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UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC CURSO DE PSICOLOGIA TEREZA GREGÓRIO OS DESAFIOS DA VIDA COTIDIANA NA PÓS-MODERNIDADE: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA CRICIÚMA, JUNHO DE 2007

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UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC

CURSO DE PSICOLOGIA

TEREZA GREGÓRIO

OS DESAFIOS DA VIDA COTIDIANA NA PÓS-MODERNIDADE:

UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

CRICIÚMA, JUNHO DE 2007

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TEREZA GREGÓRIO

OS DESAFIOS DA VIDA COTIDIANA NA PÓS-MODERNIDADE:

UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado para obtenção do grau de Bacharel ao Curso de Psicologia da Universidade do Extremo Sul Catarinense, UNESC.

Orientador(a): Prof. (ª) Dr.(ª) Teresinha Maria Gonçalves

CRICIÚMA, JUNHO DE 2007

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TEREZA GREGÓRIO

OS DESAFIOS DA VIDA COTIDIANA NA PÓS-MODERNIDADE: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Trabalho de Conclusão de Curso aprovado pela Banca Examinadora para obtenção do Grau de Bacharel, no Curso de Psicologia da Universidade do Extremo Sul Catarinense, UNESC, com Linha de Pesquisa em Psicologia Social.

Criciúma, 26 de junho de 2007.

BANCA EXAMINADORA

Profª. Teresinha Maria Gonçalves - Doutora - (UNESC) – Orientadora

Prof. Sergio Leandro Gobbi – MSc - (UNESC)

Profª. Patrícia Martins Goulart – Doutora - (UNESC)

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Dedico a Deus, por estar sempre presente, principalmente, nos momentos mais difíceis de minha vida.

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AGRADECIMENTO

Agradeço a todos que de uma forma ou de

outra contribuíram para o desenvolvimento

deste trabalho...

Especialmente:

Prof. Sergio Leonardo Gobbi, que nunca

deixe de transmitir o seu lado humano;

Profª Teresinha Maria Gonçalves, pela

sabedoria e conhecimento transmitido

durante a construção deste trabalho;

Elisiane da Rosa Morais, pela

colaboração nas discussões sobre o tema

trabalhado.

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Este mundo será mais humano e humanitário. Explorará e desenvolverá as riquezas e capacidades da mente e do espírito humanos. Produzirá indivíduos que serão mais integrados e plenos. Será um mundo que valorizará a pessoa individual, o maior de nossos recursos. Será um mundo mais natural, com um renovado amor e respeito pela natureza, desenvolvendo uma ciência mais complexa e humana, baseando em conceitos novos e menos rígidos. Sua tecnologia objetivará o engrandecimento das pessoas, aos invés da exploração delas e da natureza. Liberará a criatividade, à medida que os indivíduos sentirem seu poder, suas capacidades, sua liberdade. Os fortes ventos da mudança científica, social e cultural estão soprando fortemente. As enormes perturbações da sociedade moderna forçarão uma transformação para uma ordem nova e mais coerente. E nessa ordem parece crescer uma nova visão do mundo, a relação, um renovado amor pela natureza e por cada pessoa, uma compreensão da unidade espiritual do universo. Deve ser um mundo mais humano, com mais lugar para indivíduos que são integrados e totais. Esta é, pelo menos, minha entusiasmada esperança”.(ROGERS, 1983, p. 19).

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RESUMO

O objetivo deste trabalho é apresentar uma reflexão à mudança de paradigma que percebemos com clareza, refletida nos indivíduos. Trata-se de uma revisão bibliográfica com o objetivo de mostrar as profundas alterações no mundo contemporâneo que acabaram criando um novo contexto, onde o mundo moderno, considerado como um mundo de certezas e ordem, tem sido substituído por uma cultura de incertezas e indeterminações, caracterizado pela desconstrução de antigas teorias e pela construção de novas teorias do conhecimento. Este trabalho aborda a discussão entre algumas teorias antigas e recentes, desenvolvidas nas áreas social e filosófica: modernidade, pós-modernidade, comportamento, consumo, subjetividade e psicologia no novo contexto social. Dessa forma, pretende-se mostrar o grande desafio para a psicologia relacionado às mudanças subjetivas introduzidas pelo novo cenário atual: discutir a problematização atual que busca uma nova compreensão do ser humano. Pode-se constatar que a psicologia ainda o observa na contemporaneidade, a partir de categorias tradicionais. Considerando que as transformações sociais geram grandes impactos psicológicos, com isso, a psicologia pode rever suas antigas certezas relacionadas ao ser humano e abranger diferentes olhares sobre esses novos fenômenos.

Palavras-chave: Contemporâneo. Subjetividade. Compreensão. Psicologia.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................11

2 COMPORTAMENTO HUMANO NA PÓS-MODERNIDADE..................................16

2.1 Pós-modernidade e negatividade no cotidiano do indivíduo........................22

2.2 Pós-modernidade e positividade no cotidiano do indivíduo.........................26

3 PROCESSO DE PRODUÇÃO DA SUBJETIVIDADE NA PÓS-MODERNIDADE31

3.1 Pós-modernidade e o indivíduo social ............................................................34

3.2 Conflitos e crise de identidade pós-moderna................................................35

4 A PSICOLOGIA NO NOVO CONTEXTO PÓS-MODERNO ..................................40

4.1 Mudanças sociais ligadas ao interesse da Psicologia...................................41

4.2 A contribuição da Psicologia Social no contexto pós-moderno...................44

4.2.1 A construção de novos valores: um desafio para a Psicologia.................45

5 CONCLUSÃO ........................................................................................................49

REFERÊNCIAS.........................................................................................................52

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1 INTRODUÇÃO

Este trabalho é uma reflexão sobre a situação da sociedade pós-moderna e

os desafios que se põem à Psicologia diante desse novo cenário social. No mundo

contemporâneo, os problemas psicossociais se apresentam de diferentes modos: a

família e outras instituições se configuram de outra forma. Se, nas últimas décadas

do século passado, a Psicologia Social construiu um arcabouço teórico para

compreender e enfrentar os problemas psicossociais, na maioria das vezes, ligados

às minorias e às instituições, hoje esses problemas são configurados em outro

contexto: o da pós-modernidade.

A pós-modernidade começa com grande êxito, invadindo a vida do ser

humano com tecnologias eletrônicas de massa e individual. Segundo Santos (2000),

essa demanda acaba saturando, com informações, diversões e serviços. A grande

quantidade de informações está causando um transtorno pós- moderno, sendo

embutido, cada vez mais, a cada instante, à tecnologia. Isso acaba originando uma

verdadeira programação no cotidiano do sujeito.

Em relação à economia, a sociedade pós-moderna deu força à sociedade

de consumo personalizado, reduziu o sujeito ao prazer de usar bens e serviços

disponibilizados com muita facilidade e rapidez. Assim, os indivíduos podem ter

acesso a essas tecnologias de informações.

Hoje, pode-se dizer que as grandes empresas, que funcionavam em

galpões grandes, sujos e sombrios, na época moderna, produzindo o produto de

consumo, foram trocadas por shoppings coloridos, produtos diversificados,

ambientes luminosos, conhecidos como os grandes altares da pós-modernidade.

Portanto, a pós-modernidade torna-se ameaçadora por embutir estilos de vida e

filosofia que acabam induzindo o indivíduo a um modo de vida de insegurança, de

pressão psicológica, com ausência de valores. A vida perde o sentido levando-a um

vazio, a um nada. (SANTOS, 2000).

Na passagem do moderno para o pós-moderno, deixa-se o passado e

volta-se para o futuro. Segundo Santos (2000), nessa passagem, o ser humano

deixa para trás os grandes ideais da modernidade. O homem moderno valorizava a

história, o desenvolvimento, a arte e a consciência social para se salvar, enquanto

que, na pós-modernidade o indivíduo dá adeus a essas “ilusões”. Entende-se,

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finalmente, que o céu é uma utopia ou uma fantasia, ao passo que Deus não é a

salvação, nem um sentido para a história; assim, entrega-se ao presente, ao prazer,

ao consumo e ao individualismo. O indivíduo torna-se hedonista, ou seja, a busca

pelo prazer individual, achando este, ser a finalidade da vida.

A pós-modernidade é baseada nas informações de massa. A

tecnociência, o consumo, a arte e a filosofia estão no entorno do homem emergente

e/ou decadente. Fazendo com que recue a tradição, a religião, a moral e novos

valores são colocados, mais livres, mais voltados ao progresso social, mobilizando-

os ao consumo.(SANTOS, 2000).

Prosseguindo, o autor diz que as conseqüências da mudança na pós-

modernidade trouxeram traços para a nova vida do indivíduo, entre elas a perda de

qualquer senso ativo de história, seja como esperança ou como memória, seja

positiva ou negativa. O mundo está unificado eletronicamente, e isso acontece em

todas as partes, como um espetáculo diário, instalando-se uma geografia substituta

nas consciências, onde o sistema é manuseado por redes circundantes de capital

multinacional e acabam ultrapassando a capacidade de qualquer percepção.

Entre modernidade e pós-modernidade, pode-se dizer que há mais

diferenças que semelhanças. O individualismo já estava presente na sociedade

moderna, mas seu modo de vida narcisista foi exacerbado na pós-modernidade, que

desfaz princípios, valores, regras, entre outros, embute uma mistura de várias

tendências e estilos de vida. Portanto, iniciou-se, desde a modernidade, o processo

que gerou massa industrial, formou indivíduos mecanizados, solitários,

individualistas e, em muitas questões, desumanos, perpetuados até os dias atuais.

A concepção de sujeito pós-moderno, como coloca Damergian (2001), é a

de um narciso autocentrado, sujeito este voltado para a realização de seus

prazeres, desejos a qualquer preço; aquele que se acha capaz de competir e

vencer, não importando como fará para conseguir seu objetivo. Vive num mundo

competitivo, que acaba deformando a realidade, e inverte os valores, ou seja, o

indivíduo valoriza as pessoas pelo que possuem e não pelo que elas são. Então

tem informações, mas pouco conhecimento e liberdade de pensamento.

Santos (2000), com todos esses valores e a rapidez de informações a

todo o momento, o indivíduo acabou tornando-se um monte de células nervosas

que acabam processando mensagens e pensamentos fragmentados. Segundo

Petraglia (2002), se o pensamento for complexo, torna-se responsável pela

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ampliação do saber; se for fragmentado, produz um conhecimento mais simplista. O

pensamento complexo devia, então dar conta de compreender a pós-modernidade.

O sujeito pós-moderno fica sempre submetido a um bombardeio de

informações, e em muitas situações fragmentadas. Como conseqüência acaba não

se formando num todo, acaba entrando numa “crise de identidade”. Vive num

ambiente de vida em estresse constante. (HALL, 2001).

Neste contexto, o autor citado, questiona as mudanças conceituais de

acordo com alguns teóricos, em que o sujeito do Iluminismo1 era visto como um

sujeito do qual sua identidade era fixa e estável, mas no decorrer do tempo, com as

transformações descentradas, acabou resultando em identidades abertas,

contraditórias, inacabadas e fragmentadas, o que constitui o do sujeito pós-moderno.

Santos (2000) diz: com esse modo de vida, diante de tantas informações,

o sujeito acaba tendo uma vida sem projetos, sem ideais, a não ser que em muitas

situações, termine cultuando a própria imagem e busque a satisfação no aqui e

agora, apoiando-se nos objetos (deixando o lado humano), na matéria (esquecendo

o lado espiritual), no momento (sem pensar no futuro). O indivíduo torna-se frívolo,

pouco crítico. Tornando-se indivíduos narcisistas e vazios, apáticos, desenvoltos,

podendo resumir a tudo isso a uma crise de valores pós-moderno.

A arte é um exemplo fidedigno usado por alguns autores. Estes fazem

uma amostragem das mudanças que ocorreram da modernidade para a pós-

modernidade questionando sobre os movimentos e manifestos futuristas que deram

início à modernidade. A arte deu um “não” ao passado. Contra regras antigas e

castradoras, trouxe uma nova visão de liberdade de experimentação. Precisava,

segundo Santos (2000, p. 33), acabar com a estética tradicional (conjunto de normas

e valores, numa determinada época, onde o artista devia criar e o crítico julgar). “A

estética colocava a arte como representação realista da realidade”. A estética

tradicional da modernidade, contudo, acaba fracassando, quando se depara com

um mundo, cada vez mais, confuso que é a pós-modernidade, onde o indivíduo se

encontra cada vez mais fragmentado. A partir disso, novas linguagens deveriam 1 Esse termo iluminismo está relacionado ao esclarecimento. O século XVIII também é chamado século das luzes e do iluminismo. A origem desse movimento de nome iluminismo começou na França. O iluminismo combatia o antigo regime sócio cultural da Europa. A educação estava sob o controle da igreja. Isto não era bem visto pelos novos pensadores, os iluministas, pois para eles a igreja ensinava uma filosofia arcaica. Isto tornava a sociedade ignorante, fanática e submissa. Este século, mostrou uma nova maneira de pensar. Para o iluminista a razão era o mais importante, ela comanda todo o processo de conhecimento. Principais filósofos do iluminismo: Montesquien, Voltaire, Jean Jacques Rosseau, Denis Diderot e Jean Lê Rond ´D’Alembert.

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surgir, para que o indivíduo pudesse interpretar livremente a realidade.

Não podemos esquecer que na era moderna o indivíduo também era

controlado e iludido. A sociedade industrial não era justa, tratava com desigualdade,

interesse e egoísmo. E os movimentos e manifestos utilizados através da arte pelo

modernismo, foi um movimento de crítica à sociedade industrial moderna, com suas

tecnologias, suas verdades e certezas.

Assim, define-se para a maioria dos autores utilizados na construção

deste trabalho, que a pós-modernidade seria a perda da credibilidade “uma vez que

a ciência atrelou-se ao capitalismo, ao Estado e a verdade ficou reduzida ao

desempenho, à eficiência”. (LOMBARD, 2003, p. 4).

A grande preocupação trazida pelos autores são os estragos que a pós-

modernidade acarretou ao indivíduo e à sociedade atual. A pressão psicológica

acabou deixando o sujeito perdido, não conseguindo definir entre o certo ou o

errado. Em função disso, ele toma atitudes sem ter consciência das conseqüências

que levará para a vida. Vive-se em uma sociedade pós-moderna, apegada a razão

e, ao mesmo tempo que, despreza os sentimentos e a importância do

desenvolvimento afetivo.

Damergian (2001) diz estar aumentando cada vez mais o sentimento de

desamparo que acaba atingindo a todos, e tudo isso acaba trazendo uma visão

dolorosamente clara sobre o legado da humanidade para o futuro. Isso obriga a

pessoa a refletir sobre os caminhos lastimáveis por que está sendo conduzido, na

tentativa de buscar novos rumos com pretensão de levar a uma revalorização do ser

humano.

A construção deste trabalho foi motivado quando ocorreu, no Brasil, um grupo

de pessoas (alguns adolescentes tiveram participação) consideradas pela

sociedade como bandidos da favela. O grupo invadiu uma certa rua da cidade do

Rio de Janeiro, onde pararam um ônibus que fazia rota naquela rua. Entraram

armados, ameaçaram o motorista e os passageiros, jogaram produtos infláveis e

incendiaram o ônibus. Um dos responsáveis por este terror tinha apenas treze anos

de idade.

Quando detidos pela polícia, foram feitas várias investigações e, entre

estas, um dos investigadores falou, em rede nacional, que, durante seus trinta e

cinco anos de profissão, nunca tinha até então se deparado com esta situação: um

ser humano que não possuía nenhum tipo de sentimento.

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Em sua entrevista com o adolescente envolvido no crime, não conseguiu

formular perguntas, nem entrar no mundo dele para conseguir algum tipo de

informação. Segundo o investigador, era um mundo que ele jamais poderia imaginar

que existisse na vida de um ser humano. Pessoa vazia, sem nada de sentimentos

como se fosse “oca” por dentro, sem perspectiva alguma de vida.

O ato cometido pelo adolescente não pode ser explicado com poucas

palavras, pois segundo o investigador, para o grupo, foi algo normal morrerem

pessoas civis e inocentes. Não se via nenhuma expressão no rosto do sujeito,

nenhum sentimento de arrependimento. Caso se ache no direito de repetir esse ato,

fá-lo-á sem o menor ressentimento.

A Psicologia vem estudando esse processo de mudanças que acontecem

com muita rapidez na vida cotidiana do indivíduo, principalmente, as mudanças

relacionadas aos sentimentos. Este estudo é de grande importância para o

aprofundamento do conhecimento e da compreensão neste novo contexto.

Segundo Leitão, a psicologia (2003), pode trabalhar com outros olhares

no novo modo de vida trazido pela pós-modernidade. A visão tradicional já não está

mais dando resultado para a Psicologia nos dias atuais, até então construída para

compreender a existência humana nessa nova ordem social.

Para responder às questões apontadas e discutidas neste contexto, foi

realizada uma pesquisa bibliográfica e exploratória. Foram adotados - como

fundamentação teórica - autores e obras que dialogam sobre os temas:

comportamento; modernidade; pós-modernidade; subjetividade; identidade;

consumo; condição social e psicologia.

Na primeira parte deste trabalho, onde se caracteriza a pós-modernidade

e seu novo contexto social, ocorre uma reflexão sobre a mudança de

comportamento do ser humano na visão de Santos (2000) e entre outros autores.

Esses movimentos estão trazendo inúmeras transformações na sociedade e

também um grande desafio para a Psicologia. A segunda parte caracteriza a

produção da subjetividade na pós-modernidade e, por fim, uma síntese, onde

consta uma reflexão entre a tese e a antítese, relacionando as grandes mudanças

na vida cotidiana do ser humano na contemporaneidade e a contribuição da

Psicologia nessa era de transformações.

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2 COMPORTAMENTO HUMANO NA PÓS-MODERNIDADE

A velocidade e a abrangência das mudanças, na vida atual do ser

humano estão centradas nas discussões que travam sobre modernidade e pós-

modernidade, trazendo grandes mudanças sociais em todas as instâncias, desde as

formas políticas até ao comportamento da humanidade. (FRIDMAN, 1999).

A modernidade era vista, segundo Georgen (2005), como uma época em

que a humanidade estava bastante avançada, tinha o controle da sua própria

história e da natureza. O homem possuía como perspectiva, o caminho correto do

progresso e da perfeição. Essa perspectiva era ilusória, idéia que o poder daquela

época queria que os homens acreditassem. Uma ilusão que, por muito tempo

acreditou-se, e que fazia parte do cotidiano. Nem tudo era perfeito e o progresso

era a ideologia do Estado. Essa se propaga até nos dias de hoje, só que, na

atualidade, é mostrada com mais clareza.

Segundo Kumar (1997), para compreender e examinar o pós-moderno,

faz-se necessário, entender em primeiro lugar, o significado do moderno.

Pode-se compreender e classificar modernidade como uma designação

abrangente a todas as mudanças: intelectual, social e política. Ela é uma invenção

da Idade Média Cristã, e que este fato deveria ter estabelecido um contraste nítido

com o mundo antigo. Assim, o mundo antigo era pagão, envolvido por trevas,

enquanto o moderno cristão, quebra o paradigma, trazendo Deus entre os homens

sob a forma de seu filho (Jesus cristo) e atribuindo, pela primeira vez, um significado

à história. “O cristianismo deu novo alento à idéia de tempo a história. Derrubou a

concepção naturalista do mundo antigo”. (KUMAR, 1997, p. 80).

A Pós-modernidade, segundo Santos (2000), nome aplicado às grandes

mudanças que ocorreram na ciência, na arte e na sociedade, evoluiu a partir da

década de 50, com a arquitetura e a computação. Nos anos 60, a pós-modernidade

engloba a arte pop e, nos anos 70, dá um grande passo, quando entra pela filosofia

como crítica da cultura ocidental. Hoje se encontra madura, englobando moda,

cinema, música, entre outros. O cotidiano é programado pela tecnociência e,

querendo ou não, tudo isso acaba invadindo a vida do indivíduo desde alimentos

até microcomputadores, dando liberdade de acesso a esses novos experimentos.

Na visão de Escobar (2002), os seres humanos não são possuidores

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dessa tal “liberdade”, são apenas contratos, ou seja, o que a sociedade define que

seja, não podendo pensar a não ser nas categorias que recebeu e, como resultado,

não tem mais a pretendida autonomia do homem moderno. Para o autor, esse

período se destaca como um dos mais depreciativos da humanidade e também da

sociedade, de um modo geral, resultado das grandes contradições sociais, trazendo

grandes desafios para a vida cotidiana. Alterando de um modo ou de outro: o

comportamento do ser humano.

Na modernidade, segundo Escobar (2002), o ser humano era

considerado autônomo, independente, seguro de si e com possibilidades racionais

ilimitadas. Era um homem íntegro, otimista e com identidade definida. Para o autor,

então, essa era a idéia que se tinha do homem, mas era só a idéia, pois o homem

nunca se sentiu dessa forma “autônomo”, e as possibilidades que lhe eram “dadas”

na prática, não ocorriam. Aparentava ser um homem seguro de si, mas também era

possuidor de conflitos internos, psicossociais. Só que isso não podia ser

escancarado; assim, era mostrado sob uma visão contraditaria.

Ao passo que a modernidade era um manifesto de auto-suficiência humana e de auto-gratificação, o pós-modernismo é uma confissão de modéstia e até de desesperança.[...] Não há uma civilização privilegiada (nem cultura, crença, norma e estilo), há somente uma multidão de culturas, de crenças, de normas e estilos. Não há uma justiça universal, há apenas interesse de grupos. Não existe uma grande narrativa do progresso humano, há apenas histórias incontáveis, nas quais as culturas e os povos se encontram hoje. Não existe a realidade simples nem uma grande realidade de um conhecimento universal e objetivo, existe apenas uma incessante representação de todas as coisas em função de tudo a mais. (ESCOBAR, 2002, p. 25).

Harvey (1998) e Bauman (1998), buscam construir categorias globais

para dar sentido à época pós-moderna. Enfatizam o modo de produção capitalista

como principais categorias de análise, alegando as condições pós-moderna de

produção de conhecimento. Para tanto, a visão dos autores, a pós-modernidade é

um conjunto de alterações objetivas na ordem econômica do capital, ou seja, uma

nova época do capitalismo tardio – onde é dirigida por uma lógica de funcionamento

global que perpassa as diferentes esferas da vida humana e dá coesão às mesmas.

Na contemporaneidade, não vigora mais a lógica da produção industrial e

conseqüente divisão entre as classes trabalhadoras e produtoras. A economia

acabou-se expandindo para todos os níveis do viver humano, inclusive a cultura.

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Portanto, para Harvey (1998), de acordo com Bauman (1998), consideram

a lógica da pós-modernidade, como a lógica cultural do capitalismo tardio. A cultura

tornou-se coextensiva à economia, não podendo mais pensar como expressão

autônoma na nova ordem social. Sendo assim, essa expansão capitalista acabou

estruturando uma sociedade em torno do consumo de bens materiais, de informação

e de cultura.

Segundo os autores, essa expansão acabou propiciando a intensificação

da produção em massa, uma distribuição mais rápida e uma circulação veloz do

capital resultante de suas vendas. Assim, para Harvey (1998) e Bauman (1998), a

lógica pós-moderna de produção, é, portanto, flexível, ágil e passível de constantes

modificações. Todo esse processo contribui, em sua análise, para o aumento do

consumo a níveis inesgotáveis, fazendo com que o sujeito viva em torno desse

consumo.

Não podendo esquecer que, o meio de comunicação segundo Duarte

(2003), tem colaborado para isso. È construído uma imagem para a venda dos

produtos, persuadindo ao consumo de massa.

Bauman (1998), diz que todas as sociedades sempre consumiram, mas

para ele o que caracteriza a sociedade contemporânea com sociedade de consumo,

é a ênfase dada a esse consumo. A sociedade moderna definia sua rede de

sociabilidade em torno da capacidade de produção. Já na pós-modernidade, a

organização social se dá mais pela capacidade e pelo desejo de consumir. Gerando

assim, um consumo desenfreado. O sujeito acaba se perdendo dentro de um

sistema que possibilita tanta facilidade e praticidade, onde a mídia auxilia na

construção de um mundo de ilusões.

Dentre os autores pós-modernos, segundo Leitão (2003), Bauman (1998)

é aquele que mais se detém na categoria consumo. É considerado por ele, como um

fator de referências e de organização da sociedade pós-moderna.

Algumas concepções, segundo Duarte (2003, p.14) destacam-se na pós-

modernidade e podem ser indicadas como referências: a sociedade da imagem e a

do conhecimento. “O conhecimento nunca esteve tão acessível como hoje, isto é,

vivemos numa sociedade na qual o acesso ao conhecimento foi amplamente

democratizado pelos meios de comunicações”.

Pode-se afirmar, segundo Duarte (2003), que se vive em uma cultura

dominada por imagens, onde a mídia tem um papel fundamental na produção de

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narrativas, que criam esse mundo de ilusões, embutidas na sociedade prontas,

esquematizadas, para que o indivíduo, em primeiro momento, acredite nessa

produção e leve isso para sua vida. Esse é o meio mais fácil de iludir e lucrar com

a sociedade de massa. Acaba-se, com isso, atingindo os diversos aspectos

psicossociais do indivíduo, pois é produzida uma realidade à parte. Tudo isso cria

um grande espetáculo no cotidiano do indivíduo, como os conflitos afetivos,

familiares, amizades, ou seja, tudo que envolve o ser humano.

Essa nova cultura acaba induzindo o indivíduo a ir à busca de

experiências novas (podendo ser positiva ou negativa, vai depender da intensidade

que cada um vai vivenciar), não tendo a mínima noção das conseqüências que

acarretarão, tanto no presente, como em seu futuro. (SANTOS, 2000).

Pode-se citar, como exemplo, o que ocorre, nos dias de hoje, utilizados

pela mídia, através de novelas, filmes e propagandas comerciais. Esses meios de

comunicação dão um retorno muito mais rápido para o consumismo. Dessa forma,

ela não só comunica como também constrói uma idealização fora da realidade,

destruindo todo e qualquer sentido de realidade. Segundo Kumar (1997), torna-se

puramente um mundo de simulação, uma geração criada através de modelos, de um

real sem origem ou realidade, onde o sujeito, em seu cotidiano, acaba não

conseguindo mais distinguir o ilusório do real e, menos ainda, o verdadeiro do falso.

Isso faz com que se distancie, cada vez mais, da sua realidade: aquilo que dá

sentido à sua vida e faz dele um ser realizado. Para Gusmão, (1999), é como se o

indivíduo corrompesse o que existe de mais essencial nele, indo à busca de certo

status, acreditando que ganhará condição para ser reconhecido e valorizado

socialmente.

A busca pela perfeição e pela beleza trazida pela mídia levam o ser

humano ao máximo de suas condições. Parece evidente que tais valores, aos

poucos, foram se transformando. O que antes era reprimido ou retido aos indivíduos,

hoje se transmuta na busca, muitas vezes desenfreada, do prazer e da diversão

como metas da vida. Os adolescentes, principalmente, parecem perdidos nessa

busca.

Entre os exemplos que podem se citar, nos auge do nosso cotidiano,

estão jovens adolescentes que, em busca de seus ideais, tornam-se pessoas

doentias. Cita-se, ainda, algumas dessas doenças modernas, como bulimia e

anorexia (não se questiona a doença em si, mas o que está por trás disso), que

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fazem parte no novo âmbito social da era contemporânea.

A busca por um ideal que, nesse caso, é a beleza corporal, faz com que

as adolescentes que se encaixam neste contexto, passem por um processo

deprimente. Assim, isolam-se, mentem para pais e amigos, acreditam plenamente

que serão mais realizadas, mais aceitas pela sociedade, esquecendo que para tudo

isso haverá um preço. São esses valores que foram embutidos no cotidiano.

Acabam deixando o indivíduo sem nenhuma estrutura para poder lidar com essa

exigência da sociedade. Sem saber do seu limite, tanto físico como mental, acabam

perdendo a noção do perigo que isso traz e, em muitos casos colocam em risco à

própria vida.

Sendo assim, segundo Gusmão (1999), pelo fato de o indivíduo negar

seus próprios valores humanos, ele vai se tornando uma pessoa ansiosa e infeliz,

sem objetivos pessoais significativos à sua vida, amargo e negativista. Seu potencial

acaba se perdendo, sem expressão, no emaranhado de uma sociedade considerada

opressora que tem lhe proporcionado poucas possibilidades de realização, de

felicidade.

Para Kumar (1997), são essas turbulências de informações

desencontradas com a realidade que fazem com que o sujeito se perca dentro de

sua própria identidade. A pressão psicológica é tão forte que o sujeito se encontra

perdido, pois se tudo é tão fácil como mostra a mídia, e questiona-se por que, no

seu real ele não tem essa facilidade, tudo se torna demorado e difícil, só tendo

acesso uma minoria. Com isso, quando o sujeito traz esse mundo para sua vida,

acaba encontrando-se, em muitos casos, sem saída, atolado em dívidas, e, em

outros casos, acaba frustrado por não conseguir alcançar a felicidade.

Portanto, a sociedade do conhecimento é vista pela disseminação do

conhecimento a todos os planos de vida social, e isso acaba se tornando relevante

no comportamento, na rotina e no cotidiano. Idealizando que os homens

controlariam seu destino e alcançariam a felicidade. Mas, voltando à realidade,

acabariam sendo levados para um mundo fora do controle, causando amplas

conseqüências num geral, como: econômica, política, cultura e principalmente a

subjetividade. (FRIDMAN, 1999).

O mundo, segundo Leitão (2003, p.425), se encontra “simultaneamente,

de uma maneira ou de outra, diante de problemas gerados pelo acelerado

desenvolvimento”. As soluções econômicas, políticas e sociais dependem, antes de

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tudo, ”de uma perspectiva de integração global desses problemas por parte de todos

os países, envolvendo um sentimento global de humanidade”.

Esses riscos gerados pelo desenvolvimento (organização capitalista,

produção e consumo, conflitos sociais, etc.), segundo Leitão (2003), pode-se dizer

que são os principais aspectos que levam a uma nova definição de sociedade e a

um novo conceito de modernização. Assim, segundo a autora, a sociedade

contemporânea pode ser mais entendida a partir desse conceito de sociedade de

risco. Passando a perceber com, maior ou menor grau. Surge nova necessidade de

cooperação e de entendimento global, com intuito de controle dos riscos gerados por

esse desenvolvimento.

[...] o mundo sempre enfrentou riscos, mas as soluções para os mesmos eram encontradas dentro da bagagem de tradição que recebíamos através da cadeia de gerações. Os atuais efeitos colaterais da modernização são, entretanto, distintos daqueles que outras gerações enfrentaram. Não temos experiências anteriores que nos orientem sobre o que fazer diante deles. Para conviver com isso, nos voltamos para as tradições acumuladas e para a rede de conhecimentos recentemente produzidos, refletindo sobre as mesmas e criticando-as.(GIDDENS, 1999, apud LEITÃO, 2003, p. 425).

Sendo assim, para Leitão (2003), o sujeito da sociedade contemporânea

está tendo que construir a aprender novos valores, costumes e tradições em função

dessa nova referência social.

Expressão modernidade reflexiva à pós-modernidade, mostram que esse processo incrementa o potencial destrutivo envolvido na relação dos homens com natureza e dos homens entre si a níveis nunca imaginados , o que diferem o mundo atual das sociedades pré-modernas. (GILDENS; BECK e LASCH, 1997, apud FRIDMAN, 2003, p.4),

Assim, a era pós-moderna, segundo Santos (2000), coloca estilos de vida

e de filosofia, embutindo, na sociedade, uma idéia tida como arqui-sinistra: niilismo

(descrença em um sentido para a existência; redução a nada), o vazio, a ausência

de valores e de sentido para a vida. Em muitas situações, então, perdem o medo,

achando que tudo, na vida, é como se passa num filme, podendo fazer e acontecer.

Em alguns casos, a situação fica tão delicada que o indivíduo, por estas e muitas

outras razões, acaba cometendo suicídio.

Acredita-se que, nesse ponto, Santos (2000) tenta mostrar essa situação

quando coloca a ausência de valores, de sentido para a vida. O indivíduo reproduz

na sua vida e não vive com emoção, amor, satisfação. Damergian (1996a) coloca

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que a vida do indivíduo é como se fosse um palco onde ele vive o personagem

dependendo do que a sociedade está pedindo e do que o próprio sujeito necessita

ou fantasia.

Sendo assim, pode-se chamar esse processo de mudança como crise de

identidade, amplo de mudança, que está deslocando as estruturas e os processos

centrais das sociedades modernas e também abalando os quadros de referências

que dava ao sujeito uma bagagem estável no mundo social. (HALL, 2001).

Para o autor, nessa questão da mudança da modernidade para a pós-

modernidade, até então, o indivíduo era visto como um sujeito unificado, e velhas

identidades fizeram parte da estabilidade no mundo social por muito tempo; já na

pós-modernidade entram em declínio, e uma nova era faz surgir novas identidades

mais fragmentadas.

2.1 Pós-modernidade e negatividade no cotidiano do indivíduo

A pós-modernidade, segundo Santos (2000), associa-se à perda dos

grandes ideais, como: os valores, Deus, razão, sentido, totalidade, ciência,

sujeito, consciência, família, etc., abalando substancialmente a vida do indivíduo.

Não sabe mais o que é certo ou errado, o que pode ou não pode fazer, trazendo

acréscimo constante de descrença em um sentido para sua existência. Fala-se de

uma cultura que abala e deixa os indivíduos constantemente inseguros em relação

ao futuro.

A tecnologia invade suas vidas com mil artefatos e serviços, não

oferecendo qualquer valor moral, além do hedonismo, ou seja, o indivíduo acaba

internalizando essa invasão de novidades oferecidas e passa a entender e utilizar

isso no seu dia-dia. Busca o prazer imediato, individual, como única e possível forma

de vida moral.

A mídia, segundo Santos (2000),e de acordo com Harvey (1998),

também tem mostrado constantemente notícias sobre ameaças nucleares, desastre

ecológicos, terrorismo, crise econômica, corrupção, neurose urbana, entre outros.

Essas informações acabam ficando embutidas inconscientemente, fazendo com

que o sujeito absorva tudo isso, fazendo-o sentir-se desorientado, atordoado. Essa

pressão deixa o ser humano em total insegurança e medo, que acaba reagindo, em

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certas situações, com violência extrema, perdendo a razão de seus atos. Casos

acontecem, quase que diariamente em todo o Brasil, como atitudes de certos

motoristas diante de um congestionamento e/ou um acidente, em que , quando

estão armados, sua primeira reação é atirar no outro sujeito envolvido, sem ter

noção de que podem matar ou ferir a pessoa envolvida e também pessoas que não

fazem parte da cena, apenas por estarem passando no local.

Morin (2005) e Santos (2000) trazem a questão da pressão psicológica no

cotidiano pós-moderno como uma eterna guerra de violência psíquica, ficando bem

claro que se está defrontando com isso sem saber se terá um fim. Cada vez mais, o

indivíduo torna-se fragmentado, vivendo sob total estresse psicológico. Forma-se,

por isso, inimigo um do outro por viver diariamente na competição em tudo que o

envolve, tornando-se uma verdadeira agonia. Essa competição ocorre pelo melhor

cargo na empresa, pelo melhor carro, pela beleza física, por estar na moda, dentre

outras. Segundo Gusmão (1999), é um jogo de poder presente nas relações,

fazendo de alguns opressores e de outros oprimidos que, vivem em uma ação

própria daqueles que usam o poder para subjugar seres humanos.

Nessa guerra diária, o indivíduo se defronta com explosões de ódio, de

vingança, envolvendo-se em luta quase constante em busca de uma definição para

sua existência. Acaba, pois, fazendo um emaranhado de idéias, distorcendo seu

pensamento e envolvendo-se em crenças religiosas, raças e, principalmente,

ideologia, com intuito de transferir aos outros o seu ódio, a sua incompreensão.

Não se sabe se o sujeito vive apenas a agonia de um velho mundo em

que se anuncia um novo nascimento ou se encontra perdido na busca desse um

novo. (MORIN, 2005).

As colocações anteriores se dá pelo fato em que o homem sentiu-se

abandonado no universo, acabou projetando valores que acalmassem a sua tristeza

e angústia e justificassem a sua própria existência. “Quem se preocupa com essas

verdades? Quem busca a idealização de uma vida eterna? Buscar novos valores,

bases mais sólidas?” Infelizmente podemos falar que isto ficará apenas na

idealização de alguns filósofos. (SANTOS, 2000, p. 75).

O mesmo autor diz que, enfim, percebe-se, na vida pós-moderna, que o

indivíduo oferece flexibilidade nas idéias e nos costumes, mas vive no conformismo,

sem ideais. È consumista assíduo e possui consciência de que é reduzido pelo

sistema, atomatizado, ou seja, fragmentado e participa sem se envolver

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profundamente.

Estas mudanças, segundo Santos (2000, p.90), para muitos sociólogos

são consideradas como “deserção do social. É como se tornar deserta uma região”.

Pela falta de mobilização, o neo-individualismo pós-moderno, que não tem nenhum

compromisso “ao não tenho nada com isso, vem esvaziando as instituições sociais”.

Hoje essas instituições sociais já não mais orientam o comportamento individual,

dando um enfraquecimento principalmente em países avançados. A deserção,

colocada por Santos (2000, p. 90), “é uma sacação nova da massa. Não é orientada,

nem surge conscientemente, como também não visa à tomada do poder, mas pode

abalar uma sociedade”.

Santos (2000), pontua esse fato como esvaziamento, onde novas

atitudes foram substituídos por valores tradicionais. Alguns exemplos serão citados,

como:

• deserção da história: o indivíduo vive sem as tradições do passado e sem

projeto de futuro, contando somente com o presente e, em vez de o indivíduo

crer e atuar na história, apenas se concentra em si, alienado ao seu próprio

ser, privatizando sua vida. Na modernidade dava-se grande valor à história,

enquanto que a pós-modernidade acabou esfriando-a, colocando num

sistema isolado, sem interesse e sem rumo;

• deserção política e ideológica: descrença do indivíduo na política faz com

que a sociedade de massa dê as costas às grandes causas. Seus ideais

ficam voltados às conquistas materiais, ao prazer e ao imediatismo.

Participam nas eleições através do voto (como por obrigação), não lutam pelo

seu ideal;

• deserção da família: a família, na pós-modernidade, não está sendo mais o

foco da existência individual. Sai-se cedo de casa e chega-se tarde a ela.

Não sobra mais tempo para reunirem-se a uma conversa familiar, não se

sentam à mesa para uma refeição e/ou um café. O mundo dos filhos fica

reduzido entre quatro paredes (seu quarto). O indivíduo descasa-se com

muito mais facilidade e se reproduz muito menos. No lugar de uma família

guardiã moral da modernidade, onde se encontrava apoio psicológico, o

sistema oferece ligações abertas chamadas de “ficantes”(envolvendo-se com

outra pessoa sem compromisso);

• deserção da religião: a pós-modernidade mostrou-se como o túmulo da fé. As

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religiões antigas são substituídas por pequenas seitas vistas sem futuro. Os

indivíduos procuram credos menos coletivos, mais personalizados como

budismo, yoga (procura o budismo e yoga não como uma ação universal, mas

como um instrumento para resolver seus problemas pessoais e imediatos).

Como se vê, o homem pós-moderno não é religioso, mas visto como um ser

sem crença, sem esperança. O lado material é a parte fundamental para a

sua realização, os valores humanos quase não têm espaço no novo modo de

vida.

A busca dessas conquistas leva o indivíduo a um estado de perda de

sensibilidade, de capacidade de percepção da vida num todo, do homem como ser

sensitivo, afetivo e emocional. Segundo Santos (2000, P. 95), “ É psicológico –

pensa mais na expansão da mente que na salvação da alma”. O autor refere-se a

um ser psicológico pela demanda de terapia psicológica em várias abordagens

oferecida para o indivíduo na questão emocional. O sujeito, sem progredir uma identidade única, harmoniosa, vive a vida justapondo lado a lado suas vivências. [...] vivências pequenas, fragmentadas, porque não se crê mais em totalidades, valores.[...] Assim posto, enfim, o pós-modenismo continua a flutuar no indivisível. Não há como dividir. Fim do moderno e começo do pós-moderno.[...]. (SANTOS, 2000, p. 111).

Bauman (1998) coloca em seus discursos o que realmente mudou: a

modernidade sólida deixa de existir e, em seu lugar, surge a modernidade líquida. A

sólida seria justamente a que vê início com as transformações clássicas e o advento

de um conjunto estável de valores e modos de vida tanto culturais como políticos. Na

modernidade líquida, tudo é volátil, as relações humanas não são mais tangíveis e a

vida em conjunto (familiar, de casais, de grupos de amigos, de afinidades) perde

consistência e estabilidade. Essa reflexão de Bauman está, de algum modo presente

no livro Harvey (condição pós-moderna), onde ele cita Marx:

[...] Denominarei esse corpo de experiência ‘modernidade’. Ser moderno é encontrar-se num ambiente que promete aventura, poder, alegria, crescimento, transformação de si e do mundo – e, ao mesmo tempo, que ameaça destruir tudo o que temos, tudo o que sabemos, tudo o que somos. Os ambientes e experiências modernos cruzam todas as fronteiras da geografia e da etnicidade, da classe e da nacionalidade, da religião e da ideologia; nesse sentido, pode-se dizer que a modernidade une toda a humanidade. Mas trata-se de uma unidade paradoxal, uma unidade da desunidade; ela nos arroja num redemoinho de perpétua desintegração e renovação, de luta e contradição, de ambigüidade e angústia. Ser moderno é ser parte de um universo em que, como disse Marx, ‘tudo o que é sólido desmancha no ar.(HARVEY, 1998, p. 21).

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Para Zajdsznajder (2002), as ameaças acabam estabelecendo um

estado espiritual presente causado por duas possibilidades estremas: o terror e o

êxtase. Aquele, pelas ameaças que apresentam essa massa de informações e

conhecimentos; deste, porque se pode viver (quase) tudo que sequer. Diante de

uma vida sem claras definições e de perecer que muitos valores foram perdidos,

constitui-se um quadro de ansiedade, medo, angústia e de depressão para o

indivíduo, por perceber que vive num novo mundo onde está diante de uma

liberdade e onde ele próprio pode fazer suas escolhas, e nessas o indivíduo tanto

pode morrer de exaustão (entregar-se as possibilidades), quando se isola (nega a

tudo isso).

Uma liberdade aparece quando o ser humano dispõe das possibilidades mentais de fazer uma escolha e de tomar uma decisão e quando dispões das possibilidades físicas ou materiais de agir segundo a sua escolha e a sua decisão. Quanto mais apto a usar a estratégia na ação, ou seja, a modificar, no meio do caminho, um roteiro inicial, maior é a sua liberdade. (MORIN, 2005, p.269).

Besnier (1996) coloca que a sociedade atual acaba produzindo o

indivíduo na sua autonomia e o expõe ao mesmo tempo. Ele acaba submetendo-se

às ordens exteriores, e isso o leva a assumir opções de vida, opções que, no

passado, não existiam. Assumir essas escolhas se sentirá responsável por ela. Em

muitos casos, o indivíduo sente-se obrigado aceitá-la, logo começando a sofrer suas

conseqüências. Isso porque, quanto maior for a liberdade, mais o indivíduo

interiorizará determinadas obrigações que farão com que sinta-se, cada vez mais,

oprimido por pagar esse preço pela liberdade.

2.2 Pós-modernidade e positividade no cotidiano do indivíduo

Olhando por outro ângulo, segundo Santos (2000), e discordando de

Besnier (1998) pode-se dizer que a pós-modernidade possui um lado positivo, o

chamado “peste boa e saudável”. A pós-modernidade propõe a convivência entre

todos os estilos e todas as épocas, deixando bem esclarecido ser um mercado

variado que, não possui regras absolutas. Cada ser pode fazer sua escolha, desde

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que, segundo Morin (2005), o sujeito disponha de possibilidades mentais para tomar

tais decisões em sua vida.

Santos (2000), quando relata sobre a pós-modernidade, dispõe ao

indivíduo várias opções, com várias facilidades e praticidades para consumir uma

gama enorme de bens e serviços para todos os gostos e faixa etária.Com tudo ao

seu alcance, cabe ao indivíduo escolher entre todas as opções e deixar-se envolver,

ou levar isso para sua vida, marcando fortemente sua individualidade; resumindo, o

sistema põe, e o indivíduo dispõe. O sistema, cada vez mais, triunfa, mas essa

história não se torna tranqüila, pois, contra o sistema, têm surgido efeitos colaterais

preocupantes.

Leitão (2003), diz que alguns desses efeitos são positivos para o

indivíduo, este pode usufruir de muitos benefícios trazidos pelos desenvolvimentos

econômico, científico e tecnológico, disponibilizados pelo sistema atual. Através dos

instrumentos apresentados, pode-se conhecer melhor o mundo e auxiliá-los para

viver uma vida melhor. Mas não se pode esquecer os efeitos colaterais resultantes

da era moderna da sociedade.

A disponibilização de massa segundo Bauman (1998), está saturando o

indivíduo, fazendo com que viva em torno do consumismo, esquecendo-se de

fortalecer-se com outros valores. Para garantir o sistema, além do econômico,

precisa também de outros valores para se manter essenciais para uma sociedade

como: ética, história, família, religião.

Nós humanos, somos dotados de memória e de capacidade de aprender, por esse motivo, conferimos benefícios a uma boa organização do mundo. Habilidades aprendidas para a ação constituem poderosos bens num mundo estável e previsível. (BAUMAN, 1998, p.16).

Bauman (1998) coloca que o ser humano possui capacidade de se achar

dentro do seu próprio ambiente natural e sócio - cultural, e que consegue atingir com

sua capacidade intelectual a aprender a lidar com tudo isso. Consegue, assim,

adequar-se às novas realidades que aparecem no seu dia-dia. Se o homem não

tivesse essa capacidade de percepção, de consciência seria incabível ele sobreviver

nesta era de várias mudanças. Para Zajdsznajder (2002), a aceitação deste tempo,

com todas as disponibilidades de acesso ao indivíduo, pode-se considerar um

momento histórico.

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A identidade é bastante questionada, mas entende-se ser um tempo que

está redefinindo como identidade. Essas características possuem um valor quase

equivalente. Segundo Zajdsznajder (2002, p-48) “ seja inevitável dar algum

destaque”. Mas, sendo assim, pode-se, então, discutir outros aspectos que se darão

“como exemplo que trouxe muitos pontos positivos para a vida do indivíduo na pós-

modernidade que são: identidade, liberdade, comunicação, modelos, diferenças,

fronteiras e amplitude de horizontes”.

[...] Não só se questiona a identidade como identidade – na fixidez e na sua determinação – como também se dá precedência à experiência do fluir e da variação. Isso não significa que a identidade seja obrigada a desaparecer, mas o reconhecimento de que é, pelo menos uma questão de posição em contextos. Pode-se dizer que nem se assume a fixidez das visões modernas e antigas, nem se rejeita a necessidade de uma identidade. A meu ver, a pós-modernidade encontra-se à procura de um novo entendimento e de uma prática do que seja identidade, embora ainda esteja tateando. (Zajdsznajder, 2002, p-48)

Foram apontadas até então, várias características negativas da pós-

modernidade. Não se sabe, contudo, esquecer o lado bom que a pós-modernidade

trouxe para o indivíduo, como a liberdade, vivida de forma ampla, horizontal e/ou

vertical, na vida privada e íntima de cada ser, embora pareça que o indivíduo

encontre dificuldades para aprender a lidar com essa amplitude tão grande de

liberdade. Isso ocorre por não saber, ainda, como relacionar a liberdade privada à

social e à política. Antes, a liberdade relacionada ao modelo de existir era restringida

ao grupo dominante, hoje realiza em todos os níveis sociais. (ZAJDSZNAJDER,

2002).

Outra possibilidade é a ampliação da comunicação e seu reconhecimento

como um aspecto muito importante. Pode-se citar que esse fato foi muito forte na

passagem da modernidade para a pós-modernidade, conhecida como a era da

comunicação, tornando-se uma nova realidade, com mais peculiaridade e seus

simulacros (representações sociais como elas são produzidas pela mídia e

consumidas nas sociedades contemporâneas, onde fazem uma reprodução

imperfeita da realidade). Dando uma nova relativização das experiências e de um

novo sentido ao espaço e tempo, marcou muito no século XX quando foi

reconhecida a importância da comunicação, marcando o pensamento nessa época,

segundo. Zajdsznajder, (2002). A tecnologia, na ocasião, deu uma grande

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aceleração, não só na produção dos conhecimentos como também na ampliação da

vida do indivíduo.

Na modernidade, a ciência caminhava a uma curta distância da

tecnologia, já, na pós-modernidade, vieram a trabalhar juntas, permitindo a ciência

na produção de artefatos tecnológicos, mais tarde utilizados no desenvolvimento da

ciência. Pode-se dizer que, nesse período, a humanidade viveu de fato, um

momento de crescimento tecnocientífico.

Zajdsznajder (2002) fala sobre a aceitação das diferenças no modelo de

vida do ser humano, outra característica da pós-modernidade. Essa aceitação não é

generalizada ou tranqüila, mas está em processo avançado. Assim, a identidade

pode ser mais claramente assumida, mudada ou questionada, podendo, ainda,

trazer dificuldades e mesmo gerar confusão. Todavia isso significa a existência de

uma democracia no espaço mais íntimo da humanidade. Pode-se dizer, então, que

a experiência da liberdade, até então negada, reprimida ou suprida tem hoje, seu

lugar reconhecido.

Outra característica da época pós-moderna, que também teve

conseqüência na identidade, foi a redução e até a dissolução das fronteiras,

possibilitando contatos e permissão a experiências até então negadas. Isso deu

possibilidades a espaços nacionais em áreas de conhecimentos, papéis culturais e

sociais, promovendo um enriquecimento da vida de suas atividades num geral.

Já na ampliação dos horizontes, na facilidade da comunicação, dos

acessos e das variações, é oportunizado ao indivíduo estar em todos os lugares,

viver todas as experiências e conhecer alternativas, dando acesso virtual, e este é

considerado um elemento potencial na pós-modernidade.

Essa ampliação de horizontes, pode-se dizer, é a introdução de uma

nova noção de realidade em que, na modernidade, isso poderia ser considerado

como aterrorizante e representaria um declínio. Diz-se que essa possibilidade de

horizontes é um vale tudo, podendo ser entendido de uma forma negativa, como

falta absoluta de critérios e também como uma abertura a todas as experiências,

permitindo alcançar sínteses até então impensadas. (ZAJDSZNAJDER, 2002).

Segundo o autor, essas características citadas podem confirmar-se como

caráter ambíguo dessa transição pós-moderna. Segundo ele, essa época pode

significar uma era de confusão, de declínio, de desvalorização da vida e da cultura.

Mas para outros autores isso poderia significar a grande possibilidade de uma

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generalização para a espécie humana, experiências que estiveram nas mãos

apenas da elite, apesar de que, inquestionavelmente, se estar num momento de

crise. (GOMES, 2002, p. 7) coloca que :

Nem tudo está errado (...) Aliás, há imensos valores e aspectos positivos no contexto da pós-modernidade em que vivemos (...) . A própria crise contém os valores que levam o homem a superá-lo. Precisamos saber resgatá-los e dinamizá-los de forma adequada.

Na transição, Zajdsznajder (2002) diz que podemos esperar uma grande

dificuldade de lidar com essa avalanche que proporcionou e propôs a pós-

modernidade. Seja real ou virtual, tudo está na mão do indivíduo, presente e, ao

mesmo tempo, perdido; quer dizer, está na mão como informação e está perdido

porque no mundo moderno e antigo foram desfeitas e hoje na direção em que está,

não tem mais volta.

Positivamente, a pós-modernidade é uma nova concepção da razão e da

racionalidade.

Não como elemento central ou único, mas abrindo-se à riqueza e à heterogeneidade da vida, irredutível a toda forma de pretensão universalista. O pós-moderno pleiteia que o homem seja verdadeiramente livre e autônomo para determinar sua própria história e sua vida. (GOMES, 2002, p. 8),

Decorrente dessas idéias torna-se indispensável um processo de

discernimento e uma lúcida formação da liberdade, visando a oferecer referenciais

importantes para que o indivíduo possa viver em um mundo como esse,

secularizado e pluralista, científico e tecnológico, fragmentado e mutante, na

experiência da crise de tudo isso. (GOMES, 2002).

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3 PROCESSO DE PRODUÇÃO DA SUBJETIVIDADE NA PÓS-MODERNIDADE

Segundo Mancebo (2002), as ciências sociais e humanas têm dado uma

importante atenção aos estudos e às pesquisas sobre a construção social do

indivíduo, bem como às diferentes modalidades, através das quais a sociedade

projeta as formas e os sentidos dos homens.

Trata-se de um empenho amplo e complexo, pois o homem encontra-se

embutido numa cultura individualista, podendo-se definir como o interior de suas

práticas e concepções, onde ocorre socialização e o ensinamento. Assim, pode-se

dizer ser o homem uma categoria não inata, mas construída social e

historicamente. Para Mancebo (2002, p.3):

Torna-se difícil aprender que o indivíduo é apenas um dos modos de subjetivação possíveis e que cada época, cada sociedade põe em funcionamento alguns desses modos, sendo categoria indivíduo, o modo hegemônico de organização da subjetividade na pós-modernidade.

Em outros pontos, segundo Mancebo (2002) torna-se possível citar que a

pós-modernidade ocidental é considerada como uma suposição dominante de que o

indivíduo, em sua construção mais íntima, é o ponto central e essencial do mundo.

Também esse processo de construção da subjetividade da modernidade para a

pós-modernidade foi uma trajetória muito longa e ainda continua sofrendo

mudanças intensas.

Mancebo (2002, p. 3) ressalta que “ na psicologia, o conceito de indivíduo

muitas vezes apresenta-se como a priori, não problematizado, tanto nas suas

formações teóricas, quanto em seus desdobramentos práticos – profissionais”.

Debates e reflexões são feitos entre indivíduo/sociedade. Ao discutir e

refletir sobre a construção da subjetividade individualizada, que vem se

apresentando, cada vez, mais acentuada na pós-modernidade, pretende-se

contribuir com essa investigação para o conhecimento do modo de produção da

subjetividade do indivíduo e das possibilidades que ele possui para elaborar seu

projeto de vida.

Fridman (1999), na metade do século XIX, quando a Europa foi invadida

pelo mundo tecnológico e industrial, traz formas dramáticas no novo cotidiano. Essa

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invasão da indústria, segundo o autor, provocou enormes conflitos na vida do

indivíduo, resultados das grandes e profundas alterações nas formas de trabalho,

nas aglomerações humanas, nos meios de comunicações, entre outros. Acabou,

ainda, abalando as estruturas sociais cristalizadas e varreu rotinas e referências

estabelecidas. Criou-se um cenário avassalador de insegurança no cotidiano do

sujeito, desmanchando o que era ou parecia ser sólido na modernidade por um

cenário em que o homem, segundo Gusmão (1999), em sua grande maioria, já não

consegue mais se envolver e sentir prazer e segurança naquilo que produz. O seu

trabalho e a sua produção estão dissociados da sua realidade existencial, daquilo

que enriquece e dá significado à sua vida: o emprego. Isso sem contar com a

exploração a que, muitas vezes, é submetido a fim de garantir seu emprego e

manter seu padrão de vida e/ou a falta de oportunidade para poder exercer sua

capacidade produtiva, em decorrências das crises econômicas que acontecem neste

país ou no mundo.

Segundo Bauman (1998, p. 30), o indivíduo era livre para escolher o

modo de vida que desejasse viver, controlando e administrando a sua existência na

estrutura das normas legais reconhecidas pelos únicos poderes “o Estado”. O

projeto em si, na modernidade, prometia libertar o indivíduo da identidade herdada,

não tomando nenhuma posição contrária, para que o indivíduo pudesse ter “uma

identidade sólida, exuberante e imutável”. Segundo o autor, a função de referência e

de proteção social desempenhada por esses Estados também acaba enfraquecendo

e, com isto, sentimentos de confusão e insegurança se instalam nos membros dessa

sociedade contemporânea.

Outro aspecto da subjetividade, além dos já mencionados, é trazido por

Damergian (2001b, p. 106) como entendimento da subjetividade nesse novo

contexto pós-moderno, colocando-o como um “esvaziamento da subjetividade”. Este

é o mundo interior que traz sofrimento na busca do auto-reconhecimento, pois, cada

vez mais, o sujeito é seduzido pela “indústria do lazer e entretenimento”, onde

acaba não buscando fazer uma reflexão para que possa lidar com a angústia e

consiga evoluir no seu emocional. Cada vez mais, o indivíduo ocupa-se com

atividades que envolvem seu prazer imediato. Segundo Damergian (2001b), nesse

processo de esvaziamento, o indivíduo é induzido a procurar uma forma de externar

seus sentimentos. Então, as danceterias, boates, rodas de pagode, shows que

envolve vários tipos de músicas, são os lugares onde afogam suas mágoas e

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angústias. A situação chegou em um nível tal que os indivíduos parecem não saber

mais se divertir. Segundo Gusmão (1999, p. 46), o entretenimento é buscado como

uma forma de fugir dos seus problemas. Em função disso, surge a inclusão do álcool

e das drogas ilícitas, cada vez mais, presentes nas diversões, tanto dos

adolescentes como dos adultos. É como se precisasse ficar “alto” ou “viajar” para

fugir do tédio e do vazio existencial.

Esse esvaziamento da subjetividade, segundo Damergian (2001b, p. 106-

107), dá-se à medida que o indivíduo “torna-se cada vez mais solitário” em seu

convívio. Essa solidão também é causada por “falta de bons objetos internos”, onde

os indivíduos acabam deparando-se com um mundo totalmente “pobre e vazio”. O

contato no cotidiano do ser humano, cada vez mais, torna-se “superficial, pobre e

sem sentido”. Não podendo esquecer que esse “colocar para fora”, buscado pelo

indivíduo, muitas vezes nos locais de divertimentos, também acaba com as

possibilidades de sentir e de pensar, de fazer reflexão sobre sua vida e ter

consciência do rumo a que está direcionando-se.

Nesta vida agitada não sobra tempo para o indivíduo dar conta de suas

limitações e, ele acaba perdendo a noção dos próprios limites, até onde seu físico

pode suportar, como no caso de bebidas alcoólicas. Perde o respeito com as

pessoas, que fazem parte de seu meio invadindo seu espaço e principalmente perde

o respeito por si. Assim, o indivíduo vai se tornando uma pessoa ansiosa e infeliz,

perdendo objetivos pessoais que dignifiquem sua vida.

A psicologia tenta pontuar, na questão relacionada ao fortalecimento

interior, a busca do sentido da existência humana, para que tenha uma vida com

mais qualidade.

Assim, se o indivíduo não se permite essa reflexão, acaba, como se tem

visto, transformando-se em um sujeito considerado individualista.

Esse individualismo é característica da sociedade massificada que produz heteronomia e tem como objetivo suprimir o sujeito, esvaziando sua vida interior. O resultado é o humano reduzido à racionalidade ou racionalização como perversão da razão, anulado em sua subjetividade, incapaz de amor, de aceitar o sofrimento, sem vida interior, distante de tudo o que dá sentido à existência e, conseqüentemente das relações de alteridade campo dos investimentos afetivos. (DAMERGIAN, 2001, p. 107).

Nesse modo de vida, segundo Damergian (2001b), o indivíduo está

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inserido. É acometido por grandes ofertas e acaba sendo induzido ao consumo, à

competição, à arrogância, à indiferença, à destrutividade, ao ódio, que, muitas

vezes, leva ao mundo da criminalidade. De acordo com a autora, é uma escala

consumista, que se caracteriza através da ajuda da propaganda, onde os indivíduos

acabam querendo consumir mais do que podem. Seus desejos são estimulados e

acabam usando a criminalidade como meio para se ter acesso às coisas. Dessa

forma, usando a criminalidade, conseguem, com mais facilidade e rapidez entrar em

um circulo vicioso. Isso tem colaborado para a manutenção da insatisfação na vida

dos indivíduos que fizeram essa opção .

3.1 Pós-modernidade e o indivíduo social

Segundo Mancebo (2002), na pós-modernidade, os projetos social e

cultural são muito férteis e com infinitas possibilidades, embora muito complexos e

sujeitos a desenvolvimentos contraditórios. Iniciado no século XVIII continua em

transição.

Nesta discussão, pode-se dizer que a consolidação do capitalismo como

modo de produção, propõe não só mudanças econômicas no processo de produção

material, como o desenvolvimento de uma idealização de liberdade e igualdade. Isso

acabou acarretando profundas conseqüências para a subjetividade do indivíduo.

[...] as instituições estatais desenvolvidas para fazer jus a esse

desenvolvimento societal aumentaram o peso burocrático e a vigilância controladora sobre indivíduos: sujeitaram-se intensamente ao ciclo de produção e de consumo; aprofundaram o espaço urbano desagregador, atomatizado, destruíram muitas redes sociais de interconhecimento, de ajuda mútua e de solidariedade; promoveram o lazer a um gozo programado, heterônomo, passivo e individual. (MANCEBO, 2002, p.9).

Nesse contexto, surge o neo-individualismo pós-moderno, no qual o

sujeito vive sem projetos, sem ideais, a não ser cultuar sua auto-imagem e buscar

satisfação aqui e agora, admirando-se a si e amando-se, perdido na multidão. Está

sendo massificado pelas engrenagens sociais que o fazem consumidor, ouvinte,

telespectador, cliente, paciente, aluno, eleitor. O sistema tira “a subjetividade do

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indivíduo como pessoa (...). Por isso, o sujeito de hoje quer dizer a todos que existe

como sujeito, como indivíduo na massa social”. (GOMES, 2002, p. 5).

Há incerteza nos dias de hoje, por não se saber o que realmente virá,

apenas se tem conhecimento de que haverá grandes desperdícios de energia e de

vidas. Morin (2005) coloca que os progressos deste novo mundo acabam fazendo

escapar do pensamento a sabedoria do ser humano.

Em que as insustentáveis complexidades do mundo sufoca nossas mentes [...]. todos os avanços da ciência, da tecnologia, da economia e da sociedade carregam subjugação e liberdade, regresso e progressão, mal estar e bem estar, vida e morte. (MORIN, 2005, p. 241).

Morin (2005), ao inverso de alguns autores utilizados neste trabalho,

coloca a impossibilidade de acesso a tais informações e o conhecimento tanto

científico como tecnológico relacionado à vida cotidiana do sujeito, cujo controle de

acesso acaba levando ao enfraquecimento democrático. Suas idéias se contrapõem

às dos outros autores que enfatizam a grande disponibilidade de informações a

todos os indivíduos em tão pouco tempo e a todo instante.

3.2 Conflitos e crise de identidade pós-moderna

Segundo Hall (2001), as velhas identidades foram, por muito tempo,

mantidas no mundo social, mas hoje se encontram em declínio. Estão surgindo

novas identidades que, com o processo de mudança, acabam deixando o indivíduo

fragmentado. Pode-se chamar a esse processo de crise de identidade, por estar,

cada vez mais, deslocando a estrutura e os processos centrais da sociedade,

desequilibrando as referências que davam base à vida do sujeito em seu meio

social.

Fala-se muito em crise de identidade nos dias de hoje, ao passo que o

sujeito tinha uma identidade bem definida na modernidade, em seu mundo social e

cultural. Hoje, com todas as mudanças, que vêm ocorrendo desde da modernidade

até a atualidade, o homem acabou desestruturado, fragmentado, deslocando as

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identidades de classe, envolvendo etnias, raças e nacionalidades, que provocaram

uma crise de identidade.

Segundo o autor, o conceito, pelo qual é dada a identidade, tem sido

muito complexo, pouco desenvolvido e pouco compreendido pela ciência social

contemporânea, para que possa ser colocado à prova, como ocorre com outros

fenômenos sociais. Pode-se dizer, ainda, que se torna impossível fazer afirmações

conclusivas e/ou julgamentos concretos sobre as alegações e proposições teóricas

apresentadas por ele e, por outros autores.

Alguns autores acreditam que as identidades estão entrando em um

grande colapso. Pode-se afirmar, então, que essa mudança estrutural, no final do

século XX, está transformando as sociedades modernas, ou seja, essa

transformação está mudando identidades pessoais. Isso acaba abalando a idéia

que se tem do sujeito como ser integrado, além de ocorrer a perda do sentido de si,

que era estável em algumas situações no passado. Esse fenômeno pode ser

chamado de deslocamento, descentração do sujeito. Essa dupla mudança tanto no

mundo social e cultural como em si, é vista em questão como uma crise de

identidade.

Esses processos de mudanças, tomados em conjunto, representam um processo de transformação tão fundamental e abrangente que somos impelidos a perguntar se não é a própria modernidade que está sendo transformada(...). A afirmação de que naquilo que é descrito, algumas vezes, como nosso mundo pós-moderno, nós somos também “pós” relativamente a qualquer concepção essencialista ou fixa de identidade – algo que, desde o iluminismo, se supõe definir o próprio núcleo ou essência de nosso ser e fundamentar nossa existência como sujeito humano. (HALL, 2001, p.10).

Essas afirmações citadas pelo autor, podem ser examinadas sob três

definições, ou seja, concepções diferentes de identidade.

Hall (2001, p. 10), num primeiro momento, define o “sujeito Iluminista”,

baseado numa concepção, como um “indivíduo totalmente centrado, unificado,

dotado das capacidades de razão, de consciência e de ação”. Esse centro social, a

identidade do indivíduo, era, formado em um núcleo interior que emergia, quando o

indivíduo nascia, e durante sua vida, ia se desenvolvendo, mas permanecia

primordial a ele durante a sua existência como ser humano.

Em um segundo momento, seria a noção de “sujeito sociológico”, que

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tinha como reflexão:

A crescente complexidade do mundo moderno e a consciência de que este núcleo interior do sujeito não era autônomo e auto-suficiente, mas era formado na relação com outras pessoas importantes para ele, que mediavam para o sujeito os valores, sentidos e símbolos – a cultura – do mundo que habita. (HALL, 2001, p.10).

Esses símbolos - citados por Hall (2001) - são as figuras fundamentais

na sociologia, que constrói a concepção interativa da identidade e do eu.

Assim, essa concepção sociológica clássica da identidade é constituída

de interação entre o eu e o social. Tem, ainda, um núcleo (ou essência interior)

formado pelo eu real que, além de ser formado, é também modificado num diálogo

contínuo com o mundo cultural e as identidades que as mesmas oferecem.

Segundo Hall (2001), a identidade na concepção sociológica preenche o espaço

entre o mundo pessoal e o mundo social na vida do indivíduo.

Damergian (1996a, p. 304), diz tornar-se muito difícil falar da situação

em que se vive e focar a própria identidade. Fala-se de um ser que diz ser

autônomo e crítico dentro das condições que a sociedade atual impõe na vida do

sujeito, mas aquele se torna responsável por assimilar isso no seu dia-dia e, em

muitos casos, não consegue preencher o espaço entre o mundo pessoal e o social,

ficando apenas um vazio.

A questão em si é que o sujeito acaba projetando a si essas identidades,

ao mesmo tempo em que internaliza seus valores e significados, tornando-se parte

de si. Isso contribui para um alinhamento dos sentimentos subjetivos, com lugares

objetivos ocupados pelo indivíduo em seus meios cultural e social.

Hall (2001) coloca que exatamente esses pontos citados estão

mudando na atualidade. O sujeito, até então, era considerado, constituído por uma

identidade unificada, englobada, estável; hoje, se pode ver que está se tornando

fragmentado, não sendo mais composto de uma única identidade e, em alguns

casos, contraditório ou não-resolvido. Entende-se que o sujeito age dessa forma por

várias questões, como ao assumir certas identidades para ser aceito na sociedade,

vivendo um papel para ser admirado e aceito pelo meio em que vive.

Essas identidades que faziam parte da cultura social na modernidade e

asseguravam um conformismo subjetivo com as necessidades objetiva e cultural

daquela época, hoje se encontram em colapso, resultado das grandes mudanças

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estruturais e institucionais ocorridas com o surgimento da tecnologia. Nesse

processo de formulação , o indivíduo acaba projetando sua identidade cultural num

processo provisório, problemático e variável. (HALL, 2001).

Todo esse processo acabou produzindo o “sujeito pós-moderno“

(terceira definição do autor). Conceituou-o, anteriormente, como possuidor de uma

identidade fixa, essencial ou permanente, tornando-se, nos dias de hoje, uma

identidade móvel, deslocada, representada e/ou interpretada dentro do sistema

cultural que o rodeia e que faz parte de seu cotidiano. (HALL, 1987, apud HALL,

2001). Segundo Hall, o sujeito assume identidades diferentes em diferentes

momentos, que não são unificadas em torno de um eu coerente. Há identidades

contraditórias, cruzando ou se deslocando mutuamente dentro do sujeito, que

acabam empurrando-o em diferentes direções, deslocando-o continuamente. Pode-

se constatar que a identidade unificada, completa, segura e coerente é uma

fantasia, pois se o indivíduo possuí uma identidade unificada desde a sua existência

é porque foi construída uma cômoda estória sobre essa questão, sobre o indivíduo

e/ou uma confortável narrativa do eu. Ao contrário disso, à medida que os sistemas

de significação e de representação cultural forem se multiplicando, defrontam-se

com uma multiplicidade desconcertante de identidades possíveis, podendo

identificar-se com cada uma sendo ao mesmo tempo temporária. (HALL, 2001).

Quando o autor cita essas três concepções de sujeito, ele coloca, de

forma simplificada, que as sociedades são definidas como de mudanças constantes

e rápidas. Não as define apenas como experiência de vivência com toda essa

mudança rápida e continua, mas as coloca como uma forma altamente reflexiva de

vida.

Os modos de vida colocados em ação pela modernidade nos livraram de uma forma bastante inédita, de todos os tipos tradicionais de ordem social. Tanto em extensão, quanto em intensidade, as transformações envolvidas na modernidade são mais profundas do que a maioria das mudanças características dos períodos anteriores. No plano de extensão, elas serviram para estabelecer formas de interconexão social. Que cobrem o globo; em termos de intensidade, elas alteram algumas das características mais. íntimas e pessoais de nossa existência cotidiana. (GIDDENS, 1990, apud HALL, 2001, p.21).

Segundo Damergian (1996a, p. 304), e de acordo com os

questionamentos de Hall (2001) sobre identidade, “pode-se pensar, então o quanto é

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difícil se afirmar à identidade, se manter a autonomia e participar criticamente da

realidade dentro das condições que a sociedade atual impõe”. De acordo com a

autora a afirmação da identidade fica bastante comprometida em relação à massa

de ficção manufaturada, transmitida pela mídia ao indivíduo. Pode-se afirmar, então,

que seria como um processo de lavagem cerebral, onde o indivíduo esquece o lado

humano e prevalece a parte material.

Sendo assim, paradigmaticamente, segundo Hall (2001), tem-se, de um

lado, o sujeito moderno, centrado, racional, reflexivo, unitário; de outro, o pós-

moderno, fragmentado, acentrado, plural. As novas tecnologias de comunicação

desempenharam um papel importante na passagem de um tipo de subjetividade a

outro, junto aos acelerados processos de mundialização do capitalismo.

Um tipo diferente de mudança estrutural está transformando as sociedades

modernas no final do século XX. Isso está fragmentando as paisagens culturais de

classe (etnia, raça e nacionalidade), que, no passado, tinham fornecido sólidas

localizações como indivíduos sociais. Essas transformações estão, também,

mudando as identidades pessoais, abalando a idéia que o indivíduo tem de si como

sujeito integrado. Essa perda de um sentido de si, estável, como coloca Hall (2001),

é chamada, algumas vezes, de deslocamento ou descentração do sujeito. Esse

duplo deslocamento-descentralização dos indivíduos tanto de seu lugar no mundo

social e cultural quanto de si acaba constituindo uma crise de identidade.

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4 A PSICOLOGIA NO NOVO CONTEXTO PÓS-MODERNO

Na passagem da modernidade para a pós-modernidade tornou-se muito

evidente que os homens enfrentaram um conflito interno muito grande entre valores

tradicionais e modernos, absorvidos em diferentes momentos da história, como

colocou Santos (2000).

As mudanças psicológicas, resultantes de mudanças sociais, cujas raízes

podem ser política, econômica, tecnológica, etc., tornaram-se ainda mais

acentuadas com o modo de vida consumista implantado pela era tecnológica. Os

impactos são bastante visíveis, as novas tecnologias de informação e conhecimento

mudariam o mundo que vivemos e, assim transformariam nossas formas de pensar,

agir, viver e de ser. (COSTA, 2005).

Na concepção de alguns autores, como: Bauman (1998); Kumar (1997);

Santos (2000); há muitas semelhanças entre o que está acontecendo hoje e aquilo

que ocorreu no centro de outras revoluções tecnológicas.

Uma delas foi a revolução industrial, segundo Fridman (1999), gerou

profundas transformações na Europa no século XIX. A mecanização do trabalho

teve como efeito direto o aumento dramático da capacidade de produção dos países

industrializados. Houve, na época, vários e importantes efeitos indiretos, como: o

surgimento dos grandes complexos urbano-industriais, a emergência de novas

regras econômicas sociais e políticas, a divisão entre locais e horários de trabalhos e

de lazer. Segundo Costa (2005, p. 72), “ o conjunto dessas mudanças acabou

afetando a vida de todos (de maneira positiva ou negativa), não importa quem

fossem ou onde estivessem”. Ainda a visão de Costa (2005, p.72) traz como

exemplo que:

No século XIX,o fortalecimento das comunidades feudais e a progressiva laicização das sociedades da época levaram ao desaparecimento de instância sociais – forçosamente externas – de vigilância e controle dos indivíduos. Tal desaparecimento, por sua vez, fez com que esses indivíduos, ao se livrarem das amarras dos costumes e da tradição não mais pudessem recorrer as formas externas dos seus desejos.

A invasão da indústria como colocou Fridman (1999), trouxe formas

dramáticas ao cotidiano do indivíduo e resulta grande insegurança e muitas

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alterações relacionadas ao trabalho. Isso trouxe desequilíbrio emocional, afetivo e,

principalmente, familiar. Antes, na época moderna, segundo o autor, se tinha

garantia de se manter no trabalho; hoje isso não existe mais, gerando uma época de

incertezas em que não se pode mais fazer um projeto de vida.

Foi mostrado por alguns autores citados neste trabalho o que acontece no

nível social, que tem um importante papel na construção da organização psíquica,

quando se depara com essas mudanças.

4.1 Mudanças sociais ligadas ao interesse da Psicologia

Costa (2005), em seu ponto de vista, coloca que o excesso de liberdade

pode construir em um sério problema, como já foi visto nos capítulos anteriores. A

pluralidade, permissividade e falta de coesão acabavam fazendo com que o desejo

individual não mais pudesse ser contido eficazmente pelo todo social. Essa

liberdade individual, resultado da era pós-moderna, poderia parecer extasiante, mas

geralmente tinha conseqüências bastante negativas para o indivíduo na sua vida

social. Sendo a principal delas a perda de referências, pois, sentir-se perdido,

pontuado por Kumar (1999), em muitos casos, acarreta efeito muito devastador a

ponto de levar alguns indivíduos ao suicídio, conforme colocado por Santos (2000).

[...] a dificuldade de lidar com a ruptura e de aprender as características próprias do viver contemporâneo cria, com freqüência, uma visão de que todos os fenômenos atuais são negativos e destrutivos de tudo que tínhamos de positivo no mundo. Os nostálgicos encaram a Pós-modernidade como um processo de desumanização de nossa sociedade. (LEITÂO, 2003, p. 423).

As conseqüências negativas, trazidas por Santos (2000), geraram muitos

conflitos no cotidiano do indivíduo, porque os valores foram perdidos. A Psicologia

tem muito a fazer dentro desse novo contexto social. Isso porque a perda dos

valores está, cada vez mais, abalando a vida do ser humano, atingindo

principalmente o seu estado psicológico.

Segundo Costa (2005, p. 73), “A transformação subjetiva era evidente

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demais para passar despercebida por aqueles que desejavam compreender o que

estava acontecendo com os homens e mulheres da época”. Isso também está

acontecendo nos dias de hoje, por terem sido introduzidas novas formas de pensar,

de sentir e de existir com muito mais intensidade. A mídia, como já visto antes, tem

um papel fundamental nestes acontecimentos, por introduzir informações com muita

habilidade e rapidez. Esse meio acaba colocando, então, o indivíduo diante de

novas e desconhecidas experiências, como apontou Santos (2000). Ainda em

concordância com Costa (2005), Santos coloca que essas novas experiências

podem trazer para a vida do indivíduo momentos tanto negativos como positivos.

Isso vai depender do meio em que o indivíduo está inserido, ou da percepção e

aceitação de cada ser humano dentro dessas novas experiências.

[...] sua dependência está associada à sua autonomia e aos seus próprios desejos. Ainda também como sujeitos são responsáveis por sua transformação e do meio do qual estão inseridos. [...] trata-se de uma mudança de mentalidade e de postura diante de sua compreensão de mundo [...]. (PETRAGLIA, 2002, p. 73).

Em alguns casos, como trouxe Hall (2001), o indivíduo, em certas

situações, atua alguns tipo de identidade para ser aceito no seu meio social. Na

modernidade, ele era visto como um sujeito possuidor de uma identidade unificada,

enquanto, na atualidade, usa diferentes identidades, em diferentes momentos de

sua vida.

Não se pode esquecer de que Najdsznajder (2002) apontou, em suas

discussões, essa nova busca por experiências a que o sujeito é acometido. Existe

um lado positivo, pois o ser humano está tendo várias possibilidades de acesso a

esse novo, considerado pelo autor como um momento que ficará na história. Sobre

a questão de positividade, Morin (2005) colocou que, ao seu olhar o lado positivo da

pós-modernidade, percebe-se que o ser humano possui capacidade intelectual para

aprender a lidar com tudo isso. Vendo sob outro ângulo colocado por Morin, pode-se

inferir que a Psicologia pode considerar este aspecto como uma grande ferramenta

para lidar e trabalhar com o ser humano, na construção de sua identidade.

Esse contexto psicológico, onde o indivíduo vive sob pressão psicológica

está trazendo grandes conflitos à sua vida nos aspectos intelectual, financeiro,

cultural e social. Essas novas experiências e os diversos aspectos estão gerando

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alterações na vida psíquica do sujeito, como trouxe Damergian (2001b).

A maioria dos autores citados neste trabalho são sociólogos e filósofos

que buscam ganhar distância para tentar compreender as mudanças atuais. Suas

análises são de grande valor para quem procura investigar as transformações

internas e externas, pelas quais está passando o ser humano. A Psicologia é a parte

mais interessada nesses acontecimentos.

Segundo Costa (2005), isso se dá no momento em que se parte do

pressuposto de que o social, ou seja, as estruturas, processos, instituições,

tecnologias, sem querer, acabam construindo o psicólogo. Assim, faz-se necessário

conhecer muito bem as novas características desse social, para que, nas

investigações do processo em que o indivíduo está vivenciando, a Psicologia possa

ter um entendimento das conseqüências psicossociais e trabalhar com isso.

O objetivo principal do psicólogo é investigar essas mudanças, mas se

fizer o trabalho sem compreender, segundo Costa (2005), acabará por perder

acesso àqueles sobre quem quer atuar: o ser humano. Sem conhecer e

compreender as características da subjetividade do indivíduo pós-moderno, os

profissionais da área correm o risco de se tornarem inadequados ou

preconceituosos. Segundo a autora, é fundamental não se tornar pejorativo, porque

é isso que acontece, algumas vezes com profissionais da Psicologia que utilizam

ainda termos tradicionais numa época pós-moderna como “ é o caso daqueles para

quais qualquer mudança recebe valoração negativa a partir de parâmetros

tradicionais”. (COSTA, 2005, p. 75).

A compreensão das características da subjetividade, que foram trazidas

por Bauman (1998), está sendo um grande desafio para a Psicologia. O autor

colocou que o indivíduo se sente livre para fazer suas escolhas, só que, na

realidade, não é bem isso, porque o ser faz parte da sociedade, que mostra

claramente que o indivíduo não é possuidor de tanta autonomia. Segundo Besnier

(1996), quando questiona sobre a sociedade, diz que ela tanto obriga a

internalizar conteúdos externo como também expõe o sujeito. É um processo

vivenciado pelo indivíduo, e isso está fazendo com que perca sua autonomia, o

controle de sua existência. Sob esse aspecto, Damergean (2001b) traz o processo

como esvaziamento da subjetividade. Esse processo está levando o indivíduo ao

sofrimento, que, na tentativa de esvaziar essa angústia, freqüenta lugares com

intuito de amenizar sua situação de conflito. Com isso, o indivíduo acaba afundando

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mais ainda, pois começa a utilizar outros meios, além de freqüentar bares, utilizando

drogas. Segundo Leitão (2003), a Psicologia precisa ter um entendimento, uma

compreensão de tudo isso que está acontecendo, uma vez que hoje se vive uma

nova geração, que deixou os traços tradicionais muito distantes.

4.2 A contribuição da Psicologia Social no contexto pós-moderno

Segundo Damergian (1996a), no âmbito e na complexidade do contexto

atual da contemporaneidade, por um campo interdisciplinar, a Psicologia Social

poderá trazer grandes contribuições relevantes por ter domínio, conhecimento e

compreensão nas relações interpessoais relacionados aos aspectos cognitivos,

afetivos e da subjetividade, diante das condições sociais em que o indivíduo se

encontra.

O grande desafio da Psicologia, nessa nova ordem mundial, segundo

Damergian (1996a), está em compreender um novo sistema de produção, não tendo

mais uma economia autônoma, uma vez que se criou uma grande economia

globalizada. Essa nova ordem lhe atribuiu essa tarefa devido a uma explosão da

miséria, da desordem, da exclusão e da fragmentação em alguns pontos do

universo. Isso acaba acarretando uma grande preocupação para a Psicologia que é

o empobrecimento da nação, tanto econômica, quanto política e, principalmente,

subjetiva, causando efeitos convulsivos sobre o modo de vida e o desfrutamento do

mundo.

Damergian (1996a) coloca a nova estrutura social, em que o sujeito

psíquico está vivenciando, e acaba traduzindo sua singularidade, suas

especificidades historicamente. Essas estruturas acabam tornando-se um palco

dessas relações de vida e de morte dos sujeitos, que nelas habitam, e acabam

imprimindo suas fantasias e desejos.

A Psicologia Social tem o papel de considerar essas características, de

fazer-se respeitar essas singularidades na definição do indivíduo, quando o mesmo

pensa na impossibilidade de liberdade, em que cada ser possui sua autonomia na

produção de suas necessidades e desejos. Assim, também Morin (2005) colocou

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quando fala de liberdade, autonomia. O sujeito possui, sim, possibilidades para tal,

mas o sujeito precisa dispor de possibilidades mentais para poder fazer as escolhas.

Então, como conciliar respeito a essas singularidades, às diferenças com

liberdade? Com todas as implicações apresentadas, pode-se, então, dizer que esse

é o grande desafio para a Psicologia, onde se vive num mundo de regras, que

forçam o sujeito a pensar, agir, necessitar, desejar, consumir, ou seja, a viver.

(DAMERGIAN, 1996a).

4.2.1 A construção de novos valores: um desafio para a Psicologia

Segundo Leitão (2003, p. 421), “as recentes e radicais alterações do

cenário mundial vêm gerando impactos profundos na produção científica

contemporânea”. Profissionais de diferentes áreas do conhecimento estão em busca

de dar sentido a um mundo que, no cotidiano, se apresenta como caótico. A

conseqüência disso são as transformações de antigas certezas em dúvidas e em

inseguranças, destruindo o que era sólido e tornando-se líquido como colocaram

Bauman (1998); (Marx apud Harley 1998); Mancebo (2002).

Leitão (2003) contrapõe Costa (2005), ao dizer que a Psicologia pode

utilizar algumas teorias tradicionais para interpretar os impactos psicológicos

gerados pela era pós-moderna. São analisados novos sentidos, novos

comportamentos e conflitos humanos como diferentes manifestações de antigas e

conhecidas tendências e referências, onde a Psicologia também pode captar aquilo

que de novo emerge na configuração psicossociológica do indivíduo na pós-

modernidade.

Gomes (2002), em suas reflexões sobre a influência da cultura pós-

moderna, em todos os sentidos da vida em sociedade, afirma que certamente se

vive em um momento de crise, podendo considerar que os valores antigos já não

resolvem, nos dias de hoje, os problemas existentes, e que os valores novos não se

encontram ainda firmes e com resultados que atendam às necessidades do sujeito

atual.

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Portanto, segundo Leitão (2003), torna-se fundamental que os

profissionais da Psicologia conheçam, com maior profundidade, as transformações

sociais em curso para que sejam capazes de compreender e auxiliar os indivíduos

quanto aos impactos dessas transformações no plano psicológico.

Costa (2005) diz que a Psicologia continua resistente a esses tipos de

reflexões críticas. Em sua concepção, grande parte dos psicólogos continuam ainda

presos a antigas categorias e não operam nenhuma ruptura com os novos

conhecimentos. Utilizam referências e alguns métodos que foram, por muito tempo

aplicados na época moderna e/ou no início da pós-modernidade. Hoje pode-se dizer

que existem novas abordagens e métodos que possuem uma outra visão de

homem .

O contraste de duas posturas tão distinta frente a atual produção de conhecimentos causa impacto e estranhamento. Temos, de um lado, a postura de continuidade teórica da Psicologia e, de outro, a de ruptura que caracteriza as correntes teóricas aqui apresentadas. (LEITÂO, 2003, p.428).

Esse estranhamento, a que a autora refere-se, pode servir como um

convite para os psicólogos começarem a repensar criticamente a postura de

continuação que muitos adotam.

Portanto, segundo Leitão (2003), tal procedimento pode, por exemplo,

levar a reconhecer que o atual corpo teórico da Psicologia, que foi construído para

compreender a existência humana em uma ordem social que já não existe mais.

Diante da atual inadequação do corpo de conhecimentos psicológicos, não vem

deparando-se com uma tarefa muito fácil. Para Leitão (2003, p.428), “ um dos

obstáculos envolvidos parece ser o medo de que a Psicologia possa vir a

desaparecer caso não haja ferramentas adequadas para interpretar as

transformações psicológicas em curso”.

Sendo assim, pode-se registrar que:

Uma das principais funções da Psicologia é a de identificar, descrever, interpretar e compreender as novas organizações subjetivas que são geradas em diferentes contextos históricos e sociais, sejam estes já conhecidos ou totalmente novos. (LEITÂO, 2003, p. 428).

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A Psicologia tem, pois, referenciado, em diferentes contextos do mundo

que o ser humano, na modernidade, era considerado estável e facilmente

reconhecido, não havendo maiores dificuldades em identificar e interpretar as

inúmeras e sutis facetas da existência humana. Já na pós-modernidade, segundo a

autora, as intensas mudanças sociais vivenciadas levam a Psicologia a ter mais

dificuldade de conhecer as principais características da vida atual e,

conseqüentemente, as transições psicológicas construídas por esse novo contexto.

[...] portanto, se falamos de um sujeito pós-moderno, que se rege por este contexto, necessariamente falamos de uma subjetividade com características que diferem substancialmente daquela oriunda da modernidade ou de outro período histórico. [...] que a psicoterapia, no contexto pós-moderno, tem por função auxiliar o indivíduo neste contexto, ou seja, deve obrigatoriamente se defrontar com o contexto pós-moderno para que seja minimamente eficiente em sua finalidade. (FERREIRA, 2005, p. 128-129).

Diante desse novo contexto social e histórico, a função da Psicologia é ter

o papel de identificação, descrição e de análise da mais nova construção de

subjetividade já existente. (LEITÂO, 2003).

Foram apresentadas teorias recentes, nos capítulos anteriores,

construídas na sociologia e na filosofia, tornam a sociedade atual menos

assustadora ou, pelo menos, mais conhecida. Tornam-se, então, mais claras

algumas principais referências sociais, que servem como base para novos

processos de construção da subjetividade, como apontou Hall (2001), quando ele

traz essa questão.

Por exemplo, essas novas categorias, segundo Leitão, (2003) apontam

para um surgimento de um mundo globalizado, no qual a referência de humanidade

começa a ganhar força junto a novos e desconhecidos riscos, que rondam a

existência humana. Ainda direcionam para novas modalidades de consumo em torno

do qual a sociedade pós-moderna se organiza. Tudo isso se reflete ao plano da existência individual, transformando radicalmente as formas de o sujeito contemporâneo agir, pensar, sentir e se relacionar consigo e com os outros. Conhecendo um pouco melhor as âncoras sociais que, recentemente, começam a servir de referências para a existência humana, talvez possamos na qualidade de psicólogos, aventurar novos olhares sobre nosso contemporâneos e, assim, a tecer uma nova rede de conhecimentos psicológicos mais compatíveis com a atualidade. (LEITÂO, 2003, p. 428).

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Por fim, aponta para o revolucionário papel que as grandes novas

tecnologias do conhecimento vêm exercendo nas diferentes esferas da atividade

humana, criando novas formas de lidar com diferentes tipos de informações e

conhecimentos, bem como novas formas de interagir ao meio, na relação entre

nações, grupos e pessoas.

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5 CONCLUSÃO

Esse é o objetivo deste trabalho: pesquisas bibliográficas com autores

que são considerados doutores, quando se fala do sujeito contemporâneo; e que

trazem conteúdos de grande importância para que a Psicologia possa discutir sobre

eles e trabalhar com esses novos desafios.

Os critérios norteadores, quanto à escolha das correntes teóricas, foram:

mudanças no comportamento, consumo, contemporaneidade, construção da

subjetividade e a Psicologia na atualidade, utilizados para compreender o contexto

social no qual as novas questões subjetivas se desenrolam. Isso trouxe uma visão

daquilo que está acontecendo no mundo atual, das conseqüências trazidas pelas

mudanças cultural e social nas principais esferas da vida humana.

Acredita-se que, se os psicólogos não estiverem atentos a essas

mudanças, segundo Costa (2005), dificilmente conseguirão rever as antigas e

sólidas certezas e compartilhar com mais segurança, conhecimento, criatividade e

versatilidade, para trabalhar com diversas temáticas nesse novo contexto pós-

moderno de produção histórico-social.

Segundo Leitão (2003), deve-se discutir sobre os Psicólogos, onde

deveriam aventurar-se e lançar diferentes olhares sobre os novos acontecimentos

fenomenológicos que estão acontecendo com a humanidade. Concorda-se que esse

novo olhar deva ser flexível, maleável ou complacente, para que a Psicologia possa

acompanhar, com muito mais flexibilidade, as novas mudanças que estão

acontecendo. A Psicologia deve estar lado a lado com essa evolução, junto ao

indivíduo para poder compreendê-lo no seu processo de transformação.

Damergian (2001b) já acredita em possibilidades que possam mudar esse

contexto histórico-social. Ela relata que o sujeito chegou ao seu limite, e da forma

como as coisas estão acontecendo, não há mais como adiar. A Psicologia precisa

utilizar seus conhecimentos urgentemente a favor da vida como sempre o tem feito.

È preciso fazer isso em números maiores, através de uma conscientização coletiva.

Trabalhar para resgatar o amor que ainda existe dentro de cada ser humano.

Tem-se dado pouca importância à questão que envolve amor e

afetividade. Segundo Damergian (2001b), a causa maior da crise de identidade do

sujeito é a falta ou incapacidade de amar. Amar a si e/ou aos outros: essa questão

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deve ser humanamente trabalhada ao longo dos anos, pois o ser humano ( a

maioria) vive intensamente voltado para o conhecimento e a razão, deixando de

lado aquele componente.

A Psicologia poderá trazer, como contribuição, esclarecimentos nos

aspectos cognitivos, afetivos e psicossociais, examinando as condições sociais que

estão envolvidas na formação e na preservação de um sistema de representações

sociais mostrando as condições que ajudariam na construção de uma nova visão

coletiva.

Foram mencionadas, no início do trabalho, as grandes mudanças

ocorridas no comportamento do ser humano, na passagem da modernidade para a

pós-modernidade, causadas por transformações sociais, políticas e tecnologias.

Tem sido muito difícil acompanhar essas mudanças, acontecidas, a

todo o momento, no cotidiano. As antigas formas de organização estão sendo

perdidas, tanto interna como externamente. As certezas do mundo moderno, que

até há pouco tempo faziam com que se refletisse sobre os desejos, além de

servirem de base para a organização psíquica, estão deixando de existir.

O homem da modernidade acreditava em seu futuro, tinha projeto de vida

e, de certa forma, sentia-se seguro, apesar de não ser tão real essa visão. Hoje, na

pós-modernidade, a cada dia vive-se com menos certeza. Não se tem um projeto de

vida, pois não existem garantias, seja de emprego, estabilidade social, ou de

segurança, e esta está em todos os lugares habitados pelo indivíduo.

O ser humano vive em constantemente crises de identidades, porque

suas referências estão sendo substituídas por incertezas, medo, insegurança.

Pode-se considerar que um bombardeio de informações, trazido pela era

tecnológica, acabou acarretando grandes transformações no comportamento do

sujeito. Dessa forma, a transição, que vem acontecendo com muita rapidez, deixa o

sujeito atordoado e sem saber o rumo a tomar: A quem se entregar para amenizar a

angústia, a insegurança ou o medo? Em quem acreditar, a fim de o ajudar a ter uma

vida mais tranqüila, harmoniosa e saudável?

A Psicologia tem como objetivo tentar compreender essa situação

vivenciada, mas, para isso, precisa trabalhar com mais reflexão, conhecimento,

estratégias rápidas. Só assim a Psicologia poderá acompanhar esse processo de

mudança com mais precisão e trabalhar o coletivo. Para que isso aconteça, torna-se

fundamental que o indivíduo valorize também os princípios norteadores da

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sociedade para uma boa vivência.

Acredita-se que, o trabalho coletivo possa dar resultados mais rápidos,

mas é preciso, em primeiro lugar, conquistar o público-alvo para saber usar as

abordagens e obter um resultado positivo, para dar continuidade do projeto. Para

isso, a Psicologia, além de usar seu conhecimento, terá que ser flexível e agir com

sabedoria, para lidar com o que envolve o cotidiano do ser humano.

As instituições e outros seguimentos da sociedade têm grande

responsabilidade na divulgação dos valores humanos.

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