universidade candido mendes pÓs-graduaÇÃo … · influência da ação da cidadania contra a...

47
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE RESPONSABILIDADE SIOCIAL – O NOVO NEGÓCIO DOS NÉGOCIOS Por: Camila Teresa Silva Pereira Orientador Prof. Fabiane Muniz Rio de Janeiro 2009

Upload: duongthu

Post on 09-Nov-2018

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · influência da Ação da Cidadania contra a Fome e a Miséria, que promoveu a aproximação de diversas organizações empresariais

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

RESPONSABILIDADE SIOCIAL – O NOVO NEGÓCIO DOS

NÉGOCIOS

Por: Camila Teresa Silva Pereira

Orientador

Prof. Fabiane Muniz

Rio de Janeiro 2009

Page 2: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · influência da Ação da Cidadania contra a Fome e a Miséria, que promoveu a aproximação de diversas organizações empresariais

2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

RESPONSABILIDADE SIOCIAL – O NOVO NEGÓCIO DOS

NÉGOCIOS

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Gestão

Empresarial.

Por: Camila Teresa Silva Pereira

Page 3: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · influência da Ação da Cidadania contra a Fome e a Miséria, que promoveu a aproximação de diversas organizações empresariais

3

AGRADECIMENTOS

Aos professores por me transmitirem

ensinamentos tão valiosos que levarei

por toda a minha vida.

Page 4: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · influência da Ação da Cidadania contra a Fome e a Miséria, que promoveu a aproximação de diversas organizações empresariais

4

DEDICATÓRIA

Dedico aos meus pais por tudo que

fizeram, fazem e farão por mim.

Ao meu marido Cristiano pelo

companheirismo e amor e ao meu filho

Lucas que é minha razão maior.

Page 5: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · influência da Ação da Cidadania contra a Fome e a Miséria, que promoveu a aproximação de diversas organizações empresariais

5

RESUMO

Responsabilidade social – o novo negócio dos negócios se apresenta

como um tema cada vez mais importante no comportamento das

organizações, exercendo impactos nos objetivos, estratégias e no próprio

significado de empresa. É um assunto que nos faz crer na importância que

temos um para com o outro indivíduo, independente de sua religião, origem,

cultura e classe social. Também se torna um assunto importante devido sua

contribuição para a imagem da empresa que passa a adotar posturas éticas e

compromissos sociais com a comunidade, podendo ser um diferencial

competitivo e um indicador de rentabilidade e sustentabilidade a longo prazo.

Com isso, a idéia é que os consumidores passem a valorizar comportamentos

nesse sentido e a preferir produtos de empresas identificadas como éticas ou

solidárias.

A Responsabilidade Social tornou-se um fator de competitividade para

os negócios. No passado, o que identificava uma empresa competitiva era

basicamente o preço de seus produtos. Depois, veio a onda da qualidade, mas

ainda focada nos produtos e serviços. Hoje, as empresas devem investir no

permanente aperfeiçoamento de suas relações com todos os públicos dos

quais dependem e com os quais se relacionam: clientes, fornecedores,

empregados, parceiros e colaboradores. Isso inclui também a comunidade na

qual atua. Fabricar produtos ou prestar serviços que não degradem o meio

ambiente, promover a inclusão social e participar do desenvolvimento da

comunidade de que fazem parte, entre outras iniciativas, são diferenciais cada

vez mais importantes para as empresas na conquista de novos consumidores

ou clientes.

Impelido por intensa carga publicitária ou de pressão induzida, vindas,

normalmente, de outras culturas e economias mais avançadas, o

empresariado nacional tem dado sua contribuição.

Page 6: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · influência da Ação da Cidadania contra a Fome e a Miséria, que promoveu a aproximação de diversas organizações empresariais

6

METODOLOGIA

Os métodos utilizados para a pesquisa desta monografia foram: leitura de

livros, pesquisas em internet e leitura de house organs e folders de empresas

que participam de programas sobre Responsabilidade Social.

Page 7: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · influência da Ação da Cidadania contra a Fome e a Miséria, que promoveu a aproximação de diversas organizações empresariais

7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - A Responsabilidade

Social é uma prática ou um conceito? 10

1.1 Sua origem 11

1.2 Do nascimento da idéia e desenvolvimento

das primeiras ações à consolidação da

responsabilidade social das empresas 13

1.3 A responsabilidade social das empresas

e o balanço social no Brasil 16

CAPÍTULO II – Instituto Ethos e os

Indicadores de sucesso em

Responsabilidade Social 21

2.1 Valores e transparência 22

2.2 Público interno 23

2.3 Meio Ambientes 25

2.4 Fornecedores 26

2.2 Consumidores 27

2.3 Comunidade 28

CAPÍTULO III – Responsabilidade Social

nas organizações e no Brasil 30

3.1 Primeiro Setor – Organizações Públicas 30

3.2 Segundo Setor – Organizações Privadas 31

3.3 Terceiro Setor – Organizações da Sociedade

Civil de Interesse Público 35

3.4 Responsabilidade Social no Brasil 38

CONCLUSÃO 42

BIBLIOGRAFIA 44

ÍNDICE 45

FOLHA DE AVALIAÇÃO 47

Page 8: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · influência da Ação da Cidadania contra a Fome e a Miséria, que promoveu a aproximação de diversas organizações empresariais

8

INTRODUÇÃO

Apesar da Responsabilidade Social Empresarial ainda não ter uma

definição normalisada e nem critérios reconhecidos no âmbito acadêmico,

universalmente é entendida como sendo o papel preponderante que as

empresas têm na criação de empregos e geração de riqueza para a sociedade,

que permite que as mesmas equilibrem seus imperativos econômicos e sociais

em relação a não apenas seus acionistas, como também ao meio-ambiente e

às pessoas que vivem nas comunidades ao seu redor.

Nas empresas progressistas, a responsabilidade social consiste em

concentrar a atenção da organização em novas possibilidades de negócios que

contemplem não só as suas demandas econômicas, mas também as

ambientais e sociais, repassando aos seus colaboradores, fornecedores e

clientes uma nova imagem que, na medida em que se firme no mercado, trará

vantagem competitiva e estimulará a inovação. A responsabilidade social é

entendida, portanto, como a contribuição da empresa para um

desenvolvimento sustentável que responda às necessidades presentes, mas

sem comprometimento da capacidade de resposta às necessidades das

gerações futuras.

Pode-se avaliar o comprometimento de uma empresa com a

responsabilidade social através de seu comportamento, inicialmente em

relação a seus colaboradores, expresso por suas políticas e práticas,

compreendendo a gestão dos recursos humanos, instalações, planos de

saúde, respeito ao indivíduo, democratização e possibilidade de participação

efetiva na gestão, com honestidade de ação. A governança corporativa, o

desenvolvimento comunitário, a proteção do trabalhador e do consumidor, as

relações com os fornecedores vêm a complementar a imagem da empresa.

As empresas que têm na responsabilidade social a base de seus

processos de decisão nos mostram que, graças à chamada eco-eficácia,

passam cada vez mais a gozar de um bom desempenho, uma melhor

avaliação por parte da comunidade financeira, um engajamento espontâneo de

Page 9: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · influência da Ação da Cidadania contra a Fome e a Miséria, que promoveu a aproximação de diversas organizações empresariais

9

seus colaboradores, relações mais sólidas com a coletividade, enfim, uma

reputação positiva e melhores resultados.

A imagem que uma empresa cria de si mesma não é algo que seus

gestores possam facilmente perceber, mas ela irá se fixar inexoravelmente ao

longo do tempo. O mercado, em um determinado momento, irá reconhecer

esta imagem, recompensando ou punindo-a, podendo forçar mudanças que

infelizmente poderão se fazer tardias.

Page 10: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · influência da Ação da Cidadania contra a Fome e a Miséria, que promoveu a aproximação de diversas organizações empresariais

10

CAPÍTULO I - A RESPONSABILIDADE SOCIAL É UMA

PRÁTICA OU UM CONCEITO?

Responsabilidade Social é uma prática, um conceito ou a soma dos

dois? A partir da década de 1990, desenvolver a cultura da Responsabilidade

Social tornou-se quase um imperativo de gestão para as empresas que

pretendem se manter competitivas em seus respectivos mercados. Muitas,

porém, tateiam o terreno, míopes, e não encontram o caminho para o que deve

ser um legítimo programa de Responsabilidade Social. Abrem-se assim os

flancos para as críticas. Há quem afirme que as empresas nada mais fazem do

que expiarse tardiamente de uma culpa histórica por produzir bens e miséria a

um só tempo. Teria portanto chegado o tempo de procurar "corrigir" esse mal

por meio de ações sociais. Seria uma forma de reportar-se à sociedade nos

seguintes termos: "OK, sabemos que durante os últimos 200 anos nós nos

portamos muito mal, poluímos rios, devastamos florestas, extinguimos

espécies animais e vegetais e produzimos milhões de famélicos ao redor do

planeta, mas estamos dispostos a corrigir esse imenso equívoco. A partir de

agora, manteremos a grama aparada nas praças da cidade". Mais isso trata-se

de uma ação meramente de Marketing Social, sem resultados tangíveis. Os

defensores da Responsabilidade Social dizem não ser bem essa a idéia.

Segundo eles, as grandes empresas chegaram à conhecida "sinuca-de-bico":

ou ajudam de fato a promover o bem estar social, independentemente da

participação dos governos locais, regionais e federais, ou emborcam junto com

as populações. E entram aí ações em prol do meio ambiente, da educação, da

saúde, enfim, do resgate da qualidade de vida às pessoas, para que elas

continuem e, em alguns casos, até voltem a ser cidadãos e consumidores.

Nesse sentido, as empresas que são responsáveis socialmente devem

integrar-se à comunidade procurando contribuir, ou seja, oferecendo ou

patrocinando serviços. Pode ser manifestado ainda por meio da doação de

verba para projetos sociais promovidos por terceiros. Outra linha de atuação de

uma empresa com Responsabilidade Social é exercendo suas atividades sem

Page 11: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · influência da Ação da Cidadania contra a Fome e a Miséria, que promoveu a aproximação de diversas organizações empresariais

11

poluir o meio-ambiente, sem sonegar impostos e sem enganar o consumidor. A

grande verdade é que a ética é a base da Responsabilidade Social e se

expressa através dos princípios e valores adotados pela organização, sendo

importante seguir uma linha de coerência entre ação e discurso.

1.1 Sua origem

Segundo Kunsch ( 1999, p.74) a realização de ações de caráter social

não é uma prática tão recente no meio empresarial. Entretanto, foi durante o

período que se estendeu do final dos nos 60 ao início da década de 70 tanto

nos Estados Unidos da América (EUA) quanto em parte da Europa que uma

atuação mais voltada para o social ganhou destaque, basicamente como

resposta às novas reivindicações de alguns setores da sociedade que levaram

para o universo das empresas diversas demandas por transformação na

atuação corporativa tradicional, ou seja, aquela voltada estritamente para o

econômico. Essa maior atenção em relação ao comportamento das empresas

privadas tanto comerciais quanto industriais surgiu no contexto das

reivindicações pela ampliação da participação, no movimento sindical e

estudantil europeu, nas lutas pelos direitos civis norte-americanos e nas

manifestações contra as armas químicas utilizadas na Guerra do Vietnã.

Certas denúncias e o boicote às empresas envolvidas de alguma forma com

aquele devastador conflito bélico na Ásia foram determinantes para o início de

uma mudança na prática e na cultura empresarial nos EUA e em outros países

do globo.

Dessa forma, pode-se dizer que uma preocupação com a característica

que reveste a atividade empresarial aparece, de forma inicial e com suas

múltiplas conotações, a partir do final dos anos 60 nos EUA e em parte da

Europa. Outro fator determinante para o entendimento e a localização de todo

esse processode entrada das empresas no universo das ações de caráter

social efetivo, foi a crise do Welfare State situada na metade da década de 70.

A partir desses acontecimentos, a intervenção dos agentes privados passou a

ser vista de outra maneira. A crise econômica e o crescimento do desemprego

Page 12: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · influência da Ação da Cidadania contra a Fome e a Miséria, que promoveu a aproximação de diversas organizações empresariais

12

que atingiram a Europa na década de 80 contribuíram para que a empresa

começasse a ser valorizada pela sua capacidade de salvaguardar o emprego,

valor essencial da socialização na sociedade contemporânea. O papel da

empresa vai além do econômico: ademais de provedora de emprego, é

também agente de estabilização social.

Nesse período, a atuação social por parte dos agentes privados e a

própria questão da responsabilidade das corporações diante dos problemas

sociais e ambientais começaram a destacar-se, tanto em práticas quanto em

discursos. No Brasil, as sementes dessa mudança já podem ser notadas na

.Carta de Princípios do Dirigente Cristão de Empresas., publicada em 1965

pela associação de Dirigentes Cristãos de Empresas do Brasil (ADCE Brasil),

que, já nessa época, utilizava o termo responsabilidade social das empresas.

Contudo, foi somente a partir do final dos anos 80 que uma pequena parcela

de

empresas que atuam no Brasil passou a intensificar e a institucionalizar o

discurso em relação às questões sociais e ambientais, realizando também, em

escalas diversas, ações sociais concretas. Por outro lado, o período que vai do

final dos anos 80 até o fim dos anos 90 tornou-se palco do nascimento e da

consolidação de importantes fundações, institutos e organizações da

sociedade civil ligados ao meio empresarial e tendo como foco a questão da

ética, em particular o chamado comportamento empresarial ético e

responsável.

Durante os anos 90, algumas empresas passaram a divulgar

periodicamente nos chamados relatórios ou balanços sociais anuais as ações

concretas realizadas em relação à comunidade a sua volta, ao meio ambiente

e ao seu próprio corpo de funcionários. Primeiramente, sob a forma de

documentos internos e, num segundo momento, pelos meios de comunicação

e da divulgação da própria publicidade corporativa. Dessa forma, a década de

90 destaca-se como o período do surgimento e do crescimento de diversas

instituições, que se formalizam para atuar de maneira relativamente orgânica e

institucionalizada no âmbito da chamada responsabilidade social corporativa.

Essa nova postura de tornar-se socialmente responsável também começava

Page 13: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · influência da Ação da Cidadania contra a Fome e a Miséria, que promoveu a aproximação de diversas organizações empresariais

13

de diversas maneiras a ser praticada pelas próprias empresas. Este duplo

movimento de organizações e fundações, intensificou se a partir de 1993, sob

influência da Ação da Cidadania contra a Fome e a Miséria, que promoveu a

aproximação de diversas organizações empresariais e empresários com este

relevante aspecto da questão social brasileira: a fome. No final dos anos 90, o

tema ganhou maior visibilidade, quando algumas organizações não-

governamentais (ONGs) começaram a utilizar mais intensamente o termo

responsabilidade social corporativa e passaram a incentivar nas empresas,

além dos chamados balanços ou relatórios sociais, a realização de ações em

relação ao meio ambiente, à educação, à saúde e à igualdade de

oportunidades principalmente na questão de gênero e de portadores de

deficiência.

1.2 Do nascimento da idéia e desenvolvimento das primeiras

ações à consolidação da responsabilidade social das

empresas

Para entendermos a atuação social das empresas e o seu efetivo papel

na sociedade, torna-se necessário caminharmos até o final do século XIX,

quando o discurso ético passa a acompanhar mais de perto as idéias liberais e

democráticas, clamando por maior igualdade de direitos e oportunidades para

que todos os indivíduos pudessem desenvolver suas capacidades. Assim,

entendemos que esse processo de envolvimento de empresas e empresários

com ações sociais concretas tem parte das suas origens nas idéias de

democracia liberal que buscavam. Já no início do século XX encontramos as

primeiras, e obviamente isoladas, manifestações de parte do pensamento

empresarial e acadêmico que procuravam não limitar a atuação das empresas

na busca incessante do lucro a qualquer preço e referiam-se a um outro papel

que as instituições privadas, tanto comerciais quanto industriais, deveriam

cumprir.

Essas novas idéias, ou essa nova forma de pensar e agir, foram

Page 14: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · influência da Ação da Cidadania contra a Fome e a Miséria, que promoveu a aproximação de diversas organizações empresariais

14

imediatamente associadas, de forma pejorativa, ao pensamento socialista à

época que foi significativamente representativo em parte da Europa no início

do século XX. Essas idéias foram combatidas veementemente pela maioria

dos empresários e pelo pensamento capitalista mais conservador, hegemônico

nos meios acadêmicos durante o período citado. Observa-se que a chamada

responsabilidade social das empresas nos países considerados como os mais

desenvolvidos e democráticos do globo não é um assunto novo. Desde o início

do século XX, registram-se manifestações concretas a favor desse tipo de

comportamento. Nos anos 20 a idéia de uma atuação social mais efetiva por

parte das empresas privadas reapareceu. Esta, porém, continuou não obtendo

maior aceitação pela maioria dos empresários e intelectuais. Contudo,

somente nos anos 40, em parte da Europa, foi que se registrou o primeiro

apoio empresarial explícito e significativo parte dos empresários ingleses do

setor industrial à necessidade de as corporações atuarem com

responsabilidade em relação aos seus funcionários e contribuírem de forma

efetiva para o bem-estar da sociedade.

A partir da segunda metade dos anos 60 nos Estados Unidos da

América e em parte da Europa ocidental particularmente na França e na

Inglaterra, uma parcela da sociedade iniciou uma efetiva cobrança por um

comportamento socialmente responsável no âmbito das empresas. A resposta

ao crescimento dos movimentos sociais e às lutas pelos direitos civis não

tardou a chegar: diversas empresas americanas e européias iniciaram uma

sensível mudança na forma de lidar com a matéria-prima utilizada, com os

consumidores e fornecedores e também com seus trabalhadores.

Nos anos 70, algumas empresas perceberam a importância estratégica

de dar publicidade às ações sociais realizadas. Assim sendo, foi nessa mesma

década de 70 que se consolidou em alguns países da Europa a necessidade

de realização periódica e divulgação anual dos chamados balanços ou

relatórios de atividades sociais. Nos EUA, dos anos 20 até o início da década

de 50, a questão da responsabilidade social das empresas não despertou

maior interesse, tanto nos empresários quanto na sociedade como um todo.

Todavia, cabe destacar o livro de Howard Bowen, Social Responsibilities of the

Page 15: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · influência da Ação da Cidadania contra a Fome e a Miséria, que promoveu a aproximação de diversas organizações empresariais

15

Businessman, publicado em 1953, que é considerado o marco inicial do

entendimento e da sistematização da responsabilidade social das empresas.

A partir dessa obra, o tema começava a se difundir, alcançando as

universidades e uma parcela crescente do empresariado norte-americano. Na

mesma década, o assunto difundiu-se pelos meios empresariais e acadêmicos

norte-americanos.

O início dos anos 60 nos EUA registra uma popularização do tema da

atuação ética e responsável por parte das empresas. Essa idéia acabou

ganhando terreno na sociedade norte-americana por conta de uma série de

programas de televisão dirigidos por Joseph McGuire que se tornaram um livro

em 1963.

O repúdio da população à Guerra do Vietnã (1964-1973) deu início a um

movimento de boicote à aquisição dos produtos e das ações na bolsa de

valores daquelas empresas que, de alguma forma, estavam ligadas ao conflito

bélico na Ásia. Essas manifestações, aliadas às lutas pelos direitos civis norte-

americanos, trouxeram novos e determinantes fatores para essa questão: a

participação popular, a opinião pública e a cobrança por parte da sociedade de

uma nova postura empresarial. Diversas instituições da sociedade civil, como

igrejas e associações, passaram a denunciar o uso de armamentos de

extermínio em massa que dizimavam comunidades inteiras e afetava

negativamente o meio ambiente, colocando em risco a própria sobrevivência e

o futuro do homem no planeta, principalmente as armas químicas, entre elas o

napalm. A Guerra do Vietnã provocou um grande desgaste político para os

governos Nixon e Ford. Da mesma forma, afetou negativamente a imagem das

empresas que se beneficiaram economicamente daquele episódio. Como uma

reação, que em parte se devia às pressões de um segmento mais organizado

da sociedade norte-americana, que exigia uma postura ética e um novo tipo de

ação empresarial em relação às questões sociais e ambientais, algumas

empresas daquele país passaram além de verdadeiramente começar a mudar

suas práticas e a forma de relacionar-se com funcionários, consumidores e o

meio ambiente a prestar conta anualmente de suas ações sociais e

ambientais, como forma de justificar-se. Essas empresas buscavam, assim,

Page 16: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · influência da Ação da Cidadania contra a Fome e a Miséria, que promoveu a aproximação de diversas organizações empresariais

16

uma transformação positiva de sua imagem diante de consumidores,

acionistas e da sociedade em geral.

1.3 A responsabilidade social das empresas e o balanço

social no Brasil

Como define Gleuso Duarte no seu livro “ A Responsabilidade Social: A

empresa Hoje”, os primeiros e isolados discursos em prol de uma mudança de

mentalidade empresarial no Brasil já podem ser notados em meados da

década de 60. E nesse sentido, a Carta de Princípios do Dirigente Cristão de

Empresas, publicada em 1965, é um marco histórico incontestável do início da

utilização explícita do termo responsabilidade social, diretamente associado às

empresas e da própria relevância do tema relacionado à ação social

empresarial no país mesmo que ainda limitado ao mundo das idéias e se

efetivando apenas em discursos e textos, o tema já fazia parte da realidade de

uma pequena parcela do empresariado paulista. Esta idéia, que começou a ser

discutida e difundida ainda nos anos 60 após a criação da Associação dos

Dirigentes Cristãos de Empresas (ADCE), demorou até a segunda metade dos

anos 70 para difundir-se amplamente. As principais manifestações estavam

concentradas no Estado de São Paulo, fato que se explica pela sua

importância econômica e política, que reúne, desde o início da industrialização

brasileira, as maiores empresas e entidades de representação empresarial do

país.

Em 1977, o tema mereceu destaque a ponto de ter sido o assunto

central do 2º Encontro Nacional de Dirigentes de Empresas promovido pela

ADCE. A responsabilidade das empresas e dos empresários diante das

questões sociais também foi o tema do. Plano de Trabalho 77/78 da União

Internacional Cristã de Dirigentes de Empresas (Uniapac), que chegava a

identificar o balanço social e a gestão social da empresa, com ênfase num viés

mais participativo, como eficientes instrumentos que deveriam ser utilizados

pelas empresas no efetivo cumprimento da responsabilidade dessas perante a

Page 17: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · influência da Ação da Cidadania contra a Fome e a Miséria, que promoveu a aproximação de diversas organizações empresariais

17

sociedade. Todavia, a conjuntura nacional daquele período não era propícia

para idéias de transformação e mudança, seja de mentalidade, seja de ação. A

idéia de responsabilidade social nas empresas, que já motivava algumas

discussões desde os anos 60, também vai sofrer com a falta de liberdade e as

restrições impostas pela ditadura militar pós-1964.

Entre o final dos anos 70 e o início dos anos 80, com a crise do modelo

de desenvolvimento baseado na ação e na proteção estatais, o próprio papel

das empresas e a postura dos empresários ante o mercado e a sociedade

entraram em processo de redefinição e reestruturação. Dessa forma, pode-se

compreender o quanto essa prática e este recorrente discurso de ação social

por parte das empresas estão relacionados, ao mesmo tempo, com a

reestruturação do Estado, com uma renovação do empresariado nacional no

Brasil e com o processo de substituição das ações compensatórias. Já no

contexto dos EUA e da Europa, relaciona-se à crise do Estado de Bem-Estar

Social.

Cabe aqui um destaque sobre o primeiro tipo de relatório que aborda

aspectos sociais e de recursos humanos e que se tornou obrigatório para

todas as empresas que atuam no Brasil. Na década de 70, durante a ditadura

militar, foi criada pelo Decreto Lei no 76.900, de 1975 a Relação Anual de

Informações Sociais (Rais): um relatório obrigatório para todas as empresas e

que dava e dá ainda hoje. Conta das informações sociais relacionadas aos

trabalhadores nas empresas. Compulsório para todos os empregadores,

independentemente do número de empregados, refere-se a uma série de

informações laborais específicas e consolida números que se encontram

também em outros documentos da empresa. Apesar de mais antigo que o

obrigatório Balanço Social francês, as informações contidas na Rais são muito

inferiores, tanto qualitativa quanto quantitativamente. Os anos 80 a

participação e o fortalecimento da questão. A situação sociopolítica e

econômica entrou em processo de mudança a partir do final dos anos 70 no

Brasil, durante o período da Abertura Política, que se consolidou durante os

anos 80, no período da chamada Redemocratização. Este período marca

também a falência do modelo intervencionista de caráter estatal. Nesse

Page 18: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · influência da Ação da Cidadania contra a Fome e a Miséria, que promoveu a aproximação de diversas organizações empresariais

18

período, os sindicatos fortaleceram-se, e diversas organizações da sociedade

consolidaram-se, aumentando o poder de pressão em relação a diversas

instituições, incluindo-se as empresas.

A sociedade passou por áureos períodos de participação, organização e

atuação efetiva das greves do ABC paulista à promulgação da Carta de 1988:

abertura, diretas já, redemocratização e o movimento constituinte. Também

merecem destaque as lutas relacionadas às questões étnicas e raciais, as

conquistas feministas, os embates dos ambientalistas durante toda a década

de 80 e as cobranças pelo cumprimento dos avanços da nova Constituição. A

sociedade passou por um amplo processo de transformação. Pressionados

interna e externamente, transformavam-se também empresários e empresas.

No entanto, cabe ressaltar que o novo e principal fator desse período que

acabou influenciando e transformando também o discurso e a ação de parte do

setor empresarial foi o crescimento da participação.

Nesse contexto, devemos buscar entender a importância e o papel das

Organizações da Sociedade Civil (OSCs) na construção, difusão e

consolidação de todo um discurso ético, de responsabilidade social e

ambiental. Ou seja, uma moral e uma prática relativas ao social que, em

determinado momento, se torna bastante ampla e passa a influenciar a

sociedade como um todo, incluindo-se os empresários e suas corporações.

Assim, pode-se destacar o papel estratégico das ONGs e das OSCs como

atores no processo de construção e reprodução da chamada responsabilidade

social corporativa a partir da metade dos anos 80. A discussão em torno da

atuação social das empresas e da construção de uma ética empresarial

acabou tendo conseqüências concretas: muitas empresas começaram a

investir em áreas sociais, tradicionalmente ocupadas somente pelo Estado. Na

tentativa de adaptar-se aos novos tempos, cambiaram também algumas

formas tradicionais de se relacionar com funcionários e fornecedores,

iniciando, ao mesmo tempo, mudanças na atuação em relação ao meio

ambiente e às comunidades mais próximas. A partir do momento em que

essas novas ações/discursos começaram a aumentar e tornaram-se

significativas, surgiu a necessidade e, obviamente, o interesse de torná-las

Page 19: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · influência da Ação da Cidadania contra a Fome e a Miséria, que promoveu a aproximação de diversas organizações empresariais

19

públicas, ou seja, dar maior visibilidade e publicidade às ações sociais e

ambientais realizadas pelas empresas. Para isso, começaram a ser utilizados

relatórios regulares. Os anos 90: a consolidação da responsabilidade social

das empresas e do balanço social no Brasil. A partir de 1993, empresas de

diversos setores passaram a realizar efetivas ações sociais e ambientais, ao

mesmo tempo em que começaram a divulgar de maneira mais ostensiva

inclusive nos meios de comunicação um perfil mais responsável e humano. Foi

no início dos anos 90 que a realização anual de relatórios sociais e ambientais

iniciou um processo de aceitação e disseminação no meio empresarial. Assim,

a partir dessa época, os chamados balanços sociais anuais passaram a fazer

parte da realidade de um número cada vez maior de corporações. Esse

também foi um importante período de consolidação da mudança de

mentalidade de uma parcela do empresariado nacional, no qual novas

lideranças empresariais passaram a defender um capitalismo de cunho mais

social, buscando, inclusive, maior diálogo com representantes dos

trabalhadores. Esses novos empresários dos anos 90 estão cada vez mais

atentos aos problemas ambientais e sociais. Eles passaram a levar em

consideração, de forma crescente, a questão da ética e da responsabilidade

social e ambiental na hora de tomar decisões. Diversas organizações

estiveram e outras ainda estão, diretamente ligadas à história da ação social

no mundo empresarial. Algumas delas estão relacionadas diretamente com o

nascimento, o crescimento e a difusão da responsabilidade social das

empresas no Brasil, tornando-se necessário destacar algumas das iniciativas

marcantes: as pioneiras ADCE e a Fundação Instituto de Desenvolvimento

Econômico e Social (Fundação Fides, que na década de 80 possuía o nome

de Instituto de Desenvolvimento Empresarial. IDE); o Pensamento Nacional

das Bases Empresariais (Pnbe); o Gife, a Fundação Abrinq pelos Direitos da

Criança (criada e mantida pela Associação Brasileira das Indústrias de

Brinquedos, Abrinq); o Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (e

a luta contra a Aids, no início dos anos 90; a campanha da Ação daCidadania,

em 93/94 e 95, e depois o projeto Balanço Social das Empresas, a partir de

1997); e o mais novo integrante dessa lista que possui porém uma das mais

Page 20: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · influência da Ação da Cidadania contra a Fome e a Miséria, que promoveu a aproximação de diversas organizações empresariais

20

importante se intensas atuações neste campo o Instituto Ethos de

Responsabilidade Social, criado pelo empresário Oded Grajew em junho de

1998. Dessa forma, pode-se afirmar que foi a partir do início dos anos 90 que

algumas empresas passaram a desenvolver ações sociais concretas,

sistemáticas e como uma estratégia empresarial. Investindo e atuando de

maneira cada vez mais intensa nesse novo campo, a operacionalização

dessas ações foi, muitas vezes, institucionalizada e colocada a cargo de

profissionais. Paralelamente a esse processo e em decorrência dele, essas

empresas começaram a divulgar sistematicamente as ações realizadas em

relação à comunidade, ao meio ambiente e aos próprios funcionários. Assim,

podemos inferir que todo esse processo se deu por uma conjunção de

interesses pessoais de alguns empresários; cobrança por parte da sociedade

organizada; disputas de poder; e da necessidade do meio empresarial de

adaptar-se às transformações nacionais e globais. Nesse sentido, os anos 90

aparecem como palco da disputa por novos modelos de desenvolvimento,

retirada do Estado de setores tradicionais de atuação, reafirmação dos valores

liberais e de mercado, novas práticas corporativas e uma nascente e crescente

renovação do pensamento empresarial no Brasil. Se essas preocupações e

atuações corporativas no âmbito social tornaram-se uma questão econômico-

financeira, relacionada à sobrevivência empresarial e ligada a uma nova visão

estratégica de longo prazo, não podemos esquecer o lado ético e humano que

essas práticas de responsabilidade social envolvem ou, potencialmente,

ajudam a desenvolver.

Page 21: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · influência da Ação da Cidadania contra a Fome e a Miséria, que promoveu a aproximação de diversas organizações empresariais

21

CAPÍTULO II – INSTITUTO ETHOS E OS INDICADORES

DE SUCESSO EM RESPONSABILIDADE SOCIAL

O Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social é uma

organização sem fins lucrativos, caracterizada como Oscip (organização da

sociedade civil de interesse público). Sua missão é mobilizar, sensibilizar e

ajudar as empresas a gerir seus negócios de forma socialmente responsável,

tornando-as parceiras na construção de uma sociedade justa e sustentável.

Criado em 1998 por um grupo de empresários e executivos oriundos da

iniciativa privada, o Instituto Ethos é um polo de organização de conhecimento,

troca de experiências e desenvolvimento de ferramentas para auxiliar as

empresas a analisar suas práticas de gestão e aprofundar seu compromisso

com a responsabilidade social e o desenvolvimento sustentável. É também

uma referência internacional nesses assuntos, desenvolvendo projetos em

parceria com diversas entidades no mundo todo.

As empresas são importantes agentes de promoção do

desenvolvimento econômico e do avanço tecnológico que está transformando

rapidamente o planeta numa aldeia global. Com a crescente interdependência

de todos, o bem-estar da humanidade depende cada vez mais de uma ação

cooperativa local, regional, nacional e internacional. É fundamental que exista

uma consciência global que engaje todos num processo de desenvolvimento

que tenha como meta a preservação do meio ambiente e do patrimônio

cultural, a promoção dos direitos humanos e a construção de uma sociedade

economicamente próspera e socialmente justa. A participação do setor

empresarial – por sua capacidade criadora, seus recursos e sua liderança – é

crucial. Os diversos setores da sociedade estão redefinindo seus papéis. As

empresas, adotando um comportamento socialmente responsável, são

poderosas agentes de mudança para, juntamente com os Estados e a

sociedade civil, construir um mundo melhor. Esse comportamento é

caracterizado por coerência ética nas ações e relações com os diversos

públicos com os quais interagem, contribuindo para o desenvolvimento

Page 22: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · influência da Ação da Cidadania contra a Fome e a Miséria, que promoveu a aproximação de diversas organizações empresariais

22

contínuo das pessoas, das comunidades e de suas relações entre si e com o

meio ambiente. Ao adicionar às suas competências básicas um

comportamento ético e socialmente responsável, as empresas adquirem o

respeito das pessoas e das comunidades que são atingidas por suas

atividades e gratificadas com o reconhecimento e o engajamento de seus

colaboradores e a preferência dos consumidores.

A responsabilidade social está se tornando cada vez mais fator de

sucesso empresarial, o que cria novas perspectivas para a construção de um

mundo economicamente mais próspero e socialmente mais justo. Por isso o

Instituto Ethos lançou em 2000 os "Indicadores Ethos de Responsabilidade

Social", um instrumento de avaliação e planejamento para empresas que

buscam excelência e sustentabilidade em seus negócios. Para tanto, foram

levantados prática e indicadores que pudessem servir de norte as empresas na

implantação de política de responsabilidade social corporativa.

2.1 Valores e transparência:

Está relacionado à cultura da empresa e a um posicionamento positivo no

conjunto de suas relações (empregados, parceiros e fornecedores, sociedade):

a) Auto-regulação da conduta, entendida como:

Compromissos éticos – o código de ética ou de compromisso social é um

instrumento de realização da visão e da missão da empresa, orienta suas

ações e explicita sua postura social a todos com quem mantém relações. O

código de ética e/ou compromisso social e o comprometimento da alta gestão

com sua disseminação e cumprimento são bases de sustentação da empresa

socialmente responsável, como também suporte para uma comunicação

consistente entre a empresa e seus parceiros.

Enraizamento na cultura organizacional – Crenças e valores significam cultura,

e como tal devem estar incorporados por toda a empresa por meio de uma

difusão sistemática. Fixar a cultura implica ainda em envolver e estimular os

funcionários, para que contribuam com sugestões que podem ser incorporadas

aos processo de trabalho.

Page 23: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · influência da Ação da Cidadania contra a Fome e a Miséria, que promoveu a aproximação de diversas organizações empresariais

23

b. Relações transparentes com a sociedade, entendidas como:

Diálogo com as partes interessadas – O envolvimento dos parceiros na

definição das estratégias de negócios da empresa gera compromisso mútuo

com as metas estabelecidas e será tanto mais eficaz

quanto sejam assegurados canais de comunicação que viabilizem o diálogo

estruturado.

Relações com a concorrência – A empresa deve contribuir para a consolidação

de elevados padrões de concorrência para seu segmento de negócios e para o

mercado como um todo. Dessa forma, alémde difundir uma postura ética, ou

socialmente responsável, ela assume um papel se liderança.

Balanço social – O registro das ações voltadas para a responsabilidade social

permite avaliar seus resultados e direcionar os recursos para o futuro, além de

ser um importante documento de divulgação dessas ações. O monitoramento

de seus resultados por meio de indicadores pode ser complementado por

auditorias feitas por entidades da sociedade (ONGs e outras instituições),

agregando uma perspectiva externa à avaliação da própria empresa.

2.2 Público interno

Responsabilidade social é antes de tudo estratégia de negócio, que, em

relação ao público interno, implica em desenvolvimento profissional e

valorização pessoal dos empregados, bem como em melhoria nas condições

de trabalho e nos relacionamento internos.

a) Diálogo e participação

Relações com os sindicatos – A empresa deve buscar consolidar a prática de

interlocução transparente com essas entidades, em torno de objetivos

partilhados. O que significa um alinhamento entre seus interesses e dos

trabalhadores.

Gestão participativa – A empresa deve possibilitar que os empregados

compartilhem seus desafios, o que também favorece desenvolvimento pessoal

e profissional e a conquista de metas estabelecidas em conjunto.

Page 24: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · influência da Ação da Cidadania contra a Fome e a Miséria, que promoveu a aproximação de diversas organizações empresariais

24

Participação nos lucros e resultados – Os programas de participação acionária

e de bonificação relacionada a desempenho são componentes importantes dos

programas de gestão participativa.

b) Respeito ao indivíduo

Compromisso com o futuro da criança – Para ser reconhecida como

socialmente responsável, a empresa não deve utilizar-se, direta ou

indiretamente, de trabalho infantil (de menores de14 anos), conforme

determina a legislação brasileira. Por outro lado, é positiva a iniciativa de

empregar menores entre 14 e 16 anos, como aprendizes. A lei de aprendizes

impõe procedimentos rígidos em relação a estes adolescentes, o que inclui a

exigência de sua permanência na escola.

Valorização da diversidade – A empresa não deve permitir qualquer tipo de

discriminação em termos de recrutamento, acesso a treinamento,

remuneração, avaliação ou promoção de seus empregados. Atenção especial

deve ser dada a membros de grupos que geralmente sofrem discriminação na

sociedade.

c) Respeito ao trabalhador

Comportamento frente a demissões – Quando as demissões forem inevitáveis,

a empresa deve realizá-las com responsabilidade, estabelecendo critérios para

executá-las (empregados temporários, facilidade de recolocação, idade do

empregado, empregado casado ou com filhos etc.) e assegurando os

benefícios que estiverem a seu alcance. Além disso, a empresa pode utilizar

sua influência e acesso a informações para auxiliar a recolocação dos

empregados demitidos.

Compromisso com o desenvolvimento profissional e a empregabilidade – Cabe

à empresa comprometer-se com o investimento na capacitação e

desenvolvimento profissional de seus empregados, oferecendo apoio a

projetos de geração de empregos e fortalecimento da empregabilidade para a

comunidade com que se relaciona.

Page 25: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · influência da Ação da Cidadania contra a Fome e a Miséria, que promoveu a aproximação de diversas organizações empresariais

25

Cuidado com a saúde, segurança e condições de trabalho – A conscientização

é a base fundamental para o desdobramento das intenções da empresa em

ações que alinhem seus interesses aos dos trabalhadores. A busca por

padrões internacionais de relações de trabalho é desejável, sendo as

certificações a respeito do tema (ex.: BS 8800 e SA 8000), ferramentas

adequadas para tanto.

Preparação para aposentadoria – A empresa socialmente responsável tem

forte compromisso com o futuro de seus funcionários. A empresa deve criar

mecanismos de complementação previdenciária, visando reduzir o impacto da

aposentadoria no nível de renda, e estimular a participação dos aposentados

em seus projetos sociais.

2.3 Meio Ambiente

Uma empresa ambientalmente responsável procura minimizar os impactos

negativos e amplificar os positivos. Deve, portanto, agir para a manutenção e

melhoria das condições ambientais, minimizando os processos e ações

próprias potencialmente agressivas ao meio ambiente e disseminando em

outras empresas as práticas e conhecimentos adquiridos neste sentindo.

a) Gerenciamento do impacto ambiental

Conhecimento sobre o impacto no meio ambiente – A conscientização

ambiental é base para uma atuação pró-ativa na defesa do meio ambiente,

que deve ser acompanhada pela disseminação dos conhecimentos e intenções

de proteção e prevenção ambiental para toda a empresa, a cadeia produtiva e

a comunidade. A conscientização ambiental deve ser balizada por padrões

nacionais e internacionais de proteção ambiental (ex.: ISO 14.000).

Minimização de entradas e saídas do processo produtivo – Uma das formas de

atuação ambientalmente responsável da empresa é o cuidado com as

entradas de seu processo produtivo, estando entre os principais parâmetros,

comuns a todas as empresas, a utilização de energia, de água e de insumos

necessários para a produção/prestação de serviços. A redução do consumo de

Page 26: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · influência da Ação da Cidadania contra a Fome e a Miséria, que promoveu a aproximação de diversas organizações empresariais

26

energia, água e insumos leva à conseqüente redução do impacto ambiental

necessário para obtê-los.

Responsabilidade sobre o ciclo de vida dos produtos e serviços – Entre as

principais saídas do processo produtivo estão as mercadorias, suas

embalagens e os materiais não utilizados, convertidos em potenciais agentes

poluidores do ar, da água e do solo. São aspectos importantes na redução do

impacto ambiental o desenvolvimento e a utilização de insumos, produtos e

embalagens recicláveis ou biodegradáveis e a redução da poluição gerada. No

caso desta última, também se inclui na avaliação a atitude da empresa na

reciclagem dos compostos e refugos originados em suas operações.

b) Responsabilidade frente às gerações futuras

Compensação da natureza pelo uso de recursos e impactos ambientais – A

empresa deve buscar desenvolver projetos e investimentos visando a

compensação ambiental pelo uso de recursos naturais e pelo impacto causado

por suas atividades, aprimorando os processos utilizados e desenvolvendo

novos negócios voltados para a sustentabilidade ambiental de sua inserção no

mercado.

Educação ambiental – Cabe à empresa ambientalmente responsável apoiar e

desenvolver campanhas, projetos e programas educativos voltados para seus

empregados, para a comunidade e para públicos mais amplos, além de

envolver-se em iniciativas de fortalecimento da educação ambiental no âmbito

da sociedade como um todo.

2.4 Fornecedores

Cabe à empresa transmitir os valores de seu código de conduta a todos os

participantes de sua cadeia de fornecedores, tomando-o como orientador em

casos de conflitos de interesse. A empresa deve conscientizar-se de seu papel

no fortalecimento da cadeia de fornecedores, atuando no desenvolvimento dos

elos mais fracos e na valorização da livre concorrência.

Page 27: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · influência da Ação da Cidadania contra a Fome e a Miséria, que promoveu a aproximação de diversas organizações empresariais

27

a) Seleção e Parceria com Fornecedores

Critérios de Seleção de Fornecedores – A empresa deve utilizar critérios

voltados à responsabilidade social na escolha de seus fornecedores, exigindo,

por exemplo, certos padrões de conduta nas relações com os trabalhadores ou

com o meio ambiente.

Relações com Trabalhadores Terceirizados – Cabe à empresa evitar que

ocorram terceirizações em que a redução de custos seja conseguida pela

degradação das condições de trabalho e das relações com os trabalhadores.

Apoio ao Desenvolvimento de Fornecedores – A empresa pode auxiliar no

desenvolvimento de pequenas empresas, priorizando-as na escolha de seus

fornecedores e auxiliando-as a desenvolverem seus processos produtivos e de

gestão. Também podem ser oferecidos, no ambiente da empresa,

treinamentos de funcionários de pequenos fornecedores, transferindo para eles

seus conhecimentos técnicos e seus valores éticos e de responsabilidade

social. Para buscar o desenvolvimento econômico da comunidade local, a

empresa pode utilizar entidades ligadas à comunidade como fornecedores.

2.5 Consumidores

A responsabilidade social em relação aos clientes e consumidores exige da

empresa o investimento permanente no desenvolvimento de produtos e

serviços confiáveis, que minimizem os riscos de danos à saúde dos usuários e

das pessoas em geral. Informações detalhadas devem estar incluídas nas

embalagens e deve ser assegurado suporte para o cliente antes, durante e

após o consumo.

a) Dimensão Social do Consumo

Política de Marketing e Comunicação – A empresa é um produtor de cultura e

influencia o comportamento da sociedade. Por isso, suas ações de publicidade

devem ter uma dimensão educativa,evitando criar expectativas que extrapolem

o que é oferecido efetivamente pelo produto ou serviço.

Excelência do Atendimento – Cabe à empresa socialmente responsável apoiar

Page 28: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · influência da Ação da Cidadania contra a Fome e a Miséria, que promoveu a aproximação de diversas organizações empresariais

28

seus clientes antes, durante e após a efetuação da venda, prevenindo

prejuízos com o uso do seu produto. A qualidade do serviço de atendimento ao

cliente — SAC — é uma referência importante neste aspecto, indicando a

permeabilidade da empresa em adaptar-se às necessidades e demandas dos

consumidores.

Conhecimento dos Danos Potenciais dos Produtos e Serviços – É tarefa da

empresa desenvolver ações de melhoria da confiabilidade, eficiência,

segurança e disponibilidade dos produtos e serviços. Ela deve buscar

conhecer os danos potenciais que possam ser provocados por suas atividades

e produtos e alertar os consumidores quanto a eles, atuando em um processo

de melhoria contínua e observando as normas técnicas relativas a eles (ex:

normas da ABNT).

2.6 Comunidade

O respeito aos costumes e culturas locais e o empenho na educação e na

disseminação de valores sociais devem fazer parte de uma política de

envolvimento comunitário da empresa, resultado da compreensão de seu

papel de agente de melhorias sociais.

a) Relações com a Comunidade Local

Gerenciamento do Impacto da Atividade Produtiva na Comunidade – A

inserção da empresa na comunidade pressupõe que ela respeite as normas e

costumes locais, tendo uma interação dinâmica e transparente com os grupos

locais e seus representantes, a fim de que possam solucionar conjuntamente

problemas comunitários ou resolver de modo negociado eventuais conflitos

entre as partes.

Relações com Organizações Atuantes na Comunidade – A empresa pró-ativa

na responsabilidade social assume como meta a contribuição para o

desenvolvimento da comunidade. Desta forma, deve apoiar ou participar

diretamente de projetos sociais promovidos por organizações comunitárias e

ONGs, contribuindo para a disseminação de valores educativos e a melhoria

Page 29: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · influência da Ação da Cidadania contra a Fome e a Miséria, que promoveu a aproximação de diversas organizações empresariais

29

das condições sociais.

b) Filantropia/Investimentos Sociais

Mecanismos de Apoio a Projetos Sociais – A destinação de verbas e recursos

a instituições e projetos sociais terá resultados mais efetivos na medida em

que esteja baseada numa política estruturada da empresa, com critérios pré -

definidos. Um aspecto relevante é a garantia de continuidade das ações, que

pode ser reforçada pela constituição de instituto, fundação ou fundo social.

Estratégias de Atuação na Área Social – A atuação social da empresa pode

ser potencializada pela adoção de estratégias que valorizem a qualidade dos

projetos sociais beneficiados, a multiplicação de experiências bem sucedidas,

a criação de redes de atendimento e o fortalecimento das políticas públicas da

área social.

Mobilização de Recursos para o Investimento Social – O aporte de recursos

pode ser direcionado para a resolução de problemas sociais específicos para

os quais se voltam entidades comunitárias e ONGs. A empresa também pode

desenvolver projetos próprios, mobilizar suas competências para o

fortalecimento da ação social e envolver seus funcionários e parceiros na

execução e apoio a projetos sociais da comunidade.

c) Trabalho Voluntário

Reconhecimento e Apoio ao Trabalho Voluntário dos Empregados – O trabalho

voluntário tem sido considerado um fator de motivação e satisfação das

pessoas em seu ambiente profissional. A empresa pode incentivar essas

atividades, liberando seus empregados em parte de seu horário de expediente

para ajudar organizações da comunidade ou dando incentivos aos

empregados que participam de projetos de caráter social.

Page 30: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · influência da Ação da Cidadania contra a Fome e a Miséria, que promoveu a aproximação de diversas organizações empresariais

30

CAPÍTULO III - RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS ORGANIZAÇÕES E NO BRASIL

Abordamos, nesse capítulo, qual a orientação de responsabilidade

social processada pelas organizações do Primeiro Setor (públicas), Segundo

Setor (privadas) e Terceiro Setor (da sociedade civil de interesse público), e

focalizamos nossa verificação na sociedade brasileira atual.

3.1 Primeiro Setor – Organizações Públicas

A atuação das organizações públicas nessa esfera é regulamentada

pela política de ação social do governo federal. Por sua vez, orientada pelos

artigos 203 e 204 da Constituição Federal no que tange à Assistência Social.

As ações do governo nessa área, são realizadas com os recursos da

Seguridade Social “financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta,

nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União,

dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios através das contribuições

sociais que incidem sobre a folha de salários, o faturamento e o lucro dos

empregadores, dos trabalhadores e da receita apurada em concursos de

prognósticos”. (Constituição da República Federativa do Brasil – Brasília:

Senado Federal, Centro Gráfico, 1988).

A política de ação social do governo obedece basicamente a três

princípios: integração, descentralização e interação. O conceito de “ação

integrada” atende a duas vertentes principais. Uma é a criação de um eixo

norteador ou elo de ligação entre os vários órgãos do governo e que perpassa

ao longo de sua estrutura articulando as ações dos ministérios, das autarquias

e de outras instituições. Esse elo atualmente se consubstancia no Programa

Comunidade Solidária que visa o atendimento das diversas regiões brasileiras,

objetivando a melhoria da qualidade de vida das populações. A outra vertente

diz respeito à idéia de simultaneidade, ou seja, através do Programa e seus

alvos prioritários, visa gerar ações concomitantes dos vários órgãos e setores

Page 31: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · influência da Ação da Cidadania contra a Fome e a Miséria, que promoveu a aproximação de diversas organizações empresariais

31

governamentais.

O segundo princípio, o da “descentralização”, parte da consideração que

a dimensão territorial e a heterogeneidade observada entre as regiões

brasileiras, dificultam a ação flexível e eficiente do governo. Propõe, então, a

redução dos elos burocráticos contando com a participação das organizações

não governamentais. De acordo com esse princípio as instituições

governamentais apóiam-se nas organizações da sociedade civil que, por sua

vez, irradiam suas ações e práticas consolidando o alcance da política social

do governo.

O terceiro princípio, talvez o mais fundamental, se apóia na “interação”

entre sociedade e Estado. Baseia-se na premissa de que a política social se

torna mais eficiente se há envolvimento da comunidade por meio do papel

desempenhado por suas lideranças e seus membros ao coordenar e executar

as ações do Estado. Ressalta-se, novamente, o papel das organizações civis

como interface privilegiada entre o Estado e sociedade, ajudando na

organização comunitária e na execução dos projetos sociais. A interação com

a sociedade enraíza e multiplica o resultado de ações primárias, criando um

sistema ampliado de atuações que envolvem inúmeras parcerias, entre 1º, 2º e

3º Setores.

A Secretaria da Assistência Social do Ministério da Previdência é o

órgão responsável pela organização da política pública de ação social do

governo. Compete à Secretaria propor ao Conselho Nacional de Assistência

Social – CNAS os fundamentos da Política Nacional voltada à essa área.

Dessa Política emana a lei infra-constitucional – a Lei Orgânica da Assistência

Social que estabelece as normas, os critérios de prioridade e de elegibilidade,

além de padrões de qualidade na prestação de benefícios, serviços,

programas e projetos em parceria com os setores público e civil da sociedade.

3.2 Segundo Setor – Organizações Privadas

A percepção, por parte de boa parcela do empresariado, sobre a

necessidade de um desenvolvimento sustentado vem gerando uma postura

Page 32: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · influência da Ação da Cidadania contra a Fome e a Miséria, que promoveu a aproximação de diversas organizações empresariais

32

que se contrapõe à cultura centrada na maximização do lucro dos acionistas.

Certamente, o notável economista americano Milton Friedman, ao afirmar que

a responsabilidade de uma organização baseia-se essencialmente na

conquista e elevação de seus dividendos, não avaliou os impactos que a nova

orientação capitalista traria ao mundo dos negócios. O chamado capitalismo

social ambienta novas formas de relação entre empresas, funcionários,

comunidades e clientes. Esses segmentos passam a compartilhar objetivos e

resultados em prol da otimização e manutenção dos recursos necessários à

perenidade dos negócios.

No âmbito da administração das empresas privadas, várias teorias e

correntes de estudos em Administração sucederam-se na medida em que

evoluía o ambiente social com suas variáveis. Verificou-se que muita coisa

existente dentro das organizações era decorrente do que existia fora delas, nos

seus ambientes. As organizações escolhem seus ambientes, passam a ser

condicionados por eles, necessitando adaptar-se aos mesmos para poderem

sobreviver e crescer. Neste sentido, conhecimento do ambiente é vital para a

compreensão dos mecanismos organizacionais. As transformações

econômicas, políticas e culturais da atualidade tornam-se então determinantes

das novas posturas empresarias.

O conceito de desenvolvimento sustentado faz com que as

organizações se voltem para os objetivos no longo prazo e passem, então, a

perceber que qualidade, preço competitivo e bons serviços não representam

mais os únicos diferenciais no mercado. Consumidores melhor informados e

exigentes quanto a produtos e serviços se convertem em cidadãos mais

conscientes das necessidades de suas comunidades, e conseqüentemente

passam a reivindicar o cumprimento das responsabilidades das empresas para

o seu desenvolvimento. As organizações que trabalham para esse

desenvolvimento compartilhado são classificadas como empresas cidadãs.

Segundo Deborah Leipziger, diretora européia do Council on Economic

Priorities Acrecitation Agency – CEPAA, e uma das maiores autoridades

mundiais em cidadania organizacional: “empresas éticas e que ajudam suas

comunidades não são novidade”. A referência mais antiga, entre os exemplos

Page 33: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · influência da Ação da Cidadania contra a Fome e a Miséria, que promoveu a aproximação de diversas organizações empresariais

33

de maior destaque, remonta a meados do século passado com a atuação dos

irmãos Clemens e August Brenninkmeyer, fundadores da rede de lojas C&A,

em 1841. Apoiar a comunidade através do financiamento de projetos sociais

sempre fez parte da cultura e estratégia da empresa, que desde sua fundação

desenvolveu essa prática. A empresa possui hoje cerca de 700 lojas

espalhadas pelo mundo e sua forma de processar a responsabilidade social

através de seu instituto – o Instituto C&A, com a participação e adesão

voluntária de seus funcionários, é modelo de referência para o empresariado

brasileiro.

Em nossa sociedade, os reflexos da cultura de responsabilidade social,

verificada em países mais desenvolvidos, têm propiciado inúmeras práticas

que aliam as iniciativas privadas com as das organizações da sociedade civil

sem fins lucrativos. Embora essas práticas possam ser classificadas em

categorias que correspondem a um estágio de evolução da cultura de

envolvimento social das empresas. Nesse caso podem ser observados os

modelos:

ü política de doações, sistematizadas ou não (mantém distanciamento do

objeto e do processo filantrópico em questão);

ü financiamento de projetos de autoria extra-empresa (mantém nível

médio de distanciamento do processo filantrópico);

ü investimento em projetos e programas próprios da empresa (alto nível

de envolvimento com o objeto e processo filantrópico).

Para além da mera colaboração com instituições filantrópicas realizada de

forma aleatória, não sistematizada e fora do âmbito de suas próprias vocações

e missões, muitas empresas brasileiras tem incorporado atitudes cidadãs

através da prática da filantropia estratégica. Tal prática consiste na

administração inteligente da participação da empresa, através de investimentos

filantrópicos, nas causas sociais. Compreende a análise, escolha e

determinação de uma causa que tenha, preferencialmente, relação com o

negócio da empresa. Assim, ao invés de praticar uma política de doações, a

empresa investirá no(s) projeto(s) social(ais) específico(s) que agregará valor a

sua marca, despertando a associação positiva por parte de consumidores,

Page 34: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · influência da Ação da Cidadania contra a Fome e a Miséria, que promoveu a aproximação de diversas organizações empresariais

34

fornecedores, clientes e potenciais, entre seu nome e a ação socialmente

responsável. Além disso, a filantropia estratégica passa a conquistar

credibilidade e seriedade através da forma estruturada com que é

administrada. A empresa passa a ter elementos para a avaliação crítica e a

mensuração dos resultados dos projetos. Com isso, entidades beneficiadas

são obrigadas a demonstrar o alcance de seus objetivos e metas. Cria-se

então um ciclo de profissionalização no âmbito das várias organizações que se

voltam para os problemas sociais.

Além dessas questões, a filantropia estratégica engloba o processo de

voluntarismo empresarial, ou seja, o estímulo à participação dos funcionários

da organização no desenvolvimento de projetos voltados à comunidade. As

empresas percebem que o envolvimento dos colaboradores internos traz

ganhos multiplicados. Ganha a empresa e seus negócios pela

representatividade que alcança ao ter seus funcionários diretamente ligados

aos objetivos sociais; ganham os próprios empregados que desenvolvem um

novo sentido de produção e relação humana através do trabalho e ganha a

comunidade ao contar com a aptidão, a energia, a criatividade e o

compromisso com a resolução de problemas por parte de um novo contingente

de cidadãos. A própria dimensão e ocorrência dos problemas que afetam o

ambiente social passam a ser melhor avaliadas, bem como, as atitudes para a

sua eficaz administração. Tais elementos contribuem para o ciclo virtuoso da

cidadania empresarial.

A sociedade civil solicita às empresas públicas e privadas a prestação de

contas referentes aos seus investimentos sociais. As empresas são

estimuladas e orientadas para a apresentação do Balanço Social – documento

que apresenta os dados relativos a sua atuação responsável para com o

ambiente interno e externo, demonstrando seu perfil social. Além disso,

ampliam-se as tendências de reconhecimento, por parte de organismos e

entidades profissionais na instituição de prêmios e selos voltados ao mérito

social. Chegam ao país as primeiras certificações sociais através das normas

BS 8800 e SA 8000. Iniciativas e experiências particulares contribuem para a

criação de entidades voltadas para a disseminação de valores e congregação

Page 35: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · influência da Ação da Cidadania contra a Fome e a Miséria, que promoveu a aproximação de diversas organizações empresariais

35

de práticas educativas relacionadas à responsabilidade social das

organizações. Entidades de destaque como IBASE – Instituto Brasileiro de

Análises Sociais e Econômicas, GIFE – Grupos de Institutos Fundações e

Empresas, dentre outras, acrescentam esforços na mesma direção. Apesar do

cenário promissor, os números resultantes de uma avaliação sobre os

investimentos em projetos sociais, por parte das organizações privadas,

destacam o enorme espaço a ser preenchido por atitudes empresariais

cidadãs. Segundo Stephen Kanitz, professor de Economia, Administração e

Contabilidade da USP e criador do prêmio Bem Eficiente para as entidades do

Terceiro Setor: “as 500 maiores empresas brasileiras doam aproximadamente

300 milhões de dólares para entidades beneficentes. Além de ser uma quantia

irrisória para os padrões internacionais, a maioria delas o faz de forma

totalmente aleatória, sem estratégia filantrópica definida”. A constatação revela

que a tendência de aplicação da filantropia estratégica no meio empresarial

brasileiro ainda é tímida. Além disso, há indícios que a prática da cidadania

organizacional tem se restringido, mais acentuadamente, no âmbito das

empresas de grande porte.

3.3 Terceiro Setor – Organizações da Sociedade Civil de

Interesse Público

O Terceiro Setor constitui-se de organizações criadas por iniciativa de

cidadãos com o objetivo de prestar serviços ao público sem fins lucrativos

(saúde, educação, cultura, habitação, direitos civis, desenvolvimento do ser

humano, proteção ao meio ambiente), ainda que eventuais excedentes sejam

reaplicados na manutenção das próprias atividades ou remuneração de

atividade profissional necessária. Suas receitas podem ser geradas em

atividades operacionais, mas resultam sobretudo de doações do setor privado

ou do setor governamental (SROUR, Robert Henry. Poder, cultura e ética nas

organizações. Rio de Janeiro: Campus, 1998).

O Terceiro Setor cresce consideravelmente e rapidamente em várias

partes do mundo movimentando um volume de recursos da ordem de mais de

Page 36: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · influência da Ação da Cidadania contra a Fome e a Miséria, que promoveu a aproximação de diversas organizações empresariais

36

trilhão de dólares, volume esse maior que o PIB de países como Brasil e

Rússia. O Centro de Estudos da Getúlio Vargas concluiu, através de várias

análises sobre o Terceiro Setor, que seu crescimento se deve a quatro fatores

básicos: a falência do Estado Social; a crise do desenvolvimento sustentado;

os reflexos da derrocada do socialismo na Europa; e a convergência de

inúmeros problemas sociais que afetam, principalmente, países em estágio

menos avançado de desenvolvimento (analfabetismo, desemprego, poluição

ambiental, carência de cidadania etc.). A abrangência desses problemas define

o território onde as organizações da sociedade civil emergem com força

crescente.

Segundo Oded Grajew, do Instituto Ethos e da Fundação Abrinq, só os

Estados Unidos têm 32 mil fundações, com patrimônio de cerca de 132 bilhões

de dólares, dos quais 8,3 bilhões são atribuídos através de verbas, sem

considerar a doação de trabalho voluntário, estimada em quase 200 bilhões de

dólares. As atividades sem fins lucrativos, nesse país, chegam a 1,2 milhão de

organizações.

No Brasil, embora a tendência de crescimento seja destacada, o

Terceiro Setor ainda se apresenta algo tímido. As estatísticas começam a ser

elaboradas através da iniciativa de entidades mais representativas, embora

ainda em número insuficiente para determinar um panorama real do setor.

Estima-se que haja no país 220 mil entidades sem fins lucrativos,

movimentando algo em torno dos 400 milhões de dólares e empregando 600

mil pessoas, além dos 1,2 milhão de voluntários. Uma pesquisa realizada pela

Kanitz & Associados traz novos dados. O estudo demonstrou que as 400

maiores entidades assistenciais brasileiras arrecadam por ano 1,2 bilhão de

reais, o que ainda significa um faturamento menor do que aquele obtido por

uma das 500 maiores empresas do Brasil. O envolvimento de empresários e

profissionais de diversas áreas de atuação com as entidades do Terceiro Setor

vem contribuindo para a análise dos problemas que o segmento vivência. Esse

envolvimento acaba por influenciar e determinar novos instrumentos e

mecanismos que vão propiciando maior regulamentação e profissionalização

no setor.

Page 37: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · influência da Ação da Cidadania contra a Fome e a Miséria, que promoveu a aproximação de diversas organizações empresariais

37

Recentemente, o Congresso Nacional instituiu a Lei que qualifica as

Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público, bem como,

regulamenta sua atuação. Uma pesquisa nacional realizada pelo idealizador do

prêmio Bem Eficiente, Stephen Kanitz, demonstrou que a maioria dos

empresários brasileiros gostaria de disponibilizar verbas para entidades

filantrópicas. Porém, um clima de desconfiança, gerado pela imagem negativa

de algumas instituições, aliado à falta de informações sobre a atuação do setor

de forma geral, inibia as parcerias. Essa constatação acabou gerando

inúmeros trabalhos voltados ao reconhecimento e divulgação das entidades

que trabalham de forma séria e criteriosa. Exemplos de conduta profissional e

ética observados nas diversas instituições eficientes são adotados como

modelo de administração e compromisso social. Para as organizações de boa

vontade, mas que ainda desenvolvem uma administração em moldes menos

profissionais, estão sendo criados cursos e seminários nas áreas de captação

de recursos, marketing, qualidade nos serviços, administração financeira e

outros assuntos gerenciais. O Projeto Gestão do Instituto de Cidadania

Empresarial é um exemplo de ação voltada para as entidades que buscam

elevar seu nível de profissionalização. Observa-se, portanto, que no Brasil há

um princípio de mudança cultural em relação às organizações da sociedade

civil de interesse público. A eficácia dessas organizações passa pela

capacidade de administração do seu “negócio” com vistas a atrair o interesse

de empresas públicas, privadas e cidadãos voluntários que possam colaborar

para o alcance de metas sociais.

O conceito de filantropia estratégica pode ser avaliado e aplicado pelas

entidades sem fins lucrativos. A visão mercadológica destas, sem ofuscar o

foco no serviço essencial que devem desenvolver, contribui para a percepção

de que as organizações do Primeiro e Segundo Setores, e os cidadãos

comuns, se constituem num público prioritário.

Page 38: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · influência da Ação da Cidadania contra a Fome e a Miséria, que promoveu a aproximação de diversas organizações empresariais

38

3.4 Responsabilidade Social no Brasil

No Brasil, esse desejo em ajudar a comunidade vem crescendo e

existem alguns fatores a considerar:

Primeiro, uma ampla gama de novos empresários, na faixa dos 30, 40

anos, viveu o fim doregime militar, conheceu outros países, está mais bem

preparada e se sente na obrigação de colaborar para tornar o país melhor. Em

segundo lugar, o aumento da violência parece ter chegado ao ponto que é

impossível fechar os olhos para a vergonhosa disparidade social brasileira.

Segundo David Cohen (COHEN, David. Empresa e Sociedade: A

Pressão Social e Relações com a Comunidade e o meio ambiente), existem

indícios fortes de que as empresas estejam começando a assumir seu lado

cidadão. A maioria das empresas (56%) apóia programas sociais, segundo a

primeira pesquisa nacional sobre a atuação social e o estímulo ao voluntariado

nas empresas, finalizada em julho/1999 pelo Programa Governamental

Comunidade Solidária.

Merece destaque também, como dissemos anteriormente, o impulso

dado por Herbert de Souza (Betinho), a partir de 1996, sobre a campanha

convocando os empresários a um maior engajamento, com práticas

relacionadas ao exercício da responsabilidade social, por meio da divulgação

do Balanço Social, como um instrumento de demonstração deste

envolvimento. A inserção social do grande capital ainda é novidade no

Brasil15. De acordo com a GIFE (Grupo de Institutos, Fundações e Empresas),

organização não-governamental dedicada à cidadania empresarial, os

investimentos sociais no Brasil estão crescendo. De acordo com Ioschpe,

diretora da Fundação Ioschpe e ex-presidente fundadora da GIFE, a

“filantropia corporativa” é uma característica americana , mas não é brasileira,

e, se em certos ambientes (como religiosos) ela tem muito valor no Brasil, o

mesmo não acontece no ambiente empresarial, onde o conceito de filantropia

corporativa ainda esta em fase de “aculturação”.

Para Ioschpe, (IOSCHPE, Evelyn B. As Empresas aderem de forma

crescente à programas de cidadania empresarial. Jornal ValorEconômico, São

Page 39: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · influência da Ação da Cidadania contra a Fome e a Miséria, que promoveu a aproximação de diversas organizações empresariais

39

Paulo, n 71, p.E2, 09,agosto 2000), “a postura como empresa socialmente

responsável pode ter inspirações numa matriz filantrópica, mas hoje se

distancia dela”, visto que “filantropia” no grego significa um amor inespecífico à

humanidade, e hoje, as empresas desenvolvem uma posição muito mais

afinada com seus valores intrínsecos: o lucro e sobrevivência, que

investimento social. Entretanto, a empresa apoiando projetos sociais, e tendo

essa conduta socialmente responsável, a empresa alavanca recursos e apoio

por meio da adesão dos trabalhadores e descobre ganho adicional que vão da

melhoria do clima organizacional até a valorização da marca.

Uma pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA)

revelou que 67% das empresas situadas na região sudeste do Brasil

praticaram “ações sociais” no ano de 1998. O IPEA denomina “ações sociais”

qualquer doação feita a pessoas ou entidades, sem fins lucrativos, que apóiem

a área da saúde, educação e lazer. Verificou-se que há relação direta entre

participação das empresas e o tamanho delas: 62% das microempresas, 76%

das pequenas empresas, 75 % das médias e 95% das grandes têm atuação

social.

A responsabilidade social também toma um novo fôlego no Brasil devido

aos modelos que chegam junto às novas organizações aqui fixadas e também

pela falta de atuação do Estado em amenizar os problemas sociais. Nota-se

que o Estado acaba recebendo novos parceiros para contribuir com a

sociedade. Entretanto, as atuações das atividades desenvolvidas por eles são

pouco conhecidas, pois, são muitas as razões que levam o empresário ao

exercício da responsabilidade social, variando muito a intensidade desse

trabalho pelo porte da empresa, localização, atuação do Estado, cultura da

própria comunidade, recursos financeiros da empresa, forma de entender a

responsabilidade social empresarial e, até mesmo, a discussão do assunto em

associações de classe.

Oded Grajew (GRAJEW, Oded. O que é Responsabilidade Social.

Mercado Global. São Paulo. Ano 27 n.07 junho/2000, p.44-50), salienta que,

quando o empresário se propõe a abarcar todas essas relações, ele está se

inserindo em uma forma de gestão empresarial, uma filosofia de gestão na

Page 40: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · influência da Ação da Cidadania contra a Fome e a Miséria, que promoveu a aproximação de diversas organizações empresariais

40

empresa. Para Grajew, isso significa pensar na relação em quem é afetado por

essa relação, e como a pessoa que toma decisão gostaria de ser tratada em

situação semelhante e comenta: “Há casos no Brasil de empresas que têm

ações junto à comunidade, investem em projetos de educação informal. E

quando perguntamos a essas empresas sabem qual o grau de escolaridade de

seus empregados, muitas vezes a resposta é “não”. Embora aquela empresa

esteja destinando uma verba para uma organização que atende crianças

carentes, ela não perguntou qual é a situação educacional dos filhos de seus

empregados”.

Então, percebe-se que, para se ter a responsabilidade social de maneira

coerente, é preciso ter preceitos éticos, saber quais são os princípios e o

valores da empresa. A responsabilidade social não é uma simples doação de

verba, para Grajew, “se você trata as pessoas com ética, respeitando os bons

valores sociais, com respeito e dignidade, os consumidores, funcionários irão

responder da mesma forma”.

Por outro lado, a sociedade brasileira ainda necessita, segundo as

opiniões e sugestões dos empresários, mudança na legislação trabalhista e

incentivos fiscais para promoção de projetos sociais; mais discussões sobre o

assunto, que visem mobilizar e conscientizar as empresas sobre a atuação de

práticas sociais; maior credibilidade aos projetos sociais apresentados; maior

envolvimento de associações, federações e confederações empresariais para

que possam articular as ações sociais de seus associados; incentivo por meio

de campanhas de conscientização a prática do trabalho voluntário; e o

desenvolvimento de habilidades em gestores do terceiro setor, visando uma

melhor organização e transparência por parte das entidades sem fins lucrativos

e ainda, a criação de comissões que busquem identificar e organizar quais são

as principais necessidades da comunidade e apresentar as empresas

interessadas. Desta forma poderia se encontrar uma saída para dar suporte na

realização das ações sociais necessárias nas comunidade. Alem de melhorar a

qualidade dos projetos apresentados; reduzir a burocracia governamental para

a realização de ações sociais; criar um departamento nas empresas para

reaplicar parte dos lucros em obras sociais; divulgar os benefícios fiscais

Page 41: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · influência da Ação da Cidadania contra a Fome e a Miséria, que promoveu a aproximação de diversas organizações empresariais

41

existentes e que podem ser concedidos às empresas que atuam na área

social; promover parcerias com associações de bairros, universidade para a

integração da comunidade e empresa, através de um aproveitamento do

potencial humano que a universidade dispõem, que são os estagiários; e uma

política econômica mais estável, com incentivos fiscais às empresas, para um

melhor planejamento ás práticas socialmente responsáveis.

Page 42: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · influência da Ação da Cidadania contra a Fome e a Miséria, que promoveu a aproximação de diversas organizações empresariais

42

CONCLUSÃO

A concepção de responsabilidade social por parte das empresas vem

sendo bastante difundida. Especialmente nos países mais desenvolvidos as

empresas enfrentam, crescentemente, novos desafios impostos pelas

exigências dos consumidores, pela pressão de grupos da sociedade

organizada e por legislações e regras comerciais que demandam, por exemplo,

proteção ambiental, produtos mais seguros e menos nocivos à natureza e o

cumprimento de normas éticas e trabalhistas em todos os locais de produção e

em toda a cadeia produtiva (já que no conceito da responsabilidade social está

implícito o cumprimento da legislação; a responsabilidade começa a partir

disso).

Entretanto, o conceito de responsabilidade social, como é divulgado

nos dias de hoje, não é muito diferente do citado pelos autores americanos de

50 anos atrás. O conceito permanece associado ao reconhecimento de que as

decisões e os resultados das atividades empresariais envolvem as

comunidades, ou seja, vão além dos seus sócios e acionistas. Desta forma, a

responsabilidade social ou cidadania empresarial, como também é chamada,

enfatiza o impacto das atividades das empresas para os agentes com os quais

interagem: empregados, fornecedores, clientes, consumidores, colaboradores,

investidores, competidores, governos e comunidades.

A responsabilidade social empresarial, que é caracterizada pela

permanente preocupação com a qualidade ética das relações da empresa com

seus diversos públicos, sejam eles interno ou externo, ainda não foi alcançada

como um todo; mesmo porque, podemos identificar apenas alguns padrões de

comportamento empresarial que permeiam a responsabilidade social.

Genericamente, podemos afirmam que inúmeras empresas realizam

algum tipo ação social no Brasil. Os empresários, em sua maioria, consideram

que as empresas possuem dimensões econômicas e sociais, embora as

sociais só possam ser planejadas após uma condição satisfatória da

econômica.

Page 43: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · influência da Ação da Cidadania contra a Fome e a Miséria, que promoveu a aproximação de diversas organizações empresariais

43

A maioria das ações realizadas é em prol do público interno e a

atuação se destaca no binômio “assistência médica e educação”. Observa-se,

também, que as ações ao público externo têm um perfil assistencialista, como

doação a comunidades carentes; mas isso ainda ocorre de maneira aleatória e

pulverizada. Percebe-se um envolvimento limitado à filantropia empresarial,

revelando que os motivos que levam os empresários a algumas práticas

sociais são os motivos humanitários; pode-se dizer que a responsabilidade

social acontece na concepção da abordagem reativa, ou seja, a empresa

mobiliza esforços e se envolve com a comunidade diante de um problema.

Mesmo com os avanços anteriormente apontados, constata-se que são

restritos os projetos existentes diante do parque industrial nacional, o que

demonstra que ainda não há uma consciência empresarial para a realização

de grandes projetos em prol da comunidade. Infelizmente, percebe-se que

para os empresários falta confiança na capacidade de gestão do terceiro setor

e faltam também projetos que possam realmente possibilitar a mudança da

realidade existente.

Enfim, é um fenômeno mundial que as empresas venham sendo mais

cobradas em seu papel de cidadãs. Existe uma evolução normal da

conscientização da sociedade global. Entretanto, parcerias com o Estado e

com a sociedade civil para a construção de uma sociedade mais saudável e

justa de uma forma não localizada ainda está distante da realidade brasileira.

Page 44: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · influência da Ação da Cidadania contra a Fome e a Miséria, que promoveu a aproximação de diversas organizações empresariais

44

BIBLIOGRAFIA

KUNSCH, Margarida M.K. Gestão integrada da comunicação organizacional e

os desafios da sociedade contemporânea. Revista Comunicação e

Sociedade/UMESP, Nº 32, 2º semestre, 1999.

MELO NETO, Francisco; FROES, Cesar. Responsabilidade social & cidadania

empresarial - a administração do terceiro setor. Rio de Janeiro: Qualitymark.

Paper Governança Corporativa. Fonte: www.ibgc.org.br

PELIANO, Anna. Investir no social dá lucro. Entrevista concedida ao Jornal do

Commercio, em 29.07.07

Pesquisa 2000. Indicadores Ethos de Responsabilidade Social, Instituto Ethos,

2000

DUARTE, Gleuso D.; DIAS, José M. Responsabilidade social: a empresa hoje.

Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos

EXAME. As melhores empresas para você trabalhar. São Paulo: Ed. Abril, 25

ago. 2008.

FREIRE, Fátima; MALO, François. O balanço social no Brasil: gênese,

finalidade e implementação como complemento às demonstrações contábeis.

Fortaleza: UFCE, 1999.

COHEN, David. Empresa e Sociedade: A Pressão Social e Relações com a

Comunidade e o meio ambiente.

IOSCHPE, Evelyn B. As Empresas aderem de forma crescente à programas de

cidadania empresarial. Jornal ValorEconômico, São Paulo, n 71, p.E2,

09,agosto 2000.

GRAJEW, Oded. O que é Responsabilidade Social. Mercado Global. São

Paulo. Ano 27 n.07 junho/2000, p.44-50

Page 45: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · influência da Ação da Cidadania contra a Fome e a Miséria, que promoveu a aproximação de diversas organizações empresariais

45

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I - A Responsabilidade

Social é uma prática ou um conceito? 10

1.1 Sua origem 11

1.3 Do nascimento da idéia e desenvolvimento

das primeiras ações à consolidação da

responsabilidade social das empresas 13

1.3 A responsabilidade social das empresas

e o balanço social no Brasil 16

CAPÍTULO II – Instituto Ethos e os

Indicadores de sucesso em

Responsabilidade Social 21

2.1 Valores e transparência 22

2.2 Público interno 23

2.3 Meio Ambientes 25

2.4 Fornecedores 26

2.2 Consumidores 27

2.3 Comunidade 28

CAPÍTULO III – Responsabilidade Social

nas organizações e no Brasil 30

3.1 Primeiro Setor – Organizações Públicas 30

Page 46: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · influência da Ação da Cidadania contra a Fome e a Miséria, que promoveu a aproximação de diversas organizações empresariais

46

3.2 Segundo Setor – Organizações Privadas 31

3.3 Terceiro Setor – Organizações da Sociedade

Civil de Interesse Público 35

3.4 Responsabilidade Social no Brasil 38

CONCLUSÃO 42

BIBLIOGRAFIA 44

ÍNDICE 45

FOLHA DE AVALIAÇÃO 47

ÍNDICE 45

Page 47: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · influência da Ação da Cidadania contra a Fome e a Miséria, que promoveu a aproximação de diversas organizações empresariais

47

FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: Instituto a Vez do Mestre

Título da Monografia: Responsabilidade Social – O novo negócio dos

Negócios.

Autor: Camila Teresa Silva Pereira

Data da entrega: 24/08/2009

Avaliado por: Fabiane Muniz Conceito: