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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
AVM FACULDAE INTEGRADA
O USO DE APARELHOS DIGITAIS DO COTIDIANO NA
APRENDIZAGEM PARA A VIDA PROFISSIONAL
Por: Ricardo de Castilho Stamato
Orientador: Profª Mary Sue de Carvalho Pereira
Rio de Janeiro
2016
DOCUMENTO PROTEGID
O PELA
LEI D
E DIR
EITO AUTORAL
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
AVM FACULDAE INTEGRADA
O USO DE APARELHOS DIGITAIS DO COTIDIANO NA
APRENDIZAGEM PARA A VIDA PROFISSIONAL
Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do
Mestre – Universidade Candido Mendes como
requisito parcial para obtenção do grau de
especialista em Tecnologia Educacional
Por: Ricardo de Castilho Stamato
3
AGRADECIMENTOS
Agradeço às minhas netas Thaís, Lara,
Bárbara e Lia e ao meu neto Diego
pelo seu carinho e compreensão para
com um avô que ainda lhes deve muito
mais tempo de convívio e atenção.
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DEDICATÓRIA
À Angela Ferreira Stamato, minha querida
esposa e companheira de todas as horas,
inclusive das horas de estudo, como estas
em que cursamos juntos, no mesmo dia e
hora, cursos da Pós Graduação na AVM.
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RESUMO
De modo a estimular o interesse dos alunos de cursos técnicos industriais nos
temas apresentados em sala de aula, nas diversas disciplinas técnicas,
procura-se, sempre que possível, associar tais temas a experiências
possivelmente já vividas pelos mesmos no seu cotidiano da vida pessoal,
mostrando que há muitas experiências obtidas desse cotidiano que são
análogas a outras situações práticas com as quais vão se deparar na vida
profissional, quando forem trabalhar como técnicos. Mesmo durante a
apresentação da teoria envolvida nas disciplinas das aulas teóricas, essas
analogias podem ser feitas.
Nesse sentido, considera-se que uso de aparelhos digitais de uso cotidiano
(como cartões de passagem de ônibus e trens), assim como outras atividades
de lazer comuns na nossa cultura (como beber um copo de chope), podem ser
usados para facilitar o entendimento dos temas e também a auxiliar na fixação
dos conteúdos teóricos e práticos ministrados, sempre os associando às
disciplinas ministradas e aos possíveis usos dessa aprendizagem para a vida
profissional.
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METODOLOGIA
A pesquisa de campo para levantamento dos aparelhos digitais a serem
estudados foi o ponto de partida o presente estudo, que é dirigido ao ensino
médio.
Para o presente trabalho, recorreu-se a pesquisas bibliográfica, webgráfica e
documental, por meio da análise de livros, sites, manuais de fabricantes e
normas técnicas.
Outra fonte de informação foi a experiência prática do professor como Técnico
de Manutenção e, posteriormente, como Engenheiro Eletrônico de Projeto.
A leitura de seções de ciência de jornais e de revistas de notícias em geral
sempre foi uma referência para a pesquisa e a obtenção de materiais para as
aulas. Artigos de interesse dessas fontes foram estudados e catalogados para
a possível utilização em sala de aula.
Os livros técnicos e revistas técnicas também foram utilizados para o melhor
embasamento teórico dos assuntos tratados, quando necessário.
Acrescenta-se que, foram pesquisados, na Internet, sites de fabricantes para a
obtenção de mais detalhes de funcionamento de alguns aparelhos eletrônicos
comerciais, assim como para obtenção de fotos e desenhos explicativos.
Textos técnicos de fontes especializadas, tais como: Cursos de Engenharia de
Universidades, Cursos Técnicos e Sites de Professores Especializados nos
temas tratados, também, foram consultados na Internet para a composição de
presentes trabalho.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I - Formação de Alunos para as Empresas Modernas 10
CAPÍTULO II - Cibercultura 22
CAPÍTULO III – Aparelhos Digitais no Cotidiano Moderno 30
CONCLUSÃO 38
BIBLIOGRAFIA 40
ANEXOS 46
INDICE 55
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INTRODUÇÃO
A partir da necessidade de tornar as aulas teóricas mais próximas de
situações práticas, mesmo sem o uso de um laboratório, procurou-se,
sempre que possível, associar a teoria ministrada em sala de aula a alguma
experiência do próprio professor obtida no seu cotidiano, como usuário de
tecnologias no dia a dia, incluindo-se aí as horas de lazer. A experiência dos
alunos no seu cotidiano, em geral, está próxima da experiência do professor,
visto que a cidade em que se vive é a mesma, com as mesmas lojas, os
mesmos tipos de transporte coletivo, os mesmos jornais e revistas, os
mesmos canais de televisão e de rádio, os mesmos times de futebol, as
mesmas escolas de samba (que têm mostrado, ultimamente, muita
tecnologia), ou seja, estamos inseridos na mesma cultura.
Não podemos pensar na Tecnologia como um elemento isolado, separado
da Sociedade, mas sim considerarmos que o mundo é permeado pela
Tecnologia, que influencia as formas de sociabilidade. (FEITAL, 2012).
Na presente pesquisa, procura-se demonstrar que é de grande utilidade
para o professor e para os alunos, relacionar as experiências do cotidiano
com as possíveis situações que os mesmos poderão encontrar no mercado
de trabalho, pela aprendizagem dos conteúdos programáticos das escolas
por meio do estudo do funcionamento de aparelhos digitais comerciais de
uso cotidiano.
As tecnologias digitais são amplamente usadas nos aparelhos atuais, devido
ao menor custo e à possibilidade de acrescentar mais funcionalidades de
uso, que os antigos aparelhos analógicos não permitiam. Por exemplo, um
medidor de pressão digital pode armazenar a medida de pressão com data e
hora. O mesmo ocorre com uma balança digital.
O educando que desenvolva habilidades no uso das ferramentas
tecnológicas tais como Computador, Tablet, Celulares do tipo Smartphone,
redes WiFi, redes de dados das operadores, dentre outras, que compõem a
chamada Tecnologia da Informação e da Comunicação – TIC, já estará se
qualificando para a vida profissional.
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Nos dias de hoje, muitas atividades profissionais exigem do aluno
habilidades no uso de ferramentas da TIC, seja na área comercial, industrial
ou de serviços. Mesmo que o trabalhador não tenha como função uma
atividade com uso de um computador, ele poderá ter que utilizar algum
aparelho digital, que na verdade é um computador dedicado a alguma tarefa
específica, como por exemplo:
- Em uma academia, o controle de entrada e saída de usuários é feito por
um sistema digital composto de catraca (roleta), leitor de impressão digital e
computador;
- Em um mercado, as balanças para pesar mercadorias são computadores
digitais dedicados, ligados a impressoras. Há também os leitores de códigos
de barra para a consulta de preços pelos clientes, além dos caixas
eletrônicos com leitora de código de barras, balança e terminais para
pagamento com cartão de débito ou crédito;
- Na indústria, o controle do fluxo dos insumos para a produção é rigoroso,
desde suas entradas (compras), até o produto final (estoque), sendo feito
por sistemas computadorizados. Em um setor de compras, o uso da Internet
para acesso a informações sobre produtos e insumos, assim como seus
fornecedores, é imprescindível.
Pierre Lévy considera que a emergência da Cibercultura provoca uma
mudança radical no imaginário humano, transformando a natureza das
relações dos homens com a tecnologia e dos homens entre si mesmo. Lévy
une técnica, sociedade, cultura, arte, educação e cidadania em um único
espaço: o virtual. Para ele, o espaço virtual é apenas um ponto de partida
para conhecermos e planejarmos melhor o espaço real. (FEITAL, 2012).
Segundo Pierre Lévy, uma técnica é produzida dentro de uma cultura, e uma
sociedade é condicionada por suas técnicas, mas não é determinada por
elas. Dada a importância das tecnologias nos dias atuais, é necessário que
seu conhecimento seja aprendido o mais cedo possível pelos educandos.
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CAPÍTULO I
FORMAÇÃO DE ALUNOS PARA AS EMPRESAS
MODERNAS
No artigo “Gestão do Trabalho Docente no Século XXI: do Capital Humano
ao Capital Intelectual” Jussara M. Macedo nos informa que há a
necessidade de adequar o trabalho docente às necessidades das empresas,
no que tange à formação de Capital Intelectual.
A crise estrutural do sistema capitalista de produção implicou em mudanças
na gestão do trabalho e da produção nas empresas, o que fez surgir a
necessidade de trabalhadores de novo tipo, mais ajustados à nova
configuração das forças produtivas e da gestão da produção. O trabalhador
docente precisa também se atualizar, para atender às mudanças
necessárias para adaptar a escola às novas exigências das empresas.
Para atingir esse objetivo, em um primeiro lugar, surge a necessidade de
contratação, pelas empresas, de empregados qualificados, para a produção
de determinados bens, de acordo com as tecnologias de produção atuais.
Em segundo lugar, vem a necessidade de qualificação de empregados no
entorno das unidades produtivas, ou seja, eles devem estar perto dos locais
de trabalho, devido à necessidade de deslocamento para fábricas, ou
centros de produção de bens e serviços, diariamente.
Da necessidade de mão de obra qualificada especificamente para aquela
região produtiva, surge, em terceiro lugar a necessidade de haver nas
Escolas Técnicas, Faculdades ou Universidades daquela região, docentes
com as especializações apropriadas para promoverem a formação dos
empregados. A formação especializada dos docentes é, então,
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imprescindível para que sejam atingidos os objetivos produtivos conforme a
vocação específica daquela região produtiva.
No artigo “A Metamorfose do Aprender na Sociedade da Informação”, Hugo
Assmann nos informa que as novas Tecnologias da Informação e
Comunicação (TICs) estão proporcionando transformações do aprender,
assim com reconfigurações no conhecimento (ASSMANN, p. 7-15). A
espécie humana está em uma fase evolutiva nunca ocorrida antes, em
termos de velocidade de desenvolvimento e de quantidades de inovações,
na qual os aspectos cognitivo e relacional da convivência humana se
metamorfoseiam com rapidez nunca antes experimentada. Em parte, essas
transformações se devem à função mediadora dessas novas tecnologias,
sempre presentes no cotidiano da sociedade atual.
Em relação à aprendizagem e ao conhecimento, chegamos a uma
transformação sem precedentes das ecologias cognitivas, tanto dentro da
escola como fora dela, mas, mesmo as transformações externas à escola
interferem internamente de maneira profunda nelas. As novas Tecnologias
da Informação e Comunicação não substituem o professor, porém, ajudam a
intensificar o pensamento complexo, interativo e transversal. Há uma
profunda transformação das formas do aprender na era das redes ou na
chamada Sociedade da Informação.
Assmann considera importante mostrar que a função do professor
competente não só não está ameaçada, mas está aumentada a sua
importância. Nesse novo contexto, o novo papel do professor não será mais
o da transmissão de saberes supostamente prontos, mas o de mentor e
instigador ativo de uma nova dinâmica de pesquisa-aprendizagem.
Os Smartphones e Tablets facilitam a interatividade e as atividades em
redes, que permitem a conectividade, fazendo com que o processo de
pesquisa-aprendizagem não se limite ao período dentro dos ambientes
escolares.
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A expressão “Sociedade da Informação” deve ser entendida como um dos
aspectos da sociedade, qual seja, o da presença cada vez mais acentuada
das novas Tecnologias da Informação e Comunicação. Não serve para
caracterizar a sociedade em seus aspectos relacionais mais fundamentais.
Do conceito de Sociedade da Informação passou-se ao conceito de
Sociedade Aprendente (Learning Society) e Sociedade do Conhecimento
(Knowledge Society), ou Societé Cognitive em francês, em que as novas
Tecnologias da Informação e Comunicação assumem um papel muito
importante na evolução das ecologias cognitivas, facilitando as
aprendizagens complexas, assim como as aprendizagens cooperativas.
A Teoria do Capital Humano tem fundamentado as ações políticas dos
governos na área educacional, mas novos conceitos e novas ideias têm sido
incorporados. Na área da administração de empresas, o jargão denominado
Capital Intelectual tem sido usado, influenciando determinado segmento do
pensamento educacional.
A influência das teorias da administração na área educacional deve ser
compreendida, visto que tais ideias também influenciam as políticas de
formação dos docentes, implementadas pelo Ministério da Educação (MEC).
Segundo a professora Jussara M. Macedo, o MEC segue as orientações dos
organismos internacionais, para a formação de um pensamento único na
área educacional (SAMPAIO, 2012).
“...políticas de formação para o trabalho docente implementadas pelo Ministério da Educação (MEC), articulando-se diretamente às orientações/imposições dos organismos internacionais, cujo objetivo é a formação do “pensamento único” no campo educacional e a formação de um professor de novo tipo, (con)formado e adaptado.”
O conceito de Capital Intelectual está associado ao movimento capitalista de
Educação Corporativa, que é um conjunto de práticas educacionais para o
desenvolvimento dos funcionários, para que atuem mais efetiva e
eficazmente na sua vida institucional (MACEDO, 2012).
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O Capital Humano de uma nação deve ser avaliado em suas cinco
dimensões (BECKER, apud MACEDO, 2012), quais sejam:
- Sistemas de aprendizagem disponíveis no trabalho;
- Nível de educação formal dos trabalhadores;
- Nível de informação que os trabalhadores têm sobre o sistema econômico;
- Qualidade do sistema de suporte à saúde dos funcionários;
- Acesso a bens de consumo.
A educação é vista como um componente de produção, recebendo uma
análise rigorosa das taxas de retorno e da produtividade alcançada com
esse investimento.
As organizações na Sociedade do Conhecimento, que são baseadas na
Gestão por Competências e na Gestão do Conhecimento, devem considerar
o saber como o maior patrimônio da organização. Esse saber, que se
denominou Capital Intelectual, consiste em: (CARBONE, apud MACEDO,
2012)
- Competência técnica dos consultores;
- Modelo de gestão implantado;
- Motivação dos funcionários;
- Sistemas de auditoria e arquivos;
- Portfólio de clientes;
- Imagem da organização perante o mercado.
Dentro da lógica do Capital Intelectual, a Empresa do Conhecimento é
aquela que tem competência para administrar grandes redes de
colaboradores, sendo estes fornecedores, funcionários, prestadores de
serviços, clientes, governos, etc., ou seja, colaboradores são todos aqueles
que se relacionam com a empresa, influenciando em suas atividades. Na
Sociedade do Conhecimento, substituir um trabalhador por outro não
prejudica o processo produtivo, porque a empresa tem controle integral do
processo de trabalho. (MACEDO, 2012).
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A formação para o trabalho docente fica atrelada a essas novas exigências
de formação do trabalhador, cujas diretrizes, oriundas da administração, são
moldadas pela referência mundial da atual forma de gestão capitalista da
força de trabalho (MACEDO, 2012). As empresas pretendem garantir a
formação de competências necessárias aos seus trabalhadores, passando a
escola a ter a função de formar o indivíduo para a empregabilidade. Então, o
professor, que é o formador da força de trabalho, precisa ter sua formação
também modificada (MACEDO, 2012).
A era das redes, ou era da Sociedade da Informação, proporcionou (e
continua a proporcionar) profunda transformação das formas do aprender. A
grande expansão das linguagens digitais, os algoritmos recursivos e
genéticos, e outras tecnologias, são hoje indispensáveis na Computação
Evolucionária. (ASSMANN).
Nas teorias de gerenciamento empresarial, difunde-se o conceito de
Organizações Aprendentes (Learning Organizations). Segundo Assmann:
“A sociedade da informação é a sociedade que está atualmente a constituir-se, na qual são amplamente utilizadas tecnologias de armazenamento e transmissão de dados e informação de baixo custo. Esta generalização da utilização da informação e dos dados é acompanhada por inovações organizacionais, comerciais, sociais e jurídicas que alterarão profundamente o modo de vida tanto no mundo do trabalho como na sociedade em geral.”
Devemos lembrar que a mera disponibilização crescente da informação não
basta para caracterizar uma sociedade da informação. O mais importante é
o desencadeamento de um vasto e continuado processo de aprendizagem.
(ASSMANN).
De acordo com Assmann, devemos considerar a Sociedade da Informação
como uma Sociedade da Aprendizagem:
“...sublinhamos que é fundamental considerar a sociedade da informação como uma sociedade da aprendizagem. O processo de aprendizagem já não se limita ao período de
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escolaridade tradicional. Como referido no Livro Branco da Comissão sobre a educação, “Rumo à Sociedade Cognitiva” (1995), e no relatório da OCDE “Aprendizagem ao Longo da Vida” (1996), trata-se de um processo que dura toda a vida, com início antes da idade da escolaridade obrigatória, e que decorre no trabalho e em casa.”
Com o exposto acima, vemos que as novas tecnologias de informática, de
rede e de eletrônica, ou as chamadas Tecnologias da Informação e
Comunicação (TICs), têm um papel ativo e co-estruturante das formas do
aprender e do conhecer humano.
A aprendizagem de conteúdos técnicos que, por vezes, são abstratos, pode
ser facilitada quando o aluno tem seu interesse despertado e seus
sentimentos são tocados de alguma forma. Uma boa maneira de “provocar”
o aluno seria pela analogia do funcionamento de aparelhos eletrônicos de
uso no cotidiano com os conteúdos técnicos estudas em sala de aula.
Jean Piaget, cientista suíço (1896-1980), estudou biologia e, posteriormente,
filosofia, mas suas preocupações com o conhecimento o levaram
diretamente à psicologia onde, a partir de pesquisas experimentais em
laboratório, construiu sua teoria do desenvolvimento cognitivo, influenciando
profundamente o pensamento nas áreas de psicologia e pedagogia ao longo
de sua trajetória como pesquisador (VIOTTO FILHO). Piaget não era
pedagogo, mas foi um dos pensadores mais influentes na área de
Educação. Piaget nos informa que a Inteligência está situada no conjunto
das funções mentais, sendo ela um estudo das condutas. Essas condutas
incluem a consciência, mas são mais amplas que a própria consciência.
Baseando-se nas condutas, pode-se estudar a inteligência de um bebê, do
qual não se sabe nada sobre seu grau de consciência. Toda conduta é
conhecimento e afetividade, que são dois aspectos indissociáveis de toda
conduta. Segundo Piaget (PIAGET, apud MARÇAL):
“Por exemplo, o raciocínio matemático, que parece ser o modelo de uma conduta puramente intelectual, é na realidade pleno de sentimentos: deve interessar, é preciso esforço, há prazer, pena, sentimentos de harmonia, de estética etc. No outro extremo, um sentimento amoroso pressupõe elementos
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cognitivos: elementos de percepção, discriminação, de compreensão etc.”.
Piaget diz que a afetividade constitui a dinâmica da conduta, a regulagem
das forças da conduta, enquanto que a inteligência, ou antes, o
conhecimento num sentido mais amplo, seria a estrutura da conduta, ou
seja, o conjunto das relações entre o sujeito e os objetos da conduta. Mas
todo conhecimento não é inteligência. Há estruturas perceptivas, há
imagens, há adaptações motoras, dentre outros fatores.
Piaget cita Claparède (mestre de Piaget), que procurou definir a inteligência
por ensaios de tentativa e erro. Ele dividiu as condutas em três grupos
(PIAGET apud MARÇAL):
- O instinto é a adaptação hereditária às situações que se repetem;
- O hábito é a adaptação adquirida às situações que se repetem;
- A inteligência é a adaptação às novas situações, um ensaio de tentativa e
erro.
Piaget é considerado o inaugurador da Epistemologia Genética, teoria que
investiga a gênese do conhecimento. O conceito de Sujeito Epistêmico
surgiu quando Piaget iniciou seus estudos sobre o processo de construção
de conhecimentos de Matemática e Física na criança pequena. O conceito
de Sujeito Epistêmico, também chamado de Sujeito Cognoscente ou do
conhecimento, diz respeito às estruturas mentais comuns a todos os seres
humanos, que conferem a possibilidade de aprender fazendo relações entre
diferentes informações (classificação, comparação, dedução etc.). Tais
estruturas se desenvolvem do início ao fim da vida por meio da ação dos
indivíduos sobre o meio, num processo de interação com o objeto de
conhecimento e com as outras pessoas, o que possibilita a construção de
níveis de saber cada vez mais complexos. O sujeito epistêmico é um sujeito
social, que compartilha e debate hipóteses (Lino Macedo, apud
FERNANDES). Segundo Piaget:
“Os conhecimentos não partem, com efeito, nem do sujeito (conhecimento somático ou introspecção) nem do objeto
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(porque a própria percepção contém uma parte considerável de organização), mas de interações entre sujeito e objeto, e de interações inicialmente espontâneas do organismo, tanto quanto pelos estímulos externos.” (PIAGET, apud POKER).
Piaget considerava que o a ação educativa pode favorecer fortemente a
formação de estruturas mentais das crianças. Para tanto, vale sempre
favorecer uma atitude inquiridora, como por exemplo, utilizando-se de
situações-problema, ou seja, a criança deve ser “provocada”, em qualquer
idade. Um dos grandes desafios do professor é gerar interesse pelo que
deve ser ensinado, pois, não existe uma criança que não tenha vontade de
aprender (FERNANDES). As crianças estão sempre interagindo com o
mundo. Piaget chama esses mecanismos de interação de Esquemas de
Ação, considerando-os o motor do conhecimento.
Os Esquemas de Ação são as formas como o ser humano interage com o
mundo. Nesse processo, ele organiza mentalmente a realidade para
entendê-la, desenvolvendo a inteligência. As formas de interação evoluem
progressivamente conforme a faixa etária e as experiências individuais.
Embora Piaget tenha dado ênfase na denominada “Inteligência Lógico-
Matemática”, suas ideias tiveram grande influência no trabalho de outros
cientistas, tal como Howard Gardner, cientista norte-americano, que divergiu
em muitos pontos do cientista suíço, mas enfatizou que:
“...não pretendo jogar fora o bebê piagetiano com a água do banho, mas usar os esquemas propostos por Piaget e focalizá-los não só nos símbolos linguísticos, lógicos e numéricos da teoria clássica piagetiana, mas antes, numa gama completa de sistemas e símbolos, abrangendo sistemas e símbolos musicais, corporais, espaciais e até mesmo pessoais”. (GARDNER, apud TOGATLIAN).
Howard Gardner é psicólogo, americano, professor de Psicologia da
Universidade de Harvard e de Neuropsicologia do Hospital de Boston. Em
1983, publicou o livro “Frames of Mind”, ou em português “Estruturas da
Mente”, onde expôs a Teoria das Inteligências Múltiplas, que causou grande
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repercussão. Em 1986 apresentou a Teoria em um Simpósio sobre
Inteligência nos Estados Unidos. (TOGATLIAN)
Muitas mudanças começaram a ocorrer nos E.U.A e em muitos outros
países, baseadas na proposta de Gardner no que diz respeito à Educação.
Gardner diz que “cabe aos educadores adequar as ideias da Teoria das
Inteligências Múltiplas à Educação, já que na verdade, ela trata de
Psicologia Cognitiva” (GARDNER, apud TOGATLIAN).
A pesquisa de Gardner trouxe um novo conceito de inteligência, que permite
uma abordagem mais ligada às diferentes realidades do mundo atual em
que vivemos. Gardner incluiu o fator cultural no conceito de inteligência, o
que foi uma novidade no campo das definições de inteligência através dos
tempos. (TOGATLIAN). O professor Togatlian sugere: “Analise com bom
senso e critério o estudo de Gardner e procure relacionar as ideias da Teoria
das Inteligências Múltiplas com o seu dia a dia.”
Gardner concluiu que Inteligência é um potencial biológico e psicológico, que
se realiza mais ou menos como consequência de fatores culturais e
motivacionais que afetam a pessoa. Gardner partiu desse pressuposto para
chegar a sua própria definição de inteligência, que dá importância à
aplicabilidade do conceito de inteligência e, também, dá extrema importância
ao contexto cultural: “Inteligência é a habilidade para resolver problemas ou
criar produtos que sejam significativos em um ou mais ambientes culturais”.
(GARDNER, apud TOGATLIAN). Notamos aqui a importância dada aos
fatores culturais da sociedade.
Quem é mais inteligente? Um cientista, um índio, um professor universitário,
ou um pedreiro? De acordo com a visão de inteligência proposta por
Gardner, tudo depende do que estamos fazendo, aonde e porque, ou seja, a
simples comparação não significa nada, a não ser que se possa
contextualizar essa abordagem. Caso estejamos em uma selva, o índio será
mais útil, pelo fato de conhecer a região. Caso precisemos fazer um reparo
na casa, um pedreiro será de maior valia (TOGATLIAN).
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O índio é mais inteligente do que os outros personagens quando o ambiente
considerado for uma selva, porque ele vai conseguir resolver os problemas
pertinentes à mesma muito melhor do que os outros, tendo em vista que
está mais perto culturalmente, e é aquele o seu dia a dia.
Analisando a influência de Jean Piaget no trabalho de Gardner, Togatlian
considera que há divergências em muitos pontos entre os dois cientistas,
principalmente na questão da simbolização do conhecimento. Para Gardner,
processos psicológicos distintos e independentes são empregados quando o
indivíduo lida com símbolos linguísticos, numéricos ou gestuais. O
desenvolvimento cognitivo é a capacidade de expressar significados em
vários sistemas simbólicos utilizados num contexto cultural. Gardner sugere,
ainda, que não há necessariamente, uma ligação entre o desenvolvimento
em uma área de desempenho e outra. Para o autor, cada área ou domínio,
tem seu sistema simbólico próprio. Sob o aspecto sociológico de estudo,
cada domínio se caracteriza pelo desenvolvimento de competências
valorizadas em culturas específicas. Mais uma vez, vemos aqui a influência
cultural no desenvolvimento das competências pessoais. Daí podemos inferir
sobre as competências de cada povo ou cada nação, que se destacam em
certos campos de atividade como por exemplo nas ciências ou nos esportes,
dentre outras.
Gardner identificou sete inteligências, que são relativamente independentes,
têm origens e limites genéticos próprios e processos cognitivos individuais.
As sete inteligências e as suas localizações no cérebro humano são citadas
a seguir. (TRAVASSOS, 2001; TOGATLIAN)
Inteligência Verbal ou Linguística: é o tipo de inteligência exibida pelos
escritores e poetas como, por exemplo, Machado de Assis, que era filho de
lavadeira, não tinha pai e era epilético. Localização: parte do cérebro
chamada Centro de Broca.
Inteligência Lógico-Matemática: é a capacidade para as questões de lógica e
de matemática, assim como a capacidade científica. Einstein não aprendia a
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ler, até que mudou de escola. Segundo Gardner, a inteligência lógico-
Matemática era chamada por Piaget, simplesmente, de Inteligência.
Localização: Centro de Broca.
Inteligência Espacial: é a capacidade de formar um modelo mental de um
mundo espacial e manipular esse modelo. Exemplos: marinheiros,
engenheiros, cirurgiões, pintores, escultores. Michelangelo foi um exímio
arquiteto, pintor e escultor. Em Minas Gerais, o Aleijadinho deixou suas
belas esculturas, que produziu apesar da doença que afetava seus
membros. Localização: Hemisfério direito do cérebro.
Inteligência Musical: é a capacidade voltada para a música. Exemplos:
Mozart e Beethoven. Beethoven começou a perder sua audição aos 19 anos
de idade, e foi ficando gradativamente surdo, mas continuou compondo.
Localização: hemisfério direito.
Inteligência Cinestésica ou Corporal: é capacidade de resolver problemas ou
de elaborar produtos utilizando o corpo inteiro, ou partes do corpo. Exemplo:
dançarinos, cirurgiões, artistas e atletas como, por exemplo, Neymar, Messi,
Suarez. Localização: dominância encontrada no hemisfério esquerdo.
Inteligência interpessoal: é a capacidade de compreender outras pessoas, o
que as motiva, como elas trabalham, como trabalhar cooperativamente com
elas. Exemplos: vendedores, políticos, professores, clínicos (terapeutas) e
líderes religiosos como, por exemplo, Freud, Gandhi, Hitler. Localização:
Lobos Frontais.
Inteligência intrapessoal: é voltada para dentro si, é a facilidade que o
indivíduo possui de compreender e identificar as suas próprias emoções e
de lidar com elas de forma adequada às várias situações e aos seus
objetivos pessoais (ZENHAS). Localização: lobos frontais.
De acordo com Gardner, essas inteligências são relativamente
independentes, têm suas origens e limites genéticos próprios e dispõem de
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processos cognitivos individuais. Cada ser humano dispõe de graus variados
de cada uma das inteligências e maneiras diferentes com que elas se
combinam e organizam. Cada um de nós se utiliza dessa capacidade para
resolver problemas e criar produtos. Apesar da relativa independência entre
as inteligências, elas não funcionam isoladamente, sendo necessária a
combinação mínima de duas delas, para que possamos realizar qualquer
tarefa, por mais simples que elas sejam. Algumas tarefas podem denotar
maior exemplificação de uma inteligência, mas existe sempre uma
intermediação entre a “principal”, que está mais aparente no momento da
execução desta tarefa, e outra ou outras inteligências. (GARDNER apud
TOGATLIAN)
Togatlian considera que é de grande importância a aplicação da Teoria das
Inteligências Múltiplas na Educação, porque é na Escola que os progressos
alcançados ficarão mais evidentes. Durante a adolescência e a idade adulta,
as inteligências são evidenciadas por meio de uma variedade de atividades
profissionais e de passatempos, aos quais os indivíduos dedicam seu tempo.
Os diferentes estilos de aprendizagem são resumidos no quadro
apresentado na Figura 1.1, do Anexo 1, que mostra, as sete inteligências,
que podem predominar em uma criança, com suas respectivas
características em relação ao que essa criança pensa, de que gosta e de
que precisa.
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CAPÍTULO II
CIBERCULTURA
As tecnologias digitais, que hoje estão presentes em quase todas as
atividades diárias na sociedade moderna, tem modificado os hábitos dos
cidadãos, causando mudanças culturais. Podemos considerar que a
sociedade moderna está vivendo hoje em uma Cibercultura (vide Figura 2.1,
do Anexo 2). Nesse sentido, é pertinente tecermos algumas considerações a
esse respeito, como a seguir, em que foi tomada como referência a obra
“Cibercultura”, de Pierre Lévy.
A proposta de Pierre Lévy na obra em epígrafe é pensar a Cibercultura.
Apesar de ser um otimista, Lévy não considera que “a Internet resolverá, em
um passe de mágica, todos os problemas culturais e sociais do planeta”.
Dois fatos devem ser reconhecidos (LÉVY, 2010, p. 11):
- O crescimento do ciberespaço resulta de um movimento internacional de
jovens ávidos para experimentar formas de comunicação diferentes das
mídias clássicas;
- Estamos vivendo a abertura de um novo espaço de comunicação, cabendo
a nós explorarmos as potencialidades que sejam mais positivas do mesmo,
nos aspectos econômico, político, cultural e humano.
Os jornais e a televisão já decidiram que o ciberespaço entrou na era
comercial, com os vendedores invadindo a Internet, conforme manchete do
Le Monde Diplomatique. Tornou-se uma questão de dinheiro envolvendo os
pesos pesados como a Microsoft e a IBM (ibid., p. 12).
Para aqueles que denunciam a Cibercultura, Lévy argumenta que “o fato
de que o cinema ou a música também sejam indústrias e parte de um
comércio, não nos impede de apreciá-los, nem de falar deles em uma
perspectiva cultural ou estética” (ibid., p. 12). Não há sentido em opor o
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comércio de um lado e a dinâmica libertária e comunitária que comanda o
crescimento da Internet de outro, pois os dois são complementares (ibid., p.
13).
Lévy nos informa, também, que este livro é fruto de um relatório
encomendado pelo Conselho Europeu sobre as implicações culturais do
desenvolvimento das tecnologias digitais de informação e de comunicação.
Estão fora deste estudo as questões econômicas e industriais, os problemas
de emprego, assim como as questões jurídicas. A ênfase do estudo recai
sobre a atitude geral diante do progresso das novas tecnologias, da
virtualização da informação em andamento e a “mutação global da
civilização que dela resulta” (ibid., p. 17).
Uma das hipóteses deste livro é que a Cibercultura expressa o
surgimento de um “novo universal”, diferente das formas culturais anteriores
(ibid., p. 15). São abordadas as novas formas artísticas, as relações com o
saber, as implicações na educação e na formação, os reflexos nas cidades e
na democracia, os efeitos sobre as línguas e as culturas, assim como os
problemas da exclusão e da desigualdade sociais (ibid., p. 17).
O Ciberespaço (vide Figura 2.2, do Anexo 2), ou “rede”, é o novo meio
de comunicação que surge da interconexão dos computadores em nível
mundial, incluindo a sua infraestrutura material, ou física, de comunicação
digital (equipamentos, cabos, etc.), o universo de informações que ela abriga
e, também, os seres humanos que navegam e alimentam esse universo
(ibid., p. 17).
A Cibercultura é o conjunto de técnicas, práticas, atitudes, modos de
pensamento e de valores que se desenvolvem junto com o crescimento do
ciberespaço (ibid., p. 17).
Na Introdução do livro, chamada de “Dilúvios”, Lévy diz que, “na aurora do
dilúvio informacional, talvez uma mediação sobre o dilúvio bíblico possa nos
ajudar a compreender melhor os novos tempos”. Lévy diz que o dilúvio
24
informacional (das informações) jamais cessará, que devemos aceitá-lo
como nossa nova condição. Cada um de nós é Noé, que olha de sua arca e
vê outras arcas a perder de vista no oceano agitado da comunicação digital.
A obra se divide em três partes chamadas de Definições, Proposições e
Problemas. Ao final, temos a Conclusão: “A Cibercultura ou a tradição
simultânea”.
Na primeira parte, “Definições”, Lévy nos informa que é inadequada a
metáfora do “impacto” causado pelas novas tecnologias da informação sobre
a sociedade ou a cultura. A tecnologia seria como um projétil e a cultura ou a
sociedade seria um alvo vivo. “As técnicas viriam de outro planeta”,
questiona Lévy. Na verdade, as técnicas são imaginadas, fabricadas e
reinterpretadas durante seu uso pelos homens e é o próprio uso intensivo de
ferramentas que constitui a humanidade enquanto tal (ibid., p. 21).
As atividades humanas abrangem, de maneira indissolúvel, interações entre
pessoas, entidades materiais, assim como ideias e representações. É,
portanto impossível separar o humano de seu ambiente material. Lévy
considera que:
“Por trás das técnicas agem e reagem ideias, projetos sociais, utopias, interesses econômicos, estratégias de poder, toda a gama dos jogos dos homens em sociedade. Portanto, qualquer atribuição de um sentido único à técnica só pode ser dúbia” (ibid., p. 24).
Segundo Lévy, a emergência do ciberespaço acompanha e favorece uma
evolução geral da civilização. Uma técnica é produzida dentro de uma
cultura, e uma sociedade é condicionada por suas técnicas, mas não
determinada por elas (ibid., p. 25).
A inteligência coletiva é um dos grandes motores da Cibercultura. Há o
estabelecimento de uma sinergia entre competências, recursos e projetos. O
ciberespaço, como suporte da inteligência coletiva, é uma das principais
condições do desenvolvimento da própria inteligência coletiva (ibid., p. 29).
25
Nos capítulos seguintes dessa primeira parte são apresentados, de modo
acessível aos não especialistas, os vários conceitos e as técnicas utilizadas,
assim como os equipamentos envolvidos e os programas utilizados.
Três quadros nos dão uma visão dos vários conceitos apresentados na
primeira parte, que são:
- Quadro 1: Diferentes dimensões da comunicação (ibid., p. 66).
- Quadro 2: Os diferentes sentidos do virtual, do mais fraco ao mais forte
(ibid., p. 76).
- Quadro 1: Os diferentes tipos de interatividade (ibid., p. 85).
Na segunda parte, “Proposições”, Lévy trata das implicações culturais do
desenvolvimento do ciberespaço, e faz um retrato da Cibercultura: a nova
forma de universalidade que inventa, o movimento social que a fez nascer,
seus gêneros artísticos e musicais, as perturbações que suscita na relação
com o saber, as reformas educacionais necessárias que ela pede, sua
contribuição para o urbanismo e o pensamento da cidade, as questões que
coloca para a filosofia política (ibid., p.18).
Lévy considera que quanto mais o ciberespaço se amplia, mais ele se torna
universal, e menos totalizável se torna o mundo da informação (ibid., p. 113).
O universal da Cibercultura aceita todos, porque põem em contato um ponto
qualquer com qualquer outro, sejam quais forem suas cargas semânticas, ou
seus conteúdos. A própria interconexão já tem imensas repercussões na
atividade econômica, política e cultural, transformando as condições de vida
em sociedade.
“...cada nó da rede de redes em expansão constante pode tronar-se produtor ou emissor de novas informações, imprevisíveis, e reorganizar uma parte da conectividade global por sua própria conta.” (ibid., p. 113).
A essência paradoxal da Cibercultura é chamada por Lévy de “universal sem
totalidade”, por ser constituída de uma universalidade desprovida de
significado central, um sistema de desordem, uma transparência labiríntica.
26
Um outro traço imutável da Cibercultura é a tendência a criar-se um sistema
padrão, rumo ao universal. Como exemplo, Lévy cita, no plano das
infraestruturas técnicas, os fornecedores de sistemas operacionais como
Windows, Unix ou Mac OS, ou de programas aplicativos como Word ou
Netscap. Mas, de fato, o ciberespaço funciona como alguns sistemas
ecológicos que, a longo prazo, um determinado nicho não pode acolher
muitas espécies concorrentes (ibid., p. 114).
O principal evento cultural que emerge do ciberespaço é a desconexão dos
dois operadores sociais que são a universalidade e a totalização. Isto se
deve a que o ciberespaço dissolve a pragmática da comunicação que havia
reunido o universal e a totalidade com a invenção da escrita.
As pessoas mais diversas podem entrar em contato ao redor do mundo por
meio dos computadores e das redes, numa imersão no ciberespaço. O novo
universal se realiza por imersão, nos diz Lévy. “Estamos todos no mesmo
banho, no mesmo dilúvio de comunicação. Não pode mais haver, portanto,
um fechamento semântico ou uma totalização” (ibid., p. 122).
Mas, o que é o universal e a totalidade? De acordo com Lévy, universal é a
presença virtual da humanidade em si mesma. A totalidade pode ser
definida como a conjunção do sentido de uma pluralidade no discurso, na
situação, no sistema, etc. Em contrapartida, a Cibercultura “mostra que
existe uma outra forma de instaurar a presença virtual da humanidade em si
mesma (o universal) que não seja por meio da identidade do sentido (a
totalidade)” (ibid., p. 123).
A inteligência coletiva seria a perspectiva espiritual, a finalidade última da
Cibercultura. Há um reconhecimento pelos estudiosos da Cibercultura de
que o melhor uso que podemos fazer do ciberespaço é colocar em sinergia
os saberes, as imaginações, as energias espirituais daqueles que estão
conectados a ele. Mas, a inteligência coletiva, mais que uma solução é um
campo aberto de problemas e pesquisas práticas (ibid., p. 134).
27
Sobre a educação e a Cibercultura, Lévy nos diz que qualquer reflexão
sobre o futuro dos sistemas de educação e de formação na Cibercultura
deve ser fundada em uma análise prévia da mutação contemporânea da
relação com o saber (ibid., p. 159). Lévy faz três constatações, como segue:
- Sobre a velocidade de surgimento e de renovação dos saberes e savoir-
faire: pela primeira vez na história da humanidade, a maioria das
competências adquiridas por uma pessoa no início de seu percurso
profissional estarão obsoletos no fim de usa carreira;
- Sobre a natureza do trabalho: trabalhar quer dizer cada vez mais aprender,
transmitir saberes e produzir conhecimentos;
- O ciberespaço suporta tecnologias intelectuais que amplificam,
exteriorizam e modificam numerosas funções cognitivas humanas tais como
a memória, a percepção e o raciocínio.
Essas tecnologias intelectuais favorecem as novas formas de acesso à
informação e os novos estilos de raciocínio e de conhecimento.
Como essas tecnologias intelectuais estão disponíveis na rede, na forma de
documentos digitais ou programas, ou podem ser facilmente reproduzidas e
transferidas, podem ser compartilhadas entre numerosos indivíduos,
aumentando, portanto, o potencial de inteligência coletiva dos grupos
humanos.
Lévy nos informa que os sistemas educativos estão hoje submetidos a
novas restrições relativamente à quantidade, diversidade e velocidade de
evolução dos saberes. A demanda de formação é maior como nunca e as
instituições de formação profissional e continuada estão saturados, assim
como as universidades. Quase metade da sociedade está, ou gostaria de
estar, na escola (ibid., p. 171).
Segundo Lévy, Não será possível aumentar o número de professores
proporcionalmente à demanda de formação, que é cada vez maior e com
maior diversidade. A questão do custo do ensino é mais significativa nos
países pobres. Será necessário buscar soluções que utilizem técnicas
capazes de ampliar o esforço pedagógico dos professores e dos demais
28
envolvidos em educação. Todas as possibilidades técnicas podem ser
pensadas, incluindo aquelas que já foram amplamente testadas e
experimentadas tais como audiovisual, multimídia interativa, ensino assistido
por computador, televisão educativa, internet, etc.
As escolas e universidades “virtuais”, que fornecem ensino a distância,
custam menos do que as escolas e universidades materiais, que fornecem
ensino presencial, tanto no plano das infraestruturas materiais como no dos
custos de funcionamento. Junto com a demanda quantitativa de formação,
há também uma demanda qualitativa de formação. Há uma necessidade
crescente de diversificação e de personalização. Uma simples massificação
da oferta seria uma resposta inadequada à flexibilidade e à diversidade
necessárias atualmente (ibib. p. 172).
Os especialistas reconhecem que a distinção entre ensino “presencial” e
ensino “a distância” será cada vez menos significativa, visto que o uso das
redes de telecomunicações e dos suportes multimídia interativos vem sendo
integrados progressivamente às formas clássicas de ensino (ibid., p. 172)
Na terceira parte, “Problemas”, Lévy avalia o lado negativo da Cibercultura,
por meio dos conflitos e das críticas que a mesma suscita. Nesta parte, são
tratados os conflitos de interesses e da lutas de poder que se desenrolam
em torno do ciberespaço, a questão da exclusão e manutenção da
diversidade cultura frente aos imperialismos políticos, econômicos ou
midiáticos (Ibid., p. 18)
Segundo Lévy, é preciso notar que há numerosos interesses e projetos
contraditórios confrontando-se no terreno da Cibercultura. Há uma
diversidade de pontos de vista, de críticas e de contracríticas à Cibercultura.
Os Estados nacionais se enfrentam entre si para fazer prevalecer os
interesses de suas grandes indústrias e das suas culturas nacionais. Há,
também, uma oposição entre os interesses próprios dos Estados, no que diz
respeito a sua soberania e a sua territorialidade, e o caráter
desterritorializante do ciberespaço. As questões relacionadas à censura na
29
Internet, assim com a criptografia das mensagens, permitindo que qualquer
um torne as mesmas invioláveis, evidenciam bem a oposição entre a “lógica
do Estado” e a “lógica da Cibercultura”.
Para Lévy, o melhor uso que possa ser feito dos instrumentos de
comunicação com suporte digital é a conjugação eficaz das inteligências e
das imaginações humanas (ibid. p. 205).
“A inteligência coletiva é uma inteligência variada, distribuída por todos os lugares, constantemente valorizada, colocada em sinergia em tempo real, que engendra uma mobilização otimizada das competências. Assim como entendo, a finalidade da inteligência coletiva é colocar os recursos de grandes coletividades a serviço das pessoas e dos pequenos grupos - e não o contrário. É, portanto, um projeto fundamentalmente humanístico, que retoma para si, com os instrumentos atuais, os grandes ideais de emancipação da filosofia das luzes (ibid. p. 206).”
Diversas versões do projeto da inteligência coletiva foram defendidas, mas
nem todas vão na direção do exposto por Lévy, conforme citação acima. A
inteligência coletiva, com sua eficácia em contribuir para acelerar a mutação
em andamento e para isolar ou excluir ainda mais aqueles que dela
participarem, é um projeto ambivalente. “Permanece, contudo, como o único
programa geral visando explicitamente o bem público e o desenvolvimento
humano que esteja à altura das questões colocadas pela Cibercultura
nascente” (ibid. p. 206).
30
CAPÍTULO III
APARELHOS DIGITAIS NO COTIDIANO MODERNO
3.1 - Cartões de acesso aos transportes urbanos
Os cartões utilizados no acesso aos transportes urbanos públicos tais como
os cartões de acesso aos ônibus, aos trens do metrô e aos trens ferroviários,
são dispositivos eletrônicos que possibilitam a cobrança das tarifas, sem o
uso de dinheiro “vivo”, ou seja, sem o uso de moedas ou cédulas, facilitando
e agilizando o pagamento das passagens, visto que não há a necessidade
de fazer-se a troca de valores entre o pagador (usuário de serviço) e
cobrador do serviço. Vide Figura 3.1, do Anexo 3.
A tecnologia atualmente utilizada é a “Identificação por Frequência de Radio”
ou, em inglês, Rádio Frequency Identification - RFID.
Previamente, o usuário do cartão deve fazer uma “carga”, em moeda
corrente do país onde se encontra, para depois poder usá-lo nos
transportes. A cobrança é feita quando aproxima-se o cartão do seu leitor de
cartões correspondente. Quando é feita a carga do cartão, um valor em
moeda corrente é associado a esse cartão nos computadores do sistema de
tarifação.
Quando do uso em um ônibus, por exemplo, o cartão deve ser aproximado
do leitor, de modo a que as ondas eletromagnéticas de rádio frequência
geradas pelo leitor sejam capitadas pela antena interna do cartão,
energizando deste último, havendo, então, a troca de informações entre a
leitora e o cartão, para que seja feita a cobrança da tarifa e, em seguida,
liberar a catraca para usuário passar. A Figura 3.2. mostra esta operação,
onde:
- Tag: é o cartão do usuário;
- Leitor: é o dispositivo eletrônico fixo;
- Servidor RFID (Aplicação): é o equipamento distante, que troca
informações com os diversos leitores.
31
Sequência de operação de leitura do cartão:
1 O Tag, ou Transponder, (cartão) entra no campo de rádio frequência
gerado pelo leitor.
2. O sinal de rádio frequência energiza o Tag.
3. O Tag transmite seu ID (sua identificação) e outros dados.
4. O Leitor recebe os dados.
5. O Leitor envia dados ao computador distante (servidor)
6. O computador determina as ações.
7. O computador envia dados para o leitor;
8. A catraca é liberada (se houver saldo) ou emite mensagem de saldo
insuficiente.
3.2 - Usos da tecnologia RFID na indústria
Nas empresas e indústrias, os cartões com tecnologia RFID são usados
para permitir o acesso às mesmas, com controle feito nas portarias de
entrada, quando os empregados aproximam seus cartões dos leitores para
liberar a catraca correspondente.
Internamente à empresa, esses cartões podem ser usados para registrar
todo o acesso interno às várias salas, nos vários andares e áreas da
empresa, como estacionamento, etc., mantendo-se assim todo o histórico de
acessos de seus empregados e visitantes. Salas de áreas restritas, como a
de Tecnologia da Informação, onde ficam os computadores da empresa,
laboratórios, etc., também têm seu acesso limitado aos empregados
específicos desta área.
Na manutenção industrial, a tecnologia RFID permite que se mantenha um
histórico de um equipamento ou produto, com todos os procedimentos de
manutenção nele já realizados. Com seu cartão RFID, o técnico de
manutenção designado para fazer manutenção se autentifica em um
dispositivo também com tecnologia RFID, recebendo suas atividades do dia.
Após o término dos serviços em cada equipamento designado para
inspeção, o técnico registra o seu cartão RFID mais uma segunda vez,
finalizando assim um registro de manutenção. (URFJ-GTA)
32
Esse controle permite uma melhora na documentação do processo de
manutenção, com relatórios mais eficientes, assim como uma redução dos
custos administrativos em decorrência da diminuição da burocracia.
Em alguns países, os pontos de pedágio nas estradas também já utilizam a
tecnologia RFID, conforme descrito a seguir. (UFRJ-GTA).
Este sistema também é usado em pedágios. O consumidor possui um tag
em seu carro e os leitores estáticos se situam no pedágio. Ao passar pelo
pedágio, o tag é ativado e as informações dos carros são recolhidas e salvas
em um banco de dados. No final do mês, a empresa responsável remete
para o usuário uma conta a ser paga em banco, cobrando uma taxa
proporcional ao número de vezes que ele passou no pedágio. (UFRJ-GTA).
O funcionamento da RFID no pedágio pode ser visualizado na Figura 3.3.
3.3 - A leitura de CDs e DVDs por raio LASER
O CD (“Compact Disc”, em português disco compacto) e o DVD (“Digital
Versatile Disc”, em português, Disco Digital Versátil) são mídias digitais
utilizadas para armazenar informações na forma digital (dígitos binários 0 ou
1), podendo conter arquivos de músicas, vídeos, texto e programas de
computador. São amplamente usadas devido a sua praticidade e facilidade
de uso e armazenamento (o prazo de validade é indefinido).
Nessas mídias, a informação é gravada e acessada utilizando-se a
tecnologia ótica com raio LASER – “Light Amplification by Stimulated
Emission of Radiation” (em português, Amplificação da Luz por Emissão
Estimulada de Radiação). Os bits são gravados na parte espelhada do CD
ou DVD na forma de buracos ou ausência destes. O raio LASER ao incidir
na parte espelhada do CD ou DVD, é refletido, incidindo sobre a célula
receptora de luz LASER (Figura 3.4) ou não incidindo (Figura 3.5),
dependendo da existência ou não buracos gravados no disco ótico.
33
3.4- Curva da Banheira das máquinas e do ser humano
Nas indústrias em geral, há um interesse permanente na confiabilidade de
suas linhas de produção, de modo a se evitar perdas no processo produtivo,
seja de material ou em paradas de máquinas devido falhas nas mesmas.
Nesse sentido, as empresas procuram encontrar os melhores métodos de
manutenção que se aplicam às suas particularidades de produção.
Um desses métodos é posicionar num gráfico chamado “curva da banheira”,
a condição do dispositivo a ser avaliado como, por exemplo, uma válvula de
processo, com base na técnica da manutenção centrada em confiabilidade
(Reliability centered maintenance – RCM). Com base nos dados de falha da
válvula, define-se, então, qual o tipo ideal de manutenção a ser realizada. A
Figura 3.6 mostra uma curva da banheira para sistemas técnicos, obtida
com dados reais. (REIS, 2009).
Verifica-se, na Figura 3.6, que o parâmetro de forma γ (letra grega gama)
está muito próximo de 1, o que significa que a válvula encontra-se na fase
de vida útil dentro da chamada curva da banheira. Nesta etapa pode-se
afirmar que as falhas incidentes nos componentes mecânicos estão
relacionadas com eventos aleatórios e/ou erros sistemáticos no processo.
(REIS, 2009)
De acordo com GAVRILOVA, o envelhecimento é um fenômeno muito
comum. Tanto os seres vivos quanto as máquinas (automóveis,
equipamentos industriais, etc.) envelhecem, afinal, todas são feitos da
mesma matéria disponível no planeta Terra. O gráfico da Figura 3.7 mostra
as fases da vida das máquinas, e a Figura 3.8 mostra as fases da vida de
seres humanos. (GAVRILOVA, 2005).
Na Figura 3.8, vemos a curva da banheira para a mortalidade humana, como
visto na população dos EUA em 1999, tem a mesma forma que a curva de
taxas de falha de muitas máquinas. De acordo com GRAVILOVA, nas duas
34
figuras acima pode-se aferir os “estágios da vida”: Mortalidade Infantil,
Trabalho Normal (Maturidade) e Envelhecimento (Mortalidade Senil).
GRAVILOVA afirma também que “We are like machines made up of
redundant components, many of which are defective right from the start”, ou
seja, “Nós somos como máquinas feitas de componentes redundantes,
muitos dos quais estão com defeito desde o início.”
3.5 - A válvula mitral do coração e o diodo semicondutor
A válvula mitral é a válvula cardíaca que separa a aurícula esquerda do
ventrículo esquerdo, impedindo que o sangue retorne para a aurícula
esquerda após ter sido bombeado para o ventrículo esquerdo. Essa válvula
fecha-se quando ocorre a sístole ventricular, fazendo com que o sangue
continue o seu percurso unidirecional em direção à artéria aorta, não
retornando para a aurícula esquerda. A válvula mitral abre-se novamente
quando ocorre a sístole atrial, de modo a que o sangue passe para o
ventrículo.
A Figura 3.9, do Anexo 1, mostra o coração humano, onde se pode ver (no
lado direito da Figura 3.9), a aurícula esquerda, a válvula mitral, o Ventrículo
esquerdo, a Válvula aorta, subindo para a Aorta (lado superior da Figura
3.9). Do outro lado do coração, a válvula tricúspide tem função idêntica, ou
seja, se fecha, impede o refluxo do sangue. PINHEIRO nos informa que:
“O coração possui quatro câmaras: dois átrios e dois ventrículos. O coração também possui quatro válvulas ou valvas: válvula aórtica, válvula mitral, válvula tricúspide e válvula pulmonar. As válvulas são estruturas localizadas na saída de cada uma das quatro câmaras cardíacas e impedem que o sangue bombeado retorne para a câmara que o expulsou. As válvulas agem como comportas. A válvula mitral, objeto de explicação deste texto, fica localizada entre o átrio esquerdo e o ventrículo esquerdo. Quando o átrio esquerdo se contrai, a válvula mitral se abre, permitindo a passagem do sangue para o ventrículo esquerdo. Quando este está repleto de sangue, é sua vez de contrair, empurrando o sangue em direção à artéria aorta. Neste momento, a válvula mitral se fecha, impedindo que o sangue volte para o átrio esquerdo. Deste modo, o sangue segue sempre em uma direção apenas. A válvula mitral é composta
35
por dois folhetos. Estes folhetos se abrem como aquelas portas de saloon em filmes de Velho Oeste. Quando o sangue termina de passar, se fecham, encostando firmemente um folheto no outro, vedando completamente a passagem.” (PINHEIRO, 2015)
O diodo semicondutor é um componente eletrônico que funciona de modo
análogo à válvula mitral e outras válvulas, permitindo a passagem da
corrente elétrica (cargas elétrica em movimento ordenado) somente em um
sentido. É um componente fundamental, que está presente em todos os
aparelhos eletrônicos, a começar pela fonte de alimentação dos mesmos,
que fornece as tensões elétricas internas. O diodo pode estar na forma
discreta (apenas o próprio diodo) ou dentro dos circuitos integrados
(circuitos com vários componentes discretos em uma única pastilha de
silício). Na Figura 3.10, é mostrado o símbolo do diodo semicondutor e o seu
aspecto físico (seu invólucro). A Figura 3.11 mostra diodos reais.
3.6 - O BIT dos aparelhos digitais e o BIT da nossa casa
O dígito binário, ou Binary Digit – BIT (em inglês), é a menor unidade de
informação que pode ser armazenada ou transmitida em um sistema digital.
Um bit pode assumir somente dois valores: 0 ou 1. Os aparelhos digitais tais
como Computadores, Televisores de LCD, CD Players, Smart Phones,
Videogames, etc., “manipulam” os bits para a realização das diversas
funções que caracterizam esses aparelhos.
Os BITs também estão distribuídos pela nossa casa. Cada circuito elétrico
de uma lâmpada armazena um BIT, de forma análoga aos circuitos digitais
dos aparelhos. O circuito elétrico que nos permite acender uma lâmpada
está mostrado na Figura 3.12. O interruptor funciona como uma memória
mecânica, armazenando a última posição de comando do usuário, de
apagar ou acender a lâmpada, posição estas que podem ser associadas aos
bit 0 e ao bit 1, respectivamente.
36
3.7 - Os circuitos temporizadores e a cerveja
Os circuitos temporizadores são amplamente utilizados em aparelhos
elétricos e eletrônicos, exercendo a função básica de estabelecer um
determinado tempo para ligar ou desligar um equipamento industrial ou
comercial, um eletrodoméstico, etc, tais como motores, TV, torradeira de
pão, ar-refrigerado, etc. São também muito importantes para a consecução
dos processos industriais nas mais variadas indústrias.
Uma das maneiras de se construir um temporizador é utilizando um circuito
elétrico cujo funcionamento corresponda à equação matemática do
“Decaimento Exponencial”. O circuito elétrico de Resistor e Capacitor (RC)
perfaz essa função. Um exemplo de gráfico é mostrado na Figura 3.13. A
linha de “Descarga”, no gráfico dessa figura, correspondente a queda de
tensão elétrica do capacitor, que leva um tempo para caiar do valor máximo
de tensão (100%) até aproximadamente zero Volts. No circuito RC da Figura
3.14, vemos que, com a chave S na posição “a”, ocorre a carga do capacitor,
e na posição “b” ocorre a descarga do mesmo.
Assim como a tensão elétrica no capacitor do circuito RC decai
exponencialmente, o volume da espuma de cerveja também decai
exponencialmente com o tempo. A constante de decaimento depende do
tipo de cerveja e também do fabricante, podendo esta característica ser
usada para diferenciar as cervejas. Esta propriedade pode utilizada para
demonstrar a lei do decaimento exponencial, de maneira lúdica, para alunos
das áreas técnicas de Engenharia Elétrica, Eletrônica e Telecomunicações.
Na Figura 3.15, vemos um copo de cerveja com seu o volume de espuma.
O professor Arnd Leike, da Ludwig Maximillians University, Munich,
Germany, foi quem demonstrou que o volume da espuma da cerveja decai
exponencialmente, no artigo “Demonstration of the Exponential Decay Law
Using Beer Froth” (Demonstração da Lei do Decaimento Exponencial
Usando Espuma de Cerveja), publicado no European Journal of Physics, vol.
37
23, January 2002, pp. 21-26. Com esse artigo, o professor A. Leike foi o
vencedor do prêmio Ig Nobel de Física de 2002.
Os prêmios Ig Nobel procuram homenagear as trabalhos que fazem as
pessoas rirem e depois pensarem. Os prêmios destinam-se a celebrar o
incomum, homenagear o imaginativo e estimular o interesse das pessoas
em ciência, medicina e tecnologia. A Física e outras ciências da natureza
podem ser aprendidas de maneira divertida e prazerosa.
Na Figura 3.16, podemos ver a curva de decaimento exponencial da espuma
de três diferentes marcas de cerveja analisadas.
38
CONCLUSÃO
No Capítulo I da presente pesquisa, constatou-se que a espécie humana
está em uma fase evolutiva nunca ocorrida antes, em termos de velocidade
de desenvolvimento e de quantidades de inovações significativas, em
relação a um curto espaço de tempo (ASSMANN). Isto se deve, em grande
parte, a disseminação das novas Tecnologias da Informação e Comunicação
pela sociedade humana, com o surgindo o Ciberespaço, com modificações
na sociedade, que têm alterado o curso da história da humanidade, tendo
sido modificando também o contexto do ensino e aprendizagem.
Nesse contexto das novas tecnologias, emerge, e evolui, uma nova cultura,
a denominada Cibercultura, que foi apresentada no Capítulo II.
Procurou-se mostrar, no Capítuo III, da presente monografia que as
habilidades adquiridas na vida cotidiana dos alunos com o uso de aparelhos
digitais e com a observação de fenômenos físicos cotidianos (decaimento
exponencial do volume da espuma da cerveja, ou ainda os fenômenos
fisiológicos do próprio corpo humano (a válvula mitral do coração, citada no
Capítuo II, subitem 2.2), podem contribuir muito para a futura vida
profissional dos educandos, visto que, nos dias de hoje, muitas atividades
profissionais vão exigir do aluno habilidades no uso de ferramentas
tecnológicas, seja na área comercial, industrial ou de serviços, áreas estas
que abrangem diversas profissões especializadas. Mesmo que o trabalhador
não tenha como função uma atividade com uso de um computador, por
exemplo, ele poderá ter que utilizar algum aparelho digital, que na verdade é
um computador dedicado a alguma tarefa específica como, por exemplo, em
uma academia, o controle de entrada e saída de usuários é feito por um
sistema digital composto de catraca (roleta), leitor de impressão digital e
computador. A tecnologia utilizada nesse caso é a “Identificação por
Frequência de Rádio, que foi descrita no item Capítulo I, subitem 1.1.
39
Dessa forma, o aluno que, desce cedo, utilizou aparelhos digitais no seu
cotidiano, quando entrar no mercado de trabalho, já estará familiarizado com
as ferramentas digitais que irá encontrar, necessitando apenas de uma
adaptação.
40
BIBLIOGRAFIA
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Acessado em: 24/01/2016
46
ANEXOS
Índice de anexos
Anexo 1: OS DIFERENTES ESTILOS DE APRENDIZAGEM – Figura 1.1
Anexo 2: CIBERCULTURA – Figuras 2.1 e 2.2
Anexo 3: APARELHOS DIGITAIS NO COTIDIANO MODERNO – Figuras 3.1 a
3.16
47
ANEXO 1 – OS DIFERENTES ESTILOS DE
APRENDIZAGEM
Figura 1.1 – A Aprendizagem e o Indivíduo (TOGATLIAN)
48
ANEXO 2 – CIBERCULTURA
Figura 2.1 – CIBERCULTURA (UAB.PT, 2015)
Figura 2.2 – CIBERESPAÇO (UAB.PT, 2015)
49
ANEXO 3 – APARELHOS DIGITAIS NO COTIDIANO
MODERNO
Figura 3.1 – Leitor e cartão RFID (INFOPOD, 2016)
Figura 3.2 – Modelo básico de funcionamento de um sistema de RFID
(UFRJ-GTA, 2016)
50
Figura 3.3- Aplicação de RFID em postos de pedágio. (TELECO, 2016)
Figura 3.4: Reflexão de um raio luminoso. (PIROPO, 2015)
Figura 3.5: Leitura ótica de dados do CD. (PIROPO, 2015)
51
Figura 3.6- A curva da banheira para sistemas técnicos (REIS, 2009)
Figura 3.7- A curva da banheira para sistemas técnicos (GRAVILOVA,
2006)
52
Figura 3.8- Estágios da vida (GRAVILOVA, 2006)
Figura 3.9- Coração humano (PINHEIRO, 2016)
53
Figura 3.10- Diodo semicondutor e seu símbolo (NEWPOR, 2016)
Figura 3.11- Diodos de vários tipos (HARDWARE, 2016)
Figura 3.12- Circuito Elétrico que armazena 1 bit
54
Figura 3.13 - Descarga e Carga de um capacitor em um circuito RC.
(ROSA, 2014)
Figura 3.14 – Circuito de carga e descarga do capacitor. (ROSA, 2014)
55
Figura 3.15 – Copo de cerveja com espuma
Figure 3.16 – A altura da espuma para diferentes tipos de cerveja. (LEIKE,
2002)
56
INDICE
FOLHA DE ROSTO
AGRADECIMENTO
DEDICATÓRIA
RESUMO............................................................................................................ 5
METODOLOGIA................................................................................................. 6
SUMÁRIO........................................................................................................... 7
INTRODUÇÃO.................................................................................................... 8
CAPÍTULO I
FORMAÇÃO DE ALUNOS PARA AS EMPRESAS MODERNAS.................. 10
CAPÍTULO II
CIBERCULTURA ............................................................................................ 22
CAPÍTULO III
APARELHOS DIGITAIS NO COTIDIANO MODERNO .................................. 30
3.1 – Cartões de acesso aos transportes urbanos...................................... 30
3.2 – Usos da tecnologia RFID na indústria................................................. 31
3.3 – A leitura de CDs e DVDs por raio LASER.............................................32
3.4 – Curva da Banheira das máquinas e do ser humano.......................... 33
3.5 – A válvula mitral do coração e o diodo semicondutor........................ 34
3.6 – O BIT dos aparelhos digitais e o BIT da nossa casa ......................... 35
3.7 – Os circuitos temporizadores e a cerveja............................................. 36
CONCLUSÃO................................................................................................... 38
BIBLIOGRAFIA................................................................................................ 40
WEBGRAFIA.................................................................................................... 41
ANEXOS........................................................................................................... 46
ÍNDICE............................................................................................................. 56