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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA RENAN REZENDE FERNÁNDEZ Teste para obtenção de produtos de valor agregado e combustíveis para indústria via degradação térmica de resíduos de Polietileno LORENA-SP 2013

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA

RENAN REZENDE FERNÁNDEZ

Teste para obtenção de produtos de valor agregado e combustíveis

para indústria via degradação térmica de resíduos de Polietileno

LORENA-SP

2013

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RENAN REZENDE FERNÁNDEZ

Teste para obtenção de produtos de valor agregado e combustíveis para

indústria via degradação térmica de resíduos de Polietileno

Trabalho de Conclusão de Curso,

apresentado à Escola de Engenharia

de Lorena – USP, como parte dos

requisitos para obtenção do título de

Engenheiro Químico Industrial

Área de Concentração:

Tecnologia Química

Engenharia Ambiental

Orientador:

Prof. Dr. Domingos Sávio Giordani

LORENA

2013

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DEDICATÓRIA

Dedico especialmente a Deus por ser a mais íntima força a me guiar, a fim de que eu

pudesse entender quão valiosos seriam estes ensinamentos em minha vida profissional. Dedico

também este trabalho para todos aqueles que me suportaram nos momentos em que o caminho

parecia obscuro, e por isso me possibilitaram chegar até o final desta etapa.

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AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer especialmente a Deus, aos meus pais e familiares, aos meus amigos.

Para que não haja injustiças não mencionarei nomes, porém agradeço a todos que participaram de

uma forma positiva e contribuíram para o meu sucesso de alguma forma. Estes sim, ao lerem estes

agradecimentos saberão de seu valioso papel.

Agradeço também aos que não estiveram ao meu lado, pois foram deles as maiores lições

que recebi, quando pude extrair da adversidade o melhor de mim. Arrepender-me-ei somente

daquilo que não fizer, e serei orgulhoso e grato por tudo o que ainda irei fazer, pois naqueles que

creram em mim eu disse: Grato sois ao Senhor que nos deu o pão para comer, a água para beber, a

sabedoria e a coragem para viver, ou para morrer, sendo os verdadeiramente sábios aqueles que

escolheram viver em Ti.

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RESUMO

Fernández, Renan R. Teste para obtenção de produtos de valor agregado e combustíveis para

indústria, via degradação térmica de resíduos de Polietileno. 2013. Trabalho de Conclusão de

Curso – Escola de Engenharia de Lorena, Universidade de São Paulo, Lorena, 2013.

Neste trabalho foram realizadas tentativas de obtenção de frações combustíveis e não

combustíveis de valor agregado para indústria a partir da degradação térmica de resíduos de

polietileno. As poliolefinas, como o Polietileno, podem ser degradadas termicamente para

obtenção de compostos que variam de C2 – C30, ou seja, de gases não condensáveis, óleos

combustíveis até ceras superiores. Para execução deste estudo, resíduos com polietileno agregado

(mistura de polietileno com outros materiais como metais, entre outros) foram submetidos a testes

de degradação térmica na presença de oxigênio e também na ausência de oxigênio (pirólise) em

forno de indução e em forno de infravermelho em temperaturas entre 450 0C e 680 0C. Os

materiais usados para os testes foram obtidos de empresas geradoras de resíduos com estas

características, que contemplam de forma geral embalagens e outras peças atualmente destinadas

para incineração ou para aterros. Quando compostas de polímeros, em geral são de Polietileno de

Baixa Densidade – PEBD, Polietileno de Alta Densidade – PEAD, ou denominados

genericamente de Polietileno – PE. Esses materiais foram separados em grandes grupos (somente

PEBD, somente PEAD, mistura PEBD/PEAD, PE/outros polímeros, PE + alumínio, PE + aço

inox, etc.). Cada tipo selecionado foi preparado para o processo através de redução de tamanho

(picotagem) e, então, destinado ao processo de degradação em reator térmico (aquecimento

indireto) em cada forno separadamente. As frações da degradação térmica (condensáveis, não

condensáveis, resíduos da combustão) foram coletadas e analisadas para determinação média de

sua composição, propriedades combustíveis entre outras, com o objetivo de determinar a

possibilidade de aplicação no mercado desse material como combustível ou como adjunto de

outro processo. Os resíduos não combustíveis contendo metais tem como objetivo final a

destinação para fundição. Testes qualitativos com finalidades apenas exploratórias foram

realizados com os resíduos cerosos da degradação, usando chama direta e análises de

espectrofotometria de infravermelho e ressonância magnética nuclear. Os resultados deste

trabalho exploratório revelam a possibilidade de aplicação dos resíduos como combustíveis, sejam

eles sólidos cerosos ou líquidos, bem como as frações gasosas, com uma reprodutibilidade

satisfatória do perfil da evolução da temperatura nos fornos. As análises qualitativas de

infravermelho e ressonância magnética nuclear evidenciaram a transformação do polietileno em

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resíduos com cadeia predominantemente linear com e sem insaturações, além de uma faixa ampla

de massas moleculares dos compostos oriundos da degradação observada através de destilação.

Este trabalho não visou uma aplicação estritamente acadêmica, mas sim a aplicação real

objetivando a futura criação e ajuste de um processo de craqueamento térmico de resíduos de

polietileno em frações com valor comercial do tipo combustíveis e/ou adjuntos na indústria, e com

recuperação dos metais agregados no caso de resíduos com aço ou alumínio, gerados em grande

quantidade nas indústrias do setor de embalagens e peças do setor de alumínio principalmente.

Palavras-Chave: Degradação Térmica, Polietileno, Pirólise, Combustíveis.

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ABSTRACT

Fernández, Renan R. Test to obtain value-added or combustibles for industry by the thermal

degradation of polyethylene residues. 2013. Trabalho de Conclusão de Curso – Escola de

Engenharia de Lorena, Universidade de São Paulo, Lorena, 2013.

This study attempts to verify the possibility of making fractions of fuel and non-fuel value-added

compounds for the industry via thermal degradation of residual polyethylene. Polyolefin such as

polyethylene may be thermally degraded to obtain compounds ranging from C2 - C30, from

non-condensable gases, through fuel oils to superior to waxes. To implement this study, industrial

waste polyethylene (polyethylene blend with other materials such as metals, etc. from packing

materials) are subjected to thermal degradation tests in the presence of oxygen and also in the

absence of oxygen ( pyrolysis ) using induction oven and infrared oven with temperatures ranging

from 450 0C to 680 0C. The materials used for the tests were obtained from companies generating

waste with these technical features, which generally includes packaging materials and other stuff

currently intended for incineration or landfill disposal. When the composition of these materials is

polymers, generally they are made of Low Density Polyethylene - LDPE, High Density

Polyethylene - HDPE, or generically called Polyethylene - PE. These materials were separated

into large groups (LDPE only, only HDPE, LDPE blend / HDPE, PE / other polymers, PE +

aluminum, PE + stainless steel etc.). Each selected type was prepared for the procedure by size

reduction (chopping), and then sent to the degradation process in thermal reactor (indirect

heating). The fractions obtained from thermal degradation (condensable, non-condensable

combustion residues) were collected and analyzed to determine their average composition, basic

properties and others. The goal was to determine the possibility of application of this material in

the industry market as a fuel or as an adjunct to another process. Non-combustible wastes

containing metals has, as its final destination, the foundry. Qualitative tests with only exploratory

purposes were made with the waxy degraded waste using direct flame and analysis of infrared

spectrophotometry and nuclear magnetic resonance. The results of this exploratory study revealed

the possibility of using waste as a fuel, whether liquid or solid waxes, and gaseous fractions, with

satisfactory reproducibility of the temperature profile inside the furnace. Qualitative analyzes of

infrared and nuclear magnetic resonance imaging revealed the transformation of polyethylene

waste into predominantly straight chain carbon compounds with and without unsaturation, plus

compounds with a wide range of molecular masses derived from the degradation observed by

distillation. This study do not aim an strictly academic application, in fact it is aiming the

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possibility of creating and adjusting a thermal cracking process of waste polyethylene fractions

with commercial value as fuel type compounds and / or adjuncts for the industry, recovery of

metal residues coupled within polyethylene materials, generated in large quantities in the packing

industry mainly aluminum and plastic packing industry.

Keyword: Thermal Degradation, Polyethylene, Pyrolysis, Fuel.

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1 – Balanço de massa para forno de indução (valores em kg)........................................50

TABELA 2 – Balanço de massa para forno de indução (valores em porcentagem).......................51

TABELA 3 – Balanço de massa para forno de infravermelho (valores em kg)..............................51

TABELA 4 – Balanço de massa para forno de infravermelho (valores em porcentagem).............51

TABELA 5 –Descrição das amostras usadas nos testes qualitativos..............................................54

LISTA DE ABREVIAÇÕES E SIGLAS

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas

Al Alumínio

PC Policarbonato

PE Polietileno

PEAD Polietileno de Alta Densidade

PEBD Polietileno de Baixa Densidade

PET Poli tereftalato de Etileno

PP Polipropileno

PS Poliestireno

PVC Policloreto de Vinila

USP Universidade de São Paulo

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ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 – Distribuição em toneladas de alguns países consumidores de polímeros ............................ 14

Figura 2 – Consumo per capita anual de plástico de alguns países ....................................................... 15

Figura 3 – Distribuição percentual do consumo de plásticos por setor ................................................. 15

Figura 4 – Distribuição percentual da produção mundial de polímeros ................................................ 16

Figura 5 - Perfil de aquecimento para o forno de indução Al + PE duplo ............................................ 37

Figura 6 - Perfil de aquecimento para o forno de indução Al + PE ...................................................... 38

Figura 7 - Perfil de aquecimento para o forno de indução Caixa de PE ................................................ 38

Figura 8 - Perfil de aquecimento para os três processos sobrepostas .................................................... 39

Figura 9 - Taxa de variação do aquecimento Al + PE duplo ................................................................. 39

Figura 10 - Taxa de variação do aquecimento Caixa de PE .................................................................. 40

Figura 11 - Taxa de variação do aquecimento Al + PE ........................................................................ 40

Figura 12 - Taxa de variação do aquecimento – sobreposição das curvas ........................................... 41

Figura 13 - Perfil de aquecimento forno de infravermelho Al + PE duplo .......................................... 42

Figura 14 - Perfil de aquecimento do forno de infravermelho Al + PE ................................................ 42

Figura 15 - Perfil de aquecimento do forno de infravermelho Caixa de PE......................................... 43

Figura 16 - Perfil de aquecimento para o forno de infravermelho em sobreposição ............................ 43

Figura 17 - Taxa de variação do aquecimento forno infravermelho Al + PE duplo ............................ 44

Figura 18 - Taxa de variação do aquecimento forno infravermelho Caixa de PE ................................. 44

Figura 19 - Taxa de variação do aquecimento forno infravermelho Al + PE ...................................... 45

Figura 20 - Taxa de variação do aquecimento forno infravermelho testes sobrepostos ........................ 45

Figura 21 – Sobreposição dos espectros de infravermelho das amostras analisadas.......................... 56

Figura 22 – Ressonância da amostra destilada AM3 como exemplo de resultado ............................... 57

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................................... 12

1.1 Justificativa ............................................................................................................................ 12

1.2 Objetivo ................................................................................................................................. 13

2. REVISÃO DA LITERATURA .................................................................................................. 13

2.1. Desenvolvimento do Plástico na História .............................................................................. 13

2.2. Alguns dados de produção / consumo de plásticos no mundo .............................................. 14

2.3. Composição geral do mercado e setor de embalagens .......................................................... 16

2.4. Reciclagem de plásticos em geral.......................................................................................... 17

2.5. Craqueamento térmico do Polietileno ................................................................................... 18

3. MATERIAIS E MÉTODOS ....................................................................................................... 20

3.1 Etapas de Preparação ................................................................................................................... 21

3.2 Materiais, Equipamentos e Instalações ........................................................................................ 22

3.2.1 Fase de Campo ..................................................................................................................... 22

3.2.1 Fase de Laboratório .............................................................................................................. 26

3.3 Desenvolvimentos Experimentais ............................................................................................... 27

3.3.1 Caracterização dos Polímeros............................................................................................... 27

3.3.2 Preparação para o Processo - Picotagem .............................................................................. 28

3.3.3 Preparação do Forno de Indução .......................................................................................... 29

3.3.4 Preparação para o forno de Infravermelho ........................................................................... 30

3.3.5 Configuração dos testes e temperaturas ............................................................................... 31

3.3.6 Coleta das amostras .............................................................................................................. 32

3.3.7 Trabalhos laboratoriais ......................................................................................................... 32

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................................................ 35

5. CONCLUSÕES ........................................................................................................................... 58

REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 60

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1. INTRODUÇÃO

1.1 Justificativa

Este trabalho surge como uma continuidade na busca por uma alternativa comercial de

aproveitamento de resíduos de polietileno não destinados para reciclagem por razões

técnicas e/ou de viabilidade pelos processos tradicionais e que, atualmente, são

simplesmente incineradas ou descartadas em aterros sem qualquer tipo de aproveitamento

comercial ou manejo.

Os polímeros estão difundidos no mundo inteiro como uma solução barata e de boa

qualidade para inúmeras aplicações com inúmeros benefícios, sendo os três mais notáveis:

peso, custo, aplicabilidade. A crescente demanda por plásticos cada vez mais modernos

não vem acompanhada de soluções ideias para a destinação adequada para os resíduos da

produção e consumo. O Polietileno é, sem dúvidas, o plástico mais produzido

mundialmente e mais reciclado juntamente com o PET – Tereftalato de Polietileno, cuja

derivação principal é do petróleo. Em vista disso, há grande potencial na área de

reutilização de rejeitos para produção de compostos de interesse energético como

combustível e agregados. Muitos estudos acadêmicos foram realizados a respeito desse

assunto, porém visando detalhar a cinética química, a caracterização pura de subprodutos

dessa degradação. Este estudo propõe colocar em prática a obtenção dessas frações e a

tentativa de favorecer aquela ou aquelas de maior interesse que possam ser

comercializadas no mercado. Para estas possibilidades de mercado o proponente deste

trabalho conta com parceria da empresa Metal Américas, detentora do projeto inicial e

para o qual o proponente trabalha, e a parceria com um especialista em polietileno de

âmbito mundial, fornecendo informações vitais sobre possibilidade de inserção da fração

obtida no mercado, seu valor para cada aplicação e possíveis compradores. Assim, é de

conhecimento que pode-se fazer a reutilização desde o gás para mistura nos queimadores

de uma caldeira, incinerador ou qualquer outro processo de aquecimento via combustível

gasoso, passando pela geração de frações de óleo combustível até ceras passíveis de

utilização como adjunto em biodiesel.

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1.2 Objetivo

O objetivo deste trabalho é explorar a possibilidade de obtenção e aproveitamento

de produtos oriundos da degradação térmica do polietileno em forno com aquecimento

indireto.

2. REVISÃO DA LITERATURA

2.1. Desenvolvimento do Plástico na História

Na antiguidade o homem já teve seu primeiro contato com materiais resinosos,

graxas extraídas ou refinadas. Na época dos descobrimentos ocorreu o contato inicial dos

europeus com a resina natural de látex. Até que o homem dominasse a técnica de trabalhar

esse material (vulcanização) e até que processos de produção de polímeros sintéticos

surgissem, algumas boas décadas, por que não dizer que séculos, se passaram. Enfim, em

1912 obteve-se o primeiro polímero sintético. Pode-se afirmar que, nos 40 anos seguintes,

observou-se o surgimento de diversos polímeros que são mundialmente conhecidos e

utilizados hoje em dia. Estes são PVC – Policloreto de Vinila, PS - Poliestireno, PEBD –

Polietileno de Baixa Densidade, Nylon, PEAD – Polietileno de Alta Densidade, PP -

Polipropileno, PC - Policarbonato, em ordem de ocorrência respectivamente [1].

A produção destes polímeros sintéticos, ou seja, o desenvolvimento de uma técnica

industrial capaz de permitir a inserção deste produto no mercado em quantidades

comerciais demorou, após seus descobrimentos, um tempo que variou de 2 a 36 anos,

variando de acordo com o polímero e também em função dos avanços tecnológicos

daquela época. Após a década de 50, quando o PC, o último destes citados foi produzido,

muitos outros polímeros foram descobertos, sintetizados e produzidos industrialmente, e

com o avanço da tecnologia e engenharia, computação e outras áreas, o tempo para

industrialização de um processo de síntese de polímeros foi reduzido e suas tecnologias

foram dominadas pelo homem [1-2].

Os polímeros são utilizados mundialmente em diversos setores, desde a produção

de copos descartáveis e sacolinhas de supermercados, até a produção de asas de avião,

próteses entre outros. Os três principais pilares sustentadores que justificam essa ampla

utilização são: peso, custo, aplicabilidade. Pode-se facilmente fazer uma avaliação e

chegar à conclusão que os polímeros em geral são muito mais leves do que qualquer outro

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material disponível no mercado, cuja produção é relativamente barata devido às grandes

quantidades produzidas mundo, e cuja aplicação é tão ampla e versátil que hoje já é

possível até dizer que o mundo não poderá evoluir sem os polímeros [1-3].

A produção mundial de plásticos vem aumentando a cada ano devido à grande

demanda. Consequentemente o aumento da geração de resíduos de plásticos aumenta na

mesma medida. Isso solidifica a importância de trabalhos como este, cujo objetivo é

encontrar meios de dar continuidade a um resíduo de plástico que não pode ou não será

mais destinado para reciclagem. Trata-se de um problema mundial e não local [1-2].

2.2. Alguns dados de produção / consumo de plásticos no mundo

Efetuando uma rápida análise ao longo dos últimos 10 anos, observa-se um elevado

consumo de plásticos ao redor do mundo. O consumo mundial para este período havia

sido estimado em 120 milhões de toneladas. Dentre os maiores consumidores estão os

Estados Unidos da América com 43 milhões de toneladas, Alemanha com 13 milhões de

toneladas, Japão com 11 milhões de toneladas, Itália com 7 milhões de toneladas, França,

Coréia e Inglaterra com aproximadamente 5 milhões de toneladas e o Brasil com 4,2

milhões de toneladas.

Figura 1 – Distribuição em toneladas de alguns países consumidores de polímeros

É possível inclusive fazer uma análise do desenvolvimento de um país através do

consumo per capita de plásticos, em que os três primeiros da lista são:

4311

7

5 4,2

Maiores Consumidores de Polímerosdados em milhões de toneladas

USA

Alemanha

Japão

França, Coréia, Inglaterra

Brasil

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15

Bélgica (180 kg/habitante), EUA (159 kg/habitante), Alemanha (154 kg/habitante). O

Brasil ocupava o vigésimo lugar com 25 kg/habitante [1-3].

Figura 2 – Consumo per capita anual de plástico de alguns países

Nesta mesma época a indústria de plásticos já empregava mais de 200 mil pessoas no

setor. Os negócios produtores de plástico ainda têm como principais objetivos a produção

de embalagens, seguida da construção civil e descartáveis em geral [2-3].

Figura 3 – Distribuição percentual do consumo de plásticos por setor

A produção mundial de plásticos publicada pela Associação de Fabricantes de

Plásticos da Europa retrata uma realidade importante do ponto de vista econômico,

energético e de desenvolvimento, porém preocupante do ponto de vista ambiental.

BÉLGICA USA ALEMANHA JAPÃO BRASIL

180

159 154

96

33

Consumo per capita anualdados em kg/habitante

41%

20%

20%

19%

Distribuição de consumo de Plásticos

EMBALAGENS

CONSTRUÇÃO CIVIL

CONSUMO DOMÉSTICO

OUTRAS INDÚSTRIAS

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Segundo essa associação, a produção de plásticos no mundo aumentou de 1,7 milhões de

toneladas na década de 50 para um valor que chega a aproximadamente 280 milhões de

toneladas em 2012. Nos últimos 10 anos ocorreu um aumento de aproximadamente 37%

na produção mundial. Também segundo esta associação, a distribuição desse volume de

produção concentra 23% do total produzido para China, 21% produzido na Europa,

20% pelos integrantes da NAFTA – Tratado Norte Americano de Livre Comércio,

16% pelo resto da Ásia, 7% pelo oriente médio e África, 5% para Japão, outros 5% pela

América Latina e 3% para associação dos estados independentes [2-3].

Figura 4 – Distribuição percentual da produção mundial de polímeros

2.3. Composição geral do mercado e setor de embalagens

Segundo a Plastics Europe Market Research Group, estima-se que na Europa

aproximadamente 40% dos plásticos estão concentrados na indústria de embalagens, 21%

na construção e os demais setores com distribuições que variam de percentagens menores

que 10% cada. Verifica-se então que um dos maiores mercados consumidores de plástico

do mundo também segue a mesma distribuição mencionada [2-3].

Baseado nesses dados recentes é possível afirmar que a indústria de embalagens é o

setor mais importante quando se trata de plásticos, e por isso merece especial atenção,

afinal é das embalagens que vêm os principais resíduos geradores de problemas

ambientais, pois são produtos geralmente descartados após sua utilização, seja ela

CHINA23%

EUROPA21%

USA, CANADÁ, MÉXICO

20%

ÁSIA (EXCETO JAPÃO E CHINA)

16%

JAPÃO7%

ORIENTE MÉDIO E ÁFRICA

5%

AMÉRICA LATINA (EXCETO BRASIL)

3%BRASIL

2%

OUTROS3%

Produção mundial de Plásticos

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ambientalmente correta e planejada ou não. Pois bem, se este mercado concentra a maior

fatia da produção mundial e também é o principal gerador de resíduos, entende-se como

sendo uma área ideal para desenvolvimento de processos de reaproveitamento, como

propõe este trabalho [2-3].

Ainda segundo a mesma instituição, o setor de embalagens é composto em primeiro

lugar por polímeros do tipo PE (isso inclui suas variações baixa, ultrabaixa, alta

densidade), seguido de PP, e PET. Esses dados não se aplicam só a indústria de plásticos

europeia, uma vez que já verificamos que os mercados de plásticos mundiais obedecem às

mesmas distribuições observadas no mercado europeu e americano. [2-3].

2.4. Reciclagem de plásticos em geral

A reciclagem de plásticos pode ser feita de duas formas principais: mecânica ou

química [4-5].

Na reciclagem mecânica pode-se utilizar de técnicas de processamento de

polímeros para reprocessar os resíduos e fazer inclusive misturas poliméricas, nas quais se

destaca a técnica de extrusão. Geralmente, os plásticos obtidos da reciclagem têm

propriedades mecânicas e térmicas deficientes em relação aos seus precursores, não tendo

o mesmo valor agregado. Na reciclagem química os resíduos são convertidos em outros

produtos de cadeia menor e com propriedades e aplicações variadas, dependendo do

polímero que está sendo processado na reciclagem [4-5].

Um dos processos químicos para reaproveitamento de massas poliméricas

residuais é conseguido através do tratamento térmico destes resíduos na presença ou não

de oxigênio e aditivos (catalisadores, dentre outros). Durante esse tratamento térmico as

cadeias poliméricas serão rompidas, resultando na geração de produtos de reação de

menor peso molecular, com estruturas variadas obedecendo a certa distribuição em função

de fatores principais como o tipo de polímero tratado, dos seus aditivos, da temperatura do

processo, do tempo de residência, da pressão do sistema, presença de catalisadores e do

tipo de atmosfera empregada (oxidante, redutora, inerte) [6].

Como mencionado anteriormente, o aumento da produção e consumo de materiais

poliméricos, especialmente de embalagens tem dificultado o controle da destinação dos

resíduos por eles gerados [2-6]. Países desenvolvidos como Suíça, Alemanha, Áustria,

Bélgica, Suécia e outros da comunidade europeia reciclam uma porção considerável de

seus resíduos plásticos com elevadas taxas de recuperação de energia. Nesses países

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severas restrições legais proíbem a destinação para aterros desses materiais, restando então

a destinação correta para processos de reciclagem seja mecânica ou química com geração

de energia. [2-5]

Assim sendo, a aplicação de um processo de craqueamento térmico pode ser uma das

alternativas para tratamento desses resíduos. Se realizado da forma correta e otimizada

este processo pode contribuir com a geração de frações com valor agregado como

combustíveis por exemplo. Se realizado da forma incorreta pode causar poluição.

2.5. Craqueamento térmico do Polietileno

Craqueamento térmico de um polímero pode ser feito na presença de oxigênio, na

ausência de oxigênio, na presença de catalisadores ou não. O processo realizado na

ausência de oxigênio recebe a denominação de pirólise [6-7]. O fato de a grande maioria

das embalagens serem feitas a partir de Polietileno e suas variações, sendo PEBD e PEAD

as principais, levanta a hipótese de que um processo de tratamento térmico de resíduos de

embalagens e peças contendo polietileno agregado pode ter um impacto positivo em

diversos aspectos, como o econômico, ambiental e social. Observa-se uma grande

oportunidade, visto que os dados disponíveis a respeito do mercado de polímeros mostram

que a sua maior porção está concentrada na indústria de embalagens, e que as poliolefinas

como PE, PP são os principais compostos envolvidos.

A indústria petroquímica é a base de geração desses plásticos [1]. É através de

intermediários obtidos a partir da derivação do petróleo que se pode produzir tais

compostos. Mais recentemente polímeros vêm sendo produzidos com fontes renováveis de

energia, chamadas fontes verdes. Uma das empresas envolvidas é a Braskem com

produção de PE a partir de fontes renováveis, quando certo percentual do monômero

Etileno é obtido de biomassa.

Plásticos em geral apresentam propriedades combustíveis, com poder calorífico

semelhante aos combustíveis tradicionais como gás natural. Porém, a incineração direta de

plásticos não traz benefícios, ao contrário gera poluição e desperdício de energia. Em

virtude dessas propriedades e de sua composição básica, uma alternativa é a conversão de

plásticos como o Polietileno em frações combustíveis para aproveitamento na indústria.

Além das frações combustíveis outras também podem ser obtidas. Dependendo das

condições, o craqueamento térmico do Polietileno leva à formação de gases basicamente

compostos de hidrocarbonetos saturados e insaturados de baixo peso molecular

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(denominados de fração não condensável), óleos formados por uma mistura de compostos

orgânicos desde hidrocarbonetos alifáticos até aromáticos, e compostos complexos

(denominados de fração condensável) e borras residuais. Dependendo do processo haverá

produção de uma fração em maior quantidade do que a outra, formação de um óleo menos

denso, mais denso, ou até de uma cera.

O processo de avaliação do ciclo de vida (Life Cycle Assessment – LCA) usada para

comparar diversas alternativas para tratamento de resíduos sugere o tratamento mais

favorável como sendo a reciclagem, a recuperação de monômeros e o desenvolvimento de

produtos de valor agregado a partir do plástico original, ao contrário da incineração direta

ou aterro do material. Como o custo da segregação de materiais é questionável, considera-

se como uma valiosa alternativa o uso de técnicas como a degradação térmica do

polímero, recuperando frações gasosas e/ou líquidas de considerável poder calorífico.

Devido ao elevado teor de carbono do plástico (cerca de 85 % em massa) e a composição

de hidrogênio em cerca de 15 % em massa, tem-se um favorecimento da produção de

óleos de hidrocarbonetos a partir de processos de pirólise [6-10].

Diversos estudos determinaram, além dos fatores cinéticos que melhor modelam o

processo de pirólise do Polietileno, a distribuição dos produtos de sua degradação térmica.

Uma informação importante obtida nestes trabalhos foi que o principal fator que altera a

distribuição e caracterização dos produtos é a temperatura de processo. O processo de

pirólise do polietileno pode ser iniciado a partir de temperaturas superiores a 325 0C.

Também há limites para a temperatura, chegando ao máximo de 850 0C [6-10].

Utilizando-se de baixas temperaturas ocorre na fração gasosa o favorecimento, em termos

de composição de espécies, do monóxido e dióxido de carbono, etileno (monômero),

metano, benzeno e hidrogênio [6-10]. Alguns estudos como os realizados investigaram

apenas as frações condensáveis, ou seja os óleos combustíveis, sendo então descartadas

como resíduo as frações gasosas. Uma vez que os produtos de degradação do Polietileno

não possuem um tamanho limite, podem ser identificadas durante o processo graxas de

alto peso molecular. [11-13]

Outra abordagem para este processo pode ser feita através do emprego de

catalisadores. Observou-se em outros estudos que o emprego de catalisadores influencia

na taxa reacional, ou seja, na perda de massa em função do tempo. Em outros estudos

também foi estudada a gaseificação do polietileno em mistura com outros polímeros como

polipropileno e poliestireno, obtendo-se frações gasosas contendo principalmente metano

e olefinas básicas como o etileno e propileno, além de óleos contendo aromáticos

[6, 11-13].

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3. MATERIAIS E MÉTODOS

Para realização deste projeto foram empregados testes experimentais com o

objetivo de explorar a capacidade geradora de produtos de valor agregado a partir de

resíduos de polietileno via degradação térmica. Assim, a matéria-prima principal para este

estudo foi composta de rejeitos contendo polietileno. Estes rejeitos foram fornecidos pela

empresa Metal Américas através de seus parceiros comerciais e compõe-se basicamente

de polietileno que, em alguns casos, estavam agregados a outro material como alumínio

ou outro polímero.

Fazendo uma avaliação geral da metodologia, a partir do objetivo descrito, o

projeto dividiu-se em duas partes: a primeira fase experimental de campo e laboratório

com a geração de frações via degradação e coleta de dados, e a segunda contemplando

testes laboratoriais com os produtos obtidos do processo e posterior análise e comparação

dos dados de processo com os resultados de laboratório.

Massas conhecidas de rejeitos previamente classificados foram testadas num

processo de degradação térmica através de forno de aquecimento em campo na empresa

Metal Américas, em que as temperaturas utilizadas estarão na faixa de 450 0C até 680 0C.

O tempo de processo variou de acordo com a quantidade de amostra inicial e o tipo de

forno usado, chegando a 15 minutos. A atmosfera do teste foi oxidativa nos instantes

iniciais do processo, ou seja, na presença de oxigênio do ar contido no fechamento. As

frações sólidas, líquidas e gasosas desse processo foram coletadas em recipientes

previamente identificados e o balanço de massa global foi calculado apenas para avaliação

exploratória. As principais variáveis de processo como temperatura e tempo de residência

foram observadas e alteradas para avaliar o impacto da mudança nos produtos.

Os materiais foram pesados antes do processo e o balanço de massa global foi

realizado para fins exploratórios. O objetivo é obter dados percentuais de fração presente,

após as mudanças de temperatura e tempo de processo.

Na segunda fase, os resíduos desse processo foram submetidos a testes

laboratoriais incluindo tentativas de purificação dos compostos parafínicos e outros

obtidos, utilizando-se de técnicas de partição e destilação, com uso de solventes como

acetona, hexano, tolueno. Foram determinados alguns parâmetros aproximados como

ponto de início de ebulição das misturas oleosas que foram condensadas, e também se

estudou as características combustíveis como a capacidade de fornecer chama em testes

qualitativos, todos obtidos através de análises em bancada. Outras análises foram

realizadas como espectroscopia de infravermelho e ressonância magnética nuclear, para

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obtenção de informações qualitativas sobre o perfil químico geral das amostras oriundas

da degradação.

Uma vez determinadas as características físico-químicas e químicas dos produtos

líquidos e das frações gasosas, uma análise dos resultados foi feita comparando-se a

composição e características dos produtos com a configuração usada no processo em

termos de temperatura e tempo de processo. O objetivo foi relacionar três parâmetros

principais de entrada, que foram tipo de rejeito, temperatura e tempo de processo, com os

resultados de saída, os dados analíticos, que possibilitam estabelecer um set ideal para

obtenção de uma fração de composição média definida. Por fim, uma comparação entre os

combustíveis tradicionais e as frações obtidas foi feita, além de consulta à empresa

envolvida para coleta de informações pertinentes à introdução de alguma fração no

mercado como óleo combustível ou adjunto de outro processo em algum parceiro ou

cliente, ou então em algum processo interno.

Testes suplementares de degradação térmica na presença de catalisadores simples

como BaCO3, sílica-alumina ou Zeolitas não foram realizados neste estudo. Como

observado em estudos já realizados, catalisadores como Zeolitas podem ser uma

alternativa importante para futuros trabalhos de otimização do processo de degradação.

3.1 Etapas de Preparação

Para o início dos trabalhos de campo na fábrica, a fim de investigar a capacidade

de degradação dos resíduos gerados pelos clientes desta empresa, foram levantados todos

os materiais necessários, bem como a lista de resíduos que seria usado durante os estudos.

Foram selecionados três tipos principais de resíduos. O primeiro deles é derivado

do processamento de embalagens de iogurtes, sendo esta embalagem composta de uma

folha de alumínio relativamente rígida protegida por duas camadas opostas de polietileno.

A camada interna é fina, sua espessura pode ser considerada da ordem de centésimos de

milímetro; a camada externa é composta de polietileno da ordem de décimos de

milímetros. Com relação à apresentação dessas camadas, a interna mais fina não era

pigmentada tendo como finalidade a proteção do contato entre o alimento e o alumínio; a

camada externa era pigmentada com os detalhes do produto com a finalidade de

propaganda e informação de conteúdo.

O segundo deles é derivado do processamento de pacotes de biscoitos, sendo esta

embalagem composta de uma folha de alumínio relativamente flexível protegida por uma

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camada de polietileno. A camada interna de alumínio é fina, sua espessura pode ser

considerada da ordem de aproximadamente décimos de milímetros; a camada externa é

composta de polietileno da ordem de décimos de milímetro. Com relação a apresentação

dessas camadas, a interna de alumínio não era pigmentada tendo como finalidade a

proteção do contato entre o alimento e o meio externo; a camada externa era pigmentada

com os detalhes do produto com a finalidade de propaganda e informação de conteúdo.

O terceiro deles é derivado do processamento de caixas para perfuro cortantes,

sendo esta embalagem composta de uma peça única de polietileno de alta densidade, com

tampa de polietileno de baixa densidade. Ambas as superfícies são pigmentadas, sendo a

natureza do pigmento desconhecida. Estas caixas são produzidas por processo de injeção

que consiste em alimentar uma máquina injetora com uma massa polimérica aquecida

misturada a cargas diversas (pigmentos, plastificantes, etc.) através de um molde

aquecido. Com o resfriamento do molde e sua abertura obtém-se a peça pronta, sendo

apenas necessário aparar a parte onde os moldes se unem com objetivo de acabamento

final. Com relação a apresentação destas caixas, seu formato é retangular com medidas

aproximadas de 28 cm de comprimento, 18 cm de profundidade e 18 cm de altura. A

pigmentação destas caixas é de cor amarela parda.

Todos os resíduos mencionados foram obtidos diretamente das empresas

geradoras, tendo sido reservados em local fresco e arejado, longe de materiais oxidantes

ou da incidência de sol que pudesse alterar as características iniciais dos resíduos.

3.2 Materiais, Equipamentos e Instalações

Assim como os trabalhos se dividiram em etapas inicialmente de campo seguidas

de etapas em laboratório, os materiais e equipamentos também são apresentados

separadamente por fase como segue abaixo.

3.2.1 Fase de Campo

Instalações

Para fase de campo os trabalhos foram realizados nas instalações industriais da

empresa Metal Americas localizada na cidade de Pindamonhangaba na Estrada do

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Atanázio, 339 distrito de Feital. As reuniões foram feitas na sede administrativa na cidade

de São José dos Campos, rua José Alves dos Santos 281, sala 413.

Equipamentos

Os equipamentos usados na fase de campo são do tipo industrial e semi-industrial.

Abaixo segue a lista de equipamentos, seguida da descrição sucinta do uso de cada um

deles.

- Picotadeira

- Forno de Indução

- Banho de aquecimento

- Rosca dosadora com alimentação manual

- Forno com aquecimento via infravermelho

- Sistema de coleta e lavagem de gases

- Sistema de exaustão

A picotadeira industrial utilizada tinha capacidade de processamento de 50 kg/min

de resíduo. Foi utilizada para a operação de redução de tamanho dos resíduos antes da

alimentação nos fornos.

O forno de indução foi usado para fazer o aquecimento indireto do material, ou

seja, sem o uso de chamas evitando assim a combustão do material cuja incineração não

era desejada. Fornos de indução não aquecem os resíduos plásticos, mas sim os resíduos

metálicos presentes, assim como podem ser usados com um cadinho metálico para

aquecimento de materiais não indutivos.

O forno elétrico de indução é um tipo de forno que utiliza correntes elétricas para

fundir o metal. Sua parte interna consiste de duas bobinas, uma com enrolamento primário

e outra secundário. A diferença de quantidade de espiras entre o enrolamento primário e o

secundário gera uma diferença com redução considerável de potencial entre estas bobinas,

que compensada pelo efeito indutivo da alta corrente gerada, fornece uma potência

dissipada elevada. Estas correntes elétricas são alternadas através de bobinas grandes em

torno do cadinho que contém o metal, aquecendo-o e formando uma espécie de

redemoinhos na superfície do metal, inclusive verificados visualmente. O metal puro

derretido vai para o fundo do cadinho devido sua densidade superior, enquanto isso os

contaminantes e os demais materiais migram à superfície, de onde eles são tirados ou

degradados termicamente. Os sistemas de água são utilizados para manter a resistência

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elétrica fria. O forno de indução é mais rápido e mais preciso em temperatura que um

forno tradicional, e tem difundido o seu uso na metalurgia.

O banho de aquecimento consiste de serpentina de água circulada em trocador de

calor móvel. Consiste de uma pequena cuba de aço inoxidável contendo uma resistência

para aquecimento elétrico. Esta cuba é preenchida com óleo de natureza mineral e que

servia de meio para o aquecimento indireto de um material evitando seu contato com a

umidade do ar e o oxigênio.

Rosca dosadora com alimentação manual do tipo industrial foi usada no

processamento térmico de resíduos em forno de aquecimento do tipo infravermelho. Um

funil de alimentação conectado diretamente a um parafuso com rosca sem fim capaz de

dosar no interior do forno de 3 kg/min a 17 kg/min de resíduo picotado. Esta dosadora é

na verdade parte integrante do forno de infravermelho.

O forno de infravermelho foi concebido através da montagem de um sistema

fechado sob a rosca dosadora. O forno usado era alimentado por um sistema de

aquecimento a gás. Tochas alimentadas por gás combustível são usadas no aquecimento

do material cerâmico que é responsável pela emissão do infravermelho. A montagem

consiste de um canal retangular longitudinal construído de material refratário cerâmico,

estando embutido dentro deste o sistema de tochas alimentadas pelo gás combustível. Esse

canal está presente nas duas extremidades opostas da rosca dosadora, sendo fechados

sobre esta durante o processo permitindo a selagem do meio. A energia gerada pelo

condutor de calor é transferida para o material através de radiação infravermelha. O

material utilizado deve ter boas propriedades de absorção e de emissão no alcance

e comprimento de onda de infravermelho desejado. Fornos desse tipo foram concebidos

inicialmente em 1950, com a patente inicial sendo registrada pela empresa Elstein-Werk.

Tal denominação aos fornos resistivos cerâmicos que trabalham com infravermelho foi

atribuída.

No caso deste trabalho não foi utilizado forno com aquecimento da cerâmica via

resistência elétrica, mas sim foi concebido um forno cum aquecimento via chama, através

de tochas alimentadas por gás combustível.

O sistema de coleta de gases utilizado variou conforme o forno empregado no

processo. No caso do forno de indução o sistema de coleta era simplificado e em escala

piloto. Devido ao tamanho do cadinho metálico usado na indução (cilindro de cerca de 30

cm de altura por 20 cm de diâmetro ou 9,42 litros) o sistema não foi conectado a exaustão

mecânica. A própria geração de gases dos gases durante a degradação térmica aumentava

a pressão interna do cilindro fazendo com que houvesse o transporte de massa devido a

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diferença de pressão. Da tampa do cadinho sai uma tubulação metálica de diâmetro

interno de 5 mm (mesmo material do cilindro) que se conecta a uma cuba com água para

lavagem dos gases e coleta dos óleos condensáveis. Esta cuba é aberta possibilitando a

evolução das frações não condensáveis para uma coifa de exaustão posicionada na parte

superior da cuba, bem como o alívio da pressão interna do cilindro.

No caso do forno infravermelho, devido a sua escala aumentada, o sistema de

coleta e exaustão, apesar de simples, foi concebido em maiores proporções. Uma coifa na

parte superior do forno conectada diretamente ao sistema dosador é responsável pela

captura dos gases da degradação no interior do forno. Esta coifa não permite o contato do

ar externo com estes gases, sendo esta vedada e permitindo o sistema a trabalhar de forma

pressurizada. Como as dimensões da rosca contemplam um comprimento de cerca de 3

metros, aplicam-se as mesmas medidas longitudinais à coifa. Na parte superior da coifa

uma tubulação de aço de cerca de 4 polegadas de diâmetro interno conecta a exaustão dos

gases à uma cuba de 7,5 m³ contendo água para coleta de óleos do processos.

A disposição dos equipamentos é feita com uma plataforma industrial elevada em

3 metros do chão gradeada. Sobre ela está localizado o forno com a rosca e o sistema de

exaustão. A tubulação desce para a cuba localizada sobre o piso da instalação. A cuba é

dividida em duas partes: uma das partes é fechada na parte superior, contendo uma válvula

de escape de emergência para casos de excesso de pressão no sistema. Nesta parte

conecta-se a entrada do sistema de exaustão por onde os gases da degradação irão fluir,

além da saída dos gases que também é feita de tubulação idêntica a entrada dos gases

porém é conectada a um exaustor mecânico responsável por manter a pressão do sistema

levemente negativa.

A parte inferior desta primeira câmara é aberta fazendo conexão (vasos comunicantes)

com a segunda parte anexa cuja porção superior é aberta. Isso permite ao sistema uma

equalização da pressão simples e do nível da água nas duas cubas, além da coleta do óleo

via conexão posterior a um separador líquido-líquido. Entre as duas câmaras desta cuba,

foi instalado um manômetro em U com o objetivo de observar a manutenção do vácuo

gerado pela bomba de exaustão mantendo assim a pressão levemente negativa no sistema

garantindo a evolução dos gases e a segura operação do sistema de processamento do

resíduo. Todo o sistema é conectado a um painel de controle elétrico com sistema de

travamento caso a bomba de exaustão pare.

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3.2.1 Fase de Laboratório

Instalações

Para os trabalhos no laboratório foram utilizadas as instalações da Escola de

Engenharia Química de Lorena – EEL USP, Campus I - Estrada Municipal do Campinho,

s/nº. Os trabalhos foram realizados no laboratório de química fina, laboratório 01

(analítico para aulas da graduação), laboratório de infravermelho e RMN.

Os equipamentos utilizados nos trabalhos em laboratório estão listados abaixo com

uma sucinta descrição da utilização.

Vidrarias

- Espátula

- Bico de Bünsen

- Vidro de relógio

- Bastão de vidro

- Balão de fundo redondo com duas vias

- Termômetro de Mercúrio (graduado até 240 graus Célsius)

- Condensador de bolas feito em vidro

- Béquer, Erlenmeyer e conexões diversas

Equipamentos

- Analisador Infravermelho IV-FT modelo Frontier da Perkin-Elmer

- Ressonância Magnética Nuclear - 300MHz modelo Mercury da Varian

- Balança Analítica de 4 casas decimais

- Balança semi-analítica

- Manta de aquecimento elétrica

- Chapa de aquecimento com agitação elétrica

- Pirômetro infravermelho

Solventes / Reagentes

- Água destilada

- Hexano

- Acetona

- Tolueno

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- Sulfato de Sódio Anidro

- Pastilha de Brometo de Potássio para o infravermelho

- Clorofórmio / Clorofórmio Deuterado

- Óleo Mineral comercial alifático (para banhos de aquecimento)

Os materiais usados no laboratório foram empregados na manipulação das

amostras de produtos obtidos na degradação térmica dos resíduos. As vidrarias foram

utilizadas na separação, conservação, fracionamento, dissolução entre outras atividades.

Os equipamentos foram utilizados para aquecimento e dissolução, destilação, agitação e

análise química. Os solventes e reagentes foram empregados para solubilização, lavagem,

destilação, preparo para análise.

3.3 Desenvolvimentos Experimentais

3.3.1 Caracterização dos Polímeros

Para este trabalho os resíduos escolhidos eram compostos de Polietileno de

baixa densidade e Polietileno de alta densidade em alguns casos. Não foi realizada

caracterização analítica para confirmação da espécie polimérica de cada resíduo. O motivo

para não executar uma investigação a fim de confirmar a natureza do polímero envolvido

é de que os materiais residuais que foram submetidos ao processo de tratamento térmico

são provenientes de embalagens já certificadas no mercado, de uma única fonte e sem a

presença de contaminantes externos. Cada fonte confirmou a composição de suas

embalagens através das especificações técnicas registradas de suas embalagens

comerciais. Durante o processo de certificação destas embalagens para uso comercial,

principalmente as usadas nesses estudos que são provenientes da indústria alimentícia, as

empresas responsáveis por tal embalagem utilizaram-se de métodos analíticos para

determinação de todas as propriedades do polímero usado na confecção das embalagens,

bem como sua composição e comportamento térmico / mecânico. Assim, a execução de

uma análise para determinação da composição dessas embalagens foi considerado como

desnecessária para os fins aos quais se destinam este trabalho.

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3.3.2 Preparação para o Processo - Picotagem

Amostras de resíduos plásticos de três fontes distintas de três clientes distintos

foram separadas em contentores plásticos de 1 m³ cada. O processo completo foi realizado

com cada uma das três variações de forma individual, ou seja, não foram misturadas as

frações de cada cliente. Uma vez separados os contentores de cada cliente, estes foram

individualmente submetidos ao processo de picotagem.

No processo de picotagem foi utilizado um funil metálico alimentador, constituinte

da própria máquina de corte, cuja alimentação pode ser feita numa razão máxima de

50 kg/min. Devido à baixa densidade dos resíduos, pela sua constituição de alumínio e

polietileno, a alimentação contínua deste equipamento com a carga de resíduo não é

limitada pelo peso, mas sim pelo volume da carga. Estima-se que a velocidade de

alimentação tenha sido de 10 kg/min, sendo esta informação não relevante ao trabalho

uma vez que o processo de picotagem foi realizado em sistema de batelada, sem o

objetivo inicial de conjugar a picotagem com a alimentação da rosca do forno de

infravermelho ou o cadinho do forno de indução (que por si só apenas opera em condição

batelada ou semi-batelada).

A carga alimentada passa através de roletes laminados e facas giratórias presas ao

rolamento central. Dois rolamentos idênticos, opostos e operando de forma contra rotativa

compõe a câmara de picotagem. O resíduo foi passado pelo interior desta câmara dosado

pelo funil metálico mencionado, sendo picotado em tamanhos de aproximadamente 2,5

cm de diâmetro. Este diâmetro é uma aproximação, uma vez que a forma dos fragmentos

do corte não é definida, muito menos circular. Após serem expulsos da câmara já

picotados em alta velocidade, os fragmentos são depositados sobre uma plataforma

vibratória inclinada, também parte integrante do equipamento. Sobre esta plataforma os

fragmentos são transportados para parte inferior do equipamento, onde são coletados em

um bag identificado.

O mesmo procedimento foi realizado para as outras duas amostras diferentes após

a realização de uma varredura com escova nas áreas do picotador para evitar misturar um

material com o outro.

A apresentação do material picotado é muito parecida para as duas amostras de

embalagens alimentícias, porém um pouco diferenciada para a caixa de perfuro cortante.

Para esta caixa, os fragmentos tinham cerca de 1,5 cm de diâmetro.

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3.3.3 Preparação do Forno de Indução

O forno de indução utilizado era do tipo portátil, não atendia escala industrial,

podendo ser usado para atividades piloto e fusão de pequenas ligas e materiais metálicos.

De acordo com os seus princípios de funcionamento que envolvem a excitação eletrônica

do material metálico através das correntes de indução, não se pode usar qualquer

configuração para qualquer metal. Para tanto, antes do início dos trabalhos, o forno de

indução precisou ser calibrado para o alumínio presente nos resíduos. Inicialmente o forno

foi ligado em sistema elétrico trifásico de 380 V de alimentação. O sistema de refrigeração

das bobinas foi acionado juntamente com a máquina para evitar o superaquecimento e a

falha do equipamento. O sistema de exaustão sobre o cadinho também foi ligado antes

para assegurar seu funcionamento correto durante a evolução dos gases.

Após o tempo de estabilização do equipamento previsto pelo fabricante (cerca de

10 minutos) foi inserido no controlador digital do equipamento as informações relevantes

do processo que contemplavam a voltagem à ser aplicada, a frequência da corrente

aplicada e o tempo total de aplicação. Inicialmente um valor de voltagem e frequência foi

selecionado para teste com folha de alumínio em formato circular. Esta folha foi colocada

em posição perpendicular ao eixo do campo gerado pelo forno, a fim de calibrar o

equipamento. Disparos de 10 segundos de indução foram realizados com ajustes entre eles

para determinar qual a frequência ideal para aquecimento instantâneo e eficiente do metal.

Uma vez determinada esta frequência, o equipamento estava pronto para o uso.

Foram carregados no cilindro de indução 2 kg de resíduo plástico picotado do tipo

embalagens para alimentos. Para este carregamento pegou-se o resíduo previamente

picotado do bag e adicionou-se manualmente ao forno fazendo compressão devido ao

volume da amostra, evitando que o espaço entre os fragmentos fosse muito grande

impedindo o carregamento com a massa pretendida. Após ter finalizado o carregamento,

fechou-se o cadinho cilíndrico com uma tampa de mesmo material metálico em aço,

usando-se de parafusos sextavados para fixação. A tubulação oriunda da tampa do cadinho

foi conformada na forma de um sifão. O terminal da tubulação foi imerso em uma cuba de

vidro contendo água para lavagem dos gases, contendo cerca de 10 litros de água imersos

em uma segunda cuba de refrigeração com água a aproximadamente 1,2 ◦C em banho de

gelo. Um pirômetro portátil do tipo infravermelho foi utilizado para medir as temperaturas

do banho e do cadinho durante a evolução do processo. Ligou-se a exaustão, programou-

se o forno para disparos de 30 segundos de indução e iniciou-se a sequência de disparos,

no total de 10 disparos com tempo total de 5 minutos. O perfil da temperatura versus o

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tempo foi medido usando o pirômetro digital e os dados foram anotados. Os gases

oriundos da degradação térmica do resíduo evoluíram através da tubulação para a cuba,

convertendo-se inicialmente as frações condensáveis até a temperatura de

aproximadamente 2 ◦C. A fração que não foi condensada foi liberada na forma de gás.

Coletou-se parte deste gás para posteriores trabalhos e reservou-se em balões de borracha

e provetas com água que foram utilizadas como sistema tipo trap (aprisionamento de gás).

Para o resíduo proveniente da caixa de perfuro cortantes, o material picotado foi colocado

no cadinho seguindo a mesma sequência experimental observada para os dois outros

resíduos picotados. Os tempos aplicados nos disparos de indução foram os mesmos dos

dois outros processos. O sistema de coleta de gases foi o mesmo. Dados de temperatura

versus tempo foram coletados e anotados usando um pirômetro digital. Os gases foram

coletados para posteriores trabalhos.

Foi realizado um quarto teste utilizando das amostras de caixas inteiras, sem o

processo de redução de tamanho empregado nas demais amostras, adicionando-se ainda

material metálico não contaminado do tipo biqueiras de seringas, agulhas médicas,

grampos médicos e tesouras médicas. O cadinho foi carregado para este teste com 2,5 kg

de material, sendo 1,5 kg de material metálico extra e 1,0 kg de plástico. Fechou-se o

cadinho e os mesmos procedimentos foram aplicados na degradação. Medidas de

temperatura foram realizadas com o pirômetro digital em função do tempo, gases foram

coletados para trabalhos posteriores.

3.3.4 Preparação para o forno de Infravermelho

O forno de infravermelho foi preparado através da prévia configuração do sistema

de aquecimento via gás combustível. Mantendo-se a parte superior do forno aberta com os

queimadores expostos, fez-se a abertura da válvula de gás combustível do sistema no

painel de controle do forno, acionando-se ao mesmo tempo os starters das tochas

queimadoras. O sistema de exaustão foi ligado para garantir a exclusão dos gases da

queima do gás combustível durante a partida do sistema. Um tempo médio de 30 minutos

para o sistema se estabilizar foi necessário, durante o qual foram realizados ajustes da

vazão do gás combustível para o correto cumprimento do perfil de temperatura da

cerâmica envolvida no forno.

Uma vez estabilizado o sistema das tochas queimadoras, as comportas superiores

do forno com rosca acoplada são fechadas para o aquecimento da rosca dosadora. Nas

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proximidades da cerâmica a temperatura pode atingir valores superiores a 1140 ◦C. Um

tempo superior a 30 minutos foi utilizado para estabilizar a temperatura no interior da

rosca dosadora. Com o sistema estabilizado inicialmente em cerca de 380 ◦C, foram

adicionados 10 kg de material picotado de um contentor individual no funil receptor da

rosca dosadora através de transbordo manual realizado por operador. Um pirômetro foi

usado para determinar a temperatura da câmara de degradação na entrada, no meio e na

saída da rosca, bem como da tubulação de gases. Após a introdução do material na rosca,

um tempo total de residência foi estimado em 15 minutos segundo a velocidade da rosca

que foi previamente configurada para 0,2 m/min. Os gases provenientes da degradação

foram coletados pelo sistema de exaustão, evoluindo através do sistema de tubulações

cujo comprimento linear era de aproximadamente 7 metros. Estes gases foram

borbulhados na cuba de água, a pressão foi monitorada e a temperatura coletada. A fração

condensada sobre a água foi removida por separação líquido-líquido e uma amostra dos

gases foi coletada para trabalhos posteriores. O restante dos gases passou por filtro de

solventes com leito de carvão ativo e soda e evoluiu para atmosfera.

Somente as amostras de plástico picotado são possíveis de atender ao tipo de

alimentação prevista para o forno infravermelho.

3.3.5 Configuração dos testes e temperaturas

As configurações de temperatura utilizadas no processo foram obtidas de

resultados de testes feitos através de técnica de termogravimetria em outros estudos sobre

este assunto de outros autores, os quais revelam que a temperatura de início dos processos

de degradação no polietileno é de aproximadamente 320 ◦C, tendo finalizado todo

processo de degradação e perda de massa a cerca de 490 ◦C.

No forno de indução os disparos indutivos foram realizados objetivando um

aquecimento tipo flash, com aumento rápido de temperatura até cerca de 450 ◦C. No forno

tipo infravermelho, na medida em que a amostra é submetida ao interior do forno o

aquecimento ocorre de forma gradativa na rosca, com uma rampa de cerca de 60 ◦C por

minuto até o máximo de 680 ◦C, permanecendo assim por mais 4 minutos no interior do

forno até descarte no bocal. Os materiais metálicos, em tese compostos de alumínio puro,

foram coletados no final da rosca num sistema de eliminação em um cadinho que, nas

instalações previstas, conectam-se ao forno de alumínio da fábrica.

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A pressão no interior dos fornos não foi medida ou calculada. Dados de pressão

seriam importantes para os estudos cinético da degradação e favorecimento de produtos,

porém como o escopo do estudo é simplificado apenas os dados da rampa de temperatura

foram coletados para cada processo.

A adição de carbonato de cálcio foi realizada em um teste após os ensaios

principais, a fim de verificar a alteração no comportamento do resíduo final bem como a

evolução de produtos diferenciados. Observações foram feitas e avaliadas a respeito deste

teste.

3.3.6 Coleta das amostras

As amostras de óleo condensado permaneceram sobre a superfície da água devido

a densidade, sem que houvesse mistura entre eles, formando uma interface líquido-

líquido, além de algumas porções de cera sólida. Amostras desse óleo ceroso foram

coletadas usando espátulas, reservando-as em Erlenmeyer de vidro tampado com rolha de

cortiça. As amostras gasosas foram reservadas num trap com água feito com uma proveta

e também em bexigas de borracha látex. A massa das frações foi medida e o cálculo do

balanço de massa foi realizado usando a massa da cuba contendo água, tendo as perdas

por evaporação desconsideradas.

3.3.7 Trabalhos laboratoriais

As amostras foram levadas para o laboratório para testes de solubilidade, chama,

poder calorífico e características químicas básicas usando infravermelho e ressonância

magnética nuclear.

Teste de solubilidade simples / extração

Uma porção de aproximadamente 10 g da amostra degradada foi colocada em um

Béquer de vidro contendo 10 ml de hexano a temperatura ambiente. Colocou-se o meio

sob agitação em uma placa agitadora usando agitador magnético por cerca de 10 minutos.

Após o tempo previsto, verificou-se as características do líquido denominado

extrato e do resíduo sólido ceroso. Novas adições de solvente foram feitas para verificar o

comportamento da cera em função da adição de solvente ao meio sob agitação.

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33

O mesmo procedimento foi realizado para as demais amostras oriundas dos outros

tipos de embalagens. Repetiram-se as adições de hexano conforme as características do

meio se alteravam. Anotaram-se as observações pertinentes e o extrato foi reservado.

Realizou-se um teste semelhante com mais uma alíquota das amostras degradas,

individualmente, mas com substituição do solvente hexano por solvente acetona.

Adicionou-se 10 ml de acetona em um Béquer e aproximadamente 10 g da amostra

degradada, mantendo-se o meio sob agitação contínua por 10 minutos. Repetiram-se as

adições de acetona conforme as características do meio se alteravam. Anotaram-se as

observações pertinentes e o extrato foi reservado.

Em um último teste do gênero com mais uma alíquota das amostras degradas,

individualmente, mas com substituição do solvente acetona por solvente Tolueno.

Adicionou-se 10 ml de Tolueno em um Béquer e aproximadamente 10 g da amostra

degradada, mantendo-se o meio sob agitação contínua por 10 minutos. Repetiram-se as

adições de tolueno conforme as características do meio se alteravam. Anotaram-se as

observações pertinentes e o extrato foi reservado.

Teste de inflamabilidade das amostras

Pequenas alíquotas de aproximadamente 1 g foram pesadas em papel alumínio e

expostas a chama direta e a presença de chama na superfície. Observou-se a capacidade de

se inflamar na presença de uma chama direta, a capacidade de se inflamar após a ignição

de vapores na superfície (relacionado ao ponto de fulgor) e a capacidade dessa chama se

manter em ambos os casos se houvesse a produção de uma chama. Anotaram-se as

observações pertinentes e as frações usadas foram descartadas.

Destilação simples

Foi preparado um conjunto simples de destilação conectando um balão de fundo

redondo de duas vidras feito em vidro a um condensador de bolas através de um cotovelo

feito em vidro, mantendo-se o condensador na posição inclinada a fim de que o

condensado escoasse por gravidade pelas paredes para um recipiente anexo ao conjunto.

Sob o balão de fundo redondo foi colocado um sistema de manta de aquecimento elétrico

com controlador de temperatura. Em uma das vias do balão foi colocada uma rolha de

cortiça perfurada, e no orifício da rolha foi introduzido um termômetro de mercúrio no

interior do balão. Na outra via inicialmente introduziu-se 50 g da amostra degradada em

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forma cerosa com o uso de espátulas de metal e bastão de vidro dentro do balão cujo

volume total era de 100 ml. Na entrada de água de resfriamento do condensador,

localizada próxima ao bocal do balão de duas vias (região mais quente), foi conectada a

saída da água de refrigeração para o ralo. Na outra extremidade mais distante do balão foi

conectada a entrada da água (região mais fria).

Na extremidade do condensador um frasco tipo Erlenmeyer de 100 ml foi

posicionado para receber o condensado por gravidade proveniente do condensador.

O sistema de aquecimento foi ligado e um cronômetro foi disparado para

determinar o tempo total que a amostra foi submetida ao aquecimento. O termostato da

manta foi regulado inicialmente para 50 ◦C. Anotaram-se as características da amostra

durante o aquecimento e a evolução de algum condensado. Após a estabilização do meio,

incrementos de 10 ◦C foram realizados sequencialmente e novas anotações a cada

incremento e estabilização foram realizadas. Após o final do processo, ponto determinado

pelo limite da manta aquecedora (cerca de 200 ◦C) foi reservado o líquido destilado e o

resíduo para posteriores trabalhos.

A massa de líquido foi determinada para balanço de massa durante o processo de

destilação simples.

Teste de inflamabilidade do destilado

Alíquotas de aproximadamente 1 ml do destilado foram depositadas com um conta

gotas na superfície de uma espátula de metal e foram expostas ao calor da chama na

superfície e chama direta. Anotações foram realizadas a cerca da capacidade do destilado

de se inflamar na presença de chama superficial ou direta, bem como a manutenção dessa

chama também foi observada e anotada.

Outras características como aspecto, coloração, produção de fumaça e suas

características foram observadas e anotadas.

Análise química das amostras

Algumas amostras dos resíduos degradados foram submetidas à análise química

qualitativa a fim de determinar certas características básicas para se confirmar um perfil

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35

simplificado do tipo de substâncias presente. Alíquotas do destilado foram preparadas

para análise de espectroscopia de infravermelho e ressonância magnética nuclear.

Para as amostras que foram analisadas pela técnica de infravermelho a preparação

foi feita retirando-se uma alíquota de 3 ml de cada destilado e de cada extrato submetido

ao teste, transferindo-se estas alíquotas para vias de vidro identificadas. Uma pequena

porção de sulfato de sódio anidro foi depositada no interior de cada frasco, que foi

fechado e agitado vigorosamente, sendo deixado em repouso para decantação na

sequência. Após a decantação, uma pipeta pasteur de vidro com um algodão na ponta

acoplado foi utilizada para retirar uma alíquota filtrada do meio. A alíquota filtrada no

algodão foi transferida para uma via limpa e seca que foi identificada e enviada para

análise de infravermelho.

O mesmo procedimento foi realizado para todos os demais extratos e destilados

envolvidos no trabalho, utilizando-se de sulfato de sódio para extração de resíduos de

água da amostra e de algodão para filtração final.

Alíquotas desse filtrado foram depositadas sobre pastilhas de KBr preparadas pelo

analista responsável e foram submetidas à análise de espectroscopia de infravermelho. Os

resultados foram coletados.

Para as amostras que foram analisadas pela técnica de ressonância magnética

nuclear, a preparação foi realizada retirando-se uma alíquota de aproximadamente 3 ml da

amostra, transferindo-a para uma via contendo sulfato de sódio anidro para retirada de

traços de água. Após a agitação e decantação do sólido, uma alíquota foi filtrada usando

pipeta pasteur de vidro e uma pequena esfera de algodão. O líquido filtrado foi reservado

em uma via limpa e seca para análise. Uma gota do líquido filtrado foi adicionada a uma

pequena porção de clorofórmio para testar a solubilidade, verificando-se a possibilidade

de ser submetida ao RMN (utilização apenas de clorofórmio deuterado no equipamento).

Os resultados das análises foram coletados e avaliados.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A respeito da escolha dos fornos

O aquecimento de um dado material, ou seja, o processo de transferência de calor

através de uma fonte energética pode ser feito de diversas maneiras. Para este trabalho foi

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36

escolhido o método indireto de aquecimento onde não há o contato do objeto com a

chama. Neste caso, o processo de aquecimento com chama direta promoveria a oxidação

do material polimérico e também do material metálico, fato este não desejado. A oxidação

por chama direta, em presença de oxigênio é denominada combustão do material e

basicamente está relacionada com os processos de incineração tradicionais. Assim, o

aquecimento direto em chama apenas faria a conversão da matéria polimérica em CO2 e

H2O com alguns traços de outros gases.

O aquecimento indireto poderia ser feito através de fornos a gás ou fornos

elétricos. O forno de indução é um forno elétrico em sua essência, capaz de promover o

aquecimento quase que instantâneo de uma massa metálica devido ao seu modo de ação

relacionado ao excitamento eletrônico e troca de correntes. Como observado em outros

estudos, um aquecimento rápido pode favorecer a formação de compostos de maior

cadeia, em geral alcanos lineares e em menor proporção ramificados, além de reduzir ou

inibir a formação de aromáticos na degradação térmica de polietileno, favorecendo as

terminações em hidrogênio dos radicais alifáticos formados durante o processo. [6,7]

[18,19,20]

No caso do uso do forno de infravermelho, a proposição foi criar uma rampa de

aquecimento somada a um tempo de residência maior do que no forno de indução, com

capacidade para desenvolvimento de um processo com alimentação contínua e com a

possibilidade de trabalhar com resíduos misturados contendo alumínio ou não. Esta

realidade não é possível no forno de indução, uma vez que alimentações com resíduos

unicamente compostos de polietileno não sofreriam ação indutiva e, por tanto, não

sofreriam degradação térmica.

Sobre as temperaturas usadas

Após avaliação de estudos feitos por diversos autores e suas variadas proposições,

determinou-se o uso de uma temperatura de 450 ◦C para o forno de indução. Os trabalhos

realizados no forno de infravermelho foram realizados obedecendo a uma rampa de

aquecimento de 60 ◦C por minuto até a temperatura máxima de 680 ◦C, com o objetivo de

avaliar se o perfil de resíduo da degradação era alterado devido ao uso de uma rampa

específica, favorecendo a produção de líquidos e gases combustíveis ao final do processo,

conforme previsto por alguns autores. Os gráficos a seguir se referem aos registros de

temperatura em função do tempo feitos no processo usando o forno de indução.

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37

Analisando as Figuras 1, 2 e 3 foi possível observar que a evolução da temperatura

no forno de indução, para os três tipos de resíduos empregados, é muito mais intensa nos

primeiros instantes do processo, que o caracteriza como um aquecimento tipo flash.

Observa-se também que o perfil do avanço cumulativo da temperatura para as três

repetições do processo demonstrou uma reprodutibilidade satisfatória, com curvas de

avanço de temperatura muito semelhantes, como se observa na Figura 4.

Os dados indicam o processo iniciando na temperatura ambiente do galpão, onde se

localizava o forno, e atingindo valores máximos de 274,1 ◦C para o primeiro processo,

273,6 ◦C para o segundo processo e 263,3 ◦C para o terceiro processo. É possível observar

nas Figura 5, 6 e 7 que a taxa de variação da temperatura foi máxima no primeiro minuto

para os três processos, decaindo com o aumento do tempo até a estabilização da

temperatura no forno e o fim do processo, e que a reprodutibilidade entre eles foi

satisfatória como mostra a Figura 8. Analisando as Figuras 1, 2, 3 e 4 verifica-se que para

os três processos, o tempo de residência da mistura a ser degradada quando submetida à

temperatura final de aproximadamente 450 ◦C foi de 2 minutos e 39 segundos,

representando assim 53,2 % do tempo total de residência no forno.

Figura 5 - Perfil de aquecimento para o forno de indução Al + PE duplo

0

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0 30 60 90 120 150 180 210 240 270 300

Tem

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C

tempo [s]

Perfil de Aquecimento - Forno de Indução

Amostra Al + PEdupla camada

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Figura 6 - Perfil de aquecimento para o forno de indução Al + PE

Figura 7 - Perfil de aquecimento para o forno de indução Caixa de PE

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Perfil de Aquecimento - Forno de Indução

Amostra Al + PE

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Perfil de Aquecimento - Forno de Indução

Caixa de PE

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Figura 8 - Perfil de aquecimento para os três processos sobrepostas

Figura 9 - Taxa de variação do aquecimento Al + PE duplo

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Perfil de Aquecimento - Forno de Indução

Amostra Al +PE duplacamadaAmostra Al +PE

Caixa de PE

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Taxa de Aquecimento - Forno Indução

Amostra Al + PEdupla camada

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Figura 10 - Taxa de variação do aquecimento Caixa de PE

Figura 11 - Taxa de variação do aquecimento Al + PE

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Taxa de Aquecimento - Forno Indução

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Taxa de Aquecimento - Forno Indução

Amostra Al + PE

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41

Figura 12 - Taxa de variação do aquecimento – sobreposição das curvas

Analisando agora os perfis de temperatura registrados nos três processos

realizados no forno de infravermelho, observa-se nas figuras 9, 10 e 11 a evidência da

rampa de aquecimento pretendida inicialmente, assim como a reprodutibilidade entre os

ensaios na figura 12. Analisando as figuras 13, 14 e 15 verifica-se a manutenção da taxa

de aquecimento por cerca de 9 minutos, até que com a proximidade da temperatura final a

taxa decaia. Na figura 16 fica evidente a reprodutibilidade do aquecimento.

Ainda analisando as figuras de 9 a 16, observa-se que para os três processos, a temperatura

de 450 ◦C é atingida com aproximadamente 7,5 minutos de tempo de residência

(50% do tempo total de residência), e a temperatura final de 680 ◦C é atingida com cerca

de 12 minutos (80% do tempo total de residência) permanecendo por 3 minutos (20% do

tempo total de residência). Utilizando estes dados e fazendo uma comparação com o forno

de indução, verifica-se que o forno de infravermelho leva 2,82 vezes mais tempo para

atingir 450 ◦C cuja temperatura é a final do processo no forno de indução.

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Amostra Al + PE duplacamada

Amostra Al + PE

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Figura 13 - Perfil de aquecimento forno de infravermelho Al + PE duplo

Figura 14 - Perfil de aquecimento do forno de infravermelho Al + PE

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Perfil de Aquecimento - Forno Infravermelho

Amostra Al + PE

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Figura 15 - Perfil de aquecimento do forno de infravermelho Caixa de PE

Figura 16 - Perfil de aquecimento para o forno de infravermelho em sobreposição

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Perfil de Aquecimento - Forno Infravermelho

Amostra Al + PEdupla camada

Amostra Al + PE

Caixa de PE

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Figura 17 - Taxa de variação do aquecimento forno infravermelho Al + PE duplo

Figura 18 - Taxa de variação do aquecimento forno infravermelho Caixa de PE

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Taxa de Aquecimento - Forno Infravermelho

Amostra Al + PEdupla camada

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Taxa de Aquecimento - Forno Infravermelho

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Figura 19 - Taxa de variação do aquecimento forno infravermelho Al + PE

Figura 20 - Taxa de variação do aquecimento forno infravermelho testes sobrepostos

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Taxa de Aquecimento - Forno Infravermelho

Amostra Al + PE duplacamada

Amostra Al + PE

Caixa de PE

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Sobre o resultado do trabalho de campo

Forno de Indução

Foi observado que o processo realizado com o forno de indução conseguiu

degradar totalmente toda a massa depositada no seu interior no tempo previsto,

convertendo a massa inicial em uma mistura gasosa que fluiu pela tubulação e borbulhou

na água de arrefecimento. Observou-se a formação de uma pasta com viscosidade elevada,

hidrofóbica e de coloração cinzenta para as embalagens alimentícias. A coloração foi

amarela para as caixas de polietileno. Uma das prováveis razões para coloração observada

está relacionada com os corantes presentes nas embalagens.

No caso das embalagens alimentícias a presença de corantes vermelhos e cor de

chumbo no polietileno promoviam a coloração, sendo que no caso das caixas de

polietileno para perfuro cortantes, a totalidade da embalagem era pigmentada em amarelo.

O uso de cargas como pigmentos e outros aditivos é uma prática comum na indústria de

polímeros, tão necessária para acabamento, estabilidade e melhora de propriedades

térmicas e mecânicas do polímero. Estes compostos influenciam na coloração final da cera

após a degradação. Outras influências como alterações nas reações químicas, na cinética

do processo e outros aspectos não foram avaliados nesse estudo, porém é de conhecimento

que a presença de outras substâncias durante um processo de degradação térmica, por

exemplo, compostos com grupos funcionais como carbonilas, halogênios, azo compostos,

anéis aromáticos, entre outros, podem agir como facilitadores na quebra das cadeias e

como terminações para algumas frações [20].

Os gases que não condensaram após a lavagem através de borbulhas na água

seguiram para o sistema de exaustão. Parte desses gases foi coletada com o auxílio de um

balão de látex. Esta fração gasosa foi reservada para posteriores estudos, tendo sido

apenas submetida a um teste de chama. Observou-se o poder combustível desta mistura

gasosa através da conexão desde balão de látex com uma mangueira de um bico

queimador. Após iniciar o starter do queimador manual através de centelhamento elétrico,

o gás foi liberado lentamente pelo bico provendo uma chama com regiões azul e amarela

com pouca formação de fumaça negra. Observando os estudos realizados por outros

autores a cerca da composição média gasosa de um processo de degradação térmica de

polietileno e, considerando que esta obedeça ao mesmo padrão de geração destes estudos

compreendendo a formação principalmente de alcanos de baixo peso molecular e alcenos

de baixo peso molecular, pode-se afirmar que o potencial combustível dessa mistura

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gasosa se assemelha ao gás natural, tendo seu poder calorífico superior provavelmente

entre o gás natural e o propano e butano comercial [6-7], [18-20]. A fumaça gerada na

queima deve-se ao fato da mistura ar / combustível não estar devidamente equalizada e

também a presença de impurezas. Os gases não aproveitados passaram pelo sistema de

exaustão e filtro de carvão ativo impregnado com soda, sendo liberados na atmosfera.

Nenhuma análise instrumental foi realizada com os gases não condensáveis em razão de

exceder os limites técnicos e financeiros deste trabalho.

A cera gerada consistia de uma mistura de óleo associada a um material pastoso. O

aspecto do material condensado sugere a presença de uma vasta variedade de

comprimentos de cadeia. Verificou-se uma oleosidade intensa durante a remoção do

material, sendo a limpeza dos instrumentos usados possível apenas com o uso de

querosene comercial.

Dentro do cadinho restou um resíduo escurecido, que após resfriamento foi

identificado como o alumínio das embalagens coberto por uma fina borra preta. Esta borra

sugere uma carbonização do material polimérico na superfície do filme de alumínio.

Atribui-se esta carbonização ao fato de que na interface alumínio / polímero a taxa de

transferência de calor é muito superior em relação à interface polímero / ar da embalagem,

que associada a rápida rampa de aquecimento promove uma carbonização de uma camada

micrométrica sobre o alumínio. Segundo os princípios de utilização de alumínio reciclado

em fornos, o fato de esta carbonização estar depositada sobre o alumínio não reduz seu

valor ou capacidade de ser reciclado. Durante o processo de fusão do alumínio nos fornos,

a escória formada por essas carbonizações possui menor densidade do que o metal

fundido, permanecendo na superfície do cadinho no forno de alumínio.

O alumínio foi facilmente removido e forma de raspas carbonizadas e transferido

para o cadinho do forno de alumínio para posteriores trabalhos.

O material ceroso manteve certa umidade uma vez que o processo de condensação

ocorreu com contato direto da água. Não foi elaborado um sistema de condensação sem

contato com o fluido refrigerante visto que o tempo e os recursos disponíveis para este

trabalho não objetivavam tal realização. É possível notar que um sistema de resfriamento

fracionado, com o aproveitamento da energia dos gases da exaustão, poderia fornecer um

ganho de processo em termos de tempo e energia. Através da condensação fracionada dos

gases, misturas mais específicas compreendendo moléculas com comprimentos de cadeia

em uma faixa mais estreita seriam recuperados de forma seletiva, facilitando os processos

de downstream antes dos processos de destilação para extração de produtos de interesse

industrial.

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Forno de Infravermelho

Foi observado que o processo realizado com o forno infravermelho conseguiu

degradar totalmente toda a massa alimentada na rosca dosadora no tempo de residência

ajustado pela velocidade da rosca, convertendo a massa inicial em um gás que fluiu pela

tubulação e borbulhou na água de arrefecimento do sistema de coleta na cuba abaixo do

forno. Observou-se a formação de uma pasta com viscosidade elevada, hidrofóbica e de

coloração cinzenta para as embalagens alimentícias. A coloração foi amarela para as

caixas de polietileno. As razões para a coloração já foram discutidas no tópico anterior.

Os gases que não condensaram após a lavagem através de borbulhas na água

seguiram para o sistema de exaustão. Parte desses gases foi coletada com o auxílio de um

balão de látex. Esta fração gasosa também foi reservada para posteriores estudos, tendo

sido apenas submetida a um teste de chama. Observou-se o poder combustível desta

mistura gasosa através da conexão desde balão de látex com uma mangueira de um bico

queimador. Após iniciar o starter do queimador manual através de centelhamento elétrico,

o gás foi liberado lentamente pelo bico provendo uma chama com regiões azul e amarela

com pouca formação de fumaça negra, assim como foi observado para os gases oriundos

do forno de indução. Os gases não aproveitados passaram pelo sistema de exaustão e filtro

de carvão ativo impregnado com soda, sendo liberados na atmosfera.

A cera gerada consistia de uma mistura óleo associada a um material pastoso. O

aspecto do material condensado sugere a presença de uma vasta variedade de

comprimentos de cadeia. Verificou-se uma oleosidade intensa durante a remoção do

material, sendo a limpeza dos instrumentos usados possível apenas com o uso de

querosene comercial.

Dentro da rosca dosadora restaram borras sobre a superfície da rosca, que após

resfriamento foi identificada como uma fina borra preta. Esta borra sugere uma

carbonização do material polimérico na superfície da rosca. Atribui-se esta carbonização

ao fato de que na interface metal / polímero a taxa de transferência de calor é muito

superior em relação a interface polímero / ar da embalagem, que associada a rápida rampa

de aquecimento promove uma carbonização de uma camada micrométrica sobre o metal

da rosca. O alumínio foi depositado no cadinho de derrame no final da rosca em forma de

aparas irregulares também com uma fina camada de carbonização, sem prejuízo de sua

qualidade.

O material ceroso manteve certa umidade uma vez que o processo de condensação

ocorreu com contato direto da água.

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Observou-se que, em comparação com o processo no forno de indução, o processo

realizado no forno infravermelho possui as mesmas características de rendimento e

conversão, porém com a vantagem de possuir alimentação contínua se desejado, além de

ter como fonte de energia primária o gás e não energia elétrica, cujo valor é superior.

Nos dois processos alguns fatos experimentais importantes foram observados.

Talvez o mais relevante deles esteja relacionado com a forma com que se iniciaram as

transformações do resíduo. No caso do forno de indução, poucos segundos após o início

do processo, nenhuma evolução de gás foi notada no sistema de sifão na cuba. Após cerca

de 30 segundos, ou seja, ao final do primeiro disparo de indução, iniciou-se a liberação de

bolhas no interior da cuba com água. Isso se deve ao fato de que o ar no interior do

cadinho sofreu expansão volumétrica devido ao aumento de temperatura, porém até certo

patamar de temperatura e consequentemente de pressão, não conseguia vencer a pressão

oferecida como resistência na ponta do sifão. Após os 30 segundos iniciais, a temperatura

já passava dos 190 ◦C e a pressão interna excedeu a resistência da pressão estática da água

na cuba. Somente após 1,5 minuto que se observou o inicio da formação de óleo

condensado. Esse tempo morto pode ser relacionado com a difusão térmica na massa,

devido à viscosidade do conteúdo após a fusão inicial do polímero passada a temperatura

de fusão.

Antes de ocorrer a formação de óleo condensado ou material ceroso, os gases já

estavam evoluindo do interior do cadinho com propriedades combustíveis, pois as frações

coletadas nos tempos iniciais já resultavam em chama no queimador. Isso demonstra que a

degradação das primeiras cadeias localizadas na superfície dos resíduos é mais rápida e

pronunciada devido a sofrerem interação somente em uma das interfaces com outras

cadeias, sendo a outra interface polímero / ar. Logo que as primeiras cadeias são

convertidas em moléculas de menor massa molecular já ocorre a formação de frações

menores de alcanos leves, porém quase que imediatamente as demais cadeias vão sendo

degradadas e então, devido ao rápido aquecimento e curto tempo de processo, são

favorecidos os produtos de maior massa molecular. Este fato foi observado em outros

trabalhos de outros autores onde aspectos de cinética e aspectos quantitativos mais

detalhados foram abordados para outras configurações semelhantes de degradação. Isso se

deve ao fato de que quando se varia o tempo do processo, para mais ou para menos, a

energia disponível e o tempo reacional podem ou não atingir os limites necessários para

rompimento das cadeias maiores em frações cada vez menores. [6,7] [18,19,20]

Foi observado que ocorreu um aumento de temperatura na água dentro da cuba.

Este aumento era esperado, uma vez que é relacionado com a transferência de calor pelo

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contato direto dos gases oriundos do forno com a água, e também através da condensação

de parte do material sobre a água fornecendo seu calor de condensação ao meio. Como o

sistema da cuba do forno infravermelho não foi acoplado a um sistema de troca térmica,

admite-se que houve uma perda na eficiência na recuperação de condensado com o

aumento da temperatura da água cuja porcentagem em perda não pode ser estimada. Esta

perda está associada com a redução do ∆T entre a água da cuba e os gases oriundos do

forno. A temperatura final da água chegou a 52,4 ◦C no final do processo. Termopares

padrão instalados na porção inicial, central e final da rosca forneceram dados de

temperatura em tempo real das regiões citadas.

Verificou-se uma certa estabilidade em cada região, com valores médios entre os testes de

aproximadamente 89,6 ◦C para região inicial, 412,9 ◦C para região central da rosca e

683,3 ◦C para região final. Variações para mais ou para menos eram observadas apenas

quando a alimentação era interrompida e uma porção da rosca seguia apenas com ar, ou

quando uma nova carga era alimentada após interrupção. Esta variação é normal e se

relaciona com a demanda de energia na presença dos resíduos dentro do forno.

Balanço de massa

O balanço de massa aplicado para este estudo foi simplificado e não englobou as

perdas por evaporação e ganhos por umidade da fração líquida final.

O método para o cálculo foi baseado na determinação da massa inicial que foi carregada

em cada forno, seguida de determinação da massa de resíduos cerosos coletada ao final do

processo na cuba. A diferença entre estas parcelas fornece a quantidade de gás em massa

liberada. As Tabelas 1, 2, 3, 4 abaixo registram os valores para cada tipo de forno.

Tabela 1: Balanço de massa forno de Indução (valores em Kg)

valores em Kg Al + PE dupla Al + PE Caixa PE Caixa + metais

Total pesado 2,02 2,01 2,02 2,54

Sólido Restante 0,32 0,23 0,00 1,59

Líquido / Cera 1,51 1,59 1,80 0,70

gás (teórico) 0,20 0,20 0,22 0,25

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Tabela 2: Balanço de massa forno de Indução (valores em porcentagem)

Tabela 3: Balanço de massa forno Infravermelho (valores em Kg)

Tabela 4: Balanço de massa forno Infravermelho (valores em porcentagem)

Ao analisar os valores das Tabelas 1, 2, 3 e 4, obtidos nos balanços de massa

aproximados, observa-se que a formação de produtos gasosos no forno de indução é

inferior à produção de gasosos no forno de infravermelho. Em contrapartida, a produção

de produtos líquidos / pastosos foi superior no forno de indução. Atribui-se estas variações

não ao tipo de aquecimento empregado, mas a forma com a qual o aquecimento foi

realizado.

No forno de indução o aquecimento é rápido e o tempo de processo é curto. No

forno de infravermelho o processo é gradual e relativamente linear, o que garante tempo

para que produtos gaseificados logo entre a porção inicial e média da rosca ainda sejam

expostos a temperaturas maiores promovendo o cracking destes compostos em frações

menores aumentando a produção gasosa. Em contrapartida, uma vez que o infravermelho

fornece um tempo de residência superior com exposição a temperaturas maiores, as

cadeias formadoras da mistura cerosa serão mais degradadas do que as submetidas ao

tempo reduzido do forno de indução com temperatura inferior. Como observado pelos

porcentagem Al + PE dupla Al + PE Caixa PE Caixa + metais

Total pesado 100 100 100 100

Sólido restante 15,6 11,3 0 62,7

Líquido / cera 74,7 78,9 89,1 27,4

gas (teórico) 9,7 9,8 10,9 9,9

valores em Kg Al + PE dupla Al + PE Caixa PE

Total pesado 10,04 10,01 10,02

Sólido Restante 1,45 1,73 0,00

Líquido / Cera 6,03 6,44 7,61

gás (teórico) 2,56 1,84 2,41

porcentagem Al + PE dupla Al + PE Caixa PE

Total pesado 100 100 100

Sólido Restante 14,4 17,3 0

Líquido / Cera 60,1 64,3 75,9

gás (teórico) 25,5 18,4 24,1

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outros autores, o aumento da temperatura favorece o aumento na formação de gases para a

degradação térmica do polietileno [18-20].

Laboratório – extração

Em relação aos primeiros testes realizados no laboratório, com o objetivo de

verificar a capacidade de extração de alguns solventes frente ao resíduo ceroso foram

feitas três observações principais. A escolha dos solventes foi baseada em um simples

critério de polaridade e funcionalidade química.

O polietileno é uma poliolefina de cadeia linear, por isso a sua degradação térmica sugere

de maneira intuitiva a formação de compostos de cadeia linear de diversos tamanhos. O

próprio polímero já se apresenta como uma distribuição de massas moleculares,

denominada de polidispersidade. Como o processo é feito a altas temperaturas e com

presença de oxigênio em maior quantidade ou em traços no início do processo, o fato

sugere a possível formação de algum composto com terminação funcional devido a uma

série de reações orgânicas que não serão estudadas neste trabalho, e que envolvem

radicais [20].

Assim, assumindo a possibilidade de uma vasta distribuição de cadeias de tamanhos

variados, assumindo a possibilidade da existência de compostos com terminações

funcionais devido a reações ou aditivos presentes como corantes, além da possibilidade de

existência de algum aromático, seja oriundo de um plastificante ou corante, ou por alguma

reação mais complexa, optou-se por solventes como hexano, acetona e tolueno.

O hexano se justifica pela sua característica apolar e linear, de tamanho de cadeia

não excessivo, capaz de solubilizar diversos compostos lineares de maior número de

carbonos. A escolha da acetona foi feita baseada na sua polaridade e carácter orgânico

associado, possibilitando extrair alguma fração por interação com a carbonila. O tolueno

foi escolhido para verificar se haveria extração de algum aromático. As extrações com

hexano resultaram em um extrato de coloração igual ao resíduo ceroso, com aspecto turvo

e com material finamente dividido suspenso. As extrações com acetona forneceram um

extrato com aspecto inicialmente turvo de coloração semelhante ao resíduo ceroso, mas

que após repouso apresentou sólido branco finamente dividido depositado. Estes extratos

foram analisados posteriormente, porém neste estudo não foram feitas análises de cada

fração sedimentada separadamente, apenas da mistura.

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Laboratório – destilação

Durante o processo de destilação, o resíduo ceroso foi submetido inicialmente a

uma temperatura de cerca de 50 ◦C. Observou-se que uma parte desta cera rapidamente

passou da condição pastosa para a condição líquida oleosa, porém a grande parte do

conteúdo do balão permaneceu inalterada. Depois de estabilizada esta condição novos

incrementos de temperatura foram feitos, verificando-se que mais líquido era formando no

interior do balão. Pode-se atribuir de forma coerente este comportamento com o perfil do

composto e de sua possível degradação.

A distribuição de massa molecular do polímero e o processo de degradação são

responsáveis por uma formação diversa em termos de tamanho de cadeia de compostos

oriundos da degradação térmica. Como previsto na teoria, o tamanho da cadeia de

compostos alifáticos tende a influenciar em propriedades como ponto de ebulição e ponto

de fusão, solubilidade, entre outros. Neste caso, os incrementos de temperatura com fusão

parcial do material indica que existem cadeias com menos comprimento e outras com

maior comprimento, em uma larga faixa que, segundo alguns autores, podem variar de C6

até C30.

Observou-se que em temperaturas superiores a 98 ◦C, houve tendência do

conteúdo do balão de se projetar devido ebulição vigorosa de alguns compostos, o que

também reforça que compostos orgânicos de cadeias menores cujo ponto de ebulição é

inferior a esta temperatura estavam presentes. A partir deste ponto já era possível observar

a formação de condensados. Outro fato relevante é de que a humidade presente na cera

oriunda da água onde ela foi condensada evaporou durante a destilação, formando

gotículas no condensador. Estas gotículas foram arrastadas com a primeira fração

condensada e formaram duas fases no frasco coletor. Depois de estabilizada a condição

anterior descrita, a temperatura foi novamente aumentada de forma gradual, porém

verificou-se que o aspecto do líquido que condensava era o mesmo do inicial até cerca de

120 ◦C quando não mais foi observada condensação.

Observou-se que um fumo esbranquiçado evoluía da superfície da cera liquefeita e

não conseguia evoluir pelo sistema. Após esta temperatura não foi possível mais coletar

nenhuma fração condensada. O aumento da temperatura até cerca de 200 ◦C levou o

sistema a uma estabilidade e promoveu a degradação dos compostos que estavam no balão

carbonizando o fundo do balão. Foi possível notar que para a destilação desta cera o

sistema utilizado não era o ideal, sendo necessário para demais estudos um sistema do tipo

evaporador rotativo com banho de óleo mineral e pressão reduzida.

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Assim, temperaturas mais brandas serão necessárias para, sob ação de vácuo devidamente

dimensionado, obter as frações sem que ocorra degradação dos compostos ali presentes,

assim como permitir a evolução dos demais compostos mais pesados. Estes compostos

foram observados no fumo esbranquiçado que não evoluiu pelo sistema, devido sua

densidade superior em relação ao ar, não seguiram pelo condensador e permaneceram em

refluxo dentro do próprio balão.

Análise Química

Cinco amostras foram conduzidas para trabalhos analíticos qualitativos

exploratórios. A Tabela 5 classifica cada uma delas.

Tabela 5 – Descrição das amostras usadas nas análises qualitativas exploratórias

Amostras do condensado único obtido foram preparadas para análise qualitativa

por espectroscopia de infravermelho e ressonância magnética nuclear a fim de investigar

seu perfil. Verificou-se que a condensação da cera no processo feita em contato direto

com a água enriquece a pasta em umidade, o que dificulta os processos posteriores de

destilação e consequentemente de análise. A presença de água nas análises propostas não

permite a correta determinação do perfil da mistura obtida, como verificado no espectro

de infravermelho com uma banda larga referente a presença de água.

As amostras foram submetidas à agitação em presença de sulfato de sódio anidro

para remover traços de água. Durante as preparações foram feitas cinco amostras

diferentes para as análises instrumentais. As amostras AM1 e AM5 são referentes as

extrações com acetona e hexano, respectivamente. As amostras AM2, AM3 e AM4 são

referentes aos destilados dos três processos do forno de infravermelho. Não foram

analisadas as amostras do forno de indução, uma vez que foi concluído que a viabilidade

de um processo em batelada não seria a melhor para saneamento de embalagens, tendo um

Código da Amostra Descrição

AM1 Resíduo ceroso extraído com Acetona

AM2 Resíduo ceroso do teste com Alumínio + PE dupla camada

AM3 Resíduo ceroso do teste com Alumínio + PE simples

AM4 Resíduo ceroso do teste com PE somente

AM5 Resíduo ceroso extraído com Hexano

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processo contínuo muito mais vantagens técnicas e econômicas. De qualquer forma, o

aspecto da cera era idêntico. Acredita-se que variações em composição podem ocorrer

devido tempo de processo e temperatura, como observado por outros autores que

estudaram a influência da temperatura, pressão e tempo de exposição na composição das

frações e na cinética do processo.

A avaliação do espectro de infravermelho da amostra AM1 na Figura 21 revela a

existência de uma banda na região de 3430 cm-1 de largura considerável e característica de

presença de água na amostra. Este fato pode ser explicado uma vez que ao extrair a cera

com acetona a água presente misturou-se com parte da acetona, formando uma solução de

água com acetona. Assim, a utilização de sulfato de sódio anidro não foi suficiente para

remover a água do meio, apenas os traços. Dois picos na região de 1700 cm-1 indicam uma

deformação axial da ligação dupla entre carbonos em alquenos não conjugados,

apresentando uma banda de intensidade moderada e intensa. Pode-se associar esta

informação a presença de alifáticos com instauração na cadeia, proveniente das reações de

degradação. A formação de compostos com dupla ligação do tipo alcenos foi verificada

em outros trabalhos por outros autores, porém em menor quantidade. Esta banda foi

verificada nos extratos com acetona e na extração com hexano. Picos acima de 3000 cm-1

podem indicar a presença de estiramento sp2 de dupla ligação carbono com simples

ligação em hidrogênio = C – H, provavelmente um alceno com terminação em hidrogênio.

Nos gráficos da análise de ressonância magnética nuclear dessas amostras verificam-se

apenas dois picos, um referente ao solvente deuterado e outro na região de 30 ppm com

valores negativos, confirmando a presença de carbonos do tipo CH3 e CH.

A avaliação do espectro das amostras de destilado AM2, AM3 e AM4 na Figura

21 revelam espectros de infravermelho muito semelhantes. Pode-se analisar que, mesmo

utilizando fontes diferentes de plástico no processo, ao menos a primeira mistura destilada

de compostos apresenta as mesmas características químicas. Nos espectros dessas

amostras verifica-se a presença de um pico de intensidade moderada para leve na região

de 3074 cm-1 indicando um estiramento sp2 do tipo dupla carbono simples hidrogênio

= C – H . Uma banda de picos conjugados na região de 2957,2 cm-1 ; 2929,3 cm-1 indicam

estiramento sp3 ligação simples entre carbono e hidrogênio de CH3, CH2 e CH. Na região

de 1650 cm-1 aproximadamente picos demonstram deformação axial da ligação C = C em

alquenos não conjugados. Esta banda apresenta-se com intensidade moderada à fraca na

região entre 1667 cm-1 e 1640 cm-1. Picos na região de 1458 cm-1 aproximadamente

revelam deformação angular de CH2, na região de 1379,8 cm-1 revelam deformação

angular de CH3 e na região de 887 cm-1 revelam deformação angular fora do plano de

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CH2. Na Figura 22 obtida da ressonância magnética nuclear confirmam-se a presença de

carbonos de cadeias lineares tipo CH2 observados em picos na região de 110, 50 e 40 ppm

com intensidade positiva, bem como a presença de carbonos do tipo CH e CH3 lineares na

região entre 40 e 15 ppm com intensidade negativa. Foi observado também um conjunto

de pequenos picos de CH característicos de aromáticos na região de 140 ppm com

intensidade negativa, além de um pico na região de 150 ppm de carbono C quaternário.

Atribui-se a presença do pico de aromático ao corante orgânico usado no polímero

que possa ter sofrido degradação térmica também, além de algumas reações complexas

que possam ter ocorrido no meio e que foram estudadas apenas por alguns autores, não

sendo objetivo deste trabalho. Mais uma vez existe uma clara relação entre a linearidade

do polímero que está sendo degradado, sua distribuição de cadeia e a presença de picos

nos espectros indicando que a composição dos extratos e principalmente dos destilados é

composta de orgânicos alifáticos em geral com estrutura linear. A presença de

insaturações em alguns compostos foi prevista por outros autores, tanto os de menor

massa molecular encontrados na fase não condensável como etileno, propeno, como

outros de cadeias maiores. As Figuras 21 e 22 podem ser encontradas com mais detalhes

ampliadas no apêndice deste trabalho.

Figura 21 – Sobreposição dos espectros de infravermelho das amostras analisadas

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Figura 22 – Ressonância da amostra destilada AM3 como exemplo de resultado

Nota-se que o uso de um forno para preparação de uma mistura de compostos a

partir de produtos plásticos de PE para posterior processo de craqueamento, separação e

utilização são perfeitamente possíveis. Observou-se que é necessário um estudo refinado

das condições de processo para maximizar produtos específicos. Um dos principais

benefícios é a recuperação do alumínio associado nessas embalagens.

Para concluir as observações, os testes realizados com os destilados e a cera

utilizando chama para verificar a capacidade de inflamação foram feitos e observou-se

que a cera quando submetida a uma chama direta rapidamente tem seu aspecto alterado de

pastoso para líquido, não fornecendo chama inicialmente. Passados alguns segundos uma

chama é produzida com formação de pouca fumaça negra e alguns estalos com projeção

de material. Atribui-se estes acontecimentos ao fato de que a cera no estado natural em

que se encontra após o processo é uma mistura muito vasta de compostos, que somente

após a exposição ao calor teve suas frações liquefeitas e vaporizadas numa pequena fração

de tempo, alcançando assim a condição ideal para produzir chama.

No caso dos destilados as observações são diferentes. O comportamento é similar

ao de um solvente ou combustível, tendo se comportado como um líquido translúcido a

temperatura ambiente, de cheiro característico, e que ao se aproximar de uma chama

incendeia mantendo uma chama amarela com pouca produção de fumaça. Sua queima se

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assemelha a uma chama de vela, coerente com sua composição que lembra uma estrutura

parafínica em menor tamanho de cadeia.

Para este trabalho não foi realizada a determinação do poder calorífico como

previsto inicialmente. A razão para a não realização desta análise está relacionada á dois

fatores principais: o primeiro deles é o fator limitação técnica e orçamento e a segunda

está relacionada ao fato de que se observou que o destilado não é puro, mas sim uma

mistura de vários outros componentes que precisam ser destilados. Como não foi possível

fazer destilações mais refinadas para os fins ao que se destinavam este trabalho, optou-se

por não seguir com análises posteriores. Análises de cromatografia gasosa acoplada a um

detector de massas, usando de alguma variação no tipo de forno usado, poderiam ser

usadas para determinar as composições dos gases e das frações líquidas passíveis de serem

vaporizadas em injetor apropriado. Estas análises não foram realizadas, pois demandariam

a obtenção de inúmeros padrões de compostos orgânicos e a disponibilidade de colunas e

equipamentos apropriados cujas obtenções estão fora do escopo e orçamento deste

trabalho. Trabalhos posteriores deverão envolver tais análises.

5. CONCLUSÕES

Após a avaliação de todo o contexto do trabalho, desde o levantamento de

parceiros para fornecimento e tratamento de refugos de processamento de resíduos

plásticos associados ao alumínio em embalagens até o estudo das características do

produto de degradação, pode-se concluir que a execução de um projeto para

beneficiamento de resíduo de Polietileno com alumínio associado é possível com

tecnologia relativamente simples.

Foi possível concluir que um estudo detalhado sobre a utilização e classificação

dos compostos oriundos da degradação é requerido para o sucesso da aplicação final,

determinação do valor agregado e correta destinação dos resíduos não tratáveis.

Durante os estudos dos trabalhos já realizados sobre o tema notou-se uma

tendência em detalhar quimicamente e cineticamente todos os processos, reações e

situações, porém não é de conhecimento que as propostas para execução de um projeto de

planta de aproveitamento térmico e residual tenha sido concretizada no Brasil e inclusive

em outros países.

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Nem todos os resíduos poderão ser aproveitados, uma vez que o rejeito

carbonizado que não destila, com características acima da curva de destilação de um

gasóleo, somente poderá ser destinado a incineração. Porém, como esta fração é pequena

em relação ao montante processado, o fato de enviar o resíduo não destilado para

incineração não reduz o benefício gerado pela obtenção de compostos alifáticos com

potencial combustível e a preparação de ceras para indústria a partir do polietileno de

refugos do setor de embalagens.

O aproveitamento das frações gasosas não condensáveis poderia encontrar

dificuldades de viabilidade caso o objetivo fosse a conversão e separação dos gases em

suas substâncias constituintes, ou conversão em algum gás de interesse, gás de síntese, etc.

Para evitar estas dificuldades, o simples aproveitamento energético dos gases, cujo poder

calorífico como observado em outros estudos se assemelha ao gás natural, através da

alimentação de geradores e fornos na própria indústria, ou como co-alimentação de

combustível em queimadores paralelos em caldeira ou fornos reduziria os custos

energéticos da indústria e poderia produzir energia elétrica em geradores adaptados à gás.

Cuidados deverão ser tomados no processo como a não utilização de polímeros

como policloreto de vinila (PVC) ou Poliestireno (PS) devido a formação de compostos

tóxicos durante o processo, como Ácido Clorídrico e compostos aromáticos como

Benzeno, Xileno, Tolueno e outros de estruturas mais complexas.

Trabalhos posteriores deverão incorporar o refinamento das condições

operacionais do forno utilizado neste estudo, ou desenvolvimento de tecnologia mais

refinada e adequada, bem como a determinação das condições ótimas de processo que

envolvem um completo estudo de engenharia e um detalhamento químico dos produtos,

todas estas ações hoje fora do escopo simplificado deste trabalho. Ao final, foi possível

concluir que o teste para obtenção de compostos de interesse forneceu um sinal positivo

de que todas as toneladas de rejeito que são aterradas hoje poderiam estar sendo utilizadas

com processos relativamente simples para extrair produtos com valor agregado, reduzindo

a deposição de material no meio ambiente e reaproveitando materiais com potencial

energético acumulado.

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APÊNDICE

Ampliação do espectro de infravermelho das amostras

Figura 21 – Sobreposição dos espectros de infravermelho das amostras analisadas

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Ampliação da ressonância nuclear magnética das amostras

Figura 22 – Ressonância da amostra destilada AM3 como exemplo de resultado