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Tendo, por pouco, evitado uma (sub) guerra mundial, Cat Crawfield não quer nada além de desfrutar um pouco de sossego ao lado de seu marido vampiro, Bones. Infelizmente, seu dom recebido pela rainha vodu de Nova Orleans simplesmente a mantém em atividade – levando-os a realizar um favor pessoal que os lança em uma nova batalha. Desta vez, contra um espírito perverso. Séculos atrás, Heinrich Kramer foi um caçador de bruxas. Agora, a cada Halloween, ele assume uma forma física para torturar mulheres inocentes antes de queimá-las vivas. Este ano, entretanto, Cat e Bones estarão determinados a arriscar tudo para mandá-lo de volta para o outro lado da eternidade, para sempre. Porém, um passo em falso e eles estarão cavando suas próprias sepulturas!

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Jeaniene Frost

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Jeaniene Frost

São Paulo 2014

Uma sepultura por vezSérie Night Huntress

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2014IMPRESSO NO BRASILPRINTED IN BRAZIL

DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO ÀNOVO SÉCULO EDITORA LTDA.

CEA – Centro Empresarial Araguaia IIAlameda Araguaia, 2190 – 11º Andar

Bloco A – Conjunto 1111CEP 06455-000 – Alphaville Industrial– SP

Tel. (11) 3699-7107www.novoseculo.com.br

[email protected]

One grave at a time

Copyright © 2011 by Jeaniene Frost

Copyright © 2014 by Novo Século Editora Ltda

Published by arrangement with HarperCollins Publishers.

All rights reserved.

Coordenação Editorial: Mateus Duque Erthal

Tradução: Eugenia Mae

Preparação: Lílian Moreira Mendes

Diagramação: Claudio Tito Braghini Junior

Montagem de Capa: Monalisa Morato

Revisão: Tággidi Mar Ribeiro

Frost, Jeaniene Uma sepultura por vez / Jeaniene Frost; [tradução Eugenia Mae]. -- Barueri, SP: Novo Século Editora, 2014. -- (Série night huntress) Título original: One grave at a time 1. Ficção norte-americana 2. Vampiros - Ficção I. Título. II. Série. 14-01416 CDD-813

1. Ficção: Literatura norte-americana 813

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Índices para catálogo sistemático:

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2014IMPRESSO NO BRASILPRINTED IN BRAZIL

DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO ÀNOVO SÉCULO EDITORA LTDA.

CEA – Centro Empresarial Araguaia IIAlameda Araguaia, 2190 – 11º Andar

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Para a minha avó, Kathleen.Apesar de não estar mais conosco, não é menos amada.

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Agradecimentos

Mais uma vez tentarei ser breve aqui, mas como nunca consegui, esta vez não será exceção. Antes de qualquer pessoa, tenho que agradecer a Deus por continuar a me dar inspiração e determinação – duas coisas sem as quais nenhum escritor pode sobreviver. Agradeço à minha editora, Erika Tsang, e aos demais integrantes da maravilhosa equipe da Avon Books por todo o seu tra-balho. Meus agradecimentos, mais uma vez, a Thomas Egner por outra linda capa. Nancy Yost, minha empresária, tem a minha gratidão contínua por me manter com a cabeça acima da superfície profissionalmente. Agradeço ao meu marido, aos meus amigos e à minha família; eu os amo e estaria perdida sem vocês. Obrigada a Tage, Carol, Kimberley e a todos os outros da incrível Frost Fans por falarem sobre os meus livros em todos os cantos. Minha gratidão eter-na também a todos os leitores que me maravilham e me constrangem com seu apoio. Eu jamais poderia agradecer o tanto que merecem.

Uma palavra final de agradecimento a Theresa e ao Lock Haven Paranor-mal Seekers pelas respostas às minhas perguntas sobre as investigações paranor-mais. Preciso dizer que fiz uso de “licença poética”, que é uma maneira simpática de dizer que alterei a informação que eles me deram para que se adaptasse ao enredo, portanto qualquer erro deriva da minha imaginação e não da resposta dada por eles.

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Nota do Autor

O Malleus Maleficarum, ou Martelo das Feiticeiras, é um livro real escrito por Heinrich Kramer e Jacob Sprenger (embora alguns estudiosos afirmem que a contribuição de Sprenger tenha sido mais cerimonial do que autoral). Para os objetivos do meu enredo, entretanto, decidi dar o crédito da criação do Malleus Maleficarum a um autor apenas, Heinrich Kramer. Jacob Sprenger se livrou desta vez.

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“ATENDA AO NOSSO CHAMADO, HEINRICH KRAMER, VE-NHA A NÓS AGORA. CHAMAMOS ATRAVÉS DO VÉU O ESPÍRI-TO DE HEINRICH KRAMER...”

Enrijeci, sentindo outra vez os flocos invisíveis de gelo sobre a pele. Os olhos de Bones focaram num ponto atrás do meu ombro direito. Lentamente, virei a cabeça naquela direção.

Tudo o que vi foi um redemoinho de trevas antes que a tábua Ouija voasse pela sala e a ponta da pequena prancha de madeira se enterrasse na garganta de Tyler. Joguei-me para a frente e tentei segurá-lo, mas fui empurrada para trás como se tivesse sido atingida por uma marreta. Surpresa, precisei de um segundo para registrar que era a mesa que me prendia à parede, e do outro lado dela estava aquela nuvem escura.

O fantasma tinha conseguido usar a mesa como arma contra mim. Se ela ainda não estivesse pressionada contra o meu abdômen, eu simplesmente não acreditaria.

Bones arremessou a mesa para longe antes que eu me mexesse, e o fez com tanta força que ela se partiu ao meio quando atingiu a parede oposta. Dexter la-tia e pulava, tentando morder a nuvem cor de carvão que assumia a forma de um homem alto. Tyler segurava a garganta, emitindo um horrível som gorgolejante. O sangue escorria entre os seus dedos.

– Bones, dê um jeito nele. Eu lido com isso.

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Prólogo

Cemitério Paz EternaGarland, Texas

– Donald Bartholomew Williams – gritei bem alto. – Volte aqui agora mesmo!Meu grito ainda pairava no ar quando um movimento à direita chamou

a minha atenção. Ali, bem atrás de uma lápide com o formato de um pequeno anjo em lágrimas, estava meu tio. Don cutucava a sobrancelha, e o jeito como me encarava expressava seu desconforto com mais eloquência do que mil palavras fariam. De terno e gravata, cabelo grisalho penteado para trás e seu costumeiro estilo impecável, Don aparentava ser um executivo de meia-idade comum, exceto por uma coisa: você teria que ser um morto-vivo ou vidente para poder vê-lo.

Don Williams, ex-chefe de uma agência secreta de Segurança Interna que protegia o povo contra criaturas sobrenaturais de má índole, havia morrido dez dias antes.

Eu soluçara ao lado do seu leito quando aquele enfarte fatal o atingiu; tinha visto sua cremação, me sentido um zumbi durante o velório e levado suas cinzas de volta para casa para tê-lo perto de mim. Eu nem fazia ideia do quão próximo ele de fato estivera, considerando todas aquelas vezes em que, com o canto do olho, pensei tê-lo visto de relance. Até cinco minutos atrás, eu tinha classificado aquelas visões breves do meu tio como miragens provocadas pelo luto, quando então percebi que meu marido, Bones, também podia vê-lo. Embora esti-véssemos no meio do cemitério, com muitos corpos espalhados em consequência

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de uma batalha recente, e eu tivesse no corpo algumas balas de prata queimando como pequenas fogueiras agonizantes, meu único pensamento era que Don pre-feriu que eu não soubesse que ele ainda estava do lado de cima do túmulo.

Meu tio não parecia nada satisfeito por eu ter descoberto seu segredo. Parte de mim queria abraçá-lo bem forte, e a outra queria sacudi-lo até que seus dentes batessem. Ele tinha que ter me contado, e não se disfarçado na paisagem num esconde-esconde em versão fantasmagórica! Obviamente, apesar dos meus dois desejos, eu não podia sacudir ou abraçar Don nesse momento. Minhas mãos simplesmente atravessariam sua nova forma diáfana, e ele, da mesma maneira, não conseguiria mais tocar em nada, ou em ninguém, corpóreo. Então tudo o que podia fazer era olhar para ele, lutando contra a confusão, a alegria e a increduli-dade misturadas com alguma irritação pela sua decepção.

– Não vai me dizer nada? – perguntei finalmente.Ali, a poucos metros de distância, seus olhos cinzentos piscaram. Não pre-

cisei me virar para saber que Bones se aproximara e agora estava atrás de mim. Desde que ele me transformou em totalmente vampira, eu podia sentir Bones como se nossas auras estivessem entrelaçadas de forma sobrenatural. E estavam mesmo, eu acho. Eu ainda não sabia bem do que era feita a conexão entre vam-piros e seus Senhores. Tudo o que eu sabia era que ela existia e era poderosa. A menos que ele criasse barreiras, eu podia perceber os sentimentos de Bones como se fossem um fluxo contínuo conectado à minha psique.

Percebi então que Bones estava muito mais controlado do que eu. Seu choque inicial diante da descoberta de Don como fantasma havia cedido espaço a uma contemplação contida. Eu, por outro lado, ainda sentia como se minhas emoções estivessem num redemoinho. Bones colocou-se ao meu lado, seus olhos escuros pousados em meu tio.

Como você pode ver, ela está bem – Bones afirmou, um sotaque britânico colorindo suas palavras. – Impedimos Apollyon, portanto ghouls e vampiros estão em paz mais uma vez. Pode ir em paz. Está tudo bem.

A minha compreensão desabrochou juntamente com um sentimento de profunda dor. Seria por isso que meu tio ainda não tinha “atravessado” como de-veria? Provavelmente. Don era muito mais obcecado por controle do que eu, e embora tivesse rejeitado meus repetidos apelos para que curasse o seu câncer tornando-se um vampiro, talvez sua preocupação excessiva com as hostilidades crescentes entre os mortos-vivos o tivesse impedido de entregar-se completa-mente quando morreu. Eu tinha visto pelo menos um fantasma permanecer aqui por tempo suficiente para garantir a segurança de um ente querido. Certificar-se

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de que eu tinha sobrevivido a essa batalha e protegido a humanidade evitando um confronto entre vampiros e ghouls era, sem dúvida, a âncora que havia pren-dido Don aqui. Mas agora, como Bones dissera, ele poderia ir.

Pisquei para dissolver a umidade repentina dos meus olhos.– Ele tem razão – eu disse com a voz rouca. – Eu sempre vou te amar e

sentir a sua falta, mas você... você tem outro lugar para ir agora, não tem?Meu tio olhava para nós dois com uma expressão sombria. Embora não

tivesse mais pulmões, tive a impressão de que ele deixara escapar um lento sus-piro de alívio.

– Adeus, Cat – ele disse, suas primeiras palavras desde o dia em que mor-rera. Então o ar à sua volta tornou-se nebuloso, cobrindo suas feições e obscu-recendo sua silhueta. Busquei a mão de Bones, sentindo seus dedos fortes se entrelaçarem nos meus num aperto confortador. Pelo menos Don não sentia dores como da última vez em que tive que dizer adeus. Tentei sorrir enquanto a imagem de meu tio desaparecia por completo, mas a dor me atingiu com força renovada. Saber que ele ia para o lugar ao qual pertencia não significava que a dor de perdê-lo desapareceria.

Bones aguardou por vários momentos antes de virar-se para mim.– Gatinha, sei que este é o pior momento possível, mas ainda temos algu-

mas coisas para fazer. Por exemplo, retirar as balas de você, remover os corpos...– Que merda – sussurrei.Don apareceu atrás de Bones enquanto ele estava falando. Uma careta es-

curecia as feições de meu tio e ele agitava os braços numa expressão incomum de excesso emocional.

– Alguém pode me explicar por que diabos não consigo ir embora?

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Um

Amassei o recibo que estava na minha frente, sem jogá-lo fora, afinal não era culpa do padre que o sepultamento das cinzas de Don em solo sagrado não tivesse feito bulhufas para enviá-lo para o Grande Além. Já tínhamos tentado tudo que nossos amigos, os vivos, os mortos-vivos e outros, sugeriram para levar meu tio deste plano para o plano seguinte. Nada tinha funcionado, como podía-mos perceber ao ver Don caminhando ao meu lado, os pés sem tocar o chão.

Sua frustração era compreensível. Quando se morre, a menos que seja apenas um passo na transformação em vampiro ou ghoul, espera-se não ficar mais preso à terra. Eu tinha convivido com fantasmas, principalmente nos últi-mos dias, e, comparando o número de pessoas que morriam com o número de fantasmas existentes, a chance de alguém se tornar um Gasparzinho era menor do que um por cento. No entanto, meu tio parecia estar preso nesse raro espaço entre mundos, quer ele gostasse ou não da ideia. Para alguém que havia sido quase maquiavélico em sua habilidade de manipular as circunstâncias, seu atual desamparo ia agravar-se ainda mais.

– Vamos tentar outra coisa – sugeri, forçando um sorriso. – Olha, você é mestre na superação de dificuldades intransponíveis. Conseguiu evitar que os americanos descobrissem sobre o mundo sobrenatural apesar de complicações como vídeos de celulares, a Internet e o YouTube. Vai descobrir uma maneira de ir em frente.

Minha tentativa de levantar o seu moral só provocou nele um olhar de dúvida.

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– O Fabian nunca descobriu uma maneira de atravessar – Don murmu-rou, apontando com um gesto para o meu amigo fantasmagórico ali perto do escritório. – E o mesmo aconteceu com todos aqueles incontáveis fantasmas que conseguiram chegar até você quando se tornou um ímã de espectros.

Fiz uma careta, mas ele tinha razão. Antes eu pensava que ser fruto da união entre um vampiro e uma humana seria o máximo da improbabilidade, mas isso refletia a minha falta de fé no senso de humor negro do Destino. Minha transformação em vampira completa havia me colocado definitivamente na po-sição de Pessoa Mais Estranha do Mundo. Eu não me alimentava de sangue humano como outro vampiro qualquer. Não, eu precisava do sangue de mortos--vivos para sobreviver e absorvia deles mais do que alimento. Além dele, eu tam-bém absorvia, temporariamente, quaisquer que fossem as habilidades do dono daquele sangue. Beber de um ghoul que por acaso tivesse fortes laços com a se-pultura tinha me deixado irresistível a qualquer fantasma que estivesse no mes-mo código de área que eu. Particularmente, preocupava-me que minhas recém--emprestadas habilidades pudessem ser um dos fatores que impediam a travessia de Don. Tenho certeza de que esse pensamento também lhe ocorreu, tendo em vista sua atitude mais-irritada-do-que-de-costume em relação a mim.

– Peça para falarem mais baixo, Gatinha – sussurrou Bones quando en-trou na sala. – Não consigo ouvir nem os meus pensamentos.

Ergui a voz para garantir que não se limitasse à casa, mas também alcan-çasse a varanda e o quintal.

– Por favor, pessoal, dá para diminuir um pouco o falatório?Dezenas de conversas emudeceram instantaneamente, embora fosse ape-

nas um pedido e não uma ordem. Eu ainda me sentia pouco à vontade com a minha nova e indesejada habilidade, segundo a qual os fantasmas tinham que obedecer a qualquer comando meu. Eu não queria esse tipo de poder sobre pes-soa alguma, então escolhia as palavras com cuidado quando me comunicava com os mortos espectrais. Especialmente meu tio. Como as coisas mudaram, pensei num devaneio. Durante vários anos, enquanto trabalhava como um dos soldados de elite de Don, eu tinha me irritado por ter que seguir suas ordens. Agora ele tinha que seguir as minhas, se eu assim quisesse: uma condição que eu desejara muito na época, e da qual agora não via a hora de me livrar.

Bones afundou na cadeira mais próxima. Sua compleição esguia e muscu-losa transpirava uma inebriante mistura de sensualidade e energia contida, em-bora ele estivesse casualmente relaxado, um pé descalço apoiado na minha coxa. Seu cabelo escuro estava úmido pelo banho recente, deixando seus cachos curtos

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mais próximos à cabeça. Uma gota de água perdida descia lentamente pelo seu pescoço, me fazendo molhar os lábios com o desejo de trilhar esse caminho com a língua.

Se estivéssemos a sós, eu não teria que suprimir esse desejo. Bones estaria mais que disposto a desfrutar de algum prazer vespertino. Seu desejo sexual era tão legendário quanto sua periculosidade, mas com dois fantasmas nos assistin-do, minhas explorações linguais teriam que esperar um pouco.

– Se aparecerem mais fantasmas barulhentos, eu vou plantar alho e maco-nha ao redor de toda a casa – Bones afirmou, em tom de conversa.

Meu tio olhou sério para ele, ciente de que esses dois itens em grande quantidade repeliriam a maioria dos fantasmas.

– Não enquanto eu não estiver onde deveria estar.Tossi, o que de fato não precisava fazer, uma vez que respirar se tornara

algo opcional para mim.Quando o alho e a maconha estiverem de bom tamanho, esse poder já vai

estar fora do meu sistema. Dois meses foram o período mais longo em que tive que controlar habilidades emprestadas. Já se passou quase isso...

Ainda não era do conhecimento de todos que Marie Laveau, a rainha vodu de Nova Orleans, fora a razão pela qual eu agora era o equivalente a uma matriar-ca de um covil fantasmagórico. Foi o seu sangue que fui forçada a beber. Está cer-to que mais tarde fiquei sabendo por que ela me forçara a fazer isso, mas naquele momento, fiquei bem mais do que simplesmente incomodada.

– Conheci um fantasma que levou três semanas para atravessar – disse Fabian lá da porta. Diante do meu sorriso grato em sua direção, ele continuou entrando. – Tenho certeza de que Cat vai pensar em alguma coisa que o ajudará a fazer a jornada – acrescentou com suprema confiança.

Bendito Fabian. Amigos de verdade vinham em todas as formas, inclusive transparentes.

Don não estava convencido.– Já estou morto há mais de cinco semanas – respondeu bruscamente. –

Conhece alguém que levou todo esse tempo para atravessar?Meu celular tocou, oferecendo a Fabian uma desculpa para não responder

enquanto eu atendia. Uma interrupção na hora certa, porque pela expressão no rosto de Fabian, Don não ficaria feliz com a sua resposta.

– Cat.Não precisei checar o número para reconhecer a voz de Tate, meu anti-

go primeiro oficial, apenas com aquela palavra. Provavelmente ele estava ligando

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para falar com Don, mas como vozes de fantasma não viajavam bem através da tecnologia, eu teria que fazer o papel de transmissora.

– Oi, tudo bem? – eu disse, acenando para Don enquanto lhe sussurrava: “É o Tate”.

– Você pode vir ao complexo hoje à noite? – A voz de Tate estava estranha. Formal demais. – O consultor de operações da equipe gostaria de te conhecer.

Consultor de operações?– Desde quando temos um consultor de operações? – perguntei, me es-

quecendo de que eu não fazia parte da equipe já há algum tempo.– Desde agora – Tate respondeu friamente.Olhei para Bones, mas não esperei por um sinal positivo; minha curiosi-

dade estava a mil.– Tudo bem, nos vemos em algumas horas.– Não venha sozinha.Tate praticamente sussurrou a última frase pouco antes de desligar. Ergui

as sobrancelhas, não tanto pelas palavras que usou, mas porque ele tinha evitado que a frase fosse audível a qualquer pessoa sem audição sobrenatural.

Alguma coisa estava estranha. Eu sabia que Tate não me pediria para levar Bones porque sabia que meu marido sempre me acompanhava nas visitas ao meu antigo local de trabalho. Tate se referia a outra pessoa, e só havia uma pessoa em quem eu podia pensar.

Olhei para Don.– Está a fim de fazer um passeio?

De cima, o complexo parecia um edifício inclassificável de apenas um an-dar, cercado por uma grande área desperdiçada de estacionamento. Na realidade, por trás do seu exterior deliberadamente simples havia um antigo abrigo nuclear militar com quatro grandes andares de subsolo. A segurança era rígida, como seria normal em instalações do governo que policiavam as atividades dos mortos--vivos. Mesmo assim, fiquei surpresa quando tivemos que sobrevoar o local por dez minutos antes que nosso helicóptero tivesse autorização para aterrissar. Afi-nal, não estávamos chegando sem aviso.

Bones e eu saímos do helicóptero, mas fomos barrados por três guardas com capacetes quando tentamos entrar pelas portas duplas do telhado.

– Documentos – latiu o guarda mais próximo.Eu ri.– Muito boa, Cooper.

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O visor do capacete deles era tão escuro que eu não conseguia ver suas fei-ções, mas todos tinham pulso, e Cooper era o único dos meus amigos humanos que seria engraçadinho o suficiente para tentar uma brincadeira assim.

– Documentos – repetiu o guarda, proferindo a palavra com clareza sufi-ciente para que eu confirmasse que a voz não me era familiar. Tudo bem, não era Cooper, e não era uma piada. Os guardas que o acompanhavam seguraram suas armas com mais firmeza.

– Não gosto disto – murmurou Don, vindo flutuar à minha direita. Ne-nhum dos guardas sequer se moveu em sua direção, mas obviamente, como hu-manos, eles não conseguiriam vê-lo.

Eu também não gostei, mas estava óbvio que esses guardas estavam deter-minados a ver os nossos documentos antes de nos deixar entrar. Comecei a vas-culhar o bolso, depois de ter aprendido a duras penas a sempre levar comigo uma carteira mesmo sem saber se precisaria dela, mas Bones apenas sorriu para o trio.

– Querem a minha identificação? – perguntou docemente. – Aqui está. – Seus olhos então se tornaram verde-esmeralda, e as presas deslizaram entre seus dentes superiores, estendendo-se completamente como miniadagas de marfim.

– É melhor deixarem a gente passar, senão vamos embora e você terá que explicar ao seu chefe que os visitantes esperados por ele tinham coisas mais im-portantes a fazer do que perder tempo aqui.

O guarda que havia exigido a identificação hesitou por um longo momen-to, então abriu caminho sem dizer outra palavra. As presas gêmeas brilhantes nos dentes de Bones se retraíram e seus olhos retornaram ao seu castanho normal.

Coloquei a carteira de volta no bolso. Parece que eu não ia precisar da minha licença de motorista.

– Opção inteligente – Bones comentou. Passei rapidamente pelos guar-das, com Bones atrás de mim, e meu tio ainda murmurando que não gostava nada daquilo. Não brinca, pensei, mas não cheguei a dizer em voz alta por razões que iam além de eu não querer parecer que estava falando sozinha. Esta era a primeira visita de Don ao local que ele comandara por muitos anos e onde por fim morrera. Agora ele retornava num estado sobrenatural que a maioria dos seus colegas não conseguiria ver. Isso era mais desconcertante do que se podia imaginar.

Enquanto seguíamos pelo corredor na direção do elevador, cataloguei mentalmente as diferenças desde a última vez que estivera ali. Antes havia dois escritórios movimentados nessa seção, mas agora os únicos sons eram nossos passos no piso de linóleo.

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Ao entrarmos no elevador, pressionei o botão para o segundo subsolo, onde ficavam os escritórios da equipe. Um sentimento doloroso de déjà vu me in-vadiu quando as portas brilhantes se fecharam. Da última vez que tinha descido neste elevador, corri até a cama de Don para dizer adeus. Agora ele estava ao meu lado, a parede oposta do elevador vagamente visível através de sua figura. A estrada da vida certamente tinha curvas que eu nunca teria imaginado.

– Só para seu conhecimento, se aparecer uma luz brilhante enquanto eu estiver aqui, vou correr para ela sem esperar que você diga uma palavra – meu tio disse, quebrando o silêncio.

O tom cômico de sua voz me fez rir.– Eu ficaria torcendo por você o tempo todo – garanti, feliz de que seu senso

de humor sardônico não tivesse desaparecido apesar da aspereza das últimas semanas.O elevador parou e saímos. Instintivamente, quis tomar a direção do que

costumava ser o escritório de Don, mas, em vez disso, fui para a esquerda. Tate disse que não se sentia bem em ocupar o antigo escritório de Don, embora fosse maior e tivesse uma miniestação de comando. Eu não o culpava. Seria como a violação de um túmulo retirar as coisas de Don do escritório quando, tecnica-mente, ele ainda estava aqui, embora poucas pessoas tivessem ciência disso. Meu tio não quis que soubessem de sua nova condição fantasmagórica, mas eu me recusei a omitir a informação de qualquer membro morto-vivo da equipe que ainda poderia ver e falar com Don.

A porta da sala de Tate estava entreaberta. Entrei sem bater, embora sou-besse que ele não estava sozinho. Alguém com um coração pulsante estava lá dentro com ele. Um coração pulsante e perfume em excesso para o nariz sensível de um vampiro.

– Oi, Tate – eu disse, observando como sua postura estava tensa, embora ele estivesse sentado. A razão da tensão de Tate devia ser o homem alto e magro a alguns metros da sua mesa. Tinha cabelo grisalho com o mesmo corte militar que Tate usava, mas algo em sua atitude sugeria que o cabelo era sua única influência militar. Sua postura era relaxada demais, as mãos denunciando calosidades que eu poderia apostar que vinham de canetas e não de armas. Seu olhar assustado revelou que ele não sabia que estávamos ali até ouvir a minha voz, e embora os vampiros fossem furtivos de fato, eu não tinha feito esforço algum para disfarçar a nossa aproximação.

A arrogância em sua expressão assim que se recuperou da surpresa me fez reclassificá-lo mentalmente de civil para funcionário público. Geralmente, só duas coisas explicavam uma atitude superconfiante imediata logo no primeiro

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encontro: um morto-vivo com uma fartura de habilidades especiais, ou uma pessoa que acreditava firmemente que seus contatos lhe garantiam poder para criar suas próprias regras. Como o Sr. Metido era humano, tinha que ser a última opção.

– Você deve ser o novo consultor de operações – eu disse, com um sorriso que pareceria amigável a alguém que não me conhecesse.

– Sou – foi sua resposta fria. – Meu nome é...– Jason Madigan – Don completou a frase em uníssono com o empreitei-

ro grisalho. A voz do meu tio pareceu tensa, quase em choque. – O que ele está fazendo aqui?

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