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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
A CRIANÇA COM DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE
ORIENTAÇÃO PARA PAIS E PROFISSIONAIS DA ÁREA DE
EDUCAÇÃO
Por: Sayonara Chaves da Silva
Orientador
Prof. Luiz Cláudio Lopes Alves
Niterói
2005
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
A CRIANÇA COM DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE
ORIENTAÇÃO PARA PAIS E PROFISSIONAIS DA ÁREA DE
EDUCAÇÃO
Apresentação de monografia à Universidade Candido
Mendes como condição prévia para a conclusão do
Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Orientação
Educacional.
Por: Sayonara Chaves da Silva
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus pelo Dom da vida, aos
meus pais pela minha formação como
pessoa e profissional. Para vocês, mãe e
pai (que está no céu zelando por mim) o
meu muito obrigado e eterno amor.
Sou igualmente grata a minha tia e amiga
Vânia, com sua infinita amabilidade, me
apoiou incondicionalmente na luta pelo
meu ideal profissional.
Aos meus amigos e professores que me
incentivaram durante este trabalho.
Ao meu querido esposo José Guilherme,
pela paciência e compreensão.
E aos meus alunos, considerados
“pestinhas” que muito me incentivaram na
produção deste trabalho.
EPÍGRAFE
“Ser maior não significa necessariamente
estar acima dos outros: suprima pedestal,
de repente você estará ao nível das
crianças. Você as verá não só com os
olhos de pedagogos e chefes, mas com
olhos de homens e crianças, e com este
ato você reduzirá seguidamente a
perigosa separação entre professor e o
aluno que exista na escola tradicional.”
Celéstin Freinet
RESUMO
O estudo deste tema tem como objetivo uma revisão bibliográfica
atualizada sobre o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. Foram
abordados os seguintes aspectos: definição do transtorno, histórico de seus
estudos, suas causas mais comuns, instabilidades psicomotoras ou lesões
cerebrais mínimas, como se comporta uma criança hiperativa na escola e os
procedimentos cabíveis para este tratamento. Também foi realizado um estudo
sobre tratamentos e estão inseridos neste trabalho comentários sobre. É sugerido
aos educadores e pais interessados neste tema, não deixar de buscar
compreensão as suas interrogações existentes sobre esta temática tão complexa,
porém pouco difundida e trabalhada no meio social.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 06
CAPÍTULO 1 - O que é hiperatividade 08
1.1 Breve histórico 13
1.2. Diagnóstico 16
CAPÍTULO 2 - Causas da hiperatividade 23
CAPÍTULO 3 - Possibilidades de tratamentos 26
CAPÍTULO 4 - Instabilidades psicomotoras ou lesões cerebrais mínimas 30
CAPÍTULO 5 - A criança hiperativa na escola e o serviço de O.E. 33
5.1 Dicas gerais 40 Conclusão 43 Bibliografia 46
INTRODUÇÃO
Criança sempre dá um jeito de aprontar. Esconde a
caneta do colega, joga bolinha de papel quando a
professora está de costas e adora correr pela casa
desviando dos móveis. Não fica sentada durante muito
tempo na carteira sem se distrair ou atrair a atenção
dos colegas. Parece um foguete na hora do recreio.
Para ela, também, é quase impossível chegar ao fim de
uma história um pouco mais longa e sem ilustração.
O que há de errado com uma criança que prefere
esportes a ficar sentada na sala de aula, ou que
escolheria um gibi ao invés de um livro de ficção.
Aparentemente nada, se não fosse por um motivo:
longe de ser apenas um traço de desobediência
“natural” da idade ou da perda de interesse por aulas e
livros, o “bicho carpinteiro” que faz com que estas
crianças tenham que levantar a todo momento e seja
repreendidas a todo tempo por serem bagunceiras.
Exige remédios e técnicas de memorização para que
consigam fazer as tarefas escolares.
O nome desse “bicho carpinteiro”, na verdade uma disfunção cerebral, é
o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), que atinge de 3% a
6% de crianças em todo o mundo, deve-se ao fato de que ele está diretamente
relacionado à escola, e é muitas vezes, o responsável pelo baixo rendimento
escolar, que ocasiona repetências e problemas sérios de aprendizagem.
Muitas das crianças rotuladas de endiabrados desobedientes ou
“vagais” podem ser, na verdade, hiperativas. A criança que recebe suspensões,
notas baixas e chega a ser convidado a se retirar da escola pode não ter esse
comportamento por livre e espontânea vontade, mas por uma alteração cerebral
que, a despeito da inteligência que carrega, faz com que prestar atenção nas
aulas ou fazer a lição de casa transformem-se em atividades hercúleas. Os
sintomas que permeiam a síndrome fazem parte de uma tríade: falta de atenção,
impulsividade e hiperatividade. Os componentes deste tripé aparecem em maior
ou menor grau e caracterizam os três tipos de TDAH diagnosticados pelos
médicos.
A falta de atenção faz com que a criança não consiga terminar tarefas e
tenha dificuldades em reter informações e comandos. Ela se distrai facilmente com
qualquer coisa e parece não ouvir quando lhe dirigem a palavra. Estas
características estão mais presentes nas meninas.
As crianças hiperativas que se remexem na carteira,
correm e pulam como se tivesse “um foguete” nas
costas, falam sem parar e interrompem conversas, são
um tormento para os pais e um tormento para a escola.
Impopulares e rejeitadas pelos colegas acabam indo da
sala da diretoria para o consultório com mais
freqüência. Apesar de pouca idade ela é convidada a se
retirar da escola e seus pais e professores são reféns
de um atormentado cotidiano.
Para chegar a um diagnóstico correto, segundo Goldstein (1996) é
necessário que a criança tenha apresentado sintomas de desatenção ou
impulsividade por pelo menos seis meses, em pelo menos dois ambientes
diferentes (casa e escola, por exemplo) e antes dos sete anos de idade.
O presente trabalho tem como objetivo a orientação sobre o Transtorno
de Déficit de Atenção / Hiperatividade em crianças na idade escolar, para os
profissionais da área de Educação, principalmente àqueles que lidam dia – a – dia
com elas: professores, alunos, pais e orientadores educacionais.
CAPÍTULO 1
O QUE É HIPERATIVIDADE?
O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade,
que tem como sigla TDAH, é um problema de saúde
mental que tem três características básicas: a
desatenção, a agitação (ou hiperatividade) e a
impulsividade. Este transtorno tem um grande impacto
na vida da criança ou do adolescente e das pessoas
com as quais convive (amigos, pais e professores).
Pode levar a dificuldades emocionais, de
relacionamento familiar e social, bem como a um baixo
desempenho escolar.
O Transtorno e suas sinomías caracterizaram – se por
se constituirem como um quadro sindrômico, e sua
conceituação se compõe da descrição de um conjunto
de sinais e sintomas. Baseia –se na avaliação de
manifestações relacionadas à desatenção, à
hiperatividade e à impulsividade, sendo o diagnóstico
realizado até o presente momento utilizado puramente
o critério clínico.
Como conceito, é bastante genérico e pode dar
margem a compreensões equivocadas.
A criança hiperativa apresenta um enorme desafio para
pais e professores. As pesquisas sugerem que a
hiperatividade pode ser um problema mais persistente e
comum na infância. É persistente ou crônico porque
não há cura e muitos problemas apresentados pela
criança hiperativa devem ser administrados, dia-a-dia,
durante a infância e a adolescência. É possível que os
problemas resultantes da hiperatividade estejam entre
as razões mais freqüentes que justificam o
encaminhamento das crianças com problemas de
comportamento a médicos, psicólogos, educadores e
outros especialistas.
Desatenção, agitação, excesso de atividade,
emotividade, impulsividade e baixo limiar de frustração
(dificuldades para adiar recompensas) afeta a
integração da criança com todo o seu mundo: em casa,
na escola e na comunidade em geral. O relacionamento
com os pais, professores e irmãos é, muitas vezes,
prejudicado devido ao estresse provocado pelo
comportamento inconstante e imprevisível. O
desenvolvimento da personalidade e o progresso na
escola também são afetados de forma negativa.
É importante entender que a criança hiperativa
apresenta as dificuldades mais comuns na infância,
porém de forma mais exagerada. Para a maioria das
crianças afetadas, a desatenção, a atividade excessiva
ou o comportamento emocional irrefletido ou impulsivo
são características do temperamento, um conjunto de
aspectos inatos que vieram ao mundo com eles.
Algumas crianças podem apresentar sintomas de
hiperatividade como resultado de ansiedade, frustração,
depressão ou de criança imprópria. A hiperatividade é
marcada por um grupo destes problemas, pela sua
intensidade ou gravidade e pela sua persistência
durante o processo de desenvolvimento e crescimento
da criança.
A hiperatividade tem uma ampla margem na qual o nível de
atenção, da atividade e da impulsividade pode ser determinado
tanto pelo temperamento como pela solicitação feita à criança pelo
ambiente em que vive. A hiperatividade, portanto, precisa ser
considerada um distúrbio de interação.
(Goldstein, 1996, p.21)
Podendo ser descrita como intensificação e ampliação
do comportamento infantil normal, a hiperatividade tem
uma ampla margem na qual o nível de atenção da
atividade e da impulsividade pode ser determinado
tanto pelo temperamento como por uma solicitação feita
à criança pelo ambiente ou pelos protagonistas do
mesmo. Esta observação define a hiperatividade como
um distúrbio de interação. Como um exemplo, podemos
pensar em uma criança hiperativa no parque de uma
praça. Ela apresenta menos dificuldades, pois não lhe
pedem que fique quieta e sentada. Já em um
restaurante, esta criança torna-se um problema.
A hiperatividade causa um desempenho incomum, o
que faz com que a criança sinta-se frustrada
continuamente. E é injusto dizer que ela não presta
atenção. Em dadas situações a criança presta atenção,
porém a mesma é desviada muito facilmente e qualquer
coisa insignificante é capaz de distraí-la.
O dia-a-dia é um permanente desafio para a criança
hiperativa, pois os problemas não se originam de
poucas habilidades, mas da incapacidade dela em
satisfazer as demandas impostas pelo mundo exterior.
Desde há muito tempo, o sistema educacional direciona
um método usual de um professor para lidar com estas
dificuldades. Era tudo resolvido com autoritarismo e, às
vezes, até agressão. Depois a criança era entregue ao
mundo. Nossa sociedade e cultura valorizam muito às
crianças que permanecem calmamente sentadas,
prestam atenção, planejam e conseguem alcançar os
objetivos. Essas exigências recaem sobre as crianças
hiperativas, incapazes de satisfazê-las. Daí vem à
candidatura imediata a uma infinidade de problemas.
Segundo Goldstein (1996), o TDAH caracteriza-se por
dois grupos de sintomas: (1) desatenção e (2)
hiperatividade (agitação) e impulsividade.
Os seguintes sintomas, classificados por Goldstein,
fazem parte do grupo de desatenção:
• Não prestar atenção a detalhes ou cometer erros por descuido;
• Ter dificuldade para concentrar-se em tarefas e/ou jogos;
• Não prestar atenção ao que lhe é dito (“estar no mundo da lua”);
• Ter dificuldade em seguir regras e instruções e/ou não terminar o que
começa;
• Ser desorganizado com as tarefas e materiais;
• Evitar atividades que exijam um esforço mental e continuado;
• Perder coisas importantes;
• Distrair-se facilmente com coisas que não têm nada a ver com o que está
fazendo;
• Esquecer compromissos e tarefas.
Já os seguintes sintomas fazem parte do grupo de
hiperatividade/impulsividade:
• Ficar remexendo as mãos e/ou pés quando sentado;
• Não parar sentado por muito tempo;
• Pular, correr excessivamente em situações inadequadas ou ter uma
sensação interna de inquietude (ter “bicho carpinteiro por dentro”);
• Ser muito barulhento para jogar ou divertir-se;
• Ser muito agitado (“a mil por hora”, ou “um foguete”);
• Falar demais;
• Responder perguntas antes de terem sido terminadas;
• Ter dificuldades de esperar;
• Intrometer-se em conversas ou jogos dos outros.
Também faz-se necessário refletir nas dificuldades com
as frustrações, que é como o comportamento da
criança é visto, de um déficit motivacional que conta
como um componente cultural, apresentado como
reforço negativo pelos psicólogos. Isto significa fazer
algo que cause aversão à criança mudando o
comportamento desejado, buscando seu fortalecimento.
Geralmente, o comportamento de crianças com TDAH,
resulta em um grande número de reforços negativos,
fruto das tentativas dos pais e professores em controlar
a criança.
Estas características derivadas da hiperatividade,
identificadas nas crianças e nos problemas delas
resultantes comprometem significativamente a
capacidade das mesmas em serem bem sucedidas ao
lidar com a realidade e com o desenvolvimento do
pensamento.
Devemos procurar considerar que os hiperativos que vivem
anos de experiências negativas, de reforços negativos e de
incapacidade de satisfazer as exigências razoáveis da família, dos
amigos e da escola, poderão certamente ficar marcados para o
resto da vida. Pais e professores devem ficar atentos não só com as
deficiências e seus problemas imediatos, mas também com
problemas significativos de longo prazo.
(Goldstein, 1996, p.109)
A presença de dificuldade em fixar a atenção,
associada ou não à hiperatividade, poderá determinar
dificuldades escolares na criança. Entretanto, é preciso
deixar claro que crianças com TDAH não estarão
necessariamente apresentando esse tipo de
dificuldade. Embora possa ocorrer uma diminuição da
atenção seletiva, o indivíduo poderá utilizar
mecanismos compensatórios evitando prejuízo na
aquisição de cvonhecimentos.
Não é preciso ter todos esses sistemas para ter TDAH,
as pesquisas mais recentes têm mostrado que são
necessários pelo menos seis dos sintomas de
desatenção e/ou seis dos de
hiperatividade/impulsividade para que se possa pensar
na possibilidade do diagnóstico de TDAH.
Mas cuidado! Para se considerar que algum dos
sintomas da lista está presente é importante que ele
aconteça freqüentemente, e não de vez em quando.
Todos nós, vez por outra, estamos inquietos, ou no
“mundo da lua”.
1.1 – Breve histórico
Embora problemas com comportamentos de agitação e
falta de atenção em crianças e até adultos está longe
de ser novidade, e trabalhos científicos sobre o assunto
estejam sendo feitos desde o começo do século XX,
como um trabalho feito pelo médico George Frederic
Still em 1902 e o primeiro relato do uso de estimulantes
para o tratamento da TDAH naquela condição clínica
data de 1937.
As dificuldades foram se acrescendo até que em 1962,
em Oxford, na Inglaterra, realizou – se um simpósio
proposto pela Spastic Society, com o objetivo de chegar
– se a um consenso sobre essa condição. Foi, então,
cunhada a expressão “ disfunção cerebral mínima ” (
DCM ), substituindo – se a palavra lesão, em virtude de
não terem sido achadas alterações orgânicas pelos
métodos habituais de diagnóstico.
A DCM seria uma condição determinada por causas
variadas semelhantes às da paralisia cerebral, mas que
não chegaria a provocar uma lesão, havendo uma
“imaturidade” decorrente, com possível melhora
funcional em sua evolução. Foi cogitada, também, a
existência de um fator genético, salientando – se o
predomínio no sexo masculino.
Até 1980 o termo hiperatividade era usado
profissionalmente para definir a criança desatenta,
excessivamente ativa e impulsiva.
De 1975 a março de 1997, foi feita uma pesquisa no
banco de dados da National Library of Medicine, dos
artigos de língua inglesa que abordassem crianças em
idade escolar. Os termos pesquisados foram distúrbios
por deficiência de atenção com hiperatividade. Foram
usados artigos que tratassem de aspectos diagnósticos
e evolutivos.
De 1980 até 1987, a Americam Psychiatric Association
trocou o rótulo diagnóstico de reação hipercinética da
infância para Distúrbio de Déficit de Atenção. Durante
esses anos a criança poderia ser considerada impulsiva
e desatenta sem ser excessivamente ativa. Em 1987, o
sistema diagnóstico foi novamente mudado e as
deficiências de habilidades destas crianças foram
oficialmente denominadas distúrbios da hiperatividade
com déficit de atenção. Na mesma época um grupo de
profissionais decidiu que a maioria das crianças que
experimenta problemas de desatenção e impulsividade
também experimenta problemas de agitação
psicomotora, porém esta não foi muito aceita e talvez
possa mudar outra vez.
No Brasil, Lefévre et al., em 1972, depois de exaustiva
pesquisa, elaboraram o exame neurológico evolutivo (
ENE ), cujo objetivo foi o de definir os padrões normais
de várias funções neurológicas para crianças na faixa
etária dos 3 aos 7 anos. Esse padrão passou a ser
utilizado para a avaliação de crianças encaminhadas
com o diagnóstico de DCM, sendo consideradas
anormalidades ou áreas disfuncionadas quando o
indivíduo não conseguia realizar os testes de uma
determinada função proposto para a sua idade.
Resumidamente, pode – se concluir que, embora o
ENE mostrasse alterações nos casos de DCM, estas
não eram suficientemente específicas para caracterizar
esse quadro. Isso porque, no estudi de crianças com
dificuldades no aprendizado um número ponderável
delas apresentava o ENE normal e, paradoxalmente,
outras, mesmo com o ENE alterado, estavam bem na
escola. Outra verificação é que naquelas em que o ENE
mostrava alterações, inclusive com melhora destas
alguns meses depois, as dificuldades escolares
persistiam.
É importante deixar bem destacado que embora uma
disfunção neurológica possa determinar dificuldades no
aprendizado, na maioria das vezes, o achado de áreas “
disfuncionadas “ no ENE não permitia essa correlação.
Mais recentemente, em 1991, a Associação
Americana de Psiquiatria ( APA ) por meio do The
Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders
IV, fez uma reunião das propostas anteriores,
distribuindo as manifestaçõesclínicas da DADH em dois
grupos: desatenção e impulsividade / hiperatividade.
Esse é o critério utilizado atualmente na maior parte dos
trabalhos científicos realizados nessa área.
Por outro lado, estas crianças podem ser
diagnosticadas através da Classificação Internacional
de Doenças – Organização Mundial de Saúde (CID),
como possuidores de uma Perturbação da Conduta ou
uma Perturbação Emocional, enfatizando a desinibição
motora, sua força e sua constância.
Melo (2000, p.24) conclui em seu trabalho que:
O estudo da instabilidade privilegia o indivíduo como ser
psicossocial em relação ao mundo, ao passo que o estudo da
hipercinesia ou hiperatividade privilegia aspectos neuropediátricos,
isto é, o organismo e sua estrutura psicofisiológica.
Portanto, a designação obedece, sobretudo, à
abordagem teórica que a sustenta diferenciando o tipo
de instrumento, critérios utilizados para avaliar e
diagnosticar.
1.2 – Diagnóstico
A questão diagnóstica é um dos pontos mais difíceis e
cruciais do tema que está sendo estudado. O
diagnóstico da criança desatenta e hiperativa sustenta
sobre dois pilares fundamentais: os dados de história
da criança e os obtidos na avaliação clínica. Estarão
por sua vez, relacionados a dois pólos de sinais e
sintomas: a desatenção e o conjunto hiperatividade /
impulsividade.
A desatenção expressa a capacidade limitada que uma
criança possui em permanecer atenta por um tempo
necessário diante de determinada tarefa para
compreendê – la e / ou realizá – la. Dizemos que esses
indivíduos possuem curta fixação da atenção.
Esse tempo razoável de atenção não tem medidas ou
pontuação padronizadas, sendo caracterizado de forma
objetiva por quem avalia a criança e, também, subjetiva
por meio das informações dos familiares.
O que servirá de alerta será quando esse tempo de
concentração for muito curto, mesmo naquelas bem
novas, não permitindo que demostrem interesse e
envolvimento com uma brincadeira ou tarefa, fazendo
com que mudem de atividade a todo momento.
Existem três tipos de desatenção segundo Levine e
Melmed ( 1982 ) e que devem ser bem distintas.
A primeira é a Primária, que são as dificuldades de
atenção e de intenção, fazendo parte dos distúrbios
psiquiátricos infantis, chamados pervasivos ( que
incluem o autismo, a esquizofrenia e outras afecções
relacionadas ); múltiplas formas de distractibilidade. Já
a segunda é a Secundária, que são as desatenções e
intenções comprometidas como resultado de
processamento débil da informação, da ansiedade e /
ou depressão.
Por último, temos a Situacional, que são a desatenções
e intenções comprometidas limitadas a situações
particulares.
A hiperatividade corresponde ao exagero de atividade
motora na criança. Já a impulsividade expressa – se
por reações bruscas e imotivadas da criança, refletindo
uma reação impensada e repentina.
O diagnóstico do déficit de atenção associado ou não à
hiperatividade baseia – se na identificação das
manifestações que foram referidas. Essa tarefa, na
prática, não é tão simples, embora pareça ser fácil
caracterizar aqueles comportamentos que pareciam
estar evidentes aos olhos de qualquer um.
O diagnóstico clínico segundo Barros (2002),
essencialmente deve ser detalhado. É necessário
coletar o histórico completo do desenvolvimento da
criança como:
• Fatores pré e pós-natais;
• Marcos do desenvolvimento;
• Alterações comportamentais;
• Alterações do sono;
• Dificuldades de seguir regras e limites.
Ainda é preciso investigar o estado de atividade durante
a primeira infância e aspectos sociais e emocionais da
criança.
Esta avaliação pode ser complementada com uma
entrevista com professores, a fim de coletar
informações sobre constância ou variabilidade da
hiperatividade, tempo de atenção e grau de distração.
Não há fatores isolados e nenhum conjunto de fatores
definidos que assinalem a possibilidade da presença da
hiperatividade. Embora muitos fatores comportamentais
e de desenvolvimento sugiram a hiperatividade, outros
problemas da infância (como problemas de conduta,
depressão, ansiedade, problemas de linguagem, de
audição, de memória, etc.) podem causar esses fatores.
É preciso avaliar cuidadosamente o comportamento de
toda criança hiperativa para determinar se a
hiperatividade é a fonte dos outros problemas ou se os
outros problemas é que fazem tal criança parecer
hiperativa. Além disso, a grande falta de informação
complica ainda mais a capacidade dos pais e
professores de reconhecer um problema e a partir daí
agir.
Goldstein (1996, p.122) sugere aos pais primeiro
separar o comportamento das causas e do diagnóstico
e afirma que o papel deles é ser capaz de reconhecer
as características dos filhos que os deixam estressados
e que os preocupam. Goldstein fornece diretrizes que
ajudam a procurar uma melhor avaliação antes de
buscar o melhor tratamento.
Estes questionários irão ajudar a organizar as idéias a
respeito dos comportamentos de uma criança
hiperativa. Lembre-se de que os resultados não fazem
diagnóstico, nem explicam as causas. Eles
simplesmente descrevem o comportamento. Para estes
questionários, segundo Goldstein, não se propõe uma
contagem de pontos com base em suas respostas, nem
são comparados a nenhuma amostra da população.
• Questionário para os pais de crianças de um ano até a idade pré-escolar.
Comparado com outras crianças meu filho:
Parece ser movido por um motor
Está constantemente “indo”
Sente dificuldade em ficar num único lugar,
mesmo por curtos períodos
Presta atenção só em coisas estimulantes e,
mesmo assim, por curtos períodos
Não se adapta bem às mudanças
Fica facilmente superemotivo ( ) ( )
Grita sempre e muito alto ( ) ( )
É sempre imprevisível no seu
comportamento e em rotinas como dormir e
comer
( ) ( )
Parece mais excitável que outras crianças ( ) ( )
Sempre age sem pensar ( ) ( )
Deixa sempre tarefas, até simples, sem
terminar
( ) ( )
Geralmente presta atenção por apenas
alguns minutos de cada vez
( ) ( )
Fica facilmente frustrado ( ) ( )
• Questionário para os pais de crianças em idade escolar
Comparado com outras crianças meu filho:
Parece mais excitada
Sempre age sem pensar
Chora facilmente e com freqüência
Tem dificuldade de controlar emoções
Não consegue ficar sentada quieta em
ambientes e espaços diversos
Fica impaciente quando sentada
Deixa várias tarefas sem terminar
Habitualmente presta atenção durante
apenas curtos períodos de tempo
Presta atenção se suficiente motivada (por
exemplo, vídeo-game)
Age como uma criança de menos idade
É excessivamente ativa
Sonha acordada
Não consegue seguir mais de uma ou duas
ordens de cada vez
É desorganizada
Perde as coisas necessárias para fazer as
tarefas (por exemplo, a tarefa de casa)
• Questionário para professores
Comparada com outras crianças da classe, esta criança:
Não completa seu trabalho
Não consegue trabalhar sozinha sem
acompanhamento
Parece incapaz de seguir, com precisão,
instruções simples
Parece incapaz de seguir uma seqüência de
instruções com precisão
Freqüentemente fica inquieta levantando-se
e saindo de seu lugar
Parece incapaz de controlar suas emoções
Age sem pensar
Fala muito
Parece sonhar acordada
Requer maior dedicação do professor em
relação aos problemas diversos
Parece desorganizada
Parece ter capacidade para se sair bem,
mas não consegue
Parece desatento
Parece se distrair facilmente
Um diagnóstico minucioso da hiperatividade na infância
deve incluir a observação de oito tipos de informações
sobre a criança em questão: histórico da família e do
desenvolvimento do seu filho; inteligência;
personalidade e desempenho emocional; desempenho
emocional; desempenho escolar; relação com amigos;
disciplina e comportamento em casa; comportamento
na sala de aula e consulta médica.
É preciso ter atenção, pois muitos dos problemas
atribuídos à hiperatividade estão também associados a
outros problemas emocionais e de ajustamento. Não há
nenhum resultado ou observação isolada que confirme
ou exclua o diagnóstico de hiperatividade em uma
criança. Devemos evitar um resultado falso-positivo que
seria tratar a criança como hiperativa sem que ela
realmente o seja.
O objetivo de uma avaliação não é classificar seu filho
ou decidir sobre um tratamento em particular como a
medicação, por exemplo. Um diagnóstico de TDAH não
implica nenhum tratamento especial como necessário.
É tolice imaginar que qualquer tratamento isolado
poderia solucionar todas as dificuldades de uma criança
hiperativa e em todas as situações. A maioria dos
problemas vivenciados por uma criança hiperativa não
pode ser evitado, porém eles podem ser eficientemente
administrados.
A abordagem geral do diagnóstico pode envolver
entrevistas abrangentes como: os adultos provedores
de cuidados com a criança, exame do estado mental
dela, avaliação médica da saúde geral e do estado
neurológico, avaliação cognitiva de capacidade de
realização, uso de uma escala de avaliação, relatos da
escola e outras avaliações acessórias se necessário
(fala, etc).
Sabe-se bem, com base na discussão sobre a
avaliação diagnóstica, que o hiperativo não pode
simplesmente ser diagnosticado em uma consulta ou
uma avaliação de quinze minutos. A realização de um
exame cuidadoso, uma avaliação e uma abordagem
multidisciplinar se faz mais eficiente.
Portanto, cabe ressaltar que o TDAH, como qualquer
distúrbio, possui uma variabilidade quanto à intensidade
do quadro clínico, partindo de casos leves a graves,
com enorme comprometimento funcional.
É de fundamental importância ressaltar a necessidade
da identificação de qual ou quais tipos de déficit de
atenção estão ocorrendo, pois esse diagnóstico terá
correlação direta com a conduta a ser tomada.
CAUSAS DA HIPERATIVIDADE
Inicialmente analisaremos as causas da hiperatividade
como lesões cerebrais e hereditariedade e então,
tentaremos compreender o comportamento hiperativo
como resultado da atividade cerebral.
Existem riscos de que ocorram lesões
cerebrais durante o parto. Vasos sanguíneos cerebrais,
delicados e frágeis, ou até mesmo delgadas fibras de
conexão entre células nervosas, podem se romper em
conseqüência de deslocamentos e compressões no
momento do parto.
Segundo os estudos de Goldstein, em 1960 e 1970, era
de aceitação geral dos médicos que o TDAH da maioria
das crianças devia-se à lesões ocorridas durante o
parto. Isto satisfaria aos pais e professores em entender
porque determinada criança tinha problemas e aliviaria
ambos da culpa sobre a educação dela ser a possível
causa.
Passou-se bastante tempo e após cuidadosos estudos
foi concluído que os problemas durante o nascimento
eram menos importantes do que se pensava como
geradores de hiperatividade. Uma das mais
surpreendentes descobertas foi a ineficácia do índice
de Apgar (uma avaliação baseada no tônus, na cor, na
atividade, na freqüência cardíaca e na capacidade
respiratória de um recém-nascido) em prever problemas
comportamentais e de aprendizado. Sendo assim, as
instabilidades adquiridas podem ser conseqüência de
fatores orgânicos ou de traumatismos e situações
psicológicas desfavoráveis (fatores sócio-econômicos e
familiares, por exemplo).
Existe uma estreita ligação, segundo Goldstein (1996),
entre hiperatividade e hereditariedade, e a primeira foi
estabelecida com o estudo de parentes de uma criança
hiperativa. Uma criança hiperativa tem probabilidade
quatro vezes maior de possuir outros membros da
família com o mesmo problema. No entanto, o
relacionamento criança-família envolve fatores
ambientais que nos trazem a possibilidade do
comportamento da criança ser causado pelo
comportamento dos pais.
Para confirmar esta tese, crianças foram estudadas
sendo criadas longe de suas famílias biológicas.
Devemos considerar que famílias com crianças
afetadas demonstram uma grande série de sintomas e
o comportamento de determinada criança não pode ser
esperado somente pela história familiar. Muitos são os
fatores que determinarão se uma criança é hiperativa
ou não.
Existem lesões em algumas áreas do cérebro que
podem produzir alterações comportamentais que
apresentam semelhanças com a hiperatividade. Além
disso, qualquer dano em determinadas porções do
cérebro, contribui para diminuição da atenção e da
concentração. Entretanto, uma lesão ou a remoção de
qualquer parte do cérebro não causa hiperatividade
como o seu principal ou único sintoma.
O TDAH também pode ser compreendido como uma
disfunção do centro de atenção do cérebro que impede
que a criança se concentre e controle o nível de
atividade, as emoções e o planejamento. O
comportamento hiperativo pode ser considerado como
um mau funcionamento deste centro de atenção
trazendo problemas de desempenho.
Há também outros fatores como a exposição de
determinadas substâncias, como altos níveis de
chumbo no corpo de crianças, possam estar associado
a maior risco de comportamentos de hiperatividade e
desatenção. Para que essa associação exista são
necessários níveis altos, dificilmente encontrados nas
crianças; portanto, isso explicaria apenas uma porção
muito pequena e pouco significativa dos casos de
TDAH.
Segundo Benczik (1999), alguns estudos têm indicado
associação entre o uso de álcool e de fumo durante a
gravidez e o aparecimento de TDAH mais tarde.
Novamente, vale o que discutimos sobre o cuidado na
interpretação de estudos de associação, ainda mais
que parece haver maior freqüência do hábito de fumar
em indivíduos com TDAH.
Em 1993, foi publicada uma pesquisa nos EUA
mostrando que pacientes com um tipo raro de
deficiências de hormônio tireoidiano associada a fatores
genéticos apresentavam uma freqüência alta de TDAH.
O hormônio tireoidiano é produzido pela glândula
tireóide, localizada no pescoço. Estudos posteriores
não mostraram qualquer associação entre TDAH e
níveis alterados de hormônio tireoidiano. Não existe, até
o momento, evidência de relação de TDAH com
qualquer alteração hormonal.
É necessário enfatizar que o contexto familiar é de
extrema importância nesses casos. Evidentemente não
se está atrás de encontrar culpados, mas é fundamental
que conheçamos como se deu ou está se dando a
relação dessa criança com seus pais e irmãos, para
termos uma melhor compreensão do problema.
Entenda – se, dessa forma, que as alterações
comportamentais da criança dependem de uma
conjunção de fatores: ambientais, familiares e da própia
criança. Isto é, poderá observar se uma família na qual
existem três irmãos e somente um deles estará
apresentando quadro do tipo DA/H.
Pelas razões expostas, o modelo mais aceito no
momento para explicar as causa de TDAH é o de uma
vulnerabilidade herdada ao transtorno que vai
manifestar-se de acordo com a presença de
desencadeadores ambientais. Quanto mais forte a
carga genética, menor a importância dos
desencadeadores naturais.
CAPÍTULO 3
POSSIBILIDADES DE TRATAMENTOS
As intervenções precoces podem representar um
grande passo para minimizar o impacto negativo que o
TDAH traz à vida da criança, dos pais e dos seus
professores. Este transtorno quando não tratado, pode
associar-se a experiências negativas de ordem social,
pessoal, familiar e escolar, permanecendo durante a
adolescência e a vida adulta.
Em primeiro lugar, é fundamental frisar que a
abordagem do transtorno exige intervenções múltiplas.
Na maioria das vezes, é necessária a combinação de
várias das seguintes intervenções:
• Esclarecimento familiar sobre o TDAH;
• Intervenção psicoterápica com a criança ou adolescente;
• Intervenção psicopedagógica e/ou de reforço de conteúdos;
• Uso de medicação;
• Orientação de manejo para a família;
• Orientação de manejo para os professores;
• Terapias alternativas;
• Terapias motoras.
O TDAH está incluído nas patologias neurológicas,
porém os pais evitam o diagnóstico por esta área,
recusando “dopar” as crianças por temerem efeitos
colaterais.
Para alguns autores, o TDAH se atenua entre os 11 e
13 anos com a tendência a desaparecer no final da
adolescência, e quanto ao tratamento tem sido relatada
uma melhora com o uso de medicações, e em
particular, as anfetaminas.
Desde 1937, Bradley mostrou a ação benéfica da
anfetamina nos distúrbios do comportamento da
criança. Empregou-se a DL – anfetamina (benzedrina)
ou outros medicamentos com ação equivalente, em
particular o metil-fenidato (ritalina). Parece estar
atualmente demonstrado que estes medicamentos são
de eficácia evidente sobre o nível de atividade, atenção,
impulsividade, comportamento social, aprendizado; os
efeitos secundários como insônia e anorexia, algum
distúrbio gástrico e tremores nas extremidades tendem
a desaparecer com o prosseguimento do tratamento.
Segundo alguns autores, o efeito da anfetamina pode
diminuir com o tempo, conseguindo-se uma nova
melhora com o emprego da ritalina. As anfetaminas
podem também modificar o comportamento das
crianças que não apresentam sintomas hipercinéticos,
mas distúrbios variados de comportamento. Problemas
de aprendizado, distúrbios de caráter e de conduta, etc.
Vários estudos cuidadosos demonstram claramente que
mais de 70% das crianças e adolescentes com TDAH
apresentam melhoras significativas dos sintomas de
desatenção, de hiperatividade e/ou impulsividade na
escola e em casa com o uso correto dos remédios. É
importante que as crianças sejam reavaliadas
periodicamente enquanto não estão usando
medicações, a fim de verificar se essas medicações
ainda são apropriadas e necessárias.
Neste sentido, podemos dizer que os distúrbios
psicomotores em seu conjunto oscilam entre o
neurológico e o psiquiátrico, entre a personalidade total
mais ou menos desejada e o vivenciado mais ou menos
sofrido, entre a personalidade total mais ou menos
presente e a vida mais ou menos vivida; continuamos
acreditando que a dupla polaridade que descrevemos
na instabilidade psicomotora permanece ainda válida do
ponto de vista heurístico e que é válida nos casos de
síndromes hipercinéticas. Para outros autores a
instabilidade psicomotora é a figura psicomotora sobre
um fundo desorganizado. Em um grande número de
trabalhos norte-americanos, a introdução da noção de
lesões cerebrais mínimas acabaria por levar à
descrições de hipercinesias sem hipercinesia. É tão
grave considerar a instabilidade psicomotora como uma
síndrome exclusivamente motora, quanto situá-la em
um conjunto de comportamentos extremamente
diversos, no quadro de uma disfunção cerebral mínima,
sem considerar o desenvolvimento afetivo da criança e
suas relações com o ambiente. Trata-se em geral de
um mecanismo de segurança do médico que considere
a complexidade da conduta e do comportamento e
confunda, totalmente, patogenias que são diversas e
que estão freqüentemente baseadas em uma
semiologia inadequada e ainda incerta.
Infelizmente, não temos ainda como prever com certeza
se a criança fará parte do grupo que responderá à
medicação. Portanto, teremos que lançar mão do que
se chama teste terapêutico, ou seja, iniciar o uso do
remédio e avaliar de modo cuidadoso a resposta da
criança.
As psicoterapias lidam com os aspectos emocionais
que participam da condição da criança desatenta e / ou
hiperativa é outro dos pontos fundamentais do trabalho
a ser realizado com a finalidade de se obter uma
adequação daqueles comportamentos.
A indicação do procedimento psicoterápico ficará na
dependência das características de cada caso,
considerando – se a idade da criança, a intensidade
das alterações de comportamento, sua relação com a
estrutura familiar e o impacto que está causando nas
convivência familiar.
A importância da abordagem familiar é, entre outros
aspectos, não tomar a criança como sendo o único foco
do problema. Embora ela seja o elemento sintomático,
a terapia familiar a vê como fazendo parte de um
sistema de relacionamentos afetivos desarmônicos e
cuja psicodinâmica pode estar comprometendo a todos
de maneira geral, muitas vezes de modo
desapercebido. Portanto, todos terão de rever sua
posição na estrutura familiar.
Essa forma psicoterâpica tem indicação prioritária para
as crianças inquietas e desatentas de baixa idade, na
faixa etária dos 2 aos 5 anos, cuja a orientação médica
inicial não se mostrou totalmente eficiente e nas quais
se observou uma dinâmica familiar com pais inseguros,
permissivos em excesso, perdidos em suas atitudes, e
uma criança infernizante, ansiosa, fazendo o mundo
girar em torno de si. Constata – se, nesses pacientes,
sempre a presença de uma inadequação importante do
conjunto familiar e, por conseqüência, têm sido bons
resultados com essa abordagem terapêutica.
As terapias alternativas são extremamente sedutoras
para os familiares, pois são categóricas com relação à
promessas de bons resultados, e mais vantajosas ainda
porque o filho não necessitará fazer uso de
medicamentos que irão atuar em seu sistema nervoso
ou outros tratamentos mais prolongados e
dispendiosos.
Do ponto de vista científico, as exigências são sérias e
inflexíveis, pois estamos tratando de vidas humanas.
Não podemos submetê – las a tratamentos que não se
baseiam em evidências, por puro “ achismo ” ou
impressão de que algumas crianças estão tendo bons
resultados.
Algumas formas alternativas de tratamento, como
dietas, vitaminas, e terapias motoras, serão referidas,
mas sem qualquer evidência de efetividade nas
crianças com DA/H.
CAPÍTULO 4
INSTABILIDADES PSICOMOTORAS OU
LESÕES CEREBRAIS MÍNIMAS
Em 1901, alguns cientistas descreveram a instabilidade
da criança como desequilíbrio da afetividade, excesso
da expressão das emoções, ambivalência das reações,
falta de inibição e de atenção, necessidade constante
de movimentos e de mudanças com palavras e gestos
entrecortados. Já J. Abramson (1986) contribuiu com o
estudo da psicologia da criança instável e de sua
personalidade demonstrando que o instável psicomotor
ativa, em geral, em curto circuito, de uma maneira
intuitiva e confusa, não utilizando os encadeamentos,
as oposições, as confrontações; considera que a
memória imediata dos dados concretos é comumente
boas nestes indivíduos, porém eles não são capazes de
ordenar os fatos no tempo.
A criança com TDAH é atingida por todos os estímulos
externos, sendo incapaz de inibir sua necessidade de
dispersão; se fixa tanto no detalhe quanto no conjunto
sem fazer análise e a atividade ordenada o fatiga. Em
geral, o instável psicomotor tem êxito nos testes que
requerem um grande despêndido de energia em pouco
tempo enquanto fracassa nos testes que exijam uma
coordenação, precisão e rapidez no movimento, isto é,
em tudo que requer um esforço de inibição e de
organização.
As instabilidades podem ser adquiridas ou
constitucionais. As instabilidades adquiridas podem ser
a conseqüência de fatores orgânicos ou de
traumatismos e situações psicológicas desfavoráveis
(fatores sócio-econômicos e familiares); e as
instabilidades constitucionais corresponderiam à
disposição inata ou hereditária.
Ou no terreno da evolução do caráter, ou no terreno da
evolução motora pura, o aspecto motor e o aspecto da
forma psíquica são duas faces do mesmo estado da
personalidade que se chama “instabilidade”. Os dois
aspectos demonstram claramente que a instabilidade
não é apenas uma questão de motricidade, mas
também de caráter. E, enfim, uma questão de ausência
de manutenção ou de continuidade da conduta por
inteiro.
Estas crianças são levadas a consultas devido a um
atraso escolar, entretanto, apresentam um nível mental
normal; destacam-se, sobretudo, por uma agitação
psicomotora: movem-se sem cessar, tocam em tudo,
são irritadas sem agressividade; sua atividade é
desordenada, a atenção é dispersa; são incapazes de
um esforço contínuo e sua eficiência é insuficiente
durante um trabalho prolongado.
São crianças que estão quase constantemente em
movimento (hiper = muito / cinesia = movimento).
Constitui um transtorno de conduta que mais
perturbações ocasiona na escola chegando, às vezes, a
limites insuportáveis.
H.F.R. Prechtl (1992) descreve hipercinesia como uma
figura sintomática sobre o fundo de desorganização
geral, cuja patogenia é considerada basicamente como
única, ou como fonte dessas desorganizações de
fundo. Essa noção de hiperatividade é encontrada na
definição da síndrome impulsiva hipercinética, da
criança hiperativa bem como do distúrbio impulsivo do
caráter.
Nos diferentes tipos de comportamento, a hipercinesia
ou é colocada em primeiro plano assemelhando-se ao
que é descrito pelos franceses como síndrome de
instabilidade psicomotora, ou faz parte de um plano
secundário, entretanto, a hipercinesia, no quadro
descrito na França, está sob a denominação de
distúrbios da conduta e do comportamento. Em outros
casos eles são associados aos distúrbios do
aprendizado.
Strauss e L. Lechtinem (1999, p.22) descrevem uma
síndrome caracterizada por sintomas que demonstram
uma desorganização de todas as esferas cognitivas,
perceptivo-motora e afetivas, porém onde a
hiperatividade, a instabilidade e a impulsividade são
predominantes. No quadro das lesões, deficiências
cerebrais mínimas (DCM) descrevem hiperatividade,
incapacidade congênita, distúrbios visomotores,
maturação retardada ou irregular, movimentos
associados exagerados.
Segundo Strauss e L. Lechtinem (1999), de um ponto
de vista mais etiológico e no que se refere aos
distúrbios motores, a hiperatividade é encontrada na
síndrome da DCM por ser esta última caracterizada por
distúrbio:
• Do comportamento motor e alteração da coordenação;
• De atenção e de percepção;
• Do controle de impulsos;
• Afetivo com disfona e agressividade;
• Por dificuldade no aprendizado escolar;
• Por alteração nas relações interpessoais.
Vemos que estas crianças se perturbam quando lhes
solicitamos que façam uma seleção a partir de diversas
alternativas; suas respostas são, sobretudo, impulsivas
a contraditórias. Sob este ponto de vista, elas são
menos aptas a controlar seu comportamento e a inibir
as respostas incorretas; elas são piores quando uma
tarefa lhes exige o isolamento de um estímulo
importante; a partir de um plano secundário confuso,
elas são mais atraídas pelos aspectos mais vistosos do
campo do estímulo e são mais lentas quando uma
tarefa requer rapidez. Assim, podemos dizer, segundo
S. B. Campbell et al. (1990), que as crianças hiperativas
empregam tipicamente estratégias, resoluções de
problemas menos eficazmente do que as crianças
normais.
CAPÍTULO 5
A CRIANÇA HIPERATIVA NA ESCOLA
E O SERVIÇO DE ORIENTAÇÃO
EDUCACIONAL
Na idade escolar, em geral, a criança com TDAH
começa a se aventurar no mundo e já não tem a família
como um amortecedor. O comportamento, antes
“aceito” como engraçadinho ou imaturo, já não é
tolerado. A criança hiperativa que está na Educação
Infantil precisa agora aprender a lidar com as regras, a
estrutura e os limites de uma educação organizada, e
seu temperamento simplesmente não se ajusta muito
bem com as expectativas da escola. Essas crianças
recebem uma enorme quantidade de informações sobre
si mesmas e sobre o mundo que as cerca. Deriva daí a
dificuldade de definir o nível normal de agitação,
atividade e atenção em crianças em idade pré-escolar.
A Dra. Suzan Campbell (1990, p.47), pesquisadora
sobre problemas de comportamento em crianças pré-
escolares diz que o comportamento típico e apropriado
para crianças nesta fase pode ser ativo, inquieto e
caprichoso. Crianças pré-escolares apresentam
comportamentos dotados de uma energia ilimitada e
grande espírito de exploração; reagem prontamente a
estímulos e geralmente são desembaraçadas e
entusiasmadas.
São crianças que não terminam nem mesmo as tarefas
mais simples que o professor pede, são inquietas e
agitadas nas carteiras, que tornam-se excitadas por
nada e sempre chamam a atenção para si de uma
forma negativa e segundo os professores são lentas em
aprender novas idéias escolares.
Em geral, considerando todas as faixas etárias,
crianças em idade escolar, sendo hiperativas, não
podem contar com a família para amortecer seus erros
e atitudes. Estas mesmas crianças precisam aprender a
lidar com as regras, a estrutura e os limites de uma
educação organizada, mas seu gênio e seu
comportamento não se ajustam as expectativas da
escola. Seu comportamento passa a ocupar a maior
parte do tempo do professor e a atenção que o
professor o retorna, infelizmente e geralmente, é
negativa por estes não estarem fazendo o que fora
pedido. Este fato ainda deixa mais a desintegrar a sala
de aula já que os outros alunos preferem assistir a
“batalha” entre professor e aluno a terminar a tarefa
requisitada.
Precisamos ter cuidado com uma provável afirmação
que seria a de que crianças hiperativas não são tão
inteligentes quanto as outras, pois para ir bem nas
provas não é necessário somente mostrar aptidões que
estão sendo avaliadas, mas também ter a capacidade
de ouvir e seguir instruções, prestar atenção e persistir
até que a prova seja finalizada.
A criança também deve ser capaz de refletir a respeito
de qual seria a opção correta como melhor resposta, o
que não é fácil para uma criança hiperativa, o que nos
permite concluir que as notas obtidas nas provas muitas
vezes refletem mais sua hiperatividade que seu
potencial intelectual. Porém, é justo dizer que as
crianças hiperativas exibem uma variação normal de
aptidões intelectuais: umas são brilhantes, a maioria
está nos limites médios e outras, até, abaixo da média
em suas aptidões intelectuais.
As maiores aptidões intelectuais da criança permitem
que ela compense sua incapacidade de continuar uma
tarefa. Esta mesma criança pode não se dedicar muito,
mas o que ela gastar muitas vezes resulta no trabalho
completo e freqüentemente correto. É como se ela
fosse taxada de não prestadora de atenção e na hora
em que fosse requisitada, correspondesse além das
expectativas. É bom lembrar que desatenção não é
sinônimo de incapacidade de aprendizagem.
Alguns pesquisadores sugerem que as crianças com
TDAH, não aprendem tão bem quanto as outras e
muitas têm um comprometimento tão grave em sua
capacidade de aprender que podem ser consideradas
incapazes. Alguns estudos feitos na década de 70
também sugerem que crianças hiperativas vivenciam
uma incapacidade específica de aprendizagem como
dificuldades de leitura, grafia, matemática, linguagem
oral e até escrita. Constatou-se que de 10% a 30%
destas crianças exibem atrasos nas aptidões escolares,
embora a grande maioria delas não apresentem
inaptidões de aprendizado; a porcentagem de crianças
hiperativas constituem um grupo significativo da
população incapaz de aprender.
A relação entre TDAH e incapacidade de aprender não
é clara e provavelmente elas constituem dois distúrbios
diferentes da infância, um não acarretando,
necessariamente, a ocorrência do outro.
Crianças que parecem sonhar acordadas. Esta também
é uma das mais comuns observações feitas pelos
professores. Elas não estão devaneando,mas sim,
interessadas em coisas diferentes daquelas que o
professor está trabalhando no momento. Geralmente
ela está envolvida em atividades menos produtivas e
seu comportamento é desigual, imprevisível e não
reativo às intervenções feitas pelo professor.
As crianças com TDAH, podem não finalizar uma tarefa
em um dia e no outro sim, o que deixa receber o rótulo
de desobediente como se simplesmente decidisse não
fazer. O professor então, pressiona ainda mais e seu
resultado é a crescente frustração, tanto para o
professor quanto para o aluno.
Essas crianças podem não ter um bom desempenho
escolar, embora com um grupo, pareçam ter potenciais
de aprendizado iguais às crianças normais. Nos anos
posteriores entretanto, o impacto a longo prazo de não
prestar atenção ou de não completar a lição acaba
tendo um efeito negativo sobre o progresso escolar. A
falta de aptidões básicas de atenção, bem como a falta
de prática na utilização dessas aptidões, começa a
cobrar seu preço para o sucesso.
Muitas crianças hiperativas também vivenciam uma ampla
gama de problemas comportamentais ou emocionais secundários,
na escola, como conseqüência de sua incapacidade de satisfazer
as exigências na sala de aula. Esses problemas muitas vezes se
desenvolvem em respostas a fracassos freqüentes e repetidos.
Como resposta algumas crianças tornam-se deprimidas e retraídas,
enquanto outras se tornam irritadas e agressivas.
(Goldstein, 1996, p.109)
Em relação às aptidões sociais as crianças com TDAH
demonstram-se imaturas e incompetentes e até
mesmo aquele esforço mais detalhado pode fracassar.
Elas se tornam incompetentes em iniciar participação
em uma conversa já em andamento e esperar sua vez
para cooperar. Problemas como estes tornam estas
crianças menos populares e cada vez menos aceitas
socialmente. E os comportamentos agressivos, que
embora não aconteçam duas vezes no mesmo dia,
tornam esta criança rejeitada e antipatizada pelos
outros.
As escolas estão mais habituadas a trabalharem com
as crianças consideradas “ normais “, ou seja, com boa
produção no aprendizado e com bom comportamento.
Embora os professores e orientadores estejam
preparados, quando surgem um ou dois hiperativos em
uma classe, em geral, cria – se uma situação
problemática.
Essas crianças agitadas rompem com a harmonia na
sala de aula, interferem no trabalho didático e
atrapalham a atividade dos outros alunos.
Na seqüência de fatos, ocorre que os pais são
convidados pelo Serviço de Orientação Educacional,
para uma entrevista. É feito o relato do que está
acontecendo na escola, suas conseqüências e a
conclusão final cai como se fosse uma bomba : Seu
filho é hiperativo! A escola acredita estar fazendo um
excelente diagnóstico, e os pais sentem – se os mais
infelizes do universo: “ nosso filho é hiperativo, e agora
o que faremos? “
A maneira na qual o Orientador Educacional deve expor
para os pais deve ser de forma clara, verdadeira e
acima de tudo simples, para que eles não se assustem.
Deve ser ainda, principalmente, esclarecedora. E a
escola, como instituição deve dar total apoio, orientação
e discernimento, tanto para a criança, quanto aos pais e
professores.
Não se trata de nenhuma tragédia e há muito o que
fazer, felizmente, e com bons resultados. Entretanto, os
pais entram em crise pelo muito que já têm ouvido falar
e lido sobre o DA/H, muitas vezes de maneira incorreta.
Um bom argumento para tranquilizar os pais é dizer –
lhes que se trata de “ uma situação de vida e não de
morte “, procurando injetar – lhes esperança e
paciência para lidar com essa situação.
Assim como foi feito com a criança e com os pais,
deverá ser mantido um contato estreito entre os
profissionais da saúde com a escola ( professores e
Orientador Educacional ), para esclarecer o que
significa desatenção e / ou hiperatividade. Explicar as
diversas razões pelas quais isso acontece,
particularmente naquela dada criança, e desmistificar
um tanto do que é falado e reproduzido por alguns
relatos elaborados menos judiciosamente.
Já os pais, são expostos a repetidas queixas e
preocupações dos professores, psicólogos escolares e
educadores especiais. E os esforços, feitos por
membros desta equipe, podem não ter sucesso e
mesmo aqueles alunos que são medicados continuam a
apresentar problemas além dos normais de escola.
Os pais com freqüência se queixam do relacionamento
com seus filhos que apresentam TDAH, é por muitas
vezes, difícil e desgastantes. Eles devem ter paciência,
persistência em seus esforços em ajudar seus filhos a
obterem sucesso na escola e se orgulhar sempre deles.
Os Orientadores Educacionais devem orientar os
professores a ter a capacidade de entender as
dificuldades temperamentais da criança e intervir de
maneira eficaz e positiva. Deve-se evitar métodos
punitivos e reforços negativos que fazem as coisas
piorarem ao invés de melhorarem.
Com base em Goldstein, Barros e Ross e nas
bibliografias estudadas podemos projetar uma sala de
aula ideal para a criança com TDAH:
• O professor precisa saber sobre o TDAH e estar disposto a reconhecer este
problema nas crianças de sua classe;
• O professor precisa entender claramente a diferença entre problemas
resultantes de incompetência e os que resultam da desobediência;
• O professor não deve empregar de imediato o reforço negativo e a punição
na lida dos problemas ou na tentativa de motivação dos alunos;
• A sala precisa ser organizada e expor regras da classe das quais os alunos
devem estar cientes;
• É preciso que haja uma rotina consistente e previsível que demonstre
exigências de comportamento e produtividade;
• As tarefas escolares devem ser equilibradas com a capacidade dos alunos
e apresentar interesse no processo e não no resultado;
• A partir de uma intervenção da criança com TDAH o professor precisa
empregar limites e dar instruções para que a mesma retome a tarefa;
• A alternação de atividades com alto e baixo interesse devem ser
diversificadas bem como a existência de um planejamento elaborado se faz
necessário;
• Os pais e professores precisam manter uma comunicação intensa e efetiva
para acompanhar a evolução da criança.
Cabendo também ao Orientador Educacional, ajudar o
professor na orientação de manter uma rotina constante
e previsível; deixar claro o que é esperado dos alunos
desde o primeiro dia de aula, falando de modo bem
explícito; ajudar na estimulação, pois a criança com
TDAH necessita de um nível um pouco maior para
funcionar melhor; tentar modificar gradualmente o
comportamento da criança; conversar com a criança
sobre suas dificuldades e ouvir sugestões sobre como
as coisas poderiam ficar mais fáceis; saber equilibrar
exigência de cumprimento das regras e flexibilização de
comportamento; tentar sempre descobrir a melhor
forma de utilização do material ou a melhor adaptação
do conteúdo para o aluno com TDAH.
O ideal seria estabelecer rotinas e definir metas,
ter perseverança no cumprimento fixo do horário diário
de estudo, ter a sensibilidade de perceber se
determinada criança tem mais afinidades com o pai ou
com a mãe, e se adaptar a formas diferentes de
abordagens que podem ser escolhidas pelos
professores.
Com auxílio, as crianças com TDAH podem
certamente obter sucesso em classes normais.
5.1 DICAS GERAIS
Programas de treinamento de pais:
O aconselhamento educativo para pais de crianças com
TDAH inicia com o esclarecimento do transtorno e suas
implicações. Goldstein (2001) propõe uma lista de
estratégias que podem auxiliar os pais destas crianças:
• Aprender o que é TDAH;
• Distinção entre problemas decorrentes da incapacidade de compreensão e
problemas que resultam de recusa ativa em obedecer ordens;
• Dar instruções positivas;
• Recompensa ao comportamento adequado;
• Usar técnicas de “custo de resposta”;
• Planejar adequadamente;
• Punir adequadamente;
• Reforço nas habilidades fortes.
Moura (1999, p.115) revela que “aconselhar a família
pode ser benéfico para auxiliar os pais a
compreenderem as fontes de ansiedade e assistirem as
crianças, fornecendo-lhes apoio emocional em
situações desagradáveis”.
Programas comportamentais da escola:
Os professores devem ter o conhecimento do conflito
incompetência X desobediência, e aprender a discernir
entre os dois tipos de problema. É preciso desenvolver
um repertório de intervenções no ambiente. Um novo
repertório visando a educação e melhoria das
habilidades deficitárias da criança com TDAH.
Goldstein (2001, p.115) sugere intervenções que o
professor pode fazer para ajudar a criança com este
transtorno a se ajudar melhor à sala de aula:
• Proporcionar estrutura, organização e constância;
• Colocar a criança perto de colegas que não a provoquem, perto da mesa do
professor, na parte de fora do grupo;
• Encorajar freqüentemente, elogiar e ser afetuoso, dar responsabilidades
que esta seja capaz de cumprir, começar com tarefas simples e,
gradualmente, passar para as mais complexas;
• Proporcionar um ambiente acolhedor;
• Nunca provocar constrangimento ou menosprezar a criança;
• Proporcionar trabalho de aprendizagem em grupos pequenos e favorecer
oportunidades sociais;
• Comunicar-se com os pais;
• Ir devagar com o trabalho;
• Favorecer oportunidades para movimentos monitorados;
• Adaptar suas expectativas quanto à criança, considerando as deficiências e
inabilidades resultantes do TDAH;
• Recompensar os esforços, a persistência e o comportamento bem sucedido
ou bem planejado;
• Colocar limites claros e objetivos;
• Evitar segregar a criança;
• Preparar com antecedência a criança para novas situações;
• Não ser mártir!;
• Desenvolver métodos variados, utilizando apelos sensoriais diferentes
(som, visão, tato);
• Permanecer em comunicação constante com o psicólogo ou orientador da
escola.
CONCLUSÃO
Considerando os sintomas característicos do TDAH é
indubitável a dificuldade encontrada pela criança em
organizar-se.
Estas crianças apresentam deficiências em vários
âmbitos: social, emocional, acadêmico, etc.,
decorrentes de déficits na sua capacidade de atenção e
concentração e de uma significativa impulsividade.
Espero que em breve todos os mistérios que rondam os
estudiosos sobre a hereditariedade e sobre o
funcionamento do cérebro sejam descobertos de modo
que conquistemos o entendimento de muitos
comportamentos humanos, hoje inexplicáveis; inclusive
o TDAH. E deste entendimento poderemos até esperar
a aproximação de uma possível cura, porém, até lá,
todas as pessoas envolvidas com este tema, seja nos
livros ou na vida diária, devem trabalhar juntas, e de
forma bastante séria e responsável, para definir, avaliar
e controlar a hiperatividade da infância, que, por hora,
não tem cura.
O controle eficaz requer compreensão. É essencial que
os pais e seus filhos hiperativos desenvolvam uma
compreensão em nível de senso comum dos problemas
dos hiperativos. Tendo em vista os múltiplos problemas
de comportamento das crianças hiperativas podem ser
facilmente ser mal-definidos e mal-interpretados, os
pais precisam compreender a questão da incapacidade
versus desobediência no trato com os tais problemas.
Tomando por base a perspectiva de desenvolvimento
os problemas de alcance da atenção, a emotividade, a
inquietude, a impulsividade e a dificuldade em adiar
recompensas atuarão com impactos diferenciados em
crianças de idade diferenciada também. Devemos
lembrar que o TDAH não é um distúrbio de capacidade
e sim, de consistência, e que não prevê,
necessariamente, que determinada criança hiperativa
experimentará um conjunto de problemas.
As características da hiperatividade podem ser
encontradas em crianças que nada tem de hiperativas e
que estejam experimentando outros problemas da
infância como problemas de conduta, depressão,
ansiedade e outros já citados. Isto torna essencial um
exame cuidadoso que cruze informações de pais,
professores, médicos e psicólogos a serem organizados
e avaliados. O TDAH pode causar um grande impacto
sobre crianças que tenham sido avaliadas
erroneamente ou de forma incompleta.
A atuação da educação, do controle comportamental,
da orientação grupal e individual, da intervenção
pedagógica e da medicação de forma unificada tem
demonstrado ser um conjunto adequado para se tratar
o TDAH, porém exige tempo, esforço, dedicação e
compreensão.
O ideal é que nos eduquemos a nós mesmos,
compreendamos a nós e a nossos filhos ou aluno
hiperativo. É necessário também desenvolver dois
conjuntos de intervenção: um para lidar com problemas
de desobediência e outro para lidar com problemas de
incompetência.
E quanto a medicação, muitas crianças podem não
necessitar de medicamentos, porém quando os
benefícios trouxerem compensação aos riscos ela pode
ser importante e valiosa no plano de tratamento.
O que é demais para uma pessoa ou para um grupo de
pessoas pode ser perfeitamente aceitável para outros,
de forma que o TDAH é uma designação
essencialmente relativa, descritiva, que reflete as
reações de terceiros ao comportamento da criança. Não
há norma que estabeleça o nível adequado da atividade
motora de uma criança, a não ser a que consiste nas
expectativas do ambiente social. Como tem ocorrido
com outros comportamentos que não são conformes
com as expectativas da sociedade, os médicos deram-
lhe uma designação com conotações de anormalidade.
Falam assim de uma síndrome de comportamento
hipercinético ou uma síndrome de criança hiperativa.
De qualquer forma, ao enfocar na criança o seu nível de
atividade facilmente observado, não se deve perder de
vista o problema da dificuldade de aprendizagem que
se apresenta menos prontamente observável, pois
nossa tarefa não é tanto reduzir o nível de atividade da
criança como ajudá-la a aprender. Quando o distúrbio
de aprendizagem é acompanhado da hiperatividade, há
muitas vezes o risco de que a intervenção objetive
somente o comportamento motor, sob a hipótese de
que o problema de aprendizagem se resolverá por si
mesma, desde que a criança sossegue.
Com esperança e luta estaremos, certamente, dando
passos importantes na busca de respostas mais
satisfatórias.
BIBLIOGRAFIA
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