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UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC
CURSO DE GEOGRAFIA
JULIANO GORDO COSTA
MOBILIDADE E ESCOLHAS DE MATRIAS-PRIMAS ROCHOSAS POR GRUPOS
PR-HISTRICOS CAADORES-COLETORES NA MICROBACIA DO RIO DA
PEDRA. JACINTO MACHADO/SANTA CATARINA.
CRICIMA
2013
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JULIANO GORDO COSTA
MOBILIDADE E ESCOLHAS DE MATRIAS-PRIMAS ROCHOSAS POR GRUPOS
PR-HISTRICOS CAADORES-COLETORES NA MICROBACIA DO RIO DA
PEDRA. JACINTO MACHADO/SANTA CATARINA.
Trabalho de Concluso de Curso, apresentado para obteno do grau de Bacharel em Geografia no curso de Geografia da Universidade do Extremo Sul Catarinense, UNESC.
Orientador: Prof. Me. Juliano Bitencourt Campos
Orientador: Prof. Me. Marcos Csar Pereira Santos.
CRICIUMA
2013
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DEDICATRIA
Aos meus pais, Celso e Leziane, que
sempre se fizeram presente, me apoiando e
me dando foras para continuar, com muito
amor, carinho e confiana.
A minha companheira Jaqueline, por todo
amor, alegrias, cuidados, compreenso e
companheirismo em todos os momentos.
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AGRADECIMENTOS
Durante toda a etapa para a realizao deste meu trabalho, muitas
pessoas foram fundamentais, agradeo aos meus pais Celso Pedro Costa e Leziane
Gordo Costa, e a meus irmos Thiago, Caroline, Fernanda e Evinho, pelo apoio,
carinhos e confiana em todos os momentos.
Sem deixar de agradecer a minha companheira Jaqueline Eleotero de
Souza, por me proporcionar os momentos mais felizes dos quais j vivi, ao lado de
nossos filhos, agradeo pelo apoio, amor, carinho, cuidados e compreenso durante
todo esse processo.
A Rosangela Eleotero de Souza e Jos Eli de Souza, meus outros pais,
por me acolher em sua casa, muito obrigado.
Agradeo Universidade do Extremo Sul de Santa Catarina (UNESC) e
ao curso de Geografia desta instituio, que me ensinou os caminhos da Pesquisa,
na qual, tive a oportunidade de integrar-me ao meio acadmico.
Ao meu orientador e amigo Juliano Bitencourt Campos, por esses quase
cinco anos de orientao, me proporcionado conhecer e fazer parte do mundo da
arqueologia. Obrigado pela oportunidade, de ter acreditado e confiado em mim.
Agradeo ao tambm orientador e amigo Marcos Csar Pereira Santos,
por todo seu empenho e pelas suas valiosas orientaes, e, principalmente, pelo
entusiasmo com que me guiou, junto com Juliano, na direo da escolha deste tema.
Aos Professores Jairo Jos Zocche, Nadja Zim Alexandre e Carlos
Matias, por todas as contribuies, crticas e apoio para a finalizao deste trabalho.
Aos Gestores do I-Parque Professores Marcos Back e Clovis Norberto
Savi por terem colaborado em muitos momentos com esta pesquisa.
Aos amigos e companheiros do Setor de Arqueologia do I-Parque pelo
companheirismo do dia a dia e s contribuies na finalizao deste trabalho: Alan
Sezara; Ariel F. De Lucca; Breno Stern; Claudio Ricken; Dhionata Guisso; Diego D.
Pavei; Dionia Magnus Cardoso; Francieli G. Marcelina; Giovana Pereira; Guilherme
Bitencourt de Souza; Hrom S. de Cezaro; James Wilian Meneghini; Jessica R.
Ferreira; Josiel dos Santos; Mayla S. Toi; Rafael Casagrande da Rosa e Richard V.
Ronconi.
Aos amigos e companheiros Lucas Casagrande e Patrcia Zwoboter por
anos de companheirismo e incentivo.
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A todos os colegas e professores do curso de Geografia da UNESC, que
durante todo esse tempo de graduao nos tornamos amigos, e sentiremos
saudades de todas as lutas que passamos, em especial a amiga Silvia Aline, pelos
trabalhos da faculdade, provas, conversas sobre as disciplinas, pela amizade,
sempre nos ajudando.
A todos aqueles que de certa forma contriburam para a realizao deste
trabalho com sugestes, crticas e apoio para a finalizao desta empreitada, o meu
muito obrigado.
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" preciso sonhar, mas com a condio de
crer em nosso sonho, de observar com
ateno a vida real, de confrontar a
observao com nosso sonho, de realizar
escrupulosamente nossas fantasias.
Sonhos, acredite neles."
Vladimir Ilitch Lenin
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RESUMO
O estudo da explorao das fontes de matria-prima est associado ao entendimento do espao em diversos aspectos, dentre eles o Geolgico, Geomorfolgico, Pedolgico e Hidrolgico. Este trabalho visa entender os critrios de seleo de matrias-primas aptas ao talhe de instrumentos localizados em dois stios arqueolgicos, geomorfologicamente distintos, localizados na microbacia do rio da Pedra, por parte dos grupos pr-histricos com hbitos denominados de caadores-coletores, no municpio de Jacinto Machado, extremo sul do estado de Santa Catarina. Esta pesquisa est inserida dentro da problemtica estudada no projeto Arqueologia Entre Rios: do Urussanga ao Mampituba, coordenado pelo grupo de pesquisa Arqueologia e Gesto Integrada do Territrio.
Palavras-chave: Captao de Recursos. Arqueologia. Aspectos Fsicos. Caador-
coletor.
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LISTA DE ILUSTRAES
Figura 1- Localizao do municpio de Jacinto Machado/SC. ................................... 26
Figura 2 - Mapa Geolgico da microbacia do rio da Pedra com stios arqueolgicos
estudados. ................................................................................................................. 31
Figura 3 - Mapa Geomorfolgico da microbacia do rio da Pedra com stios
arqueolgicos estudados........................................................................................... 42
Figura 4 - Mapa Pedolgico da microbacia do rio da Pedra com stios arqueolgicos
estudados. ................................................................................................................. 46
Figura 5 - Bacia hidrogrfica do Rio Ararangu. ....................................................... 50
Figura 6 - Mapa Hidrolgico da microbacia do rio da Pedra com stios arqueolgicos
estudados. ................................................................................................................. 52
Figura 7 - Sistema de falhas, com grben em destaque. .......................................... 53
Figura 8 - Perfil esquemtico da floresta Ombrfila Densa. ...................................... 56
Figura 9 - Parmetros analtico de volumetria. .......................................................... 57
Figura 10 - Parmetros analtico de seco. ............................................................. 58
Figura 11 - Croqui do crrego com pontos de vistoria e stio arqueolgico JM 01 em
destaque.................................................................................................................... 62
Figura 12 - A seta sinaliza a rea central do stio arqueolgico JM 01, no ponto A do
croqui. ....................................................................................................................... 63
Figura 13 - Detalhe do basalto presente na rea de estudo, onde sofreram alterao,
no ponto B do croqui. ................................................................................................ 64
Figura 14 - Fragmentos de quartzo presente nas proximidades do ponto D do croqui.
.................................................................................................................................. 64
Figura 15 - A) Nascente a montante da rea de estudo; B) Detalhe da quantidade de
basalto em forma de seixo com tamanhos variados na margem do crrego, ambos
nas proximidades do ponto E do croqui. ................................................................... 65
Figura 16 - Detalhe da presena de basalto, em forma de blocos e seixos, na rea
em estudo, no ponto G do croqui. ............................................................................. 65
Figura 17 - Detalhe da mata ciliar preservada nas margens do crrego prximo a
rea do stio arqueolgico, nas proximidades do ponto H do croqui. ........................ 66
Figura 18 - Detalhe da vegetao j antropizada nas margens do crrego prximo ao
stio arqueolgico em estudo, nas proximidades do ponto I do croqui. ..................... 66
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Figura 19 - Material arqueolgico presente no stio arqueolgico JM 01, sendo A)
basalto; B) calcednia e C) quartzo. ......................................................................... 67
Figura 20 - Diferentes dimenses apresentadas nos materiais arqueolgicos
presente no stio JM 01, sendo A) basalto; B) calcednia e C) quartzo. ................... 68
Figura 21 - Material arqueolgico com marcas de arado presente no stio
arqueolgico JM 01. .................................................................................................. 69
Figura 22 - Superfcie cortical presente nos materiais arqueolgicos ....................... 70
Figura 23 - Material arqueolgico com origem em: A) seixo; B) bloco e C) placa. .... 71
Figura 24 - A seta sinaliza a rea central do stio arqueolgico JM 04, no ponto A do
croqui. ....................................................................................................................... 72
Figura 25 - Croqui do rio Engenho Velho com pontos de vistoria e stio arqueolgico
JM 04 em destaque. .................................................................................................. 73
Figura 26 - Detalhe do rio Engenho Velho, distante 100m da rea central do stio
arqueolgico JM 04, no ponto C e D do croqui. ........................................................ 74
Figura 27 - Detalhe do basalto presente na rea de estudo, onde fratura por arado,
no ponto B do croqui. ................................................................................................ 74
Figura 28 - Detalhe do perfil do solo presente nas proximidades do stio arqueolgico
JM 04, no ponto E do croqui. ..................................................................................... 75
Figura 29 - Detalhe do perfil nas proximidades do rio Engenho Velho, nos pontos F e
H do croqui. ............................................................................................................... 75
Figura 30 - Detalhe da presena de basalto, em forma de seixos, na rea em estudo,
no ponto I e K do croqui. ........................................................................................... 76
Figura 31 - Detalhe do rio Engenho Velho nas proximidades dos pontos H e J,
apresentando grande volume e contaminao por dejetos sunos. .......................... 76
Figura 32 - Detalhe do material arqueolgico em calcednia, nas proximidades do
ponto G do croqui. ..................................................................................................... 77
Figura 33 - Detalhe do material arqueolgico em calcednia, nas proximidade do
ponto G do croqui. ..................................................................................................... 77
Figura 34: Material arqueolgico em calcednia e quartzo, dos stios arqueolgicos
JM 01 e JM 04, localizados no Centro Cultural ngelo Savi Mondo, Jacinto
Machado.................................................................................................................... 78
Figura 35 - Trabalhos realizados na rea quadriculada nas margens do rio Engenho
Velho. ........................................................................................................................ 79
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Figura 36 - rea quadriculada nas margens do rio Engenho Velho, onde analisamos
todos os seixos desta superfcie, depositados a direita da imagem. ......................... 79
Figura 37 - Margem direita do rio Engenho Velho em relao a rea quadriculada. . 80
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Coluna estratigrfica da rea da bacia hidrogrfica do rio Ararangu.
Sequncia Gondwnica adaptada de Mhlmann et al., (1974). Coberturas
Cenozicas adaptada de Caruso JR., (1997). Embasamento cristalino e Grupo
Itarar (no aflorantes) foram estabelecidos a partir de observaes realizada em
testemunhos de sondagens realizadas para carvo. ................................................ 29
Tabela 2 - Tipos de formas bsicas utilizadas como parmetros de anlise. ........... 59
Tabela 3 - Parmetros dimensionais da Classificao das massas rochosas. ......... 60
Tabela 4 - Forma bsica e matria-prima presente no stio arqueolgico JM 01. ..... 67
Tabela 5 - Peso e dimenso dos materias arqueolgicos do stio arqueolgico JM 01.
.................................................................................................................................. 68
Tabela 6 - Quantidade de crtex presente nos materias arqueolgico do stio JM 01.
.................................................................................................................................. 70
Tabela 7 - Origem da matria-prima do stio arqueolgico JM 01. ............................ 71
Tabela 8 - Volumetria e Classe Dimensional analisadas para o stio arqueolgico JM
04. ............................................................................................................................. 81
Tabela 9 - Seco e classe dimensional analisados para o stio arqueolgico JM 04.
.................................................................................................................................. 82
Tabela 10 - Dimenses mdias dos seixos. .............................................................. 85
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LISTA DE GRFICOS
Grfico 1 - Estado de preservao do material arqueolgico do stio JM 01. ........... 69
Grfico 2 - Quantidade de crtex presente nos materias analisados do stio JM 04. 83
Grfico 3 - Textura dos materiais analisada do stio JM 04. ...................................... 83
Grfico 4 - Alterao presente nas amostras do stio JM 04. .................................... 84
Grfico 5 - Tipo de alterao nas amostras do stio JM 04. ...................................... 84
Grfico 6 - Granulometria presente nas amostras do stio JM 04. ............................ 85
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
A.P. Antes do Presente.
CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente.
CPRM Companhia de Pesquisa de Recursos Naturais.
EPAGRI Empresa de Pesquisa Agropecuria e Extenso Rural de Santa Catarina.
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica.
IPAT Instituto de Pesquisas Ambientais e Tecnolgicas.
JM Jacinto Machado.
PROESC Projeto Oeste de Santa Catarina.
UNB Universidade de Braslia.
UNESC Universidade do Extremo Sul Catarinense.
UTM Universal Transversal de Mercator.
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SUMRIO
1 INTRODUO ....................................................................................................... 17
2 OBJETIVOS ........................................................................................................... 19
2.1 OBJETIVO GERAL ............................................................................................. 19
2.2 OBJETIVOS ESPECFICOS ............................................................................... 19
3 FUNDAMENTAO TERICA ............................................................................. 20
3.1. PROBLEMTICA DA REA DE ESTUDO ......................................................... 20
3.2. OS CAADORES-COLETORES: DOS CONTRAFORTES DA SERRA GERAL
AO LITORAL ............................................................................................................. 22
3.3. MODELOS DE MOBILIDADE PARA GRUPOS CAADORES-COLETORES
(ZONES OF ECONOMIC ACTIVITY) ........................................................................ 23
4 MATERIAIS E MTODOS ..................................................................................... 25
4.1 LOCALIZAO DA REA DE ESTUDO ............................................................. 25
4.2 DESCRIO AMBIENTAL DA REA ................................................................. 27
4.2.1 Clima................................................................................................................ 27
4.2.2 Geologia e Geomorfologia ............................................................................. 28
4.2.2.1 Geologia Regional ......................................................................................... 29
4.2.2.2 Geologia Local .............................................................................................. 30
4.2.2.2.1 Formao Rio do Rastro ............................................................................ 32
4.2.2.2.2 Formao Botucatu .................................................................................... 33
4.2.2.2.3 Formao Serra Geral ................................................................................ 34
4.2.2.2.4 Depsitos Cenozicos ................................................................................ 36
4.2.3.2 Geomorfologia Regional ................................................................................ 39
4.2.3.2.1 Depsitos Sedimentares ............................................................................ 43
4.2.3.2.2 Bacias de Coberturas Sedimentares .......................................................... 43
4.2.4 Pedologia ........................................................................................................ 45
4.2.4.1 Solos Litlicos Eutrficos e Distrficos .......................................................... 47
4.2.4.2 Terra Roxa Estruturada Distrfica e lica ..................................................... 47
4.2.4.3 Cambissolo Distrfico e Eutrfico .................................................................. 48
4.2.5 Hidrografia ...................................................................................................... 49
4.2.6 Cobertura Vegetal .......................................................................................... 54
4.3 METODOLOGIA DE LEVANTAMENTO EM CAMPO ......................................... 56
4.4 ATRIBUTOS DE ANLISE DOS MATERIAIS LTICOS ...................................... 58
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5 RESULTADOS E DISCUSSO ............................................................................. 61
5.1. STIO ARQUEOLGICO JM 01 ......................................................................... 61
5.1.1 Anlise do material arqueolgico do Stio JM 01 ........................................ 66
5.2. STIO ARQUEOLGICO JM 04 ......................................................................... 72
5.2.1 Caracterizao da Matria-Prima Rochosa do Stio Arqueolgico JM 04 . 78
6 CONSIDERAES FINAIS ................................................................................... 86
REFERNCIAS ......................................................................................................... 88
ANEXO ..................................................................................................................... 96
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1 INTRODUO
O homem, em seu deslocamento pela superfcie terrestre, sempre buscou
ambientes para se estabelecer. Neste processo, a escolha dos locais para o
estabelecimento de ncleos de povoamento sempre esteve relacionada
observao de determinadas caractersticas do ambiente como hidrografia,
vegetao, relevo e clima que atendessem as necessidades de subsistncia dos
diferentes grupos humanos. A relao entre o homem e o ambiente no foi diferente
na regio drenada pela microbacia do rio da Pedra, inserida na Bacia Hidrogrfica
do rio Ararangu. Esta microbacia drena, parcialmente, com suas guas no sentido
oeste-leste, o municpio de Jacinto Machado, estando localizado no extremo Sul do
estado de Santa Catarina. Os povos que ocuparam a rea da pesquisa no perodo
pr-colonial tinham hbitos caadores-coletores seminmades, sendo nomeados
etnologicamente como Xokleng.
O presente estudo tem por objetivo pesquisar os aspectos inerentes a
mobilidade e escolhas de matrias-primas pelos grupos pr-histricos caador-
coletor na microbacia do rio da Pedra, no municpio de Jacinto Machado. O
municpio alvo de estudos do Setor de Arqueologia do IPAT/UNESC desde 2003,
com o trabalho Expedies arqueolgicas do sul do Estado de Santa Catarina
(LINO; CAMPOS, 2003), onde foram registrados seis stios arqueolgicos,
denominados como: Jacinto Machado 01, 02, 03, 04, 05 e 06.
O primeiro captulo ir discutir a problemtica da rea pesquisada,
procurando observar a semelhana entre a tecnologia e a produo dos utenslios e
as matrias-primas. Alm da discusso acerca dos grupos humanos pr-histricos
caadores-coletores que habitaram a regio estudada. Da mesma forma, ir abordar
o modelo de assentamento desses grupos, onde criavam padres de mobilidade
para atender as demandas particulares do sistema comportamental humano,
discutido como zonas de atividades econmicas (zones of economic activity).
O segundo captulo abordar os conceitos fsicos da regio em estudo,
descrevendo a localizao da rea estudada; ser observado o enquadramento
ambiental, exibindo o clima, as formaes geolgicas, geomorfolgicas, pedolgicas,
hidrolgicas e vegetacionais, onde estavam inseridos os grupos humanos pr-
histricos nesse contexto.
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Alm de abordar os conceitos fsicos da regio em estudo, o segundo
captulo ir descrever minuciosamente as atividades metodolgicas de campo, onde
conhecemos in loco a regio da microbacia do rio da Pedra, e tambm os atributos
de anlise do material ltico dos stios arqueolgicos estudados, onde realizamos a
anlise dos artefatos lticos advindos dos stios arqueolgicos JM 01 e JM 04.
No terceiro captulo so abordados os resultados e discusses dos stios
arqueolgicos JM 01 e JM 04, levando em considerao a descrio fsica dos dois
stios, alm da anlise do material arqueolgico JM 01 e das caracterizaes da
matria-prima rochosa do stio arqueolgico JM 04, com o intuito de avaliar, atravs
das caractersticas do meio fsico, padres de assentamentos e explorao
diferenciada da matria-prima pelos grupos humanos que perpassaram a regio,
onde levamos em considerao duas reas geomorfolgicas distintas.
Para o desenvolvimento deste estudo, alm da pesquisa bibliogrfica, foi
realizada anlise no entorno dos stios arqueolgicos JM 01 e JM 04. Nestes foram
comparadas as caractersticas das fontes de matrias-primas existentes prximas
aos stios, com o material ltico encontrado nos prprios stios arqueolgicos, no
intuito de avaliar as potencialidades e facilidades de obteno e caractersticas de
manufatura destes recursos. Foi realizado o mapeamento das fontes de matria-prima mais prximas
rea de ocorrncia dos stios para entender, do ponto de vista sistmico, a relao
de distncia entre a rea de ocupao e possveis reas de aprovisionamento dos
recursos lticos. Aliado a isso, sero elaborados mapas temticos com a localizao
espacial dos stios arqueolgicos e possveis fontes de captao de matria-prima
na rea pesquisada, produzidos atravs da anlise de bases cartogrficas
disponibilizadas pelo IBGE em modo digital e impresso.
Este trabalho faz parte dos estudos realizados no projeto de pesquisa
Arqueologia Entre Rios: Do Urussanga ao Mampituba, desenvolvido pelo grupo de
Pesquisa Arqueologia e Gesto Integrada do Territrio, da Universidade do Extremo
Sul Catarinense (CAMPOS et al., 2013).
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2 OBJETIVOS
2.1 OBJETIVO GERAL
Identificar os critrios de seleo de matrias-primas aptas ao talhe de
instrumentos localizados nos stios arqueolgicos JM 01 e JM 04, na microbacia do
rio da Pedra, por parte dos grupos pr-histricos, denominados caadores-coletores,
no municpio de Jacinto Machado, extremo sul do estado de Santa Catarina.
2.2 OBJETIVOS ESPECFICOS
Identificar a distribuio espacial das fontes litolgicas de matria-prima rochosa na microbacia do rio da Pedra associadas aos stios arqueolgicos;
Identificar macroscopicamente os tipos de matria-prima existentes nos stios arqueolgicos JM 01 e JM 04 localizados na rea da pesquisa;
Caracterizar o meio fsico com a localizao espacial dos stios arqueolgicos para identificar as possveis reas de captao de matria-prima na rea
pesquisada.
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3 FUNDAMENTAO TERICA
3.1. PROBLEMTICA DA REA DE ESTUDO
O aproveitamento das rochas de um determinado ambiente por
populaes pr-histricas deixa, como vestgios, artefatos diversos, representativos
de suas indstrias lticas. Cada indstria ltica depende da natureza da matria-prima
e de sua distribuio espacial. Segundo esses fatores primordiais, instalaram-se as
populaes pr-histricas em nichos ecolgicos convenientes (MORAIS, 2007).
Desta forma, pode-se destacar que esta afirmao tem sido apoiada nas
caractersticas fsicas onde se encontram os stios arqueolgicos da microbacia do
rio da Pedra, no municpio de Jacinto Machado, extremo sul de Santa Catarina.
A semelhana entre a morfologia, produo dos utenslios e as matrias-
primas disponveis essencial em estudos sobre vestgios lticos. Segundo Santos e
Cura (no prelo) a gesto diferenciada de acordo com o tipo de matria-prima,
levanta questes de disponibilidade dessas matrias-primas e forma de obteno,
realando as caractersticas de uma indstria ltica em que os atributos tecnolgicos
simples no demonstram claramente as especificidades funcionais da mesma.
Em toda regio dos stios arqueolgicos JM 01 e JM 04, jazem materiais
rochosos advindos das encostas da Serra Geral. Sendo assim, as matrias-primas
aproveitadas pelos homens pr-histricos que utilizaram estes stios arqueolgicos
poderiam incidir do seu entorno, mais especificamente dos cursos dgua,
formadores do rio da Pedra. Todas as possibilidades de obteno de matria-prima
utilizadas pelos grupos pr-histricos proveriam do entorno imediato destes stios.
De acordo com Santos (2012, p. 68) a relao entre a escolha da rocha para a
manufatura de instrumentos pode estar ligada a relao peso/dimenso dos
suportes escolhidos e so possibilidades de uso para a confeco de determinados
instrumentos tpicos da rea arqueolgica.
Arqueologicamente a regio foi ocupada por dois diferentes grupos
culturais que dominavam a tecnologia da pedra: Umbu e os materiais lticos
associados a grupos Xokleng. Os grupos formadores da chamada Tradio Umbu
habitariam ambientes de campos abertos e matas fechadas, com stios ocorrendo
tanto em cu aberto, quanto em abrigos sob rocha. Os artefatos lticos so
caracterizados por pontas de projtil, lascas, instrumentos bifaciais, raspadores,
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furadores, etc. A tcnica de confeco preferencial o lascamento unipolar, seguido
da tcnica por presso, em sua maioria confeccionada sobre seixos rolados de rios.
A indstria ssea, por sua vez, formada por alguns poucos objetos encontrados
at o momento, como furadores, agulhas, anzis e ornamentos, entre outros. J as
conchas, foram utilizadas principalmente como contas de colar (SCHMITZ, 1984).
O trao mais marcante que se verificou nas amostras estudadas a longa persistncia de padres tecnolgicos, com artefatos confeccionados com tcnicas similares e, basicamente, com as mesmas matrias-primas, desde pelo menos 12.000 at 1.000 A.P. (NOELLI, 1999/2000, 230).
Em relao s populaes Xokleng os dados so ainda mais escassos.
Diferenciam-se da Tradio Umbu por possurem instrumental ltico confeccionados
em sua maioria em blocos, culminando com artefatos mais rsticos e mal acabados,
propcios para trabalhar madeira e associados culturalmente tradio arqueolgica
Humait, sendo que essa nomenclatura est em desuso. Devido a esta
caracterstica ltica, os stios encontram-se em sua maioria em reas de florestas
densas (SCHMITZ, 1984).
Esta tradio, de acordo com Noelli (1999/2000) difere em poucos
aspectos da Tradio Umbu, a tal ponto que alguns pesquisadores sugeriram que as
diferenas representam variaes em termos de funcionalidade dos stios, ao invs
de representarem populaes distintas.
De acordo com Hoeltz (1007) na Tradio Umbu os artefatos bifaciais so
confeccionados sobre seixos e lascas unipolares, com tamanhos de pequenos a
mdios e cobertos por superfcie natural em at 1/3 ou mais de sua rea e na
Tradio Humait os artefatos bifaciais foram confeccionados a partir de blocos com
tamanhos variando de mdios at extra-grandes, cobertos por superfcie natural em
at 2/3 ou mais de sua rea.
Referente aos detritos de lascamento no apresentaram aparncias que
demonstrassem distines entre as tecnologias Umbu e Humait, revelando serem
muito semelhantes (NOELLI, 1999/2000).
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3.2. OS CAADORES-COLETORES: DOS CONTRAFORTES DA SERRA GERAL AO LITORAL
O povoamento mais antigo do estado de Santa Catarina, de acordo com
Campos et al. (2013), est ligado aos grupos caadores-coletores, sendo
determinados como a primeira leva migratria cronologicamente registrada pela
arqueologia para o territrio catarinense. Estes povos se fixaram no Planalto, em
matas de encosta, a leste, e nas matas do Alto Uruguai, a oeste, tendo como
datao aproximada 8.000 anos A.P.
Foram analisadas amostras de carvo extradas de estruturas de
combusto, nos municpios de Monda e Itapiranga (SC), s margens do alto curso
do rio Uruguai, com datas que se situam em 8.640 95 anos AP. (SI-995) e 5.930
120 anos AP. (SI-827), respectivamente (SCHMITZ, 2011). Na regio da bacia
hidrogrfica do rio Tubaro, Farias (2005) apresenta datas de ocupao para a
encosta leste de Santa Catarina que oscilam entre 1.100 a 430 AP.
Os grupos de caadores-coletores habitaram o territrio do extremo sul
catarinense desde o seu limite oeste, na Serra Geral, at a proximidade com o
cordo lagunar, a leste. Os stios arqueolgicos geralmente esto localizados nas
proximidades dos cursos dgua das bacias hidrogrficas e de seus afluentes. At o
momento os vestgios identificados nos stios foram encontrados apenas em
superfcie (CAMPOS et al., 2013).
O material ltico destes povos apresenta ampla diversidade morfolgica e
tecnolgica, pois os materiais polidos e lascados so encontrados muitas vezes
associados, apontando para a hiptese de que esses stios arqueolgicos sejam um
palimpsesto, ou seja, uma sobreposio de ocupaes, ou que o territrio do
extremo sul catarinense possa ter sido em um mesmo perodo cronolgico, um local
de contato entre grupos culturalmente diferentes. As pesquisas a norte da regio
estudada buscam comprovar os elementos arqueolgicos regionais e locais da
regio da Encosta Sul de Santa Catarina desde 2005 (FARIAS et al., 2013). No
caso do municpio de Rio Fortuna, o stio arqueolgico Rio Faco 11 (SC-RF-11),
apresenta datas entre 1060-920 anos AP (FARIAS et al., 2013), onde so
encontrados elementos da Tradio Umb.
Com intuito de entender a cronologia de ocupao dos grupos que
povoaram a regio nordeste do Rio Grande do Sul, no alto vale do rio dos Sinos,
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Dias (2007) estabeleceu com 12 dataes uma cronologia de 8.400-440 AP.
Estudando a coleo ltica de 07 stios arqueolgicos que totalizaram um conjunto
de 21.491 peas.
De acordo com Lavina (1994) a regio aqui estudada fazia parte do
territrio tradicional do grupo indgena Xokleng, grupo de caadores-coletores que
viveram na regio de Mata Atlntica e parte da regio da Mata de Araucria, de
onde seria extrado os recursos naturais para sua subsistncia.
A explorao dos recursos existentes na regio era realizada de maneira
extensiva pelos Xokleng. Na mata atlntica as estratgias de caa e coleta
desenvolvidas exigiam uma atomizao do grupo, de maneira a cobrir uma rea
mais ampla possvel, otimizando a capao de recursos (LAVINA, 1994).
Poucos recursos, como por exemplo, peixes e animais aquticos, no
eram utilizados pelo grupo. A coleta vegetal e animal era muito importante para a
subsistncia do grupo Sua dieta baseava-se no pinho, no palmito e em diversos
frutos nativos, mel e larvas de insetos. A caa pode ser considerada como
generalista, embora os Xokleng dessem preferncia a animais de mdio a grande
porte, como antas, porcos-do-mato, veados e bugios. Espcies menores de
mamferos, porm, eram tambm caadas indiscriminadamente, assim como quase
todas as espcies de aves (SANTOS, 1973).
Ainda de acordo com Santos (1973) a busca por recursos naturais
condicionaou os Xoklengs ao nomadismo. Percorriam o seu territrio em movimento
pendular estacional entre a Mata Atlntica e a Mata de Araucria de acordo com os
recursos oferecidos por cada regio em um dado momento.
3.3. MODELOS DE MOBILIDADE PARA GRUPOS CAADORES-COLETORES (ZONES OF ECONOMIC ACTIVITY)
De acordo com Binford (1983) os grupos caadores-coletores
frequentemente criavam padres de mobilidade para atender as demandas
particulares do sistema comportamental humano. Esse padro de mobilidade
preparado em raios de ao econmica ou em zonas de atividades econmicas
(zones of economic activity), podendo alterar em distncias partindo do
acampamento central, sendo as medidas subordinadas pelo transporte, custo de
trabalho para explorao dos recursos das reas de captao e qualidade dos
-
24
recursos. Pode-se destacar que o autor no se fundamenta apenas no
abastecimento de recursos lticos para pensar o raio de ao dos grupos caadores-
coletores, sendo que a economia destes grupos abrange recursos alimentcios,
orgnicos e inorgnicos que dependem do padro de mobilidade e o raio de ao
para captao dos mesmos.
Essa abundncia no quesito matria-prima tratada em bibliografia
arqueolgica pelo mesmo autor como expeditive tools (ferramentas expeditas).
Onde a grande quantidade de suportes rochosos se ligariam s indstrias lticas
menos elaboradas. Quando a matria-prima escassa a gesto da mesma
diferenciada, apresentando vestgios lticos mais elaborados e ncleos normalmente
utilizados at o seu esgotamento. Esse modelo se adqua com a problemtica das
indstrias lticas apresentadas na rea da pesquisa, onde materiais lticos
elaborados (pontas de flecha) esto associados a seixos talhados de manufatura
simples (CAMPOS et al., 2013).
-
25
4 MATERIAIS E MTODOS
4.1 LOCALIZAO DA REA DE ESTUDO
A rea de estudo est localizada no municpio de Jacinto Machado
(Figura 1), extremo sul catarinense, na mesorregio Sul Catarinense e microrregio
de Ararangu, no alto curso da bacia hidrogrfica do rio Ararangu, mais
precisamente na microbacia do rio da Pedra, distante 247 km de Florianpolis.
O principal acesso ao municpio feito pela SC-485, acesso que liga o
litoral sul de Santa Catarina encosta da Serra Geral, partindo da cidade de
Ararangu atravs da BR 101, sentido sul, rumando para o municpio de Sombrio. A
partir de Sombrio toma-se a rodovia SC-485 por aproximadamente 17 Km at o
municpio de Jacinto Machado.
Esta rea encontra-se na encosta da Serra Geral, elemento fsico que
marca o contato entre os Planaltos dos Campos Gerais com a regio da encosta
catarinense. O municpio de Jacinto Machado faz limite com os municpios de Timb
do Sul e Turvo (a norte), Ermo, Sombrio e Santa Rosa do Sul (a leste), So Joo do
Sul e Praia Grande (ao Sul) e a Serra Geral, municpio de Cambar do Sul no estado
do Rio Grande do Sul a oeste.
De acordo com IBGE (2013), a rea territorial do municpio de 431,379
Km, com uma populao de 10.609 habitantes, sendo 5.262 homens e 5.347
mulheres, em uma rea predominantemente rural, com 5.476 pessoas e 5.133 em
rea urbana.
-
26
Figura 1- Localizao do municpio de Jacinto Machado/SC.
Fonte: do Autor.
-
27
4.2 DESCRIO AMBIENTAL DA REA
4.2.1 Clima
O clima age diretamente atravs da precipitao e da temperatura na
alterao dos constituintes do material de origem, de acordo com Silva (2011),
contribuindo para a gerao do excedente ou deficincia hdrica no solo. O aumento
da temperatura o responsvel pela maior velocidade das reaes qumicas no
solo, atuando como um catalisador dessas reaes. A precipitao hidrata os
constituintes e remove os ctions, acelerando as transformaes e o processo
evolutivo do solo. Desta forma, ambientes com precipitao e temperaturas elevadas
apresentam intensa alterao das rochas e, consequentemente, solos muito
profundos e muito alterados (SILVA, 2011).
Para toda a regio sul do estado de Santa Catarina, a circulao
atmosfrica refere-se aos sistemas de massas de ar tropicais e polares, que
regulada pelo choque das mesmas (frente polar). As principais massas de ar que
atuam nesta regio so Tropical Atlntica (Ta), Polar Atlntica (Pa), Tropical
Continental (Tc) e Equatorial Continental (Ec), sendo que as duas primeiras
predominam alternadamente em todas as estaes (SANTA CATARINA, 1986).
De acordo com a classificao climtica de Keppen (1948), o clima da
regio sul de Santa Catarina se enquadra no tipo Subtropical mido (Cf). Na
poligonal em estudo, rea de abrangncia da Floresta de Terras Baixas e da
Floresta Submontana (do nvel do mar at aproximadamente 650 m de altitude),
ocorre a variedade especfica Cfa (Clima Subtropical mesotrmico mido e vero
quente). Nesses locais, a temperatura mdia normal anual varia de 17,0 a 19,3o C, a
mdia normal das mximas varia de 23,4 a 25,9o C e das mnimas de 12,0 a 15,1o C.
A precipitao pluviomtrica total anual varia de 1.220 a 1.660 mm, com o total anual
de dias com chuva variando entre 102 e 150 dias (PROESC, 2002).
No inverno, entretanto, a Massa Polar Atlntica tem importncia na
definio do clima, sendo sua intensidade e inter-relao com a Massa Tropical
variveis a cada ano, gerando ora invernos com temperaturas baixas durante grande
parte da estao, ora grandes variaes climticas, com contrastes trmicos. No
vero, pode haver a influncia da Massa Equatorial Continental, principalmente nas
reas mais ao norte da bacia (PROESC, 2002).
-
28
A gradiente de variao das temperaturas varia conforme o relevo: h
uma variao mais brusca nas regies de cabeceiras, onde o relevo mais
movimentado, e uma maior uniformidade na temperatura quando o relevo suaviza.
As temperaturas mais baixas ocorrem no perodo de junho a agosto e as mais
elevadas de dezembro a fevereiro (PROESC, 2002).
4.2.2 Geologia e Geomorfologia
Para a avaliao das caractersticas geolgicas e geomorfolgicas
considerou-se o contexto regional relativo s unidades geolgicas caracterizadas por
rochas sedimentares e gneas que fazem parte da sequncia gondwnica da borda
leste da Bacia Sedimentar do Paran e extensos depsitos de leques aluviais
(DUARTE, 1995; KREBS, 1999).
Os sedimentos quaternrios so abundantes junto aos cursos dgua, e
tambm ocorrem depsitos arenosos de origem transicional (praial) e
retrabalhamento elico, enquanto as unidades geomorfolgicas presentes na regio
fazem parte da evoluo geomorfolgica da Bacia Sedimentar do Paran e remete-
nos origem da fachada atlntica do litoral catarinense a partir da fragmentao do
supercontinente Gondwana e abertura do Atlntico Sul durante o Cretceo
(PAUWELLS, 1941; MAACK, 1947; JUSTUS et al., 1986).
Deste modo, todo o cenrio morfolgico da costa catarinense apresenta
uma histria ps-cretcea. Assim sendo, o fato mais relevante o soerguimento da
margem atlntica com formao das serras do Mar, do Tabuleiro/Itaja e Geral,
constitudas por granitos e gnaisses diversos, de idade Pr-Cambriana a Eo-
Paleozica, e por rochas sedimentares e vulcnicas de idade Paleozica a
Mesozica, respectivamente (DANTAS et al., 2005).
A Serra Geral representa, na realidade, uma escarpa de borda de
planalto. Este levantamento processou-se, provavelmente, a partir de fins do
Cretceo e ao longo de todo o Tercirio, produzindo os atuais desnivelamentos
superiores a 1.000m. Concomitantemente ao soerguimento, ocorreu um progressivo
recuo da escarpa de borda de planalto, o que propiciou o estabelecimento de uma
extensa baixada litornea e o afloramento das rochas sedimentares da Bacia do
Paran (DUARTE, 1995).
-
29
4.2.2.1 Geologia Regional
A rea em estudo est inserida na bacia hidrogrfica do rio Ararangu,
mais precisamente na microbacia do rio da Pedra, onde afloram rochas
sedimentares e vulcnicas que constituem a sequncia da borda leste da Bacia do
Paran e sedimentos inconsolidados que constituem a Plancie Costeira ou formam
depsitos aluviais atuais (SANTA CATARINA, 1986). O embasamento cristalino
regional (no aflorante) composto de rochas granitides tardia ps-tectnicos
(SANTA CATARINA, 1986).
Na poro Sul do Estado de Santa Catarina situa-se a Serra do Rio do
Rastro, onde, em 1908, White definiu a consagrada Coluna White. A partir da cidade
de Lauro Mller, seguindo em direo a Bom Jardim, pode-se verificar com detalhe
toda a sequncia acima referida. Na regio costeira, tambm ocorre uma diversidade
de depsitos de areia, silte e argila, relacionados a processos marinhos e
continentais (BRASIL, 2002).
Nesta pesquisa, foi utilizada a coluna estratigrfica (Tabela 1) proposta
por Mhlmann et al., (1974). Com relao aos depsitos inconsolidados que
constituem a Plancie Costeira, adotou-se a classificao proposta por Caruso Jr.
(1997), com algumas modificaes. A caracterizao litolgica e os aspectos
genticos das diferentes unidades geolgicas foram baseados nas informaes
obtidas no trabalho de Tese de Doutorado de Krebs (2004).
Tabela 1 - Coluna estratigrfica da rea da bacia hidrogrfica do rio Ararangu. Sequncia Gondwnica adaptada de Mhlmann et al., (1974). Coberturas Cenozicas adaptada de Caruso JR., (1997). Embasamento cristalino e Grupo Itarar (no aflorantes) foram estabelecidos a partir de observaes realizada em testemunhos de sondagens realizadas para carvo.
IDADE LITOESTRATIGRAFIA/ESTR
ATIGRAFIA AMBIENTE/FORMAO DESCRIO LITOLGICA
CE
NO
Z
ICO
Qu
ater
nr
io
Ho
loce
no
Depsitos Aluvionares Atuais
Sedimentos argilosos, argilo-arenosos, arenosos e conglomerticos depositados junto s calhas ou plancies dos rios.
Depsitos Praiais Marinhos e elicos
Areias quartzosas, esbranquiadas, com granulometria fina a mdia, com estratificao plano paralela (fcies praial) e cruzada de pequeno a grande porte (fcies elica).
Depsitos Paludais Turfas ou depsitos de lama rico em matria orgnica.
Depsitos Lagunares Areias quartzosas junto s margens e lamas no fundo dos corpos de gua.
Depsitos Flvio-Lagunares
Areias sltico-argilosas, com restos de vegetais, com frequentes depsitos biodetrticos.
Ple
isto
cen
o
Sis
tem
a La
guna
-B
arre
ira II
I
Depsitos Praiais Marinhos e Elicos e
Retrabalhamento Elico Atual
Areais quartzosas mdias, finas a muito finas, cinza-amarelado at avermelhado. Nas fcies praiais so comuns estruturas tipo estratificao plano paralela, cruzada acanalada. Nas fcies elicas frequente a presena de matriz rica em xido de ferro, que confere ao sedimento tons avermelhados.
-
30
IDADE LITOESTRATIGRAFIA/ESTR
ATIGRAFIA AMBIENTE/FORMAO DESCRIO LITOLGICA
Ter
cir
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Qu
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io
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o/
Ho
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no
Sis
tem
a de
Le
ques
A
luvi
ais
Depsitos de Encostas e Retrabalhamento Fluvial
Cascalhos areias e lamas resultantes de processos de fluxos gravitacionais e aluviais de transporte de material. Nas pores mais distais, depsitos resultantes do retrabalhamento por ao fluvial dos sedimentos colvio-aluvionares.
ME
SO
Z
ICO
Cre
tce
o
Infe
rio
r
Gru
po S
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ento
SERRA GERAL
Derrames baslticos, soleiras e diques de diabsio de cor escura, com fraturas conchoidais. O litotipo preferencial equigranular fino a afantico, eventualmente porfirtico. Notveis feies de disjuno colunar esto presentes.
Jur
ssic
o
Su
per
ior
BOTUCATU Arenitos finos, mdios, quartzosos, cor avermelhado, bimodais, com estratificao cruzada tangencial e acanaladas de mdio e grande porte.
Tri
ssi
co
Infe
rio
r
Gru
po P
assa
Doi
s RIO DO RASTO Arenitos finos bem selecionados geometria lenticular, cor bord com estratificao cruzada acanalada. Siltitos e argilitos cor bord, com laminao plano paralela.
PA
LE
OZ
IC
O
Per
mia
no
Su
per
ior Terezina
Argilitos folhelhos e siltitos, intercalados com arenitos finos, cor violceos.
Serra Alta Folhelhos, argilitos e siltitos cinza-escuros a violaceos, com lentes marga.
Irati Folhelhos e siltitos pretos, folhelhos pirobetuminosos e margas calcreas.
Infe
rio
r/S
up
erio
r
Gru
po G
uat
Palermo Siltitos cinza-escuros, siltitos arenosos cinza claro, interlaminados, bioturbados, com lentes de arenito fino na base.
Rio Bonito
Membro Siderpolis
Arenitos cinza-claros, finos a mdios, quartzosos, com intercalaes de siltitos carbonosos e camadas de carvo.
Membro Paragua
Siltitos cinza escuros com laminao ondulada intercalado com arenitos finos.
Membro Triunfo Arenitos cinza-claros, quartzosos ou feldspticos, sigmoidais. Intercala siltitos.
Infe
rio
r
Gru
po
Itara
r
Rio do Sul
Folhelhos e siltitos vrvicos com seixos pingados, arenitos quartzosos e arenitos arcoseanos, diamectitos e conglomerados. Em nvel de afloramento, constitui espessa sequncia rtmica.
PR
-C
AM
BR
IAN
O
Su
per
ior
Granitides tardi a ps-tectnicos
Granitides de cor cinza-avermelhado, granulao mdia a grossa, textura porfirtica ou porfiride, constitudos principalmente por quartzo, plagioclsio, feldspato potssico e biotita. Como acessrio ocorre titanita, apatita, zirco e opacos. So aparentemente istropos e recortados por veios aplticos ou pegmatticos.
Fonte: Adaptado de Mhlmann et al. (1974) e Caruso JR., (1997).
4.2.2.2 Geologia Local
Geologicamente a microbacia do rio da Pedra est inserida em quatro
formaes distintas, sendo elas: Formao Rio do Rastro (Prr); Formao Botucatu
(Jb); Formao Serra Geral (JKsc) e Depsitos Cenozicos (Q). O Mapa Geolgico
(Figura 2) ilustra a distribuio em rea das diferentes unidades geolgicas
presentes na microbacia.
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31
Figura 2 - Mapa Geolgico da microbacia do rio da Pedra com stios arqueolgicos estudados.
Fonte: do autor.
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32
Na rea estudada afloram rochas sedimentares e gneas que fazem parte
da sequncia gondwnica da borda leste da Bacia do Paran e extensos depsitos
de leques aluviais. Sedimentos quaternrios so abundantes junto aos cursos de
gua. Na poro costeira, ocorrem depsitos arenosos de origem transicional (praial)
e retrabalhamento elico (DUARTE, 1995; KREBS, 2004).
4.2.2.2.1 Formao Rio do Rastro
O termo Rio do Rastro foi designado pela primeira vez por White (1908),
para uma sucesso de camadas vermelhas, expostas nas cabeceiras do rio do
Rastro, situado ao longo da estrada Lauro Mller So Joaquim, em Santa Catarina,
como a seo tipo desta formao.
A Formao Rio do Rastro tem ampla distribuio na regio ocorrendo na
forma de morros testemunhos, onde aparece capeando morros alongados que
constituem os divisores de gua de importantes mananciais. Est presente tambm
campeando ou no tero superior de pequenos morros que ocorrem na rea costeira
(BRASIL, 2002).
Gordon Jr. (1947) divide esta formao em dois membros, um inferior,
denominado Serrinha, e o superior Morro Pelado, conceito atualmente utilizado pela
maioria dos autores.
O Membro Serrinha, inferior, constitudo por arenitos finos, bem
selecionados, intercalados com siltitos e argilitos cinza-esverdeado, amarronzados,
bords e avermelhados, podendo localmente conter lentes ou horizontes de calcrio
margoso. Os arenitos e siltitos possuem laminao cruzada, ondulada, climbing e
flaser, sendo, s vezes, macios. As camadas sltico-argilosas mostram laminao
plano-paralela, wavy e linsen. Os siltitos e argilitos exibem desagregao esferoidal
bastante desenvolvida, a qual serve como um critrio para a identificao desta
unidade. Nesta poro inferior, as camadas de arenitos so pouco espessas,
raramente superiores a 40cm, e subordinadas (SANTA CATARINA, 1986).
O Membro Morro Pelado, superior, constitudo por lentes de arenitos
finos, avermelhados, intercalados em siltitos e argilitos arroxeados. O conjunto
mostra tambm cores em tonalidades verdes, chocolate, amareladas e
esbranquiadas. Suas principais estruturas sedimentares so a estratificao
-
33
cruzada acanalada, laminao plano-paralela, cruzada, de corte e preenchimento
(SANTA CATARINA, 1986).
A deposio da Formao Rio do Rasto atribuda a um ambiente
marinho raso (supra a inframar) que transiciona para depsitos de plancie costeira
(Membro Serrinha), passando posteriormente implantao de uma sedimentao
flviodeltaica (Membro Morro Pelado) (SANTA CATARINA, 1986).
O contedo fossilfero desta formao principalmente de pelecpodes,
conchostrceos, palinomorfos, restos de plantas e do anfbio Labirintodonte (SANTA
CATARINA, 1986).
Impresses de folhas e caules foram descritas por Bortoluzzi (1975), que
identificou os espcimes Dichophyllites e Paracalamites, e por Klepzig (1978), que
descreveu Schizoneura, Paracalamites, Dizeugotheca, Pecopteris, Neoggerathiopsis
e Glossopteris. Estes fsseis foram observados no km 81 da SC-438 (estrada Lauro
Mller So Joaquim) (idem).
Na Carta Estratigrfica da Bacia Sedimentar do Paran (MILANI et al.,
1994), a Formao Rio do Rasto situada entre o Permiano Superior (topo do andar
Tatariano) e o Trissico Inferior (andar Anisiano). Nos municpios de Jacinto
Machado e Meleiro, devido ao condicionamento geolgico e geomorfolgico, esta
formao constitui uma importante unidade aqufera no seu tero superior onde
predominam litologias arenosas.
4.2.2.2.2 Formao Botucatu
White (1908) intitula de Arenito So Bento a sequncia atualmente
designada de Formao Botucatu.
Boas exposies desta unidade so observadas na Rodovia SC-438, que
liga Lauro Mller a So Joaquim. Na rea correspondente Bacia do Rio Ararangu,
ocorrem bons afloramentos nos municpio de Turvo, Jacinto Machado e Timb do
Sul (SCHEIBE, 2010).
Litologicamente, constituda por arenitos bimodais, mdios a finos,
localmente grossos e conglomerticos, com gros arredondados ou
subarredondados, bem selecionados. Apresentam cor cinza-avermelhado e
frequente a presena de cimento silicoso ou ferruginoso. Constituem expressivo
-
34
pacote arenoso, com camadas de geometria tabular ou lenticular, espessas, que
podem ser acompanhadas por grandes distncias (KREBS, 2004).
No tero inferior, apresenta finas intercalaes de pelitos, sendo comuns
interlaminaes areia-silte-argila, ocorrendo frequentes variaes laterais de fcies.
medida que se dirige para o tero mdio, desaparecem as intercalaes pelticas,
predominando espessas camadas de arenitos bimodais, com estratificao
acanalada de grande porte, indicando que as condies climticas tornavam-se
gradativamente mais ridas, implantando definitivamente um ambiente desrtico
(KREBS, 2004).
A persistncia de estruturas sedimentares, tais como estratificao
cruzada acanalada de grande porte, estratificao cruzada tabular tangencial na
base e estratificao plano-paralela, a bimodalidade dos arenitos, evidenciada por
processos de grain fall e grain flow e, ainda, as frequentes intercalaes pelticas,
ripples de adeso e marcas onduladas de baixo-relevo sugerem ambiente
desrtico com depsito de dunas e interdunas (KREBS, 2004).
De acordo com Krebs (2004) os contatos da Formao Botucatu com as
rochas baslticas da Formao Serra Geral, que lhe sobrepe, e com a Formao
Rio do Rasto, subjacente, so discordantes, ou, s vezes, por falha.
Sua idade atribuda aos perodos Jurssicos Superior-Cretceo Inferior,
atravs de relaes estratigrficas com as Formaes que lhe so subjacentes,
conforme referncia na Carta Estratigrfica da Bacia do Paran (MILANI et al, 1994).
Tcnicos da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM)
encontraram moldes externos que lembram restos vegetais em arenitos bimodais
desta Formao. Porm, at o presente momento, no se dispe de informaes
mais concretas a respeito desta descoberta (KREBS, 2004).
4.2.2.2.3 Formao Serra Geral
White (1908) utiliza pela primeira vez a denominao Serra Geral para
indicar como seo-tipo as exposies que ocorrem na Serra Geral, ao longo da
estrada que liga as cidades de Lauro Mller a So Joaquim (SC-438), em Santa
Catarina.
Leinz (1949), tambm na mesma estrada Lauro Mller/So Joaquim
(Serra do Rio do Rastro) estabelece um perfil clssico e individualiza o carter
-
35
interno de um derrame em: zona vtrea basal, com disjuno horizontal; zona
intermediria, com juntas verticais; zona superior, com disjuno vertical e
horizontal; e basalto vesicular no topo.
Wildner e Lima (1998 e 1999) apresentam mapa geolgico do Rio Grande
do Sul e Santa Catarina, separando conjunto de derrames cujas caractersticas
petrogrficas permitem uma correlao com a diviso litoqumica, na categoria de
Fcies. Peate et al., (1992) utilizaram esta denominao na diviso litoqumica das
rochas extrusivas utilizadas por Freitas e Santos et al., (2003), baseados em critrios
de campo, tendo por rea-tipo a regio da cidade de Campo Er, no norte do Estado
de Santa Catarina, definem a Fcies Campo Er, descrevendo-a como derrames de
basaltos altamente vesiculares, contendo cristais aciculares centimtricos de augita
branching e vesculas preenchidas por zeolitas, cobre nativo e cuprita, contendo
intercalaes de camadas sedimentares.
As rochas vulcnicas da Formao Serra Geral constituem a escarpa
superior do planalto gondwnico. Castro et al., (1994), por ocasio da elaborao do
Roteiro Geolgico da Coluna White, verificaram que estas rochas afloram a partir da
cota 760 m. No topo do planalto ocorrem cotas de 1450 m, indicando uma espessura
de 690 m para esta formao neste local.
Ocorrem o formato de sills, capeando morros, principalmente na poro entre os municpios de Nova Veneza, Cricima e Siderpolis, onde h um morro-testemunho conhecido como Montanho, capeado por rochas vulcnicas com 90 m de espessura. Ocorre tambm na poro costeira ou central onde capeia pequenos morros e na rea em questo ocorre na forma de um dique de diabsio de orientao noroeste. (KREBS, 2004, p.171).
Do ponto de vista litolgico, estas rochas abrangem uma sucesso de
derrames de lavas, predominantemente bsicas, contendo domnios subordinados
intermedirios e cidos, principalmente no tero mdio e superior. Foram verificados
termos bsicos a intermedirios, de cor cinza-escuro a preto, de granulao fina
afantica, com termos variando desde amigdaloidal at macios. Geralmente
encontram-se bastante fraturados, exibindo fraturas conchoidais caractersticas
(KREBS, 2002).
Em escala de afloramento, pode ser identificar trs zonas de resfriamento:
amigdaloidal, disjuno vertical e disjuno horizontal. As zonas de disjuno
horizontal e vertical so espessas, algumas vezes com espessuras superiores a
-
36
10m. A zona amigdalide normalmente no ultrapassa 2m de espessura (BRASIL,
2002).
muito frequente a intruso de diabsios em rochas sedimentares
gondwnicas, como o caso encontrado no municpio de Jacinto Machado/SC
(KREBS, 2002).
Em trabalhos realizados no ano de 1993 pela Superintendncia Regional
de Porto Alegre da CPRM, atravs do Projeto Platina, nos Estados do Rio Grande do
Sul e Santa Catarina, foram executadas diversas lminas petrogrficas, sendo uma
delas em um corpo bsico intrusivo situado nas imediaes da cidade de Maracaj,
que resultou na seguinte descrio: essencialmente, esta rocha constituda por
uma trama dominante de plagioclsios (40-60%), com tendncia An30-50, acrescidos
por propores menores de clinopiroxnios (augita e pigeonita). Como
subordinados, aparecem hornblenda basltica, quartzo intersticial e matriz vtrea ou
microgrfica a quartzo e K-feldsptico (KREBS, 2004).
Os acessrios esto representados por magnetita esqueletal, opacos e
apatita acicular. Como produtos de alterao aparecem o carbonato, zeolitas,
quartzo, epidoto, sericita e clorita. Texturalmente h um intercrescimento
simplecttico entre o plagioclsio e o clinopiroxnio, especialmente augita, indicando
uma evoluo simultnea e prolongada destas duas fases minerais. Localmente, h
tambm o desenvolvimento de texturas suboftica e varioltica. Em conjunto, as
caractersticas petrogrficas apontam para uma dominncia de padres toleticos
normais, evidenciando pequenas variaes composicionais situadas entre o campo
dos basaltos e basaltos granofricos (KREBS, 2004).
Esta formao consequncia de um intenso magmatismo de fissura,
correspondendo este vulcanismo ao encerramento da evoluo gondwnica da
Bacia do Paran (KREBS, 2004).
4.2.2.2.4 Depsitos Cenozicos
So resultados de processos pertencentes a dois tipos de sistemas
deposicionais: Sistema de Leques Aluviais, que abrange os depsitos proximais de
encostas e fluviais de canais sinuosos, e Sistema Laguna-Barreira, englobando uma
srie de depsitos lagunares, deltaicos, paludiais, praiais marinhos e elicos,
-
37
acumulados no Pleistoceno Superior e/ou Holoceno (CARUSO JUNIOR, 1997;
SUGUIO et al.,1986 e SUGUIO; MARTIN, 1987).
Os leques aluviais, de acordo com Bull (1968), so depsitos com forma
de um segmento de cone, distribudo radialmente mergulhando abaixo ou partir do
ponto onde os cursos de gua deixam as montanhas. Medeiros (1971) define leques
aluviais como sedimentos em forma cnica, depositados onde as correntes aluviais
deixam as terras altas, penetrando em reas baixas adjacentes. Define como fcies
de leques os depsitos compostos por sedimentos mal classificados, de granulao
fina grossa, depositados no sop das montanhas ou em outras reas de relevo
acentuado onde as encostas ngremes se tornam mais suaves (MEDEIROS, 1971).
Depsitos lobulados de aluvio sobre a terra, conhecidos como leques
aluviais, que, para Wicander e Monroe (2011, p. 276-277):
Formam-se principalmente em terras baixas adjacentes a terras altas, em regies ridas e semiridas, onde existe pouca vegetao para estabilizar os materiais da superfcie. Durante as tempestades pluviais peridicas, os materiais da superfcie so rapidamente saturados e o escoamento superficial afunilado para um cnion na montanha, que conduz para as terras baixas adjacentes.
As litologias so caracterizadas pela presena de cascalhos e areias que
se formaram a partir de depsitos fluviais de canais sinuosos (BRASIL, 2002).
Alguns leques aluviais consistem principalmente em depsitos de fluxo de
lama que no mostram camadas ou mostram pouca. Naturalmente, o tipo dominante
de deposio pode mudar no decorrer do tempo, assim um leque especfico pode ter
ambos os tipos de depsitos (WICANDER; MONROE, 2011).
De uma maneira geral tambm ocorrem leques aluviais que consistem de
depsitos rudceos, mal selecionados, com presena de grandes blocos envoltos
numa matriz de granulometria fina, que se espraiam pela baixada costeira. medida
que esses depsitos se aproximam da linha da costa, a presena da frao rudcea
tende a diminuir nas pores distais dos leques (WICANDER; MONROE, 2011).
O subsistema laguna instalou-se atravs das barreiras arenosas,
constitudas pelos sedimentos dos depsitos praiais marinhos e elicos, que
isolaram corpos aquosos entre o mar e o continente. O subsistema de interligao
caracterizado pelos canais que ligam o oceano e a laguna (KREBS, 2004).
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38
Este Sistema se originou de quatro grandes ciclos de transgresso e
regresso do nvel do mar no Pleistoceno. Devido s caractersticas fsicas da zona
costeira, cada transgresso marinha deu origem a uma feio geolgica
denominada Sistema Laguna-Barreira. Cada um desses sistemas caracterizado
basicamente pela presena de extensas barreiras arenosas costeiras, que isolam
grandes lagunas e lagoas, dispostas paralelamente linha de costa (LOPES et al.,
2009).
Levando em considerao os materiais rochosos resultantes do contexto
fsico da rea aqui estudada, observamos que eles se apresentam genericamente
em cinco tipos de matrias-primas principais: basalto; quartzo; calcednia; arenito e
o arenito silicificado.
De acordo com Pellant (2000) o basalto uma rocha vulcnica bsica,
sendo originado pelo resfriamento de lavas baslticas altamente mveis. Para Guera
e Guerra (2011), o basalto uma rocha efusiva de cor escura, pesada, tendo como
minerais essenciais o piroxnio augstico, feldspato calcossdicos, como a
labradorita e a anortita. A decomposio do basalto d aparecimento a uma argila de
colorao vermelha, dando geralmete solos frteis - terras rochas (GUERRA;
GUERRA, 2011).
O quartzo um dos minerais mais comuns, apresenta forma hexagonal e
terminados por formas rombodrica ou piramidais; a colorao varivel, podendo
ser branco, cinza, vermelho, roxo, rosa, amarelo, verde, marrom e preto, alm de ser
incolor, este mineral ocorre comumente em rochas gneas, metamrficas e
sedimentares, e pode ser frequentemente encontrado em veios minerais com
minrios metlicos (PELLANT, 2000). De acordo com Guerra e Guerra (2011), o
quartzo tem papel muito importante na geomorfologia, pois quando aparece em
estado livre torna a rocha mais resistente eroso diferencial.
Uma variedade microcristalina de quartzo, a calcednia geralmente ocorre
como mamilar ou massas botrioidais (PELLANT, 2000). A cor muito varivel, e
pode ser branco, azul, vermelho, verde, marrom ou preto. A calcednia um mineral
de transparente para opaco ou translcido, e tem um brilho vtreo a ceroso. Ainda de
acordo com Pellant (2000), esta forma mineral tem cavidades nas rochas de
diferentes tipos, especialmente lavas. Aparece geralmente nas cavidades de rochas
eruptivas ou sedimentares, sendo comumente produto de deposito hidrotermal
(GUERRA; GUERRA, 2011).
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39
De acordo com Guerra e Guerra (2011) o arenito uma rocha sedimentar
resultante da juno dos gros de areia por um cimento. Aparecem sempre em
camadas por causa da sedimentao que feito em estratos (GUERRA; GUERRA,
2011). Os gros que o constituem, em geral, so de quartzo (LEINZ, 1971).
Os arenitos silicificados, contm solues ricas em slica (SiO2), percolam
e cimentam os detritos sedimentares formando uma rocha dura. Por isso, alguns
arenitos silicificados so denominados de quartzitos e encontram larga aplicao em
revestimentos externos. Os quartzitos, de acordo com Guerra e Guerra (2011), so
rochas metamrficas constitudas, essencialmente por gros de quartzo e resultam
do metamorfismo sofrido por certos arenitos. Estas rochas do aspecto runiformes,
semelhantes aos do arenito (GUERRA; GUERRA, 2011).
4.2.3.2 Geomorfologia Regional
A bacia do rio Ararangu, na qual est inserida a rea em estudo, mais
precisamente na microbacia do rio da Pedra, municpio de Jacinto Machado, situada
no extremo sul de Santa Catarina, caracteriza-se por ser umas das mais importantes
bacias fluviais do litoral sul-catarinense e abrange, parcialmente, a bacia carbonfera
catarinense. Suas cabeceiras drenam um amplo anfiteatro da escarpa da Serra
Geral e trechos do Planalto Meridional, convergindo em canais-tronco (rios Me-
Luzia, Manuel Alves e Itoupava, todos formadores do rio Ararangu) e atravessando
uma extensa baixada litornea at desaguar no Oceano Atlntico (DANTAS, 2005).
A evoluo geomorfolgica desta bacia remete-nos origem da fachada
atlntica do litoral catarinense a partir da fragmentao do supercontinente
Gondwana e abertura do Atlntico Sul durante o Cretceo (PAUWELLS, 1941;
MAACK, 1947; JUSTUS et al., 1986). Portanto, todo o cenrio morfolgico da costa
catarinense apresenta uma histria ps-cretcea. Assim sendo, o fato mais relevante
o soerguimento da margem atlntica com formao das serras do Mar, do
Tabuleiro/Itaja e Geral, constitudas por granitos e gnaisses diversos, de idade Pr-
Cambriana a Eo-Paleozica, e por rochas sedimentares e vulcnicas de idade
Paleozica a Mesozica, respectivamente (DANTAS, 2005).
De acordo com Duarte (1995) a Serra Geral representa, na realidade,
uma escarpa de borda de planalto e, este levantamento processou-se,
provavelmente, a partir de fins do Cretceo e ao longo de todo o Tercirio,
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40
produzindo os atuais desnivelamentos superiores a 1.000m. Concomitantemente ao
soerguimento, ocorreu um progressivo recuo da escarpa de borda de planalto, o que
propiciou o estabelecimento de uma extensa baixada litornea e o afloramento de
rochas sedimentares de idade Permiana no litoral sul catarinense, atual ambiente da
Bacia Carbonfera de Santa Catarina (DUARTE, 1995).
A bacia do rio Ararangu apresenta, localmente, um recuo mais
pronunciado da escarpa da Serra Geral. Justus et al., (1986) descrevem o desenho
de um amplo arco ao longo dos limites abruptos do planalto neste trecho. Como
consequncia, desenvolveu-se uma baixada litornea mais extensa, associada a
uma maior expresso areal dos depsitos sedimentares neo-cenozicos na bacia do
rio Ararangu.
Formas remanescentes consistem em espiges alongados que se
projetam das escarpas em direo s plancies costeiras, apresentando feies de
extensos alinhamentos serranos ou mesmo sob forma de morros isolados. Justus et
al., (1986) ressaltam esses relevos residuais na bacia do rio Ararangu, destacando
o extenso espigo que forma o divisor entre as bacias dos rios Ararangu e
Mampituba.
Todavia, o cenrio imponente da escarpa da Serra Geral marcado por
uma dissecao diferencial do seu front, produzida pela rede de canais que
esculpem profundos vales em V, muitas vezes delineados por condicionantes
estruturais do substrato rochoso (FLORES et al., 1993). As baixas encostas da
escarpa so constitudas por rochas sedimentares, enquanto a poro superior
constituda de espessos derrames da Formao Serra Geral. Nestes terrenos com
altas declividades os solos tendem a ser muito rasos, ainda que sustentando uma
vegetao de porte florestal, devido ao clima muito mido (DANTAS, 2005).
Esta condio geoecolgica caracteriza a escarpa da Serra Geral como
uma unidade geomorfolgica muito susceptvel a movimentos de massa lato sensu,
destacando-se deslizamentos rasos translacionais (slides) no contato solo-rocha
durante eventos climticos de extrema pluviosidade, como o ocorrido no desastre
natural de dezembro de 1995, amplamente documentado pela literatura (PLLRIN
et al., 1996; PONTELLI; PLLRIN, 1998).
No setor leste da bacia do rio Ararangu, nos arredores do ncleo urbano
de Ararangu e nas proximidades dos municpios de Jacinto Machado, Turvo e
Meleiro, afloram siltitos e folhelhos de idade Permiano Superior a Trissico Inferior,
-
41
da Formao Rio do Rasto, com ocorrncia de elevaes normalmente utilizadas
para estabelecimento de Stios Arqueolgicos, como o caso dos stios encontrados
no municpio de Jacinto Machado (DANTAS, 2005).
A depresso da Zona Carbonfera Catarinense e, assim como toda a
baixada adjacente, trata-se de uma superfcie devida a processos de eroso
regressiva da escarpa da Serra Geral (DANTAS, 2005).
As plancies costeiras que ocupam a poro externa das baixadas
litorneas apresentam uma complexa histria geolgica, marcada pelos eventos
transgressivos-regressivos que ocorreram durante o Quaternrio Superior, conforme
explicado por Martin et al. (1988), com base em evidncias sedimentolgicas,
biolgicas e dataes por radiocarbono. Na bacia do rio Ararangu, estes autores
documentaram pelo menos duas geraes de terraos marinhos, sendo a mais
antiga de idade pleistocnica. A mais nova ocupa uma posio prxima atual linha
de costa, de idade holocnica.
As ilhas-barreira arenosas que originaram os terraos holocnicos,
ancoradas em antigas ilhas rochosas, tais como o morro dos Conventos (junto
barra do Ararangu) e o morro de Santa Marta (prximo a Laguna), delinearam a
atual configurao morfolgica de extensas praias retas deste trecho da costa sul-
catarinense. O perodo regressivo subsequente ltima transgresso propiciou o
desenvolvimento dos terraos marinhos holocnicos e a colmatao de corpos
lagunares originados entre as duas geraes de terraos marinhos (KREBS, 2004).
As lagoas do Sombrio, Caver e dos Esteves so resqucios de paleo-
lagunas que foram progressivamente assoreadas, formando, assim, uma extensa
plancie que margeia os atuais corpos dgua numa disposio longitudinal linha
de costa. As vrzeas dos rios Ararangu, Urussanga e tributrios principais geram
extensas plancies fluviais ou flvio-lagunares. O rio Tubaro, por sua vez, gera um
grande delta intralagunar, fato este amplamente estudado pela literatura (KREBS,
2004).
Geomorfologicamente, a rea da microbacia do rio da Pedra esta inserida
na Formao de Depsitos Sedimentares distribudas entre os Modelos de
Acumulao, com os Terraos Fluviais (Atf) e as Plancies Costeiras (Ac), com as
Plancies Coluvio Aluvionares e, tambm, na Formao das Bacias e Coberturas
Sedimentares, com o Planalto das Araucrias, distribuda em Patamares da Serra
Geral (D1 e D2), Serra Geral (D3) e Planalto dos Campos Gerais (Pgu) (Figura 3).
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42
Figura 3 - Mapa Geomorfolgico da microbacia do rio da Pedra com stios arqueolgicos estudados.
Fonte: do autor.
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43
4.2.3.2.1 Depsitos Sedimentares
Os depsitos sedimentares, de acordo com Guerra e Guerra (2011) so
resultantes do acmulo de materiais das diferentes rochas que aparecem no globo
terrestre.
Os Terraos Fluviais (Atf) so depsitos aluviais que se encontram nas
encostas de um vale (GUERRA; GUERRA, 2011). Esses terraos so
caracterizados por reas planas, levemente inclinada, apresentando rupturas de
declive em relao ao leito do rio e as vrzeas recentes situadas em nvel inferior,
entalhada devido s mudanas de condies de escoamento e consequente
retomada da eroso (SANTA CATARINA, 1986).
A Plancie Coluvio Aluvionar corresponde a superfcie plana, rampeada
suavemente para leste, em alguns trechos descontnua, posicionada entre as
Plancies Litorneas a leste e os relevos da Regio Geomorfolgica Planalto das
Araucrias a oeste (SANTA CATARINA, 1986).
Sob o ponto de vista de origem de deposio pode ser enquadrada como
rea de transio entre influncia continentais e marinhas (SANTA CATARINA,
1986). Nas reas de influncia continental predominam os modelados planos ou
convexionados (Ac) resultantes de convergncia de leques coluviais de
espraiamento, cones de dejeo ou concentrao de depsitos de enxurradas nas
partes terminais de rampas de pedimentos (SANTA CATARINA, 1986). Ocorrem
ainda formas de topo plano ou baixos tabuleiros. Nas reas de influncia marinha
ocorrem terraos marinhos e baixos tabuleiros cujos topos mostram marcas de
remobilizao elica, ativa em alguns setores (SANTA CATARINA, 1986).
4.2.3.2.2 Bacias de Coberturas Sedimentares
De acordo com Santa Catarina (1986) a Unidade Geomorfolgica
Patamares da Serra Geral (D1 e D2) desenvolve-se como faixa estreita e
descontnua associada dissecao das redes de drenagem dos rios Ararangu e
Mampituba. Os patamares representam testemunhos do recuo da linha de escarpa
conhecida como Serra Geral, a qual se desenvolveu nas sequncias vulcnicas e
sedimentares de cobertura da Bacia Sedimentar do Paran (SANTA CATARINA,
1986).
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As formas de relevo so alongadas, digitadas e irregulares, avanando
sobre a Unidade Geomorfolgica Plancies litorneas como verdadeiros espores
interfluviais (idem). Alguns deles apresentam-se isolados, sendo frequente a
ocorrncia de morros testemunhos do recuo da linha da escarpa (SANTA
CATARINA, 1986).
De acordo com Santa Catarina (1986) o interflvio dos rios Ararangu e
Mampituba esto relacionados pelas formas de relevo dissecadas e rebaixadas dos
Patamares da Serra Geral, que neste ponto se apresentam coalescidos com os
Aparados da Serra e avanam para leste, at a margem oeste da lagoa do Sombrio.
A Unidade Geomorfolgica Serra Geral (D3) constitui-se, a grosso modo,
no terminais escarpados abruptos do Planalto dos Campos Gerais, em sua borda
leste, desenvolvidos sobre rochas efusivas bsicas. A borda leste est representada
por relevo escarpado com desnvel acentuado de at 1.000m (SANTA CATARINA,
1986).
As formas de relevo bastante abruptas apresentam vales fluviais com
aprofundamentos superiores a 500m em suas nascentes, desenvolvendo
verdadeiros canyons (SANTA CATARINA, 1986). Ainda de acordo com Santa
Catarina (1986) o relevo escarpado esta em contato com as Unidades
Geomorfolgicas Patamares da Serra Geral e Plancie Coluvio Aluvionar, tendo sua
frente j consideravelmente recuada e dissecada pelo alto poder erosivo da rede de
drenagem, onde se destacam os formadores do rio Ararangu e Mampituba.
As caractersticas do relevo desta unidade geomorfolgica so propcias
ao desenvolvimento e preservao de uma vegetao do tipo florestal, embora em
alguns trechos a mesma esteja sendo indevidamente substituda por culturas cclicas
(SANTA CATARINA, 1986).
Segundo Santa Catarina (1986) a Unidade Geomorfolgica Planalto dos
Campos Gerais (Pgu) apresenta-se distribuda em blocos de relevos isolados pela
Unidade Geomorfolgica Planalto Dissecado do Rio Iguau/Rio Uruguai (idem). Os
compartimentos de relevo resultantes da descontinuidade espacial da unidade so
conhecidos regionalmente como planalto de Palmas, planalto de Capanema,
planalto de Campos Novos e planalto de Chapec (SANTA CATARINA, 1986).
O Planalto dos Campos Gerais funciona, em seus compartimentos como
rea divisora de drenagem. As cotas altimetrias mais elevadas ocorrem na poro
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leste da unidade, ultrapassando 1.200m nas proximidades da cuesta1 da Serra
Geral, enquanto as menores altitudes correspondem parte oeste do planalto de
Chapec, chegando a 600m (SANTA CATARINA, 1986).
O fato do relevo desta unidade ser pouco dissecado a planar, recoberto
pelas formaes superficiais que correspondem principalmente a latossolos, permite
a instalao de uma Agricultura mecanizada nesta rea. Isto tem acelerados
processos erosivos ligados ao escoamento superficial, evidenciado pela formao de
sulcos nas encostas cultivadas e nas laterais das estradas (SANTA CATARINA,
1986).
4.2.4 Pedologia
A cobertura pedolgica na rea de estudo (Figura 4) variada em funo
de processos genticos, comportamento hdrico e morfologia das vertentes (SANTA
CATARINA, 1986). Os tipos de solos so caracterizados como: Solos Litlicos
Eutrficos e Distrficos (Re4), Terra Roxa Estruturada Distrfica e lica (TRd3) e
Solos Cambissolos Distrficos e Eutrficos (Cd5).
1 Relevo caracterizado por uma superfcie de declive abrupto, inclinando-se para uma regio baixa, enquanto que a outra superfcie mergulha suavemente no sentido da primeira. Esse tipo de relevo chamado no estado do Novo Mxico (EUA) de cuesta, de onde Davis (1912) emprestou esta denominao. A superfcie de rochas baslticas mesozicas da Bacia do Paran, frequentemente exibe este tipo de relevo (SUGUIO, 1998 p. 194).
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46 Figura 4 - Mapa Pedolgico da microbacia do rio da Pedra com stios arqueolgicos estudados.
Fonte: do autor
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4.2.4.1 Solos Litlicos Eutrficos e Distrficos
No nvel mais alto, onde se desenvolvem amplos interflvios, os topos so
constitudos por Solos Litlicos Eutrficos e Distrficos (Re4), relacionados aos
sedimentos A Chernossolo e A Moderado apresentando textura mdia de cascalho e
de basalto, mais cambissolo eutrfico e distrfico com argila de atividade baixa (Tb)
A moderado e A Chernossolo Argiloso, ambos na fase pedolgica, montanhoso e
escarpado mais afloramento rochosos (SANTA CATARINA, 1986).
De acordo com Ker et al. (1986), esses terrenos de alta declividade
desenvolvem, predominantemente, solos Litlicos eutrficos ou distrficos,
pedregosos e com horizonte A bem desenvolvido. Nas altas vertentes, os solos
Litlicos podem estar associados a afloramentos de rochas bsicas ao passo que
nas baixas encostas se associam a Cambissolos, resultantes do processo de
pedognese de depsitos de tlus.
As caractersticas morfolgicas dos Solos Litlicos Eutrficos e Distrficos
(Re4), de acordo com Santa Catarina (1986), restringem-se basicamente ao
horizonte A, que varia normalmente de 15 a 40 centmetros de espessura, sendo
que sua cor, textura, estrutura e consistncia dependem principalmente do material
de origem e das condies climticas vigentes. Abaixo deste horizonte podem
ocorrer calhaus, pedras e materiais semi-alterados das rochas. Em mistura com
deste horizonte, ou ainda, pode o horizonte A estar diretamente assentado sobre a
rocha, propiciando que a sequencia de horizontes seja do tipo A, C e R ou A, A/C ou
A e R.
4.2.4.2 Terra Roxa Estruturada Distrfica e lica
Ao longo das vertentes, os Solos Litlicos Eutrficos e Distrficos (Re4)
passam de maneira gradativa para Terra Roxa Estruturada Distrfica e lica (TRd3)
A moderado com textura muito argilosa mais podzlico vermelho amarelo lico com
argila de atividade baixa (Tb) A moderado com textura media no horizonte A e
textura argilosa no horizonte B, apresentando relevo ondulado e forte ondulado,
mais solos litlicos Eutrficos A moderado com textura mdia, e textura argilosa e
cascalhamento de basalto no relevo forte ondulado (SANTA CATARINA, 1986).
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De acordo com Santa Cataria (1986), os Solos Terra Roxa Estruturada
Distrfica e lica (TRd3), so solos minerais, com horizonte B textural no
hidromrficos, com argila de baixa capacidade de troca de ctions e derivados de
rochas eruptivas do derrame basltico. Estes solos so profundos, porosos, bem
drenados, com sequncia de horizontes do tipo A, Bt e C, e geralmente muito
argilosos ao longo do perfil. Devido pequena variao de cor e de textura, as
transies entre os subhorizontes so graduais ou difusas.
Estes solos tm como caractersticas a abundncia de minerais pesados, muitos dos quais atrados por im comum, efervescncia com gua oxigenada ao longo do perfil, devido aos teores relativamente elevados de mangans, o alto grau de floculao da argila no horizonte subsuperficial e teores de Fe2O3 acima de 15% (SANTA CATARINA, 1986, p. 34).
As Terras Rochas Estruturadas Distrficas, quanto s caractersticas
qumicas diferem das Terras Rochas Estruturadas eutrficas por apresentar menor
soma e saturao de bases, baixa saturao de alumnio trocvel no horizonte B,
mas j em nvel prejudicial s plantas. Alm disso tem uma acentuada deficincia de
fsforo (SANTA CATARINA, 1986).
4.2.4.3 Cambissolo Distrfico e Eutrfico
Nessas transies, verifica-se, ainda, a ocorrncia de Cambissolo
Distrfico e Eutrfico (Cd5) com argila de atividade baixa (Tb) e argila de atividade
alta (Ta) A moderado com textura argilosa e textura mdia, com relevo plano e
suave ondulado, mais Glei pouco hmico distrfico e eutrfico com argila de
atividade baixa (Tb) e argila de atividade alta (Ta) A moderado textura argilosa.
Relevo plano mais Podzlico vermelho-amarelo lico argila de atividade baixa (Tb) A
moderado com textura mdia e argilosa com relevo suave ondulado (SANTA
CATARINA, 1986).
Os Solos Cambissolos Distrficos e Eutrficos (Cd5), compreendem solos
minerais, no hidromrficos, caracterizados pela ocorrncia de um horizonte B
incipiente, definido pelo baixo gradiente textural, pela mdia e alta relao silte/argila
ou pela presena de minerais primrios de fcil decomposio. A cerosidade quando
presente nunca passa de fraca a pouca (SANTA CATARINA, 1986).
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Solos constitudos por material mineral com horizonte B incipiente
subjacente a qualquer tipo de horizonte superficial, exceto hstico com 40cm ou mais
de espessura, ou horizonte A chernoznico, quando o B incipiente apresentar argila
de atividade alta e saturao por bases alta. Plintita e petroplintita, horizonte glei e
horizonte vrtico, se presentes, no satisfazem os requisitos para Plintossolos,
Gleissolos e Vertissolos, respectivamente (EMBRAPA, 1999).
Nas regies geomorfolgicas Serras do Leste Catarinense, Escarpas e
Reversos da Serra do Mar, situam-se Cambissolos geralmente de baixa fertilidade,
de textura normalmente argilosa e em relevo forte ondulado e montanhoso. Os
cambissolos derivados predominantemente de sedimento aluviais do Quaternrio
so de textura varivel de acordo com a origem desses sedimentos, predominando
neles a frao silte. Tm fertilidade varivel, podendo ser tanto eutrficos como
distrficos. Ocorrem em reas de relevo plano e suave ondulado, prximo aos rios.
Por vezes acham-se associados a Solos Gleizados e Podzlicos Vermelho-Amarelos
(SANTA CATARINA, 1986).
4.2.5 Hidrografia
A hidrografia do estado de Santa Catarina representada por dois
sistemas de drenagem independentes, sendo deste modo as duas vertentes, os rios
que escoem para o interior compem a vertente do interior, logo os rios que escoem
em direo ao litoral pertencem a vertente do Atlntico. Os divisores dgua so a
Serra Geral e a Serra do Mar, em que na vertente do atlntico as bacias
hidrogrficas esto postas de maneira independente, ou seja, as bacias so isoladas
entre elas prprias (FILIPINI, 2008).
O estado de Santa Catarina dividido em 10 regies hidrogrficas
conforme a Lei Estadual 10.949/98. Estas divises hidrogrficas servem como
referncia reunindo uma ou mais bacias hidrogrficas vizinhas com semelhana
fsicas e socioeconmicas (ADAMI; CUNHA; FRANK, 2010).
O municpio de Jacinto Machado est inserido na bacia hidrogrfica do rio
Ararangu (Figura 5), integra da 10a regio hidrogrfica do estado (SANTA
CATARINA, 1997a). Esta bacia compreende os municpios de Ararangu, Ermo,
Forquilhinha, Maracaj, Meleiro, Morro Grande, Nova Veneza, Siderpolis, Timb do
Sul e parte dos municpios de Balnerio Arroio do Silva, Cricima, Iara, Sombrio,
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Urussanga e Jacinto Machado, todos em Santa Catarina, e ainda, parte dos
municpios de Cambar do Sul e So Jos dos Ausentes, no estado do Rio Grande
do Sul (SCHEIBE, 2010).
Figura 5 - Bacia hidrogrfica do Rio Ararangu.
Fonte: Adami et al., 2010.
A bacia hidrogrfica do Rio Ararangu, segundo Scheibe (2010) tem seus
limites definidos pelos divisores de gua com as bacias dos rios Mampituba (SC),
das Antas (RS), Pelotas (RS/SC), Tubaro e Urussanga (SC) e a leste pelo Oceano
Atlntico. Os principais cursos dgua da bacia hidrogrfica do rio Ararangu so os
rios Itoupava e Me Luzia que, ao se juntarem, passam a ser chamados de rio
Ararangu.
At a sua foz no oceano Atlntico, o rio Ararangu corta uma extensa
rea mal drenada e confinada por cordes arenosos, seguindo seu curso por um
canal com gradiente muito baixo, composto por trechos retilneos e mendricos
(SCHEIBE, 2010).
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Com suas principais nascentes no alto das encostas da Serra Geral, os
rios da Bacia do Ararangu iniciam seus cursos com grande declividade e energia
(SCHEIBE, 2010). No sop da escarpa, caracterizam-se por importante carga de
leito, de acordo com Scheibe (2010), mataces, blocos e seixos. Esses depsitos
fluviais espalham-se constituindo leques aluviais, em que os rios deslocam-se
lateralmente em mltiplos canais.
Este rio apresenta um padro de canal meandrante com trechos retilneos e esta poro da bacia abarca uma extensa plancie flvio-lagunar mal drenada, ladeada por cordes marinhos arenosos, de idades holocnica e pleistocnica. Nestes cordes possvel observar-se, localmente, um padro de drenagem paralelo em que os pequenos canais se alojam nas depresses inter-cordes (KREBS, 2004, p. 44).
Ainda de acordo com Krebs (2004), consiste num tpico rio de plancie
com gradiente do canal extremamente baixo. A densidade de drenagem deste
trecho da bacia muit