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Uma Análise de Cenários para a Produção de Etanol no Brasil Marina Andries Barbosa Nicole Paes Vaz Projeto de Graduação em Engenharia de Produção, pela Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro, apresentado como um dos requisitos à colação de grau. Orientador: José Roberto Ribas Rio de Janeiro Setembro de 2012

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Uma Análise de Cenários para a Produção de Etanol no Brasil

Marina Andries Barbosa

Nicole Paes Vaz

Projeto de Graduação em Engenharia de

Produção, pela Escola Politécnica da

Universidade Federal do Rio de Janeiro,

apresentado como um dos requisitos à colação

de grau.

Orientador: José Roberto Ribas

Rio de Janeiro

Setembro de 2012

ii

Uma Análise de Cenários para a Produção de Etanol no Brasil

Marina Andries Barbosa

Nicole Paes Vaz

PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO DE

ENGENHARIA DE PRODUÇÃO DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL

DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A

OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO DE PRODUÇÃO.

Examinado por:

_____________________________________

__ José Roberto Ribas, D.Sc.

_____________________________________

__Rosemarie Broker Bone, D.Sc.

_____________________________________

__Lino Guimarães Marujo, Ph.D.

RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL

SETEMBRO de 2012

iii

Barbosa, Marina Andries

Vaz, Nicole Paes

Uma Análise de Cenários para a Produção de Etanol no Brasil /

Marina Andries Barbosa, Nicole Paes Vaz - Rio de Janeiro: UFRJ / Escola

Politécnica, 2012.

xii, 68 p.: Il.; 29,7 cm.

Orientador: José Roberto Ribas

Projeto de Graduação - UFRJ / Escola Politécnica / Curso de

Engenharia de Produção, 2012.

Referências Bibliográficas: p. 64

1. Etanol 2. Cana-de-açúcar 3. São Paulo

I. Ribas, José Roberto. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ,

Curso de Engenharia de Produção. Uma Análise de Cenários para a

Produção de Etanol no Brasil

iv

"E assim, depois de muito esperar, num dia como outro qualquer, decidi triunfar...

Decidi não esperar as oportunidades e sim, eu mesmo buscá-las.

Decidi ver cada problema como uma oportunidade de encontrar uma solução.

Decidi ver cada deserto como uma possibilidade de encontrar um oásis.

Decidi ver cada noite como um mistério a resolver.

Decidi ver cada dia como uma nova oportunidade de ser feliz.

Naquele dia descobri que meu único rival não era mais que minhas próprias limitações e que

enfrentá-las era a única e melhor forma de as superar.

Naquele dia, descobri que eu não era o melhor e que talvez eu nunca tivesse sido.

Deixei de me importar com quem ganha ou perde.

Agora me importa simplesmente saber melhor o que fazer.

Aprendi que o difícil não é chegar lá em cima, e sim deixar de subir.

Aprendi que o melhor triunfo é poder chamar alguém de"amigo".

Descobri que o amor é mais que um simples estado de enamoramento, "o amor é uma filosofia de

vida".

Naquele dia, deixei de ser um reflexo dos meus escassos triunfos passados e passei a ser uma tênue

luz no presente.

Aprendi que de nada serve ser luz se não iluminar o caminho dos demais.

Naquele dia, decidi trocar tantas coisas...

Naquele dia, aprendi que os sonhos existem para tornar-se realidade.

E desde aquele dia já não durmo para descansar...

Simplesmente durmo para sonhar."

Walt Disney

v

Dedico este trabalho ao meu querido e saudoso

padrasto Sérgio por ter sido exemplo de grande

homem e espelho em minha vida.

(Marina Andries Barbosa)

Aos meus pais,

que são o meu maior orgulho e

grande amor da minha vida.

(Nicole Paes Vaz)

vi

Agradecimentos

Marina Andries Barbosa

Agradeço a Deus por estar presente em minha vida, sempre iluminando o meu caminho.

Aos meus pais Valeria e Kenio, pelo apoio e amor incondicional. Pelos valores ensinados e por estarem sempre orientando as minhas escolhas.

Ao meu melhor amigo e irmão Pedro Henrique por estar sempre ao meu lado.

A toda a minha família, sempre torcendo e vibrando por minhas conquistas.

Aos meus queridos amigos pelos momentos e histórias compartilhadas, pela cumplicidade e pelo apoio nos momentos mais difíceis, especialmente Fernanda e Flávia.

Aos meus amigos da EP071, pela amizade contruída e por tornarem cada momento vivido ao longo desses anos único e especial. Em especial agradeço a Laura, Louise e a minha dupla Nicole.

Um agradecimento especial ao professor José Roberto Ribas pelos conhecimentos transmitidos e pelo exemplo de profissional.

vii

Agradecimentos

Nicole Paes Vaz

Agradeço a Deus por estar sempre presente em todos os momentos da minha vida e por me guiar em todas as escolhas tomadas.

Aos meus pais, Heloisa e Moacyr, pelo amor, carinho e confiança que sempre depositaram em mim. Por serem a minha base e terem tantas vezes renunciado aos seus sonhos para que eu pudesse realizar os meus. Por buscarem incessantemente a minha felicidade e por fazerem de mim uma pessoa melhor. Aos meus queridos irmãos, Juliana e Henrique, pela nossa amizade e união, por fazerem parte dos melhores momentos da minha vida.

Ao meu namorado, Renato, pelo companheirismo e cumplicidade ao longo desses anos. Por me dar apoio e não me deixar fraquejar, por ser o exemplo de homem e de amigo.

Aos meus amigos, por estarem comigo durante toda essa caminhada e fazerem parte dessa história, em especial a Nycia e a minha querida dupla, Marina, pela nossa linda amizade.

Aos professores da UFRJ, pelos ensinamentos e minha formação acadêmica.

Um especial agradecimento ao meu orientador, professor José Roberto Ribas, pela seriedade e dedicação em tudo que faz e pelo apoio dado para a realização deste trabalho.

viii

Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica / UFRJ como parte dos

requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro de Produção.

Uma Análise de Cenários para a Produção de Etanol no Brasil

Marina Andries Barbosa

Nicole Paes Vaz

Setembro de 2012

Orientador: José Roberto Ribas

Curso: Engenharia de Produção

Esse projeto de graduação tem por objetivo avaliar o mercado brasileiro atual de etanol e

possíveis cenários futuros de produção e de desenvolvimento logístico. Começaremos

relatando a importância dos biocombustíveis, mais especificamente do etanol, como fonte

de energia. Em seguida, expomos uma visão geral das etapas de processamento da cana-de-

açúcar para produção de açúcar e etanol, desde o plantio até o produto final. Uma vez que o

leitor esteja familiarizado com esse processo, apresentamos o cenário atual brasileiro do

setor sucroalcooleiro, com dados dos principais Estados produtores e países importadores.

Após essa apresentação, identificamos pontos críticos presentes nesse mercado que

precisam ser desenvolvidos para possibilitar o atendimento da crescente demanda de

etanol, tanto no país como no mercado externo. A partir desse levantamento crítico, iremos

estudar a viabilidade de possíveis cenários futuros, destacando o papel de São Paulo como

maior produtor, a fim de gerar um aumento na produção nacional.

Palavras-chave: Etanol, Cana-de-açúcar, São Paulo.

ix

Abstract of Undergraduate Project presented to Poli / UFRJ as a part fulfillment of the

requirements for the degree of Industrial Engineer.

Review of Scenarios for Ethanol Production in Brazil

Marina Andries Barbosa

Nicole Paes Vaz

September / 2012

Advisor: José Roberto Ribas

Course: Industrial Engineering

This paper aims to evaluate the Brazilian Ethanol market and future scenarios of production

and logistics development. We will start by exposing the importance of biofuels, specifically

the ethanol as an energy source. Then, we show an overview of the processing steps of

sugar cane to produce sugar and ethanol. Once the reader is familiar with this process, we

present the current scenario of Brazilian sugarcane sector. After this presentation, we will

identify critical points in this market which need to be developed to enable the growing

demand of ethanol. From this critical review, we will study possible future scenarios,

emphasizing the role of São Paulo as the largest producer, in order to increase the domestic

production.

Keywords: Ethanol, Sugar cane, São Paulo.

x

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................................... 16

2. A IMPORTÂNCIA DOS BIOCOMBUSTÍVEIS ............................................................................... 17

2.1. ETANOL .................................................................................................................................. 18

2.2. BIODIESEL ............................................................................................................................... 19

3. PROCESSO PRODUTIVO DE AÇÚCAR E ETANOL A PARTIR DA CANA-DE-AÇÚCAR .................... 20

4. CENÁRIO ATUAL DO MERCADO SUCROALCOOLEIRO NO BRASIL ............................................. 22

4.1. PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR ................................................................................................ 22

4.2. PRODUÇÃO DE AÇÚCAR.............................................................................................................. 23

4.3. PRODUÇÃO DE ETANOL .............................................................................................................. 25

5. A LOGÍSTICA DO ETANOL ........................................................................................................ 28

5.1. LOCALIZAÇÃO DAS ÁREAS DE PLANTIO .......................................................................................... 28

5.2. LOCALIZAÇÃO DAS USINAS SUCROALCOOLEIRAS .............................................................................. 29

5.3. LOCALIZAÇÃO DOS RESERVATÓRIOS E DISTRIBUIDORAS .................................................................... 30

5.4. LOCALIZAÇÃO DO MERCADO CONSUMIDOR ................................................................................... 32

5.4.1. Interno ............................................................................................................................ 32

5.4.2. Externo ............................................................................................................................ 33

5.5. FLUXOS LOGÍSTICOS .................................................................................................................. 35

5.5.1. Rodoviário ....................................................................................................................... 35

5.5.2. Ferroviário ...................................................................................................................... 36

5.5.3. Dutoviário ....................................................................................................................... 40

xi

5.5.4. Hidroviário ...................................................................................................................... 42

6. EVOLUÇÃO DOS PREÇOS DE ETANOL NO MERCADO BRASILEIRO ............................................ 44

7. O DÉFICIT NA OFERTA DE ETANOL NO BRASIL ......................................................................... 47

8. ANÁLISE DE CENÁRIOS ............................................................................................................ 49

8.1. CENÁRIO 1: DESCONCENTRAÇÃO DAS USINAS LOCALIZADAS EM SÃO PAULO ........................................ 50

8.2. CENÁRIO 2: INTENSIFICAÇÃO DA PRODUÇÃO EM SÃO PAULO ............................................................ 56

8.3. CENÁRIO 3: ATUAÇÃO DO GOVERNO E DA SOCIEDADE...................................................................... 59

9. CONCLUSÃO ............................................................................................................................ 61

10. BIBLIOGRAFIA ......................................................................................................................... 64

xii

Índice de Figuras

FIGURA 1 - EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS MAIORES PRODUTORES DE CANA NA SAFRA 2010/2011 ....... 23

FIGURA 2 - SÉRIE HISTÓRICA DE PRODUÇÃO E EXPORTAÇÃO DE AÇÚCAR ............................................ 24

FIGURA 3 - PRODUÇÃO DE AÇÚCAR NAS REGIÕES BRASILEIRAS ........................................................... 25

FIGURA 4 - PRODUÇÃO DE ETANOL NAS REGIÕES BRASILEIRAS ............................................................ 25

FIGURA 5 - SÉRIE HISTÓRICA DE PRODUÇÃO E EXPORTAÇÃO DE ETANOL ............................................ 27

FIGURA 6 - EVOLUÇÃO DA ÁREA DE CULTIVO DE CANA-DE-AÇÚCAR .................................................... 28

FIGURA 7 - REPRESENTATIVIDADE ÁREA PLANTADA POR UF ................................................................ 29

FIGURA 8 – LOCALIZAÇÃO USINAS SUCROALCOLEIRAS.......................................................................... 30

FIGURA 9 - LOCALIZAÇÃO DAS DISTRIBUIDORAS E BASES ..................................................................... 31

FIGURA 10 - CAPACIDADE DE TANCAGEM DE ETANOL .......................................................................... 32

FIGURA 11 – EXPORTAÇÃO DE ETANOL POR PAÍS EM 2010................................................................... 34

FIGURA 12- EXPORTAÇÃO DE ETANOL ................................................................................................... 35

FIGURA 13 - TRANSPORTE FERROVIÁRIO ............................................................................................... 37

FIGURA 14 - MOVIMENTAÇÃO FERROVIÁRIA DE ETANOL ..................................................................... 38

FIGURA 15 - COMPRA FERROVIÁRIA ETANOL ........................................................................................ 39

FIGURA 16 - REPRESENTATIVIDADE DO ETANOL NO TRANSPORTE DUTOVIÁRIO ................................. 41

FIGURA 17 - PRINCIPAIS HIDROVIAS USADAS NO TRANSPORTE DE BIOCOMBUSTÍVEIS ....................... 42

FIGURA 18- PREÇO DO ETANOL AO CONSUMIDOR (R$/L) ..................................................................... 44

FIGURA 19 - PARIDADE DOS PREÇOS (ETANOL/ GASOLINA) .................................................................. 45

xiii

FIGURA 20 - RELAÇÃO ENTRE O AUMENTO DA PARIDADE E A QUEDA DO CONSUMO MENSAL DE

ETANOL ......................................................................................................................................... 46

FIGURA 21 - RELAÇÃO ENTRE O AUMENTO DA PARIDADE E A QUEDA DO CONSUMO ANUAL DE

ETANOL ......................................................................................................................................... 46

FIGURA 22 - PARTICIPAÇÃO DO CENTRO OESTE E SEUS ESTADOS NA PRODUÇÃO DE ETANOL ............ 52

FIGURA 23 - EVOLUÇÃO DE MINAS GERAIS NO SETOR SUCROALCOOLEIRO ......................................... 52

FIGURA 24 - SISTEMA LOGÍSTICO MULTIMODAL DE ETANOL DA LOGUM ............................................. 54

xiv

Índice de Tabelas

TABELA 1 - ETANOL A PARTIR DE MILHO NOS EUA E A PARTIR DE CANA-DE-AÇÚCAR NO BRASIL ........ 18

TABELA 2 - RENDIMENTO BIODIESEL ...................................................................................................... 19

TABELA 3- PARTICIPAÇÃO DOS ESTADOS NA PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR .................................. 23

TABELA 4 – VOLUME DE PRODUÇÃO POR UF ........................................................................................ 26

TABELA 5 - CONSUMO ETANOL POR ESTADO DO BRASIL (EM MILHÃO DE LITROS) .............................. 33

TABELA 6 - FLUXOS RODOVIÁRIOS ETANOL (EM MIL M³) ...................................................................... 36

TABELA 7 – TRANSPORTE FERROVIÁRIO DE ETANOL ............................................................................. 39

TABELA 8 - MOVIMENTAÇÃO DUTOVIÁRIA ETANOL .............................................................................. 40

TABELA 9 - MOVIMENTAÇÃO E TANCAGEM DOS PRINCIPAIS PORTOS .................................................. 43

TABELA 10 - PROJEÇÃO DA OFERTA DE ETANOL PARA ATENDER DEMANDA FUTURA .......................... 47

TABELA 11 - RENDIMENTO DA CANA POR ESTADO NA SAFRA 2010/2011 ............................................ 51

TABELA 12 - CUSTOS PARA 1000 TON DE ETANOL POR MODAL EM USD .............................................. 53

xv

Índice de Siglas

ANP - Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis

ATR - Açúcares Totais Recuperáveis

DOU – Diário Oficial da União

EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

ESALQ - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

MAPA - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

OPASC – Oleoduto Paraná – Santa Catarina

ORSUB – Oleoduto Reconcavo Sul da Bahia

OSBRA – Oleoduto São Paulo – Brasília

PDE – Plano Decenal de Energia

SIAMIG - Associação das Indústrias sucroenergéticas de Minas Gerais

UNICA – União da Indústria de Cana-de-açúcar

16

1. Introdução

As discussões sobre energia limpa são cada vez mais frequentes em todo o mundo e

o Brasil desempenha papel de destaque nesse cenário, fruto da eficiência na produção de

etanol a partir da cana-de-açúcar. Em 1975 foi criado o Programa Nacional do Álcool, o

Proálcool1, que impulsionou o álcool combustível na busca pela diminuição da dependência

do combustível fóssil que era importado, em face à grande instabilidade internacional na sua

comercialização. O interesse da sociedade pelos biocombustíveis e o desenvolvimento de

novas tecnologias e tratos culturais tem impulsionado o setor sucroalcooleiro brasileiro.

Hoje, o país ocupa o segundo lugar na produção mundial de etanol e é o maior exportador

do produto, porém enfrenta um descompasso entre a oferta e a demanda que pode

ameaçar essa posição.

Diante desse contexto , esse trabalho tem como objetivo analisar o atual cenário do

mercado de etanol brasileiro e estudar possíveis cenários futuros de produção,

considerando a importância desse biocombustível e os fatores envolvidos na sua produção e

distribuição. A avaliação dos cenários será feita considerando dois aspectos principais – a

capacidade produtica e a infraestrutura necessária para distribuição do combustível. A

metodologia utilizada na elaboração do trabalho foi fundamentada em pesquisas

bibliográficas, através da coleta de dados secundários em artigos, revistas, jornais, e

Internet.

O trabalho será apresentado em nove seções, incluindo essa introdução. O capítulo

seguinte irá tratar da importância dos biocombustíveis para a sociedade, dentre eles o

etanol, seguido de uma breve descrição do processo produtivo do açúcar e do etanol a partir

da cana-de-açúcar. Na seção quatro será exposto o cenário atual do mercado brasileiro

sucroalcooleiro e, posteriormente, a cadeia logística e a evolução dos preços do etanol. Após

essa contextualização, serão identificados pontos críticos nesse mercado no capítulo 7, para

uma discussão subsequente de possíveis cenários futuros que mitiguem esses problemas,

seguido das considerações finais que aprofundam os resultados encontrados.

1 O Proálcool foi criado pelo governo através do decreto nº76.593, com o objetivo de estimular a produção de

etanol, visando ao atendimento das necessidades do mercado interno e externo

17

2. A Importância dos Biocombustíveis

A matriz energética mundial atualmente é altamente dependente de recursos não

renováveis. Cerca 80% da participação total são fontes de carbono fóssil, sendo 36% de

petróleo, 23% de carvão e 21% de gás natural (Biodieselbr,2012). Dois fatores contribuem

para a necessidade de se alterar essa configuração – o esgotamento dos recursos naturais e

os impactos ambientais.

Segundo GÓES e MARRA (2008), as reservas mundiais de petróleo somam 1,137

trilhão de barris (cerca de 80% estão localizados nos países membros da Organização dos

Países Exportadores de Petróleo -OPEP), volume apenas suficiente para suprir a demanda

mundial por aproximadamente 40 anos, desde que não haja alteração nos atuais níveis de

consumo, hipótese totalmente improvável.

Os impactos ambientais vão desde o aumento da poluição atmosférica,

derramamento de óleo e geração de resíduos sólidos até as mudanças climáticas, como

agravamento do gás efeito estufa (GEE), que pode provocar a elevação do nível dos oceanos,

ocorrência de secas, enchentes e furacões, cada vez mais devastadores.

Por essas razões, os biocombustíveis ganham cada vez mais destaque. Segundo a

Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), biocombustíveis são

derivados de biomassa renovável que podem substituir, parcial ou totalmente, combustíveis

derivados de petróleo e gás natural em motores a combustão ou em outro tipo de geração

de energia.

Os tipos de biocombustível

Os principais biocombustíveis são o etanol, produzidos a partir do processamento e

destilação de biomassa, ricas em açúcar, tal como a cana e o milho, e biodiesel, produzido a

partir de plantas oleaginosas e gordura animal. O Brasil se destaca no cenário mundial pela

produção de etanol a partir da cana-de-açúcar. Outras regiões importantes no que tange a

produção deste tipo de combustível são: os Estados Unidos, produzindo etanol a partir do

milho, a Europa, a partir de colza, linho e beterraba e o Sudoeste Asiático, particularmente a

Indonésia e a Malásia, produzindo biodiesel a partir de óleo de palma (ROCHA, 2007).

18

2.1. Etanol

Atualmente, as principais matérias-primas utilizadas na produção do etanol são

açúcar solúvel, principalmente oriundo da cana-de-açúcar, amido, como a mandioca e o

milho, e a celulose, que dentre outros destacam-se o bagaço da cana, resíduos florestais e

biomassa de gramíneas (EMBRAPA, 2012). O Brasil e os Estados Unidos são os países que

mais produzem etanol, utilizando como principal componente a cana-de-açúcar e o milho,

respectivamente.

Essas duas fontes, porém, apresentam características distintas que impactam na

produção. Apesar de ser mais difícil transformar em açúcares as moléculas de amido - o

processo de fermentação leva de 7 a 11 horas para a cana-de-açúcar e de 40 a 70 horas para

o milho - o milho produz mais sacarose do que a cana-de-açúcar. Entretanto, a diferença

mais importante é a produtividade. Como a planta ocupa menos espaço plantado, um

hectare rende 90 toneladas de cana e produz cerca de 8 mil litros de etanol, enquanto que

no milho um hectare produz 8 toneladas de milho, o que equivale a cerca de 3 mil litros de

etanol (ANDREOLI e SOUZA, 2007).

Tabela 1 - Etanol a partir de milho nos EUA e a partir de cana-de-açúcar no Brasil

Fonte: ANDREOLI e SOUZA (2007)

Diferentemente da cana, o amido e a celulose precisam passar pelo processo de

fermentação para obtenção de açúcares simples e posterior transformação em etanol. Além

disso, o litro de etanol de cana custa em média U$ 0,28 por litro, enquanto que o do milho é

um pouco menos que o dobro, U$ 0,45 por litro (ANDREOLI e SOUZA, 2007).

19

2.2. Biodiesel

Segundo a ANP (2012), dezenas de espécies vegetais presentes no Brasil podem ser

usadas na produção do biodiesel, entre elas soja, dendê, girassol, babaçu, amendoim,

mamona e pinhão-manso. Como fontes de gordura de origem animal pode-se citar o sebo

bovino, os óleos de peixes, o óleo de mocotó, a banha de porco, entre outros. Óleos

residuais de processos domésticos, industriais ou comerciais também apresentam potencial

de utilização como fonte de matéria-prima para geração dos biocombustíveis.

Existem 60 plantas autorizadas pela ANP para a produção do biodiesel. No Brasil, a

soja e o sebo bovino destacam-se como as principais matérias-primas. A questão que

envolve a utilização de gorduras animais ou vegetais está relacionada ao rendimento

energético que pode ser obtido através de cada uma das fontes. A Tabela 2 indica o

rendimento do óleo das principais espécies vegetais no país.

Tabela 2 - Rendimento Biodiesel

Fonte: Biodieselbr, 2012

Embora não seja a matéria-prima de maior eficiência energética, conforme

evidenciado na Tabela 2, a soja mantém sua liderança por ter estrutura de produção,

distribuição e esmagamento de grãos já estabelecidos, além da forte demanda internacional

por seu farelo, usado como ração para gado, frango e porco.

20

3. Processo produtivo de açúcar e etanol a partir da cana-de-açúcar

O plantio2 pode ser feito com variedades de cana, que é escolhida de acordo com as

condições climáticas e do solo. No Brasil, a colheita manual é a mais tradicional e,

diferentemente da colheita mecanizada, requer a queima da palha da cana antes do corte.

Depois de colhida, a cana é picada e imediatamente levada à usina, devido a sua

perecibilidade, sendo lavada em seguida para a remoção de impurezas. Além disso, são

utilizados niveladores de cana para obter altura constante da cana que alimenta os

picadores. O picador corta a cana, transformando-a numa massa mais densa e mais fácil de

ser absorvida.

O processo de extração do caldo consiste na separação do bagaço através da

moagem ou da difusão. A diferença entre ambos é que na moagem a separação é feita pela

pressão dos rolos da moenda sobre a cana desfibrada e, na difusão, a separação é feita pela

lavagem da sacarose. Na opção de extração por moendas, o caldo primário, que representa

cerca de 70% do açúcar da cana, é retirado no primeiro terno da moenda. A cana desfibrada

pelo primeiro terno é removida pela bagaceira para uma segunda etapa de esmagamento e

assim sucessivamente. Todo o caldo extraído dá origem ao caldo misto. Já no processo de

extração por difusão, a cana passa por difusores para que a sacarose absorvida pelas fibras

seja diluída e removida. Apesar da vantagem de menor consumo de energia e maior pureza

do caldo obtido nesse tipo de extração, a moenda é o processo mais utilizado no Brasil.

Após a extração do caldo, ocorre o peneiramento para retirada de partículas

remanescentes, denominadas de bagacilho, usado na preparação do lodo. Já o bagaço final

é usado nas caldeiras para a geração de energia. O caldo é pré-aquecido e, em seguida, sofre

o processo de sulfitação, principal processo de clarificação do caldo de cana que possibilita

maior fluidez ao líquido. Logo após a sulfitação ocorre a caleação, que consiste na adição de

cal hidratado para neutralizar os ácidos presentes no caldo. Posteriormente, ocorre a

decantação, removendo o lodo que, adicionado ao bagacilho, origina a torta de filtro, usada

na lavoura como adubo orgânico.

2 Essa seção foi elaborada com base em informações divulgadas no site da Embrapa sobre o

processamento da cana-de-açúcar (Embrapa, 2012).

21

Na produção do açúcar, o caldo tratado passa por novo aquecimento em um

evaporador, de onde é extraído o xarope. Este, por sua vez, recebe reagentes para remoção

de impurezas e passa, então, por um cozimento, resultando em uma mistura de cristais de

açúcar e mel. Os cristais de açúcar são separados do mel e enviados para secadores, que

reduzem a umidade do açúcar, e para resfriadores, que baixam a temperatura do açúcar até

a temperatura ambiente. O açúcar, depois de peneirado, é transportado até a área de

acondicionamento. O mel obtido é enviado para cozedores, formando pequenos cristais de

sacarose e melaço. Na centrifugação, o melaço é separado dos cristais e enviado para a

fabricação do álcool. Todo esse processo de produção do açúcar, desde a chegada da cana

na usina até o armazenamento, dura cerca de 15h.

Na produção do etanol, o caldo misto originado do tratamento do caldo é usado na

preparação do mosto. Em seguida, o mosto é misturado ao fermento, permitindo que as

leveduras transformem o açúcar em álcool e gás carbônico, produzindo o vinho. O vinho é,

então, centrifugado e submetido a uma destilação, resultando no flegma e na vinhaça. A

vinhaça pode ser utilizada como fertilizante devido à concentração de potássio e nutrientes.

O flegma, por sua vez, é tratado para separar os álcoois superiores e concentrar no grau

alcoólico do álcool hidratado (97%). Para a transformação do álcool hidratado em anidro,

faz-se necessário o processo de desidratação.

Cada tonelada de cana produz cerca de 140 kg de bagaço, que pode ser utilizado

para produção de energia elétrica (VIEIRA, 2007). A partir da década de 1980, as usinas

passaram de um cenário de produção de 60% de sua energia elétrica para quase auto-

suficiência, através do sistema de cogeração de bagaço. A queima do bagaço libera vapor,

responsável por acionar uma turbina que está ligada a um gerador. Ao entrar em

movimento, há geração de energia elétrica utilizada em todo o processo produtivo. O

bagaço não utilizado pode ainda ser vendido para outras indústrias, maximizando a sua

utilização.

22

4. Cenário atual do mercado sucroalcooleiro no Brasil

Na economia brasileira, o agronegócio representa quase um terço do PIB e contribui

com as exportações de commodities e produtos agroindustriais, alocando cerca de 40% de

toda a mão-de-obra do país. Inserida nesse contexto, a cana-de-açúcar é a terceira maior

atividade agrícola tanto em valor como em área de produção, com aproximadamente 521

usinas e uma produção superior a 600 milhões de toneladas (ILOS). Essa produção ocupa

2,5% de toda a terra arável do país, o equivalente a 8 milhões de hectares.

A matriz energética do Brasil é 47% de fonte renovável e somente a cana-de-açúcar

representa 18% deste valor (IBGE, 2009). Em 2010, foi registrada uma produtividade média

nacional de quase 80 toneladas por hectare (MAPA, 2011). O cultivo brasileiro de cana-de-

açúcar é feito em ciclos de cinco anos e, geograficamente, é bastante concentrado em São

Paulo. Entretanto com o seu desenvolvimento no Centro-Oeste, a região vem se destacando

como a nova fronteira da cultura.

O preço da cana é definido pela quantidade de Açúcar Total Recuperável (ATR)

presente em cada tonelada de cana. Nas usinas processadoras de cana, a proporção de

açúcar e etanol produzidos é uma decisão que fica a critério da própria empresa. Segundo

dados da Conab, na safra brasileira de 2010/2011, observou-se que 46,2% destinaram-se ao

açúcar e 53,8% ao etanol (MAPA, 2011).

4.1. Produção de cana-de-açúcar

A produção de cana-de-açúcar brasileira vem crescendo nos últimos anos tanto em

área plantada como em quantidade de cana moída. Se no passado era a base da economia

do Nordeste brasileiro, hoje é no Sudeste que a indústria sucroalcooleira mais tem se

desenvolvido. Na safra 2010/2011, esta região foi responsável por aproximadamente 68%

da produção nacional, dos quais 86% foram produzidos em São Paulo, estado que contribui

com 58% de toda a produção nacional (SIAMIG, 2012).

Esse mercado também tem ganhado significativa importância na região Centro-

oeste, que produziu 15,04% do total do país, com destaque para o estado de Goiás. Nessa

mesma safra, Minas Gerais foi o terceiro maior produtor de cana-de-açúcar, como pode ser

observado na Figura 1 com a evolução histórica da participação dos três Estados.

23

Figura 1 - Evolução histórica dos maiores produtores de cana na safra 2010/2011

Fonte: Elaboração própria (SIAMIG, 2012)

A região nordeste, por sua vez, contribuiu com 9,93% em 2011, com destaque para

Alagoas, com 46,8% da produção nessa região.

Tabela 3- Participação dos Estados na produção de cana-de-açúcar

Fonte: Elaboração própria (SIAMIG; 2012)

4.2. Produção de açúcar

Em termos de produção de açúcar, são produzidos cerca de 120kg (EMBRAPA,2012)

para cada tonelada de cana. Em 2008, o Brasil foi o maior produtor mundial de açúcar,

seguido da União Europeia e da Índia. Estes países também se destacam entre os principais

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Milh

ões

de t

onel

adas

Produção de cana-de-açúcar no Brasil

SÃO PAULO MINAS GERAIS GOIÁS

UF % Participação UF % Participação

ACRE 0,01% MINAS GERAIS 8,76%

RONDONIA 0,02% ESPIRITO SANTO 0,57%

AMAZONAS 0,06% RIO DE JANEIRO 0,34%

PARÁ 0,08% SÃO PAULO 57,63%

TOCANTINS 0,04% SUDESTE 67,29%

NORTE 0,20% PARANÁ 6,95%

MARANHÃO 0,37% SANTA CATARINA 0,00%

PIAUÍ 0,13% R. G. SUL 0,01%

CEARÁ 0,01% SUL 6,96%

R. G. NORTE 0,44% MATO GROSSO 2,19%

PARAIBA 0,84% MATO GROSSO DO SUL 5,37%

PERNAMBUCO 2,71% GOIÁS 7,47%

ALAGOAS 4,64% CENTRO-OESTE 15,04%

SERGIPE 0,33%

BAHIA 0,45%

NORDESTE 9,93%

24

consumidores, sendo a Índia o maior deles, seguida da União Europeia, do Brasil e dos

Estados Unidos. Além de ser o maior produtor, o Brasil é também o maior exportador de

açúcar do mundo, respondendo por cerca de 20% da produção e 40% das vendas no

mercado internacional.

Até 2004 a produção de açúcar manteve um crescimento constante, a uma taxa

média de 13% ao ano, acompanhado pela mesma tendência de exportação, como poder ser

visto na Figura 2. Na safra de 2009/2010, porém, a produção atingiu o recorde de quase 34

milhões de toneladas, tornando o país o líder mundial. As exportações também

apresentaram um crescimento bastante expressivo devido ao déficit mundial de oferta,

aumentando, assim, a demanda. O maior importador do açúcar brasileiro é a Rússia, seguido

da Índia, Irã, China, Argélia e Indonésia (ALICEWEB, 2009).

Figura 2 - Série Histórica de produção e exportação de açúcar

Fonte: Elaboração própria (ALICEWEB, 2009)

A região Sudeste é a maior produtora de açúcar no país, representando

aproximadamente 71% da produção total, em 2011. Dentre todos os estados, São Paulo

destaca-se nesse cenário como o de maior peso, com 61,6% na participação dos resultados

nacionais. Seguido da região Sudeste, o Nordeste ocupou o segundo lugar, com 11,69%,

originados, sobretudo, de Alagoas (SIAMIG, 2012).

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2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

Exp

ort

ação

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Pro

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ção

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)

Produção Exportação

25

Figura 3 - Produção de açúcar nas regiões brasileiras Fonte: Elaboração própria (SIAMIG, 2012)

4.3. Produção de etanol

Na década de 90, foi iniciado o processo de desregulamentação do setor

sucroalcooleiro, com a liberação do etanol anidro, antes controlado pelo governo. O etanol

anidro é usado na mistura para formação da gasolina C. Ele atua como oxigenante da

gasolina, sendo uma alternativa a aditivos poluentes como o chumbo e alguns derivados do

petróleo. O Brasil passou a ocupar o segundo lugar em produção de etanol, ficando atrás

apenas dos Estados Unidos.

De acordo com a Embrapa, mais da metade da cana-de-açúcar moída no Brasil é

destinada para a fabricação de etanol. A região Sudeste caracteriza-se por ser a maior

produtora de etanol, com papel muito importante do estado de São Paulo. Seguida do

Sudeste, a região Centro-Oeste apresenta a segunda maior produção.

Figura 4 - Produção de etanol nas regiões brasileiras

Fonte: Elaboração própria (ILOS, 2011)

0,2%

16,3%

7,3%

8,5%

67,6%

26

A Tabela 4 mostra os volumes de produção por estado.

Tabela 4 – Volume de Produção por UF

Fonte: Elaboração Própria (ILOS, 2011)

Os maiores importadores do etanol brasileiro são Coreia do Sul, Estados Unidos,

Japão, Países Baixos, Reino Unido, Jamaica e Nigéria (PDE, 2012). Apesar de ser o maior

exportador, mais de 80% do etanol produzido é consumido no mercado interno.

Esse consumo interno de etanol teve um grande impulso em 2003, com a entrada do

veículo flex-fuel no mercado brasileiro, veículo que permitia o uso de etanol hidratado como

combustível. Por conta disso, a demanda de hidratado praticamente triplicou entre os anos

de 2003 e 2007.

Esse aumento crescente da produção também foi acompanhado de um aumento

significativo do volume exportado, atingindo em 2004 um valor três vezes maior do que o de

2003, representado no Figura 5. Em 2007, o volume foi aproximadamente seis vezes maior

que a média anual entre os anos de 2001 e 2003 e a produção aumentou em 27% se

comparado a 2006 (ALICEWEB, 2009).

UF

Etanol

Hidratado

(mil m³)

Etanol

Anidro

(mil m³)

Total

(mil m³)

Representatividade

Volume Produção

Número

Usinas

Representatividade

Usinas

SP 10.889 4.152 15.041 57,6% 283 54,3%

MG 1.793 491 2.284 8,7% 47 9,0%

GO 1.685 436 2.121 8,1% 35 6,7%

PR 1.526 372 1.898 7,3% 37 7,1%

MS 1.089 243 1.332 5,1% 20 3,8%

MT 538 272 810 3,1% 10 1,9%

AL 422 369 791 3,0% 20 3,8%

PE 309 160 469 1,8% 19 3,6%

PB 238 157 395 1,5% 8 1,5%

ES 131 108 239 0,9% 6 1,2%

MA 59 110 169 0,6% 4 0,8%

RN 82 35 117 0,4% 4 0,8%

BA 73 44 117 0,4% 4 0,8%

RJ 103 10 113 0,4% 7 1,3%

SE 85 16 101 0,4% 6 1,2%

PI 5 36 41 0,2% 1 0,2%

PA 32 4 36 0,1% 1 0,2%

CE 11 - 11 0,0% 3 0,6%

RO 9 - 9 0,0% 1 0,2%

AM 5 - 5 0,0% 1 0,2%

RS 2 - 2 0,0% 2 0,4%

TO 2 - 2 0,0% 2 0,4%

Total 19.088 7.015 26.103 100,0% 521 100,0%

27

Figura 5 - Série Histórica de produção e exportação de etanol

Fonte: Elaboração própria (ALICEWEB, 2009)

Em 2008, o etanol hidratado já era o combustível mais viável economicamente em

19 estados e os veículos flex representavam 87,4% nas vendas totais de veículos leves (EPE,

2011). Nesse mesmo ano, as fortes chuvas nas regiões produtoras de milho dos Estados

Unidos fizeram com que houvesse aumento significativo na demanda pelo etanol brasileiro,

contribuindo para o aumento das exportações. Ainda de acordo com Figura 5, pode-se

perceber que na safra de 2009/2010 houve queda na produção do etanol, ocorrido,

principalmente, devido ao menor rendimento da cana-de-açúcar em função do excesso de

chuvas e da valorização do açúcar no mercado, o que fez com que a produção de açúcar

fosse priorizada em detrimento do etanol.

Para os próximos anos, a demanda interna de etanol carburante deve crescer 8,7%

de 2012 a 2017, segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE, 2011). Em relação à

demanda internacional, o crescimento das exportações brasileiras tem sido alavancado por

fatores externos, como as legislações em alguns países que tem aumentado as metas de uso

do biocombustível. Nesse cenário, a expectativa é que o Brasil ultrapasse os 4 bilhões de

litros de etanol exportados em 2011 e atinja 8 bilhões de litros em 2017.

Com esse forte incremento na demanda por etanol, o Instituto de Economia Agrícola

(IEA) estima que a área destinada para o cultivo de cana-de-açúcar na safra de 2015-2016

será de 12,2 milhões de hectares, produzindo cerca de 902,8 milhões de toneladas de cana

para a indústria, suficiente para a fabricação de 36 bilhões de litros de álcool (Revista O

Brasil Agrícolaa, 2012).

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3

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2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

Exp

ort

ação

(M

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)

Pro

du

ção

(M

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on

)

Produção Exportação

28

5. A Logística do Etanol

5.1. Localização das Áreas de Plantio

O plantio de cana-de-açúcar teve inicio no Brasil colônia, quando foi trazido da Ásia

pelos portugueses, principalmente devido ao alto valor do açúcar na Europa. Nos séculos XVI

e XVII, o Brasil se tornou o maior produtor do mundo, com grande parte dos canaviais

concentrados na região Nordeste. Em menor escala, o cultivo também era feito no Rio de

Janeiro e em São Vicente (São Paulo). Passados cinco séculos e com a importância da cana

para a produção de etanol, a localização das áreas de plantio concentra-se em grande parte

da região Centro-Sul do país. O Nordeste tem apenas 13% da área cultivada (UNICA, 2010).

A Figura 6 ilustra a evolução da área plantada de cana-de-açúcar a partir dos anos

80. Observa-se uma estabilização do plantio na região Norte-Nordeste, enquanto o Centro-

Sul se destaca pelo grande aumento de área plantada. Entre os anos de 2001 e 2010,

registrou-se um crescimento de 82% do total de hectares cultivados nessa região, que

atualmente concentra 86% do total.

Figura 6 - Evolução da Área de Cultivo de Cana-de-Açúcar

Fonte: Elaboração Própria (Dados: UNICA, 2011)

A cana-de-açúcar se caracteriza por se adaptar a diversos tipos de solo, inclusive

aqueles com características físico-químicas mais hostis, o que facilita o plantio em diversas

regiões. Porém, quanto mais afastadas das condições consideradas ideais, menor a

produtividade.

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2.000

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20

10

Milh

ares

de

Hec

tare

s

Região Centro-Sul Região Norte-Nordeste Brasil

29

A Figura 7 mostra a representatividade de cada estado no total de área plantada

neste período de crescimento. São Paulo se mantém na primeira posição, com mais de 50%

da plantação brasileira. Além de São Paulo, três estados crescem em representatividade:

Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso do Sul, que passam a ter 8%, 6% e 4% do total de

hectares plantados com cana. O Paraná se mantém com o mesmo percentual: 7%. Por outro

lado, pode-se destacar a perda de importância de estados do Nordeste, como Alagoas,

Pernambuco e Paraíba.

Figura 7 - Representatividade área plantada por UF

Fonte: Elaboração própria (Dados: UNICA, 2010)

Nesta década, verifica-se crescimento vertiginoso do plantio nos estados da região

Centro-Oeste – 219%, enquanto para o território brasileiro no mesmo período o

crescimento foi de 82%. Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso representam 13% da área

plantada de cana-de-açúcar.

5.2. Localização das Usinas Sucroalcooleiras

Em dezembro de 2011, existia no Brasil um total de 521 usinas produtoras de etanol,

conforme estudo do Instituto ILOS (2011). A região Sudeste, concentra 66% da quantidade

de usinas existentes, sendo São Paulo o estado mais representativo, com 283 unidades, o

equivalente a 54,3% do país e 82,5% da região. O norte do Brasil é a região menos

representativa com apenas 1% do total de instalações. A Figura 8 ilustra a distribuição das

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

Par

tici

paç

ão e

m á

rea

pla

nta

da

2001 2010

30

unidades produtoras, representado pela cor verde, e centros coletores, representados pela

cor laranja, pelo país.

Figura 8 – Localização Usinas Sucroalcoleiras

Fonte: ILOS (2011)

São Paulo é também o estado com o maior volume de produção total, somando-se

etanol anidro e etanol hidratado, com aproximadamente 15 milhões de metros cúbicos

produzidos no ano de 2010 (ILOS, 2011).

5.3. Localização dos Reservatórios e Distribuidoras

A sazonalidade característica da produção de etanol torna a formação de estoques

extremamente importante para garantir o abastecimento nos períodos de entressafra. Para

isso, é necessária infraestrutura adequada e eficiente para o armazenamento dos

combustíveis.

O armazenamento do etanol é feito em bases primárias – localizadas junto às usinas

produtoras – ou bases secundárias – a partir das quais é feita a distribuição do combustível.

31

MILANEZ et al. (2010) indicam que as bases primárias cumprem um papel voltado à

formação de estoques para entressafra, sendo seu crescimento relacionado às estratégias

de produção e comercialização das unidades industriais. As bases secundárias de tanques

tem como objetivos a consolidação de carga e o apoio ao suprimento do mercado

consumidor, logo com maior influência para a distribuição do etanol e a evolução do seu

consumo regional.

Pode-se fazer uma analogia entre as bases de distribuição de combustível e os

centros de distribuição na distribuição de bens e consumo, já que as operações executadas

são o recebimento, a armazenagem e a expedição de produtos (MALIGO,2005 apud XAVIER,

2008).

O Instituto ILOS (2011) mapeou a localização das principais bases e distribuidoras.

Através da Figura 9, pode-se observar a concentração dessas unidades no Sul e Sudeste do

país – mais próximas ao mercado consumidor, principalmente no Estado de São Paulo.

SOARES (2003) apud XAVIER (2008)destaca a importância dos terminais principalmente nas

regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste. Uma vez que tais regiões possuem a produção de

derivados mais baixa, a chegada dos produtos só pode ser viabilizada através dos terminais.

Figura 9 - Localização das Distribuidoras e Bases

Fonte: Instituto Ilos (2011)

32

Com o aumento do consumo de etanol, era de se esperar que a capacidade de

tancagem acompanhasse esse crescimento. Porém, entre 2003 e 2009, foi registrada uma

redução dessa capacidade, conforme evidenciado na Figura 10.

Figura 10 - Capacidade de tancagem de etanol

Fonte: Elaboração Própria. (Dados: MILANEZ et al., 2010)

MILANEZ et al. (2010) citam algumas razões para essa retração: existência de

infraestrutura ociosa para a distribuição; aumento da eficiência operacional da utilização dos

tanques de distribuidores e finalmente, a diminuição na participação das pequenas

distribuidoras no mercado desse combustível.

5.4. Localização do Mercado Consumidor

5.4.1. Interno

O mercado consumidor interno do etanol, assim como a produção do combustível, é

altamente concentrado na região Centro-Sul, com destaque para o estado de São Paulo, que

responde por cerca de 45% do consumo total. Destacam-se também os estados de Minas

Gerais, Paraná, Rio de Janeiro e Goiás, que juntos consomem cerca de 70% da demanda

nacional – todos eles superando o patamar de um bilhão de litros de etanol, somando-se o

etanol hidratado e o etanol anidro. A Tabela 5 contém dados do consumo brasileiro por

estado.

-

100

200

300

400

500

600

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800

2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

Milh

ares

Sudeste Nordeste Sul Centro-Oeste Norte

33

Tabela 5 - Consumo etanol por estado do Brasil (em milhão de litros)

Fonte: Elaboração própria (Dados: UNICA, 2010)

Na Tabela 5, observamos que os estados do Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul se

apresentam como importantes centros de consumo, com respectivamente 5,6% e 4,2% da

demanda nacional. Esses estados, porém, não se destacam como os principais produtores

de etanol. Por sua vez, o Mato Grosso do Sul, quinto maior produtor é apenas o 13º em

consumo do combustível.

5.4.2. Externo

Atualmente, os maiores importadores do etanol brasileiro são a Coréia do Sul, os

Estados Unidos, o Japão, os Países Baixos e o Reino Unido. A demanda desses países somada

Estado Etanol Hidratado Etanol Anidro Total Percentual

São Paulo 6.490 2.236 8.726 45,2%

Minas Gerais 569 971 1.540 8,0%

Paraná 811 567 1.378 7,1%

Rio de Janeiro 532 540 1.072 5,6%

Goias 705 297 1.003 5,2%

Rio Grande do Sul 137 666 803 4,2%

Bahia 254 376 630 3,3%

Santa Catarina 123 475 598 3,1%

Mato Grosso 339 115 454 2,4%

Pernambuco 185 261 446 2,3%

Ceará 114 223 336 1,7%

Distrito Federal 84 237 321 1,7%

Mato Grosso do Sul 106 130 236 1,2%

Espírito Santo 56 169 225 1,2%

Pará 34 182 215 1,1%

Maranhão 35 148 184 1,0%

Paraíba 58 121 179 0,9%

Rio Grande do Norte 55 114 170 0,9%

Amazonas 41 123 164 0,8%

Alagoas 53 72 125 0,6%

Rondônia 27 77 103 0,5%

Piauí 14 88 102 0,5%

Tocantins 37 59 97 0,5%

Sergipe 25 71 96 0,5%

Acre 9 25 34 0,2%

Amapá 5 26 31 0,2%

Roraima 2 21 23 0,1%

Brasil 10.899 8.391 19.290 100,0%

34

equivale a 71% das exportações nacionais, superando a marca de um milhão de metros

cúbicos do combustível.

Figura 11 – Exportação de Etanol por País em 20103

Fonte: Elaboração Própria (Dados: MAPA, 2011)

Os efeitos da crise financeira em 2008 ainda afetam o consumo do etanol brasileiro

internacionalmente. Com a redução do nível de atividade econômica e, consequentemente,

do consumo de energia, muitos países adotaram medidas protecionistas, contribuindo para

a retração das exportações brasileiras.

Entretanto, com a necessidade dos principais consumidores reduzirem a sua

dependência de combustíveis fósseis, o Ministério de Minas e Energia volta a projetar o

crescimento da demanda, principalmente a partir de 2013, com crescimento de 240% até o

ano 2020, como pode ser visto na Figura 12.

3 Em “Outros” estão compreendidos 60 países importadores do etanol brasileiro, todos com

participação inferior a 2% do total de exportações.

-

50

100

150

200

250

300

350

400

Milh

ares

35

Figura 12- Exportação de Etanol

Fonte: PDE 2020

O crescimento das exportações será impulsionado principalmente pelos Estados

Unidos, que terá o volume aumentado em mais de 100%, superando o patamar de um

bilhão de litros anuais no ano de 2015.

5.5. Fluxos Logísticos

O fluxo logístico do etanol pode ser definido da seguinte forma: transferência

primária entre usinas e bases primárias; transferência secundária entre as bases primárias e

secundárias e distribuição entre bases secundárias e clientes. Seguindo a matriz de

transporte brasileiro, na qual o modal rodoviário representa cerca de de 63% do transportes

de carga nacional (Fleury, 2011), é também este o principal modal para o transporte do

combustível.

5.5.1. Rodoviário

É por meio das rodovias que o etanol deixa as usinas em direção as distribuidoras e

são distribuídos aos clientes. Ao todo, são cerca de 34 mil postos de revenda de

combustíveis no país, dos quais 90% com venda de etanol hidratado (MITSUTANI, 2010),

evidenciando a pulverização dos clientes e justificando o uso do modal rodoviário no fluxo

de venda de etanol.

MILANEZ et al. (2010) apontam a competividade do modal em rotas curtas e o baixo

volume de carga como razões para justificar a predominância da modalidade rodoviária. As

usinas estão situadas, em geral, em regiões agrícolas afastadas das importantes vias de

36

transporte e, isoladamente, não têm escalas de produção que viabilizem a utilização e os

investimentos em outras modalidades de transporte.

Os principais fluxos de distribuição rodoviária do etanol ocorrem entre os estados do

Centro-Sul, sendo que os maiores volumes movimentados concentram-se dentro dos

próprios estados de São Paulo, Goiás e Paraná, conforme evidenciado pela Tabela 6.

Tabela 6 - Fluxos Rodoviários Etanol (em mil m³)

Fonte: Elaboração Própria. (Dados:ILOS, 2011)

Confrontando os dados de fluxos rodoviários de etanol com o consumo de alguns

estados, nota-se uma certa divergência entre o consumo total e o volume transferido, como

por exemplo no Rio Grande do Sul. Uma razão para essa diferença seria o volume de etanol

importado pelo Brasil para suprir a demanda interna, conforme noticiado pelo portal

Bioetanol (2010).

5.5.2. Ferroviário

O modal ferroviário é utilizado principalmente nos fluxos de transferência –

transporte entre bases primárias e secundárias. É pouco representativo, porém, o volume

movimentado por esse modal, considerado ideal para o transporte de longas distâncias e

grande volume. São movimentados por ferrovia menos de 3 milhões de m³ de etanol

anualmente, cerca de 10% do volume total. O aumento do consumo de etanol, tanto para

mercado interno quando para exportações, tende a viabilizar investimentos em ferrovias,

principalmente pelo ganho de escala.

Fluxo Volume Fluxo Volume

SP-SP 9.033 GO-SP 397

GO-GO 1.131 SP-MG 311

PR-PR 874 SP-RS 267

SP-RJ 827 GO-DF 222

MG-MG 760 PE-PE 216

MS-SP 750 MG-BA 200

SP-PR 651 MS-MS 188

MG-SP 521 AL-BA 169

MT-MT 477 MG-RJ 98

MS-PR 475

37

Atualmente, o transporte ferroviário do etanol enfrenta gargalos como a falta de

vagões-tanques, a falta de tração das locomotivas, a baixa capacidade da linha causada por

falta de manutenção, a baixa velocidade, a baixa frequência de viagens, os horários

limitados de tráfego, a falta de terminais de transbordo e dificuldades de integração das

diferentes concessionárias (MILANEZ et al., 2010).

A maior parte do transporte ferroviário de etanol está concentrada na região

Centro-Sul, assim como a produção e o consumo. O transporte de combustíveis no país é

feito principalmente pelas ferrovias ALL Malha Sul, ALL Malha Oeste, ALL Malha Norte, ALL

Malha Paulista, FCA, EFC e TNL. A Figura 13 ilustra as principais ferrovias brasileiras, com

destaque para as já citadas.

Figura 13 - Transporte ferroviário

Fonte: ILOS (2011)

Na Figura 14 podemos verificar a evolução do volume de etanol movimentado nas

principais ferrovias do país. Podemos observar um grande crescimento da ALL Malha

Paulista e Norte, cujo volume movimentado foi de apenas 29 mil m³ em 2005, saltando para

483 mil m3 em 2009 – um salto de cerca de 1600% em apenas quatro anos. O trecho da

Malha Paulista é responsável pela ligação entre a Baixada Santista/ Porto de Santos às

cidades de Santa Fé do Sul, Colômbia e Panorama. Neste trecho, o etanol responde por

cerca de 15% das cargas movimentadas. Além do etanol, são movimentados outros

combustíveis e açúcar. Por sua vez, a ALL Norte liga Santa Fé do Sul à Alto Taquari, no

sudeste do Mato Grosso. Neste trecho, o volume de etanol transportado é pouco

38

representativo, sendo apenas 0,3% do total. Os principais produtos dessa malha são o milho

e a soja.

MILANEZ et al. (2010) apontam os principais motivos que proporcionaram o

expressivo crescimento: revitalização do terminal de descarregamento da Tequimar e da BR

Distribuidora em Paulínia, além dos investimentos em terminais de carregamento existentes

em algumas usinas.

Embora menos vertiginoso que o crescimento supracitado, a FCA também

apresentou evolução de 188% no volume transportado no período de 2006 a 2008. O etanol

responde por 1,3% das cargas movimentadas pela ferrovia, cujos principais produtos de

movimentação são o milho, a soja, o açúcar e o fosfato.

Figura 14 - Movimentação Ferroviária de Etanol

Fonte: Elaboração própria (Dados: MILANEZ et al. 2010)

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500

1.000

1.500

2.000

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2003 2004 2005 2006 2007 2008

Vo

lum

e d

e m

ovi

men

taçã

o (

mil

m³)

ALL Sul ALL Paulista e Norte ALL Oeste FCA e EFVM CFN EFC

39

A Tabela 7 contém informações sobre as ferrovias que movimentam etanol,

indicando seus principais produtos e a representatividade do etanol na movimentação. A

ALL Paulista, com extensão de 2916 km que é a operadora cujo transporte de combustíveis é

mais representativo – cerca de 50% do seu volume total, sendo o etanol cerca de 15% do

total.

Tabela 7 – Transporte Ferroviário de Etanol

Fonte: Elaboração própria (Dados: ILOS, 2011)

Uma pequena parcela do fluxo entre usina e bases é feita através do modal

ferroviário – cerca de dois mil m³, dos quais 52% são transferências intraestaduais.

Figura 15 - Compra Ferroviária Etanol

Fonte: Elaboração Própria (Dados: ILOS, 2010)

O transporte ferroviário dos combustíveis, embora mostre crescimento em algumas

regiões ainda é pouco representativo para o potencial que apresenta. Essa situação reflete

de certa forma a matriz de transportes brasileira, na qual as ferrovias respondem por 21,7%

Operadora % Combustíveis% Etanol nos

Combustíveis

% Etanol na

FerroviaPrincipais Produtos

TNL 30,0% 5% 1,5% Combustíveis

EFC 0,2% 1% 0,0% Minério de ferro

FCA 4,2% 32% 1,3% Soja, milho, açúcar e fosfato

ALL Malha Paulista 49,9% 29% 14,5% Combustíveis e çúcar

ALL Malha Norte 0,3% 100% 0,3% Milho e soja

ALL Malha Oeste 4,4% 92% 4,0% Minério de ferro

ALL Malha Sul 16,3% 31% 5,1% Milho, açúcar e soja

0 100 200 300 400 500 600 700 800

MG-MG

MG-SP

SP-RS

PR-PR

SP-PR

SP-SP

Vo

lum

e d

e co

mp

ra (

mil

m³)

40

do transporte de cargas, enquanto nos Estados Unidos este percentual é de 41,5% (Fleury,

2011).

5.5.3. Dutoviário

O transporte dutoviário constitui apenas 3,8% da matriz de transportes do Brasil,

enquanto nos Estados Unidos esse percentual alcança a marca de 19%.

Segundo MILANEZ et al. (2010) a utilização de dutos para a movimentação de etanol

é limitada a poucas rotas de curtas distâncias, ligando a refinaria de Paulínia ao Rio de

Janeiro e a de Araucária a Paranaguá e bases de Santa Catarina. A Tabela 8 apresenta dados

sobre a movimentação de etanol nesses trechos.

O volume de etanol movimentado nas dutovias praticamente triplica no período de

2003 a 2008, porém o etanol ainda tem participação pequena nos dutos existentes.

Tabela 8 - Movimentação dutoviária etanol

Fonte: MILANEZ et al. (2010)

A Figura 16 mostra a participação do etanol nos trechos mencionados. No trecho

Barueri-Paulínia o álcool é o principal produto, com 64 % do total do volume transportado.

Na ligação entre Araucária e Itajaí esse percentual chega ao patamar de 20%, porém dos

demais trechos, fica evidenciada a pequena representatividade deste tipo de combustível

em relação aos demais produtos.

41

Figura 16 - Representatividade do etanol no transporte dutoviário

Fonte: Elaboração Própria (Dados: ILOS, DOU e Milanez et al.)

Os dutos que se destacam no transporte dos derivados de petróleo são o OSBRA

(Oleoduto São Paulo – Brasília), o OPASC (Oleoduto Paraná – Santa Catarina) e o duto

ORSUB (Oleoduto Recôncavo Sul da Bahia), sendo que apenas o OPASC também movimenta

etanol.

O OSBRA, com 964 km de extensão, é operado pela Transpetro e faz a ligação entre

os terminais de Brasília e Paulínia. Ao longo do poliduto há também terminais nas cidades de

Senador Canedo (GO), Uberaba e Uberlândia (MG) e Ribeirão Preto (SP). A capacidade do

duto é de cerca de 900 mil m³ mensais (ILOS, 2011).

O duto ORSUB é composto por três trechos no Recôncavo Baiano. O trecho 1, com

75 km, liga as cidades de Ipiau a Jequié, com capacidade máxima de aproximadamente 100

mil m³ por mês. O trecho 2, faz a ligação entre Ipiau e Itabuna, com movimentação máxima

de 85 mil m³ mensais e o trecho 3 conecta Madre de Deus a Ipiau, com capacidade máxima

de 187 mil m³/mês.

Para acompanhar o crescimento da demanda do etanol, inclusive com maior

eficiência operacional, foram desenvolvidos três grandes projetos para alcooldutos: PMCC,

Uniduto e Centro Sul. Em março de 2011, estes projetos foram integrados em um único

Sistema Logístico multimodal de transporte e armazenagem de etanol, que prevê uma

capacidade de tancagem de cerca de um milhão de m³ de etanol, e que será descrito na

seção 9.

0%10%20%30%40%50%60%70%80%90%

100%

Outros

Etanol

42

5.5.4. Hidroviário

Os fluxos hidroviários para o transporte de combustíveis são restritos à Bacia

Amazônica. Entre os 50 mil km de vias navegáveis existentes, apenas 13 mil estão realmente

em uso (ILOS, 2011). No caso do etanol, a principal rota é pelo Rio Madeira, entre Porto

Velho e Manaus. Por esse trecho, escoam aproximadamente 200 mil m³ de etanol vindo do

Mato Grosso para atender a quase todo o consumo do Amazonas, Acre e Roraima (MILANEZ

et al., 2010).

Segundo NUNES (2010), os rios brasileiros são navegáveis apenas em alguns trechos,

determinando a necessidade de altos investimentos em infraestrutura de eclusas para

possibilitar o transporte contínuo ao longo de um trecho mais longo; os rios nacionais

geralmente não desembocam no oceano. Isso significa que o modal hidroviário deve ser

complementado por outros modais para conseguir movimentar o produto até seu destino

final.

No caso da cabotagem, são esporádicos e concentram-se na distribuição entre os

terminais aquaviários exportadores do Nordeste e os estados do Norte-Nordeste.

Este modal tem potencial de expansão principalmente na hidrovia Tietê-Paraná. Há

projetos de novas usinas que poderiam ser absorvidas por esta via e ter a produção escoada

para o Sul e Sudeste.

Figura 17 - Principais hidrovias usadas no transporte de biocombustíveis

Fonte: ILOS, 2011

43

Os principais portos para exportação do etanol brasileiro são o Porto de Santos e o

Porto de Paranaguá, que movimentam, respectivamente, 75% e 15% da demanda

internacional (NUNES, 2010). Entretanto, MILANEZ et al.(2010) apontam que o crescimento

da demanda mundial fomenta a expansão de investimentos em criação, adaptação e

ampliação dos terminais portuários. Os portos de Itaqui e Vitória receberam terminais de

exportação de etanol nos anos de 2007 e 2008. O primeiro integrado às ferrovias CFN e EFC,

enquanto o segundo é integrado à Estrada de Ferro Vitória-Minas (EFVM). Santos e

Paranaguá também receberam investimentos em terminais, processos de descarregamento

rodoviário e ferroviário. Porém, enquanto Paranaguá já tem 40% dos fluxos de origem

ferroviários ou dutoviários, o principal porto de exportação recebe o produto

primordialmente por caminhões.

Na Tabela 9, observa-se a capacidade de tancagem e movimentação dos principais

portos.

Tabela 9 - Movimentação e tancagem dos principais portos

Porto Tancagem (m³) Capacidade

Movimentação (m³)

%

Exportações

Santos 295.000 5.310.000 75%

Paranaguá 102.500 1.845.000 15%

Rio de Janeiro 40.000 960.000 1%

Maceió 30.000 540.000 6%

Suape 43.430 781.740 2%

Outros 77.400 1.630.800 1%

Total 588.330 11.067.540 100%

Fonte: Elaboração Própria (Dados:ILOS, 2011; NUNES, 2010)

A capacidade de movimentação dos portos atuais não se apresenta como um

gargalo para a exportação de etanol. O porto de Santos poderia exportar sozinho o triplo do

volume de exportações do ano de 2010, cerca de 1,6 milhões de m³. Para garantir o

crescimento das exportações no futuro, será fundamental a integração dos terminais

portuários com modais eficientes.

44

6. Evolução dos preços de etanol no mercado brasileiro

O preço do etanol é um dos fatores mais importantes para entendermos a lógica do

mercado de etanol brasileiro. Conforme citado anteriormente, a criação dos carros flex fuel

fez com que as vendas de etanol disparassem a partir de 2003. Os baixos preços do

biocombustível o tornaram a escolha mais vantajosa para o proprietário do veículo, que

passaram a ter benefício financeiro a partir do uso do etanol, além de ganho no rendimento

do motor, por possuir maior octanagem que a gasolina.

Como já visto, existe uma concentração da produção de etanol no Centro-Sul do

país, principalmente nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Goiás. Essa distribuição da

oferta, aliada aos gargalos logísticos impacta diretamente na diferenciação do preço do

etanol de acordo com a região do país, que pode ser visto na Figura 18.

Figura 18- Preço do etanol ao consumidor (R$/l)4

Fonte: Elaboração Própria (Dados: ANP, 2012)

O gráfico mostra que o preço pago pelo consumidor nos estados produtores é muito

menor que os demais estados, favorecendo o consumo do mesmo somente em

determinadas regiões. Essa diferença de preço em média chega a R$ 0,48/litro, tornando o

consumo do combustível menos vantajoso em regiões como o Sul, Norte e Nordeste do país.

O consumidor final considera a paridade do preço do etanol em relação ao preço da

gasolina (preço do etanol divido pelo preço da gasolina) como balizador no momento da

4 Os preços do etanol são relativos apenas ao etanol hidratado.

45

escolha do combustível no posto de abastecimento. Devido a diferenças energéticas, o

preço do etanol deve ser até 70% do preço da gasolina para que seja vantajoso para o

consumidor. A partir deste valor, a escolha financeiramente correta seria a gasolina. A Figura

19 mostra as diferentes paridades de preços nos estados tratados acima.

Figura 19 - Paridade dos preços (Etanol/ Gasolina)5

Fonte: Elaboração própria (Dados: ANP, 2012)

Novamente, a divergência de preços faz com que a paridade seja mais favorável nos

estados onde a oferta está concentrada, ao contrário dos demais estados. Esse cenário faz

com que o consumo de etanol seja tão concentrado quanto a sua oferta. O estado de São

Paulo sozinho representa cerca de 50% do consumo total do país, seguido por Minas Gerais,

Paraná, Rio de Janeiro e Goiás, com menos de 10% cada um. A paridade de preços média do

país é puxada para baixo, pois grande parte do consumo está presente em São Paulo, onde

existe uma das menores paridades do Brasil.

A partir de 2010, problemas com a safra de cana-de-açúcar e o aumento do preço do

açúcar no mercado internacional fizeram com que a oferta de etanol no Brasil decaísse

significativamente. A redução da oferta, aliada ao crescimento da demanda por

combustíveis, fez com que os preços do etanol disparassem principalmente nas entressafras

(janeiro a março), fechando a paridade de preços do etanol, o que impacta diretamente as

vendas do combustível, mesmo em São Paulo, como ilustra a Figura 20.

5 Paridade do preço do etanol hidratado com o preço da gasolina – preço final, incluindo o percentual

de etanol anidro misturado à gasolina.

46

Figura 20 - Relação entre o aumento da paridade e a queda do consumo mensal de etanol

Fonte: Elaboração própria (Dados: ANP, 2012)

Figura 21 - Relação entre o aumento da paridade e a queda do consumo anual de etanol

Fonte: Elaboração própria (Dados: ANP, 2012)

Desde então, os preços não diminuíram do seu novo patamar. A crise de oferta de

etanol que se perpetua desde 2010 fez com que a paridade média ficasse acima de 70% em

todos os estados brasileiros. O cenário atual de preços coloca o futuro do combustível em

risco, pois o consumo está em queda acentuada em 2012 e não há perspectiva de melhora a

não ser que o cenário de oferta seja favorável. Com o aumento da oferta de etanol, os

preços cairiam para patamares vistos anteriormente e a demanda responderia rapidamente,

tornando o combustível um forte concorrente da gasolina novamente. Pode-se perceber

através dessa análise que a oferta de etanol tem papel fundamental para a perspectiva

futura do biocombustível no Brasil.

47

7. O déficit na oferta de etanol no Brasil

Desde 2008, o Brasil tem vivido um grande desequilíbrio entre a oferta e a demanda

de etanol. De 2007 a 2010, o consumo de etanol foi quase três vezes maior que a produção,

o que impactou diretamente no preço do produto. O preço médio do etanol subiu 27% entre

as safras de 2008/2009 e 2010/2011 (ESALQ). Além disso, a alta do preço do açúcar no

mercado externo estimulou as usinas a priorizar sua produção em detrimento do etanol.

Até 2015, a demanda de etanol deverá crescer 19,6 bilhões de litros, basicamente

devido ao aumento da frota de veículos flex, de acordo com a EPE, o que significa que a

produção de cana-de-açúcar precisará aumentar para que essa demanda possa ser atendida.

Assumindo produtividade média de 90 toneladas de cana por hectare e de 80 litros de

etanol por tonelada de cana, e mantidas constante ao longo do tempo, seria necessário

243,3 milhões de toneladas de cana adicionais para atender plenamente a demanda

projetada de etanol (MILANEZ et al., 2012).

Tabela 10 - Projeção da oferta de etanol para atender demanda futura

Fonte: MILANEZ et al. (2012)

Ainda de acordo com os autores, como o preço do açúcar vem se mantendo mais

valorizado que o do etanol desde 2006, o mix de produção das usinas tem se alterado para

beneficiar a commodity, tornando a ociosidade das destilarias bem superior ao das

produtoras de açúcar. A redução dos investimentos agrícolas decorrente da crise financeira

de 2008 também foi outro agravante nesse cenário. Após um período de grande

crescimento e endividamento das empresas com a introdução dos veículos flex, foi preciso

aumentar muito a venda do combustível e, consequentemente, reduzir o preço, tornando a

capacidade de investimento ainda mais complicada. As operações de fusões e aquisições

48

tornaram-se mais atraentes do que os greenfields6 e concentraram-se em São Paulo devido

às condições já estabelecidas para construção de fábricas usinas de cana-de-açúcar.

Para responder à demanda crescente, o estímulo à produção de etanol deve ser

analisado em primeiro momento em termos de produção de cana-de-açúcar, cuja

ociosidade da capacidade de moagem atinge, hoje, quase 20%, o que representaria

aproximadamente 120 milhões de tonelada de cana (MILANEZ et al., 2012).

Além disso, outro problema que afeta diretamente esse mercado é a baixa

competitividade do preço do etanol, que se agrava em algumas regiões do país localizadas

longe dos centros produtores e que, apesar de potenciais consumidoras, possuem baixa

demanda devido ao encarecimento do etanol. Com base em dados da ANP, a região Norte é

a que mais se enquadra nessa situação, onde quase não há produção de cana-de-açúcar e a

distância aos estados produtores é grande, refletindo na paridade desfavorável do preço do

etanol com o da gasolina. A região Nordeste, apesar de participar em 8,5% da produção de

etanol brasileiro (SIAMIG, 2012), ainda apresenta uma demanda reprimida em alguns

estados como Bahia, Sergipe, Piauí e Rio Grande no Norte. O mesmo ocorre no Sul que,

mesmo com o destaque do Paraná, sua produção não foi capaz de atender toda a demanda

da região em 2008. A região Sudeste, por sua vez, é a maior produtora de etanol no país e

concentra a maior parte das usinas processadoras de cana-de-açúcar, destacando-se

também, e sobretudo por isso, como grande centro consumidor.

6 Os investimentos greenfield envolvem projetos incipientes, ainda no papel, construção da estrutura necessária

para a operação. Ao contrário do greenfield, os investimentos brownfield envolvem recursos destinados a uma

companhia com estrutura pronta e que, na maioria das vezes, será reformada ou demolida (Revista Capital

Aberto, março 2010).

49

8. Análise de cenários

Hoje, a produção de açúcar é mais vantajosa para o produtor do que a de etanol,

visto que além dos altos preços cotados no mercado, são fixados contratos de compra e

venda, garantindo maior segurança e previsibilidade das operações, enquanto que o etanol

é ofertado no mercado spot e, portanto, fica mais exposto às oscilações.

Essa fragilidade poderá comprometer o fornecimento de etanol no mercado

brasileiro em face à crescente demanda pelo produto. Nesse contexto, serão estudados três

possíveis cenários futuros para a produção do etanol brasileiro, visando o aumento da

capacidade produtiva e, consequentemente, da quantidade ofertada.

Cenário 1: Desconcentração das usinas localizadas em São Paulo

São Paulo concentra boa parte das usinas e o Estado possui preços mais

competitivos de etanol devido à tributação e custo logístico mais baixo. Esse cenário irá

analisar a viabilidade do deslocamento das usinas de São Paulo para outros estados, focando

na região Centro-Sul, em termos da capacidade de produção frente à qualidade do insumo,

por exemplo quanto ao teor de açúcar e umidade, às condições climáticas e à produtividade.

Cenário 2: Intensificação da produção nas atuais usinas em São Paulo

Esse cenário, ao contrário do anterior, estudará a possibilidade de ampliar o volume

de etanol produzido em São Paulo, já que se configura hoje como o maior estado produtor,

para atender a demanda crescente, identificando a viabilidade de ampliação do número de

usinas na região e/ou o aumento da produtividade na etapa agrícola e industrial com a

mecanização e com novos métodos que otimizem o processo produtivo.

Cenário 3: Atuação do governo e da sociedade

Por fim, o último cenário irá levantar o papel do governo como agente regulador,

incentivador e financiador do mercado sucroalcooleiro e os benefícios e custos sociais

relacionados a essa atividade.

50

8.1. Cenário 1: Desconcentração das usinas localizadas em São Paulo

Hoje, o Estado de São Paulo concentra boa parte das usinas sucroalcooleiras do país,

porém já é possível observar um movimento migratório para novas áreas, visto à saturação

de algumas regiões produtoras, em especial São Paulo, que teve um aumento de mais de

100% no custo da terra nua entre 2002 e 2005 (IPEA, 2011).

A escolha de um novo local implica necessariamente na existência de condições que

propiciem o seu desenvolvimento. O sucesso da produção em qualquer região requer a

alocação de espécies adequadas às condições agroclimáticas. Dentre a grande variedade

ofertada, o agricultor precisa escolher a cana com as características ideais, como o porte da

cana e o fechamento da entrelinha, que podem reduzir os custos com manejo e colheita, o

volume e a maturação. Além disso, o clima é um fator que também interfere na cultura da

cana-de-açúcar, que se desenvolve em ambientes com temperatura predominante entre 19º

e 32ºC (Embrapa, 2012). Os solos considerados ideais para essa cultura são profundos, com

boa retenção de água para o desenvolvimento das raízes, caso contrário o seu rendimento

pode ficar comprometido. Os solos arenosos são os menos indicados, já que não são capazes

de armazenar muita umidade. O pH também está diretamente relacionado à produtividade.

O Estado de São Paulo destaca-se por possuir condições climáticas excelentes para a

produção, permitindo crescimento na primavera e no verão e a maturação e colheita no

outono e no inverno. A região Centro-Oeste, por sua vez, também tem ganhado destaque,

apesar de exigir um suporte hídrico maior no inverno devido à deficiência hídrica.

A qualidade da cana-de-açúcar é medida pelo teor de sacarose nela contida e varia

de acordo com a região em que é plantada. Em São Paulo, a qualidade da cana equivale a

um rendimento médio de 140 kg a 145 kg de açúcares totais recuperáveis (ATR) por

tonelada de cana, sendo essa quantidade de ATR que define o preço da cana, e um

rendimento médio de 80 a 85 litros de etanol por tonelada (VIEIRA, 2007). Como pode ser

visto na Tabela 11, São Paulo apresenta um rendimento superior à média nacional, mas vale

o destaque também para a região conhecida como a Nova Fronteira, que abrange os Estados

de Goiás e Mato Grosso, sendo propícios ao desenvolvimento da cultura.

51

Tabela 11 - Rendimento da cana por Estado na safra 2010/2011

Fonte: Elaboração própria (Dados: MAPA, 2011)

Como pudemos ver anteriormente, a Nova Fronteira7 possui condições climáticas

favoráveis para a expansão do cultivo da cana, além de ter o ATR/tonelada de cana em

patamares iguais ou superiores que do estado de São Paulo. Essas características elegeram

essa região como uma possível candidata à intensificação da produção de etanol.

Com isso, a participação do Centro-oeste tem se tornado cada vez mais expressiva

na produção de etanol com o passar dos anos, sendo que Goiás foi o estado que apresentou

7 A Nova Fronteira da cana é representada sobretudo pelos estados do Centro-oeste, Goiás, Mato

Grosso e Mato Grosso do Sul, mas abrange também o estado de Minas Gerais (Portal Sincopetro

UNICA, 2012)

UFATR/ton de

canaAC 73,76

AL 132,85

AM 93,9

BA 120,69

CE 117,63

MA 139,33

PA 116,75

PB 133,45

PE 121,52

PI 132,07

RN 117,04

RO 131,97

SE 125,13

TO 117,01

N / NE 128,14

ES 117,81

GO 145,59

MG 141,34

MS 134,87

MT 140,92

PR 136,33

RJ 94,54

RS 118,63

SC -

SP 140,84

C. SUL 140,23

BRASIL 139

52

a maior taxa de crescimento. Nesse estado, a participação na produção de etanol teve um

aumento de mais de 6% entre os anos de 2003 e 2010 (SIAMIG, 2012).

Figura 22 - Participação do Centro Oeste e seus Estados na produção de etanol

Fonte: Elaboração própria (Dados: SIAMIG, 2012)

Outro estado que tem ganhado força no setor é Minas Gerais, tradicional centro de

pecuária. Antigas áreas destinadas à lavoura de grãos e ao pasto tem, hoje, dado espaço aos

canaviais, pois, além de possuir clima favorável ao desenvolvimento da cultura da cana-de-

açúcar, os custos de produção, principalmente ao de arrendamento, são inferiores ao

tradicional estado de São Paulo. Em 2007 foram ocupados por canaviais cerca de 70 mil

hectares, destinados anteriormente à soja, ao milho e à pastagem, totalizando uma área de

467 mil hectares de cana-de-açúcar (Anuário do Agronegócio Exame, 2008).

Figura 23 - Evolução de Minas Gerais no setor sucroalcooleiro

Fonte: Anuário do Agronegócio Exame (2008)

Aliado a esse processo já iniciado de instalação de usinas em regiões produtoras não

tradicionais, principalmente para a região da Nova Fronteira, em 2012 o Conselho

0,00%

4,00%

8,00%

12,00%

16,00%

20,00%

24,00%

REGIÃO CENTRO OESTE GOIAS MATO GROSSO MATO GROSSO DO SUL

53

Administrativo de Defesa Econômica do Ministério da Justiça, o Cade, aprovou a formação

da Logum, associação entre a Copersucar, Cosan, Odebrecht, Camargo Correa e Petrobras,

para a construção de um Sistema Logístico Multimodal de Etanol que liga as regiões Sudeste

e Centro-oeste por meio de dutos. O etanol passará a ser captado em terminais, localizados

em São Paulo, Minas Gerias, Goiás e Mato Grosso do Sul, e transportado por dutos, de Jataí,

em Goiás, até Paulínia, em São Paulo, e pela hidrovia Tietê-Paraná, sendo armazenado no

hub em Paulínia para distribuição em terminais e portos no Rio de Janeiro e São Paulo.

A eficiência desse novo sistema logístico permitirá a redução dos custos logísticos

repassados ao produto, tornando o preço mais competitivo, além de ser uma alternativa

menos poluente. MENDONÇA e JUNIOR (2010) estimam que o frete médio de transporte

para o modal dutoviário é quase metade do modal rodoviário e que o hidroviário é 150%

menor que o rodoviário, conforme pode ser visto na Tabela 12. O custo de transporte

representa 54% dos custos logísticos totais (ILOS, 2011), evidenciando a importância de se

ter um modal competitivo que viabilize a produção de etanol em distâncias maiores dos

centros de consumo.

Tabela 12 - Custos para 1000 ton de etanol por modal em USD

Modal Custo de

Transporte

Custo Total da

Cadeia

% Custo de

Transporte

Dutoviário 60.793 482.869 13%

Ferroviário 75.992 498.067 15%

Hidroviário 45.595 467.671 10%

Rodoviário 113.987 536.063 21%

Fonte: MENDONÇA e JUNIOR (2010)

Entretanto, a previsão é de que os terminais terrestres no estado de Goiás só

entrem em operação a partir de 2015, o que significa que nos próximos três anos o modal

rodoviário ainda continuará sendo o meio mais utilizado para o transporte de etanol,

mantendo os custos logísticos em patamares elevados.

54

Figura 24 - Sistema Logístico Multimodal de Etanol da Logum

Fonte: Logum (2012)

Na análise de instalação de usinas em novas localidades, devem ser levados em

consideração não apenas a qualidade dos insumos, como exposto anteriormente, mas

também os desafios de projetos greenfields em áreas sem a existência de um parque

industrial. Questões como a disputa com outras culturas, complexidade na implantação do

canavial (limpeza da área e conservação do solo), escolha da cana adequada ao solo,

obtenção de benefícios fiscais adequados, estudos de impacto ambiental e o próprio

licenciamento ambiental, além das questões logísticas e de comercialização precisam ser

consideradas, já que as novas áreas nem sempre possuem a estrutura requerida para o

desenvolvimento da atividade, o que acaba por encarecer esse tipo de projeto.

Essas questões citadas anteriormente, aliadas à crise de 2008 e a priorização do

açúcar no mix de produção das usinas, fizeram com que houvesse uma diminuição

considerável de investimentos no setor, dificultando o aumento da oferta. Estima-se que

cerca de um terço das usinas do Centro Sul esteja encontrando problemas financeiros para

quitar dívidas de safras passadas, podendo ser sentido na redução de projetos greenfields

nos últimos anos (UNICA). Com o câmbio se valorizando e os juros em queda, a tendência é

que sejam feitos investimentos brownfields e investimentos para ampliação de capacidade.

Essa tendência pode ser percebida tanto em São Paulo como no Centro Oeste e

Minas Gerais. Por exemplo, o grupo São Martinho planeja, até a safra de 2016/2017,

aumentar sua capacidade produtiva nas usinas de Boa Vista, em Goiás, e São Martinho, em

São Paulo, além da aquisição de 100% da usina Santa Cruz, também em São Paulo, que hoje

55

detém apenas de 32,2%. Até 2015, a usina Boa Vista deve processar 8 milhões de toneladas

de cana e produzir 700 milhões de litros de etanol por ano, tornando-se a maior produtora

de etanol do mundo. A Raízen, fruto da parceria da Shell e Cosan, também prevê

investimentos nos próximos cinco anos para ampliar a produção e, seguindo essa posição,

adquiriu recentemente duas usinas do grupo Zanin, localizadas em Prata, Minas Gerais, e

Araraquara, São Paulo. A Petrobras Biocombustível, por sua vez, está estudando o projeto

greenfield da Usina Bom Jesus, localizada na Nova Fronteira em Quirinópolis, Goiás, próxima

à Usina Boa Vista, segundo informações da Agência Estado, além do investimento na

ampliação da Boa Vista juntamente com a empresa São Martinho.

Conforme apresentado, o cenário de intensificação da produção de etanol fora do

Estado de São Paulo é viável no que tange a produção agrícola e industrial. A região da Nova

Fronteira, junto com Minas Gerais, possui um potencial para tal expansão como evidenciado

no crescimento de volume produzido nessas regiões. A crise financeira pela qual passam os

produtores pode ser um entrave nesse movimento, visto que muitas usinas projetadas ainda

não foram construídas e os demais investimentos da indústria estão focados na ampliação

da produção existente, conforme discutido nesta seção.

Entretanto, esses novos investimentos podem não ser suficientes para reduzir os

custos logísticos e, consequentemente, tornar os preços do etanol competitivos, já que São

Paulo é o principal centro consumidor, com aproximadamente 50% do consumo brasileiro

do combustível. A competitividade do etanol e consequente viabilização deste cenário é

extremamente dependente de infraestrutura adequada – com modais mais eficientes, que

reduzam o custo logístico total.

Porém, essa tendência de deslocamento para a nova fronteira ainda não representa

possibilidades de fomentar o consumo nos estados com demanda reprimida. Esse

movimento para o interior poderá tornar o preço do etanol mais competitivo nessas regiões,

impactando no consumo do combustível, mas ainda assim não conseguirá fazer com que os

custos logísticos viabilizem o consumo nas regiões Norte e Nordeste.

56

8.2. Cenário 2: Intensificação da produção em São Paulo

Desde a década de 50, a produção de cana-de-açúcar veio ganhando força no Estado

de São Paulo, expandindo-se por todo território paulista e chegando a ocupar quase 25% da

área agrícola do Estado na safra de 2008/2009 (TORQUATO et al., 2009). Em 2012, São Paulo

é capaz de responder por cerca de 60% da produção brasileira de cana-de-açúcar e 55% da

produção de etanol.

TORQUATO et al. (2009) analisaram a eficiência econômica das lavouras de cana-de-

açúcar no Estado de São Paulo, considerando variáveis como área plantada, custo de

produção e preço de arredamento nos anos de 2006 e 2007. O estudo mostrou que a região

de Dracena, seguida de General Salgado, apresentam a maior eficiência, ambas com

produção recente e onde o preço da terra foi o menor observado, indicando que existe

relação entre eficiência e custo de arrendamento. Nos cinco últimos anos o custo agrícola

subiu 38%, sendo que o arrendamento foi responsável pelo aumento de 57% (UNICA).

Portanto, para se manter no mercado, muitas empresas têm focado no aumento da

eficiência por meio da redução de custos, além do aumento da produtividade.

A safra 2011/2012 foi extremamente afetada por conta da baixa produtividade da

cana-de-açúcar. Nas áreas tradicionais da atividade canavieira, como São Paulo e Paraná, a

média foi de 70,3 toneladas por hectare, enquanto que nas áreas de expansão, Goiás, Mato

Grosso, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais, esse número chegou a 68,7. A região nordeste,

historicamente, apresenta produtividade mais baixa que as outras áreas e, especificamente

nos estados de Alagoas, Pernambuco e Paraíba, a média nesse período foi de 62,3 toneladas

por hectare (ESALQ, 2012).

Esse impacto negativo na produtividade pode ser explicado não só por questões

climáticas, mas também pela idade avançada do canavial brasileiro, que necessita de

renovação. A cultura da cana-de-açúcar no Brasil é feita num ciclo de cinco anos e com

número médio de cinco cortes. O governo liberou uma linha de crédito com taxa de 6,75% e

prazo de 5 anos para o pagamento, na busca por fomentar a renovação (BNDES, 2012).

A contínua necessidade de aumentar a produtividade mostra a importância de se

desenvolver novas tecnologias para aumentar a eficiência com qualidade, relacionadas ao

melhoramento genético da cana-de-açúcar, monitoramento do solo, novos equipamentos e

57

novas formas de manejo, com destaque para a colheita mecanizada, além da ampliação e

construção de novas usinas, principalmente no Estado de São Paulo, onde se concentra a

maior parte das usinas, da produção, do consumo e da infraestrutura necessária.

Como já foi visto anteriormente, as dificuldades financeiras enfrentadas pelas usinas

freiaram os grandes investimentos e muitos projetos greenfields ainda continuam em

carteira, desfavorecendo o cenário de construção de novas usinas. Porém, a tendência

percebida no mercado é de operações de fusão e reestruturação de usinas já existentes,

possibilitando o aumento da capacidade produtiva.

O progresso técnico nesse setor já vem sendo impulsionado há algum tempo, desde

a mudança do método de pagamento da cana-de-açúcar, que passou de tonelada como

unidade de medida para teor de sacarose. Com essa alteração, quanto maior a qualidade,

maior o ágio recebido sobre o preço base definido pelo governo e, por isso, maior o

interesse em investir na melhoria da qualidade.

Para melhoria do processo na etapa agrícola e, consequentemente, aumento da

capacidade produtiva, muitas usinas passaram a utilizar o sensoriamento remoto para

captar imagens que caracterizem o solo, identifiquem pragas e doenças e detectem

problemas de erosão na terra, de modo a auxiliar o planejamento do melhor uso da terra e,

assim , aumentar sua eficiência. Além disso, o Instituto Agronômico de Campinas (IAC)

desenvolveu um novo sistema para o corte da cana feito por lâminas serrilhadas com corte

por deslizamento, reduzindo a quantidade de soqueiras arrancadas, que não nascem mais

(Revista Globo Rural, 2011). Essas técnicas auxiliam no melhor uso da terra e na otimização

dos recursos, possibilitando uma produção com mais qualidade e maior eficiência.

Em 1993, a mecanização no corte e na colheita da produção nos canaviais não

chegava a 0,5% do total da produção, mas em 2003 alcançou 35% da produção brasileira

(RODRIGUES, 2006 apud LEVI, 2009). O corte manual tem um rendimento médio de 5 a 6

toneladas/homem/dia, enquanto que uma colheitadeira chega a colher até 800 toneladas

de cana por dia.

Com o mesmo objetivo, o tratamento genético das mudas é considerado um dos

melhores mecanismos de aumento de produtividade, possibilitando desenvolver variedades

que melhor se adaptem às condições climáticas, do solo e da incidência de pragas. O

58

tratamento possibilita o desenvolvimento de características que variam de acordo com a

tendência de mercado e o desafio é encontrar o equilíbrio no trade-off entre teor de açúcar

e rusticidade, visto que no cenário de valorização do etanol, o foco é menor no teor de

açúcar da cana e maior na produção de biomassa.

A produtividade média nacional dos canaviais, em 1961, passou de 43 para 74

toneladas por hectare, em 2005, e hoje já chega a quase 80 toneladas por hectare, podendo

atribuir parte desse aumento ao melhoramento genético (Embrapa, 2012). A expectativa é

de que, com a biotecnologia, o produtor consiga obter cana com uma quantidade de

toneladas por hectare 25% maior e com aumento vertical da produção, além de um

aumento de 20% no teor de açúcar (Centro de Tecnologia Canavieira, 2012).

Além do tratamento genético, muitos estudos têm sido desenvolvidos na busca pelo

aumento da produção de etanol celulósico, a partir do aproveitamento da palha e do bagaço

da cana, também conhecido como etanol de segunda geração. Essa nova tecnologia poderá

dobrar a quantidade de etanol produzida, sem necessidade de expandir a área plantada para

que isso se concretize. A Petrobras já vem desenvolvendo essa modalidade e estima atingir

uma escala comercial desse novo combustível em 2015, sem que haja diferença de preço

com relação ao do etanol de primeira geração (Petrobras, 2012). Com o desenvolvimento

das pesquisas, a expectativa é da utilização também de outros resíduos de celulose, como

por exemplo a palha do milho. O aproveitamento da palha contribuirá para a maior adesão à

colheita mecanizada, sem a queima da palha.

Com base nas informações acima, fica claro que o aumento da produtividade no

Estado de São Paulo é viável e extremamente necessário, visto que a região é o maior pólo

consumidor do país e configura-se como o maior produtor do combustível. A questão da

idade dos canaviais precisa ser tratada com mais atenção, porém o desenvolvimento

tecnológico nesse setor e os investimentos brownfields para aquisições e reestruturações de

usinas são grandes indícios da possibilidade de o Estado aumentar sua capacidade

produtiva.

59

8.3. Cenário 3: Atuação do governo e da sociedade

A importância do cultivo da cana pode ser sentida na sociedade. Em 2008, a cultura

foi responsável pela geração de quase 4,76 milhões de empregos formais, informais, diretos

e indiretos (IBGE, 2007). Até 2020, a estimativa do BNDES com base em dados da UNICA é

que as usinas de etanol passem a gerar 350 mil empregos diretos adicionais e 700 mil

empregos indiretos adicionais, ressaltando a relevância do setor na sociedade.

Com a evolução das tecnologias empregadas, observa-se menor crescimento dos

requerimentos de pessoal, acompanhado de uma elevação da capacitação requerida e do

aumento da qualidade do trabalho desenvolvido (FERRES, 2010). Por exemplo, com a

colheita mecanizada da cana, o trabalhador passou a ser treinado a operar os equipamentos

ao invés de fazer a colheita manual, elevando sua renda.

Governo como incentivador

Conforme foi visto no capítulo 6, o preço do etanol tem sido ofertado com baixa

competitividade, devido à redução da oferta e ao crescimento da demanda pelo

combustível. Para que essa demanda seja atendida, é importante que a produção industrial

do etanol seja incentivada, dentre outras maneiras, por meio de incentivos tributários8, além

de maior planejamento quanto ao preço e volume de demanda, através de contratos

futuros de compra e venda para assegurar o preço.

Nesse sentido, o BNDES desenvolveu, em 2012, o Programa de Apoio à Renovação e

Implantação de Novos Canaviais, o Prorenova, com intuito de estimular investimentos nessa

área. O programa consiste na oferta de linhas de crédito para a renovação da lavoura,

disponibilizando um total de R$ 4 bilhões (BNDES, 2012). Desde o seu início em janeiro do

mesmo ano, o programa conseguiu aprovar 6% do montante, destinados à Usina Santa

Teresinha, no Paraná, para o plantio de 67 mil hectares de cana – 9 mil hectares de novos

canaviais e o restante com reforma - que sofre com capacidade ociosa dos canaviais de

quase 25%. Com vigência até o final do ano de 2012, a expectativa é do financiamento de

mais de um milhão de hectares, o que permitiria o aumento da produtividade de 70 para

8 A carga tributária em uma nova usina processadora de cana-de-açúcar pode chegar a 20% do montante total

investido (MILANEZ, A. Y. et al. 2012).

60

mais de 90 toneladas por hectare até 2015. Entretanto, as usinas tem encontrado

dificuldades em atender o nível de exigência requerido para tomada do crédito, o que pode

ser um entrave ao sucesso do programa. Diante da necessidade dessa renovação para o

aumento de produtividade e garantia do abastecimento, torna-se importante a revisão

desses requisitos para aumentar a quantidade de empréstimos concedidos às empresas.

Ao mesmo tempo, está em análise a possibilidade da redução de PIS/COFINS

incidente sobre a compra de cana destinada para a produção de etanol para a mesma

alíquota aplicada à cana usada para fabricação de açúcar, além de possível redução do

Imposto de Renda pago pelas usina que produzem o biocombustível, contribuindo para a

redução do custo de produção e, consequentemente, do preço do etanol anidro no mercado

(UNICA, 2012).

A atuação do governo passou a se estender também à regulação direta sobre o

etanol anidro. Devido a problemas de abastecimento de álcool e com estoques em baixa, foi

preciso elevar as importações do combustível para atender o mercado interno. Diante disso,

a ANP passou a ser a responsável por controlar a oferta do combustível e definir regras de

comercialização, sendo informada dos dados de capacidade e período de safra de todas as

usinas. A partir da safra 2012/2013, os produtores precisarão assegurar um estoque

equivalente a 25% da soma dos contratos anuais de entrega de anidro para garantir o

período de entressafra, enquanto que os distribuidores precisarão garantir estoque

suficiente para a mistura na gasolina (ANP, 2012). Essa medida, juntamente com os

incentivos tributários, tendem a reduzir a volatilidade do preço do etanol anidro no

mercado, além de garantir o seu fornecimento, beneficiando o consumidor que ficará

menos vulnerável às variações do preço.

As medidas reguladoras ainda são direcionadas apenas ao etanol anidro, mas

indicam a tendência do governo em atuar sobre o mercado. A expectativa é de que no

futuro essa regulação seja estendida também ao etanol hidratado.

61

9. Conclusão

A necessidade de promover uma mudança na matriz energética é fundamental no

cenário atual, no qual o petróleo ainda responde pela maior parte da energia gerada,

principalmente pelo esgotamento de recursos naturais. Porém, o impacto ambiental

provocado pela combustão dos derivados de petróleo vem se tornando cada vez mais

relevante nesse cenário, evidenciando a necessidade de tornar competitivo em relação a

outros combustíveis.

Neste contexto, o etanol brasileiro, obtido a partir do processamento da cana-de-

açúcar se apresenta como uma das principais alternativas para reconfiguração dessa matriz.

Este estudo buscou trazer uma discussão sobre o produto, fazendo uma análise dos cenários

atual e futuro para sua produção e distribuição.

O primeiro passo nessa nova direção é a realização de investimentos na produção –

seja na renovação dos canaviais, na ampliação de capacidade das usinas atuais ou

investimentos em novas usinas. Nos últimos anos, verificou-se um déficit de oferta, que se

torna ainda mais crítico se observadas as projeções de crescimento da demanda do

biocombustível. Diante dessa situação foram analisados cenários diferentes para o aumento

de produção. A principal contribuição desta análise é identificar a viabilidade de cada uma

das alternativas.

O primeiro cenário analisou a ampliação da capacidade produtiva para fora do

estado de SP, que atualmente concentra 55% dos canaviais e 58% do volume de etanol

produzido. Do ponto de vista de produção, é possível ampliar essa capacidade para os

estados da nova fronteira, uma vez que há disponibilidade de terras e bom rendimento

energético da cana nesses estados.

Este cenário porém, é altamente dependente de grandes investimentos de

infraestrututa logística. Atualmente, o aumento da movimentação de etanol vem sendo

atendido pela oferta de transporte rodoviário, que não apresenta grandes entraves à

expansão. Essa tendência, que caracteriza a matriz de transportes brasileira, poderá

inviabilizar o deslocamento da produção para a nova fronteira, uma vez que o modal

rodoviário tem custo muito superiores ao de outros modais.

62

Os altos custos logísticos contribuem para o encarecimento do preço do etanol,

diminuindo a sua competitividade. Com uma grande frota de veículos flex fuel, o consumidor

faz a escolha do combustível no momento do abastecimento nos postos, optando por

aquele mais vantajoso financeiramente. Se a paridade do etanol em relação a gasolina for

superior a 70%, a opção do consumidor tende a ser o derivado. Como foi visto também, essa

paridade é mais vantajosa nos estados aonde há maior oferta e menores custos,

principalmente pelas menores distâncias percorridas na distribuição. Além do impacto na

ponta da cadeia, o alto custo do etanol impacta também os produtores, que acabam tendo

sua margem reduzida. Dessa forma, a produção de açúcar pode passar a ser mais lucrativa,

visto que a commodity tem elevados preços no mercado.

A necessidade de manter o etanol com preços competitivos torna fundamental a

eliminação dos gargalos logísticos para escoamento do produto, principalmente no primeiro

cenário, onde a produção tende a crescer em locais mais distantes dos principais centros de

consumo. O Sistema Logístico Multimodal de Etanol, sem dúvida, é um grande passo, mas

ainda é necessário avaliar novas alternativas, que possam conectar as unidades produtoras

aos mercados mais distantes, como os do Nordeste, por exemplo.

O segundo cenário considera o aumento de produção das usinas existentes,

principalmente pelo ganho de produtividade com o uso de novas tecnologias. Conforme foi

apresentado, existem tecnologias disponíveis, mas que dependem da realização de novos

investimentos.

O terceiro cenário avaliou principalmente a atuação do Governo, cujo papel como

incentivador da produção e regulador do mercado será fundamental para garantir a

competitividade do etanol brasileiro. Também deve ser do Estado a maior responsabilidade

por investir em infraestrutura logística, cujas deficiências são graves e grandes entraves à

competitividade dos produtos nacionais. É de suma importância desenvolver alternativas

como o Prorenova, conceder benefícios fiscais e criar leis que estimulem e protejam o

mercado. A atuação do Governo como regulador de estoques do etanol anidro deveria se

estender também para o hidratado, trazendo mais garantias ao consumidor.

Uma possível extensão deste estudo seria uma análise de viabilidade financeira de

projetos de infraestrutura, tanto os planejados como a avaliação de novas alternativas de

trechos e modais, como o ferroviário, no qual é possível integrar o transporte de etanol com

63

outros bens. Outra possibilidade seria confrontar economicamente os cenários um e dois,

avaliando qual a alternativa de maior retorno financeiro – a de maior necessidade de

investimentos em infraestrutura ou em tecnologias.

Também seria de notável importância a avaliação de projetos nos quais a

distribuição do etanol pudesse ser integrada a de outros combustíveis, como o gás natural e

a gasolina, aproveitando-se de estruturas já existentes e que poderiam ser compartilhadas.

Essas futuras análises permitiram identificar dentre os cenários apontados nesse

trabalho aquele de maior possibilidade de sucesso, com maior retorno para o país, dado a

importância do biocombustível e o atual cenário brasileiro de descompasso entre a oferta e

a demanda de etanol.

64

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