universidade candido mendes documento … · a verdade, chamada “história oficial” silencia...
TRANSCRIPT
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
A EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA E A NEUROCIÊNCIA EDUCACIONAL
JUREMA PEREIRA SOUZA
Orientador
Profª Marta Relvas
Rio de Janeiro
2016
DOCUMENTO PROTEGID
O PELA
LEI D
E DIR
EITO AUTORAL
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
A EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA E A NEUROCIÊNCIA
EDUCACIONAL
Apresentação de monografia à AVM Faculdade Integrada
como requisito parcial para obtenção do grau de
especialista em Neurociência Pedagógica
Por: Jurema Pereira Souza
AGRADECIMENTOS
Meus sinceros agradecimentos a todos aqueles que, direta ou indiretamente, contribuíram para o atingir do meu objetivo.
DEDICATÓRIA
“Nosso pedagogo, Jesus, deu-nos o esquema da vida verdadeira e calcou a educação do homem em Cristo. Sua característica própria não é de uma excessiva severidade nem tampouco um relaxamento excessivo sob o efeito da bondade: deu seus mandamentos imprimindo-lhes uma tal característica que nos permite executá-los. É bem isto, parece-me, que primeiramente modelou o homem com a terra, que o regenerou pela água, que fez crescer pelo espírito, que o educou pela palavra, que o dirige por seus santos preceitos para adoção filial e salvação, e isto para transformar e modelar o homem da terra num homem santo e celeste, e para que seja assim plenamente realizada a palavra de Deus: "façamos o homem à nossa semelhança.” (Clemente de Alexandria, O Pedagogo, in Maria da Glória de Rosa, A História da Educação. SP, p.98).
RESUMO
Esta pesquisa começa com um breve relato da história do Brasil,
iniciando pela colonização ao século XX com os desafios da educação
brasileira. Apresenta a trajetória de Paulo Freire, de Aníbal Teixeira e outros
importantíssimos educadores da escola nova que desenvolveram a educação
escolar, dando um salto enorme no atraso que se tinha em comparação com os
países da Europa e América. No Brasil, até a bem pouco tempo não havia
historiadores da educação de importância, embora, ainda hoje haja lacunas a
serem preenchidas por estudiosos capazes de aprofundar o conhecimento da
realidade educacional tal como ela foi constituída para que seja capaz de
fornecer à reflexão filosófica o conteúdo da realidade sobre a qual se pensa. A
Neurociência pedagógica em seu processo histórico de atuação na escola
trouxe o tema trabalho para dentro do currículo, pois inicialmente estava
diretamente ligada as profissões e suas aptidões. Encerra-se o trabalho com a
legislação educacional fundamentada com as normas legais como garantia
para o exercício da profissão. A neurociência pedagógica no Brasil em nossa
atualidade, com seus paradigmas e novos desafios serão de grande
importância para o crescimento educacional. Ela deve ser um dos instrumentos
de transformação das práticas escolares e não de sua reiteração, este é o seu
maior desafio, pois envolverá, necessariamente, a formulação de um novo
projeto político pedagógico mais coerente com a realidade atual. Logo, a
abertura dos portões e muros escolares deve vir acompanhada de uma nova e
evoluída proposta pedagógica.
Palavras Chave: Educação, Neurociência, atualidade.
METODOLOGIA
Esta pesquisa procura apresentar, de maneira bem resumida, de
como se processa a neurociência pedagógica na Educação Brasileira.
É um trabalho que consta de três capítulos que se valeu um pouco
da história do Brasil, para buscar informações esclarecedoras sobre a
educação e, particularmente, como se processou no Brasil, a Orientação
Educacional perante a Educação. Neste sentido, utilizou-se como principais
autores que embasaram teoricamente esta pesquisa Maria Lucia de Arruda
Aranha, Regina Garcia e Lucia Fortuna. No que refere-se à neurociência
usou-se como teóricos COSENZA (2011), LIMA (2010) e RELVAS (2010
,2011)
Há enorme dificuldade em se escrever sobre a história da
educação no Brasil, devido aos poucos historiadores empenhados no
assunto e a inexistência de bibliografia competente, mas há um excelente
material bibliográfico sobre a orientação educacional brasileira.
Felizmente, a neurociência educacional tem como pressuposto
para sua prática a formação integral do educando, visando a qualidade do
processo de aprendizagem bem como o fortalecimento dos direitos
humanos e o exercício da cidadania.
Pode-se atribuir ao neurocientista Educacional um papel
preponderante como profissional de ajuda. Esse papel tem uma gênese
interior e é construído pela sua ação específica, que produz os efeitos
esperados de um profissional de ajuda.
Apresenta ainda os aspectos gerais da Neurociência Educacional
uma vez que a sua atuação está fundamentada em legislações vigentes no
âmbito nacional, regional e local, garantindo atuações respaldadas em
normas bem definidas.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO....................................................................................................8
CAPÍTULO 1- CONTEXTO HISTÓRICO SOBRE EDUCAÇÃO BRASILEIRA..10
CAPÍTULO 2- NEUROCIÊNCIA PEDAGÓGICA E EDUCAÇÃO......................25
CAPÍTULO 3- OS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA.............36
CONCLUSÃO...................................................................................................40
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA.......................................................................41
8
INTRODUÇÃO
A história consiste na importância do homem em reconstituir o passado,
relatando e interpretando os acontecimentos em uma ordem cronológica em
seleção aos considerados relevantes. Esta análise não é idêntica ao longo do
tempo, varia de acordo com a cultura.
O que se aprendeu em História do Brasil foi apresentado nos capítulos
iniciais desta monografia. A memória dos povos tribais não privilegia os
acontecimentos da vida da comunidade, porque eles consideram que o
passado se refere aos "tempos primordiais", templos sagrados em que os
deuses realizavam seus feitos extraordinários. Portanto, fazer história é
recontar os mitos.
A reconstituição do passado, não é tarefa fácil, o relato supõe uma
seleção de fatos conforme a sua relevância. Qual o critério para estabelecer
essa relevância? A verdade, chamada “história oficial” silencia sobre o pobre, o
negro, a mulher e os excluídos da escola.
Apresenta-se a educação no século XX com relevante importância em
nossa pedagogia principalmente com os grandes educadores Anísio Teixeira e
Paulo Freire, suas propostas, e até o exílio. Ela ofereceu riquíssima produção
pedagógica tendo em vista o pouco que se dispunha.
Mais importante do que saber o que o historiador estuda, é perguntar-se
como o estuda, porque em toda seleção de fatos existem sempre os
pressupostos teóricos, ou seja, uma filosofia da história subjacente ao processo
de interpretação. Isso foi apresentado no capítulo “desafios da educação” e as
9
suas transformações e questionamentos devido aos excessos de informações
sem seleção e controle.
O perigo ameaça tanto a existência da tradição como os que a recebem.
Para ambos, o perigo é o mesmo: entregar-se às classes dominantes, como
seu instrumento.
O segundo capítulo apresenta a relação entre a neurociência
pedagógica e a educação. com as diversas possibilidades e limites, a escola é
hoje o local onde o aluno permanece de quatro a seis horas, em atividades
sociais, educacionais e culturais, e ele deve ser participante dessas atividades.
Assim, o neurocientista pedagógico está atuando como facilitador no
processo de maturidade pessoal e social do adolescente, e também apresenta
a legislação nacional, regional e local que respaldam a atuação do orientador
educacional. Por fim é feito uma analogia com os desafios da educação na
modernidade, o que por si nos leva a conclusão do trabalho monográfico.
A metodologia escolhida para este trabalho é a partir de pesquisa
bibliográfica, contemplando autores teóricos renomados que falem sobre o
tema em questão baseada em publicações de autores de reconhecida
importância no meio acadêmico e em artigos veiculados em periódicos
indexados pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (CAPES). Como pesquisa bibliográfica, teve como objetivo principal
conhecer os principais aspectos da educação brasileira e o contexto
educacional com o neurocientista pedagógico.seus aspectos teóricos e
históricos, buscando os conhecimentos necessários para responder o
problema.
10
CAPÍTULO 1
CONTEXTO HISTÓRICO SOBRE EDUCAÇÃO BRASILEIRA
1.1- A chegada dos Jesuítas
Após a Reforma, o Concílio de Trento empreendeu a Contra –
Reforma, destinada a impedir a propagação da dissidência religiosa. Além
dos Jesuítas, com a ação mais intensa, eficaz e duradoura, outras ordens se
empenham nesse trabalho, como os dos franciscanos, dominicanos,
carmelitas e beneditinos.
“ Tomé de Souza, em l549, veio acompanhado de diversos jesuítas encabeçados por Manuel da Nóbrega. Apenas quinze dias depois, os missionários já faziam funcionar, na recém fundada cidade de Salvador, uma escola "de ler e escrever" ( Aranha, M. Lúcia . História da Educação. SP. Moderna. 2000. P 99 ).
É o inicio do processo de criação de escolas elementares,
secundárias, seminários e missões, espalhadas pelo Brasil até o ano de
1759, quando os jesuítas são expulsos pelo Marquês de Pombal.
A historiadora Aranha (2000) lembra que nesse período de 210
anos, eles promoveram uma ação maciça de catequese dos índios,
educação dos filhos dos colonos, formação de novos sacerdotes e da elite
intelectual, além do controle da fé e da moral dos habitantes da nova terra.
Fala ainda que é difícil a empreitada de instalar um sistema de
educação em terra estranha e povo tribal. De um lado, os indígenas de
língua e costumes desconhecidos e, de outro, os colonizadores portugueses,
que para cá vieram sem suas mulheres e famílias, muito rudes e
aventureiros, com hábitos criticados pelos religiosos.
Padre Manoel da Nóbrega de espírito empreendedor, organiza as
estruturas do ensino, atento às condições novíssimas aqui encontradas. O
primeiro jesuíta a aprender a língua dos índios foi Aspilcueta Navarro,
11
também pioneiro na penetração dos sertões em missão evangelizadora. O
noviço José de Anchieta, de apenas 19 anos, é quem vai se destacar no
trabalho apostólico.
“Os padres aprendem a língua tupi-guarani e elaboram os textos usados para a catequese, ficando a cargo de Anchieta a organização de uma gramática Tupi. É tão comum falar Tupi que os portugueses, temerosos de que a língua nativa predominasse, passam a exigir o uso exclusivo do português” (Aranha, M. Lúcia, História da Educação. SP. Moderna. 2000 p 100 )
O fato é que desde o início da civilização o índio se encontra à
mercê de três interesses, que ora se complementam e ora se chocam: a
metrópole deseja integrá-lo ao processo colonizador, o jesuíta quer
convertê-lo ao cristianismo e aos valores europeus, e o colono quer usá-lo
como escravo para o trabalho. É bom lembrar que os índios são silvícolas, e
eram nômades, e confiná-los nas missões, como eram feitos, caracterizava-
se uma forma de violência e escravidão, e tribos inteiras eram confinadas
para aculturarem-se, ocorrendo a captura de tribos inteiras para o trabalho
escravo.
A historiadora Aranha (2000) remete agora ao poema de Oswald de
Andrade, ele dizia que os padres vestiram literalmente os índios, sugerindo-
lhes que se envergonhassem da nudez, também vestiram simbolicamente
de outros valores, de cultura diferente, como todo colonizador que se acha
superior, impuseram-lhes outra língua, outro Deus, outra moral e até outra
estética.
1.2- A educação dos filhos dos colonos
“As primeiras escolas reuniam os filhos dos colonos e os índios, mas a tendência da educação dos jesuítas era separar os colonizadores dos colonizados” (Aranha, M. Lúcia. História da Educação. SP. Moderna. 2000. p. 101)
A ação sobre os índios era torná-los dóceis para o trabalho, já a
educação dos filhos dos colonos era mais ampla, inclusive aprendiam a ler e
a escrever.
12
Mostra ainda a historiadora Aranha (2000), que era tradição das
famílias portuguesas orientar os filhos para diferentes carreiras. O
primogênito herda o patrimônio do pai e continua seu trabalho no engenho, o
segundo era destinado as letras, e enviado ao colégio interno, muitas vezes
concluindo o curso na Europa, o terceiro deve ser padre. Como se vê os
jesuítas agem sobre os dois últimos.
Fala também na educação os jesuítas que montaram estrutura dos
três cursos: a) letras humanas; b) filosofia e ciência; c) teologia e ciências
sagradas; destinados respectivamente à formação do humanista, do filósofo
e do teólogo. O governo de Portugal sabe o quanto a educação é importante
como meio de submissão e de domínio político e, portanto não intervém nos
planos dos jesuítas. A educação interessa apenas a poucos elementos da
classe dirigente e, ainda assim, como ornamento e erudição, é literária,
abstrata e dogmática, por ser tratar de uma sociedade agrária e escravista,
não há interesse pela educação elementar, daí a massa de grandes
iletrados, as mulheres eram excluídas do ensino, da mesma forma que os
negros, cujos filhos nunca despertaram o interesse dos padres, como os
índios, só mais tarde é que os mulatos começam a reivindicar espaços na
educação, daí que mais tarde aumenta a procura de escolas para mestiços,
o que provoca um incidente chamado "questão dos moços pardos".
“Com o tempo, a educação atende a um segmento novo, o da pequena burguesia urbana que aspira à ascensão social” (Aranha. M. Lúcia, História da Educação. SP. Moderna.2000. p 103 )
Afirma a historiadora Aranha (2000), que a única saída dos
brasileiros desejosos de seguir carreiras profanas, as profissões liberais era
se dirigir para a metrópole.
As Universidades européias, sobretudo as portuguesas, ao reunir os
estudantes desempenhavam papel importante no alargamento de
horizontes, porque entravam em contato com outros estilos de vida e traziam
aspirações da civilização urbana mais avançada completamente diferente
com a vida rural e patriarcal da colônia. Esses elementos fazem germinar
ideais políticos e sociais reveladores da insatisfação com o "status quo".
13
Lembra ainda a historiadora Aranha(2000) que é grande o contraste
entre a Europa e o Brasil nesse século. Na Europa ocorrem muitas
transformações sociais (ascensão da burguesia), econômicas (liberalismo) e
políticas (revoluções que destituem reis absolutistas). Aqui no Brasil continua
com a sua aristocracia agrária escravista, a economia agro-exportadora
dependente e submetido à política colonial de opressão. Persiste o
analfabetismo e o ensino precário, agravado com a expulsão dos jesuítas.
No século XIX ainda não há propriamente o que poderia ser
chamada de uma “pedagogia brasileira. No entanto, alguns intelectuais,
influenciados pelas idéias européias, tentam imprimir novos rumos à
educação, ora apresentando projetos de leis, ora criando escolas”.
Sérgio Buarque de Holanda (1995) dizia "A democracia no Brasil foi
sempre um lamentável mal-entendido. Uma aristocracia rural e semifeudal
importou-a e tratou de acomodá-la, onde fosse possível, aos seus direitos ou
privilégios, os mesmos que tinham sido, no Velho Mundo, o alvo da luta da
burguesia contra a aristocracia. E assim puderam incorporar à situação
tradicional, ao mesmo como fachada ou decoração externa, alguns lemas
que pareciam os mais acertados para a época e eram exaltados nos livros e
discursos".
Afirma a historiadora Aranha (2000) em seu livro História da
Educação que o golpe de misericórdia que prejudicou a educação brasileira
vem no entanto de uma emenda à Constituição, o Ato Adicional de 1834.
Essa reforma descentraliza o ensino, atribuindo à Coroa a função de
promover e regulamentar o ensino superior, enquanto às províncias (futuros
estados) são destinadas as escolas elementar e a secundária.
Dessa forma a educação da elite fica a cargo do poder central e a do
povo, confiada às províncias. Assim que chegou ao Brasil, D. João VI
determinou as primeiras medidas a respeito da educação, no sentido de criar
escolas de nível superior para atender as necessidades do momento: formar
oficiais do exército e da marinha para defesa da colônia, engenheiros e
médicos; abrir cursos especiais de caráter pragmático na Academia Real da
14
Marinha (1808); curso médico-cirúrgico, à partir de 1808, no Bahia e no Rio,
visando formar médicos para a marinha e o exército; diversos cursos avulsos
de economia, química e agricultura, também na Bahia e no Rio; cursos
jurídicos, em São Paulo e Recife (1827), que se tornaram faculdades em
1854.
“A camada intermediária procura sobretudo os cursos de direito, não só para seguir a atividade jurídica, mas para ocupar funções administrativas e políticas ou dedicar-se ao jornalismo. Além disso o diploma exerce um função de enobrecimento” (Aranha, M. Lúcia. História da Educação. SP. Moderna. 2000 p. 194 )
Já o ensino primário e secundário são dois mundos que se orientam
em direções diferentes, sem articulações e desagregadas. De início o ensino
secundário é predominantemente ministrado por professores particulares,
em aulas avulsas, sem fiscalização ou unidade, com o tempo criam-se liceus
provinciais, que nada mais são que reunião de aulas avulsas no mesmo
prédio.
No período de 1860 a 1890 a iniciativa particular se organiza, e são
fundados importantes colégios, sobretudo católicos, com inspiração das
idéias iluministas. Criaram-se também colégios leigos da época, são os mais
progressistas e renovadores, com enorme massa de alunos, fazendo com
que ocorra falta de organização e professores mal habilitados e até
insuficientes para o número de alunos.
No ensino elementar, a situação é mais caótica, afirma a historiadora
Aranha (2000), o modelo econômico brasileiro, predominantemente agrário,
sofre algumas alterações na segunda metade do século XIX em função do
incremento do comércio e, mais para o final, devido ao pequeno surto de
industrialização. Esse modelo não favorece a demanda da educação, que
não é vista como meta prioritária em face da grande população rural
analfabeta composta sobretudo por escravos.
Embora, na Constituição outorgada de 1824 houvesse referência a
um "sistema nacional de educação" pela reforma de 1834 sabemos que o
ensino elementar foi descentralizado e não havia naquela época gestão
15
participativa, tudo era imposto como massa de bolo, passando para a
iniciativa autônoma das províncias. Sem a exigência de conclusão do curso
primário para cesso a outros níveis, a elite educa seus filhos em casa, com
preceptores, já para os demais segmentos da sociedade o que lhes resta
são pouquíssimas escolas cuja atividade se acha restrita à instrução
elementar de ler, escrever e contar.
Para melhorar a formação de mestres, são criadas as primeiras
escalas normais, na Bahia, Niterói e São Paulo, onde são oferecidos apenas
dois anos de curso, de nível secundário, atendendo a pouquíssimos alunos.
O descaso pelo preparo do mestre faz sentido numa sociedade não
comprometida com a prioridade à educação elementar. Curioso é que as
escolas normais eram destinadas para os rapazes, mais tarde terão uma
clientela predominantemente feminina.
Com relação a educação feminina, aos poucos aparecem escolas
que se ocupam com a educação feminina, sobretudo as instituições de
religiosas francesas.
Leôncio de Carvalho foi o inovador do ensino mais audacioso e
radical do período do Império, estabelecendo normas para o ensino primário,
secundário e superior, na reforma de 1879. Nessa lei defende a liberdade de
ensino, de freqüência, de credo religioso, de criação de escolas normais e o
fim da proibição da matricula de escravos.
16
1.3- A educação brasileira a partir do século XX
1.3.1- A Primeira República
Com a queda da monarquia em 1889, começa a Primeira República,
e pela Constituição de 1891 é instaurado o governo representativo, federal e
presidencial.
“As idéias positivistas obtém a simpatia das gerações mais novas de oficiais formados pela Escola Militar, porque se sentem atraídos pelas formas de disciplina e moral severas, típicas do comtismo. Não por acaso, os dizeres de nossa bandeira republicana, Ordem e Progresso, representam a inspiração Positivista.” (Aranha, M. Lúcia História da Educação. SP. Moderna.2000. p.195)
Benjamim Constant, no início desinteressado em assuntos políticos,
acaba se envolvendo no movimento que culmina com a proclamação da
República. Escolhido ministro da Instrução acaba empreendido na reforma
educacional de 1890, embora esse ministério dure apenas dois anos.
Rui Barbosa acusa os positivistas, de conhecer superficialmente as
propostas de Comte, tanto que, ao introduzir as ciências físicas e naturais
nas escolas do primeiro e de segundo graus, contraria a orientação comtista,
que as recomenda apenas para os maiores de 14 anos.
Além disso, a Constituição republicana de 1891, ao reafirmar a
descentralização do ensino fundamental e profissional, atribui a União a
incumbência da educação superior e secundária, reservando aos Estados o
ensino fundamental e profissional.
Após a Primeira Guerra, lembra a historiadora Maria Lúcia Aranha,
com a industrialização e urbanização forma-se a nova burguesia urbana, e
estratos emergentes de uma pequena burguesia exigem acesso à educação.
O operariado exige um mínimo de educação, e começam as pressões para a
expansão da oferta de ensino. Início do escolanovismo, esses educadores
introduzem o pensamento liberal democrático, defendendo a escola pública
para todos, a fim de alcançar uma sociedade igualitária e sem privilégios.
Esses intelectuais produzem obra abundante e pretendem remodelar o
17
ensino brasileiro, mas suas considerações dependem da produção
estrangeira, faltando uma análise mais profunda de nossa realidade.
Dentre os escolanovistas, é notável a contribuição do filósofo Anísio
Teixeira (1900-1971). De uma viagem aos EUA, volta entusiasmado com o
pensamento de Dewey, a ponto de se tornar responsável pela disseminação
das idéias pragmatistas no Brasil. Escreveu importantes livros como
"Educação não é privilégio” e "Pequena introdução à filosofia da educação “.
Antes mesmo que o ideário da escola nova fosse bem conhecido,
diversos estados empreendem reformas pedagógicas calcadas nas
propostas daqueles que seriam os expoentes do movimento escolanovista
na década seguinte. Foram reformas de: Lourenço Filho ( Ceará-1923),
Anísio Teixeira (Bahia-1925), Francisco Campos e Mário Casassanta (
Minas Gerais-1927), Fernando de Azevedo (Distrito Federal-1928) e
Carneiro Leão (Pernambuco-1928).
A partir da década de 30, a educação passa a despertar maior
atenção, segundo Aranha (2000), quer pelos movimentos dos educadores,
quer pelas iniciativas do governo ou ainda pelos resultados concretos
efetivamente alcançados. Em 1930 é criado o Ministério da Educação e
Saúde, que imprime uma tendência renovadora nos diversos decretos de
1931 e 1932. O ensino secundário passa a ter dois ciclos: o fundamental,
com cinco anos e outro complementar com dois anos, este ultimo visando a
preparação para o curso superior.
Em que pesem as dificuldades, o período da década de 30 foi
importante para a criação e organização das universidades. Embora
algumas existissem, resultavam de simples agregação de faculdades,
mantendo-se a concepção acadêmica e dirigida para o "espírito da
profissão".
Francisco Campos, com seus decretos, imprime nova orientação,
voltada para maior autonomia didática e administrativa, interesse pela
pesquisa, difusão da cultura, visando ainda beneficiar a comunidade.
18
Na vigência do Estado Novo (1937-1945), durante a ditadura
Vargas, o ministro Gustavo Capanema empreende outras reformas no
ensino, regulamentadas por diversos decretos-lei assinados de 1942 a 1946
e denominados Leis Orgânicas do Ensino.
“O curso secundário é novamente reestruturado, passando a ser constituído do ginásio de quatro anos e colegial de três anos, este dividido em curso clássico (com predominância de humanidades) e cientifico. No ensino profissional, aparecem algumas novidades consideráveis.” (Aranha, M. Lúcia História da Educação. SP. Moderna.2000 p.195)
Com o tempo, as escolas normais se tornam reduto das moças de
classe média em busca da "profissão feminina".
1.3.2- A Segunda República
No período de 1945 a 1964 retorna o estado de direito, com
governos eleitos pelo povo e marcados pela esperança de um progresso
acelerado.
“Instalou-se no Governo JK, o desenvolvimentismo, por ocasião das instalações das multinacionais que vieram para o país. Depois do governo JK, ao curto período até a renúncia de Jânio segue-se a turbulência do governo João Goulart, interrompido pelo movimento militar de 1964.” (Aranha, M. Lúcia. História da Educação. SP. Moderna. 2000. p. 196)
No início da década de 60, afirma a historiadora Aranha (2000), a
discussão sobre a educação toma corpo com diversos movimentos
importantes. Darcy Ribeiro inspirado nas idéias de Anísio Teixeira, funda a
Universidade de Brasília, em 1961, concretizando o projeto da renovação
universitária.
As primeiras críticas chegam à descentralização do ensino, porém
no auge da discussão, informa a historiadora, surge com Carlos Lacerda
defendendo a "Liberdade de Ensino", em 1959, ele apresenta um substituto
vetando o monopólio do ensino estatal e defendendo a iniciativa privada, por
19
considerar competência do Estado o suprimento de recursos técnicos e
financeiros e a igualdade de condições das escolas oficiais e particulares.
Quando a Lei 4024 é publicada, já se encontra ultrapassada, e nada fala
sobre gestão, embora fosse uma proposta avançada na época da
apresentação do anteprojeto, envelhece no correr dos debates e do
confronto de interesses.
Com a criação do Conselho Federal de Educação e dos Conselhos
Estaduais de Educação, nos quais é permitida a representação de escolas
particulares, tornam-se inevitáveis a pressão e o jogo de influências para
obter recursos.
O ensino técnico continua a não merecer atenção especial,
infelizmente, afirma a historiadora, quer seja do setor industrial quer seja do
setor comercial, e muito menos do agrícola, com isso o número de
trabalhadores qualificados crescia pouquíssimo, fazendo com que as
empresas passassem a qualificar os seus próprios empregados. Todos
esses desencontros aumentam o descompasso entre a estrutura
educacional e o sistema econômico. Do resto, podemos observar como a
legislação sempre reflete os interesses apenas das classes representadas
no poder.
A historiadora Aranha (2000) afirma, que Paulo Freire foi um dos
grandes pedagogos da atualidade, não só no Brasil, mas também no mundo,
mesmo que as suas idéias tenham sofrido críticas, é indispensável
considerar a fecunda contribuição que deu à educação popular. Antes de
tudo ele era cristão, e sua teologia se embasa em uma teologia libertadora,
preocupada com o contraste entre ricos e pobres. Ele percorre os caminhos
da fenomenologia, do existencialismo e do marxismo.
Em 1962, no Rio Grande do Norte, Angicos, 300 trabalhadores se
alfabetizam em 45 dias, o impacto foi tão grande que o então governador de
Pernambuco, Miguel Arraes, autoriza um trabalho semelhante nas favelas de
Recife e em, seguida em todo o Estado. Depois disso o Governo Federal se
20
interessa por esse trabalho, objetivando atingir dois milhões de adultos por
ano.
Paulo Freire, foi exilado para o Chile, em 1964 época do Regime
Militar, onde viveu por 14 anos, e depois em Genebra funda com outros
colegas exilados o IDAC (Instituto de Ação Cultural), que presta assessoria a
movimentos bem diversos, como os operários dos sindicatos italianos, para
as mulheres, alfabetização de adultos da Guiné-Bissau, também em Cabo
Verde, Angola, São Tomé e Príncipe e Nicarágua. Ao voltar do exílio retoma
suas atividades de escritor e debatedor, assume cargos nas Universidade e
ainda o de secretário municipal da educação em S. Paulo (1989-1991).
Método Paulo Freire - Coerente com o posicionamento filosófico, o
método não pode ser reduzido a mera técnica de alfabetização. Nesse
espírito novo, os educadores superam a postura autoritária e, abertos ao
diálogo, procuram ouvir o próprio povo.
“Inicialmente, Paulo Freire recomenda fazer o levantamento do universo vocabular dos grupos, a fim de escolher as palavras geradoras, que variam conforme o lugar. Por exemplo, em Pernambuco as palavras escolhidas foram: tijolo, voto, siri, palha, biscate, cinza, doença, chafariz, máquina, emprego, engenho, mangue, terra, enxada, classe. Já nas favelas do Rio de Janeiro, eram outras: favela, chuva, arado, terreno, comida, batuque, poço, bicicleta, trabalho, salário, profissão, governo, mangue, engenho, anexada, tijolo, riqueza” (Aranha, M. Lúcia. História da Educação. SP.Moderna.2000.p.196 )
Em seguida, diz a historiadora Aranha (2000), são organizados os
círculos de cultura, constituídos de pequenos grupos sob a orientação de um
animador, que tanto pode ser um professor ou um companheiro alfabetizado.
Diante da representação de uma favela, por exemplo, há o debate sobre o
problema da habitação, da alimentação, do vestuário, da saúde, da
educação, descobrindo-a como uma situação problemática. O homem
iletrado chega humilde e culpado, mas aos poucos descobre com orgulho
que também é um "fazedor de cultura” e, mais ainda, que a condição de
inferioridade não se deve a uma incompetência sua, mas resulta de lhe ter
sido roubada a humanidade.
21
O método Paulo Freire pretende superar a dicotomia entre teoria e
prática: no processo, quando o homem descobre que sua prática supõe um
saber, conclui que conhecer é interferir na realidade, de certa forma.
Percebendo-se como sujeito da história, toma a palavra daqueles que até
então detêm seu monopólio. Alfabetizar é em ultima instância, ensinar o uso
da palavra.
1.3.3- O Regime Militar
“Durante vinte anos os brasileiros viveram o medo gerado pelo governo do arbítrio e pela ausência do estado de direito. Os reflexos desses anos de chumbo foram desastrosos na cultura e na educação” (Aranha, m. Lúcia. História da Educação. SP. Moderna.2000 p197 )
O regime militar de 1964 opta pelo aproveitamento do capital
estrangeiro e liquida de vez o nacional-desenvolvimentismo. A recuperação
econômica proposta usa o modelo concentrador de renda, que favorece uma
camada restrita da população e submete a outra ao arrocho salarial, não tão
contundente como o atual, mas de grande pressão. A partir de 1968 a
repressão recrudesce, tornando arriscada qualquer oposição ao regime.
Instala-se o terrorismo nas universidades, lembra a historiadora
Aranha, que processos sumários e arbitrários aposentam e demitem
professores, obrigando alguns a se exilarem em outros países, inclusive
Paulo Freire. A antiga universidade, porém não tem condições de atender a
procura e depois de aprovados no exame vestibular, os estudantes
pressionam o governo por mais vagas. Foi criado então o Decreto
68.908/71, que pretende por fim ao excedente, criando o vestibular
classificatório.
A tendência tecnicista em educação, conforme Vitor Henrique Paro,
resulta da tentativa de aplicar na escola o modelo empresarial, que se
baseia na "racionalização e gestão", própria do sistema de produção
capitalista. Investir em educação significa possibilitar o crescimento
22
econômico. Afinal a educação tecnicista se encontra imbuída dos ideais de
racionalidade, organização, objetividade e eficiência. Nessa perspectiva o
professor é um técnico que, assessorado por outros técnicos e intermediado
por recursos técnicos, transmite um conhecimento técnico e objetivo, tudo
isso para alcançar mais eficiência e produtividade.
Reforma Universitária surgiu com a criação da Lei 5540/68, diz a
historiadora Aranha, que introduz diversas modificações na Lei de Diretrizes
e Bases da Educação (LDB) de 1961,onde extingue a cátedra e unifica as
universidade para melhor concentração de recursos materiais e humanos,
tendo em vista melhor eficácia e produtividade, institui também o curso
básico para suprir deficiências do segundo graus e no sigilo profissional,
estabelece cursos de curta e longa duração, e desenvolve um programa de
pós graduação.
A Reforma do Primeiro e Segundo Graus, ocorre no período mais
violento do regime militar, no governo Médici. A Lei 5692/71, visa o ensino
de primeiro e segundo graus tem por objetivo geral proporcionar ao
educando a formação necessária ao desenvolvimento de suas
potencialidades como elemento de auto-realização, qualificação para o
trabalho e preparo para o exercício consciente da cidadania. Isso aglutina o
antigo primário com o ginásio, suprimindo os exames de admissão,
responsáveis pela seletividade.
1.3.4- A Nova República
Lembra a Historiadora Aranha (2000), que em 1985, passa ao
primeiro governo civil depois do regime militar, ainda com inúmeros
remanescentes da fase autoritária. À revelia dos movimentos populares, com
destaque para a campanha das "Diretas, Já", manteve-se a eleição indireta
para a Presidência da República, em que toma posse José Sarney, como
presidente civil, através de uma aliança que tornara possível a vitória de
Tancredo Neves(falecido sem tomar posse).
23
Na educação, um grupo de filósofos que se propuseram a organizá-
la porque estava com altos índices de analfabetismo, evasão, repetência e,
portanto, seletividade. Criou-se, afirma a historiadora Maria Lúcia Aranha,
uma pedagogia histórico-crítica, com a seguinte tarefa:
a) identificação das formas mais desenvolvidas em que se
expressa o saber objetivo produzido historicamente, reconhecendo as
condições de usa produção e compreendendo as suas principais
manifestações, bem como as tendências atuais de transformação;
b) conversão do saber objetivo em saber escolar de modo a
torná-lo assimilável pelos alunos no espaço e tempo escolares;
c) provimento dos meios necessários para que os alunos não
apenas assimilem o saber objetivo mas aprendam o processo de produção,
bem como as tendências de sua transformação;
A escola, segundo a historiadora Aranha, passa a ser mediadora
entre o aluno e a realidade, se ocupando com a aquisição de conteúdos,
formação de habilidades, hábitos e convicções.
O que se ressalta é a transformação da escola de qualidade, cada
vez mais elitista em que só os privilegiados tem condições de chegar as
universidades, pois os valores cobrados estão cada vez mais altos fazendo
com que os mais necessitados não tenham acesso ao ensino de qualidade,
deve-se a isso as escolas públicas, onde faltam professores, materiais de
apoio, e falta principalmente interesse dos governos em incentivar a
educação.
Aprovada a Constituição de 1988, resta elaborar uma lei
complementar para tratar das diretrizes e bases da educação, uma nova
LDB, não esqueçamos que a anterior levou 13 anos para ser aprovada, e
quando foi, estava envelhecida.
A Lei 9394 de 1996, diz Pedro Demo em seu Livro Ranços e
Avanços, tenta repor as falhas da lei anterior, como : tentar instaurar uma
política educacional decente, que se destine mais verbas públicas para as
24
escolas públicas; a valorização do professor, o que certamente manteria na
ativa os profissionais de qualidade; a escola para todos, não prédios
enormes, suntuosos mas, qualidade de ensino com bibliotecas, salas de
leitura, etc. A lei está aí, resta saber se haverá interesse de nossos
legisladores em se preocupar com a implantação de escolas públicas,
universal, gratuita, democrática e principalmente de qualidade.
25
CAPÍTULO 2
A NEUROCIÊNCIA PEDAGÓGICA E EDUCAÇÃO
2.1 – As emoções e sua relação com a cognição e a aprendizagem
Embora todos saibamos, intuitivamente, o que são as emoções e
possamos dar exemplos delas, como alegria, raiva, medo ou tristeza, é comum
haver dificuldade em conceituá-las ou explicar para que servem. Do ponto de
vista que aqui nos interessa, as emoções são fenômenos que assinalam a
presença de algo importante ou significante em um determinado momento na
vida de um indivíduos. Elas se manifestam por meio de alterações na sua
fisiologia e nos seus processos mentais e mobilizam os recursos cognitivos
existentes, como a atenção e a percepção.
Além disso, elas alteram a fisiologia do organismo visando uma
aproximação, confronto ou afastamento e, frequentemente, costumam
determinar a escolha das ações que se seguirão.
As emoções atuam como um sinalizador interno de que algo importante
está ocorrendo, e são, também, um eficiente mecanismo de sinalização
intragrupal, já que podemos reconhecer as emoções uns dos outros e, por
meio delas, comunicar situações e decisões relevantes aos demais indivíduos
ao nosso redor. Não só os seres humanos,mas também os animais são
capazes de perceber as respostas emocionais dos seus semelhantes e reagir
prontamente. Claro que isso tem um valor de sobrevivência, pois o medo
demonstrado por um membro do grupo pode servir de aviso para que todos
respondam sem demora, de forma a fazer face ao perigo que se apresenta.
26
Charles Darwin, o criador da teoria da evolução, já havia chamado a
atenção para a importância das expressões emocionais no comportamento
animal, e as pesquisas posteriores vieram demonstrar que as expressões
faciais relativas ás emoções básicas (alegria,tristeza, medo, raiva, surpresa e
asco ou desprezo) são invariáveis nas diversas culturas humanas, o que as
torna facilmente identificáveis, mesmo para indivíduos de culturas distantes. O
fenômeno emocional tem raízes biológicas antigas e foi mantido na evolução
exatamente por seu valir para a sobrevivência das espécies e dos indivíduos.
Na nossa cultura, as emoções costumam ser consideradas um resíduo
da evolução animal e são tidas como um elemento pertubador para a tomada
de decisões racionais. Acredita-se que os seres humanos deveriam controlar
suas emoções para que a razão prevaleça.
Na verdade, as neurociências têm mostrado que os processos cognitivos
e emocionais estão profundamente entrelaçados no funcionamento do cérebro
e têm tornado evidente que as emoções são importantes para que o
comportamento mais adequado à sobrevivência seja selecionado em
momentos importantes da vida dos indivíduos. A ausência das emoções nos
tornaria como inexpressivos robôs androides, como se vê em muitas obras de
ficção ciêntifica. E a vida perderia muito em colorido e sabor.
As emoções envolvem respostas periféricas que podem ser percebidas
por u observador externo: aumento do estado de alerta,desassossego,
dilatação da pupila, sudorose, lacrimejamento, alteração da expressão facial,
entre outras manifestações. Além disso, há modificações corporais internas
que são percebidas pelo sujeito, btais como o coração disparado, um ''frio no
estômago'' ou um ''nó na garganta''. Essas respostas fisiológicas são
acompanhadas por um sentimento emocional, ligado ao universo afetivo do
organismo: euforia, desânimo, inrritação, etc. Além disso, na maioria das
vezes, podemos identificar a emoção que estamos sentindo: amor, medo, ódio,
ciúme, decepção,etc. Admite-se que esta consciência emocional esteja
presente apenas na nossa espécie, enquanto os outros animais, ou pelo
menos os mamíferos, são capazes de experimentar os demais aspectos do
27
fenômeno emocional, ou seja, as respostas periféricas e o sentimento
emocional. Nesse sentido, as emoções dos animais são um pouco diferentes
das emoção humana.
O psicólogo e pesquisador da Universidade de Harvard, Howard
Gardner, propôs, em 1983, a teoria, a inteligências múltiplas, segundo a qual
existiriam oito inteligências: verbal, lógico-matemática, visoespacial, corpora-
cinestésica, musical, interpessoal, intrapessoal e naturalistica.
Segundo a teoria, a inteligência verbal ou linguística envolve a leitura, a
escrita e a capacidade de se expressar na língua materna ou em línguas
estrangeiras. A inteligência lógico-matemática tem a ver com a habilidade de
realizar operações matemáticas, reconhecer padrões e relações e com a
capacidade de resolver problemas utilizando a lógica. A inteligência
visoespacial se aplica à percepção do ambiente, à capacidade de criar e
manipular imagens mentais e também à orientação espacial. A inteligência
corporal-cinestésica encarrega-se da coordenação e habilidade motora, tanto
para movimentos grosseiros quanto para os mais delicados e tem a ver com a
expressão pessoal e com a Aprendizagem por meio da atividade física.
A inteligência musical envolve a compreensão e a expressão por meio
da música, do ritmo e da dança e compreende a composição, a execução e a
condução musicais. A inteligência interpessoal coordena as capacidades de
compreender as pessoas, de comunicar-se com elas e de trabalhar de forma
colaborativa. A inteligência intrapessoal tem a ver com a capacidade de
compreender e lidar com as próprias emoções e pensamentos, com a
habilidade de controlá-las e trabalhar com eles de forma objetiva. Finalmente, a
inteligência naturalistica, proposta alguns anos depois das outras, envolve a
compreensão da natureza, plantas e animais, apreendendo suas
características e categorizando-os adequadamente. Essa inteligência envolve,
segundo o autor, uma aguda capacidade de observação, que pode ser utilizada
para classificar também outros objetos.
28
Para Gardner, cada inteligência atuaria por meio de sistemas neurais
distintos e independentes. Sua teorização baseou-se em uma revisão da
literatura cientifica,em que foram levados e conta, entre outros,os resultados de
lesões cerebrais em que algumas capacidades são perdidas enquanto outras
permanecem normais, e também a existência dos idiots savants,indivíduos com
deficiências mentais em muitas áreas cognitivas mas que apresentam
capacidades excepcionais em outras, como matemática, por exemplo.
As pesquisas realizadas posteriormente mostram que as inteligências
sugeridas por Gardner são altamente correlacionadas tanto com o fator g( com
exceção da cinestésico-corporal )quanto umas com as outras. Portanto, não
são autônomas como havia sido proposto, e não há suporte experimental que
comprove a existência independente dessas inteligências. Contudo, a teoria
das inteligências múltiplas tem o mérito de chamar a atenção para outros
campos de aplicação da inteligência em que, usualmente, presta-se pouca
atenção, como o controle motor ou mesmo as habilidades musicais.
A teoria tem sido empregada em muitos ambientes educacionais, e
talvez o seu sucesso esteja ligado ao fato de que introduz atividades
alternativas e promove o entusiasmo que, como sabemos, são fatores que
facilitam a aprendizagem.
Nos anos de 1990 uma inteligência emocional foi proposta por
pesquisadores acadêmicos( Salovey e Mayer) e popularizada pelo psicólogo
Daniel Goleman,obtendo muito sucesso nos meios de comunicação e
empresariais. Ela seria a habilidade de perceber os próprios sentimentos e
emoções de forma precisa, de expressar as emoções e lidar com elas de uma
maneira positiva, de saber reconhecer as emoções nos outros e com isso
facilitar os relacionamentos e o crescimento pessoal. As pesquisas realizadas
até o momento, na tentativa de validar essa teoria têm resultados controversos,
mas,em geral, não dão suporte à existência de uma inteligência emocional
como entidade isolada, apesar da popularidade e do sucesso por ela
alcançados nos meios de comunicação.
29
Robert Sternberg, outro pesquisador da área da cognição, afirma que
quase não existe correlação entre a inteligência geral, medida pelos testes, e a
inteligência prática, que seria utilizada para resolver a maioria dos problemas
do cotidiano.
Ele propõe uma teoria alternativa de inteligência, que envolve três
aspectos e que ele chama de inteligência bem -sucedida ou inteligência plena.
Ela seria definida como habilidade de obter sucesso em um determinado
contexto sociocultural aproveitando-se das potencialidades e compensando as
desvantagens existentes, de maneira a se adaptar,selecionar, mas também
modelar o ambiente, por meio de uma combinação de habilidades analíticas,
criativas e práticas. Ele sugere a existência de uma inteligência analítica, uma
inteligência prática e uma inteligência criativa. Três habilidades básicas seriam
importantes: analíticas - saber analisar e avaliar os problemas e as opções
disponíveis, criativas - ser capaz de gerar soluções para os problemas
identificados, e práticas - se capaz de fazer funcionar as opções escolhidas.
2.2- A abordagem nas dificuldades de aprendizagem
Em prática, o educador se depara com muitos desafios, mas talvez a
tarefa mais incômoda seja lidar com as dificuldades da aprendizagem. O
estudante que não presta atenção na aula, ou que está sempre perturbando a
turma com brincadeiras inconvenientes ou provocações. Aquele que não para
quieto, ou que tem facilidade em determinada disciplina, mas fracassa em
outras. O aluno que não tem problemas de comunicação, nas escreve
garranchos ou ainda aquele que é campeão de futebol, mas só tira notas
baixas. São todos motivos de preocupação para o professor.
Além de casos como esses, também estão na escola crianças e
adolescentes com limitações relacionadas a deficiências sensoriais, comi visual
e auditiva, ou com desarranjos ou diferenças no comportamento social,
cognitivo ou motor, cuja evolução no processo de aprendizagem é bastante
distinto dos demais estudantes.
30
A avaliação das acuidades auditiva e visual na criança, antes do início
da sua vida escolar, contribui para a prevenção de algumas dificuldades para a
aprendizagem. No caso de alunos com deficiência s sensoriais congênitas, é
importante oferecer-lhes, desde o início do desenvolvimento, estratégias
pedagógicas alternativas, como o uso da língagem de sinais para os
deficientes auditivos e recorrer aos estímulos táteis para a comunicação com
os deficientes visuais.
As dificuldades de aprendizagem resultam de muitos aspectos que
interferem na aquisição de novos esquemas, ou seja , na reorganização do
cérebro para produção de novos comportamentos. É um termo genérico que
abrange um grupo heterogêneo de problemas capazes de alterar a capacidade
de aprender. Esses problemas podem estar relacionados a anomalias do
funcionamento do sistema nervoso.
Embora a aprendizagem ocorra no cérebro, nem sempre ele é causa
original das dificuldades observadas. Como ela depende da interação do
indivíduo com o ambiente, falhas na aprendizagem podem estar relacionadas
ao indivíduo, ao ambiente ou a ambos. Um aprendiz com boa saúde e todas as
suas funções cognitivas preservadas, sem nenhuma alteração estrutural ou
funcional do sistema nervoso pode, ainda sim, apresentar dificuldades para
aprender.
O ambiente, na verdade, leva ao desenvolvimento de comportamentos
adaptativos que podem dificultar ou propiciar a aprendizagem. Quando os pais
perguntam ao filho sobre seu dia na escola e valorizam as atividades
vivenciadas pelo aluno, ele ficará mais motivado para se envolver com aquelas
atividades. O contrário também ocorre: pais que não leem ou que não
incentivam os filhos a ler podem contribuir para o desinteresse deles pela
leitura.
A saúde geral do aprendiz é imprescindível para uma boa
aprendizagem. O funcionamento do cérebro depende do bom funcionamento
dos demais sistemas orgânicos, e algumas doenças, como hipotireoidismo,
31
podem prejudicar o funcionamento do sistema nervoso, com influências
negativas na atenção e na memória. Doenças parasitárias, anemia,problemas
ortopédicos, doenças renais, cardiopatias, dentre outras, são quadros que
podem interferir na aprendizagem, pela própria doença ou por causa do seu
tratamento, ou ainda pela repercurssão de ambos sobre o sistema nervoso.
Eles podem produzir desconforto físico, implicar diminuição da frequência á
escola e das horas de estudo e, eventualmente, influenciar no sono e na
atenção.
O ambiente ao qual estamos expostos influencia o processo de
aprendizagem, interferindo nos fatores psicológicos e emocionais e induzindo
comportamentos que podem ser mais ou menos favoráveis ao aprendizado. O
início da vida escolar ou mudança de escola podem gerar timidez, insegurança
ou ansiedade.
Um ambiente familiar agressivo, inseguro, com história de alcoolismo,
uso de drogas, pais separados ou em constantes litígios, pais desempregados
ou com comportamento antissocial podem fazer com que seja muito difícil para
a criança se dedicar ao processo de aprender. Situações não rotineiras como
chegada de um irmão, mudança de comunidade, morte na família, uma viagem
ou evento muito importante também podem interferir.
O cérebro da criança estará processando os estímulos gerados por
essas mudanças de forma a produzir um comportamento que permita a melhor
adaptação às situações vividas. Assim, os circuitos neuronais que deveriam
estar envolvidos nas tarefas escolares estarão ocupados com comportamentos
que, naquele momento, são mais relevantes para a sobrevivência e o bem-
estar. O cérebro desse aprendiz, portanto, não apresenta nenhum problema,
mas funciona com objetivo de melhor adaptar o indivíduo ao contexto ao qual
ele está exposto naquela ocasião.
Crianças e adolescentes saudáveis, com funções cognitivas
preservadas, podem apresentar baixo desempenho escolar devido a
estratégias pedagógicas inadequadas,como aulas muitos extensas, conteúdos
32
não contextualizados e pouco significativos para o aluno, professores pouco
qualificados ou desmotivados ou ainda pela falta de incentivo ou estimulação
pelos pais.
Fatores socioeconômicos como a ausência de condições para adquirir
material didático, restrições do acesso a livros, jornais e outros meios de
informação, falta de ambiente e rotina para estudo em casa podem contribuir
para um aprendizado que não reflete o potencial do aprendiz. Nesses casos,
eles não têm acesso às experiências sensoriais, motoras e sociais que são
fundamentais para o adequado funcionamento e para a reorganização de seu
sistema nervoso.
Os chamados transtornos da aprendizagem são exemplos de alterações
geneticamente determinadas em circuitos específicos, prejudicando a aquisição
de habilidades cognitivas como a escrita, a leitura ou raciocínio lógico-
matemático. O termo é reservado para as dificuldades na aprendizagem
caracterizadas por desempenho abaixo do esperado para a idade, nível
intelectual e de escolaridade, nas habilidades mencionadas, em aprendizes
que possuem condições adequadas e contextos favoráveis à aprendizagem.
Sua ocorrência varia de 2 a12% da população, dependendo do tipo de
avaliação utilizada.
A síndrome de Down, ou autismo, são exemplos de condições que
alteram vários circuitos e comprometem um leque mais variado de funções.
Nesses casos, além das dificuldades para aprendizagem, o indivíduo
apresentará também alterações, mais ou menos significativas,relacionadas ao
comportamento sociemocional, com prejuízo da comunicação, da sua interação
com pessoas e de algumas atividades da vida diária. O impacto,não é restrito
ao desempenho escolar.
As dificuldades de aprendizagem são identificadas pelo educador por
meio da observação de comportamentos ou habilidades, gerais ou
característicos, que destoam da maioria dos alunos e que comprometem o
desenvolvimento do estudante segundo o padrão mais frequente na escola.
33
Contudo, para estabelecer que um comportamento ou capacidade é realmente
diferentes da maioria dos outros indivíduos é preciso recorrer a instrumentos
diagnósticos mais precisos, como os testes neuropsicológicos que avaliam as
funções cognitivas de uma forma específica, segundo padrões universalmente
aceitos. Os profissionais treinados no uso desses instrumentos é que estão
habilitados para contribuir para o diagnóstico do problema.
2.3- Estruturas cerebrais e aprendizagem
Todo processo de formação implica alguma aprendizagem, indicando
simplesmente que alguém veio saber algo que não sabia, como uma
informação , um único conceito, uma habilidade, capacidade. Mas não implica
que esse algo novo que se aprendeu transformou esse alguém em um novo
alguém . E essa é uma característica forte do conceito de formação : uma
aprendizagem só é formativa na medida em que opera transformações na
constituição daquele que aprende. É como se o conceito de formação indicasse
a forma pela qual nossas aprendizagens e experiências nos constituem como
um ser singular no mundo. (RELVAS, 2010)
Ainda segundo a autora, em uma visão neurológica da aprendizagem,
pode- se dizer que, quando ocorre a ativação de uma área cortical,
determinada por um estímulo, provoca alterações também em outras áreas,
pois o cérebro não funciona como regiões isoladas. Isto ocorre em virtude da
existência de um grande número de vias de associações, precisamente
organizadas, atuando nas duas direções. Estas vias podem ser muito curtas,
ligando áreas visinhas que trafegam de um lado para o outro sem sair da
substância cinzenta. Outras podem constituir feixes longos e trafegam pela
substância branca para conectar um giro a outro de um lobo a outro, dentro do
mesmo hemisfério cerebral. São as conexões intra-hemisféricas. Por último,
existem feixes comissurais que conduzem a atividade de um hemisfério para o
outro, sendo o corpo caloso o mais importante deles. Assim, As associações
recíprocas entre as diversas áreas corticais asseguram a coordenação entre a
34
chegada de impulsos sensitivos, sua decodificação e associação, até a
atividade motora de resposta. A esta, chamamos de funções nervosas
superiores, desempenhadas pelo córtex cerebral.
2.4- Aspectos Neurocientíficos da aprendizagem
No que concerne à aprendizagem, a neurociência explica que através
dos aspectos neurocientíficos procura configurar o aprendizado da melhor
maneira que o cérebro é capaz de aprender. Com frequência, porém, essa
abordagem enfrenta a resistência dos pedagogos mais voltados às ciências
humanas. E, no entanto, seria inviável encomendar a pintores, encanadores ou
jardineiros a construção de uma casa - prescindindo do trabalho do engenheiro.
De todo modo, o fato é que, à luz das novas descobertas neurocientíficas
acerca do aprendizado, muitas das hipóteses das ciências educacionais têm se
revelado demasiado simplistas.
Neurobiólogos descrevem o cérebro como um sistema dinâmico que, no
nascimento, dispõe de um estoque básico de saber prévio e começa, de
imediato, a dirigir perguntas ao exterior. Desde o primeiro choro, bebês
ocupam-se de descobrir o que se passa em torno deles. Por muito tempo, deu-
se como certo que a capacidade de desempenho do cérebro - e, portanto,
também o potencial de aprendizado - era predeterminada pela genética, como
a cor dos olhos ou dos cabelos.
Experimentos com animais demonstraram, porém, que a
hereditariedade define tão-somente o equipamento básico para a construção
neuronal. O fluxo das informações provenientes dos sentidos e a interação
dinâmica e constante com o meio determinarão, a seguir, como o cérebro irá se
desenvolver, isto é, o que vamos aprender e que talentos desenvolveremos.
Logo ao nascer, todo ser humano possui centenas de bilhões de
neurônios, um número que, aliás, sofre pequena redução ao longo da vida. Nos
dois primeiros anos, crescem sobretudo as conexões mediante as quais cada
célula nervosa envia sinais a milhares de outras. Pontos especiais de contato -
35
as sinapses - transmitem as informações entre as diferentes células. Por
intermédio de uma quantidade superior a centenas de trilhões dessas ligações
sinápticas, os neurônios se reúnem em redes capazes de se comunicar entre
si, mesmo a distâncias maiores.
36
CAPÍTULO 3
OS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA
3.1- A crise na modernidade
No momento vive-se a crise do paradigma da modernidade, segundo
Fortuna (1998), como todas as transições são simultaneamente semi-cegas e
semi-visíveis, não é possível nomear adequadamente a presente situação, mas
tem sido dado um nome inadequado de pós-modernidade.
“Boaventura de Souza Santos diz que, "o que quer que falte concluir da modernidade não pode ser concluído em termos modernos, sob pena de nos mantermos prisioneiros da mega-armadilha que a modernidade nos preparou." ( Salvador, Cesar C, Aprendizagem escolar. Porto Alegre. Artes.1994 P.155 )
Esse posicionamento favorece a violência, que decorre da tentativa de
enquadrar o jovem desencaminhado e reforça a falta de humildade para
conhecer o novo. Os professores australianos, nos advertem desse crescente
"pânico moral" que envolve os educadores diante do que consideram os
desvios tomados pelos jovens, vistos cada vez mais como "alienígenas", isto é,
diferentes dos seres humanos. Mas quem são os alienígenas na sala de aula?
São os estudantes? São os professores? Não serão os adultos que deveriam
ser vistos, cada vez mais, como alienígenas, já que serão os jovens que
habitarão no futuro o planeta e cada vez mais nos transformam em seres de
outros mundos, tamanha a distância de entendimentos entre jovens e velhos.
Quem seria o aluno de hoje?
a) mais propenso a uma cultura visual do que escrita;
b) vivem num contexto pós-moderno (vídeo, computador, game, etc.)
c) mais crítico e desafiador de paradigmas (mais sinceros)
37
d) busca emoções e sensações novas(prazer imediato)
e) tem dificuldade de perceber o importante papel da escola
f) linguagem própria (ou do grupo que se filia)
g) afirma o popular e ignora o erudito e o clássico
h) dificuldade de processar informações
Deseja-se que os alunos aprendam e cresçam como pessoas humanas
devemos conhecer e diminuir as diferenças entre eles, conhecer suas opiniões
em grupo e individual, conhecer suas bagagens e experiências anteriores,
devemos facilitar e incentivar o estímulo e a criatividade, o exercício da
cidadania, a persistência e disciplina e principalmente o diálogo com os jovens
porque eles estão sempre mais abertos para novas aquisições de
conhecimentos.
Mesmo que o livro continue constituindo um dos pilares da
escolarização, e de fonte de prazer humano, não há como deixar de
reconhecer o impacto da imagem e a importância da mídia como uns dos
grandes apelos do mundo pós moderno.
Em vez de demonizar as formas emergentes de informação, melhor
seria investigar a sua importância na constituição de aspectos mais amplos de
sociabilidade e de subjetividade. É educar incorporando as novas técnicas e,
mais do que isso, promover a capacidade de leitura crítica das imagens e das
informações transmitidas pela mídia.
A sociedade informatizada se caracteriza pela abundância de
informações, daí precisarmos estar atentos ao acesso, a seleção e ao controle
desses dados. Os computadores são as janelas para o mundo, troca-se
informações, arquivos, bancos de dados, é preciso ensinar os alunos a usar
essas informações positivamente, que vá acrescentar conteúdo ao aprendizado
informatizado e não desviá-lo para informações negativas que só prejudicarão
ao seu crescimento.
38
3.2- A educação permanente
“Não devemos nos apressar em tomar com orgulho o fato de vivermos outros tempos pedagógicos, pois o presente está longe de ser radiante que se pensa por oposição a um passado obscuro e selvagem” ( Fortuna, M. Lúcia. A Democratização da gestão na Escola Pública. SP. Zaar. 1998.p.67)
Hoje em dia, afirma a historiadora Fortuna (1998), duvida-se da
necessidade de existirem obrigações no cotidiano escolar, e portanto não se
impõem ordens, mesmo que os adultos peçam às crianças em nome de
alguma razão ou tendem obediência pela via doce da sedução. Assim, bane-
se o arbítrio próprio das clássicas ordens e espera-se criar uma atmosfera
de cumplicidade entre adultos e jovens para se passar os "conteúdos
escolares". É óbvio que o tiro saí pela culatra, porque criam-se jovens sem
disciplina, sem limites, e imaturos.
A educação deve invocar o espírito das leis, a intervenção de um
adulto junto a uma criança deve reclamar para si um pouco da lei. O mundo
se ordena a partir da arbitrariedade da diferença adulto-criança e, o adulto
educa ordenando o mundo para a criança: "isto não", "isto sim", "isto pode",
"aquilo não pode". A criança desejando um "isso" proibido, espera pelo
amanhã, enquanto obedece hoje.
A educação terá que ser permanente, que permita a continuidade
dos estudos, acesso às informações à medida que foram surgindo novas
cobranças. Tem-se o surgimento de um novo homem, o "homo studiosus",
que seria em ultima análise seria a realização do sonho do "homo
universalis", cuja instrução integral permitiria a mudança de profissão,
adaptação a quaisquer situações e ser criativo para renovar sempre.
Existe uma tendência perigosa em especializar desde cedo os
estudantes, de acordo com a pretensa tendência ou vocação, seja lá o nome
que lhe for dado. Em muitas escolas de grau médio os alunos se agrupam
em classes de humanas, biomédicas e exatas, quando não dirigem
39
precocemente às escolas profissionalizantes. Considera-se um prejuízo o
adolescente escolher sem saber bem o quê, daqui em diante essas divisões
se configuram mais danosas. Porque ele precisa, antes de tudo, abrir seus
horizontes humanos com uma visão holística, isto é, do todo. E, mesmo que
se faça uma escolha específica, não deverá abandonar a perspectiva
totalizante. Por isso, toda formação deve ser abrangente, dando domínio a
língua, nas suas expressões de fala, leitura e escrita, bem como o
conhecimento dos mais diversos campos da cultura, como história,
geografia, política, moral, arte, etc..
40
CONCLUSÃO
Neste trabalho observa-se que o mundo a espera de nossos
jovens será muito diferente do presente e do passado já visto. É
importante frisar, que não se deve permanecer espectadores e sim
tomar nas mãos o desafio de construir algo novo.
Se não se pode prever, pelo menos tem-se noção sobre o que é
possível e sobre o que é impossível, sobre o que se quer e o que não se
quer, mas com toda a certeza poder-se-á pelo menos tentar construir um
mundo mais humano para nossos jovens!
Concluímos que a Neurociência pedagógica poderá criar uma
melhora na qualidade de ensino se ela puder alterar as práticas
pedagógicas arraigadas desde o Brasil Colônia. Este é o seu maior
desafio, pois envolverá, necessariamente, a formulação de um novo
projeto político pedagógico mais condizente com a nova política
educacional.
Finalizando com as palavras de Boaventura de Souza Santos,
sociólogo e político português da pós-modernidade: “Quando o desejável
era impossível foi entregue a Deus; quando o desejável se tornou
possível, foi entregue a ciência; hoje, que muito do possível é
indesejável e algum do impossível é desejável temos de partir ao meio
tanto Deus como a ciência. E no meio, no caroço ou no miolo,
encontramo-nos, com ou sem surpresa, a nós mesmos.” (Pela Mão de
Alice. S.Paulo, Cortez,1995, p.322)
41
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da Educação; 2 ed. São Paulo, Editora Moderna, 2000.
CONSENZA ,Ramon M. Neurociência e educação: como o cérebro aprende / Ramon M. Consenza, Leonor B. Guerra- Porto Alegre: Artmed,2001.
FORTUNA, M. Lúcia. A Democratização da Gestão na Escola Pública. SP, Zaar,1998
MAIA, Eny Marisa; GARCIA, Regina Leite. Uma orientação educacional nova para uma nova escola. São Paulo, Loyola, 1984
GARCIA, Regina Leite; OE o trabalho na Escola. SP, Loyola, 2002
RELVAS, Marta Pires Neorociência e educação: potencialidades dos gêneros humanos na sala de aula / Marta Pires Relvas.- 2.ed.- Rio de Janeiro: Wak Ed., 2010.
RELVAS, Marta Pires Neurociências e transtornos de aprendizagem: as múltiplas eficiêcias para uma educação inclusiva / Marta Pires Relvas - 5.ed.-Rio de Janeiro: Wak Ed., 2011.
SANTOS, Boaventura de Souza; Pela Mão de Alice. SP, Cortez, 1995
GRINSPUN, Miriam P.S.Z; A Orientação Educacional: Conflito de Paradigmas e alternativas para a escola. 3.ed. ampl. SP, Cortez, 2006
SOUZA LIMA, Elvira, 1951- Neurociência e Aprendizagem/ Elvira Souza Lima; ilustrações de Gabriel Lima- 2.ed.-São Paulo : Inter Alia Cimunicação e Cultura, 2010
42
VIEIRA, Sofia Lerche; FARIAS, Isabel Maria Sabino de. Política educacional no Brasil: introdução histórica. Brasília, Líber Livro, 2007.
CLEMENTE DE ALEXANDRIA. O Pedagogo. In Maria da Glória de Rosa. A História da Educação. SP, Ática, 1989
43
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO.......................................................................................................1
AGRADECIMENTO......................................................................................................2
DEDICATÓRIA.............................................................................................................3
RESUMO......................................................................................................................4
METODOLOGIA...........................................................................................................5
SUMÁRIO.....................................................................................................................6
INTRODUÇÃO..............................................................................................................8
CAPÍTULO 1- CONTEXTO HISTÓRICO SOBRE EDUCAÇÃO BRASILEIRA..10
1.1- A chegada dos Jesuítas............................................................................10
1.2- A educação dos filhos dos colonos............................................................11
1.3- A educação brasileira a partir do século XX..............................................15
CAPÍTULO 2- A NEUROCIÊNCIA PEDAGÓGICA E EDUCAÇÃO...................24
2.1- As emoções e sua relação com a cognição e a aprendizagem.................24
2.2- A abordagem nas dificuldades de aprendizagem..................................... 28
2.3-Estruturas cerebrais e aprendizagem.........................................................33
2.4- Aspectos neurocientíficos da aprendizagem..............................................34
CAPÍTULO 3- OS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA............36
3.1- A crise na modernidade............................................................................33
3.2- A educação permanente............................................................................35
CONCLUSÃO...............................................................................................................40
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA.............. ..................................................................41
ÍNDICE........................................................................................................................43
FOLHA DE AVALIAÇÃO.............................................................................................44
44
FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
Título da Monografia: A Educação Contemporânea e a Neurociência Educacional
Autor: Jurema Pereira Souza
Data da entrega: 28/02/2016
Avaliado por: Conceito:
45