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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ CENTRO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA LUCIANO FILHO DE SOUSA PAULA ANÁLISE INTEGRADA DE UNIDADES DE PAISAGEM SUBMERSAS NA PLATAFORMA CONTINENTAL ADJACENTE AO MUNICÍPIO DE ITAREMA (CEARÁ, BRASIL): SUBSÍDIOS PARA GESTÃO TERRITORIAL FORTALEZA - CEARÁ 2014

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ

CENTRO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA

LUCIANO FILHO DE SOUSA PAULA

ANÁLISE INTEGRADA DE UNIDADES DE PAISAGEM SUBMERSAS NA

PLATAFORMA CONTINENTAL ADJACENTE AO MUNICÍPIO DE ITAREMA

(CEARÁ, BRASIL): SUBSÍDIOS PARA GESTÃO TERRITORIAL

FORTALEZA - CEARÁ

2014

LUCIANO FILHO DE SOUSA PAULA

ANÁLISE INTEGRADA DE UNIDADES DE PAISAGEM SUBMERSAS NA

PLATAFORMA CONTINENTAL ADJACENTE AO MUNICÍPIO DE ITAREMA

(CEARÁ, BRASIL): SUBSÍDIOS PARA GESTÃO TERRITORIAL

Dissertação submetida à Coordenação do

Programa de Pós-Graduação em Geografia

da Universidade Estadual do Ceará, como

requisito parcial para aquisição do grau de

mestre em Geografia. Área de concentração:

Análise ambiental e Ordenação do território

nas regiões semiáridas e litorâneas.

Orientação: Prof. Dr. Jáder Onofre de Morais

FORTALEZA, CEARÁ

2014

Aos meus pais Luciano e Érica,

E aos meus irmãos Amanda, João

Paulo e Lucas.

AGRADECIMENTOS

Há seis anos, iniciei minha vida acadêmica na Universidade Estadual do Ceará,

no curso Bacharelado em Geografia, onde no primeiro semestre de 2009,

conheci o então professor titular na disciplina Geologia Geral do Curso, Dr.

Jáder Onofre de Morais, que me fez despertar o interesse pela Geologia e

Geomorfologia Costeira e Oceânica; o Professor Morais, prontamente apoiou

meu desejo em aprofundar os estudos nesta linha de pesquisa, sua equipe de

professores e estudantes de graduação e pós-graduação, as professoras

Lidriana, Andréa, professor Paulo Pessoa, o então estudante de Doutorado,

Davis Pereira, hoje professor da Universidade Estadual Vale do Acaraú, os

alunos de pós-graduação Marisa, Silvio, Marcos Brito, os estudantes de

graduação Raquel Soares, Judária Maia, Gustavo, Mariana, Maciel Moura, me

receberam de braços abertos e me transmitiram os primeiros artigos, textos,

revistas e ensinaram a manusear os primeiros equipamentos, disponíveis no

LGCO. No ano seguinte, os amigos de graduação, Renan, Dudu, Mailton, Paty,

Guilherme, Silvia, ingressaram e vieram somar forças a nossa equipe. Nesta

época o “comandante” Ciarlini, veterano da equipe, volta a casa, agora como

estudante de pós-graduação (Doutorado), vindo a contribuir com sua

experiência, alegria e desenvoltura acadêmica para todos nós.

Aos meus tios, Tarcísio e Conceição que me acolheram no ceio do seu lar e

me deram todo o amor e carinho, antes recebido de forma semelhante de meus

pais e avós. Aos primos, Adeilde, Tarcísio, Marcelino, Adeliane, Claúdio, que

dividiram, além do espaço físico de sua casa, a amizade, o companheirismo e

a cumplicidade, sentimentos por vezes superior aos de irmãos.

A fé em Deus, Jesus Cristo seu filho, no derrame de bênçãos do espírito Santo

e na intersessão de Nossa Senhora de Fátima, minha padroeira.

Ao exemplo de vida dos meus pais, Luciano e Érica, que muito me motivam a

retribuir tudo o que fizeram e fazem até hoje por mim e por meus irmãos,

Amanda, João Paulo e Lucas.

“Serenai verdes mares, serenai, e alisai docemente a vaga impetuosa, para que o barco aventureiro manso resvale à flor das águas”.

José de Alencar.

Serenai mesmo, verdes mares, pois precisamos da mansidão das águas para que o trabalho no mar possa ser realizado com melhores resultados.

Luciano Filho

RESUMO

Estudos que tratem da Plataforma Continental do Nordeste Brasileiro

remontam a segunda metade da década de 60. Os trabalhos realizados

caracterizaram de forma regional a superfície e a subsuperfície deste ambiente

submerso. O município de Itarema e Acaraú estão localizados no litoral oeste

do estado do Ceará. Este trabalho tem por objetivo principal analisar e

entender a configuração geomorfológica da Plataforma Continental adjacente a

estes dois municípios. Essa análise se deu a partir dos dados sísmicos,

batimétricos e sedimentológicos obtidos em expedições oceanográficas. Na

área de estudo, observou-se que a Plataforma Continental, defronte aos

municípios, possui características similares às observadas no estado do Ceará.

Na paisagem submersa desse setor do estado, foram identificadas uma série

de feições submersas. Para a consecução do trabalho, foram realizados

levantamentos bibliográficos acerca das características oceanográficas da

área, incluindo a dinâmica de flutuação do nível médio do mar, as mudanças

tectônicas, o suprimento sedimentar, as correntes, as ondas, as mudanças

climáticas. Percebeu-se que associações desses processos respondem pelas

modificações na configuração do assoalho marinho. Com base nos dados

levantados, foi possível identificar as morfologias de fundo, com o apoio técnico

de equipamento de geofísica, consubstanciando assim com registros sísmicos

da área, associados a amostras de sedimentos das áreas sondadas. Os

registros sísmicos nos permitem observar alguns ambientes ou patamares no

trajeto da plataforma rasa seguindo em direção à plataforma média. Estas

observações podem contribuir com informações acerca da configuração

geomorfológica dessa região, entender os processos formadores dessas

feições para o correto manejo e uso sustentável desse frágil ambiente.

Palavras–chave: Plataforma Continental, Feições Submersas, Sísmica Rasa.

ABSTRACT

Studies dealing with the Brazilian Northeast Continental Shelf date back to the

second half of the 60s, the work done regionally characterized the surface and

the subsurface of this underwater environment. The municipality of Itarema and

Acaraú are located on the west coast of the state of Ceará, where this work is

meant to examine and understand the geomorphological setting of the

Continental Shelf adjacent to these two municipalities. The seismic,

bathymetric and sedimentological data were taken from previous oceanographic

expeditions in the area. It was observed that the Continental Shelf adjacent to

those municipalities has similar characteristics to those observed in the state of

Ceará but at in its transitional coast line expose very peculiar spits and bars.

The underwater landscape of that state sector was observed and identified a

number of submerged features, characterizing them according to the

classifications available in the literature. To achieve the results, a great

bibliographic survey and field work have been focused the oceanographic

characteristics of the area, including the dynamic fluctuation of the mean sea

level, tectonic changes, sediment supply, currents, waves, climate change. It

was noticed that, all the associated processes, they will modify the configuration

of the seabed. Based on the data collected it was possible to identify the

sedimentary processes and kind of the relief of this underwater environment,

with the technical support of geophysical equipment, thus consolidating with

seismic records of the area, associated with sediment samples of the surveyed

areas. The winds prevailing in the NE - SE, influence the emerged and

submerged landscape, controlling the dynamic coastal and marine

environments. On the coast areas the sea waves dominates, and in extreme

events waves swell type has contributed to shaping the underwater landscape.

Seismic records provided us with the observation of some environments or

levels on the path of shallow platform heading for the middle platform. With this

it was observed that this data set, can bring great source of information about

the geomorphological setting of this region understand the formation processes

of these features for the correct management and sustainable use of this fragile

environment.

Key Words: Continental shelf, feições submersas, Sísmica rasa.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Mapa de Localização do litoral dos municípios de Itarema e

Acaraú.....................................................................................

20

Figura 2- Mapa Geológico sintético da margem continental cearense

(Silva Filho, 2004)...................................................................

25

Figura 3 - Plataforma Continental com linhas batimétricas da margem

Continental, (Silva Filho, 2004)...............................................

26

Figura 4 - Região da Costa Negra e sedimentos da área....................... 27

Figura 5 - Sedimentos contendo algas calcárias coletadas na área de

estudo.....................................................................................

28

Figura 6 - Mapa do Estado do Ceará com indicação dos principais

pontos de desembarque de pescado. Adaptado de

(SEPENE, 2008).....................................................................

29

Figura 7 - A Plataforma Continental e suas principais divisões. ........... 32

Figura 8 - Limites Mar territorial, Zona Econômica Exclusiva, e

Plataforma Continental............................................................

35

Figura 9 - Proposta Brasileira de delimitação da Plataforma

Continental submetida à CNUDM. (Domingues, 2011)........

36

Figura 10- Curva de variação do nível médio do Mar para os últimos

22.000 anos (modificado de Hanebuth 2011) Apud

Dominguez, 2011....................................................................

45

Figura 11- Modelo de formas de fundo e paisagem submersa adaptado

de Belderson, Jonhson & Kenyon, 1982) Adaptado de

(MONTEIRO, 2011)...............................................................

48

Figura 12 - Representação gráfica do comportamento dos sedimentos

na presença de um obstáculo, configurando a formação de

uma “marca de obstáculo”. Registro sísmico adquirido na

região entre Itarema e Acaraú, com o CHIRP 0512 do

PRONEX – Granulados marinhos – Laboratório de geologia

e geomorfologia Costeira e oceânica (LGCO)......................

50

Figura 13- A “sand wave” na secção transversal vertical para mostrar

principais características morfológicas e medidas. Adaptado

de Allen, 1979.........................................................................

53

Figura 14 - Representação esquemática da condução dos trabalhos na

Plataforma Continental de Itarema e Acaraú. (Adaptado de

PAULA, 2012)........................................................................

66

Figura 15 - Levantamentos sísmicos realizados....................................... 68

Figura 16 - Embarcação tipo lagosteiro, geralmente usada para os

levantamentos na plataforma..................................................

69

Figura 17- Sonar de varredura................................................................. 72

Figura 18- Registro de Sedimentos Lamosos dentro do estuário do rio

do Porto dos Barcos em Itarema............................................

84

Figura 19- Classificação a partir da reflectância GLCM Std Dev vertical 85

Figura 20 - Padrão de resposta sísmica................................................... 87

Figura 21- Padrão de resposta sísmica para diferentes texturas e

formas de fundo, cor (i) vermelha, (ii) amarela, (iii) roxo.....

90

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Análise Granulométrica amostras Itarema e Acaraú................ 78

Gráfico 2 - Classificação de Larsonnerur 1977/ Dias 1996........................ 78

LISTA DE MAPAS

Mapa 1 - Mapa de Localização.............................................................. 20

Mapa 2 - Mapa do Estado do Ceará com indicação dos principais

pontos de desembarque de pescado. Adaptado de (CEPENE,

2008). ................................................................................

36

LISTA DE TABELA

Tabela 1 - Análise granulométrica de amostras coletadas na área de

estudo. Comprovando a quantidade principal de material

carbonático, proveniente das algas calcárias que “recobrem ”

grande parte da plataforma continental daquela região...............

77

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................ 16

1.1 APRESENTAÇÃO ............................................................................................. 16

1.2 OBJETIVOS ....................................................................................................... 16

1.2.1 Objetivo Geral .................................................................................................. 16

1.2.2 Objetivos Específicos ...................................................................................... 17

1.3 JUSTIFICATIVA ................................................................................................. 17

1.4 LOCALIZAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO ...................... 19

1.4.1 Localização ..................................................................................................... 19

1.5 ESTADO DA ARTE ........................................................................................... 21

1.6 ASPECTOS CARACTERÍSTICOS .................................................................... 23

1.6.1 Geologia .......................................................................................................... 23

1.6.2 Geomorfologia ................................................................................................ 25

1.6.3 Economia local ................................................................................................ 28

2 CONTEXTUALIZAÇÃO DA PLATAFORMA CONTINENATAL .............. 31

2.1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 31

3 EMBASAMENTO TEÓRICO METODOLÓGICO ............................................. 37

3.1.1 Pensamento Geográfico ................................................................................. 37

3.1.2 Paisagem como unidade de análise .............................................................. 41

3.1.3 Mudanças Climáticas e a construção da paisagem submersa rasa da

Plataforma Continental ................................................................................... 44

3.1.4 Unidades de Paisagem ou formas Geomorfológicas de fundo ................... 47

3.1.5 Formas de fundo na plataforma em Acaraú e Itarema ................................. 53

3.1.6 A Plataforma Continental como espaço geográfico ........................... 54

3.1.7 Usos e Fluxos no Ceará ................................................................................. 57

3.1.8 Usos e fluxos em Itarema e Acaraú ............................................................... 58

3.1.9 Plataforma adjacente ao município de Itarema e Acaraú ............................. 60

4 MATERIAIS E MÉTODOS ........................ Erro! Indicador não definido.

4.1 GEOTECNOLOGIA APLICADA AS GEOCIÊNCIAS ......................................... 64

4.1.1 Sensoriamento Remoto ................................................................................. 64

4.2 MÉTODO SÍSMICO COMO FERRAMENTA PARA IDENTIFICAÇÃO DE

FEIÇÕES SUBMERSAS NA PLATAFORMA CONTINENTAL .......................... 64

4.3.1 Levantamento Sísmico .................................................................................. 66

4.3.2 Trabalhos no laboratório PRÉ-CAMPO ......................................................... 67

4.3.3 Bancada: Calibração de equipamentos, limpeza e operacionalização. ...... 67

4.3.4 Trabalhos de campo ....................................................................................... 68

4.3.5 Trabalhos de Gabinete pós-campo ................................................................ 68

4.4 TRABALHOS DE LABORATÓRIO PÓS-CAMPO ............................................. 71

4.4.1 Processamento de Dados Sísmicos .............................................................. 71

5 DISCUSSSÃO DE DADOS .................................................................... 75

6 RESULTADOS E CONCLUSÕES ......................................................... 80

REFERÊNCIAS ....................................................................................... 90

16

1 INTRODUÇÃO

1.1 APRESENTAÇÃO

Os trabalhos mais recentes realizados, para a caracterização do

assoalho marinho da Plataforma Continental brasileira, remontam ao final da

década de 60, durante as Operações GEOMAR associadas ao grupo do

PGGM (Morais, 1998), e das décadas de 70 e 80, durante a realização do

Projeto REMARC (Reconhecimento da Margem Continental) (Damuth &

Hayes).

Na última década, o interesse em estudar o geoambiente raso da

Plataforma Continental ressurge devido aos novos usos e fluxos impostos pela

sociedade moderna, tais como: (i) entrada do Brasil na Convenção das Nações

Unidas sobre o direito do Mar (CNUDM), reunião de países das Nações Unidas

que discutem as Ciências do Mar, a delimitação da Plataforma Continental

elaborada pela parceria entre a Petrobras e a Marinha do Brasil (Projeto

LEPLAC – Plano de levantamento da Plataforma Continental Brasileira); (ii) A

necessidade cada vez maior de matérias-primas para suprir as demandas do

desenvolvimento da sociedade moderna, tais como petróleo, implantação de

emissários submarinos, instalação de cabos submersos para transmissão de

dados, operações portuárias e cabotagem; (iii) preocupação em se entender os

fluxos e o geossistemas marinho, processos e ciclos que ocorrem naquele

setor do território; (iv) demanda cada vez maior por recursos minerais

depositados na Plataforma Continental, tendo em vista a escassez desses

materiais nas áreas continentais; (v) necessidade de se conhecer e demarcar

politicamente a presença do estado brasileiro neste setor do território.

1.2 OBJETIVOS

1.2.1 Objetivo Geral

Estudar as unidades de paisagem submersas à Plataforma Continental

dos municípios de Acaraú e Itarema-CE como forma de gestão territorial de

17

ambientes marinhos, contribuindo para compreensão dos episódios naturais

que levaram à construção desse geoambiente e sua importância para o

desenvolvimento de atividades tradicionais, como a pesca artesanal.

1.2.2 Objetivos Específicos

- Caracterizar a paisagem submersa a partir de informações sísmicas e

faciológicas;

- Identificar as principais formas de uso das paisagens submersas, visando o

seu aproveitamento de forma sustentável pela sociedade;

- Avaliar a interação ambiental entre as unidades de paisagem e as atividades

antropogênicas desenvolvidas na região.

1.3 JUSTIFICATIVA

Conhecer as feições, a configuração da plataforma de Itarema e Acaraú

irão contribuir para o planejamento ambiental, tomada de decisão, melhorar as

políticas públicas relativas ao uso do espaço. Área essa que, há décadas, é

utilizada por comunidades tradicionais que vivem da pesca ou com atividades

ligadas à pesca, chamada de cadeia produtiva pesqueira.

As formas de uso devem ser desenvolvidas com coerência e baseada

em princípios já estabelecidos em lei, atenuando os impactos ambientais. Para

isto se faz necessário o conhecimento dos substratos e a compartimentação

geoambiental, delimitando o geossistema, as geofácies e os geotopos.

O interesse em estudar a região submersa de Acaraú e Itarema vem da

importância de entender o arranjo e as formas de feições morfológicas daquela

região, para uma melhor contribuição às pesquisas aplicadas a outras áreas do

litoral cearense. Os bancos de algas calcárias, encontrados naquele setor

litoral cearense, e as antigas linhas de costa submersas, possivelmente, dão

conta de flutuações do nível médio do mar. Além disso, as jazidas de material

siliciclásticos, para aproveitamento na indústria da construção civil e engorda

18

de praias, são alguns exemplos de feições identificadas na área de estudo. É

importante observar a ocorrência de bancos de algas (cascalhos) e os

possíveis habitats de lagostas naquela região, configurando outro objetivo

específico do trabalho. Coletar imagens e sedimentos destas feições poderia

contribuir para o conhecimento do ambiente submerso cearense, pouco

contemplado pelos estudos científicos realizados na área em causa.

É uma região com intensa atividade econômica na Plataforma

Continental, com expressiva produção de lagosta, peixes e moluscos (polvo). A

atividade turística também exerce pressão ambiental, tráfego marítimo, entre

outros.

O estado do Ceará tem uma Plataforma Continental apresentando

larguras médias em torno de 63 km, segundo estudos realizados por (Morais,

2000). No litoral norte do Ceará, extremo oeste de Fortaleza, em frente

município de Camocim, a plataforma apresenta larguras chegando a 100 km e

mínimas de 40 km ao largo do município de Icapuí, extremo leste do Estado,

divisa com o Rio Grande do Norte. No início da década de 60, os estudos

realizados pela então, Estação de Biologia Marinha e depois em 1969 quando

adquire o status de Instituto de Ciências do Mar (LABOMAR), iniciam os

trabalhos de reconhecimento do substrato marinho e sedimentos que a

constituem, sempre na interface praia – plataforma, mar profundo. Expedições

oceanográficas a bordo do Navio Oceanográfico Almirante Saldanha deram

impulso aos conhecimentos, associando o tipo de sedimentos e organismos

bentônicos, nas Operações Norte-Nordeste I e II. Porém os dados relativos aos

substratos que a compõem são escassos e remontam a dados levantados

pelos Projetos GEOMAR e REMAC.

Esta dissertação de mestrado, trata de forma mais específica o setor

oeste da Plataforma Continental defronte aos municípios de Itarema e Acaraú,

litoral oeste do estado do Ceará, que vem historicamente sendo utilizada para a

pesca artesanal, constituindo sua principal fonte de renda. O turismo de sol e

praia da zona costeira também constitui outra forma de uso. A disposição de

esgotos domésticos, construção de currais de pesca são fatores que

19

despertam a atenção para o controle ambiental. Concomitante a isso, o

trabalho traz uma prévia avaliação do potencial mineral da área, além da

existência de granulados marinhos (siliciclásticos e bioclásticos) de importância

econômica. A avaliação do posicionamento de antigas linhas de costa imprime

o caráter da importância científica deste estudo.

1.4 LOCALIZAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

1.4.1 Localização

Os municípios Itarema e Acaraú fazem parte do litoral oeste do estado

do Ceará, na região Nordeste do Brasil. A área pertinente a este estudo está

limitada pelas coordenadas geográficas: latitude 02º 55’ 13” S, longitude 39º

54´ 54´´W , altitude de 34 m, área total do município de 738, 4 Km² na zona

24S (Figura 1). A área limita-se ao Norte com o Oceano Atlântico, ao Sul com

os municípios de Marco, Morrinhos e Amontada, a Oeste com os municípios de

Cruz e Bela Cruz e a Leste com o município de Amontada.

Área caracterizada por temperaturas oscilando em torno de > 25º C,

pluviosidade média de 1.172, 21 mm (1977 – 2004) (FUNCEME, 2014),

velocidade média dos ventos de 5,5 m/s, e sentindo preferencial de leste, o

litoral é regido por um regime de mesomarés 1,48 m (DHN) ondas médias

medindo em torno de 0,56 m (DHN).

20

Figura 1 - Mapa de localização do litoral dos municípios de Itarema e Acaraú.

21

1.5 ESTADO DA ARTE

No litoral dos municípios de Itarema e Acaraú, estudos foram realizados

desde a década de 1960. A gama de feições geomorfológicas e um complexo

sistema litorâneo são dominantes naquele setor do estado do Ceará. Elevado

estoque de sedimentos, regidos por processos eólicos, marinhos e fluviais ou

fluviais, geram largas faixas de praia e cordões arenosos, pelos quais aquele

litoral é conhecido. Esses estudos da linha de costa, praia e Plataforma

Continental interna, contribuíram para o entendimento e caracterização da

região. Esse fato contribui com os resultados aqui obtidos aprimorando o

conhecimento aprofundado da plataforma continental.

A geofísica é uma importante ferramenta para a investigação de

ambientes submersos, seja pela dificuldade em se trabalhar em áreas

“cobertas por água”, seja pelas excelentes imagens que os equipamentos

modernos, geram (Ayres Neto, 2000; Quaresma et AL., 2000, Souza, 2006).

Essa ferramenta nos permite observar e obter dados, tanto do assoalho

(piso) como da subsuperfície (o que está abaixo do fundo). Identificar feições

nos ambientes submersos torna-se possível com a utilização de sonografia,

tais como: side scan sonar (sonar de varredura lateral), sub bottom profiler

(capaz de obter dados da subsuperfície) e sondas batimétricas.

Por apresentar a declividade suave e plana, com profundidades baixas

de até 100 metros, é possível observar a paisagem submersa da plataforma

continental com precisão.

O número de estudos de caso detalhados são escassos devido às

dificuldades que encontradas pelos grupos de pesquisa em se trabalhar nos

ambientes offshore. Por outro lado, tecnologias recentes, disponíveis para

subsidiar estudos relativos aos ambientes submarinos, dão suporte aos

pesquisadores, somando-se a crescente disponibilidade de dados adquiridos

comercialmente (imagens de satélite de alta resolução, por exemplo). Isso

amplia a compreensão da evolução da paisagem submarina. Esses avanços

22

fornecem evidências cruciais para avaliar os impactos do futuro aumento do

nível do mar nas economias costeiras e ecossistemas ligados ao mar. É

impotante lembrar que a principal fonte de renda daquela região, é a pesca da

lagosta, segundo dados da CEPENE e IBGE (1998, 2013).

A introdução do método sísmico para aquisição de imagens do fundo do

mar, sistemas de mapeamento de alta resolução, como o echosouder

multifeixe (SMF) ocorreu na década de 90. O sistema LIDAR, para

levantamentos batimétricos, trouxe novas informações disponíveis sobre a

morfologia submarina (Souza, 2006). A análise dos dados SMF gera modelos

batimétricos e mosaicos de retroespalhamento acústico, capazes de

representar com precisão a distribuição espacial do relevo submerso pelas

águas transgressivas (como as formas de fundo, como declividade e

rugosidade de feições). Juntamente com o tipo inferior e composição, os

estudos de ambientes submersos ganharam substancial melhoria e precisão.

Esses métodos vieram alavancar o conhecimento de ambientes antes

desconhecidos. Informações, em termos de batimetria, tipo de distribuição do

fundo do mar e geomorfologia, são de extrema valia para a descrição do fundo

do mar, processos e morfologia, em melhor planejar o uso e definir fluxos que

podem ocorrer neste espaço geográfico (Bastos, 2005).

Diversos estudos já foram apresentados sobre plataforma continental do

município, tais como, trabalhos relativos à linha de costa, elevação do nível do

mar, migração de barras arenosas, migração de desembocaduras fluviais,

pescado e lagostas (Araujo e Freire, 2007, Morais, 2000, Fonteles e Morais,

1997, Cavalcanti, 2011, Freire e Cavalcanti, 1998).

A investigação de ambientes submersos rasos (rios, reservatórios,

áreas costeiras e plataforma continental interna), no entanto, tem despertado

especial interesse no Brasil e no mundo nestes últimos anos (Souza, 2008). Os

materiais disponíveis nestes ambientes constituem fonte de matéria-prima

capaz de mover a produção e a cadeia produtiva do País, estado e municípios

costeiros.

23

Para que se possa estudar, explorar e explotar tais materiais e fontes de

matérias-primas, os métodos de prospecção incluem principalmente a sísmica

de reflexão de alta resolução, que proporciona o real arranjo e a identificação

sedimentar, geometria dos sedimentos e feições submersas. Segundo

Augris&Cressard (1991), existem dois métodos para prospecção e

mapeamento de formas sedimentares e jazidas de recursos minerais,

resumidos logo a seguir: (i) Método Indireto: investigação utilizando

equipamentos de varredura lateral e sub-superfície, sonares e batimetria. (ii)

Método Direto: consiste em amostragens pontuais, em loco: mergulhos

autônomos ou imageamentos com ROV´s e/ou câmeras subaquáticas.

1.6 ASPECTOS CARACTERÍSTICOS

1.6.1 Geologia

Na região, afloram os sedimentos da Formação Barreiras (Mioceno/plio-

plesitoceno) (Morais, 2000), por vezes sobrepostos por sedimentos do

Holoceno. A região está acomodada na margem passiva do Ceará (Costa et.

all., 1990, Silva Filho, 1990). O estado do Ceará abrange três blocos crustais

maiores, colados durante a Orogenia Brasiliana/Pan-Africana, entre 640 e 580

Ma (Jardim de Sá, 1994): Domínio Noroeste do Ceará, Domínio Ceará Central

e Domínio Rio Grande do Norte (Fetter et al., 2000). Tais domínios são

separados entre si por descontinuidades crustais de grande porte, como a zona

de cisalhamento Sobral-Pedro II, situada entre os domínios Noroeste do Ceará

e Ceará Central e que faz parte da extremidade nordeste do Lineamento

Transbrasiliano, e a zona de cisalhamento de Senador Pompeu, situada entre

os domínios Ceará Central e Rio Grande do Norte. Também se destacam

outras feições, como as zonas de cisalhamento de Granja (Noroeste do Ceará),

Tauá (Ceará Central) e Jaguaribe (Rio Grande do Norte).

A geologia, o clima, a drenagem e o padrão estrutural das partes

emersas condicionam a sedimentação e a disposição de feições da plataforma

rasa e estreita do Ceará (Morais, 1998).

24

A bacia do Ceará está localizada na Plataforma Continental da margem

equatorial brasileira, estendendo-se de Noroeste para Sudeste, entre o Alto de

Tutóia e o Alto de Fortaleza (Morais, 1998). Está situada também entre a bacia

de Barreirinha e a bacia Potiguar. Sua limitação ao Norte confronta a falha

transformante do Ceará, associada à Zona de fratura Romanche, e pelo guyot

do Ceará, da mesma gênese da cadeia de Fernando de Noronha. Ela é

explorada desde 1971 com poços de hidrocarbonetos com índice de sucesso

de 19% (Morais, 1998). Com a separação dos continentes africano e sul-

americano, na qual está relacionada a sua formação, segundo classificação de

Klemme (1984) apud. Morais (1998), essa bacia se enquadra como bacia

continental do tipo rift. em margem divergente. A bacia do Ceará engloba no

seu sistema a sub-Bacia do Acaraú, que apresenta baixos potenciais para

geração de hidrocarbonetos.

A região “assentada” sobre o embasamento geológico cristalino,

Formação Barreiras e sedimentos recentes holocênicos, somado a fatores,

oceanográficos como, direção de correntes, ondas, regime de marés,

transporte sedimentar, dinâmica fluvial, e fatores climáticos como, regime de

chuvas, vão contribuir para o atual arranjo das feições geomorfológicas da

plataforma continental cearense.

25

Figura 2- Mapa Geológico sintético da margem continental cearense.

Fonte: Silva Filho, 2004.

1.6.2 Geomorfologia

O relevo é relativamente plano alternado com fundos irregulares, a oeste

da desembocadura do Aracatimirim, os pescadores chamam as irregularidades

de “chão mole e chão duro”, fazendo alusão às descontinuidades dos

sedimentos lamosos e sedimentos arenosos (campos de sandwaves). Notamos

que as irregularidades geomorfológicas seguem as descontinuidades das

linhas batimétricas observadas nas cartas náuticas disponibilizadas pela DHN

que ocorrem naquele setor a oeste do Aracatimirin, na isóbata de até 9 m

(segundo conversas com os mestres de barcos da região). A figura 3 mostra o

a configuração da paisagem.

A largura média da plataforma continental é de 78 km e possui

declividade suave em direção a quebra da plataforma, estende-se desde a

26

zona de praia com gradiente de declividade muito baixo (1:1000) (Morais,

1998) até a porção de rompimento brusco deste gradiente, conhecido como

quebra da plataforma. Essa diferença de declividade é denominada, pelos

pescadores artesanais locais, de “barranco”, devido ao mergulho abrupto que

pode ser observado a partir dos 78 km de distância da costa, na isóbata dos

80 m de profundidade.

Figura 3 - Plataforma Continental com linhas batimétricas da margem

Continental.

Fonte: Silva Filho, 2004.

Navegando em linha reta em direção ao Norte, observa-se a

configuração da Plataforma Continental, com suas inconformidades

geomorfológicas. Bem próximo do litoral (praia), encontram-se grandes bancos

de areias (sandwaves), intercalados por pequenas depressões com fundos de

material de granulometria mais fina e com coloração escura, demonstrando a

presença de carbonatos possivelmente mais antigos. A priori creditava-se que

27

essa coloração escura era relativa à presença de matéria orgânica proveniente

do rio Aracatimirin, porém, em análises laboratoriais, percebeu-se que os

teores de matéria orgânica eram insignificantes. Por outro lado, os teores de

carbonatos continuaram constantes, cerca de 85%, todavia, em solução de HCl

percebeu-se grande perda do material de coloração escura. Isso dá condições

de constatar que, na verdade, trata-se de carbonatos mais antigos, contudo,

não foram feitas as datações. Em trabalhos que se seguirão haverá condições

de precisar a dúvida supracitada. Será uma informação bastante pertinente

tendo em vista que, trabalhos recentes, remontam a característica escura dos

sedimentos à matéria orgânica, influenciada pela descarga sedimentar do rio

Aracatimirim. Com essas análises, percebe-se que não se trata de matéria

orgânica, e sim, carbonatos “sujos”. Pode-se observar, nas figuras 4 e 5, a

presença de minerais pesados de coloração escura.

Figura 4 - Região da Costa Negra e sedimentos da área.

Fonte: Próprio autor.

Os bancos de algas coralinas constituem a paisagem submersa da

região, formações bioconstruídas predominam nessa plataforma (Morais,

1998). Os sedimentos carbonatados são dominados por algas coralinas

ramificadas (rodólitos) (figura 6), consorciado em menor quantidade por

halimeda.

28

Figura 5 - Sedimentos contendo algas calcárias coletadas na área de estudo.

Fonte: Próprio autor.

A sedimentação carbonática é dominante devido à fraca competência

hídrica dos rios da região e o pobre suprimento de sólidos em suspensão em

decorrência da semiaridez do clima. A região continental tem a seguinte

configuração geomorfológica: Tabuleiro pré-litorâneo, caracterizado por trechos

estáveis e com suscetibilidade para a ocupação e uso por parte da população,

caracterizado por feições tabulares recortadas por interflúvios; planície costeira,

que pode ser subdividida em planície aluvial, estuarina e arenosa (Souza,

1989, 1994, Sales, 2002).

1.6.3 Economia local

O litoral do Estado do Ceará, com 573 km, representa 8,5% do litoral

brasileiro (SEPENE, 2008). É composto por 20 municípios costeiros, com 113

pontos de desembarque distribuídos em comunidades que exploram

invariavelmente a pesca extrativa marinha e/ou estuarina. O pescado estadual

é desembarcado, principalmente, nos municípios abaixo discriminados, com

suas respectivas comunidades pesqueiras de maior produção (SEPENE, 2008)

(figura 6).

29

Figura 6 - Mapa do Estado do Ceará com indicação dos principais pontos de

desembarque de pescado. Adaptado de SEPENE, 2008.

Fonte: SEPENE, 2008.

Itarema se destaca por sua produção e participação nos percentuais no

total da captura do Estado, com produção em 2006 de 1554,8 t – 9,4%, Acaraú

com 1910,9 t, correspondendo a 11,5% da produção total do Estado, figurando

como um dos maiores produtores. Com relação ao montante de dinheiro

movimentado pelo setor, em 2006, o Estado do Ceará movimentou mais de

R$110.000.000 milhões de reais. Itarema contribuiu com 15,8% desse

montante, representando em valores reais mais de 17 milhões, Acaraú,

participou com 14,6%, com valores da ordem de mais de 16 milhões de reais.

Vale salientar que a significativa participação dos municípios do litoral oeste

(Camocim, Acaraú e Itarema) no total da produção estadual de 1999 a 2006

concede a esses municípios a posição de maiores produtores do Estado

(SEPENE, 2008).

Desde a sua fundação, a região de Itarema e Acaraú tem a pesca com

sua principal atividade econômica. Destacou-se, inicialmente, com a pesca do

30

camurupim, praticada no litoral de Acaraú que atualmente é um dos maiores

produtores de lagosta do Estado e, agora, tem no camarão mais uma

alternativa de renda.

A pesca artesanal faz parte da cultura local e representa a fonte de

renda de comunidade pesqueira local, movimentando uma cadeia produtiva

importante. Exercida por barcos artesanais, teve participação relevante em

2006, correspondendo a 58,6% da produção total desembarcada nesse ano,

com ênfase para canoas e paquetes – respectivamente – com 28,1% e 17,1%

do total. Somam-se também as lanchas motorizadas com 34,8% e os barcos

industriais com 6,1%. Os barcos artesanais buscam, geralmente, a captura de

espécies que ocorrem mais próximas à costa, como é o caso da lagosta,

guaiúba, ariacó, biquara, arraia, cavala, serra e caíco (peixes diversos com

menos de 1,0 kg/indivíduo). Os barcos motorizados de médio porte (lanchas e

botes motorizados) têm um maior raio de ação e além de buscarem a captura

de lagosta, espécie nobre, capturam também durante determinadas épocas do

ano, guaiúba, cavala, serra, arabaiana e pargos (SEPENE, 2008).

A captura mais significativa e rentável em Itarema e Acaraú é de lagosta

vermelha (Panuliris argus) e da lagosta verde (Panuliris laevicauda) que são

encontradas em bancos de algas calcárias. Constituídos, em sua maior parte,

por fragmentos de algas vermelhas da família Rhodophyceae, principalmente

do gênero Lithothamnium, as quais se apresentam sob a forma de artículos

ramificados livres, de nódulos verrucosos ou arborescentes, com tamanho

variável e que são vivos apenas na superfície superior (SILVA, 1998), por algas

verdes da família Chlorophyceae, dos gêneros Halimeda, Udotea e Penicillus

(COUTINHO; MORAIS, 1970; FONTELES-FILHO, 2007) além de areias e

cascalhos biodetríticos formados por uma mistura de fragmentos de moluscos,

briozoários e foraminíferos. Associado a alta salinidade e os fundos

carbonáticos, torna-se o habitat favorável a proliferação do crustáceo.

31

2 CONTEXTUALIZAÇÃO DA PLATAFORMA CONTINENTAL

2.1 INTRODUÇÃO

A Plataforma Continental é uma região plana de baixa declividade que

bordeja o continente, no caso do Ceará, no último máximo glacial, encontrava-

se emersa. A elaboração da plataforma está associada a diversos fatores,

dentre os quais: o controle tectônico exposto anteriormente, o controle

morfotectônico, controle biológico, as variações do nível do mar, sobretudo no

Quaternário, além dos fatores condicionados pela litologia e topografia

(MORAIS, 2000).

Morais & Freire (2003) apresentaram estudos sobre a Plataforma

cearense, afirmando categoricamente que a Plataforma é o prolongamento do

continente, submergindo gradativamente mar adentro. É relativamente plana,

estende-se desde a zona litorânea, logo após a praia, e mergulhando em suave

declive até a quebra da Plataforma. A partir da “quebra”, chamada localmente

pelos pescadores por “barranco”, encontra-se o início do Talude continental

que representa um mergulho abrupto até profundidades superiores a 2.000

metros de profundidades, onde inicia o sopé continental.

32

Figura 7 - A Plataforma Continental e suas principais divisões.

Fonte: Adaptado de (http://geografianosecundario.blogspot.com.br/2014_05_01_archive.html).

A Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, em sua parte

V, artigo 56, assegura ao Estado Costeiro “Direitos de Soberania para fins de

exploração e aproveitamento, conservação e gestão dos recursos naturais,

vivos ou não vivos das águas sobrejacentes ao leito do mar e seu subsolo, e no

que se refere às outras atividades com vista à exploração e aproveitamento da

zona para fins econômicos como a produção de energia a partir da água, das

correntes e dos ventos”. Cerca de 50 nações já definiram suas ZEE`S e estão

realizando amplos programas de pesquisa, visando identificar e quantificar o

potencial de seus recursos. A seguir, um quadro ilustrativo com as principais

deliberações:

Convenção das Nações unidas sobre o Direito

do Mar:

1. Apoiar e incentivar a exploração racional da Plataforma Continental Jurídica Brasileira (PCJB) foi recomendado à Comissão Interministerial para os recursos do mar (CIRM) como uma meta a ser atingida durante a vigência do V Plano Setorial para os recursos do mar (PSRH).

33

2. O potencial de recursos naturais da PCJB é praticamente desconhecido devido à ausência de mapeamento básico sistemático, visando identificar e delimitar esses recursos.

3. O Brasil, mais especificamente o Nordeste, possui

uma situação privilegiada com relação à existência de depósitos, praticamente inesgotáveis e inexplorados até hoje, de calcário biogênico / biodetrítico e siliciclástico. Esses depósitos constituem os recursos mais importantes da PCJB na região Nordeste e de mais fácil exploração.

4. A exploração e explotação de recursos naturais

renováveis e não renováveis da Plataforma Continental submarina e de zonas litorâneas do Estado do Ceará são responsáveis em grande escala pela geração de empregos, fortalecimento da economia regional e aumento da pauta de exportação.

A Convenção das Nações Unidas para o Direito do Mar (CNUDM) traz

algumas definições importantes a despeito do tema, que são os espaços

marítimos, abordados a seguir:

Espaço

Marítimo

Definição

Mar Territorial

(MT)

O Estado costeiro tem soberania a partir de seu território e

águas interiores até o que chamamos de zona de mar

adjacente, denominado mar territorial. Possui normalmente 12

milhas náuticas (m.n). A soberania se estende ao espaço

aéreo sobrejacente e também a seu solo e seu subsolo

(Sembra, 2012). Nesse espaço, a atividade científica é

estritamente exclusiva do estado costeiro, necessitando de

autorização prévia para outros estados acessarem esse

espaço. O trânsito de navios é permitido, sem que seja pedida

a permissão, desde que não inflijam as normas de soberania

e integridade territorial.

Zona Contígua

(ZC)

Fixada a uma faixa de 24 milhas náuticas (m.n) contadas a

partir das linhas de base. Está contígua ao mar territorial, nela

o estado costeiro poderá exercer direitos de fiscalização,

aduaneira e fiscal, de imigração e sanitários.

34

Zona

Econômica

Exclusiva

(ZEE)

Com limite estabelecido a 200 (m.n) das linhas de base, neste

espaço, o estado costeiro tem direito de exploração,

aproveitamento, conservação e gestão dos recursos minerais

e naturais, bióticos e abióticos, das águas sobrejacentes ao

assoalho marinho, do leito e da sua subsuperfície.

Plataforma

Continental

(PC)

Podemos entender como sendo a constituição do solo e do

subsolo das áreas submersas além do domínio do mar

territorial, pode-se ter sua extensão até o bordo exterior da

margem continental, ou seja, uma distância média de 200

(m.n) das linhas de base, quando a margem continental não

atinja essa extensão. As medidas da PC não poderão

ultrapassar as distâncias de 350 m.n. ou 100 m.n. da isóbata

de 2.500 metros. O limite da PC pode ainda ser definido, por

dois critérios alternativos: (i) até o alcance de 60 m.n. do pé

do Talude Continental ou (ii) até o local onde a espessura das

rochas sedimentares corresponda a 1% da distância desse

local até o pé do talude Continental (DOMINGUES, et al.

2011). A soberania do estado costeiro no território da

Plataforma Continental é irrestrita, a exploração e

aproveitamento de recursos vivos e não vivos do solo e do

subsolo, além de espécies que se movem em contato direto,

junto ao leito do mar (figura 8).

35

Figura 8 - Limites do Mar Territorial, Zona Econômica Exclusiva e Plataforma

Continental.

Fonte: Marinha do Brasil (http://www.mar.mil.br/menu_v/ccsm/imprensa/am_azul_mb.htm)

Adaptado.

O Estado brasileiro, desde a execução do projeto LEPLAC, submeteu à

CNUDM uma proposta de delimitação de Plataforma Continental no ano de

2004 (figura 9).

36

Figura 9 - Proposta Brasileira de delimitação da Plataforma Continental

submetida à CNUDM.

Fonte: Domingues, 2011.

37

3 EMBASAMENTO TEÓRICO METODOLÓGICO

3.1.1 Pensamento Geográfico

As bases do pensamento geográfico tiveram suas raízes históricas

sintetizadas ao longo dos séculos XVII, XVIII. Porém, foi somente no século

XIX que a Geografia começou a adquirir o status de conhecimento organizado,

contribuindo, portanto, com a interdisciplinaridade e penetrando nas

universidades. As disciplinas iniciais de Geografia foram criadas na Alemanha,

em 1870, e posteriormente na escola francesa. Baseadas e alicerçadas em

função das obras de Alexandre von Humboldt e de Carl Ritter, invadindo desse

modo a Alemanha e a França, pouco a pouco a Geografia foi se disseminando

por toda a Europa e logo em seguida para os demais países (Christofoletti,

1995).

As contribuições e as ideias apresentadas pelos geógrafos alemães e

franceses tiveram grande influência no desenvolvimento dessa ciência na

primeira metade do século XX. Se na Alemanha os trabalhos mais significativos

são os de Alfred Hettner; na França os trabalhos básicos são os de Paul Vidal

de La Blache.

Discutir e tratar da definição da Geografia é assunto delicado, embates

teóricos e filosóficos são travados diariamente a despeito do tema. Em

1925, Alfred Hettner considerava como objetivo fundamental da Geografia o

estudo da diferenciação regional da superfície terrestre. Essa definição foi

acatada e elaborada de modo minucioso por Hartshorne, em 1939, em sua

obra The Nature of Geography. Outra definição referia-se à análise das

influências e interações entre o homem e o meio, que se expressou de modo

claro na proposição de Albert Demangeon, em 1942: “é o estudo dos grupos

humanos nas suas relações com o meio geográfico”. Muito mencionada

também é a definição elaborada por Emmanuel de Martonne, em sua

obra Traité de Géographie Physique, cuja primeira edição surgiu em 1909 e a

última em 1951. De Martonne ponderou que a “geografia moderna encara a

distribuição à superfície do globo dos fenômenos físicos, biológicos e humanos,

38

as causas dessa distribuição e as relações locais desses fenômenos”. Embora

houvesse acordo de que a superfície terrestre era o domínio específico do

trabalho geográfico, essas definições e a prática da pesquisa geográfica

estavam eivadas de contradições dicotômicas.

Entre elas, duas merecem ser destacadas nesta oportunidade. A

primeira dicotomia se relacionava à Geografia Física e Geografia Humana.

Representando os conjuntos, meio geográfico e atividades humanas, a

Geografia Física se destinava ao estudo do quadro natural, enquanto a

Geografia Humana se preocupava com a distribuição dos aspectos originados

pelas atividades humanas. Em virtude do aparato metodológico mais eficiente

das ciências físicas e da esplêndida concatenação teórica elaborada

por William Morris Davis, a Geografia Física rapidamente ganhou a imagem de

ser a parte cientificamente mais bem consolidada e executada. Praticamente,

não havia mais necessidade de preocupações metodológicas e conceituais a

seu propósito. Destituída de aparato teórico e explicativo para as atividades

humanas, assim como da imprecisão dos procedimentos metodológicos, a

Geografia Humana sempre se debatia a procura de justificar o seu gabarito

científico e em estabelecer sua definição e finalidades como ciência. A esta

dicotomia se juntava o conflito conceitual de ser a Geografia uma “ciência

única” ou um conjunto de ciências. Os debates relativos a essa temática são

contínuos e sempre reabertos, sem chegar a uma conclusão definitiva. Do

artigo de Vidal de La Blache (1913) ao de Henri Baulig (1948), para

exemplificar, esses assuntos são relevantes.

A segunda dicotomia se refere à Geografia Geral e à Geografia

Regional. Objetivando estudar a distribuição dos fenômenos na superfície da

Terra, a Geografia Geral analisava cada categoria de fenômenos de maneira

autônoma. Essa focalização resultou na geografia sistemática ou tópica e na

subdivisão da geografia (geomorfologia, hidrologia, climatologia, biogeografia,

geografia da população, da energia, urbana, industrial, da circulação e outras).

Entretanto, deve-se lembrar de que o designativo geral não se referia ao

conceito da metodologia científica de procurar generalizações ou leis, mas se

baseava no princípio da “unidade terrestre” (La Blache, 1896) e na “escala

39

planetária” (Cholley, 1951). Levava em consideração o ato de comparar

constantemente determinado fenômeno em um lugar com “os fenômenos

análogos que podem apresentar-se em outros pontos do globo, a fim de

mostrar como é que as suas particularidades se explicam pelos princípios

gerais da evolução” (De Martonne, 1954, p. 18). Tendo em vista as concepções

davisianas, De Martonne exemplificou com o caso da morfologia litorânea.

Nessa circunstância, possuía-se um modelo de evolução das formas litorâneas

e a ele se comparavam as características dos casos cujas especificidades

propiciavam classificar conforme as etapas da evolução ou de acordo com os

tipos de influências externas (costas de emersão, costas de submersão, costas

atlânticas, costas pacíficas etc.).

A Geografia Regional procurava estudar as unidades componentes da

diversidade areal da superfície terrestre. Em cada lugar, área ou região a

combinação e a interação das diversas categorias de fenômenos se refletiam

na elaboração de uma paisagem distinta, que surgia de modo objetivo e

concreto. O estudo das regiões e das áreas favoreceu a expansão da

perspectiva regional ou cronológica, que teve como êmulo e padrão as

clássicas monografias da escola francesa. Preocupados em compreender as

características regionais, o geógrafo desenvolveu a habilidade descritiva,

exercendo a caracterização já estabelecida por La Blache, em 1913.

Defrontando-se com os casos, a explicação baseava-se em destrinchar a

evolução histórica e estabelecer a sequência das fases que culminariam nas

características atuais da referida área ou região. E, também, levando em conta

as concepções de que o globo era um organismo coerente, com as suas partes

funcionando de modo integrador, admitia-se que muitas unidades areais

executavam uma “função” em termos do conjunto. O desenvolvimento da

cultura canavieira no Nordeste brasileiro era para abastecer o mercado

europeu; os países-colônias eram abastecedores de matérias-primas para os

países imperialistas, e outras explicações similares puderam ser arroladas para

os mais diversos aspectos e categorias de fenômenos.

Na perspectiva cronológica, a região é unidade globalizada na qual há

interpenetração de todos os aspectos, os físicos e os humanos. Ao estudar a

40

região, o geógrafo podia compreender a totalidade. Essa totalidade, resultante

da pluralidade das coisas, assinala a influência relativamente inconsciente que

a visão da filosofia de Hegel teve no trabalho geográfico. Essa noção de

pluralidade de fenômenos está no âmago do conceito de Landschaft e de

paisagem e criava a possibilidade de considerar as regiões como entidades

objetivas, independentes do observador, sendo “objetos concretos” da análise

geográfica (Hartshorne, 1939, 1978).

Uma questão paralela incidia sobre o procedimento metodológico.

Analisando e compreendendo o conjunto inter-relacionado dos aspectos

existentes em uma região, considerava-se que cada categoria de fenômeno,

em particular, era o objeto de determinada ciência (Sociologia, Economia,

Demografia, Botânica, Hidrologia e outras). Todas essas ciências executavam

a análise sobre os assuntos particulares. À Geografia, considerando a

totalidade, correspondia o trabalho de síntese, reunindo e coordenando todas

as informações a fim de salientar a visão global e totalizadora da região. A

vocação sintética tornou-se a responsável pela unidade do ponto de vista

atribuído à pesquisa geográfica. É ela a responsável pela unidade da

Geografia, fazendo com que a “Geografia tenha por objeto o conhecimento das

relações que condicionam, em determinado momento, a vida e as relações dos

grupos humanos. Essas relações colocam em jogo elementos e atos de

essência múltipla, tão diferentes como a presença do granito ou a de uma

fronteira” (Pierre George, 1961). Em virtude dessa concepção ampla, todos os

eventos da superfície terrestre acabam pertencendo ao âmbito geográfico. A

importância assumida pela síntese é tão grande que JacqueIine Beaujeau

Garnier, em 1971, observa que “o método geográfico visa analisar uma parcela

do espaço concreto, isto é, pesquisar todas as formas de relações e de

combinações que podem existir entre a totalidade dos diversos elementos em

presença. Isto é a geografia global; a geografia tout court. Além de refletir no

método, a síntese geográfica é plenamente atingida nos estudos regionais,

permitindo a André Allix afirmar que “o estudo regional está no coração de

nossos trabalhos. Nenhum geógrafo é digno desse nome se não se dedicar

aos esforços da definição sintética das regiões (...) O estudo regional é a mais

41

completa expressão do método geográfico”. A consequência do campo tão

extenso e da perspectiva sintética implica na concepção de que os “geógrafos

chegam a acreditar que a sua maneira de trabalhar é única e exclusiva, e que a

geografia não é uma ciência como as outras” (Reynaud, 1974). Daí as

afirmações constantes para assinalar que a Geografia era caracterizada por

possuir métodos próprios e distintos das demais ciências. A Geografia era uma

ciência singular.

A propósito da Geografia Tradicional, inúmeros são os trabalhos

conceituais e metodológicos disponíveis em língua portuguesa. É importante

salientar o trabalho e a preocupação assídua do periódico Boletim Geográfico

em publicar traduções de artigos básicos elaborados por geógrafos de diversas

nacionalidades. Publicado regularmente desde 1943, pelo antigo Conselho

Nacional de Geografia e depois pela Fundação IBGE, constitui fonte preciosa

de referências bibliográficas. Com o intuito somente de exemplificar, podemos

lembrar os artigos de Boyé (1974), Cholley (1964), Davis (1945), James (1967),

James e Jones (1959), Le Lannou (1948), Tatham (1959) e Whittlesey (1960),

entre outros. A eles se somam muitos artigos de geógrafos brasileiros e

portugueses. Dentre as obras publicadas em língua portuguesa convém

mencionar as de Paul Vidal de La Blache (1954), Jean Brunhes (1962), René

Clozier (1950), Jan Broek (1967), Olivier Dollfuss (1972; 1973), Pierre George

(1972), Pierre George, R. Gughielmo, B. Kaiser e Y. Lacoste (1966), Richard

Hartshorne (1978), Pierre Monbeig (1957), Gabriel Rougerie (1971), Hilgard

Sternberg (1946), S. W. Wooldridge e W. G. East (1967) e a de Nelson

Werneck Sodré (1976).

3.1.2 Paisagem como unidade de análise

A paisagem da Plataforma Continental configura-se como uma extensa

área formada a partir de processos sedimentares ao longo dos ciclos de

descida e subida do nível médio do mar, glacial-interglacial. Os fatores que

determinam as marcas deixadas por essa variação, podem ser observados

42

naquela área do assoalho marinho (ambos de erosão e deposição). Os

principais fatores responsáveis pela construção das formas de fundo em

substratos inconsolidados arenosos são a velocidade do fluxo junto ao fundo e

o diâmetro e composição dos grãos (Harms, et al., 1982).

Em substratos compostos principalmente por sedimentos arenosos,

como é o caso da Plataforma Continental Cearense, os principais fatores de

construções de formas de fundo e consequentemente, paisagem, são o

diâmetro dos grãos e a velocidade das correntes junto ao fundo. As correntes

geradas pelos ventos e as correntes oceânicas (quando esta última migra

sobre a plataforma), juntamente com a ação das ondas que desenham formas

e marcas no assoalho raso e arenoso, são responsáveis pelas condições

hidráulicas atuantes no assoalho submarino e pela movimentação dos

sedimentos inconsolidados de uma plataforma continental, dominada por

regime de micromaré (Leeder, 1982).

Passos (1998, p. 56) compara paisagem com a parte emersa do iceberg:

“ao pesquisador, cabe estudar toda a parte escondida para compreender a

parte revelada”. Sendo assim, estudar a paisagem não é simples, visto que,

esta representa diferentes momentos de uma sociedade e se altera

continuamente para poder acompanhar suas necessidades. Para

compreendermos devemos desvendar todas as relações que a implicam:

naturais, sociais, econômicas, políticas etc. em todos os momentos da história,

da escala local à global. Compreender essas relações que se aplicam a

paisagem no ambiente marinho é o principal objetivo do trabalho.

Para Tricart (1982, p.18) “paisagem é uma porção perceptível a um

observador onde se inscreve uma combinação de fatores visíveis e invisíveis e

interações as quais, num dado momento, não percebemos senão o resultado

global”.

Paisagem é a porção do território que pode ser abarcada com a visão,

conjunto de elementos naturais e artificiais que fisicamente caracterizam uma

área (Santos, 2006). Por outro lado, podemos discordar desta definição tendo

em vista que a paisagem submersa não pode ser “abarcada com a visão”,

43

porém dispondo da tecnologia adequada, eu posso estudá-la e defini-la. A

abordagem neopositivista, direcionou para o termo região tentando dar enfoque

ao processo de abstração da realidade física, conforme sua metodologia

quantitativa. A abordagem marxista (materialista), pouco interessada em dar

enfoque geográfico à paisagem, logo aderiu ao termo região, no qual define

como um produto territorial entre capital e trabalho.

Passos (1998, p. 57-58) diz que na visão de Dollfus paisagem se

descreve e se explica partindo das formas. Essas, por sua vez, resultam de

dados do meio ambiente natural ou são consequências da intervenção humana

imprimindo sua marca sobre o espaço. Vale lembrar a característica sistêmica

da paisagem, reunindo várias categorias de análise em um único recorte

espacial.

Para Santos (1986, p. 37), o traço comum da paisagem é a combinação

da natureza com objetos sociais e ser o resultado da acumulação das

atividades de muitas gerações. Nesse sentido, cada vez que a sociedade

passa por mudança, a economia, as relações sociais e políticas também

mudam e, por sua vez, alteram o espaço e a paisagem, adaptando-os às novas

necessidades da sociedade. Essas alterações na paisagem podem ser

parciais, deixando algumas “testemunhas” do passado, como também podem

modificá-la totalmente ou em nada.

Segundo Bertrand (2007, p. 223-225) qualquer paisagem é ao mesmo

tempo social e natural, subjetiva e objetiva, espacial e temporal, produção

material e cultural, real e simbólica. Dada a sua complexidade não devemos

estudar itens apenas, mas sim toda a globalidade do fenômeno.

O desenvolvimento do conceito de paisagem está intimamente ligado ao

desenvolvimento da Geografia Física. Conceito básico para a ciência

geográfica, que foi sistematizada desde o século XIX, Humboldt e Ratzel,

podem ser citados como base para as definições de paisagem.

44

No final do século XIX, são lançadas novas reflexões, creditando o

conceito à ciência geográfica para os estudos voltados para o meio ambiente.

Então a paisagem se torna conceito base da geografia.

Tendo como ponto de partida a premissa na qual a plataforma

continental é a parte do continente que, no último grande glacial do quaternário,

estava emersa, conclui-se que a plataforma é a continuação do continente

submersa pelas águas marinhas.

Estudar a paisagem se torna necessário para entender como as formas

de relevo evoluem no decorrer do tempo, quais os agentes transformadores da

paisagem e a influência do homem no processo evolutivo das feições.

3.1.3 Mudanças Climáticas e a construção da paisagem submersa rasa

da Plataforma Continental

A subida brusca do nível médio do mar contribuiu para o “afogamento”

do que hoje constitui a Plataforma Continental, com campos de dunas,

planícies de deflação, linhas de costa (figura 14). Em estudos sobre clima

Bigarella et al (1975) aponta que esse evento aconteceu devido ao aumento

brusco da temperatura do planeta e umidade, ocorrida entre 10 e 11.000 anos

AP. Com isso houve o derretimento das calotas polares e consequente

aumento do nível médio do mar. Entender a configuração dessa superfície e os

processos que ocorreram e ocorrem nela se torna necessário para o

planejamento estratégico de ações nesse setor do território.

A maioria desses conceitos está atrelada, no fundo, a abordagens

filosóficas. Pode-se dizer que o conceito de paisagem foi originalmente ligado

ao positivismo, na escola alemã, numa forma mais estática, onde se focalizam

os fatores geográficos agrupados em unidades espaciais, e numa forma mais

dinâmica, na geografia francesa, onde o caráter processual é mais importante.

Ambas tratam a paisagem como uma face material do mundo, onde se

imprimam as atividades humanas (Schier, 2003).

45

Figura 10- Curva de variação do nível médio do mar para os últimos 22.000 anos.

Fonte: (modificado de Hanebuth, 2011) apud Dominguez, 2011.

46

No Brasil, as pesquisas básicas de levantamento do tipo de cobertura

sedimentar da Plataforma Continental remontam a década de 1960. Esses

estudos são de fundamental importância, tendo em vista que existe uma

demanda no país, a despeito da Geologia e Geotécnica das áreas costeiras e

de Plataforma Continental interna. O rápido processo de uso e ocupação

dessas áreas requer um melhor planejamento e conhecimento da área, assim

como extração para a engorda (recuperação de praias), prospecção de

recursos minerais e pesqueiros, exemplos de usos múltiplos que exigem

melhor e maior conhecimento desse ambiente geológico para garantia de

sucesso e da sustentabilidade dos projetos (Souza, 2008).

Atrelado ao tipo de cobertura sedimentar, temos as formas de fundo que,

segundo Reinneck & Singh (1980), são aquelas formadas pelo tempo de

deposição, logo antes ou logo depois da consolidação, na forma em que são

encontrados. Portando são encontrados várias tipos de marcas superficiais,

incluindo as orgânicas e inorgânicas, estas últimas produzidas pela atividade

de organismos, chamadas de estruturas de bioturbação.

As características superficiais estão fortemente ligadas às características

de acamamento e associada a características de fundo. As correntes e o trem

de ondas são um importante fator na configuração e modelagem do fundo da

Plataforma Continental.

A literatura científica apresenta resultados dos mapeamentos realizados

na margem continental brasileira. Até a presente data, esses resultados são

apresentados em escalas regionais (1:3.500.000 e 1:2.500.000), com pouco

nível de detalhamento, o que dificulta o seu uso direto nas atividades de

explotação de materiais depositados nesses ambientes, por exemplo.

Estes levantamentos regionais foram realizados para fins voltados para

a pesquisa de hidrocarbonetos e outros estudos específicos. As pesquisas

realizadas na Plataforma Continental do Ceará disponibilizaram ao setor

produtivo a espacialização de possíveis jazidas. No entanto, a viabilidade

econômica e ambiental para explotação desses recursos implica no

preenchimento de lacunas de dados científicos, tais como: potencial de

47

exploração de jazidas (cubagem), áreas de rápida regeneração biológica para

as atividades de lavra, dispersão, difusão e re-sedimentação de resíduos da

mineração pelas correntes oceanográficas e hidrologia na coluna d’água,

alterações na hidrodinâmica e morfodinâmica da zona costeira por mudanças

na morfologia de fundo da Plataforma Continental interna. Tendo em vista

problemas ambientais, associados à exploração de ambientes frágeis, essas

informações, associadas às características locais, são fundamentais para a

indicação dos métodos de exploração e manejos adequados às características

locais (Pronex, 2007). Contribuir para a diminuição da escala e dar detalhe às

informações das áreas submersas tornam-se tarefas importantes. Delimitar

áreas-piloto e diminuir a escala de atuação será uma singular contribuição.

Portanto, para que a paisagem submersa possa ser entendida, torna-se

necessário o mapeamento em escala de detalhe dos setores locais da

Plataforma Continental. As feições precisam ser mapeadas e interpretadas,

pois estas têm papel importante no entendimento dos processos ocorrentes

nesse ambiente. As correntes unidirecionais são fatores relevantes na

modelagem do fundo do mar, juntamente com marés e ondas, como mostra a

figura 11. Nela há exemplos de diversos tipos de formas de fundo, a depender,

das condições oceanográficas, velocidades de correntes, fluxos de massas,

mostrando que as formas (transversais e longitudinais) dependem da

velocidade do fluxo, da disponibilidade e do tipo de material disponível na

plataforma (Stride, 1982).

3.1.4 Unidades de Paisagem ou Formas Geomorfológicas de Fundo

As formas de fundo podem ser de dois tipos básicos, longitudinais e

transversais, e estão associadas às correntes de maré. Alguns exemplos são

as “scour marks”, “tool marks”, “longitudinal scours”, “marcas de obstáculo”,

“faixas arenosas” ou “sand ribbons”, “sand patches” e “sand ridges” (Belderson

et al., 1982). Estas últimas configuram as duas classificações que podem ser

longitudinais com transversais (figura 15).

48

3.1.4.1.1 Scour Marks

As scour marks são formas ou marcas de fundo provocadas por

correntes ou provocadas ainda por obstáculos presente no fundo, que são

resistentes à corrente. Seguindo a direção desta, por vezes as scour marks

são marcas alongadas. A deposição do sedimento ocorre na parte posterior do

obstáculo, formando o depósito alongado (Colinsson e Thompson, 1989).

Figura 11 - Modelo de formas de fundo e paisagem submersa adaptado de

Belderson.

Fonte: Jonhson & Kenyon, 1982. Adaptado de Monteiro, 2011.

Formas com Baixo

suprimento de

sedimentos

Formas com alto

suprimento de

sedimentos

Marcas

Sulcadas

Faixas

de areia

Ondas

de areia

Marcas

de areia

Faixas

de areias

150 cm/s

100 cm/s

Bancos

de

areia

50 cm/s

150 cm/s

100 cm/s

Pequenas

Ondas de

areia

50 cm/s

Marcas

de areia

onduladas

49

3.1.4.2 Tool Marks

As tool marks ou marcas de objetos se diferem das scours marks por

serem geradas pelo objeto carreado pela corrente ao invés de serem

produzidas pela corrente em si. Essas formas de fundo ocorrem em

assembleias sedimentares misturadas, contendo diferentes tipos e tamanhos

de cascalho (Colinsson e Thompson, 1989).

3.1.4.3 Longitudinal Scours

Por outro lado, as longitudinals scours ocorrem como resultado de

pequenos vórtices formados próximos aos fundos devido ao pequeno

espaçamento entre as cristas e cavas de ondas em arenitos. Desencadeiam

sequências de vórtices que vão promovendo a remoção dos sedimentos, como

afirmam Colinsson e Thompson (1989) em seus trabalhos, esses vórtices

adjacentes de sentido de giro oposto causam zonas de giro oposto, como

também zonas de “upwellin e downwellin”, que acentuam o relevo por erosão.

3.1.4.4 Marcas de Obstáculos

As marcas de obstáculos, segundo a literatura consultada, configuram a

erosão ou deposição de material, a partir da presença de um obstáculo. A

forma e a dimensão de um obstáculo determinam a forma da estrutura

sedimentar formada. Apresenta forma alongada seguindo a direção da

corrente, devido ao transporte de sedimentos (Santos, 1999).

50

Figura 12 - Representação gráfica do comportamento dos sedimentos na

presença de um obstáculo, configurando a formação de uma “marca de

obstáculo”. Registro sísmico adquirido na região entre Itarema e Acaraú, com o

CHIRP 0512 do PRONEX – Granulados marinhos.

Fonte: Laboratório de geologia e geomorfologia Costeira e oceânica (LGCO).

3.1.4.4.1 Sand Ribbons

As “faixas arenosas” ou sand ribbons, por sua vez, constituem feições

longitudinais, geralmente constituídas por areias e formadas pela ação das

correntes unidirecionais. As fortes correntes associadas a esse tipo de feição

de fundo não permitem a formação de ripples (com cristas transversais), que

são erodidas e seus sedimentos são postos de forma alongada, formando

faixas arenosas ou comumente citada na literatura como sand ribbons (Allen,

1968).

3.1.4.4.2 Sand Ridges

Para encerrar as feições longitudinais, as sand ridges são feições

lineares de grande porte e extensão, geralmente dispostas obliquamente à

direção das correntes mais intensas. Elas podem estar vinculadas a condições

hidrodinâmicas pretéritas ou atuais (Colinsson e Thompson, 1989).

51

No caso das feições transversais, a literatura aponta as formas de fundo

transversais são do tipo sand patches, small ripples, megaripples, sand waves

e antidunas. Todas são formas de fundo com exceção da sand partche,

diferenciando-se entre si pelas relações entre altura (H) e comprimento (L) e

pela velocidade das correntes associadas. Podem apresentar direções

variadas e dependem da profundidade (Ashley et at., 1990).

3.1.4.4.3 Sand Partches

Sand partches possuem vários tipos de tamanho em fundos de bases

cascalhosas, possuem um alto poder de preservação de suas formas, por se

desenvolverem em regiões de regime fraco de maré e de fraco aporte arenoso.

Isso ocorre por que uma leve diminuição da corrente já contribui para a

ocorrência de lama (Kenyon, 1970). Ocorrem em locais com alto aporte

sedimentar com altos teores de areia com incidência de correntes de maré

fraca, em média, menos de 50 cm/s, apresentando direções longitudinais e

transversais. Estão associadas à ocorrência de sand ribbons, intercalada por

uma área de sand waves (Beldeson et al, 1982). Eventos de alta energia, como

marés de sizígia, propiciam a formação desta feição.

Esses depósitos estão associados a sedimentos de granulometria mais

grossa, uma vez que representa “os restos” grosseiros de uma feição onde os

sedimentos mais finos foram removidos pela ação das ondas e correntes,

ficando no depósito a granulometria grosseira.

3.1.4.4.4 Small Ripples

As small ripples possuem geralmente 30 cm de comprimento de cava a

cava, mas nunca excedem 60 cm. Ao se formarem, são imediatamente

paralelas, de cristas longas e baixas amplitudes. São pequenas com suaves

declives em direção à superfície e brusca declividade do aclive em direção ao

fundo. A depender da intensidade da corrente incidente no campo de ripples,

elas são constituídas de forma mais alongada e crescente, com o aumento da

corrente, por exemplo, e o inverso também é verdadeiro. Para Bagnold (1956),

52

as small ripples não podem existir em sedimentos arenosos com grãos de

diâmetro médio maior 0,71mm. As small ripples podem ainda ocorrer no alto

das mega ripples, acontecendo como pequenas ondulações no aclive.

3.1.4.4.5 Mega Ripples

As mega ripples nada mais são que as small ripples super

desenvolvidas, por diferenciação das condições locais, tipo: cisalhamento de

fundo, intensidade da corrente, aumento da taxa de transporte de matéria de

fundo, acréscimo no grau de turbulência ou da magnitude desta. Sua

similaridade com as small ripples é notória, na forma como se apresentam,

porém seus sedimentos apresentam granulometria mais grosseira, estão

acomodadas em maior profundidade e abrangem uma área muito maior,

variando de centímetros até muito metros. Soulthard (1975), em seus estudos,

caracterizou as mega ripples como possuindo de 1 a 5 metros de comprimento.

Ele apontou, como parâmetros para sua formação, a relação entre

comprimento de onda/altura alta e formas cuspidas, desenvolvidas com

velocidades de correntes de 70 a 150 cm/s. Na literatura, o termo sand wave

também é empregado como sendo sinônimo de duna, porém, as sand waves

têm características diferentes das mega ripples, descritas no próximo

parágrafo. As mega ripples são também chamadas de dunas tridimensionais

(Heineck & Singh, 1980).

3.1.4.5 Sand waves

Sand waves são feições de grande escala, segundo Belderson et al.,

(1982), variando de larguras entre 10 e 100 metros. Possuem cristas retas e

com direção contínua, produzidas por correntes de menor intensidade que as

necessárias para a formação das mega ripples. Mantendo a relação

comprimento de onda/altura, pequenos e mostrando baixa correlação altura e

comprimento (Heineck & Singh, 1980).

As propriedades morfológicas das sand waves são importantes para a

presente análise e pode ser observada na (figura 18) (Allen, 1963). O

53

comprimento da sand wave L é a distância entre as calhas medidas em

paralelo com a base da sand wave perpendicular à crista, se formam

normalmente perpendicular à direção das correntes de maré mais fortes. O

lado mais comprido tem um comprimento de um paralelo com a base da forma

de fundo e faz um ângulo geral com a base. Da mesma forma, b designa o

comprimento da base paralela do lado mais curto, o que faz com que um

ângulo seja formado com a base. Altura da sand wave H é o intervalo entre a

calha e a crista perpendicular à base. (figura 17).

Figura 13- A sand wave na secção transversal vertical para mostrar principais

características morfológicas e medidas.

Fonte: Adaptado de Allen, 1979.

Estudos das formas de fundo vêm sendo desenvolvidos e aperfeiçoados

por diversos autores (Meyer-Peter & Muller, 1948; Grabt & Madsen, 1979,

Styles & Glenn, 2002; Kleinhans & Grasmeijer, 2003), porém poucos esforços

são feitos no sentido de utilizar tais estudos de forma aplicada ao ambiente

costeiro e de Plataforma Continental.

3.1.4.6 Formas de fundo na plataforma em Acaraú e Itarema

As formas da paisagem submersa do Ceará e particularmente da área

de estudo, defronte o município de Itarema e Acaraú, estão regidas pelos

fatores citados anteriormente, consorciados às variações ocorridas no

Quaternário, que teve papel importante na evolução costeira, plataforma

continental, estuários, deltas, rias e planícies costeiras de um modo geral. O

Holoceno ficou caracterizado pela subida rápida do nível do mar entre 10.000 e

7.000 anos atrás, quando atingiu o zero atual. Foi denominada de transgressão

54

holocênica ou transgressão flandriana e ainda por alguns autores brasileiros

simplesmente como transgressão (Morais, 1998).

Durante a realização do Seminário Internacional sobre Recursos

Marinhos Offshore, na França, em março de 1984, houve consenso de que as

pesquisas sobre mineração oceânica, nos próximos dez anos seriam

concentradas em águas relativamente rasas da Zona Econômica Exclusiva

(ZEE). (CEMBRA, 2012).

É importante salientar que a Plataforma Continental é um recurso

natural, nela estão os recursos vivos (bióticos) e não vivos (abióticos), com o

desenvolvimento da civilização. Além disso, a demanda por recursos naturais é

crescente, afinal, o modo de produção em que estamos inseridos precisa de

recursos para suprir as necessidades do consumo. Portanto, a apropriação dos

recursos naturais pela civilização moderna está, diretamente e

proporcionalmente, ligada à tecnologia e à necessidade de matéria-prima que a

manutenção da tecnologia necessita. Trainini (1994) e Mansor (1994)

apresentam bons diagnósticos ambientais de área costeira, no caso do litoral

do Rio Grande do Sul, onde uma série de problemas (manejo impróprio de

terrenos, disposição de lixo, poluição de águas) são oriundos do aumento da

demanda por materiais e recursos naturais, promovidos pelo desenvolvimento

social daquele setor do País.

3.1.5 A Plataforma Continental como espaço geográfico

A elaboração da Plataforma Continental está associada a diversos

fatores, Morais (2000), em seus estudos realizados na Plataforma Continental

do Ceará, relaciona a formação da plataforma ao controle tectônico exposto

anteriormente ao controle morfotectônico, ao controle biológico e as variações

do nível médio do mar, sobretudo no quaternário, além dos fatores

condicionados pela litologia e topografia característica da Plataforma

Continental do Ceará, (Morais, 2000).

O relevo é relativamente plano alternado com fundos irregulares,

recortado a oeste da ponta de Mundaú com feições irregulares de recifes de

55

algas e campos de sand waves (Morais, 1998). Um exemplo pode ser

observado na figura 19 que mostra o relevo da Plataforma do Ceará em perfil

sísmico, realizado pelo projeto “Potencialidades e Manejo ambiental da

Plataforma Continental do Estado do Ceará”.

Feições geomorfológicas submersas são observadas, entre as quais,

com maior frequência, em bancos de areias, localizados próximos às

desembocaduras de rios e do litoral, tais como o banco de Cajuais e do Retiro,

entre a barra do rio Mossoró e do Jaguaribe; banco do Acaraú, o mais

importante, se estende da barra do rio Aracatimirim em Itarema, a ponta de

Jericoacoara. (Morais, 1998).

Estudos realizados por Morais & Freire (2003), relativos à plataforma

cearense, destacam que a Plataforma Continental é o prolongamento do

continente submergido gradativamente mar adentro. É relativamente plana,

estendendo-se desde a zona litorânea, logo após a praia e mergulhando em

suave declive até a quebra da plataforma, onde uma mudança repentina de

inclinação caracteriza o talude continental, descendo abruptamente até a

profundidade médias de 2.300 metros, onde tem início o sopé continental.

Ainda embasado por Morais & Freire (2003), observa-se que a

Plataforma Continental cearense possui a faixa de transição entre a parte

emersa e submersa adjacente, caracterizada por possuir uma largura mínima

próximo ao município de Fortaleza e alargando-se à medida que se afasta

deste ponto, tanto para leste como para oeste. Esta zona é chamada de

gradiente de passagem. Esta primeira zona abrange a cota batimétrica de 0 a

15 metros “tendo como maior frequência na isóbata de 10 metros, com

declividade média em torno de 1:670”.

Outras feições importantes encontradas na Plataforma cearense são as

de constituição biológicas, mais especificamente, bioclásticas, formadas

basicamente por carbonatos, provenientes, quase totalmente de algas calcárias

e conchas e carapaças de crustáceos. Estes bancos de “formações

bioconstruídas” denominadas por Morais (1998) ocorrem em maior

representatividade nas adjacências aos municípios de Itarema, Mundaú e na

56

plataforma interna de Aracati. Contemplado neste trabalho o banco de algas

calcária localizado em Itarema e Acaraú.

Os bancos de algas calcárias daquela região são dominados por algas

calcárias recentes, algas do tipo coralíneas ramificadas (lithotanium) (pé de

galinha), rodólitos (Bugalhau) e em menor quantidade halimeda. Figuras de sub

botton profiler e side scan profiler demonstram com precisão os bancos de

algas da região, demonstrando sua distribuição espacial e espessura.

Foram determinadas áreas potenciais para explotação, fazendo uso de

equipamentos geofísicos assim como localização de áreas com a ocorrência de

algas calcárias, campos submersos de algas calcárias, que constituem

ambientes propícios à ocorrência de lagosta. Os dados foram analisados e

confeccionados material cartográfico da área.

Na paisagem submersa, estuda-se a ocorrência e distribuição de

padrões sonográficos e de ecocaráteres sísmicos de alta frequência que possui

relação estreita com a distribuição das características sedimentares do

ambiente em questão (Morang et al., 1997; Ayres Neto, 2000; Souza 2006).

Na literatura pesquisada, são aplicados alguns métodos e meios para se

estudar as feições e interpretá-las. O termo fácies acústicas ou ecofácies seria

um termo apropriado e usado por ser definido como um conjunto de

características físicas do eco refletido, sendo resultado da interação entre o

fundo marinho e o pulso da energia usada na fonte acústica de alta resolução.

Neste caso, o retorno do eco é produzido pelo contraste de impedância

acústica entre os meios, o que está diretamente ligado ao tipo de material de

fundo (granulometria, compactação, etc.), as camadas sedimentares em

subsuperfície (coeficiente de reflexão, espessura das camadas, interferência

entre as camadas, reflexões internas múltiplas, etc.) e a morfologia do fundo

(difrações, extensão das camadas, variação lateral no espaçamento das

camadas, etc.).

A literatura, porém, alerta para a importância de não confundir o termo

ecofácies com sismofácies. As sismofácies são definidas por Mitchum et al.

57

(1977) como sendo uma unidade tridimensional, a realmente definida,

constituída por reflexões sísmicas cujos parâmetros diferem das fácies

adjacentes. Neste contexto, sismofácies são usadas na interpretação

sismoestratigráfica.

Logo, podemos apontar que a correlação entre os padrões apresentados

pelos dados geofísicos e a distribuição sedimentar permite selecionar padrões

sonográficos e ecocaráteres sísmicos que retratam sedimentos e processos

sedimentares de características semelhantes (Damuth, 1975; Damuth, 1980;

Morang et al., 1997; Ayres Neto, 2000; Quaresma et al., 2000; Belo et al., 2002;

Catanzaro et al., 2004; García-García et al., 2004; Souza, 2006).

O aparato sísmico, portanto, subsidia a caracterização da paisagem e a

identificação de feições submersas, que constituem a “paisagem submersa”.

3.1.6 Usos e Fluxos no Ceará

Outras formas de usos são verificadas, como (i)presença de dutos e

emissários submarinos, região metropolitana de Fortaleza (ii) plataforma de

petróleo no caso, respectivamente de Fortaleza e Paracuru, (iii) local de

descarte de material dragado dos portos e canais de acesso, (iv) recreação, (v)

naufrágios (na orla da capital, Fortaleza, e na desembocadura dos principais

rios e barras), constituindo assim valor histórico e arqueológico, (vi) futura

exploração de granulados siliciclásticos e biocláticos.

Os recursos minerais bem como os recursos vivos encontrados nos

oceanos estão relacionados a ambientes geológicos específicos e, também, à

interação da água do mar e outros agentes, tais como o aporte sedimentar de

rios, processos sedimentares, precipitação, atividade biológica, atividade

tectônica, etc. (Mello e Palma, 2000).

Além da disponibilidade de recursos minerais e biológicos na Plataforma

Continental, esse espaço tem sido cada vez mais utilizado pelo homem,

especialmente, em regiões metropolitanas. Fortaleza, por exemplo, é a quarta

região metropolitana do Brasil, somado a isso a área oceânica, que também é

58

utilizada desde a colonização do estado, movimentando a produção, tanto no

escoamento de mercadorias produzidas, como na importação de suprimentos e

equipamentos que fomentam nossa economia. Com isso, a Plataforma

Continental vem se figurando como importante espaço de interações

econômicas, sociais e culturais.

A ocupação e o uso desse espaço do litoral de Fortaleza causou

alterações ambientais e paisagísticas, acarretando problemas em escala local,

demonstrando a necessidade de estudos ambientais, para o melhor

aproveitamento deste espaço, tão importante para as relações sociais e

econômicas.

3.1.7 Usos e fluxos em Itarema e Acaraú

3.1.7.1.1 Pesca Artesanal

Em Itarema e Acaraú, o uso intenso da Plataforma Continental motivado

pela pesca artesanal é citado nos estudos de Fonteles Filho (2004) no qual

40% das espécies de peixes registrados se encontram em regiões rasas da

Plataforma Continental. A pesca artesanal é responsável por assegurar

trabalho, renda e alimento para a população daqueles municípios e da capital

do Estado do Ceará. Trata-se, em linhas gerais, de uma atividade que garante

diversificação das espécies capturadas, baixa abundância individual, pouco

descarte de fauna acompanhante, baixo custo operacional, equilíbrio na

distribuição de renda e relevante contribuição para a segurança alimentar

(Fonteles Filho, 1997; FAO, 1995).

3.1.7.1.2 Currais de pesca

Currais de pesca é outra forma de uso e historicamente a região de

Acaraú é a principal representante desse tipo de captura artesanal. No estado

do Ceará, o município de Acaraú é o principal produtor de pescado de origem

marinha (CODEPE, 1962; Paiva & Paiva, 1963; Sampaio, 1962, 1965). Os

currais de pesca do estado se concentram maciçamente nesse município

(Paiva & Nomura, 1964). Assumem posição de destaque na produção de

pescado, principalmente nos municípios de Barroquinha e Itarema, onde a

59

Plataforma Continental apresenta maior largura e pequena inclinação (Fonteles

Filho & Espínola, 2001).

A região de Itarema e Acaraú vem servindo como objeto de estudo

desde a década de 60 para muitos pesquisadores do Instituto de Ciências do

Mar (LABOMAR).

Segundo estudos publicados por autores, na localidade de Almofala

estiveram operando durante o período 1962-1982, em média, sete currais de

pesca que, em conjunto, operaram durante 1.416 dias/ano, com índice de

despesca de 202 dias/curral, com tendência de variação decrescente desde um

valor máximo de 15 unidades e 2.781dias/ano, no triênio 1962/64, ao mínimo

de três unidades e 569 dias/ano, no triênio 1977/79 (Fonteles Filho & Espínola,

2001).

Currais de Pesca são aparelhos comuns em quase toda a costa

cearense, no entanto, foi durante muito tempo uma das características

predominantes das pescas marítimas do Estado do Ceará. São armadilhas

fixas, dispostas em linha perpendicular à costa. São confeccionados com telas

de arame galvanizado e 15 madeiras, sendo compostos por uma espia (cerca

que guia o peixe para o interior da armadilha), grande sala, sala e salinha

(chiqueiro) onde os peixes ficam agregados até o momento da despesca. O

método de pesca consiste em direcionar os peixes que estão circulando na

zona de ação da espia para o centro da armadilha. Ao encontrar a espia, os

peixes seguem para o interior do curral de pesca. Essas armadilhas são

confeccionadas de modo que os animais nadem sempre em direção ao

chiqueiro, ficando assim aprisionados até a hora da despesca que é realizada

quando a maré está com seu nível mais baixo.

A modalidade é realizada por 4 a 5 pescadores, também conhecidos

localmente naquela região por vaqueiros, que passam uma rede de cerco,

confeccionada com fio de algodão, no chiqueiro, evitando assim o escape dos

animais. Os indivíduos capturados são acomodados e embarcados em uma

canoa que está a serviço do curral de pesca. Em terra, as espécies capturadas

são selecionadas de acordo com o valor comercial. (ICMBio, 2013).

60

3.1.7.1.3 Recreação e Naufrágios

Na Plataforma de Itarema e Acaraú, ocorreram uma série de naufrágios,

o mais famoso deles e identificado foi do SS Eugene V.R. Thayer de bandeira

Norte Americana. Está naufragado na posição 02º 29.530´S / 39º 51 810´ W, a

uma profundidade média de 19 m aproximadamente 22 milhas náuticas (40

km) do porto dos barcos em Itarema. Ao se navegar em barco pesqueiro,

chega-se ao local em 4 horas e meia. Trata-se de um navio petroleiro a vapor

de aço de nacionalidade Norte Americana com dimensões oficiais 135,6 m x 18

x 10, respondia pela embarcação o armador Sinclair Refining Co. – New

York, fabricado pelo estaleiro Bethlehem Shipbuilding Corp. LTD, em 1920,

(http://www.brasilmergulho.com/port/naufragios/navios/ce/acarau.shtml). Dentre

os usos dos sítios de naufrágio, o mergulho (tanto recreacional como apneia ou

pesca artesanal) é considerado frequente. Não existem dados estatísticos

sobre a frequência de visitação deste naufrágio. Acredita-se que são evitados

apenas os meses de agosto – setembro – outubro – novembro, meses em que

a costa cearense fica propensa a ventos fortes.

Mergulho recreacional é considerado uma forma de uso inofensiva ao

naufrágio, porém se sua prática for desenvolvida sem planejamento e controle

adequado ele poderá causar danos e impacto ao sítio (Domingues, 2011).

Além do mergulho recreacional, ainda existem mergulhadores que praticam

apneia para caça submarina que é favorecida no entorno dos naufrágios devido

à ocorrência de grande quantidade de vida marinha, já que os barcos

funcionam como atratores de peixes, tendo em vista que a Plataforma

Continental do Ceará não possui muitas estruturas rígidas que possam servir

de abrigo para os néctons, bentos e plânctons. A pesca artesanal também

acontece nesses locais.

3.1.8 Plataforma adjacente ao município de Itarema e Acaraú

Itarema é um município costeiro, distante de Fortaleza, capital do estado

do Ceará, 220 Km. Segundo dados colhidos na secretaria de Recursos

Hídricos do Ceará (SRH), o município de Itarema está situado no centro da

bacia hidrográfica do Litoral. Os estudos relativos à sua linha de costa estão

61

ligados muito fortemente a esta bacia, uma vez que o regime hídrico do rio

Aracatimirin, principal fornecedor sedimentar da linha de costa do referido

município, é um dos principais afluentes do rio Aracatiaçu, principal curso

d’água da bacia.

O clima é do tipo Tropical Quente Semiárido, apresentando média

térmica em torno dos 26°C. Quanto à pluviometria, verifica-se significativa

diferença entre os índices observados entre o alto, médio e baixo curso,

tendendo a ser mais elevado no baixo curso em razão da proximidade com o

litoral e ao aumento da umidade relativa do ar. A média anual pluviométrica da

bacia aproxima-se dos 1099,6 mm (Pacto das águas). A área da bacia do litoral

abrange litologias variadas, indo desde as rochas cristalinas de idade

proterozoica (60,31%), representada por gnaisses e migmatitos diversos,

quartzitos e metacalcários, associados a rochas plutônicas e metaplutônicas de

composição predominantemente granítica até as sedimentares (39,69%) tais

como: sedimentos areno-argilosos, do Grupo Barreiras e das coberturas

colúvio-eluviais, sedimentos eólicos constituídos de areias bem selecionadas

de granulação fina a média, às vezes siltosas de Dunas/Paleodunas e

cascalhos, areias, silte e argilas, com ou sem matéria orgânica, formados em

ambientes fluviais, lacustres e estuarinos recentes, dos depósitos aluvionares e

de mangues (CPRM, 2003).

Apesar desta intensa utilização do fundo marinho, não existe até hoje

um mapeamento adequado dos substratos, em escala de detalhe, estudos que

seguiram por grupos que analisam o espaço marítimo e realizaram estudos

regionais.

Para a implantação de obras em ambientes de Plataforma Continental,

estudos ambientais da constituição do fundo são de suma importância, assim

como entender as variações e os condicionantes de marés, correntes, clima de

ondas, transporte sedimentar, área de tráfego ou migração de animais, entre

outros. O mapeamento do substrato marinho oferece informações de extrema

importância para obras de engenharia, como a construção de portos,

emissários submarinos, instalação de dutos e cabos submarinos.

62

Estudos que apreciem a acomodação de fácies sedimentares

associadas à hidrodinâmica podem ser transferidos para o monitoramento de

dragagens em bacias portuárias, incremento de novos setores produtivos.

O uso da Sísmica pode contribuir com as análises dos ambientes

submersos, uma vez que esses ambientes são de difícil acesso, e o

imageamento permite a visualização do fundo, sem a necessidade de contato

direto.

4 MATERIAIS E MÉTODOS

As atividades realizadas para elaboração desta dissertação foram

subdivididas em 5 etapas: 1) Pesquisa Bibliográfica; 2) Geotecnologia aplicada

às Geociências; 3) Expedições Oceanográficas; 4) Trabalhos de Laboratório;

5) integração e análise dos dados.

O fluxograma a seguir ilustra a sequência dos principais procedimentos

utilizados para o desenvolvimento desta dissertação.

63

Fluxograma 1: Etapas metodológicas para a elaboração do trabalho.

Fonte: Próprio autor.

64

Dentre a pesquisa bibliográfica realizada, vale destacar a obtenção das

imagens de satélites do sensor orbital, LANDSAT 5 TM de 07/09/1988,

02/06/1999 e 13/08/2013, bandas 1, 2, 3, 4, 5 e 7 obtidas a partir da página

eletrônica da Global LandCover Facility da Earth Science.

4.1 GEOTECNOLOGIA APLICADA AS GEOCIÊNCIAS

4.1.1 Sensoriamento Remoto

Muitos dos materiais presentes na superfície da Terra, sejam eles

naturais ou sintéticos, interagem com a energia solar, exibindo

comportamentos que variam em função dos comprimentos de onda ao longo

do espectro eletromagnético e representa, esquematicamente, uma

representação contínua da energia eletromagnética, ordenada segundo o

comprimento de onda (ou a frequência). Ele abrange o intervalo total de

comprimentos de onda (ou de frequência) da radiação eletromagnética, desde

as ondas de rádio até os raios cósmicos, passando pela banda ultravioleta,

infravermelho próximo e de ondas curtas, infravermelho termal e micro-ondas

(CRÓSTA; SOUZA FILHO, 1997; 1998; 2000).

4.1.2 Sísmica de Alta resolução

Para aquisição dos dados sísmicos foi utilizado um sistema combinado

Chirp, composto por Sonar de Varredura Lateral (frequência dupla: 100/400

kHz) e um Sonar de levantamento de sub-superfície (Sub Botton Profiler),

frequências oscilando entre (0,5 - 12 kHz); Cabo de 100 m; Software de

aquisição (EdgeTech, DISCOVERY ETS).

4.2 MÉTODO SÍSMICO COMO FERRAMENTA PARA IDENTIFICAÇÃO DE

FEIÇÕES SUBMERSAS NA PLATAFORMA CONTINENTAL

Os vetores de movimentos de massa, correntes (de enchente e vazão),

ondas e transporte constante de sedimentos proporcionam a formação de

feições submersas relacionadas a movimentos de curto período da água sobre

o leito, consideradas “feições de pequena escala” que são comumente

65

chamadas de marcas onduladas (ripple marks ). Feições com comprimento e

altura maiores que as marcas onduladas e diretamente relacionadas com a

interação entre os fluxos de fundo dominantes e o leito são

denominadas “feições de grande escala” e podem ser classificadas como:

megaondulações (mega ripples ), ondas de areia (sand waves ) ou dunas

submersas ( subaqueous dunes ).

Análises sistemáticas da interação entre a dinâmica e a morfologia de

fundo, utilizando, de forma integrada, métodos acústicos como ecobatimetria,

sonografia de varredura lateral e perfilagem sísmica rasa, possibilitam o

estudo, com alto grau de detalhamento de feições da topografia submarina e

da hidrodinâmica subjacente (Berné et al., 1993; McClennen et al., 1997;

Wewetzer & Duck, 1999; Wewetzer et al., 1999; Duck & Wewetzer, 2000; Lobo

et al., 2002).

Figura 14 - Representação esquemática da condução dos trabalhos na

Plataforma Continental de Itarema e Acaraú.

Fonte: Adaptado de PAULA, 2012.

66

4.3 EXPEDIÇÕES OCEANOGRÁFICAS

4.3.1 Levantamento Sísmico

Os dados possuem origem no âmbito do projeto “Potencialidades e

manejo ambiental na exploração de granulados marinhos na plataforma

do estado do Ceará”, Pronex, financiado conjuntamente pela Fundação

Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FUNCAP) e

Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Totalizando levantamento da ordem de 80 km de linhas sísmicas e coleta de

sedimentos naquela região, os dados estão alinhados perpendicularmente e

paralelos à linha de costa de Itarema e Acaraú, tendo como porto os

respectivos estuários do rio Acaraú e um riacho de “Porto dos barcos”, distrito

do município de Itarema.

67

Figura 15 - Levantamentos sísmicos realizados.

Fonte: Próprio autor.

As etapas de campo constituíram:

4.3.2 Trabalhos no laboratório PRÉ-CAMPO

4.3.3 Bancada: Calibração de equipamentos, limpeza e

operacionalização.

Delimitação da área de estudo, imagens de satélites, planejamento da

rota a ser navegada e planejamento das linhas sísmicas. Sempre apoiando o

LEVANTAMENTOS

SÍSMICOS REALIZADOS

40 km de

levantament

o contínuo

Banco de

cascalho

Carbonático

Percurso realizado

desde a foz do Rio

Acaraú.

1

2

3

N

1

68

projeto de expedição na subida e descida das marés na região, tendo em vista

que a saída e a entrada nos portos de atracação, tanto em Itarema como em

Acaraú, encontram-se dentro dos estuários dos respectivos rios (Aracatimirin e

Acaraú).

4.3.4 Trabalhos de campo

As etapas de campo foram realizadas a bordo de embarcações tipo

lagosteiro, locadas na área. Na região de Itarema e Acaraú, foi utilizado o barco

“Maria Eduarda” (figura 16) com licença ambiental para a pesca de lagostas,

pertencente a um pescador local. A embarcação é adaptada às necessidades

do serviço e da equipe de trabalho. A navegação durante o levantamento foi

mantida a uma velocidade entre 3 e 4 nós, o que permite gerar uma razão de

aspecto (escala vertical/escala horizontal) adequada sobre as imagens.

Figura 16 - Embarcação tipo lagosteiro, geralmente usada para os levantamentos na

plataforma.

Fonte: Próprio autor.

4.3.5 Trabalhos de Gabinete pós-campo

Os trabalhos de campo consistiram na organização dos dados

levantados em campo, triagem dos dados de boa, média e baixa qualidades.

Na triagem dos dados e processamento das imagens com o SonarWiz5, foi

utilizando o programa Discovery da Edge Tech,

69

O processamento dos registros foi submetido à sequência de

processamentos, todas as etapas básicas para o procedimento necessário

para o fluxo geral, por vezes, alguns fluxos suplementares que podem ser

utilizados para fins de melhorias de processamento e agilidade no

processamento e exportação de imagens processadas, foram seguidas.

O aperfeiçoamento do padrão de aquisição do dado, como o espectro

de frequência do pulso e a frequência de emissão; o procedimento e fluxo de

processamento de dados para a sísmica de ambientes submersos rasos

precisaram ser adaptados do método de processamento sísmico convencional.

O imageamento de superfície rasa, a nitidez e a resolução dos dados precisam

ser analisados, centralizando o processamento que é apoiado por um

fluxograma centralizado e direcionando a geometria traço, extrair ou atenuar

ruídos que se apresentam no domínio da frequência e das amplitudes dos

sinais e das ondas sísmicas enviadas, múltiplas de fundo precisam ser

identificadas e atenuadas, equalizar a amplitude e o decaimento de energia do

sinal e interpretação da sessão.

Os recursos disponíveis do Programa Sonarwiz5 foram utilizados para

validar a elaboração e aplicação do fluxo de processamento para os dados de

sísmica rasa. Módulos interativos do programa permitem ao usuário trabalhar

com sísmica 2D e 3D, suportando os formatos de dados, padrão (*jsf.) do

Programa Discorery SB. (fluxograma 2)

70

Fluxograma 2: Fluxo de trabalho para o processamento de dados Sísmicos.

Fonte: Próprio autor.

As “marcas onduladas” são restritas a sedimentos com diâmetro médio

inferior a 0,17 mm (2,5 φ) e a correntes cuja estrutura de velocidade não se

estende consideravelmente além da camada limite de fundo (Allen, 1968).

Essas feições possuem comprimentos de onda menores que 0,6 m e alturas

abaixo de 0,1 m. Já as megaondulações se caracterizam por uma

granulometria da ordem de duas ou três ordens de magnitude maior, com

comprimentos de onda e alturas características acima de 0,6 m e 0,1 m

respectivamente (Allen, 1968). Ondas de areia, por sua vez, são transversais

aos fluxos oscilantes relacionados à maré onde, tanto na enchente como na

vazante, estes fluxos são efetivos no transporte de material de fundo. Os

comprimentos de onda variam entre 25 e 1000 m com alturas entre 1 e 25 m,

dependendo das intensidades dos fluxos e profundidades em questão.

71

Esses levantamentos geofísicos na região da Plataforma Continental dos

municípios de Itarema e Acaraú foram feitos nos períodos de Abril/2014,

Maio/2014 e junho/2014. Esses incluíram: levantamentos sonográficos,

utilizando-se um sonar de varredura lateral e Subbotton profiler, conjugados em

um veículo Chirp 0512 C da Edge Tech, acoplados com DGPS. Todas as

coordenadas geográficas são referidas ao WGS84.

Figura 17 - Sonar de varredura.

Fonte: Próprio autor.

4.4 TRABALHOS DE LABORATÓRIO PÓS-CAMPO

4.4.1 Processamento de Dados Sísmicos

4.4.1.1 Registros de Side Scan Sonar

Os registros de sonografia foram tratados individualmente (imagem por

imagem) com auxílio do software (SonarWiz5, Chesapeake Technology, EUA),

onde foram aplicados filtros digitais para excluir as frequências referentes ao

72

“ruído” (e.g. eco, reverberação, ruído ambiental, entre outros). Em seguida,

aplicou-se em cada imagem padrões de cores que permitiram realçar os

contrastes produzidos pelas diferentes amplitudes do sinal de retorno e pelas

regiões de sombra acústica. Foram, então, gerados mosaicos com uma

resolução de 0.25 m/pixel através de um software específico (SonarWiz5,

Chesapeake Technology, EUA). Sobre os registros sonográficos foram

efetuadas medições de comprimento de onda e simetria das marcas onduladas

e megaonduladas, bem como medidas de altura das feições utilizando a

seguinte expressão: (Eq. 1)

Onde: Ht é a altura da feição, Hf a distância do peixe (fonte-receptor) ao fundo, Ls o

comprimento da sombra acústica e Rs a distância do peixe à feição. Calculados pelo software

utilizado.

4.4.1.2 Registros de Sub Botom Profiler

Para o pós-processamento dos registros sísmicos foram utilizados

os softwares específicos (SonarWiz5, Chesapeake Technology, EUA). Para

visualização e tratamento e MDPS para interpretação. Em cada registro foram

aplicados filtros digitais (passa-alta e passa-baixa), configurou-se, de maneira

individual, o ganho (gain ) e aumentaram-se as escalas verticais de cada perfil.

Através dos registros sísmicos foram obtidas medidas de comprimento das

ondas de areia, determinando-se a distância entre dois pontos

georreferenciados sobre duas cristas consecutivas (Eq. 2).

Onde: DP1P2 é a distância entre os pontos P1 e P2, e xi e yi são as coordenadas (em UTM)

associadas a tais pontos. Também foram obtidas medidas de altura e profundidade médias

(escala vertical ajustada com a velocidade de propagação do som no meio) e o comprimento

da projeção horizontal de cada face da feição, com o qual se obteve o índice de simetria (Eqs.

3 e 4).

73

Onde: Ls e Ll são as projeções horizontais de barlamar ( stoss side ) e sotamar (lee side )

respectivamente, sendo o segundo modificado (de -1) para relacionar feições simétricas com

valores próximos de zero. Obteve-se, também, a inclinação de cada face mediante uma

relação trigonométrica simples (Eq. 5).

Onde: Ax é o ângulo de inclinação (com relação à horizontal) de cada face, H é a altura da

feição e Lx é a projeção horizontal da face em questão, sendo x = s para o stoss

side e x = l para o lee side.

4.4.1.3 Classificação das feições submersas

Para a geração de feições de grande escala, um ambiente subaquoso

deve obedecer a algumas premissas (Dalrymple & Rhodes, 1995):

devem ser ambientes arenosos modernos;

apresentar profundidades superiores a 1 metro;

o tamanho das partículas sedimentares deve ser igual ou maior que 0,17

mm (2,5 ψ, areia fina) e;

as velocidades de corrente devem ser superiores a 0,4 m.s-1.

Dentro dessas características, três tipos de ambientes apresentam

condições sedimentares e hidrodinâmicas que favorecem a formação dessas

feições, a saber:

rios;

ambientes costeiros dominados por marés e;

ambientes marinhos rasos.

Ashley (1990) propôs uma maneira de classificar as feições de grande

escala, associando principalmente o tamanho e a forma destas aos processos

hidrodinâmicos que as geraram. Para tal, foi estabelecida uma hierarquia dos

principais descritores morfológicos das feições submersas de acordo com sua

importância:

74

de primeira ordem - comprimento de onda, altura e dimensionalidade:

2D ou 3D;

de segunda ordem - tamanho e orientação das feições superpostas, tipo

e granulometria do sedimento constituinte e;

de terceira ordem - ângulo das faces e simetria do perfil, características

do trem de ondas, área do leito coberta pela feição e evolução temporal.

Para considerar o tamanho de uma feição como sendo a relação entre

seu comprimento e sua altura, é possível utilizar a razão L/H, denominada

índice da forma vertical (Gorsline & Swift, 1977), através da qual os autores

subdividem as feições de grande escala da seguinte maneira:

para L/H < 20: megaondulações (feições submersas pequenas a

médias);

para L/H > 20: ondas de areia (feições submersas grandes a muito

grandes).

4.4.1.4 Integração e Análises de Dados

Após processamento e integração dos dados, esses foram interpretados

de modo a ser elaborada esta dissertação de mestrado e publicações em

eventos e periódicos científicos.

75

5 DISCUSSSÃO DE DADOS

A distribuição atual de fácies sedimentares na Plataforma Continental ao

largo do Ceará relaciona-se primeiramente ao nível de mar baixo (em torno de

–120 m) correlativo ao último máximo glacial, entre 22.000 e 14.000 anos A.P

(Martins & Coutinho, 1981), quando se depositaram areias litoclásticas em

ambientes transicionais (praias, campos de dunas eólicas e deltas), que foram

afogados pela transgressão subsequente e parcialmente retrabalhados com a

incorporação de novos componentes bióticos, assumindo um caráter

palimpsesto (Freire & Cavalcante, 1998). Essas fácies ocorrem principalmente

na face de praia, a profundidades menores que 15 m (Silva Filho, 2004).

A Plataforma Continental entre os municípios de Itarema e Acaraú,

objeto deste trabalho, apresenta características similares as encontradas no

Estado do Ceará, com largura média de 78 km, tendo as medidas de linha de

costa aproximada de 35 Km.

Conseguimos identificar várias feições ao longo dos trabalhos, tais

como, alinhamentos rochosos encontrados paralelos à costa, campos de

dunas, marcas de ondas e correntes e pequenos afloramentos rochosos, que

contrastam com a paisagem de imensos depósitos siliciclásticos.

A sedimentação atual é principalmente carbonática algálica, com

ausência de corais hermatípicos (Milliman, 1977; Carannante et al., 1988). As

fácies relacionadas ocorrem a profundidades maiores que 15 m, abrigadas da

ação das ondas (Silva Filho, 2004). As algas coralinas ramificadas de vida livre

(Lithothamnion) predominam no setor oeste da Plataforma cearense, enquanto

que as algas verdes calcificadas do gênero Halimeda produzem fácies de areia

e cascalho que ocorrem principalmente no setor leste da Plataforma

Continental ao largo do Ceará (Freire, 1985; Freire & Cavalcanti, 1998; Silva

Filho, 2004).

A partir destes dados oferecidos pelos autores citados no parágrafo

anterior, partimos para fazer a correlação com os dados adquiridos em

trabalhos de campo, apresentados na tabela abaixo: (tabela 1).

76

Tabela 1 – Análise granulométrica de amostras coletadas na área de estudo.

Comprovando a quantidade principal de material carbonático, proveniente das algas

calcárias que “recobrem” grande parte da plataforma continental daquela região.

Amostra % Carbonato CURTOSE ASSIMETRIA

ITA-1 92,00% MESOCÚRTICA POSITIVA

ITA-2 97,00% MESOCÚRTICA POSITIVA

ITA-3 92,00% PLATICÚRTICA APROXIMADAMENTE SIMÉTRICA

ITA-4 92,00% MESOCÚRTICA POSITIVA

ITA-5 99,00% MESOCÚRTICA NEGATIVA

ITA-6 90,00% PLATICÚRTICA POSITIVA

ITA-7 96,00% PLATICÚRTICA MUITO NEGATIVA

ITA-8 98,00% MESOCÚRTICA APROXIMADAMENTE SIMÉTRICA

ITA-9 98,00% MESOCÚRTICA POSITIVA

ITA-11 96,00% PLATICÚRTICA APROXIMADAMENTE SIMÉTRICA

ITA-12 99,00% LEPTOCÚRTICA APROXIMADAMENTE SIMÉTRICA

ITA-13 97,00% MUITO LEPTOCÚRTICA MUITO NEGATIVA

ITA-14 96,00% LEPTOCÚRTICA MUITO NEGATIVA

ITA-15 99,00% LEPTOCÚRTICA MUITO NEGATIVA

ITA-16 95,00% PLATICÚRTICA NEGATIVA

ITA-17 98,00% PLATICÚRTICA MUITO NEGATIVA

ITA-18 94,00% LEPTOCÚRTICA MUITO NEGATIVA Fonte: Próprio autor.

77

As amostras coletadas na Plataforma Interna e Média, adjacente ao município

de Itarema e Acaraú, indicaram pela análise granulométrica a predominância

de partículas grosseiras (65%). (gráfico 1).

Gráfico 1: Análise Granulométrica amostras Itarema e Acaraú.

Fonte: Próprio autor.

Na classificação de Larsonneur 1977 (Dias, 1996), foi verificado em

75% das amostras sedimentos como coquinas ou rodolitos, areia bioclástica

com grânulos, areia grossa a muito grossa e cascalho bioclástico. (gráfico 2).

Gráfico 2: Classificação de Larsonnerur 1977/ Dias 1996.

Fonte: Próprio autor.

0% 10% 20% 30% 40%

COQUINAS OU RODOLITOS

CASCALHO BIOCLÁSTICO

AREIA BIOCLÁSTICA COM GRÂNULOS

AREIA BIOCLÁSTICA MÉDIA

AREIA BIOCLÁSTICA FINA A MUITO FINA

AREIA BIOCLÁSTICA LAMOSA

AREIA BIOCLÁSTICA GROSSA A MUITO GROSSA

CLASSIFICAÇÃO DE LARSONNEUR 1977/DIAS 1996

78

Os biodetritos possuíram um alto percentual de carbonato de cálcio –

95% com total ou parcial presença de bioclastos, principalmente Lithothamniun,

rodolitos e moluscos. Já a Halimeda ocorre de forma acessória e aparece

apenas em duas amostras e em uma aparece viva (amostra ITA-06),

lembrando que essa alga calcária verde aparece diferentemente da espécie

Incrassata do setor leste da Plataforma Continental do Ceará, de forma

incrustante em rodolitos. O substrato dessa área analisada é composto,

predominantemente, por sedimentos biodetríticos, aparecendo de forma traço

os sedimentos siliciclástico, como o quartzo, principalmente.

A deposição desses biodetritos se processa de forma variegada, ou

seja, em uma mesma amostra se verificam percentuais significativos em mais

de uma textura que, apesar dessa variedade granulométrica, observa-se o

predomínio da fração grossa, sendo considerado um ambiente típico de

deposição, no qual a remobilização é inexistente ou ocorre esporadicamente

como em períodos de precipitações elevadas e/ou tempestades. Essas épocas

ocasionam mudanças nas características físico-químicas, turbidez da água e

remobilização do fundo e consequentes soterramentos que fazem com que

certas espécies bentônicas morram e/ou passem a habitar setores mais

distantes da costa. Por esse fato, verifica-se a questão das algas vermelhas

calcárias que migram para áreas mais distantes e, consequentemente,

afetando os organismos que dependem do substrato algálicos como a lagosta,

prejudicando assim aspectos socioeconômicos. Um fato que predominou nas

amostras em cima do banco de cascalhos na plataforma média é o de

sedimentos estarem quase que inteiramente constituídos de algas calcárias

vermelhas do gênero Lithothamniun (mais de 95%), onde seus restos se

encontram erodidos, microperfurados, ou seja, indicador de sedimento de

maior tempo no sistema, onde rara é a presença de algas vivas.

A distribuição das formas de fundo foi caracterizada e descrita a partir da

integração dos padrões de reflexão sonora e resposta do fundo aos sinais

sísmicos enviados pela fonte geradora. A distribuição de padrões sonográficos

se mostra coerente com a distribuição sedimentar na maior parte da área

sondada (figura 19), sendo possível identificar na superfície percorrida 5

79

respostas acústicas: (1) Fundo Homogêneo de Baixa Intensidade (associado a

sedimentos arenosos, como campos de sandwaves); (2) Dunas Submersas

(associado a sedimentos arenosos); (3) Formas de Fundo Irregulares

(associado a sedimentos com maior teor de carbonato); (4) Afloramentos de

possíveis linhas de Beach rock (associado a possíveis linhas de costa); (5)

Associação a formas de interferência humana (naufrágio, armadilhas para

captura de lagostas), nas armadilhas de captura de lagostas, podemos

destacar os covos artesanais e as chamadas “marambaias” (atratores

artificiais, construídos com matérias diversos, por vezes, pneus, ferro velho,

alvenaria) (Veronez Jr., 2009).

80

6 RESULTADOS E CONCLUSÕES

A partir do que foi discutido no capítulo anterior, chegamos às seguintes

conclusões:

1. O padrão identificado no Fundo Homogêneo de Baixa Intensidade

(figura 18) apresentou relação com uma única textura sedimentar,

estando o mesmo associado a sedimentos com granulometria

que vai de areia muito grossa a grossa. É o padrão que apresenta

a maior ocorrência.

2. O padrão denominado Dunas Submersas (figura 18) é

caracterizado por um padrão intercalado de baixa e alta

intensidade onde se observa as grandes feições de fundo, estas

formas geomorfológicas estão diretamente ligadas à direção das

ondas e correntes que incidem na área.

3. Formas de fundos irregulares: essas formas estão associadas à

formação de bancos de algas calcárias, os sedimentos se

apresentam com granulometria entre o cascalho e o cascalho

arenoso, configuram como habitat de lagostas.

4. Afloramentos de antigas linhas de costa: foram definidos

alinhamentos paralelos à costa que indicam possíveis antigas

linhas de costa. Datações podem nos dar provas da idade

geológica, são resultados esperados em trabalhos subsequentes

a serem conduzidos por este autor.

5. Associação à interferência humana: Marambaias (Atratores

artificiais), que servem de refúgio para peixes e lagostas. Elas são

construídas por pescadores para criar um habitat onde espécies

possam se refugiar. Um navio Petroleiro da Segunda Guerra

Mundial naufragado também faz parte destes fundos, associados

ao banco de cascalho carbonático, localizado em trabalho de

campo da geofísica na área e confirmado pelos pescadores.

81

6. Concomitante ao levantamento sonográfico, os registros sísmicos

apresentaram grande correlação com o material de fundo da

região de Itarema e Acaraú, sendo possível identificar quatro

respostas sísmicas diferentes e relacioná-las com as respectivas

características granulométricas de fundo e padrões sonográficos,

como ilustra a figura 18.

7. O ecocaráter Plano de Baixa Reflexão (figura 18) é representado

na sísmica por um fundo sedimentar com baixa reflexão de sua

superfície, seguindo por uma fácies sísmica tipicamente

transparente. A base desta camada transparente é marcada por

uma superfície de subfundo de grande reflexão, a partir da qual o

sinal acústico apresenta pouca ou nenhuma penetração, e não é

mais observado refletores de subfundo. Este ecocaráter está

restrito aos trechos onde ocorre diminuição da hidrodinâmica

junto ao fundo provocada pela calmaria propiciada pelo estuário

dos rios, favorecendo a deposição de sedimentos lamosos. Esta

resposta sísmica, pelas características de baixa reflexão da

superfície deste fundo sedimentar apresentadas na sísmica, pode

ter relação com depósitos de lama fluida. Ocorrendo dentro do

estuário dos rios Acaraú e rio do Porto dos barcos em Itarema

(figura 19). A lama fluida é um estado do sedimento lamoso

intermediário entre o fundo lamoso e o material particulado em

suspensão, onde, apesar de ter altas densidades, o depósito

apresenta as características e o comportamento de um fluido

(figura 21).

8. A integração dos métodos geofísicos e granulométricos utilizados

neste trabalho se mostrou importante e adequada para a

inferência dos processos sedimentares da região de estudo,

assim como para a conclusão dos objetivos propostos,

conseguimos identificar feições e substratos na Plataforma

Continental e, consequentemente, observar a paisagem

submersa daquela área.

82

9. A distribuição das respostas sísmicas (fácies sedimentares) se

mostrou condizente com a distribuição faciológica; as

amostragens corresponderam aos dados sísmicos obtidos.

10. A análise de registros sísmicos é importante para a

caracterização ou mapeamento acústico do fundo marinho

(paisagem submersa), contribuindo para os estudos da geografia

e geomorfologia daquela região da Plataforma Continental. A

combinação dos registros e da sondagem sedimentar permite a

interpretação dos processos sedimentares atuantes no ambiente.

11. O termofácie, associado ao sinal acústico, tem como objetivo

indicar a resposta acústica (tanto de um perfilador acústico

quanto de um sonar de varredura lateral) do leito marinho ou

estuarino em função da sua granulometria, textura, grau de

compactação e morfologia. Com isso, uma ecofácies é descrita

aqui como sendo a combinação de um tipo de ecocaráter (padrão

de reflexão a partir de um perfilador monofeixe, geralmente de

alta freqüência, > 3,5kHz), com o padrão sonográfico (as

intensidades de retorno do sinal acústico emitido por um sonar de

varredura lateral).

83

Figura 18: Formas de fundo e respectivas respostas acústicas adquiridas em trabalhos

de campo na área de estudo. 1. Fundo homogêneo de baixa intensidade (campos de

sandwaves); 2. Dunas Submersas; 3. Formas de fundo irregular (material bioclástico); 4.

Não se aplica a esta imagem; 5. Interferência antropogênica (armadilhas para pesca de

lagostas).

Fonte: Próprio autor.

84

Figura 18: Registro de Sedimentos Lamosos dentro do estuário do rio do Porto dos

Barcos em Itarema.

Fonte: Próprio autor

12. Melhorias tecnológicas recentes ao método de aquisição de

dados sísmicos e aos sistemas de processamento de dados,

através de programas específicos, aumentaram a capacidade

técnica para resolver e explicar detalhes do fundo do mar,

morfologia e transporte de sedimentos. Neste estudo,

conseguimos identificar feições (12 m de comprimento de onda,

0,25 m de amplitude) não visíveis se não dispuséssemos de

tecnologia apropriada, adequando a resolução no ato do

processamento conseguimos identificar ondas em grande escala

(~ 60 m de comprimento de onda, de 1,5 m de amplitude). A

85

inspecção dos dados sugere que a características sobrepostas

podem ser controladas por tempo regional padrões de circulação,

bem como da camada limite de fluxo de deflexão a sotavento dos

grandes cristas bedform. A comparação feita entre dois inquéritos

obtidos em abril e novembro de 2008 revela degradação dos

bedforms sobrepostas seguinte marés de maior amplitude do que

em abril. Em vez de medições, os resultados numéricos modelo

indicam o limiar velocidade a ser entre 55 e 90 cm / s para

secundário deflação bedform (d50 = 0,35 mm). Os resultados do

modelo também suportam a hipótese de que os gradientes de

transporte de sedimentos taxas de conduzir os padrões de

migração bedform em grande escala, e que bedforms

sobrepostas são o resultado de mudanças de fase da maré, e

variações regionais e locais da batimetria, resultando numa

direcção topográfica multibeam batimetria. Medidas obtidas de 11

anos revelam significativas mudanças na forma e tamanho das

ondas de areia em grande escala. Por causa de essas alterações

dos padrões de fluxo brutos serem improváveis, essas mudanças

são pensadas para serem relacionadas a outros fatores tais como

modificações de fornecimento de sedimentos. Fluxo da camada

limite dinâmica é extremamente complexo e mudança ao longo do

pequeno escalas espaciais; maior resolução batimétrica é,

portanto, essencial para a obtenção de dados de campo que

podem ser utilizados para testar modelos.

86

Figura 20 - Mosaico sísmico e a correlação com os sedimentos de fundo.

Fonte: Próprio autor.

87

Figura 19 - Classificação a partir da reflectância GLCM Std Dev vertical.

Fonte: Próprio autor.

88

Figura 20 - Padrão de resposta sísmica

Fonte: Próprio autor.

89

Figura 21- Padrão de resposta sísmica para diferentes texturas e formas de fundo, cor

(i) vermelha, (ii) amarela, (iii) roxo.

Fonte: Próprio autor

Figura 22- formas de fundo na plataforma de Itarema e Acaraú

Fonte: Próprio autor

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