universidade candido mendes pÓs-graduaÇÃo … · entendendo o perfil clínico da criança,...

73
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA ARTETERAPIA PARA CRIANÇAS COM TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTÍSTICO (TEA), UTILIZANDO AS ARTES PLÁSTICAS Por Aloir Lins da Silva Orientador Profa. Me. Fátima Alves Rio de Janeiro 2014 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

Upload: phungdat

Post on 02-Dec-2018

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

ARTETERAPIA PARA CRIANÇAS COM TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTÍSTICO (TEA), UTILIZANDO AS ARTES

PLÁSTICAS

Por Aloir Lins da Silva

Orientador Profa. Me. Fátima Alves

Rio de Janeiro 2014

DOCUMENTO PROTEGID

O PELA

LEI D

E DIR

EITO AUTORAL

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

ARTETERAPIA PARA CRIANÇAS COM TRANSTORNO DO

ESPECTRO AUTÍSTICO (TEA), UTILIZANDO AS ARTES

PLÁSTICAS

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em Arteterapia em Educação e

Saúde no curso Pós-Graduação ‘Lato Sensu‘.

Por: Aloir Lins da Silva

Rio de Janeiro 2014

AGRADECIMENTOS

A todos os professores que contribuíram para a minha formação. A minha irmã Cássia, esta vem me dado palavras de ânimo e auxílio quando necessito. Ao SUPREMO SENHOR que habita em cada um de nós e se manifesta nas boas ações. A Este último meu total amor e agradecimento.

DEDICATÓRIA

Que esta monografia seja dedicada aos meus filhos e todas as crianças, com a intenção de um mundo melhor e mais digno no futuro. Também para todos os familiares, profissionais e aqueles que se doam para uma melhor qualidade de vida das crianças autistas.

RESUMO

Desde Leo Kanner e Hans Asperger, pioneiros nos estudos do autismo

como síndrome, é conhecida a busca de soluções para amenizar deficiências

que uma criança tem na interação social e comunicação. A arteterapia vem de

fato demonstrar efeitos satisfatórios em várias patologias, seja ela de origem

psíquica ou neurológica. Entendendo o perfil clínico da criança, conheceremos

a melhor ação de métodos terapêuticos pelas artes visuais e sua possível

eficácia. A linguagem das artes visuais é o melhor veículo de comunicação

inicial para o autista, na sua subjetividade levará a criança entender a

existência de si e do outro, levando ao desenvolvimento emocional que

estimule as formas de comunicação e interação. Esta monografia vem divulgar

trabalhos realizados por pesquisadores que possam defender o uso das artes

visuais no tratamento com crianças autistas, ou melhor com TEA - Transtorno

do Espectro Autístico.

METODOLOGIA

O método usado na elaboração desta monografia foi a pesquisa indireta

bibliográfica, contendo relatos de livros, artigos, revistas e teses com as suas

respectivas instituições mantenedoras.

Aqui estão expostos conteúdos de autores que tiveram uma pesquisa de

campo no método descritivo, fatos analisados e descritos dos comportamentos

e processos de aprendizagem, também em processos terapêuticos pelas artes

visuais. Agregando tais informações com o propósito de defender a importância

das artes plásticas no tratamento da deficiência comportamental e interativa

social de crianças com TEA - Transtorno do Espectro Autístico.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ......................................................................................... 8

CAPÍTULO I: Autismo - um mundo à parte ............................................. 10

CAPÍTULO II: Arteterapia - a arte é cura ................................................. 21

CAPÍTULO III: Terapias educativas para crianças com TEA .................. 42

CONCLUSÃO .......................................................................................... 62

BIBLIOGRAFIA ........................................................................................ 65

ÍNDICE ..................................................................................................... 71

8

INTRODUÇÃO

Tantas são as formas conseguidas através da arte de amenizar ou

mesmo solucionar problemas patológicos, pois este afeta a emoção, se

tornando o motivo de atenção e interesse do paciente, sentindo prazer e

satisfação pelo fazer artístico e criação. É aproveitando esse viés que

poderemos melhorar o processo educacional, principalmente com crianças com

necessidades especiais. A inclusão escolar de alunos com TEA pode parecer

uma barreira intransponível, mas com a busca de soluções, paciência e

trabalho com muita dedicação, o obstáculo possa desaparecer.

Crianças com TEA - Transtorno do Espectro Autístico - são

caracterizadas pelo prejuízo na qualidade de interação social: não conseguem

ter contato visual direto ou quando olha não mantêm o olhar; usam pessoas

como ferramentas quando quer algo, segurando na mão desta e levando ao

que deseja; não fala ou produz ruídos mesmo sem danos orgânicos que o

impeçam de comunicar pela voz; ecolalias imediatas e tardias, isto é,

repetições de falas ou frases já ouvidas pelo autista. É chamado de espectro

autístico por ter variações nos padrões comportamentais, encontrando crianças

em estados mais brandos aos mais severos, tornando difícil o seu diagnóstico.

Através de um método lúdico no processo de ensino, usando a

arteterapia, somos capazes de melhorar a formação cultural e comportamental

da criança com TEA. Observar e reconhecer atrativos para essa criança seria o

primeiro passo, para depois aplicar esse conhecimento como estímulo do

aprendizado. É necessário valorizar cada particularidade que a criança tem

com o transtorno, sua condição singular.

O capítulo primeiro, “Autismo - um mundo à parte”, é mais atuante em

caracterizar o perfil das crianças com autismo, desde as primeiras observações

9

comportamentais, que levaram ao entendimento que se tratava de uma

síndrome com padrões peculiares, este percebido primeiro por Leo Kanner.

Iremos além, falando da criança com o transtorno em seu meio familiar, a

inclusão escolar e ações políticas que incluíram direitos sociais.

O capítulo segundo, “Arteterapia - a arte é cura”, vai discursar os vários

métodos terapêuticos no tratamento de doenças psíquicas pela arte.

Conheceremos os materiais de arte, cada um com sua linguagem subjetiva no

processo terapêutico, com o propósito de melhor escolha na realização do

tratamento.

O capítulo terceiro, “Terapias educativas para crianças com TEA”,

contém informações teóricas de pesquisadores e métodos terapêuticos através

das artes visuais para melhorar a comunicação e a interação social da criança

com TEA, com isso, incluí-lo na sociedade com uma capacidade maior de

independência.

Atividades lúdicas educativas que estimulem o prazer de aprender,

explorando habilidades do paciente. A linguagem das artes visuais, mesmo

subjetiva é o melhor veículo de comunicação inicial para o autista, pois será o

condutor que levará a criança entender a existência do outro e de si, fazendo

gradativamente o desenvolvimento emocional que estimule a aprender as

várias formas de se comunicar e interagir com o outro.

Encontrar caminhos para um melhor tratamento terapêutico, assim

buscando oferecer melhor qualidade de vida para pacientes com Transtorno do

Espectro Autístico (TEA), isto é o desejo de todos os pais, profissionais

terapeutas, educadores, médicos e de toda a sociedade.

10

CAPÍTULO I

AUTISMO - UM MUNDO À PARTE

O autismo, conhecido por muitos como um transtorno em que a pessoa

se mantém num retraimento em si mesmo, com raras ou nenhuma

manifestação de sentimentos, comunicação e relação social. Deve ser uma

grande frustração para os pais e familiares em perceber que seu filho tem um

comportamento apático com eles, como se fossem inexistentes ou não

fizessem parte de um mesmo mundo.

Dificuldades ocorreram no decorrer dos anos em pesquisas para

entender a patologia autista, cujo termo vem sofrendo mudanças e discursos

desde as primeiras décadas do século XX.

1.1 - Autismo, um termo histórico e de patologias

Um psiquiatra suíço Eugen Bleuler, em 1911, usou pela primeira vez a

palavra autismo para descrever a fuga da realidade e retraimento interior dos

pacientes acometidos de esquizofrenia, como declarado por Eugenio Cunha

(2014). Sua etimologia é grega, deriva de “autos”, que significa “de si mesmo”.

Em 1943, Leo Kanner, este psiquiatra infantil dos EUA, observou e

descreveu de onze crianças que tinha um padrão comum de comportamentos.

Os principais padrões compreendiam os seguintes: falta de contato emocional;

11

mutismo ou maneira própria de falar inadequada as conversações; fixação e

desejo por objetos, habilidosos no manuseio deles; ansioso e obsessivo desejo

de preservação do ambiente e rotinas familiares; inteligência boa por

apresentar capacidade de memória; boa habilidade envolvendo encaixes e

montagens, como jogos de encaixe e quebra cabeças. Determinou Kanner que

estas características definiam uma síndrome e deu o nome de “autismo infantil

precoce”. Por ter sido usado o termo autismo anteriormente para descrever o

isolamento social encontrados em adultos esquizofrênicos, isto criou uma

confusão entre os dois distúrbios que afetou em vários graus o enfoque da

síndrome.

“No começo, como destaca Ian Hawking, o autismo estava

associado à esquizofrenia infantil. Esses dois conceitos se

separaram em 1979; [...].” (Éric Laurent, 2014, p.27).

É fato que Kanner foi o primeiro a perceber em um grupo de crianças

com um padrão comportamental, mas é também encontrado em outras

literaturas médicas anteriores a ele relatos similares de pacientes crianças.

Podemos mencionar o médico Jean Marc Gaspard Itard (1774-1838) que

descreve com detalhes o comportamento de Vitor, um menino de etária

aproximada de 12 anos, no final do século XVIII. Este tinha sido encontrado

nos bosques de Aveyron. Lendo o relatório de Itard, em seus detalhes, sem

dúvida Vitor era um autista. Relatos de muitos psiquiatras no final do século

XIX e início do XX, descrevendo crianças com formas anormais de

comportamento, aos quais muitos os referiam sendo “psicóticas”, mas na

verdade algumas delas eram autistas. Em 1942, Gesell e Amatreeda,

psicólogos que escreveram um livro sobre desenvolvimento de crianças com

relatos na deficiência destas na interação social e comunicação,

comportamento repetitivo e habilidades viso-espacial. Tal menção era muito

similar aos descritos por Kanner.

Hans Asperger, psiquiatra australiano, descreve um grupo de

adolescente com relacionamentos sociais extravagantes, falta de empatia com

outros, comunicação não-verbal pobre, realizam atividades repetitivas, aversão

12

a mudanças de rotina e grande interesse e atenção especiais como: tabela de

horários de trens, movimentos de planetas. Demonstravam memória mecânica,

mas com pouca compreensão abstrata. Alguns apresentavam movimentos

corporais exóticos e muitos deles eram desajeitados e sem coordenação nos

movimentos complexos. Ele denominou este conjunto comportamental

patológico de “psicopatia autística”. Atualmente seu nome é aplicado para

referir a um dos espectros do autismo, o asperger.

Fonoaudiólogos publicaram também relatos de crianças com fala

repetitiva e problemas no aspecto social interpessoal e comportamento verbal,

chamados por eles de “distúrbios pragmáticos”. Na psiquiatria o termo

“personalidade esquizóide” foi muito usado para adolescentes, estes pareciam

com os descritos por Hans Asperger.

Visto aqui que, os sintomas comportamentais, mesmo aos vários termos

usados, na verdade se tratava de perturbações distintas, que todos os autores

em seus textos enfatizavam a perturbação e deficiência na interação social das

crianças, como Kanner já tinha referido.

Fatos recentes como o DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de

Transtornos Mentais), com edição em maio de 2013, marcou a sua história por

criar polêmicas em torno do nome autismo. A primeira publicação foi em 1952 a

qual tinha categorizado em sua lista com menos de 100 patologias, que vinha

crescendo a cada nova edição, chegando o DSM IV apresentando com 279

categorias de patologias mentais. A síndrome de asperger foi mantida e

considerada como um dos Transtornos do Espectro do Autismo (TEA) no

penúltimo manual. O quinto e atualmente último DSM, tinha a pretensão de

retirar este do espectro. Tal fato levou a demonstração de insatisfação dos que

se identificavam pelo nome, se manifestando e reivindicando a continuidade do

termo na categoria do transtorno.

Muitos dos conflitos em determinar o termo autismo podem ter sua

origem não só científica, mas política ou até mesmo econômica. De certo

podemos afirmar o quanto complexo o autismo é no termo e também no

13

diagnóstico. Isso ocorre por uma carência de conhecimento científico da origem

do autismo que pode ser a consequência por contaminação de toxinas ou por

anomalia genética. Também leva a muitos a pensar que se trata talvez de mais

de uma síndrome. Há uma dificuldade na precisão de um diagnóstico, por não

haver um padrão fixo nas manifestações comportamentais dos autistas. Isso

reforça o porquê de muitos autistas reagirem de maneira diferente nos

tratamentos terapêuticos, muitos deles declaram ter eficiência só em alguns

pacientes, não conseguindo abranger todos com o transtorno.

1.2 - Características do TEA

Nos estudos de Kathryn Ellis (1996), analisados em um grupo de

crianças com comportamento autístico, se encontravam algumas com níveis

muito diferentes de desempenho em testes de inteligência. Para tornar as

coisas mais difíceis, começou a se constatar que comportamentos autísticos

podem ocorrer associações com todos os tipos de distúrbios, como surdez,

cegueira, paralisia cerebral, epilepsia até em casos raros na síndrome de

Down. (p.4)

Pontos marcantes que caracterizam a criança com TEA, ocorrem

perturbações em três necessidades humanas para o convívio social: interação

social, comunicação e comportamento.

1.2.1 - Interação social

Apesar de variar muito na forma de se manifestar, a perturbação na

interação social é uma das principais características que pode ser responsável

por outras. O desinteresse e indiferença por outras crianças ou adultos.

14

Quando tinha uma aparente interação, isto era para suprir uma necessidade

como alimento.

Pode usar as pessoas como ferramenta para demonstrar o que deseja,

pegando a mão da pessoa para apontar ou pegar o objeto desejado. Não

compartilham mesmo interesse com outras, demonstrando dificuldades em

manter relações sociais, tem preferências em atividades solitárias.

Os jogos de imaginação, comuns nas brincadeiras infantis que

reproduzem a realidade a sua volta, seja a relação familiar, os programas de

TV, interpretando em grupo ou com brinquedos se encontra para o autista

prejudicado. Muitas dessas crianças fixam num objeto e mantêm movimentos

constantes e repetitivos, como o movimento de um vai e vem de um carrinho

de brinquedo. Isso é uma característica que revela a incapacidade que tem o

autista em reconhecer e reproduzir o que o outro pensa e sente, dificultando

assim a interação social.

1.2.2 - Comunicação

A comunicação pode chegar a se manifestar na total ausência de formas

de realizar ou mesmo compreensão, para outras formas de comunicação, mas

este se realizando de forma anormal, por meio de repetições de frases. A

dificuldade da comunicação, seja ela verbal ou não verbal, como: utilizando

gestos e expressões da facial, linguagem corporal, variações sonoras da

linguagem. Pode ocorrer a ausência de todas as manifestações de

comunicação ou apresentar uma linguagem em situação repetitiva e

desordenada, sem propósito comunicativo.

Uma reação comum da dificuldade da linguagem verbal autista é a

ecolalia imediata e tardia. Estas são repetições de frases ou palavras

realizadas no momento ou horas ou dias após. Podendo ser essas repetições

uma reprodução do que ouviu de uma pessoa que tentou uma comunicação.

15

1.2.3 - Comportamento

A maioria possui habilidade viso espacial, capacidade esta de

organização de objetos de encaixes e agrupamentos. Temos como exemplo os

jogos de encaixes e os quebra-cabeças, ao qual eles demonstram muito

habilidosos. É visto também nessas crianças uma boa capacidade de memória

visual. O asperger, um dos espectros do autismo, tem boa capacidade em

memorizar informações, mas desprovido de emoções. As suas habilidades

cognitivas variam de acordo com suas dificuldades na interação social

Apresenta risos inadequados ou fora de sentido em determinados fatos

ocorridos, demonstrando ser uma reprodução sem motivo para tal.

Comportamentos motores estereotipados e repetitivos como: pular,

balançar, fazer movimentos com dedos, caretas e outros. Um destes é

chamado de ‘flapping’, movimentos dos braços como se imitando os bater de

asas.

Problemas com o sono, podendo ficar acordado em altas madrugadas

por causa da sua hiperatividade, levando os pais a aflição e desconforto

familiar.

Dificuldades em mudanças nas rotinas, sejam familiar, escolar e outros.

Quando alterada a rotina a criança fica irritada, pode chegar a ser agressiva

com outras pessoas ou consigo mesmo. Nesse momento chamamos esse

comportamento de desafiante.

O comportamento desafiante pode ocorrer por falta de competência na

interação social, por alguém interferir com as suas atividades repetitivas ou

rotineiras, quando se sente ameaçada ou confusa. Responsáveis da criança ou

pessoas desavisadas por não terem paciência e pelo próprio desconhecimento

do que é o autismo, podem ativar o comportamento desafiante e fazendo com

que a criança venha se auto-agredir ou agredir outros, fazer ruídos repetitivos

com a voz ou objetos, e outras atitudes mais.

16

Não mantêm o olhar nas pessoas, mesmo sendo chamada por estas,

podendo manter o olhar de forma fixa ou anormal, sem propósito de

comunicação não verbal ou de interesse compartilhado.

“Para Butterworth e Jarret, o olhar é uma dimensão

especial do comportamento social na medida em que se torna um

indicador de interesse e de atenção para um observador, assim

como apontar e gesticular, ou seja, é uma forma de o indivíduo

relacionar-se e comunicar-se com os outros“. (Khoury et al., 2014,

p.22).

Isso revela o comprometimento que a criança com transtorno tem na

produção de compreensão de atos de atenção compartilhada, seja na visão,

nos gestos, na fala, etc.

Quanto à coordenação motora, verificamos que algumas crianças têm

esta habilidade deficiente, com dificuldades em andar, em movimentar as

mãos, movimentos corporais desajeitados ou com muita dificuldade para

realizá-los. Também encontramos crianças com regular ou ótima habilidade

motora, ao ponto de serem ágeis em movimentos finos, como a manipulação

dos dedos.

Os estímulos sensoriais de uma criança podem ter graus do

hipossensível ao hipersensível, variando nos sentidos afetados. Isso pode

ocorrer na sensação de quente e frio, na hora de um banho, sensações

desagradáveis pelo toque de pessoas, objetos ou roupas no corpo, fascínio por

objetos brilhantes, sensibilidades a barulhos e ruídos. Podendo a criança

ignorar por não sentir, ter fascinação ou angústia pelos estímulos

mencionados. Tal estímulo sensorial pode desencadear um comportamento

desafiante quando provoca angústia e incômodos.

17

1.3 - Autismo enquanto espectro

Falar do espectro é perceber a falta de padrões fixos comportamentais

que define o autismo, expostos anteriormente. Essas características sejam na

interação social, comunicação e comportamento podem apresentar em graus

variados ou em condições variadas, com poucas, médias ou muitas

manifestações em um indivíduo autista. Além disso, com o passar dos anos o

paciente desde os seus poucos anos de vida, na infância, adolescência e até a

fase adulta pode passar por transformações comportamentais que podem

confundir médicos e profissionais, necessitando de uma cuidadosa observação

e análise para chegar ao diagnóstico preciso. O melhor é que seja já observado

o transtorno desde os seus poucos anos de vida.

Podemos aqui declarar um estudo realizado por Kathryn Ellis na região

de Camberwell nos EUA em pacientes com transtorno autístico ao qual ela

confirma a condição do espectro:

“A mais adequada formulação das descobertas, desse e

de outros estudos similares, é que a perturbação social é um

distúrbio de desenvolvimento e que a diferentes manifestações,

sejam ou não designadas por síndromes, são todas partes de um

espectro de distúrbios relacionados, a serem referidos como um

contínuo autístico” (Kathryn Ellis,1996, p.8).

Ela ainda faz menção da importância maior para a educação: para ela é

saber que a criança é socialmente perturbada, conhecendo detalhes de suas

habilidades e deficiências nas suas áreas de funcionamento, do que se

preocupar com o termo específico, em que tipo de autismo se estabelece.

18

1.4 - Fatos políticos e sociais

Os avanços em pesquisas por uma procura em entender melhor o

transtorno do Espectro Autístico (TEA), vêm atualmente melhorando e

definindo precocemente o diagnóstico. É de perceber talvez o atual aumento de

crianças com autismo, não pelo fato de ter tido um crescimento maior em

número na sociedade, mas sim por existir pessoas sem o diagnóstico

anteriormente. Algumas pesquisas apontam atualmente que possa ter um caso

de autismo em cada 150 ou 100 nascimentos no mundo. O transtorno do

autismo pode ocorrer nos meninos cinco ou quatro vezes mais do que em

meninas.

Allen Frances (2012) foi presidente responsável na produção da 4ª

edição do “Manual Diagnóstico de Transtorno de Doenças Mentais”, DSM-IV.

Colocou-se em oposição com a nova e atual edição, o DSM-5, fazendo ataques

críticos de algumas mudanças referentes a alguns transtornos, um desses

estava o autismo. Tal informação pode ser encontrada em seu blog

“Psychology Today”. Declara ele que falta especificar detalhes do transtorno,

isso faz diminuir assim o número de pessoas identificadas.

O atual DSM não teve a preocupação em especificar e qualificar as

variedades contidas no espectro. Visto que mesmo reconhecendo que o

asperger faz parte do espectro não o colocou como subgrupo do espectro

enquanto termo, fazendo parte do TEA sem diferenciação dos outros. Isso

criou uma polêmica e manifestações por aqueles que foram identificados por

asperger. É entendido e esclarecido o fato exposto acima pelo trecho da página

51 do manual DSM-5:

“Nota: Indivíduos com um diagnóstico do DSM-IV bem

estabelecido de transtorno autista, transtorno de asperger ou

transtorno global do desenvolvimento sem outra especificação

devem receber o diagnóstico de transtorno do espectro autista.

19

Indivíduos com déficits acentuados na comunicação social, cujos

sintomas, porém, não atendam, de outra forma, critérios de

transtorno do espectro autista, devem ser avaliados em relação a

transtorno da comunicação social (pragmática)”.

Os termos que caracterizam os tipos de autismos perdem a sua

importância de especificação para ser substituídas em diagnóstico pelo termo

Transtorno do Espectro Autista (TEA).

A síndrome de rett é categorizada no manual como um transtorno fora

do espectro autista. Nos procedimentos para registros do DSM-5, é orientado a

referir a síndrome e outras como associação ao autismo, quando com os

sintomas do mesmo, mas nunca como um espectro.

A síndrome de rett, além de ter características do autismo, se apresenta

com a desaceleração do crescimento do cérebro, levando a perda das

habilidades motoras. Apresenta somente em crianças do sexo feminino e é

mais raro que o próprio autismo. O processo degenerativo da criança é muito

grave e geralmente terminam em óbito.

É importante falar da luta dos pais e responsáveis de pessoas autistas,

organizados em associações e procurando meios para que seus filhos

pudessem usufruir de melhores condições sociais, principalmente na educação

e tratamentos médicos e terapêuticos.

O final do século XX e início do século XXI marcam no Brasil

transformações na educação inclusiva, seja pelas leis, pelas adaptações de

escolas regulares nas tarefas de se estruturar profissionalmente e fisicamente

para um ensino mais especializado, se ajustando assim para pessoas com

deficiências.

Como conquista para uma educação inclusiva no BRASIL, veio a Lei de

Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDBEN de nº 9394 do ano de 1996,

que afirma a inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais em

rede de ensino regular. Mantendo estes com outros sem necessidades

20

especiais nas mesmas classes comuns.

Em 27 de dezembro de 2012, foi publicada a lei de nº 12.764 (Lei

Berenice Piana), que considera uma deficiência pessoas com transtorno do

autismo. Essa lei possibilitou o direito às pessoas com o transtorno a uma

educação especial, proteção contra a qualquer discriminação ou destrato,

benefícios e direitos de uma pessoa com deficiência, como consta na lei de nº

7.617 de 17 de novembro de 2011.

De acordo com a Revista VITÓRIA da ANDEF - Associação Niteroiense

dos Deficientes Físicos - (2014) a primeira clínica-escola pública para autistas

no Brasil foi inaugurada em dois de abril de 2014, esta data que também

comemoramos o Dia internacional de Conscientização do Autismo. Tal se

encontra no município de Itaboraí, mantida pela prefeitura através das

Secretarias de Educação e Saúde. A clínica-escola tem capacidade de atender

100 autistas, oferecendo serviços de atendimentos de profissionais como

psicólogos, fonoaudiólogos, terapeutas e neuropediatras, além de preparar as

crianças para o ensino regular. Só nesta região foram estimados que existem

cerca de três mil autistas. Presume-se que no Brasil chega a ter

aproximadamente dois milhões de autistas. (p.36)

É fato que muito tem que ser feito por essa população autista. Mesmo

com leis e ações políticas, é necessário muito trabalho e cooperação entre

familiares, profissionais da saúde, terapeutas e educadores. Por ser o

transtorno autista complexo e necessitar de um ensino e tratamento terapêutico

individualizado, é preciso de um conhecimento maior e particular do

comportamento do aluno/paciente, enquanto sujeito autista, para uma melhor

qualidade de ensino e, por consequência uma qualidade de vida.

21

CAPITULO II

ARTETERAPIA - A ARTE É CURA

A arte tem em seu valor por expressar o que mais temos de essencial,

muitas vezes tão incompreendido por nós mesmos. Vivemos em dualidades,

conflitos que nos impulsiona a construir, transformar e criar o meio, tendendo a

exportar sentimentos no que fazemos e revelar de forma simbólica o que nós

somos e o que seremos. A condição de ‘sapiens’ do ser humano existe pela

combinação de opostos, consciente e inconsciente, que vão se transpondo

entre eles harmonicamente em memórias, idéias, pensamentos e sentimentos.

A desarmonia psíquica, quebra do elo entre os opostos, tornasse um transtorno

para com o indivíduo, impedindo de ter uma vida sociável saudável, harmônica

com o outro ou consigo mesmo. A arte pode ser o caminho para exteriorizar os

conflitos inconscientes por meios simbólicos, solucionando com o

autoconhecimento.

2.1 - Arte, antigo processo terapêutico

Quando as palavras não alcançam alguma forma de expressar seus

sentimentos dos fatos do dia a dia e do que não tem compreensão, é o

momento de utilizar a arte como linguagem, de forma subjetiva e simbólica,

possibilitando ser o conteúdo inconsciente materializado em objeto de

apreciação, tornando-o possivelmente mais consciente.

22

A ação do tratamento usando a arte para alívio de dores, transtornos

emocionais, ou até curas em problemas psíquicos em geral já é antiga. Nos

rituais dos pajés, xamãs e outros tipos de sacerdotes, usam cânticos, danças,

pinturas, imagens simbólicas e vários tipos de materiais artesanais ritualísticos.

Davi, um jovem pastor israelita utilizou a música para amenizar o distúrbio de

Saul, seu rei, que estava possuído pelo espírito da loucura, como conta o

versículo da bíblia sagrada, no antigo testamento:

“Quando o espírito mau, da parte de Deus, vinha sobre Saul, Davi

tomava a harpa e tocava com suas mãos; e Saul sentia alívio e

ficava melhor, e o espírito mau se afastava dele.” (1 Samuel

16:23)

Não só a música, mas a aparência estética dos templos ou locais para

rituais, imagens, roupas, decorações e objetos sagrados, todos em conjunto

tinham que representar a filosofia, o pensamento religioso de forma simbólica,

isto agindo psiquicamente no indivíduo: mudando comportamentos, ajustando

sentimentos e emoções.

2.2 - Arteterapia, uma ciência

Quando o fenômeno começa a ser analisado em observação controlada,

conhecendo todo o seu processo de construção, passa a ser considerada

ciência. Mantendo assim uma ação mais eficiente do fenômeno, em benefício

do bem estar do ser humano. Foi como a arteterapia teve seu reconhecimento

científico, através de estudos e artigos científicos ocorridos nos séculos XIX,

XX, e no presente século.

Muitos historiadores consideram o médico francês Ambroise Tadieu o

23

primeiro quem divulgou pesquisas de manifestações artísticas como forma

diagnóstica para doenças mentais. Isto publicado em livro no ano de 1872,

desencadeando assim vários estudos sobre as artes plásticas e a sua relação

com os distúrbios mentais. Tais pesquisadores como: Max Simon, Marcel Reja,

o advogado criminalista Lombrosa e outros, analisaram e interpretaram

desenhos e pinturas de acordo com as manifestações psíquicas e seus

distúrbios.

Não esquecendo também Ernst Wilhelm Ritter von Brücke (1819-1892),

alemão que escreveu artigos de Artes e as Bases Fisiológicas da Poesia

Alemã. Podemos considerá-lo como um dos precursores da arteterapia. Este

como mestre influenciou muito seu aluno Sigmund Freud (1856-1939).

Das publicações e trabalhos realizados é necessário falar de Walter

Morgenthaler (1883-1965), que analisando um confinado do Hospital

Psiquiátrico de Waldau, escreveu uma monografia com o nome “Um Alienado

Artista”. O paciente estudado, Adolf Wölfli, produziu obras em grandes números

como desenhos, pinturas pautas musicais, etc.

A importância de Freud vai da pesquisa intitulada “A interpretação dos

sonhos” em que descreve a organização da mente entre consciente e

inconsciente. Ele afirma em um dos seus artigos que o indivíduo melhor se

expressa de forma não verbal, por estarem as imagens alojadas em sua

maioria no inconsciente. Isso reforça a importância dos tratamentos

terapêuticos com as manifestações de linguagens e comunicações simbólicas

para o autoconhecimento do paciente. Em seus relatos declara a dificuldade de

seus pacientes em explicar os sonhos, por ser difícil traduzir as imagens. Cada

vez mais estes fatos vão desenvolvendo e revelando caminhos e métodos para

as práticas da arteterapia, muito mais quando entra em cena Carl Gustav Jung

(1875-1961) com o desenvolvimento da psicologia analítica.

Jung percebeu que seus pacientes faziam desenhos e relatavam seus

sonhos contendo imagens que representavam símbolos comuns de culturas,

religiões e povos de diversos lugares e tempos. Muitos se assemelhavam a

24

contos e temas mitológicos, cujos pacientes muitas das vezes não os

conheciam. Com essa observação ele comprovou a teoria do Inconsciente

Coletivo.

“Alguns destes símbolos oníricos provêm daquilo a que o

Dr. Jung chamou “inconsciente coletivo” - isto é, a parte da psique

que retém e transmite a herança psicológica comum da

humanidade. Estes símbolos são tão antigos e tão poucos

familiares ao homem moderno que este é capaz de compreendê-

los ou assimilá-los diretamente.” (Joseph L. Henderson, 1964

p.107).

No 2º Congresso Internacional de Psiquiatria, realizado em Zurique no

ano de 1957, foi de grande valia para o reforço das teorias junguianas. O

Museu de Imagens do inconsciente, fundada por Nise da Silveira em 1952,

localizado no bairro do Engenho de Dentro da Cidade do Rio de Janeiro, teve

sua participação no congresso com a exposição do seu acervo de pinturas de

pacientes do Centro Psiquiátrico Pedro II.

Várias foram as contribuições científicas no mundo para o

desenvolvimento terapêutico através da arte, nomes aqui não declarados não

diminuem a importância histórica e científica. Ficaremos a seguir em nos limitar

a relatar somente os dois importantes psiquiatras brasileiros como pioneiros da

arte terapia no Brasil: Osório Cesar e Nise da Silveira.

2.3 - Osório Cesar

No ano de 1925 o Doutor Osório Thaumaturgo Cesar, publicou seu

artigo “Arte primitiva nos Alienados” pela revista do Hospital Psiquiátrico de

25

Juqueri, localizado no Município de Franco da Rocha. Em 1948, com os

trabalhos de desenhos de pacientes, realiza no Museu de Arte de São Paulo a

1ª Exposição de Arte do Hospital de Juqueri. Em 1950, com o 1º Congresso

Internacional de Psiquiatria, sediada em Paris, onde ocorreu a Exposição de

Arte Psicopatológica, onde estavam as cinqüenta e quatro obras dos alienados

de Juqueri.

Osório Cesar acreditava na importância das manifestações artísticas dos

seus pacientes, declarando serem necessários, por deixar vir à tona as idéias

alucinatórias, os que lhe causam perturbações, venha a se tornar

gradativamente um objeto em nossa realidade material. Aqueles que se dispôs

a fazer atividades artísticas ficam calmos e realizam com prazer, satisfação e

ânimo.

“O intelectual brasileiro opera, pois, com a noção de

inspiração poética em relação ao funcionamento das fantasias

infantis e dos sonhos, ou seja, para ele até é compensação,

realização na fantasia daquilo que o real negou.” (Arley Andriolo,

2003, p.78)

O objeto de arte para ele possui duas partes distintas e diretamente

interligadas: o conteúdo manifesto e a significação latente. O conteúdo

manifesto é o lado estético, a técnica do artista, a expressão superficial e

exterior o que cobre o verdadeiro motivo da inspiração. Quanto a significação

latente é a parte íntima da obra, o seu valor simbólico, a sutileza do artista em

mascarar o que é íntimo e particular do artista. Não compreensível ao público

por ser inteiramente individual.

O psiquiatra brasileiro seguia os princípios de leituras dos símbolos das

artes dos doentes pelas simbologias que Freud aplicava na interpretação de

sonhos, como órgãos genitais masculinos se apresentavam em formas de

serpentes, espadas, bengala e outros. E a feminina com as suas

representações como frutas, vasos e outros. Acreditava na tese de Freud sobre

a filogenética, que as manifestações artísticas dos doentes provinham de

26

regressão de épocas antigas, manifestações de comportamentos primitivistas

devido a conflitos sexuais reprimidos.

“Bem entendido, a “psicologia da arte” elaborada pelo

doutor Osório Cesar é substancialmente uma leitura freudiana de

arte.” (Arley Andriolo, 2003, p.78).

Embora já tenha feito citações e leituras de obras de Carl Gustav Jung,

marca em todas as suas produções de estudos dos simbolismos a leitura nos

moldes de Sigmund Freud.

É de reconhecer pelos fatos a importância histórica na arteterapia do

Brasil por Osório Cesar, a divulgação e desenvolvimento das teorias freudianas

em quase todo desenvolvimento dos seus trabalhos, fazendo ele um caminho

como método terapêutico, as atividades artísticas.

2.4 - Nise da Silveira

A história de uma psiquiatra que se pôs “libertadora dos loucos”, aqueles

que não tinham voz para falar ou como se expressar. Nise faz da arte um

processo libertador e de defesa contra processos ditos “terapêuticos”, mas que

causam males irreversíveis aos pacientes.

Osório Cesar foi uma influência para ela no método terapêutico por

meios de atividades expressivas, reconhecendo que Nise seguiria mais os

caminhos da psicologia junguianas do que a freudiana nas interpretações

simbólicas. Houve trocas de correspondências entre eles, o assunto envolvia

sempre os tratamentos dos ditos “alienados” por métodos expressivos e seus

resultados, ora também em questões referentes ao Partido Comunista do Brasil

(PCB).

27

Em 1936 ela foi detida pela polícia por envolvimento ao comunismo. Isto

na ditadura do governo de Getulio Vargas, momentos que viveram proibições

democráticas no país. Um ano e seis meses trancada foi para ela dor e

sofrimento, mas também momentos de reflexões que contribuíram para a

mudança da história da psiquiatria no Brasil e no mundo.

As comparações entre os hospitais psiquiátricos e os sistemas de

detenção prisional foram claras: os tratamentos contra os males dos pacientes

comparados às torturas dos presos políticos, o confinamento, levando ao

silêncio e monotonia, sem práticas diárias que levam ao ócio diário tanto de

presidiários e pacientes.

Nise da Silveira, por ter vivido experiências no cárcere, optou em

desenvolver atividades ocupacionais para os seus pacientes, que depois ela

chamaria de método não agressivo. Fez campanhas contra e se recusou a

participar de métodos que se assemelhavam a torturas físicas em pacientes

como os choques elétricos, coma insulínico e a lobotomia.

Os choques elétricos se comparavam a tortura física, por usar placas na

cabeça dos seus pacientes esquizofrênicos, ali emitia carga elétrica que

induziriam a uma convulsão. O paciente era amarrado numa maca sem

nenhum preparativo e anestesia. Os relatos de quem passou por essas

experiências são as mais desagradáveis. Atualmente é chamado de

eletroconvulsoterapia, mas com a preocupação de oferecer boas condições ao

paciente como: fazer jejum, aplicar anestesia, relaxamento muscular e a carga

elétrica suficiente para realizar o estímulo à convulsão.

O coma insulínico era induzido por injeção de insulina em pacientes

também considerados esquizofrênicos. O propósito era provocar choques

hipoglicêmicos, chegando ao coma que acarreta a perda da consciência. O

estado de coma não poderia passar de 15 minutos, por poder se tornar

irreversível.

Nise se recusou a participar dos eletrochoques por lembrar-se das

28

torturas que a companheira de cela havia passado. Realizou o coma insulínico

em um paciente que ela quase o perdera no tratamento. Apresentou-se à

direção do hospital dizendo que não servia para ocupar a função de médica.

Com isso foi decidido o remanejamento dela para a Seção Terapêutica

Ocupacional. Começaria neste momento uma nova etapa profissional na vida

de Nise da Silveira.

A lobotomia tornou-se um método na época muito utilizado na medicina

psiquiátrica a partir de 1936. Essa psicocirurgia foi tomando escala mundial,

sofrendo alterações em seu método de execução. Dr. Antônio Egas Moniz, com

o propósito de tratar certas psicoses, pensou que cortando as fibras nervosas

que fazem a ligação do córtex frontal e pré-frontal ao tálamo. Inibiria

comportamentos indesejados dos pacientes, como impulsos agressivos e as

repetições obsessivas, podendo ter uma vida aparentemente normal.

A psicocirurgia foi usada de maneira abusiva, sem considerar

consequências de perdas cognitivas. Nos EUA, entre 1939 e 1951 foi muito

realizado indiscriminadamente para controle comportamental indesejável e

para esvaziar os hospitais. No Japão usava-se em crianças com dificuldades

na aprendizagem e problemas de conduta e comportamentos. Muitos outros

países aderiram, aplicando também em opositores políticos das autoridades,

pessoas que desejavam eliminar seus parentes; prisioneiros de hospícios

judiciais e outros.

A psiquiatra Nise começou uma batalha contra a lobotomia quando seus

pacientes/artistas começaram a ser lobotomizados. Ela comprovou a

ineficiência do método da psicocirurgia a partir de pesquisas das produções

dos seus pacientes como Lucio, Laura e Anderson, analisando o desempenho

das atividades artísticas antes e depois da lobotomia. Tal pesquisa foi

apresentada durante o 1º Congresso Latino Americano de Saúde Mental

ocorrido em São Paulo em 1954 e divulgado na Revista Medicina, Cirurgia e

Farmácia. O impacto foi grande, ao ponto de ter repercussão internacional,

principalmente em relação às obras de Lucio, pois foram reveladoras pelas

imagens o que a devastadora lobotomia fez em suas capacidades psíquicas.

29

A seção terapêutica de Nise tinha práticas organizadas, a qual ela

chamava de método não agressivo. As práticas realizadas pelos internos eram

atividades consideradas utilitários como marcenaria, costura, encadernação

etc. Este grupo ajudou muito para as pesquisas acerca das capacidades de

ensino aprendizagem dos esquizofrênicos crônicos. Atividades expressivas

como pintura, modelagem, música e outros, foram mais reconhecidos e

considerado o mais importante de Nise, por ser um tratamento contrário das

internações psiquiátricas da época, e principalmente pela divulgação através

das exposições. Atividades recreativas como festas, jogos, esportes e outros,

todas implicam em ordem e organização, levando ao desenvolvimento da

interação social.

“Podemos notar que os aspectos do trabalho, da

afetividade, da expressão livre das emoções, do lazer e da

aprendizagem são enfatizados em detrimento das trocas

comerciais. Apesar da classificação apresentada, Nise da Silveira

destaca que, ao se levar em consideração o modo como as

atividades são executadas, pode-se argumentar que todas as

atividades são expressivas. Desta forma, o capital privilegiado por

Nise da Silveira é o simbólico e o afeto.” (Walter Melo, 2009, p.48-

49)

O aspecto do seu trabalho terapêutico era centrado na afetividade e na

livre expressão dos sentimentos e emoções. A carga emocional que antes

desestrutura a personalidade do paciente pode por meios de imagens

inconscientes imergir para o campo da consciência, reorganizando-a.

30

2.5 - Linguagem dos materiais

É por meio dos materiais de arte que os pensamentos, idéias e

imaginação se materializam nas suas formas simbólicas e subjetivas. O

recurso a materiais devidos e específicos para determinadas expressões

plásticas se deve ao melhor desempenho do processo terapêutico. Avaliar o

estado psíquico e emocional do paciente, a relação com o material é de suma

importância, pois é o material um ativador psíquico sensorial e possa vir trazer

à tona a consciência os estados emocionais, sentimentos e lembranças pelo

simples manuseio dos seus vários tipos através do tato, cheiro, som ou até

movimentos corporais.

2.5.1 - Símbolos, sonhos materializados

“O que chamamos símbolos é um termo, um nome ou

mesmo uma imagem que nos pode ser familiar na vida diária,

embora possua conotações especiais além do seu significado

evidente e convencional. Implica alguma coisa vaga,

desconhecida ou oculta para nós.” (Jung, 1964, p.20).

A busca dos significados, o mais amplo possível, é a vontade do

terapeuta e do paciente quando falamos nas produções simbólicas das

imagens. A necessidade de torná-los mais conscientes, melhor dizendo,

apreendidos pela consciência, num grau de entendimento por meio da

transposição de linguagens plásticas, chamamos de amplificação simbólica.

Jung entendia que por existir muitas coisas fora da compreensão

humana, nós utilizamos termos simbólicos como representação de conceitos

que não podemos definir. Um exemplo é a religião, aplica a linguagem

simbólica quase consciente para representar o divino. Os símbolos também se

manifestam de maneira inconsciente nos sonhos e em manifestações

31

artísticas.

“O procedimento de amplificação responde de diversas

maneiras a uma “questão-chave” que é proposta ao símbolo:

“qual o seu significado”, e cada modalidade expressiva oferece

uma parcela de compreensão com uma característica própria e

uma faceta distinta do símbolo observado.” (Philippini, 2009,

p.16).

A proposta para chegar a uma amplificação simbólica, necessário às

vezes fazer várias atividades plásticas e expressivas diferentes, para permitir

que conteúdos inconscientes sejam externados como imagens simbólicas

produzidas, e possam com isso, ser compreendidos e ser conscientes.

O processo de apresentação dos símbolos pelas atividades plásticas vai

tomando o caminho de conhecimento do “si mesmo” e pulsões da psique antes

não compreendidas. Arteterapeuta e cliente interagem verbalmente, facilitando

a contextualização do conteúdo simbólico das produções de arte.

“Devemos nos lembrar de que o material inconsciente que

se origina na psique permanece na psique ao mesmo tempo em

que se manifesta externamente em momentos de dificuldades,

como se dissesse à consciência: “Olhe para mim! Estou aqui!”.

Essas dificuldades e adaptações aparecem de forma simbólica

nos desenhos ou nos sonhos”. (Gregg M. Furth, 2013, p31).

Após as produções de arte, um olhar atento, procurando perceber

características culturais, pistas do inconsciente que nos leve a uma

contextualização. Podendo estas pistas fazer referências aos contos, mitos,

lendas, fábulas, tradições religiosas e folclóricas, imagens antigas e todas as

manifestações culturais desde as mais antigas até as mais recentes, que

possam influir nas manifestações simbólicas em sua apresentação estética e

conteúdo interpretativo.

32

2.5.2 - A cor como valor simbólico

As cores têm uma grande influência sobre o psiquismo humano, seja

enquanto cor luz ou cor pigmento. Ela faz parte de um conjunto gramatical

simbólico que, combinado com formas, linhas, pontos e imagens, podem

enriquecer e externar conteúdos inconscientes de maneira mais ampla e

completa. Em uma atividade artística que exige cores, é necessária a

disponibilidade de todas as variedades existentes possíveis, para que o cliente

não se sinta limitado em suas expressões e possa selecionar as cores que

melhor representem seu estado atual de espírito, sentimentos e emoções.

“É pela aplicação empírica da influência das cores que os

médicos psiquiatras abriram casas de saúde onde tratam os

pacientes excitados em quartos forrados de azul e violeta,

enquanto que, ao contrário, alojam os deprimidos em aposentos

recobertos de vermelho”. (René-Lucien Rousseau, 1980, p.47).

É fato a influência comportamental e psíquica que as cores têm em

nossas vidas, como relata acima. As cores frias - azul, verde e violeta - são

cores tranqüilizadoras, passivas e que nos leva a calma e relaxamento. Estas

muito associadas a noite ou a dias de tempestades e chuva, que por fim nos

transmite a idéia de recolhimento, sono. As cores quentes - amarelo, laranja e

vermelho - são cores excitantes, ativadoras e de ânimo. Estas estão muito

associadas ao dia, o nascer do sol ou ao intenso calor do verão, que por fim

também nos transmite a ideia de despertar, de festejar e alegrar.

As experiências com as cores são antigas, já nas primeiras vivências

dos primeiros humanos na terra, elas estavam se formando em conteúdos

simbólicos, se atrelando ao ‘inconsciente coletivo‘ da humanidade.

Vivenciamos uma relação atual com as cores - o seu valor simbólico - em

nosso ‘inconsciente coletivo’, herança dos nossos antepassados.

Por ter as cores valores simbólicos - valores amplos de significação e

imprecisos - a ambivalência é mais uma de suas características marcantes e,

33

com muita cautela, deve-se ter cuidado quanto a interpretação. Elas podem

flexibilizar seus conteúdos simbólicos em ajuste a outros elementos gramaticais

plásticos em uma modalidade artística ou em agrupamentos de mais de um

tipo de cor. Como exemplo o vermelho: aplicada em uma imagem expressando

amor carinho e afeto, a cor reforça e expressa o mesmo, aplicada em uma faca

molhada pelo sangue, representa a violência, perigo ou a morte.

Apesar de estarem as cores - os seus valores simbólicos - associadas a

fenômenos e condições da natureza que nos fazem pensar em um significado

pré-estabelecido, não devemos descartar as experiências pessoais que um

paciente tem com as cores, que podem levar a uma significação não esperada,

a um valor simbólico incomum.

2.5.3 - A cola, um material expressivo

A aderência é uma característica da cola que influi muito em nosso

psiquismo, torna-se meio para externar sentimentos associados ao ato de

colar. Ações como agregar, juntar, unir e sobrepor faz parte no processo

criativo e expressivo da técnica da colagem.

As atividades com a cola têm propostas organizadoras e estruturantes,

por agrupar formas ou partes de outro contexto, desestruturando-a primeiro

para depois a reconstrução. Rasgando, cortando ou picotando o material a ser

colado pode trazer satisfação, para depois ser organizado no espaço desejado.

“O ato de rasgar e picar bem pequenino o jornal ou papel

comum vai servir como um meio de gastar as energias de

pessoas hiperativas ou agressivas, sendo, portanto, essa uma de

suas indicações terapêuticas.” (Carrano & Requião, 2013, p.162).

A atividade também tem a proposta de desenvolvimento da coordenação

motora fina. O desenvolvimento cognitivo é consequência da ação da

organização espacial dos fragmentos ou partes que são colados.

34

A tenacidade da substância no processo da criação em arteterapia faz o

paciente perceber as fases opostas e transitórias entre o desestruturar (cortar,

rasgar e picar) e o organizar e estruturar (juntar, unir e colar). O ato

transformador das coisas, a recriação, tal como a arte imita a vida. Passamos

todos por processos de transformação, nada é imutável. A atividade de recortar

e colar pode nos levar a uma reflexão da vida e suas transformações, ajudando

o paciente/criador externar suas angústias e sentimentos, materializando-as

para uma melhor compreensão de si mesmo, procurando a harmonia

necessária em sua vida.

As imagens selecionadas de revistas e impressos em geral, por vezes

carregada de significados subjetivos do artista, vão se ordenar numa gramática

simbólica e pessoal, cada qual no espaço determinado pelo paciente que, aos

poucos vão se materializando e se desvelando, tornando-se valores mais

conscientes. Com isso o estímulo da imaginação no processo criativo, por

consequência das tensões psíquicas vivenciadas, essencial para o ato humano

de produzir e criar. As tensões psíquicas externadas se fazem em uma nova

realidade na produção artística, transmutado o conteúdo psíquico para se

adequarem melhor a realidade vigente.

“Criar não representa um relaxamento ou esvaziamento

pessoal, nem uma substituição imaginativa da realidade; criar

representa uma intensificação do viver, um vivenciar-se no fazer;

é, em vez de substituir a realidade, é a realidade; é uma realidade

nova que adquire dimensões novas pelo fato de nos articularmos

em nós e perante nós mesmos em níveis de consciência mais

elevadas e mais complexas. Somos, nós, a realidade nova.”

(Fayga Ostrower, 2013, p28).

Fayga (2013) enfatiza a necessidade humana de criar, um sentimento

essencial, pois é o que nos leva a um crescimento interior, para nos

ampliarmos enquanto consciência perante a vida.

Verbalizar o que foi produzido, a obra depois de feita deve ser analisada,

35

pois o objeto de arte sem reflexão perde o sentido terapêutico. Sempre

analisamos o que percebemos em nossa volta como as cores, músicas, fatos

políticos e do mundo, filmes, os comportamentos, tudo que possa imaginar

passa pela análise nossa e dos outros. Na arte é necessário a opinião do

artista, pelo seu conteúdo intimo e pessoal ser mais revelador verbalmente nele

do que naquele que não participou da produção. Só assim a obra terá mais

sentido.

2.5.4 - Fotografia: passado, presente e futuro

Um olhar apurado, um enquadramento perfeito e apropriação de um

momento, imagem suficiente para guardar uma lembrança de uma vida.

Criação maravilhosa é a fotografia, pois ela grava momentos nossos em

imagens que perduram ao tempo, arquivos de nossas memórias, sentimentos e

emoções vividas.

“Assim gosto de pedir a meus clientes que tragam fotos e,

através das fotocópias destas imagens (para preservar os

originais), vamos resgatando memórias, recuperando percursos

cronológicos e existenciais. E podemos, também, ir refletindo

sobre aquela “linha da vida” e restaurando algumas conexões

biográficas.” (Philippini, 2009, p.30).

O descontrole que temos em nossas vidas, as transformações que nós

sofremos, pelo imperioso ‘tempus fugit’ que prenuncia o fim de cada dia, noite e

momentos de vidas. Todas as marcas que o tempo deixou podem ser

registradas e admiradas numa reflexão, compreendendo transformações de

vidas desde momentos anteriores até o agora, ou talvez, com isso imaginar o

futuro.

A atividade terapêutica pode usar fotografias passadas que façam uma

reflexão do que já passou com o agora, buscando autoconhecimento,

estimulando a autoestima, o amor próprio e a confiança no próprio percurso da

36

vida. Temos os ensaios fotográficos que as pessoas podem, através de

figurinos diversos e maquiagem, se personificarem em outras como a um

teatro, expressando características diversas do seu eu interior.

2.5.5 - Pinturas, fluidos de cor

A tinta tem por seu maior encantamento na atividade artística as cores e

a sua fluidez, uma intima relação com a emoção, por tomar a superfície do

papel sem limites ou contenção.

As cores das pinturas têm uma grande importância, pois ela é o

intensificador emocional. São ativadores fisiológicos, agindo na manifestação

das atividades orgânica animal e humana, correspondendo a eventos da

natureza. Não podemos descartar a importância simbólica da cor, que traz

consigo lembranças ancestrais do nosso inconsciente coletivo.

“A noite trazia consigo a passividade, o repouso e

diminuição da atividade metabólica e glandular; o dia trazia

consigo a possibilidade de ação, aumento no índice metabólico e

maior secreção glandular, dando, assim, energia e iniciativa. As

cores associadas a esses dois ambientes são o azul-escuro do

céu noturno e o amarelo-vivo da luz do dia.” (Lüscher & Scott,

1969, p.19)

Desde os primórdios dos tempos intercalavam-se o dia com a noite,

quando um terminava, o outro começava, assim sucessivamente. O final do

dia, o começo da noite prenuncia o sono e o acolhimento. O final da noite, o

crepúsculo matutino prenuncia o agir, acordar, caçar, colher. O valor simbólico

das cores está interiorizado em nós, não só como forma de exteriorização

psíquica como linguagem, mas também em ação interna fisiológica e

comportamental.

Pintar com os dedos nos passa sensações agradáveis, pela experiência

37

tátil e sensorial ocasiona a ativação dos sentimentos. As cores se chocam,

mesclam e se transformam formando um novo colorido. Desperta e exterioriza

a criança interior, estimula grande alegria, diversão e satisfação. A aplicação

terapêutica em pessoas regredidas e com posturas rígidas e inflexíveis é bem

indicada, com o propósito de possíveis mudanças comportamentais desejada.

A aquarela tem seu aspecto suave e transparente, frágil e delicado que

transmite uma beleza incomum em relação às outras tintas. Exige maior

controle nas pinceladas, pois a sua ação de cobertura é quase que imediata.

Tem grande relação com os sentimentos e emoções interiores.

A seleção de tintas para terapias tem que ser de acordo com as suas

características e qualidades: seu grau de aquosidade e pastosidade;

intensidade das cores e brilho; capacidade de aderência e absorção no papel.

A má qualidade e ação do produto podem trazer frustração daquele que a

produz, tornando ineficiente a terapia. No mercado podemos encontrar

variedades de tintas que, respeitando a sua linguagem subjetiva possa aplicar

de maneira consciente para uso artístico.

2.5.6 - Materiais de desenhos

Os materiais de desenho analisados são: o lápis de cor, lápis grafite,

lápis aquarela, caneta hidrocor, carvão e outros. Todos com suas

características plásticas que permitem fazer linhas e contornos, limitar espaços

nos desenhos. Em suma, tem a capacidade de conter, restringir e delimitar o

espaço. No desenvolvimento cognitivo exercita a atenção, observação e

concentração para produção artística.

“Esses materiais permitem a expressão das formas, por

meio dos pontos, linhas, curvas e cores. Eles são mais restritos,

ajudam a ordenação, o conter e a definição do limite. Quando as

pessoas usam estes materiais, elas expressam e organizam

melhor seus sentimentos e suas próprias vidas. São capazes de

38

revelar imagens esquecidas, guardadas em lugar da memória,

remetem às memórias de infância.” (Carrano & Requião, 2013,

p.70).

Os materiais chamados gráficos são os que trabalham melhor o limite,

como grafite e o lápis de cor, por terem também na sua linguagem a sensação

de controle. Os desenhos com materiais gráficos são atividades muito aceitas

por pessoas que gostam de estar no controle e também as muito restritas, que

não gostam de ousar, que teme experimentar ou viver outras situações. Essas

pessoas não podem de imediato entrar em contato com as tintas, se quiser

levá-las a esta experiência para mudança de comportamento, deve em

princípio usar os materiais intermediários como: caneta hidrocor, carvão e

outros que têm na sua característica a dispersão ou diluição na superfície

aplicada, mas também o limite e a contenção do desenho como a linha.

Crianças hiperativas, dispersas e agitadas convêm trabalhar com

materiais gráficos, produzindo desenhos de observação que desenvolva a

atenção, a concentração e o limite. A tinta pode ser catastrófica enquanto não

ocorrer a mudança comportamental: deve-se gradativamente usando os

materiais gráficos, seguindo para os intermediários e finalmente para as tintas.

2.5.7 - Massas, moldando formas

Prazer tátil promove as massas, modificando a cada manuseio, seja

puxando, apertando, pressionando com os dedos ou com toda a mão,

permitindo sair por entre os dedos ou algum canto aberto entre as mãos. As

sensações são várias, seja a temperatura da massa, a textura, a maciez e as

múltiplas formas adquiridas pela manipulação. A flexibilidade e maleabilidade

da massa permitem a transformação da imagem. No âmbito terapêutico e

educacional, essas características vivenciadas da massa para chegar a uma

imagem, vão acontecendo também com as nossas emoções e afetividades, se

flexibilizando.

39

Encontramos no mercado tipos de massas como as industrializadas,

caseiras ou naturais. Elas podem se apresentar com várias cores e odores,

podendo ser algumas até mesmo comestíveis. O mais comum e popular é o

barro, encontrado na natureza em várias cores, podendo ser comercializável ‘in

natura’ ou com alguns compostos para melhorar suas características para um

melhor desempenho da massa.

O próprio ato de manipular a massa já transborda em expressar ideias,

emoções e sentimentos. Nos silenciosos gestos das mãos vão se externando e

tornando mais conscientes e, por fim, o término da escultura, a presença

materializada do inconsciente com seus conteúdos simbólicos. Com as

constantes mudanças da forma, não considerada um erro, mas sim um

processo de transformação importante até a imagem definitiva. Isso quando a

massa se tornar seca e rígida para uma imagem permanente.

No processo terapêutico, essa prática artística aciona sensações físicas

profundas, viscerais, que transborda todo o íntimo e pessoal do paciente,

sentimentos contidos, proporcionando prazer e satisfação no ato da criação.

Tal tratamento é indicado para crianças carentes e com distúrbios afetivos,

pessoas com dificuldades na comunicação, tímidas e emocionalmente

regredidas.

“Então, o Senhor Deus formou o homem com o pó da terra, e

soprou em seu nariz fôlego de vida, e o homem se tornou um ser

vivente.” (Gênesis, 2:7)

“Com o suor de teu rosto, comerás o pão até que tornes à terra,

porque dela foste tomado; pois és do pó, e ao pó tornarás.”

(Gênesis, 3:19)

O barro ou argila, em seu processo de criação, faz ocorrer o contato dos

quatro elementos da natureza - terra, fogo, água e ar - que pode nos levar a um

complexo simbolismo místico profundo. Pois está associado na sua

representação o nascimento, a morte e a vida. Seu grande valor terapêutico

40

atua fortemente no psiquismo humano, fazendo ser espontânea a verbalização

dos conteúdos conscientes e inconscientes.

Havendo rejeição ou desarmonia da pessoa com a argila é aconselhável

não forçar. Deve procurar outra modalidade expressiva com um material que

ele possa se familiarizar, para que, aos poucos, realizando atividades com

outros materiais, ele venha adquirir segurança no manuseio da massa.

2.5.8 - Materiais duros, moldando formas na força

Muitos são os materiais que se faz necessário uma aplicação maior de

força, o uso de instrumentos cortantes e de furo, para esculpir ou entalhar, são

eles: as pedras (mármores, granitos e outros), madeiras dos seus vários tipos,

sabão, parafina e outros.

Segundo Carrano e Requião (2013) as tensões psíquicas, energias

contidas, podem ser liberadas com o ato de esculpir e entalhar. Muitas dessas

energias em forma de ansiedade, ódio, tensão e nervosismos podem ser

aliviados e escoados com a prática de remover partes, furar, dar forma a

materiais mais duros e rígidos. (p.164)

Desapego, transformação e renovação são oferecidas terapeuticamente

pela escultura, organizando conteúdos internos, emoções, sentimentos e

ideias, cortando o que não deve mais continuar no presente, se ajustando para

o futuro.

É bom permitir ao criador da obra verbalizar seus momentos de criação:

desde o seu primeiro contato com a matéria bruta; a visualização imaginativa

da forma desejada nesta matéria; a extirpação das partes fora da forma

desejada; o polimento ou não para chegar a escultura final. Todas as fases

mencionadas têm seu valor terapêutico, pois faz parte de uma construção

semântica subjetiva que tende a ser exteriorizada, ajudando no

autoconhecimento.

41

2.5.9 - Uso de materiais diversos

Devemos valorizar cada característica oferecidos pelos diversos

materiais, muitos não citados nessa pesquisa. A criatividade humana é ampla

quando se trata em inovar, adquirir novos recursos e adaptação de outros

materiais para uso artístico. Podemos citar o reaproveitamento do lixo, como:

materiais plásticos, vidros, metais, papeis e revistas. Todos esses e outros num

processo de uso aparentemente inimagináveis, realizando trabalhos artísticos

impressionantes.

Quando falamos em aproveitar os lixos (plásticos, latas, vidros, etc.) ou

materiais da natureza (folhas, pedras, galhos, etc.), é necessário a

compreensão da linguagem de cada material usado nas atividades artísticas,

seja ele qual for. Tal preocupação está em objetivar resultados, em aferir as

condições dos materiais e seus possíveis efeitos no psiquismo humano, nas

suas mudanças de comportamentos e estados emocionais.

Tanto é importante a compreensão da linguagem do material como

também é a sua qualidade, pois a segunda interfere na primeira e pode causar

frustração naquele que a utiliza. Uma cola que tem baixa aderência e escorre

tirando do lugar o material que deveria ser colado. Uma massa que perde sua

consistência, fragmentando-se, impedindo de se produzir uma imagem.

Um bom trabalho terapêutico e educacional deve ser realizado com

materiais de qualidade e em espaço organizado, para que não venha prejudicar

o objetivo desejado com a criação, para que não surja um resultado contrário

ao desejado e, infelizmente, uma possível aversão do paciente ao tratamento.

42

CAPÍTULO III

TERAPIAS EDUCATIVAS PARA CRIANÇAS COM

TEA

“Estar capacitado para reunir determinadas letras na

seqüência adequada para que se leia coelho não constitui uma

compreensão do que seja um coelho. Para conhecer realmente

um coelho, a criança deve poder tocá-lo e aprender os seus

hábitos. É a interação dos símbolos, do eu e do ambiente que

fornece os elementos necessários aos processos intelectuais

abstratos.” (Lowenfeld & Brittain, 1970, p.16)

Este texto, extraído do livro “Desenvolvimento da Capacidade Criadora“,

nos faz pensar em que momento ou como se faz a aquisição do conhecimento

humano. Como desenvolver o melhor método de aprendizagem para crianças,

em especial as crianças autistas? É através dos sentidos que as crianças vão

adquirindo informações, buscando compreensão nas coisas que estão em sua

volta. A exploração dos sentidos de forma mais consciente no processo

terapêutico e de ensino pode levar a um resultado melhor em seus objetivos.

A recepção do sistema sensorial de um autista pode reagir de maneira

diferenciada ou catastrófica de acordo com o seu grau de sensibilidade. Os

pelos de um coelho podem trazer uma sensação de prazer, ou levar uma

sensação de euforia ou repulsa. Seja qual for a experiência vivida pelos

autistas, é necessário observar as possíveis variabilidades que podem ocorrer

em relação ao comportamento. Observar e compreender como o sistema

sensorial desta criança funciona ou reage em determinadas condições já é um

caminho para se organizar e criar um espaço adequado, condições e recursos

43

que possa fazer ocorrer o seu desenvolvimento na aprendizagem. A princípio,

para que ela venha ter aquisição de novos conhecimentos, é necessário o

estímulo a comunicação e mudanças comportamentais, para que ela possa ter

o mínimo de capacidade de interação social para o desempenho escolar.

3.1 - Teoria comportamental (Behaviorismo)

Em 1913 John B. Watson publica um artigo chamado “Psicologia: como

os behavioristas a vêem”, inaugurando a criação de um termo teórico: o

Behaviorismo. A palavra Behavior é um termo inglês que significa

“comportamento”, atualmente usado para expressar uma tendência teórica que

se desenvolveu e, sendo aplicado por vários métodos terapêuticos de

intervenção para tratamentos de transtornos psíquicos, neurológicos e

problemas na aprendizagem. Conhecido com o nome Behaviorismo, teve

outros nomes como Comportamentalismo, Teoria comportamental, Análise

Experimental do Comportamento, Análise do Comportamento.

“Comportamento, entendido como interação indivíduo-

ambiente, é a unidade básica de descrição e o ponto de partida

para uma ciência do comportamento. O homem começa a ser

estudado a partir de sua interação com o ambiente, sendo

tomado como produto e produtor dessas interações”. (Block,

Furtado & Teixeira, 2001, página 46)

O Behaviorismo tem por base de estudos a relação do individuo e seu

ambiente, suas consequências e resultados pela interação: as estimulações

que o ambiente pode proporcionar ao individuo; as respostas e ações do

indivíduo por consequência dos estímulos ambiental. A teoria é aplicada por

vários métodos terapêuticos de intervenção para tratamentos de transtornos

44

psíquicos, neurológicos e problemas na aprendizagem. Temos os mais

aplicados em crianças e adultos autistas como: TEACCH, ABA, PECS e outros.

3.2 - O método TEACCH

O método TEACCH (Treatment and Educatin of Autistic and related

Communication Handicapped Children) , que significa “Tratamento e Educação

para Autistas e Crianças com Déficit Relacionados a Comunicação”, foi criado

em 1966 pelo Doutor Eric Schopler e colaboradores no Departamento de

Psiquiatria da Escola de Medicina da Universidade da Carolina do Norte, nos

Estados Unidos das Américas. O surgimento do método é em oposição as

práticas clínicas utilizados na época, que o autismo tinha origem de causa

emocional, cujo tratamento seguia princípios da psicanálise. Sua linha

Psicopedagogica se fundamenta nas teorias da psicolinguística e behaviorista.

É na psicolinguística que se desenvolveram estratégias específicas para

compensar o comprometimento na comunicação do autista. Essa deficiência na

linguagem compreensiva e receptiva em autistas pode ser compensada

utilizando apoios visuais, facilitando a expressão dos pensamentos através de

uma linguagem. É a partir das imagens como forma de comunicação, podemos

atuar nos problemas relacionados na aprendizagem e na compreensão de

comportamentos sociais do cliente. A linguagem não verbal, imagens visuais,

tem grande valor simbólico complexo, pois é a base da interiorização das

experiências vividas. Entendendo que as crianças autistas têm mais

capacidade de ser mais responsivas em condições dirigidas, quando estas

condições se dispõem em maior uso estímulos visuais do que auditivos.

A teoria behaviorista ou comportamental tem a preocupação de

especificar e definir de forma operacional os comportamentos-alvo a serem

45

trabalhados. O terapeuta tem a possibilidade de avaliar qualitativamente os

vários aspectos da interação social e organização comportamental autista. É

conhecendo o paciente que o terapeuta venha manipular o ambiente autista, de

forma que os comportamentos indesejados não ocorram ou diminuam, e as

adequadas sejam reforçadas positivamente.

O método TEACCH se preocupa com a organização do ambiente físico

e das tarefas através de painéis, quadros e agendas para criar rotinas aos

pacientes. Dessa forma, adapta o ambiente para ser mais fácil para a criança

compreendê-lo e participar sem comportamentos indesejáveis. O objetivo é

desenvolver a independência da criança através da organização do ambiente e

das tarefas, podendo ocupar-se de forma independente e facilitando o

aprendizado com um auxilio de um professor capacitado. O objetivo maior do

método é levar a criança autista a adquirir máxima autonomia possível.

O método através de suas atividades e organização espacial é um

modelo terapêutico de ensino, psicopedagógico, que numa “estrutura externa”

(organização espacial, atividades e rotinas) facilita a criança criar mentalmente

uma “estrutura interna”. Essa última estrutura, por práticas constantes deve

funcionar fora do ambiente terapêutico, em outros ambientes menos

estruturados. Para que isso ocorra deve haver uma prática árdua e continua de

todos os envolvidos: os pais, professores, terapeutas e outros.

São utilizados estímulos visuais (ilustrações, fotografias, figuras,

cartões), estímulos corporais (gestos faciais ou corporais, apontar, movimentos

corporais), e estímulos audiocinestesicovisuais (som, palavras, movimentos

associados às fotos) no processo terapêutico do método, desenvolvendo

simultaneamente a linguagem receptiva e a expressiva para buscar a

linguagem oral ou uma comunicação alternativa para a criança.

As atividades programadas pelo terapeuta são realizadas

individualmente e ensinadas ao paciente. Utilizando cartões com fotos,

desenhos, símbolos e palavras escritas facilitam como indicativo visual para

saber das atividades que serão realizadas nos dias escolares, aprendendo a

46

identificar cada cartão. Quando a criança apresenta plena desenvoltura na

realização de uma atividade (conduta adquirida) esta passa a fazer parte da

rotina de forma sistemática.

O profissional ensina o aluno uma tarefa conduzindo as suas mãos

utilizando os cartões como apoio visual, este com uma imagem referente a

tarefa, objeto, jogos e outros assuntos. Gradativamente a criança vai receber

menos apoio para que ele possa sem ajuda realizar as tarefas, sempre sendo

guiado pelos cartões. Isso enfatiza no autista o desenvolvimento da autonomia.

Programação diária, rotinas, sistema de trabalho das tarefas e apoio

visual são os pontos principais para a realização do método. A programação

individual de cada aluno é essencial para possibilitar entendimento, confiança e

segurança nas tarefas. A dificuldade da generalização das tarefas no autista

reforça a necessidade de organizar e realizar em rotinas bem previsíveis e

claras.

As atividades ou tarefas realizadas com as crianças portadoras de

autismo têm em prática o trabalho da memória e a percepção, utilizando jogos

intuitivos com cores variadas e de uso individual. É notório a boa capacidade

de memória do autista, principalmente com as visuais, isso favorece muito no

aprendizado.

Pelo déficit de atenção, processamento e organização apresentados em

autistas impedem a compreensão da linguagem em seus meios diversos. O

apoio visual supre essa deficiência estimulada pelos atrativos que as cores

exercem na criança, torna-se também um meio de comunicação

47

3.3 - O método ABA

Outro método advindo do campo científico do Behaviorismo: ABA

(Applied Behavior Analysis) ou “Análise do Comportamento Aplicado”. Sua

aplicação visa ensinar para crianças habilidades que não possuem,

trabalhando e desenvolvendo cada uma por etapas. O método demonstrou

bom desempenho quando foi aplicado pela primeira vez por Ivar Lovaas em

crianças autista para seu desenvolvimento na educação. Em 1987 ele publicou

os resultados do seu estudo, que chegou a 47% de crianças que alcançaram

níveis normais de funcionamento intelectual e educacional. As práticas ABA

vêm evoluindo, pois surgiram outros psicólogos que avaliaram o método e

acrescentaram novas técnicas e conhecimentos, melhorando cada vez mais a

sua eficiência.

B. F. Skinner publicou em 1938 seu livro, o “The Behavior of Organisms”

(O Comportamento dos Organismos), que revelava uma grande descoberta, o

“Condicionamento Operante”.

“Condicionamento Operante significa que um

comportamento seguido por um estímulo reforçador resulta em

uma probabilidade aumentada de que aquele comportamento

ocorra no futuro”. (Kathy Lear, 2004, capítulo 1-4.).

Nosso comportamento é modificado através das consequências. Se

você sorri para uma pessoa que está na sua frente e com tom agradável pede

para que ceda o espaço, e ela cede. Terá muita chance que o mesmo

comportamento venha se repetir, pois a outra pessoa facilitou a sua passagem,

realizou um estímulo reforçador.

O método ABA tem em seus trabalhos a aplicação do Condicionamento

Operante para o reforço de um comportamento positivo direcionado e ensinado

em crianças autistas e outras patologias, suprimindo também comportamentos

indesejáveis.

48

A sua aplicação pode ser usado em diversas questões como:

treinamento de animais, dependência química, medos, fobias, transtornos

comportamentais do sono e outros. Mas o que mais nos interessa é a

educação especial, em especifico para autismo.

Um programa de método ABA deve começar em casa, de preferência

quando a criança autista é muito pequena. Apesar das muitas dificuldades de

um diagnóstico precoce do TEA, a intervenção com a terapia na fase bebê da

criança torna-se importante, mas não deixa de ter seus efeitos de tratamento

nas crianças de idade avançada e adultos.

A sessão de ABA para crianças segue uma agenda nas suas

intervenções terapêuticas de ensino com durações entre 30 e 40 horas por

semana, num trabalho individualizado, no que eles chamam “em situação de

um-para-um“. Não segue a linha de punições, sempre premiando para chegar

ao comportamento desejado. Os conteúdos de ensino a serem aplicados, o

currículo, dependem da capacidade e particularidades de cada aluno autista. A

disponibilidade curricular é ampla, desde brincadeiras e atividades motoras,

linguagem, cuidados de higiene e atividades acadêmicas. As práticas de ensino

não pode se limitar a escola ou as clinicas terapêuticas, a participação com

intenso envolvimento da família aumenta o desempenho do método ABA.

3.4 - O método PECS

Picture Exchange Communication System (PECS), ou melhor, “Sistema

de Comunicação por Trocas de figurinhas” como conhecemos aqui no Brasil,

traduzido em português. Teve seu início e criação pela americana e

fonoaudióloga Roxanna Mayer Johnson. Responsáveis pelo seu

desenvolvimento foram dois americanos, o psicólogo Andy Bondy e a

49

fonoaudióloga Lori Frost no ano de 1985, a princípio com o propósito de facilitar

e melhorar a comunicação de pacientes autistas no Estado de Delawere,

região nordeste dos Estados Unidos das Américas. O seu uso em crianças com

TEA necessita dedicação, não é tão simples, pois exige conhecer os princípios

do método ABA (Applied Behavior Analysis), que é base da construção teórica

e práticas dos PECS.

“Pesquisas indicam que quando os PECS é implementado,

a fala pode emergir em muitas pessoas. Elas primeiro aprendem

‘como’ se comunicar, ou seja, quais são as regras básicas da

comunicação e, em seguida, o uso da fala é promovido através

de oportunidades (utilizando altos níveis de reforçadores),

fornecendo condições ideais para o aparecimento e

desenvolvimento de vocalizações.” (Soraia Vieira, 2012, p.14).

O PECS não se limita ao tratamento de comunicação para crianças com

TEA, também com outros tipos de transtornos ou problemas de comunicação.

Podemos citar a paralisia cerebral e pacientes que tiveram algum acidente ou

danos físicos que impossibilitaram de se comunicar permanente ou

temporariamente. O programa tem como objetivo que o paciente ou aluno

venha utilizar a forma de comunicação alternativa temporariamente, até

conseguir verbalizar oralmente sem a utilização das imagens.

Muitos dos comportamentos inadequados e desafiantes dos autistas

provêm da incapacidade de se comunicar, de dizer o que desejam, suas

necessidades não atendidas, levando a se sentir frustrado. O PECS contribui

para a facilitação de comportamentos positivos, pois criam estímulos

reforçadores que possibilitam a comunicação e, por consequência a interação,

se seguirmos os moldes teórico de Skinner - o “Condicionamento Operante”.

A construção do material é artesanal, não requer grandes gastos, pode

ser feita pela própria família. O material deve ser personalizado, pois os cartões

(figuras) devem ter imagens ou fotos que estejam relacionadas à vida do

autista: sua casa; sua família; ações cotidianas; seu gosto por alimentos,

50

brinquedos e lugares. A generalização do material não é possível, seja no uso

e na produção, pela particularidade que cada criança tem, também a

necessidade de se manter constantemente próximo dela para se comunicar em

qualquer hora ou momento.

Cada familiar, terapeuta ou professor deve analisar a criança, perceber

particularidades para uma melhor escolha de imagens ou fotos, as mais claras

possíveis, facilitando a compreensão da criança. As imagens devem ter

significados bastante concretos, por ter o autista dificuldades de abstração na

comunicação. Quanto menos complexo e mais direto for as imagens em seu

significado melhor a apreensão do entendimento da informação, melhor

desempenho para o uso da criança dos PECS.

O material pode ser acondicionado em uma pasta plástica, com folhas

revestidas de velcro para a fixação dos cartões. Colocados em ordem para o

melhor manuseio e compreensão da criança, respeitando a sequência das seis

fases do método. De acordo com o desempenho da criança as fases são

acrescentadas para a sua evolução comunicativa. Como veremos a seguir no

trecho de uma entrevista com Soraia Vieira (CRF 6-1683), a entrevistadora

expõe de forma simplificada as seis fases do método ABA orientada por ela:

“Na primeira delas, o estudante troca uma figura por um

item que deseja receber. Ele mostra a figura ao seu parceiro de

comunicação e recebe em troca. Na segunda fase, o estudante

procura pelas figuras de que mais gosta, mas estas são dispostas

em distância aumentada. Na terceira, ele aprende a discriminar o

que gosta e o que não gosta. Na quarta fase, o estudante

aprende a formar frases, por meio das figuras. Na penúltima fase

ele aprende a responder perguntas feitas por meio da junção de

figuras e, na última, cria comentários por meio das figuras, por

exemplo: “Eu vejo bola”. (Isadora Dantas, 2013, p.30).

Soraia Vieira (2013), fonoaudióloga, salienta que o PECS não garante a

comunicação oral do estudante, mas declara que alguns autistas que as

51

utilizaram como terapia até aos cinco anos de idade desenvolveram a fala. A

eficiência em alguns casos pode ter levado a um grau de popularidade do

método aqui no Brasil, considerado ainda baixo. Mas a aplicação requer

conhecimento e estudo, necessita de formação e treinamento para uma boa

aplicação, tanto de pais, profissionais da educação e fonoaudiólogos.

3.5 - Terapia educacional com computadores

O presente capítulo tem exposto métodos que auxiliam educadores e

terapeutas para as mudanças comportamentais e no processo de

desenvolvimento do ensino e aprendizagem da criança autista. Todos

demonstram um bom desempenho quando se refere em ativar a memória

visual da criança, seja o método TEACCH, ABA e PECS. A aplicação dos

métodos em computadores, como aplicativos de sites e jogos educativos,

podem estimular a atenção da criança, pois os recursos visuais demonstram

ser mais atrativos.

Um artigo do IFPI (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia

do Piauí), realizado por Neto, Sousa, Batista, Santana e Junior (2013),

apresenta um jogo eletrônico com função psicopedagógicas, nos moldes

teóricos da metodologia ABA (Applied Behavior Analysis). O game “G-TEA”,

tem como objetivo auxiliar psicólogos, educadores e terapeutas a ensinarem as

cores para as crianças com TEA.

Segundo Neto et al (2013) o game possibilita que as configurações

iniciais sejam determinadas pelo profissional educador, selecionando a cor

desejada para a atividade com a criança e a colocação do seu nome.

Percebendo o incomodo sonoro na criança, aconselhado a deixar desligado o

som. O reforço positivo do game quando acerta é manifestado por som, caso

52

não ocorra, o profissional ABA terá que realizá-lo. (p.139)

Este jogo utiliza uma técnica do ABA que chamamos de DTT (Discrete

Trial Teaching), ou “Ensino por Tentativas Discretas”, traduzido na nossa língua

portuguesa. É um modo de ensino de forma estruturada, caracterizado por

dividir uma atividade complicada de aprendizado em sequências (passos)

pequenas ou “discretas”. Ensinando uma parte de cada vez com quantidades

de tentativas possíveis, não esquecendo que se deve preceder com um

estímulo de reforço (premiação). Lembramos que o game foi projetado para ser

utilizado em computadores tablets, por ser de fácil manuseio, participando do

jogo através de toques na tela.

O artigo de autores Neto et al (2013) menciona os resultados adquiridos

na Associação de Amigos dos Autistas do Piauí, com testes feitos em três

crianças autistas. Duas crianças tiveram bom êxito, sendo que uma não

demonstrou tanta dificuldade que a outra no game G-TEA, com grande

estímulo e satisfação em utilizar as ferramentas e na realização das fases do

jogo. (p.140)

‘‘Quando ocorre a junção adequada destas Técnicas

Behavioristas com as diferentes tecnologias existentes, surgem

ferramentas capazes de enriquecer o trabalho de profissionais

que lidam com pessoas portadoras de deficiência, bem como

facilitar o desenvolvimento destas. No que concerne aos

portadores de autismo, é possível identificar alguns aplicativos

que já exigem ou que estão em andamento, que levam em

consideração tais técnicas e prevêem benefícios aos usuários.’’

(Mello & Sganzerla, 2013, p.235)

Os autores acima mencionam dois aplicativos de sites em seus artigo,

LIVOX e QUE-FALA!, que oferecem comunicações alternativas e para uso

educativo para crianças autistas.

O aplicativo LIVOX se assemelha aos cartões dos PECS, mas em

53

condições digitais. Tem o objetivo de facilitar a comunicação de pessoas que

não falam, não tem uma escrita funcional ou qualquer pessoa que tenha

deficiência na comunicação. A pessoa pode usar os recursos das imagens ou

sonorização de palavras.

Segundo Mello e Sganzerla (2013) o aplicativo QUE-FALA! é uma

prancha de comunicação projetado para tablets, smatphones e computadores.

Ele permite que o usuário imprima as imagens que podem virar cartões de

comunicação, também facilita a edição, obtendo um conteúdo mais

personalizado (p.236). Tal característica é ótima para os autistas, por ser

necessário imagens familiares, de seu convívio e vivências.

As crianças com transtornos podem se beneficiar com as várias

tecnologias estabelecidas no mercado digital. O uso desses aplicativos e

games podem ser o melhor caminho, mais atrativo para as crianças. É

necessário o conhecimento técnico dos métodos terapêuticos de ensino

mencionados para melhor aproximação dos objetivos: bom desempenho na

comunicação, comportamento e interação social.

3.6 - Criações artísticas de autistas

[...] o crescimento mental depende das relações ricas e

variadas entre a criança e o seu meio; tal relação é o ingrediente

básico de qualquer experiência de criação artística.” (Lowenfeld &

Brittain, 1970, p.16-17).

As produções artísticas são expressões humanas de convívio social:

sentimento, atividades cotidianas, projeções de si do que pensa e sente do

meio e do outro. Tudo isso por algum meio estético sonoro, plástico, corporal e

54

outros. A arte ocorre numa necessidade de entender o mundo e a nós

mesmos, codificada por meios subjetivos e simbólicos da linguagem, já que as

palavras e meios objetivos de comunicação não suprem a carga

plurissignificativa das produções cognitivas do inconsciente.

As experiências sensoriais é o princípio para começar uma relação com

o mundo: as temperaturas, cheiros, sabores, movimentos, texturas, as formas e

as cores. A integração sensorial, associação entre cérebro e os sentidos,

necessários para processar decisões de comportamentos expressivos e de

interações ocorrem com certo déficit em crianças com TEA. Isso não responde

que a criança seja incapaz de interações sociais e criações artísticas, pois o

déficit não implica em inexistência total ou que não possa ser estimulado.

3.6.1 - Potencial criativo

“A criatividade nos sujeitos com síndrome de autismo e,

mais especialmente, na sua competência visuo-plástica revela um

indicador de capacidade imaginativa e de abstração que ainda

hodiernamente tem gerado polêmica no seu reconhecimento.”

(Isabela do Vale Trabucho, 2010, p.3).

Falamos no primeiro capítulo desta monografia a incapacidade de

imaginação que a criança com TEA tem de não teatralizar (brincar),

reproduzindo a realidade em sua volta: brincar de médico, de família, de

profissões, reproduzindo ou imitando gestos e comportamentos de pessoas

adultas. Muito mais quando necessita de outras crianças para a construção da

brincadeira, pois tem dificuldade de interação social. Qualquer processo de

educação que exija imitação do aluno é ineficaz para as crianças com

transtorno.

A condição de espectro e de seu contínuo autístico, revela nas crianças

as transformações mais do que físicas, as comportamentais e suas variáveis.

Esta pode fazer com que a criança esteja, com o passar do tempo, distante do

55

que era anteriormente, podendo ou não parecer um autista em sua fase adulta.

Mesmo assim as ações psicopedagógicas devem ser atuantes para o

desenvolvimento do potencial criativo e comportamental, mostrando para a

criança possibilidades de novos caminhos, novos rumos.

É imprevisível as mudanças sofridas em uma criança autista, pois cada

uma tem perfil comportamental, de comunicação e interação diferentes entre si.

Algumas mudanças podem em uns pontos regredir e outras progredir.

Mesmo pessoas que não tem nenhuma disfunção neurológica ou

distúrbios psíquicos sofrem com dificuldades no potencial criativo. Isto pode ser

revolvido buscando meios de estímulos e autoconhecimento quando em

processo de criação, ressignificando a si mesmo e ao meio que vive.

“A pessoa criativa é aquela que constantemente se

autorrenova, autorrecria. Ao superar obstáculos e barreiras,

rapidamente reformula, ressignifica, abandonando antigos

conceitos e buscando novas possibilidades.” (Dina Lucia Chaves

Rocha, 2009, p.60).

As nossas percepções e sentidos agem de maneira diferente a de um

autista. Julgaremos o seu potencial criativo de acordo com o nosso? O muito

de potencial criativo de algumas crianças com TEA está latente, esperando um

estímulo ou algum recurso para que ele possa se manifestar.

“Nos autistas, a Arteterapia assenta essencialmente no

objetivo de promover uma forma de expressão simbólica, não

verbal, assim como desenvolver um processo de

autoconhecimento, autoestima, aprendizagem, expandindo com

isso os seus recursos físicos, emocionais e cognitivos.” (Ladeira,

2012, p.36).

A arteterapia vem com seus recursos, com base em métodos, sejam

eles behavioristas ou mesmo numa análise das imagens pela psicologia

junguianas, tentar trazer uma forma expressiva e mais acolhedora possível às

56

crianças autistas. Tudo com o propósito de amenizar as frustrações que são

adquiridas pela falta de linguagem e interação social, aliviando conflitos

psíquicos que podem levar a comportamentos indesejáveis.

A criatividade é revelada em autistas, basta conhecer pessoas bem

sucedidas como a Doutora Temple Grandin, norte-americana autista asperger

que já publicou mais de 400 artigos científicos, publicou vários livros tratando

de vários temas sendo um o autismo, criou a ‘‘máquina do abraço’’, além de

títulos acadêmicos conquistados.

Em entrevista à Revista Autismo, por Carolina Rafols (2013), Grandin

fala da importância do seu professor de ciências, Sr. Carlock, que foi peça

chave para a sua motivação nos estudos. Ele aproveitou a tremenda fixação

autista para motivar Temple a dedicar-se em estudos acadêmicos. Como ela

outros também tiveram sucesso, tiveram auxílio de profissionais que ajudaram

a se encontrar, se estruturar para ocupar um lugar na sociedade. Reforça

Temple Grandin que o educador deve desenvolver os pontos fortes das

crianças autistas, pois pode nascer ali um grande profissional. (p.5)

3.6.2 - A técnica desenhos-estórias

Em um artigo chamado de “A CRIAÇÃO DE DESENHOS-ESTÓRIAS NA

PSICOTERAPIA DE UM ADOLESCENTE COM SINDROME DE ASPERGER”,

cujo autor Bráulio Eloi de Almeida Porto (2010) relata um estudo de caso em

que a arte lhe oferece resultados positivos.

O autor do artigo, Porto (2010), relata a grande dificuldade entre analista

e paciente de estabelecer um vínculo devido ao prejuízo na interação social

recíproca, característica patológica dos portadores da síndrome de asperger,

mas estes mantendo uma preservação na inteligência e capacidade de

comunicação. Para suprir tal necessidade é usado como estímulo para

interação uma técnica chamada “Desenhos-Estórias”, desenvolvido por Walter

Trinca em 1972. (p.1-2)

57

A técnica utiliza dois meios de comunicação: o desenho livre e a

verbalização de estórias. A análise da criação artística no processo

psicoterapêutico tem por base teórica a Psicologia Analítica. Foi projetada para

a aplicação em pessoas a partir de cinco a quinze anos, reajustado depois para

crianças a partir de seus três anos, incluindo também adolescentes, jovens,

adultos e idosos. Depois do paciente realizar cinco desenhos ele deve contar

uma estória em que cada um representa. A produção criativa pictórica e verbal

possibilitará ao analista uma perspectiva integrada dos problemas acarretados

no paciente: seus conflitos, desconforto emocional e desajustes

comportamentais.

Utilizou Porto (2010) como paciente de estudo um adolescente de 18

anos com perfil de relatos de briga com irmão, mau-humor e dificuldades em se

comunicar. Ocorrendo o afastamento de amigos e a busca de solidão,

relatando os pais que aos três anos de idade não gostava de beijos e abraços.

Tem momentos de obsessão por alguma coisa que sente atração. Ele se

mantém dependente em muitas práticas simples como a ver preços de

produtos de uma loja. (p.3)

Na sessão de desenhos o paciente revelou gosto, por ter o material uma

linguagem de sua familiaridade, a sensação de controle. No segundo capítulo

desta monografia quando é descrito a importância das linguagens dos

materiais gráficos, ele revela essa característica, pois são muito aceitos em

atividades por pessoas que gostam de controle e são muito restritas, que não

gostam de ousar, segundo Carrano & Requião (2013).

Por ser um material muito próximo em sua forma de ser, seus desenhos

impressionou o analista, demonstrou uma habilidade estética não esperada. O

uso da técnica foi uma importante fonte de diagnóstico, análise e o percurso do

processo terapêutico, como revela as considerações finais do autor:

“O uso do Desenho-Estória neste caso se mostrou não só

uma importante fonte diagnóstica - pela revelação de questões

ligadas a identidade, auto-imagem e referência aos aspectos

58

arquetípicos da anima e sombra - como também um meio de

investigação da transferência e dos prognósticos

terapêuticos.”(Porto, 2013, p.6).

Os arquétipos “anima” e “sombra” são relacionados às teorias do

“Inconsciente Coletivo” de Carl Gustav Jung, heranças psicológicas ancestrais

que, com uma leitura cuidadosa em manifestações por imagens pictóricas

podem, em diálogo com o paciente, revelar as fontes dos problemas psíquicos.

Possibilita o autoconhecimento, deslocamento das pulsões emocionais e maior

controles de si

Para Jung (1964) anima são tendências psicológicas femininas

personificadas na psique do homem como a capacidade de amar, sensibilidade

à natureza, intuições proféticas e a relação com o inconsciente. A sombra é

parte da personalidade não desejada, mas que possa vir a manifestar de

maneira inconsciente, por um ato de impulso ou inadvertido. Ambos os

arquétipos foram manifestados nos desenhos e verbalizados pelo paciente com

conteúdo em forma subjetiva e simbólica.

3.6.3 - Modalidades expressivas em crianças com transtornos

Em um artigo, “ARTES VISUAIS COMO APOIO PEDAGÓGICO À

CRIANÇA E ADOLESCENTES COM TRANSTORNOS PSÍQUICOS”, cuja

autora Valéria Metroski de Alvarenga (2013) relata a realização de uma

intervenção com modalidades expressivas - desenho, pintura, gravura,

escultura e fotografia - na Instituição SEPIÁ (Serviços e Programas para a

Infância e a Adolescência) na cidade de Curitiba, no ano de 2011.

A autora deixou disponível para as crianças os materiais para que a

escolha por interesse se manifestasse. Segundo Alvarenga (2013), permitir

manipular quantas vezes quisesse o mesmo material, desenvolveriam ao

máximo as competências e habilidades das crianças, seja no âmbito físico,

emocional e equilíbrio pessoal. Elas podiam expressar livremente. O único

59

limite seria as condições do próprio material. Pela não obrigatoriedade das

atividades, alguns participaram e outros não, havendo aqueles que

interrompiam seu próprio fazer artístico.

As práticas das pinturas em crianças propiciam conhecimento e

curiosidade com as misturas: fluidez das cores, misturas e dispersão das tintas

no ato de lavar as mãos e pincéis. Relata a autora que ocorreu interesse pelos

materiais que não tinham a intenção de uso, como o jornal que era usado para

não sujar a mesa. Uma atividade atrativa para crianças especiais é o que

ocorreu nessa intervenção do referido artigo. As atividades tornaram para as

crianças um laboratório de descobertas e sensações, revelando possibilidades

criativas.

“Podemos utilizar as tintas para explorar o mundo dos

sentimentos e das emoções, por meio da fluidez e de suas cores.”

(Carrano, 2013, p.99).

As práticas com gravuras, realizando impressões e repetições de

imagens. Construindo espécies de carimbos utilizando vários tipos de

materiais, entendendo a idéia de repetição e o valor de uma matriz. Alguns pela

incapacidade motora, ansiedade ou hiperatividade não conseguiam controlar a

quantidade de tinta, uns colocando muitos, outros colocando pouco no carimbo,

não conseguindo chegar a uma impressão satisfatória, levando a frustração.

A prática da fotografia, declarada pela autora, foi aceita por todas as

crianças, abrangendo aquelas que não focaram nenhum interesse por outras

atividades. Sujeitos autistas com déficit da atenção compartilhada têm a

possibilidade de serem amenizados quando surge um atrativo, a apropriação

de um momento, a foto (imagem).

As possibilidades oferecidas na oficina de fotografia com tecidos e

adereços possibilitaram mudanças no visual de cada criança, transformando a

si mesmo como parte da obra. Saber que é você, mas em outras condições

leva-nos a uma reflexão em entender a nós mesmos. A posição do corpo,

60

gestos, a posição da mão e expressões faciais, tudo em seu conjunto se

transformando numa linguagem.

As práticas com escultura tinham materiais variados como argila, sabão

em pedra, arame e outros. Sendo a argila bastante utilizada, todos os materiais

usados de formas diversificadas. Alguns, segundo Alvarenga (2013), usavam o

material de forma plana para realizar ranhuras (desenhos) nas superfícies. A

flexibilidade do material ajuda no processo criativo, a argila transformável no

toque e manuseio com mais outros materiais acrescentados possibilitou várias

formas de finalizar.

A prática de desenhos, cujo propósito era criar linhas utilizando papéis,

lápis arames, lã, tecidos e outros. Tiveram a maioria pelo gosto de fazer

atividades com arames. Aconteceu de copiarem uns dos outros, mesmo assim

teve resultados em vivenciar as possibilidades variadas: um mesmo tema (a

linha) com diversos tipos materiais. As cópias de trabalhos de outros colegas,

mesmo não demonstrando tanta criatividade, revelam a atenção ao trabalho do

outro e apreciação estética.

“Desenho de cópia - trabalha a atenção e a concentração,

direcionado para o objeto, para o entorno, ou para a releitura de

uma obra, uma vez que é uma cópia de algo que já existe e que

pode estar direcionada para o real. Algumas pessoas têm enorme

dificuldade de executar esse trabalho, algumas vezes por pura

inabilidade, outra por apresentar dificuldades de concentração.”

(Carrano & Requião, 2013, p.93)

O processo lúdico da intervenção através da arte propiciou interação

social, comunicação entre os grupos, amenizando os problemas do transtorno.

A autora responsável pela organização das práticas artísticas, Alvarenga

(2013), ressaltou a importância do processo lúdico que é maior do que o

produto final (objeto de arte). Possibilitaram brincadeiras, estimulando

imaginação e a atenção compartilhada, tais coisas os autistas se mantêm em

déficit. Apesar das dificuldades da coordenação motora fina de alguns, pelo

61

fato de não conseguir realizar ou terminar, mesmo com as várias tentativas

possibilitou a prática e seu desenvolvimento.

Para o profissional terapeuta é necessário a atenção no comportamento

nas produções artísticas de um autista, seus gostos por tipos de modalidades

expressivas, seus interesse e estímulos pessoais. Visto a dificuldade de

padronizar práticas e generalizar ações terapêuticas para as crianças com

transtornos, a sua singularidade deve ser respeitada. Se práticas recusadas

forem necessárias deve-se usar meios de estímulos de reforço para que venha

se concretizar e promover uma vida social melhor ao paciente.

62

CONCLUSÃO

Autismo, um termo ainda considerado instável na sua definição em pleno

terceiro milênio, pelas lacunas de informações científicas não preenchidas pela

humanidade. Cabe-nos aproveitarmos décadas de pesquisas, separando

daquelas muitas tendenciosas, para continuarmos ainda em decifrar o caso

TEA - Transtorno do Espectro Autístico. Transtornos também foram alguns

fatos ditos científicos que ocorreram na história, atualmente profissionais vêm

se organizando cada vez mais em buscas de verdadeiras soluções.

Muito tem se desenvolvido nas áreas clínicas, terapêuticas e

educacionais para o tratamento, seja na psiquiatria, psicopedagogia,

fonoaudiologia, musicoterapia, arteterapia e outros. Todos com um objetivo:

intervenções mais humanas e solidárias, mesmo com o demorado processo

que o paciente tem para chegar a bons resultados. O desejo de muitos pais e

profissionais é o surgimento de mais estruturas de atendimento multidisciplinar

clínico-terapêutico de qualidade, e que possa ser acessível a todos,

independente de condições financeiras.

A história do autismo e outros transtornos foram marcados por negros e

macabros métodos terapêuticos como a lobotomia, coma insulínico e

eletrochoques. Isto sem se preocupar com males irreparáveis aos pacientes. A

credibilidade era maior aos tratamentos fascistas que outros métodos não

agressivos, visto que era a filosofia da época, promovida pela maioria dos

poderes políticos e científicos vigentes, mesmo aqueles ditos democráticos e

humanitários.

Nesta monografia foram expostos fatos históricos importantes para a

arteterapia, o desejo de um melhor tratamento para distúrbios mentais.

Conflitos ideológicos e políticos fizeram parte desse cenário, marcados

63

principalmente pelas atitudes da psiquiatra Nise da Silveira contra tratamentos

terapêuticos desumanos. A descrença de que a arte poderia ser um meio

terapêutico para reabilitação social de pessoas com transtornos mentais era

comum, e necessitava de provas que afirmassem seu efeito de cura em

pacientes.

Desmistificar a arte em seu processo terapêutico foi a luta de muitos,

com suas contribuições em pesquisas, seja em artigos e monografias, livros e

outros. Não somos desconectados do mundo, das coisas e da natureza.

Aparentes seres independentes temos a necessidade de estarmos nele, sendo

influenciados e direcionados pelo meio - mundo - em seu estado mutável,

instável e transformador. A arte é reveladora em dizer em seus meios

expressivos que fazemos parte do universo e estamos conectados a ele.

A cor, os materiais em suas várias condições, os cheiros e tudo que

pudermos imaginar do meio influenciam em nossas estruturas psíquicas e

fisiológicas. Sendo notórios os efeitos curativos das práticas artísticas pela

ação de seu valor simbólico, não só no produto final, mas de todo o processo: o

olhar ao material, o manuseio, o cheiro, o tato e o ouvir. Cada fase do processo

de criação tem ação de canalizar e liberar pulsões psíquicas, tornando um ser

mais harmônico consigo e com o meio.

Aproveitando dos estudos de casos manifestados em artigos de outras

entidades, em análise, foi entendido a potencialidade das teorias e técnicas em

meio a vários métodos, dando importância a estrutura sensorial e aos

estímulos para o reforço da aprendizagem, como desempenho acadêmico,

comportamental, de comunicação e interação social recíproca.

Quanto às artes visuais como desenvolvimento de comunicação, seja

por apoios visuais, aplicativos de sites, games e produções artísticas plásticas,

tiveram demonstração positiva de desempenho. As que tinham características

recreativas com ações conjuntas possibilitaram a interação e atenção

recíproca, e também as atividades plásticas reduzindo os comportamentos

indesejáveis. Por meios expressivos externaram pulsões contidas, conflitos e

64

insatisfações emocionais.

Consuma-se como conclusão que a linguagem das artes visuais, em

qualquer tipo ou condição usada, é um veículo de comunicação inicial

(alternativo) para o autista. A subjetividade e valor simbólico das produções

criativas estimulam uma construção interior que possibilita a consciência

existencial de si, do outro e do meio, desenvolvendo as relações recíprocas,

seja por comportamento ou comunicação.

Compreendendo que em meio à estrutura multidisciplinar clínico-

terapêutica, necessária ao tratamento de crianças com TEA, há de manter

incluso a arteterapia em suas múltiplas modalidades expressivas.

65

BIBLIOGRAFIA

ALVARENGA, Valéria Metroski de. Artes visuais como apoio pedagógico a

crianças e adolescentes com transtornos psíquicos. In: Anais do IX Encontro do

Grupo de Pesquisa de Educação, Arte e Inclusão - 01 e 02 de outubro/2013 -

Florianópolis (SC) - CEARTE/UDESC - ISSN: 2176-1566.

ANDRIOLO, Arley. A “Psicologia da Arte” no Olhar de Osório Cesar: Leituras e

Escritos. In: Psicologia ciência e profissão. Volume 23, número 4, 2003, p.74-

81. ISSN 1414-9893.

ASSOCIATION, American Psychiatric. Manual Diagnóstico e Estatístico de

Transtornos Mentais. Tradução de Maria Inês Corrêa Nascimento... et al., 5ª

edição. São Paulo (SP): Artmed, 2014. ISBN 978-85-8271-088-3

Bíblia Sagrada: tradução e edição autorizada da Bíblia Reina-Valera 1997.

(RVR97). 1ª edição. Rio de Janeiro: 2011 144p.; 13,5x20,6cm. ISBN 978-85-

7140-559-2.

BLOCK, Ana Mercê Bahia; FURTADO, Odair; TEIXEIRA, Maria de Lourdes

Trassi. Psicologias: uma introdução ao estudo de Psicologia. 13ª edição. São

Paulo (SP): Saraiva, 1999.

CARRANO, Eveline; REQUIÃO, Maria Helena. Materiais de arte: sua

linguagem subjetiva para o trabalho terapêutico e pedagógico. Rio de Janeiro

(RJ): Wak Editora, 2013. 216p. : 24cm. ISBN 978-85-7854-247-4.

CUNHA, Eugênio. Autismo e inclusão: psicopedagogia práticas educativas na

escola e na família. 5ª edição. Rio de Janeiro (RJ): Wak Editora, 2014. 140p.:

21cm. ISBN 978-85-7854-042-5.

66

CUNHA, Eugênio. Autismo na escola: um jeito diferente de aprender, um jeito

diferente de ensinar - ideias e práticas pedagógicas. 2ª edição. Rio de Janeiro

(RJ): Wak Editora, 2013. 144p.: 21cm. ISBN 978-85-7854-237-5.

DANTAS, Isadora. PECS chega oficialmente ao Brasil e revoluciona a terapia

com autistas. In: Comunicar - revista do Sistema de Conselho Federal e

Regionais de Fonoaudiologia. Ano XIII - número 57, abril de 2013, p.30-31.

Diário Oficial da Presidência da República do Brasil. Decreto lei nº 7.617, de 17 de novembro de 2011. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Decreto/D7617.htm> e acesso em 17/01/2013. Diário Oficial da Presidência da República do Brasil. Lei nº 12.764, de 27 de dezembro de 2012. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12764.htm> e acessado em 17/01/2013. ELLIS, Kathryn. Autismo. Tradução de Pedro Paulo Rocha. Rio de Janeiro

(RJ): Editora Revinter, 1996. ISBN 85-7309-064-2.

FARAH, Leila Sandra Damião; GOLDENBERG, Mirian. O autismo entre dois

pontos. In: Revista CEFAC - Atualização científica em fonoaudiologia.volume

31, número 3, 2001, p.19-26.

FERNANDES, Carlos. Jean-Marc-Gaspard Itard. (Biografia). Disponível em <http;//www.dec.ufcg.edu.br/biografias/JeanItar.html> e acessado em 06/11/2014.

FRANCES, Allen. DSM-5 in Distress. In: Blog Psychology Today. Publicado em 20 de novembro de 2012. Disponível em <http://www.psychologytoday.com/blog/dsm5-in-distress/201211/will-the-dsm-5-reduc...> e acessado em 27/10/2014.

FURTH, Gregg M. O mundo secreto dos desenhos: uma abordagem

junguianas da cura pela arte. Tradução de Gustavo Gerheim. São Paulo (SP):

Paulus, 2004. ISBN 978-85-349-2195-4.

GOLDSTEIN, Ariela. O autismo sob o olhar da Terapia Ocupacional - Um guia

de orientação para os pais. 5ª edição. São Paulo (SP): Casa do Novo Autor

67

Editora, 2012. ISBN 978-85-7712-138-0.

HOEBEL, E. Adamson; FROST, Everett L. Antropologia Cultural e Social.

Tradução de Euclides Carneiro da Silva. São Paulo (SP): Editora Cultrix,1976.

JUNG, Carl G.; FRANZ, M.-L. von; HENDERSON, Joseph L.; JACOBI, Jolande;

JAFFÉ, Aniela. O Homem e seus Símbolos. Tradução de Maria Lúcia Pinho,

12ª edição. Rio de Janeiro (RJ): Editora Nova Fronteira, 1993

KHOURY, Laís Pereira; TEIXEIRA, Maria Cristina Trigueiro Veloz; CARREIRO,

Luiz Renato Rodrigues; SCHWARTZMAN, José Salomão; RIBEIRO, Adriana

de Fátima; CANTIERI, Carla Nunes. Manejo comportamental de crianças com

Transtorno do Espectro do Autismo em condições de inclusão escolar: guia de

orientação a professor. [livro eletrônico], São Paulo: Memnon, 2014. 1.004,23

Kb; PDF. ISBN 978-85-7954-053-0

KWEE, Caroline Sianlian; SAMPAIO, Tania Maria Marinho; ATHERINO, Ciríaco

Cristóvão Tavares. Autismo: uma avaliação transdisciplinar baseada no

programa TEACCH. In: Revista CEFAC. Volume 11, número 2, 2009, p.217-

226.

LADEIRA, Sónia Andreia da Maia. A Percepção dos Educadores de Infância e

dos Professores do 1º Ciclo sobre a Importância das Expressões artísticas em

Crianças Autistas no Contexto da Sociabilidade. Escola Superior de Educação

João de Deus. Lisboa - dissertação para obtenção do grau de Mestre em 2012.

p.29-37.

LAURENT, Éric. A batalha do autismo: da clinica à política. Tradução de

Claudia Berliner. 1ª edição. Rio de Janeiro: Zahar, 2014. ISBN 978-85-378-

1190-0.

LEAR, Kathy. Ajude-nos a aprender: Manual de Treinamento ABA – Parte I.

Tradução de Margarida Hofmann Windholz...et al. Comunidade Virtual Autismo

no Brasil. Disponível em <

http://www.ebah.com.br/content/ABAAAA9SsAG/comunidade-virtual-autismo-

68

no-brasil> e acessado em 06/01/2015.

LOWENFELD, Viktor; BRITTAIN W. Lambert. Desenvolvimento da Capacidade

Criadora. Tradução de Álvaro Cabral. São Paulo (SP): Editora Mestre Jou,

1970.

LÜSCHER, Max; SCOTT, Ian A. O teste das cores de Lüscher. Tradução de

Edmond Jorge. Rio de Janeiro (RJ): Editora Renes, 1969.

MELLO, Ana Maria S. Ros de. Autismo: guia prático. 4ª edição. São Paulo:

AMA; Brasília: CODE, 2004.

MELLO, Cleusimari M. Colombo; SGANZERLA, Maria Adelina R. Aplicativo

Android para Auxiliar no Desenvolvimento da Comunicação de Autistas. In:

XVIII Congresso Internacional de Informática Educativa, TISE 2013: Porto

Seguro (RS). Volume 9, p.231-239. ISBN: 978-956-19-0836-9

MELO, Walter. Nise da Silveira e o campo da Saúde Mental (1944-1952):

contribuições, embates e transformações. In: Mnemosine. Volume 5, número 2,

2009, p.30-52.

MILCZARCK, Andressa; PEDROTTI, Bruna Gabriella; TAG, Jéssica; BONFANTE, Maria Eduarda. DSM-V, contexto histórico e crítico. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Julho 2013. Disponível em <http://www.ufrgs.br/psicopatologia/wiki/index.php/DSM-V:_contexto_hist%C3%B3rico_e_cr%C3%ADtico> e acesso em 19/08/2014.

NETO, Otílio P. da S.; SOUSA, Victor H. V. de; BATISTA, Gleison B.;

SANTANA, Fernando C. B. G.; JUNIOR, João M. B. O. G-TEA: Uma

ferramenta no auxílio da aprendizagem de crianças com Transtorno do

Espectro Autismo, baseado na metodologia ABA. In: XII Simpósio Brasileiro de

jogos e Entretenimento Digital - Universidade Presbiteriana Mackenzie - São

Paulo (SP),outubro de 2013. ISSN: 2179-2259.

OLIVIER, Lou de. Psicopedagogia e arteterapia: teoria e prática na aplicação

em clinicas e escolas. 2ª edição. Rio de Janeiro: Wak editora, 2008. 118p.:

18cm. ISBN 978-85-88081-71-0

69

OSTROWER, Fayga. Criatividade e processo de criação. 28ª edição. Petrópolis

(RJ): Vozes, 2013.

PHILIPPINI, Angela. Linguagem, materiais expressivos em arteterapia: uso,

indicações e propriedades. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2009. 148p.: 28cm.

ISBN 978-85-7854-070-8

PORTO, Bráulio Eloi de Almeida. A Criação de Desenhos-Estórias na

Psicoterapia de um Adolescente com Síndrome de Asperger. In: XVIII

Congresso Internacional da Associação Junguiana do Brasil, 2010: Curitiba

(PR), p.1-7. Disponível em <http://www.ijpr.org.br/artigos-monografias.php> e

acessado em 06/01/2015.

RAFOLS, Carolina. Temple Grandin. In: Revista Autismo. Ano IV - número 3,

março de 2013, p.4-6.

ROCHA, Dina Lúcia Chaves. Brincando com a criatividade: contribuições

teóricas e práticas na Arteterapia e na Educação. 1ª edição. Rio de Janeiro:

Wak Editora, 2009. 184p.: 23cm. ISBN 978-85-7854-072-2.

ROUSSEAU, René-Lucien. A Linguagem das Cores: a energia, o símbolo, as

vibrações e os ciclos das estruturas coloridas. Tradução de J. Constantino K.

Riemma. 10ª edição. São Paulo, (SP): Editora Pensamentos, 1995.

SABBATINI, Renato M. E. A História da Lobotomia. In: Revista Cérebro &

Mente. Publicado em junho de 1997. Disponível em

<http://www.cerebromente.org.br/n02/historia/lobotomy_p.htm > e acessado em

26/11/2014

STELZER, Fernando Gustavo. Uma pequena história do autismo. Caderno

Pandorga de Autismo, volume 1. São Leopoldo (RS): Associação Mantenedora

Pandorga, 2010.

TOLIPAN, Monica. Uma presença ausente. Rio de janeiro: Jorge Zahar Editora,

2002. ISBN 85-7110-662-2.

70

TRABUCHO, Isabel do Vale. Autistas Artistas - a criação na expressão visuo-

plástica de jovens com síndrome de Autismo. In: Revista Recrearte 11> III,

janeiro de 2010. ISSN 1699-1834

VIEIRA, Soraia cunha Peixoto. O que é PECS? In: Revista Autismo. Ano II´-

número 2, abril de 2012, p. 14.

VITÓRIA, Revista. Cidadania: Pais e mães de pessoas com transtorno do

espectro do autismo lutam para aplicação da Lei Berenice Piana. Edição 39.

Niterói (RJ): Andef, 2014, p.32-36.

Wikipedia, the free enciclopédia. Ernst Wilhelm von Brücke. Disponível em <http://en.wikipedia.org/wiki/Ernst_Wilhelm_von_Br%C3%BCcke> e acesso em 18/11/2014.

71

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO..................................................................................... 02

AGRADECIMENTOS................................................................................... 03

DEDICATÓRIA............................................................................................ 04

RESUMO............................................................... ..................................... 05

METODOLOGIA.......................................................................................... 06

SUMÁRIO.................................................................................................... 07

INTRODUÇÃO............................................................................................. 08

CAPITULO I: AUTISMO – UM MUNDO À PARTE ..................................... 10

1.1 – Autismo, um termo histórico e de patologias ..................................... 10

1.2 – Características do TEA ...................................................................... 13

1.2.1 – Interação social .................................................................... 13

1.2.2 – Comunicação ....................................................................... 14

1.2.3 – Comportamento ................................................................... 15

1.3 – Autismo enquanto espectro ............................................................... 17

1.4 – Fatos políticos e sociais ..................................................................... 18

CAPÍTULO II: ARTETERAPIA – A ARTE É CURA .................................... 21

2.1 – Arte, antigo processo terapêutico ...................................................... 21

2.2 – Arteterapia, uma ciência .................................................................... 22

72

2.3 – Osório Cesar ...................................................................................... 24

2.4 – Nise da Silveira .................................................................................. 26

2.5 – Linguagem dos materiais ................................................................... 30

2.5.1 – Símbolos, sonhos materializados ........................................ 30

2.5.2 – A cor como valor simbólico .................................................. 32

2.5.3 – A cola, um material expressivo ............................................ 33

2.5.4 – Fotografia: passado, presente e futuro ................................ 35

2.5.5 – Pinturas, fluidos de cor ........................................................ 36

2.5.6 – Materiais de desenhos ......................................................... 37

2.5.7 – Massas, moldando formas ................................................... 38

2.5.8 – Materiais duros, moldando formas na força ......................... 40

2.5.9 – Uso de materiais diversos .................................................... 41

CAPÍTULO III: TERAPIAS EDUCATIVAS PARA CRIANÇAS COM TEA .. 42

3.1 – Teoria comportamental (Behaviorismo) ............................................. 43

3.2. – O método TEACCH .......................................................................... 44

3.3 – O método ABA ................................................................................... 47

3.4 – O método PECS ................................................................................ 48

3.5 – Terapia educacional com computadores ........................................... 51

3.6 – Criações artísticas de autistas ........................................................... 53

3.6.1 – Potencial criativo .................................................................. 54

73

3.6.2 – A técnica desenhos-estórias ................................................ 56

3.6.3 – Modalidades expressivas em crianças com transtornos ..... 58

CONCLUSÃO ............................................................................................. 62

BIBLIOGRAFIA ........................................................................................... 65

ÍNDICE ........................................................................................................ 71