uma cidade, uma rua: rua xv de novembro sÃo josÉ dos...

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174 Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná | História | 2010 UMA CIDADE, UMA RUA: RUA XV DE NOVEMBRO SÃO JOSÉ DOS PINHAIS Autor: Fabrizio Carlo Brun Orientadora: Maria Inês B. Mancini INTRODUÇÃO Este trabalho tem como objetivo demonstrar a importância de uma rua na construção social de um município. Qualquer rua passa despercebida ao olhar de quem não vivenciou experiências em determinados edifícios, não presenciou a construção de um deles, ou que não teve com seu grupo experiências de vida memoráveis e situações singulares. Mas quando se busca o contexto histórico, quando se busca a construção da história através da memória, o olhar para tais monumentos, lugares, se modifica. A rua, objeto de estudo, faz parte de São José dos Pinhais, hoje denominada XV de Novembro. O recorte temporal concentra-se do início do século XX ao início do XXI, período de grandes modificações na cidade, tanto de estruturas urbanas, como adensamento populacional e também industrial; um período de modernização social. Focando na rua XV de Novembro, em um processo com base em diversas fontes escritas, de um acervo fotográfico, nos lugares de destaque no percurso da rua, buscou-se trabalhar com a memória inserida na história da cidade. Destaca-se a importância, as particularidades e as representações memoráveis destes lugares para os habitantes de São José dos Pinhais, bem como dos lugares onde não houve uma consideração de preservação, e não mais existem, permanecendo somente fragmentos de memória. Foi utilizado como referencial teórico os autores Pierre Nora e Michael Pollak, que enfatizam e teorizam os lugares de memória e suas particularidades; priorizando a memória, os autores têm uma definição complexa inserida nesses ambientes históricos. A memória é algo individual e coletivo, aberta a lembranças e esquecimentos, algo seletivo em permanente mudança pelas frequentes transformações, deformações e até pela manipulação. A memória se alimenta de lembranças vagas, flutuantes, lembranças particulares e até mesmo simbólicas, sensíveis a todas as transferências. Contudo, a memória desperta curiosidade também pelos lugares onde ela se guarda, está ligada a um momento particular da história e a indivíduos particulares. A história é uma reconstrução com determinada problemática do que não mais existe, da memória, ou seja, história é uma representação do passado. Memória remete sempre ao presente, deformando e reinterpretando o passado, há uma permanente interação entre o vivido e o aprendido, o vivido e o transmitido, aplicáveis em todas as formas de memória, individual ou coletiva, familiar, nacional e de pequenos grupos e também nos lugares, nos monumentos, patrimônios arquitetônicos, que nos acompanham pela vida, as paisagens, as datas

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174Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná | História | 2010

UMA CIDADE, UMA RUA: RUA XV DE NOVEMBRO SÃO JOSÉ DOS PINHAIS

Autor: Fabrizio Carlo Brun

Orientadora: Maria Inês B. Mancini

INTRODUÇÃO

Este trabalho tem como objetivo demonstrar a importância de

uma rua na construção social de um município. Qualquer rua passa

despercebida ao olhar de quem não vivenciou experiências em

determinados edifícios, não presenciou a construção de um deles,

ou que não teve com seu grupo experiências de vida memoráveis e

situações singulares. Mas quando se busca o contexto histórico,

quando se busca a construção da história através da memória, o olhar

para tais monumentos, lugares, se modifica.

A rua, objeto de estudo, faz parte de São José dos Pinhais, hoje

denominada XV de Novembro. O recorte temporal concentra-se do

início do século XX ao início do XXI, período de grandes modificações na

cidade, tanto de estruturas urbanas, como adensamento populacional

e também industrial; um período de modernização social. Focando

na rua XV de Novembro, em um processo com base em diversas

fontes escritas, de um acervo fotográfico, nos lugares de destaque

no percurso da rua, buscou-se trabalhar com a memória inserida na

história da cidade. Destaca-se a importância, as particularidades e

as representações memoráveis destes lugares para os habitantes de

São José dos Pinhais, bem como dos lugares onde não houve uma

consideração de preservação, e não mais existem, permanecendo

somente fragmentos de memória.

Foi utilizado como referencial teórico os autores Pierre Nora e

Michael Pollak, que enfatizam e teorizam os lugares de memória e

suas particularidades; priorizando a memória, os autores têm uma

definição complexa inserida nesses ambientes históricos. A memória é

algo individual e coletivo, aberta a lembranças e esquecimentos, algo

seletivo em permanente mudança pelas frequentes transformações,

deformações e até pela manipulação. A memória se alimenta de

lembranças vagas, flutuantes, lembranças particulares e até mesmo

simbólicas, sensíveis a todas as transferências. Contudo, a memória

desperta curiosidade também pelos lugares onde ela se guarda, está

ligada a um momento particular da história e a indivíduos particulares.

A história é uma reconstrução com determinada problemática do que

não mais existe, da memória, ou seja, história é uma representação

do passado. Memória remete sempre ao presente, deformando e

reinterpretando o passado, há uma permanente interação entre o

vivido e o aprendido, o vivido e o transmitido, aplicáveis em todas

as formas de memória, individual ou coletiva, familiar, nacional e de

pequenos grupos e também nos lugares, nos monumentos, patrimônios

arquitetônicos, que nos acompanham pela vida, as paisagens, as datas

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e personagens históricos de cuja importância somos relembrados, as

tradições e costumes.

Por fim, a memória está inserida no cotidiano da sociedade e seus

indivíduos, nos seus rituais e lugares, patrimônios materiais e imateriais

que podem ser localizados no percurso da rua XV de Novembro.

Destaca-se, assim, a importância da manutenção ideológica e simbólica

de tal espaço para os cidadãos são-joseenses, como é o caso de Ernani

Zétola, fundador do Museu Municipal Atílio Rocco, cidadão de 88 anos,

residente na cidade, com um histórico familiar tradicional no município,

que contribuiu para a construção da história da cidade, segundo a sua

memória, embora demonstrando características e visões de mundo

distintas da atualidade.

Hoje, a rua deixa de ser um espaço somente social de convívio

diário entre cidadãos, e passa a ser reestruturada, com novas formas

de acesso, novas ideias de consumo, novas ideologias e simbologias,

processos de transformações analisados e interpretados no decorrer

deste texto.

No primeiro capítulo são abordados: o aparecimento do núcleo

da cidade, as principais regiões que eram habitadas, os limites do

município e a relação dele com o Paraná e principalmente com Curitiba.

O atual centro urbano foi se desenvolvendo em volta da Igreja Matriz

já durante o século XIX; com o crescimento da população do município,

o centro se desenvolveu cada vez mais, até que São José dos Pinhais

deixou de ser freguesia. Com a emancipação do Paraná, ganhou, o

título de município, recebendo, também, contingentes de imigrantes

que proporcionam relativamente bem seu desenvolvimento. No

decorrer do tempo, a estrutura urbana modificou-se, surgindo novas

formas de construções que redefiniram o núcleo urbano. Surgiu, então,

a concepção de núcleo, centro, municipalidade das pessoas, envolta no

religioso, da instituição que determinou o estabelecimento definitivo da

população de São José dos Pinhais e outras populações mundiais. Além

da Igreja Matriz, outras construções passaram a ocupar a memória dos

habitantes da cidade como apresentado no subcapítulo 1.2.

O segundo capítulo trabalha com a memória e o sentimento

de pertencimento, assim como a importância de preservação dos

patrimônios arquitetônicos. Uma análise das transformações na própria

rua XV de Novembro não somente nas residências que a cercam, mas

também do ambiente estrutural, em que a própria imagem e intenção

para com a rua se modificou; ela passou de mera passagem a um espaço

de cotidiano, de obrigações comerciais, um ambiente de socialização,

um ponto de referência para a população e o município.

A importância, as experiências na rua e o carinho do povo para

com o espaço são notados nos depoimentos, nos fatos corriqueiros

e rotineiros apresentado pelos velhos moradores da cidade que não

ousam abandoná-la.

1 FORMAÇÃO URBANA DE SÃO JOSÉ DOS PINHAIS

Hoje, a formação urbana do município de São José dos Pinhais

é relativamente grande, com um contingente populacional e uma

ampliação urbana não muito longínqua de nosso tempo, cujo processo

de crescimento vem do início do século XIX à atualidade.

Nesta região, o maior desenvolvimento urbano e as modificações

estruturais se destacaram a partir de 1900. O desenvolvimento foi

notável na principal artéria da cidade, ou seja, a atual Rua XV de

Novembro com várias residências, casas de comércio, escola e a

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Igreja que estabeleceram nesta rua que liga a Capital do Estado ao

Município.

A formação urbana de São José dos Pinhais se deu através do

surgimento e o estabelecimento dos portugueses no século XVII

e futuramente outros colonos e povos neste território. Portanto, é

importante entender o processo de formação e surgimento do núcleo

do município para então entender a relação que a rua XV de Novembro

tem para com esta população São-Joseense.

1.1 Surgimento de uma cidade

O território do município de São José dos Pinhais atualmente

faz divisa geográfica com Curitiba pelo Rio Iguaçu, com o município

de Piraquara pelo Rio Itaqui, e com o município de Morretes pela

Cordilheira Marítima e o Rio do Arraial até sua confluência com o

Rio de São José. Limita-se com Guaratuba pelo Rio de São João, e

com Tijucas do Sul através dos Rios São João, Capivari e Una e, por

último, limita-se com o município de Mandirituba com os Rios Pires

e Deapique; anteriormente esses respectivos municípios citados

faziam parte de São José dos Pinhais exceto Curitiba e Guaratuba.

Contudo, a cidade tem um vasto território de aproximadamente

925 km²; é um município rico em campos, zonas florestais e

montanhosas,1 conhecido por suas colônias de imigrantes poloneses,

italianos e alemães, que contribuíram com as características culturais

de seus habitantes e com sua formação social. O município se

destaca no aspecto econômico, através das multinacionais que ali

se estabeleceram e que contribuíram com o desenvolvimento nos

diversos aspectos, fortalecendo o crescimento populacional, que

apresentou um aumento significativo.

Este município tem como histórico a vinda e assentamento dos

Arraiais de mineiros, com pequenos núcleos nos pousos de Tropeiros,

nas sesmarias, nos currais de criação e invernagem do gado. Assim foi

a formação da povoação de São José dos Pinhais que data de meados

do século XVII e início do XVIII,2 mas há muitas contradições quanto à

origem real da população.

Acredita-se na provável hipótese de que a povoação seria

originária de pontos de parada dos caminhos que iam de Curitiba para

o Litoral, Arraial Grande e Campo dos Ambrósios, sendo o último um

dos mais antigos povoados do município, lugar que inicialmente ligava

São Francisco com Curitiba.

Não se sabe ao certo quando a população São-Joseense tornou-se

Freguesia. Dentro da organização administrativa de Portugal, as freguesias

eram conhecidas por serem terras jurisdicionadas a uma igreja paroquial.

Em Portugal, durante todo o período colonial brasileiro e anterior

a este, as paróquias, sedes das freguesias, possuíam poderes e

influenciavam o desenvolvimento da população local, muitas vezes

sendo superiores aos poderes dos chamados “conselhos” (câmaras

municipais). Da mesma forma, vivida em Portugal, no Brasil estas

freguesias possuíam uma localização imprecisa variando muito de um

local para o outro. Até o final do século XVIII, geralmente elas eram

muito extensas, dificultando a sua administração, isto em relação ao

cumprimento das leis civis e religiosas.3

Determinados fatos históricos retratam as razões e nos permite

compreender a escolha das pessoas em se estabelecerem em

determinadas regiões próximas a atual Igreja de São José, que

favoreceu o desenvolvimento da região central do município, como é o

caso da migração populacional do Arraial Grande.

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Em São José dos Pinhais, a pecuária e a agricultura eram as

principais atividades como base de sustentação da população. Com os

bovinos, tinha a carne, o leite, o couro, outros subprodutos, assim como

também a tração de eqüinos para a locomoção, transporte e pastoreio,

com os muares o transporte de carnes em caminhos mais longos e

íngremes. Nas fazendas, suas principais atividades se destacavam

com o cultivo do trigo, feijão, milho e arroz para a alimentação; uma

atividade econômica de destaque na época era o plantio do fumo,

caçava-se muito pela sua área florestal, colhia-se mel e consumiam-

se pinhões, 4 podendo-se notar uma economia quase totalmente de

subsistência.

Como toda economia de subsistência, o município de São José

dos Pinhais era portador de uma estrutura senhorial ligada ao

capital mercantil. Essa população

demandava alguns bens que não

podia produzir como era o caso do

sal, açúcar, algodão, utensílios e

ferramentas; durante esse período,

as lavras do Arraial Grande um

dos primeiros núcleos, perderam

sua importância, até encerrarem

sua produção. Esse fato se torna

fundamental para que se entenda

a localização definitiva de São José

dos Pinhais.5

O primeiro núcleo populacional

de colonizadores portugueses em

terras São-Joseenses foi o Arraial

Grande, situado ao lado do Rio Arraial, na Serra do Mar; em 1690,

surgiu então a Capela do Bom Jesus dos Perdões, porém, a localização

não estava no Arraial Grande, mas próximo ao futuro núcleo urbano da

“Freguesia de São José”. O estabelecimento desta capela está ligado

à história do então Cônego João da Veiga Coutinho, que na época

era proprietário de dois enormes pedaços de terras em São José dos

Pinhais: as fazendas “Águas Bellas” e “Capocu”.6

A localização da Fazenda de Águas Bellas era privilegiada, pois

suas terras eram cortadas por importantes caminhos percorridos pelos

primeiros colonizadores portugueses. A fazenda fazia limites com o Rio

Iguaçu, ocupando todo o espaço onde mais tarde em 1908, foi criada a

“Colônia Agrícola Affonso Penna”.7

Conta-se que São José dos Pinhais continha vários núcleos de

povoados, e várias localidades,

dentro do atual espaço, com a criação

da Capela de São José, mas também

com data imprecisa nasce mais uma

freguesia provavelmente entre os

séculos XVII e XVIII. Esta pequena

capela situava-se onde hoje se

encontra a Igreja Matriz ou Catedral

de São José dos Pinhais.

Com a decadência do Arraial

Grande, perdendo sua importância e

encerrando sua produção, ocorreu o

deslocamento do núcleo principal do

povoamento da área para o local onde

hoje se situa a cidade de São José

Figura 1 - Núcleo São José dos Pinhais, 1905.

ACERVO: Museu Municipal Atílio Rocco – São José dos Pinhais – Pasta 12

RG/RE: 890-232. 1 fotografia p&b.

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dos Pinhais, o que será fator determinante no seu desenvolvimento,

principalmente pela sua proximidade a Curitiba.8

A freguesia de São José, para garantir a presença dos moradores

nos atos religiosos, percebeu a necessidade de distribuição de

terras ao redor da Igreja. Nestas terras, as pessoas que viviam

em locais longínquos, deviam construir uma segunda moradia,

onde permaneceriam enquanto fosse necessário para uma efetiva

participação nas “obrigações” religiosas.

Para a distribuição desses terrenos e moradias, foram tomados

determinados provimentos como é o caso dos provimentos número 38

e 39 de 1721:

38.-Proveo que na mesma forma a Câmera dará chãos, junto a igreja e freguezia de Sam Joseph aos vezinhos que alli as quizerem fabricar para acistirem aos officios Divinos que até agora não tem empedimento que a isso se lhe ponhão, e sobre que elle Ouvidor geral deu nesta correição que passou em cousa julgada a favor do procurados do conselho que fica na arca delle.39.- Proveo que dando o conselho chãos para quintaes aos visinhos será conforme a testadas de suas casas, e com tanto fundo como os mais tiverem, e serão obrigados os vezinhos a fazerem neles os seus sercados para ficarem fechados e livres de desastres e ofensas de Deos que resultão dos quintaes estarem abertos e mal tapados.9

Observa-se que mesmo no provimento, a igreja teve grande

influência no mundo privado dos primeiros habitantes, determinando

como deveriam se organizar as moradias no interior dessas

propriedades, numa sociedade em que o catolicismo fazia parte de

grande demanda da população. Com essa influência do religioso na vida

privada, caracteriza-se, também, a influência na face e na formação

da Rua XV de Novembro, adquirida através dos rituais que, segundo

Pierre Nora, atuam como agentes influenciadores nostálgicos e que

caracterizam determinados grupos de indivíduos com suas memórias

coletivas.

São os rituais de uma sociedade sem ritual; sacralizações passageiras numa sociedade que dessacraliza; fidelidades particulares de uma sociedade que aplaina os particularismos; diferenciações efetivas numa sociedade que nivela por princípio; sinais de reconhecimento e de pertencimento de grupo numa sociedade que só tende a reconhecer indivíduos iguais e idênticos.10

Nesse contexto, a Igreja Matriz passou por várias transformações

estruturais conforme o tempo. A atual construção foi iniciada no início

do século XX, as transformações não se focam somente na Igreja,

mas, sim, no seu entorno, até mesmo com relação à economia que se

modifica devido ao adensamento populacional da imigração: grande

contingente de italianos, poloneses e alemães que veio para o município

de São José dos Pinhais. Os Italianos e alemães se estabeleceram no

Figura 2 – Construção Igreja Matriz.

ACERVO: Museu Municipal Atílio Rocco – São José dos Pinhais – Pasta 02 RG/RE: 171-022.

1 fotografia p&b.

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pequeno centro urbano nos arredores da Igreja, trazendo suas formas

arquitetônicas de residências, ajudando a caracterizar o centro da

cidade, influenciando junto os antigos descendentes de portugueses

na edificação da Nova Igreja Matriz.

Em 1920, essas residências dos antigos moradores São-Joseenses,

casas e casarões no entorno de igreja e na rua mais extensa a “Rua da

Entrada”11 como era chamada e, atualmente, conhecida como Rua XV

de Novembro ou Calçadão, se tornaram escassas, dando lugar a casas

de comércio, restaurantes, lanchonetes, bares, bancos, farmácias,

pequenos consultórios e lojas em geral, indo junto com estes novos

usos, pedaços do patrimônio histórico de São José dos Pinhais.

Contudo, a igreja era o principal foco de desenvolvimento do

município no fim do século XIX, fazia parte do cotidiano das pessoas

com seus ritos e rituais, despertando a memória de seus habitantes

como é o caso de Jean Carlos Hansen:

São José dos Pinhais, Domingo, 1920.A igreja Matriz está preparada para receber os ilustres cidadãos. Todos estão em seus melhores trajes aguardando o inicio da celebração.Depois da missa, o habitual passeio pela praça. Os homens aproveitam para entabular uma boa conversa enquanto as mulheres vão às suas casas iniciar o almoço. Os jovens saem da igreja para paquerar as moças a caminho de casa.À tarde, a “domingueira” no Cine Ideal. O “Santo Gaiteiro” está esperando para começar o baile. As pessoas arrastam as cadeiras para dar lugar à dança. As crianças e os adolescentes vão ao Iguaçu, mergulhar nas águas límpidas do rio.12

As práticas religiosas estavam inseridas no dia-a-dia da sociedade,

aos finais de semana, parecendo rotineiras, segundo o depoimento

acima.

Esse depoimento nos remete a Maurice Halbwachs quando

enfatiza que a memória individual existe sempre a partir de

uma memória coletiva, “posto que todas as lembranças sejam

constituídas no interior de um grupo, a memória individual é

construída a partir das referências e lembranças próprias do grupo,

referindo um ponto de vista sobre a memória coletiva”. Jean Carlos

Hansen provavelmente pertencia a um grupo específico que residia

ao redor da igreja matriz, sua rotina de domingo aparenta ser

sempre a mesma, tanto para ele como para o seu grupo; vê na igreja

e casarões, lugares de memória, lugares particularmente ligados a

uma lembrança, podendo ser pessoal também.13 Sua religiosidade

Figura 3 – Primeira visita da imagem de Nossa Senhora de Fátima em Sâo José dos Pinhais:

1953.

ACERVO: Museu Municipal Atílio Rocco – São José dos Pinhais – Pasta 14

RG/RE: 1212-270. 1 fotografia p&b.

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tem a tendência de reconhecer indivíduos iguais e idênticos dando

sinais de reconhecimento de pertencimento de um grupo, como

afirma Pierre Nora.

Além da igreja, a Rua XV de Novembro torna-se lugar onde para

muitos é apenas uma rua de comércio, para outros um lugar de

memória com suas histórias particulares e coletivas.

1.2 Rua XV de Novembro e seus lugares de memória

Com a intenção de criar arquivos que contribuam com a memória

dos são-joseenses, e considerando para eles a importância da

análise, bem como o contexto da rua XV de Novembro, procurou-

se recuperar o processo de transformação do centro urbano que

se deu inicialmente de forma lenta. A parte central do município de

São José dos Pinhais não passava além da rua XV de Novembro;

nela se concentrava o que para a cidade era fundamental, o básico,

como a Igreja, Prefeitura e Câmara, Grupo Escolar, casas comerciais,

açougue, padaria, farmácia, bares, hotéis e o cinema.

A urbanização efetiva da cidade teve início no fim da década de 1970

e início na de 1980, como em todo o Paraná, com a industrialização.

Historicamente, a urbanização antecede a industrialização, a

passagem da economia rural para outra base industrial também

intensifica a urbanização. A adesão urbana paranaense é completada

nos anos de 1980, quando finalmente a população urbana ultrapassa

a rural. A participação da Região Metropolitana de Curitiba enquanto

proporção do total do Estado também pode ser usada como

argumento a favor de uma metropolização nos anos 80;14 segundo a

tabela, a seguir:

Tabela 1 – Taxa de urbanização

TAXA DE URBANIZAÇÃO DOS MUNICÍPIOS

REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA, 1950 -1980.

(Em%).Município. 1950 1960 1970 1980Almirante Tamandaré 14,45 15,76 28,03 79,21Araucária 12,49 28,97 31,97 77,21Bolsa Nova - - 26,23 23,87Bocaiúva do Sul 6,86 11,45 13,06 19,28Campina Grande do Sul - 3,77 4,04 38,61Campo Largo 15,29 28,35 46,29 68,20Colombo - 15,66 5,67 87,43Contenda - 13,84 15,53 46,29Curitiba 78,21 97,22 95,97 100,00Mandirituba - - 12,36 46,70Piraquara 12,59 19,38 56,99 86,25Quatro Barras - - 27,17 61,17Rio Branco do Sul 4,84 9,97 20,16 45,36São José dos Pinhais 13,43 28,49 62,93 80,42Média (exclui Curitiba) 11,60 20,20 33,90 72,25Média Regional 50,26 73,24 79,91 91,99

FONTE: ULTRAMARI; MOURA. ap. OLIVEIRA, Dennison de. Urbanização e Industrialização

no Paraná Curitiba: SEED, 2001. (Coleção História do Paraná; textos introdutórios). p.11

Faz sentido então falar de uma similaridade tanto industrial

quanto da urbanização no caso do Paraná; o início do processo de

industrialização paranaense coincide também com a intensificação

das políticas imigratórias, em que a vinda desses imigrantes contribui

para a criação de um mercado local para os bens de consumo não-

duráveis, que são característicos da primeira fase da industrialização,

que intensifica em todo o Estado como também a indústria da Erva-

Mate, a produção de Café, e a venda de Madeira.

Contudo, as grandes cidades tendem a ficar cada vez maiores

com a urbanização e industrialização, configurando um processo de

metropolização; as cidades médias com crescimento também, mas não

na mesma proporção. As realmente pequenas cidades encaminham-

se a ficar menores, o que não ocorreu com a cidade de São José

dos Pinhais, onde houve um grande investimento de industrialização,

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no início na década de 1980. No entanto, as modificações e os

investimentos urbanos se davam desde o início do século XX.

Voltando ao objeto de estudo, a rua desde o início foi chamada

de “Rua da Entrada”, pelo fato de ser a principal via de acesso ao

município. Há uma documentação que confirme isso, uma citação no

Livro da câmara de 1911:

Art.8º - O Prefeito fica autorizado a conceder por aforamento, isento do imposto de concessão a João de Almeida Barboza Junior, Dezesete cartas de terreno no quadro urbano com a extensão de cento e setenta metros de frente e fundos correspondente, situado com a frente para a rua da que dá para o lote do Rocio de numero doze, e a margem da Rua da Entrada, Concessão esta em retribuição a duas cartas de terreno occupado de há muito, para o alargamento da rua que parte da praça Dr. Farias á Estrada velha de Curityba.Prefeitura da Cidade de S. José dos Pinhaes, 28 de dezembro de 1910. Francisco de Paula Killian; Prefeito Municipal.15

A mudança de denominação vem com o desejo de modernização

quando em todo o Brasil, a passagem do Império para a República

provocou muitas rupturas de ordem administrativa e política; para os

republicanos era necessário mudar, e o lema “ordem e progresso” não

deveria ficar somente na bandeira nacional. O primeiro momento foi de

grande euforia por mudanças, cobravam-se mudanças de postura ou

de ação social, efetivada, pela elaboração de uma nova Constituição,

exigindo, assim, uma nova postura para o Paraná e seus municípios,

como o de São José dos Pinhais.

Durante a República Velha, a Câmara Municipal de São José dos

Pinhais, que também se localizava à Rua XV de Novembro junto à

Prefeitura, passou por muitas mudanças após a promulgação da nova

Constituição Brasileira, em 1891. Foi instalado o congresso legislativo

do Estado do Paraná, dando-se início à elaboração das novas leis

estaduais, o Estado era também responsável por elaborar as normas

básicas para a organização das administrações municipais. O estado

do Paraná elaborou leis especiais determinando como cada município

poderia executá-las.16

O desejo de mudança, de progresso, rumo a uma modernidade

desconhecida, se reflete na nomeação da Rua da “Entrada” que era a

principal via de acesso ao núcleo do município. Não se tem registro de

quando a rua passou a se chamar Rua XV de Novembro, mas menos

de um ano depois do registro que cita a rua como “Rua da Entrada”

aproximadamente seis meses depois o nome oficial é utilizado:

Figura 4 – Praça 8 Janeiro e brasão de armas do Brasil

ACERVO: Museu Municipal Atílio Rocco – São José dos Pinhais – Pasta 35

RG/RE: 4405-670. 1 fotografia p&b.

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Ilmo. Snr. Prefeito MunicipalFrancisco Carraro desejando edificar n’esta cidade uma casa, e existindo um terreno na rua 15 de Novembro limitando-se com outros terrenos de Fioravante Slaviero e Arthur da Souza Baptista, requer a V.Sª que lhe conceda este terreno que contem duas cartas pagando o Suppe, os devidos impostos.Nestes TermosP. DeferimentoS. José dos Pinhaes, 1 de junho de 1911.(a)Francisco Carraro.17

Aproximadamente vinte anos após a Nova Constituição o mais

antigo e principal logradouro de São José dos Pinhais ganha seu nome

definitivo. Nome utilizado em vários municípios nacionais, dado para

uma rua de destaque, rua central ou de grande importância para os

municípios, ruas que já foram chamadas por outros nomes, como o

caso de Curitiba em que passou por Rua das Flores e Rua da Imperatriz

até chegar o nome atual. Ambas as populações concordavam que a rua

XV de Novembro era a principal artéria da cidade, e seus cidadãos

tinham o privilégio de residir em torno da rua, visto que utilizavam o

deslocamento da população por ela para fins comerciais. A grande

diferença é que nunca em um município respeitaram-se mais as

propriedades privadas, as construções originais, casarões de comércio,

etc, pelo menos suas as fachadas, como ocorreu com Curitiba.

Na cidade de São José dos Pinhais, são raros os lugares que

remetam ao antigo, lugar que desperte a curiosidade da população

em busca do seu passado, de sua própria história de formação social,

ainda muito desconhecida e tratada com indiferença. Hoje podemos

dar destaque a cinco monumentos históricos que são preservados

de certa forma no núcleo do município de São José dos Pinhais; são

eles: a Igreja, o Museu Municipal Atílio Rocco, a Biblioteca Pública

Schaffenberg de Quadros, Caixa D’Água e o centro cultural João

Senegaglia. Todos eles localizados na rua XV de Novembro.

Como já visto, a igreja foi de fundamental importância para o

desenvolvimento do núcleo urbano de São José dos Pinhais. Ao seu

redor a sociedade se estabelecia, ela foi transformada, reformada,

aumentada, processo que vem desde o período de sua construção em

meados do século XVIII. A atual igreja matriz foi construída a partir de

1905, ela jamais mudou de lugar, teve apenas suas sedes, pelo fato

das reformas de ampliação e conservação. Como o caso de sua última

sede no casarão de Zacarias Alves Pereira.18

Meu nome Maria de Lourdes Pereira Setim. Nasci no dia 13 de novembro de 1917, no velho casarão da Praça Oito de Janeiro. Sou filha de Zacarias Alves Pereira e o meu pai dizia que este casarão não devia ser derrubado, pois chegou a ser sede da nossa Igreja Matriz, quando ela estava sendo reconstruída.19

Maria de Lourdes Pereira Setim tem de fato um respeito pelo

casarão, um respeito que pode ser entendido em relação à memória

de seu pai. Memória essa que não a pertence, mas desperta nela um

sentimento de continuidade residual a esse lugar específico; carrega

consigo uma curiosidade pelo lugar, pois ele cristaliza um momento

particular da história.

Atualmente, a igreja matriz ainda é vista com grande importância

para o município, como comprova uma pesquisa atual sobre qual seria

o cartão postal da cidade, em que revela ser a Matriz o monumento

caracterizador da sociedade são-joseense:

A Catedral de São José dos Pinhais, localizada na Praça 8 de Janeiro, no centro da cidade, ficou com o primeiro lugar, com 2.143 votos (37%). Sua primeira construção data 1708, passando por varias reformas e ampliações. Em 1905 foram iniciadas as obras

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da sede atual e, em 2002, foi tombada pelo Patrimônio Histórico Municipal.20

Na mesma pesquisa realizada, o segundo monumento escolhido

com 2.078 votos (36%) como preferência simbólica de São José dos

Pinhais, ficou a Caixa D’Água, localizada na Praça Getúlio Vargas, atual

Terminal de ônibus localizado também na Rua XV de Novembro. Ela foi

construída, em 1966, com 30 metros de altura e com capacidade para

100m³ de água. Nela está aplicada uma placa que marca a realização

do 3º Congresso de Engenharia Sanitária no

Paraná. Sem a referência que a placa dá a essa

determinada data, a estrutura construída não

passaria de um mero monumento moderno e

arrojado de uma caixa de água, notando-se

a ausência da memória como afirma Pierre

Nora. Os lugares de memória nascem e

vivem do sentimento que não há memória

espontânea, posto que é preciso criar datas,

manter celebrações, e sem essa vigilância

comemorativa ou preservativa, esses

lugares não têm importância alguma para os

indivíduos que não compartilham da mesma

memória de um grupo específico relacionado

ao lugar ou a data.

Contudo, entende-se a distinção do

uso da memória para os cidadãos que

vivenciaram as mudanças, participaram

e usufruíram os lugares mais do que as

pessoas contemporâneas que são meros espectadores, mas que

serão portadores de uma memória coletiva ou individual. Através da

pesquisa, observa-se que a sociedade tem uma curiosidade por tais

monumentos e lugares, mesmo não compreendendo e sabendo seu

contexto e sua história. Sendo assim, a Rua XV de Novembro não é

vista hoje no sentido nostálgico como era antes: os monumentos, os

lugares não representam a mesma memória, a mesma experiência dos

antigos cidadãos, formando com isso, outros meios de memória.

No percurso da rua XV de Novembro, destaca-se, além da Igreja

e Caixa D’Água, o Museu Municipal Atílio

Rocco, edifício histórico construído por Luiz

Victorine Ordine, prefeito de São José dos

Pinhais de 1900 a 1908. Em 1920, o prédio

foi vendido para a Municipalidade, e passou

a abrigar simultaneamente os poderes

executivo, legislativo e judiciário e foi sede da

Associação Comercial e Industrial, Agrícola

e prestadora de serviços para São José dos

Pinhais. O museu municipal foi criado em 19

de setembro de 1977, por Ernani Zétola na

Rua Mendes Leitão, nº. 2571, e somente em

março de 1981 passou à sede atual, sendo

nomeado Museu Municipal Atílio Rocco.21

Trata-se de um imponente casarão datado

de 1912, aproximadamente, e que serviu de

residência à família Victorine Ordine. Em

1920, foi vendido para o município, na gestão

de Francisco de Paula Killian que autorizou

Figura 5 – Caixa d’água.

ACERVO: Museu Municipal Atílio Rocco – São José dos

Pinhais

Pasta de concurso fotográfico. 1 fotografia cor.

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a construção do mesmo casarão, como apresenta o requerimento de

terreno de 1912:

Requerimento de Manoel Victorine Ordine, apresentado em 27 de maio de 1912 ao Ilmº. Sr. Prefeito Municipal Francisco de Paula Killian.Ilmº. Sr. Prefeito MunicipalManoel Victorine Ordine, abaixo assignado vem respeitosamente requerer a vsª. Senhoria que lhe seja dado o respectivo alinhamento no terreno de sua prorpiedade à Praça Dr. Silveira da Motta, desta cidade, afim de poder o supplicante nelle edificar. Do deferimento E.R.Mª. São José dos Pinhais, 21 de maio de 1912. Assignado sobre uma estampilha do valor de quatrocentos réis, Manoel Victorine Oridine. (Despacho). Como requer. Ao Senhor Fiscal. São José dos Pinhais, 27 de maio de 1912. Francisco Killian.22

Contudo, a família Victorine Ordine não permaneceu muito

tempo na residência, visto que poucos anos depois se mudou para

Curitiba. No período que o casarão foi entregue à municipalidade,

lá se estabeleceram além da prefeitura, a biblioteca, a cadeia do

município, e mais tarde o atual

museu.

A ideia da criação do

museu foi de Ernani Zétola,

nascido em São José dos

Pinhais no dia 30 de Julho

de 1921. Iniciou seu trabalho

referente à memória em 1952

como um colunista no primeiro

jornal de São José dos Pinhais,

“Correio de São José” com a

“coluna da saudade”. Nessa

coluna, recordava sua infância

distante, o passado popular, as pessoas amigas de destaque que

viveram em uma pacata cidade. Sua coluna nostálgica agradou

bastante a população, era um grande colaborador dos jornais são-

joseense, inclusive o da Tribuna de São José o qual na época era do

vereador Elon Bonin que mais tarde colaborou com Ernani Zétola na

criação do Museu Municipal.23

Câmara Municipal de São José dos PinhaisO vereador Elon Bonin, no uso dos direitos que lhe são conferidos pelo Regimento Interno e,CONSIDERANDO que ainda não existe em São José dos Pinhais um Museu publico, onde se deva guardar para a posteridade tudo aquilo que diz respeito ao interesse histórico do Município;CONSIDERANDO, finalmente, que há necessidade de se tomar as devidas providencias para que haja um lugar apropriado para tal fim, mesmo que seja uma pequena sala, a titulo precário,SUGERE ao Sr. Prefeito Municipal, que tome as devidas providencias no sentido de ser indicada ou alugada uma sala para funcionar provisoriamente o Museu Municipal e designada uma pessoa para se encarregar do assunto, cuja escolha, salvo melhor juízo, poderia recair sobre o Sr. Ernani Zétola.SALA DAS SESSÕES, 31 DE MAIO DE 1.977.ELON FAY NATAL BONINVEREADOR.24

Ernani Zétola tinha um grande interesse pela preservação da

memória do povo são-joseense, não aceitava o fato do município não

ter o seu próprio museu. Seu sonho foi concretizado em setembro de

1977, através da lei 32/77, quando da criação do Museu Municipal

de São José dos Pinhais, posteriormente denominado de “Atílio

Rocco”, pelo decreto 35/81 na atual sede. “O Museu Municipal é

o relicário da história são-joseense. O guardião da nossa memória

palpável, razões pelas quais Ernani Zétola o ama tão profundamente.

Um amor de pai para filho”.25

Figura 6 – Palacete da família Victorino Ordine

ACERVO: Museu Municipal Atílio Rocco – São José dos Pinhais

– Pasta 33

RG/RE: 4228-657. 1 fotografia p&b

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Tanto as intenções da criação do museu quanto a estrutura do

casarão em que se estabeleceu remetem a um passado longínquo,

havendo, portanto, um apreço dos cidadãos com relação à memória

inserida no Museu. De todos os monumentos históricos estabelecidos

na rua XV de Novembro, o Museu é o que mais conserva a ideia do

cotidiano, da residência, nos primórdios da cidade. É uma atração

turística, concebida com carinho pelo público. “O museu municipal

eterniza a vida são-joseense”.26

Outro monumento que se destaca no cotidiano de uma pequena

São José dos Pinhais é o edifício onde hoje se estabelece a Biblioteca

Pública Shaffenberg de Quadros. Essa construção foi anteriormente a

primeira escola pública masculina “Silveira da Motta”, e, posteriormente,

em 1919, tornou-se grupo escolar, importante para o município onde

se lecionava o ensino primário. O ginasial hoje denominado ensino

fundamental e médio era feito em Curitiba.

Vários cidadãos de importância na construção social da cidade

estudaram no grupo escolar Silveira da Motta, como é o caso de Ernani

Zétola. Essa escola passou de primário à ginasial, em 1955, em uma

nova estrutura já estatal.

O prédio histórico localizado bem no centro da cidade, em frente

da Igreja Matriz, passou a ser fórum da cidade entre 1955 e 1980. Nos

anos de 1981 e 1982, sediou a Biblioteca e o Centro Municipal de ensino

p ro f i ss iona l i zan te .

De 1983 a 2003, nele

desenvolveram-se as

atividades da Câmara

Municipal, cedendo

lugar à atual Biblioteca

Pública.27

Esse local tem

grande influência na

memória coletiva dos

habitantes, pois a

escola foi o espaço das

experiências vividas em

grupos, que ficaram

Figura 8 – Grupo Escolar Silveira da Motta

ACERVO: Museu Municipal Atílio Rocco – São José dos Pinhais

– Pasta 5

RG/RE: 654-087. 1 fotografia p&b

Figura 7 – Prédio do museu municipal, ainda prefeitura - decada de 1970.

ACERVO: Museu Municipal Atílio Rocco – São José dos Pinhais – Pasta 34

RG/RE: 4449-692. 1 fotografia cor

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gravadas na memória individual e coletiva. Mesmo com a mudança e

estabelecimento de órgãos públicos, o espaço da Biblioteca remete

em determinados indivíduos o despertar de uma memória tanto

agradável como também desagradável, dependendo do que se viveu,

do acontecimento vivido pela pessoa.

No caso do grupo escolar Silveira da Motta, a rua XV de Novembro

tem grande importância, não apenas por ela ser a principal via de acesso,

mas por ser de principal utilização para atividades escolares, como foi

o caso da educação física, em que os alunos praticavam exercícios

físicos e esportivos na rua;

também a alimentação era

recebida em mesas e cadeiras

improvisadas na mesma

rua. Situações rotineiras,

diferentes, que se destacam

na memória daqueles que

vivenciaram, em que a história

tem função de concretizar,

avaliar e eternizar.

O último estabelecimento

histórico de grande relevância

na historia são-joseense,

é o centro cultural João

Senegaglia. Uma construção

totalmente modificada da original, havendo poucos resquícios da

estrutura original, no momento sede da Secretaria de Cultura de São

José dos Pinhais, a loja Trevisan, Phom Phom e o Museu de Bonecos.

Atualmente, há um projeto junto à Secretaria de Cultura da cidade,

de revitalização do espaço, uma restauração do antigo prédio. Nele

se estabeleceu a indústria Senegaglia, primeira da cidade, criada por

um imigrante italiano, João Senegaglia. Indústria metalúrgica, de início

construída com uma estrutura de madeira em 1908, que com o tempo

foi consolidando o seu nome na cidade, e a oficina foi gradativamente

melhorando sua infraestrutura, caracterizando-se como uma

oportunidade de trabalho no núcleo urbano. No ano de 1928, a fábrica

passou por uma maior reestruturação, o prédio foi ampliado, e novos

equipamentos adquiridos. Com o tempo, ela foi paulatinamente

passando por modificações.28

A fabrica Senegaglia era dividida. Tinha uma parte aqui, uma parte fechada ali, uma parte fechada lá, tudo dividido, era grande ali. Então ela fazia a volta inteira assim, do lado do cemitério, ali na rua XV. Então ali tinha, pra começar tinha dois portão grande, de madeira de abri, então aqui tinha escritório, depois começava aqui, tinha um almoxarifado ali, guardava as folha tudo, depois tinha seção de torno ali pra arruma as matriz tudo, depois já tinha uma parte onde fazia as chapinha de garrafa ali, já era assoalho de madeira, era quentinho, então ali tinha um monte de prensa, depois já tinha uma parte onde trabalhava a turma que fazia banheirinho, regador, chocolateira, marmita, depois tinha umas prensa das placa, depois vinha prensa grande, e ia fazendo a volta assim, do lado do cemitério ali tinha um monte de prensinha pequena, as soldadeira, depois vinha onde faziam forninho de fogão, e depois vinha um lugarzinho onde era enlatado soda, depois tinha banheiro, depois vinha uma parte das pintura, depois, já mais lá pra trás, daquele lado do Banco do Brasil já vinha onde tinha os rolo que pintava as placas na época, daí vinha a galvanização, a estanhação, depois no canto assim já no banco do brasil com a rua XV onde montavam os baldes.29

Pelo depoimento de Celso, feito para Maria Lúcia Büher Machado,

notam-se os resíduos de memória, que se cristaliza nos pequenos

itens, toda a estrutura na indústria, de como ela era, dos grupos

Figura 9 – Educação física na praça 8 de janeiro.

ACERVO: Museu Municipal Atílio Rocco – São José dos

Pinhais

Pasta 16 RG/RE: 1507-304. 1 fotografia p&b

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que ali se formavam, que provavelmente

desenvolvem outras lembranças, outras

formas de observar a indústria na qual

trabalhavam. Ela tem grande importância

no município, pois além de ser a primeira

indústria, foi de grande contribuição para

os cidadãos, tanto no sentido material de

desenvolvimento em que se estabelecem

mais empregos, tanto para os imigrantes,

que nesse período vieram em grande

contingente, quanto para os cidadãos são-

joseenses que já ali viviam. Contribuiu assim

com desenvolvimento industrial da cidade,

portanto um lugar que contém diversas

histórias, particularidades estruturais que

ficaram gravadas na memória de quem ali

trabalhou.

Por fim, tais monumentos têm

grande relevância para as pessoas que

passam através da Rua XV de Novembro,

despertando uma curiosidade histórica

desses lugares, suscitando indagações do

passado. Lugares com suas singularidades

estruturais, e objetivos distintos para com

a sociedade, patrimônios hoje tombados,

que constroem a história do cotidiano do

núcleo da cidade, que preserva a memória daqueles que há tempos

vivenciaram experiências no percurso da Rua XV de Novembro

ou nos estabelecimentos. No decorrer da

modernização da cidade de São José dos

Pinhais, há uma preocupação em preservar a

memória dos antepassados, preocupação essa

visível em Ernani Zétola, que se preocupa com

a manutenção da memória afirmando: “Povo

que não tem Memória, não tem História”.30

2 UMA RUA EM CONSTANTE DESENVOLVIMENTO

A Rua XV de novembro foi se

desenvolvendo ao longo da formação social,

que se fez no entorno da igreja matriz, sem

ter primordialmente finalidade comercial

muito menos turística como é atualmente. Ela,

antes de tudo, tinha uma função de transição,

de ligação entre o município de São José

dos Pinhais à Capital Curitiba, assim como

interligação às colônias de imigrantes e até

mesmo ao litoral paranaense.

Na década de 1920, São José dos

Pinhais já possuía um centro urbano, pacato,

mas organizado e desenvolvido, com casas

comerciais, hotéis, bares, etc. Posteriormente

a década de 1940, o desenvolvimento começa

a se acentuar embora ainda de forma lenta.

Para a população que teve e ainda tem um carinho especial com

esse lugar, essas transformações foram aceitas de forma positiva,

Figura 10 – Vista Aerea, indústria senegaglia.

ACERVO: Museu Municipal Atílio Rocco – São José dos Pinhais

– Pasta 10

RG/RE: 146-189. 1 fotografia p&b

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mas também um tanto negativa: positiva pela facilidade que muitos

encontraram tendo em vista a mobilidade de ir a outra cidade para

resolver seus problemas, ou desenvolver atividades de lazer, como

era o caso, onde o cidadão são-joseense se locomovia até o município

vizinho mais desenvolvido, com várias casas de comércio de todos

os gêneros, bancos, áreas de lazer, etc., ou seja: Curitiba; negativa

mais recente pelo fato do desaparecimento das construções antigas:

casas, sobrados, hotéis, bares. Construções que foram abaixo para

o estabelecimento de outras mais modernas, maiores. A rua XV de

Novembro, portanto, vem com o tempo se adequando, ao modo de

vida contemporâneo.

2.1 Sociedade São-Joseense e a Rua Xv de Novembro

A memória como algo individual, e ao mesmo tempo coletivo, sempre

aberta a discussões quanto à lembrança e ao esquecimento, não deixa

de ser seletiva, estando em permanente mudança pelas frequentes

transformações, deformações e também até pela manipulação. A

memória é afetiva e mágica, não se preocupa com detalhes que a

confortam: ela se alimenta de lembranças vagas, telescópicas, globais

ou flutuantes, lembranças particulares e até mesmo simbólicas,

sensíveis a todas as transferências, cenas ou projeções.31 Entretanto,

a memória ativa uma curiosidade também pelos lugares onde ela se

cristaliza, se guarda, está ligada a um momento particular da história.

História, mesmo que o termo remeta ao mesmo tempo em que a

memória, ou seja, o passado, memória e história diferem, sendo que a

história é uma reconstrução com determinada problemática do que não

existe mais. Está ligada às continuidades temporais, às transformações

e às relações das coisas, pertencendo a todos e a ninguém, conhece

somente o relativo, trabalhando com uma crítica destruidora de memória

espontânea, com uma desligitimação do passado vivido, levando mostrar

a anulação do fato ocorrido e não a exaltação; sendo assim, história é

uma representação do passado em que a própria história desconfia da

história. Memória, ao contrário do termo, remete sempre ao presente,

deformando e reinterpretando o passado, há uma permanente interação

entre o vivido e o aprendido, o vivido e o transmitido. Comprovações

estas aplicáveis em todas as formas de memória, individual e coletiva,

familiar, nacional e de pequenos grupos e também de lugares nos

monumentos, patrimônios arquitetônicos, que nos acompanham pela

vida, as paisagens, as datas e personagens históricos de cuja importância

somos relembrados, as tradições e costumes.32

É importante demonstrar o conceito de história e memória. Segundo

o autor Pierre Nora, para entender a problemática dos lugares, em

determinados deles há resíduos que despertam uma ruptura com o

nosso presente:

Os lugares de memória nascem e vivem do sentimento que não há memória espontânea, que é preciso criar arquivos, que é preciso manter aniversários, organizar celebrações, pronunciar elogios fúnebres, notariar atas, porque essas operações não são naturais. É por isso a defesa pelas minorias, de uma memória refugiada sobre focos privilegiados e guardados nada mais faz do que levar à incandescência a verdade de todos os lugares de memória. Sem vigilância comemorativa, a história depressa as varreria. [...] Se vivêssemos verdadeiramente as lembranças que eles envolvem, eles seriam inúteis. E se, em compensação, a história não se apoderasse deles para deformá-los, transformá-los, sová-los e petrificá-los eles não se tornariam lugares de memória. É este vai-e-vem que os constitui: momentos de história arrancados do movimento da história, mas que lhe são devolvidos.33

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É nesse sentido que se baseia o presente trabalho, demonstrando a

ausência da história desse importante lugar de memória na história do

município, que é a Rua XV de Novembro. Rua esta, que fez e faz parte

do cotidiano dos indivíduos de São José dos Pinhais: hoje grande centro

de comércio; no passado grande rua cercada com suas residências e

terrenos extensos, residências de famílias influentes na sociedade, rua

onde se localizava a Igreja Matriz do município, instituição fundamental

para o desenvolvimento da cidade.

A Rua XV de Novembro também esteve em constantes mudanças,

em relação às transformações urbanísticas, arquitetônicas e no

crescimento da rua e sua extensão. Através das análises fotográficas

e dos jornais, a Rua XV de Novembro, pode-se dizer, inicia de fato seu

crescimento e modificação para o que temos hoje a partir dos anos

1940, até então ela era dotada de várias residências e algum comércio,

como é o caso da Fábrica Senegaglia. Esta indústria foi outrora como

que símbolo de progresso na história local do município, empregou

várias famílias São-Joseenses e de imigrantes, foi a primeira indústria

de São José dos Pinhais.34

A modernização da rua veio em forma de asfaltamento em 1950.

ASFALTAMENTO da Rua 15 de Novembro.Temos visto, estes dias, um movimento de medição e demarcação na nossa principal via publica. Chamou a Atenção as balizas colocadas nas esquinas, gente a fazer sinais: mais pra lá, mais pra cá, que fazia lembrar viagem em ônibus que, ora pedem para os passageiros chegarem mais para a frente, e, lógo na parada seguinte, chega mais para traz dá um lurgazinho para treis.Sindicando a respeito, trazemos ao conhecimento dos nossos leitores uma noticia bastante satisfatória, e que sem confirmar o há pouco publicamos por êste jornal. São os estudos finais para o asfaltamneto da rua 15 de novembro e os trabalhos deverão ser atacados logo no inicio do mês entrante.Até ai não é grande a novidade.Quando aparece o melhoramento de uma via publica, vem, logo a seguir, o clamor dos proprietários em virtude de terem de pagar o valor correspondente ao seu imóvel.Entretanto, o tíno administrativo do sr. Ernesto Moro Redeschi, Prefeito Municipal, zelando pelo bem estar dos munícipes, vai dar à cidade de S. José dos Pinhais um melhoramento de singular importância, valorizando sobre maneira, as propriedades situadas na rua 15 de novembro, e adjacências, e sem acarretar a menor despesa aos proprietários e nem aos cofres Municipais.Essa grandiosa tarefa será mandada executar pelo Governo do Estado, o sr. Moyses Lupion que a incluiu no plano geral de obras do Estado, e que está se desincumbinado da promessa feita ao nosso município.

Figura 11 – Igreja Matriz de São José dos Pinhais, 1950.

ACERVO: Museu Municipal Atílio Rocco – São José dos Pinhais – Pasta 18

RG/RE: 1761-342. 1 fotografia p&b

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Não podemos deixar de apreciar tão importante fato.De um lado, vemos o carinho com o Prefeito Ernesto Moro Redeschi vem desenvolvendo a sua administração em beneficio da população da cidade, da sua urbanização, e de outro, as atenções dispensadas ao nosso município pelo Governador Moyses Lupion, que entre outros benefícios, favorece S. José dos Pinhais com o asfaltamento da rua 15 de novembro, obra que ficara gravada no coração dos São-joseesenses, como a atestar, no futuro, que tivemos administradores, honestos e realizadores.35

Com essa matéria do jornal Correio de São José, nota-se, além da

grande exaltação política do período, o grande interesse pela modificação

da rua antes de terra de “chão batido” no dito popular, diferentemente

da rua de mesmo nome, do município vizinho, Curitiba, que desde o

final do século XIX, teve a presença de clubes, livrarias, jornais, teatros,

cafés e confeitarias o que fez daquele local o centro catalisador de

eventos culturais da

cidade, mais tarde

acrescidos cinemas,

bancos, automóveis,

as famosas vitrines

impecáveis, os

luminosos e a prática

do “footing”.36

Na cidade de São

José dos Pinhais,

essa mesma tática

de centro catalisador

de eventos culturais

comerciais como o

de Curitiba só foi se

estabelecendo a partir da década de 1970, mas já em 1940 a população

demonstrava seu apreço pelo espaço.

A nossa rua Quinze de Novembro, é a principal artéria da cidade, por onde passam todos os veículos em trânsito por S. José, além do grande movimento de ônibus, que ligam a cidade com os distritos e a capital.É o centro principal onde está localizado o comercio. A rua sempre movimentada pelas pessoas que vão fazer suas compras, crianças que se dirigem aos colégios, ou que procuram os pontos de parada dos ônibus.37

Era então vista como o centro, a área urbana de destaque da

cidade, uma área viva, com bastante movimento populacional, e

também com vários conflitos e diversas situações que contradizem o

bem estar social como é o caso da estrutura da rua e dos abusos de

alguns indivíduos, por exemplo:

Pista de corridas na rua Quinze.Sendo a via publica de passagem preferida para os carros e automóveis, as casas de comercio e de residência se vêem atormentadas com as nuvens de poeira que se levantam, umas após outras, a invadir suas moradas.Não bastasse o grande movimento de veículos, há outro maior perigo, constituído pelos caminhões de determinada firma, que fazem da rua 15 uma pista de corrida, em louca disparada, escapamento aberto, sem respeito às leis de trânsito, sem medir conseqüências, e ainda nessa corrida desenfreada passam em frente ao Ginásio aonde grande é a aglomeração de meninos durante os recreios escolares.É um abuso inominável de irresponsáveis, sem levarmos em conta que nessa velocidade passam à vista dos encarregados de fiscalização.38

Outro fato interessante, como exemplo, foi o anúncio do

asfaltamento, com destaque e exaltação ao governo, surgir quase

quatro meses depois, em pequena nota, no jornal, demonstrando uma

certa indignação pelo fato das obras ainda estarem acontecendo:

Figura 12 – Calçamento Rua Xv De Novembro, 1950.

ACERVO: Museu Municipal Atílio Rocco – São José dos Pinhais Pasta fotos

Jornal Folha de São José. 1 fotografia p&b

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AINDA O ASFALTAMENTO.A Rua 15 de novembro recebeu a primeira amostra do asfaltamento. Está franqueada ao trafego comum. Entretanto, o serviço feito, não aprovou. Precisa ser feito novamente. Em ambos os lados da rua, ficam as valetas cheias de areia, cobrindo totalmente o asfalto, a levantar nuvem de poeira com a passagem de veículos que podiam ter o seu curso desviado para outra via publica.Passam caminhões pela Rua 15 de novembro, em franca marcha acelerada, escapamento aberto aturdindo os ouvidos e nervos dos moradores dessa via principal, com exceção dos ouvidos e nervos da fiscalização, por estar sempre ausente. E pela falta de fiscais, é que se vê os abusos, e, também, os animais continuarem soltos espalhados pelas ruas, e atrapalhando a corrida dos caminhões, nas ruas mais movimentadas.39

Vê-se, portanto, que a Rua XV de Novembro tem uma relevância

muito grande para com o município e sua população desde sua criação,

uma artéria, uma rua com direção a modernização e a sustentabilidade

da cidade. Os jornais, mesmo tratando o município de forma elitista,

davam ao seu leitor o questionamento de melhoria e mudança,

e mostravam a opinião pública sobre a Rua XV de Novembro. A

relevância do presente trabalho se dá com a preservação da memória

desta via, a importância dos lugares de memória, lugares históricos do

centro do município, espaços que remetam ao cotidiano do passado,

as particularidades do dia-a-dia dos cidadãos que viveram em épocas

distintas, mas tendo uma relação em comum com o espaço da Rua XV

de Novembro que é um lugar de memória.

2.2 Intenções e transformações

O início das transformações estruturais na rua XV de Novembro

se dá, em 1914, pelo prefeito Francisco de Paula Killian, primeiro

prefeito municipal que estabeleceu em sua gestão modificações no

núcleo da cidade. Modificações de grande importância, que podem ser

percebidas ao verificar os documentos antigos, que não são poucos,

da época de sua gestão em relação à infraestrutura e disposição de

terras. De início, a colocação de pedras de meio fio.

Ao Thesoureiro da MunicipalidadePague ao Sr. Jerônimo Berton em conta da estraçao de pedras de meio feio a quantia de cem mil réis.S. José dos Pinhaes 4 de Abril 914Francisco KillianRecebi importância acima S. José dos Pinhaes 6 de abril 1914.Geronimo Bertão.40

Ao lado da Igreja matriz se estabeleciam as residências das

famílias pioneiras do município, famílias influentes na política, com

níveis de vida elevados em relação aos outros habitantes. Já no

quarteirão aos fundos da Igreja Matriz, notam-se as residências de

utilidade pública à direita com o Hotel Central, Açougue Teodoro

Figura 13 – Pedras de meio fio

ACERVO: Museu Municipal Atílio Rocco – São José dos Pinhais – Pasta 02

RG/RE: 171-031. 1 fotografia p&b

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Wescher, Padaria Ernesto Koerbel, Farmácia Gornel, dois bares: um

sendo de Pedro Bino e outro junto com um Hotel e a residência de

Marieta Chiuratto, quarteirão esse que vai da Rua Mendes Leitão à

Rua Dr. Motta Junior; do lado esquerdo, o Clube XV de Novembro, o

Cine Ideal e as residências de Adão Delpp, João Franco Rangel e do

Capitão Napoleão.

No percurso, já durante a década de 1920, contido entre as

ruas Schaffenberg de Quadros e Sete de Setembro no sentido de

quem entra na cidade, situava-se ao lado esquerdo o grupo escolar

Silveira da Motta no lado direito a antiga prefeitura e câmara e a

residência Luiz Victorine Ordine. Adiante, entre as ruas Sete de

Setembro e Mendes Leitão, do lado esquerdo ficava a Praça 8 de

janeiro de 1853, a qual lembra a data da mudança da categoria de

vila para a elevada de município de São José dos Pinhais, obtida

após a emancipação do Paraná, chamada antes de “Largo de São

José dos Pinhais”. Tratava-se de um espaço todo arborizado, ponto

de encontro dos participantes da Igreja matriz em dias de missa, com

a utilidade de socializar, interagir entre os habitantes e determinados

grupos de pessoas, lugar cercado para a preservação contra animais

que passavam pela cidade. Como já dito, rua XV de Novembro foi

palco de várias mudanças estruturais e cotidianas na história são-

joseense. Frente à praça da igreja Matriz, ao lado direito, ficavam

as residências da Família Veiga, de Clemente Zétola, o sobrado de

Pedro Chiuratto, Residência de Pedro Chiuratto, Norberto Alves

Brito, João Ângelo Cordeiro, Sobrado da família Zeni, Residência da

família Gaida, de João Bianchetti, família Bastos Pires e a antiga

casa de Manoel Victorine Ordine.

O Clube XV de Novembro foi fundado por ocasião da proclamação

da República, situava-se em um sobrado atrás da Igreja Matriz, clube

social da cidade frequentado exclusivamente pela elite.

Ele ocupava todo o prédio, em cima era o salão de baile, embaixo tinha um Buffet e salão de jogos. Era ali, então, que se reunia a elite de São José. Em dias de baile tinha muita gente que ficava na calçada pra ver as pessoas entrarem.41

Às outras camadas da população restavam os bailes caseiros,

sendo assim grupos separados e formas separadas de se festejar

ou ter algum momento de lazer, havendo uma distinção da memória

das classes mais altas com relação às baixas. “Depois da missa tinha

bailinhos caseiros, quando íamos buscar as damas para dançar nos

reboucos. Era Longe, íamos buscar de carroça”.42

Figura 14 – Largo de São José dos Pinhais.

ACERVO: Museu Municipal Atílio Rocco – São José dos Pinhais – Pasta 04

RG/RE: 313-063. 1 fotografia p&b

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Neste mesmo local funcionou o cinema da cidade que passou

logo depois a sua sede própria a poucas casas adiante ao clube XV

de Novembro. O “Cine Ideal” como era chamado foi um lugar muito

frequentado e desejado pela população da cidade.

Em meados de 1910, São José possuía aproximadamente 600 habitantes e estava ligada a Curitiba por duas estradas de barro [...] foi construído um prédio de madeira onde funcionaria o cinema. Num plano superior ficavam os camarotes com capacidade para cinco pessoas; embaixo, no centro, a platéia com cadeiras coloniais e separadas por um corredor e dois laterais; debaixo dos camarotes e separado da platéia por balaustres, ficava o chamado “galinheiro”, que consistia em filas de bancos verdes, com encostos e, com capacidade para três pessoas cada um. Para um “galinheiro”

o ingresso era mais barato. Durante as funções cinematográficas, uma orquestra executava peças musicais de acordo com a cena que estava sendo projetada na tela. Se era uma cena de amor, uma musica romântica se era cômica, uma musica alegre e ligeira; se era uma cena triste, então era executada uma musica tristíssima e, a assistência vertia lágrimas a valer. [...] No prédio do cinema havia ainda a sala de espera, com o respectivo “botequim” e, anexo, a residência do empresário. O novo cine, passou então a ser também o salão de festas dos são joseenses. [...] O novo cinema cujo nome era “Ideal Cinema”, mais tarde “Cine Ideal”, o cinema funcionava três vezes por semana – quintas, sábados e domingos [...] e assim foi até 1933, quando foi paralisado. Em 1941 foi construído um novo cinema em frente à Prefeitura Municipal43 sendo ele o precursor do cinema falado em nossa cidade. Tinha o nome de “Cine Império” em que funcionou até meados de 1968. Quando se deu inicio ao novo moderno cinema. O novo Cine Ideal está terminado, ali na Praça 8 de Janeiro. Conforme declarou seu proprietário [...] é moderno e confortável, porém o mesmo só funcionará quando obtiver a isenção do imposto de 10% determinado pela Prefeitura Municipal, visto que, uma nova lei deveria ser proposta à Câmara Municipal para tal finalidade. Nas duas primeiras décadas de existência o cinema em São José teve assíduos freqüentadores: o professor João da Costa Vianna, Sua Esposa dona Termutes e sua filha Liz; dona Marieta Chiuratto e seus filhos; a família Senegaglia, a família Marchesini, a família Clemente Zétola, [...]Não há justificativa que, atualmente, São José dos Pinhais, com todo este progresso e com mais de trinta e cinco mil habitantes, não tenha um cinema funcionando. Quando que, antigamente, com apenas 600 habitantes, o cinema dava três sessões semanais com casa lotada.Senhor Daniel Précoma, seu cinema está que é uma jóia, oferece todo conforto aos espectadores, portanto ponha-o em funcionamento. Acrescente os 10% de imposto nos ingressos e o problema está resolvido.44

Contudo, vê-se claramente o processo da instalação do cinema no

município, os processos memorizados na cabeça daqueles que usufruíam

ou desejavam usufruir, particularidades até mesmo da estrutura do

Figura 15 – Clube XV de Novembro, 1920.

ACERVO: Museu Municipal Atílio Rocco – São José dos Pinhais – Pasta 02

RG/RE: 171-028. 1 fotografia p&b

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cinema. Observa-se, também, certa revolta transmitida pelo jornal

sobre o não funcionamento do estabelecimento. São José dos Pinhais

de 1993 a 2007 ficou sem nenhuma projeção cinematográfica, tempo

em que o crescimento e a facilidade da locomoção à Curitiba se tornou

mais acessível. Atualmente, filmes são projetados nas salas de cinema

do Shopping São José e em alguns casos na cinemateca da cidade

inaugurada em 2007, localizada junto ao casarão do Museu Municipal

Atílio Rocco na Rua XV de Novembro.

Nas décadas seguintes à inauguração do novo cinema, um salto de tecnologia e novas demandas mexeram com o negocio dos Précoma. O videoCassete Surgia como novidade, dividindo atenções com as grandes telas. As ligações com Curitiba eram Facilitadas, e os cinemas dos shoppings recém-inaugurados atraiam boa parte da juventude de São José dos Pinhais.“Quase não tínhamos rendimento. O cinema aberto estava morrendo, não compensava mais”, lembrou Précoma. O espaço foi arrendado em 1986 por Alfredo Prim e Zito Alves Cavalcanti. Em 1993, o fim definitivo. “Hoje Não há mais espaço para aquele tipo de cinema. As pessoas querem estacionamentos, lojas, comida. As coisas mudaram e o cinema teve que mudar junto”, completou.45

Daniel Précoma ao fazer sua entrevista para o jornal Gazeta do

Povo completa afirmando um dado importante “as coisas mudaram e

o cinema teve que mudar junto”, o mesmo ocorre com toda a cidade

e a sociedade com relação à adaptação com o presente, o moderno,

inserindo isso inclusive na estrutura da Rua XV de Novembro, passando,

processo que ora se modifica rapidamente ora lentamente.

Após a inserção das pedras de meio fio, em 1914, a próxima

mudança na rua XV de Novembro viria somente em 1950, quando se

inicia a demarcação para o asfaltamento, como já exposto no capítulo

anterior, obra essa, com a intenção de ligar Curitiba à Joinville,

concluída apenas em 1959.

Segundo Noticias propaladas, teremos desta vez, o tão falado asfalto em n0ossa cidade.Estarão sendo entaboladas conversações para que da Igreja Matriz prossiga pela Rua 15 de Novembro e Barão do Cerro Azul, até o entroncamento com a estrada de Joinville, ficando desta forma a ligação Curitiba-Joinville, em ótima estrada de rodagem.46

A obra foi concluída, portanto, em 1 de abril de 1959 com a

inauguração feita pelo prefeito Benjamin Claudino Barbosa, que no

mesmo dia concluiu a obra com a colocação da “pedra fundamental”

FIGURA 16 – CINE IMPÉRIO, 1940.

ACERVO: Museu Municipal Atílio Rocco – São José dos Pinhais – Pasta 09

RG/RE: 4405-177. 1 fotografia p&b

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com as seguintes inscrições “Const. pelo prefeito B.C. Barbosa em M

1-4-59”. Essa pedra estava localizada no meio da rua Desembargador

Motta Junior, esquina com a Rua XV de Novembro, hoje ela consta do

acervo do museu municipal.

A pavimentação com as pedras em paralelepípedo permaneceu

por um longo tempo, iniciando sua primeira parte na rua Zacarias

Alves Pereira até a rua Barão do Cerro Azul e a segunda parte entre

a rua Barão do Cerro Azul à rua que liga Curitiba à Santa Catarina,

atual BR 376, atualmente os limites da rua XV de Novembro são estes,

antigamente toda a extensão da rua era trafegável.

Na década de 1970, iniciam-se novas modificações na Rua XV de

Novembro, como o caso da colocação do Petit-Pavê,47 a então fase do

chamado Calçadão, com o fechamento da rua para veículos em 1979.

Fechamento da Rua XV para VeículosNo próximo dia primeiro (agosto 1979), o transito será interditado na Rua XV de Novembro, onde estarão sendo iniciadas as obras de construção do calçadão, previstas no plano de estrutura urbana de São José dos Pinhais, desenvolvido pelo arquiteto Jaime Lerner.Inicialmente, o projeto da nova Rua XV previa a construção de uma canaleta, mas no novo projeto, recém-concluido, optou-se pela extensão do calçadão a toda a via, ficando assim a mesma inteiramente liberada para passeios a pé. Para evitar problemas de transito, o mesmo será ordenado de forma a permitir uma circulação em torno do calçadão, assim a

Figura 17 – Início do asfaltamento.

ACERVO: Museu Municipal Atílio Rocco – São José dos Pinhais –

Pasta fotos Jornal Folha de São José. 1 fotografia p&b

Figura 18 – Inauguração primeiro trecho do calçamento da rua xv de novembro, 1959.

ACERVO: Museu Municipal Atílio Rocco – São José dos Pinhais – Pasta 02

RG/RE: 178-038. 1 fotografia p&b

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rua Isabel A Redentora ficará com o tráfego livre para veículos no sentido norte-sul, enquanto a Visconde do Rio Branco terá tráfego em sentido contrario sul-norte.O projeto prevê que o calçadão possibilitará aos estabelecimentos comerciais ali instalados, uma ocupação programada, com a utilização de uma cobertura evocando a tradicional casa de troncos do inicio da colonização polonesa.A eliminação do acrílico na confecção das placas de publicidade, a arborização que será intensificada e futuramente a criação de um véu de vegetação permitira criar uma atmosfera própria integrada à natureza.O equipamento nesse setor será formado por recantos dotados de bancos e floreiras e nas coberturas, desenvolver-se-iam atividades múltiplas, permitindo valorizar e consolidar a área como ponto de encontro da população.48

É perceptível a

intenção do fechamento da

Rua XV de Novembro para

dar a opção de consumo

aos que passam pela

rua. Todas as finalidades

demonstradas pelo jornal

se concretizaram; o

projeto do Calçadão de

São José dos Pinhais se

tornou realidade, tanto a

população que viveu nos

arredores quanto os que

viviam mais distantes do

centro da cidade aderiram

à ideia de forma positiva,

pelo desenvolvimento do

centro e por precisarem

fazer mais a ligação até

Curitiba.

Outro melhoramento aguardado era o de colocação de petit-pavê.

Colocação do Petit-Pavê na Calçada.Continuam a todo vapor as obras da Rua XV de Novembro que deverão estar concluídas num prazo de sessenta dias, segundo informações da divisão de urbanismo da prefeitura municipal.A próxima etapa é a colocação de Petit-Pavê em toda a extensão da via fechada, vindo a seguir a realização de arborização e paisagismo.Assim, num prazo Maximo de dois meses a rua será inteiramente devolvida aos pedestres.49

Figura 19 – fechamento da rua xv de novembro.

ACERVO: Museu Municipal Atílio Rocco – São José dos Pinhais –

Pasta de concurso fotográfico. 1 fotografia cor.

Figura 20 – Petit-Pavê, 1979.

ACERVO: Museu Municipal Atílio Rocco – São José dos

Pinhais

Pasta de concurso fotográfico. 1 fotografia p&b

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A primeira parte da rua concluiu-se no tempo estipulado; perto de

sua finalização o jornal Folha de São José, publica uma nota com certo

entusiasmo sobre as obras que iam sendo realizadas, e chega a sugerir

outro nome para a Rua XV de Novembro, nome que não deu muito

resultado, pois não foi aceito pelo público.

Rua das Flôres.Acham-se quase concluídos os trabalhos de pavimentação e arborização do primeiro trecho da nova rua XV de Novembro ou Rua das Flôres, que será uma imitação reduzida daquela existente em Curitiba; após a conclusão a rua para pedestres será ponto de encontro para os São-joseenses.Arborizada com Acácia Real ou Pingo de Ouro, dentro de pouco tempo, estará florida, transformando aquela feia artéria num verdadeiro jardim, uma vez que existirão vasos de Flores de diversas variedades e perfumes, que contribuirão para suavisar a vida atribulada de nosso povo.Vários quiosques para a venda de refrigerantes e sorvete na época do verão e bebidas quentes no inverso serão também montados, na procura de proporcionar ao São-joseense conforto e lazer.50

É bem clara a intenção de consumo, de mobilizar o restante da

população que mora em outros lugares longínquos do município, uma

propaganda de conforto e comodidade, um espaço em que o povo

tende a se socializar. O que anteriormente se fazia com o Largo de São

José, hoje Praça 8 de Janeiro, se concretiza na Rua XV de Novembro,

o que antes atraia a população para as obrigações religiosas, atrai para

outras obrigações, consumo e lazer.

Dentro dos próximos dias poderá ser entregue à população o segundo trecho fechado da rua XV de Novembro, segundo previsões do departamento de engenharia.As obras sofreram retardamento, no final da semana passada, em função das chuvas, mas foram retomadas em ritmo mais acentuado.

Atualmente, a fase da obra é de colocação de Petit-pâve, sendo que em seguida será instalado o equipamento urbano: Bancos, Floreiras, Luminárias, Árvores, etc.51

Em Janeiro do ano de 1981, o calçadão, rua das flores, rua

XV de Novembro através de um ato solene foi entregue para a

população, e permaneceu durante 22 anos sem modificações na

estrutura da rua, mas sim, em edifícios ao seu redor. “No dia 8

de Janeiro de 1981 foi entregue o novo trecho do calçadão da rua

XV de Novembro, compreendido entre as ruas Sete de Setembro e

Marechal Deodoro”.52

Figura 21 – Calçadão década de 1980.

ACERVO: Museu Municipal Atílio Rocco – São José dos Pinhais

Pasta de concurso fotografico. 1 fotografia cor.

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Em meados do ano de 2004, iniciam-se as novas obras de

modificações da rua XV de Novembro, a maior modificação até

então, dando outro aspecto ao Calçadão; uma via mais extensa e

bem organizada, com novos e modernos estilos de bancos, floreiras,

luminárias, não dando espaço para o velho, modificações mais

impactantes para aqueles que vivenciaram o antigo espaço.

Com as novas ideias de reestruturação, foram facilmente

encontrados defeitos para o antigo Calçadão, defeitos de mobilidade,

de conservação dos equipamentos urbanos, de segurança. As soluções

para estes problemas acabaram se refletindo no espaço da rua, em que

a solução foi, portanto modificar toda a rua para solucionar problemas

que poderiam ser reparados separadamente. Não há uma intenção de

resolver a mobilidade, a conservação e a segurança simultaneamente,

mas sim, uma mudança radical que envolve a modificação total de

uma rua, não havendo espaço para o antigo, para conservação de tal

patrimônio.

O pequeno jornal Diário de São José retrata bem essa questão de

modificação imediata; apóia e apresenta uma reestruturação total no

Calçadão, demonstra as idéias de criação dos arquitetos, muitas idéias

que não saíram do papel, apresenta a importância do Calçadão, mas

não da conservação.

Para o secretario de urbanismo da Prefeitura, engenheiro Espartano Tadeu da Fonseca, a revitalização do Calçadão da XV é uma referência à vida urbana. “Não é uma simples reforma. Este trecho é o marco do inicio de São José dos Pinhais como cidade. Nele, alem de ser o centro histórico, também é o centro comercial e de prestação de serviços da Cidade; o que vamos fazer é modernizá-lo, torná-lo um local em que as pessoas possam se encontrar, além de fomentar a atividade comercial. Vamos dar um referencial à vida urbana, que São José ainda não tem, com novos e modernos equipamentos. O calçadão da rua XV é nosso cartão postal e por isso essa grande obra justifica-se”, comentou.53

No decorrer da matéria apresentada, o jornal aborda as facilidades,

as mudanças em todo o percurso da rua, mostra certos aspectos

antigos considerados como defeitos, aspectos que não tem a ver com

os problemas sociais apresentados anteriormente com urgência em

serem resolvidos.

É justamente neste ponto em que ele será incrementado; se tornará moderno. O calçamento será todo substituído, e dando lugar àquelas pedrinhas irregulares e buracos, novos desenhos em lajotinhas de concreto denominadas “paver”, nas cores vermelho e cinza, planas e no mesmo nível, acabando com o risco de tropeços

Figura 22 - Atual Rua XV de Novembro.

Disponível em: http://img355.imageshack.us/i/sojos3bq9.jpg/ Acesso em: 01 dez.

2009

1 fotografia cor.

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e saltos quebrados.Toda a fiação elétrica será subterrânea e nenhum cabo, rabicho ou fio será visto no Calçadão da XV.As mudanças também vão acontecer nos equipamentos mobiliários, com a substituição de bancos, floreiras e bancas de jornal, que seguirão uma mesma linguagem visual, mais agradável aos olhos da população.Na iluminação publica do Calçadão também ocorrerão mudanças, e como grande novidade, a rua mais antiga de São José dos Pinhais, a XV, ganhara galerias de águas pluviais, acabando com os alagamentos e poças de água, com qualquer pingo de chuva que caia.Ainda, como atração de novos equipamentos, duas grandes novidades surgirão até o inicio do mês de dezembro próximo; um Café será instalado na Praça 8 de Janeiro, em frente a Igreja Matriz, possibilitanto o encontro de pessoas para um bom bate-papo ou simplesmente tomar um café; já a segunda grande mudança ocorrerá no centro de Vivencia João Senegaglia, onde m moderno prédio com estrutura em vidro será integrado aquela antiga construção.Neste novo quadro urbano, o futuro Calçadão não prevê em seu cenário, espaço para os camelôs, onde técnicos da prefeitura estudam a possibilidade de criação de um local especifico, um “camelódromo”, em uma rua paralela a XV.Segundo a arquiteta Susanne Pertschi, da Prefeitura Municipal, todo o desenho do Calçadão da XV foi concebido para possibilitar a comunidade de são-joseense, um grande espaço de encontro, limpo e agradável. ”é um projeto único, sem copias e sem plágios de qualquer outro centro urbano; procuramos fazer um projeto original agregado as necessidade da população, que com certeza aprovará o seu desempenho e visual”, comentou.54

As principais reformas apresentadas pela matéria foram realizadas

no tempo determinado, mas algumas não o foram, como é o caso do

camelódromo, a linha exclusiva para os deficientes, o café da Praça 8

de Janeiro e o mais anunciado pelo jornal através de imagens o novo

edifício do Centro de Vivência João Senegaglia, uma estrutura nova

e ousada que seria financiada pela Prefeitura, que optou pela sua

restauração.

Mesmo com a mudança de toda a infraestrutura da rua XV de

Novembro, ela ainda permaneceu o centro comercial do município, ainda

um lugar de encontro de pessoas, que nunca deixou de ser desde sua

criação; lugar que permaneceu movimentado durante a semana, mais

ainda aos sábados, mas vazia aos domingos. Permanecem também os

desníveis do calçamento e a falta de segurança de alguns pontos, a

mobilidade foi de certa forma facilidade pelo fato do terminal de ônibus

se localizar no percurso da rua, mas que isso também se modificara

com a mudança do terminal de ônibus para outro lugar em 2010.

O que a rua XV de Novembro sempre foi, e nunca deixará de ser, é

um lugar de memória, tanto para aqueles da antiga e pacata São José

dos Pinhais quanto para aqueles da nova e moderna cidade, um lugar

de recordações individuais e em grupos distintos de pessoas, mas é

importante dar esse valor para tal espaço, para que não o sujeite a

esquecimentos.

2.3 Cotidiano de uma rua

O patrimônio arquitetônico e seu estilo, que nos acompanham por

toda a nossa vida, as paisagens, as datas e personagens históricos

de importância que incessantemente relembramos: as tradições

e costumes, certas regras de integração, o folclore e a musica são

diferentes pontos de referência que estruturam nossa memória e que

também se inserem na memória da coletividade a que pertencemos.55

Em entrevista com o senhor Ernani Zétola, nota-se claramente

essas referências de memória. Um homem observador que valorizou

a memória dos cidadãos de São José dos Pinhais e contribuiu para

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a construção de sua história, através da criação do museu municipal,

e documentação de arquivos antigos; hoje com 88 anos guarda

lembranças de toda a parte do município.

A memória é, em parte, herdada, não se refere apenas à vida física

da pessoa. A memória também está sujeita a flutuações que são do

momento em que ela é articulada, em que ela esta sendo expressa.

As preocupações atuais constituem um elemento de estruturação da

memória, que tem também relação com a memória coletiva.56

Ernani Zétola demonstra em sua fala uma admiração pelo antigo,

pelo preservar, há lembranças de detalhes minuciosos como as flores

do jardim do antigo palacete da prefeitura, hoje museu municipal

Atílio Rocco. Nota-se que a memória não necessita do edifício de

uma estrutura para remeter ao passado, mas necessita também do

espaço, que é necessário para não se sujeitar ao esquecimento e ao

silêncio para os outros indivíduos, mas para o individuo que vivenciou,

que presenciou e teve situações nesse determinado espaço mesmo

tendo outra construção naquele espaço a memória grava o que havia

anteriormente. Certamente que, com a estrutura intacta, a memória

trabalhe mais facilmente e rapidamente, e também é certo que o

tombamento é necessário para a posteridade, para a preservação do

original.

Eu assim que sou muito conservador acho que faltou visão dos prefeitos mais antigos que isso fosse preservado a rua XV e o centro histórico aquela parte da Praça 8 de Janeiro e das adjacências aqui seria uma atração turística maravilhosa, por que se eles preservassem o casario e o aspecto da época [...] eu ficaria muito feliz se eles tivessem preservado os sobradinhos coloniais acachapados, as casas que foram mudando estilos, platibanda decorando, seria uma atração turística, se fosse preservado o centro histórico de São José dos Pinhais, mas não, foi tudo derrubado, agora só estes caixotes pré-fabricados que montam tudo aquilo, então São José podia se expandir, mas o centro principalmente a rua XV podia ter sido preservado.57

É interessante acompanhar, portanto, as adaptações que ocorrem

ao longo do tempo nas antigas residências urbanas. “Com o progresso

e as novas facilidades as famílias deixaram suas marcas nas casas,

modificações arquitetônicas internas e externas, mas chega um tempo

em que a construção realmente não pode mais oferecer o conforto

exigido pelas novas concepções de bem morar de uma determinada

classe social e, então, vemos as construções perderem suas

composturas antigas, sendo fraciona em habitáculos multifamiliares;

e de degradação em degradação chega ao seu dia de demolição para

Figura 23 – Desfile de 7 de Setembro, 1940.

ACERVO: Museu Municipal Atílio Rocco – São José dos Pinhais – Pasta 03

RG/RE: 191-050. 1 fotografia p&b

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dar lugar a edifícios concebidos dentro das novas regras do conforto

ambiental e dentro de outras condições financeiras.”58

A memória se insere no ambiente da rua, fortemente com os

festejos, manifestações e datas religiosas, as maiorias das festas

tinham um contexto com a Igreja Matriz, comemorações e celebrações

que unificavam os habitantes e seus grupos, despertando assim um

sentimento intenso de pertencimento da cidade.

Festas religiosas eram as maiores atrações e eram todas em frente a igreja, o leilão fazia no canto da rua XV [...] era um moro, então o leilão era ali, tinha roleta, leilão, churrasco, procissão as 4 horas, foguetório, todas aquelas atrações da época, era gostoso porque vinha gente do sitio, tinha casas antigas que ficavam fechadas, esse pessoal do sitio que tinham essas chácaras grandes pelo sitio pela Campo Largo, Tijucas, Tijucas demorava tempo porque uma era estrada de barro, e roseira e todos esses lugares eles tinham casa na cidade eles vinham já vinham 3 dias antes [...] as

novenas eram uma festa cada noite [...] os imigrantes eram muitos religiosos e bastante participativos.59

Uma das celebrações que era festejada constantemente além dos

festejos religiosos, era o carnaval, que já ao fim da década de 1970 não

era tão comemorado.

São José dos Pinhais viveu seus animados carnavais nas décadas de vinte e trinta. Grandes bailes à fantasia eram realizadas dias antes e durante o tríduo momesco. Os maiores e os melhores aconteceram nos salões do “XV de Novembro”, do antigo “Cine Ideal”. [...] No final dos anos 20 e inicio dos 30, o “corso” esteve no apogeu. “Corso” era o desfile pelas ruas da cidade, realizado nas tardes de carnaval. Dele participaram automóveis com toldo baixado, caminhões, carruagens e até montarias, transportando moças, rapazes e crianças fantasiados cantando os sucessos carnavalescos. O lança perfume usado em profusão embalsamava o ar com aromas vários; serpentinas e confetes atirados sem economia, coloriam e enfeitavam a cidade; grupos mascarados, com fantasias improvisadas, percorriam as ruas invadindo casa e bares, brincando com todos, numa ingênua alegria. Não havia malicia nem maldades, pois naqueles tempos a nossa Sanjo era uma só família.60

Atualmente, o carnaval é limitado em poucos dias de eventos, aos

arredores da rua XV de Novembro, e destaca-se por seus desfiles

de bonecos gigantes; bonecos que podem ser vistos no Museu dos

Bonecos localizado também no antigo estabelecimento da indústria

Senegaglia.

Ernani Zétola conta um pouco de seus pais e avós italianos,

e suas relações com os outros habitantes, mostra o sentimento de

pertencimento de seu pai com relação ao Brasil, em que sabia a língua

italiana, costumes, mas se denominava brasileiro e se relacionava bem

entre eles. Afirma que se pai não gostava de falar a língua de origem e

nem apoiava a fala dentro de casa.

Figura 24 – Manifestação na Rua XV de Novembro, 1942.

ACERVO: Museu Municipal Atílio Rocco – São José dos Pinhais – Pasta 20

RG/RE: 3053-397. 1 fotografia p&b

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Minha mãe falava sem sotaque porque nas escolas ela falava com as coleguinhas dela, mas eu aprendi mais em italiano com minha mãe do que com meu pai que veio com 12 anos da Itália, meu pai não gostava de falar italiano e não queria que os filhos falassem pra não ter sotaque carregado [...] papai então fala só português, só brasileiro, [...] ele convivia mais com brasileiros, gostava muito da convivência brasileira, ele achava que os brasileiros tinham mais cultura.61

Pode se notar que esse sentimento de pertencimento de

identidade social de Ernani Zétola foi herdado de seu pai. “A memória

é um fenômeno construído social e individualmente, quando se trata

da memória herdade, podemos também dizer que há uma ligação de

fenômenos muito estreita entre memória e o sentimento de identidade.

Sentimento tanto individual como coletivo, na medida em que a

memória é também um fator extremamente importante do sentimento

de continuidade e de coerência de uma pessoa ou de um grupo em sua

reconstrução de si.”62

É clara a indignação desse personagem são-joseense que é Ernani

Zétola com relação à não preservação dos espaços, das estruturas,

dos lugares de memória. Afirma que no período da modernização “as

pessoas naquele tempo era tudo destruir, destruir, eles confundiam

restaurar com reformar.”.63

Pra mim o que representa o que restou, eu não falo na Praça 8 de Janeiro porque ela sumiu, eu não falo na praça Getulio Vargas que é aquela do terminal que não tem mais praça ali, porque só terminal, eu falo na Igreja Matriz e falo no prédio do museu, o palacete municipal como diziam e no prédio das industrias Senegaglia, o resto acabou, virou fumaça, não tem mais nada que recorde o passado, não sobrou nada, nada, nada.64

Dá ênfase também às estruturas localizadas em várias partes

do município, não somente na parte central onde vive e viveu toda

sua vida, mas sim, em diversos lugares como o caso das colônias que

ainda contêm residências com características de imigrantes, apóia o

estabelecimento definitivo das ditas “Casas de Culturas” 65 localizadas

na colônia Murici e Mergulhão, a primeira dando relevância à cultura

imigrante polonesa em São José dos Pinhais e a segunda demonstrando

os aspectos dos colonos italianos no município.

Sendo assim, é a favor do tombamento de tais lugares,que

é um atributo que se dá ao bem cultural escolhido e separado dos

demais para que nele, fique assegurada a garantia da perpetuação da

memória.66 O artigo terceiro, elaborado no II Congresso Internacional

de Arquitetos e Técnicos dos Monumentos Históricos, de maio de

1964, conhecido como Carta de Veneza67 registra: A conservação e

a restauração dos monumentos visam a salvaguardar a obra de arte

tão quanto o testemunho histórico, lugares portadores de mensagem

espiritual do passado. Ernani Zétola é a favor do desenvolvimento do

crescimento para São José dos Pinhais, sendo assim “a cidade deve

acompanhar, mas preservar.”68

Contudo, é bem perceptível no depoimento, a relação dos lugares

de memória com outros indivíduos, durante a entrevista. Vários dos

lugares anunciados remeteram a pessoas conhecidas, familiares

e nomes, sendo assim a preservação e o restauro do patrimônio se

torna um agente influenciador da memória, um resgate do passado,

um resgate também de pessoas e do cotidiano da cidade; os lugares

remetem a pessoas.

São José era uma vila, mas era tão bom, era uma cidade pobre, mas ela era rica em amizade, em sentimentos, em felicidades, todo mundo parecia que era feliz, a gente era pobre, tinha a classe pobre e a classe média e um ou outro rico, mas então era muito bom o convívio, muita amizade. [...] Doce tempo passado.69

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Esse cotidiano vai se modificando gradativamente conforme

o decorrer dos dias, meses e anos, ideologias, concepções de vida

que se alteram conforme esse decorrer. São perceptíveis essas

mudanças ocorridas no espaço das principais ruas centrais das

cidades, formadas primeiramente para suprir necessidades familiares

como a moradia e o fácil acesso a determinadas urgências. O aspecto

muda para o consumo e venda que utiliza a frequente movimentação

na rua, que futuramente tem somente uma finalidade: a do lucro. A

concepção muda também para os frequentadores, e não somente

aos residentes, inicialmente como é caso de São José dos Pinhais.

O ir para a rua XV de Novembro significava praticar as obrigações

religiosas e socializar com habitantes do mesmo município, que ali

passavam com a intenção de consumo básico, além da mobilização

para o município de Curitiba. Com a reestruturação na rua e uma

intenção de fazê-la um ambiente de comércio e lazer, a concepção

de consumo aumenta, hoje, o Calçadão da rua XV de Novembro, que

não representa mais um fator básico de existência e nem passa essa

imagem.

CONSIDERAÇOES FINAIS

São José dos Pinhais inicia-se com seus arraiais de mineiros,

pousos de tropeiros, sesmarias e curais, pode-se dizer uma povoação

originária dos pontos de parada dos caminhos de ligação entre

Curitiba ao litoral. Com a organização administrativa de Freguesias

foram surgindo os pequenos núcleos populacionais, no entorno das

respectivas igrejas paroquiais e capelas, que possuíam poderes

e influenciavam o desenvolvimento populacional, em localizações

imprecisas que variavam de um lugar para outro.

No mesmo município, a pecuária e a agricultura eram as principais

atividades em uma economia quase de subsistência, formadas por

núcleos, portanto, dependentes entre eles, em algumas especificidades

como bens que não podiam produzir, gerando uma mobilização

populacional para outros núcleos populacionais como ocorreu com a

decadência do Arraial Grande, na qual continha o maior número de

população. Na freguesia de São José, de origem desconhecida, para

garantir a permanecia da população e as presenças nos atos religiosos

foram distribuídas terras ao redor da Igreja; em que pessoas viviam em

locais longínquos, deviam construir uma segunda moradia. Houve uma

influência do religioso na formação social e na própria infraestrutura

da cidade, inclusive na construção da rua XV de Novembro, objeto de

estudo deste trabalho.

Essa Rua, que no início servia para o tráfego normal às casas

residenciais de famílias que ali viviam, com escassos comércios, tinha

também suas praças e locais de administração, uma rua central, mas

não muito relevante, com o decorrer do tempo e a modernização

da cidade passa por diversas modificações. A igreja deixa de ser o

principal foco de desenvolvimento do município já no fim do século

XIX e a passagem do regime Imperial para o Republicano mexe com a

administração nacional. Em São José dos Pinhais a mudança ocorreu,

também, com as obras públicas e mais tarde com o investimento da

industrialização.

A “rua da Entrada”, anteriormente assim chamada, era um

ambiente pacato, com clima de vizinhança, todos que ali residiam se

conheciam, tinha seus dias de grande movimentação como festas

religiosas, casamentos, etc. havia, também, espaços de socialização

como o Largo de São José dos Pinhais, hoje, Praça 8 de Janeiro.

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204Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná | História | 2010

Contudo, a cidade tinha seu cotidiano bem diferenciado

dos dias atuais, os quais com suas mudanças estruturais cresceu em

grande demanda, a partir da década de 1970, com a industrialização

e urbanização do município. Com isso, a estrutura da rua se modifica

conforme as necessidades e intenções das respectivas épocas.

A intenção e estabelecimento do fechamento da rua XV

de Novembro mexeram com toda infraestrutura no seu arredor: a

rua e a cidade passam de ser pacatas para modernas. A cidade de

São José dos Pinhais evolui seus antigos núcleos urbanos, e a igreja,

definitivamente, não mais determinava o desenvolvimento urbano,

dando o lugar as grandes redes de comércio.

Passa, portanto, o “Calçadão” da rua XV de Novembro a

proporcionar aos cidadãos uma relativa oportunidade de escolha para

consumo, compras, fazeres, etc. A rua deixa de ter o antigo clima de

vizinhança, as residências vão abaixo pela ansiedade de mudança e

lucro, restam apenas poucos monumentos que apresentam à cidade

e aos seus cidadãos o passado; o patrimônio histórico deixa de ser

preservado pela necessidade de ter lucro e mudança.

A rua XV de Novembro sofre sua mutação com o tempo presente,

e é nesse sentido que o trabalho demonstra a ausência da história

construída através da memória desse importante lugar de memória.

Hoje, a rua é um grande e extenso centro de comércio, mas que

no passado foi cercada com suas residências, palacetes, terrenos

extensos, uma artéria da cidade que levava a sua própria existência,

sem ambições, ideologias e simbologias vividas atualmente.

É relevante modernizar, acompanhar, porém mais importante ainda

é preservar, valorizar, entender os patrimônios que ali se estabeleceram

e as modificações na própria estrutura da rua.

A rua XV de Novembro nunca deixará de ser um lugar memorável,

tanto aos antigos cidadãos quanto aos novos, lugar de recordações

individuais e coletivas, com necessidade de valorização do antigo para

que não se sujeite a esquecimentos, pois em São José dos Pinhais são

raros esses lugares que remetam ao antigo, lugares que despertem a

curiosidade da população em busca de seu próprio passado, de sua

própria história de formação social, que é ainda muito desconhecida

e tratada com indiferença. Compreender a importância desse lugar

histórico para com a sociedade são-joseense e sua construção de sua

identidade foi o objetivo deste trabalho.

A atual pesquisa tem intenção de abrir um leque para estudos

singulares nos diversos lugares do Estado, onde estes apresentem

histórias e memórias diferenciadas entre eles. Lugares fundamentais

para a construção histórica e cultural das pessoas dos municípios. A

pesquisa na rua XV de Novembro tende demonstrar a importância dos

lugares históricos de memória nas pequenas e desconhecidas cidades,

procurando não limitar somente um espaço somente, mas sim, em

um espaço geral, trabalhando com um enfoque articulando com

ramificações de ambientes. “Lugares de unanimidade sem unanimismo

que não exprimem mais nem convicção militante nem participação

apaixonada, mas onde palpita ainda algo de vida simbólica,”70 afirma

Pierre Nora.

É premente a necessidade de preservar o que restou, restaurar,

tombar esses determinados lugares de memória, mas não somente os

lugares, e sim a memória também, através da metodologia da historia

oral que nos obriga a levar ainda mais a sério a crítica das fontes, que

é também história de vida, instrumento privilegiado para abrir novos

campos de pesquisa.71

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A primeira norma de conduta ligada ao “como preservar?” é

manter o bem cultural, especialmente o edifício, em uso constante e

sempre que possível satisfazendo a programas originais. Para isso, é

necessário um método de explicação popular, uma educação sistemática

que difunda entre toda população, que é a principal responsável pelo

descaso, e também dirigentes e dirigidos, o interesse maior que há na

salvaguarda de bens patrimoniais tanto materiais como imateriais.

Preservar também as características iniciais e suas condições

mínimas de sobrevivência das estruturas que remetam ao passado,

tratando como um dever de patriotismo, como diz Lemos, mantendo

os recursos materiais em sua integridade, exigindo métodos de

intervenções capazes de respeitar os elementos componentes do

Patrimônio Cultural. “Preservar também o saber nacional local,

fazendo com que os conhecimentos de fora nos valorizem em vez

de nos anularem. Isso se dificulta com a diversidade de empresas

multinacionais comandando a economia, mostrando uma uniformização

do pensamento. Devemos controlar os processos de evolução que se

desenvolvem a mercê de alterações inevitáveis”.72

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Notas de rodapé 1 SBRAVATI, Myriam. São José dos Pinhais 1776 –1852. Uma paróquia paranaense em estudo. 1980. 183 f. Dissertação (Mestrado em Histó-ria do Brasil) – Faculdades de Ciências Humanas Letras e Artes, Universidade Federal do Paraná; Curitiba, 1980, p. 37.

2 id. ibid. p.38.

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3 MAROCHI, Maria Angélica. De Freguesia a Diocese. A trajetória da Igreja Católica em São José dos Pinhais, 1690 – 2007. Curitiba: Traves-sa dos Editores, 2007 p.53.

4 COLNAGHI, Maria Cristina; MAGALHAES FILHO, Francisco de Borja Baptista; MAGALHAES, Marionilde Dias Brepohl. São José dos Pinhais: a Trajetória de uma cidade; Curitiba: Prephacio, 1992, p.22.

5 id. ibid. p.23.

6 MAROCHI, op. cit. p.62.

7 id. ibid. p. 62.

8 COLNAGHI, op cit.. p.23.

9 Provimento do Ouvidor-Geral Raphael Pires Pardinho, 1721. In: Boletim do Archivo Municipal de Curytiba: documentos para a história do Paraná. Volume I. Fundação da Villa de Curytiba – 1668 – 1721. Curitiba: Typ. E lith a vapor Impressora Paranaense, 1906. p. 10. PROVIMEN-TO. ap. MAROCHI, op. cit. p.55.

10 NORA, Pierre. Entre Memória e Historia: A problemática dos lugares. Projeto História. n. 10. São Paulo: PUC, 1993.

11 A rua da “Entrada” é citada no livro da Câmara Municipal de São José dos Pinhais. na Lei nº. 24 Capitulo 2 Art. 8.º. LIVRO da Câmara Municipal de São José dos Pinhaes: Leis, Regimento, Resoluções, Actos e Decretos e Contractos Precidida da Consolidação das leis sobre o Governo Municipal de 1911.

12 HANSE, Jean Carlos. In: CEZAR, Marcelo Ferraz. Maquete Centro Histórico São José dos Pinhais 1920. São José dos Pinhais, [2006?]. 1 Folder. Encontrado no museu Atillio Rocco.

13 HALBWACHS. ap. POLLAK, Michael: Memória e Identidade Social. Revista Estudos Históricos, v. 5, n. 10; Rio de Janeiro, 1992, p.201. Disponível em: http://www.cpdoc.fgv.br/revista/arq/104.pdf Acesso em: 01 dez. 2009.

14 OLIVEIRA, Dennison de. Urbanização e Industrialização no Paraná Curitiba: SEED, 2001. (Coleção História do Paraná; textos introdutó-rios). p. 11.

15 LIVRO da Câmara Municipal de São José dos Pinhais, 1911, p. 40.

16 MAROCHI, Maria Angélica. Câmara municipal de São José dos Pinhais. 150 anos 1853 – 2003. São José dos Pinhais: Câmara Municipal, 2003 p. 69-71.

17 De acordo com Maria Angélica Marochi os “documentos manuscritos e/ ou impressos arquivados em pastas não especificadas. Foram pou-cas as cópias deste tipo de solicitação que se mantiveram arquivadas. Parte delas foi destruída no inicio do século XX, quando, por questões políticas, houve uma queima quase total da documentação da prefeitura.” MAROCHI, Maria Angélica. Imigrantes 1870-1950. Os europeus em São José dos Pinhais, Travessa dos Editores; Curitiba; 2009 p. 292.

18 Personagem de São José dos Pinhais, nascido em 2 de Novembro de 1858, Zacarias Alves Pereira teve um começo difícil, visto as circuns-tâncias da época, pois era filho de escravos. Todavia, conseguiu as letras primarias, tornando-se, em pouco tempo, um cidadão muito honrado

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e conhecido em seu recanto natal. Desempenhou várias atividades: Tenente da guarda, tesoureiro da prefeitura de São José dos Pinhais e suplente de juiz federal. No campo artístico, deixou inúmeras obras: pinturas em tela, esculturas e objetos artesanais, além de ser participante da banda de música “Santa Cecília”. Aos 79 anos, ainda manejava firme com a mão as ferramentas necessárias para seu trabalho artístico, um dos principais feitos para a cidade foi a criação do Brasão Municipal.

19 SETIM. ap. MAROCHI, Maria Angélica. De Freguesia a Diocese. A trajetória da Igreja Católica em São José dos Pinhais, 1690 – 2007. Curitiba: Travessa dos Editores, 2007 p.98.

20 JORNAL NOTÍCIAS PARANÁ, Curitiba, p. 5, 23 out. 2009.

21 Descendente de italiano, Atílio Rocco nasceu em 4 de março de 1901. Em São José dos Pinhais, atuou em vários ofícios como serralheiro, açougueiro e laminador. Era proprietário de várias terras localizadas no centro da cidade, com suas doações de lotes à prefeitura Atílio Rocco contribuiu para a urbanização e desenvolvimento da cidade. Devido à sua grande influência econômica e política, o prefeito Moacir Piovesan o homenageou, ao denominar Museu Municipal Atílio Rocco, em 1981, após um ano de seu falecimento.

22 Fragmento de texto do Primeiro Livro de Registros dos Nivelamentos das Ruas da cidade, cuja data de abertura é 17 de abril de 1911. PRIMEIRO LIVRO de Registros dos Nivelamentos das Ruas da cidade. São José dos Pinhais: [S.l.], 1911, p. 27. Acervo Museu Municipal Atílio Rocco.

23 JORNAL TRIBUNA DE SÃO JOSÉ; p. 6, 17/19 jul. 2000.

24 ARQUIVO MUSEU MUNICIPAL ATILIO ROCCO, São José dos Pinhais. Câmara municipal. Sugestão apresentada pelo vereador Elon Bonin ao Prefeito Moacir Piovesan, 31 de maio de 1977: Folha solta, arquivada na pasta Museu Atílio Rocco 2.

25 JORNAL TRIBUNA DE SÃO JOSÉ; p. 6, 17/19 jul. 2000.

26 Moacir Piovesan prefeito de São José dos Pinhais. PIOVESAN. ap. JORNAL OBJETIVO. São José dos Pinhais, p. 3, 26 mar. 1981.

27 JORNAL ESPAÇO PÚBLICO CULTURA, março de 2005 p. 8-9

28 MACHADO, Maria Lúcia Büher; O cotidiano do trabalho na indústria Senegaglia (1936-1976): Hierarquias, (IN) disciplinas e relação de gênero em uma fabrica paternalista. 2003. ??f. Dissertação (mestrado em Tecnologia). Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná, Curitiba; 2003 p. 32.

29 CELSO. ap. MACHADO, Maria Lúcia Büher; O cotidiano do trabalho na indústria Senegaglia (1936-1976): Hierarquias, (IN) disciplinas e relação de gênero em uma fabrica paternalista. 2003. ??f. Dissertação (mestrado em Tecnologia). Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná, Curitiba; 2003 p. 40.

30 ZÉTOLA, Ernani. Entrevista concedida a Fabrizio Carlo Brun. São José dos Pinhais 10 nov. 2009. Esta frase também é utilizada na placa de homenagem e inauguração da sala da fundação do Museu Municipal Atílio Rocco.

31 NORA, Pierre, Entre Memória e História: A problemática dos lugares. Projeto História n. 10. Revista do programa de estudos pós-gradua-dos em história e do departamento de história pela PUC/SP. São Paulo, 1993.

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32 NORA, Pierre, Entre Memória e História: A problemática dos lugares. Projeto História n. 10. Revista do programa de estudos pós-gradua-dos em história e do departamento de história pela PUC/SP. São Paulo, 1993.

33 NORA, Pierre, Entre Memória e História: A problemática dos lugares. Projeto História n. 10. Revista do programa de estudos pós-gradua-dos em história e do departamento de história pela PUC/SP. São Paulo, 1993.

34 COLNAGHI. op. cit. p.209.

35 JORNAL CORREIO DE SÃO JOSÉ, São José dos Pinhais. p.7. 20 ago. 1950.

36 BOSCHILIA, Roseli. A Rua 15 e o comercio no inicio do Século. Boletim Informativo da casa Romário Martins. Curitiba: Fundação cultural de Curitiba, 1996 p.1.

37 JORNAL CORREIO DE SÃO JOSÉ, São José dos Pinhais, p.10. 13 ago. 1950.

38 JORNAL CORREIO DE SÃO JOSÉ, São José dos Pinhais, p.10. 13 ago. 1950.

39 JORNAL CORREIO DE SÃO JOSÉ, São José dos Pinhais, p.5. 10 dez. 1950.

40 RECIBO DE PAGAMENTO de 1914, pasta Obras Públicas, acervo Museu Municipal Atílio Rocco.

41 ZÉTOLA ap. COLNAGHI. op. cit. p.139.

42 REDESCHI ap. COLNAGHI. op. cit. p.139.

43 Onde se localiza atualmente o Museu Municipal Atílio Rocco.

44 JORNAL FOLHA DE SÃO JOSÉ, 17 jul. p. 5 1975.

45 GAZETA DO POVO, Caderno G. 28 mai. 2009.

46 JORNAL CORREIO DE SÃO JOSÉ, Notas Avulsas, 1 fev. p.6 1954.

47 Pequenas pedras de mármore artisticamente instaladas em forma de mosaico com formatos geométricos, nas cores branca e preta.

48 JORNAL OBJETIVO. 19 jul. p.1 1979.

49 JORNAL OBJETIVO, 16 ago. p.1 1979.

50 JORNAL FOLHA DE SÃO JOSÉ, 04 out. p.1 1979.

51 JORNAL FOLHA DE SÃO JOSÉ, 27 mar. p.1 1980.

52 JORNAL OBJETIVO, 15 jan. p.3 1981.

53 JORNAL DIÁRIO DE SÃO JOSÉ, 2 jul. 2004.

54 JORNAL DIÁRIO DE SÃO JOSÉ, 2 jul. 2004.

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Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná | História | 2010 211Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná | História | 2010

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64 ZÉTOLA, Ernani. Entrevista concedida a Fabrizio Carlo Brun. São José dos Pinhais 10 nov. 2009

65 Casas alugadas pela prefeitura para as exposições de artefatos rurais utilizados por imigrantes poloneses e italianos, a casa da Colônia Murici funciona diariamente, conta com uma biblioteca e vários espaços de exposições, a casa da Colônia Mergulhão funciona aos finais de semana e feriados para a visitação do público, conta com exposições do cotidiano do colono italiano.

66 LEMOS, Carlos A.C; 1925 - O que é patrimônio histórico. São Paulo: Brasiliense, 2000. p.85.

67 CARTA INTERNACIONAL sobre conservação e restauração de monumentos e sítios. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/portal/bai-xaFcdAnexo.do?id=236 Acesso em: 02 dez. 2009.

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