universidade candido mendes pÓs-graduaÇÃo … barros gasparin.pdf · apresentação de...
TRANSCRIPT
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
ESTRATÉGIAS PARA AUMENTAR A DOAÇÃO DE SANGUE
Por: Luciene Barros Gasparin
Orientador
Prof. Dr. André Gustavo Guimarães da Cunha
Rio de Janeiro
2005
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
2
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
ESTRATÉGIAS PARA AUMENTAR A DOAÇÃO DE SANGUE
Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como condição prévia para a
conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu”
em Marketing. Os objetivos desta monografia são
identificar as razões que levam a não doação de
sangue, tentando reverter esse quadro, se possível,
através da informação e da conscientização e
incentivar a prática da doação de sangue para que
se tonne um hábito no país.
Por: . Luciene Barros Gasparin.
3
AGRADECIMENTOS
Ao Instituto Estadual de Hematologia
Arthur Siqueira Cavalcanti –
HEMORIO, pelo espaço cedido para
pesquisa em sua biblioteca, pela
atenção dispensada às perguntas feitas
ao longo do ano de 2004, contribuindo
assim com o enriquecimento deste
trabalho.
4
DEDICATÓRIA
Dedico esse trabalho ao meu esposo
Renato que me acompanhou e incentivou
durante todo o curso de Pós-graduação,
por sua dedicação, amor e
companheirismo. Pelo seu apoio e por
sempre acreditar em mim e em meus
projetos, dos quais sempre faz parte.
5
RESUMO
A falta de doações de sangue é um problema constante nos
hemocentros de nosso país.
O sangue doado é distribuído aos hospitais públicos e conveniados com
o SUS – Sistema Único de Saúde, e utilizado em grandes emergências,
cirurgias e em pacientes com doenças oncológicas e hematológicas. Sabe-se
que o sangue coletado é insuficiente para manter abastecidos esses hospitais.
Nem 2% da população brasileira doam sangue. A ANVISA – Agência
Nacional de Vigilância Sanitária cria estratégias para atrair e manter doadores
para que esse sistema possa funcionar de maneira eficiente. Várias ações são
estabelecidas em conjunto, visando atingir o objetivo de aumentar e fidelizar
doadores voluntários de sangue.
Essas ações, além de voltadas para o público-alvo, também fazem
parte do endomarketing dos hemocentros. Há investimentos no treinamento e
capacitação dos técnicos e financeiros para melhoria da hemorrede.
As campanhas publicitárias fazem parte das estratégias para
informação e conscientização dos doadores e potenciais
doadores.Infelizmente, essas campanhas são mais intensificadas em épocas
como reveillon e carnaval, onde há aumento de utilização dos serviços dos
bancos de sangue por causa das graves ocorrências e do aumento do número
de acidentes, principalmente os de trânsito.
Para alcançar novos e fidelizar doadores, a hemorrede deve intensificar
suas estratégias de informação e conscientização com o objetivo também de
sensibilizar as pessoas mostrando a necessidade da doação de
6
sangue e os benefícios que esse ato de solidariedade e amor ao próximo pode
trazer.
Fazer com que a informação segura circule. Tentar desmistificar a
prática da doação de sangue.
Os hemocentros devem sair de suas quatro paredes e das telas da
televisão. Ir onde as pessoas estão. As coletas externas já existem, porém pela
falta de profissionais, só é feita uma vez por semana, agendada, e atendendo a
alguns critérios pré-estabelecidos, conforme informações do HEMORIO.
Segundo o site da ANVISA, o maior motivo pelo qual as pessoas não
doam sangue é porque nunca foram solicitadas. Então deverá haver um
trabalho direcionado a essas pessoas, pois no dia-dia tão corrido, elas não têm
tempo para ir ao hemocentro.
Intensificar parcerias com empresas para que a doação ocorra em suas
dependências. Verificar junto ao governo federal, a possibilidade da inclusão de
disciplina a respeito da doação de sangue nas escolas.
Promover ações como caminhadas, convocando a população,
principalmente as mulheres e os jovens, pois um dos objetivos é alcançar o
índice de 30% de participação feminina e de jovens de 18 a 29 anos, em
relação ao total de doações.
O hemocentro deve se mostrar um lugar com as portas abertas,
simpático ao público e principalmente seguro e confiável.
7
METODOLOGIA
A metodologia adotada foi baseada em pesquisas bibliográficas, pela
internet e de campo nas dependências do Instituto Estadual de Hematologia
Arthur de Siqueira Cavalcanti, conhecido como Hemorio, visando aprofundar o
conhecimento relacionado ao ato da doação de sangue e da captação de
doadores, estudando estratégias para o aumento do números de doações,
visto que o volume atual não supre as necessidades da demanda.
8
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 9
CAPÍTULO I - Transfusão Sangüínea – O Conceito 10
CAPÍTULO II - Os Problemas da Hemoterapia 14
CAPÍTULO III – Estrutura dos Serviços de Sangue e
Respectivas Operações 20
CAPÍTULO IV – O Processo de Doação 24 CAPÍTULO V – Estatísticas do Setor 32 CAPÍTULO VI – Estratégias para Aumentar a doação
de Sangue 36 CONCLUSÃO 40
ANEXOS 43
BIBLIOGRAFIA 48
ÍNDICE 49
FOLHA DE AVALIAÇÃO 50
9
INTRODUÇÃO
DOE SANGUE. DOE VIDA. Esse é o principal slogan utilizado como
apelo à necessidade da doação de sangue. Como esse ato depende
exclusivamente dos doadores, pois ainda não se descobriu elemento capaz de
substituir o sangue humano, cada vez mais há de se buscar maneiras de atraí-
los aos locais de coletas num ato voluntário e altruístico.
Informar, conscientizar, despertar o interesse e o compromisso com a
doação de sangue são objetivos principais nesta tarefa.
Entretanto, existem barreiras de entrada identificadas que precisam ser
ajustadas como a falta de informação das pessoas, principalmente quanto a
mistificação e os preconceitos existentes e infundados, a falta de mais
profissionais para a realização de coleta externa, a falta de equipamentos para
realizar várias coletas externas ao mesmo tempo, a falta de estrutura de
atendimento para coleta externa e interna simultaneamente, sem prejuízo de
atendimento em ambos os casos, a falta de acompanhamento ao doador após
a doação, pois se ele se sente mal, não retorna ao hemocentro para uma
próxima doação e intensificar campanhas na mídia durante todo o ano.
A principal barreira de saída é que por falta de conscientização, a
maioria não retorna após a primeira doação ou só doa quando requisitado para
algum parente ou amigo que necessita receber a transfusão.
O trabalho de educação, formação e comunicação sobre esse tema
deve ser implementado na formação acadêmica, do maternal à graduação,
desde a abordagem individual aos poderosos meios de comunicação de
massa, transmitindo importantes valores tanto cívicos como de amor ao
próximo.
10
CAPÍTULO I
Transfusão Sangüínea
O Conceito
...Deus é maior que todos os obstáculos.
11
Há séculos, acredita-se que o sangue dá e sustenta a vida, sendo capaz
de salvá-la em várias circunstâncias. Décadas e mais décadas de pesquisas
científicas e estudos aprofundados foram necessários para se descobrir a sua
real importância e destinar a ele o uso adequado e eficaz. Até esse dia, o que
prevaleceu foi o empirismo – as práticas fundamentadas na intuição e na
experiência comum.
A história vem da Grécia antiga: os nobres bebiam o sangue dos
gladiadores mortos nos duelos nas arenas, com o intuito de obterem a cura
para os mais diversos males, entre os quais estava a epilepsia.
O médico grego Galeno defendia a sangria na cura de qualquer doença
e de acordo com a teoria de Hipócrates, concluiu pela existência de quatro
humores no corpo humano: o sangue, a bile amarela, a bile negra e a fleuma.
No ano de 1492, para se curar de uma grave doença, o papa Inocêncio
VIII, foi convencido a ingerir o sangue de quatro jovens que morreram
anêmicos, sem que se conseguisse restabelecer a sua saúde.
“Realizadas experimentalmente em animais, a primeira transfusão de
sangue é atribuída a Richard Lower em demonstração realizada em Oxford, em
1665.
A primeira experiência em ser humano aconteceu dois anos mais tarde
em 1667, em Paris. Seu autor foi Jean Baptiste Denis, professor de filosofia e
matemática em Montpellier e médico do rei Luis XIV. Tomando um tubo de
prata, Denis infundiu um copo de sangue de carneiro em Antonie Mauroy, de
34 anos, doente mental que perambulava nu pelas ruas da cidade.Conta-se
que após resistir a duas transfusões, Mauroy teria falecido provavelmente em
conseqüência da terceira.
12
Um fato curioso: as transfusões de sangue nessa época eram
heterólogas, isto é, com sangue de animais de espécies diferentes. Denis
defendia a prática argumentando que, ao contrário do humano, o sangue de
animais estaria menos contaminado de vícios e paixões.
Considerada criminosa, a transfusão heteróloga foi proibida na
Faculdade de Medicina de Paris e, posteriormente, na de Roma e na Royal
Society, da Inglaterra.
Embora proibidas, as experiências não foram de todo abandonadas. Em
1788 (século 18), após tentativas fracassadas com transfusões heterólogas,
Pontick e Landois obtiveram resultados positivos realizando transfusões
homólogas (entre animais da mesma espécie), concluindo que elas podem ser
benéficas e inclusive salvar vidas.
A primeira transfusão com sangue humano é atribuída a James Blundell,
em 1818 que, após realizar com sucesso experimentos em animais, transfundiu
sangue humano em mulheres com hemorragia pós-parto.” (www.fundaçãopró-
sangue.com.br)
No início do século XX, Karl Landsteiner, descobriu os grupos
sanguineos ABO, identificando seus antígenos e anticorpos e com isso
evoluindo muito a medicina transfusional, estava estabelecida a
compatibilidade e a incompatibilidade entre os sangues dos indivíduos
humanos agora com base científica para o uso do sangue como agente
terapêutico.
Mesmo com todos os avanços da medicina, ainda não se descobriu
substituto para o sangue humano, que é utilizado para vários casos, desde
acidentes de trânsito a pacientes com hemofilia e tratamento de doenças
hereditárias, entre outros.
13
A doação de sangue é um ato de solidariedade que pode salvar vidas. É
uma ação voluntária e consciente da real importância e necessidade desta
prática. Doar sangue não tem preço; o sangue e seus derivados não podem ser
comercializados. A recompensa do doador acontece quando seu sangue salva
ou ajuda a manter a vida de seu semelhante.
Para isso a prática da doação deve ser incentivada pois sempre há
escassez de sangue nos hemocentros, onde ocorre a distribuição para os
hospitais que o utilizam para a realização procedimentos cirúrgicos e clínicos.
Estratégias devem ser elaboradas a fim alcançar, informar e
conscientizar potenciais doadores de sangue e depois dessa etapa, também
fidelizá-los, para que o sistema de doação não seja interrompido e para que
haja segurança, pois os fidelizados costumam cercar sua vida e saúde de mais
cuidados para se manterem doadores.
Várias pessoas fazem sua primeira doação e não mais retornam aos
hemocentros. Após identificar a motivação desse problema, soluções deveram
ser analisadas de imediato, completando assim o quadro de estratégias para
aumentar a doação de sangue.
14
CAPÍTULO II
Os Problemas da Hemoterapia
“Se você não faz parte do problema,
você, certamente faz parte da
solução”.
Maria Elena P. Johannpeter - 2000
15
“O sangue é um tecido especial, que difere dos demais usados
em transplantes, porque pode ser coletado, e separado em seus componentes,
que constituirão vários produtos hemoterápicos, os quais serão preservados in
vitro, em condições adequadas cada uma deles de modo que possam ser
selecionados e transfudidos no momento oportuno.” (p. 33)
Partindo dessa premissa, a hemoterapia enfrenta problemas recorrentes,
onde há a necessidade da identificação dos problemas universais, gerais e dos
problemas particulares, regionais, para que as soluções possam ser
adequadas a eles.
Os grandes problemas universais da hemoterapia são considerados:
1 – Obtenção do sangue – como ainda não se encontrou substituto para o
sangue, a única forma de obtê-lo é através da doação. Atrair pessoas
saudáveis e aptas para os serviços de hemoterapia não é causa fácil, daí
tantas investidas em campanhas publicitárias que ainda parecem ser poucas.
No início, os convocados a doar sangue eram amigos e familiares
daquele que seria o receptor. A medida que se constatou o sucesso da
terapêutica transfusional, a demanda de doadores cresceu.
Em princípio os serviços de hemoterapia organizaram os chamados
“corpos de doadores de sangue”, mas como a necessidade de doadores era
grande, eles começaram a ser atraídos por uma pequena remuneração em
dinheiro.
Tendo em vista o maior risco de transmissão de doenças, como hepatite
a vírus, e outras através de evidências universalmente aceitas e
documentadas, os serviços relacionados com a Cruz Vermelha sempre foram
os maiores defensores da doação voluntária não remunerada e que os
16
doadores devem ser motivados pela solidariedade, pelo amor ao próximo, mas
nunca por remuneração.
Em 1975, a Assembléia Mundial de Saúde aprovou uma resolução
instando que os Estados Membros da OMS “promovessem a criação de
serviços hemoterápicos nacionais com base na doação voluntária não
remunerada de sangue”.
Após a guerra de 1940 a visão da doação passou a ser inclusive um
dever cívico.
A doação remunerada, representava uma injustiça social pela utilização
da parcela menos favorecida em benefício da totalidade, embora a indústria de
derivados incentivasse a prática, exigindo matéria prima abundante e barata
entre os economicamente mais fracos.
A obtenção do sangue deve ocorrer sem remuneração, entre pessoas
sadias de toda população, aptas a doar.
A Liga da Sociedades da Cruz Vermelha, a OMS e a ISBT em várias
reuniões se pronunciaram favoravelmente ao princípio afirmando que “um
serviço baseado na doação voluntária do sangue, motivado por princípios
humanitários, constitui o meio mais seguro e eficaz de prover as necessidades
do sangue”. Entretanto, a obtenção dessa meta, é mais trabalhosa e cara,
impondo “um trabalho extensivo de educação e comunicação de massa”. (p.
42)
Levar amigos, familiares e parentes à doação de sangue ainda constitui
o meio mais seguro para o receptor e é o caminho mais fácil para solucionar o
problema da falta de sangue, principalmente para reposição.
17
A preocupação com o bom atendimento deve ser uma constante pois
também afastará a apreensão e o medo de doar, trazendo com isso
esclarecimento e propagando a doação. Após a primeira experiência isso
passará a ser um hábito.
Ampliar as alternativas de atendimento aos doadores é outro caminho
que deve ser considerado. Hoje em dia, muitas pessoas até desejam doar
sangue porém a falta de tempo, a distância dos hemocentros e outras
particularidades as afastam de tal prática.
No Brasil, várias medidas vêm sendo estudadas e efetivadas – com
sucesso – como o convênio com empresas, onde é montada uma estrutura
segura e que atende ao objetivo da coleta sanguinea, no horário de expediente,
onde seus funcionários não necessitam se deslocar nem estar de jejum
completo, só evitando alimentos gordurosos nas três horas que antecedem à
doação. Segue-se todo o processo como nos hemocentros porém de forma
mais rápida, evitando as filas e o tempo de espera comuns dos serviços de
hemoterapia.
O serviço de captação externa também funciona desta forma, podendo
ser solicitado por telefone e uma equipe estruturada irá ao local para realizar a
coleta.
2 – A complexidade e o alto custo dos serviços hemoterápicos na
produção dos seus componentes – “a transfusão sanguínea deve ocorrer
quando o risco for menor do que não transfundir”. Para tanto a hemoterapia
tem que primar pela excelência, exatidão e qualidade dos serviços. Em
existindo a escassez da matéria-prima, o sangue coletado deve ser bem
aproveitado, separados os seus componentes para que se obtenha vários
produtos de uma única doação.
18
Para realizar este trabalho, exige-se a modernização de equipamentos,
instalações, aparelhagem, qualificação de profissionais capazes de
administrarem os recursos, minimizando as perdas e maximizando os produtos,
preparando e preservando os seus componentes dentro das tecnologias
existentes.
No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, declara que foram
investidos R$ 217,8 milhões na melhoria da Hemorrede, dados estes que estão
disponíveis no relatório de investimentos financiados pela União/Reforsus para
a Hemorrede referente ao período de 1997 a 2001.
3 – A correta forma de utilização e aplicação do sangue e derivados para
que não haja desperdícios haja vista toda dificuldade no processo de
obtenção da matéria-prima – “formar um especialista”. Esse é o caminho
mais indicado para a correta indicação e aplicação da hemoterapêutica.
Controlar as indicação das transfusões, evitar os desperdícios como a falta de
controle do prazo de validade das bolsas de sangue e outras situações em que
o material poderia ter sido utilizado e não o foi causando o seu descarte. Por
outro lado quando há o abuso do sangue nas transfusões, seus efeitos são
ainda maiores.
“A ação do hemoterapêuta é disciplinadora e semeadora de
desperdícios e abusos; educativa e eficiente, ao estabelecer a conduta da
terapêutica transfusional, finalmente, econômica por evitar gastos supérfluos ou
perdas indevidas”. (p. 45)
Os técnicos e todo o pessoal envolvido no processo da doação de
sangue também devem estar em constante desenvolvimento profissional pois
utilizam vários conceitos no seu dia-a-dia para melhoria do seu trabalho. A
ANVISA e a OMS organizam seminários como o ocorrido em julho de 2003,
onde o objetivo principal era capacitar técnicos para recrutar doadores,
19
entretanto também receberam informações gerais sobre processo de doação-
legislação, cuidados na hora da transfusão, potenciais doadores e outras. Com
isso o Ministério da Saúde pretende aumentar o número de doadores e garantir
a quantidade necessária à demanda do país, além de melhorar a qualidade do
material coletado e do sistema hemoterápico.
4 – As relações da hemoterapia com a indústria de derivados – “a indústria
de plasma e derivados surgiu como um esforço de guerra. O plasma foi
liofilizado, para melhor transporte e preservação, podendo ser usado nas
frentes de batalha, em todo o mundo, como arma de combate ao traumatismo e
ao choque. Nesta mesma década, o fracionamento proposto por Cohn, deu
expansão à indústria de derivados”. (p. 45). A industrialização dos
componentes do sangue tornou-se uma atividade bastante lucrativa. Com a
necessidade de matéria-prima barata e abundante, ela passou a incentivar a
doação remunerada onde consegue adquirir sangue ou plasma, essa prática
estimula a participação da parcela menos favorecida economicamente da
população atraída pelos recursos financeiros.
A Lei 10.205, ratifica a proibição da comercialização do sangue e de
seus hemoderivados e tem como o objetivo a busca da auto-suficiência do país
na produção de hemocomponentes e hemoderivados. Permitir também o
reembolso com serviços de hemoterapia dos custos envolvidos no
processamento dos componentes do sangue usados nos pacientes.
A relação doação-remuneração destrói o conceito humanitário que se
desejar expandir no processo de formação e conscientização da sociedade,
objetivando a presença de pessoas sadias, participantes e formadoras de
opinião, estas que sustentarão o ciclo de vida da doação de sangue e
manterão os estoques dentro dos limites da normalidade nos serviços de
hemoterapia.
20
CAPÍTULO III
Estrutura dos Serviços de Sangue e Respectivas
Operações
“É hora de valorizar, apoiar de todas
as maneiras e pôr em prática este
capital ético que pode ser uma pilar
para um desenvolvimento pujante e
eqüitativo”.
Bernardo Kliksberg
21
O processo de transfusão sangüínea se inicia na convocação de
potenciais doadores e termina na distribuição do sangue e seus derivados ao
receptor que será transfundido.
O sangue coletado e separado em hemocomponentes é preservado “in
vitro” em condições adequadas para ser utilizado no momento oportuno.
Para realização desse trabalho, surgiram vários tipos de organizações
especializadas a fim de proverem as necessidades de um hospital, de um
grupo de hospitais ou de uma comunidade ou de um país, distribuindo sangue
da melhor qualidade, produzido pelo menor custo.
Algumas etapas desse sistema devem ser percorridas para que se
alcance esse objetivo, tais como:
A) Recrutamento de doadores – são as várias formas de atrair, motivar os
indivíduos a doarem seu sangue. É a mais importante, pois sempre esse imput
na quantidade e qualidade necessária, não existirá o bom serviço. Pesquisas
sobre os efeitos dos métodos de recrutar doadores “mostraram que os motivos
da primeira doação foram: 50% para benefício da família, 23% para repor o
sangue usado e 16% por razões humanitárias. Enquanto que nas demais
doações, 55% delas foram por razões humanitárias, 25% para a família, 4%
como reposição, 15% em benefício de determinados grupos e 1% por outras
razões. Portanto, tendo doado uma vez, o indivíduo torna-se mais receptivo a
novos apelos” (p.104)
Outros motivos que também afastam os doadores de sangue são as
campanhas negativas onde os serviços hemoterápicos são acusados de
comerciais e sem ética. As pessoas ficam com medo de prejudicar sua saúde
ou que seu sangue seja vendido ou desperdiçado. Neste caso, por causa das
reportagens sensacionalistas, os doadores acabam se afastando dos
hemocentros, inclusive nos governamentais. É preciso insistir num
22
esclarecimento das funções médicos-sociais do serviço de sangue em
campanhas publicitárias voltadas para seus aspectos positivos.
B) Seleção de doadores – etapa que visa a identificação dos doadores,
contendo dados pessoais como nome, filiação, cor, sexo, data de nascimento,
identificação com foto, ocupação habitual, endereço e telefone de residência e
trabalho; dados da seleção – idade, intervalo entre as doações, profissões
arriscadas e repouso – para a decisão do aceite ou rejeição provisória ou
definitiva do candidato. Os dados devem permanecer arquivados por 10 anos.
À sua triagem clínica e hematológica – escolhendo indivíduos considerados
aptos para a doação, através da determinação do teor de hemoglobina ou pelo
valor do hematócrito. O doador deve estar em boas condições de saúde,
responder ao questionário e assinar a ficha de doador para que ele assuma as
responsabilidades das informações. “No caso de rejeição do candidato, o
motivo da rejeição deve ser-lhe informado e deve também ficar registrado na
ficha de triagem”. (Resolução RDC nº 343, p. 11)
C) Coleta de sangue – retirada do sangue do doador considerado apto. A
coleta pode ser feita de modo tradicional, quando é colhido o sangue total ou
através de hemoferese quando é retirado do doador apenas um componente;
plasmaferese, plaquetoferese ou leuferese quando retira-se apenas o plasma,
as plaquetas e os leucócitos, respectivamente.
D) Processamento – são todas as etapas efetuadas após a coleta e antes da
seleção pré-transfusional. Essas operações visam a preparar componentes, ao
controle do sangue, à rotulagem e ao armazenamento.
D.1) preparado de componentes – multiplicar o valor de uma doação pelo
preparo de várias unidades hemoterápicas.
D.2) controle – examina as seguintes características: Imunematológicas,
classificando os antígenos ABO e Rh, pesquisando anticorpos regulares e
irregulares. Sorológicos – identificando e eliminando os que possam ser
23
vetores de sífilis, da doença de Chagas ou de hepatite. Bacteriológica –
eventual, visa assegurar esterilidade de produtos hemoterápicos. Há outros
controles obrigatórios como bioquímico e parasitológico, porém eventualmente
realizados.
E) Rotulagem – identifica as características do sangue e de componentes.
F) Armazenamento – mantém o sangue e derivados em condições adequadas
para que não haja perdas e sejam preservadas as características de cada
elemento.
G) Seleção Pré-Transfusional – através de testes laboratoriais adequados há a
escolha do sangue e dos componentes compatíveis com o receptor.
H) Transfusão – utilização do sangue ou hemocomponentes por via
endovenosa com finalidade terapêutica.
I) Fornecimento – transferência ou distribuição de sangue e derivados a outro
serviço de sangue ou indústria.
24
CAPÍTULO IV
O Processo de Doação
“A energia que alimenta este
trabalho é a solidariedade e com ela
podemos chegar ao sonho de um
Brasil educado para a cidadania em
todos oscantos da nação”.
Luís Norberto Pascoal - 2002
25
4.1 - Quem necessita
Pessoas que nascem com problemas ligados à produção de sangue,
necessitando assim, de freqüentes transfusões, como os hemofílicos. A
hemofilia é uma doença crônica e incurável, caracterizada por hemorragias
constantes para dentro e para fora do organismo. Cada hemofílico necessita
para sobreviver um mês de sessenta doadores de sangue. Portadores de
anemia falciforme, talassemia, problemas cardiovasculares, entre outros. E
também pacientes em tratamento de câncer, leucemia, nas emergências como
acidentes de trânsito onde haja grandes hemorragias, e cirurgias.
4.2 - Quem pode doar
Há critérios que permitem ou que impedem uma doação de sangue, que
são determinados por Normas Técnicas do Ministério da Saúde, e visam a
proteção ao doador e a segurança de quem vai receber o sangue.
REQUISITOS BÁSICOS PARA DOAR SANGUE:
- Portar documento oficial de identidade com foto
- Estar bem de saúde
- Ter entre 18 e 65 anos
- Pesar no mínimo 50 kg
- Não estar em jejum. Evitar apenas alimentos gordurosos nas três horas que
antecedem a doação
- Não estar incluído em grupos com ocorrência freqüente de situações de risco
para contaminação pelo HIV (www.aids.gov.br/prevenção) tais como:
permanência em prisões; usuários de drogas injetáveis; profissionais de sexo;
homo/bissexuais masculinos (homens que fazem sexo com homens).
26
ALGUMAS SITUAÇÕES QUE IMPEDEM PROVISORIAMENTE A DOAÇÃO
DE SANGUE
- Febre – acima de 37º C;
- Gripe ou resfriado;
- Gravidez;
- Puerpério: impedimento de 90 dias após parto normal e de 180 dias após a
cesariana;
- Uso de alguns medicamentos;
- Anemia;
- Cirurgias e prazos de impedimento: extração dentária: 72 horas; apendicite,
hérnia, amigdalectomia, varizes: 3 meses; colecistectomia, histerectomia,
nefrectomia, redução de fraturas, politraumatismos sem seqüelas graves,
tireoidectomia, colectomia: 6 meses;
- ingestão de bebida alcoólica no dia da doação;
- tatuagem e piercing em locais não controlados pela Vigilância Sanitária: 12
meses;
- vacinação: o tempo de impedimento varia de acordo com o tipo de vacina;
- transfusão de sangue: impedimento por 01 ano;
- ter tido parceiro sexual exposto à situação de risco para AIDS: impedimento
por 10 anos.
ALGUMAS SITUAÇÕES QUE IMPEDEM DEFINITIVAMENTE A DOAÇÃO DE
SANGUE:
- Hepatite B – soropositivo para o vírus da hepatite B (HbsAg e/ou anti-HBc);
- Hepatite C – soropositivo para o anti-HCV;
- HIV – soropositivo para o anti-HIV;
- Doença de Chagas;
- Sífilis – soropositivo para marcadores da sífilis;
- HTLV – soropositivo para HTLV I/II;
27
- Alcoolismo crônico.
4.3 - Desmistificando a doação de sangue
A doação de sangue apesar de simples envolve tabus e mitos, havendo
muitas idéias erradas sobre o processo de doação e é preciso desmistificá-las
e divulgar a verdade absoluta sobre o processo. Doar sangue não vicia, não
engorda, o sangue não afina e nem engrossa e é, rapidamente, reposto pelo
organismo, porém estes fatos devem ser justificados de forma clara. Além
disso, a coleta de sangue é extremamente segura, o doador não corre nenhum
risco de se contaminar com qualquer tipo de doença como a aids, sífilis,
hepatite, etc., pois os materiais são todos descartáveis.
BENEFÍCIOS À SAÚDE DE QUEM DOA
O ato de doar sangue traz benefícios a saúde do doador. Segundo o
médico Guilherme Deucher, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina
Ortomolecular (SOBRAMO), “um estudo realizado na Finlândia mostra que a
doação pode diminuir em 86% os riscos de problemas cardiovasculares no
homem. A relação entre a doação e a diminuição das doenças cardíacas está
ligada ao excesso de ferro acumulado no sangue, que se torna um potencial
agente oxidante, atuando como catalisador da geração de radicais livres,
substâncias tóxicas produzidas pelo organismo”.
Já as mulheres têm este riso naturalmente diminuído durante o período
menstrual, que elimina o excedente de ferro acumulado no sangue.
28
4.4 - Como é feita a doação
Há três principais tipos de doação de sangue: total, por aférese e
autóloga. Doação de sangue total é a doação habitual, onde até 450 ml de
sangue são coletados em uma bolsa produzida com materiais soluções que
permitem a preservação do sangue. Os homens podem doar de 2 em 2 meses,
até 4 vezes ao ano e as mulheres podem dar de 3 em 3 meses até 3 vezes ao
ano.
DOAÇÃO DE SANGUE TOTAL
Ü Cadastro: O doador, portando um documento oficial de identidade, é
cadastrado e recebe um questionário para ser respondido. Esse questionário
tem o objetivo de avaliar se há alguma situação ou doença que impeça a
doação de sangue, portanto as respostas devem ser sinceras e qualquer
dúvida deve ser esclarecida na próxima etapa – a triagem clínica.
Ü Triagem clínica: O doador é entrevistado e examinado por um profissional de
saúde, em local que garanta a privacidade e sigilo das informações. Esse
profissional verifica as respostas do questionário e avalia pessoas com alto
risco de transmitir doenças pelo sangue. O doador deve ser consciente de que
as suas respostas são muito importantes para garantir a sua integridade física,
bem como a de quem vai receber o seu sangue. A segurança do paciente que
recebe transfusão começa com o doador.
Ü Coleta de sangue: A coleta de sangue dura no máximo 10 minutos. Todo
material utilizado é descartável. Não há risco de contrair doenças doando
sangue.
Ü Lanche – após a doação, o doador recebe um lanche e informações sobre os
cuidados que devem ser tomados após a coleta do sangue.
29
DOAÇÃO POR AFÉRESE
Aférese é um tipo de doação onde se coleta apenas um componente
específico do sangue. Ele é formado pelo plasma e por células – hemácias,
plaquetas e leucócitos. As principais funções desses elementos são: plasma –
controlar hemorragias; hemácias – transportar o oxigênio para todo o
organismo; plaquetas – controlar sangramentos; leucócitos – combater
infecções.
Em uma doação de plaquetas por aférese é possível coletar de 6 a 8
vezes mais plaquetas do que em uma doação de sangue total, sem causar
qualquer dano ao doador. Quem precisa da transfusão de plaquetas?
Pacientes em tratamento de doenças hematológicas, como a leucemia e outros
tipos de câncer. As condições básicas para se doar somente plaquetas são as
mesmas para quem doa sangue. Assim como na doação de sangue total, não
é necessário estar em jejum. A doação por aférese não faz nenhum mal à
saúde e a reposição permite que a pessoa doe novamente em 72 horas. Todo
o processo da doação dura cerca de 1 hora.
DOAÇÃO AUTÓLOGA
Este tipo de doação consiste em coletar, antes de uma cirurgia, o
sangue do paciente que será operado. O sangue coletado fica armazenado no
Hemorio até a véspera da cirurgia quando então, um funcionário do hospital
onde será feita a cirurgia retira a(s) bolsa(s) de sangue.
Com a doação autóloga, o paciente vai receber seu próprio sangue.
Com isso não ocorre o risco de uma eventual contaminação numa transfusão.
A liberação das bolsas de sangue somente é feita para o respectivo doador e
hospital onde será realizada a cirurgia. A quantidade de bolsas a serem doadas
varia de acordo com o tipo de cirurgia. Normalmente, são colhidas de
30
duas a quatro bolsas. As doações são feitas com intervalo de uma semana,
com a última doação ocorrendo 3 dias antes da cirurgia. A realização das
doações nesse pouco espaço de tempo não faz nenhum mal à saúde, desde
que o doador autólogo receba medicamento à base de sais de ferro.
Para se fazer uma doação autóloga a pessoa deve comparecer ao
Hemorio, com o encaminhamento do cirurgião. Um médico hemoterapeuta fará
a avaliação clínica e laboratorial. A partir da primeira doação, o procedimento é
semelhante ao de uma doação comum, sendo realizados todos os testes
sorológicos. Se algum teste for reativo, a bolsa será descartada, o
doador/receptor será comunicado e o processo de doação será interrompido.
Se os testes forem normais, o sangue será armazenado.
Quem pode participar do Programa? Pessoas que vão submeter-se a
uma cirurgia eletiva em hospitais cadastrados para receber sangue do
Hemorio.
4.5 - O que é feito com o sangue após a doação?
O sangue doado passará por um processo que consiste nas seguintes
etapas:
Ü Fracionamento: A bolsa de sangue total é centrifugada e separada em 03
componentes – concentrado de hemácias, concentrado de plaquetas e plasma.
Ü Exames laboratoriais: são realizados exames para determinação do grupo
sangüíneo e para detecção de doenças transmissíveis pelo sangue.
Ü Liberação da bolsa : após a realização dos exames laboratoriais, a bolsa de
sangue é liberada para transfusão.
31
Ü Transfusão: o sangue é utilizado principalmente nas grandes emergências,
nas cirurgias e em pacientes com doenças oncológicas e hematológicas.
4.6 - Cuidados pós-doação
Depois de efetuada a doação de sangue, o doador deverá observar
alguns cuidados: evitar dobrar o braço, puncionando por aproximadamente 30
minutos. Evitar esforço físico exagerado no dia, por pelo menos 12 horas.
Aumentar a ingestão de líquidos. Não fumar por cerca de 2 horas e evitar
bebidas alcoólicas, por 12 horas. Manter o curativo no local da punção por,
pelo menos, 4 horas.
32
CAPÍTULO V
Estatísticas do Setor
Se você doa sangue, obrigado.
Se você não doa, doe.
33
De acordo com os dados fornecidos pelo Sistema de Informações
Ambulatoriais do Sistema Nacional Único de Saúde (SIA/SUS), no ano de
2003, foram realizadas 3.303.475 doações de sangue no país.
Segundo preconiza a Organização Mundial de Saúde (OMS), 3% a 5%
da população deveria doar sangue. O Brasil tem atingido 1,8% desse
percentual e as campanhas locais e nacionais realizadas pelos hemocentros
vêm ajudando a aumentar esse percentual gradativamente, porém a urgência
das necessidades tem superado a demanda.
Conforme dados já tabulados pela Agência Nacional de vigilância
Sanitária (ANVISA), no período compreendido entre 2000 a 2002, observa-se o
atual perfil das doações de sangue no Brasil e no Rio de Janeiro:
Doações Brasil
Doações Rio de Janeiro
Nota-se um aumento das doações em 2001, considerando o ano do
Voluntariado, onde as campanhas de sensibilização se intensificaram e houve
uma mobilização em todo país e que conseguiram atingir o lado mais humano
da população, fazendo com que ela se dirigisse ao hemocentro e se
34
envolvesse na prática de doação de sangue.
Os indicadores de coleta de 2002 no Brasil e no RJ, respectivamente,
apresentaram os seguintes aspectos:
Coletas Brasil
Coletas Rio de Janeiro
A ANVISA desenvolve estratégias, traça metas e determina objetivos a
serem alcançados, conjuntamente com os hemocentros do país.
Cada meta é direcionada ao público-alvo que se pretende atingir, pois
para cada um deles, há exigências e comportamentos diferentes a serem
observados, como por exemplo, aumentar a participação feminina nas doações
de sangue para 30%, o que atualmente no país é de 26% e 24,3% no RJ .
Existem algumas particularidades na doação feminina, como massa corporal
menor (peso X altura ao quadrado), maiores índices de carência de ferro,
menstruação, amamentação, DST, gestação, mais inaptidão por baixo peso e
35
menos volume coletado. Outro fator a ser considerado é o histórico, onde o
costume da doação de sangue sempre foi o de homens. Os hemocentros têm
investido em propagandas específicas para o público feminino.
Outras metas que se pretendem atingir, através do desenvolvimento das
estratégias da capacitação dos profissionais dos hemocentros são:
Ü Alcançar o índice de coleta de bolsas correspondentes a 2% da população
brasileira;
Ü Atingir o índice de 100% de doações espontâneas;
Ü Atingir o índice de 60% de doadores de repetição;
Ü Alcançar o índice de 30% de participação feminina;
Ü Reduzir a inaptidão clínica para 11,3% (média nacional);
Ü Reduzir a inaptidão sorológica para 8,3% (média nacional).
36
CAPÍTULO VI
Estratégias Para Aumentar a Doação de Sangue
“As palavras se calam, mas em meu
silêncio vou deixar falar meu coração.”
Kleber Lucas - 2001
37
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária desenvolveu durante todo o
ano de 2003, o Programa Nacional de Doação Voluntária de Sangue – PNDVS,
onde estratégias para aumentar as doações de sangue, foram estabelecidas
visando atingir as metas relacionadas anteriormente.
A ANVISA e a OMS realizaram o Seminário sobre Doação Voluntária de
Sangue visando capacitar técnicos para recrutar doadores. Eles receberam
material explicativo – exemplar do manual técnico “Fazendo a Diferença –
Sangue seguro começa comigo”, com informações gerais sobre o processo da
doação, onde objetivo desse material é ser mais uma ferramenta na tarefa de
ajudar os técnicos a incentivar novos doadores.
Além da capacitação de multiplicadores, o programa prevê campanhas
educativas de conscientização de doação de sangue habitual e espontânea.
Faz parte da estratégia também os investimentos financeiros na
melhoria da hemorrede, formada por um conjunto de Centros de Serviços de
Hemoterapia, destinados à execução de obras, compra de equipamentos,
unidades móveis e modernização gerencial dos Hemocentros, Núcleos de
hemoterapia, Unidades de coleta de Sangue e Agências Transfusionais.
Segundo o PNDVS, estas são as estratégias a serem implementadas
futuramente:
Ü Mobilizar as lideranças de distintos segmentos sociais para participação no
planejamento e implemento das ações;
Ü Viabilizar parcerias com entidades governamentais nos âmbitos federal,
estadual, municipal, organizações não governamentais e organismos
internacionais;
Ü Apoiar a realização de projetos educacionais para a doação de sangue
direcionado à população;
38
Ü Efetuar levantamento dos projetos de captação de doadores de sangue dos
diversos estados;
Ü Desenvolver pesquisas para conhecer o perfil do doador de sangue e para
conhecer as percepções dos grupos sociais a respeito da doação, segundo as
distintas regiões do país;
Ü Estimular a qualificação de recursos humanos para a captação de doadores
respeitando as diferenças regionais;
Ü Promover estreitamento das relações entre a imprensa e a Hemorrede para
disseminação da importância da doação voluntária de sangue;
Ü Assessorar tecnicamente e validar a elaboração de campanhas educativas e
publicitárias, com a criação de peças e instrumentos de comunicação de
suporte;
Ü Promover ações que facilitem a inclusão da temática doação de sangue nos
programas de divulgação, informação e educação das instituições
governamentais;
Ü Incentivar fóruns de captação de doadores com técnicos e representantes
dos distintos segmentos sociais.
Essas ações são de caráter generalista, porém os serviços de
hemoterapia regionalizados têm suas estratégias de acordo com a realidade na
qual estão inseridas.
As estratégias para aumentar a doação de sangue envolvem vários
setores, de vários segmentos, desde obras estruturais a pesquisas de perfil de
doadores; são estratégias de longo prazo que serão desenvolvidas cada qual a
seu tempo, de acordo com o estipulado no cronograma de atividades e da
política da saúde da ANVISA.
As sugestões que esta monografia vem acrescentar como estratégia
para atrair e informar os potenciais doadores de sangue, despertando nas
pessoas o desejo de dar a sua participação são as seguintes:
39
- Estabelecer convênios com as concessionárias de água, luz e telefone para
que venham impressos no formulário das contas, informações sobre doação de
sangue ou foto de pessoas que sobrevivem por causa da transfusão
sangüínea, com a devida autorização;
- Ampliar e regionalizar esses convênios com as grandes lojas de varejo, onde
há emissão de carnês de pagamento e nas instituições de crédito e
administradora de cartões de crédito, nas faturas mensais, também imprimindo
as mesmas informações e fotos;
- Outro meio de comunicação a se considerar deve ser a internet. Como sua
utilização vem crescendo cada dia, o convênio seria com os sites para que
quando acessados, logo abrisse uma “janela” com informações objetivas e ao
ser aberta com informações mais detalhadas, inclusive com telefone, endereço
e horário de funcionamento dos locais de coleta e a respeito da captação
externa. Esse convênio pode ser firmado principalmente nos sites das
empresas que já participam de projetos de doação de sangue, mostrando com
isso, ao navegador, que aquela empresa participa de programas de
responsabilidade social.
- Investir no processo de multiplicação de informações realizando eventos em
locais de grande concentração de pessoas como em shoppings, com material
explicativo, cartazes e pessoal treinado para atender ao público, esclarecendo
dúvidas, explicando todo o processo da doação e convidando para conhecer o
hemocentro e realizar a doação de sangue.
40
CONCLUSÃO O sangue é um tecido vivo, especial, diferente dos demais por poder ser
coletado, separado e armazenado para ser utilizado no momento da
transfusão.
A hemoterapia depende, exclusivamente, das doações voluntárias de
sangue, cujo produto ainda não há substituição química.
Diante dos vários problemas aqui apresentados, o maior deles se
concentra na captação de doadores, tendo em vista à desproporcionalidade no
que se refere à demanda e à coleta de sangue.
Mas, qual a razão da não doação de sangue? As pesquisas apontam as
razões consistentes como:
Ü Não ter sido solicitado;
Ü Medo de sangue, de agulhas ou de contrair HIV ou outra infecção pelo
processo de doação;
Ü Não aceitação como atividade tradicional pela cultura;
Ü Desqualificação médica;
Ü Não dispor de tempo;
Ü Inconveniência ou apatia.
O investimento em formação, principalmente nas escolas, em
informação e conscientização através dos meios de comunicação de massa e
material explicativo como folhetos e cartazes visam também convocar pessoas
a doarem sangue por causa da insistente falta de doações e procurando,
inclusive, quebrar os medos e tabus relacionados às agulhas ou à segurança
das transfusões. Cada vez mais os serviços hemoterápicos têm se apoiado na
busca da excelência da qualidade, da segurança e da capacitação médica,
41
mostrando transparência e confiabilidade em todo seu processo. É através da
informação que se conseguirá a mudança do comportamento da sociedade.
Quanto às respostas “não dispor de tempo”, as estratégias locais
desenvolvidas estão sendo ampliadas visando “levar o serviço aonde o doador
está”, entretanto, hemocentros como o Hemorio, por exemplo, funcionam de
segunda à domingo, de 7 às 18 horas, inclusive nos feriados. Em se tratando
da inconveniência ou apatia, é preciso um trabalho mais voltado para o
emocional, porém realista. Em geral, essas atitudes são causadas meramente
por falta de informações esclarecedoras. Desenvolver campanhas que
mostrem as dificuldades pelas quais passam aqueles que necessitam da
doação de sangue, como ultimamente vêm sido veiculadas na televisão, uma
carta de um pai fazendo o apelo por sua filha que sobrevive graças à
transfusão de sangue.
Após pesquisar para esta monografia, chego a conclusão que todo o
trabalho na mídia, campanhas publicitárias e afins são válidos, mas deveria
haver um contato mais próximo com o potencial doador, “ verificou-se que a
melhor forma de recrutamento é o contato pessoal e este deve ser convincente
e positivo.” (p.105) “ o recrutamento deve ser mais direto, insistente e dirigido
aos grupos mais interessados no processo.” (p.106).
Mostrar o trabalho do hemocentro, desmistificar a doação,
principalmente no que diz respeito ao medo, convidá-lo a fazer a sua primeira
doação de sangue. Fazer o doador sentir a necessidade de realizar esse gesto
por amor ao semelhante, por altruísmo e por dever cívico, fazê-lo perceber que
somente uma parcela da população está apta a doar e a outra, maior,
necessita receber.
Todos podem participar. Àqueles considerados inaptos para a doação,
entretanto, devem ser estimulados, a se tornarem multiplicadores da idéia e
abraçar a causa pelo voluntariado, pelo amor, como é o meu caso.
42
Só com o envolvimento da sociedade informada, organizada, consciente
e segura dos seus valores é que esse quadro pode ser revertido.
43
ANEXO 1
FLUXOGRAMA DO CICLO DO SANGUE
44
ANEXO 2
Conhecendo o Hemorio
Inaugurado em 1944, no bairro da Lapa, no antigo
Distrito Federal, o HEMORIO teve como origem o
primeiro Banco de Sangue Público do país. Desde sua
inauguração apresentou características de
Hemocentro, uma vez que distribuía sangue para os
hospitais de emergência. Doze anos depois, através da
implantação de um Serviço de Hematologia ligado ao
antigo Banco de Sangue, originou-se o Instituto
Estadual de Hematologia Arthur de Siqueira
Cavalcanti. Em 1969 foi inaugurada, na rua Frei
Caneca, a atual sede.
Durante a década de 80, o Ministério da Saúde, dentro de uma Política
Nacional de Sangue e Hemoderivados, começou a organizar uma Rede Pública
de Hemoterapia. Nesse contexto, o Instituto Estadual de Hematologia foi
reconhecido, em 1986, como Hemocentro Coordenador do Estado do Rio de
Janeiro, passando a ser conhecido como HEMORIO. Em 1990, foi-lhe
atribuída, pelo governo do Estado do Rio de Janeiro (Resolução da SES nº 587
de 13 de setembro de 1990), a incumbência de coordenar tecnicamente a
Rede Pública de Hemoterapia do Estado.
Trabalhando desde 1995 com as ferramentas de Gestão pela Qualidade, a
instituição passou a buscar a melhoria contínua dos seus produtos e serviços
que já estão sendo reconhecidos nacional e internacionalmente.
O HEMORIO foi o primeiro banco público do Brasil e atualmente
abastece com sangue e derivados cerca de 200 unidades de saúde, entre elas
as grandes emergências como as dos hospitais Souza Aguiar, Salgado Filho e
Getúlio Vargas, além de maternidades e UTI’s neo-natais.
45
FUNDARJ – o braço social do HEMORIO – busca parcerias com a sociedade,
empresas e terceiro setor para concretizar o ideal de um serviço público de
saúde humanizado e com excelência.
A FUNDARJ é responsável por captar recursos para manter os programas de
humanização da assistência e viabilizar os projetos para o desenvolvimento do
HEMORIO.
Na área de doação de sangue, podemos destacar alguns projetos:
” A aquisição de mais unidades de coleta móvel – ir aonde o doador está;
” Descentralização da coleta com implantação de postos de coleta fixa, a
realização sistemática de captação de doadores voluntários de sangue através
de Campanhas visando aumentar as doações de sangue, programa educativo
em escolas para formar o doador do futuro e ações de fidelização do doador.
Valor anual médio para captação de doadores – R$ 120.000,00 (cento e vinte
mil reais).
” Projeto Doador do Futuro – com a finalidade de criar a cultura de doação nas
escolas de ensino médio e fundamental.
” Projeto Jovem Salva-Vidas – formando jovens multiplicadores. Além de
campanhas de esclarecimento e coletas externas em universidades, entidades
religiosas, empresas, comunidades, clube de serviços etc.
BALANÇO SOCIAL 2003
HEMOTERAPIA
Candidatos à doação de sangue atendidos 118.583
Bolsas de sangue coletadas* 100.367
Procedimentos especiais nas bolsas de sangue 21.590
Bolsas de sangue expedidas para hemorrede 165.158
Plasmas expedidos para produção de hemoderivados 40.211
Atendimento pelo Serviço Social 4743 doadores
As bolsas de sangue total coletadas são fracionadas em 03 componentes:
hemácias, plaquetas e plasma, além de haver produção de produtos
pediátricos.
46
ASSISTÊNCIA HEMATOLÓGICA
Triagem clínica 11.791 atendimentos
Ambulatório 39.002 atendimentos
Emergência 14.597 atendimentos
Internações 2.562
Fisioterapia 20.680 procedimentos
Odontologia 14.144 procedimentos
Psicologia 10.988 atendimentos
Serviço social 22.624 atendimentos
Nutrição e dietética 59.054
Apoio diagnóstico radiologia:7277 ultra-sonografia: 1894 eletrocardiograma:153
Quimioterapias 17.193 atendimentos
Transfusões 14.291
Curativos 19.301
47
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
GENETET, B., ANDREU G., BIODET J. M. – Guia de Hemoterapia Prática –
Rio de Janeiro – 1992 – Ed. Atheneu.
JUNQUEIRA, P. C. – O Essencial da Transfusão de Sangue – São Paulo –
1979 –Ed. Andrei.
KOTLER, Philip e ROBERTO, Eduardo – Marketing Social: Estratégias para
Alterar o Comportamento Público – Rio de Janeiro – 1ª edição – 1992 - Ed.
Campus.
FERNANDES, Maria de Fátima Alves – Dissertação de Mestrado apresentada
ao Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública da
Universidade de São Paulo para obtenção do grau de Mestre – São Paulo –
2001.
Regulamento Técnico para Procedimentos Hemoterápicos – RDC 153 de
14/06/2004 – Ministério da Saúde do Brasil – Anexo 1.
Revista Mais Saúde – Ministério da Saúde – Edição 5 – Ano II – 2002.
Site oficial da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (www.anvisa.gov.br).
Site oficial do Instituto Estadual de Hematologia Arthur de Siqueira Cavalcanti
(www.hemorio.rj.gov.br).
48
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 7
SUMÁRIO 8
INTRODUÇÃO 9
CAPÍTULO I
Transfusão Sangüínea – o conceito 10
CAPÍTULO II
Os Problemas da Hemoterapia 14
CAPÍTULO III
Estrutura dos Serviços de Sangue e Respectivas Operações 20
CAPÍTULO IV
O Processo de Doação 24
4.1 – Quem necessita 25
4.2 – Quem pode doar 25
4.3 – Desmistificando a doação de sangue 27
4.4 – Como é feita a doação 28
4.5 – O que é feito com o sangue após a doação? 30
4.6 – Cuidados pós-doação 31
CAPÍTULO V
Estatísticas do Setor 32
CAPÍTULO VI
Estratégias para aumentar a doação de sangue 36
49
CONCLUSÃO 40
ANEXOS 43
1 – Fluxograma do ciclo do sangue 43
2 – Conhecendo o Hemorio 44
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 48
ÍNDICE 49
50
FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição: _____________________________________________
Título da Monografia: ____________________________________________
Autor: _________________________________________________________
Data da entrega: ________________________________________________
Avaliado por: __________________________________ Conceito: ________