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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
GRUPOS DE TRABALHO SEMI-AUTÔNOMO
Por: Flavio Henrique Dos Santos Soares
Orientador
Prof. Dr. Celso Sanchez Pereira
Rio de Janeiro
2004
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
GRUPOS DE TRABALHO SEMI-AUTÔNOMO
Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como condição prévia para a
conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu”
Gestão Estratégica e Qualidade. São os objetivos da
monografia perante o curso e mostrar a importância
de inovação na maneira de gerir uma organização
no trabalho.
Por: Flavio Henrique dos S. Soares.
3
AGRADECIMENTOS
Aos meus queridos amigos que me
apoiaram na conclusão deste trabalho
e aos professores do projeto “A vez do
Mestre”.
4
DEDICATÓRIA
A minha querida esposa Andreza de
Souza Soares, a minha filha Ingrid de
Souza Soares, parentes e amigos, que
me apoiaram nesta grande empreitada
da minha vida.
5
RESUMO
O que vamos abordar neste projeto, é uma organização de trabalho já
testada por várias empresas e que muitas delas não conseguiram êxitos, pois a
sua estratégia de implantação organizacional não era sólida.
Está sendo demonstrada nesta pesquisa, uma abordagem sóciotécnica
e pratica deste sistema de trabalho em forma de grupo semi-autônomo. Que
quer dizer: Grupo multifuncional responsável por todas as atividades de um
segmento de trabalho; administra seus próprios recursos internos, e é avaliado
através de indicadores de desempenho conhecidos por todos do grupo.
A pesquisa mostra situações de organização de trabalho realizada pela
Mercedes Bens e pela Michelin. A última, é a empresa em que o pesquisador
está atuando como um facilitador da implantação, junto ao setor operacional da
fábrica de Campo Grande do Rio de Janeiro.
Mostra algumas sugestões de como poderemos efetuar a implantação
de forma sólida, aplicando formações adequadas para a execução das tarefas
por colaborador, e a quantidade máxima e mínima de participante por grupos
GSA’s. Esta predominância é utilizada de acordo com a cultura de cada
empresa. Confirmamos alguns resultados já obtidos na implantação deste
sistema dentro da empresa Michelin e na Mercedes Bens.
Este tipo de organização foi testado em vários paises, e por questões
políticas, muitas delas foram esmagadas, mas, acostumamos dizer que
algumas sementes ficaram pelo caminho.
6
METODOLOGIA
Escolhemos algumas situações já vividas por outras empresas (Volvo,
Volkswagen, Mercedes Bens e Michelin), também utilizamos livros da biblioteca
da Universidade Cândidos Mendes, consultas à internet e outras monografias
que citavam situações que existiam grupos autogerenciáveis.
A Preparação do material foi executada na situação que se encontra a
empresa Michelin, pois a mesma está implantando o sistema GSA ( Grupos
semi-autônomos ), na sua área de produção, e nós estamos vivenciando esta
mudança de organização de trabalho e pesquisando junto com os engenheiros
e técnicos de produção para a obtenção de informações sobre o assunto
através de palestras e seminários já freqüentados antes do início do projeto.
O Resultado final deste projeto dependeu da implantação deste sistema
de trabalho ( GSA ), na empresa Michelin do qual sou Funcionário a 12 anos e
o facilitador desta implantação junto ao corpo operacional, portanto, este
projeto de pesquisa é um espelho de um fato real que está sendo vivenciado
pelo responsável deste projeto de pesquisa e que já iniciou a implantação do
sistema nos setores de trabalho. Pegando informações em outros setores e
apoios de departamentos envolvidos, diretamente ou indiretamente, no novo
sistema de trabalho.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I - O Problema 16
CAPÍTULO II - A Implantação do GSA 31
CONCLUSÃO 35
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 39
ANEXOS 42
ÍNDICE 44
FOLHA DE AVALIAÇÃO 45
8INTRODUÇÃO
Pode-se definir um GSA como: “grupo multifuncional responsável
por todas as atividades de um segmento de trabalho; administra seus próprios
recursos internos, e é avaliado através de indicadores de desempenho
conhecidos por todos do grupo.” Esta definição é produto das experiências com
GSA da Escola de Tavistock de Londres que enunciou a matriz teórica que dá
fundamento a todas as intervenções deste tipo nas organizações/fábricas: a
teoria sócio-técnica. Em resumo, a reorganização do trabalho na fábrica é
construída sobre quatro pilares principais: o trabalho em equipe, a ausência de
supervisão direta, autonomia e participação dos trabalhadores,e a presença
dos indicadores de performance.
A idéia deste trabalho veio da necessidade de sobrevivência das
empresas perante o mercado mundial, pois há uma a grande distancia entre os
colaboradores de chão de fábrica com o relacionamento de atividades da
própria empresa em que trabalha, sem saber o que está se passando dentro da
sua organização.
Como diz a metodologia apresentada pelo Roberto Marx em seu
livro Trabalho em grupo e autonomia como instrumento de competição, que
através de parâmetros de Gestão de produção, gestão de recursos Humanos e
gestão de planejamento, avalia o grau de autonomia do grupo de trabalho.
A questão em evidência é a necessidade de colocar na mão do
operário de chão de fábrica uma maior responsabilidade no seu campo de
atuação dentro da organização de trabalho. Pois a grande maioria se
encontrava sem um objetivo dentro da organização e atrelados ao seu campo
operacional . Para que isto fosse evitado foram considerados vários projetos
para a elevação
da auto-estima do funcionário e a valorização de sua mão de obra com uma
maior qualificação profissional. Dentro desta avaliação encontramos os grupos
9
de trabalhos semi-autônomos e que julgamos ideal para a nossa área
operacional.
A Revolução indústria é um ponto marcante dentro da história
das relações de trabalho, pois a partir dela, ganha destaque o trabalho de
Frederick Winslow Taylor, “A Administração Científica”. A implantação das
idéias de Taylor, trouxe aos limites a separação do pensar e o executar,
limitando o ato de conceber e planejar a um pequeno grupo de pessoas de
confiança dos donos do capital. O Trabalhador então passa a elaborar o
conceito de empregado, que ainda temos nos dias de hoje, onde se submete a
uma atividade obrigatória, heterodeterminada, vendendo seu tempo em troca
de um salário, sendo que pouco lhe importa o objetivo de seu trabalho.
Horvat et alli (1975) fazem uma interessante análise (quadro 1)
das revoluções ocorridas no final do século passado e no atual. Segundo eles,
as revoluções foram tentativas de estabelecer uma indústria auto-administrada
e uma sociedade auto-gestionada. Na tabela , encontram-se as revoluções
mais significativas e seus componentes.
Quadro 1
ANO REVOLUÇÃO CARACTERÍSTICAS
1871 Comuna de
Paris
· Democracia plenamente
participativa;
· Reorganização em bases
cooperativas;
· Algumas indústrias e organizações
dirigidas por trabalhadores.
· Revolução esmagada. Autogestão
desaparece.
1905 Revolução
Russa
· Aparecimento dos Soviets;
· Predominância do componente
político-territorial sobre o funcional, a
10medida que os soviets se desenvolveram
com a participação dos partidos políticos.
· Revolução esmagada. Autogestão
desaparece.
1917 Revolução
Russa
· Recriação de um Soviet formado
por delegados de fábricas e unidades
militares;
· Formação de comitês de fábrica
(assumindo a administração);
· Confisco de propriedade por
camponeses
· A força de trabalho deve ser
totalmente submissa a uma única pessoa
– o líder soviet;
· Conceito de autogestão reaparece
no pós-guerra mas é rapidamente
sufocado.
1919 Revolução
Húngara
· Instaura uma república soviet
governada pelo Conselho de Deputados
de Trabalhadores e Soldados
· Gera uma guerra civil que levou a
Hungria ao fascismo
1918 Revolução
Alemã
· Tradição em movimentos da classe
trabalhadora;
· Partido Social-Democrata bem
organizado;
· Formação espontânea de soviets e
conselho de trabalhadores;
· A revolução foi controlada e o
fascismo instaurado.
1919 Revolução · Iniciada com a implantação do
11Italiana Conselho Fabril na Fiat em Turim;
· Tomada de fábricas pelos
trabalhadores;
· Movimento desorganizado;
· Grandes industriais financiam os
fascistas;
· Mussolini marcha sobre Roma em
1922
1931 Revolução
Espanhola
· Instabilidade política leva a guerra
civil;
· Comunismo libertário é substituído
pela ditadura fascista.
1941-
45/48
Revolução
Iugoslava
· Primeira implantação de um
sistema integral de autogestão dos
trabalhadores com sucesso;
· Popularizou o Conselho dos
Trabalhadores;
1954 Revolução
Argelina
· Influência do movimento iugoslavo;
· Ocupação de fábricas e
propriedades abandonadas por colonos
franceses;
· Estado, contrário a autogestão,
aumenta seu controle sobre as
organizações;· A autogestão degenera
para o estatismo.
É demonstrado pela história, que todas as revoluções socialistas
(exceto a chinesa e a cubana) foram tentativas de estabelecer a autogestão.
Todas elas falharam, porém, o mais interessante não é simplesmente constatar
seus fracassos, mas as recorrentes tentativas apesar dos fracassos.
12
Depois de analisar este conceito, percebemos que o homem
trabalhador, que está diretamente ligado ao campo da produção através de sua
mão-de-obra braçal, ficou qualificado como um indivíduo sem capacidade de
executar tarefas que não estivesse dentro de seu escopo normal de trabalho (
Modo Operatório ), o operário não tinha uma responsabilidade sobre o seu
objetivo e preocupação com o dia seguinte.
Percebendo esta diferença e distância do operário que estava
produzindo com segurança, com a preocupação com o meio ambiente e com
qualidade, de que o mesmo não sabia o por que de tudo isto. Segundo
Deming em seu décimo segundo princípio, diz que é preciso remover as
barreiras que privam o trabalhador de se orgulhar do seu trabalho bem feito.
Com esta idéia vamos mostrar para os operários que eles sim são os grandes
responsáveis pela
sobrevivência da organização de forma a conscientizá-los com formações
comportamentais do tipo: Desenvolvimento do trabalho em equipe,
Desenvolvendo a flexibilidade e inovação do operário e outros existentes
no mercado atual de capacitação profissional.
Um dos maiores benefícios da utilização dos grupos semi-
autônomos, é o resgate do prazer das pessoas em realizar um trabalho que
represente algo tanto para a organização onde trabalha quanto para a sua vida
profissional e emocional.
Quadro 2 : Mudanças revolucionárias na estrutura das empresas
Princípios burocráticos
Por que ele teve sucesso no passado
Por que ele não funciona mais
O que substitui este princípio
Cadeia hierárquica de comando
trouxe ordem em larga escala; chefes mantinham
não consegue lidar com a complexidade;
visões e valores;
equipes autônomas;
13a ordem, dominando os subordinados
dominação não é a melhor maneira de organizar a inteligência
autônomas;
coordenação lateral;
redes informais;
escolha
Organização por funções especialistas
produziu eficiência através da divisão do trabalho; focou a inteligência.
não permite intensa comunicação intra-funcional e contínua coordenação ao nível dos pares.
especialistas com múltiplas habilidades;
organizações intra-empreendedoras dirigidas ao mercado.
Regras uniformes
criou um sentido de justiça;
estabeleceu claramente o poder dos chefes.
as regras continuam necessárias, mas são substancialmente diferentes.
direitos garantidos;
instituição da liberdade e do sentido de comunidade.
Procedimentos uniformes
permitiu a criação de uma memória organizacional e o uso de trabalhadores desqualificados.
responde lentamente à mudança; não permite lidar muito bem com a complexidade; não estimula a intercomunicação.
autonomia e auto-gestão;
força do mercado e os princípios éticos da comunidade.
Carreira vertical comprava a lealdade;
permitia a continuidade para uma elite de gerentes e profissionais.
menos gerentes são necessários e mais trabalhadores educados anseiam por promoções; assim sendo, com menos possibilidades de avanço.
carreiras baseadas no crescimento da competência;
crescimento do pagamento por competência e habilidades.
14Relações impessoais
reduziu a força do nepotismo; ajudava os líderes a manter a disciplina e a tomar decisões duras.
trabalhos intensivos em conhecimento requerem relacionamentos mais profundos.
relacionamentos mais amplos;
opções e alternativas;
direcionamento para resultados.
Coordenação superior
fornecia direcionamento para trabalhadores não qualificados; fortalecia a supervisão requerida para trabalhos desgastantes e enfadonhos com rápido turnover.
empregados educados estão melhor preparados para auto-direcionamento.
equipes auto-geridas;
comunicação lateral;
colaboração.
Fonte: traduzido de Pinchot, E. & Pinchot, G. The End of Bureaucracy & the Riseof the Intelligent Organization, in: Knowledge Management and Organizational Design, Myers, P. S. (ed.) Butterworth-Heinemann, 1996
As experiências ocorreram durante oito anos, em quatro fábricas. As
principais conseqüências, decorrentes da segunda fase do Programa de
Democracia Industrial, referem-se a:
A) Vantagens dos grupos semi-autônomos sobre o trabalho individualizado,
tanto sob o ponto de vista da satisfação do trabalhador como sob o aspecto da
produtividade;
B) Melhor compreensão dos grupos semi-autônomos e do conteúdo da
polivalência profissional;
C) Problemas disciplinares e de controle do trabalho, a cargo das próprias
equipes;
D) A organização do trabalho em equipes semi-autônomas revelou-se
incompatível com os sistemas individualizados de remuneração, impondo-se a
15
sua substituição por esquemas baseados no desempenho das próprias
equipes;
E) Democracia industrial introduzida por via legal, por si só, não garante a
democratização dos locais de trabalho.
Este último ponto evidenciou a necessidade da participação local e a
garantia de mudança estrutural da organização através do redesenho dos
cargos, otimização conjunta dos subsistemas social e técnico e a escolha
organizacional, de acordo com os princípios sócio-técnicos.
16
Capítulo I
“O Problema”
171. O PROBLEMA : A nova forma de organização do trabalho dentro da industria e a sua
implantação.
1.1- DENTRO DA FÁBRICA: OS GRUPOS SEMI-AUTÔNOMOS DE
TRABALHO NA MERCEDES-BENZ E AS QUESTÕES DO
TREINAMENTO E DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL
A constituição e o reconhecimento formal da Comissão de Fábrica
(CF) dos Trabalhadores na Mercedes-Benz, em 1985, ocorre após inúmeras
manifestações e greves (entretanto, a negociação e acordo quanto ao seu
estatuto ocorreu em 1984).
Já em 1992, em meio às discussões da Câmara Setorial do
Complexo Automotivo, a empresa apresenta seu projeto de reestruturação,
denominado de Fábrica 2000, que visava, através da segmentação da planta
em 5 unidades de negócios, obter ganhos significativos de competitividade,
utilizando para tal algumas transformações em sua forma de organizar a
produção e o trabalho, na relação com seus fornecedores, e na sua gestão.
Para se contrapor ao projeto da empresa, o Sindicato e a CF
apresentaram à empresa seu projeto Qualidade de Vida no Trabalho na
Mercedes-Benz: As Propostas dos Trabalhadores, visando a
correspondente valorização dos trabalhadores no âmbito da Fábrica 2000.
Estas propostas enfatizavam os seguintes aspectos: benefícios
sociais, condições de trabalho, jornada de trabalho, estrutura de cargos e
salários, participação nos lucros ou resultados, metas de produção, emprego e
investimentos, procedimentos disciplinares, mediação e arbitragem,
representação na fábrica, processo de organização do trabalho e
educação/formação profissional.
18 Este conjunto de propostas, além de servirem de base para a
proposta de Contrato Coletivo apresentada pelo Sindicato ao SINFAVEA,
consolidou uma agenda de negociação entre empresa e CF/Sindicato,
resultando na formalização dos seguintes acordos: logística (dez/93),
desverticalização/terceirização (abr/94), manufatura celular (mar/94), kaizen
(fev/95), trabalho em grupo (mar/95) e participação nos resultados (jun/95).
Especificamente quanto ao trabalho em grupo, as propostas
apresentadas pelos trabalhadores apoiavam-se na concepção da Escola Sócio-
Técnica, tendo como objeto de negociação a implantação de Grupos Semi-
Autônomos de trabalho.
No que diz respeito à educação/formação profissional, os
trabalhadores reivindicavam já em seu projeto de melhoria na qualidade de
vida a "definição de um programa de incentivo à educação, visando que todos
os trabalhadores tenham no mínimo o 1º grau completo, em 1997"; "e a
garantia a todos os empregados do montante de 50 horas/ano para fins de
treinamento e reciclagem profissional, a ser realizado durante a jornada de
trabalho. Além disto, os trabalhadores poderão, caso desejem, utilizar 8
horas/ano adicionais para participar de cursos de formação sindical promovidos
pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC".
Por outro lado, as cláusulas do próprio acordo garantem que "os
trabalhadores envolvidos na implantação deste projeto-piloto serão capacitados
para o trabalho em Grupo através de formação em salas de aula, bem como
atividades formativas nas áreas de trabalho", e que a "Equipe de coordenação,
composta por representantes da empresa e sindicato/CF, poderá, a qualquer
tempo, propor mudanças em relação aos referidos programas para suprir
eventuais lacunas de treinamento”.
Os projetos-pilotos foram implantados aos pares, nos setores de
usinagem, montagem e funilaria totalizando 6 grupos, antecedidos por um
19programa de treinamento iniciado em julho de 1995, composto de 10 módulos
com 4 horas de duração cada. Os 5 primeiros módulos, que abordaram as
questões comportamentais, trataram de temas como qualidades pessoais,
sensibilização para o trabalho em grupo, apresentação de idéias, administração
de conflitos, e motivação e energização de grupos de trabalho. Os módulos de
qualificação técnica abrangiam tópicos como competitividade, produtividade/
melhorias contínuas, qualidade/ferramentas básicas, manutenção preventiva e
processos de trabalho.
Os trabalhadores eram treinados em sala de aula na própria
empresa, onde recebiam o respectivo material apostilado do assunto que seria
abordado no dia. As pessoas que conduziam os módulos eram chamadas de
"orientadores" e integravam o quadro funcional da empresa, nas áreas técnicas
e de treinamento. Em que pese a heterogeneidade dos orientadores, bem
como a dos trabalhadores, o "clima" estabelecido propiciou uma dada
integração e descontração.
A ênfase no discurso dos orientadores convergia para a
"igualdade", objetivando a superação dos erros, dos defeitos e dos problemas
individuais, através do aprendizado de respeito ao outro. O receio em se expor,
por parte de alguns trabalhadores, era canalizado e levava à discussão da
importância do porta-voz do grupo, incentivando a pessoa a se expressar.
O fato da empresa propiciar a oportunidade de expressão
(opiniões e anseios) já conferia aos trabalhadores uma maior confiança. Eles
reconheciam no processo de treinamento a existência de uma relação onde o
respeito estava presente. Por um lado, esta situação apresenta seu aspecto
positivo, pois trabalhava a busca de valorização do indivíduo. Por outro, o risco
dessas mudanças culturais nas empresas pode resultar em fatos como: em
uma dada situação, um trabalhador foi solicitado a falar durante um dos
módulos de treinamento, o que não ocorreu; posteriormente ele relatou sua
admiração por pessoas que possuíam o "dom de falar", bem como sua enorme
dificuldade de comunicação e concluiu agradecendo a Mercedes-Benz por ter
20lhe dado a chance de trabalho, ou à "grande fortuna para alguém, que como
ele, não possuía nenhum estudo".
Outro tema de muito destaque no treinamento dizia respeito à
concorrência sofrida pela empresa e os perigos a que os empregos estavam
submetidos. Isto justificava a necessidade da empresa em se manter na
liderança de mercado. Por isso, incentivava-se a competição entre os grupos
para alcance das metas na satisfação dos "clientes" reais e até mesmo os
imaginários, não importando que em certos momentos alguns grupos
perdessem ou ganhassem, desde que fosse para o bem da empresa teria
valido a pena.
Também a responsabilidade pela utilização correta dos meios e
insumos produtivos e a busca de maiores níveis de qualidade eram
aparentemente transferidos aos trabalhadores, deles dependendo ou não o
sucesso da empresa.
No final de setembro de 1995, a empresa demitiu 1.600
trabalhadores quebrando uma prática de diálogo e busca de alternativas
construído a duras penas. Este fato levou os representantes dos trabalhadores
a não mais acompanharem o programa de treinamento, que prosseguiu em
meio às turbulências. Porém, isso não impediu que o Sindicato e a CF se
reunissem com os responsáveis pelo programa na empresa, visando sua
avaliação. Dentre as sugestões dadas destacam-se, além do módulo sindical
de treinamento; promover visitas dos grupos por toda a fábrica; impedir a
competição entre os grupos; e o questionamento quanto ao programa de
treinamento dos supervisores.
Em meados de 1996, Sindicato e CF fizeram uma avaliação dos
projetos-piloto, levantando vários pontos problemáticos, bem como os aspectos
positivos desta nova forma de organizar o trabalho, destacando-se a
"contradição entre tudo o que foi passado no treinamento e a realidade dura
que vivemos, frente à mudança de postura da empresa" (Sindicato; CF;
Subseção DIEESE, 1996).
21 Visando minimizar as diferenças entre os programas de treinamento e
a realidade, a CF, junto com o Sindicato, já havia proposto, na avaliação do
programa de treinamento, a inclusão de um módulo ministrado pela própria
organização dos trabalhadores, objetivando a reflexão e levantamento dos
sentimentos dos trabalhadores quanto ao trabalho na empresa e as condições
de trabalho, quanto aos interesses da empresa, além da difusão e a
compreensão do acordo estabelecido, possibilitando a mobilização dos
trabalhadores para "fazer o acordo funcionar na prática".
Entretanto, em pesquisa realizada pela empresa, os próprios
trabalhadores consideraram que houve uma melhora na satisfação com o
trabalho (63%), aumento do poder de decisão (66%), melhora ou manutenção
das condições de trabalho (46% respectivamente), e que apesar do aumento
do volume de trabalho (71%) os grupos de trabalho deveriam continuar (86%).
Esta pesquisa reflete uma das vantagens que a mudança na
organização do trabalho trouxe à empresa, dado que "o simples fato de escutar
o trabalhador já lhe conferia uma maior confiança, reconhecendo a existência
de uma relação em que o respeito estava presente". Sendo assim, "parte disso
não integra o respeito que sempre exigimos? Não seria essa uma conquista a
ser identificada, valorizada e continuamente perseguida? Ou, não estaremos
deixando esse campo livre para as mudanças culturais nas empresas, correndo
o risco de perder os trabalhadores para os ideais empresariais?" (Subseção
DIEESE, 1996).
Apoiando-se no conceito do trabalho em equipe, pode-se dizer
que existe uma linha teórica e prática que procura romper com a tradição
burocrático-taylorista. Embora propostas e implementações em larga escala
envolvendo toda
22a empresa sejam mais recentes, este tipo de proposta remonta aos anos 50,
com o desenvolvimento da Escola Sociotécnica pelo Tavistok Institute na
Inglaterra. Assim, antes de analisarmos algumas das considerações mais
recentes sobre estruturas baseadas em equipes ou forças-tarefa, faremos uma
breve recapitulação dos conceitos sociotécnicos, destacando sua relação com
os temas aprendizado e inovação organizacional.
1.2- Escola Sóciotécnica
A Escola Sóciotécnica foi uma das correntes pioneiras de pesquisa
em administração que melhor tratou a questão da complexidade emocional e
social dos profissionais nas empresas e a conseqüente necessidade de
compatibilização dos ambientes técnicos e sociais do trabalho. Esta visão de
complexidade fica patente na maneira como esta Escola compreende o mundo
interno dos indivíduos e como estes se relacionam no ambiente de trabalho: o
mundo interno dos indivíduos é formado por seus instintos, inconsciente,
capacidades inatas, superego, crenças e valores; a relação com o ambiente
externo é controlada pelo seu ego ou consciente; e os grupos de trabalho
constituem um subsistema social que tem um nível de atividade equivalente ao
inconsciente individual (Biazzi, 1994).
Em função desta perspectiva sobre os indivíduos e o trabalho, A
Escola Sóciotécnica propõe a formação de grupos semi-autônomos ou auto-
reguláveis, como alternativa para a organização do trabalho. Estes
caracterizam-se pela responsabilidade coletiva frente a um conjunto de tarefas,
pela própria definição do arranjo do trabalho e pela utilização de recursos
disponíveis. Além disso, rompe a tradição taylorista de descrição detalhada dos
cargos. Os trabalhadores também ficam responsáveis pela definição individual
de tarefas, de metas e eventual escolha de líderes. Como conseqüência,
passa-se a valorizar a multifuncionalidade.
23 Verifica-se pois, que a Escola Sócio-Técnica, antecipando-se ao
ambiente turbulento e dinâmico dos dias atuais, já propunha um modelo de
organização caracterizado por fronteiras tênues entre áreas e pela adaptação
ativa. Isto se traduz na adoção de uma estrutura que permite a montagem e
desmontagem dos grupos de trabalho, conforme a necessidade.
Os princípios para a implantação e avaliação desta abordagem de
trabalho grupal foram resumidos por Marx (1996). Entre os mais relevantes
para o foco deste trabalho destacam-se:
o "as atividades desempenhadas por unidades de trabalho devem
constituir um significado completo de per si;
o trabalhadores sem experiência devem ser incorporados ao grupo
sem grandes pressões iniciais através de canais abertos de comunicação e
treinamento adequado;
o a tomada de decisão deve ser feita pelo nível hierárquico mais
baixo possível; para que isto ocorra, os fluxos de informação devem ser
desenhados para prover informações relevantes aos que atuam diretamente na
produção;
o Deve-se capacitar os trabalhadores (e a organização como um
todo) a aprenderem por si mesmos e a darem conta das variabilidades a que
estiverem sujeitos no dia-a-dia. Os grupos de trabalho são sistemas capazes
de aquisição de conhecimento e evolução - são learning systems."
O gerenciamento da transição do modelo taylorista para o
sociotécnico, ou ainda do modelo do posto de trabalho para o modelo da
competência não é, entretanto, algo trivial. Zarifian (1995), por exemplo, após
estudar em profundidade alguns casos de implantação destes modelos na
indústria francesa, conclui que o risco de fracasso pode ser grande, quando o
processo não conduz as equipes ao desenvolvimento de competências
organizacionais.
241.3- HIPÓTESE
1.3.1 Competências na organização e competências sobre a
organização.
Ou seja, os grupos não deveriam ser formados simplesmente a
partir de modelos prescritos pela alta direção (competência na organização), e
sim, a partir de um trabalho evolutivo, onde os membros são capazes de
pensar inclusive na própria transformação do modelo, levando em
consideração o desenvolvimento das habilidades e competências individuais,
assim como as necessidades da empresa e do ambiente (competência sobre a
organização).
Além disso, e apesar da clara necessidade de aprendizado efetivo
dos membros dos grupos de trabalho, fica evidente, também, segundo Zarifian,
que a alta administração tem um papel preponderante de iniciadora, animadora
e zeladora do processo de transformação. Assim, a mudança cultural e de
processos e, em particular, os de RH, são fundamentais. Isto, entretanto,
parece ocorrer de fato apenas à medida que a direção das empresas se
esforce sobremaneira para romper com antigos paradigmas da administração
clássica.
Com relação às estruturas organizacionais propriamente ditas,
verifica-se uma crescente especulação sobre a configuração das organizações
do futuro. Os organogramas, são, muitas vezes, associados a formas cada vez
menos ortodoxas, tais como um centro com raios, um conglomerado, um anel,
uma pirâmide invertida, uma teia de aranha etc. Além disso, o impacto dos
recentes avanços nas tecnologias de informação e comunicação, nos
desenhos das estruturas organizacionais, ainda parece ser uma questão
bastante emergente. Por fim, a organização das empresas em torno de equipes
responsáveis por processos específicos também se apresenta como uma
alternativa à organização piramidal.
25 Apresentamos, a seguir, algumas destas propostas e exemplos: a
Organização por Processos, pelo seu impacto nas organizações e debate
gerado no meio acadêmico; a Estrutura Organizacional Circular do Projeto
Satruno da GM, por se tratar de um caso paradigmático de organização de
uma empresa inteira por meio de equipes autônomas e, por fim, a Organização
Invertida e a Organização Teia de Aranha, como exemplos ilustrativos de
formas organizacionais emergentes. Iremos abordar os dois primeiros abaixo:
1.3.2- A Organização por Processos
Embora o conceito de organização por processo não seja novo, a
difusão desta prática é um fenômeno dos anos 90, impulsionado, em boa
medida, pela moda da reengenharia. Um dos trabalhos pioneiros com este
conceito foi desenvolvido por dois consultores da McKinsey & Company, Frank
Ostroff e Douglas Smith (1992), que cunharam o termo Organização Horizontal.
Esta proposta, a nosso ver, empresta e combina vários conceitos da Escola
Sociotécnica e da Escola Japonesa e, especificamente, de muito do que se
aprendeu com a aplicação de engenharia simultânea no desenvolvimento de
produtos. De outro lado, a organização por processos também foi associada
aos processos de reengenharia dos anos 90, o qual parece ter colhido mais
fracassos do que sucessos. Discutiremos, brevemente, esta questão mais
adiante.
Os objetivos da organização horizontal, segundo estes autores, são:
focar a empresa em seus clientes; atingir padrões de qualidade total;
descentralizar o poder e criar um ambiente adequado para o aprendizado e a
melhoria contínua. Para atingir isto, as empresas necessitam se organizar em
torno de seus processos e de equipes e não em torno de funções e indivíduos .
Ostroff e Douglas acreditam que alguns princípios são necessários para
realizar esta transição:
26
A) As empresas precisam descobrir quais são os processos (entre 3 e 5) que
definem suas vantagens competitivas e quais são os clientes que definem as
unidades de negócio;
B) O processo de trabalho é organizado em torno de equipes;
C) Os objetivos de desempenho são, então, determinados para cada processo-
chave. Estes objetivos devem ter uma ligação direta com a satisfação dos
clientes. Os indivíduos devem ser avaliados pelo desempenho individual e pelo
desempenho da equipe;
D) Redução da hierarquia ao mínimo possível: as responsabilidades da equipe
devem combinar atividades gerenciais e não gerenciais e a tomada de decisão
deve ocorrer no nível mínimo necessário para atender às necessidades dos
clientes;
E) Competências múltiplas devem ser perseguidas pela grande maioria dos
componentes das equipes. Algumas atividades funcionais são mantidas para
garantir expertise em algumas poucas funções;
F) Informação e treinamento devem ser providos just-in-time to perform:
organizações verticais, ao contrário, usam informação principalmente para
controlar e não para apoiar a atuação da linha de frente.
G) O contato com fornecedores e clientes deve ser incentivado: é uma das
melhores oportunidades para o aprendizado.
27
Por outro lado, sob um outro nome, reengenharia, muitas empresas
acabaram por se engajar em reorganizações por processo. Em grande medida,
estes projetos aconteceram alavancados por investimentos em tecnologia de
informática. Os principais autores envolvidos com estas propostas foram, além
de Ostroff e Smith, Davenport (1994) e Hammer & Champy (1994). Estes
últimos, inclusive, sendo associados ao lançamento em grande escala desta
"moda" organizacional.
Inicialmente, foram reportados vários casos de sucesso com
esta abordagem, principalmente em termos de redução dos tempos de ciclo de
produção ou serviço, melhoria da qualidade e redução de custos. As avaliações
mais recentes destes esforços, entretanto, aludem muito mais a fracassos do
que a sucessos.
Tapscott (1995), por exemplo, reporta o resultado de várias
avaliações sobre estes esforços de reengenharia: as empresas americanas
iriam investir US$ 52 bilhões em processos de reengenharia até 1997. Desse
total, US$ 40 bilhões seriam gastos com informática. Mais de dois terços deste
projetos não estariam tendo sucesso. Segundo pesquisa da empresa Arthur D.
Little Inc., apenas 16% das empresas se mostravam satisfeitas com os
resultados. Outra pesquisa da Deloitte & Touche mostrava que 60% das
pessoas envolvidas apontavam a resistência à mudança como o maior
obstáculo ao sucesso destas iniciativas.
Para Garvin (1995), o principal problema destas intervenções foi o
fato de elas terem um caráter essencialmente operacional, não levarem em
consideração a interligação entre os processos e ignorarem os aspectos de
gestão. Nesta mesma direção, Jacob (1995) destaca algumas dificuldades
encontradas por quatro empresas que se engajaram neste esforço: perda de
velocidade de decisão, necessidade de revisão do processo orçamentário e do
28sistema de avaliação de desempenho, aumento do nível de estresse e
dificuldade de adaptação dos funcionários.
Já para Sveiby (1997), o principal problema com a "onda" da
reengenharia foi o fato de esta ter focado na informação e não no
conhecimento. Como conseqüência, teria havido uma erosão na base de
conhecimento das empresas. Stacey (1996), por sua vez, alerta para o caráter
determinista das abordagens da reengenharia, ou seja, as soluções prescritas
não levam em consideração a enorme variabilidade e mudanças do ambiente.
Por fim, Hamel & Prahalad (1994) teceram, talvez, uma das
críticas mais contundentes aos esforços de reengenharia: não existe solução
mágica e ultra-rápida para a transformação das empresas: as empresas se
preocuparam mais em reduzir custos e o número de funcionários do que rever
os processos; o elemento humano e a necessidade de mudança
comportamental foi quase que esquecido durante o processo; muitas empresas
engajadas no processo perderam seu foco estratégico e automatizaram
processos desnecessários para competir, ou seja, perderam sua capacidade
de inovar e usar seus funcionários para recriar o futuro.
Enfim, os esforços de implementação de organizações por
processo, principalmente segundo a vertente da reengenharia, nos parece, não
levaram em consideração a questão do aprendizado organizacional passado,
na forma do conhecimento (tácito) possuído pelos funcionários e nem o
aprendizado organizacional futuro, ou seja, a necessidade de a empresa estar
se adaptando e aprendendo continuamente.
29
1.3.3- A Organização Circular do Projeto Saturno
O projeto Saturno, surgido em meados dos anos 80, como
resposta da GM à perda de competitividade no mercado de veículos pequenos
nos E.U.A., constitui-se, até hoje, em um exemplo marcante das possibilidades
de ruptura com a tradicional estrutura hierárquico-burocrática (LeFauve & Hax,
1993).
Antes de mais nada, há que se destacar os princípios e valores
que pautaram a implantação deste projeto e o fato de o mesmo ter sido, desde
o princípio, uma iniciativa conjunta da empresa com o sindicato (U.A.W.). Os
valores iniciais definidos foram os seguintes:
A) Compromisso com o cliente;
B) Compromisso com a excelência;
C) Trabalho em equipe;
D) Confiança e respeito pelo indivíduo;
E) Melhoria contínua.
A unidade de trabalho básica da empresa se constitui de equipes de
trabalho com cerca de 15 pessoas. Durante a formação de cada célula de
trabalho, a equipe dispõe de um líder e de duas outras pessoas com
participação temporária: um representante do sindicato e outro do
"management". À medida que a equipe se consolida, depois de dois a três
anos, a função do líder desaparece e a equipe se torna, de fato, auto-dirigida.
A Seguir, modelos de organização de Trabalho que sofreram
mudanças dentro da Empresa Michelin América do sul, no decorrer dos anos,
de acordo com as necessidades exigidas pelo mercado Mundial, para manter
a competitividade e, sobre tudo, aumentar a produtividade. O último modelo, é
o que está sendo implantado atualmente em alguns setores da área de
produção, dando início aos Grupos Semi-autônomos (GSA).
30
Sai o Supervisor Grupos
Com Supervisor Entra o Líder Semi-Autônomos
Esta última unidade de trabalho (GSA) tem ampla gama de
responsabilidade: programação da produção, orçamento, qualidade,
housekeeping, segurança e higiene, manutenção, controle de inventário,
treinamento, alocação de tarefas individuais, reparos, seleção de pessoal etc.
Cada membro da equipe, independentemente do grau de experiência
profissional, passa por intenso treinamento antes de integrar o grupo de
trabalho: entre 250 e 750 horas, em grande medida, sobre tópicos
comportamentais.
A maneira de representar a integração destas células ou
equipes de trabalho dentro da empresa, é por meio de círculos . As unidades
básicas de trabalho são interligadas no chamado "círculo de decisão", que
conta com representantes de cada uma das células de trabalho e de recursos
adicionais. Estes últimos podem ser permanentes ou temporários e detêm,
normalmente, algum tipo de especialização necessária para o aconselhamento
das unidades de trabalho. Este círculo de decisão elege seus representantes
para formarem a unidade de negócios que, por sua vez, utiliza-se de processo
semelhante para constituir, finalmente, o SAC ou Strategic Action Council, que
determina a direção estratégica e gerencia a empresa como um todo.
31
Capítulo II
A implantação do GSA
322- A implantação dos GSA
A metodologia de implantação de GSA na fábrica prevê duas etapas distintas e
complementares.
A separação sugerida em dois tempos (concepção e implantação)
leva em consideração o envolvimento de todos os diretamente atingidos com
esta transformação (gerentes, supervisores, e operários). Isto significa que
durante a própria fase de preparação da mudança já será possível antecipar-se
e experimentar algumas das características do novo modelo: trabalho em
equipes
multifuncionais e multihierárquicas. Assim, a transição poderá ser discutida e
gerenciada de acordo com as características culturais existentes e conhecidas
dos agentes da transformação.
Ainda sobre as etapas de concepção e implantação, pode-se
dizer que costumam durar entre 12 e 18 meses envolvendo desde a revisão
dos processos de trabalho existentes, até o job redesign de gerentes,
supervisores e
operários, passando-se pela fase de treinamento e capacitação de todos, para
o desempenho no novo modelo.
2.1- Resultados Obtidos:
De maneira geral observam-se resultados de uma intervenção deste tipo em
dois grandes âmbitos:
Na implantação do Grupo Semi-Autônomo dentro da fábrica Michelin,
em um determinado setor, já podemos encontrar resultados positivos , como
vamos ver no quadro abaixo:
33Massa Salarial Redução de 3%
Efetivo Redução de 5,3%
Refugo Redução de 50% Adaptado pela Michelin
2.1.1- Cultural/Gerencial
melhora no clima geral da fábrica (maior envolvimento, comprometimento e
participação dos operários);
maior autonomia na tomada de decisão, portanto, maior agilidade e rapidez
de resposta;
relações de trabalho, verticais e horizontais, mais orientadas para parcerias
(cliente-fornecedor);
operários mais capacitados pessoal e profissionalmente;
2.1.2-Técnico
melhora sensível nos indicadores de performance da fábrica: produtividade,
qualidade, saúde e segurança, e parâmetros de RH;
flexibilidade da operação em função da retirada de níveis hierárquicos, do
trabalho em equipe, e da autonomia dos trabalhadores (sinergia de tarefas e
eliminação de atividades de controle);
aparecimento espontâneo de iniciativas de melhoria de processo.
No Quadro a seguir, mostra um Check-list utilizado para um
acompanhamento e avaliação do andamento da implantação dos grupos
Autogeridos computando pontos para cada responsabilização. Este quadro
ajudará na melhoria contínua do sistema ou uma alteração completa da base
implantada, ou seja, reavaliar os conceitos para acertar os pontos fracos:
CARACTERÍSTICA PONTUAÇÃO
34
Gestão da Produção
Dividir o trabalho 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Interromper a produção 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Definir ritmo da produção 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Definir/redefinir sequenciamento da produção 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Negociar metas de produção 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Definir indicadores de desempenho do grupo 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Acionar manutenção 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Rejeitar matéria-prima não conforme 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Responsabilizar-se por manutenções primárias 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
SUBTOTAL: 39/90
Gestão de RH
Escolher e formalizar lideranças internas 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Planejar escala de treinamento 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Planejar escala de férias 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Reunir-se quando necessário 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Influenciar na entrada e saída de membros 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Avaliar equipe e seus membros 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Controlar freqüência e abonar faltas 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Assumir relações de interface internas e externas
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
SUBTOTAL: 20/80
Gestão de Planejamento
Administrar orçamento próprio 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Influenciar na direção do negócio 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Definir e orientar trajetória profissional 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Influenciar no replanejamento organizacional 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
SUBTOTAL: 2/40
Quadro Adaptado pela MIchelin
35
CONCLUSÃO
Com este tipo de organização de trabalho, pode confirmar a nossa
suspeita de que todo ser humano precisa de um meio de incentivo para se
motivar e crescer dentro de uma organização, pois muda de forma brilhante o
comportamento profissional do operário dentro da empresa causando reações
que antes pensávamos serem impossíveis. Talvez não enxergássemos o
potencial dos funcionários de chão de fábrica , ele, é claro que com
treinamento de postura comportamental e de formações de metier
(formações específicas do posto de trabalho do operário). estas
formações são de caráter essencial, pois são situações que os mesmos
vivenciam , mas não podiam atuar com liberdade e autonomia.
Podemos dizer que este tipo de organização (GSA) pode resgatar a
nossa mão-de-obra dentro da oficina. É preciso quebrar alguns ovos, tais
como: A mudança da postura dos cargos de chefia, a saída definitiva do
“capataz” e a diminuição da necessidade de um líder, pois com a formação da
célula de produção ou Grupos Semi-Autônomos (GSA), os próprios
funcionários destes grupos, podem resolver questões mais relevantes e com
autonomia dentro do seu posto de trabalho, buscando auxílio somente quando
a situação exigir, é lógico que estas situações devem ser bem definidas e
passadas com bastante clareza para os operários.
Como está na apresentação deste trabalho, os resultados falam por si,
mas isto não acontece por acaso, haja vista, que o acompanhamento contínuo
deve existir, e cada alteração deve ser corrigida para que este tipo de
organização, por ser muito complexo, não entre em decadência. Fazendo
reuniões uma vez por semana, durante uma hora, para colocarem as
situações de dúvidas e posturas da nova organização de trabalho.
36
As pessoas estão acostumadas a trabalharem na zona de conforto, e
quando isto é afetado, ou seja, mexem com a forma de trabalho deles, no
começo encontraremos algumas resistências, mas por outro lado fortalece o
crescimento profissional daquele funcionário que realmente trabalha, e aquele
que estava escondido e não é profissional começa aparece e as coisas ficam
mais justas.
Está evidenciado que o comportamento muda de forma drástica, pois
cada um passa a ser caracterizado e observado a todo o momento, com isto o
clima se torna tenso devido à dúvida sobre a tal mudança, mas, quando as
coisas começam a ficarem claras, os objetivos vão sendo mostradas, as
posturas começam a ficar diferente daquela da zona de conforto.
Quando a mudança exige um profissional mais qualificado, as coisas
vão ficando complicadas, pois começam as exigências de qualificação pessoal,
a cobrança interna para esta qualificação para quem não o tem, se torna
constrangedora para o funcionário, mas por outro lado obriga ao profissional a
necessidade de buscar mas informações ou formações, para que os mesmos
se tornem mais atualizados sobre a vida da organização ou sobre a mudança
em evidência.
No início as pessoas não dão muito crédito para a nova mudança
que foi anunciada pela organização, mas, depois que vira uma realidade, todos
se revoltam e falam “Time que está ganhando não se mexe” . Para mostrarem
que estavam corretos nesta afirmação, começam a boicotar o trabalho, para
que os objetivos não sejam cumpridos, e fazer a alta administração voltar atrás
com relação à mudança implantada. Tendo já isto como situação que possa
ocorrer, a alta administração deve preparar uma estratégia para evitar este tipo
de comportamento.
O mais interessante também, é o fato de se implantar em setores
estratégicos, pois pode ser uma grande influência para os outros setores ou
departamentos, contagiando e motivando a mudança do seu tipo de
organização de trabalho. Na maioria das vezes, isto acontece, devido ao
37
grande fator motivacional que são os Grupos Semi-Autônomos, fazendo uma
revolução completa na maneira de trabalhar de cada operário.
O mais interessante de tudo isto é a existência de pessoas de
alto nível hierárquico que não acreditam nesta ferramenta para a solução de
alguns problemas de pessoal dentro do seu setor ou departamento.
Vivenciamos este problema dentro da Michelin, quando perguntamos se
queriam ser o piloto, e disseram não, justificando que o seu tipo de organização
atende completamente as suas necessidades. A grande decadência
empresarial é achar que o operário ou o seu colaborador , não está preparado
para o recebimento de mais informações.
Será que os meios existentes de treinamento, são realmente
eficazes no complemento da formação de um funcionário de chão de
fábrica?
Está provado que um funcionário, seja do mais baixo nível
intelectual , se bem orientado e treinado adequadamente, ele é capaz de
exercer qualquer atividade dada para ele. Estamos falando de situações que
acontecem hoje na empresa Michelin de Campo Grande do Rio de Janeiro.
Está provando que funcionário que entraram na empresa com o seu grau de
escolaridade muito baixo, e que com a possibilidade que a empresa deu para
muitos e continua dando aos seus funcionários de completarem o seu nível
médio, através de curso supletivo dado pela própria empresa, mostra hoje com
o seu crescimento tanto na parte intelectual, também no âmbito segurança,
qualidade ambiental, qualidade dos seus produtos e serviços, bem como o
aumento da sua produtividade. Está comprovado que, mesmo depois de toda
as alterações tecnológicas que ocorreram dentro da empresa, ela não deixou
de ser uma empresa competitiva utilizando uma mão-de-obra “desqualificada”.
38
A participação do funcionário, é fundamental para que qualquer
projeto de mudança tenha sucesso dentro de uma empresa, pois a motivação
parte dele.
Esta motivação não vem por acaso, se não cultivar e preparar com
antecedência. Isto cabe lembrar que, quando envolve o funcionário no projeto
de mudança, o mesmo se torna co-responsável para que o projeto dê certo .
O que podemos dizer ao final de tudo isto:
Precisamos deixar de lado o operário Mão-de-obra, e dar a ele a
qualificação e autonomia necessária para que seja o cabeça-de-obra.
39
BIBLIOGRAFIA
• ROBERTO, Marx. “Trabalho em grupos e autonomia como instrumentos da competição” Editora Atlas, 1998.
• “Segurança e Saúde no Trabalho - Prevenção das lesões por esforço
repetitivo” - Fundacentro - Ministério do Trabalho. • SLACK, Nigel., CHAMBERS, Stuart., HARLAND, Christine., HARRISON,
Alan., JOHNSTON, Robert. - “Administração da Produção” - Editora Atlas, 1997.
• ROBERTO, Marx. “Análise dos projetos de implantação de trabalho em
grupo na indústria: a questão da autonomia no chão de fábrica” - Tese de Doutorado - USP - 1996.
• Anais do Workshop Internacional - “Grupos semi-autônomos e
competitividade: experiências nacionais e brasileiras” - USP - 1998. • RANGEL, Marcelo., ARANY, Marcio. - Autogestão em “célula de produção” -
Anais Enegep 1997. • JONAS, MAURÍCIO, Jorge. , EDUARDO, José. - Posto Autogerenciável -
Documento de formação interna Michelin. • Chiavenato, Idalberto. - “Introdução a Teoria Geral da Produção” - 4ª edição
- Editora Editora Makron Books.
40
ANEXO 1
GAZETA MERCANTIL, SEGUNDA-FEIRA, 17 DE AGOSTO DE 1998
Um por todos e todos por um
Roberto Marx *
Grupos, equipes e times são nomes e conceitos que nunca deixaram de estar presentes nas discussões sobre as organizações. De tempos em tempos, essas expressões ganham/perdem força e até se transformam em saídas mágicas para problemas iminentes. Nos dias de hoje, esses conceitos têm aparecido associados a processos de reestruturação e/ou transformação das organizações. Os conteúdos preferenciais das mudanças organizacionais mais recentes privilegiam ou, no mínimo, se apoiam na organização do trabalho em grupos. No âmbito da produção, esse movimento é muito conhecido, tanto nacional quanto internacionalmente. Em particular a introdução dos Grupos Semi-Autônomos (GSAs) em ambientes de mudança com a finalidade de melhorar a competitividade, flexibilidade e o desempenho geral da fábrica tem sido uma experiência rica em aprendizagem e vencedora em relação aos resultados que apresenta. Em resumo, os GSAs podem ser considerados como grupos de funcionários com fronteiras de atuação e intervenção bem definidas e que possuem grande autonomia decisória para atender a objetivos próprios de desempenho. Os conteúdos das mudanças organizacionais privilegiam o trabalho em grupo. Com o suporte teórico da Escola Sócio Técnica, empresas como a Shell (planta de Sarnia no Canadá) e a Volvo na Suécia podem ser consideradas nos anos 60 e 70 as precursoras de um movimento que tem ganhado força crescente. Hoje em dia o número de empresas que possuem formas de trabalho grupal baseadas em autonomia é relevante: pesquisa realizada junto às quinhentas maiores empresas americanas por Lawler e Mohrmann (1992), por exemplo, revela que 46% delas operam com tal tipo de organização. No Brasil, muitas empresas adotaram princípios do trabalho em grupo. As vezes com clareza de propósitos, visão e resultados almejados, às vezes apenas seguindo "modas" ou realizando benchmarkings e comparando-se a empresas líderes. As vezes partindo de conceitos mais claros, às vezes através de mecanismos de tentativa e erro.
41A nossa experiência como pesquisadores interessados nesse tipo de mudança nos mostra que, antes mesmo do processo de implantação propriamente dito, é necessário que cada empresa tenha uma clareza mínima sobre questões que, se não forem suficientemente discutidas, esclarecidas e objeto de um posicionamento claro por parte do corpo gerencial, os resultados almejados estarão correndo forte risco. Aprofundar esse debate significa, a nosso ver, pensar e planejar o próprio futuro das nossas organizações. Se de um lado a autonomia no trabalho significa uma ruptura de paradigmas clássicos de gestão, por outro isso tem significado, para um número cada vez maior de empresas, uma grande oportunidade de melhorar seu desempenho e competitividade nestes tempos de concorrência cada vez mais acirrada. Trata-se de uma aposta diferente: em vez de cortes de pessoal, precarização das condições de trabalho e emprego, busca-se fortalecer os vínculos do funcionário com a empresa como forma de obter os melhores resultados sob o ponto de vista empresarial. O poder de inovação da empresa tem como alavanca a autonomia dos seus funcionários. Em vez de almejar só uma busca desenfreada e arriscada na direção da redução de custos com pessoal, trata-se de uma opção que privilegia, além da redução de custos em suas várias fontes, o aumento do poder de reação e inovação da empresa como um todo tendo como alavanca básica a autonomia dos seus funcionários. Para alguns importantes estudiosos, práticos e consultores, estes são os requisitos que marcarão as empresas mais bem-sucedidas do próximo milênio. Em quem você aposta? *Professor do Departamento de Engenharia de Produção da Escola Politécnica da USP e do Fórum Permanente de Acompanhamento de Experiências em Organizações Flexíveis e Autônomas.
42ANEXO II
43ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I
A Problematização 17
1.1 – GSA na Mercedes Bens 17
1.2 – A Escola Sóciotécnica 22
1.3 -- Hipótese 24
1.3.1 – Competência na Organização 24
1.3.2 – Organização por Processo 25
1.3.3 – Organização circular 29
CAPÍTULO II
A implantação do GSA 31
2.1 – Resultados obtidos 32
2.1.1 – Cultural / Gerencial 33
2.1.2 – Técnico 33
CONCLUSÃO 35
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 39
ANEXOS I 40
ANEXOS II 42
ÍNDICE 43
44
FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição: Universidade Cândido Mendes
Título da Monografia: Grupos de Trabalho Semi-Autônomos
Autor: Flavio Henrique dos Santos Soares
Data da entrega: 31/07/2004
Avaliado por: Conceito: