universidade candido mendes pÓs-graduaÇÃo … fraga da mata.pdf · professor, nos dias atuais é...

36
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO“LATU SENSO A ARTE DE SER PROFES SOR POR THAINÁ FRAGA DA MATA

Upload: duongxuyen

Post on 09-Dec-2018

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATU SENSO”

A ARTE DE SER PROFESSOR

POR

THAINÁ FRAGA DA MATA

2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

A ARTE DE SER PROFESSOR

OBJETIVOS:

Esta publicação atende a complementação

didático pedogógica de metodologia de

pesquisa e a produção e desenvolvimento

de monografia, para o curso de

pós-graduação, por Thainá Fraga da Mata

3

AGRADECIMENTOS

A professora Maria Esther, que com muita dedicação me orientou na construção do

presente objeto de estudo.

A minha família, que sempre me auxiliou nos momentos de dificuldades.

Aos meus amigos, tesouros mais preciosos que recebi de Deus, que direta ou

indiretamente me ajudaram.

Ao meu noivo Renato da Costa Rodrigues, que se manteve paciente em relação às

minhas ausências.

A Deus, aquele que me deu a vida e permitiu que eu pudesse concluir este curso de

Pós-graduação.

4

DEDICATÓRIA

Pra todos os educadores, professorandos

outras pessoas que desejam conhecer

entender um pouco como é a Arte de Ser

Professor.

5

RESUMO

Professor que profissional é esse? Qual o seu papel? Como está sua atuação e sua

formação?

Foi a partir dessas questões, que se iniciou o presente estudo bibliográfico, que tem

por objetivo, analisar e refletir sobre questões relacionadas à docência do professor e

levar o leitor a conhecer um pouco mais a fundo, que profissional é esse.

Outro tema que estarei analisando diz respeito ao papel na formação do

profissional, buscando refletir suas ações e avaliando também a sua postura dentro dessa

perspectiva.

Esta pesquisa ainda destaca a atuação do docente na sociedade, partilhando um

pouco do olhar de educadores.

Este estudo se finda, com uma discussão que se refere a como anda a sua formação

enquanto professor, de modo que nos leve a repensar o que se tem feito ou buscado para

ser um professor melhor e mais atualizado.

6

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 7

CAPÍTULO I - QUEM É ESSE PROFFISSIONAL? 9

CAPÍTULO II - QUAL O SEU PAPEL NA FORMAÇÃO DO

PROFISSIONAL? 12

CAPÍTULO III - COMO ESTÁ SUA ATUAÇÃO NA SOCIEDADE? 22

CAPÍTULO IV - COMO ESTÁ SUA FORMAÇÃO? 26

CONCLUSÃO 32

BIBLIOGRAFIA 33

7

INTRODUÇÃO

Ser professor é uma Arte e para exercer de forma significativa esta função, é

preciso ser um excelente artista.

Se pararmos um pouco para analisar como tudo acontecia antigamente, poderemos

nos deparar com alguns exemplos que merecem nossa atenção e nos farão refletir nossas

atitudes.

Voltando nos primórdios da cultura grega, podemos notar que já naquela época, o

professor se encontrava em uma posição de importância vital para o amadurecimento da

sociedade e a difusão da cultura.

As escolas de Sócrates, Platão e Aristóteles, demonstram a habilidade que tinham

os pensadores para discutir os elementos mais fundamentais da natureza humana. Não

perdiam tempo com conteúdos engessados. Discutiam o que era essencial. Sabiam o que

era essencial porque viviam da reflexão e a aula era o resultado de um profundo processo

de preparação.

Sócrates andava com seus alunos e ironizava a sociedade da época com o objetivo

de fazê- los pensar, de provocar-lhes a reflexão, o senso crítico. Não se conformava com a

arrogância de quem acreditava que tudo sabe e portanto, nada mais há que mereça ser

estudado ou refletido.

Olhando para o exemplo de Jesus, notamos como foi eficiente e eficaz em sua

missão.

Jesus Cristo, o maior de todos os mestres da humanidade, contava histórias,

parábolas e reunia multidões ao seu redor, fazendo uso da pedagogia do amor. Quem era

esse pregador que falava de forma tão convincente, ensinava sobre um novo reino e olhava

nos olhos com doçura e autoridade de um verdadeiro mestre? A multidão vinha de longe

para ouvi-lo falar, para aprender sobre esse novo reino e sobre o que seria preciso fazer

para alcançar a felicidade.

O grande mestre não precisava registrar as matérias, não se desesperava com

conteúdos a ser ministrado nem com a forma de avaliação, se havia muitos discípulos ou

não. Jesus sabia o que queria. Ele queria construir a civilização do amor. E assim navegava

em águas tranqüilas, na maré correta, com a autoridade de quem tem conhecimento, de

quem tem amor e de quem acredita na própria missão.

8

Sócrates e Cristo foram educadores e formaram pessoas melhores. Não há como

negar que os negar que os numerosos profetas ou simples contadores de história

conseguiram tocar e educar muito mais do que qualquer professor que sabia tudo o plano

curricular e tudo o que o aluno deve decorar para o aluno ser promovido.

Ninguém foi obrigado a seguir a Cristo, não havia lista de presença nem chamada, e

mesmo assim a multidão se encantava com seus ensinamentos. Ele tinha o que dizer e

acreditava no que dizia, por isso, foi tão marcante.

Meu intuito com este trabalho de pesquisa é contribuir com Professores ,

professorandos ou até mesmo aqueles que desejam descobrir um pouco sobre a “Arte se

der Professor”, convidando-os a refletirem sobre suas práticas, suas posturas e seu

aprimoramento no que diz respeito a educação.

Tenho também por objetivo, analisar e refletir sobre questões relacionadas à

docência do professor, suas funções e levar o leitor a conhecer um pouco mais que

profissional é esse.

Assim o estudo é organizado, inicialmente discutindo sobre quem é esse

profissional, prossegue com uma outra discussão voltada para o papel na formação do

profissional e como está sua atuação na sociedade e se finda trazendo também um pouco

de como anda a formação do docente.

Ao final será apresentada uma conclusão , afim de mostrar ao leitor que o professor

precisa acreditar no que diz e no que faz, precisa ter convicção em seus ensinamentos para

que o aluno também acreditem e se sintam envolvidos e precisa principalmente de preparo

para ir no rumo certo e alcançar os objetivos que almeja.

9

CAPÍTULO I

QUEM É ESSE PROFISSIONAL?

Segundo GADOTTI (1998), a postura do novo professor faz com que ele se

transforme em um profissional do encantamento, e ao dominar a arte de

reencantar, abre os olhos dos educandos para a capacidade de envolver-se e

mudar.

Refletindo sobre a citação acima, somos convidados a analisar se ser

professor hoje, é mais fácil ou mais difícil do que era a algum tempos atrás.

Analisando e pensando um pouco nesta questão, entendo que ser

professor, nos dias atuais é diferente. Diante dos novos paradigmas e com o

surgimento de novos desafios, fica cada vez maior a necessidade de reavaliar a

prática pedagógica e a atitude do profissional da educação.

Segundo GADOTTI, a visão que se tinha do professor, eram as imagens do

mestre, o consideravam como um herdeiro do escrivão (escriba), também

caracterizado como o legatário do monge. Era o “dono” do saber.

Infelizmente, ainda hoje, encontramos alguns profissionais que trazem

essas características rançosas e acreditam que é dessa mesma forma a qual

foram ensinados, que deverão ensinar.

Atualmente muito se discute, sobre que tipo de professor você é, que

metodologia você adota ou que linha teórica você segue. Porém, mesmo com

tanta diversidade de opiniões e com tantas propostas inovadoras, percebe-se que

boa parte dos docentes, continuam vestindo a “máscara de palestrantes”, como

cita PIMENTA (2002), em seu livro Docência em formação.

Diante de tudo isso, chego a conclusão de que ser professor hoje, para

alguns é bem fácil, pois só reproduzem falas de alguns teóricos, reaproveitam o

planejamento do ano anterior e ainda fazem questão de dar as mesmas “provas”,

que utilizaram em outros anos para diversificar um pouco. De modo que para

outros, é bem mais trabalhoso, por que requer pesquisa, um planejamento, e tudo

isso é bem mais trabalhosos.

Graças a evolução da mentalidade humana, alguns de nós docentes,

passamos a compreender e aceitar, que ninguém é professor de tudo. E quem se

10

acha professor de tudo, é professor de nada, ou seja, não é professor, não é um

bom professor.

Mais uma vez, somos convidados a pensar e até a voltar em nosso

passado, quando estudávamos e tínhamos professores altamente rigorosos e

ditadores e ao meu ver, cruéis castigos físicos.

Certamente você, assim como eu, passou por uma experiência dolorosa,

de ter que fazer tudo que lhe era imposto, sem questionar ou argumentar, pois

nós enquanto alunos, não tínhamos a liberdade de expor nossos sentimentos e

vontades. Aprendemos ou decoramos os conceitos que à nós foram depositados,

à base de “terrores psicológicos e reguadas”. Tivemos uma experiência escolar

sobre pressão, marcada por professores que nos deixaram marcas negativas.

Hoje em dia, não sofremos tantos “terrores físicos”, mas os psicológicos ainda

desmotivam e levam a evasão.

Entende-se que o bom professor, consequentemente, é aquele que é

capaz de estar sempre interagindo com o que se passa no mundo e se mantendo

atualizado em relação às inovações da sociedade, da cultura, da ciência, da

política e da essência da vida. Para isso o docente precisa buscar definição para

o que faz e proporcionar novos sentidos para o fazer dos seus alunos. Colocando-

se nessa postura, o professor deixará de ser um “lecionador repetidor” de

conceitos prontos e sem significado, para ser um organizador do conhecimento e

da aprendizagem.

Ao buscar novos caminhos como organizador do conhecimento e da

aprendizagem, o docente troca de lugar com o discente, passando a ser um

aprendiz permanente, um construtor do saber, buscando sempre planejar,

organizar o currículo, pesquisar, estabelecer estratégias para resolver problemas,

adotando uma “pedagogia problematizadora”.

É fato, que em suas tentativas e tropeços, um professor aprende, consegue

vitórias, supera seus fracassos e acaba adquirindo um saber por experiência.

Este é o grande lance para se ensinar com arte, com lógica, e com prazer.

Seja para a vida, ou para o trabalho, a arte de ensinar está em saber

ensinar o fundamental, utilizando a “pedagogia do afeto”, e ao fazê-lo com

dedicação e amor, de uma maneira inesquecível, interagindo, dialogando, chega-

11

se às experiências transformadoras, as experiências que deixam marcas

positivas.

Mas será que nós enquanto docentes, estamos tendo essa mesma

postura? Quantos discentes já passaram por nossas mãos e em quantos deles

deixamos marcas de grandes experiências transformadoras?

Será que alguns deles foram vítimas da falta de conhecimento por parte de

seus professores, com relação às novas propostas de ensino ou foram vítimas da

crueldade que sofremos quando fomos ensinados e hoje fazemos questão de

manter viva essa amarga experiência?

Devemos ter em mente sempre, que quem dá significado ao que

aprendemos é o contexto. Aprende-se o que é significativo para o plano de vida

de cada um individualmente.

A educação, para ser transformadora e emancipatória, precisa estar

centrada na vida. E como GADOTTI (1998) já dizia, é reconhecendo o aluno

como sujeito de sua aprendizagem e interagindo com ele, é que estabelecemos

uma relação afirmativa.

Essa afirmação do homem como sujeito de sua própria história, comprova

que ninguém se realiza sozinho, nós nos realizamos no encontro e nas

interações, e descobrimos novas formas de encantamentos nas novas

experiências.

Cabe a nós professores respondermos ou pensarmos em algumas

questões importantes: Quem sou eu enquanto professor na Arte de ensinar? E

quem é você? O que fizemos e o que fazemos diariamente nos nossos encontros

e nas nossas interações com o nosso grupo? Será que estamos orientando o vôo

como nos sugere FREIRE (1996) ou estamos cortando asas e empurrando

penhasco à baixo os nossos futuros colegas profissionais?

Estamos no século XXI e será realmente que estamos acompanhando as

mudanças, as novas proposta ou continuamos vivendo ainda no passado?

Estamos nos deixando levar pelo mais prático ou estamos buscando nos reciclar

e enriquecer o nosso conhecimento afim de partilhá-lo com os nossos alunos?

Nessa rede chamada educação, tecida por várias mãos, com alguns nós,

buracos, ou até pontos falsos, que profissional é você?

12

CAPÍTULO II

QUAL O SEU PAPEL NA FORMAÇÃO DO PROFISSIONAL?

A influência dos pais no desenvolvimento da personalidade dos filhos é

incontestável, já que há tempos vem sendo objeto de discussões, estudos e

teorias. Mas o que podemos dizer do papel do professor? Sua influência sobre o

desenvolvimento da personalidade do aluno é relevante?

A resposta é sim. O professor exerce função não menos importante do que

a dos pais no desenvolvimento da personalidade.

Se pensarmos um pouco lá onde tudo começa, na infância, perceberemos

o quanto o professor tem um papel importante nas primeiras fases escolares de

ensino e como ela irá refletir na educação do jovem ou do adulto universitário.

Sabe-se que é ao longo da infância, a criança vai lentamente lutando pela

liberdade de sua consciência individual. Nesta luta, a escola exerce um papel

fundamental por ser o primeiro ambiente que a criança encontra fora da família e

neste ambiente é inevitável que os companheiros substituam os irmãos, o

professor o pai, a professora a mãe.

O professor deverá estar consciente deste papel e da sua importância.

Deverá entender que sua tarefa não é apenas inserir na cabeça das crianças um

número crescente de ensinamentos e sim, antes de tudo, exercer certa influência

sobre a personalidade, como um todo.

A atuação do professor sobre a personalidade da criança é, em alguns

casos, mais importante do que as atividades curriculares. Visto desta maneira, o

professor é a ponte mais importante da passagem do mundo infantil para o

mundo adulto, pois junto com os pais, os professores são responsáveis pelo

encorajamento ao crescimento e independência das crianças.

Ouvimos muitas vezes que o adolescente está destinado para o mundo e

não para permanecer agarrado a seus pais. Mas como introduzir este jovem no

mundo adulto de maneira segura e sem traumas?

Tanto professor de séries iniciais quanto um professor universitário, tem aí

o centro de sua função social, porém como personalidade e não como um mero

transmissor de conhecimento. A tarefa é difícil. Por isso o professor deve estar

13

preparado psicologicamente para exercer plenamente suas funções com

responsabilidade e harmonia.

Entendo que o professor deverá antes e mais nada ser um cidadão que

cumpre seus deveres e como tal, deverá ser uma pessoa correta e sadia. O bom

exemplo é o melhor método de ensino, uma vez que ocorre espontaneamente e

inconscientemente, onde a personalidade do professor se sobrepõe ao método

adotado.

Se o professor estiver psicologicamente sadio e entender que sua função

no mundo vai além de simplesmente encher as cabeças das crianças com

matérias e mais matérias, certamente iremos ter crianças, jovens e adultos mais

saudáveis, ou melhor, vamos ter adultos de verdade, preocupados com si

mesmos e com os outros, respeitando-se mutuamente e com um bom

desempenho universitário.

Neste sentido, se os professores se preocupassem com sua própria

educação psicológica, o benefício seria revertido indiretamente na educação da

criança ou do adulto.

A educação do adulto referida acima está ligada diretamente ao seu

autoconhecimento e este se dá com a análise profunda de seus sentimentos

como os medos, temores, incertezas, raiva, etc.

Não podemos varrer sentimentos que nos perturbem para baixo do tapete,

pois cedo ou tarde esta “sujeira” acumulada invadirá nossas vidas nos momentos

menos adequados e aí, nos farão estagnar diante dela.

O docente é o grande agente do processo educacional. A alma de qualquer

instituição de ensino é o professor. Por mais que as escolas ou universidades

invista na equipagem de seus laboratórios, bibliotecas, anfiteatros, quadras

esportivas, piscinas, campos de futebol, sem negar a importância de todo esse

instrumental, tudo isso não são mais do que aspectos materiais se comparados

ao papel e à importância do professor.

Ser professor é ter luz própria e caminhar com os próprios pés. Não é

possível que ele pregue a autonomia sem ser autônomo; que fale de liberdade

sem experimentar a conquista da independência que é o saber; que queira que

seu aluno seja feliz sem demonstrar afeto. E para que possa transmitir afeto é

14

preciso que sinta afeto, que viva o afeto, pois ninguém dá o que não tem. O copo

só transborda quando está cheio;

O mestre tem de transbordar afeto, cumplicidade, participação no sucesso,

na conquista de seu educando; o mestre tem de ser o referencial, o líder, o

interventor seguro, capaz de auxiliar o aluno em seus sonhos, seus projetos.

Entendo que esse seja um dos principais papéis do professor.

O docente que se busca construir é aquele que consiga de verdade ser um

educador, que conheça o universo do educando, que tenha bom senso, que

permita e proporcione o desenvolvimento da autonomia de seus alunos. Que

tenha entusiasmo e paixão por sua docência, que vibre com as conquistas de

cada um de seus alunos, não descriminando ninguém, que também não se

mostre mais próximo de alguns, deixando os outros à deriva e principalmente, que

seja politicamente participativo, que suas opiniões possam ter sentido para os

alunos, sabendo sempre que ele é um líder que tem nas mãos a responsabilidade

de conduzir um processo de crescimento humano, de formação de cidadãos, de

novos líderes.

Aos meus olho é quase impossível acreditar alguém possa se tornar um

professor perfeito, aliás aquele que se acha perfeito, e que nada mais tem a

aprender, acaba de transformando num grande risco para a comunidade

educativa, pois se tornará um “ignorante” dos novos conhecimentos.

E no mundo do conhecimento não existe o ponto estático, ou se está em

crescimento, ou em queda. Aquele que se considera perfeito estará sempre em

queda livre, porque será incapaz de rever seus métodos, de ouvir outras idéias,

de tentar ser melhor.

A grande responsabilidade para a construção de uma educação cidadã

está nas mãos do professor. Por mais que o diretor ou o coordenador pedagógico

tenham boa intenção, nenhum projeto será eficiente se não for aceito e

principalmente abraçado pelos professores, porque é com eles que os alunos têm

maior contato.

Vejamos o que diz o artigo 13 da LDB sobre a função dos professores:

15

“Artigo 13 - Os docentes incumbir-se-ão de:

I. participar da elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento

de ensino;

II. elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a proposta pedagógica

do estabelecimento de ensino;

III. zelar pela aprendizagem dos alunos;

IV. estabelecer estratégias de recuperação dos alunos de menor

rendimento;

V. ministrar os dias letivos e horas- aula estabelecidos, além de participar

integralmente dos períodos dedicados ao planejamento, à avaliação e ao

desenvolvimento profissional;

VI. colaborar com as atividades de articulação da escola com as famílias

e a comunidade. “

Nota-se que o papel do professor, segundo a LDB, está muito além da

simples transmissão de informações. Dentro do conceito de uma gestão

democrática, ele participa da elaboração da proposta pedagógica do

estabelecimento de ensino, isto é, decide solidariamente com a comunidade

educativa o perfil de aluno que se quer formar, os objetivos a seguir, as metas a

alcançar. E isso não apenas no tocante a sua matéria mas toda a proposta

pedagógica.

A LDB discorre sobre a elaboração e o cumprimento do plano de trabalho,

trazendo à tona a organização do professor e a objetividade no exercício de sua

função. A respeito da aprendizagem dos alunos, fala em zelo no sentido de

acompanhamento dessa aprendizagem, que se dá de forma heterogênea,

individual.

Zelar é mais do que avaliar, é preocupar-se, comprometer-se, buscar as

causas que dificultam o processo de aprendizagem e insistir em outros

mecanismos que possam recuperar os alunos que apresentem alguma espécie

de bloqueio para o aprendizado.

16

O professor só conseguirá fazer com que o aluno aprenda se ele próprio

continuar a aprender. A aprendizagem do aluno é, indiscutível e diretamente

proporcional à capacidade de aprendizado dos professores. Essa mudança de

paradigma faz com que o professor não seja o repassador de conhecimento, mas

orientador, aquele que zela pelo desenvolvimento das habilidades de seus alunos.

Não se admite mais um professor mal formado ou que pare de estudar.

O artigo termina falando da colaboração do professor nas atividades de

articulação da escola, com as famílias e a comunidade. Aliás, para que o

processo de aprendizagem seja eficiente, os fatores sociais precisam participar e

essa articulação é imprescindível.

A parceria escola/família, escola/comunidade é vital para o sucesso do

educando. Sem ela a já difícil compreensão do mundo por parte do aluno se torna

cada vez mais complexa. Juntas, sem delegar responsabilidades, a família, a

escola, a comunidade podem significar um avanço efetivo nesse novo conceito

educacional: a formação do cidadão.

O professor que não prepara as aulas desrespeita os alunos e o próprio

ofício. É como um médico que entra no centro cirúrgico sem saber o que vai fazer

e sem instrumentação adequada. Tudo na vida exige uma preparação.

Uma aula preparada, organizada, com o conteúdo refletido muito

provavelmente será bem sucedida. Aula previamente preparada não significa aula

engessada: não lhe dará o direito de falar compulsivamente, sem permitir

intervenção do aluno, não dialogar com a vida, não dar ensejo a dúvidas; o

professor não deixará de discutir outros temas que surgirem apenas porque tem

que cumprir o roteiro de aula que preparou. Pode até ocorrer que ele dê uma aula

diferente daquela que planejou, mas isso é enriquecedor.

Preparação é planejamento. Muitos professores fazem o planejamento do início

do ano de qualquer maneira, apenas para cumprir exigências formais. É

lamentável. Se o professor investir tempo refletindo cada item de seu

planejamento, sem dúvida terá muito menos trabalho durante o ano para o

cumprimento de seus objetivos porque planejou, sabe onde quer chegar, sabe o

tipo de habilidade que precisa ser trabalhada e como avaliar o processo do aluno.

17

Até que ponto o professor é responsável por esse processo, por essa re-

reflexão? Qual o seu papel e o seu compromisso? Propomos refletir esse papel à

luz da pedagogia construtivista, que reúne em sua fundamentação o perfil

pedagógico de Rogers, Piaget, Vygostky, Freire, Gadotti, Giussani e outros.

Segundo o humanista Carl Rogers (1978), o professor deve ser autêntico,

paciente, compreensivo e empático. Rogers preocupa-se com o aspecto humano

na relação professor- aprendente, pois o amor (o afeto do professor) é a base que

dá suporte à aprendizagem, isto é, à re-flexão.

As pesquisas atuais de Gollerman, autor do best-seller "Inteligência

Emocional", mostram que as emoções realmente são muito importantes. O mundo

hoje está necessitando mais das pessoas equilibradas emocionalmente do que de

pessoas com alto nível intelectual. É necessário até uma "alfabetização" das

emoções (Celso Antunes).

Sem dúvida alguma, o "clima" da sala de aula, onde passa grande parte do

seu dia, contribui muito para "formá-lo" emocionalmente.

Piaget, Vygotesky, Freire, Gadotti e Giussani consideram a vivência daquilo

que o meio pode oferecer como uma interação com o sujeito, a fim de que este

possa "construir o seu conhecimento", o que realmente dá sentido ao aprendido.

Na Universidade e na sala de aula, quem melhor representa esse meio de

forma sistematizada nos programas, nas estratégias, é, sem dúvida alguma, o

professor. E então, surge o papel do "profissional do ensino" que deve

sistematizar para o estudante os conteúdos, preparar as vivências, comunicar,

ouvir, interagir, proporcionando, enfim, o apregoado desenvolvimento, ou seja, a

aprendizagem do aprendente.

Para desempenhar adequadamente esse importante papel, o professor,

como os demais profissionais da época atual, não pode ser acomodado, alguém

que já considere ter chegado ao máximo em sua sabedoria. Pelo contrário, deve

estar sempre "insatisfeito" com o seu trabalho no sentido de que sinta que há

sempre algo a mais a fazer. Há muito que aprender...deve ser usado, no sentido

de fazer tentativas, experimentos de novos procedimentos. Enfim, deve sempre

procurar aperfeiçoar o seu trabalho, lendo jornais, revistas especializadas, novos

18

livros, para fazer da sala de aula suas conquistas e pesquisas... Comparamos a

função do professor à de um garimpeiro.

É educativa a postura do professor como um garimpeiro do ensino, como

alguém que não tem métodos ou processos definitivos, mas alguém que está

sempre procurando uma forma melhor de exercer o seu trabalho, contando

mesmo com a parceria dos estudantes, pois, passa para o aprendente o conceito

verdadeiro da avaliação, visando um aperfeiçoamento contínuo, e a atitude de

busca, de procura de novas soluções, tão importantes no mundo atual.

Tudo isso só ira acontecer quando os professores universitários dominarem

,alem dos conteúdos que irão ensinar, também as Metodologias do Ensino-a

Didática. Nenhum resultado de aprendizagem irá ocorrer se os professores

saibam o que ensinar mas continuarem a ignorar como ensinar. Enquanto para

ensinar no segundo grau é exigido diploma de curso superior em educação, do

professor universitário basta o Mestrado ou Doutoramento para transforma-lo em

professor. Mas em qualquer programa de pós graduação strictu sensu não é

incluída qualquer disciplina de metodologia do ensino. E nesses programas está

incluído uma área de metodologia da pesquisa. E isso está coerente com os

objetivos do pós graduação dirigidos para introduzir os alunos no campo da

pesquisa cientifica. Temos portanto uma situação esdrúxula: para o segundo grau

é exigido um profissional do ensino e para a universidade é exigido um

pesquisador mas um amador do ensino. Não faz parte deste artigo discutir como

poderia ser viabilizada essa capacitação dos professores universitários ,mas

podemos afirmar que não só há vasta literatura a respeito como muitas

experiências no Brasil e no exterior focalizando modelos viáveis e já testados.

Qual o perfil desejado do homem para o século XXI? Autores como Toffler,

em sua obra intitulada "Criando uma nova civilização... a política da terceira

onda", delineiam um perfil de homem flexível, criativo, rápido em suas decisões,

comunicativo e capaz de enfrentar situações inesperadas... O professor, como

formador desse ser para o futuro, não poderá ser diferente. Essa é a razão pela

qual não acreditamos em métodos prontos, acabados, em formas de planejar e

avaliar padronizadas e imutáveis.

19

Como professor, devemos ser continuamente reflexivos, a fim de

detectarmos novos procedimentos, novas maneiras de fazermos o que sempre

fizemos. Quem nos indicará os caminhos, senão o contexto, a situação do dia – a

- dia, as trocas com os próprios profissionais e com os outros aprendentes?

Giussani (2000) afirma que o objetivo da educação é o de formar um

homem novo; portanto, os fatores ativos da educação devem tender a fazer com

que o educando aja cada vez mais por si próprio, e sempre mais por si enfrente o

ambiente. É preciso então, de um lado, colocá-lo contentemente em contato com

todos os fatores do ambiente; de outro, deixar-lhe a responsabilidade da escolha,

seguindo uma linha evolutiva determinada pela consciência de que o aprendente

deverá chegar a ser capaz de, perante qualquer situação, "agir por si".

Precisamos quebrar alguns paradigmas e refletirmos sobre a necessidade

de compreender a crise e o diálogo no processo ensino- aprendizagem. "Crise" e

"crítica" não coincidem com dúvida e negação. Quando se pensa numa

"sociedade nova", o grave perigo no qual se pode cair é imaginá-la como algo

totalmente novo, onde a novidade é identificada com o diferente e o futuro com a

eliminação do passado. É exatamente contra esse perigo gravíssimo que paira

sobre os jovens, por tentação, e sobre muitíssimos adultos, por política, que se

pode utilizar a palavra "crise".

Infelizmente, na nossa mentalidade, a palavra crise (do grego "crino",

peneirar) normalmente é entendida de forma duvidosa e negativa, como se crise e

crítica coincidissem automaticamente com negação, e, por causa disso, de fato, a

crítica é concebida como motivo de escândalo, como busca de motivos para fazer

acusação e de realidade para opor alguma coisa. Evidentemente esse é um

conceito "míope" de crise, de crítica.

Pelo contrário, antes de qualquer coisa, a crítica é a expressão da

genialidade humana que está em nós, uma genialidade totalmente voltada a

descobrir o ser, a descobrir os valores. Basta acrescentar um mínimo de

sinceridade, basta acrescentar o equilíbrio realista, e a afirmação dos valores

descobertos, que implicará com clareza também os seus limites.

A palavra crise está muito mais ligada a uma outra palavra, à palavra

problema: não "dúvida", mas "problema", que na sua etimologia grega indica-nos

20

a postura fundamental que o acadêmico deve assumir para construir uma

sociedade de sentido, de afeto, de comunhão. Com efeito, a palavra problema

significa colocar algo na frente dos olhos. Cada um de nós nasce com um

complexo de dons, que uma magnífica palavra resume (outra palavra cuja

etimologia nos permite perceber sua beleza), a palavra "tradição".

Segundo Giussani (2000, p.76), nenhum de nós existia. Portanto, cada um

de nós é formulado por um fato anterior, por um complexo que o constitui, que o

plasma. A palavra problema se refere a esse fenômeno fundamental para uma

verdadeira novidade na existência de cada um de nós e na vida do cosmo

humano. A tradição, o dom com o qual a existência nos enriquece ao nascermos

e no nosso primeiro desenvolvimento, deve ser colocada diante dos olhos; e a

pessoa, na medida em que é viva e inteligente, "peneira", avalia e examina

(crinei). A tradição deve "entrar em crise", deve se tornar problema. Crise

significa, então, tomada de consciência da realidade pela qual nós nos sentimos

formulados.

Se estivéssemos totalmente isolados do mundo, dos outros homens, se

uma pessoa fosse totalmente só, absolutamente sozinha, não encontraria

novidade alguma. A novidade acontece sempre pelo encontro com o Outro; é a

regra da qual nasceu a vida: nós existimos porque Outros nos deram a vida.

Uma semente sozinha não cresce; mas se for colocada em condições de

ser solicitada por outra, então se liberta. O Outro é essencial para que a minha

existência se desenvolva, para que aquilo que eu sou se torne dinamismo e vida.

Essa relação com o "Outro", seja ele quem for ou como for, é dialógica.

O professor: um ser de crise- sentido. Não podemos perder o sentido do que

fazemos. Ensinar vem do latim insignare, que significa 'marcar com um sinal',

indicar um caminho, um sentido. Somos essencialmente profissionais do sentido.

Educamos, quando ensinamos com sentido. Educar é impregnar de sentido a

vida.

A profissão docente está centrada na vida, no bem querer. Muitos

acadêmicos chegam hoje à universidade, muitas vezes, sem saber por que estão

aí. Não vêem sentido no que estão aprendendo. Querem saber, mas não querem

aprender o que lhes é ensinado. E aí entra o papel do professor: construir sentido,

21

transformar o obrigatório em prazeroso, selecionar criticamente o que devemos

aprender, numa era de impregnação de informações. Motivar os alunos é

obrigação do professor; fazer que eles compreendam a utilidade e importância do

que estão estudando é também tarefa do professor.

Ser professor hoje (Gadotti, 2004, p.21) é viver intensamente o seu tempo,

com consciência e sensibilidade. Não se pode imaginar um futuro para a

humanidade sem professor. Eles não só transformam a informação em

conhecimento e em consciência crítica, mas também formam pessoas. Eles

fazem fluir o saber, porque constróem sentido para a vida dos seres humanos e

para a humanidade, e buscam, numa visão emancipadora, um mundo mais

humanizado, mais produtivo e mais saudável para a coletividade. Por isso eles

são imprescindíveis.

Nesta descrição do que deva ser o professor do século XXI, não tem mais

espaço para professores donos de um saber mas só aqueles que tenham a

humildade de ser também eles aprendizes e a única diferença que os separa de

seus alunos é que eles professores são profissionais do ensino e por isso

comprometidos com o aprender e o ensinar

22

CAPÍTULO III

COMO ESTÁ SUA ATUAÇÃO NA SOCIEDADE?

Falar do papel de educadores e educadoras na sociedade atual demanda

entender como esse foi se construindo através do caminhar da educação

brasileira. Segundo Gadotti (1998 ), os cursos de formação de professores,

mais especificamente o curso de pedagogia, é regulametado no Brasil em

1969 no período da ditadura militar, fato este que remete a pensar em um

educador passivo, apolítico, técnico sem preocupações sociopolíticas, com um

agir totalmente desvinculado da realidade na qual se inseria. Dessa forma,

oferece habilidades para supervisão, orientação, administração, inspeção e

planejamento com conotações totalmente tecnicistas, apoiada no treinamento

desses profissionais para atuarem nas escolas com toda a objetividade

possível.

Enter a forma que o curso de Pedagogia foi regulamentado no Brasil se

faz necessário a compreensão de como essa mentalidade, mesmo que de

forma implícita, ainda permeia o agir de educadores e educadoras no

momento atual, pois, como nos aponta Sany Rosa (2000), a formação do

profissional da educação não se inicia, ao contrário do que se imagina, quando

esse ingressa em um curso de formação de professores, mas sim desde o

primeiro dia em que ingressa na escola como aluno. Suas representações e

significados de educação, vivificados enquanto estudantes, são muito mais

influenciadas pela sua vivência escolar do que com as teorias que venham a

entrar em contato em sua formação acadêmica.

Sendo que grande parte dos educadores e educadoras que se encontram

em sala de aula atualmente passou por todo esse sistema repressivo da

ditadura militar e foram alunos de professores e professoras que trabalhavam

sobre a égide desse momento histórico, se Sany Rosa tem razão, necessitam

23

sempre refletir, questionar e rever sua prática pedagógica para não cair em um

ciclo vicioso de reprodução dessa ação castradora. Para Gadotti (1998, p.71) o

profissional da educação precisa ser desrespeitoso para questionar a realidade

que a ele se apresenta para então promover mudanças sociais. Explicando

melhor, apoia-se nas palavras do autor:

“É preciso ser desrespeitoso, inicialmente, consigo mesmo, com a pretensa

imagem do homem educado, do sábio ou mestre. E é preciso desrespeitar

também esses monumentos da pedagogia, da teoria da educação, não porque

não sejam monumentos, mas porque é praticando o desrespeito a eles que

descobriremos o que neles podemos amar e o que devemos odiar. [...]. Nessas

circunstâncias, o educador tem a chance de repensar o seu estatuto e repensar a

própria educação. O educador, ao repensar a educação, repensa também a

sociedade. “

Desrespeitar, no enfoque de Gadotti, pode ser entendido como questionar.

Educadores e educadoras precisam constantemente repensar e revisitar suas

crenças mais intrínsecas sobre a representação que têm de educação, pois, de

acordo com Paulo Freire, que já proclamava desde os anos 60, e de acordo com

Gadotti (1998, p.72), a educação não é neutra. Ou se educa para o silêncio, para

a submissão, ou com o intuito de dar a palavra, de não deixar calar as angústias e

a necessidade daqueles que estão sob a responsabilidade, mesmo que

temporária, de educadores e educadoras nos âmbitos escolares. Sendo assim,

métodos e técnicas precisam ser secundarizados na discussão sobre a educação,

o que se deve atentar prioritariamente é sobre a vinculação «entre o ato

educativo, o ato político e o ato produtivo».

Nesse prisma, professores e professoras têm um papel sobretudo político e

precisam problematizar a educação, buscando o porquê e o para quê do ato

educativo; mais que isso, sua tarefa é a de quem incomoda, de quem evidencia e

trabalha o conflito, não o conflito pelo conflito, mas o conflito para sua superação

dialética.

No entanto, pergunta-se, até que ponto pode-se dizer que esse fazer

dialético, problematizador, está presente no cotidiano escolar? Estão nossos

24

professores e professoras, problematizando as questões, ou continuam se

calando diante das injustiças? Trabalham para quem? A favor de quem?

Estabelecem uma relação dialógica com o saber, buscando uma sociedade

democrática e coletiva, ou reproduzem a lógica do sistema no interior das escolas

através de seleções, de exclusões, de estímulo à individualidade e à

competitividade?

Gadotti (1998, p. 74) entende que não há uma educação tão somente

reprodutora do sistema e nem uma educação tão somente transformadora desse

sistema. Essas duas tendências coexistem no plano educacional numa

perspectiva dialética e conflituosa. Sendo assim:

“[...] há uma contradição interna na educação, própria da sua natureza,

entre a necessidade de transmissão de uma cultura existente – que é a

tarefa conservadora da educação – e a necessidade de criação de uma

nova cultura, sua tarefa revolucionária. O que ocorre numa sociedade dada

é que uma das duas tendências é sempre dominante. “

Sendo assim, o papel dos profissionais da educação necessita ser

repensado. Esses não podem mais agir de forma neutra nessa sociedade do

conflito, não pode ser ausente apoiando-se apenas nos conteúdos, métodos e

técnicas; não pode mais ser omisso, pois os alunos pedem uma posição

desses profissionais sobre os problemas sociais, não com o intuito de

inculcação ideológica de suas crenças, mas como alguém que tem opinião

formada sobre os assuntos mais emergentes e que está disposto ao diálogo,

ao conflito, à problematização do seu saber.

Atualmente não se pode mais apoiar-se em teses que apregoam que a

educação não pode mudar enquanto não houver mudanças estruturais no

sistema. Faz-se necessário acreditar, com Gadotti, que, apesar da educação não

poder sozinha transformar a sociedade em questão, nenhuma mudança estrutural

pode acontecer sem a sua contribuição. A transformação social, que muitos

almejam para uma sociedade mais justa, com menos desigualdades, onde todos

tenham voz e vez, só será possível a partir do momento que se evidenciem os

conflitos, não tentando escondê-los ou minimizá-los, mas que os tragam à tona,

25

para que assim a educação não contribua como mecanismo de opressão,

buscando a superação .

26

CAPÍTULO IV

COMO ESTÁ SUA FORMAÇÃO?

A formação é um fator fundamental para o professor. Não apenas a

graduação universitária ou a pós-graduação, mas a formação continuada, ampla,

as atualizações e os aperfeiçoamentos. Não basta que um professor de

matemática conheça profundamente a matéria, ele precisa entender de

psicologia, pedagogia, linguagem, sexualidade, infância, adolescência, sonho,

afeto, vida. Não basta que o professor de geografia conheça bem sua área e

consiga dialogar com áreas afins como história; ele precisa entender de ética,

política, amor, projetos, família. Não se pode compartimentar o conhecimento e

contentar-se com bons especialistas em cada uma das áreas.

Para que um professor desempenhe com maestria a aula na matéria de sua

especialidade, ele precisa conhecer as demais matérias, os temas transversais

que devem perpassar todas elas e, acima de tudo, conhecer o aluno. Tudo o que

diz respeito ao aluno deve ser de interesse do professor. Ninguém ama o que não

conhece, e o aluno precisa ser amado! E o professor é capaz de fazer isso.

Para quem teve uma formação rígida, é difícil expressar os sentimentos;

há pessoas que não conseguem elogiar, que não conseguem abraçar, que

não conseguem sorrir. O professor tem de quebrar essas barreiras e trabalhar

suas limitações e as dos alunos.

Não há como separar o ser humano profissional do ser humano

pessoal. Certamente o professor, como qualquer pessoa, terá seus problemas

pessoais, chegará à escola mais sisudo que o habitual e terá mais dificuldade

em desempenhar seu trabalho em sala de aula. Os alunos notarão a diferença

e a eventual impaciência do professor nesse dia, mas eles não sabem os

motivos da sisudez do mestre e podem interpretar erroneamente. Exatamente

por isso é preciso cuidar para que contrariedades pessoais não venham à

tona, causando mágoas e ressentimentos.

Ao enfrentar problemas de ordem pessoal o professor deve procurar o

melhor meio para sair do estado de espírito sombrio e poder desempenhar seu

27

trabalho com serenidade. A leitura dos clássicos, o contato com a arte, com a

natureza, uma boa terapia, uma reflexão mais profunda sobre a contrariedade

por que se está passando pode ajudar muito.

Ninguém é mau em essência, como já dissemos, mas um professor

descontrolado deve rever seu comportamento sob pena de ser mal

interpretado por seus alunos.

Sabe-se que a dificuldade financeira é um obstáculo para a maior parte

dos professores deste país, mas não pode servir de desculpa. Nesse caso,

ficam as alternativas mais em conta ou programas culturais gratuitos, visitas

às bibliotecas públicas, palestras, seminários e outros.

Não se trata de ignorar a lamentável situação em que se encontram os

professores no que diz respeito aos patamares salariais. Essa classe vem

sendo tratada com desrespeito pela grande maioria dos administradores

públicos do país. Para obras de cimento e cal sempre há dinheiro, para um

salário digno de quem forma o cidadão brasileiro não há verbas.

É triste, incompreensível, mas aceitável pois antes pouco a nada.

para a negligência ou para a impaciência. O professor tem o direito

constitucional de fazer greve e ninguém pode deixar de respeitá-lo por isso,

mas não tem o direito de ser negligente, incompetente, displicente, porque o

aluno não tem culpa. Se o problema é com os administradores, eles é que

devem ser enfrentados. É melhor entrar em greve, com todos os problemas

decorrentes disso, do que dar uma aula sem alma apenas porque não se

ganha o suficiente.

Durante a sua formação os professores não são preparados para a

função social que devem desempenhar na sociedade por isso não podem ser

agentes de mudança. O fato de muitos deles não terem sido preparados para

serem professores, estando nesta profissão de passagem constitui um

obstáculo para serem agentes de mudança.

28

A formação tanto inicial como a permanente constituem espaços

importantes para a descoberta dos valores e da função do professor na

relação entre a escola e a comunidade.

A escola e/ou os professores possuem seus próprios valores que são

reforçados ou não pelos valores trazidos pela comunidade local através dos

pais e dos alunos.

Os valores dos pais pertencentes às classes privilegiadas influenciam

mais aos professores que aos pais das classes baixas. Os valores

professados pelos professores de modo geral coincidem com os valores da

escola devido à formação que esses receberam e devido ao seu status de

professor. Em geral, os professores procuram estar de acordo com os

objetivos educacionais.

Depois de termos analisado os fatores acima apresentados, referentes

aos aspectos que influenciam o professor enquanto agente de mudança,

concordamos com muitos deles mas alguns nos deixaram certos

questionamentos.

Quanto ao estrato social de origem do professor concordamos o fato de

que o professor que atingiu o nível social alto graças à escola, possa

considerá-lo como um elemento de mudança. É possível que haja professores

que não queiram ser atingidos no seu nível social pelos alunos, por isso criam

dificuldades em fazer da escola um elemento de mudança. É de notar que no

nosso contexto atual existem professores dos dois tipos, mas grande parte dos

nossos professores não têm em mente o aspecto inovador que a escola

possui, no exercício das suas funções.

Quanto às motivações da escolha da profissão docente encontramos os

dois tipos - intrínsecas e extrínsecas - mas a maior parte dos nossos

professores parece ter motivações extrínsecas pois muitos deles valorizam

mais a questão salarial. São gente que vem de outros setores estranhos à

educação e/ou não tem preparação psico- pedagógica e não são motivados

29

por valores humanistas ou por uma filosofia que visa a sua realização pessoal

e a realização dos seus destinatários

Analisando a formação profissional, notamos que é verdade que muitos

professores não estão preparados para serem agentes de mudança, mas há

professores que apesar dessa deficiência lutam por fazer da escola um fator

transformador da sociedade.

No concernente ao conflito entre os valores presentes na escola,

podemos dizer que ele existe de fato nas nossas escolas. Os valores da

escola, que são geralmente humanistas, coincidem com os valores da

sociedade. A colisão tem existido entre estes e valores ou seja anti- valores

professados por certos professores. Para evitar que haja a existência de

conflitos e para fazer com que a escola seja relevante é preciso que se crie um

ambiente educativo favorável. Ambiente tal deve ser resultado do pensar da

comunidade, dos alunos, e dos próprios educacionistas. Os professores

devem identificar-se com os valores que a escola professa. E deste modo eles

serão agentes de mudança.

O professor é o agente socializador por excelência, pois é ele o

mandatado pela sociedade para transmitir os valores às gerações recém

chegadas. Para ser um agente de mudança deverá mudar a sua atitude

passando a interagir com o aluno. Os alunos, para além de serem

socializados, são também socializadores pois obrigam o professor a pensar

doutro jeito. Se professores e alunos pensarem e trabalharem juntos,

alimentam a sociedade com novos valores. O seu pensar e o seu agir far-se-

ão sentir no meio social. O ambiente vivido na sala de aulas e na escola será o

modelo de vida social, porque o aluno estará treinado a viver num ambiente de

partilha, de tolerância e convivência pacífica com os outros.

O professor como agente de mudança, para além de transmitir de uma

forma sistemática, a cultura e o conhecimento guardados através das

gerações; para além de se centrar no aluno e nas suas necessidades

específicas; e para além de centrar o seu ensinamento em questões sociais,

30

deverá conjugar todos esses elementos. Assim, preocupar-se-á em dar

matérias sistematizadas, a alunos com necessidades específicas e tendo em

conta os problemas da comunidade local.

Os professores e fazedores de educação devem adaptar-se à

modernidade. Como educadores, baseados nos valores sócio- culturais,

deverão aprender a aprender com os alunos, e juntos criar uma sociedade

democrática onde cada um dá o seu contributo para o desenvolvimento do

saber. Deste modo a escola não será somente um lugar onde os alunos são

informados daquilo que já se sabe, mas sim um lugar onde se produzem e

desenvolvem novos conhecimentos que serão úteis para a sociedade em

geral.

Para terminar, podemos dizer que o aluno traz consigo uma história de

vida, modos de viver e experiências culturais que devem ser valorizados,

organizados e acompanhados pelo professor no exercício da sua carreira.

Essa valorização dá-se a partir do momento em que o professor dá ao aluno a

oportunidade de decidir, opinar, debater, construir a sua autonomia e o seu

comprometimento social, identificando-se com aquele que usufrui e produz a

cultura no exercício da sua cidadania.

O professor agente de mudança é essencialmente aquele que faz com

que o aluno adquira competências sociais e profissionais que o ajudarão no

seu viver cotidiano; Ele ensina-o a aprender a aprender por toda a vida. O

professor auxiliará o aluno na coleta da informação, na análise crítica e na

elaboração do conhecimento. Assim, o saber conhecer, o saber fazer, saber

ser e saber viver com os outros serão atingidos nesta caminhada, da qual a

escola é uma das grandes passagens, mas não a única porque a educação é

um percurso a fazer durante toda a vida .

A formação do professor vai interferir diretamente em todo esse

processo. Um professor que não busca uma reciclagem constante, não busca

estar atualizado, ou não se interessa em conhecer um pouco mais de seu

aluno, certamente contribuirá com o fracasso dos mesmos.

31

Ainda que a sociedade desvalorize esta profissão e ainda que

governantes não reconheçam verdadeiramente o papel do professor, é preciso

buscar dentro de si garras para que se possa mudar o pensamento daqueles

que “estão nas nossa mãos”, para que futuramente também eles possam

mudar o pensamento da sociedade.

32

CONCLUSÃO

Acredito que a educação seja um espaço de descobertas tanto para o

docente quanto para o discente. A colaboração ativa de um com o outro,

possibilitará a construção de sujeitos mais autônomos e mais cooperativos.

Por este motivo, este trabalho de pesquisa traça novos caminhos, a fim de

que possamos juntos, abrir novos caminhos, conhecer o desconhecido, revelar

potencialidades.

A arte de ser professor, vem mostrar através de vários olhares, como é ser

professor em meio a uma sociedade que não reconhece muito sua importância e

também não o valoriza.

Através desse estudo você conheceu um pouquinho de quem é esse

profissional, qual é o seu papel na formação de outros profissionais, como está

sua atuação na sociedade e o que se tem feito para contribuir com a sua

formação.

Creio ter contribuído para que se tenha um novo entendimento sobre a

“Arte de Ser Professor” e acredito que tudo pode mudar se essa for a real

intenção de cada profissional desta área.

É preciso repensar nossa prática, estamos nós construindo profissionais

qualificados, ou somente reproduzindo máquinas de conhecimentos?

É fato que não podemos perder de vista, que todas as outras

especialidades e habilidades técnicas só podem existir quando há professores

ensinando-as aos seus discípulos. Toda profissão precisa de professores.

33

BIBLIOGRAFIA

AEC. Ensino- aprendizagem: o papel do professor. Encarte nº 60, Ano VII –

Março 2000.

ARROYO, Miguel G. Ofício de mestre imagens e auto- imagens, 6ª. ed.,Rio

de Janeiro, Editora Vozes, 2002.

GADOTTI, Moacir . Pedagogia da práx, 2ª ed. São Paulo, Cortez,1998.

GIUSSANI, Luigi. Educar é um risco: como criação de personalidades e de

história. São Paulo, Compahia Limitada, 2000.

LDB. LEI DE Diretrizes e Bases nº 9394/96.

LUCKESI, Cipriano Carlos. Filosofia da Educação: São Paulo. Cortez, 1994.

MORRIN, Edgar. A cabeça bem feita, repensar a reforma, reformar o

pensamento, Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2001.

MORRIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro, 3ª ed. São

Paulo, Cortez, 1998.

PIMENTA, Selma Garrido. Docência em formação: ensino superior. São

Paulo. Cortez, 2002.

REVISTA DO PROFESSOR. Entrevista com Moacir Gadotti, Ano 1, nº 2,

Novembro, 2003.

34

ROGERS, Carl. Liberdade para aprender, Belo Horizonte, Interlivros, 1978.

SANNY, Rosa da. Construtivismo e mudança. São Paulo, Cortez, 2000.

35

FOLHA DE AVALIAÇÃO

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PROJETO A VEZ DO MESTRE

Pós-Graduação “Latu Sensu”

Título: A Arte de Ser Professor

Data de entrega: ______________________________________

Auto Avaliação: Como você avalia este projeto de pesquisa?

_________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________

Avaliado por: _____________________________________ Grau: __________________

____________________, ________ de ______________________ de 200 ___

36