal
interesse toma de conta de outras localidades européias, estendendo-se até
América.
No entanto, há a necessidade de transformar essas imagens negativas,
relacionadas à nova ordem comercial vigente, que se fazia não somente como
busca por riquezas, também como uma necessidade dada à concorrência aos
produtos asiáticos no século XVI. Já no século XVII, os conceitos passam por
modificações provindas de um novo conhecimento que foi atribuído a Teologia
do Natural, cuja visão do mundo leva à criação de imagens mais aceitáveis dos
espaços litorâneos, explicações atribuídas à criação por Deus para o bem-estar
dos homens e para o desenvolvimento da navegação, que conseqüentemente
levaria a aquisição de riquezas, bem como para avanços científicos. De modo
que a partir das grandes navegações, as sociedades geram demandas que
22
findariam em busca de terras e riquezas, o que favorece o crescimento do
comércio com a descoberta de novos continentes.
O conceito de espaço,estudado no âmbito da subjetividade (Santos, 2000),
complementado pelo conceito de valoração (Moraes, 2007), está sujeito a
quem o maneja, ou seja, quem usa e ocupa, sendo que o valor dado e suas
funções postuladas são diversificados estando amarrado à percepção e
aspirações do individuo que interage com o meio (espaço).
“Nessa visão a atividade e sua lucratividade é que definem o
valor econômico de um bem natural, em outras palavras, é a
utilização que qualifica o recurso, ao dar-lhe uma destinação
produtiva num dado empreendimento.” (Moraes, 2007, p. 18)
Com tal idéia, pode-se afirmar que a heterogeneização do pensamento
acerca dos vários usos dados a uma determinada área, praial ou não, nos
mostra a necessidade de uma intercessão e inteiração na relação ciência (num
modo geral) e os diversos atores que modificam a paisagem ( no senso comum
os modeladores da paisagem) buscando educar e conscientizar dos efeitos de
uma gestão no que diz respeito a conservação do patrimônio natural das
costas, num modo geral.
Um dos grandes questionamentos da relação sociedade & natureza na
perspectiva de ocupação da zona costeira, são as conseqüências que as ações
em um ambiente de fácil impacto no que tange aos processos naturais.
O valor do litoral se afirma pelo fato de intermediar relações econômicas
que requerem maior relação com o mar. As zonas costeiras correspondem a
uma área cujas potencialidades vêm convergindo num processo de ocupação,
em ritmo cada vez mais acelerado, associado ao desenvolvimento dos variados
setores econômicos.
Tais processos de ocupação são dados, dentro de municípios costeiros,
por um acelerado processo de urbanização a qual o planejamento do município
não faz comunhão com os intensificados processos de “turistificação” que eleva
23
o crescimento da ocupação pelos vários atrativos econômicos que toda a zona
de costa propicia o crescimento nos municípios costeiros, o que por sua vez,
leva gestores a verdadeiros equívocos no que tange as ações nos territórios
costeiros, implicando assim no impacto de processos naturais.
“O processo urbano é visto aqui como a aglomeração de
adaptações do espaço, ela mesma podendo ser considerada
uma adaptação ou um instrumento. Essas adaptações são
produzidas com o objetivo de atender as necessidades
humanas pelo trabalho dos homens sobre o espaço natural ou
anteriormente adaptado”. (Serra, p.17, 1991).
As adaptações, que na realidade brasileira, são formadas de improvisos e
também dadas de forma aleatória sem nenhum ou pouco compromisso com os
regimentos dados pelo planejamento municipal, conduzidos por instancias
maiores (Estadual e Federal), é que são considerados, dentro dos conceitos,
verdadeiros equívocos na relação da sociedade com os bens naturais que
formam a zona costeira.
“A regra geral constitucional tem importância não só por indicar
ao administrador público, aos particulares e ao juiz que o
desenvolvimento econômico não deve ser predatório, como
torna claro que a gestão do litoral não interessa somente a
seus ocupantes diretos, mas a todo brasileiro, esteja ele onde
estiver, pois se trata de um patrimônio nacional” (MACHADO,
2004 p. 568).
No sentido em que o estudo da formação e das funções na ocupação nos
municípios está dentro da zona costeira, se mostra de bastante relevância,
quando se fala de um ambiente que é tão peculiar no ponto de vista ambiental.
Mais propriamente na zona costeira de Paracuru que apresenta feições
litorâneas como planos de fundo, com todas suas unidades ambientais em seu
entorno.
24
Em vias gerais, o uso inadequado do espaço em zona costeira se traduz
em processos de erosão, assoreamento, transformações do perfil de praia
(progradação e recuo da linha de costa), degradação das dunas, entre outros
(ANDRADE, 1998). Os processos erosivos em costas sedimentares têm
grande expressão no mundo. Segundo a União Geográfica Internacional (UGI)
apud Lins-de-Barros (2005), 70% das costas sedimentares do mundo estão em
processos de erosão.
A dinâmica costeira é caracterizada por uma grande variedade de
processos e pela interdependência entre eles. A análise integrada do litoral
requer um conhecimento apurado de principais aspectos evolutivos e agentes
modeladores (SOUSA, 2007). A erosão marinha é um problema intrínseco
principalmente à ocupação irregular no ambiente de costa; aterros ao longo dos
mangues; planejamento e controle urbano débeis, em escala mundial, com as
mudanças climáticas e, conseqüentemente, a elevação do nível do mar e
intensificação dos ventos. Christofoletti (1980) cita que os fatores ambientais
são atuantes sobre as formas de relevo das costas. Assim, os agentes naturais
correlacionados com as intervenções antrópicas podem vir a causar impactos
maciços ou irreversíveis no ambiente. Caso de muitas praias do litoral
cearense, as quais sucumbiram a processos de erosão de origem natural e/ou
antrópico.
Em contrapartida, os ambientes costeiros apresentam potencialidades
naturais referentes ao uso do patrimônio paisagístico e atrativos turísticos,
atividades ligadas à pesca, exploração de recursos minerais e hídricos e
implantação de rede viária e edificações (CAVALCANTI, 2003).
Nesse sentido, a legislação precisa apregoar e levar vigência em ações
à problemática ambiental que tem sido vista nos espaços costeiros no Brasil.
Perceber esta relação que envolve as demandas sociais e os processos
ambientais já é descrita como critica por muitos estudiosos da área. Antes de
levantar medidas mitigadoras, a educação ambiental deve estar em pauta para
viabilizar uma conscientização em todos os setores da sociedade envolvidos,
promovendo um conhecimento que levará uma conservação das unidades
25
ambientais em espaços costeiros, bem como o enfraquecimento de ações que
levam empecilhos aos processos que são vitais na formação e na hierarquia
das áreas depreservação.
2.1 - As ocupações e explorações da Zona Costeira no Brasil.
No que tange a ocupação das zonas de costa no Brasil, sabe-se que
não há homogeneidade nas ocupações quando se direciona o estudo do ponto
de vista nacional, ou seja, as interações entre os atores sociais, que são
definidos como a própria sociedade atuante no processo de formação do
espaço, e as especificidades dos processos ambientais deram visões
divergentes quando se fala de formação de espaço costeiro.
A importância das zonas costeiras, uma escala nacional, mostra que
cada estado tem seu próprio processo que repercuti em índices diferenciados.
“[...] Tome – se exemplo do Amapá e do Rio Grande do Sul,
aproximados quando a analise acima é efetuada, o primeiro
apresentando 81% de seus habitantes na zona costeira,
enquanto no litoral gaúcho este valor é da ordem de 5%. Os
estado do Rio de Janeiro e Ceará reafirmam suas vocações
litorâneas, ambos com 65%da população vivendo a beira-mar
[...]” (Moraes, 2007. p.49).
Dentro desta perspectiva, trata-se de termo em mente que a “valoração”
da paisagem costeira sofre mudanças sob o aspecto das demandas sociais.
Isso em um âmbito nacional, as variáveis que levam um determinado espaço a
sofrer especulação tem um molde diferente do ponto de vista regional.
O litoral ou costa (de acordo com a UNESCO são sinônimos) é definido
como uma zona de usos diferenciados, pois em toda sua extensão são
encontradas diferentes formas de uso e ocupação com as mais diversas
finalidades.
Esses índices mostram que a ocupação da zona costeira no Brasil está
26
atrelada muito mais à políticas publicas que fomentam os movimentos
populacionais do que pensar que são oriundos de um processo dado pelo
acaso, sem nenhuma motivação, haja vista que as atividades voltadas para o
turismo influenciam e são influenciadoras da formação dessa cadeia de
produção que repercuti não só nos serviços, mas para com todos os insumos
voltados ao mesmo.
Para Moraes (2007), quanto mais setentrional, mais inexpressiva em
ocupação são as cidades. De uma forma comparativa para deixar evidente a
constatação, o estado do Ceará possui densidade demográfica de 252 h/km²,
perdendo somente para Pernambuco 913 h/km² e Rio de Janeiro com 806
h/km², sendo (h/km²) unidade de relação habitante por quilometro quadrado.
Diante desses índices, questionamentos acerca das densidades
promovidas e suas relações com seus respectivos ambientes de zona costeira
é um tanto preocupante quando se remete à gestão nestas áreas quando não
“regimentados” e fiscalizadas de forma inapropriada.
A zona costeira é alvo, há muito tempo, de um processo de uso e
ocupação que pouco leva em conta as variáveis ambientais e tem seu
comprometimento com bases em valores e premissas que envolvem a terra
como mercadoria, que se agrega valores pelo patrimônio natural, em um
contexto econômico muito mais amplo que a própria discussão remete.
Para Vasconcelos (2005), a própria ocupação das zonas costeiras, isso
falando do contexto nacional, está intrinsecamente ligada à aquisição de bens
imóveis, que é impulsionado pela demanda de apropriação da terra em que o
proprietário se faz parte integrante do território influenciando toda uma cadeia
de setores e atores atuantes no determinado espaço o qual está vinculado pela
aquisição.
A especulação imobiliária adapta fatores que contribuem veementemente
para intensificação dos processos de uso e ocupação que implicam em
empecilhos para processos que ocorrem e que fazem parte de uma equação
27
dada por variáveis que não se isolam e são balanceadas por processos
naturais na zona costeira.
Especulação imobiliária, numa forma ampla, é a compra ou aquisição de
bens imóveis com a finalidade de vendê-los ou alugá-los posteriormente, na
expectativa de que seu valor de mercado aumente durante o lapso de tempo
decorrido.
De acordo com a pesquisa do Índice Fipe/Zap (2012),índice que calcula
bens imóveis, o preço do metro quadrado, em áreas costeiras no Ceará, subiu
em torno de 2,6% ao mês. Se esse calculo é fatorado ao ano, encontraremos
uma valorização de 31,2%.
A relação econômica que é estabelecida é extremamente lucrativa e
interfere diretamente no circuito econômico que é influenciado e influenciador
de movimentos que são formados pela valoração e valorização dos espaços
costeiros. Que dá fortes indícios, que seus desdobramentos, são contrários aos
processos naturais de ambientes que estão em uma escala temporal
divergente à ao tempo que é demandado pela produção.
Podemos exemplificar de forma bem categórica tal relação dada pela
valorização de áreas quando falamos de territórios costeiros. No caso o
recurso aqui valorizado, é o que está atrelado o da paisagem e todos seus
atributos que agregam valor.
O ambiente de praia, uma das unidades formadoras da zona costeira,
representa um dos ambientes de maior vulnerabilidade entre os ambientes de
costeiros de sedimentação (DAVIS, 1978). A procura por casas de segunda
residência (vilegiatura e turismo) elevaram os índices de mobilidade, mesmo
sendo movimentos sazonais impulsionados por eventos ligados a cultura de
um determinado lugar, descanso e/ou lazer nos fins da semana.
Dados do Banco Interamericano de desenvolvimento (BID) apontam que
cerca de 60% dos 475 milhões de habitantes da América Latina, vivem em
províncias ou estados costeiros, bem com 60 das 77 maiores cidades são
28
costeiras (LEMAY, 1998). As atividades voltadas para o excursionismo e setor
de serviços, que subsidia as atividades turísticas, a qual países em
desenvolvimento e subdesenvolvidos passaram a investir nas ultimas
décadas, impulsionam, desta forma, os movimentos migratórios do interior
para as zonas costeiras.
Para Frosh (2004), a discussão em torno do desenvolvimento
sustentável, ou seja, de uma economia desenvolvida a partir do meio ambiente
que respeita direitos humanos e a legislação ambiental (desde a Constituição
Federal de 1988 o meio ambiente é direito fundamental) se intensifica quando a
economia convencional – a do lucro em curto prazo – invade espaços onde há
gerações que persistem nas relações sócio-ambientais de economias de
subsistência, junto com a implantação de grandes projetos de “turistificação”
que causam grandes impactos como a degradação do meio ambiente, como
um fator preponderante quando se fala de impacto ambiental, e a
descaracterização de atividades nativas em que andavam em consonância
com processos naturais, mesmo que para elevação do nível de qualidade de
vida, mas mesmo dessa forma, desmonta as imagens das primeiras
ocupações.
Forma-se assim um circuito que envolve índices populacionais, eventos
que impulsionam o turismo local e todos os serviços que dão subsídios a
alocação de empreendimentos ligados ao turismo em zonas costeiras, como o
caso do município de Paracuru, Ceará. Sendo assim, a legislação posta pelas
bases da GERCO, no inicio da década de noventa (no Ceará), retoma uma
discussão, que remete à reflexão da eficácia e intervenção dos órgãos
competentes e componentes ao MMA, para atender a demanda que cresce de
maneira desordenada e contrária aos processos naturais desse ambiente
costeiro e todas as suas relações estabelecidas.
A lógica da especulação imobiliária foi formada a partir do surgimento de
um circuito econômico-social que envolve origem de demandas, que são os
mesmos que segregam, influenciam a formação e configuração do espaço
costeiro. A aproximação do homem com a costa, que propiciou a busca de
29
riquezas pela expansão marítima, onde foi possível e necessária a criação de
portos que por sua vez, atraiu pessoas levando e elevando as taxas migratórias
para a costa; e também, devido à promoção da logística em meios de
transporte marinho, atraiu as indústrias a fim de maximizar os lucros
promovidos por tal logística; com a concentração econômica nesses espaços,
leva a uma eminente captação de pessoas, formando assim vilas que
posteriormente, somados de um forte investimento em infra-estrutura, pelo
Estado, inserindo os processos de urbanização; condiciona toda uma estrutura
de demanda de serviços que formarão, posteriormente, as atividades ligadas
ao turismo. Sendo assim promoverá mais migração pela lógica gerada pelo
consumismo, originando mais demanda de serviços e promovendo mais a
complexidade dos circuitos econômico-sociais.
Os mesmos que produzem as necessidades são os que legislam o controle
delas. O circuito que produz essa demanda por consumo é muito mais
complexo do que possa entendido de forma superficial. O modelo propício; o
modelo controla; o modelo forma. É “autocatalítico” no que tange em gerar
necessidades para que dele seja suprida. E depois de suprida, fomenta outras
atividades que farão parte de sistema econômico-social que gerará uma nova
demanda e um novo circuito.
O crescente deslocamento de uma massa populacional das grandes
cidades para a zona de costa, tendo em vista as características de zona
praiana com tabuleiro rico de recursos naturais, principalmente hídricos, tem
levado a crescente ocupação deste espaço, tanto para moradia como,
segunda residência, veraneio e uso de fins de semana prolongados,
promovendo a instalção de infraestrutura turísticas como restaurantes, bares,
pousadas e hoteis. Associa-se a essa situação, as condições naturais
vulneraveis, que agredidas, interferem negativamente nos processos
morfodinâmicos e bioecológicos da planície costeira, aumentam assim a
instabilidade (causada pela presença de fixos na área de costa) em ambiente
extremamente susceptível ao manejo mal elaborado. Portanto, o uso e
ocupação da zona costeira precisam ser pesquisados e avaliados, tendo em
visto as mudanças decorrentes das atividades econômicas nesse espaço em
30
detrimentos dos usos tradicionais postos pelo mercado prodominantemente
voltado para o turismo, remetendo para o aprofundamento teórico de gestão
de zona costeira.
2.2- Primeiras Ocupações: Costa do Paracuru.
Em estágios embrionários da ocupação do litoral cearense mostrou-se
divergente na perspectiva da instalação, mas na pauta do uso e ocupação suas
evidentes particularidades promoveram certas diferenciações no que tem haver
com adensamentos e migrações mais incisivas e influenciadoras. Iniciaram-se
no período das grandes navegações, apos a chegada de português-espanhóis
na costa brasileira.
Paracuru tem origem em uma vila de pescadores à beira mar. Existem
as seguintes definições, segundo informações do IBGE para o topônimo
Paracuru. Uma originária da língua Tupi: Paracuru significa Lagarto do Mar.
Outra versão: Mar de Cascalho. “Pará” (Mar) + “Curu” (Cascalho) ou ainda
“Pará” (Rio) + “Curu” (Cascalho), Rio de Cascalho.
De acordo com o historiador Rodolfo Spínola (2001) em 29 de janeiro de
1500, o navegador espanhol Vicente YáñezPinzón protagonizou a primeira
batalha em terras brasileiras, entre europeus e indígenas paracuruenses
(Tremembés), às margens da foz do rio Curu. Como saldo do combate,
pereceram vinte indígenas e oito espanhóis. Numa antiga e pequena
povoação a beira mar, habitado quase que exclusivamente por pescadores,
mas que um dia foi tragado pelas areias amareladas das dunas de Paracuru,
obrigando os moradores a construir nova vila em um local mais alto e seguro. E
foi assim que o Padre João Francisco Necupoceno da Rocha, nascido em
Parazinho, deu início a construção da igreja, edificando ao seu redor as
primeiras casas, sendo por esse motivo considerado o “Fundador de Paracuru”.
Logo em seguida, no ano de 1862, o referido padre doou todas as terras de
31
sua família para a igreja católica para conseguir a elevação da capela de
Nossa Senhora dos Remédios à categoria de Paróquia
Em 27 de novembro de 1868, a Lei de nº. 1.235, elevou a categoria de
vila à povoação do Parazinho com a denominação de Vila do Paracuru, e
território desmembrado de Trairi. Após a instalação do município já com a
denominação de Parazinho, a história passou a ser marcada por muitas idas e
vindas da sede municipal, travando brigas políticas ferrenhas com Trairi e
posteriormente com São Gonçalo do Amarante (ex-São Gonçalo e Anacetaba),
de acordo com o poder político dos coronéis, que mandavam e desmandavam
nos redutos.
Em 14 de agosto de 1874, de conformidade com a Lei 1.604, o
município de Paracuru foi suprimido, transferindo-se a paróquia e a sede
municipal para Trairi que doravante recebeu a denominação de Nossa Senhora
do Livramento.
O município volta a ser restaurado, de acordo com o Decreto nº. 73, de
1º de outubro de 1890, tendo a sede instalada dia 25 de outubro daquele ano.
Em 1921 perde sua autonomia sendo sua sede transferida para São Gonçalo.
Já em 30 de julho de 1926, a sede do município volta a Paracuru, sendo São
Gonçalo rebaixado à condição de povoado com a denominação de Anacebata.
Em setembro de 1828, a Lei nº. 2.589 leva a sede novamente para São
Gonçalo, mas em 20 de maio de 1931, Paracuru passou novamente a sede,
perdendo mais uma vez essa condição para São Gonçalo em 7 de agosto de
1935.
Finalmente a Lei de nº. 1.153, de 22 de novembro de 1951, deu a
Paracuru a emancipação política definitiva elevando o distrito à categoria de
município, e território desmembrado de São Gonçalo do Amarante, para não
mais perder esta condição. Mesmo assim Paracuru permaneceu ainda, sob o
domínio político de São Gonçalo do Amarante até a realização das eleições de
3 de outubro de 1954, sendo a sede municipal instalada a 25 de março de
1955, com a posse dos novos eleitos para gerir os destinos do município recém
criado.
32
2.2.1 - Localização.
A costa de Paracuru está localizada na Região Nordeste do Brasil, no
Estado do Ceará, a 87 km de Fortaleza (capital do Estado). Coordenadas:
3°25'18"S/39°1'52"W. Imagem da localização do município de Paracuru – CE
(Anexo 1).O território tem limite ao norte com o oceano atlântico e Paraipaba,
ao Sul com São Gonçalo do Amarante, ao Leste com São Gonçalo do
Amarante e Oceano Atlântico e a Oeste com Paraipaba e Oceano Atlântico,
estando na área de analise da GERCO, Setor III (Bases da GERCO – PNGC-
MMA)
Figura 02: Setores de trabalho do Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro (PNGC – GERCO). Fonte: SEMACE, 1990
33
O acesso ao município é feito pela BR-222/CE-341-CE-085/CE-135(Figura 3).
Figura 03: Acesso ao município de Paracaru-Ce.
Fonte: Google Maps, 2011.
2.3 – O PRODETUR e o redirecionamento da costa cearense.
A atividade turística é um fenômeno moderno que surgiu na Inglaterra no
século XIX, tendo como principal incentivo, o preenchimento do “tempo ocioso”
das classes com maior poder aquisitivo.
No século XX, o turismo de origem local e nacional expandiu para um
turismo de massa, articulado a vários outros setores econômicos. A atividade
ganha visibilidade internacional, tornando-se fundamental para o
desenvolvimento econômico dos países emergentes e pobres que desfrutam
de potencialidades paisagísticas para o incremento da atividade. Desta forma,
o turismo foi incluído na política estatal de desenvolvimento e planejamento
(Araújo e Pereira, 2011).
O turismo é, atualmente, uma das formas de lazer mais realizadas no
mundo. Dentro desse cenário de demandas sociais atividades voltadas para
34
dar fomento ao turismo que teve grande repercussão não somente no Ceará,
mas também em muitos países que se apropriariam desta modalidade
econômica. As divisas e setores da sociedade envolvidas neste circuito
crescem nos últimos anos. De acordo com a Organização Mundial do Turismo
(OMT) no ano de 2009, cerca de 880 milhões de turistas movimentaram, numa
escala global da atividade, um valor na razão de um trilhão de dólares.
Com finalidade de se apropriar da tendência das atividades voltadas
para o turismo, no final da década de 80, com intuito de desenvolver e dar
subsídio as atividades turísticas no estado, que, diga-se de passagem, foi um
dos grandes investimentos feitos no Estado, através do PRODETUR, levaram
uma intensificação dos processos que findaram novamente os movimentos
para índices inflacionários no que diz respeito a movimentos populacionais no
que tange ao turismo, e conseqüentemente à ocupação e especulação de
zonas de costa. Já que os modelos paisagísticos com maiores potencialidades
(no momento de implantação) turísticas, no Ceará, se encontram na zona
costeira cearense.
Os programas governamentais do Estado e da União foram direcionados
para a valorização de investimentos voltados para o planejamento turístico.
São eles: Programa de Desenvolvimento Prioritário do Litoral do Ceará
(PRODETURIS) iniciado no ano de 1989, PRODETUR-NE em 1993
(homologado pelo Congresso Nacional) e obras a partir de 1997 na fase I
(chamado de PRODETUR I); em 2003, temos a fase II (chamado de
PRODETUR II) e atualmente, o PRODETUR NACIONAL, que deveria ter sido
iniciado em 2006, porém, seus recursos ainda estão em análise.
O PRODETUR/NE, tanto na fase I como na fase II, configuram-se como
um dos principais programas de planejamento territorial estatal com maior
influencia do espaçoscosteiros no estado do Ceará. Os investimentos de 440
milhões de reais são direcionados a 18 municípios litorâneos: Acaraú,
Amontada, Aquiraz, Barroquinha, Camocim, Caucaia, Chaval, Cruz, Fortaleza,
Granja, Itapipoca, Itarema, Jijoca de Jericoacoara, Paracuru, Paraipaba, São
Gonçalo do Amarante, Trairi e Viçosa do Ceará.
35
2.3.1 - PRODETUR I
O PRODETUR I baseia-se nas diretrizes e no planejamento realizado
pelo Programa de Desenvolvimento Prioritário do Litoral do Ceará
(PRODETURIS) realizado em 1989, que visava o desenvolvimento econômico
cearense. Com recursos escassos no estado, o programa limitou-se a ser o
“plano turístico cearense”, porém, com a assinatura do PRODETUR/NE em
1992, as ações e diretrizes foram finalmente concretizadas.
A valoração de espaços litorâneos no estado do Ceará se mostrou mais
intensa incialmente na capital, Fortaleza. Com os investimentos, inicialmente
sendo feitos nas respectivas capitais, se possibilitou o escoamento desses
investimentos para as cidades que faziam parte da costa oeste do estado.
O programa teve como maior intento garantir investimentos na
infraestrutura, das cidades pertencentes ao plano.A região que é
economicamente desvalida tem todas as condições necessárias para a
atividade: mão-de-obra abundante, localidades sem grandes densidades e
“centros turísticos”, já que na percepção do plano, a costa leste já havia certa
visibilidade no contexto turístico numa escala maior.
De acordo com a SETUR, 2009, oestado recebeu cerca de 150 milhões
de dólares (cerca de 360 milhões de reais pelo cambio da época) para
investimentos em vários setores: transporte (construção, ampliação, duplicação
de estradas), saneamento básico (rede de água e esgoto), expansão do
Aeroporto e proteção/recuperação do patrimônio natural. No mapa a seguir,
temos a distribuição destes investimentos.
36
Figura 04: Investimentos PRODETUR I, Araújo, E.F. 2010.
Araújo (2011) faz menção dos dados que promoveram o plano de
incentivo ao turismo e destaca que os investimentos prioritários do PRODETUR
I eram: saneamento básico, transportes e a ampliação do Aeroporto Pinto
Martins, totalizando R$ 300 milhões de reais (84% do total do Ceará). Fortaleza
recebeu R$ 183 milhões (53%), seguidos de Caucaia e Itapipoca (R$ 39,4 e
43,8), S. Gonçalo do Amarante (R$ 25,4 milhões). Trairi, Paracuru e Paraipaba
que receberam quantias abaixo de R$ 16,6 milhões de reais. Com os recursos
do PRODETUR I, foi feitas várias obras de construção e expansão de rodovias
que possibilitaram um melhor acesso a municípios amparados pelo programa.
A própria CE 085 (Estruturante) foi concebida pelos investimentos do
PRODETUR I que foram calculados num razão de 60 milhões de reais.
Numa visão maior, o PRODETUR I foi o ponto de partida que promoveu
a visibilidade do nordeste nacional, inserindo também, a região no circuito
produtivo do turismo de massa, que consequentemente mudará as
configurações de territórios costeiros, impulsionando a ocupação e a dinâmica
tradicional nas sociedades a qual os municípios têm interação.
37
2.3.2 – PRODETUR II e suas implicações.
O PRODETUR II e o PRODETUR NACIONAL são levados a vigência
nos anos 2000 para a continuação de investimentos da costa nordestina;
promovendo fluxos turísticos e mais divisas para a receita. O PRODETUR II
ampliaria seus investimentos e seus componentes, aumentando de sete (7)
para dezoito (18) os municípios contemplados, todos pertencentes à costa
oeste.
O PRODETUR II inicia-se, em 2000, porém, algumas de suas obras
ainda estão em andamento. Foram contemplados os municípios: Caucaia,
Fortaleza, Itapipoca, Paracuru, Paraipaba, S. Gonçalo do Amarante, Trairi,
Acaraú, Amontada, Barroquinha, Camocim, Chaval, Cruz, Granja, Itarema,
Jijoca de Jericoacora, Viçosa do Ceará e Aquiraz (costa leste).
Os investimentos foram de, aproximadamente, 152 milhões de reais
vindos da parceria entre Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e
governo federal.
Com a inserção de mais municípios, na fase dois (2) do programa, não
houve grandes mudanças no que tange a direcionamento de investimentos,
pois os demais municípios inseridos deveriam passar pelas mesmas melhorias
que os municípios participantes da fase um (1) tiveram, como: Na infra-
estrutura, a fim de melhorar a capacidade e qualidade no turismo local; e
possibilitar o acesso pela construção e expansão de vias.
38
Figura 05: Investimentos PRODETUR II, Araújo, E.F. 2010.
Na figura acima percebemos uma intensificação dos investimentos nos
municípios inseridos na 2ª fase do programa e uma continuação desses
investimentos na cidade de Fortaleza, que será o grande captador e escoador
da demanda turística no estado do Ceará.
Grande parte desses incentivos na capital está justificada pela
ampliação do aeroporto Pinto Martins que passa a ter uma ampliação
considerada, indo de 800.000 passageiros/ano para 2.200.000
passageiros/ano.
Os demais municípios que receberam grande parte da parcela dos
investimentos resultam nos mesmos investimentos feitos na 1ª fase do
programa de incentivo ao turismo.
39
Tabela 01: Diferenciação e Intercessão das duas fases do PRODETUR.
Fonte: BNB, 2007 apud Araújo, E.F, 2010.
Vemos no quadro acima, que houve uma mera continuação nos
investimentos em infraestrutura dos municípios com mudanças em conceitos
que não mudariam os objetivos que eram de expandir e aperfeiçoar áreas para
o recebimento das atividades turísticas na costa cearense.
Nas linhas quatro, é que se deve fazer perceber que a “ações de
problemas ambientais” são mudadas para “promover o aumento das receitas
turísticas”. Vemos que na justificativa de aumentar o poder aquisitivo da
população, em tese, se divorcia da relação com processos naturais que
consequentemente redundaram em impactos ambientais.
40
2.4 – Paracuru e sua relação com o Turismo.
De acordo com Araújo (2010), alguns municípios que participaram das
duas fases do programa de incentivo ao turismo, como Paracuru, não tiveram
seus objetivos alcançados de forma mais plena. Pode – se constatar pelos
próprios números que encontramos quando vemos Paracuru. Estão tal quais
municípios mais centrais (serranos e sertanejos), que não receberam
incentivos de investimentos do PRODETUR.
Figura 06: Turistas por município no estado do Ceará, Araújo, E.F, 2010.
Esses índices igualados se devem pela importância que a atividade
turística tem em conceito local, não somente pela aproximação do município
em questão com capital, ou pela falta de investimentos nas gestões da mais
diferenciadas esferas, contudo pelo cenário de demanda que o próprio turista
gera a moda em um determinado momento, tendo em vista que a indicação é
fator não-mensurável extremamente importante no estudo de municípios
procurados.
41
Tabela 02: Municípios mais procurados no estado do Ceará. * = Inseridos no
PRODETUR. Fonte: SETUR, 2009.
Tabela 03: População residente no município de Paracuru entre anos de 1970 e 2000.
Fonte: IBGE
Entre 1991 e 2000, numero de habitantes em Paracuru cresceu perto de
24%, estabilizando a deflação populacional da década anterior. Isso dado pela
melhor qualidade de vida nas grandes e influentes cidades turísticas da zona
costeira cearense que findou em elevadas taxas populacionais de maneira
mais rápida, observando que os planos de crescimento e gestão urbana não
deram conta da volubilidade dos índices apresentados.
População Residente no município de Paracuru
1970 1980 1991 1996 2000
Total 24.522 28.610 20.942 23.018 27.541
42
3. METODOS E PROCEDIMENTOS OPERACIONAIS.
Dentro da perspectiva de metodologia foi feito, a priori, um apanhado
documental para dar subsídios iniciais ao planejar e executar o arcabouço do
texto. Para Vergara (2004) a pesquisa documental é aquela que “busca
informações em documentos conservados no interior de órgãos públicos”
(VERGARA, 2004, p. 49). Para este estudo, foi levando em conta dados na
leitura de documentos normativos e técnicos relativos aos instrumentos de
Gerenciamento Costeiro e à gestão ambiental e urbana.
Além da realização de uma pesquisa documental, foi de suma importância
fazer uso, também, de fundamentação teórica em livros e publicações já
existentes na área por meio de uma pesquisa bibliográfica, o que deu subsidio
para a discussão da temática tratada neste trabalho. Um conhecimento de
gestão e legislação, do ponto de vista de constituição (numa estância de poder
mais elevada), bem como da legislação do ponto de vista municipal (leitura e
analise dos PDDU’s de vários municípios-casos), possibilitou uma
compreensão da conjuntura que balizam os processos e atores sociais que
elencam as zonas costeiras.
Assim, na pesquisa foi utilizado não só o conhecimento estruturado em
estudos já feitos pela academia, um conhecimento lógico e formal dos
processos, mas também se levou em conta, a percepção, um conhecimento
“experiencial”. Para Lüdke e André (1986), este caráter subjetivo é importante
no processo de análise dos dados, porque enriquece a pesquisa qualitativa,
visto que, na observação participante, o principal instrumento de pesquisa, é o
investigador, num contacto direto, freqüente e prolongado com os atores
sociais e os seus contextos.
Para analisar as taxas de ocupação, bem como chegar à tipificação e
classificação das áreas costeiras no município de Paracuru, foi utilizado o SIG
(Sistemas de Informação Geográfica). Para Camara e Casanova (1996):
43
“Sistemas de Informação Geográfica são sistemas
automatizados usados para armazenar, analisar e manipular
dados geográficos, ou seja, dados que representam objetos e
fenômenos em que a localização geográca é uma
característica inerente à informação e indispensável para
analisá-la.(Camara e Casanova, p.21, 1996)
Para fins de banco de dados das imagens, foi usado o software: Google Earth,
que é um programa livre que dispunha de imagens que foram utilizadas na
identificação e mensuração das áreas ocupadas. Para medir as taxas de
ocupação nas imagens, foi feito o uso do AutoCad, que possibilitou minimizar
as margens de erro dadas pela escala das imagens, bem como se utilizar no
calculo das áreas já ocupadas. A estimativa da taxa de ocupação da Orla
Marítima de Paracuru foi baseada no cálculo do percentual da área ocupada
nas proximidades de cada ponto.Onde se delimitou uma área de 200 m da
praia em direção ao continente para calcular o percentual de ocupação em
cada ponto.
“Os produtos cartográficos, que espacializam as unidades
de paisagem, podem servir de respaldo documental para os
instrumentos jurídicos de intervenção política no território de
um município, como os Planos Diretores, a fim estabelecer o
Zoneamento do uso do solo, das atividades industriais, das
atividades agrícolas, entre outras.” (Francisco, p. 39-62, 2011)
No que tange a analise das imagens, o método utilizado, partiu do raciocínio
comparativo temporal, que se define como pela comparação dos dados obtidos
em anos (períodos) diferentes, a fim de constatar ou refutar questões sobre a
problemática levantada, que por fim, possibilitou o estudo e na aquisição de
dados que foram pertinentes na obtenção dos resultados.
44
Posteriormente foram realizadas visitas a campo, onde foram
identificadas e executadas trilhas para o reconhecimento da área e
diagnósticos da atual situação de uso e ocupação da zona costeira. Nesta
etapa do in lócus, utilizamos a técnica da observação direta, que consiste na
observação, descrição, análise e interpretação de imagens, análise empírica,
além de entrevistas informais com moradores locais.
Os dados coletados serão tratados e analisados utilizando-se das
técnicas de análise ambiental integrada, conforme metodologia sugerida pela
UNESCO (1997) e por Vasconcelos (2005).
Para o Metological Guide to Integrated Coastal Zone Management,
publicado pela UNESCO (1997) é viável e recomenda que seus procedimentos
sejam concretizados a fim de levar a um ordenamento de territórios que tem
zona de costa como unidades exemplares, não obstante em municípios que
levam um considerado adensamento populacional. São seis os
encaminhamentos adotados dentro de uma analise integrada (UNESCO), que
é nosso proposição mediante o olhar cientifico aqui estabelecido.
As unidades geoambientais identificadas constituem os elementos
fundamentais do parcelamento espacial. Elas são estabelecidas de acordo com
um sistema integrado pelo conjunto de elementos mutuamente relacionados,
onde são contemplados os componentes físicos e biológicos, além das
condições de uso e ocupação.
Os trabalhos iniciais, na perspectiva metodológica é identificar a
problemática na área estudada. Tendo em vista que o litoral é um ecossistema
composto e complexo por envolver elementos físicos, biológicos e antrópicos.
Deve – se assim delimitar a área de estudo, que no caso é o município de
Paracuru (área sede do município).
Logo após ter identificado o problemas recorrentes na área delimitada,
elencar as unidades geográficas. Para Vasconcelos (2005) cita que as
definições das unidades coerentes de gestão e da escala de atuação devem
45
ser pertinentes com a problemática, principalmente em termos de inserir os
grupos de atores interessados na formulação de soluções viáveis aos
problemas existentes.
Seguindo, é de extrema importância que a comunidade local esteja
envolvida, parcialmente, na qualificação da hierarquização em detrimento de
uma classificação tipológica a fim de definir critérios e parâmetros de manejo
no espaço costeiro que são bem particulares dependendo do critério adotado.
Uma vez sendo caracterizada a qualificação, os dados levam a formação
de indicadores de pressão sobre as unidades geoambientais.
Vasconcelos (2005) complementa que esta fase é concretizada através
da transformação dos critérios e parâmetros em indicadores da avaliação do
estado do lugar.
Posteriormente é formada uma base de dados através do sistema de
informações (SI) que poderão fomentar o gestor ou trabalhos futuros de
responsabilidade acadêmica. Por fim, os encaminhamentos são dados que
darão subsidio à planos de gestão (PDDU).
“O uso de produtos de sensoriamento remoto ajuda na
caracterização dos sistemas deposicionais, possibilitando não
a distinção entre eles, mas também o reconhecimento de
variações dentro de um mesmo sistema, como resposta da sua
dinâmica de sedimentação e erosão.”( Florenzano ,2008,p.280)
Para Vasconcelos (2005), a zona costeira deve ser gerida a partir de
objetivos e de prioridades definidas num quadro territorial apropriado, ou seja,
gerenciando por unidade coerente de gestão. As peculiaridades dos municípios
costeiros devem ser identificadas para que haja eficácia nos estudos,
46
promovendo a gestão do território concomitantemente os vários critérios que
devem ser obedecidos na gestão que devem também ser amparados pela lei.
3.1 - Procedimentos Cartográficos e SIG’s.
Partindo do viés da gestão, os artifícios de estudo propostos se
enquadram com eficiência, quando se trata da analise do uso e ocupação do
solo em áreas costeiras por se tratar do intento geral do trabalho que é levantar
a discussão, isso no campo jurídico como administrativo do uso do solo no que
tem a ver com o tônus das questões envolvendo problemáticas ambientais em
zonas costeiras no estado do Ceará, como no Brasil em geral.
“[...] Segundo os mesmos parâmetros gerais do
mesozoneamento, os estados, de preferência em parceria com
municípios litorâneos, desenvolveriam planos de
microzoneamento ambiental, com vistas a subsidiar os Planos
Diretores Municipais. O uso das escalas de detalhe nesse caso
é imperativo (1:10.000 e outras), bem como uma metodologia
especifica quando tratar-se de áreas de intensa urbanização ou
rápido processo de urbanização[...]” (Moraes, p. 194, 2007).
Para dar fundamentos e seguimentos aos procedimentos aqui adotados
para análise da ocupação da orla do município de Paracuru, iremos fazer uso
da tipologia das praias remetida por Moraes (2007), bem como se utilizar da
proposta de ordem institucional, abordada por Moraes (2007), que faz menção
dos parâmetros gerais de microzoneamento, que faz uso da escala de 1:10.000
por se tratar de um município litorâneo com 17km (quilômetros) de extensão do
que tange à orla. O uso do tamanho da escala proposta, possibilita a
percepção de detalhes pertinentes para obter o zoneamento e dar
contribuições futuras às gestões no que se relaciona às impressões de uso e
ocupação do solo no município de Paracuru, bem como para municípios que
tem características similares.
47
Tipologia Classificação Definição
Tipo 1 Praia urbana deteriorada
Terrenos da beira – mar ocupados,
alto adensamento e construções e /ou
população, paisagemtotalmente
antropizada, altos níveis de
contaminação.
Tipo 2 Praia urbana turística adensada
Terrenos da beira-mar ocupados por
construções verticalizadas, alto
adensamento de construções e
população, paisagem totalmente
antropizada; altos níveis de
contaminação.
Tipo 3 Praia urbana turística
Terrenos da beira – mar ocupados,
médio adensamento de população,
paisagem totalmente antropizada,
possível contaminação.
Tipo 4 Praia suburbana consolidada
Terrenos da beira – mar ocupados,
médio adensamento de população,
antigas áreas de segunda residência
tornadas residenciais, possível
contaminação.
Tipo 5
Praia suburbana em processo de
ocupação
Terrenos da beira – mar ocupados,
médio adensamento de população,
antigas áreas de segunda residência
tornadas residenciais, possível
contaminação..
Tipo 6
Praia suburbana com processo de
ocupação pouco adensado
Terrenos da beira – mar pouco
ocupados, baixo adensamento de
população e edificações, presença
significativa de vegetação, baixa
contaminação.
Tipo 7 Praia de Balneário consolidada
Terrenos da beira – mar totalmente
ocupados, população flutuante alta,
predominância de hotéis e segundas
residências, paisagemantropizada,
possível contaminação.
Tipo 8
Praia de Balneário em
consolidação
Terrenos da beira – mar não totalmente
ocupados, população fixa pequena e
sazonalidade na ocupação, predominância
48
Tabela 04: Tipologia das praias na perspectiva da gestão. (Moraes, 2007, p.215)
de segundas residências,presença de
poucos equipamentos turísticos,
paisagem ainda não totalmente
antropizada, contaminação baixa, com
presença de vegetação.
Tipo 9 Praia Rural
Terrenos da beira – mar ainda não
ocupados, população pequena ou semi –
isolada , presença de atividade agrícola ,
presença de poucos equipamentos
turísticos, paisagem pouco antropizada,
contaminação baixa com presença de
vegetação.
Tipo 10
Praia ocupada por população
tradicional
Terrenos da beira – mar pouco ocupados,
com habitações rústicas população
pequena ou isolada,presença de atividade
de subsistência, paisagem pouco
antropizada, contaminação baixa.
Tipo 11 Praia isolada ou semi-isolada
Terrenos da beira – mar não ocupados,
população residente inexistente,
paisagem com alto grau de originalidade ,
contaminação inexistente .
Tipo 12 Praia de unidade de conservação
Terrenos da beira – mar não ocupados e
de ocupação seletiva e regulamentada ,
população fixa muito pequena ou
inexistente, paisagem com alto grau de
originalidade , contaminação inexistente .
Tipo 13 Praia em área de projeto especial.
Classe virtual enquadrável em todas as
outras, podendo se manifestar em
qualquer situação, existência do plano vai
qualificá-la, área de objeto de
licenciamento.
49
Figura 07: Imagem do grupo 01 referente a 2004. Fonte: Google Earth (editada para
analise do autor), 2013.
Figura 08: Imagem do grupo 01 referente a 2011. Fonte: Google Earth (editada para
analise do autor), 2013.
50
No primeiro grupo de imagens, nos primeiros seiscentos (600) metros do
conjunto de imagens analisadas, localizadas no extremo oeste da costa do
município de Paracuru, se mostra um decréscimo na razão de 2,3% ao ano que
se inicia o levantamento comparativo, no que tange a ao uso do solo, nos oito
anos comparados. Esse decréscimo se mostra evidente, nas imagens, pela
remoção de uma residência na margem do rio Curu. Dentro do critério de
classificação de uso e ocupação de zonas costeiras, dada por Moraes (2007),
temos, no primeiro grupo, praia do tipo (12), praia de unidade de conservação.
Figura 09: Imagem do grupo 02 referente a 2004. Fonte: Google Earth (editada para
analise do autor), 2013.
51
Figura 10: Imagem grupo 02 referente a 2011. Fonte: Google Earth (editada para
analise do autor), 2013.
No segundo grupo de imagens, temos um decréscimo na taxa de
ocupação, comparando os dois(2) anos bases de estudo, de 28,7%. Dentro da
tipologia adotada, temos praia do tipo 6, praia suburbana com processo de
ocupação pouco adensado.
Nos dois primeiros grupos estudados, se percebe que o adensamento
urbano tem suas taxas diminutas, pois o que se percebe na conjuntura dos
planos expansão urbana, que boa parte do crescimento do município se dá no
setor central, caracterizando os 2 grupos , a priori, como de baixa ocupação,
sem maiores danos a conservação original da unidade ambiental.
52
Figura 11: Imagem do grupo 03 referente a 2004. Fonte: Google Earth (editada para
analise do autor), 2013.
Figura 12: Imagem do grupo 03 referente a 2011. Fonte: Google Earth (editada para
analise do autor), 2013.
53
Na comparação deste grupo, a orla do município, já apresenta um
adensamento maior. Até pelo fato de se aproximar do centro do município e as
feição da orla estar com aspectos mais urbanizados. Se falarmos de taxa de
ocupação, diferentemente dos outros 2 grupos, há um acréscimo, comparando
os 2 anos base, na razão de 5,5% em relação ao ano de 2004.
Dentro da tipologia de caracterização das praias, temos neste grupo: (5),
praia suburbana em processo de ocupação. Nesta situação, podemos notar, no
canto esquerdo superior da imagem de 2011, um muro de contenção com a
finalidade de impedir a abrasão marinha. Isto evidencia erosão, se temos a
zona de estirancio invadindo o berma praial. Do ponto de vista de legislação,
alguns fixos não estão em conformidade com os 33 metros do terreno de
marinha. Com base na média de marés altas e baixas foi traçada uma linha
imaginária que corta a costa brasileira. A partir dessa linha, no sentido do litoral
brasileiro, todo terreno que estiver a 33 metros da preamar média será
considerado da União.
Figura 13: Imagem do grupo 04referente a 2004. Fonte: Google Earth (editada para
analise do autor), 2013.
54
Figura 14: Imagem do grupo 04 referente a 2011. Fonte: Google Earth (editada para
analise do autor), 2013.
No grupo 4, o adensamento no que tem relação à ocupação, ainda
segue a tendência de ocupação visto no grupo anterior. Nesta situação, se ver,
ao comparar as imagens base, um ajuste às bases de ocupação dadas pela
legislação dos terrenos de marinha. Isso se percebe ao ver a aproximação dos
fixos no ano de 2004 e um retrocesso dessas medidas no ano de 2011.
Mais uma vez vemos um decréscimo nas taxas de ocupação. Calculado
na razão de 1,9% em relação ao ano de 2004.
Na imagem, percebemos que a urbanização já se estabelece de uma
maneira mais contundente, contudo ainda se preserva uma vegetação pós-
litorânea. Com as características, temos a praia do tipo (8)praia de Balneário
em consolidação.
55
Figura 15: Imagem do grupo 05referente a 2004. Fonte: Google Earth (editada para
analise do autor), 2013.
Figura 16: Imagem do grupo 05 referente a 2011. Fonte: Google Earth (editada para
analise do autor), 2013.
56
Com mudanças um pouco mais expressivas na ocupação, com um
acréscimo na taxa de ocupação da área de 16.1%. Pela comparação das
imagens, ainda persiste as ocupações em terrenos de marinha. A área praia
está caracterizada pelo tipo (3) praia urbana turística. É válido ressaltar, na
imagem, o avanço da linha de costa, no canto superior direito. Isso dado pela
linha de preamar, que se compararmos as imagens é notória a diferenciação.
Figura 17: Imagem do grupo 06 referente a 2004.Fonte: Google Earth (editada para
analise do autor), 2013.
57
Figura 18: Imagem do grupo 06 referente a 2011. Fonte: Google Earth (editada para
analise do autor), 2013.
No grupo 6 o acréscimo na ocupação já passa a ser de 4,6%. Com
características já de urbanização consolidada, a área, próxima ao centro
comercial do município, passa por alterações a fim de remeter ao turista, um
grau de desenvolvimento por apresentar equipamentos turísticos que
fomentam o turismo propriamente dito. Pelas características, a tipologia da
área é denominada pelo tipo (1) praia urbana deteriorada. Nesse grupo, se
percebe com muito mais veemência o alto grau de erosão em que a orla do
município vem sido acometida. Por mais que os processos erosivos sejam de
ordem natural, as ocupações irregulares, historia de formação e configuração
do município, contribui certamente para a falta de manutenção da praia, como
visto in lócus e pelo estudo das imagens. Pela comparação, na área de praia,
o berma já praticamente já não é mais visível, evidenciando a progradação
marinha para áreas ocupadas, quer seja pelo turismo ou pelos equipamentos
que subsidiam o mesmo.
58
Figura 19: Imagem do grupo 07 referente a 2004. Fonte: Google Earth (editada para
analise do autor), 2013.
Figura 20: Imagem do grupo 07 referente a 2011. Fonte: Google Earth (editada para
analise do autor), 2013.
59
Ainda na área do centro do município, o grupo 7 ainda evidencia um
crescimento nas taxa de ocupação da zona costeira, em torno de 3% na
comparação com 2004. Na imagem de 2004, deste grupo, a zona de estirancio
ainda era ponto de locação de barracas de praia, contudo já vulneráveis a
abrasão marinha. Sendo, a área, menos adensada que o a área estudada
anteriormente, a tipificação, aqui adotada para esse grupo é do tipo (3) praia
urbana turística.
60
Figura 21: Imagem do grupo 08 referente a 2004. Fonte: Google Earth (editada para
analise do autor), 2013.
Figura 22: Imagem do grupo 08 referente a 2011. Fonte: Google Earth (editada para
analise do autor), 2013.
61
Já neste grupo, ainda se dá o aumento de 3% na taxa de ocupação, com
a o adensamento já mais modesto do ponto de vista que as áreas mensuradas
estão em menores valores. Percebe-se nestas imagens que há uma
conservação da praia. Não dizendo que ainda não passe pelos processos de
erosão, entretanto parece que os balanços sedimetológicos ainda estão
estáveis ou em processo de desestabilização. Por se tratar da área leste do
município, onde vamos encontrar a APA das dunas do Paracuru, o que foi visto
in lócus é que a praia é mais conservada, as dunas são, também, unidades
controladoras de deriva litorânea, ou seja, ajudam na manutenção e equilíbrio
dos processos erosivos. No que tange a tipologia, ainda do tipo (3), praia
urbana turística.
Figura 23: Imagem do grupo 09 referente a 2004.Fonte: Google Earth (editada para
analise do autor), 2013.
62
Figura 24: Imagem do grupo 09 referente a 2011. Fonte: Google Earth (editada para
analise do autor), 2013.
Com adensamento ainda menor, comparando outros grupos, temos no
grupo 9, o inicio da APA da dunas do Paracuru. No contra-fluxo da parte central
da sede do município, com decréscimo de 22,3% na taxa de ocupação. Este
decréscimo incentivado pelo movimento natural (eólico) das dunas, que pelas
imagens, tem o sentido latitudinal balizado na direção E – SE.
Sendo assim, os fixos alocados devem ser abandonados ou retirados
para que não haja incidentes ou prejuízos maiores. A área é classificada do tipo
(12) praia de unidade de conservação.
63
Figura 25: Imagem do grupo 10 referentea2004. Fonte: Google Earth (editada para
analise do autor), 2013.
Figura 26: Imagem do grupo 10 referente a 2011. Fonte: Google Earth (editada para
analise do autor), 2013.
Ao descrever o grupo 10 de imagens, entre os anos de 2004 e 2011, no
deparamos a redução à zero das taxas de ocupação. Ainda estamos na área
64
do sentido do cordão de dunas (APA das Dunas do Parcuru), que com o passar
do tempo invadiu a construção, em pequeno numero, que estavam alocadas
nos anos de 2004.
Dentro da classificação tipológica podemos, e houver semelhante a esse
processo, podemos listá-la como tipo (11) praia isolada ou semi-isolada.
Figura 27: Imagem do grupo 11 referente a 2004. Fonte: Google Earth (editada para
analise do autor), 2013.
65
Figura 28: Imagem do grupo 11 referente a 2011. Fonte: Google Earth (editada para
analise do autor), 2013.
Nestas imagens, quase a extremo leste da costa do município de
Paracuru, vemos as instalações da Petrobrás, que grosso modo, vemos um
acréscimo na ocupação da zona costeira, parecendo devidamente legislado e
em conformidade com os processos naturais. Com um acréscimo,
comparando os dois anos bases de analise, de 19,4%. Na segunda seção de
imagens, de instalações da Petrobrás, não vemos tantas alterações
significativas no que tange a ocupação. O que se percebe são vias, que dão
acesso ao empreendimento, que estão fixando as dunas e promovendo a
especulação das mesmas. Até por se tratar de um ponto da zona costeira do
município, que ainda tem os traços de originalidade natural e ter seus
processos naturais, ainda, bem equilibrados. Tanto o grupo 11, como o grupo
12 estão classificados como tipo (12) praia em área de projeto especial. Tanto
por estarem em área de influencia de dunas, como possuir instalações de
interesse econômico-desenvolvimentista para todas as esferas de gestão.
66
Figura 29: Imagem do grupo 12 referente a 2004. Fonte: Google Earth (editada para
analise do autor), 2013.
Figura 30: Imagem do grupo 12 referente 2011. Fonte: Google Earth (editada para
analise do autor), 2013.
67
Figura 31: Imagem do grupo 13 referente 2004. Fonte: Google Earth (editada para
analise do autor), 2013.
Figura 32: Imagem do grupo 13 referente 2011. Fonte: Google Earth (editada para
analise do autor), 2013.
68
O ultimo grupo de imagem, no extremo leste da zona costeira do
município, temos um decréscimo na taxa de ocupação de 49,2%, tendo em
vista que essa diminuição está por conta das residências nativas, que devido à
novas demandas socioeconômicas, dadas pelo município , nos 7 anos de
comparação, afirma-se a mudança de áreas de residências para áreas mais
centrais do município. Com reminiscência de algumas instalações que já estão
sofrendo influencia do avanço de marés, como visto da imagem do grupo 13
(2011). A classificação está o tipo (11) praia isolada ou semi-isolada.
Grupo Tipo Taxa de ocupação
1 (12), praia de unidade de
conservação -2,3%
2 (12), praia de unidade de
conservação -28,7%
3 (5), praia suburbana em
processo de ocupação +5,5%
4
(8),praia de Balneário em
consolidação.
-1,9%
5 (3), praia urbana turística. +16,1%
6 (1) praia urbana
deteriorada +4,6%
7 (3) praia urbana turística
+3%
8 (3), praia urbana turística +3%
9 (12) praia de unidade de
conservação. -22,3%
10 (11) praia isolada ou semi-
isolada 0,0%
11 (12) praia em área de
projeto especial --
12 (12) praia em área de
projeto especial +19,4%
Tabela 05: Classificação das praias por nível de ocupação em Paracuru (2013)
adaptado de Moraes et al (2007).
69
O que se compreende, ao analisar os dados obtidos, que não existe um
grau substancial de heterogeneidade nas características da orla do município
de Paracuru. O que é facilmente percebido são os acréscimos nas ocupações
nas áreas centrais, que compreende dos grupos de 5 ao grupo 8, definindo a
orla nos processos intensos de ocupação da zona de costa, como um todo.
O produto do estudo e levantamento das formas de uso e ocupação no
município de Paracuru, segue no Anexo 2.
3.1.1- Procedimentos de analise: Variáveis das Marés.
Nas imagens estudadas estão datadas, e para fins de constatação dos
níveis de maré das respectivas datas, foi feito menção destes dados para
verificação. De modo a entender se há na realidade um avanço natural das
linhas de costa, ou se está realmente sofrendo interferência antropica,que
eleva os níveis de erosão da orla.
Figura 33: Tabua de Maré do dia 09/12/2011– Porto do Pecém.Fonte:
http://www.mar.mil.br/dhn/chm/tabuas/30337Dez2011.htm (Acessado em 23:39 de
23/04/13).
70
Pelo constatado nas imagens de 2011, a tabua de maré (BNDO), as
alturas máximas e mínimas estão respectivamente, 2.6 e 2.3 de altura, como
demonstrado na tabela 01. Mostra que a influencia de formação de mares
estava para lua crescente.
Neste momento, a lua e sol estão em ângulo reto (90°). Nesta situação a
lua e o sol estão estado de oposição. Não se pode falar de anulação da forças,
pois Lua está mais próxima da Terra. Sendo assim, as amplitudes estão
regulares como demonstrado na tabua de maré.
A Figura abaixo mostra as formações de maré e a influencia/confluência
dos astros na tipologia de marés e suas atividades.
Figura 34: Os quatro tipos de marés. Fonte: http://www.aprh.pt/rgci/glossario/mare.html. Acessado: 23:54 de 23/04/2013.
Na imagem da tabulação dos dados de maré referente ao ano de 2011,
se evidencia que o estado de maré era de baixa amplitude para o dia
09/12/2011.
71
Na tabua de maré, referente às imagens de 2004, notou-se a formação
de maré de maior proporção que nos remete uma maior probabilidade de
processos erosivos no ponto em estudo.
Figura 35: Tabua de Maré do dia 08/09/2004 – Porto do Pecém. Fonte: Mar (Brasil).
Comparando as duas tabuas de marés, para os respectivos dias de
estudo de ocupação, bem como na verificação da situação das linhas de costa
do município de Paracuru, vemos que a linha de costa, percebida pelas
imagens de satélite, estão mais avançadas nos anos de 2011, tendo em vista
que os maiores índices de maré estão no ano de 2004, sendo assim,
corroborando com a tese de erosão em níveis mais elevados para o ano de
2011 (ano que se constataram acréscimos na ocupação da orla em áreas de
maior influencia urbana).
72
4. GESTÃO E ORDENAMENTO TERRITORIAL EM ZONAS COSTEIRAS.
A dinâmica mundial modifica-se ao passo das necessidades e
motivações levantadas pela sociedade. Avançar nos estudos sobre a gestão do
território, desvendar seus novos processos de formação e configuração, ou até
iniciar uma avaliação mais profunda sobre o tema, é de essencial providencia
para acompanharmos toda a dinâmica envolvida e sobre tudo, detectar as
ações sociais e qual sua participação ao longo de todo histórico de implicação
cientifica na abordagem das ciências que subsidiam a analise do território.
Yves Lacoste, numa obra célebre dos anos 70, colocava de uma forma
clara a sua reflexão: “a geografia serve para fazer a guerra”, tal era o título de
sua obra.
Ruía assim o ponto de vista das ciências do território, da arquitetura e do
planejamento territorial como ciências neutras ou puramente técnicas que não
tendem a imparcialidade do seu manipulador.
Percebemos na literatura dada por Lacoste, certa inquietação da
academia, que se mostra (ou deve se mostrar) contrária às idéias que
fomentam a percepção de grupos especuladores, condicionadores, formadores
do espaço quer seja ele urbano ou não. Essa preocupação na gestão do
território não é apenas pelo ponto de vista da academia ser contrária as idéias
dos condutores de politicas publicas, mas apontar as limitações e
suscetibilidades de cada espaço, principalmente de áreas que compreendem a
zonas costeiras, por sua vez concebendo bases para um pensamento de valor
comum e de interesse mutuo entre os respectivos gestores e os atores sociais
que compunha o espaço a ser pensado.
Dentro da própria definição, o conceito de território perpassa pela posse,
poder, apropriação. Toda e qualquer sociedade, seja ela humana ou não, tende
a delimitar suas posses a fim de limitar as ações de seres estranhos à
sociedade a que tal espaço pertence.
73
Para ciência biológica, o território é definido como área de vivência de
uma espécie animal. Já na Psicologia, são ações de espécies ou indivíduos
para a defesa de um espaço. O conceito de território pode parecer subjetivo,
dependendo de qual método é utilizado para estudá-lo, mas é certo que passa
pela ideia de apropriação de uma parcela geográfica por um indivíduo ou uma
coletividade com um fim em comum. Um dos primeiros estudiosos do
conceito de território foi o geógrafo e etnólogo Friedrich Ratzel que conceituou
o território como o espaço sobre o qual se exerce a soberania do Estado.
Para Diniz (2009), Ratzel sustenta que o Estado surge quando
uma sociedade se organiza para defender seu território, sendo essa sua função
primordial. Nesse sentido, ele pode ser tanto o Estado nacional
contemporâneo (cuja origem se dá no século XVIII) quantas formas
de organização política.
Na geografia tradicional, portanto, o conceito de território é usado para
estudar as relações entre espaço e poder desenvolvidos pelos Estados,
especialmente os Estados nacionais que atualmente são os reguladores e
maiores interventores do espaço quando percebemos assim suas delimitações.
Segundo Haesbaert (2009), os estudos atuais utilizam vários conceitos
de território, os quais se diferenciam por enfatizar mais uma dimensão ou outra
das relações entre espaço e poder. Alguns enfatizam principalmente a
dimensão material dessas relações (base em infra-estrutura, planejamento
urbano, etc.), enquanto outros podem enfatizar mais a dimensão simbólica (os
locais sagrados de Jerusalém, por exemplo). Por fim, vale ressaltar que
Haesbaert, não há e nem deve haver uma distinção rígida entre os conceitos
de espaço geográfico e de território.
Os vários olhares e percepções atribuídas aos conceitos de território é
que desperta seu estudo e nos leva a pensá-lo do ponto de vista do
planejamento. Por passar pela definição de posse como um objeto, uma
matéria que pode ou não, dependendo de sua característica levar à denominá-
lo “indestituível”, ou até mesmo material, sendo mercado que dá margem às
74
especulações, implicando em transformações que influenciam e são
influenciadoras do modo devida do próprio usuário e “proprietários” do espaço.
Pensar no território como espaço que necessita elencar seus reais
interventores e seus reais balizadores para que todas as ações que
fundamentam o planejamento e leva excelência ao modo de vida de quem está
sob tal plano. Sabemos que chegar a um denominador comum acerca de
padrão de planejamento é algo utópico e inviável frente à tantas
especificidades, variáveis sociais e sobretudo, a valoração do espaço no ponto
de vista dos gestores, contudo organizar o pensamento e os métodos que
trabalham o planejamento do território é muito oportuno, pois ajudará em
analises futuras sobre conceitos de organização e formação do espaço,
sobretudo os nas zonas costeiras que , nos últimos anos, com as mudanças
ocorridas nas relações comerciais, com predominância do serviços que estão
por traz da atividade maior, implicando na necessidade de mais mão de obra
associados a perspectivas de melhores condições findam em condicionar os
índices populacionais em cidades costeiras.
75
4.1 - Gestão, Plano e Ordenamento.
Quando se fala de planejamento territorial se refere também a um
entendimento de gestão para que se chegue à eficiência e nos objetivos que tal
planejamento tem como parâmetros. Planejamento Territorial se mostra numa
escala da gestão, se posicionar em uma plataforma advinda na estrutura da
gestão propriamente dita. Fomenta todas as ações que implicarão em um
ordenamento territorial e seus agentes envolvidos.
Figura 36: Elementos e agentes remodeladores do território, 2012.
Percebe-se pelos elementos traçados no organograma acima, os
desdobramentos e interações dos vários atores, de vários níveis e escalas, no
fomento de uma gestão territorial, havendo uma integralização dos elementos,
coexistindo, dentro do prisma do planejamento, contudo para que haja uma
gestão em excelência, o enfoque sempre passa pela escala municipal, pois não
se pode afirmar que uma gestão que supri as necessidades, no que tange ao
ordenamento, sem perceber as necessidades das cidades atinentes, e
abranger a fluidez nos processos que relacionam a formação e sua respectiva
gestão.
76
Ainda na compreensão da hierarquia, mais ultimamente, as atribuições
elencadas para se chegar a uma gestão ideal em conformidade com a
legislação e as especificidades locais, atribui valor ao agente mais interessado
no ordenamento: A comunidade.
O termo “Planejamento Participativo” surgiu como resposta aos
problemas enfrentados pelas várias escalas da organização, dando
possibilidade aos vários atores que compunha os níveis de atribuições e
atuações dos mesmos.
Quando estudamos planejamento, de um modo mais específico, como
planejamento territorial, as instituições governamentais, sobre tudo no nível
Federal, dita as bases para chegar à um plano no nível municipal que atenda
as especificidades locais, e aglutinando em uma plataforma única em nível
nacional.
Contudo, planejar, orçar e gerir a ação pública a partir de uma
perspectiva territorial não é uma tarefa simples, requer, dentre
outras coisas, um “diagnóstico” compartilhado por parte dos
atores governamentais acerca dos principais problemas
enfrentados pelo País, bem como da sua distribuição e
configuração em termos espaciais, e uma estreita articulação
intra e intergovernamental nas ações de enfrentamento
daqueles problemas. (MPOG- Brasil, 2008).
O sentimento de planejar um território se evidenciou em uma
necessidade eminente frente a tantos problemas formados a partir de uma
organização ou uma comunidade a fim de dar vetores que norteavam as ações
administrativas. Os planos nacionais a priori, de forma global, se revelaram
ineficazes num dado momento da história do planejamento. Atendiam, em
primazia, à interesses das classes mais abastadas ou do poder local, que
muitas das situações não atendiam a demanda de senso maior, afortunando os
problemas de ordenamento já existentes, fomentando a existência de outros e
implicando no social.
77
Para Ratzel, a questão da gestão do território, por muitos anos, dentro
da ciência mostrou certo incomodo, pois para os muitos autores que
trabalhavam o tema, a situação atual da formação dos territórios sempre
passava pela perspectiva do poder. Em outras palavras, as ciências que
subsidiavam as políticas de formação do território, sempre intitulavam neutras e
adjacentes as verdadeiras intenções que findavam na formatação dos grandes
centros urbanos.
É cada vez mais evidente que não podem existir território sem uma
especulação provinda de ideais (intenções), e que qualquer território
potencializa conteúdos estratégicos políticos. As averiguações feitas sobre o
modo de apropriação espacial permitiram uma melhor compreensão dos
problemas da exclusão social, da “esgotabilidade energética”, obtenção de
recursos eintervenções sociais. Evoluíram as concepções sobre a paisagem e
modificou-se também a percepção de natureza e seus elementos. Esta
transformação levou a abandonar a uma percepção mecanicista do território
induzidas pela ideia simplória de causalidade, levando em conta também,
variáveis que devem ser estudadas na gestão territorial.
4.1.2 - Território e suas variáveis de estudo.
Em muitos dos pensamentos que envolvem o estudo das
“territorializações” sempre está intrínseco as mobilidades, as políticas de
desenvolvimento e crescimento como também analise das mudanças
concebidas em áreas rurais e urbanas. Para Serra (1991), os conceitos
concebidos para de definir desenvolvimento devem passar por uma
reformulação, pois negligenciar políticas de proteção de ambientes não nos
leva a um real desenvolvimento, ou seja, não podemos chegar ao real conceito
de desenvolvimento sem respeitar os processos que findarão em uma
degradação do patrimônio natural.
De fato o conceito mecanicista não conta mais de tantas variáveis que
são reveladas quando se aborda o território. Sendo assim, tais variáveis podem
apontar a real complexidade que distingue o planejamento. Chegar a uma
78
matriz de ordenamento territorial, atualmente parece ser salutar em algumas
situações, principalmente quando se fala de municípios que estão próximas
áreas de proteção e unidades de conservação com a finalidade de padronizar
as ações de áreas que são mais vulneráveis às ações antrópicas, levando à
eficiência dos trabalhos.
Os planos diretores, que são documentos oficiais de desenvolvimento,
que articulam uma eventual expansão urbana, demonstram ser eficazes no
ponto de vista técnico e ideológico. São feitos dentro de uma estrutura padrão,
objetivando a excelência no que tange a expansão urbana, todavia o caso de
países como Brasil, desloca, mesmo que parcialmente, as veementes
intenções do documento que deveria ser vetor para o crescimento e articulação
de um dado município. De acordo com Lei Nº 10.257, do Estatuto das
cidades, Cap. I Art. 2º, cita:
A política urbana tem como objetivo ordenar o pleno
desenvolvimento das funções sociais da cidade e da
propriedade urbana, mediante as seguintes diretrizes [...] (MCC
- Brasil, 2001).
Parece bem simplório dar uma definição de um documento que é feito
com características e forma de diagnóstico por profissionais bem gabaritados,
contudo os objetivos, em linhas gerais, é realmente subsidiar a gestão do
território urbano.
Foucault (2005), ao fazer uma analise dos textos de Jeremy Benthan, O
Panóptico, nota a importância de levar a inserção do conceito de espaços
topológicos à discussão da gestão do território. Os vários dispositivos que
envolvem tal assunto levam os estudos de formação e planejamento do
território a patamares mais elevados. Aliar tal instrumento recicla o pensamento
de causa e efeito, nos estudos do território e põe as especificidades do mesmo
como ponto de partida que apóia a gestão.
79
Para se obter eficiência no estudo de “território”, envolve diversas áreas
do conhecimento, promovendo perspectivas, abrindo a possibilidade de várias
abordagens de um sistema complexo por ser cheio de variáveis e conjunturas
múltiplas. A importância da interdisciplinaridade na gestão é fator que não se
pode descartar da pauta que envolve o debate sobre a categoria território. A
ciência geográfica se mostra pronta e em certo progresso para estudar as
questões que envolvem a ciências do território por estar aberta e por ter
abordagem interdisciplinar não se fechando à métodos e ideias fechadas.
Henri Lefebvre (1974) mostra a importância das decisões tomadas na
formatação do território. As estruturas que balizam a analise do território são
condicionantes e efeitos dados de microssistemas envolvidos na formação e
funcionamento do território. Para Rodrigues (2005), as ações decisivas do
território, do urbanismo e da urbanização territorial, como a substância que
molda percursos e trajetos de comportamentos sociais e individuais. É
importante atinar que o movimento também é recíproco e contrário, pois em
diversos casos, a formação do território é dada por aspectos já existentes em
uma sociedade, rompendo com padrões encontrados em muitas gestões, pois
trabalha com a pluralidade socioeconômica de uma dada comunidade.
Por existir essa pluralidade de condicionantes de formação e arranjo do
território, tornam as ações complexas por tratarem de variáveis múltiplas,
podendo acrescentar valores subjetivos a estrutura do planejamento na
aplicação da gestão. Ao discutir sobre a problemática da gestão territorial, Jean
Tricart (1977) em sua obra “Ecodinâmica”, fala acerca das dadas limitações e
potencialidades do território na percepção de quem condiciona os vetores da
gestão. O autor destaca a gestão num ponto de vista integral.
Os estudos que fundamentam a gestão devem-se atinar para as
intercessões intermunicipais para que haja gestão, de forma plena, abrangendo
outra escala do território. É de verdadeira importância ressaltar que os métodos
apontados por Tricart (1977), são de real valor. Ao elaborar uma analise
agrológica, o autor não só se deteve as possibilidades e limitações, contudo
percebe-se que o estudo tem uma profundidade de analise dos sistemas que
80
regem e subsistemas que operam dentro do microssistema que é o próprio
espaço. Essa hierarquia de organização consegue abarcar toda a conjuntura
sócio-organizacional do espaço, pois leva ao gestor uma percepção mais
detalhada, levando a inserção de toda a complexidade atinente à
fundamentação e bases para o planejamento territorial.
“Para permitir ao poder decisório desempenhar
seu papel e chegar à escolha, a equipe de
técnicos deve efetuar, ainda, os três
procedimentos: 1º Apresentação dos diversos
tipos de administração e manejo possíveis,
mostrando claramente suas vantagens e
inconveniências. 2º Classificação das regiões em
função dos problemas da gestão do território.”
(TRICART, 1977. p.68-78).
Entender e identificar acertos e equívocos da administração do território
em questão, percebendo se as políticas adotadas estão em intercessão com a
legislação especifica e se consegue abarcar as necessidades em comum de
todos os atores envolvidos.
Quando se estuda um determinado espaço, não se pode trabalhá-lo do
ponto de vista territorial que obedece a limites impostos por seus gestores
(divisões administrativas). A dinâmica natural é independente. Todos os
processos que envolvem a dinâmica vão estar ativos, e por isso que a gestão
deve amparar tais processos embora não estejam em sua área jurisdicional
relatada ainda na Lei Nº 10.257, do Estatuto das cidades, Cap. I Art. 2º, inciso
VIII: (...) adoção de padrões de produção e consumo de bens e serviços e de
expansão urbana compatíveis com os limites da sustentabilidade ambiental,
social e econômica do Município e do território sob sua área de influência
(MCC - Brasil, 2001).
81
Ainda dentro dos procedimentos que compunha as regiões em função
do problema, o autor nos leva a perceber o território do ponto de vista dos
sistemas produtivos que existem no território movendo mais possibilidade de
variáveis à plano de gestão que contemple os sistemas produtivos envolvidos
no circuito econômico e com esses sistemas influem na dinâmica e na
economia local. Essas indagações podem revelar a valoração de uma
determinada área e essa apreciação pode ser responsável pela remodelação
dos planos de gestão podendo definir outros objetivos que podem ser mais ou
menos importantes no ponto de vista de todo o sistema e seus integrantes.
Aos procedimentos de analise, Tricart também destaca as regiões
marginais que do ponto de vista do autor são desmerecedoras de uma atenção
no que tem haver a gestão. Em alguns casos pode haver certa lógica e
racionalidade no descaso dessas regiões, porém atualmente vemos que certas
cidades que anteriormente não tinham como pauta de discussão seus vetores
de crescimento, hoje já repensam suas regiões marginais. O exemplo é o da
cidade de Paracuru – Ceará, Brasil (cidade costeira), que possui áreas de
proteção ambiental margeando a cidade. Se não houver uma preocupação
antecipada desta questão para tais cidades, podemos futuramente nos deparar
com situações que concretamente acometeram a sustentabilidade não
somente nos projetos de gestão, mas também nos processos morfodinâmicos
por se tratar de uma área de zona costeira com existência de campo de dunas
a Leste, e uma área estuarina do rio Curu, à Oeste.
As áreas marginais merecem, dependendo da situação, um olhar como
também regiões compósitas, mencionadas por Tricart na sua obra. Existem
várias questões levantadas sobre tais regiões, pois para não auferir
desdobramentos que causem disparidades, mais do que nunca, os planos de
gestão devem discorrer sobre tal ponto, pois caso contrário pode desenrolar
empecilhos na ordem de jurisprudência na gestão e planejamento das regiões
que por não estarem bem definidas levando à embates entre gestores
adjacentes que por questões políticas não remetem as devidas
responsabilidades na valorização e manutenção do território para suas
atribuições, por ainda termos uma concepção medieval dos regiões marginais e
82
compósitas. Não queremos aqui refutar as apreciações e contribuições do
celebre autor, mas sim complementar suas idéias, pois a situação atual difere
das dinâmicas por ele contempladas. Possuem a mesma base, contudo a
causalidade pode ter mudado no decorrer dos tantos processos pelo dado
território sofrido. No desenrolar de conceitos que envolvem a temática, que
antes de qualquer coisa é imprescindível que se note a tipificação das áreas
que vão passar pelos processos que rebuscam a gestão dos territórios.
A questão da subjetividade também se aplica por atribuir valor ao
território. Esse valor é condicionado pelo convívio, pela história, pela devida
interpretação dada ao lugar que finda no território por adicionar valor agregado,
quer seja ele valor econômico ou afetivo. Atribui-se um maior cuidado na
analise do território ao se detectar existência de recursos que adicionam valor
ao território implicando na elaboração de postulados da gestão que iram
motivar as ações dos respectivos gestores.
Grandes partes dos estudos de impactos ambientais, atualmente, estão
voltados para investigar as relações do homem e suas ações em espaços
costeiros. Isso por haver, notoriamente, uma maior intervenção humana nessas
áreas sendo diretamente proporcional aos impactos oriundos da relação
“intervenção humana” e gestão/planos ineficientes.
Por serem áreas valorizadas, os movimentos migratórios paras estas
áreas são inevitáveis. Todos esses atrativos, impulsionam tais movimentos que
por sua vez, levam os indivíduos a estarem se alocando, implicando em mais
demanda de serviços. Toda essa conjuntura leva a necessidade de uma
organização que requer planejamento, principalmente por se tratar,
eventualmente, de um município que dará fundamento a aparelhos e
instrumentos de subvenção à população e suas novas necessidades,
impulsionadas pela valoração dos recursos que deram início ao processo de
“turistificação”.
83
O setor de serviços e comercio (setor secundário) são os que possuem
maior crescimento, sendo assim possuem maior demanda de mão-de-obra. O
Gráfico acima (IBGE) evidencia esse crescimento no município de Paracuru,
levando a subvenção de estratégias que rejam a formatação dos territórios
costeiros. A gestão é eminente nestas áreas por produzirem mais e atrair mais
pessoas. Caso contrário, os problemas de ordem sociais e ambientais, que
estão presentes em alguns municípios costeiros no Brasil, serão notoriamente
nocivos e despediram mais dos gestores e municípios em questão com o fim
de sanar possíveis resultados inesperados por conta de um planejamento
inadequado que não atende as especificidades do objeto.
Figura 37: Gráfico de Receita e Despesas do município costeiro de Paracuru, Ce –
Brasil, IBGE, 2010.
Todas as variáveis que são comtempladas e que integram o estudo do
território, feitas de maneira compromissada às necessidades, são capazes de
alcançar as especificidades que o planejamento intenta impetrar. A distinção e
hierarquização contribuem de maneira salutar e transcendi as bases
epistemológicas do planejamento do território. Apesar de levar as analises a
uma interdisciplinaridade, por ter tantos conceitos que antes pareciam
84
autônomos, contudo diante o debate, revela que há possibilidade de interação
para se chegar ao ordenamento e conceber formas de viáveis de preservação
ambiental, satisfação social e econômica remetendo as bases de uma
sustentabilidade e graduando as gestões nas mais diversas escalas.
4.2 - Representatividades legais na gestão em zonas costeiras.
Os planejamentos municipais (PDDU), que dão os direcionamentos e
atribuições do uso do solo, nos remetem a definição dada pela função das
normas que são postas a fim de dar parâmetros que findam no mosaico
urbanístico ou o mais próximo que se possa conseguir com tais parâmetros
dados pelos planos diretores que orientam o uso e como usar o solo diante de
tantas peculiaridades espaciais, principalmente em si tratar de ambientes
costeiros. Os planos diretores de desenvolvimento urbano (PDDU) são
instrumentos que regem toda uma forma (dentro da conjuntura que o dado
município se encontra) que dar vetores à propostas de crescimento, dado por
um planejamento à priori, isso em todos os setores que compõem a estrutura
de uma determinada cidade que é alcançada pelo documento.
O PDDU de certos municípios, muitas vezes não contemplam as diretrizes
de definidas em leis e decretos federais que regulamentam e regem os
parâmetros ambientais por isso precisam passar por uma adequação nesse
ponto.
É definido em função das normas relativas à “densificação”, regime de
atividades, dispositivos de controle das edificações e parcelamento do solo,
que configuram o regime urbanístico. Sendo que suas medidas de controle são
equacionadas em função diretamente proporcional à movimentos populacionais
e expansão urbana.
No mais, as cartas de uso e ocupação são ferramentas imprescindíveis
nos estudos e analises ambiental e na tomada de decisão acerca do
ordenamento e planejamento do território, e na definição de políticas de gestão
de recursos naturais que estão em questão no presente estudo.
85
Sendo assim, tratar o planejamento como balizador da relação
sociedade e zona costeira é de suma importância, contudo mais do que levar
relevância aos planos, é fazer uma intercessão entre os elementos que agem
na zona costeira e as ações postas nos planos, uma vez integrando-os na
gestão, e mitigando a pressão dada pela expansão dos municípios em zonas
costeiras como no caso do município de Paracuru-Ce.
Quando falamos de instrumentos legais que balizam a ocupação, quer
seja o município que seja, sendo em áreas costeiras ou não, deve-se por em
relevância, são elementos que participam das mudanças e analisá-los do ponto
de vista do planejamento, ou seja, o que é descrito nos compêndios que tratam
da regulação do uso das áreas e a conjuntura a fim de levar medidas à curto-
médio e longo prazo. Tendo em vista que as diversidades e as intensificações
dos processos aumentam os índices e percentuais de medição do solo e por
sua vez a expansão urbana, deixando as analises e possíveis soluções ainda
mais complexas.
Quando se fala de uso e ocupação, com intento de possibilitá-la na
esfera da sustentabilidade, o planejamento voltado à infra-estrutura é de
grande importância para que de chegue ao mote ambiental. No que tange ao
social, promover uma consciência dos processos por parte das transformações
ocorridas é de suma para levar a educação ambiental aos vários atores
envolvidos na elaboração de planos e ações.
Desta forma, consideramos que o zoneamento é um dos instrumentos
que orientam a localização da produção:
o A participação da comunidade no planejamento, pois como vimos,
qualquer política de uso e ocupação do solo tem que ser
alicerçada na participação da comunidade, resgatando valores
que são inerentes à costumes locais;
86
o O aprimoramento na obtenção de dados quantitativos que
expressem a realidade, e confrontá-las com os efeitos dos índices
urbanísticos, para, a partir deles, se decidir quais os padrões
urbanos que quer se obter na definição de zoneamento local.
o A introdução dos novos mecanismos de ordenamento urbano do
solo, propostos pela constituição, que possibilitem a redução na
atuação da especulação imobiliária, com mecanismos de
contensão de produção irregular do espaço.
Sendo que o zoneamento se subdivide dependendo da escala, pois está
sujeita as dimensões e aos objetivos alcançados. O zoneamento, sendo ele
micro ou macro, é o primeiro nível de definição das diretrizes espaciais do
Plano Diretor, estabelecendo “um referencial espacial para o uso e a ocupação
do solo na cidade, em concordância com as estratégias de política urbana”
(BRASIL, 2002, p. 41). Ele é um referencial geral para o município, balizando
lógica de desenvolvimento e sua estrutura atual. O que diz o plano diretor do
município de Paracuru:
―O PREFEITO MUNICIPAL DE PARACURU, Estado do
Ceará, faço saber que a Câmara Municipal decretou e eu sanciono a
seguinte Lei:
Art. 1º - Ficam alterados os artigos 1º, 2º e 17 da Lei Municipal nº
1.223, de 24 abril de 2009, que passam a vigorar com a seguinte
redação:
"Art. 1º - Esta Lei visa à adequação do Plano Diretor de
Desenvolvimento Urbano de Paracuru ao Estatuto da Cidade, Lei
Federal nº 10.257, de 10 de julho de 2001, e demais normas em
vigor.‖
"Art. 2º - A política ambiental para o Município de Paracuru, prevista
na Lei Orgânica do Município, tem por pressupostos o meio ambiente
ecologicamente equilibrado e uma sadia qualidade de vida como
direitos inalienáveis do cidadão, impondo-se ao município e à
87
comunidade o dever de preservá-los e defendê-los para o benefício das
gerações atuais e futuras.
Parágrafo único: A política do meio ambiente do município de
Paracuru será executada com base nos seguintes princípios:
I - a participação;
II - cidadania;
III - desenvolvimento sustentável;
IV - conservação dos ecossistemas e da biodiversidade;
V - responsabilidade objetiva;
VI - precaução;
VII -poluidor-usuário pagador.
(Paracuru, 2010)
O que parece ser apenas uma execução da legislação, pode apresentar
nuances que levam a dificuldades na implementação, pois se tratar de
elementos que abordam as especificidades sociais. A Intensificação dos
processos de ocupação modifica os usos, eleva os índices de expansão na
urbanização e implica em divergências na execução legislação vigente por dar
jurisprudência à várias formas irregulares de ocupação.
Os modelos de uso e ocupação do solo se baseiam na idéia de
produção da mercadoria (solo em ocupação), ou seja, da produção do espaço
construído que é apropriado, consumido e novamente produzido. Para
Campana (1989), a urbanização é a socialização dos tramites do Estado em
um meio capitalista, findando numa subordinação do capital, pelo capital e para
capital, onde a especulação imobiliária: Apropriação da renda do solo no
modelo vigente.
Sendo que a segregação espacial se dá pela disparidade da renda da
população e o valor estipulado pela especulação, promovida com a as
atividades turísticas, quando se remete as áreas em que o estado promoveu a
economia por esses meios. Agentes de produção (agentes co-produtores),
agentes de consumo e agentes de apropriação do espaço, são integralmente
relacionados nos índices de expansão urbana e como eles se dão na
88
participação e na produção dos espaços. Haja vista que a relação de
densidade populacional e densidade de edificação são partes de uma equação
que resulta na intensidade de ocupação do solo, que por sua vez, dentro do
quadros apresentados e as problemáticas do uso e ocupação no país, em
municípios costeiros, se revelam ser heterogêneas no que se relaciona a
execução e fiscalização.
4.3 - A Legislação e os ambientes costeiros.
Baseado na constituição de 88, todo material argumentativo, que
outorga as diretrizes de direitos e deveres para com nossas demandas aos
recursos naturais, no Brasil, tem base na constituição de outros países que já
tinham em pauta a questão da zona costeira como área integrada e integrante
de relações econômicas.
Quando consideramos todas as nuances que permeiam a questão da
disposição jurídica no Brasil, no deparamos com a questão das demandas que
sempre se fizeram presentes nos embates da relação da sociedade com os
ambientes costeiros.
Para Dantas (2006), no decorrer da história, está empregada uma
analise acerca da descoberta do ambiente costeiro como local de suprir
demandas (fisiológicos à priori), que foram, no decorrer das desmistificações
do ambientes costeiros, sendo lugar de geração de mais necessidades,
formando assim um circuito de geração e supressão de demandas, conduzindo
as autoridades competentes à busca pelo ordenamento que deveria balizar as
ações e atores sociais envolvidos.
Um dos empecilhos e limitação de uma apropriação do poder jurídico
sobre o ambiente costeiro é a razão de que os conceitos e definições ainda se
divergem no que tange a ciência e suas multidisciplinaridades.
A abertura de precedentes diante do dito, dissimula os âmagos de textos
jurídicos, desviando o real intento das ações postuladas em lei. Logo, dentre
89
tantos conceitos, o que a define de forma mais completa é o da Resolução nº
01 de 21/11/1990, da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar
(CIRM):
A zona costeira é a área de abrangência dos efeitos
naturais resultantes das interações terra-mar-ar, leva em
conta a paisagem físico-ambiental, em função dos
acidentes topográficos situados ao longo do litoral como
ilhas, estuários e baías, comporta em sua integridade os
processos e interações características das unidades
ecossistêmicas. (MMA – CIRM).
Tal definição de zona costeira, quando comparada ao artigo art. 225,
parágrafo 4º, diz que a zona costeira é patrimônio nacional e que sua utilização
se dará de acordo com a lei, dentro de condições que assegurem a
preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais.
Pode-se perceber um nível de disposição da lei que tenta se reformular e
especificar- se a fim de cerrar lacunas que, corriqueiramente, abrem
precedentes de ações arbitrárias para com ambientes costeiros. O termo
“patrimônio nacional” já é por si, um termo que fomenta ações que quebra a
essência dos compêndios postulados em lei. Se considerarmos que “patrimônio
nacional” é qualquer coisa que está sob a soberania de um país, o seu uso não
é restrito e pode ser dado sem considerar suas especificidades, tanto no
processo como na finalidade. Sendo assim é dado ações de jurisprudências
para que os atores sociais de utilizem para dar manobras às ações jurídicas a
favor de suas demandas e em segundo plano, as questões de
responsabilidade ambiental.
Para Machado:
“A regra geral constitucional tem sua importância não só
por indicar ao administrador público, aos particulares e ao juiz
que o desenvolvimento econômico não deve ser predatório,
como torna claro que a gestão do litoral não interessa somente
90
a seus ocupantes diretos, mas a todo brasileiro, esteja ele onde
estiver, pois se trata de um patrimônio nacional.” (MACHADO,
1996, p. 629)
A proteção ambiental é uma função social, por isso há diversas
legislações a respeito. O Decreto nº 5.300 de 07/12/2004, art. 12, diz ser da
competência do Ibama em conjunto com Estados e Municípios, a implantação
de Unidades da Federação. Já a Constituição Federal, art. 225, parágrafo 1º,
inc. III, diz que cabe ao Poder Público definir, em todas as unidades da
Federação, espaços territoriais especialmente protegidos. No mesmo sentido, a
Lei nº 6.938 de 02/09/1981 determina que esses referidos locais que podem
localizar-se tanto em áreas públicas quanto privadas são instrumentos da
Política Nacional do Meio Ambiente.
Abre-se outra questão quando mencionamos a posição dos atores
sociais, que estão, ou deveriam estar sobrepujados pela constituição: as
particularidades e especificidades dos processos e suas influencias num modo
sistêmico no que tange o social e ambiental. Tratar das mais variadas formas
de analise em ambientes costeiros tem sido um desafio para poder público.
A própria academia (universidade, laboratórios e instituições de
pesquisa) tem traçado métodos e ações de pesquisa, com as suas multiformes
do pensamento cientifico, que dirá ao poder publico (nas mais variadas
esferas) que traça formas políticas de desenvolvimento que muitas vezes vão
de encontro aos fatores naturais. Neste sentido que deve haver um
estreitamento mais contundente com poder publico e as bases eficazes da
academia no que tange à relação sociedade e meio- ambiente.
O Brasil possui uma linha contínua de costa com mais de 8 mil
quilômetros de extensão, uma das maiores do mundo. Nessa faixa,
concentram-se aproximadamente 36,5 milhões de pessoas, residentes em 500
Municípios. Com essas características, há uma facilidade de escoamento de
produtos para os mercados internacionais, e sendo assim, faz com que a
91
maioria das grandes metrópoles, como o Rio de Janeiro encontrem-se na zona
litorânea.
Diante dessa realidade eminente, é que a legislação tenta dar conta de
uma serie de demandas que vai das atividades econômicas até o uso e
parcelamento de solos em ambientes tão passiveis como ambientes de costa
que estão alocados vários municípios no país. Turismo e estruturas e
escoamento de mercadorias como o porto, hoje são os maiores atores dessas
configurações e reconfigurações dos espaços costeiros, bem como a própria
ocupação promovida pela instalação do setor terciário oriunda das atividades
anteriormente ditadas.
A lei não institui as normativas, designa um plano que é passível de
interpretações em meio às situações especificas criadas para dar mobilidade
aos setores econômicos envolvidos. O que a lei fixou, na verdade, foram as
normas e diretrizes para a elaboração do plano, pelo que instituiu em tese,
remetendo sua concretização a outros diplomas legais.
Dessa maneira, um controle por zoneamento vem se mostrando de
grande importância na delimitação de usos. Com finalidade de mostrar e
conscientizar o controle de atuação social sob espaços costeiros. Através
desse instrumento, os municípios poderão instituir projetos de educação e
informação sobre as especificidades dos processos ambientais que moldam a
paisagem do seu determinado município. Elevando o conhecimento e dando o
valor e importância destes processos ambientais na manutenção dos valores
que fomentam a própria cidade de maneira sustentável.
4.3.1 - Políticas de gestão da zona costeira no Brasil.
Com a criação da PNGC (Figura 38) em 1988, Lei 7.661, o objetivo
inicial seria planejar e gerenciar, de forma integrada, descentralizada e
participativa, as atividades socioeconômicas na Zona Costeira, garantindo a
utilização sustentável, por meio de medidas de controle, proteção, preservação
92
e recuperação dos recursos naturais e dos ecossistemas.
A fim de estreitar a participação da União (nomenclatura para esfera
federal),em 1997, é reformulado o plano nacional de gerenciamento costeiro
que passa a ser chamado PNGC II.
Conjuntamente com a ampliação do PNGC, é também criado o plano de
Ação Federal a Zona Costeira (PAF).
O PAF é o referencial de atuação da União na zona costeira,
sintetizando as concepções e responsabilidades federais para o seu
planejamento e a sua gestão. Dentre estas atuações vale ressaltar e elucidar
que no plano de ações federais ao uso e gestão da zona costeira( PAF), houve
a criação do projeto ORLA, que haveria de dar grandes contribuições no que
tange ao zoneamento e reconhecimento de áreas de costa , principalmente nos
estados nordestinos, em destaque o estado do Ceará, Sergipe e Alagoas.
No tocante ao uso, estabeleceu diretrizes de uso e ordenamento a partir
de informações, redução de impactos e conflitos dando alternativas
sustentáveis nas três esferas de gestão; Integrou sistemas de informação nas
três esferas de gestão, a fim de sistematizar integralmente as informações e
dados para posteriores analises.
Dentre os 12 princípios estabelecidos no PNGC, destacam-se:
A não fragmentação, na faixa terrestre, da unidade natural dos ecossistemas costeiros;
A consideração, na faixa terrestre, das áreas marcadas por atividades sócio-econômicas e culturais características da Zona Costeira;
A consideração dos limites políticos municipais visando a operacionalidade das articulações necessárias à gestão;
A preservação, conservação e controle dos ecossistemas costeiros, com recuperação e reabilitação das áreas degradadas ou descaracterizadas;
A aplicação do Princípio de Precaução tal como definido na Agenda 21;
93
O comprometimento e a cooperação entre as esferas de governo, e
dessas com a sociedade, no estabelecimento de políticas, planos e programas
estaduais e municipais.
Figura 38: Área de atuação do PNGC I e II. Fonte: MMA – Brasil.
A lei de gerenciamento costeiro não tem sido um instrumento legal
eficiente para mudar o uso e ocupação do solo devido aos seguintes fatores:
•Desinteresse político por questões ambientais: curto – médio prazo;
•Desarticulação intra e interinstitucional;
•Sistema vulnerável ações entre o executivo e judiciário;
•Forte especulação imobiliária no litoral brasileiro;
94
•Falta de integralização efetiva de políticas estaduais de uso e ocupação do
solo junto aos municípios, promovendo a debilidade nos recursos humanos
envolvidos.
Neste ultimo ponto, vale também destacar que os planos que de
desenvolvimento urbano, tem responsabilidade dada pela esfera municipal.
Ocorre que o Art. 30, Seção IX, Lei 10.257 de 2001, da Constituição Federal,
diz que competência municipal o controle do uso.
O Art. 182, também de nossa da mesma lei, que institui o Estatuto das
Cidades dispõe que a política de desenvolvimento urbano é executada pelo
Poder Público Municipal. Diante da realidade do modelo econômico vigente, a
uma inquietação em elucidar que a falta de integralização mencionada põe em
cheque o funcionamento “fiscalizatório” de instituições que são regidas por
esferas estatais e municipais.
Conforme afirmou o IAB em suas sugestões protocolizadas junto à
SEMACE:
“É preocupante fato de que, no atual texto do decreto, alguns tipos de
uso e ocupação do solo por ele proibidos,são atualmente permitidos
pelos Planos Diretores dos municípios, alguns deles em “áreas urbanas
consolidadas”,como por exemplo, construção em área de dunas na
Barra do Ceará, Mucuripe ou no Bairro das Dunas (Fortaleza), no Porto
das Dunas (Aquiraz) ou em Canoa Quebrada (Aracati).” IAB, 2009.
O Programa Nacional de Gerenciamento Costeiro está baseado em um
rígido modelo centrado, que deve sim estar consonante com instrumentos
técnicos e normativos, mas que impediram a um modelo alternativo de gestão
integrada com a participação efetiva da sociedade é o ator direto nesse sistema
complexo com tantas variáveis, que ainda deve ser campo de atuação mais
penetrante das ciências do mar, como também das ciências sociais, com a
finalidade matriz: estreitar o conhecimento e difundir uma educação ambiental
que conseqüentemente formaria opinião e balizaria os processos nas relações.
95
5. PROCESSOS DE OCUPAÇÃO: VARIÁVEIS SOCIOECONÔMICAS E
AMBIENTAIS NA ZONA COSTEIRA.
Para Moraes (2007), as primeiras ocupações em zona de costa se deram
com fins comerciais sendo assim abarcando as necessidades mercantis de
classes mais abastadas. As primeiras cidades construídas próximo à costa
eram ligadas a uma construção maior, os portos. A instalação de portos
juntamente com estradas, ferrovias e toda a infra-estrutura ligada a dar
subsidio a alocação dos portos, teve como fim melhorar o acesso e o fluxo de
mercadorias entre os pólos portuários e cidades circunvizinhas, levaram à
movimentação de capital e ao surgimento de novas relações sociais nesses
espaços.
Quando estudamos a categoria de paisagem, vemos que os elementos
formadores estão à mercê dos elementos modificadores (exemplificados pelo
homem: ser social). O ser social é fator preponderante para se estabelecer a
zona costeira já que no ponto de vista gestão dessas áreas, o homem já é
parte integrante, agente modificador e interventor destes ambientes. Para
entender os processos presentes nas zonas costeiras, deixar de levar em conta
tal ator, leva a um equivoco no ponto de vista da analise holística, já que as
demandas que configuram a o espaço são provisionadas pela sociedade e
todas suas nuances processuais.
Para dar uma linha lógica aos reais intentos do trabalho, não há uma
definição em padrão quanto às normativas no que diz respeito a “uso e
ocupação”.
Se analisar o conceito de zona costeira ou área de costa, existe
heterogeneidade quando tentamos conceituá-la, as várias implicações jurídicas
e cientificas e como também a definição popular, nos norteia por um universo
que leva a problemáticas que resultam em processos de cunho jurídico,
contribuindo, muitas vezes, a percas ambientais quase sempre irreparáveis.
96
Para Vasconcelos (2005), zona costeira é a zona de interface de três
sistemas maiores: Continental, Oceânico e Atmosférico. Já em um trabalho
confeccionado pelo projeto AQUASIS (2003), corrobora com as idéias
mencionadas por Vasconcelos, levando em conta o individuo que interage com
o ambiente em questão.
Bates & Jackson (1987), definem costa como uma faixa de terra de largura
indefinida (podendo ter muitos quilômetros) que se estende da linha de maré
baixa a primeira grande mudança nas feições na paisagem no interior do
continente.
Atualmente se entende que as fortes intervenções no cenário costeiro, não
somente no Paracuru, mas em todos os municípios que estendem o litoral
cearense, tiveram características bem similares no que tange a ocupação. As
motivações estão expressas nas políticas de incentivo à atividade turística no
Ceará. Aproveitando assim, de toda a potencialidade paisagística oferecida
pelo meio natural de nosso estado.
A analise do desempenho turístico cearense feita pela oferta e
pela demanda aponta para crescimento desta atividade, o que
sugere necessidade de um estudo sobre os impactos, que
podem ser positivos ou negativos, e agressões que muitas
vezes suplantam a capacidade de suporte deste meio natural
sendo irreversíveis. (Coriolano apud Moraes, 2010, p. 81)
Não motivando à idéia de que as praticas turísticas sejam as únicas à
serem responsáveis pela atuação degradante da sociedade ao meio ambiente,
mas dentro da conjuntura cearense, e se falando de pesquisa no município de
Paracuru, se observa uma relevância ao abordar e discutir o turismo como
“causa” e o uso ocupação irregular , como “conseqüência” se falando de
políticas publicas à zonas costeiras no Ceará.
98
No mapa (IPECE, 2009), o município do Paracuru já apresenta uma notória
atividade de processos turísticos quando se põe como variável o numero de
instalações destinadas na acomodação de turistas (nos mais variados
aspectos). O que deve levar em conta, também, são as construções
(ocupaçãopor fixos) que são feitas, sendo que elas são produto da demanda
gerada pelo turismo local, com políticas de incremento e desenvolvimento
econômico na região, falando com mais propriedade das áreas costeiras do
Estado.
O litoral cearense é hoje ocupado pela metrópole que é a cidade de
Fortaleza, capital do estado, e por muitas cidades de pequeno porte, com
menos 50.000 habitantes (IPECE, 2008). Esta ocupação atinge um índice de
49,22%, levando a ser uma das zonas costeiras com características de maior
adensamento demográfico.
Os problemas que envolvem a ocupação desordenada no Brasil ainda são
solucionados de maneira paliativa, em curto prazo, todos envolvendo uma
gama de paradigmas que findam a moldar este cenário (área de costa), que
está longe de ser o ideal (MORAES, 1999).
A idéia de especulação de áreas na zona costeira surgiu a partir de uma
necessidade dada por vários fatores. Destes fatores, o que podemos melhor
explicitar, são os que têm motivação econômica. Tais atividades, com
particularidade no Ceará, as que têm características voltadas para o turismo
são as de maior contundência já que as políticas publicas subsidiaram o
turismo, do estado, nas décadas de 80 e 90.
De acordo com Vasconcelos (2005), o processo de superpopulação no
litoral é conseqüência da ocupação desordenada do espaço costeiro por fluxos
migratórios de pessoas não identificadas com a tradição e os costumes da
zona litorânea. Essa superpopulação produz grandes centros urbanos
localizados à beira mar. São cidades com forte densidade demográfica dotadas
de um metabolismo próprio: consomem água, alimento e energia não
produzida localmente.
99
As atividades turísticas fazem parte dos grandes indicadores que estão
potencializando a economia de cidades litorâneas levando maior
desenvolvimento devido ao surgimento de um circuito econômico promovido
por especuladores das mais diversos seguimentos econômicos.
O turismo tem reconhecidamente, uma capacidade
avassaladora de transformar lugares, natureza, mas a priori,
isso não é bom ou ruim. Somente as analises de caso podem
revelar como, quando e onde o turismo impactou positiva ou
negativamente o patrimônio natural de um lugar.(Cruz, 2003
apud Moraes, 2010, p.84)
O turismo, em si, não é causa dos problemas vistos na zona costeira, ele
é uma conseqüência das necessidades da sociedade em explorar os
ambientes que tem controle. Por sua vez, forma e dar subsídios para gerar
mais atividades, que, acurto , médio e longo prazo, são danosos aos processos
naturais.
O dinâmico comportamento das atividades econômicas só necessita de
uma pequena intervenção para que se torne produtivo, principalmente em
áreas que sofrem fluxos dinâmicos de capital, como em zonas costeiras. A
questão da tendência de movimentos populacionais para zonas de costa é algo
tão significativo, que em muitas localidades é responsável pela grande parte da
receita. E quando mensuramos as atividades não só dadas pelo turismo, mas
também por outras atividades subsidiadas pelo “ter um ambiente costeiro" já
vemos os índices sendo mais fortificados e presentes. Os sistemas de controle
destas atividades não são presentes ou são ineficientes, no ponto de vista da
regulamentação, pois é conivente para elevar as receitas, formando os
conceitos débeis de "desenvolvimento", ou seja, gerando progresso à
localidade.
100
O conceito de "desenvolvimento sustentável" é, na sua essência, um dos
remédios para que haja métodos e mecanismos salutares para intervir em todo
o circuito produtivo gerados pelas demandas contidas em atividades na zona
costeira. Até para que haja uma conscientização, por parte do poder publico,
em todas as esferas, de que a zona costeira é resultante da influencia de
elementos naturais que são sensíveis ao “antropismo” e às tensões sociais.
Não querendo ser interpretado, como que a zona na costeira fosse uma área
de severa preservação (digo que algumas ações são irreversíveis), mas de
levar uma educação que realmente mostrasse que o uso sustentável é de
suma significância para perpetuar o uso e a produção nestas áreas. Gerir os
espaços costeiros procurando alternativas econômicas criativas vem sendo
uma forma de se apropriar dos espaços, impactando minimamente dos
processos, tanto naturais como sociais.
A instalação e construção de empreendimentos sejam de
grande, médio ou pequeno porte, precisam dar-se em bases
sustentáveis, sem comprometer a natureza e seus recursos,
nem a sociedade e as gerações futuras e gerar benefícios
sociais com o menor custo ambiental possível (Morais, 2010,p.
82)
Para Moraes (2007), a valorização de zonas litorâneas está ligada ao
valor estimado que a terra, em si, possui. Sendo explicado e evidenciado pela
relação terra-capital (um meio de produção) e matéria-prima (suporte de
qualquer atividade produtiva.
No Estado do Paraná, Deschamps e Kleinke (2000), mostram que as
áreas costeiras do estado sofriam uma maior tendência à especulação e
ocupação por motivos de estar propensa a tal e por ser próximas a Região
Metropolitana de Curitiba, como conseqüências, geraram outros
deslocamentos oriundos do interior constituídos por trabalhadores e suas
famílias, estes em geral são pobres e com idade produtiva, uma pequena
101
porcentagem dessas pessoas supre a demanda de mão-de-obra do setor
terciário, que presta serviços ao setor turístico.
Concomitantemente à busca de lazer e desporto que áreas de costa
proporcionam que findam numa demanda massiva a estas áreas, serviços que
estão relacionados, movem toda uma estrutura de outras atribuições que
geram mais deslocamentos para essas áreas que já sofrem uma especulação
natural, sendo assim monta-se também, uma especulação condicional que atrai
ainda mais por buscas de economia alternativas.
Pela analise dada pelos autores mencionados, podemos também
acrescentar que o modelo atual de ordenamento territorial, nos grandes centros
urbanos litorâneos, passa por um “estressamento” espacial que influencia
ainda mais nos grandes problemas de estrutura urbana que implicam no
socioeconômico. Os documentos que norteiam o planejamento e configuração
do dado município, são confeccionados, propostos por um regimento jurídico
que é considerado ainda frágil e propenso às articulações e desdobramentos
com mais diversos fins. Não se restringindo somente motivos mercantis, mas
também problemas de ordem estrutural e gestão. Por certo cita Moraes:
“O papel do Estado, e da regulação estatal, na valoração e
valorização dos espaços costeiros não pode ser minimizado.
Incialmente através da legislação, ele cria limitações,
impedindo ou induzindo os usos do solo, que influem
diretamente no processo de sua ocupação. Através do
planejamento, ele busca orientar as tendências presentes,
direcionando-as para padrões sustentáveis de uso ou
estimulando a devastação. E, pela gestão, os agentes estatais
buscam mediar ou intervir nos conflitos de uso existentes,
apoiando o estabelecimento dos consensos possíveis ou
intercedendo por uma das partes, através da criação de fóruns
de exame e legitimação de planos e projetos ou abrindo
exceções nos próprios limites estabelecidos.” (Moraes, p. 27,
2007).
102
No tocante as tendências de ocupação, o autor mostra os paradigmas
vividos ao se tratar de gestão em municípios que estão na zona costeira. Por
um lado intensifica as ocupações com grandes obras de engenharia e por ouro
(através de seus órgãos fiscalizatórios) coíbem as instalações de
equipamentos vindas da iniciativa privada, mas mesmo assim levando novas
tendências a novos usos e consequentemente as ocupações que serão
geradas. Isso provindo de mobilidades desencadeadas à priori pelo Estado.
Figura 40: Organograma de elementos que compõem o turismo em zona costeira,
2012.
103
5.1 - As ocupações e seus efeitos sociais.
No Ceará, a atividade turística torna-se elemento determinante no
desenvolvimento socioeconômico do Estado (CORIOLANO 2003 e 2006). A
autora (2003), atenta para os limites e condicionantes do desenvolvimento
econômicos voltados para o litoral e do turismo, sobretudo a questão do
desenvolvimento desigual ou concentrado que vem ocorrendo em algumas
cidades cearenses, como produto dessa atividade.
Assim um grave impacto identificado no litoral em decorrência
do turismo é a especulação imobiliária, supervalorização de
áreas, desapropriação dos moradores nativos e
descaracterização do ambiente natural de moradia e trabalho
da comunidade local ou tradicional(Morais, 2010, p. 99).
As heterogeneidades em áreas litorâneas não cessam somente em
empreendimentos e construções, mas também no acesso à produção cultural e
assimilação de conhecimento. Os déficits em torno das populações que estão à
margem dos processos sócios culturais estão diretamente relacionados à falta
de políticas (ou políticas não eficientes que atendam à necessidade do meio
social).
Atualmente, se observamos todos os atores sociais envolvidos nos
processos de formação de cidades litorâneas, verificaremos vários focos de
segregação espacial, que nos ditará quem são os vários personagens e quais
sua atuação no meio, e principalmente: o paralelismo cultural que vivem tais
atores, embora vivam circunvizinhos.
Para Chaval (1995), o desenvolvimento de um estudo cultural dentro da
perspectiva geográfica demorou muito para se consolidar, uma vez que a
mesma necessitava de algo “a mais” do que o simples conhecimento natural da
paisagem como era no começo do século. Era preciso uma reflexão mais
ampla sobre a “geograficidade”, ou seja, sobre o papel que o espaço e o meio
104
poderiam exercer na vida de uma sociedade, sobre a função que lhes são
impostos, sobre a sua utilização e principalmente o seu conhecer socialmente
racional.
Não significa dizer que este domínio tenha permanecido ignorado pelos
pesquisadores, na verdade essa temática era abordada dentro de um contexto,
porém não se dispunham de meios necessários para analisá-lo em todas as
suas amplitudes, sendo a mesmas feitas sempre de formas parciais.
Reforçado a nossa idéia, podemos nos apóia em Chaval quando
exemplifica:
Na França, no começo do século, a noção de gênero de vida tem uma
dimensão ecológica, naturalista ela serve principalmente para mostrar
como os grupos se adaptam ao meio ambiente. Ela tem também,
entretanto, uma dimensão social e cultural: como nota Vidal de La
Blache, a força do hábito torna-se tão forte que o grupo humano perde
sua plasticidade. Ao invés de se adaptar ao meio, ele procura
modificá-lo para permanecer com seus hábitos, observa-se por
ocasião das migrações; os recém-chegados em um país fazem em
geral tudo para continuar a viver como eles faziam e seus países de
origem. Vidal de La Blache que fez do gênero de vida um dos eixos da
geografia humana que ele elabora, é desta forma, o primeiro a sugerir
que ela pode ter uma dimensão cultural. (Chaval,1995).
Para Pinheiro, 2005, em um estudo de caso feito no município de Fortaleza – CE,de forma
geral, os bairros que se localizam na porção oeste de Fortaleza, por possuírem
uma posição geográfica estratégica para o desenvolvimento do setor
econômico, haja vista a proximidade com o centro comercial, com o antigo pólo
industrial e ainda a já transferida área portuária, possuíam um poder de atração
populacional, ao qual fazia com que a população do interior do Estado
vislumbrasse na capital cearense grandes possibilidades de melhoria na
qualidade de vida sua e de seus familiares.
105
Figura 41: Gráfico do perfil de escolaridade do usuário (sendo morador ou visitante) no litoral da cidade de Paracuru – Ce. Sousa, 2008.
Ao analisarmos o dado gráfico, é de acordo quea idéia inicial que se tem
de uma segregação no que tange o acesso à cultura no nosso país ao falarmos
das comunidades que agem em municípios que são caracterizados como
litorâneos. Sendo, respectivamente: Analfabeto; Ensino Fundamental
Incompleto; Ensino Fundamental completo; Ensino Médio Incompleto; Ensino
Médio completo; Superior Incompleto; Superior completo e pós – graduação.
Os níveis de analfabetismo ainda são gritantes. Isso se deve ainda á
falta de acesso de comunidades nativas, por falta de políticas que inviabilizam
a educação, que é heterogênea.
Do outro lado, vemos que os indivíduos que tem maior escolaridade, é
uma parcela mínima de tais áreas mencionadas. Grande parte dos que
possuem o maior grau de escolaridade, são turistas ou moradores que
mudaram o logradouro de cidade para cidade.
Identificar essa característica dada no processo de formação do
individuo urbano – litorâneo é crucial a fim de levantar medidas e idéias para
pode diminuir tais disparidades entre agentes que ocupam, ou tentam ocupar
do mesmo espaço.
106
O maior efeito (impacto) não está ligado é segregação social que está
embutido no processo de “litoralização” suplantada pelo turismo, mas toda uma
gama de ações de cunho tradicional do lugar, costumes e a própria cultura que
fica inerte a padrões estabelecidos pelo sistema maior que gerou as
demandas. O bem trazido pelo desenvolvimento econômico é inconteste,
contudo o modelo vigente é desgastante. A academia já pensa em soluções
como o “turismo comunitário” que tenta aproximar o visitante do lugar visitado
como um todo, não somente o bem natural, mas todas as possibilidades dadas
pelo nativo que já estabeleceu bases culturais, sobretudo, sociais no respectivo
lugar.
5.2 - Caracterização Geoambiental de Paracuru.
Em estudos antes feitos, no município de Paracuru, se constatou que
ações sociais têm implicado nos processos erosivos da zona costeira. Tendo
em vista que é uma tendência global, as ocupações para fins de lazer e
segunda residência. Para Florenzano (2008), os ambientes costeiros são
especialmente vulneráveis à ocupação humana. Dada a sua natureza
altamente instável, resultante da grande dinâmica de evolução de seus
sistemas deposicionais, tanto em termos sedimentares, quanto erosivos.
Conjuntamente com vulnerabilidade, já de ordem natural, os ambientes
costeiros sofrem uma carga populacional, que trazem consigo todas as
demandas inerentes a sua estada para fins de alocação e sobrevivência. Ainda
Florenzano (2008) destaca que aproximadamente, 70% das praias arenosas do
planeta estão em processos de erosão. Considerando que populações em
áreas costeiras estão aumentando significativamente, a erosão costeira é uma
importante preocupação para o futuro próximo.
Gera – se assim, uma inquietação a investigar áreas que já sofrem
especulação, e se estas áreas, que tendem a ser ocupadas, estão sobrevindas
em áreas de preservação, ou seja, obedecendo a legislação especifica nas
107
unidades ambientais. Para Maia (1998), os processos costeiros que controlam
a evolução da linha de costa são resultantes das interações entre os agentes
propulsores e o meio físico que, em condições naturais podem alcançar um
equilíbrio dinâmico.
Figura 42: Elementos de um sistema costeiro. Adaptado de Short (1999). Sousa,
(2007).
Em estudos preliminares, Arruda & Vasconcelos (2005) já evidenciaram
um crescimento significativo no município de Paracuru. A partir da comparação
dos dados colhidos e processados (Figura), simultaneamente com documentos
e trabalhos já realizados, notou-se que nos últimos anos, novas intervenções
do homem no que se relaciona ao uso e ocupação nos seus mais diversos
aspectos, têm causado prejuízo no equilíbrio e manutenção natural das
características da planície costeira, interferindo seus processos de transporte
de sedimentos na praia e na edificação do campo de dunas, provocando em
conseqüência processos erosivos que fazem recuar a linha de costa.
108
Figura 43: Gráfico comparativo de áreas ocupadas do município (área sede) de
Paracuru – CE (1999 – 2004).
Podemos afirmar a partir dos dados colhidos, que em apenas cinco
anos, as intervenções do homem, principalmente nas atividades que findam em
ocupação imobiliária, interfere negativamente nos processos morfodinâmicos e
bioecológicos da planície costeira do município do Paracuru, aumentando
assim a instabilidade e do ambiente.
Traçar planos e procedimentos que minimizem os efeitos degradativos,
além de potencializar medidas de preservação de áreas ainda não ocupadas
são de grande necessidade a fim de mitigar efeitos que trariam prejuízos das
mais diversas ordens para o município.
Umas das inquietações iniciais em analisar o crescimento do município,
é sua localização adjacente à duas APA’s (Áreas de Proteção Ambiental): APA
do Estuário do Rio Curu ( à Oeste do município) e APA das dunas do município
de Paracuru (à leste).
109
Figura 44: Imagem da Localização das APAs do Município do Paracuru.
Fonte: INPE (editado pelos autores para analise).
Os componentes ambientais estão diretamente influenciados pelas
unidades existentes. A compartimentação geoamabietal (Figura 44) possibilita
perceber as amostras no município.
A APA das Dunas de Paracuru, unidade de conservação, criada por
meio do DECRETO Nº 25.418, de 29 de março de 1999, compreende uma área
de 3.909,60 hectares e localiza-se no Município de Paracuru.
APA do Estuário do Rio Curu APA das Dunas de Paracuru
111
As Dunas de Paracuru integram parte dos ecossistemas da planície
litorânea. Constituem a faixa de praia e em seguida os terraços marinhos com
presença de restinga. As dunas móveis, formadas por sedimentos arenosos
provenientes da praia são alinhadas conforme os ventos de quadrante E-SE,
onde se pode observar ainda, a presença de dunas longitudinais e
transversais.
As dunas fixas e as paleodunas, com vegetação própria, encontram-se
embutidas ou isoladas entre o mar e os cordões de dunas moveis. Na área
também se encontram os eolianitos, que são dunas móveis cimentadas por
carbonato de cálcio e com idade aproximada de 1.300 à 1.500 anos (SEMACE,
2010). Convém citar que este fenômeno gerou no local, formas litorâneas
únicas no planeta.
A vegetação é diversificada, desde espécies de gramíneas até
componentes arbóreos ou arbustivos, conforme localização na faixa praial,
restinga, dunas fixas e semi- fixas.
A composição faunística da área é formada por alguns mamíferos,
répteis, anfíbios, e várias aves. Os mamíferos são representados pelas
raposas, guaxinins, soins e cassacos. Os répteis por camaleões, téjus,
tejubinas e as cobras coral, corre campo, cipó e verde. Existem ainda, várias
espécies anfíbias. As aves fazem o espetáculo desta unidade de conservação,
pois existem em grande quantidade e variedade, podendo ser encontrados
tetéus, garças, carcarás, gaviões-pega-pinto, carões, perdizes, socós, e, em
determinadas épocas do ano, várias aves migratórias.
A oeste está a segunda unidade: A APA do Estuário do Rio Curu,
unidade de conservação de uso sustentável, criada por meio do DECRETO Nº
25.416, de 29 de março de 1999, abrange uma área de 881,94 hectares e
localiza-se na divisa dos Municípios de Paracuru e Paraipaba, na costa oeste
do Estado do Ceará, a 85 km de Fortaleza.
112
O Rio Curu, fronteira natural dos Municípios de Paracuru e Paraipaba,
está situado em uma planície aluvial plana com sedimentos de areia e argila
(SEMACE, 2006). Sua foz é um atrativo natural de exuberante beleza cênica,
apresentando feições de estuário e formando, ao mesmo tempo, uma enseada
natural e um cabo, quase uma ilha, que ainda encontram-se relativamente
preservados. Faz contato com o oceano por um canal principal e estende-se
até o limite máximo de influência da maré.
A vegetação é composta principalmente por espécies de mangue, que
compõem ecossistemas complexos e frágeis, de grande importância como filtro
natural e fonte de alimentos para diversas espécies de animais, além de
funcionar como berçário natural (SEMACE, 2006). Neste estuário, o mangue
serve de abrigo para reprodução de peixes como curupim e bagre, de
crustáceos como siris, camarões e caranguejos e de aves como macarinho,
sanha-açu e sabiá-do-mato. O tipo de mangue que mais se destaca é o
chamado mangue vermelho ou verdadeiro (Rhizophoramangle).
A população dos municípios de Paracuru e Paraipaba, veranistas e
turistas usufruem das várias possibilidades dadas pelo ambiente na área. Isso
caracteriza uma intensa apropriação dos usos que proporcionam as ocupações
que qualificam as relações de valor e de bens que estão envolto na questão da
valoração destas áreas.
Inseridas nos limites da APA existem seis comunidades que sobrevivem
diretamente da utilização de seus recursos naturais, basicamente da pesca e
da agricultura de subsistência, quais sejam: As Comunidades de Santa Rita,
Trapiá, Torrões, Crôa dos Pinhões, Curuzinho e Capim-Açu.
1.1.1 As ocupações e seus efeitos ambientais
Mesmo havendo esforços do poder publico já previstos em lei municipal,
o que se percebe, é que os procedimentos que levam á manutenção dos
processos naturais,não tem sido levado em conta do ponto de vista da
fiscalização. Empreendimentos, ao longo da linha de costa são vistos,
113
acelerando a erosão e os prejuízos se ordem sociais e até da própria
“balneabilidade”, que é atrativo para o setor terciário local(Figura).
Figura 46: Barracas de praia município de Paracuru, Fonte: Augusto Fialho, Maio/2013.
Figura 47: Amostra da ação erosiva próximo as barracas de praia. Fonte: Augusto
Fialho, Maio/2013.
Os processos erosivos estão tão adiantados no município, que
promovem o afloramento de rochas presentes (Figura 48) na formação de
tabuleiro, evidenciando a extensão (temporal e degradativa) na linha de costa.
114
Figura 48: Exemplar da formação de Tabuleiro aflorada no estirancio praial. Fonte:
Augusto Fialho, Maio/2013.
Outras evidencias das ações erosivas também são encontradas na Orla
de Paracuru. A alocação de embarcações nas aproximações do tabuleiro
litorâneo, dado pela presença de vegetação característica da unidade (Figura
50), bem como o destaque de fixos próximos à linhas de preamar ( Figura 51) .
Figura 50: Embarcações ao tabuleiro. Figura 51: Linha de Preamar e os fixos.
Fonte: Augusto Fialho, Maio/2013. Fonte: Augusto Fialho, Maio/2013.
115
Para Vasconcelos (2005), Os riscos ambientais naturais na zona costeira
estão ligados principalmente a fatores geológicos, climáticos e à dinâmica
costeira. Pois a erosão é um processo natural, mas a intensificação dele é
inerente à alocação de fixos (Figura) que comprometem a dinâmica costeira,
como a presença de estradas e casas em dunas que são umas das maiores
unidades responsáveis pela manutenção da linha de costa.
Figura 52: Mostra o fixamento da duna por intervenção antropica. Fonte: Augusto
Fialho. Maio /2013.
Com dinâmica costeira sendo influenciada, sem os devidos cuidados,
medidas de contenção da maré (Figura 53) são adotadas co o objetivo de
minimizar a erosão, e assim, os prejuízos dados pela má apropriação dos
ambientes marinhos.
116
Figura 53: Método de contenção da abrasão marinha. Fonte: Augusto Fialho,
Maio/2013.
Os níveis de erosão são tão evidentes, que a os estabelecimentos,
encontrados na Orla do município de Paracuru, também mostram fortes
indícios do desgaste, como verificamos que as estruturas (Figura 54) que dão
sustento à base (estruturas essas que ficariam abaixo da superfície) dos
estabelecimentos estão totalmente afloradas pelo desgaste anômalo da área.
Figura 54: Afloramento de estruturas internas dos estabelecimentos comerciais na orla
do município. Fonte: Augusto Fialho, Maio / 2013.
117
Figura 55: Exemplo da má apropriação dos espaços litorâneos no município de
Paracuru. Fonte: Augusto Fialho, Maio/2013.
Pode – se perceber que a tirar a falta de educação ambiental por parte
das alocações de fixos e locais em que deveriam ser resguardados para
preservar ao Maximo os processos costeiros, problemas inerentes a demanda
populacional nesses locais, ainda devem ser destacados. A presença de
galerias pluviais (Figura 55) que intensificam ainda mais os processos erosivos
e levam a cheque a próprio uso da praia por parte da qualidade da água, que
pode estar contido dejetos provindo da própria galeria de águas e esgotamento
da cidade.
118
Figura 56: Imagens de galerias pluviais que podem prejudicar a saúde da praia bem
como seu uso. Fonte: Augusto Fialho, Maio/2013.
Planejar a ocupação humana ao longo de áreas costeiras é fundamental
para minimizar o impacto de possíveis flagelos, tanto para o meio ambiente
como para a sociedade. Não levar em conta os processos e toda sistemática
que rege e é regida em zonas costeira, redunda em problemas que facilmente
influenciaram a conjuntura social de um determinado lugar, e com mais
contundência as sistemáticas que envolvem ambientais.
119
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A ocupação desordenada e adensada, em alguns pontos da orla do
município de Paracuru, vem promovendo a erosão mais acentuada do que é de
praxe ser observado nos processos naturais.
O que se mais foi constado é que precisa existir uma maior inteiração
entre os grupos envolvidos para que haja realmente uma gestão composta de
fins que redundem na preservação de ambientes costeiros. No que tange ao
epistemológico, a academia e os institutos de auditoria ambiental precisam
estar em consonância. Essa ação aperfeiçoaria a legislação e
conseqüentemente os órgãos que são responsáveis pela fiscalização
trabalhariam de maneira uniforme, sem distorções na vigência legal das ações.
E daria mais idoneidade para grupos de estudo se inteirar da legislação nas
mais diversas esferas da administração publica.
A gestão integrada se mostra uma ferramenta importante, pois sintetiza
o problema, considerando as variáveis de estudo envolvidas dando um retrato
do sistema complexo de interações existentes e co-existentes na gerencia de
problemas que não envolvem o ambiental, mas vários setores, grupos e
classes. Dando possibilidades coerentes e visíveis de mostrar ao gestor publico
um modelo de ordenamento do território, com o intento maior que o real
significado de desenvolvimento, além de balizar as ações de modo sustentável.
Os sistemas de informações geográficos (SIG) subsidiaram os estudos
no viés do zoneamento e caracterização ambiental do município de Paracuru e
apontaram os problemas, que no campo, foram vistos e constatados seus
possíveis efeitos
Mais que qualquer outro sistema de inteirações entre e a natureza, os
espaços litorâneos precisam ser preservados tamanha sua vulnerabilidade e
relação com os níveis de intercessão com a sociedade. Não se pode falar,
atualmente, de separação, pois as bases setoriais de classe e intervenções
120
econômicas estão muito presentes e já fazem parte do mosaico da paisagem
costeira. O que se deve ter em mente, com as constatações, no estudo
levantado, é que medidas mitigadoras não somente necessárias, mas também
todo um sistema de políticas que, acima de tudo, revelem á todos os grupos,
que fazem parte do processo de formação e configuração do espaço, todas as
nuances do espaço que estão inseridos, remetendo uma compreensão que
redunde em iniciativas que promovam o ambiente.
Os elementos que envolvem o estudo do uso e ocupação de uma
determinada área fornecem uma serie de variáveis que devem ser postas e
consideradas quando falamos de gestão em que são contidos os
planejamentos e ações reguladoras.
É importante repensar o conceito de uso e ocupação, pois na pesquisa,
o estudo do uso e ocupação do solo passa a ser uma ação considerada com
geral, mas não somente uma ação de caráter especifico dado pela
complexidade dos processos que envolvem os possíveis efeitos da
apropriação, não normatizadas e má fiscalizadas, das zonas costeiras na
conjuntura econômica atual.
E consideramos que existir uma legislação pautada na especificidade
das zonas costeiras (mais propriamente a orla do município) é concebível e
coerente quando não pensamos somente nos vários agentes contidos na
formação do espaço costeiro, mas também a variedade de elementos de
ordem natural que formam a paisagem costeira.
Promover uma educação ambiental no município de Paracuru é de
pontual relevância, pois além de causar conscientização, possibilita a leitura da
problemática já existente.
Ação de manejo por parte da administração publica, são bem relevantes
quando ponderamos o avanço das linhas e costa do município e o nível de
erosão já constado em estudos na orla do município de Paracuru.
121
Planejar a ocupação humana ao longo de áreas costeiras é fundamental
para minimizar o impacto de possíveis flagelos, tanto para o meio ambiente
como para a sociedade a qual é participante do processo.
125
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