uma mulher a frente do seu tempo

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a mulher que deixou o tempo para tras

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Izabel Peniche:A mulher que deixou o tempo para trás

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Enrica Helena Peniche da Paixão

Izabel Peniche:A mulher que deixou o tempo para trás

Belém - Pará2012

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© 2012, Editora Boos. A editora autoriza a reprodução de partes deste livro para fins acadêmicos e/ou de divulgação eletrônica, desde que

“Sou como você me vê. Posso ser leve como uma brisa ou forte como uma ventania, Depende de quando e como você me vê passar.”

(Clarice Lispector))

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menciona a fonte.

Digramação, projeto gráfico e capa: Aguinaldo Soares ([email protected])Fotos: Érica PenicheRevisão: Aguinaldo SoaresImpressão: Editora Boos Ltda.

___________________________________________________

Paixão, Érica PenicheIzabel Peniche: A mulher que deixou o tempo para trás - Érica Helena Peniche da Paixão150 p.: 148 mm x 210 mm_______________________________________________________

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Sumário

graDeCimentoS ..................................................... 01PrefáCio .................................................................... 02introDução ............................................................. 03Capitulo i ............................................................... 04infânCia: garota ProDígio .............................. 05Capítulo ii .............................................................. 06meu CoLégio, minha ViDa .................................. 07CumPre-Se a ProfeCia De Sua mãe ................ 08Capítulo iii ............................................................ 09a Primeira granDe Dor ..................................... 10o matrimônio: granDe famíLia, meuS fiLhoS, meuS teSouroS ...................................... 11a ProfeSSora, a muLher, a mãe, a CriStã .. 12Capítulo iV ............................................................. 13muDança Para ViLa mãe Do rio ..................... 14ViDa De miSSão ....................................................... 15PerSeguição PoLítiCa ......................................... 16Capitulo V .............................................................. 17aPoSentaDoria – retorna a roça ................ 18Doença – fé inabaLáVeL ................................... 19Capítulo Vi ............................................................. 20a miSSão Continua ............................................... 21aCiDenteS ................................................................. 22SonhoS ....................................................................... 23

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Agradecimentos

Escrever essa biografia foi uma empreitada prazerosa e também temível, que não teria sido possível sem o apoio de muitas pessoas.

Em primeiro lugar agradeço a Deus por ter me dado o privilégio de nascer na família Peniche daPaixão local onde vivencio os melhores momentos de minha vida.

Em segundo lugar agradeço Nino e Izabel por contribuírem na minha formação e me encorajarem nos momentos mais difíceis da caminhada.

Em terceiro lugar agradeço meus irmãos por me apoiarem na realização desse trabalho, em particular de modo especial ao Ângelo que se emocionou quando lhe falei do projeto, ao Geovane que me incentivou extremamente, e a Benigna que por muitas vezes deixou o aconchego do seu lar, abdicou dias da companhia de seus amores para estar ao meu lado corrigindo, sugerindo algumas mudanças; Tenho uma dívida de gratidão eterna com você e sua linda família.

Agradeço todos os amigos, e conhecidos, e as pessoas que conversei e que falaram com carinho de minha mãe contribuindo e me estimulando a registrar sua história.

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8 Izabel Peniche

Quero agradecer também meus primos e primas que me ofereceram coragem e inspiração, em particular a Eliana sempre me lembrando das festas em família.

Finalmente, agradeço ao meu marido Neto e aos meus filhos Elder, Erik e Helena. Neto, obrigada porque apesar de reclamar a minha ausência sempre esteve ao meu lado demostrando seu amor. Elder, obrigada pelo seu apoio, seu sorriso sua presença em minha vida. Erik, obrigada pela sua ajuda, pelo carinho e pelos abraços calorosos que me confortam. Helena, obrigada pela energia positiva que transmiti. Sempre otimista, corajosa, decidida e confiante que tudo iria dar certo. Obrigada família vocês são preciosos para minha vida.

aqui pode entrar uma foto da autora e uma breve identificação da escritora.

Estou pensando em não fazer orelha do livro para baratear os custos

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Prefácio Escrever uma das primeiras páginas do livro que retrata a vida da Dona Izabel foi uma das grandes honras que a vida me reservou. A história desta mulher, mãe, professora e esposa que deixou o tempo para trás, tem o poder mágico de nos envolver, deixando a sensação de que é também a nossa história. Sua bravura diante das adversidades, suas tristezas e suas vitórias são projetadas em nós e fazem com que nos sintamos especiais também, mistério que só quem é verdadeiramente iluminado tem o divino dom de fazer. Muito feliz a ideia e iniciativa da Enrica de compartilhar conosco a biografia dessa mulher-maravilha. uma bela homenagem que todos nós que conhecemos, convivemos, admiramos e amamos Dona Izabel gostaríamos de fazer, mas que a autora, herdando a sensibilidade da mãe, faz de forma inteligente e criativa por todos nós. Ao lermos este livro teremos uma certeza: A homenageada não é apenas um rosto na multidão. É um ser humano que nasceu para fazer História e transformações. Sua marca registrada será seu bondoso coração e a dedicação ao seu Deus, a quem ama e serve tão fielmente. Dona Izabel é uma mulher de fases. E de frases. Tenho boas recordações de seus ensinamentos através de singelas e profundas frases que transformaram a vida de tantas pessoas. Tem uma que é tão obvia como sublime, a minha favorita: “A gente só dá o que tem”. Acredito que é por isso que ela saiu mundo afora distribuindo tanto amor, ternura e generosidade... Pensar em Dona Izabel é pensar em luta, justiça e bondade. Uma mulher de convicções e posições bem definidas, que alguns chamam de teimosia. Mas isso é somente uma das muitas marcas na trajetória da valente

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Izabel, que em nome dos valores nos quais sempre acreditou não fugiu dos confrontos em defesa dos seus ideais. Realmente, fazer parte da vida de Dona Izabel é um presente de Deus. Como é bom falar dela e falar nela. É uma pena que o prefácio tenha que ser pequeno enquanto que Izabel é tão grande... Mas isso é culpa do prefácio e não dela. Gostaria de ter feito o mais bonito de todos, mas não me martirizo por isso. Afinal, minha mestra já me ensinou: “A gente só dá o que tem...”. Para Dona Izabel, gratidão infinita e amor eterno

Luiz Pereira

“eu e você! sofro a saudade inesperada... ao longo da estrada, ao longo da caminhada, ao longo da jornada... um raio de luz, uma esperança... Você!”

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“E preciso ler isto, não com os olhos, mas com a memória e com a imaginação.” (Machado de Assis)

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Para: Ângelo Marino, Raimundo Elizeu, Maria Benigna, Maria Janet, Geovane Maria, Maria Josefina, Miguel Paulo, Mizael, Antônio Élder, José Erik, Helena Maria, Nilson, Adriano, Izabel Cristina, Isabelle, Tatianne, Matheus, Marcus Vinícius, Carlos Alberto, Paulo César, Luiz Fernando, Felipe, Ana Flávia,

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Introdução“Mãe não morre nunca, ficará pra sempre junto de seu filho e ele velho embora será pequenino feito grão de milho.”(Carlos Drumont de Andrade)

Para mim minha mãe é eterna. Entretanto, gostaria que ela fosse lembrada pelas gerações que me sucederem. Sei que a História permanece viva depois de nós, mas para tanto precisa ser escrita, registrada, não apenas na memória, mas em livros, fotografias e em outras formas.

Relatarei trechos simples da belíssima história de Izabel Peniche, carregada de emoções e de algumas lembranças que permanecem vivas em minha memória. Outras não com tanta nitidez, que provavelmente serão recordadas por aqueles que juntos com essa mulher vivenciaram momentos que valem a pena serem recordados.

Sua infância, sua juventude e principalmente seu matrimônio ao lado de seu amado Nino e de seus dez filhos, que ela costuma chamar de “dez tesouros”. Filhos e filhas que posteriormente se multiplicaram trazendo mais alegria para sua vida; seus netos e bisnetos. Também fazem parte dessa história seus genros, noras, sobrinhos, afilhados, compadres, comadres, amigos e mais alguns que a adotaram como mãe.

É uma história verídica que tenho o imenso prazer de revivê-la e partilhar com vocês minhas emoções. Momentos de coragem e constância nas orações, momentos de dor, momentos engraçados, preocupação constante com a educação, enfim, uma história real.

É imprescindível ressaltar que grande parte de sua

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existência está intrínseca a construção de uma educação pública de qualidade e a edificação de sua igreja: Igreja Católica, Apostólica Romana. Cristã que desde sua mais terna infância foi fiel aos ensinamentos cristãos, e os mesmos só se consolidaram com passar do tempo. Educadora que mesmo depois de sua aposentadoria continuou levando ensinamentos aos que mais precisavam. Exemplo a ser seguido: de mulher, mãe, professora, que mesmo sofrendo sempre manteve um sorriso nos lábios, contagiando de alegria aos que dela se aproximassem.

Trago nestas páginas a extensão de minha memória e da minha imaginação. É muito amor vivenciado das mais diversas maneiras. Um conjunto de princípios e valores que podem nos guiar nos momentos difíceis da caminhada. A história de Izabel Peniche é um testemunho constante. É um exemplo para as famílias, para as mulheres, para educadoras ,enfim para todos que acreditam na vida. E que a vivem plenamente.

São os passos de uma mulher seguidora de Cristo e fiel aos seus princípios éticos e morais. Verdadeira cristã e cidadã que enfrenta os vendavais da existência sempre com um sorriso e a certeza que dias melhores em breve chegarão.

É uma trajetória revelada por uma história contada com paixão, carinho, amor e admiração. É uma grande oportunidade ter em mãos uma obra que ousa capturar com sensibilidade a alma dessa mulher guerreira, sensível, professora, mãe, mulher, cristã, avó, bisavó, que nos convida a olhar para nossa existência, para nossos projetos de vida, avaliando-os se neles estão incluidos o amor incondicional ao próximo.

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Capítulo I Menina prodígio

Um sorriso nos lábios, um abraço carinhoso e uma palavra de conforto a qualquer momento, são marcas registradas dessa mulher, terceira filha do casal Isidoro e Maria. Izabel, menina que nasceu para contagiar de alegria e entusiasmo a vida das pessoas que um dia tivessem a felicidade de cruzar seu caminho.Na década de 40, em que o movimento migratório interno era muito comum no Norte do Brasil, a Família Peniche decide deixar sua terra natal, no Município de São Miguel do Guamá e migra para um município vizinho, Irituia. Não era muito distante, entretanto não existiam estradas e parte do percurso foi feito de barco, por isso uma pequena viagem poderia durar dias. Primeiramente saíram de barco até chegar à sede do Município de São Miguel do Guamá, de onde seguiram viagem horas de cavalo outras a pé.

Izabel sempre foi muito atenta a tudo que acontecia em sua volta e mais tarde relata para seus filhos que recorda com riquezas de detalhes a viagem. Diz:

- O compadre João me carregou no colo eu tinha apenas quatro anos.

Anos depois em uma conversa essa afirmação é confirmada pelo seu irmão João que recordando relata:

- É. Carreguei Izabel no tuntum (ombro) eu tinha nove anos, mas no dia que chegamos ao Tatajuba completei dez anos era dia 8 de março de 1944. Era apenas uma picada, mas papai já tinha vindo antes botar o roçado.

Foi nesse ano que Izabel chegou à terrinha que seria palco de parte de sua história, várias famílias também

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decidiram povoar essa região que não demorou muito para se transformar em um grande povoado. Tatajuba, lugarzinho que se eternizou em nossas mentes e em nossos corações, percebe-se um misto de nostalgia por aqueles que tiveram o privilégio de morar naquele ambiente. Falam com carinho dos dias vividos naquele local.

As famílias moravam em terrenos grandes, eram mais de dois lotes de terra, onde colocavam roçados, e cultivavam sítios com os mais variados tipos de frutas, as quais garantiam uma sobrevivência saudável e farta. Algumas famílias moravam na vila, denominada Arraial, onde se localizava a igreja, a escola, o campo de futebol, o cemitério, o barracão e a taberna (comércio onde compravam alguns produtos industrializados).

O progresso demorou chegar para aquelas pessoas, pois a distância era enorme por falta de estradas e transportes. Nessa época no mundo acontecia a Segunda Guerra Mundial, que trazia para todos os povos tristeza e desolação, pois mesmos nos lugares mais distantes ouviam falar sobre a mesma,e sofriam suas consequências.

Sua família era muito católica, e dona Maria, sua mãe, ensinava os filhos a rezarem o terço e a conhecerem os ensinamentos de sua Igreja. Os padres Barnabitas faziam missão por essas terras e dona Maria recebia todos com muito amor e respeito.

Izabel sempre muito atenta aprendia tudo com muita rapidez, mas não deixava de ser uma criança muito peralta que brincava com os irmãos e vivia na mais pura liberdade, peculiar das crianças que vivem na roça. A vida na roça era uma vida livre em que muitas vezes as crianças ficavam expostas a perigos por morar tão próximas a mata e a animais ferozes. Sua mãe ajudava o marido nos trabalhos

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no roçado e como era de costume levava os filhos para ajudar nas tarefas. Um dia, debaixo de um sol escaldante típico da Região Norte em que Izabel ajudava sua mãe no plantio de feijão, dona Maria diz:- Estuda minha filha, estuda para um dia seres uma professora. Desejo que mais tarde se tornaria realidade. Viviam uma vida simples e com muita dificuldade, os irmãos mais velhos cuidavam dos menores. Era uma vida pacata: banhavam no igarapé, colhiam frutos, pescavam, os homens caçavam, criavam porco, galinha e assim estava garantida sua sobrevivência. Uma vez por ano os padres visitavam aquela comunidade. Essas ocasiões eram motivo de muita alegria para Família Peniche, que sempre recebia padres e freiras com muito carinho e respeito, pois sua mãe aprendera que eles são os representantes de Cristo na Terra. Nessas visitas dos padres à comunidade, os fiéis aproveitavam para confessar, casar, batizar os filhos e aprender com eles um pouco mais sobre os ensinamentos da Igreja. Os padres eram sempre bem recebidos por adultos e crianças. A comunidade fazia uma verdadeira festa. Dona Maria apesar de não saber ler e nem escrever, sabia da importância dos estudos na vida das pessoas e sempre que tinha oportunidade mandava os filhos estudar, pois acreditava que assim poderiam ter uma vida melhor e mais tranquila, diferente da sua, pois acordava antes do sol nascer para junto com seu marido garantir uma vida digna para os dez filhos: Benigna, João, Ormidia, Porfiro, Izabel, Francisca, Brasiliano, Raimundo, Mário, Maria Batista, todos criados com muito amor. Uma das demonstrações de amor percebidas por eles era a forma carinhosa como ela os tratava. Falava-lhes com uma voz suave, meiga. Um episódio

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de sua infância que Izabel sempre recorda nas madrugadas frias mamãe me chamava com voz delicada:- Izabel, Izabel,- Senhora, mãe.- Levanta, minha filha, vai fazer o fogo.- Já vou mãe. Após várias tentativas me chamando e eu sonolenta continuava deitada, então meu pai gritava:- Izaber!- Senhor, pai.- Tu não ouviu tua mãe te chamar?!!! Rapidamente ela pulava da rede e rezando ia fazer o fogo para fazer o café e preparar o quebra jejum. (merenda servida cedo, geralmente carne seca assada com farofa ou a sobra do jantar), assim os trabalhadores estavam preparados para enfrentar o trabalho pesado da roça. Izabel aprendeu a ler e escrever muito cedo, porém naquele lugarzinho onde morava, o máximo que podiam era estudar até a primeira carta do A B C como falavam na época. Não tinha escola próxima nem pessoas capacitadas para ensinar, era uma situação muito difícil para quem almejava que os filhos prosseguissem nos estudos. Os filhos de pessoas com uma boa situação financeira iam estudar em São Miguel do Guamá, cidade mais próxima. Um dia as irmãs da Congregação do Preciosíssimo Sangue convidaram Izabel para morar e estudar no Colégio religioso, onde sua irmã mais velha, Benigna, já morava, pois a mesma desejava ser freira. Izabel e sua mãe ficam felizes com a oportunidade que surge e começam os preparativos para a nova vida.Uma alegria indescritível toma conta do coração de mãe e filha; é um grande passo rumo a realização do sonho de sua mãe que um dia desejou ver sua filha uma professora.

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Capítulo II Meu Colégio, Minha Vida.

Menina simples, vinda da roça acostumada a andar descalça, banhar no igarapé, comer frutos colhidos no pé, morada simples, casa de taipa, enfim, vida comum para centenas dos colonos do norte do Brasil. Adentrava-se agora a um mudo novo: usar roupas engomadas, calçar sapatos com meia, morar em colégio construído de alvenaria, conviver com padres e freiras cultos, e de outra nacionalidade. Para muitos poderia ter sido um choque cultural, mas para Izabel foi um grande aprendizado, tudo era motivo de novas descobertas e era com um misto de entusiasmo e alegria que ela ia se apropriando dos novos conhecimentos que surgiam. Ela foi morar no Externato Santo Antônio Maria Zacarias, ajudar nos serviços domésticos e estudar junto aos filhos de comerciantes, políticos, latifundiários. O externato era um dos melhores colégios da redondeza e ela aproveitava o máximo essa oportunidade que a vida lhe dava. Fez amizades sólidas naquele período.Padre Ângelo de Bernard e Irmã Enrica Melsi foram duas pessoas muito importantes em sua vida,Irmã Enrica a conquistou com seu exemplo de bondade, solidariedade e justiça, freira italiana, muito humana se preocupava com a formação integral das meninas. Antes da vinda dessa freira para São Miguel as meninas que cuidavam da limpeza da casa e do colégio não tinham a oportunidade de estudar com irmã Enrica essa realidade mudou. A admiração de Izabel por essa freira aumentava a cada dia. Padre Ângelo era vigário de São Miguel do Guamá e tinha um bom coração: ensinava com amor e compromisso seus alunos e dedicava-se a evangelização dos povos

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amazônicos em uma época que o acesso de um lugar para outro era muito difícil. A locomoção era feita de canoa, de cavalo ou mesmo a pé. Precisava de muito amor a Deus para abraçar tão árdua missão de evangelizar os lugares mais distantes desse imenso Brasil. O cotidiano no colégio não era fácil,muito cedo antes do sol nascer precisavam estar de pé para fazer a oração da manhã e ir ao rio buscar água e cuidar dos afazeres domésticos antes de começar as aulas, as mesmas aconteciam em dois horários e exigia muita dedicação dos alunos. Izabel muito atenta aprendeu a cozinhar de acordo com o gosto dos padres e freiras e sempre era requisitada para preparar as refeições. O sorriso no rosto estava sempre presente e desenvolvia suas tarefas com muito amor. Os anos no colégio lhe trouxe uma gama de conhecimento que a seguiu por toda vida. Um dos hábitos adquiridos dos italianos: valorizar e prolongar o máximo os momentos das refeições e fazer dos mesmos um momento de troca de experiência ou simplesmente colocar as informações em dia. Diferente das refeições na casa paterna em que as mesmas tinham que ser feita no mais absoluto silêncio, pois era um momento tão sagrado para seus pais , portanto não devia haver barulho de maneira alguma. Frases que aprendeu e repete sempre: “A ordem nos eleva a Deus”, “Mente Sã, corpo São”, “ O mal por si se destrói”, “Cada ser humano é um universo diferente”, “Não cairá um cabelo da cabeça se não for permissão de Deus “ Só sei que nada sei “, “A gente só dá aquilo que tem”. A formação que adquire no colégio é de uma qualidade inquestionável, está preparada para entrar no mercado de trabalho. Transformou-se em uma mulher forte, decidida, confiante. Não recebeu apenas uma compreensão acadêmica, mas uma concepção integral e muito humana, e são esses

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valores que se perpetuaram durante toda sua existência. E que fazem a diferença por onde ela passa; muito segura de si não se deixa abater e de uma caridade sem limite sempre pronta a dividir com os outros tudo que sabe e tem.

Primeiro emprego

Após concluir seus estudos ainda pensa em seguir a vida religiosa, entretanto percebe que poderá servir a Deus evangelizando em sua comunidade. Porém, preocupada em ajudar financeiramente seus pais vai procurar emprego na capital paraense. Não seria tarefa fácil para uma mulher pobre, negra e “vinda do interior” (recordo agora o poeta brasileiro Belchior), mesmo com o diploma na mão, conseguir emprego de acordo com nível de escolaridade que possuía. E o emprego que conseguiu foi de domestica, que não precisava na época de nenhum grau de escolaridade. Desenvolve seus trabalhos com responsabilidade e competência, mas no seu íntimo sabia que o seu lugar não era ali. Por isso trabalhou apenas um mês e resolveu retornar para sua terrinha. Algumas pessoas questionaram sua decisão e lhe perguntaram:- Por que você quer ir embora? Não está satisfeita com o salário?- Bem, acontece que o que eu ganho aqui, posso ganhar a mesma quantia em meu município e ainda estar próximo de meus pais. E, além disso, trabalhar na área que estou formada. Já estava decidida a voltar para o Tatajuba, acreditando que poderia’ colocar em prática as teorias adquiridas em anos de estudos no Externato Santo Antônio Maria Zacarias, assim como os ensinamentos religiosos obtidos na convivência com os padres e freiras.

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O retorno a sua terrinha

Voltou para sua casa e começou a dar aula particular para os filhos de um fazendeiro que morava em uma fazenda próxima a vila do Tatajuba. Nessa mesma época surge em Bragança-PA a Rádio Educadora de Bragança. Era um projeto audacioso de Dom Eliseu Maria Coroli: levar a evangelização aos mais distantes lugares da diocese de Bragança e ainda proporcionar ao caboclo amazônico uma Educação Básica, pelas Escolas Radiofônicas. Dom Elizeu, conhecido em toda região pelo seu sorriso, bondade, amor ao próximo e sempre empenhado em trazer o desenvolvimento para os povos amazônicos, nos mais diversos aspectos, se preocupava principalmente com a formação religiosa, a educação e a saúde. A jovem Izabel trabalhava como monitora ensinando os jovens e adultos a ler e escrever utilizando as aulas radiofônicas. Em uma dessas aulas conheceu Nino, jovem recém-chegado na comunidade que começou a assistir as aulas e muito gentil se oferecia para carregar o rádio. Iniciou-se entre os dois uma relação de amizade e amor que se concretizaria mais tarde com o sacramento do matrimônio. Nino Lima da Paixão, filho de Plínio Gomes da Paixão e Morjana Lima da Paixão, jovem bonito, alto, magro, pele morena clara, cabelos lisos bem pretos, olhos puxados e sorriso cativante, vindo do litoral paraense do município de Marapanim. Responsável e trabalhador fez boas amizades e conquista definitivamente o coração da jovem Izabel. Após meses de namoro decidiram ficar noivos. Como era de costume na época o pai do noivo deveria pedir a mão da moça em casamento, mas o pai de Nino estava ausente. Como Nino já tinha feito amizade com Padre Marino Contti, pediu para ele abençoar as alianças e pedir a mão de Izabel.

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Tudo aconteceu na mais perfeita paz e finalmente os dois ficaram noivos. Padre Marino sentiu-se feliz em poder ajudar Nino nesse momento tão importante de sua vida, visto que também era amigo da família de Izabel. Padre Marino Contti era conhecido em toda região. O jovem padre italiano, recém-chegado da Europa tinha como missão evangelizar nos lugares mais distantes do mundo. Evangelizava e ajudava os povos amazônicos a conhecer melhor a Deus e ter uma vida mais digna, de acordo com os princípios do evangelho: “Eu vim para que todos tenham vida e todos tenham vida plenamente” Esse homem foi um ícone na construção da história de muitos povos na imensa região Norte, principalmente no município de Irituia e em outros municípios do Nordeste Paraense. Sempre com a incumbência de ajudar no desenvolvimento político, social e religioso das cidades por onde passava. Andava de batina preta, chapéu de palha, sempre determinado em ajudar os mais pobres. Após o belíssimo noivado, Nino decidiu trabalhar em outro lugar, pois precisava ganhar um pouco mais para o dia do casamento. Era outubro de 1963 e nessa época estava acontecendo à abertura da estrada Belém - Brasília e precisavam de homens para trabalhar, Nino foi admitido e decidiu voltar apenas no mês do casamento que estava marcado para outubro do próximo ano. Izabel continuou sua vida normal dando aulas, ensinando catecismo, coordenando as atividades religiosas da comunidade como: Aula de canto, Filhas de Maria, Apostolado da Oração, Novenas, enfim, era uma agenda cheia de compromissos com seu trabalho e com sua Igreja e tudo isso lhe deixava muito feliz, pois se sentia muito amada por seus alunos e por todas as pessoas que de alguma forma precisavam de sua ajuda.

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Era uma pessoa incansável sempre pronta para ajudar fosse com palavras de conforto, fosse com trabalhos, a cada dia se sentia mais realizada em poder propagar a palavra de Deus da maneira que aprendeu em seu colégio. Gostava de cantar, rezar e evangelizar. Agora também tinha uma preocupação a mais: arrumar seu enxoval e os preparativos para o grande dia que seria o seu casamento. Os meses passaram voando. Tinha um carinho especial por seu irmão Raimundo, o qual chamava carinhosamente de Nan. Passavam horas conversando, sonhando e fazendo planos em dá uma vida mais confortável para seus pais. Ele trabalhava na RODOBRÁS, empresa responsável pela execução da construção da estrada Belém- Brasília. Era um jovem brincalhão, cheio de sonhos e partilhava os mesmos com Izabel, brincavam e se respeitavam muito. Ele era seu confidente. Faziam planos de construir uma grande e bela casa para seus pais, projeto esse já iniciado, Izabel iria casar, mas continuariam amigos inseparáveis. No início do mês de julho seu irmão vai para estrada trabalhar e Izabel vai para o Externato Santo Antônio Maria Zacarias participar de uma espiritualidade. Não imaginava que uma fatalidade iria acontecer.

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Capítulo III A primeira grande dor

Izabel estava participando de um encontro de espiritualidade em São Miguel do Guamá, no Externato Santo Antônio Maria Zacarias ela e sua irmã caçula Maria Batista. Em plena madrugada ela escutou uma freira chamando-a:- Izabel, Izabel! Ela pensou que já era hora de levantar para fazer o café, mas ainda sonolenta ouve novamente:- Izabel, chama a Mariazinha e desce. Rapidamente ela se levantou chamou sua irmã trocaram de roupa e desceram. Izabel se aproximou do pátio do colégio e viu de longe um grande movimento de padres e freiras. Ficou preocupada pensando que alguma coisa ruim pudesse ter acontecido com sua irmã Francisca que morava em Belém. Uma das freiras veio ao seu encontro e lhe deu a triste notícia:- Seu irmão Raimundo faleceu e o corpo está aí fora esperando para seguir viagem para o Tatajuba. Foi um grande choque, Izabel começou a chorar. Uma dor inexplicável tomou conta de todo o seu ser. Era difícil acreditar que seu irmão tão jovem, tão sonhador estivesse partido para junto do Pai Celestial. Era difícil aceitar. Tinham estado juntos há tão pouco tempo. No decorrer da viagem iam lhe contando como tudo aconteceu: ele havia chegado em Belém com muita febre foi internado mas, infelizmente, não tinha mais jeito. Raimundo era também mais uma vítima da estrada Belém- Brasília. Quantos homens morreram até que a mesma fosse concretizada... No caminho para casa, ao lado do caixão de seu amado

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irmão, Izabel com seu terço na mão recordava os últimos momentos que passaram juntos, sua mãe ainda lhe disse:- Meu filho,você está doente.Vá se cuidar:- Mãe, não posso. A estrada precisa de mim. O coração de mãe, sempre preocupado com bem estar dos filhos, sente de uma maneira profunda o que se passa com cada um. Ainda recorda os momentos que brincaram antes dele viajar. Ela falou:- Raimundo queres que eu faça mingau pra ti?- Tu sabes fazer mingau, Izabel?- Olha, eu estou acostumada fazer mingau para pessoas importantes, não vou saber fazer para um cassaco da RODOBRÁS? Era uma conversa descontraída dessa dupla que muito se amava. Izabel rezava, mas em seu íntimo perguntava: - Por que meu Deus? Por quê? Para seu próprio consolo, pensava:- Deus só quer os bons. Por isso chamou meu irmão.Era dia 3 de julho. Faltava apenas cinco dias para o aniversário de Izabel. Seria o aniversário mais triste de toda sua vida. Esse foi um dia que ficou registrado em sua memória e nas tábuas do seu coração. E mesmo após anos e anos passados, ela recorda com riquezas de detalhes, esses dias nublados de sua história e regado de dolorosas lágrimas. Um amor tão intenso e fraterno foi bruscamente retirado do seu convívio. Por mais que tentasse encontrar consolo não conseguia. Era dor demais para a alma carente de Izabel, que nesse momento sentia uma saudade profunda de seu amado irmão. Sofreu em silêncio e no seu intimo não conseguiu se conformar com tão profunda amargura.

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“Juntos, não há estrelas que não possamos alcançar, nem sonhos que não possamos realizar!”

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Outubro de 1964, o casamento

Chegou o grande dia. Apesar dos últimos acontecimentos, Izabel tinha preparado a festa de acordo com seus sonhos. Tinha organizado a liturgia, os cânticos, a casa e a festa. Seria uma das primeiras grandes festas da família. Receberia muitos convidados. Todos queriam testemunhar a seu lado esse momento ímpar de sua vida. Izabel era querida e admirada por muitos: alunos, padres, freiras, enfim, a comunidade em geral que a contemplava com admiração e respeito pelo trabalho incansável e responsável dessa jovem que conseguia despertar o carinho de seus amigos. Iriam todos prestigiar esse grande e decisivo passo. A igrejinha estava arrumada e os convidados esperavam. Izabel entrou com seu lindo vestido branco de cauda, usando véu e grinalda, linda e sorridente a caminho da realização de seu grande sonho: receber o seu amado através do sacramento do matrimônio. Nino lhe esperava no altar vestindo um terno branco, impecavelmente engomado, cabelos muito pretos e bem alinhados, sorriso ameno e sincero. Esperava por sua meiga Izabel. A igrejinha estava repleta de parentes e amigos que testemunhariam a mais terna união desse abençoado casal. Tudo estava perfeito: os cânticos devidamente ensaiados, as leituras cuidadosamente escolhidas. Izabel fez uma leitura e se emocionou muito nessa hora, seus olhos se encheram de lágrimas, emocionando também alguns convidados. A cerimônia continuou com muita emoção e o momento do sermão, presidido pelo amigo do casal, Padre Marino Contti, também foi muito emotivo e ficou gravado para sempre no coração de Izabel, que mais tarde, com um misto de emoção e saudade relata para seus filhos trecho do sermão:- Hoje é o casamento de Izabel. Toda Isabel da História é

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princesa ou rainha, a Izabel Peniche será rainha de seu lar. Palavras essas que ecoaram em sua mente por toda vida, tentava sempre acertar, procurava sempre fazer aquilo que acreditasse ser melhor para sua família. Após o casamento os noivos recepcionaram os convidados em sua própria casa, as iguarias servidas no almoço tinham o toque pessoal de Izabel que gostava muito de cozinhar e por isso seus pratos eram sempre deliciosos. Muita comida tinha sido preparada para esse grande dia: pato, peru, galinha, maniçoba e outras comidas típicas da região. Começava a vida a dois com uma grande festa que seria a primeira de muitas que o casal ofertaria em sua casa. Começavam festejando e compartilhando com os amigos os momentos bons que a vida oferece. Esses belos e preciosos momentos de festa se transformariam na marca registrada da família. Sua casa estava arrumada de acordo com seus sonhos: toalhas e cortinas brancas, tudo muito bem engomado como era o estilo na época. Tinham comprado a casa de um antigo patrão de Nino, era uma casa grande, simples, porém muito aconchegante, com dois quartos, uma sala, um corredor grande, um refeitório e uma cozinha era a última casa da rua, ficava em uma esquina. Ao lado tinha um sítio grande, mas, a vegetação que predominava eram coqueiros, apresentando uma paisagem muito bonita e diferente. Na pequena vila todos se conheciam. O lugarzinho ficava a aproximadamente 5 km das BR 010, no km 28. Para chegar a Tatajuba seguia-se por um ramal totalmente desabitado, quando se aproximava do povoado, primeiro passava pela fazenda do prefeito de Irituia, onde tinha a casa grande, que era a morada da família do prefeito e outras casinhas onde moravam os empregados. Ainda tinha uma taberna. Ao passar pela fazenda seguia-se em frente e passava-

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se por duas pontes pequenas. Logo adiante estava o Arraial, como o povo costumava chamar para Tatajuba. Foi nessa pequena comunidade que Nino e Izabel iniciavam a vida a dois, cheios de sonhos de construir uma santa família.

Abençoada família

Após os primeiros meses de casados Izabel engravida do seu primeiro filho e o casal espera com muita expectativa a chegada do novo membro da família. Enquanto isso, a vida segue seu curso normal: trabalho, igreja, escola, roça e compromisso com a evangelização da comunidade. O casal trabalha junto, reza junto e lado a lado continua a construção de sua história. Em uma tarde ensolarada que poderia ter sido apenas mais uma na rotina do casal, Izabel chega da escola sentindo muitas dores. É aconselhada por algumas amigas a tomar um chá para aliviar a dor, mas infelizmente a agonia só aumenta e no final dessa tarde seu primeiro filho chega ao mundo. Ainda faltava alguns dias para completar nove meses e por isso as chances de sobrevivência eram pequenas. Principalmente por não terem assistência médica por perto. Izabel batiza seu pequeno e precioso filho em casa mesmo, pois tinha aprendido que na ausência de padres o batismo poderia ser feito e depois confirmado na igreja. E assim Izabel o fez:- Eu te batizo Eugênio Pachelli, em nome do pai, do filho e do Espírito Santo... Ela temia que seu amado e esperado filho morresse pagão, ou seja, sem ter recebido o sacramento do Batismo. Cuidaram com muita atenção do bebê. Infelizmente ele não resistiu e faleceu três dias depois. Foram noites de agonia na esperança de ver seu filho resistir, porém foi em vão.

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A segunda grande dor em tão pouco tempo. Izabel sofreu novamente a dor da perda de uma pessoa amada. Mas, felizmente agora não estava sozinha: tinha ao seu lado o seu grande companheiro que lhe confortava a todo o momento e juntos iram superar esse momento de angustia e dor que pairava sobre a vida do casal. Mas Deus a presentearia mais tarde com outros filhos. “Meus filhos, meus tesouros” é como ela se refere constantemente aos dez filhos que chegaram para encher a vida da família Peniche da Paixão de alegria e muitas realizações. Orgulhosamente diz, com certa frequência:- Os filhos nascem para completa felicidade do lar. Felicidade essa sempre marcada por muita luta e vontade de vencer e se tenho tantas recordações agradáveis apesar de todas as dificuldades enfrentadas é porque sua missão de mãe e mulher foi semeada e germinada. “Deu bons frutos...” Em cada filho um pouco de sua essência e de seu esposo, permitindo que seus ensinamentos sejam transmitidos para outras pessoas nos mais distantes lugares. Agradecemos a Deus os pais que ele nos deu, e é no seio da família PENICHE da PAIXÃO que encontramos apoio, refugio, amor, compreensão, paz, carinho, perdão, acolhimento, ajuda, alegria, enfim, recarregamos nossas energias e nos fortalecemos para enfrentar os desafios do dia a dia.

A professora, a mulher, a mãe, a cristã Fez uma prova de admissão e conseguiu se tornar funcionária pública estadual. Uma grande conquista para sua vida profissional e sua vocação de professora. Continuou

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sua missão de ensinar crianças e jovens a ler e escrever, mas também se dedicava a formação completa do homem, pois acreditava que a humanidade precisava de formação integral. Em suas aulas incluía cantos, poesias, danças, dramatização e envolvia toda a comunidade com as atividades escolares, pois em uma época em que ainda não se falava em interdisciplinaridade e em temas transversais ela já fazia tudo isso com seus alunos de maneira simples, porém comprometida. Recordo das dramatizações que participei com apenas três anos: declamava e cantava enfrentando um grande público. Nessa época Tatajuba já era um povoado próspero culturalmente e sempre que tinha festas cívicas ou religiosas ou mesmo um evento da escola, chegavam pessoas de cidades vizinhas para assistir. Os alunos participavam de peças teatrais com grande entusiasmo, aprendiam as falas e os pais tinham o prazer de ajudar a criar os cenários para ver seus filhos apresentando. Tudo que tinha aprendido em “seu colégio” como costumava falar ainda estava muito presente em sua mente. Ensinava com amor, paixão e dedicação por isso sentia-se muito feliz e momentaneamente esquecia o sofrimento da perda de seu amado filhinho, que tão cedo foi tirado do seu convívio. Mas, a vida continuava. Era preciso seguir em frente. Na igreja sua presença era constante, evangelizando pessoas e despertando em cada um a importância de conhecer e propagar a palavra de Deus. Izabel vivenciava plenamente o seu batismo, acreditava que “pelo Batismo recebeu a missão”de evangelizar e que o Espírito Santo está presente em sua vida e lhe dá força e coragem para enfrentar as intempéries do cotidiano. Engravidou do seu segundo filho e começou a se

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preparar para a chegada desse novo ser. Além dos preparos materiais o espiritual era ainda maior. Foram horas de oração rogando a Deus que tudo ocorresse na mais santa paz e que venha uma criança saudável. Enquanto esperava o bebê, a vida transcorria normalmente: estudava, trabalhava, ajudava o marido na roça. Evangelizavam juntos, e esperavam ansiosos a vinda do filho. Finalmente chegou o grande dia. Izabel deu a luz a um belo e robusto menino que recebeu o nome de dois padres amigos da família: Padre Ângelo de Bernardi e padre Marino Contti. O “grande homem”, era como costumava chamar padre Ângelo para o pequeno primogênito do casal. Ângelo Marino nasceu dia 19 de maio de 1966, enchendo a casa e coração de seus pais de alegria. Mas, Izabel não era uma mulher igual à maioria das mulheres de seu tempo que se satisfazia apenas com os serviços domésticos e a maternidade. Ela deixou o tempo para trás e seguiu em frente, não queria apenas cozinhar, passar, ir para a roça. Não, ela queria um pouquinho mais: continuar sua formação profissional e religiosa. Por isso, mesmo com seu filho pequeno, não se recusava a participar de cursos ou encontros de formação, tanto na igreja como na escola. Mais tarde relata para os filhos que, em um encontro em São Miguel do Guamá, em que tinha levado o pequeno Ângelo, pois o mesmo ainda mamava, as freiras paparicavam o lindo bebê e padre Ângelo com seu ar brincalhão fala:- Menino, tu não trabalha, tu dá trabalho. Agora as irmãs não trabalham mais, passam o dia todo paparicando o filho da Izabel. Este fato era apenas mais uma prova do carinho que os padres e freiras tinham por essa mulher humilde e envolvida com a vida de sua comunidade. Que os conquistava dia após dia pela sua determinação, alegria e compromisso com a palavra de Deus. Com certeza o trabalho que ela realizava em

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sua comunidade era de uma dimensão grandiosa aos olhos de Deus e da Igreja. A vida seguia em frente. As aulas tomavam grande parte seu tempo. A programação anual de sua escola erarepleta de datas comemorativas, o ano letivo se iniciava com uma reunião festiva após a celebração dominical, com aviso aos pais da importância de mandar seus filhos à escola. Tudo na comunidade era de interesse de todos, pois Izabel fazia questão de despertar em cada um a importância da vida em comunhão. O ano litúrgico está intimamente ligado ao ano letivo, pois os alunos tinham uma grande participação em todas as atividades desenvolvidas na comunidade.Fevereiro; era marcado por brincadeiras,confeccionavam o Judas (boneco gigante feito com roupas velhas que eram deixados na frente das casas com alguns recados) e toda comunidade se divertia. Mês de março; iniciava-se o período da Quaresma. Tempo de muita oração para aquele povo que ia a igrejinha rezar a via- sacra, ler e meditar a palavra de Deus se preparando para Páscoa. Renovando as promessas batismais. Em abril;festejava-se a ressurreição. A festa da Páscoa era vivenciada por todos com festas e a certeza de ter Jesus ressuscitado em suas vidas. O mês de maio; era dedicado integralmente a Maria, mãe de Jesus, e todas as noites rezavam o terço e novena em uma casa. Em seguida, saíam em procissão cantando hinos marianos. No final do mês faziam uma bela coroação a Nossa Senhora, com a presença dos alunos. Era interessante observar aquele povo que após um dia exaustivo de trabalho na roça sentia-se felizes em acompanhar as atividades marianas. Em junho; as festas juninas se faziam presentes na escola, com ensaios das danças da época. Enfeitavam o barracão com bandeirinhas e marcavam um dia para

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apresentar à comunidade os trabalhos construídos durante o mês. E ainda faziam fogueiras para todos os santos homenageados no mês de junho. A comunidade ajudava nos preparos das comidas típicas, famílias se reuniam e juntas ficavam responsáveis por um prato típico e no encerramento vendiam por um preço acessível. Todos se divertiam. Agosto; já iniciava com os preparos para Semana da Pátria, eram muitos ensaios. Precisavam escrever, declamar poesias, ensaio da banda e das balizas. O mês de setembro;após a semana da pátria começava os preparativos para a festa da padroeira que era Nossa Senhora da Providência. Era um evento que movimentava toda a comunidade, que ficava eufórica com a chegada do padre e dos visitantes que vinham dos lugares vizinhos e até da capital paraense. A festa tinha o lado religioso e profano, chegava nessa época grande aparelhagem que fazia cobertura da festa no barracão. Em outubro; comemorava-se o Dia da Criança, com brincadeiras, torneio e teatros. Era muito divertido e gratificante. Hoje percebo como essas experiências foram importantes para formação de cidadãos críticos e atuantes na sociedade em que estão inseridos. Também faziam festas para homenagear as professoras: Izabel e Tereza eram as duas professoras daquela comunidade. Em novembro; já se aproximava o fim do ano letivo e litúrgico e iniciavam-se então os preparativos para as festas natalinas, com preparo de dramatizações, presentes e a montagem de uma grande árvore de natal que ficava ao lado da igreja. “Era muito bom quando a professora Izabel morava no Tatajuba, todas as festas eram muito animadas, principalmente a do Natal.”(Maria da Providência) Naquela comunidade a única religião existente era a católica, apostólica romana, por isso professora Izabel nunca

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enfrentou problemas por propagar a religião católica em suas aulas e na vida familiar de seus alunos. Dezembro; fim do ano letivo, com distribuição de presentes em frente à igreja e depois a celebração, seguida de dramatização para comemorar o nascimento de Jesus. Os alunos tinham a oportunidade de ler e construir textos natalinos e sobre os acontecimentos do ano. Entre uma atividade e outra, engravidou do terceiro filho. Após nove meses de espera e muita oração, mais um menino vem povoar a família Este recebeu o nome de Raimundo Elizeu, o primeiro nome em homenagem a seu amado e saudoso irmão e o segundo a Dom Eliseu Maria Coroli, bispo da Prelazia do Guamá. O pequeno Elizeu nasceu dia 14 de setembro de 1967, agora eram dois bebês para disputar a atenção do casal. Mesmo assim a rotina deles não sofreu muitas alterações. Na escola Izabel não era apenas a professora, era a responsável de todas as atividades que ocorressem precisava está atenta para conversar com os pais, para pedir ajuda ao prefeito, enfim, tudo relacionado ao desenvolvimento educacional dos alunos estava sobre sua responsabilidade. Relembrando que Tatajuba era um povoado que ficava há cinco quilômetros das margens da Belém- Brasília e na maioria das vezes o percurso até a BR 010, era feito a pé, ressalto essa informação para mostrar como era difícil a locomoção de um povoado para o outro naquela época em que o único meio de transporte que à comunidade tinha era cavalo. A sede do município era Irituia. Izabel precisava ir todo mês buscar merenda escolar ou algum material didático para seus alunos. A viagem às vezes era feita alguns quilômetros a pé e outros em pau de arara, transporte muito usado naquele tempo. Quando precisavam ir à Belém, as dificuldades eram

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ainda maiores, pois havia poucos meios de transportes que faziam linha para capital. Às vezes era obrigada a pegar carona para não passar à noite na beira da estrada. Uma vez um motorista lhe perguntou:- Você não tem medo de pegar carona com quem você não conhece?- Não, só param os bons. Entretanto sua confiança estava no Pai celestial companheiro de todas as horas, pois desde sua descoberta da importância da oração na sua vida nunca conseguiu passar um dia sem rezar o terço a fé, de que estava protegida de todos os perigos era verdadeiramente profunda. Entregava sua vida e a vida dos seus nas mãos de Deus. Frase que costumava falar:- Se Deus está com nós, quem estará contra nós? Mediante essa profunda confiança que tem no pai celestial, nenhum mal lhe acontecia. Era mesmo uma mulher de coragem, pois nessa época a Belém – Brasília era totalmente desabitada. Mas Izabel dizia que via em cada um a presença e o amor de Deus. E assim ia vivendo com muita determinação e coragem. Sempre voltava de suas viagens, sã e salva, tinha medo, mas, a necessidade de enfrentá-lo era maior. Precisava viajar para trazer para sua comunidade: merenda, livros, carteiras, enfim, todo material que a comunidade escolar precisava para se desenvolver. Sempre trazia aquilo que a comunidade estava precisando, da merenda a banda marcial para o desfile de 7 de setembro. A merenda servida na escola era farta e gostosa e aqueles que queriam ainda levavam para casa. “Ver em um, um cada irmão.” Esse era um dos lemas de sua vida que fazia o possível pra tornar realidade, ajudava as pessoas em todas as circunstâncias possíveis, e até mesmo em momentos que, humanamente, julgava-se impossível. Não conseguiria dormir

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em paz se soubesse que alguma família de sua comunidade não tivesse o que comer, ou se alguma criança não tivesse leite para colocar em seu mingau. Essa admirável mulher sempre usou os cargos públicos que assumiu a serviço da comunidade, o importante para ela era ver famílias felizes e cumprir com responsabilidade seus trabalhos. Não almejava possuir cargos importantes, muito menos se, para conseguir tivesse que prejudicar alguém. Traços admiráveis de sua personalidade é a fidelidade aos seus princípios: moral, ética, dignidade e acima de tudo o amor e, consequentemente, o respeito ao próximo. Uma vez convidada a assumir a direção de uma grande escola estadual em Irituia, no lugar de uma professora que não tinha apoiado o candidato do governo. Izabel responde:- Antes uma boa morte. É uma pessoa incapaz de agir contrário a seus valores. O dinheiro para ela é importante, mas conseguir o mesmo a qualquer custo não está dentro de seus ideais. Nessa roda viva, nesse carrossel, engravidou pela quarta vez e a felicidade da espera mais uma vez tomou conta da vida do casal, que agora também pedem a Deus para mandar uma menina, pois já tinham dois meninos, Ângelo e Elizeu. Nove meses de espera nasceu sua primeira filha, Enrica Helena que recebeu esse nome para homenagear duas freiras amigas do casal. Irmã Enrica Melsi, freira italiana que Izabel conheceu no Colégio e Helena, irmã missionária de Santa Teresinha, amiga do casal e mais especificamente, amiga de Nino. Enrica nasceu dia 24 de agosto de 1969, Izabel estava em Belém, na casa de sua cunhada. Quando chegou ao hospital, à direção não permitia entrar com mala. Izabel deixou sua bagagem no Berço de Belém e no outro dia, quando sua cunhada chegou para visitá-la, ela já estava de alta.

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Entretanto, não era permitido sair com a roupa do hospital. Sua cunhada Maria ainda argumentou que depois devolveria mesmo assim as enfermeiras não entram em acordo, e ela muito chateada pegou a criança e tirou a roupinha e disse:- Minha sobrinha não precisa dessa porcaria! Vamos cunhada! E assim Enrica sai envolvida em uma toalha até chegar ao Berço de Belém, onde seu enxoval esperava por ela. A família festeja feliz a chegada de mais um tesouro, como Izabel costuma repetir sempre: “Meus filhos, meus tesouros.” Para Nino nasceua primeira caçula, que é por ele muito mimada. Um dia Izabel conta para seus filhos que estava ministrando uma palestra para mulheres quando lhes perguntaram:- Para que nascem os filhos? Respostas de uma das mães: - Para atentar (perturbar, tirar a paz.) Izabel, com a calma que lhe é peculiar, respondeu:- Os filhos nascem para completar a felicidade do lar. Nossos filhos são um pedacinho de nós e continuarão nossa missão aqui na terra. Precisamos tratá-los com amor, carinho e respeito, pois a educação começa em casa. Sempre citava o Livro de Eclesiástico: “Pois Deus quis honrar os pais pelos filhos e cuidadosamente fortaleceu a autoridade da mãe sobre eles.” (Eclo 3,3) É uma mulher de sabedoria admirável, sempre usando os ensinamentos da vida para ajudar seu próximo a viver melhor, sente um prazer imenso em dividir seu aprendizado, pois acredita que ser feliz é fazer alguém feliz. É essa sua missão de vida nessa terra. Sente-se comprometida em ajudar as famílias a perceber o verdadeiro sentido da vida, que tem como base o amor, o perdão e o temor a Deus. E

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assim a vida continua simples, porém contemplada a cada momento com preciosas amizades. Sua casa está sempre de portas abertas para os amigos. Às vezes as longas conversas adentravam pela madrugada, mas na companhia dos amigos parecia que o tempo não passava. Discutiam os mais diversos assuntos: política, religião, família, trabalho, enfim, troca de experiências para ambos. Os amigos do casal eram comuns. Às vezes, quando estava só Nino ou só Izabel, os amigos eram recebidos com a mesma alegria. Ainda hoje quem conhece o casal sente um prazer imenso em ser acolhido por eles. São horas e horas de conversas agradáveis em que o tempo parece não passar. Os amigos falam deles sempre com grande carinho. Uma quinta gravidez vem contemplar mais uma vez a vida familiar. Mesmo com essa maratona, o casal encontrava tempo para curtir o novo ser que vai chegar para aumentar a prole. Enrica ainda era muito pequena e precisava ser conscientizada para receber o novo membro da família. A população se preparava para uma festa religiosa que iria acontecer na comunidade. Padre Giovanni Incampo, já se fazia presente. Era sempre uma festa quando vinham padres na comunidade e eram sempre recebidos na casa de Izabel, que preparava os mais saborosos pratos para recebê-los. Ela também se preocupava em preparar bem a liturgia para que a comunidade aproveitasse o máximo da visita do padre. Nessa noite, Izabel ainda participava da missa. Depois se despediu do padre, que ficou na igreja. Foi para sua casa sentindo fortes dores. Nino foi chamar à parteira (mulher que ajudava as crianças a vir ao mundo). O parto aconteceu normal. No outro dia, aproveitando a presença do padre, o bebê foi batizado e recebeu o nome de José Giovanni. Era abril de 1971. O nome foi dado em homenagem a padre Giovanni, que também foi padrinho da criança.

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Dias após seu nascimento, o bebê começou a colocar sangue pelo umbigo, rapidamente Izabel foi para a capital paraense em busca de melhores recursos para seu filho. Ficou internada no Hospital Dos Servidores do Estado, recebeu a visita de padre Giovanni que deu todo o apoio possível, entretanto o bebê morre no sétimo dia. Mais uma dor para aalma de Izabel que mais tarde relatou para os filhos:- Morreu branquinho sem uma gota de sangue. Padre Giovanni esteve presente no hospital dando apoio moral e espiritual, foi um grande amigo sempre junto com a gente ajudando no que fosse preciso, grande padre verdadeiramente santo. Mas, meu coração sangrou, é muito triste perder um filho é um pedacinho da gente que morre. No entanto, minha alegria é saber que ele foi morar junto ao pai celestial. Mais uma vez o testemunho vivo de uma mulher que em todos os momentos de sua vida Deus está presente, mesmo com a alma dilacerada encontra conforto em Deus, que lhe ajudava a cicatrizar as feridas, Ele era o bálsamo para sua alma. Entregou-se completamente ao trabalho para esquecer um pouco a dor que sentia. Ao mesmo tempo o carinho que recebia dos filhos e do marido ia ajudando a continuar viva. Esquecer jamais! Mas, conviver com mais uma perda era necessário. Nessa época morava com a família uma moça muito bondosa que ajudava a cuidar da casa e das crianças: era Maria da Silva. Sua voz suave e muito amorosa conquistou o coração de Izabel, que confiava plenamente sua família em suas mãos. Ela foi um pouco mãe para seus filhos e tinha plenos poderes sobre eles, que por sua vez a respeitavam e a amavam muito. Logo surgiu a sexta gravidez e após nove meses de espera nasceu à pequena Beni, que recebe o nome de Maria Benigna dia 23 de abril 1972, Maria para homenagear nossa

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senhora e Benigna em homenagem a sua irmã freira. Era mais um motivo para família festejar, todos contemplavam com admiração e amor o mais novo ser. Benigna faz jus a seu nome, quem dela se aproxima tem a oportunidade de perceber a bondade que passa em seu coração é uma mulher simplesmente admirável. Nino chamava Enrica de “minha caçula” e para não despertar ciúme, ele logo a nomeia de “primeira caçula,” e Beni, como a família carinhosamente chamava o bebê que acabava de nascer, ficou sendo a “segunda caçula”. Muitos trabalhos, sonhos de uma vida melhor, compromisso com a vida na comunidade, vontade de ajudar o próximo faz da vida do casal uma busca constante de aprender sempre um pouco mais. Devido à distância e as dificuldades com relação ao acesso a saúde, Izabel decidiu fazer um curso de Primeiros Socorros, principalmente de parteira para ajudar as mulheres de sua comunidade. Em virtude de que no Tatajuba não tinha nenhum posto de saúde e a comunidade era quem sofria as consequências (ela mesmo já havia perdido dois filhos pela falta de um conhecimento mais teórico com relação a saúde) e por isso, quando surgiu a oportunidade de trazer as mínimas condições possíveis de melhoria para sua comunidade, ela não pensou duas vezes e aceitou o novo desafio. Mais uma vez se colocou a serviço do outro, vejo nessa mulher um grande desprendimento sempre se colocando em segundo plano, deixando seus afazeres domésticos, seu lazer em benefício de um bem maior. Entretanto, sente-se extremamente feliz. É mais trabalho e mais compromissos. Muitas vezes teve que sair de madrugada para fazer algum parto e de manhã cedo estar na escola dando aula. Era uma vida muito intensa: “Prova de amor maior não há, que doar a vida pelo irmão.”

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Também saía para aplicar injeção, na verdade Izabel era o sustentáculo daquela comunidade sempre pronta a dar um conselho, a resolver conflitos, a ajudar no que fosse possível. Por isso era muito amada e respeitada. Com esse novo trabalho ajudou a colocar muitas vidas ao mundo e salvou vida de muitas mulheres.

Envolvimento na política partidária

Algumas lideranças políticas de Irituia e até mesmo de Belém procuravam seu apoio, recebia em sua casa a visita do governador do estado, de deputados, prefeito e vereadores. Acreditava que através da política poderia conseguir melhoria para sua comunidade e na verdade conseguiu muita coisa como melhorar a estrada que dava acesso ao Tatajuba, colocar energia elétrica na época em que energia era privilégio de poucos, construção de um prédio escolar de qualidade, enfim, benefícios que são direitos da população, porém, que sem uma liderança local era impossível conseguir. Era meados da década de 70. Sempre usou de boa fé, acreditando nas promessas dos políticos em uma época, não muito diferente de hoje, em que a corrupção se fazia presente na política partidária. Alguns padres, seus amigos, alertavam:- Izabel, a política corrompe as pessoas. Ela acreditava que se temos princípios e valores cristãos não nos deixaremos corromper. E com esse pensamento seguia em frente, confiante em seus ideais e lutando para torná-los realidade. Muitas pessoas participavam da vida do casal é uma lista interminável, alguns se fizeram presentes com mais freqüência: Conceição Amorim, companheira de todas as horas como costumava dizer Izabel, ajudava sempre

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que possível na criação de seus filhos e nos trabalhos da comunidade, uma verdadeira mãe. Dona Pascácia, que ajudou colocar alguns de seus filhos no mundo, era também uma amiga inseparável. E muitas outras pessoas, que no decorrer do tempo se transformaram em compadres e comadres e grandes amigos. Chegou à sétima gravidez em um momento em que Izabel retomava aos estudos em São Miguel do Guamá. Era um curso de Pedagogia em período intervalar, vários municípios vizinhos iriam participar. Surgia uma grande oportunidade de formação, mas, na situação que se encontrava não seria tarefa fácil. Porém as dificuldades eram desafios para essa mulher batalhadora e corajosa. Ainda no período do curso nasceu à pequena Maria Janet no dia 26 de junho de 1974, o primeiro nome pedindo mais uma vez proteção da mãezinha do céu e o segundo em homenagem a irmã Janete, Missionária de Santa Terezinha e amiga de Nino. É uma bela e saudável criança e recebe o título de terceira caçula. Em algumas etapas do curso precisava levar Janet, pois a mesma ainda mamava. Ela tinha aproximadamente cinco meses nessas viagens levava sua filha mais velha, para reparar a pequena Janet, enquanto estava estudando, as vizinhas também ajudavam a cuidar da criança. Recordo que uma vez uma vizinha escondeu Janet. Mamãe ficou desesperada, mas graças a Deus logo o Bebê apareceu: tinha sido uma brincadeira de mau gosto. Eu era muito pequena, mas recordo mamãe estudando sem parar e fazendo trabalhos para apresentar. Ela ia dormir muito tarde todas as noites. Um fato triste que aconteceu enquanto ela ainda estava estudando foi ter ficado reprovada em uma disciplina, tudo porque a professora não acreditou no relato de uma atividade

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desenvolvida por Izabel na escola em que trabalhava como professora e responsável. Ao ler o relatório de atividades a professora disse:- Ninguém trabalha dessa maneira.- Eu trabalho professora. A professora achou que Izabel estava sendo petulante quando afirmava que na escola em que trabalhava as coisas aconteciam tal qual ela apresentou no trabalho. Era um projeto sobre o dia das mães no qual todos os membros da comunidade se envolviam, os alunos passavam a semana lendo poemas para declamar, escreviam poesias, confeccionavam cartazes e flores, ensaiavam canções típicas para o dia das mães. Conseguia Prêmios para fazer sorteios e material para fazer bolos e comidas. Reunia os alunos maiores e os pais e dividia as tarefas uns iam arrumar o barracão outros iam preparar os pratos. No segundo domingo de maio, as grandes estrelas eram as mães que felizes recebiam as homenagem da escola através de seus filhos. Devido esse fato ela foi obrigada a fazer prova de segunda chamada em Belém. Nesse dia a professora não pode passar a prova na escola em que trabalhava e sabendo que Izabel morava no interior, se compadeceu de sua situação e a convidou para acompanhá-la a sua residência para fazer a prova. Izabel foi. Quando ia começar fazer a prova faltou energia e Izabel rogava a Deus que tudo desse certo e suas orações eram firmes e apesar de todo transtorno que aconteceu no dia da prova, ela conseguiu tirar a nota que precisava para ser aprovada e voltar o mais rápido possível para casa. Não era tarefa fácil ficar tanto tempo ausente de seus filhos, que ainda eram muito pequenos, o que lhe consolava é que eles ficavam em boas mãos e que estudar era necessário. Ficavam em casa com o pai e Maria da Silva que cuidavam de todos com amor e carinho. Nino contava histórias e cantava todas as noites antes

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de seus filhos dormirem. Uma música que embalou a infância de seus filhos foi “Utopia”, de Padre Zezinho. Ainda estudando e com uma criança pequena engravidou pela oitava vez, enfrentando as dificuldades, mais uma vez segue em frente exercendo sua missão. Acreditando que o sofrimento purifica, amadurece e fecunda, fica muito feliz por trazer mais um tesouro dentro de seu ventre. Em 15 de setembro de 1975, nasce Geovane Maria. O primeiro nome em homenagem a padre Giovane Incampo e o segundo a nossa mãe do céu. Foi mais um presente de Deus para família, que comemorou feliz. Geo, como mais tarde é carinhosamente chamado é o filho mais presente na vida dessa mulher. É carinhoso, amável e confidente. É realmente mais um presente de Deus. O filho que está sempre perto de seus pais externando seu amor através de ações concretas e demonstração explicita de carinho. Izabel relata que é o único filho que ela não lembra o momento de seu nascimento:- Eu estava em Belém na casa da mamãe, matei uma galinha jantamos em seguida fiquei muito enjoada e não lembro mais de nada. Quando acordei já estava no hospital com meu pequeno tesouro nos braços.

Colação de grau

Após anos de estudos e muita luta, chegou o grande dia a festa de colação de grau. A turma preparou uma belíssima festa. Estava ao seu lado nesse momento seu irmão Brasiliano, e seu marido. Izabel estava radiante, usando um vestido longo azul e uma maquiagem apropriada para ocasião, estava simplesmente bela! Ficou muito emocionada quando vestiu a beca e recebeu o anel de grau. Foiuma festa muito bonita, pois eram vários municípios da região que estavam com suas professoras colando grau.

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De volta para o Tatajuba, continuou seus trabalhos, agora com uma bagagem maior, sentia-se mais preparada. Iria aliar à teoria a prática e assim fez. Estava mais feliz em ver seus alunos progredindo. Citava com frequência os pensadores da educação, usando com mais segurança a Pedagogia e a Psicologia para melhor entender as pessoas e assim ia encantando seus alunos, que faziam o possível para agradar sua amada mestra. Preocupava-se com a formação integral do homem, acreditava que além das atividades intelectuais, as físicas também são de suma importância para o desenvolvimento humano. Seus alunos e alunas eram verdadeiros atletas e sempre saíam vencedores nas competições. Recordo um dia em que os alunos foram disputar um torneio com um time de alunos do km 33, o time do Tatajuba estava sem uniforme e ficou combinado que jogariam sem camisa. No decorrer do jogo, seu time estava ganhando e alguém da torcida perguntou:- Quem está ganhando?- São os nus. Alguém fala com ar de deboche. Logo alguém toma as dores e responde:- Melhor está nu e ser bom. Por causa dessa fala quase acontece uma briga na beira do campo, mas, felizmente, tudo acabou bem. Ao término da partida seus alunos voltaram felizes com mais uma vitória. E a alegria contagiava a todos, pois, a comunidade sempre acompanhava seus alunos nessas ocasiões. Retornaram caminhando, cantando e louvando a Deus por mais uma missão cumprida e o gostinho de vitória. Outro fato que me recordo com riquezas de detalhes foi provavelmente a última Semana da Pátria passada nessa amada terrinha, não foi um episódio muito agradável. Talvez

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recorde por admirar bastante a coragem, os princípios e a determinação dessa mulher. Era Semana da Pátria. Tínhamos passado várias semanas ensaiando para o grande dia: era ensaio da banda marcial da escola, ensaio para declamar poesias, ensaio das bailarinas e também ensaio para o desfile para não fazer feio em frente ao palanque. Tudo estava preparado para o grande momento. No dia do desfile chegariam pessoas de outras comunidades e municípios vizinhos para assistir as apresentações dos alunos e também estariam presentes alguns políticos da região. Acordamos cedo e, como sempre fazíamos, fomos para igarapé, ainda era madrugada a neblina cobria a vegetação do caminho que nos levava ao Igarapé das Pedras, sentíamos muito frio, porém uma vontade enorme de pular na água e depoisvoltarmos pra casa e vestir a roupa novinha para desfilar. O banho não era tão rápido, pois aproveitávamos para brincar um pouco, em seguida voltávamos a nossa casa onde um café quentinho com leite de gado, bolo e bolacha esperava por nós. O barracão estava todo enfeitado com bandeirinhas do Brasil, em sua frente haviaum palanque, que tinha sido arrumado na véspera; estava tudo muito lindo as cores verdes e amarelas predominavam em homenagem ao dia da pátria. Nós tínhamos um amor muito imenso pelo nosso país, amor esse despertado pela professora Izabel nas aulas de História e que na semana da pátria nos dava as mais belas poesias para lermos e declamarmos homenageando o nosso Brasil. A programação teria início com a santa missa, estávamos esperando o Padre Marino Contti para celebrar, entretanto não sei o que aconteceu que ele não chegou, e já estavam presentes algumas lideranças políticas de Irituia e o prefeito que morava em uma fazenda próxima. Os alunos estavam todos vestidos

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adequadamente para a ocasião e esperavam na igreja pela chegada do padre. Percebendo que já era muito tarde decidiram fazer uma celebração em lugar da missa. Ao término da celebração o prefeito entrou na igreja, muito irritado por causa da demora do inicio do desfile. E no corredor da igreja gritou com a professora Izabel pelo atraso do desfile.- Professora Izabel, esse desfile está uma bagunça, onde está a programação? Acredito que não tem, pois você é uma comunista! Com a calma que lhe é peculiar ela respondeu:- Eu não sou comunista. Temos sim uma programação que iniciaria com a santa missa.-Você é comunista!- Eu não sou comunista. Ele grita mais alto:- Você é comunista! Izabel perde toda a calma e grita:- Comunista é o senhor! A população assistiu em silêncio. Todos estavam atônitos, pois ninguém jamais ousara desobedecer às ordens do prefeito ou ao menos discordar com sua opinião, estavam amedrontados. Naquela época em plena ditadura militar ser chamado de comunista era uma grande ofensa. Ao terminar esse episódio Izabel junto com as outras professoras organizaram os alunos em frente à igreja deram voz de comando para a banda e iniciou o desfile pelas ruelas da vila. As autoridades foram esperar no palanque, inclusive o prefeito. Após desfilarem pelas poucas ruas pararam em frente ao palanque e começaram a fazer as devidas apresentações. Alguns alunos subiram no palanque declamaram poesias recebendo em resposta calorosas palmas. Alunos, professores e o povo em geral assistiam tudo

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em baixo de um sol escaldante típico das terras paraense. Depois das apresentações foi dada a palavra para o prefeito que discursou por intermináveis 45 minutos. Quando encerrou seu pronunciamento já ia se retirar, a professora Izabel bateu em seu ombro e falou:

- Prefeito o senhor falou 45 minutos, poderia nos ouvir, apenas 5 minutinhos? Ele concordou, e ela começou sua fala, que durou aproximadamente 15 minutos. Ela saudou o público presente esclarecendo que contrário as afirmações do prefeito eles tinham uma programação sim. E a mesma como de costume iniciava-se com a missa, mas, que por motivo que até então ela desconhecia o padre não compareceu, entretanto não poderiam deixar de agradecer a Deus com a celebração e foi o que tinha acontecido. Em seguida iniciaram o desfile, seguido das devidas apresentações que os alunos tinham passando semanas ensaiando a fim de homenagear sua pátria e apresentar a comunidade e as autoridades presentes. Em nenhum momento ela havia pensado em fazer política como o prefeito afirmara, assim como não era comunista e sim uma cidadã cumpridora de seus deveres cívicos, religioso e moral. E que após as homenagens a programação seguiria normal, com lanche festivo para os alunos e festa dançante no barracão e que todos eram convidados a permanecer no evento. Tudo foi esclarecido. As pessoas que ouviam mal acreditavam a ousadia da professora, como ela teve a coragem de se explicar publicamente e ainda na frente do prefeito. Entretanto, sabiam que esse comportamento fazia parte de sua personalidade, como ela sempre costuma falar: Eu não mando recado quando precisa falar a verdade eu falo não importa que circunstância seja.

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Dia 7 de setembro no Tatajuba

Dias depois viajando para Irituia o prefeito comentou:- Professorinha de coragem a Izabel Peniche. Não creio que ficou mágoa entre eles, pois continuávamos indo buscar leite na fazenda, quando vínhamos

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de viagem parávamos para conversar um pouco. Recordo-me que se fosse pela parte da manhã ele mandava servir uma tigela com coalhada e se fosse a tarde era servido uma xícara de café quente e forte e dizia que era para diminuir o calor. Às vezes mamãe me deixava passar o dia na fazenda do prefeito brincando com sua filha que tinha aproximadamente a minha idade, era muito divertido, corríamos no pasto, tomávamos banho no igarapé, subíamos nas árvores eram momentos de muita felicidade. Foi momentos maravilhosos esse período de nossa vida, não percebíamos as dificuldades naquela época, talvez por sermos crianças e não olhar o mundo sobre a ótica dos adultos. Outro fato que ficou marcado em nossas vidas foi um triste acidente que aconteceu com Elizeu. Era uma manhã ensolarada mamãe já tinha ido para escola com o Ângelo, que era o filho mais velho e já tinha a idade para estudar, Maria da Silva cuidava dos afazeres domésticos. Eu e meu irmão Elizeu brincávamos na sala com dois carrinhos um azul e outro verde, o meu era o verde, meu irmão já tinha aberto com a tesoura a parte de trás do carrinho e eu enchi de areia e aguardava ele abrir seu carrinho azul para também colocar areia. Ele usava uma tesoura grande de ponta afiada, ao tentar furar o segundo carrinho a tesoura escorregou e acertou seu olho. Ele correu para o quarto da mamãe que ficava ao lado da sala e tinha um guarda- roupa com espelho grande gritando e verificando o que tinha acontecido. Maria da Silva ficou desesperada e mandou-me correndo avisar mamãe, a casa já estava cheia de gente. Mamãe dispensou a turma e veio rezando para casa, não podia fazer nada naquele lugar que não tinha nenhum posto de saúde. Papai não estava em casa. Elizeu chorava desesperadamente, mamãe não pensou duas vezes, pegou meu irmão colocou no colo e caminharam aproximadamente

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cinco quilômetros a pé rumo ao km 28, onde pegariam o ônibus para ir á Belém. Seu filho mais velho devia ter aproximadamente oito anos lhe fez companhia para ajudar a carregar a sacola e espantar as mutucas. Ao chegar à Belém logo foram atendidos no Hospital dos Servidores do Estado. Padre Giovanni mais uma vez esteve presente dando total apoio. Passaram dias no hospital, o olho de Elizeu tinha sido bastante atingido, mesmo assim ainda enxergava. Antes de voltarem pra casa os médicos fizeram muitas recomendações, entre elas que ele não podia tomar muito sol, nem chorar. Entretanto, ele era um menino inquieto, peralta e não costumava obedecer às ordens. Às vezes mamãe se rendia a seus caprichos só para não vê-lo chorando. Mesmo assim não adiantou algum tempo após o acidente ele perdeu totalmente a visão de um olho. Existe também outra versão para essa história que será revelada em outra oportunidade.

Mudança para Vila Mãe do Rio

Engravidou pela nona vez, agora a família tem planos de se mudar para Mãe do Rio, na época Vila Mãe do Rio. Nino já trabalhava no sindicato dos trabalhadores rurais de Irituia, que tinha sede no km 48. E já passava a semana na vila, por essas e outra razões o casal decidiu se mudar. No final da década de 70 a família mudou-se definitivamente para vila Mãe do Rio. Quando vimos embora de nossa amada terrinha. Ainda ficaram muitos moradores. Entretanto ouvíamos dizer que a vila iria regredir até se extinguir completamente. É uma longa história que contarei em outra ocasião. Outros falavam que sem Izabel a comunidade não duraria muito tempo. Finalmente chegou dia da mudança todos estavam

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ansiosos para conhecer a nova morada. Compraram uma casa simples em uma rua próxima a igreja matriz era uma das exigências de Izabel, pois almejava continuar sua vida de oração e os trabalhos pastorais. Padre Marino Contti, vigário da paróquia São Francisco de Assis ,em Vila Mãe do Rio já conhecia o casal de longas datas e logo lhes dá a incumbência de coordenar alguns grupos na comunidade entre eles :Vicentinos, Apostolado da Oração. O amor e a dedicação a esses trabalhos eram admiráveis que alguns perguntavam:-Como é possível tamanha doação? Entretanto, esses trabalhos faziam parte da vida do casal que não media esforços para cumprir suas atividades pastorais. Osdoisse sentiam extremamente felizes em poder contribuir com sua igreja em prol a construção do Reino de Deus. Era uma alegria que estava estampada em seus rostos, a única explicação era o amor de Deus que acabava contagiando os que deles se aproximavam, davam apenas continuidade a um trabalho que tinham iniciado no Tatajuba. Precisavam de professora na rede estadual e Izabel começou a lecionar nas seguintes escolas: Olavo Bilac, Padre Lourenço Scott e Instituto Maria Goretti. Logo conseguiu respeito e admiração dos alunos e colegas de trabalho. As viagens continuaram participavam de encontros em Bragança-Pa. Um dos encontros que marcou o final da década de 70 foi o “Cursilhos de Cristandade” que trouxe para o casal Izabel e Nino um grande embasamento teológico que contribuía dia a dia em sua missão de evangelizadores. Mais amigos conquistam nesse novo momento de suas vidas. Era bem diferente da vida no Tatajuba. Morávamos agora em uma casa muito simples de chão batido e coberta de cavacos. Recordo-me uma vez, acredito que era o primeiro aniversário de mamãe na nova residência,

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seus amigos cursilhistas resolveram fazer uma celebração surpresa. Nessa noite choveu muito e a água entrava por todos os lados, fazia lama dentro do nosso barraco. Mesmo assim a celebração aconteceu. E eles cantaram uma melodia triste que era mais ou menos assim:

“Para mim/a chuva no telhado/ é cantiga de ninar/Mas o pobre meu irmão/ para ele a chuva e fria/Vai entrar em seu barraco/ e faz lama pelo chão...

Esse hino retratava a realidade vivenciada pela nossa família naquele momento a casa era muito pobre. Mesmo assim mamãe mantinha sempre um sorriso nos lábios e o sonho que um dia construiria uma boa casa. Após a celebração cantamos parabéns e nos deliciamos com os bolos, docinhos e salgados trazidos por seus amigos. Era uma vida financeiramente muito difícil Nino e Izabel trabalhavam muito e ganhavam pouco, além disso, eram muitos filhos e sempre tinha outras pessoas em casa, mas eles sentiam um prazer imenso em ver a grande família reunida ao redor da mesa, era uma mesa grande com aproximadamente doze lugares que estavam sempre preenchidos. Já morávamos alguns meses em Vila Mãe do Rio era uma vida bem diferente daquela que estávamos acostumados. Sentíamos saudade dos banhos no igarapé, correr pelo sítio do vovô, ajudar fazer farinha tirar malva, pescar, ir a fazenda buscar leite, subir nas goiabeiras, se balançar nos pés de cuieiras, enfim saudade daquela vida abundante em todos os sentidos. Agora tínhamos uma vida limitada em lugar de matos:ruas, casas, tabernas, mercado, invés de ir buscar a banana e a farinha na roça, íamos comprar na mercearia, invés de ir pegar leite na fazenda,tinha que comprar no boteco, enfim tudo tão diferente da nossa “terrinha”. Mas essa

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agora era a vida que tínhamos, nunca ouvíamos mamãe ou papai reclamar de nada, ao contrário sempre contavam uma história engraçada, “O jogo do contente” era mais ou menos assim que se não era possível termos aquilo que gostaríamos deveríamos ser felizes com que tínhamos. Gestos De Carinhos Memoráveis: Dia das Crianças. Páscoa, Natal, Aniversário, Dia das Mães, Dia dos Pais, Dia dos Namorados. Enfim aproveitavam essas dadas tão badaladas pela mídia para dar lições de amor e união para a família. Dia das crianças quando acordávamos a mesa do café e da manhã já estava arrumada, só que de forma diferente, com embrulhos de presentes em nossos lugares, bolo, chocolate, canecas de plástico novinhas, saquinhos com bombons e um cartaz desejando felicidades.Cantávamos parabéns e saboreávamos o delicioso café preparado com muito amor e carinho pelos nossos pais. Em seguida íamos brincar com os novos brinquedos na maioria das vezes brinquedos muitos simples, mas carregados de amor, carinho e renúncia. Quantas vezes eles deixaram de realizar um sonho pessoal para ver o rostinho dos filhos felizes. Dia do nosso aniversário mamãe fazia bolo, sucos, chocolate. Também mandava convidar nossos amiguinhos. Era a maior diversão. Dia das mães nós éramos responsáveis pela festa junto com papai. Acordávamos cedo para preparar o café da manhã festivo, e na semana vendíamos chope e bolo para comprarmos algum presente, singelo, mas carregado de carinho. No Natal também fazíamos uma linda festa. Quando éramos crianças papai e mamãe sempre davam um jeitinho para que Papai Noel colocasse um presente embaixo de nossa rede ou de nossa cama. Era motivo de muita alegria constatar que papai Noel não tinha nos esquecido. A Missa do Galo era de fundamental importância e quando voltávamos da igreja,

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era momento de partilhar a ceia preparada com a ajuda de todos. Mesmo quando éramos pequenos era permitido nessas ocasiões tomar uma taça de vinho. Os anos se passaram e essas festas tornaram-se tradição e momento de confraternização da família, todos são convidados a ficar até o dia amanhecer. São valores que mamãe diz que precisam ser mantidos, quem participa de um natal com a família já está automaticamente convidado para o próximo ano. Em todos os natais trocamos presentes, fazemos brincadeiras é sempre muito prazeroso estar reunido com toda família é uma tradição que mamãe não abre mão, diz que enquanto estiver viva a ceia do natal será em sua casa. Aprendemos a valorizar essas datas para estreitar os laços familiares demonstrando o carinho que sentimos um pelo outro. Dia dos namorados mamãe e papai sempre trocaram presentes víamos essa atitude como gesto de amor e de afeição, apesar de em alguns momentos eles se desentenderem era notável o amor e admiração que sentiam um pelo outro. Tudo em casa sempre foi motivo pra comemorar e agradecer a Deus. Quando alguém recebe uma graça, passa em um concurso, realiza um sonho mamãe se ajoelha e beija o chão, três vezes em sinal de agradecimento a Deus em seguida começamos logo a preparar uma festa. Em nossas festas a maniçoba é um prato que não pode faltar. Muitos aprenderam a gostar da maniçoba de Izabel, Nino sempre ajudou a preparar os alimentos principalmente a maniçoba. Um dia, em tom de brincadeira eu falei:- Papai faz a maniçoba e mamãe é quem ganha à fama. :- Eu faço mais quem coloca o tempero é ela, sem o tempero da Izabel a maniçoba ficaria sem graça. Eu achei que era uma linda declaração de amor, assim como a maniçoba precisa do tempero da mamãe. Na vida eles precisam um do outro para se completar.

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Período da adolescência da primeira geração

Apesar de usar de toda pedagogia e psicologia que conhecia para ajudar no desenvolvimento de seus filhos, não era tarefa fácil e às vezes era preciso utilizar a força física para amenizar algumas situações conflitantes. Nessa fase de rebeldia às vezes era difícil entender o que se passava na cabeça de cada um. Um dia Izabel estava disposta a dar uma surra em um de seus filhos, nessa ocasião um amigo e vizinho o Sr. Zé da Hora lhe disse:- Izabel, quando os filhos são pequenos a gente bate com cinto, cipó, mas quando crescem já não adianta. É preciso bater com evangelho. Izabel ficou pensando nos sábios conselhos de seu bondoso amigo e com determinação e coragem decidiu colocá-los em prática. E mais uma vez usando o evangelho como arma para os problemas. Ela nos aconselhava:- Meus filhos nossa cabeça é como vidro para Deus. Tudo Ele vê, tudo Ele sabe, portanto andai pelo caminho do bem e cuidais de vossos corpos:

“Não sabeis que sois templos de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o Templo de Deus, Deus o destruirá. Portanto o Templo de Deus é sagrado – e isto sois vós. (Cor 3,16-17)”

Izabel ensinou seus filhos a viver sempre na presença de Deus, independente de onde estivessem ou com quem estivessem sempre confiou muito em cada um, pois acredita ter transmitido valores essências para suas vidas. Alerta sempre “Não tires Deus de sua vida”

“É uma mulher extraordinária, batalhadora, otimista, bem humorada e acima de tudo de muita fé. Apesar das dificuldades sempre sorrindo. Acredito que apesar de tantos problemas de

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saúde o que faz permanecer viva é a fé grandiosa que tem em Deus.” (Valdelina Pina)

Uma cena pouco comum

Era uma linda tarde do dia 17 de março, estávamos na frente da Escola Olavo Bilac, quando passou um homem com uma mala na mão e duas mulheres grávidas. Era Nino, Izabel e Luíza uma amiga da família, correndo fui me despedir e mamãe falou:- Vou a Santa Izabel buscar o nenê e não demoro. Era a grávida mais linda que já vi em toda minha vida, vestia uma calça comprida azul e uma blusa branca o sorriso estampado no rosto lhe deixava mais bela, nem parecia que ia para um hospital ganhar nenê. Sua amiga estava com um vestido enorme e as pernas muito inchadas parecia que o bebê ia nascer naquele exato momento. Nessa época Vila Mãe do Rio não tinha hospital e as mulheres grávidas iam parir em outras cidades. Quando chegaram ao hospital o médico falou que não aceitavam acompanhante, ele imaginava que Izabel estava acompanhando Luíza , no entanto ela falou:- Doutor eu já estou com nove meses completos.- Tudo bem vou examinar você. Após o exame constatou:- Provavelmente seu bebê nascerá daqui a três dias. Izabel com o terço na mão continuou rezando e pedindo a intercessão de Maria para que seu bebê nascesse ainda naquela noite, para poder voltar o mais rápido possível para sua casa. Sua vida era uma constante oração e Nossa Senhora sempre ouvia suas preces. Nessa mesma noite sua filha chega ao mundo para sua alegria e surpresa do médico. Luísa também pariu nessa mesma noite. As duas juntas na

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enfermaria brincavam que as meninas eram gêmeas. Agora a quarta caçula recebe o nome de Maria Josefina, o segundo nome é em homenagem a uma freira amiga do casal. Mais uma vida, mais uma benção, mais um tesouro para família Peniche da Paixão. Aos domingos levam toda a família para missa, ressaltando para cada filho a importância da santa missa na vida das pessoas. Izabel fala constantemente:- Nenhum domingo sem missa, nenhuma missa sem comunhão. E assim vai preparando todos para fazer sua primeira Eucaristia o mais rápido possível, para poderem participar desse belo banquete. Algumas vezes a família voltavaa Tatajuba para participar de momentos festivos e visitar parentes. Era momentos de muita alegria para todos.

Mudança de casa

Nino concorreu à vaga para a presidência do Sindicato dos Trabalhadores Ruraise foi eleito. Nesse mesmo ano decidiram morar em uma casa maior. Era um sítio próximo do Igarapé Aníbal. A nova morada era muito bonita e tranqüila, o igarapé passava no fundo do terreno. A casa era grande de alvenaria, toda avarandada, o piso era de tacopreto e amarelo, a cozinha era de azulejo, os familiares ficaram muito satisfeitos. Todas as manhãs a família ia nadar antes da refeição matinal. Pina, que era a caçula, ia no colo, mas apesar de pequena, já sabia nadar muito bem. Ainda era muito cedo mesmo assim brincávamos bastante. Depois corríamos para casa para trocarmos de roupa, em seguida a família reunia-se diante da mesa farta do café rezavam pela segunda vez no dia para agradecer a refeição em seguida cantavam: “Ao senhor

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agradecemos aleluia/ o alimento que teremos aleluia.” (bis) A mesa já estava posta com os pães cortados e passado manteiga o leite quentinho misturado com café e as frutas que tivessem em casa se fosse laranja ou pupunha estavam todas descascadas, pois Nino sempre se acordava antes de todos para fazer o café. Izabel levantava por último. Após o abençoado café da manhã e das recomendações diárias dos pais estávamos prontos para iniciar uma nova jornada de trabalho ou estudo. Na escola Izabelrealizava-se plenamente. Agora trabalhava também com turmas de 5ª a 8ªsérie. Ministravaas disciplinas de: Ensino Religioso, Educação Moral e Cívica e Educação para o lar. Sempre esteve atenta a tudo que se passava na sala de aula, buscava valorizar o máximo o interesse e a criatividade de cada aluno. Relato de uma ex aluna:- Lembro-me da professora Izabel com muito carinho e agradeço o incentivo que me deu quando eu era sua aluna. Eu estudava a 8ª série e era para apresentar um trabalho sobre alimentos. Tínhamos que construir uma tabela sobre o valor de cada um. Todos os meus colegas tinham feito seus trabalhos em cartolina e bem ilustrados, suas notas variavam entre 8,0 a 9,5. Eu estava com vergonha de apresentar porque tinha feito em papel almaço, era o único papel que eu podia comprar, estava com medo de ser ridicularizada pela turma. Quando chegou a minha vez ela me chamou, eu estava quietinha em minha carteira e quase não tive forças pra levantar, mesmo assim fui. Quando ela viu meu trabalho analisou do começo ao fim e disse: Parabéns! Você colocou todos os tipos de alimentos na ordem certa, sua tabela está completa. Mal acreditei quando vi minha nota tinha tirado 10,0!!! Fiquei muito feliz e ainda hoje me lembro daquele dia. (Ângela Maria Pereira)

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Quando pergunto para alguém se foi aluno da professora Izabel, como resposta tenho um sorriso marcado de certo saudosismo. Vejam:

Professorinha paciente, sensível, olhava o aluno com verdadeiro amor, compreensiva, preocupava-se com o bem estar do aluno. Ficávamos encantados com seu jeito de ser.” (Alda Alice Coelho Mesquita).

“Professora que se envolvia com a turma, as aulas não eram apenas ler e escrever era muito mais, participávamos da vida na comunidade, faz tanto tempo, foi lá no Tatajuba, mas ainda me lembro às aulas eram muito boas.” (Maria Antônia Oliveira Miranda) “Ela me alfabetizou, tenho pela professora Izabel um carinho imenso ela é uma pessoa inesquecível.” (Nazaré Alencar)“Nas aulas de Educação para o lar ela ensinava a passar roupa a fazer arroz. Eu nunca esqueci” (Socorro Teixeira)

“Tudo que sou que tenho,que aprendi, dou graças a Deus e a minha madrinha e professora Izabel. Sempre trabalhou com amor, o que ela ganhava era muito pouco. Ela é um exemplo de trabalho, educação e entusiasmo. “Não”! Nunca!Não Sei! ”Nãofazem parte do seu vocabulário.” Querer é poder! “Frase que repete com muita frequência, quando passei no vestibular agradeci a Deus em seguida fui agradecer a ela disse: - Madrinha obrigada por ter me ajudado a passar no vestibular”. – O que eu fiz? – Me ajudou a me formar a acreditar que tudo é possível quando sonhamos e acreditamos no sonho.” (Gildette)

“ Foi minha primeira professora, mas lembro dela com muita admiração e carinho, recordo um dia em que nos levou para uma aula passeio era dia da bandeira foi inesquecível cantamos o hino da bandeira, nossa ela é um exemplo de boa educação para nós.” ( Conceição Santana)

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Cotidiano familiar

Ninguém ficava ocioso todos tinham alguma atividade para executar: cuidar da casa, reparar o irmão mais novo, ir para a escola, vender picolé, ir para o trabalho. A família vivia feliz rezando brincando amando-se mutuamente. Apesar de nos amarmos muito como toda criança, às vezes brigávamos e quando papai ou mamãe descobriam nos repreendiam duramente e até mesmo nos batiam. Nessa época nosso avô paterno morava conosco e nos contava longas histórias sobre sua terra natal. Papai e mamãe às vezes se ausentavam para participar de encontros em outras cidades, mas sempre ficávamos em boas mãos, mesmo assim como toda mãe, ela se preocupava. Um dia participando de um encontro em Bragança-PA, aparentava um ar preocupado, típico das mães lactantes. Dom Miguel se aproximou e perguntou:- Izabel, o que lhe aflige? - Dom Miguel, são as crianças que ficaram em casa.- Elas ficaram em boas mãos?- Sim.- Então, não há motivos para se atormentar. Ela ficou com o coração mais aliviado e foi onde estava o sacrário se ajoelhou e entregou os filhos nas mãos de Deus. E pensou “não cairá um cabelo da cabeça sem a permissão de Deus.” E falou baixinho:- Pai do céu, em suas mãos eu entrego meus filhos, cuida com carinho de cada um e não permita que nenhum mal lhes aconteça. E novamente se entrega de corpo e alma aos trabalhos pastorais. A fé de que Deus não deixaria nem um mal acontecer a seus amados filhinhos lhe deixava apta para aprender um

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pouco mais os ensinamentos de sua igreja, para retornar a sua comunidade com mais conhecimento e dedicação aos trabalhos pastorais.

O testemunho

O ano de 1979 foi um ano difícil para família, Izabel engravidou pela décima vez, surgem comentários que Nino está tendo um relacionamento extraconjugal ao tomar conhecimento dos fatos Izabel propõe uma conversa entre eles. Uma das falas que ela relata mais tarde para família é a seguinte:- Para a sociedade é bonito ter duas ou mais mulheres, mais para Deus não é. Ficou acordado entre eles que a partir daquela data não dariam, mas motivos para comentários. Depois tudo ficou bem, novamente, o perdão se fez presente na sua mais total plenitude e quando eles em palestras relatam esse episódio algumas pessoas não acreditam. Pois estão sempre juntos, Izabel alerta que não podemos rezar o pai-nosso se não perdoarmos verdadeiramente nosso próximo. Por isso devemos sempre perdoar e ter caridade para com o próximo:

“A caridade é paciente, a caridade é bondosa. Não tem inveja. A caridade não é orgulhosa. Não é arrogante. Nem escandalosa. Não busca seus próprios interesses, não se irrita, não guarda rancor.” (1 Cor 13,4-5)

Apesar de naquele momento ter sido difícil para família, com a presença de Deus conseguiu-se superar e como tudo na vida sempre existe um lado bom com a família Peniche Paixãonão foi diferente. Ganhou-se mais um irmão, lindo e maravilhoso que amamos muito e sabemos que somos

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também amadas por ele. É o Mizael, nosso irmão caçula por parte de pai, que nasceu em15 de agosto de 1980. Grupos da igreja que participaram ativamente foram:• Cursilhos De Cristandade;• Apostolado da Oração; • Igreja Jovem;• Vicentinos;• Pastoral Familiar;• Missionários;• Pastoral da Juventude;• Pastoral da Criança;• Infância Missionária Cursilhos De Cristandade eram grandes encontros para homens e mulheres que permaneciam vários dias em oração se preparando para evangelizar quando chegavam a suas comunidades. Reuniam-se para anunciar a palavra de Deus. Foi através desse movimento que surgiram as primeiras comunidades católicas em Vila Mãe do Rio.Asreuniões aconteciam na frente das casas, pois eram grandes os números de famílias que acompanhavam. Foi após esses encontros que a família começou a fazer uma oração da noite e da manhã diferenciada, pois antes rezavam apenas o terço. Agora passava a fazer parte das ações cotidianas duas belíssimas orações. As mesmas estavam escritas em um livrinho denominado Guia do Peregrino, vejamos as preciosas orações:

Oração da manhã

“Não temos aqui cidade permanente, mas, vamos em busca da futura.” Cristianismo é vivência do dia a dia de momento a momento, é um sempre levantar-se, um contínuo peregrinar,

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peregrinação de encontro com o nosso Pai não caminhamos sozinhos: temos um Companheiro, um irmão, um chefe que nos dá ânimo e coragem para enfrentar a dura luta do trabalho cotidiano. Ele sempre está ao nosso lado. Nunca falha! Agradecemos a sua presença continua no meio de nós.

Oferecimento do dia

Senhor, eis-me aqui. Estou pronto para ajudar-vos, para contribuir na construção de vosso reino de amor os irmãos me esperam todos necessitamos uns dos outros: eles precisam de mim e eu preciso deles. Sem Vós nada posso Senhor. Tornai-me instrumento eficaz para servi-vos em vossa obra e na salvação dos meus irmãos. Quero, junto com eles, encontrar em vós, a Felicidade. Amém. À Nossa Senhora Mãe de Cristo, da igreja e dos homens! Dai-me fé para aderir ao Cristo, vosso filho e meu irmão. Quero como Vós, estar ao pé da cruz dos que sofrem, levando-lhes o consolo da palavra do vosso Filho, o conforto do amor de Cristo, meu irmão. Mãe de Cristo, Mãe dos homens minha Mãe! Ajudai-me em minhas lutas e meus trabalhos. Ajudai-me a ser filhos de Deus, consciente do dom infinito da Graça. Que seja ela crescente em mim e comunicante aos meus irmãos, de modo que todos vejamos na igreja, o Cristo vosso filho, Salvador da humanidade. Amém.

Oração final

Certa vez, os discípulos pediram ao Mestre: “ensina-nos a orar”. E Cristo respondeu:“Quando orardes, dizei assim”... Pai nosso que estais nos céu, santificado seja o vosso nome...

Lembrete

Ouça o sinal que Cristo nos deixou para que todos

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conheçam que somos cristãos:

“Dou-vos um mandamento novo: que vos amei, uns aos outros, como eu vos amei, para que vós também, mutuamente, vos ameis. Nisso conhecerão todos que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros” (Jo 13,34-35)

Invocação ao Espírito Santo e ação de graças

Quando você percebe que hesita no caminho do bem, saiba que é porque você não conhece a Cristo ou, então o esqueceu. Lembre-se sempre disso: Só se ama aquilo que se conhece e ninguém se esquece daquilo que ama! Não procure conhecê-lo amanhã. Nem deixe para amá-lo depois. O momento é agora! Abra o seu livro, abra o seu Evangelho. E faça a sua meditação. Aprendemos essas orações e rezávamos diariamente, mesmo sonolentos e às vezes sem entendermos direito,valeu à pena, pois elas ficaram gravadas em nossa memória. Meus pais, sempre colocavam em prática aquilo que aprendiam, essas orações nos acompanharam durante nossa infância e nos acompanham até hoje. Um fato engraçado que aconteceu era que na oração da manhã meus pais gostavam que partilhássemos a palavra, após ouvirmos o evangelho, era engraçado porque sempre estávamos sonolentos e também o quarto era pequeno para comportar tanta gente nunca éramos menos do que quinze pessoas. Pois sempre tinha um amigo, uma visita ou um parente. E todos eram acordados para participar da oração da manhã. Um dia minha mãe perguntou para meu irmão:-Ângelo, o que você entendeu do evangelho? Ele rapidamente respondeu:-Palavra da Salvação!

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Todos começaram a rir; as pessoas que iam nos visitar ou passar férias em casa também eram convocados a se levantarem às seis horas para a oração da manhã. “Dona Izabel sempre se manteve fiel aos valores, hoje é difícil ensinar nossos filhos, mas lembro sempre do exemplo dela das manhãs que ela chamava todos para rezar, tento ensinar tudo isso aos meus filhos.” ( Darielma Rodrigues)

Oração da noite

Também era uma bela oração e sentados na sala ou no quarto de nossos pais rezávamos juntos.

Exame de consciência - Oração da noite Santo Agostinho, que teve, na mocidade, um coração transloucado, conseguiu encontrar o remédio para todo mal:“Que eu Vos conheça, Senhor, e me conheça a mim próprio.” Você conhecerá ao Senhor pela meditação da manhã. Você conhecerá a si próprio pelo exame de consciência. Faça todas as noites, a sua radiografia espiritual. Estude, como bom soldado de Cristo, as causas dos fracassos. Conheça-se a si próprio. Para isso, faça o seu

Exame de conciência

“Por que vês um cisco no olho do teu irmão e não repara na trave que tens no teu olho? Ou como podes tu dizer a teu irmão: Deixa, irmão que eu tire do teu olho o cisco, não vendo tu mesmo a trave que tens no teu? Hipocrita,tira primeiro a trave do teu olho e, depois poderás ver, para tirar o que há no olho do teu irmão. Porque não é boa a árvore que dá frutos maus, nem é má a árvore que dá bons frutos.”

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Para podermos corrigir os erros dos outros, da sociedade, das estruturas, do mundo em que vivemos, devemos primeiramente, conhecer-nos a nós mesmos, corrigir os nossos erros, tirar a trave de nosso olho. Um mundo melhor só pode ser fruto de homens melhores, de homens santos. Você precisa ser cada vez melhor, cada vez mais santo. É isso que Cristo quer de você. Conheça-se, pois a si mesmo. E para isso faça o seu exame de consciência.

1 – Senhor, de tudo que fiz hoje, que foi que mais Vos agradou?2 – Senhor, e o quê mais Vos desgostou?3 – Por respeito humano, por comodismo, por qualquer outro pretexto, deixei de fazer, Senhor, algo que eu deveria ter feito?“ Senhor, ficai conosco, já é tarde e já terminou o dia”. “ Tudo é dom de Deus. É preciso saber dizer MUITO OBRIGADO. Nossos dias são ricos de presentes que o Senhor nos oferece. Se soubéssemos olhá-los e fazer deles um inventário, como um “rei por um dia”, inebriados e felizes de tantos bens oferecidos”. Só em Deus repousa minha alma. É dele que me vem o que espero. Só ele é meu rochedo e minha salvação; Minha fortaleza! Jamais vacilarei.

Às vezes rezávamos mecanicamente, éramos crianças ou adolescentes avoados, entretanto, papai e mamãe eram firmes tinham autoridade sobre nós, creio que fomos criados em uma base muito sólida de amor, carinho, compreensão e muita oração. E cada dia que passa percebemos a importância dessa família em nossas vidas. Vicentinos era um grupo que mamãe participava para ajudar as pessoas mais necessitadas. Sempre falava: “Ninguém é tão pobre que não possa dar, e nem tão rico que não possa receber.” Conseguiam cestas básicas e distribuíam para as pessoas carentes. Visitavam doentes levando sempre uma palavra de conforto. Essas atitudes refletiam uma grande felicidade em seus rostos e não sobrava tempo para tristeza ou amargura.

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Apostolados da oração era uma devoção fervorosa com o Coração de Jesus, toda sexta feira de cada mês vestia roupas brancas para participar da missa e ainda hoje continua devota ao coração de Jesus.

Festividade de São Francisco de Assis

Nino e Izabel sempre participavam da diretoria da festa a ajudavam incansavelmente as nove noites. Izabel ajudava na cozinha, matavam e assavam galinhas para leiloar a noite era sempre a primeira chegar e a última a sair. Relato de uma amiga:

“Recordo a calma, o sorriso sempre presente na face de Izabel. Éramos vizinhas e amigas, não de estar uma na cozinha da outra, mas onde nos encontrávamos era a mesma alegria. Ela foi sócia do Clube de Mães que eu era presidente sempre pronta a ajudar. Admiro muito o casal, pois sempre estavam juntos na igreja, nas reuniões, nos trabalhos na comunidade. Tinha época em que o arraial de São Francisco era 11 noites, trabalhávamos juntas e nunca ouvir Izabel reclamar.” (Maria Graci Pinto)

Às vezes tínhamos vontade de ter nossos pais só pra nós, nessa época de arraial de São Francisco, queríamos passear no parque, brincar, andar nos brinquedos, mas era impossível, poisseus compromissos com a igreja não permitiam que nos acompanhassem. Os irmãos mais velhos levavam os mais novos para passear era uma grande responsabilidade. Mas, mamãe nos ensinava que os irmãos mais velhos precisam cuidar dos mais novos e assim fazíamos.

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Perseguição Política

Após uma eleição em que o casal decidiu não apoiar os candidatos do governo do estado Izabel foi punida, pois mesmo sendo professora da rede estadual de ensino não se curvou as ameaças dos políticos que diziam que ela sofreria as conseqüências por ousar fazer campanha e votar contra o governo. Izabel e Nino tinham suas próprias convicções e já não podiam mais defender uma causa que não mais confiavam. Ela acreditava que tinha direito a escolher o candidato que mais se aproximasse ao seu ideal de justiça e sentido cristão. Por essa razão após as eleições foi transferida para Rondon do Pará na época vila Rondon, pertencia ao município de São Domingos do Capim, local de difícil acesso estradas de piçarra no período de inverno muita lama e buraco era início da década de 80. Mas só a transferência não bastava queriam punir ainda mais essa mulher, pois ela tinha ousado ser “contra” o governo isso não podia acontecer Izabel precisava ser castigada, para servir de exemplo para outros funcionários, por isso as lideranças políticas locais resolveram expulsar a família de sua morada, uma vez que tinham contato direto com os donos da casa alugada que eles moravam, e em uma tarde visitam o casal e dizem que devem desocupar a casa o mais rápido possível. Izabel ainda argumentou:- Precisamos de um tempo para conseguir outro lugar para morarmos.-Pegue seus paninhos de bunda e vão para o sindicado. Foi à resposta de uma das lideranças políticas que outrora Izabel tinha ajudado. Mais uma vez a oração se faz presente na família com uma intensidade maior, precisava conseguir o mais rápido possível um local para morar e também a liberação de um

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recurso de um empréstimo que Izabel tinha feito. Ela dizia tenhamos fé, tudo vai dá certo. Tinha sempre uma palavra de conforto que era a própria palavra de Deus:

“Que diremos depois disso? Se Deus é por nós, quem será contra nós? Aquele que não poupou seu próprio filho, mas que por todos nós o entregou, como não nos dará também com ele todas as coisas? Quem poderia acusar os escolhidos de Deus? É Deus que os justifica. Quem os condenará? Cristo Jesus, que morreu, ou melhor, que ressuscitou que está à mão direita de Deus, é quem intercede por nós! Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação? A Angústia? A Perseguição? A Fome? A Nudez? O perigo? A Espada?” Rm. 8, 31-35

Mamãe insistia: - Deus está conosco meus filhos tudo vai dar certo. Iremos conseguir um lugar para morar e será próximo da igreja, vamos acreditar, tenhamos fé. Não demorou muito encontrou um local na travessa Rui Barbosa próximo a igreja matriz restava agora aguardar a liberação do empréstimo que graças a Deus não demorou a sair. As pessoas lhe perguntavam:- Izabel, seu empréstimo já foi liberado? Quem foi seu pistolão? (pistolão político que ajuda as pessoas a conseguir alguma coisa) Ela com o sorriso que lhe é peculiar responde:- Foi Deus, companheiro de todas as horas e o meu único pistolão. Era cinco de fevereiro de 1980, ela já tinha completado nove meses de gravidez, mesmo assim fez faxina o dia todo na casa grande e velha que tinha acabado de comprar e ainda ajudou a fazer a mudança. Na madrugada do dia seguinte seu filho caçula veio ao mundo enchendo sua vida de alegria, emoção e benção, agora não precisava mais ser humilhada por morar em uma casa que não era sua. Tinha adquirido a sonhada

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casa própria, sua estrutura física não era a ideal, mas era a que tínhamos e agradecemos a Deus pela graça concedida. Os comentários sobre sua transferência continuavam, uma amiga sua disse que ouviu uma conversa entre uma deputada reeleita e o governador do estado:- Exonere a professora Izabel Peniche!- Eu não posso, ela já possui mais e 20 anos trabalhando para o estado. Não satisfeita ela exigiu.- Então transfira para um lugar bem longe, onde ela nunca mais tenha paz. Esse lugar seria vila Rondon. Quando Izabel tomou conhecimento desse episódio, apenas falou:- Em qualquer lugar que eu vá, Deus estará comigo, por isso sempre terei paz. Quando foi entregar os documentos para dar entrada em sua licença os boatos se transformaram realidade. A diretora da escola sede de Vila Mãe do Rio entregou portaria de transferência e lhe disse:- Não foi culpa minha. Ela apenas respondeu:- Não tire nunca Deus da sua vida.

“Anoiteceu em vila Mãe do Rio e acordou funcionária em vila Rondon. Foi muito triste, porém, naquela época era assim mesmo. Mas professora Izabel foi uma batalhadora enfrentou dificuldades, perseguição política com filhos pequenos. Enfrentou tudo acreditando em Deus e como grande guerreira saiu vencedora.” (Isabel Rainha )

Chegou em casa cansada, decepcionada, entretanto encontrou consolo em seu mais novo tesouro o qual recebeu o nome de Miguel Paulo. Miguel para homenagear Dom Miguel Maria Giambelli, bispo da diocese de Bragança-Pa e

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Paulo em homenagem ao papa João Paulo II. Dessa vez não foi uma escolha fácil, pois tinha três sugestões de nome: Miguel Paulo, Paulo de Tarso ou João Paulo. Em volta de tanta indecisão escreveu os três nomes e levou aos pés do sacrário rezou com muita fé pedindo a Deus lhe iluminasse na escolha do nome de seu mais novo tesouro. Mesmo com tantos problemas sempre encontrava tempo para continuar com suas atividades pastorais e a constante oração. Ainda estava de resguardo quando Dom Miguel foi lhe fazer uma visita. Conversaram sobre os mais diversos assuntos, ao se despedir Izabel pediu sua bênção. Dom Miguel já sabia dos comentários de sua transferência e diz para Izabel procurar seus direitos. Ao terminar a licençamaternidade Izabel decidiu ir à vila Rondon se apresentar na escola a qual tinha sido transferida. Antes de viajar para vila Rondon, hoje Rondon do Pará, encontra uma das responsáveis por sua transferência e a mesma falou:-Olha, eu não sou culpada pela sua transferência como estão comentado.- Eu sei que a senhora é. A senhora e a deputada foram responsáveis por essa transferência, antes eu acreditava que vocês eram mulheres tementes a Deus. Hoje vejo que são desumanas. Vocês sabem que eu tenho filhos pequenos, mesmo assim não evitaram fazer essa maldade. Não era fácil ir trabalhar em um lugar tão distante, em que as estradas de piçarra faziam as distâncias se tornarem maiores, mesmo assim enfrentou a dura realidade e foi. Em vila Rondon foi muito bem recebida, mas infelizmente a carga horária de trabalho era menor ela foi aconselhada pedir uma licença especial visto que sua mãe estava doente e necessitava de sua companhia. Izabel conseguiu uma licença de um ano.

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O Sr. José Justino de Carvalho prefeito de Irituia na época, visitou o casal e propôs a professora Izabel que assumisse turmas no município com o mesmo ônus querecebia no estado. Ela agradeceu-lhe a proposta, porém explicou que já tinha quase 25 anos de exercício do magistério e iria dar entrada no seu processo de aposentadoria, e que naquele momento não seria viável perder seu vínculo com a rede estadual.Mesmo assim o prefeito esteve presente sempre que a família precisava. O início dos anos oitenta foi marcado por muito sofrimento sua mãe estava doente e precisava de sua companhia por isso passava grande parte do seu tempo em Belém, quando era possível levava sua mãe para Mãe do Rio. Enquanto estava de licença cuidando de sua mãe deu entrada nos papéis de sua aposentadoria e dizia-lhe que quando se aposentasse voltaria a trabalhar na roça. Vovó às vezes apresentava melhora, mas logo piorava novamente mamãe cuidava dela com todo amor e carinho quando chegava à casa de minha avó ela dizia:- Chegou à alegria da casa. Izabel foi e continua sendo uma pessoa alegre que, contagia com sua energia positiva, às vezes é incompreendida por não agir da forma que as pessoas comuns agem é de uma força incomparável.

“Minha irmã é maravilhosa, só tenho coisas boas a recordar, quando eu era pequeno ela me carregava no colo e quando fiquei adulto passei a admirá-la ainda mais, sempre ajudando as pessoas, lá no Tatajuba era uma grande liderança ajudou muitas pessoas, nunca brigamos, também não víamos nossos pais brigar eles só nos ensinavam coisas boas.” (Mário Peniche)

Acompanhou vovó durante todo seu tratamento, o estado era estável alguns momentos vovó apresentavammelhora,

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entretanto não resistiu às sequelas do A. V. C. e morreu nos braços de mamãe. Que relata mais tarde: - Mamãe morreu santamente, em meus braços. Com o passar do tempo aprendeu que a morte é uma passagem para outra vida, para a vida eterna e sempre fala:

“Tal vida, tal morte”. Portanto precisamos estar preparados para esse grande momento, fala sobre a morte com grande tranquilidade. Já tem separada a roupa que usurará após sua morte e também os cânticos que quer que cantem e ainda os pratos a serem servido durante o seu velório nesse dia estará calma e serena. Minha morte será uma grande festa. “É interessante, ela encara a morte como encara a vida.” (Valdelina Pina)

Pouco tempo depois da morte de sua mãe, sua irmã Ormidia, também adoeceu e Izabel a tratou com muito carinho, mas a doença já estava em estágio avançado e sua irmã não resistiu por muito tempo e faleceu. Duas perdas em um período tão pequeno Izabel sofreu em silêncio e dizia:- Sofrer sorrindo para ajudar os que sofrem sorrir também. Antes de sua irmã morrer lhe pediu:- Comadre Izabel, cuide dos meus filhos. Era preciso manter a alegria, o equilíbrio para enfrentar mais uma situação de ausência de uma irmã que era sinônimo de alegria. E ainda contribuir na formação de seus sobrinhos agora órfãos de mãe. Seus sobrinhos têm um grande respeito e amor por Izabel e lhe adotaram como mãe.

Aposentadoria

Não demorou muito sair à portaria de aposentadoria e como ela tinha prometido foi com a família participar de uma missa em ação de graça em Vila Rondon. Em uma Kombi fretada viajou com a família, uma amiga, professora

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Conceição Albuquerque,e sua irmã Benigna. Foi uma viagem tranquila foram bem recebidos e a Celebração Eucarística foi muito bonita, após a Santa Missa ela recebeu homenagens. Entregaram-lhe rosas ao som dessa linda canção:

“Fica sempre um pouco de perfume, as mãos que oferecem rosas, nas mãos que sabem ser generosas. Dar um pouco do que tem a quem tem menos ainda, enriquece o doador, faz minha alma ainda mais linda...”

Voltamos felizes com mais uma vitória conquistada, visto que um pedido de aposentadoria demorava muito e o de mamãe, saiu em tempo previsto. Entretanto, anos depois ela percebeu que usaram de má fé, ela, havia passado quase 25 anos trabalhando com carga horária máxima de trabalho e se aposentou com carga horária mínima, tendo assim seus vencimentos reduzidos.

Mulher de sindicalista

Estava sempre pronta para ajudar o marido no que precisasse. Em alguns momentos era surpreendida por Nino que convidava de última hora alguém para almoçar em casa, e ela com uma habilidade invejável preparava um almoço em trinta minutos. Essa realidade ainda hoje permanece presente na vida do casal, pois sente um prazer imenso em ter sempre um convidado para partilhar suas refeições, diz em tom de brincadeira que Jesus, pode chegar a qualquer momento para almoçar com a família. Atualmente quando chegamos fora de hora para o almoço logo falamos chegou Jesus se for mais de um acrescentamos, junto com seus discípulos e os santos. Izabel deixava os prazeres da vida de lado para servir ao próximo. Em sua primeira visita na capital do Ceará, passou aproximadamente 24horas, porque precisava voltar

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com urgência para preparar um almoço para os trabalhadores rurais. Sempre que necessário acompanhava Nino nas visitas às comunidades rurais onde era sempre bem recebida. Izabel se adaptava com tanta facilidade a qualquer ambiente que estivesse, falava de acordo com os costumes da região. Sentava-se junto com as mulheres, ensinava, aprendia. Era admirada e amada por aquelas pessoas, algumas mulheres costumavam dizer:- Chegou a Santa. E gostavam da sua companhia e faziam de tudo para lhe agradar. Presenteavam com o que tinham: arroz, feijão, farinha, frutos, galinha... Recebia as famílias dos trabalhadores rurais em sua casa que apesar de não ter muito conforto tinha amor e dedicação.Mesmo aposentada a rotina de uma mulher comum nunca fez parte de sua existência envolvia-se integralmente com os trabalhos pastorais e junto com seu marido desenvolviam maravilhosos projetos na sua igreja.

Trabalhando com a juventude

Os jovens sempre estiveram presentes na vida do casal, ensinavam com seu exemplo e palavras despertavam lideranças nos movimentos e os acompanhavam constantemente. Nessa época ajudavam a coordenar dois grupos de jovens, um deles denominados igreja jovem que agregava adolescentes entre 11 a 14 anos o outro eram compostos por jovem acima de 15 anos. A participação do casal era integral Izabel agora aposentada tinha mais tempo para os trabalhos pastorais. Nos encontros de jovens ajudava desde fazer as refeições até as palestras e momentos de oração. Também acompanhavam o grupo de adolescentes o casal Cirino, a senhora Raimunda

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e senhor Antônio. Muitos casais que hoje se encontram engajados na vida pastoral ou que seguiram a vida religiosa tiveram em algum momento de suas vidas Nino e Izabel como exemplos e até sonhando tê-los como pai:

“Falamos recentemente em uma palestra que nossa base para permanecer nos grupos da igreja teve início a quase 30anos, na igreja jovem e depois engajando em outros movimentos e atualmente estamos na pastoral familiar, que foi fundada aqui em Mãe do Rio pelo casal Nino e Izabel. Eles sempre nos acompanharam e estão sempre prontos para nos ajudar.” (Miguel do Carmo Souza de Almeida e Antônia Lúcia Cirino dos Santos)

É mais de cinco décadas dedicada a evangelização, sem fanatismo religioso, mas atualizando-se constantemente as mudanças da igreja tendo como firme ideal seguir o Cristo e caminhar rumo à santidade. Palavras que Izabel repete com certa frequência:- Santos, são todas as pessoas que seguem a vontade de Deus. Precisamos lutar todos os dias para sermos santos. E assim vai envolvendo as pessoas com palavras e arrastando com o seu exemplo. Eu participei ativamente do grupo Igreja Jovem foi um momento de grande aprendizado reuníamos aproximadamente mais de 150 adolescentes sobre a coordenação do casal Nino e Izabel e do irmão Arcelino, na época o vigário da paróquia de São Francisco de Assis era o padre Paulino Brannbila. Era um movimento bem organizado passávamos três dias reunidos no Centro de Treinamento Padre Marino Contti, rezando, cantando, lendo, refletindo a palavra de Deus e ministrando palestras. Ouvíamos os ensinamentos dos padres, das freiras e do casal Nino e Izabel. E de outros adultos que nos acompanhavam. Após os encontros éramos

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enviados as comunidades para evangelizar e também reuníamos semanalmente para preparar as atividades a serem desenvolvida durante a semana nas comunidades. Surge nessa mesma época o grupo dos vocacionados, que era grupo que ajudava jovens e adolescentes a descobrirem sua verdadeira vocação. O casal Nino e Izabel sempre acompanhava esses grupos. Os filhos menores ficavam em casa, mas, não se esqueciam de 18h desligar a televisão e rezar o terço, pois era essa a orientação recebida de seus pais.

Fé e vida

Sempre vejo nessa mulher o testemunho vivo de sua fé. ”... tive fome e me deste de comer, tive sede e me deste de beber; era peregrino e me acolheste;” (Mt. 25, 35 )

Era uma noite chuvosa do mês de fevereiro, já estávamos com as portas fechadas, quando alguém bateu na porta. Olhamos pela janela era um homem muito alto e magro, mamãe abriu a porta e o deixou entrar para que saísse da chuva. O homem disse que estava de passagem na cidade e não tinha dinheiro pra pagar hotel e alguém lá na parada de ônibus lhe disse que nesse endereço tinha uma mulher que sempre acolhia as pessoas. Papai estava viajando estávamos nós, vovô e duas moças que moravam em casa. Mamãe perguntou:- O senhor já jantou? O homem afirmou que sim. Então mamãe mostrou o quartinho que meus irmãos dormiam e lá ele se agasalhou e dormiu. Pela manhã cedinho, mamãe o chamou para tomar café. Ele perguntou se ela não tinha medo de acolher um desconhecido em sua casa na ausência do seu marido. Ela respondeu que não, pois, vê em cada um a imagem de Jesus. O homem agradeceu e foi embora. “... era

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peregrino e me acolheste” Qualquer pessoa que chegasse a nossa casa sempre era bem acolhida. E ainda hoje aspessoas que tem o privilegio de visitá-los, sentemum prazer enorme em conversar com eles, Os dois passam uma energia positiva muito forte, mamãe sempre diz:- Nossa vida deve ser expressão de Deus. As pessoas que a conhecem sempre falam dela com carinho:

“Comadre Izabel é quase uma santa, nunca guardou mágoa de ninguém, nossa amizade vem desde quando éramos crianças. Recordo o dia que chamei pra ser madrinha da Ednalva, era dia 12 de outubro quando minha filha nasceu ela chegou e disse: Hoje é o dia em que Colombo descobriu a América e a Coló descobriu uma linda menina, como já éramos amigas de longas datas resolvi chamá-la para ser madrinha da minha filha. ” (Clotilde Moura de Oliveira).

“Eu gosto muito de minha madrinha, minha mãe fez a escolha certa. Quando eu decidi casar a primeira pessoa que pensei em chamar para ser testemunho do meu casamento forammeus padrinhos e acredito que fiz a escolha certa, pois é o casal que eu admiro extremamente.”(Ednalva Oliveira).“Essa família é um grande referencial de fé e oração, muitas vitórias vivenciadas por eles foi conquistada através da oração.” ( Myriam Góes)

“ Nino e Izabel fazem parte da minha história, juntos eles contribuíram para que eu me elegesse deputada estadual e consequentemente está aqui hoje, é um casal que admiro, recordo nosso tempo de cursilho, trabalho no sindicato, na igreja, enfim é uma família que soube transmitir valores familiares e cristãos. Acho lindo essa ligação que vocês têm.” ( Lourdes Lima)

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Trabalhando com criança

Em 1984 o prefeito eleito de Irituia José Leônidas pediu para primeira dama convidar Izabel para tomar conta da Educação Infantil em Vila Mãe do Rio, Izabel aceitou o novo desafio, pois sempre gostou de trabalhar com crianças. Iniciou um maravilhoso trabalho com mais de 150 crianças com a idade que variava entre 3 a 6 anos. A escola funcionava próximo de sua casa, trabalhava junto com quatro professoras e uma servente. Com poucos meses na direção da creche acontece uma tragédia no município. O prefeito de Irituia foi assassinado barbaramente em Vila Mãe do Rio. Mediante a este acontecimento tudo mudou a creche funcionava em uma casa do prefeito, após esse trágico episódio a família do prefeito desfaz o vinculo com o município, Izabel fica sem espaço físico para trabalhar, padre Marino cedeu o Salão Paroquial para que as crianças não ficassem sem aula. Com a mudança de governo a atenção para a creche não é mais a mesma, pouco tempo depois padre Marino mudou-se de Mãe do Rio e ficaram sem local para funcionar, as turmas foram removidas para algumas escolas de 1° grau, mas o tratamento não é o mesmo. É um fato lamentável, Pois na creche tinham uma programação e uma alimentação específica.

Retorno à roça

Muitos não entenderam porque uma mulher tão jovem, inteligente e repleta de ideais foi morar na roça. Ela tinha aproximadamente 44 anos, poderia ter dado continuidade aos seus estudos, Mas tinha outros planos plantar e colher os frutos da terra. Tinha trabalhado uma vida estava aposentada, porém sua situação financeira não

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era nada invejável. Estava cansada de uma vida com recursos limitados, pois mesmos trabalhando dia e noite, noite e dia a vida era uma constante agonia sempre faltava alguma coisa. Acreditava que voltando a trabalhar na roça teria fartura para toda a família. E assim fez, não tinham mais o terreno em Tatajuba e por isso resolveu comprar umas terras na comunidade do Peripindeua.O terreno adquirido era distante e não tinha boas estradas, as estradas que existiam eram abertas por madeireiros e o único meio de transporte eram pranchas de carregar toras era meados dos anos 80 em que o extrativismo vegetal era a grande febre da época em Vila Mãe do Rio existiam muitas serrarias. Era triste ver áreas enormes sendo desmatadas. Izabel tinha um propósito de não vender uma árvore, almejava deixar aquela área intacta. O terreno era belíssimo de uma natureza exuberante árvores centenárias faziam parte desse cenário, uma vegetação diversificada atraia vários tipos de animais um riacho de água fresca e cristalina fazia com que a paisagem fosse perfeita. Um dia atravessamos o terreno a pé foi uma experiência única, uma paz inebriava nossa alma. Não me recordo quantas horas passamos para atravessar, mas recordo o cheiro da terra molhada, o barulho das folhas secas, o sussurrar do vento, os animais correndo de um lado para o outro, o canto dos pássaros, a variedade de formas e cores de folhas, as árvores de variados tamanhos era esplendoroso. Estávamos felizes naquele momento, contemplado o mais generoso presente de Deus para nós. Sentíamo-nos pequenos com tamanho esplendor, as árvores eram tão altas que parecíamos minúsculos diante de tamanha grandeza. Concordávamos com mamãe não venderíamos uma árvore preservaríamos a qualquer custo àquela área. Em pouco tempo a roça prosperou e os frutos

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começaram a se fazer presentes em nossa mesa a fartura chegava e deixava mamãe muito feliz. Meus irmãos trabalhavam junto, meu pai continuava no sindicato, mas sempre que possível ia também contribuir. Era uma vida cheia de sacrifício às vezes tinham que fazer um longo percurso a pé visto que naquela época era difícil conseguir um transporte andavam em cima de pranchas (carro usado para transportar toras de madeira). Nessa período, a primeira geração dos filhos já era adolescente tinham entre 13 a 18 anos, estavam em uma época de descobertas precisavam muito da atenção dos pais mesmo estando realizando mais um sonho de sua vida Izabel não estava plenamente feliz, pois a família estava dividida, ela ia pra roça com os dois filhos mais velhos, Nino ficava em casa com os menores que estavam estudando e sempre que possível ia também para roça. Na época não entendíamos direito, mas sabíamos que alguma coisa não ia bem. Na região aconteciam vários conflitos ligados a posse de terra e papai, enquanto presidente do sindicado precisava defender os direitos dos trabalhadores rurais. Às vezes ele saia com os advogados para visitar algum trabalhador rural e demorava a voltar, ficávamos preocupados, mas graças a Deus ele sempre voltava em paz. Estava sempre presente, em nossa casa, o advogado e deputado estadual João Batista que lutava junto aos sindicatos pela reforma agrária, João Batista foi brutalmente assassinado em seis de dezembro de 1988, em Belém- PA. Nossa igreja vivenciava em algumas paróquias a teologia da libertação que em alguns momentos fazia grande confusão, permitindo que alguns de aproximassem da igreja e defendesse apenas sua ideologia. Eu tinha passado dois anos em Fortaleza - CE onde na paróquia que eu morava teologia da libertação

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era propagada tinha como lema fé e vida e fazíamos um esplendidíssimo trabalho de evangelização, principalmente com os mais pobres e marginalizados pela sociedade. Ressalto esses episódios para que possamos entender o que estava acontecendo com a minha família e minha igreja de Mãe do Rio. Era julho de 1985 eu já tinha 15 anos completos e participava ativamente dos momentos vivenciados pela minha igreja, era muito questionadora com amplo senso de justiça, por isso questionei e discordei com algumas atitudes do clero da minha paróquia naquela época. Relatarei um fato que deixou a população mãeriense bastante chateada e intrigada Foi uma missa que aconteceu em frente à igreja matriz, não costumávamos faltar às missas e nessa noite a liturgia era coordenada pelo MEB ( Movimento Eclesial de Base.) juntamente com os trabalhadores rurais, fiquei horrorizada quando após o evangelho os trabalhadores rurais começaram agredir verbalmente , meu pai ,que naquele momento era opresidente do sindicado dos trabalhadores rurais; falavam com aversão ,e achei contraditório para aquele momento tão especial como a santa missa.Algumas pessoas murmuravam e saiam da praça, falei com mamãe para sairmos ela disse que ficaria até o fim. Não contive as lágrimas e saí da praça inconformada com tamanha injustiça feita à pessoa do meu pai e, consequentemente a toda sua família. Fiquei revoltada e não queria ir à igreja, mamãe ficava triste e pedia pra eu voltar a participar do banquete eucarístico, era uma situação muito difícil. Meu irmão mais velho estava viajando na época e disse se estivesse aqui teria enfrentado esse povo fazendo desmentir publicamente as ofensas feitas a nosso pai. Outro fato que me deixou muito revoltada foi uma tarde após o almoço meu pai costumava deitar para tirar um cochilo, e chegaram alguns homens, trabalhadores rurais

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armados com foice e terçados e disseram:- Cadê seu Nino? Eu assustada e com muita raiva disse:- O que vocês querem?- Falar com seu pai, chamaele.- Se querem falar com ele, vão para o sindicado ele estará lá a partir das duas horas. Ele não tem direito de receber vocês aqui.- Nós, não quer falar com você, chama o teu pai! Falavam muito alto e papai acordou e foi atendê-los. Não lembro exatamente o que desejavam só sei que papai foi muito educado e ouviu o que eles tinham para dizer. Nessa mesma semana aconteceria uma assembleia geral de trabalhadores ruraisno sindicato. Sábado pela parte da manhã e os trabalhadores rurais se reuniram no Centro de Treinamento Padre Marino Contti, fizeram suas devidas articulações estavam armados de facão, enxada, foice e outros instrumentos rurais, papai ficou sabendo que eles iriam invadir o sindicato e expulsar a atual diretoria violentamente.Por essa motivo usou alguns contatos que tinha e pediu proteção da polícia militar, e naquela manhã de sábado as forças armadas do estado estavam no local onde aconteceria a tão falada assembleia. Izabel rezava sem cessar para que não acontecesse nenhuma tragédia. Ângelo, o filho mais velho, foi para reunião e ficou perto de Nino, Izabel ficou junto da multidão que esperava ansiosa o desfecho da reunião. Nino como de costume antes de ir para o sindicado passou na igreja e de joelhos perante o sacrário pediu sabedoria e discernimento para conduzir a reunião. Em seguida foi para o sindicato onde uma multidão já lhe aguardava. Os trabalhadores rurais orientados por um grupo queriam tomar o sindicato à força como faziam em outras regiões, entretanto Nino seguiu todas as formalidades e

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ainda fez seu último discurso enquanto presidente daquela entidade, no decorrer de sua fala disse que não ia se prolongar, porque na área externa do sindicato havia muitas pessoas no sol, Izabel estava no meio da multidão e ouvia algumas mulheres gritarem:- Sol, nós tamo acostumado a trabaiá é de sol a sol no roçado.- Ele nunca pegou num cabo de enxada, por isso reclama do sol! Izabel ouvia em silêncio... Graças a Deus, a reunião foi pacífica eles conseguiram vencer as eleições. Nino se afastou do sindicato dos trabalhadores rurais, na concepção daquele grupo foi uma grande vitória. Não vi muitas mudanças em nossas vidas depois da saída de papai do sindicato a casa continuava repleta de pessoas que precisavam da ajuda de meus pais, e minha mãe sempre repetia:- Fazer o bem, sem olhar a quem. Mesmo com todo o apoio que o vigário da época deu a esse grupo que blasfemava contra nossa família. Papai e mamãe nunca se afastaram da igreja e nem dos movimentos que faziam parte. Vejo nesses dois uma fé inabalável capaz de resistir aos maiores vendavais. Quando reclamávamos ou não entendíamos tanto amor, tanta caridade, mamãe nos respondia com um sorriso nos lábios: - O mal, por si se destrói. E assim a vida seguia em frente na mais pura alegria que só os corações abarrotados de Deus são capazes de espalhar. As pessoas que a conheciam superficialmente não acreditavam que Izabel era uma mulher comum, que morava em uma casa muito simples, tinha oito filhos e que, ajudava em todos os serviços domésticos, mas sempre muito elegante e ao mesmo tempo de grande simplicidade, algumas achavam que ela era completamente o oposto dessa mulher que acabei de descrever. Sempre estava rodeada de pessoas amigas que faziam questão de estar presentes em todos os

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momentos de sua vida.

Reunião festiva no quintal de sua casa, junto familiares e amigos.

Os trabalhos na roça continuavam, um fato que nunca entendi direito foi um dia em que meu tio João um irmão da mamãe que também trabalhava com ela chegou em casa e disse:- Troquei as árvores por um motor serra e por madeira serrada para construir uma casa lá no terreno. Não me recordo o que mamãe falou, porém sua expressão era de tristeza, amargura. Ela tinha perdido as contas de quantas vezes tinha dito não para o dono da serraria que todas as vezes que a encontrava falava em comprar as árvores e ela sempre firme diziaque não. Não tive mais coragem de voltar lá, porém ouvia minha mãe dizer que as árvores estavam todas tombadas, grandes, pequenas, grossas, finas, enfim era só um descampado. Não demorou muito se desfizeram do terreno. Nessa época Vila Mãe do Rio estava em processo

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de emancipação, papai e mamãe participaram ativamente desse movimento, após a emancipação ouve as eleições e o candidato eleito foi Dr. Silas Freitas, papai estava desempregado e sem terreno para trabalhar e foi convidado pelo atual prefeito para trabalhar na prefeitura e aceitou.

Casamento da primeira geração

Igreja matriz de São Francisco de Assis

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Seu filho mais velho Ângelo Marino e sua namorada Maria Rosenir recebem o sacramento do matrimônio dia 16 de agosto de, de 1987, logo em seguida nasceu o primeiro filho do casal que recebeu o nome de Samuel, mas é um bebê prematuro e logo vai para junto do Pai Celestial. Não demorou muito Rosenir engravidou novamente e dessa vez o primeiro neto nasceu saudável, vem para trazer felicidade para toda a família. Foi levado a pia batismal e recebeu o nome de Nilson. Logo a família aumentou e nasceu o segundo neto, Adriano. Nilson passou a maior parte do tempo na casa dos avós, onde foi muito amado e paparicado. Bem mais tarde nasceu a bela Izabel Cristina. Ainda na mesma década, Enrica e Elizeu também decidem casar, dois casamentos no mesmo ano.

Igreja de São Francisco de Assis

Raimundo Elizeu e Rosinete casam dia 17 de março de 1989. Dessa união nasce: Isabelle, Tatiane e Mateus

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Enrica Helena e Luiz Galdino, se casaram dia 1° de abril de 1989. Fruto dessa união nasce: Antônio Elder, José Erik e Helena Maria. Foi dia da mentira, mais foi a mais pura verdade.

1° de abril de 1989 Enrica e Neto Igreja de São Francisco de Assis - Mãe do Rio-PA

Ângelo comprou um terreno agrícola no município de Aurora do Pará e logo depois Izabel também comprou um terreno próximo, novamente foi trabalhar na roça. Apaixonou-se pelas terras e pelas pessoas que lá viviam decidiu evangelizá-las, educá-las. Construiu um barracão e utilizava astoras de árvores como bancos para seus alunos. Começou a dar aulas; as crianças aprenderam a ler as primeiras palavras na Bíblia, e escreviam na areia as primeiras letras deixando Izabel muito feliz, decidiu procurar as autoridades

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do município pra estruturar a escola e conseguiu algumas cadeiras, merenda para as crianças e também um contrato para trabalhar fundou a Escola Municipal Nova Vida. Nos finais de semana faziam celebração e decidiu junto com os moradores fundar uma comunidade que gostaria que recebesse o nome de Magnífica em homenagem a mãe de Jesus. Nesse período Izabel adoeceu e seu marido deu continuidade ao seu projeto de evangelização e junto com os moradores decidiu que o nome da comunidade seria Santa Isabel. A comunidade prospera rapidamente e Izabel ficou feliz em ver que seu trabalho não foi em vão. A família não estava muito satisfeita ao ver Izabel passar tanto tempo sozinha na roça, trabalhava demais, além de dar aulas também se preocupava com o roçado com algumas cabeças de gado, enfim a administração do terreno. Nas férias todos iam para o terreno era grande a alegria que Izabel sentia. Acordava de madrugada e começava seu dia cantando: “Ah como é belo amanhecer no pau amarelo...” convidava todos para fazer a oração da manhã em seguida iam para o igarapé escovar os dentes e tomar banho e assim começava mais um dia de luta.

Igreja de São Francisco de Assis - Mãe do Rio-PA

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Chamava suas vacas pelo nome alimentava e acariciava Favorita e Bangalô eram seus grandes chamegos. A vida na roça era de muito trabalho, faziam farinha, cuidavam de animais, plantavamlegumes... Era um terreno maravilhoso banhado por dois rios: Pau Amarelo e Jabuti, os dois rios eram um verdadeiro contraste o Pau Amarelo deságua no Jabuti, o Pau Amarelo raso e águas cristalinas geladíssimas, enquanto que o Jabuti águas profundas, cor escura e de uma temperatura bem morna. Sempre íamos nos divertir nos finais de semana ou nas férias. Em uma dessas viagens em que fomos para um aniversário o carro quebrou e precisamos passar a noite lá, não tínhamos levado rede, pois voltaríamos no mesmo dia. Éramos aproximadamente trinta pessoas, a casa só tinha uma área aberta e um quarto com uma cama de casal e uma de solteiro e aproximadamente quatro redes. Deixamos o espaço interno para as crianças e os adultos dormiram na parte externa literalmente no couro da vaca, foi uma experiência maravilhosa dormir olhando para estrelas. Momento também de grande proximidade com a natureza noturna era, quando estávamos no terreno e precisávamos viajar de madrugada, às vezes não tínhamos relógio e nos orientávamos pela lua. Mamãe nos dava verdadeiras aulas sobre astronomia, falava o nome das constelações, nos mostrava o Cruzeiro do Sul, as três Marias nos falava sobre a grandeza do Universo e as maravilhas que Deus Criou. Sempre aproveitava qualquer oportunidade para enaltecer as maravilhas criadas por Deus, não perdia nenhuma oportunidade de evangelizar. Os netos tinham verdadeira paixão pelo terreno e pela avó e sempre que podiam viajavam para esse paraíso. Mesmo com tanta beleza, tínhamos nossos compromissos em Mãe do Rio e não podíamos estar sempre presente, por isso, não concordávamos que mamãe naquela idade ainda trabalhasse tanto. E pedíamos constantemente para ela deixar o terreno.

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Capítulo VIDoença e Fé inabalável

Um dia ela acordou sentindo dores e não conseguiu se levantar foi o primeiro A.V. C. ( Acidente Vascular Cerebral.) Nessa época sua três filhas moravam em Belém, na sua casa moravam apenas o Geovane e o Miguel Paulo que ainda era muito criança. O Geovane estava na adolescência e foi um período que ficaram muito próximo ,ele que saiu para avisar os filhos casados, foi um susto muito grande para todos nós, mamãe passou alguns meses debilitada, porém sua fé em que seria curada era muito grande, ela tinha certeza que precisava ficar curada para continuar sua missão, sem poder falar ela pensava baixinho: “ Deus, minha missão ainda na terminou... “A messe é grande e os operários são poucos”. Deixa-me continuar minha missão.” Mamãe foi bem medicada, foi atendida por bons médicos e orávamos sem cessar e graças ao nosso bondoso Deus ela ficou completamente curada. E sua vida de trabalho e missão continuou. Mesmo não concordando com alguns trabalhos que ela fazia era impossível faze-ladesistir, pois como já citei algumas vezes teimosia è uma das marcas registradas de sua personalidade. Ela continuava a ir pra roça, a participar da vida na comunidade; nessa época surgia na paróquia às santas missões era início da década de 90, ela era catequista de uma turma de crisma e se fazia presente nessa turma seus filhos: Geovane, Josefina, Janet e Benigna era uma turma muito animada e compromissada com os trabalhos pastorais, seus sobrinhos Nelson e Eliana também participavam dessa mesma turma. Os jovens têm verdadeira admiração por essa mulher e aprendiam com alegria colocando em prática os seus ensinamentos.

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“A tia Izabel na minha vida representa paz, amor, alegria, companheirismo, fé e caridade. Tenho uma forte ligação com ela, porque foi ela que me pegou nos braços quando nasci; foi minha médica pediatra, o cordão umbilical ainda continua nos ligando. Tia Izabel foi minha catequista. Sempre com um sorriso, mesmo na dor. Dá graças a Deus por tudo sempre a encontro orando, seu terço, é seu fiel companheiro, pois a fé é seu sustentáculo. Quando participávamos da catequese de Crisma, fomos por ela convidados para sermos missionários nas Santas Missões foi uma experiência maravilhosa nos aproximamos mais de Deus. Quando minha filha Isabela nasceu, fiquei muito feliz quando registramos com o nome da tia avó Izabel. Uma mulher forte guerreira, amiga, mulher de fé exemplo de cristã. Seguimos seus passos e ensinamentos, pois suas conquistas, vitórias e superações servem como modelo de vida pra todos nós. (Nelson Peniche)”

Contribuiu na formação de várias gerações e tudo isso lhe trazia grande realização acreditava estar cumprindo seu papel de cristã.

“Trabalhei com Izabel nas Santas Missões no interior. Missionária autêntica pronta para servir a Deus e aos irmãos. Nas missõespopulares às vezes ficávamos hospedadas em barracão sem nenhum conforto, nunca vi dona Izabel reclamar estava sempre sorrindo e realizando seu trabalho missionário com muito amor.” (Irmã Fátima Barroso, missionária de santa Terezinha).

Primeira filha a ingressar na universidade Beni foi à primeira filha a entrar em uma universidade, era seu grande sonho e lutadora como sempre foi conseguiu realizá-lo. No dia em que passou no vestibular foi uma grande alegria para família que comemorou com festa e é claro com missa para agradecer a Deus esse precioso momento. Era

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final da tarde quando recebemos a notícia da aprovação no vestibular era uma tarde chuvosa, mesmo assim saímos nas ruas comemorando. Mamãe matou um peru que só ficou pronto quase meia noite, apesar da hora avançada todos participaram dessa saborosa refeição. A vida de Izabel continuava agitada os trabalhos na roça, em casa e na comunidade era uma constância em seu cotidiano. O segundo AVC não demorou acontecer ; nesse período Beni morava em Bragança, cursando letras na UFPA (Universidade Federal do Pará.). Por essa razãoresolvemos levá-la para o Hospital Santo Antônio Maria Zacarias naquela localidade. Graças a Deus e a um bom atendimento ela se recuperou rapidamente e não apresentou nenhuma sequela. A festa de formatura de Beni foi belíssima, em Bragança junto com sua turma e dias depois realizaram uma linda recepção em Mãe do Rio com a santa missa e uma grande festa no Lions Clube, onde seus pais receberam com alegria os familiares e amigos. Após sua formatura Beni conseguiu um contrato pela SEDUC e voltou a morar em Mãe do Rio e trabalhava em Ipixuna do Pará ministrando aulas de Língua Portuguesa, nessa mesma época presta concurso para o município de Paragominas, junto com seu namorado. São aprovados e decidem ficar noivos. É um noivado rápido um mês depois, acontece à grande festa é o casamento de mais uma filha.

Luiz, benigna, nino, izabel

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Nino e Izabel estão felizes. Benigna e Luiz se unem através do sacramento do matrimônio dia 26 de fevereiro de 1999. Sua filha recebe esse sacramento através das mãos de seu padrinho: Padre Manoel Filho, foi uma bela e descontraída celebração. Dessa união nascem quatro filhos: Marcus Vinícius, Carlos Alberto, Paulo César e Luiz Fernando. Mais quatro netos para encher vida dos avós de alegria.

A doença

Izabel sempre foi muito ativa a qualquer atividade, fosse ela física ou intelectual. Vivia intensamente, porém a doença vem lhe tirar um pouco desse aspecto de vida, mesmo sabendo que precisava trabalhar menos, não conseguia repetia constantemente:- Nós temos uma eternidade pra descansar. Acredito que seu maior defeito é a teimosia, pois já tem sua opinião formada e dificilmente muda. Essa postura de não ouvir e achar que pode tudo, trouxe graves consequências para sua saúde. Foram vários derrames que enfrentou mediante um pequeno período de sua existência o último deixando-lhe graves sequelas. Foi após o último A.V.C em que ficou dias hospitalizada sem falar e sem movimentar os membros inferiores. Nessa época tínhamos conhecido Myriam Eugênia que se tornou filha do coração um verdadeiro anjo em nossas vidas, e acompanhou constantemente os dias que mamãe ficou internada no Hospital do Coração em Belém. E a partir daí sempre esteve presente nos momentos importantes da família, fossem estes de alegria ou tristezas sempre estava junto apoiando a todos. Foi um período de muita oração, familiares e amigos juntavam-se em uma só voz e rogavam a Deus que devolvesse a saúde, a nossa amada e bondosa Izabel, agora ela já tinha mais de

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60 anos a recuperação seria mais difícil, fazíamos diariamente corrente de oração. Ela também mesmo em silêncio vivia na mais completa oração, pois sabia que sua missão aqui na terra ainda não tinha terminado. Após aproximadamente um mês internada ela retorna para casa para junto de seus familiares e amigos, e recebe muitas visitas. Enquanto estava no hospital, seus netos menores, na época Helena Maria e Marcus Vinicius rezavam pela sua breve recuperação. Um dia Helena que deveria ter aproximadamente três anos acordou alegre e disse:- Mamãe, sonhei com meu anjo e ele disse que a vovó vai ficar logo boa. Abracei minha filha e fiquei emocionada, naquele dia eu ia visitar minha mãe no hospital. Nesse dia ela começava a dar os primeiros passos. Seu retorno foi comemorado, com festas e orações, ela estava em nosso meio novamente, mas ainda andava muito lentamente, não pronunciava corretamente todas as palavras e não conseguia ler nem escrever. Acredito que essa situação era muito difícil para ela enfrentar, pois sempre gostou muito de falar, quando em uma reunião se pronunciava o mínimo que conseguia falar eram 45 minutos. Recordo-me de uma vez que um vendedor de livro veio lhe oferecer alguns livros que falava sobre alimentação e saúde ela deu uma verdadeira aula para o vendedor que em vez de vender o livro lhe presenteou com um livro e duas revistas. Agora era preciso reaprender muitas coisas principalmente andar e falar corretamente. Iniciou-se um longo período de exercícios, consultas constantes ao fonodiólogo e ao fisioterapeuta. Sua filha mais nova acompanha de perto essa nova fase de aproximadamente três anos de uma recuperação

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surpreendente. A fé, a alegria e a oração permanecem suas companheiras inseparáveis. “Dona Izabel é um exemplo de fé, alegria companheirismo. Principalmente fé, tantos momentos difíceis já superou com sua fé constante.” (Cícera Moreira). Aos poucos a recuperação aconteceu apesar de todo esse sofrimento o sorriso permaneceu em seus lábios e a convivência com as pessoas amadas lhe deixava cada vez melhor. E Izabel pouco a pouco vai se recuperando e voltando as suas atividades, agora com bem mais cautela, pois precisava estar constantemente tomando remédios. Mesmo assim já consegue ter uma vida social intensa.

Momentos de alegria e prazer ao lado de pessoas queridas, após o último AVC

Myriam e Izabel: balneário Vitória-Régia Mãe do Rio

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Pina, Charles, Izabel, Janet, Angelo, Regiane, Neto, Enrica e Helena

Izabel, seus filhos e cunhadas

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Formatura do Erik Missão no Rio Capim

Mesmo com sua saúde debilitada a missão de evangelização continuava, sentia um prazer inexplicável em poder estar constantemente evangelizando. Recordo trechos do hino que eles cantavam com grande alegria:

“Por escutar uma voz que disse que faltava gente pra semear, deixei meu lar e sair sorrindo e assoviando pra não chorar... Sou cidadão do infinito do infinito e levo a paz no meu caminho, no meu caminho, no meu caminho.”

Grande festa Bodas de Rubi 40 anos de matrimônio

Foi um dia de muita alegria no seio familiar e em seu núcleo de amizades, juntos comemoraram esse momento com uma missa celebrada por padre Gerenaldo compadre do casal. Nino fez uma belíssima declaração de amor durante a missa:

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“Hoje me sinto mais feliz do que

há 40 anos, quando casei com Izabel,

pois a cada dia que passa o meu

amor por ela e por minha família

torna-se mais sólido...”

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“Hoje me sinto mais feliz do que

há 40 anos, quando casei com Izabel,

pois a cada dia que passa o meu

amor por ela e por minha família

torna-se mais sólido...”

Após a missa partilharam um saboroso jantar filhos, genros, noras, amigos e netos estavam presentes para mais uma vez desfrutarem a companhia agradável dessa família. Nino e Izabel estavam lindos e sorridentes aproveitando o máximo cada minuto ao lado das pessoas que tanto amam.Tínhamos nesse dia a presença de sua filha adotiva de coração ,Miriam Eugênia uma nova amiga da família que foi amada por todos e que também nos amou com muita intensidade ;mamãe dizia:- Myriam é a alegria da casa. Não nos causava ciúmes, pois hoje temos maturidade pra saber que no coração de nossos pais sempre tem lugar pra mais um. Após quase meio século essa família tem história para contar . O que causa uma satisfação enorme a esse casal é ter a consciência que o pedacinho deles está presente em seus filhos amados e consequentemente em seus netos e bisnetos. Somos uma família comum com sonhos, alegrias, problemas, anseios, decepções, enfim uma família normal. Trazemos no bojo muito amor, carinho, companheirismo que nos foi transmitido do momento da concepção e se faz presente no decorrer de nossa existência. Ensinamentos que horas concordamos, outras questionamos, porém sempre com muito respeito, pois vemos que o exemplo de nossos pais são maiores que mil palavras. Recordo as citações bíblicas do livro de Eclesiásticos sempre ressaltados por mamãe: “Quem honra sua mãe é semelhante àquele que acumula um tesouro. Quem honra seu pai achará alegria em seus filhos, será ouvido no dia da oração. Quem honra seu pai gozará de vida longa; quem lhe obedece dará consolo a sua mãe. “Quem teme o Senhor honra pai e mãe. ”(Eclo 3,5-8)

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Crescemos ouvindo mamãe dizer: “As palavras comovem, mas o exemplo arrasta.” Eles sempre foram e são exemplos vivos, suas falas sempre tiveram coerência com suas ações. Quando éramos crianças nos levavam pra missa e quando nos tornamos adultos sempre dizem, não falte a missa. E os dois estão sempre juntos participando da santa missa. Vivenciamos dentro de nosso lar o exercício pleno da democracia, somos livres para escolher o time de futebol, o partido político, a profissão, os amigos, namorado, namorada, enfim nunca sofremos imposições de nossos pais. O diálogo sempre se fez presente e cada vez mais com uma frequência maior; o problema de um acaba se tornando o problema de todos. Não tivemos uma educação anacrônica, porém os valores cristãos sempre se fizeram presente no seio familiar e por isso não cansamos de agradecer a Deus por nos ter presenteado com essa família que amamos com mais intensidade a cada dia. Papai e mamãe apesar da idade avançada continuam nos ajudando da maneira que podem e principalmente com o mais importante à oração. Entretanto, estão sempre preocupados com o nosso bem estar físico espiritual e, são capazes de “tirar sua túnica” para nos vestir. Vale à pena ressaltar: Nossa primeira catequese começou em casa. Mamãe sempre nos alertou da história do povo de Deus. Diz que a Bíblia ,o livro sagrado ,está dividido em duas partes e que o antigo testamento nos conta a história da criação e a experiência dos primeiros povos com Deus e ainda a preparação o anúncio da chegada de Jesus Cristo. Enquanto que e o novo testamento nos apresenta o nascimento, a morte e a ressurreição de Jesus com a vida de seus seguidores. Sempre nos aconselha a ler a Bíblia para fortalecer a caminhada. Algumas leituras que nos recomendou:

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Promessa a Abrão .........................................• Gêneses 12,1- 3Sobre o Nascimento de Jesus ...................• Miquéias 5, 1- 3A Nova Aliança ...............................................• Isaías.42, 6- 7O Bom Pastor ..................................................• Jo.10,1- 19As palavras de Deus não passarão ........• Lc.21,33A videira e os ramos ....................................• Jo.15,1- 8Pedra Angular ................................................• Mt21,42Não sabeis que sois templos de Deus? .......• 1Cor3,16-17;6,19- 20

Fala que se quisermos adquirir sabedoria devemos buscar

em Deus, por isso precisamos ler constantemente a Bíblia. E a catequese de perseverança continua dia a dia, Izabel sempre preocupada com a vida cristã de sua família, apresenta profunda amargura quando toma conhecimento que algum dos seus faltou à missa de domingo. “Buscai primeiro o reino de Deus e a sua Justiça.” E Deus providenciará o que for preciso. Ela sempre fala: “primeiro a missaantes do trabalho, antes do lazer,”enfim antes de qualquer coisa. Acho interessante durante as missas ela acompanha baixinho as leituras e os evangelhos, estão todos gravados em sua memória. Por onde quer que estejamos à presença deles estará em nós. Procuramos seguir seus exemplos, demonstrando o amor profundo que sentimos por cada irmão, e somos solidários uns aos outros nos momentos de alegrias e tristezas. Sempre que podemos estamos juntos, partilhando nossos sofrimentos ou nos alegrando um com os outros. O casal Nino e Izabel leva mais um filho para receber o sacramento do matrimônio.

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Igreja de São Sebastião Geovane e a jovem Ednalvadizem o seu sim dia 30 de setembro de 2006, dessa união nasceu Felipe. Felipe nasceu com problemas de saúde e ficou aproximadamente um mês na incubadora, mais uma vez as orações se intensificam na família que oram pela saúde do mais novo ser. É uma corrente muito forte de oração todos os familiares estão em sintonia ,e para glória de Deus mais uma vez Izabel beija o chão três vezes, agradecendo a Ele mais uma benção na família conseguida através da oração. Muito foram e continuam sendo os ensinamentos que recebemos de Nino e Izabel. Citarei alguns que se fazem presente e se perpetuaram na família. A semente foi lançada e frutificou, mesmo estando longe seus ensinamentos são notados através das ações de seus filhos.*Acolhimento, está muito presente principalmente na Beni e no Miguel Paulo que recebem todos em sua casa com alegria.

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*Justiça característica muito forte em Enrica, que luta ferrenhamente para que a justiça seja vivenciada por todos.*Ajuda é peculiar da Janet que se doa com gratuidade para ajudar as pessoas, principalmente os doentes.*Coragem marca registrada de Ângelo que enfrenta com determinação os desafios da vida.*Carisma e Alegria Elizeu e Geovane que com facilidade lideram grandes grupos.* Constância na Oração Josefina e Beni, que fazem da vida uma oração.*Elegância Josefina e Janet que se preocupam com detalhes e estão sempre elegantes em qualquer ocasião.*Humildade quem conhece Beni logo se encanta por essa característica. Perceberam que os dez filhos foram batizados com nomes de padres e freiras? E quando alguém perguntava o porquê dessa escolha Izabel responde sorrindo:- Queria que meus filhos fossem padres, e minhas filhas fossem freiras. E quando era questionada pelos filhos:- Por que a senhora não foi ser freira? Ela sorrindo responde:- Para ser mãe de padres e freiras. Mas, a esperança ainda permanece acredita que poderá ser avó ou bisavó de um padre ou uma freira. Entretanto, ela trata com amor maternal todos os padres e freiras que dela se aproximam. Temos uma mistura dos dois muito presentes em nossa essência que nos faz mais humanos e compromissados com o mundo, temos o grande propósito de sermos felizes e fazer os que nos cercam felizes também. Pois como mamãe sempre canta: “Pois ser feliz e fazer feliz alguém...”.

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Encontramos a felicidade na oração, no convívio familiar, no trabalho, na conversa com os amigos, e principalmente na palavra de Deus é nela que conseguimos força para dar continuidade nos sonhos de nossos pais, que dia a dia vão se transformando pouco a pouco em nossos sonhos. Às vezes após um dia exaustivo de trabalho e problemas chegamos ao aconchego do lar, desabafamos com nossos pais e irmãos e momentos depois já estamos dando sonoras gargalhadas nossa família e o bálsamo para nossas feridas. A maturidade nos permite ver o quanto nossos pais têm uma sabedoria incalculável e somos privilegiados por termos percebido enquanto eles ainda estão em nosso meio. Recebemos declaração de amor diária dessas duas pessoas maravilhosas que nosso bondoso Deus colocou em nossas vidas. Sempre que possível retribuímos esse amor, não na mesma dimensão que recebemos mais na maneira que somos capazes de nos doar. Alguns filhos demonstram esse amor com mais intensidade, mas com certeza todos reconhecem a bondade, a dedicação e a oblação de nossos pais para conosco. Nino e Izabelsão eternidade em nossas vidas.

Acidentes.

Foi no finalzinho de junho de 2008, Izabel ia para Belém para festejar o aniversário de seu irmão Mário, juntamente com seu filho Elizeu e seus sobrinhos Rosa, Rodrigo e Francisco. Como de costume sempre que vai viajar o primeiro componente que não pode esquecer é o terço, portanto ia rezando silenciosamente entregando a viagem nas mãos de Deus por interseção de nossa senhora. Tudo parecia tranquilo, quando de repente o pneu do carro estourou e capotou várias vezes o carro ficou totalmente destruído e Izabel ficou presa nas ferragens. Era aproximadamente duas

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horas da tarde, o sol estava escaldante. O acidente aconteceu em uma cidadezinha próxima a São Miguel do Guamá,com muita persistência conseguiram tirar Izabel do meio das ferragens e ela foi levada para um Hospital em São Miguel, graças a Deus sofreu apenas pequenos arranhões no rosto. Logo a notícia chegou a Mãe do Rio, deixando todos muito preocupados e em oração implorando a Deus para que nada de grave tivesse acontecido. Após muita ansiedade recebemos a notícia que todos passavam bem. Acreditamos que foi um verdadeiro milagre faltava apenas alguns dias para o seu aniversário de 69 anos. Nessa mesma noite Izabel retornou para sua casa onde a família a esperava ansiosa e feliz por tê-la novamente em seu seio.

É big, é big, é hora, é hora...

15 anos Isabel Cristina: Elder, Isabel, Izabel, Erik, Isabelle, Tatianne.

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Dia 8 de julho desse mesmo ano tivemos motivo de sobra para comemorar duplamente o dom da vida, Izabel renasceu mais uma vez e viva está no meio de nós, nos alegrando com sua presença. Nesse ano também comemorávamos os 15 anos da ,bela Izabel Cristina, sua neta, que nasceu no dia sete de julho. Izabel Cristina estava admirabilíssima com um vestido lilás e uma maquiagem perfeita que realçava seus traços de beleza. A família se reuniu para rezar e agradecer o dom da vida de Izabel Cristina, na casa da matriarca, após a oração foram jantar em um restaurante do lado de sua casa, após os parabéns da Izabel neta cantamos o primeiro parabéns da matriarca, pois já passava da meia noite era os primeiros momentos do dia oito de julho e cantávamos felizes agradecendo a Deus por mamãe está em nosso meio. Na manhã do dia oito de julho a família se reuniu para saborear um gostoso café preparado com carinho por seu marido e suas filhas. Mais um grande momento de alegria, encontro, partilha. O amor se fez presente em cada abraço em cada gesto de todos que dela se aproximavam.

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A mais pura prova do amor de Deus se expressa no olhar da amável Izabel, tornando se realidade as citações bíblicas tantas vezes repetidas por ela:

“Caríssimos, se Deus assim nos amou, também nós nos devemos amar uns aos outros. Ninguém jamais viu a Deus. Se nos amarmos mutuamente, Deus permanece em nós e o seu amor em nós é perfeito.” 1 João 4, 11-12

E assim continuava espalhando suas sábias palavras entre os netos, filhos, amigos e todos que dela se aproximavam. Palavras que ecoavam em nossas mentes nos transformando cada dia em pessoas comprometidas com a construção de um mundo melhor. Tudo em nossa família sempre foi motivo pra festejar e esse 69° aniversário da matriarca mais do que nunca deveria ser comemorado. Meio diaalmoçaríamos juntos e à noite, iríamos para a missa e assim terminaríamos mais um dia de aniversário de Izabel. O almoço aconteceu com muito alvoroço e vários parabéns, muitos abraços e votos de felicidade e vários presentes, pois é uma das marcas de Izabel é gostar muito de ganhar presentes e exibir os mesmos. À noite a família vai pra igreja agradecer na santa missa o milagre da vida e o imenso amor de Deus, para com todos. A vida continuava com sua rotina peculiar, agora com um propósito de mudar de casa, não foi tarefa fácil convencer Izabel que o ideal seria procurar outra casa em lugar mais sossegado, com uma estrutura melhor e de preferência não muito longe da igreja. Colocaram placa de venda na casa apareceram algumas propostas de compras, entretanto nenhuma se concretizou, após um ano decidiram não mais vender, mas a procura de outro lugar para morar continuou. Estávamos em 2009, iríamos comemorar seus 70

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anos. A Janet se encarregou de organizar o evento, cada filho iria contribuir com uma quantia para ajudar nas despesas. Eu fiquei incumbida de preparar as mensagens e um e slide para homenagear a aniversariante, foi através da preparação desse slide que surgiu a ideia de escrever a história dessa mulher. A organização da festa foi uma grande euforia Izabel estava radiante. Janet pensava em todos os detalhes, principalmente em entrar em contato com os seus amigos , os cânticos da missa, a roupa da aniversariante. Tudo pensado nos mínimos detalhes. O convite confeccionado pensando na aniversariante era o seguinte:

Finalmente chega o grande dia!

Oito de julho de dois mil e nove, primeiro momento o café da manhã, com a presença de toda família e alguns amigos, que ao redor da mesa agradeceram o dom da vida e cantaram vários parabéns. Seu filho Ângelo leu uma linda mensagem transmitida pela Rádio Fortaleza FM, todos ficaram atentos e aplaudiram com alegria a aniversariante do dia.

Convite de aniversário de 70 anos

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Eis a mensagem: A importância da alegria!!! Da festa! Da comemoração! Enrica Peniche

“Quando vence uma batalha, o guerreiro comemora. Esta vitória custou momentos difíceis, noites de dúvidas, intermináveis dias de espera. Desde os tempos antigos, celebrarem um triunfo faz parte do próprio ritual da vida.” (Paulo Coelho)

Por isso estamos juntos reunidos e felizes e com muita alegria comemorando o dom da vida de Izabel, que já percorreu um grande caminho realizando sonhos.Os amigos olham com alegria as vitórias dessa mulher guerreira, e perguntam: Por que faz isto? Como consegue vencer tantos obstáculos? Como podes ser tão forte? Com um sorriso que lhe é peculiar ela responde: - Entrego tudo nas mãos de Deus, Ele me acompanha todos os momentos. Essa é a explicação para uma vida de amor, missão e doação a serviço do bem comum, sua trajetória é marcada por muitas vitórias tendo sempre como companheira de batalha uma grande e inseparável arma a oração. É ela que lhe fortalece e faz o impossível se tornar possível. São tantas as nomenclaturas que te damos no decorrer de tua vida: Izabel, Bebel, professora, tia, vovó, santa... E ela atende a todos com calma e simplicidade. Somos agraciados por Deus por termos o privilegio de fazer parte de tua existência. Por isso hoje só temos a agradecer a Deus pela sua vida desejar felicidades e comemorar com muita alegria esse momento único que é o dia do teu aniversário. Com você ao nosso lado nossa vida tem mais alegria! Nossos dias são mais especiais encontramos mais sentido em nosso existir! Sabemos que muito do que somos

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devemos aos momentos passados a teu lado, pois sempre estais disponível para ensinar, ajudar e orar junto aos seus.Por isso não nos cansamos de repetir: Obrigado. Obrigado, abrigada Meu Deus por Izabel Peniche da Paixão existir. Continuas protegendo essa mulher para que ela continue semeando bondade, amor e paz em nosso meio.E vamos com muita alegria celebrar hoje suas vitórias de ontem, para ter mais forças para enfrentar as batalhas de amanhã. Amamos você! Com carinho seu esposo, seus filhos, filhas, genros noras, netas e netos. Essa mesma mensagem foi lida novamente à noite após a missa por sua filha Janet. Ficamos juntos durante o dia nos preparando para o grande momento que seria a santa Missa, Izabel reuniu os netos para o ensaio dos cânticos escolhidos por ela. Eram os seguintes:

Missa em ação de graça pelo aniversário de Izagel Peniche da Paixão: 70 anos.

1 - Entrada: Quem É Esta Que Avança... “Quem é esta que avança como a aurora,Temível como exército em ordem de batalha,Brilhante como o sol e como a lua, Mostrando o caminho aos filhos seus.Ah, ah, minha alma glorifica ao senhor,Meu espírito exulta em Deus, meu Salvador.

2 - Perdão: Tende Piedade Tende piedade, Tende piedadeTende Piedade de nós, Ó Senhor.Tende Piedade, Tende PiedadeVosso povo é santo, mas também é pecador.Vosso coração de pai sabe perdoar,

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Vosso coração de filho sabe perdoar,Vosso coração de Deus consolador,Sabe perdoar, sabe perdoar.

3 - Glória: Vamos todos cantar nosso louvor...Ao pai que nos criou / Que por amor nos deu, A salvação.Glória, ao pai que nos criou/ Glória ao filho Redentor/ Glória Espírito de amor/ Gloria ao senhor

4 - Aclamação: Como São BelosComo são belos os pés do mensageiro que anuncia a paz Como são belos os pés do mensageiro que anuncia o senhorEle vive, Ele Reina, Ele é Deus e senhor. (bis)

9 - O meu senhor chegou com toda glória, vivo Ele está, Ele estáBem junto a nós, seu corpo santo a nos tocar, e vivo eu sei, Ele está.

5 - Ofertório: Um Coração Para AmarUm coração para amar, pra perdoar e sentirpara chorar e sorrir ao me criar tu me destes um coração pra sonhar, inquieto e sempre a bateransioso por entender as coisas que tu me deste

eis o que eu venho te dar eis o que eu ponho no altartoma senhor que ele é teu meu coração não é meu

Quero que o meu coração, seja tão cheio de pazque não se sinta capaz, de sentir ódio ou rancorquero que a minha oração, possa me amadurecerleve-me a compreender as consequências do amor

eis o que eu venho te dar eis o que eu ponho no altartoma senhor que ele é teu meu coração não é meu

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6 - Santo: Santo , santo és tu senhor/ És nosso Deus e nosso criador/ Bendito seja quem vem em teu nome.(bis)

Se os montes falassem e os mares soubessem se expressar/ Uniriam se os clamores aos dos anjos e louvariam num único cantar.

7 - Pai Nosso8 - Paz Esteja ContigoA paz esteja contigoA paz esteja comigo A paz esteja com eleCom elaE com todos os irmãos

Como Jesus pediuComo Jesus orouComo Jesus nos ensinou

Paz. Paz, paz na nossa IgrejaPaz na terra em toda parte e assim sejaPaz pra você que tem Jesus no coraçãoPaz pra você que é meu amigo e meu irmão.

9 - Canto de comunhãoQuero aprender teu falar, no teu livro aprender a liçãoMinha canção vou cantar no compasso do teu coração

E teu nome eu irei proclamar e enquanto eu viver falarei do teu reinoE no coração da humanidade quero estar semeando o amor

Ensinando o perdão, comungando o teu pão que do céu nos envias pra ser alimento e certeza de vida eternae num santo milagre de amor, tu te tornas presente entre nós

Obrigado Senhor, obrigado Senhor. Quero sentir tua mão, quando a dor me fizer prisioneiro

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Nunca quero me esquecer que ao teu lado sou muito mais euQuero ser firme na fé, ser humilde, saber compreenderNão olhar para trás nem temer sempre ouvindo tua voz que ensina.E o teu nome eu irei proclamar...

10 - Canto Final. É no campo da vida que se esconde um tesouroVale mais que o ouro, mais que a prata que brilha.É presente de Deus, é o céu já aqui,O amor mora ali e se chama família.Até o mesmo o céu desejou ser família,Para que a família desejasse ser céu.Nela se faz a paz no ouvir, no falar.E na arte do amar o amargor vira mel.

“Como é bom ter a minha família, como é bom.Vale a pena vender tudo mais para poder comprar.Esse campo que esconde um tesouro, que é puro dom “É meu ouro, meu céu, minha paz, minha vida, meu lar.”

2 - Na família a mentira não se dá com a verdade,E a fidelidade sabe o peso da cruz,Porque lá há amor, há renúncia, e perdão,Há também oração e o chefe é Jesus.Surgem falsos brilhantes enganando a família, Tão sutil armadilha de um doce sabor.A riqueza maior é de Deus a presença.Na saúde, na doença, na alegria e na dor.

Tudo se sucedeu tranquilamente, pois o jantar seria servido em uma churrascaria. Uma das exigências da aniversariante era para que ninguém de sua família faltasse à missa e também não chegassem atrasados. O evento estava organizado para aproximadamente 160 pessoas, a missa foi celebrada por Padre Valter, concelebrada por Padre Juraci e animada pelo Coral Novo Ser, os familiares e amigos estavam presentes compartilhando com Izabel mais um ano de vida, eram sete décadas bem vividas.

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Josefina fez o comentário da missa, Geovane leu a leitura, Marcus Vinicius o salmo e os netos a oração dos fiéis. No sermão padre Valter ressaltou a importância da família e da contribuição da história de vida de Izabel para seus filhos e gerações futuras. Amigos, familiares e parentes compartilhavam com alegria desse momento de ação de graças.

A aniversariante estava belíssima, vestia um vestido longo salmon, bordado delicadamente com pedras transparente e um blazer da mesma cor bordado com os mesmos detalhes do vestido. Usava um relógio e uma pulseira prata que combinava perfeitamente com o brinco. Calçava um mule preto, de salto médio extremamente confortável. Estava suavemente maquiada e com os cabelos curtos bem escovados e sorria frequentemente externando sua alegria. Nino ao seu lado vestia calça de linho preta e uma camisa de mangas comprida azul celeste, calçava sapatos pretos bem engraxados, também estava muito elegante ao lado de sua amada Izabel. A única filha que não estava presente era Benigna, pois estava de resguardo do pequeno Luiz Fernando que

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estava apenas com oito dias. Porém seus três filhos: Marcus Vinícius, Carlos Alberto e Paulo César se fizeram presentes representando à família Paixão de Sousa.Após a missa todos se abraçavam e desejavam a paz de cristo a amigos que fazia anos que não víamos.

A ação de graças

Homenagem a Aniversariante Izabel Peniche da Paixão

Nesse momento de ação de graça em que estamos em sintonia com o pai celestial queremos mais uma vez agradecer o dom precioso da vida de Izabel. É a maneira mais importante que encontramos para homenageá-la não cansamos de agradecer a Deus por permitir a sua presença em nosso meio. Izabel tua vida é marcada por tantas historias transformando-se em uma realidade repleta de ensinamentos, pois desde sua mais terna infância forte obediente ao pai do céu. Essa obediência fez com que assumisse verdadeiramente o seu compromisso de batizada: trabalhar para o reino de Deus em qualquer lugar que estejas. Na família amando e respeitando ao esposo e filhos, ressaltando sempre a importância da caridade, da prudência e do perdão entre todos. Na escola, profissional competente comprometida com os seus alunos, amiga e companheira de todos que faziam parte da comunidade escolar. Na vida social e missionária fazer o bem a todos ver em cada um, um irmão. Na vida dos netos e bisnetos avó presente em todos os momentos. É uma vida de luta semeando paz, amor levando a

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palavra de Deus nos lugares onde passa. Nesses últimos anos de tantas provações, tantas doenças somos testemunhas que sua vontade de viver é maior e apesar das limitações que por problemas de saúde enfrentas mantém sua fé inabalável em Deus. Por isso louvamos e agradecemos por tê-la nesse momento de alegria e festa! Obrigada pai do céu continue derramando bênçãos e graças na aniversariante do dia.Enrica Helena Peniche da Paixão, Mãe do Rio, julho de 2009. Ao terminar a santa missa fomos para o Restaurante Rei das Selvas, onde recebemos nossos convidados. Mamãe estava muito feliz, antes de servir o jantar apresentamos para todos uma homenagem exibida através do slide, a qual exibia trechos de sua história de , divididos por décadas. A festa foi muita animada, tudo estava perfeito a comida, as músicas, a aniversariante irradiava de felicidade. Cumprimentava seus velhos amigos, dançava e pousava para as fotos com muita naturalidade.

Seus netos: Elder e Isabelle

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Noras Ednalva,Rozenir e Rozinete

Sobrinhos: Isabela, Nelson, Eliana e Nalva

“ o que as grandes e puras afeições entre membros de uma mesma família têm de bom é que depois da felicidade de as

ter sentido, resta ainda a felicidade de sempre recordá-las nos momentos de saudade.”

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Netos: Felipe, Matheus, Helena, Carlos, Marcus e Paulo César

“as verdadeiras amizades contiuam a crescer

mesmo a longa distâncias!

Amigos: Aldebarã, Luíza,

Japão

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Alguns convidados não poderam estar presentes, mas mandaram algum representante ou a promessa de que viriam visitá-la no próximo fim de semana. A festa de aniversário rejuvenesceu a aniversariante que recebia visitas e exibia seus presentes. Após alguns dias do seu aniversário feliz da vida foi para Salinópolis-Pa visitar seu mais novo neto e a com ele no colo a vovó coruja é fotografada.

Há quem diga que essa

mulher tem

setenta anos?

“Esbanja jovialidade e alegria. “É uma mulher que eu admiro, sempre fiel aos valores e princípios, Izabel Peniche é um grande referencial para população maeriense.” (Badel)

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A nova casa

Em outubro de 2009, após muita procura encontram uma casa não muito distante da igreja. Combinam que só mudariam após a festa de São Francisco de Assis padroeiro da cidade. Mudaram para nova residência no final do mês de outubro nesse mesmo mês fizeram um louvor em ação de graças por terem conseguido uma residência próxima da igreja. 14 de novembro a primeira festa na casa nova para comemorar o batizado do mais novo neto Luiz Fernando e também se iniciou as homenagens ao aniversariante do mês: Nino que faria aniversário dia 16 de novembro, nesse mês tínhamos a seguinte programação: 1° Parabéns dia 14 sábado, junto com a festa de batizado de seu neto; 2° Parabéns dia 15 domingo, seguido de um almoço na casa do deu filho mais velho; 3° Parabéns dia 16 segunda-feira, seguido do café da manhã em sua residência; em virtude de que nesse mesmo dia ele viajaria para Bragança-Pa, a fim de participar do Sínodo.Mesmo após um período com problemas de saúde, Nino agora estava bem disposto e continuava sua missão de evangelizar.

II Acidente

A nova morada é uma casa bem espaçosa, um pequeno pátio na frente, uma sala pequena e aconchegante, três quartos, uma cozinha, uma garagem grande e uma área de serviço. Para ter acesso a área de serviço é preciso descer três degraus. Janet sempre muito preocupada pedia constantemente para mamãe evitar descer essa escada, parece que ela estava prevendo o que ia acontecer em uma tarde da primeira semana de dezembro

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125 A mulher que deixou o tempo para trás

Izabel escorregou e caiu, na hora da queda ela se segurou na grade e felizmente bate apenas a perna. Foi levada ao pronto socorro onde recebeu a medicação e voltou pra casa, à perna sofreu um arranhão que ao poucos foi se transformando em uma ferida. Era início do mês de dezembro de 2009, tínhamos alcançado uma grande graça, com relação a um problema de saúde de papai. Elizeu tinha feito uma promessa para todos os filhos acompanharem o Círio de Nossa Senhora de Nazaré, em Mãe do Rio. No dia do Círio alguém precisava ficar com Izabel, pois ela não podia andar, mesmo assim foi para sua casa na travessa Rui Barbosa, para ver a procissão passar, a perna estava imobilizada, porém o coração estava feliz porque poderia contemplar mais uma vez a passagem da imagem da Virgem de Nazaré da frente de sua casa, após o círio ela passou mal e foi para Belém, a ferida na perna tinha infeccionado ela foi obrigada a imobilizar a perna e passou uma temporada sem andar. Mas um período parada. É tempo suficiente pra reflexão e aprofundamento na oração os dias parecem maiores e as horas são usadas para ler a Bíblia e refletir sobre a palavra de Deus.

Círio de nossa Senhora de Nazaré, Mãe do Rio, 2009

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Muitas Alegrias em 2010

No ano seguinte recuperada do problema na perna, mesmo todos insistindo para Izabel acompanhar o círio de Nossa Senhora de Nazaré de carro ela disse que estava bem e acompanhou todo o percurso do círio a pé, e sentiu-se muito feliz e realizada. Agradeceu a Deus e a Nossa Senhora de Nazaré por tanta bondade concedida.Família esperando a passagem do Círio de Mãe do Rio 2010

Sonhos Ainda tem muitos sonhos e mesmo após quatro derrames (A.V.C.) como costuma falar, acredita que vai realizá-los. Atualmente com seus 71 anos completos apresenta grande determinação e uma ótima aparência, sempre muito elegante é motivo de admiração para os que estão próximo. De uma energia inabalável, mas também a teimosia continua. Sonhos que pretende realizá-los:

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• Ver toda a família na fila da comunhão;• Construir uma igrejinha, para Nossa Senhora da Providência, a santa que era padroeira do Tatajuba;• Ver um prédio da família construído no seu antigo endereço, na Travessa: Rui Barbosa;• Levar toda a família para almoçar no posto Rei das Selvas;• Levar os netos Izabel Cristina e Jose Erik para um passeio nos pontos turísticos da capital paraense;• Construir uma casa no campo, como já cantava nossa saudosa Elis Regina:

Eu quero uma casa no campoOnde eu possa compor muitos rocks rurais

E tenha somente a certezaDos amigos do peito e nada mais

Eu quero uma casa no campoOnde eu possa ficar no tamanho da paz

E tenha somente a certezaDos limites do corpo e nada mais

Eu quero carneiros e cabras pastando solenesNo meu jardim

Eu quero o silêncio das línguas cansadasEu quero a esperança de óculos

Meu filho de cuca legalEu quero plantar e colher com a mão

A pimenta e o salEu quero uma casa no campo

Do tamanho ideal, pau-a-pique e sapéOnde eu possa plantar meus amigos

Meus discos e livrosE nada mais.

Acredito que Izabel acrescentaria, onde eu possa ler minha Bíblia e entoar salmos de louvor, correr e nadar com meus amigos, filhos, netos, bisnetos e louvar a Deus sem cessar.

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São sonhos viáveis que juntos faremos o possível para concretizá-los, continuamos dia após dia tirando grandes lições de vida com essa família que tivemos o privilegio de nascer, crescer e permanecer unidos. Apesar das diferenças a família se reúne para rezar, festejar e tomar alguma decisão de interesse coletivo. Hoje a família Peniche da Paixão, já possui cinco ramificações são as seguintes:• Silva da Paixão• Vasconcelos da Paixão• Paixão Brito• Paixão de Sousa• Lima Peniche da Paixão Com a incumbência de continuarem transmitido, os valores da família Peniche& Paixão pelo mundo a fora. Com o passar do tempo aprendeu-se a dividir insatisfações, preocupações e angustias alegrias e projetos. Atualmente nos reunimos religiosamente todas as terças feiras para rezarmos a novena de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, em seguida ler e partilhar a palavra do evangelho. Finalizamos esse momento com um abraço de paz. Depois partilhamos o lanche e a conversa continua. É mais uma oportunidade para socializar os problemas as alegrias, ou simplesmente colocar os assuntos em dia. São momentos preciosos de oração, reflexão e relaxamento. Às vezes depois de um dia fatigado de trabalho as famílias têm a oportunidade de juntas darem sonoras gargalhadas. Cada terça as reuniões acontecem em uma família. Quando achamos necessário marcamos reuniões extraordinárias. Se surgem problemas que julgamos mais graves intensificamos os ritmos das orações. Mesmo com suas limitações a presença e contribuição de mamãe são de suma importância. Ela está sempre ressaltando que acima de tudo devemos amar-se uns aos outros. Acredita que onde

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exista amor mútuo reina a paz, a alegria, a generosidade. Não se cansa de citar o Evangelho de São João:

“Como o pai me ama, assim também eu vos amo. Perseverai no meu amor. Se guardardes os meus mandamentos sereis constantes no meu amor, como eu também guardei os mandamentos de meu pai e persisto no seu amor. Disse-vos essas coisas para que a minha alegria esteja em vós, e a vossa alegria seja completa. Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outro, como eu vos amo.” (Jo 15,9-12)

Hoje enxergo com mais clareza a luta de mamãe em prol de todos. Percebo que aqueles que lutam por uma boa causa procuram difundir mais amor e compaixão, anseiam levar ao próximo a compartilhar da generosidade, contentam-se com pouco para si, querendo apenas o essencial para viver com dignidade. Recordo trecho do hino de padre Zezinho que ela gosta de cantar: “Eu quero ter o bastante o suficiente pra viver decentemente.” Aprendemos no decorrer de nossa história que sempre temos algo a compartilhar com quem mais precisa: tempo, afeto, conhecimento, habilidades, alegria, mamãe repete com certa frequência precisamos nos comprometer com o reino: - Deus tem um plano para cada um de nós, não devemos ser meros espectadores do bem, é necessário sermos realizadores, protagonista da história. No plano do amor de Deus nós ocupamos Começo- Meio –Fim. Apesar de termos livre arbítrio, não devemos nos desviar do caminho de Deus, pois é o caminho do amor e da justiça. Vamos fazer de nossa vida uma constante oração. Orar é elevar o pensamento a Deus, em todo e qualquer lugar viva na presença de Deus que sua vida será uma oração. Quando por algum motivo estamos tristes ou poucos motivados ou até mesmo estressados com a labuta ela

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sabiamente nos acolhe e diz: - Não fiques triste, escutem a voz de Deus, como já dizia São Paulo aos Filipenses:

“Alegrai-vos sempre no Senhor. Repito alegrai-vos! Seja conhecida de todos os homens a vossa bondade. O senhor está próximo. Não vos inquieteis com nada! Em todas as circunstâncias apresentai a Deus as vossas preocupações, mediante a oração de graças. Fl.4, 4-6”

- E Deus ouvirá os vossos pedidos e providenciará o que for preciso. Encare a vida com otimismo. Para qualquer ocasião ela sempre tem uma mensagem bíblica para nos ajudar. Lembro-me de mamãe durante as missas acompanhando baixinhos as leituras e o evangelho, mesmo com problemas de saúde é consciente que sua missão de evangelizar ainda não terminou e mesmo após sua morte seu exemplo de mãe e cristã contribuirá na evangelização de outras pessoas. Seu legado é precioso. Sempre canta: “Evangelizar é mais fazer, é mais fazer do que dizer.” Quem conhece Izabel hoje se encanta com sua jovialidade e se tem a oportunidade de conversar com ela alguns minutos se apaixona pelo seu otimismo e a maneira simples, porém eficaz de superar os obstáculos que surgem em seu caminho. Aos 71 anos, aparenta bem menos, traz no rosto uma expressão calma e amena, marcada por uma longa trajetória de luta. Mas apenas algumas rugas se fazem presente em sua face, não usa nenhum produto químico de beleza anti-sinais, entretanto não dispensa os produtos naturais que deixam sua pele renovada com uma aparência fresca e jovial. Seu guarda-roupa é compatível com a sua idade, entretanto às vezes é confundida com uma mulher bem mais jovem. Usa tênis, calça jeans, mas não dispensa em

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seu guarda-roupa um vestido social acompanhado de um salto alto bem confortável. Elegância é também uma de suas marcas registradas. Mantém os cabelos curtos e sempre que possível bem escovados. Gosta da casa sempre bem arrumada e vez ou outra se ver cuidando dos afazeres domésticos. Tem grande facilidade de fazer amigos, gosta de cuidar de plantas e sempre que possível mantém vasos com plantas variadas. Teve uma época que cada planta tinha um nome próprio e passava horas conversando com cada uma. Acredito que era uma forma de se desligar momentaneamente do mundo dos humanos e se deliciar com a beleza, formas, cores e perfume que exalava de cada planta, as plantas pareciam entender sua conversa e amá-la, retribuindo com uma beleza exuberante em contraste com a simplicidade dos vasos que na maioria das vezes eram latas reaproveitadas. Ama infinitamente cada neto e neta e participou dos momentos mais importantes de suas vidas: nascimento, batizado, aniversário, primeira Eucaristia, Crisma, enfim está sempre presente e solícita a ajudar em qualquer circunstância. Atualmente sempre que possível junto com seu marido vai para as comunidades rurais, para juntos evangelizarem. Em sua nova morada acompanha as reuniões na comunidade e sai de casa em casa convidando os vizinhos a participarem, sempre ressaltando a importância de viver em união e falando para as famílias que a evangelização deve começar em casa.

“Sinto-me honrado em morar na mesma rua que dona Izabel, no natal ela nos convidou a participar do natal na comunidade é uma pessoa que eu sempre admirei, Ela é um exemplo de superação.”(Braz Santos)

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É uma mulher incansável e sente-se muito feliz em ajudar o próximo, creio que essa é sua maior qualidade e lhe impulsiona a estar sempre pronta para servir. Ultimamente passa grande parte de seu tempo em constante oração. Reza o rosário diariamente e o terço da libertação, intercedendo por todos que conhece em particular pelos filhos, netos e pelo clero. Permanece uma pessoa lúcida e não se cansa de ter Fé.

Fé em uma igreja santa;

Fé me uma política limpa;

Fé em que o ser humano seja cada dia melhor;

Fé em que as famílias sejam cristãs;

Fé em que a juventude tenha como grande ideal o Cristo.

Amém aleluia

Alguns retratos de momentos magníficos de sua belíssima história-século XXI

Descontração com Porfírio, dezembro de 2010.

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Aniversário de sua madrinha Conceição junto com sua amiga Raimunda e Francisca.

1° aninho de sua bisneta Ana Flávia

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Primeira Eucaristia da

Helena, dezembro de 2010

Amor eterno

“o lugar onde as crianças nascem é o lugar onde floresce liberdade e o sonho de um mundo melhor, cheio de amor e paz. este lugar não é uma fábrica ou uma loja, o lugar de que eu falo é a familia!”

“escute o que eu digo amor, porque eu acredito que haverá outra ocasião para lhe dizer que eu não me arrependo de ter conhecido você.”

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Izabel e Irmã Benigna

Izabel e Tatianne

“é saudável rir das coisas mais simples da vida, inclusive das dificuldades que enfrentamos na vida. o riso é um tônico, um alívio, uma pausa que permite atenuar a dor.”

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Formatura da Helena sua neta, encontro de três gerações - dez/2010

Família Paixão seu cunhado Benedito e sobrinhos: Nailson, Cristina e Nailton

“os momentos mais felizes da minha vida foram aqueles, poucos, que pude passar em minha casa, com a minha família. e meus amigos.”

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137 A mulher que deixou o tempo para trás

18 anos de seu neto Elder

Um aninho de seu neto Felipe

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Agosto de 2010: Nino, Conceição, Izabel e Inácio

Recordações mais antigas século XX

Encontro de cursilistas -DECOLORES

“a vida passa a usamos, pelas obras que fazemos. ele não viveu mais anos conta com a maioria, se não o melhor que ele se sentiu um ideal.”

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Com seu saudoso padre Marino Contti

15 anos da filha Benigna

“uma alma santa faz o bem apenas por sua presença. Sem agir, sem falar, irrradia Cristo.”

Para que sofrer?

Se na verdade é tão simples ser feliz...

apenas os momentos que nos é dado ...

São aqueles que nós devemos guardar...

e esse momento é agora!

agora , devemos amar...

agora , devemos lutar...

agora , devemos perseverar...

o momento de ser feliz é agora!

gustavo andré

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Izabel PenicheUma mulher que deixou o tempo para trás.