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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
ARTETERAPIA PARA CRIANÇAS COM TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTÍSTICO (TEA), UTILIZANDO AS ARTES
PLÁSTICAS
Por Aloir Lins da Silva
Orientador Profa. Me. Fátima Alves
Rio de Janeiro 2014
DOCUMENTO PROTEGID
O PELA
LEI D
E DIR
EITO AUTORAL
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
ARTETERAPIA PARA CRIANÇAS COM TRANSTORNO DO
ESPECTRO AUTÍSTICO (TEA), UTILIZANDO AS ARTES
PLÁSTICAS
Apresentação de monografia à AVM Faculdade
Integrada como requisito parcial para obtenção do
grau de especialista em Arteterapia em Educação e
Saúde no curso Pós-Graduação ‘Lato Sensu‘.
Por: Aloir Lins da Silva
Rio de Janeiro 2014
AGRADECIMENTOS
A todos os professores que contribuíram para a minha formação. A minha irmã Cássia, esta vem me dado palavras de ânimo e auxílio quando necessito. Ao SUPREMO SENHOR que habita em cada um de nós e se manifesta nas boas ações. A Este último meu total amor e agradecimento.
DEDICATÓRIA
Que esta monografia seja dedicada aos meus filhos e todas as crianças, com a intenção de um mundo melhor e mais digno no futuro. Também para todos os familiares, profissionais e aqueles que se doam para uma melhor qualidade de vida das crianças autistas.
RESUMO
Desde Leo Kanner e Hans Asperger, pioneiros nos estudos do autismo
como síndrome, é conhecida a busca de soluções para amenizar deficiências
que uma criança tem na interação social e comunicação. A arteterapia vem de
fato demonstrar efeitos satisfatórios em várias patologias, seja ela de origem
psíquica ou neurológica. Entendendo o perfil clínico da criança, conheceremos
a melhor ação de métodos terapêuticos pelas artes visuais e sua possível
eficácia. A linguagem das artes visuais é o melhor veículo de comunicação
inicial para o autista, na sua subjetividade levará a criança entender a
existência de si e do outro, levando ao desenvolvimento emocional que
estimule as formas de comunicação e interação. Esta monografia vem divulgar
trabalhos realizados por pesquisadores que possam defender o uso das artes
visuais no tratamento com crianças autistas, ou melhor com TEA - Transtorno
do Espectro Autístico.
METODOLOGIA
O método usado na elaboração desta monografia foi a pesquisa indireta
bibliográfica, contendo relatos de livros, artigos, revistas e teses com as suas
respectivas instituições mantenedoras.
Aqui estão expostos conteúdos de autores que tiveram uma pesquisa de
campo no método descritivo, fatos analisados e descritos dos comportamentos
e processos de aprendizagem, também em processos terapêuticos pelas artes
visuais. Agregando tais informações com o propósito de defender a importância
das artes plásticas no tratamento da deficiência comportamental e interativa
social de crianças com TEA - Transtorno do Espectro Autístico.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ......................................................................................... 8
CAPÍTULO I: Autismo - um mundo à parte ............................................. 10
CAPÍTULO II: Arteterapia - a arte é cura ................................................. 21
CAPÍTULO III: Terapias educativas para crianças com TEA .................. 42
CONCLUSÃO .......................................................................................... 62
BIBLIOGRAFIA ........................................................................................ 65
ÍNDICE ..................................................................................................... 71
8
INTRODUÇÃO
Tantas são as formas conseguidas através da arte de amenizar ou
mesmo solucionar problemas patológicos, pois este afeta a emoção, se
tornando o motivo de atenção e interesse do paciente, sentindo prazer e
satisfação pelo fazer artístico e criação. É aproveitando esse viés que
poderemos melhorar o processo educacional, principalmente com crianças com
necessidades especiais. A inclusão escolar de alunos com TEA pode parecer
uma barreira intransponível, mas com a busca de soluções, paciência e
trabalho com muita dedicação, o obstáculo possa desaparecer.
Crianças com TEA - Transtorno do Espectro Autístico - são
caracterizadas pelo prejuízo na qualidade de interação social: não conseguem
ter contato visual direto ou quando olha não mantêm o olhar; usam pessoas
como ferramentas quando quer algo, segurando na mão desta e levando ao
que deseja; não fala ou produz ruídos mesmo sem danos orgânicos que o
impeçam de comunicar pela voz; ecolalias imediatas e tardias, isto é,
repetições de falas ou frases já ouvidas pelo autista. É chamado de espectro
autístico por ter variações nos padrões comportamentais, encontrando crianças
em estados mais brandos aos mais severos, tornando difícil o seu diagnóstico.
Através de um método lúdico no processo de ensino, usando a
arteterapia, somos capazes de melhorar a formação cultural e comportamental
da criança com TEA. Observar e reconhecer atrativos para essa criança seria o
primeiro passo, para depois aplicar esse conhecimento como estímulo do
aprendizado. É necessário valorizar cada particularidade que a criança tem
com o transtorno, sua condição singular.
O capítulo primeiro, “Autismo - um mundo à parte”, é mais atuante em
caracterizar o perfil das crianças com autismo, desde as primeiras observações
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comportamentais, que levaram ao entendimento que se tratava de uma
síndrome com padrões peculiares, este percebido primeiro por Leo Kanner.
Iremos além, falando da criança com o transtorno em seu meio familiar, a
inclusão escolar e ações políticas que incluíram direitos sociais.
O capítulo segundo, “Arteterapia - a arte é cura”, vai discursar os vários
métodos terapêuticos no tratamento de doenças psíquicas pela arte.
Conheceremos os materiais de arte, cada um com sua linguagem subjetiva no
processo terapêutico, com o propósito de melhor escolha na realização do
tratamento.
O capítulo terceiro, “Terapias educativas para crianças com TEA”,
contém informações teóricas de pesquisadores e métodos terapêuticos através
das artes visuais para melhorar a comunicação e a interação social da criança
com TEA, com isso, incluí-lo na sociedade com uma capacidade maior de
independência.
Atividades lúdicas educativas que estimulem o prazer de aprender,
explorando habilidades do paciente. A linguagem das artes visuais, mesmo
subjetiva é o melhor veículo de comunicação inicial para o autista, pois será o
condutor que levará a criança entender a existência do outro e de si, fazendo
gradativamente o desenvolvimento emocional que estimule a aprender as
várias formas de se comunicar e interagir com o outro.
Encontrar caminhos para um melhor tratamento terapêutico, assim
buscando oferecer melhor qualidade de vida para pacientes com Transtorno do
Espectro Autístico (TEA), isto é o desejo de todos os pais, profissionais
terapeutas, educadores, médicos e de toda a sociedade.
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CAPÍTULO I
AUTISMO - UM MUNDO À PARTE
O autismo, conhecido por muitos como um transtorno em que a pessoa
se mantém num retraimento em si mesmo, com raras ou nenhuma
manifestação de sentimentos, comunicação e relação social. Deve ser uma
grande frustração para os pais e familiares em perceber que seu filho tem um
comportamento apático com eles, como se fossem inexistentes ou não
fizessem parte de um mesmo mundo.
Dificuldades ocorreram no decorrer dos anos em pesquisas para
entender a patologia autista, cujo termo vem sofrendo mudanças e discursos
desde as primeiras décadas do século XX.
1.1 - Autismo, um termo histórico e de patologias
Um psiquiatra suíço Eugen Bleuler, em 1911, usou pela primeira vez a
palavra autismo para descrever a fuga da realidade e retraimento interior dos
pacientes acometidos de esquizofrenia, como declarado por Eugenio Cunha
(2014). Sua etimologia é grega, deriva de “autos”, que significa “de si mesmo”.
Em 1943, Leo Kanner, este psiquiatra infantil dos EUA, observou e
descreveu de onze crianças que tinha um padrão comum de comportamentos.
Os principais padrões compreendiam os seguintes: falta de contato emocional;
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mutismo ou maneira própria de falar inadequada as conversações; fixação e
desejo por objetos, habilidosos no manuseio deles; ansioso e obsessivo desejo
de preservação do ambiente e rotinas familiares; inteligência boa por
apresentar capacidade de memória; boa habilidade envolvendo encaixes e
montagens, como jogos de encaixe e quebra cabeças. Determinou Kanner que
estas características definiam uma síndrome e deu o nome de “autismo infantil
precoce”. Por ter sido usado o termo autismo anteriormente para descrever o
isolamento social encontrados em adultos esquizofrênicos, isto criou uma
confusão entre os dois distúrbios que afetou em vários graus o enfoque da
síndrome.
“No começo, como destaca Ian Hawking, o autismo estava
associado à esquizofrenia infantil. Esses dois conceitos se
separaram em 1979; [...].” (Éric Laurent, 2014, p.27).
É fato que Kanner foi o primeiro a perceber em um grupo de crianças
com um padrão comportamental, mas é também encontrado em outras
literaturas médicas anteriores a ele relatos similares de pacientes crianças.
Podemos mencionar o médico Jean Marc Gaspard Itard (1774-1838) que
descreve com detalhes o comportamento de Vitor, um menino de etária
aproximada de 12 anos, no final do século XVIII. Este tinha sido encontrado
nos bosques de Aveyron. Lendo o relatório de Itard, em seus detalhes, sem
dúvida Vitor era um autista. Relatos de muitos psiquiatras no final do século
XIX e início do XX, descrevendo crianças com formas anormais de
comportamento, aos quais muitos os referiam sendo “psicóticas”, mas na
verdade algumas delas eram autistas. Em 1942, Gesell e Amatreeda,
psicólogos que escreveram um livro sobre desenvolvimento de crianças com
relatos na deficiência destas na interação social e comunicação,
comportamento repetitivo e habilidades viso-espacial. Tal menção era muito
similar aos descritos por Kanner.
Hans Asperger, psiquiatra australiano, descreve um grupo de
adolescente com relacionamentos sociais extravagantes, falta de empatia com
outros, comunicação não-verbal pobre, realizam atividades repetitivas, aversão
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a mudanças de rotina e grande interesse e atenção especiais como: tabela de
horários de trens, movimentos de planetas. Demonstravam memória mecânica,
mas com pouca compreensão abstrata. Alguns apresentavam movimentos
corporais exóticos e muitos deles eram desajeitados e sem coordenação nos
movimentos complexos. Ele denominou este conjunto comportamental
patológico de “psicopatia autística”. Atualmente seu nome é aplicado para
referir a um dos espectros do autismo, o asperger.
Fonoaudiólogos publicaram também relatos de crianças com fala
repetitiva e problemas no aspecto social interpessoal e comportamento verbal,
chamados por eles de “distúrbios pragmáticos”. Na psiquiatria o termo
“personalidade esquizóide” foi muito usado para adolescentes, estes pareciam
com os descritos por Hans Asperger.
Visto aqui que, os sintomas comportamentais, mesmo aos vários termos
usados, na verdade se tratava de perturbações distintas, que todos os autores
em seus textos enfatizavam a perturbação e deficiência na interação social das
crianças, como Kanner já tinha referido.
Fatos recentes como o DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais), com edição em maio de 2013, marcou a sua história por
criar polêmicas em torno do nome autismo. A primeira publicação foi em 1952 a
qual tinha categorizado em sua lista com menos de 100 patologias, que vinha
crescendo a cada nova edição, chegando o DSM IV apresentando com 279
categorias de patologias mentais. A síndrome de asperger foi mantida e
considerada como um dos Transtornos do Espectro do Autismo (TEA) no
penúltimo manual. O quinto e atualmente último DSM, tinha a pretensão de
retirar este do espectro. Tal fato levou a demonstração de insatisfação dos que
se identificavam pelo nome, se manifestando e reivindicando a continuidade do
termo na categoria do transtorno.
Muitos dos conflitos em determinar o termo autismo podem ter sua
origem não só científica, mas política ou até mesmo econômica. De certo
podemos afirmar o quanto complexo o autismo é no termo e também no
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diagnóstico. Isso ocorre por uma carência de conhecimento científico da origem
do autismo que pode ser a consequência por contaminação de toxinas ou por
anomalia genética. Também leva a muitos a pensar que se trata talvez de mais
de uma síndrome. Há uma dificuldade na precisão de um diagnóstico, por não
haver um padrão fixo nas manifestações comportamentais dos autistas. Isso
reforça o porquê de muitos autistas reagirem de maneira diferente nos
tratamentos terapêuticos, muitos deles declaram ter eficiência só em alguns
pacientes, não conseguindo abranger todos com o transtorno.
1.2 - Características do TEA
Nos estudos de Kathryn Ellis (1996), analisados em um grupo de
crianças com comportamento autístico, se encontravam algumas com níveis
muito diferentes de desempenho em testes de inteligência. Para tornar as
coisas mais difíceis, começou a se constatar que comportamentos autísticos
podem ocorrer associações com todos os tipos de distúrbios, como surdez,
cegueira, paralisia cerebral, epilepsia até em casos raros na síndrome de
Down. (p.4)
Pontos marcantes que caracterizam a criança com TEA, ocorrem
perturbações em três necessidades humanas para o convívio social: interação
social, comunicação e comportamento.
1.2.1 - Interação social
Apesar de variar muito na forma de se manifestar, a perturbação na
interação social é uma das principais características que pode ser responsável
por outras. O desinteresse e indiferença por outras crianças ou adultos.
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Quando tinha uma aparente interação, isto era para suprir uma necessidade
como alimento.
Pode usar as pessoas como ferramenta para demonstrar o que deseja,
pegando a mão da pessoa para apontar ou pegar o objeto desejado. Não
compartilham mesmo interesse com outras, demonstrando dificuldades em
manter relações sociais, tem preferências em atividades solitárias.
Os jogos de imaginação, comuns nas brincadeiras infantis que
reproduzem a realidade a sua volta, seja a relação familiar, os programas de
TV, interpretando em grupo ou com brinquedos se encontra para o autista
prejudicado. Muitas dessas crianças fixam num objeto e mantêm movimentos
constantes e repetitivos, como o movimento de um vai e vem de um carrinho
de brinquedo. Isso é uma característica que revela a incapacidade que tem o
autista em reconhecer e reproduzir o que o outro pensa e sente, dificultando
assim a interação social.
1.2.2 - Comunicação
A comunicação pode chegar a se manifestar na total ausência de formas
de realizar ou mesmo compreensão, para outras formas de comunicação, mas
este se realizando de forma anormal, por meio de repetições de frases. A
dificuldade da comunicação, seja ela verbal ou não verbal, como: utilizando
gestos e expressões da facial, linguagem corporal, variações sonoras da
linguagem. Pode ocorrer a ausência de todas as manifestações de
comunicação ou apresentar uma linguagem em situação repetitiva e
desordenada, sem propósito comunicativo.
Uma reação comum da dificuldade da linguagem verbal autista é a
ecolalia imediata e tardia. Estas são repetições de frases ou palavras
realizadas no momento ou horas ou dias após. Podendo ser essas repetições
uma reprodução do que ouviu de uma pessoa que tentou uma comunicação.
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1.2.3 - Comportamento
A maioria possui habilidade viso espacial, capacidade esta de
organização de objetos de encaixes e agrupamentos. Temos como exemplo os
jogos de encaixes e os quebra-cabeças, ao qual eles demonstram muito
habilidosos. É visto também nessas crianças uma boa capacidade de memória
visual. O asperger, um dos espectros do autismo, tem boa capacidade em
memorizar informações, mas desprovido de emoções. As suas habilidades
cognitivas variam de acordo com suas dificuldades na interação social
Apresenta risos inadequados ou fora de sentido em determinados fatos
ocorridos, demonstrando ser uma reprodução sem motivo para tal.
Comportamentos motores estereotipados e repetitivos como: pular,
balançar, fazer movimentos com dedos, caretas e outros. Um destes é
chamado de ‘flapping’, movimentos dos braços como se imitando os bater de
asas.
Problemas com o sono, podendo ficar acordado em altas madrugadas
por causa da sua hiperatividade, levando os pais a aflição e desconforto
familiar.
Dificuldades em mudanças nas rotinas, sejam familiar, escolar e outros.
Quando alterada a rotina a criança fica irritada, pode chegar a ser agressiva
com outras pessoas ou consigo mesmo. Nesse momento chamamos esse
comportamento de desafiante.
O comportamento desafiante pode ocorrer por falta de competência na
interação social, por alguém interferir com as suas atividades repetitivas ou
rotineiras, quando se sente ameaçada ou confusa. Responsáveis da criança ou
pessoas desavisadas por não terem paciência e pelo próprio desconhecimento
do que é o autismo, podem ativar o comportamento desafiante e fazendo com
que a criança venha se auto-agredir ou agredir outros, fazer ruídos repetitivos
com a voz ou objetos, e outras atitudes mais.
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Não mantêm o olhar nas pessoas, mesmo sendo chamada por estas,
podendo manter o olhar de forma fixa ou anormal, sem propósito de
comunicação não verbal ou de interesse compartilhado.
“Para Butterworth e Jarret, o olhar é uma dimensão
especial do comportamento social na medida em que se torna um
indicador de interesse e de atenção para um observador, assim
como apontar e gesticular, ou seja, é uma forma de o indivíduo
relacionar-se e comunicar-se com os outros“. (Khoury et al., 2014,
p.22).
Isso revela o comprometimento que a criança com transtorno tem na
produção de compreensão de atos de atenção compartilhada, seja na visão,
nos gestos, na fala, etc.
Quanto à coordenação motora, verificamos que algumas crianças têm
esta habilidade deficiente, com dificuldades em andar, em movimentar as
mãos, movimentos corporais desajeitados ou com muita dificuldade para
realizá-los. Também encontramos crianças com regular ou ótima habilidade
motora, ao ponto de serem ágeis em movimentos finos, como a manipulação
dos dedos.
Os estímulos sensoriais de uma criança podem ter graus do
hipossensível ao hipersensível, variando nos sentidos afetados. Isso pode
ocorrer na sensação de quente e frio, na hora de um banho, sensações
desagradáveis pelo toque de pessoas, objetos ou roupas no corpo, fascínio por
objetos brilhantes, sensibilidades a barulhos e ruídos. Podendo a criança
ignorar por não sentir, ter fascinação ou angústia pelos estímulos
mencionados. Tal estímulo sensorial pode desencadear um comportamento
desafiante quando provoca angústia e incômodos.
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1.3 - Autismo enquanto espectro
Falar do espectro é perceber a falta de padrões fixos comportamentais
que define o autismo, expostos anteriormente. Essas características sejam na
interação social, comunicação e comportamento podem apresentar em graus
variados ou em condições variadas, com poucas, médias ou muitas
manifestações em um indivíduo autista. Além disso, com o passar dos anos o
paciente desde os seus poucos anos de vida, na infância, adolescência e até a
fase adulta pode passar por transformações comportamentais que podem
confundir médicos e profissionais, necessitando de uma cuidadosa observação
e análise para chegar ao diagnóstico preciso. O melhor é que seja já observado
o transtorno desde os seus poucos anos de vida.
Podemos aqui declarar um estudo realizado por Kathryn Ellis na região
de Camberwell nos EUA em pacientes com transtorno autístico ao qual ela
confirma a condição do espectro:
“A mais adequada formulação das descobertas, desse e
de outros estudos similares, é que a perturbação social é um
distúrbio de desenvolvimento e que a diferentes manifestações,
sejam ou não designadas por síndromes, são todas partes de um
espectro de distúrbios relacionados, a serem referidos como um
contínuo autístico” (Kathryn Ellis,1996, p.8).
Ela ainda faz menção da importância maior para a educação: para ela é
saber que a criança é socialmente perturbada, conhecendo detalhes de suas
habilidades e deficiências nas suas áreas de funcionamento, do que se
preocupar com o termo específico, em que tipo de autismo se estabelece.
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1.4 - Fatos políticos e sociais
Os avanços em pesquisas por uma procura em entender melhor o
transtorno do Espectro Autístico (TEA), vêm atualmente melhorando e
definindo precocemente o diagnóstico. É de perceber talvez o atual aumento de
crianças com autismo, não pelo fato de ter tido um crescimento maior em
número na sociedade, mas sim por existir pessoas sem o diagnóstico
anteriormente. Algumas pesquisas apontam atualmente que possa ter um caso
de autismo em cada 150 ou 100 nascimentos no mundo. O transtorno do
autismo pode ocorrer nos meninos cinco ou quatro vezes mais do que em
meninas.
Allen Frances (2012) foi presidente responsável na produção da 4ª
edição do “Manual Diagnóstico de Transtorno de Doenças Mentais”, DSM-IV.
Colocou-se em oposição com a nova e atual edição, o DSM-5, fazendo ataques
críticos de algumas mudanças referentes a alguns transtornos, um desses
estava o autismo. Tal informação pode ser encontrada em seu blog
“Psychology Today”. Declara ele que falta especificar detalhes do transtorno,
isso faz diminuir assim o número de pessoas identificadas.
O atual DSM não teve a preocupação em especificar e qualificar as
variedades contidas no espectro. Visto que mesmo reconhecendo que o
asperger faz parte do espectro não o colocou como subgrupo do espectro
enquanto termo, fazendo parte do TEA sem diferenciação dos outros. Isso
criou uma polêmica e manifestações por aqueles que foram identificados por
asperger. É entendido e esclarecido o fato exposto acima pelo trecho da página
51 do manual DSM-5:
“Nota: Indivíduos com um diagnóstico do DSM-IV bem
estabelecido de transtorno autista, transtorno de asperger ou
transtorno global do desenvolvimento sem outra especificação
devem receber o diagnóstico de transtorno do espectro autista.
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Indivíduos com déficits acentuados na comunicação social, cujos
sintomas, porém, não atendam, de outra forma, critérios de
transtorno do espectro autista, devem ser avaliados em relação a
transtorno da comunicação social (pragmática)”.
Os termos que caracterizam os tipos de autismos perdem a sua
importância de especificação para ser substituídas em diagnóstico pelo termo
Transtorno do Espectro Autista (TEA).
A síndrome de rett é categorizada no manual como um transtorno fora
do espectro autista. Nos procedimentos para registros do DSM-5, é orientado a
referir a síndrome e outras como associação ao autismo, quando com os
sintomas do mesmo, mas nunca como um espectro.
A síndrome de rett, além de ter características do autismo, se apresenta
com a desaceleração do crescimento do cérebro, levando a perda das
habilidades motoras. Apresenta somente em crianças do sexo feminino e é
mais raro que o próprio autismo. O processo degenerativo da criança é muito
grave e geralmente terminam em óbito.
É importante falar da luta dos pais e responsáveis de pessoas autistas,
organizados em associações e procurando meios para que seus filhos
pudessem usufruir de melhores condições sociais, principalmente na educação
e tratamentos médicos e terapêuticos.
O final do século XX e início do século XXI marcam no Brasil
transformações na educação inclusiva, seja pelas leis, pelas adaptações de
escolas regulares nas tarefas de se estruturar profissionalmente e fisicamente
para um ensino mais especializado, se ajustando assim para pessoas com
deficiências.
Como conquista para uma educação inclusiva no BRASIL, veio a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDBEN de nº 9394 do ano de 1996,
que afirma a inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais em
rede de ensino regular. Mantendo estes com outros sem necessidades
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especiais nas mesmas classes comuns.
Em 27 de dezembro de 2012, foi publicada a lei de nº 12.764 (Lei
Berenice Piana), que considera uma deficiência pessoas com transtorno do
autismo. Essa lei possibilitou o direito às pessoas com o transtorno a uma
educação especial, proteção contra a qualquer discriminação ou destrato,
benefícios e direitos de uma pessoa com deficiência, como consta na lei de nº
7.617 de 17 de novembro de 2011.
De acordo com a Revista VITÓRIA da ANDEF - Associação Niteroiense
dos Deficientes Físicos - (2014) a primeira clínica-escola pública para autistas
no Brasil foi inaugurada em dois de abril de 2014, esta data que também
comemoramos o Dia internacional de Conscientização do Autismo. Tal se
encontra no município de Itaboraí, mantida pela prefeitura através das
Secretarias de Educação e Saúde. A clínica-escola tem capacidade de atender
100 autistas, oferecendo serviços de atendimentos de profissionais como
psicólogos, fonoaudiólogos, terapeutas e neuropediatras, além de preparar as
crianças para o ensino regular. Só nesta região foram estimados que existem
cerca de três mil autistas. Presume-se que no Brasil chega a ter
aproximadamente dois milhões de autistas. (p.36)
É fato que muito tem que ser feito por essa população autista. Mesmo
com leis e ações políticas, é necessário muito trabalho e cooperação entre
familiares, profissionais da saúde, terapeutas e educadores. Por ser o
transtorno autista complexo e necessitar de um ensino e tratamento terapêutico
individualizado, é preciso de um conhecimento maior e particular do
comportamento do aluno/paciente, enquanto sujeito autista, para uma melhor
qualidade de ensino e, por consequência uma qualidade de vida.
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CAPITULO II
ARTETERAPIA - A ARTE É CURA
A arte tem em seu valor por expressar o que mais temos de essencial,
muitas vezes tão incompreendido por nós mesmos. Vivemos em dualidades,
conflitos que nos impulsiona a construir, transformar e criar o meio, tendendo a
exportar sentimentos no que fazemos e revelar de forma simbólica o que nós
somos e o que seremos. A condição de ‘sapiens’ do ser humano existe pela
combinação de opostos, consciente e inconsciente, que vão se transpondo
entre eles harmonicamente em memórias, idéias, pensamentos e sentimentos.
A desarmonia psíquica, quebra do elo entre os opostos, tornasse um transtorno
para com o indivíduo, impedindo de ter uma vida sociável saudável, harmônica
com o outro ou consigo mesmo. A arte pode ser o caminho para exteriorizar os
conflitos inconscientes por meios simbólicos, solucionando com o
autoconhecimento.
2.1 - Arte, antigo processo terapêutico
Quando as palavras não alcançam alguma forma de expressar seus
sentimentos dos fatos do dia a dia e do que não tem compreensão, é o
momento de utilizar a arte como linguagem, de forma subjetiva e simbólica,
possibilitando ser o conteúdo inconsciente materializado em objeto de
apreciação, tornando-o possivelmente mais consciente.
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A ação do tratamento usando a arte para alívio de dores, transtornos
emocionais, ou até curas em problemas psíquicos em geral já é antiga. Nos
rituais dos pajés, xamãs e outros tipos de sacerdotes, usam cânticos, danças,
pinturas, imagens simbólicas e vários tipos de materiais artesanais ritualísticos.
Davi, um jovem pastor israelita utilizou a música para amenizar o distúrbio de
Saul, seu rei, que estava possuído pelo espírito da loucura, como conta o
versículo da bíblia sagrada, no antigo testamento:
“Quando o espírito mau, da parte de Deus, vinha sobre Saul, Davi
tomava a harpa e tocava com suas mãos; e Saul sentia alívio e
ficava melhor, e o espírito mau se afastava dele.” (1 Samuel
16:23)
Não só a música, mas a aparência estética dos templos ou locais para
rituais, imagens, roupas, decorações e objetos sagrados, todos em conjunto
tinham que representar a filosofia, o pensamento religioso de forma simbólica,
isto agindo psiquicamente no indivíduo: mudando comportamentos, ajustando
sentimentos e emoções.
2.2 - Arteterapia, uma ciência
Quando o fenômeno começa a ser analisado em observação controlada,
conhecendo todo o seu processo de construção, passa a ser considerada
ciência. Mantendo assim uma ação mais eficiente do fenômeno, em benefício
do bem estar do ser humano. Foi como a arteterapia teve seu reconhecimento
científico, através de estudos e artigos científicos ocorridos nos séculos XIX,
XX, e no presente século.
Muitos historiadores consideram o médico francês Ambroise Tadieu o
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primeiro quem divulgou pesquisas de manifestações artísticas como forma
diagnóstica para doenças mentais. Isto publicado em livro no ano de 1872,
desencadeando assim vários estudos sobre as artes plásticas e a sua relação
com os distúrbios mentais. Tais pesquisadores como: Max Simon, Marcel Reja,
o advogado criminalista Lombrosa e outros, analisaram e interpretaram
desenhos e pinturas de acordo com as manifestações psíquicas e seus
distúrbios.
Não esquecendo também Ernst Wilhelm Ritter von Brücke (1819-1892),
alemão que escreveu artigos de Artes e as Bases Fisiológicas da Poesia
Alemã. Podemos considerá-lo como um dos precursores da arteterapia. Este
como mestre influenciou muito seu aluno Sigmund Freud (1856-1939).
Das publicações e trabalhos realizados é necessário falar de Walter
Morgenthaler (1883-1965), que analisando um confinado do Hospital
Psiquiátrico de Waldau, escreveu uma monografia com o nome “Um Alienado
Artista”. O paciente estudado, Adolf Wölfli, produziu obras em grandes números
como desenhos, pinturas pautas musicais, etc.
A importância de Freud vai da pesquisa intitulada “A interpretação dos
sonhos” em que descreve a organização da mente entre consciente e
inconsciente. Ele afirma em um dos seus artigos que o indivíduo melhor se
expressa de forma não verbal, por estarem as imagens alojadas em sua
maioria no inconsciente. Isso reforça a importância dos tratamentos
terapêuticos com as manifestações de linguagens e comunicações simbólicas
para o autoconhecimento do paciente. Em seus relatos declara a dificuldade de
seus pacientes em explicar os sonhos, por ser difícil traduzir as imagens. Cada
vez mais estes fatos vão desenvolvendo e revelando caminhos e métodos para
as práticas da arteterapia, muito mais quando entra em cena Carl Gustav Jung
(1875-1961) com o desenvolvimento da psicologia analítica.
Jung percebeu que seus pacientes faziam desenhos e relatavam seus
sonhos contendo imagens que representavam símbolos comuns de culturas,
religiões e povos de diversos lugares e tempos. Muitos se assemelhavam a
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contos e temas mitológicos, cujos pacientes muitas das vezes não os
conheciam. Com essa observação ele comprovou a teoria do Inconsciente
Coletivo.
“Alguns destes símbolos oníricos provêm daquilo a que o
Dr. Jung chamou “inconsciente coletivo” - isto é, a parte da psique
que retém e transmite a herança psicológica comum da
humanidade. Estes símbolos são tão antigos e tão poucos
familiares ao homem moderno que este é capaz de compreendê-
los ou assimilá-los diretamente.” (Joseph L. Henderson, 1964
p.107).
No 2º Congresso Internacional de Psiquiatria, realizado em Zurique no
ano de 1957, foi de grande valia para o reforço das teorias junguianas. O
Museu de Imagens do inconsciente, fundada por Nise da Silveira em 1952,
localizado no bairro do Engenho de Dentro da Cidade do Rio de Janeiro, teve
sua participação no congresso com a exposição do seu acervo de pinturas de
pacientes do Centro Psiquiátrico Pedro II.
Várias foram as contribuições científicas no mundo para o
desenvolvimento terapêutico através da arte, nomes aqui não declarados não
diminuem a importância histórica e científica. Ficaremos a seguir em nos limitar
a relatar somente os dois importantes psiquiatras brasileiros como pioneiros da
arte terapia no Brasil: Osório Cesar e Nise da Silveira.
2.3 - Osório Cesar
No ano de 1925 o Doutor Osório Thaumaturgo Cesar, publicou seu
artigo “Arte primitiva nos Alienados” pela revista do Hospital Psiquiátrico de
25
Juqueri, localizado no Município de Franco da Rocha. Em 1948, com os
trabalhos de desenhos de pacientes, realiza no Museu de Arte de São Paulo a
1ª Exposição de Arte do Hospital de Juqueri. Em 1950, com o 1º Congresso
Internacional de Psiquiatria, sediada em Paris, onde ocorreu a Exposição de
Arte Psicopatológica, onde estavam as cinqüenta e quatro obras dos alienados
de Juqueri.
Osório Cesar acreditava na importância das manifestações artísticas dos
seus pacientes, declarando serem necessários, por deixar vir à tona as idéias
alucinatórias, os que lhe causam perturbações, venha a se tornar
gradativamente um objeto em nossa realidade material. Aqueles que se dispôs
a fazer atividades artísticas ficam calmos e realizam com prazer, satisfação e
ânimo.
“O intelectual brasileiro opera, pois, com a noção de
inspiração poética em relação ao funcionamento das fantasias
infantis e dos sonhos, ou seja, para ele até é compensação,
realização na fantasia daquilo que o real negou.” (Arley Andriolo,
2003, p.78)
O objeto de arte para ele possui duas partes distintas e diretamente
interligadas: o conteúdo manifesto e a significação latente. O conteúdo
manifesto é o lado estético, a técnica do artista, a expressão superficial e
exterior o que cobre o verdadeiro motivo da inspiração. Quanto a significação
latente é a parte íntima da obra, o seu valor simbólico, a sutileza do artista em
mascarar o que é íntimo e particular do artista. Não compreensível ao público
por ser inteiramente individual.
O psiquiatra brasileiro seguia os princípios de leituras dos símbolos das
artes dos doentes pelas simbologias que Freud aplicava na interpretação de
sonhos, como órgãos genitais masculinos se apresentavam em formas de
serpentes, espadas, bengala e outros. E a feminina com as suas
representações como frutas, vasos e outros. Acreditava na tese de Freud sobre
a filogenética, que as manifestações artísticas dos doentes provinham de
26
regressão de épocas antigas, manifestações de comportamentos primitivistas
devido a conflitos sexuais reprimidos.
“Bem entendido, a “psicologia da arte” elaborada pelo
doutor Osório Cesar é substancialmente uma leitura freudiana de
arte.” (Arley Andriolo, 2003, p.78).
Embora já tenha feito citações e leituras de obras de Carl Gustav Jung,
marca em todas as suas produções de estudos dos simbolismos a leitura nos
moldes de Sigmund Freud.
É de reconhecer pelos fatos a importância histórica na arteterapia do
Brasil por Osório Cesar, a divulgação e desenvolvimento das teorias freudianas
em quase todo desenvolvimento dos seus trabalhos, fazendo ele um caminho
como método terapêutico, as atividades artísticas.
2.4 - Nise da Silveira
A história de uma psiquiatra que se pôs “libertadora dos loucos”, aqueles
que não tinham voz para falar ou como se expressar. Nise faz da arte um
processo libertador e de defesa contra processos ditos “terapêuticos”, mas que
causam males irreversíveis aos pacientes.
Osório Cesar foi uma influência para ela no método terapêutico por
meios de atividades expressivas, reconhecendo que Nise seguiria mais os
caminhos da psicologia junguianas do que a freudiana nas interpretações
simbólicas. Houve trocas de correspondências entre eles, o assunto envolvia
sempre os tratamentos dos ditos “alienados” por métodos expressivos e seus
resultados, ora também em questões referentes ao Partido Comunista do Brasil
(PCB).
27
Em 1936 ela foi detida pela polícia por envolvimento ao comunismo. Isto
na ditadura do governo de Getulio Vargas, momentos que viveram proibições
democráticas no país. Um ano e seis meses trancada foi para ela dor e
sofrimento, mas também momentos de reflexões que contribuíram para a
mudança da história da psiquiatria no Brasil e no mundo.
As comparações entre os hospitais psiquiátricos e os sistemas de
detenção prisional foram claras: os tratamentos contra os males dos pacientes
comparados às torturas dos presos políticos, o confinamento, levando ao
silêncio e monotonia, sem práticas diárias que levam ao ócio diário tanto de
presidiários e pacientes.
Nise da Silveira, por ter vivido experiências no cárcere, optou em
desenvolver atividades ocupacionais para os seus pacientes, que depois ela
chamaria de método não agressivo. Fez campanhas contra e se recusou a
participar de métodos que se assemelhavam a torturas físicas em pacientes
como os choques elétricos, coma insulínico e a lobotomia.
Os choques elétricos se comparavam a tortura física, por usar placas na
cabeça dos seus pacientes esquizofrênicos, ali emitia carga elétrica que
induziriam a uma convulsão. O paciente era amarrado numa maca sem
nenhum preparativo e anestesia. Os relatos de quem passou por essas
experiências são as mais desagradáveis. Atualmente é chamado de
eletroconvulsoterapia, mas com a preocupação de oferecer boas condições ao
paciente como: fazer jejum, aplicar anestesia, relaxamento muscular e a carga
elétrica suficiente para realizar o estímulo à convulsão.
O coma insulínico era induzido por injeção de insulina em pacientes
também considerados esquizofrênicos. O propósito era provocar choques
hipoglicêmicos, chegando ao coma que acarreta a perda da consciência. O
estado de coma não poderia passar de 15 minutos, por poder se tornar
irreversível.
Nise se recusou a participar dos eletrochoques por lembrar-se das
28
torturas que a companheira de cela havia passado. Realizou o coma insulínico
em um paciente que ela quase o perdera no tratamento. Apresentou-se à
direção do hospital dizendo que não servia para ocupar a função de médica.
Com isso foi decidido o remanejamento dela para a Seção Terapêutica
Ocupacional. Começaria neste momento uma nova etapa profissional na vida
de Nise da Silveira.
A lobotomia tornou-se um método na época muito utilizado na medicina
psiquiátrica a partir de 1936. Essa psicocirurgia foi tomando escala mundial,
sofrendo alterações em seu método de execução. Dr. Antônio Egas Moniz, com
o propósito de tratar certas psicoses, pensou que cortando as fibras nervosas
que fazem a ligação do córtex frontal e pré-frontal ao tálamo. Inibiria
comportamentos indesejados dos pacientes, como impulsos agressivos e as
repetições obsessivas, podendo ter uma vida aparentemente normal.
A psicocirurgia foi usada de maneira abusiva, sem considerar
consequências de perdas cognitivas. Nos EUA, entre 1939 e 1951 foi muito
realizado indiscriminadamente para controle comportamental indesejável e
para esvaziar os hospitais. No Japão usava-se em crianças com dificuldades
na aprendizagem e problemas de conduta e comportamentos. Muitos outros
países aderiram, aplicando também em opositores políticos das autoridades,
pessoas que desejavam eliminar seus parentes; prisioneiros de hospícios
judiciais e outros.
A psiquiatra Nise começou uma batalha contra a lobotomia quando seus
pacientes/artistas começaram a ser lobotomizados. Ela comprovou a
ineficiência do método da psicocirurgia a partir de pesquisas das produções
dos seus pacientes como Lucio, Laura e Anderson, analisando o desempenho
das atividades artísticas antes e depois da lobotomia. Tal pesquisa foi
apresentada durante o 1º Congresso Latino Americano de Saúde Mental
ocorrido em São Paulo em 1954 e divulgado na Revista Medicina, Cirurgia e
Farmácia. O impacto foi grande, ao ponto de ter repercussão internacional,
principalmente em relação às obras de Lucio, pois foram reveladoras pelas
imagens o que a devastadora lobotomia fez em suas capacidades psíquicas.
29
A seção terapêutica de Nise tinha práticas organizadas, a qual ela
chamava de método não agressivo. As práticas realizadas pelos internos eram
atividades consideradas utilitários como marcenaria, costura, encadernação
etc. Este grupo ajudou muito para as pesquisas acerca das capacidades de
ensino aprendizagem dos esquizofrênicos crônicos. Atividades expressivas
como pintura, modelagem, música e outros, foram mais reconhecidos e
considerado o mais importante de Nise, por ser um tratamento contrário das
internações psiquiátricas da época, e principalmente pela divulgação através
das exposições. Atividades recreativas como festas, jogos, esportes e outros,
todas implicam em ordem e organização, levando ao desenvolvimento da
interação social.
“Podemos notar que os aspectos do trabalho, da
afetividade, da expressão livre das emoções, do lazer e da
aprendizagem são enfatizados em detrimento das trocas
comerciais. Apesar da classificação apresentada, Nise da Silveira
destaca que, ao se levar em consideração o modo como as
atividades são executadas, pode-se argumentar que todas as
atividades são expressivas. Desta forma, o capital privilegiado por
Nise da Silveira é o simbólico e o afeto.” (Walter Melo, 2009, p.48-
49)
O aspecto do seu trabalho terapêutico era centrado na afetividade e na
livre expressão dos sentimentos e emoções. A carga emocional que antes
desestrutura a personalidade do paciente pode por meios de imagens
inconscientes imergir para o campo da consciência, reorganizando-a.
30
2.5 - Linguagem dos materiais
É por meio dos materiais de arte que os pensamentos, idéias e
imaginação se materializam nas suas formas simbólicas e subjetivas. O
recurso a materiais devidos e específicos para determinadas expressões
plásticas se deve ao melhor desempenho do processo terapêutico. Avaliar o
estado psíquico e emocional do paciente, a relação com o material é de suma
importância, pois é o material um ativador psíquico sensorial e possa vir trazer
à tona a consciência os estados emocionais, sentimentos e lembranças pelo
simples manuseio dos seus vários tipos através do tato, cheiro, som ou até
movimentos corporais.
2.5.1 - Símbolos, sonhos materializados
“O que chamamos símbolos é um termo, um nome ou
mesmo uma imagem que nos pode ser familiar na vida diária,
embora possua conotações especiais além do seu significado
evidente e convencional. Implica alguma coisa vaga,
desconhecida ou oculta para nós.” (Jung, 1964, p.20).
A busca dos significados, o mais amplo possível, é a vontade do
terapeuta e do paciente quando falamos nas produções simbólicas das
imagens. A necessidade de torná-los mais conscientes, melhor dizendo,
apreendidos pela consciência, num grau de entendimento por meio da
transposição de linguagens plásticas, chamamos de amplificação simbólica.
Jung entendia que por existir muitas coisas fora da compreensão
humana, nós utilizamos termos simbólicos como representação de conceitos
que não podemos definir. Um exemplo é a religião, aplica a linguagem
simbólica quase consciente para representar o divino. Os símbolos também se
manifestam de maneira inconsciente nos sonhos e em manifestações
31
artísticas.
“O procedimento de amplificação responde de diversas
maneiras a uma “questão-chave” que é proposta ao símbolo:
“qual o seu significado”, e cada modalidade expressiva oferece
uma parcela de compreensão com uma característica própria e
uma faceta distinta do símbolo observado.” (Philippini, 2009,
p.16).
A proposta para chegar a uma amplificação simbólica, necessário às
vezes fazer várias atividades plásticas e expressivas diferentes, para permitir
que conteúdos inconscientes sejam externados como imagens simbólicas
produzidas, e possam com isso, ser compreendidos e ser conscientes.
O processo de apresentação dos símbolos pelas atividades plásticas vai
tomando o caminho de conhecimento do “si mesmo” e pulsões da psique antes
não compreendidas. Arteterapeuta e cliente interagem verbalmente, facilitando
a contextualização do conteúdo simbólico das produções de arte.
“Devemos nos lembrar de que o material inconsciente que
se origina na psique permanece na psique ao mesmo tempo em
que se manifesta externamente em momentos de dificuldades,
como se dissesse à consciência: “Olhe para mim! Estou aqui!”.
Essas dificuldades e adaptações aparecem de forma simbólica
nos desenhos ou nos sonhos”. (Gregg M. Furth, 2013, p31).
Após as produções de arte, um olhar atento, procurando perceber
características culturais, pistas do inconsciente que nos leve a uma
contextualização. Podendo estas pistas fazer referências aos contos, mitos,
lendas, fábulas, tradições religiosas e folclóricas, imagens antigas e todas as
manifestações culturais desde as mais antigas até as mais recentes, que
possam influir nas manifestações simbólicas em sua apresentação estética e
conteúdo interpretativo.
32
2.5.2 - A cor como valor simbólico
As cores têm uma grande influência sobre o psiquismo humano, seja
enquanto cor luz ou cor pigmento. Ela faz parte de um conjunto gramatical
simbólico que, combinado com formas, linhas, pontos e imagens, podem
enriquecer e externar conteúdos inconscientes de maneira mais ampla e
completa. Em uma atividade artística que exige cores, é necessária a
disponibilidade de todas as variedades existentes possíveis, para que o cliente
não se sinta limitado em suas expressões e possa selecionar as cores que
melhor representem seu estado atual de espírito, sentimentos e emoções.
“É pela aplicação empírica da influência das cores que os
médicos psiquiatras abriram casas de saúde onde tratam os
pacientes excitados em quartos forrados de azul e violeta,
enquanto que, ao contrário, alojam os deprimidos em aposentos
recobertos de vermelho”. (René-Lucien Rousseau, 1980, p.47).
É fato a influência comportamental e psíquica que as cores têm em
nossas vidas, como relata acima. As cores frias - azul, verde e violeta - são
cores tranqüilizadoras, passivas e que nos leva a calma e relaxamento. Estas
muito associadas a noite ou a dias de tempestades e chuva, que por fim nos
transmite a idéia de recolhimento, sono. As cores quentes - amarelo, laranja e
vermelho - são cores excitantes, ativadoras e de ânimo. Estas estão muito
associadas ao dia, o nascer do sol ou ao intenso calor do verão, que por fim
também nos transmite a ideia de despertar, de festejar e alegrar.
As experiências com as cores são antigas, já nas primeiras vivências
dos primeiros humanos na terra, elas estavam se formando em conteúdos
simbólicos, se atrelando ao ‘inconsciente coletivo‘ da humanidade.
Vivenciamos uma relação atual com as cores - o seu valor simbólico - em
nosso ‘inconsciente coletivo’, herança dos nossos antepassados.
Por ter as cores valores simbólicos - valores amplos de significação e
imprecisos - a ambivalência é mais uma de suas características marcantes e,
33
com muita cautela, deve-se ter cuidado quanto a interpretação. Elas podem
flexibilizar seus conteúdos simbólicos em ajuste a outros elementos gramaticais
plásticos em uma modalidade artística ou em agrupamentos de mais de um
tipo de cor. Como exemplo o vermelho: aplicada em uma imagem expressando
amor carinho e afeto, a cor reforça e expressa o mesmo, aplicada em uma faca
molhada pelo sangue, representa a violência, perigo ou a morte.
Apesar de estarem as cores - os seus valores simbólicos - associadas a
fenômenos e condições da natureza que nos fazem pensar em um significado
pré-estabelecido, não devemos descartar as experiências pessoais que um
paciente tem com as cores, que podem levar a uma significação não esperada,
a um valor simbólico incomum.
2.5.3 - A cola, um material expressivo
A aderência é uma característica da cola que influi muito em nosso
psiquismo, torna-se meio para externar sentimentos associados ao ato de
colar. Ações como agregar, juntar, unir e sobrepor faz parte no processo
criativo e expressivo da técnica da colagem.
As atividades com a cola têm propostas organizadoras e estruturantes,
por agrupar formas ou partes de outro contexto, desestruturando-a primeiro
para depois a reconstrução. Rasgando, cortando ou picotando o material a ser
colado pode trazer satisfação, para depois ser organizado no espaço desejado.
“O ato de rasgar e picar bem pequenino o jornal ou papel
comum vai servir como um meio de gastar as energias de
pessoas hiperativas ou agressivas, sendo, portanto, essa uma de
suas indicações terapêuticas.” (Carrano & Requião, 2013, p.162).
A atividade também tem a proposta de desenvolvimento da coordenação
motora fina. O desenvolvimento cognitivo é consequência da ação da
organização espacial dos fragmentos ou partes que são colados.
34
A tenacidade da substância no processo da criação em arteterapia faz o
paciente perceber as fases opostas e transitórias entre o desestruturar (cortar,
rasgar e picar) e o organizar e estruturar (juntar, unir e colar). O ato
transformador das coisas, a recriação, tal como a arte imita a vida. Passamos
todos por processos de transformação, nada é imutável. A atividade de recortar
e colar pode nos levar a uma reflexão da vida e suas transformações, ajudando
o paciente/criador externar suas angústias e sentimentos, materializando-as
para uma melhor compreensão de si mesmo, procurando a harmonia
necessária em sua vida.
As imagens selecionadas de revistas e impressos em geral, por vezes
carregada de significados subjetivos do artista, vão se ordenar numa gramática
simbólica e pessoal, cada qual no espaço determinado pelo paciente que, aos
poucos vão se materializando e se desvelando, tornando-se valores mais
conscientes. Com isso o estímulo da imaginação no processo criativo, por
consequência das tensões psíquicas vivenciadas, essencial para o ato humano
de produzir e criar. As tensões psíquicas externadas se fazem em uma nova
realidade na produção artística, transmutado o conteúdo psíquico para se
adequarem melhor a realidade vigente.
“Criar não representa um relaxamento ou esvaziamento
pessoal, nem uma substituição imaginativa da realidade; criar
representa uma intensificação do viver, um vivenciar-se no fazer;
é, em vez de substituir a realidade, é a realidade; é uma realidade
nova que adquire dimensões novas pelo fato de nos articularmos
em nós e perante nós mesmos em níveis de consciência mais
elevadas e mais complexas. Somos, nós, a realidade nova.”
(Fayga Ostrower, 2013, p28).
Fayga (2013) enfatiza a necessidade humana de criar, um sentimento
essencial, pois é o que nos leva a um crescimento interior, para nos
ampliarmos enquanto consciência perante a vida.
Verbalizar o que foi produzido, a obra depois de feita deve ser analisada,
35
pois o objeto de arte sem reflexão perde o sentido terapêutico. Sempre
analisamos o que percebemos em nossa volta como as cores, músicas, fatos
políticos e do mundo, filmes, os comportamentos, tudo que possa imaginar
passa pela análise nossa e dos outros. Na arte é necessário a opinião do
artista, pelo seu conteúdo intimo e pessoal ser mais revelador verbalmente nele
do que naquele que não participou da produção. Só assim a obra terá mais
sentido.
2.5.4 - Fotografia: passado, presente e futuro
Um olhar apurado, um enquadramento perfeito e apropriação de um
momento, imagem suficiente para guardar uma lembrança de uma vida.
Criação maravilhosa é a fotografia, pois ela grava momentos nossos em
imagens que perduram ao tempo, arquivos de nossas memórias, sentimentos e
emoções vividas.
“Assim gosto de pedir a meus clientes que tragam fotos e,
através das fotocópias destas imagens (para preservar os
originais), vamos resgatando memórias, recuperando percursos
cronológicos e existenciais. E podemos, também, ir refletindo
sobre aquela “linha da vida” e restaurando algumas conexões
biográficas.” (Philippini, 2009, p.30).
O descontrole que temos em nossas vidas, as transformações que nós
sofremos, pelo imperioso ‘tempus fugit’ que prenuncia o fim de cada dia, noite e
momentos de vidas. Todas as marcas que o tempo deixou podem ser
registradas e admiradas numa reflexão, compreendendo transformações de
vidas desde momentos anteriores até o agora, ou talvez, com isso imaginar o
futuro.
A atividade terapêutica pode usar fotografias passadas que façam uma
reflexão do que já passou com o agora, buscando autoconhecimento,
estimulando a autoestima, o amor próprio e a confiança no próprio percurso da
36
vida. Temos os ensaios fotográficos que as pessoas podem, através de
figurinos diversos e maquiagem, se personificarem em outras como a um
teatro, expressando características diversas do seu eu interior.
2.5.5 - Pinturas, fluidos de cor
A tinta tem por seu maior encantamento na atividade artística as cores e
a sua fluidez, uma intima relação com a emoção, por tomar a superfície do
papel sem limites ou contenção.
As cores das pinturas têm uma grande importância, pois ela é o
intensificador emocional. São ativadores fisiológicos, agindo na manifestação
das atividades orgânica animal e humana, correspondendo a eventos da
natureza. Não podemos descartar a importância simbólica da cor, que traz
consigo lembranças ancestrais do nosso inconsciente coletivo.
“A noite trazia consigo a passividade, o repouso e
diminuição da atividade metabólica e glandular; o dia trazia
consigo a possibilidade de ação, aumento no índice metabólico e
maior secreção glandular, dando, assim, energia e iniciativa. As
cores associadas a esses dois ambientes são o azul-escuro do
céu noturno e o amarelo-vivo da luz do dia.” (Lüscher & Scott,
1969, p.19)
Desde os primórdios dos tempos intercalavam-se o dia com a noite,
quando um terminava, o outro começava, assim sucessivamente. O final do
dia, o começo da noite prenuncia o sono e o acolhimento. O final da noite, o
crepúsculo matutino prenuncia o agir, acordar, caçar, colher. O valor simbólico
das cores está interiorizado em nós, não só como forma de exteriorização
psíquica como linguagem, mas também em ação interna fisiológica e
comportamental.
Pintar com os dedos nos passa sensações agradáveis, pela experiência
37
tátil e sensorial ocasiona a ativação dos sentimentos. As cores se chocam,
mesclam e se transformam formando um novo colorido. Desperta e exterioriza
a criança interior, estimula grande alegria, diversão e satisfação. A aplicação
terapêutica em pessoas regredidas e com posturas rígidas e inflexíveis é bem
indicada, com o propósito de possíveis mudanças comportamentais desejada.
A aquarela tem seu aspecto suave e transparente, frágil e delicado que
transmite uma beleza incomum em relação às outras tintas. Exige maior
controle nas pinceladas, pois a sua ação de cobertura é quase que imediata.
Tem grande relação com os sentimentos e emoções interiores.
A seleção de tintas para terapias tem que ser de acordo com as suas
características e qualidades: seu grau de aquosidade e pastosidade;
intensidade das cores e brilho; capacidade de aderência e absorção no papel.
A má qualidade e ação do produto podem trazer frustração daquele que a
produz, tornando ineficiente a terapia. No mercado podemos encontrar
variedades de tintas que, respeitando a sua linguagem subjetiva possa aplicar
de maneira consciente para uso artístico.
2.5.6 - Materiais de desenhos
Os materiais de desenho analisados são: o lápis de cor, lápis grafite,
lápis aquarela, caneta hidrocor, carvão e outros. Todos com suas
características plásticas que permitem fazer linhas e contornos, limitar espaços
nos desenhos. Em suma, tem a capacidade de conter, restringir e delimitar o
espaço. No desenvolvimento cognitivo exercita a atenção, observação e
concentração para produção artística.
“Esses materiais permitem a expressão das formas, por
meio dos pontos, linhas, curvas e cores. Eles são mais restritos,
ajudam a ordenação, o conter e a definição do limite. Quando as
pessoas usam estes materiais, elas expressam e organizam
melhor seus sentimentos e suas próprias vidas. São capazes de
38
revelar imagens esquecidas, guardadas em lugar da memória,
remetem às memórias de infância.” (Carrano & Requião, 2013,
p.70).
Os materiais chamados gráficos são os que trabalham melhor o limite,
como grafite e o lápis de cor, por terem também na sua linguagem a sensação
de controle. Os desenhos com materiais gráficos são atividades muito aceitas
por pessoas que gostam de estar no controle e também as muito restritas, que
não gostam de ousar, que teme experimentar ou viver outras situações. Essas
pessoas não podem de imediato entrar em contato com as tintas, se quiser
levá-las a esta experiência para mudança de comportamento, deve em
princípio usar os materiais intermediários como: caneta hidrocor, carvão e
outros que têm na sua característica a dispersão ou diluição na superfície
aplicada, mas também o limite e a contenção do desenho como a linha.
Crianças hiperativas, dispersas e agitadas convêm trabalhar com
materiais gráficos, produzindo desenhos de observação que desenvolva a
atenção, a concentração e o limite. A tinta pode ser catastrófica enquanto não
ocorrer a mudança comportamental: deve-se gradativamente usando os
materiais gráficos, seguindo para os intermediários e finalmente para as tintas.
2.5.7 - Massas, moldando formas
Prazer tátil promove as massas, modificando a cada manuseio, seja
puxando, apertando, pressionando com os dedos ou com toda a mão,
permitindo sair por entre os dedos ou algum canto aberto entre as mãos. As
sensações são várias, seja a temperatura da massa, a textura, a maciez e as
múltiplas formas adquiridas pela manipulação. A flexibilidade e maleabilidade
da massa permitem a transformação da imagem. No âmbito terapêutico e
educacional, essas características vivenciadas da massa para chegar a uma
imagem, vão acontecendo também com as nossas emoções e afetividades, se
flexibilizando.
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Encontramos no mercado tipos de massas como as industrializadas,
caseiras ou naturais. Elas podem se apresentar com várias cores e odores,
podendo ser algumas até mesmo comestíveis. O mais comum e popular é o
barro, encontrado na natureza em várias cores, podendo ser comercializável ‘in
natura’ ou com alguns compostos para melhorar suas características para um
melhor desempenho da massa.
O próprio ato de manipular a massa já transborda em expressar ideias,
emoções e sentimentos. Nos silenciosos gestos das mãos vão se externando e
tornando mais conscientes e, por fim, o término da escultura, a presença
materializada do inconsciente com seus conteúdos simbólicos. Com as
constantes mudanças da forma, não considerada um erro, mas sim um
processo de transformação importante até a imagem definitiva. Isso quando a
massa se tornar seca e rígida para uma imagem permanente.
No processo terapêutico, essa prática artística aciona sensações físicas
profundas, viscerais, que transborda todo o íntimo e pessoal do paciente,
sentimentos contidos, proporcionando prazer e satisfação no ato da criação.
Tal tratamento é indicado para crianças carentes e com distúrbios afetivos,
pessoas com dificuldades na comunicação, tímidas e emocionalmente
regredidas.
“Então, o Senhor Deus formou o homem com o pó da terra, e
soprou em seu nariz fôlego de vida, e o homem se tornou um ser
vivente.” (Gênesis, 2:7)
“Com o suor de teu rosto, comerás o pão até que tornes à terra,
porque dela foste tomado; pois és do pó, e ao pó tornarás.”
(Gênesis, 3:19)
O barro ou argila, em seu processo de criação, faz ocorrer o contato dos
quatro elementos da natureza - terra, fogo, água e ar - que pode nos levar a um
complexo simbolismo místico profundo. Pois está associado na sua
representação o nascimento, a morte e a vida. Seu grande valor terapêutico
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atua fortemente no psiquismo humano, fazendo ser espontânea a verbalização
dos conteúdos conscientes e inconscientes.
Havendo rejeição ou desarmonia da pessoa com a argila é aconselhável
não forçar. Deve procurar outra modalidade expressiva com um material que
ele possa se familiarizar, para que, aos poucos, realizando atividades com
outros materiais, ele venha adquirir segurança no manuseio da massa.
2.5.8 - Materiais duros, moldando formas na força
Muitos são os materiais que se faz necessário uma aplicação maior de
força, o uso de instrumentos cortantes e de furo, para esculpir ou entalhar, são
eles: as pedras (mármores, granitos e outros), madeiras dos seus vários tipos,
sabão, parafina e outros.
Segundo Carrano e Requião (2013) as tensões psíquicas, energias
contidas, podem ser liberadas com o ato de esculpir e entalhar. Muitas dessas
energias em forma de ansiedade, ódio, tensão e nervosismos podem ser
aliviados e escoados com a prática de remover partes, furar, dar forma a
materiais mais duros e rígidos. (p.164)
Desapego, transformação e renovação são oferecidas terapeuticamente
pela escultura, organizando conteúdos internos, emoções, sentimentos e
ideias, cortando o que não deve mais continuar no presente, se ajustando para
o futuro.
É bom permitir ao criador da obra verbalizar seus momentos de criação:
desde o seu primeiro contato com a matéria bruta; a visualização imaginativa
da forma desejada nesta matéria; a extirpação das partes fora da forma
desejada; o polimento ou não para chegar a escultura final. Todas as fases
mencionadas têm seu valor terapêutico, pois faz parte de uma construção
semântica subjetiva que tende a ser exteriorizada, ajudando no
autoconhecimento.
41
2.5.9 - Uso de materiais diversos
Devemos valorizar cada característica oferecidos pelos diversos
materiais, muitos não citados nessa pesquisa. A criatividade humana é ampla
quando se trata em inovar, adquirir novos recursos e adaptação de outros
materiais para uso artístico. Podemos citar o reaproveitamento do lixo, como:
materiais plásticos, vidros, metais, papeis e revistas. Todos esses e outros num
processo de uso aparentemente inimagináveis, realizando trabalhos artísticos
impressionantes.
Quando falamos em aproveitar os lixos (plásticos, latas, vidros, etc.) ou
materiais da natureza (folhas, pedras, galhos, etc.), é necessário a
compreensão da linguagem de cada material usado nas atividades artísticas,
seja ele qual for. Tal preocupação está em objetivar resultados, em aferir as
condições dos materiais e seus possíveis efeitos no psiquismo humano, nas
suas mudanças de comportamentos e estados emocionais.
Tanto é importante a compreensão da linguagem do material como
também é a sua qualidade, pois a segunda interfere na primeira e pode causar
frustração naquele que a utiliza. Uma cola que tem baixa aderência e escorre
tirando do lugar o material que deveria ser colado. Uma massa que perde sua
consistência, fragmentando-se, impedindo de se produzir uma imagem.
Um bom trabalho terapêutico e educacional deve ser realizado com
materiais de qualidade e em espaço organizado, para que não venha prejudicar
o objetivo desejado com a criação, para que não surja um resultado contrário
ao desejado e, infelizmente, uma possível aversão do paciente ao tratamento.
42
CAPÍTULO III
TERAPIAS EDUCATIVAS PARA CRIANÇAS COM
TEA
“Estar capacitado para reunir determinadas letras na
seqüência adequada para que se leia coelho não constitui uma
compreensão do que seja um coelho. Para conhecer realmente
um coelho, a criança deve poder tocá-lo e aprender os seus
hábitos. É a interação dos símbolos, do eu e do ambiente que
fornece os elementos necessários aos processos intelectuais
abstratos.” (Lowenfeld & Brittain, 1970, p.16)
Este texto, extraído do livro “Desenvolvimento da Capacidade Criadora“,
nos faz pensar em que momento ou como se faz a aquisição do conhecimento
humano. Como desenvolver o melhor método de aprendizagem para crianças,
em especial as crianças autistas? É através dos sentidos que as crianças vão
adquirindo informações, buscando compreensão nas coisas que estão em sua
volta. A exploração dos sentidos de forma mais consciente no processo
terapêutico e de ensino pode levar a um resultado melhor em seus objetivos.
A recepção do sistema sensorial de um autista pode reagir de maneira
diferenciada ou catastrófica de acordo com o seu grau de sensibilidade. Os
pelos de um coelho podem trazer uma sensação de prazer, ou levar uma
sensação de euforia ou repulsa. Seja qual for a experiência vivida pelos
autistas, é necessário observar as possíveis variabilidades que podem ocorrer
em relação ao comportamento. Observar e compreender como o sistema
sensorial desta criança funciona ou reage em determinadas condições já é um
caminho para se organizar e criar um espaço adequado, condições e recursos
43
que possa fazer ocorrer o seu desenvolvimento na aprendizagem. A princípio,
para que ela venha ter aquisição de novos conhecimentos, é necessário o
estímulo a comunicação e mudanças comportamentais, para que ela possa ter
o mínimo de capacidade de interação social para o desempenho escolar.
3.1 - Teoria comportamental (Behaviorismo)
Em 1913 John B. Watson publica um artigo chamado “Psicologia: como
os behavioristas a vêem”, inaugurando a criação de um termo teórico: o
Behaviorismo. A palavra Behavior é um termo inglês que significa
“comportamento”, atualmente usado para expressar uma tendência teórica que
se desenvolveu e, sendo aplicado por vários métodos terapêuticos de
intervenção para tratamentos de transtornos psíquicos, neurológicos e
problemas na aprendizagem. Conhecido com o nome Behaviorismo, teve
outros nomes como Comportamentalismo, Teoria comportamental, Análise
Experimental do Comportamento, Análise do Comportamento.
“Comportamento, entendido como interação indivíduo-
ambiente, é a unidade básica de descrição e o ponto de partida
para uma ciência do comportamento. O homem começa a ser
estudado a partir de sua interação com o ambiente, sendo
tomado como produto e produtor dessas interações”. (Block,
Furtado & Teixeira, 2001, página 46)
O Behaviorismo tem por base de estudos a relação do individuo e seu
ambiente, suas consequências e resultados pela interação: as estimulações
que o ambiente pode proporcionar ao individuo; as respostas e ações do
indivíduo por consequência dos estímulos ambiental. A teoria é aplicada por
vários métodos terapêuticos de intervenção para tratamentos de transtornos
44
psíquicos, neurológicos e problemas na aprendizagem. Temos os mais
aplicados em crianças e adultos autistas como: TEACCH, ABA, PECS e outros.
3.2 - O método TEACCH
O método TEACCH (Treatment and Educatin of Autistic and related
Communication Handicapped Children) , que significa “Tratamento e Educação
para Autistas e Crianças com Déficit Relacionados a Comunicação”, foi criado
em 1966 pelo Doutor Eric Schopler e colaboradores no Departamento de
Psiquiatria da Escola de Medicina da Universidade da Carolina do Norte, nos
Estados Unidos das Américas. O surgimento do método é em oposição as
práticas clínicas utilizados na época, que o autismo tinha origem de causa
emocional, cujo tratamento seguia princípios da psicanálise. Sua linha
Psicopedagogica se fundamenta nas teorias da psicolinguística e behaviorista.
É na psicolinguística que se desenvolveram estratégias específicas para
compensar o comprometimento na comunicação do autista. Essa deficiência na
linguagem compreensiva e receptiva em autistas pode ser compensada
utilizando apoios visuais, facilitando a expressão dos pensamentos através de
uma linguagem. É a partir das imagens como forma de comunicação, podemos
atuar nos problemas relacionados na aprendizagem e na compreensão de
comportamentos sociais do cliente. A linguagem não verbal, imagens visuais,
tem grande valor simbólico complexo, pois é a base da interiorização das
experiências vividas. Entendendo que as crianças autistas têm mais
capacidade de ser mais responsivas em condições dirigidas, quando estas
condições se dispõem em maior uso estímulos visuais do que auditivos.
A teoria behaviorista ou comportamental tem a preocupação de
especificar e definir de forma operacional os comportamentos-alvo a serem
45
trabalhados. O terapeuta tem a possibilidade de avaliar qualitativamente os
vários aspectos da interação social e organização comportamental autista. É
conhecendo o paciente que o terapeuta venha manipular o ambiente autista, de
forma que os comportamentos indesejados não ocorram ou diminuam, e as
adequadas sejam reforçadas positivamente.
O método TEACCH se preocupa com a organização do ambiente físico
e das tarefas através de painéis, quadros e agendas para criar rotinas aos
pacientes. Dessa forma, adapta o ambiente para ser mais fácil para a criança
compreendê-lo e participar sem comportamentos indesejáveis. O objetivo é
desenvolver a independência da criança através da organização do ambiente e
das tarefas, podendo ocupar-se de forma independente e facilitando o
aprendizado com um auxilio de um professor capacitado. O objetivo maior do
método é levar a criança autista a adquirir máxima autonomia possível.
O método através de suas atividades e organização espacial é um
modelo terapêutico de ensino, psicopedagógico, que numa “estrutura externa”
(organização espacial, atividades e rotinas) facilita a criança criar mentalmente
uma “estrutura interna”. Essa última estrutura, por práticas constantes deve
funcionar fora do ambiente terapêutico, em outros ambientes menos
estruturados. Para que isso ocorra deve haver uma prática árdua e continua de
todos os envolvidos: os pais, professores, terapeutas e outros.
São utilizados estímulos visuais (ilustrações, fotografias, figuras,
cartões), estímulos corporais (gestos faciais ou corporais, apontar, movimentos
corporais), e estímulos audiocinestesicovisuais (som, palavras, movimentos
associados às fotos) no processo terapêutico do método, desenvolvendo
simultaneamente a linguagem receptiva e a expressiva para buscar a
linguagem oral ou uma comunicação alternativa para a criança.
As atividades programadas pelo terapeuta são realizadas
individualmente e ensinadas ao paciente. Utilizando cartões com fotos,
desenhos, símbolos e palavras escritas facilitam como indicativo visual para
saber das atividades que serão realizadas nos dias escolares, aprendendo a
46
identificar cada cartão. Quando a criança apresenta plena desenvoltura na
realização de uma atividade (conduta adquirida) esta passa a fazer parte da
rotina de forma sistemática.
O profissional ensina o aluno uma tarefa conduzindo as suas mãos
utilizando os cartões como apoio visual, este com uma imagem referente a
tarefa, objeto, jogos e outros assuntos. Gradativamente a criança vai receber
menos apoio para que ele possa sem ajuda realizar as tarefas, sempre sendo
guiado pelos cartões. Isso enfatiza no autista o desenvolvimento da autonomia.
Programação diária, rotinas, sistema de trabalho das tarefas e apoio
visual são os pontos principais para a realização do método. A programação
individual de cada aluno é essencial para possibilitar entendimento, confiança e
segurança nas tarefas. A dificuldade da generalização das tarefas no autista
reforça a necessidade de organizar e realizar em rotinas bem previsíveis e
claras.
As atividades ou tarefas realizadas com as crianças portadoras de
autismo têm em prática o trabalho da memória e a percepção, utilizando jogos
intuitivos com cores variadas e de uso individual. É notório a boa capacidade
de memória do autista, principalmente com as visuais, isso favorece muito no
aprendizado.
Pelo déficit de atenção, processamento e organização apresentados em
autistas impedem a compreensão da linguagem em seus meios diversos. O
apoio visual supre essa deficiência estimulada pelos atrativos que as cores
exercem na criança, torna-se também um meio de comunicação
47
3.3 - O método ABA
Outro método advindo do campo científico do Behaviorismo: ABA
(Applied Behavior Analysis) ou “Análise do Comportamento Aplicado”. Sua
aplicação visa ensinar para crianças habilidades que não possuem,
trabalhando e desenvolvendo cada uma por etapas. O método demonstrou
bom desempenho quando foi aplicado pela primeira vez por Ivar Lovaas em
crianças autista para seu desenvolvimento na educação. Em 1987 ele publicou
os resultados do seu estudo, que chegou a 47% de crianças que alcançaram
níveis normais de funcionamento intelectual e educacional. As práticas ABA
vêm evoluindo, pois surgiram outros psicólogos que avaliaram o método e
acrescentaram novas técnicas e conhecimentos, melhorando cada vez mais a
sua eficiência.
B. F. Skinner publicou em 1938 seu livro, o “The Behavior of Organisms”
(O Comportamento dos Organismos), que revelava uma grande descoberta, o
“Condicionamento Operante”.
“Condicionamento Operante significa que um
comportamento seguido por um estímulo reforçador resulta em
uma probabilidade aumentada de que aquele comportamento
ocorra no futuro”. (Kathy Lear, 2004, capítulo 1-4.).
Nosso comportamento é modificado através das consequências. Se
você sorri para uma pessoa que está na sua frente e com tom agradável pede
para que ceda o espaço, e ela cede. Terá muita chance que o mesmo
comportamento venha se repetir, pois a outra pessoa facilitou a sua passagem,
realizou um estímulo reforçador.
O método ABA tem em seus trabalhos a aplicação do Condicionamento
Operante para o reforço de um comportamento positivo direcionado e ensinado
em crianças autistas e outras patologias, suprimindo também comportamentos
indesejáveis.
48
A sua aplicação pode ser usado em diversas questões como:
treinamento de animais, dependência química, medos, fobias, transtornos
comportamentais do sono e outros. Mas o que mais nos interessa é a
educação especial, em especifico para autismo.
Um programa de método ABA deve começar em casa, de preferência
quando a criança autista é muito pequena. Apesar das muitas dificuldades de
um diagnóstico precoce do TEA, a intervenção com a terapia na fase bebê da
criança torna-se importante, mas não deixa de ter seus efeitos de tratamento
nas crianças de idade avançada e adultos.
A sessão de ABA para crianças segue uma agenda nas suas
intervenções terapêuticas de ensino com durações entre 30 e 40 horas por
semana, num trabalho individualizado, no que eles chamam “em situação de
um-para-um“. Não segue a linha de punições, sempre premiando para chegar
ao comportamento desejado. Os conteúdos de ensino a serem aplicados, o
currículo, dependem da capacidade e particularidades de cada aluno autista. A
disponibilidade curricular é ampla, desde brincadeiras e atividades motoras,
linguagem, cuidados de higiene e atividades acadêmicas. As práticas de ensino
não pode se limitar a escola ou as clinicas terapêuticas, a participação com
intenso envolvimento da família aumenta o desempenho do método ABA.
3.4 - O método PECS
Picture Exchange Communication System (PECS), ou melhor, “Sistema
de Comunicação por Trocas de figurinhas” como conhecemos aqui no Brasil,
traduzido em português. Teve seu início e criação pela americana e
fonoaudióloga Roxanna Mayer Johnson. Responsáveis pelo seu
desenvolvimento foram dois americanos, o psicólogo Andy Bondy e a
49
fonoaudióloga Lori Frost no ano de 1985, a princípio com o propósito de facilitar
e melhorar a comunicação de pacientes autistas no Estado de Delawere,
região nordeste dos Estados Unidos das Américas. O seu uso em crianças com
TEA necessita dedicação, não é tão simples, pois exige conhecer os princípios
do método ABA (Applied Behavior Analysis), que é base da construção teórica
e práticas dos PECS.
“Pesquisas indicam que quando os PECS é implementado,
a fala pode emergir em muitas pessoas. Elas primeiro aprendem
‘como’ se comunicar, ou seja, quais são as regras básicas da
comunicação e, em seguida, o uso da fala é promovido através
de oportunidades (utilizando altos níveis de reforçadores),
fornecendo condições ideais para o aparecimento e
desenvolvimento de vocalizações.” (Soraia Vieira, 2012, p.14).
O PECS não se limita ao tratamento de comunicação para crianças com
TEA, também com outros tipos de transtornos ou problemas de comunicação.
Podemos citar a paralisia cerebral e pacientes que tiveram algum acidente ou
danos físicos que impossibilitaram de se comunicar permanente ou
temporariamente. O programa tem como objetivo que o paciente ou aluno
venha utilizar a forma de comunicação alternativa temporariamente, até
conseguir verbalizar oralmente sem a utilização das imagens.
Muitos dos comportamentos inadequados e desafiantes dos autistas
provêm da incapacidade de se comunicar, de dizer o que desejam, suas
necessidades não atendidas, levando a se sentir frustrado. O PECS contribui
para a facilitação de comportamentos positivos, pois criam estímulos
reforçadores que possibilitam a comunicação e, por consequência a interação,
se seguirmos os moldes teórico de Skinner - o “Condicionamento Operante”.
A construção do material é artesanal, não requer grandes gastos, pode
ser feita pela própria família. O material deve ser personalizado, pois os cartões
(figuras) devem ter imagens ou fotos que estejam relacionadas à vida do
autista: sua casa; sua família; ações cotidianas; seu gosto por alimentos,
50
brinquedos e lugares. A generalização do material não é possível, seja no uso
e na produção, pela particularidade que cada criança tem, também a
necessidade de se manter constantemente próximo dela para se comunicar em
qualquer hora ou momento.
Cada familiar, terapeuta ou professor deve analisar a criança, perceber
particularidades para uma melhor escolha de imagens ou fotos, as mais claras
possíveis, facilitando a compreensão da criança. As imagens devem ter
significados bastante concretos, por ter o autista dificuldades de abstração na
comunicação. Quanto menos complexo e mais direto for as imagens em seu
significado melhor a apreensão do entendimento da informação, melhor
desempenho para o uso da criança dos PECS.
O material pode ser acondicionado em uma pasta plástica, com folhas
revestidas de velcro para a fixação dos cartões. Colocados em ordem para o
melhor manuseio e compreensão da criança, respeitando a sequência das seis
fases do método. De acordo com o desempenho da criança as fases são
acrescentadas para a sua evolução comunicativa. Como veremos a seguir no
trecho de uma entrevista com Soraia Vieira (CRF 6-1683), a entrevistadora
expõe de forma simplificada as seis fases do método ABA orientada por ela:
“Na primeira delas, o estudante troca uma figura por um
item que deseja receber. Ele mostra a figura ao seu parceiro de
comunicação e recebe em troca. Na segunda fase, o estudante
procura pelas figuras de que mais gosta, mas estas são dispostas
em distância aumentada. Na terceira, ele aprende a discriminar o
que gosta e o que não gosta. Na quarta fase, o estudante
aprende a formar frases, por meio das figuras. Na penúltima fase
ele aprende a responder perguntas feitas por meio da junção de
figuras e, na última, cria comentários por meio das figuras, por
exemplo: “Eu vejo bola”. (Isadora Dantas, 2013, p.30).
Soraia Vieira (2013), fonoaudióloga, salienta que o PECS não garante a
comunicação oral do estudante, mas declara que alguns autistas que as
51
utilizaram como terapia até aos cinco anos de idade desenvolveram a fala. A
eficiência em alguns casos pode ter levado a um grau de popularidade do
método aqui no Brasil, considerado ainda baixo. Mas a aplicação requer
conhecimento e estudo, necessita de formação e treinamento para uma boa
aplicação, tanto de pais, profissionais da educação e fonoaudiólogos.
3.5 - Terapia educacional com computadores
O presente capítulo tem exposto métodos que auxiliam educadores e
terapeutas para as mudanças comportamentais e no processo de
desenvolvimento do ensino e aprendizagem da criança autista. Todos
demonstram um bom desempenho quando se refere em ativar a memória
visual da criança, seja o método TEACCH, ABA e PECS. A aplicação dos
métodos em computadores, como aplicativos de sites e jogos educativos,
podem estimular a atenção da criança, pois os recursos visuais demonstram
ser mais atrativos.
Um artigo do IFPI (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
do Piauí), realizado por Neto, Sousa, Batista, Santana e Junior (2013),
apresenta um jogo eletrônico com função psicopedagógicas, nos moldes
teóricos da metodologia ABA (Applied Behavior Analysis). O game “G-TEA”,
tem como objetivo auxiliar psicólogos, educadores e terapeutas a ensinarem as
cores para as crianças com TEA.
Segundo Neto et al (2013) o game possibilita que as configurações
iniciais sejam determinadas pelo profissional educador, selecionando a cor
desejada para a atividade com a criança e a colocação do seu nome.
Percebendo o incomodo sonoro na criança, aconselhado a deixar desligado o
som. O reforço positivo do game quando acerta é manifestado por som, caso
52
não ocorra, o profissional ABA terá que realizá-lo. (p.139)
Este jogo utiliza uma técnica do ABA que chamamos de DTT (Discrete
Trial Teaching), ou “Ensino por Tentativas Discretas”, traduzido na nossa língua
portuguesa. É um modo de ensino de forma estruturada, caracterizado por
dividir uma atividade complicada de aprendizado em sequências (passos)
pequenas ou “discretas”. Ensinando uma parte de cada vez com quantidades
de tentativas possíveis, não esquecendo que se deve preceder com um
estímulo de reforço (premiação). Lembramos que o game foi projetado para ser
utilizado em computadores tablets, por ser de fácil manuseio, participando do
jogo através de toques na tela.
O artigo de autores Neto et al (2013) menciona os resultados adquiridos
na Associação de Amigos dos Autistas do Piauí, com testes feitos em três
crianças autistas. Duas crianças tiveram bom êxito, sendo que uma não
demonstrou tanta dificuldade que a outra no game G-TEA, com grande
estímulo e satisfação em utilizar as ferramentas e na realização das fases do
jogo. (p.140)
‘‘Quando ocorre a junção adequada destas Técnicas
Behavioristas com as diferentes tecnologias existentes, surgem
ferramentas capazes de enriquecer o trabalho de profissionais
que lidam com pessoas portadoras de deficiência, bem como
facilitar o desenvolvimento destas. No que concerne aos
portadores de autismo, é possível identificar alguns aplicativos
que já exigem ou que estão em andamento, que levam em
consideração tais técnicas e prevêem benefícios aos usuários.’’
(Mello & Sganzerla, 2013, p.235)
Os autores acima mencionam dois aplicativos de sites em seus artigo,
LIVOX e QUE-FALA!, que oferecem comunicações alternativas e para uso
educativo para crianças autistas.
O aplicativo LIVOX se assemelha aos cartões dos PECS, mas em
53
condições digitais. Tem o objetivo de facilitar a comunicação de pessoas que
não falam, não tem uma escrita funcional ou qualquer pessoa que tenha
deficiência na comunicação. A pessoa pode usar os recursos das imagens ou
sonorização de palavras.
Segundo Mello e Sganzerla (2013) o aplicativo QUE-FALA! é uma
prancha de comunicação projetado para tablets, smatphones e computadores.
Ele permite que o usuário imprima as imagens que podem virar cartões de
comunicação, também facilita a edição, obtendo um conteúdo mais
personalizado (p.236). Tal característica é ótima para os autistas, por ser
necessário imagens familiares, de seu convívio e vivências.
As crianças com transtornos podem se beneficiar com as várias
tecnologias estabelecidas no mercado digital. O uso desses aplicativos e
games podem ser o melhor caminho, mais atrativo para as crianças. É
necessário o conhecimento técnico dos métodos terapêuticos de ensino
mencionados para melhor aproximação dos objetivos: bom desempenho na
comunicação, comportamento e interação social.
3.6 - Criações artísticas de autistas
[...] o crescimento mental depende das relações ricas e
variadas entre a criança e o seu meio; tal relação é o ingrediente
básico de qualquer experiência de criação artística.” (Lowenfeld &
Brittain, 1970, p.16-17).
As produções artísticas são expressões humanas de convívio social:
sentimento, atividades cotidianas, projeções de si do que pensa e sente do
meio e do outro. Tudo isso por algum meio estético sonoro, plástico, corporal e
54
outros. A arte ocorre numa necessidade de entender o mundo e a nós
mesmos, codificada por meios subjetivos e simbólicos da linguagem, já que as
palavras e meios objetivos de comunicação não suprem a carga
plurissignificativa das produções cognitivas do inconsciente.
As experiências sensoriais é o princípio para começar uma relação com
o mundo: as temperaturas, cheiros, sabores, movimentos, texturas, as formas e
as cores. A integração sensorial, associação entre cérebro e os sentidos,
necessários para processar decisões de comportamentos expressivos e de
interações ocorrem com certo déficit em crianças com TEA. Isso não responde
que a criança seja incapaz de interações sociais e criações artísticas, pois o
déficit não implica em inexistência total ou que não possa ser estimulado.
3.6.1 - Potencial criativo
“A criatividade nos sujeitos com síndrome de autismo e,
mais especialmente, na sua competência visuo-plástica revela um
indicador de capacidade imaginativa e de abstração que ainda
hodiernamente tem gerado polêmica no seu reconhecimento.”
(Isabela do Vale Trabucho, 2010, p.3).
Falamos no primeiro capítulo desta monografia a incapacidade de
imaginação que a criança com TEA tem de não teatralizar (brincar),
reproduzindo a realidade em sua volta: brincar de médico, de família, de
profissões, reproduzindo ou imitando gestos e comportamentos de pessoas
adultas. Muito mais quando necessita de outras crianças para a construção da
brincadeira, pois tem dificuldade de interação social. Qualquer processo de
educação que exija imitação do aluno é ineficaz para as crianças com
transtorno.
A condição de espectro e de seu contínuo autístico, revela nas crianças
as transformações mais do que físicas, as comportamentais e suas variáveis.
Esta pode fazer com que a criança esteja, com o passar do tempo, distante do
55
que era anteriormente, podendo ou não parecer um autista em sua fase adulta.
Mesmo assim as ações psicopedagógicas devem ser atuantes para o
desenvolvimento do potencial criativo e comportamental, mostrando para a
criança possibilidades de novos caminhos, novos rumos.
É imprevisível as mudanças sofridas em uma criança autista, pois cada
uma tem perfil comportamental, de comunicação e interação diferentes entre si.
Algumas mudanças podem em uns pontos regredir e outras progredir.
Mesmo pessoas que não tem nenhuma disfunção neurológica ou
distúrbios psíquicos sofrem com dificuldades no potencial criativo. Isto pode ser
revolvido buscando meios de estímulos e autoconhecimento quando em
processo de criação, ressignificando a si mesmo e ao meio que vive.
“A pessoa criativa é aquela que constantemente se
autorrenova, autorrecria. Ao superar obstáculos e barreiras,
rapidamente reformula, ressignifica, abandonando antigos
conceitos e buscando novas possibilidades.” (Dina Lucia Chaves
Rocha, 2009, p.60).
As nossas percepções e sentidos agem de maneira diferente a de um
autista. Julgaremos o seu potencial criativo de acordo com o nosso? O muito
de potencial criativo de algumas crianças com TEA está latente, esperando um
estímulo ou algum recurso para que ele possa se manifestar.
“Nos autistas, a Arteterapia assenta essencialmente no
objetivo de promover uma forma de expressão simbólica, não
verbal, assim como desenvolver um processo de
autoconhecimento, autoestima, aprendizagem, expandindo com
isso os seus recursos físicos, emocionais e cognitivos.” (Ladeira,
2012, p.36).
A arteterapia vem com seus recursos, com base em métodos, sejam
eles behavioristas ou mesmo numa análise das imagens pela psicologia
junguianas, tentar trazer uma forma expressiva e mais acolhedora possível às
56
crianças autistas. Tudo com o propósito de amenizar as frustrações que são
adquiridas pela falta de linguagem e interação social, aliviando conflitos
psíquicos que podem levar a comportamentos indesejáveis.
A criatividade é revelada em autistas, basta conhecer pessoas bem
sucedidas como a Doutora Temple Grandin, norte-americana autista asperger
que já publicou mais de 400 artigos científicos, publicou vários livros tratando
de vários temas sendo um o autismo, criou a ‘‘máquina do abraço’’, além de
títulos acadêmicos conquistados.
Em entrevista à Revista Autismo, por Carolina Rafols (2013), Grandin
fala da importância do seu professor de ciências, Sr. Carlock, que foi peça
chave para a sua motivação nos estudos. Ele aproveitou a tremenda fixação
autista para motivar Temple a dedicar-se em estudos acadêmicos. Como ela
outros também tiveram sucesso, tiveram auxílio de profissionais que ajudaram
a se encontrar, se estruturar para ocupar um lugar na sociedade. Reforça
Temple Grandin que o educador deve desenvolver os pontos fortes das
crianças autistas, pois pode nascer ali um grande profissional. (p.5)
3.6.2 - A técnica desenhos-estórias
Em um artigo chamado de “A CRIAÇÃO DE DESENHOS-ESTÓRIAS NA
PSICOTERAPIA DE UM ADOLESCENTE COM SINDROME DE ASPERGER”,
cujo autor Bráulio Eloi de Almeida Porto (2010) relata um estudo de caso em
que a arte lhe oferece resultados positivos.
O autor do artigo, Porto (2010), relata a grande dificuldade entre analista
e paciente de estabelecer um vínculo devido ao prejuízo na interação social
recíproca, característica patológica dos portadores da síndrome de asperger,
mas estes mantendo uma preservação na inteligência e capacidade de
comunicação. Para suprir tal necessidade é usado como estímulo para
interação uma técnica chamada “Desenhos-Estórias”, desenvolvido por Walter
Trinca em 1972. (p.1-2)
57
A técnica utiliza dois meios de comunicação: o desenho livre e a
verbalização de estórias. A análise da criação artística no processo
psicoterapêutico tem por base teórica a Psicologia Analítica. Foi projetada para
a aplicação em pessoas a partir de cinco a quinze anos, reajustado depois para
crianças a partir de seus três anos, incluindo também adolescentes, jovens,
adultos e idosos. Depois do paciente realizar cinco desenhos ele deve contar
uma estória em que cada um representa. A produção criativa pictórica e verbal
possibilitará ao analista uma perspectiva integrada dos problemas acarretados
no paciente: seus conflitos, desconforto emocional e desajustes
comportamentais.
Utilizou Porto (2010) como paciente de estudo um adolescente de 18
anos com perfil de relatos de briga com irmão, mau-humor e dificuldades em se
comunicar. Ocorrendo o afastamento de amigos e a busca de solidão,
relatando os pais que aos três anos de idade não gostava de beijos e abraços.
Tem momentos de obsessão por alguma coisa que sente atração. Ele se
mantém dependente em muitas práticas simples como a ver preços de
produtos de uma loja. (p.3)
Na sessão de desenhos o paciente revelou gosto, por ter o material uma
linguagem de sua familiaridade, a sensação de controle. No segundo capítulo
desta monografia quando é descrito a importância das linguagens dos
materiais gráficos, ele revela essa característica, pois são muito aceitos em
atividades por pessoas que gostam de controle e são muito restritas, que não
gostam de ousar, segundo Carrano & Requião (2013).
Por ser um material muito próximo em sua forma de ser, seus desenhos
impressionou o analista, demonstrou uma habilidade estética não esperada. O
uso da técnica foi uma importante fonte de diagnóstico, análise e o percurso do
processo terapêutico, como revela as considerações finais do autor:
“O uso do Desenho-Estória neste caso se mostrou não só
uma importante fonte diagnóstica - pela revelação de questões
ligadas a identidade, auto-imagem e referência aos aspectos
58
arquetípicos da anima e sombra - como também um meio de
investigação da transferência e dos prognósticos
terapêuticos.”(Porto, 2013, p.6).
Os arquétipos “anima” e “sombra” são relacionados às teorias do
“Inconsciente Coletivo” de Carl Gustav Jung, heranças psicológicas ancestrais
que, com uma leitura cuidadosa em manifestações por imagens pictóricas
podem, em diálogo com o paciente, revelar as fontes dos problemas psíquicos.
Possibilita o autoconhecimento, deslocamento das pulsões emocionais e maior
controles de si
Para Jung (1964) anima são tendências psicológicas femininas
personificadas na psique do homem como a capacidade de amar, sensibilidade
à natureza, intuições proféticas e a relação com o inconsciente. A sombra é
parte da personalidade não desejada, mas que possa vir a manifestar de
maneira inconsciente, por um ato de impulso ou inadvertido. Ambos os
arquétipos foram manifestados nos desenhos e verbalizados pelo paciente com
conteúdo em forma subjetiva e simbólica.
3.6.3 - Modalidades expressivas em crianças com transtornos
Em um artigo, “ARTES VISUAIS COMO APOIO PEDAGÓGICO À
CRIANÇA E ADOLESCENTES COM TRANSTORNOS PSÍQUICOS”, cuja
autora Valéria Metroski de Alvarenga (2013) relata a realização de uma
intervenção com modalidades expressivas - desenho, pintura, gravura,
escultura e fotografia - na Instituição SEPIÁ (Serviços e Programas para a
Infância e a Adolescência) na cidade de Curitiba, no ano de 2011.
A autora deixou disponível para as crianças os materiais para que a
escolha por interesse se manifestasse. Segundo Alvarenga (2013), permitir
manipular quantas vezes quisesse o mesmo material, desenvolveriam ao
máximo as competências e habilidades das crianças, seja no âmbito físico,
emocional e equilíbrio pessoal. Elas podiam expressar livremente. O único
59
limite seria as condições do próprio material. Pela não obrigatoriedade das
atividades, alguns participaram e outros não, havendo aqueles que
interrompiam seu próprio fazer artístico.
As práticas das pinturas em crianças propiciam conhecimento e
curiosidade com as misturas: fluidez das cores, misturas e dispersão das tintas
no ato de lavar as mãos e pincéis. Relata a autora que ocorreu interesse pelos
materiais que não tinham a intenção de uso, como o jornal que era usado para
não sujar a mesa. Uma atividade atrativa para crianças especiais é o que
ocorreu nessa intervenção do referido artigo. As atividades tornaram para as
crianças um laboratório de descobertas e sensações, revelando possibilidades
criativas.
“Podemos utilizar as tintas para explorar o mundo dos
sentimentos e das emoções, por meio da fluidez e de suas cores.”
(Carrano, 2013, p.99).
As práticas com gravuras, realizando impressões e repetições de
imagens. Construindo espécies de carimbos utilizando vários tipos de
materiais, entendendo a idéia de repetição e o valor de uma matriz. Alguns pela
incapacidade motora, ansiedade ou hiperatividade não conseguiam controlar a
quantidade de tinta, uns colocando muitos, outros colocando pouco no carimbo,
não conseguindo chegar a uma impressão satisfatória, levando a frustração.
A prática da fotografia, declarada pela autora, foi aceita por todas as
crianças, abrangendo aquelas que não focaram nenhum interesse por outras
atividades. Sujeitos autistas com déficit da atenção compartilhada têm a
possibilidade de serem amenizados quando surge um atrativo, a apropriação
de um momento, a foto (imagem).
As possibilidades oferecidas na oficina de fotografia com tecidos e
adereços possibilitaram mudanças no visual de cada criança, transformando a
si mesmo como parte da obra. Saber que é você, mas em outras condições
leva-nos a uma reflexão em entender a nós mesmos. A posição do corpo,
60
gestos, a posição da mão e expressões faciais, tudo em seu conjunto se
transformando numa linguagem.
As práticas com escultura tinham materiais variados como argila, sabão
em pedra, arame e outros. Sendo a argila bastante utilizada, todos os materiais
usados de formas diversificadas. Alguns, segundo Alvarenga (2013), usavam o
material de forma plana para realizar ranhuras (desenhos) nas superfícies. A
flexibilidade do material ajuda no processo criativo, a argila transformável no
toque e manuseio com mais outros materiais acrescentados possibilitou várias
formas de finalizar.
A prática de desenhos, cujo propósito era criar linhas utilizando papéis,
lápis arames, lã, tecidos e outros. Tiveram a maioria pelo gosto de fazer
atividades com arames. Aconteceu de copiarem uns dos outros, mesmo assim
teve resultados em vivenciar as possibilidades variadas: um mesmo tema (a
linha) com diversos tipos materiais. As cópias de trabalhos de outros colegas,
mesmo não demonstrando tanta criatividade, revelam a atenção ao trabalho do
outro e apreciação estética.
“Desenho de cópia - trabalha a atenção e a concentração,
direcionado para o objeto, para o entorno, ou para a releitura de
uma obra, uma vez que é uma cópia de algo que já existe e que
pode estar direcionada para o real. Algumas pessoas têm enorme
dificuldade de executar esse trabalho, algumas vezes por pura
inabilidade, outra por apresentar dificuldades de concentração.”
(Carrano & Requião, 2013, p.93)
O processo lúdico da intervenção através da arte propiciou interação
social, comunicação entre os grupos, amenizando os problemas do transtorno.
A autora responsável pela organização das práticas artísticas, Alvarenga
(2013), ressaltou a importância do processo lúdico que é maior do que o
produto final (objeto de arte). Possibilitaram brincadeiras, estimulando
imaginação e a atenção compartilhada, tais coisas os autistas se mantêm em
déficit. Apesar das dificuldades da coordenação motora fina de alguns, pelo
61
fato de não conseguir realizar ou terminar, mesmo com as várias tentativas
possibilitou a prática e seu desenvolvimento.
Para o profissional terapeuta é necessário a atenção no comportamento
nas produções artísticas de um autista, seus gostos por tipos de modalidades
expressivas, seus interesse e estímulos pessoais. Visto a dificuldade de
padronizar práticas e generalizar ações terapêuticas para as crianças com
transtornos, a sua singularidade deve ser respeitada. Se práticas recusadas
forem necessárias deve-se usar meios de estímulos de reforço para que venha
se concretizar e promover uma vida social melhor ao paciente.
62
CONCLUSÃO
Autismo, um termo ainda considerado instável na sua definição em pleno
terceiro milênio, pelas lacunas de informações científicas não preenchidas pela
humanidade. Cabe-nos aproveitarmos décadas de pesquisas, separando
daquelas muitas tendenciosas, para continuarmos ainda em decifrar o caso
TEA - Transtorno do Espectro Autístico. Transtornos também foram alguns
fatos ditos científicos que ocorreram na história, atualmente profissionais vêm
se organizando cada vez mais em buscas de verdadeiras soluções.
Muito tem se desenvolvido nas áreas clínicas, terapêuticas e
educacionais para o tratamento, seja na psiquiatria, psicopedagogia,
fonoaudiologia, musicoterapia, arteterapia e outros. Todos com um objetivo:
intervenções mais humanas e solidárias, mesmo com o demorado processo
que o paciente tem para chegar a bons resultados. O desejo de muitos pais e
profissionais é o surgimento de mais estruturas de atendimento multidisciplinar
clínico-terapêutico de qualidade, e que possa ser acessível a todos,
independente de condições financeiras.
A história do autismo e outros transtornos foram marcados por negros e
macabros métodos terapêuticos como a lobotomia, coma insulínico e
eletrochoques. Isto sem se preocupar com males irreparáveis aos pacientes. A
credibilidade era maior aos tratamentos fascistas que outros métodos não
agressivos, visto que era a filosofia da época, promovida pela maioria dos
poderes políticos e científicos vigentes, mesmo aqueles ditos democráticos e
humanitários.
Nesta monografia foram expostos fatos históricos importantes para a
arteterapia, o desejo de um melhor tratamento para distúrbios mentais.
Conflitos ideológicos e políticos fizeram parte desse cenário, marcados
63
principalmente pelas atitudes da psiquiatra Nise da Silveira contra tratamentos
terapêuticos desumanos. A descrença de que a arte poderia ser um meio
terapêutico para reabilitação social de pessoas com transtornos mentais era
comum, e necessitava de provas que afirmassem seu efeito de cura em
pacientes.
Desmistificar a arte em seu processo terapêutico foi a luta de muitos,
com suas contribuições em pesquisas, seja em artigos e monografias, livros e
outros. Não somos desconectados do mundo, das coisas e da natureza.
Aparentes seres independentes temos a necessidade de estarmos nele, sendo
influenciados e direcionados pelo meio - mundo - em seu estado mutável,
instável e transformador. A arte é reveladora em dizer em seus meios
expressivos que fazemos parte do universo e estamos conectados a ele.
A cor, os materiais em suas várias condições, os cheiros e tudo que
pudermos imaginar do meio influenciam em nossas estruturas psíquicas e
fisiológicas. Sendo notórios os efeitos curativos das práticas artísticas pela
ação de seu valor simbólico, não só no produto final, mas de todo o processo: o
olhar ao material, o manuseio, o cheiro, o tato e o ouvir. Cada fase do processo
de criação tem ação de canalizar e liberar pulsões psíquicas, tornando um ser
mais harmônico consigo e com o meio.
Aproveitando dos estudos de casos manifestados em artigos de outras
entidades, em análise, foi entendido a potencialidade das teorias e técnicas em
meio a vários métodos, dando importância a estrutura sensorial e aos
estímulos para o reforço da aprendizagem, como desempenho acadêmico,
comportamental, de comunicação e interação social recíproca.
Quanto às artes visuais como desenvolvimento de comunicação, seja
por apoios visuais, aplicativos de sites, games e produções artísticas plásticas,
tiveram demonstração positiva de desempenho. As que tinham características
recreativas com ações conjuntas possibilitaram a interação e atenção
recíproca, e também as atividades plásticas reduzindo os comportamentos
indesejáveis. Por meios expressivos externaram pulsões contidas, conflitos e
64
insatisfações emocionais.
Consuma-se como conclusão que a linguagem das artes visuais, em
qualquer tipo ou condição usada, é um veículo de comunicação inicial
(alternativo) para o autista. A subjetividade e valor simbólico das produções
criativas estimulam uma construção interior que possibilita a consciência
existencial de si, do outro e do meio, desenvolvendo as relações recíprocas,
seja por comportamento ou comunicação.
Compreendendo que em meio à estrutura multidisciplinar clínico-
terapêutica, necessária ao tratamento de crianças com TEA, há de manter
incluso a arteterapia em suas múltiplas modalidades expressivas.
65
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71
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO..................................................................................... 02
AGRADECIMENTOS................................................................................... 03
DEDICATÓRIA............................................................................................ 04
RESUMO............................................................... ..................................... 05
METODOLOGIA.......................................................................................... 06
SUMÁRIO.................................................................................................... 07
INTRODUÇÃO............................................................................................. 08
CAPITULO I: AUTISMO – UM MUNDO À PARTE ..................................... 10
1.1 – Autismo, um termo histórico e de patologias ..................................... 10
1.2 – Características do TEA ...................................................................... 13
1.2.1 – Interação social .................................................................... 13
1.2.2 – Comunicação ....................................................................... 14
1.2.3 – Comportamento ................................................................... 15
1.3 – Autismo enquanto espectro ............................................................... 17
1.4 – Fatos políticos e sociais ..................................................................... 18
CAPÍTULO II: ARTETERAPIA – A ARTE É CURA .................................... 21
2.1 – Arte, antigo processo terapêutico ...................................................... 21
2.2 – Arteterapia, uma ciência .................................................................... 22
72
2.3 – Osório Cesar ...................................................................................... 24
2.4 – Nise da Silveira .................................................................................. 26
2.5 – Linguagem dos materiais ................................................................... 30
2.5.1 – Símbolos, sonhos materializados ........................................ 30
2.5.2 – A cor como valor simbólico .................................................. 32
2.5.3 – A cola, um material expressivo ............................................ 33
2.5.4 – Fotografia: passado, presente e futuro ................................ 35
2.5.5 – Pinturas, fluidos de cor ........................................................ 36
2.5.6 – Materiais de desenhos ......................................................... 37
2.5.7 – Massas, moldando formas ................................................... 38
2.5.8 – Materiais duros, moldando formas na força ......................... 40
2.5.9 – Uso de materiais diversos .................................................... 41
CAPÍTULO III: TERAPIAS EDUCATIVAS PARA CRIANÇAS COM TEA .. 42
3.1 – Teoria comportamental (Behaviorismo) ............................................. 43
3.2. – O método TEACCH .......................................................................... 44
3.3 – O método ABA ................................................................................... 47
3.4 – O método PECS ................................................................................ 48
3.5 – Terapia educacional com computadores ........................................... 51
3.6 – Criações artísticas de autistas ........................................................... 53
3.6.1 – Potencial criativo .................................................................. 54
73
3.6.2 – A técnica desenhos-estórias ................................................ 56
3.6.3 – Modalidades expressivas em crianças com transtornos ..... 58
CONCLUSÃO ............................................................................................. 62
BIBLIOGRAFIA ........................................................................................... 65
ÍNDICE ........................................................................................................ 71